os fotões e as partículas elementares · entre os anos de 1907 e 1915 einstein desenvolveu a sua...
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Os fotões e as partículas elementares
As quatro interacções da física
Prof. Carlos R. Paiva Fevereiro de 2013
Em mecânica quântica as partículas classificam-se em duas grandes classes: os bosões, com spin inteiro; os
fermiões, com spin semi-inteiro. As quatro interacções da física – gravitacional, electromagnética, nuclear
forte e nuclear fraca – são, efectivamente, o resultado de partículas elementares que são bosões. Os fotões –
mas também os gluões, as partículas W e Z e os gravitões – são exemplos desses bosões elementares que
geram, macroscopicamente, as «forças» observadas na natureza. A matéria é constituída por fermiões.
Existem, tal como na classe dos bosões, fermiões elementares – é o caso dos quarks (que sentem a
interacção nuclear forte) e dos leptões (que não sentem a interacção nuclear forte). Os fermiões que são
compostos por quarks (e sentem, portanto, a interacção nuclear forte) são conhecidos por hadrões. Os
nucleões (protões e neutrões) – que dantes se suponha serem partículas elementares – são, de facto, bariões
(um tipo de hadrões, constituídos por três quarks, que são fermiões). Existem ainda hadrões, constituídos
por um quark e um anti-quark, que são bosões instáveis e se designam por mesões.
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Existem, na natureza, quatro tipos de interacções:
A interacção gravitacional;
A interacção electromagnética;
A interacção nuclear forte;
A interacção nuclear fraca.
Em termos qualitativos, para se ter apenas uma noção das ordens de grandeza, apresenta-se a tabela
seguinte.
Matter is composed of fermions, while the fundamental unit of light, the
photon, is the typical boson. A fermion can emit or absorb a boson, and, in
the process, it can either remain unchanged or transform itself into another
fermion. In this sense physicists speak of bosons acting on fermions. The
shuttling of bosons back and forth between fermions produces the forces we
observe.
Anthony Zee, Fearful Symmetry – The Search for Beauty in Modern
Physics (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2007, p. 270)
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2
5 0
42
INTERACÇÃO INTENSIDADE BOSÃO
nuclear forte 1 gluão
electromagnética 10 fotão
nuclear fraca 10 W , W , Z
gravitacional 10 gravitão
A interacção gravitacional e a interacção electromagnética são as mais conhecidas. A teoria da
gravitação universal, de Newton, oferece a explicação não relativista para a primeira. A teoria
electromagnética, de Maxwell, oferece – por sua vez – a explicação para a segunda. É importante
salientar que, não obstante a electrodinâmica clássica ser anterior à(s) teoria(s) da relatividade, de
Einstein, as equações de Maxwell são essencialmente relativistas. Com efeito, apesar da teoria da
relatividade restrita ser aplicável a todos os campos da física, deve notar-se que foi através do
electromagnetismo que nasceu a transformação de Lorentz e, subsequentemente, a relatividade
restrita ou SR (em inglês: special relativity).
Convém, a este propósito, citar os seguintes trabalhos científicos fundamentais que são marcos
decisivos na evolução científica e histórica da física:
Sir Isaac Newton (1642-1727). Nos anos de 1685 e 1686 Newton trabalhou na sua obra
fundamental, escrita em latim, Philosophiæ Naturalis Principia Mathematica. A primeira
edição desta obra foi publicada em 5 de Julho de 1687.
James Clerk Maxwell (1831-1879). No ano de 1873 Maxwell publicou, em dois
volumes, a sua obra mais importante: A Treatise on Electricity and Magnetism.
Albert Einstein (1879-1955). Prémio Nobel da Física em 1921. A tese de doutoramento
de Einstein foi discutida em 30 de Abril de 1905, na Universidade de Zurique. No annus
mirabilis de 1905, Einstein publicou o seu primeiro artigo sobre a teoria da relatividade
restrita: “Zur Elektrodynamik bewegter Körper” (“On the Electrodynamics of Moving
Bodies”), na revista Annalen der Physik (Vol. 17, pp. 891-921). Entre os anos de 1907 e
1915 Einstein desenvolveu a sua teoria da relatividade geral ou GR (em inglês: general
relativity) sobre a gravitação. Em 1915 publicou, com M. Grossmann, o seu trabalho
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definitivo sobre a relatividade geral: “Kovarianzeigenschaften der Feldgleichungen
der auf die verallgemeinerte Relativitätstheorie gegründeten Gravitationstheorie”
(“Covariance Properties of the Field Equations of the Theory of Gravitation Based
on the Generalized Theory of Relativity”), na revista Zeitschrift für Mathematik und
Physik (Vol. 63, pp. 215–225).
As interacções nucleares – forte e fraca – são descobertas do século XX. No século XIX apenas a
gravitação e o electromagnetismo eram conhecidos. O princípio da relatividade restrita, de 1905,
refere-se exclusivamente ao electromagnetismo. No entanto ele aplica-se, também, aos dois tipos
distintos de interacção nuclear (forte e fraca).
A interacção nuclear forte é uma descoberta posterior a 1970. A teoria que explica esta interacção é
a Cromodinâmica Quântica ou QCD (do inglês: Quantum Chromodynamics) – uma teoria da
interacção entre hadrões e gluões. Uma contribuição decisiva para a compreensão desta teoria
resulta da chamada liberdade assimptótica (1973) – uma descoberta de Frank Anthony Wilczek (n.
1951), David Jonathan Gross (n. 1941) e Hugh David Politzer (n. 1949) e que lhes valeu a
atribuição do Prémio Nobel da Física em 2004. Só através desta teoria é possível explicar como os
nucleões (protões e neutrões) se mantêm confinados no interior do núcleo atómico.
A interacção nuclear fraca é a responsável pelo decaimento radioactivo das partículas subatómicas.
Esta interacção afecta todos os fermiões, i.e., todas as partículas com spin semi-inteiro (e que
obedecem à estatística de Fermi-Dirac). Note-se que os bosões, por oposição, são as partículas de
spin inteiro (e que obedecem à estatística de Bose-Einstein). Os fermiões obedecem ao princípio de
exclusão de Pauli: dois fermiões idênticos não podem ocupar, simultaneamente, o mesmo estado
quântico. O mesmo não se aplica aos bosões: em temperaturas próximas do zero absoluto (0º K) é
possível que, num gás de bosões, algumas destas partículas ocupem o mesmo estado quântico.
Neste caso surge um condensado de Bose-Einstein – o que permite exibir, ao nível macroscópico,
características especificamente quânticas.
A teoria que melhor explica a interacção (nuclear) fraca é a teoria electro-fraca ou EWT (do inglês:
electro-weak theory). A EWT foi desenvolvida em 1968 por Sheldon Lee Glashow (n. 1932),
Mohammad Abdus Salam (1926-1996) e Steven Weinberg (n. 1933). Estes três físicos receberam o
Prémio Nobel da Física em 1979.
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De acordo com o modelo padrão, ou standard, do universo (que, na realidade, é apenas um conjunto
de teorias que descrevem a interacção electromagnética e as interacções nucleares – forte e fraca,
deixando a gravitação fora do seu âmbito) existem três tipos fundamentais de partículas
elementares: (i) os quarks; (ii) os leptões; (iii) os bosões de gauge. Os quarks – embora elementares
(i.e., sem composição interna) – não podem existir isoladamente: apenas aparecem como elementos
constitutivos dos hadrões.
bosão de Higgs (spin 0)
bosões elementares bosões vectoriais de (spin 1)
partículas gravitões (spin 2)
elementaresquarks
fermiões elementaresleptões
gauge
partículasbariões fermiões
compostas hadrõesmesões bosões
por quarks
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Bosons-Hadrons-Fermions-RGB-png2.png
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Note-se, a propósito, que existem três tipos distintos de bosões elementares: (i) o bosão de Higgs,
com spin 0; (ii) os bosões vectoriais de gauge, com spin 1 (fotão, gluão, W , W , 0Z ), ; (iii) os
gravitões, que também são bosões de gauge – embora com spin 2.
O bosão de Higgs foi, de facto, proposto em 1964 por seis físicos em três artigos distintos do
volume 13 da revista Physical Review Letters: (i) um artigo, publicado por Robert Brout e François
Englert; (iii) um artigo, publicado por Peter Higgs; (iii) um artigo, publicado por Gerald Guralnik,
C. Richard Hagen e Tom Kibble. Esta partícula elementar bosónica, de spin 0, deverá ser a
responsável pelo aparecimento da massa nos bosões de gauge, através de um processo conhecido
por quebra espontânea de simetria (em inglês: spontaneous symmetry breaking). Em 4 de Julho de
2012 o CERN anunciou a descoberta experimental do bosão de Higgs através do LHC (ver
acrónimos no fim).
Os quarks são os fermiões que estão na base da constituição dos hadrões – as partículas,
constituídas por quarks e/ou anti-quarks, que sentem a interacção nuclear forte. Os leptões são os
fermiões elementares, de spin ½, que não sentem a interacção nuclear forte, nomeadamente: (i) os
neutrinos; (ii) os electrões; (iii) as versões mais pesadas dos electrões – os muões e as partículas tau.
Os bosões de gauge – as partículas elementares que têm spin 1 ou 2 – são responsáveis por
transportar as forças ou interacções da natureza (em inglês: force carrier particles). São exemplos
de bosões de gauge os fotões (que transportam a interacção electromagnética), os gluões (que
transportam a interacção nuclear forte), as partículas W e Z (que transportam a interacção nuclear
fraca) e os gravitões (que transportam a interacção gravitacional).
Sublinhe-se que, numa eventual teoria quântica da gravitação, também deverão existir partículas
bosónicas que transportam a interacção gravitacional – são os gravitões (partículas sem massa, de
spin 2). Os fotões, também de massa nula, são partículas bosónicas elementares de spin 1. Com
efeito, enquanto que os gravitões deverão estar associados ao tensor tensão-energia (de ordem 2), os
fotões estão associados ao vector carga-corrente (um vector do espaço-tempo quadridimensional e,
portanto, a um tensor de ordem 1).
Enquanto que os leptões e os quarks são fermiões elementares, os hadrões são partículas
compósitas. Existem duas classes de hadrões: (i) os bariões (constituídos por tês quarks, que são
fermiões); (ii) os mesões (constituídos por um quark e um anti-quark, que são bosões). São
exemplos de bariões os nucleões (protões e neutrões).
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http://en.wikipedia.org/wiki/File:Standard_Model_of_Elementary_Particles.svg
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Em Fotónica os fotões são as personagens principais. Com efeito, o fotão é o quantum de energia
electromagnética: para a frequência f , a energia de um fotão é h f E (ver Apêndice).
Embora a Fotónica se possa considerar como a herdeira legítima da Óptica, devemos notar que a
Fotónica é a Óptica em todas as suas facetas (clássicas e quânticas): desde a Óptica Geométrica,
passando pela Óptica Ondulatória e pela Óptica Electromagnética, culminando na Óptica Quântica.
Óptica Geométrica
Óptica OndulatóriaFotónica
Óptica Electromagnética
Óptica Quântica
Óptica Quântica
Óptica Electromagnética
Óptica Ondulatória
Óptica Geométrica
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A Óptica Geométrica é um caso particular da Óptica Ondulatória para 0 (i.e., no limite dos
comprimentos de onda muito pequenos). A Óptica Ondulatória, por sua vez, é um caso particular da
Óptica Electromagnética: corresponde ao caso limite em que se pode desprezar a natureza vectorial
do campo electromagnético e, portanto, onde o conceito de polarização não existe. Finalmente, a
Óptica Electromagnética – baseada na Electrodinâmica Clássica (i.e., nas equações de Maxwell) – é
um caso particular da Óptica Quântica: corresponde ao caso em que é possível desprezar a natureza
quântica do campo electromagnético, i.e., em que o conceito clássico de campo – como estrutura
contínua – impera.
O conceito de fotão é um conceito próprio da Teoria Quântica dos Campos ou QFT (em inglês:
Quantum Field Theory) – mais propriamente da versão quântica da teoria do campo
electromagnético, conhecida pelo nome de Electrodinâmica Quântica ou QED (do inglês: Quantum
Electrodynamics). Recorde-se, aqui, que – simultaneamente – o acrónimo QED corresponde à frase,
em latim, quod erat demonstrandum (em português: como queríamos demonstrar ou CQD; em
inglês: which had to be demonstrated). A QCD, de que se falou anteriormente, é outro exemplo –
juntamente com a QED – de uma QFT.
A Electrodinâmica Quântica é a primeira teoria física onde se verifica uma coexistência perfeita e
natural entre a mecânica quântica e a teoria da relatividade restrita. Embora seja possível falar em
fotões desde Max Karl Ernst Ludwig Planck (1858-1947) – ou, mais correctamente, desde Albert
Einstein –, só na QED é que os fotões assumem um papel inteiramente coerente. A QED atingiu a
sua plena maturidade com os físicos Sin-Itiro Tomonaga (1906-1979), Julian Seymour Schwinger
(1918-1994), Richard Phillips Feynman (1918-1988) e Freeman John Dyson (n. 1923). Tomonaga,
Classically an electromagnetic field consists of waves with well-defined
amplitude and phase. Such is not the case when we treat the field quantum
mechanically. There are fluctuations associated with both the amplitude and
phase of the field.
Marlan O. Scully and M. Suhail Zubairy, Quantum Optics (Cambridge:
Cambridge University Press, 1997, p. 46)
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Schwinger e Feynman receberam, por isso, o Prémio Nobel da Física em 1965 (embora o Prémio
Nobel só possa ser atribuído a um máximo de três personalidades, foi bastante polémica a exclusão
de Dyson neste caso).
Acrónimos
CERN (1952-1954) Conseil Européen por la Recherche Nucléaire
CERN (1952-1954) European Council for Nuclear Research
CERN (desde 1954) European Organization for Nuclear Research
CQD como queríamos demonstrar
EWT Electro-Weak Theory
GR General Relativity
LHC Large Hadron Collider
QCD Quantum Chromodynamics
QED Quantum Electrodynamics
QED quod erat demonstrandum
QFT Quantum Field Theory
SR Special Relativity
Bibliografia Básica
Frank Close, Particle Physics – A Very Short Introduction (Oxford: Oxford University
Press, 2004)
Frank Close, The New Cosmic Onion – Quarks and the Nature of the Universe (Boca
Raton, FL: CRC Press, Taylor & Francis Group, 2007)
David Griffiths, Introduction to Elementary Particles, Second, Revised Edition
(Weiheim: Wiley-VCH, 2008)
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Bibliografia Complementar
Ian R. Kenyon, The Light Fantastic – A Modern Introduction to Classical and
Quantum Optics (Oxford: Oxford University Press, 2008)
Olivier Darrigol, Electrodynamics from Ampère to Einstein (Oxford: Oxford
University Press, 2000)
Steven Weinberg, The Discovery of Subatomic Particles, Revised Edition (Cambridge:
Cambridge University Press, 2003)
Abraham Pais, Inward Bound – Of Matter and Forces in the Physical World (Oxford:
Oxford University Press, 1986)
Abraham Pais, ‘Subtle is the Lord…’ – The Science and the Life of Albert Einstein
(Oxford: Oxford University Press, 2005)
Silvan S. Schweber, QED and the Men Who Mate It: Dyson, Feynman, Schwinger, and
Tomonaga (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1994)
Tim Maudlin, Quantum Non-Locality & Relativity – Metaphysical Intimations of
Modern Physics, Third Edition (Chichester, West Sussex: Wiley-Blackwell, 2011)
Giancarlo Ghirardi, Sneaking a Look at God’s Cards – Unraveling the Mysteries of
Quantum Mechanics, Revised Edition (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2005)
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Neste apêndice mostra-se como uma partícula que viaja à velocidade limite do universo –
como, muito provavelmente, é o caso do fotão – tem, necessariamente, massa nula.
Em dinâmica relativista a energia E de uma partícula elementar (medida no referencial do
laboratório, onde se encontra em movimento), com momento linear p e energia intrínseca
(i.e., própria, medida no referencial em que a partícula se encontra em repouso) 0E , é dada
pela equação
2 2 2 2
0c p E E
em que 1299 792 458 m sc (valor exacto) é a velocidade da luz no vácuo (ou, mais
exactamente, é a velocidade limite do universo).
A energia intrínseca 0E está relacionada com a massa da partícula, m , através da relação
2
0 mcE .
A velocidade v da partícula, no referencial do laboratório, é dada por
d
vd p
E
.
A actual definição (desde 1983) de metro, enquanto unidade de
comprimento, é a seguinte: um metro é a distância percorrida, pela luz no
vácuo, no intervalo de tempo 1 299 792 458 st . Note-se que, de
acordo com uma antiga definição desta unidade, era estabelecido o seguinte: o
metro é a décima milionésima parte de um quarto do meridiano terrestre. Daqui
decorria que 71m 10 2 4a onde a é o raio da Terra. Assim, de acordo
com esta antiga definição, obtém-se 6 370 kma .
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Logo, vem sucessivamente
2
2 2 2 2 2
0 2 2d d c p
c p c p vd p d p
E E
E E EE
.
Deste modo, para qualquer partícula cuja velocidade seja v c (com, e.g., o fotão e o gravitão),
infere-se da última equação que
c pE .
Portanto, ao confrontar esta última equação com a relação geral
2 2 2
0c p E E
conclui-se que – para uma partícula em que v c – se tem necessariamente
2
0 0 0mc m E .
Ou seja: uma partícula com velocidade v c (como o fotão) tem massa (necessariamente) nula.
Porém, no caso do fotão, sabe-se que
c p E
onde 2h é a chamada constante de Planck reduzida e h a constante de Planck
propriamente dita: 34 26.626068 10 m kg / sh . Representa-se por 2 f a frequência
angular do fotão. Sendo
2 2f
kc c
a constante de propagação do fotão e o seu comprimento de onda, tem-se então
h
c p p p kc
E .
Em mecânica quântica, para qualquer partícula elementar, vem (e não apenas para o fotão)
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pv
p k k p
E E
sendo pv a velocidade de fase. Pelo que
2
2
0 0 0
mcmc E .
Analogamente
2 2 2 2 2 2 2
0 0c p c k E E
donde, sendo gv a velocidade de grupo,
2 2 2
22 2 g
p
d d c k c p cc k v
d k d k v
E
2
g
p g
v v
v v c
que, no caso particular do fotão, dá
p gv v c .
Definindo o comprimento de onda de (Louis) de Broglie B , tal que
2
B
k
,
vem então, com 2 f ,
2 2 2 2
0 0
2B p B
h hc cf v
p
E E.
Sendo o comprimento de onda (medido no vácuo), tem-se f c e, consequentemente,
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2
01g
g
B p B
vcv v c c c
v c
,
ou, ainda,
2
01v c
E
E.
Note-se que
0 E E T
onde
2
11
1
v
v
c
.
Por vezes define-se o coeficiente de inércia mI v , tal que
2 2
02
1
m m
mI v v m I v c mc
v
c
E E .
A energia total E difere, com efeito, da energia intrínseca 2
0 mcE , numa quantidade que é
a energia cinética da partícula T , dada por
2
01 mv I v m c T E .
Como 0 1 infere-se que a energia cinética da partícula se anula no referencial próprio (i.e., em
que 0v ). De acordo com o desenvolvimento binomial, para 1x , tem-se
2 3
1 1 2 1 2 11 1
2! 3! !
kk
x x x x xk
.
Logo, se se fizer
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21
,2
vx
c
,
vem, neste caso,
2 2 4 6 8
1
1 3 5 2 1 1 3 15 1051
2 ! 2 8 48 384
n
nn
n v v v v vv
n c c c c c
.
Assim, obtém-se
4 6 8
2
2 4 6
1 3 15 105
2 8 48 384
v v vmv m m m
c c c T
que, no limite newtoniano (i.e., em que c ), fornece a conhecida expressão
21
2mvT .
Quando v c (caso do fotão), é T E . Este resultado levanta a indeterminação resultante de
se ter, neste caso, 0m e v c . Podemos, portanto, escrever
2
2 2 21m
vI v m
c v c c c
E
mesmo no caso limite em que v c (e, portanto, 0m ).
É fundamental sublinhar o seguinte aspecto: a teoria da relatividade supõe que
existe, necessariamente, uma velocidade limite superior – finita – para a
propagação das partículas materiais. O facto de se pensar que tal velocidade
limite, c , coincide com a velocidade dos fotões não é uma condição necessária
para a coerência interna da teoria da relatividade. Caso a velocidade dos fotões
seja efectivamente v c , então daqui deverá decorrer que a massa dos fotões é
nula. Caso se venha a verificar que é possível acelerar um fotão, então a massa
dos fotões – embora muito pequena – não será (exactamente) nula. Em qualquer
dos casos a massa dos gravitões será nula. Por enquanto toda a evidência
experimental aponta no sentido dos fotões terem massa nula.