o ambiente e as doenÇas do trabalho

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Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO Autores: Antonio Roberto Rodrigues Abatepaulo Sabino Scipiecz

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Page 1: O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO

Programa de Pós-Graduação EAD

UNIASSELVI-PÓS

O AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO

Autores: Antonio Roberto Rodrigues Abatepaulo Sabino Scipiecz

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363.11A119a Abatepaulo, Antonio Roberto Rodrigues O ambiente e as doenças do trabalho / Antonio Roberto Rodrigues Abatepaulo e Sabino Scipiecz. Indaial : Uniasselvi, 2013. 104 p. : il ISBN 978-85-7830-740-0

1. Segurança do trabalho. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCIRodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito

Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SCFone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel

Equipe Multidisciplinar daPós-Graduação EAD: Profa. Erika de Paula Alves Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Prof. Márcio Moisés Selhorst

Revisão de Conteúdo: Profa. Talita Cristiane Sutter Freitas

Revisão Gramatical: Profa. Sandra Pottmeier

Revisão Pedagógica: Profa. Bruna Alexandra Franzen

Diagramação e Capa:Centro Universitário Leonardo da Vinci

Copyright © Editora UNIASSELVI 2013Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial. UNIASSELVI – Indaial.

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Possui graduação em Enfermagem pela Universidade do Vale do Itajaí (2003), mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho pela Universidade do Vale do Itajaí (2008). Atualmente é professor da Faculdade Metropolitana de Blumenau (FAMEBLU/

GRUPO UNIASSELVI). Também é orientador de curso na Faculdade de Tecnologia SENAC - Blumenau. Tem

experiência na área da saúde e gestão, com ênfase na saúde pública. No EAD, publicou: biossegurança.

Sabino Scipiecz

Formado em Biomedicina pelo Centro Universitário Barão de Mauá. Mestre em Imunologia Básica e Aplicada pela Faculdade de Medicina de Ribeirão-Preto - FMRP/USP. Coordenador do Curso de Biomedicina da Faculdade Metropolitana de Blumenau

e Delegado do Conselho Regional de Biomedicina - CRBM1.

Antonio Roberto Rodrigues Abatepaulo

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Sumário

APRESENTAÇÃO ............................................................................ 7

CAPÍTULO 1Medicina do Trabalho .................................................................. 9

CAPÍTULO 2Doenças do Trabalho ................................................................ 31

CAPÍTULO 3Primeiros Socorros no Ambiente de Trabalho ..................... 67

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APRESENTAÇÃO

Caro(a) pós-graduando(a):

Gostaria de desejar boas vindas a você e sucesso em seu aprendizado. Espero que esta disciplina possa contribuir com seu desenvolvimento e aperfeiçoar o seu saber frente às questões que envolvem a Medicina do Trabalho. Nota-se que há uma constante evolução em relação aos cuidados com o trabalhador, principalmente no que tange aos aspectos legislativos. Fazer você compreender esses aspectos, os riscos aos quais o colaborador está exposto e poder atuar de forma preventiva, são os principais objetivos desta disciplina.

Durante os capítulos são sugeridas atividades para que possamos estimulá-lo a pensar e a desenvolver o raciocínio de fixação dos conteúdos mais importantes, assim como indicações de leitura para complementação do seu saber. É importante que haja seu envolvimento e comprometimento para o enriquecimento do processo de aprendizagem.

No capítulo 1 você terá a oportunidade de entender um pouco mais sobre a Medicina do Trabalho e o contexto legal que a envolve para posteriormente seguirmos, no capítulo 2, e entender os riscos a que o trabalhador está exposto em suas atividades e o desenvolvimento de algumas doenças do trabalho. Por fim, dividiremos com você conhecimentos que lhe permitam compreender e aplicar os procedimentos de primeiros socorros em caso de acidentes no setor de trabalho.

Bons Estudos!

Os autores.

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CAPÍTULO 1

Medicina do Trabalho

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:

9 Situar os serviços de Medicina do Trabalho na dinâmica do mercado atual (PCMSO).

9 Compreender a legislação vigente frente à Medicina do Trabalho.

9 Reconhecer e classificar os riscos ocupacionais.

9 Elaborar intervenções preventivas no ambiente de trabalho (Mapas de Risco).

9 Capacitar para a utilização adequada dos EPI e EPC.

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O ambiente e as doenças do trabalho

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Medicina do TrabalhoCapítulo 1

ContextualizaçãoSaúde e trabalho são conceitos que nos acompanham desde os primórdios

de nossa história. Prova disso é que estão evidentes em diversos documentos ou relatos de civilizações antigas. No mundo em que vivemos, é difícil imaginar a saúde e as atividades laborais caminhando separadas. Entretanto, foi exatamente o que aconteceu por milênios. Duas das nossas maiores preocupações contemporâneas estiveram distantes uma da outra. Essa relação somente “surgiu” aos nossos olhos em tempos muito mais recentes, basicamente após a Revolução Industrial (século XVIII). E é a partir de então que começamos a angariar conhecimento nessa área. Neste capítulo estudaremos a importância da medicina do trabalho tanto para o trabalhador quanto para a empresa.

Dessa forma, como de praxe em todo estudo médico ou laboral, as verdades estão em constante atualização (ou mesmo mudança radical), não há certezas absolutas, entretanto abordaremos sobre os tipos de riscos ocupacionais aos quais os trabalhadores podem ser expostos, as equipes de segurança das empresas, o SESMT (Serviço de Engenharia e Segurança e Medicina do Trabalho) e suas principais funções. Com afinco e interesse, você se aprofundará no mundo da Medicina do Trabalho e compreenderá conceitos que lhe serão de grande serventia em sua prática profissional.

Medicina do Trabalho

Atividade de Estudos:

1) Para iniciarmos nossos estudos, precisamos entender o conceito mais básico frente à definição sobre Medicina do Trabalho. Você conseguiria descrever o que sabe sobre Medicina do Trabalho antes de escrevermos sobre o tema?

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O ambiente e as doenças do trabalho

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Antes de respondermos à pergunta acima, precisamos entender um pouco da história e da organização dos serviços de saúde nos ambientes de trabalho.

A Revolução Industrial transformou o trabalho artesanal em uma produção de larga escala. A dedicação do homem ao trabalho chegava ao seu limite de exaustão, o que fez com que surgissem intervenções para o cuidado com os trabalhadores da época (SCHILLING, 1981). O ano de 1830 foi um marco para a Medicina do Trabalho e quando ela de fato ocorreu. A história se resume quando um empresário do ramo têxtil resolve colocar o seu médico particular para cuidar de seus empregados na tentativa de oferecer-lhes melhores condições de trabalho (NOGUEIRA, 1984). Porém, somente após mais de um século, mais precisamente no ano de 1953, a Organização Internacional do Trabalho cria a denominação de Medicina do Trabalho. Com o passar de alguns anos, principalmente no período pós - II Guerra, nota-se que a preocupação não deveria ser somente com a saúde do trabalhador, mas com o ambiente em que ele desenvolve suas atividades. Surge, então, o termo Saúde Ocupacional, a qual se desenvolve ou é aplicada por equipes multiprofissionais e interdisciplinares (MENDES; COSTA DIAS, 1991).

A Saúde Ocupacional tem como objetivos principais:

- a promoção e manutenção do bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas as ocupações;

- a prevenção, entre os trabalhadores, de doenças ocupacionais causadas por suas condições de trabalho;

- a proteção dos trabalhadores em seus empregos, dos riscos resultantes de fatores adversos à saúde;

O ano de 1830 foi um marco

para a Medicina do Trabalho e

quando ela de fato ocorreu. A história se resume quando um empresário do ramo têxtil resolve

colocar o seu médico particular

para cuidar de seus empregados

na tentativa de oferecer-lhes

melhores condições de trabalho

(NOGUEIRA, 1984).

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Medicina do TrabalhoCapítulo 1

- a colocação e conservação (manutenção) dos trabalhadores nos ambientes ocupacionais adaptados às suas aptidões fisiológicas e psicológicas;

- a adaptação do trabalho ao homem e de cada homem ao seu próprio trabalho.

A medicina é uma das áreas que age nesse processo, com funções e deveres pré-estabelecidos ao profissional médico. Este faz parte de uma grande equipe que forma os pilares da saúde ocupacional, associado a engenheiros de segurança do trabalho, profissionais de estatística, ergonomia, toxicologia etc.

Fonte: Disponível em: <http://unimedvivasaude.com.br/saudeocupacional/saude_ocupacional.html>. Acesso em: 20 abr. 2013.

A Medicina do Trabalho é o ramo da medicina que se preocupa com a saúde física e mental do trabalhador, tendo em vista protegê-lo dos riscos de agentes nocivos e acidentes inerentes à sua ocupação, aumentando assim o rendimento de seu trabalho (VIEIRA, 2008).

Logo, o exercício correto da definição supracitada é benéfico para todos os constituintes do meio de trabalho, desde trabalhador e empregador até o poder público que fortalece sua economia.

Inicialmente a Medicina do Trabalho seguia os mesmos passos da medicina em geral, tratava-se de uma especialidade que atuava somente depois de estabelecido o dano, ou seja, com um foco curativo. Historicamente o Brasil tem poucas pesquisas científicas sobre Medicina do Trabalho ou Saúde Ocupacional, muitos dos trabalhos e pesquisas surgiram após a década de 1990, fato que demonstra que a preocupação e o cuidado com a saúde do trabalhador é algo recente em nosso país (SANTANA, 2006).

O advento das pesquisas impulsionou a prevenção e a promoção da saúde aproximando-as da Saúde Pública (da qual hoje em dia é praticamente indissociável). Hoje, pode-se dizer que, em nosso país, a Saúde Ocupacional tem um caráter mais preventivo do que curativo.

Segundo Vieira (2008), cabe à Medicina do Trabalho:

• Reconhecer as doenças profissionais e formular hipóteses para as suas causas (conteúdos que serão abordados a seguir).

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O ambiente e as doenças do trabalho

• Acompanhamento e supervisão médica dos trabalhadores.

• Propor medidas que eliminem ou minimizem os agentes nocivos no ambiente de trabalho.

• Educação para a saúde dos trabalhadores.

E, para cumprir todas as requisições acima, utilizam-se de:

• Exames médicos.

• Assistência médica.

• Educação de higiene em geral.

• Avaliação ambiental constante (em conjunto com a Engenharia de Segurança).

O médico do trabalho deve ter conhecimento do ambiente de trabalho, além dos processos industriais (sempre mantendo confidencialidade, desde que isso não afete a saúde dos trabalhadores). Isso permite que se possa atuar como fiscalizador ativo no ambiente (MENDES; COSTA DIAS, 1991). Deve, também, como princípio ético, manter o sigilo em relação às informações de prontuário e avaliações de saúde, que sempre devem ser registradas em prontuário. Esses dados somente podem ser revelados mediante a autorização expressa do trabalhador. Lembre-se: o paciente é o dono do prontuário!

O estabelecimento de Medicina do Trabalho de determinada empresa recebe o nome de “Serviços Especializados em Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT” e deve ter articulação com outros setores responsáveis pelo cumprimento das ações sugeridas. O médico do trabalho chefia o Serviço de Medicina do Trabalho (SMT), não respondendo pelos demais serviços (Engenharia de Segurança, Higiene, Ergonomia etc.). A equipe de Segurança do Trabalho de uma empresa é formada por uma equipe multidisciplinar composta por Técnico de Segurança do Trabalho, Engenheiro de Segurança do Trabalho, Médico do Trabalho e Enfermeiro do Trabalho (BRASIL, 1983).

O SESMT estuda e aplica medidas relacionadas à Segurança do Trabalho, tais como: a higiene pessoal, o controle de riscos em máquinas e equipamentos, a elaboração de treinamentos específicos relacionados ao ambiente entre outros (BRASIL, 1983). Dependendo da condição socioeconômica de cada região, o SMT terá um caráter assistencialista ou preventivo. Em regiões carentes (onde há pouco acesso ao serviço de saúde), o SMT deveria se ocupar de todas as questões relacionadas à saúde dos trabalhadores. Em regiões mais desenvolvidas, há a tendência à prevenção. Muitas vezes, vemos que as pequenas empresas acabam contratando serviços médicos

O pessoal efetivo da equipe médica

e paramédica (assim como a estrutura física

do SMT) baseia-se no número de trabalhadores e

no risco oferecido pelas atividades da

empresa.

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Medicina do TrabalhoCapítulo 1

terceirizados, visto que a organização de um serviço próprio resultaria em dificuldades administrativas ou financeiras. O pessoal efetivo da equipe médica e paramédica (assim como a estrutura física do SMT) baseia-se no número de trabalhadores e no risco oferecido pelas atividades da empresa.

Figura 1 - Estrutura do Efetivo Médico do Serviço de Segurança e Medicina do Trabalho

Fonte: Brasil (1987).

Não podemos deixar de mencionar a importância da organização de um serviço de emergência, capaz de oferecer atendimento imediato a ocorrências graves que envolvam risco de vida.

Ao SESMT cabe a elaboração do “Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional – PCMSO”, que consiste na realização de consultas médicas com data e frequência estipulada a partir dos níveis de risco a que determinado cargo se expõe. Isso, é claro, sempre em constante intercomunicação com os demais profissionais da Saúde Ocupacional. Por exemplo, trabalhadores expostos à radiação frequente necessitam realizar exames e consultas periódicas para verificar se há algum distúrbio decorrente da exposição radioativa (BRASIL, 1983).

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O ambiente e as doenças do trabalho

Alguns PCMSO mais abrangentes incluem ainda ações educativas, novamente evidenciando o caráter de prevenção e promoção da saúde da Medicina do Trabalho. O ensino em primeiros-socorros deve ser assunto constante, levando-se em consideração sempre o padrão de riscos ambientais da empresa (BRASIL, 1994).

O PCMSO abrange, basicamente, os seguintes exames:

• Admissional: realizado antes da admissão de qualquer empregado.

• Periódico: com frequência determinada por riscos ocupacionais e idade.

• Demissional: para todos os demitidos, que não tenham feito o periódico nos 90 dias que antecedem a saída da empresa.

• Retorno ao trabalho: nos empregados que retornam ao trabalho após ausência superior a 30 dias (doença, acidente, parto etc.).

• Mudança de função: quando o empregado trocar de função (ficando, assim, sujeito a novos riscos ambientais).

A consulta médica dos exames acima consiste basicamente de avaliação clínica, abrangendo história ocupacional e exames físicos e mentais, além da solicitação e interpretação de exames complementares específicos (audiometria, radiografia, hemograma etc.) de acordo com o risco ao qual o trabalhador está exposto.

Após cada exame médico realizado, o médico deve emitir o Atestado de Saúde Ocupacional – ASO, sempre em duas vias. Uma via é enviada ao local de trabalho, outra fica com o trabalhador (BRASIL, 1994).

Em sua grande maioria, o ASO contém informações básicas do trabalhador e a sua condição para realização de determinada função de trabalho, ou seja, se está apto ou inapto. Imagine que você queira contratar um digitador que na consulta médica apresenta uma lesão crônica no punho. Você acha que ele estaria apto para função? Sendo assim, de nada adianta a realização de todas essas consultas sem a análise dos dados para a possível tomada de decisões quanto a mudanças que visem ampliar a saúde do trabalhador.

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Medicina do TrabalhoCapítulo 1

Convido você a se inteirar um pouco mais sobre a história da Medicina do Trabalho no Brasil e a realizar a leitura de dois artigos:

SANTANA, Vilma Souza. Saúde do trabalhador no Brasil: Pesquisa na pós-graduação. Rev Saúde Pública, 2006; 40 (N Esp).

MENDES, R; COSTA DIAS, Da Medicina do Trabalho a Saúde do Trabalhador. Rev. Saúde Pública, São Paulo, 1991.

Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

A determinação dos riscos existentes na empresa deve constar no “Programa de Prevenção de Riscos Ambientais” – PPRA, a ser elaborado pelo profissional da área de Segurança e Saúde do Trabalho ou até mesmo pela Equipe de Prevenção de Acidentes (BRASIL, 2013).

É de se esperar que, pela vasta gama de atividades laborais existentes atualmente, vários também sejam esses riscos. Segundo Mastroeni (2005), os riscos ambientais são divididos em:

1 - Riscos Físicos: riscos físicos são aqueles que podem provocar algum tipo de dano mediante a variação de energia. Os mais comuns aos quais somos submetidos são: ruídos, vibrações, pressão, calor e radiações.

Talvez um dos casos mais polêmicos da interferência do ruído na comunidade seja o do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo (SP). Situado em meio a uma grande zona residencial, já tem seu horário de funcionamento limitado entre 6h e 23h, mas, mesmo assim, a comunidade continua a reivindicar novas medidas para a redução do ruído. Veja mais em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/2012-07-13/justica -extingue-acao-que-pedia-medidas-contra-ruido-do-aeroporto-de-congonhas.html>. Acesso em: 11 jun. 2013.

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O ambiente e as doenças do trabalho

2 - Riscos Químicos: O contaminante químico pode ser considerado como toda substância que uma vez manuseada, seja no estado sólido, líquido ou gasoso, poderá entrar em contato com o organismo humano e ser prejudicial.

3 - Riscos Biológicos: são aqueles que podem provocar danos mediante à exposição a microrganismos, tais como: vírus, bactérias, fungos, entre outros. Certamente, esses tipos de riscos estão presentes em maior proporção nas áreas hospitalares e ambulatoriais.

4 - Riscos Ergonômicos: são aqueles relacionados ao espaço físico e ao ambiente de trabalho propriamente dito. Muitas vezes o trabalhador tem que se adaptar às instalações do ambiente, quando deveria ocorrer o contrário. As principais complicações de saúde mediante a exposição a esse tipo de risco são as lesões por esforço repetitivo e erros posturais.

5 - Riscos de Acidente: Os riscos de acidentes muitas vezes se correlacionam com os riscos ergonômicos. A presença de fios desencapados, locais de descarte de lixo inadequados, má preservação dos maquinários, uso de materiais com prazo de validade ultrapassado, entre outros, são situações que colocam o colaborador em risco de acidente.

O objetivo principal do PPRA é levantar os riscos de saúde existentes em uma empresa e propor mecanismos de controle e prevenção (BRASIL, 2013). No entanto, nem todos os riscos podem ser eliminados e eles são o objeto de controle pelo PCMSO. Portanto, sem o PPRA não existe PCMSO, devendo ambos estar permanentemente ativos.

Mapa de RiscosA obrigatoriedade do mapa de risco surgiu com a regulamentação do

projeto da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA pela Norma Regulamentadora NR-5 que dispõe sobre a obrigatoriedade de enumeração e reconhecimento dos riscos em um determinado ambiente de trabalho (BRASIL, 1994). Essa entidade tem como objetivo observar e relatar condições de risco nos ambientes de trabalho e solicitar medidas para reduzir os riscos existentes e/ou neutralizá-los, além de discutir os acidentes ocorridos. Em alguns casos, mesmo com a instalação da CIPA, as empresas buscam instituições terceirizadas ou profissionais mais especializados para melhor identificação dos riscos locais (FREITAS; SÁ, 2003).

O objetivo principal do PPRA é levantar os riscos de saúde

existentes em uma empresa e

propor mecanismos de controle

e prevenção (BRASIL, 2013). No entanto, nem todos

os riscos podem ser eliminados e eles são o

objeto de controle pelo PCMSO.

Portanto, sem o PPRA não existe

PCMSO, devendo ambos estar

permanentemente ativos.

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Medicina do TrabalhoCapítulo 1

Uma das obrigações da CIPA é o mapeamento dos riscos do local de trabalho. O mapa de risco nada mais é do que uma representação gráfica de como os trabalhadores percebem seu ambiente de trabalho em relação aos riscos que estão expostos (BRASIL, 2011).

Para construção de um mapa de risco, basicamente desenha-se uma planta baixa do ambiente de trabalho, sobre a qual os trabalhadores enumeram os riscos. Embora a complexidade demonstrativa e riqueza de detalhes da planta baixa utilizada para mapeamento dos riscos sejam variáveis, se faz necessário ter clareza no apontamento dos tipos de risco e grau de periculosidade frente à exposição.

Os riscos são representados no mapa através de círculos de diferentes cores (dependendo do seu Agente Ambiental) e em três tamanhos (proporcional à gravidade do risco: pequeno, médio e grande). Devem estar próximos à fonte geradora do risco e ser explicativos, de forma que qualquer trabalhador do local tenha a possibilidade de reconhecer o risco ao qual é exposto e atuar para a manutenção do bem-estar individual e coletivo.

Quanto à coloração, segue-se o padrão abaixo:

• Verde: riscos físicos.

• Vermelho: riscos químicos.

• Marrom: riscos biológicos.

• Amarelo: riscos ergonômicos.

• Azul: risco de acidentes.

Dentro dos círculos, deve constar o número de trabalhadores expostos ao risco em questão e o agente específico. Se numa seção houver vários riscos físicos da mesma intensidade, deve-se fazer apenas um círculo e citar os agentes específicos (exemplo: ruído + vibração + calor). Isso vale para os outros tipos de agentes. Se houver vários riscos de agentes diferentes e da mesma intensidade, pode-se dividir o mesmo círculo em diversas cores. O mapa de riscos é então encaminhado ao SESMT, que deverá utilizá-los como fonte de dados para a elaboração do PPRA.

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O ambiente e as doenças do trabalho

Figura 2 - Modelo de Construção do Mapa de Risco

Fonte: Os autores.

Figura 3 - Modelo de Mapa de Risco

Fonte: Disponível em: <http://protecaoradiologica.unifesp.br/download/GerRrisLab.pdf>. Acesso em: 02 maio 2013.

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Medicina do TrabalhoCapítulo 1

Os mapas de risco devem ser colocados em locais com pouca poluição visual, para que possam ser visíveis. É importante ter um mapa de risco para cada sala e este deve ficar no interior da sala em questão. Além disso, deve-se ter um mapa de risco global da empresa, o qual deve ser disposto em murais de áreas comuns (HÖKERBERG et al, 2006).

O mapeamento dos riscos contribui de forma significativa para a diminuição dos acidentes de trabalho. Sabe-se que os acidentes de trabalho acarretam em prejuízos, tanto para a empresa quanto para o trabalhador e até mesmo para a sociedade em geral. Dentre os prejuízos poderíamos citar: o gasto da empresa com o salário do trabalhador afastado (primeiros quinze dias após o afastamento), paralisação ou redução na produção do colaborador, cobertura de licenças médicas, possíveis sequelas (depressão, traumas, restrições físicas). Do ponto de vista social, é importante lembrar que mediante o afastamento do trabalhador é o imposto da sociedade que arca com seu afastamento.

Ao ocorrer um acidente de trabalho este deve ser registrado pela CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho). A CAT e os benefícios dela decorrentes são registrados no banco de dados da Previdência Social (Dataprev), permitindo a elaboração de relatório dos registros compilados no Anuário Estatístico da Previdência Social (CORREA; ASSUNÇÃO, 2003).

Em um primeiro momento os custos preventivos parecem realmente onerar os orçamentos da empresa, porém os gastos para com o trabalhador acidentado e/ou afastado é certamente maior. As boas práticas de gestão de saúde e segurança no trabalho das empresas contribuem para a proteção contra os riscos presentes no ambiente de trabalho, prevenindo e reduzindo acidentes. Quando há essa consciência empresarial o trabalhador sente-se seguro e, acima de tudo, respeitado. Certamente a empresa que detém um plano de prevenção de acidentes, faz com que haja uma menor rotatividade de colaboradores e, por consequência, maior rendimento e lucratividade pelo produto que oferta (CORREA; ASSUNÇÃO, 2003).

Os mapas de risco devem ser colocados em locais com pouca poluição visual, para

que possam ser visíveis. É importante

ter um mapa de risco para cada sala

e este deve ficar no interior da sala em questão. Além disso, deve-se ter um mapa de risco

global da empresa, o qual deve ser

disposto em murais de áreas comuns

(HÖKERBERG et al, 2006).

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O ambiente e as doenças do trabalho

Atividade de Estudos:

1) Que tal finalizarmos este tópico com você elaborando o mapa de risco de seu ambiente de trabalho? Vá em frente...

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Figura 4 - Fluxograma de Ações para Garantia de Saúde do Trabalhador

Fonte: Os autores.

Relação de Causa e EfeitoComo você deve imaginar, é de suma importância haver uma ligação clara

entre o fator causador (risco) e o efeito (acidente ou doença do trabalho). Mas, como exemplificar isso para entendermos melhor? Pensemos no seguinte: o Código Civil e a Constituição Brasileira garantem que todo dano causado a outra

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Medicina do TrabalhoCapítulo 1

pessoa (mesmo exclusivamente moral) é considerado um ato ilícito. Concluímos, dessa forma, ser passível de punição (se houver culpa). Ademais, além da punição, há a obrigatoriedade legal de reparação do dano causado (BRASIL, 2013).

Revisemos, então, alguns conceitos dos parágrafos acima que nos soam comuns e perdem-se entre as outras palavras, mas que no estudo atual não podem passar despercebidos:

O dano é a lesão física ou moral que acomete o trabalhador. No estudo atual, divide-se basicamente em acidente de trabalho, doenças profissionais e doenças do trabalho (que equiparam-se para fins legais):

De acordo com o artigo 19 da Lei n. 8213 (1991) “acidente de trabalho é aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho”.

As doenças profissionais são aquelas produzidas ou desencadeadas pelo exercício do trabalho peculiar à determinada atividade. Como exemplo, podemos citar o desenvolvimento de saturnismo (intoxicação pelo chumbo) (MINOZZO et al, 2008).

Já as doenças do trabalho são aquelas adquiridas ou desencadeadas em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e que com ele se relacione diretamente. Dessa maneira, podemos associá-las mais ao próprio ambiente de trabalho. É o caso do trabalhador com perda auditiva induzida por ruído (VIEIRA, 2008).

Devemos ressaltar, entretanto, que não podem ser caracterizadas como patologias do trabalho as doenças:

• Degenerativas.

• Inerentes a determinados grupos etários.

• Que não produzam incapacidade laboral.

• Endêmicas (salvo comprovação de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho).

Como mencionado anteriormente, a definição de acidente do trabalho é mais ampla do que se imagina, incluindo, de acordo com Vieira (2008):

• Acidentes no local e horário de trabalho: agressões, sabotagem, terrorismo, desabamentos, inundações, incêndios e outras catástrofes.

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O ambiente e as doenças do trabalho

• Contaminações acidentais do empregado no exercício de sua atividade.

• Acidentes FORA do local e horário de trabalho, desde que:

• Sob ordem ou realização de serviço sob autoridade da empresa.

• Na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito.

• Em viagem a serviço da empresa (inclusive a estudos), independente do meio de locomoção (inclui veículo de propriedade do trabalhador).

• No percurso entre a residência e o local de trabalho (e vice-versa), qualquer que seja o meio de locomoção.

Não podemos esquecer ainda que qualquer acidente que venha a ocorrer nos períodos de refeição, descanso ou por ocasião de satisfação de necessidades fisiológicas, no local de trabalho ou durante o trabalho, é considerado acidente de trabalho (SALIBA, 2008).

Obrigação de extrema importância para a empresa é o preenchimento da “Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT”, que deve ser preenchida mesmo que não ocorra o afastamento do trabalho. Há o prazo de um dia útil após o acidente para o encaminhamento à autoridade competente. Se houver morte, a CAT deve ser enviada imediatamente (BRASIL, 1999).

Agora, para haver culpa, é necessário que se estabeleça uma relação entre o fator causador e o dano. Essa relação é chamada de nexo de causalidade. Sua apuração pode ser simples (no caso de acidentes do trabalho) ou um processo dispendioso e detalhado, que envolve análise dos processos de trabalho, ambiente, intensidade e concentração dos agentes, entre outros. Para fins de indenização do trabalhador, quem realiza essa avaliação é a perícia médica do INSS (BRASIL, 1999).

A instalação de equipes de prevenção de acidentes, a elaboração de mapa de riscos, os treinamentos e capacitações oferecidos pela empresa somente fazem sentido se houver a participação do colaborador. A execução das tarefas de forma contrária às normas de segurança, isso é, a violação de um procedimento aceito como seguro pode levar a ocorrência de um acidente. Portanto, os atos inseguros no trabalho provocam a grande maioria dos acidentes; não raro o trabalhador atua de forma inadequada em seu ambiente de trabalho e acaba por negligenciar algumas ações, tais como: o não desligar das máquinas, abrir um frasco com substância química em local inadequado, não utilizar capacetes em uma obra, entre outros. Portanto, as medidas preventivas somente fazem sentido se houver uma adesão e aplicação mútua dos colaboradores.

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Medicina do TrabalhoCapítulo 1

As condições inseguras são consideradas falhas técnicas que, presentes no ambiente de trabalho, comprometem a segurança dos trabalhadores e a própria segurança das instalações e dos equipamentos. Não se deve confundir a condição insegura com o risco inerente a certas operações. Por exemplo, a corrente elétrica é um risco inerente a trabalhos que envolvem eletricidade ou instalações elétricas; a eletricidade, no entanto, não pode ser considerada uma condição insegura, por ser perigosa. Instalações mal feitas ou improvisadas, fios expostos, são condições inseguras; a energia elétrica em si, não. A energia elétrica, quando devidamente isolada das pessoas, passa a ser um risco controlado e não constitui uma condição insegura.

As pessoas que trabalham num ambiente desorganizado sentem uma sensação de mal-estar que poderá tornar-se um agravante de um estado emocional já perturbado por outros problemas. Esse estado psicológico poderá afetar o relacionamento dos trabalhadores e expô-los ao risco de acidentes, além de prejudicar a produção da empresa.

Um acidente de trabalho é determinado por muitos fatores dos quais nem sempre percebemos ou cujo efeito não entendemos em muitas situações. Por outro lado, quando desencadeado, dá origem a enormes consequências. Para além da incidência econômica e da problemática dos custos, existem muitas consequências indiretas dos acidentes. Em todos os casos, qualquer acidente tem sempre consequências individuais, familiares, sociais e econômicas, conforme vimos anteriormente (FREITAS, 2013).

Uma das consequências do desconhecimento do impacto do trabalho sobre a saúde é a inexistência de respostas organizadas por parte do SUS e do próprio Ministério do Trabalho em relação à sua prevenção e ao seu controle. O princípio da integralidade, que deveria ser assumido como um dos pilares da estruturação dos sistemas de saúde locais, regionais e nacional, é atingido de modo frontal.

Equipamentos de Proteção Individuais (EPI) e Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC)

Os equipamentos de proteção, sejam eles individuais ou coletivos, certamente são os principais elementos que auxiliam na manutenção da integridade física do trabalhador. A Equipe de Prevenção de Acidentes, as capacitações oferecidas pela empresa, os mapas de risco, certamente são fundamentais, porém os equipamentos de proteção, realmente são os “salva-vidas” do colaborador.

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Por ser uma medida preventiva, mais uma vez se faz necessária a conscientização do colaborador para que seja utilizada de maneira correta frente ao ambiente de trabalho que ocupa. O fato de haver uma legislação que obriga o uso do cinto de segurança, somente terá eficácia se houver uma ação humana para seu bom uso. Os EPI muitas vezes deixam de ser utilizados pela autoconfiança do colaborador e é nesse momento que os acidentes acontecem. Além dos EPI, temos que relatar sobre a importância dos EPC. Uma capela de segurança química, filtros de ar para substâncias químicas, extintores de incêndio, chuveiros de emergência, placas sinalizadoras, são exemplos de equipamentos que contribuem para a proteção de todos os colaboradores de um local de trabalho.

O empregador deve fornecer os equipamentos de proteção individual de forma gratuita aos empregados e deve treiná-los para que façam o uso de maneira adequada, conforme a Norma Regulamentadora 06 (BRASIL, 2010). Esses equipamentos devem ser adequados às atividades exercidas pelos empregados. O empregador também deve assegurar que seu uso seja obrigatório, controlando de

forma contínua o uso pelo colaborador. É claro que para cada atividade laboral teremos os equipamentos de proteção sugeridos. Portanto, primeiro se faz uma análise do trabalho a ser desenvolvido, tentar correlacioná-lo à construção do mapa de risco e, posteriormente, defini-se qual o tipo de equipamento de proteção que deverá ser utilizado.

Todos os equipamentos devem ser vistoriados quanto à sua integridade e validade. Os equipamentos que não garantem a segurança de seus empregadores devem ser substituídos imediatamente.

Os colaboradores devem usar os equipamentos de proteção individuais apenas para a finalidade a que se destina e devem se responsabilizar pela sua conservação e ao perceberem que o equipamento apresente qualquer defeito, devem comunicar o fato ao seu superior direto.

Quantos profissionais da saúde não deixam o ambiente hospitalar de aventais brancos?. Muitas vezes não os retiram até mesmo para suas refeições. Nesse momento ele deixa de ser um importante EPI e passa a ser um potencial transmissor de vírus e bactérias trazidos do interior hospitalar. EPI deve ser utilizado somente no local de trabalho. Pense nisso!

Os colaboradores devem usar os

equipamentos de proteção individuais

apenas para a finalidade a que se destina e devem se responsabilizar pela

sua conservação e ao perceberem

que o equipamento apresente qualquer

defeito, devem comunicar o fato ao seu superior direto.

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Medicina do TrabalhoCapítulo 1

Abaixo, alguns dos EPI e EPC utilizados nas empresas:

Figura 5 - Exemplos de Equipamento de Proteção Individual (EPI)

Fonte: Os autores, adaptado de: Disponível em: <http://www.unifal-mg.edu.br/riscosquimicos/node/72>. Acesso em: 10 abr. 2013.

1 - O capacete de proteção: Utilizado para proteção da cabeça do empregado contra agentes meteorológicos (trabalho a céu aberto) e trabalho em local confinado, impactos provenientes de queda ou projeção de objetos, queimaduras, choque elétrico e irradiação solar.

2 - Capacete com viseira: tem como principal função proteger o crânio e a face, principalmente os olhos. Importante para quem manuseia substâncias químicas ou equipamentos que possam gerar estilhaços.

3 - Óculos de segurança: Utilizado para proteção dos olhos contra impactos mecânicos, partículas volantes e raios ultravioletas.

4 - Protetor auditivo: Utilizado para proteção dos ouvidos nas atividades e nos locais que apresentem ruídos excessivos.

5 - Protetor auditivo tipo plug: Utilizado para proteção dos ouvidos nas atividades e nos locais que apresentem ruídos excessivos.

6 - Respirador (máscara) descartável e com oxigênio: Utilizado para proteção respiratória em atividades e locais que apresentem tal necessidade, em atendimento a Instrução Normativa Nº 1 de 11/04/1994 – (Programa de Proteção Respiratória Recomendações/Seleção e Uso de Respiradores).

7 - Luva isolante de borracha: Utilizada para proteção das mãos e braços do empregado contra choque em trabalhos e atividades com circuitos elétricos energizados.

8 - Calçados de proteção: Utilizado para proteção dos pés contra torção, escoriações, derrapagens e umidade.

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Figura 6 - Equipamentos de Proteção Coletiva

Fonte: Os autores, adaptado de: Disponível em: <http://www.unifal-mg.edu.br/riscosquimicos/node/72>. Acesso em: 10 abr. 2013.

1 - Extintores de incêndio, fitas para isolamento de área, cones e chuveiro de emergência: os extintores são instrumentos fundamentais para o combate de pequenos focos de incêndio. As fitas de isolamento de área contribuem para que haja um acesso restrito de pessoas em um determinado local, muito utilizado em obras e também para preservação de cena de algum crime. Os cones são importantes sinalizadores e podem tanto alertar o colaborador para algo como servir de barreira de acesso. Por fim, o chuveiro de emergência é fundamental para banhos rápidos após acidentes químicos.

2 - Capela de Segurança: impede que haja a dissipação de vapores advindos de reações químicas. Algumas capelas também podem fornecer proteção biológica, portanto impedem a dissipação de bactérias e vírus em um determinado ambiente.

3 - Placas sinalizadoras dos riscos: permitem que haja uma rápida identificação dos principais perigos e riscos do local, mantendo o colaborador sempre alerta e distante do local indicado.

Algumas ConsideraçõesA Medicina do Trabalho precisa ser associada a uma cultura voltada à

compreensão, à análise e à defesa do ambiente de trabalho. Dessa forma, é possível construir uma visão voltada à proteção e à segurança para resguardar e preservar a vida onde quer que ela esteja presente.

Empresas de todas as áreas passaram a prestar mais atenção ao ambiente de trabalho, já que para se obter clientes externos satisfeitos, necessitam-se de colaboradores também satisfeitos.

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Medicina do TrabalhoCapítulo 1

As exigências dos clientes tornam-se um ponto a ser revisto e melhorado pelas empresas, a fim de que elas percebam que um ambiente de qualidade leva à satisfação. A empresa pode propiciar os aspectos para a melhoria do ambiente, porém se não houver comprometimento dos funcionários, dificilmente será alcançado o objetivo proposto que, na maioria das vezes, é a permanência firme num mercado cada vez mais competitivo.

ReferênciasBRASIL. NR 4 – Norma Regulamentadora 4. Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho, 1983._____. Lei 8213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Brasília, 1991

_____. NR 7 – Norma Regulamentadora 7. Programa de Controle de Medicina e Saúde Ocupacional, 1994.

_____. Portaria Nº 5.051, de 26 de fevereiro de 1999. Ministério da Previdência e Assistência Social, 1999.

_____. NR 6 – Norma Regulamentadora 6. Equipamentos de Proteção Individual, 2010.

_____. NR 5 – Norma Regulamentadora 5. Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, 2011.

_____. NR 9 – Norma Regulamentadora 9. Programa Interno de Prevenção de Acidentes, 2013.

CORREA, P. R. L.; ASSUNÇÃO, A. A. A subnotificação de mortes por acidentes de trabalho: estudo de três bancos de dados. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 2003; 12 (4).

FREITAS, C.; SÁ, I. M. B. Por um Gerenciamento de Riscos Integrado e Participativo na Questão dos Agrotóxicos. In: PERES, F. MOREIRA, J. C. (org.). É veneno ou é remédio? Agrotóxicos, Saúde e Ambiente. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2003.

FREITAS, D. Acidente de Trabalho: Causas e suas Consequências. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,acidente-de-trabalho-causas-e-suas-consequencias,34481.html>. Acesso em: 31 maio 2013.

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HÖKERBERG, Y. H. M.; SANTOS, M. A. B. dos; PASSOS, S. R. L.; ROZEMBERG B.; COTIAS, P. M. T.; ALVES, L.; MATTOS, U. A. O. O Processo de Construção de Mapas de Risco em um Hospital Público. Ciência & Saúde Coletiva, 11(2), 2006.

MASTROENI, M. F. Biossegurança Aplicada a Laboratórios e Serviços de Saúde. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2005.

MENDES, R. COSTA DIAS, E. Da Medicina do Trabalho a Saúde do Trabalhador. Rev. Saúde Pública, São Paulo, 1991.

MINOZZO, R. et al. Plumbemia em Trabalhadores da Indústria de Reciclagem de Baterias Automotivas da Grande Porto Alegre, RS. J. Bras. Patol. Med. Lab., Rio de Janeiro, v. 44, n. 6, dez. 2008.

NOGUEIRA, D. P. Incorporação da Saúde Ocupacional à Rede Primária de Saúde. Rev. Saúde públ. São Paulo, 1984.

OLIVEIRA, J. A. A.; TEIXEIRA, S. M. F. (Im) Previdência Social: 60 anos de história da previdência no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1986.

SALIBA, T. M. Curso Básico de Biossegurança e Higiene Ocupacional. 2. ed. São Paulo: LTr, 2008.

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VIEIRA, S. I. Manual de Saúde e Segurança do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2008.

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CAPÍTULO 2

Doenças do Trabalho

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:

9 Conhecer os tipos de riscos de exposição do trabalhador.

9 Entender o desenvolvimento das principais patologias laborais.

9 Reconhecer os possíveis riscos em diferentes locais de trabalho e ambiente de trabalho.

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Doenças do TrabalhoCapítulo 2

ContextualizaçãoAtualmente as exigências para com o cumprimento das atividades laborais

têm sido cada vez mais imperiosas. Muitos trabalhos exigem jornadas maiores, troca de turnos, exposição frequente a riscos, enfim, vários são os fatores do ambiente do trabalho que podem comprometer a saúde do trabalhador.

A construção de um edifício somente se torna possível devido à atividade humana de pessoas que possuem capacidade e, porque não dizer, coragem de ficar horas nas alturas. As cirurgias somente são possíveis pela atuação médica, os produtos industrializados surgem devido à atuação humana. Enfim, se analisarmos a fundo, não existe uma ocupação humana que não contenha um determinado risco iminente de sua atuação.

O presente capítulo não tem a intenção de condenar as atividades laborais, mas sim, fazê-lo entender que embora não possamos excluir os riscos laborais de nossas vidas, podemos minimizá-los e contribuir para que o trabalhador desenvolva suas atividades em condições adequadas de saúde, tais como: boas horas de descanso, uso dos equipamentos de proteção, sabedoria frente aos riscos a que é exposto para assim preveni-los, manter um ambiente de trabalho sociável e com condições de boa convivência entre os trabalhadores, entre outros.

Portanto, o presente capítulo permitirá a você compreender a classificação dos riscos ocupacionais, a constituição adequada do nosso organismo e como a exposição aos riscos dos mais diversos ambientes de trabalho, podem desencadear as doenças relacionadas ao trabalho.

Histórico do TrabalhoPrezado (a) pós-graduando (a), é notória, em nossa vida diária, a dedicação

da maior parte do nosso tempo ao desenvolvimento de atividades laborais que contemplam não somente uma realização pessoal, como também a garantia do sustento financeiro individual ou familiar. É praticamente impossível separarmos o desenvolvimento social do trabalho humano. A construção de uma sociedade sustentável, em todos os aspectos, é baseada no incremento do trabalho. O trabalho acompanha o homem desde o início da civilização sendo assim, desvincular trabalho de sociedade é algo extremamente difícil, pois um leva a evolução do outro. Desde a sociedade mais primitiva até a contemporânea está implícita a atividade laboral que, entre outros objetivos, serve como alicerce para o crescimento humano e o progresso social.

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Mas afinal, o que é trabalho? Se fossemos realizar uma pesquisa, nos mais diversos dicionários, livros-textos ou sites de busca, teríamos várias definições dessa palavra. Para auxiliá-lo nos estudos, mencionoamos aqui um resumo das várias fontes. Trabalho trata-se de uma determinada ocupação que exige uma aplicação coordenada de separarmos o desenvolvimento social do trabalho humano. A palavra trabalho advém do latim (TRIPALIUM) que fazia alusão a um instrumento de tortura formado por três estacas. Ou seja, o trabalho sempre foi visto como algo ruim, que demanda esforços para sua realização (BONZATTO, 2011).

O desenvolvimento de toda e qualquer atividade laboral emana uma condição favorável de saúde, para que todo esforço exigido, seja ele físico ou mental (horas a frente do computador, carregamento de peso, ficar muito tempo em uma mesma posição) possa ser correspondido. A preocupação com a saúde do trabalhador e a prevenção de acidentes é algo relatado inclusive em trechos bíblicos, mediante a indicação da construção de parapeitos no decorrer de algumas edificações (SANTANA, 2006). Prevenir o desenvolvimento de doenças e/ou auxiliar na recuperação do indivíduo frente a alguma patologia, torna-se algo de extrema valia para que este possa ter uma maior dedicação e consequentemente melhor rendimento em suas atividades.

Ao descrever sobre saúde do trabalhador ou doenças ocupacionais, se faz importante mencionar o trabalho desenvolvido por Ramazzini, no século XVII, o qual foi um dos primeiros autores a descrever sobre

questões importantes que deveriam ser obtidas junto ao trabalhador na tentativa de prevenir o desenvolvimento de doenças no trabalho (SANTANA, 2006).

SANTANA, Vilma Souza. Saúde do trabalhador no Brasil: Pesquisa na pós-graduação. Rev. Saúde Pública, 2006; 40(N Esp):101-111 – a autora descreve em sua obra os pontos e sequências históricas mais importantes no que tange aos cuidados com a saúde do trabalhador. Segundo a autora correlação e a preocupação dos acidentes do trabalho e saúde do trabalhador somente começaram a de fato se desenvolver após o século XIX, inclusive no Brasil mediante os movimentos antiescravitas.

A preocupação com a saúde do trabalhador e a prevenção de

acidentes é algo relatado inclusive

em trechos bíblicos, mediante

a indicação da construção de parapeitos no decorrer de algumas edificações

(SANTANA, 2006).

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Doenças do TrabalhoCapítulo 2

O Que é Saúde e Doença?Antes de iniciarmos o texto, convido você a tentar definir o que é saúde e o

que é doença.

Atividades de Estudos:

1) Nesse momento, é interessante que você tente descrever o que sabe sem nenhum tipo de consulta.

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2) Que tal agora realizar uma consulta no dicionário ou fontes literárias e comparar com o que descreveu?

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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde é definida como um completo bem-estar físico, psíquico e social do indivíduo, de maneira que este possa desfrutar e/ou usufruir de sua vida em boas condições. Ou seja, tudo aquilo que acomete o indivíduo de maneira que o impeça de gozar de um bem-estar pode ser considerado como doença. Temos que tomar cuidado para que não nos percamos do foco do estudo. Mediante a definição acima, podemos afirmar que doença trata-se de um transtorno que compromete o bem-estar físico, psíquico, mental e social de um indivíduo podendo ou não afetar àqueles de sua convivência.

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Uma vez que conseguimos definir o conceito de saúde e doença, agora podemos seguir para o próximo passo: entender um pouco sobre a constituição do organismo humano e seu funcionamento, pois somente assim, teremos a capacidade assimilar e entender o agravo de cada doença frente ao desenvolvimento das atividades trabalhistas.

Embora o curso não seja para que você se especialize no funcionamento do corpo humano, se faz importante entender tais processos. Que tal uma viagem na máquina mais perfeitamente projetada?

O Organismo HumanoToda essa estrutura que vemos com a capacidade de pensar, locomover,

comer, beber, festejar e trabalhar, nada mais é do que um emaranhado de diferentes células (menor unidade formadora do organismo humano) que trabalham e se diferenciam de maneira ordenada. São praticamente 10 trilhões de células que se unem para fazer com que essa máquina funcione (ALBERTS, 2006). Mais fantástico do que isso é saber que todos nós surgimos de uma única célula advinda da união de um óvulo materno e um espermatozoide paterno, união essa que dá origem a uma célula pluripotente, também conhecida como célula-tronco e que terá a possibilidade de originar toda e qualquer célula do organismo humano, sendo, portanto responsável por toda sua constituição.

A célula-tronco originada multiplica-se e desenvolve-se com objetivo de originar diversas células diferenciadas para realização de funções específicas. Algumas células são especializadas em se contrair (músculo), outras em nos defender (leucócitos), outras em transportar oxigênio (hemácias). Assim como a divisão de trabalhos de uma empresa onde cada setor é constituído de pessoas diferentes que realizam funções diferentes, nossas células se reúnem em vários grupos para divisão das atividades orgânicas. A célula recepcionista, a célula telefonista, a célula do almoxarifado, a célula diretora, de maneira que o sucesso dessa empresa depende da boa convivência entre as diferentes células e os diferentes setores, se um falhar compromete o andamento de todo o processo. É exatamente isso que acontece quando sofremos algum tipo de doença ou dano, aquilo que enxergamos macroscopicamente (sintomas) é consequência de danos ocorridos em inúmeras células microscópicas (KUMAR; FAUSTO; ABBAS, 2005).

Para formação do corpo humano é importante se ter em mente que várias células no organismo vão se unir para formar um determinado tecido (tecido muscular, ósseo, conjuntivo, epitelial e nervoso), vários tecidos se unem para constituir um determinado órgão (pulmão, coração, cérebro etc.), vários órgãos

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Doenças do TrabalhoCapítulo 2

unem-se para constituir um sistema (muscular, cardíaco, urinários etc.) e, vários sistemas formam um organismo, no nosso caso, o corpo humano. Obviamente toda essa organização deve se comunicar para que cada compartimento desenvolva suas funções corretamente. Essa comunicação é feita mediante a produção de diversas substâncias que são conduzidas por nossa corrente sanguínea a toda e qualquer parte do organismo.

Muito bem, uma vez definido o significado de saúde, o significado de doença e a constituição básica do organismo humano, podemos dar seguimento aos nossos estudos e realizar a classificação dos riscos presentes em nossas atividades diárias.

Figura 7 - Células Pluripotentes

Fonte: Disponível em: <http://coisaspraver.blogspot.com.br/2013/02/celulas-tronco-o-que-sao-o-que-e-para.html>. Acesso em: 10 mar. 2013.

Classificação dos Riscos Ambientais e as Doenças Relacionadas ao Trabalho

Antes de iniciarmos a descrição dos riscos que todo e qualquer tipo de trabalho possa apresentar, se faz importante reconhecer que não existe trabalho 100% seguro, com ausência de riscos. Pensemos em um hospital, como trabalhar todos os dias sem se expor aos riscos de contaminação ali existentes? Como proceder a pintura de um edifício ignorando sua altura? O que buscamos é minimizar os

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perigos inerentes de cada exercício profissional aplicando de maneira preventiva as ações que possam contribuir para o bem estar do trabalhador. Só há uma maneira de aplicarmos medidas preventivas: conhecendo como as doenças se desenvolvem. Obviamente são inúmeras as patologias que podem ocorrer em um dia a dia de trabalho e seria uma tarefa difícil descrevê-las todas aqui. Sendo assim, descreveremos algumas patologias correlacionadas com o ambiente de trabalho.

Segundo Brasil (2011), que trata do PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais), os riscos ocupacionais podem ser classificados de uma maneira geral em físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e acidentes. Portanto, não somente a natureza do trabalho, mas o ambiente onde ele é desenvolvido contribui para que haja uma maior ou menor exposição aos riscos supracitados. Não precisamos sofisticar exemplos para entender e identificar as possibilidades de acidentes que podem ocorrer em um determinado ambiente. Já parou para pensar quanta coisa você poderia fazer diferente para evitar acidentes dentro da própria casa?

As legislações trabalhistas buscam estabelecer limites de intensidade ou tempo de exposição aos respectivos riscos, tais como: a quantidade de decibéis que um trabalhador pode ser exposto, exposição a produtos químicos, entre outros (BRASIL, 2011). Vale ressaltar que os limites retratam de uma maneira geral cada um dos indivíduos supostamente expostos aos riscos, esses índices de tolerância podem sofrer variações de indivíduo para indivíduo. Uns podem suportar mais o frio, os efeitos de radiações, as exposições ao calor, os esforços repetitivos do que outros.

Riscos FísicosSegundo Hirata, Hirata e Mancini (2011), riscos físicos são aqueles que

podem provocar algum tipo de dano mediante variação de energia. Os mais comuns riscos físicos aos quais somos submetidos são:

Calor

Nós, seres humanos, somos considerados animais homeotérmicos, ou seja, temos a capacidade de regular nossa temperatura mediante a temperatura a qual somos expostos (AIRES, 1998). Você certamente já frequentou a praia ou tomou um banho de piscina em dias de 40oC. Certamente um pintor, um metalúrgico já trabalhou por horas exposto a temperatura semelhante. Se nesse momento colocássemos um termômetro para medir sua temperatura você estaria com 36,5oC, ou seja, nossa temperatura fisiológica (normal). A estrutura anatômica

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responsável por regular a temperatura corpórea é uma glândula localizada no diencéfalo (parte do cérebro) chamada de hipotálamo. Esse processo regulatório é de suma importância, pois todas as reações metabólicas e químicas que ocorrem no organismo são dependentes de funções enzimáticas do interior das células, as quais somente funcionarão em temperatura ótima (AIRES, 1998). Portanto, toda vez que formos expostos a altas temperaturas ou exigirmos muito de nossa máquina humana, tenderemos a uma sobrecarga desse sistema regulador.

Quando a exposição ao calor torna-se demasiada, frequente e intensa, (caso de trabalhadores de fornalhas em fundições, por exemplo), nosso organismo tentará equilibrar o ambiente interno e externo impedindo que haja uma elevação da temperatura corpórea e seus eventuais prejuízos.

A elevação da temperatura externa ocasiona um processo conhecido como vasodilatação (aumento do calibre dos vasos sanguíneos) que por consequência aumenta o fluxo sanguíneo e a concentração de células sanguíneas no local. Essa resposta do organismo à exposição a altas temperaturas provoca uma perda de calor para o meio e permite que seja mantida a temperatura interna do corpo em seus índices fisiológicos.

Embora esse mecanismo fisiológico funcione muito bem, ele tem seu limite de ação que, quando ultrapassado, acaba por não dissipar o calor corpóreo de forma adequada eleva o indivíduo a uma perda de concentração, fadiga, sonolência, queda de pressão (principalmente devido à vasodilatação extrema) e desidratação ocasionada pelo aumento da sudorese (perda de água pelo suor). Há de se ter extremo cuidado para com estes sintomas, caso contrário pode-se passar do desconforto para o óbito devido a danos celulares irreversíveis.

Frio

Assim como a exposição ao calor extremo, a exposição ao frio também tem suas consequências. Como relatado, nosso organismo dispõe de mecanismos para manter a temperatura corpórea adequada. Toda vez que formos expostos ao frio, a sensação térmica será interpretada pelo nosso Sistema Nervoso que iniciará uma série de respostas frente ao estímulo. Um dos mais conhecidos é o tremor, que são contrações musculares que ocorrem involuntariamente para gerar calor, como se fosse uma atividade física forçada. O que acontece quando você faz uma caminhada? Exatamente, você sua! Isso ocorre devido à contração muscular e o ritmo cardíaco aumentado que gera calor (AIRES, 1998).

Outro fator visível mediante a exposição ao frio é o “roxear” das extremidades (principalmente dedos das mãos e pés), devido à vasoconstrição (diminuição do calibre dos vasos sanguíneos) desencadeada pelo frio. Se você lembrar, sempre

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que estamos em um período de frio nossos pés e nossas mãos são os locais mais gelados do corpo, isso se dá devido à vasoconstrição e menor irrigação sanguínea no local (AIRES, 1998).

Os graus de lesões e sintomas vão variar de acordo com o tempo de exposição e a intensidade ao frio que foi exposto. Porém, independente do grau de sintomas, estes são inicialmente desencadeados pela alteração na circulação sanguínea local (vasoconstrição). Se não chega sangue em um determinado tecido do organismo, não chega oxigênio e, sem oxigênio, nossas células começam a morrer. Por isso, é muito comum pessoas que são expostas ao frio intenso terem o congelamento de membros inferiores seguido de gangrena (KUMAR; FAUSTO; ABBAS, 2005).

Gangrena: é uma complicação de uma necrose isquêmica (falta de suprimento sanguíneo, e consequente falta de oxigênio) das extremidades (braço, mão, perna, pé), e seguida de invasão bacteriana e putrefação. Clostridium perfringens é a espécie bacteriana mais comum envolvida na gangrena, mas outros Clostrídios e várias outras bactérias também podem crescer nos ferimentos ou em qualquer parte do corpo que tenha sua circulação interferida ou impedida (KUMAR; FAUSTO; ABBAS, 2005).

A vasoconstrição desencadeada pela exposição frequente ao frio ocasiona a morte celular pela falta de suprimento sanguíneo (muito comum em alpinistas de geleiras). Alterações vasculares são responsáveis por cerca de 80% das amputações em membros inferiores, as quais, em sua grande maioria, são realizadas devido à morte do tecido local por falta de vascularização na tentativa de evitar a contaminação bacteriana (CARVALHO et al, 2005).

Outra situação bastante difundida frente à exposição ao frio extremo é a hipotermia (queda da temperatura corpórea). Quando nossos mecanismos fisiológicos não conseguem mais suprir a demanda de calor exigida pelo corpo, nossa temperatura começa a baixar. Considera-se estado de hipotermia quando a temperatura diminui em 1 a 2oC em relação a temperatura fisiológica (36,5oC). Nesse momento inicia-se a sensação de dor e tremor intenso. Conforme, o tempo de exposição ao frio aumenta, a sensibilidade diminui e os tecidos podem começar a morrer devido à falta de irrigação sanguínea. Em graus extremos, ocorre a parada cardiorespiratória e morte.

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Doenças do TrabalhoCapítulo 2

Radiação

Assim como mencionado anteriormente, direcionaremos nossas explicações no que tange aos danos orgânicos causados pela exposição à radiação.

Leitura do capítulo que relata sobre os riscos físicos do livro MASTROENI, Marco F. Biossegurança Aplicada a Laboratórios e Serviços de Saúde. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2005.

Radiação, do ponto de vista físico, é considerada a propagação de energia em um determinado meio que possa produzir algum efeito sobre a matéria. Elas podem ser divididas em basicamente dois tipos: ionizante (raios alfa, beta, gamma e X) e não ionizante (ultravioleta e infravermelho) (HENEINE, 2007).

Detectar a exposição à radiação e os limites de tolerância para tal é de suma importância, pois seus efeitos são acumulativos e podem se manifestar após longo tempo de exposição, sendo prejudicial à saúde humana.

No início desse capítulo colocamos que não existem trabalhos 100% seguros. Talvez os profissionais que exercem suas funções em ambientes radioativos sejam àqueles com maior propensão a nocividade. Atualmente a radiação é de suma importância para vários setores, principalmente no auxílio ao diagnóstico e tratamento médico (radiografias, medicina nuclear, radioterapia etc.) fato que coloca os trabalhadores em risco iminente e requer cuidados demasiados, não só individual como também coletivo. Diferente do paciente que recebe sua dose e radiação para fins diagnósticos e, em seguida, sai do ambiente radioativo, os profissionais desta área ficam diariamente expostos a inúmeras descargas de radiação, sendo assim, torna-se necessário o uso constante dos equipamentos de proteção individuais (coletes de chumbo) e coletivos (sala com parede baritada).

Você deve se perguntar a razão dessa nocividade, correto? Para uma resposta coerente ao seu questionamento, se faz necessário esclarecermos alguns conceitos.

Toda informação genética necessária para que nosso organismo trabalhe corretamente estão armazenadas em nosso DNA – ácido desoxirribonucléico. Esse material genético fica armazenado na forma de cromossomos em estruturas localizadas no interior de nossas células denominadas de núcleo (ALBERTS, 2006). São esses elementos que garantem a hereditariedade de nossos pais

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para nós, de nós para nossos filhos e assim sucessivamente. Basicamente e do ponto de vista genético, podemos dividir nossas células em dois tipos: as somáticas e as germinativas (gametas). Ambas são constituídas, dentre outros elementos, de DNA. Estruturalmente o DNA é constituído de uma sequência ordenada de moléculas denominadas de nucleotídeos (adenina, guanina, citosina e timina), sendo sua função altamente dependente de como este material esta sequenciado. Além de armazenar as características genéticas de cada ser vivo, o DNA tem como função promover a produção de proteínas em nosso organismo, ou seja, para cada proteína que nós produzimos há uma sequência específica de DNA (gene). Mediante a produção de proteínas o DNA controla o potencial metabólico e de multiplicação celular de maneira que ocorra de forma ordenada e extremamente controlada (ALBERTS, 2006).

Você deve estar se perguntando neste momento: Qual a relação do DNA com a exposição radioativa?

Toda vez que somos colocados em contato com radiações, sejam elas ionizantes ou não ionizantes, podemos ter nossa sequência de nucleotídeos alterada mediante a quebra de ligações químicas (mutação). Portanto, se alteramos a sequência de nucleotídeos, começamos a produzir proteínas defeituosas e o controle metabólico e de multiplicação celular atua de forma desordenada. As células perdem sua função e se multiplicam de forma desregulada (ALBERTS, 2006).

Lembrando do que comentamos no início do nosso capítulo, se alteramos células, alteramos tecidos, se alteramos tecidos, alteramos órgãos, se alteramos órgãos, alteramos sistemas que por consequência altera o funcionamento de um determinado organismo. Mediante a alteração da sequência de nucleotídeos denomina-se a ocorrência de uma mutação a qual pode desencadear o surgimento do câncer (KUMAR; FAUSTO; ABBAS, 2005).

Nucleotídeo: é a menor molécula formadora do DNA. Uma molécula de DNA é constituída por inúmeros nucleotídeos, os quais devem obedecer a uma sequência dentro da molécula para sua correta função (ALBERTS, 2006).

Não é possível prever como, quando, onde ou até mesmo se pessoas submetidas à radiação desenvolverão algum tipo de câncer. Quando a neoplasina se desenvolve anos mais tarde, fica difícil até mesmo determinar se a exposição à radiação foi realmente o fator desencadeador da doença.

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Vale ressaltar que algumas células são mais susceptíveis a ação da radiação do que outras e que, não somente a área afetada diretamente pela radiação pode sofrer com o desenvolvimento de tumores, mas é fato que as áreas mais expostas diretamente aos efeitos radioativos detêm maior chance para o desenvolvimento tumoral.

A exposição à radiação pode ter efeitos imediatos ou cumulativos. Quando se tem uma exposição excessiva à radiação, ás células podem sofrer danos irreversíveis e levar o indivíduo à morte quase que instantaneamente. Lembremo-nos do famoso caso brasileiro que ocorreu no Estado de Goiás, onde crianças foram expostas a materiais radioativos (Césio 137) advindos de um aparelho de radioterapia (ALMEIDA, 2012). Quando se tem um efeito acumulativo, além da possibilidade de desenvolver o câncer pode ser que as células germinativas (que dão origem ao óvulo e espermatozoide) sejam afetadas e, se isso acontece, há possibilidade de os filhos dessas pessoas que foram expostas sofrerem com algum tipo de mutação. Porém, certificar a possibilidade de um indivíduo exposto à radiação transmitir os efeitos aos seus descendentes é algo impossível de mensurar.

Pressão

De forma simples, podemos dizer que pressão é a relação de força para com uma determinada área (HENEINE, 2007). Para que possamos entender o foco do nosso estudo, temos que levar em consideração a pressão atmosférica e uma relação muito simples: quanto mais longe do solo menor será a pressão e quanto mais perto, maior será a pressão. Mergulhadores são sempre expostos a pressões muito altas, enquanto alpinistas sofrem com pressões muito baixas. Você já deve ter subido ou descido as inúmeras serras que temos pelo Brasil e certamente sentiu seu ouvido “fechar”. O que ocorre nestes casos é uma diferença de pressão entre o ouvido interno e externo fazendo com que haja uma alteração da membrana timpânica e isso nos dá a sensação de que estamos surdos (HENEINE, 2007).

A membrana timpânica é uma estrutura que ao entrar em contato com uma determinada frequência sonora, vibra e transmite esse som para o ouvido interno (DANGELO, 2005).

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Os maiores riscos frente à variação de pressão certamente envolve pessoas que trabalham sob alta pressão tais como: mergulhadores, tripulações de submarinos, operários de túbulos pneumáticos na construção civil etc. Você já tentou abrir uma garrafa de refrigerante de maneira abrupta? O que acontece? Exato! Formação de bolhas. Todas essas bolhas estavam de certa forma dentro da garrafa, porém a pressão ali exercida fazia com que esses gases permanecessem em meio líquido, quando houve uma variação de pressão: Boom! Agora imagine o que aconteceria com nosso corpo frente a uma variação de pressão como essa? Voltemos para a mesma garrafa de refrigerante, porém agora, vamos abri-la bem lentamente. O que você notou? Exato! Não houve formação de bolhas. É justamente por isso que quando formos submetidos à variação de pressão esta deve acontecer lentamente tanto para pressurizar quanto para despressurizar.

Toda essa preocupação está correlacionada a moléculas que em nosso organismo, devido à pressão, estão na forma líquida, mas que podem se transformar em compostos gasosos mediante uma variação abrupta, tais como o nitrogênio e oxigênio, causando o que é conhecido como embolia (KUMAR; FAUSTO; ABBAS, 2005).

Embolia é uma massa sólida, líquida ou gasosa que é transportada pelo sangue e que pode obstruir os vasos sanguíneos, causando a falência de órgãos vitais (KUMAR; FAUSTO; ABBAS, 2005).

Fisiologicamente o nitrogênio, que é uma substância tóxica para o organismo é eliminado principalmente na forma de ureia mediante o processo de metabolismo hepático e filtração renal (HENRY, 2008). Como mencionado, isso somente é possível devido ao elemento de nitrogênio estar sob a forma líquida. Quando há uma alteração de pressão o nitrogênio passa para sua forma gasosa e o organismo perde sua capacidade de eliminá-lo na forma de ureia, fato que contribui para a ocorrência de embolia e risco de morte.

As mudanças abruptas de pressão também podem ocasionar o rompimento da membrana timpânica e causar distúrbios na audição (ABC DA SAÚDE, 2013). Por fim, cavidades e órgãos do corpo também podem sofrer com essa alteração mediante dilatações ou rompimentos que impeçam seu funcionamento adequado. Um dos exemplos mais graves em relação a isso é quando o pulmão perde sua capacidade de inflar e, consequentemente, realizar as trocas gasosas necessárias para nossa respiração (LAMBERT; HANSEN, 2007).

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Em nossa circulação existem células denominadas hemácias. As hemácias são constituídas de grande quantidade de hemoglobina que é uma molécula proteica com capacidade de ligação ao oxigênio e ao gás carbônico. Sendo assim, no momento que realizamos a respiração celular, as hemácias carregam oxigênio para os tecidos e trazem o gás carbônico dos tecidos para ser expelido para o meio externo. Quando indivíduos são submetidos a situações de baixa pressão atmosférica, o oxigênio tende a se dissipar no ambiente dificultando sua obtenção pelo processo de respiração normal. Com uma disposição de oxigênio menor, o transporte deste gás para o interior das células fica prejudicado e a oxigenação dos tecidos e principalmente do cérebro fica depreciada. O estado de hipóxia (diminuição de oxigênio tecidual) estimula um maior ritmo cardíaco, debilidade motora e diminuição da capacidade responsiva, gerando inclusive desmaios. Dependendo do grau dehipóxia podem ser observadas lesões teciduais mais graves que levem a edemas cerebrais e consequente à morte (HENRY, 2008).

Ruídos

A surdez devido à exposição a ruídos é a doença ocupacional mais comum dentre as hoje conhecidas. O processo de audição basicamente ocorre em três estágios (AIRES, 1998):

1 - Captação das vibrações sonoras pelo ouvido externo, o qual amplifica os sinais sonoros.

2 - A membrana timpânica localizada no ouvido médio emite os sinais sonoros para os ossículos mediante sua vibração. Os ossículos facilitaram a transmissão dos sinais para o ouvido interno transformando energia sonora em hidráulica.

3 - O ouvido interno, através da cóclea, possui um conjunto de membranas sensíveis que captam a energia gerada e transmitem ao cérebro.

A pessoa exposta a ruídos contínuos e intensos acaba por lesionar a região do ouvido interno que perde a capacidade de transmissão dos estímulos ao cérebro gerando sintomas de surdez. Praticamente 100% dos casos de surdez são fisiologicamente irreversíveis (HENEINE, 2007).

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Figura 8 - Limites de tolerância a ruídos

Fonte: Brasil (2011).

Vibrações

As vibrações estão presentes em várias atividades laborais. A exposição às vibrações pode ser localizada (principalmente em membros superiores e inferiores) ou corpórea (dano principal na coluna vertebral). Trabalhadores com esforços manuais constantes (madeireiros, pedreiros, operadores de retroescavadeiras etc.) estão submetidos a frequentes lesões por conta das vibrações excessivas.

A patologia mais conhecida é denominada de Síndrome da Vibração de Mãos e Braços. A síndrome surge pela exposição constante à vibração, tendo como um dos primeiros sintomas o branqueamento dos membros, a diminuição da sensibilidade e a sensação de formigamento devido à queda do potencial de irrigação sanguínea. Mediante a manutenção do esforço por longos períodos de tempo há um maior comprometimento vascular e nervoso sendo que, em casos mais extremos, corre-se o risco de amputação de partes do membro pela morte do tecido, desenvolvimento de gangrena e risco de infarto, fatores que exigem o afastamento do trabalhador de suas funções (HAGBERG, 2004).

Outra conseqüência da exposição às vibrações é a síndrome do carpo ou lesão por esforço repetitivo. A síndrome ocorre devido ao comprometimento do nervo radial que passa pelo antebraço e inerva as mãos. Essa patologia impede o desenvolvimento de tarefas simples e delicadas como passar a linha em uma agulha, pegar uma moeda do chão, abotoar o botão da camisa, além de gerar intensas dores. Indivíduos expostos frequentemente a ações repetidas em seu trabalho (digitadores, pedreiros, costureiras, domésticas entre outros) podem ser

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acometidos pela síndrome do carpo. Embora haja chance de tratamento, muitas vezes se faz necessário um processo cirúrgico (OLIVEIRA, 2000).

Riscos Químicos

O contaminante químico pode ser considerado como toda substância que uma vez manuseada seja no estado sólido, líquido ou gasoso poderá entrar em contato com o organismo humano e ser prejudicial (HIRATA, HIRATA e MANCINI 2011).

Segundo Hirata, Hirata e Mancini (2011), as diversas substâncias químicas podem ser enquadradas nos seguintes grupos: tóxicas, irritantes, oxidantes, corrosivas, voláteis e inflamáveis, estando na forma gasosa, liquefeita ou sólida. De acordo com a natureza do composto, têm-se as exigências de biossegurança necessárias para boas condições de trabalho. Elementos que exibem toxicidades na forma de gás possuem maior periculosidade, pois se comportam como inimigos invisíveis. A potencialidade dos efeitos que uma substância química pode provocar é diretamente proporcional ao tempo de exposição e dose recebida (Da Fonseca, De Marchi, Da Fonseca, 2000), 2000).

Para entender os efeitos posteriores da exposição aos agentes químicos é importante saber qual a via de entrada e qual o tipo de tecido mais afetado, podendo gerar efeitos locais ou sistêmicos. Os agentes químicos podem penetrar no organismo por diversas vias, tais quais:

• Oral: substâncias químicas que se encontram no estado sólido ou líquido. Os efeitos podem ser gastrointestinais ou sistêmicos quando absorvidos pela corrente sanguínea.

Atividade de Estudos:

1) Procure alguma referência literária e liste ao menos cinco elementos químicos que poderiam ser ingeridos pela via oral e causar danos ao organismo.

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• Tópica e Mucosas: geralmente o composto químico adentra pelas células da epiderme (pele) ou pelas mucosas (boca, laringe, faringe, traqueia, entre outras).

Atividade de Estudos:

1) Procure alguma referência literária e liste ao menos cinco elementos químicos que poderiam interagir com a pele e mucosas.

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• Aérea: nesse caso trata-se do contato com compostos químicos voláteis e que são inalados mediante o processo respiratório. A toxicidade do agente químico pelas vias aéreas é considerada a mais perigosa de todas, devido à rápida passagem para a circulação sanguínea.

Atividade de Estudos:

1) Procure em alguma referência literária e liste ao menos cinco elementos químicos que poderiam interagir com VIAS AÉREAS.

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Quando um determinado agente químico é absorvido e cai na corrente circulatória, ele precisa ligar-se a algum componente celular específico para que consiga gerar a toxicidade celular. O exemplo mais comum é a teoria chave-fechadura (ALBERTS, 2006). Um determinado cadeado somente consegue ser aberto quando em contato com sua chave específica, correto? Esse é o mesmo princípio para os reagentes químicos, eles somente manifestarão efeitos no organismo quando ligarem-se a uma determinada região celular específica (enzimas, receptores de membrana, etc.). Isso acarretará em distúrbios bioquímicos sérios e, muitas vezes, irreversíveis. Certos compostos químicos, quando na circulação sanguínea, serão metabolizados pelo fígado, nosso principal órgão metabólico. Devido a isso, muitas vezes, o fígado é um dos órgãos mais acometidos pelos processos de intoxicação (HENRY, 2008).

Muito bem, uma vez realizada uma introdução frente aos compostos químicos, agora dividiremos os principais agentes químicos envolvidos com acidentes de trabalho.

Metais PesadosOs metais pesados são substâncias químicas altamente reativas e com

alto poder tóxico quando no organismo, pois tem pouco ou nenhum potencial de metabolização hepática. O fato de não sofrerem metabolização faz com que permaneçam circulantes ou acumulados nas células e tecidos por longos períodos de tempo. Vale ressaltar que alguns metais pesados como zinco e o cobre são benéficos em pequenas quantidades, pois auxiliam no funcionamento de algumas enzimas (MOREAU; SIQUEIRA, 2008).

a) Chumbo (Pb)

Trata-se de um metal pesado muito utilizado em processos industriais, na construção civil, em baterias de automóveis e proteção contra raios-X. O chumbo é um elemento intolerável pelo organismo em quaisquer concentrações não sendo metabolizado. Quando inalado (principal forma de contato) alcança a corrente circulatória, fica complexado a macromoléculas e deposita-se em órgãos moles (rins, fígado e cérebro). Sua presença no organismo humano é denominada de saturnismo (MINOZZO, 2008).

Os trabalhadores que manipulam baterias são os mais acometidos, do ponto de vista ocupacional, pelo saturnismo. O chumbo tem um enorme potencial de danificar o DNA celular e, consequentemente, contribuir para o desenvolvimento do câncer. Além disso, o chumbo pode desencadear falência renal, morte

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precoce de hemácias (potencial anêmico) e danos hepáticos. Mediante o grau de exposição à intoxicação pode ser irreversível e os graus de severidade diversos (MINOZZO, 2009).

Por estar presente nas indústrias, existe uma enorme preocupação para com a poluição ambiental. O chumbo pode contaminar rios e solos e, por consequência, os animais que usufruem desses espaços, podendo chegar ao homem mediante o consumo de água e alimentos contaminados.

b) Mercúrio

Muito utilizado por mineradores em busca do ouro, ocasionou não somente a contaminação individual, como também a contaminação ambiental principalmente de rios e solo. O mercúrio é para produção de espelhos, instrumentos de medida e lâmpadas. Todo processo de contato e absorção se dá pela pele e via respiratória devido sua alta volatilidade.

As intoxicações pelo mercúrio podem ser dividas em:

• Aguda:

Ocorre por inalação de grandes quantidades de mercúrio, sendo o pulmão o órgão mais afetado. O mercúrio inalado acumula-se nos alvéolos e dificulta o potencial de respiração apresentando sintomas semelhantes a uma pneumonia (MOREAU; SIQUEIRA, 2008).

• Crônica:

Ocorre por exposição prolongada ao mercúrio e tem como principal órgão acometido o cérebro. Devido a isso o paciente apresenta grandes alterações neurológicas, tais como: tremores (principalmente nos membros superiores), eretismo psíquico (irritabilidade, as alterações frequentes do humor, timidez excessiva, insegurança, desânimo, insônia, perda de memória recente, desatenção, dificuldade de concentração, melancolia e depressão), alterações vasculares. O mercúrio pode acumular-se em diversos órgãos causando-lhes danos e sintomatologias diversas (OGA, 2008).

c) Cádmio

Trata-se de um metal pesado muito utilizado na fabricação de pilhas e baterias. Quando no ambiente pode desencadear uma contaminação quase que permanente

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de elementos como a água e o solo, além dos animais que obtêm sua nutrição desses meios, fato que pode contribuir para uma espécie de “cadeia de intoxicação”, pois fica retido nos tecidos dos animais, consumidores primários, sendo transmitido na cadeia alimentar, além de uma contaminação ambiental sistemática.

Como explicado no início do nosso capítulo, nossas células possuem diversas enzimas que contribuem para seu funcionamento microscópico. Essas enzimas se concentram em determinadas vias metabólicas que garantem que compostos sejam produzidos ou degradados no interior das células. O que vai definir a produção ou degradação de algum tipo de substância em nosso corpo é a disponibilidade dela no organismo para que possamos desenvolver nossas funções (HENRY, 2008). Um exemplo prático: toda vez que nos alimentamos aumentamos os nossos níveis de glicose no sangue, sendo assim, a tendência é que ela seja consumida gerando energia (degradada) ou armazenada, produzindo glicogênio (molécula de reserva energética (CHAMPE, 2006). Quem determinará qual caminho seguir? A necessidade energética do momento!

O cádmio acumula-se no organismo durante anos e os danos provenientes de seus acúmulos ocorrem devido ao bloqueio de várias atividades enzimáticas. O cádmio pode ser acumulado em diversos órgãos, tendo como alvos principais: os rins e pulmões. Portanto, os principais sintomas e consequências de sua intoxicação são: enfisemas, fibrose pulmonar, glomerulonefrites e, além disso, é um potencial elemento cancerígeno (OGA, 2008).

Irritante e AsfixianteDe acordo com os efeitos que causam no organismo, os gases podem ser

divididos em irritantes e asfixiantes, sendo o trato respiratório e as mucosas (principalmente os olhos), os locais mais atingidos e que manifestam a maioria dos sinais e sintomas de um processo de irritação e asfixia. Vale ressaltar que a pele também pode manifestar sinais de irritação mediante a exposição a alguns tipos de gases. Os efeitos da ação dos gases no organismo são diretamente correlacionados com sua solubilidade em água. A água constitui aproximadamente 70% das nossas células, sendo assim, podemos dizer que 70% do nosso organismo é constituído por água. Quanto maior o potencial de solubilidade de um determinado gás, maior serão seus efeitos perante o organismo, pois seu processo de absorção será mais rápido. De uma maneira geral, os gases com maior solubilidade acabam por manifestar seus efeitos e sintomas nos olhos, pele e trato respiratório superior enquanto gases de solubilidade menor têm seus sinais e sintomas manifestados principalmente no trato respiratório inferior devido ao processo de absorção mais lento.

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A asfixia é definida pela supressão de pulso ou da respiração, portanto todo e qualquer mecanismo que impeça o adequado processo de inspiração de oxigênio e expiração do gás carbônico resultante da respiração é considerado asfixiante. Os gases exercem diferentes potenciais asfixiantes, os quais são diretamente correlacionados com a sua concentração e o tempo de exposição em um determinado ambiente (OGA, 2008).

Antes de entender os efeitos asfixiantes, há necessidade de entender o processo fisiológico da respiração. A hemoglobina é uma molécula proteica constituída de 4 cadeias proteicas, um anel de protoporfirina e vários átomos de ferro. Quando respiramos há um processo de oxidação do ferro presente na hemoglobina e, isso faz com que ele seja levado até os tecidos pela corrente circulatória (local onde encontram-se as hemácias). Ao chegar aos tecidos, encontra-se uma maior concentração de gás carbônico (CO2) do que de oxigênio, o que acarreta na troca gasosa. O oxigênio é deixado nos tecidos enquanto o gás carbônico é levado aos alvéolos pulmonares para posterior liberação para o meio extracelular. Esse processo de respiração faz com que o oxigênio seja disponibilizado e utilizado pelas células para produção de energia e consequente equilíbrio orgânico (HENRY, 2008).

Gases como cloro e seus derivados, ozônio, cianeto, amônia, dióxido de carbono, monóxido de carbono e derivados do nitrogênio exercem ação asfixiante. Dentre os citados, vale ressaltar a ação do monóxido de carbono que, embora conhecido até mesmo pela população leiga, é responsável por diversos casos de morte, inclusive em ambiente doméstico. Quantas vezes já acompanhamos em reportagens que o indivíduo deixou o carro ligado na garagem de casa, dormiu e foi encontrado morto? Automaticamente você deve perguntar: Por que ao sentir os sintomas de intoxicação o indivíduo não se afastou do local?

O monóxido de carbono é um gás derivado da queima incompleta de combustíveis orgânicos, comumente encontrado em siderurgias, incêndios e motores automobilísticos. Tem uma afinidade de ligação pela molécula de hemoglobina muito maior do que o oxigênio (cerca de 200 vezes), devido a isso tem um risco potencial de asfixia. Um ar contendo 0,1% de gás carbônico pode ocasionar um processo de intoxicação grave, levando inclusive o indivíduo a óbito por asfixia. Quando a exposição ao monóxido de carbono se dá em grandes concentrações, este acaba por saturar grande parte da hemoglobina e queda do potencial de oxigenação cerebral, fato que leva o indivíduo à inconsciência e posterior óbito. Por estar dormindo, não percebe os primeiros sintomas (náuseas, dores de cabeça, vômitos etc.) e entra em um estado inconsciente com contínua inalação do gás que acaba em óbito. Embora com potencial de gravidade, é importante ressaltar que a intoxicação pelo monóxido de carbono é reversível desde que haja socorro em tempo hábil.

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Como consequência da hipóxia queda do potencial de oxigenação tecidual, a ligação do monóxido de carbono, a hemoglobina pode desencadear uma alcalose sanguínea (aumento do pH sanguíneo) o que compromete o bom funcionamento enzimático. Subsequente à hipóxia tecidual, desenvolve-se uma hipotensão arterial que intensifica a dificuldade de oxigenação cerebral. Como mencionado anteriormente é possível a recuperação do indivíduo intoxicado pelo monóxido de carbono. Em alguns casos de recuperação dos sintomas agudos (imediatos), ocorre uma nova manifestação dos sintomas de intoxicação e asfixia. Essa reagudização ocorre porque o monóxido de carbono se liga a mioglobina (proteína muscular) que tem um potencial de dissociação mais lento do que a hemoglobina. Quando o monóxido de carbono se desprende da mioglobina, ganha a circulação e liga-se novamente à molécula de hemoglobina manifestando os sintomas acima descritos.

Os gases com potencial irritante manifestam seus efeitos principalmente na mucosa dos olhos, pele, mucosa nasal e pulmões. O processo de irritação é intimamente ligado ao desencadeamento de um processo inflamatório. É difícil encontrar entre os autores uma definição única de processo inflamatório, até porque há conceitos farmacológicos, imunológicos, patológicos, vasculares, celulares, em que cada especialidade foca em definir inflamação sobre sua ótica. De qualquer forma descrevemos aqui um conceito que abrange, mesmo que sucintamente, os vários aspectos. Inflamação é toda e qualquer resposta do organismo a uma lesão tecidual na tentativa de recuperar o tecido lesado. Para que haja esse potencial de recuperação tecidual ocorrem alterações vasculares e celulares de forma localizada. Tente enumerar os sintomas de uma inflamação que você já teve. Importante: não confunda infecção com inflamação!

Atividade de Estudos:

1) Relate os sintomas observados por você em um processo inflamatório que já sofreu:

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A inflamação recebeu esse nome por caracterizar algo inflamável e quente. Com o passar do tempo e realização de estudos, a inflamação é sustentada por quatro sinais cardinais: calor, edema, rubor e dor (BOGLIOLO, 2006). Não importa o processo inflamatório que esteja ocorrendo, todos manifestarão esses sintomas.

Ao ocorrer um processo inflamatório, o local do organismo em que se manifesta a inflamação exibe uma alteração vascular e celular intensa. O estímulo inflamatório (elemento causador da inflamação) faz com que haja uma liberação de histamina por células locais denominadas de mastócitos. A histamina liberada atuará na microcirculação local e causará uma vasodilatação (aumento do calibre dos vasos), fato que contribuirá para um aumento do fluxo sanguíneo local e consequente rubor (vermelhidão ocasionado pelo acúmulo de hemácias) (BOGLIOLO, 2006). Por consequência da vasodilatação, há também aumento da permeabilidade vascular, que promove o extravasamento do líquido presente no interior dos vasos sanguíneos para os tecidos (edema tecidual). O aumento vascular e da permeabilidade facilita a passagem de células de defesa circulantes do interior do vaso sanguíneo para o tecido inflamado, fenômeno conhecido como diapedese. A presença e a ativação de células nos tecidos originarão o calor e a dor como consequência de sua ativação e do acúmulo no local, juntamente com o líquido extravasado.

O contato com gases irritantes lesionará o tecido e isso será o desencadeador do processo inflamatório local dando sinais de irritação. Quando esse processo ocorre de forma descontrolada, principalmente nos alvéolos pulmonares, toda positividade do processo inflamatório agora transforma-se em malefício, principalmente pelo edema e pela produção de fármacos e demais proteínas que comprometem as vias respiratórias e consequentemente o potencial de respiração devido ao acúmulo de muco no local. Embora possa ser reversível, dependendo do tempo de exposição e da concentração do gás que entrou em contato, o indivíduo pode ir a óbito.

Tabela 1- Relação dos principais gases e suas ações no organismo

Nome do Gás Classificação Principais Sintomas Uso Comercial

Amônia IrritanteEdema agudo de Pulmão e para-da respiratória

Fertilizantes e indústria química

Formaldeído Irritante Inflamação da mucosa dos olhos DesinfetantesDióxido de Enxofre

IrritanteDores de cabeça, bronquioconstri-ção e cianose

Refinarias de petróleo e fundições

Cloro IrritanteEdema agudo dos pulmões e parada cardiorrespiratória

Indústria têxtil e corantes

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Monóxido de Carbono

AsfixianteCefaléias, náuseas, vômitos e alterações neurológicas e coma

Queima incompleta de combustíveis fósseis.

Dióxido de Carbono

AsfixianteCefaléias, náuseas, vômitos e alterações neurológicas e coma

Queima de combustíveis fósseis

Cianetos AsfixianteCefaléias, náuseas, vômitos e alterações neurológicas e coma

Inseticidas

Fonte: Os autores, 2013.

NarcóticosGases e vapores narcóticos podem ser considerados como substâncias

voláteis utilizadas como solventes e combustíveis. Quando essas substâncias entram em contato com o organismo, principalmente após inaladas, têm potencial efeito anestésico. Dentre as substâncias mais conhecidas temos o clorofórmio, o éter etílico, o benzeno, aldeídos e o próprio álcool etílico. Essas substâncias podem ser nocivas não somente quando inaladas, mas também quando em contato direto com a pele e/ou o trato digestório (MOREAU; SIQUEIRA, 2008).

Embora os diferentes narcóticos possam manifestar alguns sintomas particulares quando em contato com o organismo, na grande maioria das vezes os sintomas são muito parecidos.

Quando se tem uma baixa exposição aos narcóticos, observam-se cefaleias, náuseas, vômitos, tonturas e excitações. Mediante o aumento do tempo de exposição vários sistemas podem ser acometidos e os sintomas podem se manifestar das mais diversas formas, tais como: alterações no ritmo respiratório tendendo para depressão pulmonar, arritmias cardíacas e bradicardia, hepatotoxicidade, comprometimento do processo de filtração renal (embora haja controvérsias na literatura quanto às formas de ingestão/contato), atuação no sistema nervoso central e consequente efeito narcótico. Devido aos efeitos narcóticos e anestésicos, o éter e o clorofórmio foram utilizados em processos cirúrgicos para obtenção da anestesia do paciente.

Vale ressaltar o potencial cancerígeno já comprovado para os elementos voláteis, os quais estão diretamente ou indiretamente ligados ao desenvolvimento de cânceres nos mais diversos órgãos.

Para findar este tópico frente aos possíveis danos ocasionados pelos mais diversos elementos químicos, comentaremos sobre patologias pulmonares devido à exposição ao carvão e a sílica.

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A silicose é uma doença pulmonar causada pela inalação de poeiras com sílica que desenvolve danos pulmonares, reação inflamatória e consequente fibrose tecidual, o que acarreta na perda de função do órgão acometido com o passar do tempo, podendo inclusive levar o indivíduo à morte (SMELTZER, 2011).

A debilidade pulmonar ocasionada pela exposição à sílica pode contribuir para a ocorrência de outras patologias pulmonares, tais como: a tuberculose e até mesmo contribuir para o desenvolvimento de neoplasias. Os trabalhados que são mais expostos ao contato com a sílica são: mineradores, trabalhadores das indústrias de cerâmicas e metalúrgicas, cavadores de poços, jateadores da indústria de construção naval.

Outra patologia desenvolvida após a exposição à partícula de poeira é a Pneumoconiose dos Trabalhadores de Carvão. A inalação de partículas de carvão faz com que elas fiquem alojadas nos pulmões e desencadeie um processo inflamatório local, semelhante ao que ocorre com a sílica.

Riscos BiológicosNa tentativa de fazer com que você leitor entenda o quanto é importante

enumerar e esclarecer os riscos biológicos faz-se o questionamento abaixo:

Como você se defenderia daquilo que não vê? Como você se defenderia daquilo que não sente?

Quando relatamos sobre agentes físicos e químicos, descrevemos uma série de exemplos e situações que agora certamente você tem conhecimento para perceber a nocividade de elementos físicos e químicos. A exposição ao frio, ao ruído, ao calor, aos gases, aos metais pesados etc, são todas situações que você conseguiria caracterizar a exposição. Agora, como saber se ao visitar um amigo internado no ambiente hospitalar você sairia de lá contaminado ou não? Como saber se ao se perfurar com uma agulha você seria contaminado?

Descrever e exemplificar os riscos biológicos é tratar sobre vírus, bactérias, protozoários, fungos e bacilos que podem ser extremamente nocivos à saúde humana. Embora encontremos os microrganismos em vários tipos de ambiente, é evidente que profissionais da saúde estejam expostos a um nível de periculosidade

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muito maior quando comparados a trabalhadores que não sejam da área da saúde. Isso faz com que medidas preventivas frente aos riscos biológicos sejam aplicadas aos setores hospitalares humanos e veterinários, clínicas, ambulatórios, laboratórios e empresas coletoras de resíduos infectantes com muito mais vigor.

Agentes biológicos recebem essa denominação por abrangerem partículas ou seres vivos capazes de transmitir doenças. Considera-se risco biológico microrganismos modificados ou não geneticamente, vírus, culturas de células, parasitas, toxinas e príons. O SUS (Sistema Único de Saúde), mediante Lei 8080 de 19 de setembro de 1990, contempla não somente um conjunto de medidas para prevenção da saúde do trabalhador, como também prevê ações que auxiliem no tratamento e na recuperação do indivíduo. É importante deixar claro que o acidente de trabalho é proveniente de todo e qualquer acidente ocorrido mediante o exercício de uma determinada função, o qual pode acarretar na perda momentânea ou permanente da capacidade de desenvolver suas atividades laborais, ou até mesmo a morte do indivíduo. Segundo o Centers for disease control and prevention (CDC), estima-se que ocorram mais de 300 mil acidentes por ano com materiais perfurocortantes nos hospitais americanos, os quais podem promover a transmissão de patologias sérias, como a transmissão do HIV. O Brasil ainda carece de dados que permitam análises semelhantes com veracidade. (Valim, 2011). Dentre as transmissões biológicas mais sérias destacam-se as hepatites B e C, sendo a do tipo B com maior probabilidade de transmissão após um acidente perfurocortante (6%), seguido da hepatite C (2%) e HIV (0,3%) (MARZIALE; E RODRIGUES, 2002).

A atenção frente à saúde do trabalhador, no que tange aos riscos biológicos de exposição, deve compreender ações conjuntas entre vigilância sanitária e epidemiológica de forma que possam se transformar em ações com maior efetividade na redução dos riscos e exposições ocupacionais.

Para classificação dos níveis de risco biológico dos agentes transmissores são levados em consideração os seguintes aspectos: virulência, modo de transmissão, estabilidade, concentração e volume, origem do agente biológico potencialmente patogênico, disponibilidade de medidas profiláticas eficazes, disponibilidade de tratamento eficaz, dose infectante, tipo de ensaio e os fatores referentes ao trabalhador. Para o Ministério do Trabalho, riscos biológicos compreendem exposições a riscos biológicos: microrganismos geneticamente modificados ou não, cultura de células, parasitas, toxinas e príons (BRASIL, 2008).

Sendo assim, os agentes biológicos que causam algum risco à saúde humana são classificados da seguinte maneira:

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Classe de risco 1: Abrangem microrganismo com baixo risco individual e coletivo com pouca ou nenhuma chance de causar danos à saúde humana ou animal. Exemplos: Lactobacillossp.

Classe de risco 2: Abrangem microrganismos com moderado risco individual e baixo risco coletivo com chances de causar danos à saúde humana ou animal, porém com medidas profiláticas e terapêuticas eficazes. Exemplos: Escherichia coli, Shistossoma mansoni, Leptospirainterrogans, Staphylococcus aureus, entre outros.

Classe de risco 3: Abrangem microrganismos com alto risco individual e moderado risco coletivo com chances de causar danos à saúde humana ou animal que podem ser letais. Exemplos: Bacillusanthracis, Clostridium botulinum, M. tuberculosis, vírus HIV entre outros.

Classe de risco 4: Abrangem microrganismos com alto risco individual e coletivo com chances de causar danos à saúde humana ou animal que podem ser letais e que não tenham medidas profiláticas e terapêuticas eficientes. Exemplos: vírus Ebola.

Sintomatologia e Patogenia do HIV

Atividade de Estudos:

1) Antes de comentar sobre o HIV propriamente dito é de suma importância que façamos uma breve definição do que é um vírus. Você conseguiria descrever?

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Basicamente os seres vivos podem ser classificados em procariotos (não possuem um ambiente celular organizado) e eucariotos (possuem ambiente celular organizado). Os vírus não se encaixam nessas definições, pois se trata de uma estrutura sem metabolismo próprio, ou seja, ele precisa penetrar em uma célula e utilizar de sua maquinaria metabólica (enzimas) para conseguir se desenvolver e multiplicar. Por isso, os vírus são caracterizados como patógenos intracelulares obrigatórios (ALBERTS, 2006).

Devido a toda essa necessidade de um ambiente celular para se desenvolver, a grande maioria dos vírus não sobrevive por muito tempo no ambiente e necessitam de uma rápida transmissão para que consigam sua sobrevida e multiplicação (ALBERTS, 2006).

Quando retornamos aos registros históricos, podemos dizer que a AIDS surgiu devido a acidentes de trabalho. No início de século XX africanos com o hábito de caçar macaco para sua alimentação entravam em contato com um vírus denominado SIV (Vírus da Imunodeficiência Símia). Esse contato se dava principalmente no momento da limpeza desses animais pelo contato direto com o sangue da presa. Mediante inúmeros contatos com o organismo humano esse vírus sofreu algumas pequenas mutações e deu origem ao HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana). O homem passa a apresentar sintomas de imunodeficiências e muitas mortes ocorreram sem ao menos ter alguma desconfiança do mal que sofriam.

Atividade de Estudos:

1) Que tal uma pesquisa para diferenciarmos epidemia de pandemia?

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No início dos anos 1980 os sintomas causados pelo HIV ultrapassam várias barreiras continentais e se alastraram pelo mundo. Por volta de 1983 o HIV foi caracterizado como o vírus responsável por aquela sintomatologia apresentada por várias pessoas. No início ele foi caracterizado com um câncer homossexual, pois as pessoas que adquiriam os sintomas da doença pertenciam a esse grupo de pessoas. Tudo isso porque ainda não se sabia do seu potencial de transmissão via sexual, situação comprovada poucos anos mais tarde.

Sendo assim, a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Humana) corresponde a sintomatologias diversas que são ocasionadas pelo vírus HIV podendo ser transmitida via sexual ou pelo contato com fluídos corpóreos (KUMAR; FAUSTO; ABBAS, 2005).

Quando analisamos o desenvolvimento viral conseguimos estabelecer que para cada tipo de vírus há uma área específica do organismo que será acometida. O vírus da Caxumba infecta as células da glândula parótida, o vírus da hepatite infecta o fígado, o vírus da gripe atacam as vias respiratórias e o vírus HIV infecta e destrói os linfócitos T. Os linfócitos T são um tipo de glóbulo branco que possuem a capacidade de organizar e coordenar as respostas imunológicas. Sendo assim, quando há uma infecção pelo HIV nossas defesas ficam comprometidas e acabamos por desenvolver infecções recorrentes para outros tipos de patógenos (BOGLIOLO, 2006).

O vírus HIV tem como principais vias de infecção a exposição percutânea, as mucosas e a transmissão congênita. Do ponto de vista ocupacional, a exposição percutânea apresenta um risco e uma possibilidade de infecção maior do que a via mucosa. Segundo pesquisas realizadas nos Estados Unidos estima-se que ocorra mais de 300.000 casos de acidentes com perfucortantes por ano. Dentre as ocupações estudadas, os profissionais de enfermagem apresentaram o grupo de maior risco (VALIM, 2011).

Vale ressaltar que o potencial de infecção do HIV frente a um acidente de trabalho irá ser diretamente proporcional a carga viral do sangue contaminante e a condição imunológica do indivíduo que sofreu o acidente. Após um acidente com material perfucortante, se faz necessário o uso de medicação profilática (coquetel anti-HIV) horas depois do acidente ocorrido. Pesquisas demonstram que a chance de transmissão do HIV após acidente ocupacional varia entre 01 e 0,5% (VALIM, 2011).

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Doenças do TrabalhoCapítulo 2

Sintomatologia e Patogenia das Hepatites Virais

Atualmente são conhecidos e descritos sete tipos diferentes de vírus causadores de hepatites os quais são denominados A, B, C, D, E, F e G. Embora todos tenham como característica a infecção e destruição dos hepatócitos (células do fígado), a agressividade e o potencial de ataque variam de acordo com o tipo viral. Dentre os citados, as hepatites A e E não podem ser creditados como riscos ocupacionais, uma vez que são transmitidos pela ingestão de água e alimentos contaminados. Os vírus B, C e D são transmitidos via líquidos corpóreos (principalmente o sangue) e representam um risco ocupacional eminentes aos profissionais de saúde (KUMAR; FAUSTO; ABBAS, 2005.

Os vírus F e G ainda estão no início dos estudos e processos de identificação. Sendo assim, não serão abordados neste capítulo, embora haja evidência do seu potencial de transmissão semelhante aos vírus B, C e D.

Atividade de Estudos:

1) Caso você fosse instigado a dizer qual o principal órgão do sistema cardiovascular, você certamente diria coração. Se perguntássemos sobre o principal órgão do sistema nervoso, você sem pensar responderia que é o cérebro. Quando questionado sobre o principal órgão do sistema respiratório de imediato responderia pulmão. Agora se questionássemos qual a principal função do fígado, o que você responderia? Comente:

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O fígado é o nosso principal órgão metabólico. Tudo aquilo que ingerimos precisa ser metabolizado, transformado para posterior utilização pelo organismo ou para permitir sua excreção caso não necessitemos mais. Um antibiótico que tomamos, um alimento que ingerimos, uma intoxicação que sofremos, todas essas substâncias são metabolizadas no fígado na tentativa de permitir uma melhor absorção ou uma melhor capacidade de excreção e não toxicidade ao organismo. Portanto, se o fígado sofre algum dano, teremos nosso sistema metabólico prejudicado.

Dentre todos os processos citados acima, certamente a produção e degradação de proteínas é uma das principais funções realizadas pelo fígado. Os hepatócitos são células que possuem uma grande quantidade e diversidade de enzimas responsáveis por garantir o funcionamento de várias vias metabólicas (CHAMPE, 2006).

Além do potencial de atuação frente ao metabolismo das proteínas, o fígado é o órgão responsável pela produção da bile. A produção de bile é uma das formas que possuímos de excretar derivados de nitrogênio, os quais são tóxicos para o organismo, por exemplo, a amônia. A bile é formada mediante a atuação de enzimas hepáticas para transformação de bilirrubina (composto produzido mediante a destruição de hemácias velhas) e tem uma importante função digestiva, principalmente quando ingerimos alimentos ricos em gordura.

Sabendo que o fígado tem uma importante função na produção de proteínas (principalmente albumina plasmática), excreção de nitrogênio e produção de bile, quando temos uma infecção e destruição das células hepáticas os principais sintomas são: queda das proteínas plasmáticas e consequente acúmulo de líquidos nos tecidos (casos mais graves), intoxicação e distúrbios neurológicos (casos extremos), pele amarelada e desconfortos digestivos (sintomas iniciais) (HENRY, 2008).

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Doenças do TrabalhoCapítulo 2

Além do contato direto com fluidos corpóreos, os vírus das hepatites B, C e D podem ser transmitidos via sexual, quando sem o uso do preservativo e acarreta os mesmos danos de quando transmitido por via sanguínea. Portanto, não somente a exposição ao sangue tem potencial de transmissão, mas a exposição a outros tipos de materiais biológicos como o sêmen podem propiciar a transmissão (BOGLIOLO, 2006).

Os acidentes de trabalho, principalmente com perfurocortantes ou contato direto com mucosas (principalmente região ocular e bucal) fazem com que as partículas virais alcancem nossa corrente sanguínea e consequentemente atinjam o fígado. Como dito anteriormente, os vírus são patógenos intracelulares obrigatórios e terão a necessidade de penetrar nas células hepáticas para seu desenvolvimento. Sempre que houver multiplicação viral, haverá destruição de células hepáticas e por consequência extravasamento da bile (pele amarelada) e diminuição da produção de proteínas plasmáticas (BOGLIOLO, 2006).

Quando falamos nos aspectos preventivos das hepatites, a Hepatite do tipo B é a única que possui vacinação, portanto essa deve estar em dia para todos os trabalhadores da área da saúde. As hepatites C e D não possuem vacina e o seu tratamento ainda carece de melhorias. Por não ter um tratamento eficaz, uma vez infectado por uma hepatite C, o indivíduo permanece com o vírus por toda vida, tendo períodos de melhorias e recaídas. Para alguns casos é indicado o transplante de fígado, porém esse nem sempre tem o potencial de resolução.

Algumas ConsideraçõesNeste capítulo procuramos classificar os riscos pertinentes a um ambiente de

trabalho, assim como descrever as patologias humanas decorrentes da exposição a estes riscos.

Vimos que, independente do trabalho desenvolvido, estamos sempre expostos a riscos provenientes de nossas atividades diárias os quais são variáveis de acordo com o tipo de função que exercemos. É praticamente impossível trabalharmos sem algum tipo de exposição, sendo assim, reconhecer os riscos e aplicar as medidas preventivas, tornam-se procedimentos importantes para manter a saúde individual e coletiva do ambiente de trabalho em que se insere.

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ReferênciasABC da Saúde. Disponível em: <http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?323>. Acesso em: 15 abr. 2013.

AIRES, Margarida de M. Fisiologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1998.

ALBERTS, Bruce. Fundamentos da Biologia Celular. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

ALMEIDA, Frederico Borges. O Acidente Radioativo em Goiânia. Brasil Escola, 2012. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/fisica/o-acidente-radioativo-goiania.htm>. Acesso em: 14 abr. 2013.

BOGLIOLO, Geraldo Brasileiro Filho et al. Patologia. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

BONZATTO, Eduardo Antonio. TRIPALIUM: O Trabalho como Maldição, como Crime e como Punição. Direito em Foco Revista Eletrônica online, 2011.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego (BR). Riscos biológicos - guia técnico: os riscos biológicos no âmbito da NR 32. Brasília (DF): MTE; 2008.

BRASIL. NR 9 - Norma Regulamentadora 9. Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, 2011.

BRASIL. NR15 – Norma Regulamentadora 15. Atividades E Operações Insalubres, 2011.

SMELTZER, Suzanne C.; BARE, Brenda G.. Tratado de Enfermagem Médico – Cirúrgica. 12a Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

CARVALHO, Fancieli Silva; KUNZ, Vandeni Clarice; DEPIERI, Tatiane Zafaneli; CERVELINE, Renato. Prevalência de Amputação em Membros Inferiores de Causa Vascular: Análise de Prontuários. Arq. Ciênc. Saúde Unipar, Umuarama, v. 9(1), jan./mar., 2005.

CHAMPE, Pámela. Bioquímica Ilustrada. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

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Doenças do TrabalhoCapítulo 2

DA FONSECA, Janaína Conrado Lyra; DE MARCHI, Mary Rosa Rodrigues; DA FONSECA, Jassyara Conrado Lyra. Substâncias Químicas Perigosas a Saúde e ao Ambiente. Cultura Acadêmica, 2000.

DÂNGELO, José Geraldo; FATTINI, Carlo Américo. Anatomia Básica dos Sistemas Orgânicos. 2 ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2005.

HAGBERG, Mats; BURSTRÖM, Lage; LUNDSTRÖM, Ronnie; NILSSON,Thor. Perspective versus Retrospective incidence of Raynaud’s phenomenon and the relation to vibration exposure. In: Proceedings of the 10th International Conference on Hand Arm vibration; 2004 June 7-11; Las Vegas, USA. Las Vegas: Universityof Nevada; 2004. p. 33-34.

HENEINE, Ibrahim Felippe. Biofísica Básica. 6. ed. São Paulo: Atheneu, 2007.

HENRY, John Bernard. Diagnósticos Clínicos e Tratamentos. Manole, 2008.

HIRATA, Rosario Dominguez Crespo; HIRATA, Mario Hiroyuki, MANCINI. Manual de Biossegurança, 2ª ed. 2011.

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LAMBERT, David R.; HANSEN, John T. Anatomia Clínica de Netter. São Paulo: Artmed, 2007.

MARZIALE, Maria Helena Palucci; RODRIGUES, Christiane Mariani. A Produção Científica Sobre os Acidentes de Trabalho com Material Perfurocortante entre Trabalhadores de Enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem, v. 10, n. 4. Ribeirão Preto jul./ago. 2002.

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O ambiente e as doenças do trabalho

OLIVEIRA, José Teotonio de. Síndrome do Túnel do Carpo Controvérsias a Respeito de Diagnóstico Clínico e Eletrofisiológico e a Relação com oTrabalho. ArqNeuropsiquiatr, 2000.

SANTANA, Vilma Souza. Saúde do Trabalhador no Brasil: Pesquisa na pós-graduação. Rev Saúde Pública, 2006.

VALIM, Marília Duarte; MARZIALE, Maria Helena Palucci. Avaliação da exposição Ocupacional a Material Biológico em Serviços de Saúde. Enferm, Florianópolis, 2011.

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CAPÍTULO 3

Primeiros Socorros no Ambiente de Trabalho

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem:

9 Conhecer as situações de acidentes ou mal súbito que necessitam de atendimento de primeiros socorros.

9 Aplicar técnicas de primeiros socorros, observando a escala de prioridades preconizada para o atendimento.

9 Prestar os primeiros socorros a vítimas de acidentes ou mal súbito, a partir da avaliação da vítima, visando manter a vida e prevenir complicações até a chegada de atendimento especializado, utilizando os recursos disponíveis e observando os limites de sua atuação profissional.

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Primeiros Socorros no Ambiente de TrabalhoCapítulo 3

Contextualização Neste capítulo iremos estudar as noções básicas de primeiros socorros às

vítimas de acidente ou mal súbito nos ambientes de trabalho.

Em sua primeira parte, este capítulo trata de informações relacionadas às questões legais envolvidas no atendimento de vítimas de acidentes no ambiente de trabalho. Na segunda parte, são expostos os passos iniciais que um socorrista deve observar e seguir antes de iniciar qualquer atendimento e, na terceira parte, são apresentadas as situações e aplicações em que será necessário o atendimento de primeiros socorros.

A terceira parte deste capítulo descreve com detalhes e imagens os principais acidentes e mal súbito que podem ocorrer no ambiente de trabalho, tais como: queimaduras, acidentes ósseos, hemorragias, parada cardiorrespiratória. Finaliza com as várias técnicas para transporte de vítimas de acidentes.

Todas as situações descritas neste capítulo estarão diretamente relacionadas com o ambiente de trabalho, número de pessoas envolvidas em um acidente e do número de socorristas prestando cuidados. Não existe uma receita de uma boa aplicação dos primeiros socorros, mas as técnicas descritas facilitam o atendimento e deixam o socorrista mais confiante ao se deparar com uma situação de acidente ou mal súbito.

Durante a leitura do capítulo, você irá encontrar algumas atividades que têm o objetivo de testar seus conhecimentos e seu nível de entendimento da leitura realizada.

Desejamos que você tenha um ótimo estudo!

Primeiros SocorrosA saúde, a higiene e a segurança nos ambientes de trabalho

passaram a ser um diferencial nas empresas, já que quando seus colaboradores trabalham em um ambiente seguro, limpo e confortável os fatores insalubres e os riscos de acidentes são reduzidos e, por consequência, a produção não é comprometida pelo absenteísmo e afastamentos por problemas de saúde.

Embora haja esforços e

adequações da legislação

trabalhista frente aos riscos

aos quais os colaboradores (trabalhadores) são expostos, ainda há um

grande número de registro dos acidentes de trabalho. Isso

demonstra que a preocupação com hábitos de higiene,

segurança e saúde do

trabalhador devem ser continuamente

discutidos e aprimorados (MANCINI;

ROSENBAUM; FERRO, 2002).

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Embora haja esforços e adequações da legislação trabalhista frente aos riscos aos quais os colaboradores (trabalhadores) são expostos, ainda há um grande número de registro dos acidentes de trabalho. Isso demonstra que a preocupação com hábitos de higiene, segurança e saúde do trabalhador devem ser continuamente discutidos e aprimorados (MANCINI; ROSENBAUM; FERRO, 2002).

Caro (a) aluno (a), se questionássemos a você: Quando e onde pode haver um acidente? A qual conclusão você chegaria? Certamente tudo o que fazemos no nosso dia a dia traz consigo um determinado risco, o qual pode ser em maior ou menor escala. Quantas lesões não ocorrem em uma partida de futebol do final de semana? Queimaduras ao acender a churrasqueira do final de semana? Certamente foram várias. Portanto, em qualquer lugar, em qualquer organização, as pessoas podem sofrer algum acidente, distúrbio ou mal súbito. Fornecer subsídios para que a ajuda ou o socorro possa ser prestado de forma imediata torna-se um diferencial para o acidentado.

MANCINI, H. B.; ROSENBAUM, J. L.; FERRO, M. A. C. Organização de um serviço de primeiros socorros em uma empresa. Campo Grande, MS: Editora, 2002, descrevem algumas das possibilidades de acidentes, assim como o melhor serviço prestado para minimizar os danos. Sugerimos que aprofunde seus conhecimentos com essa leitura.

Não importa qual o tipo de empresa ou que tipo de produto é produzido, todos os ambientes de trabalho oferecem riscos à saúde de seus trabalhadores, desde um pequeno risco, como o de um escritório, até um grande risco, como o de uma metalúrgica.

Segundo Cardoso (2003), primeiros socorros são todo e qualquer procedimento que possa ser prestado à vítima (de mal súbito ou acidente), de forma rápida e imediata na tentativa de manter as funções vitais e impedir ou minimizar sua gravidade até a chegada de um socorro especializado. Vale ressaltar que quando não há capacitação para atuar frente à vítima, o melhor primeiro socorro que podemos prestar é não mexer com o acidentado, limitando-se a solicitar ajuda. Pense nisso!

A prestação do serviço de primeiros socorros deve ser realizada apenas por pessoas capacitadas. Sem dúvida alguma, a serenidade, a calma e o próprio

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Primeiros Socorros no Ambiente de TrabalhoCapítulo 3

controle, são importantíssimos para lidar com a vítima. Ações realizadas com tranquilidade ajudam no controle da própria vítima para uma melhor condição de seu estado. O tom de voz tranquilo e confortante dará à vítima sensação de confiança na pessoa que está socorrendo (CARDOSO, 2003). Talvez um dos grandes desafios pessoais para a aplicação dos primeiros socorros é quando saímos da teoria e vamos para a prática. Somente sabemos do nosso real limite quando somos expostos a ele, portanto, se faz importante respeitar suas limitações tanto físicas como emocionais para lidar com a vítima, caso contrário sua intenção de ajuda pode transformar-se em agravo para o acidentado.

Os Primeiros Socorros e a LegislaçãoVocê deve se questionar sobre qual é o papel e a obrigatoriedade da empresa/

empregador frente ao comportamento mediante um acidente de trabalho. Para isso existem algumas normas regulamentadores segundo a Consolidação das Leis Trabalhistas.

A Norma Regulamentadora (NR) n.º 7 (2013), cujo título é Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), estabelece que em empresas que possuam mais de dez funcionários seja elaborado e implantado o PCMSO, por parte de todos os empregadores e instituições, com o objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos seus trabalhadores. A fundamentação legal, ordinária e específica, que dá embasamento jurídico a existência desta NR, são os artigos 168 e 169 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT, 2000).

Segundo a NR n.º 7 (2013), item 7.5.1, todo estabelecimento deverá estar equipado com material necessário à prestação dos primeiros socorros (Compressas de gaze; Atadura de crepe ou de gaze; Esparadrapo; Tesoura de ponta arredondada; Pinça; Frasco de soro fisiológico ou água destilada; Luvas de procedimento; Lanterna), considerando-se as características da atividade desenvolvida; manter esse material guardado em local adequado e aos cuidados de pessoa treinada para esse fim (BRASIL, 2013).

Para saber mais sobre as Normas Regulamentadoras, você pode acessar o site: <http://portal.mte.gov.br> e clicar no ícone Segurança e Saúde no Trabalho.

Segundo a NR n.º 7 (2013),

item 7.5.1, todo estabelecimento

deverá estar equipado com

material necessário à prestação dos

primeiros socorros (Compressas de gaze; Atadura de crepe ou de gaze;

Esparadrapo; Tesoura de ponta

arredondada; Pinça; Frasco de soro fisiológico ou

água destilada; Luvas de

procedimento; Lanterna).

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Quando se fala em acidente é claro que há uma tensão e até mesmo uma negligência por acharmos que nunca passaremos por esses tipos de situações. Se pudéssemos enumerar quantas pessoas realmente prestam a atenção devida às normas de segurança ou procedimentos de emergência, certamente seria um número muito baixo. Por outro lado, sempre que passamos por situações de estresse (acredite, prestar socorro é uma condição de estresse) ficamos, muitas vezes, perdidos, em alguns casos esquecemo-nos de número telefônico de fácil memorização, tal como o 193 (recomenda-se deixá-lo sempre a mostra).

Devido a isso, preconiza-se a elaboração de um fluxograma de ações, se possível já embutido no próprio PCMSO, relativo a atendimentos e procedimentos, inclusive um calendário de treinamentos, e se possível realizar uma saudável interface com a Comissão Interna de Acidentes (CIPA) para evitar qualquer equívoco e ou qualquer exagero ao prestar os primeiros socorros. Deixar números dos serviços especializados disponíveis é algo que certamente ajuda. Aliás, você saberia mencionar quais serviços você aciona quando liga para o 190, o 193 e o 192?

Figura 9 – Fluxograma de Acidentes

Fonte: Os autores.

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Primeiros Socorros no Ambiente de TrabalhoCapítulo 3

São passos importantes para um socorro imediato (CARDOSO, 2003, p. 9):

- Contatar o serviço de atendimento de emergência (que pode existir na empresa ou se não existir fazer contato com o serviço de emergência da região).

- Manter-se calmo e agir somente até o ponto de seu conhecimento e técnica de atendimento. Saber avaliar seus limites físicos e de conhecimento.

- Aplicar calmamente os procedimentos de primeiros socorros ao acidentado.

- Preservar o local e a vítima, impedindo que pessoas não envolvidas no atendimento se aproximem.

- Prestar informações ao serviço de atendimento emergencial quando este se fizer presente no local.

- Agir somente até o ponto de seu conhecimento e técnica de atendimento. Saber avaliar seus limites físicos e de conhecimento.

- Não medicar o acidentado.

Um dos itens mais importantes dos listados anteriormente, é sempre ter definido qual o serviço de emergência que deve ser contatado no momento em que ocorre um acidente de trabalho. Isso evita enganos e, por conseguinte, evita perda de tempo no atendimento especializado a ser realizado pelo serviço de emergência.

Atendimento a uma VítimaDentre todos os procedimentos protocolados para o atendimento à vítima,

certamente a abordagem inicial é um dos mais importantes. Buscar entendimento sobre o que aconteceu e analisar o ambiente é algo que pode ser crucial no atendimento (SILVEIRA; BARTMANN; BRUNO, 2006). Ao se encontrar uma vítima caída, deve-se analisar o que está ao seu redor para definir se foi uma queda ou um mal súbito, por exemplo.

Observação do local do acidente

O socorrista deve analisar o local do acidente basicamente por dois motivos: entender o que aconteceu com a vítima e assegurar-se de que não há riscos para sua própria exposição. No momento do apuro nos esquecemos que somente conseguimos prestar um auxílio ou socorro se estivermos com garantia da nossa integridade. Analisar a existência de riscos, como desabamentos, incêndio e fios desencapados, certamente auxiliará você a prestar um atendimento com segurança.

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Somente depois de assegurar-se da segurança do local é que o socorrista deve se aproximar da vítima para prestar atendimento.

Observação da vítima

Esse é um momento em que, muita vezes, a afobação pode provocar danos maiores dos já existentes. Sempre que falamos em primeiros socorros, a grande maioria das pessoas imaginam o

procedimento de respiração boca a boca, mas tal procedimento nem sempre se faz necessário. O “mexer” com a vítima deverá ser feito após a verificação do nível de consciência do acidentado. Perguntas simples como: qual o seu nome? Onde você está? Podem ser úteis no teste de consciência. Antes de tocar na vítima e após a verificação do local, o socorrista deve se proteger para evitar contaminações com sangue, secreções ou produtos tóxicos (no caso de acidentes químicos). É claro que nem sempre temos à nossa disposição todos os materiais necessários (SILVEIRA; BARTMANN; BRUNO, 2006).

Lembre-se do acidente em uma boate da cidade de Santa Maria/RS, ocorrido em 2013. Quantas pessoas morreram pela tentativa de auxiliar quem estava acidentado? Preocuparam-se, inicialmente, em salvar as vidas dos acidentados e deixando de lado a sua própria segurança. Sempre que precisar atender a uma vítima de acidente ou mal súbito, tenha como premissa a sua proteção para não se tornar também uma vítima.

Diálogo

Vamos dividir o diálogo com a vítima em duas partes:

• Teste de Consciência: ao abordar a vítima se faz importante verificar se ela responde aos seus sinais sonoros. Em caso de resposta positiva, isso significa que o acidentado está vivo e com consciência. Essa percepção deve trazer calmaria ao socorrista e permitir a ele a condição de interagir com a vítima para saber um pouco mais sobre o acidente e auxiliar da melhor maneira. Foi uma queda? Há alguma dor? Caso não haja resposta de voz, busca-se o toque na vítima para verificar uma possível resposta ao estímulo físico. Caso ainda não haja resposta, a vítima encontra-se insciente e deve-se realizar uma avaliação da sua condição cardiorrespiratória (pulso e movimento respiratório – todos nós inflamos o peito quando estamos respirando). Uma vez não detectado tais procedimentos, iniciam-se os procedimentos para reanimação.

• A interação com a vítima é importante para acalmá-la. Nesse momento cabe ao socorrista manter-se tranquilo para, acima de tudo, também acalmar a o acidentado. Se você estiver agitado e a vítima se agitar, poderão ser

Somente depois de assegurar-se

da segurança do local é que o socorrista deve se aproximar da

vítima para prestar atendimento.

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Primeiros Socorros no Ambiente de TrabalhoCapítulo 3

agravadas algumas lesões, por exemplo, caso haja suspeita de fratura na coluna, ou mesmo fraturas em pernas e/ou braços.

Ao tentar dialogar com a vítima, o socorrista percebe:

– Nível de consciência

– Sensação e localização da dor

– Incapacidade de mover o corpo ou partes dele

– Perda de sensibilidade em alguma parte do corpo

Depois de definida e analisada a situação, o socorrista deve:

– Pedir ajuda qualificada e especializada

– Avaliar vias aéreas

– Avaliar a respiração e batimentos cardíacos

– Prevenir estado de choque

– Preparar a vítima para remoção segura (SILVEIRA; BARTMANN; BRUNO, 2006, p. 11-12).

Jamais dê qualquer tipo de bebida à vítima de qualquer tipo de acidente e, com a chegada da equipe de socorro, a liderança passa a ser dos profissionais de saúde.

Atividade de Estudos:

1) Ao se deparar com um acidente de trabalho, antes de se aproximar para ajudar, quais as medidas que você tomaria e qual a importância disso?

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Emergências ColetivasAs emergências coletivas ocorrem em locais onde há aglomeração de

pessoas. Costumam envolver um grande número de vítimas e, nesse caso, o atendimento pode ser confuso. Nesse caso há necessidade de eleger prioridades e preconizar isso é algo bastante complicado. De uma maneira geral vale inicialmente o pedido de ajuda de serviços especializados locais (bombeiros, policiais, serviços de emergência, entre outros). Por mais que queira, você não conseguirá atender a todos sozinho e, na maioria das vezes, poderá tornar-se mais uma vítima. Outro ponto muito importante é isolar o local e evitar a aglomeração de curiosos, pessoas para filmar, tirar fotos e ficar olhando apenas atrapalham o atendimento. Por fim, priorizar o atendimento às vítimas que tenham uma maior possibilidade de serem salvas e que estejam em locais de melhor acesso (SILVEIRA; BARTMANN; BRUNO, 2006).

Aplicando os Primeiros Socorros

A seguir serão apresentadas as principais situações de acidentes e mal súbito e como você, enquanto socorrista, poderá proceder, aplicando as técnicas de primeiros socorros. Muito do que está descrito são protocolos e procedimentos já pontuados e definidos, uma espécie de receita de bolo do atendimento, porém nem sempre há possibilidade de aplicar os procedimentos em sua condição plena.

Queimaduras

Queimaduras são lesões da pele, provocadas pelo calor, radiação, produtos químicos ou certos animais e vegetais, que causam dores fortes e podem levar a infecções (SILVEIRA; BARTMANN; BRUNO, 2006).

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Primeiros Socorros no Ambiente de TrabalhoCapítulo 3

A pele é um importante órgão de defesa do nosso organismo, muitas vezes, em caso de acidentes com queimadura, o indivíduo acaba falecendo devido a infecções bacterianas secundárias e não pela queimadura propriamente dita (BOGLIOLO et al, 2006).

A gravidade da queimadura deve ser avaliada não somente pelo tipo ou grau de intensidade, mas também pelo tamanho da superfície corporal atingida. Quanto a isso, podemos classificá-la em:

• Baixa: menos de 15% da superfície corporal atingida

• Média: entre 15 e menos de 40% da pele coberta

• Alta: mais de 40% do corpo queimado

Uma regra prática para avaliar a extensão das queimaduras pequenas ou localizadas é compará-las com a superfície da palma da mão do acidentado, que corresponde, aproximadamente a 1% da superfície corporal. São consideradas grandes queimaduras aquelas que atingem mais de 15% do corpo, no caso de adultos. Em crianças de até 10 anos, queimaduras que atingem 10% do corpo. (SILVEIRA; BARTMANN; BRUNO, 2006).

Figura 10 - Extensão ou severidade das queimaduras

Fonte: Extraído de Silveira, Bartmann e Bruno (2006, p. 64).

Queimaduras são lesões da pele,

provocadas pelo calor, radiação,

produtos químicos ou certos animais e vegetais, que causam dores fortes e podem

levar a infecções (SILVEIRA; BART-MANN; BRUNO,

2006).

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O ambiente e as doenças do trabalho

As queimaduras podem ser causadas por agentes físicos (temperatura, vapores, radiações), químicos (ácidos), biológicos (lagartas). Segundo a Cartilha para Tratamento de Queimaduras do Ministério da Saúde (2012), as queimaduras, de acordo com sua profundidade, podem ser classificadas em:

Primeiro grau: vítima apresenta somente uma vermelhidão em decorrência da queimadura, sem a formação de bolhas.

Segundo grau: acomete camadas um pouco mais profundas do tecido da pele (epiderme e derme). Origina bolhas com aspectos dolorosos.

Terceiro grau: Profundidade maior. Nesses casos fica difícil o processo de regeneração, em alguns casos necessita-se de enxertos.

Quarto Grau: Casos de carbonização total.

A pele é constituída por três camadas de diferentes células: a epiderme, a derme e a hipoderme (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008).

Os primeiros socorros às vítimas de queimaduras compreendem, de uma maneira geral:

• Retirar a vítima do contato com a causa da queimadura: Lavando a área queimada com bastante água, no caso de agentes químicos; retirar a roupa do acidentado, se ela ainda contiver parte da substância que causou a queimadura; Apagando o fogo, se for o caso, com extintor (apropriado), abafando-o com um cobertor ou simplesmente rolando o acidentado no chão.

• Verificar se a respiração, o batimento cardíaco e o nível de consciência do acidentado estão normais.

• Para aliviar a dor e prevenir infecção no local da queimadura: mergulhar a área afetada em água limpa ou em água corrente, até aliviar a dor. Não romper as bolhas e nem retirar as roupas queimadas que estiverem aderidas à pele. Se as bolhas estiverem rompidas, não colocá-las em contato com a água.

• Não aplicar pomadas, líquidos, cremes e outras substâncias sobre a queimadura. Elas podem complicar o tratamento e necessitam de indicação médica.

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Primeiros Socorros no Ambiente de TrabalhoCapítulo 3

• Se a pessoa estiver consciente e sentir sede, deve ser dada toda água que deseja beber, porém, lentamente e com cuidado.

• Encaminhar logo que possível a vítima ao Posto de Saúde ou ao Hospital, para avaliação e tratamento (SILVEIRA; BARTMANN; BRUNO, 2006).

Acidentes ÓsseosPodemos classificar os acidentes ósseos que ocorrem no ambiente de

trabalho em uma escala de gravidade, a saber: entorses, luxações e fratura.

Entorses: os entorses ocorrem em regiões denominadas de articulações, ou seja, locais em que há o contato entre dois ou mais ossos (joelho, cotovelo, punho, tornozelo, enfim). Um movimento brusco pode ocasionar estiramento ou ruptura dos ligamentos. Os ligamentos não podem ser confundidos com os tendões, ligamentos são estruturas que fazem a ligação entre dois ossos e os tendões fazem ligações entre ossos e músculos. Os ligamentos são uma espécie de elásticos, se um elástico é esticado por muito tempo, ele perde sua capacidade de voltar à forma original, isso é semelhante ao que ocorre no caso de estiramento do ligamento (MOORE, 2007).

É comum ocorrer entorses quando o ambiente de trabalho não tem níveis do piso iguais, ou mesmo em locais onde há escadas e rampas. Nesses casos os entorses podem ocorrer por “pisar em falso” ou mesmo a uma queda (normalmente nos braços, punho, dedos).

Nunca tente colocar a articulação “no lugar”, pois é normalmente nesse momento que ocorre a ruptura dos ligamentos e também os hematomas. Além disso, fica complicado definir se houve algum tipo de fratura.

Os primeiros socorros são:

• Colocar gelo ou compressas frias no local, antes protegendo a parte afetada com um pano limpo ou uma gaze, para evitar queimaduras de pele.

• Imobilizar a articulação afetada por meio do enfaixamento, usando ataduras ou lenços.

• Orientar para não usar/apoiar a parte afetada.

• Depois da imobilização, encaminhar para atendimento médico (SILVEIRA; BARTMANN; BRUNO, 2006).

É comum ocorrer entorses quando o ambiente de

trabalho não tem níveis do piso

iguais, ou mesmo em locais onde há escadas e rampas.

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Figura 11 – Primeiros socorros em caso de entrose

Fonte: Extraído de Silveira, Bartmann e Bruno (2006, p. 49).

Luxações: as luxações também ocorrem em locais de articulações. Nesse caso os ossos acabam, devido a algum estímulo, saindo do seu local anatômico normal e ocupando ou se posicionando em um espaço diferente dentro da articulação (MOORE, 2007).

As luxações ocorrem em condições ambientais idênticas as do entorse, como desníveis no piso, escadas, rampas. A imobilização deve ser feita com talas e ataduras, mas pode ser improvisada com pedaços de papelão, pequenos pedaços de madeira, amarrando com ataduras ou pedaços de panos ou fraldas. O principal atendimento à vítima é manter o local imobilizado até a chegada do atendimento.

Fraturas: recomenda-se que todas as situações de entorse e luxação sejam atendidas como possíveis fraturas, pois nem sempre é fácil identificar uma fratura. A fratura é uma lesão em que ocorre a quebra de um osso (SILVEIRA; BARTMANN; BRUNO, 2006). As fraturas são classificadas em fechadas (interna) ou abertas (externa). As fechadas podem ser difíceis de identificar, já nas abertas não haverá dúvidas, pois o osso quebrado acaba rompendo a pele. Nesse caso é importante proceder a imobilização do local afetado.

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Primeiros Socorros no Ambiente de TrabalhoCapítulo 3

Já na Fratura Aberta ou Exposta o osso quebrado perfura a pele. O principal cuidado a ser prestado é manter o ferimento protegido com gaze ou pano limpo antes de qualquer outro procedimento, para diminuir o risco de infecção (SILVEIRA; BARTMANN; BRUNO, 2006).

Os primeiros socorros às vítimas de fratura são:

• Não se deve tentar colocar o osso no lugar – movimente o local o menos possível.

• Imobilizar na posição em que for encontrado.

• Improvisar talas com material disponível: revista, papelão, madeira, galhos de árvore.

• O comprimento das talas deve ultrapassar as articulações acima e abaixo.

• Envolva as talas com pano ou atadura.

• Amarre as talas.

• A vítima de fratura em pernas não deve caminhar. Improvisar forma de transporte.

• Ao imobilizar braços e pernas, deixar dedos visíveis para monitorar alterações (SILVEIRA; BARTMANN; BRUNO, 2006).

Figura 12 – Proteção do ferimento em fratura aberta antes da imobilização

Fonte: Extraído de Silveira, Bartmann e Bruno (2006, p. 51).

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Figura 13 – Imobilização do braço em fratura fechada

Fonte: Extraído de Silveira, Bartmann e Bruno (2006, p. 52).

Atividade de Estudos:

1) Fraturas expostas ou abertas são aquelas em que o osso perfura a pele. Diante desse quadro, o procedimento correto deve ser:

Assinale a alternativa correta:

a) Usar talas, sem tentar colocar o braço ou perna no lugar, colocar gaze e aguardar o atendimento especializado de saúde.

b) Remover a vítima antes de imobilizar a parte fraturada.

c) Procurar colocar o acidentado no transporte que surgir. d) Solicitar ajuda a outras pessoas para colocar o local no lugar.

HemorragiasAs hemorragias ocorrem quando há perda de sangue através de ferimentos,

pelas cavidades naturais como nariz, boca etc.; ela pode ser também, interna, resultante de um traumatismo (CARDOSO, 2003).

Quando não controladas, as hemorragias podem ter consequências graves como estado de choque e morte (em hemorragias abundantes) e, quando são lentas e crônicas, podem levar a uma baixa dos glóbulos vermelhos, causando a anemia. Quanto maior a quantidade perdida, mais graves serão as hemorragias. (BRAUN; ANDERSON, 2009).

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Primeiros Socorros no Ambiente de TrabalhoCapítulo 3

Figura 14 - Quantidade de sangue perdido e alterações

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 68).

A hemorragia arterial (proveniente do rompimento de artérias) é menos frequente, mas é mais grave e precisa de atendimento imediato para sua contenção e controle. A hemorragia venosa (proveniente das veias) é a que ocorre com maior frequência, mas é de controle mais fácil, pois o sangue sai com menor pressão e mais lentamente (CARDOSO, 2003).

O processo correto de contensão da hemorragia é realizar uma compressão com a utilização de panos ou gazes limpos e secos. Sempre que o pano for tomado por sangue, deve-se utilizar outro, porém sem remover o primeiro. Esse procedimento deve ser realizado até que seja estancada a hemorragia ou que tenha chegado socorro especializado. Conter uma hemorragia com pressão direta, usando um curativo simples é o método mais indicado. A elevação da parte atingida de modo que fique num nível superior ao do coração auxilia na diminuição da pressão sanguínea para o local e consequente estancamento da hemorragia. Deve-se ter cuidado ao mexer com o membro afetado, primeiro certifique-se de que não houve fraturas (CARDOSO, 2003).

Quando não controladas, as

hemorragias podem ter consequências

graves como estado de choque

e morte (em hemorragias abundantes)

e, quando são lentas e crônicas,

podem levar a uma baixa dos

glóbulos vermelhos, causando a

anemia. Quanto maior a quantidade

perdida, mais graves serão as

hemorragias. (BRAUN;

ANDERSON, 2009).

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O ambiente e as doenças do trabalho

Atividades de Estudos:

1) É possível dar água a uma vítima com hemorragia interna?

a) Pode ser dada, desde que não esteja muito gelada.

b) Pode ser dada, de acordo com a vontade da vítima.

c) Não é possível dar água a uma vítima com hemorragia interna.

d) Pode ser dada, mas com moderação.

2) Ao ocorrer um acidente com sangramento abundante, o cuidado indicado é:

a) Deixar o sangramento parar sozinho.

b) Jogar bastante água oxigenada.

c) Garrotear.

d) Fazer compressão no local do sangramento.

3) Quais são os dois métodos principais para se conter uma hemorragia externa em membros?

a) Torniquete e sutura. b) Torniquete e elevação do membro.

c) Compressão direta da lesão e elevação do membro.

d) Compressão direta da lesão e torniquete.

Os casos de hemorragia interna são também de muita gravidade, devido ao grau de dificuldade de sua identificação por quem está socorrendo. Deve-se suspeitar de hemorragia interna se o acidentado estiver envolvido em quedas ou algum tipo de choque com objetos rígidos (acidentes automobilísticos, queda de armários, entre outros). Mesmo que, a princípio, o acidentado não reclame de nada e tente dispensar socorro, é importante observar se há pulsação fraca,

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palidez e, principalmente, sede acentuada (CARDOSO, 2003). Vale ressaltar que hemorragias na região da cabeça podem ser mais graves, pois pode acometer a área cerebral, nesses casos, embora haja chance de recuperação da vítima, poucas vezes não há sequelas.

Para o socorro de pacientes com hemorragias internas, a vítima deve ser mantida deitada com a cabeça mais baixa que o corpo (exceto em casos de fratura do crânio) e as pernas elevadas. Por mais que o paciente solicite água, esta não deve ser administrada (CARDOSO, 2003).

Há também processos hemorrágicos que não possibilitam tais condutas. Como você faria uma compressa em sangramentos nasais ou em casos de vômitos com sangue? Como proceder nesses casos?

A hemorragia nasal, também conhecida como Epistaxe ou Rinorragia, é a perda de sangue pelo nariz, situação muito comum em crianças e indivíduos que vivem em ambientes mais secos. A hemorragia nasal pode ser algo passageiro e simples, mas também pode ser uma consequência do sangramento intracraniano (essa suspeita se confirma quando também há sangramentos pelo ouvido). Vale, portanto, observar o local e conversar com a vítima para reconhecer qual o real motivo do sangramento. Às vezes, pode ocorrer como sintoma de um grave transtorno no organismo que requer investigação imediata, como crise hipertensiva. As hemorragias nasais sempre podem ser estancadas. As medidas para contenção devem ser aplicadas o mais rapidamente possível, a fim de evitar perda excessiva de sangue (FUNDAÇÃO DE OTORRINOLARINGOLOGIA, s/d).

Ao atender um caso de epistaxe deve-se manter o indivíduo sentado e com a cabeça levantada. O socorrista deve pressionar as asas dos orifícios nasais na tentativa de estancar o sangramento. É importante realizar uma observação contínua do paciente e a avaliação de seus sinais vitais, a perda de sangue excessiva pode levar o indivíduo à perda de consciência (CARDOSO, 2003).

Toda hemorragia interna que demora a se exteriorizar pode ser identificada pelos seguintes sinais: palidez intensa, distensão abdominal, extremidades frias e úmidas, pulso rápido e fraco.

Para o socorro de pacientes

com hemorragias internas, a vítima deve ser mantida

deitada com a cabeça mais

baixa que o corpo (exceto em casos

de fratura do crânio) e as pernas elevadas. Por mais

que o paciente solicite água, esta não deve

ser administrada (CARDOSO, 2003).

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Parada Cardiorrespiratória e Ressuscitação Cardiorrespiratória

A ressuscitação cardiorrespiratória (RCR) é um conjunto de medidas utilizadas no atendimento à vítima de parada cardiorrespiratória (PCR). O socorro à vítima deve ser dotado de conhecimento. Embora seja um primeiro socorro, este não deve ser de todo leigo. Nesse momento temos em nossa frente uma vítima inconsciente e qualquer atuação frente à vítima pode ser um divisor de águas entre a vida e a morte. Cada segundo vale horas.

A parada cardíaca causa uma interrupção do fluxo sanguíneo para todos os nossos órgãos. Se não temos sangue nos tecidos, lembremos que não há oxigênio e tampouco nutrientes para manter nossas células vivas. A ausência de batimentos cardíacos ocasiona o acúmulo de gás carbônico no sangue e leva a uma parada respiratória, cessando a inalação do oxigênio. Uma parada cardíaca pode levar a uma parada respiratória (um infarto, por exemplo), assim como uma parada respiratória pode levar uma para cardíaca (sufocamento, por exemplo). Caso a pessoa em parada fique mais de 5 minutos sem oxigenação, iniciam-se os danos cerebrais, os quais podem ser irreversíveis (BOGLIOLO et al, 2006).

No atendimento de primeiros socorros, durante a aproximação, devemos observar elementos como imobilidade, palidez e os seguintes sinais que identificarão efetivamente uma parada cardiorrespiratória, a fim de iniciarmos o processo de ressuscitação, do qual dependerá a reabilitação ou não do acidentado. Ao iniciar o atendimento devemos verificar o nível de consciência, tentando observar as respostas do acidentado aos estímulos verbais: «Você está bem?». Se o acidentado não responder, comunicar imediatamente ao atendimento especializado de saúde. Posicionar o acidentado em decúbito dorsal, sobre superfície plana e rígida.

Antes de iniciar o procedimento de reanimação, deve-se checar a pulsação (no punho ou pescoço) e se há elevação da caixa torácica (indica que o pulmão está recebendo ar). Caso esses aspectos não sejam evidenciados, deve-se dar início à reanimação. Caso seja possível, é importante que haja ajuda de mais uma pessoa. O processo de reanimação pode levar vários minutos e levar o socorrista a exaustão.

Vamos agora iniciar o processo de reanimação cardiovascular.

Deve-se posicionar o acidentado em superfície plana e firme; mantê-lo em decúbito dorsal (barriga para cima), pois as manobras para permitir a abertura da via aérea e as manobras da respiração artificial são mais bem executadas

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nessa posição; A cabeça não deve ficar mais alta que os pés, para não prejudicar o fluxo sanguíneo cerebral. O socorrista deve ajoelhar-se ao lado do acidentado, de modo que seus ombros fiquem diretamente sobre o esterno (osso no centro do peito) do acidentado.

A conduta de quem socorre é vital para o salvamento do acidentado. Uma rápida avaliação do estado geral do acidentado é que vai determinar quais etapas a serem executadas, por ordem de prioridades. A primeira providência a ser tomada é estabelecer o suporte básico da vida, para tal o acidentado deverá estar posicionado adequadamente de modo a permitir a realização das manobras necessárias.

Adotar medidas de autoproteção colocando luvas e máscaras.

O suporte básico da vida consiste na administração de ventilação das vias aéreas e de compressão torácica externa. Antes de iniciar o procedimento, primeiro certifique-se de que não há uma obstrução das vias aéreas.

Figura 15 - Desobstrução de Vias Aéreas

Fonte: Extraído de Cardoso (2003).

Atividade de Estudos:

1) No caso de confirmação de parada cardiorrespiratória em um acidentado, é necessário iniciar o suporte básico de vida para que as complicações do acidentado sejam minimizadas e até mesmo para salvar sua vida. O suporte básico de vida é também conhecido como ABC da vida. O que compreendem essas três siglas?

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Figura 16 - Instruções gerais em caso de PCR

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 40).

É importante perceber se as vias áreas da vítima estão obstruídas, isso pode ser reconhecido pela incapacidade de insuflar os pulmões quando se tenta ventilar a vítima (CARDOSO, 2003). Caso seja reconhecido que há obstrução das vias aéreas, pode ser preciso a limpeza manual imediata da via aérea para remover material estranho ou secreções presentes na orofaringe. Para tanto, podem ser usar os próprios dedos protegidos com lenço ou compressa (CARDOSO, 2003).

A utilização de pancadas e golpes dados no dorso do acidentado em sucessão rápida são outra forma prática de desobstruir as vias aéreas. As pancadas devem ser aplicadas com a mão em concha entre as escápulas da vítima. A técnica deve ser feita com o paciente sentado, deitado ou em pé.

Uma vez desobstruída as vias aéreas, deve-se inclinar a cabeça da vítima para trás e iniciar o processo. São realizadas 20 compressões torácicas alternadas

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por duas aspirações pulmonares artificiais, conhecida também como respiração boca a boca. Esse processo deve ser contínuo na tentativa de obedecer entre 60 e 80 compressões por minuto. Preconiza-se deixar uma das mãos apoiadas no peito do acidentado para certificar-se de que o ar foi realmente inspirado. Esse procedimento deve ser realizado até que chegue assistência especializada ou até a vítima recuperar a autonomia respiratória (CARDOSO, 2003).

Para a massagem cardíaca deve-se ter o cuidado de descarregar um peso suficiente para que haja estímulo cardíaco. O socorrista deve colocar seu peso contra a caixa torácica do acidentado conforme demonstrado na figura abaixo.

Figura 17 – Técnica de massagem cardíaca externa

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 44).

Convém lembrar que o pulso palpado durante a massagem cardíaca externa não é suficiente para indicar uma circulação eficaz. A sensação de pulso pode ser devido à transmissão da compressão pelos tecidos moles. A manutenção ou o aparecimento da respiração espontânea durante a massagem cardíaca externa, associada ou não à respiração boca a boca, é o melhor indício de ressuscitação cardiorrespiratória satisfatória (CARDOSO, 2003).

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O ambiente e as doenças do trabalho

Atividade de Estudos:

1) Ao identificar uma parada cardiorrespiratória é importante desobstruir as vias aéreas e iniciar a massagem cardíaca e a ventilação artificial. Qual a maneira mais eficaz de promover uma ventilação artificial sem auxílio de equipamentos?

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Transporte de AcidentadosExistem várias maneiras de se transportar um acidentado, sendo que cada

maneira é compatível com o tipo de situação em que o acidentado se encontra e as circunstâncias gerais do acidente. Cada técnica de transporte requer habilidade e maneira certa para seja executada e quase sempre é necessário o auxílio de outras pessoas, orientadas por quem estiver prestando os primeiros socorros (CARDOSO, 2003).

Atividade de Estudos:

1) O transporte de acidentados só deve ser realizado quando não houver a possibilidade do serviço especializado de saúde chegar ao local ou quando a vítima do acidente se encontra em um ambiente onde não é possível realizar os primeiros socorros ou mesmo coloque em risco maior o acidentado e o socorrista.

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Sendo assim, qual é a importância de o transporte do acidentado ser feito corretamente?

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A seguir são apresentados os Métodos de Transporte com uma pessoa só socorrendo:

• Transporte de Apoio: Passa-se o braço do acidentado por trás da sua nuca, segurando-a com um de seus braços, passando seu outro braço por trás das costas do acidentado, em diagonal. Este tipo de transporte é usado para as vítimas de vertigem, de desmaio, com ferimentos leves ou pequenas perturbações que não os tornem inconscientes e que lhes permitam caminhar (CARDOSO, 2003, p. 54).

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Figura 18 – Transporte de apoio

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 54)

• Transporte ao Colo: Uma pessoa sozinha pode levantar e transportar um acidentado, colocando um braço debaixo dos joelhos do acidentado e o outro, bem firme, em torno de suas costas, inclinando o corpo um pouco para trás. O acidentado consciente pode melhor se fixar, passando um de seus braços pelo pescoço da pessoa que o está socorrendo. Caso se encontre inconsciente, ficará com a cabeça estendida para trás, o que é muito bom, pois melhora bastante a sua ventilação. Usa-se este tipo de transporte em casos de envenenamento ou picada por animal peçonhento, estando o acidentado consciente, ou em casos de fratura, exceto da coluna vertebral (CARDOSO, 2003, p. 55).

Figura 19 – Transporte ao colo

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 55).

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Primeiros Socorros no Ambiente de TrabalhoCapítulo 3

• Transporte nas Costas: Uma só pessoa socorrendo também pode carregar o acidentado nas costas. Esta põe os braços sobre os ombros da pessoa que está socorrendo por trás, ficando suas axilas sobre os ombros deste. A pessoa que está socorrendo busca os braços do acidentado e segura-os, carregando o acidentado arqueado, como se ela fosse um grande saco em suas costas. O transporte nas costas é usado para remoção de pessoas envenenadas ou com entorses e luxações dos membros inferiores, previamente imobilizados (CARDOSO, 2003, p. 55).

Figura 20 – Transporte nas costas

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 56).

• Transporte de Bombeiro: Primeiro coloca-se o acidentado em decúbito ventral. Em seguida, ajoelha-se com um só joelho e, com as mãos passando sob as axilas do acidentado, o levanta, ficando agora de pé, de frente para ele. A pessoa que está prestando os primeiros socorros coloca uma de suas mãos na cintura do acidentado e com a outra toma o punho, colocando o braço dela em torno de seu pescoço. Abaixa-se, então, para frente, deixando que o corpo do acidentado caia sobre os seus ombros. A mão que segurava a cintura do acidentado passa agora por entre as coxas, na altura da dobra do joelho, e segura um dos punhos do acidentado, ficando com a outra mão livre, conforme a sequência de procedimentos mostrados na figura a seguir (CARDOSO, 2003, p. 56).

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Figura 21 - Transporte de bombeiro

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 56).

Este transporte pode ser aplicado em casos que não envolvam fraturas e lesões graves. É um meio de transporte eficaz e muito útil, se puder ser realizado por uma pessoa ágil e fisicamente capaz (CARDOSO, 2003, p. 56).

• Transporte de Arrasto em Lençol: Seguram-se as pontas de uma das extremidades do lençol, cobertor ou lona, onde se encontra apoiada a cabeça do acidentado, suspende-se um pouco e arrasta-se a pessoa para o local desejado (CARDOSO, 2003, p. 57).

Figura 22 - Transporte de arrasto em lençol

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 57).

• Manobra de Retirada de Acidentado, com Suspeita de Fratura de Coluna, de um Veículo: A pessoa que for prestar os primeiros socorros, colocando-se por trás passa as mãos sob as axilas do acidentado, segura um de seus braços de encontro ao seu tórax, e a arrasta para fora do veículo, apoiando suas costas nas coxas, como pode ser visto na sequência de procedimentos mostrados na figura a seguir. Esta manobra deve ser feita apenas em situações de extrema urgência (CARDOSO, 2003, p. 57).

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Figura 23 - Manobra de retirada de veículo

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 57).

A seguir são apresentados os Métodos de Transporte Feito por Duas Pessoas:

• Transporte de Apoio: Passa-se o braço do acidentado por trás da nuca das duas pessoas que estão socorrendo, segurando-a com um dos braços, passando o outro braço por trás das costas do acidentado, em diagonal. Este tipo de transporte é usado para pessoas obesas, na qual uma única pessoa não consiga socorrê-lo e removê-lo. Geralmente são de vertigem, de desmaio, com ferimentos leves ou pequenas perturbações que não os tornem inconscientes (CARDOSO, 2003, p. 58).

Figura 24 - Transporte de apoio – duas pessoas socorrendo

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 58).

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• Transporte de Cadeirinha: a) As duas pessoas se ajoelham, cada uma de um lado da vítima. Cada uma passa um braço sob as costas e outro sob as coxas da vítima. Então, cada um segura com uma das mãos o punho e, com a outra, o ombro do companheiro. As duas pessoas erguem-se lentamente, com a vítima sentada na cadeira improvisada. b) Cada uma das pessoas que estão prestando os primeiros socorros segura um dos seus braços e um dos braços do outro, formando-se um assento onde a pessoa acidentada se apoia, abraçando ainda o pescoço e os ombros das pessoas que a está socorrendo (CARDOSO, 2003, p. 58).

Figura 25 - Transporte de cadeirinha

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 59).

• Transporte pelas Extremidades: Uma das pessoas que estão prestando os primeiros socorros segura com os braços o tronco da vítima, passando-os por baixo das axilas da mesma. A outra, de costas para o primeiro, segura as pernas da vítima com seus braços (CARDOSO, 2003, p. 59).

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Figura 26 - Transporte pelas extremidades

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 59).

• Transporte ao Colo: A vítima é abraçada e levantada, de lado, até a altura do tórax das pessoas que a estão socorrendo. O acidentado pode ser um fraturado ou luxado de ombro superior ou inferior, e o membro afetado deve sempre ficar para o lado do corpo das pessoas que estão socorrendo, a fim de melhor protegê-lo (tendo sido antes imobilizado), conforme mostrado na figura a seguir (CARDOSO, 2003, p. 60).

Figura 27 - Transporte ao colo

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 60).

• Transporte de Cadeira: Quando a vítima está numa cadeira, pode-se transportar esta com a vítima, da seguinte maneira: uma pessoa segura à parte da frente da cadeira, onde os pés se juntam ao assento. O outro segura lateralmente os espaldares da cadeira pelo meio. A cadeira fica inclinada para trás, pois a pessoa da frente coloca a borda do assento mais alto que a de trás. A atenção durante a remoção é muito importante para que a vítima não caia (CARDOSO, 2003, p. 60).

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Figura 28 - Transporte de cadeira

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 60).

• Transporte de Maca: A maca é o melhor meio de transporte. Pode-se fazer uma boa maca abotoando-se duas camisas ou um paletó em duas varas ou bastões, ou enrolando um cobertor dobrado em três, envolta de tubos de ferro ou bastões. Pode-se ainda usar uma tábua larga e rígida ou mesmo uma porta. Nos casos de fratura de coluna vertebral, deve-se tomar o cuidado de acolchoar as curvaturas da coluna para que o próprio peso não lese a medula. Se a vítima estiver de bruços (decúbito ventral), e apresentar vias aéreas permeáveis e sinais vitais presentes, deve ser transportada nessa posição, com todo cuidado, pois colocá-la em outra posição pode agravar uma lesão na coluna (CARDOSO, 2003, p. 61).

Figura 29 - Transporte de maca

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 61).

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A seguir são apresentados métodos de transportes feitos por três ou mais pessoas:

• Transporte ao Colo: Havendo três pessoas, por exemplo, eles se colocam enfileirados ao lado da vítima, que deve estar de abdômen para cima. Abaixam-se apoiados num dos joelhos e com seus braços a levantam até a altura do outro joelho. Em seguida, erguem-se todos ao mesmo tempo, trazendo a vítima de lado ao encontro de seus troncos, e a conduzem para o local desejado (CARDOSO, 2003, p. 61).

Figura 30 - Transporte ao colo – três pessoas socorrendo

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 62).

Transporte de Lençol pelas Pontas: Com quatro pessoas, cada um segura uma das pontas do lençol, cobertor ou lona, formando uma espécie de rede onde é colocada e transportada a vítima. Este transporte não serve para lesões de coluna. Nestes casos a vítima deve ser transportada em superfície rígida (CARDOSO, 2003, p. 63).

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Figura 31 - Transporte de lençol pelas pontas

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 63).

Transporte de Lençol pelas Bordas: Coloca-se a vítima no meio do lençol enrolam-se as bordas laterais deste, bem enroladas. Estes lados enrolados permitem segurar firmemente o lençol e levantá-lo com a vítima. Em geral, duas pessoas de cada lado podem fazer o serviço, mas três é melhor. Para colocar a vítima sobre o cobertor, é preciso enfiar este debaixo do corpo dela. Para isto, dobram-se várias vezes uma das bordas laterais do lençol, de modo que ela possa funcionar como cunha. Enfia-se esta cunha devagar para baixo da vítima. Depois disso é que se enrolam as bordas laterais para levantar e carregar a vítima. Este transporte também não é recomendado para os casos de lesão na coluna. Nestes casos a vítima deve ser transportada em superfície rígida (CARDOSO, 2003, p. 63).

Figura 32 - Transporte de lençol pelas bordas

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 64).

Remoção de vítima com suspeita de fratura de coluna (consciente ou não): A remoção de uma vítima com suspeita de fratura de coluna ou de bacia e/ou acidentado em estado grave, com

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urgência de um local onde a maca não consegue chegar, deverá ser efetuada como se seu corpo fosse uma peça rígida, levantando, simultaneamente, todos os segmentos do seu corpo, deslocando o acidentado até a maca (CARDOSO, 2003, p. 64).

Figura 33 - Remoção de vítima com suspeita de fratura de coluna

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 64).

A falta dos cuidados anteriormente descritos pode agravar as lesões ocorridas nos acidentes.

Devido às circunstâncias em que muitas emergências ocorrem, é importante que estejamos capacitados a tomar decisões corretas e saiba improvisar os materiais necessários à sua ação, a partir dos recursos disponíveis no local da ocorrência. Esta capacidade requer bom senso, criatividade e espírito prático, que constituem elementos fundamentais para formação de quem for socorrer a vítima (CARDOSO, 2003, p. 65).

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Assim, daremos apenas alguns exemplos de improvisação de macas para o transporte de vítimas:

• Cabos de vassoura, galhos resistentes de árvores, canos, portas, tábuas, pranchas, cobertores, paletós, camisas, lençóis, lonas, tiras de pano, sacos de pano, cordas, barbantes, cipós e uma série de materiais são adequados e de utilidade para se improvisar uma maca. Varas, cabos de vassoura, canos ou galhos podem ser introduzidos em dois paletós, casacos, gandula. As mangas deverão ser viradas do avesso e passadas por dentro do casaco ou gandula, e estes abotoados para que fiquem firmes.

• Cipó, corda, barbante ou arame de tamanho adequado podem ser trançados entre dois bastões rígidos dos exemplos já sugeridos, para formar uma espécie de rede flexível e esticada.

• Manta, cobertor, lençol, toalha ou lona podem ser dobrados sobre dois bastões rígidos (conforme sugerido) da maneira como está indicada.

Os mesmos materiais do exemplo anterior poderão ainda servir de maca, mesmo que não seja possível encontrar bastões rígidos, conforme a figura abaixo:

Figura 34 - Improvisação de macas

Fonte: Extraído de Cardoso (2003, p. 66).

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Atividade de Estudos:

1) Leia todas as formas de transporte de acidentados apresentados, observe as figuras relacionadas a cada tipo de transporte e responda: qual é a importância de realizar esses cuidados ao transportar uma vítima de acidentes?

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Algumas Considerações Neste capítulo, procuramos destacar a importância do atendimento adequado

de primeiros socorros a vítimas de acidentes e mal súbito e ainda apresentar as principais técnicas utilizadas em diversas situações.

Com a exigência de que as empresas disponham de unidades de Primeiros Socorros, a legislação abriu novas possibilidades de assegurar a saúde e integridade física do trabalhador, mitigando dores e prevenindo danos maiores à sua saúde. Trata-se de uma providência que não pode faltar nas empresas, em especial aquelas em que os trabalhadores fiquem expostos a riscos de acidentes.

Ao prestar os primeiros socorros lembre-se sempre de avaliar a cena para não se tornar mais uma vítima. Além disso, é importante sempre ter o contato dos serviços de emergências disponíveis na sua cidade ou região.

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Esperamos que você tenha aproveitado os conteúdos desta disciplina. Para tanto, é essencial o seu comprometimento e, principalmente, o desenvolvimento das atividades que se apresentam em cada capítulo.

Bons estudos!

ReferênciasBOGLIOLO, G. B. F. et al. Patologia. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

BRASIL. NR 7 - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C812D308E21660130E0819FC102ED/nr_07.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2013.

CARDOSO, T. A. O. Manual de Primeiros Socorros. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003.

FUNDAÇÃO DE OTORRINOLARINGOLOGIA. Sangramento Nasal. s/d. Disponível em: <http://www.forl.org.br/infodoencas_detalhes.asp?id=11>. Acesso em: 06 jun. 2013.

JUNQUEIRA, Luiz Carlos Uchoa, CARNEIRO, José. Histologia Básica. 11. ed. Guanabara Koogan, 2008..

MANCINI, H. B.; ROSENBAUM, J. L.; FERRO, M. A. C.. Organização de um serviço de primeiros socorros em uma empresa. Campo Grande, MS: Editora, 2002.

MOORE, Keith L. Anatomia Orientada para a Clínica. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

SILVEIRA, J. M. S.; BARTMANN, M.; BRUNO, P.. Primeiros Socorros: Como Agir em Situações de Emergência. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2006.