o ambiente e as doenças do trabalho-m9

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  • PS-GRADUAO LATO SENSU

    O AMBIENTE E AS DOENAS DO TRABALHO

    Editorao e Reviso: Editora Prominas e Organizadores

    Coordenao Pedaggica INSTITUTO PROMINAS

    Impresso e

    Editorao

    APOSTILA RECONHECIDA E AUTORIZADA NA FORMA DO CONVNIO FIRMADO ENTRE UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    E O INSTITUTO PROMINAS.

    MDULO 9

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    Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horrios de Atendimento: manh - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:12 as 18:00 horas

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    SUMRIO

    UNIDADE 1 INTRODUO .......................................................................... 03

    UNIDADE 2 SERVIOS DE MEDICINA DO TRABALHO............................ 08

    UNIDADE 3 DOENAS DO TRABALHO ..................................................... 10

    UNIDADE 4 DOENAS CAUSADAS POR AGENTES FSICOS, QUMICOS E BIOLGICOS ............................................................................ 28

    UNIDADE 5 DOENAS DO TRABALHO NA INDSTRIA E NO MEIO RURAL ................................................................................................... 48

    UNIDADE 6 ASPECTOS EPIDEMIOLGICOS DAS DOENAS DO TRABALHO ..................................................................................................... 51

    UNIDADE 7 TOXICOLOGIA ......................................................................... 67

    UNIDADE 8 PRIMEIROS SOCORROS ........................................................ 75

    REFERNCIAS ................................................................................................ 78

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    UNIDADE 1 INTRODUO

    Desde o sculo XIX, a histria nos mostra que o caminho percorrido entre trabalho e qualidade de vida, que podemos traduzir em sade, uma via de mo dupla e percebeu-se uma relao forte e negativa entre o trabalho e o sofrimento que, muitas vezes, levava a morte prematura dos operrios.

    Falamos em via de mo dupla porque embora a construo do ser humano tenha acontecido pelas relaes sociais com seus pares, tambm aconteceu pelo trabalho, ou seja, a satisfao de suas necessidades, quer sejam pessoais, sociais ou de sobrevivncia, passa necessariamente pelo trabalho.

    Especialistas da Organizao Mundial da Sade chamam a ateno para o seguinte fato: quando o trabalho est adaptado s condies do trabalhador e os riscos da sade esto sob controle, este trabalho favorece a sade, tanto fsica quanto mental. Muitas vezes, o impacto do trabalho sobre a sade do trabalhador se d de forma inespecfica. Por esse motivo, podemos inferir que o trabalho caminha junto ao conceito de doenas relacionadas com o trabalho.

    Doenas profissionais so aquelas enfermidades que possuem uma relao direta de causa e efeito entre risco e enfermidade. Por sua vez, as reconhecidas como outras doenas relacionadas com o trabalho so enfermidades provocadas por mltiplos fatores (multiprofissionais), desde os elementos de risco do prprio ambiente de trabalho at caractersticas pessoais do trabalhador e a influncia de fatores socioculturais.

    Conforme Mendes (1988), a OMS reconhece que existe no s doenas profissionais, como tambm, doenas relacionadas com o trabalho, que so aquelas favorecidas pelas condies e ambiente de trabalho, como por exemplo, o estresse ocupacional.

    Voltemos um pouco s relaes formadas entre os seres humanos e nos reportemos s novas formas de organizao do trabalho associadas ao processo de reestruturao produtiva. Estas configuram-se como resposta crise de realizao capitalista ocorrida no modelo anterior, caracterizado pela generalizao dos princpios tayloristas-fordistas.

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    Diante do novo modelo econmico surgido nos anos 1980 nos pases avanados, destacam-se, segundo Pires (1998, p. 45-46),

    a grande importncia do setor eletrnico; a intensa aplicao da tecnologia digital de base microeletrnica na estrutura industrial; e os progressos nos setores da qumica fina, dos novos materiais, da biotecnologia e da engenharia gentica, beneficiados com os progressos da informtica.

    E mais: contrapondo-se rigidez anterior, as mudanas suportam-se no complexo eletrnico, e a automao integrada flexvel uma de suas caractersticas mais importantes.

    No entanto, as mudanas no processo de trabalho, sobretudo em formaes capitalistas perifricas, caracterizaram-se pela justaposio de formas tradicionais e inovadoras, ou seja, atravs do que se poderia chamar de modernizao conservadora com fortes resqucios da segunda revoluo industrial e tecnolgica. Da a manuteno e/ou revitalizao dos princpios tayloristas/fordistas, pela desqualificao e controle autoritrio da fora de trabalho (BRAVERMAN, 1977).

    Na realidade, a par dessas inovaes tecnolgicas, advieram mudanas organizacionais que causaram impactos imediatos em todo o processo de trabalho. Exemplarmente, ante a verticalizao das empresas, promove-se a terceirizao quando vrias atividades passaram a ser externalizadas, possibilitando maiores trocas intersetoriais, a diversificao e ampliao do Setor Servios, o enxugamento do quadro de pessoal das grandes empresas, etc. Ainda na direo do aprofundamento da diviso do trabalho social, novos segmentos, refletindo a necessidade de rever custos e reduzir pessoal, indicam uma presumvel terceirizao da terceirizao a chamada quarteirizao que implica o concurso de novas empresas para gerenciar atividades que foram terceirizadas, ou seja, um maior enxugamento dos setores prprios da empresa que gerenciam o trabalho das empresas terceirizadas (Pires, 1998, p. 47).

    claro que esses processos no se restringem ao universo fabril, avanando sobre o Setor Servios e alterando suas clssicas funes, relaes e condies de trabalho (OFFE,1989). Todavia, mesmo ampliando a sua participao na estrutura

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    ocupacional, o Setor Servios, diante dos impactos das novas tecnologias, no tem ampliado suficientemente os postos de trabalho a fim de absorver o desemprego gerado em outros setores (POCHMANN, 1999).

    Ao lado da reduo do emprego direto e da maior subcontratao de trabalhadores, as novas relaes de produo e formas de gesto se traduzem em alteraes tanto na organizao da produo just in time, layout, logstica, reduo do tamanho da planta, terceirizao e parcerias com fornecedores como na organizao interna do trabalho, com reduo de hierarquia, trabalho em ilhas, trabalho mais qualificado no ncleo estvel e pouco qualificado nas atividades secundrias (POCHMANN, 1999, p. 35-36).

    Paralelamente, alm do declnio do trabalho na produo e das mudanas no mercado e nas relaes de trabalho, entre outras, destacando-se a desregulamentao, a flexibilizao e o enfraquecimento do poder sindical (Toledo, 1997 apud SALIM, 2003), vm ocorrendo modificaes profundas na natureza, significado e contedo do trabalho.

    Mais especificamente, no processo de terceirizao, vrias consequncias podem ser apontadas. Porm, lembrando os seus possveis impactos na sade do trabalhador, destacamos as seguintes:

    a) segmentao e diferenciao dos trabalhadores quanto s condies de trabalho por exemplo, em relao ao gradiente de afastamento desde o centro da cadeia produtiva at as diversas unidades perifricas;

    b) por um lado, pulverizao da base e enfraquecimento do poder sindical; por outro, flexibilizao dos direitos trabalhistas;

    c) reduo dos empregos diretos e indiretos ao longo da cadeia produtiva; d) intensificao do ritmo de trabalho e aumento da presso no ambiente de trabalho.

    No Brasil, particularmente nas regies metropolitanas, tais processos se suportaram na heterogeneidade do mercado de trabalho, caracterizado pela queda do emprego no setor formal e expressiva elevao da ocupao no setor informal, que, por sua vez, inclui os sem-carteira assinada e os trabalhadores por conta

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    prpria. Esses, somados aos desempregados, indicariam no apenas o grau de precariedade do mercado de trabalho como, sem dvida, as bases em que se assenta o prprio processo de precarizao das condies de trabalho, atribudos por exemplo, reproduo de baixos nveis salariais, no cobertura da seguridade social e falta de assistncia mdica. Processo, hoje, que no pode ser exclusivamente imputado ao setor informal do mercado de trabalho, pois, em direes e graus variados, tambm tem avanado sobre o contingente de trabalhadores registrados (SALIM, 2003).

    Todo esse contexto discorrido serve para mostrarmos que alm das novas configuraes de trabalho, a pouca qualificao, a excluso social, a falta de compromisso dos empresrios em relao aos seus trabalhadores, a falta de cumprimento das leis, a no aplicao de penas so algumas das situaes contingenciais que impactam as relaes e levam os trabalhadores a doenas do trabalho ou doenas relacionadas ao trabalho.

    Em relao ao trabalho especificamente, podemos mencionar alguns pontos que tm influncia decisiva sobre os efeitos na sade dos trabalhadores. So eles: a concentrao de uma substncia qumica como um solvente orgnico presente num ambiente de pintura a revolver; ou o cido crmico numa galvanoplastia; ou ainda a slica cristalina sob forma de poeira numa minerao, ou numa atividade de jateamento de areia. Ainda temos a intensidade de um agente fsico como o rudo em qualquer local de trabalho ou o calor e a umidade do ar em uma atividade de forjaria ou tinturaria.

    No que diz respeito a substncias qumicas, por exemplo, a forma fsica com que se apresenta gasosa ou vapor ou aerodisperside (poeira por exemplo) e o tamanho das partculas, etc. so fatores importantes que devem ser levados em conta. De uma forma geral, tambm so fatores que contribuem para o desencadeamento de uma doena relacionada ao trabalho a durao da exposio diria ou a durao da exposio ao longo da vida, a gravidade da leso que pode ser causada, e outros mais. Por exemplo, a exposio ocupacional ao benzeno pode resultar em morte por cncer, se ela ocorrer de forma leve e crnica, mas a morte tambm pode resultar se a exposio for aguda e em grande quantidade ou

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    concentrao. Exposies Intermedirias, ou exposies atravs da pele tm consequncias menores e diversas (KITAMURA, 2005).

    Segundo Almeida et al (2006), os riscos ocupacionais afetam diretamente a Sade do Trabalhador, expondo-o a adoecimentos e acidentes de trabalho. A portaria n 25 (29/12/1994) classifica os principais riscos ocupacionais:

    riscos qumicos (poeiras, fumos, nvoas, neblinas, gases, vapores e substncias compostas ou produtos qumicos em geral);

    riscos biolgicos (vrus, bactrias, protozorios, fungos, parasitas e bacilos); riscos ergonmicos e de acidentes (esforo fsico intenso, levantamento e

    transporte manual de peso, exigncia de postura inadequada, controle rgido de produtividade, imposio de ritmos excessivos, trabalho em turno e noturno, jornadas de trabalho prolongadas, monotonia e repetitividade, arranjo fsico inadequado, mquinas e equipamentos sem proteo, ferramentas inadequadas ou defeituosas, entre outras situaes causadoras de estresse fsico e/ou psquico ou acidentes);

    riscos fsicos (rudos, vibraes, radiaes ionizantes, radiaes no ionizantes, frio, presses anormais, umidade e calor) (BRASIL, 2004).

    Trabalho, riscos, doenas, deveres e direitos de empregados e empregadores caminham juntos. Do comprometimento e da responsabilidade de cada uma das partes pode depender a manuteno da qualidade de vida de todos.

    Sejam bem-vindos ao mdulo que tratar do ambiente e das doenas ocupacionais! Esperamos que apreciem o material e busquem nas referncias anotadas ao final da apostila subsdios para sanar possveis lacunas que venha surgir ao longo dos estudos.

    Ressaltamos que embora a escrita acadmica tenha como premissa ser cientfica, baseada em normas e padres da academia, fugiremos um pouco s regras para nos aproximarmos de vocs e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas no menos cientficos. Em segundo lugar, deixamos claro que este mdulo uma compilao das ideias de vrios autores, incluindo aqueles que consideramos clssicos, no se tratando, portanto, de uma redao original.

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    UNIDADE 2 SERVIOS DE MEDICINA DO TRABALHO

    O Servio Especializado em Engenharia de Segurana e em Medicina do Trabalho mantido, obrigatoriamente, pelas empresas privadas e pblicas, pelos rgos pblicos da administrao direta e indireta e dos Poderes Legislativo e Judicirio que possuam empregados registrados pela Consolidao das Leis do Trabalho CLT.

    O SESMT tem a finalidade de promover a sade e promover a integridade do trabalhador no local de trabalho. O dimensionamento do SESMT vincula-se a gradao do risco da atividade principal e ao nmero total de empregados do estabelecimento constantes na Norma Regulamentadora de Segurana e Medicina do Trabalho, NR 4.

    O SESMT deve manter entrosamento permanente com a CIPA, dela valendo-se como agente multiplicador, e devem estudar suas observaes e solicitaes, propondo solues corretivas e preventivas, conforme disposto na Norma Regulamentadora de Segurana e Medicina do Trabalho, NR 5.

    A empresa responsvel pelo cumprimento da NR 4, devendo assegurar, como um dos meios para concretizar tal responsabilidade, o exerccio profissional dos componentes do SESMT. O impedimento do referido exerccio profissional, mesmo que parcial, e o desvirtuamento ou desvio de funes constituem, em conjunto ou separadamente, infraes classificadas de acordo com Norma Regulamentadora de Segurana e Medicina do Trabalho, NR 28 Fiscalizao e Penalidades, para os fins de aplicao das penalidades previstas. De acordo com essa norma, a construo civil, antes classificada como atividade econmica de grau de risco 3 (trs), passa a ser classificada como grau de risco 4 (quatro) a partir da Portaria n 1, de 12 de maio de 1995.

    A Portaria n 169, de 14 de julho de 2006, suspende o prazo de entrada em vigor da Portaria de 1995, permanecendo, ento, grau de risco 3 (trs) para a construo civil.

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    Grau de

    risco

    Nmero de empregados Tcnicos

    50 A

    100

    101 A

    250

    251 A

    500

    501 A

    1000

    1001 A

    2000

    2001 A

    3500

    3501 A

    5000

    **

    3 Tcnico de Segurana do Trabalho Engenheiro de Seg. do Trabalho Aux. de Enfermagem do Trabalho Enfermeiro do Trabalho Mdico do Trabalho

    1 2

    3 1*

    1*

    4 1

    1

    1*

    6 1

    2

    1

    8 2

    1

    1

    2

    3 1

    1

    1

    4 Tcnico de Segurana do Trabalho Engenheiro de Seg. do Trabalho Aux. de Enfermagem do Trabalho Enfermeiro do Trabalho Mdico do Trabalho

    1 2

    1*

    1*

    3 1*

    1*

    4

    1

    1

    1

    5 1

    1

    1

    8 2

    2

    2

    10 3 1 1

    3

    3 1

    1

    1

    *Tempo parcial mnimo de 3 horas.

    **Acima de 5000 para cada grupo de 4000 ou frao acima de 2000. O dimensionamento total dever ser feito levando-se em considerao o dimensionamento da faixa de 3501 a 5000.

    Obs: hospitais, ambulatrios, maternidades, casas de sade e repouso, clnicas e estabelecimentos similares com mais de 500 (quinhentos) empregados devero contratar um Enfermeiro do Trabalho em tempo integral.

    A NR-4 teve sua redao alterada pela Portaria n 17/2007 de 01/08/07, com relao ao SESMT, possibilitando a formao de SESMT COMUM para empregados contratados, desde que previsto em Conveno ou Acordo Coletivo de Trabalho.

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    UNIDADE 3 DOENAS DO TRABALHO

    3.1 Doena profissional e doena do trabalho

    No ltimo quarto do sculo XX, o Brasil apresentou um quadro bastante adverso em relao tanto expanso do mercado de trabalho quanto melhoria das condies laborais daqueles que, a expensas do nmero crescente de excludos, ali se encontravam engajados.

    Em um contexto duplamente caracterizado pela prolongada estagnao econmica das dcadas de 1980 e 1990 tambm conhecidas como dcadas perdidas e pela abertura unilateral de mercado, observaram-se, alm da inevitvel exportao de empregos para outros pases, mudanas internas de monta na organizao e nos processos de trabalho, seja atravs da adoo de novas tecnologias, seja em nome da competitividade, por meio da racionalizao da produo, sobretudo por mudanas organizacionais voltadas reduo de custos. Mais que a primeira, basicamente atrelada inovao, a ltima foi tida como a principal responsvel tanto pela elevao da taxa de desemprego como pela maior precarizao das condies de trabalho em geral, por exemplo, por subcontrataes ou terceirizao.

    Particularmente, os anos 1990 foram piores em indicadores do mercado de trabalho. O ndice de desemprego para aquela dcada foi, em mdia, de 6,1%. Vale dizer, por um lado, que a cada ano da dcada de 1990, cerca de 570 mil trabalhadores perderam seus postos, conforme atestam os dados da Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE). Por outro, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD), tambm realizada pelo IBGE, a mera elevao do emprego informal e da subcontratao no total de ocupados de 41,5% para 49,4%, entre 1990 e 1997, resultou no incremento de 6,4 milhes de trabalhadores sem qualquer proteo legal, ou seja, simultaneamente sob os impactos da excluso de direitos e da precarizao no ambiente de trabalho.

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    E, como vimos rapidamente na introduo, o Setor Servios, mesmo ampliando a sua participao relativa na estrutura geral de empregos, diante de sua nova insero econmica, no tem sido capaz de se contrapor ao desemprego ascendente, especialmente nas regies metropolitanas (SALIM, 2003).

    No entanto, como sorte de contradio, foi nesse contexto que emergiram propostas de flexibilizao do mercado de trabalho voltadas reduo tanto da jornada de trabalho, por banco de horas, como de direitos trabalhistas, por regimes jurdicos diferenciados, em que, especialmente para a pequena e mdia empresa, aventou-se inclusive a reverso de direitos j consignados. Isso sem desconsiderar que, paralelamente s deficincias na cobertura da fiscalizao, foi e continua sendo inexpressivo o aumento de clusulas sobre sade e condies de trabalho nos Acordos Coletivos de Trabalho (SALIM, 2001).

    Em outras palavras, um quadro caracterizado por dois aspectos: por um lado, pela retrao do mercado de trabalho; por outro, pelo avano na deteriorao das condies laborais daqueles cujos postos ou ocupaes se encontram em nveis diferenciados de formalidade das relaes contratuais ou empregatcias. Situao, enfim, que tem trazido importantes reflexos nas variaes e tendncias dos acidentes do trabalho no pas.

    Naquela ocasio, paralelamente redefinio do Setor Servios, ocorreram a queda dos assalariados na participao total da populao economicamente ativa (PEA) e o incremento de todo o mercado informal de trabalho. O ltimo, hoje, em muitos casos, com participao majoritria no mercado de trabalho e indcios de saturao na absoro de trabalhadores excludos do setor formal, traduz-se, inexoravelmente, no maior nmero de trabalhadores margem dos direitos sociais, como o acesso previdncia social e ao bem-estar no ambiente de trabalho, atravs do inalienvel direito a sade e segurana.

    De forma reflexa, as estatsticas disponveis indicaram, no final da dcada, uma nova tendncia quanto ao quadro acidentrio no pas. Em 1999, pela primeira vez na histria laboral do pas, tivemos uma maior ocorrncia de acidentes do trabalho no Setor Servios.

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    Segundo a Previdncia Social, enquanto, entre 1997 e 1999, a participao desse setor subiu de 38,7% para 44,6%, inversamente, a participao da Indstria caiu de 49,2% para 44,2%. Participao, inclusive, que se estende ao nmero de casos fatais, ou seja, s mortes decorrentes de acidentes do trabalho (SALIM, 2003).

    Nesse particular, Waldvogel (2002) ressalta que destacaram-se os grupos ocupacionais dos ramos de atividade Servios e Comrcio e Transporte e Comunicao. Alis, a autora, em sua criteriosa anlise, aponta a emergncia de se considerarem os fatores exgenos ao ambiente de trabalho na deteco dos riscos intrnsecos dos acidentes do trabalho, especialmente nos casos em que os trabalhadores tm ampliado para o espao pblico o local de trabalho, incorporando, neste caso, novos riscos s suas atividades laborais como, por exemplo, a violncia do cotidiano, expressa, principalmente, nas taxas de homicdios, acidentes com veculos a motor, atropelamentos, etc. Eventos, infelizmente, muitas vezes margem das estatsticas disponveis sobre acidentes do trabalho. Como exemplo tpico temos os milhares de motoboys particulares/independentes que circulam no somente mais pelas grandes cidades do pas como em todo territrio nacional e se acidentam em larga escala, todos os dias, muitos vindo a bito. Razo, dentre outras, que impe a no desconsiderao dos limites intrnsecos nas fontes de dados que interferem na qualidade das informaes sobre o quadro de sade doena relacionado ao trabalho no Brasil (SALIM, 1999).

    Isso porque, basicamente referidas infortunstica dos trabalhadores do setor formal urbano, as estatsticas oficiais resumem-se, sobretudo, aos indicadores mnimos e de cunho burocrtico uma vez que, no geral, o so para fins dos benefcios previdencirios dos trabalhadores registrados dos efeitos do trabalho no quadro de acidentes tpicos e de trajeto, incapacidades permanentes ou temporrias e mortes provocadas. Exatamente por isso so tidas como subestimadas, retratando apenas parcialmente a realidade acidentria do mercado de trabalho brasileiro.

    Apesar disso, e ainda consoante dados da Previdncia Social, mesmo com a queda do nmero total de acidentes do trabalho, incluindo a o nmero absoluto de mortes, a proporo de acidentes graves e o nmero de mortes por acidentes

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    registrados, cresceram no tempo, ou seja, seu grau de letalidade, especialmente at 1995, quando, exceo de 1992, os ndices foram ascendentes, voltando, no entanto, a recrudescer ao final da dcada de 1990 (SALIM, 2003).

    Por outro lado, inversamente queda absoluta dos acidentes de trabalho, ocorreu um forte crescimento das doenas relacionadas ao trabalho durante toda a dcada de 1990, valendo aqui assinalar as mais diretamente relacionadas s recentes mudanas na organizao do trabalho, em que as LER/DORT afiguraram-se como caso emblemtico.

    De fato, como reflexo de novos riscos nos processos produtivos e nos ambientes de trabalho, houve uma forte elevao nos coeficientes de doenas profissionais nos anos 1990. E isso foi mais do que sintomtico, na medida em que, afora outros motivos, esses coeficientes retrataram um momento mais precisamente, o final da dcada de 1990 em que se ergueu, por parte do Ministrio da Previdncia e Assistncia Social, um verdadeiro biombo institucional para dificultar o diagnstico e o reconhecimento de tais doenas, especialmente das LER/DORT, e, por conseguinte, a consignao de direitos aos lesionados (ARAJO, 2001).

    Por outro lado, ainda que eloquentes, so coeficientes que no podem ser dissociados de problemas inerentes s conhecidas dificuldades de melhoria nos sistemas de notificao das doenas do trabalho em diferentes contextos institucionais, ou seja, so calcados em inequvoca subenumerao de casos de doenas do trabalho.

    Pesquisa recente do Instituto Nacional de Preveno das LER/DORT (Prevler), realizada pelo Datafolha, com financiamento do Ministrio da Sade, mostrou que, apenas na cidade de So Paulo, cerca de 310 mil trabalhadores sofrem de LER/DORT, ou seja, casos realmente diagnosticados1. Isso equivale a 4% de todos os paulistanos acima de 16 anos de idade e 6% de todos os trabalhadores da cidade. Nmero, alis, muito acima dos 19 mil casos dessas doenas

    1 Essa pesquisa ouviu 1.072 trabalhadores com mais de 16 anos e de todos os ramos de atividade na

    cidade de So Paulo. Os entrevistados foram selecionados por sexo, idade, renda e escolaridade (Folha de S. Paulo, 07/10/2001, Caderno C).

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    contabilizados pelo Ministrio da Previdncia no ano de 20002. E mais: a pesquisa da Prevler aponta que esse nmero pode estar aqum da realidade, uma vez que 4,7 milhes de trabalhadores relataram algum sintoma decorrente dessas doenas e 508 mil trabalhadores encontravam-se ocupados em situaes de risco, fato que pode transform-los em novos portadores de LER/DORT doena, registre-se, que tem sido a responsvel pelo maior nmero de afastamentos do trabalho em So Paulo (SALIM, 2003).

    Mas o que vem a ser doena do trabalho, doena profissional e acidente de trabalho?

    considerado acidente de trabalho aquele ocorrido no exerccio de atividades profissionais a servio da empresa (tpico) ou no percurso casa-trabalho-casa (de trajeto).

    Acidente tpico: aquele que ocorre no local de trabalho durante o exerccio da funo. Vale ressaltar que tambm so definidos como exerccios de trabalho os momentos destinados s refeies e a outras necessidades fisiolgicas. Assim, qualquer acidente ocorrido nesses perodos ser considerado acidente de trabalho.

    Acidente de trajeto: acidente ocorrido no trajeto entre a residncia e o local de trabalho e vice-versa.

    Doena do trabalho resultante das condies sob as quais o trabalho realizado. Ocasiona quebra de resistncia do organismo do trabalhador e aparecimento de uma doena que no tem no trabalho sua causa nica e exclusiva.

    Doenas do aparelho respiratrio, por exemplo, esto entre os males que podem ter diversas origens e no somente o ambiente do trabalho. As tendinites tambm so difceis de serem classificadas como doena do trabalho por esta mesma razo.

    Doena profissional aquela que tem no trabalho a sua nica causa e no deixa dvidas sobre como foi contrada. Surge exclusivamente no ambiente de

    2 No Rio de Janeiro, pesquisa do Sindicato dos Bancrios entre os seus 32 mil associados revelou

    que praticamente 45% da categoria tinha sintomas da doena, ou seja, cerca de 14 mil trabalhadores (Jornal do Brasil, 25/03/01).

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    trabalho, em funo de insalubridade. So exemplos a silicose, doena adquirida pela aspirao de poeira de pedra, ou o saturnismo, que acomete profissionais que trabalham com chumbo.

    Dentre as doenas mais comuns relacionadas ao trabalho esto:

    Doenas originrias de movimentos repetitivos LER (Leso por Esforo Repetitivo), tambm conhecida por LTC (Leso por Trauma Cumulativo) e por DORT (Distrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho). Exemplos: tendinite e tenossinovite;

    Doenas do aparelho respiratrio podem ser ocasionadas por agentes fsicos, qumicos ou biolgicos. Exemplos: bronquite e silicose;

    Doenas de pele podem ser ocasionadas por fatores qumicos, fsicos e biolgicos. Exemplo: dermatite de contato e cncer de pele ocupacional (ADMIX, 2011).

    3.2 Leses por Esforo Repetitivo (LER)/Distrbio Osteo-muscular Relacionado ao Trabalho (DORT)

    As relaes da industrializao dos meios de produo, dos avanos tecnolgicos que proporcionaram vida moderna um conforto inimaginvel em pocas anteriores provocou tambm um aumento significativo dos quadros clnicos decorrentes da sobrecarga esttica e dinmica do sistema osteomuscular, mas que at pouco tempo atrs no foram vistos e estudados com mais ateno, tanto que somente em 2003, o INSS adotou a terminologia de Leses por Esforo Repetitivo (LER) e Distrbio osteo-muscular relacionado ao trabalho (DORT) por meio da Instruo Normativa n 98/2003.

    Segundo o INSS, as LER/DORT no Brasil foram inicialmente descritas como tenossinovite ocupacional, das quais foram apresentados casos verificados em lavadeiras, limpadoras e engomadeiras, durante o XII Congresso Nacional de Preveno de Acidentes de Trabalho, em 1973. Na ocasio, foram recomendadas

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    pausas de trabalho para aqueles trabalhadores cujas atividades implicassem em operar intensamente com as mos.

    S bem mais tarde, porm, mais especificamente em 1987, que a Previdncia Social passou a reconhecer a tenossinovite do digitador como doena ocupacional, resultado de uma intensa presso das entidades sindicais representativas dos trabalhadores em processamento de dados (WAGNER, RODRIGUES, FRIESS, 2008).

    Agrupam-se como LER/DORT afeces que podem acometer tendes, sinovias, msculos, nervos, fcias, ligamentos, de forma isolada ou associada, com ou sem degenerao de tecidos, atingindo, principalmente, mas no to somente, os membros superiores, regio escapular e pescoo, com origem ocupacional.

    Os quadros clnicos dessas doenas so caracterizados pela ocorrncia de vrios sintomas concomitantes ou no, tais como dor, parestesia, sensao de peso e de fadiga.

    Entidades neuro-ortopdicas definidas como tenossinovites, sinovites, compresses de nervos perifricos podem ser identificadas ou no, sendo comum a ocorrncia de mais de uma dessas entidades neuro-ortopdicas e a concomitncia com quadros mais inespecficos como a sndrome miofascial (BRASIL, 1999; HOEFEL, 1996). Frequentemente so causas da incapacidade laboral temporria ou permanente.

    Vrios fatores associados ao trabalho concorrem para a ocorrncia de LER/DORT como a repetitividade de movimentos, a manuteno de posturas inadequadas, o esforo fsico, a invariabilidade de tarefas, a presso mecnica sobre determinados segmentos do corpo, o trabalho muscular esttico, impactos e vibraes. A intensificao do ritmo, da jornada e da presso por produo e a perda acentuada do controle sobre o processo de trabalho por parte dos trabalhadores (fatores relacionados organizao do trabalho), tm sido apontados como os principais determinantes para a disseminao da doena (ASSUNO; ROCHA, 1995).

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    A partir de um dos estudos precursores realizado por Kern e Schumann (1984 apud MERLO, JACQUES, HOEFEL, 2001) na Alemanha, muito tem sido falado sobre as transformaes no mundo do trabalho.

    Sem entrar nas extensas polmicas sobre o nome a dar-se a essas novas formas de organizar o trabalho, importante salientar que tais modificaes ainda se apresentam no Brasil como um tendncia, pois o que se encontra so empresas implementando alguns aspectos dessas propostas. Assim, o que se constata, em geral, o que se poderia chamar de modelo Frankstein (Merlo, 1999), onde so incorporados alguns instrumentos usados pelas chamadas japonizaes da organizao do trabalho, tais como Programas de Qualidade Total e Kanban, dentro de polticas de gesto que se mantm verticalizadas, autoritrias e muito hierarquizadas e, em geral, em ambientes insalubres.

    O que vem se constatando, segundo Merlo, Jacques e Hoefel (2001), uma superposio de agresses, umas oriundas das formas tradicionais de gesto, outras impostas pelo processo de reestruturao produtiva.

    As evidncias epidemiolgicas apontam para uma associao de fatores causais interagindo sinergicamente nos processos agudos e na cronificao dessas patologias agrupadas como LER/DORT. No existe, ainda, conhecimento acumulado que permita quantificar a parcela de cada fator na determinao do esquema global dessas afeces, assim como o evento precipitante de cada caso clnico, visto a interseco de vrios fatores na histria de cada trabalhador. E, embora as condies objetivas de trabalho sejam explicaes consensuais sobre a etiologia dos sintomas, reconhecidas pelos rgos previdencirios e referidas nas denominaes da doena, mantm-se, ainda, a continuidade do debate em torno desta questo.

    Todos os fatores descritos e caractersticos da LER/ DORT concorrem para seu difcil diagnstico e tratamento; ainda, seus portadores, em geral, apresentam quadros clnicos onde os sintomas e a dor crnica no condizem com os resultados do exame clnico. Por outro lado, a falta de melhora e a grande incapacidade associada aos casos tm demonstrado a pouca eficcia dos tratamentos isolados, portanto, um campo rico de estudo para os Enfermeiros, uma vez que pela

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    observao cotidiana e o fato de sempre lidarem com trabalhadores pode aguar a curiosidade e o desejo de pesquisar mais sobre os quadros clnicos das LER/DORT.

    3.3 Doenas causadas por rudos

    Entende-se por rudo um agente contaminante de tipo fsico; um som indesejvel e, desta forma, incmodo. definido como o som ou grupo de sons de tal amplitude que pode ocasionar adoecimentos ou interferncia no processo de comunicao. Quanto diferena entre som e rudo, sabe-se que o primeiro pode ser quantificado, enquanto que o segundo considerado um fenmeno subjetivo (GANIME et al, 2010).

    De modo objetivo, considerado todo sinal acstico aperidico, originado da superposio de vrios movimentos de vibrao com diferentes frequncias, as quais no apresentam relao entre si, de modo subjetivo considerado toda sensao de desagrado, desconforto e/ou de intolerncia decorrente de uma exposio sonora (TELES, MEDEIROS, 2007).

    O rudo est por toda parte, mas prevalece no ambiente industrial, onde encontramos relao direta com doenas que acometem os trabalhadores.

    Segundo Ganime et al (2010), o rudo industrial existe em todas as indstrias em detrimento do funcionamento de vrias mquinas dos mais variados tipos, algumas mquinas, principalmente as dotadas de menos tecnologia, produzem rudos excessivos, acima do tolervel. Este tipo de rudo est em conflito com as condies de vida humana e contrape-se ao aumento da produtividade do trabalho e qualidade da sade do trabalhador, ou seja, se o empregado obrigado a trabalhar em ambientes ruidosos diminui sua produtividade por efeitos psicofisiolgicos, que vo desde a simples irritao at a perda de audio.

    A questo da salubridade acstica agrava-se quanto maior e mais complexo for o processo industrial, pois as exigncias acsticas diversificam-se mais. Como o ser humano tem uma alta capacidade de adaptao aos ambientes diversos, o desenvolvimento de um estado de fadiga e fuga de energia pode ocorrer sem que a

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    pessoa perceba, esgotando os limites de sua resistncia. Mas no s no domnio fsico que o rudo atua; sua influncia no domnio intelectual, principalmente na capacidade de ateno reduz o rendimento do trabalho do indivduo, tanto intelectual como fsico. Acredita-se at a presente data que um rudo de 80 dB no provoque surdez para a maioria dos indivduos, desde que a durao da exposio diria no exceda a 16 horas. Entretanto, um rudo de 92 dB (A) pode causar surdez profissional ao longo do tempo, se a exposio do trabalhador exceder a trs horas por dia (GANIME, 1993).

    A ideia de que o rudo um problema exclusivo do trabalhador leva a no valorizao do tempo e capital investidos na produo. A empresa deve entender que dar ateno ao rudo significa mais do que cumprir a lei ou atender fiscalizao, pois os seus efeitos danosos podem resultar em um nus financeiro e doena ocupacional.

    Segundo Campanhole e Campanhole (1993), h um contraponto existente no mundo onde tanto se deseja produtividade e competitividade, causando estranheza o fato de um administrador no querer encarar o rudo como inimigo comum que afeta tanto a sade da sua empresa como a de seu empregado. Atravs de uma anlise cuidadosa, ficam claras as aes que devem ser tomadas para buscar uma melhoria de condio de trabalho e, consequentemente, um aumento na produtividade dos trabalhadores.

    Efeitos da exposio ao rudo sobre o trabalhador

    A exposio ao rudo pode provocar diferentes respostas nos trabalhadores de ordem auditiva e extra-auditiva a depender das caractersticas do risco, da exposio e do indivduo exposto. So efeitos auditivos reconhecidos: o zumbido de pitch agudo, a mudana temporria do limiar (MTL) e a mudana permanente do limiar (MPL) (trauma acstico agudo e crnico) e so efeitos extra-auditivos: distrbios no crebro e nos sistemas nervoso, circulatrio, digestrio, endcrino, imunolgico, vestibular, muscular, nas funes sexuais e reprodutivas, no psiquismo, no sono, na comunicao e no desempenho de tarefas fsicas e mentais (TELES, MEDEIROS, 2007).

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    A exposio ao rudo pode ocasionar efeitos sade como estresse, irritabilidade, hipertenso arterial e pode estar associado a outras situaes de risco. A pessoa pode tambm perder o apetite, ser vtima de aerofagia (deglutio de ar), de insnia, de distrbios circulatrios ou respiratrios e pode emagrecer.

    H anos, pesquisas indicavam a presena de hipersensibilidade auditiva, associada a outras alteraes, como paralisia do nervo facial, ps-estapedectomia, zumbido, sndrome de Williams. Atualmente, sabe-se que a hiperacusia pode ser causada ou acompanhar diversas condies patolgicas perifricas ou centrais. Embora as causas da hiperacusia ainda no estejam determinadas com exatido, a exposio prolongada a rudo intenso um fator desencadeante importante (GANIME et al, 2010).

    A hiperacusia pode impedir ou dificultar a utilizao plena das habilidades auditivas, prejudicando no s o trabalho, mas tambm a qualidade da vida social dos trabalhadores. caracterizada pelo constante incmodo a sons de intensidade fraca ou moderada, independente da situao ou ambiente. H uma amplificao anormal da atividade neural evocada por um som na via auditiva, que sofre uma ativao secundria do sistema lmbico. Existem parmetros tais como a anamnese detalhada e a realizao do teste do limiar de desconforto (Loudness Discomfort Level LDL), para a identificao deste problema.

    H tambm a Perda Auditiva Induzida por Rudo (PAIR), que pode apenas ser prevenida eliminando-se ou diminuindo-se os nveis de exposio sonora. Esta considerada uma das mais comuns das doenas ocupacionais e a segunda leso ocupacional autorreferida mais comum. Este problema permanente e irreversvel e inexiste tratamento efetivo quando resultante de exposio excessiva (EL DIB et al, 2007 apud GANIME et al, 2010).

    A perda auditiva induzida pelo rudo (PAIR) relacionada ao trabalho uma diminuio gradual da acuidade auditiva, decorrente da exposio continuada a elevados nveis de presso sonora. A PAIR passvel de preveno e pode ter como consequncias prejuzos de diferentes naturezas, podendo levar incapacidade auditiva, disfunes auditivas como zumbidos e alteraes vestibulares e mesmo dificultar a insero no mercado de trabalho. No Brasil,

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    apesar da evoluo dos conhecimentos e da legislao sobre a PAIR, ainda ocorrem casos de trabalhadores lesionados.

    Segundo Neuberger et al (1992 apud OGIDO, COSTA E MACHADO, 2009), os zumbidos so o primeiro alerta de exposio a um estmulo sonoro excessivo e podem indicar maior susceptibilidade leso pelo rudo. Este um sintoma importante na preveno da PAIR e um dos principais fatores preditivos de desvantagens geradas para os trabalhadores expostos a rudo.

    As condies de sade auditiva no ambiente de trabalho tem sido objeto de muitos estudos no campo da sade pblica, uma vez que, a exposio a elevados nveis de rudo pode provocar danos irreversveis audio como a Perda Auditiva Induzida por Nveis de Presso Sonora Elevado (PAINPS). Alm da alterao na funo auditiva devido exposio ao rudo ocupacional, o rudo e a PAINPS compromete a comunicao e a qualidade de vida dos trabalhadores.

    O rudo considerado como o agente fsico nocivo sade mais frequente no ambiente de trabalho, sendo caracterizado como o fator de maior prevalncia das origens de doenas ocupacionais (PADOVANI et al, 2004). A PAINPS, por sua vez, a segunda maior causa de perda auditiva no homem, alm de ser a mais frequente das doenas ocupacionais (MANUBENS, 2001).

    De acordo com o Ministrio do Trabalho (artigo 168 da Consolidao das Leis do Trabalho, na NR 7) (3) e Portaria SSST/MTb n 5, publicada em 25 de fevereiro de 1997, foram estabelecidos diretrizes e parmetros mnimos para a avaliao e o acompanhamento da audio dos trabalhadores expostos a nveis de presso sonora elevados. Definiram a PAINPS como perda auditiva gerada por nveis de presso sonora elevados, com alteraes dos limiares auditivos, do tipo neurossensorial, decorrente da exposio ao rudo ocupacional, apresentando como caractersticas principais irreversibilidade e a progresso gradual com o tempo de exposio ao risco. Gatto et al (2005) definiram a PAINPS como uma patologia cumulativa e insidiosa, que progride ao longo dos anos de exposio ao rudo associado ao ambiente de trabalho.

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    Os sinais iniciais da PAINPS mostram o acometimento dos limiares auditivos em uma ou mais frequncias entre faixa de 3000 a 6000 Hz. De acordo com Hanger, Barbosa-Branco (2004), as frequncias mais altas e mais baixas podero levar maior tempo para serem comprometidas.

    Alguns estudos verificaram que a frequncia de 6000 Hz a mais acometida nas audiometrias sugestivas de PAINPS (RUGGIERI et al 1991; CORRA FILHO et al, 2002), enquanto outros estudos, referiram que a frequncia de 4000 Hz a mais comprometida nos estgios iniciais (KS; KS, 1998; ARAJO, 2002).

    Alm da perda auditiva, o zumbido uma queixa comum em profissionais que atuam em ambientes ruidosos, com nveis de 85 dB NPS ou maiores e sua prevalncia aumenta de acordo com a evoluo do dano auditivo.

    Considerando que a PAINPS uma doena passvel de preveno e sua prevalncia ainda alta no meio de trabalho, e esta perda da audio pode prejudicar a qualidade de vida afetando as relaes sociais, de comunicao e de trabalho, evidencia-se a importncia de aes preventivas e coletivas que visem a conservao da audio e da sade em geral (LOPES et al, 2009).

    Efeitos sobre o sistema auditivo

    A surdez profissional o efeito mais conhecido do rudo excessivo sobre o homem. Sua ocorrncia depende de caractersticas ligadas ao homem, ao meio e ao agente agressor. Perdas auditivas causadas pelo rudo excessivo podem ser divididas em trs tipos:

    1. Trauma acstico, que a perda auditiva de ocorrncia repentina, causada pela perfurao do tmpano, acompanhada ou no da desarticulao dos ossculos do ouvido mdio;

    2. Surdez temporria, tambm conhecida como mudana temporria do limiar de audio, ocorre aps uma exposio a um rudo intenso, por um curto perodo de tempo; e,

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    3. Surdez permanente, que a exposio repetida, cotidianamente, a um rudo excessivo, que pode levar o indivduo a uma surdez permanente. Caso esta exposio ocorra durante o trabalho, a perda auditiva recebe o nome de Surdez Profissional.

    Efeitos sobre sistemas extra-auditivos

    Segundo estudos de Ganime et Al (2010), os efeitos do rudo traduzem-se em tenso, tendo sido descritas alteraes psquicas, fisiolgicas e at anatmicas em vrios rgos de animais e no prprio homem. As principais reaes do organismo ao rudo encontradas nas literaturas pesquisadas foram os seguintes sistemas:

    a) Circulatrio Reaes no sistema circulatrio ocorrem sobre os vasos sanguneo,

    acontecendo reduo de seu dimetro (vasoconstrio) e sobre o corao, que pode bater mais rapidamente (taquicardia) e mais forte, o que parece ser consequncia de um estmulo glandular (aumento de catecolaminas). Como reao vasoconstrio aparece alteraes na presso arterial que representam uma ao compensatria do corao (ROCHA et al, 2002).

    Indivduos expostos a situaes de rudo intenso e prolongados apresentam maior prevalncia de hipertenso arterial sistmica, bem como da frequncia cardaca e doenas cardiovasculares, alm de maiores variaes pressricas. O organismo humano prepara-se para poder responder a um desejo ou situao de medo, frente a uma tenso, ativando suas glndulas que liberam os hormnios, aumentando a adrenalina. Trabalhadores em metalurgias barulhentas tinham uma incidncia relativamente grande de alteraes cardiovasculares, como bradicardia, conforme o National Institute of Ocupational Safety Health (NIOSH) (FUSCO, 1981).

    b) Respiratrio Apesar de escassas as comprovaes e pesquisas cientficas, as alteraes

    do sistema nervoso central em trabalhadores expostos ao rudo de baixa frequncia (RBF,

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    patologia respiratria nos mesmos trabalhadores, mais tarde reproduzida em modelos animais sob exposio a rudo de baixa frequncia. Atualmente, a doena vibroacstica define-se como patologia sistmica causada por exposio excessiva a rudo de baixa frequncia. Em indivduos expostos a rudo no trabalho, as queixas brnquicas aparecem nos primeiros 4 anos de atividade e, nesta fase, reduzem ou desaparecem quando de frias ou removidos do seu local de trabalho por outros motivos. Com a exposio prolongada, podero surgir situaes mais graves, como derrames pleurais, insuficincia respiratria, fibrose pulmonar e carcinomas do aparelho respiratrio (GANIME et al, 2010).

    c) Gastrointestinal H reduo de secreo gstrica e salivar o que causa certa diminuio da

    velocidade de digesto. A exposio mais prolongada pode levar as alteraes da funo intestinal e cardiovascular e mesmo, a leses teciduais dos rins e do fgado. A queda de resistncia a doenas infecciosas e disfunes na funo reprodutora tem sido descritas na literatura.

    d) Neurolgico H maior incidncia de irregularidades circulatrias e neurolgicas entre os

    metalrgicos trabalhando em locais ruidosos, quando comparados com outros grupos que trabalham em locais menos ruidosos. Exames neurolgicos de teceles italianos expostos diariamente ao rudo intenso mostram reflexos hiperativos e, em alguns poucos casos, mostram um traado eletroencefalogrfico de dessincronizao, semelhante queles encontrados nas alteraes de personalidade (GANIME et al, 2010).

    e) Psquico H queixas de irritabilidade, fadiga e mal-ajustamento incluindo tambm

    conflitos sociais entre os trabalhadores expostos ao rudo. Evidncias reais de alteraes psquicas causadas pelo barulho ainda carecem de estudos mais detalhados e prolongados.

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    H alteraes no estado de nimo, modstia e afetividade, dado que o trabalhador dever aumentar seu nvel de concentrao, aumentando a fadiga (GANIME et al, 2010).

    f) Comunicao Sabe-se que a comunicao uma das principais ferramentas para se ter

    xito na realizao do trabalho em variados locais, a eficcia de uma boa comunicao est intimamente ligada ao sucesso na execuo do trabalho. Dentre as variadas formas de comunicao encontramos a oral, a qual tem sido uma das mais afetadas com a exposio excessiva ao rudo.

    Um dos efeitos do rudo a sua influncia sobre a comunicao oral. O barulho intenso provoca o mascaramento da voz. Os sons nas frequncias de 500, 1000 e 2000 Hz so os que mais interferem na comunicao. Este tipo de interferncia atrapalha a execuo ou o entendimento de ordens verbais, a emisso de aviso de alerta ou perigo.

    Paralelamente, o rudo pode diminuir a eficincia das comunicaes pela conversao, telefone, rdio, etc. Sabe-se tambm que o nmero de acidentes na indstria aumenta com nvel de rudo, justamente pela diminuio da eficincia nas comunicaes (GANIME et al, 2010).

    A associao entre exposio ao rudo e perda auditiva ocupacional tem sido descrita h mais de um sculo, porm, somente a partir da dcada de 1960, pesquisadores mostraram preocupao com os efeitos da msica sobre a audio.

    Segundo Maia e Russo (2008), no caso dos msicos, por exemplo, o risco de perda auditiva no existe somente aps longa exposio msica amplificada. Curtas exposies a nveis sonoros excessivamente elevados, como em concertos de rock, tambm podem causar perda auditiva e zumbido.

    Medidas de Reduo do rudo

    H trs mtodos principais para a reduo do rudo:

    a - Na fonte o mtodo mais eficiente, porque permite obter-se a reduo do rudo interno no parque industrial, melhorando assim a qualidade dos ambientes;

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    b - Pelo planejamento fsico isolando os edifcios ou mquinas. A disposio apropriada dos equipamentos, dos setores e das estruturas de vibrao, pode levar a nveis acsticos sob a gide da legislao pertinente;

    c - Pelo controle sistemtico dos nveis de rudo no permitindo que estes se elevem, pelo desgaste ou falta de manuteno, a nveis excessivos.

    Caso no se consiga o resultado desejado na reduo do nvel de rudo, cabe ao empregador, como alternativa, o fornecimento de equipamentos de proteo individual, dando melhor condio para o empregado, alm de resguardar legalmente a empresa, estando o enfermeiro do trabalho responsvel juntamente com as demais equipes por sensibilizar os trabalhadores da necessidade do uso atravs de aes educativas e implementaes de programas que ao invs de punitivos precisam ser sempre educativos.

    Todo protetor auricular, seja em forma de concha, abafadores, plugues de insero, atenua o rudo criando uma barreira para reduzir o som que chega por via area membrana timpnica, porm o nvel de proteo obtido depende do grau de vedao do protetor, de forma que qualquer vazamento permite que o som passe pelo protetor. Porm, h inexistncia de estudos sobre a importncia do tamanho do protetor auditivo ser pequeno, mdio ou grande na eficcia da proteo do rudo ocupacional. Alm disso, a utilizao de protetores auriculares enquanto medida principal no controle dos efeitos do rudo no tem se mostrado suficiente para evitar o agravamento da PAIR.

    As distintas tcnicas de controle de rudo baseiam-se, fundamentalmente, nos diferentes tratamentos que podem efetuar-se com as ondas sonoras. O controle sempre deve ser feito quando os padres utilizados na avaliao so ultrapassados. Pode-se seguir um, ou vrios, dos processos: controle na fonte; controle sobre a via de transmisso; controle no pessoal, diminuindo o tempo de exposio ou uso de protetores auriculares.

    Quando se pretende a reduo na gerao do rudo, substituindo equipamentos ou componentes ruidosos por outros, seguem-se os Procedimentos Ativos de Controle. No caso de tratamentos e acondicionamentos acsticos dos

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    locais ou estudo da ordenao e disposio de equipamentos ruidosos nos recintos, o termo usado Procedimentos Passivos de Controle. Estes no evitam a gerao do rudo, mas atenuam suas consequncias sobre os receptores.

    O quadro abaixo apresenta as doenas do ouvido relacionadas com o trabalho grupo VIII da CID-10*

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    UNIDADE 4 DOENAS CAUSADAS POR AGENTES FSICOS, QUMICOS E BIOLGICOS

    4.1 Doenas ocupacionais respiratrias Uma grande diversidade de agentes ambientais e ocupacionais pode causar

    doenas nas vias areas superiores. Entre as principais funes das vias areas superiores, destacamos:

    a de filtro, removendo agentes infecciosos, alrgicos e txicos do ar inalado;

    defesa, atravs da mucosa que identifica, metaboliza e remove uma srie de elementos xenobiticos;

    conduo, aquecimento e umidificao de 10.000 a 20.000 litros de ar por dia; e,

    contribuio importante para a audio, olfao, viso, gustao e fonao (BAGATIN; COSTA, 2006). Embora medidas clnicas para avaliao dessa parte do aparelho respiratrio

    seja funo de um mdico especialista, que detm o conhecimento adequado para analisar, investigar, examinar sintomas e diagnosticar a melhor teraputica para as doenas respiratrias, cabe aos profissionais da segurana e sade ocupacional conhecer as doenas que mais acometem os trabalhadores nessa rea, bem como o ambiente caracterstico onde podem surgir, com vistas preveno de doenas.

    Existem vrios mtodos para uma boa abordagem diagnstica, indo desde a histria do paciente, a visualizao das cavidades nasal e bucal com luz direta, at medidas objetivas de avaliao funcional e estrutural como a rinomanometria, rinometria acstica, medidas do pico de fluxo nasal, complacncia nasal, provocao nasal com metacolina ou histamina, timpanomanometria, avaliao do fluxo de sangue da mucosa, quantificao da eficcia do sistema mucociliar, swab ou lavado da secreo nasal e bipsia nasal, entre outros exames disponveis (DIAS et al, 1995 apud BAGATIN; COSTA, 2006).

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    Em uma recente reviso publicada com o ttulo de Guia das Doenas Ocupacionais Otorrinolaringolgicas (DELLA GIUSTINA et al, 2003), pode-se observar uma extensa relao de doenas das vias areas superiores relacionadas com o trabalho e seus agentes causais associados com a ocupao, ambiente e operaes executadas. Essa reviso foi idealizada para auxiliar no diagnstico dessas enfermidades e para subsidiar o estabelecimento do nexo causal entre a exposio e os sintomas referidos. Na regio do nariz e seios paranasais, destacamos as rinossinusopatias, tumores, anosmias, perfurao do septo nasal e rinolitase; na cavidade oral, as inflamaes, metaplasias, leucoplasias, alteraes da cor e eroses dentrias, estomatites, gengivites, ulceraes crnicas e alteraes do paladar; na faringe, laringe e traqueia as disfonias funcionais, as inflamaes e as neoplasias, bem como as doenas da orelha interna e mdia que interferem na via respiratria.

    Dependendo das caractersticas do aerossol inalado pode haver irritao primria por ao citotxica direta ocasionando inflamao da mucosa. Entre os principais irritantes primrios temos os compostos de amnia, cloro e cidos fortes (sulfdrico, clordrico, muritico). Gases como os derivados do nitrognio, enxofre, oxignio, oznio, fosgnio, dependendo da concentrao e tempo de exposio, alm de provocarem leses nas vias areas superiores podem determinar alteraes respiratrias bronquolo-alveolares.

    Uma extensa relao de substncias qumicas consideradas como irritantes das vias areas superiores a partir das suas concentraes, em partes por milho, pode ser consultada para uma melhor caracterizao da exposio. Alguns metais como o berlio, tungstnio, selnio, vandio, antimnio, zinco, mangans, cromo e nquel podem provocar laringites, traqueites, ulceraes e at perfuraes do septo nasal.

    Uma srie de substncias sensibilizantes pode estar presente nos ambientes domsticos, de lazer e de trabalho, sendo as mais frequentes as protenas animais e vegetais, enzimas, substncias qumicas de baixo peso molecular como o cido plictico, anidridos cidos e isocianatos, entre outros elementos. As exposies aos metais j citados, poeira de madeiras, compostos de hidrocarbonetos aromticos e

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    benzopireno apresentam elevada associao com as neoplasias da vias areas superiores, principalmente da cavidade nasal, dos seios paranasais e da laringe.

    As ulceraes e as perfuraes do septo nasal, leses da cavidade oral, rinossinusopatias alrgicas ou irritativas, rinolitase, disfonias, laringites, traquetes e as neoplasias so os agravos de maior ocorrncia.

    Rinite alrgica ocupacional

    A rinite qualquer processo inflamatrio da mucosa nasal. Quando ela eosinoflica e mediada pela imunoglobulina IgE, chamada rinite alrgica. Primeiramente, ela promovida por um mecanismo de sensibilizao e posteriormente desencadeada por contatos subsequentes, atravs de uma resposta imune. Se ela for produzida por alrgenos do ambiente de trabalho ou, mesmo sendo preexistente, se seus sintomas forem desencadeados por agentes do ambiente do trabalho, ainda que no alergnicos, caracterizada como rinite alrgica ocupacional.

    Epidemiologia - A rinite alrgica de grande ocorrncia na populao e, dentre as rinites, sua prevalncia s menor que a das virais. Embora se disponha de farta literatura epidemiolgica sobre a rinite alrgica, sabe-se pouco sobre sua ocorrncia quando relacionada com o trabalho. Ao contrrio da asma ocupacional, que muitas vezes acomete os portadores de rinite alrgica, no h muitos estudos disponveis sobre esta e sua importncia no tem sido muito valorizada. Mas a incidncia grande e tende a ser crescente, tanto quanto sua importncia para a sade do trabalhador. Estima-se que 20% da populao tenha rinite alrgica e 5% no alrgica.

    Na rea ocupacional, ela tanto pode ser desencadeada pelas condies de trabalho, quanto pode ser exacerbada por elas, nas situaes em que preexistente. Em um estudo realizado na Finlndia cerca de 20% dos casos de rinite alrgica eram de origem ocupacional, sendo que as exposies na agricultura predominaram, especialmente no trabalho com algodo, madeiras, fibras vegetais e farinha (KANERVA; VAHERI, 1993 apud BAGATIN; COSTA, 2006).

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    Pesquisas em muitos pases apontam o aumento da rinite alrgica em trabalhadores rurais, por se submeterem a sensibilizao crescente a agentes alergnicos, geralmente de alto peso molecular. Outros estudos destacam maior incidncia em trabalhadores urbanos, pelo aumento dos poluentes ambientais. Alguns alrgenos so de ocorrncia sazonal, fazendo com que as crises de rinite alrgica ocorram predominantemente em determinadas pocas do ano. Outros so de manifestao perene, com intercursos de agravamento (MELLO; MION, 2003).

    So inmeros os agentes causais listados na literatura:

    os acrilatos afetam os trabalhadores fabricantes de txteis, revestimentos, filtros, resinas e adesivos;

    amprolina e cloretos esto presentes em frigorficos avcolas e avirios;

    anidridos cidos, em plastificao e fbricas de polister, pesticidas e essncias;

    carbonetos metlicos (de tungstnio, cobalto, titnio) esto presentes na fabricao e afiao de ferramentas;

    corantes (azoquinona, antroquinase), em tinturarias, cabeleireiros, fabricao de alimentos e tecidos;

    cromo e compostos, em galvanoplastias, decapagens, soldas, fabricao de ligas metlicas, cimento, refratrios, pigmentos, couro e mordentes;

    diisocianatos, em fabricao de poliuretano (espumas, revestimentos, vedantes), txteis e tintas;

    enzimas, em padarias, fbricas de detergentes e produtos farmacuticos;

    formaldedo, na preservao de tecidos, embalsamamentos, curtumes, fabricao de resinas, ltex e produtos de borracha;

    gomas vegetais, em cabeleireiros, grficas, e fabricao e comrcio de tapetes e carpetes;

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    gros, em depsitos e comrcio de alimentos, estiva e zona rural; nquel e compostos, na sua extrao, fundio e refino, galvanoplastias, joalherias, fabricao de pilhas, baterias, eletrodos, borracha sinttica e mordentes;

    pentxido de vandio, em catalisadores, limpeza de leo, laboratrios fotogrficos e de colorao;

    pirlise de plstico, no fechamento de embalagens;

    poeiras de algodo, linho, cnhamo e sisal, na fabricao de leo vegetal, padarias, carda e fiao de algodo e cordas;

    poeira de cimento, na produo de cimento e construo civil;

    poeira de madeira, em fbricas de mveis, serrarias, carpintarias, marcenarias e construo civil;

    poeiras industriais de mamona e caf, nas indstrias de leo de rcino e de caf;

    protenas animais, na fabricao de alimentos, granjas, criadouros, laboratrios e clnicas veterinrias;

    protenas vegetais, nas fbricas de alimentos, ltex, padarias e fazendas; e,

    tabaco, presente em sua plantao e na indstria de fumo (BRASIL, 2001; DELLA GIUSTINA et al, 2004; BAGATIN; COSTA, 2006).

    Rinite no alrgica de origem ocupacional

    A doena inflamatria das mucosas nasais geralmente se caracteriza por obstruo nasal e rinorreia, eventualmente com irritao, prurido e espirros. Pelo seu alto grau de exposio ambiental e por ter mecanismos de defesa mais limitados, as fossas nasais constituem um dos sistemas orgnicos mais vulnerveis a poluentes ambientais.

    As rinites podem ser agudas ou crnicas e estas, no sendo alrgicas, podem se manifestar como hipertrficas, atrficas, vasomotoras, poliposas, supurativas, granulomatosas ou ulceradas.

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    Fatores de risco condies preexistentes podem facilitar a instalao das rinites, como: desvios de septo nasal, hipertrofias de cornetos, presena de plipos nasais, estenoses de fossas nasais, atresia de coanas, presena de corpos estranhos, tumores e rinites crnicas ou recidivantes; distrbios de transporte mucociliar; algumas afeces sistmicas (alergia, diabetes, endocrinopatias, colagenoses, imunodeficincias e outras); uso de drogas ou medicamentos nasais; contato com irritantes domsticos (detergentes, inseticidas, tintas e outros); e, contato com irritantes ambientais (fumaa, tabaco, ar condicionado e outros).

    So muito numerosos os agentes causais referenciados na literatura. Os mais citados so: compostos de cromo, nquel, mangans, antimnio, titnio, selnio, vandio e arsnico, presentes na solda, galvanizao, conservao de madeira, indstria petroqumica, de acumuladores, pilhas e baterias e outros locais; compostos de flor, iodo, bromo e cloro, na indstria qumica, farmacutica, plstica, siderrgica, cermica, de fertilizantes e outras; cimento, s vezes com formao de rinlitos nasais ou sinusais; cidos frmico, hidroclordrico e hidrofluordrico, fenol, amnia e anidridos, nas indstrias plsticas, de borracha, fertilizantes, tintas, corantes, resinas e outras; xido de enxofre, na queima de resduos, caldeiras, geradores, fornos e solda; e fumos emanados da fabricao de borracha, plsticos, leos, solventes orgnicos e nvoas cidas ou alcalinas (BRASIL, 2001; DELLA GIUSTINA et al, 2004; BAGATIN; COSTA, 2006).

    Sinusite de origem ocupacional

    As inflamaes da mucosa sinusal so consideradas de origem ocupacional quando o exerccio da atividade laboral de seu portador teve um papel contributivo ou adicional em seu desenvolvimento, pois sua etiologia geralmente multicausal (ARRAIS, 1999).

    Elas podem ser agudas ou crnicas, estas quando duram mais de quatro semanas. Por sua natureza, podem ser de origem alrgica ou provocadas pela inalao de agentes irritantes ou contaminantes (vrus, bactrias e fungos). Podem ainda atingir cavidades sinusais isoladas ou grupamentos delas.

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    Fatores de risco da mesma forma que nas rinites no alrgicas, muitas condies preexistentes podem facilitar a instalao da doena sinusal, como: desvios de septo nasal, hipertrofias de cornetos, plipos nasais, estenoses de fossas nasais, atresia de coanas, presena de corpos estranhos, tumores e rinites crnicas ou recidivantes; distrbios de transporte mucociliar; algumas afeces sistmicas (alergia, diabetes, endocrinopatias, colagenoses, imunodeficincias e outras); uso de drogas ou medicamentos nasais; contato com irritantes domsticos (detergentes, inseticidas, tintas e outros); irritantes ambientais (fumaa, tabaco, ar condicionado e outros).

    Os agentes causais mais referenciados na literatura so: compostos de cromo, zinco, nquel, cdmio, mangans, selnio e arsnico presentes na indstria, solda, galvanizao, conservao de madeira e outros locais; compostos de flor, iodo, bromo e amnia presentes na indstria qumica, farmacutica, siderrgica, cermica, de fertilizantes e outras; cimento, s vezes com formao de rinlitos nasais ou sinusais; slica, em fundies, cermicas, minerao, pedreiras; fibra de vidro; e fumos emanados da fabricao de borracha, plsticos, leos, solventes orgnicos e nvoas cidas ou alcalinas (BRASIL, 2001; DELLA GIUSTINA et al, 2004; BAGATIN; COSTA, 2006).

    Perfurao do septo nasal

    As perfuraes de septo nasal de origem ocupacional ocorrem por ao local dos aerodispersides irritantes, que provocam processo inflamatrio crnico, ulceraes na mucosa nasal e necrose isqumica da cartilagem septal. Elas no costumam acometer o septo sseo (GOMES, 1993; BRASIL, 2001).

    Fatores de risco as perfuraes so provocadas pela ao de agentes irritantes, em alta concentrao no ar inspirado, sobre a mucosa septal, onde predomina a secreo serosa sobre a secreo mucosa, o que a torna naturalmente mais vulnervel agresso. Alm disso, devem ser consideradas: higiene nasal precria, provocao de microtraumas para remoo de crostas e suscetibilidade individual (BRASIL, 2001; DELLA GIUSTINA et al, 2004; BAGATIN; COSTA, 2006).

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    Muitos agentes ocupacionais tm sido relatados como causais: cromo e derivados, presentes em galvanoplastias, curtume, fabricao de cimento, soldas, impresso fotogrfica e outros locais; nquel, em galvanoplastias, fbrica de baterias e metalurgia; cdmio, em galvanoplastias, fundio de ligas metlicas, soldas, fabricao de acumuladores e outros locais; arsnico e compostos, na metalurgia, fabricao de parasiticidas, tintas, material eletrnico, vidro e semicondutores, conservao de madeira, empalhamento de animais e outros locais; mangans, na extrao e na fabricao de ligas, pilhas e acumuladores, corantes, vidros, cermica, tintas, fertilizantes, soldas e outras; cido ciandrico e derivados, em galvanoplastias e combusto de espumas de poliuretano; antimnio; berlio; selnio; vandio; silicato de alumnio e outros.

    Existem tambm agentes no ocupacionais que podem atuar isoladamente ou como concausas (microtraumas, traumas cirrgicos, aspirao de drogas, infeces e outros).

    Alteraes do olfato de origem ocupacional

    As disosmias, do ponto de vista quantitativo, so assim chamadas: hiposmias as redues parciais da capacidade olfatria e anosmias as incapacidades totais, que podem ser temporrias ou permanentes. Sob o aspecto qualitativo, fala-se em agnosia olfatria (dificuldades para identificar odores), aliosmias (sensaes desagradveis para odores agradveis) e parosmias (sensao de odores fantasmas). As cacosmias, que so sensaes de odores desagradveis pelo prprio paciente (subjetivas) ou por outras pessoas prximas (objetivas), so muito frequentes nas rinossinusopatias (BAGATIN; COSTA, 2006).

    De modo geral, as redues parciais ou temporrias refletem problemas de conduo do fluxo areo at a rea olfatria, situada na parte alta das cavidades nasais. As alteraes totais, qualitativas ou permanentes esto mais ligadas a transtornos dos nervos olfatrios ou das vias olfatrias centrais (DELLA GIUSTINA, et al, 2004).

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    Fatores de risco para as hiposmias de conduo, so fatores predisponentes as rinossinusites crnicas, poliposes, presena de corpos estranhos, tumores, deformidades e desvios nasais, assim como o uso continuado de medicao tpica nasal. Para as disosmias, em geral, podem ser apontados como fatores causais os distrbios neurolgicos, psicolgicos, hormonais, infecciosos, neurovegetativos, tumorais, renais e as sequelas de traumas.

    Segundo Bagatin e Costa (2006), a literatura disponvel escassa para os agentes ocupacionais geradores de anosmias, citando apenas alguns: cdmio e compostos, presentes em galvanoplastias, fundio de ligas metlicas, soldas, fabricao de acumuladores e outros locais; hidrocarbonetos alifticos, em solventes, desengraxadores, produtos de limpeza, fabricao de eletroeletrnicos, tintas, vernizes, adesivos e produtos petroqumicos; sulfeto de hidrognio, nas indstrias metalrgica, qumica e de fertilizantes; cimento, na fabricao e construo civil; cido sulfrico e amnia, nas indstrias qumicas e de fertilizantes; formaldedo, em indstrias txteis, embalsamadores, madeireiras e na fabricao de desinfetantes, corantes, tintas, germicidas e mveis; dissulfeto de carbono em indstrias txteis, na fabricao de solventes, parasiticidas, vernizes, resinas e outros produtos; acrilatos, nas indstrias txteis e de tintas; radiaes ionizantes, presentes nas extraes, fabricao de reatores, laboratrios e indstrias; chumbo; cromo; nquel; zinco e outros.

    Preveno das doenas citadas

    Rinite alrgica ocupacional: identificar e eliminar as causas, se possvel; afastar o trabalhador, se necessrio. Medidas de proteo coletiva devem ser implantadas, como a instalao de sistemas de ventilao ou exausto, enclausuramento de mquinas e uso de protetores individuais, como mscaras, luvas e roupas especiais. Medidas administrativas podem alterar o processo de trabalho, reduzindo a populao exposta, com rodzios, reduo do tempo de exposio, do tempo de permanncia ou de passagem por reas problemticas, etc., alm do ensino de noes de higiene ambiental e corporal. Podem contribuir

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    positivamente, tambm, as campanhas de promoo de sade, de controle do consumo tabgico e de higiene corporal e domstica.

    Rinite no alrgica de origem ocupacional: vigilncia ambiental, visando ao controle e atenuao da exposio aos agentes causais (substituio, enclausuramento, isolamento e exausto), interveno na organizao de trabalho (reduo dos estressores ambientais, reduo das pessoas expostas e dos tempos de exposio), prticas de higiene corporal e ambiental, realizao de exames mdicos peridicos e fornecimento, treinamento e controle do uso de protetores individuais (mscaras, respiradores, filtros e suprimento de ar).

    Sinusite de origem ocupacional: idem s medidas preventivas para rinite no alrgica de origem ocupacional.

    Perfurao de septo nasal: alm das medidas acima, devem ser disponibilizados equipamentos competentes de proteo individual (mscaras, respiradores, aventais, luvas e culos), com seu uso eficazmente controlado, e facilidades de higienizao pessoal e ambiental. Os exames mdicos peridicos so indispensveis e os trabalhadores devem ser suficientemente instrudos sobre higiene pessoal e local, uso de protetores, causas e efeitos, e afastamento de concausas (microtraumas, consumo tabgico, de drogas e outros irritantes) (DELLA GIUSTINA et al, 2004; BRASIL, 2001; GOMES, 1983).

    Alteraes do olfato de origem ocupacional: idem s medidas acima.

    4.2 Doenas da pele

    Dermatose Ocupacional (DO) qualquer alterao da pele, mucosa e anexos, direta ou indiretamente causada, condicionada, mantida ou agravada por agentes presentes na atividade ocupacional ou no ambiente de trabalho (ALI, 2000, 2001; SAMPAIO, 2007).

    Segundo Alchorne, Alchorne e Silva (2010), estudos epidemiolgicos sobre DO no Brasil so raros; no h notificao obrigatria e o subdiagnstico alto, pois muitos trabalhadores no procuram os servios de sade, temendo a perda do emprego e do salrio.

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    Nos pases industrializados, as DO correspondem a 60% das doenas ocupacionais. Os agentes qumicos so as causas mais relevantes e frequentes de DO. Cerca de 90% das DO so dermatites de contato (DC), no Ocidente, e sua frequncia est aumentando pelo contato com novos produtos.

    Na rea laboral, a dermatite de contato irritativa (DCI) mais comum que a dermatite de contato alrgica (DCA), na proporo de 4:1. Em geral, as mos so as reas mais atingidas pela DC, em virtude da manipulao de muitas substncias, de excesso de umidade e de atrito.

    Apesar de, na maioria dos casos, as DC no produzirem quadros considerados graves, so, no raro, responsveis por desconforto, prurido, ferimentos, traumas, alteraes estticas e funcionais que interferem na vida social e no trabalho. A prevalncia do cncer cutneo ocupacional pouco estudada, pela dificuldade de se estabelecer o nexo causal (exposio fora do trabalho, tempo de latncia grande, utilizao de vrios qumicos) (ALCHORNE, ALCHORNE E SILVA, 2010).

    Segundo o Manual de Dermatoses Ocupacionais elaborado pelo Ministrio da Sade (BRASIL, 2006), as dermatoses ocupacionais representam parcela pondervel das doenas profissionais. Sua prevalncia de avaliao difcil e complexa. Grande nmero destas dermatoses no chega s estatsticas e sequer ao conhecimento dos especialistas. Muitas so autotratadas, outras so atendidas no prprio ambulatrio da empresa. Algumas chegam at o clnico e ao especialista nos consrcios mdicos que prestam assistncia em regime de convnio com o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Apenas uma pequena parcela dessas dermatoses chega at os servios especializados.

    Dermatoses causadas por agentes fsicos, qumicos e biolgicos decorrentes da exposio ocupacional e das condies de trabalho so responsveis por desconforto, dor, prurido, queimao, reaes psicosomticas e outras que geram at a perda do posto de trabalho.

    Essas condies so inerentes organizao do trabalho que busca atingir os objetivos de alta produtividade e qualidade do produto, com o dimensionamento

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    de trabalhadores e recursos materiais estipulado pelas empresas, sem que o critrio de qualidade de vida no trabalho seja de fato levado em conta. A organizao do trabalho, sem considerar o fator humano e seus limites, se estrutura nos diferentes nveis hierrquicos, tendo como caractersticas a inflexibilidade e alta intensidade do ritmo de trabalho, presso para produtividade e impossibilidade de controle por parte dos trabalhadores (BRASIL, 2006)

    Causas de dermatoses ocupacionais

    Dois grandes grupos de fatores podem ser enumerados como condicionadores de dermatoses ocupacionais:

    causas indiretas ou fatores predisponentes

    causas diretas so constitudas por agentes biolgicos, fsicos, qumicos, existentes no meio ambiente e que atuariam diretamente sobre o tegumento, quer causando, quer agravando dermatose preexistente (BIRMINGHAM, 1998 apud BRASIL, 2006).

    CAUSAS INDIRETAS DAS DERMATOSES OCUPACIONAIS IDADE Trabalhadores jovens so menos experientes, costumam ser mais

    afetados por agirem com menor cautela na manipulao de agentes qumicos potencialmente perigosos para a pele. Por outro lado, o tegumento ainda no se adaptou ao contatante, para produzir o espessamento da camada crnea, (Hardening) tolerncia ou adaptao ao agente. (LAMMINTAUSTA; MAIBACH, 1990 apud BRASIL, 2006).

    SEXO Homens e mulheres so igualmente afetados. Contudo, as mulheres apresentam maior comprometimento nas mos e podem apresentar quadros menos graves e de re misso mais rpida (PATIL; MAIBACH, 1994; MEDING, 2000 apud BRASIL, 2006). As mulheres, de um modo geral, apresentam melhor prognstico em sua dermatose (NETHERCOTT; HOLNESS, 1993 apud BRASIL, 2006).

    ETNIA Pessoas da raa amarela e da raa negra so mais protegidas contra a ao da luz solar que pessoas da raa branca; negros apresentam respostas queloideanas com maior frequncia que brancos. Existem diferenas raciais na penetrao de agentes qumicos e outras substncias na pele. Vrios estudos mostraram que a raa negra apresenta penetrao de agentes menor que a raa caucasiana e que a camada crnea da raa negra apresenta um maior nmero de camadas e a descamao espontnea dessa camada duas vezes e meia maior que na raa branca e amarela (BERARDESCA; MAIBACH, 1988 apud

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    BRASIL, 2006). CLIMA Temperatura e umidade (HOSOI et al, 2000 apud BRASIL, 2006)

    influenciam o aparecimento de dermatoses como piodermites, miliria e infeces fngicas. O trabalho ao ar livre frequentemente sujeito ao da luz solar, picadas de insetos, contato com vegetais, exposio chuva e ao vento, bem como a agentes diversos potencialmente perigosos para a pele.

    ANTECEDENTES MRBIDOS E DERMATOSES CONCOMITANTES

    Portadores de dermatite atpica ou com ditese atpica so mais suscetveis ao de agentes irritantes, principalmente os alcalinos, e podem desenvolver dermatite de contato por irritao, toleram mal a umidade e ambientes com temperatura elevada; portadores de dermatoses em atividade (eczema numular, eczema irritativo, dermatofitose, psorase, lquen plano, etc.) so mais propensos a desenvolver dermatose ocupacional ou terem sua dermatose agravada no ambiente de trabalho, caso medidas protetoras especficas sejam negligenciadas.

    Condies de trabalho

    O trabalho em posio ortosttica, em trabalhadores predispostos, pode levar ao aparecimento da dermatite de estase, de veias varicosas, ou agravar as j existentes. Presena de vapores, gases e poeiras acima dos limites de tolerncia pode ser fator predisponente, bem como a ausncia de iluminao, ventilao apropriada e de sanitrios e chuveiros adequados e limpos prximos aos locais de trabalho. A no utilizao de proteo adequada ou sua utilizao incorreta ou ainda o uso de Equipamento de Proteo Individual (EPI) de m qualidade e a no observncia pelo trabalhador das normas de higiene e segurana padronizadas para a atividade que executa, podem ter papel importante no aparecimento de dermatoses ocupacionais.

    CAUSAS DIRETAS DAS DERMATOSES OCUPACIONAIS AGENTES

    BIOLOGICOS AGENTES FSICOS

    AGENTES QUMICOS

    bactrias, fungos, leveduras, vrus e insetos

    radiaes no-ionizantes, calor, frio, eletricidade.

    Irritantes cimento, solventes, leos de corte, detergentes, cidos e lcalis.

    Alrgenos

    aditivos da borracha, nquel, cromo e cobalto como contaminantes do cimento, resinas, tpicos usados no tratamento de dermatoses.

    Obs: os agentes biolgicos, fsicos e qumicos podem causar dermatoses ocupacionais ou funcionar como fatores desencadeantes, concorrentes ou agravantes.

    4.3 A sade bucal

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    A importncia da sade bucal para o alcance de padres adequados de qualidade de vida hoje inegvel. No Brasil, so alarmantes os indicadores de sade bucal da populao adulta, indicando alta experincia de crie, um significativo nmero de dentes perdidos em adultos jovens, grande necessidade de uso de prteses e severo comprometimento periodontal (BRASIL, 2004).

    Segundo Arajo e Marcucci (2000), j existe um conhecimento acumulado a respeito das repercusses indesejveis das doenas bucais em relao ao bem-estar dos indivduos, do comprometimento do seu desempenho profissional e de distrbios de natureza comportamental. So consequncias frequentes o absentesmo propriamente dito, o chamado absentesmo de corpo presente, as ausncias prolongadas para tratamento odontolgico, ou at a ocorrncia de acidentes de trabalho determinados pela dificuldade de concentrao em funo dos problemas j citados. Assim, o campo da sade bucal do trabalhador tem como objeto a relao entre sade bucal e trabalho, tratando de promover, preservar e recuperar a sade bucal de populaes inseridas nos diversos processos de trabalho.

    A preocupao com o ambiente laboral e sua relao com a sade bucal dos trabalhadores poucas vezes foi eleita como aspecto central nos estudos no Brasil,e por essa razo, existe muito pouca informao que associe os efeitos relativos ao risco ocupacional e a sade bucal de trabalhadores de pases em desenvolvimento (TOMITA et al, 1999; AMIN; ALOMOUSH; HATTAB, 2001 apud TELES ET AL, 2006).

    Neste sentido, acreditamos que a vigilncia em sade do trabalhador deve ser compreendida como eixo fundamental, capaz de consolidar as prticas, na perspectiva da promoo da sade e preveno de agravos na perspectiva da relao entre sade bucal e trabalho (BRASIL, 2001), tendo como alicerce a informao para ao. Para isso, ao enfermeiro ocupacional cabe, dentre outras atribuies, atuar no sentido de detectar, conhecer, pesquisar, divulgar informao, analisar os fatores determinantes dos problemas de sade, a fim de subsidiar a

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    tomada de deciso e a interveno sobre esses fatores, para avaliar o impacto das medidas adotadas.

    Exposies ocupacionais e alteraes bucais

    Alm de ser a porta de entrada do sistema digestivo, a boca participa tambm de outras funes, como a respirao e a fonao. Devido a sua localizao, uma zona de absoro, reteno e excreo de substncias txicas que penetram no corpo, estando sujeita a agresses de natureza fsica, qumica e/ou mecnica. Levando esse aspecto em considerao, pertinente que algumas doenas de ordem geral que afetam os indivduos se manifestem inicialmente nos tecidos bucais, permitindo que, mediante exame bucal, proceda-se um diagnstico precoce (GARRAFA, 1986).

    Relatos sobre a existncia de associaes potenciais entre exposies ocupacionais e alteraes do sistema estomatogntico so conhecidos h muito tempo. Bernardino Ramazzini (1633-1714), conhecido como o Pai da Medicina do Trabalho, fez referncias s consequncias bucais decorrentes de exposies ocupacionais em seu livro publicado em 1700 (TELES et al, 2006).

    De l para c muitas outras publicaes relatam problemas bucais associados ao ambiente de trabalho, como por exemplo: crie dental, descalcificaes e desgastes dentais, periodontopatias, leses de mucosa bucal, osteomielites, necrose ssea e cnceres na cavidade bucal, alm de sinais e sintomas como pigmentao de estruturas bucais, sensao de secura na boca, perda de sensibilidade, de paladar e hemorragia (SCHOUR; SARNAT, 1942 apud TELES et al, 2006).

    Alm de doenas buco-dentais decorrentes de exposies ocupacionais, podem tambm ocorrer acidentes de trabalho que envolvem as estruturas bucais ou manifestaes bucais de doenas ocupacionais de natur