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Anais 5º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Campo Grande, MS, 22 a 26 de novembro 2014 Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p. 886 886 -895 Avaliação por meio das geotecnologias do risco de doenças relacionadas ao ambiente nos municípios da Bacia do Alto Paraguai, no período de 2007 a 2011 Aline de Fatima Ferreira Matos¹ Stephanie Sommerfeld de Lara¹ Sandra Mara Alves da Silva Neves¹ Ronaldo José Neves¹ Rosilainy Surubi Fernandes² ¹ Universidade do Estado de Mato Grosso/UNEMAT - Laboratório de Geotecnologias Av. Santos Dumont, s/n – Santos Dumont. Cidade Universitária, Bloco I, Sala 09. 78200-000 Cáceres/MT, Brasil {alineferreira36, stephanie_sommerfeld}@hotmail.com, {ssneves, rjneves}@unemat.br ²Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ - Laboratório de Transmissores de Hematozoários Av. Brasil, 4365 - Manguinhos 21040-900 Rio de Janeiro/RJ, Brasil [email protected] Resumo. A situação epidemiológica das doenças transmissíveis tem apresentado mudanças significativas, que são observadas através dos padrões de morbimortalidade no Brasil e no mundo. Diversas doenças, principalmente as transmitidas por vetores como Leishmaniose, Malária e Dengue, são limitadas por variáveis ambientais, como temperatura, umidade, padrões de uso da terra e vegetação. Outro grupo de doenças afetadas por mudanças am- bientais e climáticas são as de veiculação hídrica, como a esquistossomose que podem se agravar com as enchentes ou secas, afetando assim a qualidade e o acesso à água. Para este estudo epidemiológico, com delineamento ecoló- gico foram utilizadas as informações de notificações das seguintes doenças: Dengue, Esquistossomose, Leishma- niose Tegumentar, Leishmaniose Visceral e Malária referente aos municípios que possuem extensão territorial na Bacia do Alto Paraguai. Objetivou-se proceder a espacialização do índice de prioridade de atenção, avaliando-se o risco de adoecimento da população por doenças infecciosas nos municípios da Bacia do Alto Paraguai, no período de 2007 a 2011. Identificou-se através dos índices de prioridade de atenção e sua distribuição espacial os municí- pios com muito alto, alto, médio e baixo risco da população adoecer pelas principais doenças vetoriais infecciosas associadas ao ambiente. Palavras-chave: Alterações ambientais, Doenças vetoriais, Padrões de morbimortalidade, Geoprocessamento, Índice de prioridade de atenção.

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Anais 5º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal, Campo Grande, MS, 22 a 26 de novembro 2014Embrapa Informática Agropecuária/INPE, p.

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Avaliação por meio das geotecnologias do risco de doenças relacionadas ao ambiente nos municípios da Bacia do Alto Paraguai, no período de 2007 a 2011

Aline de Fatima Ferreira Matos¹Stephanie Sommerfeld de Lara¹

Sandra Mara Alves da Silva Neves¹Ronaldo José Neves¹

Rosilainy Surubi Fernandes²

¹ Universidade do Estado de Mato Grosso/UNEMAT - Laboratório de GeotecnologiasAv. Santos Dumont, s/n – Santos Dumont. Cidade Universitária, Bloco I, Sala 09.

78200-000 Cáceres/MT, Brasil{alineferreira36, stephanie_sommerfeld}@hotmail.com, {ssneves, rjneves}@unemat.br

²Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ - Laboratório de Transmissores de HematozoáriosAv. Brasil, 4365 - Manguinhos

21040-900 Rio de Janeiro/RJ, Brasil [email protected]

Resumo. A situação epidemiológica das doenças transmissíveis tem apresentado mudanças significativas, que são observadas através dos padrões de morbimortalidade no Brasil e no mundo. Diversas doenças, principalmente as transmitidas por vetores como Leishmaniose, Malária e Dengue, são limitadas por variáveis ambientais, como temperatura, umidade, padrões de uso da terra e vegetação. Outro grupo de doenças afetadas por mudanças am-bientais e climáticas são as de veiculação hídrica, como a esquistossomose que podem se agravar com as enchentes ou secas, afetando assim a qualidade e o acesso à água. Para este estudo epidemiológico, com delineamento ecoló-gico foram utilizadas as informações de notificações das seguintes doenças: Dengue, Esquistossomose, Leishma-niose Tegumentar, Leishmaniose Visceral e Malária referente aos municípios que possuem extensão territorial na Bacia do Alto Paraguai. Objetivou-se proceder a espacialização do índice de prioridade de atenção, avaliando-se o risco de adoecimento da população por doenças infecciosas nos municípios da Bacia do Alto Paraguai, no período de 2007 a 2011. Identificou-se através dos índices de prioridade de atenção e sua distribuição espacial os municí-pios com muito alto, alto, médio e baixo risco da população adoecer pelas principais doenças vetoriais infecciosas associadas ao ambiente. Palavras-chave: Alterações ambientais, Doenças vetoriais, Padrões de morbimortalidade, Geoprocessamento, Índice de prioridade de atenção.

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Abstract. The epidemiological situation of communicable diseases has shown significant changes, which are ob-served through patterns of morbidity and mortality in Brazil and worldwide. Several diseases, especially those transmitted by vectors such as Leishmaniasis, Malaria and Dengue are limited by environmental variables such as temperature, humidity, patterns of land use and vegetation. Another group of diseases affected by environmental and climate change are water-borne, such as schistosomiasis that can be aggravated by floods or droughts, affec-ting the quality and access to water. This epidemiological study with an ecological represented by information notifications from the following diseases: dengue, schistosomiasis, cutaneous leishmaniasis, visceral leishmaniasis and malaria, according municipalities that make up the Upper Paraguay River Basin proposed spatially distribute the priority index of attention representing the risk of illness the population from infectious diseases in the muni-cipalities of the Upper Paraguay Basin, from 2007 to 2011 the method applied allowed formulate priority indexes of attention, which together with the spatial distribution enabled us to identify municipalities with very high, high, medium and low risk of the population suffer from the major infectious vector diseases.

Keywords, environmental changes, disease vector, patterns of morbidity and mortality, geoprocessing, priority index of attention.

1. Introdução

As geotecnologias na área de saúde têm história recente no Brasil, com um notável destaque no final da década de 1980, com aplicação das ferramentas de análise espacial que permitem conhecer, monitorar e avaliar a situação de saúde quando utilizado indicadores especializados em um determinado tempo e espaço (Brasil, 2007).

Os indicadores servem para facilitar a interpretação dos problemas e para tornar a tomada de decisão efetiva e eficaz. Dessa forma, os indicadores permitem converter dados em informa-ções úteis utilizadas pelos gestores para aprimorar, gerenciar e implementar políticas em uma determinada área (Brasil, 1999).

A situação epidemiológica das doenças transmissíveis tem apresentado mudanças signifi-cativas, que são observadas através dos padrões de morbimortalidade em todo o mundo. Esse cenário reflete as transformações sociais ocorridas a partir dos anos 70, caracterizadas pela ur-banização acelerada, migração, alterações ambientais e facilidades de comunicação entre con-tinentes, países e regiões, entre outros fatores que contribuíram para o delineamento do atual perfil epidemiológico das doenças transmissíveis no Brasil e no mundo (Brasil, 2010).

No Brasil na atualidade as principais doenças vetoriais sujeitas a controle são: dengue, malária, leishmanioses, esquistossomose, dentre outras. Frequentemente essas doenças estão limitadas por variáveis ambientais, como temperatura, umidade, padrões de uso da terra e veg-etação. As doenças de veiculação hídrica, como a esquistossomose também são afetadas por mudanças ambientais e climáticas que podem se agravar com as enchentes ou secas, afetando assim a qualidade e o acesso à água (Barcellos et al., 2009). A dengue é considerada a principal doença reemergente nos países tropicais e subtropicais. No Brasil apresenta números alarman-tes de casos, no ano de 2007 ocasionou 500 mil casos sendo que 14% ficaram restritos a região Centro-Oeste (Brasil, 2009).

2. Objetivo

Proceder à espacialização do índice de prioridade de atenção, avaliando-se o risco de adoecimento da população por doenças infecciosas nos municípios da Bacia do Alto Paraguai, no período de 2007 a 2011.

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3. Material e Métodos

Trata-se de um estudo epidemiológico, com delineamento ecológico, realizado a partir utiliza-ção das informações de notificações das seguintes doenças: Dengue, Esquistossomose, Leish-maniose Tegumentar, Leishmaniose Visceral e Malária, referente aos municípios que possuem extensão territorial na Bacia do Alto Paraguai-BAP (Tabela 1).

Tabela 1. Doenças selecionadas para o estudo conforme suas respectivas características e rela-ções com ambiente.

Fonte: Adaptado de Corrêa (2007) e Ministério da Saúde (2008 apud Barcellos et al., 2009).

A Bacia do Alto Paraguai está localizada nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e abrange 86 municípios (Figura 1), sendo que de acordo com Silva et al. (2011) a área da BAP no território brasileiro é de 361.782,2 km2, e a dos biomas Amazônia e Cerrado, que ocupam áreas parciais, são de 31.015,7 km2, correspondendo a 8,57%, e 179.694,3 km2, equivalendo a 49,67%, respectivamente, e o Pantanal, totalmente contido, ocupa área de 151.072,2 km2 (41,76%). A principal importância atribuída a BAP é a ambiental devido abrigar a maior planí-cie inundável do mundo. O clima predominante é o Tropical, com temperaturas médias anuais variando entre 22,5ºC a 26,5ºC (Brasil, 2006).

Doença Transmissão Variáveis associadas Epidemiologia

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Figura 1. Municípios com extensão territorial contida na Bacia do Alto Paraguai. Fonte: Labgeo Unemat, 2014.

Os dados das doenças foram obtidos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Ministério da Saúde, referentes a notificações de casos confirmados residentes nos municípios no período de 2007 a 2011. E os dados do censo populacional do ano de 2010 junto

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ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014).A partir dos dados originais foram elaborados os indicadores das doenças selecionadas,

que consistiu na soma dos casos notificados de determinada doença no período de 2007 a 2011, expressas pela razão da população residente do município 2010, multiplicado pela constante de 100 mil habitantes, exceto para a doença dengue em que a constante utilizada foi 10 mil habitantes.

Para a formulação do indicador taxas de incidência de determinada doença por biomas da BAP o critério de inclusão municipal foi de que a extensão territorial do município seja maior que 51% no bioma. Desta forma, a base cartográfica dos municípios, obtida no sitio do IBGE, foi comparada a do bioma Pantanal, obtida no sitio do Ministério do Meio Ambiente por meio da ferramenta intersect do Arcgis (ESRI, 2007). Os indicadores foram formulados a partir da soma do número de notificações nos municípios pertencentes ao bioma, representado pela razão da soma de residentes nos municípios no ano de 2010, multiplicado pela constante de 100 mil para as doenças estudadas, exceto dengue, cujo a constate foi de 10 mil habitantes.

A partir disso, foram divididos em quartis para a espacialização em mapas temáticos, op-eracionalizados no ArcGis, categorizados como taxa de incidência: baixa, média, alta e muito alta.

Em nível municipal, aplicou-se a equação do índice de prioridade de atenção para todas as doenças estudadas, baseadas no cálculo da média (μ) e o desvio padrão (σ) da série temporal (2007 a 2011) para cada município. Estes valores (X) foram usados para o estabelecimento de limiares dos níveis de prioridade de atenção, representado no mapa pela cor verde quando X < μ - σ, amarelo quando μ - σ < X < μ, laranja para μ < X < μ + σ, e vermelho se X > μ + σ.

O índice de prioridade de atenção foi classificado em: muito alto, alto, médio e baixo e representado através de mapas temáticos elaborados no ArcGis.

4. Resultados e Discussão

A distribuição espacial do Índice de prioridade de atenção das doenças vetoriais infecciosas estudadas pelos municípios com área territorial na Bacia do Alto Paraguai apresentou padrões heterogêneos (Figura 2).

Nota-se a presença de aglomerados municipais, característico das doenças infecciosas, em que ao se analisar esta situação municipal verificou-se que a Dengue foi a doença mais rele-vante no estudo, com ocorrência em 28 municípios (32,5%), apresentando o índice muito alto e alto de prioridade de atenção, seguido das doenças Leishmaniose tegumentar em 26 municípios (30,2%), Leishmaniose visceral em 22 municípios (25,5%), Malária em 13 municípios (15,1%) e a Esquistossomose em 12 municípios (13,9%), todas com alto risco de infecção nestes mu-nicípios (Figura 2)

Neste trabalho, observa-se que para a Dengue, as cidades de maior contingente populacio-nal como as capitais do estado de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, apresentaram índices de prioridade mais elevados. Isso por que, a densidade demográfica pode estar relacionada com a dinâmica de transmissão da doença, tendo em vista que o mosquito vetor é antropofílico (preferência pelo contato e sangue humano) e endofílico (busca o interior das casas, para se abrigar, repousar e se alimentar). Alguns estudos em outros estados do Brasil corroboram com a afirmativa desta preferência do Aedes aegypti em habitats urbanizados, como por exemplo, no Rio de Janeiro (SOARES, 2008) e São Paulo (Ferreita e Chiaravalloti Neto, 2007). Em Mato Grosso, Fernandes et al. (2012) e Souza et al. (2010) confirmaram a presença da doença em bairros mais populosos das cidades de Tangará da Serra e Cáceres.

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Figura 2. Distribuição espacial do Índice de prioridade de atenção, no período de 2007 a 2011, nos municípios da Bacia do Alto Paraguai para as doenças: A) Dengue, B) Esquistossomose, C) Leishmaniose tegumentar, D) Leishmaniose visceral e E) Malária. Fonte: Labgeo Unemat, 2014.

Os índices elevados de Leishmanioses em algumas das cidades estudadas são preocupantes, pois segundo a Organização Mundial de Saúde, esta é considerada uma das doenças infecto parasitárias endêmicas de maior relevância. No caso da Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA), o contato do ser humano com o vetor através de sua inserção em áreas onde ocorre o ciclo do vetor é um dos principais fatores para o aparecimento de surtos da doença. Conforme Brasil (2007) a LTA ocorre de acordo com três perfis epidemiológicos: silvestre (transmissão em área de vegetação primária); ocupacional ou lazer (transmissão associada à exploração des-ordenada da floresta e derrubada de matas para construção de estradas, extração de madeira, garimpo, atividades agropecuárias e etc); rural (área em que houve adaptação do vetor ao perid-omicílio). Em Mato Grosso, pode-se notar que alguns dos municípios que apresentam maiores valores do índice de prioridade, são locais em que há presença de garimpos ou histórico dos mesmos, como o caso de Diamantino, Poxoréu e Tesouro. Para Leishmaniose Visceral, dados de Brasil (2006) revelam que houve uma periurbanização e urbanização da doença, pois anteri-ormente a mesma havia caráter eminentemente rural. Neste aspecto, destacam-se os municípios de Mato Grosso do Sul, sendo estes, Campo Grande, Aquidauana, Corumbá e municípios viz-inhos, e ainda Poxoréu e Rondonópolis em Mato Grosso, com maiores índices de prioridade para Leishmaniose Visceral.

A esquistossomose e malária são doenças de baixa prioridade em diversos municípios

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dos estados pesquisados. A primeira ocorre em nível alto e muito alto principalmente nos mu-nicípios de Mato Grosso, e, a segunda em Mato Grosso do Sul. A malária tem um histórico compatível com a implementação de programas de desenvolvimento econômico visando à ex-pansão e ocupação de territórios para a ampliação da produção agrícola, e por isso está as-sociada a construção dos eixos rodoviários federais. Em Mato Grosso do Sul, segundo estudo de Matsumoto (1998), que avaliou na década de 90 a presença da transmissão da malária nas cidades da Bacia do Alto Paraguai/MS, verificou 3.544 casos da doença, entre os anos de 1990 a 1996. Ressalta-se que a maioria dos casos foram importados e tal situação ocorreu devido a presença de um contingente de trabalhadores procedente da região Norte do país. Passaram-se mais de uma década após a realização deste estudo e verifica-se ainda a presença da malária na região, no entanto em nível considerado baixo, quando comparado a outras localidades.

Analisando o índice dos municípios por biomas presentes na Bacia do Alto Paraguai, refer-ente ao período de 2007 a 2011, constatou-se altas taxas de incidência da Dengue e Leishmani-ose Tegumentar para o Pantanal; Leishmaniose visceral e Malária para o Cerrado; e Esquistos-somose para o Amazônia (Figura 3).

Tauil (2006) e Barcellos et al. (2009) relataram que as doenças transmitidas por vetores estão frequentemente associadas ao clima Tropical e aos impactos gerados ação humana no meio ambiente, porém deve-se considerar que são múltiplos os fatores que influenciam a dinâmica das doenças transmitidas por vetores, como os ambientais (vegetação e hidrologia), os demográficos (migrações e densidade populacional), os biológicos (ciclo vital dos insetos vetores de agentes infecciosos) e os médico-sociais (estado imunológico da população; efetividade dos sistemas locais de saúde e dos programas específicos de controle de doenças, etc.).

No ano de 2011, a incidência de Dengue nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul foi de 202 e 347 casos a cada 10 mil habitantes, respectivamente (BRASIL, 2014). No presente estudo, nos casos de dengue no período de 2007 a 2011, predominaram valores classificados como muito alto e alto do índice de prioridade de atenção dispersamente nos municípios da Bacia, enquanto que a taxa de incidência de dengue por bioma identificou o Pantanal com 400 casos a cada 10 mil habitantes, e não menos relevante é a situação apresentada nos outros dois biomas com taxas aproximadas de 350 casos.

Os casos da doença Leishmaniose Tegumentar estão distribuídos dispersamente nos Esta-dos brasileiros, em algumas áreas existe intensa concentração de casos, enquanto em outras, somente casos isolados. Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010) o Mato Grosso é um dos estados com intensa concentração de casos, pois este apresentou uns dos maiores coefici-entes de detecção de Leishmaniose tegumentar no ano de 2004. Informação esta que corrobora com o encontrada no presente estudo que evidenciou valores muito alto do índice prioridade de atenção para os municípios de Mato Grosso, caracterizando um risco de infecção maior naqueles municípios.

Pesquisas indicam que a transmissão da Leishmaniose visceral no Mato Grosso continua em expansão para o interior do Estado e que sua disseminação acompanha o processo de ocu-pação urbana desordenada, aliada ao fluxo migratório entre os municípios da região centro-sul com o norte e sudeste matogrossenses. O aumento da densidade do vetor, o convívio muito próximo do homem com o reservatório doméstico, o desmatamento acentuado e a constante mobilização de pessoas constituem os principais determinantes dos níveis epidêmicos da Leish-maniose visceral (Mestre, 2007; Missawa, 2006). No presente estudo, o estado de Mato Grosso do Sul apresentou elevado número de municípios com o índice de prioridade de atenção muito alto e alto. Oliveira (2006) verificou que a doença predominou nos municípios de Três Lagoas e Campo Grande, que apresentaram as maiores incidências.

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Figura 3. Taxa de incidência para cada 100 mil habitantes no período de 2007 a 2011 nos bio-mas da Bacia do Alto Paraguai para as doenças: A) Dengue, B) Esquistossomose, C) Leish-maniose tegumentar, D) Leishmaniose visceral e E) Malária. Fonte: Labgeo Unemat, 2014.

Segundo o Ministério da Saúde, a população dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, apresentaram baixo risco de adoecer por malária, com valores menores que 10 casos notificados por cada mil habitantes, comparado a dos outros estados do País, no ano de 2011 (Brasil, 2013).

Analisando neste estudo a incidência de malária no período de 2007 a 2011, por biomas da Bacia do Alto Paraguai, observou-se que os municípios com área no bioma Cerrado apre-sentaram as taxas mais elevadas de incidência, caracterizadas por 4 casos notificados a cada 100 mil habitantes. A taxa de incidência de Esquistossomose no período de 2007 a 2011 foi de aproximadamente 3 casos a cada 100 mil habitantes, com maior ocorrência nos municípios com extensão territorial no bioma Amazônia na BAP.

5. Conclusões

O método aplicado possibilitou formular índices de prioridade de atenção, que juntamente com a distribuição espacial possibilitou identificar municípios com muito alto, alto, médio e baixo risco da população adoecer pelas principais doenças vetoriais infecciosas, referente ao período analisado de 2007 a 2011.

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Conclui-se que a Dengue foi à doença que apresentou o maior número de municípios com altos índices de prioridade de atenção, seguido da Leishmaniose tegumentar, Leishmaniose visceral, Malária e Esquistossomose.

As elevadas taxas de incidência de Dengue e Leishmaniose Tegumentar ocorreram nos municípios pertencentes ao bioma Pantanal, enquanto que a Leishmaniose visceral e Malária no Bioma Cerrado, e a esquistossomose no Bioma Amazônia.

Os biomas com áreas na Bacia do Alto Paraguai necessitam de estudos voltados para a entomologia de vetores, epidemiologia e quadro socioambiental destas e outras doenças. Estes devem ainda estar associados às geotecnologias, para maior entendimento da peculiaridade da dinâmica de transmissão de patógenos para cada ambiente.

6. Agradecimentos

À Unemat pela concessão das bolsas de Iniciação Científica e de Extensão.À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes pela concessão

da bolsa de Doutorado.Dados vinculados ao projeto de pesquisa “Modelagem de indicadores ambientais para a

definição de áreas prioritárias e estratégicas à recuperação de áreas degradadas da região su-doeste de Mato Grosso/MT”, vinculado à sub-rede de estudos sociais, ambientais e de tecno-logias para o sistema produtivo na região sudoeste mato-grossense – REDE ASA, financiada no âmbito do Edital MCT/CNPq/FNDCT/FAPs/MEC/CAPES/PRO-CENTRO-OESTE Nº 031/2010.

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