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www.neomondo.org.br NEOMON DO UM OLHAR CONSCIENTE Ano 3 - Nº 29 - Dezembro 2009 - Distribuição Gratuita Marcos Jank Em defesa da energia limpa 10 Deficientes e eficientes Aumento de oportunidades no mercado de trabalho 48 Catástrofe Jurássica Alerta máximo na COP 15 20

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Page 1: Neomondo 29

www.neomondo.org.br

NeoMoNdoum olhar conscienteAno 3 - Nº 29 - Dezembro 2009 - Distribuição Gratuita

Somos os próximoS?

Marcos JankEm defesa da energia limpa

10

Deficientes e eficientesAumento de oportunidades no mercado de trabalho

48

Catástrofe Jurássica Alerta máximo na COP 15

20

Page 2: Neomondo 29

O Programa Nutrir da Nestlé completa 10 anos de trabalho voltado para o combate à desnutrição e à obesidade em comunidades de baixa renda do país.Conheça mais sobre essa iniciativa que já capacitou11 mil educadores e benefi ciou 1,2 milhão de crianças.www.nestle.com.br/nutrir

“Elaborar o cardápio de 8 mil crianças de 90 escolas e creches,

considerando o valor nutricional indicado para cada idade,

é o que chamo de um gigantesco desafio. Mas, nas ocasiões em

que eu conto com o Programa Nutrir, tudo fica mais fácil.

Ele funciona como uma ferramenta que

me ajuda a estar próxima das merendeiras

e a trabalharmos motivadas e unidas.

No meu trajeto de Programa Nutrir,

aprendi muito. Especialmente

que é fundamental colocar o coração

no que fazemos.”

Kizze Fajardo,

Fortaleza, CE

Nutricionista

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Page 3: Neomondo 29

Um olhar consciente

InstitutoInstituto

NeoMondo

NeoMondo

Prezado leitor, é com grande sa-tisfação que preparamos para você a última edição do ano de

2009 da NEO MONDO.Infelizmente, fechamos a edição antes do balanço geral da COP15, porém estamos trazendo um especial desta Conferência das Partes com exclusividade e muito mais, como segue:

Cercada de expectativas, a Conferência do Clima em Copenhague (COP 15) pode representar uma virada de mesa no trato de questões que afetam o aquecimento global de forma preocupante. Procuramos saber com especialistas e autoridades em que medida as expectativas se confirmaram para melhor, no sentido de se adotar medidas que tornem a vida no planeta mais saudável.

Economia do Clima é um alentado estudo feito pela nata das instituições de pesquisa no País. No total, 11, sob coordenação geral de um ex-reitor da USP. Ouvimos uma das coordenadoras técnicas do projeto. Mais do que apontar problemas, os autores do estudo dão preciosa contribuição, ao sugerir adaptações e medidas viáveis para que as previsões sinistras não se confirmem. Está tudo ali: desmatamento, energia, emissões etc.

Marcos Jank, da União da Indústria de Açúcar (Unica), é nosso perfil, numa edição voltada com ênfase para a COP 15. Ele é assíduo participante de reuniões do clima e está à frente de uma das instituições empresariais do Brasil que levam a sustentabilidade a sério, com muita base, conhecimento, mas também práticas de gestão.

Programa EcoJuventude, - A Coordenadoria de Ações para a Juventude de São Bernardo do Campo constituiu o programa EcoJuventude que conta com a participação de alunos, voluntários, ONGs e redes de educação ambiental, para estimular a Cooperação e Conscientização ambiental dos participantes das Oficinas e Eventos, considerando a demanda de 12 mil jovens por ano.

A matéria apresenta o programa, suas ações e realizações.Programa Faz Bem Nutrir - Há dez anos, o programa Faz Bem Nutrir, da Nestlé, leva educação alimentar para crianças e jovens com idades entre 5 e 14 anos, de comunidades de baixa renda de todo o país. O principal objetivo é contribuir para o combate à desnutrição e à obesidade por meio da educação. O programa foi concebido a partir da constatação de que muitas vezes a desnutrição não se deve à indisponibilidade de alimentos, mas sim à falta de informação.

Natura - Empresa preocupada com o meio ambiente, vamos ver a sua contribuição nos debates pós-Copenhague.

Biodiesel - Dando continuidade à discussão sobre os biocombustíveis, falamos sobre o atual momento do biodiesel, suas perspectivas para o futuro e as pesquisas que estão sendo realizadas para utilização do pinhão-manso como matéria-prima.

Inclusão de deficientes - Em comemoração ao Dia Internacional do Deficiente Físico, celebrado em 3 de dezembro, apontaremos iniciativas vencedoras para inclusão de deficientes no mercado de trabalho, citando exemplos já consolidados e também novas frentes que surgem como a proposta da Associação Embalando o Amanhã, composta por funcionários voluntários da Alcan Embalagens.

Empregos Verdes - As estimativas de crescimento para as chamadas “profissões verdes” são as melhores possíveis. Mas será que vale mesmo a pena investir em uma carreira nesta área? Quais os riscos envolvidos? Leia a reportagem e chegue às suas conclusões.

Essa é apenas uma parte do que você vai encontrar nesta edição.Boa leitura, um ótimo Natal e um ano novo repleto de realizações e comprometimento com o Planeta.

Oscar Lopes Luiz

Presidente do Instituto Neo Mondo

[email protected]

neo mondo - Dezembro 2009 3

Editorial

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neo mondo - agosto 2008 4

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5neo mondo - agosto 2008

Page 6: Neomondo 29

Empregos verdes eles vieram para ficar

economia

52

A superpopulada Zona Costeiraabrangendo diferentes ecossistemas, o bioma abriga 70% da população nacional

Seções

Diretor Responsável: Oscar Lopes Luiz

Diretor de Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586)

Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Takashi Yamauchi, Marcio Thamos, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Natan Rodrigues Ferreira de Melo e Silva e Rosane Magaly MartinsRedação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), Rosane Araujo (MTB 38.300) e Elizabeth Lorenzotti (MTB 10.716)Estagiário: Caio César de Miranda MartinsRevisão: Instituto Neo MondoDiretora de Arte: Renata Ariane RosaProjeto Gráfico: Instituto Neo MondoDiretor Jurídico: Dr.Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva

Correspondência: Instituto Neo MondoRua Primo Bruno Pezzolo, 86 - Casa 1 - Vila Floresta - Santo André – SPCep: 09050-120

Para falar com a Neo Mondo:[email protected]@[email protected]

Para anunciar: [email protected]. (11) 4994-1690

Presidente do Instituto Neo Mondo:[email protected]

Expediente PublicaçãoA Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24.

Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas.

Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.

PerfilMarcos Jankem defesa da energia limpa

10

Catástrofe jurássica alerta máximo na coP 15

Artigo: Discurso conveniente:

negando o aquecimento global

20

Artigo: O debate sobre meio ambiente na USP

comprometimento com o Planeta

Projeções Sinistrasestudo pioneiro da Fea/usP reúne 11 instituições de pesquisa

meio amBienTe/BiocomBUSTÍVel

Artigo: O parque de Tilá-Tilálenda da serra que chora

Eco Juventude Programa da Prefeitura de são Bernardo do campo atinge 10 mil alunos por ano

edUcação

Artigo: O Pais do futurouma viagem a Pelotas

inclUSão Social

Biodiesel, só dá ele com o surgimento de novas opções, o biodiesel é o assunto do momento

6 neo mondo - Dezembo 2009

eSPecial - coP 15

42

Compromisso com a questão ambientalnatura quer reduzir 10% das emissões até 2012

meio amBienTe

Faz bem nutrir e cuidar Programas sociais da nestlé têm como base a educação

48

BiomaS

eSPecial - coP 15 14

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26

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19

Artigo: O humor gráfico e o aquecimento global

coP 15 em copen-hahaha-ge

51

30

Artigo: O Etanol brasileiroos atuais projetos de infraestrutura

36

38

edUcação

Artigo: Educação para a água importância vital para a vida no Planeta

44 47 Deficientes e eficientesaumento de oportunidades no mercado de trabalho

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7neo mondo - Julho 2008

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Neo Mondo - Julho 2008 8

MOTORISTA LEGAL É MOTORISTA CONSCIENTE.

QUANDO FORDIRIGIR, NÃO BEBA.QUANDO BEBER,NÃO DIRIJA.

No trânsito é preciso ter sempre em mente o perigo

que você pode causar aos outros e a si mesmo. Sob

o efeito do álcool um acidente pode ser inevitável,

mesmo se o consumo for em pouca quantidade.

Dirija com consciência.

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Page 9: Neomondo 29

9Neo Mondo - Julho 2008

MOTORISTA LEGAL É MOTORISTA CONSCIENTE.

QUANDO FORDIRIGIR, NÃO BEBA.QUANDO BEBER,NÃO DIRIJA.

No trânsito é preciso ter sempre em mente o perigo

que você pode causar aos outros e a si mesmo. Sob

o efeito do álcool um acidente pode ser inevitável,

mesmo se o consumo for em pouca quantidade.

Dirija com consciência.

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neo mondo - Dezembro 200910

Marcos Jank, à frente da Unica, ajuda a clarear as fronteiras agrícolas do País

Gabriel Arcanjo Nogueira

Perfil

Marcos Jank assegura que “mudança climática é nosso DNA; temos duas Itaipus adormecidas nos canaviais, que podem ser despertadas”

Q uando se fala em mudanças cli-máticas, não há como ignorar o singular potencial de matriz

energética limpa, de que o Brasil dispõe e precisa cuidar para que não se perca. Para evitar o pior, que se adotem medi-das efetivas pela educação e por negócios sustentáveis, entre outras iniciativas nas quais o setor sucroenergético está na li-nha de frente.

a união da indústria de cana-de-açúcar (unica), presidida desde 2007 por marcos sawaya Jank, é exemplo de ações conjuntas nas duas linhas. o projeto agora de agroenergia e meio ambiente, com seu Desafio mudanças

climáticas, premiou os vencedores de 2009 no mesmo dia em que se abriu em copenhague a 15a. conferência do clima (coP 15) da organização das nações unidas (onu). um evento na-cional e outro internacional, em que o jogo limpo segue as coordenadas que marcos Jank defende com propriedade e convicção. engenheiro agrônomo e professor universitário, em instituições do País e do exterior, com ampla vivên-cia em assuntos socioeconômicos e cen-tenas de trabalhos publicados e pales-tras proferidas, a sua visão e iniciativas o credenciam a ser um dos brasileiros mais ativos em copenhague.

antes de viajar para a coP 15, na qual o setor que representa vai com propostas detalhadas e reconhecidas por sua impor-tância até por luiz alberto Figueiredo, negociador oficial do Brasil, o presidente da unica recebeu neo monDo para a entrevista, cuja íntegra forma este Perfil.

marcos Jank participou das quatro conferências do clima mais recentes: não perdeu uma, desde que o Protocolo de Kyoto, de 1997, passou a vigorar em 2005. na bagagem, e principalmente, na cabeça, as ideias que fazem desse jovem líder em-presarial um defensor convicto das possi-bilidades brasileiras no cenário mundial como produtor de energia limpa.

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11 neo mondo - Dezembro 2009

Neo Mondo: Você participou de conferências do clima. Que avaliação faz delas?Marcos Jank: Até agora, não houve ainda o comprometimento político, de fazer o multilateralismo funcionar. A COP é uma tentativa de resolver os problemas de todo o mundo, na medi-da em que todo o mundo assuma me-tas comuns, ainda que diferenciadas. Ou seja, todos vão reduzir a emissão de poluentes, mas alguns mais que ou-tros, sobretudo aqueles que têm mais culpa pelas mudanças climáticas.Os países ricos, por exemplo, redu-ziriam mais do que os em desen-volvimento, mas haveria uma meta comum com um sistema de comér-cio de emissões. Até agora, desde o Protocolo de Kyoto, não houve esse avanço, e não vamos alcançá-lo em Copenhague. Trata-se muito mais de um encontro político entre governos, ONGs, empresários - que mostram o que fazem e o que pretendem fazer - do que efetiva-mente uma grande concertação internacional.Neo Mondo: Será que o mundo não tem jeito? Marcos Jank: Pode até ser que se assumam algumas metas lá, mas que serão claramente insuficientes. Considero importante é que o as-sunto andou. O Brasil, por exemplo, que nas últimas COPs ia com três ou quatro empresas - e nós estávamos entre elas -, hoje comparece com mais de 600 delegados. É sinal de que o assunto ganhou importância.A meu ver, houve uma mudança grande, qualitativa. O assunto subiu ao nível do presidente da República, há vários ministros presentes; chegou a governos estaduais, municipais; várias empresas se manifestam.Fico feliz em ver que empresas to-mam atitudes; independentemente do que acontecer na COP 15, empre-sas têm-se dedicado à sustentabili-dade, governos assumem seu papel - ainda que de forma descoordenada.

Neo Mondo: Um bom começo, então...Marcos Jank: Agora, esperar que de Copenhague vá sair uma grande concertação, não vai; demora ainda. Os Estados Unidos têm de se mexer, a China e a Índia, também. Falta muito para que se chegue a um grande acor-

Integrantes da Aliança Brasileira pelo Clima

Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto (Abag/RP) Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf) Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP) Associação de Produtores de Álcool e Açúcar do Estado do Paraná (Alcopar) Instituto para o Agronegócio Responsável (Ares) Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul) Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa) Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone) - apoio técnico Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana) Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado de Minas Gerais (Siamig) Sindicato da Indústria de Fabricação de Álcool do Estado de Goiás (Sifaeg) União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica)

Fonte: Unica

do, e talvez nunca se chegue. Mas se medidas nacionais forem acontecen-do, já é um passo; se os americanos e europeus, nacionalmente, adotarem medias, isso já é importante. Para nós, que vendemos etanol, por exemplo, o fato de haver hoje um gran-de debate na Europa e nos Estados Unidos sobre o chamado combustível de baixo carbono e regulamentações sendo feitas em favor do combustível limpo, renovável, já é positivo.

Neo Mondo: Em certo sentido, no Brasil, você acha que a iniciativa pri-vada contribui para que outras áreas, entre elas o próprio governo, tomem atitudes viáveis? Marcos Jank: No nosso caso, temos um produto - o etanol, a bioeletricida-de - em que a mudança do clima faz parte do DNA dele. Ou seja, o produto existe exatamente para isso.Se, lá atrás, nos anos 1970, o etanol surgiu como alternativa para substituir o petróleo importado, daqui para a frente, nos próximos 30 anos, vai estar ligado ao clima; quanto mais a humanidade buscar reduzir as emissões de poluentes, mais nosso produto vai ser valorizado. Para nós, é fundamental estar presentes. Há ainda muito por fazer, mesmo entre as empresas (que mais estão falando do que fazendo), quando se trata de energia limpa e renovável. A empresa cria lá um departamento, começa a participar, mas não chega efetivamente ao ponto das grandes mudanças que o momento exige.Estamos no começo; a mudança vai ser mais forte quando se fixarem

metas, claras, de produção. Um primeiro passo é o fato de haver uma legislação que premie energias limpas e renováveis. Outro passo é diminuir o desmatamento.

Neo Mondo: O que isso implica?Marcos Jank: Se o Brasil conseguir, como sociedade, reduzir o desmata-mento ilegal, sobretudo na floresta amazônica, mas também no cerrado; acabar com a ilegalidade; definir direitos de propriedade, fiscalizar etc., já conseguiria uma boa redução da emissão de poluentes.Mas o País tem de optar por uma matriz energética limpa. Hoje, temos o etanol, mas há dúvidas, por exemplo, se daqui a 20 anos, um governo populista não vai se entusiasmar com o pré-sal e fazer o Brasil voltar à era do fóssil. Neste momento, se fazem térmicas sujas para gerar energia, como mostram os quatro leilões em que se vendeu térmica a carvão ou térmica a óleo combustível. Infelizmente!O Brasil tem um potencial imenso em biomassa, eólica, solar; não precisaria recorrer a carvão e óleo combustível. Há recursos naturais suficientes para conse-guir eletricidade limpa.Temos de tomar muito cuidado para o País não ir pelo caminho errado. As em-presas se conscientizam, mas ainda estão naquela fase de falar mais do que fazer.

Neo Mondo: O setor que vc representa está num nível melhor nesse aspecto?Marcos Jank: Eu diria que o nosso setor acordou. Desde a participação em quatro COPs, e de dois anos para

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12 neo mondo - Dezembro 2009

cá, assumimos a mudança do clima como DNA.A Aliança Brasileira pelo Clima é exemplo disso. Somos entidades com uma agenda concreta, que inclui uma pauta para cada um dos temas que estão em negociação. Queremos que o Plano Nacional de Mudanças do Clima se torne uma política nacional. Nos propomos a trabalhar pelo desmatamento, pela redução e eliminação de todo desmatamento ilegal. Já há ações efetivas nesse sentido, a exemplo da moratória da soja na Amazônia; na cana criamos o zoneamento ecoló-gico, que implica não haver expan-são do cultivo com desmatamento, seja de que tipo for. A cana não vai crescer à base de desmatamento na floresta amazônica, na mata atlân-tica, no pantanal, no cerrado, nos campos; só vai crescer em áreas con-solidadas. Ações como essas mos-tram o nosso comprometimento.

Neo Mondo: Quais as suas principais propostas e metas para o desenvolvi-mento sustentável do setor?Marcos Jank: A redução da queima da cana é uma delas, em que até nos antecipamos ao que está previsto por lei: o que era para começar a aconte-cer em 2021, puxamos para 2014, em áreas mecanizáveis; e para 2017, nas não mecanizáveis.

Nosso protocolo agroambiental, que é de livre adesão, dois anos depois de seu início, nos surpreende positi-vamente: 88% do setor participa; o nível de mecanização saltou de 34% para 54% no período. São 600 colhe-deiras por ano a mais no processo produtivo, o que faz o absurdo, que é a queima da cana, ser contido.

Neo Mondo: Há iniciativas socioeduca-cionais em elaboração ou em anda-mento com a participação de vocês?Marcos Jank: Posso citar o projeto Agora, que vem suprir uma lacuna de qualidade no ensino público das 7a. e 8a. séries. A carência de material didático-pedagógico é significativa, sobretudo em unidades municipais e estaduais. E contamos na coorde-nação de conteúdo do que consta nos kits com a notória capacidade do professor Luiz Gilvan Meira Filho.O Desafio Mudanças Climáticas 2009, desenvolvido em parcerias qualifi-cadas de empresas e instituições da agroenergia com especialistas em pedagogia e apoio de secretarias de Educação em 8 estados de 4 regiões

brasileiras, nos permitiu chegar a resultados expressivos.O material didático-pedagógico criado por esse projeto é de ótima qualidade, como reconhecem os pró-prios alunos, professores e diretores das escolas participantes. E o fato de alcançarmos 12 mil escolas com os kits educacionais e termos um retorno de trabalhos inscritos por 3,5 mil escolas no Desafio é gratificante. No que também somos acompanha-dos pela avaliação de nosso público-alvo. Cada estado teve 10 trabalhos selecionados, e os 3 primeiros foram premiados.O pôster, que integra o material dos kits, é um sucesso à parte. Tanto que temos inúmeros pedidos de sua redistribuição. Conseguimos colocar mele, de maneira muito feliz, acerta-da, todos os aspectos gritantes que estão a exigir atenção de todos em mudanças climáticas.

Neo Mondo: Como se dá efetivamente a participação do seu setor na COP 15?Marcos Jank: Temos propostas bem claras, mas antes de fazer carnaval com elas, tomamos alguns cuida-dos. Trabalhamos tecnicamente o nosso pessoal, que leu atentamente cada uma das 800 páginas nego-ciadas em reuniões preparatórias - o que nos permitiu chegar a um detalhamento desejável.O próprio embaixador Figueiredo (negociador oficial do Brasil na COP 15 - N.R.) reconhece que nossas propostas são as mais diretamente relacionadas com a negociação que se estabelece em Copenhague.

Neo Mondo: O embaixador Sérgio Ser-ra, que participa da equipe de nego-ciação do País, fala em três ações fun-damentais do agronegócio, que são a recuperação de pastagens; o plantio direto; a integração da pecuária e do cultivo de espécies. Que participação vocês têm nesta definição?Marcos Jank: O agronegócio, quan-do se trata de mudanças climáticas,

A COP é uma tentativa de resolver problemas comuns com metas comuns,

de forma diferenciada“”

Perfil

O projeto Agora realizou mostra dos 10 trabalhos sobre o clima, selecionados entre 3,5 mil inscritos; os 3 melhores foram premiados

no mesmo dia em que se abriu em Copenhague a COP 15

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13 neo mondo - Dezembro 2009

Conteúdo dos kits do Desafio Mudanças Climáticas

Cada escola recebe dois kits com

• Caderno do professor

• DVD com 3 filmes temáticos

• 4 pôsteres

Viabilização do projeto: Unica, Orplana, Siamig, Bioenergia, Sifaeg, Biosul, Sindalcool/MT, Monsanto, Itaú Unibanco, Dedini, Basf, Sew EurodriveProdução: Editora Horizonte

Fonte: Projeto Agora

”ao mesmo tempo é ameaça, é ame-açado e é solução. Isso porque está relacionado com o desmatamento, mesmo que com sua expansão não seja a principal causa das derrubadas em áreas verdes. Temos de comba-ter principalmente o desmatamento ilegal, se bem que acho que temos de chegar a desmatamento zero, pelo menos na Amazônia. O ilegal é grande absurdo, e pequena parcela dele está relacionada com o agrone-gócio. Portanto, é ameaça.Mas é também ameaçado porque, se houver mudanças no clima, o agrone-gócio é um dos setores que mais vai so-frer com os problemas delas advindas, porque se altera o ciclo das plantas, das águas e tudo o mais.O agronegócio como solução é algo de que não se falava no País. Era ape-nas visto como o vilão porque associa-do ao desmatamento. Se o lado vilão pode ser resolvido pelo Brasil com o combate ao desmatamento, falta valo-rizar o lado solução. Neste aspecto, as alternativas estão aí: a agroenergia, o etanol, o biodiesel, a bioeletricidade, o carvão vegetal. E também a questão do carbono no solo, que aumentou com técnicas conservacionistas, entre elas o plantio direto.Esta é uma técnica extraordiná-ria para ser usada. O aumento da produtividade na agricultura é algo interessante porque pode ser alcançado sem a necessidade de expandir a área plantada, a não ser marginalmente, porque os ganhos em produtividade são imensos. Há uma avenida aberta aí por-que dá para fazer até gasolina ou diesel a partir de plantas agrícolas, os chamados hidrocarbonetos de cana. Há pesquisas categorizadas para converter o açúcar de cana em querosene ou diesel de origem agrícola (e não de origem fóssil);

que, portanto, absorve CO2, em vez de jogá-lo pro ar. Quando se pega uma planta e se transforma o açúcar dela em etanol ou diesel, se absorve CO2 no crescimento da planta. Esse tipo de fronteira tecno-lógica é que o Brasil tem de explorar.

Neo Mondo: Há outros avanços se-toriais que vocês pretendem atingir? Marcos Jank: Sob a óptica do pro-duto final, nós queremos aumentar o consumo de etanol e de bioletri-cidade. Sob a óptica da produção, o nosso grande desafio é reduzir - até eliminar - a queima da cana; usar a palha e o bagaço para fazer eletricidade. Costumo dizer que te-mos duas Itaipus adormecidas nos canaviais brasileiros, que podem ser despertadas. Outro desafio é recuperar as áreas de preservação permanente (APPs). Porque as áreas em que a cana pre-domina são as que, na origem (há 80 anos, com os primeiros produto-res, imigrantes italianos), a regra era que fossem expandidas até os rios. Já naquela época havia muito muito pouco de mata ciliar.O que fazemos hoje é um processo de consolidação e recuperação de matas ciliares. São 250 mil hectares já registrados no setor e preservados, no sentido de sua demarcação. E, agora, iniciamos a recuperação - daqui a 2017 - da ordem de 32 mil hectares, com o plantio de 50 milhões de mudas. Em dois anos desse processo já foram plantados 2 milhões de mudas.

Para saber mais sobre o projeto Agora e suas ações, acesse www.desafiomudancasclimaticas.com.brPara conhecer melhor a Unica, acesse www.unica.com.br

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neo mondo - Dezembro 200914

Projeçõesespecial - CoP 15

A comunidade acadêmico-científica do Brasil, em boa hora, traz sua contribuição para que os impac-

tos das mudanças climáticas sejam menos desastrosos, sobretudo nas regiões mais vulneráveis, como amazônia e nordeste, em que as perdas agrícolas podem ser ex-pressivas em praticamente todos os esta-dos que formam essas regiões do País.

há risco de a economia brasileira so-frer um baque de r$ 719 bilhões a r$ 3,6 trilhões em 2050, caso nada seja feito para reverter a situação que se afigura sinistra. se não bastasse, a confiabilidade no siste-ma brasileiro de geração de energia elétri-ca ficaria ainda mais comprometida, em cerca de 30%.

o alerta está no estudo econo-mia das mudanças do clima no Brasil (emcB), ou economia do clima, lançado em 25 de novembro, com o objetivo de integrar projeções sobre diferentes se-tores. a iniciativa, pioneira, de um con-sórcio de 11 instituições que formam a

nata das voltadas a pesquisa no País *, tem a coordenação geral do professor da Faculdade de economia, administração e contabilidade da universidade de são Paulo (Fea/usP), Jacques marcovitch, e a coordenadoria técnica de sérgio mar-gulis e carolina Dubeux, esta responsá-vel pelo lado operacional do projeto.

marcovitch, ex-reitor da usP, é autor do livro Para mudar o Futuro – mudanças climáticas, Políticas Públicas e estratégias empresariais, e presidiu o conselho con-sultivo do projeto. margulis é economista líder de meio ambiente do Banco mundial.

Impactos esperadosDe acordo com carolina, “as proje-

ções alimentaram modelos de alguns setores da economia que traduziram em termos econômicos os impactos espera-dos em cada setor, de acordo com duas possíveis trajetórias do clima futuro desenvolvidas pelo Painel intergover-namental sobre mudanças climáticas

(iPcc, em inglês) – os cenários a2 (altas emissões) e B2 (baixas emissões)”. são trajetórias que, “baseadas em hipóteses sobre o comportamento futuro da eco-nomia global, nos permitem simular o comportamento futuro da economia bra-sileira compatível, na medida do possí-vel, com as mesmas hipóteses do iPcc para a economia global”.

a coordenadora técnica do estudo esclarece: “os cenários então gerados para a economia brasileira são chamados no estudo de cenário a2-Br, simulado sem mudança do clima e com mudan-ça do clima, segundo cenário climático a2 do iPcc; e cenário B2-Br, também simulado sem mudança do clima e com mudança do clima, segundo o cenário climático B2 do iPcc. eles representam trajetórias futuras da economia brasilei-ra, caso o mundo se desenvolva global-mente segundo as premissas (econômi-cas) do iPcc do cenário climático a2 e do cenário climático B2”.

Estudo pioneiro, sob coordenação geral de Jacques Marcovitch, da FEA/USP, reúne 11 instituições de pesquisa

Gabriel Arcanjo Nogueira

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15 neo mondo - Dezembro 2009

Amplo debate a representatividade do estudo é

inegável, assim como o seu alcance. com apoio do governo britânico, a eco-nomia do clima está disponível para consulta pública pelo Fórum Brasileiro de mudanças climáticas (FBmc), porque “pretendemos que seus resultados sejam amplamente debatidos pela sociedade brasileira”, diz carolina.

criado em 2000, o FBmc é presidido pelo presidente da república e composto por 12 ministros de estado, diretor-pre-sidente da agência nacional de Águas (ana), representantes da sociedade ci-vil, entre outros.

a academia Brasileira de ciências (aBc), por sua vez, sedia o conselho consultivo do estudo, composto por representantes do governo, sociedade civil e da comunidade científica, entre eles o embaixador extraordinário para mudança do clima do ministério das relações exteriores (mre), sérgio serra;

Projeções Sinistras

O que o estudo leva em conta

• modelos climáticos desenvolvidos pelo Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Inpe

• o horizonte do ano de 2050 - problemas climáticos associados ao aquecimento global são de longo prazo

• setores cruciais, entre eles, agricultura, energia, uso da terra e desmatamento, biodiversidade, recursos hídricos, zona costeira, migração e saúde

• cenários de emissões altas (A2) e baixas (B2)*

Fonte: Economia do Clima (EMCB)

o presidente do ipea, márcio Pochmann; o coordenador do cPtec/inpe, carlos nobre; o coordenador do Fórum Paulista de mudanças Globais e Biodiversidade, Fábio Feldmann; o coordenador geral de mudanças globais do clima do ministé-rio de ciência e tecnologia, José miguez;

* a gabaritada equipe interdisciplinar é formada pela universidade de são Paulo (usP), universidade de campinas (unicamp), empresa Brasileira de Pes-quisa agropecuária (embrapa), instituto nacional de Pesquisas espaciais (inpe), instituto alberto luiz coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de engenha-ria da universidade Federal do rio de Janeiro (coppe-uFrJ,) Fundação oswaldo cruz (Fiocruz), Fundação Brasileira para o Desenvolvimento sustentável (FBDs), centro de Desenvolvimento e Planejamento regional de minas Gerais da universidade Federal de minas Gerais (cedeplar/uFmG), instituto de Pesquisa ambiental da amazônia (ipam), Fundação instituto de Pesquisa econômica aplicada (ipea) e Fundação instituto de Pesquisas econômicas (Fipe).

Carolina sugere que os resultados do estudo sejam amplamente

debatidos pela sociedade brasileira

Wilton Júnior

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16 neo mondo - Dezembro 2009

e o membro do conselho deliberativo do instituto de eletrotécnica e energia da usP, José Goldemberg (iee/usP).

Um ano todo perdidoas perspectivas macroeconômicas que

o estudo apresenta não podem ser ignora-das por quem pretenda levar o País e o pla-neta a sério. carolina chama atenção para as mais relevantes: • estima-se que, sem mudança do cli-

ma, o PiB brasileiro será de r$ 15,3 tri-lhões (reais de 2008) no cenário a2-Br em 2050, e r$ 16 trilhões no cenário B2-Br. com o impacto da mudança do clima, estes PiBs reduzem-se em 0,5% e 2,3% respectivamente.

• antecipados para valor presente com uma taxa de desconto de 1% ao ano, es-tas perdas ficariam entre r$ 719 bilhões e r$ 3,6 trilhões, o que equivaleria a jo-gar fora pelo menos um ano inteiro de crescimento nos próximos 40 anos.

• com ou sem mudança do clima, o PiB é sempre maior em B2-Br do que em a2-Br. “isto quer dizer que na trajetó-ria mais limpa do cenário B2-Br, a eco-nomia cresce mais, e não menos. em ambos cenários, a pobreza aumenta por conta da mudança do clima, mas de forma quase desprezível.”

• haveria uma perda média anual para o cidadão brasileiro em 2050 entre r$ 534 (ou us$ 291) e r$ 1.603 (ou us$ 874). o valor presente em 2008 das reduções no consumo dos brasileiros acumuladas até 2050 ficaria entre r$ 6 mil e r$ 18 mil, representando de 60% a 180% do consu-mo anual per capita atual.

Perspectivas regionaisa coordenadora do projeto lembra que

“as regiões mais vulneráveis à mudança do clima no Brasil seriam a amazônia e o nordeste”. e detalha:• na amazônia, o aquecimento pode che-

gar a 7-8°c em 2100, o que prenuncia uma alteração radical da floresta amazô-nica – a chamada “savanização”. estima-se que as mudanças climáticas resulta-riam em redução de 40% da cobertura florestal na região sul-sudeste-leste da amazônia, que será substituída pelo bioma savana.

• no nordeste, as chuvas tenderiam a di-minuir 2-2,5 mm/dia até 2100, causando perdas agrícolas em todos os estados da região. o déficit hídrico reduziria em 25% a capacidade de pastoreio de bovinos de corte, favorecendo assim um retrocesso à pecuária de baixo rendimento.

• o declínio de precipitação afetaria a vazão de rios em bacias do nordeste, importantes para geração de energia, como a do Parnaíba e a do atlântico leste, com redução de vazões de até 90% entre 2070 e 2100.

• haveria perdas expressivas para a agricul-tura em todos os estados, com exceção dos mais frios no sul-sudeste, que passa-riam a ter temperaturas mais amenas.

Perspectivas setoriaisno que diz respeito aos diversos seg-

mentos, o quadro exige atenção redobra-da, para que o apocalipse não se efetive.

Recursos hídricos - os resultados projetados seriam alarmantes para al-gumas bacias, principalmente na região

nordeste, com uma diminuição brusca das vazões até 2100.

Energia - Perda de confiabilidade no sistema de geração de energia hidre-létrica, com redução de 31,5% a 29,3% da energia firme. os impactos mais pro-nunciados ocorreriam nas regiões norte e nordeste. no sul e no sudeste os im-pactos se mostrariam mínimos ou posi-tivos, mas neste caso não compensariam as perdas do norte e do nordeste.

Agropecuária - com exceção da cana-de-açúcar, todas as culturas sofre-riam redução das áreas com baixo risco de produção, em especial soja (-34% a -30%), milho (-15%) e café (-17% a -18%). a produtividade cairia em particular nas culturas de subsistência no nordeste.

Zona costeira - considerando o pior cenário de elevação do nível do mar e de eventos meteorológicos extremos, a estimativa dos valores materiais em risco ao longo da costa brasileira é de r$ 136 bilhões a r$ 207,5 bilhões.

País pode perder até R$ 3,6 trilhões,em 2050, se nada for feito para reverter os impactos das mudanças climáticas

“”

especial - CoP 15

Estudo aponta também soluções, como a de desestimular a pecuária na Amazônia em até 80% com o carbono a US$ 450/ha

aBr

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17 neo mondo - Dezembro 2009

País pode perder até R$ 3,6 trilhões,em 2050, se nada for feito para reverter os impactos das mudanças climáticas

“”

O estudo não se furta a apresen-tar soluções pontuais, para não ficar restrito a um “muro de

lamentações”. no caso da agricultura, carolina considera que “as modifica-ções genéticas seriam alternativas alta-mente viáveis para minimizar impactos da mudança do clima, exigindo inves-timento em pesquisa da ordem de r$ 1 bilhão por ano”. e lembra que a irri-gação também foi investigada como alternativa de adaptação, mas “com ra-zões benefício-custo em geral menores”. em relação à energia, a economia do clima aponta que seria preciso instalar uma capacidade extra para gerar entre

162 tWh (25% da oferta interna de ener-gia elétrica em 2008) e 153 tWh por ano (31% da oferta interna de energia elétri-ca em 2008), de preferência com geração por gás natural, bagaço de cana e energia eólica, a um custo de capital da ordem de us$ 48 bilhões a us$ 51 bilhões. na zona costeira, o custo de ações de gestão costeira e outras políticas públi-cas (14 ações recomendadas) somariam r$ 3,72 bilhões até 2050, ou cerca de r$ 93 milhões por ano.

além dessas adaptações possíveis, o estudo mostra a viabilidade de oportuni-dades de mitigação, que envolvem aspec-tos cruciais. entre eles:

* o desmatamento, em que - a um preço médio de carbono na amazônia de us$ 3 por tonelada, ou us$ 450 por hecta-re, se desestimularia entre 70% e 80% a pecuária na região; e ao preço médio de us$ 50 por tonelada de carbono, seria possível reduzir em 95% essa autêntica praga de nossos tempos;

* em biocombustíveis, a substituição de combustíveis fósseis poderia evitar emissões domésticas de 92 milhões a 203 milhões de toneladas de co2 equivalente em 2035, e exportações de etanol acrescentariam de 187 milhões a 362 milhões de toneladas às emis-sões evitadas em escala global.

Fontes limpas de energiaentre as adaptações sugeridas

Perdas e ganhosum aspecto chama atenção por suas

peculiaridades. o crescimento da área plantada - de 17,8 milhões a 19 milhões de hectares -, segundo o estudo, não cau-saria substituição de áreas destinadas às culturas de subsistência em nenhuma região brasileira nem pressionaria o des-matamento da amazônia, mas nas re-giões sudeste e nordeste poderia afetar florestas e matas dos estabelecimentos agrícolas, caso as políticas para o setor não sejam implementadas adequadamente. no centro-sul, principalmente, pode ocor-rer exposição de grandes concentrações populacionais a altos níveis de poluição at-mosférica, caso não seja adotado o sistema de colheita mecanizada.

outro é a taxação de carbono, que, na estimativa do estudo, o impacto de uma ta-xação entre us$ 30 e us$ 50 por tonelada de carbono reduziria as emissões nacionais entre 1,16% e 1,87% e resultaria em uma queda no PiB entre 0,13% e 0,08%.

Já no setor energético, tomando-se como referência o Plano nacional de ener-gia 2030, o potencial estimado de redução de emissões seria de 1,8 bilhão de tonela-das de co2 acumuladas no período 2010-

2030. com uma taxa de desconto de 8% ao ano, o custo estimado seria negativo, ou seja, haveria um ganho, ou benefício, de us$ 34 bilhões em 2030, equivalentes a us$ 13 por tonelada de co2.

Prioridades de açãoo estudo recomenda ainda que, em

vista de os custos e riscos potenciais da mudança do clima para o Brasil serem pon-deráveis e pesarem mais sobre as popula-ções pobres do norte e nordeste, “políticas de proteção social nestas regiões devem ser reforçadas”. nesse sentido, “é possível e necessário associar metas ambiciosas de crescimento com a redução de emissões de gases de efeito estufa, para assegurar acesso a mercados que favoreçam produ-tos com baixa emissão de carbono em seu ciclo de vida”.

além disso, “a mudança do clima deve integrar as políticas governamentais do se-tor ambiental (como incluir emissão ou se-questro de gases do efeito estufa no processo de licenciamento), tanto no caso da agenda marrom (poluição) quanto no da agenda verde (setor rural e afins) – setores de trans-portes, habitação, agricultura e indústria”. Ponto de honra, para nossos pesquisadores,

é garantir que a matriz energética mantenha-se “limpa”, investir nas muitas opções de eficiência energética altamente rentáveis e garantir que o crescimento do PiB nacional também seja gerado de forma “limpa”.

Estancar desmatamento já!Para os autores do estudo, no presen-

te - para não dizer “pra ontem” -, a principal recomendação é estancar o desmatamento da amazônia. não fosse por outros motivos, porque essa prática nefasta “gera significativas mudanças do clima local e regional e resulta em uma perda projetada de até 38% das espé-cies e de 12% de serviços ambientais em 2100”. a par dessa medida, o País tem de aumentar o conhecimento técnico sobre o problema, com o desenvolvimento de modelos climá-ticos, modelos que traduzam as mudanças esperadas do clima em impactos físicos nos diversos setores da economia, alternativas de mitigação e adaptação mais eficientes. soma-se a esse quesito a necessidade de in-vestir em pesquisa agrícola de ponta, em parti-cular na modificação genética de cultivares. e, ainda, mas não o menos importante, desen-volver mais estudos para quantificar natureza e riscos de eventos extremos para além de 2050 e 2100.

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A universidade de são Paulo está envolvida, em vários níveis, no debate sobre meio ambiente. Po-

demos citar algumas iniciativas.existe o Programa de Pós Graduação

em ciência ambiental que forma mestres e doutores nessa temática.

no Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, letras e ciências humanas, vários docentes dedicam-se a essa temática.

na Faculdade de economia e adminis- tração, o ex-reitor Jacques marcovitch dedica-se ao estudo das políticas de implantação da convenção do clima/Protocolo de Kyoto com ênfase nas estratégias que almejam a redução dos gases de efeito estufa na atmosfera (leia matéria nesta edição).

na escola de comunicações e artes, o chefe do departamento de comunica-ções e artes, professor ismar de oliveira soares, através do núcleo de comunica-ções e educação (nce/usP), organizou um simpósio para discutir a questão da educomunicação socioambiental.

nesse simpósio, colocou-se a proposta de que a educomunicação seria uma fer-

creche central da usP, que tem utilizado a nossa revista neomondo para aulas com os pequeninos. todos têm recebido, men-salmente, a revista, e a edição preferida foi aquela da Diversidade cultural, pois trazia um envelope com sementes que foram plan-tadas e todos(as) acompanham o crescimen-to nos vasinhos escolhidos para a atividade.

esse é um pequeno exemplo de nossa tarefa, conscientizando as crianças desde cedo, para nossa responsabilidade em sal-var o planeta terra e todos os seres vivos que nele habitam.

neste mês de dezembro será realizada a conferência do clima em copenhague, Dinamarca, da qual participará nosso pre-sidente que aponta para “responsabilidade coletiva” nas questões ambientais.

Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade

de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade

de Uppsala, Suécia, e Professora convidada para ministrar aulas sobre

Cultura Brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros.

ramenta poderosa para ampliar, a todos os espaços, a discussão das questões que aparecem diariamente na mídia.

temas como: aquecimento global, mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável, efeito estufa, gases poluen-tes, dentre outros, devem figurar em jor-nais, revistas, televisão, internet, rádio e cinema, e precisam ser repassados às escolas formais.

a universidade de são Paulo se colo-ca desse modo à disposição para alavancar essa temática articulando diferentes seg-mentos sociais dentro e fora da institui-ção. assim, foi realizado o simpósio, no sesc Vila mariana, reunindo cerca de 500 participantes provenientes do setor públi-co, do empresariado, da mídia, da educa-ção formal debatendo questões relativas ao meio ambiente.

o organizador, professor ismar, decla-rou na abertura do evento: “É preciso re-conquistar os brasileiros para que termos 190 milhões de preservacionistas”.

outra iniciativa que devemos pontuar diz respeito ao trabalho de educação am-biental desenvolvido por professores(as) na

Dilma de Melo Silva

O debate sobre meio ambiente na Universidade de São Paulo

neo mondo - Dezembro 200918

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neo mondo - Dezembro 2009 19

Natascha TrennepohlAdvogada e consultora ambiental

Mestre em Direito Ambiental (UFSC)Doutoranda na

Humboldt Universität (HU) em Berlim.E-mail: [email protected]

nel intergovernamental sobre mudanças climáticas). o iPcc foi criado pela onu e é responsável pelo estudo de temas liga-dos às mudanças climáticas.

a criação da impressão de que existe um debate na comunidade científica so-bre o aquecimento global é usada como estratégia para justificar a omissão. assim, acaba sendo conveniente para alguns governos e setores industriais questionar a veracidade dos dados cien-tíficos relacionados com o aquecimento global, pois as ações de mitigação, como a redução de emissão de co

2, podem

ser postergadas. Dessa forma, o debate muda o foco e ao invés de serem discu-tidas ações de adaptação e mitigação, acaba sendo discutido se o aquecimento no planeta é realmente causado pela in-tervenção humana.

Para identificar quem sai ganhando com essa estratégia, basta ver quem está financiando os grupos de cientistas que contestam a influência humana no aque-cimento global. Destacar os interesses por trás daqueles que negam as mudan-ças climáticas é a tática usada por James hoggan (no livro climate cover-up) para revelar o grande lobby por trás das cam-panhas que tentam convencer o público

Natascha Trennepohl

Correspondente especial de Berlim – Alemanha

M esmo com todos os estudos científicos, as reportagens e as campanhas presentes na mídia

nacional e internacional alertando para as catástrofes naturais que podem acontecer se a temperatura do planeta subir 2º c na próxima década, ainda é possível en-contrar pessoas negando o aquecimento global e afirmando que as mudanças na temperatura do planeta são comuns e já aconteceram em outras épocas.

recentemente, o escândalo causado pela divulgação de e-mails pessoais de alguns cientistas de uma conceituada universidade na inglaterra jogou mais lenha na fogueira. hackers invadiram os computadores do centro de pesquisa em mudanças climáticas da universidade e divulgaram trechos de e-mails de alguns cientistas, citados fora de contexto, su-gerindo que esses cientistas estariam divulgando apenas informações que sus-tentassem as suas teorias sobre o aque-cimento global.

em resposta ao incidente, vários cien-tistas britânicos divulgaram uma declara-ção na qual sustentam a teoria de que o aquecimento global é causado principal-mente pelas atividades humanas, em con-sonância com o 4º relatório do iPcc (Pai-

de que o aquecimento global não está provado e que não há razão para serem adotadas medidas de mitigação.

essa abordagem do tema serve para confundir a sociedade e influencia dire-tamente as pesquisas de opinião pública. Por exemplo, nos estados unidos, é co-mum encontrar ainda nos dias de hoje, muitas pessoas contestando o aqueci-mento global. isso diminui a cobrança para a adoção de medidas de redução de emissões, bem como enfraquece o apoio popular para o financiamento nos países em desenvolvimento de projetos voltados para combater o aquecimen-to global. uma prova disso são as pes-quisas de opinião que mostram que os europeus são mais favoráveis do que os norte-americanos ao financiamento de medidas de adaptação e mitigação nos países em desenvolvimento.

Discurso conveniente:

negando o aquecimento global

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Alerta máximo na COP 15: emissões de CO2, embora em queda desde 2008, são as maiores em 2 milhões de anosGabriel Arcanjo Nogueira

Cercada de expectativas, entre elas a vigília do Greenpeace na capital dinamarquesa e a decisão, de últi-

ma hora, do governo da china - um dos principais emissores ao lado de estados unidos, união europeia e Índia - de tam-bém comparecer com uma meta volun-tária ambiciosa de redução em 45% das emissões de gases do efeito estufa -, a 15a. conferência do clima (coP 15) da organização das nações unidas (onu), de 7 a 18 de dezembro, em copenhague, traz, no mínimo, um alerta máximo. e com participação brasileira.

o mundo vai ter de se desdobrar, para exigir que os grandes emissores de dióxi-do de carbono (co2), óxido nitroso (n2o) e metano (ch4) sejam contidos, para evi-tar uma catástrofe biológica como a que exterminou dinossauros há milhões de anos. a situação da humanidade, em seus diversos ecossistemas, é preocupante (ver quadro). tanto que, mesmo com as emis-sões de co2 diminuindo em 2008, todavia elas são as maiores em pelo menos 2 mi-lhões de anos. os números são do balanço anual feito por cientistas ligados ao Global carbon Project, de acordo com matéria pu-blicada na sala de imprensa do instituto nacional de Pesquisas espaciais (inpe).

o estudo, divulgado originalmente pela revista nature Geoscience, tem entre seus autores Jean P. ometto, do centro de ciência do sistema terrestre do inpe. Pro-curado por neo monDo, o pesquisador reservou espaço em sua intensa agenda de final de ano para esclarecer alguns aspec-tos do assunto que está na ordem do dia em tempos de conferência sobre o clima.

Métricas e regrasometto lembra que a convenção Qua-

dro das nações unidas sobre alterações climáticas (cuja sigla em inglês é unFccc, de united Framework convention on cli-mate change) “resulta de um acordo inter-nacional de centenas de países buscando métricas e regras para o enfrentamento das questões associadas às alterações climáticas”. o que se pretende, então, é construir um esforço internacional, sem precedentes, para tentar estabelecer ações, em nível global, em relação a um problema que atinge a humanidade como um todo.

Perguntado sobre que mundo é possí-vel esperar pós-copenhague, o especialis-ta destaca alguns aspectos que considera importantes, partindo do princípio de que serão negociações intensas: “É difícil ima-ginar que as nações lá representadas selem

um grande acordo. o importante é a evo-lução nas negociações e o estabelecimento de metas tangíveis e factíveis pelas nações em relação às emissões de gases de efeito estufa. É importante também lembrar que a questão atmosférica é crítica, mas não é a única com a qual devemos nos preocu-par. as mudanças ambientais globais são muito mais amplas e têm importância re-gional diferenciada”, avalia.

Kyoto não morreuo pesquisador entende que o Brasil, ao

assumir metas voluntárias de redução de emissões de gases do efeito estufa, se re-veste de importância política muito gran-de, por não ser obrigado pelas regras do Protocolo a assumi-las. “a questão é que o Brasil propôs reduzir emissões sobre pro-jeções de emissões futuras (até 2020). isto ilustra a complexidade das negociações e o que cada país está colocando na mesa”, sintetiza o agrônomo com doutorado em ciência nuclear na agricultura.

há quem considere o Protocolo de Kyo-to morto. não é, porém, o caso de ometto. mesmo porque o documento foi proposto com um período de vigência determinado, 2012. o pesquisador do inpe entende que “o desafio da conferência das Partes em cope-

20 neo mondo - Dezembro 2009

Catástrofre

Jurássica

especial - CoP 15

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melhorar eficiência dos motores de com-bustão interna e caminharmos para trans-portes que utilizem outra forma de energia (como elétrica, hidrogênio)”.

o cientista explica também que “o aço verde nada mais é que a utilização de carvão

nhague é construir um acordo que substitua (o de Kyoto) a partir de 2012. o Protocolo foi (e está sendo) muito importante para definir prioridades, identificar falhas e lacunas que devam ser contempladas para atingir o obje-tivo maior que é a redução das emissões”.

ometto diz ainda que “é importante lem-brar que a convenção, com base nos relató-rios científicos do Painel intergovernamental de mudanças climáticas (iPcc, na sigla ingle-sa), reconhece que há um problema ambien-tal (climático) no planeta e busca, na esfera política, encontrar os mecanismos, globais, para atenuar ou mitigar este problema”.

Alternativas verdes ometto destaca, entre as possibili-

dades brasileiras de oferecer ao mundo alternativas de energia limpa, que “qual-quer iniciativa que reduza a quantidade de carbono emitida para a atmosfera é bem-vinda”. mas faz ressalvas quanto ao etanol, por exemplo, que para ele “não é a salvação do planeta”.

isto porque, analisa, “apesar de ser um combustível renovável, ainda há uma quantidade de carbono associado à sua produção. o importante é, tecnologica-mente, alterarmos a forma de nos loco-movermos. neste momento teríamos que

neo mondo - Dezembro 2009 21

Catástrofre

Jurássica

vegetal, oriundo de reflorestamento, na pro-dução do aço (substituindo o carvão mineral, não renovável)”. trata-se, pois, de uma pro-posta de se utilizar algo que a natureza renova “rapidamente”, ao invés de utilizar algo que a renovação ocorre em milhões de anos.

Por que é tão preocupante?

Protocolo de Kyoto é de 1997:• meta para 2012 era reduzir

em 5% as emissões em relação às de 1990

Relatório da ONU * é de 2007:• emissões de CO2, N2O e CH4

podem aumentar em 4% a temperatura da Terra antes da virada do século

• Especialista quer um pós-2012 mais rigoroso **

* Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), cujo trabalho mereceu o Nobel da Paz

** Carlos Nobre, pesquisador do Inpe, que participou do relatório

Fonte: Pesquisa NEO MONDO

Brasil precisa se desvincular da imagem negativa quanto

às emissões por desmatamento, causado por queimadas, como estas em São Félix

do Xingu, no Pará

Questão atmosférica é crítica, mas não única;

mudanças ambientais são mais amplas

com importância regional diferenciada“

Fotos: aBr

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22 neo mondo - Dezembro 2009

Mudança de consumoometto ressalta um aspecto importan-

te quando se trata de agir positivamente em relação às mudanças climáticas: “De-vemos buscar a mudança nos padrões de consumo e trabalhar para uma economia de baixo carbono, com o que estas inicia-tivas contribuem, mas não solucionam”. nesse sentido, a (re)ação tem de atingir todos os níveis sociais. “De forma geral, a iniciativa privada é movida pelos me-canismos de mercado, mas deve-se lem-brar que políticas de incentivos governa-mentais (como redução de impostos) são muito efetivas nas respostas deste setor. os consumidores, por sua vez, devem atuar primeiro, individualmente, alte-rando seus padrões de consumo e obser-vando práticas de bom convívio com os

bens naturais (exemplos simples, como não lavar a calçada, reduzir uso de carro, replantar margens de rios são muito im-portantes). além disso, a força do con-sumidor define os rumos das indústrias, se, por exemplo, exigir produtos com menor impacto no ambiente, com selo de origem sustentável ou, mesmo, me-nor uso de insumos e produtos quími-cos”, conclui o pesquisador.

Mundo divididoaté o fechamento desta edição, a coP

15 confirmava que a divisão do mundo é mais multifacetada do que possa parecer, na constatação de jornalista que cobre o even-to: há ricos, com maior poder de influenciar nas negociações, seguidos pelos classe mé-dia, pobres e desesperados. neste caso, mal-

Agronegócio na pauta brasileira

quer que o agronegócio seja eficaz em três pontos fundamentais: recuperação de pastagens; plantio direto; e integra-ção de pecuária e agricultura. o reca-do foi dado ainda antes de viajar para a coP 15.

em são Paulo, durante o 17o. Fórum da associação Brasileira de agribusiness, em 3 de dezembro - quando o tema foi copenhague e o agronegócio Brasileiro -, 130 pessoas, entre lideranças do agro-negócio, empresários e representantes do governo e de instituições de ensino e pesquisa, deixaram claro que se dispõem a fazer a sua parte para que o maior vi-lão das mudanças climáticas no País seja contido: o desmatamento.

carlos clemente cerri, um dos deba-tedores, é realista: “temos uma possibi-lidade incrível pela frente. o Brasil pode sair muito mais rapidamente do que os outros países do ranking dos emissores. se reduzirmos o desmatamento, aumen-tarmos a produção de biocombustíveis e substituirmos o plantio convencional pelo plantio direto, podemos mitigar e deixar o Brasil em posição de destaque”. opinião de peso para quem é engenheiro agrôno-mo e pesquisador da relação entre agri-cultura, clima e meio ambiente, ao falar

divas é exemplo de país que está entre os de menor poder de influência na conferência, na ponta debaixo da tabela.

maldivas corre o risco de desaparecer por causa do aumento do nível do mar e, até mesmo por isso, espera grandes cor-tes de emissões dos países ricos, mas se propõe a ser totalmente neutro em carbo-no até 2020.

a china, maior poluidor atualmente, e os estados unidos, historicamente o maior emissor de poluentes, na ponta de cima da tabela, anunciam cortes que vão de 17% a 45% na sujeira que produzem, até 2020.

em que pese tanta disparidade, na quinta-feira, 10 de dezembro (a conferência abriu na segunda-feira anterior), já se dava como certo que o texto de um acordo pode-ria ser anunciado ainda naquela semana.

especial - CoP 15

D a parte do Brasil, a importância do agronegócio parece unir go-verno e entidades empresarias

ao menos no debate do assunto. sérgio serra, embaixador extraordinário do itamaraty para mudanças climáticas,

Fórum da Abag reuniu lideranças da iniciativa privada, do governo e do meio científico: desmatamento tem de passar de ameaça a solução

Foto: lau Polinésio

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neo mondo - Dezembro 2009 23

Agronegócio na pauta brasileira

sobre emissões de gases do efeito estu-fa no Brasil e opções de mitigação pela agricultura, pecuária e silvicultura. cerri, professor do centro de energia nuclear na agricultura, da universidade de são Paulo (usP), está entre as maiores autori-dades mundiais em sua especialidade.

Cenário de incertezas Para carlo lovatelli, presidente da

abag, “apesar do cenário de incertezas que paira sobre a coP 15, acreditamos que ao menos um acordo seja alinhado entre os países para o futuro na questão da redução do efeito estufa”.

se o cenário é incerto, lovatelli está convicto de que “o Brasil tem grandes possibilidades para assumir um papel de liderança nesse processo”. isto porque, lembra, dispõe de matriz energética lim-pa (mais de 40%) e pratica a moratória da soja, desde 2006, agora citada como re-ferência de negociação pelas mais impor-tantes onGs do mundo.

o presidente da abag diz que só falta ao Brasil “se desvincular da imagem nega-tiva quanto às emissões por desmatamen-to, e tenho certeza de que venceremos esse desafio também”.

o Fórum abag contou também com a participação de marcos sawaya Jank (Perfil desta edição de neo monDo), presidente da união da indústria de ca-na-de-açúcar (unica); Paulo moutinho, do instituto de Pesquisa ambiental da amazônia (ipam); e rodrigo lima, do instituto de estudos do comércio e ne-gociações internacionais (icone).

estabelecimento de metas e prazos para a redução das emissões de gases do efeito estufa; combustíveis de baixo carbono; metodologias para calcular a emissão e sequestro de gases do efei-to estufa; mecanismos de redução de emissões para o Desmatamento e De-gradação das Florestas (redd) e merca-do de carbono predominaram entre os assuntos abordados.

De comum, nas apresentações, a redução do desmatamento como ques-tão de honra para um país que se pre-tenda afirmar entre os mais influentes do planeta.

Custo - investimento moutinho, do ipam, ao falar sobre

mudanças climáticas, redd e mercado de carbono, esclareceu: “o custo estimado para que o desmatamento brasileiro tenha um fim está entre us$ 7 bilhões e us$ 18 bilhões até 2020”. o que, lembra, “deve ser encarado como investimento, pois pesqui-sas apontam que a preservação da floresta amazônica poderá render entre us$ 70 bi-lhões e us$ 110 bilhões nos próximos 10 anos com negociações de crédito de car-bono”. moutinho revelou que há na ama-zônia 47 bilhões de toneladas de carbono armazenadas. e constata: “não estamos ganhando nada com isso; precisamos do reconhecimento internacional pelos esfor-ços que estamos fazendo”.

Jovens de várias partes do mundo fazem vigília em Copenhague em defesa do planeta; um dos

recados tem endereço certo: “salve a Amazônia!”

Fotos: Greenpeace

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e ursos polares. as situações são sempre inusitadas, como no caso de uma ilustração nos estados unidos que mostra uma pilha de pinguins sentados uns sobre os outros para poderem caber em cima de uma mi-núscula placa de gelo. ou em outro painel onde um pinguim lê uma placa que diz: “cuidado, chão molhado!”.

É claro que muitas pessoas podem achar o humor verde de gosto tão duvido-so quanto o humor negro, argumentando que o problema do aquecimento global é grave demais para ser alvo de brincadei-ras. mas, na verdade, quanto mais incon-venientes as verdades, mais convenien-tes para esse tipo de humor elas são. o propósito desses trabalhos não é simples-mente fazer rir, mas principalmente fazer pensar com uma “provocação visual”. e para conseguir esse tipo de efeito, o po-der de síntese e a força do humor gráfico são ferramentas imprescindíveis.

T odo mundo já ouviu falar em humor negro, mas ultimamente o que vem tendo bastante destaque é o que pode-

ríamos chamar de humor verde. com a ques-tão ambiental sendo discutida diariamente e transmitida pela grande mídia, tópicos rela-cionados às mudanças climáticas são cada vez mais abordados pela lente do humor.

as sátiras envolvem os mais diversos elementos, até mesmo ícones religiosos e passagens bíblicas. Para alguns humoristas, são Pedro não parece estar muito preocupa-do com o que está acontecendo com o pla-neta. Pelo contrário. em um cartum austra-liano bastante irônico, um senhor de barba branca aparece sentado confortavelmente numa nuvem, esticando as pernas e aque-cendo os pés em cima do planeta terra.

com a previsão de aumento do nível do mar como consequência das mudanças climáticas, os trabalhos não poderiam dei-xar de fazer referência a uma das narrati-vas mais emblemáticas da Bíblia: o dilúvio universal. a arca de noé, na visão de um ilustrador holandês, reaparece em pleno sé-culo XXi no topo de um prédio do governo, resgatando carros oficiais de dois em dois.

a ideia de “inferno na terra” em decor-rência do aquecimento do planeta também é explorada. em um cartum na alemanha,

vemos a porta de entrada do inferno com o seguinte aviso: “estamos fechando em 2012 e nos mudando para o planeta terra”.

a força da imagem do planeta é usada em diferentes metáforas, sendo combina-da com outros elementos que transmitem a ideia de calor. Por exemplo, em um car-taz onde uma panela “frita” o mapa mundi, ou em outro onde o globo terrestre está dentro de um forno de micro-ondas.

o efeito desse calor infernal, principal-mente o derretimento de geleiras, também rende várias analogias. em um pôster na inglaterra, vemos uma casquinha de sor-vete com o globo terrestre derretendo em cima. Já em uma ilustração no melhor es-tilo surrealista, há um quadro que mostra um iceberg derretendo, enquanto a água escorre pela parede até o chão.

um dos cenários mais frequentes para os cartuns sobre as mudanças climáticas é, sem dúvida, o Polo norte. Por ser de fácil identificação e simples representação grá-fica, são inúmeros os desenhos que trazem elementos característicos dessa região. em um deles, um iglu é construído com caixas de papelão em vez de pedras de gelo.

nesse cenário de geleiras, os animais são normalmente os personagens centrais do humor gráfico, principalmente pinguins

o humor gráfico e o aquecimento global

Publicitário da Jung von Matt, em Berlim

Formado em Comunicação Social pela ESPM-SP

e em Criação Publicitária pela Miami Ad School

E-mail: [email protected]

Rafael Pimentel Lopes

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neo mondo - outubro 2008 A

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A castanha-do-brasil (Bertholletia Excelsea), ameaçada de extinção, é uma espécie utilizada na produção de insumos

adquiridos pela Natura. A empresa compra esse insumo apenas de áreas certificadas

Meio Ambiente

A maior empresa brasileira de cos-méticos e produtos de higiene e beleza, com receita bruta de r$

4,7 bilhões em 2008, é também integral-mente comprometida com a questão am-biental. “Pelo conjunto de nossas ações, práticas e resultados, estamos convenci-dos de que é plenamente possível adotar o desenvolvimento sustentável como funda-mento para a atuação empresarial”, afirma a empresa em seu posicionamento frente às mudanças climáticas.

no dia 10 de dezembro, em um even-to paralelo à 15ª conferência das Partes (coP 15), em copenhague, a empresa anunciou sua adesão ao programa Defen-sores do clima do WWF-Brasil e seu com-promisso em reduzir em 10% as emissões absolutas dos seus processos operacionais até 2012, em relação ao ano de 2008.

o programa Defensores do clima, da rede WWF, está sendo inaugurado no Brasil por meio de acordo com a WWF-Brasil, or-ganização não governamental brasileira que trabalha em articulação com a rede WWF, a maior rede independente de conservação da natureza. o programa global conta com 22 empresas participantes, entre as quais coca-cola, iBm, tetrapak, nokia, national Geogra-phic e sony, que prometem, juntas, reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em 50 milhões de toneladas de co2

até 2010, o equi-valente às emissões anuais da suíça.

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Natura quer reduzir 10% das emissões até 2012Elizabeth Lorenzotti

Compromisso com a questão AMBIENtAl

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Natura quer reduzir 10% das emissões até 2012Elizabeth Lorenzotti

sociais e ambientais”, afirma marcos Vaz, diretor de sustentabilidade da natura. “Fi-zemos um inventário para reduzir todas as nossas emissões e só o que não é passível de ser reduzido é compensado pelos proje-tos selecionados pelo edital.”

em 2008, a empresa investiu cerca de r$ 3,3 milhões em projetos relacionados às mudanças climáticas. este valor representa 6% do total de investimentos no período e 58% do total aplicados em meio ambiente pela natura, em projetos ou ações não re-lacionados aos negócios da empresa e que extrapolam as exigências legais.

Para compensar todas as emissões que não forem passíveis de redução, serão neutra-lizadas as emissões referentes a 2008 por meio do financiamento de projetos de desmatamen-to evitado e de reciclagem atrelados à questão do carbono. segundo Vaz, “no total serão com-pensadas 228 mil toneladas de co

2e (dióxido

de carbono equivalente), contra uma emissão de 188.051 mil toneladas de co

2e”.

cinco projetos de compensação foram escolhidos por edital público realizado de junho a setembro de 2008. a natura re-cebeu 61 propostas, abrangendo diversos temas como eficiência energética, reflores-tamento e redução de emissões por Des-matamento e Degradação e reciclagem (redd). os projetos selecionados, além de benefícios ambientais mensuráveis, tam-bém propiciam ganhos sociais para as co-munidades envolvidas. (leia Box)

“com a divulgação do edital, quere-mos mais do que prestar contas à socieda-de, queremos trocar experiências, falar de aprendizados e desafios com todos aque-les que acreditam no desenvolvimento sustentável”, completa marcos Vaz.

Desde 2007 a natura passou a publicar anu-almente o inventário de emissões de Gee de sua cadeia produtiva. essas informações estão sempre disponíveis nos seus canais de comuni-cação e em outros instrumentos de mobilização e prestação de contas, como o carbon Disclo-sure Project, iniciativa que procura formar uma

base de dados corporativos sobre mudanças cli-máticas. a natura defende também que os da-dos de emissões devam constar dos rótulos dos produtos para evidenciar o impacto, ampliar a consciência do consumidor e estimular a adoção de padrões mais sustentáveis.

criada em 1969 a partir de um laborató-rio e uma pequena loja em são Paulo, hoje a empresa possui cerca de 5,7 mil colaborado-res. sua força de vendas é formada por 938,8 mil consultores, sendo 798,7 mil no Brasil e 140,1 mil em países da américa latina. e o retorno dos clientes à sua política é positivo. os consumidores costumam contribuir com os projetos desenvolvidos pela companhia. a natura mantém um projeto de reciclagem logística reversa, implantado em recife e são Paulo, com o objetivo de diminuir o impacto ambiental das embalagens. o tra-balho envolve também os consultores, que incentivam os clientes a devolver essas em-balagens, levadas para reciclagem. em dois anos foram arrecadados 210 mil quilos de materiais recicláveis.

Compromisso com a questão AMBIENtAl

segundo alessandro carlucci, diretor-presidente da natura, “ao aceitar o desafio proposto pelo WWF-Brasil, estamos dando mais um passo em nosso compromisso com a sustentabilidade e garantindo que, inde-pendentemente do nosso crescimento, redu-ziremos nossas emissões de gases do efeito estufa relacionadas às nossas operações”.

a preocupação da natura com a susten-tabilidade é antiga. em 1983, foi a primeira empresa a oferecer ao mercado produtos com refil. no ano 2000, lançou a linha ekos, uma plataforma de produtos desenvolvida a partir do uso sustentável da biodiversidade brasileira. em 2005, optou por substituir to-talmente o uso da gordura animal por óleos vegetais na linha de sabonetes e, posterior-mente, fez o mesmo trocando os óleos mine-rais na linha de óleos corporais.

o uso do álcool orgânico, hoje presente em mais de 70% dos produtos da natura, também foi adotado, uma vez que este material possui um volume de emissões de gases de efeito estufa (Gee) 54% menor do que o do álcool tradicional.

em 2007, a natura assumiu uma meta ar-rojada: reduzir, até 2011, suas emissões de co2 em 33% por quilo de produto em toda a sua cadeia produtiva, desde extração da matéria-pri-ma ao descarte. no fim daquele ano, a empresa comemorou a redução de 7% das suas emissões relativas de Gees, na comparação com 2006, e de mais 3% em 2008. isso significa que as emis-sões relativas por produto, que eram de 3,93 kg de co2

e por kg de produto faturado em 2006, caíram para 3,57 kg de co

2e por kg de produto

faturado em 2008. o modelo envolve toda sua cadeia de

negócios. Dessa forma, a natura oferece aos seus clientes produtos carbono neutro.

Programa Carbono Neutro“o Programa carbono neutro surgiu do

nosso compromisso com o desenvolvimen-to sustentável e com um modelo de negócio que não apenas gera, mas compartilha com toda a sociedade, resultados econômicos,

Marcos Vaz: “O valor de uma empresa está ligado à sua capacidade de contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade e em uma gestão socioambientalmente responsável”

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Meio Ambiente

28 neo mondo - Dezembro 2009

Os projetos selecionados

São os seguintes os projetos selecionados por edital público pela Natura para compensar totalmente o volume de CO2e emiti-

do por suas operações em 2008.

1. Carbono, Biodiversidade e Comunidade no Corredor Ecológico Pau Brasil. O projeto tem como objetivo a promoção do reflorestamento para restabelecer um corredor de vegetação nativa que unirá dois importantes fragmentos protegidos da mata atlântica: o Parque Nacional do Pau Brasil e o parque nacional de Monte Pascoal, ambos no estado da Bahia. Quantidade de compensação disponibilizada para a Natura: 79.050 toneladas de CO

2e.

2. Uso da Biomassa Renovável em Indústrias Cerâmicas. Propõe alternativas sustentáveis para substituição da madeira por fontes renováveis em duas indústrias ceramistas em Alagoas. No lugar da lenha, serão empregadas biomassas renováveis como o bambu, a serragem, a casca de coco e o bagaço de cana. Quantidade de compensação disponibilizada para a Natura: 60 mil toneladas de CO

2e.

3. Carbono Socioambiental do Xingu. O projeto faz parte da campanha ‘Y Ikatu Xingu’ que se desenvolve desde 2004 na região das cabeceiras do Xingu, com o objetivo de promover a recuperação de áreas de Preservação Permanente dos cursos d’água . Para a compensação das emissões geradas pela Natura, prevê a remoção do carbono ao longo do período de 30 anos, com a recuperação de 116 hectares de APPS (áreas de proteção permanentes) degradadas nos municípios de Canarana, São José do Xingu, Querência, Cláudia e Marcelândia, onde o Instituto Sócio Ambiental o ICV (Instituto Centro de Vida) e seus parceiros estabeleceram parcerias com as prefeituras municipais. Um ponto importante do projeto é a tecnologia inovadora que inclui o plantio mecanizado de sementes para recomposição da vegetação nativa, envolvendo os funcionários das propriedades e aproveitando a infraestrutura do modelo agropecuário utilizado na região. Também está sendo estruturada uma rede de sementes que mobiliza pequenos produtores e populações indígenas para a coleta de material de campo.

Quantidade de compensação disponibilizada para a Natura: 40 mil toneladas de CO2e.

4. Redução de Emissão de Gases de Efeito Estufa na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Juma. O objetivo é conter o desmatamento e a consequente emissão de GEE na Reserva de desenvolvimento Sustentável (RDS) do Juma, no Amazonas.

Quantidade de compensação disponibilizada para a Natura: 30 mil toneladas de CO2e.

5. Fogões Eficientes no Recôncavo Baiano. Pretende substituir o uso de fogões à lenha rudimentares por fogões eficientes, com tecnologia mais eficiente, menos nociva às famílias e com consumo reduzido de lenha. Com a implementação dos fogões eficientes, o projeto reduzirá as emissões de GEE (gases do efeito estufa) das famílias envolvidas em até 60%, con-tribuindo para a proteção dos remanescentes de mata atlântica e melhorando a qualidade de vida da população.

Quantidade de compensação disponibilizada para a Natura: 18.880 de CO2e.

Natura - Ciclo do Carbono (% de Emissões) - Em 2008: 188.051 toneladas de CO2 e 3,57 kg de CO2e/kg produto

www.natura.net/carbononeutro

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neo mondo - setembro 2008 A

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30 neo mondo - Dezembro 2009

S egundo a lenda, viveu entre as montanhas a mais linda pequena nascida naquelas terras. ainda jo-

vem, banhando-se nas cascatas geladas da mãe serra, tilá-tilá encantou os mais fortes e determinados guerreiros dos dife-rentes grupos étnicos daquela região. mas, ofuscado por intensos brilhos de luz, seu coração só atentava ao poderio do sol, o provedor generoso que fielmente ilumina-va toda a criação de tupã, aquecia-lhe o corpo já na aurora e tonalizava-lhe a pele durante seu passeio diário sobre a terra.

os mais velhos contaram que lhe cus-tou a juventude até que conseguisse a aten-ção do grande guerreiro brilhante. este, que nunca vira tamanha harmonia para reunião de graças e belezas, abandonou seu itine-rário sem permitir que a noite caísse nova-mente para que as tribos alcançassem a ter-ra dos sonhos. então, irmã lua, cravada de ciúmes, cobrou providências de tupã que, munido de infinita sabedoria colhida nos prados brandos da eternidade, determinou a sete nuvens escuras e aos seus irmãos raios e ventos que desdobrassem sobre a linda tilá-tilá os maiores maciços rochosos da mãe serra. restabeleceu-se, pois, a nor-malidade dos tempos.

Passadas três primaveras, todas aldeias viram, estupefatas, a serra mãe verter no-

vos e caudalosos riachos, encachoeirando-se para formar as abençoadas veias d´água que hoje nós, os herdeiros das histórias das bandeiras e das catas de ouro, chamamos de “Paraíba do sul” e “rio Grande”. então, em uma homenagem mea-culpa à intensidade da paixão testemunhada naquela terra, tupã nomeou a mãe serra de amantigir , para nós, mantiqueira - a serra que chora.

ainda em 2009, sob o guarda chuva do conceito de “Desenvolvimento susten-tável”, acompanho daqui – tão estupefato quanto os lendários índios - verdadeiras batalhas corporativas protagonizadas pe-los representantes públicos, governamen-tais ou não, das “tribos” ambientalistas e desenvolvimentistas – em especial os ru-ralistas -, com suas ideologias lendárias. na arena do combate, projetos de leis, medidas provisórias e uma infinidade de pseudo-audiências públicas que darão a sorte das alterações do código Florestal Brasileiro (cFB), da regularização (da gri-lagem) fundiária na amazônia legal, da obrigatoriedade dos critérios técnicos a serem observadas para licenciamentos ambientais de obras do Pac – situações especiais??? –, do pagamento pelos servi-ços ambientais e, para não me estender, também da política nacional de criação de unidades de conservação no país.

esta última destaca-se por ser uma imensa demanda diante dos olhos de tupã, caracterizada pela diferença de argu-mentos de ilustres guerreiros da história interna do movimento conservacionista mundial, tais como maria tereza Jorge Pá-dua e antônio carlos Diegues, que defen-dem, respectivamente, a criação de unida-des de conservação de Proteção integral e a criação de unidades de conservação de uso sustentável, ambas previstas na lei 9.985/2000 que estabeleceu o siste-ma nacional de unidades de conservação (snuc) no Brasil.

todavia, as experiências bem sucedi-das de criação e de gestão de unidades de conservação na américa latina - com des-taque para os processos desenvolvidos na costa rica, no Peru e na colômbia – reve-laram premissas de participação social de-terminantes para o sucesso das respectivas unidades em questão. Priorizou-se nesses países uma construção de longo prazo, de “baixo para cima”, baseada em processos sociais já em andamento, valorizando e organizando atores sociais e institucionais locais e, principalmente, validando os po-tenciais benefícios que gerassem alterna-tivas econômicas como estratégia para se chegar a um pacto de defesa da unidade de conservação pelas comunidades locais.

O Parque dePico dos Marins (2422m altitude)Piquete - SP

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hoje, aqui na “serra que chora”, convivemos com uma nova realidade: a proposta da criação do Parque nacional altos da mantiqueira - ou cristas da mantiqueira, ainda não está definido o nome do iminente parque – que terá a nobre função de possibilitar e promover conectividade gênica de fauna e flora que hoje ocorrem isoladas em outras duas importantes áreas protegidas na região: o Parque nacional do itatiaia e o Parque estadual de campos do Jordão. e mais uma vez, as ideologias adversárias colo-cadas na arena do combate pelas tribos ruralistas e ambientalistas não passarão de lendas - como a da índia tilá - caso não seja encontrado o abençoado caminho da concordância. um trágico exemplo: in-cêndios criminosos ainda persistem qua-se que anualmente no Parque nacional do itatiaia – o mais antigo do Brasil, criado em 1937 – devido, provavelmente, pela não aceitação das restrições impostas às comunidades tradicionais do local. Por outro lado, no Parque estadual da ilha do cardoso, no sul do estado de são Paulo, a adoção de gestão participativa direta da comunidade no processo de elabora-ção do Plano de manejo da unidade vem consolidando, desde 1997, uma das mais bem sucedidas experiências brasileiras em administração de Áreas Protegidas. assim como nos países supra citados, a gestão ambiental na ilha do cardoso com-preende iniciativas que deram certo por observarem peculiaridades locais através de regulamentações também locais, com participação efetiva da sociedade organi-zada – repito: peculiaridades locais obser-vadas por organização social local.

hoje, imersos no “mosaico de uni-dades de conservação da serra da man-tiqueira” – conjunto de áreas protegidas na região, reconhecido pelo ato de assi-natura da Portaria ministerial n.351, em 11/12/2006, pela então ministra e atual senadora marina silva – os empreende-dores e moradores rurais da região da

termo de cooperação técnica com a ge-rência da Área de Proteção ambiental da serra da mantiqueira (aPasm) para identificação de parceiros que possam apoiar financeiramente a realização de ações conjuntas de implementação de projetos e programas visando a susten-tabilidade na serra da mantiqueira.

Que tupã nos ajude nessa tarefa e continue a abençoar nossos curumins com as águas puras da paixão de tilá-tilá.

Natan Rodrigues Ferreira de Melo e SilvaProfessor da Escola Técnica LIMASSIS /

Fundação ROGEProdutor Rural e Consultor Ambiental

em Sistemas de Produção AnimalZootecnista e Mestre em Produção Ani-

mal pela Universidade Federal de LavrasMembro Titular do Conselho Consultivo da

APA da Serra da Mantiqueira (CONAPAM)Ex-presidente do Conselho Municipal

de Desenvolvimento Rural Sustentável de Piquete - SP

mantiqueira criam seus filhos perante imbróglios legais que remetem a 1965, ano da última alteração do cFB. abri-gando cerca de 120 milhões de brasilei-ros e gerando 70% do PiB do país, a mata atlântica - e suas atuais tribos - não po-dem mais assistir passivamente aos atro-pelos sócio-ambientalmente desastrosos dos pseudocaciques de Brasília.

urgem por aqui as participações lo-cais de diferentes segmentos da socie-dade para o planejamento da definição dos limites desse novo parque nacional, bem como das políticas públicas para desenvolvimento econômico das co-munidades que serão diretamente afe-tadas pela sua criação, em especial os produtores e comunidades rurais. com esse propósito, a Fundação roGe - ins-tituição sem fins lucrativos que oferece ensino médio profissionalizante, entre outras ações de responsabilidade social na região – analisa atualmente uma pro-posta de acordo de aproximação com o instituto chico mendes para conserva-ção da Biodiversidade (icmBio / minis-tério do meio ambiente) através de um

Natan Rodrigues Ferreira de Melo e Silva

Mosaicos de UC´s da Mata Atlântica: Serra da Mantiqueira e Serra do Mar

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Ampliação da porcentagem de utilização no diesel mineral e o surgimento de novas opções de matérias-primas fazem do biodiesel o assunto do momento

Rosane Araujo

32 neo mondo - Dezembro 2009

Meio Ambiente/Biocombustível

N a edição passada, neo monDo iniciou uma série de reporta-gens que discutirá diferentes

aspectos dos biocombustíveis, aqueles que são produzidos a partir de fontes re-nováveis de energia.

a matéria de abertura introduziu os conceitos e, nesta edição, a discussão atin-ge um dos personagens principais da histó-ria: o biodiesel.

Desde que passou a ser utilizado na composição do diesel mineral, o biodiesel vem gradativamente virando um dos “que-ridinhos” dos órgãos ligados à produção de energia, ao lado do etanol.

“mesmo na pior das hipóteses, a produção de biocombustíveis é melhor do que a gasolina. o nosso é melhor ain-da”, afirmou o diretor do Departamento de energia do ministério de relações exteriores, andré corrêa do lago, com-parando a produção brasileira com a de outros países.

Biodiesel e etanol ganharam tanto des-taque que foram apresentados pelo governo como alternativas para a redução do efeito estufa durante os debates da 15ª conferência das Partes da convenção do clima (coP 15), realizada de 7 a 18 de dezembro, em cope-nhague (Dinamarca).

em paralelo à discussão na coP 15, o governo divulga medidas visando promo-ver um crescimento ainda maior do setor.

até março de 2010, setores do governo e da iniciativa privada ligados ao desenvolvi-mento do biodiesel brasileiro lançarão uma agenda conjunta para os próximos cinco anos visando ampliar a produção nacional.

“estão sendo desenvolvidas pesquisas com vários produtos, como semente de giras-sol, pinhão manso, óleo de dendê, canola e até cana-de-açúcar, mas ainda é importante se buscar outras fontes de biodiesel”, afirmou o secretário de Produção e agroenergia do ministério da agricultura, manoel Bertone,

Colheita de mamona - Cooperativa Terra Livre, no Rio Grande do Norte

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após participar da oitava reunião ordinária da câmara setorial de oleaginosas e Biodiesel, no dia 25 de novembro.

com a introdução, a partir de janeiro de 2010, do biodiesel B5 (5% de biodiesel adi-cionado ao diesel mineral), a demanda pelo produto certamente será ainda maior.

Diversidade de matérias-primassegundo dados divulgados em no-

vembro pela agência nacional do Petróleo (anP), a soja ainda é disparada a principal matéria-prima utilizada para produção de biodiesel, representando 77,35%, seguida pela gordura bovina com 15,48%, o óleo de algodão com 4,29% e outros materiais graxos com 2,88%.

a liderança, porém, é polêmica. no iní-cio deste ano, uma forte alta no preço do produto no mercado mundial, refletiu dire-tamente nos lucros dos produtores brasilei-ros, ameaçando acabar com as expectativas otimistas de crescimento do setor.

sua utilização também é criticada por autoridades que consideram antiético o uso de grãos passíveis de serem utilizados na cadeia alimentar humana ou animal para produção de biocombustível.

o próprio presidente luíz inácio lula da silva já se demonstrou contrário à dependência da soja. “o país não pode continuar a depender apenas da soja. Perdemos 28 anos [desde que o biodiesel foi patenteado, em 1975]. essa deci-são já deveria ter sido tomada”, afirmou.

a segunda matéria-prima do ranking, a gordura bovina, envolve outra polêmica: a pecuária é apontada como um dos prin-cipais fatores que impulsionam o desmata-mento da amazônia.

segundo o relatório o Brasil dos agro-combustíveis, divulgado pela onG repórter Brasil, dos cerca de 199,7 milhões de bois con-tabilizados em 2007 pelo instituto Brasileiro de Geografia e estatística (iBGe) em todo o ter-ritório nacional, 13% estavam no mato Gros-so. “não por acaso, o estado também abriga o maior número de cabeças de gado no bioma amazônico: 17, 9 milhões”, cita o relatório.

o trabalho também menciona a tese de doutorado ainda não defendida pelo pesquisador Bernardo strassburg, da uni-versidade de east anglia, na inglaterra, que cruzando dados oficiais concluiu que 69% do desmatamento da amazônia no período de 1997 a 2006 ocorreu devido à pecuária.

Finalmente, na terceira colocação do ranking de matérias-primas utilizadas para obtenção de biodiesel, está o óleo de algodão, com pequena participação.

em relação aos dois anteriores, o algo-dão é visto com bons olhos já que sua produ-ção é dominada por pequenos agricultores, que podem aproveitar três subprodutos: a fibra, o óleo e a torta — utilizada como ra-ção animal no lugar do farelo de soja.

a única ressalva é quanto ao avanço deste cultivo de forma desordenada no cerrado, um bioma seriamente ameaçado. “suas áreas planas, com alta incidência de sol e chuvas regulares, têm atraído grandes empreendimentos agrícolas, que aproveitam que as leis autorizam desmatamentos de até 80% da área de uma fazenda – na amazônia, o limite é de apenas 20%”, alerta o relatório da repórter Brasil.

Outros materiais graxos o quarto item do gráfico de matérias-

primas utilizadas na produção do biodiesel brasileiro é identificado como “outros ma-teriais graxos”.

alguns destes materiais são: girassol, mamona, palma, macaúba e pinhão manso.

apesar da pouca representatividade atual, esses itens têm merecido grande atenção de pesquisadores e produtores, já que poderiam solucionar alguns dos problemas apontados pelos críticos do biodiesel: podem ser cultiva-dos por pequenos produtores, estimulando a agricultura familiar; não estão incluídos na cadeia alimentar humana nem animal.

a mamona despontou, em 2005, como a grande esperança do Programa nacional do Biodiesel, mas a produção usando apenas óleo de mamona mostrou-se inviável, já que pelos parâmetros da anP, o biodiesel é mui-to viscoso e poderia danificar os motores.

recentemente, a Petrobrás Biocom-bustível informou ter concluído todo o processo tecnológico que permite à em-presa produzir biodiesel a partir do óleo de mamona - dentro das especificações técnicas da anP -, que estipula o limite de 30% do óleo de mamona em cada litro de biodiesel.

com a redução da expectativa da ma-mona, uma outra oleaginosa surgiu no

Laboratório de biodiesel da Petrobrás Biocombustível

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neo mondo - Dezembro 2009

Meio Ambiente/Biocombustível

cenário das pesquisas, com grande poten-cial: o pinhão manso.

segundo informações da empresa Brasileira de Pesquisa e agropecuária (em-brapa), desde 2005, a espécie está sendo plantada em áreas comerciais e experi-mentais, visando seu entendimento e aproveitamento para a produção de óleos.

o órgão organizou nos dias 11 e 12 de novembro, em Brasília, o i congresso Brasileiro de Pesquisa em Pinhão manso, que contou com cerca de 400 participantes debatendo sobre a oleaginosa.

os resultados dos trabalhos discutidos nos grupos especiais tecnologia agronômi-ca, industrial e estudos transversais servi-rão de base para a finalização do documento do programa de pesquisa, desenvolvimento e inovação do pinhão manso a ser envia-do ao ministério da agricultura, Pecuária e abastecimento até o final deste ano.

“o congresso se firmou como um im-portante fórum para tratar destas questões de avanço do conhecimento, do monitora-mento e qualificação da expansão de áreas com pinhão manso e dos critérios para a ampliação da parceria público-privada no Brasil”, ressaltou Frederico Durães, chefe-geral da embrapa agroenergia.

o pesquisador da embrapa agroenergia, Bruno laviola, também participou do con-gresso apresentando o tema “recursos gené-ticos e aprimoramento do pinhão manso”.

após o evento, Bruno conversou por e-mail com a reportagem de neo monDo.

confira a seguir suas conclusões.

Neo Mondo: Em que nível está a pesquisa sobre o pinhão manso? Qual a sua expectativa a respeito?Bruno Laviola: O pinhão manso é uma oleaginosa que apresenta grande potencial para produção de biodiesel em diferentes regiões no

país e isto se deve a algumas carac-terísticas da cultura, como: potencial de rendimento maior que as oleagi-nosas convencionais (por exemplo, a soja produz 500 kg/ha de óleo); cultura perene, não necessitando de renovação anual de plantio; cultura não alimentar, não apresentando concorrência direta com a agricultura de alimentos; os espaçamentos ado-tados permitem o cultivo de culturas intercalares na fase inicial de estabe-lecimento, permitindo a produção de energia e alimentos em uma mesma área; opção potencialmente interes-sante para agricultura familiar; possi-bilidade de diversificação das ativida-des agrícolas tradicionais em algumas regiões, sendo mais uma alternativa de renda; cultura pouco mecanizável e altamente dependente de mão-de-obra, gerando emprego no campo.Por outro lado, o pinhão manso é uma espécie que não está domesticada, carecendo ainda do desenvolvimento de cultivares comerciais e sistema de produção que suporte o seu plantio em diferentes regiões produtoras de biodiesel no país.A Embrapa estruturou um projeto nacional em rede desde 2008, no qual são desenvolvidas várias ações de pesquisa com o pinhão manso, desde a implantação de bancos de germoplas-ma até trabalhos de nutrição mineral e adubação, densidade de plantas, podas, relações hídricas, controle de pragas e doenças, colheita, qualidade, entre outras. É um projeto completo, com 126 atividades de pesquisa distribuídas em todas as áreas da cadeia de produção da oleaginosa.

34

Neo Mondo: Você acredita que a longo prazo os biocombustíveis poderão substituir os combustíveis fósseis?Qual sua previsão de quando isso possa acontecer? Bruno Laviola: Como a cada ano são descobertas novas reservas de petróleo é muito difícil estabelecer um prazo com precisão para o fim destas energias não-renováveis. Porém, a cada ano o consumo no mundo au-menta e é certo de que as reservas de petróleo vão se esgotar. Os biocom-bustíveis surgem como uma opção a curto prazo no sentido de postergar o fim das energias não-renováveis e a longo prazo como uma opção para substituir estas fontes. No Brasil o con-sumo de álcool já está equiparando ao consumo de gasolina e a tendência é que o Brasil passe a consumir mais álcool que gasolina. Neo Mondo: O Brasil é apontado como uma futura potência na produção de bio-combustíveis. Você concorda? Por quê? Bruno Laviola: O Brasil é um dos únicos países que pode expandir a agricultura de energia sem competir com a agri-cultura de alimentos. No futuro, o país será o maior produtor de energias de biomassa e alimentos do mundo.Temos atualmente cerca de um quarto das reservas de água doce do planeta, temperaturas adequadas ao crescimento das plantas o ano todo e uma área para expansão agrícola de mais de 65 milhões de hectares, o que permite ao país expandir a agricultura de alimento e energia sem competição e sem gerar pressão sobre as áreas de florestas e de preservação ambiental.

77,35%

2,88%4,29%

Óleo de Soja

Gordura Bovina

Óleo de Algodão

Outros Materiais Graxos

Mês de referência: Outubro/2009Fonte: ANP

Matérias-primas utilizadas para a produção de biodiesel

Congresso reuniu pesquisadores para definição de um programa de

desenvolvimento do pinhão manso

15,48%

Divulgação

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S emanas atrás, a revista the econo-mist dedicou não só a capa, mas uma matéria de 14 páginas ao Brasil,

enaltecendo inúmeras qualidades do Pais e advertindo sobre outros tantos vícios.

isso se deu no momento em que o País vive uma perspectiva de crescimento prolongado, oferecendo oportunidades de investimentos e apresentando um incre-mento do mercado doméstico e uma larga escala na produção de commodities. no contexto internacional, diga-se de passa-gem, não há de se falar em um País com oportunidades de investimento similares com tão alto grau de retorno.

chama bastante a atenção o fato de o Brasil ter entrado na crise com uma econo-mia forte e ter saído dela mais forte ainda, com índices de crescimento superiores aos da maioria do resto do mundo. somos a maior economia da américa latina e o

quinto país em dimensões territoriais (de-pois de rússia, canadá, china e estados unidos). além disso, estamos entre as dez nações que mais consomem energia, gran-de parte dela advinda de fontes renová-veis, como a da matriz energética hidráuli-ca, do etanol e do biodiesel.

recentemente, diga-se de passagem, o ex-vice-presidente americano al Gore, em seu mais novo livro, our choice, admi-tiu seu erro em apoiar o etanol do milho (americano) na década de 70 e salientou a eficiência do etanol da cana (brasileiro), que usa menos fertilizantes na plantação, produz mais biomassa por hectare e que, ainda, pode ter seu bagaço usado como combustível no processo de produção.

o que chama muito a atenção no livro de al Gore é a crítica sobre as altas tarifas impostas pelos eua para a importação do produto brasileiro.

Pois bem.Diante desse positivo cenário brasilei-

ro, econômico e ambiental, encontramos investimentos em logística e infraestrutu-ra, principalmente enormes projetos em eletricidade e transporte, bem como a des-coberta (e início da prospecção) das novas reservas de petróleo (decorrentes do pré-sal), a realização da copa do mundo de 2014 e a euforia das olimpíadas de 2016.

É fora de dúvida que todos esses me-gaeventos necessitarão de bilionários re-cursos e enormes projetos que, via de con-sequência, necessitarão de licenciamento ambiental, haja vista os significativos im-pactos deles decorrentes.

a legislação brasileira, com reflexo no desenvolvimento sustentável e no meio ambiente ecologicamente equilibrado, bus-ca regular a atividade econômica, impondo algumas restrições às atividades que causem

O Etanol brasileiro

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O Etanol brasileiro

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Terence Trennepohl

Terence TrennepohlSócio de Martorelli e Gouveia Advogados

Senior Fellow na Universidade de Harvard

Doutor e Mestre em Direito (UFPE)E-mail: [email protected]

impacto à natureza, sempre levando em con-ta o futuro das presentes e futuras gerações, conforme enuncia a constituição Federal.

ora, o etanol brasileiro oriundo da cana-de-açúcar, enquanto uma commodity mundial, já é uma realidade cujas técnicas de licenciamento são dominadas por seus produtores! É um caminho sem volta... para o bem do desenvolvimento sustentável!!

Quando se estimam bilhões para a exploração da camada de pré-sal e mi-lhões de dólares para os investimentos esportivos que se avizinham, muito me-nos do que isso poderia ser feito para consolidar a situação da nossa commo-dity da cana no contexto da globalização e impulsionar o País no segmento dos combustíveis renováveis. Para não men-cionar tudo o que pode ser feito nesse campo, basta citar o exemplo do incre-mento de alguns incentivos fiscais no

Correspondente especial de Boston – Estados Unidos

Brasil e a retirada de algumas barreiras comerciais no exterior.

É sabido que os investimentos em energias renováveis crescem vertiginosa-mente, e que em dois anos (2007/2008) elas atraíram montantes globais acima dos us$ 100 bilhões.

incluídos os “produtos verdes” nessa conta, esse mercado chegará a impressio-nantes us$ 4,7 trilhões em 2020, segundo algumas projeções internacionais.

enfim, a busca por esses “produtos verdes”, e aqui principalmente leiam-se “combustíveis renováveis”, já começou há muito tempo, e o Brasil, indiscutivelmen-te, está na dianteira desse processo. Basta saber como conduzi-lo!

Portanto, no momento em que o País apresenta claros sinais de um real cresci-mento e fortalecimento econômico, e já estamos sendo tratados em alguns encon-

tros internacionais com a respeitabilida-de de país desenvolvido, é chegada a hora de as instituições públicas investirem no que temos de melhor e mais seguro do ponto de vista comercial (e ambiental!).

nesse contexto, a cana-de-açúcar apa-rece como uma “saudável” e viável alterna-tiva ambiental... e nesse instante surge a questão: por que não investir mais forte e seriamente nesse produto?

Fica a questão...

e os atuais projetos de infraestrutura

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Biomas BrasileirosUma viagem pelos

Abrangendo diferentes ecossistemas, o bioma abriga 70% da população nacionalCaio Martins

A superpopulada Zona Costeira

Biomas

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A Zona costeira, bioma que possui 41% da área emersa do Brasil, é a região que ocupa cerca de 3,5

milhões de quilômetros quadrados do país. estendendo-se por mais de 8.500 quilômetros do litoral, o bioma abriga 70% da população brasileira. Por ter em seu território um grande conjunto de ecossistemas, é uma das áreas de maior diversidade nacional.

localizado o que restou da mata atlânti-ca, uma das maiores biodiversidades do planeta. além disso, existem os mangue-zais, áreas de grande importância para a reprodução biótica marinha. cada um desses ecossistemas é importante à sua maneira e tem significantes reservas de recursos naturais. no entanto, a ocu-pação desordenada, que será explicada mais para frente, está colocando em risco

Divisão da Zona Costeiraa Zona costeira brasileira possui uma

grande variedade de ecossistemas, todos de grande relevância ambiental. estão presentes dunas, manguezais, costões rochosos, recifes de corais, entre outros. Por serem diferentes, todos os ambien-tes abrigam espécies únicas de animais e plantas, devido às diferenças climáticas e ao relevo. É na zona litorânea que está

Praia de Copacabana, Rio de Janeiro

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Biomas BrasileirosUma viagem pelos

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a biodiversidade litorânea. conheça me-lhor as divisões da costa brasileira:1. Litoral Amazônico: começa na foz

do rio oiapoque e vai até o delta do rio Parnaíba. os manguezais são pre-dominantes na região, assim como as matas de várzeas de maré, praias e campos de dunas. Por conta des-ses ecossistemas, o litoral amazônico apresenta uma grande diversidade de crustáceos, peixes e aves.

2. Litoral Nordestino: começa na foz do Parnaíba e continua até o recôncavo Baiano. suas maiores características são as dunas que se movimentam com o vento e os recifes calcíferos e areníticos. É nesta área do nordeste que se encon-tram o peixe-boi e as tartarugas mari-nhas, ambos ameaçados de extinção.

3. Litoral Sudeste: vai do recôncavo Baiano até são Paulo e é a área com a maior densidade demográfica do país. com a costa muito recortada, é tomada pela serra do mar. entre as características mais marcantes do li-toral sudeste estão as praias de areias monazíticas (mineral marrom escuro), os recifes e as falésias. as espécies que habitam essa parte do litoral são a preguiça-de-coleira e o mico-leão-dourado, animais em extinção.

4. Litoral Sul: começa no Paraná e ter-mina no arroio chuí, no rio Grande do sul. Por possuir áreas predominan-temente de mangues, é mais comum a aparição de aves. outras espécies frequentes são as lontras, capivaras e ratões-do-banhado.

Ilhas: Divisão Especial

assim como a Zona costeira é dividi-da em diversos ecossistemas, há também uma divisão de ilhas. ao todo, são três

Foto: Francisco renato Galvani

Craca (Chtamalus stellatus) Caboz (Coryphoblennius galerita)

Divulgação

Reserva Biológica Marinha do Atol das Rocas, que pertence ao estado do Rio Grande do Norte

Divulgação

tipos, sendo que a maioria delas nasceu a partir da imersão de partes de terra da costa brasileira. Por tal motivo, são con-sideradas prolongamentos do litoral do país. são elas:1. Serra do Mar: conjunto de ilhas

que aparecem como pedaços emer-sos de porções que ficam abaixo das águas da serra do mar. são centenas delas, que são encontradas ao longo do litoral.

2. Litoral Paulista: são porções de ilhas que se encontram no litoral de são Paulo. são considerados pedaços de terras sedimentares de baixa altitude, denominadas como prolongamento do estado. exemplo: ilha comprida, que é um longo segmento de território isolado pelo mar.

3. Ilhas oceânicas: são ilhas resultan-tes de fenômenos naturais, como o vulcanismo submerso no fundo atlântico. neste caso, são conside-

radas totalmente desvinculadas do relevo continental brasileiro. exem-plos: Fernando de noronha e atol das rocas.

Fauna Marinha

o bioma abriga também uma enorme variedade de animais marinhos, dividi-dos em zonas. em especial, detalharemos três delas: 1. Zona médiolitoral: é a zona com

maior consistência marítima, sen-do, portanto, possuidora da maior variedade de espécimes aquáticas. entre os animais característicos es-tão a craca (chtamalus stellatus), um tipo de crustáceo, a lapa (Patella piperata), um tipo de molusco, di-versas algas cianófitas, diferentes espécies de pequenos poliquetas, crustáceos e outros gastrópodes, além de peixes, como o caboz (coryphoblennius galerita).

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Biomas

a devastação das vegetações nativas pe-los ocupantes leva a movimentação das dunas e até a desabamentos de morros, deformando a paisagem local.

os animais, os vegetais e até mesmo o “filtro” natural, que limpa as impure-zas lançadas nas águas, são postos em perigo devido ao aterro dos manguezais. alguns mangues estão estrategicamente situados entre a terra e o mar para for-mar um estuário para a reprodução de peixes, mas as submersões parciais das raízes das árvores do mangue espalham-se sob a água e impedem que os sedi-mentos escoem para o mar.

outros problemas enfrentados pelos moradores da região são o lançamento de esgoto no mar sem nenhum tipo de tratamento e o vazamento de petróleo por parte das transferências de cargas e outras operações feitas pelos terminais marítimos. além de toda a degradação natural da parte física da faixa litorâ-nea, a cultura dos povos que habitam a área está perto da extinção devido à ex-pulsão das populações caiçaras de seus locais de origem.

tentando contornar esses proble-mas, o ministério do meio ambien-te, em cooperação com o conselho interministerial do mar, os governos estaduais e outras instituições, está tentando ordenar e proteger os ecos-sistemas com a implementação do Pla-no nacional de Gerenciamento costei-ro (PnGc). Por sua vez, o ibama fica encarregado de desenvolver projetos e ações contínuos de gerenciamento dos ecossistemas costeiros.

Praia do Forte, Bahia

isso impacta diretamente nos ecossis-temas litorâneos, principalmente porque a urbanização em torno destas regiões cresce desordenadamente, com carência em serviços básicos. tal fato acarreta contaminação das águas e, consequente-mente, degradação do meio marinho.

além disso, a superpopulação trouxe para a Zona costeira brasileira ativida-des agrícolas e industriais. com ela, a poluição, a especulação imobiliária sem planejamento e ainda o grande fluxo de turistas que, cada vez mais, ameaça a integridade ecológica da costa nacional pressionada pelo crescimento dos gran-des centros urbanos. a ”invasão” da área litorânea também causa problemas.

Raia (Raja clavata)

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2. Zona infralitoral: também é muito variada. no entanto, diferencia-se da zona médiolitoral por estar perma-nentemente debaixo da água. É a área normalmente explorada pelos mergu-lhadores. Por estar em locais profun-dos, recebe pouca luz, observando-se, então, a presença de algas fotófilas, enguias-de-jardim (heteroconger lon-gissimus), raias (raja clavata), além de invertebrados, como poliquetas, crus-táceos decápodes e moluscos.

3. Zona circlitoral: área marinha coberta por diversos tipos de algas, possuindo, assim, um substrato rico em nutrien-tes, que facilita o desenvolvimento de pequenos invertebrados. exemplos de animais são o pargo (Pagrus pagrus), peixe com dorso prateado, e o encha-réu (Pseudocaranx dentex), outro tipo de peixe, caracterizado pelas barbata-nas amareladas.

Superpopulação destrutiva

a Zona costeira possui uma das maiores densidades demográficas do Brasil. em média, vivem 87 habitantes por quilômetro quadrado, ou seja, cin-co vezes mais que a média nacional (17 hab./km²). como hoje metade da po-pulação brasileira vive em regiões que ficam distantes em uma faixa de até 200 quilômetros do mar, ou seja, qua-se 100 milhões de pessoas, a área acaba sofrendo com a destruição causada pela superpopulação.

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Curiosidades

• O Brasil possui 7.367 km de linha costeira. No entanto, se levados em conta os recortes litorâneos, como baías, reentrâncias e golfões, a área aumenta para mais de 8,5 mil km.

• Quase toda Zona Costeira brasilei-ra está virada para o Atlântico Sul. No entanto, há uma pequena por-ção que divide águas com o Mar do Caribe.

• O Amapá é o estado que possui a maior área costeira do Brasil (cer-ca de 12,3% do total). Por outro lado, a área do Piauí não passa de 0,2% do total.

• A Zona Costeira tem densidade demográfica média cinco vezes maior que a média nacional (87 hab/km² contra 17 hab/km²).

• O arquipélago de Fernando de No-ronha, uma das mais belas regiões da Zona Costeira, fica a 345 km do nordeste brasileiro e é constituído por uma ilha principal e 19 ilhotas, possuindo um dos maiores índices de biodiversidade marinha do Brasil.

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Fernando de Noronha, Pernambuco

8. Deixe cozinhando no fogo alto durante alguns minutos;9. Quando estiver com uma boa consistência, adicione a salsa

picada;10. Polvilhe com sal e pimenta-do-reino;11. Despeje a mistura nos mariscos;12. Regue com bastante óleo ou azeite e leve ao forno quente,

deixando a forma durante 5 minutos, para gratinar;13. Retire do forno e sirva imediatamente.

Ingredientes:• 1 e ½ quilos de mariscos • 2 colheres de sopa rasas de manteiga ou margarina• 50 gramas de farinha de rosca• Pimenta-do-reino em pó• 1 maço de salsa picado• Óleo ou azeite• Sal

Preparo:

1. Raspe as conchas dos mariscos com o auxilio de uma faca;2. Lave-as muito bem e despeje-as numa frigideira grande, sem

adicionar água;3. Leve ao fogo forte e, à medida que as conchas forem se abrin-

do, retire-as da frigideira;4. Separe as conchas, jogando uma das partes fora, deixando

apenas a metade em que o molusco estiver preso;5. Coloque as partes com o molusco em uma forma refratária,

uma ao lado do outro, formando uma só camada;6. Em outra panela, coloque a manteiga ou margarina, deixando-a

no fogo até que derreta;7. Acrescente então a farinha de rosca e mexa bem com uma

colher de pau;

Receita típica da Zona Costeira: Mariscos Gratinados

Fontes:

- Almanaque Brasil Socioambiental - ISA 2008

- Ambiente Brasil www.ambientebrasil.com.br

- Animal Show www.animalshow.hpg.ig.com.br

- Mundo de Sabores www.mundodesabores.com.br

- WWF Brasil – www.wwf.org.br

• Somente na costa do Rio Grande do Sul, foi registrada a presença de aproximadamente 570 espé-cies de aves diferentes.

• Como a Zona Costeira recebe a maior parte das águas dos prin-cipais rios do País, o bioma é um dos mais vulneráveis às conse-quências ambientais negativas (resíduos de agrotóxicos, adu-bos e efluentes das indústrias).

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C onscientizar a juventude sobre a questão ambiental e mostrar a im-portância da cooperação é o objeti-

vo do programa ecoJuventude, da Prefei-tura de são Bernardo do campo, realizado pela coordenadoria de ações para a Juven-tude (cajuv), que conta com a participação de alunos, voluntários, onGs e redes de educação ambiental.

o programa surgiu em razão das mudan-ças globais evidentes no clima, focando as questões da desigualdade social, distribuição dos alimentos, acesso à educação, à saúde e, principalmente as ações de cidadania.

um trabalho de fôlego que já mostrou a que veio: a iniciativa foi premiada pela cos-mopolitana de ação socioambiental, entida-de do Grande aBc que identifica ações de relevo no setor e participou do sexto Fórum Brasileiro de educação ambiental, no rio de Janeiro, com representantes de todo o País.

não é pouco para um projeto que co-meçou no início do ano, com a nova admi-nistração. segundo a engenheira ambien-tal talita Pestana, 25 anos, coordenadora

Programa da Prefeitura de São Bernardo do Campo atinge 10 mil alunos por ano

Elizabeth Lorenzotti

aposta na conscientização

do projeto e desde 2004 na Prefeitura, o ecoJuventude atende cerca de 4,7 mil alu-nos por semestre, quase 10 mil por ano, na faixa de 14 a 29 anos.

“trabalhar com adolescente não é muito fácil, a conscientização leva tem-po, até saberem a importância da atu-ação deles no município e na área de

convivência”, afirma. “nosso trabalho é passo a passo.”

o programa é constituído por ativida-des e oficinas socioculturais e profissio-nalizantes, esportes radicais, orientações sobre puberdade, saúde, alimentação e prevenção primária. a extensão destas atividades é realizada em comunidades de

Antes da excursão: projeto leva jovens para conhecer locais de cenários ambientais impactantes

educação

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talita Pestana

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talita Pestana

bairros e no Parque da Juventude “città Di marostica”, considerado o maior parque de esportes radicais da américa latina.

entre as atividades mais procuradas estão as excursões de conscientização, vi-sitas a locais de cenários impactantes, ou de degradação ambiental, como diz talita, “coisas que a escola não faz”. neste segun-do semestre, as excursões basearam-se no centro de triagem sBc, aterro essencis, e estação de tratamento de Água da sabesp.

“agora, antes do fim do ano, vamos fazer um passeio de rafting”. conta talita, atividade que conta com a parceria da em-presa canoar turismo. o rafting é a prá-tica de descida em corredeiras em equipe utilizando botes infláveis e equipamentos de segurança, um bom meio de ficar em contato com a natureza. no segundo se-mestre foi desenvolvida a prática de rapel, no Parque estadual da serra do mar, uma parceria com o governo estadual e a secre-taria de meio ambiente de são Bernardo.

o ecoJuventude capacita alunos para a monitoria em caminhadas ecológicas, in-centivando o ecoturismo e o contato com a natureza sustentável. cursos profissio-nalizantes de formação socioambiental, em parceria com o senac, são oferecidos a maiores de idade,e os monitores são enca-minhados, depois, para serviço interno em parques do município.

Prática da cooperaçãooutra atividade com grande participa-

ção é o mutirão de limpeza. “Pintamos praças de bairros, mudan-

do a área socioambiental”, diz talita. o evento é realizado a cada dois meses em bairros cadastrados, com interesse na re-vitalização, assim como na capacitação dos moradores, em questões fundamentais de saúde ambiental.

Projetos populares ecologicamente cor-retos são desenvolvidos com a aplicação de materiais recicláveis, com atuação interna e externa como aquecedor solar, rede de captação de água da chuva, minirrede de tratamento de resíduos, adubos orgâni-cos, hortas comunitárias, entre outros. os projetos são apresentados em maquetes e orientados nos eventos “Juventude no seu Bairro”, nas comunidade de bairros.

“também ensinamos a confecção de sabão com óleo de cozinha, forneci-do por um restaurante da vizinhança, distribuído depois, com a receita, para os centros de mães”, informa talita. “e mais: estamos reaproveitando materiais como pneus que não têm mais uso, da

secretaria de urbanização; com eles fi-zemos pufes e os alunos usam muito.” igualmente os banners que a secretaria de comunicação não utiliza mais trans-formaram-se em 300 bolsas, com a ajuda de voluntárias costureiras.

a maioria dos jovens já aderiu à coleta seletiva – são Bernardo tem quatro centros, geridos pela secretaria de urbanização -- e também aos workshops. a cajuv pesquisa entre os jovens os temas de maior interes-se, por exemplo, o ecomercado, “o que se pode tirar sustentavelmente da natureza para gerar renda. a maioria mora em área de manancial, é necessário passar essa gestão de sustentabilidade, que assim po-derão transmitir à família, aos vizinhos”, acentua talita. em novembro, o tema foi “o Poder da mídia na cons/Desconstrução de uma sociedade”, a cargo de um profes-sor da universidade metodista.

nos intervalos de aulas, são projeta-dos, no palco da coordenadoria, duas vezes por semana, diversos filmes. não há cha-mamento específico, quem quiser assiste e discute e, segundo talita, “o interesse é

grande, logo que o filme é exibido, as con-versas param e o pessoal assiste”. o objeti-vo é incentivar a reflexão sobre as relações do mundo e o meio ambiente, e os vídeos têm duração máxima de três minutos.

Para 2010, o objetivo é continuar a re-alizar ações intersetoriais, com as secreta-rias de habitação, meio ambiente, espor-tes, educação, saúde. as atividades, que hoje são nove, chegarão a 23. Feliz 2010!

Plantio de sementes, uma atividade simples, mas essencial

Oficinas de reciclagem: ensinando a transformar materiais

CONCURSOS CUltURAIS

O EcoJuventude também pro-move concursos culturais, com o objetivo de divulgar os trabalhos dos alunos relacionados com o tema ambiental em espaços cul-turais no município de São Ber-nardo do Campo. A cada fim de semestre as turmas apresentam-se na semana de encerramento das oficinas da Coodenadoria de Ações para a Juventude, exibin-do os trabalhos em exposições.

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nutrir e cuidarFaz bem

educação

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nutrir e cuidarProgramas sociais da Nestlé têm

como base a educação Elizabeth Lorenzotti

Em um país onde as pesquisas mos-tram que a obesidade já chegou às crianças, o programa nestlé Faz

Bem nutrir completa dez anos com nú-meros que refletem sua atuação vitorio-sa: desde 1999, beneficiou 1,2 milhão de crianças e jovens, 4.295 organizações so-ciais e escolas e capacitou mais de 11 mil educadores. o programa foi apresentado como referência mundial de atuação em educação alimentar durante o Fórum cre-ating share Value, realizado em nova ior-que pela nestlé em parceria com a onu, em abril deste ano.

segundo o instituto Brasileiro de aná-lises sociais e econômicas (ibase), grande parte da desnutrição que afeta mais de 32 milhões de pessoas no País se deve à falta de conhecimento e a hábitos alimentares inadequados. esta é a concepção do progra-ma, que há dez anos leva educação alimentar para crianças e jovens com idades entre 5 e 14 anos de comunidades de baixa renda.

a partir de uma metodologia lúdica, o programa transmite a educadores, meren-deiras e famílias conceitos de saúde, higiene e aproveitamento máximo dos alimentos. trata-se hoje da iniciativa social mais impor-tante da empresa, com investimento anual de r$ 1 milhão, atingindo 19 municípios dos estados de são Paulo, minas Gerais, rio de Janeiro, Bahia, Goiás e rio Grande do sul.

o voluntariado é a base de todas as ações do nutrir. os funcionários voluntários são liberados duas horas por semana para essas atividades. eles recebem treinamento sobre o conceito do programa e aprendem a atuar na prevenção da desnutrição infantil.

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Programa Faz Bem Nutrir completa dez anos e já beneficiou

1,2 milhão de crianças e jovens

a empresa designa pessoal para de-senvolver o material pedagógico de apoio para os encontros do nutrir. nutricionis-tas e outros profissionais especializados da nestlé encarregam-se de elaborar o conteúdo, garantindo a qualidade técnica e motivacional.

o colaborador planeja as atividades e realiza oficinas, destinadas a aprender a uti-lização do material educativo para a criação de jogos e brincadeiras com as crianças. na Folia culinária (encontro entre voluntários e a comunidade), crianças e mães são esti-muladas por meio de atividades lúdicas e preparação de receitas. a pauta principal gira em torno de informações sobre os grupos alimentares; frutas, vegetais, grãos e cereais, o leite e seus derivados, e o con-junto carnes, ovos e frango além de higie-ne (como lavar as mãos, escovar os dentes etc.), saúde (vacinação, saneamento básico etc.) e aproveitamento integral dos alimen-tos. os resultados têm sido animadores.

Fundação gerencia projetos

atualmente, segundo ivan Zurita, dire-tor-presidente da nestlé Brasil, 220 mil fa-mílias no País vivem dos salários diretos e indiretos pagos pela empresa. “muito mais do que um compromisso, o envolvimento direto com as questões sociais nos países em que atuamos é para nós um princípio. Por isso, a empresa tem desenvolvido, his-toricamente, diversas ações sociais, com o objetivo de compartilhar com as comuni-dades o que tem de melhor: sua especiali-zação e experiência como maior indústria do mundo da área de alimentação.”

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Combatendo a falta de informações e ensinando hábitos alimentares adequados

a Fundação nestlé Brasil é a respon-sável pelo gerenciamento do investimento social feito pela empresa, e sua estratégia de apoio está focada em projetos que tenham como temáticas as questões relacionadas a nutrição, desenvolvimento rural e a água.

o Programa nestlé Faz Bem cuidar, voltado para a educação ambiental, com foco na preservação da água, utiliza a edu-cação como estratégia para colaborar na transformação das comunidades. em ju-nho, a Fundação premiou a instituição de ensino que melhor colocou em prática o aprendizado adquirido durante a capacita-

ção deste Programa. em recife (Pe), o pro-grama - que tem como objetivo disseminar em escolas públicas conceitos relaciona-dos à preservação do meio ambiente e re-ciclagem -, motivou alunos e professores a desenvolver projetos que colaborassem na preservação do rio morno, principal afluente do rio Beberibe.

outra atividade do programa foi de-senvolvida na capital paulista desde abril, o projeto Água amiga. em parceria com o Governo do estado de são Paulo e secre-taria do meio ambiente, a nestlé investe r$ 650 mil em projeto pedagógico, volta-

do para questões relativas à preservação da água. Por meio de um teatro-aventura, o projeto Água amiga traz interatividade com a natureza e coloca grupos escolares em contato com a realidade da água no mundo. o trabalho realiza-se no Parque ecológico do Guarapiranga e é dirigido a alunos de escolas públicas e privadas.

o teatro-aventura Ácquamón: o se-gredo milenar das Águas é uma criação do diretor e autor de teatro ricardo Kar-man. com aproximadamente 2h30 de duração, envolve os participantes em inusitada expedição em busca da água pura e conta com uma etapa a ser percor-rida por trilha na mata e outra na água, em escuna que navega pela represa do Guarapiranga. a peça permite que públi-co e atores, transformados num único elenco, mergulhem numa aventura com o objetivo de salvar a água do planeta. toda a ação pedagógica desenvolvida é baseada na Declaração universal dos Di-reitos da Água e propõe uma reflexão so-bre temas como: desperdício, poluição, responsabilidade individual e a água como condição essencial à vida, junto aos participantes.

“a educação é a maneira mais eficien-te de fazer com que pessoas se apropriem do conteúdo e possam aplicá-lo em sua realidade diária”, afirma João Dornellas, presidente da Fundação nestlé Brasil.

De acordo com o conceito global da Nestlé Criação de Valor Compar-tilhado, para o sucesso dos negócios a longo prazo não basta gerar valor aos acionistas, mas também para a sociedade. O Projeto Andradina alinha-se a este conceito. Foi criado em 2005 com o objetivo de melhorar o desempenho econômico e técnico das fazendas de pequenos produ-tores de leite, além de garantir a sustentabilidade e a fixação destes produtores na atividade leiteira da região de Andradina (SP). Antes do projeto, os pequenos produtores, sem acesso à tecnologia e à orien-tação para adoção de adequadas práticas de produção, muitas vezes tinham que se desfazer de seus ani-mais em determinadas épocas do

Projeto Andradina e o valor compartilhado

ano por falta de alimento para o re-banho, inviabilizando seus negócios.

Com a iniciativa da Nestlé, em par-ceria com a Escola Superior de Agri-cultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), essa realidade mudou. Dezoito famílias que participam do projeto comemo-ram índices positivos: em 2007 houve evolução de 132,4% em aumento de renda obtido na atividade sobre o ano anterior. Em 2008, a produção média alcançou a marca de 69 litros/dia, e a produção média por animal está em 8,1 litros/dia, ou seja, aumento de 42,1% na média anual da produção di-ária de leite por produtor.

Desde março de 2005, a Nestlé coloca à disposição dos produtores um técnico que, sob a supervisão de professores da Esalq/USP, trei-

na, orienta e capacita os produto-res sobre diversos temas voltados à melhoria da produção de leite, como manejo de ordenha e qualidade do leite, uso de cana-de-açúcar como su-plemento volumoso, utilização estra-tégica de alimentos concentrados. Além disso, os produtores atendidos pelo projeto têm acesso a financia-mentos que podem ser pagos com sua própria produção de leite, em parcelas mensais fixas e sem juros. O financiamento, com 100% dos ju-ros custeados pela Nestlé, é utilizado para investimento em animais, plan-tio e adubação de áreas de cana-de-açúcar e de pastagens. Com as orientações técnicas, hoje estes pro-dutores ofertam leite com qualidade durante o ano inteiro.

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A água tem fundamental importân-cia para a manutenção da vida no Planeta e, portanto, falar da rele-

vância dos conhecimentos sobre a água, em suas diversas dimensões, é falar da sobre-vivência da espécie humana, da conserva-ção e do equilíbrio da biodiversidade e das relações de dependência entre seres vivos e ambientes naturais. nessa perspectiva, faz-se necessário ressaltar a relação homem-natureza ao longo do tempo e suas implica-ções para o uso e qualidade da água.

a presença ou ausência de água escreve a história, cria culturas e hábitos, determina a ocupação de territórios, vence batalhas, extingue e dá vida às espécies, determina o futuro de gerações. nosso Planeta não teria se transformado em ambiente apropriado para a vida sem a água. Desde a sua ori-gem os elementos hidrogênio e oxigênio se combinaram para dar origem ao elemento-chave da existência da vida.

em condição privilegiada deu possibili-dade às espécies de evoluírem e ao homem de existir e habitar esse Planeta. ao longo de milhares de anos nossa espécie ocupou territórios, cresceu e desenvolveu com base nesse bem natural tão importante e valioso que é a água. no entanto, ao longo da histó-ria modificações aconteceram na relação do homem com a natureza e, por consequência, na sua relação com a água.

na sociedade em que vivemos a água passou a ser vista como recurso hídrico e não mais um bem natural, disponível para a existência humana e das demais espécies. Passamos a usá-la indiscriminadamente, descobrindo sempre novos usos, sem ava-liar as consequências ambientais em ter-mos de quantidade e qualidade da água.

Denise de La Corte Bacci

do mundo que nos cerca, uma visão que nos leve a compreender as diversas esferas (hi-drosfera, biosfera, litosfera e atmosfera) e suas inter-relações, bem como as interferências ge-radas pelo homem no meio em que vive. essa visão apresenta-se como estratégia educativa sem a qual a compreensão integrada do meio ambiente é praticamente impossível.

Desta forma, a água deve estar presen-te no contexto educacional, tanto na educa-ção formal como não formal, com enfoque na ética e na formação do cidadão cons-ciente do lugar que ocupa no mundo, num mundo real, dinâmico, que parte do local e se relaciona com o global, onde todas as coisas podem tomar parte de um processo maior. acreditamos que a água seja um tema de aproximação dos conhecimentos parcelares profundos e plurais e um tema que desenvolva a prática interdisciplinar.

a educação para a água não pode, desta forma, estar centrada nos usos que fazemos dela, mas na visão de que a água é um bem que pertence a um sistema maior, integrado e que, nesse caso, nossas próprias ações, como produto dessa visão histórica de mundo, é que acabam por gerar os problemas que vive-mos hoje. senac, 2008, v. , p. 17-54.

Denise de La Corte BacciGraduada em Geologia pela UNESP,

Campus de Rio Claro, mestrado em Geo-ciências e Meio Ambiente pela UNESP e

doutorado em Geociências e Meio Ambi-ente pela UNESP. Estágios na Università

di Milano e University of Missouri_Rolla. Pós-doutorado em Engenharia Mineral

pela POLI-USP. Atualmente é docente do Instituto de Geociências da USP.

E-mail: [email protected]

somado ao aumento populacional em es-cala mundial no último século, esse recurso tornou-se escasso em determinadas regiões do planeta, principalmente por fatores antró-picos ligados à ocupação do solo, à poluição e contaminação dos corpos de água superficiais e subterrâneos. hoje nos deparamos com uma situação na qual estamos ameaçados por uma crise que pode tornar-se um dos mais graves problemas a ser enfrentado neste século.

além da escassez da água, a disponi-bilidade para consumo em certas regiões brasileiras, como no sul e sudeste, onde as demandas são maiores, tem-se tornado um problema constante. nas grandes cidades, as inundações não são mais controladas por obras civis e têm-se configurado em verdadeiros desastres. essas mesmas obras de contenção dos processos naturais de ex-travazamento dos rios modificaram tanto o padrão natural das bacias hidrográficas e dos canais que acabaram por desconfigu-rar os sistemas naturais de recarga, vazão e cheias, bem como as planícies naturais.

a questão atual é como equacionar a demanda/disponibilidade e resolver os pro-blemas relacionados à água. nessa perspec-tiva temos que valorizar uma educação para a sustentabilidade, a qual associa o uso dos recursos hídricos com um modo de vida comprometido com os sistemas naturais, que os entenda e os respeite, de forma que a ocupação desenfreada em áreas de risco, a impermeabilização excessiva do solo, o uso indiscriminado não sejam um problema, mas sirvam como lições de aprendizado para futuras ações de gestão e governabilidade dos ambientes, em especial dos urbanos.

Para uma abordagem educacional eficiente é necessário desenvolver uma visão integrada

a ÁgUAEducação para

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É cada vez maior o número de pessoas com deficiência física ou intelectual atuando no mercado de trabalho.

Grande parte dos deficientes, porém, ainda continua sem ocupaçãoRosane Araujo

E les já somam 24,6 milhões de pes-soas e representam 14,5% da po-pulação total do Brasil, segundo

dados do censo 2000. são pessoas que apresentam algum tipo

de incapacidade ou deficiência em diversos graus de severidade conforme a classifica-ção internacional de Funcionalidade, inca-pacidade e saúde (ciF), divulgada em 2001 pela organização mundial de saúde (oms).

um grupo expressivo, mas que ainda as-sim viveu à margem da sociedade por muitos anos, realidade que aos poucos está mudando.

inclusão tem sido a palavra de ordem pelo mundo afora desde que ações como a criação da Década das nações unidas das Pessoas com Deficiência (1982 a 1992) e o ano internacional das Pessoas com Defici-ência, em 1981, foram criados pela orga-nização das nações unidas (onu).

em 1992 a onu concluiu o debate com a criação do Dia internacional das Pessoas com Deficiência, celebrado em 3 de dezem-bro, cujo objetivo é tornar perenes as ações de conscientização da situação dos direitos destas pessoas nos diferentes países.

Desde a definição da data, passaram-se 17 anos, e os desafios ainda são muitos.

o mesmo censo mostrou que a propor-ção de pessoas ocupadas de 10 anos de idade ou mais é de 51,8% para os homens portado-res de deficiência e de 63,0% para os homens que declararam não possuir nenhuma das deficiências investigadas, ou seja, uma dife-rença maior que 10%. Diferença semelhante é observada entre as mulheres: a proporção de ocupadas varia entre 27% e 37%.

os dados também mostraram que o tipo de deficiência que mais dificulta a in-

Inclusão Social

Deficientes

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crédito: thiago carahyba – rede atletismo

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serção no mercado de trabalho é a deficiên-cia mental: somente 19,3% das pessoas que declararam apresentá-la estão ocupadas.

”a contratação de deficientes intelec-tuais esbarra muito na questão da forma-ção”, explica cida soler, coordenadora do serviço de capacitação e orientação para o trabalho da associação de Pais e amigos dos excepcionais (apae) de são Paulo.

o trabalho de capacitação realizado pela entidade há seis anos visa combater o problema, oferecendo profissionalização aos deficientes intelectuais.

“trabalhamos com dois focos: o cliente com deficiência e o empresariado. o obje-tivo maior é capacitar para incluir”, disse.

Para os deficientes a entidade oferece o serviço de capacitação e orientação para o trabalho, no qual eles se deparam com si-tuações reais do mercado: existe a possibili-dade de treinamento em cozinha industrial, lanchonete, limpeza e jardinagem e no setor administrativo como mensageiro interno e externo. o deficiente também é orientado em relação à postura profissional, relaciona-mento, aparência e higiene pessoal.

Já às empresas, que investem por um ano na capacitação, a entidade presta assessoria para a contratação dos deficientes, suporte para a área de recursos humanos, chefia e princi-palmente para os colaboradores que vão atuar diretamente com os eles, esclarecendo dúvidas. mesmo depois da contratação do deficiente, a apae monitora o trabalho por um ano.

“respeitamos o momento em que a empresa está: se está iniciando a sensibili-zação da diretoria ou já substituindo fun-cionários”, garantiu cida.

o resultado de tanta assessoria é compen-sador: a instituição insere em média 70 pesso-as no mercado e 96% permanecem atuando. o número só não é maior porque faltam candidatos para o serviço de capacitação. “tenho mais empresas procurando profis-sionais do que deficientes que procuram”, revelou cida.

a explicação, segundo ela, é simples. “o próprio deficiente intelectual não se co-loca para ser incluído”, disse.

Quando consegue a inclusão, porém, as mudanças são muitas. “o trabalho é fundamental para o ser humano e, para os deficientes, é o primeiro sim que eles recebem da sociedade, sentem-se aceitos e começam a abrir portas: tornam-se con-sumidores, deixam de ser dependentes da família; é uma virada”, opinou.

o desafio atual, segundo ela, é o em-presariado se disponibilizar para trabalhar

com a diversidade. “existem empresas fle-xíveis nesse aspecto”, completou.

um exemplo é a alcan, multinacional do ramo de mineração de bauxita, fabrica-ção de alumínio e embalagens, com unida-des na região metropolitana de são Paulo.

a empresa sempre procurou manter deficientes no seu quadro, cumprindo a lei Federal 8.213/91, mais conhecida como lei de cotas, que estipula às empresas, de acordo com o número de funcionários, uma reserva de vagas para profissionais com deficiência ou reabilitados.

os deficientes intelectuais, porém, nun-ca haviam sido incluídos no processo, e foi aí que a parceria com a apae de são Paulo entrou. “a empresa identificou as funções em que eles teriam mais sucesso e foram incluídos oito funcionários com deficiência intelectual para trabalhar como mensagei-ros internos e também na equipe de jardi-nagem, que já existia”, explicou cida.

e o trabalho não parou por aí. a alcan continua trabalhando com portadores de ou-tros tipos de deficiência, mas, sem o supor-te da apae são Paulo que lida apenas com deficientes intelectuais, a empresa encon-trou uma solução dentro de casa: o apoio da associação embalando o amanhã, formada com funcionários voluntários.

a associação, criada em outubro de 2008, está desenvolvendo um programa para qualificação profissional. “como não conseguíamos encontrar e manter os defi-cientes, resolvemos entender o problema e constatamos que a empresa não estava pre-parada para recebê-los, e por outro lado eles

não estavam preparados para trabalhar em uma empresa”, contou Fernando Procópio, gerente de ehs, sigla em inglês para meio ambiente, saúde e segurança.

segundo o gerente, era comum a empre-sa empregar deficientes auditivos, mas depois de alguns meses, eles deixavam o trabalho. “nós, a princípio, achávamos que eles haviam recebido propostas melhores, mas na realida-de eles não conseguiam se comunicar com os colegas nem com os supervisores”, revelou.

em outubro, a associação organizou o seminário inclusão de Pessoas com De-ficiência, no qual reuniu especialistas na área de capacitação.

“Pudemos ouvir os problemas das empre-sas, suas soluções e, por outro lado, os pro-blemas e soluções das organizações voltadas para as pessoas com deficiência”, disse.

o conhecimento adquirido ajudará na implantação do projeto prevista para feverei-ro, quando serão disponibilizados cursos de informática, fotografia e corte e costura, não só para deficientes auditivos como também para a comunidade carente em geral. tudo isso vi-sando ao crescimento social. “Deficiência e vul-nerabilidade social estão ligadas. em geral, os deficientes não têm como manter o custo da profissionalização”, ressaltou cida soler.

Dados do censo comprovam a afir-mação: 32,9% da população sem instrução ou com menos de três anos de estudo é portadora de deficiência. as proporções de portadores de deficiência caem quando aumenta o nível de instrução, chegando a 10% de portadores de deficiência entre as pessoas com mais de 11 anos de estudo.

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Curso de capacitação oferecido pela Apae São Paulo: simulação de situações reais

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Inclusão Social

no filme corpo Fechado (unbreakable) samuel l. Jackson viveu o misterioso eli-jah Price, portador de uma doença rara que fragilizava seus ossos, provocando incontá-veis fraturas. o personagem conhece David Dunn, vivido por Bruce Willis, por quem de-monstra uma estranha admiração e a quem confessa, magoado, ter sido chamado de “senhor vidro” durante a infância.

na vida real, alexandre abade não se incomoda em ser chamado de alexandre ossos de Vidro.

Portador de osteogênese imperfeita, doença genética, que provoca falha no colágeno, tecido formador do osso, ele so-freu mais de 300 fraturas, do nascimento até os 17 anos de idade.

após tratamento homeopático, a doen-ça estabilizou, e finalmente o morador de sobradinho, no Distrito Federal pôde iniciar os estudos. “comecei no ensino especial e foi muito bom estudar em meio a pessoas especiais. Vi que a minha deficiência não era nada, me fortaleci”, contou.

um ano depois, devido ao excelente desempenho, alexandre foi integrado no ensino regular. “Foi um novo desafio, pude conhecer pessoas não especiais, interagir. Passei por algum preconceito sim, mas pude superar”, revelou.

enquanto estava no ensino médio, alexandre abriu-se para novas experiên-cias: teve o primeiro relacionamento amo-roso e entrou para um grupo de teatro.

“apresentava peças sobre pessoas es-peciais para quebrar paradigmas”, disse.

hoje, aos 30 anos, ele continua derru-bando preconceitos e se superando.

mesmo sem conseguir realizar tarefas simples, como pentear os cabelos, prestou

vestibular para um curso superior interativo de marketing, com a ajuda de um computa-dor adaptado e passou em primeiro lugar.

concluiu o curso este ano, mas foi só o começo. sua sede por conhecimento, ainda é grande, por isso alexandre está começando uma nova faculdade: estudará administração.

na vida profissional, encontrou uma ocupação interessante: realiza palestras para empresas privadas e escolas públicas. o tema é motivação, superação de obstá-culos, auto-estima e auto-controle.

“É uma injeção de ânimo. Às vezes as pessoas acham difícil realizar alguma tare-fa e quando me vêem falando, vêem que é possível”, explica.

ele também já teve boas experiências em escolas públicas, com adolescentes. “eles me vêem na faculdade, então, come-çam a pensar o futuro. Percebem que tam-bém podem”, afirmou.

apesar da boa formação acadêmica, sua entrada no mercado de trabalho efeti-vo ainda não aconteceu. “Gostaria de con-cluir o estudo de administração, aplicá-lo em alguma empresa e também continuar com as palestras”, ponderou.

Para realizá-las, o jovem conta com a ajuda do irmão mais novo, eduardo, que desde o falecimento do pai é seu braço di-reito, ajudando-o na locomoção.

“sou feliz porque tenho uma família que me apóia. acho que seria bom se ti-vesse mais apoio das autoridades. a socie-dade pede inclusão, mas ainda há muito o que melhorar”, desabafou.

sem se acomodar com a falta de apoio, o homem de 1,20m de altura e 30kg, segue estu-dando e fazendo planos: “nosso saber ninguém tira. críticas e preconceitos só atingem o corpo, o que está na nossa cabeça só a gente consegue controlar. nossa cabeça pode ir além”.

Contato de Alexandre Abade:

Tel.: (61) 3591-5020 / 9234-2167aleximagem@hotmail.comwww.alexandreossosdevidro.comDurante colação de grau, na

formatura, em que foi orador da turma

Alexandre Ossos de Vidro – quebra de paradigmas incluía cena de beijo

Alexandre Ossos de Vidro dá palestras no DF

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lho demais para nós e não está de fato à altu-ra das exigências contemporâneas – embora tenha, em matéria de pé direito, uma altivez que não ousamos nunca igualar.

Penso em minas e suas igrejas, em Goi-ás e suas casas populares, no Pelourinho em salvador, no recife e em olinda, em são luís do maranhão... e na pobre Vila de Pa-ranapiacaba, na Grande são Paulo. Quanta riqueza e quanta sabedoria, quanta alegria e quanta tradição perdida, ou que se há-de perder... ligadas a cada um desses lugares e suas antigas edificações, quantas estó-rias saborosas e pequeninas se entrelaçam para tecer a trama viva da nossa história maior. Dá pena ver tudo se desfiando e esfarrapando devagar. no entanto, parece que não nos abalamos realmente: o novo há-de ser sempre sinal de progresso. e o novo pelo novo é confundido tantas vezes com dinamismo e adaptabilidade, é visto enfim como superação da pesada rigidez do passado. mas não nos damos conta de que é nossa cultura, nossa memória, nossa própria identidade como nação que se vai transformando em escombros, se calando lentamente, ou melhor, pulverulentamen-te. a expressão do que já fomos agoniza em silêncio pelos pátios dos palacetes e nas sacadas dos sobrados. não nos inte-ressa, ou nos interessa pouco, esse diálogo entre nós mesmos franqueado pela pre-servação do nosso passado. somos jovens,

só o presente nos importa. Por isso ain-da somos o país do futuro. mas o tempo em sua sabedoria ancestral conhece bem a impaciência própria da juventude e vai recolhendo sem pressa o entulho de nossa história, vai dando tempo a si mesmo e a nós. o tempo acredita na boa vontade dos homens e, generoso, lhes oferece sempre outras oportunidades de pensar melhor, de rever seus passos e de voltar atrás com dignidade se assim por bem houverem.

somos tão jovens... mas estamos cres-cendo, e temos muito que aprender. uma lição sobre a qual nos faria bem meditar é aquela que ensina que não se chega nunca à maturidade sem um passado vibrante e sua memória. com os avanços que temos conquistado ultimamente, já não seria hora de ponderarmos que, deixando nos-so passado ruir sem mais, nos arriscamos a ser, talvez para sempre, o país do futuro, ignorante de si mesmo de norte a sul?.

Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas

junto ao Departamento de Linguística da UNESP-FCL/CAr,

credenciado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da

mesma instituição. Coordenador do Grupo de Pesquisa

LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica.E-mail: [email protected]

P or toda a cidade, e principalmente no centro, como não poderia dei-xar de ser, há uma série de prédios

muito antigos que vale a pena a gente ir ver. mas é preciso ir logo. são casarões e edifícios públicos de uma época em que Pe-lotas considerava-se a “Princesa do sul”. ao que parece, o título então não era injusto. e talvez ainda seja merecido, mas as jóias da Princesa, é certo, perderam muito de seu brilho original. Dá pena ver as construções ruindo aos poucos e virando caliça.

o tempo em si jamais é tão impiedoso com a história. sua proverbial voracidade, na prática, não chega a ser assim tão terri-velmente incontida. sim, ele cumpre com rigor sua velha tarefa de abrir caminho às novas épocas e às novas gerações, mas não se pode acusá-lo de perverso ou de apres-sado, isso não. É com muita paciência e co-medimento que o tempo vai arrebatando e retirando de circulação os fragmentos tris-tes daquilo que os homens, na verdade, já não querem mais.

afeta-se aqui e ali algum constrangimen-to, certo pudor reverencial diante da impo-nência arquitetônica que tenta resistir (às ve-zes, por exemplo, mantém-se uma fachada restaurada à frente de um edifício moderno para cuja construção demoliu-se um antigo casarão...). mas, no fim das contas, aceita-se com facilidade que não se pode fazer nada: afinal, talvez seja verdade que tudo isso é ve-

(Uma viagem a Pelotas-RS)

Márcio Thamos

O País do FUtURO

Fern

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L ançado em 9 de dezembro durante reunião do conselho de Desenvol-vimento econômico e social (cDes)

realizada no itamaraty, o estudo inédito em-pregos Verdes no Brasil: Quantos são, onde estão e como evoluirão nos Próximos anos, realizado pela organização internacional do trabalho (oit), trouxe o número atualizado

e surpreendente de 2,6 milhões de empre-gos verdes já ocupados no País.

o levantamento considera verdes os pos-tos de trabalho em atividades econômicas que contribuem para a redução de emissões e para a melhoria da qualidade ambiental.

a oit considerou dados da relação anual de informações sociais, do minis-

tério do trabalho e emprego, e agregou os empregos verdes em seis categorias: produ-ção e manejo florestal; geração e distribui-ção de energias renováveis; saneamento, gestão de resíduos e de riscos ambientais; manutenção, reparação e recuperação de produtos e materiais; transportes coleti-vos alternativos ao rodoviário e aeroviário;

economia

Estudo recente da OIT no Brasil apontou que já existem 2,6 milhões de postos ocupados no País

Rosane Araujo

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e telecomunicações e teleatendimento. o levantamento não considerou o enorme contingente de catadores de materiais re-cicláveis devido à falta de proteção social da atividade e pelo grau de insalubridade a que estão expostos. Para o órgão, o con-ceito de emprego verde não deve ser dis-sociado do trabalho decente.

“embora atualmente não restem mui-tas dúvidas quanto ao papel positivo de-sempenhado por esses trabalhadores em relação ao meio ambiente, o fato é que certamente não é esse tipo de postos de trabalho que a oit pretendia promover”, justifica o relatório.

a expectativa do órgão é que, além das vagas que contribuem para a melho-ria da qualidade ambiental, a criação de empregos verdes se dê também por se-tores baseados na exploração de recursos naturais e que dependem da qualidade ambiental: extração mineral e indústrias de base; construção, comercialização, ma-nutenção e uso de edifícios; agricultura, pecuária e pesca; e turismo e hotelaria. “o potencial de geração de empregos ver-des dessas atividades decorre do fato de serem ao mesmo tempo grandes emprega-doras e grandes emissoras de carbono ou ainda grandes consumidoras de energia e de recursos ambientais, muitos deles não renováveis”, aponta o estudo.

Pelos dados de 2008, esses setores foram responsáveis por cerca de 5,8

milhões de empregos formais. Parte das vagas poderá se tornar sustentável, segundo a oit, se os setores passarem por um “esverdeamento” dos processos de produção e distribuição.

taxação de carbonoem outro relatório, divulgado dias

antes do estudo empregos Verdes, a oit sugeriu a criação de uma taxa para one-rar as emissões de gases de efeito estufa de forma a aumentar o nível de empre-gos no mundo.

os novos postos de trabalho seriam estimulados com o repasse da arrecadação com a taxação do carbono para criação de subsídios que diminuam a carga trabalhista das empresas. até 2014, a medida pode-ria aumentar em 0,5% o nível de emprego, com mais de 14,3 milhões de novas vagas. “esses empregos não se criarão automati-camente. são necessários programas que promovam a transição nos mercados de trabalho e as competências profissionais necessárias para que esses novos empre-gos se tornem realidade”, diz a entidade. atualmente, segundo a oit, cerca de 40% dos empregos do mundo estão em setores de altas emissões de carbono, num total de 600 mil trabalhadores.

a taxação de carbono foi uma das propostas discutidas durante a 15ª confe-rência das nações unidas sobre mudanças climáticas (coP 15).

Novas profissõesa carreira de gerente de ecorrelações

foi apontada como a mais promissora em uma lista de novas profissões que prome-tem crescer nos próximos anos, segundo pesquisa realizada pela Faculdade de ad-ministração da universidade de são Paulo (usP), por meio do Programa de estudos do Futuro (Profuturo).

entre as profissões tradicionais, os 112 ex-alunos de mBa entrevistados para a pesquisa indicaram a função de engenhei-ro ambiental como a mais promissora.

Para carmen alonso, gerente de trei-namento do núcleo Brasileiro de estágios (nube), empresa especializada em coloca-ção de estagiários, o mercado é promissor não só no que diz respeito às profissões diretamente ligadas à economia verde.

“empresas da área vão precisar de pro-fissionais como advogados, contabilistas etc. toda empresa precisa de uma infra-estrutura”, analisou.

Para ela, este é um mercado que tem muito para crescer, mas ainda está se estabilizando.

“o que vemos de forma mais clara no Brasil são vagas em grandes indústrias, que se preocupam com o tratamento de águas, reciclagem e economia, por exem-plo. as empresas de porte, em geral, acabam tendo este foco e investem em ações de responsabilidade socioambien-tal”, explicou.

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Dentre os estudantes atualmente ca-dastrados no nube, a gerente citou algu-mas formações relacionadas diretamente à economia verde: curso médio-técnico em meio ambiente, superior tecnólogo em gestão de meio ambiente, superior em

geografia com ênfase em meio ambiente e pós-graduação em meio ambiente.

carmen afirma que tem sido cada vez mais frequente encontrar profissionais interessados em trabalhar com causas so-ciais e ambientais.

Para ela, é importante ter este tipo de pre-disposição para ocupar uma profissão verde.

“tem que ter uma atitude verde, ética diante das pessoas e longe delas. o sentido de ecologia tem a ver com a noção de que suas ati-tudes impactam nas outras pessoas”, finalizou.

ConceitosPara a OIT, o conceito de “empregos verdes” resume a transfor-mação das economias, das empresas, dos ambientes de trabalho e dos mercados laborais em direção a uma economia sustentável que proporcione um trabalho decente com baixo consumo de carbono.Os “empregos verdes” reduzem o impacto das empresas no meio ambiente e dos setores econômicos a níveis que sejam sustentáveis. Além disso, contribuem para diminuir a necessi-dade de energia e matérias-primas, para evitar as emissões de gases de efeito estufa, reduzem aos mínimo os resíduos e a contaminação, bem como restabelecem os serviços do ecossis-tema como a água pura e a proteção da biodiversidade.

Números• A expectativa da OIT é que até 2030 haja 20 milhões de

empregos verdes ocupados.• Na Alemanha, a indústria ambiental já gera 1,8 milhão de

empregos.• Um dos principais desafios dos empregos verdes é proporcio-

nar desenvolvimento social e um trabalho decente para todos, o que inclui elevar mais de 1,3 bilhão de pessoas, quatro de cada dez trabalhadores no mundo e suas família, acima da linha da pobreza e oferecer oportunidades de emprego de-cente aos 500 milhões de jovens que ingressarão no mercado

de trabalho durante os próximos 10 anos.

ContrapontoComo qualquer outro assunto, os empregos verdes e seus aspectos positivos não são unanimidade.Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 27 de outubro, o economista José Pastore, professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP especializado em Relações do Trabalho e Emprego, citou o documento Seven Myths about Green Jobs (Sete Mitos sobre Empregos Verdes), do Property and Environment Research Center – PERC de Montana, nos Estados Unidos, como uma “ducha fria” em seu entusiasmo com os empre-gos verdes.O relatório critica a metodologia utilizada pela literatura, inclusive os estudos realizados pela ONU e OIT e seus autores afirmam que as projeções são exageradas, sendo, muitas delas, baseadas em mitos. Segundo Pastore, um das críticas dos autores se refere à desconsideração do custo de oportunidade dos imensos re-cursos que terão de ser usados para descarbonizar o Plane-ta. É o caso da maioria dos empregos ligados à energia solar e eólica que decorrem de pesados subsídios – que terão de ser pagos pelos contribuintes. Os 50 mil empregos criados nesses campos na Espanha demandaram um investimento (subsidiado) de US$ 38 bilhões, ou seja, a exorbitante quan-tia de US$ 760 mil por emprego.

Empregos Verdes

economia

“A crise, tão devastadora como é, oferece uma excelente oportunidade para promover um desenvolvimento econômico favorável ao meio ambiente. O esforço deveria incluir uma atenção prioritária aos projetos de mão-de-obra intensiva que reduzem as emissões de gases de efeito estufa e ajudam as comunidades a adaptar-se ao aquecimento global. A transição a uma economia com baixo consumo de carbono pode criar milhões de empregos”.

Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas

“A opção que agora enfrentamos não é entre salvar nosso meio ambiente e salvar nossa economia. A opção que enfrentamos é entre prosperidade e decadência. Podemos deixar que a mudança climática cause estragos no meio ambiente ou podemos criar empregos que procurem evitar seus piores efeitos”.

Barack H. Obama, presidente dos Estados Unidos

“Conseguir um desenvolvimento sustentável e preservar a terra – nosso lar comum – estão estreitamente ligados aos interesses fundamentais da população mundial, assim como aos interesses imediatos de um vasto número de trabalha-dores. Percorrer o caminho do desenvolvimento civilizado de um crescimento mais rápido da produtividade, a melhora das condições de vida e da preservação de um ecossistema saudável e alcançar um desenvolvimento econômico e social, convivendo harmoniosamente com a natureza para que os trabalhadores vivam e trabalhem em um bom ambiente ecológico é a finalidade última do desenvolvimento sustentável, assim como uma importante condição prévia para o trabalho decente para todos os trabalhadores”.

Jun Hintao, presidente da China

O que dizem os líderes mundiais sobre os empregos verdes

Fonte: Cartilha Empregos Verdes 15OIT – Organização Internacional do Trabalho

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neo mondo - setembro 2008 A

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neo mondo - outubro 200856

Patrocínio: Realização:Parceria Institucional:

Categoria: Região Norte

Criação de Peixes em Canais de Igarapés Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia Manaus AM

Farmácia Nativa Prefeitura Municipal de Belém Belém PA

Telinha de Cinema – Modernização da Educação Casa da Árvore Palmas TO

Categoria: Região NordesteA Reserva Natural Serra das Almas e seu Modelo

Integrado de Conservação da Caatinga Associação Caatinga Fortaleza CE

Abordagem Sistêmica Comunitária Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim Fortaleza CE

Cultivo Sustentável de Algas Marinhas Fundação Brasil Cidadão para Educação, Cultura, Tecnolgia e Meio Ambiente Fortaleza CE

Categoria: Região Centro-Oeste

Adolescentes Protagonistas Instituto de Estudos Socioeconômicos Brasília DF

Canteiro Bio-Séptico Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado Pirenópolis GO

Conexão Cheiro Verde – Modelo de Comércio Justo Instituto Centro de Vida Cuiabá MT

Categoria: Região Sudeste

A Célula ao Alcance da Mão Instituto de Ciências Biológicas da UFMG Belo Horizonte MG

Balde Cheio Embrapa Pecuária Sudeste São Carlos SP

Vovô Sabe Tudo Prefeitura Municipal de Santos Santos SP

Categoria: Região Sul

Caprichando a Morada Cooperativa de Habitação dos Agricultores Familiares Chapecó SC

Produção e Preservação de Sementes Crioulas União das Associações Comunitárias do Interior de Canguçu Canguçu RS

Trupe da Saúde Universidade Livre da Cultura Curitiba PR

Categoria: Direitos da Criança e do Adolescente e Protagonismo JuvenilComunicação Participativa Juvenil para o

Desenvolvimento Comunitário Associação Imagem Comunitária Belo Horizonte MG

Método Quadros Instituto Fonte para o Desenvolvimento Social São Paulo SP

Rádio pela Educação Diocese de Santarém Santarém PA

Categoria: Gestão de Recursos Hídricos

Barragem Subterrânea com Lona Plástica Cooperativa de Serviços Técnicos do Agronegócio Natal RN

Pingo d’Água – Água para Beber e Produzir Instituto Sertão Vivo Quixeramobim CE

Tanques em Lajedos de Pedra Centro de Educação Popular e Formação Social Teixeira PB

Categoria: Participação de Mulheres na Gestão de Tecnologias Sociais

Gerando Renda e Transformando Relações de Gênero Associação Difusora de Treinamentos e Projetos Pedagógicos Curitiba PR

Rede de Mulheres para Comercialização Solidária Casa da Mulher do Nordeste Afogados da Ingazeira PE

Rede Industrial de Confecção Solidária Guayi Porto Alegre RS

Prêmio Fundação Banco do Brasilde Tecnologia Social 2009

VENCEDORA

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VENCEDORA

VENCEDORA

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