neomondo 17

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Profissão: Político Gestão Pública 22 Controle Social Cidadania 40 Responsabilidade Fiscal Moralidade 32 UM OLHAR CONSCIENTE www.neomondo.org.br Ano 2 - Nº 17 - Dezembro 2008 - Distribuição Gratuita NEOMON DO Gestão Municipal e a qualidade de vida

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Page 1: Neomondo 17

Profissão:Político Gestão Pública

22

ControleSocial Cidadania

40

ResponsabilidadeFiscalMoralidade

32

um olhar consciente

www.neomondo.org.br

Ano 2 - Nº 17 - Dezembro 2008 - Distribuição Gratuita

NeoMoNdo

Gestão Municipal e a qualidade

de vida

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A destruiçãodo planeta éproblema meu

especial

2 neo mondo - Dezembro 2008

A Carta da Terra é um código de conduta para guiar os povos e nações.

Ratificada pela Unesco, equivale à Declaração Universal dos Direitos Humanos,

no que concerne à sustentabilidade, à equidade e à justiça.

O Meio Ambiente tem sido tema constante da mídia, nas escolas, nas empresas,

no mundo. Por um simples motivo: é uma questão de sobrevivência e o Planeta

é um problema nosso!

Uma homenagem do Instituto Neo Mondo aos Povos de todas as Nações do Planeta.

Feliz Natal e um próspero Ano Novo!!!Que em 2009 possamos juntos construir um planeta melhor!!!

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A destruiçãodo planeta éproblema meu

arta da erra“A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e um dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São ne-cessárias mudanças fundamentais dos nossos valo-res, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento é primariamente ser mais, e não ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunida-des para construir um mundo democrático e huma-no. Nossos desafios, ambientais, econômicos, políti-cos, sociais e espirituais estão interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes .

C T

3neo mondo - Dezembro 2008

Page 4: Neomondo 17

Seções

Diretor Executivo: Oscar Lopes LuizConselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Takashi Yamauchi, Liane Uechi, Livi Carolina, Eduardo Sanches, Marcio Thamos, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Dilma de Melo Silva , Artaet Martins e Natascha TrennepohlRedação: Liane Uechi (MTB 18.190), Livi Carolina (MTB 49.103) e Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586)Estagiário: Caio César de Miranda MartinsRevisão: Professor Antonio Colavite FilhoDiretora de Redação: Liane Uechi (MTB 18.190)Diretora de Arte: Renata Ariane RosaProjeto Gráfico: Instituto Neo Mondo

Correspondência: Instituto Neo MondoRua Caminho do Pilar, 1012 - sl. 22 - Santo André – SPCep: 09190-000Para falar com a Neo Mondo:[email protected]@neomondo.org.brtrabalheconosco@[email protected] anunciar: [email protected]. (11) 4994-1690Presidente do Instituto Neo Mondo:[email protected]

Expediente PublicaçãoA Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24.

Tiragem mensal de 20 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas.Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.

PeRFIla máquina do marketing político luiz Gonzáles, coordenador da campanha do prefeito reeleito de são Paulo, Gilberto Kassab, revela as estratégias do marketing político.

eSPeCIAl - POlÍTICABrasil Político de 2009Quadro político nas novas gestões municipais de 2009 mostra escolhas administrativas.

Profissão: Políticoos papéis, funções e finalidades dessa profissão que tantas implicações têm na vida do cidadão.

À sociedade, a políticao rumo da política, iniciado na Grécia antiga, segue ao seu primeiro objetivo: o bem para todos.

Dica de livro e glossário46

neo mondo - Dezembro 2008 4

08 10

sustentabilidade é sobrevivência especialista defende que brasileiros construam a sua utopia.

14 o poder da uniãoas onGs têm alcançado importantes mudanças por meio do estímulo à fiscalização.

18 artigo: Poder público e o terceiro setoro despreparo do terceiro setor impede o fortalecimento de políticas públicas.

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28 artigo: o município na federação brasileira... e o uso do iPtu e do iss ambientais.

31

artigo: Gestão ambiental integrada com os municípiosmunicípios e estado compartilhando a gestão ambiental.

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artigo: resíduos sólidos mecanismos de Desenvolvimento limpo.

27

Fiscalizar, dever de todos! lei de responsabilidade Fiscal obriga governantes a informarem a direção do dinheiro público.

32

orçamento Participativomecanismo democrático, o orçamento público influencia diretamente na qualidade de vida do munícipe.

36artigo: Gestão integradasem a participação da sociedade nas discussões ambientais, todos corremos sérios riscos.

39 conselho é bom e todo mundo gosta Brasil tem mecanismos inerentes à democracia, mas a sociedade ainda não sabe usufruí-los.

40

artigo: Papai noel mandou-me à Pérsiareencontrar-se com o espírito do natal.

43

artigo:espaço Verde urbanocenas da cidade – Paulalyn.

44 Fiscal da Florestaum olhar consciente da amazônia.

45

artigo: a Psicologia e as políticas públicasas intersecções entre a economia e a Psicologia.

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5neo mondo - Julho 2008

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Editorial

Um olhar consciente

InstitutoInstituto

NeoMondo

NeoMondo

Um dos primeiros atos ofi-ciais de 2009 será a posse dos prefeitos brasileiros.

Sendo assim, o próximo ano co-meça com nova gestão municipal. Ou não? Conforme informações do Tribunal Superior Eleitoral, a maio-ria dos prefeitos foi reeleita, numa indicação de que a sociedade renovou os votos de confiança nos mesmos gestores. Mas será que a população conhece as atribuições de um prefeito e de um vereador? Para sanar essas dúvidas, nossa equipe saiu em campo e trouxe informações importantes sobre o funcionamento da máquina admi-nistrativa. Afinal, é preciso conhe-cer os deveres de quem elegemos ou não haverá como cobrá-los adequadamente. Mesmo num contexto nacional de descrença na atividade política, é importante entender que essa atuação influenciará a qualidade de vida das pessoas, sobretudo o poder municipal, responsável por cuidar das questões locais, diretamente ligadas ao cotidiano da população.Reclamar do que não está certo pode ser um direito democrático, mas há outras formas, muitas vezes mais eficientes, de fazer valer os direitos. Mostramos essas ferramentas de controle social, como o Orçamento Participativo, os Conselhos Municipais, a Câmara de Vereadores, o Portal da Transparência, todos criados para permitir o exercício pleno da cidadania.

Os mecanismos como marketing político e responsabilidade fiscal também poderão ser melhor compreendidos. Um destaque para nosso painel fotográfico, com cenas da cidade e um convite à reflexão de nossa realidade. Contamos nesta edição com a participação fundamental de grandes cientistas políticos, que analisaram e interpretaram os indicadores, identificaram os principais problemas, esclareceram as dúvidas mais comuns e defenderam uma atitude mais consciente, pró-ativa e responsável. Nossos articulistas, em suas expertises, discutem temas de grande valor, como o papel do Terceiro Setor nas decisões públicas, a gestão ambiental, as políticas públicas, os tributos, o desenvolvimento sustentável, dentre outros assuntos, que nos permitiram construir uma trama de informações sobre gestão municipal e controle social. Esperamos que apreciem a leitura e se sintam estimulados a participar cada vez mais das soluções.

Um Feliz Natal e um 2009 sustentável!

Liane UechiDiretora e Redaçã[email protected]

neo mondo - Dezembro 200806

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7neo mondo - agosto 2008

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neo mondo - Dezembro 200808

Luiz Gonzáles, coordenador da campanha do prefeito reeleito de São Paulo, Gilberto Kassab, revela as estratégias do marketing político.Liane Uechi

Perfil

Neo Mondo: O senhor foi responsável por uma das estratégias eleitorais mais bem sucedidas das últimas eleições mu-nicipais. Qual a receita desse sucesso? Luiz: A campanha foi bem-sucedida porque tinha um bom candidato, que havia feito um bom governo, porque mostrou aos eleitores boas idéias para o futuro e também teve disciplina para seguir a estratégia a que se propôs. Do ponto de vista da comunicação, a campanha ousou, foi criativa, preocupou-se em alcançar o eleitor com humor, com leveza, mas com mensagens claras, objetivas e verdadeiras. A receita é ter uma equipe talentosa em cada uma das áreas (rádio, TV, imprensa, internet, impressos, etc). Mais de 300 profis-sionais de comunicação, de diversas empresas, atuaram sob coordenação do Woile Guimarães e minha.

Neo Mondo: Descreva os princípios dessa estratégia e os motivos que levaram a essas opções? Luiz: A estratégia de uma campanha de reeleição é clara: mostrar o que foi feito, o acerto das decisões, as vanta-gens da continuidade das obras, dos programas e das ações do candidato, mostrar os projetos para o futuro e a credibilidade de quem está propondo esse futuro. A campanha do Kassab seguiu essa linha meio óbvia, mas

soube acrescentar humor, leveza, empatia, emoção.

Neo Mondo: Do ponto de vista estra-tégico, soube tirar da disputa o candi-dato do PSDB que estava em segundo nas pesquisas. Como? Luiz: Polarizando a discussão com a candidata do PT, que estava em primeiro lugar. E transformando a eleição num embate entre duas administrações municipais: a atual e a anterior. Com isso, o ex-governador ficou sem discurso e sem papel na eleição. Além disso, a campanha do atual prefeito soube lidar, com inteli-gência e sangue-frio, com as críticas e ataques que recebeu dos adversários, mantendo-se numa linha propositiva, de apresentação das realizações e dos seus desdobramentos para um segun-do mandato. Neo Mondo: Qual a importância do marketing político numa campanha eleitoral? Luiz: Campanha eleitoral é comuni-cação. Política é comunicação. Em política (e em eleição), a regra de ouro é o convencimento, a sedução, a capacidade de atrair adesões para um projeto de Governo, para idéias, para posições. Fala-se em marketing no sentido de “venda” de uma idéia ou candidato e também de adequa-ção de um “produto” (candidato) às

A Máquina do

vontades e expectativas do público. Mas, na verdade, isso não ocorre. As campanhas, por intermédio de suas equipes de comunicação, lutam pela “agenda” da eleição, pelos assuntos que, imaginam, devam ser considerados pelo eleitorado em sua decisão. Convencer, seduzir e atrair apoiadores e eleitores é a tarefa central. Tudo isso se faz com comunicação, expondo idéias e ar-gumentos. As questões de responsa-bilidade socioambiental, sustentabi-lidade, condutas éticas são temas de destaque da atualidade.

Neo Mondo: Essas questões são consideradas na elaboração de uma estratégia de marketing político? Luiz: É evidente. Vivemos num só mun-do. E a eleição não é um evento isolado. Ao contrário. A eleição é o momento em que o debate torna-se mais agudo, e em que as diferenças são explicitadas com mais força. Quem se comporta de maneira não-ética, ou promete coisas impossíveis ou não fala a verdade, ou se mostra incoerente, acaba punido pelo eleitorado. Às vezes, candidatos assim triunfam, mas não é a regra. Até por-que, as campanhas eleitorais são dialéti-cas, vivem do contraditório. O candidato fala o que quer e ouve o que não quer. Os adversários contestam, apontam fa-lhas, comportamentos reprováveis, etc.

Marketing Político

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neo mondo - Dezembro 2008 09

A Máquina do

Candidatos e campanhas vigiam-se mu-tuamente. O eleitorado observa, pensa, reflete e depois decide. Em campanha eleitoral, mentira e enganação também têm perna curta e resultado ruim.

Neo Mondo: Como acontece a cons-trução da imagem de um candidato? Como acertar às expectativas da população? Luiz: “Construção de imagem” é um ter-mo forte e talvez inadequado para o que ocorre. Ninguém pode ser transformado no que não é. Mais ainda na política e na eleição, quando o candidato é exposto dezenas de vezes por semana em entre-vistas de rádio, TV, jornal, revista. O que se pode fazer é ajudar um candidato a expor melhor suas qualidades e ser compre-endido nas suas declarações e nos seus posicionamentos. No geral, os eleitores votam de maneira racional no candidato que acham que trará mais benefícios para sua família, para sua comunidade. Por isso, não adianta tentar “construir” um candidato ideal a partir de expectativas aferidas em pesquisas de opinião. A ques-tão é mais complexa. Os motivos pelos quais os eleitores escolhem o candidato “A” em detrimento de um candidato “B” já inspiraram dezenas de livros, teorias, teses de doutorado. Não existe uma só resposta, nem uma fórmula pronta. O que acontece numa campanha eleitoral, nesse quesito da “construção de imagem”, di-

gamos assim, é a exposição reiterada, por parte do candidato, de idéias, opiniões, posturas, e sua absorção por parte do eleitorado que, em comparação com os demais, forma opinião a respeito de cada competidor. Essa opinião é o resultado da “imagem” projetada.

Neo Mondo: Quais os profissionais envolvidos numa campanha? Luiz: As equipes de comunicação de uma campanha eleitoral têm profissio-nais com a formação compatível com as ferramentas usadas. Há jornalistas para apuração de informações, para as equipes de reportagem e de edição de televisão e de rádio, para a assessoria de imprensa. Há cinegrafistas e técnicos para a operação dos equipamentos de TV. Há radialistas, publicitários, roteiris-tas, diretores de cena, produtores de casting e de objetos, narradores, soció-logos, estatísticos, etc. Cada ferramenta exige seus profissionais e especialistas. São cerca de 12 setores distintos: TV, rádio, música (trilhas e jingles), assessoria e relações com a imprensa, fotografia, pesquisas, levantamento de informações administrativas e interlo-cução com o programa de Governo; preparação de debates; internet (site, rede social, e-mail marketing, etc), clip-ping; criação e produção de impressos, jornais e folhetos; criação publicitária, dentre outros.

Neo Mondo: É fundamental a empatia entre o candidato e a equipe de marketing para uma campanha bem sucedida? Luiz: Campanha eleitoral, hoje, é um trabalho profissional. Mas eu, pessoal-mente, não faço campanha para quem não votaria. E minha experiência mos-tra que, quando o candidato não em-polga a equipe, dificilmente empolga a maioria dos eleitores. E, sem nenhuma dúvida, quando não há empatia, con-fiança e uma certa sintonia emocional entre equipe e candidato, é raro que a campanha seja bem sucedida. Sem que se desperte a vontade de convencer e de vencer, a equipe de comunica-ção e o candidato fazem campanhas burocráticas, frias e sem emoção. E sem emoção não há adesão, não há voto.

Neo Mondo: Quais os planos para 2009? Luiz: A GW, produtora de televisão da qual sou sócio, tem forte tradição de produção de jornalismo ou mesmo de documentário. Já há algum tempo, tenho me interessado pelo levanta-mento de condições e temas pela pro-dução, em TV ou cinema, de histórias de ficção. Filmes ou mini-séries para televisão. Em 2009, pretendo dedicar parte do meu tempo a isso, à busca de argumentos e roteiros e à escolha de algum projeto nessa área, que possa ser realizado futuramente...

Marketing Político

Fabio rodrigues Pozzebom/abr

Disciplina para seguir a estratégia do marketing político auxiliou a reeleição do prefeito Gilberto Kassab, de São Paulo.

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neo mondo - Dezembro 200810

especial - Política

O Brasil Político

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Voto pensado, não indecisoo jornalista José roberto de tole-

do, especialista em análises eleitorais, vê um país politicamente fragmentado, com partidos diferentes no comando de muitos municípios. e aí as populações deparam-se com gestões públicas mais ou menos avançadas. “não há uma ten-dência hegemônica de coloração políti-co-partidária, o que é sempre bom para a democracia, por manter o jogo do freio e contrafreio em equilíbrio”, avalia.

Para ele, o eleitor, desde a redemo-cratização do País, tem mostrado uma sutil mudança de comportamento, que, às vezes, pode passar imperceptível ao observador menos atento. um recado que é dado nas urnas, então, é o de que se vota “em políticas mais concretas, propositivas; e o voto é mais pensado, ainda que decidido no último momen-to”. a seu ver, bem diferente de inde-ciso. Votar administrativamente, e não politicamente, é marca registrada do Brasil, quando se trata de eleições mu-nicipais. “a maioria dos eleitores vota pensando pragmaticamente no que jul-ga ser melhor para o local em que vive o seu dia-a-dia”, diz.

neo mondo - Dezembro 2008 11

O Brasil de 2009, definido nas urnas em outubro, afigura-se, em certo sentido, equilibrado

no quesito político-eleitoral. ao menos quando se leva em conta o desempenho dos 10 maiores partidos políticos, que ficaram com mais de 90% dos cargos disputados nos municípios. outro sinal de equilíbrio é o avanço das pequenas agremiações partidárias. em números exatos, os grandes dominaram 95% das cidades em 2004 e agora ficam com 93%, enquanto os menores subiram de 5% para 7%.

em número de municípios, para se ter uma idéia, PmDB (com 1.202 prefeituras; em 2004, eram 1.059) e Pt (557/411) foram os que proporcio-nalmente mais cresceram, seguidos de PsB (311/175) e PDt (344/307). os outros seis do grupo dos 10, mesmo perdendo posições, mantêm-se entre os mais representativos: PsDB (caiu de 870 para 787); Dem (789/498); PtB (421/418); Pr (389/386); PPs (308/132). o PP é único dos grandes que ficou com igual número de prefeituras (551), não necessariamente as mesmas con-quistadas em 2004.

Quadro político nas novas gestões municipais de 2009 mostra escolhas administrativas.Gabriel Arcanjo Nogueira

O Brasil Político de 2009

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12 neo mondo - Dezembro 2008

especial - Política

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por meio da sua Assessoria de Im-prensa, forneceu à NEO MONDO alguns dados curiosos sobre as eleições de outubro. Atualizados em 2 de dezembro, esses números do Data Mart mostram, por exemplo:• que o prefeito mais votado, proporcionalmente, no 1º. turno, foi o can-

didato José Márcio Tenório de Melo (PSC), no município de Maribondo - AL, com 5.167 votos de um total de 5.168 votos. Ou seja, Melo ficou com 99,98% dos votos válidos;

• no segundo turno, o candidato com maior votação proporcional foi An-tonio Roberto Otoni Gomide (PT), no município de Anápolis - GO, com 122.245 votos, totalizando 75,62% dos votos válidos.

Dos vereadores eleitos, pelo mesmo critério da proporcionalidade, o mais votado foi:• José Jucimar de Oliveira (PDT), no município de José da Penha - RN,

com 965 votos nominais, totalizando 25,11% dos votos válidos. O TSE ressalta que houve 264 municípios brasileiros com apenas 1 candida-to a prefeito, que não foram considerados nos dados acima porque a pro-porção de votos de cada um deles foi de 100% sobre os válidos.

Sem considerar a proporcionalidade, tanto o prefeito com maior número de votos como o vereador mais votado em um município são de São Paulo:• no primeiro turno, Gilberto Kassab (DEM) somou 2.140.423 votos; que

no segundo turno saltaram para 3.790.558 votos.• o vereador Gabriel Benedito Isaac Chalita (PSDB) foi eleito com 102.048 votos

Fonte: TSE/Data Mart

Curiosidades sobre os novos gestores

toledo chama a atenção para a im-portância crescente da internet, como ferramenta para ajudar a melhorar o nível de consciência e participação das pessoas, desde que se interessem em acessar endereços (como o da trans-parência Brasil) que tratam a política, entre outros temas, com seriedade. o bom seria que os partidos políticos também se utilizassem de seus sites para praticar a tão desejada transpa-rência que a sociedade almeja. o que, convenhamos, poderia ser um bom começo para conhecer de fato as pro-postas de cada um deles para o bem comum, e não apenas os de seus pró-prios interesses.

o cenário que se projeta para 2010 é visto com reservas pelo jornalista no que diz respeito a alguma liderança emer-gente. não há, inequivocamente, quem se possa classificar de grande ganhador no pleito recente. toledo faz um alerta: não se deve fazer muito carnaval pela vitrine que representa uma vitória num grande centro urbano porque os eleitos nos chamados grotões do País também têm peso político-eleitoral. mesmo com a ressalva de que muito vai depender de como os escolhidos para administrar os municípios saberão enfrentar a cri-se econômica que está aí, ele acredita que “todos os eleitos em outubro terão influência, sobretudo nas populações de baixa renda”.

Combate a fraudeso jornalista não compartilha a opi-

nião dos que viram níveis de abstenção preocupantes, a exemplo do registrado no segundo turno no município do rio de Janeiro. historicamente, lembra, as abstenções são menores no Brasil, o que, em grande parte, se deve ao apri-moramento do cadastro eleitoral. tole-do cita que, em 1996, havia 10 milhões de eleitores fantasmas no Brasil. a Jus-tiça eleitoral, ao se dedicar ao recadas-tramento local, contribui também para melhorar o nível de comparecimento às urnas de quem realmente vota, por combater fraudes.

a título de curiosidade (há outras - ver Quadro), a neo monDo apurou junto ao tse como ficou o quadro eleitoral no que-sito votos brancos ou nulos. no primei-

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13 neo mondo - Dezembro 2008

Sergio Andrade, cientista social coordenador do Núcleo de Apoio a Políticas Públicas (Napp), entende que as administrações municipais no País são car-regadas de certa continuidade - o que, para ele, “é saudável”. Mas ressalta: “Isso não significa que não haja inovação na gestão. Ela existe, e a qualidade da gestão é ingrediente fundamental. Mas tem de ser acompanhada pelo controle social”. O responsável pelo Napp lembra a importância que têm os consel-hos municipais e os meios para dar transparência a gestões de prefeituras. Cabe aos cidadãos ficarem at-entos e fazerem a sua parte, atuando nesses espaços.

Sergio aconselha, porém, ao eleitor não esperar surpresas. Isso porque o Plano Plurianual (PPA), por ser documento básico de planejamento das adminis-trações no Brasil, tem de prever as metas e os recursos para atingi-las. Quanto mais a sociedade particpar da elaboração dos PPAs - o que, por desconhecimento, infelizmente ainda não acontece - mais chances ter-emos de contar com administrações afinadas com os princípios da sustentabilidade. “Penso que esse seja um bom instrumento sobre o qual pautar as medidas de controle social da administração pública”, indica o coordenador do Napp. Seria a forma de combater o que chama de estelionato eleitoral.

O cientista social lembra que o País necessita ur-gentemente fazer a reforma política, que a seu ver é essencial. E refuta o “argumento apressado de que no Brasil se veria algo como o bipartidarismo, a exemplo do que acontece na Inglaterra e nos Estados Unidos”. Sergio constata: “Hoje a tendência das urnas é a pul-

verização do voto em diversas legendas, em que pese haver partidos mais fortes do que outros. No Brasil poderíamos apontar 7 ou 8 partidos de maior relevân-cia, concentradores de poder porque controlam a agenda e o orçamento”.

Sergio considera que poderíamos avançar mais no desenvolvimento sociopolítico se houvesse a adoção de indicadores de gestão e de desempenho. E cita como exemplo o Movimento Nossa São Paulo, por meio do qual votou-se uma lei que obriga o Executivo a apresentar seu plano de governo, com indicadores de gestão, já nos próximos 90 dias no governo.

Esse instrumento se soma a outros, decorrentes do que define como “gestão pública de contornos mais profissionais, no período que se segue à Constituição de 1988.” O que possibilitou reforçar a governança lo-cal, especialmente mediante a Lei de Responsabilidade Fiscal, a lei que instituiu os Planos Diretores, a Lei do Saneamento, esta de 2007. Recentíssima, portanto, e que forma o arcabouço que nos remete à questão de que não é por falta de leis que o País não amadurece sociopoliticamente. Sergio conclui com o que consid-era aspecto fundamental: “Foi a descentralização das políticas, um dos marcos da Constituição, que trans-formou significativamente as administrações locais”. E deixa escapar certa dose de otimismo realista, ao lem-brar que hoje o município é responsável por “políticas públicas finalísticas fundamentais, como as de saúde, educação, saneamento e planejamento urbano. O uso de indicadores e parâmateros de avaliação já é uma tendência crescente”.

ro turno, a capital paulista foi a cidade com maior número de votos brancos (786.764, ou 5,68% sobre o comparecimento) e também de nulos (671.513, ou 4,85%). Quando se leva em conta a proporção de votos brancos, a gaúcha Jacutin-ga lidera com 1.321, ou 25,51% sobre o comparecimento; e a mato-grossense Paranatinga votou nulo 10.699 vezes, ou 51,67% sobre o comparecimento. no segundo turno, são Paulo também lidera em maior número de votos bran-cos, com 176.880, ou 2,61%; e nulos, com 339.962, ou 5,03%. Proporcionalmen-te, Guarulhos (sP) teve 23.558 votos brancos, ou 3,76%; e Belo horizonte (mG) ficou com 107.981 votos nulos, ou 7,41%.

o tse apurou também como fica a situação quando se levam em conta os números de votos brancos e nulos para prefeito e para vereador, separadamente: a cidade com maior proporção de votos brancos para prefeito é três Palmeiras (rs), com 1.214, ou 38,92%; Paranatinga (mt) mantém-se imbatível quando se trata de votos nulos para prefeito, com 10.167, ou 98,20%. o tribunal ressalta que esta cidade teve dois candidatos com registro indeferido, tornando seus votos nulos. Por fim, a cidade com maior proporção de votos brancos para vereador é Jacutinga (rs) - olha ela aí de novo -, com 492, ou 19%; a com maior proporção de votos nu-los para vereador é são luís do curu (ce), com 4.701, ou 49,48%.

Qualidade da gestão e controle social

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neo mondo - Dezembro 200814

especial - Política

Sustentabil idade é Sobrevivência

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Especialista defende que brasileiros construam a sua utopia. Gabriel Arcanjo Nogueira

neo mondo - Dezembro 2008 15

Sustentabil idade

a constituição Federal define com clareza as atribuições de legisladores e gestores, lembra. mas a diretora do ecoar lamenta que há muito tempo nossas câ-maras municipais, assim como as assem-bléias legislativas e o congresso nacional, não legislem a contento.

miriam admite que até pode haver avanços esporádicos e deixa escapar algu-ma esperança de que políticos mais jovens e independentes consigam se impor num cenário em que ainda prosperam “velhas raposas”. Pena que justamente esta fau-na esteja livre da ameaça de extinção, ao contrário das que nos caberia preservar. “infelizmente, no Brasil, uma carreira po-lítica ainda é ditada (em grande parte) pelo poder econômico”, avalia.

TRáGiCo exeMPlo Para não ficar só na teoria, miriam

cita o trágico exemplo do que aconteceu recentemente no sul do País. ela argu-menta: “as campanhas políticas muni-cipais, pelo menos aquelas dos grandes

A sustentabilidae, no que se refere à manutenção da vida em equilíbrio na terra, é questão de sobrevivên-

cia no sentido mais cru da palavra. Quem diz é miriam Duailibi, presidente do insti-tuto ecoar e da organização da sociedade civil de interesse Público (oscip), referên-cia internaciopnal em assuntos ligados ao terceiro setor e a mudanças climáticas. ela é taxativa: “uma cidade que não cuida de seu meio ambiente não tem chances de sobrevida nem de receber investimentos nem de merecer créditos. estará na con-tramão da história”.

especialista em educação ambiental e educação para a sustentabilidade, depois de graduar-se pela usP em comunica-ção, miriam fala alicerçada em trajetória profissional de 25 anos. e mostra preocu-pação com o quadro político municipal do País porque “nem sempre os eleitos são os mais afinados com as questões plane-tárias mais contundentes”. e que não se diga que é por falta de leis que o Brasil não toma jeito.

é Sobrevivência

A missão é grandiosa: formar um país multirracial com respeito à diversidade,

justiça social e desenvolvimento sustentável“

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16 neo mondo - Dezembro 2008

centros, passaram longe de temas fun-damentais para o século XXi, como a mitigação da emissão de gases de efei-to estufa e a questão da adaptação das cidades aos novos padrões climáticos. se santa catarina estivesse adaptada, o efeito das fortes chuvas não teria se transformado em uma tragédia das dimensões que vimos. e o pior é que, mesmo após a tragédia, o Brasil se mo-bilizou para ajudar as vítimas - o que é justo, bonito de se ver e necessário, mas não o suficiente. ninguém discute seriamente em como serão reconstruí-das as cidades, a infra-estrutura, as mo-radias. será mantido o mesmo padrão de ocupação fundiária, mesmo sabendo que cientistas já anunciaram que fenô-menos extremos, como os que ocorre-ram em santa catarina, devem intensi-ficar-se e ficar mais constantes?”.

o que miriam sugere é que os políti-cos brasileiros atuem como gestores am-bientais, de modo a se preocupar com o planejamento do uso do solo. Para o que devem levar em conta a capacidade de suporte dos ecossistemas, entre outras medidas (ver quadro). em suma, “a gama de responsabilidades da gestão ambien-tal é enorme e deveria estar colocada em todas as instâncias da administração municipal, e não ser órgão separado, iso-lado”, aponta.

Miriam: “questão ambiental não é alçada só de ecochatos”

especial - Política

ToMaR aS RédeaS ao mesmo tempo, para a especia-

lista, cabe aos cidadãos e às cidadãs interferirem fundo na questão da sus-tentabilidade, desde a escolha de seus eleitos e no exercício da pressão sobre os gestores públicos, para que cumpram suas promessas de campanha, coloquem a legislação em prática. sem esquecer de serem “consumidores responsáveis que se recusam a adquirir produtos e servi-ços de empresas que não sejam socioam-bientalmente corretas”.

trata-se de melhorar o nível de consciência e participação política do brasileiro, que para miriam está razoá-vel; falta se traduzir em ação transfor-madora. ainda seríamos um dos povos mais preocupados com o aquecimento global. não obstante, o Brasil é um dos poucos países em que a seriíssi-ma questão da adaptação às mudanças climáticas não está sequer em debate na sociedade.

a diretora da oscip não tem dúvida: “alguma coisa está errada. temos de es-timular a sociedade civil a entender que ela precisa tomar as rédeas da situação, pressionando os políticos a fazer a parte deles, ao criar políticas públicas ambien-talmente responsáveis e fiscalizar para que a boa legislação ambiental brasileira seja cumprida”.

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alguns meios, ainda que iniciais, para aprimorar a participação cidadã no processo político, que deveriam ser utilizados, no entender da especialis-ta, seriam a adoção do voto facultati-vo e, mais do que ele, o voto distrital. acessar sites de partidos políticos para conhecê-los melhor e suas propostas, também é uma atitude; e, mais que isso, acessar sites de análises críticas da atuação de políticos e aí, sim, con-ferir se de fato há coerência deles entre discurso e prática.

ReFeRênCia PúbliCa miriam entende que a sustentabili-

dade é conceito que se aplica a todas as esferas de organização da sociedade e princípio que deve ser aplicado em con-junto, cabendo à administração pública ser a referência. nada muito mirabolante nem pirotécnico.

a especialista recomenda aos empos-sados em janeiro que: se recusem a com-prar produtos de madeira sem compro-vação de origem; exijam que as obras de todas as esferas governamentais sejam realizadas com materiais de construção menos impactantes; não financiem em-presas poluidoras; punam severamen-te quem descumprir a lei; eliminem o desperdício no consumo de luz e água; reformem prédios públicos para obter maior eficiência energética; aumentem a permeabilidade do solo; e incentivem o reuso de água.

a diretora do ecoar e do oscip vê os brasileiros como “sobreviventes de um processo histórico que tentou, ao lon-go dos séculos, fazer de nós um povo

neo mondo - Dezembro 2008

inútil, massa de manobra de políticos desonestos e elites oportunistas”. acre-dita, porém, na capacidade de nossa gente ir à luta: “sobrevivemos a esse tempo, crescemos, nos educamos, de-mocratizamos o País, construímos uma infra-estrutura invejável, uma agricul-tura supermoderna, desenvolvemos tecnologia de ponta”.

miriam aponta desafios pela frente e como enfrentá-los: “temos dificulda-des para escolher e cobrar de nossos go-vernantes posturas mais contundentes, mais corajosas, que ajudem o País a sair mais rápido do estágio de emergente e passar de vez a fazer parte dos desen-volvidos”. o que, a seu ver, só é possível com índices decentes de emprego, eqüi-dade social, saúde, educação e cuidados com o meio ambiente.

CoM jeiTo e SeM jeiTinho miriam chega a ser ácida: “ainda

não vencemos totalmente o espírito de complacência, da leniência, do jeitinho, do passar a mão na cabeça dos culpados. isto nos causa problemas terríveis, uma sensação de impunidade, de não ver a luz no fim do túnel”. todavia, acredita que esse é um processo histórico que “vamos vencer, temos de vencer - mais cedo ou mais tarde. só depende de nós”.

Pode ainda estar longe, mas a es-pecialista aposta no que chama de “minha utopia”. Que é “o tempo em que o Brasil entenderá a grandiosida-de da missão que tem a cumprir no mundo, de ser um país miscigenado, multirracial, multirreligioso, com bens naturais extraordinários, com uma população trabalhadora, alegre, otimista, aberta, inovadora e criati-va; modelo para o planeta: de paz, respeito à diversidade, conservação ambiental, justiça social e desenvol-vimento sustentável”.

Para isso, miriam defende que as administrações públicas que se ini-ciam em 2009 “se alinhem com as ad-ministrações modernas, pós-contem-porâneas. Que percebam que a gestão ambiental não é mais da alçada só de ambientalistas ou de ecochatos, como sempre nos chamaram, mas é questão vital para o planeta”.

• os impactos das obras de urbanização;

• a permeabilização do solo;

• o meio periurbano e o rural;

• o gerenciamento dos recursos hídricos florestais e das bacias hidrográficas

A sustentabilidade municipal deve levar em conta:

Fonte: Instituto Ecoar/Oscip

17

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neo mondo - Dezembro 200818

especial - educação

A pós longos anos de lutas, manifes-tações e reivindicações, ações vistas com maus olhos pelo poder público,

que, muitas vezes, as consideravam como al-gazarras ou até mesmo ameaças ao processo de redemocratização, o Brasil passou por um período de dormência. na metade do século XX, a sociedade encontrou força por meio do terceiro setor, através das organizações não-Governamentais – onGs, para ter suas preo-cupações ouvidas e propagadas.

Desde então, as onGs passaram a de-sempenhar um papel importante para a evo-lução da sociedade, uma vez que cumprem o papel de intermediárias das problemáticas que envolvem os cidadãos e o Governo, em uma tentativa, até então bem-sucedida, de aproximar a população do poder público.

entendendo os benefícios desta re-lação, foi estabelecida de forma legal na

constituição a participação das onGs em conselhos municipais, dando-lhes maior abertura para participação através de programas de transparência do Governo, como a aprovação do Programa de metas - emenda à lei orgânica do município, projeto proposto justamente por uma par-ceria entre organizações intitulada movi-mento nossa são Paulo – msP, que hoje já foi aprovada por cinco outras cidades: ilhabela (sP), ilhéus (Ba), teresópolis (rJ), ribeirão Bonito (sP) e mirassol (sP).

exemplo do nossa São Pauloo movimento, que nasceu em 2007 a

partir da percepção de que a atividade po-lítica no Brasil, as instituições públicas e a democracia estão com a credibilidade abala-da perante a população, tem como objetivo promover iniciativas que possam recuperar

Representantes da população, o Terceiro Setor tem alcançado importantes mudanças no governo por meio do

estímulo à fiscalização.Livi Carolina

O poder da União

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O poder da

neo mondo - Dezembro 2008 23

os valores do desenvolvimento sustentável, da ética e da democracia participativa.

hoje, o nossa são Paulo agrega 563 organizações e divide-se em 17 Grupos de trabalho temáticos, entre eles: acompanha-mento da câmara municipal, do orçamento municipal, Democracia Participativa, segu-rança cidadã e outros.

De acordo com o secretário-executivo do nossa são Paulo, maurício Broinizi, é preci-so informar a população para que ela tenha condições de se auto-representar. “nosso pa-pel é nos aproximar da população por meio dessas organizações parceiras, ouvindo seus problemas e ajudá-las a articular soluções de forma mais consistente, para que possam ser apresentadas às câmaras de seus municípios, e oferecer informações para que elas também fiscalizem com maior eficiência o trabalho do governo local” – explica Broinizi.

segundo o secretário-executivo, ainda existem municípios em são Paulo que não têm quem os represente; por isso, o msP está investindo na atuação em 31 subpre-feituras e 96 distritos da cidade para chegar cada vez mais próximo da realidade dessas comunidades. “cada distrito é uma cidade com necessidades diferentes, locais onde o orçamento precisa ser investido de forma a atingir as reais necessidades da população. Por isso, é preciso eleger prioridades, fazer com que a sociedade se faça ouvir” – destaca o secretário-executivo.

Plano de Metasneste contexto, nasceu o Plano de me-

tas, com o qual os prefeitos que assumem em 2009 comprometeram-se a apresentar um programa detalhado de governo com metas claras e prestação semestral de contas.

União

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“a partir da posse, os prefeitos terão 90 dias para apresentarem as metas de seu mandato, junto com o orçamento, mostran-do à população aonde e como ele quer che-gar ao final dos quatro anos. e nós vamos fazer este monitoramento, disponibilizando os relatórios à população através do nosso site. Dessa forma, a sociedade saberá o que cobrar do governo” – ressalta.

o poder da populaçãotambém está afiliado ao msP o insti-

tuto Ágora, responsável pelo grupo de tra-balho sobre acompanhamento da câmara municipal, cujo trabalho é munir as organi-zações ligadas ao movimento sobre as deci-sões diárias das câmaras dos Vereadores.

“mantemos jornalistas diariamente nas câmaras com a função de passar o que foi discutido à população de uma maneira pedagógica para que ela possa entender o que está acontecendo em seu município. afinal, melhorias são necessárias, porém, elas não vêm da classe pública, mas de nós. e as onGs são o grande motor para estas mudanças” – declara Gilberto Palma, diretor do instituto Ágora.

Para ele, não faz sentido falar mal da política porque, afinal, “é falar mal de nós mesmos. nós os elegemos. ao que parece, chegamos à democracia sem a cultura da democracia”, ou seja, é necessário fazer va-ler os diretos da sociedade.

com este intuito, o Ágora promove o programa transparência e participação, com o qual municia 120 onGs de são Paulo e rio de Janeiro com um clipping de tudo o que foi tratado a respeito de suas especiali-dades. “se se trata de uma organização que visa à educação, mandamos um clipping com as informações sobre o que foi pautado na câmara sobre educação. Junto com este clipping, enviamos também o orçamento público para elas a fim de que possam co-brar” – destaca o diretor.

além dessa atuação, o instituto tam-bém iniciará, junto com o novo governo, o programa “adote um vereador” nas escolas públicas onde atua. Durante seis meses, os alunos das sétima e oitava séries e também os do ensino médio das escolas interessadas

Acrescenta dispositivo à Lei Orgânica do Município de São Paulo, instituindo a obrigatoriedade de elaboração e cumprimento do Programa de Metas pelo Poder Executivo.

Art. 1º Fica acrescentado ao art. 69 da Lei Orgânica do Município de São Paulo o artigo 69-A, com a seguinte redação:

“Art. 69-A. O Prefeito, eleito ou reeleito, apresentará o Programa de Metas de sua gestão, até noventa dias após sua posse, que conterá as prioridades: as ações estratégicas, os indicadores e metas quantitativas para cada um dos setores da Administração Pública Municipal, Subprefeituras e Distritos da cidade, observando, no mínimo, as diretrizes de sua campanha eleitoral e os objetivos, as diretrizes, as ações estratégicas e as demais normas da lei do Plano Diretor Estratégico.

§ 1º O Programa de Metas será amplamente divulgado, por meio eletrônico, pela mídia impressa, radiofônica e televisiva e publicado no Diário Oficial da Cidade no dia imediatamente seguinte ao do término do prazo a que se refere o “caput” deste artigo.

§ 2º O Poder Executivo promoverá, dentro de trinta dias após o término do prazo a que se refere este artigo, o debate público sobre o Programa de Metas mediante audiências públicas gerais, temáticas e regionais, inclusive nas Subprefeituras.

§ 3º O Poder Executivo divulgará semestralmente os indicadores de desempenho relativos à execução dos diversos itens do Programa de Metas.

§ 4º O Prefeito poderá proceder a alterações programáticas no Programa de Metas sempre em conformidade com a lei do Plano Diretor Estratégico, justificando-as por escrito e divulgando-as amplamente pelos meios de comunicação previstos neste artigo.(...)

...chegamos à democracia sem a cultura da democracia...“ ”

e cadastradas acompanharão o trabalho de um vereador. “Vamos informar os alunos so-bre as ações dos vereadores por meio do site (www.institutoagora.org.br). além disso, também poderão acompanhar as sessões da câmara. com esta vivência, os alunos serão convidados a sugerir propostas de leis para melhorias em seu bairro” – explica Palma.

conforme afirma o diretor do Ágora, o esforço do instituto, em parceria com outras organizações, é que, com posse dessas infor-mações, seja possível à população legislar, pois os vereadores, que têm esse papel, não andam de ônibus, não utilizam o sistema pú-blico de saúde, não são usuários do sistema público, portanto, não conhecem os reais problemas da sociedade que representam.

Para ele, a sociedade está mais organi-zada e crítica e espera 2009 como um es-tudante estimulado com um caderno em branco que anseia pelo por vir.

especial - educação

EMENDA Nº 30 À LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

neo mondo - outubro 200820

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neo mondo - Dezembro 2008 21

A relação entre o poder públi-co e o terceiro setor passou a ser destaque na administração

pública em função das restrições im-postas pela lei de responsabilidade Fiscal, lei de licitação e lei orçamen-tária, mas o entendimento dos gesto-res públicos sobre o tema é ainda mui-to precário e há poucos profissionais capacitados para essa abordagem, bem como para as implicações das legisla-ções vigentes.

outro obstáculo é a ausência de legisla-ções municipais adequadas que ampliassem a relação entre o poder público e o terceiro setor, com ganhos reais para a sociedade. nota-se também, por outro lado, distorções na compreensão das finalidades do terceiro setor, que ainda peca por gestões amado-ras, confundindo políticas públicas com be-nemerência. Pior ainda é verificar a prática de terceirização dos serviços públicos como subterfúgio de sub-empreitada, através das instituições do terceiro setor.

a parceria desses dois segmentos (primeiro e terceiro setores), a exemplo do que já ocorre em países desenvolvi-dos, poderia trazer ganhos reais ao de-senvolvimento do país. Porém, apesar da necessidade desta sinergia, ambos não estão preparados para essa relação. o principal problema esbarra na falta do entendimento da questão da cidadania e da gestão dos serviços públicos focados nos interesses da comunidade.

as legislações federais que estabele-cem as regras para tal convívio são mais do que suficientes, mas esbarram na escas-sez de leis estaduais e municipais e na fra-gilidade de mecanismos de controle para orientação e fiscalização das ações e da aplicação dos recursos.

o ponto de partida desse relaciona-mento está na formação dos conselhos municipais, cujos membros são represen-tantes das instituições do terceiro setor, conforme previsto em lei, o que deixa claro que a participação plena do terceiro setor na administração pública está assegurada e consolidada pela democracia.

a grande falha está em não haver um treinamento para que esses mem-bros possam exercer plenamente essa função. não se trata apenas de enten-der que a participação é um ato de ci-dadania, mas, sobretudo, de perceber que seu papel é representar um setor, portanto, com obrigações e responsa-bilidades de definir políticas públicas. isso exigiria um mínimo de preparo e conhecimento, mas o que se vê, em grande maioria, são membros que des-conhecem como exercer suas funções, ignorando inclusive os conteúdos da lei orgânica do seu município, do seu esta-do e até da constituição Federal.

Despreparados, não têm como atu-ar no processo de decisão comunitá-ria, ou mesmo de discutir, junto à sua base, assuntos de interesses coletivos,

Takashi Yamauti

resultando numa participação baseada em idéias e sugestões aleatórias, muitas vezes sem fundamento e calcadas na opinião pessoal.

o mais grave é que nessa participa-ção são decididas as políticas públicas municipais, deixando evidente a neces-sidade de uma atuação mais capacitada e responsável do terceiro setor nesses conselhos municipais, assim como uma urgente mobilização dos setores acadê-micos, nos cursos de graduação de di-reito, administração, contabilidade, eco-nomia, ciências sociais para a inclusão do tema “terceiro setor” nos conteúdos. essa discussão deveria ainda se estender para as instituições representativas des-sas categorias, com a formação de comis-sões de estudos sobre o terceiro setor, preparando assim os profissionais, por exemplo, para o entendimento real das questões de balanço social e ambiental, hoje uma realidade.

e o Terceiro Setor

Takashi Yamauchi é especialista em Terceiro Setor, Consultor do Sistema de Apoio

Institucional – SIAI e Consultor da Comissão de direito

do Terceiro Setor da OAB Seccional Pernambuco.

Participou do grupo de estudos para a formulação da Norma ABNT 16001.

O despreparo do Terceiro Setor impede o

fortalecimento de políticas públicas.

Poder Público

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neo mondo - Dezembro 200822

Os papéis, funções e finalidades dessa profissão que tantas implicações têm na vida do cidadão.Liane Uechi

especial - Política

A descrença da população com re-lação às instituições políticas é uma marca de nosso tempo. essa

situação é mais grave do que se possa imaginar, uma vez que pode acarretar ou-tra ainda mais séria como o desinteresse político. nesse sentido, a participação da população fica, muitas vezes, restrita às eleições, quando se escolhe, não raro sem critérios muito definidos, os administra-dores e legisladores.

ocorre que essa escolha significa in-vestir poderes e responsabilidades mui-to importantes a determinadas pessoas, cujos atos influenciam diretamente na vida do cidadão.

o advogado, administrador e profes-sor andré regis de carvalho, Ph.D em ciência Política, acredita que ainda há um desentendimento por parte da população sobre as funções do executivo e legisla-tivo. ele explicou que cabe ao prefeito a gestão do município. isso significa, cuidar de assuntos de interesse local, como, por exemplo, a limpeza pública, a manutenção de vias, etc. algumas atribuições, como saúde e educação, são compartilhadas com o estado e a união.

Profissão: PolÍTiCo

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neo mondo - Dezembro 2008 15

Profissão: PolÍTiCo

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24 neo mondo - Dezembro 2008

essa partilha de responsabilidades entre as instâncias municipais, estaduais e federais acaba, segundo o especialista, gerando um jogo de empurra, o que di-ficulta o entendimento da população so-bre os deveres de cada um. esse desco-nhecimento de papéis fragiliza o eleitor diante de pessoas de má fé. “há muitos prefeitos que em sua campanha prome-tem melhorias na segurança pública, mas isso não é uma atribuição municipal e, sim, estadual” - explicou.

Poder legislativoconforme régis, cabe ao vereador

dois papéis importantes no âmbito lo-cal: a fiscalização dos atos do executivo, garantindo que os recursos financeiros permaneçam comprometidos com os in-teresses públicos, e também legislar em causas de interesses coletivos. régis de-fende que exercer essas tarefas exige uma preparação mínima, de modo a garantir, por exemplo, a compreensão da leitura de um orçamento público e a formulação de leis que não resultem em inconstitucio-nalidade, o que aliás, é lamentavelmente comum, segundo ele.

“Defendo a pluralidade que não discri-mina nenhum público, mas não há como esperar muito de candidatos que não possuam habilitações mínimas” – disse ele. constatou ainda que a qualidade dos políticos equivale ao esclarecimento da população. “os eleitores mais conscientes sabem que eleger pessoas mal preparadas reverterá contra os seus próprios interes-ses” – disse.

a história política brasileira nos mos-tra, no entanto, que o brasileiro muitas

Defendo a pluralidade que não discrimina nenhum público, mas não há como esperar

muito de candidatos que não possuam habilitações mínimas

“”

especial - Política

vezes faz suas escolhas com base em in-teresses pessoais, gerando o clientelismo, onde o político, à margem da lei, dá algo em troca do voto. “essa atitude é extre-mamente nociva à democracia, pois o po-lítico passa a ser visto e muitas vezes a atuar, como assistente social e não como um gestor.” - disse.

a carreira política passou a ser en-tendida no país como uma fonte de en-riquecimento e de privilégios. Para ré-gis, a remuneração atrativa para cargos políticos é um fator prejudicial. ele cita o exemplo dos vereadores. Pela consti-tuição, deve-se repassar entre 5 a 8% da arrecadação da cidade à câmara. “É muito dinheiro”. no caminho inverso, alguns países desenvolvidos remuneram cargos de vereadores com valores simbólicos, já que entendem que para o exercício dessa função não há necessidade de abdicar das atividades profissionais.

ordem na Casao prefeito de ribeirão Pires, clóvis

Volpi, reeleito com mais de 73% dos vo-tos válidos, acredita que a população está mais atenta e criteriosa com as escolhas eleitorais. Volpi defende que sua reeleição só foi possível graças ao trabalho desen-volvido na gestão anterior, que saneou as

contas públicas e ampliou em 43% a re-ceita do município. Para ele, o desafio da gestão municipal é estar preparado para as atribuições e conseguir hierarquizar de forma justa as inúmeras necessidades do município. “as cidades, hoje, precisam de gestores públicos, de administradores ca-pazes de imprimir um ritmo de crescimen-to que seja compatível com a capacidade de investimento do município. Para isso, o prefeito precisa conhecer as leis que regem o serviço público, ter capacidade de plane-jamento, ter equipe técnica de qualidade e, como qualquer profissional de outra área, estar sempre se atualizando em cursos, pa-lestras, congressos e tudo aquilo que possa contribuir para sacramentar a excelência de gestão pública” – disse o prefeito.

ele confirma que as confusões sobre as atribuições do cargo ainda existem e cita o caso específico dos serviços de saneamen-to básico. “em nosso município, os servi-ços de água e esgoto são de competência do estado, mas muitos munícipes acham que a responsabilidade é da Prefeitura e nos fazem solicitações que só podem ser resolvidas pela sabesp. em casos assim, intermediamos os pedidos, solicitamos urgência e até recorremos à Justiça em si-tuações extremas. mas não podemos de-terminar a execução de obras” – explicou.

Porta voz do cidadãoo vereador de santo andré, Paulinho

serra, que obteve mais de seis mil votos, número expressivo mesmo para o estado de são Paulo, maior colégio eleitoral do país, considera a vereança como uma das funções mais importantes da esfera legis-lativa, em função da proximidade com o cidadão e, conseqüentemente, com os pro-blemas do cotidiano da cidade. “além de produzir toda a legislação municipal que tangencia o dia a dia das cidades, a câmara ainda fiscaliza todos os atos do executivo que afetam a vida da comunidade. além do trabalho legislativo, que compreende a análise, discussão e proposição de Projetos

Page 25: Neomondo 17

neo mondo - setembro 2008 a

de lei, cabe ao vereador realizar o atendi-mento direto aos munícipes, vistoriar de perto os problemas da cidade e viabilizar as possíveis soluções” - afirmou.

ele revela que muita gente se equivoca e entende que o legislador pode executar intervenções na cidade. “este trabalho é do Prefeito, nós apenas indicamos ou mo-bilizamos organismos da Prefeitura para tais providências” – disse serra.

Para executar bem a função de vere-ador, ele acredita ser imprescindível co-nhecimento básico do ordenamento jurí-dico, qual seja, constituição Federal, lei orgânica do município, entre outros, bem como conhecimento dos equipamentos e funcionamento da cidade.

o vereador, que recebeu a maior vo-tação na história de santo andré, acre-dita que há uma evolução na consciência dos eleitores, que conseguem reconhecer e destacar os políticos que atuam com seriedade. Diz ainda que cabe aos políti-cos trabalharem para alterar a descrença nas instituições públicas, fator que con-sidera prejudicial à própria democracia. “Devemos intentar uma reforma política séria com a valorização de partidos for-tes e ideológicos, sem nos esquecermos da participação popular que é, sem som-bra de dúvida, o maior instrumento de mudança por possuir a melhor arma de-mocrática: o voto consciente” – concluiu o vereador.

Transformando a qualidade de vidaas decisões públicas têm forte influ-

ência sobre a qualidade de vida da popu-lação. o prefeito de ribeirão Pires, clóvis Volpi, cita como exemplo a construção de um novo hospital na cidade, que aumen-tará a capacidade de atendimento. “cada vez que você constrói um posto de saúde, uma escola, uma quadra esportiva, você melhora o acesso da população aos direi-tos básicos de saúde, educação e lazer e isso, significa melhorar a qualidade de vida” - afirmou.

o representante do legislativo de santo andré, Paulinho serra, entende que o cargo de vereador deve valer-se do contato direto com a população para entender suas necessidades e produzir, através de projetos de lei ou de propo-sições à Prefeitura, projetos que benefi-ciem os interesses coletivos. exempli-fica alguns resultados obtidos como a

• Administrar a cidade;

• Representar legalmente a população, intermediando politicamente com outras esferas do poder, sempre com intuito de beneficiar o município.

• Reivindicar convênios, benefícios e auxílios para o município;

• Apresentar projetos de Leis à Câmara Municipal, sancionar, promulgar, publicá-las ou vetá-las;

• Atender a comunidade, ouvindo suas reivindicações e anseios;

• Manter os serviços públicos municipais funcionando corretamente, como, por exemplo, zelar pela limpeza da cidade, manter postos de saúde, esco-las e creches, transporte público, etc;

• Administrar os impostos:IPVA, IPTU, ITU (dinheiro público) e aplicá-los da melhor forma.

redução da alíquota do itBi (imposto de transmissão de bens) e iPtu em al-guns casos, reforma e iluminação de várias ruas e praças, individualização da cobrança de água em condomínios e

ainda o programa de reciclagem de óleo vegetal. “o contato mais direto com a população permite-nos um aprendizado único sobre caminhos para melhorar a vida das pessoas” – revela ele.

Principais funções do prefeito:

• Fiscalizar a ação do prefeito, garantindo que os recursos sejam aplicados de acordo com o que estabelece a lei;

• Apresentar e aprovar leis que melhorem a cidade e a qualidade de vida de seus moradores;

• Analisar e votar leis ligadas à prefeitura e ao poder executivo;

• Receber os eleitores e ouvir sugestões, críticas, reivindicações;

• Representar a comunidade que o elegeu;

• Ser a ponte de ligação entre os eleitores e o governo.

Principais funções do vereador

neo mondo - Dezembro 2008 25

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26 neo mondo - Dezembro 2008

É inquestionável que os órgãos am-bientais estão longe de possuir a estruturação ideal para exercer

uma gestão ambiental eficiente, conside-rando a imensidão territorial do estado. Vemos isso todos os dias nos jornais e emissoras de tV. a exemplo do que ocorre com a saúde e a educação, a ges-tão ambiental descentralizada e integra-da com os municípios é uma necessidade urgente, com base na Política estadual do meio ambiente na qual está expresso o desafio de conciliar o desenvolvimento sustentável através de crescimento eco-nômico e preservação ambiental.

o modelo pressupõe formas racionais de uso dos recursos naturais disponíveis e requer uma revisão crítica do modo de in-tervenção do poder público na consolida-ção de políticas de desenvolvimento, assu-mindo o fortalecimento dos mecanismos de gestão ambiental de modo a conferir mais eficácia ao licenciamento, fiscalização e monitoramento desses recursos. É neces-sária a estruturação dos municípios, para que possam assumir a gestão ambiental de atividades de impacto local, objetivando preparar os municípios para o processo de descentralização e ou compartilhamento da gestão ambiental com o estado.

em síntese, para que os municípios possam se habilitar à assinatura de convênios de descentralização/compar-tilhamento da gestão ambiental com o estado deverão: • Possuir unidade administrativa com o

fim de desempenhar as funções ine-rentes ao poder de polícia administra-tiva ambiental;

• manter em seu quadro corpo técni-co próprio, devidamente capacitado, para o exercício da função inerente à gestão;

• Prever dotação na lei orçamentária municipal para a execução de pro-gramas, projetos e atividades vol-tadas para a proteção dos recursos naturais;

• ter conselho municipal de meio am-biente atuante e com detalhamento de sua composição, observada a parti-cipação da sociedade;

• criar modelos de licenças ambientais assim como autos de infração e demais instrumentos necessários à execução das ações de licenciamento, fiscaliza-ção e monitoramento ambiental.

o meio ambiente e as futuras gera-ções agradecerão penhoradamente.

Gestão ambiental

Assessor da Qualidade, Meio Ambiente, Responsabilidade Social e Ouvidoria. Engenheiro com mestrado

em Qualidade e Pós-graduação em Gestão Ambiental.

Artaet Arantes da Costa Martins

integrada com os municípiosMunicípios e Estado compartilhando

a gestão ambiental.

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neo mondo - Dezembro 2008 27

É competência do município a orga-nização dos serviços públicos de interesse local. como a limpeza

urbana se insere nessa categoria, o trata-mento dos resíduos sólidos urbanos é um encargo municipal.

Por repercutir diretamente na saúde da população, esses resíduos precisam de uma disposição final adequada.

existem diferentes métodos de dis-posição, tais como a usina de compos-tagem, mais indicada para os resíduos domésticos; a incineração; o aterro sani-tário, elaborado a partir de normas técni-cas de instalação; e, ainda, a reciclagem quando é viável o reaproveitamento.

no Brasil ainda é muito utilizado o depósito a céu aberto, mais conhecido como lixão, sendo esse altamente po-luente. no entanto, o tratamento do lixo através de aterros está ganhando mais visibilidade com a execução de proje-tos de mecanismo de Desenvolvimento limpo – mDl.

os aterros sanitários são uma forma ambientalmente indicada e economica-mente viável para o tratamento dos resí-duos. além de compactar o lixo e cobri-lo com terra, evitando-se os problemas causados quando este fica exposto, ain-da é possível capturar o gás metano e assim, diminuir a emissão de gases cau-sadores do efeito estufa.

tais gases são capturados nos ater-ros através da implementação de pro-jetos de mDl e transformados em cré-ditos de carbono. a negociação desses créditos, chamados de reduções certi-ficadas de emissões (rces), pode acon-tecer por meio de leilões eletrônicos, como o realizado pela Bolsa de merca-dorias e Futuros (Bm&F Bovespa) em setembro de 2008.

a Bm&F já promoveu dois leilões e negociou rces provenientes de aterros sanitários da Prefeitura do município de são Paulo. em cada um deles foram ar-recadados mais de 30 milhões de reais. o Brasil tem se destacado no desenvol-vimento de projetos de mDl tendo, in-clusive, sido o primeiro a ter um projeto aprovado no conselho executivo das nações unidas. esse feito foi realizado pelo Projeto novaGerar, no município de nova iguaçu, rio de Janeiro, e os seus créditos de carbono já foram vendidos ao Banco mundial.

a inadequada disposição final dos resíduos urbanos é um fator que trans-forma o lixo em um grande problema ambiental. É certo que se deve ter como prioridade reduzir a geração dos resídu-os e somente em um segundo momento

Natascha Trennepohl

promover a reciclagem ou uma adequada destinação final. assim, quando não se consegue evitar a sua geração, deve-se partir para o desenvolvimento de meca-nismos que minimizem os efeitos nega-tivos do lixo.

como se pode perceber pelos exem-plos narrados, o adequado tratamento dos resíduos sólidos, além de repercutir em ganhos sociais e ecológicos, também gera um excelente retorno financeiro para as prefeituras responsáveis pela gestão dos aterros sanitários e dos pro-jetos de mDl.

Resíduos sólidos e

Natascha TrennepohlAdvogada e consultora ambiental

Mestre em Direito Ambiental (UFSC)Doutoranda na

Humboldt Universität (HU) em Berlim

Correspondente especial de Berlim – AlemanhaMecanismos de

Desenvolvimento Limpo

Page 28: Neomondo 17

O rumo da política, iniciado na Grécia antiga, segue ao seu primeiro objetivo: o bem para todos.Livi Carolina

À sociedade,

especial - Política

de volta ao passadosegundo a cientista política e profes-

sora do instituto universitário de Pesqui-sas do rio de Janeiro – iuPerJ, thamy Pogrebinschi, a política surge com a his-tória da humanidade, pois se dá a partir do convívio em sociedade. uma vez que os homens precisam uns dos outros para prosperar e se aperfeiçoar, é necessário que haja regras de convivência para lidar e gerar o bem a todos os diferentes de uma mesma sociedade.

“os homens precisavam das mulheres para procriarem, dos servos para trabalha-rem, formando assim pequenos núcleos: famílias, vilas, cidades e estado. a partir disso, foi estabelecida a política do “viver junto”, determinando o que era justo ou não para com todos, diferenciando o bem ou mal diante do outro, administrando a justiça para o conjunto de pessoas” – relata a cientista.

os primeiros a pensarem desta forma e a repercutirem suas reflexões foram Pla-tão e aristóteles, mestre e discípulo, filó-sofos da Grécia antiga. embora aristóteles acreditasse que os filósofos deveriam go-vernar a república, enquanto aristóteles era favorável à democracia, ambos pensa-vam no bem comum a todos.

H á quem diga que não gosta de política, e justificativas não faltam para tal repúdio. al-

guns dizem que isso se deve à sua suposta complexidade, outros se isentam de sua responsabilidade e justificam sua falta de interesse ao fato de políticos serem “todos iguais”, há ainda aqueles que se eximem e dizem ter outras coisas com as quais se preocuparem e não têm tempo para se dedicar ao co-nhecimento da política. indepen-dente da motivação, o fato é que a grande maioria dos brasileiros não conhecem a real utilidade da política.

De acordo com o dicionário, entre outros significados, o termo

trata da arte ou ciência da organiza-ção, direção e administração de nações

ou estados. contudo, vemos que, ao longo dos anos, sua história confundiu-se com a astúcia e o maquiavelismo de alguns homens, de modo que sua real

função foi descaracterizada. Porém, ao voltarmos ao passado, é possí-

vel verificar sua importância na evolução da sociedade.

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À sociedade,

em sua obra intitulada Política, aris-tóteles escreveu: “Vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade, e toda co-munidade se forma com vistas a algum bem, pois todas as ações de todos os ho-mens são praticadas com vistas ao que lhes parece um bem; se todas as comuni-dades visam a algum bem, é evidente que a mais importante de todas elas, e que in-clui todas as outras, tem mais que todas este objetivo e visa ao mais importante de todos os bens; ela se chama cidade e é a comunidade política”.

influenciado por parte de suas idéias, o estadista Péricles governou atenas por 30 anos. seu objetivo era proporcionar uma democracia ideal, ha-vendo equilíbrio entre os interesses do estado e dos cidadãos.

no período chamado “século de Péri-cles”, o povo reunia-se em praça pública, chamadas ágoras, formando as assem-bléias Públicas, onde suas idéias e reivin-dicações eram ouvidas. Desde então, bus-ca-se uma forma diferente de viver junto.

a contribuição de MaquiavelPara a cientista política, no entanto,

mesmo a democracia grega, que sempre

a Políticafoi exemplo de perfeição, na qual o povo decidia os rumos da sociedade em praça pública, estudos mostram que não era bem assim. “mulheres e escravos eram excluídos. Péricles, suposto mentor da democracia, cometeu vários atos contra o bem público” – destaca. mas somen-te décadas após seu regime, a obra “o Príncipe”, um manual da política, de nicolau maquiavel, tratou sobre o uso pernicioso da governança política.

“os termos da política, arte de go-vernar e astúcia, se confundiram na reflexão de maquiavel, que dizia que os fins justificam os meios. contudo, é claro que política implica em poder e aqueles que recebem poder naturalmen-te são tentados a exercê-lo de maneira não neutra, manipulando-o para o que bem entender” – ressalta.

Para explicar, thamy Pogrebinschi cita uma frase de James ma-dison, quarto presidente dos estados unidos, considerado o Pai da constituição ameri-cana: “se os homens fossem anjos, não seria necessário ha-

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30 neo mondo - Dezembro 2008

ver governo. se os homens fossem governados por anjos, não seriam ne-cessários sistemas de controle sobre o Governo”.

a influência do jeitinho brasileiroDe acordo com a cientista, além

da preponderância da natureza huma-na sobre a corrupção da governança, os fatores cultura e institucionalização

também se destacam. uma vez que, se o cidadão convive com uma cultura de exceção à regra, com a intenção de “se dar bem” em detrimento do outro, utilizando-se de vantagens para ocupar cargos, entre outros, estes pequenos atos irresponsáveis geram uma grande engrenagem de desmoralização. Por-tanto, passa-se a ser óbvio que, ao ter o poder em suas mãos, o indivíduo aja da mesma forma.

aristóteles já falava sobre a influ-ência da natureza quando escreveu: “o homem, quando perfeito, é o melhor dos animais, mas é também o pior de todos quando afastado da lei e da jus-tiça, pois a injustiça é mais perniciosa quando armada, e o homem nasce do-tado de armas para serem bem usadas pela inteligência e pelo talento, mas podem sê-lo em sentido inteiramente oposto. logo, quando destituído de qualidades morais, o homem é o mais impiedoso e selvagem dos animais...”.

conforme afirma thamy Pogrebins-chi, neste sentido, só haverá mudanças quando o ato de não jogar lixo na rua não seja por receio de ser multado, como acontece em outros países, mas porque há consciência de que isso pode ser pre-judicial à convivência em sociedade.

além disso, ela destaca outros dois fatores: o passivismo da sociedade e as brechas das instituições para a situa-ção política.

“a forma passiva com que o povo reage às situações acontecem com o

País, e não me refiro a passeatas ou grandes movimentos, mas a formas or-ganizadas de manifestar seu repúdio, como a internet, permite que haja um ar de desinteresse e falta de fiscaliza-ção” - ressalta.

o segundo fator refere-se à maneira com a qual as instituições são organi-zadas, a manipulação dos cargos, a tro-ca de interesses e as brechas na legis-lação. “Para combater é preciso mudar não só a cultura, mas as instituições, mudar seus mecanismos. e acho que temos melhorado muito nesta questão. são somente vinte anos da nova cons-tituição e já tivemos grandes avanços, fortalecimento da democracia e de afir-mação dos direitos humanos. os três poderes e o sistema partidário vêm se modernizando, hoje há mais alternân-cia de partidos no poder. o ministério público está agindo e temos visto uma atuação mais forte da Polícia Federal, o que mostra que há legislação e ela tem sido respeitada, caso contrário não ha-veria denúncias nos noticiários, assim como há alguns anos” – destaca a cien-tista política.

especial - Política

antonio cruzaBr.jpg

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa na cerimônia comemorativa dos 20

anos da Constituição, no Palácio do Planalto

São somente vinte anos da nova Constituição e já tivemos grandes

avanços, fortalecimento da democracia e de afirmação dos direitos humanos

“” Thamy Pogrebinschi, Professora do IUPERJ

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31 neo mondo - Dezembro 2008

A principal característica do federa-lismo é a existência harmoniosa de ordens jurídicas parciais con-

vivendo num mesmo espaço territorial.e é essa autonomia, ainda que relativa,

que garante a atuação na área de compe-tência que lhe é atribuída, a cada ente que compõe a federação.

e não se diga que a participação das co-munidades na formação da vontade nacio-nal, por representação no senado, é requisi-to essencial na construção do federalismo, pois essa forma se desenvolveu diferente-mente nos diversos estados no século XX, por razões históricas e políticas distintas.

a situação do município no Brasil é o exemplo mais discutido em torno dessa representação.

longe de dúvidas é a posição do mu-nicípio enquanto inserido no atual pacto federativo brasileiro, com as devidas pecu-liaridades que sua estrutura impõe.

De fato, o reconhecimento formal do município, como integrante da federação, implica uma reestruturação do poder e passa a informar reconhecidamente o con-teúdo do federalismo brasileiro.

a despeito de muitas opiniões de escol, a quem se rende profundo respeito, e que ainda relutam em aceitar a presença dos municípios no cenário do pacto federativo, por motivos diversos, dentre as quais sua não representa-tividade no senado Federal e a subordinação às constituições estaduais, é de se perguntar quais as exigências e os requisitos necessários ao reconhecimento de autonomia e participa-ção a legitimar suas competências constitu-cionalmente reconhecidas.

a capacidade de organização, de auto-governo, de atividade legislativa própria, de auto-administração e de autonomia financei-ra, bem como a gama de matérias que lhe são destinadas pela constituição Federal, alçam o município a um patamar de igualdade, ao me-nos formal, com os estados que integram a Federação, construída nos moldes clássicos.

Demais disso, as próprias atribui-ções de competências, sejam as tributá-rias (impostos, taxas e contribuições de melhoria), sejam as ambientais (tanto as legislativas, concernentes ao interesse local, quanto as materiais, de proteção e preservação ambiental) consagram a par-ticipação do município na peculiar estru-tura da federação brasileira.

a estrutura das competências dirá o tipo de federalismo que se adota, podendo ser centrípedo (com centralização de poder na união), centrífugo (com concentração de poder nos estados) ou de equilíbrio (com repartição equilibrada de competências).

em que pese opiniões em contrário, certamente o Brasil adota uma repartição de equilíbrio, reservando aos entes fede-rativos matérias privativas, tanto legisla-tivas quanto materiais, repartindo outras, dando contornos de concorrência e atu-ação mútua, e conferindo suplemente e complemento noutras tantas.

entretanto, o que deve ser reconhecido é que a atual forma de classificar o estado em unitário e federal há muito está superada, vin-gando atualmente um sistema de repartição de competências mais complexo e eficiente, onde a democracia e diversidade cultural têm um norte significativo na adoção das políticas necessárias a cada localidade e região.

evidentemente que deve ser feita a devida ressalva quando se tratar do órgão central, no caso a união, a representar a república Federativa do Brasil em acor-dos e tratados internacionais, pois então a união será pessoa jurídica de direito pú-blico internacional, constitucionalmente competente para comprometer o estado brasileiro na ordem mundial, conforme preceitua o art. 5.°, § 2°, da carta magna.

no aspecto ambiental, os municípios podem se valer do uso do imposto Predial territorial urbano - iPtu, dada sua pro-gressividade no tempo e seu uso de acordo com a função social da propriedade.

Terence Trennepohl

o próprio estatuto da cidade, lei n.° 10.257/01, em seu art. 7.º fixou a progressivi-dade como instrumento de política urbana.

Por fim, o imposto sobre serviços – iss, e as diversas formas de se estimular as em-preitadas na área ambiental com a redução de ônus e a concessão de incentivos.

o mesmo pode ser realizado com as taxas e contribuições de melhoria, depen-dendo da atividade a ser tributada.

Para se coadunar às finalidades do Di-reito ambiental, as taxas que tem serventia podem ser de serviço, com a colocação ou disposição de serviços públicos de natureza ambiental, e taxas de polícia, aplicadas no exercício de fiscalização e controle de ativi-dades que exijam licenciamento ambiental.

alguns exemplos foram dados, legal e le-gitimamente colocados à disposição dos mu-nicípios para bem gerir o meio ambiente.

mãos à obra!!

o Município

na federação brasileira, e o uso do IPTU e do ISS Ambientais

Advogado de Martorelli e Gouveia Advogados

Professor da UFPEMestre e Doutorando em Direito (UFPE)

E-mail: [email protected]

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neo mondo - Dezembro 200832

Lei de Responsabilidade Fiscal obriga governantes a informarem a direção do dinheiro público.Livi Carolina

especial - Política

Fiscalizar,

A tuar com visibilidade, plane-jamento, profissionalismo e responsabilidade no uso do di-

nheiro público pode parecer uma obri-gação óbvia de um administrador, mas no Brasil, há um histórico que mostra uma realidade diferente. a saída foi criar mecanismos legais para garantir a seriedade e boas práticas orçamen-tárias. um dos mais importantes é a lei de responsabilidade Fiscal (lrF). o conselheiro substituto do tribunal de contas do estado de Pernambuco, ex-auditor da secretaria da Fazenda, mestre e doutorando em direito, mar-cos nóbrega, autor de diversos títulos sobre a lei complementar 101/00, de-fende que a lrF representa um marco na administração pública brasileira, uma vez que impõe um novo padrão de conduta fiscal por meio do planejamen-to, da transparência e do equilíbrio dos gastos públicos.

“não é difícil entender o que obriga a lei porque é algo intrínseco ao dia-a-dia. todos têm prioridades de contas. e a de-mocracia e a governança tentam levar isto para a gestão pública, porém, com uma responsabilidade maior, pois se trata do dinheiro público. Por isso, é importante conhecer o planejamento para ter força para cobrar” – destaca nóbrega.

dever de todos!

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Fiscalizar,

neo mondo - Dezembro 2008 15

o economista ilustra, com humor, a medida como uma tentativa de acabar com a síndrome de Gabriela: “‘eu nasci assim, eu cresci assim... Vou ser sempre assim’. o fato de termos problemas não significa que continuaremos com eles” – disse ele.

históricoo fim do regime militar, o início do

Programa nacional de Desestatização, a instabilidade econômica, o confisco de poupanças, o advento do Plano real, sua desvalorização e as sucessivas notícias de corrupção caracterizaram um período de desequilíbrio econômico. mesmo com as tentativas de reformas a nível institucio-nal e normativo, era preciso estabelecer regras rígidas para equilibrar as contas pú-blicas e reverter a imagem desmoralizada na destinação dos recursos públicos.

neste contexto, foi introduzida a lei de responsabilidade Fiscal marcando uma nova fase nas finanças públicas. a nova lei procurou tratar os aspectos mais deficien-tes da administração, legislando a favor da ação planejada e transparente, da previsão e correção de riscos capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas e da obedi-ência aos limites.

“a lei veio dificultar a ação de gestores que solicitavam 60 milhões para execução de projetos, enquanto eram investidos so-mente 5 milhões. ou, como acontece mui-to nos pequenos municípios, onde existe menor fiscalização, os gerenciadores têm capital disponível para direcionar a deter-minada área e, por falta de planejamento, ao final do mandato sobram recursos que

são mal direcionados somente com o in-tuito de encerrá-los. ou ainda, há aqueles que superfaturam o orçamento com obras no último ano e deixam dívidas para seu sucessor” – destaca nóbrega.

De acordo com nóbrega, com o ad-vento da lrF, a constituição Federal se modernizou e melhorou muito, fator que demonstra a maturidade do federalismo brasileiro.

ele destaca que, por meio da lei de responsabilidade Fiscal, além do ajuste das contas púbicas, também é possível obter melhorias em alguns temas funda-mentais, como a educação e o bem-estar da população, uma vez que o capital é bem direcionado. “esta atuação também é im-portante para o desenvolvimento do País, pois o empresário se sente mais confiante em investir” – ressalta o economista.

nova Culturano entanto, além da obrigação de

membros do governo em prestar contas às instâncias controladoras, uma das princi-pais funções da lei é estabelecer uma nova cultura fiscal que ofereça melhores condi-ções para que a população possa cobrar.

“agora a população precisa utilizar os meios que tem para isso. a constituição trata sobre a atuação dos conselhos Fis-cais, mas ainda não foram editados. em contrapartida, há também a carência de uma punição mais rígida àqueles que des-respeitam a lei” – destaca.

Diante deste quadro, marcos nóbrega utiliza uma frase de Juscelino Kubitschek: “o otimista pode errar, mas o pessimista já começa errando”.

dever de todos!

é importante conhecer o planejamento

para ter força para cobrar“ ”

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34 neo mondo - Dezembro 2008

especial - Política

objetivos da leisegundo marcos nóbrega, os objeti-

vos da lrF são:• instituir uma gestão fiscal responsá-

vel, com ênfase no controle do gasto continuado e no endividamento;

• Prevenir desvios e estabelecer meca-nismos de correção e punições a ad-ministradores pelos desvios graves e por eventual não-adoção de medidas corretivas;

• modificar profundamente o regime fis-cal brasileiro, dando um “choque” de transparência no setor público, com maior divulgação das contas públicas e, ao mesmo tempo, tornando-as mais inteligíveis.

Portal da transparênciaa controladoria-Geral da união – cGu,

órgão do Governo Federal responsável, no âmbito do Poder executivo, pela defesa do patrimônio público e pela transparência da gestão, disponibiliza o Portal da transpa-rência, onde o cidadão pode conferir como o dinheiro público está sendo utilizado. ele pode, por exemplo, obter informações sobre os gastos diretos realizados pelo Go-verno Federal, em compras ou contratação de obras e serviços, incluindo os gastos de cada órgão com diárias, material de expe-diente, compra de equipamentos, obras e serviços, entre outros, bem como os gas-tos realizados por meio de cartões de Pa-gamentos do Governo Federal.

consulte: www.portaldatransparencia.gov.br

Lei Complementar 101, de 4 de maio de 2000Responsabilidade Fiscal

Art. 1o Esta Lei Complementar estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, com amparo no Capítulo II do Título VI da Constituição.

§ 1o A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e trans-parente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por an-tecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em Restos a Pagar...

(...) Art. 4o A lei de diretrizes orçamentárias atenderá o disposto no § 2o do art. 165 da Constituição e:

I - disporá também sobre:

a) equilíbrio entre receitas e despesas; (...)

e) normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos programas financiados com recursos dos orçamentos;

f) demais condições e exigências para transferências de recursos a entida- des públicas e privadas;

(...)Art. 5o O projeto de lei orçamentária anual, elaborado de forma com-patível com o plano plurianual, com a lei de diretrizes orçamentárias e com as normas desta Lei Complementar:

I – conterá, em anexo, demonstrativo da compatibilidade da programação dos orçamentos com os objetivos e metas constantes do documento de que trata o § 1o do art. 4o;

II - será acompanhado do documento a que se refere o § 6o do art. 165 da Constituição, bem como das medidas de compensação a renúncias de receita e ao aumento de despesas obrigatórias de caráter continuado;

III - conterá reserva de contingência, cuja forma de utilização e montante, definido com base na receita corrente líquida.

Art. 8o Até trinta dias após a publicação dos orçamentos, nos termos em que dispuser a lei de diretrizes orçamentárias e observado o disposto na alínea c do inciso I do art. 4o, o Poder Executivo estabelecerá a programação finan-ceira e o cronograma de execução mensal de desembolso.

Parágrafo único. Os recursos legalmente vinculados a finalidade específica serão utilizados exclusivamente para atender ao objeto de sua vinculação, ainda que em exercício diverso daquele em que ocorrer o ingresso.

Art. 9o Se verificado, ao final de um bimestre, que a realização da receita poderá não comportar o cumprimento das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os Poderes e o Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias subseqüentes, limitação de empenho e movimentação financeira, segun-do os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias (...).

Marcos Nóbrega, especialista na Lei de Responsabilidade Fiscal

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35neo mondo - Dezembro 2008

Claudio Bastidas

O leitor talvez estranhe o tema do artigo: o que a Psicologia tem a ver com as políticas públicas? essa

estranheza tem razão de ser: nascida no século XiX, a Psicologia tem uma história recente, se comparada com outras ciências, como a Física, o que a torna uma ciência re-lativamente menos conhecida que grande parte das outras. além disso, as pesquisas sobre as intersecções entre a economia e a Psicologia são ainda mais recentes no meio acadêmico, como as que resultaram no Prê-mio nobel de 2002 para Daniel Kahneman (economia experimental) e Vernon smith (psicologia econômica).

há poucos dias, ao tratar da crise econômica, o Presidente lula aconselhou que o trabalhador deveria comprar mais. isso porque, seguindo a lógica do gover-nante, caso o povo diminuísse o consumo e caíssem as vendas do comércio varejis-ta, a indústria também produziria menos e, como conseqüência, haveria grande de-semprego e retração na economia. assim, podemos entender o discurso do Presi-dente como uma tentativa de intervir em aspectos psicológicos da população rela-cionados com o medo da crise.

os estudos sobre a Psicologia eco-nômica são muito diversificados. alguns exemplos: a influência de diferentes esta-dos emocionais na percepção da população sobre os fenômenos econômicos (Ferreira, 2007); as diferenças no modo como enten-dem a desigualdade econômica entre crian-ças e adolescentes de nível socioeconômico distintos (roazzi, Dias & roazzi, 2006).

no imaginário popular, as ciências econômicas estão associadas a números exatos e a uma concepção extremamente racionalista dos fenômenos. Dessa forma, para muitas pessoas, a condução da econo-mia obedeceria a uma suposta lógica preci-sa, exata, inquestionável, racional e única.

Do ponto de vista da Psicanálise, tanto o indivíduo, como os pequenos grupos e as grandes massas sofreriam influências de processos inconscientes, que envolveriam desejos e sentimentos primitivos diversos.

no plano individual, a relação que cada um de nós estabelece com o di-nheiro pode envolver diferentes fenô-menos psicológicos, tais como: culpa, expectativa infantilizada por cuidados da parte de outra pessoa, desejos auto-ritários, inveja, medo do fracasso, inse-gurança afetiva e tentativa de “comprar” o parceiro amoroso...

na vida em sociedade, o clima rela-tivamente sereno de uma discussão so-bre a política de segurança pública, por exemplo, pode se alterar muito frente a um caso isolado de assassinato que cau-sou impacto. mas, além de flutuações episódicas, a Psicanálise verificou que, tal como uma criança de pouca idade atribui ao pai características fantasiosas de um super-homem que a proteja de todos os perigos do mundo, parte da população nutre expectativas irrealistas e passivas de que os governantes tenham soluções rápidas e mágicas para problemas que, em verdade, são muito complexos.

Doutor em Psicologia Clínica pela PUC/ SP, membro do Lapecri (Laboratório de

Pesquisas da Criatividade) da USP, professor da Univ. Presb. Mackenzie

e Unia/Anhanguera. Autor do livro

“A Psicologia e o seu Dinheiro: entenda os fatores psicológicos que

afetam a sua relação com o dinheiro e tenha uma vida melhor” (Ed. Novatec).

sentimentos profundos de amor, de medo e de ódio tomam parte no modo como o povo se relaciona com as figuras de autoridade. Por outro lado, os que elaboram e executam políticas públicas tanto são influenciados por sentimen-tos inconscientes semelhantes como também procuram identificar anseios e sentimentos da população que, por vezes, mostram-se pouco racionais. um depoimento bem ilustrativo sobre o medo: um aluno meu, que trabalhou em uma escola pública, ouviu de um ado-lescente, que no passado também fora interno da Febem, que haviam mais grades naquela escola do que na unida-de da Febem.

assim, de acordo com a visão psi-canalítica, uma medida aparentemente corriqueira, como a publicação num di-ário oficial da abertura de uma licitação para a compra de grades para uma escola pública ou um discurso do Presidente da república, pode ocultar importantes as-pectos psicológicos.

e as políticas públicas

As intersecções entre a Economia e a Psicologia.

a Psicologia

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especial - Política

orçamento ParticipativoMecanismo democrático, o orçamento público, influencia diretamente na qualidade de vida do munícipe.Liane Uechi

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orçamento ParticipativoMecanismo democrático, o orçamento público, influencia diretamente na qualidade de vida do munícipe.Liane Uechi

D a mesma forma que uma família realiza um planejamento e previ-são de despesas, definindo prio-

ridades e direcionando seus gastos, o go-verno municipal realiza seus cálculos com base nas estimativas de receitas e despesas da prefeitura, da câmara de vereadores e de todos os órgãos públicos da administra-ção direta e indireta do município. a isso se dá o nome de orçamento municipal. nele, será definido como o dinheiro que sai compulsoriamente do bolso dos cidadãos-contribuintes será gasto a cada ano.

no Brasil, cabe ao Poder executivo realizar o orçamento e ao Poder legisla-tivo aprová-lo. mas, se estamos falando de dinheiro público, nada mais justo do que a população participar das decisões sobre a sua utilização. até porque a má gestão orçamentária resultará em defici-ências de serviços, políticas públicas e, conseqüentemente, afetará a qualidade de vida nas cidades.

entra aí uma nova modalidade desse mecanismo, denominado orçamento Par-ticipativo. o economista Valdemir Pires, professor e pesquisador da unesP/Fcl ara-raquara; coordenador do Grupo de Pesquisa unesP/cnPq sobre controle social do Gasto Público e autor de diversos livros, é um dos maiores especialistas no tema, tendo inclusi-ve, assessorado a implantação do oP em vá-rios municípios e obtido prêmios nacionais e internacionais com artigos sobre orçamento Participativo. ele relatou, em entrevista à neo mondo, os princípios e benefícios dessa importante ferramenta de controle social.

O que é um orçamento municipal participativo? Valdemir: É uma metodologia de gestão dos recursos econômicos-finan-cerios da prefeitura que considera as opiniões e as ponderações dos cidadãos comuns, sem cargo eletivo, na deci-

são orçamentária e na condução das despesas, principalmente dos inves-timentos. Para isso, são organizadas reuniões, plenárias, assembléias e são constituídos delegados e conselheiros que atuam em estreita colaboração com os eleitos e funcionários públicos, num processo de interação democráti-ca enriquecedora para ambos os lados – governos e cidadãos. Não é obrigató-rio, mas tem acolhida em dispositivos da Constituição Federal de 1988, da Lei de Responsabilidade Fiscal e do Estatu-to das Cidades. Em alguns municípios, ele é estabelecido na Lei Orgânica ou em legislação específica. Não é, porém, a lei que garante a eficácia desse ins-trumento inovador, mas sim, a vontade política do governo e da população em adotá-lo e fazê-lo funcionar sob constante aperfeiçoamento.

De que modo essa ferramenta permi-te o controle social? Valdemir: É fato que mais cabeças pensam melhor. Opiniões em confronto, desde que democraticamente contra-postas, também produzem melhores resultados. Mais fiscalização sobre o dinheiro diminui os espaços para manobras prejudiciais ao povo, como corrupção, malversação, desvio etc. Aos controles interno (assegurado pelos pro-cedimentos e órgãos do próprio Poder Executivo, como setores de contabilida-de e/ou controladoria) e externo (feito pelo Legislativo com apoio dos Tribunais de Contas), se junta o controle social ou societal dos cidadãos atentos. Em ter-mos conceituais e técnicos, o orçamento participativo possibilita a accountabili-ty, o empowerment e a ampliação do capital social, todos conceitos de larga aceitação internacional como caminhos para melhores governos e sociedades.

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Como ocorre a participação popular na elaboração desse orçamento? É através de entidades do Terceiro Setor? Valdemir: Não há uma única metodolo-gia para se fazer o orçamento participa-tivo, mas na grande maioria dos casos a participação se dá pela lógica “cada cabeça um voto”, podendo o cidadão co-mum, residente no município, votar nas prioridades, nos delegados e nos conse-lheiros, assim como, ser votado (para de-legado ou conselheiro). Em alguns casos, opta-se pelo esquema de representação interna ao OP: para participar o cidadão precisa ser indicado por uma entidade. A melhor forma de participação das enti-dades representativas e das ONGs é por meio da mobilização e preparação de seus afiliados e simpatizantes. Dessa for-ma, cria-se um envolvimento mais denso e qualificado, mesmo que a participação final se dê individualmente, o que parece o mais indicado.

Como cobrar a implantação desse mecanismo? Valdemir: Basta que haja grupos inte-ressados, dentro ou fora do governo ou da câmara de vereadores, para dar início ao processo, que deve ser pouco ousado no início – começando, por exemplo, com a abertura dos núme-ros, para conhecimento geral – e ir se aprofundando aos poucos, até atingir um nível em que a população decida,

junto com o governo (em co-gestão), de forma responsável e organizada. É natural que essa participação seja conflituosa, dada a natureza dos pro-blemas orçamentários, que envolvem disputas por recursos que são extrema-mente escassos.

Como um munícipe comum, sem conhecimento técnico, pode avaliar se o dinheiro público está sendo apli-cado corretamente? Valdemir: É possível traduzir a lingua-gem contábil complexa do orçamento em linguagem comum. Se o governo não faz isso, é preciso que indivíduos preparados ou entidades qualificadas o façam. Há casos em que o governo faz isso porque deseja o OP e há situações em que a formação e o preparo dos agentes populares são propiciados por entidades que estão forçando a aceita-ção do OP pelo governo. De qualquer maneira, o orçamento público não é o bicho de sete cabeças que parece ser. Há como abrir a “caixa preta”.

A chave depende um pouco de conhecimento técnico e muito da vontade política. A experiência tem surpreendido os céticos quanto à

especial - Política

capacidade do cidadão comum para enfrentar as dificuldades técnicas que a gestão orçamentária apresenta.

Há resultados expressivos desse mecanismo?Valdemir: O orçamento participativo foi criado no Brasil no final dos anos 70 e se consolidou nos anos 1980-90, estan-do agora em todo o mundo, indepen-dentemente de cor partidária. Em todos os lugares têm apresentado resultados positivos. É uma metodologia premiada pela Organização das Nações Unidas, in-centivada por organismos multilaterais como o Banco Mundial e, amplamente defendida por grupos acadêmicos e políticos em todo o mundo. Não é a solução para todos os problemas de governo ou de políticas públicas. Tam-pouco é fácil de ser implantado, pois existem várias armadilhas em seu cami-nho, mas desponta como uma esperan-ça de alcance expressivo num mundo de descrença em relação à democracia e de crises fiscais sistêmicas. Além disso, pode ter aspectos redistributivos que é preciso considerar, num mundo em que a pobreza precisa ser combatida em todas as frentes possíveis.

Valdemir Pires, especialista em orçamento participativo

compartilhamento de expectativas de futuro é cada vez mais incompatível com estruturas administrativas burocra-tizadas e centralizadoras. “O cidadão do século 21 impõe, cada vez mais, res-peito ao seu espaço de reflexão e de-cisão, não mais apenas nas esferas de participações formais, como partidos, sindicatos e associações, mas sobretudo nas redes da cidadania, do voluntariado e de informação” – afirma ela.

Diante dessa cidadania peculiar, faz-se necessário a criação de novas concepções de governo e de esfera pú-blica, voltados ao exercício democrático do diálogo coletivo. “A democracia par-ticipativa não é mais apenas uma op-ção, é uma necessidade dos governos que reconhecem a força da represen-tação cidadã, exercitam o respeito às posições divergentes e almejam o con-senso como política pública” – concluiu a titular.

Em Porto Alegre - RS o orçamento participativo é adotado com sucesso há vinte anos. Clenia Maranhão, titular da Secretaria Municipal de Coordenação Po-lítica e Governança Local, explicou que o OP tem ao longo desses anos permitido que a população decida de forma dire-ta a aplicação dos recursos em obras e serviços que serão executados pela admi-nistração municipal. “O funcionamento do OP é baseado na divisão da Cidade em 17 regiões geográficas. O primeiro passo é a prestação de contas do exer-cício anterior e a apresentação do Plano de Investimentos e Serviços (PIS) para o ano seguinte” - explicou. A partir daí, a população elege as prioridades, seus con-selheiros e delegados, que irão discutir e votar a matriz orçamentária.

De acordo com Clenia, essa experi-ência reforçou a cultura de participa-ção contínua, que já faz parte da his-tória do munícipio. Ela defende que a importância das cidades como espaços de convivência, de projetos de vida e

a experiência de Porto alegre

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neo mondo - Dezembro 2008 39

A gestão integrada dentro de boa parte das organizações limita-se à integração de temas que po-

dem ter sinergia e ganho quando geren-ciadas dentro de uma mesma sistemáti-ca. existe uma grande oportunidade de integração entre as várias partes inte-ressadas quando nos referimos à gestão ambiental, respeitando, é claro, o esco-po de atuação de cada segmento. hoje, é comum a participação do poder público, iniciativa privada e trabalhadores em fó-runs específicos de meio ambiente, segu-rança e saúde. essa integração propicia a adoção de medidas mais abrangentes, o que permite o correto entendimento e o eficiente gerenciamento dos variados temas que afetam a sociedade.

o poder público tem uma tarefa im-portante nos fóruns de negociação, atuan-do como mediador e catalisador de ações corretivas ou preventivas, sobretudo nas questões que geram impactos ao meio am-biente e à saúde das pessoas. a articula-ção dos diversos níveis da gestão pública nesse tema também é relevante porque delimita a atuação e as responsabilidades o que, nem sempre, é uma tarefa simples.

o grande desafio é buscar o atendi-mento às necessidades e expectativas dessas partes interessadas. isso porque,

embora tenham o mesmo objetivo, as variáveis que interferem em seus proces-sos são muito diferentes. Por exemplo: a velocidade necessária para um processo de licenciamento ambiental, do ponto de vista do empreendedor, representa a viabilidade do empreendimento. Já para o órgão público pode significar a necessi-dade de uma avaliação mais abrangente, considerando outros empreendimentos projetados e, para algumas entidades da comunidade, é importante a ocorrência de um processo em várias etapas, para que tenham tempo de avaliar e assimilar aquela novidade.

mas o fato é que todos têm como obje-tivo o desenvolvimento sustentável, com a preservação do meio ambiente e a equida-de social. Diante disso, não há dúvidas de que a participação das partes interessadas e a busca pelo consenso em prol de um ob-jetivo comum são a chave do sucesso para um modelo adequado de desenvolvimento sustentável.

integração basta? não. outro fator de grande peso é a evolução da edu-cação, capaz de influenciar fortemen-te esse modelo integrado de gestão. a correta preparação das pessoas para en-tender cenários e enfrentar situações de negociação é muito importante para a

Eduardo Sanches

eficácia do processo. tanto as empresas como órgãos públicos e instituições não-governamentais precisam preparar seus líderes para representar os interesses do segmento sem perder o foco nos objeti-vos, pois quando apenas uma parte pre-valece, o resultado é sempre o mesmo: “todos saem perdendo”.

esse tema tem despertado grande atenção, pois todos os assuntos que de-mandam uma participação mais efetiva da sociedade patinam diante das defici-ências técnicas dos gestores e do reduzi-do nível educacional dos interlocutores ou partes interessadas. estamos lidan-do com barreiras graves e que denotam a fragilidade do processo de mudança a ser enfrentado. ao não avançarmos, estabelece-se o círculo vicioso, em de-trimento do virtuoso.

Gestão integrada

Eduardo SanchesGerente de Meio Ambiente,

Segurança, Saúde e Qualidade de Grupo

Petroquímico. Professor universitário

de Gestão Ambiental e de Pós-Graduação (MBA).

Sem a participação dos diversos segmentos da sociedade nas discussões ambientais, todos corremos sérios riscos

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neo mondo - Dezembro 200840

O Brasil tem mecanismos inerentes à democracia: Conselhos Municipais, Estaduais, mas a sociedade ainda não sabe usufruí-los.Livi Carolina

especial - Política

vez, também teria a fundamental tarefa de acompanhar o rumo de sua escolha, parti-cipando de reuniões políticas e mantendo-se informada sobre as direções tomadas pelo representante que elegeu.

mesmo seguindo essas premissas, a democracia nunca chegou a conquistar a

totalidade da população como agente par-ticipante. logo quando surgiu, mulheres e escravos não tinham o direito de votar ou de defender suas opiniões. Porém, com o passar os anos, direitos foram conquis-tados, leis que aprovam e estimulam a participação foram criadas e aprovadas,

D esde às origens da democracia seu significado estava ligado à influência do povo no governo

de um estado. um regime político em que o poder de decisões governamentais importantes seriam tomadas, direta ou indiretamente, pelo povo. Que por sua

Conselho é bome todo mundo gosta

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Conselho é bom

A atuação dos conselhos é uma garantia de que o recurso público está sendo

bem direcionado“”

mas a população ainda não se acostumou e despertou para os novos direitos e nem mesmo para os antigos deveres.

Freqüentar conselhos, assembléias, ple-nárias, sessões solones e até mesmo utilizar-se de recursos como a internet para acompa-nhar a vida política dos prefeitos e vereadores, ainda são práticas pouco usuais para a maior parte dos brasileiros. mas aos poucos, o as-sunto começa a ocupar espaço em associações e organizações civis.

Criação dos Conselhosos conselhos, que a partir da consti-

tuição Federal de 1988, funcionam como mecanismos institucionais garantindo a participação da sociedade civil sobre os atos e decisões do estado, representam um dos mecanismos criados para envolver o cida-dão no processo de gestão das políticas.

compostos de forma paritária, de ma-neira que para cada conselheiro represen-tante do estado, haverá igualmente um re-presentante da sociedade civil (exceto nos conselhos de saúde e segurança alimen-tar), eles representam a instância máxima da deliberação das políticas públicas.

De acordo com o gerente de Fomento ao Fortalecimento de Gestão e controle so-cial da controladoria Geral da união – cGu, Fábio Félix cunha da silva, os conselhos são meios democráticos de atuação. servem não apenas para votar, mas, principalmen-te, para fiscalizar os trabalhos dos eleitos e participar da formulação de políticas de seus municípios, estados e país.

atualmente existe uma diversidade de conselhos dentro do Governo, desde

órgãos de consulta por parte do Presiden-te da república, como o conselho da re-pública, até os de assessoramento, como o conselho de Desenvolvimento econômico e social. há, também os conselhos de po-líticas de programas setorias, que buscam consolidar direitos como saúde, educação, assistência social, entre outros.

“a atuação dos conselhos é uma garan-tia a mais para a população de que o recurso público está sendo bem direcionado. além de ser também garantia para a administra-ção pública, uma vez que não existem audi-tores nesta área” – destaca silva.

Quem concorda com ele é a diretora de Departamento de Gestão ambiental e secretá-ria executiva do conselho municipal de Ges-tão e saneamento ambiental de santo andré – comuGesan, renata cristina Ferreira. “o trabalho desempenhado pelo conselho é im-portante para validar nosso esforço na gestão ambiental do município. É um meio para veri-ficar se o que estamos fazendo está de acordo com as necessidades da região. Porque saímos às ruas, vemos algumas necessidades, mas é diferente daqueles que convivem com os pro-blemas diariamente” – disse a diretora.

a contribuição das organizaçõeso comuGesan, que tem como obje-

tivo estudar, propor diretrizes, deliberar, fiscalizar e acompanhar a implementação da Política municipal de Gestão e sanea-mento ambiental em santo andré, vem experimentando gradativamente uma maior participação por parte da sociedade e relaciona este aumento com a expansão das organizações não-Governamentais.

e todo mundo gosta

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42 neo mondo - Dezembro 2008

especial - Política

no primeiro mandato, há dez anos, foram inscritas 23 entidades concorren-do a 11 vagas no conselho. neste ano, na eleição para 2009-2010, o número das organizações que ficaram de fora au-mentou muito. “com a sociedade mais organizada ela ganha mais força e passa a reivindicar mais seus direitos” – expli-ca a diretora.

após passar por uma avaliação do impacto do trabalho desenvolvido na re-gião, o instituto neo mondo foi um dos eleitos para o comuGesan 2009-2010. “estamos orgulhosos por ter conseguido chegar ao conselho. iremos questionar, quando necessário e apoiar os projetos que tragam melhorias ao município” - declarou o presidente do instituto, oscar lopes luiz.

é preciso investir na capacitaçãoembora cheias de vontade, muitas

das entidades que se candidataram as vagas dos conselhos não têm experiência na área política. Dominam suas especia-lidades, porém desconhecem os procedi-mentos políticos.

Para tanto, no caso do comuGe-san, no ano em que as entidades são eleitas, na primeira reunião do grupo, é oferecida uma palestra sobre as atribui-ções do conselho, tratando sobre o que é política, como aplicá-la e fiscalizá-la, entre outros. além dessa, outras pales-tras são oferecidas ao longo do ano. “É importante nivelar os conhecimentos dos conselheiros para que seja possível tomar decisões de maneira sábia e ob-jetiva, fruto de uma argumentação de igual para igual” – relata a diretora.

a controladoria-Geral da união - cGu também tem investido na capacita-ção e formação de conselheiros por meio do programa “olho Vivo no Dinheiro Público” para fomentar o controle social, cujo objetivo é sensibilizar e orientar conselheiros municipais, lideranças lo-cais, agentes públicos municipais, pro-fessores e alunos sobre a importância da transparência na administração pública, da responsabilização e do cumprimento dos dispositivos legais.

os cursos que podem ser presenciais com duração de uma semana e à distân-cia oferecendo materiais didáticos, vídeos, entre outros, já foram ministrados em 794 municípios, formando 4.316 conselheiros municipais, 4.175 agentes públicos muni-

1) As contas dos municípios devem ficar disponíveis para o contribuinte. (Constituição Federal, Art. 31 § 3º)

2) A prefeitura deve incentivar a participação popular na discussão de planos e orçamentos. Suas contas devem ficar disponíveis para qualquer cidadão. (Lei de Responsabilidade Fiscal, art. 48 e 49)

3) A prefeitura deve comunicar por escrito aos partidos políticos, sindicatos de tra-balhadores e entidades empresariais com sede no município a chegada da verba federal em um prazo máximo de dois dias úteis. (Lei nº 9.452/97, art. 2º)

4) Qualquer cidadão pode acompanhar o desenvolvimento da licitação. (Lei 8.666/93, art. 4º)

5) Qualquer cidadão poderá requerer à administração pública os quantita-tivos das obras e preços unitários de determinada obra executada. (Lei 8.666/93, art. 7º § 8º)

6) Qualquer cidadão poderá impugnar um edital de licitação por irregularida-de, nos termos da lei. (Lei 8.666/93, art. 41º § 1º)

7) O processo da licitação não é sigiloso. Seus atos e seus procedimentos são públicos e acessíveis a qualquer pessoa. A proposta é sigilosa, mas somente até a abertura. (Lei 8.666/93, art. 3º § 3º)

8) Qualquer cidadão pode obter cópia autenticada do processo da licitação e do conteúdo dos contratos celebrados pela Administração Pública, bastando que efetue o pagamento dos emolumentos devidos (Lei 8.666/93, art. 63)

Fonte: Portal do Programa Olho Vivo no Dinheiro Público

cipais, 4.752 lideranças locais, 978 profes-sores e 5.609 estudantes.

outra ação do governo para preparar o cidadão é o “Programa de Formação dos conselheiros nacionais”, idealizado pela secretaria-Geral da Presidência da república, e realizado em parceria com a universidade Federal de minas Gerais – uFmG. segundo a coordenadora do projeto, laura Jardim, o curso visa a for-mação em Democracia Participativa, re-pública e movimentos sociais e um ciclo de Debates, no qual são trabalhados os temas: democracia participativa, repú-blica, controle público, accountability*, sistema político brasileiro, processos par-ticipativos, gestão de políticas participati-vas, dentre outros.

o curso que tem 24 meses de duração, com característica à distancia, com o intui-to de atingir um número maior de pesso-as, é aberto para os cidadãos que desejam obter mais informações de como melhorar sua participação na vida pública.

o ganho de uma sociedade que ar-regaça as mangas e assume seu papel na democracia é uma política mais justa, que consegue identificar e atinguir as necessi-dades de sua cidade e corre menos riscos

Conheça e exercite seus direitos:

* remete à obrigação de membros de um ór-gão administrativo ou representativo de prestar contas às instâncias controladoras ou aos seus representados.

de ver seus representantes envolvidos em escândalos de corrupção.

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43neo mondo - Dezembro 2008

Márcio Thamos

C inqüenta anos atrás, às vésperas do natal, manuel Bandeira publi-cava, numa página de imprensa,

um texto em que fazia este lamento: “no meu tempo de menino não havia Papai noel, esse grande palerma francês de bar-baças brancas, havia era ‘a fada’, assim, sem nome, o que lhe aumentava ainda mais o encanto”.

tudo muda, até o natal. e não pode existir nada mais sem graça do que ver as tradições que nos marcaram a infância, de repente, desaparecer, dissipar-se nos cos-tumes e no tempo. absolutamente sem graça porque perdemos assim um pouco de nós mesmos e nos encontramos num mundo cada vez menos familiar, onde pu-déssemos reconhecer nossa própria iden-tidade. aliás, essa vertigem da mudança é uma das grandes aflições que nos impõe o mundo contemporâneo, e que, de vez em quando, nos dá aquela vontade de ir em-bora pra Pasárgada...

essa antiga cidade do oriente mé-dio, no século Vi a. c., tornou-se a capi-tal do império Persa, fundado por ciro, o Grande, que se fizera o rei dos reis de toda a Ásia ocidental. Desenvolveu-se aí o culto de mitras, o espírito da luz divi-na, que os persas adoravam. É esse um deus que se distingue, sobretudo, por sua pureza moral.

a doutrina de mitras sobreviveu à que-da do império Persa, quando, no iV século a. c., alexandre, o Grande, conquistou o oriente. e continuou a fazer adeptos pelos séculos seguintes, chegando a roma, no fi-nal da república, isto é, por volta do sécu-lo i a. c. o deus dos persas permaneceu aí pouco conhecido por bom tempo, até que, principalmente depois do século ii de nos-sa era, já no período de decadência do im-pério romano, seu culto caiu na preferên-cia dos soldados das legiões. Desde então, assimilado ao deus sol, mitras teve sua doutrina largamente difundida por todo o mediterrâneo. Quanto às cerimônias, os iniciados deveriam guardar segredo.

o mitraísmo pretendia explicar o sen-tido da vida através da queda da alma, li-teralmente, do céu à terra, passando por estágios iniciatórios pelos planetas. asse-gurava-lhe, contudo, uma redenção final. o mito conta a luta dos deuses do céu contra os deuses das trevas, de cujo desfecho de-pende o destino dos homens. os espíritos malignos querem espalhar a miséria pela terra, mas mitras ajuda os deuses do céu a salvar a humanidade. após lutar e sofrer pelos homens, mitras sobe aos céus numa carruagem de fogo. mas voltará ainda uma vez à terra para garantir a imortalidade aos bons, enquanto um fogo devorador vindo do céu acabará com todo o mal.

mas e o natal, o que tem a ver com o deus dos persas? Bem, o natal deve a mi-tras boa parte de sua origem. em meio aos festejos gerais de fim de ano, na roma im-perial, comemorava-se “o nascimento do sol invicto” (natalis solis invicti), em 25 de dezembro. a data marcava o solstício de inverno, período em que o sol, depois de se afastar ao máximo do equador, pare-ce estacionário durante alguns dias, antes

Doutor em Estudos Literários.Professor de Língua e Literatura Latinas

junto ao Departamento de Lingüística da FCL-UNESP/CAr.

Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica.

de começar sua reaproximação. o dia 25, segundo os cálculos dos astrônomos, seria o dia em que o sol retomava seu curso, vol-tando, então, a se fortalecer e preparando assim um novo período mais propício à vida, pois traria consigo a estação amena da primavera. 25 de dezembro era, portanto, festejado como o dia do nascimento de mi-tras. Foi só após a cristianização do império romano que a data passou a ser celebrada como o nascimento de Jesus. a rivalidade dos cultos e certas coincidências entre as doutrinas concorreram naturalmente para a fixação dessa data no calendário cristão.

Por isso, ir-se embora pra Pasárgada, num certo sentido, pode significar reen-contrar-se com o espírito do natal...

mandou-me à Pérsia

Papai noel

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espaço Verde urbano

Cenas

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PaulaLyn Carvalho

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PaulaLyn Carvalho é Diretora de Arte, Fotógrafa e Pesquisadora. Graduada

em Comunicação: Design Gráfico, Pós-Graduada em Arte Integrativa e

graduanda em Ciências Sociais. Pesquisa e registra o socioambiental nos parques

urbanos de São Paulo (Estaduais, Ecológicos etc.), Parques Nacionais e

Ecológicos, APAs e Reservas do [email protected]

www.paulalyn.com.br

da Cidade

São Paulo é uma cidade muito grande e populosa. Sendo assim, os seus problemas crescem proporcionalmente. Mas não pode cair nas mãos do descaso. Uma área como essa, por exemplo, utilizada para gerar aprendizado a tantos jovens e crianças, precisa de uma atenção especial. É apostar que uma atitude do presente, poderá evitar muitos problemas para o futuro.

De onde vem a água que você bebe? Esta foi a questão que o ISA (Instituto Socioambiental ) abordou para a Campanha “De olho nos Mananciais” com o intuito de conscientizar a população, principalmente das grandes metrópoles, sobre um dos maiores desafios deste século: a água potável. Acesse www.mananciais.org.br

25 de Março, todos os dias.O comércio ilegal, o excesso de pessoas, a falta de estrutura e a carência de um planejamento adequado para as áreas comerciais de muito fluxo, transformaram a Rua 25 de Março em um verdadeiro campo de batalha. Salve-se quem puder!

Limpeza em frente à Sala São Paulo, antes dos espetáculos. Que valores deixaremos para os nossos filhos?

neo mondo - Dezembro 200844

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Um olhar consciente da amazônia

Fiscal da Floresta

Sete anos de QueimadasUm balanço, feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, mostrou que mais de 90% das unidades de conservação da Amazônia sofreram múltiplas queima-das nos últimos sete anos (de 2000 a 2007). Isso corres-ponde a 617 das 674 reservas que existem no total. O

fato mais alarmante é que praticamente 100% das quei-madas são iniciadas pelo homem. Para piorar, a maioria dessas áreas não possui brigada de incêndio e muitas não tem nem sequer algum equipamento ou equipe fixa para controlar possíveis queimadas.

30% para sumirO Inpe afirmou que se mais 30% da Amazônia forem des-truídos, ela deixará de existir. Atualmente, 20% de toda a floresta já foi desmatada. Isso é equivalente a 1.6 milhões de km², de um total de mais de 8 milhões de km². Um estu-do feito pela Universidade Federal de Minas Gerais prevê

que quase metade da floresta que ainda existe tombará até 2050, caso o ritmo de corte raso continue o mesmo. Uma das regiões que mais sofrerá com isso é a região leste do Estado, a qual se transformará em uma savana pobre com ausência de chuvas.

O Ministério da Saúde divulgou que sete capitais da Amazônia Legal apresentam risco de surto de dengue entre novembro e março, meses chuvosos do inverno da região. Apenas Palmas e Macapá têm situações menos preocupantes. Apesar de algumas capitais apresentarem redução de nível de infestação em relação à medição de

2007, elas continuam em estado de alerta. As informa-ções foram obtidas através de um estudo chamado de “Levantamento Rápido de Índice de Infestação por Ae-des Aegypti” (Lira), que pesquisou imóveis de 161 muni-cípios brasileiros, entre capitais e municípios com mais de 100 mil habitantes.

Surto de dengue

Promoção do Turismo amazônicoA Organização do Tratado de Cooperação Amazônico (OTCA) anunciou uma iniciativa regional inédita para a promoção do turismo sustentável da região, chamada de “Ano do Destino da Amazônia 2009”. Entre as ações pre-vistas estão a de promover feiras, festivais, eventos gas-tronômicos e esportivos, além de festas populares amazô-

nicas, todas com a intenção de desenvolver um turismo sustentável, projetando uma identidade amazônica para atrair mais visitantes. Esta é a primeira campanha regio-nal envolvendo todos os membros da organização, que é formada por oito países sul-americanos (Bolívia, Brasil, Co-lômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela).

45 neo mondo - Dezembro 2008

A Revista Neo Mondo vasculha as ações e devastações da Amazônia Legal Brasileira e traz as principais novidades sobre a região.Da Redação

O sistema Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), in-dicou uma queda no desmatamento da Amazônia em com-paração a setembro. Foram 540 km² desmatados em outu-bro contra 587 km² em setembro. Se comparado ao mesmo

Queda no desmatamento em outubroperíodo de 2007, a derrubada foi 42 km² maior. Os Estados que mais sofreram com a destruição no mês de outubro foram Mato Grosso (232,8 km2) e Pará (218,2 km2). Entre as cidades, aparecem na liderança Altamira (73,5 km2), Itaitu-ba (52,9 km2) e Tucuma (44,5 km2), todas no Pará.

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Dica

Sugestões de livros

C PI(comissão Parlamentar de inquérito): é um or-ganismo de investigação e apuração de denún-cias que visa proteger os interesses da popula-ção brasileira. Quando finalizada, a cPi aponta os culpados e suas penas, tomando medidas ne-cessárias para a correção e punição dos mesmos (caso haja algum culpado). P lenário:

1. conjunto dos deputados federais, reunidos em sessão para debater matérias de interesse público ou para deliberar sobre proposições legislativas em pauta; 2. local em que acontecem as sessões da câ-mara dos Deputados.

P arlamentocâmara, ou conjunto das duas câmaras, que nos países constitucionais bicamerais exercem o Poder legislativo Federal. no Brasil, o parlamento federal

através das memórias da jornalista Yara Fal-con, “mergulho no Passado: a Ditadura que Vivi” enriquece a memória da ditadura militar de 1964. a baiana resgata sua trajetória como militante de esquerda e sua convivência política e pessoal com outros baianos e brasileiros famosos. o livro de memórias é escrito numa

MERGULHO NO PASSADO: A DITADURA QUE VIVIAutor: Yara FalconEditora: Livro Rápido

A POLÍTICA E A PALAVRA Autor: Bruno Maggioni; Carlo Maria MartiniEditora: Edusc

A PSICOLOGIA E O SEU DINHEIROOrganizadores: Claudio BastidasEditora: Novatec

o livro leva o leitor, através de exemplos e perguntas, a refletir sobre aspectos psicológicos que estão presentes no seu modo de lidar com o dinheiro, além de discutir sobre fatores psicoló-gicos que levam cada um de nós a viver de forma tão diferente com as finanças, como por exemplo, comprando demais, esperando mudanças “má-

gicas” (loterias), gastando pouco ou sentindo-se inseguro no amor por não ter dinheiro. em lin-guagem acessível, o livro ajuda o leitor a refletir sobre si mesmo e perceber melhor suas potencia-lidades, além de mostrar possibilidades de mudar o que não está satisfatório em sua relação com o capital.

linguagem de fácil compreensão e relata duros momentos da ditadura, além de importantes fatos políticos dos anos 60 e 70, como o con-tato entre as várias organizações de esquer-da, os movimentos estudantis, as atividades clandestinas e o grande esforço de resistência, desenvolvido pelos setores democráticos.

“a política e a Palavra” traz um texto crítico e re-flexivo sobre as condições da palavra no contexto do discurso político atual. o livro mostra que a política, se usada adequadamente, transforma as dúvidas e angústias em uma experiência reve-ladora, de esperança e força. Por outro lado, no contexto da mentira, dessacraliza-se, perdendo

sua virtualidade, seu poder reparador e inte-grador, afrouxando laços humanos e levando à desilusão. essas são as primordiais questões discutidas nesta obra breve, voltada não só aos estudantes da comunicação, mas também aos estudantes de Filosofia, ciências Políticas, educa-ção, teologia e linguagem.

P lenária: É a instância máxima de decisão do Fórum nacional do trabalho (Fnt). composta por 72 membros, dentre eles representantes dos traba-lhadores, dos empregadores, do governo e de pequenas empresas e cooperativas, a Plenária pode propor, com base no temário das discus-sões de momento, novos temas para negociação entre os grupos.

A nalfabetismo Funcional: Órgão do Poder legislativo de cada unidade da federação, cujos membros são eleitos pelo povo e a quem cabe elaborar, discutir e aprovar as leis de sua competência.

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Sem dúvida Poder executivo: executa as ações, administra a nação, cumpre as leis e age para que elas sejam cumpridas. É constituído geralmente pelo presidente da re-pública e seus ministros.

Poder legislativo: analisa as propostas e elabora as leis que irão reger a nação. É constituído pelo con-gresso nacional, que no caso do Brasil, é di-vidido em duas partes: o senado e a câmara dos Deputados.

Poder Judiciário: Julga e aplica as leis elaboradas pelo legis-lativo e exercidas pelo executivo. É cons-tituído pelos ministros, desembargadores e juízes.

é o congresso nacional, constituído pela câmara dos Deputados e pelo senado Federal.

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neo mondo - maio 2008 48