neomondo 20

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UM OLHAR CONSCIENTE www.neomondo.org.br Ano 2 - Nº 20 - Março 2009 - Distribuição Gratuita NEOMON DO EDIçãO ESPECIAL 28 Água Doce Entendendo a gestão, a cultura insustentável do uso brasileiro, a busca pela conscientização e as soluções ambientais 10 Água Salgada Mergulhe nesse mistérioso mundo aquático e conheça suas riquezas, importância estratégica e desafios para sua utilização sustentável

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Page 1: NeoMondo 20

um olhar consciente

www.neomondo.org.br

Ano 2 - Nº 20 - Março 2009 - Distribuição Gratuita

NeoMoNdo

Água

Edição EspEcial

A origem da vida

28

Água doceEntendendo a gestão, a cultura insustentável do uso brasileiro, a busca pela conscientização e as soluções ambientais

10

Água salgadaMergulhe nesse mistérioso mundo aquático e conheça suas riquezas, importância estratégica e desafios para sua utilização sustentável

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neo mondo - Julho 2008 2

O respeito com sua saúde começa na natureza, nas fontes onde a Sabesp vai buscar a água para levar até sua casa.

Passa pelas estações de tratamento, onde a mais moderna tecnologia é utilizada para garantir a qualidade da água que

você vai usar. Continua depois que a água foi usada, nas estações de tratamento de esgotos. Devolver a água usada para a

natureza em condições de permitir que a vida siga seu ciclo é uma questão de honra para a Sabesp. De honra e de respeito.

53567_205x275Cyan Magenta Yellow Black

Tuesday, March 17, 2009 8:54:36 PM

OS: 53567Cliente: Nova S/BOperador: higor Scanner: MarceloTipo de Prova: Chromedot

Page 3: NeoMondo 20

Seções

Diretor Executivo: Oscar Lopes LuizConselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Takashi Yamauchi, Liane Uechi, Eduardo Sanches, Marcio Thamos, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Dilma de Melo Silva, e Natascha TrennepohlRedação: Liane Uechi (MTB 18.190), Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586) e Rosane Araújo (MTB 38.300)Estagiário: Caio César de Miranda MartinsRevisão: Professor Antonio Colavite FilhoDiretora de Redação: Liane Uechi (MTB 18.190)Diretora de Arte: Renata Ariane RosaProjeto Gráfico: Instituto Neo Mondo

Correspondência: Instituto Neo MondoRua Caminho do Pilar, 1012 - sl. 22 - Santo André – SPCep: 09190-000

Para falar com a Neo Mondo:[email protected]@[email protected]

Para anunciar: [email protected]. (11) 4994-1690Presidente do Instituto Neo Mondo:[email protected]

Expediente PublicaçãoA Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24.

Tiragem mensal de 30 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas.

Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.

Perfila guerra das águas já começou! a água precisa ter valor social.

artigo: Por uma filosofia socioambientalsomos parte da natureza.

Dicas de livros e glossário.

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neo mondo - março 2009 3

Gestão requer muitos cuidados onG detecta 20 mil áreas de contaminação; sinal de alerta para o cnrh.

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soluções ambientaiso que é feito com a água servida?

esPecial - ÁGUa DOce

um olhar consciente da amazônia.

fiscal Da flOresTa

Podemos sim, produzir água! Facilitando a reposição das águas nos aquíferos e preservando as florestas.

18 normas ambientais e urbaniísticas da Billings aguardam votaçãoem busca da sustentablidade do maior manancial em área urbana.

20

telhados Verdesutilizando a natureza a nosso favor.

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nova e promissora fronteirasupercomputador integra a estratégia de exploração da Petrobrás.

artigo: Água nos processos industriaistecnologia e Gestão ambiental promovem alternativas sustentáveis às indústrias.

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Desafios pela frentenão basta ensinar a pescar; é preciso cultivar o peixe.

artigo: Visões sobre a água em sociedades tradicionaisrecurso indispensável da vida é celebrada por diferentes cultura.

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recurso limitado, dotado de valor econômicolei federal 9.433 de 1997 regularizou a outorga e instituiu a cobrança pela utilização da água.

22 artigo: Água com responsabilidade.o que considerar no Balanço social e ambiental.

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esPecial - ÁGUa DOce 14

06

28

o mar é o limite! a importância e a saúde dos nossos mares.

28esPecial - ÁGUa salGaDa

artigo: lançamento de esgotos sem tratamento um atraso da Política nacional dos recursos hídricos.

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artigo: o Brasil, o meio ambiente e a camada de Pré-salos desdobramentos ambientais dessa descoberta.

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amazônia em Pleno marBrasil busca ampliação de seus limites marítimos.

artigo: represa Billings uma octagenária com muita história.

40 43

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Dica46

Page 4: NeoMondo 20

Editorial

Um olhar consciente

InstitutoInstituto

NeoMondo

NeoMondo

Na edição de março, numa alusão ao dia Mundial das águas, em 22 de março,

nossa equipe de jornalistas e arti-culistas mergulhou nos temas das águas brasileiras para entender e traduzir os principais problemas e soluções relacionados a esse impres-cindível recurso natural. Dizer que sem água não há vida pode parecer lugar comum, mas a forma como a utilizamos não é coerente com essa consciência. Esse bem precioso está intrinsecamente ligado à vida, não apenas como componente bioquími-co de seres vivos ou como fonte de sobrevivência das espécies vegetais e animais, mas também no papel fundamental que desempenha nos processos produtivos industriais e até como elemento de valores sociais e culturais. Nossa necessidade dela é tão grandiosa que já se sabe que a possibilidade de escassez pode ser fator desencadeante de sérias disputas internacionais, e há quem afirme que essa guerra já começou. Nessa edição de março, nossas páginas estarão mergulhadas nesse elemento da natureza que brota em abundância em algumas regiões do nosso país, abençoado por quatro grandes bacias hidrográficas. Mas não é apenas de água doce que vive o brasileiro. Por isso, dividimos a revista em dois cadernos: Água Doce e Água Salgada. Temos quase 9 mil km de costa marítima e, apesar da pouca informação que chega ao cidadão comum, é nesse imenso portal que se esconde um enorme potencial de desenvolvimento.

O oceano oferece mais do que praias e lazer. Fornece alimento, sal, energia, minérios, petróleo e a maior parte do oxigênio que respiramos. No Brasil, ainda é responsável por 95% do comércio exterior, através do transporte marítimo. Trazemos também as principais e reveladoras conclusões do relatório “A Deriva”, do Greenpeace, trabalho realizado com base em entrevistas aos maiores especialistas brasileiros em oceanos. Fazemos um convite para descobrir como vivem as comunidades pesqueiras e, de lá, uma visita às plataformas de petróleo para compreender sobre o Pré sal, promessa de posicionar o país dentre os principais produtores de petróleo do mundo, mas que antes terá que vencer os desafios de se estruturar para as explorações. Também trazemos informações sobre a tentativa do Brasil em ampliar seus limites marítimos.Procuramos nesse trabalho mostrar um quadro real que permita reflexões seguidas de ações, porque, assim como dependemos da água doce e salgada, também elas dependem de nossas ações para que possam continuar, tal qual o sangue em nosso corpo, a pulsar a vida no planeta.

Boa leitura!

Liane UechiDiretora e Redaçã[email protected]

neo mondo - março 20094

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5neo mondo - agosto 2008

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neo mondo - março 20096

A água precisa ter valor social.Liane Uechi

Perfil

“A guerra das águas já co-meçou”. a afirmação é do professor christian

Guy caubet, doutorado em toulouse, na França, e profundo conhecedor das questões de Direito internacional Públi-co e Direito ambiental. É ainda autor dos livros: “a Água doce nas relações internacionais” e “a água, a lei, a políti-ca... e o meio ambiente?”. caubet apon-ta os problemas relacionados à água no mundo como algo conflituoso e de grande complexidade por estar vincula-do a decisões políticas.

a Guerra das já começou!

Neo Mondo: Quais os principais problemas relacionados aos nossos recursos hídricos?Christian: O principal problema está no valor que damos a água. A lei 9433 diz que a água é “um bem de domínio público com valor econômico”. Ai está o primeiro con-flito, pois ela deveria redimir nossas práticas mercantilistas em relação a esse bem e passar a ter um cará-ter social, o que evitaria situações como, por exemplo, a interrupção do abastecimento de água de uma

escola pelo não pagamento da con-ta de água. A ONU, através da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), indica como necessidade mínima diária 40 litros de água potável por pessoa, disponíveis no lugar de consumo. Essa quantidade ampa-ra a dignidade, pois representa a condição de saciar a sede, cozinhar e promover a higiene. Portanto, deveria ser uma quota mínima gratuita a que todo brasileiro teria direito, se a gestão da água tivesse um caráter social. A gestão dos recursos hídricos é, antes de tudo, uma questão de ordem política.

Neo Mondo: Qual a média do consu-mo no Brasil?Christian: Antes, como referência, é importante dizer que alguns paí-

Há remediações, há soluções, há caminhos, mas precisamos adotá-los já,

antes que seja tarde demais“”

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neo mondo - março 2009 7

a Guerra das já começou!

por lavagem. Um banho de imer-são consome 220 litros. Essa água, depois de utilizada, não é reapro-veitada, ela é descartada como se fosse um bem infinito. O Brasil mostra uma tendência de utilizar, cada vez mais, águas subterrâneas ao invés de águas de superfície.

Neo Mondo: É o caso do uso do Aquí-fero Guarani (nossa maior reserva de água doce subterrânea)?Christian: Sim, a cidade de Ribei-rão Preto, no interior paulista, é um exemplo clássico desse caso. Lá todo o consumo é retirado do Aquífero e a média de consumo por habitante é de 400 litros por dia. A cidade está afundando literalmente, pois a base calcária muito frágil está se dissolvendo e cedendo com a retirada do líquido. Há estudos que indicam alterações no solo, nos últimos 10 anos, que vão de 4 a 12 metros.

Neo Mondo: Esse tipo de utilização não compromete o Aquífero?Christian: Claro que sim, o uso de águas subterrâneas se deve ao fato de não cuidarmos das águas de

ses da África sobrevivem com uma média de 7 litros diários por pessoa. No Brasil, essa média é de 180 litros por pessoa/dia. Sob o aspecto da utilização, o cenário brasileiro é ca-tastrófico, e teremos que dar conta das consequências de nossos atos.

Neo Mondo: Á abundância de água é o que leva a esse comportamento?Christian: Como disse, há uma cul-tura mercantilista, com uma ênfase desmedida na compra e venda, que não está preocupada com a ques-tão da sustentabilidade. A água já brota com um valor comercial, que se segue nos processos de captação, tratamento para consu-mo e distribuição (onde se insere o transporte e faturação). Para se ter uma idéia: o relógio de água não mede o líquido consumido, mas o fluxo, ou seja, se injetarmos 3 m³ de ar, pagaremos o ar como se fosse água consumida. Quanto ao consumo insustentável, o país não acordou para essa situação. Não temos instrução pública básica para lidar com esse problema. No Brasil, lava-se um carro com mangueira que consome 180 litros Professor Christian Guy Caube

superfície e renunciarmos aos com-portamentos razoáveis e racionais. Deveríamos adotar o tratamento das águas superficiais como prio-ridade absoluta. Porém, optamos pelo regime do uso indiscriminado,

ÁGUas

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8 neo mondo - março 2009

Perfil

que ainda produz contaminação através de resíduos resultantes da exploração. Só acordaremos quando essa contaminação atingir patamares elevados. A lei que regulamenta a concessão da água também precisa ser respeitada. Atualmente, a outorga de quan-tidades de água é concedida sem a exigência do pretendente apre-sentar um Plano de Bacia, que é a previsão dos usos e de suas quan-tidades, realizada pelo comitê de bacia. Ora, se a Agência Nacional da Água não exige o cumprimento da lei para conceder outorga de direito de uso, quem o fará?

Neo Mondo: A água pode vir a ser motivo de conflitos internacionais?Christian: Já é motivo, mas a desconversa é generalizada: nin-

guém quer assumir e publicar que certos conflitos bélicos devem-se à conquista da água. As guerras do Iraque e da Faixa de Gaza são exemplos disso. Ambas envolvem áreas que possuem água, cujos usu-ários habituais devem perder seus antigos hábitos de consumo, segun-do os “Conquistadores das águas”. Se observarmos, verificaremos que uma das primeiras medidas de combate é explodir unidades de captação, tratamento ou abaste-cimento, interrompendo unidades de distribuição, transferindo o uso da água para os vencedores do conflito. A explicação é óbvia: água é mais importante que o petróleo, pois sem ela não há vida!

Neo Mondo: E quais as soluções para garantir esse recurso tão precioso?

Christian: Passam necessariamente pela mudança de valores morais e sociais. Hoje já se fala em “água virtual”, aquela embutida em com-modity, como exemplo de insumo grátis dos produtos agrícolas. A água virtual é um exemplo de como insistimos na concepção de utilizá-la como mais uma oportunidade de negócio. A água não é um produto, um negócio, um recurso. Ela é uma substância que precisa ser prioriza-da como algo de natureza social, a ser tabelada com preços públicos. Seria importante também que ficas-se sob responsabilidade municipal, pois é onde há maior proximidade e possibilidade de envolvimento da população em sua gestão. Há remediações, há soluções, há ca-minhos, mas precisamos adotá-los já, antes que seja tarde demais!

Fragmentação e Regulamentação dos rios

Inalterado

Altamente Afetado

Sem dados ou não Avaliado

EquAdor EquAdor

condições dos Rios no Mundo

Moderadamente Afetado

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neo mondo - setembro 2008 a

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especial - Àgua doce

oNG detecta 20 mil áreas de contaminação; sinal de alerta para o CNrH.Gabriel Arcanjo Nogueira

muitos cuidadosGESTÃO REQUER

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muitos cuidados

neo mondo - março 2009 11neo mondo - Fevereiro 2009 11

• Abordagem de mais de 450 mil denúncias e registros de poluição

• Identificação de responsáveis por crimes ambientais

• Participação da sociedade em mais de 30 mil comunidades

Fonte: Defensoria Social

o que é o Relatório A s veias do planeta que passam pelo território brasileiro precisam de mui-to cuidado para não se entupir de

vez. há mais de 20 mil áreas de contaminação por lixões industriais ou municipais, entre ou-tras que degradam nossos recursos hídricos.

os dados constam do relatório o estado real das Águas no Brasil, em sua segunda edição (2004-2008), feito pela Defensoria so-cial, derivada da Defensoria da Água, ambos organismos vinculados à conferência nacio-nal dos Bispos do Brasil (cnBB). “são mais de 5 milhões de pessoas afetadas diretamen-te e 15 milhões indiretamente, sem falar da poluição por plásticos não recicláveis”, diz leonardo aguiar morelli, secretário-geral da onG (www.defensoria.org.br).

Jornalista e escritor (autor do livro o Grito das Águas), com especialização em auditoria e Perícia sócio ambiental pela certiquality World Foundation, com sede em Genebra, morelli é crítico do modelo de gestão dos recursos hídricos brasileiros. o auditor não vê no conselho nacional de recursos hídricos (cnrh) a necessária integração. o que levaria a instituição a “cometer danos na medida em que sua ope-racionalidade esbarra em dois tipos de con-flito, o de atribuição e o de competência”.

a Defensoria considera “o governo ino-perante e o sistema - embora a lei diga ser participativo - é figurativo e esvaziado”. mo-relli lembra que, quando do lançamento da primeira edição do relatório, em 2004, que chegou até a organização das nações uni-das (onu), o cnrh teria votado moção de repúdio, sem ao menos tomar conhecimen-to do teor do estudo.isso porque, acredita o secretário-geral, “atacávamos o problema na raiz, responsabilizando grandes corporações pela contaminação das águas”. e acrescenta: hoje “os resultados são ainda mais graves”.

Ecumênica e suprapartidáriamorelli é enfático: “Pena os gover-

nantes só quererem ouvir o que lhes agrada. o que importa é que água de má qualidade mata”. o auditor defende uma reforma profunda do Judiciário, que es-tabeleça punições rigorosas a crimes am-bientais porque afetam a saúde pública. “há empresários do agronegócio e da indústria que precisam ser punidos pela sociedade”, afirma.

o secretário-geral explica: “embora atuemos muito com a campanha da Fra-ternidade, temos uma composição ecu-mênica, visão suprapartidária e muita, mas muita militância social”. tanta dis-posição não impede que deixe um recado amargo: “Pena que as pessoas aprendem apenas no susto, no medo ou no confli-to. temo pelos jovens. o quadro previs-to para 2050 com o império da nanote-cologia e convergência de tecnologias, o avanço de transgênicos, o domínio das reservas estratégicas por grandes cor-porações, afetando a soberania dos po-vos... não sei se há tempo ainda. o que está em risco não é o futuro do planeta, mas da nossa civilização”.

GESTÃO REQUER

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neo mondo - março 2009

especial - Àgua doce

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raylton alves/Banco de imagens ana

“”

Temo pelos jovens; o que está em risco

é o futuro da nossa civilização

Domingues quer comprometimento estadual na continuidade das ações

atRibUiçõEs do consElho

* Analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricos;

* Estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos;

* Promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os pla-nejamentos nacional, regionais, estaduais e dos setores usuários;

* Arbitrar conflitos sobre recursos hídricos;

* Deliberar sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos cujas repercussões extrapolem o âmbito dos estados em que serão implantados;

* Aprovar propostas de instituição de comitês de bacia hidrográfica;

* Estabelecer critérios gerais para a outorga de direito de uso de recursos hídricos e para a cobrança por seu uso;

* Aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos e acompanhar sua execução.

Fonte: CNRH

Mais voz aos comitêsa agência nacional de Águas (ana)

integra o cnrh e, a par do seu papel de agência reguladora, desempenha “importante papel técnico, assesso-rando diversas instâncias de decisão política do conselho”. Quem explica é o engenheiro agrônomo antônio Félix Domingues, coordenador-geral das as-sessorias da ana.

com vivência acumulada desde 1990 em assuntos hídricos e correlatos, Domin-gues defende que se dê papel mais pre-ponderante aos comitês de bacia. “esses colegiados já têm funções muito impor-tantes (como a de aprovação dos planos de bacias e a de fixação da cobrança pelo uso da água). seria importante que fossem ouvidos durante o planejamento de sane-amento de sua respectiva de área de atua-ção”, pondera.

o coordenador-geral de assesorias con-sidera que a gestão de recursos hídricos evoluiu no País, ao citar que há 12 anos (o cnrh foi criado em 1997) não havia nem a ana nem os comitês de bacias federais. mas aponta entre os desafios:• melhorar a comunicação social - “que

pode fazer com que a sociedade per-ceba o real valor da água e que cada setor social tenha a noção de sua res-ponsabilidade com relação aos recur-sos hídricos”;

• e garantir o comprometimento esta-dual de que ações em recusos hídricos terão continuidade, independente-mente de quem esteja governando”.

colegiado regulador e articuladoro cnrh, instituído pela lei nº

9.433, de 8 de janeiro de 1997 - a “lei das Águas” -, apresenta-se como “a ins-tância mais alta na hierarquia do sistema nacional de Gerenciamento de recursos hídricos”. Presidido pelo ministro do meio ambiente, dele participam repre-sentantes de ministérios, secretarias do governo federal, conselhos estaduais, usuários, onGs, entre outros.

Pela ficha de presença às reuniões ple-nárias (disponível no site ), a participação parece ser significativa.

É um colegiado ao mesmo tempo regu-lador, “que desenvolve regras de mediação entre os diversos usuários da água”, e arti-culador da “integração das políticas públi-cas no Brasil”.

Define-se como “orientador para um diálogo transparente no processo de de-cisões no campo da legislação de recur-sos hídricos”.

Dispõe de 10 câmaras técnicas: a de assuntos legais e institucionais; a de Águas subterrâneas; a de ciência e tecnologia; a de integração de Procedi-mentos, ações de outorga e ações re-

guladoras; a de educação, capacitação, mobilização social e informação; a do Plano nacional; a de análise de Pro-jeto; a de Gestão transfonteiriça; a de cobrança pelo uso; a de integração de Gestão das Bacias hidrográficas e dos sistemas estuarinos e Zona costeira.

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13neo mondo - março 2009

Márcio Thamos

a guerra de fato, a que se trava com armas materiais, exteriores, e pressupõe o triunfo da força bruta, essa foi desde sempre, em toda a história, a imagem da calamidade e do horror, fixando-se como o retrato da intolerância extremada e da cruel opressão entre os povos. mas a guerra mítica ou simbólica, a guerra cuja exterioridade seria uma espécie de proje-ção dramatizada de profundos conflitos humanos, essa representa o desejo de paz, a busca de harmonia, o esforço pela superação dos obstáculos que impedem o crescimento não apenas físico, mate-rial, mas também o necessário desen-volvimento metafísico, espiritual. não é por outra razão que o herói das epopeias simboliza o impulso evolutivo, o desejo essencial de transcendência.

não devemos ser alarmistas ou catas-tróficos (de nada adiantaria semear o desa-lento, alimentar a desesperança), mas hoje, mais do que nunca, temos que enfrentar a tirania do nosso próprio tempo e precisa-mos usar todas as nossas capacidades, todo o talento humano e toda a inspiração divi-na de que pudermos dispor para encontrar alternativas, possibilidades e soluções que garantam condições propícias à continuida-de das gerações em nosso planeta.

sem dúvida, não é fácil a tarefa que nos cabe por contingência histórica. e certa-mente uma das maiores dificuldades nes-sa guerra mítica e real em que, queiramos

Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas

junto ao Departamento de Linguística da UNESP-FCL/CAr,

credenciado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da

mesma instituição. Coordenador do Grupo de Pesquisa

LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica.

N a mitologia greco-romana, cro-nos ou saturno é o deus sobe-rano que devora os próprios fi-

lhos e, já na antiguidade, passou a ser identificado com o tempo. o mito conta que esse rei inflexível temia ser destro-nado por um de seus descendentes e por isso impedia, da maneira mais terrível, que algum deles pudesse afrontá-lo. no entanto, sua esposa reia, uma das mais antigas divindades da terra, conseguiu esconder um dos filhos logo após o parto e entregou ao marido uma pedra enro-lada em panos, que foi imediatamente engolida. o tirano, em sua avidez, achou que, mais uma vez, estava garantido o seu reinado. mas o menino cresceu e voltou para ajustar as contas com o pai. Zeus, como o chamavam os gregos, ou Júpiter, como diziam os romanos, de fato o destronou, dando assim início a uma nova era.

cronos é o dominador insensível (sem, aliás, o menor paladar), que rejei-ta a ideia de uma evolução natural e não pensa em se adaptar às novas conjunturas da vida e da sociedade. Por isso, impede a continuidade das próprias gerações, pois não consegue aceitar a mudança e a suces-são. mas cronos, após uma guerra de dez anos, acaba derrotado pelos novos deuses, que impõem a nova ordem universal: para poder transformar o mundo, os olímpicos tiveram que fazer uma revolução.

ou não, estamos todos envolvidos, é que ela exige, em escala global, uma revolução nos costumes e nos valores. uma revolu-ção fundamental, perfeitamente orientada pela ética. É certo que precisamos de ações urgentes. e é mais certo ainda que preci-samos nos habituar à reflexão, esse ato essencialmente humano que em si mesmo pressupõe um compromisso moral com toda a comunidade na qual nos inserimos. uma filosofia socioambiental, que vem aos poucos ganhando corpo nas últimas déca-das, deverá favorecer a consciência ecoló-gica e inclusiva de forma consistente, sem os artificialismos e superficialidades do modismo politicamente correto.

uma guerra filosófica é o que teremos de fazer para arraigar nas novas gerações a compreensão e o próprio sentimento de que também nós somos parte da nature-za e que não podemos prescindir uns dos outros, sob pena de simplesmente não fazermos sentido: eis o momento de nos descobrirmos sobre-humanos.

socioaMbiEntalPor uma filosofia

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neo mondo - março 200914

especial - Água doce

O que é feito com a água servida?Liane Uechi

A sociedade atual vem despertando para as questões de sustentabili-dade do planeta, o que tem gera-

do discussões, estudos e ações sobre pre-servação dos recursos naturais. a água é um dos temas, bastante propagados, sobretudo no tocante ao consumo. Quan-do pensamos em água, imaginamos logo aquele líquido cristalino presente nas tor-

neiras, nos rios ou até nos mares. mas o que acontece com a água depois de utili-zada? sim, porque cada gota de água que consumimos ou que utilizamos vai para algum lugar. estima-se que os brasileiros produzam 32 milhões de metros cúbicos de esgoto por dia. conforme números do sistema nacional de informações sobre saneamento, do ministério das cidades, apenas 25% desse esgoto é tratado an-tes de ser descartado. isso demonstra o tamanho do desafio ambiental que essa questão representa para o país.

o saneamento básico, que é o nome dado ao conjunto de ações que engloba a captação, tratamento e distribuição de

água, coleta e tratamento de esgoto, bem como sua disposição final é realizado por empresas públicas e privadas. até 2010, o governo deverá investir r$ 40 bilhões em obras de saneamento. esses inves-timentos precisam ser cumpridos para que o país alcance a meta estabelecida pela onu nos objetivos de Desenvolvi-mento do milênio.

MaioR pRoJEto dE sanEaMEnto EM EXpansão

um dos maiores projetos de sanea-mento e recuperação ambiental em anda-mento no Brasil é o onda limpa, desen-

soluções ambientais

pb

Page 15: NeoMondo 20

neo mondo - março 2009 15

volvido pelo Governo do estado de são Paulo, através da sabesp, na região me-tropolitana da Baixada santista (rmBs). as obras que foram iniciadas em maio do ano passado deverão estar concluídas em 2011. De acordo com o superintendente da unidade de negócios da Baixada san-tista, reinaldo Young, o programa visa au-mentar os índices de coleta de esgoto da região, de 53% para 95% e o de tratamento de esgoto para 100% até 2011. são previs-tos investimentos de r$ 1,23 bilhão, sen-do r$ 1,04 bilhão em empreendimentos de coleta e tratamento de esgotos e r$ 187 milhões em aprimoramento de água, com o financiamento do Japan Bank internatio-

soluções ambientais

pb pb

Reynaldo Young, Superintendente da Sabesp, na Baixada Santista

nal cooperation (JBic) e a contrapartida da sabesp e do BnDes.

serão instalados 1.175 km de redes coletoras, coletores-tronco, intercepto-res e emissários; 120.424 mil ligações domiciliares; 101 estações elevatórias de esgoto; 7 estações de tratamento de es-gotos e emissários submarinos de santos e Praia Grande, beneficiando uma popula-ção de 1,6 milhão de habitantes (residen-tes) e 1,35 milhão de pessoas em período de alta temporada e que nos momentos de pico chega a alcançar 2,95 milhões. o onda limpa prevê ainda a ampliação do emissário submarino de santos, numa complexa operação que envolverá mer-

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neo mondo - março 2009

especial - Àgua doce

16

ETEs Capacidade ETAs (L/s)ABC 13Barueri 3São Miguel 12Suzano -Parque Novo Mundo 20Total 48

capacidade de produção para Venda do produto

pb

Cidade

Rede de Distribuição Esgotos

Grades

Decantador

Rio

Represa

ReservatórioCaptação

FloculaçãoDecantação

Filtração

ciclo do saneamento

Tubulação que será utilizada na ampliação do emissário submarino

a distribuição acontece através tu-bulações ou por caminhões-pipas, de-pendendo da demanda, utilização e pro-jeto apresentado.

são tratados em são Paulo, 16 mil li-tros de esgoto por segundo. apenas 1% está sendo utilizado como água de reúso. conforme explicou a analista eliane ro-drigues de almeida Florio, do Departa-mento de Planejamento, controladoria e Desenvolvimento operacional, da sa-besp, teoricamente, todo esgoto tratado poderia ser disponibilizado como água de reúso. É evidente que esse forneci-mento teria que ser estruturado confor-me a demanda e especificações de uso. “acredito que a prática do reúso da água é irreversível e uma das melhores solu-ções ambientais” – disse ela.

atualmente, são fornecidas na região metropolitana de são Paulo, 1,08 milhão/m3/ano (dados 2008) de água de reúso para usos não-potáveis.

também é um litro a mais de água potável destinada para uso mais nobre: o consumo humano. cabe lembrar que fazemos parte de uma população que dá descarga, lava o carro e o quintal com água potável.

a água de reúso, atualmente produzi-da e disponibilizada dentro das estações de tratamento de esgotos, pode ser utiliza-da para lavagem de ruas e pátios, irrigação e rega de áreas verdes, desobstrução de rede de esgotos, assentamento de poeira em canteiros de obra e cura de concreto. ela não pode ser utilizada para consumo, nem para banhos, nem para agricultura de produtos de consumo direto (ex: ervas, verduras ou frutas).

os municípios de são Paulo, são caetano, Diadema, carapicuíba e Barueri já utilizam o produto para lavagem das vias públicas e de-sobstrução de galerias pluviais. empresas do setor petroquímico, têxtil, construção civil e demais segmentos industriais já fazem uso dessa água em seus processos.

gulhadores, helicópteros, embarcações e que interromperá o trânsito do maior Porto da américa latina, o de santos, durante a operação que transportará uma tubulação de quase mil toneladas e 425 metros, que será acoplada à tubulação já existente sob o mar.

pRoGRaMa REÚso dE ÁGUa

a sabesp, a exemplo do que fazem pa-íses desenvolvidos, implantou o Programa reúso de Água, que vem sendo, a cada dia, mais adotado por indústrias e alguns condo-mínios privados. os objetivos são: proteção da saúde pública, manutenção da integri-dade dos ecossistemas e uso sustentado da água. a conta é simples, cada litro de água de reúso é um litro a menos de água captada.

cUstos

os preços atuais (a partir de 11/09/08) são de r$ 0,48/m³ para empresas públicas e r$ 0,81/m³ para empresas privadas e são reajustados de acordo com a política tarifária da sabesp. Projetos customizados para fornecimento via rede têm seus pre-ços determinados de acordo com as carac-terísticas de cada contrato.

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pb pb

• Permite o reúso da água sem

lâmpada ultravioleta;

• Consome pouca energia;

• Permite ligação no pluvial;

• Um jardim ornamental;

• Exige mínima manutenção e operação;

• É supersilenciosa;

• Inibe mau cheiro.

VantaGEns

Fonte: Agência FAPESP.

tEcnoloGia social

17 neo mondo - março 2009

lha a um jardim comum. o mecanismo tem sido utilizado por empresas, residên-cias e universidades de Goiânia.

Estação de Tratamento de Esgoto assemelha-se a um jardim Esgoto após tratamento por plantas.

plantas no tRataMEnto dE EsGoto

um tratamento de esgoto com utiliza-ção de plantas tem se mostrado um eficiente método alternativo para recuperação de água servidas. chamado sistema Zona de raízes é um tratamento primário que funciona como um decantador com três câmaras e um filtro anaeróbico. a decantação primária remove os sólidos em suspensão de maior dimensão. em seguida, o efluente é conduzido para o filtro biológico (tratamento secundário) por gravidade, por meio de uma canalização de PVc de 100 mm de diâmetro. o líquido que passou pelo meio filtrante vai até o poço de sucção e é bombeado para o tratamento final: o canteiro de juncos – “ Zona de raízes “.

conforme explicou stephan Posch, diretor da aDescan - agencia de De-senvolvimento econômico e social de caldas novas, o sistema tem sido utiliza-do para tratamento de esgoto doméstico e efluente industrial (após análise). são utilizadas plantas da família de juncos, como por exemplo, a taboa e também bambu e plantas ornamentais. as plantas oxigenam o efluente e permitem a limpe-za do esgoto. a água limpa por essa téc-nica pode ser utilizada para irrigação de jardins, descarga de vaso sanitário ou ser descartada sem riscos de contaminação. o melhor é que tem baixo custo, exige uma operação menor que o tratamento tradicional, reaproveita a água utilizada e a estação de tratamento ainda se asseme-

Uma pesquisa divulgada pela Agência FAPESP mostra que cientistas irlandeses es-tão utilizando a nanotecnologia para apri-morar um método de baixo custo para a desinfecção da água por meio da luz solar. Segundo a matéria, de autoria de Fábio de Castro, os estudos coordenados por Patrick Dunlop, professor da Escola de Engenha-ria da Universidade de Ulster, na Irlanda do Norte, buscam desenvolver fotocatali-sadores nanoestruturados para aplicação em um equipamento de baixo custo que possa utilizar a energia solar para purificar a água em regiões carentes. O método

é muito simples e consiste em depositar água em garrafas PET, que são colocadas sob o sol por um período de cerca de 6 horas, normalmente sobre os telhados das casas, antes do consumo. O projeto é reali-zado em diversos países da África, Sudeste Asiático e América Central, além de Peru, Equador, Bolívia e Brasil, onde foi implan-tado na comunidade de Prainha do Canto Verde, na região de Fortaleza (CE). Estu-dos mostraram que crianças com menos de 6 anos que utilizaram água submetida à desinfecção solar tiveram sete vezes menos probabilidade de contrair cólera. Por outro

lado, alguns patógenos ainda são resisten-tes e há problemas para garantir a quali-dade e as condições da garrafa. Por isso mesmo, o grupo coordenado por Dunlop desenvolveu protótipos de equipamentos que utilizam fotocatalisadores para acele-rar a desinfecção da água, com a intenção de substituir as garrafas PET por um reator de fluxo contínuo que está sendo desen-volvido na Espanha. Depois de uma análise de custo, esses aparelhos, em formato por-tátil, serão testados em comunidades afri-canas em 2009, aumentando a eficiência e a segurança do processo.

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C onhecida como lei das Águas, a lei 9.433 completou 12 anos de sanção e representou avanços em

muitos aspectos.ela instituiu a Política nacional de

recursos hídricos e criou o sistema na-cional de Gerenciamento de recursos hídricos (singreh). também definiu a água como “bem de domínio público e um recurso natural limitado, dotado de valor econômico”.

Para utilização dos recursos hídricos, a lei estabeleceu a necessidade da outorga do Poder Público, com o objetivo de “asse-gurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água”. com isso, passou a ser necessária concessão de outorga para determinados fins: derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final, inclusive abas-tecimento público, ou insumo de processo produtivo; extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insu-mo de processo produtivo; lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou dispo-sição final; aproveitamento dos potenciais hidrelétricos; outros usos que alterem o re-gime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água.

“em 2008, o total geral outorgado foi de 1282 outorgas e 189 casos de uso in-significante da água (captação com vazões máximas instantâneas de até 1 litro por

Lei federal 9.433 de 1997 regularizou a outorga e instituiu a cobrança pela utilização da água.Rosane Araújo

especial - Àgua doce

dotado de valor econômicoRecurso limitado,

mat

thew

Bow

den

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Lei federal 9.433 de 1997 regularizou a outorga e instituiu a cobrança pela utilização da água.Rosane Araújo

• a água é um bem de domínio público;• a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;• em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consu-

mo humano e a dessedentação de animais;• a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo

das águas;• a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política

Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerencia-mento de Recursos Hídricos;

• a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

Para a água mineral, as regras são diferentes:Os bens minerais são de domínio da União, como a água mineral, e não são tratados pelas leis de recursos hídricos. O Departamento Nacional de Produção Mineral (DPNM) realiza a concessão de lavra – uma espécie de outorga – e se compromete a adotar os princípios da Política Nacional de Recursos Hídricos.

segundo). Portanto, o total geral regulari-zado no último ano foi de 1471”, informou luciano meneses, gerente de outorga da ana (agência nacional de Águas).

Para ele, o sistema de outorga é especial-mente eficiente em casos onde não há con-senso sobre o uso da água. “a outorga começa a fazer mais diferença em bacias que têm con-flitos pelo uso da água, pois coloca disciplina na utilização dos recursos hídricos. nestes casos, a ana tem estabelecido, junto com os órgãos estaduais, distritais e federais, marcos regulatórios que estabelecem regras gerais de uso, fiscalização e monitoramento para har-monizar o uso da água para todos os usuários dos recursos hídricos da bacia”, garantiu.

um exemplo emblemático da inter-venção da ana aconteceu no conflito pelo uso das águas entre a população da própria bacia do rio Piracicaba (cerca de 4 milhões de pessoas) e a da região metropolitana de são Paulo (cerca de 18 milhões de habi-tantes). esta última tem parte de sua água vinda do sistema cantareira, que leva a água do Piracicaba por meio de reservató-rios e túneis até a região.

a utilização não possuía critérios que considerassem a população local e foi neste ponto que a ana atuou, definindo critérios técnicos e de outorga em conjunto com ór-gãos gestores dos recursos hídricos de são Paulo e de minas Gerais, o comitê da Bacia do Piracicaba e a companhia de saneamen-to Básico do estado de são Paulo (sabesp). a ação aconteceu em 2004 e até agora não foram registrados novos conflitos.

cobrança pelo uso da águaoutra regularização trazida pela

lei das Águas foi o estabelecimento da cobrança pelo uso dos recursos hídri-cos nas mesmas situações citadas aci-ma, as quais necessitam da outorga. os valores arrecadados com a cobrança são aplicados prioritariamente na bacia hidrográfica em que foram gerados para financiamento de estudos, programas, projetos e obras, incluídos nos Planos de recursos hídricos e no pagamento de despesas de implantação e custeio admi-nistrativo dos órgãos e entidades inte-grantes do singreh.

são recursos vindos desta cobrança nas Bacias dos rios Piracicaba, capivari e Jundiaí (PcJ) que financiam o projeto Pro-dutor de Águas em extrema, minas Ge-rais, citado nesta edição.

no estado de são Paulo, a lei estadual 12.183, de 29 de dezembro de 2005, institui a cobrança pelo uso dos recursos hídricos, o que já ocorre, desde 2007, também na bacia PcJ.

segundo divulgado pela secretaria do meio ambiente, os usuários dos setores urbano e industrial localizados na bacia hi-drográfica dos rios sorocaba e médio tietê passarão a pagar pelo uso dos recursos hí-dricos ainda em 2009.

dotado de valor econômico

a lei das Águas (nº 9.433/97) determina que:

Recurso limitado,

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Em busca da sustentablidade do maior manancial em área urbana.Liane Uechi

especial - Água doce

Normas ambientais e urbanisticas da

Uma lei específica para fixar di-retrizes, metas e normas am-bientais e urbanísticas do maior

manancial em área urbana do mundo, a represa Billings, foi tema de debate no dia 12 de março, na câmara de são Bernardo do campo, cidade da região metropolitana de são Paulo.

a iniciativa do deputado estadual alex manente lotou a plenária, com cerca de 1 mil pessoas. tal interesse no debate se deve ao fato da lei prever a regulari-zação de terras ocupadas no entorno da represa, em área de manancial. estima-se que aproximadamente 1 milhão de pes-soas resida nessa área, que não conta com infraestrutura mínima adequada.

as ocupações indevidas, que refletem um sério problema social, geram conse- quências ambientais também bastante seve-ras, como esgotos e cargas difusas (lixo em geral) lançados sem tratamento no reserva-tório, assim como desmatamento e imper-meabilização do solo. a.discussão entre as questões ambientais e sociais é uma difícil equação que precisa ser aplicada em qual-quer projeto que pretenda garantir um mí-nimo de sustentabilidade. e é isso que a lei específica da Billing promete proporcionar.

manente disse que as discussões, expli-cações e orientações sobre a lei precisam ser fornecidas a essas comunidades, envolvidas diretamente na questão, gerando sensibili-

zação, para que possam estar inseridas na discussão desse processo e contribuir para uma saída que garanta melhores condições sociais e a preservação da represa.

o projeto de lei específica da Billings, assinada pelo governador José serra em 24 de setembro último, ainda será votada neste semestre pela assembleia legislativa de são Paulo. a minuta da lei tem 80 páginas e de-talha questões como a regularização de mo-radias, implementação de saneamento bási-co, preservação da cobertura vegetal, metas de qualidade de água, definição de áreas de ocupação dirigida, de restrição à ocupação, de recuperação ambiental, definição de lote mínimo (área mínima de terreno que poderá resultar em loteamento, desmembramen-to ou desdobro), taxa de permeabilidade e demais critérios técnicos, além da ampliação da fiscalização, em parceria com os municí-pios de santo andré, são Bernardo, são Pau-lo, Diadema, ribeirão Pires e rio Grande da serra, dentre outros.

Participaram do debate o prefeito de são Bernardo do campo, luiz marinho; o vice-prefeito de ribeirão Pires, edinaldo de menezes e a assessora de projetos es-peciais da secretaria de meio ambiente do estado, Fernanda Bandeira mello. “temos objetivos claros: evitar a degradação da re-presa, manter e ampliar as áreas preserva-das e regularizar o uso e ocupação do solo” ressaltou ela.

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aguardam votação

Qualidade de Água

Abastecimento

Cobertura Vegetal

OcupaçãoEspecial e Urbana

Conservação Ambiental

principais diretrizes definidas na nova lei

O deputado estadual Alex Manente

Rodovia dos Imigrantes cruzando a Represa Billings

hamilton Breternitz Furtado

hamilton Breternitz Furtado

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podemos sim, produzir ÁGUa!

neo mondo - março 200922

especial - Àgua doce

A o contrário do que se pensa em um primeiro momento, é possí-vel sim produzir água. isso pode

ser feito devolvendo ao solo a capacidade de recuperar a água das chuvas, de forma que estas retornem aos aquíferos, bolsões subterrâneos, onde está concentrada boa parte da água doce do planeta.

atualmente, uma das principais di-ficuldades encontradas para esta reposi-ção natural é o tratamento inadequado do solo para utilização na agricultura e pecuária. a impermeabilização usada em muitas plantações e pastos acaba se transformando em uma barreira para que as águas das chuvas voltem ao subsolo. outro fator que prejudica o equilíbrio hidrológico é o desmatamento. as flo-restas funcionam como “esponjas gigan-tes” absorvendo água durante o período das chuvas e soltando-a no período da

Facilitar a reposição das águas nos aquíferos e preservar as florestas são ações imprescindíveis para defesa da água.Rosane Araújo

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podemos sim, produzir ÁGUa!

neo mondo - março 2009 23

Ecossistemas florestais e de montanha são os principais responsáveis pelo

fornecimento de água doce no mundo“

”seca. elas também são responsáveis pelo umedecimento do solo, abastecimento das nascentes e dos rios e pela qualidade dos cursos d’água, pois reduzem sedimentos e filtram poluentes.

Para combater o problema, instâncias do poder público em parceria com onGs têm promovido programas de incentivo à adoção de práticas de conservação do solo por parte de produtores rurais.

em âmbito nacional, a ana (agência nacional das Águas) criou o Programa Pro-dutor de água que visa melhorar a qualidade e a quantidade de água em áreas rurais das sub-bacias, onde há mananciais de abas-tecimento, fornecendo apoio técnico e fi-nanceiro para iniciativas de conservação de solo, recuperação e proteção de nascentes, reflorestamento de áreas de preservação permanente (aPPs), saneamento ambiental e o pagamento de incentivos aos produtores que comprovadamente contribuírem para a proteção e recuperação de mananciais.

“os pagamentos são feitos durante ou após a implantação de um projeto específi-co, previamente aprovado, e cobrem total ou parcialmente os custos da prática im-plantada, dependendo de sua eficácia de abatimento da poluição difusa. Para tanto,

contratos são celebrados entre os agentes financiadores e os produtores participan-tes”, explicou Devanir dos santos, gerente de conservação de Água e solo da ana.

segundo ele, os recursos utilizados para pagamento dos produtores rurais vêm da cobrança pelo uso da água, instituída pela lei 9.433/97, conhecida como lei das Águas.

Por enquanto, apenas duas bacias hidro-gráficas federais estão realizando esta cobran-ça - a bacia do Piracicaba, capivari e Jundiaí (PcJ) em são Paulo e minas Gerais e a bacia do Paraíba do sul em são Paulo, minas Gerais e rio de Janeiro. a nível estadual, várias outras bacias já iniciaram a coleta do recurso.

o caso de Extremacriador da primeira lei municipal bra-

sileira de sistemas Psa (Pagamento por serviços ambientais), baseada no concei-to do protetor-recebedor, o município de extrema, em minas Gerais, um dos quatro mineiros que fazem parte da Bacia do PcJ e um dos principais contribuintes do sistema cantareira, vem compensando financeira-mente os produtores rurais que participam do projeto, por ações ligadas à restauração e conservação florestal, conservação do solo e saneamento rural nas suas propriedades.

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neo mondo - março 2009

“o principal resultado do projeto é colocar em prática o conceito de Paga-mento por serviços ambientais, um con-ceito que internaliza no nosso sistema econômico custos que até então andavam à margem: o lucro do poluidor em cima dos que são obrigados a conviver com a poluição e o prejuízo dos conservadores para manter a qualidade ambiental para toda a sociedade”, analisou aurélio Pa-dovezi, assistente de conservação do Pro-grama de conservação mata atlântica da onG the nature conservancy (tnc), um dos parceiros do Programa de extrema. Para identificar os pontos estratégicos a serem conservados na cidade, a Prefeitura desenvolveu um sistema de informações geográficas baseado em imagens de saté-lite e num banco de dados digital, o qual possibilita identificar espacialmente as propriedades rurais, bem como seus respectivos usos de solo, auxiliando no desenvolvimento e no monitoramen-to dos projetos e na definição dos valores para o Psa. esses estudos deixaram aparente a necessidade da restauração florestal nas margens dos rios, nascen-tes e topos de morro, o saneamento ambiental e ações de conservação do solo.

“além da redução da erosão e aumento da infiltração, também estão previstos no projeto a construção de fossas sépticas, recu-peração das aPP’s (matas ciliares e topos de morro) e o incentivo à manutenção das áreas hoje vegetadas, as quais, a partir da constru-ção de barragens na região, passaram a ser

ameaçadas pela pressão imobiliária”, acres-centou Devanir dos santos, da ana.

a área do projeto engloba 4.000 hec-tares nas cidades de extrema, Joanópolis e nazaré Paulista. até a sua conclusão, a previsão é que sejam plantadas 300.000 mudas de árvores nativas e cercados 1.000 ha de áreas de preservação permanente ou de florestas existentes.

a microbacia das Posses foi a pri-meira a ser recuperada e a fazer o Psa. segundo dados da tnc, foram re-alizados 38 contratos até dezembro de 2008 e cerca de 100.000 mudas foram plantadas nas Áreas de Preservação Per-manente (aPP) e em outras propriedades não beneficiadas pelo Psa. o pagamen-to em 2008 foi de r$ 159,00 por hectare ano, considerando a área da propriedade como um todo. no total e até 2008, já foram investidos pelos parceiros cerca de r$ 1,2 milhões.

“o sucesso alcançado pelo Programa tem despertado o interesse dos estados e municípios na sua aplicação e são inúme-ras as propostas de parceria apresentadas à ana”, informou Devanir.

no momento, a ana está desenvol-vendo estudos para implementação do Programa na bacia hidrográfica do Pipiri-pau, importante manancial de abasteci-mento do Distrito Federal, e conta com a parceria da aDasa, caesB, the nature conservancy, universidade Federal de Brasília, Fundação Banco do Brasil, Banco do Brasil e emater DF.

Produtores rurais atuam na preservação da área em que atuam e recebem pagamento

especial - Àgua doce

Extrema, em Minas Gerais, é referência no sistema de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA)

Proteção da mata ciliar é uma das propostas do projeto Produtor de Águas

aurélio Padovezi - tnc

Fotos: aurélio Padovezi - tnc

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neo mondo - setembro 2008 a

um dado é sempre usado para defender a autosuficiência brasileira no abastecimento de água: o país detém 11,6% da água doce superficial do mundo.

A oferta é mesmo grande, mas a ocupação populacional não seguiu a lógica da distribui-ção dos recursos: 70% da população brasileira vive na área da Mata Atlântica, uma concen-tração que sobrecarrega o sistema hídrico.

“A água não é uma carência do país, a região com maior escassez é o sertão nordestino. Por outro lado, grandes cen-tros urbanos, como a região metropolitana de São Paulo, tem gigantesco consumo, mas tratam mal seus mananciais como a represa de Guarapiranga que, por conta da ocupação desordenada de suas mar-gens, ameaça desabastecer a metrópole”, comentou Marcelo ribeiro de Carvalho, geógrafo formado pela uSP (universidade de São Paulo) e professor de Geografia do Anglo Vestibulares.

Para o professor, não adianta ter toda esta água disponível se não há uma distri-buição e cuidados adequados, já que água, uma vez contaminada, deixa de ser um re-curso renovável.

Recurso é distribuído por meio

de bacias hidrográficasBacia hidrográfica é o conjunto de terras que

fazem a drenagem das águas das precipitações até o curso da água, que geralmente é um rio.

No Brasil, são oito principais: Bacia Ama-zônica, Bacia do Araguaia-Tocantins, Bacia do rio Paraíba, Bacia do rio São Francisco, Bacia do rio Paraná, Bacia do rio Paraguai, Bacia do rio Paraíba do Sul e Bacia do rio uruguai.

A maior, não só no âmbito do Brasil como também do mundo, é a Amazônica, com área de drenagem da ordem de 6 x 106 km² prolongan-do-se dos Andes até o oceano Atlântico. ocupa cerca de 42% da superfície brasileira, estenden-do-se além da fronteira da Venezuela à Bolívia.

Para gerir todas essas bacias, o Sistema Nacional de Gerenciamento de recursos Hídri-cos (Singreh) determinou os Comitês de Bacias Hidrográficas, órgãos colegiados compostos por representantes do poder público, dos usuários das águas e das organizações da sociedade com ações na área de recursos hídricos. “É um instru-mento democrático, pois o simples cidadão pode intervir no que se refere à bacia hidrográfica de onde mora”, opinou o presidente da oNG uni-versidade da Água, Gilmar Altamirano.

abUndantE, Mas não infinita

Brasil é reconhecidamente bem servido de recursos hídricos, mas pode passar por problemas nas áreas mais populosas

Mapa das bacias hidRoGRÁficas

Fonte: Ministério dos Transportes

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Economizar água ou ainda reapro-veitar água de chuva, dentre outras ações, são normalmente conside-

radas atitudes ecologicamente corretas e de responsabilidade empresarial. no entanto, quando analisamos essa questão perante as normas de responsabilidade social e ambiental, na maioria dos casos, constataremos tratar-se apenas de obten-ção de vantagens, sem responsabilidade.

Para uma postura responsável em rela-ção à água, temos que considerar:• a impermeabilização do solo provo-

cado pela construção da moradia, da indústria, do comércio, do ser-viço e das ruas e sua neutralização para evitar qualquer possibilidade de contaminação do lençol freático no subsolo;

• análise do consumo de água dentro do processo de produção e de servi-ços e sua política de neutralização e compensação,

• efluentes: qualidade da água no seu descarte;

• legalidade na captação de água: poços artesianos e demais formas de obten-ção de água para a produção e sua neu-tralização na mesma proporção,

• sistema de climatização ambiental para o local de trabalho e sua relação com consumo de água e a retirada da umidade do ar,

• sistema de emanação do calor dentro do processo de produção e sua retirada da unidade do ar e sua neutralização,

estes são alguns dos pontos de análise necessárias em relação à água,

quando da elaboração do balanço so-cial e ambiental de uma organização, caracterizando um trabalho mais téc-nico e com detalhamento quanto aos seus fornecedores e sua interface de impacto na atividade.

Portanto, o tema exige uma análise técnica, a ser demonstrada através de um instrumento denominado de Balanço social e ambiental, previsto na norma de conta-bilidade, a nBc t 15 e o demonstrativo do cálculo do passivo ambiental e sua forma de contingência, tornando públicas as suas ações de neutralização e compensação e não apenas tratando o assunto como propaganda de sua atividade a favor do meio ambiente.

Takashi Yamauti

Takashi Yamauchi é especialista em Terceiro Setor, Consultor do Sistema de Apoio

Institucional – SIAI e Consultor da Comissão de direito

do Terceiro Setor da OAB Seccional Pernambuco.

Participou do grupo de estudos para a formulação da Norma ABNT 16001.

este processo vai passar a ser cer-tificado conforme aBnt nBr 16.003 e a iso 26.000, portanto devemos tra-tar o assunto de forma mais responsa-bilidade.

O que considerar no Balanço Social e Ambiental.

neo mondo - março 200926

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neo mondo - outubro 2008 a

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especial - Água Salgada

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é o limiteA terra bem poderia se chamar Pla-

neta Água, não apenas pela sua abrangência, já que ocupa 70% da

superfície do globo terrestre, mas, principal-mente pela sua incondicional relação com a vida no planeta. sem água não há vida! o mar representa grande parte desse líquido vital, muitas vezes relacionado apenas ao lazer e férias; ele é muito mais importante do que se possa imaginar. a começar pelo oxigênio fornecido pelas algas, muitas mi-croscópicas, que ficam na superfície dos mares e que são responsáveis pela maior parte da fotossíntese na terra.

o pescado, o sal, o petróleo, os mine-rais (ouro, prata, cobre, ferro, zinco) e um enorme potencial energético são alguns dos recursos naturais disponíveis nesse imenso território, mas a sustentabilida-de na sua exploração pode ser uma das questões mais importantes dos próximos anos. no Brasil, o mar tem importância histórica, já que através dele foi descober-to e colonizado. ainda hoje, representa a grande porta de entrada e saída de cargas de importação e exportação, algo em tor-no de 95% do comércio exterior.

o desafio é imenso, pois a forma como os oceanos são tratados atualmente, como se fos-sem fontes inesgotáveis de recursos, demons-tram desconhecimento, descaso e despreparo.

um relatório divulgado no último semes-tre de 2008 pelo Greenpeace, denominado “À deriva – um panorama do mar brasileiro”, onde mais de 40 especialistas brasileiros em oceanos – membros do governo, pesqui-sadores, ambientalistas e representantes de onGs foram entrevistados, mostra um quadro preocupante. o estudo conclui que o

bioma marinho não tem sido uma priorida-de no Brasil. aponta ainda um sistema de gestão pouco eficiente, uma vez que vários órgãos públicos têm atribuições nessa área, muitas vezes com conflitos e sobreposição de funções, sem atuar de maeira integrada às questões relacionadas aos oceanos. o re-latório cita como entidades relacionadas ao mar: o instituto Brasileiro do meio ambien-te e dos recursos naturais renováveis (iba-ma), a secretaria especial de aquicultura e Pesca (seap), o ministério do meio ambien-te (mma) e a marinha.

eduardo mazzolenis de oliveira – gerente do Departamento de tecnologia de Águas su-perficiais e efluentes líquidos é mais otimista. segundo ele, a sinergia entre essas entidades que realizam a gestão de recursos hídricos já começa a acontecer de forma mais efetiva. “esses órgãos estão conversando e trazendo suas experiências. Pela complexidade do pro-blema, já conseguimos avançar. há hoje vários protocolos de ações, como os Planos de bacia, os licenciamentos ambientais de Portos, plata-formas de petróleo, ampliação de sistemas de saneamento, dentre outros” – apontou.

Para o especialista, a atuação de con-trole precisa primar por um gerenciamento costeiro atuante, como nos casos dos man-gues, que são berçários e base da cadeia alimentar de várias espécies marítimas. ele explicou que o mangue caracteriza-se como um ecossistema costeiro, de transição entre os as águas do rio e mar e onde há abun-dância de vida. “alguma regiões profundas do mar ou ainda muito distantes da costa podem ser considerados “desertos de vida” – comparou oliveira, mostrando a impor-tância de preservar esses ambientes.

o MaRA importância e a saúde dos nossos mares.Liane Uechi

neo mondo - março 2009

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neo 29

é o limiteo descaso com essas regiões costeiras,

como ocorrido na Baixada santista, onde o estuário, em tempos remotos, foi contami-nado por produtos oriundos das indústrias do Polo Petroquímico de cubatão, é um exemplo claro da interdependência entre o meio ambiente e a questão econômica. “hoje, há uma séria dificuldade na questão do Porto de santos (maior do país), que ne-cessita de licença ambiental para a realiza-ção de dragagem” – disse ele. a dragagem é

necessária para a manutenção do calado do canal do porto, de modo a evitar o encalhe de navios de grande porte. “com a conta-minação do estuário, essa dragagem, que revolve essa terra no fundo do mar com os sedimentos contaminados, pode oferecer forte impacto ambiental. Daí a dificuldade de licenciamento” – explicou o gerente.

o relatório do Greenpeace traz tam-bém o resultado de uma pesquisa sobre o conhecimento da população sobre os

o MaR

• criação e implementação de áreas marinhas protegidas;

• crise do setor pesqueiro, com a pesca predatória e a captura incidental de espécies, agravada pela ausên-cia de gestão no setor;

• vulnerabilidade dos oceanos às mudanças climáticas;

• ausência do Estado e governança na questão dos oceanos.

RElatóRio do GREEnpEacE indica qUatRo qUEstõEs pRioRitÁRias:

problemas enfrentados pelos oceanos. o resultado é no mínimo triste pois, apesar de ter uma costa gigantesca, com mais de 8 mil quilômetros, a população mostrou desconhecimento e desinteres-se pelo tema. enquanto isso, o aqueci-mento global, a pesca predatória, a po-luição, a falta de ordenamento costeiro e a diminuição da biodiversidade continu-am a ameaçar uma das principais fontes de vida do planeta.

o relatório “A deriva” conclui que o mun-do não está respondendo à altura o desafio imposto pela crise dos oceanos. Enquanto mais de 10% da superfície do planeta está protegida por reservas,menos de 1% do am-biente marinho conta com essa proteção. o Brasil também está longe do ideal. Apenas 0,4% do bioma marinho nacional encontra -se protegido por unidades de conservação (uC) federais, o que dá a percepção de um gigantesco abandono dos nossos mares.

os efeitos, como aponta o professor Chris-tian Guy Caubet, especialista em direito

ambiental (entrevistado da nossa coluna Perfil), podem ser verificados na prática da sobrepesca, com esgotamento dos nossos recursos e inclusive com a exploração por barcos pesqueiros, com bandeiras de ou-tros países, o que denota falta de controle de nossas autoridade e dificuldade de lidar com planejamentos de prazos longos.

Eduardo Mazzolenis de oliveira – gerente do departamento de Tecnologia de Águas Superficiais e Efluentes Líquidos , disse que o estado de São Paulo saiu na frente na proteção dos mares. de fato, em abril

de 2008, a Secretaria de Meio Ambiente do Estado anunciou a criação de três áreas de proteção marinhas: Litoral Centro, Li-toral Norte e Litoral Sul, com exceção dos trechos de mar dos portos de Santos e de São Sebastião. “São Paulo pos-sui uma Polícia Ambiental para a fiscalização e monitoramento do mar, o que é uma grande conquista”. – disse.

falta pRotEção

Page 30: NeoMondo 20

C omo qualquer outro, um proces-so petroquímico tem entradas e saídas. como entrada, temos a

matéria-prima que será transformada em produto (saída). outros itens importantes também são necessários, como os recursos humanos, os equipamentos e os insumos. esse último refere-se aos materiais utiliza-dos na fabricação, sem os quais o proces-so não ocorre ou tornaria-se mais lento e custoso. Bons exemplos de insumo são: produtos para acelerar a reação química, energia elétrica, água etc.

a água é um dos principais insumos em um processo petroquímico, assumin-do diversos papéis de grande impor-tância, como o controle da temperatura agindo como líquido refrigerante, a ge-ração de vapor, selos hidráulicos, pro-moção de limpeza, combate a incêndio, dentre outros.

nesse processo, a água passa por um tratamento antes de ser utilizada, pois são necessárias algumas características impor-tantes para que ela não danifique os equi-pamentos. essa água, após ser utilizada, é descartada para algum corpo receptor (rede pública ou rio). Porém, antes disso, ela é novamente tratada dentro de crité-rios pré-estabelecidos pelos órgãos am-

bientais, de modo a ser descartada dentro dos padrões indicados.

as legislações que estabelecem pa-drões para a água consideram a sua aplicação. se essa água for utilizada para consumo humano, a tolerância será mais restritiva do que para outra finalidade menos nobre.

algumas empresas do pólo do aBc possuem alternativa interessante para a utilização desse recurso, fazendo a cap-tação no poluído rio tamanduateí. essa água, no momento da captação, possui características muito ruins e precisa ser tratada na empresa, para fins industriais, antes do uso. após sua utilização, ela no-vamente é lançada no mesmo rio, só que em condições melhores do que no mo-mento da captação

além desse impacto positivo, as empre-sas tem se empenhado na implementação de projetos de reuso de água. as águas uti-lizadas no processo produtivo e que seriam lançadas como efluentes são novamente utilizadas nos mesmos processos ou em outros. essas ações têm contribuído signi-ficativamente para a redução da utilização desse tão importante recurso natural.

essas boas práticas, além de boa vi-sibilidade às indústrias, propiciam uma

Eduardo Sanches

redução nos custos operacionais, permi-tindo à empresa maior competitividade. as empresas que possuem um bom ge-renciamento ambiental garantem susten-tabilidade aos negócios e figuram entre as empresas mais competitivas. a gestão am-biental deve permear por toda a organiza-ção, estabelecendo um ambiente favorável para que medidas não apenas mitigadoras de seus impactos, mas de melhoria de qualidade do meio ambiente, possam ser implementadas e mantidas.

as empresas devem ser estimuladas a rever seus processos, de forma a bus-car boas tecnologias que, além de promo-ver o ganho ambiental, propiciem maior competitividade. somente assim será possível legar um ambiente saudável para as futuras gerações.

Eduardo SanchesGerente de Meio Ambiente,

Segurança, Saúde e Qualidade de Grupo

Petroquímico. Professor universitário

de Gestão Ambiental e de Pós-Graduação (MBA).

Tecnologia e Gestão Ambiental promovem alternativas sustentáveis às indústrias.

ÁGUA processos industriais

30 neo mondo - março 2009

Page 31: NeoMondo 20

neo mondo - março 2009

E ncontramos na sabedoria milenar das sociedade tradicionais uma vin-culação direta entre vida - sobrevi-

vência – água, atribuindo à mesma um caráter sacralizado.

em muitas delas, dada essa impor-tância, ocorreu o desenvolvimento de técnicas de manejo tão perfeitas que passaram a ser conhecidas como socie-dades hidráulicas; designação dada, por exemplo, às sociedades egípcia, asteca e inca. seja pelo conhecimento dos fluxos das enchentes do rio nilo (egito); sobre a drenagem/escoamento da água nas montanhas (Peru) ou na construção de canais e lagos (méxico). todos deixaram marcas de respeito e profundo conheci-mento sobre o valor da água. identificar os períodos de enchentes, que levavam fertilizantes para as áreas alagadas, cons-truir barragens e canais para direcionar o fluxo, estocar os excedentes para as se-cas, etc, foram problemas solucionados por esses povos.

em nossa formação histórica, temos a presença das raízes africanas e indígenas que também nos legaram figuras míticas protetoras relacionadas à importância da preservação dos recursos hídricos: olokun, iemanja, oxum, iara, Janaina, entidades protetoras da água do mar, da água doce, rios, lagoas, lagos, fontes.tan-to a mitologia ioruba quanto a mitologia dos povos das florestas brasileiras contém ensinamentos preciosos relacionadas às práticas de conservação e proteção ao am-biente natural.

hoje, tais figuras são nomes familia-res em nosso cotidiano brasileiro e, nos ensinam que nossos ancestrais associa-

ram a criação do universo – e de nosso mundo – a essa materialidade da energia cósmica ligada à água. Por isso, o calen-dário de festas anuais se inicia com as festas denominadas de Águas de oxalá, dando inicio, a partir desse elemento, às demais celebrações.

também nos ensinamentos cristãos encontramos sua presença associada, por exemplo, ao batismo. lemos nas escritu-ras sagradas que Jesus cristo foi batizado nas águas do rio Jordão por João Batista e, a partir desse costume, para ser mem-bro da igreja católica torna-se necessário o batismo, no qual a água é elemento vetor de ligação do novo adepto com os demais membros da igreja.

as crenças xintoístas existentes ain-da hoje no Japão também nos remetem a esta verdade: no water no life. em Quioto, um dos mais importantes san-tuários, visitado por milhares de pesso-as, chama-se Kyomisudera que significa: santuário da água pura. nesse lugar, exis-tem três fontes jorrando água cristalina vinda das montanhas circundantes. no

Dilma de Melo Silva

Correspondente especial de Quioto – Japão

Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade

de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade

de Uppsala, Suécia, e Professora convidada para ministrar aulas sobre

Cultura Brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros.

recurso indispensável da vida, é celebrada por diferentes culturas.

em sociedades tradicionais

calendário anual das festas celebradas no país, temos o dia 20 de julho como o dia do mar; vivendo em ilhas circun-dadas pelo Pacífico e o mar do Japão, os habitantes do arquipélago sabem o valor incalculável dos oceanos. em japonês, os dias da semana lembram o sol, a terra, a lua e a água (suyobi, que corresponde à nossa quarta feira).

todas essas referências, vindas dos mais diferentes pontos do planeta (Ásia, África, américa), nos mostram a impor-tância dada pelas culturas a esse recurso indispensável da vida. Possam esses ensi-namentos nos estimular na continuidade desta luta pela preservação da água no pla-neta terra.

visões sobre a

31

Page 32: NeoMondo 20

neo mondo - março 200932

todas “promissoras”, ressalta a Ge-

rência de imprensa em entrevista à Neo

Mondo. com o esclarecimento: “não há

números definidos ainda sobre a quanti-

dade dessas reservas. mas há expectativa

de serem 14 bilhões de barris, o que faria

dobrar as reservas brasileiras”. sem pro-

blemas quanto a investimentos, que estão

garantidos: “são us$ 174 bilhões de 2009 a

2013, como parte de um plano de negócios

definidos pela Diretoria da companhia,

aprovado pela Presidência da república e

ministério das minas e energia”.

A Petrobrás faz da tecnologia e do empenho de seus profissionais o cajado que lhe permitirá abrir

águas profundas e levar o Brasil à terra prometida entre os maiores produtores de petróleo do mundo.

atingida a autossuficiência em 2006, com 1,8 milhão de barris/dia, a empre-sa depara-se nos próximos anos com a tarefa de vencer o desafio de viabilizar a exploração das reservas identificadas inicialmente nas camadas pré-sal nas bacias de santos (sP), campos (rJ) e es-pírito santo.

nova e promissora

Equipamento de última geração no fim de fevereiro, a Petrobrás co-

locou em operação um equipamento de última geração, o iBm Power 6. um super-computador de quase 3 toneladas, “com alta capacidade de processamento, para simular o desenvolvimento da produção em reservatórios de petróleo, a ser aplica-do nas acumulações da camada pré-sal da Bacia de santos”. novidade que faz parte da estratégia da empresa que, no caso, simula a drenagem ideal de um campo. “são considerados, entre outros dados, o número de poços produtores e injetores

especial - Água Salgada

FRONTEiRa

agência Petrobras de notícias

Page 33: NeoMondo 20

nova e promissora

Supercomputador integra a estratégia de exploração da Petrobrás.

Gabriel Arcanjo Nogueira

neo mondo - março 2009 33

FRONTEiRa

que deverão ser perfurados, sua posição no campo e geometria (vertical, horizon-tal ou direcional)”, explica a Gerência de imprensa. entre as principais vantagens dessa inovação tecnológica está o aumen-to da velocidade no processamento das in-formações geradas no processo produtivo.

Desenvolver tecnologias inovadoras e preparar profissionais capacitados a li-dar com desafios cada vez maiores é uma constante na história da Petrobrás e, ao confirmar a presença de petróleo no pré-sal santista, abriu-se para a empresa uma nova e promissora fronteira. * Todos na Bacia de Campos (rJ) / Fonte: Gerência de Imprensa/Petrobrás

é perfurado o primeiro poço em Lobato (BA)

início de produção do primeiro poço marítimo em Guaricema (SE), a 60 m

descoberta de petróleo na Bacia de Campos (rJ) dá início à era da exploração em águas profundas, com sucessivos recordes mundiais de profundidade - começa a curva de crescimento

vencida a barreira de 500 m, no campo de Albacora*

início da operação no campo de Marlim Sul*, a mais de 1,7 mil m

produção atinge a marca de 1,8 mil m, no campo de roncador*

descoberta de óleo leve, no campo de uruguá, a 300 km da costa santista e 1,3 mil m; chegada à camada pré-sal, em Santos, a 6,9 mil m

confirmada a presença de petróleo na camada pré-sal santista

iniciam-se os trabalhos de estudos e pesquisas para avaliar o potencial das reservas

começo do teste de longa duração

1939

1969

1974

1987

1997

2000

2005

2006

2007

2009

Evolução da produção petrolífera no país

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34 neo mondo - março 2009

Ganhos econômicos e tecnológicos celso Kazuyuki morooka, professor

titular da Faculdade de engenharia me-cânica e chefe do Departamento de en-genharia de Petróleo da universidade estadual de campinas (unicamp), é entu-siasta da primeira descoberta brasileira, anunciada no campo de tupi. “se as ex-pectativas forem comprovadas, as reser-vas nacionais poderão se multiplicar na ordem de 5 vezes”, avalia.

engenheiro pela escola Politécnica da usP, com mestrado na Yokohama national university e doutorado na uni-versity of tokyo, morooka acredita em ganhos econômicos e tecnológicos sig-nificativos, bem como científicos. “Pela oportunidade da produção de mais pe-tróleo e gás e pelo fato de essa produção necessitar do desenvolvimento de siste-mas de perfuração”, diz.

com sua experiência em pesquisa e desenvolvimento de projetos em sistemas marítimos na produção de petróleo e gás, tubulações marítimas de escoamento de petróleo (risers), plataformas flutuantes, poços marítimos de óleo e gás, ondas e correnteza, o professor doutor explica:

“as descobertas do pré-sal são campos (reservatórios) marítimos de petróleo em uma área litorânea que se estende aproxi-madamente do espírito santo a santa ca-

tarina. a perfuração far-se-á não somente em lâminas d´água ultraprofundas (acima de 2 mil m), mas também em camadas de subsolo muito profundas (mais de 5 mil m)”. o que implica em contar com navios e plataformas flutuantes de perfuração e produção, equipamentos submarinos e tu-bulações de escoamento de óleo e gás (ri-sers) que permitam a operação em lâmina d´água de grande profundidade.

morooka lembra que a importância capital da tecnologia é constante e não poderia ser diferente em setor tão estra-tégico. “novos laboratórios experimentais também serão fundamentais para a com-provação e a compreensão de fenômenos observados na prática, com a finalidade de aprimoramento e desenvolvimento das técnicas de projeto e práticas opera-cionais, assim como para o desenvolvi-mento de novas tecnologias e soluções. nesse sentido, a unicamp, assim como as universidades nacionais, planeja a construção desses laboratórios, além de constituir centros capacitados para simu-lações numéricas de alto desempenho e supercomputação”, afirma.

Estudos e parcerias a Gerência de imprensa da Petro-

brás vê como decisivos os próximos passos, quando a empresa dedicar-se-á

a muito estudo e pesquisa, em que serão fundamentais as parcerias com Partex, Galp energia, repsol-YPF, shell e BG no trabalho nos blocos exploratórios da Bacia de santos, na área de tupi.

“concluído o teste de longa duração, a Petrobrás pretende iniciar a produção de tupi no final de 2010, num projeto piloto com capacidade de 100 mil barris/dia e 3,5 milhões de m3 de gás. em todas as eta-pas, a empresa vai - com seus parceiros, a indústria e a comunidade acadêmica - aplicar toda a sua experiência no desen-volvimento de soluções tecnológicas e de logística que permitam dar início à produ-ção do pré-sal”, afirma.

sem descuidar dos impactos ambien-tais na exploração dessas jazidas: “nos de-safios tecnológicos para explorar petróleo em águas ultraprofundas estão embutidas as preocupações ambientais, dado o ine-ditismo da operação. elas dizem respeito não só à exploração mas também ao trans-porte do petróleo para o continente, onde será refinado”, garante.

morooka, que é também pesquisa-dor do centro de estudos do Petróleo (cepetro) da unicamp, não vê maiores riscos ambientais na exploração do pré-sal, além dos eventuais nas atividades de prospecção e produção que se desenvol-vem no momento.

agência Petrobras de notícias

Petrobrás aposta em sua tecnologia e empenho dos seus profissionais para vencer desafios

A plataforma P-53, no campo de Marlim Leste, Bacia de Cam-pos (RJ) - ancorada em local onde a profundidade d´água é de 1,08 mil m e a 120 km da costa -, será interligada a 21 poços, sendo 13 produtores de petróleo e gás e 8 injetores de água

agência Petrobras de notícias

especial - Àgua Salgada

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neo mondo - março 2009 35

O s recursos hídricos não são mais considerados um bem abundan-te e gratuito e a água passou a ser

vista como um recurso natural limitado e dotado de valor econômico.

a edição da lei 9.433/97 exemplifica essa mudança de paradigma, pois nela fo-ram estabelecidos os instrumentos para a implantação da Política nacional dos recur-sos hídricos (Pnrh), que propõe a utiliza-ção racional, com o objetivo de assegurar às futuras gerações a disponibilidade de água em padrões de qualidade adequados.

essa lei estabelece as diretrizes para a implementação da Política nacional, re-força a possibilidade de cobrança pelo uso, cria o sistema de informações e elenca as características da outorga.

a outorga nada mais é do que a conces-são de direito de uso. assim, a administração concede a um interessado o direito de utilizar a água para uma determinada atividade e por um período definido. Dentre essas atividades se enquadram: captação para o consumo, ir-rigação, usos industriais, aproveitamento do potencial hidrelétrico, entre outros.

até aqui tudo bem. no entanto, a le-gislação prevê que seja concedido o direito de uso dos recursos hídricos para o “lança-mento de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou nÃo, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final”.

Parece um tanto contraditório, para dizer o mínimo, que a Política nacional apregoe como um de seus objetivos o uso racional dos recursos hídricos para assegurar às futuras gerações a sua qualidade e, ao mesmo tempo, possa conceder o direito de jogar esgotos sem tratamento em um curso d’água para que a natureza se encarre-gue do seu transporte e disposição final.

além de coliformes fecais, gorduras e detergentes, outros poluentes se enqua-dram na categoria esgoto. afirma-se, para justificar essa possibilidade de uso, que o esgoto in natura, ou seja, aquele que não recebeu nenhum tipo de tratamento, seja primário ou secundário, pode ser diluído no mar sem afetar a qualidade da água.

no entanto, o acúmulo do esgoto, como o lançado pelos emissários submarinos, pode sim afetar o ecossistema local e influenciar

na mortandade de peixes e crustáceos. os efeitos podem repercutir na atividade pes-queira e turística da região, sem falar na saú-de pública, pois é sabido que muitos orga-nismos aquáticos que são consumidos pelo homem funcionam como verdadeiros “faxi-neiros dos rios e do mar” alimentando-se da matéria orgânica presente na água.

o próprio Plano nacional de recursos hídri-cos (Vol. 01), publicado em março de 2008 pelo ministério do meio ambiente, ressalta que “os critérios de outorga utilizados no país não pos-suem qualquer embasamento técnico do ponto de vista ambiental. são apenas fruto de estatísti-cas de vazões observadas com o intuito de con-ferir garantia aos usos antrópicos da água”.

situação semelhante aconteceria se a Política nacional dos resíduos sólidos, em tramitação no congresso nacional, instituís-se como alternativa legal para o tratamento dos resíduos sólidos a instalação de lixões, conhecidos por serem altamente poluentes e causarem sérios danos à saúde e ao meio ambiente. Permitir o lançamento de esgoto sem tratamento em cursos d’água é andar na contramão da proteção ambiental mundial.

o 5ª. Fórum mundial da Água (5th World Water Forum) acontece nesse mês em istam-bul, na turquia. na agenda, discussões sobre os problemas globais referentes aos recursos hí-dricos, dentre eles o aspecto sanitário. a Water expo também faz parte do Fórum e conta com a participação de empresas que apresentam seus serviços e produtos nesse ramo. aqui é possível encontrar maquinário para a irrigação, sistemas de tratamento de esgoto, entre outros.

o tratamento do esgoto doméstico foi objeto de regulamentação na união européia em 1991 através da Diretiva 91/271/cee. nela estava previsto o tratamento adequado das “águas residuais urbanas”, exigindo-se, no mínimo, um tratamento primário, ou seja, que fosse realizada a decantação das partícu-las sólidas em suspensão, reduzindo-as em, pelo menos, 50%.

no relatório de 2003 sobre a implemen-tação na união européia da Diretiva 91/271/cee, a alemanha apresentou resultados im-pressionantes, pois, na grande maioria dos casos, o esgoto já recebia um tratamento ter-ciário, o qual utiliza técnicas mais avançadas

Natascha Trennepohl

para remoção de alguns contaminantes que não foram retirados nas etapas anteriores. os demais casos recebiam tratamento se-cundário, utilizando-se o processo biológico.

É certo que o saneamento básico é funda-mental para a qualidade de vida da população. ele está, inclusive, previsto como uma das metas do programa das nações unidas (millennium Development Goals) para assegurar o desenvol-vimento sustentável e reduzir a pobreza.

saneamento básico, sim. mas será que precisamos do lançamento de esgo-tos sem nenhum tipo de tratamento nos cursos d’água?

uma possível explicação para o contra-senso da Pnrh e a permissão do lançamen-to de esgotos não tratados é a previsão de cobrança pelo uso dos recursos hídricos. assim, nos lançamentos de esgotos e ou-tros resíduos líquidos e gasosos, os valores são calculados a partir do volume lançado e de suas características tóxicas.

o mais interessante é que a cobran-ça pelo uso, de acordo com a própria lei 9.433/97, tem como objetivo reconhecer a água como um bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor.

infelizmente nossos recursos hídricos não valem muito, pois os consideramos es-tações naturais de tratamento de esgoto. É lamentável que em pleno século XXi ainda estejamos jogando para a natureza a res-ponsabilidade de limpar a nossa sujeira.

Por fim, vale citar um trecho da Dire-tiva 2000/60/ce (Water Framework Directi-ve) do Parlamento europeu que estabele-ce uma ação comunitária em relação aos recursos hídricos, pois “a água não é um produto comercial como outro qualquer, mas um patrimônio que deve ser protegi-do, defendido e tratado como tal”.

Natascha TrennepohlAdvogada e consultora ambiental

Mestre em Direito Ambiental (UFSC)Doutoranda na

Humboldt Universität (HU) em Berlim

Correspondente especial de Berlim – Alemanha

lançamento de esgoto sem tratamento nos cursos d’água:

um atraso da Política Nacional dos Recursos Hídricos

Page 36: NeoMondo 20

especial - Água Salgada

neo mondo - março 200936

O Brasil pode tornar-se autossufi-ciente na produção de pescado, desde que se mudem a menta-

lidade e a prática no País. É nesta linha que atua a secretaria especial de aqui-cultura e Pesca (seap), criada em 2003, e que pode virar ministério, de fato, me-diante projeto de lei. a tentativa de criar o ministério da Pesca por medida provi-sória encontrou resistência política.

o que o governo federal preten-de é efetivar a gestão compartilhada com base no tripé desenvolvimento da produção, com inclusão social e

respeito ao meio ambiente. Quem ex-plica é o engenheiro de Pesca, João Felipe nogueira matias, diretor de De-senvolvimento da aquicultura da seap. Felipe matias distingue as duas verten-tes, que correm lado a lado: pesca é cap-tura; aquicultura é cultivo. na área que dirige privilegia-se o fomento, esclarece. um dos desafios do governo é tratar o potencial pesqueiro do País, minimizan-do os efeitos da “sobrepesca”.

com mestrado em aquicultura, prestes a concluir doutorado, além de mBa em Gestão, o especialista acen-

tua que aquicultura é fomento, dife-rentemente de produção aumentada pura e simplesmente.

potEncial sUbdiMEnsionado com 8,5 mil km de costa marítima,

sem falar nos 5,5 milhões de hecta-res de lâmina d´água de reservatórios de hidrelétricas, com clima favorável e uma diversidade de espécies (são 3 mil só em água doce, ou 30% dos pei-xes existentes no mundo), o potencial pesqueiro no Brasil ainda está subdi-mensionado, acredita. “temos cerca

Desafiospela frente

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Desafios

Evolução da atividade pesqueira (Aquicultura + Pesca)

2004 - 1,015 milhão de toneladas

2006 - 1,050 milhão de toneladas

2007 - 1,090 milhão de toneladasFonte: Ibama/Seap

neo mondo - março 2009 37

de 600 mil pescadores, basicamente artesanais, e 100 mil aquicultores. es-tes 700 mil, diretamente envolvidos, se multiplicados na média familiar de 5 pessoas, representam 3,5 milhões de-pendentes da atividade.”

em convênio com o ibama, a seap apu-rou que, em 2006, foram comercializadas no País mais de 1 milhão de toneladas por ano, a um preço médio de r$ 3 o quilo. o que permite projetar um faturamento de r$ 3,5 bilhões ao ano. ou seja, potencial o Brasil tem. trata-se de ordená-lo ou, se preferir, reordenar a atividade.

Para 2011, Felipe matias prevê ser possível atingir a autossuficiência do mercado interno de peixes, quando se deve passar dos atuais 7 quilos por habi-tante para 9 kg/habitante.

a seap considera importantes as parcerias interministeriais - notadamen-te com os ministérios do meio ambien-te, da integração, do Desenvolvimento social -, no sentido da cooperação para conseguir atingir as metas do segmento, em que se destaca o desenvolvimento da aquicultura familiar, para garantir a democratização do acesso de pessoas ao

mercado com renda entre r$ 1 mil e r$ 1,2 mil. Felipe matias lembra que o que é feito no Brasil despertou interesse de participantes no Fórum ibero-america-no e no congresso mundial, em 2007.

Não basta ensinar a pescar; é preciso cultivar o peixe. Gabriel Arcanjo Nogueira

pela frente

Page 38: NeoMondo 20

especial - Àgua Salgada

“”

Que nossas autoridades olhemcom mais carinho para nossospescadores em certos projetos

Felipe Matias, da Seap: gestão comparti-lhada permite avanços

neo mondo - março 200938

bRasil à dERiVa? o relatório À deriva - um panorama

dos mares brasileiros, do Greenpeace, não se limita a apontar problemas ou en-fatizar suas críticas ao modelo de gestão, ao apontar sobreposição de atribuições, mas apresenta soluções para vencer os desafios que se colocam.

a onG é clara ao dizer, logo na in-trodução, a que veio com o relatório À deriva: “ se considerarmos que a ativi-dade pesqueira marinha, no Brasil, gera 800 mil empregos e é responsável pela sobrevivência de 4 milhões de pessoas, a falta de governança na gestão pública e o descaso na fiscalização assumem ares ainda mais graves. a queda da produção pesqueira pode, também, causar impac-tos negativos na dieta alimentar do bra-sileiro, e a redução da biodiversidade de nossos mares constitui uma perda ines-timável para a ciência e para o próprio ecossistema marinho, ameaçando seu equilíbrio natural”.

o relatório pode ser acessado na ínte-gra em www.greenpeace.org.br

Mais qUE pRincEsinha do MaR copacabana, cartão postal do rio de

Janeiro, cantada como a princesinha do mar, vai além. Que o digam os pouco mais de 1 mil pescadores das quase 800 famílias que compõem a colônia Z-13 no Posto 6.

Kátia Janine, presidente do grupo, diz que, por ficar numa área urbana, “sufocados por prédios, clubes, áre-as militares e olhares especuladores, resistimos com muita garra”. isto se deve a uma estrutura mais moderna que conseguiram formar, desde a fun-dação em 29 de junho de 1923. na verdade, lembra, a colônia é do tempo dos índios.

a rotina ali não difere muito da de outras colônias: “o pescador sai entre 5 e 6 horas da manhã, para retirar a rede, e retorna por volta das 8, 9 horas para vender o pescado. alguns fazem a pesca de linha, sem precisar de horário regular para isso. como nossas águas estão muito poluídas, temos núcleos que fazem a despoluição, retirando li-xos de superfícies”.

Kátia cita os shows culturais que rea-lizam na sede, na avenida atlântica, sem abrir mão da festa de são Pedro, sempre no dia 29 de junho, para manter a colô-nia com visibilidade.

a presidente da Z-13 faz apelos às autoridades. apesar de reconhecer - ou até mesmo por isso - a importância de

organismos como o cnrh e o ministé-rio da Pesca, os pescadores querem ser atendidos com mais frequência, e não apenas duas vezes por semana. “e que olhem com muito carinho para o pes-cador quando aceitarem projetos como os da Petrobrás, empresas de minérios e outras. Que pelo menos façam pro-jetos sociais com nossos pescadores, pois são os mais prejudicados com es-ses projetos”.

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S e forem confirmadas as notícias de que temos reservatórios de petróleo na camada do pré-sal, na bacia de san-

tos, iremos nos transformar, num futuro não muito distante, num dos maiores produtores de petróleo do mundo, e, a partir de 2016, te-remos a exploração destas reservas em larga escala. Para se ter uma idéia desse montante, a expectativa é o Brasil saltar de 24.º lugar no rol de países com as maiores reservas de pe-tróleo e gás no mundo para a 8.ª ou 9.ª posi-ção, ao lado de Venezuela e nigéria.

Para tanto, o custo dessa exploração será altíssimo, em padrões nunca antes tentados pela PetroBrÁs.

nessa hora, surge uma discussão que até então não foi acenada com a devida importância pela imprensa nacional: a questão ambiental da exploração dos re-cursos na plataforma marítima brasileira.

Já tive a oportunidade de tratar, em artigo recente (revista neomonDo n.º 18), dos efeitos econômicos da camada de pré-sal para a realidade brasileira, e lançar minhas impressões sobre o ‘preparo’ que temos de ter para lidar com os recursos advindos dessa descoberta natural.

Doutro giro, outra preocupação se avi-zinha: quais as técnicas que serão utilizadas

para evitar a poluição das águas? Qual o pla-nejamento ambiental que será adotado para essa prospecção, exploração, comercialização e distribuição no mar da Bacia de santos? en-fim, qual logística deve ser implementada em todo o processo produtivo e comercial desses bilhões de barris que se estima estarem sub-mersos em águas territoriais brasileiras?

essas dúvidas exsurgem em face da crescente preocupação mundial com o aquecimento global, com a poluição mari-nha e com as emissões de co2

.o Brasil já viveu prósperos períodos

de exploração petrolífera, mas os impac-tos ambientais foram pouco considerados, até mesmo subvalorizados. Que dizer das situações ambientais passadas nas bacias de campos e macaé, no litoral do rio de Janeiro. muito se faz, até hoje, para equili-brar as contas ambientais.

não se está a falar simplesmente da instalação de empresas ou do início de serviços médios impactantes. trata-se da exploração de uma camada de petróleo a 6.000 metros de profundidade e da retira-da de bilhões e bilhões de barris de petró-leo em águas nacionais. o impacto certa-mente será um dos mais significativos da história ambiental desse país.

Terence Trennepohl

Quando a constituição Federal prevê um meio ambiente ecologicamente equili-brado, assim o faz levando em considera-ção as presentes e futuras gerações.

louvável foi a iniciativa do Governo de são Paulo que, recentemente, publicou Decreto (Decreto n.º 53.392, de 8 de se-tembro de 2008) prevendo a formação de uma equipe multidisciplinar, envolvendo várias secretarias de estado, a fim de estu-dar e avaliar os impactos ambientais dessa exploração do pré-sal na Bacia de santos.

o Decreto prevê a constituição de uma comissão coordenada pelo próprio Gover-nador do estado, José serra, e contará com representantes das secretarias de Desen-volvimento, de economia e Planejamento, da Fazenda, da casa civil, dos transportes, do meio ambiente, do ensino superior, e do saneamento e energia. além disso, há a previsão da participação do Procurador Geral do estado e de um técnico indicado pelo Governador.

a comissão tem como missão orientar as diretrizes de ação governamental relativas aos impactos econômicos e fiscais, a forma-ção da mão-de-obra, o desenvolvimento da cadeia de fornecedores, a infra-estrutura ge-ral e de escoamento, os efeitos sobre o de-senvolvimento regional, sobre a construção naval, sobre a pesquisa e inovação tecnoló-gica, bem como quanto ao desenvolvimento energético e os marcos regulatórios.

esse é um importante passo para a ex-ploração racional e equilibrada dos recur-sos naturais, sem afetar negativamente o meio ambiente.

estamos diante de uma oportunidade para o Brasil despontar como poderosa re-serva de petróleo e gás e servir de exemplo em termos de proteção ao meio ambiente, principalmente marítimo.

Basta a intenção sair do papel!

Advogado de Martorelli e Gouveia Advogados

Professor da UFPEMestre e Doutor em Direito (UFPE)

E-mail: [email protected]

o Brasil, o Meio Ambiente

neo mondo - março 2009 39

e a camada de pré-sal

o que é o pré-sal?qual sua situação atual?o que representa estrategicamente para o país?quais os desdobramentos ambientais dessa descoberta?

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o mar, que oferece riquezas estratégicas à sobrevivência das nações, além de 95% do comércio internacional realizar-se através do transporte marítimo. atente-se, ainda, para o turismo marítimo, a navegação de cabotagem, os esportes náuticos e a explo-ração de petróleo e gás”, analisou elaine m. octaviano martins, coordenadora e professora do curso de pós-graduação em Direito marítimo e Portuário da unisantos e membro da comissão de Direito maríti-mo e Portuário da oaB (ordem dos advo-gados do Brasil) de são Paulo.

a análise da professora fica ainda mais coerente diante da informação de que 97% dos bens importados e exportados no Bra-sil são transportados por navios de outras

O Brasil está pleiteando, junto à onu (organização das nações unidas), um acréscimo de 950

mil km² a seu território marítimo, que atualmente soma 3,6 milhões de km². se a proposta for aceita, as águas brasileiras totalizarão quase 4,5 milhões de km², uma área maior do que a amazônia verde e que vem sendo chamada de amazônia azul.

a expansão é estratégica para o país em diversos aspectos, um dos principais é o econômico. “sem dúvida é importan-te. o mar, desde épocas mais remotas da história, revela-se como o espaço que mais se destaca no desenvolvimento econômi-co mundial. É incontestável a relação de dependência da economia mundial com

bandeiras, situação que prejudica as finan-ças do país. segundo informações do cen-tro de comunicação da marinha são cerca de u$ 7 bilhões perdidos em divisas na “conta Frete”.

outro aspecto que não pode ser despre-zado é em relação à exploração do petróleo. o Brasil prospecta mais de 80% de seu petróleo e especialistas vem defenden-do que a exploração do recurso na nova área deverá possibilitar o aumento de re-servas suficientes para atender a deman-da do mercado interno brasileiro e ainda possibilitar exportação de excedentes. “ademais, a questão de novas reservas ganha ainda mais espaço no cenário econômico tendo em vistas as recentes

amazôniaem pleno mar

Brasil busca ampliação de seus limites marítimos para se consolidar em área equivalente a 52% do seu território, uma verdadeira Amazônia Azul.Rosane Araújo

especial - Água Salgada

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negociações do presidente americano Barack obama com o presidente lula visando estabelecer um acordo comer-cial que aumente a venda de petróleo brasileiro para o mercado americano. o andamento das negociações está atrela-do à quantidade de petróleo que o Brasil poderá extrair nos próximos anos” res-saltou a professora elaine.

a expansão também é vista como es-tratégica no âmbito da pesquisa científica e preservação da riqueza ecológica, pois permitirá a manutenção de programas e ações voltada para o uso racional e susten-tável dos recursos naturais das águas juri-dicionais e plataforma continental, entre eles o Programa de mentalidade marítima e o Programa de avaliação do Potencial sustentável e monitoramento dos recur-sos Vivos marinhos, entre outros já desen-volvidos pela marinha.

Por outro lado, caso a ampliação seja concedida, para que todos esses bene-fícios sejam de fato efetivados, a infra-estrutura brasileira no setor marítimo necessitará de investimentos.

“Proporcionalmente aos direitos, decorrem as responsabilidades. a gran-de preocupação refere-se ao fato de o Brasil estar efetivamente preparado para investir em políticas de aprovei-tamento dos recursos, em pesquisas, e, essencialmente, em fiscalização. o país necessita, portanto, dentre outras medidas, que a marinha de Guerra seja imediatamente dotada de navios de primeira geração, além de meios flu-tuantes, aéreos e anfíbios adequados, em quantidade suficiente para garan-tir uma presença naval permanente na amazônia azul, além de representar os

interesses nacionais ou projetar o poder e a influência do país no exterior”, opi-nou elaine martins.

antes disso, porém, é preciso que a ampliação do território seja aceita, o que não é tarefa tão simples. segundo a convenção das nações unidas so-bre os Direitos do mar (cnuDm), em vigor desde 1994, o limite exterior da Plataforma continental é de 200 milhas e os países interessados em ampliá-la devem apresentar proposta à comissão de limites da Plataforma continental (clPc), com base em estudos que a jus-tifiquem. a rússia foi a primeira a plei-tear a ampliação e não teve seu pedido atendido devido a problemas de deli-mitação das suas fronteiras marítimas com outros países.

após 17 anos de pesquisas, o Brasil foi o segundo a reivindicar, apresentando proposta em 2004.

três anos depois, em abril de 2007, a clPc formalizou o pedido brasileiro, mas recomendou mudanças. segundo informações do Departamento de co-municação da marinha, embora a clPc tenha concordado com a extensão dos limites exteriores para o Platô de são Paulo, não houve concordância integral com as proposições relativas ao cone do amazonas, às cadeias norte-Bra-sileira e Vitória-trindade e à margem continental sul, o que representa cerca de 25% da área inicialmente pretendida. resta agora à comissão interministerial para os recursos do mar (cirm) avaliar se enviará uma nova proposta, com as recomendações da clPc, ou se perma-nece com a proposta inicial, reforçada por estudos ainda em andamento.

amazôniaem pleno mar

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“É difícil prever a postura da onu; todavia o relatório de recomendações da clPc sugere que o Brasil apresen-te nova proposta com novos limites, recomendando certo recuo na proposi-tura brasileira em cerca de 20 a 35% da área originalmente pleiteada. na minha opinião, em decorrência das recomen-dações contidas no relatório, pode-se afirmar que, aparentemente, a onu sinaliza postura parcialmente favorá-vel ao aumento pleiteado pelo Brasil. acredito portanto que o aumento e a incorporação da nova área da amazônia azul, mesmo que reduzida em nova proposta, deverá ocorrer em breve e o Brasil poderá ser o primeiro país no mundo a ter sua proposta de ampliação de limites da Pc aceita pela onu”, fina-lizou a professora.

Todo Estado costeiro tem o direito de estabelecer um Mar Territorial de até 12 milhas náuticas (cerca de 22 km), uma Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e uma Plataforma Continental (PC) estendida, cujos limites exteriores são determinados pela aplicação de critérios específicos.

Os Estados exercem soberania plena no Mar Territorial. Na ZEE e na PC, a jurisdição dos Estados limita-se à ex-ploração e ao aproveitamento dos re-cursos naturais. Na ZEE, todos os bens econômicos no seio da massa líquida, sobre o leito do mar e no subsolo ma-rinho são privativos do país ribeirinho. Como limitação, a ZEE não se estende além das 200 milhas náuticas (370 km) do litoral continental e insular.

Limites do marLINHA BASE

MAR TERRITORIAL12 milhas (22,2 km)

ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA (ZEE)200 milhas (370,4 km)

1 milha naútica = 1,852 km

PLATAFORMA OCEANO ATLÂNTICO

CROSTA OCEÂNICA

PLANÍCIE ABISSALCROSTA CONTINENTAL

TALUDE

ELEVAÇÃO

PLATAFORMACONTINENTAL

CROSTA CONTINENTAL

Fonte: Centro de Comunicação Social da Marinha

paRa EntEndER

Território 8.500.000 Km²

Zona Econômica Exclusiva

3.500.000 Km²

Extensão PlataformaContinental *

950.000 Km²

ZEE +Extensão da Plataforma Continental

Amazônia Azul cerca de

4.500.000 Km²(42% do Território)

Mar Territorial 12 milhas

brasil

*Proposta Brasileira

especial - Àgua Salgada

LIMITE EXTERIOR

Arquipélago de São Paulo

Arquipélago de Fernando de Noronha

Atol das Rocas

ZONA (Z

EE)

ZON

A (Z

EE)

LIM

ITE

EXTE

RIO

R (2

00m

n)

LIMITE EXTERIOR (200mn)

LIMITE EXTERIOR (200mn)

Ilha de Trindade e Martin Vaz

LIM

ITE

EXTE

RIO

R (2

00m

n)

ZONA (Z

EE)

ZONA (Z

EE)

ZONA (ZEE)

ZONA (ZEE)

LIMITE EXTERIOR (200m

n)

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A represa Billings é um dos maiores e mais importantes reservatórios de água da região metropolitana

de são Paulo. À oeste, faz limite com a ba-cia hidrográfica da Guarapiranga e, ao sul, com a serra do mar. seus principais rios e córregos formadores são o rio Grande ou Jurubatuba, ribeirão Pires, rio Pequeno, rio Pedra Branca, rio taquacetuba, ribeirão Bororé, ribeirão cocaia, ribeirão Guacuri, córrego Grota Funda e córrego alvarenga.

À área ocupada atualmente pela re-presa Billings foi inundada na década de 20 com a construção da Barragem de Pe-dreira, no curso do rio Grande, também denominado rio Jurubatuba, conforme a mostra a foto de época acima. o projeto foi implementado pela antiga light - “the são Paulo tramway, light and Power company, limited”, hoje eletropaulo, com o intuito de aproveitar as águas da Bacia do alto tietê para gerar energia elétri-ca na usina hidrelétrica (uhe) de henry Borden, em cubatão, aproveitando-se do desnível da serra do mar.

a escolha do dia 27 de março diz respei-to à data em que, no ano de 1925, o então presidente da república arthur Bernardes concedeu à empresa light o direito de re-presamento de alguns rios do aBc e da ca-

pital para que se formasse um reservatório (lago artificial) no alto da serra do mar. o nome da represa está ligado ao responsá-vel pelo projeto, o engenheiro americano White asa Billings. com mais de um tri-lhão de litros d’água, o reservatório Billin-gs abrange os municípios de santo andré, são Bernardo, Diadema, mauá, ribeirão Pires e rio Grande da serra.

no início dos anos 40, iniciou-se o des-vio de parte da água do rio tietê e seus afluentes para o reservatório Billings, a fim de aumentar a vazão da represa e, con-sequentemente, ampliar a capacidade de geração de energia elétrica na uhe henry Borden. este processo foi viabilizado gra-ças à reversão do curso do rio Pinheiros, através da construção das usinas eleva-tórias de Pedreira e traição, ambas em seu leito. esta operação, que objetivava o aumento da produção de energia elétrica, também mostrou-se útil para as ações de controle das enchentes e de afastamento dos efluentes industriais e do esgoto gera-do pela cidade em crescimento. em função do elevado crescimento populacional e in-dustrial da Grande são Paulo ter ocorrido sem planejamento, principalmente ao lon-go das décadas de 1950 a 1970, a represa Billings possui grandes trechos poluídos

João Carlos Mucciacito

João Carlos MucciacitoQuímico da CETESB,

Mestre em Tecnologia Ambiental pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas

da Universidade de São Paulo, professor no SENAC, no Centro

Universitário Santo André – UNI-A e na FAENG - Fundação Santo André.

com esgotos domésticos e industriais. apenas os braços taquecetuba e riacho Grande são utilizados para abastecimento de água potável pela sabesp.

o bombeamento das águas do tietê para a Billings, no entanto, começou a mos-trar suas graves consequências ambientais poucos anos depois. o crescimento da cida-de de são Paulo e a falta de coleta e trata-mento de esgotos levou à intensificação da poluição do tietê e seus afluentes que, por sua vez, passaram a comprometer a quali-dade da água da Billings. em 1982, devido à grande quantidade de esgotos, que resul-taram em sérios problemas de contamina-ção por algas cianofíceas, algumas poten-cialmente tóxicas, surge a necessidade de interceptação total do Braço do rio Grande, através da construção da Barragem anchie-ta, para garantir o abastecimento de água do aBc, iniciado em 1958.

Represa billings,

Construção da Barragem de Pedreira no curso do Rio Grande ou Jurubatuba, 1928. Fundação Patrimônio Histórico da Energia de São Paulo.

uma octagenária com muita história

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neo mondo - outubro 2008a

Um olhar consciente Fiscal da Floresta

A Revista Neo Mondo vasculha as ações e devastações da Amazônia Legal Brasileira e traz as principais

novidades sobre a região.Da Redação

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Mais três meses de destruiçãoO sistema Deter (Detecção do Des-matamento em Tempo Real), do Inpe, registrou 754 km² de desma-tamento na Amazônia, nos meses de novembro, dezembro e janeiro. Nos três meses, foram registrados 335 km², 177 km² e 222 km², res-pectivamente, sendo os estados com mais áreas desmatadas o Pará (319 km² do total) e o Mato Grosso (272 km² do total).

Mudança da chuva no arco de desmatamento amazônicoDe acordo com o Inpe (Instituto Na-cional de Pesquisas Espaciais), muitos lugares do chamado arco do desma-tamento (no sul e no leste da Ama-zônia) estão sofrendo alterações ne-gativas no índice chuvas. Do ponto de vista climático, a região apresenta uma característica de clima de sava-na (períodos de seca e chuva bem marcados e com o período de seca com muitos dias sem chuva), mas cada vez mais isso vai se alterando, com as chuvas ficando menos cons-tantes durante os meses em que a chuva deveria ser bem marcada.

pescaria de GenesA partir deste mês, cientistas do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) partirão de Manaus para uma série de expedições com o ob-jetivo de sequenciar o genoma da Amazônia. Os “pescadores-científicos” querem descobrir o que torna algumas criaturas aquáticas da floresta tão es-peciais, e como seu DNA pode ajudar a indústria, a agricultura e a medicina. O projeto, batizado Adapta (Centro e Es-tudo de Adaptações da Biota Aquática da Amazônia), terá R$ 7 milhões em três anos para fazer o primeiro esforço sistemático de genômica ambiental da Amazônia. Aproximadamente, 2.500 espécies de peixes serão investigadas, além de mamíferos, plantas, inverte-brados e micróbios.

Grande ajudaA Coca-Cola Brasil doou a quan-tia de R$ 20 milhões de reais para o programa Bolsa Floresta, da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), no mês de fevereiro. A aju-da visa promover a conservação da floresta e a melhoria na quali-dade de vida das populações que nela vivem, através dos pagamen-tos de serviços ambientais feitos diretamente para as comunidades que residem nas Unidades de Con-servação do Estado do Amazonas. Cerca de dez mil pessoas irão se beneficiar do programa que já ajudou, até o mês de dezem-bro de 2008, 4.500 famílias em 13 unidades de conservação das 34 existentes.

Extinção amazônicaSegundo o relatório divulgado pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) no dia 18 de fevereiro, o desmata-mento da Amazônia provocou a extinção de 26 espécies de animais e plantas até 2006. No mesmo pe-ríodo, outras 644 espécies entra-ram na lista de animais e plantas ameaçados de extinção. Das 26 es-pécies extintas, dez estão na parte brasileira da floresta amazônica. Entre as espécies ameaçadas estão o macaco-aranha (Ateles belzebu-th), o urso-de-óculos (Tremarctos ornatus) e a lontra.

Águas indígenas contaminadasUm estudo, realizado por pesquisa-dores da Fundação Oswaldo Cruz, da Universidade de São Paulo e do Amazonas, apontou que 90% da água utilizada pelos indígenas da re-gião de Iuarete, em São Gabriel da Cachoeira, estão contaminadas. Os dados foram obtidos com base em 65 amostras da substância retiradas da região, nas quais aproximada-mente 59 estavam infectadas com coliformes fecais. Os pesquisadores também encontraram resíduos sóli-dos próximos de fontes de captação de água ou sobre o solo, dentre eles embalagens plásticas, latas, papel e material orgânico.

da amazônia

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promessas milApós o último relatório divul-gado pelo Inpe sobre o des-matamento amazônico, o mi-nistro Carlos Minc estabeleceu novas medidas para a desace-leração da destruição da flo-resta. Serão mil novos fiscais ambientais contratados e mil novas vagas para policiais fe-derais no próximo concurso da polícia, sendo 550 dessas para o Ibama e mais 450 para o Instituto Chico Mendes. Além disso, quatro aeronaves serão contratadas para o monitora-mento da região.

Meta do MilênioO governo brasileiro criou um projeto chamado “Meta do Mi-lênio” que estabelece reduzir a mortalidade infantil brasileira até 2012. Segundo o ministério da Saúde, atualmente há 19.3 casos de mortes por cada grupo de mil crianças menores de um ano, e a previsão é diminuir para 14.4 em 3 anos. Hoje, Amazônia Legal e o Nordeste são responsáveis por metade dos casos de mortalidade infantil no Brasil. O objetivo da meta é reduzir a mortalidade 5% ao ano, através da qualificação da dos sistemas de urgência e emergência, ampliação dos ban-cos de leite humanos e transpor-tes seguros através da Serviço de Atendimento Médico de Urgên-cia (SAMU).

proposta da corteO príncipe Charles da Inglaterra, que visitou o Brasil entre os dias 11 e 14, defendeu a conservação das florestas tropicais, como a Amazônia, através de financia-mentos obtidos com a venda de títulos. Esses seriam garanti-dos pelos países desenvolvidos e comprados por investidores, fundos de pensão e companhias de seguro. Segundo o príncipe, o dinheiro seria dado, não empres-tado, e serviria como pagamento aos países tropicais pelos “servi-ços ecológicos” prestados pelas florestas ao mundo.

Zoneamento da amazôniaNos últimos anos, os estados da Amazônia vêm redesenhando suas reservas legais por meio do chamado zoneamento ecológico-econômico. Aproximadamente, serão fixados entre 65 mil e 85 mil quilômetros quadrados com reser-va legal do tamanho da metade das propriedades, para recomposi-ção de locais desmatados. Apenas Acre e Rondônia tiveram seus zo-neamentos totalmente aprovados e o Pará espera sinal verde do go-verno federal. Os demais membros da Amazônia Legal ainda estão em fase de elaboração das suas le-gislações e irão depender do aval dos ministérios do Meio Ambiente (MMA) e da Agricultura, do Con-selho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e de sanção presidencial para entrarem em vigor.

transporte fluvial precárioSegundo o diretor da Faculdade de Tecnologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e coordenador do projeto Transporte Hidroviário e Cons-trução Naval na Amazônia (THECNA), Waltair Machado, o transporte fluvial da Amazônia é totalmente precário. Para ele, o formato das embarcações e o procedimento de condução são inadequados para os dias atuais, o que acaba causando diversos aciden-tes. Um exemplo seria a embarcação de médio porte que transportava 600 botijões de gás e explodiu no dia 19 de fevereiro, no porto de Jacaré, em Belém, deixando três mortos e quatro feridos. Segundo Machado, a falta de condições financeiras dos donos das embarcações é um dos fatores que dificultam a construção de barcos se-guros para o tráfego fluvial.

sequestro de carbonoSegundo uma pesquisa publicada na revista Science do dia 06/03, a primeira evidência sólida de que episódios de seca causam perdas massivas de carbono em flores-tas tropicais, principalmente por meio da mortalidade de árvores, foi obtida. O estudo envolveu 68 cientistas de 13 países que tra-balham na Rede Amazônica de Inventários Florestais (Rainfor). Para calcular mudanças no es-toque de carbono, os cientistas examinaram mais de 100 parce-las de inventários florestais ao longo dos 600 milhões de hecta-res da Amazônia, identificaram e mediram o crescimento de mais de 100 mil árvores e registraram tanto árvores mortas como no-vos exemplares.

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Dica

sugestões de livros

a pregoar:Dizer em voz alta, divulgar, proclamar.

c ommodity:É um termo de língua inglesa que significa mercado-ria. É utilizado nas transações comerciais de produ-tos de origem primária nas bolsas de mercadorias.

a lgas cianofíceas:conhecidas também como algas azuis ou cia-nobactérias, são microorganismos com carac-terísticas celulares procariontes (bactérias sem membrana nuclear), porém com um sistema fotossintetizante semelhante ao das algas (ve-getais eucariontes), ou seja, são bactérias fo-tossintetizantes.

o livro “Água” chegou para mostrar um outro lado do trabalho de renomados fotógrafos que cruzam os quatro cantos da terra captando as mais belas ima-gens do mundo do surfe. ao contrário do que pode parecer, não se trata de um livro de fotos de surfe e sim um livro com as melhores imagens clicadas pelos mais competentes profissionais da fotografia, muitos deles detentores de diversos prêmios, como sean Davey, sebastian rojas, tim mc-Kenna, Josh

ÁGUAAutores: Adrian Kojin / Luciano FerreroEditora: Global

A VIDA SECRETA DA ÁGUAAutores: Masaru Emoto Editora: Cultrix

A ÁGUA, A LEI, A POLíTICA... E O MEIO AMBIENTE?Autor: Christian Guy Caubet Editora: Juruá

analisando os detalhes do pensamento hidropolitica-mente correto, a obra evidencia o conteúdo real dos parâmetros jurídico-políticos adotados para a gestão dos recursos hídricos a partir da lei federal 9433/97 e das normas específicas subseqüentes. o que aparece é um novo estatuto de bem público com valor econômi-co, vulgo mercadoria, que a água passa a adquirir por força das definições da nova lei e do contexto econô-mico ultraliberal em que ela foi concebida; de modo que as chaves de interpretação do novo mundo das

águas, examinadas à luz dos fatores determinantes da realidade política, econômica e social, parecem muito mais estereótipos de propaganda de que soluções ino-vadoras. a partir da nova realidade institucional, a obra procura dimensionar os diversos contextos das nossas relações aos recursos hídricos e a maneira como as soluções jurídicas estão evoluindo com uma velocidade alarmante: a afirmação do valor econômico da água já parece um caminho sem volta, apesar das lacunas imensas que caracterizam os novos estatutos.

Kimball, eduardo moody, caio Guedes, luiz Blanco, allan Van Gysen, Peter Wilson, tony Fleury, John callahan, eric chauche e Dustin humprey, que reproduzem toda sua sensibilidade e perspicácia no encanto das águas. com edição de arte primorosa de ernani mesquita e apresentação de adrian Kojin, a obra certamente vai agradar não só os aficiona-dos por surfe como também aqueles que prezam excelentes fotografias e os que admiram água e arte.

Desde a sua chegada à terra até as imensas áreas que ela atravessa antes de misturar-se ao mar, a água leva consigo todo conhecimento e experiên-cia que adquiriu. Por mais incrível que pareça, a água carrega toda a sua história, assim como carre-gamos a nossa, e também guarda segredos. em “a Vida secreta da Água”, o autor masaru emoto nos

acompanha pela notável jornada da água pelo pla-neta, revelando, a toda a humanidade, os segredos da água. ele mostra como podemos aplicar a sabe-doria da água na nossa vida e como o respeito e a gratidão que sentimos por ela podem nos ensinar a enfrentar melhor os desafios deste século XXi - e recuperar o nosso planeta.

c abotagem:É a navegação realizada entre portos interiores do país pelo litoral ou por vias fluviais. a cabotagem se contrapõe à navegação de longo curso, ou seja, aque-la realizada entre portos de diferentes nações.

a fluentes:É o nome dado aos rios menores que deságuam em rios principais.

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sem dúvida

e fluentes: são produtos líquidos ou gasosos, tratados ou não tratados, produzidos por indústrias ou re-sultante dos esgotos domésticos urbanos, que

O utorga:ato ou efeito de outorgar, consentir. a outorga pode dar por direito qualquer bem, ou conferir o direito de executar algo ou conceder um direito. a palavra pode ser usada no sentido de conceder um mandato político, por exemplo.

P rospecção:sondagem para descobrir o valor econômico de um jazigo ou de uma região mineira.

são lançados no meio ambiente. cabe aos órgãos ambientais a determinação e a fiscalização dos parâmetros e limites de emissão de efluentes in-dustriais, agrícolas e domésticos.

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