neomondo 14

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Boi Bumbá O Valor da Cultura Popular Ministro Mangabeira: Conheça o PAS Agenda Criança Prioridade na Amazônia 30 38 26 UM OLHAR CONSCIENTE www.neomondo.org.br Ano 2 - Nº 14 - Setembro 2008 - Distribuição Gratuita NEOMON DO Amazônia Legal Os Desafios da EDIçãO ESPECIAL

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Page 1: Neomondo 14

Boi Bumbá O Valor da Cultura Popular

Ministro Mangabeira: Conheça o PAS

Agenda CriançaPrioridade na Amazônia

30 3826

um olhar consciente

www.neomondo.org.br

Ano 2 - Nº 14 - Setembro 2008 - Distribuição Gratuita

NeoMoNdo

Amazônia Legal

Os Desafios da

Edição EspECiAL

Page 2: Neomondo 14

neo mondo - Julho 2008 2

Espaço Real de Práticas em Sustentabilidade:

o caminho mais curto para sua empresa em direção à sustentabilidade.

� Reconhecido mundialmente como “O Banco mais Sustentável do Ano”, pelo Financial Times.

� ”2º Melhor Relatório de Sustentabilidade do Mundo”, pelo Global Reporting Iniciative (GRI).

� Vencedor do prêmio “The BankerTechnology 2008”, na categoria “Projeto deTecnologia Ambiental”.

Criamos o Espaço Real de Práticas em Sustentabilidade para

compartilhar o que aprendemos ao longo de nossa jornada em busca de negócios que

equilibram resultados econômicos, sociais e ambientais. No site, além de conhecer histórias de

pessoas que estão aplicando a sustentabilidade em seu dia-a-dia e de empresas que também

estão reinventando seu jeito de fazer negócios, você vai encontrar cursos on-line, informações

sobre palestras, notícias e vai poder participar colocando sua opinião num blog atualizado por

líderes engajados neste movimento. Compartilhando os mesmos objetivos com nossos

clientes, funcionários e parceiros, seremos capazes de construir um banco, uma sociedade

e um planeta melhor para todos.

519530_410x275_012.pdf September 18, 2008 04:42:17 1 de 1

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3neo mondo - Julho 2008

Espaço Real de Práticas em Sustentabilidade:

o caminho mais curto para sua empresa em direção à sustentabilidade.

� Reconhecido mundialmente como “O Banco mais Sustentável do Ano”, pelo Financial Times.

� ”2º Melhor Relatório de Sustentabilidade do Mundo”, pelo Global Reporting Iniciative (GRI).

� Vencedor do prêmio “The BankerTechnology 2008”, na categoria “Projeto deTecnologia Ambiental”.

Criamos o Espaço Real de Práticas em Sustentabilidade para

compartilhar o que aprendemos ao longo de nossa jornada em busca de negócios que

equilibram resultados econômicos, sociais e ambientais. No site, além de conhecer histórias de

pessoas que estão aplicando a sustentabilidade em seu dia-a-dia e de empresas que também

estão reinventando seu jeito de fazer negócios, você vai encontrar cursos on-line, informações

sobre palestras, notícias e vai poder participar colocando sua opinião num blog atualizado por

líderes engajados neste movimento. Compartilhando os mesmos objetivos com nossos

clientes, funcionários e parceiros, seremos capazes de construir um banco, uma sociedade

e um planeta melhor para todos.

519530_410x275_012.pdf September 18, 2008 04:42:17 1 de 1

Page 4: Neomondo 14

Seções

Diretor Executivo: Oscar Lopes LuizConselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Takashi Yamauchi, Liane Uechi, Livi Carolina e Eduardo Sanches Redação: Liane Uechi (MTB 18.190), Livi Carolina (MTB 49.103-59) e Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586)Revisão: Instituto Neo MondoDiretora de Redação: Liane Uechi (MTB 18.190)Diretora de Arte: Renata Ariane RosaProjeto Gráfico: Instituto Neo Mondo

Correspondência: Instituto Neo MondoRua Caminho do Pilar, 1012 - sl. 22 - Santo André – SPCep: 09190-000Para falar com a Neo Mondo:[email protected]@neomondo.org.brtrabalheconosco@[email protected] anunciar: [email protected]. (11) 4994-1690Presidente do Instituto Neo Mondo:[email protected]

Expediente PublicaçãoA Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24.

Tiragem mensal de 20 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas.Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.

Perfilo arcebispo VerdeDom moacyr minimiza choque cultural, sobrevive a acidentes e avisa: a amazônia tem futuro; basta entender o povo.

08

neo mondo - setembro 2008 4

economia & negóciosos conflitos do Desenvolvimento na amazôniaPesquisa aponta que bioindústrias atuam com bases sustentáveis.

meio amBienTe museu Vivo da amazôniamuseu encravado na Floresta amazônia promete ser um centro de conhecimento.

18segUranÇa16 legado que transcende Xapuri

chico mendes - a luta do mais célebre seringueiro.

eVenToas amazônias: Verdade mitos e lendasexposição trouxe a são Paulo os encantos e as curiosidades da mata.

De olho nos sojicultores com a prorrogação da moratória da soja produtores ajudam a controlar o desmate e a manter as exportações.

10

13

14

Biopirataria esbarra na falta de um marco legal crime causa prejuízos morais e econômicos ao país.

Guarda-costas da amazôniaQuem são os responsáveis pela segurança da Floresta?

21

22esPeciala estratégia está lançada o ministro de assuntos estratégicos, roberto mangabeira unger fala sobre os desafios do Plano amazônia sustentável.

26artigo: a amazônia e as certificações exigidas no comércio internacionalregras do comércio internacional ditam barreiras não tarifárias.

29 sociala criança na agenda amazônica um esforço para incluir a criança na pauta de prioridades.

30

artigo: sem Direitos Básicos sem documentos de identificação, crianças na amazônia são invisíveis para a sociedade.

33 Povos da Florestaisolados dos grandes centros, populações tradicionais tentam fazer valer a constituição.

34

artigo:amazonas: Do mito Greco romano às lendas do novo mundo. a aventura que batizou a amazônia.

36

raio X da amazôniaconheça os principais indicadores da região.

cUlTUral

as cores de ParintinsQuando a amazônia se divide entre o azul e o vermelho.

38 surfe na selvaa pororoca é a responsável pela nova modalidade do surfe e tem atraído turistas de todo o mundo para a região.

esPorTe

42

artigo: a amazônia e o Japãoainda há muito a conhecer sobre a amazônia.

23

44

registrar para Preservaralguns animais que compõem a fauna amazônica sob o olhar de Paulalyn.

24

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De madeira lilás ( ninguém me crê ) se fez meu coração. Espécie escassa

de cedro, pela cor e porque abriga em seu âmago a morte que o ameaça. Madeira dói?, pergunta quem me vê

os braços verdes, os olhos cheios de asas. Por mim responde a luz do amanhecer

que recobre de escamas esmaltadas as águas densas que me deram raça

e cantam nas raízes do meu ser. No crepúsculo estou da ribanceira

entre as estrelas e o chão que me abençoa as nervuras.

Já não faz mal que doa meu bravo coração de água e madeira.

O Animal da Floresta*

O poeta Thiago de Mello é um pilar da poesia social brasileira. Nasceu na cidade de Barreirinha, no coração do Amazonas, no dia 30 de março de 1926. É conhecido internacionalmente por sua luta em prol dos direitos humanos, pela ecologia e pela paz mundial. Suas obras foram traduzidas para mais de trinta idiomas. Dentre elas estão: Silêncio e Palavra, 1951 , Faz Escuro, mas eu Canto, 1965; Os Estatutos do Homem, 1977 (com desenhos de Aldemir Martins); Mormaço na Floresta, 1984; Vento Geral

– Poesia 1951-1981, 1981; Num Campo de Margaridas, 1986; De uma Vez por Todas, 1996.

Thiago de Mello

* Publicação do poema autorizada e sugerida pelo próprio autor.

Page 6: Neomondo 14

Editorial

Um olhar conscienteUm olhar consciente

InstitutoInstituto

NeoMondo

NeoMondo

Ao prepararmos essa edição es-pecial da Revista Neo Mondo, aprendemos bastante sobre

uma região, muito discutida, mas pouco conhecida de fato, a Amazônia. O desmatamento acentuado chamou a atenção do mundo, que voltou seu olhar para esse manto verde. Mas sob ele, estão 25 milhões de pessoas que vivem a discrepância entre a riqueza de biodiversidade e a pobreza social. Prova disso, é que divide com a região Nordeste, os piores indicadores sociais nacionais, que apontam que os direitos fundamentais à vida, ali ainda estão longe de ser alcançados. Entramos na floresta pelo caminho mais legítimo, o do coração de sua gente, daqueles que conhecem suas alegrias e tristezas, daqueles que defendem que a floresta em pé vale mais do que grama. Ouvimos representantes das comunidades tradicionais (indígenas e quilombolas) e locais, autoridades, especialistas, pesquisadores, empresários, famosos e anônimos, que nos relataram os planos, sonhos e desafios a serem vencidos.Num lugar de tantas contradições, a grandiosidade está presente no esforço constante de mostrar seu valor, como pode ser observado em projetos como o Museu Vivo da Amazônia, ou ainda a Festa de Parintins, quando o município encanta o mundo, com uma pequena mostra da riqueza de sua cultura e tradição popular.O leitor poderá conhecer através de obras indígenas e de comunidades tradicionais um pouco do talento desse povo. Talento este, também presente na abertura da revista, na participação de um dos maiores nomes da poesia nacional, o amazonense Thiago de Mello, que nos brindou com a sugestão

de um poema de sua autoria, para representar a região. Longe dos grandes centros urbanos dos estados que compõem a Amazônia, conhecemos as dificuldades causadas pelo isolamento de comunidades, que ficam sujeitas a condições inseguras de locomoção, de alimentação, de saúde, de educação, de informação e também pela falta de regularização documental, da certidão de nascimento ao registro das terras. Essa carência por direitos tão básicos, mas essenciais à cidadania e ao sistema de oportunidades reais, colocam esses brasileiros à margem do desenvolvimento e pior ainda, alimentam a ilegalidade, a violência, a impunidade.Conhecer a Amazônia é compreender o verdadeiro significado da palavra diversidade. É perceber que, para alcançar o sonho do máximo desenvolvimento com a floresta em pé, será necessário um profundo conhecimento da região. A Amazônia não é um bloco geográfico com uma única característica e não poderá ter um modelo único de desenvolvimento. Cada célula amazônica possui aptidões, riquezas naturais, culturas, etnias e necessidades diferentes que precisam ser consideradas dentro de um planejamento, que para ser exemplar deve ainda, levar em conta as vozes, o conhecimento e a sabedoria de sua gente.Esperamos que as informações aqui tratadas possam fazer refletir sobre o que queremos para a Amazônia, sem esquecer que a resposta implícita é o que queremos para o Brasil.Boa leitura!

Liane UechiDiretora e Redaçã[email protected]

Assine já!!!

neo mondo - setembro 20086

Page 7: Neomondo 14

7neo mondo - agosto 2008

Chegou a Revista Neomondo Kids

UM MUNDO DIFERENTE

www.neomondo.org.br

Ano 1 - Nº 1 - Setembro/Outubro 2008 • R$ 8,50

NeoMoNdoKids

De olho no UniversoConheça os Animais Astronautas

Gente do BemUm papo com Mauricio de Sousa

Intervalo CulturalDe presente, um divertido jogo radical

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Assinatura Anual R$51,00 (6 Revistas)Assine e receba onde desejar

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A Primeira Revista Infantil periódica do Brasil destinada às causas socioambientais

e faça parte de um mundo diferente

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neo mondo - setembro 20088

A máxima popular: “Vá se quei-xar ao Bispo” é mais verdadeira do que se possa imaginar. Prova

disso está na atuação do arcebispo Dom moacyr Grecchi, de Porto Velho (ro), co-nhecido não apenas por ouvir, mas por falar pelo amazônida. É uma autoridade com muita história. Primeiro presidente nacional da comissão Pastoral da terra (cPt), durante 8 anos; ocupante de car-gos importantes na direção da conferên-cia nacional dos Bispos do Brasil (cnBB), entre eles a comissão espiscopal nacional (ceP), órgão coordenador de toda a con-ferência, durante 4 anos; e da comissão episcopal para a amazônia há cerca de 6 anos; um dos três em atividade no País a participar das três principais conferências episcopais latino-americnas - Puebla, Por-to rico e aparecida.

escolhido pela revista neo mondo para ser o personagem desta edição espe-

cial, Dom moacyr reluta - “com a idade a gente vai tendo preguiça de falar” -, e depois nos prestigia com sua entrevista. abençoada entrevista!

Dom moacyr é quem podemos cha-mar de arcebispo verde, tais a sua identi-ficação e compromisso com a amazônia. nascido no litoral catarinense, aprendeu a amar as terras amazônicas, onde está há quase quatro décadas. “Fui recebido muito bem. o povo me manifestava con-fiança, carinho, apoio. Pouco a pouco co-mecei a conhecer e amar esta terra e este povo com suas belíssimas qualidades humanas e os defeitos que todo mundo tem. o acre e rondônia tornaram-se mi-nha terra e extensão de minha família”.. Debilitado fisicamente, em conseqüência do último acidente automobilístico so-frido, o arcebispo conserva, aos 72 anos, a clareza e a sabedoria necessárias para as-sumir o papel de porta-voz dos oprimidos

da região contra a devastação das matas, descaso com índios e outros problemas nacionais. tem a voz mansa, mas firme, e avisa: “a amazônia tem futuro; basta en-tender o povo”.

dA sACRisTiA pARA A FLoREsTA ainda bispo de rio Branco (ac), teve

de se submeter a escolta policial de agen-tes federais, até quando oficiava cerimônias religiosas. constrangedora, a situação não durou para ele mais do que cinco meses. De-cidiu dispensar a proteção e se tornou amigo dos policiais. nem as ameaças o fazem per-der o senso de humor: “se alguém quiser me matar, é fácil: sou grande e distraído”.

os dois acidentes que o vitimaram, Dom moacyr os atribui a barberagens. e nem por isso deixa de fazer as suas viagens, mesmo em estradas ruins, a lugares difíceis e distantes. Faz parte da missão pastoral percorrer esses caminhos. o arcebispo re-conhece que não tem competência técnica em certos assuntos, mas autoridade moral não lhe falta, além da eclesiástica.

explica os ingredientes da sua guinada da sacristia para a floresta: “a confiança dos pobres no bispo em situações de injustiça e a persistência nesta confiança. a desco-

O Arcebispo

Dom Moacyr minimiza choque cultural, sobrevive a acidentes e avisa: a Amazônia tem futuro; basta entender o povo.Gabriel Arcanjo Nogueira

Perfil

Quase tudo nessas regiões acaba na casa do bispo“ ”

VERdE

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neo mondo - setembro 2008

O Arcebispo

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berta de que os ricos, autoridades e sulis-tas compradores de terra me enganavam e, para isso, até usavam de meu pouco conhe-cimento da população local e de meu rela-tivo preconceito quanto ao povo da região. a descoberta pessoal, direta, de que o povo não mentia nem exagerava quando falava do que sofria da parte dos `paulistas` com total conivência das autoridades. atrás de tudo isso eu vejo, agora, a mão de Deus tentando me converter. na presidência da cPt, durante a ditadura militar, aprendi muitas coisa também” – revelou.

sEM ACoModAçãoa receita do arcebispo pode ser pres-

crita para quem almeje desenvolver equi-libradamente aquela vasta região: “Basta entender o povo”.

Porto Velho, em certo aspecto, não di-fere muito das badaladas capitais dos gran-des centros urbanos quando o assunto é miséria. lá também a pobreza é mais vista na periferia, e os motivos de preocupação do arcebispo não param por aí. rondônia saltou de 80 mil para 1,4 milhão de habi-tantes nos últimos 30 anos. a capital do estado vai dobrar sua população, lembra. “hoje o atendimento médico, as escolas, a

segurança, a infra-estrutura de água enca-nada, rede de esgotos, enfim, tudo aqui é extremamente precário”, diz.

É preciso dar dignidade a tanta gente, assim como ver a melhor maneira de resol-ver questões polêmicas de desenvolvimen-to. Dom moacyr distingue a amazônia le-gal da restrita à bacia amazônica, com base nos seus 38 anos na região. “sempre fomos tratados como colônia: borracha para os ou-tros, ouro para os outros, terra para outros, madeira para os outros, boi para os outros, soja para os outros, energia para os outros... nada se faz aqui em vista da amazônia em primeiro lugar. a energia do rio madeira, por exemplo, é toda em vista do sul”, constata. e aponta como saída o alerta, recém-saído do forno, do Debate sobre Políticas Públicas e o Futuro da amazônia, Documento-Guia da cnBB: “as relações entre o estado na-cional e a sociedade Brasileira configuram-se até agora como análogas às relações de dependência entre colônia e metrópole. em consonância com este modelo, a amazônia está tão-somente a serviço dos interesses nacionais e não dispõe de condições básicas de se desenvolver a partir de seu dinamismo próprio e de se constituir como macro-região mais plenamente integrada”.

JUsTiçA sURdA sobre o Plano amazônia sustentável

(Pas), o arcebispo pensa que, em si, ele é bom. e, de novo, não entra no mérito técnico do conteúdo. mas alfineta: “aqui, o projeto é sustentável ou não serve. o problema é controlar, cobrar, convencer, exigir. a justiça, como está, não responde às necessidades e muitas vezes favorece os fortes, que têm muitos e ̀ bons` advogados. o incra não funciona a contento e não se entende com o ibama, a Polícia Florestal é pequena. em geral, os órgãos ligados à terra não se entendem”.

o incansável arcebispo verde procu-ra, em benefício da gente que nele con-fia, estar sempre em contato com autori-dades. ele cita ministros, notadamente do meio ambiente, ainda na gestão an-terior, para conhecer as verdadeiras in-tenções e projetos do governo; ministé-rio Público Federal e estadual, em casos de conflitos, de violência dos grileiros, madeireiros, prisões arbitrárias; incra local e nacional; ibama; órgãos ligados à Justiça e Direitos humanos, mediante a comissão e Justiça e Paz. Dom moacyr sintetiza: “Quase tudo nessas regiões acaba na casa do bispo”.

VERdEArcebispo Dom Moacyr Grecchi, de Porto Velho (RO).

neurimar Pereira/Pastoral arquidiocese

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neomondo - setembro 2008A

os conflitos do economia & negócios

Pesquisa aponta que bioindústrias atuam com bases sustentáveis.Liane Uechi

A necessidade do desenvolvimen-to sustentável da amazônia é um consenso no Brasil. todos os seg-

mentos da sociedade concordam que não há mais espaço para modelos predatórios que contribuem para a destruição dos recursos naturais, até porque a história já provou que essa prática não promove equidade. se exis-te consenso, faltam soluções claras de como aplicar esse novo conceito, que se conven-cionou chamar de sustentável.

o geomorfologista aziz ab’saber, maior referência viva da geografia brasileira, em conversa telefônica, disse que uma proposta para a amazônia só será possível, se for efe-tivamente baseadas no conhecimento das re-alidades territoriais e sociais. o professor que considera o termo sustentabilidade completa-mente banalizado e inadequado, explicou que para cada uma das 23 células da amazônia é preciso avaliar a saúde, a educação, o trans-porte, as aspirações das populações, o sane-amento básico, a produção cultural, etc, com embasamento científico e crítico.

segundo ele, é necessário conheci-mento para respeitar as enormes diferen-ças existentes, e assim, obter um planeja-mento para atingir a “utopia” de máximo desenvolvimento com a Floresta em Pé.

ele fala com conhecimento de quem estuda a região há muitas décadas e rea-lizou um estudo de zoneamento da ama-zônia, conferindo de perto o que a maioria dos brasileiros acompanha pelas notícias: conflitos fundiários, violência, descaso

desenvolvimento na Amazônia

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neomondo - setembro 2008 A

os conflitos do ecológico e os mais altos índices de pro-blemas sociais do país.

essas mesmas notícias mostram que a economia da região amazônica continua a se expandir de modo insustentável nas atividades exploratórias da madeira, na mineração, na agricultura e pecuária.

um estudo de uma pesquisadora da usP, a geógrafa laís mourão miguel, mos-trou, no entanto que dois setores da bio-indústria: cosméticos e fitoterápicos, estão conseguindo desempenhar atividades pro-dutivas em bases sustentáveis, com articu-lações de pesquisa e desenvolvimento com centros e instituições de pesquisa; utiliza-ção de matéria-prima certificada e geração de desenvolvimento para as comunidades tradicionais. suas pesquisas foram realiza-das junto a doze bioindústrias, de diferen-tes portes, instaladas na amazônia.

REdE dE CoopERAção CiENTÍFiCAsegundo ela, foi possível constatar a

formação de uma rede de cooperação para pesquisa e inovação pelas principais insti-tuições de pesquisa da amazônia, que pro-movem o aproveitamento do potencial da biodiversidade local. as instituições que mais participam, segundo o estudo, são: o instituto nacional de Pesquisas da ama-zônia (inpa), o centro de Biotecnologia da amazônia (cBa), a empresa Brasileira de Pesquisa agropecuária (embrapa), o mu-seu Paraense emilio Goeldi (mPeG) e a universidade Federal do Pará (uFPa).

a pesquisadora explicou que as empresas estudadas buscam desde o início da cadeia de produção fazer o uso sustentável da biodi-versidade regional, através da certificação da matéria-prima, conhecida como selo Verde. ela constatou ainda que o setor tem inserido nesse processo produtivo, as comunidades tradicionais, que passaram a se organizar em cooperativas de extração, produção e proces-samento. as matérias-primas amazônicas se transformam em insumos para a fabricação Rua senador Flaque, 73 Centro

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Erick Rodrigues Ferreira de Melo e SilvaADVOGADO

desenvolvimento na Amazôniade medicamentos fitoterápicos, produtos de higiene pessoal, perfumaria, extratos padroni-zados, produtos alimentícios, enzimas de inte-resse industrial, corantes e conservantes deri-vados de plantas, animais e microrganismos.

sELo VERdEPossuir o selo verde, uma das exigên-

cias do comércio exterior, significa estar dentro de normas e padrões estipulados por organismos nacionais e internacionais que prevêem fatores ambientais, de mane-jo conservacionista e aspectos sociais.

conforme explicou alexandre ha-rkaly, diretor de negócios de certificação, do instituto Biodinâmico - iBD, reconhe-cido internacionalmente, ao buscar esse selo Verde, cria-se um processo de mu-dança da cultura extrativista. É necessário elaborar um projeto de manejo, onde são mapeados, inventariados e estimados a produção, bem como apresentar o estudo dos recursos naturais a serem utilizados. “eles precisam demonstrar que estão res-peitando a capacidade de regeneração natural, sem o risco de exaurir a espécie” – disse.

também é necessário adotar novas práticas, uma vez que não é permitida a queimada da superfície do solo. no caso de ocorrer fogo acidental, a certificação é temporariamente suspensa para discussão junto à certificadora sobre as medidas a serem adotadas. Do mesmo modo, devem ser respeitados os caminhos preferenciais da fauna local, assim como as trilhas e cor-redores de fauna existentes, áreas alaga-das, além da vegetação que os protege.

mas ele diz que há muito ainda o que avançar nessa questão. “além de muito marketing empresarial, ainda há ceticismo nas comunidades sobre a importância da certificação. muitos que sempre viveram da atividade extrativista não entendem que o processo permitirá que a atividade seja feita com mais responsabilidade e

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12 neo mondo - setembro 2008

economia & negócios

Situada na floresta amazônica do Estado do Amapá, a remota co-munidade de Iratapuru é parceira da Natura. Há várias gerações essa população vive da colheita da casta-nha-do-Brasil. São 30 famílias, que se organizaram através da Cooperativa Mista dos Produtores Extrativistas do Rio Iratapuru, e vendem, hoje, óleo de castanha bruto para uma empre-sa beneficiadora que refina a essên-cia e a entrega à Natura, para uso na fabricação de xampus, condiciona-dores e sabonetes. A comunidade é remunerada duas vezes, no começo da cadeia produtiva, a título de for-necimento, pela venda do óleo, e no final, com uma percentagem sobre a venda dos produtos Natura. O pre-ço do insumo e o percentual sobre a venda foram definidos em várias assembléias comunitárias com a par-ticipação de lideranças familiares, de profissionais da Natura e de funcio-nários da empresa beneficiadora.

Em quatro anos, os recursos prove-nientes dos contratos e dos investi-mentos da Natura na comunidade per-mitiram a construção de uma fábrica de extração de óleo na comunidade, processada por ela mesma. A Natura pagou pela contratação da Imaflora, a representante no Brasil da Forest Stewardship Council, que certificou a produção de castanha, com o “selo verde FSC”, em 2004.

Para evitar a dependência da comu-nidade com a empresa, e o risco de uma relação de assistencialismo, par-te do percentual recebido pela venda dos produtos foi direcionada para a criação de um Fundo de Desenvolvi-mento Sustentável. Seu propósito é fomentar outras iniciativas econômi-cas da comunidade, fortalecendo sua capacidade de gestão técnica e co-mercial, traçando suas próprias metas de desenvolvimento sustentável, sem prescindir do apoio da Natura.

Fonte: Natura

CAso iRATApURU

conhecimento” – disse. harkaly explicou que normalmente são as indústrias que re-querem a certificação, mas já há casos de cooperativas e até de comunidades indíge-nas que aderem ao selo Verde.

AspECTo soCiAL – GANHos pARA A CoMUNidAdE

um dos demonstrativos mais convin-centes de sustentabilidade está na inserção das comunidades tradicionais no sistema de desenvolvimento. uma das empresas que vem mantendo relacionamentos bem sucedidos com essas comunidades é a bio-indústria de cosméticos natura.

a natura mantém 19 contratos de fornecimento de ativos naturais com comunidades tradicionais da amazônia formadas por grupos de agricultores fa-miliares ou de extrativistas. em agosto, assinou com o Governo do amapá os dois primeiros contratos de repartição de benefícios para acesso ao patrimônio genético do uso da castanha-do-brasil e da copaíba. os recursos serão repassa-dos ao governo estadual e sua aplicação será definida pelo conselho Deliberati-vo, formado por representantes da natu-ra, das comunidades e do Governo, de-vendo obrigatoriamente estar vinculada a iniciativas e projetos de benfeitorias e

desenvolvimento sustentável da reserva de onde serão extraídos os produtos.

a empresa já possui também a autori-zação, junto ao conselho de Gestão do Pa-trimônio Genético - cGem, para utilização e repartição de benefícios de outros ativos: breu branco, candeia, cupuaçu-manteiga, extrato de erva-mate, extrato aromático de erva-ma-te, maracujá-proteína, pariparoba e sesbânia.

“esse processo de reconhecimento do direito de provedor das comunidades re-presentam grandes avanços na afirmação da cidadania e importantes fatores de in-clusão social”, ressalta rodolfo Guttila, di-retor de assuntos corporativos e relações Governamentais da natura.

De acordo com as “Diretrizes para o Padrão de Qualidade Orgânico IBD”, considera-se sustentável a coleta/extra-ção de produtos silvestres ou naturais retirados em quantidades nunca acima do ganho de biomassa do produto co-lhido no período entre ciclos de corte, no caso de material vegetativo. A quan-tidade retirada também não pode com-prometer a freqüência de ocorrência da espécie no ambiente em questão, no caso de coleta de sementes.

Ainda segundo as Diretrizes, não são passíveis de certificação:

a) produtos silvestres coletados em lo-cais onde forem observados sinais de degradação por excesso de população em relação à área de exploração, isto é, que ultrapasse o limite da capacida-de de suporte do ecossistema;

b) produtos coletados em áreas onde não se observe sua regeneração em níveis satisfatórios;

c) produtos cujo manejo prejudique a estrutura ecológica preexistente, in-clusive da fauna;

d) produtos obtidos por meio de pro-cessamento, utilizando substâncias ou benfeitorias que interfiram nega-tivamente sobre o ambiente;

e) produtos oriundos de projetos não suficientemente isolados, que pos-sam permitir a contaminação por pesticidas agrícolas.

Fonte: IBD

criTÉrios Para oBTenÇÃo Do selo VerDe

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neo mondo - setembro 2008 13

A amazônia Brasileira irá ganhar um museu vivo, que terá o ta-manho da importância da região.

esta é a garantia do secretário executi-vo de ciência e tecnologia do estado do amazonas, professor marcílio Freitas, que diz que a iniciativa irá alavancar soluções para os problemas da região, uma vez que se tornará um centro de conhecimento. trata-se do museu da amazônia (musa), iniciativa da secretaria de ciência e tec-nologia do amazonas (sect) e da Funda-ção de amparo à Pesquisa do estado do amazonas (Fapeam), que já tem endereço. será instalado em uma área de 15 km², dos quais 10 km² correspondem à reser-va adolpho Ducke, do instituto nacio-nal de Pesquisas da amazônia (inpa), em

manaus. na coordenação desse grandioso projeto está o professor ennio candotti.

o conceito aplicado a esse empreen-dimento prevê um ambiente inovador, com um museu encravado numa floresta primária, onde serão instaladas 20 torres de observação, permitindo visualizar por cima das copas das árvores e também em vários outros planos de observação.

“o museu será diferente de tudo que existe hoje, irá permitir o estudo, articular conhecimentos e disponibilizar a história e cultura dos povos da região” – disse Frei-tas. Pelo projeto, serão construídos labo-ratórios de biodiversidade, equipados para utilização de pesquisadores e alunos, bem como ambientes para estudos animados, ecologia, ciência atmosférica, artes, filoso-fia e representação dos povos. a estrutura física, apesar de já possuir planos e diretri-zes ainda aguarda um projeto arquitetôni-co mais detalhado.

a tecnologia será item importante nessa nova concepção de museu. o monitoramen-to feito por câmeras especiais em diferentes freqüências de luzes ultravioleta e infraver-melha, captarão imagens, em tempo real de espécies da flora e fauna e serão disponibili-zadas por rede, via internet e também, em ambientes de visitação no próprio museu.

também estão previstas as constru-ções de um grande aquário para a manu-tenção de espécies de animais aquáticos da amazônia e de trilhas para passeios e observação da floresta.

não apenas a natureza estará inseri-da nesse contexto. segundo o secretário, também será um espaço para o estudo da complexidade histórica e cultural dessa tão importante região, represen-tada nos conhecimentos tradicionais da população, quase sempre desconhecidos do resto do país.

as idéias são muitas, mas como diz Freitas, um museu vivo precisa estar em construção contínua e funcionar como um centro de pesquisa, interligado a es-colas, meios de comunicação e demais instituições.

o projeto que deve custar em torno de 100 milhões, está na fase de constru-ção jurídica e de captação de recursos junto às agências nacionais e interna-cionais públicas e privadas. a esperança é que em até 12 meses, já possa abrir à visitação. “esperamos receber no pri-meiro ano de funcionamento, 1 milhão de visitantes. Já estivemos mais longe desse sonho...que começa a se realizar” – anunciou o secretário.

Museu Vivo da AmazôniaMuseu encravado na Floresta Amazônia

promete ser um Centro de ConhecimentoLiane Uechi

meio ambiente

Marcilio de Freitas, secretário executivo da Ciência e tecnologia do estado do Amazonas

“”

Já estivemos mais longe desse

sonho

Page 14: Neomondo 14

A cada ano a amazônia legal perde milhares de hectares da maior flo-resta tropical do mundo. segundo

o instituto do homem e meio ambiente da amazônia - imazon, somente no mês de ju-nho, o Brasil viu cair por terra mais do que o equivalente a um campo de futebol por minu-to em função do desmatamento. Dados que contradizem a atual preocupação ambiental e que se opõem ao mercado de exportação cada vez mais exigente. são leis e normas, barreiras não-tarifárias que limitam o crescimento de organizações que não se adequam a nova rea-lidade socioambiental da economia mundial.

com base nesta preocupação, a associa-ção Brasileira das indústrias de Óleos Vegetais – abiove uniu-se a outras associações, onGs e empresas, formando o Grupo de trabalho a soja – Gts e anunciaram, em 24 de julho de 2006, uma moratória de dois anos para a compra de soja proveniente de novas áreas desmatadas na amazônia e a exclusão de fa-zendas que usavam mão-de-obra escrava.

a iniciativa, que será prorrogada por mais um ano, busca melhorar a governan-

ça no Bioma amazônia e inclui o com-promisso das empresas do setor de não comercializar soja que seja produzida em áreas desmatadas no Bioma.

De acordo com o presidente da aBio-Ve, carlo lovatelli, a proposta da mora-tória fez parte do trabalho desenvolvido para a melhoria da sustentabilidade e nestes dois anos já atendeu aos anseios de mercado, estimulados por algumas organi-zações não governamentais.

“embora a presença da soja na região norte seja pouco expressiva, ocupando apenas 3 milésimos do chamado Bioma amazônia, o complexo soja é o principal item das exportações brasileiras. e com a moratória evitou-se uma deterioração da imagem dos produtos oleaginosos brasi-leiros no exterior, e um eventual rechaço do nosso produto por alguns compradores europeus” – observa o lovatelli.

em sua avaliação, os avanços alcança-dos nos dois primeiros anos da moratória foram significativos e positivos, porém ainda existem desafios que deverão ser en-

frentados na próxima gestão para melhorar a sustentabilidade na região. “Precisamos de muito mais ações de governo através do aperfeiçoamento de mecanismos de ação e controle. mas isso deverá ocorrer com a participação direta do ministério do meio ambiente” – destaca o presidente.

Monitoramentouma das preocupações do Gts para

a próxima etapa é dar continuidade ao mapeamento e monitoramento das áreas de desmate.

conforme afirma lovatelli, foi feito um mapeamento e monitoramento da morató-ria da soja, com base nos dados do sistema ProDes/inPe, levantados no período de agosto/2006 a julho/2007, que verificou in loco as informações geradas pelo sistema. Foram realizados sobrevôos que identifica-ram que não houve plantio da soja nas áre-as desmatadas, porém, um ano passou-se e é preciso fazer nova vistoria.

além disso, outro fator de atenção para a nova etapa é o cadastro das propriedades

De olho nos meio ambiente

Com a prorrogação da Moratória da Soja, produtores ajudam a controlar o desmate

e a manter as exportações.

Livi Carolina

soJiCULToREs

14 neo mondo - setembro 2008

Page 15: Neomondo 14

A

De olho nos

neo mondo - setembro 2008

rurais e a regularização fundiária, de res-ponsabilidade do Governo, que lovatelli julga ser “necessária e urgente para resolver os problemas socioambientais que ocorrem hoje no país, em especial na região do Bio-ma amazônia”. e acrescenta: “sem a regula-rização fundiária, o sucesso de outras ações poderá ser comprometido.”

contudo, no evento de prorrogação da mo-ratória, o ministro do meio ambiente, carlos minc, comprometeu-se em priorizar o cadastro rural nos municípios produtores de soja.

Mais terraso crescimento mundial no consumo de

carne também tem afetado o setor da soja, cultura usada para a produção da ração bovi-na. sendo assim, cresce também a demanda por mais terras para plantio de exportação.

mas como resolver este impasse? De acordo com lovatelli, esse processo vem acompanhado da aplicação de mais e me-

lhores tecnologias nas propriedades rurais que proporcionam o aumento de produti-vidade nos plantios. assim como, a pos-sibilidade de se utilizar áreas degradadas por outras atividades, não passíveis de re-cuperação para uso agrosilvipastoril*.

“a aBioVe projeta que a safra brasileira de soja passe dos atuais 61 para 105 milhões de toneladas em 2.020 para atender a deman-da mundial por proteínas. serão necessários mais 7 milhões de hectares, que em grande parte virão de áreas ocupadas por pastagem. espera-se que a pecuária libere 33 milhões de hectares até 2.020, em função de ganhos de produtividade” – diz o presidente.

soJiCULToREs

* conjunto de sistemas e práticas de uso do solo, que envolve a interação sócio-econômica e conservacionista aceitável de árvores e ar-bustos, com culturas agrícolas, pastagens e animais, de forma seqüencial ou simultânea de tal maneira que alcance a maior produtividade total em regime sustentável.

Segundo Lovatelli, a continuidade do trabalho da moratória após a segunda vigência dependerá do trabalho con-junto entre os órgãos governamentais brasileiros, as entidades que represen-tam os produtores rurais e a sociedade civil, para:

ABIOVE e ANEC:• Realizar o monitoramento no Bioma;• Sensibilizar os sojicultores a atenderem o

disposto no Código Florestal Brasileiro;• Colaborar e cobrar do Governo Brasi-

leiro a definição, aplicação e cumpri-mento de políticas públicas (Zonea-mento Econômico-Ecológico) sobre o uso da terra na região.

ONG’s:• Cooperar com o aporte de informa-

ções e assessoria técnica especializada ao GTS;

• Defender interna e externamente a cria-ção de mecanismos de remuneração por

prestação de serviços ambientais e pre-servação de florestas.

MMA:• Promoção e apoio à implementação

do cadastro e licenciamento ambien-tal das propriedades rurais, com prio-ridade para os municípios produto-res de soja no bioma Amazônia, em conjunto com os órgãos estaduais de meio ambiente;

• Apoio e promoção à implementação do Zoneamento Econômico Ecológico nos estados da Amazônia Legal em conjun-to com as instâncias estaduais;

• Assegurar a produção do mapa do Bioma Amazônia na escala adequada para o monitoramento das proprie-dades rurais nele inseridos;

• Cooperação com os demais órgãos de governo, propugnando em fóruns in-ternacionais pelo desenvolvimento de programas de incentivo à produção sus-

tentável, inclusive com remuneração.

Fim da vigência

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16

que transcendeLEGAdo

Q uando se fala em chico mendes, a unanimidade não é burra (como queria nelson rodrigues), mas

consciente. tanto que o seringueiro, o mari-do, o sindicalista, o pai, o homem da floresta é referência nacional e internacional. Basta ver o reconhecimento alcançado em prêmios que recebeu em vida e por ter, ele próprio, se transformado em “medalha chico mendes”. isso se não bastassem as inúmeras organi-zações e locais que ostentam o seu nome, a exemplo de parques, museus e comitês.

em Xapuri, a Fundação chico mendes é ponto de parada obrigatório para pessoas que do Brasil e do exterior visitam a cidade para saber mais sobre a vida e a obra do líder dos seringueiros e do que podem fazer para dar continuidade a seus ideais. Quem conta é ilzamar Gadelha mendes, a companheira de todas as horas. “mais que o bom pai e o bom marido, o legado de chico mendes vale pelo exemplo de luta em defesa da vida e da floresta. Para mim, isso é o mais importan-

te. meu marido iniciou um trabalho, em que tinha a preocupação de deixar aos jovens a mensagem de se tornarem os agentes de um futuro melhor”, diz, ao lembrar de uma carta aos Jovens, escrita por ele.

consciente de que as pessoas são úni-cas em sua existência, ilzamar acredita que, hoje, “cada um deve dar continuidade, de seu jeito, ao legado de chico mendes. o importante é o despertar da consciência, que atinge pessoas de todos os níveis, até mesmo de poder, e camadas sociais, seja no Brasil seja no mundo”. aí incluídos li-deranças sindicais, trabalhadores rurais, ribeirinhos, estudantes. “Fico muito feliz ao ver que, nas escolas, crianças e jovens se dedicam a olhar para a questão ambiental de maneira a aprender com a mensagem e o exemplo que meu marido deixou”, afirma.

EMpATEs E REsERVAsa medalha chico mendes de resis-

tência é uma dessas referências marcantes

num país carente de heróis. Foi criada em 1988 pela onG tortura nunca mais, como homenagem à sua memória e para servir de condecoração a pessoas e instituições com-prometidas na luta pelos Direitos huma-nos e por uma sociedade mais justa. Desde 1989 já contemplou centenas de personali-dades no País.

uma das formas de luta mais célebres dos seringueiros eram os empates - reação pacífica ao desmatamento que exigia muita coragem e mobilização dos participantes. as pessoas organizavam passeatas para impedir o abate de árvores, seja pelo diálogo seja pelo seqüestro de motosserras ou ainda por abra-ço nas árvores ameaçadas. o primeiro deles contou com 60 seringueiros e peões, em 1976, num movimento em que as mulheres tiveram papel muito importante, bem como as crianças, que iam na linha de frente.

muitos desses empates resultaram na criação de reservas extrativistas e, em 1988, era contabilizada a primeira delas, chegan-do em 2007 a 35 reservas existentes. o termo serve de título a um livro que ajuda a entender a amazônia, “o empate contra chico mendes”, obra de um dos escritores mais ilustres da região: márcio souza.

soziNHo NA FLoREsTA EM NoiTE AVANçAdA

Firme nas convicções e aberto ao diá-logo; nunca violento. Dessa maneira é que o professor otávio Destro, hoje em são caetano, no aBc Paulista, vê chico men-des. Destro recorda seus tempos de acre: oito anos no total, três deles em Xapuri. e relata um episódio que fala por si:

“Chico Mendes tinha visão de futuro:

jovens são agentes de um mundo melhor”Gabriel Arcanjo Nogueira

meio ambiente

Chico Mendes durante a criação do sindicato de Xapuri.

claudio avallone

neo mondo - setembro 2008

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neomondo - setembro 2008 15

XApURique transcende

Paul

alyn

car

valh

o

- Frei Destro, você pode fazer um favor?- Fala, chico!- tem uma pessoa doente e vieram

chamar o ¨curador¨ para indicar o chá para ela se curar. se ele for a pé, vai demorar muito tempo. Dá para ir de jipe até perto da casa do doente.o senhor pode levar? eu vou junto para voltar com o senhor.

levantei da rede, pois já era adiantado da noite e lá fomos de jipe em plena floresta, pela ¨estrada velha¨. Deixamos o ¨curador¨. ele embrenhou-se pelo ¨varadouro¨ em plena escuridão. Fiquei impressionado. um homem sozinho em plena floresta, e noite avançada.

eu estava em Xapuri há poucos dias e era a primeira vez que entrava na floresta.

chico mendes me disse que ¨ao clarear do dia¨ a gente voltava para buscar o curador porque ele ia ser padrinho de várias crianças. eu, acostumado na ¨cidade¨, queria saber a ¨hora¨ e apontava o relógio. Para mim, ¨cla-rear do dia¨ nada significava, e insisti com o chico mendes para saber a hora exata.

- não se preocupe, Frei Destro, na hora certa eu chamo o senhor.

meio descrente, pensando que poderia atrasar a cerimônia da manhã seguinte, acabei dando um voto de confiança ao chico mendes.

ainda escurinho, o chico me chama e sa-ímos. Quando chegamos no ¨varadouro¨, não havia ninguém. Fiquei pessimista. caminhei pelo ¨varadouro¨, não mais de um minuto, e comecei a voltar, morrendo de medo. e já era claro! De repente escuto atrás de mim:

- Ô, seu vigário! Já chegaram?era o curador.esse fato sempre me encucou. como é

difícil para um ̈ estudado¨, que vive em socie-

dade dita desenvolvida, entender e respeitar a vida, a experiência, o conhecimento do povo mais simples, que vive outra realidade e tem outra sabedoria! Por que impor a nossa cultura? Por que não respeitar a deles?

este fato mostra o espírito de chico mendes. ele era procurado por quem dele precisava: corria atrás para resolver o pro-blema de quem estava em necessidade. chico valorizava o seu conhecimento de homem da floresta, as noções de justiça so-cial e direito dos seringueiros que aprendia nos sindicatos, na igreja, nas leituras e no diálogo com todos.

chico não era violento, mas firme nas suas convicções. era homem de diálogo, com autoridades e mesmo com fazendei-ros. e sabia organizar o povo da floresta, os seringueiros, para defender seus direitos e a preservação da floresta que estava sen-do derrubada indiscriminadamente para formação de fazenda de gado, expulsando seringueiros sem nenhuma indenização.

esta sabedoria de chico mendes trans-cendeu Xapuri, o acre e espalhou-se pelo Brasil e pelo mundo. não era uma sabedo-ria teórica, abstrata. era prática, dividida com seus conterrâneos necessitados.

LiNdo pÔR-do-soLos fins de tarde em Xapuri, a 180 km de

rio Branco (ac), são de beleza que se renova a cada dia, descreve o livro “a amazônia que não conhecemos”. Depois de escapar de seis embos-cadas, Francisco alves mendes Filho, o chico mendes, é assassinado a tiros, em 16 de dezem-bro de 1988. Por que tinha de ser justo numa tarde dessas, quando o sol acabara de se pôr?

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neo mondo - setembro 200818

A história da biopirataria no Brasil remonta ao tempo da colonização. Já nessa época, o país provocava a

curiosidade de países estrangeiros, que re-alizavam “aventuras científicas”, coletando amostras e o conhecimento sobre o uso da flora e fauna nacional. os exemplos mais fa-mosos são do pau-brasil, cujo segredo de ex-trair a pigmentação vermelha foi absorvida dos povos indígenas, e o caso das sementes de seringueira levadas pelo inglês henry Wi-ckham para colônias britânicas na malásia, tornando-a a principal exportadora de látex. esses são apenas dois casos, dentre tantos outros, que além dos prejuízos de ordem moral à soberania brasileira ainda abalaram a estrutura econômica do país.

a biodiversidade foi por muito tempo tida como um bem da humanidade. isso mudou a partir da publicação da convenção sobre Diversidade Biológica - cDB”, na eco 92, que passou a considerar biopirataria a apropriação ilegal de diversas formas de vida da flora e da fauna e também dos co-nhecimentos das populações tradicionais, a respeito de ativos e propriedades terapêuti-cas ou comerciais dos recursos naturais.

Desse modo, esses recursos passaram a ser compreendidos como ativos do patri-mônio genético nacional, que entretanto,

BiopiratariaCrime causa prejuízos morais e econômicos ao país.Liane Uechi

segurança

esbarra na falta de um marco Legal

Flor de Árvore Pau Brasil

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neomondo - setembro 2008

Biopiratariaesbarra na falta de um marco Legal

19

necessitam de uma regulamentação de uso, estabelecido pelo país.

É nesse ponto que se concentra um grande problema. Desde 92, o Brasil não conseguiu ainda aprovar uma legislação definitiva e clara sobre o assunto. a ges-tão do patrimônio genético brasileiro está regulada por medidas Provisórias 2.052 -00 e 2.186-16, de agosto de 2001. com elas, criou-se o conselho de Gestão do Pa-trimônio Genético (cGen), colegiado go-vernamental responsável pelo controle do acesso aos recursos genéticos e aos conhe-cimentos tradicionais a eles associados.

a diretora do cGen, celeste emerick, se mostrou bastante contrariada com a de-mora na definição de um marco legal para o assunto. “Vivemos uma insegurança ju-rídica. isso inibe a pesquisa e não protege adequadamente o conhecimento das comu-nidades tradicionais” – disse ela. a difícil interpretação jurídica e as atuais exigências burocráticas para autorização de pesquisas de campo sobre biodiversidade, de acordo com a diretora, desestimulam o desenvol-vimento científico e econômico, impedindo o objetivo maior que é repartir benefícios para todas as cadeias que participaram da geração daquele conhecimento. outro pon-to fraco da medida Provisória é não possuir

interfaces com outras leis como a lei de inovação, dos Fundos setoriais, de Políti-cas industriais. “tudo isso nos coloca numa situação de extrema fragilidade”.

De fato, conforme relatou o presi-dente da onG amzonlink, michel Franz schmidlehner, em 2002, a entidade des-cobriu e denunciou que alguns produtos brasileiros já tinham suas marcas regis-tradas. Foi o caso do “cupuaçu” e “cupula-te”, que já estavam patenteadas na união européia, Japão e eua pela empresa japo-nesa asahi Foods. Descobriu ainda regis-tro da marca “açaí” e de patentes da copaí-ba, andiroba, ayahuasca e outros casos. o fato acirrou as discussões e a indignação dos brasileiros.

em 2003, o governo determinou ao cGen a elaboração de um anteprojeto de lei, aberto à participação da sociedade ci-vil, a ser encaminhado ao congresso. ce-leste disse que o projeto de “lei de aces-so a recursos Genéticos, conhecimentos tradicionais e repartição de Benefícios” foi concluído em 2007 e aberto à consulta pú-blica, para que as comunidades tradicionais e locais, organizações não-governamentais, institutos de pesquisa, empresas, entidades da sociedade civil organizada e provedores individuais encaminhassem suas contribui-

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neo mondo - setembro 200820

ções ao novo marco legal. “Foram cerca de 60 respostas, mas houve a solicitação de reuniões presenciais junto às comunidades tradicionais, por dificuldade de acesso das mesmas” – disse. Desse modo, somente após essa consulta presencial, o anteprojeto será encaminhado ao congresso. segundo a diretora, a esperança é que seja apreciada ainda em 2008 e que se sobreponha ao con-flitos de interesses.

a nova lei irá definir o acesso aos re-cursos genéticos e derivados, remessa de material biológico, acesso e proteção de conhecimentos associados, e ainda a ques-tão dos direitos dos agricultores e a repar-tição de benefícios.

ela acredita que a falta de regulamen-tação atual impede até mesmo uma fiscali-zação eficiente e o pior, paralisa a pesquisa científica no Brasil, impedindo o conheci-mento real da biodiversidade e da sociobio-diversidade brasileira, que na amazônia le-gal é representada por mais de 200 etnias, com um conjunto de comunidades indí-genas, quilombolas, ribeirinhas, caiçaras e outros. “nossa produção científica é muito pequena. o Brasil é considerado megadiver-so, mas conhece muito pouco desse imenso potencial natural e cultural” - afirmou.

entidades ambientais estimam que o Brasil perca cerca de 5 bilhões de dó-lares por ano com o tráfico de animais, produtos da flora, madeira e conheci-mentos das comunidades tradicionais. o pior é que para coletar material bio-lógico, não há necessidade de grandes aparatos, basta retirar um pedacinho da planta, acondicionar num saco plástico e pronto. Justifica-se aí a importância do conhecimento da nossa biodiversidade, até para conseguir resguardá-la.

celeste cita como fundamental, além da regulamentação e da fiscalização, a cons-cientização das comunidades tradicionais.

schmidlehner concorda: “a população é o legítimo guardião desse conhecimen-to e deve ser orientado sobre como fazer isso” - defende.

O Brasil é considerado megadiverso,

mas conhece muito pouco desse imenso

potencial natural e cultural

“”

conforme o relatório conclusivo da cPi da Biopirataria, que analisou além dos casos já citados, denúncias de ven-da de animais e madeira, será necessário uma mudança social profunda para elimi-nar esse crime que explora a pobreza, a desigualdade e a exclusão.

O maior problema encontrado, hoje, na Amazônia é a extração ilegal da madei-ra. Cerca de 85% são retiradas da mata de maneira criminosa, o que provoca um desperdício de 70% do produto e ainda destrói tudo que está à sua volta. Para cada árvore extraída, outras 59 são danificadas, abrindo imensas clareiras.Em junho de 2008, o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) registrou 612 quilômetros quadrados de desmata-mento na Amazônia Legal. Isso repre-senta um aumento de 23% em relação a junho de 2007 quando o desmata-mento somou 499 quilômetros quadra-dos. No acumulado do período (agosto de 2007 a junho de 2008), o desmata-mento totalizou 4.754 quilômetros quadrados. Segundo dados do IMAZON – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, divulgados em 2007, a floresta já havia perdido quase 20% do seu tamanho original - 700 mil quilômetros quadrados.

segurança

Nessa atividade, madeireiros abrem milhares de quilômetros de estra-das não-oficiais em terras públicas facilitando a grilagem (posse de terras alheias). Além da questão do desmata-mento e todas as suas conseqüências ambientais, a atividade ainda aumenta as mazelas sociais. Levantamento do Imazon mostra que os indicadores de qualidade de vida nessas regiões des-matadas em muitos casos são piores que de áreas preservadas. O pseudo-enriquecimento, que na verdade atinge a pouquíssimos, se vai junto com as toras e carvão, deixando no lugar um solo infértil, especulação, assassinatos por disputas de terra e uma pobreza maior do que antes da derrubada da floresta. A comunidade de áreas devas-tadas deixa de ter os serviços gratuitos da natureza como ervas para cura, fribras, frutos, peixes, etc...

Fonte: Dados do IMAZON

MAdEiRA iLEGALDa Redação com pesquisa de Caio Martins

Cupuaçú

Açaí

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21 neo mondo - setembro 2008

P roteger 5.033.072 Km² da amazô-nia legal é uma tarefa árdua que necessita de cooperação e parceria

entre governos, organizações e comuni-dades locais. sua imensidão de riquezas naturais atrai os olhos ambiciosos de todo o mundo, em busca da variedade de pro-dutos que a biodiversidade da amazônia pode oferecer.

a atribuição constitucional de proteção ambiental da amazônia pertence à Polícia Federal, que atua em consonância com o iBama, órgão fiscalizador com poder de aplicar multas contra crimes ambientais, porém sem autonomia para aplicar a lei diante de um flagrante.

Para atender a demanda de trabalho, a Polícia Federal tem priorizado o envio de novos agentes à amazônia, numa tenta-tiva de conter o registro de violações. no entanto, os números são preocupantes. existem somente 10.329 mil agentes para cobrir todo Brasil.

na amazônia legal atualmente estão instalados apenas 12 postos de atendimen-to e 10 delegacias, além da superintendên-cia regional do DPF em cada estado.

Junto com o envio dos formandos es-tão previstas a reforma das instalações e a manutenção dos demais equipamentos de inteligência, na tentativa de aumentar a ca-pacidade de monitoramento. mas estrutura insuficiente não é o único problema, o isola-

mento e as áreas inabitadas também são fa-tores facilitadores da ação de práticas crimi-nosas, como a biopirataria, onde se incluem a extração de madeira ilegal, de ativos da fauna e flora, grilagem, dentre outros. essa baixa densidade demográfica, de apenas 3,3 habitantes por Km², torna a Floresta mais vulnerável e o trabalho de segurança ainda mais complexo. Fica claro, que a fiscalização depende de um aparato tecnológico, capaz de fornecer informações precisas, em tempo real. e este é o papel do sistema de Proteção da amazônia – siPam.

De acordo com José neumar silveira, gerente do centro técnico e operacional de Porto Velho, o sistema tem a missão de integrar informações, monitorar, coletar dados e analisá-los para desenvolver pro-dutos e serviços que desempenham a fun-ção de ampliar o conhecimento e orientar de forma específica a atuação e as políticas públicas para a região. “somos o suporte da Polícia Federal, geramos informações para que ela aja com maior eficácia. mas também auxiliamos os municípios a fa-zerem melhor planejamento de suas atu-ações oferecendo softwares simples para o levantamento de dados precisos sobre a região” – explica silveira.

Para produzir estas informações, o si-Pam conta com um serviço de inteligência de sensoriamento remoto para a fiscalização da superfície terrestre através de quatro sen-

sores aerotransportados que operam nas fai-xas de microondas, visível e infravermelho. segundo silveira, estes e outros equipamen-tos são capazes de verificar quase que em tempo real o que ocorre na região.

“além dessa tecnologia, nosso cen-tro criou um projeto de monitoramento de áreas indígenas, podendo fazer um trabalho preventivo. com ele, verifica-mos a movimentação que antecede a motosserra e passamos nota de alerta aos órgãos responsáveis para as medidas necessárias” – ressalta.

conforme disse o gerente, mesmo com todo serviço de inteligência, um dos recur-sos mais eficientes no combate aos crimes ambientais são os terminais de usuá-rios remotos, compostos de uma antena Vsat, um telefone/fax e um computador. eles permitem a integração com reservas indígenas, postos do ibama, da receita Federal, Forças armadas e prefeituras da região. “há pouco tempo, em roraima, um nativo utilizou o terminal para avisar que havia um homem suspeito na mata, com a denúncia, o alemão foi pego em flagrante cometendo biopirataria” – relata.

Para silveira, permitir que os povos da Floresta, que são os maiores interessados na preservação e os guardiões legítimos de toda essa riqueza natural, participem e auxiliem as autoridades na proteção da amazônia é a melhor solução.

Guarda-costas da Amazônia

Tecnologia e participação das comunidades podem ser as soluções para a segurança.Da redação

segurança

aquilino cesar

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22 neo mondo - setembro 2008

C omo se empenhar em proteger algo que não se conhece a fun-do e que está longe dos olhos?

De acordo com o diretor da Pró cultura marketing e eventos, mauro Peret, este foi o questionamento que levou à produção da mostra “as amazônias: Verdades, mi-tos e lendas”, que aconteceu na segunda quinzena de agosto no Pavilhão da Bienal do Parque ibirapuera.

o evento é parte do projeto ecos do Planeta, cujo objetivo é levar para a po-pulação as grandes questões ambientais, homenageando um bioma brasileiro, de-senvolvido pela Pró cultura marketing e eventos e pelo instituto Brasil com.

a exposição que levou 72 mil pessoas a visitar o espaço gratuitamente, entre elas, 33 mil crianças da rede pública e particular de ensino, diferenciou-se por investir em um ce-nário com aromas, sons, utensílios da popula-ção amazônica, fotos e a atmosfera úmida da floresta que encantou quem passou por lá.

“escolhemos os biomas brasileiros para exposição, porque é um assunto ain-da restrito a estudiosos, profissionais e com pouco destaque na sala de aula. en-tão, queríamos motivar a população a se apaixonar e a buscar mais informações, e assim, entender a importância da floresta para as cidades” – declara Peret.

o cenógrafo J. c. serroni, responsável pela mostra, levou o visitante “a navegar” sobre o rio amazonas conferindo a pai-sagem de cada um dos sete módulos que dividiram a exposição: Floresta, Água, as-tronomia, arqueologia, aldeia, Diversida-

de cultural e terra do amanhã. cada um deles trabalhado com uma atividade cultu-ral e uma oficina interativa.

De acordo com o Peret, a mostra foi pensada para atingir principalmente às crianças, dando a elas a oportunidade de aprender de forma lúdica, tirando-as do ambiente metódico da sala de aula e fazen-do com que elas interajam com o cenário repleto de atrativos.

segundo o diretor, o papel dos eventos ecos do Planeta é popularizar a questão da ecologia para que a sociedade possa cobrar mais atitudes do Governo. “a intenção é dizer: acorda! as cidades só poderão sobre-viver se houver mata em volta dela, senão haverá falta de chuva, mais poluição, mais doenças... o paulistano perde anualmente um ano e meio de vida por causa desta situa-ção. Precisamos despertar!” – alerta.

As Amazônias:

Exposição trouxe a São Paulo os encantos da AmazôniaDa redação

evento

Verdades, Mitos e Lendas

Utensílios indígenas

Vaso de cariátides da cultura tapajônica - Coleção Raimundo Cardoso (PA)

Urna da cultura Maracá - Coleção Raimundo Cardoso (PA)

Page 23: Neomondo 14

23 neo mondo - setembro 2008

O s dados são conhecidos: a ama-zônia representa 61% do terri-tório nacional do Brasil e o des-

matamento constitui um dos problemas mais graves. Foram vários ciclos suces-sivos de invasões: primeiro a agropecu-ária, depois as madeireiras, logo agora a soja e no intervalo de tudo isso, os negó-cios amazônicos.

mas, aqui no Japão, a maioria dos japoneses ignora esses e outros fatos relevantes; para eles a amazônia diz res-peito a água, rios, árvores, e, sobretudo, indígenas sem contato com o mundo dos brancos; a rede de televisão local, a nhK, mostra sempre essas imagens rei-terando que essa parte do globo consti-tui o pulmão do Planeta e os brasileiros não sabem cuidar dela.

alguns, mais informados, conhecem alguma coisa sobre os 75 anos da história dos imigrantes japoneses que foram para amazônia em 1923,no período final do ci-clo da borracha.

cerca de 300 famílias foram para esse local e se dedicaram ao cultivo da pimenta-do-reino; seus descendentes ainda vivem na região, na qual estão mui-tas empresas japonesas, principalmente nas Zonas livres de macapá e manaus,

por exemplo: honda, Panasonic, Yamaha, sony, Panasonic, citzen, orient, Fuji e Konica minolta.

sobre as origens das madeireiras que destróem a floresta amazônica, nunca ouviram falar... e, uma das madeireiras mais importantes é a multinacional ja-ponesa eiDai inc., pertencente ao grupo mitsubishi, com sede em osaka,Japão. a empresa no Brasil sofreu 71 autos de infração,e, em 2000 foi multada pelo ibama em r$ 3,4 milhões pelo corte ile-gal de madeira.

a multa recebida pela empresa no Brasil teve repercussão no Japão uma vez que, no Porto de Kobe, um grupo de quatro ativistas do Greenpeace ocupou, em julho de 2000, o navio “manzanillo”, carregado com 11 contêineres de madei-ra nobre extraídos ilegalmente da ama-zônia pela madeireira japonesa.

outro caso que saiu muito pouco na mídia daqui foi sobre o litígio judicial Bra-sil X Japão, a respeito do nome cupuaçu.

o registro de patente e o direito de uso exclusivo do nome foi conseguido pela em-presa japonesa asahi o que levantou pro-testos do governo brasileiro e de organiza-ções não-governamentais (onGs) em todo o mundo, uma vez que cupuaçu é o nome

Dilma de Melo Silva

de uma fruta amazônica, assim chamado há milênios por índios do Brasil e do Peru.

o problema teve início em 2000 quando makoto nagasawa, diretor da asahi Foods e titular da empresa ame-ricana cupuaçu international, registrou no Japão, eua e europa, a marca com o nome da fruta. somente após cinco anos a batalha pelo nome cupuaçu, travada entre o governo brasileiro e a empresa japonesa asahi Foods, chegou ao fim. Por decisão da cancellation Division da união européia, o registro do nome fei-to pela companhia nipônica foi cassado em todas as nações integrantes do bloco. a união européia era o último mercado que ainda mantinha a concessão de uso da marca para a asahi Foods.

ainda há muito a conhecer sobre a amazônia por aqui.

Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da

Universidade de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade

de Uppsala, Suécia e Professora convidada para ministrar aulas sobre

Cultura Brasileira na Universidade de Estudos Estrangeiros.

Correspondente especial de Quioto – Japão

AMAZÔNIA A

E oJAPÃO

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P or maiores que sejam as informações recebidas sobre as riquezas da região amazônica é no flagrante das lentes

fotográficas e cinematográficas que a exube-rância dessa grande fatia do Brasil chega às demais regiões e ao mundo. o papel desses profissionais em captar a beleza e muitas ve-zes, também o pedido silencioso de socorro dessas espécies, é imprescindível para cons-cientizar sobre a importância de ser manter a floresta em pé. a fotógrafa Paulalyn é uma dessas profissionais que emprestam a sen-sibilidade e técnica, a serviço da defesa do meio ambiente. com um trabalho voltado

à essa causa, vem realizando ensaios e ex-posições sobre o tema. são dela as fotos da fauna amazônica, expostas a seguir. agumas dessas imagens fizeram parte da exposição “sentir Brasil”, que aconteceu em junho na câmara municipal de são Paulo.

a maioria das imagens foi captada no Parque ecológico de Januari, em manaus, no amazonas e no instituto de Pesquisa da amazônia (inPa), em janeiro de 2008.

Paula é motivada pela sua paixão pela natureza. “olho a lua, o sol, o mar, as ár-vores, os rios, os animais, como se os es-tivesse vendo pela primeira vez. são, para

mim, respostas a todas as minhas pergun-tas.” – disse. a fotógrafa acredita que cada um pode contribuir com ações que estão ao seu alcance. “a minha contribuição é através das imagens. Quero poder tocar o coração de cada um através do meu olhar, usar um sentido humano tão valorizado na contemporaneidade para despertar os outros sentidos e a consciência. registrar para preservar” – concluiu.

se o mundo precisa da amazônia para mi-nimizar os efeitos ambientais do aquecimento global. Para esses animais, que somam milha-res de espécies, a Floresta é sinônimo de vida.

Registrar para pREsERVARAlguns animais que compõem a riquíssima fauna Amazônica.Da Redação

especial

24 neo mondo - setembro 2008

AraraAs araras estão entre os pássaros mais belos da fauna brasileira.

São aves grandes e possuem e um bico curvo resistente usado para quebrar frutos e sementes. As araras vivem em casais nas copas das árvores mais frondosas e fazem seus ninhos em ocos de árvores.

Bicho-preguiçaO Bicho-Preguiça é considerado um animal muito sossegado. Dorme o

dia todo nas árvores, pendurado num galho de costas para o chão e com a cabeça pendida sobre o peito. É um mamífero de hábitos noturnos. Orien-ta-se pelo olfato, pois tem uma visão muito fraca. Alimenta-se apenas das folhas, frutos e brotos de algumas árvores. É um animal inofensivo.

Gavião-realO gavião-real, também conhecido como harpia ( Harpia harpyja), é

a maior ave de rapina do Brasil e do mundo, podendo atingir 2,5 m de envergadura. Seus hábitos são diurnos. Alimenta-se de moluscos, crus-táceos e peixes até serpentes, lagartos, alguns pássaros e alguns mamí-feros, como a preguiça (seu alimento favorito) que captura no solo.

Page 25: Neomondo 14

Registrar para pREsERVAR

neo mondo - setembro 2008 25

JacaréO jacaré é um dos maiores répteis brasileiros. O jacaré amazônico che-

ga a alcançar até 5 metros, mas em geral não ultrapassa 2 metros. A tem-peratura do seu corpo varia de acordo com o meio em que ele está, por isso precisa ficar exposto ao sol a fim de captar calor.

Macaco-aranhaO Macaco Aranha possui como habitat as florestas tropicais chuvosas

e tem hábitos diurnos. Vive em bandos de até 30 indivíduos e pode chegar até 33 anos. Os animais atingem de 6 a 8 quilos. Alimentam-se de frutas, sementes, folhas, insetos e ovos.

Macaco-de-cheiroO Macaco-de-cheiro é um primata que gosta de viver no topo das

árvores mais altas da floresta, geralmente a 30 ou 40 metros do chão. São animais de extrema agilidade. Sua comida preferida são insetos, mas alimenta-se também de frutos e da seiva das árvores. Na Amazônia, os ribeirinhos costumam domesticá-los. São peraltas e brincalhões.

TartarugaA tartaruga da Amazônia passa os dias nos rios de águas calmas, na-

dando, alimentando-se e de vez em quando sai para respirar e tomar um pouquinho de sol a fim de manter a temperatura do corpo São ovíparas, colocando seus ovos nas praias, durante a noite, em buracos que escavam na areia. São animais de vida longa, podendo atingir centenas de anos.

“Um olhar Consciente” em “Este Mundo é Meu”

Em continuidade ao projeto “Um Olhar Consciente”, PaulaLyn participará com painéis fotográficos no evento “Este mundo é meu 2008: integração sócio-ambiental”, que irá ocorrer no Centro Cultural São Paulo, de 08 a 29 de outubro de 2.008. Com ênfase nas questões ambientais, nas ações da sociedade em defesa da cidade, de si própria e de tudo que gira em seu entorno. A programação permitirá reflexões por meio de palestras, com convidados de várias especialidades na área de meio ambiente, bem como, oficinas e instalações.

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26 neo mondo - setembro 2008

1 - O Plano Amazônia Sustentável foi elaborado levando em conta um con-junto adequado de saberes, opiniões, propostas e expectativas setoriais?

costumo dizer que a amazônia é mais do que simplesmente uma flo-resta. um programa abrangente para a região carece dos instrumentos para lidar com todos os muitos problemas de transporte, energia, educação e in-dústria existentes. não sou eu que vou definir o plano de desenvolvimento da amazônia. esta é uma obra coletiva. minha tarefa é ajudar a coordenar um trabalho de equipe, numa lógica de co-autoria dentro do governo, dentro da amazônia e dentro da nação.

2 - O Sr. defende que o Brasil recomece da Amazônia. Como isso é possível a curto, médio e longo prazo?

a amazônia deve ser encarada como uma fronteira da nossa imaginação, um espaço privilegiado em que a nação pode se encontrar e dar os primeiros passos para a construção de um novo país. na amazônia, o Brasil pode se revelar ao

Brasil. o bioma amazônico representa pelo menos um terço do território nacio-nal e atrai a atenção do mundo todo, por ser a maior selva úmida do planeta, com 20% da água doce da terra e por conter a maior reserva de biodiversidade. além disso, está ligado, como vítima e como solução, ao debate mundial a respeito de mudança de clima.

a discussão do destino da amazô-nia serve como alavanca de pressão do mundo sobre o Brasil, mas pode tam-bém abrir espaço para o Brasil no mun-do. Para isso, temos de mostrar como - ao reafirmar nossa soberania na ama-zônia - podemos fazê-lo a serviço não só do Brasil, mas de toda a humanidade. uma iniciativa nacional a respeito da amazônia tem o poder de esclarecer e de comover o país, em uma narrativa de libertação nacional.

o espírito da empreitada deve ser o de definir a amazônia como vanguarda, não como retaguarda. as soluções para os problemas da região terão de ser ino-vadoras; não serão fáceis de extrair do repertório de políticas públicas conven-

cionais nem de situar no espectro das posições ideológicas conhecidas.

3 - Desenvolvimento sustentável seria utopia?

o problema todo é que a convergência sobre a tese do desenvolvimento sustentá-vel continua a ser uma convergência sobre uma abstração. Falta suficiente conteúdo prático. Por isso, o meu esforço, nessa fase inicial de coordenação do Plano amazô-nia sustentável, tem sido trabalhar, com os meus colegas ministros e, sobretudo, com os governadores dos nove estados da amazônia legal, para definir sete grandes eixos de iniciativas práticas.

4 – E por onde começarão essas iniciativas? o primeiro eixo do projeto é resolver

o problema da terra e fazer o zoneamento ecológico e econômico. o problema núme-ro um na amazônia é o da regularização fundiária. toda a amazônia Brasileira é um caldeirão de insegurança jurídica. enquan-to não tirarmos a amazônia dessa situação, em que menos de 5% da terra na posse de particulares têm a sua situação jurídica es-clarecida, nada mais funcionará.

a solução para o problema fundiário tem, necessariamente, três componentes. o primeiro componente é o estado brasi-leiro afirmar o seu controle efetivo sobre o que é seu - as terras públicas. Para contro-lar é preciso conhecê-las. o segundo com-ponente é redesenhar e equipar as insti-

O Ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger fala sobre os desafios do Plano Amazônia Sustentável.Gabriel Arcanjo Nogueira

especial

“”

Pensar o Brasil a longo prazo é missão inadiável, e nessa empreitada a

Amazônia é centro das atenções

LANçAdAA estratégia está

Page 27: Neomondo 14

27 neo mondo - setembro 2008

tuições federais e estaduais responsáveis pela regularização fundiária e organizar o procedimento de colaboração federativa entre as organizações federais e estaduais. o terceiro componente é mudar as nossas leis, simplificá-las, para estabelecer um ca-minho largo e acelerado que leve da posse insegura para a propriedade plena.

5 - E quanto aos outros eixos, o que está sendo discutido?

o segundo eixo é persistir e até mes-mo radicalizar nas medidas contra o des-matamento. esse compromisso exige, pri-meiro, a construção de um regime jurídico regulatório e tributário que faça a floresta em pé valer mais que a floresta derrubada. segundo, a organização e o financiamen-to dos serviços ambientais avançados e, terceiro, o municiamento das unidades de conservação com quadros e com meios técnicos para que não permaneçam nati-mortas no papel.

o terceiro eixo deste projeto é asse-gurar alternativas de produção econo-micamente viáveis e ambientalmente seguras para as populações de pequenos produtores que atuam nas zonas de tran-sição entre a floresta e o cerrado. hoje, há dois principais focos de desmatamento na amazônia. o primeiro é a invasão das ter-ras públicas e o segundo é o desespero dos pequenos produtores. a eles, precisamos garantir essas alternativas: um amplo es-pectro de lavouras perenes de cultivo de

peixes, de plantio de árvores, de produção para o biodiesel - atividades que terão de ser apoiadas técnica e financeiramente e não bastarão.

Precisamos também assegurar a essas populações uma remuneração adicional aos ganhos de sua produção em troca das obrigações que assumirão de monitorar e de prestar contas e, com isso, sacramentar o vínculo delas com as alternativas legí-timas. aí, sim, poderá haver um aparato de monitoramento pelo estado brasileiro, que funcione como complemento de uma agenda econômica construtiva e não como substituto dessa agenda.

6 - Há, também, uma preocupação com a agricultura na região?

sim. É disso que trata o quarto eixo do projeto: a reorganização da agricultura e da pecuária brasileira na amazônia dos cer-rados, fora da floresta. na amazônia dos cerrados, temos a oportunidade de liderar o projeto revolucionário de construção da agricultura brasileira sob o seguinte prin-cípio: o Brasil pode dobrar a área sob cul-tivo e triplicar o seu produto agrícola sem

tocar uma única árvore. Para isso, precisa começar a superar o contraste ideológico e desorientador entre a grande agricultura empresarial e a pequena agricultura social ou familiar.

o desenho de uma agricultura moder-na e democratizada é um só. Para superar esse contraste, temos que executar simul-taneamente duas obras: a primeira é uma obra física de combinação de uma pecuária intensiva que substitua a pecuária extensi-va por uma lavoura de alto valor agregado. tenho como pressuposto a superação da nossa absurda e ruidosa dependência da importação de fertilizantes. e a obra insti-tucional passa pela reorganização dos mer-cados agrícolas para fortalecer os produto-res fragmentados diante dos fornecedores e compradores cartelizados.

há também uma preocupação com o soerguimento da indústria nas cidades e periferias urbanas tanto da amazônia flo-restada quanto da amazônia dos cerrados, que faz parte do quinto eixo do projeto. na amazônia da floresta, precisamos de indústrias que transformem produtos ma-deireiros e não madeireiros e, sobretudo,

LANçAdAA estratégia está

O Ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger.

antonio cruz/aBr

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28 neo mondo - setembro 2008

que fabriquem tecnologia apropriada ao manejo de uma floresta tropical, muito mais heterogênea do que as florestas tem-peradas, para o manejo das quais foi criada quase toda a tecnologia florestal disponí-vel no mundo hoje. na amazônia dos cerrados, precisamos de indústrias que transformem os produtos agropecuários e minerais e que, sob o regime adequado de incentivos, sejam capazes de subir na escala de valor agregado.

o sexto eixo é a organização do trans-porte multimodal na amazônia, de tal maneira a resolver os problemas logísticos na região e apontar o caminho para o país, integrando os elementos rodoviário, ferro-viário e hidroviário.

7 - E a meta de qualificação do nosso povo? O PAS prevê isso?

o sétimo eixo tem a ver com ciência e capacitação. um grande avanço científico para abordar este vasto laboratório natural que é o bioma amazônico. e uma solução para o problema crucial do ensino brasilei-ro hoje, que é a escola média. uma nova escola média que combine o ensino geral, porém de orientação analítica e capacita-dora, com um ensino técnico e profissio-nal que não seja apenas o antigo ensino vocacional e especializações rígidas.

8 - No seu entender, desenvolvimento e preservação caminham juntos. Como conciliar as duas questões?

Veja, nós temos na amazônia, hoje, quatro grandes problemas subjacentes que não são enfrentados ou sequer des-

critos. Precisamos enfrentá-los com cla-reza e coragem.

o primeiro problema é que nós cons-truímos, ao longo do tempo, uma série de proibições legais para as atividades produ-tivas. no Bioma amazônico em sentido es-trito e na amazônia legal como um todo. isso é um esforço admirável. nós não en-caramos a Floresta amazônica como fron-teira agrícola. nós estamos determinados a preservá-la. mas temos de ter certeza de que o regime legal seja um regime factível, não seja só para aparecer, mas para de fato ser executado.

se somássemos todas as proibições legais, de acordo com alguns cálculos, sobraria muito pouco espaço, tanto no Bioma amazônico como no cerrado, para atividades produtivas legítimas. há cálcu-los - eu considero exagerados - que dizem que, no bioma, seriam menos de 7% e, na amazônia legal como um todo, menos de 13%. a primeira preocupação, portanto, é a seguinte: precisamos de um regime legal que não fique apenas no papel, ou seja, ter certeza de que o regime das leis seja um regime dentro do qual possamos viver.

9 - E quanto aos outros problemas? o segundo problema é que, de acordo

com a lei, nós construímos um sistema de reservas legais. então, na amazônia flo-restada, temos 80% de reserva, 20% aber-tos à produção, independentemente do ta-manho da propriedade. em muitos casos, isso pode levar a uma espécie de microta-buleiro: áreas pequenas demais quer para preservação, quer para produção.

Precisamos construir, pouco a pouco, um sistema que assegure áreas coerentes de produção e de preservação. também é preciso resolver o problema da ilegali-dade maciça e retrospectiva em que fo-ram colocadas algumas populações, em algumas partes da amazônia, por conta dessas regras.

o terceiro problema é o desnível que existe entre a relativa ineficiência econô-mica das atividades sustentáveis e a relati-va eficiência econômica das atividades de-vastadoras. enquanto persistir o desnível, continuaremos a depender de proibições legais e, inclusive, de sanções criminais para proteger a floresta. esta é uma situa-ção intrinsecamente precária e transitória. a única maneira de resolver esse proble-ma é aumentar a eficiência econômica das atividades sustentáveis, passando pelo bi-nômio tecnologia/escala.

o quarto grande problema que temos na amazônia é que, em algumas partes dela, temos um conflito, uma espécie de guerrilha, entre produtores e grupos que procuram defender os índios, os negros ou os valores da preservação. muitos dos gru-pos querem que o governo federal se posi-cione no conflito entre eles. o que eu tenho dito é que uma solução duradoura não pode ser construída de cima para baixo, por uma imposição do governo central. ela tem que ser construída também de baixo para cima. somente dessa maneira faremos do Plano amazônia sustentável um projeto de esta-do, não apenas um projeto de governo. um projeto que possa sobreviver aos governos e ser abraçado pela nação.

* Lançado em 8 de maio de 2008, por iniciativa conjunta do governo federal e dos governadores dos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, que compõem a região amazônica.

* Objetivo: definir as diretrizes para o desenvolvimento sustentável da Amazônia brasileira.

* Estratégico: o plano contém as diretrizes gerais e as recomendações para sua implementação, de modo a resultar em ações operacionais previstas em planos sub-regionais.

* Cinco grandes eixos compõem o plano: produção sustentável com inovação e competitividade; gestão ambien-tal e ordenamento territorial; inclusão social e cidadania; infra-estrutura para o desenvolvimento; novo padrão de financiamento.

* A coordenação do Conselho Gestor do PAS é do ministro Mangabeira Unger .

plano Amazônia sustentável (pAs)

especial

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29 neo mondo - setembro 2008

Q ue o mundo é plano1 e a globa-lização uma realidade, isso não mais se discute.

o que importa para os mercados mais preparados é atentar para a forma social-mente responsável de participar desse processo, interagindo da melhor maneira e, se possível, servindo como exemplo no contexto econômico.

a globalização não foi um processo simples e que ocorreu somente no breve século XX.

ao contrário.o século XX de breve não teve nada.

Foi pautado em idéias e conceitos que re-montam às antigas cidades-estados italia-nas, a exemplo da Veneza do século XVii. o comércio internacional já fincava suas raízes numa época em que sequer se ou-sava sonhar com suas dimensões atuais. a aproximação dos mercados e o consumo como fim da produção também percorre-ram demoradamente a obra de adam smi-th, ainda em fins do século XViii.

no palco do mercado internacional, onde os países de primeiro mundo ditam as regras comerciais, não há meio de fugir des-te enredo e manter os limitados parâmetros locais, sob pena de perder, cada vez mais, es-paço para os mais rápidos e competitivos.

nos primeiros momentos da globali-zação participaram principalmente ameri-

canos e europeus; agora, figuram nesse ce-nário chineses, indianos, árabes, coreanos e brasileiros, todos com parcelas significa-tivas de mercado. essa tendência moderna de competição pressupõe vários figurantes.

nesse contexto, a amazônia brasileira pare-ce não mais nos pertencer!! ledo engano o nos-so pensar em aproveitar – de maneira desenfre-ada e não-sustentável! – os renováveis recursos disponíveis em sua vastíssima extensão.

temos que preservar para compensar os erros do passado... pelos quais não fo-mos responsáveis!

a globalização e a ‘institucionalização’ das relações internacionais promoveram uma in-tegração sem precedentes ao longo do século XX, sob os auspícios de um conjunto de nor-mas de regulação, de cunho liberal, fiscaliza-dos por órgãos internacionais, a exemplo da organização mundial do comércio – omc.

Para ingressar no mercado, e no cená-rio econômico internacional, o Brasil deve levar em conta algumas barreiras não-tari-fárias que cercam determinados produtos.

um desses produtos é a madeira, cuja extração em larga escala, segundo o pró-prio ministério do meio ambiente, em-prega quase 2 milhões de pessoas, respon-dendo por quase 4% do PiB brasileiro.

o que preocupa é que mais de 85% da extração de madeira no Brasil é fei-ta irregularmente.

recentemente, porém, o aumento da fiscalização ao desmatamento ilegal está derrubando a produção ilegal da indústria brasileira de madeira. segundo dados do iBGe, o setor madeireiro foi responsável por significativo impacto negativo nos re-sultados industriais. no mês de julho, a queda foi de 13,7% na produção, se com-parada ao mesmo período de 2007. o au-mento do desemprego chegou a 8,2%.

isso se deve, principalmente, às exigên-cias internacionais por madeiras certificadas.

no Brasil, o selo que garante a extra-ção legal é fornecido pelo conselho Bra-

Terence Trennepohl

sileiro de manejo Florestal, o Fsc. o selo Fsc (Forest stewardship council) certifica áreas e produtos florestais.

essa certificação florestal serve para garantir que a madeira utilizada em deter-minados produtos foi originada dentro de processo de manejo sustentável, de forma ecologicamente correta, atendendo a toda legislação ambiental vigente.

atualmente, essas certificações inter-nacionais buscam homogeneizar certas ca-tegorias produtivas, servindo como barrei-ras não-tributárias impostas pelo mercado a fim de selecionar o ingresso de produtos nos territórios de países desenvolvidos.

exemplo disso são as certificações da organização internacional para Padronização (comumente chamadas iso, pois em inglês international organization for standardiza-tion), que servem de limitadores mercadológi-cos. o Brasil é representado na iso pela asso-ciação Brasileira de normas técnicas (aBnt); os eua pela american national standards institute (ansi); e a alemanha pela Deuts-ches institut für normung e.V. (Din).

a observância a esses standards deve orientar a atuação empresarial, haja vista o irreversível mundo globalizado em que se vive, pois o comércio internacional virou prática corriqueira para qualquer consumi-dor em potencial.

assim, participar e, principalmente, ter padrões de competitividade, pressupõe adequação à ordem mundial.

num futuro não muito distante, so-mente produtos com certificação de ori-gem ambientalmente correta terão espaço no competitivo comércio internacional.

Advogado de Martorelli e Gouveia Advogados

Professor da UFPEMestre e Doutorando em Direito (UFPE)

E-mail: [email protected]

1 referência ao best seller “o mundo é Plano”, de thomas Friedman.

e as certificações exigidas no Comércio Internacional

A Amazônia

Page 30: Neomondo 14

A amazônia legal Brasileira vem sendo motivo de repercussão nos meios de comunicação de todo o

mundo, que volta seu olhar e preocupação para esse ponto verde do planeta. mas nem só de florestas, minérios, riquezas

da AmazôniaUm esforço para incluir a criança na pauta de prioridadesLiane Uechi

A Criança na agenda

social

e biodiversidades é feito esse lugar. há gente ali no meio. Brasileiros de muita dignidade e que vivem diante de desa-fios que grande parte do país e do mundo nem imagina. a criança talvez seja uma peça fundamental nesse contexto, pois é

a representação óbvia do futuro da região. Garantir seus direitos fundamentais é algo ainda mais complexo, em função das espe-cificidades do local. o unicef – Fundo das nações unidas para a infância, desenvolve na região um trabalho que objetiva incluir

neo mondo - setembro 200830

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25

a criança e o adolescente na agenda de prioridades da amazônia.

a “agenda criança amazônia” é um processo de mobilização social, onde fo-ram convidados nesse primeiro momento, 70 municípios dos estados do amazonas, Pará e maranhão. ao aderir à agenda, cada município compromete-se a melho-rar, até 2012, importantes indicadores so-ciais, como taxa de pobreza, mortalidade infantil e materna, desnutrição infantil, registro civil, acesso ao pré-natal, gravidez na adolescência, violência e trabalho in-fantil, incidência de aids e malária, acesso à água potável, acesso e permanência na escola, entre outros.

diREiTos FUNdAMENTAisQuando se fala em direito à escola em

qualquer outra região do país, são discuti-dos aspectos como número de vagas, quali-

dade de ensino, equipamentos adequados, merenda, transporte escolar, etc. conforme explicou o coordenador do uniceF Belém, Fábio moraes, na amazônia legal a preo-cupação antecede essas questões e esbarra muitas vezes na impossibilidade de deslo-camento por via terrestre, o que impõe a vá-rias comunidades uma vida de isolamento, sem acesso sequer a informações básicas e onde o principal meio de transporte é a tradicional embarcação pluvial. “os concei-tos precisam ser repensados sob a ótica do lugar” – explicou ele. “no estado do Pará, a viagem de algumas cidades até Belém, por exemplo, podem levar cerca de 19 horas de barco” – disse moraes.

nesse esforço de entender os desafios locais, a unicef identificou problemas como as condições das embarcações utilizadas no transporte de crianças. “Precisamos consi-derar os cuidados de segurança, evitando

Paulalyn carvalho

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Fernando Gomes

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novos casos de escalpelamento de crianças (cujos cabelos e couro cabeludo são arranca-dos após serem tragados pelos motores das embarcações)” - explicou. o exemplo que pode parecer exótico para as demais regiões do país é uma mostra de como os problemas precisam ser encarados, analisados e comba-tidos de forma singular.

opERACioNALizAR As idÉiAsmoraes traz na bagagem experiência se-

melhante desenvolvida há quatro anos no semi-árido brasileiro. ele explica que é um trabalho de mobilização social com a parti-cipação efetiva dos atores envolvidos. isso significa colocar num mesmo espaço de dis-cussão, autoridades constituídas, entidades e, sobretudo, membros das diversas comu-nidades. Para ele, definir metas, estabelecer soluções é muito bonito no papel, mas a operacionalização disso só é possível com o envolvimento de toda a sociedade local.

entra ai a metodologia da unicef, onde o grande mérito está em esclarecer e tornar acessíveis informações antes inatingíveis para a população. Dessa forma, oferece a mais pode-rosa ferramenta social: o conhecimento. com a apresentação de forma didática, as comuni-dades passam a conhecer sua situação e a en-tender que fazem parte das soluções. “o unicef tece redes e oferece condições para que eles próprios encontrem suas saídas” – afirmou.

moraes esclareceu que são definidos articuladores, pessoas da comunidade, que fazem a ponte entre a população, au-toridade e instituições. nesses encontros estabelece-se o diálogo, onde todos podem ser ouvidos e onde todos passam a ser co-responsáveis pelas melhorias e soluções.

CoNTRoLE soCiALexemplificando, cita a questão do or-

çamento municipal. “sem conhecimento técnico, um cidadão comum não consegue

Nove milhões de crianças e ado-lescentes vivem na Amazônia Legal Brasileira, representando praticamen-te 40% da população da região – a mais jovem de todo o País. Ao lado do Nordeste, a Amazônia tem hoje os piores indicadores sociais brasileiros, apesar dos avanços nos últimos anos. Enquanto o nível de pobreza das crianças e dos adolescentes – aqueles que vivem com famílias com renda per capita de menos de ½ salário mí-nimo mensal – é de 50% para o Brasil como um todo, esse percentual sobe para 61% na Amazônia Legal Brasilei-ra, chegando em alguns Estados da região a superar 65% (IBGE, 2006).

Com a taxa de mortalidade in-fantil o quadro repete-se: na Região Norte, 25,8 crianças morrem antes de completar o primeiro ano de vida em cada grupo de mil nascidas vivas, sen-do que a média brasileira é de 24,9 e da região Sul é de 16,7.

Em relação ao direito de aprender, a disparidade também permanece: os Estados da Amazônia ainda têm as me-nores proporções de crianças em cre-ches e pré-escolas, respectivamente, 8% e 64,2%. Nessa região, mais de 92,2 mil adolescentes são analfabetos e cerca de 148 mil crianças e adolescentes, entre 10 e 14 anos, estão fora da escola.

Fonte: Unicef

Como Vive a Criança na Amazônia

social

entender o orçamento de um município. o que fazemos é decodificá-lo e torná-lo claro para as pessoas” – revelou moraes. assim é feito com todos os demais dados e indicadores que envolvem aquela comu-nidade. são índices de mortalidade, de analfabetismo, de moradia, de renda, etc.

segundo ele, quando uma pessoa que não sabe sequer ler passa a entender a situação do lugar onde vive, tudo muda! tudo se transforma!

“ela passa a participar como co-res-ponsável pelos esforços dessa melhoria. Passa a ter um sentimento de perten-cimento àquele lugar” – afirmou. Para ilustrar essa compreensão, cita o caso da depredação de escolas e patrimônios públicos, comum a todo país. Quando a comunidade percebe o quanto isso cus-ta e o quanto isso impede a aplicação de recursos para outras necessidades, passa a atuar nessa situação. Da mesma for-ma, na limpeza pública, cujo custo pode ser reduzido com uma nova postura da população. são exemplos simples que servem aos demais aspectos e que per-mitem, segundo moraes, o controle so-cial, que deixa de ser responsabilidade exclusiva da autoridade governamental. as ações junto a essas comunidades também procuram resgatar a história do lugar e os contadores dessas histórias, pessoas que precisam ser valorizadas e que geram à comunidade um acréscimo de auto-estima.

Para o unicef, o mais importante é conseguir com essa mobilização, garantir melhores condições para a criança e o ado-lescente e desenvolver competências locais para a solução dos inúmeros problemas. “Quem mais conhece do lugar, são as pes-soas do lugar” – enfatiza o coordenador.

Paul

alyn

car

valh

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Em 2009, será lançado o Selo Unicef Município Aprovado, na Amazônia. Depois de um período de acompanhamento, os municí-pios que demonstrarem avanços na garantia dos direitos da criança e adolescente receberão esse reco-nhecimento do UNICEF. O Selo já é utilizado no Semi-Árido Brasileiro e funciona como um motivador na busca por melhorias contínuas nas políticas públicas.

selo Unicef Município Aprovado

neo mondo - setembro 200832

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neomondo - setembro 2008 A

Marina Mergulhão LuizTem 15 anos, está cursando

o 1º Ano do Ensino Médio doColégio Singular

por MarinaMergulhão

Luiz

teenpalavra

Sem direitos

BásiCos

D ados do IBGE (Instituto Brasilei-ro de Geografia e Estatística) e do Unicef (Fundo das Nações

Unidas para a Infância) apontam que os indicadores sociais, que são estatísti-cas sobre aspectos da vida de uma nação que, em conjunto, retratam o estado social dessa nação e permitem conhecer o seu nível de desenvolvi-mento social, como taxa de pobreza, de analfabetismo, mortalidade infantil e materna, registro civil, desnutrição infantil, acesso ao pré-natal, gravidez na adolescência, violência e trabalho infantil, incidência de aids e malá-ria, acesso à água potável, acesso e permanência na escola, entre outros, mostram que ainda há muito o que se fazer pela Amazônia. Um exemplo é a taxa oficial de crianças pobres na região de 61% enquanto a média nacional é de 50,3%. O que é contra-ditório, pois é a região mais rica em biodiversidade do planeta.

Em maio desse ano, a Unicef criou uma proposta de compromissos, de-nominada Agenda Criança Amazônia 2009-2012, para mobilizar os governos e sociedade civil com a intenção de priori-zar crianças e adolescentes da região na construção de políticas públicas e partici-pação na preservação e desenvolvimen-to sustentável da região. Desta forma, assegura a conquista de um presente e um futuro mais digno e sustentável.

A etapa inicial envolve 70 municípios do Amazonas, Maranhão e Pará e pre-tende até 2012 atingir todos os muni-cípios dos nove Estados (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins).

Por meio de minhas pesquisas para a construção desse texto, pude perceber mais uma vez, o quanto nosso país é mar-cado por profundas desigualdades sociais, enquanto eu tive e tenho meus direitos básicos garantidos, e meu lugar na socie-dade, há muitas crianças e adolescentes que não tiveram a primeira garantia de cidadania e seus direitos como brasileiros, a Certidão de Nascimento, documento

que permite o acesso do cidadão em to-dos os serviços públicos, ou seja, sem eles, são invisíveis para a sociedade.

Termino com a frase do discurso da representante do Unicef no Brasil, Senhora Marie-Pierre Poirier, Fórum de Governadores da Amazônia, “ O futu-ro melhor que todos desejamos, certa-mente será conseqüência do agora. Por isso o nosso tempo é o presente. Que-remos e precisamos avançar já.”

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Sem documentos de identificação, crianças na Amazônia são invisíveis para a sociedade.

Paulalyn carvalho

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povos

Isolados dos grandes centros, populações tradicionais tentam fazer valer a Constituição.Livi Carolina

social

E ntre a imensidão das árvores, dos rios e dos animais na Floresta ama-zônia existe muito mais do que os

olhos podem ver através de vídeos, fotos e livros - como é conhecida pelo restante do Brasil. ali habitam populações que têm suas raízes arraigadas àquela região, longe dos grandes centros, da tecnologia e muitas ve-zes, à margem da cidadania, essa população ainda precisa lutar por direitos fundamen-tais, assegurados na constituição.

comunidades remanescentes de povos indígenas e quilombolas e inúmeras comu-nidades locais caiçaras, babaçueiros, janga-deiros, ribeirinhos/caboclo amazônico, ri-beirinhos/caboclo não amazônico (varjeiro), sertanejos/vaqueiro, pescadores artesanais, extrativistas, seringueiros, camponeses, dentre outros compõem um rico mosaico de diversidade cultural, social e étnico.

há 1500 anos os indígenas somavam um número incerto, mas grandioso, en-

da Floresta

tre um e dez milhões de habitantes. hoje, segundo dados da Fundação nacional do Índio – Funai, vivem cerca de 460 mil índios, distribuídos entre 225 sociedades indígenas, sendo aproximadamente 0,25% da população brasileira. redução que se deu pela contração de doenças antes desconhe-cidas, pela miscigenação e pelos constantes conflitos por seus direitos e terras. Batalha que persiste até os dias atuais.

conforme explica a antropóloga alcida rita ramos, em sua publicação sociedades indígenas, “para os povos indígenas, a terra é muito mais do que simples meio de sub-sistência. ela representa o suporte da vida social e está diretamente ligada ao sistema de crenças e conhecimento. não é apenas um recurso natural - e tão importante quan-to este - é um recurso sócio-cultural”.

É da terra que os nativos retiram sua subsistência, para tanto, é necessário de-marcar o território, direito registrado na

constituição Federal de 1988, na qual se determina que é dever da união resgatar uma dívida histórica com os primeiros habitantes destas terras, propiciar as con-dições fundamentais para a sobrevivência física e cultural desses povos e preservar a diversidade cultural brasileira.

no entanto, fora do papel, a morosida-de provocada pela burocracia governamen-tal na execução direta das ações nas áreas indígenas, a falta de preparo das comuni-dades e o preconceito, que ainda permeia a sociedade brasileira, impedem que a legisla-ção seja aplicada nessas comunidades.

“um dos maiores problemas que o povo indígena enfrenta é a mentalidade discriminatória e antiga de que, por causa da nossa cultura diferente, somos inferio-res e por isso, discriminados. e infelizmen-te, muitas vezes, aqueles que fazem com que a lei seja cumprida, também pensam assim” – declara o responsável geral pela

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coordenação das organizações e articula-ções dos Povos indígenas do maranhão – coaPima, lourenço Krikati.

segundo Krikati, em função desta discriminação, não há pudor em invadir as terras que já foram homologadas, para exploração da madeira e pesca predatória. além disso, não há fiscalização para garan-tir a proteção destas reservas.

“o que as pessoas não entendem é que não só dependemos da terra para sobrevi-ver, como também conhecemos e cuidamos dela. Durante anos éramos nós nesta terra e mesmo caçando e explorando nunca a des-truímos. então, quando defendemos o nos-so espaço, defendemos também a natureza em favor de todos” – destaca o indígena.

uma das críticas às reivindicações dos nativos é que a área solicitada representa “muita terra para pouco índio”, mas Kri-kati rebate dizendo que, mesmo restrito à sua área de direito, o entorno interfere em sua subsistência. ele diz que geralmen-te as áreas vizinhas fazem cultivo de soja, eucalipto e outros, e o fazem utilizando agrotóxicos contaminando o solo e a água dos rios, que percorrem as suas terras le-vando doenças à comunidade. “e estamos isolados, na maioria das aldeias não chega o atendimento à saúde” – ressalta.

investimento na educaçãoPara reverter este quadro, a coaPima

tem investido, junto aos governos estadu-ais, para promover a educação de melhor qualidade nas aldeias. “temos que ter um ensino diferenciado, que valorize também a nossa cultura, a nossa história e a nossa língua, para que os nossos jovens dêem

da Floresta

Conheça os termos que designam algumas populações tradicionais:

• Babaçueiros: Extrativistas que têm como base de subsistência a exploração do babaçu, uma espécie de palmeira oriunda do Norte do Brasil;

• Caboclos: mestiços de negros e índios que vivem em comunidades rurais;

• Caiçaras: mestiços de índios e portugueses. São pescadores tradicionais;

• Seringueiros: Sua principal atividade é a extração do látex, matéria-prima da borracha, embora possam também praticar alguma agricultura e cria-ção de gado. As primeiras Reservas Extrativistas criadas no País foram em grande parte resultantes das ações dos seringueiros;

• Quebradeiras de Coco: mulheres de comunidades extrativistas do maranhão, tocantins, Pará e Piauí que coletam e quebram o coco da palmeira de babaçu, utilizando para a produção de óleo e sabonete de coco, por exemplo.

Fonte: Almanaque Brasil Socioambiental

continuidade às tradições indígenas. mas também tenham base para lutar por nos-sos direitos, formando profissionais como advogados, juízes, promotores...” – declara Krikati. segundo ele, hoje existem 2.600 indígena nas faculdades.

outros povosa amazônia também abriga outras po-

pulações que enfrentam problemas simila-res aos dos indígenas, como os quilombo-las, descendentes de negros escravos que vivem nos chamados Quilombolas ou Qui-lombos, cujo maior desafio é a permanên-cia nas terras dos seus ancestrais.

De acordo com o responsável geral da coordenação nacional de articulação das comunidades negras rurais Qui-lombolas – conaQ, Francisco da con-ceição, conhecido como o Diomar, boa parte das terras que são requeridas hoje pelos negros foram heranças deixadas pelos senhores das fazendas. Porém, os documentos que comprovariam isto não foram regularizados, por falta de conheci-mento da comunidade e deixaram de ter validade, permitindo a invasão e posse de fazendeiros e empresas.

“a fazenda onde é a minha comuni-dade, santa maria dos Pretos/itapecuru-mirim, foi doada aos nossos antepassa-dos pela sinhazinha da fazenda. na época eram 82 negros e 13 mil ha, hoje temos somente 6.602 ha” – ressalta o coordena-dor. assim, como os indígenas, os quilom-bolas retiram da terra sua subsistência e também lutam por diretos fundamentais: alimentação, moradia, saneamento bási-co e educação.

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Q uase meio século após o grande feito de colombo, o Frei Gaspar de carvajal atravessava por sua vez

o mar tenebroso, vindo da espanha para fundar o primeiro convento dominicano em terras do Peru. Dirigindo-se a lima, a fim de defender interesses de sua ordem, encon-trou-se com Gonzalo Pizarro, que por ali pas-sava em direção a Quito, no equador, aonde ia tomar posse do governo. esse encontro quase acidental marcaria a vida do religioso, fazendo que seu nome ficasse para sempre ligado à história da amazônia. integrado à comitiva do irmão de Francisco Pizarro, o famoso aventureiro espanhol, conquistador do império inca, o Frei de carvajal, acabaria tornando-se o cronista oficial da primeira ex-pedição a percorrer o rio amazonas, desde os andes até o oceano atlântico.

ao assumir o governo de Quito, em 1541, Gonzalo tinha em mente explorar as vertentes orientais dos andes, em busca do lendário país do eldorado ou, pelo menos, do reino da canela, especiaria de grande va-lor comercial no século XVi. havia-se jun-tado à cobiçosa campanha do Governador o grupo do capitão Francisco de orellana, que já tomara parte na conquista do Peru. mas quando, no final daquele ano, concluíram a penosa travessia dos andes gelados, não encontraram nem ouro nem canela que pu-dessem compensar os desastres da emprei-

tada. a espantosa mata espessa não revela-va sua riqueza aos exploradores exaustos e famintos. Gonzalo Pizarro determinou que construíssem um barco para navegar o rio a procura do que comer. orellana e mais cin-qüenta e sete homens partiram, então, rio abaixo, no barco e em canoas, com o pro-pósito de retornar tão logo encontrassem alimentos. entre eles estava o Frei Gaspar, que registrou em seu diário uma viagem só de ida rumo à foz do rio mais importante do planeta pelo volume de suas águas. Do coca ao napo, do napo ao ucayali, no Brasil chamado solimões, foram descendo, arras-tados pela violência da corrente, e desisti-ram de tentar a volta. Diante da penúria de alimentos, chegaram a comer os próprios cintos e as solas dos sapatos cozidos com algumas ervas. ao atingir a confluência do rio madeira, de acordo com o relato do cronista dominicano, foram atacados por amazonas, em junho de 1542. revivia-se assim, no coração da selva tropical recém-descoberta pelos europeus, o antigo mito das mulheres guerreiras.

na antiguidade clássica, as amazonas eram mulheres que governavam-se a si mesmas, excluindo os homens de seu con-vívio. encontravam-se ao norte da Grécia, nas vizinhanças do Ponto euxino, como era chamado o atual mar negro. conta-se que, de vez em quando, elas uniam-se a estran-

geiros apenas para garantir a preservação da própria raça, educando as meninas em seu meio e renegando cruelmente os filhos do sexo masculino. exímias caçadoras, ado-ravam a deusa Ártemis ou Diana. sempre belicosas, seriam descendentes do deus da guerra, ares ou marte. em compensação, por outro lado, eram vistas também como provindas da ninfa harmonia. costuma-vam combater montadas a cavalo, mas não era raro comparecerem a pé nos campos de batalha. Vestiam peles de animais ferozes, que, lhes caindo até o joelho, estavam pre-sas ao ombro esquerdo, deixando a nu a parte direita de seus corpos. usavam escu-dos em forma de meia lua, a qual, como se sabe, é símbolo universal da feminilidade. e diz-se que, para melhor manejar o arco e a flecha, bem como a lança e o machado, armas em que eram destras, cortavam um dos seios, fato que explicaria o nome que as caracterizava – do grego, a-mazon, “sem seio” (muito embora, nas obras de arte apa-reçam sempre de busto perfeito).

Jovens e belas, algumas rainhas ama-zonas ficaram famosas na literatura mi-tológica dos antigos gregos e romanos. Pentesiléia, liderando um contingente de guerreiras, socorreu tróia, na peleja con-tra os gregos. Distinguiu-se não menos pela coragem do que pela formosura. Foi morta por aquiles, que, ao vê-la ferida,

do mito greco-romano às lendas do novo mundo

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AMAzoNAs:

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Márcio Thamos

por ela apaixonou-se. hipólita usava um cinto, presente do próprio deus da guerra, que simbolizava o poder que ela tinha so-bre o povo das bravas mulheres. hércules foi incumbido de roubar-lhe este cinto, na seqüência de aventuras conhecida como “os doze trabalhos”. De bom grado, já se dispunha a rainha a entregar-lhe o que queria, quando levantou-se uma rixa entre as amazonas e a comitiva do herói. imagi-nando-se traído, hércules matou hipólita.

o relato do Frei Gaspar de carvajal so-bre a aparição das amazonas em terras bra-sileiras, ao tempo das Grandes navegações, mexeu com a imaginação do colonizador europeu, afeito à tradição clássica: “essas mulheres são muito brancas e altas, têm ca-belo muito comprido, entrançado e enrolado na cabeça, são muito robustas e andam nuas em pêlo, tapadas as vergonhas, com seus ar-cos e flechas nas mãos, fazendo tanta guerra como dez índios; e, em verdade, houve uma delas que encravou um palmo de flecha num dos bergantins, e outras pouco menos, de modo que nossos barcos pareciam porco-espinho” – registrou em seu diário o Frei, que na aventura teve um olho vazado por uma flecha. nesse mesmo escrito, carvajal informa que eram dez ou doze as amazonas que por eles foram vistas, sendo que sete ou oito delas foram mortas na batalha. e acrescenta detalhes a respeito de seus cos-

tumes, que teriam sido fornecidos por um índio então capturado. o capitão orellana lhe perguntava que mulheres eram aquelas, e o índio ia dizendo que eram mulheres que moravam terra adentro, a sete jornadas da costa. eram casadas? o índio disse que não. e como viviam? recebendo tributos de mui-tas províncias vizinhas, que a elas estavam sujeitas. eram muitas? sim, e contavam, se-gundo sabia, setenta povos. Povos de palha? não, mas de pedra e com portas; e estavam ligados uns aos outros por caminhos bem guardados, de modo que ninguém pudesse entrar em seu território sem lhes pagar di-reitos; e pariam, pois se uniam aos índios de tempos em tempos, e se tinham filhos, lhes matavam, e se filhas, lhes criavam nas coi-sas da guerra; tinham uma rainha chamada conhori, e muita riqueza em ouro e prata; e templos adornados, onde adoravam o sol; e andavam vestidas com roupas de lã mui-to fina; e possuíam animais como camelos e outros do tamanho de cavalos; e tinham nessa terra duas lagoas de onde tiravam sal; e uma lei que, ao pôr-do-sol, não havia de quedar-se índio macho em suas cidades... um índio decerto bem falador esse que era interrogado pelo capitão.

mesmo na época houve quem conside-rasse um disparate o que disse Frei Gaspar sobre a existência de amazonas naquele rio. e, hoje, os mais céticos acreditam que

Doutor em Estudos Literários.Professor de Língua e Literatura Latinas

junto ao Departamento de Lingüística da FCL-UNESP/CAr.

Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica.

do mito greco-romano às lendas do novo mundo

a expedição foi atacada por índios de cabe-los compridos, cuja aparência fez supor aos forasteiros que se tratava de uma tribo de mulheres guerreiras. mas o fato é que a len-da se espalhou e aquele que era chamado o “mar Doce”, passou a ser conhecido como o rio das amazonas, derivando-se daí não só o nome da floresta como o de toda a região.

em 26 de agosto de 1542, aproxima-damente um mês depois do incidente fa-buloso que marcou a travessia completa do amazonas, orellana e mais quarenta e oito sobreviventes atingiam afinal a foz do imenso rio, adentrando no atlântico pelo Pará. há quem queira imaginar que orella-na não fechou de mãos vazias a aventura. embora sem ouro e sem canela, haveria de ter levado consigo um muiraquitã, a pedra verde da felicidade que, segundo a lenda, as amazonas entregavam àquele que, a cada ano, com elas tinham parte, ficando assim protegido de todo malefício.

AMAzoNAs:

Paulalyn carvalho

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A Ilha deixa o clima provinciano para viver dias de glamour durante o festival dos Bois.Livi Carolina

cultura

os Bois-Bumbás de

pARiNTiNs

N os três últimos dias de junho, Pa-rintins deixa de ser uma pacata cidade marcada pela simplicida-

de de seu povo, cuja economia baseia-se na pesca, na agropecuária e no comércio, para dar lugar a uma das maiores festas

populares do País, o Festival Folclórico de Parintins, mais conhecida como a Festa dos Bois-Bumbá .

nesses dias, os protagonistas da fo-lia, os bois Garantido (vermelho e bran-co) e caprichoso (azul e preto), dividem

corações e proporcionam ao povo parin-tinense momentos de euforia ao deixar a calmaria do anonimato para dar espaço à exaltação do meio ambiente, às suas ra-ízes culturais e à criatividade que trans-formou uma lenda nordestina em roteiro cultural internacional.

Quem acompanha de longe esta festa não consegue compreender o que acontece em Parintins. a população da cidade entra em estado de êxtase: casais de torcidas contrárias se separam, quem torce por um Bumbá não pronuncia o nome do outro - chama-o apenas por “contrário”, pessoas pedem demissões para aproveitar a festa. mas o fanatismo não pára por aqui: os jurados são sorte-ados na véspera do Festival e todos vêm de outros estados e, para evitar favo-ritismo, a cor da tinta da caneta usada por eles durante a votação, é verde. até mesmo uma multinacional do ramo de refrigerantes, principal patrocinadora do evento, cujo invólucro é vermelho, en-trou no ritmo da ilha e fabricou uma em-

Karyne Medeiros, porta-estandarte do Boi Caprichoso.

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A Ilha deixa o clima provinciano para viver dias de glamour durante o festival dos Bois.Livi Carolina

os Bois-Bumbás de

pARiNTiNs

balagem especial em azul para também agradar os ‘caprichosos’.

Para a porta-estandarte do Bumbá caprichoso, Karyne medeiros, o Festival Folclórico de Parintins é a representação dos costumes e tradições de um povo que tem orgulho de sua cultura e de ser caboclo. “É acima de tudo uma festa pas-sional, o amor e o ódio em luzes, cores e espetáculo, que cresceu muito nos úl-timos anos, mas conservou sua essência primordial que é o amor por um boi e por uma cor” - declara.

a antiga ilha tupinambarana, com apenas 7.042 km², 102.044 mil habitan-tes e com distância de aproximadamente 400 Km de manaus, onde só é possível chegar via área, com uma hora e meia de viagem, ou de barco, após uma aventura que pode durar entre 8 e 24 horas, a cada edição do Festival, chega a receber cerca de 80 mil turistas, 30% estrangeiros.

o Bumbódromo - centro cultural e es-portivo amazonino mendes, construído especialmente para o Festival, com espaço

para 35 mil espectadores sentados, fica lo-tado de brincantes ansiosos para assistir a ópera dos Bois.

De acordo com a coordenadora da secretaria de turismo de Parintins, carla Garcia, o evento é considerado a segun-da maior festa cultural do Brasil, tendo os artistas dos Bumbás uma participação significativa na condução artística do carnaval do rio de Janeiro e são Paulo. “o Festival Folclórico já representou o Brasil em diversos eventos na américa e europa. Desta forma o Festival é a maior fonte de renda e marketing do estado do amazonas e do município de Parin-tins” – destaca.

ÓpERA A CÉU ABERToBaseada na história do Bumba-meu-

boi, trazida do maranhão pelos imigran-tes da época da borracha, o espetáculo a céu aberto acrescentou à lenda mara-nhense personagens de sua cultura.

com três horas de duração, durante as três noites do Festival, cada Boi conta

de forma e enfoque diferente a lenda de mãe catirina, que grávida deseja comer língua de boi. com medo de que seu fi-lho não nasça, Pai Francisco mata o boi preferido do dono da fazenda para satis-fazer o desejo de sua esposa. ao desco-brir o que havia acontecido, o fazendeiro manda seus empregados prenderem Pai Francisco e pede a um pajé para ressus-citar o boi. o boi renasce e se inicia a grande festa.

a apresentação é baseada na lenda, mas cada boi tem um tema a desenvolver. “o Futuro é agora” foi o tema campeão de 2008 apresentado pelo Bumbá caprichoso e “o Boi da Preservação” foi o mote desen-volvido pelo Garantido.

Dividida em autos encenados atra-vés de personagens, rituais e lendas que remetem aos habitantes da flores-ta amazônica e às questões ecológicas e sociais que os afligem, os mestres de cerimônia apresentam os astros da fes-ta, que fazem suas evoluções sob o con-trole do “tripa” (homem que manipula o

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cultura

boi), embalados pela toada (música que dá o tom da festa, tocada por mais de 250 tambores).

Durante a encenação, as tribos de dançarinos formam um tapete de cor em movimento, junto com as gigan-tescas alegorias, que se mexem e se articulam, construindo um cenário apoteótico para a apresentação das figuras de destaque na história parin-tinense: a graciosa cunhã-poranga, a rainha do folclore, a porta-estandarte, a sinhazinha da fazenda e o podero-so pajé. mas o ápice da encenação é a aparição do boi, que emociona e tira lágrimas da galera.

silvia Padilha, uma amazonense que mora em são Paulo há 13 anos, tenta descrever esta emoção: “só de fa-lar me arrepio. É algo fora do comum. emociona, as lágrimas caem, você dan-ça, grita, curte e vive intensamente a cada ritual, a cada toada, a cada noi-te... É inesquecível”.

no entanto, mesmo com tamanho envolvimento com a encenação, duran-te a apresentação são proibidas vaias, palmas, gritos ou qualquer outra de-monstração de expressão quando o “contrário” se apresenta.

este respeito, segundo o coorde-nador de cultura, eduardo Gomes, acontece porque um boi se prepara para o outro. “um Bumbá não existi-ria sem o outro. houve uma época em que outros bois tentaram se apresen-tar, mas não conseguiram agradar o público, que já nasce e cresce, tradi-cionalmente, com o coração vermelho ou azul” – diz.

Karyne medeiros, completa: “nos res-peitamos muito nos bastidores, é uma re-lação amistosa, tenho amigos e familiares “contrários” e a rivalidade chega até a ser um tempero nessas relações”.

• Apresentador: Mestre de cerimônia, que apresenta todo o espetáculo e anima a Galera.

• Amo do Boi: É o dono da fazenda e pai de Sinhazinha. Ele exige que seus vaqueiros cuidem e protejam seu boi. No Festival de Parintins, entoa versos exaltando o boi.

• Batucada: Nome dado aos músicos do Boi Garantido.

• Cunhã-Poranga: A mulher mais bela da tribo, que encanta o coração dos guerreiros indígenas; sacerdotisa. Cunhã Poranga: Moça bonita - cunhã = moça, poranga = bonita.

• Curral: Local onde acontecem os ensaios. Cada um dos Bois tem o seu próprio curral, o da Batucada - Garantido e o da Marujada - Caprichoso

• Evolução: Quando o boi de pano está se apresentando, na arena do Bumbódromo.

• Galera: Torcida organizada de cada um dos bumbas. Parte integrante do Boi, também é julgada no quesito animação. De acordo com o regulamen-to, durante a apresentação de um boi, a torcida contrária deve ficar em completo silêncio.

• Jurados: Os jurados são sorteados na véspera do Festival e todos vêm de outros estados. O requisito é ser estudioso da arte, da cultura e do folclore brasileiro. Eles também fazem parte da festa: a caneta utilizada por eles não pode ser azul ou vermelho. Para evitar favoritismo, a cor da tinta é verde.

• Marujada de Guerra: Nome dado ao conjunto de músicos que acompanha a evolução do Boi Caprichoso.

• Pajé: Chefe espiritual das tribos indígenas. No Festival de Parintins, duran-te a evolução do Bumbá, o Pajé é o índio feiticeiro, uma das figuras mais importantes da apresentação - figura central no ritual do boi -, que por meio da pajelança, conjunto de danças e invocação de espíritos, encontra a receita para a cura.

• Ritual: Cerimônia conduzida pelo Pajé. É o ponto mais esperado da apre-sentação quando fogos de artifício e efeitos luminosos irrompem no Fes-tival. Geralmente apagam-se as luzes do bumbódromo enquanto os par-ticipantes, que assistem o espetáculo, acendem candeias -pequenas luzes - proporcionando um espetáculo à parte. Originalmente, o objetivo era ressuscitar o Boi morto. Na temática indígena do Festival de Parintins, este é o momento que o Pajé luta contra as forças do mal.

• Sinhazinha da fazenda: A filha do Amo, dono da fazenda. A moça bo-nita, considerada o mimo da casa, é uma das figuras tradicionais do Boi bumbá e sempre um dos destaques da evolução. A coreografia inclui um movimento em que ela coloca as mãos sob o rosto, espalmadas para baixo, dando-lhe extrema graciosidade.

• Tribos: Dezenas de Tribos Masculinas e Femininas, com suas cores vibrantes, compõem um cenário tribal delirante, de coreografias deslumbrantes.

particularidades da Festa dos Bois-Bumbá

Só de falar me arrepio. É algo fora do comum. Emociona, as lágrimas caem, você dança, grita, curte e vive intensamente

a cada ritual, a cada toada, a cada noite... É inesquecível

“”

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neomondo - setembro 2008 A

• Apresentador: Mestre de cerimônia, que apresenta todo o espetáculo e anima a Galera.

• Amo do Boi: É o dono da fazenda e pai de Sinhazinha. Ele exige que seus vaqueiros cuidem e protejam seu boi. No Festival de Parintins, entoa versos exaltando o boi.

• Batucada: Nome dado aos músicos do Boi Garantido.

• Cunhã-Poranga: A mulher mais bela da tribo, que encanta o coração dos guerreiros indígenas; sacerdotisa. Cunhã Poranga: Moça bonita - cunhã = moça, poranga = bonita.

• Curral: Local onde acontecem os ensaios. Cada um dos Bois tem o seu próprio curral, o da Batucada - Garantido e o da Marujada - Caprichoso

• Evolução: Quando o boi de pano está se apresentando, na arena do Bumbódromo.

• Galera: Torcida organizada de cada um dos bumbas. Parte integrante do Boi, também é julgada no quesito animação. De acordo com o regulamen-to, durante a apresentação de um boi, a torcida contrária deve ficar em completo silêncio.

• Jurados: Os jurados são sorteados na véspera do Festival e todos vêm de outros estados. O requisito é ser estudioso da arte, da cultura e do folclore brasileiro. Eles também fazem parte da festa: a caneta utilizada por eles não pode ser azul ou vermelho. Para evitar favoritismo, a cor da tinta é verde.

• Marujada de Guerra: Nome dado ao conjunto de músicos que acompanha a evolução do Boi Caprichoso.

• Pajé: Chefe espiritual das tribos indígenas. No Festival de Parintins, duran-te a evolução do Bumbá, o Pajé é o índio feiticeiro, uma das figuras mais importantes da apresentação - figura central no ritual do boi -, que por meio da pajelança, conjunto de danças e invocação de espíritos, encontra a receita para a cura.

• Ritual: Cerimônia conduzida pelo Pajé. É o ponto mais esperado da apre-sentação quando fogos de artifício e efeitos luminosos irrompem no Fes-tival. Geralmente apagam-se as luzes do bumbódromo enquanto os par-ticipantes, que assistem o espetáculo, acendem candeias -pequenas luzes - proporcionando um espetáculo à parte. Originalmente, o objetivo era ressuscitar o Boi morto. Na temática indígena do Festival de Parintins, este é o momento que o Pajé luta contra as forças do mal.

• Sinhazinha da fazenda: A filha do Amo, dono da fazenda. A moça bo-nita, considerada o mimo da casa, é uma das figuras tradicionais do Boi bumbá e sempre um dos destaques da evolução. A coreografia inclui um movimento em que ela coloca as mãos sob o rosto, espalmadas para baixo, dando-lhe extrema graciosidade.

• Tribos: Dezenas de Tribos Masculinas e Femininas, com suas cores vibrantes, compõem um cenário tribal delirante, de coreografias deslumbrantes.

particularidades da Festa dos Bois-Bumbá“

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O uve-se um barulho estridente e inconfundível. É a luta en-tre a água doce que corre forte

pelas curvas do rio, contra a imensi-dão do mar. após um período, finda o barulho e logo se pode ver o mar en-furecido empurrando o rio, que sobe resistente em direção à sua nascente, dando origem à pororoca.

nesta batalha entre as águas, for-mam-se ondas que podem chegar a até 6 metros, a uma velocidade de aproxima-damente 30 km/h. um paraíso para co-rajosos surfistas que ousam conhecer de perto um dos mais temidos encantos da natureza amazônica.

Formada pela mudança das fases da lua, mais intensamente nos períodos de lua cheia e nova, ela aparece diariamen-te apenas uma vez durante cinco dias, o que a torna ainda mais almejada.

intrigante e perigoso, desde 1997, quando Guga arruda (sc) e eraldo Gueiros (Pe), surfaram pela primeira vez a pororoca no rio araguari (aP), o fenômeno tem atraído surfistas de todo mundo que desejam sentir a adrenalina de deslizar sobre o duelo do rio contra o atlântico.

do ano e busca valorizar o esporte e a cultura da região. Durante o Festival são classificados apenas os atletas locais que garantem vaga no circuito nacional de surfe na Pororoca.

segundo o secretário de esporte e la-zer do Pará, carlos alberto da silva leão, a prática do surfe abriu caminho para o turismo na região e para o incentivo de outras modalidades esportivas. “hoje te-mos o Projeto navegar que atinge cerca de 1400 crianças e adolescentes, que pra-ticam: vela, canoagem e remo. isso pos-sibilita uma nova política de esporte no governo do estado” – diz.

De acordo com o responsável pela Fe-deração Paraense de surfe, roberto edu-ardo Bastos lisboa, são Domingos do ca-pim “ganhou uma estrada de 60 km toda asfaltada e muito dinheiro é internaliza-do no município durante as competições.

esporte

“”

Essa é a onda mais longa do mundo e surfar por 15 ou 30 minutos,

sem parar, é comum

A pororoca é a responsável pela nova modalidade do surfe e tem atraído turistas de todo o mundo para a região.

Livi Carolina

na selvaSurfe

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Para serginho laus, recordista mun-dial de permanência na pororoca, a sen-sação é incrível. “estamos no meio da flo-resta, em um fenômeno que proporciona percorrer distâncias nunca imaginadas antes. essa é a onda mais longa do mun-do e surfar por 15 ou 30 minutos, sem parar, é comum. mistura adrenalina com medo e ansiedade com alegria”.

de aventura à competiçãoDois anos após a pororoca ser sur-

fada pela primeira vez, foi no municí-pio de são Domingos do capim, a 130 quilômetros de Belém onde a prática se consolidou como surfe na Pororoca. Desde então, a secretaria de estado de esporte e lazer - seel, em parceria com a prefeitura de são Domingos do capim, organiza o Festival de surfe na Pororo-ca que acontece no primeiro semestre

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Com o objetivo de levar uma consciên-cia de preservação e incentivar a prática esportiva, a ONG Maré Amazônia ensina práticas sustentáveis para a população lo-cal. “Procuramos sempre levar uma cons-ciência ecológica para a população ribei-rinha, que muitas vezes não se preocupa com a questão do lixo e muito menos com a coleta seletiva” – destaca Laus.

A ONG também ministra palestras so-bre a importância de preservar a região do entorno da pororoca e tem treinado surfistas locais para a inclusão na nova modalidade esportiva.

“O surfe na pororoca é perigoso. E por isso existe a dificuldade de adeptos mas já estou com um projeto em que podemos uti-lizar algumas partes da pororoca para criar um centro de treinamento e assim formar surfistas ribeirinhos. Já estou trabalhando com dois e o resultado está sendo positivo, esse experimento em breve deve se esten-der a outros locais. Mas hoje em dia apenas surfistas de outros estados e do exterior é que praticam com mais domínio o surfe da pororoca” – ressalta Laus.

“”

Essa é a onda mais longa do mundo e surfar por 15 ou 30 minutos,

sem parar, é comum

na selva

Maré Amazônianos outros estados acredito que esteja acontecendo o mesmo. localidades que mal apareciam no mapa, agora têm des-taque por causa da pororoca”.

laus, que também é presidente da onG maré amazônia, destaca que o maior benefício para as regiões onde acontece a pororoca, foi o intercâmbio cultural entre o Brasil e mundo. além disso, possibilita uma renda extra nos períodos de grandes marés.

perigosÉ preciso ter cautela e uma equipe de

apoio especializada para surfar na pororo-ca. laus dá as dicas:

os principiantes devem ter um nível de surfe médio para conseguir controlar o seu equipamento (prancha) em situações de pe-rigo, como: desviar de um pedaço de pau, tronco, plantas e etc;

É preciso estar com pessoas que conhe-cem muito bem o local e que estejam com equipamentos de primeira qualidade para não ficar perdido no meio da floresta.

hoje em dia o surfe na pororoca está acessível para qualquer pessoa, basta estar acompanhado por profissionais dessa área para não correr riscos desnecessários.

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A

população: 24,5 milhões de habitantes

correspondendo a 12% do contingente populacional brasileiro. em cada quilô-metro quadrado da região tem-se, em média, 3,3 habitantes enquanto que no restante do país essa proporção é de 21,4 habitantes por km2.

diversidade social: a região é a se-gunda do país em registros de rema-nescentes de quilombos, bem como é onde se concentra a maior parte da população indígena, representando 49% do total. É também onde se en-contra o maior percentual de projetos de assentamentos da reforma agrária e diversas comunidades locais, como: caiçaras, babaçueiros, jangadeiros, ribeirinhos/caboclo amazônico, ribei-rinhos/caboclo não amazônico (varjei-ro), sertanejos/vaqueiro, pescadores artesanais, extrativistas, seringuei-ros, camponeses.

piB: em 2004, o PiB da região foi de r$ 137,9 bilhões (us$ 64,7 bilhões), o que representa 8% do PiB nacional. idH: em 2000, a região apresentava mé-

dio desenvolvimento humano, com um iDh igual a 0,705.

Biodiversidade:• reúne quase 12% de toda a vida natu-

ral do planeta;• concentra 55 mil espécies de plantas

superiores (22% de todas as que exis-tem no mundo);

• 524 espécies de mamíferos; • mais de 3 mil espécies de peixes de

água doce; • entre 10 e 15 milhões de insetos (a

grande maioria ainda por ser descrita); • mais de 70 espécies de psitacíde-

os: araras, papagaios e periquitos; • Grande variedade de ecossistemas,

dentre os quais: matas de terra firme, florestas inundadas, várzeas, igapós, campos abertos e cerrados;

• Jazidas minerais de metais nobres dos mais variados tipos, acumulando recursos da ordem de us$ 1,6 trilhão.

principais Ameaças à Floresta: Gri-lagem (posse ilegal de terras mediante documentos falsos), Desmatamentos, Queimadas, atividades extrativistas pre-

Estatísticas apontam disparidades entre riqueza de biodiversidade e indicadores sociais.Da Redação

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RX da Amazônia Abrangência: a amazônia é a região definida pela bacia do rio amazonas, que nasce na cordilheira dos andes e estende-se por nove países: Bolívia, Brasil, colômbia, equador, Guiana, Guiana Fran-cesa, Peru, suriname e Venezuela e onde se localiza a maior cobertura vegetal de floresta tropical, a Floresta amazônica.

Bacia Hidrográfica: tem muitos afluentes importantes tais como o rio negro, tapajós e madeira, sendo que o rio principal é o amazonas.

Temperatura: a temperatura média anual é de 28ºc.

Amazônia Brasileira: sessenta por cento da amazônia está em território brasileiro, em área chamada amazônia legal , constituída por 750 municípios distribuídos em nove unidades Federa-tivas: amazonas (62), amapá (16), acre (22), roraima (15), rondônia (52), Pará (143), tocantins (139), maranhão (160) e mato Grosso (141), perfazendo um total de 5.033.072 km2, o que represen-ta 61% do território brasileiro.

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neomondo - setembro 2008 A

datórias (madeireiras, pesca, caça ilegais e biopirataria), expansão da fronteira pe-cuária e agrícola (soja, principalmente, no mato Grosso) e Fiscalização insuficiente.

indicadores sociais:• Analfabetismo: entre os maiores

do Brasil, em 2005 chegava a 10,3% (maiores de 15 anos) e 13% (menores de 15 anos).

• Insegurança Alimentar: 35% da população da amazônia viviam, em 2005, em domicílios onde havia inse-gurança alimentar média ou grave

• Mortalidade infantil: 25,8 crianças na região norte morrem antes de completar o primeiro ano de vida em cada grupo de mil nascidas vivas, sendo que a média brasileira é de 24,9 e da região sul é de 16,7.

• Registro Civil (Certidão de nasci-mento): o estados amazônicos ainda concentram as piores taxas, chegando a superar 40% em algumas regiões.

• Saúde: a taxa da incidência de aiDs , em 2004, subiu dez vezes, chegan-do a 12,4 por 100 mil habitantes. a amazônia responde pela quase totali-

RX da Amazônia

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laudos e perícias

cálculo estrutural

hidráulica e elétrica

dade dos casos registrados de malária no país. entre 2002 e 2004, o número de casos aumentou 32% e a taxa de incidência subiu 19% na região.

• Saneamento Básico: a porcentagem da população que vive em domicílios com abastecimento adequado de água aumentou de 48%, em 1990, para 68% em 2005, contra a média de 88% no resto do Brasil. a porcentagem da população que vive em domicílios com instalações adequadas de esgoto na amazônia aumentou de 33%, em 1990, para 48%, enquanto a média brasileira é de 67%, em 2005. somente na ama-zônia, 11,7 milhões de pessoas vivem em residências sem coleta de esgoto.

• Assassinatos Rurais: a amazônia li-dera casos de assassinatos rurais (60%) dos 386 ocorrências (1997 a 2006).

• Trabalho Escravo: a região é campeã em trabalho escravo, com 66% dos casos. só em 2006 foram libertadas 12 mil pessoas do regime escravo.

Fontes de Pesquisa: conservation international, iBama, silvan, câmara dos Deputados, unicef, imazon e Datasus

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Dica

sugestões de Livros

sem dúvida a tivos naturais:os ativos naturais são caracterizados pelos recur-sos que a natureza proporciona aos seres huma-nos em forma in natura (produtos medicinais, fru-tas naturais), serviços naturais (práticas hedônicas e de recreação em um parque nacional), ou como matéria-prima (produtos da natureza a serem ma-nufaturados) para as atividades econômicas.

certificação: a certificação é a garantia que os produtos são oriundos de um processo produtivo manejado

B iodiversidade:“Bio” significa “vida” e diversidade significa “varieda-de”. então, biodiversidade ou diversidade biológica compreende a totalidade de variedade de formas de vida que podemos encontrar na terra (plantas, aves, mamíferos, insetos, microorganismos...).

m anejo ambiental: administração da floresta para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais,

n ativo/indígena:originário, natural, ou próprio de um país ou de uma localidade; aborígine, autóctone.

P ororoca:Do tupi “Pororoka”, gerúndio de “Pororog”, que significa “estrondar”. Grande onda de maré alta que, com ruído estrondoso, sobe impetuosamente rio acima, principalmente no amazonas.

Fauna e flora brasileiras reúne belas e impressio-nantes imagens de 89 espécies da fauna e da flora, acompanhadas por textos explicativos e bilíngües. selecionadas principalmente do acervo do fotógra-fo araquém alcântara, um dos mais importantes do país, as imagens foram produzidas em expe-

FAUNA E FLORAS BRASILEIRASAraquém AlcântaraEditora Bei Comunicão

A FERROVIA DO DIABOManoel Rodrigues FerreiraEditora Melhoramentos

A AMAZÔNIA QUE NÃO CONHECEMOSMILTON CLAROEditora Ordem dos Servos de Maria

a visão dos habitantes da floresta, suas aspirações, seus desejos, seus anseios pelos direitos sobretudo com saúde e educação são mostrados nesse livro. os amazônidas têm suas vidas entrelaçadas com a floresta, que lhes garante a subsistência. o autor diz que o mundo quer que, sozinho cada amazônida tome conta de 22 hectares de floresta, para preservá-la em

benefício dos 6 bilhões e meio de habitantes da terra. mas como defendê-la da exploração descontrolada do solo, da madeira, da fauna e das riquezas naturais? no livro são apresentadas diversas crônicas relatando depoimentos e que retratam uma gente alegre, de grande amor pela natureza e com uma responsabilida-de instintiva de preservação do meio ambiente.

dições realizadas nos últimos cinco anos. o livro conta também com fotos do gaúcho Zé Paiva. o volume traz ainda uma relação de lugares (parques, unidades de conservação, hotéis de selva etc.) onde se pode apreciar de perto a natureza brasileira em toda sua diversidade.

este livro narra a saga da construção da estra-da de Ferro madeira- mámore em meio à selva amazônica, contornando o trecho não-navegável dos rios madeira e mamoré. a obra, uma das mais ambiciosas e trágicas de engenharia realiza-da no Brasil foi a alternativa encontrada para o escoamento dos produtos brasileiros e bolivianos

para o atlântico. trabalhadores de mais de 40 nacionalidades vieram se aventurar nos confins da selva amazônica, no atual estado de rondô-nia. Poucos retornariam: entre 1872 e 1912, mas de 1500 operários faleceram tentando vencer a selva. até hoje, a ferrovia é conhecida como a mais trágica da américa.

c ooperativa:É uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, so-ciais e culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva e democra-ticamente gerida.

g rilagem: É o processo de apropriação de terras públicas de forma ilegal por meio da falsificação de docu-mentos ou da corrupção.

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de forma ecologicamente adequada, socialmen-te justa e economicamente viável, e no cumpri-mento de todas as leis vigentes.

Q uilombo: local de refúgio de escravos no Brasil.

Q uilombola: escravo ou escrava refugiado em quilombo.

respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo.

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