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www.neomondo.org.br NEOMON DO UM OLHAR CONSCIENTE Ano 4 - Nº 41 - Abril 2011 - Distribuição Gratuita A MAZONAS Capital do Planeta Marcos Hummel “Revolução Educacional” 08 Humberto Mesquita Querem nos tirar a Amazônia Fórum Mundial Um tríduo pela Sustentabilidade 32 58 II

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www.neomondo.org.br

NeoMoNdoum olhar conscienteAno 4 - Nº 41 - Abril 2011 - Distribuição Gratuita

AMAZONASCapital do Planeta

Marcos Hummel “Revolução Educacional”

08

Humberto Mesquita Querem nos tirar a Amazônia

Fórum Mundial Um tríduo pela Sustentabilidade

32

85 Neo Mondo - Dezembro 2010

Jornalista, Escritor e Editorialista.Apresentador de TV e Rádio.

Humberto Mesquita

me perguntando ao telefone: - “Mas Hum-berto. É verdade que você fez um filme pornográfico na cidade dói Conde, aqui na Paraíba ?

–“Não governador. Gravei cenas de uma praia de nudismo, sem qualquer pre-ocupação com sensacionalismo.

“Mas aqui na Paraíba, não tem praia de nudismo, retrucou o Buriti.

“–Tem sim governador. É a praia de Tambaba. Se o senhor quiser eu mostrarei as imagens gravadas para o senhor ter certeza.

E o governador nos pediu para que le-vasse o material no Palácio da Redenção.

Ao desligar o telefone procurei comu-nicar-me com o prefeito Aluisio Regis e expliquei tudo o que estava acontecendo, toda a repercussão do nosso trabalho e a pressão que eles estavam exercendo para que eu não pudesse mostrar aquelas cenas na televisão.

O prefeito me perguntou: “O que é que eu posso fazer”. Perguntei se ele ti-nha maioria na Câmara Municipal , e com a resposta afirmativa dele eu sugeri que ele convocasse os vereadores e aprovasse imediatamente um decreto lei da criação da praia de nudismo de Tambaba. E foi as-sim que aconteceu. Pela vontade unânime dos senhores vereadores de Conde surgiu o decreto lei 276 que criava a primeira praia de nudismo do Nordeste, que de-pois passou por toda uma regulamentação

transformando-a hoje numa das maiores atrações turísticas do Nordeste brasileiro e porque não dizer, do Brasil.

E depois, quando levamos as cenas tomadas na praia de Tambaba para o go-vernador Tarcisio Buriti, ele exclamou as-sustado e feliz:

Agora sei que existe a praia porque re-cebi a noticia da boca do prefeito Aluisio Regis.

E arrematou: “Vocês jornalistas!!!”. E o SBT deu o furo. M o nudismo da Praia de Tambaba no programa Isto é Brasil.

Tambaba hojeTambaba é oficialmente uma praia de

naturismo e quem quiser fazer essa pratica deve respeitar seu Código de Ética:

- Na faixa da praia destinada a pratica do naturismo, só é permitida a entrada de grupos familiares, sendo vedada a entrada de homens desacompanhados.

– O nudismo é opcional. Não é obriga-do a ficar nu, porque existe também a área dos “vestidos”.

– É proibido ter comportamento sexu-almente ostensivo ou praticar atos de cará-ter sexual ou obscenos.

– Não é permitido fotografar, filmar outros naturistas, sem a permissão dos mesmos.

– As pessoas que freqüentam esse espaço não devem se portar de maneira desrespeitosa ou discriminatória perante

outros naturistas ou visitantes.É inaceitá-vel provocar danos a Flora e a Fauna ou a imagem do Naturismo.

– É proibido satisfazer necessidades fi-siológicas em áreas impróprias.

– É proibido exceder-se na ingestão de bebidas alcoólicas causando constrangi-mento a outros naturistas.

Seguindo essas regras você pode utili-zar Tambaba, a primeira praia naturista do Nordeste, esse paraíso natural cercado de pedras formando um conjunto harmônico que encanta os olhos mais exigentes.

Ela tem 600 metros de extensão e falácias que alcançam até 20 metros de altura. Sua configuração geográfica com encostas de grandes barreiras permi-te uma proteção natural contra olhares curiosos, facilitando o bem estar de quem a freqüenta.

No auge do verão entre novembro e março, a praia é invadida por naturistas do mundo inteiro. A regra principal de Tambaba é a pessoa incorporar o espírito do naturismo, ficar à vontade e não se pre-ocupar com a vida e o corpo dos outros.

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II

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Central de Atendimento BB 4004 0001 ou 0800 729 0001 • SAC 0800 729 0722 • Ouvidoria BB 0800 729 5678Defi ciente Auditivo ou de Fala 0800 729 0088 ou acesse bb.com.br

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Central de Atendimento BB 4004 0001 ou 0800 729 0001 • SAC 0800 729 0722 • Ouvidoria BB 0800 729 5678Defi ciente Auditivo ou de Fala 0800 729 0088 ou acesse bb.com.br

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neo mondo - maio 2008 4

todos os animais

Os animais são diretamente afetados pelo comportamento humano.

Podemos ser cruéis e negligentes, mas também podemos manifestar bondade e compaixão — valores que exemplificam

o melhor do espírito humano.

Acesse hsi.org/compaixao e veja como você pode ajudar.

Proteção e respeito a todos os animais

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5neo mondo - maio 2008

todos os animais

Os animais são diretamente afetados pelo comportamento humano.

Podemos ser cruéis e negligentes, mas também podemos manifestar bondade e compaixão — valores que exemplificam

o melhor do espírito humano.

Acesse hsi.org/compaixao e veja como você pode ajudar.

Proteção e respeito a todos os animais

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Coisas que eu vi

Humberto Mesquitacuidado:Querem nos tirar a amazônia

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Cultura

Seções

Marcos Hummel “revolução educacional”

Artigo – Márcio Thamosmitologia clássica- as Quatro idades

08

Artigo – Denise de La Corte Bacci a compreensão do meio físico na gestão da informação

Schwarzenegger cooperação e continuidade

Um tríduo pela sustentabilidade manaus foi, de novo, a capital do Planeta, como definiu neo monDo em 2010

Artigo – Rosane Magaly Martins conjugar o verbo envelhecer na primeira pessoa do singular

Artigo – Siegfried Jorge Wehr a loucura como oportunidade

eConomia

Dan Epsteina lição que vem do esporte

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6 neo mondo - abril 2011

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esPeCial fórum mundial

Empresas compromissadas na teoria e na prática

Delícia de livro inezita Barroso

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Artigo – Dr. Marcos Lúcio BarretoBons exemplos

meio ambiente

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30

Tudo verde rede made in Forest completa um ano como as “listas amarelas” da economia sustentável

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E o boi aliou-se à motoserra Brasil é o maior exportador de carnes do mundo.

20

Perfil12

Beber cair e levantar álcool é a droga mais consumida entre os adolescentes da rede privada de ensino de são Paulo

ComPortamento

Diretor Responsável: Oscar Lopes Luiz

Diretor de Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira(MTB 16.586)

Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins e Vinicius ZambranaRedação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), Rosane Araujo (MTB 38.300) e Antônio Marmo (MTB 10.585)Estagiário: Bruno MolineroRevisão: Instituto Neo MondoDiretora de Arte: Renata Ariane RosaProjeto Gráfico: Instituto Neo Mondo

Tradução: Efex Idiomas - Tel.: 55 11 8346-9437Diretor de Relações Internacionais: Vinicius ZambranaDiretor Jurídico: Dr.Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva

Correspondência: Instituto Neo MondoRua Primo Bruno Pezzolo, 86 - Casa 1 - Vila Floresta - Santo André – SPCep: 09050-120

Para falar com a Neo Mondo:[email protected]@[email protected]

Para anunciar: [email protected]. (11) 4994-1690

Presidente do Instituto Neo Mondo:[email protected]

Expediente PublicaçãoA Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24.

Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas.

Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.

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esPeCial fórum mundial

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esPeCial fórum mundial

Richard BransonGuerra ao carbono

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Paul Hawken e Adam Werbach idealizadores de sustentabilidade

50 Bill Clinton Quer o Brasil na liderança global em meio ambiente

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esPeCial fórum mundial

Fabio Feldmann País na contramão com o pré-sal

52

Artigo – Dilma de Melo Silvaamazônia, hoje

56 Reports in english

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Special World ForumSustainability Triduummanaus was, once again, the capital of the Planet

Schwarzenegger cooperation and continuity

Camila Turriane Bertoldo Fórum mundial ainda não empolga mídia europeia

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internaCional

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w

Mais uma vez o Amazonas foi capital do planeta, e NEO MONDO esteve presente

para trazer para você, prezado lei-tor, tudo o que aconteceu no Fórum Mundial de Sustentabilidade.

Pela grandiosidade e importância deste evento, trazemos um caderno especial com uma síntese do que foi este Fórum e sua contribuição para o Brasil e para o Planeta. Acesse nosso portal e confira a edição do ano passado (abril/2010): ela está na íntegra, é só fazer o download - botão lado direito (PDF).

Neste evento tivemos como palestrantes:

ARNOLD SCHWARZENEGGER (ex-governador da Califórnia, EUA) E JAMES CAMERON (cineasta e defensor de soluções sustentáveis), BILL CLINTON (ex-presidente dos EUA), SIR RICHARD BRANSON (fundador e presidente do grupo VIRGIN), PAUL HAWKEN (ambientalista, empresário e autor), FÁBIO FELDMANN (consultor e ex-secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo), entre outros.

E por falar em James Cameron, olha ele aí (foto) conferindo a edição especial que fizemos sobre sua participação no Fórum do ano passado.

A educação é considerada um dos pilares do desenvolvimento de um País. Quando falamos em educação não podemos nos restringir somente à questão acadêmica, pois o termo educação é mais amplo e tem ligação direta com os valores humanos, com postura ética, com as atitudes respeitosas.

Seguindo a temática da educação, vale a pena conferir a abalizada opinião do professor-doutor Siegfried Jorge Wehr, que em seu artigo de estreia na revista se refere ao bullying, que trata do comportamento agressivo e repetitivo dos adolescentes.

O consumo excessivo de bebidas alcoólicas gera um dos mais graves problemas de saúde pública mundial: o alcoolismo. O Brasil não fica atrás nessa triste constatação. O

Ministério da Saúde, por meio da Coordenadoria de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, confirma que 75% dos brasileiros já consumiram álcool pelo menos uma vez na vida. Isso poderia parecer irrelevante, se não estivéssemos falando de uma droga, mesmo que lícita. Os demais tipos de drogas ilícitas, ou não, nem chegam perto dessa estatística.

Ocorre que o problema aumenta anualmente, com o consumo cada vez mais precoce. Um estudo realizado em 2005, em escolas, apontou que 54,3% dos adolescentes de 12 a 17 anos já haviam experimentado bebida alcoólica e que 2% a consumiam diariamente.

A lição do Realengo

Estávamos com esta edição praticamente fechada, quando se abateu sobre o País a tragédia de uma escola pública no Realengo, no Rio de Janeiro. Procuramos quem pudesse escrever algo para clarear ideias e, quem sabe, apontar caminhos. NEO MONDO traz, numa das páginas, um

Editorial

neo mondo - abril 2011 7

apelo institucional, que nos parece adequado para o momento.

E, em duas outras, a opinião do conceituado psicoterapeuta: “... é necessário sermos fortes o suficiente para suportarmos perdas, fortes o suficiente para sustentar a vida na educação de nossos filhos e de nossos alunos, fortes o suficiente para agir diante de situações doentias como o bullying, fortes para incluir quem está excluído... para oferecer e estabelecer vínculos sadios, que fortaleçam a vida, a construção, os talentos, as capacidades, a funcionalidade e possibilidades dentro de nossa sociedade”. O episódio do Realengo, “com todas as dores e sofrimentos, pode ser um momento de retomada de nossa própria grandeza em todas as instâncias sociais e individuais”.

Boa leitura!

Oscar Lopes LuizPresidente do Instituto Neo [email protected]

James “Kapremp-Ti” Cameron aprecia a edição especial de NEO MONDO sobre o Fórum de 2010, recebida de nosso publisher, Oscar: papel da Imprensa reconhecido

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neo mondo - abril 20118

Q uem consulta a Wikipédia em busca de informações sobre ca-talão de Goiás vai encontrar lá,

na lista dos naturais ilustres, logo depois do nome do cantor amado Batista, o do jornalista marcos hummel.

Dono de sólida ficha profissional e de voz inconfundível, ancorando desde 2008 o câmera record, líder de audiência entre o jornalismo temáti-co, marcos hummel, o nome do Perfil desta edição, é também um dos cola-boradores e apresentadores do nosso neo mondo tV.

este goiano já sem sotaque iniciou-se tardiamente na carreira jornalística, aos 28 anos, começando pela tV Globo Brasília. Foi apresentador global por 21 anos, nos telejornais hoje, Jornal na-cional, Jornal da Globo, Fantástico, Globo esporte. Foi um dos primeiros narradores do Vídeo show, depois Bom Dia rio e Bom Dia são Paulo, atuando, também, como editor e redator.

mas mesmo começando tardiamente, hummel tem a quem puxar entre seus conterrâneos. a enciclopédia virtual lem-bra que catalão é, ainda, terra natal de várias outras personalidades culturais. nas artes Plásticas destaca-se Goiandira de couto, filha de poeta e reconhecida in-ternacionalmente por sua técnica única de pinturas com areia.

Neto de um avô que ele considera pioneiro ecológico, fazendeiro que não desmatava, Marcos Hummel, apresentador do Neo MondoTV, diz que “se nós quisermos melhorar o Mundo, do ponto de vista da sutentabilidade, temos que melhorar as pessoas, educá-las,

pois sem educação não haverá preservação. Mesmo porque salvar o Planeta significa salvar-nos”.

Antônio Marmo

“Precisamos de umaPerfil

Apresentador de mais de uma dezena de programas nas principais redes de TV, editor e redator, Hummel incomoda a concorrência no Câmera Record

Div

ulga

ção

REVOLUÇÃO EDUCACIONAL”

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ali nasceram também um dos maio-res latinólogos do Brasil, o diplomata erudito, William agel de mello, autor de 11 dicionários português-linguas neola-tinas como o catalão e o galego, além de cineastas e dramaturgos de menor ex-pressão, mas que justificam o cognome de “a atenas de Goiás”, por sua produ-ção cultural.

Da Globo hummel passou pela rede manchete, onde apresentou, entre ou-tros, o excelente na rota do crime, na década de 90, precursor da cobertura policial nervosa, em que os repórteres embarcavam nas viaturas da rota e da Força tática acompanhando as ocor-rências até seu desfecho. o programa valorizava o policial, dizem os que se lembram dele.

Pulou da manchete para a Bandei-rantes, ficando aí até março de 2004, ano em que assinou com a record, onde está

até hoje. em seu currículo destacam-se ainda o Domingo espetacular, Fala Bra-sil, Jornal da record, repórter record (do qual foi o mais recente apresentador) e o mundo meio-Dia (na record news).

o primeiro programa do câmera re-cord trouxe um documentário sobre os “mercadões no mundo”. as equipes do Jornalismo record visitaram 16 merca-dões - de frutas, legumes e outras coisas mais - nos quatro cantos do Planeta. hoje o jornalístico temático da record tem in-comodado a concorrência, mesmo indo ao ar num horário incômodo, entre meia-noite e uma e meia, chegando próximo aos 20 pontos de pico.

Educar para a sustentabilidadetalvez seja por isso que este catalano

já sem sotaque se defina como uma pes-soa que veio a este mundo “para apren-der, mas que a televisão o decepciona

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Neo MoNdo: O que levou você a estar no projeto da Neo Mondo TV: desafio, promessa, amor à causa?Hummel: Não posso me classificar como um ecologista. Meu avô, falecido há mais de 50 anos, era um ecologista no tempo que o termo talvez nem existisse. Fazendeiro, não permitia desmatar nem queimar a terra. Apenas quero fazer a minha parte. E a Neo Mondo TV é um bom caminho. Neo MoNdo: Com qual tese você e o projeto se identificam: que mundo dei-xaremos para nossas crianças ou que crianças deixaremos para o Planeta?Hummel: A segunda tese é a que me-lhor define a minha intenção. Ainda não tenho netos, mas espero que quando os tiver, que sejam bons para o Brasil e para o Planeta.

“Precisamos de uma

Neo MoNdo: A ecologia, há cerca de uma década, virou tema de pro-gramas específicos, começando pelo Globo Ecologia. Jornalões tradicio-nais, como o Estadão, abrem seções específicas sobre o Ambiente. Quais suas expectativas com um tema assim em TV na Internet?Hummel: A grande mídia tem a maior responsabilidade em todos os sentidos. Se ela entrar para valer, pode mudar os hábitos errados que estão maltratando o Planeta. Quero acreditar que haja boa intenção.

Neo MoNdo: E suas expectativas com a Internet em si? Numa entrevista na Neo Mondo TV vc diz que ela chegou gritando: “acabou o reinado” da mídia tradicional. É isso?

REVOLUÇÃO EDUCACIONAL”neste ponto. ela não veio para formar e transmitir informação, mas para ser uma máquina de vender coisas”, diz ele, ain-da que não dependa das pesquisas para medir sucesso: “a televisão faz dinheiro, independentemente do ibope. tem pro-grama aí que faz a alegria dos donos com meio traço de audiência”, sentencia.

“se nós quisermos melhorar o mundo, do ponto de vista da sutentabilidade, te-mos que melhorar as pessoas, educá-las, pois sem educação não haverá preserva-ção”, receita.

Vez em quando hummel coloca al-gumas frases no twitter. Por exemplo: “estou planejando meu passado porque o futuro o governo já decidiu. e você?”, perguntando-se: “Que Brasil você quer para seus filhos?”, enquanto define o Brasil como “um País de oportunidades e oportunistas”. isso ele escreve ouvindo a 7ª sinfonia de Beethoven.

Hummel: Posso ter exagerado um pouco. As mídias são complementares, cada uma ocupa seu espaço. E a costura final pode ser muito boa. Neo MoNdo: E vc foi parar no mun-do da televisão depois de começar, aos 11 anos, como office-boy de cartório, caixa de banco, criação de gado em fazenda, empre-gado em fábricas. Mas vc é crítico em relação à TV, concluindo que ela é “apenas uma máquina de vender coisas”. A Internet não acaba sendo só isso também? O que vc queria que TV e Internet fossem?Hummel: Podemos dizer que a In-ternet é um veículo muito novo, que está tentando achar seu caminho. As novas gerações saberão usá-la e dela extrair informação e aprendiza-

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10 neo mondo - abril 2011

do. A TV, com sua imensa penetra-ção, está procurando se reorientar. Há muitas cabeças novas que pode-rão fazer essa reorientação. É necessário que o País, por inteiro, entre num projeto de salvação. Precisamos de uma revolução educa-cional. Temos que sepultar ideias e interesses antigos. Salvar o Planeta significa salvar-nos. Neo MoNdo: Você não teve expe-riências de jornal impresso, mas a fogueirinha das vaidades queima mais forte na TV que nas redações da mídia impressa? Por que será?Hummel: Não posso criticar aqueles que valorizam mais as suas imagens. Só posso dizer que eu quero que o meu trabalho apareça mais que eu próprio. Neo MoNdo: Minha experiência na TV me deixava frustrado diante do “efêmero” da transmissão televisiva. Um artigo impresso vc lê, relê, guar-da se for bom. Um repórter em TV sua um dia inteiro produzindo uma reportagem, uma correria pra editar e, quando muito boa, a matéria dura no máximo um, dois minutos no ar (não falamos de programas temáti-cos como o Câmera Record, mas do jornalismo, do dia-a-dia). É essa sua impressão?

Hummel: Costumo dizer que o conte-údo de TV é de digestão muito rápida. Mas a mensagem principal sempre fica gravada. As grandes corporações têm suas necessidades, são pautadas pelo lucro, mas devem equilibrar isto com o dever de fornecer um bom produto. Neo MoNdo: No Fórum Mundial de Sustentabilidade, em Manaus (que é assunto do Caderno Especial nesta edição), um dos palestrantes alertou que a empresa que não priorizar hoje a sustentabilidade corre riscos econômi-cos e de imagem. Mas Fábio Feldmann lembrou que ele conseguiu retirar via Conselho Nacional de Regulação Publi-citária peças que vendiam a Petrobrás como ambientalmente responsável quando ela vende um diesel só encon-trado nos piores países da África.Você conhece ações concretas de empresas que não sejam maquiadas como puro marketing social, visando só à imagem? Ações exemplares com resultados que atestem mudança de mentalidade do século 20 para o século 21? Hummel: Conheci pessoalmente uma empresa que tinha um compromisso muito forte. Uma empresa do Paraná, genuinamente nacional, de fabricação de pneus, com vários projetos para-lelos de conservação. Hoje é visível a

imagem das empresas colada ao tema. Espero que seja para valer. Por menor que seja a verdade disto, algo de bom pode restar no final. Neo MoNdo: Quem é o Marcos Hum-mel visto pelo Marcos Hummel? E como sua filha Luiza o vê? Você ainda tuíta? Hummel: Eu vim para aprender. Eu vim para melhorar-me. Acho que minha filha demonstra acreditar em mim pelo carinho com que me trata. Raramente tuíto. De vez em quando dá vontade de deixar lá uns pensamentos.

Neo MoNdo: Finalizando: pra ter o sucesso que vc alcançou, ancorando hoje um programa líder de audiência, bastam a estampa e o vozeirão incon-fundível? Lembra alguma curiosidade de bastidor? Pra você o que é uma boa produção?Hummel: O sucesso do programa é o resultado de um trabalho árduo de uma equipe fantástica. Tento fazer o melhor para corresponder ao esforço e dedicação de cada um de meus cole-gas. Sou grato a Deus pelas ferramen-tas que Ele me concedeu e às oportu-nidades que me apareceram. Uma boa produção é o resultado da intenção de formar e informar. É respeitar o cliente ou o telespectador, no nosso caso, respeitar o seu desejo de se informar e se divertir.

Perfil

Humberto Mesquita e Marcos Hummel, na “nossa” telinha: “Não sou ecologista. Apenas quero fazer a minha parte. e a Neo Mondo TV é um bom caminho”

neo

mon

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V

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NEO MONDO não pretende explicar a violência urbana. Apenas faz um apelo às pessoas para que não se isolem à frente de um computador; saiam de si mesmas e convivam mais; eduquem-se para o Bem; cerquem-se de pessoas sempre melhores do que elas próprias; busquem o conhecimento na pesquisa, no estudo, na troca de ideias e de experiências positivas seja no campo pessoal seja no coletivo; cuidem-se e cuidem dos mais fracos, dos mais carentes, das crianças e adolescentes, dos

idosos, das plantas, dos animais.

Somente pessoas de mentes e corpos sadios saberão salvar o Planeta do fim dos tempos. O gênero humano e a Terra agradecem!

desArME-se

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neo mondo - abril 201112

C hega a ser desagradável ter que olhar para as nossas doenças so-ciais, mas somente desta maneira

seremos capazes de crescer e caminhar-mos para uma sociedade mais respon-sável e sadia. certa vez ouvi um ditado curioso: “as bruxas só são bruxas porque não foram convidadas para a festa”. na época fiquei pensando bastante sobre as diferentes formas de discriminação. o processo educativo é longo e árduo, quem tem filhos sabe disso, e hoje com a internet o acesso quase irrestrito a in-formações exige dos pais e professores astúcia maior e grande dose de sabedoria para educar com equanimidade.

a doença da violência é social, geral, pois está em cada um de nós e se mani-festa de maneiras diferentes. condensada-mente, exercemos violência todas as vezes em que impomos ao outro nosso modo de ser como absoluto e não como um dos mo-

dos possíveis. na escola do realengo foi por meio de um doente mental em surto. Por quê? não sabemos ao certo. Pelo que parece, a explicação, e não a justificativa, poderia ser o bullying sofrido por este rapaz que, por sua vez, quis resolver suas diferenças com a morte de outras crianças, dando vazão ao mesmo processo mórbido que sofrera. constatamos a repetição do problema de maneira intensificada.

a etiologia da esquizofrenia e outras do-enças mentais tem muitos componentes, é plurifatorial, multifacetado e nem por isso obscuro. Podemos elencar alguns destes fa-tores de forma pedagógica: a) a constituição individual da pessoa; b) experiências que moldaram seu modo de perceber os outros e a si mesmo; c) construção de certo tipo de vínculo afetivo seletivo (com os pais, família, amigos, escola, professores, relações sexoa-fetivas, ambiente de trabalho etc.). De qual-quer forma o que se repete é a dificuldade de

se chegar a um amor verdadeiro inclusivo. sei que falar de amor numa situação destas é complicado, pois muitos amores escondem, no interior dos vínculos, algo de patológico difícil de ser percebido.

Todos somos vítimasesse menino precisava sim ter sido ama-

do de forma diferente, precisava sim tomar o seu remédio, ter alguém que o acompa-nhasse até a maturidade. em algum lugar ele aprendeu que era diferente, que tinha dificuldade de manter relacionamentos de reciprocidade, limitado em dar conta das demandas externas seja em casa, na escola ou mesmo no trabalho. De alguma forma também aprendeu que o mundo deveria se adaptar a ele. assim como sofreu a violência de uma hiperadaptação a um certo ambiente afetivo no grupo primário, exige para si que os outros venham até ele para compreendê-lo. estou descrevendo, não julgando! ele foi

A loucura como oportunidade: aprendizado com o episódio

na escola do Realengo

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13 neo mondo - abril 2011

Siegfried Jorge Wehr Professor-doutor, com vivência

internacional em diversas culturas, em especial a europeia;

Mestre e Doutor em Psicologia Social e do Trabalho pela USP,

trabalha com Projeto de Vida, Controle de Stress e Psicoterapia

Siegfried Jorge Wehr

e, finalmente, temos que contar com as comunidades virtuais que em si são algo muito positivo. a internet é um meio formidável de comunicação para todos nós, uma ferramenta fantástica. as comu-nidades possibilitam a interação de mui-tas pessoas e a visibilidade destas. Preci-samos atentar para os outros Wellingtons que estão apoiando o feito deste rapaz. É uma manifestação, é um pedido de ajuda? É preciso verificar. não podemos esquecer o óbvio, que quase sempre esquecemos, de lutar pela vida, pelo que agrega mais vida. até mesmo quem se declara a favor da morbidez está querendo encontrar um jeito de ser notado e amado de verdade, porque é isto que o íntimo de todos nós anseia, busca, necessita! cada um de nós tem em si algo que reclama, que luta, que aspira em ser útil, bom e, de certa forma, um herói que batalha pela humanidade.

Quando não alcançamos isto nos frustramos, e algo dentro de nós chora e algumas vezes sangra. os nossos proble-mas são modos e oportunidades de nos reconduzir ao caminho da realização inte-grada. este episódio, com todas as dores e sofrimentos, pode ser um momento de retomada de nossa própria grandeza em todas as instâncias sociais e individuais. cada um pode e deve se dar conta desta urgência que reclama pela realização e feli-cidade, mas esta está sempre ligada à nos-sa humanidade mais profunda, está ligada à Vida, nunca à morte! sejamos humildes e sábios!

vítima, todos somos vítimas e protagonistas perpetuadores de nossas doenças.

crianças que nascem sem serem de-sejadas e amadas perpetuarão no seu ínti-mo uma vivência de que estão sobrando e apresentam uma insegurança notável, pa-rece que não têm chão para fazer frente a qualquer desafio ou ameaça do ambiente. É uma insegurança bem no meio da per-sonalidade, ou, se quiser, na base da per-sonalidade se instala um vazio, um nada. têm dificuldade de empreender qualquer projeto que requeira um mínimo de amor próprio. Parece que não têm chão para pi-sar, lugar para descansar a alma!

Quem deveria acolhê-lo como alegria e graça o “acolheu” como problema. outro ditado popular que gosto muito é: “a fruta nunca cai longe da árvore”. toda pessoa do-ente é também um emergente do contexto em que vive. ele corporificou a patologia de uma mãe, de um grupo familiar, de uma escola, de uma sociedade. ele é fruto da mi-nha, da nossa sociedade. são exemplos de concretizações esquizofrênicas tanto deste rapaz quanto de outros personagens do faz-de-conta, da mentira, da enganação, do egoísmo medíocre do “só para mim”, que no seu bojo trazem e distribuem a morte de diferentes maneiras.

o desprezo, o forte envolvimento emocional conta uma metáfora de dois la-dos, dois extremos de uma linha de cone-xão. Quem despreza, discrimina, está tão preso ao desprezado que não consegue se despojar desta relação. Precisa recorrente-mente reafirmar o lado de cá, desqualifi-cando o lado de lá. não importa o papel que adotemos, nesse caso, o fato é o tipo de relação estabelecida. muitas relações assimétricas têm sua simetria na comple-mentariedade emocional, sua reciproci-dade cristalizada em patologia, num jeito de se relacionar destrutivo que se instala e se respira em todos os relacionamentos. muitas vezes, no início do relacionamento parece ser muito bom para depois desen-

cadear a fase de destrutividade. neste sen-tido, nós, tantas vezes, confirmamos nas nossas relações as nossas próprias convic-ções e crenças.

Olhar de cidadãono fim, todos os atores sociais do caso

têm sua parcela de responsabilidade. os pais por educarem de modo frágil uma vida que, sabemos, iria encontrar suas di-ficuldades em superar bem cada etapa do seu desenvolvimento. Por legarem, não sei como, uma desconfiança, uma certa certe-za de não valer o bastante para a vida. a escola por ter negligenciado o cuidado e recomendações que se faziam necessárias (sem culpar ninguém). nunca sabemos ao certo quão profundas são as águas... a pes-soa que trabalhou e nada notou de impor-tante nesse rapaz, a tal ponto de vender uma arma a ele. isso é próprio do merca-do, não olhar com o olho de cidadão, de gente, de pessoa e saber dizer não quando necessário. nós, adultos, somos os maio-res responsáveis.

se no meio deste caminho alguém ti-vesse atentado para esse rapaz, se aproxi-mado e exercido uma influência melhor, o massacre teria sido evitado? nada garante essa especulação. Pode ser que algo pode-ria ter acontecido diferente, mas jamais saberemos. Portanto, não se trata de dis-tribuir culpas, mas examinar a situação de forma mais minuciosa para se adotar pos-turas e atitudes mais responsáveis quando encontrarmos outros Wellingtons pelo ca-minho. no fundo é necessário sermos for-tes o suficiente para suportarmos perdas, fortes o suficiente para sustentar a vida na educação de nossos filhos e de nossos alu-nos, fortes o suficiente para agir diante de situações doentias como o bullying, fortes para incluir quem está excluído... para oferecer e estabelecer vínculos sadios, que fortaleçam a vida, a construção, os talen-tos, as capacidades, a funcionalidade e possibilidades dentro de nossa sociedade.

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aliou-se à motosserraE o boiMeio Ambiente

N os longínquos anos 70 do século passado explodiam os primeiros conflitos pela disputa de grandes

nacos de floresta no faroeste brasileiro, deixando cheiro de pólvora no ar de se-ringais acreanos e rondonienses. esta fase inicial culminou com o tiro de tocaia que tirou a vida do líder seringueiro chico mendes às vésperas do natal de 88 após levar, antes dele, outros resistentes pio-neiros, como o sindicalista Wilson Pinhei-ro, mentor de chico.

no rastro dos tiroteios e fumaça das queimadas vinham os primeiros bois

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Dados da FAO, órgão das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentos, de maio de 2010, apontam o Brasil como o maior exportador de carnes do mundo.

O rebanho bovino nacional já é maior que nossa população humana, passando dos 200 milhões de cabeças. O problema é que essa expansão se dá à custa

das florestas tropicais e com efeitos danosos sobre a atmosfera.Antônio Marmo

nelores, tangidos por generosas ofertas de incentivos fiscais patrocinados pelos militares por meio da superintendên-cia de Desenvolvimento da amazônia (sudam). um pequeno fazendeiro no sul poderia dobrar sua propriedade migran-do para o norte em 1970. em meados dos anos 80, ele poderia quase multipli-car sua terra por 15.

sob as patas dos bois iam ficando pra trás as colocações ou moradias dos donos primitivos daquelas paragens, seringuei-ros e índios, a inchar as periferias de rio Branco, a capital do acre.

mas desde o início desta trágica em-preitada, já surgiam estudos sérios a mos-trar a atividade pecuária como predatória e causa principal da intensificação de processos de desertificação. ela só se tor-nava lucrativa, eventualmente, por causa do baixo preço na compra da terra, sob os subsídios da sudam ou pela venda da madeira que já custeava a compra, o des-matamento e a plantação da braquiária para pastagem.

até meados da década de 80 e início dos anos 90, a pecuária não tinha desem-penho financeiro satisfatório com o uso de

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agentes intermediários que transfor-mam a floresta nativa em pastagens. Pecuaristas e fazendeiros “vêm depois”.

• concluiu, ainda, que “também ao con-trário do usualmente aceito:

• os madeireiros não são os principais vilões do processo;

• a especulação fundiária não é um fator de importância primordial;

• a soja e outros grãos estão longe e não ameaçam: a agricultura pode vir atrás da pecuária, mas por enquanto só é significativa no mato Grosso. De con-creto e consolidado, pouco existe nos demais estados;

• os incentivos e créditos subsidiados do governo só puderam explicar uma parcela muito pequena dos desmata-mentos no passado: hoje em dia, pra-ticamente não têm relevância;

• por terem históricos de ocupação, ori-gem de colonização, e tipos empresa-riais distintos, as políticas de controle têm que incorporar estas condições específicas locais.

assim, o autor não tem dúvida de que “a economia de todo o processo passa necessariamente pela economia da pecu-ária: sua viabilidade é que em última me-dida justifica a escala dos desmatamentos na região”.

“não fosse ela, não haveria tantos agentes intermediários, pois seus lucros também cessariam, uma vez que não te-riam a quem vender as terras convertidas. os desmatamentos causados pelos agentes que apenas buscam a subsistência seriam ínfimos em relação aos hoje observados.”

lativa que a criação de gado é vista pela totalidade dos atores locais como um in-vestimento seguro, rentável e que deman-da pouco trabalho” e, ademais, para eles trata-se de uma “vocação da região”.

Conclusões inesperadas

no entanto, o paper assinado por mar-gulis em 2001, “de caráter mais provocativo que conclusivo”, acabou por surpreender a todos por conclusões inesperadas em rela-ção às primeiras constatações (que a pecuá-ria era inviável e só lucrativa em função do baixo preço da terra).

invertia-se esta constatação para afir-mar taxativamente que “o fator chave para explicar o grosso dos desmatamentos na amazônia é simples e evidente: a lucrati-vidade da pecuária”.

ao contrário do usualmente aceito, prosseguia o estudo, a história dos desmata-mentos na amazônia é do tipo ganha-perde, e não do tipo perde-perde. ou seja, os des-matamentos proporcionam ganhos econô-micos claros, às vezes substantivos, que do ponto de vista privado fazem todo sentido mesmo gerando perdas ambientais.

e estes ganhos decorrem fundamen-talmente de atividades produtivas, e não especulativas. as suas implicações ime-diatas são:• pelo menos os desmatamentos não

geram apenas pura destruição ambien-tal, mas

• as políticas de controle se tornam mais difíceis, as perdas do controle se-rão maiores.

• os agentes que se apropriam destes ga-nhos são os madeireiros e os pequenos

15 neo mondo - abril 2011

A criação de gado para abate no País, segundo a FAO, é um dos maiores responsáveis pela degradação do solo, perda da biodiversidade e poluição da água

aBr

tecnologias caseiras, tradicionais. ela só se-ria positiva se continuasse dependendo dos incentivos fiscais, dos ganhos especulativos com a terra.

Capital líquido

mas, então, o que justificaria a conti-nuidade de investimentos nesta atividade nas décadas posteriores? – começaram a se perguntar os estudiosos da questão. Foi ao que se propôs o trabalho comandado pelo economista sênior do Banco mundial, sér-gio margulis, prefaciado pela antropóloga e nossa amiga mary alegretti, então secre-tária de coordenação da amazônia do mi-nistério do meio ambiente. alegretti foi uma das responsáveis por colocar chico mendes no circuito internacional.

o trabalho de margulis, iniciado no ano 2000, se chama Quem são os agentes do desmatamento na amazônia e porque desmatam. o Banco mundial discutiu com a secretaria de coordenação da amazônia a possibilidade de um trabalho conjunto, dada a confluência de interesses.

ao interesse do Banco mundial e do ministério juntou-se o do PPG-7 com o Projeto ama (apoio ao monitoramen-to e análise do Programa). mas o Banco mundial deixava claro que as conclusões representavam ideias dos autores e não da instituição.

Fronteira especulativa

a interpretação inicial, entre os anos 80 e 90, era de que “os grandes fazendei-ros buscavam não incentivo para o gado, ou seja, o boi era desculpa para outros ob-jetivos: a pecuária era praticamente isen-ta de imposto de renda e o gado virava uma garantia de posse da terra, o que era prioridade absoluta na fronteira especula-tiva”, como relata margulis “depois de mil ideias trocadas com Bob schneider”, ex-sector leader ambiental do Banco mun-dial no Brasil.

em relação à agricultura, principalmen-te quanto às culturas temporárias, diziam os analistas, o risco da atividade pecuária é baixíssimo, em termos de mercado, comer-cialização, condições climáticas ou pragas, demanda menores investimentos iniciais, dá retorno em tempo menor. e o gado é capital líquido, ou seja, vende fácil, pede pouca mão de obra e, por fim, a pecuária é ótima para tapear todo tipo de fiscalização (ao contrário da terra plantada).

margulis diz que “ficou claro durante a pesquisa de campo na fronteira especu-

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Meio Ambiente

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“a intensificação da produção nas chama-das granjas-fábrica não apenas polui a água e o ar, mas também causa um sofrimento imenso aos animais.” no Brasil, mais de 90% dos ovos são produzidos por galinhas que passam quase toda a vida confinadas em pequenas “gaiolas em bateria”, espaços tão pequenos que as aves não conseguem expressar grande parte de seus comportamentos naturais, como esticar as asas, nidificar ou mesmo caminhar.

mais de 70 milhões de galinhas vivem nestas condições no Brasil. os porcos também são vítimas dos sistemas industriais de confi-namento intensivo. existem hoje no Brasil cer-ca de 1,5 milhão de porcas reprodutoras sendo alojadas em “celas de gestação”, baias individu-ais de metal tão pequenas que as porcas não conseguem sequer se virar dentro delas.

Dados indigestos

a digestão animal que inclui a fermenta-ção entérica e o manejo de dejetos, segundo a hsi, são as principais causas da emissão de metano pelo setor de produção animal. a fermentação entérica, ou a fermentação microbiana que acontece nos sistemas di-gestivos de ruminantes como boi, carneiro e búfalo, foi responsável por 63,2% de todas as emissões de metano do Brasil em 2005.

mundialmente, este processo é respon-sável por 25% das emissões de Gee do setor de produção animal. os dejetos são respon-sáveis pelo restante das emissões de metano oriundas dos animais de produção e repre-sentam aproximadamente 5% das emissões de Gee do setor.

a Fao estimou em 2006 que a criação de animais para consumo emite aproxima-damente 18% de todos os gases de efeito

a humane society international (hsi) e suas parceiras formam, juntas, uma das maiores organizações de proteção animal do mundo – apoiada por 11 milhões de pes-soas, pregando basicamente mudanças de hábitos alimentares que levem à diminuição do consumo de produtos de origem animal, principalmente quando criados em sistemas desumanos. isso inclui orientação de políti-cas, educação e programas de assistência.

Diante de um desmatamento de quase 17 milhões de hectares da amazônia brasi-leira entre 2000 e 2008, a hsi chama atenção para a conexão entre agricultura animal, des-matamento e mudanças climáticas.

segundo a organização das nações uni-das para agricultura e alimentação (Fao), o setor de criação de animais para consumo é “de longe, o maior utilizador de terras dentre as atividades humanas”. no Brasil, o setor é um dos maiores responsáveis pelo desmata-mento, causando perda de biodiversidade, degradação do solo e poluição da água.

a instituição divulgou no início de abril um extenso relatório calcado em dados in-ternacionais vinculando a atividade agrope-cuária, principalmente em sua modalidade de granjas industriais de criação intensiva, ao aumento do efeito estufa.

As granjas-fábrica

Guilherme carvalho, gerente de campa-nhas da hsi no Brasil, revolta-se ao apresentar dados mostrando que “nas últimas décadas te-mos visto uma transição de granjas familiares para granjas industriais de produção intensiva, que frequentemente concentram dezenas de milhares de animais em galpões que se asse-melham a verdadeiras fábricas”.

estufa (Gees) gerados por atividades huma-nas. o setor de agricultura animal é um dos mais importantes para políticas que visem à redução imediata e rápida dos impactos cli-máticos dos humanos.

Cadeia poluente

Praticamente todas as etapas da cadeia produtiva de carnes, leite e ovos poluem o ar ou contribuem para as mudanças climáticas. o setor emite quantidades significativas de três dos Gees mais importantes: dióxido de carbono (co2), metano (ch4) e óxido nitro-so (n2o). mais especificamente,

o setor de animais de produção é mun-dialmente responsável por:• 9% das emissões de co2 geradas por

atividades humanas;• 35% a 40% das emissões de ch4 geradas

por atividades humanas (o ch4 tem 25 vezes o potencial de aquecimento global do co2 num período de 100 anos);

• 65% das emissões de n2o geradas por atividades humanas (o n2o tem apro-ximadamente 300 vezes o potencial de aquecimento global do co2).

as emissões de dióxido de carbono des-te setor são geradas pela fabricação de fertili-zantes de nitrogênio para produção de ração, pelo uso de combustíveis fósseis dentro das propriedades, pelo desmatamento feito para abrir espaço para pastagem e para produção de ração e pela desertificação do pasto, que pode resultar da sobrepastagem por animais de produção.

estima-se que sejam emitidos 41 mi-lhões de toneladas de co2 a cada ano na fabricação de fertilizantes usados na pro-dução de ração. só no Brasil, são emitidos anualmente 1,69 milhão de toneladas de co2 na utilização de combustíveis fósseis para produção de fertilizantes nitrogenados usados nos cultivos para ração.

o rebanho mundial de bovinos é hoje estimado em mais de 1 bilhão de cabeças. estima-se que as emissões globais de meta-no geradas a partir dos processos entéricos de ruminantes de criação fiquem em 80 mi-lhões de toneladas por ano, correspondendo a cerca de 22% das emissões totais de meta-no geradas por atividades humanas.

UM REBANHO INQUIETANTESegundo a Humane Society International (HSI), 80% de todo o crescimento do rebanho

bovino brasileiro se concentrou na Amazônia, passando de 18% para 31% no curto período entre 1990 e 2002. Em 2004 as empresas de pecuária ocupavam quase 75% das áreas

desmatadas ali. Logo, não é surpresa que esta atividade seja a principal responsável pelo desmatamento naquela região, conclui a organização.

Estudos mostram a atividade pecuária como predatória e causa principal da intensificação de processos de desertificação

aBr

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A visão dos especialistas e formadores de opinião internacionais a respeito das mudanças que o agronegócio brasileiro de aves e suínos vem sofrendo, nos últimos tempos, será mostrada no X Seminário Internacional de Aves e Suínos (Ave-Sui 2011) entre os dias 17 e 19 de maio, em Florianópolis (SC).

O jornalista Larry Rohter, expert do setor e já conhecido dos brasileiros como correspon-dente do New York Times por ter protago-nizado um episódio de quase expulsão por ataques ao presidente Lula, será um dos pales-trantes no painel Conjuntura de Mercados.

Durante sua apresentação o especialista discutirá a mudança de imagem do Brasil frente

aos mercados dos países ricos, com destaque para a posição conquistada nos últimos tempos. “O Brasil já não é apenas um país sul-america-no. Ele tem interesses econômicos e diplomá-ticos muito mais amplos, considerado já como potência emergente, um gigante industrial e uma superpotência agrícola, transformando-se na sétima economia mundial.”

o recorte reproduzido nesta página é um pedaço da edição número 3 da pu-blicação alternativa Varadouro, saudosa e histórica aventura editorial dos longín-quos anos 70 que se assumia como “o jor-nal das selvas”.

imprensa alternativa, como o Pasquim, movimento, opinião era moda nos chama-dos “anos de chumbo” e naqueles contur-bados anos 70 lá estava eu, em rio Branco, acre, reportando para Varadouro. a man-chete de capa tratou do tema que virou marca registrada do jornal: a briga pela ter-ra, como relembra o editor, elson martins.

a matéria “terra, a briga pra ser dono” ocupou quatro páginas centrais, e a edição de 5 mil exemplares esgotou logo. este número do jornal Varadouro é um docu-mento histórico completo que dá a dimen-são dos conflitos, omissões e irresponsa-bilidade do acre nos anos 70/80. suas 24 edições estão disponíveis no site www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br.

sim se abria caminho para os bois que co-meçavam a chegar carregados por farta dis-tribuição de incentivos fiscais via sudam.

Dez dias depois da entrevista, carlos sérgio se viu cercado por um grupo de cinco seringueiros armados. o líder do grupo, an-tônio caetano de souza, baixinho, troncudo, pai de 18 filhos, foi claro: “eu atirei seguro pra não escapar. se não ele me matava. eles queriam tirar a gente da terra, queriam que a gente saísse. Fui ameaçado várias vezes, pedi proteção às autoridades. nada...”.

Depois, o tempo já tórrido da amazônia esquentou ainda mais entre um entrevero e outro, ao mesmo tempo em que ampliou-se a organização de resistência à invasão. nas assembleias dos seringueiros organizados em sindicatos a partir de 1975, era comum ouvir-se que eles não queriam trocar sua colocação de seringa dentro da mata, com 300 ou 500 hectares de floresta, por um lote do incra de menos de 100 hectares, voltado para a produ-ção agrícola, tangidos pelos bois.

o recorte cita uma entrevista que fiz com carlos sérgio Zaparolli, um rapazote de 20 e poucos anos, só com o 4º ano primário mas muito bem articulado, fala fluente. ca-pataz – ou “jagunço” como queiram – de uma das fazendas em tentativa de implantação no então seringal nova empresa, numa área de 10 mil hectares, carlos sérgio vivia a in-fernizar a vida das famílias do seringal nova empresa nas proximidades de rio Branco.

Caminho para os bois

o seringal tinha sido retalhado e ven-dido a um grupo de médios empresários do sul, entre os quais figurava seu patrão arquimedes Barbieri, um industrial do ramo de tintas em são Paulo.

e a função do “capataz ou procurador” era expulsar as famílias que teimavam em permanecer nas terras. ele chefiava um bando para metralhar criações, queimar barracos e entupir varadouros, as estreitas trilhas rasgadas dentro da mata virgem. as-

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Tudo

Economia

P ara exercer a consciência ambiental, não basta ter boa vontade, é preciso também ter acesso à informação.

Quem já não se deparou com uma situ-ação na qual não sabia onde descartar um produto ou onde encontrar um serviço com filosofia sustentável?

mesmo nas grandes cidades, onde a eco-nomia verde, em geral, é mais consolidada, nem sempre é fácil localizar este tipo de in-formação. na verdade, não era.

Desde fevereiro de 2010, os ecocida-dãos podem contar com a ajuda da rede made in Forest, que reúne na internet um enorme banco de dados sobre produtos e serviços sustentáveis.

Rede Made in Forest completa um ano como as “listas amarelas” da economia sustentável

Rosane Araujo

criada pelos empresários Fábio Biolca-ti e martin mauro, ambos com mBa em administração estratégica e saúde e sólida experiência executiva, a rede conta atual-mente com mais de 25 mil cadastrados, entre empresas e consumidores. seus vi-sitantes estão localizados em mais de 70 países, já que pode ser traduzida para mais de 50 idiomas.

“a rede ambiental teve muito bom de-sempenho, dentro do nosso planejamen-to para o primeiro ano. contamos com o maior banco de dados de pontos de cole-tas de resíduos sólidos, onGs ambientais e empresas de ecoprodutos, serviços e eco-turismo do país”, garantiu Biolcati.

segundo ele, cada empresa cadas-trada é responsável por alimentar a sua própria página com conteúdo pertinente ao seu negócio. “Por meio do intenso re-lacionamento gerado entre os membros da rede, o conhecimento e a informação tornam-se acessíveis e úteis para toda a comunidade do globo”.

além de colocar as organizações em contato entre si e com o seu público, a rede possibilita a transferência de conhecimen-to para quem o acessa, pois seu conteúdo é composto por informações, notícias e con-tatos de diversos países, além de projetos e modelos de proteção ambiental, banco de imagens e vídeos.

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que toda a sociedade saia do longo discur-so de sustentabilidade e entre enfim na prática, divulgando e beneficiando empre-sas de todos os portes que estão trilhando o caminho de re-utilização de recursos na-turais”, revelou Biolcati.

se existe otimismo em relação à confe-rência, não poderia ser diferente quando o assunto são as expectativas de crescimen-to da rede ambiental.

sua receita advém da comercialização de publicidade e desde janeiro, existe uma área especificamente designada para tratar o assunto.

“as expectativas são de grande cresci-mento a partir do momento que as empre-sas cadastradas desejarem dar uma melhor visibilidade aos seus produtos e serviços. a publicidade realizada através de banners na rede é totalmente acessível a estas empre-sas, variando em valores mensais de 80 a 500 reais mensais, dependendo da localiza-ção do anúncio”, contou.

a força das redes sociais é uma das apostas do sócio fundador. Desde seu lan-çamento, a minF vem sendo divulgada em comunidades verdes das redes sociais como facebook, orkut e twitter e em emails direcionados para estas comunidades liga-das ao meio ambiente.

“acredito que, realmente, a publicidade nas redes é a mais acessível e também a que têm melhor custoXbeneficio, pois é realiza-da diretamente para o consumidor interes-sado naquele produto ou serviço. e como também acreditamos que as redes sociais ou, neste caso ambiental, são irreversíveis, acredito que a tendência é aumentar cada mais a percepção de valor agregado e efici-ência dessa mídia”, finalizou.

no de são Paulo como o “município Verde e azul”, que avalia os aspectos ambientais de cada cidade, atribuindo notas e pre-miando as melhores colocadas.

tanta contribuição para o fortaleci-mento da economia verde, tem colocado a minF como um dos principais interlocu-tores deste tema que será o foco da con-ferência rio+20, marcada para junho do próximo ano.

o evento pretende reunir autorida-des do mundo inteiro para discutir sobre economia verde no contexto do desenvol-vimento sustentável e erradicação da po-breza e sobre o papel das instituições na promoção deste desenvolvimento.

“acreditamos que a conferência rio+20 trará mais visibilidade para a eco-nomia Verde, o que é fundamental para

Na Central da Reciclagem é possível localizar o ponto de coleta mais próximo de produtos variados como baterias de veículos,

eletrônicos, isopor, lâmpadas, entre muitos outros

a área destinada à reciclagem é a que abriga o maior número de organizações. lá é possível encontrar informações sobre pon-tos de coleta em todo o Brasil, abrangendo cerca de 40 tipos de materiais recicláveis.

e é muito fácil utilizá-la. na área “central da reciclagem”, basta escrever o endereço para receber a localização exata do ponto de reciclagem mais próximo, incluindo vários tipos de materiais, como baterias, eletrônicos, embalagens, óleo de cozinha, lâmpadas, pneus, entre outros. o mais novo serviço oferecido pela rede, porém, foi lançado em janeiro. o espaço economia Verde pretende utilizar as se-cretarias de meio ambiente de cada mu-nicípio brasileiro como fonte para identifi-car, organizar e divulgar para a população um banco de dados ainda mais completo.

“estamos com um número surpreen-dente de municípios em fase de aprovação do contrato de serviço e a ideia é colocar luz sobre esta economia que gerará em-pregos, renda e divisas para o município”, garantiu o fundador da minF.

ainda por meio do novo serviço ofe-recido, as secretarias do meio ambiente têm acesso a uma sala de reunião virtual, possibilitando reuniões, treinamentos e educação ambiental à distância.

“existe ainda uma falta de hábito por parte da população em acompanhar reuni-ões neste modelo de sala, mas este concei-to já é largamente utilizado na europa e eua e sua utilização aqui no Brasil é ques-tão de tempo”, opinou.

segundo ele, a estruturação do siste-ma visa também colaborar com os 21 pro-gramas ambientais estratégicos do Gover-

Rede ambiental reúne o maior banco de dados sobre economia verde no país

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A s ciências da terra oferecem os fundamentos básicos para a com-preensão do mundo físico em

que vivemos. temporalidade, abrangên-cia, ciclicidade e duração dos processos terrestres são caracterísitcas do raciocínio

A compreensão do meio físico na gestão da informação

goeológico que oferecem contribuições ao debate ambiental.

o levantamento das características do meio físico serve para a compreensão do ambiente em que vivemos e para es-tabelecer inter-relações com contextos

socioculturais, como exemplo, a relação da qualidade da água com o tipo de solo e vegetação presentes e os usos do solo e a forma de ocupação do espaço.

o conhecimento do meio físico, ape-sar de sua importância, não está posto nos

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Denise de La Corte Bacci

Denise de La Corte BacciGraduada em Geologia pela UNESP,

Campus de Rio Claro, mestrado em Geo-ciências e Meio Ambiente pela UNESP e

doutorado em Geociências e Meio Ambi-ente pela UNESP. Estágios na Università

di Milano e University of Missouri_Rolla. Pós-doutorado em Engenharia Mineral

pela POLI-USP. Atualmente é docente do Instituto de Geociências da USP.

E-mail: [email protected]

ambientes formais de ensino, resultando numa formação do cidadão incompleta, carente de um raciocínio interdisciplinar necessário para a compreensão global do funcionamento do Planeta e da interde-pendência da natureza com o meio social. essa incompletude na formação dos cida-dãos leva a uma visão imediatista e utilitá-ria da natureza.

Para que se alcancem o almejado de-senvolvimento sustentável e a preparação para o exercício da cidadania, é importan-te ter conhecimento sobre o ambiente em que se vive para interpretar, julgar e atuar na sociedade de forma responsável. sem os conhecimentos sobre o funcionamen-to e organização, gênese e evolução do planeta, tais como a noção de um ciclo global da natureza, da cadeia de causas e consequências na sucessão de eventos naturais, sobre as interações físicas, quí-micas e bioquímicas nos ambientes, será difícil formar cidadãos participativos e conscientes de suas ações.

o monitoramento das águas, entendi-do sob a perpectiva do ciclo hidrológico, é um exemplo de como, a partir da compre-ensão do mundo físico, é possível estabe-lecer relações de interdependência entre as ações humanas e os ciclos naturais.

a água passa por todas as esferas terrestres. o movimento cíclico da água - dos oceanos e plantas para a atmosfe-ra por evaporação e evapotranspiração, de volta para a superfície por meio da precipitação e, então, para os rios e aquí-feros pelo escoamento superficial e in-

filtração, retornando aos oceanos. esse caminho da água forma o ciclo hidroló-gico, fundamental para o abastecimento dos reservatórios naturais, tanto em ter-mos de transferência da água entre eles e transformação entre os estados sólido, líquido e gasoso.

a disponibilidade hídrica de deter-minada região está relacionada com as condições climáticas e com o armaze-namento da água nos reservatórios su-perficiais (rios) e subterrâneos (aquífe-ros). o tipo de substrato, a instalação da drenagem no relevo, a geometria do canal fluvial e seus parâmetros naturais (velocidade de escoamento, vazão, pro-fundidade) são alguns dos condicionan-tes geológicos que caracterizam esse am-biente. a biodiversidade está, portanto, condicionada pela geodiversidade.

Quando realizamos o monitoramen-to da qualidade da água em ambiente urbano, estamos relacionando todos esses parâmetros com fatores socias de uso e ocupação do solo e os usos múl-tiplos da água. É importante que as in-formações coletadas sejam divulgadas numa visão de sistemas integrados. É impossível solucionar problemas ape-nas com base na informação objetiva, sem que sejam dessa forma interpreta-das e compreendidas.

compreender os ciclos naturais faz-se importante para que entendamos como a ação do homem pode modificar ou in-tensificar os processos naturais e quais ações e cuidados devemos tomar para

que nossas ações não sejam mais fortes e desequilibrem os ciclos e as paisagens na-turais. À medida que entendemos esse ci-clo e os processos nele envolvidos, somos capazes de compreender que interferên-cias naturais ou induzidas podem causar desequilíbrios e gerar impactos negativos ao ambiente.

a gestão da informação é crucial para conseguir resultados dos processos substancialmente válidos na aprendiza-gem social.

uma vez construído pelos diversos atores sociais, o padrão do mundo físico leva à compreensão do ambiente local e de suas relações com o contexto socio-cultural, estendendo-a para contextos cada vez mais amplos, até chegar à con-cepção da terra como um sistema evo-lutivo complexo, que favoreceu o surgi-mento e evolução dos organismos, bem como da humanidade, os quais, por sua vez, modificam a superfície terrestre.

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A s férias terminaram e, após o car-naval, o ano letivo começou para valer em todo o Brasil. hora de

focar nos estudos, sim, mas sem deixar de curtir uma festinha de vez em quando.

se você for um adolescente da rede de ensino privada paulistana, a probabilidade de se embriagar em uma dessas festas é grande.

Pesquisadores da universidade Fede-ral de são Paulo (unifesp), com apoio da Fundação de amparo à Pesquisa do esta-do de são Paulo (Fapesp), investigaram os hábitos de 5.226 alunos do 8º e 9º anos do ensino fundamental e dos três anos do ensino médio, em 37 escolas.

o levantamento inédito sobre o con-sumo de drogas entre estudantes de esco-las privadas paulistanas foi concluído em junho e indicou que, de todas as drogas, o álcool é, de longe, a mais usada: 40% dos estudantes haviam bebido no mês ante-rior à pesquisa.

o tabaco apareceu em segundo lugar com 10%.

Álcool é a droga mais consumida entre adolescentes da rede privada de ensino de São Paulo – 33% relataram beber

em excesso no mês anteriorRosane Araujo

cair e levantarBeber,Comportamento

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em relação ao consumo de álcool, um dos dados que mais chamaram a atenção no levantamento é que, no ensino médio, 33% dos alunos consumiram no padrão conheci-do como binge drinking – ou “beber pesado episódico” – no mês anterior à pesquisa.

o comportamento binge se caracteriza pelo consumo, na mesma ocasião, de cinco ou mais doses de 14 gramas de etanol – valor correspondente a cinco latas de cerveja (ou copos de vinho ou doses de bebida destilada).

“É um índice preocupante porque este nível de consumo resulta em embriaguez”, comentou a coordenadora do estudo, ana regina noto, pesquisadora do centro Bra-sileiro de informações sobre Drogas Psico-trópicas (cebrid), da unifesp.

Para ela, em episódios de embriaguez, os adolescentes expõem-se não só ao ris-co de um coma alcoólico, mas, com ain-da mais frequência, a outros riscos como sexo sem proteção, envolvimento em bri-gas, dirigir embriagado ou pegar carona com pessoas neste estado.

“tudo isso é muito comum porque a pessoa perde a noção devido ao consumo exagerado de bebida”, disse.

a pesquisa mostrou também que exis-tem vários fatores associados à prática de binge drinking. entre alunos do ensino mé-dio, por exemplo, morar com alguém que se embriaga aumentou duas vezes a chance de ocorrência desse comportamento. sair à noi-te uma vez por semana aumentou as chances em 9,5 vezes. sair à noite todos os dias au-mentou as chances de comportamento binge em 20 vezes.

a condição socioeconômica também influencia: o risco é duas vezes maior en-tre os alunos das escolas com mensalida-de acima de r$ 1,2 mil.

em sua opinião, o crack merece aten-ção, mas as drogas legais não estão sendo combatidas da maneira que deveriam.

“É desproporcional. existe um exagero em relação às drogas ilícitas e uma negli-gência com as lícitas”.

Para embasar sua crítica, ana regina cita dados sobre a dependência de álcool.

no Brasil, cerca de 12% da população adulta é dependente, e entre homens o ín-dice chega a 20%. “isso sem falar nos casos sub-relatados, já que muitas pessoas con-vivem com a dependência.”

e qual a relação do uso na adolescência e a dependência na fase adulta?

“existe uma série de estudos que indi-cam que quanto mais cedo o beber cons-tante começa, maior é a probabilidade de dependência no futuro”, explicou.

este é mais um ponto de alerta, já que a pesquisa da unifesp apontou o álcool como a droga que começa a ser consumida mais cedo, com média de idade de 12,5 anos.

e para a maior parte dos entrevista-dos, o primeiro consumo ocorreu em casa: 46% deles começaram assim.

“É um dado esperado porque a bebida alcoólica está dentro da casa das pessoas, é estimulada pela televisão etc. mas o fato de usar dentro de casa não tem, necessariamen-te, relação com o desenvolvimento da de-pendência. Pode ser que os que consomem com os pais estejam mais protegidos. o fato é que a lei proíbe o consumo de álcool antes dos 18 anos, mas muitas famílias liberam. os pais parecem não perceber os riscos, sem falar no fato de que é proibido”, ponderou.

ao contrário do que pode parecer, po-rém, a pesquisadora não se declara nem contrária e nem favorável ao consumo de álcool na adolescência.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o abuso do álcool resulta em 2,5 milhões de mortes por ano no mundo.

Cerca de 320.000 jovens entre 15 e 29 anos morrem de causas relacionadas ao álcool, o que representa 9% das mortes nesta faixa etária.

Fonte: World Health Organization - www.who.int

segundo o estudo, o comportamento binge drinking estava mais presente entre os meninos (26,8%), mas também foi eleva-do entre as meninas (21,7%). cerca de 7,3% dos meninos e 5,4% das meninas relataram ter bebido no padrão de três a cinco vezes no último mês. “não existe grande diferen-ça entre os gêneros, é uma prática comum entre adolescentes em geral”, comentou ana regina.

apesar de o estudo ter sido realizado somente com alunos da rede privada, quan-do comparados a outros trabalhos já reali-zados na rede pública, é possível encontrar pequenas diferenças nos comportamentos dos alunos, segundo a pesquisadora.

nas escolas particulares o binge drinking é mais comum. “o aluno não bebe todos os dias, mas quando bebe, exagera.”

Riscos diferentesJá nas escolas públicas, o consumo é

mais frequente, porém, em menor quantida-de. “cada grupo se expõe a riscos diferentes.”

na rede privada, porém, mesmo entre os adolescentes que utilizaram outras dro-gas, nada se aproximou do padrão de con-sumo caracterizado pelo comportamento binge relacionado ao álcool.

“seria óbvio imaginar que as drogas lí-citas são mais consumidas, mas o óbvio às vezes não é tão óbvio assim. as políticas voltadas para as drogas legais estão aquém do necessário. Quando se pensa em pre-venção, geralmente se pensa no crack e em outras drogas pesadas”, afirmou.

Para a pesquisadora, em termos de saúde pública, o crack perde para o álcool. “Quantos usuários de crack você conhece? e quantas pessoas que consumiram álcool e acabaram se envolvendo em acidentes?”, questionou.

O álcool e a saúde

Ana Regina: “não incentivo nem desestimulo... devemos proteger os adolescentes dos riscos”

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24 neo mondo - abril 2011

Consumo de drogas por adolescentes das escolas particulares

Confira os dados da pesquisa para cada droga

“eu não incentivo nem desestimulo, só acho que, se for para liberar, devemos pensar em como proteger os adolescentes dos riscos. o que não dá é para continuar fingindo que o consumo não existe e dei-xar os adolescentes expostos. Parece uma sociedade meio esquizofrênica”, comentou.

Graduada em Psicologia e Farmácia-Bioquímica, com mestrado e Doutorado, ana regina atua como pesquisadora do ce-brid desde 1993.

Comportamento

Álcool

• 40% dos entrevistados relataram consu-mo no mês anterior, o maior entre todas as drogas citadas

• 33% tiveram pelo menos um binge drinking ou “beber pesado episódico”

• 12,5 anos foi a média de idade do primeiro consumo

• 46% ingeriram pela primeira vez em casa

• Os meninos deram preferência à cerveja e as meninas às bebidas tipo “ice”, batidas, caipirinha e vinho.

• 80% relataram consumo “pelo menos uma vez na vida”

Tabaco

• 10% dos alunos consumiram no mês anterior à pesquisa, sendo a segunda droga mais consumida

• 13,5 anos foi a média de idade do primeiro consumo

• 33% dos alunos do ensino médio expe-rimentaram alguma vez na vida, contra 14,8% do ensino fundamental

• Os fumantes regulares (que consomem tabaco mais de 19 dias no mês) corres-pondem a cerca de 4% dos estudantes do ensino médio e menos de 1% do ensino fundamental

• 24,6% consumiram pelo menos uma vez na vida

ser mais comum entre os meninos, mas o número de observações é baixo demais para garantir a validade dos dados. O índice geral de consumo “pelo menos uma vez na vida” foi de 2,2% para cocaína.

• O uso de calmantes e anfetaminas foi mais comum entre as meninas: 7,5% utilizaram calmantes alguma vez na vida, contra 3,2% dos meninos.

• O uso de calmantes esteve associado à família. Na primeira ocasião de consu-mo, a droga foi geralmente oferecida por algum familiar (50%). “Peguei em casa” foi a resposta de outros 38%.

• O consumo “pelo menos uma vez na vida” foi de 5,3% para calmantes, 3,6% para ETA.

• Os adolescentes também consumiram, pelo menos uma vez na vida, drogas como o ecstasy (4,3% dos meninos e 1,7% das meninas), benflogin (2%), anabolizantes (2,5% entre os meninos e 0,2% entre as meninas) e LSD ou chá de cogumelo (2% dos meninos e 1% das meninas).

• 14,5 anos foi a média de idade do primeiro consumo para cocaína e esti-mulantes tipo anfetamina (ETA).

Inalantes

• 16,2% dos meninos e 11% das meninas experimentaram inalantes alguma vez na vida. O padrão de consumo mais comum foi de um a cinco dias por mês.

• No ensino fundamental, os tipos de inalantes preferidos foram o esmalte e acetona (41,7%) e gasolina (38,4%). Já entre os estudantes do ensino médio, os mais comuns foram os inalantes ilegais: “lança” e “loló” (71,9%).

• 14 anos foi a idade média do primeiro consumo

• Entre meninos e meninas, 13,6% consu-miram pelo menos uma vez na vida

Maconha

• Cerca de 5% dos meninos fumaram a droga no mês anterior à pesquisa, contra 2,5% das meninas

• 16% dos alunos do ensino médio já utilizaram alguma vez na vida, contra 3,8% do ensino fundamental

• 14,5 anos foi a média de idade do primeiro consumo

• 10,7% consumiram pelo menos uma vez na vida

Cocaína, calmantes e anfetaminas

• Cerca de 3,2% dos meninos experimen-taram cocaína pelo menos uma vez na vida. Segundo o estudo, a droga parece

o órgão tem parceria com a secre-taria nacional de Políticas sobre Dro-gas (senad) no fornecimento de dados que auxiliam na definição das políticas antidrogas.

“há muitos anos, estamos batendo na tecla de que é preciso intensificar as políticas de combate ao uso das dro-gas lícitas, mas este é um quadro que não será revertido da noite para o dia”, admitiu.

a pesquisadora, porém, já conse-gue identificar avanços importantes. “o tabaco, por exemplo, vem perden-do espaço nos últimos anos, as pessoas estão procurando ajuda, e o mesmo co-meça a acontecer em relação ao álcool. o conceito de ‘se beber, não dirija’ está sendo intensificado e estamos ques-tionando também a propaganda. as expectativas para o futuro são muito promissoras”, finalizou.

Fonte: Agência Fapesp

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neo mondo - abril 2011 25

Marcio Thamos

N o início dos tempos, uma eterna primavera embalava o mundo todo e garantia o perfeito equi-

líbrio entre o frio e o calor. Pelos campos, espalhava-se o perfume delicado de flores purpurinas, e ao longe o canto alegre dos pássaros fazia as ramagens ressoar com harmonia. livres e satisfeitos, procriavam os animais. um vento leve e macio soprava a brisa suave e boa que brandamente ani-mava os brotos nascentes; e os frutos, sem medo de tempestades ou de geadas, ganha-vam força na chuva benfazeja com que o céu amorosamente fecundava a terra.

era, então, a idade de ouro, quando a vida se dava aos homens sem lhes cobrar preocupações, quando o sorriso e o afeto, a verdade e a justiça, a fartura e o bem-estar imperavam como regra natural e absoluta. a própria terra, por toda a parte, oferecia tudo de bom grado, sem precisar sofrer a ação de arados ou de foices. Forravam-se de trigo as campinas, enlourecendo-se as planí-cies até onde a vista pudesse alcançar; pelos vales abertos na paisagem, corriam, largos e abundantes, rios de vinho e rios de leite; e dos carvalhos duros, escorria o denso mel. as mãos humanas desconheciam qualquer necessidade de trabalho. nem mesmo a de-licada lã exigia maior cuidado, pois já nos prados os carneiros tingiam-se de vermelho e de dourado, exibindo o encanto festivo das cores em toda a sua naturalidade.

ignorando leis ou castigos, juízes ou justiceiros, cultivava-se espontaneamente a

Mitologia clássica:

Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas

junto ao Departamento de Linguística da UNESP-FCL/CAr,

credenciado no Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da mesma instituição. Coordenador do Grupo de Pesquisa LINCEU

– Visões da Antiguidade Clássica.E-mail: [email protected]

As Quatro Idadesboa-fé, a piedade e a retidão. não se cortava o pinheiro na floresta para em seguida ba-ter as trilhas moventes do mar. De além de suas praias ninguém tinha notícia. mura-lhas em torno das cidades não se viam nem eram requeridas: seguros estavam todos onde estivessem, quer fosse noite ou fosse dia. soldados e armas, exércitos e guerras nem como simples palavras existiam. a amizade era o sumo bem que a todos delei-tava; e de algum mal, por mínimo que fos-se, ninguém sabia. havia só o ócio puro e doce, que não suscitava esforços nem con-flitos. e os homens, numa vida feita apenas de beleza e de paz, desfrutavam do convívio ameno das próprias divindades.

Foi de Prata a idade seguinte, inferior à de ouro, no entanto, mais valiosa que a de Bronze. Por essa época, os homens começa-ram a tornar-se arrogantes e com frequên-cia desdenhavam dos deuses, acreditando-se donos do próprio destino. Júpiter, então, limitou a infindável primavera a um curto espaço de tempo, criando as outras esta-ções que se fizeram suceder: verão, outono e inverno. a humanidade precisou adaptar-se aos excessos do ar quente e aos rigores do vento gélido e teve que suportar a carên-cia de alimentos, pois a terra, embora ainda generosa, já não produzia o ano todo. Foi preciso abrigar-se em cavernas e aprender a cultivar as sementes que no solo se escon-diam. Pela primeira vez nos campos os bois gemeram puxando o peso do arado.

Veio depois a idade de Bronze, quando

surge no mundo uma geração guerreira, já afeita às armas, que se compraz no fragor das batalhas, mas não de todo vil e impie-dosa como a seguinte.

na idade de Ferro, já não resta ne-nhum nobre sentimento no coração dos homens. tudo é maldade e mentira. Virtude e respeito, honra e lealdade não têm qualquer valor. o crime e a perfídia tornam-se comuns; por toda a parte a violência e a cobiça reinam sem limites. afrontam-se os mares, atrás de riquezas estrangeiras. Guerras sangrentas explo-dem, e já não há lugar para a Justiça, que enfim foge assustada e ofendida para jun-to das demais divindades celestes, que há muito haviam abandonado a terra.

a humanidade ainda sonha com o re-torno da idade de ouro, que deverá suce-der finalmente à de Ferro. e o nascimento de cada criança no mundo mantém viva e renovada essa antiga esperança na memó-ria dos povos.

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neo mondo - abril 201126

o meio empresarial, dado o seu despertar para a importância da questão ecológica, vem se em-

penhando, ainda que não nos patama-res desejados, em apresentar soluções e alternativas para a proteção do nosso meio ambiente.

importante colaboração vem sendo prestada em iniciativas que merecem ser divulgadas como forma de incentivo a no-vas práticas do gênero, além do próprio reconhecimento que se deve render.

Deixando de lado as práticas mais comuns e elementares, mas, à evidência, não menos importantes, como reciclagem do lixo, capta-ção de energia solar e reúso da água, elencare-mos alguns exemplos de iniciativas inovado-ras, a serem seguidas e homenageadas:

começaremos citando a coelce, dis-tribuidora de energia da região nordeste, que desenvolveu um programa voltado

à baixa renda (ecoelce), incentivando a troca de lixo reciclável por descontos na conta de luz; o material levado pelos clientes até os locais credenciados é pe-sado e transformado em bônus na conta de energia elétrica. em 2008, o projeto foi destacado pela onu como uma das 10 ini-ciativas no mundo que estão ajudando a atingir os objetivos de Desenvolvimento do milênio.

o Walmart, por sua vez, desenvolveu um sabão em barra (topmax), produzido com óleo de cozinha separado pelos clien-tes, parceiros e funcionários. também con-seguiu fazer com que os seus fornecedores reduzissem suas embalagens, economizan-do recursos naturais. convenceu, ainda, fabricantes de produtos de limpeza a dimi-nuírem em 70% o fosfato nas fórmulas de seus produtos (banida em vários países, a substância é responsável por provocar nos

rios a chamada eutrofização – proliferação exagerada de algas, que consomem o oxigê-nio e provocam a morte de peixes).

Já a subsidiária brasileira da Bunge alimentos criou uma ferramenta que blo-queia automaticamente qualquer contrato de fazendas que estejam em situação irre-gular no ibama. além disso, todos os con-tratos de aquisição de produtos agrícolas têm cláusulas de rompimento unilateral no caso de descumprimento da legislação ambiental.

também o Grupo Pão de açúcar im-plantou o Programa caixa Verde, que possibilita o descarte imediato das em-balagens, pós venda ao consumidor, esti-mulando a reciclagem. Desde 2007, foram arrecadadas mais de 1 milhão de embala-gens, sendo mais de 600 mil em 2010 e hoje o programa se encontra implantado em 132 lojas.

BONS EXEMPLOS

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Dr. Marcos Lúcio BarretoPromotor de Justiça

do Meio Ambiente de São PauloE-mail: [email protected]

Dr. Marcos Lúcio Barreto

31 Neo Mondo - Março 2011

Dr. Marcos Lúcio BarretoPromotor de Justiça

do Meio Ambiente de São PauloE-mail: [email protected]

Dr. Marcos Lúcio Barreto

gências, sob pena de benefícios fiscais suspensos e multas altíssimas, que po-dem chegar a quase R$ 50 milhões, fi-xadas pela lei estadual nº 13.577/2009.

Esse recente diploma legal, a propósito, após iniciativa da CETESB, tornou obriga-tório o registro em cartório, na matrícula do imóvel, da existência de contaminação, mesmo na hipótese de recuperação, que também pode ser registrada, servindo como um alerta ao futuro comprador. Acrescenta-mos, inclusive, que, ainda que o titular da área se omita no registro da contaminação, a CETESB se encarrega de fazer a respectiva comunicação ao cartório.

Vale lembrar, também, por oportuno, que o adquirente do imóvel passa a ser le-

galmente responsável solidário, civil e ad-ministrativo, pela descontaminação.

Por outro lado, o que se verifica é que, cada vez mais, antigas áreas industriais estão sendo reaproveitadas para uso residencial.

Regiões que registram passado in-dustrial na cidade de São Paulo, como a Mooca, Barra Funda e Vila Leopoldina, e que agora despertam grande interesse do mercado imobiliário, por possuírem esta-ções de metrô e imensos terrenos livres ao longo da orla ferroviária, estão sendo especialmente monitoradas pela CETESB, que cobra da Prefeitura e das empresas responsáveis um plano de despoluição.

O custo do trabalho de descontami-nação do solo varia de R$ 300 a mais de

R$ 5 mil por tonelada de resíduo, depen-dendo do tipo de material contaminante e da tecnologia a ser empregada.

A técnica mais utilizada é a dessorção térmica, que implica na incineração do solo contaminado, principalmente quan-do se trata de material de elevada toxida-de, sendo que os equipamentos utilizados devem ser homologados pela CETESB. Empresas de grande porte normalmente possuem recursos suficientes para arcar com os custos da recuperação de uma área contaminada. O problema surge quando empresas de pequeno e médio porte não possuem esses recursos, transferindo à sociedade um perigoso passivo ambiental.

Atento a essa questão, a lei estadual 13.577/2009, aqui já referida, passou a prever que os novos empreendimentos com potencial de gerar contaminação, como contrapartida, devem reservar uma parte do investimento para o Fundo Es-tadual para Prevenção e Remediação de Áreas Contaminadas, cuja destinação é a recuperação de espaços poluídos. Outra preocupação que existe é a captação de águas subterrâneas contaminadas pelos novos empreendimentos imobiliários.

O uso contínuo de água com organo-clorados para banho, por exemplo, pode causar câncer e doenças neurológicas.

A descontaminação do lençol freático também é possível, apesar de se tratar de um processo longo.

Diante do quadro apresentado, enten-demos que houve um significativo avanço dos mecanismos de controle da questão aqui tratada, que, no entanto, em função da sua relevância, exigirá sempre renova-das e lapidares providências, além de um acompanhamento particularmente atento. Esse, seguramente, é um assunto do qual não podemos nos descuidar...

temos, ainda, a subsidiária brasileira da portuguesa eDo, holding de empresas de geração, distribuição e comercialização de energia elétrica, que promoveu uma seleção interna de 50 “embaixadores de sustentabilidade”, dentre os profissionais de todas as áreas e níveis hierárquicos, que serão responsáveis por liderar ações de ecoeficiência. Para os executivos da alta direção, os esforços vão além; eles são ava-liados com base em indicadores sociais e ambientais, além de financeiros – e suas remunerações variáveis estão atreladas a essa avaliação.

o itaú unibanco, igualmente, criou, há cerca de dois anos, um canal batizado de Banco de ideias sustentáveis, que incenti-va os funcionários a dar sugestões de no-vas estratégias ecoeficientes que possam ser adotadas. a iniciativa já resultou em mais de 2.000 propostas.

a marca de artigos esportivos Puma, da mesma maneira, passou a dobrar mais uma vez as peças de roupa que chegam ao mercado, reduzindo, assim, o tamanho das embalagens.

ao mesmo tempo, muitas empresas, como a Bm&F Bovespa, preocupadas com a sustentabilidade, estão preferindo traba-lhar com bikeboys, substituindo os servi-ços prestados pelos motoboys.

Finalmente, a unidade gaúcha, na ci-dade de montenegro, da subsidiária bra-sileira da chilena masisa, produtora de painéis de madeira, foi inaugurada em 23 de maio de 2009 com 11% de todo o inves-timento direcionado à sustentabilidade. a matriz energética da fábrica é 99% renová-vel, proveniente do reaproveitamento de resíduos como o pó e as cascas de madeira, que até então se transformavam em passi-vo ambiental. outra iniciativa de destaque

é o desenvolvimento de emulsão parafíni-ca (insumo utilizado para aumentar a re-sistência dos painéis de madeira à água) da reciclagem de embalagens longa vida. estima-se que 15 milhões desses exempla-res deixarão de ir para o lixo todos os anos (cada tonelada de emulsão produzida des-sa forma aproveita 10.000 embalagens).

Porque restrito o espaço disponível, essa apresentação é apenas uma peque-na parcela das diversas iniciativas que as empresas, cientes agora da relevância das práticas sustentáveis e das suas responsa-bilidades sociais, passaram a adotar.

observamos satisfeitos que aquilo que era marginal passou a ser conectado à es-tratégia, transformando a sustentabilida-de em oportunidade de negócios.

É também uma indicação do que mui-to ainda pode se fazer; os exemplos cita-dos revelam que espaço e capacidade para tanto não faltam.

saindo da vertente empresarial apre-sentada e, sabedores de que o reconhe-cimento é desencadeador de renovadas doses de estímulo, a impulsionar novas descobertas e iniciativas, finalizaremos rendendo nossas homenagens a dois jo-vens alunos da etec Getúlio Vargas em são Paulo, que produziram tinta, através do reaproveitamento de óleo de cozinha, e que foram, por isso, premiados na Feira Brasileira de ciências e engenharia, além dos acadêmicos da Fei, renato Figueiredo, lucas r. lamas e tatiana da silva, premia-dos no concurso eDP university challen-ge ao criarem um projeto que aproveita a circulação das pessoas que passam nas catracas do metrô e dos trens para trans-formar esse movimento em eletricidade.

a todos assim empenhados, nossos agradecimentos...

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M ais de 1.700 pessoas estive-ram reunidas por uma semana em Buenos aires (argentina)

motivadas para a discussão do envelhe-cimento e saúde das pessoas idosas da américa latina, no 6º congresso latino-americano e do caribe de Gerontologia e Geriatria, que aconteceu de 6 a 9 de abril. a mensagem que unificou todas as linhas e línguas de pesquisa foi da necessidade de as pessoas conjugarem o verbo enve-lhecer na primeira pessoa do singular, pois somente assim entenderemos o pro-cesso individual e deixaremos de temer ou repudiar esta fase daqueles que conse-guem alcançar a longevidade.

os temas foram divididos em duas grandes áreas: a geriatria, ou seja, aque-les que envolvem a medicina, na preven-ção e tratamento das doenças que podem acontecer ao longo da vida e se agravar no envelhecimento; e o da gerontologia, a área multidisciplinar que estuda o en-

velhecimento humano para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, seja na área legal, urbana, social, psicológica, físi-ca, entre outras.

o evento de abertura homenageou médicos vinculados a sociedade argen-tina de Gerontologia e Geriatria (saGG), que completou 60 anos de fundação nes-te ano. hugo alberto schifis, presidente da sociedade, num misto de quebra de protocolo com informalidade, abriu os microfones para as autoridades presentes na solenidade do dia 6 de abril, no au-ditório do Panamericano Buenos aires hotel e resort.

o presidente mundial da associação internacional de Gerontologia e Geriatria (iaGG), Bruno Vellas, da França, em um esforçado espanhol, prestou contas das ati-vidades que vêm sendo desenvolvidas pela instituição em todos os continentes, espe-cialmente na qualificação profissional dos geriatras. o presidente eleito da coreia,

heung Bom cha, convidou todos para es-tarem reunidos no 20º congresso mundial da iaGG que ocorrerá de 23 a 27 de junho de 2013 em seul. todos os congressistas receberam um delicado marcador de pági-na com o símbolo do i-ching banhado em ouro, mostrando que a coreia investe na qualidade do próximo encontro mundial.

COMLAT ESPECIALIZA E UNIFICA VOZES LATINAS

Durante três anos como presidente do comlat/iaGG – comitê latino-americano e do caribe da associação in-ternacional de Geriatria e Gerontologia, o colombiano Fernando Gómez concen-trou seus esforços em realizar uma série de atividades que permitiram dissemi-nar e compartilhar conhecimentos e ex-periências de toda a região, estimulando a investigação gerontológica, e interatu-ar com outros associados internacionais e intergovernamentais, para o desenvol-vimento de diversas ações.

além de realizar o V congresso lati-no-americano e do caribe em Gerontolo-gia e Geriatria em cartagena das índias, em abril de 2008, organizaram e partici-param do congresso mundial em Paris, no ano de 2009, com a presença de 2.500 pes-quisadores, cujo destaque foi para a parti-cipação do Brasil, com maior número de delegados e expositores com comunicação oral e pôsteres.

Fernando Gómez destacou ainda a rea-lização de cinco fóruns de envelhecimento ativo realizados no uruguai, argentina, colômbia e chile e um livro que está sen-do finalizado com as conferências e resu-mos apresentados.

outro importante avanço são as par-ticipações na rede Global de investigação em saúde e envelhecimento iaGG-oms, cujo objetivo é selecionar centros de in-vestigação em todo o mundo, para formar uma grande rede e ampliar os 29 centros atuais em 500.

Conjugar o verbo ENVELHECER na primeira pessoa do singular

28 neo mondo - abril 2011

O argentino José Jauregui (presidente eleito do COMLAT), Rosane Martins e o colombiano Fernando Gómez (ex-presidente do COMLAT)

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neo mondo - abril 2011 29

Rosane Magaly Martins

Rosane Magaly Martins, escritora, advogada pós-graduada em Direito

Civil, com especialização em Mediação de Conflitos pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Pós-graduada em

Gerontologia (FURB/2005) e Gerencia em Saúde para Adultos Maiores (OPS/

México) com formação docente em Gerontologia (Comlat/Colômbia). Fun-dadora e presidente da ONG Instituto

AME SUAS RUGAS, participando desde 2007 na Europa e na América Latina de congressos, cursos e especialização que envolve o tema. Organiza a publicação da coleção de livros “Ame suas rugas”

lançados no Brasil e em Portugal.

E-mail: [email protected]: www.rosanemartins.com

por governos e instituições. a proporção de pessoas com mais de 60 anos triplicará do ano 2000 para 2050, onde teremos um para quatro pessoas nesta faixa etária. haverá mais pessoas acima dos 75 anos em 2050, cerca de 9% das pessoas idosas.

constata-se que o envelhecimento aumenta a demanda por serviços de assis-tência e que as mulheres não querem mais continuar a assumir as funções de cuidado com as pessoas idosas e que as demandas para formação de serviços de apoio não encontram respaldo popular.

É necessário ainda, em muitos países, a promulgação de leis que protejam exclu-sivamente as pessoas idosas, melhorar os recursos de infraestrutura institucional disponível, medir a eficácia de leis, políti-cas e programas voltados ao idoso, quan-do implementados, e tornar mais efetiva a intervenção e participação da pessoa idosa nos processos normativos.

as onGs e associações civis foram consideradas instituições fundamentais e estratégicas e que devem atuar em união com universidades e institutos de saúde, com o intuito de somar esforços e evitar duplicação de recursos e ações.

há arranjos significativos já implemen-tados na américa latina, mas ainda há muito o que caminhar para proporcionar a todas as pessoas idosas educação para a saúde e autocuidado de toda a população.

outros grandes desafios apresentados aos congressistas foram:• discutir a forma de financiamento de

aposentadorias e pensões e melhorar as coberturas;

• melhorar a atenção à saúde a ser pres-tada por profissionais especializados;

• programar as adaptações em infraes-trutura necessárias às pessoas idosas;

• criar mecanismos de apoio familiar e comunitário para os serviços necessá-rios ao amparo das pessoas idosas;

• ampliar a proteção social às pessoas idosas em toda a américa latina.

DOCENTES LATINO-AMERICANOS DE GERONTOLOGIA

a diretoria do comlat também inovou ao implementar importante projeto de capa-citação, que se propôs a formar professores de gerontologia para a américa latina, em parceria com a associação colombiana de Gerontologia e associação Pan-americana de saúde, que aconteceu em manizales, em maio de 2009. o curso teve a participação de 70 delegados de 14 países, dos quais do Brasil somente tulia Garcia (Fortaleza-ce) e rosane martins (Florianópolis-sc) foram as selecionadas. o tema central da primeira capacitação foram as teorias sociais e psico-lógicas do envelhecimento. o segundo curso de capacitação acontecerá agora em setem-bro, em Paipa, colômbia, com o aprofunda-mento da discussão em educação multidis-ciplinar, transdisciplinar e multidisciplinar na Gerontologia.

haverá participação latina ainda no cur-so de envelhecimento que acontecerá em Barcelona (espanha) de 21 de junho a 1º de julho e no 4º congresso Pan-americano de Gerontologia e Geriatria que ocorre de 21 a 23 de outubro, em ottawa (canadá). a partir de agora a responsabilidade do cargo é do argentino José ricardo Jauregui.

DESAFIOS PARA UM ENVELHECIMENTO BEM-SUCEDIDO

Várias mesas discutiram os desafios a serem enfrentados para que a américa lati-na e seus 22 países possam ter um envelhe-cimento bem-sucedido. o envelhecimento se apresenta mais rápido na américa latina que nos países desenvolvidos, o que deixa mais evidente a desigualdade social entre os adultos que envelhecem, a baixa cobertura de seguridade social e baixa qualidade dos sistemas de proteção social implementados.

os expositores destacaram que em 2025 seremos 57 milhões de pessoas com idade acima dos 60 anos, que somados aos 41 mi-lhões de pessoas idosas de 2000 apresentam números dramáticos a serem administrados

RESUMO

• 1.700 participantes• 22 países• 19 cursos• 7 simpósios• 8 mesas redondas• 100 posteres• Fórum de Gerontoneuropsiquiatria• 7ª Edição do Fórum Latino-America-

no de Envelhecimento Ativo

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Número de pessoas com mais de 60 anos triplicará até 2050:

desafio para governos e instituições

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neo mondo - abril 201130

em 10 de fevereiro de 2011, inezita Barroso escreveu, de próprio punho, que pobres são as crianças que “não

viveram na época em que são Paulo era a cidade mais linda e mais querida do mun-do, com seus brinquedos de roda, cantados e representados, com seus lampiões de gás e suas pizzas vendidas em latões redondos, com seus circos e tantas maravilhas mais”.

saudosismo barato? se fosse saudo-sismo, seria dos mais ricos pela visão da metrópole que se firmava e afirma-va. muito do que ela própria disse está no livro a menina inezita Barroso. a meu ver - e ler -, obrigatório para quem se interessar por cultura, história, mú-sica, folclore. em poucas palavras, uma lição de vida.

Disposição para bagunçar em 4 de março de 1925, ela – com o

tempo reconhecida como uma das mais completas intérpretes da música popular brasileira – nasceu na Barra Funda, bairro paulistano, assim como o Brás. na época, “o Brás ficava distante do centro, o centro ficava distante da Barra Funda e a Barra Funda ficava distante de tudo”.

Cultura

Delícia de livro com gosto de quero mais

Incansável, aos 86 anos, Inezita é lição de vida; Editora Cortez mostra a origem da artista Gabriel Arcanjo Nogueira

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31 neo mondo - abril 2011

Batizada ignez magdalena aranha de lima, a menina chegou para quebrar o silêncio da casa e virar orgulho dos pais, inez e seu olintho. se precisou da ajuda da parteira miquelina para vir ao mundo, a “alegria estampada no rostinho corado e sadio e a salutar disposição para bagunçar” a fizeram ganhar o mundo: da cultura, da música, do folclore.

incansável, aos 86 anos, não é para menos. Desde sempre, a vida de inezita fervilhava, marcada com tantos nomes expressivos da vida intelectual e artística da cidade – mário de andrade e Geraldo Filme, entre eles.

a menina ignez virou Zitinha, que “cada vez mais ganhava fama no campo das peraltices... tinha uma saúde de ferro e era muito inquieta”.

também pudera! nasceu em dia de carnaval (em que os abastados desfilavam em corsos, e os pobres pulavam em grupos nos “cordões”), sob o impacto dos moder-nistas de 1922, mas embalada pelas dia-bruras do palhaço Piolin e inspirada por monteiro lobato, para quem “a arte tem de ser simples e de estar perto do povo”.

Canções, bichos e históriase as canções? ah, sim, as canções:

lampião de gás é dessa época; Êh são Paulo

e são Paulo da garoa, também. “havia ca-valos e carros de boi a granel; carroças e charretes às pencas”...

Desde os 4 anos, Zitinha “parecia que-rer saber de tudo. e perguntava, pergunta-va, e perguntava... não dava sossego a nin-guém”. adorava piqueniques, para levar os bichinhos de pelúcia, enturmar-se com passarinhos, galos, galinhas, patos, araras. também gostava de brincar com cachor-ros vira-latas, gatos, formigas, tartarugas e... centopeias.

“onde houvesse bichinhos, Zitinha lá estava correndo à toa atrás de todos eles”... passarinhos também: “saía correndo atrás deles rindo e gargalhando toda feliz. Difí-cil era não se contagiar com as gargalhadas dela”. Que o diga o professor mainard!

Que lhe contava histórias – aí Zitinha ficava em silêncio – e ensinava antigas cantigas de roda que os pais adoravam vê-la cantar.

aos 7 - “vaidosa e se exibindo cada dia mais ao espelho” -, alfabetizada, tomou gosto pela leitura: gibis, livros de montei-ro lobato, entre outros.

nas férias, lugar para ir não faltava. “Podia passar dias nas fazendas da famí-lia”. era quando se entretinha ao “ouvir os peões cantarem um monte de modas ao som de violas”.

até que um dia convenceu um deles a deixar que pegasse numa delas. “cantou direi-tinho a moda Boi amarelinho, um clássico”.

Bicicleta, bola e violãoPassou pela fase dos patins, da bicicleta

com desenvoltura; pela do futebol com bola de couro, que ela mesma comprou. “e não tinha quem a segurasse no campo ou fora de campo.”

ouvia no gramofone do pai noel rosa, chico alves, Vicente celestino e também torres & Florêncio, Zico Dias & sorocabinha.

Decidiu que iria ser artista. aprendeu a tocar violão, às escondidas. os pais vi-ram que o futuro da filha estava na mú-sica. “surgiu uma das maiores estrelas da música popular brasileira” - aos 15 anos.

Quem conta, em inspirada parceria, no livro a menina inezita Barroso, são o jor-nalista assis Ângelo e o xilogravador ciro Fernandes. texto e ilustração caminham juntos, harmoniosos, leves, convidativos à degustação de uma garfada só.

livro da editora cortez, classificado como infanto-juvenil, faz bem a pessoas de todas as idades. Duvido quem discorde!

inezita - numa das páginas - fala dela mesma: corinthiana, amante de animais e do folclore; ambientada no meio artísti-co - foi regida por Villa-lobos! Quer saber quando e onde? só lendo o livro.

Corinthiana, amante de animais e do folclore, Inezita aprendeu cedo a lição de

Lobato: “a arte tem de ser simples e de estar perto do povo”

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32 neo mondo - abril 2011

Especial - Fórum Mundial

ram a que vieram diante de um público ávido por conhecimento socioambien-tal e jornalistas em busca de informa-ção qualificada.

arnold schwarzenegger, por exemplo, mostrou que quando se trata de susten-tabilidade tamanho é, sim, documento. Quem já viveu nas telas “o exterminador

L ideranças empresariais, políticas, intelectuais, culturais e acadêmico-científicas participaram com sã cons-

ciência ambiental do 2º Fórum mundial de sustentabilidade (Fms), entre 24 e 26 de março, no hotel tropical, em manaus (am).

estrelas de várias grandezas, cada uma delas em sua especialidade, disse-

do futuro” e governou o estado da ca-lifórnia (eua), agora se sai bem à frente da causa ambiental. não apenas na teoria, mas na prática: breve, os californianos se orgulharão de ter sem seu território a maior estação solar do mundo.

estávamos apenas nos trabalhos iniciais do Fórum.

com informações da cDn comunicação corporativa e jornal a crítica, de manaus; fotos uehara Fotografia - Divulgação Fórum de sustentabilidade / image.net

Manaus foi, de novo, a capital do Planeta, como definiu NEO MONDO em 2010

Gabriel Arcanjo Nogueira *

Um tríduo pela SUSTENTABILIDADE

Hotel Tropical, em Manaus, 24 de março: o 2º Fórum de Sustentabilidade

estava apenas no seu primeiro dia

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se um astro de hollywood foi a atra-ção no primeiro dia do evento, coube a um ex-ocupante da casa Branca, na con-dição de estrela política mais aguardada em manaus, dar o tom no dia de encerra-

neo mondo - abril 2011 33

o tema principal do Fórum: sustenta-bilidade econômica, ambiental e social da amazônia e do Planeta foi desenvolvido a caráter pela seleção de notáveis, em pales-tras e debates concorridos. o ex-presidente dos estados unidos, Bill clinton, fechou com chave de ouro, no sábado (26), a sequência de exposições, aberta na quinta-feira (24) pelo ex-governador da califórnia, arnold schwar-zenegger, passando, na sexta (25) pelo fun-dador e presidente do Grupo Virgin, richard Branson. três dos mais representativos espe-cialistas em suas áreas de atuação.

Seleção de notáveis garante o sucessoDesafios relacionados à sustentabilidade econômica,

social e ambiental compõem a agenda de debates

não é sem motivo que à frente do es-tratégico encontro internacional estão a se-minars e o Grupo de líderes empresariais (lide). a seminars organiza eventos sem-pre com personalidades relevantes, nacio-nais e internacionais, que sejam autorida-des em suas áreas de atuação.

o lide, em 7 anos de vida, se afigura “criança prodígio” porque cresceu 700%. hoje são 750 empresas associadas (com os braços regionais), que representam 46% do PiB privado nacional.

Para João Doria Jr., presidente do lide, a segunda edição do Fórum consa-gra o acerto da iniciativa e coloca de vez o Brasil no cenário socioambiental com re-ais chances de ser ouvido e seguido pelas nações que, de fato, tenham compromis-so com a sustentabilidade. “Vamos criar um compromisso político e empresarial com o desenvolvimento sustentável do planeta”, disse, às vésperas do evento.

João Doria Jr. e Bill Clinton: liderança brasileira e força empresarial do primeiro reconhecidas pelo segundo: “o mundo precisa de vocês”

mento. Bill clinton não economizou pala-vras para conclamar o Brasil a assumir o papel de liderança em temas ambientais – não sem reconhecer a importância da forte presença de empresários no Fórum.

Richard Branson (c) trouxe à mesa de debates a sua guerra contra o carbono e o alerta: quem descartar sustentabilidade corre riscos

em meio a tanta estrela internacio-nal, brilhou a do brasileiro Fabio Feld-mann, aplaudido de pé pelo público que lotou o auditório do hotel tropical na jornada de encerramento dos trabalhos. sua palestra foi uma das que despertou maior interesse, ao defender a neces-sidade de uma política de sustentabi-lidade para o País, alicerçada na vasta experiência acumulada em décadas de estudos, pesquisas, debates e iniciativas nos campos político-administrativo e do terceiro setor.

‘Povo sabe preservar’não faltou representatividade ao meio

político regional, a exemplo do governa-dor do amazonas, omar aziz; do senador eduardo Braga; e do prefeito de manaus, amazonino mendes. na abertura do even-to, o governador ressaltou:

“o povo amazonense sabe como preservar, está consciente de que é importante manter a floresta em pé”. e sobre o papel do estado esclareceu: “nós só queremos ajudar para fazer chegar as soluções. É um apelo políti-

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especial - Amazônia

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co, uma convocação, para que possa-mos ajudar este povo ordeiro, compre-ensivo, cumpridor da lei”.

omar lamentou que a economia ba-seada em transações de crédito de car-bono tenha avançado pouco, dando a entender que a paciência do povo tem um limite: “a nossa paciência tem sido testada por muitos anos”.

mas não só de lamúrias foi o discur-so do governador, ao citar o que chamou de “exemplo que estamos abertos para receber ajuda”. o grupo Pão de açúcar fechou parceria com o estado para viabi-lizar uma indústria de pescado em ma-nacapuru, a 80 quilômetros de manaus.

Sintonia empresarialDo lado empresarial a representativi-

dade não foi menor, tendo à frente dos trabalhos João Doria Jr, presidente do lide. “Vamos criar um compromisso polí-tico e empresarial com o desenvolvimen-to sustentável do planeta”, disse.

marcelo Politi, diretor-geral da semi-nars, afirmou: “É de extrema importância a discussão sobre a proteção ambiental e seus valores sustentáveis”.

e o presidente da maior entreteni-mento, sergio Waib, complementou: “o objetivo é demonstrar o valor econômico e ambiental da floresta e suas implicações para a região e o mundo”.

Gestão socioambiental a seminars preparou um plano de

gestão socioambiental para o evento, que incluiu priorizar o consumo de pro-dutos e alimentos da região, a redução do consumo de materiais, a utilização de itens de baixo impacto e com proce-dência comprovada, bem como a gestão de resíduos sólidos com incentivo a co-operativas locais. além disso, firmou-se compromisso com a quantificação e com-pensação do impacto ambiental (gases de efeito estufa) de todas as atividades antes, durante e depois do evento, por meio da aquisição de créditos de carbo-no provenientes de projetos ambientais brasileiros certificados, obedecendo-se os critérios definidos no Programa even-to neutro (www.eventoneutro.com.br).

o projeto escolhido pela seminars para compensar este impacto ambiental foi o Projeto de Desenvolvimento sus-tentável do Juma, da Fundação amazo-nas sustentável.

no encerramento do 2º Fórum, a ilu-minação interna do teatro amazonas foi desligada, durante uma hora, em adesão à hora do Planeta: ação mundial da WWF, organização não-governamental voltada para a conservação da natureza, com o intuito de chamar a atenção para o aque-cimento global.

Parcerias empresas dos mais diversos setores

marcaram presença também na viabiliza-ção do evento, que teve a nestlé como a patrocinadora máster. também atende-ram a esse chamado ambiental: Bradesco, coca-cola, sabesp, semp toshiba e hrt.

itautec, honda, natura, Procter & Gam-ble e Videolar foram as apoiadoras do pro-jeto, enquanto Basf, carrier, e.m.s., Grupo Pão de açúcar, Faber castell, KPmG, lG, mapfre seguros, nokia, nossa caixa De-senvolvimento, oi e Yamaha entraram com cotas de participação; Dafra, harley David-son, Whrilpool, Kasinski, Kawasaki e albert einstein atuaram na colaboração.

avis, Burti, cDn, central de eventos, chris ayrosa Projetos cenográficos, Décor Books, Dedic GPti, eccaplan, enc inte-rativa, Faber castell, Getty images, lua nova, mapfre seguros, oi, Pr newswire, Prosegur, tam, tropical manaus e Wizard foram fornecedores oficiais da iniciativa.

a crítica, Band news, rádio Bandei-rantes am, Brasil econômico, o estado de s.Paulo, Propmark, istoÉ e istoÉ Dinhei-ro, Época, Época negócios, terra, rede re-cord e elemídia foram os midia partners.

the economist, a principal publicação sobre economia do mundo, e a cnn foram os Global midia Partners.

o Fórum contou com o apoio institu-cional do governo do amazonas e da or-ganização das nações unidas (por meio do instituto humanitare e do projeto interna-cional Year of Forests 2011).

GBc Brasil, Fundação amazonas sus-tentável, instituto terra de Preservação ambiental (iPta), sos mata atlântica e Panetearth foram os parceiros estratégicos.

Especial - Fórum Mundial

Governador Omar e primeira-dama, com Bill Clinton: anfitriões formaram no time de parcerias que viabilizaram o evento de repercussão mundial

Sergio Waib e Schwarzenegger, em sintonia: valor da floresta e suas

implicações para a região amazônica e para o mundo

Marcelo Politi ressalta a importância de discutir a proteção ambiental e seus valores sustentáveis

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neo mondo - setembro 2008 A

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36 neo mondo - april 2011

Special - International Forum

their field of specialty, said they came over to speak to an audience eager for and social-environmental knowledge, as well as jour-nalists in search of qualified information.

arnold schwarzenegger, for example, showed that when it comes to sustaina-bility size does matter. For someone who has already played the role of “termina-

B usiness, political, intellectual, cul-tural, and academic-scientific lea-ders participated, with sound en-

vironmental awareness, in the 2nd Global sustainability Forum (Fms), from the 24th to teh 26th of march at the ‘hotel tropical’ in manaus (am).

stars of different magnitudes, each in

tor” on screen and governed the state of california (usa), he is now doing very well supporting the environmental cause. not only in theory, but also in practice: soon californians will be proud to have the largest solar energy plant in the world.

We were only witnessing in the star-ting agenda of the Forum.

information from cDn corporate communications and ‘a crítica´ newspaper, from manaus; photos by ‘uehara Photo´ - sustainability Forum Pubicity / image.net

Manaus was, once again, the capital of the Planet, as defined by NEO MONDO in 2010

Gabriel Arcanjo Nogueira *

SUSTAINABILITYTriduum

Manaus, once again, was the capital of the world: first day of the

2nd Sustainability Forum

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if a hollywood star was the main attrac-tion of the first day of the event, it was time for a former occupant of the White house to shine during the closing ceremony as the most anticipated political star in manaus.

neo mondo - april 2011 37

the main theme of the Forum: ‘eco-nomic, environmental, and social sustaina-bility, the amazon and the earth’ was de-veloped by a team of remarkable figures during well-attended lectures and deba-tes. Former u.s. president Bill clinton’s performance during the closing ceremony on saturday (26) was outstanding, as was the opening event headed by former Go-vernor of california, arnold schwarzene-gger, on thursday (24), and the remarka-ble presence of founder and chairman of ‘Virgin’, richard Branson, on Friday (25)

Stars and prominent entrepreneurs ensured event’s success

Challenges related to economic, social, and environmental sustainability made up the agenda of the debates

it is no coincidence that ‘seminars´ and Business leadership Group ‘lide´ hea-ded this strategic international gathering. ‘seminars´ has always organized events with relevant national and international personalities who are recognized experts in their fields of actuation.

‘lide’, in its 7 years of existence, is considered a “prodigy” in light of its 700% growth. today there are 750 member com-panies (with regional subsidiaries), repre-senting 46% of the private national GDP.

For João Doria Jr., chairman of ‘lide’, the second edition of the Forum confir-ms the correctness of the initiative and further places Brazil in the socio-envi-ronmental scenario with real chances of being heard and followed by nations that are truly committed to sustainability. “We will create a political and corporate com-mitment to sustainably develop the pla-net”, he said on the eve of the event.

João Doria Jr. and Bill Clinton: Brazilian leadership and entrepreneurial strength of the former acknowledged by the latter: “The world needs you”

Bill clinton did not skimp on words to call on Brazil to take on a leadership role on environmental issues - not without ackno-wledging the importance of the strong pre-sence of the managers in the board.

Richard Branson (c) brought a warning to the table of discussions about the war against carbon: those who neglect sustainability are at risk

– three of the most representative experts in their fields of actuation.

amid such international stars, sho-ne Brazilian Fabio Feldmann, receiving a standing ovation from the audience that packed the auditorium of ‘hotel tropical’ on the closing day of the works. his lectu-re aroused significant interest in defending the need for a sustainability policy for the country, based on the vast experience ac-cumulated in decades of studies, surveys, debates, and initiatives in the political-ad-ministrative and third sector areas.

‘People know how to preserve’there was no shortage of regional poli-

tical-environment representativeness, such as the governor of amazonas, omar aziz, senator eduardo Braga and the mayor of manaus, amazonino mendes. at the ope-ning of the event the governor said: “People know how to preserve and are aware the importance of keeping the forest alive”. as for the role of the state, he explained: “We just want to help people find solutions. it is a political appeal, a call to help this orderly, compassionate, and law-abiding people”.

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especial - Amazônia

38 neo mondo - april 2011

omar regrets that the economy based on carbon credit transactions has made little progress, implying that people’s pa-tience has a limit. “our patience has been tested for many years”.

But the governor’s speech wasn’t only mournful; he said “we’re setting an example by being open to receiving help”. the `Pão de açucar´ Group signed a part-nership deal with the state to foster the implementation of a fishing industry in manacapuru, 80 kilometers from manaus.

Business attunementon the business side, representati-

veness was not smaller, headed by the works of João Doria Jr., president of ‘lide’. “We’ll create a political and corporate com-mitment to the sustainable development of the planet”, he said.

marcelo Politi, General manager of ‘seminars’, said: “it is extremely impor-tant to discuss environmental protection and sustainable values”.

and President of ‘maior entreteni-mento’, sergio Waib, added: “the aim is to demonstrate the economic and envi-ronmental value of forests and its implica-tions for the region and the world”.

Social-environmental management‘seminars’ prepared a social manage-

ment plan for the event, which included prioritizing the consumption of regional products and foods, the reduction of ma-terial consumption, the use of low-impact items of proven, legal origin, as well as solid waste management to encourage local recycling cooperative organizations. Furthermore, a commitment to the quan-tification and compensation of environ-mental impact (greenhouse gases) was formalized, encompassing all the above-mentioned activities, during and after the event, by means of purchasing carbon cre-dits from environmentally certified Brazi-lian projects, in compliance with the cri-teria defined in ‘Program evento neutro’ (www.eventoneutro.com.br).

the project chosen by ‘seminars’ to make up for environmental impacts was the ‘Juma’ sustainable Development Pro-ject, from the ‘amazonas sustentável’ Foundation.

at the end of the 2nd Forum, the internal lighting of the ‘amazonas’ opera house was shut down for an hour, in support of earth hour: a global initiative fostered by WWF – a nongovernmental organization dedicated to the preservation of nature –, in order to draw attention to global warming.

Partnershipscompanies from various sectors

also made the event feasible, having as main sponsor ‘nestlé’. ‘Bradesco’, coca-

cola, ‘sabesp’, semp toshiba, and ‘hrt’ also financially supported the environ-mental gathering.

‘itautec’, honda, ‘natura’, Procter & Gamble, and ‘Videolar’ supported the pro-ject, while BasF, carrier, ems, the ‘Pão de açúcar’ Group, Faber castell, KPmG, lG, ‘mapfre seguros’, nokia, ‘nossa cai-xa’ Development, ‘oi’, and Yamaha beca-me member companies; ‘Dafra’, harley Davidson, Whrilpool, Kasinski, Kawa-saki and albert einstein also contributed to the event.

avis, ‘Burti’, cDn, ‘central de even-tos’, ‘chris ayrosa’ scenographic Projects, ‘Décor Books’, ‘Dedic’ GPti, ‘eccaplan’, ‘enc interactive’, Faber castell, ‘Getty’ images, new moon, ‘mapfre seguros’, ‘oi’, Pr newswire, ‘Prosegur’, tam, ‘tropical manaus’, and ‘Wizard’ languages were the official suppliers of the initiative.

‘a crítica’, ‘Band’ news, ‘Bandeirantes’ am radio, ‘Brasil econômico’, ‘o estado de s. Paulo’, ‘Propmark’, ‘istoÉ’ and ‘istoÉ Dinheiro’, time, time Business, ‘rede ter-ra’, ‘rede record’ and ‘elemídia’ were the media partners.

the economist, the leading publica-tion on the world economy, and cnn, were the Global media Partners.

the Forum counted on institutional support from the government of amazo-nas and the united nations (through the ‘humanitare’ institute and the internatio-nal Forests Project of 2011).

‘GBc Brasil’, the ‘amazonas susten-tável’ Foundation, the ‘terra’ institute of environmental Preservation (iPta), ‘sos mata atlântica’ and ‘Panetearth’ were stra-tegic partners.

Special - International Forum

Governor Aziz and First Lady with Bill Clinton: hosts put together the team of partners that made the globally highlighted event possible

Sergio Waib and Schwarzenegger on the same wavelength: the value of forests

and their impact on the Amazon region and the world

Marcelo Politi highlights the importance of addressing environmental protection and sustainable values

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neo mondo - setembro 2008 A

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40 neo mondo - abril 2011

Especial - Fórum Mundial

Parceiros no cinema - terminator, em 1984; terminator 2, em 1991 – passados 20 anos, ambos destacaram o papel de lideran-ça do Brasil no debate internacional sobre o desenvolvimento de energias alternativas. Para o cineasta, o Brasil tem-se colocado de forma única no cenário mundial como o grande líder para encontrar soluções de sustentabilidade. “tudo o que o Brasil fizer na área ambiental será a linha-mestra para outros países”, afirmou. Grande estrela da edição inaugural do Fórum, em 2010, ca-meron acredita que crescimento econômico e desenvolvimento de novas energias reno-váveis são temas intimamente ligados.

ao admitir que os estados unidos não conseguem desenvolver uma política de energias sustentáveis porque “democratas e republicanos” estão sempre brigando, o ex-governador não se restringiu ao aspecto crítico e salientou o que de fato interessa.

o ex-governador da califórnia, ar-nold schwarzenegger, na aber-tura dos trabalhos em manaus,

defendeu a necessidade de haver maior entendimento político, para que a conti-nuidade de ações se efetive. em entrevis-ta coletiva para 170 jornalistas, ao lado do cineasta James cameron, ao falar so-bre o mau uso dos combustíveis fósseis no passado, schwarzenegger ressaltou a importância da utilização de fontes alter-nativas de energia. “nós temos chance de utilizar energias alternativas, como a eólica, a solar, o etanol e a biomassa. a questão é como fazer isso cuidando tam-bém dos animais e pessoas envolvidas”, afirmou. ele defendeu a cooperação en-tre os países na busca de formas susten-táveis de energia. “Quando o assunto é meio ambiente, precisamos ser bastante inclusivos”, disse.

“nós fomos muito bem-sucedidos com os renováveis, muito tempo atrás, durante o governo de Jimmy carter. nos anos 80, o go-verno federal não deu continuidade a proje-tos importantes, mas a califórnia seguiu em frente”, disse. “Quando assumi o governo (do estado), em 2003, estabelecemos a meta de 20% de energia renovável até 2017; con-seguimos atingir essa marca em 2010.”

Bem-vinda ironia! Quem já encarnou “o exterminador do futuro”, por duas vezes, agora anuncia que a califórnia constrói a maior estação de energia solar do mundo.

“Sem medo”em sua palestra de cerca de uma hora,

schwarzenegger criticou ambientalistas que “causam medo” ao referir-se aos riscos das mudanças climáticas e apontou mudanças nos discursos para convencer as pessoas a se preocupar mais com o aquecimento global.

Ex-governador da Califórnia reconhece liderança brasileira em questões ambientais

Gabriel Arcanjo Nogueira

Schwarzenegger defende cooperação e continuidade

Schwarzenegger: “democratas e republicanos” não se entendem,

mas Califórnia antecipa meta e constrói estação solar recorde

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“É necessário pensar diferente sobre sustentabilidade. somos todos ambienta-listas, temos paixão sobre o assunto. mas medo e culpa não são sustentáveis. Preci-samos de uma abordagem mais dinâmica. as pessoas precisam acreditar (nas amea-ças climáticas) e ver que a esperança ainda vive. as pessoas precisam de uma nova versão”, disse.

sobre as leis ambientais e os empreen-dimentos de energia sustentável aplicados

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James Cameron, desde este Fórum, passa a se chamar também Kapremp-Ti, nome que lhe foi dado pelo cacique Kayapó, Raoni Txu-carramãe. Algo como grande dono dos animais da mata, conforme apurou NEO MONDO.

Na coletiva à imprensa, Cameron falou de seus projetos ambientais e mostrou pre-ocupação com o que acontece na construção da hidrelétrica de Belo Monte (PA). “Eu tenho três projetos: fazer dois novos filmes da série Avatar, nos próximos cinco anos; fazer docu-mentários sobre sustentabilidade e energia e me dedicar mais aos assuntos de meio am-biente e indígenas no Brasil”, disse.

Para o cineasta, existe uma crise humanitá-ria que se observa na usina de Belo Monte, no rio Xingu, onde indígenas e ribeirinhos são ex-pulsos de suas terras. Para ele, trata-se de uma das mais graves crises da Amazônia, que pre-tende abordar em seus documentários e filmes. Especialmente em Avatar, no que se refere à luta dos povos da floresta pela sustentabilidade.

“Devemos pensar em projetos de energia com mais sustentabilidade e diversidade de tecnologias. Tem que ser algo para um milê-nio, não para 20, 30 ou 50 anos de desenvol-

Nome indígena e humildadevimento sustentável”. O cineasta defendeu que se aproveite melhor a energia solar no Brasil, bem como as derivadas de biocombus-tíveis, biomassas e eólica.

Não tem como a fama subir à cabeça de Cameron, mas sobram-lhe carisma e humil-dade, como quando se postou ao fundo do lotado auditório do Hotel Tropical numa das

na califórnia, na época em que foi governa-dor, foi muito claro: “a razão por que vence-mos não é porque falamos sobre mudanças climáticas globais. tínhamos argumentos. as pessoas entenderam que as nossas leis de meio ambiente são boas para emprego e para saúde dos cidadãos. e provamos que republicanos e democratas podem traba-lhar juntos”, disse o ex-governador.

ele destacou a necessidade de mudar a ordem mundial de energia e a necessida-

de de se criar “empregos para melhorar o meio ambiente”. “o meu ponto não é de-bater a ciência, mas tomar atitude agora. Quando falamos sobre agir é porque es-tamos no momento de superação. todos discutem se devemos fechar as fábricas de energia. Devemos utilizar, mas não cons-truir outra”, afirmou.

e foi direto ao ponto: já que os esta-dos unidos não possuem um projeto de “energia verdadeira”, o que têm de fazer “é simples: seguir o exemplo da califórnia”.

na quarta-feira (23), schwarzenegger e James cameron sobrevoaram o rio Xingu e conversaram com índios em altamira, no Pará. eles também se encontraram com o cacique raoni, líder dos Kayapós. mas o ator foi econômico com os jornalistas: “Foi uma visita muito interessante, descendo e subindo o rio, na qual pudemos contar com a ajuda de especialistas brasileiros que explicaram todas as questões relacio-nadas à floresta”.

a abertura oficial do Fórum teve as presenças do governador do amazonas, omar aziz; do senador eduardo Braga; do prefeito de manaus, amazonino mendes; e de líderes empresariais.

palestras, e sua presença era reclamada lá na frente, entre os notáveis. Assim que foi localizado e convidado para se deslocar até o devido lugar, foi aplaudido de pé pelo seu despojamento. O mesmo que o fez receber e folhear, para quem quisesse ver, o exemplar de NEO MONDO, especial sobre a primeira edição do Fórum.

Parceiros na ficção e na vida: “crescimento econômicoe desenvolvimento de energias renováveis são temas ligados”

Kapremp-Ti (grande dono dos animais da mata), nome recebido do cacique Kayapó,Raoni Txucarramãe: “dedicação a assuntos de meio ambiente e indígenas no Brasil”

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42 neo mondo - april 2011

Special - World Forum

1991, after 20 years both stressed the le-adership role of Brazil in the international debate on alternative energy development.

For the filmmaker, Brazil has gained a unique role on the global stage as a le-ader in finding sustainability solutions. “everything Brazil does in terms of envi-ronmental preservation will be a benchma-rk for other countries”, he said. as the Gre-atest star of first Forum in 2010, cameron believes that the issues of economic gro-wth and development of new renewable energy sources are closely related.

While admitting that the u.s. cannot develop a sustainable energy policy becau-se “Democrats and republicans” are fore-ver arguing with each other, the former governor did not limit his speech to criti-cism and highlighted what really matters; “We were very successful with renewable energy researches long ago, during the

F ormer california Governor arnold schwarzenegger, at the opening of the works in manaus, ratified the

need for greater political understanding for the continuity of actions to be effective. at a press conference for 170 journalists – along with filmmaker James cameron –; when talking about the bad use of fossil fuels in the past, schwarzenegger stressed the importance of using alternative energy sources. “We have a chance to use alterna-tive energies such as wind, solar energy, ethanol and biomass. the question is how to do that while also taking care of the ani-mals and the people involved”, he said. he advocated cooperation among countries in the pursuit of sustainable forms of energy. “When it comes to the environment, we need to be very inclusive”, he stated.

having worked together in the movies ‘terminator’, in 1984, and ‘terminator 2’, in

presidency of Jimmy carter. in the 80’s, the federal government didn’t give conti-nuity to vital projects, but california did”, he said. “When i took over the (state) government in 2003 we set a goal of 20% renewable energy by 2017; we reached target in 2010”.

Welcome to sheer irony! the very same person who played the role of “ter-minator” twice now announces that cali-fornia is building the largest solar power plant in the world.

“Fearless”in his speech of approximately one

hour, schwarzenegger criticized environ-mentalists that “foster panic” when men-tioning the risks of climate change and pinpointed changes to traditional spee-ches to more effectively convince people be more concerned about global warming.

Former Governor of California recognizes Brazilian leadership in environmental issues

Gabriel Arcanjo Nogueira

Schwarzenegger defendscooperation and continuity

Schwarzenegger: “Democrats and Republicans” don’t see eye to eye, but

California is pushing ahead its goal and building an unprecedented solar energy plant

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“We must think differently about sus-tainability. We are all environmentalists; we are passionate about the subject. But fear and guilt are not sustainable. We need a more dynamic approach. People need to believe (in climate threats) and see that hope is still alive. People need a new version”, he said.

he was very clear about the environ-mental laws and sustainable energy pro-jects implemented in california while he

neo mondo - april 2011 43

James Cameron, ever since this forum, is also called ‘Kapremp-Ti’, the name given to him by ‘Kayapo’ chief, ‘Raoni Txucarramãe’. It trans-lates into something like ‘great master of the fo-rest animals’, as investigated by NEO MONDO.

At a press conference, Cameron spoke of his environmental projects and expressed concern about the facts revolving around the construction of Belo Monte (PA). “I have three projects: two new movies for the Avatar series in the next five years, making documentaries about sustainability and energy to devote my-self further to environmental issues, and the indigenous people in Brazil”, he said.

For the filmmaker, there is a humanitarian crisis that can be observed in Belo Monte, on the Xingu River, where both natives and dwellers are being evicted from their land. For him, this is one of the most serious crises in the Amazon, which he aims to address in his documentaries and films – especially in Ava-tar – with regard to the struggle of the people of the forest for sustainability.

“We must think of energy projects with more sustainability and technology diversity. They must be something to last a millennium, not 20,

Indigenous name and modesty30, or 50 years of sustainable development”. The filmmaker defends a more effective exploitation of solar energy in Brazil, as well as of energy sour-ces derived from biofuels, wind and biomass.

Fame has not affected Cameron; he has charisma and modesty to spare, as de-monstrated when he sat at the back of the auditorium of the ‘Hotel Tropical’ during the

was governor: “the reason we won wasn’t that we spoke about global climate chan-ge. We had arguments. People understand that our environmental laws are good for job generation and for the health of our ci-tizens. and we have proved that republi-cans and Democrats can work together”, stated the former governor.

he stressed the need to change the global energy prioritization scheme and the need to create “jobs to improve the

lectures, while his presence was demanded in the front row, along with the other celebrities. When he was spotted and invited to move to the front row, he received a standing ovation for his unpretentiousness. And with the same attitude he received and perused, for all to see, an issue of NEO MONDO; the Special Issue on the Anniversary of the First Forum.

Partners in life and in fiction: “economic growth and the development of renewable energies are closely related issues”

‘Kapremp-Ti’ (great master of the forest animals), name received from ‘Kayapo’ chief, ‘Raoni Txucarramãe’: “dedication to environmental issues and the indigenous people in Brazil”

environment”. “my point is not to debate science, but to take action now. When we talk about acting it is because we’re ex-periencing a moment of overcoming our difficulties. everyone is debating whe-ther to close down our energy plants. We must use them, but not to build more of them”, he said.

he went straight to the point: “since the u.s. does not have a “real energy pro-ject”, what must be done is simple; just follow the example set by california”.

on Wednesday (23rd), James came-ron and schwarzenegger flew over the Xingu river and talked to the native indians in the town of altamira, Pará. they also met with the chief ‘raoni’, le-ader of the ‘Kayapos’. But the actor did not say much to the journalists: “it was a very interesting visit, up and down the river, on which we relied on the help of Brazilian experts who explained all the issues related to the forest”.

the official opening of the Forum was attended by the Governor of amazonas,

omar aziz, senator eduardo Braga, the mayor of manaus, amazonino men-des, and business leaders.

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Especial - Fórum Mundial

baixo impacto ambiental; apoio às comu-nidades locais; acesso; emprego e negó-cios; saúde e bem-estar; e inclusão social. todas essas metas, segundo ele, estão in-seridas no conceito de “sustentabilidade”.

De olho no Rio e no Brasil sobre alternativas para o transporte

nos Jogos, o diretor de sustentabilidade e regeneração urbana afirmou que este item é sempre o principal problema du-rante o evento. ele defendeu a adoção de uma política de transporte público, que, além de beneficiar um número maior de pessoas, poderá representar um “legado”

M uito aplaudido pelos empre-sários e demais participantes neste Fórum, o diretor de

sustentabilidade e regeneração urbana dos Jogos olímpicos de londres 2012, Dan epstein, defendeu a ideia de que “a eficiência energética não custa mais”, se planejada em todas as etapas – desde a escolha dos materiais ao uso de tecnolo-gias sustentáveis. em sua palestra “Gran-des eventos e cidades sustentáveis”, ele foi enfático:

“o importante é que estamos cons-truindo para daqui a 100 anos. a sus-tentabilidade custa só um pouco mais e esse pouquinho a mais será uma econo-mia, pois, no futuro, permitirá menos gasto com energia e pessoas mais feli-zes e saudáveis. no futuro, os benefí-cios serão enormes”.

“nós não queremos deixar um legado de infraestrutura que depois ninguém vai mais usar. Precisamos pensar em maneiras inteligentes de utilizar tudo isso depois”, disse. “os Jogos são uma boa oportunida-de para criarmos uma nova perspectiva so-bre como o homem deve se relacionar com o meio ambiente”, acrescentou.

epstein lembrou que, para os Jogos olímpicos de londres, depois de muito planejamento, foram definidos os objeti-vos prioritários para as ações relaciona-das a este projeto: emissão zero de car-bono; produção zero de lixo; transporte sustentável; água limpa; biodiversidade;

para as cidades. epstein informou ainda que londres já despendeu 1 milhão de libras (1 trilhão de reais), até agora, so-mente no projeto de transporte público para os Jogos olímpicos de 2012.

em sua palestra, avaliou que o mundo está de olho no rio e no governo brasi-leiro. “coloquem de lado os problemas e a maneira tradicional de trabalhar. re-únam todos, coloquem o ego de lado e trabalhem juntos. o prêmio é enorme: 4 bilhões de pessoas estarão olhando para isso”, destacou. “Digam aos políticos que eles passarão a ser amados depois disso”, concluiu epstein.

Jogos Olímpicos de Londres foram encarados como chance de melhorar a relação

homem-meio ambienteGabriel Arcanjo Nogueira

Epstein: “menos gasto com energia e pessoas mais felizes e saudáveis”

A lição que vem do ESPORTE

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neo mondo - setembro 2008 A

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P atrocinadora master do evento em manaus, a nestlé Brasil mostra com essa iniciativa estar alinhada

ao conceito de Criação de Valor Compar-tilhado: a plataforma mundial de respon-sabilidade social da nestlé.

o que a empresa – líder mundial de nutrição, saúde e bem-estar – pretende é aliar o desenvolvimento sustentável do negócio à geração de valor para as comu-nidades em que marca presença.

no Brasil, desde 1921 (um dos 83 pa-íses em que desenvolve suas operações industriais com marcas consagradas), tudo começou na primeira fábrica de araras (sP),

para a produção do leite condensado milk-maid, que mais tarde seria conhecido como leite moça por milhões de consumidores.

a nestlé Brasil e suas empresas coliga-das estão presentes em 98% dos lares bra-sileiros, segundo pesquisa realizada pela Kantar Worldpanel.

hoje com 31 unidades industriais em 8 estados brasileiros, a empresa abrange segmentos de mercado diversificados, en-tre eles, achocolatados, biscoitos, cafés, cereais, cereais matinais, águas, chocola-tes, culinários, lácteos, refrigerados, sor-vetes, nutrição infantil, nutrição clínica e de performance, produtos à base de soja,

alimentos para animais de estimação e serviços para empresas e profissionais da área de alimentação fora do lar.

a rede de distribuição dos seus produtos cobre mais de 1.600 municípios no país, onde emprega cerca de 19 mil colaboradores dire-tos e gera outros 220 mil empregos indiretos, que colaboram na fabricação, comercialização e distribuição de mais de 1 mil itens.

Plataforma de sustentabilidadeuma das patrocinadoras do Fórum, a

semp toshiba criou a sua plataforma de sustentabilidade com base em seis progra-mas corporativos. cada um deles traz junto

Especial - Fórum Mundial

Elas têm no Fórum excelente oportunidade de mostrar o quanto evoluem socioambientalmente com suas plataformas

de responsabilidade social ou de sustentabilidadeGabriel Arcanjo Nogueira

Empresas compromissadas na teoria e na prática

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ao nome da empresa o respectivo concei-to-chave:• atitude • mobiliza • sustentável• Parcerias• nossa Gente• cidadania

o primeiro deles, lançado antes do

evento em manaus, está focado na ade-são a compromissos voluntários públi-cos que estimulem melhores práticas na cadeia produtiva, principalmente nas áreas de logística e compras. os compromissos ratificados em 2011, segundo a empresa, são: Pacto empre-sarial pela integridade e contra a cor-rupção (empresa limpa); Programa na mão certa, contra a exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras; Programa nacional contra o trabalho escravo e o Pacto Global, iniciativa da onu que mobiliza o setor empresarial para práticas que contem-plem os princípios de Direitos huma-nos, relações de trabalho, meio am-biente e combate à corrupção.

afonso hennel, presidente da semp toshiba, evidenciou que a empresa “está instalada na Zona Franca de manaus desde os anos 70, e reconhecemos a im-portância da região para o crescimento integrado do Brasil. acreditamos que é essencial que a amazônia como um todo continue se desenvolvendo e que suas riquezas naturais sejam usadas como parte desse processo e sempre de manei-ra sustentável. Decidimos lançar nossa plataforma de sustentabilidade durante este 2º Fórum como um desdobramento natural da nossa participação na primei-ra edição”.

os outros cinco programas trazem compromissos com a sustentabilidade para os próximos anos, com o objetivo de compartilhar os valores que norteiam a sua atuação e inspirar seus colaboradores e parceiros a adotarem uma rotina de vida e de trabalho mais sustentável.

De acordo com a empresa, são com-promissos ambientais, sociais e econô-micos, relacionados à própria atividade da empresa, que também contemplam a sua participação ativa na erradicação do trabalho escravo e no fim da exploração sexual de crianças e adolescentes. os pi-lares que integram essa visão empresarial

são: ética corporativa, desempenho res-ponsável, transparência, conservação do planeta, incentivo às pessoas e mobiliza-ção de parceiros. a cada um deles corres-pondem programas específicos, visando ao aprimoramento permanente das suas práticas de gestão.

o Programa semp toshiba mobiliza pretende incentivar e estimular as pesso-as por meio de campanhas de conscienti-zação, treinamentos e educação para sus-tentabilidade, além de incentivo a ações de Voluntariado.

o semp toshiba sustentável foi pensado para promover melhores práti-cas voltadas à sustentabilidade, como a ecoeficiência, o ecodesign, a gestão inte-grada de meio ambiente, as responsabi-lidades pós-consumo e os programas de reciclagem. também envolve, por meio do comitê executivo de responsabilida-de corporativa, o desenvolvimento de iniciativas nos diversos departamentos da empresa.

o Parcerias está voltado ao desenvol-vimento conjunto de projetos de sustenta-bilidade junto aos fornecedores, clientes e prestadores de serviço.

Já o nossa Gente contempla as comu-nidades em que a empresa atua por meio do desenvolvimento de projetos sociais, educacionais, culturais e ambientais que tenham como objetivo o crescimento do indivíduo, o desenvolvimento local e a preservação do meio ambiente.

e o cidadania está baseado na transparência no relacionamento com seus stakeholders, por meio da divul-gação de suas práticas socioambientais e compartilhamento de iniciativas em prol da sustentabilidade.

Negócio da China a Kasinski, por sua vez, ao inovar no

segmento de motocicletas, é pioneira no Brasil ao produzir dois modelos elétricos na sua unidade de manaus: o Kasinski Pri-ma 500 (mini scooter) e o Kasinski Prima electra 2000 (scooter). além destes dois, a Kasinski desenvolve outros cinco mode-los que irão compor a linha de produtos movidos a energia alternativa da empresa. um dos maiores fabricantes mundiais de motocicletas e motores, o Grupo Zong-shen investe mundialmente em parce-rias para pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. uma das parcerias de maior destaque é com a italiana Piaggio, com a qual tem uma fábrica de motos PZ (Piaggio-Zongshen). outra área de grandes investimentos do Grupo é a de qualidade.

A mesa de debates foi representativa desde a abertura do evento, ao discutir a importância da Amazônia para o crescimento integrado do Brasil sem danos ao meio ambiente

João Doria Jr, com convidados muito especiais, consegue aglutinar empresas mulissetoriais com ações

focadas na sustentabilidade

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o Brasil não fica atrás, porém. a fabri-cante sino-brasileira cr Zongshen do Brasil, dona da marca Kasinski, já ocupa a 4ª posi-ção no ranking nacional dos fabricantes de motocicletas. os dados divulgados pela as-sociação Brasileira dos Fabricantes de moto-cicletas, ciclomotores, Bicicletas e similares (abraciclo), referentes a fevereiro, mostram a Kasinski com crescimento acumulado de 526,7%. este resultado refere-se ao período de fevereiro de 2010 a fevereiro de 2011, pe-ríodo em que a empresa saltou de 0,5% para 2,1% de market share. com ações ousadas, forte investimento fabril e publicitário, bem como melhorias em toda a linha de produtos e serviços, a Kasinski multiplicou sua parti-cipação no mercado nacional e segue firme na sua meta de conquistar cerca de 5% do mercado nacional em três anos.

a Zongshen já investiu mais de us$ 50 milhões na construção de três centros e mais de 30 laboratórios focados em con-trole de qualidade. o Grupo opera dentro dos mais rigorosos padrões técnicos mun-diais, o que garante 100% de inspeção nas peças vitais antes da montagem, com a mais alta exigência de desempenho.

Graças à implantação de novos proces-sos e convênios com as principais univer-sidades de pesquisa da china, a Zongshen obteve redução de mais de 50% do tem-po de desenvolvimento de novos produ-tos, permitindo agilidade e eficiência no atendimento às demandas de mercado. no campo das novas tecnologias o Grupo Zongshen desenvolve aplicações para a célula de combustível de hidrogênio, um novo tipo de energia ecologicamente cor-reta – já em fase de testes - para automó-veis, motocicletas, entre outros.

multinacional, o Grupo Zongshen man-tém desde 2004 uma empresa de capital aberto no canadá, a Zongshen Pem Power system inc., voltada exclusivamente à fabri-

cação de produtos movidos a energia alter-nativa. esta empresa também é responsável pelo desenvolvimento e teste de novas tec-nologias ligadas a energia renovável.

Soluções responsáveistambém a oi fez do evento em manaus

o local certo para fortalecer seu compromis-so com as melhores práticas socioambien-tais. mesmo porque é a primeira a oferecer banda larga por fibra ótica na capital amazo-nense, além de ser a operadora que respon-deu pelas telecomunicações do estratégico encontro. Parceria que, na visão da empresa, reforça a sua contribuição para o desenvolvi-mento sustentável da amazônia.

ser a parceira e fornecedora oficial de telecomunicações da segunda edição deste Fórum confirma a oi como a maior empresa brasileira de telecomunicações e faz parte do seu programa de investimentos para a melho-ria da atual rede de comunicação e ampliação da cobertura de transmissão de dados e aces-so à internet na amazônia legal. Durante o Fórum, a empresa disponibilizou toda a rede de acesso à internet, além de linhas móveis e internet 3G para a organização do evento.

iniciativa que se soma a tantas outras da oi em busca do diálogo sobre sustentabilida-de. apenas no último ano, a empresa apoiou também o primeiro teD realizado na amazô-nia, o teDx, evento que reúne pensadores de diversas áreas para compartilhar experiências e ideias transformadoras e sustentáveis; o mo-vimento sWu – starts With You, um grande festival e fórum de debates voltados para sus-tentabilidade; e o Grupo cultural afroreggae, que mantém núcleos em cinco comunidades cariocas, 14 grupos artísticos e projetos espe-ciais em todo o país e no exterior.

o desenvolvimento sustentável é uma das orientações da estratégia de negócios da companhia que, desde 2009, tem suas diretri-zes definidas pela Política de sustentabilida-de. signatária do Pacto Global da organização das nações unidas (onu), a oi tem fortale-cido, continuamente, seu compromisso com a construção de um mundo mais viável para todos. Desde 2005, com o oi Futuro, a com-panhia já investiu r$ 350 milhões em proje-tos voltados para o desenvolvimento social, beneficiando milhões de pessoas em todo o país. em 2010, o oi Futuro lançou o “Progra-ma oi de Projetos para o meio ambiente”, seu primeiro edital voltado para o financiamento de projetos ambientais no Brasil inteiro.

a oi realiza ainda inventário de emis-são de gases do efeito estufa, adota inicia-tivas para a redução do consumo de água e energia elétrica e mantém programa de coleta e reciclagem de aparelhos, baterias e acessórios de celular.

Por essas e outras ações, a oi tem integra-do os principais índices brasileiros que reco-nhecem as boas práticas de mercado: pelo ter-ceiro ano consecutivo, participa do índice de sustentabilidade empresarial (ise) e, desde 2010, da primeira carteira do índice carbono eficiente (ico2), ambos da Bm&F Bovespa.

Especial - Fórum Mundial

A diversidade de especialistas nas discussões de temas socioambientais relevantesé marca registrada do Fórum, que atesta o acerto da iniciativa

A coleta de material reciclável, a exemplo da que se faz no Starts With You (SWU), faz parte da estratégia de negócios das companhias

Div

ulga

ção

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Especial - Fórum Mundial

nário mundial. “Para outros países, o carro elétrico é uma boa alternativa; para o Bra-sil, que já tem 70% de sua frota movida a etanol, faz muito mais sentido ampliar esta participação para 100% da frota”, afirmou.

o empresário aproveitou para criticar os entraves colocados pelo governo norte-americano para o etanol brasileiro, que a seu ver não fazem sentido. e ainda alertou para os perigos do crescimento da pecuária para dentro das florestas, ao defender a redução do consumo de carne.

’Sir’ à vontademesmo com dificuldade de se locomo-

ver, devido a pequeno acidente sofrido de manhã, Branson, que tem o título de sir, esteve à vontade para responder a pergun-tas de jornalistas, empresários, estudantes e até mesmo celebridades.

a visão positiva que o empresário tem do futuro mundial vale ainda mais para o seu conglomerado: a Virgin conta com mais de 300 negócios, entre os quais qua-tro companhias aéreas, algumas empresas de trem e uma companhia espacial.

Quando perguntando se ele acredita que biocombustíveis vão ser realidade um dia, Branson alegou que essa opção já existe. “aqui

o segundo dia do Fórum foi mar-cado pelo debate sobre as alterna-tivas para os principais problemas

enfrentados pelo meio ambiente e terminou com um alerta: empresas que não levarem em conta a sustentabilidade correm riscos de imagem e econômicos. Destaque do evento, à tarde, foi a participação do presidente e fun-dador do Grupo Virgin, richard Branson, au-tor da advertência acima. o empresário não deixou, porém, de anunciar o que pode ser uma boa notícia para o Brasil: tem planos de investir aqui nos próximos anos; espera ape-nas a entrega de um Boeing 787 para começar as operações em território brasileiro.

idealizador do carbon War room, Bran-son declarou verdadeira guerra ao carbono por meio deste grupo de empresários que debatem soluções para eliminar o compo-nente das indústrias de setores como tecno-logia de informação, aérea e marítima. “no caso do aquecimento global, nosso inimigo é o carbono”, afirmou. Branson, que já recebeu diversos prêmios por suas iniciativas para redução de carbono com o uso de novas tec-nologias, é criador do Desafio da terra, con-curso que tem como objetivo encontrar uma tecnologia comercial para remover o dióxido de carbono da atmosfera.

Pesquisas adiantadasele falou ainda sobre o desafio de com-

bater o aquecimento global trabalhando em uma área tão poluente como a aviação co-mercial. em sua opinião, a solução é investir em pesquisas para combustíveis que poluam menos. “todo o lucro dessas empresas eu invisto em soluções ‘verdes’. nós não pode-mos esperar que os governos façam alguma coisa. as empresas e os governos deveriam trabalhar juntos, criar um incentivo. Pois da-qui a pouco tempo, o petróleo do mundo vai acabar, e o preço irá disparar”, disse.

Branson observou que, no Brasil, o bio-combustível já é uma realidade, e a adoção do etanol dá ao País uma liderança no ce-

mesmo no Brasil isso já é uma realidade. antes de o País descobrir esse petróleo, 70% dos auto-móveis já utilizavam etanol como combustível. e isso está certo”, comentou.

o empresário chegou a chamar os es-tados unidos de “bobo” por não importar o etanol brasileiro, pois seria uma parceria benéfica para ambas as nações.

Branson declarou-se movido pela pai-xão. “comecei trabalhando na indústria da música, que era algo que eu amava. e por um tempo isso era o suficiente. mas um dia, pegando um voo doméstico, pensei: ‘eu consigo fazer isso melhor’, e foi assim que começou, até o dia que eu me dei con-ta de que queria ir para o espaço e, então, criei a Virgin Galactic”, contou, rindo.

nos planos atuais da Virgin, a prioridade é encontrar combustível ecologicamente cor-reto para o setor da aviação. “Fazemos muitos investimentos nesta área, tanto que oferece-mos, há três anos, um prêmio de u$ 25 mi-lhões para quem conseguir uma solução. até hoje ninguém ganhou”, revelou, convidando os brasileiros a fazer parte dessa empreitada.

a Virgin também trabalha em energia solar que, segundo o empresário, não é tão eficiente quanto a eólica, ainda; provavel-mente será, nos próximos anos, acredita.

Empresas que descartarem a sustentabilidade correm riscos de imagem e econômicos

Gabriel Arcanjo Nogueira

CARBONO

Branson: “nosso inimigo é o carbono... e em cinco anos usaremos combustíveis limpos na aviação”

Guerra ao

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Especial - Fórum Mundial

para passar uma mensagem: o Brasil está no momento de criar e ser um dos países mais importantes do mundo, e o mundo tem fome de liderança”, disse.

em sua opinião, sustentabilidade é uma forma coletiva de ver o mundo. “Precisamos entender que tudo está conectado. ninguém sabe fazer mais nada sozinho neste mundo. Fazemos tudo de forma coletiva”, assegurou.

Livros e iniciativasWerbach escreveu estratégia para a

sustentabilidade, publicado pela harvard Business Press. como chefe de sustentabi-lidade officer da saatchi & saatchi, lidera iniciativas de sustentabilidade pelo mun-do, em países como china, África do sul e Brasil, assessorando empresas com fatu-ramento anual de us$ 1 trilhão, incluin-do Wal-mart, Procter & Gamble, General mills e at&t.

entre seus trabalhos, está o desenvol-vido com o grupo Wal-mart para conseguir que seus mais de 2 milhões de funcioná-rios participassem nos esforços de sus-tentabilidade da empresa, criando o Pro-jeto Pessoal de sustentabilidade (PsP). em 1996, aos 23 anos, Werbach foi eleito o presidente mais jovem da história do sier-ra club, a maior e mais antiga organização ambiental dos estados unidos.

Duas vezes eleito para o conselho in-ternacional do Greenpeace, sua presença é constante, como comentarista de negócios sustentáveis, em redes nacionais e globais, entre elas, BBc, nPr e cnn, além de par-ticipar em programas como the o’reilly Factor e charlie rose.

hawken, por sua vez, escreveu 7 livros, 4 deles best-sellers nacionais: the next economy (Ballantine, 1983), Growing a Bu-siness (simon and schuster, 1987), the eco-logy of commerce (harpercollins, 1993) e Blessed unrest (Viking, 2007). seus livros foram publicados em mais de 50 países em 27 idiomas. capitalismo natural: criando a Próxima revolução industrial (little Bro-wn, setembro de 1999), em co-autoria com

d uas referências mundiais em sus-tentabilidade - o jornalista, em-presário e autor Paul hawken, ao

lado do autor e diretor de sustentabilida-de da saatchi & saatchi, adam Werbach - fizeram coro a richard Branson, no se-gundo dia do Fórum, ao apresentar ideias pela sustentabilidade.

Werbach falou sobre “internalizando a sustentabilidade nas empresas”, com vários exemplos de inovações praticadas por algumas delas. Para o especialista, as empresas sustentáveis terão melhor de-sempenho no mundo nos próximos anos. “as leis são necessárias, com certeza, mas também os mercados determinam o que é importante: as empresas com mais suces-so serão as sustentáveis; as outras ficarão decadentes”, destacou.

no entendimento de hawken, o cri-tério para definir as empresas bem-suce-didas deve vir de sua contribuição com o social. “Devemos investir nas empresas que ajudam as pessoas; se não ajudarem as pessoas, não devemos investir nessas companhias”, defendeu. Bastante aplaudi-do, reiterou o papel de liderança do Brasil. “eu não vim aqui pelas belezas naturais, pela música, pela comida e pelas mulhe-res maravilhosas que aqui moram; eu vim

amory lovins, foi lido e citado por vários chefes de estado, entre eles o ex-presidente Bill clinton, para quem a obra é um dos cin-co livros mais importantes do mundo atual.

o jornalista e empresário fundou várias empresas, como as primeiras companhias de alimentos naturais dos estados unidos, que se baseiam exclusivamente em méto-dos agrícolas sustentáveis. em 1965, tra-balhou como coordenador de imprensa na equipe de martin luther King Jr. em selma, alabama, antes da marcha histórica em montgomery, no mesmo estado.

ele também é o fundador do natural capital institute (www.naturalcapital.org), organização de pesquisa localizada em sau-salito, califórnia. Deste instituto resultou a Wiser earth (www.Wiserearth.org), plata-forma em rede aberta que liga onGs, funda-ções, empresas, governos, empreendedores sociais, estudantes, organizadores, acadêmi-cos, ativistas, cientistas e cidadãos preocupa-dos com o meio ambiente e a justiça social.

além disso, atuou no conselho de mui-tas organizações ambientais: Point Foun-dation (editor da Whole earth catálogos), centro de conservação das Plantas, con-servation international, trust for Public land, Friends of theearth e national au-dubon society.

“Tudo está conectado. Ninguém sabe fazer mais nada sozinho neste mundo”Gabriel Arcanjo Nogueira

Idealizadores de

Werbach: “empresas com sucesso serão as sustentáveis; as outras

ficarão decadentes”

Hawken defende investimentos em empresas que ajudam as pessoas

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e strela política mais aguardada do Fórum, Bill clinton não poderia ser mais claro ao atribuir ao Brasil um

papel de liderança global nos temas rela-cionados ao meio ambiente. “the world needs you (o mundo precisa de vocês)”, declarou, para em seguida enfatizar: “eu quero que vocês liderem o resto do mundo no século 21 na questão energética”.

em sua fala, o ex-presidente dos es-tados unidos elogiou o envolvimento do empresariado brasileiro e o interesse no debate das questões relativas à sustentabi-lidade. “se vocês estivessem em um even-to como este em qualquer outro país do mundo, não haveria tantos empresários e pessoas comprometidas quanto vocês têm aqui”, observou para uma plateia de apro-ximadamente 700 pessoas.

criador da William J. clinton Founda-dion, o ilustre palestrante entende que o Brasil conta com características positivas que justificam esta liderança, como ter em seu ter-ritório a maior floresta tropical do mundo e produzir etanol, capazes de proporcionar ao País segurança e independência no cenário mundial. “Vocês produzem mais etanol do que qualquer lugar do mundo, exceto os esta-dos unidos, mas o de vocês é mais eficiente”, disse, para defender a entrada do etanol bra-sileiro no mercado norte-americano.

segundo clinton, o presidente Barack obama deveria rever a política de subsí-dios ao etanol fabricado nos estados uni-dos, para permitir uma competitividade mais equilibrada com países produtores, entre eles Brasil e república Dominicana.

Floresta “preservada”além da eficiência proporcionada

pelo etanol, o palestrante mencionou como ponto positivo para o Brasil o fato de o país ter conseguido reduzir em 75%

Ex-presidente dos Estados Unidos quer Brasil na liderança global em meio ambiente

Gabriel Arcanjo Nogueira

Clinton: “O mundo precisa de vocês...o etanol de vocês é mais eficiente”

a destruição da floresta tropical. “Vocês merecem crédito por isso”, disse. “cerca de 90% da eletricidade de vocês vem de fontes renováveis, e nenhum país do ta-manho do Brasil chega perto disso.”

clinton afirmou ainda que acredita que a eficiência energética obtida pelo

Brasil pode ajudar o mundo a derrubar as barreiras que impediram a obtenção do acordo em copenhague, referindo-se às metas de corte de emissões impostas pela conferência do clima, em 2009. e defen-deu a necessidade de o País fechar par-cerias com outras nações, como a china.

Clinton exalta presença empresarial

Especial - Fórum Mundial

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Especial - Fórum Mundial

o setor agropecuário brasileiro, assim como o de transportes de massa, mereceu preocupação especial do palestrante por-que, no seu entender, deverá ser o mais afe-tado com o aquecimento global. e questio-nou a aposta do governo no pré-sal: “tenho dúvidas de um país que acredita que o com-bustível fóssil é seu passaporte para o mun-do, quando o mundo inteiro busca alterna-tivas para o uso dos combustíveis fósseis”. em sua palestra, defendeu a realização de um plebiscito nas áreas de risco afetadas pela exploração. “Precisamos perguntar à

N a abertura do terceiro e último dia do Fórum, o fundador da sos mata atlântica, ex-secretário do meio

ambiente de são Paulo e ex-deputado fede-ral, Fabio Feldmann, foi incisivo ao sugerir que “o Brasil precisa ter uma cabeça de século 21 e entender que o mundo está se transfor-mando muito rapidamente”. isto porque, afir-mou: “sustentabilidade é a preocupação com as gerações futuras”. ele prega a necessidade de o Brasil estabelecer uma agenda para o sé-culo 21, com temas ambientais por meio de alianças políticas e lideranças fortes.

sociedade se ela está disposta a correr ris-cos com acidentes na costa brasileira em que será explorado o pré-sal”, afirmou.

seguido atentamente em sua exposição pelos componentes da mesa e aplaudido de pé pelo público que lotou o auditório do hotel tropical, não poupou críticas a equí-vocos que se cometem em nome do meio ambiente, mesmo contrariando exposito-res de dias anteriores. em tom polêmico, Feldmann cravou que o futuro do Planeta depende da polarização entre as mentalida-des do século 20 e do século 21.

“Sociedade precisa ser ouvida para saber se está disposta a correr riscos”

Gabriel Arcanjo Nogueira

Feldmann vê País na contramão com o pré-sal

Ativista há décadas e respeitado por especialistas que com eleestiveram à Mesa no terceiro dia de debates, o palestrante

se posicionou contra equívocos em nome do meio ambiente

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ca, muito poluente, aí vem dizer que é ambientalmente responsável! não era. Fomos ao conselho nacional de autorre- gulamentação Publicitária (conar) e con-seguimos proibir que ela usasse este termo na publicidade institucional. na Bolsa de Valores de são Paulo (Bovespa) também conseguimos tirá-la de um fun-do formado por empresas ligadas ao meio ambiente”, revelou.

o ex-secretario do meio ambiente de são Paulo salientou ainda a importân-cia do envolvimento das empresas nas questões ambientais. “o desafio é o de criarmos um bom repertório de escolhas políticas e de consumo de produtos para a sociedade”, disse.

Ativista há décadasconsultor, administrador e advoga-

do, Feldmann foi deputado federal e se-cretário do meio ambiente do estado de são Paulo. Participou da elaboração da le-gislação ambiental brasileira, como o ca-pítulo de meio ambiente da constituição

“há trinta anos a polarização era entre direita e esquerda, onGs x empresários, masculino x feminino, agora isso está su-perado; o mundo mudou, vivemos tempos diferentes”, defendeu.

em sua fala desfilou números que mostram o Planeta à beira do abismo. “o iPcc deixou claro que o aquecimento global é real e quando falamos em redu-zir as emissões a um nível que estabilize o clima do planeta em apenas mais dois graus celsius, tem gente dizendo que é insuficiente”, disse.

em oposição ao discurso de schwarze-negger - que no primeiro dia dos debates exorcizou os que pregam o medo em des-serviço à causa ambiental e chegou a pro-por: “temos que tornar a economia verde sexy” -, Feldmann pintou um futuro sinis-tro se não forem tomadas atitudes logo.

o ex-deputado também entrou em rota de colisão com o megaempresário richard Branson, que um dia antes defen-deu o uso de usinas nucleares para a gera-ção de energia elétrica. “os novos reatores são muito seguros e confiáveis”, garantiu o empresário britânico. “a melhor usina nuclear é aquela que não foi construída”, contradisse Feldmann, alertando que uma política nacional de energia que prevê a construção de 20 usinas nucleares no Bra-sil é um exemplo clássico da mentalidade do século 20. “o caso do Japão mostrou que precisamos de um pouco mais de de-mocracia direta, e eu acho que a população de municípios como angra dos reis (rJ) deveria ser consultada sobre se eles que-rem conviver com os riscos de um aciden-te”, argumentou.

‘Comprar a causa’Feldmann também exortou os em-

presários a pensar com a mentalidade do século 21 e passar a ter práticas realmen-te sustentáveis, pois já está provado que elemento importante na cadeia de qual-quer negócio é saber pensar com a men-talidade nova.

“o consumidor mudou: quando ele compra uma camisa do sos mata atlân-tica, um móvel de madeira certificada, ele está comprando uma causa”, explicou. nesse aspecto, o ex-deputado lembrou que a sociedade civil tem papel impor-tante na transição da velha mentalidade para a mentalidade do século atual e ci-tou como exemplo um caso relacionado à Petrobrás. “ela vende um diesel que só é encontrado nos piores países da Áfri-

Federal, da Política nacional de educação ambiental, da lei de acesso Público aos Dados e informações ambientais e foi relator da Política nacional de recursos hídricos, do sistema nacional de uni-dades de conservação da natureza e da convenção Quadro das nações unidas sobre Diversidade Biológica.

Foi fundador e primeiro presidente da sos mata atlântica; fundou a oikos, Funatura e Biodiversitas. além disso, já atuou como membro conselheiro da con-servation international (ci), ecological Footprint, leaD - leadership for envi-ronment and Development (programa de liderança patrocinado pela Fundação rockefeller), Global reporting initiative (Gri) e Greenpeace internacional, bem como foi membro do Grupo especial para a rio+10 da international union for con-servation of nature an natural resources (iucn). como reconhecimento ao seu comprometimento com a causa ambien-tal, recebeu em 1990 o Prêmio Global 500 das nações unidas.

Feldmann sugere alianças políticas e lideranças fortes com

envolvimento das empresas em questões ambientais

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Internacional

imersos na amazônia brasileira”, a nota dis- tribuída pela agência France Presse (aFP) foi divulgada com o mesmo título nos sites da revista francesa le Point, do jornal le nouvel observateur, do canal tV5 e em al-guns sites da Bélgica, como o rtl.

Já os sites do jornal 20 minutes e da re-vista l’express alteraram o título, mas a no-tícia era a mesma: James cameron está pen-sando em levar seus atores à amazônia para que aprendam sobre as condições de vida na selva e os costumes de seus habitantes.

“F órum mundial de sustentabi-lidade no Brasil? não, não li ou ouvi nada sobre isso.” natural,

afinal quem é que publicou a notícia na eu-ropa? Quase ninguém. el País, il corriere della sera, correio da manhã, le monde, the times, Bild, só para citar alguns, não trouxeram uma única frase. o Fórum foi citado, quase por acaso, em algumas notas na internet, quando o assunto principal era avatar e seu criador James cameron. “os atores da sequência de avatar serão

Belo Monte na berlindasegundo os franceses, a revelação foi

feita durante a participação do diretor no ii Fórum de sustentabilidade em manaus, única referência sobre o evento em toda a nota. o artigo comenta também sobre a construção da terceira maior usina hidre-létrica do mundo, Belo monte, no estado do Pará, apesar da oposição de grupos in-dígenas e de ecologistas:

“(…) segundo ativistas, o projeto é eco-nomicamente inviável e causará o desloca-

Desinformação ou desinteresse? Sites dos principais jornais nem sequer trouxeram uma nota sobre o evento

Camila Turriani Bertoldo De Viareggio (Itália),

Especial para NEO MONDO

Fórum Mundial ainda não empolga mídia europeia

James Cameron: lembrado mais como o diretor de Avatar do que como ativista; cineasta lamentou

não ter conhecido os ‘caiapós’ antes de fazer o filme

Div

ulga

ção

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mento de 16 mil pessoas devido à inundação de uma área de 500 km2 sobre as margens do rio Xingu. o governo, entretanto, garante que as terras indígenas não são ameaçadas e que investiu milhões de dólares para reduzir o impacto social e ecológico da barragem”.

o jornal inglês the Guardian contou praticamente a mesma história. “James ca-meron planeja treinamento em floresta bra-sileira. Diretor canadense quer que os atores de avatar 2 aprendam sobre os nativos e o modo de vida na selva” é o título da matéria.

os ingleses informaram que cameron esteve em manaus para participar do Fó-rum, que também contou com a presença de arnold schwarzenegger e Bill clinton. mais uma vez, apenas uma citação. o tex-to continua abordando os passeios organi-zados pelo diretor de avatar, que levou o amigo schwarzenegger para conhecer o rio Xingu e visitou membros da tribo Kayapó com um pequeno grupo de jornalistas.

“se eu tivesse encontrado os caiapós antes de fazer avatar, eu certamente te-ria feito um filme melhor”, lê-se no artigo, segundo o qual cameron planeja um do-cumentário 3D sobre as difíceis condições dos povos da região e suas batalhas contra a hidrelétrica de Belo monte.

ao abrigo do novo acordo ortográfi-co (como bem especificado), em Portugal predominou a nota divulgada pela agência lusa nos sites de alguns dos principais jor-nais lusitanos: o Jornal de noticias, o Diá-rio de notícias e o expresso. com o título “Fórum sustentabilidade: James cameron lembra a responsabilidade do Brasil como grande potência na defesa do ambiente”, os portugueses revelaram que - olha ele aqui de novo - segundo cameron, o Bra-sil e o resto do mundo podem enfrentar “a maior crise humanitária da história” se não apostarem no desenvolvimento sus-tentável, com políticas que minimizem as consequências do aquecimento global.

“o Brasil, como grande potência, pre-cisa lutar para resolver os problemas am-bientais que existem no país e na flores-ta, se quer continuar a desempenhar um papel importante no mundo”, afirmou o cineasta, de acordo com a agência portu-guesa, numa conferência de imprensa em manaus, durante o segundo Fórum Global para a sustentabilidade. e mais: “o pre-miado diretor de avatar e titanic, entre outros filmes, que abraçou a causa da de-fesa da amazônia, disse que é necessário criar um ‘herói’ que sirva como uma refe-

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rência para que a sociedade reconheça que há uma ‘crise de sustentabilidade’ ”.

Óculos e ‘apalpões’ mas a toda regra tem uma exceção.

Bem informado, o premiado site portu-guês i online foi o único a enviar jorna-lista e a escrever realmente sobre o even-to. Joana Viana começou de bom humor contando sobre energias renováveis que veem do calor humano e ressaltou a im-portância do Fórum: “… na abertura do ii Fórum mundial de sustentabilidade, o ex-governador da califórnia (e estrela de filmes de acção) foi confrontado por um jornalista (do programa de tV, cQc, de quem ganhou os óculos impagáveis – n.r.) quanto a uns vídeos da sua pas-sagem pelo carnaval do rio de Janeiro, nos anos 80, com direito a apalpões a sambistas. o palco da provocação saudá-vel foi manaus, na amazônia brasileira, onde decorre o encontro de especialistas mundiais no maior debate internacional sobre questões ambientais”.

“Brincadeiras à parte”, o texto pros-segue sobre o mau uso de combustíveis fósseis no último século, denunciado por schwarzenegger. “(…) Brasileiros e californianos têm muito a aprender com a troca de informação, principalmente

Schwarzenegger e os óculos do CQC: “calor humano” como alternativa energética. O ator foi atração também fora do palco dos debates

quando a questão é o meio ambiente. (…) não podemos falar de aquecimen-to global, porque as pessoas não se re-vêem nisso”, disse o ator-político. como conta a jornalista, o segredo da proteção ambiental é tornar as coisas locais mais próximas das pessoas.

em sua matéria também não faltou a grande estrela dos noticiários, James ca-meron, que sublinhou a importância do Brasil nas soluções ambientais. “o desen-volvimento econômico e a preservação es-tão intimamente ligados, já que uma coisa depende da outra. e devemos aproveitar o grande potencial que a energia solar na linha do equador oferece”, disse.

além disso, concluiu, “nenhum estúdio no mundo poderia dizer que uma mensa-gem ambiental faria três bilhões de dólares”.

também foram citados Bill clinton e o presidente da Virgin, richard Branson, empenhados sobre o tema da conscienti-zação para a sustentabilidade no ensino e nas empresas.

alemanha, espanha e itália nada ti-veram a declarar. apenas uma nota na agência de notícias italiana ansa sobre cameron e seus atores na amazônia. nem no site do the economist, uma das mídias patrocinadoras do evento, foi possível en-contrar qualquer menção ao Fórum.

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e screvemos anteriormente, em ar-tigo publicado em abril de 2010, sobre o mitos atuais referentes á

amazônia; a fonte foi Januário amaral em seu livro mata Virgem, terra prostituta (sP: terceira margem editora,2004)

reiteramos as informações:

• Mito da homogeneidade, que propa-ga a região como sendo um imenso e uniforme tapete verde, atravessado por longos e tortuosos rios. nenhuma visão da amazônia é mais distante da realidade. ela abriga uma indescrití-vel diversidade ecológica, refletida no clima, nas formações geológicas, nas altitudes, nas paisagens, nos solos, na formação vegetal e na biodiversidade. a heterogeneidade também ocorre do ponto de vista político, social e econô-mico. são oito países com diferentes estilos de governo e desgoverno, po-líticas e leis para a região, assim como ela é habitada por uma ampla varieda-

que se pôde constatar que esta riqueza era apenas aparente, e que o tesouro da região está na biodiversidade do ecossistema, da flora, da fauna e do germoplasma nativo. a contrapartida desta percepção foi considerar os solos amazônicos tão pobres que tornaria im-possível qualquer outra atividade que não a preservação incólume da floresta. essa posição extremada tampouco se sustenta, dado que existem extensas faixas de solos aptos para a agricultura.

• Mito do nativo como obstáculo ou como modelo para o desenvolvi-mento, que justificou, no primeiro caso, extermínio sistemático destas populações, a agressão territorial e cultural ou a sua conversão ao mode-lo civilizatório ocidental. no segundo caso – a louvação do modelo indígena – desconheceu-se que aquelas culturas são formas adaptativas próprias àque-le ambiente e que sua adoção como

de de grupos humanos, que vão desde indígenas, vivendo em total isolamen-to, até moradores de grandes cidades.

• Mito do vazio demográfico, que pro-duziu a crença na existência de uma região virgem, um imenso espaço va-zio, ou a última fronteira da humani-dade. Por este enfoque, a amazônia seria uma terra sem habitantes para onde os homens sem terra deveriam migrar, aliviando os problemas da pressão populacional nas áreas perifé-ricas, ao mesmo tempo ignorando os direitos milenares das populações que habitam a região.

• Mito da imensa riqueza e extrema pobreza, tendo como referência a exu-berância da vegetação tropical, estabe-leceu a crença da fertilidade dos solos amazônicos. somente depois de inves-tidos e perdidos bilhões de dólares em projetos de assentamentos agrícolas é

Amazônia, hoje

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Professora doutora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade

de São Paulo, socióloga pela FFLCH\USP, mestre pela Universidade

de Uppsala, Suécia, e Professora convidada para ministrar aulas sobre Cultura Brasileira na Universidade de

Estudos Estrangeiros, no Japão, em Kyoto.E-mail: [email protected]

Dilma de Melo Silva

modelo generalizado para o desenvol-vimento da amazônia é impraticável.

• Mito de pulmão do mundo, que con-siderava a floresta amazônica responsá-vel pela produção de 80% do oxigênio (o2) e fixador de dióxido de carbono (co2) e que sua destruição privaria o planeta dos seus pulmões. o mito des-considerava tanto a importância dos oceanos e das outras regiões tropicais nesta tarefa quanto o fato de a flores-ta amazônica ser uma floresta madura, mantendo um equilíbrio quase perfei-to entre a produção de o2 e a fixação de co2. Por outro lado, agora que as preocupações humanas deslocaram-se dos gases para a águas, a contribuição da amazônia para o balanço hídrico do planeta tem sido enfatizada, dado que o rio desemboca no mar 176.000 m3 de água por segundo, representando apro-ximadamente 1/6 de toda a água doce levada para os oceanos.

• Mito de solução para os problemas da periferia, que submeteu a região a projetos de colonização governa-mentais visando à expansão da fron-teira agrícola, não só no Brasil como na colômbia, Peru, equador e Bolívia, com o deslocamento de colonos atraí-dos por dois outros mitos: uma terra desabitada e com solos férteis. a co-lonização tem sido acompanhada de construção de estradas, de cidades e de hidrelétricas. o balanço geral dos últimos cinquenta anos de colonização é negativo: os problemas da periferia do sul-sudeste não foram resolvidos e criaram-se na amazônia novas perife-rias com velhos problemas.

• Mito da Amazônia como área rural, que considera a fronteira amazônica semelhante aos movimentos migrató-rios que se desenvolveram no Brasil na primeira metade do século XX, com pioneiros ocupando terras livres com

atividades agrícolas que paulatinamen-te geravam crescimento da população e da produção. na amazônia, a fronteira já nasceu heterogênea, constituída por frentes de várias atividades, com povo-amento rural e produção agrícola relati-vamente modestos, e com intenso ritmo de urbanização, com o governo federal e as agências financiadoras internacionais assumindo o papel de planejador.

• Mito de internacionalização da Amazônia, que surgiu como corolário dos outros mitos, da extensa agressão ambiental das últimas décadas e da in-versão do conflito leste-oeste para nor-te-sul. a internacionalização é “confir-mada” por uma lenda cibernético que divulga um mapa no qual constam li-vros escolares norte-americanos, com a amazônia desenhada e identificada como área internacional.

todos esses mitos terão que passar por uma revisão sistemática, de estu-dos locais, para que haja uma efetiva desmitificação da região, e possamos redimensionar essa realidade. nesse sentido, este número de neo monDo colabora com o caderno especial sobre o Fórum mundial de sustentabilidade, trazendo informes atualizados sobre esse debate.

referência:amaral, Januário. mata Virgem, terra prostituta, sP:terceira margem editora, 2004

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o rio amazonas despeja no ocea-no atlântico seis bilhões de litros de água doce por segundo, ou seja,

o equivalente a um litro de água doce para cada habitante da terra. esses dados por si sós mostram a importância dessa parte do Brasil, nesse momento em que nos encami-nhamos para a escassez de água no planeta. a amazônia é sem dúvida a região mais rica e mais cobiçada do mundo, porque acumula um quinto da água doce da terra e é tam-bém o maior banco genético e a maior flo-resta tropical do nosso planeta, sem contar que no seu subsolo estão fincadas riquezas incomensuráveis que despertam a cobiça dos países ricos. exatamente aí é que reside o grande risco da invasão ambiciosa desses países: estados unidos, canadá, inglaterra, itália e Japão que querem a todo custo in-ternacionalizar os recursos naturais da ama-zônia, como se eles fossem patrimônio da humanidade e não pertencessem aos nove países sul-americanos que abrigam a região e essa floresta. essa atitude nociva precisa ser rechaçada e combatida com veemên-

de permanecer poluindo e não aceitam qualquer tipo de negociação que possa interferir no desenvolvimento venenoso operado por eles. mas existem opiniões dissonantes entre os próprios norte-ame-ricanos, como Jeffrey sachs, economista e professor da universidade de columbia que afirmou que “os paises desenvolvidos como estados unidos e china pregam a defesa do meio ambiente para os outros, mas eles próprios estão destruindo o mundo e são incapazes de frear os impac-tos das mudanças climáticas”. Para ele, o governo do seu país “investe em guerras como a do afeganistão, enquanto o mun-do convive com o veneno despejado no ar e que está destruindo a camada de ozô-nio”. o reflexo dessa política destruidora realizada pelos países ricos é a quantida-de cada vez maior de fenômenos natu-rais avassaladores, como esse mais recen-te ocorrido no Japão, cujas consequências até hoje são notadas. outros desastres ecológicos vão acontecer ainda enquanto que os estados unidos despejam verbas

cia pelo Brasil e por todos os países que se sentem ameaçados na sua soberania. existe uma ofensiva muito forte pela internacio-nalização dessa última grande área florestal disponível no planeta, intervenção essa feita por países que não souberam preservar suas riquezas naturais e que agora se atiram com vigor ameaçando intervir até militarmente sob a alegação de que estão defendendo o meio ambiente.

um general norte-americano, Patrick hugles, chegou a afirmar peremptoriamen-te: “se o Brasil quiser fazer uso da amazô-nia para por em risco o meio ambiente dos estados unidos, precisamos interromper esse processo imediatamente”. soma-se a isso a declaração de al Gore, ex-vice-pre-sidente dos estados unidos: “ao contrário do que os brasileiros pensam, a amazônia não é deles, mas de todos nós”; e made-leine albright: “quando o meio ambiente está em perigo, não existem fronteiras”.

o mais incrível é que esses defen-sores do meio ambiente são os maiores poluidores do universo e fazem questão

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Coisas que eu vi

CUIDADO: Querem nos tirar a Amazônia

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Jornalista, Escritor e Editorialista.Apresentador de TV e Rádio.

Humberto Mesquita

85 Neo Mondo - Dezembro 2010

Jornalista, Escritor e Editorialista.Apresentador de TV e Rádio.

Humberto Mesquita

me perguntando ao telefone: - “Mas Hum-berto. É verdade que você fez um filme pornográfico na cidade dói Conde, aqui na Paraíba ?

–“Não governador. Gravei cenas de uma praia de nudismo, sem qualquer pre-ocupação com sensacionalismo.

“Mas aqui na Paraíba, não tem praia de nudismo, retrucou o Buriti.

“–Tem sim governador. É a praia de Tambaba. Se o senhor quiser eu mostrarei as imagens gravadas para o senhor ter certeza.

E o governador nos pediu para que le-vasse o material no Palácio da Redenção.

Ao desligar o telefone procurei comu-nicar-me com o prefeito Aluisio Regis e expliquei tudo o que estava acontecendo, toda a repercussão do nosso trabalho e a pressão que eles estavam exercendo para que eu não pudesse mostrar aquelas cenas na televisão.

O prefeito me perguntou: “O que é que eu posso fazer”. Perguntei se ele ti-nha maioria na Câmara Municipal , e com a resposta afirmativa dele eu sugeri que ele convocasse os vereadores e aprovasse imediatamente um decreto lei da criação da praia de nudismo de Tambaba. E foi as-sim que aconteceu. Pela vontade unânime dos senhores vereadores de Conde surgiu o decreto lei 276 que criava a primeira praia de nudismo do Nordeste, que de-pois passou por toda uma regulamentação

transformando-a hoje numa das maiores atrações turísticas do Nordeste brasileiro e porque não dizer, do Brasil.

E depois, quando levamos as cenas tomadas na praia de Tambaba para o go-vernador Tarcisio Buriti, ele exclamou as-sustado e feliz:

Agora sei que existe a praia porque re-cebi a noticia da boca do prefeito Aluisio Regis.

E arrematou: “Vocês jornalistas!!!”. E o SBT deu o furo. M o nudismo da Praia de Tambaba no programa Isto é Brasil.

Tambaba hojeTambaba é oficialmente uma praia de

naturismo e quem quiser fazer essa pratica deve respeitar seu Código de Ética:

- Na faixa da praia destinada a pratica do naturismo, só é permitida a entrada de grupos familiares, sendo vedada a entrada de homens desacompanhados.

– O nudismo é opcional. Não é obriga-do a ficar nu, porque existe também a área dos “vestidos”.

– É proibido ter comportamento sexu-almente ostensivo ou praticar atos de cará-ter sexual ou obscenos.

– Não é permitido fotografar, filmar outros naturistas, sem a permissão dos mesmos.

– As pessoas que freqüentam esse espaço não devem se portar de maneira desrespeitosa ou discriminatória perante

outros naturistas ou visitantes.É inaceitá-vel provocar danos a Flora e a Fauna ou a imagem do Naturismo.

– É proibido satisfazer necessidades fi-siológicas em áreas impróprias.

– É proibido exceder-se na ingestão de bebidas alcoólicas causando constrangi-mento a outros naturistas.

Seguindo essas regras você pode utili-zar Tambaba, a primeira praia naturista do Nordeste, esse paraíso natural cercado de pedras formando um conjunto harmônico que encanta os olhos mais exigentes.

Ela tem 600 metros de extensão e falácias que alcançam até 20 metros de altura. Sua configuração geográfica com encostas de grandes barreiras permi-te uma proteção natural contra olhares curiosos, facilitando o bem estar de quem a freqüenta.

No auge do verão entre novembro e março, a praia é invadida por naturistas do mundo inteiro. A regra principal de Tambaba é a pessoa incorporar o espírito do naturismo, ficar à vontade e não se pre-ocupar com a vida e o corpo dos outros.

CUIDADO: Querem nos tirar a Amazônia

para ações da violência armada. Quem são eles, pois, para se imiscuírem em assuntos da amazônia ? seus interesses estão muito mais voltados para a ganân-cia econômica do que para a proteção ambiental. eles sabem que a amazônia é uma região muito rica, com 4 milhões de quilômetros quadrados, com uma in-vejável estrutura geológica, onde o metal pesado se concentrou sendo uma riqueza mineral sem paralelos no mundo.

todo o sul da amazônia que vai do acre até a chapada Diamantina, o chama-do escudo Brasileiro, é uma área com for-mação geológica com mais de 3 bilhões de anos, e onde se concentram enormes ri-quezas minerais. há por ali, na região dos cintas-largas a maior mina de diamantes do mundo que está sendo explorada por uma empresa do grupo hot shield. essa empresa criou onGs que controlam atra-vés do domínio dos índios, a exploração do diamante. eles sustentam com ninha-rias os índios cintas-largas e mantêm o controle e a exploração das minas.

as histórias que são contadas na re-gião nos levam à conclusão de que a cada dia aumentam o interesse e a expansão estrangeira na região amazônica. o gene-ral-de-brigada Durval antunes nery nos contou que um colega de farda general claudimar, comandante da região em Boa Vista, soube da existência de uma bandei-ra hasteada num lugar denominado rapo-sa-serra do sol. Foi lá e ordenou que se retirasse dali a bandeira da comunidade econômica europeia e ouviu do intruso a seguinte expressão: ”aqui é de quem paga”.

o general retirou a bandeira e fincou a brasileira. Quando deu as costas recoloca-ram a bandeira estrangeira. na amazônia existem reservas valiosíssimas de nióbio. o Brasil detém 98% das reservas do mun-do desse material que serve como liga resistente em lâminas sendo aplicado na fabricação de instrumentos cirúrgicos, avi-ões, turbinas de aviões e peças que podem ser submetidas a altas temperaturas.

a maior concentração desse material está localizada na área indígena Yanomani

e por ali são contrabandeadas quantidades imensas pra abastecer todo o mundo, sem se apurar qualquer divisa para o Brasil. É uma empresa americana que opera sob a complacência do Brasil e dos brasileiros mal intencionados.

a amazônia é o celeiro do mundo, no ar, na água e na terra. Dela são extraídas riquezas minerais, riquezas florestais para fabricação de remédios e até mesmo a sua água que um dia poderá ser desloca-da através de operações tecnológicas para abastecer nosso irmão do norte, esse ir-mão mais rico, que explora o mundo em seu proveito mas que jamais respeitou as regras de convivência com os povos do mundo. a eles tudo!!! e o mundo que se ajoelhe a seus pés. o amazonas é nosso. É nosso dever buscar todas as formas de defender essa soberania.

neo mondo - abril 2011 59

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neo mondo - maio 2008 60

w

Nestas últimas décadas fomos testemunhas das maiores mudanças que já

ocorreram na história da humanidade. Além de um fantástico progresso material

e tecnológico, a população mundial ultrapassou os sete bilhões de pessoas. Estamos

exaurindo o capital natural da Terra. Não há mais nenhuma parte do planeta que

não tenha sido impactada pela ação do homem. Nossos ecossistemas, cujos serviços

de suporte de vida são insubstituíveis, estão à beira do colapso.

As mudanças climáticas, a crescente escassez de água e alimentos, as grandes

migrações de populações em busca de melhores oportunidades de vida são claros

indícios de que nosso modelo econômico e social não é sustentável. Nesta época

de crise ambiental, social e econômica, a união de esforços pelo bem comum

torna-se imprescindível para garantir a sobrevivência da civilização, preservar os

ecossistemas e assegurar a harmonia do homem com seu meio.

As soluções existem e muitas já estão prontas para serem usadas. As que faltam

virão rapidamente se engajarmos a capacidade intelectual, a seriedade e a

criatividade das empresas, da sociedade civil e de governos que hoje compartilham

um planeta cada vez menor e mais ameaçado.

Precisamos agora de lideranças fortes, determinadas e capazes de implementar

essas soluções na velocidade que os problemas demandam. Precisamos de novas

mentalidades que privilegiem a prosperidade a longo prazo, em vez do lucro a curto

prazo. E que incorporem em seus modelos econômicos o valor de ter ecossistemas

íntegros e saudáveis, para consolidar sociedades mais justas e equilibradas.

Que este Manifesto do Fórum Mundial de Sustentabilidade 2011 ressoe, portanto,

como uma convocação a líderes de todos os segmentos da sociedade – governo,

empresas e sociedade civil – para colocarem no topo de suas agendas a construção

de um planeta sustentável, em que a busca do bem-estar de todos resulte na

preservação da natureza e no respeito ao ser humano

Manaus, 26 de Março de 2011 – Amazonas, Brasil.

MANIFESTO DO FÓRUM MUNDIAL DE SUSTENTABILIDADE