neomondo 44 pdf

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www.neomondo.org.br NEOMON DO UM OLHAR CONSCIENTE Ano 5 - Nº 44 - Setembro/Outubro 2011 - Distribuição Gratuita PERFIS ESPECIAL Mauricio de Sousa Conscientização em quadrinhos 18 Fábio Feldmann Referência em meio ambiente Renato Aragão “Eterna criança” 22 30

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www.neomondo.org.br

NeoMoNdoum olhar conscienteAno 5 - Nº 44 - Setembro/Outubro 2011 - Distribuição Gratuita

Perfisespecial

Mauricio de sousaConscientização em quadrinhos

18

fábio feldmann Referência em meio ambiente

renato Aragão “Eterna criança”

22 30

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neo mondo - maio 2008 2

todos os animais

Os animais são diretamente afetados pelo comportamento humano.

Podemos ser cruéis e negligentes, mas também podemos manifestar bondade e compaixão — valores que exemplificam

o melhor do espírito humano.

Acesse hsi.org/compaixao e veja como você pode ajudar.

Proteção e respeito a todos os animais

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3neo mondo - maio 2008

todos os animais

Os animais são diretamente afetados pelo comportamento humano.

Podemos ser cruéis e negligentes, mas também podemos manifestar bondade e compaixão — valores que exemplificam

o melhor do espírito humano.

Acesse hsi.org/compaixao e veja como você pode ajudar.

Proteção e respeito a todos os animais

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Perfil

Perfil

Perfil

PerfilSeções

Aziz Ab’ Sáber Polêmica é com ele mesmo

Artigo – Terence TrennepohlFim dos subsídios ao etanol

Diretor Responsável: Oscar Lopes Luiz

Diretor de Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira(MTB 16.586)

Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins e Vinicius ZambranaRedação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), Rosane Araujo (MTB 38.300) e Antônio Marmo (MTB 10.585)

Estagiário: Bruno Molinero

Revisão: Instituto Neo Mondo

Diretora de Arte: Renata Ariane Rosa

Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo

Tradução: Efex Idiomas - Tel.: 55 11 8346-9437Diretor de Relações Internacionais: Vinicius ZambranaDiretor Jurídico: Dr.Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva

Correspondência: Instituto Neo MondoRua Ernesto dos Santos, 182 – Jardim Independência – São Paulo – SPCep: 03225-000

Para falar com a Neo Mondo:[email protected]@[email protected]

Para anunciar: [email protected]. (11) 2679-1690

Presidente do Instituto Neo Mondo:[email protected]

Expediente PublicaçãoA Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24.

Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas.

Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.

Mauricio de Sousaconscientização em quadrinhos

Perfil

w

Prezado leitor, é com satisfação que preparamos mais uma edição de NEO MONDO.Para comemorar nossa entrada no quinto ano, selecionamos algumas entrevistas da editoria “PERFIL”, fazendo com que este número se torne indispensável em sua mesa de cabeceira.Para descontrair trazemos de cara nosso eterno Renato Aragão “Didi”, um ícone do público infantil brasileiro.Desde 2001, ele é embaixador do UNICEF e participa de campanhas e ações voltadas para o acesso a educação e serviços de saúde para crianças e adolescentes.Sua trajetória de vida e de carreira na defesa das crianças será o ponto-chave da reportagem.Já que estamos falando de crianças e adolescentes, não poderíamos deixar de fora nosso querido Mauricio de Sousa, maior quadrinista brasileiro, ele acumula números impressionantes: tem mais de 1 bilhão de revistas publicadas, mais de 200 personagens criados, mais de 3 mil ítens de produtos licenciados, personagens publicados em 50 idiomas, em 126 países e em 2009, completou 50 anos de carreira.Saindo um pouco desse mundo maravilhoso de fantasia, mergulhamos no cenário político com uma entrevista muito interessante com o advogado e administrador de empresas paulista Fábio Feldmann.Em 1980 e 1986 respectivamente, fundou com o apoio de um grupo de profissionais engajados na defesa do meio ambiente as ONGs OIKOS – União dos defensores da Terra e SOS Mata Atlântica.Ainda em 86, foi eleito deputado federal, cargo que exerceria por três mandados consecutivos.

Essa é uma pequena parte do que você irá encontrar em nossas páginas.

Tenha uma ótima leitura!

Editorial

Oscar Lopes LuizPresidente do Instituto Neo Mondo

[email protected] Aziz Ab’ Sáber

controversy is his middle name

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Perfil

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Fábio Feldmann referência em meio ambiente

rePorts in english

Renato Aragão“eterna criança”

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Perfil

Viviane Senna Pela memória de ayrton senna

Marcos Hummel “revolução educacional”

Roberto Klabin ambientalista empreendedor

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Perfil

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neo mondo - setembro/outubro 201104

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neo mondo - Julho 2008 5

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neo mondo - setembro/outubro 20116

Perfil

E le já disse que a coP 15 é uma far-sa e que a amazônia, assim como a mata atlântica, tende a crescer com

o aquecimento global, e não virar deserto. aziz nacib ab´ sáber - professor emérito da universidade de são Paulo (usP), refe-rência em meio ambiente e impactos am-bientais -, aos 86 anos, completados em outubro, 70 deles mergulhado em estudos de Geografia (doutorado em 1956), é o Per-fil desta edição.

natural de são luís do Paraitinga, no Vale do Paraíba (sP), sáber discorre com propriedade sobre um dos assun-tos que está na ordem do dia no País: o código Florestal.

o pesquisador antecipa estudo, inédi-to, sobre “a história vegetacional do Planal-to Paulistano”, em que detona a exploração imobiliária inescrupulosa com a conivência de prefeituras despreparadas. houve tem-pos em que, na são Paulo de Piratininga, a vegetação predominante era de florestas tropicais, com bosquetes de araucárias em pequenas subáreas de florestas em colinas e terraços paulistanos. “nos mapas dese-nhados em tempos coloniais foram reco-nhecidos pinheiros (araucárias) em são mi-guel Paulista”, diz o estudo.

Pensador incansável, a sabedoria que está presente desde as letras do seu so-brenome, sáber faz questão de que seja compartilhada, com base em alguns de seus escritos mais recentes, para satisfa-ção nossa e, com certeza, dos leitores de neo monDo.

Quando o assunto é meio ambiente e impactos ambientais, Aziz Ab´ Sáber fala de cátedra

sem poupar especialistas de fachada ou especuladores

Gabriel Arcanjo Nogueira

Div

ulga

ção

é com ele mesmo

Sáber não se conforma: sua ideia do Código de Biodiversidades foi mal recebida em Brasília

mauro Bellesa/iea-usP

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5 neo mondo - outubro 2010

Neo MoNdo: Fala-se, escreve-se e ensina-se sobre biomas ou ecossistemas brasileiros. Como o senhor os classifica, ainda mais quando se discute no Brasil o Código Florestal com as implicações de uma reforma do texto legal?Aziz Ab´ sáber: Em face do gigantismo do território e da situação real em que se encontram os seus macrobiomas - Amazônia brasileira, Brasil Tropical Atlântico, Cerrados do Brasil Central, Planalto das Araucárias e Pradarias Mistas do Brasil Subtropical - e de seus numerosos minibiomas, faixas da transi-ção e relictos de ecossistemas, qualquer tentativa de mudança no Código Flores-tal tem que ser conduzida por pessoas competentes e bioeticamente sensíveis. Pressionar por uma liberação ampla dos processos de desmatamento signi-fica desconhecer a progressividade de cenários bióticos, a diferentes espaços de tempo futuro, favorecendo de modo simplório e ignorante os desejos patrimoniais de classes sociais que só pensam em seus interesses pessoais, no contexto de um país dotado de grandes desigualdades sociais: cidadãos de classe social privilegiada, que nada entendem de previsão de impactos; não têm qualquer ética com a natu-reza; não buscam encontrar modelos técnico-científicos adequados para a recuperação de áreas degradadas, seja na Amazônia seja no Brasil Tropical Atlântico, ou alhures. Pessoas para as quais exigir a adoção de atividades agrárias “ecologicamente sustentáveis” é uma mania de cientistas irrealistas. Neo MoNdo: O que o senhor con-sidera, na revisão do Código, mais adequado à nossa realidade?Aziz Ab´ sáber: Por muitas razões, se houvesse um movimento para aprimo-rar o atual Código Florestal, teria que envolver o sentido mais amplo de um Código de Biodiversidades, levando em conta o complexo mosaico vegeta-cional de nosso território. Remetemos

essa ideia para Brasília e recebemos em resposta que essa era uma ideia boa, mas complexa e inoportuna. Agora, outras personalidades trabalham por mudanças estapafúrdias e arrasadoras no chamado Código Florestal. Razão pela qual ousamos criticar aqueles que insistem em argumentos genéricos e perigosos para o futuro do país. É necessário, mais do que nunca, evitar que gente de outras terras, so-bretudo de países hegemônicos, venha a dizer que fica comprovado que o Brasil não tem competência para diri-gir a Amazônia. Ou seja, os revisores do atual Código Florestal não teriam competência para dirigir o seu todo territorial do Brasil. Que tristeza! Neo MoNdo: A seu ver, o que está er-rado na elaboração do novo Código?Aziz Ab´ sáber: O primeiro grande erro dos que no momento lideram a revisão do Código Florestal brasileiro - a favor de classes sociais privilegiadas - diz respeito à chamada estadualização dos fatos ecológicos de seu território especí-fico. Sem lembrar que as delicadíssimas questões referentes à progressividade do desmatamento exigem ações con-juntas dos órgãos federais específicos, em conjunto com órgãos estaduais similares, uma Polícia Federal rural e o Exército Brasileiro. Tudo conectado ainda com autoridades municipais, que têm muito a aprender com um Código novo que envolve todos os macrobio-mas do país e os minibiomas que os pontilham, com especial atenção para as faixas litorâneas, faixas de contato entre as áreas nucleares de cada domí-

nio morfoclimático e fitogeográfico do território.Para pessoas inteligentes, capazes de prever impactos, a diferentes tempos de futuro, fica claro que ao invés da “esta-dualização”, é absolutamente necessário focar o zoneamento físico e ecológico de todos os domínios de natureza do país. A saber, as duas principais faixas de florestas tropicais brasileiras: a zonal amazônica e a azonal das matas atlânti-cas; o domínio dos cerrados, cerradões e campestres; a complexa região semiári-da dos sertões nordestinos; os planaltos de araucárias e as pradarias mistas do Rio Grande do Sul, além de nosso litoral e o pantanal mato-grossense. Neo MoNdo: A classe política, bem como as demais envolvidas diretamen-te nessa revisão, tem feito corretamen-te a sua parte?Aziz Ab´ sáber: Seria preciso lembrar ao honrado relator Aldo Rebelo - que a meu ver é bastante neófito em matéria de questões ecológicas, espaciais e em futurologia - que atualmente na Amazô-nia brasileira predomina um verdadeiro exército paralelo de fazendeiros que em sua área de atuação tem mais força do que governadores e prefeitos. O que se viu em Marabá, com a passagem das tropas de fazendeiros, pela Avenida da Transamazônica, deveria ser conhecido pelos congressistas de Brasília e diferen-tes membros do Executivo. De cada uma das fazendas regionais passava um grupo de 50 a 60 cama-radas, tendo à frente, em cavalos nobres, o dono da fazenda e sua esposa, e os filhos em cavalos lindos.

Novas exigências do Código Florestal proposto têm caráter de liberação excessiva e abusiva...

a biodiversidade animal será afetada de modo radical

“”

Código Florestal liberalizante, para Sáber, cria um cenário que impede o uso de terras em atividades agrícolas

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Os grupos iam passando separados entre si, por alguns minutos. E alguém, a pé, como se fosse um comandante, controlava a passagem da cavalgada dos fazendeiros. Somente dois ciclistas meninos deixaram as bicicletas na beira da calçada olhando, silentes, a passagem das tropas. Nenhum jornal do Pará, ou alhures, noticiou a ocor-rência amedrontadora. Alguns de nós não pudemos atravessar a ponte para participar de um evento cultural. Neo MoNdo: Que cena dantesca, não?!Aziz Ab´ sáber: Será certamente, apoia-dos por fatos como esse, que alguns proprietários de terras amazônicas deram sua mensagem, nos termos de que “a propriedade é minha e eu faço com ela o que eu quiser, como quiser e quando quiser”. Mas ninguém esclarece como conquistaram seus imensos espa-ços inicialmente florestados. Sendo que alguns outros, vivendo em diferentes áreas do Centro-Sul brasileiro, quando perguntados sobre como enriqueceram tanto, esclarecem que foi com os “seus negócios na Amazônia”...Ou seja, com loteamentos ilegais, venda de glebas para incautos em locais de difícil acesso, os quais, ao fim de certo tempo, são libertados para brasileiros contumazes. E o fato mais infeliz é que ninguém procura novos conhecimentos para reutilizar terras degradadas. Ou exigir dos governantes tecnologias ade-quadas para revitalizar os solos que per-deram nutrientes e argilas, tornando-se dominados por areias finas (siltização).

Neo MoNdo: Que aspectos o senhor considera mais relevantes no processo?Aziz Ab´ sáber: Entre os muitos aspectos caóticos, derivados de alguns argumen-tos dos revisores do Código, destaca-se a frase que diz que se deve proteger a vegetação até 7,5 metros do rio. Uma redução de um fato que por si já estava muito errado, porém agora está reduzido genericamente a quase nada em relação aos grandes rios do país. Imagine-se que, para o Rio Amazonas, a exigência protetora fosse de apenas 7 metros, enquanto para a grande maioria dos ribeirões e córregos também fosse aplicada a mesma exigência. Trata-se de desconhecimento entristecedor sobre a ordem de grandeza das redes hidrográfi-cas do território intertropical brasileiro. Na linguagem amazônica tradicional, o próprio povo já reconheceu fatos referentes à tipologia dos rios regionais. Para eles, ali existem, em ordem crescen-te: igarapés, riozinhos, rios e parás. Uma última divisão lógica e pragmática, que é aceita por todos os que conhecem a realidade da rede fluvial amazônica. Por desconhecer tais fatos, os relato-res da revisão aplicam o espaço de 7 metros da beira de todos os cursos d´água fluviais, sem mesmo terem ido lá conhecer o fantástico mosaico de rios do território regional.Mas o pior é que as novas exigências do Código Florestal proposto têm um caráter de liberação excessiva e abusi-va. Fala-se em 7,5 metros das florestas beiradeiras (ripário-biomas) e, depois, em preservação da vegetação de even-

tuais e distantes cimeiras. Sem poder imaginar quanto espaço fica liberado para qualquer tipo de ocupação do espaço. O que é lamentável em termos de planejamento regional, de espa-ços rurais e silvestres; lamentável em termos de generalizações forçadas por grupos de interesse (ruralistas). Neo MoNdo: O que mais surpreende a comunidade acadêmico-científica numa situação dessas?Aziz Ab´ sáber: Já se poderia prever que um dia os interessados em terras ama-zônicas iriam pressionar de novo pela modificação do percentual a ser preser-vado em cada uma das propriedades de terras na região. O argumento simplista merece uma crítica decisiva e radical. Para eles, se em regiões do Centro-Sul brasileiro a taxa de proteção interna da vegetação florestal é de 20%, por que na Amazônia a lei exige 80%? Mas ninguém tem a coragem de analisar o que aconteceu nos espaços ecológicos de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais com os 20%. Nos planaltos interiores de São Paulo a somatória dos desmatamentos atingiu cenários de generalizada derruição. Nessas importantes áreas, dominadas por florestas e redutos de cerrados e campestres, somente o tombamento integrado da Serra do Mar, envolven-do as matas atlânticas, os solos e as aguadas da notável escarpa, foi capaz de resguardar os ecossistemas orográ-ficos da acidentada região. O restan-te - nos “mares de morros”, colinas e

neo mondo - setembro/outubro 201108

Perfil

Cavalgada de fazendeiros em Marabá: exército paralelo mostra força superior à de governadores e prefeitos em plena Amazônia brasileira, na visão do cientista

acervo Pessoal

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várzeas do Médio Paraíba e do Planalto Paulistano, bem como parte da Serra da Mantiqueira - sofreu uma derruição deplorável. É o que alguém no Brasil, falando de gente inteligente e bioética, não quer que se repita na Amazônia brasileira, em um espaço de 4,2 milhões de quilômetros quadrados.

Neo MoNdo: O senhor vê algum fio de esperança de que a revisão do Código seja aperfeiçoada?Aziz Ab´ sáber: Os relatores do Código Florestal falam em que as áreas muito desmatadas e degradadas poderiam ficar sujeitas a “(re)florestamento” por espécies homogêneas, pensando em eucalipto e pinus. Uma prova de sua grande ignorância, pois não sabem a menor diferença entre refloresta-mento e florestamento. Este último, pretendido por eles, é um fato exclu-sivamente de interesse econômico-empresarial, que infelizmente não pretende preservar biodiversidades. Sendo que eles procuram desconhecer que, para áreas muito degradadas, foi feito um plano de (re)organização dos espaços remanescentes, sob o enfoque de revigorar a economia de pequenos e médios proprietários, no chamado Projeto Floram. Os eucaliptólogos perdem pontos éticos quando alugam espaços por 30

anos, de incautos proprietários, pre-ferindo áreas dotadas ainda de solos tropicais férteis, do tipo dos oxissolos, e evitando as áreas degradadas de morros pelados, reduzidas a trilhas de pisoteio, hipsométricas, semelhantes ao protótipo existente no Planalto do Alto Paraíba, em São Paulo. Ao arrendar terras de bisonhos proprietários, para uso em 30 anos, e sabendo que os donos da terra podem morrer quando se completar o prazo, criam um grande problema judicial para os herdeiros, sendo que ao fim de uma negociação as empresas cor-tam todas as árvores de eucalipto ou pinus, deixando miríades de troncos no chão do espaço terrestre. Um cená-rio que impede a posterior reutilização das terras para atividades agrárias. Tudo isso deveria ser conhecido por aqueles que defendem ferozmente um Código Florestal liberalizante. Neo MoNdo: Que orientação o senhor daria aos responsáveis mais diretos por esse instrumento legal?Aziz Ab´ sáber: Por todas as razões so-mos obrigados a criticar a persistente e repetitiva argumentação do depu-tado Aldo Rebelo, que conhecemos há muito tempo e de quem sempre esperávamos o melhor. No momento somos obrigados a lembrar a ele que

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cada um de nós tem que pensar na sua biografia e, sendo político, tem que honrar a história de seus partidos. Mormente em relação aos partidos que se dizem de esquerda e jamais pdoeriam fazer projetos totalmente dirigidos para os interesses pessoais de latifundiários.Insistimos que, em qualquer revisão do Código Florestal vigente, deve-se en-focar as diretrizes nas grandes regiões naturais do Brasil, sobretudo domínios de natureza muito diferentes entre si, tais como a Amazônia, e suas extensís-simas florestas tropicais, e o Nordeste seco, com seus diferentes tipos de caatinga. Trata-se de duas regiões opósitas em relação à fisionomia e à ecologia, assim como em face das suas condições socioambientais.Ao tomar partido pelos grandes domí-nios administrados técnica e cientifica-mente por órgãos do Executivo fede-ral, teríamos que conectar instituições específicas do governo brasileiro com instituições estaduais similares. A Ama-zônia envolve conexões com 9 estados do Norte brasileiro. Em relação ao Brasil Tropical Atlântico, os órgãos do governo federal - Ibama, Iphan, Funai e Incra - teriam que manter conexões om os diversos setores similares dos governos estaduais de norte a sul do Brasil. E assim por diante.

* Aziz Nacib Ab´Sáber nasceu em 24/10/1924 em São Luís do Paraitinga (SP)

* Cientista polivalente, recebeu, entre outros títulos, o de:

• membro honorário da Sociedade de Arqueologia Brasileira

• Grã-Cruz em Ciências da Terra pela Ordem Nacional do Mérito Científico

• Prêmio Internacional de Ecologia de 1998

• Prêmio Unesco para Ciência e Meio Ambiente

* Professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FLCH - USP)

* Professor honorário do Instituto de Estudos Avançados (IEA - USP)

* Professor honoris causa da Unesp

* Presidente de Honra da Sociedade Brasi-leira para o Progresso da Ciência (SBPC), da qual já foi presidente

* Representou a Academia Brasileira de Ciências (ABC) na Eco 92, no Rio de Janeiro

* Entre suas Pesquisas, constam as de:

• Domínios morfoclimáticos e fitoge-ográficos

• Sertões do Nordeste• Estudos Amazônicos• Superfícies aplainadas no Brasil• Teorias dos refúgios• Revisão das pesquisas sobre “de-

sertificação” na Campanha Gaúcha de Sudoeste

• Por uma Educação Fundamental cruzada com Educação de Base Re-gional, para o Brasil como um todo

Fontes: Academia Brasileira de Ciências (ABC)/Wikipédia

de são Luís do Paraitinga para o mundo

mau

ro B

elle

sa/i

ea-u

sP

Especialista não poupa nem o relator, que considera neófito,

nem o exército de fazendeiros

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Perfil

Neo MoNdo: Do jeito que está, esta-ríamos na contramão da história?Aziz Ab´ sáber: Enquanto o mundo inteiro propugna pela diminuição radical de emissão de CO2, o projeto, proposto na Câmara Federal, de revi-são do Código Florestal defende um processo que significará uma onda de desmatamento e emissões incontrolá-veis de gás carbônico, fato observado por muitos críticos em diversos traba-lhos e entrevistas.Parece ser muito difícil para pessoas não iniciadas em cenários cartográfi-cos perceberem os efeitos de um des-matamento na Amazônia de até 80% das propriedades rurais silvestres. Em qualquer espaço do território amazônico, em que vêm sendo esta-belecidas glebas nas quais se poderia realizar um desmate de até 80%, haverá um mosacio caótico de áreas dematadas e faixas interproprie-dades estreitas e mal preservadas. Lembrando ainda que, nas propostas de revisão, alguns donos de proprie-dades com até 400 hectares teriam o direito de um desmate total em suas terras, vejo-me na obrigação de de-nunciar que, a médio e longo prazos, existiria um infernal caleidoscópio no espaço total de qualquer área da Amazônia. Nesse caso, as bordas dos restos de florestas, interglebas, ficarão à mercê do corte de árvores dotadas de madeiras nobres. E, além disso, a biodiversidade animal, cer-tamente, será a primeira ser afetada de modo radical. Neo MoNdo: O senhor tem algum trabalho específico sobre o maior centro urbano do Brasil, que é São Paulo? Aziz Ab´ sáber: Sim, e nossa preocu-pação é a defesa intransigente das poucas florestas remanescentes nas porções centrais e intermediárias da metrópole paulistana. Sobretu-do em relação ao caso da mata do Portal do Morumbi (Jardim Suzana), onde ocorrem florestas biodiversas em um espaço de 97 mil metros quadrados. E de onde, na borda da mata, funciona o Colégio Santa Maria do Morumbi, em um prédio projetado pelo saudoso arquiteto Oswaldo Bratique.

Neo MoNdo: Como ficam as regiões periféricas da capital paulista?Aziz Ab´ sáber: Há florestas das periferias de São Paulo (Metrópole Externa) dotadas de alguns espaços florestados, em que o problema resi-de em planejamento regional do es-tado e dos municípios da Grande São Paulo, para evitar uma conurbação caótica de imobiliaristas vinculados ao neocapitalismo e totalmente insensí-vel ao futuro dos espaços ecológicos que restaram no sistema de colinas da região de São Paulo.

Soubemos de um desmate criminoso, pendente de ocupação de espaços flo-restados que existiam entre Alphaville e Granja Vianna. Se isso acontecer, em termos de imobiliarismo inicia-se a am-pliação totalizante do mundo urbano sobre a natureza tropical atlântica que predominava nas colinas e interflúvios do Planalto Paulistano. Trata-se, mais uma vez, de projetos dinheiristas do imobiliarismo neocapitalista, observa-do muito de longe por prefeituras mal-dotadas de inteligência e capacidade de pensar o futuro.

“Terroristas do clima”

Em meio ao agito internacional da Conferência do Clima, em Copenhague, em dezembro de 2009, Sáber ponderou sobre o evento:

“Copenhague é uma farsa. Quando eu vi que levaram cerca de 700 pessoas do Brasil pra lá eu disse ‘meu Deus, essas pessoas não terão um segundo pra falar, nem nada’. Para mim, quando uma conferência passa de 1.000 pessoas na sala, elas ficam só ouvindo as metas e propostas dos outros. Não há espaço para debate ou questionamento. Além disso, os países levam metas irreais. Quando um país diz que vai reduzir 40%, por exemplo, não vai. Espertos são os países que levam metas baixinhas”.

E não deixou por menos ao se referir à redução das emissões de CO2:

“Não tenho a menor dúvida de que as causas não são tão perfeitas como eles pensam. Mas é fato que está havendo um aquecimento. Na cidade de São Paulo, no século passado, tinha 18,6 graus Celsius de temperatura média na área central. Hoje, tem entre 20,8 e 21,2 graus. Se a gente fizer a somatória de todas as cidades em São Paulo e as contas do desmate ocorrido no nosso território, veremos que com esses desmates o sol passou a bater diretamente no chão da paisagem. O clima urbano deve ser consi-derado, porque evidentemente esse clima tem certa projeção espacial, em algumas cidades mais em outras menos.

“Há também que se considerar os efeitos das chamadas Células ou Ilhas de Calor, porque quando eu digo que a temperatura da cidade de São Paulo aumentou neste século, eu não falo do estado como um todo, nem mesmo da cidade. A temperatura medida na área central é uma, nos Jardins é outra e, lá onde eu moro, perto de Cotia, é outra”.

Para ele, as “observações de que o aquecimento global vai derrubar a Amazônia são terroristas. Há um aquecimento? Sim, seja ele mediano seja vagaroso, mas, quanto mais calor, a tendência, no caso da Mata Atlântica e da Amazônia, é que elas cresçam e não que sejam reduzidas. Parece que essas pessoas, esses terroristas do clima nunca foram para o litoral (Baixada Santista - N.R.). A gente que observa o céu vê que as nuvens estão subin-do e sendo empurradas para a Serra do Mar, levando mais umidade para dentro do território. Esses cientistas alarmistas não observam nada, não têm interdisciplinaridade. Na média, está havendo aquecimento, mas as consequências desse aquecimento não são como eles preveem. Mas essa é uma realidade não relacionada tão diretamente com a poluição atmosféri-ca do globo e pode sofrer críticas sérias de pessoas com maior capacidade de observação”.

Fonte: Terra Magazine

10 neo mondo - setembro/outubro 2011

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neo mondo - setembro 2008 A

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neo mondo - september/october 201112

Profile

H e has said that the coP 15 is a farce and that the amazon, Just like the atlantic coastal rainfo-

rest tends to grow with global warming, and won’t become a desert. nacib aziz ab ‘saber - professor emeritus at the university of são Paulo (usP), a referen-ce in the environment and environmen-tal impacts - aged 86, completed this month, 70 of them steeped in studies of Geography (Ph.D. 1956), is Profiled in this issue.

Born in sao luis do Paraitinga, in Vale do Paraiba (sP), saber talks kno-wledgeably on a subject that is at the top of the agenda in the country: the Forest code.

the researcher anticipates a study, as yet unpublished, on “the vegetation his-tory of the Paulistano Plateau,” which he harshly criticizes the real estate business with the connivance of unscrupulous unprepared municipalities. there were times when, in the sao Paulo of Piratinin-ga, the dominant vegetation was of tropi-cal forests, with clumps of pines in small subareas of terraced hills and forests in são Paulo. “in maps drawn in colonial ti-mes were recognized pines (araucaria) in sao miguel Paulista,” says the study.

a restless thinker, the wisdom that is present even in the letters of his sur-name, saber is keen to share, based on some of his more recent writings, for to our satisfaction and of course, readers of neo monDo.

When the subject is the environment and environmental impacts. Aziz Ab´ Sáber speaks of the Dean’s chair with no holds barred for the disguised specialists or speculators.

Gabriel Arcanjo Nogueira

Div

ulga

ção

is his middle name

Sáber does not agree: his idea of a Biodiversity Code was not well received in Brasília

mauro Bellesa/iea-usP

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5 neo mondo - outubro 2010

Neo MoNdo: We talk, we write and we teach about biomes or ecosyste-ms within Brazil. How do you classify them, even when discussing the Fores-try Code in Brazil with the implications of a reform of the legal text?Aziz Ab ‘saber: Faces with the huge size of the territory and the actual situ-ation that the macro-biomes are found in - the Brazilian Amazon, Brazilian Atlantic Costal Rainforest, the Cerrado of Central Brazil, the Araucaria Plateau and Mixed Prairies of Subtropical Brazil - and its numerous mini-biomes, strips of transition and remnants of ecosystems, any attempt to change the Forest Code has to be conducted by people who are competent and bio-ethically sensitive.To press for an ample liberation of the deforestation processes means being unaware of the Progressiveness of biotic scenarios, the different spaces of future time, so favoring in a naive and ignorant way the patrimonial wishes of social classes that only think about their personal interests in the context a country with great social inequali-ties: citizens of a privileged social class, who understand nothing of predicting impacts; have no ethics towards natu-re, do not seek to find technical and scientific models suitable for restora-tion of degraded areas, which could be in the Amazon or in the Brazilian Atlantic Rainforest, and elsewhere. People for whom the demanding the adoption of agricultural activities that are “ecologically sustainable” is a ma-nia for unrealistic scientists.

Neo MoNdo: What do you consider, in the revision of the Code, the most appropriate for our reality?Aziz Ab ‘saber: For many reasons, if there was a movement to improve the actual Forrest Code, which would have to involve the broader sense of a Biodiversity Code, taking into account the complex vegetation mosaic of our

territory. We sent this idea to Brasilia and received a response that this was a good idea, but complex and intru-sive. Now, other people work on the sweeping and preposterous changes called the Forest Code. That is why we dare to criticize those who insist on generic arguments that are dangerous to the country’s future.It is necessary, more than ever, to prevent people from other lands, especially hegemonic countries, of having reason to say that it is proved that Brazil does not have the compe-tence to manage the Amazon. That is, the reviewers of the current Forest Code would not have competence to manage the whole territory of Brazil. How sad!

Neo MoNdo: In your opinion, what is wrong in the drafting the new code? Aziz Ab ‘saber: The first great mistake of those who currently lead the review of the Brazilian Forest Code - in favor of privileged social classes – refers to the so called state control of the eco-facts of its specific territory. Without remembering that the very delicate issues of progressive deforestation require joint actions of specific federal agencies, along with similar state agencies, a rural federal police and the Brazilian Army. Everything also connectedwith municipal authorities, who have much to learn from a new Code that involves all of the country’s macro-biomes and the mini-biomes that dot it, with special attention to the coastal strips, strips of contact be-tween the core areas of each morpho-

climatic and phyto-geographical domain of the territory.For intelligent people, able to pre-dict impacts at different times in the future, it is clear that instead of state control, it is absolutely necessary to focus on the physical and ecological zoning of all nature areas of the country. Namely, the two main tracts of Brazilian rain forests: the Amazon zone and the Atlantic Coastal Rainfo-rests zone, and the area of savannas, grasslands and cerrados; the complex semiarid region of northeastern hinter-lands, the uplands of pines and mixed grasslands of Rio Grande do Sul, as well as our coasts and the wetlands of Mato Grosso.

Neo MoNdo: The political class and the others directly involved in this review, have done their part correctly? Aziz Ab ‘saber: It shall be necessary to remember the honorable reporter Aldo Rebelo - who I think is quite a novice in the field of ecological, spatial and futurology issues - which prevails currently in the Brazilian Amazon a true parallel army of farmers who in their area of expertise have more po-wer than governors and mayors. What we saw in Maraba with the passage of farmers troops, along the Avenue of the Transamazonica, should be known of by Congress in Brasilia and various members of the Executive.From each of the regional farms passed a group of 50 to 60 buddies, headed on noble horses, by the farmer and his wife and children on beautiful horses. The groups passed by, sepa-

is his middle name

New demands of the proposed Forest Codeare excessively liberal and abusive...

biodiversity of fauna will be affected radically

“”

A liberal Forest Code, for Sáber, generates a scenario that prevents the use of land for agricultural activities

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rated by a few minutes. Someone on foot, like a commander, controlling the passage of the cavalcade of farmers. Only two boys, who left their bikes on the curb overlooking, the passage of the troops in silence. No newspaper in newspaper, or el-sewhere, reported on the frightening occurrence. Some of us could not cross the bridge to participate in a cultural event.

Neo MoNdo: What a gruesome sce-ne, is it not?Aziz Ab ‘saber: It will certainly be, sup-ported by facts like these, which some Amazon landowners gave their messa-ge in terms that “the property is mine and I do with it what I want, however and whenever I want.” But nobody explains how they initially gained their huge initially forested areas. It being that some others living in different areas of the Brazilian Center-South, when asked how they became so rich, state that it was with “my business in the Amazon” ...That is, with illegal lots, sale of plots to unsuspecting people in places of difficult access, which at the end of a certain time, are released to the Bra-zilian offenders. It is a very unfortu-nate fact that nobody is researching for ways to reuse degraded land. Or require the governments to supply appropriate techniques to revitalize soils that have lost their nutrients and clays, which have become dominated by fine sand (silting).

Neo MoNdo: What aspects do you consider most relevant in the process?Aziz Ab ‘saber: Among the many chaotic aspects, derived from some ar-guments of the reviewers of the Code, there stands out the phrase that says it must protect vegetation of a river to up to 7.5 meters from the bank. A reduction of a fact which in itself was very wrong, which is now generically reduced to almost nothing compared to the great rivers of the country. Imagine that, for the Amazon River, the requirement was to protect only 7 meters, while for most of the streams and tributaries the same requirement shall be. It is saddening, the ignorance on the magnitude of river networks of the inter-tropical Brazilian territory.In traditional Amazonian language, the people themselves have ackno-wledged facts about the types of regional rivers. For them, there are, in ascending order: creeks, streams, rivers and “paras”. A final logical and pragmatic division, which is accepted by all who know the reality of the Amazon basin.By ignoring these facts the analysts of the review apply the space of 7 meters from the edge of all courses of river water, without even having been the-re to see the fantastic mosaic of rivers in the Region. But the worst is that the new pro-posed requirements of the Forestry Code have a character of excessive and improper liberation. We talk about 7.5 meters of forests at river

banks (riparian-biomes) and then on the preservation of any vegetation on distant summits. Without being able to imagine how much space is freed for any type of space occupation. This is unfortunate in terms of regional, rural and wild spaces planning, as re-grettable as the generalizations forced by groups with special interest (large farmers).

NEO MONDO: What’s the most surprising thing about the academic and scientific community in such a situation? Aziz Ab ‘Saber: It could be predicted that one day those interested in the Amazon area would again put on pressure by changing the percentage to be conserved in each of the proper-ties in the region. The simplistic argu-ment deserves a decisive and radical criticism. For them, in the center-south Brazil the rate of internal conserva-tion of the forest vegetation is 20%, why does the law requires 80% in the Amazon? But nobody has the courage to examine what happened in the ecological areas of Sao Paulo, Parana, Santa Catarina and Minas Gerais with 20% conservation. In the highlands of the interior of São Paulo the sum of the deforestation reached scenarios of widespread dilapidation. These important areas, dominated by forests and pockets of savannas and grasslands, the only conservation area was the Serra do Mar, involving the Atlantic forests,

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Profile

Farmers horse riding in Marabá: a parallel army displaying greater strength than that of governors and mayors in the Brazilian Amazon, in the scientist’s point of view

acervo Pessoal

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soils and water points of this rema-rkable scarp, was able to protect the ecosystems of the steep terrain of the region. The rest – in the “sea of hills”, hills and plains of the Middle Paraíba and Paulistano Plateau, as well as part of the Mantiqueira Mountain Range - suffered a deplorable dilapidation. It’s what everyone in Brazil, speaking of intelligent people and bioethics does not want repeated, in the Brazilian Amazon, in an area of 4.2 million square kilometers.

Neo MoNdo: Do you see any glimmer of hope that the revision of the code is perfected?Aziz Ab ‘saber: The annalists of the Forest Code say that in the very areas that have been deforested and degraded could be (re)forested “by a homogeneous species, they are thinking of eucalyptus and pine. Cle-ar proof of their ignorance because they do not know the slightest di-fference between reforestation and forestation. The latter, intended by them, is a fact of economic interest - just business, which unfortunately does not intend to conserve biodi-versity. As they seek to ignore that, for very degraded areas, a plan was made to (re)organize the remaining areas, under the focus of reinvigo-

rating the economy of small and medium landowners in the project called Floram.The eucalyptologists lose ethical points when they rent space for 30 years, from unsuspecting owners, preferring areas endowed with still fertile tropical soil, of the oxy-soils and avoiding areas of degraded bare hills, reduced to hypsometric trampled trails, similar to the prototype existing in the Paraíba High Plateau, in São Paulo.When leasing land from inexperien-ced owners, for use in 30 years, and knowing that the owners of the land can die when they complete the term. This fact creates a big problem for the legal heirs, and in the end a company cuts all the eucalyptus or pine trees, le-aving myriad trunks on the ground of the area. This prevents its later use for agricultural activities. All this should be known by those that fiercely defend the liberalization of the Forest Code.

Neo MoNdo: What advice would you give those that are directly responsibi-lity for this legal instrument?Aziz Ab ‘saber: For all the reasons, we are obliged to criticize the persistent and repetitive arguments of Deputy Aldo Rebelo, who we got to know long ago and who we always expected the best. At the moment we are obliged to

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remind him that each of us has to think about his biography and being politi-cal, has to honor the history of their parties. Especially in relation to the parties that call themselves leftListen Read phonetically and could never be involved in projects entirely directed to the personal interests of landowners.We insist that in any revision of the existing Forest Code, it should focus on the directives in the major geogra-phic regions of Brazil, especially in are-as that are of a very different nature form others, such as the Amazon and its very extensive tropical forests, the dry Northeast, with its different types of savanna. These are two opposite regions in relation to physiognomy and ecology, and also in their social and environmental conditions.When taking sides with the large areas managed by technical and scientific agencies of the Federal Executive, which connect specific institutions of the Brazilian government with similar state institutions. The Amazon involves connections with nine northern states of Brazil. Regarding Atlantic Tropical Rainforest, the federal agencies - IBA-MA, Iphan, FUNAI and INCRA - would have to maintain connections with the various sectors like the state govern-ments of north and south of Brazil. And so on.

* Aziz Nacib Ab´Sáber was Born on 24/10/1924 in São Luís do Paraitinga (SP)

* Versatile scientist, he received, among other titles, that of:

• Honorary member of the Brazilian Archeology Society

• Grand-cross in Earth Sciences from the National Order of Scientific Merit

• International Award in Ecology 1998

• Unesco Prize for Science and Environment

* Professor Emeritus, Faculty of Philosophy and Humanities, University of São Paulo (FLCH - USP)

* Honorary Professor of the Institute of Advanced Studies (IEA - USP)

* Honorary Professor of Unesp

* Honorary President of the Brazilian So-ciety for the Progress of Science (SBPC), of which he has been President

* Represented the Brazilian Academy of Sciences (ABC) at Eco 92, in Rio de Janeiro

* Amongst his research are: • Morphoclimatic and phytogeogra-

phic fields.• Northeast hinterlands • Studies on the Amazon • The Brazilian plains • Theories of refuges • Review of research on desertifica-

tion in the Southwest Campanha Gaucha.

• For a Basic Education mixed with a Basic Education Fund, for Brazil as a whole.

Source: Brazilian Academy of Sciences (ABC)

from são Luís do Paraitinga to the world

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The specialist does not spare the analysts, whom he considers naïf,

or the army of farmers

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Profile

Neo MoNdo: As it stands, will we go against the flow of history?Aziz Ab ‘saber: While the whole world calls for the radical reduction of CO2 emissions, the bill proposed in Congress, for the revision of the Forest Code advocates a process that will mean a wave of deforestation and un-controlled emissions of carbon dioxide, a fact noted by many critics in several critiques and interviews.It seems very difficult for people not initiated in mapping scenarios to realize the effects of deforestation in the Amazon of up to 80% on farms in the forest. In any area of the Amazon territory, which has been divided into plots in which deforestation of up to 80% can take place, there will be a chaotic mosaic of deforested areas and narrow and poorly conserved strips between the properties. Remem-bering, further, that in the proposals of the review, some property owners with up to 400 hectares would be en-titled to a total deforestation on their land, I am obliged to denounce that in the medium and long term, there would be an infernal kaleidoscope of the total space of any area in the Amazon. In this case, the edges of the remnants of the forest, between the tracts of land, shall be at the mercy of the cutting of trees whose wood is of good quality. More than this, the di-versity of the fauna would be the first to be affected in a radical manner.

Neo MoNdo: Do you have any speci-fic work on the largest urban center of Brazil, Sao Paulo?Azi Ab ‘saber: Yes, and our greatest concern is the unyielding defense of the few remaining forests in central and intermediate portions of the metropolis. Especially in relation to the case of the forest of the Portal do Morumbi (Jardim Suzana), where there are bio-diverse forests in an area of 97 thousand square meters. Where, at the edge of the forest, in a building designed by the late architect Oswal-do Bratique there is the Santa Maria College of Morumbi,

Neo MoNdo: What is the situation of the peripheral regions of the state capital?

Aziz Ab ‘saber: There are forests on the outskirts of Sao Paulo (External Metropolis) endowed with some forested areas, where the problem lies in regional planning of the state and municipalities of Greater Sao Paulo, to avoid a chaotic conurbation of real estate linked to neo-capitalism and totally ignores the future of green spaces remaining in the hills system of the region of São Paulo.We learned of a criminal deforesta-tion, pending the occupation of forest

spaces that existed between Alphaville and Granja Viana. If this happens, in terms of real estate development, there shall begin the expansion of the urban world of a totalitarian nature, in the Atlantic Rainforest which predo-minated in the hills and between the rivers of the Paulistano Plateau. This is, again, a money making project of neo-capitalist real estate developers, observed at a distance by ignorant town halls with no ability to envision the future.

“Climate Terrorists”

Amid the bustle of the international climate conference in Copenhagen in December 2009, Saber pondered about the event:

“Copenhagen is a farce. When I saw that they took about 700 people from Brazil there, I said, my God, these people will not have one second to speak or anything.” For me, when a conference is more than 1,000 people in the room, they only listen to the goals and proposals of others. There is no room for debate or questioning. Furthermore, the countries propose unrealistic goals. When a country says it will cut 40%, for example, it won’t. The countries that propose low goals are the clever ones. “

And he didn’t miss a chance to comment on the reduction of CO2 emis-sions:

“I have no doubt that the causes are not as perfect as they think. But the fact is that there is global warming. In Sao Paulo, during the last century, 18.6 degrees Celsius was the average temperature in the center of the city. Today it is between 20.8 and 21.2 degrees. If we add up all the area of the cities in Sao Paulo and the numbers of the deforesta-tion that occurred in this area, we see that with this deforestation the sun began to beat directly on the ground. The urban climate should be included, because clearly this climate has a certain spatial projection, more in some cities, less in others.

“We must also consider the effects of so-called Cells or Islands of Heat, because when I say that the temperature of the city of São Paulo increa-sed in this century, I do not speak of the state as a whole, not even in the city. The temperature measured in the central area is one, the Jardins is another, and where I live, near Cotia, is another. “

For him, the “people who remarks that global warming will fell the Amazon are terrorists. Is there global warming? Yes, slowly or a little faster, but there is warming, the trend in the case of the Atlantic Rain-forest and the Amazon, is that they grow and they are not reduced. It seems that these people, these terrorists, have never been to the coast (Santos – Coast of Sao Paulo). The people who look at the sky see the clouds are rising and being pushed to the Serra, taking more moisture into the country. These alarmist scientists do not notice anything, they are not interdisciplinary. On average, there is warming, but the conse-quences of this warming are not as they predicted. But this is a reality not so directly related to world atmospheric pollution and can suffer serious criticisms of people with greater capacity for observation. “

Source: Terra Magazine

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Da Redação

Perfil

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Perfil

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Perfil

E le nasceu antônio renato aragão, mas também atende por Didi mocó sonrisal colesterol novalgino.

a veia artística do humorista cearense de 73 anos surgiu quando ele tinha apenas 24 e venceu um concurso para trabalhar como produtor em um programa de tV. não demorou muito e seu talento como ator começou a aparecer. Da tV ceará, foi para a tupi, já no rio de Janeiro, e, poste-riormente, para a excelsior, onde nasceu o humorístico adoráveis trapalhões, em que contracenava com Wanderley cardo-so, ivon cury e ted Boy marino.

Quase 50 anos se passaram desde sua estreia e hoje renato aragão é um ícone mais do que consolidado no meio artísti-co brasileiro. está beirando a marca de 50 filmes realizados, mas ainda mostra força: foi o grande homenageado da 4ª edição do Prêmio contigo! de cinema, ocorrido no último mês de setembro.

ao receber o prêmio das mãos da apresentadora Xuxa, declarou: É muito complicado fazer cinema no Brasil, é um ato de heroísmo. meu primeiro filme de-morou quatorze anos para ser feito e não parei mais”.

se títulos e homenagens comovem o artista, causas sociais tocam-lhe ainda mais fundo.

Incansável ícone do meio artístico - esperou 14 anos pelo primeiro filme -, coloca a própria imagem a serviço de causas sociais

Rosane Araujo

Um trapalhão em defesa das criançasRenato Aragão

Como embaixador do UNICEF, Renato procura garantir o riso das crianças de outra forma: oferecendo melhor qualidade de vida

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Desde 1991, renato é representante especial do uniceF (Fundo das nações unidas para a infância) e embaixador do mesmo órgão, em prol da infância brasileira. ele utiliza a boa imagem gal-gada em anos de vida artística para es-trelar campanhas de cunho social e já viajou pelo Brasil e o mundo participan-do de ações que buscam garantir que crianças e adolescentes cresçam e se desenvolvam integralmente, com aces-so à educação e aos serviços de saúde de qualidade e longe de qualquer tipo de violência e exploração.

uma de suas incursões aconteceu em angola, onde saiu em defesa de meninos e meninas vítimas da guerra.

no Brasil, renato tem apoiado forte-mente as ações do uniceF no semi-árido, região onde nasceu e que concentra al-guns dos mais preocupantes indicadores sociais do país. o embaixador empresta sua imagem, sua voz e sua credibilidade para vídeos, spots e anúncios do Pacto nacional um mundo para a criança e o adolescente do semi-árido e do selo uni-ceF município aprovado.

sua principal empreitada, porém, é mesmo o criança esperança, projeto ide-alizado por ele em 1986, colocado em prá-tica pela rede Globo e que, desde 2004, conta com o apoio da unesco (organiza-ção das nações unidas para a educação, a ciência e a cultura), que é responsável pela seleção, acompanhamento técnico e financeiro dos projetos apoiados.

em 24 anos de existência, o criança esperança já soma cerca de 5 mil progra-mas que já beneficiaram 4 milhões de crianças e adolescentes.

“tenho me dedicado, e vou continu-ar me dedicando à campanha. não pre-

tendo parar tão cedo”, revelou em entre-vista concedida à revista neo mondo.

nela, renato também demonstrou o já famoso ciúme pela filha caçula lí-vian, com que já contracenou em fil-mes e séries, entre elas a microssérie de cinco capítulos “acampamento de Férias”, veiculada na rede Globo de 12 a 16 de outubro.

um ciúme natural, afinal se as crian-ças do mundo suscitam preocupações no artista, que dirá sua própria prole.

confira a seguir a íntegra da entrevista.

Neo Mondo: Ser um ídolo infantil há várias gerações naturalmente gera muita responsabilidade, tanto para as mensagens transmitidas em seus programas, como até mesmo suas próprias atitudes no dia-a-dia. Como você lida com essa responsabilidade? Quais os conteúdos que você pretende enfatizar nos programas?Renato Aragão: Precisamos viver o que cremos. Eu creio na esperança de um mundo mais justo e digno. Nossa intenção é sempre o entretenimento e a diversão saudável.

Neo Mondo: Mesmo ainda sendo um ídolo infantil e produzindo bastante, atualmente sua participação em cam-panhas sociais tem lhe conferido tanto destaque quanto o trabalho artístico. Quando e como se deu esse engaja-mento com as questões sociais? Renato Aragão: Com os companheiros Dedé e Mussum, comemoramos 25 anos de “Os Trapalhões” em 1991, com uma grande festa em benefício do UNI-CEF. Como homenagem pelo trabalho

Um trapalhão em defesa das criançasRenato Aragão

Ficha

Antônio renato Aragão

Nascimento: 13 de janeiro de 1936, em Sobral, no CearáAtor, diretor, produtor, humoristaFormado em Direito pela Faculda-de de Direito do Ceará

Principal personagem: Didi Mocó ou apenas Didi Tem uma filha, Lívian, com a atual esposa, a fotógrafa Lílian Taranto, além de outros quatro filhos do pri-meiro casamento com Marta Rangel: Paulo, Ricardo, Renato Jr. e Juliana. Participou de quase 50 filmes, três deles premiados internacionalmen-te: Os Vagabundos Trapalhões e O Cangaceiro Trapalhão, premiados no Festival Internacional de Cinema para a Infância e Juventude, reali-zado em Portugal, em 1984, e Os Trapalhões e a Árvore da Juventu-de, condecorado no III Festival de Cine Infantil de Ciudad Guayana, na Venezuela, em 1993. É embaixador da UNICEF, desde 1991.

Curiosidades: Protagonizou dois episódios marcantes: escalou o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, para beijar a mão da estátua, e fez uma caminhada de São Paulo a Aparecida, levando uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, para pagar uma promessa feita à santa.

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em prol da criança, recebi o título de Representante Especial do UNICEF para a Criança Brasileira. As atribuições deste cargo são defen-der os direitos da criança e do adoles-cente, promover e participar de campa-nhas de informação e esclarecimento público, especialmente as relacionadas com a saúde das crianças e adolescen-tes e, ainda, ajudar a mobilizar o setor artístico cultural em favor de ações que beneficiem a infância brasileira.

Neo Mondo: Como embaixador do UNICEF, você já viajou pelo Brasil e o mundo e, certamente, conheceu reali-dades muito duras. Na sua visão, quais os principais problemas que ameaçam o desenvolvimento adequado das crianças, no Brasil e no mundo?Renato Aragão: A irresponsabilidade e o desrespeito aos direitos da criança.

Precisamos fazer a nossa parte, precisamos nos mobilizar para que os direitos sejam res-peitados e para que as autoridades exerçam

o papel que lhes é determinado

“”

Neo Mondo: Na edição do Criança Es-perança deste ano, foram enfatizadas as ações já realizadas com a arrecada-ção do projeto nos últimos 24 anos. Como você avalia esses resultados? O projeto tem ajudado a melhorar a situação da infância no país?Renato Aragão: São ótimos resultados, a população tem se mobilizado e feito a sua parte. É assim que poderemos ameni-zar as desigualdades, cada um fazendo o seu melhor para que a infância continue sendo a melhor fase de nossas vidas.

Neo Mondo: Na sua opinião, qual o papel da sociedade civil na promoção de melhorias sociais? Até que ponto a mobilização social é importante? E o Estado, onde entra nessa história? Renato Aragão: A sociedade, todos nós somos responsáveis. Não há quem possa se eximir. Precisamos fazer a

nossa parte, precisamos nos mobilizar para que os direitos sejam respeitados e para que as autoridades exerçam o papel que lhes é determinado.

Neo Mondo: Sua relação com sua filha Lívian parece ser muito próxima e vocês já até atuaram juntos em várias ocasiões. Ela pretende seguir seus passos na carreira artística? Na sua opinião, como os pais devem conduzir a educação dos filhos e a escolha profissional?Renato Aragão: Isso é com ela. Por mim, ela seria paleontóloga.... rsrsrs... Acho que nós, os pais, precisamos nos esforçar para dar o melhor que pode-mos para que nossos filhos tenham condições de exercer o seu direito de escolha, apoiando sempre, em todas as circunstâncias.

Neo Mondo: Você tem novos projetos na área social? Até quando pretende militar por esses ideais? Tem um obje-tivo a ser alcançado?Renato Aragão: Tenho me dedicado e vou continuar me dedicando à cam-panha Criança Esperança da UNESCO/UNICEF. Não pretendo parar tão cedo. Meu objetivo é um mundo mais justo e mais digno.

Perfil

Ao lado da filha Lívian, protagoniza cenas engraçadas em filmes e séries de TV. Pai ciumento, porém, diz preferir que a menina

optasse pela “paleontologia”

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25neo mondo - Julho 2008

Boa Notícia para o Leitor e o ANUNCiANTe

NEO MONDO acaba de receber a chancela da Lei Rouanet - lei federal de incentivo à Cultura (Nº 8.313 de 23 de dezembro de 1991), conforme número Pronac 111052.

A revista atinge um patamar de excelência sociocultural e quem ganha com isso é, principalmente, o leitor e o ANUNCIANTE. Este, na qualidade de patrocinador, poderá abater 4% de seu imposto de renda e deduzir até 70%.

Você é um dos nossos convidados a participar de Reunião, na qual vamos detalhar o quão importante é usufurir desse instrumento legal que, ao instituir politicas públicas para a cultura nacional, permite a sua viabilização pelo Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac).

Seja um de nossos parceiros na promoção, proteção e valorização das expressões culturais nacionais. Além de se beneficiar dos incentivos fiscais, você fará parte do seleto grupo de empresas e cidadãos que investem em cultura, fomentando a cultura nacional e valorizando a sua marca junto ao público.

Para confirmar presença, contate-nos:

(11) 2679-1690 - Instituto Neo Mondo

o institUto neo MonDo É o 1º grUPo MUltiMÍDiA soCioAMBientAl Do BrAsil!

Produtos: Revista impressa (70 mil exemplares/mês), Revista eletrônica, Portal NEO MONDO (aprox. 400 mil acessos/mês), News Letter (100 mil e-mail mkt/mês), WEB TV (JORNALISMO) e Site NEO MONDO TV.

Atenciosamente,

OSCAR LOPES LUIZ

Presidente do InstitutoPublisher da Revista

Um olhar consciente

InstitutoInstituto

NeoMondo

NeoMondo

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neo mondo - setembro/outubro 201126

O legado de Ayrton Senna, um dos maiores brasileiros, permanece vivo em ações socias.Da Redação

M esmo sem fazer disso uma bandeira de promoção, ayrton senna ficou conhecido como alguém que se orgulhava de ser brasileiro. Fez o cidadão comum redescobrir o sentido de orgulho da Pátria. o amor do povo brasileiro por ele se devia ao enorme sentimento de auto-estima que cada bandeirada vencedora lançava sobre seu povo. Junto com ele, o

brasileiro subia no pódio, estourava a champanhe e o domingo parecia mais pleno. ele retribuía esse sentimento em demonstra-ções rasgadas de patriotismo, empunhando a bandeira e o coração de todos que vibravam nas manhãs e madrugadas de Grande Prêmio, acompanhadas pela telinha por milhares de compatriotas. Passados 15 da sua morte, ele ainda é reconhecido como um exemplo e seu legado de valores e história permanece cada vez mais vivo. a família, através de Viviane senna, presidente do instituto ayrton senna, mantém viva sua memória e tributo, através de ações sociais que, com certeza, devem fazê-lo, de onde estiver, vibrar a cada conquista obtida em prol de crianças e adolescentes. abaixo, ela nos fala sobre ayrton senna e o instituto que leva seu nome.

Neo Mondo: O Brasil conhece a figura do grande campeão, que por sua postura exemplar espelha o melhor aspecto dos brasileiros. Mas como era o brasileiro Ayrton: como ele era quando criança, como era a convivência com a família e com os irmãos? Do que gostava, qual era seu temperamento? Viviane: Meu irmão era uma criança esperta, vivaz. Desde pequeno, as rodas e a velocidade o encantavam. Aos 4 anos, ganhou o primeiro kart do meu pai. Embora ele fosse um

pouco tímido com as pessoas, não deixava de se relacionar do jeito mais simples. Lembro de um ani-versário, acho que dos 6 ou 7 anos, que ele quis fazer uma festinha. Ele saiu na rua convidando toda criança que via pela frente. Encheu nossa casa. E minha mãe, depois que tudo acabou, perguntou de onde conhecia toda aquela gente. Ayrton respondeu que não conhe-cia quase ninguém. A adolescência foi bastante madura, já que a car-reira começou a ser traçada, profis-

sionalmente, aos 13 anos, quando também conquistou sua primeira vitória numa corrida oficial. Ayrton era uma criança feliz, um adoles-cente comprometido com seu futu-ro, um filho e um irmão carinhoso, afetivo. Temperamento forte, mas muito maleável. Ele sabia o que queria e lutava para conseguir. Sempre foi muito determinado.

Neo Mondo: Ele conhecia a realida-de de outros países e cultura, por conta de sua profissão. Viajava pelo

Perfil

Amor pago com

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Amor pago comAMor

Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna

mundo e poderia viver longe do seu país, mas sempre que possível volta-va ao Brasil, lugar de desigualdades, de sérios problemas sociais. O que o trazia de volta? Viviane: Mesmo vivendo a maior parte do tempo no exterior, o coração do Ayrton sempre esteve no Brasil, porque ele amava este país. Além de querer estar junto da família e de seus amigos, era aqui que se sentia à vontade quando não estava correndo ou treinando. A questão da desigualdade sempre incomodou meu irmão. Ele era bas-tante sensível a isso, especialmente ao que afetava crianças e jovens. Achava inconcebível que as pes-soas, em sua maioria, não tinham as mesmas oportunidades que ele teve. E talvez por isso achava-se ainda mais comprometido com o Brasil. E gostava de vencer também para dar essa alegria aos brasi-leiros, que tinham a auto-estima alimentada ao vê-lo no pódio, car-regando a nossa bandeira.

Neo Mondo: Ele tinha idéia da dimensão da admiração do povo brasileiro e do quanto poderia influenciar com suas atitudes e comportamentos? Viviane: Ayrton sabia de seu papel como um esportista que represen-tava todo o País. Também sentia o amor e o carinho do povo por ele. Nas suas atitudes na pista e na vida, ele cultivava valores que hoje são o seu maior legado: motivação, determinação, superação e orgulho

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Perfil

de ser brasileiro. Trabalhar para conquistar objetivos, acreditar no seu potencial, não se sentir venci-do por obstáculos... era o que ele defendia e acreditava que qualquer pessoa era capaz.

Neo Mondo: Qual foi o papel da família para a vida e carreira do Ayrton e de que forma o sucesso dele influenciou e mudou a família Senna? Viviane: Meu irmão recebeu todo o apoio de minha família, espe-cialmente de meus pais. Ele nunca se sentiu sozinho na sua trajetó-ria, que não foi fácil. O meio da Fórmula 1 é muito competitivo. Mesmo assim, Ayrton pautava-se naquilo que meus pais deram a ele. E por isso conseguiu superar muitas dificuldades. O sucesso sempre foi encarado como resultado de muito trabalho, esforço e dedicação. Mas era o sucesso dele. Nossas vidas caminhavam do mesmo jeito.

Neo Mondo: Como surgiu o Insti-tuto Ayrton Senna? Por que a Sra. assumiu esse desafio? Viviane: O Instituto é a concretiza-ção do sonho de Ayrton. Como ele se incomodava com a questão da desigualdade, tinha planos de es-truturar alguma coisa que pudesse ajudar a mudar isso, especialmente na vida de crianças e jovens. Ele chegou a manifestar esse desejo meses antes do acidente. Minha família resolveu criar o Instituto em novembro de 1994, primeiro para realizar esse desejo e, segundo, como uma resposta carinhosa e grata ao amor do povo brasileiro ao meu irmão.

Neo Mondo: Quais as principais dificuldades do Instituto para atuar socialmente? Viviane: Combater a má qualida-de do ensino público é o grande desafio não apenas do Instituto, mas de todo o País. Em 15 anos de

atividades, o Instituto já atendeu a cerca de 11,5 milhões de crianças e jovens, mas o número de crian-ças que não recebem educação de qualidade ainda é muito grande. Um exemplo é que de cada 10 alunos matriculados, 5 concluem o Ensino Fundamental e 3 o Ensino Médio. Essa realidade precisa ser transformada para que o país pos-sa crescer em todos os níveis.

Neo Mondo: De onde vem os recur-sos para esse trabalho?Viviane: Uma parte dos recursos vem dos 100% dos royalties sobre o licenciamento da imagem do Ayrton e do Senninha cedidos pela minha família ao Instituto. Hoje te-mos 350 produtos licenciados com a imagem de Ayrton e personagem Senninha. Outra parte é gerada pelas alianças com empresas social-mente responsáveis, como Bradesco Capitalização, Credicard, Microsoft, Votorantim, Citigroup, HP, Martins,

neo mondo - setembro/outubro 2011

Ayrton Senna, comemorando uma de suas vitórias

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Neoenergia, Lide/EDH, Lilly, Triban-co, IBM e Grendene. Desde 2008, abrimos espaço para as doações de pessoas físicas porque muitos nos procuravam para abraçar a causa da educação e não sabiam como fazê-lo. Agora, qualquer pessoa entra no nosso site www.senna.org.br, cadastra-se e passa a ser um doador.

Neo Mondo: Por que a escolha pela abordagem da educação nos proje-tos desenvolvidos? Viviane: Acreditamos que a educa-ção é a única via capaz de trans-formar o potencial nato de cada um em competências e habilida-des para a vida. Se garantirmos educação de qualidade à maioria da população – o que hoje não acontece – podemos melhorar o desenvolvimento econômico e hu-mano do país. Uma nação que tem por base uma sociedade desigual, não forma cidadãos conscientes, críticos, solidários e participativos.

Daí a fundamental importância da educação nesse processo.

Neo Mondo: E quais projetos são desenvolvidos hoje?Viviane: Hoje, desenvolvemos e implementamos 9 soluções educa-cionais. Por meio delas, são traba-lhadas a aceleração de aprendiza-gem, o combate ao analfabetismo de crianças repetentes, a gestão escolar, a avaliação e o acompa-nhamento do aprendizado do aluno nas séries iniciais do ensino fundamental (Programas Acelera Brasil, Se Liga, Gestão Nota 10 e Circuito Campeão, respectivamen-te). Para qualificar o tempo em que o aluno está fora da escola, oferecemos soluções que utilizam o esporte, a arte e o trabalho com a juventude (Programas Educação pelo Esporte, Educação pela Arte e SuperAção Jovem). Na área de educação e tecnologia, temos os Programas Escola Conectada e Comunidade Conectada, que qua-

lificam a educação, promovem a inserção digital e preparam jovens e adultos para um melhor desem-penho no mercado de trabalho.Todos os nossos Programas cum-prem o mesmo objetivo: desenvol-ver potenciais de crianças e jovens, transformando-os em competên-cias pessoais, sociais, cognitivas e produtivas.

Neo Mondo: Quais as metas e novida-des do Instituto para o ano de 2009? Viviane: Em 2009, o Instituto com-pleta 15 anos de atividades. Ayrton e o Instituto serão homenageados em vários eventos ao longo do ano, como a exposição “Arte para um Mito”, no Conjunto Nacional em São Paulo, com curadoria de Paulo Solaris. A exposição Ayrton Senna no Vale da Anhangabaú, em parceria com a UGT, um presente para os trabalhadores da cidade de São Paulo. E a exposição Vitória, no Memorial da América Latina, dentre outras ações.

29neo mondo - setembro/outubro 2011

Viviane Senna na sala de aula do Instituto Ayrton Senna com as crianças

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neo mondo - setembro/outubro 201130

N a década de 80, o conceito de desenvolvimento sustentável era ainda embrionário, mas o

advogado e administrador de empre-sas paulista Fábio Feldmann já acom-panhava de perto os acontecimentos da área.

Em mudanças climáticas, “estados e municípios têm papel importante no jogo e é crucial que estejam engajados”

edu

mor

ais

Perfil

em 1980 e 1986, respectivamente, fundou com o apoio de um grupo de pro-fissionais engajados na defesa do meio ambiente as onGs oiKos - união dos De-fensores da terra e sos mata atlântica.

ainda em 86, foi eleito deputado federal, cargo que exerceria por três mandatos con-

secutivos (1986 a 1998) e no qual destacou-se como autor e relator de diversos projetos de lei, além do capítulo da constituição de 1988 que trata sobre meio ambiente.

a convite do governador mário covas, assumiu a secretaria estadual do meio am-biente em 1995, ficando no cargo até 98.

nas eleições de 98 e 2002, não conse-guiu reeleger-se deputado, apesar de rece-ber grande votação.

mesmo longe dos cargos eletivos, po-rém, continuou militando em favor das questões ambientais e entre 1997 e 2002 foi membro oficial da delegação brasileira nas conferências das Partes da convenção Qua-dro das nações unidas sobre mudanças cli-máticas, dentre elas a conferência realizada em Quioto, que deu origem ao Protocolo.

em 2000, oficializou esta discussão na agen-da do governo federal com a criação do Fórum Brasileiro de mudanças climáticas e em 2005 assessorou a formação do Fórum Paulista.

afastado da política há doze anos, perí-odo em que vem atuando como consultor e conferencista em eventos nacionais e inter-nacionais, seu nome voltou a frequentar o noticiário político nos últimos meses.

Fábio foi convidado pela senadora ma-rina silva para concorrer ao governo esta-dual nas eleições de outubro, pelo Partido Verde (PV), do qual é filiado desde 2003, quando despediu-se do Partido da social Democracia Brasileira (PsDB).

“não posso dizer que sim nem que não”, disse em entrevista a neo monDo sobre o convite de marina.

mudanças climáticas, coP 15 e outros temas também foram discutidos.

confira.

Fábio Feldmann, constituinte em 1988, autor de projetos de lei específicos e articulador do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, pode voltar à política

Rosane Araujo

em meio ambiente

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31 neo mondo - setembro/outubro 2011

Neo Mondo: Em 2000, o sr. articulou a criação do Fórum Brasileiro de Mu-danças Climáticas. Como se deu essa criação? Quase dez anos depois, como avalia a atuação do Fórum?Fábio Feldmann: Normalmente os presi-dentes da República eram muito distantes deste tema, especialmente no Brasil.Comecei a defender que eles protago-nizassem essa discussão.Durante Quioto, o então presidente Bill Clinton ligou para o Fernando Henrique duas vezes pedindo ajuda na negociação. A partir daí surgiu a ideia do Fórum.Em 99, foi criada a Comissão Intermi-nisterial de Mudança do Clima, mas não previa participação da sociedade civil nem do setor empresarial. Não dá para discutir esse tema sem uma discussão ampla e para isso foi criado o Fórum no ano 2000, presi-dido pelo presidente da república, com alguns ministros e com objetivos múltiplos, mas basicamente de abrir um espaço público de diálogo entre governo e sociedade.Fui presidente e secretário do Fórum du-rante quase dois anos e no governo FH, o presidente reunia-se por muitas horas com as pessoas, o que eu acho muito importante por ser um tema complexo. O fato de se ter acesso ao presidente, que era indagado pelos seus pares, quebrou um pouco o monopólio do Itamaraty nessas questões. A tradição aqui no país era que o Itamaraty representasse o Brasil, mas sem sempre ele estava aberto a uma função mais ampla nesses assuntos.

Acho que o Fórum quebrou um pouco isso. No caso do Lula, o Fórum perdeu um pouco do seu caráter participativo, mas acho que ainda é importante, porque na discussão de metas para o Brasil ele teve um papel central, na minha opinião. Foi ele que, de certa maneira, conduziu essa consulta junto à sociedade.Mas os estilos do Fernando Henrique e do Lula são muito diferentes.

Neo Mondo: Na sua opinião, os gover-nos brasileiros, em suas instâncias muni-cipal, estadual e federal, têm feito sua parte no combate às mudanças? Quais ações merecem ser destacadas? Fábio Feldmann: Eu acho que sim, eles têm feito. Por exemplo, o Amazonas elaborou uma legislação sobre política estadual de mudanças do clima em 2005. A cidade de São Paulo também tem uma política importante, assim como o estado que tem inclusive me-tas em termos absolutos, diferente da meta brasileira. Então, eu acho que a tendência é que os estados e municípios fiquem cada vez mais engajados, como ocorreu nos Estados Unidos. Quando o pre-sidente Bush negou o aquecimento global e tirou o país de Quioto, mui-tos estados e municípios tiveram um papel relevante, inclusive a Califórnia, governada pelo Schwarzenegger, que é republicano. Acho que os estados e municípios têm um papel muito importante neste jogo e é crucial que eles estejam engajados.

Neo Mondo: As novas metas de redu-ção da emissão de gases em São Paulo sofreram críticas de alguns setores. Os críticos alegam que elas podem preju-dicar o crescimento econômico. Qual sua opinião a respeito? Fábio Feldmann: O tema de clima per-mite identificar duas visões de mundo muito claras: uma é do século 19 e outra do século 21. A visão do século 21 é a que temos que caminhar para uma economia de baixa intensidade de carbono, até pela questão de competitividade. A visão do século 19 é a visão do pré-sal, a visão de que o Brasil não pode ter metas. Acho que essas críticas revelam uma vi-são de espelho retrovisor. Até porque acho que São Paulo vai ter que fazer um grande esforço, mas as metas são absolutamente viáveis.Um dado que tenho falado sempre é sobre um dos grandes desafios, que é o transporte. Cerca de 46% dos caminhões de carga que trafegam no estado circulam vazios. Isso representa congestionamento, preço no frete mais alto, consumo de combustível, emissão de gás, enfim, é um dado significativo de como a mu-dança do clima pode nos ajudar a ter uma sociedade mais eficiente e com maior qualidade de vida.Cito este caso, porque dá para ima-ginar o que representa a metade dos caminhões de carga da região metro-politana de São Paulo. É muita coisa.

Neo Mondo: Como consultor, o sr. tem contato direto com o empresa-

em meio ambiente

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32 neo mondo - setembro/outubro 2011

riado. Acredita que, em geral, ele está aberto a mudanças para se adequar às novas diretrizes?Fábio Feldmann: As empresas que têm líderes apoiam claramente, inclusive porque as metas resolvem o que se chama na linguagem empresarial de risco regulatório, quer dizer: a meta está aí, vou me preparar para atender, vou avaliar os riscos, mas também as oportunidades para meus negócios.A receptividade também depende do segmento. Acho que existem alguns que são muitos refratários, que ainda veem não só o clima, mas o meio ambiente, como um obstáculo a ser vencido. Acho que esses segmentos continuam atrasados e serão afetados não tanto pela regulação, mas pela falta de visão.Por outro lado, há segmentos que já estão se preparando para enfrentar essas questões, inclusive nem só do ponto de vista da redução de emissão, mas também de adaptação. Veja o custo das chuvas muito intensas para determinados segmentos. São ameaças à infraestrutura. Enfim, são muitos os problemas que vão surgir com o aquecimento.

FH se reunia por muitas horas com as pessoas... com Lula o Fórum perdeu um pouco

do seu caráter participativo; são estilos diferentes

“”

Neo Mondo: Por falar em chuvas, muito se tem comentado a respeito da relação da atual onda de tempes-tades que se abateu sobre São Paulo com os efeitos do aquecimento glo-bal, porém não existe consenso sobre o tema. Qual a sua opinião pessoal?Fábio Feldmann: Não dá para afirmar que é aquecimento global, mas não dá para afirmar que não é aquecimento, há uma sinergia de fatores. Em São Paulo, pode ter a in-fluência do El Niño, do aquecimento, tem também a questão das grandes áreas impermeabilizadas, que são as chamadas ilhas de calor. Existe um conjunto de fatores e é muito difícil isolar um só. De qualquer forma, não vi nenhum cientista dizendo que é aquecimen-to, mas também não vi nenhum dizendo que não é. Isso mostra as dificuldades que a gente ainda tem em relação a isso.

Neo Mondo: O sr. acompanhou de perto a realização da 15ª Conferên-cia das Partes sobre o Clima (COP 15), realizada em dezembro, na Dinamar-ca. O sr. ficou decepcionado com os resultados da reunião?Fábio Feldmann: Na COP 15, por an-tecipação, já sabíamos os problemas

que haveria. Primeiro, a questão da dificuldade do governo americano de não ter mandato para uma negocia-ção, em função de a lei que trata des-sa matéria não ter sido aprovada no Senado. Segundo, a falta de liderança da Dinamarca e da própria ONU, há claramente uma falta de liderança brutal nisso. O lado bom é que quando existe um fracasso e ele é reconhecido por todos, o fracasso pode ser um grande ativo, que é cobrar dos responsáveis medidas para fazer com que, no processo, vire um sucesso. Isso é mais especifica-mente o que vai acontecer no México (16ª Conferência, a ser realizada neste ano). Estou otimista, porque o grande equívoco que foi a falta de liderança em geral pode ser resolvido neste ano, que temos até dezembro.

Neo Mondo: Por fim, o sr. foi convi-dado pela senadora Marina Silva para disputar o governo estadual em São Paulo. Como recebeu o convite? Qual a expectativa quanto à sua candidatura?Fábio Feldmann: Estou analisando o convite, não posso dizer que sim nem que não. É uma decisão pessoal mesmo. Estou há doze anos longe da política, já construí uma vida fora dela, mas ainda estou pensando no assunto.

Quanto a novas diretrizes estaduais, “receptividade empresarial depende do segmento; os atrasados serão afetados

pela falta de visão”

Perfil

fábio feldmann também...

...foi candidato à Prefeitura de São Paulo em 1992, obtendo 5,8% dos votos

...foi o chefe da delegação brasileira parlamentar na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro, também em 1992 (ECO-92)

...foi o idealizador do rodízio de automóveis, instituído na capital em 1997, quando era secretário estadual do Meio Ambiente

...é o relator de importantes diretrizes como a Política Nacional de Recursos Hídricos, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica

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neo mondo - setembro/outubro 201134

Q uem consulta a Wikipédia em busca de informações sobre ca-talão de Goiás vai encontrar lá,

na lista dos naturais ilustres, logo depois do nome do cantor amado Batista, o do jornalista marcos hummel.

Dono de sólida ficha profissional e de voz inconfundível, ancorando desde 2008 o câmera record, líder de audiência entre o jornalismo temáti-co, marcos hummel, o nome do Perfil desta edição, é também um dos cola-boradores e apresentadores do nosso neo mondo tV.

este goiano já sem sotaque iniciou-se tardiamente na carreira jornalística, aos 28 anos, começando pela tV Globo Brasília. Foi apresentador global por 21 anos, nos telejornais hoje, Jornal na-cional, Jornal da Globo, Fantástico, Globo esporte. Foi um dos primeiros narradores do Vídeo show, depois Bom Dia rio e Bom Dia são Paulo, atuando, também, como editor e redator.

mas mesmo começando tardiamente, hummel tem a quem puxar entre seus conterrâneos. a enciclopédia virtual lem-bra que catalão é, ainda, terra natal de várias outras personalidades culturais. nas artes Plásticas destaca-se Goiandira de couto, filha de poeta e reconhecida in-ternacionalmente por sua técnica única de pinturas com areia.

Neto de um avô que ele considera pioneiro ecológico, fazendeiro que não desmatava, Marcos Hummel, apresentador do Neo MondoTV, diz que “se nós quisermos melhorar o Mundo, do ponto de vista da sutentabilidade, temos que melhorar as pessoas, educá-las,

pois sem educação não haverá preservação. Mesmo porque salvar o Planeta significa salvar-nos”.

Antônio Marmo

“Precisamos de umaPerfil

Apresentador de mais de uma dezena de programas nas principais redes de TV, editor e redator, Hummel incomoda a concorrência no Câmera Record

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REVOLUÇÃO EDUCACIONAL”

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ali nasceram também um dos maio-res latinólogos do Brasil, o diplomata erudito, William agel de mello, autor de 11 dicionários português-linguas neola-tinas como o catalão e o galego, além de cineastas e dramaturgos de menor ex-pressão, mas que justificam o cognome de “a atenas de Goiás”, por sua produ-ção cultural.

Da Globo hummel passou pela rede manchete, onde apresentou, entre ou-tros, o excelente na rota do crime, na década de 90, precursor da cobertura policial nervosa, em que os repórteres embarcavam nas viaturas da rota e da Força tática acompanhando as ocor-rências até seu desfecho. o programa valorizava o policial, dizem os que se lembram dele.

Pulou da manchete para a Bandei-rantes, ficando aí até março de 2004, ano em que assinou com a record, onde está

até hoje. em seu currículo destacam-se ainda o Domingo espetacular, Fala Bra-sil, Jornal da record, repórter record (do qual foi o mais recente apresentador) e o mundo meio-Dia (na record news).

o primeiro programa do câmera re-cord trouxe um documentário sobre os “mercadões no mundo”. as equipes do Jornalismo record visitaram 16 merca-dões - de frutas, legumes e outras coisas mais - nos quatro cantos do Planeta. hoje o jornalístico temático da record tem in-comodado a concorrência, mesmo indo ao ar num horário incômodo, entre meia-noite e uma e meia, chegando próximo aos 20 pontos de pico.

educar para a sustentabilidadetalvez seja por isso que este catalano

já sem sotaque se defina como uma pes-soa que veio a este mundo “para apren-der, mas que a televisão o decepciona

35neo mondo - setembro/outubro 2011

NEo MoNdo: O que levou você a estar no projeto da Neo Mondo TV: desafio, promessa, amor à causa?Hummel: Não posso me classificar como um ecologista. Meu avô, falecido há mais de 50 anos, era um ecologista no tempo que o termo talvez nem existisse. Fazendeiro, não permitia desmatar nem queimar a terra. Apenas quero fazer a minha parte. E a Neo Mondo TV é um bom caminho. NEo MoNdo: Com qual tese você e o projeto se identificam: que mundo dei-xaremos para nossas crianças ou que crianças deixaremos para o Planeta?Hummel: A segunda tese é a que me-lhor define a minha intenção. Ainda não tenho netos, mas espero que quando os tiver, que sejam bons para o Brasil e para o Planeta.

“Precisamos de uma

NEo MoNdo: A ecologia, há cerca de uma década, virou tema de pro-gramas específicos, começando pelo Globo Ecologia. Jornalões tradicio-nais, como o Estadão, abrem seções específicas sobre o Ambiente. Quais suas expectativas com um tema assim em TV na Internet?Hummel: A grande mídia tem a maior responsabilidade em todos os sentidos. Se ela entrar para valer, pode mudar os hábitos errados que estão maltratando o Planeta. Quero acreditar que haja boa intenção.

NEo MoNdo: E suas expectativas com a Internet em si? Numa entrevista na Neo Mondo TV vc diz que ela chegou gritando: “acabou o reinado” da mídia tradicional. É isso?

REVOLUÇÃO EDUCACIONAL”neste ponto. ela não veio para formar e transmitir informação, mas para ser uma máquina de vender coisas”, diz ele, ain-da que não dependa das pesquisas para medir sucesso: “a televisão faz dinheiro, independentemente do ibope. tem pro-grama aí que faz a alegria dos donos com meio traço de audiência”, sentencia.

“se nós quisermos melhorar o mundo, do ponto de vista da sutentabilidade, te-mos que melhorar as pessoas, educá-las, pois sem educação não haverá preserva-ção”, receita.

Vez em quando hummel coloca al-gumas frases no twitter. Por exemplo: “estou planejando meu passado porque o futuro o governo já decidiu. e você?”, perguntando-se: “Que Brasil você quer para seus filhos?”, enquanto define o Brasil como “um País de oportunidades e oportunistas”. isso ele escreve ouvindo a 7ª sinfonia de Beethoven.

Hummel: Posso ter exagerado um pouco. As mídias são complementares, cada uma ocupa seu espaço. E a costura final pode ser muito boa. NEo MoNdo: E vc foi parar no mun-do da televisão depois de começar, aos 11 anos, como office-boy de cartório, caixa de banco, criação de gado em fazenda, empre-gado em fábricas. Mas vc é crítico em relação à TV, concluindo que ela é “apenas uma máquina de vender coisas”. A Internet não acaba sendo só isso também? O que vc queria que TV e Internet fossem?Hummel: Podemos dizer que a In-ternet é um veículo muito novo, que está tentando achar seu caminho. As novas gerações saberão usá-la e dela extrair informação e aprendiza-

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36 neo mondo - setembro/outubro 2011

do. A TV, com sua imensa penetra-ção, está procurando se reorientar. Há muitas cabeças novas que pode-rão fazer essa reorientação. É necessário que o País, por inteiro, entre num projeto de salvação. Precisamos de uma revolução educa-cional. Temos que sepultar ideias e interesses antigos. Salvar o Planeta significa salvar-nos. NEo MoNdo: Você não teve expe-riências de jornal impresso, mas a fogueirinha das vaidades queima mais forte na TV que nas redações da mídia impressa? Por que será?Hummel: Não posso criticar aqueles que valorizam mais as suas imagens. Só posso dizer que eu quero que o meu trabalho apareça mais que eu próprio. NEo MoNdo: Minha experiência na TV me deixava frustrado diante do “efêmero” da transmissão televisiva. Um artigo impresso vc lê, relê, guar-da se for bom. Um repórter em TV sua um dia inteiro produzindo uma reportagem, uma correria pra editar e, quando muito boa, a matéria dura no máximo um, dois minutos no ar (não falamos de programas temáti-cos como o Câmera Record, mas do jornalismo, do dia-a-dia). É essa sua impressão?

Hummel: Costumo dizer que o conte-údo de TV é de digestão muito rápida. Mas a mensagem principal sempre fica gravada. As grandes corporações têm suas necessidades, são pautadas pelo lucro, mas devem equilibrar isto com o dever de fornecer um bom produto. NEo MoNdo: No Fórum Mundial de Sustentabilidade, em Manaus (que é assunto do Caderno Especial nesta edição), um dos palestrantes alertou que a empresa que não priorizar hoje a sustentabilidade corre riscos econômi-cos e de imagem. Mas Fábio Feldmann lembrou que ele conseguiu retirar via Conselho Nacional de Regulação Publi-citária peças que vendiam a Petrobrás como ambientalmente responsável quando ela vende um diesel só encon-trado nos piores países da África.Você conhece ações concretas de empresas que não sejam maquiadas como puro marketing social, visando só à imagem? Ações exemplares com resultados que atestem mudança de mentalidade do século 20 para o século 21? Hummel: Conheci pessoalmente uma empresa que tinha um compromisso muito forte. Uma empresa do Paraná, genuinamente nacional, de fabricação de pneus, com vários projetos para-lelos de conservação. Hoje é visível a

imagem das empresas colada ao tema. Espero que seja para valer. Por menor que seja a verdade disto, algo de bom pode restar no final. NEo MoNdo: Quem é o Marcos Hum-mel visto pelo Marcos Hummel? E como sua filha Luiza o vê? Você ainda tuíta? Hummel: Eu vim para aprender. Eu vim para melhorar-me. Acho que minha filha demonstra acreditar em mim pelo carinho com que me trata. Raramente tuíto. De vez em quando dá vontade de deixar lá uns pensamentos.

NEo MoNdo: Finalizando: pra ter o sucesso que vc alcançou, ancorando hoje um programa líder de audiência, bastam a estampa e o vozeirão incon-fundível? Lembra alguma curiosidade de bastidor? Pra você o que é uma boa produção?Hummel: O sucesso do programa é o resultado de um trabalho árduo de uma equipe fantástica. Tento fazer o melhor para corresponder ao esforço e dedicação de cada um de meus cole-gas. Sou grato a Deus pelas ferramen-tas que Ele me concedeu e às oportu-nidades que me apareceram. Uma boa produção é o resultado da intenção de formar e informar. É respeitar o cliente ou o telespectador, no nosso caso, respeitar o seu desejo de se informar e se divertir.

Perfil

Humberto Mesquita e Marcos Hummel, na “nossa” telinha: “Não sou ecologista. Apenas quero fazer a minha parte. E a Neo Mondo TV é um bom caminho”

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neo mondo - setembro 2008 A

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neo mondo - setembro/outubro 201138

Perfil

F ormado em Direito pela universidade de são Paulo, com especialização em admi-

nistração de empresas pela universidade mackenzie, roberto Klabin é presidente

da Fundação sos mata atlântica, onG com a qual se mistura a história da secre-

taria de meio ambiente de são Paulo. ambas completam 25 anos em 2011.

roberto foi estagiário na companhia de tecnologia de saneamento ambiental

(cetesb), presidiu a Fundação Florestal, criada no governo montoro, e esteve durante

11 anos no conselho estadual de meio ambiente paulista.

nada, porém, que o restrinja aos limites desse estado quando o assunto é meio

ambiente, sustentabilidade, ecossistema. roberto revela um caso de amor antigo,

descrito no Boxe que acompanha este Perfil. com as mesmas singeleza e objetividade

com que trata da sos, do código Florestal, do Fórum mundial de sustentabilidade.

Vale a pena compartilhar um pouco de sua rica experiência e aprender com suas

ideias que viram experimento.

Laços de família, acadêmicos e uma pitada de reminiscência cinéfila forjam ambientalista empreendedor

Gabriel Arcanjo Nogueira

Neo MoNdo: Você se define, antes de mais nada, como ambientalista? O que, a seu ver, é ser ambientalista?roberto Klabin: Interessante essa ques-tão de autodefinição! O que é ser am-bientalista? Sou ambientalista? Penso que a mera categorização diminui enor-memente a capacidade do indivíduo de transitar fora do espaço que ele definiu ocupar. Dificulta seu entendimento das posições e aspirações daqueles que não compartilham de suas ideias, muitas vezes acentuando a divisão entre os bons (nós) e os ruins (os outros).Na minha opinião, ambientalismo é um processo na evolução das pessoas. É uma maneira de subir mais degraus de consci-ência, de enxergar-se como parte de algo muito grande, de respeitar a força ativa criadora da natureza, de tudo o que é vivo e de tudo o que é belo.

Processo de

Sendo assim, sou mais uma pessoa trilhando esse caminho de evolução espiritual e material.

Neo MoNdo: Desde quando se identifi-ca com este ser ambientalista? O que considera mais relevante em cada um dos projetos de que participa ou participou?roberto Klabin: Desde o tempo em que cursei a Faculdade de Direito do Largo São Francisco estive envolvido com a causa ambiental. Não fosse o Fabio Feldmann, que em 1977 me convidou para participar ativamente da luta contra a construção do futuro aeroporto internacional de São Paulo, conhecido como Caucaia do Alto, eu talvez não estivesse hoje participando de ONGs ambientalistas. Talvez minha dedicação à natureza se desse de ou-tra forma, menos ativa e política.

Sou sempre grato ao convite do Fabio, pois pude descobrir uma causa e uma oportunidade de trabalho que àquela época poucos davam valor, mas que hoje compete com o segundo setor na criação de empregos e oportunidades.

Neo MoNdo: Em que medida tornar-se um ambientalista foi impulsionado pela sua formação acadêmico-profis-sional-familiar? O lado empresarial representa quanto nessa escolha?roberto Klabin: Participei e participo de muitos projetos como presidente da Fundação SOS Mata Atlântica. Tal-vez o maior projeto de todos seja o de administrar essa fundação há 20 anos, como seu terceiro presidente, garan-tindo, graças ao enorme trabalho de sua equipe, a chegada da Fundação aos 25 anos de existência.

Roberto: “ambientalista é ser parte de algo muito grande, respeitar a força ativa criadora da natureza”

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39neo mondo - setembro/outubro 2011

Foram muitos desafios e muitas oportu-nidades. Quando se faz uma compa-ração do segundo setor da sociedade, percebe-se que de cada 100 empresas criadas, segundo dados do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), 27% delas morrem no primeiro ano de operação, e cerca de 60% das empresas não con-seguem completar o quinto aniversário.

Neo MoNdo: Como é possível conciliar múltiplas funções com desenvoltura e eficácia?roberto Klabin: Para uma ONG como a SOS, com uma difícil tarefa de conscientizar e mobilizar as pessoas em causas de interesse difuso, como a de-fesa do direito de as próximas gerações terem acesso a uma qualidade de vida adequada, desfrutando de um meio ambiente rico e diverso, isso não é pou-ca coisa, principalmente neste país.Antes de cursar a faculdade, eu jamais me interessava pelo meio ambiente. Considero que minha infância foi muito influenciada pelas férias passadas nas fazendas que minha família possuía no Pantanal e no Estado do Paraná.Tais lugares, principalmente o Pan-tanal, deixaram marcas indeléveis na

minha alma. Talvez pela amplitude das paisagens, pelo tamanho das florestas e pela existência de uma fauna nativa exuberante, algo tenha marcado para sempre a minha pessoa.

Neo MoNdo: Além de reminiscências acadêmicas e familiares, há alguma outra marcante em sua vida?roberto Klabin: Interessante lembrar um filme que me tocou muito e que já está praticamente esquecido. Esse filme, do começo da década de 1970, chamava-se em inglês Soylent Green. Em português, acho que a tradução era O mundo em 2020. O artista era Charlton Heston, que também estre-lou, entre outros, a primeira versão de O planeta dos macacos. O filme falava em superpopulação e catás-trofe ambiental. Na época, achei seu conteúdo muito forte - e aquilo, tenho certeza, me abriu para um dia abraçar a causa ambiental.

Neo MoNdo: Desde então, não parou mais? roberto Klabin: Passados todos esses anos, reconheço que essa dedicação ao meio ambiente, na SOS Mata Atlântica e em outras entidades, como o Institu-

to SOS Pantanal, que também dirijo, tornou-se meu principal projeto, ao qual dedico a maior parte de minha atenção e tempo. Acredito que essa decisão de priorizar essa missão decorra do fato de eu me ter perguntado, há mais ou menos 10 anos: onde é que eu poderia fazer mais diferença, ou seja, onde é que meu tempo poderia ser mais bem aplicado e os resultados conseguidos mais relevantes para mim e para minha concepção de mudar o mundo.

Neo MoNdo: Quem fala mais alto: o empresário, o ambientalista ou o acadêmico?roberto Klabin: Como empresário, sinto que já cumpri minha etapa de realização não vislumbrando, por esse caminho, grandes resultados, atuações ou satisfação pessoal. Já como mili-tante no movimento ambiental, com a experiência que adquiri no segundo setor, mais o domínio completo de mi-nha agenda, a ajuda que posso dar é mais relevante, e os resultados têm-me agradado enormemente.

Neo MoNdo: Como a SOS Mata Atlânti-ca avalia o Código Florestal, cuja votação no Congresso virou um imbróglio?

“Procuro equilibrar pecuária extensiva com turismo ecológico, pesquisa e conservação da fauna para conservarmos esse tesouro ecológico”

Fabi

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roberto Klabin: O que posso dizer é que toda essa polêmica infelizmente não discute o papel da maior importância que o Brasil poderia assumir no concerto das nações como a maior potência ambiental planetária. Essa, em minha opinião, é a maior vantagem competitiva brasileira. Energia limpa, clima propício, terra e água doce em abundância, a maior floresta tropical do planeta, ocorrência de apro-ximadamente 20% de todas as espécies vivas do planeta e, finalmente, população proporcionalmente pequena em relação ao tamanho do território nacional. Se hoje o país se transforma em uma potência agrícola, imagine o seu futuro brilhante caso tirasse proveito desse con-ceito de potência ambiental e desenvol-vesse suas atividades no campo agrícola de forma mais eficiente e sustentável.Infelizmente, o que se vê é que as pro-postas dos setores mais conservadores da sociedade brasileira em relação à mudança do atual Código Florestal não levam o país a esse aprimoramento.

Neo MoNdo: Corremos o risco de retrocesso em relação ao Código de 1965, podemos esperar um avanço, um aperfeiçoamento ou, quem sabe, um complemento?

roberto Klabin: Toda essa discussão levada a cabo por esses conservadores vai tirar o Brasil do século XIX para levá-lo até a primeira metade do século XX. O século XXI nem existe para a maioria de nossos congressistas; afinal, a política que praticam nesse caso lembra muito aquela utilizada pelos oponentes da abolição da escravatura, quando diziam que sem os escravos o Brasil não teria mais agricultu-ra. Agora, o discurso é o mesmo, ou seja, sem a flexibilização da lei ambiental e a anistia dos infratores não teremos mais condições de produzir alimentos.

Neo MoNdo: Tem como apontar no novo Código uma meia dúzia de pon-tos positivos e seis pontos negativos?roberto Klabin: Não cabe aqui discutir ponto por ponto do projeto, visto que o que está errado é exatamente utilizar-se o texto proposto pelo deputado Aldo Rebelo para então promover correções e negociações. Em minha opinião, esse texto deveria ser descartado, e toda a discussão da modernização do atual Có-digo Florestal deveria ser recomeçada do zero, sendo conduzida por economistas e cientistas não ligados a lado nenhum sob o comando direto do governo, com óbvia participação de todos os setores

interessados e da sociedade em geral.Esta é uma tarefa para estadistas, não para políticos de olho na próxima eleição apenas.

Neo MoNdo: Que avaliação é possível se fazer de um evento do porte do Fó-rum Mundial de Sustentabilidade, que mereceu de NEO MONDO ampla cobertura em suas duas primeiras edi-ções: é sinal de maturidade da classe empresarial brasileira ou algo mais?roberto Klabin: Acredito que a iniciativa do Fórum Mundial de Sustentabilidade é válida e boa. O que é interessante observar é que esse evento começou mais como um encontro com a mídia, para apresentar as ideias de algumas perso-nalidades estrangeiras envolvidas com a questão de sustentabilidade para, já na segunda edição do Fórum, apesar das personalidades convidadas (para atrair a mídia), haver mais espaço para conteúdo com vários grupos de trabalho e de partici-pação maior de palestrantes nacionais. A participação das empresas está aumen-tando e, acredito, a fórmula do Fórum, com a sua localização em Manaus, tem todos os ingredientes para tornar o evento um destino obrigatório para a discussão de temas dessa importância.

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Perfil

“Vamos mapear o Pantanal por satélite, começando pela Expedição de seis meses que ouvirá todos aqueles que lá vivem”

Zapa

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Modernizar o Código Florestal étarefa para estadistas, não para

políticos de olho na próxima eleição“

Neo MoNdo: A legislação específi-ca referente à Mata Atlântica (Lei 11.428/2006; Decreto 6.660/2008), a seu ver, é suficiente ou chegou tarde? roberto Klabin: Esta lei não chegou tarde, e só temos que comemorar sua existência. A Mata Atlântica é o único bioma brasileiro com uma lei específica. De acordo com o Atlas da Fundação SOS Mata Atlântica, desenvolvido em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o remanes-cente da Mata Atlântica até 2010 era de pouco mais de 11,3% do bioma original, o que significa 14,6 milhões de hecta-res (floresta, mangue e restinga) de vegetação nativa existente. Consideran-do apenas remanescentes com mais de 100 hectares, esse índice cai para pouco menos de 8% do bioma original.Isso mostra a extrema fragilidade atual do bioma em face da alta fragmentação, ou seja, cerca de 40% do que resta de Mata Atlântica estão significativamente comprometidos por constituírem blocos florestais inferiores a 100 hectares.

Neo MoNdo: Para quem, a seu exem-plo, formou-se em Direito, como explicar que o País seja tido como bom de leis, mas que não saem do papel, em sua maioria, quando não vêm com atraso? Como chegamos a destruir toda a Mata Atlântica, por exemplo, como se desres-peitam tanto outros biomas?roberto Klabin: Apesar da fragilidade deste bioma, a lei não chegou tarde, pois até o final dos anos 1980 ainda não se conheciam o conceito e a extensão do bioma. Foi a SOS Mata Atlântica que criou esse conceito e definiu com a ajuda de inúmeros cientistas esse bioma. A criação da lei foi tumultuada, a partir do Decreto 750/92. Esse decreto proibia tudo, e isso fez com que a Lei da Mata Atlântica fosse gestada de forma diferen-te. Discutida estado por estado, quando chegou a lei, chegou de tamanho certo. Foi retirada uma série de penalidades e questões previstas já em outras leis. Ajudou também a existência de um grande aparato infralegal, regulado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), além da previsão na lei dos di-versos níveis governamentais da implan-tação da lei. Temos de lutar, no bioma Mata Atlântica, para que sua recupera-ção seja equivalente ao cumprimento da

lei, restaurando a reserva legal e as APPs em sua grande maioria até hoje.

Neo MoNdo: Como isso seria possível?roberto Klabin: Vejamos: se de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aprovado pelo Diário Oficial da União, a Mata Atlântica cobria 1,3 milhão de km² ou 130 milhões de hectares e só existem 14,6 milhões de hectares, ou 11,3% do bioma original, verificamos que desses 14,6 milhões de hectares, somente 3,4 milhões de hec-tares (2,6% do bioma original) estão protegidos sob a forma de unidade de conservação de proteção integral. Remanescem pouco mais de 11,2 milhões de hectares (menos de 9% do bioma fora das unidades de conser-vação) protegidos pelas áreas de preservação permanente ou reservas legais. Nessa escala, pode-se dizer que faltariam, para completar os 20% correspondentes à legislação em vigor hoje, algo em torno de 14 milhões de hectares para ser restaurados.

Neo MoNdo: O que esperar e cobrar de governos, empresas, ONGs, cida-dãos para termos mais qualidade de vida? roberto Klabin: Se a mudança do Có-digo Florestal nos termos da proposta do deputado Aldo Rebelo se concreti-zar, a meta proposta pelas organiza-ções que integram o Pacto pela Mata Atlântica de recompor 15 milhões de hectares até o ano de 2050 ficará totalmente comprometida.Por essa e por outras razões é que acre-dito que o papel das ONGs ambientalis-tas é de estar traduzindo e mobilizando a população em geral para os desafios e oportunidades que a manutenção da qualidade de vida das pessoas exige.Fazer as pessoas saírem de suas zonas de conforto é complexo, visto que o entendimento por parte delas, de que qualidade de vida é fundamentalmen-te viver num ambiente sadio, belo e

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diverso, nem sempre é compreendido ou faz parte de suas prioridades.Em vez de as ONGs quererem transfor-mar o meio ambiente/qualidade de vida como prioridade para as pessoas, é mais fácil - no estágio educacional e de cidada-nia que a maioria da população ocupa -, introduzir esse conceito dentro das reais prioridades que as pessoas estabelecem.

Neo MoNdo: Dá para alcançar essa meta?roberto Klabin: Sim, se, por exemplo, explicar-se a relação da saúde humana com a qualidade da água consumida pela população e as razões da perda dessa qualidade. Falar de moradia e zonas de risco, como encostas e morros, explicando por que devem ser protegidas essas áreas e os perigos de sua ocupação indevida.São tantos desafios e oportunida-des! As ONGs ambientalistas querem educar os atuais consumidores para que estes se transformem em reais cidadãos.

Neo MoNdo: Aí entra a SOS...roberto Klabin: Vale a pena acompa-nhar os trabalhos da Fundação SOS Mata Atlântica nesse sentido. Todos os anos, em maio, comemoramos o Viva a Mata. Este evento ocorre no Parque do Ibirapuera durante um fim de semana, e milhares de pessoas têm a oportunidade de visitar, em um mesmo lugar, projetos ambientais interessantes e iniciativas que visam à sustentabilidade, vindas das mais diversas regiões do país.Há inúmeros projetos, possíveis de seguir pelo site: www.sosma.org.br. Para acompanhar a SOS pela internet basta cadastrar-se na Conexão Mata Atlântica, rede social da Fundação que reúne interessados em meio ambiente, e acessar www.conexao-sosma.org.br. Também temos nosso twitter (@sos), vídeos no youtube (youtube.com/sosmata), além do www.sosma.org.br/blog.

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Perfil

Amor antigo vira experimento

O Pantanal é um caso de amor antigo. Desde os 10 anos de idade frequento a região. Passados 45 anos, meu amor continua o mesmo, mas meu envolvimento com a região extrapolou

minha fazenda e meus negócios e passou a participar da gestão de uma nova ONG, a SOS Pantanal.

Assim como a SOS Mata Atlântica, o objetivo é mapear a região por satélite para entender a situação do bioma, além de promover uma contínua busca pelo diálogo e troca de experiências

que possam promover a conservação do Pantanal.

Para tanto, neste ano vamos promover a primeira Expedição Pantanal para conhecer as boas práticas que promovem a conservação das atividades econômicas e do meio ambiente na região. Vamos visitar durante seis meses todas as regiões do Pantanal e do planalto que circunda a planície pantaneira. Vamos conversar com fazendeiros, peões, comunidades, prefeituras,

câmara de vereadores e associações de classes.

Em 2012, uma vez tabulados os dados, iremos promover uma grande apresentação desses conhecimentos buscando ampliar o diálogo e o entendimento entre todos aqueles que vivem

no Pantanal em prol da manutenção da qualidade de vida, dos costumes e da sua cultura.

Sobre minhas atividades empresariais no Pantanal, ressalto apenas que na minha propriedade procuro equilibrar pecuária extensiva com outras atividades como turismo ecológico, pesquisa e conservação

de fauna, além da criação de uma grande área de preservação, a RPPN Dona Aracy.

Considero que minhas iniciativas são como um experimento e, assim como fui pioneiro no Pantanal em iniciar o turismo contemplativo de fauna, quem sabe muitas outras ideias, se tiverem êxito, sirvam para

contribuir ainda mais para a conservação desse tesouro ecológico.

“o Pantanal deixa marcas indeléveis na alma pela amplitude das paisagens,

pelo tamanho das florestas e pela fauna nativa exuberante”

Zapa

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neo mondo - setembro 2008 A

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