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1 Neo Mondo - Julho 2008 DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE Laje de Santos Vida em Abundância Certificado Ambiental Madeira de Lei Impactos Ambientais Sumiço dos Vagalumes Exemplar de ASSINANTE Venda Proibida R$16,00 Ano 7 - N o 55 - Junho 2013

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1Neo Mondo - Julho 2008

Dia MUNDiaL DoMEio aMBiENTE

Laje de SantosVida em Abundância

CertificadoambientalMadeira de Lei

impactosambientais Sumiço dos Vagalumes

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R$16,00

ano 7 - No 55 - Junho 2013

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todos os animais

Os animais são diretamente afetados pelo comportamento humano.

Podemos ser cruéis e negligentes, mas também podemos manifestar bondade e compaixão — valores que exemplificam

o melhor do espírito humano.

Acesse hsi.org/compaixao e veja como você pode ajudar.

Proteção e respeito a todos os animais

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5Neo Mondo - Julho 2008

todos os animais

Os animais são diretamente afetados pelo comportamento humano.

Podemos ser cruéis e negligentes, mas também podemos manifestar bondade e compaixão — valores que exemplificam

o melhor do espírito humano.

Acesse hsi.org/compaixao e veja como você pode ajudar.

Proteção e respeito a todos os animais

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Neo Mondo - Julho 2008 6

Microrganismo com substância capaz de limpar o organismo humano dos efeitos colaterais de diversas drogas.

Bactéria produtora de substância que, ingerida, dissipa os efeitos da ressaca.

Peixe abissal que carrega a cura da acne.

Ajude a preservar os oceanos. Nem que seja por egoísmo.

F_An_Egoísmo_41x27,5.indd 1 3/6/13 3:53 PM

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7Neo Mondo - Julho 2008

Microrganismo com substância capaz de limpar o organismo humano dos efeitos colaterais de diversas drogas.

Bactéria produtora de substância que, ingerida, dissipa os efeitos da ressaca.

Peixe abissal que carrega a cura da acne.

Ajude a preservar os oceanos. Nem que seja por egoísmo.

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Informações:11 2669-0945 | 98234-4344

97987-1335Neo

Mondo Um olhar consciente

As crianças vão se encantar com essa história bem-humorada sobre um reino distante onde há um castelo, um rei e um espelho. Mas diferentemente das outras histórias, esse espelho não é mágico - ele mostra apenas a realidade. E a realidade é que, um dia, o rei desse reino distante

olhou-se no espelho e viu que seu belo umbigo havia desaparecido de sua barriga. Quem teria roubado o umbigo? Um grande mistério a ser descoberto pelos leitores. As alegres

e coloridas ilustrações de Ricardo Girotto dão o toque mágico a essa história escrita por Márcio Thamos em que umbigos escondidos sob grandes barrigas e umbigos à mostra em barrigas que roncam de fome apresentam uma trama delicada sobre compreensão, respeito e solidariedade.

Em um mundo marcado por brinquedos eletrônicos que funcionam a partir do botão power, que tal dar à criança o poder para construir seus próprios brinquedos? Imaginação acionada, materiais fáceis e disponíveis, fotos grandes mostrando o passo a passo e lá vem um divertido índio cara de pet,

um charmoso robô que movimenta a boca, um teatro e suas marionetes e...diversão garantida!Do mesmo autor do consagrado livro FÁBRICA DE BRINQUEDOS, essa obra, além da proposta

lúdica e divertida de criar brinquedos a partir de embalagens, tampinhas e outros materiais descartados no dia a dia, é uma excelente oportunidade para a criança experimentar a autonomia e

o prazer de imaginar, criar, construir e brincar.

??

Crianças criam! Crianças brincam!

Grrrr!!!

Grrrr

!!!

Os mais recentes lançamentos da Editora Caramujo já estão fazendo sucesso nas escolas. E vem muito mais por aí!

32 páginas | 20,5 x 27,5 cm | ISB

N: 9788566251005

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N: 9788566251012

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ESPECIAL - DIA MUNDIAL DA ÁGUA

Informações:11 2669-0945 | 98234-4344

97987-1335Neo

Mondo Um olhar consciente

As crianças vão se encantar com essa história bem-humorada sobre um reino distante onde há um castelo, um rei e um espelho. Mas diferentemente das outras histórias, esse espelho não é mágico - ele mostra apenas a realidade. E a realidade é que, um dia, o rei desse reino distante

olhou-se no espelho e viu que seu belo umbigo havia desaparecido de sua barriga. Quem teria roubado o umbigo? Um grande mistério a ser descoberto pelos leitores. As alegres

e coloridas ilustrações de Ricardo Girotto dão o toque mágico a essa história escrita por Márcio Thamos em que umbigos escondidos sob grandes barrigas e umbigos à mostra em barrigas que roncam de fome apresentam uma trama delicada sobre compreensão, respeito e solidariedade.

Em um mundo marcado por brinquedos eletrônicos que funcionam a partir do botão power, que tal dar à criança o poder para construir seus próprios brinquedos? Imaginação acionada, materiais fáceis e disponíveis, fotos grandes mostrando o passo a passo e lá vem um divertido índio cara de pet,

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Seções

DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTEImagine Um planeta com vida

DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

PErfIL

Ana Paula BalboniLaje de Santos

Impactos ambientais Sumiço dos vagalumes

Chamados a vencer desafios

Dia Mundial do Meio Ambiente. Comemorar o quê? Escrever sobre qual tema que ainda não tenha sido abordado? Procurar qual especialista ou autoridade no assunto que traga alguma solução inovadora? “Em alguns lugares da terra se rompeu, há dias, a barreira dos 400 ppm de CO2, o que pode acarretar desastres socioambientais de grande magnitude. se nada de consistente fizermos, podemos conhecer dias tenebrosos. não é que não possamos fazer mais nada. se não podemos frear a roda, podemos, no entanto, diminuir-lhe a velocidade. Podemos e devemos nos adaptar às mudanças e nos organizar para minorar os efeitos prejudiciais. Agora se trata de viver radicalmente os quatro erre: reduzir, reutilizar, reciclar e rearborizar”.O alerta não é de nenhum pregoeiro do apocalipse ou de algum ‘cientista maluco’, mas antes vem de um teólogo, filósofo e escritor ponderado - no que esta palavra tem de mais significativo: ‘equilibrado; sensato; analisado com atenção’ (iDicionário Aulete).

Editorial

Oscar Lopes LuizPresidente do Instituto Neo Mondo

[email protected]

Expediente Publicação

Diretor responsável: Oscar Lopes Luiz

Diretor de redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586)

Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, rosane Magaly Martins, Pedro Henrique Passos e Vinicius Zambrana

redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), rosane Araujo (MTB 38.300) e Antônio Marmo (MTB 10.585)

revisão: Instituto Neo Mondo

Diretora de Arte: renata Ariane rosa

Projeto Gráfico: Instituto Neo Mondo

Tradução: Efex Idiomas – Tel.: 55 11 8346-9437Diretor de relações Internacionais: Vinicius ZambranaDiretor Jurídico: Dr.Erick rodrigues ferreira de Melo e Silva

Correspondência: Instituto Neo Mondorua Antônio Cardoso franco nº 250, Casa Branca – Santo André – SPCep: 09015-530

Para falar com a Neo Mondo:[email protected]@[email protected]

Para anunciar: [email protected]. (11) 2669-0945 / 8234-4344 / 7987-1331

Presidente do Instituto Neo Mondo:[email protected]

A revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24.

Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas.

Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.

10 Neo Mondo - Junho 2013

Tetra PakTudo de bom

DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

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Educação Ambiental Feita com ações, participação e muito trabalho

DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE32

Certificação Ambiental Madeira de lei

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Artigo: Márcio Thamos Mitologia Clássica

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DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

talvez devamos acrescentar à vivência radical dos quatro erres, sugerida por Leonardo Boff, a prática dos vários pês que subsidiem nossas buscas por conhecimento: pessoas comprometidas, pesquisadores idôneos e sérios, propostas viáveis...

nEO MOnDO - traz matérias e artigos instigantes, que procuram (eis aí outro pê que falta em alguns meios) apresentar ideias, conceitos e práticas (este pê não pode faltar) viáveis.

Estes vêm de grandes corporações, mas também de quem faz o trabalho da ‘formiguinha’; de especialistas e pensadores renomados, mas providos todos eles da necessária capacidade de se comprometer com o meio ambiente de modo efetivo, constante, criativo e (por que não?) otimista-realista.

trata-se, segundo Leonardo, de fazer “surgir uma consciência ética que nos torna responsáveis face ao caos ecológico e ao aquecimento global. Por aí há caminho a ser percorrido. Para um novo tempo, uma nova ética”.

somos chamados a vencer desafios, e nEO MOnDO não se furta a fazer a sua parte, dar sua contribuição.

tenha uma ótima leitura!

nEO MOnDO, tudo por uma vida melhor.

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Matéria publicada na edição no35

Artigo: Paulo F. Garreta Harkot Gestão Ambiental

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26 Tetra PakReally good

rEPOrTS IN ENGLISH

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11Neo Mondo - Julho 2008

Sem título-1 1 28/07/2011 11:12:46

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Neo Mondo - Junho 201312

Perfil

Imagina o encontro de pessoas bonitas, bem resolvidas e, acima de tudo, comprometi-das – mais que isso, apaixonadas - com o meio ambiente, capazes de fazer surgir num cantinho que seja o paraíso terrestre – no caso, marinho.Sonho, utopia ou realidade? NEO MONDO foi conferir qual dessas alternativas é a que

melhor traduz o que tem feito o Instituto Laje Viva, em seus 10 anos de existência. Nos dias 8, 9 e 10 de março, por exemplo, a ONG participou do Padi Dive Festival, na capital paulista, consagrado como “o mais importante evento de mergulho da América Latina”.

Ana Paula Balboni, cofundadora e diretora-presidente do Instituto e coordenadora do Projeto Mantas do Brasil, ressalta “a acolhida e incentivo que recebemos da organização do evento - importantíssimos para que possamos mostrar os resultados dos trabalhos que efe-tuamos no PEMLS (Parque Estadual Marinho da Laje de Santos – N.R.) . É um importante canal de comunicação do Instituto Laje Viva com o público do mergulho. É também uma maneira de levar às pessoas conhecimentos acerca das arraias gigantes, animais que têm imenso carisma e apelo e que são verdadeiramente adorados por todos os mergulhadores”.

Em sua 12ª. edição, neste ano, o Padi Dive Festival agregou reconhecimento ao Laje Viva. “O pessoal da loja montada ao lado do nosso estande na feira veio nos dizer: ‘ano que vem vamos pedir para nos colocarem próximos a vocês de novo, vocês são um verdadeiro chamariz...’. Foi uma participação muito divertida e positiva. O evento ficaria muito comercial sem a presença e o apelo das ONGs de preservação ambiental que estavam lá presentes, como o Meros do Brasil, o Sea Shepherd, entre outras iniciativas. A presença das ONGs enriquece o evento, acrescentando essa pegada ambiental que é, cada vez mais, preocupação do mergulhador”, avalia Ana Paula.

Nessa entrevista concedida por e-mail a NEO MONDO, o Padi Dive Festival foi ape-nas o ponto de partida. O fio condutor de nossa conversa com a advogada, formada pela USP e pós-graduada em Direito Tributário - apaixonada pela vida marinha desde criança (Ana Paula descobriu o mergulho em 1998 e hoje é rescue diver, com mais de 600 mer-gulhos logados, a maioria deles em pesquisa) -, está em mostrar a nossos leitores a real ‘importância das coisas’ quando se trata de cuidar do planeta.

NEO MONDO mergulha nas realizações de uma ONG que, em menos de uma década, privilegiou estudos e pesquisas com arraias, ceriantos e tartarugas, entre outras espécies

Gabriel Arcanjo Nogueira

VIDA QUE BROTA DO MAR

Ana Paula, à frente da ONG, defende a Laje de Santos como patrimônio a ser preservado em

ações oficiais em parceria com a sociedade

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13Neo Mondo - Junho 2013

NEO MONDO: O Instituto Laje Viva existe há 10 anos, e o Parque Esta-dual Marinho há 20 anos. Sem que-rer fazer qualquer ilação cabalística (momentos importantes a cada 10 anos), o que compete a cada uma dessas instituições fazer pelo meio ambiente? Os princípios e objetivos traçados vêm sendo cumpridos de modo satisfatório ou até mesmo têm superado as expectativas? Ana Paula: É importante ressaltar que até mesmo a proteção da área na qua-lidade de Parque Marinho foi uma resposta dada pelo Poder Público ao clamor de mergulhadores, cientistas e frequentadores da área. É a sociedade civil que exerce esse papel, o de apon-tar a importância das coisas para que o Poder Público exerça sua função. O Poder Público não reúne (e não acredi-to que isso mude num futuro próximo) condições de investigar a importância das coisas, a escala de valores da socie-dade. Mas a sociedade tem condição, tem direito e tem dever de mostrar ao Poder Público: ‘isto é importante pra nós, precisa ser protegido de nós mes-mos’. Foi isso o que ocorreu na criação do Parque Estadual Marinho da Laje de Santos há 20 anos. A sociedade, ba-seada na opinião técnica de biólogos marinhos, apontou ao Poder Público a importância do local e a necessidade de proteger a área de nossa própria ação predatória.

NEO MONDO: Foi daí que nasceu o Laje Viva, algo como um segundo passo? Ana Paula: Isso. Dez anos mais tarde, a sociedade civil, aqui representada por um segmento entre os mergu-lhadores, se organizou para trabalhar em conjunto com o Poder Público em prol da preservação do seu santuário. A Laje de Santos é nosso patrimônio

e continua sendo alvo da ação ilegal de pescadores. As ações do Poder Pú-blico são muito mais eficazes quando apoiadas e tomadas em parceria com a própria sociedade. É esse o papel do Instituto Laje Viva. Estudar a im-portância do local e municiar o Poder Público e a própria sociedade de in-formações científicas.

NEO MONDO: E como isso se dá na prá-tica: mediante parcerias?Ana Paula: Trabalhando de modo inte-gralmente baseado em mão de obra voluntária é sempre difícil atingir as nossas próprias expectativas, assim como a dos outros em relação ao que é esperado que façamos. Mas o Insti-tuto Laje Viva trabalha, até hoje, base-ado em mão de obra voluntária. Infe-lizmente não são muitas as empresas brasileiras que patrocinam projetos e iniciativas como a nossa. O Projeto Mantas do Brasil está em fase de re-novação junto à Petrobrás por meio da Petrobrás Ambiental, e com isso teremos meios de compor uma equipe profissional, realmente dedicada ao sucesso e ampliação do Projeto. Nesse momento eu acredito que venhamos a satisfazer e até mesmo a superar as expectativas em torno dos trabalhos com as mantas gigantes.

NEO MONDO: Qual a aceitação que cada uma dessas duas instituições tão qualificadas e objetivas tem recebido das demais ONGs ambientalistas? Ana Paula: Aqui no Brasil esse tipo de organização de pessoas em prol de um

interesse comum ainda é um modelo muito novo, as pessoas demoram até mesmo a compreender. Há 10 anos os Operadores de Mergulho da Laje de Santos nos viam como concorrentes. Aos poucos, com a concretização e o resultado dos trabalhos, um a um foi virando nosso grande parceiro. Nós ajudamos a preservar o local que é fonte de sustento deles. Não existe concorrência, agora temos uma rela-ção simbiótica. Eles são nossos parcei-ros na preservação, ajudam a preser-var o que amamos e o que nos é mais caro, mantêm eterna vigilância para evitar a pesca ilegal. E nós estudamos o local, ajudamos a preservar e cria-mos ferramentas de comunicação ca-pazes de mostrar as belezas do local à comunidade santista, paulista e brasi-leira, atraindo mais público de turismo de mergulho, que é o que os sustenta. O benefício de ambas as partes ficou claro com o passar do tempo.

NEO MONDO: E como ficam governos e sociedade em geral?Ana Paula: Em relação ao governo, aqui representado pela Gestão da Uni-dade de Conservação em questão, a aceitação e os trabalhos em parceria não podiam ser melhores. O gestor da UC, José Edmilson de Araújo Mello Ju-nior, demonstra compreender a nossa missão, assim como nós procuramos compreender a dele, e nos ajudamos e apoiamos em tudo o que é possível. Ele sabe que pode contar conosco e que somos movidos pela paixão que temos pela Laje de Santos.

O Parque Estadual Marinho existe há 20 anos e seria algo como o irmão mais

velho do Laje Viva, 10 anos mais novo. Mas, no caso, a experiência do ‘irmão caçula’

vem de bem antes de ter nascido.

Mau

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o A

ndr

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Perfil

NEO MONDO: O que é o Laje Viva, como e por que surgiu?Ana Paula: É uma ONG criada por mer-gulhadores amantes da Laje de Santos, com o intuito de proteger a Laje de Santos, pois a Laje é nossa, é patrimô-nio de todos. Os membros do Instituto sentem que o local nos dá tanto, tan-to prazer, tanta alegria, tanta beleza, que, de alguma forma, precisávamos retribuir tamanha generosidade.Apesar de a Laje de Santos ser berçá-rio, residência e abrigo de uma série de espécies ameaçadas de extinção, uma em especial é o foco de nossos esforços e estudos, no Projeto Mantas do Brasil, que estuda os hábitos migra-tórios e o comportamento da maior espécie de arraia do mundo, um dos maiores peixes dos nossos oceanos, a Manta birostris.

NEO MONDO: Qual o alcance desse projeto até o momento?Ana Paula: Em 2010, com a efetiva co-laboração do Instituto Laje Viva, essa espécie de gigante marinho foi reca-tegorizada pela International Union for Conservation of Nature (IUCN)

como “VULNERÁVEL À EXTINÇÃO”, ou seja, subiu um degrau na escala de ameaça rumo ao risco de extin-ção. É uma espécie de reprodução muito lenta. Cada fêmea consegue parir um único filhote a cada 3 anos, e estima-se que possuam algo como 14 anos de vida fértil, o que não ga-rante muito mais do que 5 ou 6 be-bês por fêmea ao longo da vida. Com uma reprodução tão lenta, a espécie simplesmente não suporta qualquer pressão de pesca. E é uma das espé-cies que compõe a chamada mega-fauna carismática, são verdadeiros atratores de turismo de mergulho no mundo todo. A população brasileira desses gigantes gentis, inteligentes e brincalhonas talvez seja a menor do mundo, e talvez mais próxima da extinção do que nós mesmos possa-mos imaginar.Então uma das principais bandeiras do Instituto Laje Viva é trabalhar pela sobrevivência dessa espécie tão fantástica.

NEO MONDO: Quais as suas principais metas e realizações?

Ana Paula: Nossas principais metas são e serão sempre provar a importância do local e de sua preservação. Daí a importância dos projetos científicos, em especial o Mantas do Brasil.Hoje, acredito que nossa maior meta seja conferir efetividade às legisla-ções de proteção recém-obtidas no Brasil e no mundo. O Brasil foi pro-ponente, com o Equador, de uma medida de restrição ao comércio internacional de partes e derivados de arraias mantas, na Convention on International Trade of Endenge-red Species (CITES), que ocorreu em Bangkok, Tailândia, já aprovada e sancionada em 14 de março. Obviamente não fazia o menor sen-tido sermos proponentes de medida de restrição ao comércio internacio-nal e continuarmos matando as ar-raias gigantes em nosso território. Países como Equador e Moçambique já possuíam suas legislações proibin-do a matança desses gigantes, mas o Brasil ainda não possuía uma legisla-ção de proteção dessa espécie.

NEO MONDO: Como ficamos, então, no Brasil?Ana Paula: A conquista da legislação brasileira de proteção veio na esteira da CITES, pela Instrução Normativa Interministerial nº 02 de 13/03/2013, conjunta dos Ministérios da Pesca e Aquicultura e do Meio Ambiente, que proíbe a pesca e a captura de indivídu-os da espécie no Brasil.

Neo Mondo - Março/Abril 201312

O local nos dá tanto, tanto prazer, tanta alegria, tanta beleza, que, de alguma

forma, precisávamos retribuir tamanha generosidade

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Temos plena consciência da importân-cia da obtenção dessas legislações de proteção, mas também temos claro em mente que esse foi apenas o pri-meiro passo de muitos que precisam ser dados se quisermos garantir a so-brevivência dessa espécie de gigante marinho em nosso planeta.

NEO MONDO: A ONG atua em parce-rias e, nestas, quais as principais seja da esfera pública seja privada; o que compete a cada uma fazer; e como se dá na prática a importância de cada uma delas?Ana Paula: Sim, tivemos o patrocínio da Petrobrás para o livro fotográfico Laje de Santos, Laje dos Sonhos, que foi o primeiro veículo, a primeira ferramenta que pudemos criar para levar a Laje até as pessoas. Pudemos contar com pa-trocínios da Panco e da Eucatex, bem como apoio da Petrobrás, entre outras empresas, por meio de leis de incentivo à cultura, para a criação de um docu-mentário sobre o local, que conta a his-tória dos primórdios do mergulho no Brasil como pano de fundo, chamado Laje dos Sonhos; ficou belíssimo, uma verdadeira obra-prima da diretora Ra-quel Pellegrini com imagens subaquáti-cas do cinegrafista Clécio Mayrink, que é membro do Instituto. A pessoa diretamente responsável pela concretização desse sonho foi a produ-tora-executiva e diretora financeira do Instituto Laje Viva, Paula Romano. Esse

documentário é imperdível para os amantes do mergulho e tornou-se a se-gunda grande ferramenta de divulga-ção da importância da Laje de Santos.

NEO MONDO: Você se considera otimis-ta, realista ou pessimista com o que se conseguiu até agora? Ana Paula: Acho que sou realista. Se por um lado, fico muito feliz com os resultados já alcançados, por outro, não perco de vista o tanto que ainda há por fazer, por brigar, e essa bri-ga é no sentido de fazer as pessoas acordarem pra realidade e para os problemas ambientais que enfren-taremos num futuro muito próximo. Parece que quanto mais fazemos, mais existe por fazer.Por exemplo, sem deixar de celebrar a vitória de termos obtido uma legisla-ção de proteção das mantas gigantes no Brasil, sabemos o quanto ainda há por fazer, agora que temos a ferra-

menta na mão. É preciso conferir efe-tividade à legislação de proteção. Os pescadores precisam saber que a cap-tura da espécie está proibida. Precisam saber que mesmo a pesca acidental (by catch) está proibida, ou seja, ainda que o animal estiver morto na rede, deve ser devolvido morto ao mar. Não pode ser trazido a bordo. E se os pescadores entenderem o porquê da proibição, se entenderem o quanto e o porquê essa espécie é tão vulnerável, há chances de a preservação ser mais efetiva. O envolvimento das comunidades de pesca que estão localizadas onde há visitas sazonais da espécie de manta gigante é um dos próximos passos do projeto Mantas do Brasil.

NEO MONDO: Qual o feito mais rele-vante obtido até aqui? Seria a desco-berta de nova espécie em 2008? Ana Paula: Entendo que dois fatos muito importantes estão interligados.

Entre as parcerias, a Petrobrás viabilizou o livro fotográfico Laje de Santos,

Laje dos Sonhos e, com a Panco e a Eucatex, o documentário Laje dos Sonhos, que conta a história dos primórdios do mergulho no Brasil

como pano de fundo. Além de belíssimos, são preciosas ferramentas de divulgação

15Neo Mondo - Junho 2013

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A Manta birostris, gigante marinho, se caracteriza por ser gentil, inteligente e brincalhona; para preservá-la foi criado o Projeto Mantas do Brasil

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O primeiro deles - e que realmente chamou a atenção do mundo para essa espécie - foi a descoberta de uma nova espécie em 2008, seguido da pu-blicação do paper científico pela nos-sa parceira, brilhante cientista, Dra. Andrea Marshall, em 2009. Até então tudo era chamado de Manta biros-tris. Uma descoberta como essa é algo extraordinário, é como descobrir que um elefante havia passado desperce-bido no deserto até agora. É uma prova do quanto somos arro-gantes em achar que já sabemos qua-se tudo, e nem mesmo em relação às espécies gigantes nós temos pleno conhecimento. Aliás, as descobertas não pararam por aí, pois a Dra. An-drea está perto de provar a existência de uma terceira espécie de manta gi-gante, no México. Nós, aqui no Brasil, temos suspeitas de avistagem de um animal dessa terceira espécie em Re-cife, capturada e esquartejada pelos pescadores, infelizmente.

NEO MONDO: O mergulho é o principal meio de se chegar a tais resultados ou, na prática, se tem revelado o único? Quais são as outras atividades-meio?Ana Paula: O turismo de modo geral é o combustível desses resultados e, no nosso caso, em particular, o Turismo de Mergulho, que é um mercado crescen-te. O turismo possui uma força avas-saladora. É em nome dos gigantescos recursos gerados por essa modalidade que os mais diversos países preservam

seus sítios de interesse, como ruínas e edificações antigas. Agora os governos começam a perceber que a biodiversi-dade é outro atrator poderoso de pú-blico e de recursos. Moçambique, por exemplo, ficou pri-vado de explorar o turismo riquíssimo gerado pelas visitas aos grandes ani-mais. Enquanto a África do Sul, por sua vez, explora o safári ecológico no Kruger Park, Moçambique perdeu for-tuna ao exterminar sua fauna durante sua guerra civil. Por outro lado, ainda possuem vasta fauna carismática mari-nha, que esperamos seja protegida e perenizada como recurso de turismo daquele país.

NEO MONDO: Na área sob responsabili-dade da ONG (seria restrita ao Parque Estadual?) o mergulho é livre ou reser-vado a especialistas de segmentos com foco na pesquisa científica? Há espaço para ‘aventureiros’, pessoas que cur-tem mergulhar pelo prazer da prática esportiva ou por ecoturismo?Ana Paula: O Instituto Laje Viva come-çou focado no PEMLS, mas os traba-lhos cresceram e desbordam os limites geográficos inicialmente traçados. Queremos ampliar os estudos das ar-raias mantas para localidades no Sul do país. Queremos ampliar os estudos científicos para locais próximos, prin-cipalmente os que possamos utilizar para estabelecer comparações com a própria Laje de Santos, como o Arqui-pélago de Alcatrazes (onde a visitação

ainda é proibida) e a Ilha da Queima-da Grande, em Itanhaém, onde a pes-ca é liberada mas a vida marinha prati-camente esgotou-se.O PEMLS é aberto a visitação. Existe uma taxa simbólica a ser paga por visi-tante, e qualquer embarcação particu-lar apta a navegar até lá (observando as normas da Marinha do Brasil) pode chegar, apoitar o barco ou fundear da maneira correta sem causar danos ao meio. Ou seja, visitantes podem passar um dia lindo nadando, mergulhando, tomando sol no paraíso.

NEO MONDO: Fale um pouco das APAs, a importância e abrangência das prin-cipais delas e se as existentes dão con-ta do recado.Ana Paula: São Paulo é o estado pionei-ro ao dividir o litoral paulista como um mosaico, estabelecendo regras de con-duta que variam de local para local de acordo com a necessidade de preserva-ção de cada um deles. E dessa maneira foram criadas três Áreas de Proteção Ambiental (APAs) Marinhas: Litoral Norte, Centro e Sul. O PEMLS está lo-calizado na APA Marinha Litoral Cen-tro. Esta, por sua vez, está subdividida em três setores, entre eles o Itaguaçu, que é especificamente onde se localiza a Laje de Santos. O trabalho de edu-cação ambiental e de fiscalização do uso correto desse mosaico é para ser desenvolvido ao longo de muito tem-po pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Gestão do PEMLS.Um dos aspectos positivos é a criação de conselhos, que são ferramentas incríveis de participação da sociedade na gestão dessas APAs. É uma oportu-nidade de todos os segmentos e inte-resses opostos se reunirem, exporem seus anseios e necessidades e, assim, ajustarem condutas focando a susten-tabilidade. O Instituto Laje Viva ocupa uma cadeira no Conselho Consultivo do PEMLS e outra no Conselho Gestor da APA Marinha Litoral Centro, onde apresenta propostas e busca caminhos pela sustentabilidade junto aos de-mais setores de interesse nessas mes-mas localidades.

NEO MONDO: No contexto do que se faz no Brasil em preservação ambien-tal, vocês se consideram satisfeitos com as conquistas da área marinha, ou há muito o que fazer ainda e sempre?

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Mergulhar junto a um desses gigantes marinhos é momento inesquecível, que Ana Paula, rescue diver, já experimentou

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Ana Paula: Não há como ficar satisfei-ta. Ainda engatinhamos. Já era hora de as pessoas pararem de ficar zanga-das quando regras são estabelecidas acerca do uso da coisa pública. Já era hora de pararmos de ver as ações de proteção ambiental como restrições ao direito de cada um e vermos como a ampliação do direito de todos e de cada um lá na frente. O direito de cada pescador tem que ser regrado hoje para que esse mesmo pescador te-nha peixe em sua mesa amanhã. Não é uma questão de restringir direitos, mas sim de perpetuar direitos, e não só para uns, mas para todos. Se preservarmos determinadas áreas que são berçários de vida marinha restringindo direitos naquelas áreas específicas, vamos gerar estoques pesqueiros que se desenvolverão em outras localidades e que continuarão a suprir nossos pratos. É hora de per-cebermos que o ajuste de condutas é necessário para garantir direitos, e não tirá-los, dos pescadores. Mas as resistências ainda são fortes, porque o nível de consciência das pessoas ainda fica muito aquém do que era de se esperar.

NEO MONDO: O notável cientista Aziz Ab´Sáber (que foi Perfil de NEO MON-DO, talvez numa das últimas entrevis-tas que concedeu à mídia impressa) tinha entre suas preocupações o avan-ço dos oceanos, para ele uma ameaça até mais real do que o aquecimento global para o futuro da civilização. Te-mas dessa envergadura estão na pauta de vocês, e em que medida é possível detectá-los nos trabalhos de campo re-alizados pela ONG?Ana Paula: As pessoas começam a se dar conta agora, muito tardiamente e de modo muito lento, na minha opi-nião, de que não é o ambiente que está sob ameaça. Não é nosso plane-ta que está sob ameaça. Tudo o que fizermos pelo ambiente não salva o planeta, salva a nossa existência. Nós é que estamos ameaçados, o nosso modo de vida está ameaçado pela maneira irresponsável como tratamos o ambiente. O aquecimento global e o avanço dos oceanos são sintomas de uma doença. É a doença que precisa ser combatida, e não os sintomas. E os sintomas dessa terrível doença não são apenas esses. Temos que lidar tam-

bém com o esvaziamento dos nossos oceanos, sentido no mundo todo. Não existe tarefa mais ou menos urgente. Tudo é urgente demais porque já per-demos o bonde. A pequena parte da população que já se deu conta disso corre atrás do bon-de que já passou, e a maioria ainda desconhece a questão por completo. A produção de alimentos é exemplo gri-tante. Estamos acabando com a vida nos oceanos, de onde tiramos nosso alimento. Ao esgotarmos os recursos marinhos numa pesca irresponsável - e caminhamos para isso a passos largos -, perceberemos na marra que as por-

ções de terra não são suficientes para o plantio da nossa comida. E nesse momento a humanidade vai à fome, com chances reais de guer-ras por água doce e alimento. Nossas ações de Políticas Públicas infelizmente estão na contramão da sustentabilida-de. Enquanto países como o Equador proíbem a pesca de arrasto e a absur-da prática do finning, nossas ações de política pública visam aumentar a frota pesqueira quando já estamos raspando o fundo. É preciso estudar mais, conhe-cer mais, acreditar mais na pesquisa, respeitar mais os resultados das pesqui-sas, no Brasil e no mundo todo.

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Entre as ações do Instituto, a soltura de animais saudáveis a seu habitat é uma delas: ‘tudo é urgente’

No Padi Dive Festival, o Laje Viva levou às pessoas “conhecimento sobre as arraias gigantes... adoradas por mergulhadores”

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Perfil

NEO MONDO: Como avalia a participa-ção do Laje Viva no Padi Dive Festival? Ana Paula: Nessa que é a maior feira de mergulho da América Latina, a acolhida e o incentivo que recebemos da organização do evento foram im-portantíssimos para que pudéssemos mostrar os resultados dos trabalhos que efetuamos no PEMLS. Trata-se de importante canal de comunicação do Instituto com o público do mergulho, e dessa maneira pudemos levar às pes-soas conhecimentos acerca das arraias gigantes, animais de imenso carisma e apelo e que são verdadeiramente ado-rados por todos os mergulhadores. Nesta edição esse reconhecimento teve um toque especial. O pessoal da loja montada ao lado do nosso estan-de na feira veio nos dizer: “ano que vem vamos pedir para nos colocarem próximos a vocês de novo, vocês são um verdadeiro chamariz...”. Foi uma participação muito divertida e positi-va. O evento ficaria muito comercial sem a presença e o apelo das ONGs de preservação ambiental que estavam lá presentes, como o Meros do Brasil, o Sea Shepherd, entre outras iniciativas. A presença das ONGs enriquece o even-to, acrescentando essa pegada ambien-tal que é, cada vez mais, preocupação do mergulhador. Um dos aspectos mais incríveis que observamos quan-do participamos desse tipo de evento é o interesse das crianças pela preser-vação. Apesar de poucos pais levarem seus filhos até lá, o que é uma pena, as crianças ficam alucinadas pelos aspec-tos relacionados à Biologia dos animais, se interessam pelos projetos voltados à preservação e querem ouvir detalhes sobre o comportamento deles. Em especial as crianças gostam de ou-vir sobre a capacidade de interação das espécies estudadas com as pesso-as, dão muito valor a esse contato não destrutivo. Talvez seja o início de rela-ções mais respeitosas do ser humano com as outras espécies que habitam o planeta, que não, NÃO estão aqui para servir aos nossos propósitos. En-quanto tivermos esse pensamentozi-nho egocêntrico, estaremos fadados a causar a extinção de inúmeras espécies e, assim, cavar nossa própria.

NEO MONDO: O que foi feito por vocês durante o evento?

Ana Paula: Nosso estande recebeu ex-celente visitação durante os três dias de feira, boa oportunidade para nossa equipe explicar os projetos e os traba-lhos de pesquisa, até mesmo com a en-trega de fôlderes, além da exposição de imagens em LCD durante todo o tempo de abertura do evento. As ima-gens dos pesquisadores em trabalhos de campo, bem como as do documen-tário e de reportagens feitas com nos-sa equipe durante os trabalhos, impac-taram positivamente os visitantes.Fizemos também uma palestra sobre nosso projeto Mantas do Brasil, levan-do os conhecimentos acerca da espé-cie de manta gigante ou migratória que nos visita sazonalmente (no inver-no) ao público interessado. Significado todo especial para nós foi a presença de nosso importantíssimo parceiro, Michel Guerrero, presiden-te do Projeto Mantas Equador, com a palestra sobre os trabalhos desenvolvi-dos na Isla de La Plata, Parque Nacio-nal Machalilla, Equador, que mostram avanços nesse país. Outra presença marcante foi a de Guilherme Kodja, com a aula do Ins-tituto Laje Viva sobre as mantas gi-gantes, cujos conhecimentos sempre despertam grande interesse entre os mergulhadores.

NEO MONDO: O Laje Viva tem alguma participação nos trabalhos realizados no Equador com as arraias gigantes?Ana Paula: Sim. Membros do Instituto têm participado das expedições cien-tíficas anuais ao Equador desde 2011

para estudo da Manta birostris. Em agosto vamos embarcar para nossa terceira participação consecutiva nos trabalhos junto ao Projecto Mantas Ecuador, capitaneado pelo biólogo marinho Michel Guerrero e pela Dra. Andrea Marshall. Esse tem sido nosso celeiro de observações e estudos so-bre metodologias científicas a serem empregadas aqui. Antigamente, por exemplo, buscávamos obter uma esti-mativa do tamanho das arraias gigan-tes que visitam a Laje de Santos a cada inverno a partir de uma estimativa, uma comparação com o tamanho do corpo ou uma braçada de um mergu-lhador em relação ao comprimento de asa a asa de uma manta. A partir das observações dos trabalhos desenvolvi-dos no Equador, nosso diretor Ricardo Coelho desenvolve nossos próprios dis-positivos de medição a laser. Esse estu-do métrico procurará estabelecer uma relação entre o tamanho e a maturi-dade sexual de cada animal observado no bojo do projeto. Outra metodologia importante que será implantada em breve aqui em nossos estudos e que também foi tes-tada inicialmente no Equador é o estu-do de DNA a partir da coleta de muco da pele das arraias gigantes. O proce-dimento não invasivo tem-se mostra-do eficaz nos estudos da Dra. Marshall no Equador, e pretendemos utilizar a mesma metodologia no Brasil. Para isso contamos com o biólogo respon-sável pelo projeto, Osmar José Luiz Jr, e o biólogo marinho Eric Joelico Co-min cuida das observações de campo.

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O apelo de ONGs na megafeira de mergulho fez o evento ultrapassar o lado comercial, numa ‘participação divertida’

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Momentos especiais e desafios

Ana Paula descreve momentos marcantes de sua vida no Laje Viva. Como esse, muito especial, “no ano de 2006. Pra mim, o resgate da raia manta que chegou ao PEMLS enroscada em uma rede de pesca foi um momento para nunca esquecer, foi um mar-co pra mim. Estávamos no intervalo entre dois mergulhos quando outra embarcação chamou pelo rádio e informou que um mer-gulhador havia visto uma manta enroscada numa rede de pesca. Sabíamos que a chance de encontrarmos o animal em uma área tão grande era minúscula, mas tínhamos que tentar. Depois de muito tempo vagando debaixo d´água a esmo, por mais incrível que isso possa parecer, eu e meu dupla na ocasião, Edu Guariglia, fomos conduzidos, guiados, por duas raias chitas, para maior profundidade em local muito mais afastado do que o local onde estávamos. “E demos de cara com a manta enroscada, muito ferida, sangrando nos locais onde os cabos da rede já estavam cortando a carne do animal. Essa manta fêmea, muito dócil e visivelmente exausta, parou para que a socorrêssemos. Eu sentia ela tremen-do de dor enquanto removia os cabos enterrados em sua carne. O jorro de sangue em profusão era assustador, e por um momento eu achei que não con-seguiria, que aquilo era demais pra eu suportar. Mas eu jamais me perdoaria se tivesse falhado, então engoli o choro e trabalhei. Desenroscamos muita rede, cortamos muitos cabos grossos. Mas a manta, exausta e após perder muito sangue, não nadava mais. “Começamos a empurrá-la para que voltas-se a nadar. Ela reagia por um instante, mas afundava de novo. Não desistimos dela, continuamos empurrando até que ela nadou rumo ao costão rochoso, onde o cinegrafista estreante Jean Marcel fez algumas imagens incríveis, para que nunca mais nos esquecêssemos. Aos poucos a manta recobrou as forças e saiu nadando rumo ao azul. Depois voltou, como que cumprimento a todos e dando um ‘adeus’ antes de desaparecer novamente no azul. Pagamos muito tempo de descompressão após termos estourado nosso tempo de

fundo, e nem sequer tínhamos ar o suficien-te pra pagar toda a descompressão. Pra mim ficou o alívio de ter correspondido quando fui exigida. Ainda choro quando penso nesse animal e torço para que ela tenha tido vários filhotes por aí”.

Noites e madrugadas no livroOutro momento marcante, esse crucial, qual teria sido?“Sem dúvida foi a confecção e o lança-mento do livro fotográfico Laje de Santos, Laje dos Sonhos. Foi um momento muito difícil. Advogados estão acostumados a lidar com prazos fatais, mas produzir uma peça processual e um livro tem uma dife-rença muito, muito grande, em especial pela quantidade de autores e fotógrafos envolvidos no livro, pois cada capítulo foi escrito por um especialista em sua área, cada um com seu próprio timing , todos personalidades muito marcantes. Além dos autores, participaram dezenas de fotó-grafos, cada um com seu jeito de fazer as coisas. E meu trabalho não parou, então eu tinha atividades profissionais durante o dia e ocupava noites, madrugadas e finais de semana com o livro. “Foi um processo vivido muito intensamente por mim e pelo biólogo do Instituto, Osmar José Luiz Jr. Quando o livro finalmente foi para impressão, tive o ombro do professor Ivan Sazima pra chorar o que ele chama de Síndrome do Livro Findo. A gente simples-mente fica no vazio. Sai de um processo de aceleração total pra um vazio que não tem tamanho. Eu não sabia o que fazer com minhas noites e com minhas madrugadas, fiquei várias noites olhando pras paredes, literalmente. Claro que valeu a pena, mas foi tão sofrido que, quando chegou a vez do do-cumentário, se não fosse a Paula Romano ter assumido pra ela essa responsabilidade, eu não teria tido coragem de assumir como fiz com o livro. São projetos meio kamikazes, a gente pare o ‘filho’ e morre em seguida”.

Olhos atentos e treinadosE daqui pra frente, como fica?“O Projeto Mantas do Brasil está cres-cendo. Afinal, as mantas gigantes são do Brasil e não apenas da Laje de Santos.

Nesta nova fase que estamos renovando junto à Petrobrás o projeto prevê obser-vações e envolvimento de comunidades desde o sul do país até o litoral sul do Rio de Janeiro, locais onde elas têm sido observadas sazonalmente. E além de o Projeto crescer em termos de extensão territorial, vai crescer em termos de conteúdo. No bojo do Projeto Mantas do Brasil está previsto o lançamento do Pro-grama Cidadão Cientista, que capacitará os mergulhadores a participarem do Projeto através de um audiovisual. “É uma tendência no mundo inteiro os mergulhadores desejarem participar mais das atividades de pesquisa, e estamos implantando essa iniciativa aqui no Brasil. É um convite ao mergulhador para que deixe a postura passiva e passe a trabalhar efetivamente em prol da preser-vação e da ciência. No Padi Festival 2012 tivemos a ilustre visita do Sr. Jean-Michel Cousteau, que disse uma frase que ficou comigo. ‘Nós mergulhadores, somos poucos e somos os ÚNICOS OLHOS abaixo da linha d´água.’ Ele colocou em palavras um chamado que eu já trazia comigo. Acredito que no próprio ano de 2013 tenhamos condições de lançar esse Programa, instigando os mergulhadores a fazer esse papel e assumir a respon-sabilidade de sermos os ‘únicos olhos abaixo da linha d’água’. Que sejam olhos atentos, interessados e treinados”.

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Momento de autografar o livro: ‘valeu a pena o processo tão sofrido’

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REGISTRAR PARA

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Perfil

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PRESERVAR

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Golfinhos

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Empresa, de origem sueca, faz o adjetivo do slogan em sua logomarca ser o fio condutor das próprias iniciativas

nos campos econômico, ambiental e socialGabriel Arcanjo Nogueira

Dia Mundial do Meio Ambiente

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É cada vez mais comum o brasileiro consumir produtos, prontos para be-ber, seja em casa seja em encontros

de trabalho ou de lazer. Nas embalagens, está a marca registrada: Tetra Pak Protege o que é bom. Junto a outras tantas recomen-dações a favor do que toda pessoa almeja: qualidade de vida.

O caminho para se alcançar essa boa vida passa pela sustentabilidade. “Todas as embalagens da Tetra Pak são sustentáveis: possuem cerca de 75% de material prove-niente de fontes renováveis e são 100% recicláveis. Além disso, o formato, peso e sistemas de transporte, estocagem e distri-buição são altamente eficientes do ponto de vista de energia, economia de espaço, redução de emissões”, entre outros aspec-tos. Quem garante é Fernando von Zuben, diretor de Meio Ambiente da empresa.

Tudo rigorosamente alicerçado nos três pilares que compõem a sustentabili-dade: econômico, ambiental e social, lem-bra o executivo. Desde 2008 a Tetra Pak conta com a certificação das embalagens produzidas em suas duas fábricas no Brasil – em Monte Mor (SP) e em Ponta Grossa (PR) – com o selo FSC (ver “O que é o Certi-ficado” ) . “A certificação brasileira significa que toda a cadeia de fornecimento no País – das florestas até a prateleira do varejis-ta – vem de florestas bem manejadas e fontes controladas, certificadas pelo FSC”, diz Fernando.

O diretor de Meio Ambiente esclarece sobre a certificação da Tetra Pak, chama-da “Certificação de Cadeia de Custódia, que se aplica a fabricantes, processadores e comerciantes de produtos florestais cer-tificados pelo FSC. Verifica-se todo o pro-cesso de fabricação dos produtos flores-tais ao longo da sua cadeia de produção. Em cada fase da cadeia de processamento e transformação, é necessária a certifica-ção de cadeia de custódia, para garantir que os produtos florestais certificados pelo FSC são mantidos separados dos produtos não certificados”.

DNA da empresaFernando afirma: “Desde sua criação, a

Tetra Pak, líder mundial em soluções para processamento e envase de alimentos, tem a premissa da sustentabilidade em seu DNA. Acreditamos em uma lideran-ça industrial responsável, gerando cres-cimento com rentabilidade em harmonia com a preocupação ambiental e boa cida-dania corporativa. Partindo do princípio de que uma embalagem deve economizar

mais do que custa, a Tetra Pak investe, há mais de 50 anos, em ações em prol da pre-servação do meio ambiente”.

Trabalho que inclui “o incremento da quantidade de recursos renováveis e apri-moramento do desempenho ambiental de suas embalagens”.

O executivo ressalta a importância de se proteger alimentos como “forma de sustentabilidade, pois a produção desse alimento gera impacto negativo em toda a cadeia. Logo, a embalagem é um ator fun-damental para manter a cadeia alimentar dentro dos padrões ambientais aceitáveis”.

Ponto forte e preocupação constante da empresa é desenvolver e investir em tecnologias para “reciclagem das embala-gens cartonadas, que são repassadas para empresas recicladoras. Esta é uma atitude fundamental para o fomento da coleta se-letiva e incremento da taxa de reciclagem”.

Fernando acentua que “a Tetra Pak foi pioneira no relacionamento com as coope-rativas de catadores. Além disso, foi a pri-meira empresa produtora de embalagens para líquidos a ser certificada pelo FSC, bem como lançou a primeira embalagem do mun-do para alimentos com tampa de “polietileno verde”, produzido a partir do etanol de cana--de-açúcar, uma fonte 100% renovável”.

Ele acredita que “cada vez mais, as em-balagens serão produzidas a partir de fon-tes renováveis e certificadas e terão, desde o início de seu desenvolvimento, a preocu-pação com a reciclagem no final da cadeia”.

Vencer obstáculosUm assunto que tem gerado polêmicas

no processo da reciclagem está em, na reta final, recorrer-se ao aterro sanitário para o que não for aproveitável. Haveria um ater-ro sanitário ideal?

O diretor de Meio Ambiente da Tetra Pak tem lá suas ressalvas. “Nossas emba-lagens são 100% recicláveis; sendo assim o aterro sanitário não deve ser o objetivo final de um produto, seja ele qual for. En-tretanto, quando não existe outra opção, aterros sanitários bem gerenciados com recuperação de gases para produção de energia e sistema de tratamento dos líqui-dos gerados é uma opção.”

Há que se levar em conta sempre o aspecto social. Por isso o executivo destaca: “A reciclagem de embalagens longa vida pós-consumo gera emprego e renda, além de promover a conservação ambiental e a cidadania”. No entanto, há obstáculos a vencer, para otimizar a ca-deia de reciclagem.

Fernando cita alguns: “promover a co-leta seletiva nos municípios e fazer o ma-terial separado pelas cooperativas chegar aos recicladores, seja por falta de ações do poder público, seja por falta de infor-mação e participação da população. Des-de 2002, a Tetra Pak, além de ações de apoio a prefeituras e cooperativas, realiza um trabalho de campo para fomentar a cadeia de reciclagem de suas embalagens. Para isso, conta com o apoio de uma equi-pe de colaboradores externos que atuam em diversas regiões do País.

“O trabalho desses prestadores de serviço é bastante amplo. Eles realizam a prospecção de iniciativas de coleta seletiva com catadores, cooperativas, comércios, escolas, igrejas e outras instituições, levan-do informações sobre a importância da co-leta e da reciclagem das embalagens longa vida pós-consumo. Quando as iniciativas não estão bem estruturadas, eles oferecem orientação para que se organizem da me-lhor forma possível. Atuam também em meio a prefeituras para conscientizá-las da importância da reciclagem e incentivá-las a implantar a coleta seletiva formal em seus municípios”.

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Fernando: “emissões de carbono, em operações próprias, foram reduzidas em duas toneladas em 2012, mesmo com aumento de 9,5% no volume de produção”

Divulgação Tetra Pak

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Projeto educacional de longo alcance

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Dia Mundial do Meio Ambiente

Sistemas eficientes de transporte, estocagem e distribuição fazem o diferencial na cadeia de fornecimento: das florestas à prateleira do varejista

No âmbito social, chama atenção o projeto Cultura Ambiental nas Escolas, fruto de parceria com a Universidade Es-tadual de Campinas (Unicamp). É como a menina dos olhos da Tetra Pak pelo que representa em preparar as futuras gera-ções para a responsabilidade social, que ainda deixa a desejar no País.

Fernando lembra os principais pontos em que se baseia essa iniciativa, a nosso ver exemplar.

Kits educativosDesenvolvido em 1997, em parceria com

a Faculdade de Educação da Unicamp, esse projeto inclui a distribuição de kits educativos com material informativo e lúdico para que os alunos aprendam sobre reciclagem, além de capacitar professores e educadores. O kit educativo foi desenvolvido por uma equipe multidisciplinar da Unicamp e é composto da cartilha para o aluno “A embalagem e o am-biente”, o caderno do professor “Meio ambien-

te, cidadania e educação”, os vídeos “Quixote Reciclado” e “Carbono e Metano”, o folheto “Faça o seu papel!” e o pôster “Ciclo de vida das embalagens”, além de um informativo das ofi-cinas ocorridas, com depoimentos e exemplos de projetos realizados pelos educadores.

O material é distribuído para escolas do Ensino Fundamental de todo o Brasil, principalmente da rede pública.

Mais de 6 milhões de estudantes e 40 mil escolas públicas e privadas foram beneficiados com informações sobre cole-ta seletiva e reciclagem.

Receptividade“Interessante notar que tanto profes-

sores como alunos têm mostrado interesse pelo tema. Ao fornecermos informações e ferramentas adequadas para os professores, estimulamos a formação de uma visão mais abrangente a respeito da problemática dos resíduos sólidos e da importância da coleta seletiva e reciclagem”, avalia Fernando.

Oficinas pedagógicasNelas os professores recebem orienta-

ções sobre como utilizar os kits e aprendem o processo de reciclagem das embalagens longa vida para trabalhar os conceitos de coleta seletiva e reciclagem em sala de aula. Além desse trabalho de conscientização das comunidades e das novas gerações, a Tetra Pak desenvolve ações para fortalecer todos os elos da cadeia recicladora. A em-presa apoia prefeituras de todo o país in-teressadas em implantar e ampliar a coleta seletiva, fornecendo material educativo.

Em seu portal, a empresa permite livre acesso a qualquer segmento social, interessado em saber mais sobre esse projeto e demais iniciativas socioam-bientais. Fernando sinaliza: “Existem di-versos tipos de parcerias e de materiais que fornecemos para diferentes públicos. Tudo depende do objetivo do projeto, e se ele de alguma forma está alinhado com a nossa estratégia ambiental”.

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Em seu 3º. Relatório de Sustentabilida-de 2010/2011 a Tetra Pak contabilizou um marco na produção de embalagens com o selo FSC: mais de 4,3 bilhões de unidades até agosto de 2011.

A empresa escolheu o dia 30 de se-tembro, em que acontece o “FSC Friday”, evento anual dedicado à celebração das florestas e à promoção do manejo florestal responsável, para anunciar o feito.

Fernando atesta que “a Tetra Pak vem progredindo no sentido de alcançar seus objetivos ambientais para 2020. A com-panhia tem o compromisso de oferecer embalagens totalmente sustentáveis, uti-lizando apenas materiais renováveis, com baixíssima emissão de carbono e desper-dício zero.

“Para atingir o objetivo traçado, a em-presa trabalha com foco em três vertentes: pegada ambiental, produtos sustentáveis e reciclagem. Alguns fatos ocorridos em 2012 nas áreas de reciclagem, produtos sustentáveis e emissões de carbono garan-tiram à companhia condições de alcançar objetivos traçados em longo prazo.

“Globalmente, houve um aumento de 10% na reciclagem de embalagens longa vida, passando de 528 toneladas para 581. Cerca de 3,6 bilhões de embalagens foram recicladas no ano passado em relação a 2011. O Brasil acompanhou este cresci-mento e alcançou um volume de 65 mil toneladas recicladas, o que correspondeu

O que é O CeRtifiCADO

a 29% do total produzido. A companhia investe dezenas de milhões de euros para promover a conscientização do consumi-dor, bem como o trabalho com os municí-pios locais para aumentar a taxa de recicla-gem em todo o mundo.

“No âmbito dos produtos sustentá-veis, 610 milhões de embalagens, com tampa de biopolímero, derivado de cana--de-açúcar, foram comercializadas em 2012. Em 2011 a utilização ficou em torno de 80 milhões. Além disso, 26,4 bilhões de embalagens da Tetra Pak levaram o selo FSC em 39 países, no ano passado, representando um incremento de 40% em relação a 2011.

“Sob o ponto de vista da pegada am-biental, números iniciais indicam que as emissões de carbono, em operações pró-prias da Tetra Pak, foram reduzidas em duas toneladas em 2012, mesmo com um aumento de 9,5% no volume de produção”.

Criado em 1993, como resposta às preocupações sobre o desmatamento global

e o destino das florestas mundiais, FSC é a sigla de Forest Stewardship Council, que em português significa Conselho de Manejo Florestal. Trata-se de instituição internacional, sem fins lucrativos, formada por representantes de entidades do mundo todo, e é um dos únicos sistemas de certificação florestal

apoiado por grandes entidades, como WWF e Greenpeace. É baseada em três pilares de igual importância: econômico, ambiental e socialA certificação florestal busca contribuir para o uso adequado dos recursos naturais, apresentando-se como uma alternativa à exploração predatória das florestas. Atesta que determinada empresa ou comunidade obtém produtos florestais, respeitando os aspectos

Projeto Cultura Ambiental nas Escolas vale pelo estímulo à formação de visão

socioambiental mais abrangente em 6 milhões de estudantes de

40 escolas públicas e privadas

Balanço socioambiental de respeito

ambientais, sociais e econômicos da região.Para obter a certificação florestal, a empresa ou comunidade é avaliada segundo os padrões de desempenho ambiental, social e econômico estabelecidos pelo Conselho de Manejo Florestal.Destina-se a proprietários e administradores florestais, que podem se certificar na modalidade Manejo Florestal, para demonstrar que as suas florestas são manejadas de forma responsável.

Tetra Evero™ Aseptic, uma das embalagens 100% recicláveis,

feitas com 75% de material proveniente de fonte renovável

Fonte: Tetra Pak

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Company, of Swedish origin, makes the adjective of it slogan on their logo to be the thread of their own initiatives

in the economic, environmental and social fields.Gabriel Arcanjo Nogueira

World Environment Day

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It is increasingly common Brazilians consume products, ready to drink, whether at home, business meetings

or for their own pleasure. On the packa-ge there’s a trademark: Tetra Pak Protects What’s Good. Along with many other re-commendations in favor of what everyone craves: quality of life.

The way to achieve this good life goes through sustainability. “All Tetra Pak packages are sustainable: they have about 75% of materials from renewable sources and are 100% recyclable. Fur-thermore, the shape, weight and trans-portation systems, storage, and distri-bution are highly efficient in terms of energy, space saving, emissions reduc-tion, “among others. Who guarantees this is Fernando von Zuben, Environ-mental Director of the company.

Everything rigorously founded on the three pillars that make up sustai-nability: economics, environmental and social; recalls the executive. Since 2008 Tetra Pak has the certification of packaging produced at its two factories in Brazil – Monte Mor (SP) and Ponta Grossa (PR) – with the FSC label (see “What is Certified”). “The Brazilian cer-tification means that the entire supply chain in the country – from forests to the retailer’s shelf – comes from well--managed forests and controlled sources certified by FSC,” says Fernando.

The Director of Environment cla-rifies the certification from Tetra Pak, named “Chain of Custody certification”, which applies to manufacturers, proces-sors and traders of forest products certi-fied by FSC. All the fabrication process is verified trought it’s production chain. At each stage of the processing chain and transformation is necessary certifi-cation of chain of custody to ensure that FSC certified forest products are kept se-parate from non-certified products”.

Company DNAFernando explains: “Since its cre-

ation, Tetra Pak, the world leader in solutions for packaging and proces-sing of food, has the premise of sus-tainability in their DNA. We believe in responsible industry leadership, creating profitable growth in harmony with environmental concern and good corporate citizenship. Assuming that a package should save more than it

costs, Tetra Pak invests more than 50 years in actions for the preservation of the environment”.

The executive emphasizes the im-portance of protecting food as “form of sustainability, since the production of this food generates negative impact throughout the chain. Therefore, the packaging is a key player to keep the food chain within the acceptable envi-ronmental standards”.

The strength and constant concern of the company is the develop and invest in technologies to “recycle the cartons, whi-ch are passed on to recycling companies. This is a fundamental attitude to the de-velopment of selective and increase the recycling rate”.

Fernando emphasizes that “Tetra Pak has pioneered the relationship with recycling cooperatives. Besides that, it was the first company producing pa-ckaging for liquids to be FSC certified as well, and launched the first in the world for food packaging with lid “green polye-thylene”, produced from ethanol cane su-gar, one 100% renewable source”.

He believes that “increasingly, the pa-ckaging will be produced from renewable and certified sources, and have, since the beginning of its development, concern for recycling at the end of the chain”.

Overcoming obstaclesOne issue that has generated con-

troversy in the process of recycling is, in the final stage, turning to the landfills for what is not useful. There would be an ideal landfill?

The Environmental Director of Tetra Pak has his reservations. “Our packaging is 100% recyclable; therefore the landfill should not be the ultimate goal of a pro-duct, whatever it is. However, when there is no other option, well-managed landfills with gas recovery for energy production and system of treatment for generated li-quid waste. is an option.”

We must always take into account the social aspect. So the executive points out: “The recycling cartons post-consu-mer generates employment and income, and promote environmental conserva-tion and citizenship.” However, there are obstacles to overcome, to optimize the recycling chain.

Fernando quote some: “promote the selective collection in municipalities and

make the material separated by coope-ratives reach recyclers, either for lack of government actions, either for lack of information and participation. Sin-ce 2002, Tetra Pak, besides supporting actions from municipalities and coope-ratives, conducts field work to promote recycling chain packaging. For this, it has the support of a team of external collaborators working in different re-gions of the country.”

“The work of these service providers is quite broad. They conduct prospec-ting initiatives of selective collection with collectors, cooperatives, busines-ses, schools, churches and other institu-tions, providing information about the importance of collecting and recycling the cartons after consumption. When initiatives are not well structured, they offer guidance to organize themselves in the best way possible. Also act on mu-nicipalities to make them aware of the importance of recycling and encourage them to implant the formal selective col-lection in their municipalities”.

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Fernando: “carbon emissions, in its own operations, were reduced by two tons in 2012, despite a 9.5% increase in production volume”

Divulgation Tetra Pak

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Educational project of long-range

Neo Mondo - June 201328

World Environment Day

Efficient systems of transportation, storage and distribution make the difference in the supply chain: from forest to the shelf of the retailer

Socially, the project Environmental Cul-ture in Schools, calls attention; with is the result of a partnership with the State Uni-versity of Campinas (Unicamp). It’s like the darling of the Tetra Pak which is to prepare future generations for social responsibility, which is still precarious in the country/

Fernando remember the main points that underpin this initiative, see our exemplary.

educational kitsDeveloped in 1997, in partnership

with the Faculty of Education at Unicamp, this project includes the distribution of educational kits with informative and en-tertaining material for students to learn about recycling, in addition to training teachers and educators. The educational kit was developed by a multidisciplinary team of Unicamp and consists of primer for the student: “Packaging and the Envi-ronment”, teacher’s guide “Environment,

citizenship and education”, the videos “Quixote Recycled” and “Carbon and Me-thane”, the brochure “Do your part!” and the poster “Life cycle of packaging “, plus an informative workshops occurred with testimonials and examples of projects un-dertaken by educators.

The material is distributed to schools in the elementary school across Brazil, es-pecially in public schools.

More than Six millions students and forty thousand public schools and private, were benefited with informations about selective collection and recycling

Receptivity“Interestingly, both teachers and stu-

dents have shown interest in the topic. By providing appropriate information and tools for teachers, encourage the formation of a more comprehensive view about the issue of solid waste and the importance of selecti-ve collection and recycling, “says Fernando.

educational workshopsOn them teachers receive guidan-

ce on how to use the kits and learn the process of recycling the cartons to work the concepts of selective collection and recycling in the classroom. In addition to this work, and community awareness of new generations, Tetra Pak develops actions to strengthen every link in the recycling chain. The company supports local governments across the country interested in developing and expanding the selective collection, providing educa-tional material.

On its website, the company allows free access to any social group, interested in learning more about this project and other green initiatives. Fernando signals: “There are various types of partnerships and we provide materials for different au-diences. Everything depends on the pur-pose of the project, and if it is somehow aligned with our environmental strategy. “

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Neo Mondo - June 2013 29

In his 3rd. Sustainability Report 2010/2011 Tetra Pak has recorded a mi-

lestone in the production of packaging

with the FSC label: over 4.3 billion units

by August 2011.

The company chose the 30th of Sep-

tember, in which case the “FSC Friday”,

an annual event dedicated to the celebra-

tion of forests and the promotion of res-

ponsible forest management, to announ-

ce the feat.

Fernando attests that “Tetra Pak is

progressing towards achieving its en-

vironmental objectives for 2020. The

company is committed to provide fully

sustainable packaging using only re-

newable materials, with very low car-

bon and zero waste.

“To achieve our objective, the com-

pany works with a focus on three areas:

environmental footprint, sustainable pro-

ducts and recycling. Some events that oc-

curred in 2012 in the areas of recycling,

sustainable products and carbon emission,

assured the company long-term goals.

“Overall, there was a 10% increase

in recycling cartons, from 528 tons to

581. About 3.6 billion packages were

recycled last year compared to 2011.

Brazil followed this growth and reached

a volume of 65 thousand tons recycled,

WhAt is CeRtifieD

which represented 29% of total pro-

duction. The company invests tens of

millions of euros to promote consumer

awareness, as well as working with local

municipalities to increase the recycling

rate in the world.

“In the context of sustainable pro-

ducts, 610 million packs, lidded biopoly-

mer derived from cane sugar, were sold

in 2012. In 2011 the use was around 80

million. In addition, 26.4 billion Tetra

Pak packages led FSC in 39 countries

last year, representing an increase of 40%

compared to 2011.

“From the point of view of environ-

mental footprint, initial numbers indi-

cate that carbon emissions in its own

operations from Tetra Pak, were reduced

by two tons in 2012, even with a 9.5%

increase in production volume”.

Created in 1993 in response to concerns over global

deforestation and the fate of the world’s forests, FSC stands for Forest Stewardship Council.

It is an international institution, nonprofit, formed by representatives of organizations around the world and is one of the only forest certification

systems backed by large entities such as WWF and Greenpeace. It is based on three pillars of equal importance: economic, environmental and social

Forest certification aims to contribute to the proper use of natural resources, presenting itself as an alternative to predatory exploitation of forests. Attests that particular business or community gets forest products,

The Environmental Culture in Schools Project, it’s worth because

stimulates the formation of broader environmental vision in 6 million students

from 40 public and private schools

Balance environmental respect

respecting the environmental, social and economic region.

For forest certification, business or community is assessed according to the standards of environmental, social and economic set by the Forest Stewardship Council.

Intended to forest owners and managers, who can certify forest management modality, to demonstrate that their forests are managed responsibly.

Tetra Evero™ Aseptic, a 100% recyclable packaging, made

with 75% of it’s material from renewable sources.

Source: Tetra Pak

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Neo Mondo - Junho 201330

A lembrança de noites pontuadas por potes brilhantes, cheios de vagalumes, não é rara entre brasileiros de gerações

passadas. Os mais jovens, no entanto, não ti-veram tanta sorte - é cada vez mais difícil pre-senciar o espetáculo luminoso dos insetos, afu-gentados pelas luzes urbanas e pela degradação ambiental de biomas em todo o país.

A constatação faz parte de uma pesquisa coordenada pelo professor Vadim Viviani, do grupo de Bioluminescência e Biofotônica da Universidade Federal de São Carlos (UFS-Car), no campus de Sorocaba (SP). Há cerca de 20 anos, o grupo visita periodicamente a região do Parque Nacional das Emas, no sudoeste do Estado de Goiás, que preserva uma parte do Cerrado e abriga diversas espé-cies de fauna e flora ameaçadas de extinção.

Segundo o professor, o desaparecimento dos insetos indica sutilmente um problema muito maior. “Belezas naturais, ícones da diversidade brasileira correm risco de extin-

Verdadeiros indicadores dos impactos ambientais, os vagalumes estão sumindo – e com eles uma série de aplicações biotecnológicas e medicinais

Da Redação

dos VagalumesO hiatoDia Mundial do Meio Ambiente

ção. Por conta da degradação ambiental, que é muito grande.” Engana-se quem imagina que a deterioração citada é fruto de desma-tamentos e queimadas, somente. Viviani ex-plica que plantações, principalmente de soja, tomaram enormes áreas que até então eram pastagens ou habitats naturais – o caso Mata Atlântica, um dos ecossistemas mais ricos em vaga-lumes no mundo. Ele estima que o dano já se estenda até o norte de Tocantins e acredita que o uso de pesticidas, herbicidas e outras substâncias químicas utilizadas nas lavouras também contribuiu para a extinção silenciosa de algumas espécies.

Tal desequilíbrio abala não só a natureza, mas os cientistas e pesquisadores – e isso tem a ver com o potencial de aplicação da lucifera-se, a enzima responsável pela emissão de luz dos vaga-lumes, desde o estágio larval até o adulto. O processo que gera luz é o mesmo em quase todos os animais bioluminescentes: a luciferase oxidar a proteína luciferina, o que

emite fótons de luz – como se fosse um pro-cesso inverso da fotossíntese.

A substância funciona como um bios-sensor, se “apagando” se exposta a toxinas, por exemplo, e tornando mais fácil a detec-ção de agentes microbicidas e crescimento celular. Esta última aplicação é uma das mais promissoras, pois torna possível o estudo e acompanhamento de vários tipos de cân-cer. Hoje, o interesse é descobrir ainda mais detalhes sobre o mecanismo de funciona-mento das enzimas relacionadas com a bio-luminescência para tentar modificá-las para torná-las ainda mais aplicáveis do que já são.

Conforme a redução da diversidade de es-pécies, o leque de possibilidades de descober-tas e melhorias biotecnológicas vai se fechan-do. “Precisamos preservar o meio ambiente por também sermos parte dele, e não só para tirar-mos proveito do que ele nos oferece”, ressalta o professor. Ele ainda explica que, embora exis-tam vários estudos sobre bioluminescência em outros países, aqui no Brasil poucos sabem da importância das moléculas de vaga-lumes para a biomedicina e biotecnologia atual.

Esse fator faz coro aos efeitos da ilu-minação artificial, que também prejudica a manutenção dessas espécies. É que a ilumi-nação pública, cada vez mais generosa e po-tente, literalmente apaga o lampejo emitido para atrair o parceiro para o acasalamento.

No livro Antes que os vaga-lumes de-sapareçam, o pesquisador Alessandro Bar-ghini, do Instituto de Eletrotécnica e Ener-gia e do Laboratório de Estudos Evolutivos do Instituto de Biociências (IB) da Univer-sidade de São Paulo (USP), conta que os vagalumes “desligam” a luz quando o nível de iluminação ambiente é superior a 0,5 lux – a mesma medida da intensidade lu-

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dos VagalumesO hiato

minosa que muitas câmeras fotográficas exigem para capturar imagens ou vídeos com o mínimo de qualidade. Com isso, a reprodução é diretamente ameaçada e a população dos insetos definha.

Nem tudo que brilha é ouroNo Brasil, os seres luminosos são na

maioria terrestres. Além dos vagalumes, existem fungos que emitem uma luz cons-tante devido a reações químicas que depen-dem sempre da presença de oxigênio. Tais organismos são estudados por uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Biolumi-nescência de Fungos, do Instituto de Quími-ca da Universidade de São Paulo (IQ-USP). O grupo, coordenado pelo professor Cassius Stevani, investiga o mecanismo de biolumi-nescência, substâncias bioativas em extratos dos cogumelos, o desenvolvimento de bio-ensaios ecotoxicológicos, a biorremediação de solos contaminados e a biodegradação de resíduos industriais.

Em geral, as espécies de fungos biolu-minescentes ocorrem em ambientes flores-tais úmidos, pois dependem da umidade para se alimentar, crescer e reproduzir daí o motivo de muitos estarem na América do Sul. A bioluminescência dos fungos pode servir para defesa (alertar predadores ou atrair predadores de animais fungívoros) e para atrair insetos noturnos, que auxiliam na dispersão dos esporos – que podem ger-minar e originar outro fungo.

Apesar de desempenhar funções indis-pensáveis ao funcionamento de ecossiste-mas terrestres (como a decomposição de matéria orgânica morta, por exemplo), os fungos ainda estão dentre os organismos menos conhecidos do mundo ainda não se

sabe muito sobre o mecanismo das reações químicas associadas a esse processo, nem por que ele ocorre.

Edith Widder, pesquisadora da As-sociação de Pesquisa e Conservação de Oceanos Fort Pierce, nos Estados Unidos, publicou um artigo em maio na revista Science com um foco especial nos ani-mais marinhos. Apesar de ainda ser di-fícil detectar esses animais (pois exigem técnicas como a iluminação infraverme-lha), 700 gêneros bioluminescentes já foram registrados e 80% deles são encon-trados no oceano.

Por conta do ambiente em que vivem, a cor mais frequente na bioluminescência desses animais é o azul, seguida pelo verde, violeta, amarelo e laranja, além de outros espectros de cor imperceptíveis ao olho humano. Os motivos são basicamente os mesmos: conseguir alimento, achar um par e auxiliar na defesa, que pode ser uma ca-muflagem ou a exalação de partículas lumi-nosas que despistam ou cegam o predador.

Algumas das espécies marinhas biolumi-nescentes conhecidas incluem o peixe-lan-terna (Symbolophorus barnardi), cujos olhos são iluminados, o krill-do-norte (Meganycti-phanes norvegica), parecido com um cama-rão, ou o polvo-sugador-brilhante (Syrtensis stauroteuthis), que lembra uma medusa.

Qualquer semelhança não é mera coincidência

Se você já assistiu Avatar, vai saber do que estou falando. Em um primeiro momen-to, as imagens panorâmicas de biolumines-cência em Pandora são hipnotizantes – nive-lamos este tipo de beleza, nunca visto antes, a um sonho bom que alguém sonhou.

31 Neo Mondo - Junho 2013

Mas o que realmente surpreende é re-descobrir a bioluminescência sob formas que existem aqui – e se não dá mais sho-ws de cor e brilho é por motivos que vão do obstáculo tecnológico de captura de imagens até o pouco conhecimento do as-sunto, como pesquisadores citam acima.

O próprio Vadim Viviani, professor da UFSCar, reconhece a semelhança. “Certa-mente os produtores do filme consulta-ram especialistas em bioluminescência.”

(com informações da Agência Fapesp, How Stuff Works e Scietific American Brasil)

Pyrophorus e Microlampis omissa observados pela equipe do LBF (Laboratório de Bioluminescência em Fungos) no Parque Nacional das Emas

Das 500 espécies conhecidas do fungo Mycena, 35 são bioluminescentes

Krill-do-norte (Meganyctiphanes norvegica)

Polvo-sugador-brilhante (Syrtensis stauroteuthis)

Fonte: http://plantandoconsciencia.wordpress.com

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Neo Mondo - Junho 201332

Dia Mundial do Meio Ambiente

N uma edição dedicada ao Dia Mundial do Meio Ambiente NEO MONDO procura dotar-se

de otimismo realista ante cenários ‘apo-calípticos’ e iniciativas que podemos classificar de ‘trabalho de formiguinha’, com o objetivo de mostrar à classe go-vernante, principalmente, que um pla-neta vivo ainda é possível. Desde que medidas efetivas com base em estudos e pesquisas categorizados sejam tomadas.

Antes que frustremos o autor do Apo-calipse: “... vi quatro Anjos, postados nos quatro cantos da terra, segurando os qua-tro ventos da terra, para que o vento não soprasse sobre a terra, sobre o mar ou so-bre alguma árvore. Vi também outro Anjo que subia do Oriente com o selo do Deus vivo. Esse gritou em alta voz aos quatro Anjos que haviam sido encarregados de fazer mal à terra e ao mar: ‘Não danifi-queis a terra, o mar e as árvores’...”.

E olha que nos anos 70-95 (provável época desses escritos) não se tinha notícia

Não seria difícil se a gente tentasse entender o que fazem pessoas sérias, ligadas a instituições idôneas,

e se juntasse a elas por um mundo único de paz, sem ganância...* Gabriel Arcanjo Nogueira **

IMAGINE...um planeta com vida

de ensurdecedoras motosserras, possantes tratores, nem queimadas irresponsáveis.

Mercúrio na atmosfera1918 anos depois, recente pesquisa

da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revela: o que antes seria ape-nas ameaça acaba de se concretizar - o desmatamento provocado por queimadas na região amazônica brasileira pode gerar agravante ainda desconhecido. O estudo, coordenado pela oceanógrafa Anne Hélè-ne Fostier, docente do Instituto de Quími-ca (IQ) da Unicamp, revelou que, além da destruição do bioma, as queimadas na re-gião provocam elevadas emissões de mer-cúrio na atmosfera, elemento altamente tóxico aos seres vivos.

Em sua edição 556, o Jornal do Cam-pus, da Unicamp, traz a constatação, a nosso ver alarmante e desafiadora, e acrescenta: o trabalho demonstrou que são liberadas, anualmente, 12 toneladas de mercúrio com a queima da vegetação

e do solo superficial da floresta. Cálculo que leva em conta a taxa anual de des-matamento da região, estimada em 1,7 milhão de hectares no período entre 2000 e 2010.

“O mercúrio emitido pela ação das queimadas pode ser transportado em es-cala local, regional ou mesmo global. Isso acontece porque o elemento possui um longo tempo de residência na atmosfera, onde permanece, em média, um ano. Du-rante este tempo, ele é capaz de ‘rodar’ todo o planeta, razão pela qual é consi-derado como um poluente global”, alerta a pesquisadora.

Ela desenvolve estudos nesta área há mais de uma década. As primeiras inves-tigações sobre o assunto foram realizadas no final dos anos de 1990 no Amapá. Já o último trabalho de campo na floresta, rea-lizado em setembro de 2011, foi em uma estação experimental da Empresa Brasilei-ra de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), localizada no Acre.

* Conforme John Lennon. ** Com informações das Assessorias de Imprensa.

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Pedreiro-do-espinhaço, descoberto por equipe de pesquisadores, é parente do joão-de-barro

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33Neo Mondo - Junho 2013

Hélène adverte que, uma vez lançado na atmosfera, o mercúrio pode ir para o solo ou para os corpos aquáticos. Nos rios, lagos e oceanos o elemento nocivo passa por um processo de metilação, que o torna ainda mais tóxico.

“A metilação acontece no meio am-biente por via biológica e transforma o mercúrio inorgânico em orgânico, prin-cipalmente em metilmercúrio, uma das formas mais tóxicas deste elemento. Quando o metilmercúrio é incorpora-do pela cadeia alimentar, os riscos de intoxicação são muito grandes. É uma ameaça, sobretudo, para as populações ribeirinhas, que encontram nos peixes a sua principal fonte proteínica”, diz a docente.

Ainda de acordo com ela, qualquer processo que favoreça a incorporação de mercúrio na cadeia alimentar eleva os riscos imediatos de intoxicações para a população, tornando-se um problema lo-cal e regional.

Convenção de MinamataMenos mal que, em âmbito global, re-

gistra o Jornal do Campus, “a preocupação com o poluente impulsionou a assinatura de um tratado em fevereiro último. Co-nhecido como Convenção de Minamata, o acordo objetiva reduzir as fontes de emis-são de mercúrio do planeta. O Brasil é um dos signatários desta convenção. Para en-trar em vigor, o acordo necessita da apro-vação de 50 países.

O nome do tratado é uma referência ao desastre na cidade de Minamata, no Ja-pão, que intoxicou, por meio do mercúrio na água, centenas de pessoas. A tragédia ocorrida na década de 1920 deu origem à Doença de Minamata, uma síndrome neu-rológica causada pela intoxicação com o elemento químico”.

Hélène avalia: “A assinatura desta convenção internacional mostra o quanto a problemática das emissões de mercúrio na atmosfera continua sendo uma questão extremamente importante para a qualida-de do meio ambiente”.

A docente da Unicamp cita pesquisas internacionais que mostram uma multi-plicação por três das concentrações de mercúrio na atmosfera no século passa-do em relação àquelas existentes na era pré-industrial. “Isso aconteceu devido a todas as emissões geradas pela ação do homem”, afirma.

Lavagem de madeiraO alerta de Hélène soma-se a gravís-

sima denúncia contida em relatório do Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma) e da Interpol, segundo o qual o comércio criminoso de madeira ultrapassa US$ 30 bilhões e é responsável por até 90% do desmatamento tropical.

O estudo, divulgado na Conferência Mundial sobre Florestas em Roma em se-tembro de 2012, relata mais de 30 formas de aquisição e lavagem de madeira ilegal que comprometem esforços de seguran-ça, mitigação do clima e desenvolvimento sustentável, atesta o Pnuma.

É o caso de se perguntar: aonde iremos parar se as autoridades do país e do exterior não agirem com o rigor que o caso merece? De acordo com o estudo conjunto do Pnuma e Interpol, de 50% a 90% da exploração madeireira

nos principais países tropicais da Bacia Amazônica, África Central e Sudeste da Ásia são realizados pelo crime organizado com consequências danosas no combate à mudança do clima e ao desmatamento, bem como na conservação da fauna e na erradicação da pobreza.

Em todo o mundo, a extração ilegal de madeira já responde por entre 15% e 30% do seu comércio global, segundo o mesmo relatório. Depois de lembrar que as florestas do mundo capturam e ar-mazenam dióxido de carbono e ajudam a mitigar a mudança climática, o estudo ressalva que o desmatamento, princi-palmente de florestas tropicais, é res-ponsável por cerca de 17% de todas as emissões de CO2 causadas pelas pessoas — superior a 50% da causada em conjun-to por navios, aviões e veículos de trans-porte terrestre.

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pHélène pesquisa efeitos danosos das emissões de mercúrio há mais de uma década: 12 t/ano na região amazônica vira poluente global

A oceanógrafa, no laboratório em Campinas: o metilmercúrio, forma mais tóxica, incorpora-se à cadeia alimentar com grandes riscos de intoxicação

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Neo Mondo - Junho 201334

Com o sugestivo nome de Carbono Verde: Comércio Negro o relatório deta-lha: o comércio ilegal, correspondente a um total de US$ 30 bilhões a US$ 100 bilhões por ano, dificulta a Redução de Emissões por Desmatamento e Degra-dação florestal (Iniciativa REDD) — uma das principais ferramentas para catalisar a mudança ambiental positiva, o desenvol-vimento sustentável, a criação de empre-gos e a redução de emissões de gases de efeito estufa.

Além disso, a Interpol observou cri-mes associados ao aumento da atividade criminosa organizada, como a violência, assassinatos e atrocidades contra os habi-tantes das florestas indígenas.

Esforço internacionalO relatório conclui que, sem um esforço

coordenado internacionalmente, madeirei-ros ilegais e cartéis vão continuar contro-lando operações de um porto a outro em busca de seus lucros, em detrimento do meio ambiente, das economias locais e até mesmo da vida dos povos indígenas.

O Pnuma lembra que tanto o REDD quanto o REDD+ fornecem marcos legais nacionais e internacionais, incluindo acor-dos, convenções e sistemas de certificação, para reduzir a extração ilegal de madeira e apoiar as práticas sustentáveis. Mas, para que o REDD+ seja sustentado a longo prazo, os pagamentos aos esforços de conservação das comunidades precisam ser maiores do que os lucros provenientes de atividades que levam à degradação ambiental.

“O financiamento para gerenciar me-lhor as florestas representa uma enorme oportunidade não somente para a mitigação da mudança do clima, mas também para re-duzir as taxas de desmatamento, melhorar o abastecimento de água, diminuir a erosão do solo e gerar empregos verdes decentes no manejo de recursos naturais”, disse Achim Steiner, subsecretário-geral da ONU e diretor-executivo do Pnuma.

“A exploração madeireira ilegal pode, contudo, minar esse esforço, roubando as chances de um futuro sustentável de países e comunidades, caso as atividades ilícitas sejam mais rentáveis do que as ati-vidades legais sob o REDD+”, acrescentou.

Práticas sugeridasPara não ficar apenas na denúncia, o

relatório sugere, entre outras práticas:• Aumentar as capacidades nacionais

de investigação e operação por meio

de treinamentos sobre crime ambien-tal transnacional.

• Centralizar todas as licenças de des-matamento em um registo nacional, o que poderá facilitar muito a transpa-rência e investigação.

• Classificar regiões geográficas com base no grau de suspeita de ilegalidade e restringir o fluxo de madeira e pro-dutos de madeira dessas áreas.

• Incentivar investigações de fraude fis-cal com um foco particular em planta-ções e usinas.

• Reduzir a atratividade de investimen-tos em empresas florestais ativas em regiões identificadas como áreas de extração ilegal de madeira por meio da implementação de um sistema de classificação internacional da Interpol de empresas de extração, operação e compra em regiões com um alto grau de atividade ilegal.

Desmonte de gestãoSe não bastassem esses alertas todos,

NEO MONDO registra o lançamento do livro Conservação da natureza e eu com isso?, durante o VII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), em Natal. A iniciativa é da Fundação Brasil Cidadão e de ambientalistas que criticam o “desmonte da gestão ambiental” do país.

Segundo um dos organizadores do li-vro, José Truda Palazzo, da Rede Marinho--Costeira e Hídrica do Brasil, ainda vigora por aqui o discurso de que “a natureza atra-palha o progresso e as espécies da fauna atrapalham as obras desenvolvimentistas”. Truda avalia que “o país vive uma política

deliberada de desmonte da gestão ambien-tal, o que inclui o desmonte das Unidades de Conservação”. Gravíssimo, não é mes-mo? E que, por isso, “estamos tentando contribuir para despertar a cidadania para a conservação da natureza no Brasil”.

Com artigos de mais de 10 autores, a obra tem ênfase nas UCs, mas também discute temas como a transposição do rio São Francisco, a perda da biodiversidade, geração de emprego e renda de UCs e pro-teção de espécies ameaçadas.

Segundo Truda, este é o primeiro lan-çamento de vários que serão feitos no Bra-sil. “Esperamos que os gestores públicos e a juventude possam atuar e abram a cabe-ça para se mobilizarem”.

O Brasil conta com 312 UCs federais, número que salta para mais de 1 mil UCs se forem contadas as estaduais e muni-cipais. “A implementação delas [UCs] é baixíssima e há uma enorme quantidade das áreas de uso múltiplo onde existe pou-quíssima gestão, onde o pescador pesca de maneira predatória, o madeireiro desmata e o Estado está ausente. Falta fiscalização e proteção do patrimônio público natural, que é de todo mundo”, defendeu Truda.

Dia Mundial do Meio Ambiente

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Livro da Fundação Brasil Cidadão denuncia ‘falta de fiscalização e proteção de patrimônio público global’

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Neo Mondo - Junho 2013 A

O ‘trabalho de formiguinha’, realizado pela Fundação Grupo Boticário de Prote-ção à Natureza, já foi tema de outras ma-térias de NEO MONDO. Nesta edição, de-dicada ao Dia Mundial do Meio Ambiente, trazemos a nossos leitores algo que se as-semelha a encontrar oásis nos caminhos de quem se perdeu no deserto.

São descobertas que comprovam a se-riedade de iniciativas pró-meio ambiente e que saciam, mais do que a sede do corpo, a sede de conhecimento, de compromisso. São oásis que lavam a alma.

A Fundação acredita que é preciso ter paixão pela natureza. Identificação essa que motivou a bióloga Bianca Reinert a superar as inúmeras adversidades que se apresenta-ram ao longo de sua carreira. Descobridora de duas novas espécies de aves, entre elas o emblemático bicudinho-do-brejo (Stympha-lornis acutirostris), a pesquisadora investiu muito mais do que apenas o seu tempo até o pequeno animal cruzar seu caminho. “Desde 1995, quando encontrei o bicudinho-do-bre-jo, tenho dedicado minha vida a ele”, conta.

Em 1991, Bianca iniciou um período de pesquisas de campo em áreas úmidas naturais, os brejos do litoral do Paraná, que mudaria a sua vida. Em uma faixa com cerca de 30 quilômetros entre Matinhos e Pontal do Paraná, a pesquisa se estendeu por quatro anos e estava prestes a ser fina-lizada quando, em 1995, o simpático bicu-dinho foi avistado pela primeira vez. “No momento que o vimos, sabíamos que ha-via algo diferente”, diz. A descoberta teve um significado muito especial para a bió-loga, pois fechava um longo ciclo. “Nosso trabalho em campo foi realizado de forma autônoma a partir de um grande esforço financeiro e pessoal e descobrir uma nova espécie foi muito simbólico”, revela.

Apaixonada pela nova ave, sua dedicação à conservação da natureza foi além dessa des-coberta. Junto a outros colegas “apaixonados pela natureza”, como ela própria diz, comprou uma área na região de Guaratuba, no Paraná. O objetivo era transformá-la em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) com um centro de pesquisas, o que conseguiu tor-nar realidade em março de 2009.

Apoio fundamentalO apoio financeiro da Fundação Gru-

po Boticário foi fundamental e, três anos depois, Bianca pôde tocar o projeto, o que possibilitou ações mais efetivas para con-servar a espécie. Depois de um período de coleta de dados sobre a ave e seu habitat, foi identificada a presença de uma planta exótica invasora no local, a braquiária--d’água (Brachiaria subquadripara), que pre-judicava a sobrevivência do bicudinho-do--brejo. Essa planta, trazida da África para ser utilizada como pasto, se alastrou pela região, destruindo espécies nativas.

A bióloga descobriu ainda outra espécie, o macuquinho-da-várzea (Scytalopus iraiensis), na região metropolitana de Curitiba. Foi em 1998, próximo de onde hoje fica a barragem do Rio Iraí. Quando avistou a ave na região, logo percebeu que se tratava de um macuquinho, o que causou estranhamento, pois a espécie não tinha sido avistada naquele habitat. Após cap-turar um indivíduo para estudo, percebeu-se que se tratava de nova espécie.

“As mulheres têm uma percepção bas-tante aguçada na observação e isso rende belos frutos na pesquisa de campo”, reflete Bianca ao lembrar das conquistas de sua carreira. Ao menos para a bióloga, a supe-ração propiciou que exercesse a mais fe-minina das características: a sensibilidade.

Família do joão-de-barroTambém com apoio da ONG outra

nova espécie de ave foi descoberta em uma das regiões mais pesquisadas do país, a Serra do Cipó, localizada na região sul da Serra do Espinhaço, em Minas Gerais, a apenas 50 quilômetros da capital minei-ra. O Cinclodes espinhacensis, pássaro que é da mesma família do joão-de-barro, tem como nome popular pedreiro-do-espi-nhaço. Ele foi avistado pela primeira vez em 2006 e foi oficialmente reconhecido na revista internacional de ciência IBIS. O estudo que originou a descoberta foi realizado por Anderson Chaves, Fabrício Santos, Guilherme Freitas, Lílian Costa e Marcos Rodrigues, todos pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com o apoio da Fundação.

Entre suas características, segundo os pes-quisadores, a Cinclodes espinhacensis lembra, parcialmente, o joão-de-barro, porém com uma tonalidade mais escura (marrom-chocolate), e possui a cauda longa. Além disso, existem diferenças notáveis na coloração da plumagem em relação ao Cinclodes pabsti, o parente mais próximo que vive nas Serra Geral, entre os es-tados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Eles explicam que o pássaro é relativa-mente grande e busca por insetos andando pelo solo. Ele possui grande capacidade de voo, o que permite buscar alimentos a longas distâncias, bem como explorar muito os aflo-ramentos rochosos dos campos rupestres que ocorrem nas serras mais altas da região, onde aproveita dos córregos desses lugares.

Hoje a pesquisa abrange um estudo eco-lógico com uma população do pedreiro-do--espinhaço. Para monitorar as aves, os pesqui-sadores contam com o apoio de um recurso tecnológico chamado radiotelemetria, no qual transmissores instalados nos animais permi-tem localizar os indivíduos à distância através de ondas de rádio. O projeto que originou a atual pesquisa limitava-se no início ao estu-do de uma outra espécie da mesma família, o joão-cipó (Asthenes luizae), que foi descober-to pela ciência também nos campos rupestres da Serra do Cipó em 1990.

“Utilizamos esta tecnologia para carac-terizarmos como vive esta nova espécie, onde ela ocorre de fato e o que fazer para conservá-lo, já que ele já nasce para a ci-ência ameaçado de extinção. Este projeto atualmente vigente, apoiado pela Fundação Grupo Boticário, visa ao estudo de ambas as espécies: o joão-cipó e pedreiro-do-espi-nhaço”, explica a pesquisadora Lílian Costa.

Guilherme Freitas, outro pesquisador responsável pela descoberta, afirma que a Cinclodes espinhacensis foi observada pela primeira vez nos arredores de um casebre de madeira localizado no alto da serra, no meio do Parque Nacional da Serra do Cipó. “Depois, um indivíduo foi visto e fotografado nos arre-dores do alojamento do Alto do Palácio, lo-calizado também no alto do Parque Nacional, mas às margens da rodovia, onde estávamos alojados para realização das pesquisas do La-boratório de Ornitologia”, afirma.

‘Formiguinha’ descobre aves, anfíbio...

‘Brachycephalus tridactylus’ (3 dedos), imponente descoberta de 1,5 cm

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Neo Mondo - Junho 201336

Lilian explica que a partir daí foram realizadas várias expedições e diversas po-pulações de Cinclodes espinhacensis foram encontradas, sempre nas áreas mais altas da Serra do Cipó. “Coletamos várias infor-mações relativas à coloração de plumagem, morfometria, vocalizações, comportamen-to, sequências de DNA, e as comparamos as relativas às outras espécies da família. Todas as pistas levantadas levaram à mes-ma conclusão: de que haviam diferenças significativas nos indivíduos da Serra do Cipó”, destaca.

Guilherme Freitas também ressalta a importância de contar com apoio qualifi-cado em pesquisas. O da Fundação Grupo Boticário foi essencial nos trabalhos em equipe dos quais participou. “A Fundação tem contribuído muito ao longo desses anos com as pesquisas dessas e outras aves especiais dos campos rupestres. A parceria com o Laboratório de Ornitologia da UFMG é fundamental, pois os recursos são neces-sários para estudar estas aves, geralmente em locais de acesso difícil, principalmente quando empregamos alta tecnologia, como a radiotelemetria”, ressalta.

Por meio das iniciativas de conservação da natureza apoiadas pela ONG em diver-sas regiões do Brasil, já foi possível descre-ver mais de 40 novas espécies de animais e plantas. Em 22 anos de atuação, US$ 11,8 milhões foram doados para 1.324 iniciati-vas de 456 instituições de todo o país.

Anurofauna comparadaNão é só em pesquisas com aves que

a Fundação Grupo Boticário tem obtido

resultados. Uma nova espécie de anfíbio anuro (rãs, pererecas e sapos) foi desco-berta na Reserva Natural Salto Morato (PR), localizada no bioma Mata Atlântica, o mais ameaçado no Brasil. O Brachyce-phalus tridactylus foi encontrado em feve-reiro de 2007 e, em junho deste ano, foi oficialmente declarado como uma nova descoberta no artigo da revista internacio-nal Herpetologica.

O estudo que originou a descoberta foi realizado pelo biólogo Michel V. Garey e re-cebeu apoio da ONG por meio de parceria com o Programa de Pós-graduação em Eco-logia e Conservação (PPGECO) da Universi-dade Federal do Paraná.

O objetivo da pesquisa foi comparar a anurofauna (diversidade de rãs, pererecas e sapos) de três diferentes estágios suces-sionais de vegetação (Capoeira, Capoeirão e Mata primária) da Floresta Atlântica da Reserva Natural Salto Morato, Guaraque-çaba-PR, criada e mantida pela Fundação Grupo Boticário. No total, foram registra-das 42 espécies pertencentes a nove famí-lias. Porém, cinco delas foram encontra-das em outros ambientes que não fizeram parte da amostragem e nesse grupo está o sapo Brachycephalus tridactylus.

Essa nova espécie, que só ocorre no alto da Reserva Natural Salto do Morato (acima de 900 m de altitude), é caracte-rizada por possuir coloração alaranjada, pequeno tamanho (menor que 1,5 cm) e apenas três dedos nos membros anterio-res, por isso do nome B. tridactylus (três dedos). Para Michel V. Garey, essa desco-berta é muito importante. “Primeiramente

porque avança no conhecimento dos anfí-bios no Brasil. Outro ponto importante é que essa espécie ocorre na Mata Atlântica, bioma extremamente ameaçado pelo des-matamento”, explica.

Brachycephalus tridactylus é a segun-da nova espécie descoberta na Reserva Natural Salto Morato. Em 1994, os pes-quisadores Mário de Pinna e Wolmar Wosiacki encontraram a espécie de peixe Listrura boticario durante projeto apoiado pela Fundação Grupo Boticário. O artigo que descreve o peixe foi publicado em 2002. Esta espécie, do grupo dos silurifor-mes, o mesmo ao qual pertencem os ba-gres, pintados e mandis, foi descrita com base em um único exemplar encontrado em uma poça marginal a um rio de cor-redeira na Floresta Atlântica, na Reserva Natural Salto Morato.

Em seus 2.253 hectares, a Reserva Natural Salto Morato protege a rica bio-diversidade e também tem um centro de pesquisas com alojamento e laboratório para oferecer suporte aos pesquisadores. Mais de 80 pesquisas já foram realizadas no local, incluindo teses de doutorado, dissertações de mestrado e monografias de especialização, em assuntos diversos como biologia e ecologia de espécies de fauna e flora, análise do manejo da Re-serva, visitação, trilhas, ecoturismo, bem como os que diretamente embasam as ações de manejo do patrimônio natural da Reserva.

Por meio das iniciativas de conserva-ção da natureza apoiadas pela Fundação, dentro da Reserva Natural Salto Morato e em diversas outras regiões do Brasil, já foi possível descrever mais de 40 novas espé-cies de animais e plantas. Em 21 anos de atuação, US$ 11,7 milhões foram doados para 1.306 iniciativas de 456 instituições de todo o país.

No mundo, existem mais de 6,7 mil espécies de anfíbios, e o Brasil é o país com maior diversidade do mundo. Estima--se que o país tenha cerca de 946 espécies, sendo que no Paraná são conhecidas mais de 120 espécies de anuros. Apesar desta grande diversidade, tem-se pouca infor-mação sobre eles. De acordo com o pes-quisador Michel V. Garey, esta é uma das grandes dificuldades em se pesquisar os anfíbios anuros. “Não conhecemos quase nada sobre os hábitos dessas espécies, que inclusive podem ter muita importância, até mesmo farmacológica, e que nós des-conhecemos”, afirma.

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Bianca: vida dedicada ao bicudinho-do-brejo, entre outras espécies, com percepção aguçada e sensibilidade

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É possível até que das fumaças brancas do Vaticano, anunciando a eleição do papa Francisco, surjam também sinais de esperança ecológica. Isso se for realizado o desejo do teólogo, filósofo e escritor Leonardo Boff, que já no título de um de seus mais recentes artigos publicados em escritos_em_rede questiona: “Papa Fran-cisco, promotor da consciência ecológica?”.

Leonardo descreve o contexto em que sur-ge a figura do bispo de Roma, Francisco, como aquele em que “cresce mais e mais a consciên-cia de que entramos numa fase perigosa da vida na Terra. Nuvens escuras nos ocultam as estrelas-guias e nos advertem para eventuais tsunamis ecológico-sociais de grande magnitu-de. Faltam-nos líderes com autoridade e com palavras e gestos convincentes que despertem a humanidade, especialmente as elites dirigen-tes, para o destino comum da Terra e da Hu-manidade e para a responsabilidade coletiva e diferenciada de garanti-lo para todos”.

Daí que, para o teólogo, o papa recém--eleito “poderá desempenhar um papel de grande relevância. Ele explicitamente se religa à figura de São Francisco de Assis. Primeiramente pela opção clara pelos po-bres, contra a pobreza e pela justiça so-cial, opção nascida inicialmente no seio da Igreja da libertação latino-americana em Medellin (1968) e Puebla (1979) e fei-ta, segundo João Paulo II, patrimônio da Igreja Universal. Esta opção, bem o viram teólogos da libertação, inclui dentro de si o Grande Pobre que é nosso planeta su-perestressado, pois a pisada ecológica da Terra foi já ultrapassada em mais de 30%”.

Em sua análise Leonardo trata a ques-tão ecológica na perspectiva do poverello d’Assisi: “... como devemos nos relacionar com a natureza e com a Mãe Terra? E’ neste particular que Francisco de Assis pode inspi-rar Francisco de Roma. Há elementos em sua vida e prática que são atitudes-geradoras. Ve-jamos algumas.Todos os biógrafos do tempo (Celano, São Boaventura, Legenda Perugina e outros) atestam ‘o terníssimo afeto que [São

Francisco] nutria para com todas as criaturas’; ‘dava-lhe o doce nome de irmãos e irmãs, de quem adivinhava os segredos, como quem já gozava da liberdade e da glória dos filhos de Deus’. Recolhia dos caminhos as lesmas para não serem pisadas; dava mel às abelhas no in-verno para que não morressem de frio ou de escassez; pedia aos jardineiros que deixassem um cantinho livre, sem cultivá-lo, para que aí pudessem crescer todas as ervas, inclusive as daninhas, pois ‘elas também anunciam o for-mosíssimo Pai de todos os seres’ ”.

Em sua rica produção literária Leonardo publicou pela editora Vozes, em 2009, A oração de São Francisco pela paz. A paz sem ganância, sugerida na abertura desta nossa matéria.

‘Dado de ciência’Já no artigo escrito há pouco tempo o

teólogo prossegue: “... notamos um outro modo-de-estar no mundo, diferente daquele da modernidade. Nesta, o ser humano está sobre as coisas como quem as possui e domi-na. O modo-de-estar de Francisco é colocar-se junto com elas para conviver como irmãos e irmãs em casa. Ele intuiu misticamente o que hoje sabemos por um dado de ciência: todos somos portadores do mesmo código genético de base; por isso um laço de consanguinida-de nos une, fazendo que nos respeitemos e amemos uns aos outros e jamais usemos de violência entre nós. São Francisco está mais próximo dos povos originários, como os ya-nomamis ou os andinos, que se sentem par-te da natureza, do que dos filhos e filhas da modernidade técnico-científica, para os quais a natureza, tida como selvagem, está ao nosso dispor para ser domesticada e explorada.

“Toda modernidade se construiu quase que exclusivamente sobre a inteligência in-telectual; ela nos trouxe incontáveis como-didades. Mas não nos fez mais integrados e felizes, porque colocou em segundo plano, ou até recalcou, a inteligência emocional, ou cordial, e negou cidadania à inteligência espiritual. Hoje se faz urgente amalgamar estas três expressões da inteligência, se

quisermos desentranhar aqueles valores e sentimentos que têm nelas o seu nicho: a reverência, o respeito e a convivência pací-fica com a natureza e a Terra. Esta diligência nos alinha com a lógica da própria natureza que se consorcia, inter-retro-conecta todos com todos e sustenta a sutil teia da vida”.

‘Homem de outro século’Na conclusão de seu artigo Leonardo

lembra: “Francisco viveu esta síntese entre a ecologia interior e a ecologia exterior, a ponto de São Boaventura chamá-lo de ‘homo alte-rius saeculi’ ‘um homem de um outro tipo de mundo’; hoje diríamos: de outro paradigma.

Esta postura será fundamental para o futuro de nossa civilização, da natureza e da vida na Terra. O Francisco de Roma dever--se-á fazer o portador dessa herança sagrada, legada por São Francisco de Assis. Ele pode-rá ajudar toda a humanidade a fazer a passa-gem deste tipo de mundo que nos pode des-truir para um outro, vivido em antecipação por São Francisco, feito de irmandade cós-mica, de ternura e de amor incondicional”.

Planeta superestressado pede socorro

Achim Steiner, do Pnuma: madeira pirateada rouba chances de futuro

sustentável em países e comunidades

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Leonardo alerta: “pisada ecológica daTerra foi já ultrapassada em mais de 30%”

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Dia Mundial do Meio Ambiente

Um seleto grupo, formado por pro-fessoras e professores voluntários, mais um trio de responsáveis téc-

nicos da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), realizou um traba-lho de notável alcance socioambiental.

Criado em outubro de 2010, o projeto IPH – Índice de Poluentes Hídricos visava avaliar a contribuição da carga de poluen-tes em municípios do ABC Paulista nos corpos de água da região. Seu piloto está em São Caetano do Sul, mas já em março de 2003 a USCS desenvolvia e integrava os processos de monitoramento de qualidade de água por meio do Grupo Biguá de Edu-cação Ambiental.

Esse grupo tinha o objetivo de monito-rar a qualidade de água do Rio dos Meni-nos em São Caetano do Sul, integrando o

Projeto Mãos a Obra pelo Tietê - SOS Mata Atlântica. Eram realizadas coletas mensais, e os dados estão armazenados em um ban-co de informações que indica a péssima qualidade da água do Rio dos Meninos.

Foi esse o embrião que permitiu a es-truturação de um plano para o desenvol-vimento de indicadores ambientais (de poluição hídrica) que pode ser aplicado em municípios de maneira geral.

Relevância múltiplaA relevância do projeto IPH é desta-

cada pela Profª Mestre Marta Angela Mar-condes, bióloga coordenadora e articula-dora do projeto, em seus vários aspectos:

“Estes podem ser analisados individu-al ou conjuntamente, dependendo qual a destinação da informação.

“Por exemplo, caso necessitemos fa-lar sobre as questões diretas de saúde, podemos destacar os dados microbiológi-cos e parasitológicos. Assim, quando da ocorrência de uma enchente na região, já será possível que nossos estudos aju-dem a identificar os parasitas presentes nestas águas e desta maneira serem to-madas medidas corretas para o controle da situação.

“Diante deste fato todos os parâme-tros estudados e pesquisados em nosso projeto são de extrema importância para a população e para a administração pública.

“Na realidade o que é necessário é que os dados obtidos por nossa equipe cheguem até a população, e para que isso aconteça estão disponibilizados nas redes sociais criadas pelo grupo.

O projeto IPH – Índice de Poluentes Hídricos, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, no ABC Paulista, mostra a importância da integração do meio

acadêmico com a comunidade, cujo alcance social atravessa as fronteiras regionais e do país Gabriel Arcanjo Nogueira

Fotos e ilustrações: Banco de Dados IPH - USCS

EDUCAÇÃO AMBIENTALfeita com ações, participação

e muito trabalho

Durante 2o. Simpósio de Pesquisa do ABC 2012, Profa. Fernanda, Karoline, Lucas Polaquini, Maely Duarte,

Profa. Mestre Marta, Prof. Cristiano e Profa. Paula (à frente do grupo)

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

39Neo Mondo - Junho 2013

“O que é interessante também é o fato de que a metodologia utilizada no proje-to IPH pode ser empregada em qualquer região e assim estimular as discussões so-bre as questões dos recursos hídricos, mas existe a necessidade da divulgação dos da-dos e também da metodologia”.

Mobilização e treinamentoViabilizar o projeto não foi nada

fácil, como se verá. Foi preciso vencer etapas, a começar pela mobilização e pelo treinamento de voluntários entre alunos dos diversos cursos da USCS, com várias chamadas nos cursos e reu-niões para estabelecer um planejamen-to de atividades.

Nas reuniões seguiu-se a metodo-logia baseada em processos de planeja-

mento participativo, e uma vez formada a equipe, fixaram-se o calendário e os pontos de coleta, meticulosamente geo-referenciados com GPS (Global Positio-ning System).

O que possibilita ampliar a área es-tudada tanto em número de rios e cór-regos quanto em pontos de coleta: Rios dos Meninos (7 pontos) e Tamanduateí (6 pontos); Córregos Utinga (3 pontos), dos Moinhos (2 pontos), das Grotas (1 ponto) e Ribeirão dos Couros (1 pon-to - foz).

Coleta e preservaçãoCuidado especial foi tomado median-

te estudo para a verificação dos materiais necessários para as coletas e para a preser-vação das amostras.

Desde o início das coletas, em outubro de 2010, elas se sucedem uma vez ao mês. São formados quatro grupos que saem a campo para coletar as amostras nos referi-dos rios, com duração aproximada de três horas e meia, dependendo da situação e acessibilidade dos locais e do clima.

Todo cuidado é pouco, e as amostras são acondicionadas em recipientes próprios (esterilizados anteriormente) e levadas ao laboratório da universidade para análise.

Chama atenção a abrangência dessas análises: físico-químicas, microbiológicas, organolépticas, bem como o fato de serem feitas avaliações socioambientais das áre-as próximas aos pontos de coleta.

Cuidado adicional tomado foi a criação de espaços nas redes sociais para a divulga-ção das atividades e das ações do projeto.

ATIVIDADES DO IPH MÓVEL

Local/data Ações Nº de pessoas envolvidas direta e indiretamente

Heliópolis-SP Caminhada da Paz – Princípios da Carta da Terra 10.000

SBC - EJAApresentação de atividades de análise de água e discussão

sobre a situação dos rios1.000

SCSulSet/2011Set/2012

Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias – Mobilização e abordagem sobre o assunto

300

SCSul Projeto IPH Móvel – abordagem e realização de Biomapas 150

UBS –Heliópolis e CCCA Imperador

Construção dos Biomapas relacionados aos recursos hídricos 300

DiademaParque Botânico

Acampadentro – ações de mobilização para recursos hídricos –Oficina do Futuro

100

Empresa Multitek - SPSIPATMA - divulgando as atividades de pesquisas

desenvolvidas pelo projeto e distribuindo informativos sobre esgoto e uso racional da água.

400

Fonte: Projeto IPH

Análises físico-químicas, microbiológicas e avaliaçõessocioambientais do entorno fazem parte dos estudos

Biólogo Cristiano faz análise de campo em um dos pontos de coleta no Rio dos Meninos

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Neo Mondo - Junho 201340

Objetivos - ResultadosEntre os objetivos do projeto piloto estão:• avaliar os parâmetros físico-químicos

e biológicos dos Rios Tamanduateí e dos Meninos e dos Córregos Moinhos, Grotas e Utinga, limítrofes dos mu-nicípios de São Bernardo do Campo, Santo André e São Paulo com São Cae-tano do Sul;

• padronizar um check list que possibili-te a análise e o monitoramento de rios no referido projeto, bem como sirva de material de apoio e possa ser repli-cado em outras localidades para, dessa maneira, subsidiar a criação de políti-cas públicas para a gestão de recursos hídricos;

• verificar a carga de poluentes do mu-nicípio que é lançada nos corpos de água;

• realizar ações de Educação Ambiental que permitam o envolvimento da sociedade civil em discussões sobre os recursos hídricos em áreas urbanas.

Se os objetivos são notáveis, o que di-zer então do alcance dos resultados. Entre outros a USCS aponta: a formação de um grupo com 25 alunos (monitores voluntá-rios), em que são realizadas capacitações contínuas para o treinamento do processo e o entendimento do projeto e da impor-tância dos rios da cidade.

A universidade ressalta que foi possí-vel definir os pontos de coleta, adequar os equipamentos e adquirir os materiais ne-cessários. Além disso, foi criada, a partir de uma adaptação, a ficha de acompanha-mento das coletas, totalizando 25 até maio deste ano.

Os meios que permitem à sociedade acompanhar os trabalhos também são decisi-vos no entendimento do alcance do projeto. O que pode ser feito pelo blog projetoiph.blo-gspot.com.br; no facebook: www.facebook.com/ProjetoIph.indicedepoluenteshidricos ou site: www.projetoiph.com.br .

Nesses espaços as visitas diárias de vá-rias partes do Brasil e do mundo reforçam o alcance do projeto.

Interatividade globalKaroline Ferreira dos Santos, da Gestão

e Pesquisa Ambiental e responsável técnica em Marketing, Publicidade, avalia positiva-mente a interação da USCS com a sociedade não só no país, mas também no exterior nes-sa empreitada. “As visitas estão além das ex-pectativas, e hoje os meios de comunicação do projeto IPH são visualizados em todos os continentes do mundo, em diversas lín-guas com predominância de jovens entre 18 - 24 anos como o público mais ativo. Nes-sa interatividade, o público participa mais com elogios do que críticas ou sugestões. Mesmo assim há pessoas que, por conhece-rem a área, contribuem com ideias novas”.

Karoline cita dados estatísticos, re-ferentes a abril de 2013, que dão bem a ideia do grau de interesse social que o pro-jeto desperta em todos os continentes do mundo (ver quadros). A gestora e pesqui-sadora ambiental salienta: “Nunca imagi-nei que, um dia, os textos que o projeto IPH publica poderiam ser vistos no Congo ou Quênia, por exemplo, nem mesmo se-rem traduzidos para o árabe. É realmente um orgulho saber que os meios de comu-nicação contribuem para a divulgação de informação para o mundo”.

Dia Mundial do Meio Ambiente

Biomapa VirtualA USCS aponta ainda a inovação do

projeto ao criar uma ferramenta para ava-liar a qualidade das margens de rios e cór-regos que ficará disponível no site, para que professores e a comunidade possam ter acesso e avaliar a situação de forma rá-pida e fácil, sem necessitar de equipamen-tos ou métodos mais complicados.

Outro ponto interessante destacado pela universidade em vista de sua impor-tância é o Biomapa Virtual, já disponível no site, para que a sociedade civil de ma-neira geral possa dar sua contribuição de maneira participativa para a verificação da situação atual dos pontos que atualmente são monitorados pelo projeto.

Basta entrar no site, fazer um cadas-tramento e posteriormente postar fotos e informações dos locais.

Já existe também um banco de dados organizado com as informações das cole-tas e com os resultados dos parâmetros monitorados. São eles: Químicos - oxi-gênio dissolvido, DBO,cloro e cloreto, fosfato, amônia, ferro, pH (potencial de hidrogênio); Físicos: Temperatura, Turbi-dez, Odor, cor e material particulado; Bio-lógicos: microbiologia (coliformes totais e fecais) e a presença ou ausência de proto-zoários e rotíferos.

A USCS antecipa que já são realizados estudos sobre metais pesados, com análises no Laboratório CTQ Análises Químicas e Ambientais S/S Ltda., parceiro do projeto. Será uma série de 5 meses de amostras e análises comparativas para a verificação da presença ou ausência desses metais. Pelo sucesso do projeto até aqui, mais resultados preciosos certamente advirão dessa parceria.

Entrada Visualização de páginas

Brasil 207

Alemanha 165

Rússia 14

Estados Unidos

8

Canadá 2

Israel 2

Angola 1

China 1

Romênia 1

Fonte: Projeto IPH

VISuALIzAçãO DE PágINAS POR PAíS

Karoline, responsável por MKT e Publicidade: interatividade social abrange continentes

Acessos ao banco de dados vêm também de países como Congo e Quênia com predominância

de jovens de 18 a 24 anos

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Neo Mondo - Junho 2013 41

Uma das professoras voluntárias envolvidas no projeto, Paula Simone Costa Larizzatti, bióloga especialista em Gestão Ambiental e responsável por Análise Química/Parasitológica, lembra a receptividade que o projeto alcançou no país. Em resumo, ela cita, na esfera federal, “a nossa inclusão no Grupo de Estudos de Águas Urbanas, pertencente à Associação Brasileira de Recursos Hí-dricos (ABRH)”. O que levou a professo-ra Marta Angela a apresentar, durante o IX Encontro Nacional de Águas Urba-nas (ENAU), em Belo Horizonte (MG), o processo metodológico de desenvol-vimento do IPH.

Paula, ao salientar que estavam lá representantes de vários estados brasi-leiros que apresentaram um total de 68 trabalhos técnicos, avalia que “este é um importante momento para a troca de experiências sobre recursos hídricos em áreas urbanas”.

Integrantes do projeto da USCS parti-cipam das articulações de Educação Am-biental junto à Rede Brasileira de Educa-ção Ambiental (REBEA) e à Rede Paulista de Educação Ambiental (REPEA), em sua área de recursos hídricos. O que implica, além de a universidade participar como membro da comissão técnica na pessoa da professora Marta Angela, os mem-bros da comissão técnica do IPH terem feito a submissão de vários trabalhos, os quais foram aprovados e apresentados em sua totalidade, durante o VII Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, em Salvador (BA).

No estadoEm São Paulo o projeto, além de outras

atividades desenvolvidas, “nos colocou como representantes da sociedade civil em uma esfera estadual de relevância para os Recursos Hídricos – o Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê. Participamos diretamente da Câmara Técnica de Edu-cação Ambiental deste Comitê”, diz Paula.

A bióloga considera relevante o IPH ter sido apresentado em um momento de grande importância para os Comitês de Bacias Hidrográficas do Estado de São Paulo – o VIII Diálogo Interbacias. Even-to que contou com aproximadamente 700 participantes de 11 unidades da federação (AL, DF, MG, MS, PA, PR, RO, RS, SP, BA e TO), entre eles representantes de comitês de bacias, educadores do ensino formal, técnicos de prefeituras e de órgãos dos es-tados e representantes da sociedade civil.

Mais uma vez coube à professora Mar-ta Angela, também como representante da sociedade civil, falar do projeto, até mes-mo com subsídios do Subcomitê de Bacias Hidrográficas Bilings-Tamanduateí.

Paula ressalta que esse evento acon-tece todos os anos, para a apresentação de experiências relevantes na área de Re-cursos Hídricos. Em 2012, durante o X Diálogo Interbacias, foram apresentados resultados parciais do IPH, “com grande repercussão e troca de experiências”.

No ABC PaulistaEm âmbito regional o projeto da USCS

tem alcançado “reconhecimento impor-tante, com seus integrantes participando

diretamente de ações junto ao Subcomitê de Bacias Hidrográficas Billings-Tamandu-ateí, em sua Câmara Técnica de Educação Ambiental. As contribuições para este subcomitê estão no fato de que muitas in-formações foram geradas sobre importan-tes corpos de água da região: Rio Taman-duateí, Rio dos Meninos, Córregos Utinga, Moinhos e Grotas, além do Ribeirão dos Couros”, enumera Paula, para salientar que são feitas análises em 23 pontos des-ses corpos de água.

A bióloga considera também impor-tantes as parcerias estabelecidas no ABC Paulista com a Prefeitura Municipal de Diadema, por meio de sua Secretaria de Meio Ambiente; o Laboratório CTQ – Aná-lises Químicas, que desenvolve as análises de metais pesados das águas dos corpos de água constantes no projeto, além de debates técnicos sobre os resultados ob-tidos; com a Revista TAE - Especializada em Tratamento de Águas e Efluentes, no sentido de discussões e elaboração de ar-tigos técnicos; com o Laboratório Cultural, especializado em projetos de educação pa-trimonial, no sentido da criação de ferra-mentas de educação ambiental e patrimo-nial ligadas aos recursos hídricos na região do Grande ABCDMRR; e com a empresa Bernard Pet, no apoio financeiro e técnico.

Ainda na região, a professora Mar-ta Angela é também articuladora da Agenda 21 de São Caetano do Sul, e em março de 2013, houve a apresentação dos resultados de dois anos de pesqui-sa durante o 4º Encontro da Agenda 21 do município.

Projeto é bem-aceito em todo o país

Profa. Paula ressalta alcance e abrangência desses estudosno estado e no país: “repercussão e troca de experiências”

Profa. Mestre Marta, à frente de “projeto de importância para a população e para a administração pública”

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‘Ótimos olhos’Parcerias são vistas com “ótimos

olhos” pela USCS, segundo a Profª voluntá-ria Fernanda Amate Lopes, bióloga e coor-denadora/supervisora do projeto, ao des-tacar que “desde 2010 resultados parciais já são apresentados em eventos científicos de relevância, por meio de trabalhos que foram submetidos aos seguintes eventos: Simpósio de Pesquisa do Grande ABC (2011) – em São Caetano do Sul; II Sim-pósio de Pesquisa do Grande ABC (2012) – em São Bernardo do Campo; 1º Workshop Regional – Gestão das águas e educação ambiental na bacia hidrográfica do Alto Tietê: do local ao global (2011) – em Mogi das Cruzes, onde a USCS ganhou como uma das melhores práticas em Educação Ambiental na área de Recursos Hídricos, tendo o trabalho sido selecionado para a apresentação na revista Voz Ambiental; 2º Workshop Regional - Gestão das águas e educação ambiental na bacia hidrográfi-ca do Alto Tietê: do local ao global (2012) – em Mogi das Cruzes; e IV Simpósio de Iniciação Científica da UFABC e 6º Encon-tro de Iniciação Científica da USCS, 2011, Santo André. Anais do IV Simpósio de Ini-ciação Científica da UFABC e Encontro de Iniciação Científica, 2011”.

Atração à parte no 2º Simpósio de Pes-quisa do Grande ABC (2012) foi a apresen-tação dos trabalhos na forma de painéis, para o que a equipe do projeto IPH de-senvolveu o chamado Banner Sustentável idealizado pela Profa. Marta Angela. Es-ses banners foram reutilizados em outros eventos, trocando-se apenas o material impresso em papel.

ganho social Notável entre os notáveis é o ganho

social que o IPH significa. Fernanda afir-ma: “Com as ações do projeto a universi-dade realiza suas funções nos processos de Ensino, Pesquisa e Extensão.

“No ensino, possibilita áreas para es-tágios, bem como demonstra na prática o que é visto em sala de aula. Na pesquisa é possível o desenvolvimento de subpro-jetos nas diversas áreas (microbiologia, parasitologia, físico-químico, educação, análises, entre outros). Basta verificar que em 2013, 5 trabalhos de conclusão de curso – TCCs foram viabilizados por meio do projeto. Além destes, em 2011 e 2012,

Profª Mestre Marta Angela Marcondes Bióloga - Coordenadora e Articuladora Profª Voluntária Fernanda Amate LopesBióloga e Coordenadora/Supervisora Profª Voluntária Paula S. C. LarizzattiBióloga/Especialista em Gestão Ambiental – Responsável por Análise Química / Parasitológica Karoline Ferreira dos SantosResponsável Técnica Marketing, Publicidade Alisson ZampietroResponsável técnico Web Designer

Dia Mundial do Meio Ambiente

Lucas de Faria PolaquiniResponsável técnico Web Designer Profº Voluntário Alex PianuraFarmacêutico e Responsável Técnico pelas Análises Microbiológicas Profº Voluntário Augusto AlmeidaAnálise Parasitológica/ Protozoários Profº Voluntário Cristiano RastamanBiólogo e Responsável Técnico pelas Análises Microbiológicas / Parasitológicas Profº Voluntário Giovani FoltranResponsável Técnico pelas Análises Químicas e Físicas

outros trabalhos já foram realizados, com dados obtidos nas pesquisas realizadas.

“No sentido da extensão, a equipe do IPH desenvolve uma dinâmica intitulada: Projeto IPH Móvel, que tem como objetivo levar in-formações sobre as questões de recursos hí-

dricos em eventos educativos ou mesmo de datas comemorativas (relacionadas ao tema).

“Com esta ferramenta já foram atendi-das e sensibilizadas aproximadamente 12 mil pessoas em municípios do ABC Paulis-ta e na capital do estado”.

Equipe qualificada

A equipe que compõe o projeto IPH-USCS é a seguinte:

Profa. Fernanda coordena e supervisiona o projeto IPH, cujos “resultados parciais são apresentados em eventos científicos”

O ganho social da iniciativa da USCS é sentido até no interesse das pessoas: cerca de 12 mil na capital e no ABC Paulista

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Neo Mondo - Junho 2013 A

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T ão rico em recursos naturais e tão perdulário, quando se trata de pre-servá-los. Esta imagem do Brasil ga-

nha força ao nos depararmos com números preocupantes. Um deles: cerca de 80% da madeira proveniente da floresta amazôni-ca é ilegal, extraída de forma predatória ao meio ambiente e mediante a exploração ir-regular da mão-de-obra da população local.

A esses dados - apresentados por Lu-ciana Maria Papp, coordenadora de Certifi-cação do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), durante en-contro para debater os desafios da Certifi-cação de Origem da madeira no Brasil-, a própria engenheira florestal acrescenta que 56% das emissões de gás carbônico na at-mosfera são provenientes do desmatamen-to das florestas brasileiras.

Luciana esteve entre os participantes do evento, promovido pelo LIDE Sustenta-bilidade, no dia 13 de maio em São Paulo, que apontou ser a conscientização dos em-presários de toda a cadeia produtiva sobre a importância do uso de produtos certifi-cados a saída mais viável não apenas para evitar a destruição das florestas brasileiras, mas também para encontrar oportunidades lucrativas para os próximos anos.

Uso de produtos certificados no país ainda é muito baixo; classe produtiva mobiliza-se para melhorar essa prática

Gabriel Arcanjo Nogueira

A importância desse encontro é res-saltada pela coordenadora de Certifica-ção do Imaflora “por demonstrar que os empresários brasileiros estão compro-metidos com a certificação de origem de produtos florestais e consideram que a certificação florestal FSC é a de maior credibilidade. Isso levará, sem dúvida, a uma melhoria de imagem do setor e à abertura de novos mercados, propician-do, no longo prazo, uma oferta maior de produtos certificados, permitindo que se tornem cada vez mais acessíveis a um maior número de consumidores”.

Conjunto de ações

Para Luciana, a Amazônia tem jeito, mesmo porque é nessa região que a Ima-flora desenvolve muitos de seus trabalhos. Engenheira florestal com mestrado em En-genharia Ambiental pela Universidade Re-gional de Blumenau (SC), a coordenadora de Certificação do Imaflora reconhece que

“a situação fundiária na Amazônia é complexa e envolve um conjunto de ações, nas diversas esferas de poder e da sociedade, mas acreditamos que a solução passa também pela certificação socioam-biental. Isso porque a certificação parte do

princípio de que é possível e desejável con-ciliar o uso responsável da floresta com finalidades econômicas, por meio do ma-nejo florestal correto e sem prejuízo das atividades econômicas já desenvolvidas pelas populações tradicionais, entre ou-tros aspectos. Essas ações são mais efeti-vas quando associadas a políticas públicas.

“Além disso, temos tido forte atuação nas Unidades de Conservação e na forma-ção e capacitação de seus conselhos e acre-ditamos no potencial aumento das áreas certificadas com o crescimento de con-cessões florestais de áreas públicas para empresas, comunidades e associações. Acreditamos que a viabilidade econômica, social e ambiental da Amazônia, no longo prazo, passa também por esses caminhos”.

A contribuição do Imaflora, nesse sen-tido, de acordo com sua coordenadora de Certificação, é das mais significativas. Seja por ser uma instituição que utiliza a certifi-cação socioambiental como fonte geradora de mudanças nos setores agrícola e flores-tal seja por ter participação ativa no de-senvolvimento das normas de certificação, na capacitação de profissionais, entidades e outros segmentos da sociedade na área e produzir material explicativo a respeito.

Madeira de Lei

Dia Mundial do Meio AmbienteMatéria publicada na edição no 35

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Feita a explicação, Luciana revela: “Ao longo da nossa trajetória, acumulamos uma experiência muito rica, que procuramos uti-lizar para gerar melhorias onde pudermos. Por isso, nossa atuação vem se ampliando. Atualmente, estimulamos e apoiamos o desenvolvimento de projetos de políticas públicas, especialmente no município em que estamos, Piracicaba. Nossas atividades compreendem ainda a verificação de proje-tos de clima e carbono; o desenvolvimento de ferramentas de verificação de legalidade da origem da madeira, a elaboração de pro-jetos em unidades de conservação na Ama-zônia, entre outros”.

Se não bastasse, o Imaflora é presen-ça constante em diversos grupos, mesas--redondas, discussões nacionais e interna-cionais, como o da Moratória da Soja, Fair Trade, FSC internacional, Rede de Agricul-tura Sustentável (RAS), Biocombustíveis, Pecuária. Todo cuidado, porém, é pouco, lembra e especialista. “Dentro dos segmen-tos agrícola e florestal, muitas vezes, desen-volvemos estudos para avaliar o impacto das ferramentas que usamos”, afirma.

O que cabe a cada um

Sua vivência a leva a sugerir que go-vernos, empresas, cidadãos e ONGs façam a sua parte para que a soma de contribui-

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tiva é fundamental para que o consumidor possa fazer uma escolha consciente do que compra. Estimular esse questionamento é muito positivo e oferecer informações ao cidadão a respeito da origem do que está consumido é básico. Daí a importância dos selos que atestam a certificação, como FSC (Forest Stewardship Council ou Conselho de Manejo Florestal), RAS (Rede de Agri-cultura Sustentável) e outros. Assim, nós das ONGs, teremos melhores resultados no desafio de gerar mudanças e benefícios

ções positivas mude o quadro para me-lhor no país. “Creio que cabe ao governo a execução de políticas públicas claras no sentido de estimular o consumo responsá-vel e manter órgãos reguladores eficazes. Às empresas, o aumento da transparência em suas atividades e políticas de consu-mo, visando sempre conhecer a origem dos produtos e matérias primas utilizadas, estimulando práticas responsáveis. E aos cidadãos cabe buscar informações sobre os produtos e serviços que consomem, estimulando e optando pelas que exerçam as melhores práticas, como, por exemplo, ao comprar portas, madeira, piso, lápis, carne, café sempre preferir aqueles que de-monstram que sua produção não causou degradação ambiental e/ou social, como consumir sempre produtos certificados FSC e RAS. E as ONGs devem divulgar e estimular o consumo de produtos e maté-rias primas com certificação de origem”.

Luciana ressalta a importância de esses segmentos disponibilizarem canais de diá-logos abertos para troca de conhecimento e melhoria dos sistemas de controle dos pro-dutos consumidos e produzidos no Brasil.

Isso porque, acentua, “ainda há muita desinformação a esse respeito. Saber de onde vem um produto e o caminho percor-rido por ele ao longo de sua cadeia produ-

Luciana: a Amazônia tem jeito, em parte com a certificação

O selo FSC é garantia de madeira certificada nos cinco continentes

Acervo Imaflora

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sociais; os governos, por sua vez, terão leis, como a CLT, respeitadas; e as empresas me-nor risco para suas atividades. O consumi-dor teria a garantia que o produto escolhido respeitou o meio ambiente, o trabalhador, e outros aspectos avaliados pela certificação”.

Luciana lembra que é possível estabe-lecer parcerias com o Imaflora, desde que “estejam alinhadas à nossa missão e não haja conflitos de interesse com as ativi-dades que desenvolvemos. Atualmente possuímos parcerias com entidades de cooperação internacionais, ONGs locais e internacionais, empresas e com entidades governamentais. Demandas nesse sentido são analisadas pelo nosso Conselho”.

Sinal de que nem tudo está perdido no planeta é a busca crescente por certificações que garantem origem de produtos ao longo da cadeia produtiva até o consumidor final. Luciana aponta as principais, que são, no caso da madeira, a certificação florestal FSC e, no caso de produtos agrícolas, a certifica-ção da Rede de Agricultura Sustentável, o selo Rainforest Alliance Certified.

+ 28% e 2 bi de embalagens

Luciana explica: “Estes são os siste-mas de certificação de origem com maior credibilidade internacional e muito de-mandados pelos mercados europeus, norte-americanos e asiáticos. A busca é

Dia Mundial do Meio Ambiente

Nigro, da Tetra Pak: 2 bilhões de embalagens com selo FSC garantem futuro do negócio

crescente. No mercado interno há forte aumento na procura da certificação flores-tal, principalmente após algumas cadeias varejistas terem adotado políticas de com-pra orientadas para o consumo de material certificado FSC. O número de empresas certificadas em Cadeia de Custódia FSC no Imaflora, em 2009, cresceu 28%. Os seto-res de embalagens, imprensa (revistas, jor-nais), tissue (papel higiênico, guardanapos etc.) têm impulsionado a cadeia florestal. E há um aumento também muito signifi-cativo na procura por produtos agrícolas certificados, como café, cacau, uva e chá, estimulados, sobretudo pelos comprado-res internacionais”.

No evento realizado pelo LIDE Sus-tentabilidade, em São Paulo, em meados de maio, Paulo Nigro, presidente da Tetra Pak, revelou que o selo FSC foi adotado em 2 bilhões de embalagens comercializa-das pela empresa. Um número que ilustra o percentual citado por Luciana.

Nigro foi um dos debatedores, a exem-plo de líderes empresariais e ambientalis-tas, cujo entendimento é de que a agenda do consumidor final exigirá cada vez mais o uso de produtos de pouco ou nenhum im-pacto ambiental.

Atraso de uma década

Nesse quesito, nos volta à mente a imagem da tartaruga manca, para ilustrar o ritmo dos passos com que se avança no país. A consciência do consumidor no que se refere à importância da aquisição de produtos certificados e ambientalmente corretos ainda deve demorar pelo menos uma década para se concretizar, disse o presidente da Tetra Pak.

O que ele espera é que as empresas fa-çam a sua parte antes de todos. “Quem não estiver focado nos pilares ambiental e social, além do econômico, deixará de existir num prazo muito curto”, afirmou Nigro. “O apoio ao manejo sustentável é um diferencial de mercado. As empresas que utilizam produtos certificados terão preferência pelas empresas internacionais e terão vantagem competitiva em suas ex-portações”, acrescentou.

Comprometimento empresarial permitirá abrir novos mercados e ampliar a oferta de produtos

certificados para mais consumidores“

Do café aos móveis, a procura de ...

... produtos certificados é crescente

Acervo Imaflora

Ace

rvo

Imaf

lora

Divulgação

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D as constatações no evento rea-lizado pelo LIDE, uma delas é a de que entre os grandes vilões do

mau uso de nossa madeira despontam o setor de construção civil, que absorve pelo menos ¾ da madeira ilegal comer-cializada no país, de acordo com Roberto Smeraldi, diretor da organização Amigos da Terra – Amazônia Brasileira. Ele lem-bra que outra quantidade considerável desse material vai para o setor siderúr-gico, para ser transformado em carvão. “As empresas que comercializam a ma-deira ilegal não cumprem a legislação trabalhista e nem ambiental. E quem consome esses produtos também está consumindo uma cadeia de destruição”, acrescentou Rubens Gomes, presidente da Rede GTA – Grupo de Trabalho Ama-zônico e conselheiro do FSC, conselho brasileiro de manejo florestal, cujo ob-

Além da certificação da madeira jetivo principal é promover o manejo e a certificação florestal no Brasil.

“O consumidor e o empresário precisam se preocupar em saber de onde vem o pro-duto que ele consome”, disse Luciana, da Imaflora. “Muitas empresas ainda não incor-poram ativos e passivos ambientais em suas estruturas porque temem a competição. Mas a certificação deve ser o componente desta transformação cultural”, avaliou Smeraldi.

“A economia florestal vai além da certi-ficação da madeira”, acrescentou o diretor do Amigos da Terra. “Queremos expandir essas possibilidades para os setores agrí-cola e pecuário. O Brasil importou o selo de certificação SFC para a madeira, mas no que se refere à agricultura, temos massa crítica para desenvolver nossos próprios critérios de certificação. E não estamos falando apenas de certificação para produ-tos, e sim para unidades produtivas.”

O presidente do LIDE Sustentabili-dade, Roberto Klabin, ao ser questionado sobre a possibilidade de se aumentar as penas para produtores que cometam cri-mes ambientais, respondeu que a idéia é aplicar as leis que já existem e, ao con-trário de punir, levar a estas pessoas op-ções para estimulá-lo a agir corretamente. “Levar opções de ganho para estes produ-tores é nosso maior desafio. Penalizá-los criaria ainda mais resistência”, explicou.

O deputado federal Ricardo Trípoli (PSDB-SP), em sua participação no evento, afirmou que ainda há um grande precon-ceito por parte dos parlamentares no que se refere às questões ambientais. “Prova disso é a ameaça que sofre o novo Código Florestal brasileiro”, disse.

Empresários ligados ao LIDE fazem suas gestões em Brasília para tratar da questão da certificação com parlamentares.

Selo IMAFLORA Selo Certificação Agrícola (RAS)

Selo Certificação FSC

Mercado interno registra forte aumento na procura da certificação florestal com aumento de 28% no número de empresas certificadas no Imaflora em 2009

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Atividade-Meio ou Atividade-Fim?

G estão, um substantivo feminino, diz respeito ao ato de gerir e de administrar um negócio.

Administrar, por sua vez, é um verbo que apresenta sentido amplo e se refere àquele que, exercendo a autoridade de ad-ministrador, vai gerir, governar ou dirigir negócios próprios, públicos ou de outrem, para transformar um evento planejado em uma ação efetiva, real e concreta.

Administração, por conseguinte, atre-la-se ao ato, processo ou efeito de admi-nistrar, reger, governar ou gerir negócios públicos e particulares.

Negócio, um substantivo masculino, está afeto ao trato mercantil, comércio, ou local – seja loja, empresa ou casa comercial – onde se realizam os tratos relacionados aos assuntos de interesse empresarial e financeiro, a partir de transações comer-ciais, mediante contratos, ajustes e acor-dos entre pessoas, empresas e países.

O objetivo de um negócio é captar recur-sos financeiros para gerar bens e serviços e, por consequência, proporcionar a circulação e giro do capital entre os diversos setores da sociedade com o objetivo de gerar lucro.

Lucro se manifesta por meio de qual-quer vantagem ou benefício, seja material, intelectual ou moral, que se pode tirar de alguma coisa. Pode ser considerado como o ganho auferido durante uma operação comercial ou decorrente do exercício de uma atividade econômica. Pode se confi-gurar, ainda, como o retorno positivo de um investimento feito por um indivíduo ou uma pessoa nos negócios.

SustentabilidadeA maximização e o aumento do lucro

são objetivos mais importantes das ativi-dades comerciais e respondem pelo cresci-mento e pela garantia de sobrevivência – ou sustentabilidade para fazer uso de um termo cada vez mais corrente – da empresa no mer-cado. É um dos principais desejos de todos os empresários e proprietários de negócios.

Para que assegurem o lucro desejado – quanto maior melhor – os empresários podem optar por dois tipos de negócios: os ilícitos e os lícitos.

Os negócios ilícitos – normalmente associados à atividades criminosas como tráfico de drogas e armas, roubo e estelio-

nato, entre diversos outros citados ape-nas para fins didáticos e sem configurar nenhum tipo de apologia – apresentam alta lucratividade e elevado risco no que diz respeito às possíveis perdas dos bens e da liberdade. Não são, portanto, uma boa opção para aqueles que buscam uma vida normal e sem maiores sobressaltos aos co-tidianamente impostos pela vida diuturna.

Os negócios lícitos – os mais comuns, sobre os quais aparentemente se mantém a nossa sociedade a partir dos empregos gerados, impostos recolhidos e circulação de capital – apresentam, como resultado da acirrada competição, baixa lucrativida-de ao se comparar com os negócios ilíci-tos. Ao mesmo tempo, caracterizam-se pelo baixo risco de vir a sofrer perdas dos bens e da liberdade como decorrência das práticas comerciais cotidianas desde que sejam observadas as regras impostas pela legislação vigente.

Para assegurar a manutenção e incre-mento do lucro em um negócio lícito, ta-refa das mais difíceis, as empresas devem ter clareza quanto à definição das suas atividades-fim e atividades-meio.

GeStão AmbientAl:

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Paulo F.Garreta Harkot

Atividade-fim diz respeito ao conjunto de operações de uma instituição, realizadas em decorrência de sua finalidade e voltadas para a consecução da sua principal finalida-de, normalmente registrada no objeto de atuação do contrato social.

De uma maneira mais simples, a ativida-de-fim de uma organização comercial, indus-trial ou de serviço busca realizar a atividade proposta por seu objetivo social como estra-tégia para movimentar receitas e gerar lucro.

Atividade-meio, por outro lado, refere--se ao conjunto de operações que auxiliam o desempenho das atribuições específicas e as-seguram apoio às atividades-fim de uma ins-tituição, resultando na acumulação de docu-mentos de caráter instrumental e acessório.

De outra forma, as atividades-meio não resultam em produtos ou serviços passíveis de serem comercializados pela empresa, mas asseguram as condições para que a sua comercialização e negociação ocorram com a eficácia e lucratividade planejadas.

Caso não se disponha de clareza a res-peito das diferenças e papéis distintos dos dois tipos de atividades é de se esperar que o negócio, qualquer que seja, encon-tre sérias dificuldades em se manter e até mesmo se mostre inviável no mercado.

A clara distinção entre as atividades--meio como suporte para as atividades-fim é um dos principais requisitos para que as empresas, tratos mercantis, comércio e negócios assegurem a sobrevivência me-diante o aumento incessante do lucro.

Adicionalmente, os negócios bem-suce-didos fazem uso de técnicas gerenciais e di-versas ferramentas que não podem prescindir de informações fundamentadas e de boa qua-lidade para orientar e subsidiar a tomada de decisões, fornecidas por sistemas de gestão.

Um eficaz sistema de gestão deve obter, medir e apresentar os principais indicadores relacionados aos processos internos de uma organização, a partir de informações que se-jam precisas, fidedignas e em tempo real.

Mas só as informações não bastam para assegurar a sobrevivência e sustenta-bilidade de uma empresa no mercado.

Concomitantemente às informações e indicadores, uma empresa deve contar com uma estrutura decisória centralizada, com um conjunto de cargos cujas atribuições e respon-

sabilidades são bem definidas e, cada um de-les, com metas e objetivos claros e mensurá-veis. Já a aferição do desempenho, nesse caso, se dá por meio de relatórios gerenciais que permitem acompanhar o desempenho e a efi-cácia das atividades realizadas para alimentar, geralmente, atrativo sistema de premiação ca-paz de se configurar em grande estímulo para os funcionários que cumprem as suas metas.

Ao mesmo tempo, e analogamente ao sistema de premiação, as empresas contam com um claro e temido sistema de punições que pode causar a demissão daqueles que não cumpriram com a sua obrigação e papel esperado junto à organização.

Com a disseminação da informática e da tecnologia de informação esse tipo de insumo tornou-se muito fácil de ser obtido a partir de um programa de computador.

A despeito de tamanha evolução na cap-tura, manuseio, tratamento e apresentação das informações, do desenvolvimento das técnicas gerenciais e das estratégias de pre-miação e punição, bem como de intensas campanhas de marketing, muitas empresas ainda quebram, falem e fecham as portas.

E por que as empresas quebram?

Administrar processosQuebram porque, em muitos casos, não

conseguiram conhecer, e administrar, os pro-cessos internos peculiares como decorrência da carência de informações de boa qualidade ou como resultado da falta de cultura organizacio-nal e interesse em se adaptar aos novos tem-pos, da senilidade e obsolescência dos produtos e processos daquele negócio, do mau uso das ferramentas gerenciais, das escolhas erradas para os cargos de decisão e direção e da carência de recursos para investimento, ao considerar apenas o ambiente interno do negócio.

Mas quebram também como resultado de eventos imprevistos e não controláveis associados ao cenário macroeconômico, às questões políticas ou legais, à concorrência desleal – se é que uma concorrência pode ser leal – e às mudanças de comportamento e de poder aquisitivo do mercado consumidor.

Mesmo que já contem com clareza e processos para gerir, mensurar e avaliar a eficácia das atividades-fim e os custos e be-nefícios das atividades-meio.

Ao se aplicar esses conceitos oriundos

da administração de um negócio privado à administração ou gestão pública no Bra-sil, torna-se factível de considerar o dis-tanciamento existente entre a qualidade e eficácia desses processos preconizados para as práticas administrativas privadas e as instituições públicas da esfera federal, estadual e, principalmente, municipal.

A afirmação acima não menospreza os grandes avanços ocorridos no Brasil, a partir do início da década de 90, no que respeita aos sistemas de controle e de gestão pública.

Mas, e infelizmente, ainda é fato que, no nosso País, a res publica – coisa do povo ou coisa pública que fundamenta a forma de governo da República Federativa do Brasil – muito pouco significa para a maior parte da população como resultado do processo cul-tural e histórico aqui instaurado, responsável por incutir no imaginário e nas crenças coleti-vas que apenas a propriedade privada tem va-lor e, como tal, deve ser cuidada e respeitada.

Quanto ao que é público, de toda a po-pulação e de todos nós, pouco vale como demonstram as cotidianas ações de desres-peito, depredação e falta de cuidado para as coisas comuns como o espaço público, o am-biente e o capital natural que não esteja na posse de algum ente privado.

Como se não bastasse esse tipo de compor-tamento por parte de significativo contingente da população brasileira, há que se destacar o aspecto nefasto associado ao aparelhamento das instituições públicas responsáveis, no pre-sente caso, pela execução da Política Nacional de Meio Ambiente. São diversas as situações onde é comum a indicação de pessoal sem ca-pacitação técnica para a direção e gerência dos principais cargos em detrimento de técnicos experientes e com boa fundamentação na área.

As causas por essas medidas descabidas ao considerar a importância dessas institui-ções são várias. Destacam-se, porém, os arran-jos associados aos acordos de divisão de poder ou, pior ainda, por interesses propositais para, situação inusitada, promover a desarticulação de órgãos e instituições do sistema federal, es-tadual e municipal de meio ambiente, em um sistema que, é importante ressaltar, raramen-te dispõe de metas e quase nunca penaliza aqueles que deixaram de cumprir seu papel ou acarretaram prejuízos para a sociedade, am-biente ou o capital natural do País.

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Neo Mondo - Junho 2013

Sem deixar de considerar, ainda, as po-líticas de governo voltadas à desmoralização das profissões importantes para a compre-ensão e abordagem dos processos naturais, fundamentais para o necessário conheci-mento dos sistemas ambientais que caracte-rizam o substrato do território do nosso País.

Exemplo marcante está associado ao primeiro concurso realizado pelo Minis-tério do Meio Ambiente para seleção e preenchimento de vagas de analista am-biental, realizado em meados da década de 90, quando estipulou que profissionais com formação em qualquer área de conhe-cimento, desde que portadores de diploma do terceiro grau, poderiam se candidatar às vagas daquela instituição.

Um infundado absurdo que contribuiu para vulgarizar e ressaltar a desimportância da temática ambiental no contexto das po-líticas públicas que se estavam a desenhar.

Curso específicoE uma situação inimaginável de vir a

ocorrer para o caso das atividades afetas a outras áreas de atuação como saúde, justiça e infraestrutura, por exemplo, onde a con-dição básica para a candidatura ao cargo é o diploma em curso específico para cada área.

Em outras palavras, qual cidadão, em sã consciência, concordaria em ser atendi-do, quando com algum sério problema or-topédico, por exemplo, por um agrônomo, biólogo, psicólogo, contador ou advogado.

Nem tampouco, quando solicitasse uma perícia para um problema estrutu-ral de imóvel e a fiscalização se desse por meio de um geólogo, artista, economista ou administrador de empresas.

E muito menos ainda caso precisasse de um defensor dativo para um problema jurídico, e fosse atendido por um engenhei-ro, veterinário, comunicador, arquiteto ou profissional de enfermagem, por exemplo.

Assim, ao considerar o quadro que abriga a gestão ambiental governamental dos entes federativos do Brasil, constata-se que longe de se colocar como uma atividade-meio para

a consecução de claros e precisos objetivos planejados, configura-se muito mais como se fora atividade-fim em si mesma.

E, nesse contexto, passou-se a consi-derar que a finalidade do sistema de ges-tão ambiental é, de maneira análoga a uma atividade cartorial, abrir processos, juntar documentos e, uma vez atendido o rol de documentos exigidos, emitir as licenças e autorizações ambientais como se, a partir do ato da sua emissão, os distúrbios e os impactos ambientais causados ao meio e à sociedade pudessem, por decreto ou outro instrumento normativo, deixar de existir.

Ao mesmo tempo, e como resultado dessas ações focadas na atenuação e dissi-mulação dos problemas ambientais causa-dos, acelera-se a destruição do gigantesco capital natural que os processos geológicos, climáticos, oceanográficos e biológicos rele-varam a este País megadiverso, com a des-culpa do imperativo para a geração de em-prego, distribuição de rendas e diminuição dos gargalos logísticos do Brasil, todos eles decorrentes de algumas décadas de incom-petência e descaso administrativo.

epitáfio ambientalAssim, e nessa data alusiva à comemora-

ção do dia do meio ambiente, constata-se que, de maneira inversa, o que se está a fazer é gra-var mais algumas palavras no seu epitáfio.

Epitáfio esse acrescido, cada vez mais, de dizeres e ditos representados por ins-trumentos legais e de políticas públicas voltadas a simplificação, descaracterização e imobilização do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) sob a desculpa de que impedem a implantação do desen-volvimento sustentável.

E ao longo desse processo, em que as atividades-meio se confundem com a fina-lidade precípua das instituições, sugestões importantes como a do grande e saudoso Ab’Saber a respeito da necessidade de um Código da Biodiversidade, caem no vazio e no esquecimento, enquanto que as ações destruidoras para conversão do capital na-

tural público em negócios privados, mote e característica da nossa nação desde o início da fase colonial, continuam a grassar ao longo de todo o território.

Poderíamos esperar algum tipo de ques-tionamento a respeito da forma irresponsá-vel de conduta que alguns dos dirigentes desse País imprimem à coisa pública se os veículos de comunicação, concessionários de serviços públicos, não cumprissem tão bem o seu papel de imbecilizar significativa parcela da nossa sociedade com programas que, de maneira geral, se destacam por não apresentar nenhuma utilidade para a trans-formação da presente realidade, caracte-rizada por gigantesca inversão de valores, ênfase nas atividades-meio e descaracteri-zação das atividades-fim.

Assim, e nesse caldo cultural, político e econômico no qual estamos imersos, os nossos descendentes e as próximas gera-ções que se virem com o que sobrar do bu-tim e do espólio que se está a quinhoar em velocidade e intensidade que causam, cada vez mais, maior assombro.

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Paulo F. Garreta Harkot Oceanógrafo, mestre em saúde

pública/epidemiologiaProfessor de cursos de graduação e

pós-graduaçãoDiretor da Sinergética Estudos e ProjetosAtuou em todos os estados litorâneos

brasileiros com atividades relacionadas ao Programa Nacional de Gerenciamen-

to Costeiro (PNGC), participou da im-plantação do Projeto Peixe-Boi Marinho,

na Paraíba, além de outras atividades com unidades de conservação.

Atua também na área de controle da erosão costeira, qualidade das águas e planos de gestão costeira na esfera

pública e na iniciativa privada. Foi consultor do PNUD para fins de avaliação do PNGC para subsidiar a

participação brasileira na Rio 1992 e, posteriormente, na Rio + 20, em 2012.

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N uma praia da antiga Fenícia, al-gumas moças muito alegres brin-cavam despreocupadas. O mar

estava calmo, a brisa soprava leve, e o sol aquecia ameno a pele doce das meni-nas. Eram lindas todas elas, e cantavam e dançavam, colhiam flores e corriam através dos arbustos coloridos.

De repente, ao invés dos risos inocentes ouvem-se gritos de surpresa e excitação: um touro branco, afastando-se da manada que descera até à areia, aproxima-se das jovens. Procuram todas sem demora esconder-se atrás da folhagem. Apenas uma delas, jus-tamente a que se destacava das demais pela graça e vivacidade, espera pelo touro. Essa garota chamava-se Europa e era filha de Age-nor, o grande rei daquela região, governante das cidades de Sídon e Tiro.

Num elegante bamboleio, o touro vem, como a desfilar pela praia, exibindo a rara formosura. A princesa ignora o apelo das amigas para que se esconda também (não é que ela não sinta medo, mas não está mesmo assustada). Na verdade, estão todas curiosas e encantadas com aquele animal. Ora, pudera! (mas quem poderia adivinhar?) esse touro era Júpiter...

Não era de hoje que o deus dos deuses espreitava do céu, por entre as nuvens, a bela princesa fenícia. Sabia que ela costumava se divertir naquela praia com as amigas e, nesse dia, não se contendo mais de paixão, pedira a Mercúrio, seu mensageiro, que fizesse descer dos montes o rebanho real para lhe facilitar o embuste. E então, assim transformado, cami-nhava em direção à sua presa. Não querendo assustar a jovem, solta um mugido suave e para a alguns passos de distância. Deixa que ela o estude com cuidado. Europa observa o olhar sereno e gentil, considera o rosto bondo-so e arredondado, repara nos chifres curtos e brilhantes, contempla a alvura perfeita e pura, examina o porte majestoso e sedutor daquele touro. Aproxima-se maravilhada de ver como é belo e como é manso. Coloca-lhe na boca uma flor, e ele, contente, lambe-lhe a mão. Em seguida, corre e dá saltos pelo campo. Depois volta e deita-se na areia e muge como se ge-messe, olhando sempre para ela. Levanta-se e achega-se à jovem novamente. Ela, confiada, acaricia-lhe o peito, sentindo a maciez do pelo por entre os dedos das mãos, sentindo o res-folegar ardente do touro em seus ouvidos de menina-moça. Às companheiras, que a tudo assistem de longe, ela grita:

— Não tenham medo, esse touro é um amor!

E elas, livrando-se do receio e ceden-do devagar à curiosidade, saem detrás das moitas onde estavam e avizinham-se do animal. Nesse instante, ele senta-se ao pé de Europa e mostra-se ainda mais dócil. A princesa, entrelaçando flores que colhera antes, faz delicadas coroas para adornar-lhe os cornos. O touro branco a tudo consente, mostrando-se satisfeito, quase a sorrir. E ela, para acabar de vez com a timidez das companheiras, resolve ser um pouco mais ousada: arrisca-se a montar no lombo do touro, sem saber que subia nas costas de um deus! O animal ergue-se tranquilo nas quatro patas e desce até à faixa de areia mo-lhada. Põe um casco n’água salgada e torna a tirar. Adentra depois alguns passos como se quisesse se banhar. Mas antes que Eu-ropa tenha tempo de pedir, ainda sem per-ceber-lhe a intenção, “Vamos, já está bem, agora volte!”, o touro branco dispara em direção ao alto-mar. Leva consigo a presa preciosa, que agora, apavorada, segura num chifre com a mão esquerda, apoiando-se no dorso com a outra, enquanto seu man-to vermelho se enfuna feito vela ao vento. As moças na praia, sem poder acreditar, gritam em vão pela amiga e estendem os braços para o mar. Mas o touro só refreia a carreira quando chega à ilha de Creta. Ali, à sombra dos verdes plátanos, Europa conhe-ceu o amor divino.

Márcio Thamos

Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas

junto ao Departamento de Linguística da UNESP-FCL/CAr, credenciado no

Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da mesma instituição.

Coordenador do Grupo de Pesquisa “LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica”.

E-mail: [email protected]

Mitologia Clássica: o rapto de Europa

O rapto de Europa de Simon Vouet

Neo Mondo - Junho 2013 51

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Neo Mondo - Maio 2008 52

NEO MONDO não pretende explicar a violência urbana. Apenas faz um apelo às pessoas para que não se isolem à frente de um computador; saiam de si mesmas e convivam mais; eduquem-se para o Bem; cerquem-se de pessoas sempre melhores do que elas próprias;

busquem o conhecimento na pesquisa, no estudo, na troca de ideias e de experiências posi-tivas seja no campo pessoal seja no coletivo; cuidem-se e cuidem dos mais fracos, dos mais

carentes, das crianças e adolescentes, dos idosos, das plantas, dos animais.

Somente pessoas de mentes e corpos sadios saberão salvar o Planeta do fim dos tempos. O gênero humano e a Terra agradecem!

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