negro às margens - literatura marginal

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Negro às margens SEU ESPAÇO GEOGRÁFICO DENTRO DA SOCIEDADE

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Page 1: Negro às margens  - Literatura marginal

Negro às margens

SEU ESPAÇO GEOGRÁFICO DENTRO DA SOCIEDADE

Page 2: Negro às margens  - Literatura marginal

MÚSICA: Eu só quero é ser

feliz(Rap Brasil)

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Eu só quero é ser feliz,

Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.E poder me orgulhar,E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.Fé em Deus, DJ

Eu só quero é ser feliz,Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.E poder me orgulhar,E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.

Mas eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, onde eunasci, han.E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seulugar.

Page 4: Negro às margens  - Literatura marginal

Minha cara autoridade, eu já não sei o que fazer,

Com tanta violência eu sinto medo de viver.Pois moro na favela e sou muito desrespeitado,A tristeza e alegria aqui caminham lado a lado.Eu faço uma oração para uma santa protetora,Mas sou interrompido à tiros de metralhadora.Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela,O pobre é humilhado, esculachado na favela.Já não aguento mais essa onda de violência,Só peço a autoridade um pouco mais de competência.

Eu só quero é ser feliz,Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, han.E poder me orgulhar,E ter a consciência que o pobre tem seu lugar.Mas eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, onde eunasci, é.E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seulugar.

Page 5: Negro às margens  - Literatura marginal

Diversão hoje em dia, não podemos nem pensar.Pois até lá nos bailes, eles vem nos humilhar.Fica lá na praça que era tudo tão normal,Agora virou moda a violência no local.Pessoas inocentes, que não tem nada a ver,Estão perdendo hoje o seu direito de viver.Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela,Só vejo paisagem muito linda e muito bela.Quem vai pro exterior da favela sente saudade,O gringo vem aqui e não conhece a realidade.Vai pra zona sul, pra conhecer água de coco,E o pobre na favela, vive passando sufoco.Trocaram a presidência, uma nova esperança,Sofri na tempestade, agora eu quero abonança.O povo tem a força, precisa descobrir,Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui.

Eu só quero é ser feliz,Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.E poder me orgulhar,E ter a consciência que o pobre tem seu lugar, eu.Eu, só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, onde eunasci, han.E poder me orgulhar, é,O pobre tem o seu lugar.

Page 6: Negro às margens  - Literatura marginal

Diversão hoje em dia, nem pensar.Pois até lá nos bailes, eles vem nos humilhar.Fica lá na praça que era tudo tão normal,Agora virou moda a violência no local.Pessoas inocentes, que não tem nada a ver,Estão perdendo hoje o seu direito de viver.Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela,Só vejo paisagem muito linda e muito bela.Quem vai pro exterior da favela sente saudade,O gringo vem aqui e não conhece a realidade.Vai pra zona sul, pra conhecer água de coco,E o pobre na favela, passando sufoco.Trocada a presidência, uma nova esperança,Sofri na tempestade, agora eu quero abonança.O povo tem a força, só precisa descobrir,Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui.

Eu só quero é ser feliz,Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é.E poder me orgulhar,E ter a consciência que o pobre tem seu lugar, é.Eu, só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz, onde eunasci, han.E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seulugar.

E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seulugar.

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Artigo: Negros são maioria nas favelas...

(Cláudia Vitalino - Presidente da UNEGRO – União de Negros Pela

Igualdade)

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Por que a favela é vista como lugar de violência? O que levou

esse espaço a ser considerado como espaço violento? Como foi possível o surgimento desse espaço? Ao fazer uma análise histórica da situação, pode-se encontrar resposta para essas questões ao enfocar a história da escravidão no Brasil, século XVII E XVIII, particularmente no Rio de Janeiro.

Existe toda uma estrutura de luta que se manteve contra as injustiças de uma elite discriminadora e castradora dos direitos humanos. Levando em conta essa realidade histórica, a favela no Rio de Janeiro pode ser comparada com a natureza dos quilombos, principalmente aquelas localizadas junto às grandes cidades, ou seja, local que se tornou um foco de luta contra as injustiças sociais. A diferença entre o quilombo e a favela, é que o quilombo servia de abrigo ao não aprisionamento dos negros livres e fugitivos. Já as favelas, ao longo do século XX, se tornaram a resistência de permanência nos locais escolhidos para moradia. Tanto o quilombo quanto a favela passaram a ser defendidos como territórios que se funda numa relação de força. O poder da elite que deseja escravizar e a resistência dos negros que reivindicam seus direitos à vida e à propriedade.

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A denominação de quilombo surge em função de uma consulta feita pelo

Conselho Ultramarino (1740) ao rei de Portugal. O rei entendeu que toda habitação de negro fugitivo que passasse de cinco, deveria ser considerada como quilombo. A localização de qualquer quilombo privilegiava os lugares cujo acesso não fosse facilitado às forças da ordem imperial. A concentração de escravos em uma metrópole, como o Rio de Janeiro, buscou a ocupação de áreas que ainda estavam desabitadas. Nesse caso, os charcos e as encostas de morros serviam como lugares para a construção desses quilombos que abrigavam, além de escravos, brancos com problemas na justiça e outros.

Nesse período a Corte Imperial enfrentava uma determinada resistência com a formação dos quilombos localizados junto às matas da Tijuca e do Andaraí. Essa resistência pôde ser comprovada no relatório enviado por uma diligência que dizia: “Tendo seguido um trilho único que existia e descido por uma ladeira muito íngreme, depois de uma hora da manhã encontramos cinco ranchos onde achamos farinha, bananas e um ferro chamado “macho”, e não foi possível encontrar nenhum quilombola”.

Além das florestas da Tijuca e do Andaraí, conhecidas por abrigarem grupos quilombolas desde o final do século XVIII, outros estudos apontam também outras freguesias, como a Lagoa, Inhaúma, Irajá, Engenho Velho e outras. A existência de áreas quilombolas próxima à cidade, foi viabilizada pela presença das poderosas redes de solidariedade local. Essa solidariedade era construída na relação com taberneiros locais, pequenos comerciantes e donos de embarcação com os quilombolas de Iguaçu, região próxima da corte, talvez motivados por interesse econômico.

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A crise da habitação, presente na Corte desde a chegada da família Imperial ganhou maior dimensão à medida que os imigrantes chegaram à cidade, principalmente a partir da política de importação de mão-de-obra branca, para trabalhar nas recentes indústrias e nos campos.

O movimento quilombola, além de se constituir numa resistência ao sistema escravagista, participa do movimento de expansão da cidade. Os quilombolas, através de sua dinâmica de movimento, contornavam as fronteiras da cidade, espaço que vai ser designado, hoje, como favela. Eles viviam da pequena agricultura, da exploração da floresta e do roubo em fazendas.

A situação se torna mais agravante, ainda, com a carta de alforria, no período entre 1870 a 13/05/1888. Mas de posse dessa carta o ex escravo continuava ainda discriminado pela sociedade. Esse movimento no campo gerou uma das maiores injustiças sociais, pelo fato das restrições do acesso a terra. Apesar do negro se sentir aliviado da brutalidade que lhe matinha trabalhando, porém, quando de posse da carta de alforria, abandonavam as fazendas ganhando as estradas à procura de terrenos baldios em que pudessem acampar para viverem livres como se estivessem nos quilombos, plantando milho e mandioca para comer.

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A condição de miséria que se efetivou com esse movimento, levou o

negro a enfrentar a maior crise de sua existência. Pela miséria a qual foram atirados, não podiam estar em lugar algum, porque cada vez que se acampavam os fazendeiros vizinhos organizavam e convocam forças policiais para expulsá-los, uma vez que toda a terra estava possuída e, saindo de uma fazenda, caía fatalmente em outra. A exclusão dos homens negros livres, a posse da terra, tornava-se importante para garantir a mão-de-obra. O resultado é que os escravos alforriados, juntos com os pobres e brancos, deslocavam-se para a cidade ou para os quilombos no perímetro urbano ou rurais. Na cidade, os negros ocupavam inicialmente os cortiços, no caso do Rio de Janeiro, ou se tornavam quilombolas em áreas da periferia da cidade. A exclusão de negros livres ao acesso à terra era importante, por sua vez, para garantir o trabalho escravo.

A influência e a intenção dos grupos dominantes passam a ser determinantes para a demarcação e organização do espaço social, para a classe negra desprovida do trabalho. Foi especialmente essa situação que cooperou para o surgimento da favela, uma transmutação do quilombo em nova forma de resistência, que é a luta pelo direito à habitação. Porém, tanto o Estado como a classe dominante viam na formação da favela a criação de grupos perigosos, pelo fato desses reivindicarem o direito a moradia no perímetro urbano pela resistência. Sendo assim, a favela passa a ser um espaço transmutado de quilombo para favela.

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Foi no século XX que a favela ficou sendo representada

para a república o mesmo que os quilombos ficaram sendo para a sociedade escravocrata. Tanto as favelas como os quilombos, no passado foram reconhecidos como classe perigosa, que necessitava de repressão. Os quilombolas no passado, sob a tutela do império, e os favelados por se constituírem socialmente indesejáveis, após a instalação da república. Sem possibilidade de ter trabalho, devido as suas condições sociais impostas pela elite, os negros deixaram de ter seus direitos reconhecidos. Porém herdaram os combates aos negros quilombolas do século anterior.

Disponível em: http://www.vermelho.org.br/noticia/183804-101. Acesso em março de 2015.

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POEMA: Favela(Marcelo

Lopes)

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A Senzala fugiu da Casa-Grande, ganhou as avenidas e subiu nos morros.

Em suas ruas estreitas, rostos suados e pernas bem-feitas... Todos correm apressados.

Em cada casebre, velhos rugosos e rostos imberbes procuram, dia a dia, ganhar o pão e o chão.

Nem sol, nem chuva nem a lei da gravidade abalam a firme estrutura desta pseudocidade.

Mil novos Quilombos se erguem aos tombos na chamada civilização, com rios de asfalto e palmeiras de plástico, sem cor nem umidade: São Palmares de verdade!

A Senzala mudou de nome; batizaram-na Favela que por nós vela, do alto do morro.

Tornou-se Casa-Grande e todos nós, restantes nos transformamos na Senzala da Cidade Grande.

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