sobre fronteiras e margens na literatura: a poética do ... · fronteiriço, periférico e/ou...

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Sobre fronteiras e margens na literatura: a poética do portunhol selvagem na fronteira Brasil-Paraguai Josué Ferreira de Oliveira Júnior (UNIOESTE/CAPES) Resumo: A comunicação visa à reflexão sobre as reverberações da fronteira como signo que enseja significativas e renovadas (re)leituras no campo da crítica literária e das artes em geral na atualidade. E isso, em parte, sustentada pela emergência, cada vez maior, de artefatos culturais e artísticos, de experiências literárias e de textualidades contemporâneas diversas, cuja marca se traduz no atravessamento e/ou na superação das fronteiras que tornavam outrora, mais ou menos, identificáveis os diferentes campos da atuação artística, seus meios de produção e as ferramentas de abordagem teórico-críticas. Também pelo crescente interesse por expressões artístico-literárias advindas das fronteiras e margens da nação, que reclamam, por assim dizer, um modo de ler também marginal-fronteiriço, promovendo, dentre outros aspectos, o descentramento do discurso teórico-crítico, bem como a sua renovação. O trabalho se volta, então, para uma fronteira bem específica: a do Brasil com o Paraguai, e para o portunhol selvagem, de Douglas Diegues, como uma experiência literária paradigmática, no contexto da literatura contemporânea, ao assumir como projeto estético-político a superação das fronteiras geográficas, linguísticas e as da própria literatura até o limite do possível. A reflexão se dará com base nas teorias pós-coloniais e na crítica decolonial. Palavras-chave: Fronteiras da/na literatura; Literatura marginal; Pensamento fronteiriço. Abstract: The communication aims at reflecting about the border’s reverberations as a sign that enables significant and renewed (re)readings in the field of literary criticism and arts nowadays. And this, in part, sustained by frequent emergence of cultural and artistic artifacts, of literary experiences and various contemporary textualities, whose mark is translated in the crossing and/or in the overcoming of the borders that once made more or less identifiable the different fields of artistic acting, their means of production and the tools of theoretical-critical approach. Also by the growing interest in artistic-literary expressions coming from the borders and marge of the nation which claim a way of reading also marginal-border, promoting among other aspects the decentering of the theoretical-critical discourse. The work turns to a very specific borderland: that of Brazil with Paraguay, and to the wild portunhol by Douglas Diegues, as a paradigmatic literary experience in the context of the contemporary literature, by assuming as an aesthetic-political project the overcoming of geographical, linguistic and literary boundaries to the limit of what is possible. The reflection is based on postcolonial theories and decolonial criticism. Keywords: Borders of/in the Literature; Marginal Literature; Border Thinking Fronteiras e margens se constituem como signos que guardam entre si certa semelhança e/ou proximidade semânticas, muito embora tragam, também, diferenças singulares. Distam, pode-se dizer, daquilo que ocupa uma posição de centralidade numa área ou tema determinados, constituindo-se, assim, como a divisa, a beira, o contorno, as bordas externas desta mesma área ou tema. Ao estabelecer uma diferenciação mínima entre elas, podemos dizer

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Sobre fronteiras e margens na literatura: a poética do portunhol selvagem na fronteira

Brasil-Paraguai

Josué Ferreira de Oliveira Júnior (UNIOESTE/CAPES)

Resumo: A comunicação visa à reflexão sobre as reverberações da fronteira como signo que

enseja significativas e renovadas (re)leituras no campo da crítica literária e das artes em geral

na atualidade. E isso, em parte, sustentada pela emergência, cada vez maior, de artefatos

culturais e artísticos, de experiências literárias e de textualidades contemporâneas diversas,

cuja marca se traduz no atravessamento e/ou na superação das fronteiras que tornavam outrora,

mais ou menos, identificáveis os diferentes campos da atuação artística, seus meios de

produção e as ferramentas de abordagem teórico-críticas. Também pelo crescente interesse por

expressões artístico-literárias advindas das fronteiras e margens da nação, que reclamam, por

assim dizer, um modo de ler também marginal-fronteiriço, promovendo, dentre outros

aspectos, o descentramento do discurso teórico-crítico, bem como a sua renovação. O trabalho

se volta, então, para uma fronteira bem específica: a do Brasil com o Paraguai, e para o

portunhol selvagem, de Douglas Diegues, como uma experiência literária paradigmática, no

contexto da literatura contemporânea, ao assumir como projeto estético-político a superação

das fronteiras geográficas, linguísticas e as da própria literatura até o limite do possível. A

reflexão se dará com base nas teorias pós-coloniais e na crítica decolonial.

Palavras-chave: Fronteiras da/na literatura; Literatura marginal; Pensamento fronteiriço.

Abstract: The communication aims at reflecting about the border’s reverberations as a sign

that enables significant and renewed (re)readings in the field of literary criticism and arts

nowadays. And this, in part, sustained by frequent emergence of cultural and artistic artifacts,

of literary experiences and various contemporary textualities, whose mark is translated in the

crossing and/or in the overcoming of the borders that once made more or less identifiable the

different fields of artistic acting, their means of production and the tools of theoretical-critical

approach. Also by the growing interest in artistic-literary expressions coming from the borders

and marge of the nation which claim a way of reading also marginal-border, promoting among

other aspects the decentering of the theoretical-critical discourse. The work turns to a very

specific borderland: that of Brazil with Paraguay, and to the wild portunhol by Douglas

Diegues, as a paradigmatic literary experience in the context of the contemporary literature, by

assuming as an aesthetic-political project the overcoming of geographical, linguistic and

literary boundaries to the limit of what is possible. The reflection is based on postcolonial

theories and decolonial criticism.

Keywords: Borders of/in the Literature; Marginal Literature; Border Thinking

Fronteiras e margens se constituem como signos que guardam entre si certa semelhança

e/ou proximidade semânticas, muito embora tragam, também, diferenças singulares. Distam,

pode-se dizer, daquilo que ocupa uma posição de centralidade numa área ou tema

determinados, constituindo-se, assim, como a divisa, a beira, o contorno, as bordas externas

desta mesma área ou tema. Ao estabelecer uma diferenciação mínima entre elas, podemos dizer

que fronteira pode ser entendida como a linha divisória entre duas coisas dispostas uma à frente

da outra, entre diferentes campos do saber, e/ou os limites entre os territórios de dois estados;

já a margem, assumiria em relação a ela uma feição um pouco menos rígida, podendo ser

entendida como o contorno, isto é, o espaço situado na borda externa de algo.

Vale observar, portanto, que ambos os termos apontam para noções ligadas à

localização espacial, e à posicionalidade de sujeitos e objetos numa dada superfície ou

território, de onde advém outras noções e desdobramentos de sentidos que além de apontar para

a posicionalidade, lança luz também sobre as condições, as formas de adesão e pertencimento

a um determinado espaço e/ou território. É o que se pode dizer, por exemplo, dos adjetivos

fronteiriço, periférico e/ou marginal, quando usados após substantivos tais como: sujeitos, arte

e/ou literatura. Daí, importa indagar o que significa quando dizemos que alguém é um sujeito

fronteiriço, marginal e/ou periférico; ou ainda, o que significa, quando por vezes, nos

assumimos como sendo sujeitos marginais-periféricos. O mesmo pode ser perguntado sobre a

literatura. O que se entende por literatura marginal, periférica e/ou fronteiriça? De que modo a

caracterizamos? E por aí vai.

Tais questionamentos nos colocam diante de alguns dos problemas que queremos aqui

trazer à baila, a fim de refletir sobre uma produção artística que traz em si características muito

próprias e particulares, e que reclama leituras e abordagens outras; mais adequadas do ponto

de vista teórico-crítico, facilitando, desse modo, uma melhor compreensão dos desvios de

norma destes mesmos artefatos simbólicos como elementos de sua significação e sentidos

enquanto experiência artístico-literária.

Assim, dando continuidade às reflexões iniciadas acima, pode-se dizer, com certa

tranquilidade, que um sujeito marginal é aquele que vive à margem, quase sempre privado das

condições desejáveis para uma sobrevivência minimamente digna, alguém que se situa,

portanto, à margem do sistema político; já o periférico se caracteriza como um morador da(s)

periferia(s) das grandes cidades, ou ainda, um cidadão das nações periféricas, numa clara

alusão à questão colonial como processo histórico que produziu, dentre outros aspectos, uma

divisão dicotômica do mundo entre centro e periferia. O fronteiriço, por sua vez, corresponde

àquele espaço habitado por sujeitos que vivem nos limites dos estados-nações, um espaço onde

as marcas de identidade e as línguas nacionais se cruzam, por vezes, tornando confusas e

complexas as formas de adesão e pertencimento desses sujeitos não à fronteira em si, mas aos

espaços-territórios que elas conformam, constituindo-se, assim, no que Glória Anzaldúa (1981)

denomina como sendo uma “herida abierta”. Uma vez que para ela:

Fronteiras são construídas para definir os lugares que são seguros e inseguros,

para nos distinguir deles. Fronteira é um lugar vago e indeterminado, criado

pelos resíduos emocionais de um limite não natural. Ela está em um constante

estado de transição. O proibido e o não permitido são seus habitantes. Os

atravessados moram aqui: o estrábico, o perverso, o estranho, o problemático,

o mestiço, o mulato, o meia-raça, o meio morto, enfim, aqueles que

atravessam, passam, ou vão pela fronteira do ‘normal’. (ANZALDÚA, 1981,

p. 3, Tradução nossa).1

Pode-se dizer a partir daí que a fronteira vai se constituindo como um conceito de

destacada complexidade, seja por trazer em si um histórico de violências implícitas, ligadas a

uma herança colonial, seja por constituir-se como um lugar-espaço de passagens e

atravessamentos, habitada, de acordo com Anzaldúa (1981), por sujeitos atravessados, e/ou

como traduz Diegues, “Por la gente simples que increiblemente sobrevive de teimosia, brisa,

amor al imposible, mandioca, vento y carne de vaca.” (DIEGUES, 2007, p. 3) Está eivada por

questões políticas, de modo que seu espectro de significações se expande de maneira

extraordinária para diferentes campos do saber, constituindo-se, assim, num importante

paradigma de leitura que encerra em si uma forma de pensar e conceber o mundo, ao seu modo,

marginal-fronteiriço. Por isso mesmo Walter Mignolo vai dizer que as “Borders are not only

geographical but also epistemic.” (Tlostanova e Mignolo, 2012, p. 62) Sua significação e

sentidos se expandem para além das questões meramente ligadas à localização, para assumir a

forma de um pensamento fronteiriço (border thinking), ou um pensar desde a exterioridade;

expressão máxima de um projeto que se assume como uma opção decolonial.

Tal complexidade se nota, inclusive, nos artefatos artístico-literários e nas experiências

textuais que delas emergem, uma vez que está-se a falar de obras que não apenas advêm das

fronteiras e margens da nação, mas que retiram também delas sua significação e sentidos,

elevando-as a um patamar outro. Estas obras, dentre as quais destaco a estética do portunhol

1Borders are set up to define the places that are safe and unsafe, to distinguish us from them. A border is a dividing

line, a narrow strip along a steep edge. A borderland is a vague and undetermined place created by emotional

residue of an unnatural boundary. It is in a constant state of transition. The prohibited and forbidden are its

inhabitants. Los atravessados live here: the squint-eyed, the perverse, the queer, the troublesome, the mongrel,

the mulato, the half-breed, the half dead; in short, those who cross over, pass over, or go through the confínes of

the ‘normal”. (ANZALDÚA, 1981, p. 3)

selvagem, na figura de Douglas Diegues, provocam como resultado direto o questionamento

de conceitos e de noções teórico-críticas há muito cristalizados por uma teoria e crítica ainda

presas às concepções normativas do estético e do literário, na medida em que interferem, como

defende a professora Rejane Piveta de Oliveira, “[...] nos processos de produção, recepção e

circulação da obra literária, deslocando posições canônicas acerca do conceito, da função e da

relação da literatura com a sociedade. (OLIVEIRA, 2011, p. 31) A autora está justamente

pensando sobre uma literatura marginal e periférica localizada e/ou produzida nos subúrbios e

favelas das grandes cidades, em especial a cidade de São Paulo, mas sobretudo, tomando como

referência um grupo de escritores e poetas da década de 70 do século passado, que fez frente

de resistência “[...] às formas comerciais de produção e circulação da literatura, conforme o

circuito estabelecido pelas grandes editoras.” (Ibdem., p. 31). Interessa-nos, também, aqui,

destacar esta atitude, reconhecível na obra e no projeto estético de Douglas Diegues, expresso,

por exemplo, em sua opção pelas publicações cartoneiras; mas sobretudo lançar luz sobre a

localização - o espaço a partir do qual sua obra emerge -, como forma de estabelecer um vínculo

outro com os processos de leitura e reflexão críticas sobre artefatos artístico-literários

excêntricos, que se traduz no necessário deslocamento do olhar e na ressignificação das noções

de arte, literatura e crítica literárias, através da opção por uma teoria e crítica, também,

excêntricas, ou, fora do eixo, como defende o Professor e crítico fronteiriço Edgar Cézar

Nolasco (2012).

Voltando à questão da literatura precedida pelos referidos adjetivos, diria, citando um

verso de Paulo Leminski (1987) que: “Marginal é quem escreve às margens”. Seguindo essa

mesma lógica, poderíamos dizer, então, que periférica e/ou fronteiriça, corresponde, pois, à

literatura que emerge das/nas periferias e das fronteiras, respectivamente. Ressalta-se aqui,

ainda, um espectro de abordagem que aponta para a questão da localização, muito embora esta

adquire, no contexto da crítica e da teoria literárias, sentidos outros que tendem para as noções

de valor estético, desse modo acusando o status de uma determinada obra e/ou autor em relação

ao cânone, por exemplo. A esse respeito vale atentar para a reflexão desenvolvida por Hugo

Achugar (2006), ao pensar sobre a condição periférica que, segundo ele, atingiria o campo

intelectual na América Latina, ressaltando a importância de se ter consciência do lugar de onde

se está pensando e/ou escrevendo. Para o autor, se esta é, por um lado, a condição que nos cerca

como sujeitos latino-americanos, por outro, lembra, também, que “Periferia não qualifica nem

desqualifica um pensamento, mas o situa.” (ACHUGAR, 2006, p. 90) Tal compreensão esvazia

tais termos daquela conotação um tanto negativa, por vezes utilizada para se referir a obras

situadas à margem do sistema literário, ou abordadas como artefatos menores, carentes de uma

significação que lhes assegure um lugar de prestígio, por não cumprirem, de certa maneira, os

critérios necessários para a sua assunção ao lugar sacralizado do literário. Chamo atenção aqui

para o que disse, Myriam Ávila, em interessante livro a respeito da poesia de Douglas Diegues.

Segundo ela: “A poesia de Douglas não reconhece obstáculos colocados pela lógica, pela

coerência e pelo bom gosto.” (ÁVILA, 2012, p. 29) Sua análise parece ir ao encontro do que

escrevera Ángel Larrea, misterioso escritor do prefácio intitulado “A língua mestiça de

Diegues”, à entrada do livro de sonetos selvagens: Dá gusto andar desnudos por estas selvas

(2002). Segundo Larrea, “Douglas Diegues não faz distinção entre a realidade e a ficção, a

fantasia e a existência, o natural e o sobrenatural. (Diegues, 2002, p. 7) Não deixa de ser curioso

o fato de que Ángel Larrea seja uma espécie de heterônimo que assume, de acordo com Myrian

Ávila (2012), nesta obra, uma “função teatralizante”, uma vez que, como dá conta esta autora,

“Antes da publicação do livro, os sonetos que o compõem já haviam sido divulgados no espaço

virtual como autoria do citado Larrea. No livro, Larrea perde a autoria, mas recebe o encargo

de apresentar o poeta em seu nome civil e de comentar os sonetos um a um no fim do volume.”

(Ávila, 2012, p. 13) Faz-se necessário notar, ainda, que estes sonetos selvagens, podem ser

encontrados e lidos tanto no blog, mantido por Diegues, quanto no Sonetário Brasileiro2, criado

por Glauco Mattoso e Elson Froés, que juntamente com as edições cartoneiras constituem uma

interessante forma de resistência ao mercado editorial. Tais aspectos corroboram, pode-se

dizer, para a materialização de uma obra, e/ou de uma fazer literário entre “fronteiras e

deslocamentos”, Diniz (2008). A vista disso, e tendo em mente que sua obra ganha cor e vida

a partir do amálgama entre o português o espanhol e o guarani, como elementos que estão na

base de seu portunhol selvagem, pode-se dizer que sua poesia consiste, de uma só vez, na

dessacralização das noções de pureza linguística, bem como no questionamento dos conceitos

de literatura nacional, de obra literária assim concebida pelo moderno conceito de literatura e

do literário.

Nesse sentido, vale ressaltar que a literatura marginal-fronteiriça se traduz nos termos

de uma atitude profanadora, na desobediência e no desvio da norma como expressão de sua

força estética e política. Ganha destaque justamente num momento em que se avoluma um

2Disponível em: <http://www.elsonfroes.com.br/sonetario/nsonetario.htm>. Acesso em: 06 Dez. 2017.

conjunto variado de formas de escrita que fogem aos padrões e aos meios de divulgação e de

leituras convencionados, deslocando, ao seu modo, concepções normativas tanto do literário

quanto da crítica, que carecem, ainda, de ferramentas de leituras outras, mais adequadas à

abordagem da vária e complexa textualidade contemporânea. Esta foi, por exemplo, a tônica

dos dois últimos encontros da ABRALIC, nos anos de 2016 e 2017, cujas mesas redondas e

simpósios giraram em torno dos temários “Experiências literárias” e “Textualidades

contemporâneas”. Como justificativa às chamadas dos referidos encontros, os organizadores

afirmam que:

em lugar de concepções normativas do estético e do literário, que reduzem

drasticamente o horizonte de leituras, impedindo a renovação do repertório

teórico e crítico, a ABRALIC abraça a pluralidade atual de valores e de

interesses como uma alternativa a ser radicalizada. Na circunstância presente,

um conceito monocromático de ‘literatura’ não dá conta da diversidade e da

intensidade das múltiplas ‘experiências literárias’ que transformam o cenário

das letras no mundo todo. (ABRALIC. 2017, p. 11).

Esse quadro, aponta, inclusive, para um contínuo e ininterrupto processo de

questionamento da literatura e do literário como campos de atuação dotados de autonomia e/ou

regidos por regras e instituições próprias, que obedecem a uma lógica interna e a um modo

muito peculiar de referir-se a si mesma e de autodenominar-se como tal. Estas mesmas

prerrogativas encontram seu limite atestado diante de um conjunto de artefatos que estariam a

meio caminho do literário como ideal a ser alcançado; de textualidades que se situam no espaço

intersticial entre a literatura e a não literatura, desse modo, produtores do que Josefina Ludmer

(2007) vai chamar de “literatura pós-autônomas”. Isto é, textos que não apenas relativizam o

caráter autotélico da literatura, mas, também, asseveram sua condição de fragilidade conceitual

e sistêmica, requerendo, desse modo, outros tipos de abordagens que se apresentem como rotas

alternativas às concepções normativas do estético e do literário.

Vale notar ainda, na esteira das reflexões empreendidas por Diniz (2008) ao se propor

pensa sobre “a literatura entre fronteiras e deslocamentos”, que ela, a literatura, tem plasmado

outras formas, espaços e linguagens distintas, outros meios e suportes, como o corpo, o papel

e a imagem, tornando-se mais performática e efêmera, relativizando, assim, a primazia do papel

e diminuindo a distância entre escrita e oralidade. O que requer não apenas novos leitores,

capazes de ler e responder a outras textualidades em suportes diferenciados, mas, também, uma

forma outra de leitura e de abordagens críticas de um objeto que, cada vez mais, se traduz na

conjunção de diferentes códigos, linguagens e materialidades. Assim, mais do que demarcar as

fronteiras da literatura, tarefa insana e nunca de todo concluída, é preciso lê-la entre fronteiras

e deslocamentos. Nesse sentido, ao pensarmos sobre fronteiras e margens na literatura, estamos

lançando luz sobre um universo que se expressa pelas vias da pluralidade de significações e

sentidos, também, sobre um conjunto de obras que não apenas emergem de locais ditos

marginais e/ou fronteiriços, mas que trazem, também em si, uma atitude e uma forma de

expressão que se quer marginal e fronteiriça. Trata-se, por isso mesmo, de termos que vêm se

constituído ao longo dos anos como importantes elementos de abordagem nos campos da teoria

e da crítica literárias, dada a emergência de artefatos culturais e artísticos, e/ou de experiências

literárias e de textualidades contemporâneas diversas, cuja marca se traduz no atravessamento

e/ou na superação das fronteiras que tornavam outrora, mais ou menos, identificáveis os

diferentes campos da atuação artística, seus meios de produção, bem como as ferramentas de

abordagem destes mesmo objetos pela teoria e crítica literárias. Mas, sobretudo, pela

emergência de uma poética e de uma literatura marginal, advindas, não só dos morros,

subúrbios e/ou dos espaços periféricos das grande cidades, mas, também, dos mais longínquos

e afastados rincões que compõem, portanto, as fronteiras-margens desta nação continental;

como é o caso aqui da poética do portunhol selvagem, na figura de Douglas Diegues, cujo locus

enunciativo é o chão fronteiriço que constitui os limites entre Brasil e Paraguai. É, pois, a partir

dessa consciência que nos voltamos então para Diegues e a seu portunhol selvagem.

O portunhol selvagem se caracteriza como um já mais ou menos (re)conhecido(?)

movimento literário, formado por um grupo de escritores transfronteiriços - Jorge Kanese,

Douglas Diegues, Xico Sá, Ronaldo Bressane, Joca Terron, Celestino Bogardo, Fabián Severo,

dentre outros -, oriundos do Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai e criadores de uma literatura

que se constitui, também, a partir de uma trans-língua: o portunhol selvagem.

O movimento vem ganhando força nos últimos anos, de modo que é possível encontrar

já diversos estudos, artigos e entrevistas sobre o tema - dentre os quais destaco aqui alguns dos

mais recentes: Bancescu (2012); Locane (2015); Degli Atti (2013); Kaimoti (2011) -,

abordando-o sob distintas perspectivas, mas ressaltando, todavia, o caráter fronteiriço,

marginal e transgressor de um fazer artístico-literário que vem se fazendo notar pelo caráter

corrosivo que lhe é intrínseco, sobretudo, no que diz respeito à maneira desconcertante com

que lida com antigas e sacralizadas convenções em torno das línguas, da literatura, do literário

e da própria noção de fronteira. Isto porque Diegues e outros desses autores, bem como a

literatura que produzem se constituem ambos “entre fronteiras e deslocamentos” Diniz (2008).

Esta condição, ao seu modo marginal, provoca, com renovado vigor, o reposicionamento do

olhar sobre as já cristalizadas noções de língua, literatura e fronteira como elementos

fundadores dos Estados-nações modernos, obrigando-nos a lançar mão de perspectivas de

análise outras, fundadas na e a partir das fronteiras como resposta político-ideológica e

epistêmica àquela(s) que sacralizou(aram) a tríade língua, literatura e nação como elementos

constitutivos e harmônicos.

Nesse sentido, não se trata apenas da literatura própria de uma região fronteiriça, mas

de um fazer literário que se constitui a partir da rasura, do apagamento e da desintegração das

fronteiras como elemento de diferenciação e de separação dos territórios, das línguas e das

literaturas nacionais, por exemplo. O que significa dizer que está na gênese do Portunhol

selvagem como língua falada pelos habitantes da fronteira e/ou por aqueles que por ela

transitam; ou ainda do Portunhol como língua que emerge fundamentalmente do amálgama

entre português, espanhol e guarani; e sobretudo do portunhol selvagem como língua poética

que se constitui concomitantemente à invenção de uma literatura a qual dá nome, a

desobediência consciente às normas e às convenções que visam à manutenção e a pureza de

corpos e de espaços recortados por fronteiras limitadoras, bem como a desobediência e o

desprezo pela(s) gramática(s) normativa(s) como elemento regulador e salvaguardador da

pureza linguística. Tais fatores se evidenciam, por exemplo, na fala de Joca Reiners Terron, na

introdução de uma seleção de poesia mundial traduzida para o portunhol selvagem ao indagar:

“[...] como conocer onde empieza el portugués y termina el catellano, si lo único que sei és que

el portuñol és infinito.” (TERRON, apud LOCANE, 2015, p. 44) Esta indagação revela, de um

lado, a natureza selvagem de uma língua e de uma literatura que não se comportam bem diante

dos limites e das convenções que norteiam as noções de língua e de literatura como instituições

legitimadoras de uma identidade nacional coesa e monolíngue, além de revelar, de outro, a

fragilidade desses projetos que estão nas bases da constituição dos Estados-nações latino-

americanos, pós-conquista da independência política ao longo do século XIX, elegendo o

Espanhol e o Português, por exemplo, como línguas nacionais e oficiais. Este fazer literário

implica de pronto no esfacelamento da noção de literatura nacional, escrita numa língua

reconhecida como sendo a língua oficial de um determinado Estado e a partir da qual se

estabelece a mediação entre os atores nacionais, a medida em que aponta não só para a co-

existência de outras línguas e culturas brigando por espaço e por legitimidade, mas, também,

pela própria profanação dessas convenções como resposta desde as margens a estes projetos

hegemônicos.

Tais questões se tornam evidentes quando se lança luz sobre a própria biografia de

Douglas Diegues e sua produção literária marginal-fronteiriça, como é o caso das obras que

têm guiado as reflexões que aqui fazemos: Uma flor na solapa da miséria (2007) e Dá gusto

andar desnudos por estas selvas (2002). Filho de pai brasileiro e mãe paraguaia falante

hispano-guarani, nasceu no Rio de Janeiro e criou-se na fronteira Brasil-Paraguai, entre as

cidades de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, onde forjou sua identidade fronteiriça e seu falar

periférico.

Sua obra, vasta e significativa, é em todos os aspectos reveladora de um fazer literário

“entre fronteiras e deslocamentos”, além de marginal por natureza. Não só porque se constitui

a partir de um locus de enunciação e de uma língua periféricos e transfronteiriços, mas também,

pelo modo como ganha corpo desde os blogs, o facebook até às publicações cartoneras, como

forma de salvaguardar a liberdade no que diz respeito à criação literária e de resistir às pressões

do mercado editorial3. Projeto que Diegues levou a termo com a criação da editora cartonera

Yiyi Jambo, em Assunción no ano de 2007, por onde inclusive lançou Uma flor na solapa da

miséria (2007). Segundo Bancescu,

La utilización de estos medios de difusión, paralelos a los mecanismos

tradicionales de consagración, desafía desde el margen a la industria

tradicional del libro y pone de manifiesto, además, el hecho de que es el autor,

y no las instituciones, el que sirve como activista de esta nueva geografía,

operando como ‘agente doble’ [...] al servicio de las aventura de sus propias

obras y como productor de la red de discursos, movilizaciones y agencias con

que lo periférico busca materializarse. (BANCESCU, 2012, p. 152).

Tal postura assevera o caráter marginal de sua obra como resposta criativa ao

mercado editorial e aos projetos hegemônicos baseados na ideia de alta e baixa literatura. Dá

gusto andar desnudo por estas selvas (2002) e Uma flor na solapa da miséria (2007) compõem

sua produção de “sonetos selvagens”, identificados por Glauco Mattoso como

“Shakespereanos”, uma vez que “respetan la forma de tales versos (tres cuartetos y un dístico),

3De acordo com Locane, “Puesto que editoriales como Planeta no aceptan publicaciones en la lengua que los

convoca [...], Douglas Diegues fundó un editorial especializada, Yiyi Jambo, que suele funcionar como espacio

de encuentro. (LOCANE, 2015, p. 42)

pero a través de una apropiación ilegal de los patrones de rima y métrica.” (BANCESCU, 2012,

p. 151). É possível observa nestas obras, com uma clareza extremada, a condensação de tais

valores transmutados num projeto estético-político que modifica, por si só, o estatuto da arte e

da literatura, assim como postulados pelo projeto moderno. A primeira é editada e lançada pela

Travessa dos Editores, no estado do Paraná, e a segunda, como já dito, pela Yiyi Jambo. Para

além do que já fora dito até aqui, vale voltar os olhos sobre o texto “Portunhol selvaje”, escrito

por Diegues como pórtico à entrada de Uma flor na solapa da miséria (2007). Segundo ele:

U portunhol salbaje es la língua falada en la frontera du Brasil com u Paraguai

por la gente simples que increiblemente sobrevive de teimosia, brisa, amor al

imposible, mandioca, vento y carne de vaca. Es la lengua de las putas que de

noite vendem seus sexos en la linha de la fronteira. Brota como flor de la bosta

de las vakas. Es una lengua bizarra, transfronteriza, rupestre, feia, bella,

diferente. Pero tiene una graça salvage que impacta. Es la lengua de mia mãe

y de la mãe de mis amigos de infância. Es la lengua de mis abuelos. [...] El

portunhol salbaje es una música diferente, feita de ruídos, rimas nunca bistas,

amor, sangre, árboles, piedras, sol, ventos, fuegos, esperma. (DIEGUES,

2007, p. 3).

Este fragmento, embora curto, é por si só capaz de dar mostras do caráter babélico,

indisciplinado e transgressor que preside a construção de um fazer poético que, não bastasse

ser escrito em uma interlíngua: o portunhol, imprime nela a natureza selvática que germina

destes espaços transfronteiriços. De posse de um ímpeto constante de liberdade e

desobediência, Diegues dá materialidade a um eu lírico que flutua, aos modos de El astronauta

paraguayo - título de outra de suas obras -, delirante e louco a divagar absoluto por um mundo

que se constitui aberto, impossível de ser de todo apreendido, ou pelo menos um mundo onde

os limites só servem para ser quebrados, dilapidados, dinamitados através do riso, da ironia

ácida e do banal, elementos que dão o tom e a cor nos sonetos selvagens que aí se podem ler.

É, pois, o que pode ser, de alguma forma, evidenciado no soneto a seguir:

le gustaba escalar la planície com su muleta de alumínio

parecia un idiota cruzando la tarde sin sentido

bebia de la imundície sin problemas

porque desde crianza estaba acostumado a beber de la imundície

terrena

Sabia como convivir com la imundicie que produce el hombre.

había ainda en sus ojos un resto de brilho feliz de infância perdida

escalando la planicie de los dias

com su muleta de alumínio non precisaba más nin nombre

Parecia que había salido de algun libro de Manoel de Barros

un personagem de carne gosma esperma escama sangre osso

mystério

escalar una montanha del lado brasileiro era escalar una planície

del lado paraguayo

escalar una montanha del lado paraguayo era escalar una planície

del lado brasileiro

em ambos los lados de la frontera que implacabelmente apodrece

ninguém consigue escalar planícies tan bién como ele (DIESGUES, 2007, 10).

O texto acima se constitui como um de seus mais representativos sonetos selvagens,

publicado no livro Uma flor na solapa da miséria (2007), e selecionado por Italo Moriconi

para integrar o artigo “Poesia oo: uma mostra”, escrito para a revista Margens/Margenes de

2007. Nele Diegues constrói um eu-lírico capaz de dar vida a uma personagem errante,

atravessada pela condição fronteiriça e pelo escalar, de forma ininterrupta, “la planicie de los

dias”. Trata-se de uma personagem comum, fadada a tarefas banais e sem importância,

cruzando tardes sem sentido, num lugar-espaço esquecido e, igualmente, sem importância,

como o são, também, a passagem dos dias ali (dias plainos). Um sujeito que se assemelha às

coisas e ao espaço que o cerca, e que embora pareça ter saído de “algun libro de Manoel de

Barros”, é, também, uma personagem, “de carne gosma esperma escama sangre osso” e

“mystério”, elementos que o aproximam ainda mais da crua realidade e das coisas materiais,

mas não sem ignorar o mystério que o habita apesar da espessa camada de simplicidade que o

conforma.

Inominada, “[...] non precisaba más nin nombre”, e materializada num soneto sem

título, que inicia como se o leitor já soubesse de quem o eu lírico está falando e termina como

que em aberto, sem ao menos um ponto final, a personagem em questão funciona como um

eco. Um signo vazio capaz de ser preenchido por inúmeras outras personagens reais que, como

ela, perambulam pelos dois lados de uma fronteira inventada para recortar espaços que não

trazem em si, nenhuma marca, nenhum corte natural de interrupção e/ou de divisão,

funcionando como um contínuo que desafia todas as tentativas de delimitação de tempos, de

espaços e de corpos recortados por fronteiras imaginárias. Tais tentativas se frustram, todavia,

diante de uma personagem e de uma literatura que se constituem no apagamento, ou na tentativa

de superação de todas as fronteiras possíveis: a linguística, a geográfica, a de gênero textual e

de outras tantas fronteiras que podem aqui ser elencadas. fator que pode ser observado em todos

os níveis de composição destes sonetos selvagens, isto é, no conteúdo, na estrutura, no léxico

e, também, nos diferentes suportes por meio dos quais os mesmo ganham materialidade. Vale

atentar, por exemplo, no soneto acima citado, para a oscilação na grafia de palavras como

planície/planicie - imundície/imundicie - implacabelmente como senha para a composição de

um portunhol em sua versão selvagem. Grafias que extrapolam a escolha entre vocábulos desta

ou daquela língua envolvidas na composição de sua literatura, ficando, por exemplo, como é o

caso de implacabelmente no espaço intersticial, entre uma e outra língua, ou em nenhuma delas.

Nesse sentido, e à guisa das considerações finais, há que ressaltar que a estética do

portunhol selvagem não só se constitui a partir de um locus marginal-fronteiriço, mas, também,

se mostra consciente de seu lugar e de sua condição, igualmente marcados e atravessados pelas

inúmeras fronteiras-margens, reais e imaginárias, retirando daí o seu vigor e a força de sua

expressão poética. Deve-se ressaltar, ainda, o fato de que tais obras, e/ou a poética do portunhol

selvagem, tornam imperativa a emergência de uma teoria e de uma crítica também marginal-

fronteiriça-selvagem. Provocam não apenas o deslocamento e a reordenação do olhar crítico,

relativizando conceitos e valores há muito cristalizados, mas também, a emergência de novas

categorias e classificações capazes de abarcar um conjunto de obras, experiências literárias

e/ou textualidades contemporâneas que extrapolam as concepções normativas do estético e do

literário.

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