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PUB. Da minha graciosensidade e dos nomes próprios que mais gosto Victor Rui Dores Sou graciosense com muito orgulho e saudade. A Graciosa faz parte da minha memória iniciática e do meu imaginário afectivo. Na “ilha branca” despertei para a vida, para o mundo e para o conhecimento das coisas. Um dia saí da Graciosa, mas a Graciosa não saiu de mim – ela navega em mim, carrego-a dentro de mim. Por isso mesmo sinto o direito e o dever de reivindicar aquilo a que, dentro e fora de fóruns de debate, tenho vindo a chamar de graciosensidade, que decalquei de “açorianidade”, de Vitorino Nemésio, conceito esse que já havia sido decalcado de “hispanidad”, do grande pensador espanhol Miguel de Unamuno.A minha gracio- sensidade é e 7 O Capelo está na moda Na minha infância e adolescência, apesar das vacas magras, havia alegria e a vida parecia ter um sabor mais genuíno. Tudo parecia mais real, mais natural, e, agora que o tempo passou, ficam as recordações. Refiro-me à Freguesia de São Caetano – Pico – anos 40/50 do Século XX. A MATANÇA DO PORCO Recordações ( 1 ) António Francisco da Silva No início de cada ano, normalmente em Janeiro e Fevereiro, quase todas as famílias matavam o seu porco, que fazia a fartura da casa e a maior festa anual das famílias. Um mês antes da matança, as pessoas iam às pastagens altas cortar as vassouras – a urze – que depois de bem secas, serviam para chamuscar o porco, isto é: queimar-lhe o cabelo para a posterior limpeza da pele. Três dias antes do dia da matança, arrancavam-se as cebolas de rama, limpavam-se, lavavam-se e e 16 Parece inacreditável mas ,,, era mesmo assim ! Tal como eu, ainda há muita gente daquela época que pode comprovar que era mesmo assim. Parece Inacreditável Fernando Dutra Não é que eu seja assim tão velho. Nasci apenas um ano após o início da II Guerra Mundial. Era assim para mim e para muitos milhares de habitantes desta “Pátria Lusitânia”. Numa época em que o Natal, principalmente o das crianças, ainda só proporcionava prendas a muito poucas e e e e e 7 É verdade, a freguesia do Capelo andou nos últimos dois anos nas bocas do mundo. O vulcão dos Capelinhos, as comemorações dos cinquenta anos da sua entrada em actividade e posterior ador- mecimento, serviu de mote a tantas e tão diversificadas iniciativas que nem parecia estarmos falando de uma pequena comunidade rural, situada a mais de vinte quilómetros da cidade da Horta, e com uma população que em pouco excede as cinco centenas de habitantes. O Capelo abriu telejornais, foi capa de revista, inspirou poetas e artistas plásticos. O Capelo projectou-se no futuro. Virou moda. Apetece lá voltar. Muito. Sempre. e centrais

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Edição nº 2 do jornal faialense Avenida Marginal.

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Page 1: Avenida Marginal 2

PU

B.

Da minha graciosensidadee dos nomes próprios que mais gosto

Victor Rui Dores

2 3 d e O u t u b ro d e 2 0 0 8

Sou graciosense com muitoorgulho e saudade. A Graciosafaz parte da minha memória

iniciática e do meu imaginárioafectivo. Na “ilha branca”despertei para a vida, para omundo e para o conhecimentodas coisas.

Um dia saí da Graciosa, masa Graciosa não saiu de mim –ela navega em mim, carrego-a

dentro de mim. Por isso mesmosinto o direito e o dever dereivindicar aquilo a que, dentroe fora de fóruns de debate,tenho vindo a chamar de

graciosensidade, que decalqueide “açorianidade”, de VitorinoNemésio, conceito esse que já

havia sido decalcado de“hispanidad”, do grandepensador espanhol Miguel deUnamuno.A minha gracio-sensidade é eeeee 7

O Capelo está na moda

Na minha infância e adolescência, apesar das vacasmagras, havia alegria e a vida parecia ter um sabor maisgenuíno. Tudo parecia mais real, mais natural, e, agora queo tempo passou, ficam as recordações. Refiro-me à Freguesiade São Caetano – Pico – anos 40/50 do Século XX.

A MATANÇA DO PORCO

Recordações ( 1 )António Francisco da Silva

No início de cada ano,normalmente em Janeiro eFevereiro, quase todas as famíliasmatavam o seu porco, que fazia afartura da casa e a maior festaanual das famílias.

Um mês antes da matança, aspessoas iam às pastagens altascortar as vassouras – a urze – quedepois de bem secas, serviam parachamuscar o porco, isto é:queimar-lhe o cabelo para a

posterior limpeza da pele.Três dias antes do dia da matança, arrancavam-se as cebolas

de rama, limpavam-se, lavavam-se e eeeee 16

Parece inacreditável mas ,,,era mesmo assim ! Tal como eu,ainda há muita gente daquelaépoca que pode comprovar queera mesmo assim.

Parece InacreditávelFernando Dutra

Não é que eu seja assim tãovelho. Nasci apenas um ano apóso início da II Guerra Mundial. Eraassim para mim e para muitosmilhares de habitantes desta

“Pátria Lusitânia”.Numa época em que o Natal,

principalmente o das crianças,ainda só proporcionava prendasa muito poucas e e e e e 7

É verdade, a freguesia doCapelo andou nos últimos doisanos nas bocas do mundo. Ovulcão dos Capelinhos, ascomemorações dos cinquentaanos da sua entrada emactividade e posterior ador-mecimento, serviu de mote atantas e tão diversificadasiniciativas que nem pareciaestarmos falando de uma

pequena comunidade rural, situada a mais de vinte quilómetros dacidade da Horta, e com uma população que em pouco excede ascinco centenas de habitantes.

O Capelo abriu telejornais, foi capa de revista, inspirou poetase artistas plásticos. O Capelo projectou-se no futuro. Virou moda.Apetece lá voltar. Muito. Sempre. eeeee centrais

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2 • Avenida Marginal • sexta feira 6 de Fevereiro 2009

Construir a esperançaRenato Moura

Nota de abertura

Estamos em pleno AnoNovo. No início deste, como emtodos, cada qual desejou aos seusmais estimados, um ano muitofeliz e próspero.

E isto apesar deste 2009 estardestinado a ser um ano muitodifícil: é o que já todos nos dizem,depois do período em que tantostentaram esconder – ou pelomenos disfarçar – a crise. Masparece indiscutível que ninguém

conhece a verdadeira dimensãoda desgraça, que não obstante atodos tocará; mas a uns mais quea outros.

E também parece indis-farçável, que ninguém dá sinaisconvincentes de saber muitobem o que fazer para pôr fim àcrise, ou pelo menos para aamenizar, de uma formaconsistente. Ou será que são oscidadãos que já não acreditamno que lhes prometem?

A avaliar pelas declaraçõesdos mais destacados respon-sáveis governamentais, está aser feito tudo aquilo que épossível. Pois se assim é, entãonão faltariam razões para mantera esperança em dias melhores.

Mas a preocupação continuaa invadir as pessoas eimpregnadas de medo ficamcomo que tolhidas; algumas.Outras não se contêm everberam os políticos, com estee aquele pretexto e resumemque já não acreditam neles.

Está mau. Está muito mau.A política atingiu o descrédito!

E não pode ser: a política éuma das mais nobres acti-vidades sociais e cívicas. Foi ademocracia política que tantomobilizou depois do 25 de Abrilde 1974. Foi a democracia quepermitiu a concretização daautonomia. É a política tambémuma arte indispensável paraconstruir uma boa governação,que é suportada na criatividade,empenho e poder das maiorias

e temperada pelas críticasconstrutivas e pelas alternativasdas oposições. Duma parte edas outras – legitimamente – sóse pode esperar muito trabalho,muita dedicação à causa pública,nenhuma arrogância nemdefesa do prestígio ou dointeresse pessoal; o que nãoimplica que os políticos devamser remunerados – e muitobem – pelo trabalho quedesempenham.

A reabilitação indispensávele urgente da imagem da políticaé uma tarefa dos partidospolíticos e de todos os agentespolíticos, sejam eles gover-nantes, deputados, autarcas ecolaboradores de quaisquerdeles; ainda dos dirigentespartidários e militantes; mas nemsó. A reabilitação da imagem dapolítica é uma tarefa de muitosmais: é dos que participaram napolítica, é dos que admitem vir aparticipar, mas é também dosque votam, daqueles que já sefartaram de votar e também dosque ainda nunca votaram.

Nunca se pode deixar de serexigente no julgamento daquelesque foram escolhidos para odesempenho de cargos políticos.Nunca se pode descuidar oscritérios na escolha daqueles quesão propostos para sersubmetidos ao voto. Nunca sepode ser complacente no juízosobre os que se preparam paranos representar e dirigir osnossos destinos. Não se pode

estar distraídos perante a formacomo em cada dia são exercidasas funções públicas. Nunca sepode abandonar a críticaconstrutiva para se satisfazercom o murmúrio. Nunca se podesubstituir a pergunta pela dúvida,nem a voz corajosa pelo silênciocúmplice, nem sequer a justa lutapela conveniência dos interessespróprios.

Tal como a razão habi-tualmente não está apenas de umlado, assim as culpas costumamser um pouco de todos. Assim étambém no descrédito que afogaa política.

Se se quer ainda manter aesperança, é indispensável queuns sejam exigentes e outrospersistentes e trabalhadores nosentido de se retomarem os bonsprincípios e as nobres práticasdos velhos tempos da instau-ração da democracia e daconcretização da autonomia.

Salvando a política,constrói-se a esperança.

Lá se foi 2008. Bem feito! “Tá bem bom! Podia ter sido

pior...”, confidenciam-nos alguns atirando-nos com aquela velhamáxima, tão arreigadamente açoriana, de encarar as situações maisdramáticas com um misto de conformismo e auto-flagelação. “Tá

bem bom...” Claro que poderia ter sido pior. Contudo é convicçãogeral que também poderia ter sido bem melhor... para todos nós.

Houve alguém que nos deixou. Definitivamente. Muitos disseramadeus - cedo de mais, tantas vezes – a alguém de quem muitoainda era legítimo esperar. Outros viram aportar às suas vidasproblemas de diversa ordem, que os afligiram por vezes, que osfizeram tirar o pé do acelerador e reflectir, um pouco mais, nascontingências e voltas que o mundo dá.

O fim de 2008, à semelhança dos finais de todos os anos, de hámuitos anos a esta parte, foi bom para aqueles que, tal como nós,têm filhos no exterior. Foi bom porque voltou a comover-nos dividiruma vez mais o mesmo tecto, partilhar algumas refeições, trocarideias, ouvir falar e participar com entusiasmo nos projectos que(n)os animam para os próximos tempos.

Foi bom ainda porque acabou bem. Porque voltaram aos seusdestinos, sãos e salvos, após este convívio apertado e ternurento.

Com eles do outro lado do mar deixamos cair, uma a uma, todasas nossa preocupações meteorológicas: Os ventos cruzados noaeroporto, os lençóis de água na pista, a espessa bruma que encobre,incontáveis vezes, os pontos mais nevrálgicos na nossa aproximaçãoà ilha: a Espalamaca, o Monte da Guia, o morro de Castelo Branco…As nossa preocupações voltam-se de novo para os noticiáriosnacionais, para os problemas com a educação, para o tremendoagravamento do desemprego, para os conflitos que ensombram,ainda e sempre, a actualidade internacional.

Mas porque somos convictamente optimistas e sonhamos quetudo se poderá cumprir, que muita coisa pode melhorar no mundo enas nossas próprias vidas, fazemos aqui o nosso acto de fé naesperança de que desse lado outras vozes e outras taças selevantem, e tilintem, e se tornem audíveis, neste ou nos outrosespaços que, felizmente, vão surgindo nesta cidade-marem fase de franca reafirmação cultural.

Nestes pressupostos acreditamos, piamente, na TransportadoraAérea Portuguesa, na Sata, na Transmaçor, na carreira regular domini-bus entre o Centro de Saúde e o Clube dos Mortos. Porquesomos ilhéus acreditamos ainda, com redobrada fé, na TV Cabo ena Portugal Telecom. Acreditamos em todas as redes, fixas oumóveis, de comunicação à distância. Acreditamos nos telejornais,nos satélites artificiais, na Internet de banda larga...

E porque vem aí um novo ano, onde as dificuldades podem sergeradoras de inúmeras oportunidades, e porque não admitimosmales que não têm fim ou crises que sempre durem, acreditamossinceramente na inevitabilidade do aquecimento global e nosbenefícios das energias renováveis. Acreditamos sobretudo nainexorável deriva dos continentes e na mais que provável extinçãode (quase) todas as espécies...

Tchin! Tchin!!! À vossa!... Viva 2009!

PU

B.

Onde pode encontrar diversos artigos para

o seu lar e muitas prendas para oferecer.

Encontrará ainda uma gama alargada de

velas de todo o tipo da

Yankee Candle

Assembleia Legislativa Regional dos Açores

Ave

nida

Mar

gina

l

Page 3: Avenida Marginal 2

sexta feira 6 de Fevereiro 2009 • Avenida Marginal • 3

Transportes Públicosnas décadas de 30 e 40

José Alberto Fialho

Tudo evoluiu, até mesmo ostransportes públicos não eramcomo são hoje. Imaginem queos transportes públicos na ilhado Faial eram feitos em carros

de cavalos, designados porcarrões. Este meio de transporteera construído em madeira. Asrodas eram igualmente demadeira, equipadas com um arcoem ferro, digamos que eram ospneus de hoje. Os amorte-cedores eram molas de aço, quesuportavam todo o peso. Osassentos eram de madeiraforrados a chita e colocadoslateralmente, tendo capacidadepara transportar seis passageirose o próprio dono do carro, que aseu lado levava, sempre quenecessário, um passageiro. Os

motores eram dois lindoscavalos, muito bem tratados, paraque o transporte acontecessetodos os dias.

Ainda me lembro dessescarrões saírem de manhã, deCastelo Branco e da Feteira,

para a cidade e regressarem àtarde. Nem sempre a lotação iacompleta, pois alguns optavampor ir a pé, porque não haviadinheiro para pagar o frete.

Chegados à cidade, o carrãoera parado, os cavalos retiradosdos varais, amarrados, quasesempre no mesmo local paracomerem, muitas vezes erva quevinha no carrão e beberem águae repousarem durante algumashoras.

Estes carrões também eramcontratados para irem trans-portar pessoas a uma festa oudarem uma volta à ilha. Osclientes já sabiam que numasubida mais acentuada eranecessário irem a pé, porquefaltavam as forças aos cavalos,

mas com todas estasparticularidades o passeiotornava-se mais engraçado edivertido.

Também havia, e acabarampor permanecer por mais tempo,os carros que efectuavam o

Do Sonho à Realidade

Todos nós guardamos comsaudade e ternura, as recor-dações da nossa infância, mashá sempre aquelas que ficamgravadas a ouro na nossamemória. É assim que recordoa minha Fajã de S. João, osmeus pais possuíam lá umacasa que, apesar de pequena,para mim, era um verdadeiropalácio. Íamos para lá passarsete semanas no Inverno e trêssemanas no Verão. Eram osdias mais felizes da minhavida. No Inverno, no principiode Fevereiro, íamos de mudapara a Fajã, o carro de boislevava os colchões e outrosartigos indispensáveis à nossaestadia , iam também osanimais, o porco, as galinhase o gado, era uma festaesperada com muito entu-siasmo, por mais pequenasque fossem as casas da Fajã,principalmente no Inverno,todas abrigavam numerosasfamílias.

Como recordo aquele sãoconvívio e amizade entretodos. Havia uma entreajuda,para cavar a terra, semear asbatatas e tratar do gado, e osserões que me fascinavam,jogava-se às cartas à luz do

candeeiro de petróleo e muitasvezes havia os famosos bailespreenchidos com muitasmodinhas: o manjericão, asaudade, o baile de roda e oladrão. Qualquer pátio ou sala(o meio da casa, era assim quese chamava a sala de estar),servia para fazer a festa.

No Verão, no tempo dasvindimas, era também muitoanimado, mal entrava em casa,ia abrir a minha janela e ficavaa contemplar o meu pequenomundo. À tarde eram asdezenas de cagarros que,sobrevoavam baixinho com oseu canto «agarra, agarra,

Laçalete Lopes

agarra, já vou, já vou, já vou»e que pareciam cumprimentaros moradores da Fajã.Também era daquela janelaque olhava a linha do hori-zonte e sonhava interro-gando-me como seria omundo a partir dali. Osnossos horizontes eram muitolimitados, não havia televisãonem rádio, era só o que anossa vista alcançava.

Nas tardes de Verão ficavadeslumbrada ao ver os iatesque vinham da Terceira: o“Terra Alta”, o “SantoAmaro” e o “Espírito Santo”,que deslizavam sobre aquelemar imenso, passavam muitodevagarinho e tinham adelicadeza de apitar a saudaros moradores da Fajã e euficava sonhando «como seriabom viajar naqueles barcosenormes» mas quandochegou essa oportunidade,que foi na minha vinda parao Faial, aí todos os encantoscaíram por terra, porque arealidade era muito diferenteafinal os barcos não passavamde pequenas embarcações,com um cheiro horrível agasóleo, sem nenhumascondições . O chão estava

imundo, nem lugar havia nasala de passageiros quepudéssemos vir sentados, erasó mercadoria, à mistura,eram malas espalhadas portoda a parte, isto já para nãofalar no tempo que gastá-vamos, saíamos das Velas porvolta das 19 horas, com escalapelo Pico e chegávamos aoFaial perto das 24 horas. Masmesmo assim com todas asdificuldades e com viagensterríveis, quando viemos parao Faial, não havia nada quenão se ultrapassasse para ir aS. Jorge, matar saudades daterra e da família.

Carrão em 1942 - colecção particular de Francisco Gonçalves

Carrão em 1944 - colecção particular de Francisco Gonçalves

Fajã de São João - Ilha de São Jorge

transporte do leite para serdistribuído na cidade de porta emporta. Este leite era adquiridoaos lavradores e vinha em latõesde 50 e 20 litros e depois cada

cliente (muitos deles freguesesao mês) adquiriam umapequena quantidade, que eramedido na altura. Quando erapara ser consumido pelascrianças, os familiares mistu-ravam um pouco de água, paraficar mais fraco, para não fazermal. Conta-se que havia umdistribuidor de leite mais semvergonha, que ao ser alertadoque era necessário deitar umpouco de água, ele prontamentedizia que a senhora não sepreocupasse porque o seu leite,já trazia a medida certa.

Recordo-me do último carrode cavalos que diariamentefazia o percurso CasteloBranco-Horta, cujo proprietárioera o senhor Manuel do Calço.Transportava hortaliças para oMercado Municipal e paraalgumas mercearias e noregresso trazia vários artigos das“casas de atacado” para asmercearias do campo. Estesenhor, na altura prestava umserviço público, porque traziamedicamentos, pagava letras nobanco, levava cartas para ocorreio, levantava encomendas.

Esta foi mais uma vivêncianesta ilha, talvez difícil decompreender pelos mais novos,mas para outros da minhageração e mais velhos foi orecuar no tempo, para recordarcom saudade uma realidade quejá desapareceu.

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4 • Avenida Marginal • sexta feira 6 de Fevereiro 2009

A. Pereira (Londres)

Faialense redescobre a Portugalidade nas Américas

PU

B.

Fundado em 2001, o portalAdiaspora.com surgiu noespaço cibernético com o idealde promover e divulgar a Portu-galidade, em toda a pluri-dimensionalidade em que esta semanifesta. Este projecto audaze inovador partiu da iniciativa evisão de um jovem empresárioluso-canadiano José IlídioFerreira. Nascia, assim, umvalioso fórum virtual, para odiálogo intracomunitário, naDiáspora Lusa.

A aderência ao portal foimaciça e excedeu asexpectativas deste faialenseempreendedor, que, com a suaequipa, sedeada em Toronto, temvindo a desenvolver uma acçãode cariz sócio-cultural alicerçadano afecto e no apego aos Açorese Portugal. Figura por vezescontroversa nas lidescomunitárias pela sua posturafrontal, este filho das Ilhas deBruma tem, ao longo dos anos,vindo a reunir múltiplos sectoresdo mundo académico e popularda nossa Diáspora, no amorpelas nossas raízes.

Da actividade levada a cabono âmbito do portalAdiaspora.com. emergiramprogramas e projectos deintercâmbio intracomunitários,muitos dos quais de acentuadocariz açoriano. Foi nestecontexto que nasceu a ideia deuma aventura transcontinentalinédita, a qual projectaria umaequipa do Adiaspora.com parauma travessia das Américas, porvia terrestre.

Desde a sua fundação, em2001, os aniversários do portaltornaram-se eventos culturais degrande destaque na agendacomunitária torontina, reunindoanualmente um númerosignificativo de participantes

oriundos dos vários quadrantesdo universo Luso, em torno detemáticas de interesse comum.

O conceito de uma travessiadas Américas de automóvel, apartir de Toronto, com destino a

São José da Terra Firme, noEstado de Santa Catarina, Brasil,surgiria das conversas debastidores, no decorrer dascelebrações do V Aniversário doportal, em Toronto. Por sugestãodo representante da Prefeiturade São da Terra Firme naqueleencontro, Dr. Adriano de Brito,e em consonância com oobjectivo primeiro do projectoAdiaspora.com - que visaaproximar as gentes de raizlusitana - estabeleceu-se que oVI aniversário do sítio seriacomemorado na cidade

catarinense de São José da TerraFirme, cujos fundadoresaçorianos integraram as levas decolonos enviados ao BrasilMeridional por D. João V.

O desafio de uma viagem de

24.000 km por terras, estradase trilhas desconhecidas, que,além do mais, lhe proporcionariaa oportunidade de conhecer deperto e fortalecer os laços deamizade com as comunidadeslusas da América Latina,adequava-se, de sobremaneira,ao espírito irrequieto e inquisitivode José Ilídio.

Assim, após meses depreparação, a equipa expe-dicionária Adiaspora.com partiade Toronto a 5 de Outubro de2007, numa manhã de neblina ede chuviscos, rumo ao Sul.

Imbuídos do espírito aventureiroque tem caracterizado o povoluso através dos séculos, osquatro elementos da equipafizeram-se à estrada num todo-o-terreno, Mercedes ML320,

já que, e nas palavras de JoséIlídio, “os pinhais de Leiria

não mais me disponibilizariam

caravelas para me fazer às

rotas ancestrais dos nossos

marinheiros”.A épica viagem levaria os

quatro expedicionários numalonga jornada, por treze países,onde vivenciaram as afincadasassimetrias e os contrastessócio-culturais, geofísicos ehistóricos que diferenciam ocontinente norte-americano daAmérica do Sul.

Ao longo de todo o percursopelas estradas e trânsitoordenado do Canadá e EUA,pela complexidade aduaneiranos países mesoamericanos,pela biodiversidade e paisagensexóticas dos trópicos, pelo caosafanoso das grandes urbeslatino-americanas - como acidade do México, cidade doPanamá, Lima, Buenos Aires eSantiago do Chile - pelo clima erelevo extremo das regiõesandinas, pelo árido e impiedosoDeserto de Atacama, pelaacalmia intemporal na ondulantepampa argentina e brasileira, aequipa Adiaspora.com estevesempre aberta e atenta ànovidade mas, sobretudo, aossinais e indícios do elementoportuguês no tecido histórico-social daquelas paragens

exóticas a sul.No decorrer da expedição,

José Ilídio e os seuscompanheiros Luís ArrudaSousa, Vasco O. Vantos eAntónio Perinú tiveram aoportunidade de privar de pertocom as pequenas e dinâmicasComunidades Portuguesas doPanamá e Uruguai, redes-cobrindo o papel fulcral que osportugueses desempenharam, econtinuam a desempenhar, naconstrução dos países latino-americanos hispanófonos elusófonos da actualidade.

Por ditames do destino, apassagem de José Ilídio e dosseus co-expedicionários peloUruguai coincidiu com a de umoutro açoriano aventureiro comraízes faialenses. Naquela altura,Genuíno Madruga, outrora seuvizinho na Praia do Almoxarife,circum-navegava o globo pelasegunda vez, encontrando-seentão na Marina de Montevideu,onde fizera escala. Infelizmente,imperativos de agendamentoinviabilizaram o reencontrodestes dois aventureiros intré-pidos, em terras uruguaias.

A chegada da expediçãoAdiaspora.com a terrasjosefenses deu-se a 15 deNovembro de 2007, onde aaventura foi dada por terminadaà entrada da Prefeitura de SãoJosé da Terra Firme, num gestosimbólico evocando e celebrandoa açorianidade prevalente nasgentes do Brasil Meridional, enas Comunidades Lusas daAmérica do Norte.

Prevê-se para breve olançamento da edição bilingue(PT&ENG) do livro Miragens

a Sul – Adiaspora.com na

Redescoberta das Américas,onde poderá acompanhar ereviver a viagem épica de JoséIlídio Ferreira e sua equipa pelasestradas das Américas.

Em 2008, as celebrações doVII Aniversário do portal Luso-Canadiano divulgador daLusitanidade, Adiaspora.com,realizou-se, entre 25 e 26 deOutubro, nas instalações daSociedade Amor da Pátria,Cidade da Horta. O encontroinseriu-se no âmbito dascomemorações cinquentenáriasdo Vulcão do Capelinhos, comum programa de actividades adesenvolver-se em torno datemática O Vulcão dosCapelinhos: Uma PortaAberta à Emigração...meta-morfoseando a terra e odestino.

José Ilídio Ferreira em Lima, Perú

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sexta feira 6 de Fevereiro 2009 • Avenida Marginal • 5

Turismo (1)Maria Fernanda Serpa Silva

“O estudo do Turismo deveser direccionado para odesenvolvimento sustentável,conceito essencial paraalcançar metas de desenvol-vimento sem esgotar osrecursos naturais e culturaisnem deteriorar o meio ambi-ente. Entende-se que a pro-tecção do meio ambiente e oêxito do desenvolvimentoturístico são inseparáveis”

Ansarah, 2001 Ansarah, 2001 Ansarah, 2001 Ansarah, 2001 Ansarah, 2001

Desde a segunda metade doséculo XX que o turismo é uma

actividade em franca expansãopor todo o mundo, mostrandouma grande evolução eapresentando-se como umaalternativa económica aodesenvolvimento de muitasregiões, diligenciando e estimu-lando a melhoria do bem estarsocial e garantindo alternativaspara o crescimento económicodesses territórios.

O turismo tem persistido àsadversidades das sucessivascrises económicas e políticas,adaptando-se e inovando as suasmodalidades, origens e destinos.As ilhas de pequena dimensãopassaram a fazer parte dosroteiros turísticos, sendoconsiderados destinos exóticos,possuidores de riquezas naturais,culturais e paisagísticas ape-lativas, oferecendo tranquilidadee actividades de lazer variadas,granjeando, por isso, umaprocura crescente.

Na Região Autónoma dosAçores, a actividade turísticasurgiu de uma forma quaseespontânea, movida por umpassado histórico, pela suaposição geoestratégica decentralidade no Atlântico Nortee na encruzilhada das rotastransatlânticas marítimas eaéreas, tendo sido no passadoponto de paragem de baleeiras,

hidroaviões clippers e hoje develeiros e de cruzeiros.

Impulsionada por circuns-tâncias exógenas e naturais, comum crescimento visível emanifesta aceitação pelas popu-lações, o turismo instala-se nasilhas açorianas sem grandeorganização e com algumasdificuldades de estruturação.Estas preocupações conduzema uma necessidade de imple-mentação de uma política deturismo, que começa a esboçaros primeiros passos, visandoproteger os aspectos qualitativos,

de competitividade e susten-tabilidade.

Os Açores, à partida, são umdestino privilegiado pelosaspectos ambientais, paisa-gísticos, náuticos e recreativos.A necessidade de aumentar ren-dimentos económicos e umamudança social e demográficadas populações leva governantes eparticulares a implementarem estaactividade nas diversas ilhas.

As ilhas de “pequenadimensão” como é o caso doArquipélago dos Açores pos-suem fragilidades específicas,inerentes ao seu posicionamentogeográfico, às suas dimensões,à vulnerabilidade dos ecossis-temas, densidade populacional einsuficiência de alguns recursos.O turismo nestes espaços exigeuma ponderação na gestão dosrecursos com políticas sectoriaisverdadeiramente articuladas demodo a não depauperá-los, comuma mitigação eficaz, capaz depromover a qualidade, equidadee soluções sustentáveis, basea-das em políticas de ordenamentodo território e ambientais comrecurso a estratégias intersecto-riais de planificação.

A indústria do turismocomeça a despontar e aintensificar-se nos Açores e nailha do Faial, perspectivando-se

que, no futuro venha a exercerum papel relevante na economialocal, gerando emprego,ampliando serviços, moder-nizando infra-estruturas, contri-buindo assim para uma mudançademográfica, económica, sociale cultural da população.

O Faial é uma ilha com umacapacidade limitada no que dizrespeito ao alojamento, res-tauração, formação profissionale aptidão empreendedora,expressando deficiências nasacessibilidades, requerendoprojectos de turismo sustentável,

concebidos e integrados emmodelos de planeamento,ordenamento e gestão ecológica,adoptando assim uma articu-lação dos diferentes inter-venientes: empresas demarketing, estratégias depromoção e uma fortecooperação entre o sectorpúblico e privado.

O turismo no Faial é afectadoessencialmente pela sazonali-dade e competitividade de outrosdestinos açorianos. É necessáriohaver uma política de descen-tralização, criatividade eimplementação de diversasactividades económicas desuporte ao turismo que possamoferecer emprego, promovendoa fixação da população,sobretudo as faixas etárias maisjovens, de modo a contribuir parao desenvolvimento económico esocial da ilha. Algumas das áreasonde a investigação é maisimportante são necessariamente:prever as tendências dosmercados turísticos, determinaras situações que possam afectaro sucesso e a estruturageográfica, a identificação eoptimização dos recursos para odesenvolvimento e promoção doturismo e a valorização dosimpactes dos mercadosturísticos.

Elis

a Si

lva

Sita na Travessa de São Francisco, e também na Rua doArco (agora denominada Rua Monsenhor José de FreitasFortuna), o edifício que viu nascer, a 8 de Julho de 1840, Dr.Manuel José de Arriaga Brum da Silveira Peyrelongue, oprimeiro Presidente da República Portuguesa, eleito a 24 deAgosto de 1911.

Após o terramoto de 1926, a “Casa das Florinhas”, foiadquirida pela Diocese de Angra do Heroísmo, desde entãofoi utilizada para diversos fins:

Por volta da década de 40, esta casa serviu a JuventudeEstudantil Católica Feminina.

Mais tarde, com a supervisão do Padre Genuíno Madrugaserviu também, de Lar Académico, uma instituição que acolhiajovens rapazes, com fracos recursos, vindos de várias ilhas,tais como, Pico, S. Jorge, Graciosa, Flores e Corvo, queviajavam para o Faial, com o intuito de terminar o EnsinoSecundário.

Já mais recentemente, pela década de 90, tive eu, e maisalguns jovens da minha geração, o privilégio de aprendercatecismo no “Solar dos Arriagas”. Infelizmente, nessa alturanão me apercebi do quão privilegiada estava a ser, ao poderfrequentar e usufruir de uma casa que traz consigo, uma grandehistória.

Um dos grandes incentivos que tive ao escrever este artigosobre a “Casa das Florinhas” foi precisamente, ter tido umpapel, e ser uma das muitas pessoas que beneficiaram dassuas instalações e da sua história.

Hoje, ao passar na Travessa de S. Francisco, deparo-mecom um edifício em estado avançado de degradação.

Ao que consta as instalações continuam a pertencer àDiocese de Angra do Heroísmo, também consta que oExecutivo Regional pretende promover a sua recuperação paraposterior execução de um projecto museológico evocativo daRepública. Também ao que parece, a casa onde nasceu Manuel

de Arriaga foi classificada como Imóvel de Interesse Público.Mas o que é certo, é que nada apareceu aos “olhos” dapopulação. Muito se fala e pouco se faz.

Fica no ar uma pergunta: Porque é que a “Casa dasFlorinhas”, uma casa que conserva uma boa parte da “nossa”História, uma casa pela qual, também eu passei, continua adegradar-se dia após dia?

Eu, e com certeza grande parte da população faialense, enão só, gostaríamos de saber, qual a razão de nada ter sidofeito até hoje. Independentemente de quem quer que sejam osórgãos responsáveis pelo imóvel, fica aqui o apelo para nãopermitirem a extinção da “nossa” História e para diligenciaremuma solução visível, enquanto sobram ainda as fachadas dacasa que muito trouxe à população faialense.

Bem Hajam!

Elisa A. Silva

“Casa das Florinhas”

O que resta da “Casa das Florinhas”

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eeeee precisamente o meu apego e o meu amor incondicionalpela ilha Graciosa, e é a minha marca de identidade e deidentificação com o espaço graciosense.

É nesta condição que apresento aos leitores de “AvenidaMarginal” esta lista de nomes próprios que recolhi na Graciosa eque, por mim seleccionados de entre 600 outros, constituem o “top”preferencial das minhas escolhas. Para o efeito, fiz trabalho de campoe consultei, no Registo Civil de Santa Cruz da Graciosa, todos osíndices de registos de nascimento desde os princípios do século XXaté à actualidade.

O facto de ter recolhido estes nomes na Graciosa não significaque eles sejam exclusivos daquela ilha. A verdade, porém, é que emnenhum outro espaço geográfico encontrei nomes tão “estranhos” e“arrevezados” quer em quantidade, quer em variedade. Tanto quantoconsegui apurar, e em ensaio por mim já desenvolvido e publicado(1), tais nomes revelam influências de origem religiosa(Melquisedeque), arcaica (Briolanja), livresca (Hermengarda),toponímica (Guadalupe) e, sobretudo, brasileira (Reginaldo).

A influência da onomástica brasileira, por via da emigraçãograciosense para o Brasil durante os séculos XVIII, XIX e, commenor incidência, nos princípios do século XX, é uma característicaoriginal da ilha Graciosa e praticamente única no contexto açoriano.Estamos perante um fenómeno de mimetismo cultural. Ou seja, trata-se de uma moda que “pegou”: ter um nome pouco vulgar era sinónimode algum prestígio social, por um lado, e, por outro, era sinal dediferença e originalidade. Tais nomes chegam até à Graciosa por viade informações veiculadas por cartas recebidas do outro lado domar, bem como através de viagens de regresso dos nossos luso-brasileiros.

O artigo 143 do primeiro Código do Registo Civil, de 1911, facilitouesta livre escolha de nomes: “O nome próprio será livremente escolhido

de entre os que se encontram nos diferentes calendários, ou de entre

os que usarem os personagens conhecidos da História, e não deverá

ser confundido com nomes de famílias, nomes de coisas, de

qualidades, de animais ou análogos”.A partir dos princípios dos anos 50, do século XX, esses nomes

“estranhos” (e, para mim, aquele que considero mais estranho éAssuíno – tenho cópia do registo de nascimento para os maisincrédulos…) deixaram de estar em voga devido à adopção, a nívelnacional, de listas de actualização de nomes, o que veio a padronizaros nomes próprios portugueses. De referir ainda que a influência emimetismo brasileiros voltaria a ocorrer em Portugal a partir da décadade 70 do século passado, por via das telenovelas brasileiras: Márcia(o),Vanessa, Fábio, Vanderlei, etc.

Aqui fica a referida lista. Em tempo de massificação e globalização,peço ao leitor que dê conhecimento destes nomes às grávidas danossa Região… E de todos me despeço com um abraço de mar esem malícia...

A: Adalgira, Adenato, Adriel, Alcoíno, Almirim, Anatazita, Alvelino,Antemínio, Arcelindo(a), Ariovalda, Argeontina, Assuíno, Ausíria.

B: Basilissa, Benigma, Belma, Blaudina, Brivaldo, Brivaldina(o).C: Calmerina, Capitulina, Caritina, Celerina(o), Celedónio,

Cesarina, Cidolina, Clélia, Cirino, Cisbélia, Crispolina.D: Dalina, Dalva, Dénio, Dilermando, Docelinda, Donzília.E: Eldar, Elgina, Elverinda, Erna, Eulina, Eufrosina, Eliziário,

Eutímio, Ezulina.F: Felicíssimo, Firmilindo, Florgêncio, Floresinda, Francelina,

Fulgêncio.G: Gabínio, Germina, Gibela, Gildas (masc.), Gudeberta, Gulina.H: Heliodoro, Hercina, Herma, Hermenegildo, Higínia, Hirondina.I: Idelta, Ildefonso, Iluminato, Imereciano, Iglantina, Inalvina,

Iolantino, Iraílda, Irzelindo, Isalino, Isualda.J: Jacímia, Jardelina, Jovina, Jurelma, Juvêncio.L: Ladislau, Laurínio, Lenira, Leoberto, Leodolfo, Leontina, Lerno,

Libarina, Los (masc.), Lourina, Luzomira.M: Mabel, Meíbula, Melquisedeque, Modéstia.N: Naír, Nardino, Nasalina, Nectário, Neogénio, Nervina, Nisalda,

Nunado.O: Obulina, Odaltino, Odelta, Ondina, Orfília, Ovina.P: Parménio, Polígena, Porfíria.Q: Quirina, Quirino, Quelminda.R: Reginaldo, Romualda(o), Rosindo.S: Salustiano, Sensitiva, Sotero.T: Telestina, Teodósio, Teresina, Tertuliano, Tomazinha.U: Ulurina, Unerina, Urânia, Ursulina(o), Urbina(o), Urbínia.V: Valdema, Valdemira(o), Valéria(o), Veneranda, Verdiana, Vimina,

Vitalina, Vítimo, Vivelinda, Vivina.W: Weber, e… Wolfgang Mozart de Eiró.Z: Zelinda, Zenália, Zulima, Zulnar

Da minha graciosensidadee e e e e destes Açores e,consequentemente, de muitasoutras terras deste Mundo,sempre me lembro dos meusPais, com mais insistência aminha Mãe, nos lembrarem oNatal em toda aquela beleza querepresentava para nós, onascimento do Menino Jesus.

Éramos apenas dois irmãosque, por tão curta diferença deidades, parecíamos gémeos(ainda hoje há quem julgue queo somos). O primeiro dos outrostrês que vieram a seguir a nós,só chegou sete anos depois.

Na aproximação da épocanatalícia, falava-se muito dela:quantos seriam os Ranchos deNatal? Quem cantaria asprimeiras vozes? (eram quasesempre só raparigas que tinhamesse merecimento). Mas deofertas de Natal quase ninguémfalava. E, os poucos que as

tinham, parece que atéreceavam falar disso connosco.Talvez para não os consi-derarmos os “ricalhaços”.

A minha Mãe gostava muitode cantar durante as suas lidesda casa ou enquanto lavava asroupas da família na velha piade basalto ao lado da cisterna.

Com a aproximação doNatal, a nossa Mãe substituía osversos das suas cantigas poroutros alusivos à quadranatalícia.

Lá em casa e na vizinhança,através daqueles cânticos, todaa gente era relembrada daaproximação da data come-morativa do nascimento doRedentor.

Contudo, não tenho qualquerideia de falar-se de ofertasmateriais.

Como eram então osnossos Natais?

Relativamente ao aspectoreligioso, íamos à Missa pelamanhã na Ermida da nossaaldeia do Monte. A Missa do

Galo só era celebrada na IgrejaParoquial da Candelária queficava a quase quatroquilómetros da nossa casa.Apenas um aparte – a primeiraMissa do Galo que participei játinha ultrapassado a dúzia deprimaveras.

Não obstante tudo isto,havia Natal na nossa casa eem toda a aldeia.

A nossa Mãe orientava-nospara irmos colher umpinheirozinho, no qual o nossoPai pregava uma base emmadeira para que semantivesse erecto. Depois, nelecolocávamos sob orientação danossa Maria Mãe, unsbocadinhos de lã branca dasnossas ovelhas para imitar-se aneve e, aqui e ali, umas peçasde fruta (laranjas, tangerinas e,às vezes até araçás). Era assima ornamentação da árvore de

Natal na nossa casa e na detantos outros.

Debaixo da árvore ou aolado, organizavamos umPresépio constituído porpedrinhas vulcânicas e musgos,cujos objectos a simbolizar asimagens sagradas e outras,eram feitos em batata doce ecaules de couve. O MeninoJesus, Nossa Senhora, S. José,o burrinho e a vaquinha, eramconstituídos todos da mesmamatéria prima (batata doce).

Não havia na nossa casa umarefeição especial na noite deNatal que pudéssemos hojedenominar de consoada. Eraapenas mais uma refeição comos condimentos habituais.

Para o almoço do dia deNatal era então preparada umaementa melhorada com umagalinha da nossa capoeira,cozidinha num caldeirão de ferro,onde a Mãe misturava batata e,muita água para que houvessebastante molho para ensopar-seo bolo ou o pão de milho. Se

havia sobremesa era apenasfruta dos nossos quintais. Odinheiro era escasso paracomprar-se açúcar e, quandoera possível adquiri-lo, lá a Mãefazia um docinho com arroz oufarinha de milho peneirada numapeneirinha mais fina.

Entretanto, a partir dumacerta altura, aí por volta dosmeus sete oito anos de idade, aminha Professora D. MariaAmélia Amaral, de 2ª a 6ª feira,veio morar para a nossa casa,porque naquela altura osprofessores eram obrigados aresidir na freguesia ondetrabalhavam e, sendo ela daMadalena, também por nãohaver transportes às horasconvenientes, assim teve a SrªProfessora de decidir.

Foi então que o nosso Natalse alterou um pouco para melhor.Começou a aparecer pela

madrugada, na nossa árvorenatalícia, um chocolatinho, umacornetazinha e um ou outromaterial escolar. Curiosa eingenuamente, continuei a pensaraté aos meus dez onze anos, queeram efectivamente ofertas queo Menino Jesus vinha ali deixar.Talvez porque nos tínhamospassado a comportar melhor,como nos convencia a nossaMãe.

Santa ingenuidade ! A minhae a do meu irmão Manuel !

Outros Tempos .Outras Eras .Eram épocas difíceis !E, porque o materialismo

ainda não tinha chegado etambém, pela persistência dosnossos Pais, a mítica e a purezado nosso Natal, se nos foiprolongando no tempo. De taljeito que, ainda hoje, recordamosos nossos Natais de outrora coma saudade peculiar da nossasensibilidade e a memória dosnossos Pais e da nossaProfessora.

Parece Inacreditável

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(1) DORES, Victor Rui, Sobre alguns nomes próprios recolhidos na ilhaGraciosa, Separata do Boletim do Museu de Etnografia da Graciosa, 1991.

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8 • Avenida Marginal • sexta feira 6 de Fevereiro 2009

Chegou e instalou-se. Ao queparece veio para ficar, por tempoindeterminado! Uns chamam-lhecrise, mas crises há muitas: crisede identidade, crise bélica, criseno casamento, crise de nervos...e esta até tem a particularidade denos pôr a todos os nervos emfranja.

O termo técnico é recessãoque, a agravar-se, pode levar àdepressão. Esta sim, de efeitosmuito mais graves para todos nós.Esperamos que da próximareunião (estamos a escrever a 22de Novembro) de alto nívelinternacional saiam medidas quea evitem, pois, para deprimidos,já por cá temos muitos.

Mas, afinal, o que é isto derecessão? É algo bem simples deentender: suponhamos que o Zétem uma fábrica de calçado quefundou há alguns anos. Produzvários modelos de sapatos quetem vendido com relativafacilidade em Portugal e, o quelhe sobra, exporta. Como ele,outros produzem texteis, rádiosmaçãs, etc... Ao conjunto de tudoaquilo que se produz num paísdurante um ano, valorado emeuros, dá-se o nome de PIB, siglade Produto Interno Bruto.

Para facilidade deentendimento dos menosfamiliarizados com estes temas,vamos supor que o PIB dePortugal, em 2007, foi de 100.Para 2008, espera-se atingir 103,com a inflação estimada em 2,5%.Em termos absolutos, iriamoscrescer três por cento, mas emvalores reais apenas aumentamosa nossa riqueza em meio pontopercentual, porque a inflação noslevou dois e meio.

O crescimento real de meioponto percentual não é bom. Nãoresolve os problemas estruturaisda nossa economia, não nos fazconvergir para a média europeianem cria novos empregos. Parareduzir o desemprego, só comaumentos reais acima de 2,5%.Mas tem, pelo menos, a virtudede manter os postos de trabalhoe aumentos salariais ao mesmonível da inflação, o que permiteàs famílias manterem o seu poderde compra.

Vamos agora imaginar que emvez de um crescimento de meioponto, em Portugal ou emqualquer outro país, há umcrescimento negativo e se ficapelos 99. Então estamos peranteuma recessão, como agoraacontece generalizada por quasetodo o mundo. O crescimentonulo ou ligeiramente negativo, quecaracteriza a recessão, não afectagrandemente o rendimento dopaís mas, nalguns casos, há

fortes possibilidades deestagnação de salários e mesmode despedimentos.

Como é isto possível se o Zé,e os outros empresários, aindaproduziram mais do que no anoanterior? Pois é. É que não bastaproduzir, é preciso vender,porque se se produz e não sevende então há que reduzir aprodução e até, em casosdrásticos, fechar a fábrica, o queleva a um aumento do desem-prego, menor poder de compra eassim se entra no chamado efeito“bola de neve”.

Mas como é possível não sevender aquilo que sempre sevendeu? E aqui entramos no

campo das CAUSAS:Até há pouco tempo o G7,

designação pela qual sãoconhecidos os sete países maisindustrializados do planeta(quanto a nós imprudentementefechado na sua concha, pois hámuito deveria ser G10 ou mesmoG12), importava de outros paísesmatérias primas, que pagava. Masdepois vendia-lhes produtosmanufacturados, medicamentose bens alimentares recuperandocom lucro, mais ou menoselevado, o dinheiro investido.

Em certa altura a China, aIndia, o Brasil, a Coreia e outrospaíses emergentes, que no seuconjunto atingem cerca de doismil e quinhentos milhões dealminhas, desataram a produzirdesalmadamente. Não sódeixaram de importar muitascoisas como passaram aconcorrer nos mercadosexistentes com os seus ex-fornecedores. Verificou-se,então, uma forte alteração na

geografia do dinheiro.E é esta a principal CAUSA da

situação a que se chegou!Para atingir este ponto, há

vários culpados. Para muitos, osúnicos são os americanos. Estána moda bater-lhes e respon-sabilizá-los por tudo quanto de malacontece no planeta. Porquê,pergunto eu com o ar cândido deum picaroto sonso? Porque forampara o Iraque por causa dopetróleo, e deu nisto!

Não vale a pena argumentar.As guerras com o Iraque serãoanalizadas noutro capítulo. Mas,que me recorde, nenhuma guerradeu lugar a qualquer recessão. Ocontrário sim. E é bom não

esquecer que foi na segundaguerra mundial que o Salazarencheu os cofres do Estado.Porque não entrámos nela,argumentam!

Também que eu saiba,Alemanha, Itália e Japão, entreoutros, também não têm nada aver com esta.

Os Estados Unidos têm aqui asua parte de responsabilidade, talcomo qualquer dos membros doG7 e de outros países indus-trializados, só porque os seuseconomistas não souberam preveraquilo que desde há algum tempoestava à vista de todos. Mas nesteprocesso não há inocentes: acorrida generalizada aos bancos,um pouco por todo o mundo, sóveio agravar a situação.

Recordemos o que afirmavaAdam Smith, reconhecido comoo “pai” da economia política: “seas pessoas soubessem o mal quefazem a si próprias guardarem odinheiro debaixo do colchão, nãotinham lá um cêntimo”.

A crise e as suas causasManuel Pereira Alemão

Não, definitivamente não éeste o lugar ideal para sepublicitar seja lá o que for. E nãoo é pelo simples motivo destejornal ter uma periodicidadetrimestral, o que poderá nãoabonar muito à marca ou produtoque se pretende anunciar oucolocar no mercado.

Se não vejamos: Se você éum agricultor moderno e bemsucedido, dono de umas dez ouvinte toneladas de batata paravenda na semana tal do mês deJunho, com certeza não vaiquerer esperar três meses paradivulgar tal facto, que a batataainda grela e lá se vai o lucropor água abaixo. De igual formase porventura o seu negócio fora venda de carne, ou vinho, oupeixe, já viu o que é ter deesperar três meses para poderanunciar esses produtos? Aocabo de todo esse tempo aindaa novilha se transforma em vaca,o vinho em vinagre e o peixe…bom, o peixe, se você não tiveruma boa arca congeladora ounão o souber salgar emcondições, à moda antiga(perguntem ao José AlbertoFialho que ele explica vomo era),o melhor é nem falarmos dele.Não dá!

Finalmente, e para convencerem definitivo o estimadoanunciante a não colocar nesteperiódico determinados anún-cios, imagine que a sua lindagatinha desaparecia amanhã…Já viu o que seria esperar trêsmeses para divulgar tão trágicanotícia?!... Com o aceleradociclo reprodutivo que os felinostêm, quando o anúncio fossepublicado você estaria sujeito areceber de volta não a suaquerida e saudosa Mimi, massim uma gata enorme, e gorda,e russa, com uma numerosa eesfomeada prole para sustentar.

Quando isto acontece o queo aconselhamos vivamente afazer de imediato é telefonarpara a rádio Antena Nove oupara o diário Incentivo, ouutilizar aquele meio antiquíssimomas extremamente eficaz doboca a boca, do diz-se diz-se…

Contudo se você é orepresentante de uma marca deprestígio cuja penetração nomercado local pretende acele-rar com eficácia e saudávelagressividade, ou se, por outrolado, o produto que tencionapromover e divulgar é de grandequalidade e os prazos para oanunciar não saem prejudicadospela periodicidade trimestraldeste Jornal, então não hesite.

Este será, em definitivo, o localexacto e privilegiado para darmais visibilidade ao seu estabe-lecimento comercial e aos seusserviços.

Com uma tiragem média quepoderá ultrapassar, dentro depoucos anos, os cinco (ou dez)milhares de exemplares, oAvenida Marginal terá umagrande circulação nas ilhas doFaial e Pico, sendo igualmentecolocado, de uma formaprogressiva, nas restantes ilhasdo Arquipélago.

Sonhar custa? Claro quenão.

Heitor H. Silva

Carta aos anunciantes

LOJA DA GRAÇALOJA DA GRAÇALOJA DA GRAÇALOJA DA GRAÇALOJA DA GRAÇA

BOA QUALIDADE AOSBOA QUALIDADE AOSBOA QUALIDADE AOSBOA QUALIDADE AOSBOA QUALIDADE AOS

MELHORES PREÇOSMELHORES PREÇOSMELHORES PREÇOSMELHORES PREÇOSMELHORES PREÇOS

RUA CONSELHEIRO MEDEIRORUA CONSELHEIRO MEDEIRORUA CONSELHEIRO MEDEIRORUA CONSELHEIRO MEDEIRORUA CONSELHEIRO MEDEIROS Nª27S Nª27S Nª27S Nª27S Nª27

9900-HORTA-FAIAL9900-HORTA-FAIAL9900-HORTA-FAIAL9900-HORTA-FAIAL9900-HORTA-FAIAL

TEL-292391770 TEL-292391770 TEL-292391770 TEL-292391770 TEL-292391770

Desenho de Gonçalo Cabaça

PU

B.

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sexta feira 6 de Fevereiro 2009 • Avenida Marginal • 9

Rebentou a «bolha» de WallStreet. A bolsa americana deuum enorme estrondo, pondo aeconomia mundial no vermelho.A América espirrou e todo omundo sofreu. A desregu-lamentação levou turbulênciaaos mercados de capitaismundiais. A crise de 1929, temagora uma réplica, cujas causasforam ligeiramente diferentes ecujas consequências tambémserão diferentes.

O presidente do BancoCentral Europeu, Jean ClaudeTrichet, disse que uma crisedestas só se verifica uma veznum século. Tive azar. Foi noinício do século, foi durante aminha existência e começámosagora a sofrer à conta dela.

O «sub-prime» (hipotecas dealto risco) e produtos financeiroscomplexos e tóxicos de duvidosatransparência levaram ao efeitodominó no mercado financeiroa nível global. A confiançadesceu a níveis perigosos, de talforma, que os países maisdesenvolvidos tiveram deinjectar grandes quantidades dedinheiro, para dar liquidez econfiança ao sistema financeiro.A economia mundial está maissólida e não irá permitir osresultados nefastos da décadade 30, do século passado.Reconheço que irá existirabrandamento e talvez umarecessão pouco acentuada.

A importância da acçãoconjunta por parte da UniãoEuropeia, Estados Unidos,Japão, países emergentes eoutros países cuja economia temum contributo no desen-volvimento económico permitiuque esta crise financeira nãotivesse proporções épicas.Reforço de liquidez por parte dosbancos centrais desses paísesrevelou visão e solidariedade e,acima de tudo, uma completaafirmação inequívoca dessaentidade que é o Estado, comoentidade reguladora esupervisora.

Não deixar de frisar aIslândia, que está quase nabancarrota face ao colapso dosistema financeiro mundial.Sendo um país altamentedesenvolvido condicionou o seucrescimento económico aosector financeiro, decisão queteve as consequências agoraenunciadas.

Nesta crise Portugalapanhou por tabela. Não possodeixar de manifestar a minhasatisfação perante a solidez dosector finaceiro luso. O nossosistema bancário foi cauteloso

na atribuição de créditos aparticulares e pequenas médiasempresas. Os banqueiros portu-gueses foram sensatos, àexcepção do BPN e do BPP. Anão existência de produtosfinanceiros tóxicos de alto riscofoi uma mais-valia na conjunturafinanceira nacional. Os portu-gueses apesar desta crise irãosofrer menos que outros. Massofrem.

Neste embrulhada finan-ceira global, o preço do petróleoestá a baixar e as taxas de jurosestão a sofrer uma descida

acentuada para estimular aeconomia.

Os mais afectados foram osassalariados da classe média, ouseja, aqueles que não investem,aqueles que têm vários créditos.Toda esta crise foi o reflexo daganância, da ausência deescrúpulos e dum materialismosem vergonha por parte dospoderosos.

Os gestores do sectorfinanceiro com as suasambições e os seus ganhoscriaram uma tempestade tal, queas consequências são globais.Foram poucos os que criaram acrise, mas quem sofre é toda apopulação mundial, cuja pobrezaserá mais acentuada.

A resposta pronta dos paísesmais industrializados e asmedidas de regulação maisrestritivas para o futuro serãouma garantia para que o sectorfinanceiro seja mais transparentee justo.

Defendo a criação dumamoldura penal para gestores detopo, para que seja um factordissuasor quando extravasaremas suas competências ou os

O Furacão de “Wall Street”Manuel Bernstein

resultados alcançados preju-diquem gravosamente uma largamassa populacional. A mágestão duma instituiçãofinanceira deve levar os seusorgãos máximos a seremresponsabilizados penalmente,visto que, os seus actos têmrepercussões na economia elesam consideravelmente muitoscidadãos.

Antes do final do ano de2008, mais uma bronca estalouno sistema financeiro de WallStreet. Os fundos de inves-timento geridos pelo magnata

Bernard Madoff foram umenorme embuste durante 40anos e deram de si na actualconjuntura financeira, atingindoproporções gigantescas. Cercade 50 mil milhões de euros é ovolume de perdas. Milhares depessoas foram lesadas peranteum esquema de gestão defundos com taxas de renta-bilidade que contrariavam alógica do mercado de capitais.Talvez, mais casos destes irãoaparecer. Espero que esta crise,alerte os governos para umaregulamentação efectiva eeficaz daqui a diante.

O prémio Nobel daEconomia de 2008, PaulKrugman, foi galardoado por terestudado o comportamentoimperfeito dos mercados. Queimperfeição!

Estejamos atentos aosefeitos da crise para minorar asconsequências e que a nossamemória colectiva não esqueçajamais esta crise global. E queo passado nos sirva de exemplo.Como alguém disse «Quemesquece o passado, perde ofuturo».

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Carneiro: Eu “quero” - “É, assim que eu gosto mais!”

Touro: Eu “tenho” - “Onde pára o meu pijama?”

Gémeos: Eu “penso” - “Sabes em que estou a pensar ?”

Caranguejo: Eu “sinto” - “Quando é que casamos ?”

Leão: Eu “sou” - “Não sou fantástico?!”

Virgem: Eu “analiso” - “Preciso de arrumar os lençóis!”

Balança: Eu “equilíbrio” - “Se tu gostaste, nós gostamos !”

Escorpião: Eu “desejo” - “Talvez seja melhor desamarrar-te.”

Sagitário: Eu “ aspiro” - “Não telefones, de futuro - ligo-te.”

Capricórnio: Eu “uso” - “Quando é que me vais promover ?”

Aquário: Eu “sei” - “Vamos fazer de forma diferente !”

Peixes: Eu “acredito” - “Nós sentimos, não sei explicar ...”.

Ouvi falar!! Um novo jornalna Horta! Quem serão oscorajosos? Fiquei muito curiosae a partir daí, atenta. Não residona Horta há algum tempo massei de algumas tentativas nessaárea que por algum motivo nãovingaram.

Quando surgiu o Avenida

Marginal apeteceu-me ime-diatamente felicitar o Sr.Director do jornal. Sem ainda oter lido, já o título me aguçou aimaginação. As minhas expec-tativas dispararam para velo-cidades de fórmula Um!

Avenida sugere espaçoaberto, de horizonte ilimitado, deliberdade à vista. Além disso aAvenida é a franja da saia que veste afeminina Horta. Tudo a ver!

Avenida Marginal, aindamelhor - feliz casamento devocábulos - Marginalidade é oque anda a fazer falta parabagunçar a pacatez e algumconformismo inerente a qual-quer ilha pequena, embora euacredite convictamente que“small is beautiful “. Marginal,na acepção positiva do conceito,permite uma imensidão deintervenções: o protesto, oconfronto, a crítica, o lamento,mas principalmente o quebrar deestereótipos, a imagem inusitada,a ousadia de um poema que falade algo que ninguém até aí seatreveu a abordar, o desabafoirreverente, o grito emocionadoque alguém sempre quis soltar

... Senhor Director

COMENTÁRIOS, APÓS OSEXO, SEGUNDO O SIGNO...

mas nunca encontrou espaçojornalístico para tal!

Enfim, já percebeu, Sr.Director que nesta data, àdistância de apenas os númeroszero e um, embora sejaprematuro dizer que as taisexpectativas de alta cilindradatendem a aproximar-se davelocidade de cruzeiro própria deum condutor de fim-de-semana,não será no entanto despro-positado manifestar a minharelativa desilusão por me terapercebido que do zero para oum, o tom adensou-se, o estilotornou-se mais pesado, a exigirum leitor mais erudito.

Muito menos “engravatados”e de leitura irresistível foram,por exemplo os artigos de MarcoRosa e António Bulcão ou ariquíssima e divertida amostra dealcunhas, recolhida pela LúciaM. de Mello Serpa, a criativabanda desenhada doscartoonistas Bruno e Flávio quedeve, obrigatoriamente ter con-tinuação, e só não refiro outrosporque não se justificaria nestetexto uma listagem exaustiva.

Sr. Director, para si, umabraço Marginal com a exten-são de uma Avenida que atrevi-damente levanta a beira da saiapara oferecer sensualmente ospés aos beijos salgados do Mar.

Lisboa, 6 de Janeiro de 2009

Isabel da Terra Brum

Luís Moniz

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10 • Avenida Marginal • sexta feira 6 de Fevereiro 2009

Cabo Verde e os seus encantos…Paulo Dutra e Marco Dutra (em Cabo Verde)

Tivemos a oportunidade e oprazer de termos sidoconvidados, pela Câmara doComercio e Industria da Horta,em parceria com a de Angra doHeroísmo, para acompanharmoso Governo Regional dos Açores,na sua visita Oficial aoArquipélago de Cabo Verde, queocorreu de 05 a 12 Abril 2008, eonde foram convidadas algumasdas maiores e mais importantesEmpresas dos Açores.

A estratégia, passou por criarbolsas de contactos com ascongéneres Cabo Verdianas,onde o objectivo é intensificar astrocas comerciais, entre estesdois Arquipélagos da Maca-ronésia.

Na altura, ficamos surpre-endidos, no entanto mais tarde,viemos a saber os porquês de tãohonroso convite. Não quisemosdefraudar quem nos convidava,mas o receio inicial foi grandeem aceitar tamanha respon-sabilidade.

Chegados a Cabo Verde,depois de 4 horas de viagem, viaPonta Delgada, num Airbus daSata Internacional, que sedeslocou aquele arquipélago depropósito para nos levar. Fomossurpreendidos por algum jáesperado atraso em áreasestruturais, muito essenciais parao bem estar das populações.

Para quem não conheciaaquela realidade, é um poucodifícil a aproximação eadaptação ao território, masdepois de se começar a tentarperceber pormenores, as coisastomam outra figura, e niti-damente outros horizontes muitomais risonhos.

O Arquipélago de CaboVerde, tem cerca de 486.000habitantes, divididos por 9 das 10ilhas, tendo outros tantosimigrantes, o que é deverasassustador, se se imaginar todoseles a regressarem um dia áterra natal.

Com praticamente o dobro dapopulação dos Açores, e asmesmas Ilhas, e com um climamuito seco, sem verduras, semágua apenas do mar, a vidaganha contornos muito especiaise difíceis de perceber. Quandoperguntamos, o que comem ascabras, respondem-nos: jornais,papel…é de ficar de bocaaberta, mas é a verdade, vimo-lo com os nossos olhos!

No meio de tantas privações,então como sobrevive estagente? Foi uma questão para aqual procurámos explicaçãodurante os 8 dias que láestivemos…e encontrámo-la!

O Caboverdiano, vive com

um sentido de humildade quechoca, e que por vezes passa oslimites imaginários, para quemcomo nós habita numa regiãomais desenvolvida. É comumver-se pessoas dispostas aesclarecer qualquer dúvida, e atéalguns metem simplesmenteconversa connosco, só paradizerem três ou quatro palavrasem português. Sim português,porque entre eles normalmentefalam crioulo. Este povo ésimpático, carinhoso e aindamais voluntarioso.

Ainda se vêem muitasmarcas da nossa presença

naquele território, desde o nomede ruas, estradas, edifícios,localidades, prisões, etc. Emqualquer lado temos apossibilidade de ver a RTP, aliásé quase mais vista de que aprópria estação de televisãolocal.

Mas infelizmente, não serápor muitos mais anos, porque ainfluência estrangeira e os seusinvestimentos estão a acentuar-se de tal forma, que o destinode Cabo Verde, não demorarámuito tempo para ultrapassarbarreiras, que há uns temposatrás eram impensáveis a médioprazo.

O investimento estrangeiro

está de tal ordem coordenadopela Sociedade Cabo VerdeInvestimentos, que se chegaao ponto de informar osinvestidores das facilidades naentrada, mas o que é têm defazer para serem “bem vindos”.Frequentes vezes, por exemplo,aparecem obras públicasefectuadas por empresasestrangeiras privadas, que jáestão investindo em CaboVerde, só que em contrapartidadas facilidades nos seusinvestimentos, são efectuadaspermutas com o Governo. Quembeneficia claramente, é o Povo,e o Governo de Cabo Verde estácom uma visão e agressividadenesta área, que é de se lhe tiraro chapéu. Funciona tudo assim,até com os aeroportos,universidades, hospitais, portos,etc. Até o Palácio Nacional foiconstruído e oferecido pela

China.Cabo Verde, neste momento,

tem protocolos com imensospaíses, desde o Brasil, Argentina,EUA, Canadá, Portugal,Espanha, Marrocos, Argélia,Irlanda, Inglaterra, etc. e emtodos eles existe este objectivode permuta, de modo a que asmais valias de quem querinvestir, beneficiem sempre emprimeiro lugar, o povo de CaboVerde. Na maioria dos casos éesquecido o valor dos terrenosou outro qualquer pormenorburocrático. O que interessa, édotar o país de estruturas parabem da população, e que essesinvestimentos venham de fora,

porque dentro não os há.O manancial de inves-

timentos que estão previstos paraos próximos 10 anos, segundonos informou a mesmaSociedade, é de tal ordem quenos deixou perplexos, ao pontode arriscarmos a dizer que CaboVerde em 2020, já terá passadoem termos turísticos e não só,alguns dos países e Regiões,com quem neste momento estáou tem protocolos.

A actividade piscatória, éefectivamente um dos grandespilares do desenvolvimentodeste povo.

Apesar das embarcaçõesainda não serem tão evoluídascomo as nossas, porqueprimeiro estão a avançargrandes obras nos portos devarias ilhas, e só depois é queirão pensar na qualidade dosbarcos de pesca, e em

Título: Avenida Marginal Periodicidade: Trimestral

Director: Heitor H. Silva Editor e Proprietário: Heitor H. Silva

Tiragem desta edição: 2300 exemplares E-mail: [email protected]

Morada para correspondência: Apartado 81, 9901-909 Horta Codex

Impressão: Gráfica “O Telegrapho”, Rua Cons. Medeiros, 30, 9900-144 Horta - Telef. 292 292 245

Registo ERC 125447 de 04 - 06 - 2008 (Contribuinte Fiscal 161921051)

equipamentos de frio paraarmazenamento, etc. Reparem,eles estão primeiro a criarcondições, para só depoispoderem ser competitivos nestaárea e não ao contrário, comomuitas vezes estamos habi-tuados a se fazer no nosso país.O peixe lá é tanto, que atédentro do porto da cidade daPraia, vimos bonitos e atum apassar ao lado dos barcos, comose fossem os nossos carapausaqui na Doca.

O peixe, depois de capturadoé despejado para cima do cais,cada um carrega o que pode, omais depressa possível, leva-odepois para as ruas da cidade evende-o nas bermas dospasseios, como se de roupatratasse ou até bijutarias. Aqui,Cabo Verde tem ainda muitocaminho a percorrer.

O clima, esse é que sim !Temperaturas que nuncadescem os 22, 23 graus. Chuva,quase zero, no ano transacto caiuuma bruma durante umasemana, de resto só sol. Aspraias estão cheias de gente demanhã á noite, pois não épossível passar por elas semmolhar o pé. A humidade, maisas temperaturas altas, provocaqualquer um a dar um mergulho.O anoitecer é sempre ventoso,sobretudo pelas brisas que vêmde Africa, mas depois, o caloracumulado durante o dia no sololiberta-se, e haja líquidosrefrescantes pela noite dentro.

A gastronomia deste povo,passa muito por três pratos bemnossos conhecidos: a cachupa,atum e o cabrito. Como diz ogrande embaixador e amante dacomida Caboverdiana, JoãoCarlos Silva, é lindo, lindo esobretudo saboroso quando éconfeccionado por Cabo-verdianos.

A Macaronésia, está assimprestes a ver um dos seus maisimportantes filhos, dar umcontributo para a sua maiorvisibilidade e presença noMundo.

Esperemos que os Açores sefortaleçam e beneficiemtambém com esta caminhada deum povo irmão.

TABACARIA DA SORTE

       Livraria e Papelaria,

 Material para Pesca e Mergulho

 Artigos Regionais, entre outros.

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PU

B.

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sexta feira 6 de Fevereiro 2009 • Avenida Marginal • 11

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Nesta nobre ciência da futurologia, há duas coisasindiscutíveis. A primeira é confortável: “ninguém tem a certezasobre o futuro”. A segunda é também excelente: “tudo o que forprevisto tem uma enorme probabilidade de se concretizar,especialmente se dilatarmos a variável tempo”. Tendo isto emconsideração, ninguém que fale no futuro é mentiroso, a verdadeé que está atrasada.

O vulcão dos Capelinhos esteve em evidente actividade de1957 a 1958. Com a sua dinâmica gerou um novo pedaço deterra e conseguiu ser, quase em simultâneo: um drama,determinante para grande parte da população faialense e umaoportunidade para muitos açorianos. Não irei dissertar acercado vulcão em si e da sua história até 2009 porque a minha estóriacomeça a seguir, no tempo futuro.

Primeira previsão: “A erosão e a abrasão sobre a área dovulcão irá continuar em 2009”. Em vez de tentar conter aautodestruição natural, ir-se-á montar um sistema demonitorização que acompanhe a degradação do territóriocinquentenário. Assim, poder-se-á explicar e compreender comose formam e se destroem as ilhas. Será mais um equipamento acomplementar o Centro de Interpretação do Vulcão dosCapelinhos.

A zona adjacente ao vulcão, também classificada como RedeNatura 2000 e pertencente ao Parque Natural de Ilha do Faial,verá a sua erosão abrandar resultado da colonização por partedo coberto vegetal, comprovando o importante papel que a floratem para a sustentação dos solos.

Segunda previsão: “Ali, mais para o mar ou mais para terra,haverá outros vulcões”. Alguns destes vulcões, esperemos quetodos, ocorrerão quando já for possível prever o local, aintensidade e o tipo de fenómeno. Em vez de causar o pânico, osvulcões serão, cada vez mais, investimentos aleatórios quepromoverão o turismo aventura e, em tempo de paz, das poucasformas legítimas para aumentar o território da pátria.

Terceira previsão: “Um dia, as ilhas Atlânticas deixarão deexistir”. Assim, ficará finalmente provado que a Atlântida dePlatão existiu, mesmo se com uns milénios de atraso, provandoque a nobre ciência da futurologia nunca se engana!

O Vulcão no Tempo FuturoFrederico Cardigos

Capelo, “Terra de Baleias e Vulcões”

Luís Paulo Medina Garcia

Uma das edificações mais“estranhas” com que nosdeparamos quando circulamosnuma volta à ilha pelo Faial é oimóvel que alberga actualmenteo Centro de Artesanato doCapelo e que outrora foi sede daJunta de Freguesia e escola

daquela localidade.A casa, com traços de

fortificação medieval, nas linhasda silhueta da sua torre, situa-seno final da denominada “recta doCapelo”, para quem se dirige nosentido da cidade para osCapelinhos, e e e e e 13

Centro de Artesanato do Capelo

EM MEMÓRIA DO CONSELHEIROTERRA PINHEIRO

Luís PrietoFoi com enorme prazer que

aceitei o convite para, no ano de2005, ser candidato à Junta deFreguesia do Capelo, e quis odestino que fosse eleito parapresidir a esta autarquia.

Temos vindo ali a trabalharcom o objectivo de valorizar cadavez mais a Freguesia do Capeloe as suas gentes, contando comuma equipa de mulheres ehomens com provas dadas nas

mais diferentes áreas pro-fissionais. Desenvolvemos anossa actividade com compe-tência e dedicação, tendosempre em mente o crescimentosocial e económico da Freguesiado Capelo, despertando e incen-tivando o crescimento da nossaterra, prosseguindo o objectivoclaro de manter o Capelo norumo certo.

A Freguesia do Capelo foi

LUGAR DE PASSADO, DE FUTURO E DE ESPERANÇA

criada no ano de 1600, comoParóquia da Santíssima

Trindade do Lugar do Capelo.A sua área é de 26 Km2, o quefaz com que seja a maiorFreguesia da Ilha do Faial.

A sua população está espa-lhada por várias zonas habita-cionais, nomeadamente, Ribeirado Cabo, Areeiro, Varadouro,Cruzeiro, Capelo, Canto e NortePequeno. e e e e e 12

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12 • Avenida Marginal • sexta feira 6 de Fevereiro 2009

Capelo, “Terra de Baleias...”

Adormeceu o vulcão, ouvidizer que definitivamente, a 24de Outubro de 1958 e a vidacontinuou. Lembro-me de tersubido o monte do meio quaseaté ao alto com a Alexandrina,uma amiga dos Cedros. Fomosaté onde pudemos, até não poderaguentar mais calor nos pés.

Regressavam as pessoasmal tinham o tecto reconstruído.O nosso cantinho é sempre omais acolhedor, o mais doce.Tudo se preparava para iniciarum novo ciclo.

O novo ciclo para a popu-lação foi de esvaziamento, fugae separação. Alguns partiram(40%), os outros ficaram. Par-tiram os que desejaram recons-truir a vida em terras mais ricas,conquistar uma vida melhor.Foram para os EUA e Canadá.Alguns, poucos, foram para oLimpopo em Moçambique, masregressaram muito em breve.

Os que ficaram puderamcultivar a terra dos que partiram.

Revigorava-se a mãe-terrana esperança de obter alimento.E logo no ano seguinte elapresenteou-nos com umasbatatas de tamanho descomunal,algumas com mais de 10 quilos.

A vida depois do vulcãoMaria Eduarda Rosa

Eu fui das que fiquei. Senti aausência do/a/s colegas deescola, iniciei um ciclo de solidãoem que, como sempre, foi amúsica a salvadora.

À volta de Tomás Pacheco,o “cientista do vulcão”,organizou-se uma tuna dirigidapor este faroleiro, que deve tersido um dos acontecimentosculturais mais importantes doCapelo. Gravámos um programapara o Clube Asas do Atlânticoe colaborámos num concurso detunas. Foi um tempo derevitalização da freguesia.

Passei um ano a ir do Areeiropara a Escola do Capelo para mepreparar para o exame de admis-são ao Liceu. O edifício da Esco-la era na casa da Freguesia ondeactualmente funciona a Casa deArtesanato. Nesse edifício fazia-se teatro e viam-se filmes.

Estava decidido que iria teruma vida de estudo. E só

regressaria a casa de meus paisde vez em quando, prova-velmente nas férias.

Dos EUA e do Canadáchegavam sacas com roupa esapatos e, pelo Natal, postais deBoas Festas, por vezes com umdólar...

Uma luz vermelho labaredapintou de fogo a noite da ilha;

uma brisa de medos antigosvarreu impune o chão da ilha;

um pesadelo de nuvens baixasveio do horizonte estanhadoe friamente açoitou o verde da ilha;

e o chão estremeceue abriu fendas dolorosasno coração das gentes da ilha…

Mistériosde pedrae carnena paisagem da ilha.

In VERSOS NA PEDRA, Sérgio Luís, 2008

eeeee Em 1672 uma violentaerupção vulcânica no Cabeçodo Fogo arrasaria, com a sualava incandescente, parte destalocalidade.

Mas ao longo dos anos osCapelenses trabalharam a terrapouco fértil, tirando partido daagricultura, das vinhas, dapecuária, mas também da pescae da caça à baleia, assimsustentando as suas famílias.

Em 27 de Setembro de 1957eis que surge mais uma erupçãovulcânica, mas esta com carac-terísticas diferentes, pois estefoi um fenómeno natural sub-marino, ao largo da costa da ilha.

Este vulcão transformouliteralmente a vida da população,com os tectos das habitações acaírem com o peso das cinzas eas culturas devastadas, tendomuitas famílias de se deslocarpara as freguesias mais próxi-mas e mais tarde, também, paraa cidade da Horta.

Esta erupção, com conse-quências graves, embora semregistar vítimas mortais, abriu,contudo, portas para a emi-

gração, provocando um surtoemigratório expressivo emgrande parte para os EstadosUnidos da América, graças auma lei aprovada com o esforçodo representante estadual JohnPerry Jr., e dos senadores JohnPastore e John F. Kennedy, maistarde presidente do país.

Só após o 25 de Abril de 1974é que o grande desenvolvimentosurgiu no Capelo, com a abertura

de restaurantes e a construçãode casas de turismo rural. Nasinfra-estruturas de apoio aoturismo convém lembrar, ainda,a implantação do Parque Flores-tal, do Centro de Artesanato, doClube de Caça e Golfe, do Par-que de Campismo, do CentroHípico para actividades eques-tres, da piscina semi-natural doVaradouro, não esquecendotambém os melhoramentos naexcelente zona balnear junto doPorto do Comprido e o rasgar dediversos trilhos pedestres.

Agora, com a inauguração doCentro de Interpretação doVulcão dos Capelinhos, podemosafirmar que esta estrutura é um

marco histórico para a localidadee um pólo do conhecimentoglobal, sendo uma mais-valiapara a Freguesia do Capelo,para a ilha do Faial e para osAçores, no seu todo.

Mas, o Capelo, sendo “Terrade Esperança e de Futuro”, nãopode também esquecer osautarcas anteriores pelo trabalhorealizado, esperando os autarcaspresentes a realização de outros

projectos, nomeadamente aconstrução de uma piscina semi-natural junto do Portinho doComprido, a recuperação dasTermas do Varadouro, aampliação do Parque Florestal ea elaboração de um projectopara a construção de um portode raiz nesta zona da ilha, paraque o Capelo tenha também oseu desenvolvimento por viamarítima, a partir da excelenteBaía do Varadouro, a qual detémgrandes potencialidades para apesca, para a náutica de recreio,para as actividades marítimo-turísticas e para a afirmaçãocrescente da ligação e usufrutodo mar que nos circunda.

A FaiAlentejo ao longo de14 meses, de Setembro de2007 a Outubro de 2008, editou14 opúsculos com teste-munhos: 3 da Praia do Norte;2 do Norte Pequeno; 2 doCapelo; 2 dos Cedros; 2 doAreeiro; 3 da Horta.

Esta colecção teve comogrande virtude dar expressi-vidade à capacidade criativa doPovo que vivenciou o Vulcãodos Capelinhos. Com esteprograma editorial deu aconhecer a grande fonte cria-

COLECÇÃO PIROCLÁSTICA

José Francisco Pereira

dora que é o POVO e aondetodos vamos beber. Objectivoconseguido.

Com a edição destesopúsculos conseguimos pôr aler pessoas que já não tinhamesse hábito. Aos responsáveispelo Plano de Leitura. Notemque aqui está uma Boa Prática.

Outra virtude desta colecçãoforam os locais que escolhemospara o lançamento dosopúsculos: Fizemos lan-çamentos nos Cafés eBotequins existentes no Capelo

e Praia do Norte. Sempre comcasa cheia.

Todos os números se foramesgotando o que quer dizer quecada vez mais faz sentido editarum livro com todos ostestemunhos.

Esta colecção piroclásticateve o apoio do GovernoRegional dos Açores através daSecretaria Regional doAmbiente e do Mar, da CâmaraMunicipal da Horta, das Juntasde Freguesia do Faial e doINATEL.

Foto de Claude Dervenn, dois anos antes da erupção do Vulcão dos Capelinhos

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( Vulcão dos Capelinhos )

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A freguesia do Capelo, paramim, significa passado, a origemda família... Ao distante Capelo,só se ia ao fim de semana decarro, ou na “camioneta dacarreira”, carregada de cabazesno tejadilho, empoleirados nosassentos, vendo os imensos ericos campos da Feteira eCastelo Branco, que produziamtrigo, milho, tabaco, chicória,beterraba, batata branca e doce,feijão, fava, etc. Era para lá queíamos ao fim de semana, visitare passar o dia com os bisavós ecom a tia bisavó, visitando todosos demais parentes, desde aRibeira do Cabo ao Canto, tudoera varrido com a sofreguidãode um menino, que via para ládo horizonte da sua rua citadina,da sua freguesia.

Levávamos da cidade as mer-cearias e retornávamos com osprodutos hortícolas, fruta, ovos,galinhas, com a alma renovadae purificada para mais umasemana de trabalho ou de estudo.

No fim dos anos 60, o Vulcãoainda era árido, inóspito,inacessível, sem estrada..., e noVerão em que nos aventurámosa ir, areias abaixo, até ao farol eao Comprido, no regresso, tudoera igual, sem sinais de

referência, pelo que quase nosperdemos, tal era a imensidãodaquele areal...

Até aqui, sobressai desterelato, uma diferença abismalpara a actualidade: a diferençade escala, a (in)acessibilidadeàquela ponta Poente da ilha do Faial.

Para os meus oito anos, ir aoCapelo significava sair da “minhailha”, e, para terem uma ideia, hojevai-se mais facilmente a Lisboa doque naquele tempo ao Capelo..., parajá não falar na Praia do Norte, paralá do “Sol posto”.., onde semandava moer o milho.

Nesta profunda diferença detempos e de escalas, Porto Pimficava “muito longe”, e da Matrizsó se ia àquela praia na “urbana”citadina, hoje mini-bus.

Na memória das crianças, fica aimensidão de todos os objectos quenos rodeiam, quando ainda temos um

Paulo Oliveira

A um Capelo, distante!...

só metro de altura, e tudo éinacessível, as casas são enormes, eum palhaço sobre andas, para nós, osminorcas, parece ter dois pisos.

Esta profunda diferença detempos e de escalas, deixamemórias distorcidas da nossameninice, deixa marcas indel-éveis no nosso conhecimento,réstias de um mundo ancestral,a que tenho a honra de pertencer,muito longe do actual mundoglobal e virtual.

Bebi dos ensinamentos maisprofundos e antigos, de umafamília presente até aos meusdezoito anos, onde era comumfalecer-se muito acima dos 70,80 ou 90 anos, com dois recordesfamiliares com 100 e 101 anos...

A doença prevenia-se noscampos, na alimentação, nassaudáveis dietas naturais, nasculturas biológicos, nos hábitosalimentares, como a sopa de“couves solteiras”, nos caldos,na fruta, e nas papas de aveia,que se comiam quando a sombrachegava ao bardo, num autên-tico relógio solar... Poderei dizer,sem qualquer dúvida, que fuimuito feliz no Capelo.

Aprendi muito e nada,aprendi uma forma de estar esaber estar, quer com o silêncio

de meu bisavô faroleiro, com ocarinho severo de uma bisavódoméstica, quer ainda com asabedoria e o amor de uma tiabisavó, Emília de seu nome,solteira, que morreu virgem esem nunca ter beijado umhomem na boca, a poucos mesesde completar 102 anos.

A Tia Emília de tudo fez,desde as lidas dos campos, àlavoura, à vindima, à costura,mas do que mais tenho saudadesé do seu fino trato para com ascrianças... não havia “anjo” quelhe resistisse ao encanto dassuas histórias infindas, trans-mitindo uma sabedoria popularincansável.

Era um tempo, onde nãohavia energia eléctrica, águacanalizada ou telefone, comretrete no quintal e uma águafresquinha de uma cisterna

enorme, que tão bem sabia nastardes de Verão... aeroporto,televisão, frigorífico, casas debanho ou outros cómodos, erampura ficção, naquele Capelodistante e lindo.

Imensas histórias, provérbios,anedotas, adivinhas e demaisquadros de uma vida passada,que hoje minha mãe tentacompilar, para memória futura.

Discutia-se para ficar noCapelo, disputava-se a cama daTia Emília para uma sesta emalmofada de penas, perdíamo-nosno tempo das histórias, e todoscorriam para visitar as quintas,as adegas, os campos, ogalinheiro, a atafona, etc., emactividades saudáveis de ar livre,com muito exercício físico.

Com os abastecimentos públicosde água e luz, perdeu-se algumencanto, e o “progresso” foiinvadindo aquele paraíso, até aosdias de hoje, em que a místicaesvaiu-se por entre os dedos, assimcomo a nossa juventude.

Lembro-me perfeitamente daresistência de minha bisavócontra este progresso, contra estesabastecimentos públicos, da suadeterminada proibição contra umainstalação sanitária, contra essesluxos desnecessários...

Ainda sinto o cheirinho do pãode milho, do bolo e das batatas docesassadas..., recordo os ovosconservados na caixa do milho...,e do orgulho no galo “pastor”!

Mais tarde, nas décadas de70 e 80, havia o ritual de ir buscaros nossos parentes para as festasde Natal e Passagem do Ano,para confraternizarem con-nosco, nas festas citadinas, emlongos percursos de automóvel,em que se contavam os gatos ecães para não dormir, e sebrincava com os “velhotes” quefaziam questão de nos brindarcom a famosa angelica, emcopos tão minúsculos que, numano, se amarraram com umcordão, não fossemos correr orisco de os engolir..., numabrincadeira que, decorridas 3décadas, ainda faz parte da nossamemória familiar.

Ainda sou de um tempo, ondeo Capelo, num pós vulcão aindarecente, emergia das cinzas, etudo era novo, tudo eradeslumbramento, tudo eraqualidade de vida, segurança efelicidade. Hoje, os turistasprocuram esse tempo, que eu tivea felicidade de viver, na primeirapessoa!

Que saudade destes fami-liares, deste Capelo distante, donosso tempo!

Palmas ou Assobios, [email protected]

e e e e e mais propriamente nazona do Alto dos Cavacos.

O que porventura muitosdesconhecerão é que a afecta-ção do imóvel em questão autilização com fins públicosresulta da vontade do primitivoproprietário do mesmo, oConselheiro António Patrício daTerra Pinheiro, expressa no seutestamento, documento do qualfoi extraída em tempos recuadosuma certidão que o amigoSenhor Jacinto Ramos nosfacultou e que conservamos comtoda a estima e cuidado.

Aliás, está prometido que taltestamento - ou parte dele - vaiser reproduzido e afixado nas

paredes interiores do agoraCentro de Artesanato, para queda história fique impressamemória viva e a ela se acedade forma directa e imediata. AAssociação de Amigos do Faroldos Capelinhos, que ocupaaquela que foi casa de veraneiodo Conselheiro Terra Pinheiro,até já reservou espaçoapropriado para o efeito!

O referido testamento datade 28 Janeiro de 1911, tendo sidoformalizado, portanto, há 98anos. O Conselheiro viria afalecer a 3 de Junho de 1912.

Não tendo ascendentes oudescendentes, António Patrícioda Terra Pinheiro entendeudeixar a umas sobrinhas o seuprédio da freguesia da Matriz,onde residia (que confrontavacom a Travessa de Santo Inácio,com a Rua do Doutor Melo eSimas e com a Rua MédicoAvelar), enquanto dispôs que assuas casas do Capelo fossemdeixadas «à freguesia (…) paraem elas se estabelecerem asescolas dos dois sexos».

Queria, entretanto, oConselheiro que na frente dasmesmas se afixasse um dísticocom a seguinte frase: “Casadoada pelo Conselheiro TerraPinheiro e sua consorte DonaMaria Josefina Corrêa da TerraPinheiro ao povo da freguesia do

EM MEMÓRIA DO CONSELHEIRO

Capelo para servir de escola aosseus filhos e filhas”.

Curioso é o facto, por outrolado, de nas suas últimasvontades aquele ilustre faialensetambém destinar que o MeninoJesus que possuía fosseoferecido à «Egreja do Capelo,com a sua redoma». É ainda deassinalar que o Conselheiro,imperativamente, estabelecesse,sobre os seus derradeirosdesejos: «Quero que estetestamento seja publicado na suaíntegra…».

O Conselheiro AntónioPatrício da Terra Pinheiro foigovernador civil do Distrito daHorta entre os anos de 1881 e

1886, tendo anteriormenteexercido as funções depresidente da Câmara Municipalda Horta, de 1874 a 1877. Havianascido em 1837, falecendo com75 anos de idade.

O seu nome, para além datoponímia da Horta – noarruamento que liga a Rua Ilhado Pico, ao cimo da CônsulDabney, à Estrada PríncipeAlberto do Mónaco –, está jáimortalizado no Centro deArtesanato do Capelo, maispropriamente na placa relativaà inauguração, ocorrida no iníciodeste século, da “Escola deArtesanato”, denominada,precisamente “ConselheiroTerra Pinheiro”. Terra

Pinheiro, mas, note-se, tambémEscola, dado ser esse o fim queconstituiu a última disposição doproprietário daquele singularprédio urbano, em freguesiarural.

O texto gravado em tal placaé feliz, na denominação doimóvel, faz jus à vontade dotestamenteiro, embora lhe falteuma indicação mais precisa eaprofundada, como dissemos,mas que em breve a Junta deFreguesia do Capelo, conjun-tamente com a Associação deAmigos do Farol dos Capelinhos,fará, seguramente, cumprir.Para que a memória perdure…

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14 • Avenida Marginal • sexta feira 6 de Fevereiro 2009

A nossa escola fica nafreguesia do Capelo e chama-se EB1/JI do Capelo e Praia doNorte.

A escola da Praia do Nortefechou e os alunos vieram paraa escola do Capelo.

Fazem parte da nossa escoladois edifícios, num edifíciofunciona o jardim de infância eno outro funciona o 1º ciclo.

No jardim de infância háuma turma com dezassetealunos, uma educadora e umaauxiliar.

Na escola há duas turmas, aturma do 1º e 2º ano tem novealunos e a turma do 3º e 4º anotem catorze alunos. Há duasprofessoras e uma auxiliar.

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A escola tem duas salas deaula, uma biblioteca, um ginásio,um refeitório, uma cozinha ecasas de banho.

No recreio brincamos nocampo de futebol, na relva, nosbaloiços, no escorrega, no

cavalinho e no sobe e desce.Na escola aprendemos

coisas novas, escrevemos textos,pintamos e fazemos desenhos,fazemos trabalhos e jogos.

Gostamos muito da nossaescola.

A nossa escola

Textos e desenhos da autoria dos alunosda Escola do Capelo e Praia do Norte

A nossa freguesia chama-seCapelo, fica situada junto ao mare é a maior da ilha do Faial emárea.

É uma freguesia rural ecompõe-se de vários lugares:Canto, Capelo, Areeiro, Ribeirado Cabo, Varadouro e NortePequeno. Tem poucoshabitantes, aproximadamente500, na sua maioria de idadeavançada.

A nossa freguesia é a maislinda pela cor verde das suasfaias e dos seus incensos.Subindo o Cabeço Verde vê-seuma bela paisagem: pastagensverdejantes e, na Primavera, ashortênsias enchem a freguesiade cor.

No Capelo há três Impérios:O Império do Norte Pequeno, oImpério do Capelo e o Impérioda Ribeira do Cabo onde seservem as tradicionais sopas doEspírito Santo. É uma festa degrande tradição.

Festejamos também a festada padroeira Sant’Ana, naIgreja do Capelo, Nossa Senhorada Esperança na Igreja doNorte Pequeno e Nossa Senhorada Saúde na Ermida do

Varadouro, por altura dasvindimas.

Os nossos pratos típicos são:sopas do Espírito Santo, couvesrefogadas, caldo de peixe, massa

sovada, arroz doce, linguiça cominhames, torresmos…

Há 50 anos rebentou um

vulcão no mar, na Ponta dosCapelinhos, ficando conhecidopelo nome de “O Vulcão dos

Capelinhos”. O vulcão destruiucampos agrícolas, casas e ofarol, ficando só a sua torre.Nessa altura, muitas pessoastiveram de emigrar par osEstados Unidos da América. Nolugar onde explodiu o vulcão,construiu-se um Centro deInterpretação do Vulcão dosCapelinhos, onde se conta emostra imagens sobre aactividade do vulcão.

Na nossa freguesia, além deexistir o Farol dos Capelinhos, háoutros monumentos importantescomo a Igreja Paroquial e oantigo solar do ConselheiroTerra Pinheiro, sendo hoje em diaa Escola de Artesanato.

Temos ainda um lindoparque florestal com animais eque serve para fazer, com anossa família e amigos,churrascos e piqueniques. É

assim a freguesia ondemoramos, uma das mais belas dailha do Faial.

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sexta feira 6 de Fevereiro 2009 • Avenida Marginal • 15

Infelizmente não a conheci,mas mesmo assim só pelosrelatos de minha mãe e, poraquilo que presenciei, desdecriança, com ela e os meus tios,sempre senti que a minha avóera uma pessoa excepcional,porque só uma pessoa muito boae generosa era capaz de tal feito.

Ainda mal o sol raiava a avóVitória caminhava com umairmã mais velha, ainda solteiras,ao aproximarem-se da Ermidado Senhor Espírito Santo nafreguesia de São João (Com-panhia de Cima), repararam quedois homens estavam com umcabaz na mão que continha algodiferente, aproximaram-se porcuriosidade, qual não foi o seuespanto quando constataramque continha um recém nascido.Ficaram encantadas com o queacabavam de ver, de imediatodecidiram que haveriam de ficarcom aquele menino, insistiramaos senhores que lho entre-gassem, e estes acabaram poraceder, deixando-as radiantes.

Voltaram então para casacom aquele bebé que era bemvindo. Embora vivessem sósqueriam dar tudo de melhor aoseu menino, que havia sidoabandonado numa cesta devimes á porta da capela. Juntocom ele vinha um bilhete quedizia deve chamar-se António deSão João, foi esse o seu nomede baptismo. Assim passou achamar-se, satisfazendo odesejo de uma mãe, que emcircunstâncias de uma vidaconcerteza difícil, se viu forçadaa abandonar o filho. Por vezesnão compreendemos as razõesque levam as pessoas a tomardecisões tão dramáticas, acredi-tamos que em muitos casosficam a sofrer, mas para elas,naquele momento, essa deveafigurar-se como a únicaalternativa possível.

Deram-lhe todo o carinhocriando-o como se fosse seufilho, pois como elas diziam erao seu António. Naquela época,a maioria das pessoas dafreguesia, viviam da lavoura, eeram poucas as casas que nãopossuíam no mínimo uma ouduas vacas, algumas tinham afelicidade de possuir um pastomaior, era assim que se dizia naaltura, mas poucas eram as queiam além da meia dúzia. E erade um pasto de vacas, que o tioAntónio, ainda adolescente,tratava. Eram cinco cabeças.Quando pariam produziam leiteem abundância que ele nãoconseguia transportar sozinho,por isso os pais mandavam a

minha mãe, que era mais nova,ir com ele para o ajudar, noentanto, tudo fazia para que aMaria carregasse o menospossível.

A minha mãe gostava muitode contar a história do António,que com a preocupação de irpara as distantes pastagens domato, a cerca de duas horas emeia por veredas muitoíngremes, apenas auxiliado pelafraca luz de um pequeno lampiãoque facilmente se apagava como vento, chamava pelo nome dasvacas enquanto sonhava. Aminha mãe, que dormia noquarto ao lado, ouvia e dizia,António tens de chamar maisalto porque assim não te ouvem.

A avó Vitória que era maisnova que a irmã, casou algunsanos depois. Após o casamentocomeçaram a nascer os filhos,

ao todo foram sete os filhos docasal, o António era o mais velhodos irmãos, um irmão muitoquerido de todos. Entre eleshavia um carinho especial, osfilhos do casal chamavam-lhe onosso António, ao que elecorrespondia dizendo o nossoJosé a nossa Maria. Defendia-os como poucos irmãos ofaziam, eram realmente umafamília feliz.

Uma doença inesperadadesfez aquela família. Aos 37anos a avó Vitória faleceu,deixando filhos muito novos, omais novo com apenas um ano.

Gostaria de dar aqui o meutestemunho do tio António SãoJoão como lhe chamavamos, erade facto uma pessoaexcepcional, sempre bem

disposto, sempre muito amigodos irmãos e sobrinhos.

Não era apenas admirado nafamília, mas também em toda afreguesia. Recordo-me de ouvirpessoas da sua idade e maisvelhas fazer grandes elogios aotio António de São João.

Eventualmente casou e foiviver para o Faial, nasAngústias, fazia o transporte dalenha que vinha do Pico paraalimentar a central eléctrica.Usava um carro de bois paratransportar os toros, o que lhevaleu o título de António dosbois. Com o progressotecnológico, a central passou aser alimentada a gasóleo, e asbestas, que o ajudavamdiariamente, tornaram-seobsoletas. O tio Antónioadaptou-se à nova ordem,tornou-se electricista. Na

década de 60, como tantos,emigrou para os Estados Unidoscom a esposa e filhos. Apesarda distância que passou a havernunca se esqueciam uns dosoutros, sempre que a minha mãetinha conhecimento de alguémque vivia perto dele seencontrava de visita procuravasaber quando regressava e sepodia levar um queijo de SãoJoão, o seu favorito.

Faleceu nos anos oitenta. Oseu desaparecimento causougrande pesar em toda a família.Ainda hoje, os filhos que residemnos Estados Unidos, quandovisitam a terra Natal nãoesquecem os primos, do lado dopai, filhos dos únicos irmãos queconheceu e sempre tratou comcarinho.

A Casa de Infância de Santo António (CISA) é uma InstituiçãoParticular de Solidariedade Social, foi fundada no dia 28 deDezembro de 1858, no antigo convento de Santo António, com onome de “Asilo de Infância Desvalida da Horta”, cuja finalidadeera acolher jovens do sexo feminino, órfãs ou desprotegidas demeio socioeconómico saudável para a sua educação. Mais tarde,em 1970 a Instituição passou a designar-se por “Casa de Infânciade Santo António”, no qual continua a desempenhar um trabalhode solidariedade social e de formação/desenvolvimento de cadacriança ou jovem, promovendo e assegurando a dignidade de todos.

Com o passar do tempo e com o surgimento de novasnecessidades, a Instituição sofreu algumas mudanças significativas,uma delas foi a passagem de Lar Feminino para Lar Misto. Nesteintuito foram abertas mais duas residências, uma delas destinada a

acolher crianças dos sexo masculino dos 0 aos 8 anos e do sexofeminino dos 0 aos 10 anos (Centro de Acolhimento Misto), a outraresidência é destinada a jovens do sexo feminino com mais de 16anos, no sentido de prepará-las e dotá-las de competênciasessenciais para uma vida social autónoma, procurando envolvê-las na organização e gestão da Casa, assim como, nas despesasinerentes e na gestão financeira (Casa de Transição para a VidaAutónoma). Passa assim a residência que já estava em funcionamento aacolher crianças e jovens do sexo feminino com idades compreendidas entreos 10 e os 16 anos (Lar de Jovens Feminino).

Actualmente no Lar estão acolhidas 13 crianças e jovens, sendo12 do sexo feminino e 1 do sexo feminino, com idadescompreendidas entre os 3 e os 23 anos.

No presente ano a Casa de Infância de Santo António celebraos 150 anos de existência, neste sentido está a organizar umprograma de festividades que decorrerá até Junho de 2009.

Manuel Fontes

À MEMÓRIA DA AVÓ VITÓRIAVânia Sofia Borges Sousa

Colégio de Santo António

Alunos do Colégio no Carnaval de há 20 anos

Ermida do Senhor Espírito Santo, São João, Ilha do Pico

Vân

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ousa

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16 • Avenida Marginal • sexta feira 6 de Fevereiro 2009

Gratos pela sua preferência

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.

eeeee punham-se a secar,geralmente sobre as vassourasque já estavam na loja àabrigada, pois no dia da matançapodia amanhecer a chover.

No dia seguinte, véspera damatança, as mulheres cortavame amassavam as cebolas, a salsae os orégãos, outras coziam obolo no forno, o pão de duasfarinhas, coziam-se os inhames,assavam-se batatas-doces,preparava-se o bacalhau para oalmoço do dia seguinte, caso nãose tivesse conseguido peixefresco, outras preparavam assalgadeiras e panelas de barropara salgar o conduto e colocara banha, etc. etc.

No dia da matança, logomanhã cedo, começavam achegar os primeiros convidados;os parentes e amigos maischegados, que vinham ajudar amatar e preparar o porco.

Serviam-se os primeiroscopinhos de aguardente. Algunsdos convivas faziam umascaretas, outros talvez lamen-tassem o tamanho do copinho, eainda outros picavam o tabacoda horta e embrulhavam o seucigarro em papel próprio oucasca do milho, fina.

Deitava-se o olho ao porcoainda vivo no curral, teciam-sealguns comentários sobre a vidae progressão do bicho: Se tinhasido de boa boca, se tinha sidosempre saudável, discutia-se eaté se apostava o peso do animalque depois de morto era pesadopara tirar as teimas, etc.

Quando eram de má boca,havia quem procurasse certas“pessoas entendidas nabenzedura do quebranto”, queatravés de alguns cabelos doanimal, normalmente do rabo oudo lombo, “ lá lhe resolviam o

problema”. Mais um copinhode aguardente e, ouvia-se uma

voz mais alta:É rapazes! vamos a isto!

Os mais afoitos saltavam paradentro do curral, de corda namão, para amarrar, primeiro ofocinho do porco para nãomorder, e depois os pés e asmãos para não espernear, o quepoderia estorvar a manobra doenfiar a faca.

Era colocado sobre umtabuleiro, normalmente doistabuões lado a lado sustidos porduas travessas de madeira ouuma porta velha sobre doiscestos, e o matador (oumarchante) lá lhe enfiava umacomprida e aguçada faca,normalmente feita no ferreiro láda freguesia, rumo ao coração.Por vezes, a manobra falhava,e, era o diabo depois parasangrar o bicho, e uma vergonhapara ele, marchante. Nospróximos dias não se falarianoutra coisa.

O sangue era aparado paraum alguidar, normalmente debarro - na altura ainda nãoexistiam os plásticos - enquantooutra pessoa já o ia mexendopara não coagular de imediato.

Depois era logo misturadonas cebolas que voltavam a seramassadas juntamente com umbom cesto de asa de salsapicada, bastantes orégãos e o véudo porco e o cravinho, picados empequenos pedacinhos.

Aberto o porco, eram-lheretirados os chamados“saltarilhos” e levados numalguidar para a cozinha, onde seprocedia à separação das tripaspara desmanchar e lavar; as dointestino grosso e o paio, erampara as morcelas, e as dointestino delgado para a linguiça.

De seguida, depois de muitobem lavadas as tripas do bichocom água, farinha de milho,limas azedas, sal, etc., eram

cheias e cozidas as morcelas.Enquanto isto, alguns iam

acabando de amanhar o porco,outros bebiam mais um copinhode aguardente. Os bofes

(pulmões) e o coração eramguisados com batatinha brancae arroz, para a ceia das visitasque vinham à noite ver o porco,e também os que “viriamcantar as morcelas“, junta-mente com umas morcelas fritas,peixe do almoço, o fígado e unsvalentes copos de vinho do pico.

À noite, em muitas casas,bailava-se a chamarrita do Pico,ou como também era normal,alguns próximos da família oumais arrojados, apareciam os

ranchinhos. Já escuro e desurpresa, quando menos seesperava, desatavam a tocartambor e ferrinho fora da portada cozinha, cantando:

“ Ó Sr. dono da casaEstá direito, não está tortoNós tivemos a notíciaQue matastes o teu porco

As morcelas eram grossasO toucinho recheado Dai-nos uns copos de vinhoTambém delas um bocado

Ó Sr. dono da casaPorta aberta e luz acesaE uma morcelinha assadaPara cima dessa mesa.

Ó Sr. dono da casaE mais toda a sua genteHá-de-nos também brindarC’ uma pinga de aguardente.

Ó Sr.ª dona da casaTrabalho mal amanhadoAguardente não é boaSem um figuinho passado.

Ó Srs. donos da casaBem nos podeis desculparSabe Deus daqui a um anoQuem vos virá visitar.

Como atrás disse, as tripas dointestino delgado, eram para encher alinguiça, feita com a melhor carne,depois de colocada numa vinha’lhos

forte, temperada de preferência comlaranjas azedas durante 4 a 5 dias numou dois alguidares de barro, mexida eprovada, várias vezes ao dia.

Depois de pendurado o porco- em São Caetano normalmentepelo focinho - a um tirante numlugar próprio, na cozinha ou naloja, era aberto de cima a baixoagora pelas costas, onde eramenfiadas umas canas que,mantendo a carne aberta, maisfacilmente enxugava.

Lavavam-se as mãos e tocaa chegar para mesa, pois já nãoera sem tempo.

Estava-mos em Janeiro. Frioa rachar, e, com aquelescopinhos de aguardente o molhode peixe e o feijão assado noforno a bom cheirar que faziamcrescer água na boca, um bom

pedaço de queijo de São Joãocom uma fatia de pão de trigoou de duas farinhas, aquelevinho de cheiro do Pico escolhidopara o dia... Tinha valido a pena.

Depois do valente almoço,alguns lá caminhavam para suascasas ou trabalhar as suasvinhas, se o tempo o permitia.

Era vê-los por aquelasvinhas, altura em que eramtrabalhadas, ora trabalhando, oraencostados a um abrigo, (umaparede) com um saco de serapi-lheira de capuz ou um casacovelho por cima das costas,enquanto chovia ou caía granizo.

Os ventos fortes e mais frios,eram predominantes do qua-drante Oeste a Norte. Alicontra aquela parede mais altasempre fazia mais umaabrigadinha.

Outros continuavam pormais algum tempo na conversa,e, iam então as mulheres ecrianças para a mesa, para umtambém bem merecido almoço.

Durante a tarde enquantoumas enchiam e coziam asmorcelas, outras ocupavam-sede certas limpezas, e outrasainda, preparavam já o jantarpara todos inclusivamente osconvidados que haviam dechegar à noite, ver o porco.

No dia seguinte, logo demanhã, desmanchava-se obicho, partindo-o aos pedaços,como melhor convinha. Primeiroque tudo, cortava-se um bompedaço de toucinho e umaassadura do lombo, para: OPadroeiro São Caetano, Sr.Padre, Sra. Professora enormalmente para o Sr. Guarda-Fiscal lá da Freguesia, depoispara os parentes, vizinhos ealguns amigos a quem se deviamfavores e ou atenções.

A carne, os ossos e algumtoucinho, eram salgados emsalgadeiras de barro, muito bemescaldadas com água a ferver,muito bem lavadas e esfregadascom laranjas azedas, quesempre já deixavam ali um certogostinho.

O restante toucinho eraderretido em grandes caldeirões,de onde se extraía a banha paratemperar a panela e para afrigideira, e sobravam os resí-duos, os saborosos torresmos dagraxa, como se chamavam.

Da linguiça, vendia-se umaparte, bem como uma lata dabanha, para comprar um outroporquinho para o ano seguinte.

A matança do porco

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Claudia Silveira

Memórias feitas de pequenos nadas

Há momentos da nossainfância que nos acompanhampara toda a vida. São lembran-ças intemporais que existemdentro de nós, que nos moldamo crescimento e que nos dão

alento nos dias, em que levantarda cama pela manhã nos parecea coisa mais difícil do mundo.

Para uns é o primeiro dia deescola, a primeira vez queandaram de bicicleta semrodinhas ou a primeira vez queandaram de avião para outros,eventos normalmente peque-ninos e só nossos mas que ficampara sempre gravados namemória.

Duas das memórias querecordo com mais carinho naminha infância estão rela-cionadas com aquela que maistarde se tornou a minha grandepaixão, o cinema.

O primeiro filme que merecordo de ver numa sala decinema a sério foi o “E.T. – oExtraterrestre” de StevenSpielberg. Devia ter os meus 7anos, numa viagem de Verão aLisboa fui com os meus tios aocinema que existia no CasinoEstoril. Lembro-me de ter ficadoabismada com o tamanho dasala, o ecrã gigante e de pelaprimeira vez ter adorado oescuro e o anonimato que nosconfere uma sala de cinema.

Este dia marcou também aprimeira vez em que choreinuma sala de cinema. Durante2h não estive sentada ao lado dosmeus tios mas sim dentro doecrã, sentada naquela bicicletaque voava sob a lua cheia a

tentar, com todas as minhasforças, voltar para casa. Aindarecordo a cara de assustada daminha tia sem saber o que mefazer ao ver a torrente delágrimas que teimava em nãoparar…se a memória não mefalha penso que a questão ficouresolvida com um grande geladoapós o filme. Depois desse diair ao cinema passou a ser umaexperiência maravilhosa, oponto alto do dia, da semana,do mês.

A lembrança mais viva quetenho de assistir a um filme nonosso Teatro Faialense deveser de 2 ou 3 anos depois.Obviamente que não foi aprimeira vez que lá fui, masainda hoje quando lá entro é aprimeira coisa que me vem àcabeça.

O filme era o “Indiana Jonese o Templo Perdido”, nova-mente de Spielberg, e estavanum camarote do primeiroandar com o meu irmão mais

novo e o meu avô António. Dos4 filmes do Indiana Jones pensoque este é o mais “nojento”. Hácenas para todos os gostos,

desde miolos de macaco comoprato principal de um jantar, túneissecretos cheios de bichinhosrastejantes e corações arran-cados do peito com o desgraçadoainda vivo mas para mim foi omaior festim visual da minhacurta vida. Era um filme cheio decores vibrantes, de cenáriosexóticos e de movimento.

Escusado será dizer que o meuavô odiou, o meu irmão era novodemais para aquilo (o que fez comque adorasse ainda mais o filme)e ainda hoje recordo como passeio filme todo agarrada ao corrimãodo camarote com o nariz o maispróximo possível do ecrã.

No final, se for a ver bem, asminhas memórias cinema-tográficas mais marcantes são asprimeiras lágrimas derramadasnum filme sobre um bonecoestranho de pescoço longo queteima em telefonar para casa e oagarrar de um velho corrimãocomo se estivesse no meio deuma montanha russa.

Estas serão para todos osoutros meros nadas mas paramim são alguns dos meus bensmais preciosos.

Cidade criativaeeeee como é vista pelosutilizadores.

A Web 2.0 prima por umamaior partilha de conteúdos,aproveitando ao máximo a“inteligência colectiva” dosutilizadores que, com extremafacilidade criam os seus blogues,os seus canais no Youtube epartilham informação nas wikis

e outros sites de carácter social(Facebook, Hi5, Myspace).

Esta é uma Web maiscomunitária e interactiva, umaplataforma de partilha de ideiase conhecimentos em que ocidadão comum é consumidor eprodutor de conteúdos. Estanecessidade de partilha sempreconceitos tem sido uma fortecaracterística da primeiradécada do século XXI.

A facilidade com que asnovas tecnologias nos tornam atodos potenciais criadorescoloca a problemática daveracidade e qualidade dosconteúdos. Mas, essa mesmafacilidade é a principal causa doBoom criativo que se tem vindoa sentir um pouco por todo omundo e que nos chega à cidadeda Horta.

Já não estamos atrasadosduas, três ou quatro décadas.Vivemos em rede e issopermite-nos estar actuali-zadíssimos.

As comunidades reais nuncairão ser substituídas pelascomunidades virtuais, mas é

necessário estarmos cons-cientes de que uma qualquer“cidade criativa” encontra naWeb um forte aliado pararentabilizar o potencial criativohumano. Cabe a cada cidadeproteger e dar condições paraque a “classe criativa” se fixee que, em conjunto,desenvolvam uma economiasustentável.

Todas as economiasnecessitam de uma “classe

criativa”, proactiva einformada, segundo JohnHowkins: “Necessitamos deinformação. Mas também deser activos, inteligentes epersistentes a trocá-la.Necessitamos de ser origi-nais, cépticos, argumen-tativos, descentrados. Numapalavra, criativos.”.

Não deites espinhas aogato em cima do meu jornal.Estima-o. Ao gato também,claro, mas estava a referir-me especificamente aojornal, ao Avenida Marginal.Lê-o com atenção, comintuição, com partilhadacumplicidade. Acima detudo, guarda-o com carinho,em local seco e fora doalcance das... traças. Osteus netos vão agradecer-teessa atitude um dia.

Atenção!!!Se porventura já não tens

espaço em casa paraguardar mais nada nãodesesperes: Oferece estejornal a um amigo muitoespecial ou então coloca-ona caixa do correio de umvizinho que não tenhagrandes hábitos de leitura.

Talvez os ganhe!

Aquele abraço

heitor

“FAZENDO” de 11 de Dezembro de 2008

PU

B.

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18 • Avenida Marginal • sexta feira 6 de Fevereiro 2009

Universidade SéniorJaime Batista

Anunciada e já com ins-crições está a funcionar nacidade da Horta a UniversidadeSénior. Segundo li, esta criaçãoé da iniciativa dos antigos alunosdo Liceu da Horta.

É bom para a ilha, isto é,bom para todos os cidadãos doArquipélago, mas, natural-mente, para os mais próximosda nossa localidade. Vai pro-porcionar aos mais velhos outraforma de vida, de sentidopositivo, pois todos precisamosde estar sempre no presente nascoisas novas do Mundo actual.

Mas – em todas as coisas háum “mas” – nem tudo estará deacordo com o pensamentouniversal. Comigo, também não.Primeiro que tudo, penso que osprofessores para esta Univer-sidade deveriam também ser“seniores”, isto é, deveriam serprofessores reformados, com omesmo espírito maduro dos seusalunos. Mas já vi que não éassim. E não será assim, porquenão haverá professores sufici-entes com estas “qualidades”.E então o remédio – se isto éremédio – é recorrer-se aosdocentes ainda ao serviço. É, àfalta da solução certa, um bomremédio.

Mas o que parece nada certoé o lugar das aulas. Foiescolhido, para isso, o edifício doAmor da Pátria. Num país enuma região onde recentementese fecharam milhares de escolas– repito: milhares de escolas –julgo improvável não seconseguir uma casa própria. Esei que as há. Por isso éinaceitável uma escola no Amorda Pátria. Qual a razão?Porquê? E não faço maiscomentários, porque pode havermotivos fortes e tambémexplicativos, que desconheço.Caso contrário...

Assim fossem as todas ascoisas que nascem nesta nossaterra, e que não tenham oveneno partidário.

Há anos li muito o filósofoinglês Bertrand Russel. E umacoisa que ele dizia – lembro-mebem – era que “quando se abre

uma escola é como um rasgão

de claridade e sol que entra

num lugar, e quando se fecha

uma escola é um apelo à

escuridão e às trevas”. E se jáestávamos cerrados e de olhosturvos, a verdade é que oobscurantismo recomeça aminar-nos os movimentos e arazão. É como no tempo deSalazar...

As coisas são tão ridículasque, um dia destes, numareportagem, oiço um acrisolado

autarca, no arranjo de um jardimmunicipal, dizer que determinadolugar aberto era para fazer umaescola!...

O emprego dosdesempregados

Uma coisa que eu nuncaentendi muito bem são estesdenominados “contratos a termocerto”. E não se entendemporque são verdadeiros aten-tados à dignidade do ser humano,que não tem segurança notrabalho, vendo a esperança dasua vida constantementeameaçada.

Portugal e esta Região dosAçores vivem tempos aflitivosneste aspecto. Somos o país dodesemprego aviltante, onde apobreza cresce todos os dias, eo exército dos “sem crédito” écada vez maior.

Eu não sei se o Governo deSócrates faz o possível porsanear este problema, mas seique faz o impossível para oesconder de todos nós, deitandomão de todos os truques para oocultar.Mas mesmo assim asmentiras políticas multiplicam-seregularmente, fazendo crer queo que não faltam são empregospara toda a gente, e que oGoverno, naturalmente, é que ospromove. É que enquanto oGoverno cria 50 postos detrabalho, e os propagandeia portodos os orgãos da comunicaçãosocial que controla, logo fecham

meia dúzia de empresas quedisseminam centenas detrabalhadores desempregados. Ese não fossem os milhares de“empregados” que deixam o Paístodos os meses – li que, nosúltimos tempos já sairam dePortugal 75 mil pessoas – asestatísticas seriam medonhas eassombrosas.

O Presidente da República,no seu discurso de 5 de Outubro,pôs, muito de leve, o dedo nestachaga social, mas devia ter ido

mais longe na denúncia pública,envergonhando, “urbi et orbi”,todos aqueles que sãoresponsáveis por esta situação.É que o desemprego não poupaninguém. Até os que saem dasEscolas com os seus cursos,quaisquer que eles sejam, paraviverem, para ganharem a vida,têm de deitar mãos a tudo, porbaixo, não produzindo aquiloque as suas profissões, parao que estão habilitados,proporcionariam.

E é este País e esta Regiãoque temos! Este é o empregodos desempregados. Dos quetodos os meses choram lágrimasde sangue para não cairem noatoleiro que lhes passa às portas.

Aqui d’el rei

Dificilmente vamo-noshabituando às assombraçõesque, periodicamente, avassalamo nosso País e a nossa Região.Basta, para isso, que o Governode José Sócrates pensequalquer coisa. É que todas asvezes que ouvimos os orgãos dacomunicação social dizerem queo “Governo está pensando...” équanto basta para vociferarmos“aqui d’el rei”, porque todos sópensam calamidades e des-graças, que caem, inteirinhas, nacabeça do Povo. A última queouvimos agora é que “o Gover-no está pensando” aumentar asmultas, a nível do trânsito, formaesta de se pôr o portuguesinho

valente a pagar a crise. E postoisto já estamos a ver os nossospolícias ainda mais entusias-mados do que nunca a procu-rarem nos alfarrábios motivosmais ou menos suficientes parasatisfazer quem manda.

Estamos feitos, se isto forpor diante. É motivo claro paragritarmos um “aqui d’el rei” cadavez mais retumbante e maisforte, como se já não bastasseo que por aí vai...

“Aprender até à morte” - é uma faculdade dos sereshumanos. Em boa hora, alguns faialenses “não vencidos pelavida” decidiram lançar mãos à obra e criar uma UniversidadeSénior. Naturalmente, devem regozijar-se pelo facto da adesãoa esta iniciativa ter ultrapassado, amplamente, todas asexpectativas depositadas “nesta aventura” de novos saberes.

Entre os cursos criados, surgiu uma “Oficina do Teatro”com a perspectativa de explorar três vertentes relacionadascom as artes de palco. A primeira dirigida aos interessados empisar o palco como actores; a segunda vocacionada para osbastidores e a terceira aplicada à pesquisa histórica. Os“desafios” que se colocavam aos possíveis interessados eminscrever-se eram: Venham aprender! Venham partilhar!Venham divertir-se! Venham ser felizes!

As inscrições estavam limitadas a quinze alunos, mas seeste número fosse superado, ninguém seria rejeitado.

Matricularam-se pessoas: interessadas, motivadas,estimuladas e, sobretudo, com uma dedicação inexcedível!Salienta-se que todos os inscritos estavam interessados emserem actores. Experimentar novas vivências! Encarar o públicode frente! Sentir a adrenalina da actuação! Na sua quasetotalidade elementos femininos. Não existindo textos dramáticosdedicados a uma maioria de actrizes, foi necessário elaborarum texto. Por unanimidade, decidiram-se por uma comédia, poistristezas já bastam as do dia-a-dia.

O texto foi elaborado por mim com a colaboração de muitassugestões e a concordância do texto final por parte dos alunos.Só assim, haverá uma envolvência e dinâmica que se pretendesempre motivadora/empreendedora.

Surgiu um texto dramático com o título “É SÓPARÓDIA!”. Uma comédia em dois actos que relata asvivências e as múltiplas histórias relacionadas com o quotidianoda cidade da Horta, desde a década de cinquanta até àactualidade. O texto é entrecortado e enriquecido com cançõesque marcaram as nossas vidas.

O dinamismo, o empenhamento e auto-confiançademonstrados levaram-nos a outros sonhos e projectos maisambiciosos. Estão a ser desenvolvidos esforços para efectuarespectáculos por toda a Ilha do Faial, possivelmente na ilhavizinha, uma digressão por Portugal Continental na primeirasemana de Maio, actuando em cinco Universidades Seniores,e a realização do “I ENCONTRO DE TEATRO SÉNIOR DAHORTA”, na terceira semana de Maio.

Se os apoios solicitados e outros contactos a desenvolverposteriormente se concretizarem, teremos condições para levarpor diante todos os nossos projectos.

A Direcção da Universidade Sénior da Ilha do Faial estáprofundamente empenhada em concretizar todas as propostas.

Vidas activasManuel Aguiar

Sociedade Amor da Pátria

Venham divertir-se! Venham ser felizes!

Ave

nida

Mar

gina

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sexta feira 6 de Fevereiro 2009 • Avenida Marginal • 19

Incenso fez História nos Açores

Planta natural da Austrália,Pittosporum Undulatum, foiintroduzida nos Açores há maisde duzentos anos. Esta espéciede folhas persistentes tem floresna Primavera e frutificação noprincípio do Verão. Esta folhosa,por ser de crescimento rápido,desempenhou um papel impor-tante na economia destas ilhas,como alimento para o gado ecombustível na confecção dosalimentos.

Na ilha das Flores, o incensofoi inicialmente utilizado empomares, como sebes vivas, naprotecção aos ventos.

Esta essência florestaldesenvolve-se desde a costa atéa uma altitude aproximada de600 metros.

Em terrenos férteis, estesexemplares poderão atingiralturas de 10 metros, fortuita-mente 12 e 15 metros. A frutifi-cação é muito abundante, trata-se de cápsulas, de cor verdequando maduras passam aalaranjadas, muito apreciadaspor algumas aves selvagens. Otentilhão foi o principal agenteda sua disseminação. Em terrasde meia encosta, zonas maisescarpadas, conhecidas porterras de mato, casos havia emque a propagação era feita pelaspopulações, por estacaria esementes.

A propriedade rural écomposta predominantementepor minifúndios. Nos terrenosmais próximos da costa eracultivado o milho ou trigo,terrenos de Outono. Na meiaencosta existem as pastagens eterrenos de mato. No centro daIlha, terrenos baldios.

Com a criação e acção dosServiços Agrários e Florestais,as pastagens foram substancial-mente melhoradas, com semen-teiras de trevos e gramíneas, desementes importadas.

A importância desta espécieterá que ser apreciada numcontexto sócio-económico daépoca onde se desenvolviam

estas pequenas explorações. Aspastagens tinham no Invernoproduções muito insuficientes

para alimentar as manadas.Alguns dos animais eramestabulados, outros iam para apastagem durante o dia voltandopara os estábulos à tarde, ondeera fornecida uma refeição derama de incenso acompanhadade folha ou casca de milho. Aoutra parte servia de combus-tível na confecção dos alimen-tos. Alguns exemplares, quandoatingiam portes elevados, tinham

diferentes utilizações. Naquelaépoca os terrenos de mato erammuito desejados pelos proprie-tários, visto serem essenciais e

João António Armas de SousaLuis Filipe Machado

Recentemente, a 24 deJaneiro, comemorou-se um anoda passagem do Cabo Horn.Nestas condições, dobragem docabo Horn à vela e em solitáriode Leste para Oeste, GenuínoMadruga foi o décimo velejadora fazê-lo, depois de: MarcelBardiau (França, 1950/1958);Edward Allcard (UR.U., 1957/1973); Chay Blythe (R.U., 1970/1971); Ambrogio Foger (Itália,1973/1974); Kenichi Horie(Japão, 1973/1974); Alan Edddy(E.U.A.); Edwin Arnold(E.U.A., 2001/2002); UweRottgering (Alemanha, 2001/2004) e Donna Lange (E.U.A.,2005/2007). Agora é a vez, paraos próximos dias, do Cabo daBoa Esperança.

“Capitão Madruga”

A 3 de Julho de 08 GenuínoAlexandre Goulart Madruga,pescador, mestre, armador,navegador solitário, velejadorcom uma viagem de circum-navegação já feita, foi aceite

como membro da Confraria dosCapitães do Cabo Horn. Adistinção deve-se ao facto de tersido o primeiro navegadorportuguês a cruzar o Cabo Horn,de leste para oeste em solitárioe à vela.

Natural do Pico e residenteno Faial, onde foi sempre o maisinovador e criativo dos mestresde pesca, Genuíno Madruga,navegando sozinho, num veleirode série de 11 metros, já deuneste momento quase duasvoltas ao mundo no seu“Hemingway”.

A Confraria Chilena dosCaphorniers, ao admiti-lo como

Um ano separou os dois Cabos

membro, está a distinguir aousadia, a tenacidade e acapacidade marinheira de quemprogramou a sua segundaviagem à volta do mundo paraser deliberadamente mais difícildo que a primeira.

Pertencer a uma instituiçãotão restrita como é estaConfraria não é uma situaçãoque esteja ao alcance de muitos.Pertencer a uma Confraria deMarinheiros com estascaracterísticas, tem para oshomens do mar, o mesmo valorque para um cientista ou umhistoriador tem o pertencer auma Academia. GenuínoMadruga, navegador homena-geado e reconhecido no seuPaís, é a partir de agora umnavegador que começa a ter umreconhecimento internacional degrande valor e qualidade.

Rota do navegador

Genuíno Madruga saiurecentemente de Port Elizabeth,com destino a Mossel Bay, onde

deverá estar entre 2 e 3 deFevereiro. Seguir-se-á a Cidadedo Cabo, depois da passagem doCabo da Boa Esperança, ouCabo das Tormentas. Prevê-se,por agora, que a sua estada emCape Town seja entre 5 e 13 deFevereiro. Seguir-se-á, já noAtlântico Sul a ilha de SantaHelena e depois já no Brasil, coma viagem de circum-navegaçãocumprida, a ilha de FernandoNoronha e S. Luis. Mais tardeserá a vez de Barbados nasCaraíbas e finalmente o rumo acasa, no dia 30 de Maio de 2009,pelas 15 horas, aproveitando osalísios.

Ave

nida

Mar

gina

lA

veni

da M

argi

nal

Genuíno Madruga a bordo do “Hemingway”

representarem uma mais valiaàs suas explorações.

Esta espécie arbórea coabita

perfeitamente com a faia daterra MYRICA FAIA e outrasde igual porte, embora comalgum carácter dominador.

Com o aparecimento do gásde cozinha, da melhoria daspastagens, com a emigração econsequente falta de mão – de- obra, o incenso, praticamente,deixou de ter proveito.

O incenso é uma plantamelífera com condições óptimas

para a indústria da apicultura. Apartir desta produz-se mel deexcelente qualidade.

PU

B.

Page 20: Avenida Marginal 2

20 • Avenida Marginal • sexta feira 6 de Fevereiro 2009

Nascido do MagmaVictor Rui Dores

Gostei incondicionalmentedeste romance de RubenRodrigues. Antes de mais,porque está bem escrito: há, aqui,o domínio da língua portuguesa,a capacidade descritiva e aefabulação narrativa.

Num discurso literário quemergulha fundo na raiz e nohúmus da vivência açoriana,Nascido do Magma captaaspectos da expressão darealidade geográfica, afectiva,social e humana do Pico e doFaial (ilhas que nunca sãonomeadas) dos anos 40 doséculo XX, sendo nestaambiência impregnada deinsularidade que decorre aacção do romance, em plenaSegunda Guerra Mundial.

São nestes dois mundosmatriciais e míticos (a vivênciapicarota e a vivênciafaialense), e é na distânciapróxima destas duas ilhasque reside o universotemático de RubenRodrigues que, (deforma autobiográfica?)através de Manuel,figura central do ro-mance, convoca einvoca a infância ea adolescência, opercurso daaprendizagemda vida, a dis-tância e aausência, asaudade e asolidão, os amoresinconfessados e desencontrados,sonhos e desejos, alegrias edúvidas, afectos e nostalgias,esperanças e decepções, o beme o mal, a luta pela sobrevi-vência, o tempo e o porvir, a vidae a morte, o desejo de largaramarras, a emigração…

Manuel, espírito inquieto eirrequieto, na sua tenacidade eluta pela sobrevivência, sentindoo enclausuramento interior, ébem o símbolo da ilha, na sua

força cósmica e telúrica. É eleque, levado pelo desejo daviagem, da aventura e daevasão, embarca, clandestina-mente e de surpresa, numcargueiro rumo à América.Porque a viagem é a sua formade perseguir o sonho e a ânsiade “singrar na vida”. E,trabalhando arduamente num“farm” do Vale de São Joaquim,na Califórnia, dispõe-se aarranjar pecúlio, lutando, assim,por um futuro melhor para si epara Felicidade, a amada que,

qual outra Penélope,ficou na

ilha…Este romance

lança uma visão açorianaa uma Europa em guerra e a umPortugal de misérias erepressões, nesse tempo (sépia)do Estado Novo da pobreza, dosubdesenvolvimento, da into-lerância…Tempo de inquie-tações e perplexidades (JoséAlves não compreende a razãoque leva o padre Silva Nunes a

afirmar que os sismos sãocastigos divinos…), mastambém de fraternidade esolidariedade, vividas nomicrocosmo de uma comu-nidade rural de pastores elenhadores, gente trabalhadorae com um grande sentido dedignidade e humanidade,tipificada na família Rodrigues:o pai, Manuel Rodrigues, a mãe,Amélia, e os filhos Manuel, BoaNova e Conceição.

Nessa sociedade patriarcal(numa freguesia que então viviasem energia eléctrica),conservadora, fechada sobre simesma e profundamente

religiosa, o professorTavares tipifica

u m av i s ã o

o u t r ado mun-

do, emc l a r a

o p o s i ç ã oideológica ao

padre Nunes.E isto num

tempo em queos poderes abso-

lutos (o dogovernador civil,

por exemplo) eramexercidos absolu-

tamente…Com 260 páginas, e

significativa capa feitaa partir de uma foto de

Ana Esquível, Nascido doMagma é um romance

muito vivo e envolventesobre nós, ilhéus de muitas

ilhas, as verdadeiras e asinventadas, as geográficas e as

afectivas. Um romance deleitura empolgante, dotado depersonagens bem modeladas ede uma escrita desembaraçada.E que nos fala, essencialmente,desse mito do regresso aostempos e aos lugares de ondenem sempre se partiu.

“Um ancião, caído por entre as pedras e os pedregulhos

daquilo que fora, até há instantes, o seu pobre abrigo,

vociferava desbragadamente, agarrado a uma perna

esfacelada,com uma fractura exposta (…) Um grupo de

crianças, coberto de pó e caliça, chorava, convulsivamente,

ao derredor de uma mulher, ainda jovem, que, petrificada,

olhar esgazeado, perdido na imensidão do nada, sentada

sobre uma soleira de basalto, comprimia, no seu colo e

contra o peito, uma criança de uns cinco anos, inerte, sem

vida, rosto e corpo ensanguentados…”

“A desfolhada decorria animada, folgazona e produtiva,

mas tardava em aparecer uma maçaroca pintalgada de

vermelho ou vermelha de todo, e permitir aos mais atrevidos,

ou às mais coscuvilheiras, fazerem juizos...”

“Felicidade não lhe saía da cabeça! Como e quando

iria reencontrá-la? Tinham combinado escrever-se. Ela,

directamente para a sua casa, ele, utilizando a direcção de

uma sua amiga íntima, mas isso era muito pouco. Desejava

vê-la...”

“No dia seguinte, Manuel voltou à cidade, cestos repletos

de fruta e inhames. Ao chegar ao cais de embarque,

olhando para o canal, deparou-se com dois navios, dando

a ideia, a distância não permitia confirmar, que um rebocava

o outro. (…) Esta visão despertou-lhe a curiosidade e, mais

do que isso, espicaçou-lhe o engenho e a imagem dos

horizontes idílicos das terras ricas da América.”

“Corrido o ferrolho, logo se lançou para a cómoda,

abriu a gaveta com mil cuidados e retirou a “caixa-forte”

onde guardava o seu precioso tesouro. Contou e recontou,

uma vez mais, as notas verdes da esperança...

Retirou, igualmente, o envelope que continha a direcção

da tia lá das terras californianas e, instintivamente, guardou

os versos que recitara numa das festas escolares...”

in Nascido do Magma, Ruben Rodrigues - Horta 2008

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Page 21: Avenida Marginal 2

sexta feira 6 de Fevereiro 2009 • Avenida Marginal • 21

Mar

co S

ilva

eeeee única explicação científicamas sim várias teorias. Há quemdefenda que se trata de umaquestão hereditária, outros quepode estar relacionado comdiferenças cerebrais dado quenos canhotos o hemisfério quecontrola os movimentos é odireito ao contrário dos destrosque recebem ordens dohemisfério esquerdo (afinal

quem é canhoto, hein?!),também pode ser uma questãode treino, ou seja automa-ticamente o nosso cérebroescolhe um lado predominanteque se encarrega das tarefascomo pegar em objectos,escrever, pontapear… Assimevita-se que tenhamos que pararpara pensar e decidir com quemão vamos abrir a porta, e senão existirem as “pressões”sociais a repreenderem o uso dolado esquerdo trata-se apenasde uma opção inconsciente, masnatural. Existem estudos eexperiências em que secomparam as diferenças entreum cérebro de um esquerdino ede um destro, mas os cientistaschegam à conclusão que asdiferenças encontradas tantopodem ser a causa como aconsequência de se ser canhoto,portanto não vale a penaalongar-me muito mais nestaárea.

Gostaria ainda de realçar quena realidade não é assim tãodifícil ser canhoto, considero

mesmo que a maioria doscanhotos está tão bem adaptadaao mundo dos destros que nemdá conta das dificuldades quetem, por exemplo, em abrir umagarrafa de vinho!

Quanto aos mitos de que oscanhotos tem mais ou menoscapacidades que os destros (simporque existem muitos), nãopassam disso mesmo, de mitos!

No entanto existem inúmerosfamosos e pensadores queutilizavam e utilizam a mãoesquerda como mão pre-dominante, são exemploAlexandre, o Grande, Aris-tóteles, Bill Gates, CharlieChaplin, Isaac Newton, MiguelÂngelo, Pablo Picasso, entremuitos outros nomes conhecidosmundialmente.

Um caso em particular foi ode Leonardo da Vinci, tambémcanhoto, e que durante muitotempo pensava-se ter desen-volvido uma escrita em códigopara preservar os seusmanuscritos, afinal, Leonardoapenas desenvolveu acapacidade de escrever dadireita para a esquerda comoforma de não borrar com a mãoaquilo que estava a escrever.Inteligente, hein?

A canhota

Sofia Borges

Cruzes Canhoto

Quando a Laura recebeu oseu computador portátil peloNatal não sabia muito bem o queseria a internet muito menos oque era o Google ou o Facebook,mas tinha uma ideia de queprecisaria do Messenger pois,todas as suas amigas lheperguntavam se ela tinhaendereço. Queriam conversarcom ela sobre os rapazes maisbonitos da escola ou sobre acolega menos bem vestida daturma, logo tinha de ter aquelecomputador e a sua respectivaligação à internet.

A ceia de Natal foi umafesta, aliás como era costume.O tio João contou todas as suasúltimas anedotas o que fez a avóClotilde chorar de tanto rir e oavô Adelino resmungou a noitetoda com o canal GTI, porque omeu irmão conseguiu provar-lheque o programa especial deNatal era gravado apesar dedizer “em directo” no cantinhosuperior do ecrã: “Avô, acredita,a Júlia está a gritar com os filhosem casa agora e não no palcoda Venda do Pinheiro!” dizia oCarlos com paciência, enquantoo velho, de copo de vinho namão, olhava para mim com umar desconfiado.

Depois da sobremesa e demuitas gargalhadas porque a tiaAmélia já dormia de boca abertano sofá, chegou a hora de abriras prendas. Voava papel e fitaspor todo o lado e os meus primosgritavam de histeria com os bo-necos que tinham recebido. Foientão que quando, frustrada-mente procurava a minha pren-da debaixo da árvore que o papáme disse: “Laura, a tua prendaestá em cima da tua cama!”.

Corri para o quarto e aoacender a luz voei para a camaonde estava uma caixa embru-lhada em papel dourado comuma fita vermelha de cetim.

“Se eu não tivesse recebidoa bicicleta de montanha, acreditaque fazia birra agora!” disse oCarlos mesmo atrás de mim.“Também contribuí, sabias?Agora não precisas de pôr maissal nos meus cereais da manhãpois não?”

Fiquei radiante, enchi osmeus pais de beijos e abraços eaté a tia Amélia levou carinhocom tanta alegria. Era o meucomputador portátil, aquele quetanto tinha pedido por bomcomportamento. Mais um poucode bolo de Natal e todasestavam à minha volta quandofinalmente o liguei. Era lindo, deum preto brilhante e cinza prata,

e depois de o papá o ligar àinternet lá de casa comecei logoa navegar. “Laura, tem cuidado,sabes que o papá confia emti...mas tem cuidado e lembra-te que a internet tem vidaprópria!” Foi a única recomen-dação que ele me fez e era aúnica coisa que eu tinha desaber.

Algumas semanas depois dereceber a minha tão desejadaoferta, já conseguia utilizar amaioria das ferramentas que omeu novo computador me podiadar. Navegava pela internet,recebia mensagens de correiodas minhas amigas com piadase bonecos e falava com pelomenos 20 contactos do meumensageiro. Os trabalhos decasa e a maioria dos meusapontamentos já estavam emformato digital e já tinha maisde duzentas músicas tiradas dainternet que ouvia no meu mp3e partilhava com os colegas deturma. O primeiro-ministroficaria orgulhoso.

Um dia, quando navegavapela internet encontrei umapágina muito estranha queanunciava a venda de felici-dade. Após uma gargalhada,decidi verificar as caracte-rísticas do produto e quais ascondições de venda. Entãodepois de clicar em “condiçõesde compra” cheguei à con-clusão que:

Tínhamos de precisarmesmo dela, não podíamoscomprar felicidade se já éramosfelizes, não fazia sentido e não

seria justo para aqueles que nãoa tinham.

A segunda condição é quenão podíamos ficar com ela sópara nós, tínhamos de partilharou fazer os possíveis para que

a felicidade por nós adquirida sócondicionaria a vida dos outrosse estes também fossem felizes.

A terceira condição era a depromover a divulgação da nossafelicidade incitando os outros aser felizes.

No início pareceu-mepatético, mas depois de pensarum pouco achei que fazia todoo sentido. No entanto, eu erafeliz, não estava a precisardessa felicidade, logo não podiacomprar mais felicidade. Penseientão que se houvesse apossibilidade de comprarfelicidade para uma pessoainfeliz, eu podia oferecerfelicidade a outras pessoas.

Mandei um e-mail decontacto ao gestor do site, queme respondeu que poderia abriruma excepção se eu provasseque a felicidade comprada iriamesmo fazer feliz a pessoa aquem a ia entregar. Prometi-lheuma resposta assim que ativesse e fiquei alguns dias apensar.

A quem é que eu poderiaoferecer felicidade de forma aque essa pessoa partilhasse essesentimento e promovesse essafelicidade? Teria de ser aalguém que fizesse a diferençae logo pensei em pessoas comoBin Laden, George Bush eManuela Ferreira Leite, mascheguei à conclusão que seriamelhor oferecê-la a uma pessoamais próxima, tanto que eu nãosabia o que teria de pagarpor ela.

Decidi oferecê-la aos meuspais e ao chato do meu irmão,pois acho que eles merecembem mais que um terrorista semhigiene, um idiota de aldeia euma senhora que parece estarzangada com o mundo!

Contactei o gestor do siteque vendia felicidade e contei-lhe a quem queria entregar aprenda e perguntei-lhe qual erao preço. Ele respondeu-me nodia seguinte que o preço seriafazer saber a todos os meusconhecidos a existência do sitee que as únicas instruções parareceber a prenda seria apanharquatro flores no caminho decasa para a escola e entregá-las aos meus pais e irmão. Juntocom as flores devia dar-lhes umbeijo e dizer-lhos o quantogostava deles e “voilá”, estavaa prenda entregue.

Desde então não me farto dedivulgar o site a todos os meusamigos, desde então, no meio daconfusão que é a vida, sou feliz!

Contos da Gaita e do Caneco

Felicidade virtualMarco Rosa

Page 22: Avenida Marginal 2

22 • Avenida Marginal • sexta feira 6 de Fevereiro 2009

A luabrancaeleva-se perfeitadesde os montes da Arrábidaobservandono seu silêncio paradoe longetodo o estuário que agora escureceupontuado ainda pelos vibrantes faróisde esforçados cacilheirosque ali chegam e tornam a partirOs nomes oscilam sobre o caiso Martim Moniz o Pedro Nuneso SeixalensePequenos gruposou pequenas multidõesincessantementeatravessam os longos corredores metálicossobre as águasínfimas parcelas no largo firmamento que nos cobre

Na garealguns bebem cervejaoutros falam de encontros de futeboloutros aindafitam ecrãs televisivoscom as últimas diatribes dos grupos reggaeUm barco zarpouneste instanterasgando o riona direcção de um pequeno cais ao fundoiluminadosob a luabranca perfeita.

Gare marítimaMário Machado Fraião

Acordo. Ainda não, aindanão acordei. Deslizo da cama,ponho os pés nus no velhosoalho de pinho resinoso ecaminho até à janela. Um sóolho aberto, que não quero aindaacordar .... Abro os tapa-sóise...eis, eis o que me faz respirarum novo dia, eis aquela dádivada natureza - o PICO! Os olhosabrem-se num rompante parasaborear um GRANDE AMORda minha vida – o PICO.

Este cenário gongórico, faz-me sonhar, faz-me sentir queeu, apenas um singelo serhumano, me sinto privilegiadaolhando e saboreando todo esteluxo. Sim, isto é um luxo!!!

Olho, volto a olhar, deixo-meenebriar pela silhueta majestosa,pelas várias gradações de tonse de luz, as núvens circundandoou acariciando este belo

monumento da natureza......vou até à varanda......ah, mas hoje não há

núvens!!! A aurora levanta-sesorrateira por detrás de S. Jorgee a estrela de alva altaneiraolha-me sem rodeios. Está frio.Cheira a terra, a faias e a araçá.A passarada já é pouca, masexuberante na sua cantoria.Recordo este mesmo cenário,47 anos antes, quando o meuPai me fez levantar da cama às5h da madrugada, para ver omaior e mais belo espectáculoda minha vida, que jamaisesqueceria. Nessa altura anossa antiga quinta isolava-nose a observação da natureza eramais tangível. Tudo era mais

...PICO!Margarida (de Bem) Madruga

puro e excessivo: a naturezarevelava-se no seu infinitoesplendor...e eu agradeci aDeus me ter feito obediente (afase da rebeldia foraacaçapada...) para saborear talmaravilha até à exaustão.

Agora olho o PICO comouma dádiva de Deus. Namoro-o. Ele seduz-me. Eu olho-o e elerevela-se. É quase uma troca deolhares...é um enamoramento.Eu sei que ele nunca me trairá.Eu sei que ele está e estarásempre ali, mesmo que não oveja.

E eu quero senti-lo!Tenho de ir... e vou!Atravesso o canal. Olho

aquele PICO e sinto-o aaproximar-se. Já o respiro.Entranho-me nele, naquelecheiro a maresia misturada comurze e incenso. Caminho sem

pensar, alheada de sons e vozes.E gosto de caminhar sòzinhaentregue a sensações eemoções que não queropartilhar...aquela pontinha...a doPICO... aquela porta vermelhaemoldurada pelas pedras negrascobertas de verde, o verdefeérico das vinhas novas dentrode tanto preto... Não meinteressam as coisas novas. Nãoas vejo. Passo sem elas, ou elaspassam por mim e nem as vejo...apenas quero respirar as corese emoções, profundamente,como se o Tempo já não medesse tempo para as ver.

À minha direita, o marbanhando ou salpicando deespuma as raízes negras que

brotaram desse mesmo mar e sefizeram ILHA. Aquele mardesliza até que a minha vista operca. É imenso este mar. Serámar ou um manto fluido em tonsde cinza e azuis? Também tembranco, aquele que congregatodas as cores. As minhascores...as cores inesquecíveis douniverso, aquelas que Deusplantou p’ra nosso deleite.

Chego às Lajes.O Castelete obriga-me a

circundar a vista, a paisagemalcandorada semicerrando avila. Aqui não é o mar que mechama. Aqui sinto virar-me paranorte, à procura de algumaestrela guia que me chama, queme apela a procurá-la. Sãomontes esverdungados que seamontoam e prolongam o olhar.É o cabeço Mariano, é o Moiro,o Escalvado, as Cabecinhas e

tantos que não lhes sei o nome.Eles existem ali apenas com opropósito de emoldurar, depreparar o olhar para a grandeexplosão magmática dumamontanha em erecção, da minhamontanha-macho, daquela queme entontece, que me derruba,que me faz transbordar a vistae a alma. Ali, nas Lajes, eu sintoa verdadeira grandeza e vigor daMONTANHA do PICO. Alinão é, nem há cenário. Ali é ouniverso em nós, é a FORÇAem infinito crescendo. Ali háDeus!

...e foi ali, num cantinho àbeira mar, que Deus me deixounascer!

Divididos mas sem a latitudedos corpos.Com fórmulas de K a serviremde mar.Diluídos os rostos de arestascomo náufragos nas rochas.Sinto o frio dos peixes.A demora, a distância dasalgas.O éter dos cataventos nocimo de casas cinzentas.Respiro os girassóis, o simbolismoturístico das ruas.Capto a tristeza daquelescujos corpos não têm latitude.Tenho os dedos nas suas mortese nas suas vidas.No caos dos seus lábios ácidoscomo frutas de lua.

Latitude

Rosa Maria Castro NevesP

UB

.M

arga

rida

Mad

ruga

Page 23: Avenida Marginal 2

sexta feira 6 de Fevereiro 2009 • Avenida Marginal • 23

O mar manso junto à costaLisoSem espuma ou batidaGaivotas calmasE uma lancha a cortar a brumaQue não existeÉ uma saudade estranhaDe um tempo de liceuNas manhãs de marEntre o Pico e o FaialMas com o Pico ao fundoE longeMesmo tão perto à distânciaDe um saltoOu de um desejoDe regressar ao exílioInexistenteNaquele momento de outrora.E tudo tem cheiroAinda de aquele tempoO tempo dos exames do liceu.

Não sei explicarMas gosto do gostoDas sandes do PeterE deste mar de outro tempo.

E tem maisTem o azul que quando visto da HortaÉ doce e penetra-nos derretido.

AzulManuel Tomás Gaspar da Costa

No final da década desessenta e princípios da desetenta ainda era uma enormeaventura, um arrojo, quase umatemeridade, a decisão de sair dailha para ir para a Universidade.Não só porque a grande maioriade nós vinha de famílias pobres,algumas muito pobres mesmo(família abastada não era nemé sinónimo de filhos comcapacidades intelectuais), massobretudo porque o Continenteera muito, demasiado longe.Íamos de barco em Outubro esó voltávamos nas férias doVerão seguinte. Sei de quemnem dinheiro tinha para apassagem de barco e recorria aviagem clandestina (isto éverídico!) e aos barcos detransporte de gado para, depoisde vários dias numa partilha deespaços insuportável, perseguiro sonho de um cursouniversitário.

Pelo menos 10 meses semvir a casa. Impensável para osnossos filhos actualmente.Alguns dos mais afoitosatreviam-se a arranjar boleia nosaviões militares até à Terceirae depois de muitos balanços eenjoos aportavam ao cais deSanta Cruz talvez a bordo do“Terra Alta” para passar oNatal com a família.

Eram a minoria. Os muitosoutros, sozinhos, nas duassemanas de férias do Natal e daPáscoa ficavam, isso mesmo,sozinhos. Salvo alguns casosque teriam família por lá,resignadamente mantínhamo-nos nos Lares ou Residênciasde estudantes onde restavam osestudantes das Ilhas e os dasColónias. Natais tristes? Não.Mas com alguns momentos denostalgia, sim. Aos 18 / 20 anosestar afastado de casa tinha assuas vantagens. Crescíamosenquanto indivíduos,confrontávamo-nos com osobstáculos e com a urgência deos resolver sem ter o Pai ou aMãe ali por perto, nem oapêndice moderno que dá pelonome de telemóvel e quando“metíamos o pé na poça “socorríamo-nos dos valoresmorais que nos tinham sidoinculcados para não naufragarou, se aí chegássemos, o talconselho dado há muitos anosservia de bóia de salvação paravirmos à tona e nãosoçobrarmos.

Nas épocas em que asaudade mais mordia, recor-

ríamos aos amigos paraembalarmos os afectos e nossentirmos aconchegados.Muitos desses amigos eramaqueles que tinham percorridoconnosco o caminho escolar,desde a 1ª classe ou desde o 1ºaté ao 7º Ano do Liceu e quetambém se encontravam na lutade se tornar adultos respon-sáveis ao mesmo tempo queconcretizavam o orgulho dospais em alcançar o título deDoutor ou Engenheiro. Ealgumas dessas amizadesamadureceram, resistiram aodivergir pela vida a que opercurso profissional de cadaum obrigou, mas perduraminabaláveis. Veja-se a necessi-dade emocional que faz com quegrupos de antigos alunos devárias décadas ou de cursos emcomum se juntem em convíviose jantares, donde saem atransbordar de felicidade porrever um colega quaseesquecido no tempo, porresolver uma conversa queficara por terminar ou até porfinalmente descobrir quempregou a tal partida ao professorX e da qual ninguém ficousabendo.

Por mim, tenho cantinhos nomeu coração, cativos de algunsdos momentos mais bonitos doálbum das minhas memórias.Irremediavelmente ligados aosamigos / colegas que comigopartilharam situações muitodolorosas e igualmente usu-fruíram acontecimentos degrande euforia e cumplicidade.

Desde a minha chegadatardia a Lisboa (tive de esperarpela confirmação de uma Bolsade estudo da Junta Geral ), numdia de Janeiro ,fustigado de frioe de chuva e ainda por cima

fora de horas ( o mau tempoatrasara a chegada do velho efeio Navio de carga “Faial” aoCais de Alcântara ) onde àminha espera se encontravam,

transidos de frio e de gabardinasencharcadas, os meus irmãosde coração: o Betinho, o Naia,o Jorge Ângelo e o Pompeu. Oânimo do abraço solidário queme deram foi tão reconfortanteque nunca serão suficientes asoportunidades que eu tiver paralhes agradecer.

Mas o ponto alto do anolectivo era a Semana de Festaque acontecia nos 5/6 dias deviagem no “Funchal” ou no“Angra do Heroísmo” que noslevava para longe e nos traziade volta a casa, à falta deaeroporto na Horta ou mesmodepois , não já por falta de aviãomas por falta de dinheiro.

Autênticos Cruzeiros deconvívio, de diversão e demuitos, muitos cruzamentos deolhares e de amores. Aproximidade diária, a partilha dequase tudo, geravam umambiente de cumplicidade,quase de intimidade que criavaum vínculo e nos irmanava.

Os enjoos no rolo do convésquando o mar nos traía, alaranjina C da refeição nodesequilíbrio da mesa da 3.ªclasse, o primeiro Martini comgelo no bar dos Oficiais aconvite de um Oficial guloso quenão ousava ultrapassar o zeloprotector do colega que nosacompanhava, são momentosque surgem nas nossasrecordações, envoltas numimenso carinho que ainda hojeé recíproco e visível quando nosjuntamos.

Meus queridos colegas deviagens, tenho esta certeza: nãoseria o que sou se não tivessetido o privilégio de ser vossacúmplice em momentosirrepetíveis da juventude quepartilhei convosco.

( Partir aos 17 anos ) - perder a Ilha de vista…Lúcia M. de Mello Serpa

Ontem, visitei-te!Continuas igual: repleto de infinitos olhos verdes,Cheio da mesma lenta e passiva mansidão,de corpo bem desenhado, bem torneado, delineadopelo devir…

Não aguentei a emoção:chorei de alegria, chorei de saudade…vi que não me tinhas abandonado, poiso nosso entendimento é ancestral.Sinto-me cativa e deixo-me ficar inundada de ti.

Em vibrações quentes e de mil cores,que me invadiam por dentro e me gelavam por fora,ouvi os teus sussurros:- Por onde tens andado? …- Não te tenho visto? …- Há quanto tempo!? …

Tinha tanto para te segredar, mas fiquei calada.Tive receio!E tu? Quedaste na ignorância da minha errância.

Sigo o meu curso. E guardo-me, de te tocar, de me banhar em ti…de imergir no teu imenso fascínio.

Não te disse Adeus, porque nunca digo adeus.O Adeus! Será sempre uma verdade revelada e nunca dita!Tu sabes que, por ti e para ti, voltarei amanhã…

Voltarei amanhã...

Graça Silva

Navio “Funchal” na década de 60

Page 24: Avenida Marginal 2

Marco Filipe Fraga Silva

Horta, Cidade criativa

O Faial Filmes Fest (FFF) tem crescido de forma soberba nosúltimos dois anos, resultado do trabalho e dedicação do Cineclubeda Horta. Este crescimento, aliado a uma produção cinematográficaembrionária dos criativos locais e um público interessado, sãofactores que justificam o emergente movimento cinematográficocom epicentro na cidade da Horta. Movimento este que, acarinhado,nos trará muitos e bons frutos.

Segundo Richard Florida, uma “cidade criativa” tem de possuirtrês factores determinantes: Tecnologia, Talento e Tolerância.

A nossa pequena cidade da Horta, outrora a mais cosmopolitada região, possui estas qualidades. Julgo que o único problema temsido uma certa apatia da “classe criativa” que se tem vindo arevelar. Casos como o FFF, o Avenida Marginal, o Fazendo, ofestival Rota dos Bons Ventos e o surgimento de novas bandas

demonstram uma vontade criadora que há muito estava adormecidaou que só esporadicamente se fazia sentir.

As novas tecnologias e a plataforma Web têm servido de rampade lançamento para muitos criativos. Comunidades de cibernautascelebram a produção, manipulação e partilha de informação econteúdos na rede.

Em 2004 usa-se, pela primeira vez, o termo Web 2.0. Este “novo

paradigma” controverso designa uma segunda geração decomunidades e serviços online, não se refere a uma evolução daplataforma, mas, a uma mudança na forma eeeee 17

- Por favor, assine aqui.Pego na esferográfica e

aguardo pela, quase certa,exclamação:

- Òhhhh, é canhota?!Faço aquele sorriso como

quem diz “pois ainda não tinhadado por isso” e assino odocumento.

Estas situações são do maiscomum que há no meuquotidiano, nunca me tinhaacontecido foi prosseguirem daseguinte forma:

- Podia escrever um artigopara o Avenida Marginal, sobreos canhotos?! Pense nisso!

Pois bem, eu pensei e aquiestá o meu artigo!

Presume-se que a populaçãomundial que utiliza a mãoesquerda para desempenhar amaioria das suas tarefas seja deaproximadamente 10%, noentanto no início do século XXeste número rondava os 3%, nãose pense que era por escassezde canhotos, mas sim porocultação, dado que “sercanhoto” era considerado pelamaioria das sociedades comouma “coisa má”!

Por certo, todos se lembramdo tempo em que se apanhavamreguadas, descriminações e

Cruzes CanhotoSofia Borges

castigos duros só porque sepegava no lápis (em outrostempos a pena) com a mãoesquerda. Mas porquê? Poisbem, trata-se de mais umadaquelas situações que por faltade uma justificação credível,devaneia-se pelo oculto efacilmente associa-se o ladoesquerdo ao mal. No antigoEgipto acreditava-se que o DeusHórus, o deus da vida era o “olhodireito do Sol”, por outro lado oDeus Set era o “olho esquerdo”e estava associado às coisas másque aconteciam. Nos paísesIslâmicos não se come com amão esquerda, dado que esta éconsiderada impura porque é amão utilizada para limpar o rabodepois de defecarem, (apostoque estão agora a pensar emque mão é que utilizam?!).Também na nossa sociedadefaz-se esta associação aocristianismo: Cristo sentava-sedo lado direito de Deus, logo oDiabo encontrava-se àesquerda, (mas continuo a crerque Deus é canhoto, senãoporque é que escreve direito porlinhas tortas?).

A questão da associação docanhotismo ao mal, advémmuitas vezes da própria língua,

senão vejamos: Em Italianocanhoto diz-se sinistra quesignifica esquerda ou mancino,

pessoa desonesta, em Francêsgauche significa esquerda, masquer dizer também pessoadesajeitada, em Polaco umesquerdino diz-se lewo,expressão utilizada também paradefinir algo ilegal ou proibido, nonosso Português também setraduz canhoto como “Quemexecuta com a mão esquerdaserviços que geralmente sefazem com a direita. Que nãoé destro. Falta de destreza”.

Claro está que uma pessoacanhota tem todas ascapacidades que uma pessoadestra, a diferença por vezesestá nos utensílios. Para mimseria muito mais fácil se asréguas estivessem numeradasda direita para a esquerda, se ossaca-rolhas tivessem a rosca aocontrário, que aquelas cadeirascom mesinha incorporadafossem facilmente desmontáveise possíveis de colocar do ladoesquerdo, evitando assim o rótulode desajeitada!

A pergunta seguinte é oporquê? Porque existemcanhotos? Por enquanto nãoexiste uma e e e e e 21

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24 • Avenida Marginal • sexta feira 6 de Fevereiro 2009