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CSRFT3 Fl. 2 1 1 CSRFT3 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS Processo nº 19647.011167/200975 Recurso nº Especial do Procurador Acórdão nº 9303008.694 – 3ª Turma Sessão de 12 de junho de 2019 Matéria II NULIDADE DE PROVAS Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado CIL COMÉRCIO DE INFORMÁTICA LTDA ASSUNTO:NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 30/09/2004 a 03/01/2005 ATOS PRATICADOS MEDIANTE FRAUDE. COMPROVAÇÃO. PROVAS OBTIDAS POR MEIOS ILÍCITOS. PRINCÍPIO DOS FRUTOS DA ÁRVORE ENVENENADA. PRINCÍPIO DA DESCOBERTA INEVITÁVEL. PRINCÍPIO DA FONTE INDEPENDENTE. MITIGAÇÃO. POSSIBILIDADE. Não serão consideradas ilícitas as provas derivadas de provas ilícitas, quando ficar demonstrado que elas poderiam ser obtidas por uma fonte independente, bastando, para tanto, que se desse andamento aos trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação fiscal. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em darlhe provimento, com retorno dos autos ao colegiado de origem, para apreciação das demais questões de mérito, cujo juízo restou prejudicado em razão da decisão a respeito da preliminar de nulidade das provas, vencidas as conselheiras Tatiana Midori Migiyama, Érika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello, que lhe negaram provimento. Manifestaram intenção de apresentar declaração de voto os conselheiros Tatiana Midori Migiyama e Demes Brito. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em exercício (assinado digitalmente) Andrada Márcio Canuto Natal Relator ACÓRDÃO GERADO NO PGD-CARF PROCESSO 19647.011167/2009-75 Fl. 2440 DF CARF MF

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CSRFshyT3 MINISTEacuteRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CAcircMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS

Processo nordm 196470111672009shy75

Recurso nordm Especial do Procurador

Acoacuterdatildeo nordm 9303shy008694 ndash 3ordf Turma Sessatildeo de 12 de junho de 2019

Mateacuteria II shy NULIDADE DE PROVAS

Recorrente FAZENDA NACIONAL

Interessado CIL shy COMEacuteRCIO DE INFORMAacuteTICA LTDA

ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Periacuteodo de apuraccedilatildeo 30092004 a 03012005

ATOS PRATICADOS MEDIANTE FRAUDE COMPROVACcedilAtildeO PROVAS OBTIDAS POR MEIOS ILIacuteCITOS PRINCIacutePIO DOS FRUTOS DA AacuteRVORE ENVENENADA PRINCIacutePIO DA DESCOBERTA INEVITAacuteVEL PRINCIacutePIO DA FONTE INDEPENDENTE MITIGACcedilAtildeO POSSIBILIDADE

Natildeo seratildeo consideradas iliacutecitas as provas derivadas de provas iliacutecitas quando ficar demonstrado que elas poderiam ser obtidas por uma fonte independente bastando para tanto que se desse andamento aos tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo fiscal

Vistos relatados e discutidos os presentes autos

Acordam os membros do colegiado por unanimidade de votos em conhecer do Recurso Especial e no meacuterito por maioria de votos em darshylhe provimento com retorno dos autos ao colegiado de origem para apreciaccedilatildeo das demais questotildees de meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade das provas vencidas as conselheiras Tatiana Midori Migiyama Eacuterika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello que lhe negaram provimento Manifestaram intenccedilatildeo de apresentar declaraccedilatildeo de voto os conselheiros Tatiana Midori Migiyama e Demes Brito

(assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pocircssas shy Presidente em exerciacutecio (assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal shy Relator

ACOacuteRDAtildeO GERADO N

O PGD-CARF PROCESSO 196470111672009-75

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Processo nordm 196470111672009shy75 Acoacuterdatildeo nordm 9303shy008694

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Participaram da sessatildeo de julgamento os conselheiros Rodrigo da Costa Pocircssas Andrada Maacutercio Canuto Natal Tatiana Midori Migiyama Luiz Eduardo de Oliveira Santos Demes Brito Jorge Olmiro Lock Freire Eacuterika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello

Relatoacuterio

Tratashyse de recurso especial de divergecircncia interposto pela Fazenda Nacional

contra decisatildeo tomada no acoacuterdatildeo nordm 3401shy004427 de 20 de marccedilo de 2018 (eshyfolhas 2276 e

segs) que recebeu a seguinte ementa

ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO

Periacuteodo de apuraccedilatildeo 30092004 a 03012005

DECADEcircNCIA PRAZO TERMO FINAL LANCcedilAMENTO DATA DA CIEcircNCIA

Dispotildee o art 138 paraacutegrafo uacutenico do DecretoshyLei nordm 3766 que o direito de exigir diferenccedila de tributo extingueshyse no prazo de 05 (cinco) anos a partir do pagamento efetuado entendendoshyse como termo final do lapso extintivo a ciecircncia do instrumento de lanccedilamento o que nas hipoacuteteses de emprego de edital verificashyse apoacutes 15 (quinze) dias da publicaccedilatildeo consoante art 23 IV do Decreto nordm 7023572

ASSUNTO IMPOSTO SOBRE A IMPORTACcedilAtildeO II

Periacuteodo de apuraccedilatildeo 30092004 a 03012005

AUTO DE INFRACcedilAtildeO CAREcircNCIA PROBATOacuteRIA IMPROCEDEcircNCIA

Cabe agrave autoridade fiscal apresentar as provas dos fatos imputados em auto de infraccedilatildeo sendo a carecircncia probatoacuteria ensejadora de improcedecircncia da autuaccedilatildeo No caso em anaacutelise expurgados os elementos derivados da chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo (considerados como prova iliacutecita pelo Poder Judiciaacuterio) natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal

Recurso de ofiacutecio negado e recurvo voluntaacuterio provido

A divergecircncia suscitada no recurso especial (eshyfolhas 2317 e segs) estaacute

relacionada agrave possibilidade de que seja aplicado no processo administrativo fiscal a Teoria da

Descoberta Inevitaacutevel e a Teoria da Fonte Independente para fins de validaccedilatildeo das provas

apresentadas pela Fiscalizaccedilatildeo Federal

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O litiacutegio versa sobre procedimento de fiscalizaccedilatildeo levado a efeito em face da

empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda no qual obtiveramshyse diversos elementos de prova

da praacutetica dos iliacutecitos tributaacuterios e aduaneiros de interposiccedilatildeo fraudulenta de subfaturamento

quebra da cadeia do IPI e obtenccedilatildeo de benefiacutecios fiscais vinculados ao ICMS praticados pela

empresa em conluio com outras diversas empresas vinculadas ao chamado Grupo MAM

Para internalizar as mercadorias introduzidas fraudulentamente no paiacutes

interpunhamshyse entre o Real Importador e o Real Exportador diversas empresas constituiacutedas

em sua maioria em nome de interpostas pessoas (laranjas) que atuavam de forma simulada e

sob controle centralizado dos mentores intelectuais do chamado Grupo MAM Assim embora

a real operaccedilatildeo se desse entre as duas pessoas situadas na posiccedilatildeo extrema da cadeia (Real

Importador e Real Exportador) apareciam entre elas um exportador fictiacutecio um importador

fictiacutecio e um distribuidor intermediaacuterio que operacionalizavam os iliacutecitos tributaacuterios

Para comprovar que as operaccedilotildees eram na verdade praticadas entre o Real

Exportador (Samsung Verbatim AMD International Sales amp Services) e o Real Importador

(CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda) e natildeo entre as interpostas pessoas que figuravam nos

documentos apresentados agrave autoridade aduaneira a Fiscalizaccedilatildeo Federal lanccedilou matildeo de

diversas elemento de prova tais como Purchase Order (ordem de compra) emitido pela CIL

para a Samsung documento apreendido na CIL intitulado Tabela de Drives Gravadores

CDDVD Samsung Importaccedilatildeo 2 referindoshyse a diversas operaccedilotildees de importaccedilotildees realizadas

Tabela de Custos de Importaccedilatildeo Samsung apreendida em estabelecimento da CIL com

simulaccedilatildeo dos custos de importaccedilatildeo de mercadorias Ordem de Compra de Produtos shy Pedido a

Fornecedor da CIL para a Lansaret solicitando a entrega de produtos importados eshymails de

negociaccedilatildeo de preccedilos de importaccedilatildeo entre a CIL e a Samsung Commercial Invoice emitida

pela Samsung contra a CIL etc etc etc

Com base nesses elementos de prova as empresas foram autuadas pela

praacutetica dos iliacutecitos tributaacuterios a que se fez referecircncia linhas acima

Simultaneamente tramitava perante o Poder Judiciaacuterio o processo crime

decorrente das accedilotildees perpetradas pelas pessoas fiacutesicas e juriacutedicas envolvidas nas accedilotildees

criminosas Neste restou concedido Habeas Corpus pelo Superior Tribunal de Justiccedila no qual

foram consideradas iliacutecitas todas as interceptaccedilotildees telefocircnicas realizadas apoacutes o sexageacutesimo dia

em que elas se iniciaram Uma vez que seja incontestaacutevel o viacutenculo entre as escutas telefocircnicas

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e os Mandados de Busca e Apreensatildeo que autorizaram a autoridade policial a realizar a busca e

a decorrente apreensatildeo dos documentos que comprovaram as praacuteticas irregulares de que se

trata discuteshyse neste processo agrave luz das Teorias supramencionadas a validade de todo o

acervo probatoacuterio de que lanccedilou matildeo o Fisco para constituiccedilatildeo do creacutedito tributaacuterio

O Recurso especial foi admitido conforme despacho de admissibilidade de eshy

folhas 2357 e segs

Contrarrazotildees do contribuinte agraves eshyfolhas 2377 e segs Pede que natildeo seja

dado seguimento ao recurso e no meacuterito que lhe seja negado provimento

Eacute o Relatoacuterio

Voto

Conselheiro Andrada Maacutercio Canuto Natal shy Relator

Conhecimento do Recurso Especial

Em sede de contrarrazotildees o contribuinte defende que o recurso natildeo pode ser

admitido Segundo alega tratamshyse de situaccedilotildees faacuteticas distintas pois enquanto no paradigma

o procedimento fiscal jaacute havia sido instaurado por ocasiatildeo da decretaccedilatildeo da nulidade das

provas no recorrido esta circunstacircncia natildeo eacute identificada

Sem razatildeo a contrarrazoante

A instauraccedilatildeo do procedimento fiscal em si antes da decisatildeo que considerou

nulas as escutas telefocircnicas em nada modifica a possibilidade de que as provas fossem obtidas

por fontes independentes eou que os fatos iliacutecitos possam ser considerados de descoberta

inevitaacutevel circunstacircncias suficientes e necessaacuterias agrave aplicaccedilatildeo da Teoria da Descoberta

Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente

De fato o art 157 do Coacutedigo do Processo Penal dispotildee sobre circunstacircncias

hipoteacuteticas consideradas em tese do que resta irrelevante e sem efeito praacutetico ou teoacuterico a

instauraccedilatildeo preacutevia do procedimento fiscal pois as fontes das quais as provas proveacutem e as

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circunstacircncias que tornam a descoberta inevitaacutevel natildeo se modificam com a instauraccedilatildeo do

procedimento

E mais Se conforme entende a contrarrazoante o iniacutecio do procedimento

fiscal revela a possibilidade de que as provas sejam (ou fossem) obtidas independentemente

dos malsinados mandados de busca e apreensatildeo pareceshyme incontroverso que tais provas

poderiam ser descobertas por fonte independente e ainda mais que a execuccedilatildeo desses

procedimentos de praxe da Fiscalizaccedilatildeo Federal conduziriam agrave descoberta inevitaacutevel dos fatos

iliacutecitos

Portanto o juiacutezo formado no julgamento paradigma ora confrontado com a

decisatildeo recorrida para o fim de considerar a possibilidade de mitigaccedilatildeo da Teoria dos Frutos

da Aacutervore Envenenada por forccedila da aplicaccedilatildeo das duas Teorias retrocitadas natildeo guarda relaccedilatildeo

com a obtenccedilatildeo de provas em procedimento autocircnomo preacutevio distante e independente das

provas consideradas iliacutecitas pois a Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e a Teoria da Fonte

Independente natildeo foram construiacutedas sob tal perspectiva mas agrave luz da possibilidade de que os

fatos viessem a ser descobertos por fonte independente eou que sua descoberta fosse

inevitaacutevel

Ora e de fato se estiveacutessemos falando de provas sobre as quais natildeo se

cogitasse os efeitos decorrentes da Teoria do Fruto da Aacutervore Envenenada condiccedilatildeo que

segundo parece entender a contrarrazoante estaacute presente no acoacuterdatildeo paradigma entatildeo natildeo

haveria razatildeo para que se falasse em mitigaccedilatildeo de seus efeitos

Como adiante pretendemos esclarecer a uacutenica condiccedilatildeo de natureza factual

para que seja considerada a possibilidade de aplicaccedilatildeo das Teorias sub examine eacute a de que as

empresas autuadas jaacute estivessem sendo investigadas e natildeo que o procedimento fiscal em si jaacute

tivesse sido instaurado

Meacuterito

No meacuterito uma vez que a recorrente tenha contraditado exclusivamente a

questatildeo abordada nas linhas acima ou seja a aplicaccedilatildeo da Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e

da Teoria da Fonte Independente como elementos de mitigaccedilatildeo da Teoria dos Frutos da

Aacutervore Envenenada dessa mateacuteria a seguir nos ocuparemos

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Como jaacute exaustivamente esclarecido nos autos a 6ordf Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila em julgamento proferido no HC nordm 142045PR em que figuravam como

pacientes Marco Antocircnio Mansur e Marco Antocircnio Mansur Filho soacutecios da empresa MAM

reconheceu a nulidade parcial das escutas telefocircnicas obtidas em cumprimento dos Mandados

de Busca e Apreensatildeo shy MBAs emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacutePR A decisatildeo foi

assim ementada

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria (interpretaccedilatildeo) Principio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

1 Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

2 A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova

3 Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente fundamentada Haacute neste caso se natildeo explicita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art 5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do principio da razoabilidade

4 Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo os autos retornar aacutes matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Liminarmente releva destacar que nem a decisatildeo proferida pelo juiacutezo de

primeiro grau nem o procedimento levado a efeito pela autoridade policial eou pela

autoridade fiscal e nem mesmo as proacuteprias interceptaccedilotildees telefocircnicas em sua integralidade

foram consideradas abusivas Como se depreende do teor da decisatildeo acima transcrita a

irregularidade apontada na decisatildeo refereshyse a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias

de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas que excederam ateacute mesmo os sessenta dias do

estado de defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) Outrossim a decisatildeo tomada no acircmbito do

Superior Tribunal de Justiccedila eximiushyse de qualquer ilaccedilatildeo acerca de seus efeitos sobre o acervo

probatoacuterio que lastreava a acusaccedilatildeo Em lugar disso determinou a restituiccedilatildeo dos autos ao Juiz

originaacuterio para as determinaccedilotildees de direito

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Por forccedila da decisatildeo proferida pelo STJ o Juiz Federal Substituto Tiago do

Carmo Martins reconhecendo a higidez das provas colhidas durante o primeiro periacuteodo de

interceptaccedilatildeo telefocircnica encaminhou o processo ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal para que na

qualidade de autor da denuacutencia se manifestasse acerca da instruccedilatildeo probatoacuteria do processo

criminal agrave luz da decisatildeo tomada no HC 142045PR O despacho teve o seguinte teor

Em relaccedilatildeo ao referencial temporal adotado por aquela Corte ante a leitura dos votos proferidos naquele julgamento tenho que o julgado limitou a utilizaccedilatildeo dessa teacutecnica investigativa ao prazo de 60 (sessenta) dias

Assim permanecem hiacutegidas as provas colhidas durante o primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes Os demais elementos de prova obtidos a partir dos dados colhidos nessa fase da investigaccedilatildeo tambeacutem permanecem hiacutegidos pois derivaram de prova obtida licitamente

De outra parte segundo os termos do julgado as interceptaccedilotildees telefocircnicas realizadas a partir da quarta prorrogaccedilatildeo autorizada encontramshyse maculadas pelo vicio insanaacutevel da ilicitude Satildeo portanto imprestaacuteveis para fins de utilizaccedilatildeo de prova no processo penal Correlatamente os demais elementos de prova obtidos a partir dos dados colhidos nessa fase da investigaccedilatildeo tambeacutem encontramshyse eivado de ilicitude pela aplicaccedilatildeo da teoria dos frutos da aacutervore envenenada agora expressamente adotado pelo CPP (art 157 sect1deg do CPP)

Confrontado com o Habeas Corpus concedido aos pacientes o Parquet

entendeu pela impossibilidade de separaccedilatildeo das provas colacionadas aos autos nos seguintes

termos

Sem as provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de busca e apreensatildeo sem as provas carreadas aos autos em cumprimento destes natildeo seria possiacutevel a apreensatildeo para dizer o miacutenimo de centenas de milhares de notas fiscaiscomputadores contendo os verdadeiros preccedilos das mercadorias sem a anaacutelise destes pela Receita Federal em conjunto com os inuacutemeros eshymails interceptados os laudos que acompanham a denuacutencia natildeo teriam sido produzidos Insistindo a pretendida separaccedilatildeo eacute impossiacutevel

Das consideraccedilotildees ateacute aqui postas eacute possiacutevel afirmar que (i) nos autos do

Habeas Corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiccedila nenhuma decisatildeo foi tomada

acerca dos efeitos sobre o acervo probatoacuterio no qual lastreavashyse a acusaccedilatildeo (ii) o Juiacutez

originaacuterio considerando a higidez de parte das provas encaminhou o processo ao Ministeacuterio

Puacuteblico Federal autor da denuacutencia crime para que nessa qualidade se posicionasse em relaccedilatildeo

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agraves consequecircncias do HC no processo criminal em curso (iii) o Ministeacuterio Puacuteblico Federal

entendeu que as provas anuladas e as provas derivadas seriam indissociaacuteveis uma vez que as

uacuteltimas fossem decorrecircncia dos mandados de busca e apreensatildeo e estes das escutas telefocircnicas

Salvo melhor juiacutezo pareceshynos que a decisatildeo proferida no processo criminal

seja dotada de certas particularidades que necessariamente deveratildeo ser levadas em conta na

decisatildeo que seraacute tomada neste processo administrativo fiscal

Em primeiro lugar eacute incontroverso que apenas uma parcela das provas

obtidas nas accedilotildees impetradas pela Receita Federal em conjunto com a Poliacutecia Federal foram

consideradas obtidas por meios ilegais Portanto o caso natildeo eacute de pressuposta ilegalidade de

todo o acervo probatoacuterio que instruiu o processo judicial e que instrui o vertente processo

como as vezes parece que se pretende fazer crer Em lugar disso tratashyse apenas da

declaraccedilatildeo de nulidade das escutas que excederam os sessenta dias inicialmente autorizados e

como consequecircncia da possiacutevel nulidade das provas que segundo se entenda estejam

contaminadas pela invalidade das intercepccedilotildees ilegais Em segundo como tambeacutem parece ficar

claro do teor das decisotildees proferidas em juiacutezo na oacutetica do Poder Judiciaacuterio parte das provas

teriam restado incoacutelumes desde que fosse apontada a linha divisoacuteria entre estas e aquelas

Contudo segundo entendimento do Ministeacuterio Puacuteblico Federal autor da denuacutencia todas as

provas estavam de alguma forma vinculadas as escutas ilegais jaacute que com base nelas

obtiveramshyse os necessaacuterios mandados e busca e apreensatildeo autorizaccedilatildeo que teria permitido agraves

autoridades fazendaacuterias e policiais ter acesso aos diversos documentos que terminaram

constituindo o acervo probatoacuterio dos autos

Eacute precisamente nesse ponto que algumas relevantes ponderaccedilotildees precisam ser

feitas

Como se pretenderaacute demonstrar com a necessaacuteria objetividade e clareza o

juiacutezo que se formou no processo criminal em relaccedilatildeo agrave validade das provas ditas derivadas das

interceptaccedilotildees iliacutecitas data maxima venia natildeo levou em consideraccedilatildeo certas prerrogativas que

deteacutem os servidores da Secretaria da Receita Federal no exerciacutecio das funccedilotildees que lhe

competem

A esse respeito imperioso registrar que o entendimento manifesto pelo

Ministeacuterio Puacuteblico Federal no processo que tramitava na esfera judicial natildeo vincula a

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administraccedilatildeo tributaacuteria tampouco se aplica automaticamente ao processo administrativo

fiscal Corrobora esse entendimento a manifestaccedilatildeo do proacuteprio Poder Judiciaacuterio nos autos do

Mandado de Seguranccedila nordm 0002843shy9520144040000PR impetrado contra o Juiacutezo da 14a

Vara Federal de Curitiba Tribunal Regional Federal da 4a Regiatildeo acerca dos efeitos da

anulaccedilatildeo das provas obtidas no acircmbito da mesma Operaccedilatildeo Diluacutevio sobre os procedimentos

administrativos disciplinares instaurados com base no compartilhamento dessas mesmas

provas Assim decidiu o Tribunal Regional da 4ordf Regiatildeo a respeito

MANDADO DE SEGURANCcedilA TERCEIRO INTERESSADO PROVA EMPRESTADA NULIDADE PARCIAL DECLARADA PELO STJ EFEITOS NA ESFERA ADMINISTRATIVA MATEacuteRIA ESTRANHA AO JUIacuteZO CRIMINAL COMPETEcircNCIA DA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA

1 Natildeo se presta o mandado de seguranccedila para determinar ao juiacutezo a quo que acerca de pedido formulado por terceiro interessado decida em ou outro sentido

2 Desborda da competecircncia do juiacutezo criminal e ateacute mesmo da esfera penal decidir a respeito de nulidades pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada em procedimentos administrativos disciplinares

3 Descabido exigirshyse que o juiacutezo penal diante de julgamento proferido pelo Superior Tribunal de Justiccedila que anula apenas parcialmente as interceptaccedilotildees telemaacuteticas profira decisatildeo complementar que esclareccedila os efeitos da anulaccedilatildeo

4 Compete agrave autoridade administrativa responsaacutevel pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada certificarshyse acerca dos efeitos de eventual anulaccedilatildeo sobre os procedimentos disciplinares cabendo ao interessado a interposiccedilatildeo de recurso administrativo e impugnaccedilatildeo na via judicial apropriada

Sentenccedila denegada

Feitas tais consideraccedilotildees preambulares penso que devamos a partir daqui

enfrentar a questatildeo nevraacutelgica posta nos autos que diz respeito agrave mitigaccedilatildeo no particular da

Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada em face agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e agrave

Teoria da Fonte Independente para fins de validaccedilatildeo das provas carreadas aos autos pela

Fiscalizaccedilatildeo Federal

Sem adentrar ao relato histoacuterico que descreve a origem e a construccedilatildeo teoacuterica

que abriu espaccedilo agrave adoccedilatildeo das citadas Teorias no ordenamento juriacutedico paacutetrio (ateacute mesmo para

que natildeo se transbordem os limites proacuteprios do PAF) restrinjoshyme agrave anaacutelise das disposiccedilotildees

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legais expressamente contidas no Coacutedigo do Processo Penal apoacutes modificaccedilotildees introduzidas

pela Lei 116802008 a seguir reproduzido

Art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas constitucionais ou legais (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11690 de 2008)

sect 1ordm Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

sect 2ordm Considerashyse fonte independente aquela que por si soacute seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

A parte inicial do paraacutegrafo 1ordm acima expressa em disposiccedilatildeo literal de Lei

o que se costuma designar por Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada Logo a seguir ainda

no teor das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo 1ordm introduzshyse a hipoacutetese contemplada pela

Teoria da Fonte Independente que em combinaccedilatildeo com o disposto no paraacutegrafo segundo

remete agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel

Interessa sublinhar neste ponto que como se depreende da leitura do

paraacutegrafo anterior o que se discute no presente processo em verdade natildeo diz respeito agrave

aplicaccedilatildeo de diferentes teorias juriacutedicas ou orientaccedilotildees doutrinaacuterias agraves circunstacircncias faacuteticas

descritas nos autos mas agrave interpretaccedilatildeo de disposiccedilatildeo literal de lei contida no Coacutedigo do

Processo Penal com o fito de decidir se a norma geral e abstrata que estabelece ressalvas agrave

ilicitude das provas derivadas de provas iliacutecitas deve ser considerada e aplicada ao caso

concreto

Temshyse pois que combinadas as disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm

do art 157 do Coacutedigo do Processo Penal as provas derivadas das provas iliacutecitas poderatildeo ser

aceitas no processo quando puderem ser obtidas por uma fonte independente das provas

consideradas iliacutecitas em circunstacircncias tais que seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe

proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal sejam capazes de conduzir ao fato objeto da

prova

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Como jaacute destacado linhas acima a razatildeo maior para que o Ministeacuterio Puacuteblico

Federal tenha considerado as provas derivadas indissociaacuteveis dos procedimentos preliminares

adotados pelas autoridades policiais e fazendaacuterias decorre da circunstacircncia de que Sem as

provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de

busca e apreensatildeo () Pois aiacute reside a questatildeo nodal do processo Como a seguir restaraacute

sobejamente demonstrado os AuditoresshyFiscais da Receita Federal no acircmbito de suas

prerrogativas legais prescindem de ordem judicial para executar o procedimento de busca e

apreensatildeo nas dependecircncias do contribuinte De fato eacute essa a conclusatildeo insofismaacutevel a que se

chega com base na simples leitura da legislaccedilatildeo que regulamenta o exerciacutecio do cargo

Observeshyse (todos grifos acrescidos)

Coacutedigo Tributaacuterio Nacional shy Lei 5172 de 25101966

TIacuteTULO IV

Administraccedilatildeo Tributaacuteria

CAPIacuteTULO I

Fiscalizaccedilatildeo

Art 194 A legislaccedilatildeo tributaacuteria observado o disposto nesta Lei regularaacute em caraacuteter geral ou especificamente em funccedilatildeo da natureza do tributo de que se tratar a competecircncia e os poderes das autoridades administrativas em mateacuteria de fiscalizaccedilatildeo da sua aplicaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A legislaccedilatildeo a que se refere este artigo aplicashyse agraves pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo inclusive agraves que gozem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Art 195 Para os efeitos da legislaccedilatildeo tributaacuteria natildeo tecircm aplicaccedilatildeo quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias livros arquivos documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos

Paraacutegrafo uacutenico Os livros obrigatoacuterios de escrituraccedilatildeo comercial e fiscal e os comprovantes dos lanccedilamentos neles efetuados seratildeo conservados ateacute que ocorra a prescriccedilatildeo dos creacuteditos tributaacuterios decorrentes das operaccedilotildees a que se refiram

Art 196 A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraraacute os termos necessaacuterios para que se documente o iniacutecio do procedimento na forma da legislaccedilatildeo aplicaacutevel que fixaraacute prazo maacuteximo para a conclusatildeo daquelas

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Paraacutegrafo uacutenico Os termos a que se refere este artigo seratildeo lavrados sempre que possiacutevel em um dos livros fiscais exibidos quando lavrados em separado deles se entregaraacute agrave pessoa sujeita agrave fiscalizaccedilatildeo coacutepia autenticada pela autoridade a que se refere este artigo

Art 197 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agrave autoridade administrativa todas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos bens negoacutecios ou atividades de terceiros

I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio

II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e demais instituiccedilotildees financeiras

III shy as empresas de administraccedilatildeo de bens

IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais

V shy os inventariantes

VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios

VII shy quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe em razatildeo de seu cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A obrigaccedilatildeo prevista neste artigo natildeo abrange a prestaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razatildeo de cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Lei nordm 450264

Art 94 A fiscalizaccedilatildeo seraacute exercida socircbre tocircdas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do impocircsto de consumo inclusive socircbre as que gozarem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Paraacutegrafo uacutenico As pessoas a que se refere ecircste artigo exibiratildeo aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo e lhes franquearatildeo os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da noite se agrave noite estiverem funcionando

Art 95 Os agentes fiscalizadores que procederem a diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraratildeo aleacutem do auto de infraccedilatildeo que couber tecircrmos circunstanciados de iniacutecio e de conclusatildeo de cada uma delas nos quais consignaratildeo as datas inicial e final do periacuteodo fiscalizado a relaccedilatildeo dos livros e documentos comerciais e fiscais exibidos e tudo mais que seja de interecircsse para a fiscalizaccedilatildeo

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()

sect 2ordm Quando viacutetimas de embaraccedilo ou desacato no exerciacutecio de suas funccedilotildees ou quando seja necessaacuterio agrave efetivaccedilatildeo de medidas acauteladoras do interecircsse do fisco ainda que natildeo se configure fato definido em lei como crime ou contravenccedilatildeo os agentes fiscalizadores diretamente ou atraveacutes das reparticcedilotildees a que pertencerem poderatildeo requisitar o auxiacutelio da focircrccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Art 97 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agraves autoridades fiscalizadoras tocircdas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos produtos negoacutecios ou atividades de terceiros I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e semelhantes III shy as empresas transportadoras e os transportadores singulares IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais V shy os inventariantes VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios VII shy as reparticcedilotildees puacuteblicas e autaacuterquicas federais as entidades paraestatais e de economia mista VIII shy tocircdas as demais pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao impocircsto de consumo

Lei nordm 863093

Art 36 Compete ao Ministeacuterio da Fazenda por intermeacutedio das reparticcedilotildees aduaneiras

()

sect 2deg No exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees a autoridade aduaneira teraacute livre acesso a quaisquer dependecircncias do porto e agraves embarcaccedilotildees atracadas ou natildeo bem como aos locais onde se encontrem mercadorias procedentes do exterior ou a ele destinadas podendo quando julgar necessaacuterio requisitar papeacuteis livros e outros documentos inclusive quando necessaacuterio o apoio de forccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Lei nordm 943096

Art 34 Satildeo tambeacutem passiacuteveis de exame os documentos do sujeito passivo mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados encontrados no local da verificaccedilatildeo que tenham relaccedilatildeo direta ou indireta com a atividade por ele exercida

Retenccedilatildeo de Livros e Documentos

Art 35 Os livros e documentos poderatildeo ser examinados fora do estabelecimento do sujeito passivo desde que lavrado termo

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escrito de retenccedilatildeo pela autoridade fiscal em que se especifiquem a quantidade espeacutecie natureza e condiccedilotildees dos livros e documentos retidos

sect 1ordm Constituindo os livros ou documentos prova da praacutetica de iliacutecito penal ou tributaacuterio os originais retidos natildeo seratildeo devolvidos extraindoshyse coacutepia para entrega ao interessado

sect 2ordm Excetuado o disposto no paraacutegrafo anterior devem ser devolvidos os originais dos documentos retidos para exame mediante recibo

Lacraccedilatildeo de Arquivos

Art 36 A autoridade fiscal encarregada de diligecircncia ou fiscalizaccedilatildeo poderaacute promover a lacraccedilatildeo de moacuteveis caixas cofres ou depoacutesitos onde se encontram arquivos e documentos toda vez que ficar caracterizada a resistecircncia ou o embaraccedilo agrave fiscalizaccedilatildeo ou ainda quando as circunstacircncias ou a quantidade de documentos natildeo permitirem sua identificaccedilatildeo e conferecircncia no local ou no momento em que foram encontrados

Paraacutegrafo uacutenico O sujeito passivo e demais responsaacuteveis seratildeo previamente notificados para acompanharem o procedimento de rompimento do lacre e identificaccedilatildeo dos elementos de interesse da fiscalizaccedilatildeo

Guarda de Documentos

Art 37 Os comprovantes da escrituraccedilatildeo da pessoa juriacutedica relativos a fatos que repercutam em lanccedilamentos contaacutebeis de exerciacutecio futuros seratildeo conservados ateacute que se opere a decadecircncia do direito de a Fazenda Puacuteblica constituir os creacuteditos tributaacuterios relativos a esses exerciacutecios

Arquivos Magneacuteticos

Art 38 O sujeito passivo usuaacuterio de sistema de processamento de dados deveraacute manter documentaccedilatildeo teacutecnica completa e atualizada do sistema suficiente para possibilitar a sua auditoria facultada a manutenccedilatildeo em meio magneacutetico sem prejuiacutezo da sua emissatildeo graacutefica quando solicitada

Como se depreende das disposiccedilotildees legais acima transcritas a legislaccedilatildeo

tributaacuteria considera inaplicaacuteveis quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do

direito que deteacutem a Fiscalizaccedilatildeo Federal de examinar mercadorias livros arquivos

documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores

ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos Estabelece tambeacutem que mediante intimaccedilatildeo por escrito

todas as pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao Imposto

sobre Produtos Industrializados deveratildeo prestar por escrito as informaccedilotildees requeridas Ainda

que a fiscalizaccedilatildeo alcanccedila todas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que

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forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do imposto devendo

elas exibir aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e

comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados

necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo Ainda mais que as pessoas deveratildeo franquear agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal

os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da

noite se agrave noite estiverem funcionando e autoriza o Fisco a proceder ao exame inclusive de

documentos mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados

E que se diga natildeo estamos aqui nos referindo apenas ao poder outorgado por

lei agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal no exerciacutecio de suas funccedilotildees mas para aleacutem disso de um dever

legal sob pena de responsabilidade funcional da autoridade fiscal que vier a negligenciaacuteshylos

A toda evidecircncia a despeito do fato de que parte das provas colacionadas aos

autos tenham efetivamente sido obtidas com base em pesquisas e consultas aos sistemas da

Secretaria da Receita Federal sem qualquer viacutenculo com o que fora apreendido nas

dependecircncias dos contribuinte o fato eacute que todos os elementos de prova que instruem o

presente processo notadamente poderiam ser obtidos independentemente dos mandados de

busca e apreensatildeo que terminaram por dar ensejo agrave decretaccedilatildeo da nulidade de todo arcabouccedilo

probatoacuterio contido nos autos bastando para tanto que a Fiscalizaccedilatildeo Federal com apoio ou

natildeo de forccedila policial seguisse os procedimentos autorizados em Lei Significa dizer

seguisse os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo do Oacutergatildeo

Eacute possiacutevel que se indague ainda se mesmo admitidos todos os pressupostos

ateacute aqui declinados teria a Fiscalizaccedilatildeo Federal tomado a iniciativa de instaurar um

procedimento fiscal em face dos sujeitos passivos relacionados nos autos A resposta a essa

suposta indagaccedilatildeo a meu sentir eacute facilmente respondida agrave luz do disposto na Lei nordm 929696

que exige a comprovaccedilatildeo de indiacutecios de autoria e materialidade do delito sob investigaccedilatildeo para

concessatildeo da ordem judicial autorizando dentre outros a quebra do sigilo telefocircnico e

telemaacutetico

Ora a conclusatildeo natural e inevitaacutevel a que se chega eacute que as investigaccedilotildees

das operaccedilotildees empreendidas pelos agentes envolvidos nas praacuteticas iliacutecitas de que tratam os

autos jaacute estavam em curso antes que o Poder Judiciaacuterio tivesse autorizado as interceptaccedilotildees

telefocircnicas razatildeo a mais para que se reconheccedila que as provas obtidas no cumprimento dos

MBAs haveriam de ser alcanccediladas pela accedilatildeo da Fiscalizaccedilatildeo Federal no curso dos

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procedimentos fiscais autorizados em lei proacuteprios tiacutepicos e inerentes agraves atividades

desenvolvidas pelo Oacutergatildeo uma vez que atos iliacutecitos jaacute fossem de conhecimento do Fisco

Como base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal na parte em que admite as provas derivadas de provas iliacutecitas desde que fique

demonstrado que tais provas as derivadas poderiam ser obtidas por meios independentes

seguindoshyse os procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal

Por oacutebvio as interceptaccedilotildees telefocircnicas natildeo compreendidas dentro do periacuteodo

que estende de 25052005 a 23072005 (60 dias considerados legais) natildeo podem ser admitidas

como prova do iliacutecito tributaacuterio de que ora se cuida

Voto por dar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda

Nacional para que seja afastada a prejudicial de nulidade das provas colacionadas aos autos

por forccedila das disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal conforme fundamentaccedilatildeo expressa no voto

O processo deve retornar agrave instacircncia recorrida para exame das questotildees de

meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade

das provas

(assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

Fl 2464DF CARF MF

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

Fl 2467DF CARF MF

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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30

No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

Fl 2469DF CARF MF

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

Fl 2472DF CARF MF

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 2: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Participaram da sessatildeo de julgamento os conselheiros Rodrigo da Costa Pocircssas Andrada Maacutercio Canuto Natal Tatiana Midori Migiyama Luiz Eduardo de Oliveira Santos Demes Brito Jorge Olmiro Lock Freire Eacuterika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello

Relatoacuterio

Tratashyse de recurso especial de divergecircncia interposto pela Fazenda Nacional

contra decisatildeo tomada no acoacuterdatildeo nordm 3401shy004427 de 20 de marccedilo de 2018 (eshyfolhas 2276 e

segs) que recebeu a seguinte ementa

ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO

Periacuteodo de apuraccedilatildeo 30092004 a 03012005

DECADEcircNCIA PRAZO TERMO FINAL LANCcedilAMENTO DATA DA CIEcircNCIA

Dispotildee o art 138 paraacutegrafo uacutenico do DecretoshyLei nordm 3766 que o direito de exigir diferenccedila de tributo extingueshyse no prazo de 05 (cinco) anos a partir do pagamento efetuado entendendoshyse como termo final do lapso extintivo a ciecircncia do instrumento de lanccedilamento o que nas hipoacuteteses de emprego de edital verificashyse apoacutes 15 (quinze) dias da publicaccedilatildeo consoante art 23 IV do Decreto nordm 7023572

ASSUNTO IMPOSTO SOBRE A IMPORTACcedilAtildeO II

Periacuteodo de apuraccedilatildeo 30092004 a 03012005

AUTO DE INFRACcedilAtildeO CAREcircNCIA PROBATOacuteRIA IMPROCEDEcircNCIA

Cabe agrave autoridade fiscal apresentar as provas dos fatos imputados em auto de infraccedilatildeo sendo a carecircncia probatoacuteria ensejadora de improcedecircncia da autuaccedilatildeo No caso em anaacutelise expurgados os elementos derivados da chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo (considerados como prova iliacutecita pelo Poder Judiciaacuterio) natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal

Recurso de ofiacutecio negado e recurvo voluntaacuterio provido

A divergecircncia suscitada no recurso especial (eshyfolhas 2317 e segs) estaacute

relacionada agrave possibilidade de que seja aplicado no processo administrativo fiscal a Teoria da

Descoberta Inevitaacutevel e a Teoria da Fonte Independente para fins de validaccedilatildeo das provas

apresentadas pela Fiscalizaccedilatildeo Federal

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O litiacutegio versa sobre procedimento de fiscalizaccedilatildeo levado a efeito em face da

empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda no qual obtiveramshyse diversos elementos de prova

da praacutetica dos iliacutecitos tributaacuterios e aduaneiros de interposiccedilatildeo fraudulenta de subfaturamento

quebra da cadeia do IPI e obtenccedilatildeo de benefiacutecios fiscais vinculados ao ICMS praticados pela

empresa em conluio com outras diversas empresas vinculadas ao chamado Grupo MAM

Para internalizar as mercadorias introduzidas fraudulentamente no paiacutes

interpunhamshyse entre o Real Importador e o Real Exportador diversas empresas constituiacutedas

em sua maioria em nome de interpostas pessoas (laranjas) que atuavam de forma simulada e

sob controle centralizado dos mentores intelectuais do chamado Grupo MAM Assim embora

a real operaccedilatildeo se desse entre as duas pessoas situadas na posiccedilatildeo extrema da cadeia (Real

Importador e Real Exportador) apareciam entre elas um exportador fictiacutecio um importador

fictiacutecio e um distribuidor intermediaacuterio que operacionalizavam os iliacutecitos tributaacuterios

Para comprovar que as operaccedilotildees eram na verdade praticadas entre o Real

Exportador (Samsung Verbatim AMD International Sales amp Services) e o Real Importador

(CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda) e natildeo entre as interpostas pessoas que figuravam nos

documentos apresentados agrave autoridade aduaneira a Fiscalizaccedilatildeo Federal lanccedilou matildeo de

diversas elemento de prova tais como Purchase Order (ordem de compra) emitido pela CIL

para a Samsung documento apreendido na CIL intitulado Tabela de Drives Gravadores

CDDVD Samsung Importaccedilatildeo 2 referindoshyse a diversas operaccedilotildees de importaccedilotildees realizadas

Tabela de Custos de Importaccedilatildeo Samsung apreendida em estabelecimento da CIL com

simulaccedilatildeo dos custos de importaccedilatildeo de mercadorias Ordem de Compra de Produtos shy Pedido a

Fornecedor da CIL para a Lansaret solicitando a entrega de produtos importados eshymails de

negociaccedilatildeo de preccedilos de importaccedilatildeo entre a CIL e a Samsung Commercial Invoice emitida

pela Samsung contra a CIL etc etc etc

Com base nesses elementos de prova as empresas foram autuadas pela

praacutetica dos iliacutecitos tributaacuterios a que se fez referecircncia linhas acima

Simultaneamente tramitava perante o Poder Judiciaacuterio o processo crime

decorrente das accedilotildees perpetradas pelas pessoas fiacutesicas e juriacutedicas envolvidas nas accedilotildees

criminosas Neste restou concedido Habeas Corpus pelo Superior Tribunal de Justiccedila no qual

foram consideradas iliacutecitas todas as interceptaccedilotildees telefocircnicas realizadas apoacutes o sexageacutesimo dia

em que elas se iniciaram Uma vez que seja incontestaacutevel o viacutenculo entre as escutas telefocircnicas

Fl 2442DF CARF MF

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e os Mandados de Busca e Apreensatildeo que autorizaram a autoridade policial a realizar a busca e

a decorrente apreensatildeo dos documentos que comprovaram as praacuteticas irregulares de que se

trata discuteshyse neste processo agrave luz das Teorias supramencionadas a validade de todo o

acervo probatoacuterio de que lanccedilou matildeo o Fisco para constituiccedilatildeo do creacutedito tributaacuterio

O Recurso especial foi admitido conforme despacho de admissibilidade de eshy

folhas 2357 e segs

Contrarrazotildees do contribuinte agraves eshyfolhas 2377 e segs Pede que natildeo seja

dado seguimento ao recurso e no meacuterito que lhe seja negado provimento

Eacute o Relatoacuterio

Voto

Conselheiro Andrada Maacutercio Canuto Natal shy Relator

Conhecimento do Recurso Especial

Em sede de contrarrazotildees o contribuinte defende que o recurso natildeo pode ser

admitido Segundo alega tratamshyse de situaccedilotildees faacuteticas distintas pois enquanto no paradigma

o procedimento fiscal jaacute havia sido instaurado por ocasiatildeo da decretaccedilatildeo da nulidade das

provas no recorrido esta circunstacircncia natildeo eacute identificada

Sem razatildeo a contrarrazoante

A instauraccedilatildeo do procedimento fiscal em si antes da decisatildeo que considerou

nulas as escutas telefocircnicas em nada modifica a possibilidade de que as provas fossem obtidas

por fontes independentes eou que os fatos iliacutecitos possam ser considerados de descoberta

inevitaacutevel circunstacircncias suficientes e necessaacuterias agrave aplicaccedilatildeo da Teoria da Descoberta

Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente

De fato o art 157 do Coacutedigo do Processo Penal dispotildee sobre circunstacircncias

hipoteacuteticas consideradas em tese do que resta irrelevante e sem efeito praacutetico ou teoacuterico a

instauraccedilatildeo preacutevia do procedimento fiscal pois as fontes das quais as provas proveacutem e as

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circunstacircncias que tornam a descoberta inevitaacutevel natildeo se modificam com a instauraccedilatildeo do

procedimento

E mais Se conforme entende a contrarrazoante o iniacutecio do procedimento

fiscal revela a possibilidade de que as provas sejam (ou fossem) obtidas independentemente

dos malsinados mandados de busca e apreensatildeo pareceshyme incontroverso que tais provas

poderiam ser descobertas por fonte independente e ainda mais que a execuccedilatildeo desses

procedimentos de praxe da Fiscalizaccedilatildeo Federal conduziriam agrave descoberta inevitaacutevel dos fatos

iliacutecitos

Portanto o juiacutezo formado no julgamento paradigma ora confrontado com a

decisatildeo recorrida para o fim de considerar a possibilidade de mitigaccedilatildeo da Teoria dos Frutos

da Aacutervore Envenenada por forccedila da aplicaccedilatildeo das duas Teorias retrocitadas natildeo guarda relaccedilatildeo

com a obtenccedilatildeo de provas em procedimento autocircnomo preacutevio distante e independente das

provas consideradas iliacutecitas pois a Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e a Teoria da Fonte

Independente natildeo foram construiacutedas sob tal perspectiva mas agrave luz da possibilidade de que os

fatos viessem a ser descobertos por fonte independente eou que sua descoberta fosse

inevitaacutevel

Ora e de fato se estiveacutessemos falando de provas sobre as quais natildeo se

cogitasse os efeitos decorrentes da Teoria do Fruto da Aacutervore Envenenada condiccedilatildeo que

segundo parece entender a contrarrazoante estaacute presente no acoacuterdatildeo paradigma entatildeo natildeo

haveria razatildeo para que se falasse em mitigaccedilatildeo de seus efeitos

Como adiante pretendemos esclarecer a uacutenica condiccedilatildeo de natureza factual

para que seja considerada a possibilidade de aplicaccedilatildeo das Teorias sub examine eacute a de que as

empresas autuadas jaacute estivessem sendo investigadas e natildeo que o procedimento fiscal em si jaacute

tivesse sido instaurado

Meacuterito

No meacuterito uma vez que a recorrente tenha contraditado exclusivamente a

questatildeo abordada nas linhas acima ou seja a aplicaccedilatildeo da Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e

da Teoria da Fonte Independente como elementos de mitigaccedilatildeo da Teoria dos Frutos da

Aacutervore Envenenada dessa mateacuteria a seguir nos ocuparemos

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Como jaacute exaustivamente esclarecido nos autos a 6ordf Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila em julgamento proferido no HC nordm 142045PR em que figuravam como

pacientes Marco Antocircnio Mansur e Marco Antocircnio Mansur Filho soacutecios da empresa MAM

reconheceu a nulidade parcial das escutas telefocircnicas obtidas em cumprimento dos Mandados

de Busca e Apreensatildeo shy MBAs emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacutePR A decisatildeo foi

assim ementada

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria (interpretaccedilatildeo) Principio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

1 Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

2 A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova

3 Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente fundamentada Haacute neste caso se natildeo explicita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art 5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do principio da razoabilidade

4 Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo os autos retornar aacutes matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Liminarmente releva destacar que nem a decisatildeo proferida pelo juiacutezo de

primeiro grau nem o procedimento levado a efeito pela autoridade policial eou pela

autoridade fiscal e nem mesmo as proacuteprias interceptaccedilotildees telefocircnicas em sua integralidade

foram consideradas abusivas Como se depreende do teor da decisatildeo acima transcrita a

irregularidade apontada na decisatildeo refereshyse a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias

de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas que excederam ateacute mesmo os sessenta dias do

estado de defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) Outrossim a decisatildeo tomada no acircmbito do

Superior Tribunal de Justiccedila eximiushyse de qualquer ilaccedilatildeo acerca de seus efeitos sobre o acervo

probatoacuterio que lastreava a acusaccedilatildeo Em lugar disso determinou a restituiccedilatildeo dos autos ao Juiz

originaacuterio para as determinaccedilotildees de direito

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Por forccedila da decisatildeo proferida pelo STJ o Juiz Federal Substituto Tiago do

Carmo Martins reconhecendo a higidez das provas colhidas durante o primeiro periacuteodo de

interceptaccedilatildeo telefocircnica encaminhou o processo ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal para que na

qualidade de autor da denuacutencia se manifestasse acerca da instruccedilatildeo probatoacuteria do processo

criminal agrave luz da decisatildeo tomada no HC 142045PR O despacho teve o seguinte teor

Em relaccedilatildeo ao referencial temporal adotado por aquela Corte ante a leitura dos votos proferidos naquele julgamento tenho que o julgado limitou a utilizaccedilatildeo dessa teacutecnica investigativa ao prazo de 60 (sessenta) dias

Assim permanecem hiacutegidas as provas colhidas durante o primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes Os demais elementos de prova obtidos a partir dos dados colhidos nessa fase da investigaccedilatildeo tambeacutem permanecem hiacutegidos pois derivaram de prova obtida licitamente

De outra parte segundo os termos do julgado as interceptaccedilotildees telefocircnicas realizadas a partir da quarta prorrogaccedilatildeo autorizada encontramshyse maculadas pelo vicio insanaacutevel da ilicitude Satildeo portanto imprestaacuteveis para fins de utilizaccedilatildeo de prova no processo penal Correlatamente os demais elementos de prova obtidos a partir dos dados colhidos nessa fase da investigaccedilatildeo tambeacutem encontramshyse eivado de ilicitude pela aplicaccedilatildeo da teoria dos frutos da aacutervore envenenada agora expressamente adotado pelo CPP (art 157 sect1deg do CPP)

Confrontado com o Habeas Corpus concedido aos pacientes o Parquet

entendeu pela impossibilidade de separaccedilatildeo das provas colacionadas aos autos nos seguintes

termos

Sem as provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de busca e apreensatildeo sem as provas carreadas aos autos em cumprimento destes natildeo seria possiacutevel a apreensatildeo para dizer o miacutenimo de centenas de milhares de notas fiscaiscomputadores contendo os verdadeiros preccedilos das mercadorias sem a anaacutelise destes pela Receita Federal em conjunto com os inuacutemeros eshymails interceptados os laudos que acompanham a denuacutencia natildeo teriam sido produzidos Insistindo a pretendida separaccedilatildeo eacute impossiacutevel

Das consideraccedilotildees ateacute aqui postas eacute possiacutevel afirmar que (i) nos autos do

Habeas Corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiccedila nenhuma decisatildeo foi tomada

acerca dos efeitos sobre o acervo probatoacuterio no qual lastreavashyse a acusaccedilatildeo (ii) o Juiacutez

originaacuterio considerando a higidez de parte das provas encaminhou o processo ao Ministeacuterio

Puacuteblico Federal autor da denuacutencia crime para que nessa qualidade se posicionasse em relaccedilatildeo

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agraves consequecircncias do HC no processo criminal em curso (iii) o Ministeacuterio Puacuteblico Federal

entendeu que as provas anuladas e as provas derivadas seriam indissociaacuteveis uma vez que as

uacuteltimas fossem decorrecircncia dos mandados de busca e apreensatildeo e estes das escutas telefocircnicas

Salvo melhor juiacutezo pareceshynos que a decisatildeo proferida no processo criminal

seja dotada de certas particularidades que necessariamente deveratildeo ser levadas em conta na

decisatildeo que seraacute tomada neste processo administrativo fiscal

Em primeiro lugar eacute incontroverso que apenas uma parcela das provas

obtidas nas accedilotildees impetradas pela Receita Federal em conjunto com a Poliacutecia Federal foram

consideradas obtidas por meios ilegais Portanto o caso natildeo eacute de pressuposta ilegalidade de

todo o acervo probatoacuterio que instruiu o processo judicial e que instrui o vertente processo

como as vezes parece que se pretende fazer crer Em lugar disso tratashyse apenas da

declaraccedilatildeo de nulidade das escutas que excederam os sessenta dias inicialmente autorizados e

como consequecircncia da possiacutevel nulidade das provas que segundo se entenda estejam

contaminadas pela invalidade das intercepccedilotildees ilegais Em segundo como tambeacutem parece ficar

claro do teor das decisotildees proferidas em juiacutezo na oacutetica do Poder Judiciaacuterio parte das provas

teriam restado incoacutelumes desde que fosse apontada a linha divisoacuteria entre estas e aquelas

Contudo segundo entendimento do Ministeacuterio Puacuteblico Federal autor da denuacutencia todas as

provas estavam de alguma forma vinculadas as escutas ilegais jaacute que com base nelas

obtiveramshyse os necessaacuterios mandados e busca e apreensatildeo autorizaccedilatildeo que teria permitido agraves

autoridades fazendaacuterias e policiais ter acesso aos diversos documentos que terminaram

constituindo o acervo probatoacuterio dos autos

Eacute precisamente nesse ponto que algumas relevantes ponderaccedilotildees precisam ser

feitas

Como se pretenderaacute demonstrar com a necessaacuteria objetividade e clareza o

juiacutezo que se formou no processo criminal em relaccedilatildeo agrave validade das provas ditas derivadas das

interceptaccedilotildees iliacutecitas data maxima venia natildeo levou em consideraccedilatildeo certas prerrogativas que

deteacutem os servidores da Secretaria da Receita Federal no exerciacutecio das funccedilotildees que lhe

competem

A esse respeito imperioso registrar que o entendimento manifesto pelo

Ministeacuterio Puacuteblico Federal no processo que tramitava na esfera judicial natildeo vincula a

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administraccedilatildeo tributaacuteria tampouco se aplica automaticamente ao processo administrativo

fiscal Corrobora esse entendimento a manifestaccedilatildeo do proacuteprio Poder Judiciaacuterio nos autos do

Mandado de Seguranccedila nordm 0002843shy9520144040000PR impetrado contra o Juiacutezo da 14a

Vara Federal de Curitiba Tribunal Regional Federal da 4a Regiatildeo acerca dos efeitos da

anulaccedilatildeo das provas obtidas no acircmbito da mesma Operaccedilatildeo Diluacutevio sobre os procedimentos

administrativos disciplinares instaurados com base no compartilhamento dessas mesmas

provas Assim decidiu o Tribunal Regional da 4ordf Regiatildeo a respeito

MANDADO DE SEGURANCcedilA TERCEIRO INTERESSADO PROVA EMPRESTADA NULIDADE PARCIAL DECLARADA PELO STJ EFEITOS NA ESFERA ADMINISTRATIVA MATEacuteRIA ESTRANHA AO JUIacuteZO CRIMINAL COMPETEcircNCIA DA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA

1 Natildeo se presta o mandado de seguranccedila para determinar ao juiacutezo a quo que acerca de pedido formulado por terceiro interessado decida em ou outro sentido

2 Desborda da competecircncia do juiacutezo criminal e ateacute mesmo da esfera penal decidir a respeito de nulidades pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada em procedimentos administrativos disciplinares

3 Descabido exigirshyse que o juiacutezo penal diante de julgamento proferido pelo Superior Tribunal de Justiccedila que anula apenas parcialmente as interceptaccedilotildees telemaacuteticas profira decisatildeo complementar que esclareccedila os efeitos da anulaccedilatildeo

4 Compete agrave autoridade administrativa responsaacutevel pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada certificarshyse acerca dos efeitos de eventual anulaccedilatildeo sobre os procedimentos disciplinares cabendo ao interessado a interposiccedilatildeo de recurso administrativo e impugnaccedilatildeo na via judicial apropriada

Sentenccedila denegada

Feitas tais consideraccedilotildees preambulares penso que devamos a partir daqui

enfrentar a questatildeo nevraacutelgica posta nos autos que diz respeito agrave mitigaccedilatildeo no particular da

Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada em face agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e agrave

Teoria da Fonte Independente para fins de validaccedilatildeo das provas carreadas aos autos pela

Fiscalizaccedilatildeo Federal

Sem adentrar ao relato histoacuterico que descreve a origem e a construccedilatildeo teoacuterica

que abriu espaccedilo agrave adoccedilatildeo das citadas Teorias no ordenamento juriacutedico paacutetrio (ateacute mesmo para

que natildeo se transbordem os limites proacuteprios do PAF) restrinjoshyme agrave anaacutelise das disposiccedilotildees

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legais expressamente contidas no Coacutedigo do Processo Penal apoacutes modificaccedilotildees introduzidas

pela Lei 116802008 a seguir reproduzido

Art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas constitucionais ou legais (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11690 de 2008)

sect 1ordm Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

sect 2ordm Considerashyse fonte independente aquela que por si soacute seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

A parte inicial do paraacutegrafo 1ordm acima expressa em disposiccedilatildeo literal de Lei

o que se costuma designar por Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada Logo a seguir ainda

no teor das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo 1ordm introduzshyse a hipoacutetese contemplada pela

Teoria da Fonte Independente que em combinaccedilatildeo com o disposto no paraacutegrafo segundo

remete agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel

Interessa sublinhar neste ponto que como se depreende da leitura do

paraacutegrafo anterior o que se discute no presente processo em verdade natildeo diz respeito agrave

aplicaccedilatildeo de diferentes teorias juriacutedicas ou orientaccedilotildees doutrinaacuterias agraves circunstacircncias faacuteticas

descritas nos autos mas agrave interpretaccedilatildeo de disposiccedilatildeo literal de lei contida no Coacutedigo do

Processo Penal com o fito de decidir se a norma geral e abstrata que estabelece ressalvas agrave

ilicitude das provas derivadas de provas iliacutecitas deve ser considerada e aplicada ao caso

concreto

Temshyse pois que combinadas as disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm

do art 157 do Coacutedigo do Processo Penal as provas derivadas das provas iliacutecitas poderatildeo ser

aceitas no processo quando puderem ser obtidas por uma fonte independente das provas

consideradas iliacutecitas em circunstacircncias tais que seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe

proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal sejam capazes de conduzir ao fato objeto da

prova

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Como jaacute destacado linhas acima a razatildeo maior para que o Ministeacuterio Puacuteblico

Federal tenha considerado as provas derivadas indissociaacuteveis dos procedimentos preliminares

adotados pelas autoridades policiais e fazendaacuterias decorre da circunstacircncia de que Sem as

provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de

busca e apreensatildeo () Pois aiacute reside a questatildeo nodal do processo Como a seguir restaraacute

sobejamente demonstrado os AuditoresshyFiscais da Receita Federal no acircmbito de suas

prerrogativas legais prescindem de ordem judicial para executar o procedimento de busca e

apreensatildeo nas dependecircncias do contribuinte De fato eacute essa a conclusatildeo insofismaacutevel a que se

chega com base na simples leitura da legislaccedilatildeo que regulamenta o exerciacutecio do cargo

Observeshyse (todos grifos acrescidos)

Coacutedigo Tributaacuterio Nacional shy Lei 5172 de 25101966

TIacuteTULO IV

Administraccedilatildeo Tributaacuteria

CAPIacuteTULO I

Fiscalizaccedilatildeo

Art 194 A legislaccedilatildeo tributaacuteria observado o disposto nesta Lei regularaacute em caraacuteter geral ou especificamente em funccedilatildeo da natureza do tributo de que se tratar a competecircncia e os poderes das autoridades administrativas em mateacuteria de fiscalizaccedilatildeo da sua aplicaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A legislaccedilatildeo a que se refere este artigo aplicashyse agraves pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo inclusive agraves que gozem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Art 195 Para os efeitos da legislaccedilatildeo tributaacuteria natildeo tecircm aplicaccedilatildeo quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias livros arquivos documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos

Paraacutegrafo uacutenico Os livros obrigatoacuterios de escrituraccedilatildeo comercial e fiscal e os comprovantes dos lanccedilamentos neles efetuados seratildeo conservados ateacute que ocorra a prescriccedilatildeo dos creacuteditos tributaacuterios decorrentes das operaccedilotildees a que se refiram

Art 196 A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraraacute os termos necessaacuterios para que se documente o iniacutecio do procedimento na forma da legislaccedilatildeo aplicaacutevel que fixaraacute prazo maacuteximo para a conclusatildeo daquelas

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Paraacutegrafo uacutenico Os termos a que se refere este artigo seratildeo lavrados sempre que possiacutevel em um dos livros fiscais exibidos quando lavrados em separado deles se entregaraacute agrave pessoa sujeita agrave fiscalizaccedilatildeo coacutepia autenticada pela autoridade a que se refere este artigo

Art 197 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agrave autoridade administrativa todas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos bens negoacutecios ou atividades de terceiros

I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio

II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e demais instituiccedilotildees financeiras

III shy as empresas de administraccedilatildeo de bens

IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais

V shy os inventariantes

VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios

VII shy quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe em razatildeo de seu cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A obrigaccedilatildeo prevista neste artigo natildeo abrange a prestaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razatildeo de cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Lei nordm 450264

Art 94 A fiscalizaccedilatildeo seraacute exercida socircbre tocircdas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do impocircsto de consumo inclusive socircbre as que gozarem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Paraacutegrafo uacutenico As pessoas a que se refere ecircste artigo exibiratildeo aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo e lhes franquearatildeo os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da noite se agrave noite estiverem funcionando

Art 95 Os agentes fiscalizadores que procederem a diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraratildeo aleacutem do auto de infraccedilatildeo que couber tecircrmos circunstanciados de iniacutecio e de conclusatildeo de cada uma delas nos quais consignaratildeo as datas inicial e final do periacuteodo fiscalizado a relaccedilatildeo dos livros e documentos comerciais e fiscais exibidos e tudo mais que seja de interecircsse para a fiscalizaccedilatildeo

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()

sect 2ordm Quando viacutetimas de embaraccedilo ou desacato no exerciacutecio de suas funccedilotildees ou quando seja necessaacuterio agrave efetivaccedilatildeo de medidas acauteladoras do interecircsse do fisco ainda que natildeo se configure fato definido em lei como crime ou contravenccedilatildeo os agentes fiscalizadores diretamente ou atraveacutes das reparticcedilotildees a que pertencerem poderatildeo requisitar o auxiacutelio da focircrccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Art 97 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agraves autoridades fiscalizadoras tocircdas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos produtos negoacutecios ou atividades de terceiros I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e semelhantes III shy as empresas transportadoras e os transportadores singulares IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais V shy os inventariantes VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios VII shy as reparticcedilotildees puacuteblicas e autaacuterquicas federais as entidades paraestatais e de economia mista VIII shy tocircdas as demais pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao impocircsto de consumo

Lei nordm 863093

Art 36 Compete ao Ministeacuterio da Fazenda por intermeacutedio das reparticcedilotildees aduaneiras

()

sect 2deg No exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees a autoridade aduaneira teraacute livre acesso a quaisquer dependecircncias do porto e agraves embarcaccedilotildees atracadas ou natildeo bem como aos locais onde se encontrem mercadorias procedentes do exterior ou a ele destinadas podendo quando julgar necessaacuterio requisitar papeacuteis livros e outros documentos inclusive quando necessaacuterio o apoio de forccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Lei nordm 943096

Art 34 Satildeo tambeacutem passiacuteveis de exame os documentos do sujeito passivo mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados encontrados no local da verificaccedilatildeo que tenham relaccedilatildeo direta ou indireta com a atividade por ele exercida

Retenccedilatildeo de Livros e Documentos

Art 35 Os livros e documentos poderatildeo ser examinados fora do estabelecimento do sujeito passivo desde que lavrado termo

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escrito de retenccedilatildeo pela autoridade fiscal em que se especifiquem a quantidade espeacutecie natureza e condiccedilotildees dos livros e documentos retidos

sect 1ordm Constituindo os livros ou documentos prova da praacutetica de iliacutecito penal ou tributaacuterio os originais retidos natildeo seratildeo devolvidos extraindoshyse coacutepia para entrega ao interessado

sect 2ordm Excetuado o disposto no paraacutegrafo anterior devem ser devolvidos os originais dos documentos retidos para exame mediante recibo

Lacraccedilatildeo de Arquivos

Art 36 A autoridade fiscal encarregada de diligecircncia ou fiscalizaccedilatildeo poderaacute promover a lacraccedilatildeo de moacuteveis caixas cofres ou depoacutesitos onde se encontram arquivos e documentos toda vez que ficar caracterizada a resistecircncia ou o embaraccedilo agrave fiscalizaccedilatildeo ou ainda quando as circunstacircncias ou a quantidade de documentos natildeo permitirem sua identificaccedilatildeo e conferecircncia no local ou no momento em que foram encontrados

Paraacutegrafo uacutenico O sujeito passivo e demais responsaacuteveis seratildeo previamente notificados para acompanharem o procedimento de rompimento do lacre e identificaccedilatildeo dos elementos de interesse da fiscalizaccedilatildeo

Guarda de Documentos

Art 37 Os comprovantes da escrituraccedilatildeo da pessoa juriacutedica relativos a fatos que repercutam em lanccedilamentos contaacutebeis de exerciacutecio futuros seratildeo conservados ateacute que se opere a decadecircncia do direito de a Fazenda Puacuteblica constituir os creacuteditos tributaacuterios relativos a esses exerciacutecios

Arquivos Magneacuteticos

Art 38 O sujeito passivo usuaacuterio de sistema de processamento de dados deveraacute manter documentaccedilatildeo teacutecnica completa e atualizada do sistema suficiente para possibilitar a sua auditoria facultada a manutenccedilatildeo em meio magneacutetico sem prejuiacutezo da sua emissatildeo graacutefica quando solicitada

Como se depreende das disposiccedilotildees legais acima transcritas a legislaccedilatildeo

tributaacuteria considera inaplicaacuteveis quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do

direito que deteacutem a Fiscalizaccedilatildeo Federal de examinar mercadorias livros arquivos

documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores

ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos Estabelece tambeacutem que mediante intimaccedilatildeo por escrito

todas as pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao Imposto

sobre Produtos Industrializados deveratildeo prestar por escrito as informaccedilotildees requeridas Ainda

que a fiscalizaccedilatildeo alcanccedila todas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que

Fl 2453DF CARF MF

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forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do imposto devendo

elas exibir aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e

comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados

necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo Ainda mais que as pessoas deveratildeo franquear agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal

os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da

noite se agrave noite estiverem funcionando e autoriza o Fisco a proceder ao exame inclusive de

documentos mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados

E que se diga natildeo estamos aqui nos referindo apenas ao poder outorgado por

lei agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal no exerciacutecio de suas funccedilotildees mas para aleacutem disso de um dever

legal sob pena de responsabilidade funcional da autoridade fiscal que vier a negligenciaacuteshylos

A toda evidecircncia a despeito do fato de que parte das provas colacionadas aos

autos tenham efetivamente sido obtidas com base em pesquisas e consultas aos sistemas da

Secretaria da Receita Federal sem qualquer viacutenculo com o que fora apreendido nas

dependecircncias dos contribuinte o fato eacute que todos os elementos de prova que instruem o

presente processo notadamente poderiam ser obtidos independentemente dos mandados de

busca e apreensatildeo que terminaram por dar ensejo agrave decretaccedilatildeo da nulidade de todo arcabouccedilo

probatoacuterio contido nos autos bastando para tanto que a Fiscalizaccedilatildeo Federal com apoio ou

natildeo de forccedila policial seguisse os procedimentos autorizados em Lei Significa dizer

seguisse os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo do Oacutergatildeo

Eacute possiacutevel que se indague ainda se mesmo admitidos todos os pressupostos

ateacute aqui declinados teria a Fiscalizaccedilatildeo Federal tomado a iniciativa de instaurar um

procedimento fiscal em face dos sujeitos passivos relacionados nos autos A resposta a essa

suposta indagaccedilatildeo a meu sentir eacute facilmente respondida agrave luz do disposto na Lei nordm 929696

que exige a comprovaccedilatildeo de indiacutecios de autoria e materialidade do delito sob investigaccedilatildeo para

concessatildeo da ordem judicial autorizando dentre outros a quebra do sigilo telefocircnico e

telemaacutetico

Ora a conclusatildeo natural e inevitaacutevel a que se chega eacute que as investigaccedilotildees

das operaccedilotildees empreendidas pelos agentes envolvidos nas praacuteticas iliacutecitas de que tratam os

autos jaacute estavam em curso antes que o Poder Judiciaacuterio tivesse autorizado as interceptaccedilotildees

telefocircnicas razatildeo a mais para que se reconheccedila que as provas obtidas no cumprimento dos

MBAs haveriam de ser alcanccediladas pela accedilatildeo da Fiscalizaccedilatildeo Federal no curso dos

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procedimentos fiscais autorizados em lei proacuteprios tiacutepicos e inerentes agraves atividades

desenvolvidas pelo Oacutergatildeo uma vez que atos iliacutecitos jaacute fossem de conhecimento do Fisco

Como base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal na parte em que admite as provas derivadas de provas iliacutecitas desde que fique

demonstrado que tais provas as derivadas poderiam ser obtidas por meios independentes

seguindoshyse os procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal

Por oacutebvio as interceptaccedilotildees telefocircnicas natildeo compreendidas dentro do periacuteodo

que estende de 25052005 a 23072005 (60 dias considerados legais) natildeo podem ser admitidas

como prova do iliacutecito tributaacuterio de que ora se cuida

Voto por dar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda

Nacional para que seja afastada a prejudicial de nulidade das provas colacionadas aos autos

por forccedila das disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal conforme fundamentaccedilatildeo expressa no voto

O processo deve retornar agrave instacircncia recorrida para exame das questotildees de

meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade

das provas

(assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 3: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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O litiacutegio versa sobre procedimento de fiscalizaccedilatildeo levado a efeito em face da

empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda no qual obtiveramshyse diversos elementos de prova

da praacutetica dos iliacutecitos tributaacuterios e aduaneiros de interposiccedilatildeo fraudulenta de subfaturamento

quebra da cadeia do IPI e obtenccedilatildeo de benefiacutecios fiscais vinculados ao ICMS praticados pela

empresa em conluio com outras diversas empresas vinculadas ao chamado Grupo MAM

Para internalizar as mercadorias introduzidas fraudulentamente no paiacutes

interpunhamshyse entre o Real Importador e o Real Exportador diversas empresas constituiacutedas

em sua maioria em nome de interpostas pessoas (laranjas) que atuavam de forma simulada e

sob controle centralizado dos mentores intelectuais do chamado Grupo MAM Assim embora

a real operaccedilatildeo se desse entre as duas pessoas situadas na posiccedilatildeo extrema da cadeia (Real

Importador e Real Exportador) apareciam entre elas um exportador fictiacutecio um importador

fictiacutecio e um distribuidor intermediaacuterio que operacionalizavam os iliacutecitos tributaacuterios

Para comprovar que as operaccedilotildees eram na verdade praticadas entre o Real

Exportador (Samsung Verbatim AMD International Sales amp Services) e o Real Importador

(CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda) e natildeo entre as interpostas pessoas que figuravam nos

documentos apresentados agrave autoridade aduaneira a Fiscalizaccedilatildeo Federal lanccedilou matildeo de

diversas elemento de prova tais como Purchase Order (ordem de compra) emitido pela CIL

para a Samsung documento apreendido na CIL intitulado Tabela de Drives Gravadores

CDDVD Samsung Importaccedilatildeo 2 referindoshyse a diversas operaccedilotildees de importaccedilotildees realizadas

Tabela de Custos de Importaccedilatildeo Samsung apreendida em estabelecimento da CIL com

simulaccedilatildeo dos custos de importaccedilatildeo de mercadorias Ordem de Compra de Produtos shy Pedido a

Fornecedor da CIL para a Lansaret solicitando a entrega de produtos importados eshymails de

negociaccedilatildeo de preccedilos de importaccedilatildeo entre a CIL e a Samsung Commercial Invoice emitida

pela Samsung contra a CIL etc etc etc

Com base nesses elementos de prova as empresas foram autuadas pela

praacutetica dos iliacutecitos tributaacuterios a que se fez referecircncia linhas acima

Simultaneamente tramitava perante o Poder Judiciaacuterio o processo crime

decorrente das accedilotildees perpetradas pelas pessoas fiacutesicas e juriacutedicas envolvidas nas accedilotildees

criminosas Neste restou concedido Habeas Corpus pelo Superior Tribunal de Justiccedila no qual

foram consideradas iliacutecitas todas as interceptaccedilotildees telefocircnicas realizadas apoacutes o sexageacutesimo dia

em que elas se iniciaram Uma vez que seja incontestaacutevel o viacutenculo entre as escutas telefocircnicas

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e os Mandados de Busca e Apreensatildeo que autorizaram a autoridade policial a realizar a busca e

a decorrente apreensatildeo dos documentos que comprovaram as praacuteticas irregulares de que se

trata discuteshyse neste processo agrave luz das Teorias supramencionadas a validade de todo o

acervo probatoacuterio de que lanccedilou matildeo o Fisco para constituiccedilatildeo do creacutedito tributaacuterio

O Recurso especial foi admitido conforme despacho de admissibilidade de eshy

folhas 2357 e segs

Contrarrazotildees do contribuinte agraves eshyfolhas 2377 e segs Pede que natildeo seja

dado seguimento ao recurso e no meacuterito que lhe seja negado provimento

Eacute o Relatoacuterio

Voto

Conselheiro Andrada Maacutercio Canuto Natal shy Relator

Conhecimento do Recurso Especial

Em sede de contrarrazotildees o contribuinte defende que o recurso natildeo pode ser

admitido Segundo alega tratamshyse de situaccedilotildees faacuteticas distintas pois enquanto no paradigma

o procedimento fiscal jaacute havia sido instaurado por ocasiatildeo da decretaccedilatildeo da nulidade das

provas no recorrido esta circunstacircncia natildeo eacute identificada

Sem razatildeo a contrarrazoante

A instauraccedilatildeo do procedimento fiscal em si antes da decisatildeo que considerou

nulas as escutas telefocircnicas em nada modifica a possibilidade de que as provas fossem obtidas

por fontes independentes eou que os fatos iliacutecitos possam ser considerados de descoberta

inevitaacutevel circunstacircncias suficientes e necessaacuterias agrave aplicaccedilatildeo da Teoria da Descoberta

Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente

De fato o art 157 do Coacutedigo do Processo Penal dispotildee sobre circunstacircncias

hipoteacuteticas consideradas em tese do que resta irrelevante e sem efeito praacutetico ou teoacuterico a

instauraccedilatildeo preacutevia do procedimento fiscal pois as fontes das quais as provas proveacutem e as

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circunstacircncias que tornam a descoberta inevitaacutevel natildeo se modificam com a instauraccedilatildeo do

procedimento

E mais Se conforme entende a contrarrazoante o iniacutecio do procedimento

fiscal revela a possibilidade de que as provas sejam (ou fossem) obtidas independentemente

dos malsinados mandados de busca e apreensatildeo pareceshyme incontroverso que tais provas

poderiam ser descobertas por fonte independente e ainda mais que a execuccedilatildeo desses

procedimentos de praxe da Fiscalizaccedilatildeo Federal conduziriam agrave descoberta inevitaacutevel dos fatos

iliacutecitos

Portanto o juiacutezo formado no julgamento paradigma ora confrontado com a

decisatildeo recorrida para o fim de considerar a possibilidade de mitigaccedilatildeo da Teoria dos Frutos

da Aacutervore Envenenada por forccedila da aplicaccedilatildeo das duas Teorias retrocitadas natildeo guarda relaccedilatildeo

com a obtenccedilatildeo de provas em procedimento autocircnomo preacutevio distante e independente das

provas consideradas iliacutecitas pois a Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e a Teoria da Fonte

Independente natildeo foram construiacutedas sob tal perspectiva mas agrave luz da possibilidade de que os

fatos viessem a ser descobertos por fonte independente eou que sua descoberta fosse

inevitaacutevel

Ora e de fato se estiveacutessemos falando de provas sobre as quais natildeo se

cogitasse os efeitos decorrentes da Teoria do Fruto da Aacutervore Envenenada condiccedilatildeo que

segundo parece entender a contrarrazoante estaacute presente no acoacuterdatildeo paradigma entatildeo natildeo

haveria razatildeo para que se falasse em mitigaccedilatildeo de seus efeitos

Como adiante pretendemos esclarecer a uacutenica condiccedilatildeo de natureza factual

para que seja considerada a possibilidade de aplicaccedilatildeo das Teorias sub examine eacute a de que as

empresas autuadas jaacute estivessem sendo investigadas e natildeo que o procedimento fiscal em si jaacute

tivesse sido instaurado

Meacuterito

No meacuterito uma vez que a recorrente tenha contraditado exclusivamente a

questatildeo abordada nas linhas acima ou seja a aplicaccedilatildeo da Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e

da Teoria da Fonte Independente como elementos de mitigaccedilatildeo da Teoria dos Frutos da

Aacutervore Envenenada dessa mateacuteria a seguir nos ocuparemos

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Como jaacute exaustivamente esclarecido nos autos a 6ordf Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila em julgamento proferido no HC nordm 142045PR em que figuravam como

pacientes Marco Antocircnio Mansur e Marco Antocircnio Mansur Filho soacutecios da empresa MAM

reconheceu a nulidade parcial das escutas telefocircnicas obtidas em cumprimento dos Mandados

de Busca e Apreensatildeo shy MBAs emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacutePR A decisatildeo foi

assim ementada

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria (interpretaccedilatildeo) Principio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

1 Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

2 A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova

3 Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente fundamentada Haacute neste caso se natildeo explicita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art 5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do principio da razoabilidade

4 Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo os autos retornar aacutes matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Liminarmente releva destacar que nem a decisatildeo proferida pelo juiacutezo de

primeiro grau nem o procedimento levado a efeito pela autoridade policial eou pela

autoridade fiscal e nem mesmo as proacuteprias interceptaccedilotildees telefocircnicas em sua integralidade

foram consideradas abusivas Como se depreende do teor da decisatildeo acima transcrita a

irregularidade apontada na decisatildeo refereshyse a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias

de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas que excederam ateacute mesmo os sessenta dias do

estado de defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) Outrossim a decisatildeo tomada no acircmbito do

Superior Tribunal de Justiccedila eximiushyse de qualquer ilaccedilatildeo acerca de seus efeitos sobre o acervo

probatoacuterio que lastreava a acusaccedilatildeo Em lugar disso determinou a restituiccedilatildeo dos autos ao Juiz

originaacuterio para as determinaccedilotildees de direito

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Por forccedila da decisatildeo proferida pelo STJ o Juiz Federal Substituto Tiago do

Carmo Martins reconhecendo a higidez das provas colhidas durante o primeiro periacuteodo de

interceptaccedilatildeo telefocircnica encaminhou o processo ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal para que na

qualidade de autor da denuacutencia se manifestasse acerca da instruccedilatildeo probatoacuteria do processo

criminal agrave luz da decisatildeo tomada no HC 142045PR O despacho teve o seguinte teor

Em relaccedilatildeo ao referencial temporal adotado por aquela Corte ante a leitura dos votos proferidos naquele julgamento tenho que o julgado limitou a utilizaccedilatildeo dessa teacutecnica investigativa ao prazo de 60 (sessenta) dias

Assim permanecem hiacutegidas as provas colhidas durante o primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes Os demais elementos de prova obtidos a partir dos dados colhidos nessa fase da investigaccedilatildeo tambeacutem permanecem hiacutegidos pois derivaram de prova obtida licitamente

De outra parte segundo os termos do julgado as interceptaccedilotildees telefocircnicas realizadas a partir da quarta prorrogaccedilatildeo autorizada encontramshyse maculadas pelo vicio insanaacutevel da ilicitude Satildeo portanto imprestaacuteveis para fins de utilizaccedilatildeo de prova no processo penal Correlatamente os demais elementos de prova obtidos a partir dos dados colhidos nessa fase da investigaccedilatildeo tambeacutem encontramshyse eivado de ilicitude pela aplicaccedilatildeo da teoria dos frutos da aacutervore envenenada agora expressamente adotado pelo CPP (art 157 sect1deg do CPP)

Confrontado com o Habeas Corpus concedido aos pacientes o Parquet

entendeu pela impossibilidade de separaccedilatildeo das provas colacionadas aos autos nos seguintes

termos

Sem as provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de busca e apreensatildeo sem as provas carreadas aos autos em cumprimento destes natildeo seria possiacutevel a apreensatildeo para dizer o miacutenimo de centenas de milhares de notas fiscaiscomputadores contendo os verdadeiros preccedilos das mercadorias sem a anaacutelise destes pela Receita Federal em conjunto com os inuacutemeros eshymails interceptados os laudos que acompanham a denuacutencia natildeo teriam sido produzidos Insistindo a pretendida separaccedilatildeo eacute impossiacutevel

Das consideraccedilotildees ateacute aqui postas eacute possiacutevel afirmar que (i) nos autos do

Habeas Corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiccedila nenhuma decisatildeo foi tomada

acerca dos efeitos sobre o acervo probatoacuterio no qual lastreavashyse a acusaccedilatildeo (ii) o Juiacutez

originaacuterio considerando a higidez de parte das provas encaminhou o processo ao Ministeacuterio

Puacuteblico Federal autor da denuacutencia crime para que nessa qualidade se posicionasse em relaccedilatildeo

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agraves consequecircncias do HC no processo criminal em curso (iii) o Ministeacuterio Puacuteblico Federal

entendeu que as provas anuladas e as provas derivadas seriam indissociaacuteveis uma vez que as

uacuteltimas fossem decorrecircncia dos mandados de busca e apreensatildeo e estes das escutas telefocircnicas

Salvo melhor juiacutezo pareceshynos que a decisatildeo proferida no processo criminal

seja dotada de certas particularidades que necessariamente deveratildeo ser levadas em conta na

decisatildeo que seraacute tomada neste processo administrativo fiscal

Em primeiro lugar eacute incontroverso que apenas uma parcela das provas

obtidas nas accedilotildees impetradas pela Receita Federal em conjunto com a Poliacutecia Federal foram

consideradas obtidas por meios ilegais Portanto o caso natildeo eacute de pressuposta ilegalidade de

todo o acervo probatoacuterio que instruiu o processo judicial e que instrui o vertente processo

como as vezes parece que se pretende fazer crer Em lugar disso tratashyse apenas da

declaraccedilatildeo de nulidade das escutas que excederam os sessenta dias inicialmente autorizados e

como consequecircncia da possiacutevel nulidade das provas que segundo se entenda estejam

contaminadas pela invalidade das intercepccedilotildees ilegais Em segundo como tambeacutem parece ficar

claro do teor das decisotildees proferidas em juiacutezo na oacutetica do Poder Judiciaacuterio parte das provas

teriam restado incoacutelumes desde que fosse apontada a linha divisoacuteria entre estas e aquelas

Contudo segundo entendimento do Ministeacuterio Puacuteblico Federal autor da denuacutencia todas as

provas estavam de alguma forma vinculadas as escutas ilegais jaacute que com base nelas

obtiveramshyse os necessaacuterios mandados e busca e apreensatildeo autorizaccedilatildeo que teria permitido agraves

autoridades fazendaacuterias e policiais ter acesso aos diversos documentos que terminaram

constituindo o acervo probatoacuterio dos autos

Eacute precisamente nesse ponto que algumas relevantes ponderaccedilotildees precisam ser

feitas

Como se pretenderaacute demonstrar com a necessaacuteria objetividade e clareza o

juiacutezo que se formou no processo criminal em relaccedilatildeo agrave validade das provas ditas derivadas das

interceptaccedilotildees iliacutecitas data maxima venia natildeo levou em consideraccedilatildeo certas prerrogativas que

deteacutem os servidores da Secretaria da Receita Federal no exerciacutecio das funccedilotildees que lhe

competem

A esse respeito imperioso registrar que o entendimento manifesto pelo

Ministeacuterio Puacuteblico Federal no processo que tramitava na esfera judicial natildeo vincula a

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administraccedilatildeo tributaacuteria tampouco se aplica automaticamente ao processo administrativo

fiscal Corrobora esse entendimento a manifestaccedilatildeo do proacuteprio Poder Judiciaacuterio nos autos do

Mandado de Seguranccedila nordm 0002843shy9520144040000PR impetrado contra o Juiacutezo da 14a

Vara Federal de Curitiba Tribunal Regional Federal da 4a Regiatildeo acerca dos efeitos da

anulaccedilatildeo das provas obtidas no acircmbito da mesma Operaccedilatildeo Diluacutevio sobre os procedimentos

administrativos disciplinares instaurados com base no compartilhamento dessas mesmas

provas Assim decidiu o Tribunal Regional da 4ordf Regiatildeo a respeito

MANDADO DE SEGURANCcedilA TERCEIRO INTERESSADO PROVA EMPRESTADA NULIDADE PARCIAL DECLARADA PELO STJ EFEITOS NA ESFERA ADMINISTRATIVA MATEacuteRIA ESTRANHA AO JUIacuteZO CRIMINAL COMPETEcircNCIA DA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA

1 Natildeo se presta o mandado de seguranccedila para determinar ao juiacutezo a quo que acerca de pedido formulado por terceiro interessado decida em ou outro sentido

2 Desborda da competecircncia do juiacutezo criminal e ateacute mesmo da esfera penal decidir a respeito de nulidades pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada em procedimentos administrativos disciplinares

3 Descabido exigirshyse que o juiacutezo penal diante de julgamento proferido pelo Superior Tribunal de Justiccedila que anula apenas parcialmente as interceptaccedilotildees telemaacuteticas profira decisatildeo complementar que esclareccedila os efeitos da anulaccedilatildeo

4 Compete agrave autoridade administrativa responsaacutevel pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada certificarshyse acerca dos efeitos de eventual anulaccedilatildeo sobre os procedimentos disciplinares cabendo ao interessado a interposiccedilatildeo de recurso administrativo e impugnaccedilatildeo na via judicial apropriada

Sentenccedila denegada

Feitas tais consideraccedilotildees preambulares penso que devamos a partir daqui

enfrentar a questatildeo nevraacutelgica posta nos autos que diz respeito agrave mitigaccedilatildeo no particular da

Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada em face agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e agrave

Teoria da Fonte Independente para fins de validaccedilatildeo das provas carreadas aos autos pela

Fiscalizaccedilatildeo Federal

Sem adentrar ao relato histoacuterico que descreve a origem e a construccedilatildeo teoacuterica

que abriu espaccedilo agrave adoccedilatildeo das citadas Teorias no ordenamento juriacutedico paacutetrio (ateacute mesmo para

que natildeo se transbordem os limites proacuteprios do PAF) restrinjoshyme agrave anaacutelise das disposiccedilotildees

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legais expressamente contidas no Coacutedigo do Processo Penal apoacutes modificaccedilotildees introduzidas

pela Lei 116802008 a seguir reproduzido

Art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas constitucionais ou legais (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11690 de 2008)

sect 1ordm Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

sect 2ordm Considerashyse fonte independente aquela que por si soacute seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

A parte inicial do paraacutegrafo 1ordm acima expressa em disposiccedilatildeo literal de Lei

o que se costuma designar por Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada Logo a seguir ainda

no teor das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo 1ordm introduzshyse a hipoacutetese contemplada pela

Teoria da Fonte Independente que em combinaccedilatildeo com o disposto no paraacutegrafo segundo

remete agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel

Interessa sublinhar neste ponto que como se depreende da leitura do

paraacutegrafo anterior o que se discute no presente processo em verdade natildeo diz respeito agrave

aplicaccedilatildeo de diferentes teorias juriacutedicas ou orientaccedilotildees doutrinaacuterias agraves circunstacircncias faacuteticas

descritas nos autos mas agrave interpretaccedilatildeo de disposiccedilatildeo literal de lei contida no Coacutedigo do

Processo Penal com o fito de decidir se a norma geral e abstrata que estabelece ressalvas agrave

ilicitude das provas derivadas de provas iliacutecitas deve ser considerada e aplicada ao caso

concreto

Temshyse pois que combinadas as disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm

do art 157 do Coacutedigo do Processo Penal as provas derivadas das provas iliacutecitas poderatildeo ser

aceitas no processo quando puderem ser obtidas por uma fonte independente das provas

consideradas iliacutecitas em circunstacircncias tais que seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe

proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal sejam capazes de conduzir ao fato objeto da

prova

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Como jaacute destacado linhas acima a razatildeo maior para que o Ministeacuterio Puacuteblico

Federal tenha considerado as provas derivadas indissociaacuteveis dos procedimentos preliminares

adotados pelas autoridades policiais e fazendaacuterias decorre da circunstacircncia de que Sem as

provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de

busca e apreensatildeo () Pois aiacute reside a questatildeo nodal do processo Como a seguir restaraacute

sobejamente demonstrado os AuditoresshyFiscais da Receita Federal no acircmbito de suas

prerrogativas legais prescindem de ordem judicial para executar o procedimento de busca e

apreensatildeo nas dependecircncias do contribuinte De fato eacute essa a conclusatildeo insofismaacutevel a que se

chega com base na simples leitura da legislaccedilatildeo que regulamenta o exerciacutecio do cargo

Observeshyse (todos grifos acrescidos)

Coacutedigo Tributaacuterio Nacional shy Lei 5172 de 25101966

TIacuteTULO IV

Administraccedilatildeo Tributaacuteria

CAPIacuteTULO I

Fiscalizaccedilatildeo

Art 194 A legislaccedilatildeo tributaacuteria observado o disposto nesta Lei regularaacute em caraacuteter geral ou especificamente em funccedilatildeo da natureza do tributo de que se tratar a competecircncia e os poderes das autoridades administrativas em mateacuteria de fiscalizaccedilatildeo da sua aplicaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A legislaccedilatildeo a que se refere este artigo aplicashyse agraves pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo inclusive agraves que gozem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Art 195 Para os efeitos da legislaccedilatildeo tributaacuteria natildeo tecircm aplicaccedilatildeo quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias livros arquivos documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos

Paraacutegrafo uacutenico Os livros obrigatoacuterios de escrituraccedilatildeo comercial e fiscal e os comprovantes dos lanccedilamentos neles efetuados seratildeo conservados ateacute que ocorra a prescriccedilatildeo dos creacuteditos tributaacuterios decorrentes das operaccedilotildees a que se refiram

Art 196 A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraraacute os termos necessaacuterios para que se documente o iniacutecio do procedimento na forma da legislaccedilatildeo aplicaacutevel que fixaraacute prazo maacuteximo para a conclusatildeo daquelas

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Paraacutegrafo uacutenico Os termos a que se refere este artigo seratildeo lavrados sempre que possiacutevel em um dos livros fiscais exibidos quando lavrados em separado deles se entregaraacute agrave pessoa sujeita agrave fiscalizaccedilatildeo coacutepia autenticada pela autoridade a que se refere este artigo

Art 197 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agrave autoridade administrativa todas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos bens negoacutecios ou atividades de terceiros

I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio

II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e demais instituiccedilotildees financeiras

III shy as empresas de administraccedilatildeo de bens

IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais

V shy os inventariantes

VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios

VII shy quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe em razatildeo de seu cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A obrigaccedilatildeo prevista neste artigo natildeo abrange a prestaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razatildeo de cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Lei nordm 450264

Art 94 A fiscalizaccedilatildeo seraacute exercida socircbre tocircdas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do impocircsto de consumo inclusive socircbre as que gozarem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Paraacutegrafo uacutenico As pessoas a que se refere ecircste artigo exibiratildeo aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo e lhes franquearatildeo os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da noite se agrave noite estiverem funcionando

Art 95 Os agentes fiscalizadores que procederem a diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraratildeo aleacutem do auto de infraccedilatildeo que couber tecircrmos circunstanciados de iniacutecio e de conclusatildeo de cada uma delas nos quais consignaratildeo as datas inicial e final do periacuteodo fiscalizado a relaccedilatildeo dos livros e documentos comerciais e fiscais exibidos e tudo mais que seja de interecircsse para a fiscalizaccedilatildeo

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()

sect 2ordm Quando viacutetimas de embaraccedilo ou desacato no exerciacutecio de suas funccedilotildees ou quando seja necessaacuterio agrave efetivaccedilatildeo de medidas acauteladoras do interecircsse do fisco ainda que natildeo se configure fato definido em lei como crime ou contravenccedilatildeo os agentes fiscalizadores diretamente ou atraveacutes das reparticcedilotildees a que pertencerem poderatildeo requisitar o auxiacutelio da focircrccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Art 97 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agraves autoridades fiscalizadoras tocircdas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos produtos negoacutecios ou atividades de terceiros I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e semelhantes III shy as empresas transportadoras e os transportadores singulares IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais V shy os inventariantes VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios VII shy as reparticcedilotildees puacuteblicas e autaacuterquicas federais as entidades paraestatais e de economia mista VIII shy tocircdas as demais pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao impocircsto de consumo

Lei nordm 863093

Art 36 Compete ao Ministeacuterio da Fazenda por intermeacutedio das reparticcedilotildees aduaneiras

()

sect 2deg No exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees a autoridade aduaneira teraacute livre acesso a quaisquer dependecircncias do porto e agraves embarcaccedilotildees atracadas ou natildeo bem como aos locais onde se encontrem mercadorias procedentes do exterior ou a ele destinadas podendo quando julgar necessaacuterio requisitar papeacuteis livros e outros documentos inclusive quando necessaacuterio o apoio de forccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Lei nordm 943096

Art 34 Satildeo tambeacutem passiacuteveis de exame os documentos do sujeito passivo mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados encontrados no local da verificaccedilatildeo que tenham relaccedilatildeo direta ou indireta com a atividade por ele exercida

Retenccedilatildeo de Livros e Documentos

Art 35 Os livros e documentos poderatildeo ser examinados fora do estabelecimento do sujeito passivo desde que lavrado termo

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escrito de retenccedilatildeo pela autoridade fiscal em que se especifiquem a quantidade espeacutecie natureza e condiccedilotildees dos livros e documentos retidos

sect 1ordm Constituindo os livros ou documentos prova da praacutetica de iliacutecito penal ou tributaacuterio os originais retidos natildeo seratildeo devolvidos extraindoshyse coacutepia para entrega ao interessado

sect 2ordm Excetuado o disposto no paraacutegrafo anterior devem ser devolvidos os originais dos documentos retidos para exame mediante recibo

Lacraccedilatildeo de Arquivos

Art 36 A autoridade fiscal encarregada de diligecircncia ou fiscalizaccedilatildeo poderaacute promover a lacraccedilatildeo de moacuteveis caixas cofres ou depoacutesitos onde se encontram arquivos e documentos toda vez que ficar caracterizada a resistecircncia ou o embaraccedilo agrave fiscalizaccedilatildeo ou ainda quando as circunstacircncias ou a quantidade de documentos natildeo permitirem sua identificaccedilatildeo e conferecircncia no local ou no momento em que foram encontrados

Paraacutegrafo uacutenico O sujeito passivo e demais responsaacuteveis seratildeo previamente notificados para acompanharem o procedimento de rompimento do lacre e identificaccedilatildeo dos elementos de interesse da fiscalizaccedilatildeo

Guarda de Documentos

Art 37 Os comprovantes da escrituraccedilatildeo da pessoa juriacutedica relativos a fatos que repercutam em lanccedilamentos contaacutebeis de exerciacutecio futuros seratildeo conservados ateacute que se opere a decadecircncia do direito de a Fazenda Puacuteblica constituir os creacuteditos tributaacuterios relativos a esses exerciacutecios

Arquivos Magneacuteticos

Art 38 O sujeito passivo usuaacuterio de sistema de processamento de dados deveraacute manter documentaccedilatildeo teacutecnica completa e atualizada do sistema suficiente para possibilitar a sua auditoria facultada a manutenccedilatildeo em meio magneacutetico sem prejuiacutezo da sua emissatildeo graacutefica quando solicitada

Como se depreende das disposiccedilotildees legais acima transcritas a legislaccedilatildeo

tributaacuteria considera inaplicaacuteveis quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do

direito que deteacutem a Fiscalizaccedilatildeo Federal de examinar mercadorias livros arquivos

documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores

ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos Estabelece tambeacutem que mediante intimaccedilatildeo por escrito

todas as pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao Imposto

sobre Produtos Industrializados deveratildeo prestar por escrito as informaccedilotildees requeridas Ainda

que a fiscalizaccedilatildeo alcanccedila todas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que

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forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do imposto devendo

elas exibir aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e

comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados

necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo Ainda mais que as pessoas deveratildeo franquear agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal

os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da

noite se agrave noite estiverem funcionando e autoriza o Fisco a proceder ao exame inclusive de

documentos mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados

E que se diga natildeo estamos aqui nos referindo apenas ao poder outorgado por

lei agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal no exerciacutecio de suas funccedilotildees mas para aleacutem disso de um dever

legal sob pena de responsabilidade funcional da autoridade fiscal que vier a negligenciaacuteshylos

A toda evidecircncia a despeito do fato de que parte das provas colacionadas aos

autos tenham efetivamente sido obtidas com base em pesquisas e consultas aos sistemas da

Secretaria da Receita Federal sem qualquer viacutenculo com o que fora apreendido nas

dependecircncias dos contribuinte o fato eacute que todos os elementos de prova que instruem o

presente processo notadamente poderiam ser obtidos independentemente dos mandados de

busca e apreensatildeo que terminaram por dar ensejo agrave decretaccedilatildeo da nulidade de todo arcabouccedilo

probatoacuterio contido nos autos bastando para tanto que a Fiscalizaccedilatildeo Federal com apoio ou

natildeo de forccedila policial seguisse os procedimentos autorizados em Lei Significa dizer

seguisse os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo do Oacutergatildeo

Eacute possiacutevel que se indague ainda se mesmo admitidos todos os pressupostos

ateacute aqui declinados teria a Fiscalizaccedilatildeo Federal tomado a iniciativa de instaurar um

procedimento fiscal em face dos sujeitos passivos relacionados nos autos A resposta a essa

suposta indagaccedilatildeo a meu sentir eacute facilmente respondida agrave luz do disposto na Lei nordm 929696

que exige a comprovaccedilatildeo de indiacutecios de autoria e materialidade do delito sob investigaccedilatildeo para

concessatildeo da ordem judicial autorizando dentre outros a quebra do sigilo telefocircnico e

telemaacutetico

Ora a conclusatildeo natural e inevitaacutevel a que se chega eacute que as investigaccedilotildees

das operaccedilotildees empreendidas pelos agentes envolvidos nas praacuteticas iliacutecitas de que tratam os

autos jaacute estavam em curso antes que o Poder Judiciaacuterio tivesse autorizado as interceptaccedilotildees

telefocircnicas razatildeo a mais para que se reconheccedila que as provas obtidas no cumprimento dos

MBAs haveriam de ser alcanccediladas pela accedilatildeo da Fiscalizaccedilatildeo Federal no curso dos

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procedimentos fiscais autorizados em lei proacuteprios tiacutepicos e inerentes agraves atividades

desenvolvidas pelo Oacutergatildeo uma vez que atos iliacutecitos jaacute fossem de conhecimento do Fisco

Como base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal na parte em que admite as provas derivadas de provas iliacutecitas desde que fique

demonstrado que tais provas as derivadas poderiam ser obtidas por meios independentes

seguindoshyse os procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal

Por oacutebvio as interceptaccedilotildees telefocircnicas natildeo compreendidas dentro do periacuteodo

que estende de 25052005 a 23072005 (60 dias considerados legais) natildeo podem ser admitidas

como prova do iliacutecito tributaacuterio de que ora se cuida

Voto por dar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda

Nacional para que seja afastada a prejudicial de nulidade das provas colacionadas aos autos

por forccedila das disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal conforme fundamentaccedilatildeo expressa no voto

O processo deve retornar agrave instacircncia recorrida para exame das questotildees de

meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade

das provas

(assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

Fl 2462DF CARF MF

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

Fl 2463DF CARF MF

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

Fl 2464DF CARF MF

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

Fl 2465DF CARF MF

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

Fl 2467DF CARF MF

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

Fl 2469DF CARF MF

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

Fl 2470DF CARF MF

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

Fl 2472DF CARF MF

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 4: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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e os Mandados de Busca e Apreensatildeo que autorizaram a autoridade policial a realizar a busca e

a decorrente apreensatildeo dos documentos que comprovaram as praacuteticas irregulares de que se

trata discuteshyse neste processo agrave luz das Teorias supramencionadas a validade de todo o

acervo probatoacuterio de que lanccedilou matildeo o Fisco para constituiccedilatildeo do creacutedito tributaacuterio

O Recurso especial foi admitido conforme despacho de admissibilidade de eshy

folhas 2357 e segs

Contrarrazotildees do contribuinte agraves eshyfolhas 2377 e segs Pede que natildeo seja

dado seguimento ao recurso e no meacuterito que lhe seja negado provimento

Eacute o Relatoacuterio

Voto

Conselheiro Andrada Maacutercio Canuto Natal shy Relator

Conhecimento do Recurso Especial

Em sede de contrarrazotildees o contribuinte defende que o recurso natildeo pode ser

admitido Segundo alega tratamshyse de situaccedilotildees faacuteticas distintas pois enquanto no paradigma

o procedimento fiscal jaacute havia sido instaurado por ocasiatildeo da decretaccedilatildeo da nulidade das

provas no recorrido esta circunstacircncia natildeo eacute identificada

Sem razatildeo a contrarrazoante

A instauraccedilatildeo do procedimento fiscal em si antes da decisatildeo que considerou

nulas as escutas telefocircnicas em nada modifica a possibilidade de que as provas fossem obtidas

por fontes independentes eou que os fatos iliacutecitos possam ser considerados de descoberta

inevitaacutevel circunstacircncias suficientes e necessaacuterias agrave aplicaccedilatildeo da Teoria da Descoberta

Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente

De fato o art 157 do Coacutedigo do Processo Penal dispotildee sobre circunstacircncias

hipoteacuteticas consideradas em tese do que resta irrelevante e sem efeito praacutetico ou teoacuterico a

instauraccedilatildeo preacutevia do procedimento fiscal pois as fontes das quais as provas proveacutem e as

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circunstacircncias que tornam a descoberta inevitaacutevel natildeo se modificam com a instauraccedilatildeo do

procedimento

E mais Se conforme entende a contrarrazoante o iniacutecio do procedimento

fiscal revela a possibilidade de que as provas sejam (ou fossem) obtidas independentemente

dos malsinados mandados de busca e apreensatildeo pareceshyme incontroverso que tais provas

poderiam ser descobertas por fonte independente e ainda mais que a execuccedilatildeo desses

procedimentos de praxe da Fiscalizaccedilatildeo Federal conduziriam agrave descoberta inevitaacutevel dos fatos

iliacutecitos

Portanto o juiacutezo formado no julgamento paradigma ora confrontado com a

decisatildeo recorrida para o fim de considerar a possibilidade de mitigaccedilatildeo da Teoria dos Frutos

da Aacutervore Envenenada por forccedila da aplicaccedilatildeo das duas Teorias retrocitadas natildeo guarda relaccedilatildeo

com a obtenccedilatildeo de provas em procedimento autocircnomo preacutevio distante e independente das

provas consideradas iliacutecitas pois a Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e a Teoria da Fonte

Independente natildeo foram construiacutedas sob tal perspectiva mas agrave luz da possibilidade de que os

fatos viessem a ser descobertos por fonte independente eou que sua descoberta fosse

inevitaacutevel

Ora e de fato se estiveacutessemos falando de provas sobre as quais natildeo se

cogitasse os efeitos decorrentes da Teoria do Fruto da Aacutervore Envenenada condiccedilatildeo que

segundo parece entender a contrarrazoante estaacute presente no acoacuterdatildeo paradigma entatildeo natildeo

haveria razatildeo para que se falasse em mitigaccedilatildeo de seus efeitos

Como adiante pretendemos esclarecer a uacutenica condiccedilatildeo de natureza factual

para que seja considerada a possibilidade de aplicaccedilatildeo das Teorias sub examine eacute a de que as

empresas autuadas jaacute estivessem sendo investigadas e natildeo que o procedimento fiscal em si jaacute

tivesse sido instaurado

Meacuterito

No meacuterito uma vez que a recorrente tenha contraditado exclusivamente a

questatildeo abordada nas linhas acima ou seja a aplicaccedilatildeo da Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e

da Teoria da Fonte Independente como elementos de mitigaccedilatildeo da Teoria dos Frutos da

Aacutervore Envenenada dessa mateacuteria a seguir nos ocuparemos

Fl 2444DF CARF MF

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Como jaacute exaustivamente esclarecido nos autos a 6ordf Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila em julgamento proferido no HC nordm 142045PR em que figuravam como

pacientes Marco Antocircnio Mansur e Marco Antocircnio Mansur Filho soacutecios da empresa MAM

reconheceu a nulidade parcial das escutas telefocircnicas obtidas em cumprimento dos Mandados

de Busca e Apreensatildeo shy MBAs emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacutePR A decisatildeo foi

assim ementada

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria (interpretaccedilatildeo) Principio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

1 Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

2 A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova

3 Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente fundamentada Haacute neste caso se natildeo explicita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art 5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do principio da razoabilidade

4 Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo os autos retornar aacutes matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Liminarmente releva destacar que nem a decisatildeo proferida pelo juiacutezo de

primeiro grau nem o procedimento levado a efeito pela autoridade policial eou pela

autoridade fiscal e nem mesmo as proacuteprias interceptaccedilotildees telefocircnicas em sua integralidade

foram consideradas abusivas Como se depreende do teor da decisatildeo acima transcrita a

irregularidade apontada na decisatildeo refereshyse a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias

de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas que excederam ateacute mesmo os sessenta dias do

estado de defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) Outrossim a decisatildeo tomada no acircmbito do

Superior Tribunal de Justiccedila eximiushyse de qualquer ilaccedilatildeo acerca de seus efeitos sobre o acervo

probatoacuterio que lastreava a acusaccedilatildeo Em lugar disso determinou a restituiccedilatildeo dos autos ao Juiz

originaacuterio para as determinaccedilotildees de direito

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Por forccedila da decisatildeo proferida pelo STJ o Juiz Federal Substituto Tiago do

Carmo Martins reconhecendo a higidez das provas colhidas durante o primeiro periacuteodo de

interceptaccedilatildeo telefocircnica encaminhou o processo ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal para que na

qualidade de autor da denuacutencia se manifestasse acerca da instruccedilatildeo probatoacuteria do processo

criminal agrave luz da decisatildeo tomada no HC 142045PR O despacho teve o seguinte teor

Em relaccedilatildeo ao referencial temporal adotado por aquela Corte ante a leitura dos votos proferidos naquele julgamento tenho que o julgado limitou a utilizaccedilatildeo dessa teacutecnica investigativa ao prazo de 60 (sessenta) dias

Assim permanecem hiacutegidas as provas colhidas durante o primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes Os demais elementos de prova obtidos a partir dos dados colhidos nessa fase da investigaccedilatildeo tambeacutem permanecem hiacutegidos pois derivaram de prova obtida licitamente

De outra parte segundo os termos do julgado as interceptaccedilotildees telefocircnicas realizadas a partir da quarta prorrogaccedilatildeo autorizada encontramshyse maculadas pelo vicio insanaacutevel da ilicitude Satildeo portanto imprestaacuteveis para fins de utilizaccedilatildeo de prova no processo penal Correlatamente os demais elementos de prova obtidos a partir dos dados colhidos nessa fase da investigaccedilatildeo tambeacutem encontramshyse eivado de ilicitude pela aplicaccedilatildeo da teoria dos frutos da aacutervore envenenada agora expressamente adotado pelo CPP (art 157 sect1deg do CPP)

Confrontado com o Habeas Corpus concedido aos pacientes o Parquet

entendeu pela impossibilidade de separaccedilatildeo das provas colacionadas aos autos nos seguintes

termos

Sem as provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de busca e apreensatildeo sem as provas carreadas aos autos em cumprimento destes natildeo seria possiacutevel a apreensatildeo para dizer o miacutenimo de centenas de milhares de notas fiscaiscomputadores contendo os verdadeiros preccedilos das mercadorias sem a anaacutelise destes pela Receita Federal em conjunto com os inuacutemeros eshymails interceptados os laudos que acompanham a denuacutencia natildeo teriam sido produzidos Insistindo a pretendida separaccedilatildeo eacute impossiacutevel

Das consideraccedilotildees ateacute aqui postas eacute possiacutevel afirmar que (i) nos autos do

Habeas Corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiccedila nenhuma decisatildeo foi tomada

acerca dos efeitos sobre o acervo probatoacuterio no qual lastreavashyse a acusaccedilatildeo (ii) o Juiacutez

originaacuterio considerando a higidez de parte das provas encaminhou o processo ao Ministeacuterio

Puacuteblico Federal autor da denuacutencia crime para que nessa qualidade se posicionasse em relaccedilatildeo

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agraves consequecircncias do HC no processo criminal em curso (iii) o Ministeacuterio Puacuteblico Federal

entendeu que as provas anuladas e as provas derivadas seriam indissociaacuteveis uma vez que as

uacuteltimas fossem decorrecircncia dos mandados de busca e apreensatildeo e estes das escutas telefocircnicas

Salvo melhor juiacutezo pareceshynos que a decisatildeo proferida no processo criminal

seja dotada de certas particularidades que necessariamente deveratildeo ser levadas em conta na

decisatildeo que seraacute tomada neste processo administrativo fiscal

Em primeiro lugar eacute incontroverso que apenas uma parcela das provas

obtidas nas accedilotildees impetradas pela Receita Federal em conjunto com a Poliacutecia Federal foram

consideradas obtidas por meios ilegais Portanto o caso natildeo eacute de pressuposta ilegalidade de

todo o acervo probatoacuterio que instruiu o processo judicial e que instrui o vertente processo

como as vezes parece que se pretende fazer crer Em lugar disso tratashyse apenas da

declaraccedilatildeo de nulidade das escutas que excederam os sessenta dias inicialmente autorizados e

como consequecircncia da possiacutevel nulidade das provas que segundo se entenda estejam

contaminadas pela invalidade das intercepccedilotildees ilegais Em segundo como tambeacutem parece ficar

claro do teor das decisotildees proferidas em juiacutezo na oacutetica do Poder Judiciaacuterio parte das provas

teriam restado incoacutelumes desde que fosse apontada a linha divisoacuteria entre estas e aquelas

Contudo segundo entendimento do Ministeacuterio Puacuteblico Federal autor da denuacutencia todas as

provas estavam de alguma forma vinculadas as escutas ilegais jaacute que com base nelas

obtiveramshyse os necessaacuterios mandados e busca e apreensatildeo autorizaccedilatildeo que teria permitido agraves

autoridades fazendaacuterias e policiais ter acesso aos diversos documentos que terminaram

constituindo o acervo probatoacuterio dos autos

Eacute precisamente nesse ponto que algumas relevantes ponderaccedilotildees precisam ser

feitas

Como se pretenderaacute demonstrar com a necessaacuteria objetividade e clareza o

juiacutezo que se formou no processo criminal em relaccedilatildeo agrave validade das provas ditas derivadas das

interceptaccedilotildees iliacutecitas data maxima venia natildeo levou em consideraccedilatildeo certas prerrogativas que

deteacutem os servidores da Secretaria da Receita Federal no exerciacutecio das funccedilotildees que lhe

competem

A esse respeito imperioso registrar que o entendimento manifesto pelo

Ministeacuterio Puacuteblico Federal no processo que tramitava na esfera judicial natildeo vincula a

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administraccedilatildeo tributaacuteria tampouco se aplica automaticamente ao processo administrativo

fiscal Corrobora esse entendimento a manifestaccedilatildeo do proacuteprio Poder Judiciaacuterio nos autos do

Mandado de Seguranccedila nordm 0002843shy9520144040000PR impetrado contra o Juiacutezo da 14a

Vara Federal de Curitiba Tribunal Regional Federal da 4a Regiatildeo acerca dos efeitos da

anulaccedilatildeo das provas obtidas no acircmbito da mesma Operaccedilatildeo Diluacutevio sobre os procedimentos

administrativos disciplinares instaurados com base no compartilhamento dessas mesmas

provas Assim decidiu o Tribunal Regional da 4ordf Regiatildeo a respeito

MANDADO DE SEGURANCcedilA TERCEIRO INTERESSADO PROVA EMPRESTADA NULIDADE PARCIAL DECLARADA PELO STJ EFEITOS NA ESFERA ADMINISTRATIVA MATEacuteRIA ESTRANHA AO JUIacuteZO CRIMINAL COMPETEcircNCIA DA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA

1 Natildeo se presta o mandado de seguranccedila para determinar ao juiacutezo a quo que acerca de pedido formulado por terceiro interessado decida em ou outro sentido

2 Desborda da competecircncia do juiacutezo criminal e ateacute mesmo da esfera penal decidir a respeito de nulidades pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada em procedimentos administrativos disciplinares

3 Descabido exigirshyse que o juiacutezo penal diante de julgamento proferido pelo Superior Tribunal de Justiccedila que anula apenas parcialmente as interceptaccedilotildees telemaacuteticas profira decisatildeo complementar que esclareccedila os efeitos da anulaccedilatildeo

4 Compete agrave autoridade administrativa responsaacutevel pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada certificarshyse acerca dos efeitos de eventual anulaccedilatildeo sobre os procedimentos disciplinares cabendo ao interessado a interposiccedilatildeo de recurso administrativo e impugnaccedilatildeo na via judicial apropriada

Sentenccedila denegada

Feitas tais consideraccedilotildees preambulares penso que devamos a partir daqui

enfrentar a questatildeo nevraacutelgica posta nos autos que diz respeito agrave mitigaccedilatildeo no particular da

Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada em face agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e agrave

Teoria da Fonte Independente para fins de validaccedilatildeo das provas carreadas aos autos pela

Fiscalizaccedilatildeo Federal

Sem adentrar ao relato histoacuterico que descreve a origem e a construccedilatildeo teoacuterica

que abriu espaccedilo agrave adoccedilatildeo das citadas Teorias no ordenamento juriacutedico paacutetrio (ateacute mesmo para

que natildeo se transbordem os limites proacuteprios do PAF) restrinjoshyme agrave anaacutelise das disposiccedilotildees

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legais expressamente contidas no Coacutedigo do Processo Penal apoacutes modificaccedilotildees introduzidas

pela Lei 116802008 a seguir reproduzido

Art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas constitucionais ou legais (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11690 de 2008)

sect 1ordm Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

sect 2ordm Considerashyse fonte independente aquela que por si soacute seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

A parte inicial do paraacutegrafo 1ordm acima expressa em disposiccedilatildeo literal de Lei

o que se costuma designar por Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada Logo a seguir ainda

no teor das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo 1ordm introduzshyse a hipoacutetese contemplada pela

Teoria da Fonte Independente que em combinaccedilatildeo com o disposto no paraacutegrafo segundo

remete agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel

Interessa sublinhar neste ponto que como se depreende da leitura do

paraacutegrafo anterior o que se discute no presente processo em verdade natildeo diz respeito agrave

aplicaccedilatildeo de diferentes teorias juriacutedicas ou orientaccedilotildees doutrinaacuterias agraves circunstacircncias faacuteticas

descritas nos autos mas agrave interpretaccedilatildeo de disposiccedilatildeo literal de lei contida no Coacutedigo do

Processo Penal com o fito de decidir se a norma geral e abstrata que estabelece ressalvas agrave

ilicitude das provas derivadas de provas iliacutecitas deve ser considerada e aplicada ao caso

concreto

Temshyse pois que combinadas as disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm

do art 157 do Coacutedigo do Processo Penal as provas derivadas das provas iliacutecitas poderatildeo ser

aceitas no processo quando puderem ser obtidas por uma fonte independente das provas

consideradas iliacutecitas em circunstacircncias tais que seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe

proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal sejam capazes de conduzir ao fato objeto da

prova

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Como jaacute destacado linhas acima a razatildeo maior para que o Ministeacuterio Puacuteblico

Federal tenha considerado as provas derivadas indissociaacuteveis dos procedimentos preliminares

adotados pelas autoridades policiais e fazendaacuterias decorre da circunstacircncia de que Sem as

provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de

busca e apreensatildeo () Pois aiacute reside a questatildeo nodal do processo Como a seguir restaraacute

sobejamente demonstrado os AuditoresshyFiscais da Receita Federal no acircmbito de suas

prerrogativas legais prescindem de ordem judicial para executar o procedimento de busca e

apreensatildeo nas dependecircncias do contribuinte De fato eacute essa a conclusatildeo insofismaacutevel a que se

chega com base na simples leitura da legislaccedilatildeo que regulamenta o exerciacutecio do cargo

Observeshyse (todos grifos acrescidos)

Coacutedigo Tributaacuterio Nacional shy Lei 5172 de 25101966

TIacuteTULO IV

Administraccedilatildeo Tributaacuteria

CAPIacuteTULO I

Fiscalizaccedilatildeo

Art 194 A legislaccedilatildeo tributaacuteria observado o disposto nesta Lei regularaacute em caraacuteter geral ou especificamente em funccedilatildeo da natureza do tributo de que se tratar a competecircncia e os poderes das autoridades administrativas em mateacuteria de fiscalizaccedilatildeo da sua aplicaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A legislaccedilatildeo a que se refere este artigo aplicashyse agraves pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo inclusive agraves que gozem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Art 195 Para os efeitos da legislaccedilatildeo tributaacuteria natildeo tecircm aplicaccedilatildeo quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias livros arquivos documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos

Paraacutegrafo uacutenico Os livros obrigatoacuterios de escrituraccedilatildeo comercial e fiscal e os comprovantes dos lanccedilamentos neles efetuados seratildeo conservados ateacute que ocorra a prescriccedilatildeo dos creacuteditos tributaacuterios decorrentes das operaccedilotildees a que se refiram

Art 196 A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraraacute os termos necessaacuterios para que se documente o iniacutecio do procedimento na forma da legislaccedilatildeo aplicaacutevel que fixaraacute prazo maacuteximo para a conclusatildeo daquelas

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Paraacutegrafo uacutenico Os termos a que se refere este artigo seratildeo lavrados sempre que possiacutevel em um dos livros fiscais exibidos quando lavrados em separado deles se entregaraacute agrave pessoa sujeita agrave fiscalizaccedilatildeo coacutepia autenticada pela autoridade a que se refere este artigo

Art 197 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agrave autoridade administrativa todas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos bens negoacutecios ou atividades de terceiros

I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio

II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e demais instituiccedilotildees financeiras

III shy as empresas de administraccedilatildeo de bens

IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais

V shy os inventariantes

VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios

VII shy quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe em razatildeo de seu cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A obrigaccedilatildeo prevista neste artigo natildeo abrange a prestaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razatildeo de cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Lei nordm 450264

Art 94 A fiscalizaccedilatildeo seraacute exercida socircbre tocircdas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do impocircsto de consumo inclusive socircbre as que gozarem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Paraacutegrafo uacutenico As pessoas a que se refere ecircste artigo exibiratildeo aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo e lhes franquearatildeo os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da noite se agrave noite estiverem funcionando

Art 95 Os agentes fiscalizadores que procederem a diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraratildeo aleacutem do auto de infraccedilatildeo que couber tecircrmos circunstanciados de iniacutecio e de conclusatildeo de cada uma delas nos quais consignaratildeo as datas inicial e final do periacuteodo fiscalizado a relaccedilatildeo dos livros e documentos comerciais e fiscais exibidos e tudo mais que seja de interecircsse para a fiscalizaccedilatildeo

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()

sect 2ordm Quando viacutetimas de embaraccedilo ou desacato no exerciacutecio de suas funccedilotildees ou quando seja necessaacuterio agrave efetivaccedilatildeo de medidas acauteladoras do interecircsse do fisco ainda que natildeo se configure fato definido em lei como crime ou contravenccedilatildeo os agentes fiscalizadores diretamente ou atraveacutes das reparticcedilotildees a que pertencerem poderatildeo requisitar o auxiacutelio da focircrccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Art 97 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agraves autoridades fiscalizadoras tocircdas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos produtos negoacutecios ou atividades de terceiros I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e semelhantes III shy as empresas transportadoras e os transportadores singulares IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais V shy os inventariantes VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios VII shy as reparticcedilotildees puacuteblicas e autaacuterquicas federais as entidades paraestatais e de economia mista VIII shy tocircdas as demais pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao impocircsto de consumo

Lei nordm 863093

Art 36 Compete ao Ministeacuterio da Fazenda por intermeacutedio das reparticcedilotildees aduaneiras

()

sect 2deg No exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees a autoridade aduaneira teraacute livre acesso a quaisquer dependecircncias do porto e agraves embarcaccedilotildees atracadas ou natildeo bem como aos locais onde se encontrem mercadorias procedentes do exterior ou a ele destinadas podendo quando julgar necessaacuterio requisitar papeacuteis livros e outros documentos inclusive quando necessaacuterio o apoio de forccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Lei nordm 943096

Art 34 Satildeo tambeacutem passiacuteveis de exame os documentos do sujeito passivo mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados encontrados no local da verificaccedilatildeo que tenham relaccedilatildeo direta ou indireta com a atividade por ele exercida

Retenccedilatildeo de Livros e Documentos

Art 35 Os livros e documentos poderatildeo ser examinados fora do estabelecimento do sujeito passivo desde que lavrado termo

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escrito de retenccedilatildeo pela autoridade fiscal em que se especifiquem a quantidade espeacutecie natureza e condiccedilotildees dos livros e documentos retidos

sect 1ordm Constituindo os livros ou documentos prova da praacutetica de iliacutecito penal ou tributaacuterio os originais retidos natildeo seratildeo devolvidos extraindoshyse coacutepia para entrega ao interessado

sect 2ordm Excetuado o disposto no paraacutegrafo anterior devem ser devolvidos os originais dos documentos retidos para exame mediante recibo

Lacraccedilatildeo de Arquivos

Art 36 A autoridade fiscal encarregada de diligecircncia ou fiscalizaccedilatildeo poderaacute promover a lacraccedilatildeo de moacuteveis caixas cofres ou depoacutesitos onde se encontram arquivos e documentos toda vez que ficar caracterizada a resistecircncia ou o embaraccedilo agrave fiscalizaccedilatildeo ou ainda quando as circunstacircncias ou a quantidade de documentos natildeo permitirem sua identificaccedilatildeo e conferecircncia no local ou no momento em que foram encontrados

Paraacutegrafo uacutenico O sujeito passivo e demais responsaacuteveis seratildeo previamente notificados para acompanharem o procedimento de rompimento do lacre e identificaccedilatildeo dos elementos de interesse da fiscalizaccedilatildeo

Guarda de Documentos

Art 37 Os comprovantes da escrituraccedilatildeo da pessoa juriacutedica relativos a fatos que repercutam em lanccedilamentos contaacutebeis de exerciacutecio futuros seratildeo conservados ateacute que se opere a decadecircncia do direito de a Fazenda Puacuteblica constituir os creacuteditos tributaacuterios relativos a esses exerciacutecios

Arquivos Magneacuteticos

Art 38 O sujeito passivo usuaacuterio de sistema de processamento de dados deveraacute manter documentaccedilatildeo teacutecnica completa e atualizada do sistema suficiente para possibilitar a sua auditoria facultada a manutenccedilatildeo em meio magneacutetico sem prejuiacutezo da sua emissatildeo graacutefica quando solicitada

Como se depreende das disposiccedilotildees legais acima transcritas a legislaccedilatildeo

tributaacuteria considera inaplicaacuteveis quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do

direito que deteacutem a Fiscalizaccedilatildeo Federal de examinar mercadorias livros arquivos

documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores

ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos Estabelece tambeacutem que mediante intimaccedilatildeo por escrito

todas as pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao Imposto

sobre Produtos Industrializados deveratildeo prestar por escrito as informaccedilotildees requeridas Ainda

que a fiscalizaccedilatildeo alcanccedila todas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que

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forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do imposto devendo

elas exibir aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e

comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados

necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo Ainda mais que as pessoas deveratildeo franquear agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal

os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da

noite se agrave noite estiverem funcionando e autoriza o Fisco a proceder ao exame inclusive de

documentos mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados

E que se diga natildeo estamos aqui nos referindo apenas ao poder outorgado por

lei agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal no exerciacutecio de suas funccedilotildees mas para aleacutem disso de um dever

legal sob pena de responsabilidade funcional da autoridade fiscal que vier a negligenciaacuteshylos

A toda evidecircncia a despeito do fato de que parte das provas colacionadas aos

autos tenham efetivamente sido obtidas com base em pesquisas e consultas aos sistemas da

Secretaria da Receita Federal sem qualquer viacutenculo com o que fora apreendido nas

dependecircncias dos contribuinte o fato eacute que todos os elementos de prova que instruem o

presente processo notadamente poderiam ser obtidos independentemente dos mandados de

busca e apreensatildeo que terminaram por dar ensejo agrave decretaccedilatildeo da nulidade de todo arcabouccedilo

probatoacuterio contido nos autos bastando para tanto que a Fiscalizaccedilatildeo Federal com apoio ou

natildeo de forccedila policial seguisse os procedimentos autorizados em Lei Significa dizer

seguisse os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo do Oacutergatildeo

Eacute possiacutevel que se indague ainda se mesmo admitidos todos os pressupostos

ateacute aqui declinados teria a Fiscalizaccedilatildeo Federal tomado a iniciativa de instaurar um

procedimento fiscal em face dos sujeitos passivos relacionados nos autos A resposta a essa

suposta indagaccedilatildeo a meu sentir eacute facilmente respondida agrave luz do disposto na Lei nordm 929696

que exige a comprovaccedilatildeo de indiacutecios de autoria e materialidade do delito sob investigaccedilatildeo para

concessatildeo da ordem judicial autorizando dentre outros a quebra do sigilo telefocircnico e

telemaacutetico

Ora a conclusatildeo natural e inevitaacutevel a que se chega eacute que as investigaccedilotildees

das operaccedilotildees empreendidas pelos agentes envolvidos nas praacuteticas iliacutecitas de que tratam os

autos jaacute estavam em curso antes que o Poder Judiciaacuterio tivesse autorizado as interceptaccedilotildees

telefocircnicas razatildeo a mais para que se reconheccedila que as provas obtidas no cumprimento dos

MBAs haveriam de ser alcanccediladas pela accedilatildeo da Fiscalizaccedilatildeo Federal no curso dos

Fl 2454DF CARF MF

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procedimentos fiscais autorizados em lei proacuteprios tiacutepicos e inerentes agraves atividades

desenvolvidas pelo Oacutergatildeo uma vez que atos iliacutecitos jaacute fossem de conhecimento do Fisco

Como base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal na parte em que admite as provas derivadas de provas iliacutecitas desde que fique

demonstrado que tais provas as derivadas poderiam ser obtidas por meios independentes

seguindoshyse os procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal

Por oacutebvio as interceptaccedilotildees telefocircnicas natildeo compreendidas dentro do periacuteodo

que estende de 25052005 a 23072005 (60 dias considerados legais) natildeo podem ser admitidas

como prova do iliacutecito tributaacuterio de que ora se cuida

Voto por dar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda

Nacional para que seja afastada a prejudicial de nulidade das provas colacionadas aos autos

por forccedila das disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal conforme fundamentaccedilatildeo expressa no voto

O processo deve retornar agrave instacircncia recorrida para exame das questotildees de

meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade

das provas

(assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 5: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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circunstacircncias que tornam a descoberta inevitaacutevel natildeo se modificam com a instauraccedilatildeo do

procedimento

E mais Se conforme entende a contrarrazoante o iniacutecio do procedimento

fiscal revela a possibilidade de que as provas sejam (ou fossem) obtidas independentemente

dos malsinados mandados de busca e apreensatildeo pareceshyme incontroverso que tais provas

poderiam ser descobertas por fonte independente e ainda mais que a execuccedilatildeo desses

procedimentos de praxe da Fiscalizaccedilatildeo Federal conduziriam agrave descoberta inevitaacutevel dos fatos

iliacutecitos

Portanto o juiacutezo formado no julgamento paradigma ora confrontado com a

decisatildeo recorrida para o fim de considerar a possibilidade de mitigaccedilatildeo da Teoria dos Frutos

da Aacutervore Envenenada por forccedila da aplicaccedilatildeo das duas Teorias retrocitadas natildeo guarda relaccedilatildeo

com a obtenccedilatildeo de provas em procedimento autocircnomo preacutevio distante e independente das

provas consideradas iliacutecitas pois a Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e a Teoria da Fonte

Independente natildeo foram construiacutedas sob tal perspectiva mas agrave luz da possibilidade de que os

fatos viessem a ser descobertos por fonte independente eou que sua descoberta fosse

inevitaacutevel

Ora e de fato se estiveacutessemos falando de provas sobre as quais natildeo se

cogitasse os efeitos decorrentes da Teoria do Fruto da Aacutervore Envenenada condiccedilatildeo que

segundo parece entender a contrarrazoante estaacute presente no acoacuterdatildeo paradigma entatildeo natildeo

haveria razatildeo para que se falasse em mitigaccedilatildeo de seus efeitos

Como adiante pretendemos esclarecer a uacutenica condiccedilatildeo de natureza factual

para que seja considerada a possibilidade de aplicaccedilatildeo das Teorias sub examine eacute a de que as

empresas autuadas jaacute estivessem sendo investigadas e natildeo que o procedimento fiscal em si jaacute

tivesse sido instaurado

Meacuterito

No meacuterito uma vez que a recorrente tenha contraditado exclusivamente a

questatildeo abordada nas linhas acima ou seja a aplicaccedilatildeo da Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e

da Teoria da Fonte Independente como elementos de mitigaccedilatildeo da Teoria dos Frutos da

Aacutervore Envenenada dessa mateacuteria a seguir nos ocuparemos

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Como jaacute exaustivamente esclarecido nos autos a 6ordf Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila em julgamento proferido no HC nordm 142045PR em que figuravam como

pacientes Marco Antocircnio Mansur e Marco Antocircnio Mansur Filho soacutecios da empresa MAM

reconheceu a nulidade parcial das escutas telefocircnicas obtidas em cumprimento dos Mandados

de Busca e Apreensatildeo shy MBAs emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacutePR A decisatildeo foi

assim ementada

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria (interpretaccedilatildeo) Principio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

1 Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

2 A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova

3 Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente fundamentada Haacute neste caso se natildeo explicita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art 5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do principio da razoabilidade

4 Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo os autos retornar aacutes matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Liminarmente releva destacar que nem a decisatildeo proferida pelo juiacutezo de

primeiro grau nem o procedimento levado a efeito pela autoridade policial eou pela

autoridade fiscal e nem mesmo as proacuteprias interceptaccedilotildees telefocircnicas em sua integralidade

foram consideradas abusivas Como se depreende do teor da decisatildeo acima transcrita a

irregularidade apontada na decisatildeo refereshyse a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias

de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas que excederam ateacute mesmo os sessenta dias do

estado de defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) Outrossim a decisatildeo tomada no acircmbito do

Superior Tribunal de Justiccedila eximiushyse de qualquer ilaccedilatildeo acerca de seus efeitos sobre o acervo

probatoacuterio que lastreava a acusaccedilatildeo Em lugar disso determinou a restituiccedilatildeo dos autos ao Juiz

originaacuterio para as determinaccedilotildees de direito

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Por forccedila da decisatildeo proferida pelo STJ o Juiz Federal Substituto Tiago do

Carmo Martins reconhecendo a higidez das provas colhidas durante o primeiro periacuteodo de

interceptaccedilatildeo telefocircnica encaminhou o processo ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal para que na

qualidade de autor da denuacutencia se manifestasse acerca da instruccedilatildeo probatoacuteria do processo

criminal agrave luz da decisatildeo tomada no HC 142045PR O despacho teve o seguinte teor

Em relaccedilatildeo ao referencial temporal adotado por aquela Corte ante a leitura dos votos proferidos naquele julgamento tenho que o julgado limitou a utilizaccedilatildeo dessa teacutecnica investigativa ao prazo de 60 (sessenta) dias

Assim permanecem hiacutegidas as provas colhidas durante o primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes Os demais elementos de prova obtidos a partir dos dados colhidos nessa fase da investigaccedilatildeo tambeacutem permanecem hiacutegidos pois derivaram de prova obtida licitamente

De outra parte segundo os termos do julgado as interceptaccedilotildees telefocircnicas realizadas a partir da quarta prorrogaccedilatildeo autorizada encontramshyse maculadas pelo vicio insanaacutevel da ilicitude Satildeo portanto imprestaacuteveis para fins de utilizaccedilatildeo de prova no processo penal Correlatamente os demais elementos de prova obtidos a partir dos dados colhidos nessa fase da investigaccedilatildeo tambeacutem encontramshyse eivado de ilicitude pela aplicaccedilatildeo da teoria dos frutos da aacutervore envenenada agora expressamente adotado pelo CPP (art 157 sect1deg do CPP)

Confrontado com o Habeas Corpus concedido aos pacientes o Parquet

entendeu pela impossibilidade de separaccedilatildeo das provas colacionadas aos autos nos seguintes

termos

Sem as provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de busca e apreensatildeo sem as provas carreadas aos autos em cumprimento destes natildeo seria possiacutevel a apreensatildeo para dizer o miacutenimo de centenas de milhares de notas fiscaiscomputadores contendo os verdadeiros preccedilos das mercadorias sem a anaacutelise destes pela Receita Federal em conjunto com os inuacutemeros eshymails interceptados os laudos que acompanham a denuacutencia natildeo teriam sido produzidos Insistindo a pretendida separaccedilatildeo eacute impossiacutevel

Das consideraccedilotildees ateacute aqui postas eacute possiacutevel afirmar que (i) nos autos do

Habeas Corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiccedila nenhuma decisatildeo foi tomada

acerca dos efeitos sobre o acervo probatoacuterio no qual lastreavashyse a acusaccedilatildeo (ii) o Juiacutez

originaacuterio considerando a higidez de parte das provas encaminhou o processo ao Ministeacuterio

Puacuteblico Federal autor da denuacutencia crime para que nessa qualidade se posicionasse em relaccedilatildeo

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agraves consequecircncias do HC no processo criminal em curso (iii) o Ministeacuterio Puacuteblico Federal

entendeu que as provas anuladas e as provas derivadas seriam indissociaacuteveis uma vez que as

uacuteltimas fossem decorrecircncia dos mandados de busca e apreensatildeo e estes das escutas telefocircnicas

Salvo melhor juiacutezo pareceshynos que a decisatildeo proferida no processo criminal

seja dotada de certas particularidades que necessariamente deveratildeo ser levadas em conta na

decisatildeo que seraacute tomada neste processo administrativo fiscal

Em primeiro lugar eacute incontroverso que apenas uma parcela das provas

obtidas nas accedilotildees impetradas pela Receita Federal em conjunto com a Poliacutecia Federal foram

consideradas obtidas por meios ilegais Portanto o caso natildeo eacute de pressuposta ilegalidade de

todo o acervo probatoacuterio que instruiu o processo judicial e que instrui o vertente processo

como as vezes parece que se pretende fazer crer Em lugar disso tratashyse apenas da

declaraccedilatildeo de nulidade das escutas que excederam os sessenta dias inicialmente autorizados e

como consequecircncia da possiacutevel nulidade das provas que segundo se entenda estejam

contaminadas pela invalidade das intercepccedilotildees ilegais Em segundo como tambeacutem parece ficar

claro do teor das decisotildees proferidas em juiacutezo na oacutetica do Poder Judiciaacuterio parte das provas

teriam restado incoacutelumes desde que fosse apontada a linha divisoacuteria entre estas e aquelas

Contudo segundo entendimento do Ministeacuterio Puacuteblico Federal autor da denuacutencia todas as

provas estavam de alguma forma vinculadas as escutas ilegais jaacute que com base nelas

obtiveramshyse os necessaacuterios mandados e busca e apreensatildeo autorizaccedilatildeo que teria permitido agraves

autoridades fazendaacuterias e policiais ter acesso aos diversos documentos que terminaram

constituindo o acervo probatoacuterio dos autos

Eacute precisamente nesse ponto que algumas relevantes ponderaccedilotildees precisam ser

feitas

Como se pretenderaacute demonstrar com a necessaacuteria objetividade e clareza o

juiacutezo que se formou no processo criminal em relaccedilatildeo agrave validade das provas ditas derivadas das

interceptaccedilotildees iliacutecitas data maxima venia natildeo levou em consideraccedilatildeo certas prerrogativas que

deteacutem os servidores da Secretaria da Receita Federal no exerciacutecio das funccedilotildees que lhe

competem

A esse respeito imperioso registrar que o entendimento manifesto pelo

Ministeacuterio Puacuteblico Federal no processo que tramitava na esfera judicial natildeo vincula a

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administraccedilatildeo tributaacuteria tampouco se aplica automaticamente ao processo administrativo

fiscal Corrobora esse entendimento a manifestaccedilatildeo do proacuteprio Poder Judiciaacuterio nos autos do

Mandado de Seguranccedila nordm 0002843shy9520144040000PR impetrado contra o Juiacutezo da 14a

Vara Federal de Curitiba Tribunal Regional Federal da 4a Regiatildeo acerca dos efeitos da

anulaccedilatildeo das provas obtidas no acircmbito da mesma Operaccedilatildeo Diluacutevio sobre os procedimentos

administrativos disciplinares instaurados com base no compartilhamento dessas mesmas

provas Assim decidiu o Tribunal Regional da 4ordf Regiatildeo a respeito

MANDADO DE SEGURANCcedilA TERCEIRO INTERESSADO PROVA EMPRESTADA NULIDADE PARCIAL DECLARADA PELO STJ EFEITOS NA ESFERA ADMINISTRATIVA MATEacuteRIA ESTRANHA AO JUIacuteZO CRIMINAL COMPETEcircNCIA DA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA

1 Natildeo se presta o mandado de seguranccedila para determinar ao juiacutezo a quo que acerca de pedido formulado por terceiro interessado decida em ou outro sentido

2 Desborda da competecircncia do juiacutezo criminal e ateacute mesmo da esfera penal decidir a respeito de nulidades pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada em procedimentos administrativos disciplinares

3 Descabido exigirshyse que o juiacutezo penal diante de julgamento proferido pelo Superior Tribunal de Justiccedila que anula apenas parcialmente as interceptaccedilotildees telemaacuteticas profira decisatildeo complementar que esclareccedila os efeitos da anulaccedilatildeo

4 Compete agrave autoridade administrativa responsaacutevel pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada certificarshyse acerca dos efeitos de eventual anulaccedilatildeo sobre os procedimentos disciplinares cabendo ao interessado a interposiccedilatildeo de recurso administrativo e impugnaccedilatildeo na via judicial apropriada

Sentenccedila denegada

Feitas tais consideraccedilotildees preambulares penso que devamos a partir daqui

enfrentar a questatildeo nevraacutelgica posta nos autos que diz respeito agrave mitigaccedilatildeo no particular da

Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada em face agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e agrave

Teoria da Fonte Independente para fins de validaccedilatildeo das provas carreadas aos autos pela

Fiscalizaccedilatildeo Federal

Sem adentrar ao relato histoacuterico que descreve a origem e a construccedilatildeo teoacuterica

que abriu espaccedilo agrave adoccedilatildeo das citadas Teorias no ordenamento juriacutedico paacutetrio (ateacute mesmo para

que natildeo se transbordem os limites proacuteprios do PAF) restrinjoshyme agrave anaacutelise das disposiccedilotildees

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legais expressamente contidas no Coacutedigo do Processo Penal apoacutes modificaccedilotildees introduzidas

pela Lei 116802008 a seguir reproduzido

Art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas constitucionais ou legais (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11690 de 2008)

sect 1ordm Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

sect 2ordm Considerashyse fonte independente aquela que por si soacute seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

A parte inicial do paraacutegrafo 1ordm acima expressa em disposiccedilatildeo literal de Lei

o que se costuma designar por Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada Logo a seguir ainda

no teor das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo 1ordm introduzshyse a hipoacutetese contemplada pela

Teoria da Fonte Independente que em combinaccedilatildeo com o disposto no paraacutegrafo segundo

remete agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel

Interessa sublinhar neste ponto que como se depreende da leitura do

paraacutegrafo anterior o que se discute no presente processo em verdade natildeo diz respeito agrave

aplicaccedilatildeo de diferentes teorias juriacutedicas ou orientaccedilotildees doutrinaacuterias agraves circunstacircncias faacuteticas

descritas nos autos mas agrave interpretaccedilatildeo de disposiccedilatildeo literal de lei contida no Coacutedigo do

Processo Penal com o fito de decidir se a norma geral e abstrata que estabelece ressalvas agrave

ilicitude das provas derivadas de provas iliacutecitas deve ser considerada e aplicada ao caso

concreto

Temshyse pois que combinadas as disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm

do art 157 do Coacutedigo do Processo Penal as provas derivadas das provas iliacutecitas poderatildeo ser

aceitas no processo quando puderem ser obtidas por uma fonte independente das provas

consideradas iliacutecitas em circunstacircncias tais que seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe

proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal sejam capazes de conduzir ao fato objeto da

prova

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Como jaacute destacado linhas acima a razatildeo maior para que o Ministeacuterio Puacuteblico

Federal tenha considerado as provas derivadas indissociaacuteveis dos procedimentos preliminares

adotados pelas autoridades policiais e fazendaacuterias decorre da circunstacircncia de que Sem as

provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de

busca e apreensatildeo () Pois aiacute reside a questatildeo nodal do processo Como a seguir restaraacute

sobejamente demonstrado os AuditoresshyFiscais da Receita Federal no acircmbito de suas

prerrogativas legais prescindem de ordem judicial para executar o procedimento de busca e

apreensatildeo nas dependecircncias do contribuinte De fato eacute essa a conclusatildeo insofismaacutevel a que se

chega com base na simples leitura da legislaccedilatildeo que regulamenta o exerciacutecio do cargo

Observeshyse (todos grifos acrescidos)

Coacutedigo Tributaacuterio Nacional shy Lei 5172 de 25101966

TIacuteTULO IV

Administraccedilatildeo Tributaacuteria

CAPIacuteTULO I

Fiscalizaccedilatildeo

Art 194 A legislaccedilatildeo tributaacuteria observado o disposto nesta Lei regularaacute em caraacuteter geral ou especificamente em funccedilatildeo da natureza do tributo de que se tratar a competecircncia e os poderes das autoridades administrativas em mateacuteria de fiscalizaccedilatildeo da sua aplicaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A legislaccedilatildeo a que se refere este artigo aplicashyse agraves pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo inclusive agraves que gozem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Art 195 Para os efeitos da legislaccedilatildeo tributaacuteria natildeo tecircm aplicaccedilatildeo quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias livros arquivos documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos

Paraacutegrafo uacutenico Os livros obrigatoacuterios de escrituraccedilatildeo comercial e fiscal e os comprovantes dos lanccedilamentos neles efetuados seratildeo conservados ateacute que ocorra a prescriccedilatildeo dos creacuteditos tributaacuterios decorrentes das operaccedilotildees a que se refiram

Art 196 A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraraacute os termos necessaacuterios para que se documente o iniacutecio do procedimento na forma da legislaccedilatildeo aplicaacutevel que fixaraacute prazo maacuteximo para a conclusatildeo daquelas

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Paraacutegrafo uacutenico Os termos a que se refere este artigo seratildeo lavrados sempre que possiacutevel em um dos livros fiscais exibidos quando lavrados em separado deles se entregaraacute agrave pessoa sujeita agrave fiscalizaccedilatildeo coacutepia autenticada pela autoridade a que se refere este artigo

Art 197 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agrave autoridade administrativa todas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos bens negoacutecios ou atividades de terceiros

I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio

II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e demais instituiccedilotildees financeiras

III shy as empresas de administraccedilatildeo de bens

IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais

V shy os inventariantes

VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios

VII shy quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe em razatildeo de seu cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A obrigaccedilatildeo prevista neste artigo natildeo abrange a prestaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razatildeo de cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Lei nordm 450264

Art 94 A fiscalizaccedilatildeo seraacute exercida socircbre tocircdas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do impocircsto de consumo inclusive socircbre as que gozarem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Paraacutegrafo uacutenico As pessoas a que se refere ecircste artigo exibiratildeo aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo e lhes franquearatildeo os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da noite se agrave noite estiverem funcionando

Art 95 Os agentes fiscalizadores que procederem a diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraratildeo aleacutem do auto de infraccedilatildeo que couber tecircrmos circunstanciados de iniacutecio e de conclusatildeo de cada uma delas nos quais consignaratildeo as datas inicial e final do periacuteodo fiscalizado a relaccedilatildeo dos livros e documentos comerciais e fiscais exibidos e tudo mais que seja de interecircsse para a fiscalizaccedilatildeo

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sect 2ordm Quando viacutetimas de embaraccedilo ou desacato no exerciacutecio de suas funccedilotildees ou quando seja necessaacuterio agrave efetivaccedilatildeo de medidas acauteladoras do interecircsse do fisco ainda que natildeo se configure fato definido em lei como crime ou contravenccedilatildeo os agentes fiscalizadores diretamente ou atraveacutes das reparticcedilotildees a que pertencerem poderatildeo requisitar o auxiacutelio da focircrccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Art 97 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agraves autoridades fiscalizadoras tocircdas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos produtos negoacutecios ou atividades de terceiros I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e semelhantes III shy as empresas transportadoras e os transportadores singulares IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais V shy os inventariantes VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios VII shy as reparticcedilotildees puacuteblicas e autaacuterquicas federais as entidades paraestatais e de economia mista VIII shy tocircdas as demais pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao impocircsto de consumo

Lei nordm 863093

Art 36 Compete ao Ministeacuterio da Fazenda por intermeacutedio das reparticcedilotildees aduaneiras

()

sect 2deg No exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees a autoridade aduaneira teraacute livre acesso a quaisquer dependecircncias do porto e agraves embarcaccedilotildees atracadas ou natildeo bem como aos locais onde se encontrem mercadorias procedentes do exterior ou a ele destinadas podendo quando julgar necessaacuterio requisitar papeacuteis livros e outros documentos inclusive quando necessaacuterio o apoio de forccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Lei nordm 943096

Art 34 Satildeo tambeacutem passiacuteveis de exame os documentos do sujeito passivo mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados encontrados no local da verificaccedilatildeo que tenham relaccedilatildeo direta ou indireta com a atividade por ele exercida

Retenccedilatildeo de Livros e Documentos

Art 35 Os livros e documentos poderatildeo ser examinados fora do estabelecimento do sujeito passivo desde que lavrado termo

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escrito de retenccedilatildeo pela autoridade fiscal em que se especifiquem a quantidade espeacutecie natureza e condiccedilotildees dos livros e documentos retidos

sect 1ordm Constituindo os livros ou documentos prova da praacutetica de iliacutecito penal ou tributaacuterio os originais retidos natildeo seratildeo devolvidos extraindoshyse coacutepia para entrega ao interessado

sect 2ordm Excetuado o disposto no paraacutegrafo anterior devem ser devolvidos os originais dos documentos retidos para exame mediante recibo

Lacraccedilatildeo de Arquivos

Art 36 A autoridade fiscal encarregada de diligecircncia ou fiscalizaccedilatildeo poderaacute promover a lacraccedilatildeo de moacuteveis caixas cofres ou depoacutesitos onde se encontram arquivos e documentos toda vez que ficar caracterizada a resistecircncia ou o embaraccedilo agrave fiscalizaccedilatildeo ou ainda quando as circunstacircncias ou a quantidade de documentos natildeo permitirem sua identificaccedilatildeo e conferecircncia no local ou no momento em que foram encontrados

Paraacutegrafo uacutenico O sujeito passivo e demais responsaacuteveis seratildeo previamente notificados para acompanharem o procedimento de rompimento do lacre e identificaccedilatildeo dos elementos de interesse da fiscalizaccedilatildeo

Guarda de Documentos

Art 37 Os comprovantes da escrituraccedilatildeo da pessoa juriacutedica relativos a fatos que repercutam em lanccedilamentos contaacutebeis de exerciacutecio futuros seratildeo conservados ateacute que se opere a decadecircncia do direito de a Fazenda Puacuteblica constituir os creacuteditos tributaacuterios relativos a esses exerciacutecios

Arquivos Magneacuteticos

Art 38 O sujeito passivo usuaacuterio de sistema de processamento de dados deveraacute manter documentaccedilatildeo teacutecnica completa e atualizada do sistema suficiente para possibilitar a sua auditoria facultada a manutenccedilatildeo em meio magneacutetico sem prejuiacutezo da sua emissatildeo graacutefica quando solicitada

Como se depreende das disposiccedilotildees legais acima transcritas a legislaccedilatildeo

tributaacuteria considera inaplicaacuteveis quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do

direito que deteacutem a Fiscalizaccedilatildeo Federal de examinar mercadorias livros arquivos

documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores

ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos Estabelece tambeacutem que mediante intimaccedilatildeo por escrito

todas as pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao Imposto

sobre Produtos Industrializados deveratildeo prestar por escrito as informaccedilotildees requeridas Ainda

que a fiscalizaccedilatildeo alcanccedila todas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que

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forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do imposto devendo

elas exibir aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e

comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados

necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo Ainda mais que as pessoas deveratildeo franquear agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal

os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da

noite se agrave noite estiverem funcionando e autoriza o Fisco a proceder ao exame inclusive de

documentos mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados

E que se diga natildeo estamos aqui nos referindo apenas ao poder outorgado por

lei agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal no exerciacutecio de suas funccedilotildees mas para aleacutem disso de um dever

legal sob pena de responsabilidade funcional da autoridade fiscal que vier a negligenciaacuteshylos

A toda evidecircncia a despeito do fato de que parte das provas colacionadas aos

autos tenham efetivamente sido obtidas com base em pesquisas e consultas aos sistemas da

Secretaria da Receita Federal sem qualquer viacutenculo com o que fora apreendido nas

dependecircncias dos contribuinte o fato eacute que todos os elementos de prova que instruem o

presente processo notadamente poderiam ser obtidos independentemente dos mandados de

busca e apreensatildeo que terminaram por dar ensejo agrave decretaccedilatildeo da nulidade de todo arcabouccedilo

probatoacuterio contido nos autos bastando para tanto que a Fiscalizaccedilatildeo Federal com apoio ou

natildeo de forccedila policial seguisse os procedimentos autorizados em Lei Significa dizer

seguisse os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo do Oacutergatildeo

Eacute possiacutevel que se indague ainda se mesmo admitidos todos os pressupostos

ateacute aqui declinados teria a Fiscalizaccedilatildeo Federal tomado a iniciativa de instaurar um

procedimento fiscal em face dos sujeitos passivos relacionados nos autos A resposta a essa

suposta indagaccedilatildeo a meu sentir eacute facilmente respondida agrave luz do disposto na Lei nordm 929696

que exige a comprovaccedilatildeo de indiacutecios de autoria e materialidade do delito sob investigaccedilatildeo para

concessatildeo da ordem judicial autorizando dentre outros a quebra do sigilo telefocircnico e

telemaacutetico

Ora a conclusatildeo natural e inevitaacutevel a que se chega eacute que as investigaccedilotildees

das operaccedilotildees empreendidas pelos agentes envolvidos nas praacuteticas iliacutecitas de que tratam os

autos jaacute estavam em curso antes que o Poder Judiciaacuterio tivesse autorizado as interceptaccedilotildees

telefocircnicas razatildeo a mais para que se reconheccedila que as provas obtidas no cumprimento dos

MBAs haveriam de ser alcanccediladas pela accedilatildeo da Fiscalizaccedilatildeo Federal no curso dos

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procedimentos fiscais autorizados em lei proacuteprios tiacutepicos e inerentes agraves atividades

desenvolvidas pelo Oacutergatildeo uma vez que atos iliacutecitos jaacute fossem de conhecimento do Fisco

Como base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal na parte em que admite as provas derivadas de provas iliacutecitas desde que fique

demonstrado que tais provas as derivadas poderiam ser obtidas por meios independentes

seguindoshyse os procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal

Por oacutebvio as interceptaccedilotildees telefocircnicas natildeo compreendidas dentro do periacuteodo

que estende de 25052005 a 23072005 (60 dias considerados legais) natildeo podem ser admitidas

como prova do iliacutecito tributaacuterio de que ora se cuida

Voto por dar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda

Nacional para que seja afastada a prejudicial de nulidade das provas colacionadas aos autos

por forccedila das disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal conforme fundamentaccedilatildeo expressa no voto

O processo deve retornar agrave instacircncia recorrida para exame das questotildees de

meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade

das provas

(assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

Fl 2465DF CARF MF

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

Fl 2467DF CARF MF

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

Fl 2469DF CARF MF

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

Fl 2470DF CARF MF

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

Fl 2472DF CARF MF

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

Fl 2474DF CARF MF

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 6: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Como jaacute exaustivamente esclarecido nos autos a 6ordf Turma do Superior

Tribunal de Justiccedila em julgamento proferido no HC nordm 142045PR em que figuravam como

pacientes Marco Antocircnio Mansur e Marco Antocircnio Mansur Filho soacutecios da empresa MAM

reconheceu a nulidade parcial das escutas telefocircnicas obtidas em cumprimento dos Mandados

de Busca e Apreensatildeo shy MBAs emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacutePR A decisatildeo foi

assim ementada

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria (interpretaccedilatildeo) Principio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

1 Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

2 A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a indispensabilidade do meio de prova

3 Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente fundamentada Haacute neste caso se natildeo explicita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art 5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do principio da razoabilidade

4 Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo os autos retornar aacutes matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Liminarmente releva destacar que nem a decisatildeo proferida pelo juiacutezo de

primeiro grau nem o procedimento levado a efeito pela autoridade policial eou pela

autoridade fiscal e nem mesmo as proacuteprias interceptaccedilotildees telefocircnicas em sua integralidade

foram consideradas abusivas Como se depreende do teor da decisatildeo acima transcrita a

irregularidade apontada na decisatildeo refereshyse a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias

de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas que excederam ateacute mesmo os sessenta dias do

estado de defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) Outrossim a decisatildeo tomada no acircmbito do

Superior Tribunal de Justiccedila eximiushyse de qualquer ilaccedilatildeo acerca de seus efeitos sobre o acervo

probatoacuterio que lastreava a acusaccedilatildeo Em lugar disso determinou a restituiccedilatildeo dos autos ao Juiz

originaacuterio para as determinaccedilotildees de direito

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Por forccedila da decisatildeo proferida pelo STJ o Juiz Federal Substituto Tiago do

Carmo Martins reconhecendo a higidez das provas colhidas durante o primeiro periacuteodo de

interceptaccedilatildeo telefocircnica encaminhou o processo ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal para que na

qualidade de autor da denuacutencia se manifestasse acerca da instruccedilatildeo probatoacuteria do processo

criminal agrave luz da decisatildeo tomada no HC 142045PR O despacho teve o seguinte teor

Em relaccedilatildeo ao referencial temporal adotado por aquela Corte ante a leitura dos votos proferidos naquele julgamento tenho que o julgado limitou a utilizaccedilatildeo dessa teacutecnica investigativa ao prazo de 60 (sessenta) dias

Assim permanecem hiacutegidas as provas colhidas durante o primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes Os demais elementos de prova obtidos a partir dos dados colhidos nessa fase da investigaccedilatildeo tambeacutem permanecem hiacutegidos pois derivaram de prova obtida licitamente

De outra parte segundo os termos do julgado as interceptaccedilotildees telefocircnicas realizadas a partir da quarta prorrogaccedilatildeo autorizada encontramshyse maculadas pelo vicio insanaacutevel da ilicitude Satildeo portanto imprestaacuteveis para fins de utilizaccedilatildeo de prova no processo penal Correlatamente os demais elementos de prova obtidos a partir dos dados colhidos nessa fase da investigaccedilatildeo tambeacutem encontramshyse eivado de ilicitude pela aplicaccedilatildeo da teoria dos frutos da aacutervore envenenada agora expressamente adotado pelo CPP (art 157 sect1deg do CPP)

Confrontado com o Habeas Corpus concedido aos pacientes o Parquet

entendeu pela impossibilidade de separaccedilatildeo das provas colacionadas aos autos nos seguintes

termos

Sem as provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de busca e apreensatildeo sem as provas carreadas aos autos em cumprimento destes natildeo seria possiacutevel a apreensatildeo para dizer o miacutenimo de centenas de milhares de notas fiscaiscomputadores contendo os verdadeiros preccedilos das mercadorias sem a anaacutelise destes pela Receita Federal em conjunto com os inuacutemeros eshymails interceptados os laudos que acompanham a denuacutencia natildeo teriam sido produzidos Insistindo a pretendida separaccedilatildeo eacute impossiacutevel

Das consideraccedilotildees ateacute aqui postas eacute possiacutevel afirmar que (i) nos autos do

Habeas Corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiccedila nenhuma decisatildeo foi tomada

acerca dos efeitos sobre o acervo probatoacuterio no qual lastreavashyse a acusaccedilatildeo (ii) o Juiacutez

originaacuterio considerando a higidez de parte das provas encaminhou o processo ao Ministeacuterio

Puacuteblico Federal autor da denuacutencia crime para que nessa qualidade se posicionasse em relaccedilatildeo

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agraves consequecircncias do HC no processo criminal em curso (iii) o Ministeacuterio Puacuteblico Federal

entendeu que as provas anuladas e as provas derivadas seriam indissociaacuteveis uma vez que as

uacuteltimas fossem decorrecircncia dos mandados de busca e apreensatildeo e estes das escutas telefocircnicas

Salvo melhor juiacutezo pareceshynos que a decisatildeo proferida no processo criminal

seja dotada de certas particularidades que necessariamente deveratildeo ser levadas em conta na

decisatildeo que seraacute tomada neste processo administrativo fiscal

Em primeiro lugar eacute incontroverso que apenas uma parcela das provas

obtidas nas accedilotildees impetradas pela Receita Federal em conjunto com a Poliacutecia Federal foram

consideradas obtidas por meios ilegais Portanto o caso natildeo eacute de pressuposta ilegalidade de

todo o acervo probatoacuterio que instruiu o processo judicial e que instrui o vertente processo

como as vezes parece que se pretende fazer crer Em lugar disso tratashyse apenas da

declaraccedilatildeo de nulidade das escutas que excederam os sessenta dias inicialmente autorizados e

como consequecircncia da possiacutevel nulidade das provas que segundo se entenda estejam

contaminadas pela invalidade das intercepccedilotildees ilegais Em segundo como tambeacutem parece ficar

claro do teor das decisotildees proferidas em juiacutezo na oacutetica do Poder Judiciaacuterio parte das provas

teriam restado incoacutelumes desde que fosse apontada a linha divisoacuteria entre estas e aquelas

Contudo segundo entendimento do Ministeacuterio Puacuteblico Federal autor da denuacutencia todas as

provas estavam de alguma forma vinculadas as escutas ilegais jaacute que com base nelas

obtiveramshyse os necessaacuterios mandados e busca e apreensatildeo autorizaccedilatildeo que teria permitido agraves

autoridades fazendaacuterias e policiais ter acesso aos diversos documentos que terminaram

constituindo o acervo probatoacuterio dos autos

Eacute precisamente nesse ponto que algumas relevantes ponderaccedilotildees precisam ser

feitas

Como se pretenderaacute demonstrar com a necessaacuteria objetividade e clareza o

juiacutezo que se formou no processo criminal em relaccedilatildeo agrave validade das provas ditas derivadas das

interceptaccedilotildees iliacutecitas data maxima venia natildeo levou em consideraccedilatildeo certas prerrogativas que

deteacutem os servidores da Secretaria da Receita Federal no exerciacutecio das funccedilotildees que lhe

competem

A esse respeito imperioso registrar que o entendimento manifesto pelo

Ministeacuterio Puacuteblico Federal no processo que tramitava na esfera judicial natildeo vincula a

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administraccedilatildeo tributaacuteria tampouco se aplica automaticamente ao processo administrativo

fiscal Corrobora esse entendimento a manifestaccedilatildeo do proacuteprio Poder Judiciaacuterio nos autos do

Mandado de Seguranccedila nordm 0002843shy9520144040000PR impetrado contra o Juiacutezo da 14a

Vara Federal de Curitiba Tribunal Regional Federal da 4a Regiatildeo acerca dos efeitos da

anulaccedilatildeo das provas obtidas no acircmbito da mesma Operaccedilatildeo Diluacutevio sobre os procedimentos

administrativos disciplinares instaurados com base no compartilhamento dessas mesmas

provas Assim decidiu o Tribunal Regional da 4ordf Regiatildeo a respeito

MANDADO DE SEGURANCcedilA TERCEIRO INTERESSADO PROVA EMPRESTADA NULIDADE PARCIAL DECLARADA PELO STJ EFEITOS NA ESFERA ADMINISTRATIVA MATEacuteRIA ESTRANHA AO JUIacuteZO CRIMINAL COMPETEcircNCIA DA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA

1 Natildeo se presta o mandado de seguranccedila para determinar ao juiacutezo a quo que acerca de pedido formulado por terceiro interessado decida em ou outro sentido

2 Desborda da competecircncia do juiacutezo criminal e ateacute mesmo da esfera penal decidir a respeito de nulidades pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada em procedimentos administrativos disciplinares

3 Descabido exigirshyse que o juiacutezo penal diante de julgamento proferido pelo Superior Tribunal de Justiccedila que anula apenas parcialmente as interceptaccedilotildees telemaacuteticas profira decisatildeo complementar que esclareccedila os efeitos da anulaccedilatildeo

4 Compete agrave autoridade administrativa responsaacutevel pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada certificarshyse acerca dos efeitos de eventual anulaccedilatildeo sobre os procedimentos disciplinares cabendo ao interessado a interposiccedilatildeo de recurso administrativo e impugnaccedilatildeo na via judicial apropriada

Sentenccedila denegada

Feitas tais consideraccedilotildees preambulares penso que devamos a partir daqui

enfrentar a questatildeo nevraacutelgica posta nos autos que diz respeito agrave mitigaccedilatildeo no particular da

Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada em face agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e agrave

Teoria da Fonte Independente para fins de validaccedilatildeo das provas carreadas aos autos pela

Fiscalizaccedilatildeo Federal

Sem adentrar ao relato histoacuterico que descreve a origem e a construccedilatildeo teoacuterica

que abriu espaccedilo agrave adoccedilatildeo das citadas Teorias no ordenamento juriacutedico paacutetrio (ateacute mesmo para

que natildeo se transbordem os limites proacuteprios do PAF) restrinjoshyme agrave anaacutelise das disposiccedilotildees

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legais expressamente contidas no Coacutedigo do Processo Penal apoacutes modificaccedilotildees introduzidas

pela Lei 116802008 a seguir reproduzido

Art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas constitucionais ou legais (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11690 de 2008)

sect 1ordm Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

sect 2ordm Considerashyse fonte independente aquela que por si soacute seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

A parte inicial do paraacutegrafo 1ordm acima expressa em disposiccedilatildeo literal de Lei

o que se costuma designar por Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada Logo a seguir ainda

no teor das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo 1ordm introduzshyse a hipoacutetese contemplada pela

Teoria da Fonte Independente que em combinaccedilatildeo com o disposto no paraacutegrafo segundo

remete agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel

Interessa sublinhar neste ponto que como se depreende da leitura do

paraacutegrafo anterior o que se discute no presente processo em verdade natildeo diz respeito agrave

aplicaccedilatildeo de diferentes teorias juriacutedicas ou orientaccedilotildees doutrinaacuterias agraves circunstacircncias faacuteticas

descritas nos autos mas agrave interpretaccedilatildeo de disposiccedilatildeo literal de lei contida no Coacutedigo do

Processo Penal com o fito de decidir se a norma geral e abstrata que estabelece ressalvas agrave

ilicitude das provas derivadas de provas iliacutecitas deve ser considerada e aplicada ao caso

concreto

Temshyse pois que combinadas as disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm

do art 157 do Coacutedigo do Processo Penal as provas derivadas das provas iliacutecitas poderatildeo ser

aceitas no processo quando puderem ser obtidas por uma fonte independente das provas

consideradas iliacutecitas em circunstacircncias tais que seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe

proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal sejam capazes de conduzir ao fato objeto da

prova

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Como jaacute destacado linhas acima a razatildeo maior para que o Ministeacuterio Puacuteblico

Federal tenha considerado as provas derivadas indissociaacuteveis dos procedimentos preliminares

adotados pelas autoridades policiais e fazendaacuterias decorre da circunstacircncia de que Sem as

provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de

busca e apreensatildeo () Pois aiacute reside a questatildeo nodal do processo Como a seguir restaraacute

sobejamente demonstrado os AuditoresshyFiscais da Receita Federal no acircmbito de suas

prerrogativas legais prescindem de ordem judicial para executar o procedimento de busca e

apreensatildeo nas dependecircncias do contribuinte De fato eacute essa a conclusatildeo insofismaacutevel a que se

chega com base na simples leitura da legislaccedilatildeo que regulamenta o exerciacutecio do cargo

Observeshyse (todos grifos acrescidos)

Coacutedigo Tributaacuterio Nacional shy Lei 5172 de 25101966

TIacuteTULO IV

Administraccedilatildeo Tributaacuteria

CAPIacuteTULO I

Fiscalizaccedilatildeo

Art 194 A legislaccedilatildeo tributaacuteria observado o disposto nesta Lei regularaacute em caraacuteter geral ou especificamente em funccedilatildeo da natureza do tributo de que se tratar a competecircncia e os poderes das autoridades administrativas em mateacuteria de fiscalizaccedilatildeo da sua aplicaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A legislaccedilatildeo a que se refere este artigo aplicashyse agraves pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo inclusive agraves que gozem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Art 195 Para os efeitos da legislaccedilatildeo tributaacuteria natildeo tecircm aplicaccedilatildeo quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias livros arquivos documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos

Paraacutegrafo uacutenico Os livros obrigatoacuterios de escrituraccedilatildeo comercial e fiscal e os comprovantes dos lanccedilamentos neles efetuados seratildeo conservados ateacute que ocorra a prescriccedilatildeo dos creacuteditos tributaacuterios decorrentes das operaccedilotildees a que se refiram

Art 196 A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraraacute os termos necessaacuterios para que se documente o iniacutecio do procedimento na forma da legislaccedilatildeo aplicaacutevel que fixaraacute prazo maacuteximo para a conclusatildeo daquelas

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Paraacutegrafo uacutenico Os termos a que se refere este artigo seratildeo lavrados sempre que possiacutevel em um dos livros fiscais exibidos quando lavrados em separado deles se entregaraacute agrave pessoa sujeita agrave fiscalizaccedilatildeo coacutepia autenticada pela autoridade a que se refere este artigo

Art 197 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agrave autoridade administrativa todas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos bens negoacutecios ou atividades de terceiros

I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio

II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e demais instituiccedilotildees financeiras

III shy as empresas de administraccedilatildeo de bens

IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais

V shy os inventariantes

VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios

VII shy quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe em razatildeo de seu cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A obrigaccedilatildeo prevista neste artigo natildeo abrange a prestaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razatildeo de cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Lei nordm 450264

Art 94 A fiscalizaccedilatildeo seraacute exercida socircbre tocircdas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do impocircsto de consumo inclusive socircbre as que gozarem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Paraacutegrafo uacutenico As pessoas a que se refere ecircste artigo exibiratildeo aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo e lhes franquearatildeo os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da noite se agrave noite estiverem funcionando

Art 95 Os agentes fiscalizadores que procederem a diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraratildeo aleacutem do auto de infraccedilatildeo que couber tecircrmos circunstanciados de iniacutecio e de conclusatildeo de cada uma delas nos quais consignaratildeo as datas inicial e final do periacuteodo fiscalizado a relaccedilatildeo dos livros e documentos comerciais e fiscais exibidos e tudo mais que seja de interecircsse para a fiscalizaccedilatildeo

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()

sect 2ordm Quando viacutetimas de embaraccedilo ou desacato no exerciacutecio de suas funccedilotildees ou quando seja necessaacuterio agrave efetivaccedilatildeo de medidas acauteladoras do interecircsse do fisco ainda que natildeo se configure fato definido em lei como crime ou contravenccedilatildeo os agentes fiscalizadores diretamente ou atraveacutes das reparticcedilotildees a que pertencerem poderatildeo requisitar o auxiacutelio da focircrccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Art 97 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agraves autoridades fiscalizadoras tocircdas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos produtos negoacutecios ou atividades de terceiros I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e semelhantes III shy as empresas transportadoras e os transportadores singulares IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais V shy os inventariantes VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios VII shy as reparticcedilotildees puacuteblicas e autaacuterquicas federais as entidades paraestatais e de economia mista VIII shy tocircdas as demais pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao impocircsto de consumo

Lei nordm 863093

Art 36 Compete ao Ministeacuterio da Fazenda por intermeacutedio das reparticcedilotildees aduaneiras

()

sect 2deg No exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees a autoridade aduaneira teraacute livre acesso a quaisquer dependecircncias do porto e agraves embarcaccedilotildees atracadas ou natildeo bem como aos locais onde se encontrem mercadorias procedentes do exterior ou a ele destinadas podendo quando julgar necessaacuterio requisitar papeacuteis livros e outros documentos inclusive quando necessaacuterio o apoio de forccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Lei nordm 943096

Art 34 Satildeo tambeacutem passiacuteveis de exame os documentos do sujeito passivo mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados encontrados no local da verificaccedilatildeo que tenham relaccedilatildeo direta ou indireta com a atividade por ele exercida

Retenccedilatildeo de Livros e Documentos

Art 35 Os livros e documentos poderatildeo ser examinados fora do estabelecimento do sujeito passivo desde que lavrado termo

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escrito de retenccedilatildeo pela autoridade fiscal em que se especifiquem a quantidade espeacutecie natureza e condiccedilotildees dos livros e documentos retidos

sect 1ordm Constituindo os livros ou documentos prova da praacutetica de iliacutecito penal ou tributaacuterio os originais retidos natildeo seratildeo devolvidos extraindoshyse coacutepia para entrega ao interessado

sect 2ordm Excetuado o disposto no paraacutegrafo anterior devem ser devolvidos os originais dos documentos retidos para exame mediante recibo

Lacraccedilatildeo de Arquivos

Art 36 A autoridade fiscal encarregada de diligecircncia ou fiscalizaccedilatildeo poderaacute promover a lacraccedilatildeo de moacuteveis caixas cofres ou depoacutesitos onde se encontram arquivos e documentos toda vez que ficar caracterizada a resistecircncia ou o embaraccedilo agrave fiscalizaccedilatildeo ou ainda quando as circunstacircncias ou a quantidade de documentos natildeo permitirem sua identificaccedilatildeo e conferecircncia no local ou no momento em que foram encontrados

Paraacutegrafo uacutenico O sujeito passivo e demais responsaacuteveis seratildeo previamente notificados para acompanharem o procedimento de rompimento do lacre e identificaccedilatildeo dos elementos de interesse da fiscalizaccedilatildeo

Guarda de Documentos

Art 37 Os comprovantes da escrituraccedilatildeo da pessoa juriacutedica relativos a fatos que repercutam em lanccedilamentos contaacutebeis de exerciacutecio futuros seratildeo conservados ateacute que se opere a decadecircncia do direito de a Fazenda Puacuteblica constituir os creacuteditos tributaacuterios relativos a esses exerciacutecios

Arquivos Magneacuteticos

Art 38 O sujeito passivo usuaacuterio de sistema de processamento de dados deveraacute manter documentaccedilatildeo teacutecnica completa e atualizada do sistema suficiente para possibilitar a sua auditoria facultada a manutenccedilatildeo em meio magneacutetico sem prejuiacutezo da sua emissatildeo graacutefica quando solicitada

Como se depreende das disposiccedilotildees legais acima transcritas a legislaccedilatildeo

tributaacuteria considera inaplicaacuteveis quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do

direito que deteacutem a Fiscalizaccedilatildeo Federal de examinar mercadorias livros arquivos

documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores

ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos Estabelece tambeacutem que mediante intimaccedilatildeo por escrito

todas as pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao Imposto

sobre Produtos Industrializados deveratildeo prestar por escrito as informaccedilotildees requeridas Ainda

que a fiscalizaccedilatildeo alcanccedila todas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que

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forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do imposto devendo

elas exibir aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e

comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados

necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo Ainda mais que as pessoas deveratildeo franquear agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal

os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da

noite se agrave noite estiverem funcionando e autoriza o Fisco a proceder ao exame inclusive de

documentos mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados

E que se diga natildeo estamos aqui nos referindo apenas ao poder outorgado por

lei agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal no exerciacutecio de suas funccedilotildees mas para aleacutem disso de um dever

legal sob pena de responsabilidade funcional da autoridade fiscal que vier a negligenciaacuteshylos

A toda evidecircncia a despeito do fato de que parte das provas colacionadas aos

autos tenham efetivamente sido obtidas com base em pesquisas e consultas aos sistemas da

Secretaria da Receita Federal sem qualquer viacutenculo com o que fora apreendido nas

dependecircncias dos contribuinte o fato eacute que todos os elementos de prova que instruem o

presente processo notadamente poderiam ser obtidos independentemente dos mandados de

busca e apreensatildeo que terminaram por dar ensejo agrave decretaccedilatildeo da nulidade de todo arcabouccedilo

probatoacuterio contido nos autos bastando para tanto que a Fiscalizaccedilatildeo Federal com apoio ou

natildeo de forccedila policial seguisse os procedimentos autorizados em Lei Significa dizer

seguisse os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo do Oacutergatildeo

Eacute possiacutevel que se indague ainda se mesmo admitidos todos os pressupostos

ateacute aqui declinados teria a Fiscalizaccedilatildeo Federal tomado a iniciativa de instaurar um

procedimento fiscal em face dos sujeitos passivos relacionados nos autos A resposta a essa

suposta indagaccedilatildeo a meu sentir eacute facilmente respondida agrave luz do disposto na Lei nordm 929696

que exige a comprovaccedilatildeo de indiacutecios de autoria e materialidade do delito sob investigaccedilatildeo para

concessatildeo da ordem judicial autorizando dentre outros a quebra do sigilo telefocircnico e

telemaacutetico

Ora a conclusatildeo natural e inevitaacutevel a que se chega eacute que as investigaccedilotildees

das operaccedilotildees empreendidas pelos agentes envolvidos nas praacuteticas iliacutecitas de que tratam os

autos jaacute estavam em curso antes que o Poder Judiciaacuterio tivesse autorizado as interceptaccedilotildees

telefocircnicas razatildeo a mais para que se reconheccedila que as provas obtidas no cumprimento dos

MBAs haveriam de ser alcanccediladas pela accedilatildeo da Fiscalizaccedilatildeo Federal no curso dos

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procedimentos fiscais autorizados em lei proacuteprios tiacutepicos e inerentes agraves atividades

desenvolvidas pelo Oacutergatildeo uma vez que atos iliacutecitos jaacute fossem de conhecimento do Fisco

Como base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal na parte em que admite as provas derivadas de provas iliacutecitas desde que fique

demonstrado que tais provas as derivadas poderiam ser obtidas por meios independentes

seguindoshyse os procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal

Por oacutebvio as interceptaccedilotildees telefocircnicas natildeo compreendidas dentro do periacuteodo

que estende de 25052005 a 23072005 (60 dias considerados legais) natildeo podem ser admitidas

como prova do iliacutecito tributaacuterio de que ora se cuida

Voto por dar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda

Nacional para que seja afastada a prejudicial de nulidade das provas colacionadas aos autos

por forccedila das disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal conforme fundamentaccedilatildeo expressa no voto

O processo deve retornar agrave instacircncia recorrida para exame das questotildees de

meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade

das provas

(assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

Fl 2462DF CARF MF

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

Fl 2463DF CARF MF

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

Fl 2464DF CARF MF

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

Fl 2465DF CARF MF

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

Fl 2467DF CARF MF

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

Fl 2469DF CARF MF

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

Fl 2470DF CARF MF

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

Fl 2472DF CARF MF

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 7: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Por forccedila da decisatildeo proferida pelo STJ o Juiz Federal Substituto Tiago do

Carmo Martins reconhecendo a higidez das provas colhidas durante o primeiro periacuteodo de

interceptaccedilatildeo telefocircnica encaminhou o processo ao Ministeacuterio Puacuteblico Federal para que na

qualidade de autor da denuacutencia se manifestasse acerca da instruccedilatildeo probatoacuteria do processo

criminal agrave luz da decisatildeo tomada no HC 142045PR O despacho teve o seguinte teor

Em relaccedilatildeo ao referencial temporal adotado por aquela Corte ante a leitura dos votos proferidos naquele julgamento tenho que o julgado limitou a utilizaccedilatildeo dessa teacutecnica investigativa ao prazo de 60 (sessenta) dias

Assim permanecem hiacutegidas as provas colhidas durante o primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes Os demais elementos de prova obtidos a partir dos dados colhidos nessa fase da investigaccedilatildeo tambeacutem permanecem hiacutegidos pois derivaram de prova obtida licitamente

De outra parte segundo os termos do julgado as interceptaccedilotildees telefocircnicas realizadas a partir da quarta prorrogaccedilatildeo autorizada encontramshyse maculadas pelo vicio insanaacutevel da ilicitude Satildeo portanto imprestaacuteveis para fins de utilizaccedilatildeo de prova no processo penal Correlatamente os demais elementos de prova obtidos a partir dos dados colhidos nessa fase da investigaccedilatildeo tambeacutem encontramshyse eivado de ilicitude pela aplicaccedilatildeo da teoria dos frutos da aacutervore envenenada agora expressamente adotado pelo CPP (art 157 sect1deg do CPP)

Confrontado com o Habeas Corpus concedido aos pacientes o Parquet

entendeu pela impossibilidade de separaccedilatildeo das provas colacionadas aos autos nos seguintes

termos

Sem as provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de busca e apreensatildeo sem as provas carreadas aos autos em cumprimento destes natildeo seria possiacutevel a apreensatildeo para dizer o miacutenimo de centenas de milhares de notas fiscaiscomputadores contendo os verdadeiros preccedilos das mercadorias sem a anaacutelise destes pela Receita Federal em conjunto com os inuacutemeros eshymails interceptados os laudos que acompanham a denuacutencia natildeo teriam sido produzidos Insistindo a pretendida separaccedilatildeo eacute impossiacutevel

Das consideraccedilotildees ateacute aqui postas eacute possiacutevel afirmar que (i) nos autos do

Habeas Corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiccedila nenhuma decisatildeo foi tomada

acerca dos efeitos sobre o acervo probatoacuterio no qual lastreavashyse a acusaccedilatildeo (ii) o Juiacutez

originaacuterio considerando a higidez de parte das provas encaminhou o processo ao Ministeacuterio

Puacuteblico Federal autor da denuacutencia crime para que nessa qualidade se posicionasse em relaccedilatildeo

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agraves consequecircncias do HC no processo criminal em curso (iii) o Ministeacuterio Puacuteblico Federal

entendeu que as provas anuladas e as provas derivadas seriam indissociaacuteveis uma vez que as

uacuteltimas fossem decorrecircncia dos mandados de busca e apreensatildeo e estes das escutas telefocircnicas

Salvo melhor juiacutezo pareceshynos que a decisatildeo proferida no processo criminal

seja dotada de certas particularidades que necessariamente deveratildeo ser levadas em conta na

decisatildeo que seraacute tomada neste processo administrativo fiscal

Em primeiro lugar eacute incontroverso que apenas uma parcela das provas

obtidas nas accedilotildees impetradas pela Receita Federal em conjunto com a Poliacutecia Federal foram

consideradas obtidas por meios ilegais Portanto o caso natildeo eacute de pressuposta ilegalidade de

todo o acervo probatoacuterio que instruiu o processo judicial e que instrui o vertente processo

como as vezes parece que se pretende fazer crer Em lugar disso tratashyse apenas da

declaraccedilatildeo de nulidade das escutas que excederam os sessenta dias inicialmente autorizados e

como consequecircncia da possiacutevel nulidade das provas que segundo se entenda estejam

contaminadas pela invalidade das intercepccedilotildees ilegais Em segundo como tambeacutem parece ficar

claro do teor das decisotildees proferidas em juiacutezo na oacutetica do Poder Judiciaacuterio parte das provas

teriam restado incoacutelumes desde que fosse apontada a linha divisoacuteria entre estas e aquelas

Contudo segundo entendimento do Ministeacuterio Puacuteblico Federal autor da denuacutencia todas as

provas estavam de alguma forma vinculadas as escutas ilegais jaacute que com base nelas

obtiveramshyse os necessaacuterios mandados e busca e apreensatildeo autorizaccedilatildeo que teria permitido agraves

autoridades fazendaacuterias e policiais ter acesso aos diversos documentos que terminaram

constituindo o acervo probatoacuterio dos autos

Eacute precisamente nesse ponto que algumas relevantes ponderaccedilotildees precisam ser

feitas

Como se pretenderaacute demonstrar com a necessaacuteria objetividade e clareza o

juiacutezo que se formou no processo criminal em relaccedilatildeo agrave validade das provas ditas derivadas das

interceptaccedilotildees iliacutecitas data maxima venia natildeo levou em consideraccedilatildeo certas prerrogativas que

deteacutem os servidores da Secretaria da Receita Federal no exerciacutecio das funccedilotildees que lhe

competem

A esse respeito imperioso registrar que o entendimento manifesto pelo

Ministeacuterio Puacuteblico Federal no processo que tramitava na esfera judicial natildeo vincula a

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administraccedilatildeo tributaacuteria tampouco se aplica automaticamente ao processo administrativo

fiscal Corrobora esse entendimento a manifestaccedilatildeo do proacuteprio Poder Judiciaacuterio nos autos do

Mandado de Seguranccedila nordm 0002843shy9520144040000PR impetrado contra o Juiacutezo da 14a

Vara Federal de Curitiba Tribunal Regional Federal da 4a Regiatildeo acerca dos efeitos da

anulaccedilatildeo das provas obtidas no acircmbito da mesma Operaccedilatildeo Diluacutevio sobre os procedimentos

administrativos disciplinares instaurados com base no compartilhamento dessas mesmas

provas Assim decidiu o Tribunal Regional da 4ordf Regiatildeo a respeito

MANDADO DE SEGURANCcedilA TERCEIRO INTERESSADO PROVA EMPRESTADA NULIDADE PARCIAL DECLARADA PELO STJ EFEITOS NA ESFERA ADMINISTRATIVA MATEacuteRIA ESTRANHA AO JUIacuteZO CRIMINAL COMPETEcircNCIA DA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA

1 Natildeo se presta o mandado de seguranccedila para determinar ao juiacutezo a quo que acerca de pedido formulado por terceiro interessado decida em ou outro sentido

2 Desborda da competecircncia do juiacutezo criminal e ateacute mesmo da esfera penal decidir a respeito de nulidades pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada em procedimentos administrativos disciplinares

3 Descabido exigirshyse que o juiacutezo penal diante de julgamento proferido pelo Superior Tribunal de Justiccedila que anula apenas parcialmente as interceptaccedilotildees telemaacuteticas profira decisatildeo complementar que esclareccedila os efeitos da anulaccedilatildeo

4 Compete agrave autoridade administrativa responsaacutevel pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada certificarshyse acerca dos efeitos de eventual anulaccedilatildeo sobre os procedimentos disciplinares cabendo ao interessado a interposiccedilatildeo de recurso administrativo e impugnaccedilatildeo na via judicial apropriada

Sentenccedila denegada

Feitas tais consideraccedilotildees preambulares penso que devamos a partir daqui

enfrentar a questatildeo nevraacutelgica posta nos autos que diz respeito agrave mitigaccedilatildeo no particular da

Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada em face agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e agrave

Teoria da Fonte Independente para fins de validaccedilatildeo das provas carreadas aos autos pela

Fiscalizaccedilatildeo Federal

Sem adentrar ao relato histoacuterico que descreve a origem e a construccedilatildeo teoacuterica

que abriu espaccedilo agrave adoccedilatildeo das citadas Teorias no ordenamento juriacutedico paacutetrio (ateacute mesmo para

que natildeo se transbordem os limites proacuteprios do PAF) restrinjoshyme agrave anaacutelise das disposiccedilotildees

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legais expressamente contidas no Coacutedigo do Processo Penal apoacutes modificaccedilotildees introduzidas

pela Lei 116802008 a seguir reproduzido

Art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas constitucionais ou legais (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11690 de 2008)

sect 1ordm Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

sect 2ordm Considerashyse fonte independente aquela que por si soacute seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

A parte inicial do paraacutegrafo 1ordm acima expressa em disposiccedilatildeo literal de Lei

o que se costuma designar por Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada Logo a seguir ainda

no teor das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo 1ordm introduzshyse a hipoacutetese contemplada pela

Teoria da Fonte Independente que em combinaccedilatildeo com o disposto no paraacutegrafo segundo

remete agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel

Interessa sublinhar neste ponto que como se depreende da leitura do

paraacutegrafo anterior o que se discute no presente processo em verdade natildeo diz respeito agrave

aplicaccedilatildeo de diferentes teorias juriacutedicas ou orientaccedilotildees doutrinaacuterias agraves circunstacircncias faacuteticas

descritas nos autos mas agrave interpretaccedilatildeo de disposiccedilatildeo literal de lei contida no Coacutedigo do

Processo Penal com o fito de decidir se a norma geral e abstrata que estabelece ressalvas agrave

ilicitude das provas derivadas de provas iliacutecitas deve ser considerada e aplicada ao caso

concreto

Temshyse pois que combinadas as disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm

do art 157 do Coacutedigo do Processo Penal as provas derivadas das provas iliacutecitas poderatildeo ser

aceitas no processo quando puderem ser obtidas por uma fonte independente das provas

consideradas iliacutecitas em circunstacircncias tais que seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe

proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal sejam capazes de conduzir ao fato objeto da

prova

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Como jaacute destacado linhas acima a razatildeo maior para que o Ministeacuterio Puacuteblico

Federal tenha considerado as provas derivadas indissociaacuteveis dos procedimentos preliminares

adotados pelas autoridades policiais e fazendaacuterias decorre da circunstacircncia de que Sem as

provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de

busca e apreensatildeo () Pois aiacute reside a questatildeo nodal do processo Como a seguir restaraacute

sobejamente demonstrado os AuditoresshyFiscais da Receita Federal no acircmbito de suas

prerrogativas legais prescindem de ordem judicial para executar o procedimento de busca e

apreensatildeo nas dependecircncias do contribuinte De fato eacute essa a conclusatildeo insofismaacutevel a que se

chega com base na simples leitura da legislaccedilatildeo que regulamenta o exerciacutecio do cargo

Observeshyse (todos grifos acrescidos)

Coacutedigo Tributaacuterio Nacional shy Lei 5172 de 25101966

TIacuteTULO IV

Administraccedilatildeo Tributaacuteria

CAPIacuteTULO I

Fiscalizaccedilatildeo

Art 194 A legislaccedilatildeo tributaacuteria observado o disposto nesta Lei regularaacute em caraacuteter geral ou especificamente em funccedilatildeo da natureza do tributo de que se tratar a competecircncia e os poderes das autoridades administrativas em mateacuteria de fiscalizaccedilatildeo da sua aplicaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A legislaccedilatildeo a que se refere este artigo aplicashyse agraves pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo inclusive agraves que gozem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Art 195 Para os efeitos da legislaccedilatildeo tributaacuteria natildeo tecircm aplicaccedilatildeo quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias livros arquivos documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos

Paraacutegrafo uacutenico Os livros obrigatoacuterios de escrituraccedilatildeo comercial e fiscal e os comprovantes dos lanccedilamentos neles efetuados seratildeo conservados ateacute que ocorra a prescriccedilatildeo dos creacuteditos tributaacuterios decorrentes das operaccedilotildees a que se refiram

Art 196 A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraraacute os termos necessaacuterios para que se documente o iniacutecio do procedimento na forma da legislaccedilatildeo aplicaacutevel que fixaraacute prazo maacuteximo para a conclusatildeo daquelas

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Paraacutegrafo uacutenico Os termos a que se refere este artigo seratildeo lavrados sempre que possiacutevel em um dos livros fiscais exibidos quando lavrados em separado deles se entregaraacute agrave pessoa sujeita agrave fiscalizaccedilatildeo coacutepia autenticada pela autoridade a que se refere este artigo

Art 197 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agrave autoridade administrativa todas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos bens negoacutecios ou atividades de terceiros

I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio

II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e demais instituiccedilotildees financeiras

III shy as empresas de administraccedilatildeo de bens

IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais

V shy os inventariantes

VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios

VII shy quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe em razatildeo de seu cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A obrigaccedilatildeo prevista neste artigo natildeo abrange a prestaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razatildeo de cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Lei nordm 450264

Art 94 A fiscalizaccedilatildeo seraacute exercida socircbre tocircdas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do impocircsto de consumo inclusive socircbre as que gozarem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Paraacutegrafo uacutenico As pessoas a que se refere ecircste artigo exibiratildeo aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo e lhes franquearatildeo os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da noite se agrave noite estiverem funcionando

Art 95 Os agentes fiscalizadores que procederem a diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraratildeo aleacutem do auto de infraccedilatildeo que couber tecircrmos circunstanciados de iniacutecio e de conclusatildeo de cada uma delas nos quais consignaratildeo as datas inicial e final do periacuteodo fiscalizado a relaccedilatildeo dos livros e documentos comerciais e fiscais exibidos e tudo mais que seja de interecircsse para a fiscalizaccedilatildeo

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()

sect 2ordm Quando viacutetimas de embaraccedilo ou desacato no exerciacutecio de suas funccedilotildees ou quando seja necessaacuterio agrave efetivaccedilatildeo de medidas acauteladoras do interecircsse do fisco ainda que natildeo se configure fato definido em lei como crime ou contravenccedilatildeo os agentes fiscalizadores diretamente ou atraveacutes das reparticcedilotildees a que pertencerem poderatildeo requisitar o auxiacutelio da focircrccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Art 97 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agraves autoridades fiscalizadoras tocircdas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos produtos negoacutecios ou atividades de terceiros I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e semelhantes III shy as empresas transportadoras e os transportadores singulares IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais V shy os inventariantes VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios VII shy as reparticcedilotildees puacuteblicas e autaacuterquicas federais as entidades paraestatais e de economia mista VIII shy tocircdas as demais pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao impocircsto de consumo

Lei nordm 863093

Art 36 Compete ao Ministeacuterio da Fazenda por intermeacutedio das reparticcedilotildees aduaneiras

()

sect 2deg No exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees a autoridade aduaneira teraacute livre acesso a quaisquer dependecircncias do porto e agraves embarcaccedilotildees atracadas ou natildeo bem como aos locais onde se encontrem mercadorias procedentes do exterior ou a ele destinadas podendo quando julgar necessaacuterio requisitar papeacuteis livros e outros documentos inclusive quando necessaacuterio o apoio de forccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Lei nordm 943096

Art 34 Satildeo tambeacutem passiacuteveis de exame os documentos do sujeito passivo mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados encontrados no local da verificaccedilatildeo que tenham relaccedilatildeo direta ou indireta com a atividade por ele exercida

Retenccedilatildeo de Livros e Documentos

Art 35 Os livros e documentos poderatildeo ser examinados fora do estabelecimento do sujeito passivo desde que lavrado termo

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escrito de retenccedilatildeo pela autoridade fiscal em que se especifiquem a quantidade espeacutecie natureza e condiccedilotildees dos livros e documentos retidos

sect 1ordm Constituindo os livros ou documentos prova da praacutetica de iliacutecito penal ou tributaacuterio os originais retidos natildeo seratildeo devolvidos extraindoshyse coacutepia para entrega ao interessado

sect 2ordm Excetuado o disposto no paraacutegrafo anterior devem ser devolvidos os originais dos documentos retidos para exame mediante recibo

Lacraccedilatildeo de Arquivos

Art 36 A autoridade fiscal encarregada de diligecircncia ou fiscalizaccedilatildeo poderaacute promover a lacraccedilatildeo de moacuteveis caixas cofres ou depoacutesitos onde se encontram arquivos e documentos toda vez que ficar caracterizada a resistecircncia ou o embaraccedilo agrave fiscalizaccedilatildeo ou ainda quando as circunstacircncias ou a quantidade de documentos natildeo permitirem sua identificaccedilatildeo e conferecircncia no local ou no momento em que foram encontrados

Paraacutegrafo uacutenico O sujeito passivo e demais responsaacuteveis seratildeo previamente notificados para acompanharem o procedimento de rompimento do lacre e identificaccedilatildeo dos elementos de interesse da fiscalizaccedilatildeo

Guarda de Documentos

Art 37 Os comprovantes da escrituraccedilatildeo da pessoa juriacutedica relativos a fatos que repercutam em lanccedilamentos contaacutebeis de exerciacutecio futuros seratildeo conservados ateacute que se opere a decadecircncia do direito de a Fazenda Puacuteblica constituir os creacuteditos tributaacuterios relativos a esses exerciacutecios

Arquivos Magneacuteticos

Art 38 O sujeito passivo usuaacuterio de sistema de processamento de dados deveraacute manter documentaccedilatildeo teacutecnica completa e atualizada do sistema suficiente para possibilitar a sua auditoria facultada a manutenccedilatildeo em meio magneacutetico sem prejuiacutezo da sua emissatildeo graacutefica quando solicitada

Como se depreende das disposiccedilotildees legais acima transcritas a legislaccedilatildeo

tributaacuteria considera inaplicaacuteveis quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do

direito que deteacutem a Fiscalizaccedilatildeo Federal de examinar mercadorias livros arquivos

documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores

ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos Estabelece tambeacutem que mediante intimaccedilatildeo por escrito

todas as pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao Imposto

sobre Produtos Industrializados deveratildeo prestar por escrito as informaccedilotildees requeridas Ainda

que a fiscalizaccedilatildeo alcanccedila todas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que

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forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do imposto devendo

elas exibir aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e

comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados

necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo Ainda mais que as pessoas deveratildeo franquear agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal

os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da

noite se agrave noite estiverem funcionando e autoriza o Fisco a proceder ao exame inclusive de

documentos mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados

E que se diga natildeo estamos aqui nos referindo apenas ao poder outorgado por

lei agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal no exerciacutecio de suas funccedilotildees mas para aleacutem disso de um dever

legal sob pena de responsabilidade funcional da autoridade fiscal que vier a negligenciaacuteshylos

A toda evidecircncia a despeito do fato de que parte das provas colacionadas aos

autos tenham efetivamente sido obtidas com base em pesquisas e consultas aos sistemas da

Secretaria da Receita Federal sem qualquer viacutenculo com o que fora apreendido nas

dependecircncias dos contribuinte o fato eacute que todos os elementos de prova que instruem o

presente processo notadamente poderiam ser obtidos independentemente dos mandados de

busca e apreensatildeo que terminaram por dar ensejo agrave decretaccedilatildeo da nulidade de todo arcabouccedilo

probatoacuterio contido nos autos bastando para tanto que a Fiscalizaccedilatildeo Federal com apoio ou

natildeo de forccedila policial seguisse os procedimentos autorizados em Lei Significa dizer

seguisse os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo do Oacutergatildeo

Eacute possiacutevel que se indague ainda se mesmo admitidos todos os pressupostos

ateacute aqui declinados teria a Fiscalizaccedilatildeo Federal tomado a iniciativa de instaurar um

procedimento fiscal em face dos sujeitos passivos relacionados nos autos A resposta a essa

suposta indagaccedilatildeo a meu sentir eacute facilmente respondida agrave luz do disposto na Lei nordm 929696

que exige a comprovaccedilatildeo de indiacutecios de autoria e materialidade do delito sob investigaccedilatildeo para

concessatildeo da ordem judicial autorizando dentre outros a quebra do sigilo telefocircnico e

telemaacutetico

Ora a conclusatildeo natural e inevitaacutevel a que se chega eacute que as investigaccedilotildees

das operaccedilotildees empreendidas pelos agentes envolvidos nas praacuteticas iliacutecitas de que tratam os

autos jaacute estavam em curso antes que o Poder Judiciaacuterio tivesse autorizado as interceptaccedilotildees

telefocircnicas razatildeo a mais para que se reconheccedila que as provas obtidas no cumprimento dos

MBAs haveriam de ser alcanccediladas pela accedilatildeo da Fiscalizaccedilatildeo Federal no curso dos

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procedimentos fiscais autorizados em lei proacuteprios tiacutepicos e inerentes agraves atividades

desenvolvidas pelo Oacutergatildeo uma vez que atos iliacutecitos jaacute fossem de conhecimento do Fisco

Como base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal na parte em que admite as provas derivadas de provas iliacutecitas desde que fique

demonstrado que tais provas as derivadas poderiam ser obtidas por meios independentes

seguindoshyse os procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal

Por oacutebvio as interceptaccedilotildees telefocircnicas natildeo compreendidas dentro do periacuteodo

que estende de 25052005 a 23072005 (60 dias considerados legais) natildeo podem ser admitidas

como prova do iliacutecito tributaacuterio de que ora se cuida

Voto por dar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda

Nacional para que seja afastada a prejudicial de nulidade das provas colacionadas aos autos

por forccedila das disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal conforme fundamentaccedilatildeo expressa no voto

O processo deve retornar agrave instacircncia recorrida para exame das questotildees de

meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade

das provas

(assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

Fl 2467DF CARF MF

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

Fl 2469DF CARF MF

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

Fl 2470DF CARF MF

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 8: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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agraves consequecircncias do HC no processo criminal em curso (iii) o Ministeacuterio Puacuteblico Federal

entendeu que as provas anuladas e as provas derivadas seriam indissociaacuteveis uma vez que as

uacuteltimas fossem decorrecircncia dos mandados de busca e apreensatildeo e estes das escutas telefocircnicas

Salvo melhor juiacutezo pareceshynos que a decisatildeo proferida no processo criminal

seja dotada de certas particularidades que necessariamente deveratildeo ser levadas em conta na

decisatildeo que seraacute tomada neste processo administrativo fiscal

Em primeiro lugar eacute incontroverso que apenas uma parcela das provas

obtidas nas accedilotildees impetradas pela Receita Federal em conjunto com a Poliacutecia Federal foram

consideradas obtidas por meios ilegais Portanto o caso natildeo eacute de pressuposta ilegalidade de

todo o acervo probatoacuterio que instruiu o processo judicial e que instrui o vertente processo

como as vezes parece que se pretende fazer crer Em lugar disso tratashyse apenas da

declaraccedilatildeo de nulidade das escutas que excederam os sessenta dias inicialmente autorizados e

como consequecircncia da possiacutevel nulidade das provas que segundo se entenda estejam

contaminadas pela invalidade das intercepccedilotildees ilegais Em segundo como tambeacutem parece ficar

claro do teor das decisotildees proferidas em juiacutezo na oacutetica do Poder Judiciaacuterio parte das provas

teriam restado incoacutelumes desde que fosse apontada a linha divisoacuteria entre estas e aquelas

Contudo segundo entendimento do Ministeacuterio Puacuteblico Federal autor da denuacutencia todas as

provas estavam de alguma forma vinculadas as escutas ilegais jaacute que com base nelas

obtiveramshyse os necessaacuterios mandados e busca e apreensatildeo autorizaccedilatildeo que teria permitido agraves

autoridades fazendaacuterias e policiais ter acesso aos diversos documentos que terminaram

constituindo o acervo probatoacuterio dos autos

Eacute precisamente nesse ponto que algumas relevantes ponderaccedilotildees precisam ser

feitas

Como se pretenderaacute demonstrar com a necessaacuteria objetividade e clareza o

juiacutezo que se formou no processo criminal em relaccedilatildeo agrave validade das provas ditas derivadas das

interceptaccedilotildees iliacutecitas data maxima venia natildeo levou em consideraccedilatildeo certas prerrogativas que

deteacutem os servidores da Secretaria da Receita Federal no exerciacutecio das funccedilotildees que lhe

competem

A esse respeito imperioso registrar que o entendimento manifesto pelo

Ministeacuterio Puacuteblico Federal no processo que tramitava na esfera judicial natildeo vincula a

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administraccedilatildeo tributaacuteria tampouco se aplica automaticamente ao processo administrativo

fiscal Corrobora esse entendimento a manifestaccedilatildeo do proacuteprio Poder Judiciaacuterio nos autos do

Mandado de Seguranccedila nordm 0002843shy9520144040000PR impetrado contra o Juiacutezo da 14a

Vara Federal de Curitiba Tribunal Regional Federal da 4a Regiatildeo acerca dos efeitos da

anulaccedilatildeo das provas obtidas no acircmbito da mesma Operaccedilatildeo Diluacutevio sobre os procedimentos

administrativos disciplinares instaurados com base no compartilhamento dessas mesmas

provas Assim decidiu o Tribunal Regional da 4ordf Regiatildeo a respeito

MANDADO DE SEGURANCcedilA TERCEIRO INTERESSADO PROVA EMPRESTADA NULIDADE PARCIAL DECLARADA PELO STJ EFEITOS NA ESFERA ADMINISTRATIVA MATEacuteRIA ESTRANHA AO JUIacuteZO CRIMINAL COMPETEcircNCIA DA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA

1 Natildeo se presta o mandado de seguranccedila para determinar ao juiacutezo a quo que acerca de pedido formulado por terceiro interessado decida em ou outro sentido

2 Desborda da competecircncia do juiacutezo criminal e ateacute mesmo da esfera penal decidir a respeito de nulidades pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada em procedimentos administrativos disciplinares

3 Descabido exigirshyse que o juiacutezo penal diante de julgamento proferido pelo Superior Tribunal de Justiccedila que anula apenas parcialmente as interceptaccedilotildees telemaacuteticas profira decisatildeo complementar que esclareccedila os efeitos da anulaccedilatildeo

4 Compete agrave autoridade administrativa responsaacutevel pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada certificarshyse acerca dos efeitos de eventual anulaccedilatildeo sobre os procedimentos disciplinares cabendo ao interessado a interposiccedilatildeo de recurso administrativo e impugnaccedilatildeo na via judicial apropriada

Sentenccedila denegada

Feitas tais consideraccedilotildees preambulares penso que devamos a partir daqui

enfrentar a questatildeo nevraacutelgica posta nos autos que diz respeito agrave mitigaccedilatildeo no particular da

Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada em face agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e agrave

Teoria da Fonte Independente para fins de validaccedilatildeo das provas carreadas aos autos pela

Fiscalizaccedilatildeo Federal

Sem adentrar ao relato histoacuterico que descreve a origem e a construccedilatildeo teoacuterica

que abriu espaccedilo agrave adoccedilatildeo das citadas Teorias no ordenamento juriacutedico paacutetrio (ateacute mesmo para

que natildeo se transbordem os limites proacuteprios do PAF) restrinjoshyme agrave anaacutelise das disposiccedilotildees

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legais expressamente contidas no Coacutedigo do Processo Penal apoacutes modificaccedilotildees introduzidas

pela Lei 116802008 a seguir reproduzido

Art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas constitucionais ou legais (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11690 de 2008)

sect 1ordm Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

sect 2ordm Considerashyse fonte independente aquela que por si soacute seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

A parte inicial do paraacutegrafo 1ordm acima expressa em disposiccedilatildeo literal de Lei

o que se costuma designar por Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada Logo a seguir ainda

no teor das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo 1ordm introduzshyse a hipoacutetese contemplada pela

Teoria da Fonte Independente que em combinaccedilatildeo com o disposto no paraacutegrafo segundo

remete agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel

Interessa sublinhar neste ponto que como se depreende da leitura do

paraacutegrafo anterior o que se discute no presente processo em verdade natildeo diz respeito agrave

aplicaccedilatildeo de diferentes teorias juriacutedicas ou orientaccedilotildees doutrinaacuterias agraves circunstacircncias faacuteticas

descritas nos autos mas agrave interpretaccedilatildeo de disposiccedilatildeo literal de lei contida no Coacutedigo do

Processo Penal com o fito de decidir se a norma geral e abstrata que estabelece ressalvas agrave

ilicitude das provas derivadas de provas iliacutecitas deve ser considerada e aplicada ao caso

concreto

Temshyse pois que combinadas as disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm

do art 157 do Coacutedigo do Processo Penal as provas derivadas das provas iliacutecitas poderatildeo ser

aceitas no processo quando puderem ser obtidas por uma fonte independente das provas

consideradas iliacutecitas em circunstacircncias tais que seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe

proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal sejam capazes de conduzir ao fato objeto da

prova

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Como jaacute destacado linhas acima a razatildeo maior para que o Ministeacuterio Puacuteblico

Federal tenha considerado as provas derivadas indissociaacuteveis dos procedimentos preliminares

adotados pelas autoridades policiais e fazendaacuterias decorre da circunstacircncia de que Sem as

provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de

busca e apreensatildeo () Pois aiacute reside a questatildeo nodal do processo Como a seguir restaraacute

sobejamente demonstrado os AuditoresshyFiscais da Receita Federal no acircmbito de suas

prerrogativas legais prescindem de ordem judicial para executar o procedimento de busca e

apreensatildeo nas dependecircncias do contribuinte De fato eacute essa a conclusatildeo insofismaacutevel a que se

chega com base na simples leitura da legislaccedilatildeo que regulamenta o exerciacutecio do cargo

Observeshyse (todos grifos acrescidos)

Coacutedigo Tributaacuterio Nacional shy Lei 5172 de 25101966

TIacuteTULO IV

Administraccedilatildeo Tributaacuteria

CAPIacuteTULO I

Fiscalizaccedilatildeo

Art 194 A legislaccedilatildeo tributaacuteria observado o disposto nesta Lei regularaacute em caraacuteter geral ou especificamente em funccedilatildeo da natureza do tributo de que se tratar a competecircncia e os poderes das autoridades administrativas em mateacuteria de fiscalizaccedilatildeo da sua aplicaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A legislaccedilatildeo a que se refere este artigo aplicashyse agraves pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo inclusive agraves que gozem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Art 195 Para os efeitos da legislaccedilatildeo tributaacuteria natildeo tecircm aplicaccedilatildeo quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias livros arquivos documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos

Paraacutegrafo uacutenico Os livros obrigatoacuterios de escrituraccedilatildeo comercial e fiscal e os comprovantes dos lanccedilamentos neles efetuados seratildeo conservados ateacute que ocorra a prescriccedilatildeo dos creacuteditos tributaacuterios decorrentes das operaccedilotildees a que se refiram

Art 196 A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraraacute os termos necessaacuterios para que se documente o iniacutecio do procedimento na forma da legislaccedilatildeo aplicaacutevel que fixaraacute prazo maacuteximo para a conclusatildeo daquelas

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Paraacutegrafo uacutenico Os termos a que se refere este artigo seratildeo lavrados sempre que possiacutevel em um dos livros fiscais exibidos quando lavrados em separado deles se entregaraacute agrave pessoa sujeita agrave fiscalizaccedilatildeo coacutepia autenticada pela autoridade a que se refere este artigo

Art 197 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agrave autoridade administrativa todas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos bens negoacutecios ou atividades de terceiros

I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio

II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e demais instituiccedilotildees financeiras

III shy as empresas de administraccedilatildeo de bens

IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais

V shy os inventariantes

VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios

VII shy quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe em razatildeo de seu cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A obrigaccedilatildeo prevista neste artigo natildeo abrange a prestaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razatildeo de cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Lei nordm 450264

Art 94 A fiscalizaccedilatildeo seraacute exercida socircbre tocircdas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do impocircsto de consumo inclusive socircbre as que gozarem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Paraacutegrafo uacutenico As pessoas a que se refere ecircste artigo exibiratildeo aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo e lhes franquearatildeo os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da noite se agrave noite estiverem funcionando

Art 95 Os agentes fiscalizadores que procederem a diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraratildeo aleacutem do auto de infraccedilatildeo que couber tecircrmos circunstanciados de iniacutecio e de conclusatildeo de cada uma delas nos quais consignaratildeo as datas inicial e final do periacuteodo fiscalizado a relaccedilatildeo dos livros e documentos comerciais e fiscais exibidos e tudo mais que seja de interecircsse para a fiscalizaccedilatildeo

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()

sect 2ordm Quando viacutetimas de embaraccedilo ou desacato no exerciacutecio de suas funccedilotildees ou quando seja necessaacuterio agrave efetivaccedilatildeo de medidas acauteladoras do interecircsse do fisco ainda que natildeo se configure fato definido em lei como crime ou contravenccedilatildeo os agentes fiscalizadores diretamente ou atraveacutes das reparticcedilotildees a que pertencerem poderatildeo requisitar o auxiacutelio da focircrccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Art 97 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agraves autoridades fiscalizadoras tocircdas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos produtos negoacutecios ou atividades de terceiros I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e semelhantes III shy as empresas transportadoras e os transportadores singulares IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais V shy os inventariantes VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios VII shy as reparticcedilotildees puacuteblicas e autaacuterquicas federais as entidades paraestatais e de economia mista VIII shy tocircdas as demais pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao impocircsto de consumo

Lei nordm 863093

Art 36 Compete ao Ministeacuterio da Fazenda por intermeacutedio das reparticcedilotildees aduaneiras

()

sect 2deg No exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees a autoridade aduaneira teraacute livre acesso a quaisquer dependecircncias do porto e agraves embarcaccedilotildees atracadas ou natildeo bem como aos locais onde se encontrem mercadorias procedentes do exterior ou a ele destinadas podendo quando julgar necessaacuterio requisitar papeacuteis livros e outros documentos inclusive quando necessaacuterio o apoio de forccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Lei nordm 943096

Art 34 Satildeo tambeacutem passiacuteveis de exame os documentos do sujeito passivo mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados encontrados no local da verificaccedilatildeo que tenham relaccedilatildeo direta ou indireta com a atividade por ele exercida

Retenccedilatildeo de Livros e Documentos

Art 35 Os livros e documentos poderatildeo ser examinados fora do estabelecimento do sujeito passivo desde que lavrado termo

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escrito de retenccedilatildeo pela autoridade fiscal em que se especifiquem a quantidade espeacutecie natureza e condiccedilotildees dos livros e documentos retidos

sect 1ordm Constituindo os livros ou documentos prova da praacutetica de iliacutecito penal ou tributaacuterio os originais retidos natildeo seratildeo devolvidos extraindoshyse coacutepia para entrega ao interessado

sect 2ordm Excetuado o disposto no paraacutegrafo anterior devem ser devolvidos os originais dos documentos retidos para exame mediante recibo

Lacraccedilatildeo de Arquivos

Art 36 A autoridade fiscal encarregada de diligecircncia ou fiscalizaccedilatildeo poderaacute promover a lacraccedilatildeo de moacuteveis caixas cofres ou depoacutesitos onde se encontram arquivos e documentos toda vez que ficar caracterizada a resistecircncia ou o embaraccedilo agrave fiscalizaccedilatildeo ou ainda quando as circunstacircncias ou a quantidade de documentos natildeo permitirem sua identificaccedilatildeo e conferecircncia no local ou no momento em que foram encontrados

Paraacutegrafo uacutenico O sujeito passivo e demais responsaacuteveis seratildeo previamente notificados para acompanharem o procedimento de rompimento do lacre e identificaccedilatildeo dos elementos de interesse da fiscalizaccedilatildeo

Guarda de Documentos

Art 37 Os comprovantes da escrituraccedilatildeo da pessoa juriacutedica relativos a fatos que repercutam em lanccedilamentos contaacutebeis de exerciacutecio futuros seratildeo conservados ateacute que se opere a decadecircncia do direito de a Fazenda Puacuteblica constituir os creacuteditos tributaacuterios relativos a esses exerciacutecios

Arquivos Magneacuteticos

Art 38 O sujeito passivo usuaacuterio de sistema de processamento de dados deveraacute manter documentaccedilatildeo teacutecnica completa e atualizada do sistema suficiente para possibilitar a sua auditoria facultada a manutenccedilatildeo em meio magneacutetico sem prejuiacutezo da sua emissatildeo graacutefica quando solicitada

Como se depreende das disposiccedilotildees legais acima transcritas a legislaccedilatildeo

tributaacuteria considera inaplicaacuteveis quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do

direito que deteacutem a Fiscalizaccedilatildeo Federal de examinar mercadorias livros arquivos

documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores

ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos Estabelece tambeacutem que mediante intimaccedilatildeo por escrito

todas as pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao Imposto

sobre Produtos Industrializados deveratildeo prestar por escrito as informaccedilotildees requeridas Ainda

que a fiscalizaccedilatildeo alcanccedila todas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que

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forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do imposto devendo

elas exibir aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e

comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados

necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo Ainda mais que as pessoas deveratildeo franquear agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal

os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da

noite se agrave noite estiverem funcionando e autoriza o Fisco a proceder ao exame inclusive de

documentos mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados

E que se diga natildeo estamos aqui nos referindo apenas ao poder outorgado por

lei agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal no exerciacutecio de suas funccedilotildees mas para aleacutem disso de um dever

legal sob pena de responsabilidade funcional da autoridade fiscal que vier a negligenciaacuteshylos

A toda evidecircncia a despeito do fato de que parte das provas colacionadas aos

autos tenham efetivamente sido obtidas com base em pesquisas e consultas aos sistemas da

Secretaria da Receita Federal sem qualquer viacutenculo com o que fora apreendido nas

dependecircncias dos contribuinte o fato eacute que todos os elementos de prova que instruem o

presente processo notadamente poderiam ser obtidos independentemente dos mandados de

busca e apreensatildeo que terminaram por dar ensejo agrave decretaccedilatildeo da nulidade de todo arcabouccedilo

probatoacuterio contido nos autos bastando para tanto que a Fiscalizaccedilatildeo Federal com apoio ou

natildeo de forccedila policial seguisse os procedimentos autorizados em Lei Significa dizer

seguisse os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo do Oacutergatildeo

Eacute possiacutevel que se indague ainda se mesmo admitidos todos os pressupostos

ateacute aqui declinados teria a Fiscalizaccedilatildeo Federal tomado a iniciativa de instaurar um

procedimento fiscal em face dos sujeitos passivos relacionados nos autos A resposta a essa

suposta indagaccedilatildeo a meu sentir eacute facilmente respondida agrave luz do disposto na Lei nordm 929696

que exige a comprovaccedilatildeo de indiacutecios de autoria e materialidade do delito sob investigaccedilatildeo para

concessatildeo da ordem judicial autorizando dentre outros a quebra do sigilo telefocircnico e

telemaacutetico

Ora a conclusatildeo natural e inevitaacutevel a que se chega eacute que as investigaccedilotildees

das operaccedilotildees empreendidas pelos agentes envolvidos nas praacuteticas iliacutecitas de que tratam os

autos jaacute estavam em curso antes que o Poder Judiciaacuterio tivesse autorizado as interceptaccedilotildees

telefocircnicas razatildeo a mais para que se reconheccedila que as provas obtidas no cumprimento dos

MBAs haveriam de ser alcanccediladas pela accedilatildeo da Fiscalizaccedilatildeo Federal no curso dos

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procedimentos fiscais autorizados em lei proacuteprios tiacutepicos e inerentes agraves atividades

desenvolvidas pelo Oacutergatildeo uma vez que atos iliacutecitos jaacute fossem de conhecimento do Fisco

Como base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal na parte em que admite as provas derivadas de provas iliacutecitas desde que fique

demonstrado que tais provas as derivadas poderiam ser obtidas por meios independentes

seguindoshyse os procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal

Por oacutebvio as interceptaccedilotildees telefocircnicas natildeo compreendidas dentro do periacuteodo

que estende de 25052005 a 23072005 (60 dias considerados legais) natildeo podem ser admitidas

como prova do iliacutecito tributaacuterio de que ora se cuida

Voto por dar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda

Nacional para que seja afastada a prejudicial de nulidade das provas colacionadas aos autos

por forccedila das disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal conforme fundamentaccedilatildeo expressa no voto

O processo deve retornar agrave instacircncia recorrida para exame das questotildees de

meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade

das provas

(assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

Fl 2461DF CARF MF

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

Fl 2467DF CARF MF

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

Fl 2469DF CARF MF

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

Fl 2470DF CARF MF

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 9: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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administraccedilatildeo tributaacuteria tampouco se aplica automaticamente ao processo administrativo

fiscal Corrobora esse entendimento a manifestaccedilatildeo do proacuteprio Poder Judiciaacuterio nos autos do

Mandado de Seguranccedila nordm 0002843shy9520144040000PR impetrado contra o Juiacutezo da 14a

Vara Federal de Curitiba Tribunal Regional Federal da 4a Regiatildeo acerca dos efeitos da

anulaccedilatildeo das provas obtidas no acircmbito da mesma Operaccedilatildeo Diluacutevio sobre os procedimentos

administrativos disciplinares instaurados com base no compartilhamento dessas mesmas

provas Assim decidiu o Tribunal Regional da 4ordf Regiatildeo a respeito

MANDADO DE SEGURANCcedilA TERCEIRO INTERESSADO PROVA EMPRESTADA NULIDADE PARCIAL DECLARADA PELO STJ EFEITOS NA ESFERA ADMINISTRATIVA MATEacuteRIA ESTRANHA AO JUIacuteZO CRIMINAL COMPETEcircNCIA DA AUTORIDADE ADMINISTRATIVA

1 Natildeo se presta o mandado de seguranccedila para determinar ao juiacutezo a quo que acerca de pedido formulado por terceiro interessado decida em ou outro sentido

2 Desborda da competecircncia do juiacutezo criminal e ateacute mesmo da esfera penal decidir a respeito de nulidades pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada em procedimentos administrativos disciplinares

3 Descabido exigirshyse que o juiacutezo penal diante de julgamento proferido pelo Superior Tribunal de Justiccedila que anula apenas parcialmente as interceptaccedilotildees telemaacuteticas profira decisatildeo complementar que esclareccedila os efeitos da anulaccedilatildeo

4 Compete agrave autoridade administrativa responsaacutevel pela utilizaccedilatildeo da prova emprestada certificarshyse acerca dos efeitos de eventual anulaccedilatildeo sobre os procedimentos disciplinares cabendo ao interessado a interposiccedilatildeo de recurso administrativo e impugnaccedilatildeo na via judicial apropriada

Sentenccedila denegada

Feitas tais consideraccedilotildees preambulares penso que devamos a partir daqui

enfrentar a questatildeo nevraacutelgica posta nos autos que diz respeito agrave mitigaccedilatildeo no particular da

Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada em face agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e agrave

Teoria da Fonte Independente para fins de validaccedilatildeo das provas carreadas aos autos pela

Fiscalizaccedilatildeo Federal

Sem adentrar ao relato histoacuterico que descreve a origem e a construccedilatildeo teoacuterica

que abriu espaccedilo agrave adoccedilatildeo das citadas Teorias no ordenamento juriacutedico paacutetrio (ateacute mesmo para

que natildeo se transbordem os limites proacuteprios do PAF) restrinjoshyme agrave anaacutelise das disposiccedilotildees

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legais expressamente contidas no Coacutedigo do Processo Penal apoacutes modificaccedilotildees introduzidas

pela Lei 116802008 a seguir reproduzido

Art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas constitucionais ou legais (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11690 de 2008)

sect 1ordm Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

sect 2ordm Considerashyse fonte independente aquela que por si soacute seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

A parte inicial do paraacutegrafo 1ordm acima expressa em disposiccedilatildeo literal de Lei

o que se costuma designar por Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada Logo a seguir ainda

no teor das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo 1ordm introduzshyse a hipoacutetese contemplada pela

Teoria da Fonte Independente que em combinaccedilatildeo com o disposto no paraacutegrafo segundo

remete agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel

Interessa sublinhar neste ponto que como se depreende da leitura do

paraacutegrafo anterior o que se discute no presente processo em verdade natildeo diz respeito agrave

aplicaccedilatildeo de diferentes teorias juriacutedicas ou orientaccedilotildees doutrinaacuterias agraves circunstacircncias faacuteticas

descritas nos autos mas agrave interpretaccedilatildeo de disposiccedilatildeo literal de lei contida no Coacutedigo do

Processo Penal com o fito de decidir se a norma geral e abstrata que estabelece ressalvas agrave

ilicitude das provas derivadas de provas iliacutecitas deve ser considerada e aplicada ao caso

concreto

Temshyse pois que combinadas as disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm

do art 157 do Coacutedigo do Processo Penal as provas derivadas das provas iliacutecitas poderatildeo ser

aceitas no processo quando puderem ser obtidas por uma fonte independente das provas

consideradas iliacutecitas em circunstacircncias tais que seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe

proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal sejam capazes de conduzir ao fato objeto da

prova

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Como jaacute destacado linhas acima a razatildeo maior para que o Ministeacuterio Puacuteblico

Federal tenha considerado as provas derivadas indissociaacuteveis dos procedimentos preliminares

adotados pelas autoridades policiais e fazendaacuterias decorre da circunstacircncia de que Sem as

provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de

busca e apreensatildeo () Pois aiacute reside a questatildeo nodal do processo Como a seguir restaraacute

sobejamente demonstrado os AuditoresshyFiscais da Receita Federal no acircmbito de suas

prerrogativas legais prescindem de ordem judicial para executar o procedimento de busca e

apreensatildeo nas dependecircncias do contribuinte De fato eacute essa a conclusatildeo insofismaacutevel a que se

chega com base na simples leitura da legislaccedilatildeo que regulamenta o exerciacutecio do cargo

Observeshyse (todos grifos acrescidos)

Coacutedigo Tributaacuterio Nacional shy Lei 5172 de 25101966

TIacuteTULO IV

Administraccedilatildeo Tributaacuteria

CAPIacuteTULO I

Fiscalizaccedilatildeo

Art 194 A legislaccedilatildeo tributaacuteria observado o disposto nesta Lei regularaacute em caraacuteter geral ou especificamente em funccedilatildeo da natureza do tributo de que se tratar a competecircncia e os poderes das autoridades administrativas em mateacuteria de fiscalizaccedilatildeo da sua aplicaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A legislaccedilatildeo a que se refere este artigo aplicashyse agraves pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo inclusive agraves que gozem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Art 195 Para os efeitos da legislaccedilatildeo tributaacuteria natildeo tecircm aplicaccedilatildeo quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias livros arquivos documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos

Paraacutegrafo uacutenico Os livros obrigatoacuterios de escrituraccedilatildeo comercial e fiscal e os comprovantes dos lanccedilamentos neles efetuados seratildeo conservados ateacute que ocorra a prescriccedilatildeo dos creacuteditos tributaacuterios decorrentes das operaccedilotildees a que se refiram

Art 196 A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraraacute os termos necessaacuterios para que se documente o iniacutecio do procedimento na forma da legislaccedilatildeo aplicaacutevel que fixaraacute prazo maacuteximo para a conclusatildeo daquelas

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Paraacutegrafo uacutenico Os termos a que se refere este artigo seratildeo lavrados sempre que possiacutevel em um dos livros fiscais exibidos quando lavrados em separado deles se entregaraacute agrave pessoa sujeita agrave fiscalizaccedilatildeo coacutepia autenticada pela autoridade a que se refere este artigo

Art 197 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agrave autoridade administrativa todas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos bens negoacutecios ou atividades de terceiros

I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio

II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e demais instituiccedilotildees financeiras

III shy as empresas de administraccedilatildeo de bens

IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais

V shy os inventariantes

VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios

VII shy quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe em razatildeo de seu cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A obrigaccedilatildeo prevista neste artigo natildeo abrange a prestaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razatildeo de cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Lei nordm 450264

Art 94 A fiscalizaccedilatildeo seraacute exercida socircbre tocircdas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do impocircsto de consumo inclusive socircbre as que gozarem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Paraacutegrafo uacutenico As pessoas a que se refere ecircste artigo exibiratildeo aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo e lhes franquearatildeo os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da noite se agrave noite estiverem funcionando

Art 95 Os agentes fiscalizadores que procederem a diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraratildeo aleacutem do auto de infraccedilatildeo que couber tecircrmos circunstanciados de iniacutecio e de conclusatildeo de cada uma delas nos quais consignaratildeo as datas inicial e final do periacuteodo fiscalizado a relaccedilatildeo dos livros e documentos comerciais e fiscais exibidos e tudo mais que seja de interecircsse para a fiscalizaccedilatildeo

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()

sect 2ordm Quando viacutetimas de embaraccedilo ou desacato no exerciacutecio de suas funccedilotildees ou quando seja necessaacuterio agrave efetivaccedilatildeo de medidas acauteladoras do interecircsse do fisco ainda que natildeo se configure fato definido em lei como crime ou contravenccedilatildeo os agentes fiscalizadores diretamente ou atraveacutes das reparticcedilotildees a que pertencerem poderatildeo requisitar o auxiacutelio da focircrccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Art 97 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agraves autoridades fiscalizadoras tocircdas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos produtos negoacutecios ou atividades de terceiros I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e semelhantes III shy as empresas transportadoras e os transportadores singulares IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais V shy os inventariantes VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios VII shy as reparticcedilotildees puacuteblicas e autaacuterquicas federais as entidades paraestatais e de economia mista VIII shy tocircdas as demais pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao impocircsto de consumo

Lei nordm 863093

Art 36 Compete ao Ministeacuterio da Fazenda por intermeacutedio das reparticcedilotildees aduaneiras

()

sect 2deg No exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees a autoridade aduaneira teraacute livre acesso a quaisquer dependecircncias do porto e agraves embarcaccedilotildees atracadas ou natildeo bem como aos locais onde se encontrem mercadorias procedentes do exterior ou a ele destinadas podendo quando julgar necessaacuterio requisitar papeacuteis livros e outros documentos inclusive quando necessaacuterio o apoio de forccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Lei nordm 943096

Art 34 Satildeo tambeacutem passiacuteveis de exame os documentos do sujeito passivo mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados encontrados no local da verificaccedilatildeo que tenham relaccedilatildeo direta ou indireta com a atividade por ele exercida

Retenccedilatildeo de Livros e Documentos

Art 35 Os livros e documentos poderatildeo ser examinados fora do estabelecimento do sujeito passivo desde que lavrado termo

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escrito de retenccedilatildeo pela autoridade fiscal em que se especifiquem a quantidade espeacutecie natureza e condiccedilotildees dos livros e documentos retidos

sect 1ordm Constituindo os livros ou documentos prova da praacutetica de iliacutecito penal ou tributaacuterio os originais retidos natildeo seratildeo devolvidos extraindoshyse coacutepia para entrega ao interessado

sect 2ordm Excetuado o disposto no paraacutegrafo anterior devem ser devolvidos os originais dos documentos retidos para exame mediante recibo

Lacraccedilatildeo de Arquivos

Art 36 A autoridade fiscal encarregada de diligecircncia ou fiscalizaccedilatildeo poderaacute promover a lacraccedilatildeo de moacuteveis caixas cofres ou depoacutesitos onde se encontram arquivos e documentos toda vez que ficar caracterizada a resistecircncia ou o embaraccedilo agrave fiscalizaccedilatildeo ou ainda quando as circunstacircncias ou a quantidade de documentos natildeo permitirem sua identificaccedilatildeo e conferecircncia no local ou no momento em que foram encontrados

Paraacutegrafo uacutenico O sujeito passivo e demais responsaacuteveis seratildeo previamente notificados para acompanharem o procedimento de rompimento do lacre e identificaccedilatildeo dos elementos de interesse da fiscalizaccedilatildeo

Guarda de Documentos

Art 37 Os comprovantes da escrituraccedilatildeo da pessoa juriacutedica relativos a fatos que repercutam em lanccedilamentos contaacutebeis de exerciacutecio futuros seratildeo conservados ateacute que se opere a decadecircncia do direito de a Fazenda Puacuteblica constituir os creacuteditos tributaacuterios relativos a esses exerciacutecios

Arquivos Magneacuteticos

Art 38 O sujeito passivo usuaacuterio de sistema de processamento de dados deveraacute manter documentaccedilatildeo teacutecnica completa e atualizada do sistema suficiente para possibilitar a sua auditoria facultada a manutenccedilatildeo em meio magneacutetico sem prejuiacutezo da sua emissatildeo graacutefica quando solicitada

Como se depreende das disposiccedilotildees legais acima transcritas a legislaccedilatildeo

tributaacuteria considera inaplicaacuteveis quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do

direito que deteacutem a Fiscalizaccedilatildeo Federal de examinar mercadorias livros arquivos

documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores

ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos Estabelece tambeacutem que mediante intimaccedilatildeo por escrito

todas as pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao Imposto

sobre Produtos Industrializados deveratildeo prestar por escrito as informaccedilotildees requeridas Ainda

que a fiscalizaccedilatildeo alcanccedila todas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que

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forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do imposto devendo

elas exibir aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e

comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados

necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo Ainda mais que as pessoas deveratildeo franquear agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal

os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da

noite se agrave noite estiverem funcionando e autoriza o Fisco a proceder ao exame inclusive de

documentos mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados

E que se diga natildeo estamos aqui nos referindo apenas ao poder outorgado por

lei agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal no exerciacutecio de suas funccedilotildees mas para aleacutem disso de um dever

legal sob pena de responsabilidade funcional da autoridade fiscal que vier a negligenciaacuteshylos

A toda evidecircncia a despeito do fato de que parte das provas colacionadas aos

autos tenham efetivamente sido obtidas com base em pesquisas e consultas aos sistemas da

Secretaria da Receita Federal sem qualquer viacutenculo com o que fora apreendido nas

dependecircncias dos contribuinte o fato eacute que todos os elementos de prova que instruem o

presente processo notadamente poderiam ser obtidos independentemente dos mandados de

busca e apreensatildeo que terminaram por dar ensejo agrave decretaccedilatildeo da nulidade de todo arcabouccedilo

probatoacuterio contido nos autos bastando para tanto que a Fiscalizaccedilatildeo Federal com apoio ou

natildeo de forccedila policial seguisse os procedimentos autorizados em Lei Significa dizer

seguisse os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo do Oacutergatildeo

Eacute possiacutevel que se indague ainda se mesmo admitidos todos os pressupostos

ateacute aqui declinados teria a Fiscalizaccedilatildeo Federal tomado a iniciativa de instaurar um

procedimento fiscal em face dos sujeitos passivos relacionados nos autos A resposta a essa

suposta indagaccedilatildeo a meu sentir eacute facilmente respondida agrave luz do disposto na Lei nordm 929696

que exige a comprovaccedilatildeo de indiacutecios de autoria e materialidade do delito sob investigaccedilatildeo para

concessatildeo da ordem judicial autorizando dentre outros a quebra do sigilo telefocircnico e

telemaacutetico

Ora a conclusatildeo natural e inevitaacutevel a que se chega eacute que as investigaccedilotildees

das operaccedilotildees empreendidas pelos agentes envolvidos nas praacuteticas iliacutecitas de que tratam os

autos jaacute estavam em curso antes que o Poder Judiciaacuterio tivesse autorizado as interceptaccedilotildees

telefocircnicas razatildeo a mais para que se reconheccedila que as provas obtidas no cumprimento dos

MBAs haveriam de ser alcanccediladas pela accedilatildeo da Fiscalizaccedilatildeo Federal no curso dos

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procedimentos fiscais autorizados em lei proacuteprios tiacutepicos e inerentes agraves atividades

desenvolvidas pelo Oacutergatildeo uma vez que atos iliacutecitos jaacute fossem de conhecimento do Fisco

Como base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal na parte em que admite as provas derivadas de provas iliacutecitas desde que fique

demonstrado que tais provas as derivadas poderiam ser obtidas por meios independentes

seguindoshyse os procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal

Por oacutebvio as interceptaccedilotildees telefocircnicas natildeo compreendidas dentro do periacuteodo

que estende de 25052005 a 23072005 (60 dias considerados legais) natildeo podem ser admitidas

como prova do iliacutecito tributaacuterio de que ora se cuida

Voto por dar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda

Nacional para que seja afastada a prejudicial de nulidade das provas colacionadas aos autos

por forccedila das disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal conforme fundamentaccedilatildeo expressa no voto

O processo deve retornar agrave instacircncia recorrida para exame das questotildees de

meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade

das provas

(assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

Fl 2462DF CARF MF

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

Fl 2463DF CARF MF

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

Fl 2465DF CARF MF

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

Fl 2467DF CARF MF

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

Fl 2469DF CARF MF

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

Fl 2470DF CARF MF

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

Fl 2471DF CARF MF

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 10: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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legais expressamente contidas no Coacutedigo do Processo Penal apoacutes modificaccedilotildees introduzidas

pela Lei 116802008 a seguir reproduzido

Art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas constitucionais ou legais (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11690 de 2008)

sect 1ordm Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

sect 2ordm Considerashyse fonte independente aquela que por si soacute seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova (Incluiacutedo pela Lei nordm 11690 de 2008) (grifos meus)

A parte inicial do paraacutegrafo 1ordm acima expressa em disposiccedilatildeo literal de Lei

o que se costuma designar por Teoria dos Frutos da Aacutervore Envenenada Logo a seguir ainda

no teor das disposiccedilotildees contidas no paraacutegrafo 1ordm introduzshyse a hipoacutetese contemplada pela

Teoria da Fonte Independente que em combinaccedilatildeo com o disposto no paraacutegrafo segundo

remete agrave Teoria da Descoberta Inevitaacutevel

Interessa sublinhar neste ponto que como se depreende da leitura do

paraacutegrafo anterior o que se discute no presente processo em verdade natildeo diz respeito agrave

aplicaccedilatildeo de diferentes teorias juriacutedicas ou orientaccedilotildees doutrinaacuterias agraves circunstacircncias faacuteticas

descritas nos autos mas agrave interpretaccedilatildeo de disposiccedilatildeo literal de lei contida no Coacutedigo do

Processo Penal com o fito de decidir se a norma geral e abstrata que estabelece ressalvas agrave

ilicitude das provas derivadas de provas iliacutecitas deve ser considerada e aplicada ao caso

concreto

Temshyse pois que combinadas as disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm

do art 157 do Coacutedigo do Processo Penal as provas derivadas das provas iliacutecitas poderatildeo ser

aceitas no processo quando puderem ser obtidas por uma fonte independente das provas

consideradas iliacutecitas em circunstacircncias tais que seguindo os tracircmites tiacutepicos e de praxe

proacuteprios da investigaccedilatildeo ou instruccedilatildeo criminal sejam capazes de conduzir ao fato objeto da

prova

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Como jaacute destacado linhas acima a razatildeo maior para que o Ministeacuterio Puacuteblico

Federal tenha considerado as provas derivadas indissociaacuteveis dos procedimentos preliminares

adotados pelas autoridades policiais e fazendaacuterias decorre da circunstacircncia de que Sem as

provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de

busca e apreensatildeo () Pois aiacute reside a questatildeo nodal do processo Como a seguir restaraacute

sobejamente demonstrado os AuditoresshyFiscais da Receita Federal no acircmbito de suas

prerrogativas legais prescindem de ordem judicial para executar o procedimento de busca e

apreensatildeo nas dependecircncias do contribuinte De fato eacute essa a conclusatildeo insofismaacutevel a que se

chega com base na simples leitura da legislaccedilatildeo que regulamenta o exerciacutecio do cargo

Observeshyse (todos grifos acrescidos)

Coacutedigo Tributaacuterio Nacional shy Lei 5172 de 25101966

TIacuteTULO IV

Administraccedilatildeo Tributaacuteria

CAPIacuteTULO I

Fiscalizaccedilatildeo

Art 194 A legislaccedilatildeo tributaacuteria observado o disposto nesta Lei regularaacute em caraacuteter geral ou especificamente em funccedilatildeo da natureza do tributo de que se tratar a competecircncia e os poderes das autoridades administrativas em mateacuteria de fiscalizaccedilatildeo da sua aplicaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A legislaccedilatildeo a que se refere este artigo aplicashyse agraves pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo inclusive agraves que gozem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Art 195 Para os efeitos da legislaccedilatildeo tributaacuteria natildeo tecircm aplicaccedilatildeo quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias livros arquivos documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos

Paraacutegrafo uacutenico Os livros obrigatoacuterios de escrituraccedilatildeo comercial e fiscal e os comprovantes dos lanccedilamentos neles efetuados seratildeo conservados ateacute que ocorra a prescriccedilatildeo dos creacuteditos tributaacuterios decorrentes das operaccedilotildees a que se refiram

Art 196 A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraraacute os termos necessaacuterios para que se documente o iniacutecio do procedimento na forma da legislaccedilatildeo aplicaacutevel que fixaraacute prazo maacuteximo para a conclusatildeo daquelas

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Paraacutegrafo uacutenico Os termos a que se refere este artigo seratildeo lavrados sempre que possiacutevel em um dos livros fiscais exibidos quando lavrados em separado deles se entregaraacute agrave pessoa sujeita agrave fiscalizaccedilatildeo coacutepia autenticada pela autoridade a que se refere este artigo

Art 197 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agrave autoridade administrativa todas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos bens negoacutecios ou atividades de terceiros

I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio

II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e demais instituiccedilotildees financeiras

III shy as empresas de administraccedilatildeo de bens

IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais

V shy os inventariantes

VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios

VII shy quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe em razatildeo de seu cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A obrigaccedilatildeo prevista neste artigo natildeo abrange a prestaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razatildeo de cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Lei nordm 450264

Art 94 A fiscalizaccedilatildeo seraacute exercida socircbre tocircdas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do impocircsto de consumo inclusive socircbre as que gozarem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Paraacutegrafo uacutenico As pessoas a que se refere ecircste artigo exibiratildeo aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo e lhes franquearatildeo os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da noite se agrave noite estiverem funcionando

Art 95 Os agentes fiscalizadores que procederem a diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraratildeo aleacutem do auto de infraccedilatildeo que couber tecircrmos circunstanciados de iniacutecio e de conclusatildeo de cada uma delas nos quais consignaratildeo as datas inicial e final do periacuteodo fiscalizado a relaccedilatildeo dos livros e documentos comerciais e fiscais exibidos e tudo mais que seja de interecircsse para a fiscalizaccedilatildeo

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()

sect 2ordm Quando viacutetimas de embaraccedilo ou desacato no exerciacutecio de suas funccedilotildees ou quando seja necessaacuterio agrave efetivaccedilatildeo de medidas acauteladoras do interecircsse do fisco ainda que natildeo se configure fato definido em lei como crime ou contravenccedilatildeo os agentes fiscalizadores diretamente ou atraveacutes das reparticcedilotildees a que pertencerem poderatildeo requisitar o auxiacutelio da focircrccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Art 97 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agraves autoridades fiscalizadoras tocircdas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos produtos negoacutecios ou atividades de terceiros I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e semelhantes III shy as empresas transportadoras e os transportadores singulares IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais V shy os inventariantes VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios VII shy as reparticcedilotildees puacuteblicas e autaacuterquicas federais as entidades paraestatais e de economia mista VIII shy tocircdas as demais pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao impocircsto de consumo

Lei nordm 863093

Art 36 Compete ao Ministeacuterio da Fazenda por intermeacutedio das reparticcedilotildees aduaneiras

()

sect 2deg No exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees a autoridade aduaneira teraacute livre acesso a quaisquer dependecircncias do porto e agraves embarcaccedilotildees atracadas ou natildeo bem como aos locais onde se encontrem mercadorias procedentes do exterior ou a ele destinadas podendo quando julgar necessaacuterio requisitar papeacuteis livros e outros documentos inclusive quando necessaacuterio o apoio de forccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Lei nordm 943096

Art 34 Satildeo tambeacutem passiacuteveis de exame os documentos do sujeito passivo mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados encontrados no local da verificaccedilatildeo que tenham relaccedilatildeo direta ou indireta com a atividade por ele exercida

Retenccedilatildeo de Livros e Documentos

Art 35 Os livros e documentos poderatildeo ser examinados fora do estabelecimento do sujeito passivo desde que lavrado termo

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escrito de retenccedilatildeo pela autoridade fiscal em que se especifiquem a quantidade espeacutecie natureza e condiccedilotildees dos livros e documentos retidos

sect 1ordm Constituindo os livros ou documentos prova da praacutetica de iliacutecito penal ou tributaacuterio os originais retidos natildeo seratildeo devolvidos extraindoshyse coacutepia para entrega ao interessado

sect 2ordm Excetuado o disposto no paraacutegrafo anterior devem ser devolvidos os originais dos documentos retidos para exame mediante recibo

Lacraccedilatildeo de Arquivos

Art 36 A autoridade fiscal encarregada de diligecircncia ou fiscalizaccedilatildeo poderaacute promover a lacraccedilatildeo de moacuteveis caixas cofres ou depoacutesitos onde se encontram arquivos e documentos toda vez que ficar caracterizada a resistecircncia ou o embaraccedilo agrave fiscalizaccedilatildeo ou ainda quando as circunstacircncias ou a quantidade de documentos natildeo permitirem sua identificaccedilatildeo e conferecircncia no local ou no momento em que foram encontrados

Paraacutegrafo uacutenico O sujeito passivo e demais responsaacuteveis seratildeo previamente notificados para acompanharem o procedimento de rompimento do lacre e identificaccedilatildeo dos elementos de interesse da fiscalizaccedilatildeo

Guarda de Documentos

Art 37 Os comprovantes da escrituraccedilatildeo da pessoa juriacutedica relativos a fatos que repercutam em lanccedilamentos contaacutebeis de exerciacutecio futuros seratildeo conservados ateacute que se opere a decadecircncia do direito de a Fazenda Puacuteblica constituir os creacuteditos tributaacuterios relativos a esses exerciacutecios

Arquivos Magneacuteticos

Art 38 O sujeito passivo usuaacuterio de sistema de processamento de dados deveraacute manter documentaccedilatildeo teacutecnica completa e atualizada do sistema suficiente para possibilitar a sua auditoria facultada a manutenccedilatildeo em meio magneacutetico sem prejuiacutezo da sua emissatildeo graacutefica quando solicitada

Como se depreende das disposiccedilotildees legais acima transcritas a legislaccedilatildeo

tributaacuteria considera inaplicaacuteveis quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do

direito que deteacutem a Fiscalizaccedilatildeo Federal de examinar mercadorias livros arquivos

documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores

ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos Estabelece tambeacutem que mediante intimaccedilatildeo por escrito

todas as pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao Imposto

sobre Produtos Industrializados deveratildeo prestar por escrito as informaccedilotildees requeridas Ainda

que a fiscalizaccedilatildeo alcanccedila todas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que

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forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do imposto devendo

elas exibir aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e

comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados

necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo Ainda mais que as pessoas deveratildeo franquear agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal

os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da

noite se agrave noite estiverem funcionando e autoriza o Fisco a proceder ao exame inclusive de

documentos mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados

E que se diga natildeo estamos aqui nos referindo apenas ao poder outorgado por

lei agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal no exerciacutecio de suas funccedilotildees mas para aleacutem disso de um dever

legal sob pena de responsabilidade funcional da autoridade fiscal que vier a negligenciaacuteshylos

A toda evidecircncia a despeito do fato de que parte das provas colacionadas aos

autos tenham efetivamente sido obtidas com base em pesquisas e consultas aos sistemas da

Secretaria da Receita Federal sem qualquer viacutenculo com o que fora apreendido nas

dependecircncias dos contribuinte o fato eacute que todos os elementos de prova que instruem o

presente processo notadamente poderiam ser obtidos independentemente dos mandados de

busca e apreensatildeo que terminaram por dar ensejo agrave decretaccedilatildeo da nulidade de todo arcabouccedilo

probatoacuterio contido nos autos bastando para tanto que a Fiscalizaccedilatildeo Federal com apoio ou

natildeo de forccedila policial seguisse os procedimentos autorizados em Lei Significa dizer

seguisse os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo do Oacutergatildeo

Eacute possiacutevel que se indague ainda se mesmo admitidos todos os pressupostos

ateacute aqui declinados teria a Fiscalizaccedilatildeo Federal tomado a iniciativa de instaurar um

procedimento fiscal em face dos sujeitos passivos relacionados nos autos A resposta a essa

suposta indagaccedilatildeo a meu sentir eacute facilmente respondida agrave luz do disposto na Lei nordm 929696

que exige a comprovaccedilatildeo de indiacutecios de autoria e materialidade do delito sob investigaccedilatildeo para

concessatildeo da ordem judicial autorizando dentre outros a quebra do sigilo telefocircnico e

telemaacutetico

Ora a conclusatildeo natural e inevitaacutevel a que se chega eacute que as investigaccedilotildees

das operaccedilotildees empreendidas pelos agentes envolvidos nas praacuteticas iliacutecitas de que tratam os

autos jaacute estavam em curso antes que o Poder Judiciaacuterio tivesse autorizado as interceptaccedilotildees

telefocircnicas razatildeo a mais para que se reconheccedila que as provas obtidas no cumprimento dos

MBAs haveriam de ser alcanccediladas pela accedilatildeo da Fiscalizaccedilatildeo Federal no curso dos

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procedimentos fiscais autorizados em lei proacuteprios tiacutepicos e inerentes agraves atividades

desenvolvidas pelo Oacutergatildeo uma vez que atos iliacutecitos jaacute fossem de conhecimento do Fisco

Como base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal na parte em que admite as provas derivadas de provas iliacutecitas desde que fique

demonstrado que tais provas as derivadas poderiam ser obtidas por meios independentes

seguindoshyse os procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal

Por oacutebvio as interceptaccedilotildees telefocircnicas natildeo compreendidas dentro do periacuteodo

que estende de 25052005 a 23072005 (60 dias considerados legais) natildeo podem ser admitidas

como prova do iliacutecito tributaacuterio de que ora se cuida

Voto por dar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda

Nacional para que seja afastada a prejudicial de nulidade das provas colacionadas aos autos

por forccedila das disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal conforme fundamentaccedilatildeo expressa no voto

O processo deve retornar agrave instacircncia recorrida para exame das questotildees de

meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade

das provas

(assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

Fl 2472DF CARF MF

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 11: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Como jaacute destacado linhas acima a razatildeo maior para que o Ministeacuterio Puacuteblico

Federal tenha considerado as provas derivadas indissociaacuteveis dos procedimentos preliminares

adotados pelas autoridades policiais e fazendaacuterias decorre da circunstacircncia de que Sem as

provas conseguidas atraveacutes da interceptaccedilatildeo natildeo seria possiacutevel a obtenccedilatildeo dos mandados de

busca e apreensatildeo () Pois aiacute reside a questatildeo nodal do processo Como a seguir restaraacute

sobejamente demonstrado os AuditoresshyFiscais da Receita Federal no acircmbito de suas

prerrogativas legais prescindem de ordem judicial para executar o procedimento de busca e

apreensatildeo nas dependecircncias do contribuinte De fato eacute essa a conclusatildeo insofismaacutevel a que se

chega com base na simples leitura da legislaccedilatildeo que regulamenta o exerciacutecio do cargo

Observeshyse (todos grifos acrescidos)

Coacutedigo Tributaacuterio Nacional shy Lei 5172 de 25101966

TIacuteTULO IV

Administraccedilatildeo Tributaacuteria

CAPIacuteTULO I

Fiscalizaccedilatildeo

Art 194 A legislaccedilatildeo tributaacuteria observado o disposto nesta Lei regularaacute em caraacuteter geral ou especificamente em funccedilatildeo da natureza do tributo de que se tratar a competecircncia e os poderes das autoridades administrativas em mateacuteria de fiscalizaccedilatildeo da sua aplicaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A legislaccedilatildeo a que se refere este artigo aplicashyse agraves pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo inclusive agraves que gozem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Art 195 Para os efeitos da legislaccedilatildeo tributaacuteria natildeo tecircm aplicaccedilatildeo quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias livros arquivos documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos

Paraacutegrafo uacutenico Os livros obrigatoacuterios de escrituraccedilatildeo comercial e fiscal e os comprovantes dos lanccedilamentos neles efetuados seratildeo conservados ateacute que ocorra a prescriccedilatildeo dos creacuteditos tributaacuterios decorrentes das operaccedilotildees a que se refiram

Art 196 A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraraacute os termos necessaacuterios para que se documente o iniacutecio do procedimento na forma da legislaccedilatildeo aplicaacutevel que fixaraacute prazo maacuteximo para a conclusatildeo daquelas

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Paraacutegrafo uacutenico Os termos a que se refere este artigo seratildeo lavrados sempre que possiacutevel em um dos livros fiscais exibidos quando lavrados em separado deles se entregaraacute agrave pessoa sujeita agrave fiscalizaccedilatildeo coacutepia autenticada pela autoridade a que se refere este artigo

Art 197 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agrave autoridade administrativa todas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos bens negoacutecios ou atividades de terceiros

I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio

II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e demais instituiccedilotildees financeiras

III shy as empresas de administraccedilatildeo de bens

IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais

V shy os inventariantes

VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios

VII shy quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe em razatildeo de seu cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A obrigaccedilatildeo prevista neste artigo natildeo abrange a prestaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razatildeo de cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Lei nordm 450264

Art 94 A fiscalizaccedilatildeo seraacute exercida socircbre tocircdas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do impocircsto de consumo inclusive socircbre as que gozarem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Paraacutegrafo uacutenico As pessoas a que se refere ecircste artigo exibiratildeo aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo e lhes franquearatildeo os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da noite se agrave noite estiverem funcionando

Art 95 Os agentes fiscalizadores que procederem a diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraratildeo aleacutem do auto de infraccedilatildeo que couber tecircrmos circunstanciados de iniacutecio e de conclusatildeo de cada uma delas nos quais consignaratildeo as datas inicial e final do periacuteodo fiscalizado a relaccedilatildeo dos livros e documentos comerciais e fiscais exibidos e tudo mais que seja de interecircsse para a fiscalizaccedilatildeo

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()

sect 2ordm Quando viacutetimas de embaraccedilo ou desacato no exerciacutecio de suas funccedilotildees ou quando seja necessaacuterio agrave efetivaccedilatildeo de medidas acauteladoras do interecircsse do fisco ainda que natildeo se configure fato definido em lei como crime ou contravenccedilatildeo os agentes fiscalizadores diretamente ou atraveacutes das reparticcedilotildees a que pertencerem poderatildeo requisitar o auxiacutelio da focircrccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Art 97 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agraves autoridades fiscalizadoras tocircdas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos produtos negoacutecios ou atividades de terceiros I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e semelhantes III shy as empresas transportadoras e os transportadores singulares IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais V shy os inventariantes VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios VII shy as reparticcedilotildees puacuteblicas e autaacuterquicas federais as entidades paraestatais e de economia mista VIII shy tocircdas as demais pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao impocircsto de consumo

Lei nordm 863093

Art 36 Compete ao Ministeacuterio da Fazenda por intermeacutedio das reparticcedilotildees aduaneiras

()

sect 2deg No exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees a autoridade aduaneira teraacute livre acesso a quaisquer dependecircncias do porto e agraves embarcaccedilotildees atracadas ou natildeo bem como aos locais onde se encontrem mercadorias procedentes do exterior ou a ele destinadas podendo quando julgar necessaacuterio requisitar papeacuteis livros e outros documentos inclusive quando necessaacuterio o apoio de forccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Lei nordm 943096

Art 34 Satildeo tambeacutem passiacuteveis de exame os documentos do sujeito passivo mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados encontrados no local da verificaccedilatildeo que tenham relaccedilatildeo direta ou indireta com a atividade por ele exercida

Retenccedilatildeo de Livros e Documentos

Art 35 Os livros e documentos poderatildeo ser examinados fora do estabelecimento do sujeito passivo desde que lavrado termo

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escrito de retenccedilatildeo pela autoridade fiscal em que se especifiquem a quantidade espeacutecie natureza e condiccedilotildees dos livros e documentos retidos

sect 1ordm Constituindo os livros ou documentos prova da praacutetica de iliacutecito penal ou tributaacuterio os originais retidos natildeo seratildeo devolvidos extraindoshyse coacutepia para entrega ao interessado

sect 2ordm Excetuado o disposto no paraacutegrafo anterior devem ser devolvidos os originais dos documentos retidos para exame mediante recibo

Lacraccedilatildeo de Arquivos

Art 36 A autoridade fiscal encarregada de diligecircncia ou fiscalizaccedilatildeo poderaacute promover a lacraccedilatildeo de moacuteveis caixas cofres ou depoacutesitos onde se encontram arquivos e documentos toda vez que ficar caracterizada a resistecircncia ou o embaraccedilo agrave fiscalizaccedilatildeo ou ainda quando as circunstacircncias ou a quantidade de documentos natildeo permitirem sua identificaccedilatildeo e conferecircncia no local ou no momento em que foram encontrados

Paraacutegrafo uacutenico O sujeito passivo e demais responsaacuteveis seratildeo previamente notificados para acompanharem o procedimento de rompimento do lacre e identificaccedilatildeo dos elementos de interesse da fiscalizaccedilatildeo

Guarda de Documentos

Art 37 Os comprovantes da escrituraccedilatildeo da pessoa juriacutedica relativos a fatos que repercutam em lanccedilamentos contaacutebeis de exerciacutecio futuros seratildeo conservados ateacute que se opere a decadecircncia do direito de a Fazenda Puacuteblica constituir os creacuteditos tributaacuterios relativos a esses exerciacutecios

Arquivos Magneacuteticos

Art 38 O sujeito passivo usuaacuterio de sistema de processamento de dados deveraacute manter documentaccedilatildeo teacutecnica completa e atualizada do sistema suficiente para possibilitar a sua auditoria facultada a manutenccedilatildeo em meio magneacutetico sem prejuiacutezo da sua emissatildeo graacutefica quando solicitada

Como se depreende das disposiccedilotildees legais acima transcritas a legislaccedilatildeo

tributaacuteria considera inaplicaacuteveis quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do

direito que deteacutem a Fiscalizaccedilatildeo Federal de examinar mercadorias livros arquivos

documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores

ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos Estabelece tambeacutem que mediante intimaccedilatildeo por escrito

todas as pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao Imposto

sobre Produtos Industrializados deveratildeo prestar por escrito as informaccedilotildees requeridas Ainda

que a fiscalizaccedilatildeo alcanccedila todas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que

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forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do imposto devendo

elas exibir aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e

comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados

necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo Ainda mais que as pessoas deveratildeo franquear agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal

os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da

noite se agrave noite estiverem funcionando e autoriza o Fisco a proceder ao exame inclusive de

documentos mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados

E que se diga natildeo estamos aqui nos referindo apenas ao poder outorgado por

lei agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal no exerciacutecio de suas funccedilotildees mas para aleacutem disso de um dever

legal sob pena de responsabilidade funcional da autoridade fiscal que vier a negligenciaacuteshylos

A toda evidecircncia a despeito do fato de que parte das provas colacionadas aos

autos tenham efetivamente sido obtidas com base em pesquisas e consultas aos sistemas da

Secretaria da Receita Federal sem qualquer viacutenculo com o que fora apreendido nas

dependecircncias dos contribuinte o fato eacute que todos os elementos de prova que instruem o

presente processo notadamente poderiam ser obtidos independentemente dos mandados de

busca e apreensatildeo que terminaram por dar ensejo agrave decretaccedilatildeo da nulidade de todo arcabouccedilo

probatoacuterio contido nos autos bastando para tanto que a Fiscalizaccedilatildeo Federal com apoio ou

natildeo de forccedila policial seguisse os procedimentos autorizados em Lei Significa dizer

seguisse os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo do Oacutergatildeo

Eacute possiacutevel que se indague ainda se mesmo admitidos todos os pressupostos

ateacute aqui declinados teria a Fiscalizaccedilatildeo Federal tomado a iniciativa de instaurar um

procedimento fiscal em face dos sujeitos passivos relacionados nos autos A resposta a essa

suposta indagaccedilatildeo a meu sentir eacute facilmente respondida agrave luz do disposto na Lei nordm 929696

que exige a comprovaccedilatildeo de indiacutecios de autoria e materialidade do delito sob investigaccedilatildeo para

concessatildeo da ordem judicial autorizando dentre outros a quebra do sigilo telefocircnico e

telemaacutetico

Ora a conclusatildeo natural e inevitaacutevel a que se chega eacute que as investigaccedilotildees

das operaccedilotildees empreendidas pelos agentes envolvidos nas praacuteticas iliacutecitas de que tratam os

autos jaacute estavam em curso antes que o Poder Judiciaacuterio tivesse autorizado as interceptaccedilotildees

telefocircnicas razatildeo a mais para que se reconheccedila que as provas obtidas no cumprimento dos

MBAs haveriam de ser alcanccediladas pela accedilatildeo da Fiscalizaccedilatildeo Federal no curso dos

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procedimentos fiscais autorizados em lei proacuteprios tiacutepicos e inerentes agraves atividades

desenvolvidas pelo Oacutergatildeo uma vez que atos iliacutecitos jaacute fossem de conhecimento do Fisco

Como base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal na parte em que admite as provas derivadas de provas iliacutecitas desde que fique

demonstrado que tais provas as derivadas poderiam ser obtidas por meios independentes

seguindoshyse os procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal

Por oacutebvio as interceptaccedilotildees telefocircnicas natildeo compreendidas dentro do periacuteodo

que estende de 25052005 a 23072005 (60 dias considerados legais) natildeo podem ser admitidas

como prova do iliacutecito tributaacuterio de que ora se cuida

Voto por dar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda

Nacional para que seja afastada a prejudicial de nulidade das provas colacionadas aos autos

por forccedila das disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal conforme fundamentaccedilatildeo expressa no voto

O processo deve retornar agrave instacircncia recorrida para exame das questotildees de

meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade

das provas

(assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

Fl 2463DF CARF MF

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

Fl 2464DF CARF MF

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

Fl 2466DF CARF MF

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

Fl 2467DF CARF MF

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

Fl 2469DF CARF MF

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

Fl 2470DF CARF MF

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

Fl 2471DF CARF MF

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

Fl 2472DF CARF MF

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 12: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Paraacutegrafo uacutenico Os termos a que se refere este artigo seratildeo lavrados sempre que possiacutevel em um dos livros fiscais exibidos quando lavrados em separado deles se entregaraacute agrave pessoa sujeita agrave fiscalizaccedilatildeo coacutepia autenticada pela autoridade a que se refere este artigo

Art 197 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agrave autoridade administrativa todas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos bens negoacutecios ou atividades de terceiros

I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio

II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e demais instituiccedilotildees financeiras

III shy as empresas de administraccedilatildeo de bens

IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais

V shy os inventariantes

VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios

VII shy quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe em razatildeo de seu cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Paraacutegrafo uacutenico A obrigaccedilatildeo prevista neste artigo natildeo abrange a prestaccedilatildeo de informaccedilotildees quanto a fatos sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razatildeo de cargo ofiacutecio funccedilatildeo ministeacuterio atividade ou profissatildeo

Lei nordm 450264

Art 94 A fiscalizaccedilatildeo seraacute exercida socircbre tocircdas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do impocircsto de consumo inclusive socircbre as que gozarem de imunidade tributaacuteria ou de isenccedilatildeo de caraacuteter pessoal

Paraacutegrafo uacutenico As pessoas a que se refere ecircste artigo exibiratildeo aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo e lhes franquearatildeo os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da noite se agrave noite estiverem funcionando

Art 95 Os agentes fiscalizadores que procederem a diligecircncias de fiscalizaccedilatildeo lavraratildeo aleacutem do auto de infraccedilatildeo que couber tecircrmos circunstanciados de iniacutecio e de conclusatildeo de cada uma delas nos quais consignaratildeo as datas inicial e final do periacuteodo fiscalizado a relaccedilatildeo dos livros e documentos comerciais e fiscais exibidos e tudo mais que seja de interecircsse para a fiscalizaccedilatildeo

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sect 2ordm Quando viacutetimas de embaraccedilo ou desacato no exerciacutecio de suas funccedilotildees ou quando seja necessaacuterio agrave efetivaccedilatildeo de medidas acauteladoras do interecircsse do fisco ainda que natildeo se configure fato definido em lei como crime ou contravenccedilatildeo os agentes fiscalizadores diretamente ou atraveacutes das reparticcedilotildees a que pertencerem poderatildeo requisitar o auxiacutelio da focircrccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Art 97 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agraves autoridades fiscalizadoras tocircdas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos produtos negoacutecios ou atividades de terceiros I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e semelhantes III shy as empresas transportadoras e os transportadores singulares IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais V shy os inventariantes VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios VII shy as reparticcedilotildees puacuteblicas e autaacuterquicas federais as entidades paraestatais e de economia mista VIII shy tocircdas as demais pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao impocircsto de consumo

Lei nordm 863093

Art 36 Compete ao Ministeacuterio da Fazenda por intermeacutedio das reparticcedilotildees aduaneiras

()

sect 2deg No exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees a autoridade aduaneira teraacute livre acesso a quaisquer dependecircncias do porto e agraves embarcaccedilotildees atracadas ou natildeo bem como aos locais onde se encontrem mercadorias procedentes do exterior ou a ele destinadas podendo quando julgar necessaacuterio requisitar papeacuteis livros e outros documentos inclusive quando necessaacuterio o apoio de forccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Lei nordm 943096

Art 34 Satildeo tambeacutem passiacuteveis de exame os documentos do sujeito passivo mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados encontrados no local da verificaccedilatildeo que tenham relaccedilatildeo direta ou indireta com a atividade por ele exercida

Retenccedilatildeo de Livros e Documentos

Art 35 Os livros e documentos poderatildeo ser examinados fora do estabelecimento do sujeito passivo desde que lavrado termo

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escrito de retenccedilatildeo pela autoridade fiscal em que se especifiquem a quantidade espeacutecie natureza e condiccedilotildees dos livros e documentos retidos

sect 1ordm Constituindo os livros ou documentos prova da praacutetica de iliacutecito penal ou tributaacuterio os originais retidos natildeo seratildeo devolvidos extraindoshyse coacutepia para entrega ao interessado

sect 2ordm Excetuado o disposto no paraacutegrafo anterior devem ser devolvidos os originais dos documentos retidos para exame mediante recibo

Lacraccedilatildeo de Arquivos

Art 36 A autoridade fiscal encarregada de diligecircncia ou fiscalizaccedilatildeo poderaacute promover a lacraccedilatildeo de moacuteveis caixas cofres ou depoacutesitos onde se encontram arquivos e documentos toda vez que ficar caracterizada a resistecircncia ou o embaraccedilo agrave fiscalizaccedilatildeo ou ainda quando as circunstacircncias ou a quantidade de documentos natildeo permitirem sua identificaccedilatildeo e conferecircncia no local ou no momento em que foram encontrados

Paraacutegrafo uacutenico O sujeito passivo e demais responsaacuteveis seratildeo previamente notificados para acompanharem o procedimento de rompimento do lacre e identificaccedilatildeo dos elementos de interesse da fiscalizaccedilatildeo

Guarda de Documentos

Art 37 Os comprovantes da escrituraccedilatildeo da pessoa juriacutedica relativos a fatos que repercutam em lanccedilamentos contaacutebeis de exerciacutecio futuros seratildeo conservados ateacute que se opere a decadecircncia do direito de a Fazenda Puacuteblica constituir os creacuteditos tributaacuterios relativos a esses exerciacutecios

Arquivos Magneacuteticos

Art 38 O sujeito passivo usuaacuterio de sistema de processamento de dados deveraacute manter documentaccedilatildeo teacutecnica completa e atualizada do sistema suficiente para possibilitar a sua auditoria facultada a manutenccedilatildeo em meio magneacutetico sem prejuiacutezo da sua emissatildeo graacutefica quando solicitada

Como se depreende das disposiccedilotildees legais acima transcritas a legislaccedilatildeo

tributaacuteria considera inaplicaacuteveis quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do

direito que deteacutem a Fiscalizaccedilatildeo Federal de examinar mercadorias livros arquivos

documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores

ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos Estabelece tambeacutem que mediante intimaccedilatildeo por escrito

todas as pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao Imposto

sobre Produtos Industrializados deveratildeo prestar por escrito as informaccedilotildees requeridas Ainda

que a fiscalizaccedilatildeo alcanccedila todas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que

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forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do imposto devendo

elas exibir aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e

comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados

necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo Ainda mais que as pessoas deveratildeo franquear agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal

os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da

noite se agrave noite estiverem funcionando e autoriza o Fisco a proceder ao exame inclusive de

documentos mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados

E que se diga natildeo estamos aqui nos referindo apenas ao poder outorgado por

lei agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal no exerciacutecio de suas funccedilotildees mas para aleacutem disso de um dever

legal sob pena de responsabilidade funcional da autoridade fiscal que vier a negligenciaacuteshylos

A toda evidecircncia a despeito do fato de que parte das provas colacionadas aos

autos tenham efetivamente sido obtidas com base em pesquisas e consultas aos sistemas da

Secretaria da Receita Federal sem qualquer viacutenculo com o que fora apreendido nas

dependecircncias dos contribuinte o fato eacute que todos os elementos de prova que instruem o

presente processo notadamente poderiam ser obtidos independentemente dos mandados de

busca e apreensatildeo que terminaram por dar ensejo agrave decretaccedilatildeo da nulidade de todo arcabouccedilo

probatoacuterio contido nos autos bastando para tanto que a Fiscalizaccedilatildeo Federal com apoio ou

natildeo de forccedila policial seguisse os procedimentos autorizados em Lei Significa dizer

seguisse os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo do Oacutergatildeo

Eacute possiacutevel que se indague ainda se mesmo admitidos todos os pressupostos

ateacute aqui declinados teria a Fiscalizaccedilatildeo Federal tomado a iniciativa de instaurar um

procedimento fiscal em face dos sujeitos passivos relacionados nos autos A resposta a essa

suposta indagaccedilatildeo a meu sentir eacute facilmente respondida agrave luz do disposto na Lei nordm 929696

que exige a comprovaccedilatildeo de indiacutecios de autoria e materialidade do delito sob investigaccedilatildeo para

concessatildeo da ordem judicial autorizando dentre outros a quebra do sigilo telefocircnico e

telemaacutetico

Ora a conclusatildeo natural e inevitaacutevel a que se chega eacute que as investigaccedilotildees

das operaccedilotildees empreendidas pelos agentes envolvidos nas praacuteticas iliacutecitas de que tratam os

autos jaacute estavam em curso antes que o Poder Judiciaacuterio tivesse autorizado as interceptaccedilotildees

telefocircnicas razatildeo a mais para que se reconheccedila que as provas obtidas no cumprimento dos

MBAs haveriam de ser alcanccediladas pela accedilatildeo da Fiscalizaccedilatildeo Federal no curso dos

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procedimentos fiscais autorizados em lei proacuteprios tiacutepicos e inerentes agraves atividades

desenvolvidas pelo Oacutergatildeo uma vez que atos iliacutecitos jaacute fossem de conhecimento do Fisco

Como base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal na parte em que admite as provas derivadas de provas iliacutecitas desde que fique

demonstrado que tais provas as derivadas poderiam ser obtidas por meios independentes

seguindoshyse os procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal

Por oacutebvio as interceptaccedilotildees telefocircnicas natildeo compreendidas dentro do periacuteodo

que estende de 25052005 a 23072005 (60 dias considerados legais) natildeo podem ser admitidas

como prova do iliacutecito tributaacuterio de que ora se cuida

Voto por dar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda

Nacional para que seja afastada a prejudicial de nulidade das provas colacionadas aos autos

por forccedila das disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal conforme fundamentaccedilatildeo expressa no voto

O processo deve retornar agrave instacircncia recorrida para exame das questotildees de

meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade

das provas

(assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

Fl 2477DF CARF MF

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 13: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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()

sect 2ordm Quando viacutetimas de embaraccedilo ou desacato no exerciacutecio de suas funccedilotildees ou quando seja necessaacuterio agrave efetivaccedilatildeo de medidas acauteladoras do interecircsse do fisco ainda que natildeo se configure fato definido em lei como crime ou contravenccedilatildeo os agentes fiscalizadores diretamente ou atraveacutes das reparticcedilotildees a que pertencerem poderatildeo requisitar o auxiacutelio da focircrccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Art 97 Mediante intimaccedilatildeo escrita satildeo obrigados a prestar agraves autoridades fiscalizadoras tocircdas as informaccedilotildees de que disponham com relaccedilatildeo aos produtos negoacutecios ou atividades de terceiros I shy os tabeliatildees escrivatildees e demais serventuaacuterios de ofiacutecio II shy os bancos casas bancaacuterias Caixas Econocircmicas e semelhantes III shy as empresas transportadoras e os transportadores singulares IV shy os corretores leiloeiros e despachantes oficiais V shy os inventariantes VI shy os siacutendicos comissaacuterios e liquidataacuterios VII shy as reparticcedilotildees puacuteblicas e autaacuterquicas federais as entidades paraestatais e de economia mista VIII shy tocircdas as demais pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao impocircsto de consumo

Lei nordm 863093

Art 36 Compete ao Ministeacuterio da Fazenda por intermeacutedio das reparticcedilotildees aduaneiras

()

sect 2deg No exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees a autoridade aduaneira teraacute livre acesso a quaisquer dependecircncias do porto e agraves embarcaccedilotildees atracadas ou natildeo bem como aos locais onde se encontrem mercadorias procedentes do exterior ou a ele destinadas podendo quando julgar necessaacuterio requisitar papeacuteis livros e outros documentos inclusive quando necessaacuterio o apoio de forccedila puacuteblica federal estadual ou municipal

Lei nordm 943096

Art 34 Satildeo tambeacutem passiacuteveis de exame os documentos do sujeito passivo mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados encontrados no local da verificaccedilatildeo que tenham relaccedilatildeo direta ou indireta com a atividade por ele exercida

Retenccedilatildeo de Livros e Documentos

Art 35 Os livros e documentos poderatildeo ser examinados fora do estabelecimento do sujeito passivo desde que lavrado termo

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escrito de retenccedilatildeo pela autoridade fiscal em que se especifiquem a quantidade espeacutecie natureza e condiccedilotildees dos livros e documentos retidos

sect 1ordm Constituindo os livros ou documentos prova da praacutetica de iliacutecito penal ou tributaacuterio os originais retidos natildeo seratildeo devolvidos extraindoshyse coacutepia para entrega ao interessado

sect 2ordm Excetuado o disposto no paraacutegrafo anterior devem ser devolvidos os originais dos documentos retidos para exame mediante recibo

Lacraccedilatildeo de Arquivos

Art 36 A autoridade fiscal encarregada de diligecircncia ou fiscalizaccedilatildeo poderaacute promover a lacraccedilatildeo de moacuteveis caixas cofres ou depoacutesitos onde se encontram arquivos e documentos toda vez que ficar caracterizada a resistecircncia ou o embaraccedilo agrave fiscalizaccedilatildeo ou ainda quando as circunstacircncias ou a quantidade de documentos natildeo permitirem sua identificaccedilatildeo e conferecircncia no local ou no momento em que foram encontrados

Paraacutegrafo uacutenico O sujeito passivo e demais responsaacuteveis seratildeo previamente notificados para acompanharem o procedimento de rompimento do lacre e identificaccedilatildeo dos elementos de interesse da fiscalizaccedilatildeo

Guarda de Documentos

Art 37 Os comprovantes da escrituraccedilatildeo da pessoa juriacutedica relativos a fatos que repercutam em lanccedilamentos contaacutebeis de exerciacutecio futuros seratildeo conservados ateacute que se opere a decadecircncia do direito de a Fazenda Puacuteblica constituir os creacuteditos tributaacuterios relativos a esses exerciacutecios

Arquivos Magneacuteticos

Art 38 O sujeito passivo usuaacuterio de sistema de processamento de dados deveraacute manter documentaccedilatildeo teacutecnica completa e atualizada do sistema suficiente para possibilitar a sua auditoria facultada a manutenccedilatildeo em meio magneacutetico sem prejuiacutezo da sua emissatildeo graacutefica quando solicitada

Como se depreende das disposiccedilotildees legais acima transcritas a legislaccedilatildeo

tributaacuteria considera inaplicaacuteveis quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do

direito que deteacutem a Fiscalizaccedilatildeo Federal de examinar mercadorias livros arquivos

documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores

ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos Estabelece tambeacutem que mediante intimaccedilatildeo por escrito

todas as pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao Imposto

sobre Produtos Industrializados deveratildeo prestar por escrito as informaccedilotildees requeridas Ainda

que a fiscalizaccedilatildeo alcanccedila todas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que

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forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do imposto devendo

elas exibir aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e

comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados

necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo Ainda mais que as pessoas deveratildeo franquear agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal

os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da

noite se agrave noite estiverem funcionando e autoriza o Fisco a proceder ao exame inclusive de

documentos mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados

E que se diga natildeo estamos aqui nos referindo apenas ao poder outorgado por

lei agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal no exerciacutecio de suas funccedilotildees mas para aleacutem disso de um dever

legal sob pena de responsabilidade funcional da autoridade fiscal que vier a negligenciaacuteshylos

A toda evidecircncia a despeito do fato de que parte das provas colacionadas aos

autos tenham efetivamente sido obtidas com base em pesquisas e consultas aos sistemas da

Secretaria da Receita Federal sem qualquer viacutenculo com o que fora apreendido nas

dependecircncias dos contribuinte o fato eacute que todos os elementos de prova que instruem o

presente processo notadamente poderiam ser obtidos independentemente dos mandados de

busca e apreensatildeo que terminaram por dar ensejo agrave decretaccedilatildeo da nulidade de todo arcabouccedilo

probatoacuterio contido nos autos bastando para tanto que a Fiscalizaccedilatildeo Federal com apoio ou

natildeo de forccedila policial seguisse os procedimentos autorizados em Lei Significa dizer

seguisse os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo do Oacutergatildeo

Eacute possiacutevel que se indague ainda se mesmo admitidos todos os pressupostos

ateacute aqui declinados teria a Fiscalizaccedilatildeo Federal tomado a iniciativa de instaurar um

procedimento fiscal em face dos sujeitos passivos relacionados nos autos A resposta a essa

suposta indagaccedilatildeo a meu sentir eacute facilmente respondida agrave luz do disposto na Lei nordm 929696

que exige a comprovaccedilatildeo de indiacutecios de autoria e materialidade do delito sob investigaccedilatildeo para

concessatildeo da ordem judicial autorizando dentre outros a quebra do sigilo telefocircnico e

telemaacutetico

Ora a conclusatildeo natural e inevitaacutevel a que se chega eacute que as investigaccedilotildees

das operaccedilotildees empreendidas pelos agentes envolvidos nas praacuteticas iliacutecitas de que tratam os

autos jaacute estavam em curso antes que o Poder Judiciaacuterio tivesse autorizado as interceptaccedilotildees

telefocircnicas razatildeo a mais para que se reconheccedila que as provas obtidas no cumprimento dos

MBAs haveriam de ser alcanccediladas pela accedilatildeo da Fiscalizaccedilatildeo Federal no curso dos

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procedimentos fiscais autorizados em lei proacuteprios tiacutepicos e inerentes agraves atividades

desenvolvidas pelo Oacutergatildeo uma vez que atos iliacutecitos jaacute fossem de conhecimento do Fisco

Como base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal na parte em que admite as provas derivadas de provas iliacutecitas desde que fique

demonstrado que tais provas as derivadas poderiam ser obtidas por meios independentes

seguindoshyse os procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal

Por oacutebvio as interceptaccedilotildees telefocircnicas natildeo compreendidas dentro do periacuteodo

que estende de 25052005 a 23072005 (60 dias considerados legais) natildeo podem ser admitidas

como prova do iliacutecito tributaacuterio de que ora se cuida

Voto por dar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda

Nacional para que seja afastada a prejudicial de nulidade das provas colacionadas aos autos

por forccedila das disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal conforme fundamentaccedilatildeo expressa no voto

O processo deve retornar agrave instacircncia recorrida para exame das questotildees de

meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade

das provas

(assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

Fl 2467DF CARF MF

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 14: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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escrito de retenccedilatildeo pela autoridade fiscal em que se especifiquem a quantidade espeacutecie natureza e condiccedilotildees dos livros e documentos retidos

sect 1ordm Constituindo os livros ou documentos prova da praacutetica de iliacutecito penal ou tributaacuterio os originais retidos natildeo seratildeo devolvidos extraindoshyse coacutepia para entrega ao interessado

sect 2ordm Excetuado o disposto no paraacutegrafo anterior devem ser devolvidos os originais dos documentos retidos para exame mediante recibo

Lacraccedilatildeo de Arquivos

Art 36 A autoridade fiscal encarregada de diligecircncia ou fiscalizaccedilatildeo poderaacute promover a lacraccedilatildeo de moacuteveis caixas cofres ou depoacutesitos onde se encontram arquivos e documentos toda vez que ficar caracterizada a resistecircncia ou o embaraccedilo agrave fiscalizaccedilatildeo ou ainda quando as circunstacircncias ou a quantidade de documentos natildeo permitirem sua identificaccedilatildeo e conferecircncia no local ou no momento em que foram encontrados

Paraacutegrafo uacutenico O sujeito passivo e demais responsaacuteveis seratildeo previamente notificados para acompanharem o procedimento de rompimento do lacre e identificaccedilatildeo dos elementos de interesse da fiscalizaccedilatildeo

Guarda de Documentos

Art 37 Os comprovantes da escrituraccedilatildeo da pessoa juriacutedica relativos a fatos que repercutam em lanccedilamentos contaacutebeis de exerciacutecio futuros seratildeo conservados ateacute que se opere a decadecircncia do direito de a Fazenda Puacuteblica constituir os creacuteditos tributaacuterios relativos a esses exerciacutecios

Arquivos Magneacuteticos

Art 38 O sujeito passivo usuaacuterio de sistema de processamento de dados deveraacute manter documentaccedilatildeo teacutecnica completa e atualizada do sistema suficiente para possibilitar a sua auditoria facultada a manutenccedilatildeo em meio magneacutetico sem prejuiacutezo da sua emissatildeo graacutefica quando solicitada

Como se depreende das disposiccedilotildees legais acima transcritas a legislaccedilatildeo

tributaacuteria considera inaplicaacuteveis quaisquer disposiccedilotildees legais excludentes ou limitativas do

direito que deteacutem a Fiscalizaccedilatildeo Federal de examinar mercadorias livros arquivos

documentos papeacuteis e efeitos comerciais ou fiscais dos comerciantes industriais ou produtores

ou da obrigaccedilatildeo destes de exibishylos Estabelece tambeacutem que mediante intimaccedilatildeo por escrito

todas as pessoas naturais ou juriacutedicas cujas atividades envolvam negoacutecios ligados ao Imposto

sobre Produtos Industrializados deveratildeo prestar por escrito as informaccedilotildees requeridas Ainda

que a fiscalizaccedilatildeo alcanccedila todas as pessoas naturais ou juriacutedicas contribuintes ou natildeo que

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forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do imposto devendo

elas exibir aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e

comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados

necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo Ainda mais que as pessoas deveratildeo franquear agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal

os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da

noite se agrave noite estiverem funcionando e autoriza o Fisco a proceder ao exame inclusive de

documentos mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados

E que se diga natildeo estamos aqui nos referindo apenas ao poder outorgado por

lei agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal no exerciacutecio de suas funccedilotildees mas para aleacutem disso de um dever

legal sob pena de responsabilidade funcional da autoridade fiscal que vier a negligenciaacuteshylos

A toda evidecircncia a despeito do fato de que parte das provas colacionadas aos

autos tenham efetivamente sido obtidas com base em pesquisas e consultas aos sistemas da

Secretaria da Receita Federal sem qualquer viacutenculo com o que fora apreendido nas

dependecircncias dos contribuinte o fato eacute que todos os elementos de prova que instruem o

presente processo notadamente poderiam ser obtidos independentemente dos mandados de

busca e apreensatildeo que terminaram por dar ensejo agrave decretaccedilatildeo da nulidade de todo arcabouccedilo

probatoacuterio contido nos autos bastando para tanto que a Fiscalizaccedilatildeo Federal com apoio ou

natildeo de forccedila policial seguisse os procedimentos autorizados em Lei Significa dizer

seguisse os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo do Oacutergatildeo

Eacute possiacutevel que se indague ainda se mesmo admitidos todos os pressupostos

ateacute aqui declinados teria a Fiscalizaccedilatildeo Federal tomado a iniciativa de instaurar um

procedimento fiscal em face dos sujeitos passivos relacionados nos autos A resposta a essa

suposta indagaccedilatildeo a meu sentir eacute facilmente respondida agrave luz do disposto na Lei nordm 929696

que exige a comprovaccedilatildeo de indiacutecios de autoria e materialidade do delito sob investigaccedilatildeo para

concessatildeo da ordem judicial autorizando dentre outros a quebra do sigilo telefocircnico e

telemaacutetico

Ora a conclusatildeo natural e inevitaacutevel a que se chega eacute que as investigaccedilotildees

das operaccedilotildees empreendidas pelos agentes envolvidos nas praacuteticas iliacutecitas de que tratam os

autos jaacute estavam em curso antes que o Poder Judiciaacuterio tivesse autorizado as interceptaccedilotildees

telefocircnicas razatildeo a mais para que se reconheccedila que as provas obtidas no cumprimento dos

MBAs haveriam de ser alcanccediladas pela accedilatildeo da Fiscalizaccedilatildeo Federal no curso dos

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procedimentos fiscais autorizados em lei proacuteprios tiacutepicos e inerentes agraves atividades

desenvolvidas pelo Oacutergatildeo uma vez que atos iliacutecitos jaacute fossem de conhecimento do Fisco

Como base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal na parte em que admite as provas derivadas de provas iliacutecitas desde que fique

demonstrado que tais provas as derivadas poderiam ser obtidas por meios independentes

seguindoshyse os procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal

Por oacutebvio as interceptaccedilotildees telefocircnicas natildeo compreendidas dentro do periacuteodo

que estende de 25052005 a 23072005 (60 dias considerados legais) natildeo podem ser admitidas

como prova do iliacutecito tributaacuterio de que ora se cuida

Voto por dar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda

Nacional para que seja afastada a prejudicial de nulidade das provas colacionadas aos autos

por forccedila das disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal conforme fundamentaccedilatildeo expressa no voto

O processo deve retornar agrave instacircncia recorrida para exame das questotildees de

meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade

das provas

(assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 15: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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forem sujeitos passivos de obrigaccedilotildees tributaacuterias previstas na legislaccedilatildeo do imposto devendo

elas exibir aos agentes fiscalizadores sempre que exigido os produtos os livros fiscais e

comerciais e todos os documentos ou papeacuteis em uso ou jaacute arquivados que forem julgados

necessaacuterios agrave fiscalizaccedilatildeo Ainda mais que as pessoas deveratildeo franquear agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal

os seus estabelecimentos depoacutesitos dependecircncias e moacuteveis a qualquer hora do dia ou da

noite se agrave noite estiverem funcionando e autoriza o Fisco a proceder ao exame inclusive de

documentos mantidos em arquivos magneacuteticos ou assemelhados

E que se diga natildeo estamos aqui nos referindo apenas ao poder outorgado por

lei agrave Fiscalizaccedilatildeo Federal no exerciacutecio de suas funccedilotildees mas para aleacutem disso de um dever

legal sob pena de responsabilidade funcional da autoridade fiscal que vier a negligenciaacuteshylos

A toda evidecircncia a despeito do fato de que parte das provas colacionadas aos

autos tenham efetivamente sido obtidas com base em pesquisas e consultas aos sistemas da

Secretaria da Receita Federal sem qualquer viacutenculo com o que fora apreendido nas

dependecircncias dos contribuinte o fato eacute que todos os elementos de prova que instruem o

presente processo notadamente poderiam ser obtidos independentemente dos mandados de

busca e apreensatildeo que terminaram por dar ensejo agrave decretaccedilatildeo da nulidade de todo arcabouccedilo

probatoacuterio contido nos autos bastando para tanto que a Fiscalizaccedilatildeo Federal com apoio ou

natildeo de forccedila policial seguisse os procedimentos autorizados em Lei Significa dizer

seguisse os tracircmites tiacutepicos e de praxe proacuteprios da investigaccedilatildeo do Oacutergatildeo

Eacute possiacutevel que se indague ainda se mesmo admitidos todos os pressupostos

ateacute aqui declinados teria a Fiscalizaccedilatildeo Federal tomado a iniciativa de instaurar um

procedimento fiscal em face dos sujeitos passivos relacionados nos autos A resposta a essa

suposta indagaccedilatildeo a meu sentir eacute facilmente respondida agrave luz do disposto na Lei nordm 929696

que exige a comprovaccedilatildeo de indiacutecios de autoria e materialidade do delito sob investigaccedilatildeo para

concessatildeo da ordem judicial autorizando dentre outros a quebra do sigilo telefocircnico e

telemaacutetico

Ora a conclusatildeo natural e inevitaacutevel a que se chega eacute que as investigaccedilotildees

das operaccedilotildees empreendidas pelos agentes envolvidos nas praacuteticas iliacutecitas de que tratam os

autos jaacute estavam em curso antes que o Poder Judiciaacuterio tivesse autorizado as interceptaccedilotildees

telefocircnicas razatildeo a mais para que se reconheccedila que as provas obtidas no cumprimento dos

MBAs haveriam de ser alcanccediladas pela accedilatildeo da Fiscalizaccedilatildeo Federal no curso dos

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procedimentos fiscais autorizados em lei proacuteprios tiacutepicos e inerentes agraves atividades

desenvolvidas pelo Oacutergatildeo uma vez que atos iliacutecitos jaacute fossem de conhecimento do Fisco

Como base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal na parte em que admite as provas derivadas de provas iliacutecitas desde que fique

demonstrado que tais provas as derivadas poderiam ser obtidas por meios independentes

seguindoshyse os procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal

Por oacutebvio as interceptaccedilotildees telefocircnicas natildeo compreendidas dentro do periacuteodo

que estende de 25052005 a 23072005 (60 dias considerados legais) natildeo podem ser admitidas

como prova do iliacutecito tributaacuterio de que ora se cuida

Voto por dar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda

Nacional para que seja afastada a prejudicial de nulidade das provas colacionadas aos autos

por forccedila das disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal conforme fundamentaccedilatildeo expressa no voto

O processo deve retornar agrave instacircncia recorrida para exame das questotildees de

meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade

das provas

(assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

Fl 2464DF CARF MF

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

Fl 2465DF CARF MF

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

Fl 2466DF CARF MF

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

Fl 2467DF CARF MF

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

Fl 2469DF CARF MF

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

Fl 2470DF CARF MF

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

Fl 2472DF CARF MF

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

Fl 2474DF CARF MF

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 16: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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procedimentos fiscais autorizados em lei proacuteprios tiacutepicos e inerentes agraves atividades

desenvolvidas pelo Oacutergatildeo uma vez que atos iliacutecitos jaacute fossem de conhecimento do Fisco

Como base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal na parte em que admite as provas derivadas de provas iliacutecitas desde que fique

demonstrado que tais provas as derivadas poderiam ser obtidas por meios independentes

seguindoshyse os procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federal

Por oacutebvio as interceptaccedilotildees telefocircnicas natildeo compreendidas dentro do periacuteodo

que estende de 25052005 a 23072005 (60 dias considerados legais) natildeo podem ser admitidas

como prova do iliacutecito tributaacuterio de que ora se cuida

Voto por dar provimento ao recurso especial interposto pela Fazenda

Nacional para que seja afastada a prejudicial de nulidade das provas colacionadas aos autos

por forccedila das disposiccedilotildees contidas nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do Coacutedigo do Processo

Penal conforme fundamentaccedilatildeo expressa no voto

O processo deve retornar agrave instacircncia recorrida para exame das questotildees de

meacuterito cujo juiacutezo restou prejudicado em razatildeo da decisatildeo a respeito da preliminar de nulidade

das provas

(assinado digitalmente) Andrada Maacutercio Canuto Natal

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

Fl 2462DF CARF MF

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

Fl 2463DF CARF MF

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

Fl 2464DF CARF MF

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

Fl 2465DF CARF MF

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

Fl 2467DF CARF MF

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

Fl 2469DF CARF MF

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

Fl 2470DF CARF MF

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

Fl 2471DF CARF MF

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 17: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Declaraccedilatildeo de Voto

Conselheira Tatiana Midori Migiyama

Depreendendoshyse da anaacutelise dos autos do processo peccedilo vecircnia ao ilustre

conselheiro relator para expor meu entendimento acerca da mateacuteria trazida em Recurso

Especial interposto pela Fazenda Nacional ndash qual seja sobre a aceitaccedilatildeo ou natildeo das provas

derivadas de provas iliacutecitas no presente processo

Nada obstante o excelente voto do ilustre conselheiro Andrada importante

trazer alguns fatos importantes constantes do voto do conselheiro Rosaldo Trevisan ndash

presidente da 1ordf Turma Ordinaacuteria da 4ordf Cacircmara da 3ordf Seccedilatildeo

ldquoConselheiro Rosaldo Trevisan Redator designado

Minha divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto do relator restringeshyse agrave acolhida da

chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e natildeo eacute nova no seio do

colegiado jaacute tendo sido externada em outros julgados a exemplo dos

Acoacuterdatildeos e no 3401003171 de 17052016 no 3401004396 de 27022018

dos quais extraio alguns argumentos a seguir

Portanto externo no presente voto o posicionamento juriacutedico que prevaleceu

no colegiado durante a sessatildeo de julgamento tanto daquele quanto deste

processo Recordo no entanto que no presente caso o tratamento do

recurso de ofiacutecio e da questatildeo da decadecircncia foi unacircnime no colegiado natildeo

versando o presente voto sobre tais temas

Precedente da turma ndash Anaacutelise dos processos judiciais referentes agrave

chamada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo

No primeiro julgado administrativo citado (Acoacuterdatildeo no 3401003171) por

mim relatado deparoushyse a turma com a decisatildeo do STJ pela nulidade de

interceptaccedilotildees telefocircnicas analisando as peccedilas do processo judicial

correspondente

No processo no 200670000224356 percebeushyse que eram seis os reacuteus Sun

Nim Kun Yuri Leite San Tian Sun e Lenytonio Amorim Pereira Marco

Antonio Mansur Marco Antonio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito

Mendes e Alessandra Saleski todos com denuacutencia oferecida e recebida por

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

Fl 2459DF CARF MF

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

Fl 2463DF CARF MF

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

Fl 2467DF CARF MF

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 18: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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infraccedilatildeo ao disposto no artigos 299 do Coacutedigo Penal combinado com o

artigo 71 do mesmo coacutedigo recebida No volume 5 do processo consta a

apreciaccedilatildeo pelo STJ do HC no 142045PR (tendo como pacientes Marco

Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho) no qual foi concedida a

ordem por maioria para reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de

direito(sic) Da decisatildeo foram interpostos embargos de declaraccedilatildeo em

09012010 natildeo apreciados ateacute a data da anexaccedilatildeo (11042011) Percebeshy

se que diante da ausecircncia de definitividade da decisatildeo do STJ o juiacutezo

decidiu pela suspensatildeo dos autos por seis meses em 06062011 Rejeitados

os embargos apresentados e negado seguimento a Recurso Extraordinaacuterio

(RE) e a agravo no RE (ARE) autuado no STF sob o no 659387 o juiacutezo

originaacuterio se manifestou antes do julgamento do uacuteltimo agravo em

081120114 entendendo que restariam hiacutegidas as provas colhidas durante o

primeiro periacuteodo de interceptaccedilatildeo telefocircnica autorizada bem como nas trecircs

prorrogaccedilotildees que lhe foram subsequentes e que

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O Ministeacuterio Puacuteblico foi entatildeo intimado a respeito da decisatildeo e se

manifestou no sentido de que a invalidaccedilatildeo das escutas telefocircnicas natildeo se

alastra pelas demais provas constantes nos autos obtidas em outras

operaccedilotildees e que o STJ natildeo trancou ou extinguiu as accedilotildees penais mas

ordenou o retorno ao juiacutezo originaacuterio para determinaccedilotildees de direito E eacute

nessa peccedila atinente ao HC no 142045PR e redigida pelo Ministeacuterio

Puacuteblico Federal em 15122011 que se encontra polecircmico excerto

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

Fl 2477DF CARF MF

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 19: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 20: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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251658240

Nas palavras do Ministeacuterio Puacuteblico Federal agravequela data 15122011 soacute

restaria aos procedimentos administrativos calcados nos documentos obtidos

na chamada Operaccedilatildeo Diluacutevio a alternativa do salvo melhor juiacutezo E foi

com base em tal manifestaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico que o juiacutezo de primeira

instacircncia em 16042012 decidiu pela absolviccedilatildeo sumaacuteria dos reacuteus

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

Fl 2465DF CARF MF

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

Fl 2480DF CARF MF

Page 21: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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conforme artigos 386 III e 397 III do Coacutedigo de processo Penal enviando

os autos para arquivo em 20092013

Em tese este julgador tem todo o direito de discordar do entendimento

externado pelo STJ (ainda mais por estar em desconformidade com a

jurisprudecircncia anterior e posterior do mesmo tribunal) mas por outro lado

tem todo o dever de acataacuteshylo sob pena de subversatildeo do ordenamento

juriacutedico da funccedilatildeo dos distintos poderes e da unidade de jurisdiccedilatildeo

Daiacute natildeo compactuarmos com a tese externada no voto do relator

encampando a chamada ldquoTeoria da Descoberta Inevitaacutevelrdquo que equivale a

nosso ver a assimilar que os fins (quando considerados nobres) justificam os

meios (ainda que iliacutecitos) Em outras palavras a nosso ver tal tese equivale

a entender que eacute vaacutelida a prova ainda que obtida ilicitamente de fato

quando esta poderia ser obtida de forma liacutecita dentro dos poderes regulares

da fiscalizaccedilatildeo

Nosso posicionamento conforme externado no citado precedente

administrativo (Acoacuterdatildeo no 3401003171) no entanto acolhe toda e

qualquer prova derivada de accedilatildeo fiscal autocircnoma (alheia agrave chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo ou derivada de documentos em posse da proacutepria RFB v

g registros em sistemas informatizados)

Das conversotildees em diligecircncia

Na primeira conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000792 de

29012014 foram contempladas ambas as correntes de pensamento (a do

relator atrelada agrave chamada ldquoteoria da descoberta inevitaacutevelrdquo e a da

maioria do colegiado que demanda a anaacutelise de fontes autocircnomas de prova

independentes daquelas judicialmente afastadas) A demanda era para que a

unidade preparadora identificasse os elementos de prova atrelados agrave

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo e aqueles que foram obtidos por outro modo

elaborando relatoacuterio circunstanciado

Natildeo atendido a contento o demandado agrave unidade preparadora houve uma

segunda conversatildeo em diligecircncia pela Resoluccedilatildeo no 3401000911 de

28012016 reiterando objetivamente os questionamentos

No Relatoacuterio de Diligecircncia Fiscal referente agrave segunda conversatildeo datado de

13032007 a autoridade fiscal apoacutes tecer comentaacuterios sobre as teorias

Fl 2460DF CARF MF

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

Fl 2465DF CARF MF

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

Fl 2477DF CARF MF

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

Fl 2479DF CARF MF

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

Fl 2480DF CARF MF

Page 22: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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ldquodos frutos da aacutervore envenenadardquo ldquoda descoberta inevitaacutevelrdquo e da ldquofonte

independenterdquo responde aos questionamentos do tribunal administrativo

esclarecendo jaacute de iniacutecio que todos os documentos referenciados no relatoacuterio

de auditoria utilizados para formalizaccedilatildeo do lanccedilamento foram apreendidos

por ocasiatildeo dos procedimentos de busca e apreensatildeo decorrentes da

denominada ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo mas que vaacuterios deles poderiam ser obtidos

de outra forma

A resposta assim eacute satisfatoacuteria apenas a aqueles que albergam a chamada

ldquoteria da descoberta inevitaacutevelrdquo entre os quais natildeo nos incluiacutemos e admite

textualmente que a integralidade dos documentos que embasam o

lanccedilamento deriva da Operaccedilatildeo Diluacutevio restando pouco a este colegiado

analisar diante das consideraccedilotildees externadas no toacutepico anterior sobre a

validade das provas relativas tal operaccedilatildeo

Assim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a accedilatildeo

fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos autos em

anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na ldquoOperaccedilatildeo

Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo absolutamente

insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a manutenccedilatildeo do

lanccedilamento

Consideraccedilotildees finais

Pelo exposto entendo que expurgados os elementos derivados da chamada

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo natildeo resta substrato ao lanccedilamento suficiente para

manutenccedilatildeo da imputaccedilatildeo fiscal caracterizando carecircncia probatoacuteriardquo

Peccedilo vecircnia ao relator quando traz

ldquoComo base em todo o exposto me sinto seguro em afirmar que no caso

concreto deve prevalecer o disposto nos paraacutegrafos 1ordm e 2ordm do art 157 do

Coacutedigo do Processo Penal na parte em que admite as provas derivadas de

provas iliacutecitas desde que fique demonstrado que tais provas as derivadas

poderiam ser obtidas por meios independentes seguindoshyse os

procedimentos tiacutepicos e de praxe da Fiscalizaccedilatildeo da Receita Federalrdquo

Fl 2461DF CARF MF

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

Fl 2462DF CARF MF

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

Fl 2465DF CARF MF

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

Fl 2466DF CARF MF

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 23: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Ora as provas derivadas de provas iliacutecitas consideradas nesse processo como

firmou o proacuteprio Ministeacuterio Puacuteblico foram decorrentes da operaccedilatildeo diluacutevio ndash que foram

textualmente consideradas pelo STJ como iliacutecitas Ademais natildeo haacute como atestar que poderiam

ser obtidas por meio independente ndash pois pelos documentos internos e escutas ndash entendo que a

autoridade fiscal nem conseguiria compor tais provas O fato eacute que as provas utilizadas pela

fiscalizaccedilatildeo satildeo derivadas de provas iliacutecitas

Nessa linha concordo com o conselheiro Rosaldo Trevisan quando diz

ldquoAssim natildeo haacute efetivamente accedilatildeo fiscal autocircnoma (quando me refiro a

accedilatildeo fiscal autocircnoma tenho em mente qualquer elemento constante dos

autos em anaacutelise e que seja por si expurgados os documentos obtidos na

ldquoOperaccedilatildeo Diluacuteviordquo suficiente para manutenccedilatildeo da autuaccedilatildeo) sendo

absolutamente insuficientes os elementos carreados pela diligecircncia para a

manutenccedilatildeo do lanccedilamentordquo

Cabe ainda trazer decisatildeo recente do STJ publicada em 2882018 pelo

Ministro Feliz Fischer (destaques meus)

ldquo[]

DECISAtildeO

Tratashyse de recurso especial interposto pelo MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO

FEDERAL com fundamento no art 105 inciso III aliacutenea a da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica contra o v acoacuterdatildeo prolatado pelo eg Tribunal Regional da

3ordf Regiatildeo assim ementado (fls 3392shy3393)

PENAL PROCESSO PENAL EMBARGOS INFRINGENTES OPERACcedilAtildeO

PORTO EUROPA BUSCA E APREENSAtildeO DERIVADA DE ESCUTA

TELEFOcircNICA REALIZADA NA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO DIVERGEcircNCIA

QUANTO Agrave ILICITUDE POR DERIVACcedilAtildeO DA PROVA DOS AUTOS HC

142045PR DO C STJ ILICITUDE DE TODA A ESCUTA TELEFOcircNICA

DA OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO A CONTAMINAR A INSTRUCcedilAtildeO DOS

AUTOS PROVA ILIacuteCITA POR DERIVACcedilAtildeO COISA JULGADA

MATERIAL AUSEcircNCIA DE JUSTA CAUSA PARA A ACcedilAtildeO PENAL EM

EPIacuteGRAFE

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

Fl 2480DF CARF MF

Page 24: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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EMBARGOS INFRINGENTES CONHECIDOS E AOS QUAIS SE DAacute

PROVIMENTO

1 No caso pois verificashyse que o dissenso diz respeito unicamente ao fato

de serem as provas produzidas nos autos iliacutecitas por derivaccedilatildeo ou natildeo

2 Como bem levantado pela Defensoria Puacuteblica da Uniatildeo os acusados

Fernando Souza Costa e Jorge Rodrigues Moura encontravamshyse indefesos

sem advogado apoacutes a prolaccedilatildeo do acoacuterdatildeo ora objeto de embargos

infringentes Uma vez intimada a DPU portanto apresentou no prazo de

direito as razotildees recursais em nome de seus

representados de modo que natildeo haacute que se falar em intempestividade

Demais disso haacute por ora que se reforccedilar que a questatildeo em discussatildeo

(nulidade processual absoluta de processo penal) eacute mateacuteria de ordem

puacuteblica que pode ser conhecida e apreciada ex officio por este Tribunal

Portanto ainda que os embargos infringentes em anaacutelise fossem de fato

intempestivos da anaacutelise do meacuterito dos demais recursos ora em apreciaccedilatildeo

poderia advir decisatildeo judicial a aproveitar todos os reacuteus deste feito shy mesmo

aqueles que natildeo houvessem apresentado embargos infringentes Assim por

mais uma vez natildeo haacute que se falar em natildeo conhecimento do petitoacuterio em tela

Preliminar afastada

3 Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior que toda a escuta telefocircnica deveria ser

declarada iliacutecita E como eacute premissa no caso shy tanto no voto vencedor

quanto no vencido salienteshyse shy que a prova de busca e apreensatildeo ora

guerreada eacute consequecircncia uacutenica e direta de tal interceptaccedilatildeo telefocircnica

iliacutecita natildeo haacute outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por

derivaccedilatildeo de todo o conjunto probatoacuterio dos autos in casu

4 Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido no caso pelo STJ Embargos

infringentes todos conhecidos e aos quais se daacute provimento

Fl 2463DF CARF MF

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

Fl 2467DF CARF MF

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

Fl 2469DF CARF MF

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

Fl 2470DF CARF MF

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 25: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Nas razotildees do recurso especial o MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO sustenta ofensa

aos artigos 157 sect1ordm segunda parte e 395 inciso III ambos do Coacutedigo de

Processo Penal

Alegou em siacutentese que no julgamento do HC 142045PR esta Corte de

Justiccedila nem todas as provas obtidas por meio da interceptaccedilatildeo telefocircnica

foram declaradas nulas de modo que tanto aquelas colhidas antes das

interceptaccedilotildees quanto aquelas obtidas nos primeiros 30 apoacutes a medida satildeo

vaacutelidas Sustenta tambeacutem que as provas obtidas atraveacutes do procedimento de

cooperaccedilatildeo internacional teve iniacutecio a partir de provas vaacutelidas e por isso

natildeo foram contaminadas

Nesse contexto aduz que as provas obtidas sem a pecha de nulidade podem

ser utilizadas na formaccedilatildeo da opinio delicti da acusaccedilatildeo sobretudo em

decorrecircncia da aplicaccedilatildeo da teoria da contaminaccedilatildeo expurgada a qual foi

recepcionada pelo art 157 do CPP que por sua vez determina uma

exceccedilatildeo agrave teoria norteshyamericana do fruit of the poisonous tree

Requer com isto seja conhecido e provido o recurso especial para o fim de

reformar o venerando acoacuterdatildeo impugnado a fim de que dandoshyse a correta

interpretaccedilatildeo ao disposto no artigo 157 sect1deg segunda parte e 395 III do

Coacutedigo de Processo Penal reconhecer a licitude das provas que instruiacuteram a

denuacutencia e determinar o regular

prosseguimento do feito (fl 3411)

Apresentadas as contrarrazotildees (fls 3417shy3430) o recurso foi admitido na

origem e os autos encaminhados a esta Corte Superior A d

SubprocuradoriashyGeral da Repuacuteblica apresentou parecer pelo provimento

do recurso especial (fls 3497shy3507)

Eacute o relatoacuterio

Decido

A alegaccedilatildeo cingeshyse ao reconhecimento da licitude ou ilicitude das provas

amealhadas nos autos da accedilatildeo penal Para melhor delimitaccedilatildeo do tema a ser

analisado O v acoacuterdatildeo impugnado estaacute fundamentado nos seguintes termos

(fls 3384shy3394)

Do meacuterito recursal

Fl 2464DF CARF MF

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

Fl 2465DF CARF MF

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

Fl 2467DF CARF MF

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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30

No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

Fl 2469DF CARF MF

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

Fl 2472DF CARF MF

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

Fl 2474DF CARF MF

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 26: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Da leitura do voto do Exmo Relator (fls 27632770) verificashyse ademais

que eacute incontroverso nos autos que as provas obtidas no presente feito satildeo shy

de fato shy diretamente derivadas de interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na

Operaccedilatildeo Diluacutevio esta jaacute devidamente apreciada pelo C Superior

Tribunal de Justiccedila

Eacute o que salienta o voto condutor conforme vale por ora destacar verbis

Confirmashyse neste quadro o fato de a acusaccedilatildeo ampararshyse em prova

obtida natildeo sem o concurso dos resultados da interceptaratildeo telefocircnica (fl

2798 shy destaquei)

Desta forma a divergecircncia na verdade se restringe mais ainda seria a

interceptaccedilatildeo telefocircnica shy da qual decorrera a busca e apreensatildeo destes

autos shy totalmente iliacutecita shy o que contaminaria em toda a sua extensatildeo

a prova ora colacionada por derivaccedilatildeo shy ou estaria no caso a prova

originaacuteria (da Operaccedilatildeo Diluacutevio) abarcada por alguma das hipoacuteteses de

exceccedilatildeo

O voto condutor entendeu que a prova destes autos derivada de

interceptaccedilatildeo telefocircnica realizada na Operaccedilatildeo Diluacutevio seria liacutecita nos

seguintes termos

Do acoacuterdatildeo proferido no julgamento do habeas coreus pelo STJ verificashyse

ter sido a ordem concedida na consideraccedilatildeo de excesso de prazo da escuta

telefocircnica fundamento logicamente haacutebil agrave decretaccedilatildeo de ilicitude da prova

apenas no periacuteodo de prorrogaccedilatildeo reputada abusiva de modo a ao menos a

prova obtida no periacuteodo

inicial de 15 dias com a prorrogaccedilatildeo por mais 15 dias natildeo estar fulminada

pela ilicitude

O fundamento para decretaccedilatildeo da ilicitude natildeo cobre a prova toda da

interceptaccedilatildeo telefocircnica soacute uma parte dessa prova teraacute sido obtida com

inobservacircncia agrave lei soacute uma parcela da prova eacute iliacutecita por outro lado a

ilicitude contamina para frente natildeo para traacutes eacute o periacuteodo subsequente das

sucessivas prorroRacotildees que eacute derivado natildeo o contraacuterio de modo a

afrontar a loacutegica a ideia de ilicitude extensiva ao periacuteodo inicial da escuta

telefocircnica (lls 2768v2769 shy grifo nosso)

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 27: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Assim em siacutentese para o Nobre Desembargador Peixoto Junior portanto a

busca e apreensatildeo destes autos seria liacutecita uma vez que derivada de escuta

telefocircnica natildeo declarada ilegal em sua totalidade pelo STJ nos autos do

Habeas Corpus ndeg 142045

Entretanto por outro lado o voto vencido entendeu pela extensatildeo da

ilicitude a toda a escuta telefocircnica e por conseguinte pela adesatildeo agrave tese da

prova iliacutecita por derivaccedilatildeo shy sem limitaccedilotildees ou exceccedilotildees shy no caso da busca e

apreensatildeo dos autos Senatildeo vejamos

Dentro desse contexto as medidas de busca e apreensatildeo realizadas nestes

autos estatildeo alicerccediladas no relatoacuterio produzido com base nas provas colhidas

na Operaccedilatildeo Diluacutevio cuja ilicitude foi proclamada pelo C STJ quando do

julgamento do HC n 142045 em 15042010

Nesse ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda a prova produzida (J7 2898v shy g n)

Pretende a defesa destarte a prevalecircncia do voto vencido ndash este tambeacutem de

acordo aliaacutes com a r sentenccedila de primeiro grau in casu

Pois bem

Com razatildeo a defesa devem ser providos os recursos

Apoacutes anaacutelise detida dos votos e acoacuterdatildeo do C STJ no que se refere ao HC

142045PR shy que apreciou a nulidade da escuta telefocircnica da Operaccedilatildeo

Diluacutevio shy entendeu a Corte Superior por maioria que toda a escuta

telefocircnica deveria ser declarada iliacutecita E por dois fundamentos 1 Excesso

de prorrogaccedilatildeo de prazos indefinidamente e 2 Ausecircncia de

fundamentaccedilatildeo judicial para tanto

Tais ilicitudes contaminaram a interceptaccedilatildeo telefocircnica em sua totalidade

e como eacute premissa no caso shy tanto do voto vencedor quanto do vencido shy

que a prova de busca e apreensatildeo ora guerreada eacute consequecircncia uacutenica e

direta da interceptaccedilatildeo telefocircnica iliacutecita da Operaccedilatildeo Diluacutevio natildeo haacute

outra alternativa a natildeo ser reconhecer a ilicitude por derivaccedilatildeo de todo o

conjunto probatoacuterio dos autos ora postos em anaacutelise

Demais disso o natildeo reconhecimento dos exatos termos do julgado

supraenunciado constituiria patente violaccedilatildeo agrave coisa julgada material uma

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

Fl 2472DF CARF MF

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

Fl 2480DF CARF MF

Page 28: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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vez que frontalmente contraacuterio ao jaacute decidido pelo STJ in casu shy o que natildeo

eacute permitido na hipoacutetese

Transcrevo outrossim o v acoacuterdatildeo do E STJ em julgamento do Habeas

Corpus n 142045PR fazendo menccedilatildeo a alguns destaques a seguir

EMENTA

Comunicaccedilotildees telefocircnicas (interceptaccedilatildeo) Investigaccedilatildeo criminalinstruccedilatildeo

processual penal (prova) Limitaccedilatildeo temporal (prazo) Lei ordinaacuteria

(interpretaccedilatildeo) Princiacutepio da razoabilidade (violaccedilatildeo)

Eacute inviolaacutevel o sigilo das comunicaccedilotildees telefocircnicas admitindoshyse poreacutem a

interceptaccedilatildeo nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer

A Lei ndeg 9296 de 1996 regulamentou o texto constitucional especialmente

em dois pontos primeiro quanto ao prazo de quinze dias segundo quanto agrave

renovaccedilatildeo admitindoshya por igual periacuteodo uma vez comprovada a

indispensabilidade do meio de prova

Inexistindo na Lei ndeg 929696 previsatildeo de renovaccedilotildees sucessivas natildeo haacute

como admitishylas Se natildeo de trinta dias embora seja exatamente esse o prazo

da Lei ndeg 929696 (art 5deg) que sejam entatildeo os sessenta dias do estado de

defesa (Constituiccedilatildeo art 136 sect 2deg) e que haja decisatildeo exaustivamente

fundamentada Haacute neste caso se natildeo expliacutecita ou impliacutecita violaccedilatildeo do art

5deg da Lei ndeg 929696 evidente violaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade

Ordem concedida a fim de se reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e

tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas devendo

os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

Nesta mesma esteira o votoshycondutor do Ministro NILSON NAVES a

embasar o acoacuterdatildeo supra verbis

Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista do precedente

a saber do estatuiacutedo no HCshy76666 (6deg Turma sessatildeo de 9908) reputar

iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos e tantos dias de interceptaccedilatildeo das

comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de que toda a prova

produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees telefocircnicas seja tambeacutem

considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na impetraccedilatildeo) devendo os autos

retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para determinaccedilotildees de direito

(g n )

Fl 2467DF CARF MF

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

Fl 2480DF CARF MF

Page 29: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Assim sendo TODA a prova produzida na Operaccedilatildeo Diluacutevio foi

declarada iliacutecita pelo STJ E como a busca e apreensatildeo dos autos eacute shy de

forma incontroversa shy derivada exclusivamente daquela escuta telefocircnica

haacute de ser tambeacutem considerada nula e invaacutelida por derivaccedilatildeo Tais satildeo os

termos do voto da Desembargadora Ceciacutelia Mello que ora transcrevemos

verbis

Neste ponto eacute importante sinalar que duacutevidas natildeo subsistem acerca do

alcance da decisatildeo do C STJ porque o acoacuterdatildeo eacute expresso no sentido de

reputar iliacutecita toda prova produzida conforme excerto do voto que ora

transcrevo Voto pois pela concessatildeo da ordem com o intuito de agrave vista

do precedente a saber do estatuiacutedo no HC 76686 (6 Turma sessatildeo de

9908) reputar iliacutecita a prova resultante de tantos e tantos dias de

interceptaccedilatildeo das comunicaccedilotildees telefocircnicas consequentemente a fim de

que toda prova produzida ilegalmente a partir das interceptaccedilotildees

telefocircnicas seja tambeacutem considerada iliacutecita (tal o pedido formulado na

impetraccedilatildeo) devendq os autos retornar agraves matildeos do Juiz originaacuterio para

determinaccedilotildees de direito (gn)

Ora o artigo 5 inciso LVI da CF estabelece que satildeo inadmissiacuteveis no

processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

Por sua vez o artigo 157 caput e sect1deg do CPP expressamente dispotildeem

art 157 Satildeo inadmissiacuteveis devendo ser desentranhadas do processo as

provas iliacutecitas assim entendidas as obtidas em violaccedilatildeo a normas

constitucionais ou legais (Alterado pela Lshy011690shy2008)

sect Ideg Satildeo tambeacutem inadmissiacuteveis as provas derivadas das iliacutecitas salvo quando

natildeo evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras ou quando as

derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras

(Acrescentado pela Lshy011690shy2008

Da conjugaccedilatildeo das normas aludidas emerge a inadmissibilidade das provas

iliacutecitas e das provas iliacutecitas por derivaccedilatildeo em consagraccedilatildeo agrave Teoria dos

Frutos da aacutervore envenenada

Eacute imperioso anotar a existecircncia de elo de causalidade entre as provas

obtidas na Operaccedilatildeo Diluacutevio e as que instruem o presente feito natildeo

incidindo as exceccedilotildees previstas iro artigo 157 61deg do CPP

Fl 2468DF CARF MF

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 30: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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No caso sub examen as investigaccedilotildees que culminaram com a presente accedilatildeo

penal foram realizadas a partir de provas consideradas iliacutecitas pelo C STJ

sendo manifesta a sua nulidade

Ante o exposto nego provimento ao recurso ministerial mantendo na

iacutentegra a sentenccedila absolutoacuteria por seus proacuteprios fundamentos (destaquei)

Por derradeiro pois de se frisar que uma vez reconhecido o inevitaacutevel nexo

de causalidade entre (todas) as provas iliacutecitas da Operaccedilatildeo Diluacutevio e o

conjunto probatoacuterio dos autos ndash produzido uacutenica e exclusivamente por

derivaccedilatildeo das escutas telefocircnicas shy e ademais dado o fato notoacuterio do

tracircnsito em julgado do HC 142045PR

shy cujo desfecho foi pela clara e inequiacutevoca declaraccedilatildeo de nulidade de toda a

escuta telefocircnica a ocasionar a busca e apreensatildeo ora questionada shy natildeo haacute

como se afastar a ilicitude das provas dos autos por derivaccedilatildeo devendo a

apelaccedilatildeo ministerial ser portanto desprovida nos exatos termos do voto

vencido

Natildeo haacute afinal justa causa a embasar a accedilatildeo penal que deve portanto ser

extinta tudo nos termos do artigo 395 inciso III do Coacutedigo de Processo

Penal

Diante do exposto DOU PROVIMENTO aos embargos infringentes para

fazer prevalecer o voto vencido e negar provimento ao recurso ministerial

mantendoshyse pois na integra a r sentenccedila a ano absolutoacuteria por seus

proacuteprios e exatos fundamentos (fls 3384shy3394 grifei)

Da anaacutelise do excerto colacionado verificashyse ao contraacuterio do alegado a

inexistecircncia da qualquer ilegalidade a amparar o provimento do presente

inconformismo uma vez que as conclusotildees do acoacuterdatildeo recorrido estatildeo em

sintonia com o entendimento deste Superior Tribunal de Justiccedila

Da anaacutelise do excerto acima colacionado verifico que o eg Tribunal de

origem declinou de forma expliacutecita as razotildees baseado nas provas carreadas

aos autos pelas quais concluiu no caso concreto que todas as provas

inclusive as obtidas atraveacutes de busca e apreensatildeo satildeo derivadas

exclusivamente da escuta telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de

Justiccedila

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 31: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Ora estaacute assentado nesta Corte que as premissas faacuteticas firmadas nas

instacircncias ordinaacuterias natildeo podem ser modificadas no acircmbito do apelo

extremo nos termos da Suacutemula n 7STJ segundo a qual a pretensatildeo de

simples reexame de prova natildeo enseja recurso especial

Na hipoacutetese entender de modo contraacuterio ao estabelecido pelo Tribunal a

quo ou seja dizer quais e tais provas satildeo ou natildeo derivadas da interceptaccedilatildeo

telefocircnica declarada ilegal por esta Corte de Justiccedila como pretende a parte

recorrente demandaria o revolvimento no presente recurso do material

faacuteticoshyprobatoacuterio dos autos inviaacutevel nesta instacircncia

A propoacutesito

PENAL E PROCESSUAL PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO

EM RECURSO ESPECIAL HOMICIacuteDIO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA DUacuteVIDA ACERCA DOS

FATOS REVERSAtildeO SUacuteMULA 7STJ AGRAVO IMPROVIDO

1 A desconstituiccedilatildeo das premissas faacuteticas assentadas no acoacuterdatildeo

relativamente agrave existecircncia de prova cabal nos autos de terem os acusados

agido amparados pela excludente de ilicitude da legiacutetima defesa exigiria

revolvimento faacuteticoshyprobatoacuterio o que encontra oacutebice na Suacutemula 7 do STJ

2 Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp 982218AP Sexta

Turma Rel Min Nefi Cordeiro DJe 23102017)

PROCESSO PENAL AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL

HOMICIacuteDIO LEGIacuteTIMA DEFESA ABSOLVICcedilAtildeO SUMAacuteRIA

COMPETEcircNCIA DO JUacuteRI SUacuteMULA 7STJ AGRAVO DESPROVIDO

1 Concluindo o Tribunal a quo apoacutes exame da prova testemunhal e pericial

que haacute lastro probatoacuterio consistente da legiacutetima defesa natildeo pode este STJ

concluir em sentido contraacuterio sem reexaminar o conjunto faacuteticoshyprobatoacuterio

Incidecircncia da Suacutemula n 7STJ

2 Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp 1577440RS Quinta

Turma Rel Min Ribeiro Dantas DJe 22092017) Ante o exposto com

fulcro no art 255 sect 4ordm inciso I do Regimento Interno do STJ natildeo conheccedilo

do recurso especial P e I

Brasiacutelia (DF) 23 de agosto de 2018

Ministro Felix Fischer

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 32: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Relatorrdquo

Nessa linha com a devida vecircnia entendo que natildeo haacute mais que se discutir

teorias quer seja para aplicaccedilatildeo da teoria da aacutervore envenenada ou natildeo eis que no presente

caso o que se deve considerar eacute a decisatildeo proferida pelo STJ que por sua vez estaacute sendo

observada pelos demais tribunais

Em vista de todo o exposto voto por negar provimento ao Recurso Especial

interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(Assinado digitalmente)

Tatiana Midori Migiyama

DECLARACcedilAtildeO DE VOTO

Conselheiro Demes Brito

Conselheiro Demes Brito

Em que pese o brilhante voto do Ilustre Relator o qual acompanhei passo a expor meu entendimento quanto a mateacuteria

In caso tratashyse de auto de infraccedilatildeo para exigecircncia de Imposto de Importaccedilatildeo ndash II e Imposto sobre Produtos Industrializados ndash IPI vinculado agrave importaccedilatildeo e multa isolada (art 83 da Lei nordm 450264) periacuteodo setembro2004 a janeiro2005 onde foram arrolados como coobrigados os sujeitos passivos CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda HiTech do Brasil SA Marco Antocircnio Mansur Marco Antocircnio Mansur Filho Antonio Carlos Barbeito Mendes e Alessandra Salewski

A mateacuteria devolvida para esta E Cacircmara Superior diz respeito quanto agrave aplicabilidade Teoria da Descoberta Inevitaacutevel e da Teoria da Fonte Independente no processo administrativo fiscal

Com efeito a decisatildeo recorrida negou provimento ao Recurso de Ofiacutecio para afastar o lanccedilamento em relaccedilatildeo agrave DI 0409868005 afetada pela decadecircncia e parcial provimento ao Recurso Voluntaacuterio no que se refere aacutes demais DIs

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 33: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Ao prolatar o acoacuterdatildeo recorrido o Relator Vencido aplicou a exceccedilatildeo da descoberta inevitaacutevel externada em outros julgados a exemplo dos Acoacuterdatildeos e nordm 3401003171 de 17052016 nordm 3401004396 de 27022018 com a tese de que a Autoridade Lanccediladora valendoshyse de duas prerrogativas ao proceder aacute retenccedilatildeo de livros documentos e arquivos da Contribuinte encontrados em suas instalaccedilotildees de modo que essas peccedilas viriam ao processo de qualquer modo independente da autorizaccedilatildeo judicial porque este procedimento decorre de lei vaacutelida e vigente

Para o deslinde da controveacutersia posta em julgamento transcreve o que de fato interessa a motivaccedilatildeo do lanccedilamento

Relata a fiscalizaccedilatildeo no Relatoacuterio de Auditoria de fls 37142 que a accedilatildeo fiscal que deu origem ao presente lanccedilamento foi amparada pelo Mandado de Procedimento Fiscal de Fiscalizaccedilatildeo nordm 04151002008000550 de 8 de abril de 2008 que investigou as operaccedilotildees da empresa CIL Comeacutercio de Informaacutetica Ltda CNPJ nordm 24073694000155 doravante denominada simplesmente CIL no periacuteodo de setembro de 2004 a janeiro de 2005 que teriam sido realizadas em conluio com diversas empresas direta ou indiretamente vinculadas ao chamado Grupo MAM

Conforme os autos a accedilatildeo fiscal foi deflagrada depois do recebimentopela Inspetoria da Receita Federal do Brasil no Recife de documentos inclusive em meio magneacutetico selecionados pela Equipe Especial de Anaacutelise e Preparo de Accedilatildeo Fiscal constituiacuteda pela Portaria SRF nordm 1172 de 17 de novembro de 2006 atraveacutes da Representaccedilatildeo Fiscal nordm 10980005072200795 procedente da Divisatildeo de Administraccedilatildeo Aduaneira (Diana)da Superintendecircncia Regional da Receita Federal do Brasil da 9ordf Regiatildeo Fiscal (SRRF09)

Da Operaccedilatildeo Diluacutevio

A OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO consiste de um conjunto de procedimentos adotados pela Policia Federal e pela Receita Federalbdquo devidamente shy amparados por autorizaccedilotildees judiciais com vistas a identificai as pessoas e empresas envolvidas na praacutetica de fraudes aduaneiras e tributarias sob controle de MARCO ANTONIO MANSUR Tratashyse de um conjunto de empresas constituiacutedas em sua maioria em nome de interpostas pessoas que atuavam de forma dissimulada como importadores ou como distribuidores de mercadorias importadas mas que de fato serviam apenas de anteparo e de escudo para ocultar os reais adquirentes destas mercadorias estes sim reais importadores que adquiriam mercadorias de seus efetivos fornecedores no exterior mas que nunca figuravam como importadores tampouco como adquirentes perante os controles administrativos e aduaneiros

Durante o periacuteodo de investigaccedilatildeo constatoushyse a existecircncia dessa organizaccedilatildeo criminosa bem como se identificou a maioria dos intervenientes especialmente os controladores do esquema e seus principais beneficiaacuterios (clientes adquirentes de fato das mercadorias estrangeiras)

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 34: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Ainda nesta etapa aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentesfoi tambeacutem possiacutevel comprovar a praacutetica de inuacutemeras outras fraudes relacionadas com o comeacutercio exterior tais como subfaturamento dos preccedilos declarados falsificaccedilatildeo de documentos shy corrupccedilatildeo de servidores puacuteblicos etc

No dia16 de agosto de 2006 foi deflagrada a parte ostensiva da Operaccedilatildeo Diluacutevio tendo sido realizadas centenas de diligecircncias em diversos endereccedilos comerciais e residenciais localizados em oito Unidades da Federaccedilatildeo e no exterior com vistas a localizar e apreender documentos que permitissem comprovar as fraudes praticadas

Nesta operaccedilatildeo que envolveu a participaccedilatildeo de quase 2000 servidores da Policia Federal e da Receita Federal houve a apreensatildeo de grande quantidade de documentos meios magneacuteticos e mercadorias assim como a realizaccedilatildeo da prisatildeo de mais de uma centena de pessoas

Os elementos apreendidos (documentos meios magneacuteticos e objetos) foram todos remetidos para Curitiba PR tendo sido imediatamente disponibilizados pela Justiccedila Federal daquela cidade para fins de procedimentos fiscais da Secretaria da Receita Federal

Em 05 de dezembro de 2006 por meio da Portaria SRF ndeg 1211 foi constituiacuteda uma equipe para anaacutelise e preparo das accedilotildees fiscais referentes As empresas envolvidas nas operaccedilotildees de comeacutercio exterior realizadas irregular e fraudulentamente pelas empresas controladas por MARCO ANTOcircNIO MANSUR Esta equipe sediada em Curitiba procedeu A triagem e seleccedilatildeo dos documentos e arquivos magneacuteticos de interesse fiscal assim como agrave formalizaccedilatildeo de dossiecircs para serem remetidos As unidades de fiscalizaccedilatildeo

Do Grupo MAM

Aleacutem da ocultaccedilatildeo dos reais adquirentes as empresas importadoras e distribuidoras controladas por MARCO ANTONIO MANSUR doravante denominada GRUPO MAM em conluio com seus clientes praticavam tambeacutem de forma sistemaacutetica o subfaturamento dos preccedilos declarados como ficaraacute demonstrado nos capiacutetulos que tratam do Modus Operand e dos Fatos Analisados

Resumidamente podeshyse caracterizar o Grupo MAM como sendo uma organizaccedilatildeo empresarial que atuava em todas as etapas do fluxo operacional e logiacutestico das importaccedilotildees realizadas por conta e ordem das empresas adquirentes das mercadorias estrangeiras Para tanto dispunha de vaacuterias empresas operando sob controle centralizado como se fossem departamentos de uma uacutenica empresa Assim havia as empresas constituiacutedas no exterior para atuar como se fossem agentes de carga e exportadores as empresas importadoras (denominadas trading) e as empresas distribuidoras (adquirentes fictiacutecios)

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

Fl 2474DF CARF MF

Processo nordm 196470111672009shy75 Acoacuterdatildeo nordm 9303shy008694

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

Fl 2475DF CARF MF

Processo nordm 196470111672009shy75 Acoacuterdatildeo nordm 9303shy008694

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Processo nordm 196470111672009shy75 Acoacuterdatildeo nordm 9303shy008694

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Processo nordm 196470111672009shy75 Acoacuterdatildeo nordm 9303shy008694

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

Fl 2480DF CARF MF

Page 35: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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Os controladores desta organizaccedilatildeo (MARCO ANTONIO MANSUR MARCO ANTOcircNIO MANSUR FILHO ANTOcircNIO CARLOS BARBEITO e ALESSANDRA SALEWSKI) e seus gerentes operacionais determinavam todos os procedimentos desde a forma como as mercadorias deveriam ser embarcadas como os documentos deveriam ser emitidos (quando natildeo eram eles mesmos que Os emitiam) Como seria feita a declaraccedilatildeo de importaccedilatildeo como seriam emitidas as notas fiscais de entrada e de saiacuteda por todas as empresas utilizadas no fluxo ateacute que a mercadoria fosse colocada agrave disposiccedilatildeo do seu cliente

As mercadorias devem ser remetidas a um Exportador Fictiacutecio controlado pelo proacuteprio cliente Grupo MAM e cliente combinam sob orientaccedilatildeo do primeiro os elementos a serem declarados na operaccedilatildeo os preccedilos a serem declarados se a importaccedilatildeo seraacute declarada por conta proacutepria do importador ou se por conta e ordem de um distribuidor (fachada) e as condiccedilotildees para entrega das mercadorias ao cliente

As mercadorias satildeo embarcadas em nome do importador (trading) As faturas comerciais satildeo refeitas para consignar como comprador o proacuteprio importador ou alguma distribuidora controlada pelo Grupo MAM

A empresa importadora registra a DI com preccedilos subfaturados e emite Nota Fiscal de entrada Daacute saiacuteda agraves mercadoriasshy para o Distribuidor por valor semelhante aos valores constantes na nota de entrada 0 distribuidor emite Nota Fiscal de venda para o cliente ou para um segundo distribuidor ou ainda para alguma empresa indicada pelo cliente Esta nota pode ser emitida por valor proacuteximo ao valor de entrada ou por valor que corresponde ao valor real das mercadorias aCrescido dos custos reconstituindo portanto o custo real do cliente

Fluxo Financeiro

O cliente efetua o pagamentoshy correspondente ao valor da Nota Fiscal da suposta venda ao distribuidor O distribuidor repassa ao importador o valor correspondente a sua Nota Fiscal e Saiacuteda O importador efetua a cobertura cambial da parcela declarada na DI em beneficio do seu exportador fictiacutecio fechando o ciclo financeiro da importaccedilatildeo No entanto se saiacuteda ao cliente se da pelo valor real da operaccedilatildeo comercial acrescido dos custos operacionais a remessa da parte natildeo declarada ficara por conta do GRUPO MAM o se a saiacuteda ao cliente se da por valor proacuteximo ao valor subfaturado a remessa da parcela natildeo declarada ficara sob responsabilidade do proacuteprio cliente Eventualmente o pagamento total da operaccedilatildeo no exterior eacute realizado pelo cliente

Neste caso o GRUPO MAM fica com uma DI em aberto a sua disposiccedilatildeo para remeter divisas ao exterior A conta do exportador fictiacutecio fica a disposiccedilatildeo do GRUPO MAM para realizar os pagamentos aos reais fornecedores no exterior por conta dos seus clientes ou simplesmente para remeter de manter divisas no exterior

A parte visiacutevel da operaccedilatildeo ou seja o registro da DI a emissatildeo das notas de entrada e de saiacuteda ateacute que a mercadoria chegue ao real adquirente eacute toda controlada de forma

Fl 2474DF CARF MF

Processo nordm 196470111672009shy75 Acoacuterdatildeo nordm 9303shy008694

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Processo nordm 196470111672009shy75 Acoacuterdatildeo nordm 9303shy008694

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Processo nordm 196470111672009shy75 Acoacuterdatildeo nordm 9303shy008694

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Page 36: MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE … · csrft3 fl. 2 1 1 csrft3 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais cÂmara superior de recursos fiscais

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centralizada como se todas as empresas envolvidas fossem apenas departamentos de uma uacutenica firma Embora estas operaccedilotildees natildeo passem de simulaccedilatildeo haja vista que os documentos emitidos o satildeo apenas para fazer parecera existecircncia de operaccedilotildees comerciais que nunca aconteceram observashyse uma grande preocupaccedilatildeo da organizaccedilatildeo em manter uma formalidade coerente garantindo para cada documento emitido o correspondente fluxo financeiro assim como mantendo contratos escritos de compra e venda ou de prestaccedilatildeo de serviccedilo entre as empresas importadoras sob seu controle

A verdadeira operaccedilatildeo comercial no entanto entre o comprador (real adquirente) e o seu fornecedor permaneceraacute totalmente oculta A formalizaccedilatildeo contaacutebil da entrada das mercadorias na empresa cliente seraacute efetuada como se fosse uma simples aquisiccedilatildeo no mercado nacional

De outro lado as empresas do GRUPO MAM figuram como se fossem comerciantes internacionais embora nunca tenham efetuado qualquer operaccedilatildeo comercial com o exterior

As operaccedilotildees simuladas patrocinadas pelo GRUPO MAM constituem de fato um produto oferecido e vendido aos seus clientes que permite a estes a obtenccedilatildeo como principal beneficio da reduccedilatildeo de seus custos operacionais

Vaacuterias satildeo as vantagens obtidas pelas empresas clientes na utilizaccedilatildeo dos serviccedilos oferecidos pelo GRUPO MAM Dentre elas destacamshyse

Reduccedilatildeo dos tributos incidentes na importaccedilatildeo pela praacutetica sistemaacutetica de subfaturamento dos preccedilos declarados

Razoaacutevel seguranccedila em relaccedilatildeo a fiscalizaccedilatildeoshy na medida em que os elementos que revelam as efetivas transaccedilotildees comerciais permaneceratildeo ocultos inclusive no caso de accedilotildees ostensivas da Aduana nos estabelecimentos dos importadores ou dos distribuidores

Quebra da cadeia do IPI pois o real adquirente das mercadorias importadas por sua conta e ordem deveria ser equiparado A empresa industrial para efeito de incidecircncia do IPI na saiacuteda dos produtos importados A ocultaccedilatildeo permite a ele uma certa imunidade em relaccedilatildeo a este tributo

Compartilhamento dos benefiacutecios auferidos pelas empresas importadoras em relaccedilatildeo ao ICMS na forma de descontos referentes a estes tributos As empresas importadoras satildeoshy normalmente domiciliadas em municiacutepios cujos Estados concedem benefiacutecios especiais de ICMS tais como diferimento de seu pagamento ou financiamentos especiais

Possibilidade de formalizaccedilatildeo de uma rede de distribuiccedilatildeo para os seus produtos no territoacuterio nacional nos casos de empresas que satildeo apenas agentes de venda que atuam em nome das empresas estrangeiras ou dos proacuteprios fabricantes dos produtos importados

Nestes casos as empresas do GRUPO MAM atuam tambeacutem como distribuidores que formalizam documentalmente shya entrega das shy mercadorias aos clientes de seus clientes ou seja aqueles para quem as mercadorias jaacute haviam sido shy vendidas pelo agente de vendas

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Neste caso o cliente do GRUPO MAM eacute o agente de vendas de um exportador estrangeiro ou seja eacute o proacuteprio exportador por meio de seu representante no Brasil

Com efeito como se vecirc os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese do Relator Vencido quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitandoshyse para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso para fins tributaacuterios autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal nos autos do Verifico que os elementos analisados pela fiscalizaccedilatildeo satildeo decorrentes em sua maior parte de documentos e arquivos magneacuteticos apreendidos em 16 de agosto de 2006 pela Policia Federal em cumprimento de diversos Mandados de Buscas e Apreensotildees emitidos pela Justiccedila Federal em ParanaguaacuteshyPR motivados por investigaccedilatildeo realizada pela Receita Federal em conjunto com a Policia Federal de uma organizaccedilatildeo controlada por MARCO ANTOcircNIO MANSUR dedicada praacutetica de diversas fraudes em operaccedilotildees de comeacutercio exterior e outras Os procedimentos de investigaccedilatildeo conduzidos sob a denominaccedilatildeo de OPERACcedilAtildeO DILUacuteVIO iniciaramshyse em 2005 e culminaram com a deflagraccedilatildeo de uma grande operaccedilatildeo ostensiva em mais de 100 endereccedilos comerciais e residenciais em diversos Estados

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

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Sem embargo a Autoridade Fiscal teve acesso e obtenccedilatildeo de coacutepias dos documentos da operaccedilatildeo diluacutevio assim como seu uso para fins fiscais estatildeo autorizados por decisatildeo de Justiccedila Federal de Paranaguaacute datada de 24082006 nos autos do IPL 20067008000208shy74

O Auto de Infraccedilatildeo foi motivado com alto teor probatoacuterio das ilicitudes praticadas pela Contribuinte amparado pelo Mandado de Procedimento Fiscal todo contraditoacuterio ampla defesa foram exercidos neste contencioso com supedacircneo na estrita legalidade do devido processo legal portanto natildeo haacute o que se falar em ilegalidade ou nulidade das provas carreadas junto aos autos ateacute porque para delimitar as condutas haacute de se perquirir o lanccedilamento tributaacuterio em separado dos eventos criminosos tratados no poder judiciaacuterio

No que tange a tese da decisatildeo recorrida quanto a teoria da descoberta inevitaacutevel em nenhum momento da accedilatildeo fiscal foi tratada no caso eacute fundamentada em uma suposiccedilatildeo de relator Vencido a quo que serviu apenas para suscitar argumentos desnecessaacuterios municiando a Contribuinte com argumentos para se buscar nulidades que natildeo existe tendo em vista que accedilatildeo fiscal foi amplamente amparada e fundamentada respeitando para tanto o devido processo legal ampla defesa e contraditoacuterio

Portanto in caso natildeo haacute o que se falar em teoria da descoberta inevitaacutevel a accedilatildeo fiscal foi motivada em procedimento legal por meio de Mandado de Procedimento fiscal oportunidade que foi conferida a todos o exerciacutecio da ampla defesa e contraditoacuterio

Neste sentido as informaccedilotildees oriundas da operaccedilatildeo diluacutevio remetidos por meio do processo de representaccedilatildeo fiscal sendo seu uso autorizado por decisatildeo de Justiccedila Federal foram no sentido de noticiar as fraudes com essas informaccedilotildees a Autoridade Fiscal de modo legal iniciou o procedimento fiscalizatoacuterio

Ateacute porque os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal Estadual e Municipal bem como entidades autaacuterquicas paraestatais e de economia mista satildeo obrigados a auxiliar a fiscalizaccedilatildeo prestando informaccedilotildees e esclarecimentos que lhe forem solicitados cumprindo ou fazendo cumprir as disposiccedilotildees de regecircncia conforme o previsto no artigo 125 do Decretoshylei nordm 5844 de 1943 e artigo 2ordm do Decretoshylei nordm 1718 de 1979

Destarte penso que seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento do Estado

Neste contexto natildeo o que se falar em nulidade relativamente as imputaccedilotildees que foram tratadas de modo pormenorizado com relaccedilatildeo acusaccedilatildeo fiscal bem como de seus respectivos anexos

Ademais seria um prejuiacutezo a sociedade em especial ao trabalho fiscal aventar nulidades que natildeo existem em favor de condutas iliacutecitas perpetuadas por atores que buscam burlar o sistema tributaacuterio em detrimento ao eraacuterio

As provas acostadas possuem a descriccedilatildeo das irregularidades que fundamentam as conclusotildees para cada uma das DIrsquos Comprovashyse portanto que a real operaccedilatildeo de importaccedilatildeo ocorreu entre o fabricante e a verdadeira importadora sendo todas as operaccedilotildees intermediaacuterias simuladas criadas apenas para dar uma aparecircncia de legalidade agrave fraude

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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Processo nordm 196470111672009shy75 Acoacuterdatildeo nordm 9303shy008694

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

Eacute como voto

(assinado digitalmente)

Demes Brito

Fl 2480DF CARF MF

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Neste sentido as operaccedilotildees praticadas com a participaccedilatildeo da Contribuinte natildeo podem ser consideradas legiacutetimas autorizando a aplicaccedilatildeo em espeacutecie da penalidade prevista no artigo 23 inciso V do DecretoshyLei 145576

Frente aos fatos documentos fortemente comprobatoacuterios seria irrelevante lavrar o autos de infraccedilatildeo especialmente em desfavor do importador de direito empresa de fachada quando restou comprovada o verdadeiro adquirente das mercadorias importadas seu verdadeiro proprietaacuterio mesmo com a simulaccedilatildeo ocorrida nas diferentes etapas da importaccedilatildeo negociaccedilatildeo despacho aduaneiro revenda a terceiros em alguns casos fechamento de cacircmbio restou exteriorizado a presenccedila de terceiros ocultando a Contribuinte real adquirente das mercadorias estrangeiras

Reforccedilo que em nenhuma hipoacutetese tem amparo na tese de que o artigo 11 da lei nordm 112812006 trata de hipoacutetese de importaccedilatildeo destinada a revenda a encomendante predeterminada ou seja a Contribuinte natildeo se reveste dessa figura pois para tal conduta conforme previsto no dispositivo supra o paraacutegrafo primeiro versa que ficam determinados os requisitos e condiccedilotildees para atuaccedilatildeo da pessoa juriacutedica na forma referida o que natildeo atendido pela Contribuinte e tatildeo pouco pela importadoras

Tal assertiva ainda que jungindo pelo paraacutegrafo 2ordm do mesmo diploma legal dispotildee que A operaccedilatildeo de comeacutercio exterior realizada em desacordo com os requisitos e condiccedilotildees estabelecidos na forma do paraacutegrafo 1ordm deste artigo presumeshyse por conta e ordem de terceiros para fins de aplicaccedilatildeo nos artigos 77 a 81 da Medida Provisoacuteria nordm 2158shy35 de 24 de agosto de 2001

De modo que a lei nordm 1128106 criou a figura do encomendante predeterminado e da IN SRF nordm 6342006 regulamentou os procedimentos nas operaccedilotildees de importaccedilatildeo que a Contribuinte declarou como sendo nessa modalidade natildeo foram atendidas as condiccedilotildees e requisitos legais tais como habilitaccedilatildeo indicaccedilatildeo na DI do nome do real encomendante visto que as distribuidoras satildeo empresas constituiacutedas por laranjas portando a Contribuinte natildeo se enquadra nessa modalidade

O que de fato ocorreu eacute que nas operaccedilotildees comerciais tratava de atos dissimulados com objetivo de produzir uma aparente normalidade comercial como destacado pela Contribuinte natildeo tendo ocorrido a compra e venda nos moldes comerciais pois parte estava sendo negociada pela Contribuinte que articulava a venda manipulando preccedilos com o fornecedor estrangeiro orientava a compra sem a intervenccedilatildeo de importadora de direito que restou comprovada a inexistecircncia da figura da compra e venda de mercadorias mas apenas uma simulaccedilatildeo Em verdade a Contribuinte era a real adquirente das mercadorias estrangeiras que ateacute encaminhava numeraacuterio para pagamento das mercadorias quando ocorria a declaraccedilatildeo a Autoridade Aduaneira por valores subfaturados

Outra questatildeo que me chama atenccedilatildeo em contrarrazotildees a Contribuinte aponta a decisatildeo proferida pelo STJ no HC nordm 142045PR no qual foi reconhecida a nulidade da interceptaccedilatildeo telefocircnica no que diz respeito agraves sucessivas renovaccedilotildees aleacutem de toda prova decorrente dela

O HC nordm 142045 ndash PR foi impetrado em benefiacutecio de Marco Antonio Mansur e Marco Antonio Mansur Filho apontando como autoridade coatora o e Tribunal Regional Federal da 4ordf Regiatildeo O ato de coaccedilatildeo ilegal consistiu na decisatildeo que julgou regular a

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interceptaccedilatildeo telefocircnica e suas sucessivas prorrogaccedilotildees realizadas para a apuraccedilatildeo de conduta criminosa dos pacientes nos autos do inqueacuterito policial ndeg 20067000022435shy6

Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

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Em sua decisatildeo o STJ natildeo declarou a ilegalidade de toda prova produzida no inqueacuterito policial mas apenas da interceptaccedilatildeo telefocircnica no tocante agraves sucessivas renovaccedilotildees e daquela decorrente dela (aplicaccedilatildeo da teoria do fruto da aacutervore envenenada atualmente positivada no artigo 157 do CPP)

Se faz necessaacuterio advertir que o Relator Vencido ter se concentrado em julgar mateacuteria que lhe foi devolvida tratando exclusivamente da legalidade do lanccedilamento tributaacuterio desnecessaacuterio e inuacutetil suas conclusotildees a respeito de um processo criminal que natildeo se confunde com o Fiscal antes que se argumente qualquer tese a esse respeito in caso foi materializado uma das maiores fraudes em detrimento do comeacutercio exterior em especial aos cofres puacuteblicos partindoshyse de uma premissa equivocada o STJ resolve com seus argumentos absolver ou condenar os participes da fraude em via reversa as condutas iliacutecitas ao eraacuterio tambeacutem devem ser anuladas

As condutas foram individualizadas os documentos carreados aos autos provecircm de fonte independente de interceptaccedilotildees telefocircnicas consideradas ilegais pelo STJ o que natildeo se comunicam com o presente processo fiscal natildeo haacute qualquer ligaccedilatildeo com o coso concreto

Caso o STJ ou STF entendam em absolver os reacuteus natildeo desvirtua o iliacutecito cometido em acircmbito fiscal lembrando que se trata de lanccedilamento fiscal em desfavor da Contribuinte que cometeu fraudes ao comeacutercio exterior portanto natildeo haacute o que se falar em nulidade acute

Por oportuno esclareccedilo que o processo administrativo fiscal esta adstrito as regras positivadas do sistema neste sentido invoco o magisteacuterio do Professor Luiz Orlando Junior Zanon (pg104105shy106) o qual em sua tese de Doutorado Teoria Complexa do Direito1 esclarece a correta inserccedilatildeo das normas no plano sistecircmico In verbis

O Positivismo Juriacutedico pressupotildee que o Direito eacute formado exclusivamente (ou ao menos preponderantemente) por Regras Juriacutedicas como sinocircnimo de Normas Juriacutedicas positivadas devidamente fixadas pelos parlamentares (no sistema codificado) ou estabelecidas em precedentes judiciais anteriores (no modelo judiciaacuterio ou consuetudinaacuterio)2 No primeiro cenaacuterio (civil law statutory law ou code based legal system) a Regra Juriacutedica eacute o resultado da interpretaccedilatildeo de um texto elaborado pelo legislador no sentido de reconstruir sua intenccedilatildeo ao prolatar o

1 ZANON JUNIOR Orlando Luiz Teoria Complexa do Direito Florianoacutepolis Cejur 2013 2 DIMOULIS Dimitri Positivismo juriacutedico Introduccedilatildeo a uma teoria do direito e defesa do pragmatismo juriacutedicoshypoliacutetico Satildeo Paulo Meacutetodo 2006 p 68 ldquoIsso indica que ser positivista no acircmbito juriacutedico significa escolher como exclusivo objeto de estudo o direito que eacute posto por uma autoridade e em virtude disso possui validade (direito positivo)rdquo e p 131 ldquoPartindo dessa delimitaccedilatildeo negativa o PJ stricto sensu afirma a absoluta identidade entre o conceito de direito e o direito efetivamente posto pelas autoridades competentes isto eacute pelas autoridades que em razatildeo de uma constelaccedilatildeo de poder possuem a capacidade de impor o direitordquo E FERRAJOLI Luigi Principia iuris teoriacutea del derecho y de la democracia V 1 Madrid Trotta 2011 p 395shy457 Especialmente p 396 ldquoLas normas son reglas que pertenecen al derecho positivo em cuanto son efectos juriacutedicos puestos o causados por actos (T811 T812) Obviamente em tanto que reglas las normas son significados de preceptos (T813) a los que vienen asociadas em cada caso mediante interpretacioacuten juriacutedicardquo

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

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dispositivo normativo como se fosse um procedimento de adivinhaccedilatildeo de qual teria sido a soluccedilatildeo dada pelo oacutergatildeo legiferante acaso diante do caso concreto E no segundo (common law ou judge made law) a Regra Juriacutedica pode ser extraiacuteda natildeo soacute da legislaccedilatildeo mas tambeacutem do texto de um precedente anterior num esforccedilo de verificar qual seria a soluccedilatildeo que teria sido dada pelo Poder Legislativo para reger o novo caso nos pontos relevantes em que eacute precisamente similar ao julgamento anterior Em ambas hipoacuteteses a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do Direito satildeo consideradas pela generalidade dos juspositivistas [] (com a notaacutevel ressalva de Kelsen) como meramente reprodutoras de sentidos jaacute previamente fixados por Regras Juriacutedicas anteriores que jaacute guardam a resposta para soluccedilatildeo do novo problema emergido no tecido socialrdquo (pg104105shy106) []

Dispositivo

Ex positis dou provimento ao Recurso interposto pela Fazenda Nacional

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