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S3C4T2 Fl. 2 1 1 S3C4T2 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS TERCEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 16327.720855/201411 Recurso nº Voluntário Acórdão nº 3402004.002 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária Sessão de 30 de março de 2017 Matéria PIS/Cofins Recorrente SILVIO SANTOS PARTICIPAÇÕES S/A Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO:NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/01/2011 a 31/01/2011 DAÇÃO EM PAGAMENTO. CESSÃO DE CRÉDITO. EFICÁCIA. O efeito que a dação em pagamento produz é a extinção do crédito, qualquer que seja o valor da coisa dada em substituição. Juridicamente, não importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue, pois a sua eficácia liberatória é plena. RECEITA BRUTA. CONCEITO CONTÁBIL E JURÍDICO. REDUÇÃO DE PASSIVO. O conceito contábil de receita, para fins de demonstração de resultados, não se confunde com o conceito jurídico, para fins de apuração das contribuições sociais. Na esteira da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimônio na condição de elemento novo e positivo, sem reservas ou condições. A mera redução de passivo, conquanto seja relevante para apuração de variação do patrimônio líquido, não se caracteriza como receita tributável pelo PIS e Cofins, por não se tratar de ingresso financeiro. Recurso Voluntário Provido Crédito Tributário Exonerado Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, ror maioria de votos, em dar provimento integral ao recurso voluntário. Vencidos os Conselheiros Jorge Freire, Waldir Navarro Bezerra e Maria Aparecida Martins de Paula. Designado o Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto. Sustentou pela recorrente o Dr. Luiz Roberto Peroba, OAB/SP 130.824. ACÓRDÃO GERADO NO PGD-CARF PROCESSO 16327.720855/2014-11 Fl. 2361 DF CARF MF

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Page 1: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

S3shyC4T2 Fl 2

1

1

S3shyC4T2 MINISTEacuteRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS TERCEIRA SECcedilAtildeO DE JULGAMENTO

Processo nordm 163277208552014shy11

Recurso nordm Voluntaacuterio

Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002 ndash 4ordf Cacircmara 2ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 30 de marccedilo de 2017

Mateacuteria PISCofins

Recorrente SILVIO SANTOS PARTICIPACcedilOtildeES SA

Recorrida FAZENDA NACIONAL

ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Periacuteodo de apuraccedilatildeo 01012011 a 31012011

DACcedilAtildeO EM PAGAMENTO CESSAtildeO DE CREacuteDITO EFICAacuteCIA

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Juridicamente natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue pois a sua eficaacutecia liberatoacuteria eacute plena

RECEITA BRUTA CONCEITO CONTAacuteBIL E JURIacuteDICO REDUCcedilAtildeO DE PASSIVO

O conceito contaacutebil de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultados natildeo se confunde com o conceito juriacutedico para fins de apuraccedilatildeo das contribuiccedilotildees sociais

Na esteira da jurisprudecircncia do Supremo Tribunal Federal receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees

A mera reduccedilatildeo de passivo conquanto seja relevante para apuraccedilatildeo de variaccedilatildeo do patrimocircnio liacutequido natildeo se caracteriza como receita tributaacutevel pelo PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro

Recurso Voluntaacuterio Provido

Creacutedito Tributaacuterio Exonerado

Vistos relatados e discutidos os presentes autos

Acordam os membros do colegiado ror maioria de votos em dar provimento integral ao recurso voluntaacuterio Vencidos os Conselheiros Jorge Freire Waldir Navarro Bezerra e Maria Aparecida Martins de Paula Designado o Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto Sustentou pela recorrente o Dr Luiz Roberto Peroba OABSP 130824

ACOacuteRDAtildeO GERADO N

O PGD-CARF PROCESSO 163277208552014-11

Fl 2361DF CARF MF

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(assinado digitalmente)

Antonio Carlos Atulim shy Presidente

(assinado digitalmente)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

(assinado digitalmente)

Carlos Augusto Daniel Neto shy Redator Designado

Participaram do presente julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim Jorge Olmiro Lock Freire Maysa de Saacute Pittondo Deligne Maria Aparecida Martins de Paula Thais De Laurentiis Galkowicz Waldir Navarro Bezerra Diego Diniz Ribeiro e Carlos Augusto Daniel Neto

Relatoacuterio

Tratashyse de recurso voluntaacuterio contra decisatildeo da Delegacia de Julgamento de em Curitiba que julgou improcedente a impugnaccedilatildeo da contribuinte conforme ementa abaixo

ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Periacuteodo de apuraccedilatildeo 01012011 a 31012011 NULIDADE PRESSUPOSTOS Ensejam a nulidade apenas os atos e termos lavrados por pessoa incompetente e os despachos e decisotildees proferidos por autoridade incompetente ou com pretericcedilatildeo do direito de defesa MULTA DE OFIacuteCIO TAXA SELIC Cobramshyse juros de mora equivalentes agrave taxa referencial do Sistema Especial de Liquidaccedilatildeo e Custoacutedia (Selic) e multa de ofiacutecio por expressa previsatildeo legal JUNTADA DE PROVAS DOCUMENTAIS As provas documentais devem ser apresentadas juntamente com a peccedila impugnatoacuteria sob pena de preclusatildeo salvo exceccedilotildees taxativamente previstas ASSUNTO CONTRIBUICcedilAtildeO PARA O PISPASEP Periacuteodo de apuraccedilatildeo 01012011 a 31012011 PIS BASE DE CAacuteLCULO RECEITAS TRIBUTAacuteVEIS REMISSAtildeO DO CAPITAL DE DIacuteVIDAS A base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo natildeo cumulativa para o PIS eacute o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil observadas apenas as exclusotildees expressamente previstas na legislaccedilatildeo devendo ser considerada como tributaacutevel a receita decorrente da remissatildeo do capital de diacutevidas ASSUNTO CONTRIBUICcedilAtildeO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL shy COFINS Periacuteodo de apuraccedilatildeo 01012011 a 31012011 COFINS BASE DE CAacuteLCULO RECEITAS TRIBUTAacuteVEIS REMISSAtildeO DO CAPITAL DE DIacuteVIDAS

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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A base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo natildeo cumulativa para a Cofins eacute o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil observadas apenas as exclusotildees expressamente previstas na legislaccedilatildeo devendo ser considerada como tributaacutevel a receita decorrente da remissatildeo do capital de diacutevidas Impugnaccedilatildeo Improcedente Creacutedito Tributaacuterio Mantido

Versa o processo sobre Autos de Infraccedilatildeo lavrados em 15092014 pela Delegacia Especial de Instituiccedilotildees Financeiras em Satildeo Paulo ndash DEINFSAtildeO PAULO no montante total de R$64506678750 calculado ateacute setembro de 2014 relativamente agrave Cofins no valor principal de R$25460000000 e ao PISPasep no valor principal de R$5527500000 aleacutem de multa de ofiacutecio de 75 e juros de mora em face da insuficiecircncia na declaraccedilatildeo e recolhimento do PIS e da COFINS do periacuteodo de apuraccedilatildeo de janeiro de 2011 incidente sobre a receita decorrente de remissatildeo de diacutevidas no montante de R$ 335000000000 oriundas de aportes financeiros efetivamente recebidosrdquo

Apurou a fiscalizaccedilatildeo em siacutentese que

shy A fiscalizada (Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SA shySSP) empresa holding do Grupo Siacutelvio Santos (GSS) detinha em 31 de dezembro de 2010 dentre outras as seguintes participaccedilotildees acionaacuterias 3727 do capital social do Banco Panamericano (BP) 9951 do capital social da BF Utilidades Domeacutesticas Ltda e 6188 do capital social da Panamericano Administradora

shy Em 31 de janeiro de 2011 a SSP possuiacutea diacutevidas com o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor total de R$ 380000000000 as quais foram contraiacutedas com o objetivo de sanear e reestruturar o Banco Panamericano SA devido agrave descoberta de inconsistecircncias contaacutebeis apuradas pelo Banco Central do Brasil ndash Bacen no ano de 2010 Relativamente a esse passivo ele foi resultante da contrataccedilatildeo de duas diacutevidas a primeira no valor de R$ 25 bilhotildees e a segunda no valor de R$ 13 bilhatildeo na seguinte forma

a) quanto agrave primeira diacutevida (i) foi contraiacuteda mediante a emissatildeo privada de debecircntures da SSP com duas seacuteries de 125000 cada num total de 250000 debecircntures tendo o FGC subscrito a totalidade dessa emissatildeo na qualidade de investidor exclusivo (ii) os documentos que lhe deram suporte foram o ldquoInstrumento Particular de Escritura da Primeira Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SA (Escritura)rdquo e o ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildees (Acordo)rdquo ambos datados de 05 de novembro de 2010 e (iii) o valor emprestado por conta e ordem da SSP foi depositado diretamente em conta corrente do Banco Panamericano tendo a operaccedilatildeo resultado nos seguintes lanccedilamentos contaacutebeis da fiscalizada

b) quanto agrave segunda diacutevida (i) ela foi contraiacuteda por meio de um contrato de muacutetuo assinado em 31012011 entre a SSP (Devedora) e o FGC (credora) (ii) em igual forma ao que ocorreu na contrataccedilatildeo da primeira diacutevida o valor emprestado por conta e ordem da SSP foi transferido diretamente do FGC para o Banco Panamericano e (iii) a operaccedilatildeo foi registrada na contabilidade da SSP da seguinte forma

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Na mesma data (31012011) a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (sua controlada) efetuaram a venda do controle acionaacuterio do Banco Panamericano ao Banco BTG Pactual SA pelo valor total de R$ 45000000000 e que referida venda foi concretizada por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo celebrado em 31012011 e paga com creacuteditos a receber nos valores de R$ 446 milhotildees e de R$ 4 milhotildees (SSP e BF respectivamente) exigiacuteveis no dia 28 de julho de 2028 corrigidos por 110 da Taxa DI ou iacutendice que vier substituiacuteshyla ou o valor de R$ 38 bilhotildees sem correccedilatildeo monetaacuteria dos dois o menor Essa operaccedilatildeo resultou no seguinte lanccedilamento contaacutebil na SSP

Ainda nessa mesma data a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda celebraram o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento com o FGC por meio do qual esse uacuteltimo aceitou o creacutedito no valor de R$ 450 milhotildees como daccedilatildeo em pagamento pela diacutevida de R$ 38 bilhotildees Em decorrecircncia dessa operaccedilatildeo (daccedilatildeo em pagamento) as contas passivas que registravam os debecircntures e o muacutetuo bem como a conta passiva relativa ao creacutedito com o Banco BTG foram baixadas tendo sido apurado uma receita no valor de R$ 335 bilhotildees conforme os registros contaacutebeis abaixo

shy Ao ser intimada para justificar a ausecircncia de declaraccedilatildeo e recolhimento das contribuiccedilotildees no periacuteodo (PIS e Cofins) incidentes sobre a receita acima a contribuinte respondeu que ldquoO resultado gerado com a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento para quitaccedilatildeo da diacutevida contraiacuteda pela SSP com o FGC em nosso entendimento natildeo estaacute sujeito ao PISCOFINSrdquo

shy Entende a fiscalizaccedilatildeo que a referida receita deve ser tratada como uma remissatildeo de diacutevida (perdatildeo) sobre a qual deve incidir tanto o PIS como a Cofins Sustenta que o perdatildeo de diacutevida constituishyse em uma receita para a pessoa juriacutedica devedora tanto nos termos da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 1993 como na Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 2011 sendo que na jurisprudecircncia administrativa eacute unacircnime o entendimento de que essa receita natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser classificada (contabilmente) em Outras Receitas Operacionais e objeto de tributaccedilatildeo pelas contribuiccedilotildees sociais

shy Conclui ao final a fiscalizaccedilatildeo que a remissatildeo de diacutevida representou um efetivo acreacutescimo patrimonial para a SSP tanto que foi contabilizada como receita eventual Entretanto independentemente da classificaccedilatildeo contaacutebil adotada pela contribuinte deve ser considerada como outras receitas operacionais (distinta da receita financeira) e por natildeo haver norma isentiva ou reduccedilatildeo de aliacutequota essa receita deve ser integrada agrave base para fins de incidecircncia das contribuiccedilotildees ao Pis e agrave Cofins na sistemaacutetica da natildeoshycumulatividade na qual a SSP estaacute sujeita

A interessada apresentou impugnaccedilatildeo alegando e requerendo em siacutentese

a) Sustenta que apesar de os fatos e circunstacircncias relativos aos supostos deacutebitos de IRPJ e CSLL relativos aos anos de 2009 a 2011 serem os mesmos dos alegados deacutebitos de PIS e

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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Cofins ldquoNAtildeO haacute qualquer questatildeo prejudicial entre os processos administrativos fiscais nordms 108827213042014shy93 (IRPJ e CSLL) e 163277208552014shy11 (PIS e COFINS)rdquo

b) Requer a nulidade dos autos de infraccedilatildeo sob o argumento de que a fiscalizaccedilatildeo assumiu um premissa que natildeo condiz com a realidade a de que ldquoas prestaccedilotildees previstas no Contrato de Pagamento necessariamente importariam um perdatildeo de diacutevida com relaccedilatildeo agraves obrigaccedilotildees financeiras previstas nas Debecircntures e no Contrato de Muacutetuordquo Argumenta que a autoridade deixou de retratar adequadamente os fatos e que esse viacutecio insanaacutevel atinge a validade do ato administrativo uma vez que afronta o art 50 da Lei 9784 de 1999 e art 10 do Decreto 70235 de 1972

c) No meacuterito a contribuinte contesta as exigecircncias fiscais por meio de trecircs linhas de raciociacutenio a seguir

(i) que a eventual receita auferida em razatildeo do desconto recebido quando da quitaccedilatildeo antecipada dos passivos (debecircntures e muacutetuo) tem natureza de receita financeira devendo ser tributada tanto no PIS quanto na Cofins agrave aliacutequota zero nos termos do Decreto nordm 5442 de 2005

(ii) que se houver o entendimento de que a baixa dos passivos deve ser caracterizada como perdatildeo de diacutevida que esse mesmo (perdatildeo) natildeo enseja do ponto de vista juriacutedico auferimento de receita passiacutevel de tributaccedilatildeo pelo PIS e pela Cofins

(iii) que eventual receita auferida em contrapartida ao suposto perdatildeo de diacutevida tem natureza de receita financeira devendo da mesma forma que no item ldquoirdquo ser tributado agrave aliacutequota zero

d) Por fim a impugnante insurgeshyse contra a aplicaccedilatildeo dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio Diz que tal cobranccedila natildeo tem amparo legal e que consoante a jurisprudecircncia administrativa o juros de mora somente podem ser cobrado sobre os valores dos deacutebitos de tributos e contribuiccedilotildees

A Delegacia de Julgamento natildeo acatou os argumentos da impugnante em siacutentese sob os seguintes fundamentos

shy Natildeo existem duacutevidas de que a operaccedilatildeo consubstanciada na daccedilatildeo em pagamento do creacutedito de R$ 450 milhotildees da interessada junto ao Banco BTG Pactual para quitaccedilatildeo das diviacutedas no valor total de R$ 38 bilhotildees com o FGC representou um auferimento de receita O conceito contaacutebil de receitas estaacute intimamente ligado ao ldquoaumento nos benefiacutecios econocircmicosrdquo da entidade ou seja quando um fato contaacutebil representar um aumento mesmo que futuro nos benefiacutecios econocircmicos para a empresa esse aumento deve ser reconhecido como receita [Resoluccedilatildeo CFC (Conselho Federal de Contabilidade) nordm 1374 de 2001] A diminuiccedilatildeo do passivo resultante da liquidaccedilatildeo dos passivos (debecircntures e muacutetuo) deve ser reconhecida pela empresa como uma receita A proacutepria interessada admitiu que o fato em discussatildeo ocasionou uma diminuiccedilatildeo em seu passivo reconhecendo contabilmente (conta 3510909010017 ndash Receitas Eventuais ndash Operaccedilatildeo PAN) tendo em vista a faciacutelima mensuraccedilatildeo (R$ 380000000000 ndash R$ 45000000000) que houve um auferimento de receita no valor de R$ 335000000000

shy Na ausecircncia de definiccedilatildeo expressa a natureza da receita financeira ou da despesa financeira deve ser obtida a partir da identificaccedilatildeo do elemento comum entre eles qual seja receitas e despesas financeiras satildeo sempre decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros Consistiriam as receitas e despesas financeiras em formas de remuneraccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo dos recursos (pecuniaacuterios) proacuteprios ou a utilizaccedilatildeo de recursos (pecuniaacuterios) de terceiros

shy Os abatimentos obtidos pela contribuinte para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter

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receita por meio de empreacutestimos A tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo

shy No tocante agrave argumentaccedilatildeo de que a receita obtida deve ser caracterizada como receita financeira porque houve a quitaccedilatildeo antecipada das diacutevidas eacute de se destacar dois pontos cruciais a) os valores que foram emprestados pela FGC para a interessada tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios assim natildeo houve abatimento de juros por pagamento antecipado simplesmente por que natildeo haviam juros a pagar e b) a forma como o problema do Banco Panamericano foi resolvido deixa muito claro que o abatimento das diacutevidas (debecircntures e muacutetuo) foi concedido na operaccedilatildeo conjunta (contrato de muacutetuovenda das accedilotildeesdaccedilatildeo em pagamento) com a aprovaccedilatildeo e recursos oriundos do FGC para evitar a insolvecircncia do Banco Panamericano natildeo podendo se admitir a tese da interessada de que a reduccedilatildeo nos valores das diacutevidas trataramshyse de descontos financeiros mesmo porque natildeo houve qualquer lapso temporal entre a data de obtenccedilatildeo do empreacutestimo e a data de sua liquidaccedilatildeo tendo em vista os instrumentos de concessatildeo (ldquoContrato de Muacutetuordquo) e quitaccedilatildeo (ldquoInstrumento de Daccedilatildeo em Pagamentordquo) terem sido assinados na mesma data

shy O perdatildeo de diacutevidas natildeo pode ser considerado como receita financeira uma vez que natildeo decorre da aplicaccedilatildeo de recursos da empresa Com efeito o pagamento de obrigaccedilotildees (diacutevidas) constitui destinaccedilatildeo mas natildeo aplicaccedilatildeo dos recursos financeiros no sentido aqui utilizado O adimplemento de diacutevidas natildeo eacute objeto de remuneraccedilatildeo (obtenccedilatildeo de juros) eis que nesse caso natildeo haacute disponibilizaccedilatildeo de recursos proacuteprios para terceiros Assim temshyse que o abandono de parte ou da integralidade de diacutevida por parte do credor constitui para o devedor uma receita insubsistecircncia ativa que dado seu caraacuteter natildeo usual deve ser registrada como item extraordinaacuterio

shy Ora como se verifica o FGC aceitou e financiou a operaccedilatildeo conjunta anteriormente mencionada (contrato de muacutetuovenda das accedilotildeesdaccedilatildeo em pagamento) assumindo de forma indireta o saneamento do Banco Panamericano e sabendo de antematildeo que somente iria receber o valor injetado na operaccedilatildeo sem qualquer correccedilatildeo monetaacuteria ou juros em 28 de julho de 2028 denotandoshyse muito claramente o perdatildeo da maior parte das diacutevidas da contribuinte junto ao FGC (R$ 3350000000 = R$ 3800000000shy R$ 450000000) Nesse sentido mostrashyse falaciosa a afirmaccedilatildeo da interessada de que o FGC deveraacute recuperar todo o valor emprestado Eacute evidente que o dinheiro a ser recebido do Banco Pactual natildeo cobriraacute todo o valor colocado na operaccedilatildeo e que o prejuiacutezo decorrente das inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil foram suportados em boa parte pelo FGC pois como visto o valor de ateacute R$ 38 bilhotildees somente seraacute recuperado sem qualquer correccedilatildeo monetaacuteria ou juros apoacutes 17 (dezessete) anos

A contribuinte foi regularmente cientificada da decisatildeo de primeira instacircncia em 17032016 pela via postal e apresentou recurso voluntaacuterio em 15042016 alegando em siacutentese que

III NULIDADES DOS AUTOS DE INFRACcedilAtildeO E DO V ACOacuteRDAtildeO RECORRIDO

(i) A Nulidade dos Autos de Infraccedilatildeo shy Falta de fundamentaccedilatildeo para desconsideraccedilatildeo de atos juriacutedicos praticados

shy Conforme se verifica pela leitura do Contrato de Pagamento a operaccedilatildeo realizada entre a Requerente e o FGC natildeo envolveu nenhuma oferta de remissatildeoperdatildeo de diacutevida por parte do FGC e tampouco ocorreu qualquer aceite por parte da Requerente com relaccedilatildeo ao perdatildeo de diacutevidas Em outras palavras o ato formal de remissatildeoperdatildeo de diacutevidas jamais ocorreu posto que natildeo foi pactuado entre as partes Assim tendo em vista que a principal premissa utilizada pela D Fiscalizaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo dos Autos de Infraccedilatildeo estaacute equivocada temshyse por demonstrada a NULIDADE que acomete os Autos de Infraccedilatildeo

Fl 2366DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

shy A DRJCTA efetivamente se esquiva de analisar abordar e debater o ponto trazido pela Requerente em sua Impugnaccedilatildeo qual seja se os documentos celebrados indicam a ocorrecircncia de um perdatildeo de diacutevidas como alega a D Fiscalizaccedilatildeo no TVF ou um desconto financeiro como alega a proacutepria Requerente Isso eacute causa de evidente nulidade da decisatildeo consubstanciada no v Acoacuterdatildeo recorrido conforme se verifica do artigo 31 e 59 do Decreto ndeg 7023572 bem como dos precedentes do CARF que analisaram tal dispositivo

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

A Ausecircncia de acreacutescimo patrimonial shy Impossibilidade de exigecircncia do PIS e COFINS sobre mera reduccedilatildeo de dispecircndios

shy Em primeiro lugar a Requerente destaca que natildeo auferiu qualquer acreacutescimo patrimonial efetivo em razatildeo do Contrato de Pagamento ou quitaccedilatildeo antecipada das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo natildeo sendo correto afirmar como faz a D Fiscalizaccedilatildeo e a DRJCTA que tais negoacutecios juriacutedicos ensejaram a ocorrecircncia do fato gerador do PIS e da COFINS

shy A Requerente apenas contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor (FGC shy fl 3 do TVF)

shy Muito embora numa anaacutelise meramente contaacutebil a Requerente tenha auferido um resultado escritural positivo em decorrecircncia da diminuiccedilatildeo do passivo natildeo se verifica como quer fazer crer as DD Fiscalizaccedilatildeo e DRJCTA qualquer auferimento de receita pelo simples fato que esse resultado escritural positivo simplesmente natildeo representa ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional praticada pela Requerente (ie compra venda investimentos etc)

B Ainda que tenha havido um perdatildeo parcial dos passivos natildeo haacute valores a recolher de PIS e COFINS

shy As reduccedilotildees de dispecircndios por meio de perdatildeo de diacutevidas natildeo configuram receitas propriamente ditas e por conseguinte natildeo ensejam a ocorrecircncia do fato gerador do PIS e da COFINS Assim caso se considere que o montante relativo agrave baixa de passivos realizada no contexto narrado acima seja juridicamente reconhecido como um ganho natildeo se trata de uma receita para fins de incidecircncia do PIS e da COFINS

C Se eacute que houve receita essa receita possui natureza financeira

shy Ainda que por hipoacutetese se possa falar em receita tal rendimento auferido quando da daccedilatildeo em pagamento possui natureza de receita financeira e portanto estaacute sujeita agrave aliacutequota zero do PIS e da COFINS

shy Isso porque o que ocorreu no caso em questatildeo foi um pagamento antecipado dos passivos incorridos junto ao FGC (que soacute teriam vencimento em 05112020 e 30112020 respectivamente) por meio da daccedilatildeo em pagamento do Creacutedito BTG Por conseguinte foi concedido pelo FGC um DESCONTO FINANCEIRO agrave Requerente em virtude do referido pagamento antecipado dessas diacutevidas

shy A proacutepria DRJCTA ao tecer longas consideraccedilotildees acerca da suposta inexistecircncia de definiccedilatildeo legal para o conceito juriacutedico de receitas financeiras (fl 2243) acabou por reconheceu

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que (i)o RIR99 conceitua o desconto como uma das hipoacuteteses que podem ensejar o reconhecimento de receitas financeiras (ii)descontos obtidos no pagamento antecipado e precircmios de resgatede tiacutetulos e debecircntures ensejam a verificaccedilatildeo de receitas financeiras (fl2245) e (iii) as receitas financeiras satildeo sempre decorrentes da aplicaccedilatildeo recursos pecuniaacuterios ou originadas com relaccedilatildeo aos mesmos (fl 2245) Ora se todas essas premissas satildeo aceitas como verdadeiras pela D DRJCTA simplesmente natildeo eacute possiacutevel afirmar a partir delas que a receita supostamente auferida pela Requerente natildeo teria natureza financeira Com isso a conclusatildeo da DRJCTA eacute contraditoacuteria com as premissas adotadas como razatildeo de decidir pela proacutepria decisatildeo

shy E natildeo soacute isso A referida conclusatildeo estaacute dissociada dos fatos amplamente comprovados nos presentes autos Isso porque conforme amplamente documentado nos autos em uma operaccedilatildeo realizada nos termos determinados pelo BACEN o credor (FGC) da Requerente aceitou receber menos do que lhe seria devido e conferiu quitaccedilatildeo total ante tal pagamento tendo em vista que seria realizado o pagamento antecipado da diacutevida (que de outra forma soacute venceria em 2020) Assim estamos diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida E os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estatildeo compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

shy Aleacutem disso natildeo se pode perder de vista ainda que o FGC deveraacute recuperar todo o valor inicial de principal que entregou agrave Requerente quando da subscriccedilatildeo das Debecircntures e da assinatura do Contrato de Muacutetuo Diferentemente do afirmado pelo V Acoacuterdatildeo no sentido de que o dinheiro a ser recebido do Banco Pactuai natildeo cobriraacute todo o valor colocado na operaccedilatildeo o valor de face de R$ 450 milhotildees do Creacutedito BTG estaacute sujeito agrave incidecircncia de juros de 110 da taxa DI e deveraacute ser liquidado em 2020 por no miacutenimo os mesmos R$ 38 bilhotildees que foram originalmente disponibilizados agrave Requerente

shy Temshyse portanto que admitindoshyse que as operaccedilotildees descritas no Contrato de Pagamento ensejem o reconhecimento de uma receita essa receita decorreria de desconto concedido quando da quitaccedilatildeo antecipada dos passivos a qual possui clara natureza juriacutedica receita financeira e como tal estaacute sujeita ao PIS e a COFINS agrave aliacutequota zero nos termos do artigo Io do Decreto ndeg 544205

shy Ainda que se admita que no presente caso teria havido um perdatildeo de diacutevida E que esse perdatildeo tenha gerado uma receita a Requerente destaca que esse suposto perdatildeo remonta a uma diacutevida de natureza claramente financeira (ie obrigaccedilatildeo de pagar com relaccedilatildeo aos instrumentos financeiros Debecircntures e Contrato de Muacutetuo) Pelo princiacutepio segundo o qual o acessoacuterio segue o principal natildeo poderia o perdatildeo de uma diacutevida dessa natureza resultar no auferimento de receita de natureza diversa como equivocadamente indicado no V Acoacuterdatildeo recorrido O suposto perdatildeo de diacutevida concedido pelo FGC se operou com relaccedilatildeo a passivos de natureza evidentemente financeira que foram contraiacutedos pela Requerente junto a uma entidade claramente inserida no contexto do Sistema Financeiro Nacional (ie FGC) e em razatildeo de uma operaccedilatildeo financeira que resultou na reduccedilatildeo do montante de principal desse mesmo passivo financeiro

shy Imaginandoshyse uma situaccedilatildeo em que fosse possiacutevel descaracterizar todos os atos e negoacutecios juriacutedicos realizados para se tentar encontrar uma explicaccedilatildeo para a situaccedilatildeo analisada tershyseshyia o seguinte a controladora de um banco que apoacutes a verificaccedilatildeo em problemas na administraccedilatildeo do negoacutecio se vecirc obrigada para o resgate da instituiccedilatildeo a tomar uma seacuterie de atos juriacutedicos legiacutetimos com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico mas cujo resultado praacutetico culminou na alienaccedilatildeo da sua participaccedilatildeo societaacuteria na instituiccedilatildeo financeira

V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

shy Caso seja mantida a exigecircncia consubstanciada nos Autos de Infraccedilatildeo o que se admite apenas para argumentar a Requerente requer entatildeo que a exigecircncia dos juros seja limitada uacutenica e exclusivamente aos valores de principal excluindoshyse tal exigecircncia com relaccedilatildeo agrave multa de ofiacutecio acaso natildeo cancelada ante a sua evidente abusividade

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A Uniatildeo por meio da PFN apresentou suas contrarrazotildees ao recurso voluntaacuterio aduzindo em siacutentese que

2 DO DIREITO

21 Da receita operacional

shy Eacute indene de duacutevidas que a daccedilatildeo em pagamento do creacutedito de R$ 450 milhotildees da interessada junto ao Banco BTG Pactual para quitaccedilatildeo das diacutevidas no valor total de R$ 38 bilhotildees com o FGC representa um auferimento de receita Vejashyse o que diz a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 2011 Por outro lado vejashyse o conceito contaacutebil de receita delineado na revogada Resoluccedilatildeo CFC nordm 1121 de 2008

shy De acordo com as regras contaacutebeis a receita relativa ao ganho auferido com a remissatildeo de diacutevidas considerashyse realizada quando da extinccedilatildeo do correspondente passivo Nesse sentido dispotildee a Resoluccedilatildeo do CFC nordm 750 de 1993 Dispotildee a Resoluccedilatildeo CFC nordm 77494 que () Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes ()

shy Portanto natildeo haacute duacutevidas que que a diminuiccedilatildeo do passivo resultante da liquidaccedilatildeo dos passivos (debecircntures e muacutetuo) deve ser reconhecida pela empresa como uma receita

shy Segundo a sistemaacutetica natildeo cumulativa as contribuiccedilotildees incidem sobre o faturamento mensal assim entendido como a totalidade das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

22 Da natureza juriacutedica da receita

shy Ao se analisar os fatos decorrentes dos autos chegashyse agrave conclusatildeo oacutebvia que o abatimento do capital obtido pela contribuinte com a daccedilatildeo em pagamento jamais poderia ser classificado como receita financeira O que houve no caso foi uma remissatildeo de diacutevidas que natildeo pode ser considerado receita financeira

shy O pagamento de obrigaccedilotildees (diacutevidas) constitui destinaccedilatildeo mas natildeo aplicaccedilatildeo dos recursos financeiros no sentido aqui utilizado O adimplemento de diacutevidas natildeo eacute objeto de remuneraccedilatildeo (obtenccedilatildeo de juros) eis que nesse caso natildeo haacute disponibilizaccedilatildeo de recursos proacuteprios para terceiros Assim temshyse que o abandono de parte ou da integralidade de diacutevida por parte do credor constitui para o devedor uma receita insubsistecircncia ativa que dado seu caraacuteter natildeo usual deve ser registrada como item extraordinaacuterio

shy Tratandoshyse pois de remissatildeo (seja total ou parcial) mesmo sendo um ato bilateral vecircshyse que sua natureza assemelhashyse a um desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado nem como despesa financeira (pelo vendedorcredora) ou como receita financeira (pelo compradordevedor) Da mesma forma um desconto incondicional pode ser aceito ou natildeo pelo comprador mas continua a ser um ato liberatoacuterio de vendedor que natildeo implica a caracterizaccedilatildeo de ldquoresultado financeirordquo Portanto natildeo assiste razatildeo agrave contribuinte pois a remissatildeo parcial dos passivos foi sim um ato liberatoacuterio do credor em favor da devedora

23 Dos juros sobre a multa

Fl 2369DF CARF MF

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shy O proacuteprio art 161 do CTN manda incidir juros de mora sobre o creacutedito tributaacuterio ou seja sobre o principal e a penalidade pecuniaacuteria natildeo havendo nenhuma disposiccedilatildeo legal que diga o contraacuterio

Eacute o relatoacuterio

Voto Vencido

Conselheira MARIA APARECIDA MARTINS DE PAULA Relatora

Atendidos aos requisitos de admissibilidade tomashyse conhecimento do recurso voluntaacuterio

III NULIDADES DOS AUTOS DE INFRACcedilAtildeO E DO V ACOacuteRDAtildeO RECORRIDO

(i) A Nulidade dos Autos de Infraccedilatildeo shy Falta de fundamentaccedilatildeo para desconsideraccedilatildeo de atos juriacutedicos praticados

Suscita a recorrente a nulidade dos autos de infraccedilatildeo tendo em vista que natildeo teria ocorrido o perdatildeo de diacutevidas alegado pela fiscalizaccedilatildeo como premissa da autuaccedilatildeo

Ocorre que natildeo obstante natildeo existisse nenhum documento ou contrato mencionando literalmente os termos remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida a fiscalizaccedilatildeo motivadamente qualificou juridicamente os fatos descritos nos documentos da contribuinte como um verdadeiro perdatildeo de diacutevidas natildeo havendo nisso qualquer nulidade mas a legiacutetima interpretaccedilatildeo dos negoacutecios da contribuinte em conformidade com o disposto no art 112 do Coacutedigo Civil Nas declaraccedilotildees de vontade se atenderaacute mais agrave intenccedilatildeo nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem

No mais a questatildeo de saber de os fatos narrados pela fiscalizaccedilatildeo caracterizaram ou natildeo um perdatildeo de diacutevidas eacute tema a ser discutido no meacuterito

(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

Improcede a alegaccedilatildeo da recorrente de que a Delegacia de Julgamento natildeo teria debatido a nulidade suscitada pela entatildeo impugnante

Conforme se vecirc no iniacutecio do voto da decisatildeo recorrida o julgador sustentou a legitimidade dos autos de infraccedilatildeo eis que estatildeo devidamente motivados e contecircm minudentemente a indicaccedilatildeo dos fatos e dos fundamentos juriacutedicos nos termos da Lei nordm 978499 do art art 10 do Decreto nordm 7023572 sem que representem qualquer situaccedilatildeo de nulidade descrita no art 59 desse Decreto

Na sequecircncia como era de se esperar natildeo tendo verificado situaccedilatildeo de nulidade na lavratura dos autos de infraccedilatildeo o julgador deixou a alegaccedilatildeo da impugnante da falsa premissa na autuaccedilatildeo de que natildeo seria o caso de perdatildeo de diacutevida para a anaacutelise na parte do meacuterito nos seguintes termos

() Por fim eacute de se mencionar conforme se verifica a seguir na anaacutelise do meacuterito que a fiscalizaccedilatildeo fundamentou os autos de infraccedilatildeo na realidade faacutetica natildeo tendo sido realizada portanto a adoccedilatildeo de falsa premissa

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Afastashyse dessa forma a preliminar de nulidade levantada [grifei] ()

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

Em breve resumo podemos assim descrever as negociaccedilotildees efetuadas pela contribuinte Siacutelvio Santos Participaccedilotildees (SSP) que redundaram na conclusatildeo da fiscalizaccedilatildeo de que houve um perdatildeo parcial da diacutevida entre a contribuinte e o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no montante de R$ 335 bilhotildees (= R$ 38 bilhotildees shy R$ 450 milhotildees)

a) a contribuinte contraiu duas diacutevidas com o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor total de R$ 38 bilhotildees o qual foi repassado diretamente ao Banco Panamericano

b) a contribuinte e sua controlada BF venderam a totalidade das accedilotildees que detinham do Banco Panamericano ao BTG Pactual o qual em contrapartida lhes pagou o valor de R$450 milhotildees em creacuteditos a receber

c) a contribuinte e a BF celebraram o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento com o FGC por meio do qual esse uacuteltimo aceitou o creacutedito no valor de R$ 450 milhotildees em creacuteditos a receber como daccedilatildeo em pagamento pela diacutevida de R$ 38 bilhotildees

Conforme explica Venosa1 a remissatildeo2 eacute o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento Ressalva o autor que apesar da remissatildeo ser uma espeacutecie de renuacutencia com ela natildeo se confunde pois embora possa ser um ato unilateral natildeo prescinde da concordacircncia do devedor Prossegue Venosa esclarecendo que nada impede que a remissatildeo tome a forma bilateral de um contrato mas natildeo eacute sua essecircncia Essencial eacute a aquiescecircncia do devedor ainda que presumida ou taacutecita

No caso concreto natildeo pairam duacutevidas do ato de vontade do FGC de liberar a contribuinte parcialmente do pagamento da diacutevida e da concordacircncia desta uacuteltima no ato A contribuinte e a BF cederam os seus creacuteditos ao FGC em valor correspondente somente a parte da diacutevida e o FGC os aceitou como quitaccedilatildeo integral das diacutevidas da contribuinte restando caracterizada remissatildeo parcial da diacutevida da contribuinte conforme consta na Consolidaccedilatildeo do Instrumento de Daccedilatildeo em Pagamento (fls 414421)

1 VENOSA Siacutelvio de Salvo Direito Civil teoria geral das obrigaccedilotildees e teoria geral dos contratos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2004 p 335 2 Coacutedigo Civil Da Remissatildeo das Diacutevidas Art 385 A remissatildeo da diacutevida aceita pelo devedor extingue a obrigaccedilatildeo mas sem prejuiacutezo de terceiro Art 386 A devoluccedilatildeo voluntaacuteria do tiacutetulo da obrigaccedilatildeo quando por escrito particular prova desoneraccedilatildeo do devedor e seus coshyobrigados se o credor for capaz de alienar e o devedor capaz de adquirir Art 387 A restituiccedilatildeo voluntaacuteria do objeto empenhado prova a renuacutencia do credor agrave garantia real natildeo a extinccedilatildeo da diacutevida Art 388 A remissatildeo concedida a um dos coshydevedores extingue a diacutevida na parte a ele correspondente de modo que ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros jaacute lhes natildeo pode cobrar o deacutebito sem deduccedilatildeo da parte remitida

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Alega a recorrente que contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor No entanto acredita que esse resultado escritural positivo natildeo representaria ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional por ela praticada de forma que natildeo estariam sujeitos agrave incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais

Natildeo assiste razatildeo agrave recorrente A baixa parcial das suas diacutevidas sem o correspondente pagamento no montante de R$ 335 bilhotildees constitui uma receita originada da extinccedilatildeo de um passivo (obrigaccedilatildeo) sem o desaparecimento concomitante de um ativo de igual ou superior valor constituindo sim um acreacutescimo patrimonial

Para a Equipe de Professores da FEAUSP3 a receita pode ser assim definida

()

Entendeshyse por Receita a entrada de elementos para o ativo sob forma de dinheiro ou direitos a receber correspondentes normalmente agrave venda de mercadorias de produtos ou agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Uma receita tambeacutem pode derivar de juros sobre depoacutesitos bancaacuterios ou tiacutetulos de alugueacuteis e outras origens

Agraves vezes a Receita ocorre em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de um passivo [negritei]

()

Conforme jaacute dispunha4 a Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no seu art 9ordm sect3ordm II sect 3ordm As receitas consideramshyse realizadas () II ndash quando da extinccedilatildeo parcial ou total de um passivo qualquer que seja o motivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior ()

Posteriormente mediante a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 8 de dezembro de 2011 assim se pronunciou o Conselho Federal de Contabilidade nos paraacutegrafos 425 e 447 inclusive mencionando o perdatildeo de diacutevidas como um exemplo de uma receita

()

3 IUDIacuteCIBUS Seacutergio (coord) Contabilidade Introdutoacuteria 11 ed Satildeo Paulo Atlas 2010 p 65 4 Antes de sua alteraccedilatildeo pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 1282 de 28 de maio de 2010

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425Os elementos de receitas e despesas satildeo definidos como segue (a) receitas satildeo aumentos nos benefiacutecios econocircmicos durante o periacuteodo contaacutebil sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuiccedilatildeo de passivos que resultam em aumentos do patrimocircnio liacutequido e que natildeo estejam relacionados com a contribuiccedilatildeo dos detentores dos instrumentos patrimoniais () Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga) [negritei]

O Regulamento do Imposto de Renda assim se pronuncia sobre as receitas e despesas financeiras

Subseccedilatildeo I Receitas e Despesas Financeiras Receitas Art 373 Os juros o desconto o lucro na operaccedilatildeo de reporte e os rendimentos de aplicaccedilotildees financeiras de renda fixa ganhos pelo contribuinte seratildeo incluiacutedos no lucro operacional e quando derivados de operaccedilotildees ou tiacutetulos com vencimento posterior ao encerramento do periacuteodo de apuraccedilatildeo poderatildeo ser rateados pelos periacuteodos a que competirem (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 e Lei nordm 8981 de 1995 art 76 sect2ordm e Lei nordm 9249 de 1995 art 11 sect3ordm) Despesas Art 374 Os juros pagos ou incorridos pelo contribuinte satildeo dedutiacuteveis como custo ou despesa operacional observadas as seguintes normas (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 paraacutegrafo uacutenico) Ishy os juros pagos antecipadamente os descontos de tiacutetulos de creacutedito e o desaacutegio concedido na colocaccedilatildeo de debecircntures ou tiacutetulos de creacutedito deveratildeo ser apropriados pro rata temporis nos periacuteodos de apuraccedilatildeo a que competirem II shy os juros de empreacutestimos contraiacutedos para financiar a aquisiccedilatildeo ou construccedilatildeo de bens do ativo permanente incorridos durante as fases de construccedilatildeo e preacuteshyoperacional podem ser registrados no ativo diferido para serem amortizados ()

Na ausecircncia da completa definiccedilatildeo na legislaccedilatildeo sobre o que seriam receitas e despesas financeiras depreendeshyse do dispositivo acima que as receitas e despesas financeiras

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satildeo decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros de forma que poderiam ser conceituadas como receitas pela aplicaccedilatildeo de recursos pecuniaacuterios proacuteprios ou despesas pela utilizaccedilatildeo de recursos de terceiros

Como explicado na Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit de 31 de agosto de 2007 entendem Silveacuterio das Neves e Paulo Viceconti que os descontos financeiros satildeo aqueles ligados ou condicionados ao pagamento ou recebimento de tiacutetulos por antecipaccedilatildeo ldquosatildeo os descontos obtidos na liquidaccedilatildeo antecipada de obrigaccedilotildeesrdquo Ademais prescrevem esses autores que a conta ldquoDescontos Financeiros Obtidosrdquo (Receita Financeira) deveraacute ser encerrada a creacutedito de resultado do exerciacuteciordquo Por sua vez entendem ainda que os descontos incondicionais satildeo ldquoparcelas redutoras dos preccedilos de compra e venda constantes da nota fiscal ou da fatura de serviccedilo e natildeo dependentes de evento posterior agrave emissatildeo desses documentosrdquo (NEVES Silveacuterio das VICECONTI Paulo Eduardo Vilchez Contabilidade baacutesica 12 ed rev e atual Satildeo Paulo Frase Editora 2004 pp 115shy116)

Nessa esteira concluishyse com os fundamentos utilizados nessa Soluccedilatildeo de Consulta abaixo transcritos que o perdatildeo de diacutevida natildeo pode ser considerado como um desconto financeiro mas uma espeacutecie de desconto incondicional natildeo considerado como uma receita financeira

()

1188 In casu natildeo houve desconto por pagamento antecipado nem precircmio por resgate de tiacutetulo ou seja nenhum confronto entre aspectos financeiramente favoraacuteveis e desfavoraacuteveis mas sim um simples perdatildeo de diacutevida (ato liberatoacuterio) pela credora em favor da devedora (consulente) que se coaduna com o desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado como ldquoreceita financeirardquo Logo a presente insubsistecircncia ativa (do passivo) natildeo haacute de ser tratada como uma ldquoReceita Financeirardquo mas como ldquoReceita shy Outros Resultados Operacionaisrdquo o que leva ao entendimento que a remissatildeo de diacutevida eacute fato imponiacutevel da Cofins e do PIS

1189 O desconto tem natureza de receita financeira quando haacute novaccedilatildeo em virtude de uma contraposiccedilatildeo de fatores favoraacuteveis e desfavoraacuteveis (pagamento antecipado que gera uma reduccedilatildeo de juros ndash recebimento em funccedilatildeo do tempo de recebimento do creacutedito) o que eacute diferente do caso em tela que retrata uma remissatildeo da diacutevida (ato liberatoacuterio da credora em favor da devedora) pela qual houve um abandono do proacuteprio capital (principal)

11810 Depreendeshyse portanto que o valor relativo agraves diacutevidas perdoadas seja parcial ou integral constitui receita para o devedor Para que as receitas sejam consideradas como ldquofinanceirasrdquo haacute de haver como caracteriacutestica um ganho em razatildeo da disponibilidade de recursos para terceiros em funccedilatildeo de certo periacuteodo de tempo Sendo assim o perdatildeo da diacutevida ou sua reduccedilatildeo seja mediante renegociaccedilatildeo ou novaccedilatildeo natildeo constitui receita financeira Eacute irrelevante para caracterizar a receita tratarshyse de perdatildeo do principal ou da multa e juros Portanto o perdatildeo de multa e juros tambeacutem natildeo constitui receita financeira pois como acessoacuterios acompanham a natureza do principal

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12 Do exposto concluishyse que o perdatildeo de diacutevida pela credora eacute um ato juriacutedico que faz acrescer o patrimocircnio da devedora de modo que revela capacidade contributiva (objetiva) que por caracterizar uma receita operacional (diversa da receita financeira) implica receita tributaacutevel pela Cofins e pelo PIS com a aliacutequota superior a zero (diversamente do que trata o art 1ordm do Decreto nordm 5442 de 09052005 cc o sect2ordm do art 27 da Lei nordm 10865 de 30042004)

()

Sustenta a recorrente sem razatildeo que no caso concreto estarshyseshyia diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida sendo que os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estariam compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

Como bem argumentado na decisatildeo recorrida os abatimentos obtidos pela interessada para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras eis que

Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter receita por meio de empreacutestimos ou seja a empresa magicamente teria emprestado dinheiro do FGC para cobrir as inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil e ainda assim ao realizar a quitaccedilatildeo desses empreacutestimos teria obtido receitas de origem financeira

Vejashyse tambeacutem que a tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo No presente caso ao se aceitar a tese da interessada teriacuteamos a situaccedilatildeo iloacutegica pela qual a empresa emissora dos debecircntures (SSP) obteria receita financeira com a baixa dos tiacutetulos e a debenturista (FGC que tomou os debecircntures em garantia aos valores emprestados) teria que reconhecer uma despesa financeira

Ademais valores que foram emprestados pelo FGC para a contribuinte tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios natildeo podendo ter havido assim o abatimento de juros por pagamento antecipado Aleacutem do que os instrumentos legais (ldquoContrato de Muacutetuordquo ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avencasrdquo e o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento) foram todos assinados na mesma data em 31012011

Assim o perdatildeo parcial da diacutevida da contribuinte constitui uma receita decorrente de um acreacutescimo patrimonial para o devedor que natildeo pode ser qualificada como uma receita financeira vez que natildeo decorre de ganho em face da disponibilizaccedilatildeo de recursos

Fl 2375DF CARF MF

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para terceiros em certo periacuteodo de tempo O perdatildeo de uma diacutevida representa uma receita de natureza natildeo financeira cuja consequecircncia eacute o nascimento da capacidade contributiva para o PISPasep e a Cofins

Nesse sentido a Cosit shy CoordenaccedilatildeoshyGeral de Tributaccedilatildeo jaacute manifestou entendimento de que a remissatildeo de diacutevida representa uma receita operacional tributaacutevel pelo IRPJ CSLL PISPasep e Cofins

SOLUCcedilAtildeO DE CONSULTA Nordm 17 DE 27 DE ABRIL DE 2010

ASSUNTO Normas Gerais de Direito Tributaacuterio

EMENTA REMISSAtildeO DE DIacuteVIDA INCIDEcircNCIA DE IRPJ CSLL PISPASEP E COFINS

A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

DISPOSITIVOS LEGAIS art9ordm sect 3ordm II da Resoluccedilatildeo CFC No shy 750 de 1993 PARECER CTCFC N o shy 11 de 2004 art187 da Lei N o shy 6404 de 1976 arts 373 e 374 do RIR de 1999 art3ordm da Lei N o shy 9718 de 1998 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 10833 de 2003 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 106372002 art53 da Lei N o shy 9430 de 1996 arts 2ordm e 3ordm do Ato Declaratoacuterio Interpretativo SRF N o 25 de 2003 art 111 II do CTN

A questatildeo do perdatildeo de diacutevida jaacute foi apreciada no acircmbito do IRPJ pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuintes (1ordm CC) na 1ordf Cacircmara mediante o Acoacuterdatildeo 10197057 de 16122008 Relatora Sandra Maria Faroni com a seguinte ementa PERDAtildeO DE DIacuteVIDA TRIBUTACcedilAtildeO Constitui receita tributaacutevel o valor correspondente ao perdatildeo de diacutevida concedido agrave empresa

Tambeacutem a 1ordf Turma da 4ordf Cacircmara da 1ordf Seccedilatildeo do CARF manifestoushyse no mesmo sentido sobre o perdatildeo de juros de mora classificandoshyo como outras receitas operacionais tributaacuteveis pelo IRPJ CSLL e PISCofins conforme ementa abaixo

Processo nordm 102450037842008shy74 Acoacuterdatildeo nordm 1401001113ndash 4ordf Cacircmara 1ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 11 de fevereiro de 2014 Relator Antonio Bezerra Neto Ementa ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Anoshycalendaacuterio 2004 2005 2006 2007 PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como outras receitas operacionais

Fl 2376DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

Fl 2377DF CARF MF

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

()

DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

()

V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

()

sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

Fl 2379DF CARF MF

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

()

Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

Fl 2388DF CARF MF

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

Fl 2393DF CARF MF

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 2: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

2

(assinado digitalmente)

Antonio Carlos Atulim shy Presidente

(assinado digitalmente)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

(assinado digitalmente)

Carlos Augusto Daniel Neto shy Redator Designado

Participaram do presente julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim Jorge Olmiro Lock Freire Maysa de Saacute Pittondo Deligne Maria Aparecida Martins de Paula Thais De Laurentiis Galkowicz Waldir Navarro Bezerra Diego Diniz Ribeiro e Carlos Augusto Daniel Neto

Relatoacuterio

Tratashyse de recurso voluntaacuterio contra decisatildeo da Delegacia de Julgamento de em Curitiba que julgou improcedente a impugnaccedilatildeo da contribuinte conforme ementa abaixo

ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Periacuteodo de apuraccedilatildeo 01012011 a 31012011 NULIDADE PRESSUPOSTOS Ensejam a nulidade apenas os atos e termos lavrados por pessoa incompetente e os despachos e decisotildees proferidos por autoridade incompetente ou com pretericcedilatildeo do direito de defesa MULTA DE OFIacuteCIO TAXA SELIC Cobramshyse juros de mora equivalentes agrave taxa referencial do Sistema Especial de Liquidaccedilatildeo e Custoacutedia (Selic) e multa de ofiacutecio por expressa previsatildeo legal JUNTADA DE PROVAS DOCUMENTAIS As provas documentais devem ser apresentadas juntamente com a peccedila impugnatoacuteria sob pena de preclusatildeo salvo exceccedilotildees taxativamente previstas ASSUNTO CONTRIBUICcedilAtildeO PARA O PISPASEP Periacuteodo de apuraccedilatildeo 01012011 a 31012011 PIS BASE DE CAacuteLCULO RECEITAS TRIBUTAacuteVEIS REMISSAtildeO DO CAPITAL DE DIacuteVIDAS A base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo natildeo cumulativa para o PIS eacute o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil observadas apenas as exclusotildees expressamente previstas na legislaccedilatildeo devendo ser considerada como tributaacutevel a receita decorrente da remissatildeo do capital de diacutevidas ASSUNTO CONTRIBUICcedilAtildeO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL shy COFINS Periacuteodo de apuraccedilatildeo 01012011 a 31012011 COFINS BASE DE CAacuteLCULO RECEITAS TRIBUTAacuteVEIS REMISSAtildeO DO CAPITAL DE DIacuteVIDAS

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A base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo natildeo cumulativa para a Cofins eacute o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil observadas apenas as exclusotildees expressamente previstas na legislaccedilatildeo devendo ser considerada como tributaacutevel a receita decorrente da remissatildeo do capital de diacutevidas Impugnaccedilatildeo Improcedente Creacutedito Tributaacuterio Mantido

Versa o processo sobre Autos de Infraccedilatildeo lavrados em 15092014 pela Delegacia Especial de Instituiccedilotildees Financeiras em Satildeo Paulo ndash DEINFSAtildeO PAULO no montante total de R$64506678750 calculado ateacute setembro de 2014 relativamente agrave Cofins no valor principal de R$25460000000 e ao PISPasep no valor principal de R$5527500000 aleacutem de multa de ofiacutecio de 75 e juros de mora em face da insuficiecircncia na declaraccedilatildeo e recolhimento do PIS e da COFINS do periacuteodo de apuraccedilatildeo de janeiro de 2011 incidente sobre a receita decorrente de remissatildeo de diacutevidas no montante de R$ 335000000000 oriundas de aportes financeiros efetivamente recebidosrdquo

Apurou a fiscalizaccedilatildeo em siacutentese que

shy A fiscalizada (Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SA shySSP) empresa holding do Grupo Siacutelvio Santos (GSS) detinha em 31 de dezembro de 2010 dentre outras as seguintes participaccedilotildees acionaacuterias 3727 do capital social do Banco Panamericano (BP) 9951 do capital social da BF Utilidades Domeacutesticas Ltda e 6188 do capital social da Panamericano Administradora

shy Em 31 de janeiro de 2011 a SSP possuiacutea diacutevidas com o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor total de R$ 380000000000 as quais foram contraiacutedas com o objetivo de sanear e reestruturar o Banco Panamericano SA devido agrave descoberta de inconsistecircncias contaacutebeis apuradas pelo Banco Central do Brasil ndash Bacen no ano de 2010 Relativamente a esse passivo ele foi resultante da contrataccedilatildeo de duas diacutevidas a primeira no valor de R$ 25 bilhotildees e a segunda no valor de R$ 13 bilhatildeo na seguinte forma

a) quanto agrave primeira diacutevida (i) foi contraiacuteda mediante a emissatildeo privada de debecircntures da SSP com duas seacuteries de 125000 cada num total de 250000 debecircntures tendo o FGC subscrito a totalidade dessa emissatildeo na qualidade de investidor exclusivo (ii) os documentos que lhe deram suporte foram o ldquoInstrumento Particular de Escritura da Primeira Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SA (Escritura)rdquo e o ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildees (Acordo)rdquo ambos datados de 05 de novembro de 2010 e (iii) o valor emprestado por conta e ordem da SSP foi depositado diretamente em conta corrente do Banco Panamericano tendo a operaccedilatildeo resultado nos seguintes lanccedilamentos contaacutebeis da fiscalizada

b) quanto agrave segunda diacutevida (i) ela foi contraiacuteda por meio de um contrato de muacutetuo assinado em 31012011 entre a SSP (Devedora) e o FGC (credora) (ii) em igual forma ao que ocorreu na contrataccedilatildeo da primeira diacutevida o valor emprestado por conta e ordem da SSP foi transferido diretamente do FGC para o Banco Panamericano e (iii) a operaccedilatildeo foi registrada na contabilidade da SSP da seguinte forma

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Na mesma data (31012011) a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (sua controlada) efetuaram a venda do controle acionaacuterio do Banco Panamericano ao Banco BTG Pactual SA pelo valor total de R$ 45000000000 e que referida venda foi concretizada por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo celebrado em 31012011 e paga com creacuteditos a receber nos valores de R$ 446 milhotildees e de R$ 4 milhotildees (SSP e BF respectivamente) exigiacuteveis no dia 28 de julho de 2028 corrigidos por 110 da Taxa DI ou iacutendice que vier substituiacuteshyla ou o valor de R$ 38 bilhotildees sem correccedilatildeo monetaacuteria dos dois o menor Essa operaccedilatildeo resultou no seguinte lanccedilamento contaacutebil na SSP

Ainda nessa mesma data a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda celebraram o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento com o FGC por meio do qual esse uacuteltimo aceitou o creacutedito no valor de R$ 450 milhotildees como daccedilatildeo em pagamento pela diacutevida de R$ 38 bilhotildees Em decorrecircncia dessa operaccedilatildeo (daccedilatildeo em pagamento) as contas passivas que registravam os debecircntures e o muacutetuo bem como a conta passiva relativa ao creacutedito com o Banco BTG foram baixadas tendo sido apurado uma receita no valor de R$ 335 bilhotildees conforme os registros contaacutebeis abaixo

shy Ao ser intimada para justificar a ausecircncia de declaraccedilatildeo e recolhimento das contribuiccedilotildees no periacuteodo (PIS e Cofins) incidentes sobre a receita acima a contribuinte respondeu que ldquoO resultado gerado com a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento para quitaccedilatildeo da diacutevida contraiacuteda pela SSP com o FGC em nosso entendimento natildeo estaacute sujeito ao PISCOFINSrdquo

shy Entende a fiscalizaccedilatildeo que a referida receita deve ser tratada como uma remissatildeo de diacutevida (perdatildeo) sobre a qual deve incidir tanto o PIS como a Cofins Sustenta que o perdatildeo de diacutevida constituishyse em uma receita para a pessoa juriacutedica devedora tanto nos termos da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 1993 como na Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 2011 sendo que na jurisprudecircncia administrativa eacute unacircnime o entendimento de que essa receita natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser classificada (contabilmente) em Outras Receitas Operacionais e objeto de tributaccedilatildeo pelas contribuiccedilotildees sociais

shy Conclui ao final a fiscalizaccedilatildeo que a remissatildeo de diacutevida representou um efetivo acreacutescimo patrimonial para a SSP tanto que foi contabilizada como receita eventual Entretanto independentemente da classificaccedilatildeo contaacutebil adotada pela contribuinte deve ser considerada como outras receitas operacionais (distinta da receita financeira) e por natildeo haver norma isentiva ou reduccedilatildeo de aliacutequota essa receita deve ser integrada agrave base para fins de incidecircncia das contribuiccedilotildees ao Pis e agrave Cofins na sistemaacutetica da natildeoshycumulatividade na qual a SSP estaacute sujeita

A interessada apresentou impugnaccedilatildeo alegando e requerendo em siacutentese

a) Sustenta que apesar de os fatos e circunstacircncias relativos aos supostos deacutebitos de IRPJ e CSLL relativos aos anos de 2009 a 2011 serem os mesmos dos alegados deacutebitos de PIS e

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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Cofins ldquoNAtildeO haacute qualquer questatildeo prejudicial entre os processos administrativos fiscais nordms 108827213042014shy93 (IRPJ e CSLL) e 163277208552014shy11 (PIS e COFINS)rdquo

b) Requer a nulidade dos autos de infraccedilatildeo sob o argumento de que a fiscalizaccedilatildeo assumiu um premissa que natildeo condiz com a realidade a de que ldquoas prestaccedilotildees previstas no Contrato de Pagamento necessariamente importariam um perdatildeo de diacutevida com relaccedilatildeo agraves obrigaccedilotildees financeiras previstas nas Debecircntures e no Contrato de Muacutetuordquo Argumenta que a autoridade deixou de retratar adequadamente os fatos e que esse viacutecio insanaacutevel atinge a validade do ato administrativo uma vez que afronta o art 50 da Lei 9784 de 1999 e art 10 do Decreto 70235 de 1972

c) No meacuterito a contribuinte contesta as exigecircncias fiscais por meio de trecircs linhas de raciociacutenio a seguir

(i) que a eventual receita auferida em razatildeo do desconto recebido quando da quitaccedilatildeo antecipada dos passivos (debecircntures e muacutetuo) tem natureza de receita financeira devendo ser tributada tanto no PIS quanto na Cofins agrave aliacutequota zero nos termos do Decreto nordm 5442 de 2005

(ii) que se houver o entendimento de que a baixa dos passivos deve ser caracterizada como perdatildeo de diacutevida que esse mesmo (perdatildeo) natildeo enseja do ponto de vista juriacutedico auferimento de receita passiacutevel de tributaccedilatildeo pelo PIS e pela Cofins

(iii) que eventual receita auferida em contrapartida ao suposto perdatildeo de diacutevida tem natureza de receita financeira devendo da mesma forma que no item ldquoirdquo ser tributado agrave aliacutequota zero

d) Por fim a impugnante insurgeshyse contra a aplicaccedilatildeo dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio Diz que tal cobranccedila natildeo tem amparo legal e que consoante a jurisprudecircncia administrativa o juros de mora somente podem ser cobrado sobre os valores dos deacutebitos de tributos e contribuiccedilotildees

A Delegacia de Julgamento natildeo acatou os argumentos da impugnante em siacutentese sob os seguintes fundamentos

shy Natildeo existem duacutevidas de que a operaccedilatildeo consubstanciada na daccedilatildeo em pagamento do creacutedito de R$ 450 milhotildees da interessada junto ao Banco BTG Pactual para quitaccedilatildeo das diviacutedas no valor total de R$ 38 bilhotildees com o FGC representou um auferimento de receita O conceito contaacutebil de receitas estaacute intimamente ligado ao ldquoaumento nos benefiacutecios econocircmicosrdquo da entidade ou seja quando um fato contaacutebil representar um aumento mesmo que futuro nos benefiacutecios econocircmicos para a empresa esse aumento deve ser reconhecido como receita [Resoluccedilatildeo CFC (Conselho Federal de Contabilidade) nordm 1374 de 2001] A diminuiccedilatildeo do passivo resultante da liquidaccedilatildeo dos passivos (debecircntures e muacutetuo) deve ser reconhecida pela empresa como uma receita A proacutepria interessada admitiu que o fato em discussatildeo ocasionou uma diminuiccedilatildeo em seu passivo reconhecendo contabilmente (conta 3510909010017 ndash Receitas Eventuais ndash Operaccedilatildeo PAN) tendo em vista a faciacutelima mensuraccedilatildeo (R$ 380000000000 ndash R$ 45000000000) que houve um auferimento de receita no valor de R$ 335000000000

shy Na ausecircncia de definiccedilatildeo expressa a natureza da receita financeira ou da despesa financeira deve ser obtida a partir da identificaccedilatildeo do elemento comum entre eles qual seja receitas e despesas financeiras satildeo sempre decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros Consistiriam as receitas e despesas financeiras em formas de remuneraccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo dos recursos (pecuniaacuterios) proacuteprios ou a utilizaccedilatildeo de recursos (pecuniaacuterios) de terceiros

shy Os abatimentos obtidos pela contribuinte para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter

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receita por meio de empreacutestimos A tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo

shy No tocante agrave argumentaccedilatildeo de que a receita obtida deve ser caracterizada como receita financeira porque houve a quitaccedilatildeo antecipada das diacutevidas eacute de se destacar dois pontos cruciais a) os valores que foram emprestados pela FGC para a interessada tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios assim natildeo houve abatimento de juros por pagamento antecipado simplesmente por que natildeo haviam juros a pagar e b) a forma como o problema do Banco Panamericano foi resolvido deixa muito claro que o abatimento das diacutevidas (debecircntures e muacutetuo) foi concedido na operaccedilatildeo conjunta (contrato de muacutetuovenda das accedilotildeesdaccedilatildeo em pagamento) com a aprovaccedilatildeo e recursos oriundos do FGC para evitar a insolvecircncia do Banco Panamericano natildeo podendo se admitir a tese da interessada de que a reduccedilatildeo nos valores das diacutevidas trataramshyse de descontos financeiros mesmo porque natildeo houve qualquer lapso temporal entre a data de obtenccedilatildeo do empreacutestimo e a data de sua liquidaccedilatildeo tendo em vista os instrumentos de concessatildeo (ldquoContrato de Muacutetuordquo) e quitaccedilatildeo (ldquoInstrumento de Daccedilatildeo em Pagamentordquo) terem sido assinados na mesma data

shy O perdatildeo de diacutevidas natildeo pode ser considerado como receita financeira uma vez que natildeo decorre da aplicaccedilatildeo de recursos da empresa Com efeito o pagamento de obrigaccedilotildees (diacutevidas) constitui destinaccedilatildeo mas natildeo aplicaccedilatildeo dos recursos financeiros no sentido aqui utilizado O adimplemento de diacutevidas natildeo eacute objeto de remuneraccedilatildeo (obtenccedilatildeo de juros) eis que nesse caso natildeo haacute disponibilizaccedilatildeo de recursos proacuteprios para terceiros Assim temshyse que o abandono de parte ou da integralidade de diacutevida por parte do credor constitui para o devedor uma receita insubsistecircncia ativa que dado seu caraacuteter natildeo usual deve ser registrada como item extraordinaacuterio

shy Ora como se verifica o FGC aceitou e financiou a operaccedilatildeo conjunta anteriormente mencionada (contrato de muacutetuovenda das accedilotildeesdaccedilatildeo em pagamento) assumindo de forma indireta o saneamento do Banco Panamericano e sabendo de antematildeo que somente iria receber o valor injetado na operaccedilatildeo sem qualquer correccedilatildeo monetaacuteria ou juros em 28 de julho de 2028 denotandoshyse muito claramente o perdatildeo da maior parte das diacutevidas da contribuinte junto ao FGC (R$ 3350000000 = R$ 3800000000shy R$ 450000000) Nesse sentido mostrashyse falaciosa a afirmaccedilatildeo da interessada de que o FGC deveraacute recuperar todo o valor emprestado Eacute evidente que o dinheiro a ser recebido do Banco Pactual natildeo cobriraacute todo o valor colocado na operaccedilatildeo e que o prejuiacutezo decorrente das inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil foram suportados em boa parte pelo FGC pois como visto o valor de ateacute R$ 38 bilhotildees somente seraacute recuperado sem qualquer correccedilatildeo monetaacuteria ou juros apoacutes 17 (dezessete) anos

A contribuinte foi regularmente cientificada da decisatildeo de primeira instacircncia em 17032016 pela via postal e apresentou recurso voluntaacuterio em 15042016 alegando em siacutentese que

III NULIDADES DOS AUTOS DE INFRACcedilAtildeO E DO V ACOacuteRDAtildeO RECORRIDO

(i) A Nulidade dos Autos de Infraccedilatildeo shy Falta de fundamentaccedilatildeo para desconsideraccedilatildeo de atos juriacutedicos praticados

shy Conforme se verifica pela leitura do Contrato de Pagamento a operaccedilatildeo realizada entre a Requerente e o FGC natildeo envolveu nenhuma oferta de remissatildeoperdatildeo de diacutevida por parte do FGC e tampouco ocorreu qualquer aceite por parte da Requerente com relaccedilatildeo ao perdatildeo de diacutevidas Em outras palavras o ato formal de remissatildeoperdatildeo de diacutevidas jamais ocorreu posto que natildeo foi pactuado entre as partes Assim tendo em vista que a principal premissa utilizada pela D Fiscalizaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo dos Autos de Infraccedilatildeo estaacute equivocada temshyse por demonstrada a NULIDADE que acomete os Autos de Infraccedilatildeo

Fl 2366DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 5

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(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

shy A DRJCTA efetivamente se esquiva de analisar abordar e debater o ponto trazido pela Requerente em sua Impugnaccedilatildeo qual seja se os documentos celebrados indicam a ocorrecircncia de um perdatildeo de diacutevidas como alega a D Fiscalizaccedilatildeo no TVF ou um desconto financeiro como alega a proacutepria Requerente Isso eacute causa de evidente nulidade da decisatildeo consubstanciada no v Acoacuterdatildeo recorrido conforme se verifica do artigo 31 e 59 do Decreto ndeg 7023572 bem como dos precedentes do CARF que analisaram tal dispositivo

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

A Ausecircncia de acreacutescimo patrimonial shy Impossibilidade de exigecircncia do PIS e COFINS sobre mera reduccedilatildeo de dispecircndios

shy Em primeiro lugar a Requerente destaca que natildeo auferiu qualquer acreacutescimo patrimonial efetivo em razatildeo do Contrato de Pagamento ou quitaccedilatildeo antecipada das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo natildeo sendo correto afirmar como faz a D Fiscalizaccedilatildeo e a DRJCTA que tais negoacutecios juriacutedicos ensejaram a ocorrecircncia do fato gerador do PIS e da COFINS

shy A Requerente apenas contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor (FGC shy fl 3 do TVF)

shy Muito embora numa anaacutelise meramente contaacutebil a Requerente tenha auferido um resultado escritural positivo em decorrecircncia da diminuiccedilatildeo do passivo natildeo se verifica como quer fazer crer as DD Fiscalizaccedilatildeo e DRJCTA qualquer auferimento de receita pelo simples fato que esse resultado escritural positivo simplesmente natildeo representa ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional praticada pela Requerente (ie compra venda investimentos etc)

B Ainda que tenha havido um perdatildeo parcial dos passivos natildeo haacute valores a recolher de PIS e COFINS

shy As reduccedilotildees de dispecircndios por meio de perdatildeo de diacutevidas natildeo configuram receitas propriamente ditas e por conseguinte natildeo ensejam a ocorrecircncia do fato gerador do PIS e da COFINS Assim caso se considere que o montante relativo agrave baixa de passivos realizada no contexto narrado acima seja juridicamente reconhecido como um ganho natildeo se trata de uma receita para fins de incidecircncia do PIS e da COFINS

C Se eacute que houve receita essa receita possui natureza financeira

shy Ainda que por hipoacutetese se possa falar em receita tal rendimento auferido quando da daccedilatildeo em pagamento possui natureza de receita financeira e portanto estaacute sujeita agrave aliacutequota zero do PIS e da COFINS

shy Isso porque o que ocorreu no caso em questatildeo foi um pagamento antecipado dos passivos incorridos junto ao FGC (que soacute teriam vencimento em 05112020 e 30112020 respectivamente) por meio da daccedilatildeo em pagamento do Creacutedito BTG Por conseguinte foi concedido pelo FGC um DESCONTO FINANCEIRO agrave Requerente em virtude do referido pagamento antecipado dessas diacutevidas

shy A proacutepria DRJCTA ao tecer longas consideraccedilotildees acerca da suposta inexistecircncia de definiccedilatildeo legal para o conceito juriacutedico de receitas financeiras (fl 2243) acabou por reconheceu

Fl 2367DF CARF MF

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que (i)o RIR99 conceitua o desconto como uma das hipoacuteteses que podem ensejar o reconhecimento de receitas financeiras (ii)descontos obtidos no pagamento antecipado e precircmios de resgatede tiacutetulos e debecircntures ensejam a verificaccedilatildeo de receitas financeiras (fl2245) e (iii) as receitas financeiras satildeo sempre decorrentes da aplicaccedilatildeo recursos pecuniaacuterios ou originadas com relaccedilatildeo aos mesmos (fl 2245) Ora se todas essas premissas satildeo aceitas como verdadeiras pela D DRJCTA simplesmente natildeo eacute possiacutevel afirmar a partir delas que a receita supostamente auferida pela Requerente natildeo teria natureza financeira Com isso a conclusatildeo da DRJCTA eacute contraditoacuteria com as premissas adotadas como razatildeo de decidir pela proacutepria decisatildeo

shy E natildeo soacute isso A referida conclusatildeo estaacute dissociada dos fatos amplamente comprovados nos presentes autos Isso porque conforme amplamente documentado nos autos em uma operaccedilatildeo realizada nos termos determinados pelo BACEN o credor (FGC) da Requerente aceitou receber menos do que lhe seria devido e conferiu quitaccedilatildeo total ante tal pagamento tendo em vista que seria realizado o pagamento antecipado da diacutevida (que de outra forma soacute venceria em 2020) Assim estamos diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida E os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estatildeo compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

shy Aleacutem disso natildeo se pode perder de vista ainda que o FGC deveraacute recuperar todo o valor inicial de principal que entregou agrave Requerente quando da subscriccedilatildeo das Debecircntures e da assinatura do Contrato de Muacutetuo Diferentemente do afirmado pelo V Acoacuterdatildeo no sentido de que o dinheiro a ser recebido do Banco Pactuai natildeo cobriraacute todo o valor colocado na operaccedilatildeo o valor de face de R$ 450 milhotildees do Creacutedito BTG estaacute sujeito agrave incidecircncia de juros de 110 da taxa DI e deveraacute ser liquidado em 2020 por no miacutenimo os mesmos R$ 38 bilhotildees que foram originalmente disponibilizados agrave Requerente

shy Temshyse portanto que admitindoshyse que as operaccedilotildees descritas no Contrato de Pagamento ensejem o reconhecimento de uma receita essa receita decorreria de desconto concedido quando da quitaccedilatildeo antecipada dos passivos a qual possui clara natureza juriacutedica receita financeira e como tal estaacute sujeita ao PIS e a COFINS agrave aliacutequota zero nos termos do artigo Io do Decreto ndeg 544205

shy Ainda que se admita que no presente caso teria havido um perdatildeo de diacutevida E que esse perdatildeo tenha gerado uma receita a Requerente destaca que esse suposto perdatildeo remonta a uma diacutevida de natureza claramente financeira (ie obrigaccedilatildeo de pagar com relaccedilatildeo aos instrumentos financeiros Debecircntures e Contrato de Muacutetuo) Pelo princiacutepio segundo o qual o acessoacuterio segue o principal natildeo poderia o perdatildeo de uma diacutevida dessa natureza resultar no auferimento de receita de natureza diversa como equivocadamente indicado no V Acoacuterdatildeo recorrido O suposto perdatildeo de diacutevida concedido pelo FGC se operou com relaccedilatildeo a passivos de natureza evidentemente financeira que foram contraiacutedos pela Requerente junto a uma entidade claramente inserida no contexto do Sistema Financeiro Nacional (ie FGC) e em razatildeo de uma operaccedilatildeo financeira que resultou na reduccedilatildeo do montante de principal desse mesmo passivo financeiro

shy Imaginandoshyse uma situaccedilatildeo em que fosse possiacutevel descaracterizar todos os atos e negoacutecios juriacutedicos realizados para se tentar encontrar uma explicaccedilatildeo para a situaccedilatildeo analisada tershyseshyia o seguinte a controladora de um banco que apoacutes a verificaccedilatildeo em problemas na administraccedilatildeo do negoacutecio se vecirc obrigada para o resgate da instituiccedilatildeo a tomar uma seacuterie de atos juriacutedicos legiacutetimos com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico mas cujo resultado praacutetico culminou na alienaccedilatildeo da sua participaccedilatildeo societaacuteria na instituiccedilatildeo financeira

V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

shy Caso seja mantida a exigecircncia consubstanciada nos Autos de Infraccedilatildeo o que se admite apenas para argumentar a Requerente requer entatildeo que a exigecircncia dos juros seja limitada uacutenica e exclusivamente aos valores de principal excluindoshyse tal exigecircncia com relaccedilatildeo agrave multa de ofiacutecio acaso natildeo cancelada ante a sua evidente abusividade

Fl 2368DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 6

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A Uniatildeo por meio da PFN apresentou suas contrarrazotildees ao recurso voluntaacuterio aduzindo em siacutentese que

2 DO DIREITO

21 Da receita operacional

shy Eacute indene de duacutevidas que a daccedilatildeo em pagamento do creacutedito de R$ 450 milhotildees da interessada junto ao Banco BTG Pactual para quitaccedilatildeo das diacutevidas no valor total de R$ 38 bilhotildees com o FGC representa um auferimento de receita Vejashyse o que diz a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 2011 Por outro lado vejashyse o conceito contaacutebil de receita delineado na revogada Resoluccedilatildeo CFC nordm 1121 de 2008

shy De acordo com as regras contaacutebeis a receita relativa ao ganho auferido com a remissatildeo de diacutevidas considerashyse realizada quando da extinccedilatildeo do correspondente passivo Nesse sentido dispotildee a Resoluccedilatildeo do CFC nordm 750 de 1993 Dispotildee a Resoluccedilatildeo CFC nordm 77494 que () Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes ()

shy Portanto natildeo haacute duacutevidas que que a diminuiccedilatildeo do passivo resultante da liquidaccedilatildeo dos passivos (debecircntures e muacutetuo) deve ser reconhecida pela empresa como uma receita

shy Segundo a sistemaacutetica natildeo cumulativa as contribuiccedilotildees incidem sobre o faturamento mensal assim entendido como a totalidade das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

22 Da natureza juriacutedica da receita

shy Ao se analisar os fatos decorrentes dos autos chegashyse agrave conclusatildeo oacutebvia que o abatimento do capital obtido pela contribuinte com a daccedilatildeo em pagamento jamais poderia ser classificado como receita financeira O que houve no caso foi uma remissatildeo de diacutevidas que natildeo pode ser considerado receita financeira

shy O pagamento de obrigaccedilotildees (diacutevidas) constitui destinaccedilatildeo mas natildeo aplicaccedilatildeo dos recursos financeiros no sentido aqui utilizado O adimplemento de diacutevidas natildeo eacute objeto de remuneraccedilatildeo (obtenccedilatildeo de juros) eis que nesse caso natildeo haacute disponibilizaccedilatildeo de recursos proacuteprios para terceiros Assim temshyse que o abandono de parte ou da integralidade de diacutevida por parte do credor constitui para o devedor uma receita insubsistecircncia ativa que dado seu caraacuteter natildeo usual deve ser registrada como item extraordinaacuterio

shy Tratandoshyse pois de remissatildeo (seja total ou parcial) mesmo sendo um ato bilateral vecircshyse que sua natureza assemelhashyse a um desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado nem como despesa financeira (pelo vendedorcredora) ou como receita financeira (pelo compradordevedor) Da mesma forma um desconto incondicional pode ser aceito ou natildeo pelo comprador mas continua a ser um ato liberatoacuterio de vendedor que natildeo implica a caracterizaccedilatildeo de ldquoresultado financeirordquo Portanto natildeo assiste razatildeo agrave contribuinte pois a remissatildeo parcial dos passivos foi sim um ato liberatoacuterio do credor em favor da devedora

23 Dos juros sobre a multa

Fl 2369DF CARF MF

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shy O proacuteprio art 161 do CTN manda incidir juros de mora sobre o creacutedito tributaacuterio ou seja sobre o principal e a penalidade pecuniaacuteria natildeo havendo nenhuma disposiccedilatildeo legal que diga o contraacuterio

Eacute o relatoacuterio

Voto Vencido

Conselheira MARIA APARECIDA MARTINS DE PAULA Relatora

Atendidos aos requisitos de admissibilidade tomashyse conhecimento do recurso voluntaacuterio

III NULIDADES DOS AUTOS DE INFRACcedilAtildeO E DO V ACOacuteRDAtildeO RECORRIDO

(i) A Nulidade dos Autos de Infraccedilatildeo shy Falta de fundamentaccedilatildeo para desconsideraccedilatildeo de atos juriacutedicos praticados

Suscita a recorrente a nulidade dos autos de infraccedilatildeo tendo em vista que natildeo teria ocorrido o perdatildeo de diacutevidas alegado pela fiscalizaccedilatildeo como premissa da autuaccedilatildeo

Ocorre que natildeo obstante natildeo existisse nenhum documento ou contrato mencionando literalmente os termos remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida a fiscalizaccedilatildeo motivadamente qualificou juridicamente os fatos descritos nos documentos da contribuinte como um verdadeiro perdatildeo de diacutevidas natildeo havendo nisso qualquer nulidade mas a legiacutetima interpretaccedilatildeo dos negoacutecios da contribuinte em conformidade com o disposto no art 112 do Coacutedigo Civil Nas declaraccedilotildees de vontade se atenderaacute mais agrave intenccedilatildeo nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem

No mais a questatildeo de saber de os fatos narrados pela fiscalizaccedilatildeo caracterizaram ou natildeo um perdatildeo de diacutevidas eacute tema a ser discutido no meacuterito

(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

Improcede a alegaccedilatildeo da recorrente de que a Delegacia de Julgamento natildeo teria debatido a nulidade suscitada pela entatildeo impugnante

Conforme se vecirc no iniacutecio do voto da decisatildeo recorrida o julgador sustentou a legitimidade dos autos de infraccedilatildeo eis que estatildeo devidamente motivados e contecircm minudentemente a indicaccedilatildeo dos fatos e dos fundamentos juriacutedicos nos termos da Lei nordm 978499 do art art 10 do Decreto nordm 7023572 sem que representem qualquer situaccedilatildeo de nulidade descrita no art 59 desse Decreto

Na sequecircncia como era de se esperar natildeo tendo verificado situaccedilatildeo de nulidade na lavratura dos autos de infraccedilatildeo o julgador deixou a alegaccedilatildeo da impugnante da falsa premissa na autuaccedilatildeo de que natildeo seria o caso de perdatildeo de diacutevida para a anaacutelise na parte do meacuterito nos seguintes termos

() Por fim eacute de se mencionar conforme se verifica a seguir na anaacutelise do meacuterito que a fiscalizaccedilatildeo fundamentou os autos de infraccedilatildeo na realidade faacutetica natildeo tendo sido realizada portanto a adoccedilatildeo de falsa premissa

Fl 2370DF CARF MF

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S3shyC4T2 Fl 7

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Afastashyse dessa forma a preliminar de nulidade levantada [grifei] ()

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

Em breve resumo podemos assim descrever as negociaccedilotildees efetuadas pela contribuinte Siacutelvio Santos Participaccedilotildees (SSP) que redundaram na conclusatildeo da fiscalizaccedilatildeo de que houve um perdatildeo parcial da diacutevida entre a contribuinte e o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no montante de R$ 335 bilhotildees (= R$ 38 bilhotildees shy R$ 450 milhotildees)

a) a contribuinte contraiu duas diacutevidas com o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor total de R$ 38 bilhotildees o qual foi repassado diretamente ao Banco Panamericano

b) a contribuinte e sua controlada BF venderam a totalidade das accedilotildees que detinham do Banco Panamericano ao BTG Pactual o qual em contrapartida lhes pagou o valor de R$450 milhotildees em creacuteditos a receber

c) a contribuinte e a BF celebraram o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento com o FGC por meio do qual esse uacuteltimo aceitou o creacutedito no valor de R$ 450 milhotildees em creacuteditos a receber como daccedilatildeo em pagamento pela diacutevida de R$ 38 bilhotildees

Conforme explica Venosa1 a remissatildeo2 eacute o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento Ressalva o autor que apesar da remissatildeo ser uma espeacutecie de renuacutencia com ela natildeo se confunde pois embora possa ser um ato unilateral natildeo prescinde da concordacircncia do devedor Prossegue Venosa esclarecendo que nada impede que a remissatildeo tome a forma bilateral de um contrato mas natildeo eacute sua essecircncia Essencial eacute a aquiescecircncia do devedor ainda que presumida ou taacutecita

No caso concreto natildeo pairam duacutevidas do ato de vontade do FGC de liberar a contribuinte parcialmente do pagamento da diacutevida e da concordacircncia desta uacuteltima no ato A contribuinte e a BF cederam os seus creacuteditos ao FGC em valor correspondente somente a parte da diacutevida e o FGC os aceitou como quitaccedilatildeo integral das diacutevidas da contribuinte restando caracterizada remissatildeo parcial da diacutevida da contribuinte conforme consta na Consolidaccedilatildeo do Instrumento de Daccedilatildeo em Pagamento (fls 414421)

1 VENOSA Siacutelvio de Salvo Direito Civil teoria geral das obrigaccedilotildees e teoria geral dos contratos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2004 p 335 2 Coacutedigo Civil Da Remissatildeo das Diacutevidas Art 385 A remissatildeo da diacutevida aceita pelo devedor extingue a obrigaccedilatildeo mas sem prejuiacutezo de terceiro Art 386 A devoluccedilatildeo voluntaacuteria do tiacutetulo da obrigaccedilatildeo quando por escrito particular prova desoneraccedilatildeo do devedor e seus coshyobrigados se o credor for capaz de alienar e o devedor capaz de adquirir Art 387 A restituiccedilatildeo voluntaacuteria do objeto empenhado prova a renuacutencia do credor agrave garantia real natildeo a extinccedilatildeo da diacutevida Art 388 A remissatildeo concedida a um dos coshydevedores extingue a diacutevida na parte a ele correspondente de modo que ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros jaacute lhes natildeo pode cobrar o deacutebito sem deduccedilatildeo da parte remitida

Fl 2371DF CARF MF

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Alega a recorrente que contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor No entanto acredita que esse resultado escritural positivo natildeo representaria ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional por ela praticada de forma que natildeo estariam sujeitos agrave incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais

Natildeo assiste razatildeo agrave recorrente A baixa parcial das suas diacutevidas sem o correspondente pagamento no montante de R$ 335 bilhotildees constitui uma receita originada da extinccedilatildeo de um passivo (obrigaccedilatildeo) sem o desaparecimento concomitante de um ativo de igual ou superior valor constituindo sim um acreacutescimo patrimonial

Para a Equipe de Professores da FEAUSP3 a receita pode ser assim definida

()

Entendeshyse por Receita a entrada de elementos para o ativo sob forma de dinheiro ou direitos a receber correspondentes normalmente agrave venda de mercadorias de produtos ou agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Uma receita tambeacutem pode derivar de juros sobre depoacutesitos bancaacuterios ou tiacutetulos de alugueacuteis e outras origens

Agraves vezes a Receita ocorre em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de um passivo [negritei]

()

Conforme jaacute dispunha4 a Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no seu art 9ordm sect3ordm II sect 3ordm As receitas consideramshyse realizadas () II ndash quando da extinccedilatildeo parcial ou total de um passivo qualquer que seja o motivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior ()

Posteriormente mediante a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 8 de dezembro de 2011 assim se pronunciou o Conselho Federal de Contabilidade nos paraacutegrafos 425 e 447 inclusive mencionando o perdatildeo de diacutevidas como um exemplo de uma receita

()

3 IUDIacuteCIBUS Seacutergio (coord) Contabilidade Introdutoacuteria 11 ed Satildeo Paulo Atlas 2010 p 65 4 Antes de sua alteraccedilatildeo pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 1282 de 28 de maio de 2010

Fl 2372DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 8

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425Os elementos de receitas e despesas satildeo definidos como segue (a) receitas satildeo aumentos nos benefiacutecios econocircmicos durante o periacuteodo contaacutebil sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuiccedilatildeo de passivos que resultam em aumentos do patrimocircnio liacutequido e que natildeo estejam relacionados com a contribuiccedilatildeo dos detentores dos instrumentos patrimoniais () Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga) [negritei]

O Regulamento do Imposto de Renda assim se pronuncia sobre as receitas e despesas financeiras

Subseccedilatildeo I Receitas e Despesas Financeiras Receitas Art 373 Os juros o desconto o lucro na operaccedilatildeo de reporte e os rendimentos de aplicaccedilotildees financeiras de renda fixa ganhos pelo contribuinte seratildeo incluiacutedos no lucro operacional e quando derivados de operaccedilotildees ou tiacutetulos com vencimento posterior ao encerramento do periacuteodo de apuraccedilatildeo poderatildeo ser rateados pelos periacuteodos a que competirem (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 e Lei nordm 8981 de 1995 art 76 sect2ordm e Lei nordm 9249 de 1995 art 11 sect3ordm) Despesas Art 374 Os juros pagos ou incorridos pelo contribuinte satildeo dedutiacuteveis como custo ou despesa operacional observadas as seguintes normas (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 paraacutegrafo uacutenico) Ishy os juros pagos antecipadamente os descontos de tiacutetulos de creacutedito e o desaacutegio concedido na colocaccedilatildeo de debecircntures ou tiacutetulos de creacutedito deveratildeo ser apropriados pro rata temporis nos periacuteodos de apuraccedilatildeo a que competirem II shy os juros de empreacutestimos contraiacutedos para financiar a aquisiccedilatildeo ou construccedilatildeo de bens do ativo permanente incorridos durante as fases de construccedilatildeo e preacuteshyoperacional podem ser registrados no ativo diferido para serem amortizados ()

Na ausecircncia da completa definiccedilatildeo na legislaccedilatildeo sobre o que seriam receitas e despesas financeiras depreendeshyse do dispositivo acima que as receitas e despesas financeiras

Fl 2373DF CARF MF

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satildeo decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros de forma que poderiam ser conceituadas como receitas pela aplicaccedilatildeo de recursos pecuniaacuterios proacuteprios ou despesas pela utilizaccedilatildeo de recursos de terceiros

Como explicado na Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit de 31 de agosto de 2007 entendem Silveacuterio das Neves e Paulo Viceconti que os descontos financeiros satildeo aqueles ligados ou condicionados ao pagamento ou recebimento de tiacutetulos por antecipaccedilatildeo ldquosatildeo os descontos obtidos na liquidaccedilatildeo antecipada de obrigaccedilotildeesrdquo Ademais prescrevem esses autores que a conta ldquoDescontos Financeiros Obtidosrdquo (Receita Financeira) deveraacute ser encerrada a creacutedito de resultado do exerciacuteciordquo Por sua vez entendem ainda que os descontos incondicionais satildeo ldquoparcelas redutoras dos preccedilos de compra e venda constantes da nota fiscal ou da fatura de serviccedilo e natildeo dependentes de evento posterior agrave emissatildeo desses documentosrdquo (NEVES Silveacuterio das VICECONTI Paulo Eduardo Vilchez Contabilidade baacutesica 12 ed rev e atual Satildeo Paulo Frase Editora 2004 pp 115shy116)

Nessa esteira concluishyse com os fundamentos utilizados nessa Soluccedilatildeo de Consulta abaixo transcritos que o perdatildeo de diacutevida natildeo pode ser considerado como um desconto financeiro mas uma espeacutecie de desconto incondicional natildeo considerado como uma receita financeira

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1188 In casu natildeo houve desconto por pagamento antecipado nem precircmio por resgate de tiacutetulo ou seja nenhum confronto entre aspectos financeiramente favoraacuteveis e desfavoraacuteveis mas sim um simples perdatildeo de diacutevida (ato liberatoacuterio) pela credora em favor da devedora (consulente) que se coaduna com o desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado como ldquoreceita financeirardquo Logo a presente insubsistecircncia ativa (do passivo) natildeo haacute de ser tratada como uma ldquoReceita Financeirardquo mas como ldquoReceita shy Outros Resultados Operacionaisrdquo o que leva ao entendimento que a remissatildeo de diacutevida eacute fato imponiacutevel da Cofins e do PIS

1189 O desconto tem natureza de receita financeira quando haacute novaccedilatildeo em virtude de uma contraposiccedilatildeo de fatores favoraacuteveis e desfavoraacuteveis (pagamento antecipado que gera uma reduccedilatildeo de juros ndash recebimento em funccedilatildeo do tempo de recebimento do creacutedito) o que eacute diferente do caso em tela que retrata uma remissatildeo da diacutevida (ato liberatoacuterio da credora em favor da devedora) pela qual houve um abandono do proacuteprio capital (principal)

11810 Depreendeshyse portanto que o valor relativo agraves diacutevidas perdoadas seja parcial ou integral constitui receita para o devedor Para que as receitas sejam consideradas como ldquofinanceirasrdquo haacute de haver como caracteriacutestica um ganho em razatildeo da disponibilidade de recursos para terceiros em funccedilatildeo de certo periacuteodo de tempo Sendo assim o perdatildeo da diacutevida ou sua reduccedilatildeo seja mediante renegociaccedilatildeo ou novaccedilatildeo natildeo constitui receita financeira Eacute irrelevante para caracterizar a receita tratarshyse de perdatildeo do principal ou da multa e juros Portanto o perdatildeo de multa e juros tambeacutem natildeo constitui receita financeira pois como acessoacuterios acompanham a natureza do principal

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12 Do exposto concluishyse que o perdatildeo de diacutevida pela credora eacute um ato juriacutedico que faz acrescer o patrimocircnio da devedora de modo que revela capacidade contributiva (objetiva) que por caracterizar uma receita operacional (diversa da receita financeira) implica receita tributaacutevel pela Cofins e pelo PIS com a aliacutequota superior a zero (diversamente do que trata o art 1ordm do Decreto nordm 5442 de 09052005 cc o sect2ordm do art 27 da Lei nordm 10865 de 30042004)

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Sustenta a recorrente sem razatildeo que no caso concreto estarshyseshyia diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida sendo que os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estariam compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

Como bem argumentado na decisatildeo recorrida os abatimentos obtidos pela interessada para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras eis que

Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter receita por meio de empreacutestimos ou seja a empresa magicamente teria emprestado dinheiro do FGC para cobrir as inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil e ainda assim ao realizar a quitaccedilatildeo desses empreacutestimos teria obtido receitas de origem financeira

Vejashyse tambeacutem que a tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo No presente caso ao se aceitar a tese da interessada teriacuteamos a situaccedilatildeo iloacutegica pela qual a empresa emissora dos debecircntures (SSP) obteria receita financeira com a baixa dos tiacutetulos e a debenturista (FGC que tomou os debecircntures em garantia aos valores emprestados) teria que reconhecer uma despesa financeira

Ademais valores que foram emprestados pelo FGC para a contribuinte tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios natildeo podendo ter havido assim o abatimento de juros por pagamento antecipado Aleacutem do que os instrumentos legais (ldquoContrato de Muacutetuordquo ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avencasrdquo e o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento) foram todos assinados na mesma data em 31012011

Assim o perdatildeo parcial da diacutevida da contribuinte constitui uma receita decorrente de um acreacutescimo patrimonial para o devedor que natildeo pode ser qualificada como uma receita financeira vez que natildeo decorre de ganho em face da disponibilizaccedilatildeo de recursos

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para terceiros em certo periacuteodo de tempo O perdatildeo de uma diacutevida representa uma receita de natureza natildeo financeira cuja consequecircncia eacute o nascimento da capacidade contributiva para o PISPasep e a Cofins

Nesse sentido a Cosit shy CoordenaccedilatildeoshyGeral de Tributaccedilatildeo jaacute manifestou entendimento de que a remissatildeo de diacutevida representa uma receita operacional tributaacutevel pelo IRPJ CSLL PISPasep e Cofins

SOLUCcedilAtildeO DE CONSULTA Nordm 17 DE 27 DE ABRIL DE 2010

ASSUNTO Normas Gerais de Direito Tributaacuterio

EMENTA REMISSAtildeO DE DIacuteVIDA INCIDEcircNCIA DE IRPJ CSLL PISPASEP E COFINS

A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

DISPOSITIVOS LEGAIS art9ordm sect 3ordm II da Resoluccedilatildeo CFC No shy 750 de 1993 PARECER CTCFC N o shy 11 de 2004 art187 da Lei N o shy 6404 de 1976 arts 373 e 374 do RIR de 1999 art3ordm da Lei N o shy 9718 de 1998 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 10833 de 2003 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 106372002 art53 da Lei N o shy 9430 de 1996 arts 2ordm e 3ordm do Ato Declaratoacuterio Interpretativo SRF N o 25 de 2003 art 111 II do CTN

A questatildeo do perdatildeo de diacutevida jaacute foi apreciada no acircmbito do IRPJ pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuintes (1ordm CC) na 1ordf Cacircmara mediante o Acoacuterdatildeo 10197057 de 16122008 Relatora Sandra Maria Faroni com a seguinte ementa PERDAtildeO DE DIacuteVIDA TRIBUTACcedilAtildeO Constitui receita tributaacutevel o valor correspondente ao perdatildeo de diacutevida concedido agrave empresa

Tambeacutem a 1ordf Turma da 4ordf Cacircmara da 1ordf Seccedilatildeo do CARF manifestoushyse no mesmo sentido sobre o perdatildeo de juros de mora classificandoshyo como outras receitas operacionais tributaacuteveis pelo IRPJ CSLL e PISCofins conforme ementa abaixo

Processo nordm 102450037842008shy74 Acoacuterdatildeo nordm 1401001113ndash 4ordf Cacircmara 1ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 11 de fevereiro de 2014 Relator Antonio Bezerra Neto Ementa ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Anoshycalendaacuterio 2004 2005 2006 2007 PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como outras receitas operacionais

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

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DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

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V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

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sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

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Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

Fl 2380DF CARF MF

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

Fl 2388DF CARF MF

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

Fl 2389DF CARF MF

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

Fl 2390DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 17

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

Fl 2391DF CARF MF

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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A base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo natildeo cumulativa para a Cofins eacute o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil observadas apenas as exclusotildees expressamente previstas na legislaccedilatildeo devendo ser considerada como tributaacutevel a receita decorrente da remissatildeo do capital de diacutevidas Impugnaccedilatildeo Improcedente Creacutedito Tributaacuterio Mantido

Versa o processo sobre Autos de Infraccedilatildeo lavrados em 15092014 pela Delegacia Especial de Instituiccedilotildees Financeiras em Satildeo Paulo ndash DEINFSAtildeO PAULO no montante total de R$64506678750 calculado ateacute setembro de 2014 relativamente agrave Cofins no valor principal de R$25460000000 e ao PISPasep no valor principal de R$5527500000 aleacutem de multa de ofiacutecio de 75 e juros de mora em face da insuficiecircncia na declaraccedilatildeo e recolhimento do PIS e da COFINS do periacuteodo de apuraccedilatildeo de janeiro de 2011 incidente sobre a receita decorrente de remissatildeo de diacutevidas no montante de R$ 335000000000 oriundas de aportes financeiros efetivamente recebidosrdquo

Apurou a fiscalizaccedilatildeo em siacutentese que

shy A fiscalizada (Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SA shySSP) empresa holding do Grupo Siacutelvio Santos (GSS) detinha em 31 de dezembro de 2010 dentre outras as seguintes participaccedilotildees acionaacuterias 3727 do capital social do Banco Panamericano (BP) 9951 do capital social da BF Utilidades Domeacutesticas Ltda e 6188 do capital social da Panamericano Administradora

shy Em 31 de janeiro de 2011 a SSP possuiacutea diacutevidas com o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor total de R$ 380000000000 as quais foram contraiacutedas com o objetivo de sanear e reestruturar o Banco Panamericano SA devido agrave descoberta de inconsistecircncias contaacutebeis apuradas pelo Banco Central do Brasil ndash Bacen no ano de 2010 Relativamente a esse passivo ele foi resultante da contrataccedilatildeo de duas diacutevidas a primeira no valor de R$ 25 bilhotildees e a segunda no valor de R$ 13 bilhatildeo na seguinte forma

a) quanto agrave primeira diacutevida (i) foi contraiacuteda mediante a emissatildeo privada de debecircntures da SSP com duas seacuteries de 125000 cada num total de 250000 debecircntures tendo o FGC subscrito a totalidade dessa emissatildeo na qualidade de investidor exclusivo (ii) os documentos que lhe deram suporte foram o ldquoInstrumento Particular de Escritura da Primeira Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SA (Escritura)rdquo e o ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildees (Acordo)rdquo ambos datados de 05 de novembro de 2010 e (iii) o valor emprestado por conta e ordem da SSP foi depositado diretamente em conta corrente do Banco Panamericano tendo a operaccedilatildeo resultado nos seguintes lanccedilamentos contaacutebeis da fiscalizada

b) quanto agrave segunda diacutevida (i) ela foi contraiacuteda por meio de um contrato de muacutetuo assinado em 31012011 entre a SSP (Devedora) e o FGC (credora) (ii) em igual forma ao que ocorreu na contrataccedilatildeo da primeira diacutevida o valor emprestado por conta e ordem da SSP foi transferido diretamente do FGC para o Banco Panamericano e (iii) a operaccedilatildeo foi registrada na contabilidade da SSP da seguinte forma

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Na mesma data (31012011) a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (sua controlada) efetuaram a venda do controle acionaacuterio do Banco Panamericano ao Banco BTG Pactual SA pelo valor total de R$ 45000000000 e que referida venda foi concretizada por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo celebrado em 31012011 e paga com creacuteditos a receber nos valores de R$ 446 milhotildees e de R$ 4 milhotildees (SSP e BF respectivamente) exigiacuteveis no dia 28 de julho de 2028 corrigidos por 110 da Taxa DI ou iacutendice que vier substituiacuteshyla ou o valor de R$ 38 bilhotildees sem correccedilatildeo monetaacuteria dos dois o menor Essa operaccedilatildeo resultou no seguinte lanccedilamento contaacutebil na SSP

Ainda nessa mesma data a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda celebraram o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento com o FGC por meio do qual esse uacuteltimo aceitou o creacutedito no valor de R$ 450 milhotildees como daccedilatildeo em pagamento pela diacutevida de R$ 38 bilhotildees Em decorrecircncia dessa operaccedilatildeo (daccedilatildeo em pagamento) as contas passivas que registravam os debecircntures e o muacutetuo bem como a conta passiva relativa ao creacutedito com o Banco BTG foram baixadas tendo sido apurado uma receita no valor de R$ 335 bilhotildees conforme os registros contaacutebeis abaixo

shy Ao ser intimada para justificar a ausecircncia de declaraccedilatildeo e recolhimento das contribuiccedilotildees no periacuteodo (PIS e Cofins) incidentes sobre a receita acima a contribuinte respondeu que ldquoO resultado gerado com a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento para quitaccedilatildeo da diacutevida contraiacuteda pela SSP com o FGC em nosso entendimento natildeo estaacute sujeito ao PISCOFINSrdquo

shy Entende a fiscalizaccedilatildeo que a referida receita deve ser tratada como uma remissatildeo de diacutevida (perdatildeo) sobre a qual deve incidir tanto o PIS como a Cofins Sustenta que o perdatildeo de diacutevida constituishyse em uma receita para a pessoa juriacutedica devedora tanto nos termos da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 1993 como na Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 2011 sendo que na jurisprudecircncia administrativa eacute unacircnime o entendimento de que essa receita natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser classificada (contabilmente) em Outras Receitas Operacionais e objeto de tributaccedilatildeo pelas contribuiccedilotildees sociais

shy Conclui ao final a fiscalizaccedilatildeo que a remissatildeo de diacutevida representou um efetivo acreacutescimo patrimonial para a SSP tanto que foi contabilizada como receita eventual Entretanto independentemente da classificaccedilatildeo contaacutebil adotada pela contribuinte deve ser considerada como outras receitas operacionais (distinta da receita financeira) e por natildeo haver norma isentiva ou reduccedilatildeo de aliacutequota essa receita deve ser integrada agrave base para fins de incidecircncia das contribuiccedilotildees ao Pis e agrave Cofins na sistemaacutetica da natildeoshycumulatividade na qual a SSP estaacute sujeita

A interessada apresentou impugnaccedilatildeo alegando e requerendo em siacutentese

a) Sustenta que apesar de os fatos e circunstacircncias relativos aos supostos deacutebitos de IRPJ e CSLL relativos aos anos de 2009 a 2011 serem os mesmos dos alegados deacutebitos de PIS e

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Cofins ldquoNAtildeO haacute qualquer questatildeo prejudicial entre os processos administrativos fiscais nordms 108827213042014shy93 (IRPJ e CSLL) e 163277208552014shy11 (PIS e COFINS)rdquo

b) Requer a nulidade dos autos de infraccedilatildeo sob o argumento de que a fiscalizaccedilatildeo assumiu um premissa que natildeo condiz com a realidade a de que ldquoas prestaccedilotildees previstas no Contrato de Pagamento necessariamente importariam um perdatildeo de diacutevida com relaccedilatildeo agraves obrigaccedilotildees financeiras previstas nas Debecircntures e no Contrato de Muacutetuordquo Argumenta que a autoridade deixou de retratar adequadamente os fatos e que esse viacutecio insanaacutevel atinge a validade do ato administrativo uma vez que afronta o art 50 da Lei 9784 de 1999 e art 10 do Decreto 70235 de 1972

c) No meacuterito a contribuinte contesta as exigecircncias fiscais por meio de trecircs linhas de raciociacutenio a seguir

(i) que a eventual receita auferida em razatildeo do desconto recebido quando da quitaccedilatildeo antecipada dos passivos (debecircntures e muacutetuo) tem natureza de receita financeira devendo ser tributada tanto no PIS quanto na Cofins agrave aliacutequota zero nos termos do Decreto nordm 5442 de 2005

(ii) que se houver o entendimento de que a baixa dos passivos deve ser caracterizada como perdatildeo de diacutevida que esse mesmo (perdatildeo) natildeo enseja do ponto de vista juriacutedico auferimento de receita passiacutevel de tributaccedilatildeo pelo PIS e pela Cofins

(iii) que eventual receita auferida em contrapartida ao suposto perdatildeo de diacutevida tem natureza de receita financeira devendo da mesma forma que no item ldquoirdquo ser tributado agrave aliacutequota zero

d) Por fim a impugnante insurgeshyse contra a aplicaccedilatildeo dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio Diz que tal cobranccedila natildeo tem amparo legal e que consoante a jurisprudecircncia administrativa o juros de mora somente podem ser cobrado sobre os valores dos deacutebitos de tributos e contribuiccedilotildees

A Delegacia de Julgamento natildeo acatou os argumentos da impugnante em siacutentese sob os seguintes fundamentos

shy Natildeo existem duacutevidas de que a operaccedilatildeo consubstanciada na daccedilatildeo em pagamento do creacutedito de R$ 450 milhotildees da interessada junto ao Banco BTG Pactual para quitaccedilatildeo das diviacutedas no valor total de R$ 38 bilhotildees com o FGC representou um auferimento de receita O conceito contaacutebil de receitas estaacute intimamente ligado ao ldquoaumento nos benefiacutecios econocircmicosrdquo da entidade ou seja quando um fato contaacutebil representar um aumento mesmo que futuro nos benefiacutecios econocircmicos para a empresa esse aumento deve ser reconhecido como receita [Resoluccedilatildeo CFC (Conselho Federal de Contabilidade) nordm 1374 de 2001] A diminuiccedilatildeo do passivo resultante da liquidaccedilatildeo dos passivos (debecircntures e muacutetuo) deve ser reconhecida pela empresa como uma receita A proacutepria interessada admitiu que o fato em discussatildeo ocasionou uma diminuiccedilatildeo em seu passivo reconhecendo contabilmente (conta 3510909010017 ndash Receitas Eventuais ndash Operaccedilatildeo PAN) tendo em vista a faciacutelima mensuraccedilatildeo (R$ 380000000000 ndash R$ 45000000000) que houve um auferimento de receita no valor de R$ 335000000000

shy Na ausecircncia de definiccedilatildeo expressa a natureza da receita financeira ou da despesa financeira deve ser obtida a partir da identificaccedilatildeo do elemento comum entre eles qual seja receitas e despesas financeiras satildeo sempre decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros Consistiriam as receitas e despesas financeiras em formas de remuneraccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo dos recursos (pecuniaacuterios) proacuteprios ou a utilizaccedilatildeo de recursos (pecuniaacuterios) de terceiros

shy Os abatimentos obtidos pela contribuinte para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter

Fl 2365DF CARF MF

6

receita por meio de empreacutestimos A tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo

shy No tocante agrave argumentaccedilatildeo de que a receita obtida deve ser caracterizada como receita financeira porque houve a quitaccedilatildeo antecipada das diacutevidas eacute de se destacar dois pontos cruciais a) os valores que foram emprestados pela FGC para a interessada tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios assim natildeo houve abatimento de juros por pagamento antecipado simplesmente por que natildeo haviam juros a pagar e b) a forma como o problema do Banco Panamericano foi resolvido deixa muito claro que o abatimento das diacutevidas (debecircntures e muacutetuo) foi concedido na operaccedilatildeo conjunta (contrato de muacutetuovenda das accedilotildeesdaccedilatildeo em pagamento) com a aprovaccedilatildeo e recursos oriundos do FGC para evitar a insolvecircncia do Banco Panamericano natildeo podendo se admitir a tese da interessada de que a reduccedilatildeo nos valores das diacutevidas trataramshyse de descontos financeiros mesmo porque natildeo houve qualquer lapso temporal entre a data de obtenccedilatildeo do empreacutestimo e a data de sua liquidaccedilatildeo tendo em vista os instrumentos de concessatildeo (ldquoContrato de Muacutetuordquo) e quitaccedilatildeo (ldquoInstrumento de Daccedilatildeo em Pagamentordquo) terem sido assinados na mesma data

shy O perdatildeo de diacutevidas natildeo pode ser considerado como receita financeira uma vez que natildeo decorre da aplicaccedilatildeo de recursos da empresa Com efeito o pagamento de obrigaccedilotildees (diacutevidas) constitui destinaccedilatildeo mas natildeo aplicaccedilatildeo dos recursos financeiros no sentido aqui utilizado O adimplemento de diacutevidas natildeo eacute objeto de remuneraccedilatildeo (obtenccedilatildeo de juros) eis que nesse caso natildeo haacute disponibilizaccedilatildeo de recursos proacuteprios para terceiros Assim temshyse que o abandono de parte ou da integralidade de diacutevida por parte do credor constitui para o devedor uma receita insubsistecircncia ativa que dado seu caraacuteter natildeo usual deve ser registrada como item extraordinaacuterio

shy Ora como se verifica o FGC aceitou e financiou a operaccedilatildeo conjunta anteriormente mencionada (contrato de muacutetuovenda das accedilotildeesdaccedilatildeo em pagamento) assumindo de forma indireta o saneamento do Banco Panamericano e sabendo de antematildeo que somente iria receber o valor injetado na operaccedilatildeo sem qualquer correccedilatildeo monetaacuteria ou juros em 28 de julho de 2028 denotandoshyse muito claramente o perdatildeo da maior parte das diacutevidas da contribuinte junto ao FGC (R$ 3350000000 = R$ 3800000000shy R$ 450000000) Nesse sentido mostrashyse falaciosa a afirmaccedilatildeo da interessada de que o FGC deveraacute recuperar todo o valor emprestado Eacute evidente que o dinheiro a ser recebido do Banco Pactual natildeo cobriraacute todo o valor colocado na operaccedilatildeo e que o prejuiacutezo decorrente das inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil foram suportados em boa parte pelo FGC pois como visto o valor de ateacute R$ 38 bilhotildees somente seraacute recuperado sem qualquer correccedilatildeo monetaacuteria ou juros apoacutes 17 (dezessete) anos

A contribuinte foi regularmente cientificada da decisatildeo de primeira instacircncia em 17032016 pela via postal e apresentou recurso voluntaacuterio em 15042016 alegando em siacutentese que

III NULIDADES DOS AUTOS DE INFRACcedilAtildeO E DO V ACOacuteRDAtildeO RECORRIDO

(i) A Nulidade dos Autos de Infraccedilatildeo shy Falta de fundamentaccedilatildeo para desconsideraccedilatildeo de atos juriacutedicos praticados

shy Conforme se verifica pela leitura do Contrato de Pagamento a operaccedilatildeo realizada entre a Requerente e o FGC natildeo envolveu nenhuma oferta de remissatildeoperdatildeo de diacutevida por parte do FGC e tampouco ocorreu qualquer aceite por parte da Requerente com relaccedilatildeo ao perdatildeo de diacutevidas Em outras palavras o ato formal de remissatildeoperdatildeo de diacutevidas jamais ocorreu posto que natildeo foi pactuado entre as partes Assim tendo em vista que a principal premissa utilizada pela D Fiscalizaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo dos Autos de Infraccedilatildeo estaacute equivocada temshyse por demonstrada a NULIDADE que acomete os Autos de Infraccedilatildeo

Fl 2366DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 5

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(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

shy A DRJCTA efetivamente se esquiva de analisar abordar e debater o ponto trazido pela Requerente em sua Impugnaccedilatildeo qual seja se os documentos celebrados indicam a ocorrecircncia de um perdatildeo de diacutevidas como alega a D Fiscalizaccedilatildeo no TVF ou um desconto financeiro como alega a proacutepria Requerente Isso eacute causa de evidente nulidade da decisatildeo consubstanciada no v Acoacuterdatildeo recorrido conforme se verifica do artigo 31 e 59 do Decreto ndeg 7023572 bem como dos precedentes do CARF que analisaram tal dispositivo

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

A Ausecircncia de acreacutescimo patrimonial shy Impossibilidade de exigecircncia do PIS e COFINS sobre mera reduccedilatildeo de dispecircndios

shy Em primeiro lugar a Requerente destaca que natildeo auferiu qualquer acreacutescimo patrimonial efetivo em razatildeo do Contrato de Pagamento ou quitaccedilatildeo antecipada das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo natildeo sendo correto afirmar como faz a D Fiscalizaccedilatildeo e a DRJCTA que tais negoacutecios juriacutedicos ensejaram a ocorrecircncia do fato gerador do PIS e da COFINS

shy A Requerente apenas contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor (FGC shy fl 3 do TVF)

shy Muito embora numa anaacutelise meramente contaacutebil a Requerente tenha auferido um resultado escritural positivo em decorrecircncia da diminuiccedilatildeo do passivo natildeo se verifica como quer fazer crer as DD Fiscalizaccedilatildeo e DRJCTA qualquer auferimento de receita pelo simples fato que esse resultado escritural positivo simplesmente natildeo representa ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional praticada pela Requerente (ie compra venda investimentos etc)

B Ainda que tenha havido um perdatildeo parcial dos passivos natildeo haacute valores a recolher de PIS e COFINS

shy As reduccedilotildees de dispecircndios por meio de perdatildeo de diacutevidas natildeo configuram receitas propriamente ditas e por conseguinte natildeo ensejam a ocorrecircncia do fato gerador do PIS e da COFINS Assim caso se considere que o montante relativo agrave baixa de passivos realizada no contexto narrado acima seja juridicamente reconhecido como um ganho natildeo se trata de uma receita para fins de incidecircncia do PIS e da COFINS

C Se eacute que houve receita essa receita possui natureza financeira

shy Ainda que por hipoacutetese se possa falar em receita tal rendimento auferido quando da daccedilatildeo em pagamento possui natureza de receita financeira e portanto estaacute sujeita agrave aliacutequota zero do PIS e da COFINS

shy Isso porque o que ocorreu no caso em questatildeo foi um pagamento antecipado dos passivos incorridos junto ao FGC (que soacute teriam vencimento em 05112020 e 30112020 respectivamente) por meio da daccedilatildeo em pagamento do Creacutedito BTG Por conseguinte foi concedido pelo FGC um DESCONTO FINANCEIRO agrave Requerente em virtude do referido pagamento antecipado dessas diacutevidas

shy A proacutepria DRJCTA ao tecer longas consideraccedilotildees acerca da suposta inexistecircncia de definiccedilatildeo legal para o conceito juriacutedico de receitas financeiras (fl 2243) acabou por reconheceu

Fl 2367DF CARF MF

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que (i)o RIR99 conceitua o desconto como uma das hipoacuteteses que podem ensejar o reconhecimento de receitas financeiras (ii)descontos obtidos no pagamento antecipado e precircmios de resgatede tiacutetulos e debecircntures ensejam a verificaccedilatildeo de receitas financeiras (fl2245) e (iii) as receitas financeiras satildeo sempre decorrentes da aplicaccedilatildeo recursos pecuniaacuterios ou originadas com relaccedilatildeo aos mesmos (fl 2245) Ora se todas essas premissas satildeo aceitas como verdadeiras pela D DRJCTA simplesmente natildeo eacute possiacutevel afirmar a partir delas que a receita supostamente auferida pela Requerente natildeo teria natureza financeira Com isso a conclusatildeo da DRJCTA eacute contraditoacuteria com as premissas adotadas como razatildeo de decidir pela proacutepria decisatildeo

shy E natildeo soacute isso A referida conclusatildeo estaacute dissociada dos fatos amplamente comprovados nos presentes autos Isso porque conforme amplamente documentado nos autos em uma operaccedilatildeo realizada nos termos determinados pelo BACEN o credor (FGC) da Requerente aceitou receber menos do que lhe seria devido e conferiu quitaccedilatildeo total ante tal pagamento tendo em vista que seria realizado o pagamento antecipado da diacutevida (que de outra forma soacute venceria em 2020) Assim estamos diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida E os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estatildeo compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

shy Aleacutem disso natildeo se pode perder de vista ainda que o FGC deveraacute recuperar todo o valor inicial de principal que entregou agrave Requerente quando da subscriccedilatildeo das Debecircntures e da assinatura do Contrato de Muacutetuo Diferentemente do afirmado pelo V Acoacuterdatildeo no sentido de que o dinheiro a ser recebido do Banco Pactuai natildeo cobriraacute todo o valor colocado na operaccedilatildeo o valor de face de R$ 450 milhotildees do Creacutedito BTG estaacute sujeito agrave incidecircncia de juros de 110 da taxa DI e deveraacute ser liquidado em 2020 por no miacutenimo os mesmos R$ 38 bilhotildees que foram originalmente disponibilizados agrave Requerente

shy Temshyse portanto que admitindoshyse que as operaccedilotildees descritas no Contrato de Pagamento ensejem o reconhecimento de uma receita essa receita decorreria de desconto concedido quando da quitaccedilatildeo antecipada dos passivos a qual possui clara natureza juriacutedica receita financeira e como tal estaacute sujeita ao PIS e a COFINS agrave aliacutequota zero nos termos do artigo Io do Decreto ndeg 544205

shy Ainda que se admita que no presente caso teria havido um perdatildeo de diacutevida E que esse perdatildeo tenha gerado uma receita a Requerente destaca que esse suposto perdatildeo remonta a uma diacutevida de natureza claramente financeira (ie obrigaccedilatildeo de pagar com relaccedilatildeo aos instrumentos financeiros Debecircntures e Contrato de Muacutetuo) Pelo princiacutepio segundo o qual o acessoacuterio segue o principal natildeo poderia o perdatildeo de uma diacutevida dessa natureza resultar no auferimento de receita de natureza diversa como equivocadamente indicado no V Acoacuterdatildeo recorrido O suposto perdatildeo de diacutevida concedido pelo FGC se operou com relaccedilatildeo a passivos de natureza evidentemente financeira que foram contraiacutedos pela Requerente junto a uma entidade claramente inserida no contexto do Sistema Financeiro Nacional (ie FGC) e em razatildeo de uma operaccedilatildeo financeira que resultou na reduccedilatildeo do montante de principal desse mesmo passivo financeiro

shy Imaginandoshyse uma situaccedilatildeo em que fosse possiacutevel descaracterizar todos os atos e negoacutecios juriacutedicos realizados para se tentar encontrar uma explicaccedilatildeo para a situaccedilatildeo analisada tershyseshyia o seguinte a controladora de um banco que apoacutes a verificaccedilatildeo em problemas na administraccedilatildeo do negoacutecio se vecirc obrigada para o resgate da instituiccedilatildeo a tomar uma seacuterie de atos juriacutedicos legiacutetimos com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico mas cujo resultado praacutetico culminou na alienaccedilatildeo da sua participaccedilatildeo societaacuteria na instituiccedilatildeo financeira

V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

shy Caso seja mantida a exigecircncia consubstanciada nos Autos de Infraccedilatildeo o que se admite apenas para argumentar a Requerente requer entatildeo que a exigecircncia dos juros seja limitada uacutenica e exclusivamente aos valores de principal excluindoshyse tal exigecircncia com relaccedilatildeo agrave multa de ofiacutecio acaso natildeo cancelada ante a sua evidente abusividade

Fl 2368DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 6

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A Uniatildeo por meio da PFN apresentou suas contrarrazotildees ao recurso voluntaacuterio aduzindo em siacutentese que

2 DO DIREITO

21 Da receita operacional

shy Eacute indene de duacutevidas que a daccedilatildeo em pagamento do creacutedito de R$ 450 milhotildees da interessada junto ao Banco BTG Pactual para quitaccedilatildeo das diacutevidas no valor total de R$ 38 bilhotildees com o FGC representa um auferimento de receita Vejashyse o que diz a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 2011 Por outro lado vejashyse o conceito contaacutebil de receita delineado na revogada Resoluccedilatildeo CFC nordm 1121 de 2008

shy De acordo com as regras contaacutebeis a receita relativa ao ganho auferido com a remissatildeo de diacutevidas considerashyse realizada quando da extinccedilatildeo do correspondente passivo Nesse sentido dispotildee a Resoluccedilatildeo do CFC nordm 750 de 1993 Dispotildee a Resoluccedilatildeo CFC nordm 77494 que () Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes ()

shy Portanto natildeo haacute duacutevidas que que a diminuiccedilatildeo do passivo resultante da liquidaccedilatildeo dos passivos (debecircntures e muacutetuo) deve ser reconhecida pela empresa como uma receita

shy Segundo a sistemaacutetica natildeo cumulativa as contribuiccedilotildees incidem sobre o faturamento mensal assim entendido como a totalidade das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

22 Da natureza juriacutedica da receita

shy Ao se analisar os fatos decorrentes dos autos chegashyse agrave conclusatildeo oacutebvia que o abatimento do capital obtido pela contribuinte com a daccedilatildeo em pagamento jamais poderia ser classificado como receita financeira O que houve no caso foi uma remissatildeo de diacutevidas que natildeo pode ser considerado receita financeira

shy O pagamento de obrigaccedilotildees (diacutevidas) constitui destinaccedilatildeo mas natildeo aplicaccedilatildeo dos recursos financeiros no sentido aqui utilizado O adimplemento de diacutevidas natildeo eacute objeto de remuneraccedilatildeo (obtenccedilatildeo de juros) eis que nesse caso natildeo haacute disponibilizaccedilatildeo de recursos proacuteprios para terceiros Assim temshyse que o abandono de parte ou da integralidade de diacutevida por parte do credor constitui para o devedor uma receita insubsistecircncia ativa que dado seu caraacuteter natildeo usual deve ser registrada como item extraordinaacuterio

shy Tratandoshyse pois de remissatildeo (seja total ou parcial) mesmo sendo um ato bilateral vecircshyse que sua natureza assemelhashyse a um desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado nem como despesa financeira (pelo vendedorcredora) ou como receita financeira (pelo compradordevedor) Da mesma forma um desconto incondicional pode ser aceito ou natildeo pelo comprador mas continua a ser um ato liberatoacuterio de vendedor que natildeo implica a caracterizaccedilatildeo de ldquoresultado financeirordquo Portanto natildeo assiste razatildeo agrave contribuinte pois a remissatildeo parcial dos passivos foi sim um ato liberatoacuterio do credor em favor da devedora

23 Dos juros sobre a multa

Fl 2369DF CARF MF

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shy O proacuteprio art 161 do CTN manda incidir juros de mora sobre o creacutedito tributaacuterio ou seja sobre o principal e a penalidade pecuniaacuteria natildeo havendo nenhuma disposiccedilatildeo legal que diga o contraacuterio

Eacute o relatoacuterio

Voto Vencido

Conselheira MARIA APARECIDA MARTINS DE PAULA Relatora

Atendidos aos requisitos de admissibilidade tomashyse conhecimento do recurso voluntaacuterio

III NULIDADES DOS AUTOS DE INFRACcedilAtildeO E DO V ACOacuteRDAtildeO RECORRIDO

(i) A Nulidade dos Autos de Infraccedilatildeo shy Falta de fundamentaccedilatildeo para desconsideraccedilatildeo de atos juriacutedicos praticados

Suscita a recorrente a nulidade dos autos de infraccedilatildeo tendo em vista que natildeo teria ocorrido o perdatildeo de diacutevidas alegado pela fiscalizaccedilatildeo como premissa da autuaccedilatildeo

Ocorre que natildeo obstante natildeo existisse nenhum documento ou contrato mencionando literalmente os termos remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida a fiscalizaccedilatildeo motivadamente qualificou juridicamente os fatos descritos nos documentos da contribuinte como um verdadeiro perdatildeo de diacutevidas natildeo havendo nisso qualquer nulidade mas a legiacutetima interpretaccedilatildeo dos negoacutecios da contribuinte em conformidade com o disposto no art 112 do Coacutedigo Civil Nas declaraccedilotildees de vontade se atenderaacute mais agrave intenccedilatildeo nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem

No mais a questatildeo de saber de os fatos narrados pela fiscalizaccedilatildeo caracterizaram ou natildeo um perdatildeo de diacutevidas eacute tema a ser discutido no meacuterito

(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

Improcede a alegaccedilatildeo da recorrente de que a Delegacia de Julgamento natildeo teria debatido a nulidade suscitada pela entatildeo impugnante

Conforme se vecirc no iniacutecio do voto da decisatildeo recorrida o julgador sustentou a legitimidade dos autos de infraccedilatildeo eis que estatildeo devidamente motivados e contecircm minudentemente a indicaccedilatildeo dos fatos e dos fundamentos juriacutedicos nos termos da Lei nordm 978499 do art art 10 do Decreto nordm 7023572 sem que representem qualquer situaccedilatildeo de nulidade descrita no art 59 desse Decreto

Na sequecircncia como era de se esperar natildeo tendo verificado situaccedilatildeo de nulidade na lavratura dos autos de infraccedilatildeo o julgador deixou a alegaccedilatildeo da impugnante da falsa premissa na autuaccedilatildeo de que natildeo seria o caso de perdatildeo de diacutevida para a anaacutelise na parte do meacuterito nos seguintes termos

() Por fim eacute de se mencionar conforme se verifica a seguir na anaacutelise do meacuterito que a fiscalizaccedilatildeo fundamentou os autos de infraccedilatildeo na realidade faacutetica natildeo tendo sido realizada portanto a adoccedilatildeo de falsa premissa

Fl 2370DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 7

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Afastashyse dessa forma a preliminar de nulidade levantada [grifei] ()

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

Em breve resumo podemos assim descrever as negociaccedilotildees efetuadas pela contribuinte Siacutelvio Santos Participaccedilotildees (SSP) que redundaram na conclusatildeo da fiscalizaccedilatildeo de que houve um perdatildeo parcial da diacutevida entre a contribuinte e o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no montante de R$ 335 bilhotildees (= R$ 38 bilhotildees shy R$ 450 milhotildees)

a) a contribuinte contraiu duas diacutevidas com o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor total de R$ 38 bilhotildees o qual foi repassado diretamente ao Banco Panamericano

b) a contribuinte e sua controlada BF venderam a totalidade das accedilotildees que detinham do Banco Panamericano ao BTG Pactual o qual em contrapartida lhes pagou o valor de R$450 milhotildees em creacuteditos a receber

c) a contribuinte e a BF celebraram o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento com o FGC por meio do qual esse uacuteltimo aceitou o creacutedito no valor de R$ 450 milhotildees em creacuteditos a receber como daccedilatildeo em pagamento pela diacutevida de R$ 38 bilhotildees

Conforme explica Venosa1 a remissatildeo2 eacute o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento Ressalva o autor que apesar da remissatildeo ser uma espeacutecie de renuacutencia com ela natildeo se confunde pois embora possa ser um ato unilateral natildeo prescinde da concordacircncia do devedor Prossegue Venosa esclarecendo que nada impede que a remissatildeo tome a forma bilateral de um contrato mas natildeo eacute sua essecircncia Essencial eacute a aquiescecircncia do devedor ainda que presumida ou taacutecita

No caso concreto natildeo pairam duacutevidas do ato de vontade do FGC de liberar a contribuinte parcialmente do pagamento da diacutevida e da concordacircncia desta uacuteltima no ato A contribuinte e a BF cederam os seus creacuteditos ao FGC em valor correspondente somente a parte da diacutevida e o FGC os aceitou como quitaccedilatildeo integral das diacutevidas da contribuinte restando caracterizada remissatildeo parcial da diacutevida da contribuinte conforme consta na Consolidaccedilatildeo do Instrumento de Daccedilatildeo em Pagamento (fls 414421)

1 VENOSA Siacutelvio de Salvo Direito Civil teoria geral das obrigaccedilotildees e teoria geral dos contratos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2004 p 335 2 Coacutedigo Civil Da Remissatildeo das Diacutevidas Art 385 A remissatildeo da diacutevida aceita pelo devedor extingue a obrigaccedilatildeo mas sem prejuiacutezo de terceiro Art 386 A devoluccedilatildeo voluntaacuteria do tiacutetulo da obrigaccedilatildeo quando por escrito particular prova desoneraccedilatildeo do devedor e seus coshyobrigados se o credor for capaz de alienar e o devedor capaz de adquirir Art 387 A restituiccedilatildeo voluntaacuteria do objeto empenhado prova a renuacutencia do credor agrave garantia real natildeo a extinccedilatildeo da diacutevida Art 388 A remissatildeo concedida a um dos coshydevedores extingue a diacutevida na parte a ele correspondente de modo que ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros jaacute lhes natildeo pode cobrar o deacutebito sem deduccedilatildeo da parte remitida

Fl 2371DF CARF MF

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Alega a recorrente que contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor No entanto acredita que esse resultado escritural positivo natildeo representaria ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional por ela praticada de forma que natildeo estariam sujeitos agrave incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais

Natildeo assiste razatildeo agrave recorrente A baixa parcial das suas diacutevidas sem o correspondente pagamento no montante de R$ 335 bilhotildees constitui uma receita originada da extinccedilatildeo de um passivo (obrigaccedilatildeo) sem o desaparecimento concomitante de um ativo de igual ou superior valor constituindo sim um acreacutescimo patrimonial

Para a Equipe de Professores da FEAUSP3 a receita pode ser assim definida

()

Entendeshyse por Receita a entrada de elementos para o ativo sob forma de dinheiro ou direitos a receber correspondentes normalmente agrave venda de mercadorias de produtos ou agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Uma receita tambeacutem pode derivar de juros sobre depoacutesitos bancaacuterios ou tiacutetulos de alugueacuteis e outras origens

Agraves vezes a Receita ocorre em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de um passivo [negritei]

()

Conforme jaacute dispunha4 a Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no seu art 9ordm sect3ordm II sect 3ordm As receitas consideramshyse realizadas () II ndash quando da extinccedilatildeo parcial ou total de um passivo qualquer que seja o motivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior ()

Posteriormente mediante a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 8 de dezembro de 2011 assim se pronunciou o Conselho Federal de Contabilidade nos paraacutegrafos 425 e 447 inclusive mencionando o perdatildeo de diacutevidas como um exemplo de uma receita

()

3 IUDIacuteCIBUS Seacutergio (coord) Contabilidade Introdutoacuteria 11 ed Satildeo Paulo Atlas 2010 p 65 4 Antes de sua alteraccedilatildeo pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 1282 de 28 de maio de 2010

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425Os elementos de receitas e despesas satildeo definidos como segue (a) receitas satildeo aumentos nos benefiacutecios econocircmicos durante o periacuteodo contaacutebil sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuiccedilatildeo de passivos que resultam em aumentos do patrimocircnio liacutequido e que natildeo estejam relacionados com a contribuiccedilatildeo dos detentores dos instrumentos patrimoniais () Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga) [negritei]

O Regulamento do Imposto de Renda assim se pronuncia sobre as receitas e despesas financeiras

Subseccedilatildeo I Receitas e Despesas Financeiras Receitas Art 373 Os juros o desconto o lucro na operaccedilatildeo de reporte e os rendimentos de aplicaccedilotildees financeiras de renda fixa ganhos pelo contribuinte seratildeo incluiacutedos no lucro operacional e quando derivados de operaccedilotildees ou tiacutetulos com vencimento posterior ao encerramento do periacuteodo de apuraccedilatildeo poderatildeo ser rateados pelos periacuteodos a que competirem (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 e Lei nordm 8981 de 1995 art 76 sect2ordm e Lei nordm 9249 de 1995 art 11 sect3ordm) Despesas Art 374 Os juros pagos ou incorridos pelo contribuinte satildeo dedutiacuteveis como custo ou despesa operacional observadas as seguintes normas (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 paraacutegrafo uacutenico) Ishy os juros pagos antecipadamente os descontos de tiacutetulos de creacutedito e o desaacutegio concedido na colocaccedilatildeo de debecircntures ou tiacutetulos de creacutedito deveratildeo ser apropriados pro rata temporis nos periacuteodos de apuraccedilatildeo a que competirem II shy os juros de empreacutestimos contraiacutedos para financiar a aquisiccedilatildeo ou construccedilatildeo de bens do ativo permanente incorridos durante as fases de construccedilatildeo e preacuteshyoperacional podem ser registrados no ativo diferido para serem amortizados ()

Na ausecircncia da completa definiccedilatildeo na legislaccedilatildeo sobre o que seriam receitas e despesas financeiras depreendeshyse do dispositivo acima que as receitas e despesas financeiras

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satildeo decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros de forma que poderiam ser conceituadas como receitas pela aplicaccedilatildeo de recursos pecuniaacuterios proacuteprios ou despesas pela utilizaccedilatildeo de recursos de terceiros

Como explicado na Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit de 31 de agosto de 2007 entendem Silveacuterio das Neves e Paulo Viceconti que os descontos financeiros satildeo aqueles ligados ou condicionados ao pagamento ou recebimento de tiacutetulos por antecipaccedilatildeo ldquosatildeo os descontos obtidos na liquidaccedilatildeo antecipada de obrigaccedilotildeesrdquo Ademais prescrevem esses autores que a conta ldquoDescontos Financeiros Obtidosrdquo (Receita Financeira) deveraacute ser encerrada a creacutedito de resultado do exerciacuteciordquo Por sua vez entendem ainda que os descontos incondicionais satildeo ldquoparcelas redutoras dos preccedilos de compra e venda constantes da nota fiscal ou da fatura de serviccedilo e natildeo dependentes de evento posterior agrave emissatildeo desses documentosrdquo (NEVES Silveacuterio das VICECONTI Paulo Eduardo Vilchez Contabilidade baacutesica 12 ed rev e atual Satildeo Paulo Frase Editora 2004 pp 115shy116)

Nessa esteira concluishyse com os fundamentos utilizados nessa Soluccedilatildeo de Consulta abaixo transcritos que o perdatildeo de diacutevida natildeo pode ser considerado como um desconto financeiro mas uma espeacutecie de desconto incondicional natildeo considerado como uma receita financeira

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1188 In casu natildeo houve desconto por pagamento antecipado nem precircmio por resgate de tiacutetulo ou seja nenhum confronto entre aspectos financeiramente favoraacuteveis e desfavoraacuteveis mas sim um simples perdatildeo de diacutevida (ato liberatoacuterio) pela credora em favor da devedora (consulente) que se coaduna com o desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado como ldquoreceita financeirardquo Logo a presente insubsistecircncia ativa (do passivo) natildeo haacute de ser tratada como uma ldquoReceita Financeirardquo mas como ldquoReceita shy Outros Resultados Operacionaisrdquo o que leva ao entendimento que a remissatildeo de diacutevida eacute fato imponiacutevel da Cofins e do PIS

1189 O desconto tem natureza de receita financeira quando haacute novaccedilatildeo em virtude de uma contraposiccedilatildeo de fatores favoraacuteveis e desfavoraacuteveis (pagamento antecipado que gera uma reduccedilatildeo de juros ndash recebimento em funccedilatildeo do tempo de recebimento do creacutedito) o que eacute diferente do caso em tela que retrata uma remissatildeo da diacutevida (ato liberatoacuterio da credora em favor da devedora) pela qual houve um abandono do proacuteprio capital (principal)

11810 Depreendeshyse portanto que o valor relativo agraves diacutevidas perdoadas seja parcial ou integral constitui receita para o devedor Para que as receitas sejam consideradas como ldquofinanceirasrdquo haacute de haver como caracteriacutestica um ganho em razatildeo da disponibilidade de recursos para terceiros em funccedilatildeo de certo periacuteodo de tempo Sendo assim o perdatildeo da diacutevida ou sua reduccedilatildeo seja mediante renegociaccedilatildeo ou novaccedilatildeo natildeo constitui receita financeira Eacute irrelevante para caracterizar a receita tratarshyse de perdatildeo do principal ou da multa e juros Portanto o perdatildeo de multa e juros tambeacutem natildeo constitui receita financeira pois como acessoacuterios acompanham a natureza do principal

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12 Do exposto concluishyse que o perdatildeo de diacutevida pela credora eacute um ato juriacutedico que faz acrescer o patrimocircnio da devedora de modo que revela capacidade contributiva (objetiva) que por caracterizar uma receita operacional (diversa da receita financeira) implica receita tributaacutevel pela Cofins e pelo PIS com a aliacutequota superior a zero (diversamente do que trata o art 1ordm do Decreto nordm 5442 de 09052005 cc o sect2ordm do art 27 da Lei nordm 10865 de 30042004)

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Sustenta a recorrente sem razatildeo que no caso concreto estarshyseshyia diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida sendo que os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estariam compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

Como bem argumentado na decisatildeo recorrida os abatimentos obtidos pela interessada para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras eis que

Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter receita por meio de empreacutestimos ou seja a empresa magicamente teria emprestado dinheiro do FGC para cobrir as inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil e ainda assim ao realizar a quitaccedilatildeo desses empreacutestimos teria obtido receitas de origem financeira

Vejashyse tambeacutem que a tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo No presente caso ao se aceitar a tese da interessada teriacuteamos a situaccedilatildeo iloacutegica pela qual a empresa emissora dos debecircntures (SSP) obteria receita financeira com a baixa dos tiacutetulos e a debenturista (FGC que tomou os debecircntures em garantia aos valores emprestados) teria que reconhecer uma despesa financeira

Ademais valores que foram emprestados pelo FGC para a contribuinte tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios natildeo podendo ter havido assim o abatimento de juros por pagamento antecipado Aleacutem do que os instrumentos legais (ldquoContrato de Muacutetuordquo ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avencasrdquo e o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento) foram todos assinados na mesma data em 31012011

Assim o perdatildeo parcial da diacutevida da contribuinte constitui uma receita decorrente de um acreacutescimo patrimonial para o devedor que natildeo pode ser qualificada como uma receita financeira vez que natildeo decorre de ganho em face da disponibilizaccedilatildeo de recursos

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para terceiros em certo periacuteodo de tempo O perdatildeo de uma diacutevida representa uma receita de natureza natildeo financeira cuja consequecircncia eacute o nascimento da capacidade contributiva para o PISPasep e a Cofins

Nesse sentido a Cosit shy CoordenaccedilatildeoshyGeral de Tributaccedilatildeo jaacute manifestou entendimento de que a remissatildeo de diacutevida representa uma receita operacional tributaacutevel pelo IRPJ CSLL PISPasep e Cofins

SOLUCcedilAtildeO DE CONSULTA Nordm 17 DE 27 DE ABRIL DE 2010

ASSUNTO Normas Gerais de Direito Tributaacuterio

EMENTA REMISSAtildeO DE DIacuteVIDA INCIDEcircNCIA DE IRPJ CSLL PISPASEP E COFINS

A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

DISPOSITIVOS LEGAIS art9ordm sect 3ordm II da Resoluccedilatildeo CFC No shy 750 de 1993 PARECER CTCFC N o shy 11 de 2004 art187 da Lei N o shy 6404 de 1976 arts 373 e 374 do RIR de 1999 art3ordm da Lei N o shy 9718 de 1998 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 10833 de 2003 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 106372002 art53 da Lei N o shy 9430 de 1996 arts 2ordm e 3ordm do Ato Declaratoacuterio Interpretativo SRF N o 25 de 2003 art 111 II do CTN

A questatildeo do perdatildeo de diacutevida jaacute foi apreciada no acircmbito do IRPJ pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuintes (1ordm CC) na 1ordf Cacircmara mediante o Acoacuterdatildeo 10197057 de 16122008 Relatora Sandra Maria Faroni com a seguinte ementa PERDAtildeO DE DIacuteVIDA TRIBUTACcedilAtildeO Constitui receita tributaacutevel o valor correspondente ao perdatildeo de diacutevida concedido agrave empresa

Tambeacutem a 1ordf Turma da 4ordf Cacircmara da 1ordf Seccedilatildeo do CARF manifestoushyse no mesmo sentido sobre o perdatildeo de juros de mora classificandoshyo como outras receitas operacionais tributaacuteveis pelo IRPJ CSLL e PISCofins conforme ementa abaixo

Processo nordm 102450037842008shy74 Acoacuterdatildeo nordm 1401001113ndash 4ordf Cacircmara 1ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 11 de fevereiro de 2014 Relator Antonio Bezerra Neto Ementa ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Anoshycalendaacuterio 2004 2005 2006 2007 PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como outras receitas operacionais

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

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DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

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V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

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sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

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Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

Fl 2380DF CARF MF

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

Fl 2388DF CARF MF

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 4: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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Na mesma data (31012011) a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (sua controlada) efetuaram a venda do controle acionaacuterio do Banco Panamericano ao Banco BTG Pactual SA pelo valor total de R$ 45000000000 e que referida venda foi concretizada por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo celebrado em 31012011 e paga com creacuteditos a receber nos valores de R$ 446 milhotildees e de R$ 4 milhotildees (SSP e BF respectivamente) exigiacuteveis no dia 28 de julho de 2028 corrigidos por 110 da Taxa DI ou iacutendice que vier substituiacuteshyla ou o valor de R$ 38 bilhotildees sem correccedilatildeo monetaacuteria dos dois o menor Essa operaccedilatildeo resultou no seguinte lanccedilamento contaacutebil na SSP

Ainda nessa mesma data a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda celebraram o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento com o FGC por meio do qual esse uacuteltimo aceitou o creacutedito no valor de R$ 450 milhotildees como daccedilatildeo em pagamento pela diacutevida de R$ 38 bilhotildees Em decorrecircncia dessa operaccedilatildeo (daccedilatildeo em pagamento) as contas passivas que registravam os debecircntures e o muacutetuo bem como a conta passiva relativa ao creacutedito com o Banco BTG foram baixadas tendo sido apurado uma receita no valor de R$ 335 bilhotildees conforme os registros contaacutebeis abaixo

shy Ao ser intimada para justificar a ausecircncia de declaraccedilatildeo e recolhimento das contribuiccedilotildees no periacuteodo (PIS e Cofins) incidentes sobre a receita acima a contribuinte respondeu que ldquoO resultado gerado com a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento para quitaccedilatildeo da diacutevida contraiacuteda pela SSP com o FGC em nosso entendimento natildeo estaacute sujeito ao PISCOFINSrdquo

shy Entende a fiscalizaccedilatildeo que a referida receita deve ser tratada como uma remissatildeo de diacutevida (perdatildeo) sobre a qual deve incidir tanto o PIS como a Cofins Sustenta que o perdatildeo de diacutevida constituishyse em uma receita para a pessoa juriacutedica devedora tanto nos termos da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 1993 como na Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 2011 sendo que na jurisprudecircncia administrativa eacute unacircnime o entendimento de que essa receita natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser classificada (contabilmente) em Outras Receitas Operacionais e objeto de tributaccedilatildeo pelas contribuiccedilotildees sociais

shy Conclui ao final a fiscalizaccedilatildeo que a remissatildeo de diacutevida representou um efetivo acreacutescimo patrimonial para a SSP tanto que foi contabilizada como receita eventual Entretanto independentemente da classificaccedilatildeo contaacutebil adotada pela contribuinte deve ser considerada como outras receitas operacionais (distinta da receita financeira) e por natildeo haver norma isentiva ou reduccedilatildeo de aliacutequota essa receita deve ser integrada agrave base para fins de incidecircncia das contribuiccedilotildees ao Pis e agrave Cofins na sistemaacutetica da natildeoshycumulatividade na qual a SSP estaacute sujeita

A interessada apresentou impugnaccedilatildeo alegando e requerendo em siacutentese

a) Sustenta que apesar de os fatos e circunstacircncias relativos aos supostos deacutebitos de IRPJ e CSLL relativos aos anos de 2009 a 2011 serem os mesmos dos alegados deacutebitos de PIS e

Fl 2364DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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Cofins ldquoNAtildeO haacute qualquer questatildeo prejudicial entre os processos administrativos fiscais nordms 108827213042014shy93 (IRPJ e CSLL) e 163277208552014shy11 (PIS e COFINS)rdquo

b) Requer a nulidade dos autos de infraccedilatildeo sob o argumento de que a fiscalizaccedilatildeo assumiu um premissa que natildeo condiz com a realidade a de que ldquoas prestaccedilotildees previstas no Contrato de Pagamento necessariamente importariam um perdatildeo de diacutevida com relaccedilatildeo agraves obrigaccedilotildees financeiras previstas nas Debecircntures e no Contrato de Muacutetuordquo Argumenta que a autoridade deixou de retratar adequadamente os fatos e que esse viacutecio insanaacutevel atinge a validade do ato administrativo uma vez que afronta o art 50 da Lei 9784 de 1999 e art 10 do Decreto 70235 de 1972

c) No meacuterito a contribuinte contesta as exigecircncias fiscais por meio de trecircs linhas de raciociacutenio a seguir

(i) que a eventual receita auferida em razatildeo do desconto recebido quando da quitaccedilatildeo antecipada dos passivos (debecircntures e muacutetuo) tem natureza de receita financeira devendo ser tributada tanto no PIS quanto na Cofins agrave aliacutequota zero nos termos do Decreto nordm 5442 de 2005

(ii) que se houver o entendimento de que a baixa dos passivos deve ser caracterizada como perdatildeo de diacutevida que esse mesmo (perdatildeo) natildeo enseja do ponto de vista juriacutedico auferimento de receita passiacutevel de tributaccedilatildeo pelo PIS e pela Cofins

(iii) que eventual receita auferida em contrapartida ao suposto perdatildeo de diacutevida tem natureza de receita financeira devendo da mesma forma que no item ldquoirdquo ser tributado agrave aliacutequota zero

d) Por fim a impugnante insurgeshyse contra a aplicaccedilatildeo dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio Diz que tal cobranccedila natildeo tem amparo legal e que consoante a jurisprudecircncia administrativa o juros de mora somente podem ser cobrado sobre os valores dos deacutebitos de tributos e contribuiccedilotildees

A Delegacia de Julgamento natildeo acatou os argumentos da impugnante em siacutentese sob os seguintes fundamentos

shy Natildeo existem duacutevidas de que a operaccedilatildeo consubstanciada na daccedilatildeo em pagamento do creacutedito de R$ 450 milhotildees da interessada junto ao Banco BTG Pactual para quitaccedilatildeo das diviacutedas no valor total de R$ 38 bilhotildees com o FGC representou um auferimento de receita O conceito contaacutebil de receitas estaacute intimamente ligado ao ldquoaumento nos benefiacutecios econocircmicosrdquo da entidade ou seja quando um fato contaacutebil representar um aumento mesmo que futuro nos benefiacutecios econocircmicos para a empresa esse aumento deve ser reconhecido como receita [Resoluccedilatildeo CFC (Conselho Federal de Contabilidade) nordm 1374 de 2001] A diminuiccedilatildeo do passivo resultante da liquidaccedilatildeo dos passivos (debecircntures e muacutetuo) deve ser reconhecida pela empresa como uma receita A proacutepria interessada admitiu que o fato em discussatildeo ocasionou uma diminuiccedilatildeo em seu passivo reconhecendo contabilmente (conta 3510909010017 ndash Receitas Eventuais ndash Operaccedilatildeo PAN) tendo em vista a faciacutelima mensuraccedilatildeo (R$ 380000000000 ndash R$ 45000000000) que houve um auferimento de receita no valor de R$ 335000000000

shy Na ausecircncia de definiccedilatildeo expressa a natureza da receita financeira ou da despesa financeira deve ser obtida a partir da identificaccedilatildeo do elemento comum entre eles qual seja receitas e despesas financeiras satildeo sempre decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros Consistiriam as receitas e despesas financeiras em formas de remuneraccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo dos recursos (pecuniaacuterios) proacuteprios ou a utilizaccedilatildeo de recursos (pecuniaacuterios) de terceiros

shy Os abatimentos obtidos pela contribuinte para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter

Fl 2365DF CARF MF

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receita por meio de empreacutestimos A tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo

shy No tocante agrave argumentaccedilatildeo de que a receita obtida deve ser caracterizada como receita financeira porque houve a quitaccedilatildeo antecipada das diacutevidas eacute de se destacar dois pontos cruciais a) os valores que foram emprestados pela FGC para a interessada tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios assim natildeo houve abatimento de juros por pagamento antecipado simplesmente por que natildeo haviam juros a pagar e b) a forma como o problema do Banco Panamericano foi resolvido deixa muito claro que o abatimento das diacutevidas (debecircntures e muacutetuo) foi concedido na operaccedilatildeo conjunta (contrato de muacutetuovenda das accedilotildeesdaccedilatildeo em pagamento) com a aprovaccedilatildeo e recursos oriundos do FGC para evitar a insolvecircncia do Banco Panamericano natildeo podendo se admitir a tese da interessada de que a reduccedilatildeo nos valores das diacutevidas trataramshyse de descontos financeiros mesmo porque natildeo houve qualquer lapso temporal entre a data de obtenccedilatildeo do empreacutestimo e a data de sua liquidaccedilatildeo tendo em vista os instrumentos de concessatildeo (ldquoContrato de Muacutetuordquo) e quitaccedilatildeo (ldquoInstrumento de Daccedilatildeo em Pagamentordquo) terem sido assinados na mesma data

shy O perdatildeo de diacutevidas natildeo pode ser considerado como receita financeira uma vez que natildeo decorre da aplicaccedilatildeo de recursos da empresa Com efeito o pagamento de obrigaccedilotildees (diacutevidas) constitui destinaccedilatildeo mas natildeo aplicaccedilatildeo dos recursos financeiros no sentido aqui utilizado O adimplemento de diacutevidas natildeo eacute objeto de remuneraccedilatildeo (obtenccedilatildeo de juros) eis que nesse caso natildeo haacute disponibilizaccedilatildeo de recursos proacuteprios para terceiros Assim temshyse que o abandono de parte ou da integralidade de diacutevida por parte do credor constitui para o devedor uma receita insubsistecircncia ativa que dado seu caraacuteter natildeo usual deve ser registrada como item extraordinaacuterio

shy Ora como se verifica o FGC aceitou e financiou a operaccedilatildeo conjunta anteriormente mencionada (contrato de muacutetuovenda das accedilotildeesdaccedilatildeo em pagamento) assumindo de forma indireta o saneamento do Banco Panamericano e sabendo de antematildeo que somente iria receber o valor injetado na operaccedilatildeo sem qualquer correccedilatildeo monetaacuteria ou juros em 28 de julho de 2028 denotandoshyse muito claramente o perdatildeo da maior parte das diacutevidas da contribuinte junto ao FGC (R$ 3350000000 = R$ 3800000000shy R$ 450000000) Nesse sentido mostrashyse falaciosa a afirmaccedilatildeo da interessada de que o FGC deveraacute recuperar todo o valor emprestado Eacute evidente que o dinheiro a ser recebido do Banco Pactual natildeo cobriraacute todo o valor colocado na operaccedilatildeo e que o prejuiacutezo decorrente das inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil foram suportados em boa parte pelo FGC pois como visto o valor de ateacute R$ 38 bilhotildees somente seraacute recuperado sem qualquer correccedilatildeo monetaacuteria ou juros apoacutes 17 (dezessete) anos

A contribuinte foi regularmente cientificada da decisatildeo de primeira instacircncia em 17032016 pela via postal e apresentou recurso voluntaacuterio em 15042016 alegando em siacutentese que

III NULIDADES DOS AUTOS DE INFRACcedilAtildeO E DO V ACOacuteRDAtildeO RECORRIDO

(i) A Nulidade dos Autos de Infraccedilatildeo shy Falta de fundamentaccedilatildeo para desconsideraccedilatildeo de atos juriacutedicos praticados

shy Conforme se verifica pela leitura do Contrato de Pagamento a operaccedilatildeo realizada entre a Requerente e o FGC natildeo envolveu nenhuma oferta de remissatildeoperdatildeo de diacutevida por parte do FGC e tampouco ocorreu qualquer aceite por parte da Requerente com relaccedilatildeo ao perdatildeo de diacutevidas Em outras palavras o ato formal de remissatildeoperdatildeo de diacutevidas jamais ocorreu posto que natildeo foi pactuado entre as partes Assim tendo em vista que a principal premissa utilizada pela D Fiscalizaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo dos Autos de Infraccedilatildeo estaacute equivocada temshyse por demonstrada a NULIDADE que acomete os Autos de Infraccedilatildeo

Fl 2366DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 5

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(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

shy A DRJCTA efetivamente se esquiva de analisar abordar e debater o ponto trazido pela Requerente em sua Impugnaccedilatildeo qual seja se os documentos celebrados indicam a ocorrecircncia de um perdatildeo de diacutevidas como alega a D Fiscalizaccedilatildeo no TVF ou um desconto financeiro como alega a proacutepria Requerente Isso eacute causa de evidente nulidade da decisatildeo consubstanciada no v Acoacuterdatildeo recorrido conforme se verifica do artigo 31 e 59 do Decreto ndeg 7023572 bem como dos precedentes do CARF que analisaram tal dispositivo

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

A Ausecircncia de acreacutescimo patrimonial shy Impossibilidade de exigecircncia do PIS e COFINS sobre mera reduccedilatildeo de dispecircndios

shy Em primeiro lugar a Requerente destaca que natildeo auferiu qualquer acreacutescimo patrimonial efetivo em razatildeo do Contrato de Pagamento ou quitaccedilatildeo antecipada das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo natildeo sendo correto afirmar como faz a D Fiscalizaccedilatildeo e a DRJCTA que tais negoacutecios juriacutedicos ensejaram a ocorrecircncia do fato gerador do PIS e da COFINS

shy A Requerente apenas contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor (FGC shy fl 3 do TVF)

shy Muito embora numa anaacutelise meramente contaacutebil a Requerente tenha auferido um resultado escritural positivo em decorrecircncia da diminuiccedilatildeo do passivo natildeo se verifica como quer fazer crer as DD Fiscalizaccedilatildeo e DRJCTA qualquer auferimento de receita pelo simples fato que esse resultado escritural positivo simplesmente natildeo representa ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional praticada pela Requerente (ie compra venda investimentos etc)

B Ainda que tenha havido um perdatildeo parcial dos passivos natildeo haacute valores a recolher de PIS e COFINS

shy As reduccedilotildees de dispecircndios por meio de perdatildeo de diacutevidas natildeo configuram receitas propriamente ditas e por conseguinte natildeo ensejam a ocorrecircncia do fato gerador do PIS e da COFINS Assim caso se considere que o montante relativo agrave baixa de passivos realizada no contexto narrado acima seja juridicamente reconhecido como um ganho natildeo se trata de uma receita para fins de incidecircncia do PIS e da COFINS

C Se eacute que houve receita essa receita possui natureza financeira

shy Ainda que por hipoacutetese se possa falar em receita tal rendimento auferido quando da daccedilatildeo em pagamento possui natureza de receita financeira e portanto estaacute sujeita agrave aliacutequota zero do PIS e da COFINS

shy Isso porque o que ocorreu no caso em questatildeo foi um pagamento antecipado dos passivos incorridos junto ao FGC (que soacute teriam vencimento em 05112020 e 30112020 respectivamente) por meio da daccedilatildeo em pagamento do Creacutedito BTG Por conseguinte foi concedido pelo FGC um DESCONTO FINANCEIRO agrave Requerente em virtude do referido pagamento antecipado dessas diacutevidas

shy A proacutepria DRJCTA ao tecer longas consideraccedilotildees acerca da suposta inexistecircncia de definiccedilatildeo legal para o conceito juriacutedico de receitas financeiras (fl 2243) acabou por reconheceu

Fl 2367DF CARF MF

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que (i)o RIR99 conceitua o desconto como uma das hipoacuteteses que podem ensejar o reconhecimento de receitas financeiras (ii)descontos obtidos no pagamento antecipado e precircmios de resgatede tiacutetulos e debecircntures ensejam a verificaccedilatildeo de receitas financeiras (fl2245) e (iii) as receitas financeiras satildeo sempre decorrentes da aplicaccedilatildeo recursos pecuniaacuterios ou originadas com relaccedilatildeo aos mesmos (fl 2245) Ora se todas essas premissas satildeo aceitas como verdadeiras pela D DRJCTA simplesmente natildeo eacute possiacutevel afirmar a partir delas que a receita supostamente auferida pela Requerente natildeo teria natureza financeira Com isso a conclusatildeo da DRJCTA eacute contraditoacuteria com as premissas adotadas como razatildeo de decidir pela proacutepria decisatildeo

shy E natildeo soacute isso A referida conclusatildeo estaacute dissociada dos fatos amplamente comprovados nos presentes autos Isso porque conforme amplamente documentado nos autos em uma operaccedilatildeo realizada nos termos determinados pelo BACEN o credor (FGC) da Requerente aceitou receber menos do que lhe seria devido e conferiu quitaccedilatildeo total ante tal pagamento tendo em vista que seria realizado o pagamento antecipado da diacutevida (que de outra forma soacute venceria em 2020) Assim estamos diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida E os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estatildeo compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

shy Aleacutem disso natildeo se pode perder de vista ainda que o FGC deveraacute recuperar todo o valor inicial de principal que entregou agrave Requerente quando da subscriccedilatildeo das Debecircntures e da assinatura do Contrato de Muacutetuo Diferentemente do afirmado pelo V Acoacuterdatildeo no sentido de que o dinheiro a ser recebido do Banco Pactuai natildeo cobriraacute todo o valor colocado na operaccedilatildeo o valor de face de R$ 450 milhotildees do Creacutedito BTG estaacute sujeito agrave incidecircncia de juros de 110 da taxa DI e deveraacute ser liquidado em 2020 por no miacutenimo os mesmos R$ 38 bilhotildees que foram originalmente disponibilizados agrave Requerente

shy Temshyse portanto que admitindoshyse que as operaccedilotildees descritas no Contrato de Pagamento ensejem o reconhecimento de uma receita essa receita decorreria de desconto concedido quando da quitaccedilatildeo antecipada dos passivos a qual possui clara natureza juriacutedica receita financeira e como tal estaacute sujeita ao PIS e a COFINS agrave aliacutequota zero nos termos do artigo Io do Decreto ndeg 544205

shy Ainda que se admita que no presente caso teria havido um perdatildeo de diacutevida E que esse perdatildeo tenha gerado uma receita a Requerente destaca que esse suposto perdatildeo remonta a uma diacutevida de natureza claramente financeira (ie obrigaccedilatildeo de pagar com relaccedilatildeo aos instrumentos financeiros Debecircntures e Contrato de Muacutetuo) Pelo princiacutepio segundo o qual o acessoacuterio segue o principal natildeo poderia o perdatildeo de uma diacutevida dessa natureza resultar no auferimento de receita de natureza diversa como equivocadamente indicado no V Acoacuterdatildeo recorrido O suposto perdatildeo de diacutevida concedido pelo FGC se operou com relaccedilatildeo a passivos de natureza evidentemente financeira que foram contraiacutedos pela Requerente junto a uma entidade claramente inserida no contexto do Sistema Financeiro Nacional (ie FGC) e em razatildeo de uma operaccedilatildeo financeira que resultou na reduccedilatildeo do montante de principal desse mesmo passivo financeiro

shy Imaginandoshyse uma situaccedilatildeo em que fosse possiacutevel descaracterizar todos os atos e negoacutecios juriacutedicos realizados para se tentar encontrar uma explicaccedilatildeo para a situaccedilatildeo analisada tershyseshyia o seguinte a controladora de um banco que apoacutes a verificaccedilatildeo em problemas na administraccedilatildeo do negoacutecio se vecirc obrigada para o resgate da instituiccedilatildeo a tomar uma seacuterie de atos juriacutedicos legiacutetimos com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico mas cujo resultado praacutetico culminou na alienaccedilatildeo da sua participaccedilatildeo societaacuteria na instituiccedilatildeo financeira

V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

shy Caso seja mantida a exigecircncia consubstanciada nos Autos de Infraccedilatildeo o que se admite apenas para argumentar a Requerente requer entatildeo que a exigecircncia dos juros seja limitada uacutenica e exclusivamente aos valores de principal excluindoshyse tal exigecircncia com relaccedilatildeo agrave multa de ofiacutecio acaso natildeo cancelada ante a sua evidente abusividade

Fl 2368DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 6

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A Uniatildeo por meio da PFN apresentou suas contrarrazotildees ao recurso voluntaacuterio aduzindo em siacutentese que

2 DO DIREITO

21 Da receita operacional

shy Eacute indene de duacutevidas que a daccedilatildeo em pagamento do creacutedito de R$ 450 milhotildees da interessada junto ao Banco BTG Pactual para quitaccedilatildeo das diacutevidas no valor total de R$ 38 bilhotildees com o FGC representa um auferimento de receita Vejashyse o que diz a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 2011 Por outro lado vejashyse o conceito contaacutebil de receita delineado na revogada Resoluccedilatildeo CFC nordm 1121 de 2008

shy De acordo com as regras contaacutebeis a receita relativa ao ganho auferido com a remissatildeo de diacutevidas considerashyse realizada quando da extinccedilatildeo do correspondente passivo Nesse sentido dispotildee a Resoluccedilatildeo do CFC nordm 750 de 1993 Dispotildee a Resoluccedilatildeo CFC nordm 77494 que () Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes ()

shy Portanto natildeo haacute duacutevidas que que a diminuiccedilatildeo do passivo resultante da liquidaccedilatildeo dos passivos (debecircntures e muacutetuo) deve ser reconhecida pela empresa como uma receita

shy Segundo a sistemaacutetica natildeo cumulativa as contribuiccedilotildees incidem sobre o faturamento mensal assim entendido como a totalidade das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

22 Da natureza juriacutedica da receita

shy Ao se analisar os fatos decorrentes dos autos chegashyse agrave conclusatildeo oacutebvia que o abatimento do capital obtido pela contribuinte com a daccedilatildeo em pagamento jamais poderia ser classificado como receita financeira O que houve no caso foi uma remissatildeo de diacutevidas que natildeo pode ser considerado receita financeira

shy O pagamento de obrigaccedilotildees (diacutevidas) constitui destinaccedilatildeo mas natildeo aplicaccedilatildeo dos recursos financeiros no sentido aqui utilizado O adimplemento de diacutevidas natildeo eacute objeto de remuneraccedilatildeo (obtenccedilatildeo de juros) eis que nesse caso natildeo haacute disponibilizaccedilatildeo de recursos proacuteprios para terceiros Assim temshyse que o abandono de parte ou da integralidade de diacutevida por parte do credor constitui para o devedor uma receita insubsistecircncia ativa que dado seu caraacuteter natildeo usual deve ser registrada como item extraordinaacuterio

shy Tratandoshyse pois de remissatildeo (seja total ou parcial) mesmo sendo um ato bilateral vecircshyse que sua natureza assemelhashyse a um desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado nem como despesa financeira (pelo vendedorcredora) ou como receita financeira (pelo compradordevedor) Da mesma forma um desconto incondicional pode ser aceito ou natildeo pelo comprador mas continua a ser um ato liberatoacuterio de vendedor que natildeo implica a caracterizaccedilatildeo de ldquoresultado financeirordquo Portanto natildeo assiste razatildeo agrave contribuinte pois a remissatildeo parcial dos passivos foi sim um ato liberatoacuterio do credor em favor da devedora

23 Dos juros sobre a multa

Fl 2369DF CARF MF

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shy O proacuteprio art 161 do CTN manda incidir juros de mora sobre o creacutedito tributaacuterio ou seja sobre o principal e a penalidade pecuniaacuteria natildeo havendo nenhuma disposiccedilatildeo legal que diga o contraacuterio

Eacute o relatoacuterio

Voto Vencido

Conselheira MARIA APARECIDA MARTINS DE PAULA Relatora

Atendidos aos requisitos de admissibilidade tomashyse conhecimento do recurso voluntaacuterio

III NULIDADES DOS AUTOS DE INFRACcedilAtildeO E DO V ACOacuteRDAtildeO RECORRIDO

(i) A Nulidade dos Autos de Infraccedilatildeo shy Falta de fundamentaccedilatildeo para desconsideraccedilatildeo de atos juriacutedicos praticados

Suscita a recorrente a nulidade dos autos de infraccedilatildeo tendo em vista que natildeo teria ocorrido o perdatildeo de diacutevidas alegado pela fiscalizaccedilatildeo como premissa da autuaccedilatildeo

Ocorre que natildeo obstante natildeo existisse nenhum documento ou contrato mencionando literalmente os termos remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida a fiscalizaccedilatildeo motivadamente qualificou juridicamente os fatos descritos nos documentos da contribuinte como um verdadeiro perdatildeo de diacutevidas natildeo havendo nisso qualquer nulidade mas a legiacutetima interpretaccedilatildeo dos negoacutecios da contribuinte em conformidade com o disposto no art 112 do Coacutedigo Civil Nas declaraccedilotildees de vontade se atenderaacute mais agrave intenccedilatildeo nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem

No mais a questatildeo de saber de os fatos narrados pela fiscalizaccedilatildeo caracterizaram ou natildeo um perdatildeo de diacutevidas eacute tema a ser discutido no meacuterito

(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

Improcede a alegaccedilatildeo da recorrente de que a Delegacia de Julgamento natildeo teria debatido a nulidade suscitada pela entatildeo impugnante

Conforme se vecirc no iniacutecio do voto da decisatildeo recorrida o julgador sustentou a legitimidade dos autos de infraccedilatildeo eis que estatildeo devidamente motivados e contecircm minudentemente a indicaccedilatildeo dos fatos e dos fundamentos juriacutedicos nos termos da Lei nordm 978499 do art art 10 do Decreto nordm 7023572 sem que representem qualquer situaccedilatildeo de nulidade descrita no art 59 desse Decreto

Na sequecircncia como era de se esperar natildeo tendo verificado situaccedilatildeo de nulidade na lavratura dos autos de infraccedilatildeo o julgador deixou a alegaccedilatildeo da impugnante da falsa premissa na autuaccedilatildeo de que natildeo seria o caso de perdatildeo de diacutevida para a anaacutelise na parte do meacuterito nos seguintes termos

() Por fim eacute de se mencionar conforme se verifica a seguir na anaacutelise do meacuterito que a fiscalizaccedilatildeo fundamentou os autos de infraccedilatildeo na realidade faacutetica natildeo tendo sido realizada portanto a adoccedilatildeo de falsa premissa

Fl 2370DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 7

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Afastashyse dessa forma a preliminar de nulidade levantada [grifei] ()

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

Em breve resumo podemos assim descrever as negociaccedilotildees efetuadas pela contribuinte Siacutelvio Santos Participaccedilotildees (SSP) que redundaram na conclusatildeo da fiscalizaccedilatildeo de que houve um perdatildeo parcial da diacutevida entre a contribuinte e o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no montante de R$ 335 bilhotildees (= R$ 38 bilhotildees shy R$ 450 milhotildees)

a) a contribuinte contraiu duas diacutevidas com o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor total de R$ 38 bilhotildees o qual foi repassado diretamente ao Banco Panamericano

b) a contribuinte e sua controlada BF venderam a totalidade das accedilotildees que detinham do Banco Panamericano ao BTG Pactual o qual em contrapartida lhes pagou o valor de R$450 milhotildees em creacuteditos a receber

c) a contribuinte e a BF celebraram o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento com o FGC por meio do qual esse uacuteltimo aceitou o creacutedito no valor de R$ 450 milhotildees em creacuteditos a receber como daccedilatildeo em pagamento pela diacutevida de R$ 38 bilhotildees

Conforme explica Venosa1 a remissatildeo2 eacute o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento Ressalva o autor que apesar da remissatildeo ser uma espeacutecie de renuacutencia com ela natildeo se confunde pois embora possa ser um ato unilateral natildeo prescinde da concordacircncia do devedor Prossegue Venosa esclarecendo que nada impede que a remissatildeo tome a forma bilateral de um contrato mas natildeo eacute sua essecircncia Essencial eacute a aquiescecircncia do devedor ainda que presumida ou taacutecita

No caso concreto natildeo pairam duacutevidas do ato de vontade do FGC de liberar a contribuinte parcialmente do pagamento da diacutevida e da concordacircncia desta uacuteltima no ato A contribuinte e a BF cederam os seus creacuteditos ao FGC em valor correspondente somente a parte da diacutevida e o FGC os aceitou como quitaccedilatildeo integral das diacutevidas da contribuinte restando caracterizada remissatildeo parcial da diacutevida da contribuinte conforme consta na Consolidaccedilatildeo do Instrumento de Daccedilatildeo em Pagamento (fls 414421)

1 VENOSA Siacutelvio de Salvo Direito Civil teoria geral das obrigaccedilotildees e teoria geral dos contratos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2004 p 335 2 Coacutedigo Civil Da Remissatildeo das Diacutevidas Art 385 A remissatildeo da diacutevida aceita pelo devedor extingue a obrigaccedilatildeo mas sem prejuiacutezo de terceiro Art 386 A devoluccedilatildeo voluntaacuteria do tiacutetulo da obrigaccedilatildeo quando por escrito particular prova desoneraccedilatildeo do devedor e seus coshyobrigados se o credor for capaz de alienar e o devedor capaz de adquirir Art 387 A restituiccedilatildeo voluntaacuteria do objeto empenhado prova a renuacutencia do credor agrave garantia real natildeo a extinccedilatildeo da diacutevida Art 388 A remissatildeo concedida a um dos coshydevedores extingue a diacutevida na parte a ele correspondente de modo que ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros jaacute lhes natildeo pode cobrar o deacutebito sem deduccedilatildeo da parte remitida

Fl 2371DF CARF MF

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Alega a recorrente que contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor No entanto acredita que esse resultado escritural positivo natildeo representaria ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional por ela praticada de forma que natildeo estariam sujeitos agrave incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais

Natildeo assiste razatildeo agrave recorrente A baixa parcial das suas diacutevidas sem o correspondente pagamento no montante de R$ 335 bilhotildees constitui uma receita originada da extinccedilatildeo de um passivo (obrigaccedilatildeo) sem o desaparecimento concomitante de um ativo de igual ou superior valor constituindo sim um acreacutescimo patrimonial

Para a Equipe de Professores da FEAUSP3 a receita pode ser assim definida

()

Entendeshyse por Receita a entrada de elementos para o ativo sob forma de dinheiro ou direitos a receber correspondentes normalmente agrave venda de mercadorias de produtos ou agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Uma receita tambeacutem pode derivar de juros sobre depoacutesitos bancaacuterios ou tiacutetulos de alugueacuteis e outras origens

Agraves vezes a Receita ocorre em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de um passivo [negritei]

()

Conforme jaacute dispunha4 a Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no seu art 9ordm sect3ordm II sect 3ordm As receitas consideramshyse realizadas () II ndash quando da extinccedilatildeo parcial ou total de um passivo qualquer que seja o motivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior ()

Posteriormente mediante a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 8 de dezembro de 2011 assim se pronunciou o Conselho Federal de Contabilidade nos paraacutegrafos 425 e 447 inclusive mencionando o perdatildeo de diacutevidas como um exemplo de uma receita

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3 IUDIacuteCIBUS Seacutergio (coord) Contabilidade Introdutoacuteria 11 ed Satildeo Paulo Atlas 2010 p 65 4 Antes de sua alteraccedilatildeo pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 1282 de 28 de maio de 2010

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425Os elementos de receitas e despesas satildeo definidos como segue (a) receitas satildeo aumentos nos benefiacutecios econocircmicos durante o periacuteodo contaacutebil sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuiccedilatildeo de passivos que resultam em aumentos do patrimocircnio liacutequido e que natildeo estejam relacionados com a contribuiccedilatildeo dos detentores dos instrumentos patrimoniais () Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga) [negritei]

O Regulamento do Imposto de Renda assim se pronuncia sobre as receitas e despesas financeiras

Subseccedilatildeo I Receitas e Despesas Financeiras Receitas Art 373 Os juros o desconto o lucro na operaccedilatildeo de reporte e os rendimentos de aplicaccedilotildees financeiras de renda fixa ganhos pelo contribuinte seratildeo incluiacutedos no lucro operacional e quando derivados de operaccedilotildees ou tiacutetulos com vencimento posterior ao encerramento do periacuteodo de apuraccedilatildeo poderatildeo ser rateados pelos periacuteodos a que competirem (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 e Lei nordm 8981 de 1995 art 76 sect2ordm e Lei nordm 9249 de 1995 art 11 sect3ordm) Despesas Art 374 Os juros pagos ou incorridos pelo contribuinte satildeo dedutiacuteveis como custo ou despesa operacional observadas as seguintes normas (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 paraacutegrafo uacutenico) Ishy os juros pagos antecipadamente os descontos de tiacutetulos de creacutedito e o desaacutegio concedido na colocaccedilatildeo de debecircntures ou tiacutetulos de creacutedito deveratildeo ser apropriados pro rata temporis nos periacuteodos de apuraccedilatildeo a que competirem II shy os juros de empreacutestimos contraiacutedos para financiar a aquisiccedilatildeo ou construccedilatildeo de bens do ativo permanente incorridos durante as fases de construccedilatildeo e preacuteshyoperacional podem ser registrados no ativo diferido para serem amortizados ()

Na ausecircncia da completa definiccedilatildeo na legislaccedilatildeo sobre o que seriam receitas e despesas financeiras depreendeshyse do dispositivo acima que as receitas e despesas financeiras

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satildeo decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros de forma que poderiam ser conceituadas como receitas pela aplicaccedilatildeo de recursos pecuniaacuterios proacuteprios ou despesas pela utilizaccedilatildeo de recursos de terceiros

Como explicado na Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit de 31 de agosto de 2007 entendem Silveacuterio das Neves e Paulo Viceconti que os descontos financeiros satildeo aqueles ligados ou condicionados ao pagamento ou recebimento de tiacutetulos por antecipaccedilatildeo ldquosatildeo os descontos obtidos na liquidaccedilatildeo antecipada de obrigaccedilotildeesrdquo Ademais prescrevem esses autores que a conta ldquoDescontos Financeiros Obtidosrdquo (Receita Financeira) deveraacute ser encerrada a creacutedito de resultado do exerciacuteciordquo Por sua vez entendem ainda que os descontos incondicionais satildeo ldquoparcelas redutoras dos preccedilos de compra e venda constantes da nota fiscal ou da fatura de serviccedilo e natildeo dependentes de evento posterior agrave emissatildeo desses documentosrdquo (NEVES Silveacuterio das VICECONTI Paulo Eduardo Vilchez Contabilidade baacutesica 12 ed rev e atual Satildeo Paulo Frase Editora 2004 pp 115shy116)

Nessa esteira concluishyse com os fundamentos utilizados nessa Soluccedilatildeo de Consulta abaixo transcritos que o perdatildeo de diacutevida natildeo pode ser considerado como um desconto financeiro mas uma espeacutecie de desconto incondicional natildeo considerado como uma receita financeira

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1188 In casu natildeo houve desconto por pagamento antecipado nem precircmio por resgate de tiacutetulo ou seja nenhum confronto entre aspectos financeiramente favoraacuteveis e desfavoraacuteveis mas sim um simples perdatildeo de diacutevida (ato liberatoacuterio) pela credora em favor da devedora (consulente) que se coaduna com o desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado como ldquoreceita financeirardquo Logo a presente insubsistecircncia ativa (do passivo) natildeo haacute de ser tratada como uma ldquoReceita Financeirardquo mas como ldquoReceita shy Outros Resultados Operacionaisrdquo o que leva ao entendimento que a remissatildeo de diacutevida eacute fato imponiacutevel da Cofins e do PIS

1189 O desconto tem natureza de receita financeira quando haacute novaccedilatildeo em virtude de uma contraposiccedilatildeo de fatores favoraacuteveis e desfavoraacuteveis (pagamento antecipado que gera uma reduccedilatildeo de juros ndash recebimento em funccedilatildeo do tempo de recebimento do creacutedito) o que eacute diferente do caso em tela que retrata uma remissatildeo da diacutevida (ato liberatoacuterio da credora em favor da devedora) pela qual houve um abandono do proacuteprio capital (principal)

11810 Depreendeshyse portanto que o valor relativo agraves diacutevidas perdoadas seja parcial ou integral constitui receita para o devedor Para que as receitas sejam consideradas como ldquofinanceirasrdquo haacute de haver como caracteriacutestica um ganho em razatildeo da disponibilidade de recursos para terceiros em funccedilatildeo de certo periacuteodo de tempo Sendo assim o perdatildeo da diacutevida ou sua reduccedilatildeo seja mediante renegociaccedilatildeo ou novaccedilatildeo natildeo constitui receita financeira Eacute irrelevante para caracterizar a receita tratarshyse de perdatildeo do principal ou da multa e juros Portanto o perdatildeo de multa e juros tambeacutem natildeo constitui receita financeira pois como acessoacuterios acompanham a natureza do principal

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12 Do exposto concluishyse que o perdatildeo de diacutevida pela credora eacute um ato juriacutedico que faz acrescer o patrimocircnio da devedora de modo que revela capacidade contributiva (objetiva) que por caracterizar uma receita operacional (diversa da receita financeira) implica receita tributaacutevel pela Cofins e pelo PIS com a aliacutequota superior a zero (diversamente do que trata o art 1ordm do Decreto nordm 5442 de 09052005 cc o sect2ordm do art 27 da Lei nordm 10865 de 30042004)

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Sustenta a recorrente sem razatildeo que no caso concreto estarshyseshyia diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida sendo que os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estariam compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

Como bem argumentado na decisatildeo recorrida os abatimentos obtidos pela interessada para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras eis que

Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter receita por meio de empreacutestimos ou seja a empresa magicamente teria emprestado dinheiro do FGC para cobrir as inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil e ainda assim ao realizar a quitaccedilatildeo desses empreacutestimos teria obtido receitas de origem financeira

Vejashyse tambeacutem que a tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo No presente caso ao se aceitar a tese da interessada teriacuteamos a situaccedilatildeo iloacutegica pela qual a empresa emissora dos debecircntures (SSP) obteria receita financeira com a baixa dos tiacutetulos e a debenturista (FGC que tomou os debecircntures em garantia aos valores emprestados) teria que reconhecer uma despesa financeira

Ademais valores que foram emprestados pelo FGC para a contribuinte tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios natildeo podendo ter havido assim o abatimento de juros por pagamento antecipado Aleacutem do que os instrumentos legais (ldquoContrato de Muacutetuordquo ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avencasrdquo e o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento) foram todos assinados na mesma data em 31012011

Assim o perdatildeo parcial da diacutevida da contribuinte constitui uma receita decorrente de um acreacutescimo patrimonial para o devedor que natildeo pode ser qualificada como uma receita financeira vez que natildeo decorre de ganho em face da disponibilizaccedilatildeo de recursos

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para terceiros em certo periacuteodo de tempo O perdatildeo de uma diacutevida representa uma receita de natureza natildeo financeira cuja consequecircncia eacute o nascimento da capacidade contributiva para o PISPasep e a Cofins

Nesse sentido a Cosit shy CoordenaccedilatildeoshyGeral de Tributaccedilatildeo jaacute manifestou entendimento de que a remissatildeo de diacutevida representa uma receita operacional tributaacutevel pelo IRPJ CSLL PISPasep e Cofins

SOLUCcedilAtildeO DE CONSULTA Nordm 17 DE 27 DE ABRIL DE 2010

ASSUNTO Normas Gerais de Direito Tributaacuterio

EMENTA REMISSAtildeO DE DIacuteVIDA INCIDEcircNCIA DE IRPJ CSLL PISPASEP E COFINS

A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

DISPOSITIVOS LEGAIS art9ordm sect 3ordm II da Resoluccedilatildeo CFC No shy 750 de 1993 PARECER CTCFC N o shy 11 de 2004 art187 da Lei N o shy 6404 de 1976 arts 373 e 374 do RIR de 1999 art3ordm da Lei N o shy 9718 de 1998 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 10833 de 2003 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 106372002 art53 da Lei N o shy 9430 de 1996 arts 2ordm e 3ordm do Ato Declaratoacuterio Interpretativo SRF N o 25 de 2003 art 111 II do CTN

A questatildeo do perdatildeo de diacutevida jaacute foi apreciada no acircmbito do IRPJ pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuintes (1ordm CC) na 1ordf Cacircmara mediante o Acoacuterdatildeo 10197057 de 16122008 Relatora Sandra Maria Faroni com a seguinte ementa PERDAtildeO DE DIacuteVIDA TRIBUTACcedilAtildeO Constitui receita tributaacutevel o valor correspondente ao perdatildeo de diacutevida concedido agrave empresa

Tambeacutem a 1ordf Turma da 4ordf Cacircmara da 1ordf Seccedilatildeo do CARF manifestoushyse no mesmo sentido sobre o perdatildeo de juros de mora classificandoshyo como outras receitas operacionais tributaacuteveis pelo IRPJ CSLL e PISCofins conforme ementa abaixo

Processo nordm 102450037842008shy74 Acoacuterdatildeo nordm 1401001113ndash 4ordf Cacircmara 1ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 11 de fevereiro de 2014 Relator Antonio Bezerra Neto Ementa ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Anoshycalendaacuterio 2004 2005 2006 2007 PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como outras receitas operacionais

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

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DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

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V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

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sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

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Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

Fl 2380DF CARF MF

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 5: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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Cofins ldquoNAtildeO haacute qualquer questatildeo prejudicial entre os processos administrativos fiscais nordms 108827213042014shy93 (IRPJ e CSLL) e 163277208552014shy11 (PIS e COFINS)rdquo

b) Requer a nulidade dos autos de infraccedilatildeo sob o argumento de que a fiscalizaccedilatildeo assumiu um premissa que natildeo condiz com a realidade a de que ldquoas prestaccedilotildees previstas no Contrato de Pagamento necessariamente importariam um perdatildeo de diacutevida com relaccedilatildeo agraves obrigaccedilotildees financeiras previstas nas Debecircntures e no Contrato de Muacutetuordquo Argumenta que a autoridade deixou de retratar adequadamente os fatos e que esse viacutecio insanaacutevel atinge a validade do ato administrativo uma vez que afronta o art 50 da Lei 9784 de 1999 e art 10 do Decreto 70235 de 1972

c) No meacuterito a contribuinte contesta as exigecircncias fiscais por meio de trecircs linhas de raciociacutenio a seguir

(i) que a eventual receita auferida em razatildeo do desconto recebido quando da quitaccedilatildeo antecipada dos passivos (debecircntures e muacutetuo) tem natureza de receita financeira devendo ser tributada tanto no PIS quanto na Cofins agrave aliacutequota zero nos termos do Decreto nordm 5442 de 2005

(ii) que se houver o entendimento de que a baixa dos passivos deve ser caracterizada como perdatildeo de diacutevida que esse mesmo (perdatildeo) natildeo enseja do ponto de vista juriacutedico auferimento de receita passiacutevel de tributaccedilatildeo pelo PIS e pela Cofins

(iii) que eventual receita auferida em contrapartida ao suposto perdatildeo de diacutevida tem natureza de receita financeira devendo da mesma forma que no item ldquoirdquo ser tributado agrave aliacutequota zero

d) Por fim a impugnante insurgeshyse contra a aplicaccedilatildeo dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio Diz que tal cobranccedila natildeo tem amparo legal e que consoante a jurisprudecircncia administrativa o juros de mora somente podem ser cobrado sobre os valores dos deacutebitos de tributos e contribuiccedilotildees

A Delegacia de Julgamento natildeo acatou os argumentos da impugnante em siacutentese sob os seguintes fundamentos

shy Natildeo existem duacutevidas de que a operaccedilatildeo consubstanciada na daccedilatildeo em pagamento do creacutedito de R$ 450 milhotildees da interessada junto ao Banco BTG Pactual para quitaccedilatildeo das diviacutedas no valor total de R$ 38 bilhotildees com o FGC representou um auferimento de receita O conceito contaacutebil de receitas estaacute intimamente ligado ao ldquoaumento nos benefiacutecios econocircmicosrdquo da entidade ou seja quando um fato contaacutebil representar um aumento mesmo que futuro nos benefiacutecios econocircmicos para a empresa esse aumento deve ser reconhecido como receita [Resoluccedilatildeo CFC (Conselho Federal de Contabilidade) nordm 1374 de 2001] A diminuiccedilatildeo do passivo resultante da liquidaccedilatildeo dos passivos (debecircntures e muacutetuo) deve ser reconhecida pela empresa como uma receita A proacutepria interessada admitiu que o fato em discussatildeo ocasionou uma diminuiccedilatildeo em seu passivo reconhecendo contabilmente (conta 3510909010017 ndash Receitas Eventuais ndash Operaccedilatildeo PAN) tendo em vista a faciacutelima mensuraccedilatildeo (R$ 380000000000 ndash R$ 45000000000) que houve um auferimento de receita no valor de R$ 335000000000

shy Na ausecircncia de definiccedilatildeo expressa a natureza da receita financeira ou da despesa financeira deve ser obtida a partir da identificaccedilatildeo do elemento comum entre eles qual seja receitas e despesas financeiras satildeo sempre decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros Consistiriam as receitas e despesas financeiras em formas de remuneraccedilatildeo pela aplicaccedilatildeo dos recursos (pecuniaacuterios) proacuteprios ou a utilizaccedilatildeo de recursos (pecuniaacuterios) de terceiros

shy Os abatimentos obtidos pela contribuinte para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter

Fl 2365DF CARF MF

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receita por meio de empreacutestimos A tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo

shy No tocante agrave argumentaccedilatildeo de que a receita obtida deve ser caracterizada como receita financeira porque houve a quitaccedilatildeo antecipada das diacutevidas eacute de se destacar dois pontos cruciais a) os valores que foram emprestados pela FGC para a interessada tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios assim natildeo houve abatimento de juros por pagamento antecipado simplesmente por que natildeo haviam juros a pagar e b) a forma como o problema do Banco Panamericano foi resolvido deixa muito claro que o abatimento das diacutevidas (debecircntures e muacutetuo) foi concedido na operaccedilatildeo conjunta (contrato de muacutetuovenda das accedilotildeesdaccedilatildeo em pagamento) com a aprovaccedilatildeo e recursos oriundos do FGC para evitar a insolvecircncia do Banco Panamericano natildeo podendo se admitir a tese da interessada de que a reduccedilatildeo nos valores das diacutevidas trataramshyse de descontos financeiros mesmo porque natildeo houve qualquer lapso temporal entre a data de obtenccedilatildeo do empreacutestimo e a data de sua liquidaccedilatildeo tendo em vista os instrumentos de concessatildeo (ldquoContrato de Muacutetuordquo) e quitaccedilatildeo (ldquoInstrumento de Daccedilatildeo em Pagamentordquo) terem sido assinados na mesma data

shy O perdatildeo de diacutevidas natildeo pode ser considerado como receita financeira uma vez que natildeo decorre da aplicaccedilatildeo de recursos da empresa Com efeito o pagamento de obrigaccedilotildees (diacutevidas) constitui destinaccedilatildeo mas natildeo aplicaccedilatildeo dos recursos financeiros no sentido aqui utilizado O adimplemento de diacutevidas natildeo eacute objeto de remuneraccedilatildeo (obtenccedilatildeo de juros) eis que nesse caso natildeo haacute disponibilizaccedilatildeo de recursos proacuteprios para terceiros Assim temshyse que o abandono de parte ou da integralidade de diacutevida por parte do credor constitui para o devedor uma receita insubsistecircncia ativa que dado seu caraacuteter natildeo usual deve ser registrada como item extraordinaacuterio

shy Ora como se verifica o FGC aceitou e financiou a operaccedilatildeo conjunta anteriormente mencionada (contrato de muacutetuovenda das accedilotildeesdaccedilatildeo em pagamento) assumindo de forma indireta o saneamento do Banco Panamericano e sabendo de antematildeo que somente iria receber o valor injetado na operaccedilatildeo sem qualquer correccedilatildeo monetaacuteria ou juros em 28 de julho de 2028 denotandoshyse muito claramente o perdatildeo da maior parte das diacutevidas da contribuinte junto ao FGC (R$ 3350000000 = R$ 3800000000shy R$ 450000000) Nesse sentido mostrashyse falaciosa a afirmaccedilatildeo da interessada de que o FGC deveraacute recuperar todo o valor emprestado Eacute evidente que o dinheiro a ser recebido do Banco Pactual natildeo cobriraacute todo o valor colocado na operaccedilatildeo e que o prejuiacutezo decorrente das inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil foram suportados em boa parte pelo FGC pois como visto o valor de ateacute R$ 38 bilhotildees somente seraacute recuperado sem qualquer correccedilatildeo monetaacuteria ou juros apoacutes 17 (dezessete) anos

A contribuinte foi regularmente cientificada da decisatildeo de primeira instacircncia em 17032016 pela via postal e apresentou recurso voluntaacuterio em 15042016 alegando em siacutentese que

III NULIDADES DOS AUTOS DE INFRACcedilAtildeO E DO V ACOacuteRDAtildeO RECORRIDO

(i) A Nulidade dos Autos de Infraccedilatildeo shy Falta de fundamentaccedilatildeo para desconsideraccedilatildeo de atos juriacutedicos praticados

shy Conforme se verifica pela leitura do Contrato de Pagamento a operaccedilatildeo realizada entre a Requerente e o FGC natildeo envolveu nenhuma oferta de remissatildeoperdatildeo de diacutevida por parte do FGC e tampouco ocorreu qualquer aceite por parte da Requerente com relaccedilatildeo ao perdatildeo de diacutevidas Em outras palavras o ato formal de remissatildeoperdatildeo de diacutevidas jamais ocorreu posto que natildeo foi pactuado entre as partes Assim tendo em vista que a principal premissa utilizada pela D Fiscalizaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo dos Autos de Infraccedilatildeo estaacute equivocada temshyse por demonstrada a NULIDADE que acomete os Autos de Infraccedilatildeo

Fl 2366DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 5

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(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

shy A DRJCTA efetivamente se esquiva de analisar abordar e debater o ponto trazido pela Requerente em sua Impugnaccedilatildeo qual seja se os documentos celebrados indicam a ocorrecircncia de um perdatildeo de diacutevidas como alega a D Fiscalizaccedilatildeo no TVF ou um desconto financeiro como alega a proacutepria Requerente Isso eacute causa de evidente nulidade da decisatildeo consubstanciada no v Acoacuterdatildeo recorrido conforme se verifica do artigo 31 e 59 do Decreto ndeg 7023572 bem como dos precedentes do CARF que analisaram tal dispositivo

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

A Ausecircncia de acreacutescimo patrimonial shy Impossibilidade de exigecircncia do PIS e COFINS sobre mera reduccedilatildeo de dispecircndios

shy Em primeiro lugar a Requerente destaca que natildeo auferiu qualquer acreacutescimo patrimonial efetivo em razatildeo do Contrato de Pagamento ou quitaccedilatildeo antecipada das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo natildeo sendo correto afirmar como faz a D Fiscalizaccedilatildeo e a DRJCTA que tais negoacutecios juriacutedicos ensejaram a ocorrecircncia do fato gerador do PIS e da COFINS

shy A Requerente apenas contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor (FGC shy fl 3 do TVF)

shy Muito embora numa anaacutelise meramente contaacutebil a Requerente tenha auferido um resultado escritural positivo em decorrecircncia da diminuiccedilatildeo do passivo natildeo se verifica como quer fazer crer as DD Fiscalizaccedilatildeo e DRJCTA qualquer auferimento de receita pelo simples fato que esse resultado escritural positivo simplesmente natildeo representa ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional praticada pela Requerente (ie compra venda investimentos etc)

B Ainda que tenha havido um perdatildeo parcial dos passivos natildeo haacute valores a recolher de PIS e COFINS

shy As reduccedilotildees de dispecircndios por meio de perdatildeo de diacutevidas natildeo configuram receitas propriamente ditas e por conseguinte natildeo ensejam a ocorrecircncia do fato gerador do PIS e da COFINS Assim caso se considere que o montante relativo agrave baixa de passivos realizada no contexto narrado acima seja juridicamente reconhecido como um ganho natildeo se trata de uma receita para fins de incidecircncia do PIS e da COFINS

C Se eacute que houve receita essa receita possui natureza financeira

shy Ainda que por hipoacutetese se possa falar em receita tal rendimento auferido quando da daccedilatildeo em pagamento possui natureza de receita financeira e portanto estaacute sujeita agrave aliacutequota zero do PIS e da COFINS

shy Isso porque o que ocorreu no caso em questatildeo foi um pagamento antecipado dos passivos incorridos junto ao FGC (que soacute teriam vencimento em 05112020 e 30112020 respectivamente) por meio da daccedilatildeo em pagamento do Creacutedito BTG Por conseguinte foi concedido pelo FGC um DESCONTO FINANCEIRO agrave Requerente em virtude do referido pagamento antecipado dessas diacutevidas

shy A proacutepria DRJCTA ao tecer longas consideraccedilotildees acerca da suposta inexistecircncia de definiccedilatildeo legal para o conceito juriacutedico de receitas financeiras (fl 2243) acabou por reconheceu

Fl 2367DF CARF MF

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que (i)o RIR99 conceitua o desconto como uma das hipoacuteteses que podem ensejar o reconhecimento de receitas financeiras (ii)descontos obtidos no pagamento antecipado e precircmios de resgatede tiacutetulos e debecircntures ensejam a verificaccedilatildeo de receitas financeiras (fl2245) e (iii) as receitas financeiras satildeo sempre decorrentes da aplicaccedilatildeo recursos pecuniaacuterios ou originadas com relaccedilatildeo aos mesmos (fl 2245) Ora se todas essas premissas satildeo aceitas como verdadeiras pela D DRJCTA simplesmente natildeo eacute possiacutevel afirmar a partir delas que a receita supostamente auferida pela Requerente natildeo teria natureza financeira Com isso a conclusatildeo da DRJCTA eacute contraditoacuteria com as premissas adotadas como razatildeo de decidir pela proacutepria decisatildeo

shy E natildeo soacute isso A referida conclusatildeo estaacute dissociada dos fatos amplamente comprovados nos presentes autos Isso porque conforme amplamente documentado nos autos em uma operaccedilatildeo realizada nos termos determinados pelo BACEN o credor (FGC) da Requerente aceitou receber menos do que lhe seria devido e conferiu quitaccedilatildeo total ante tal pagamento tendo em vista que seria realizado o pagamento antecipado da diacutevida (que de outra forma soacute venceria em 2020) Assim estamos diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida E os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estatildeo compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

shy Aleacutem disso natildeo se pode perder de vista ainda que o FGC deveraacute recuperar todo o valor inicial de principal que entregou agrave Requerente quando da subscriccedilatildeo das Debecircntures e da assinatura do Contrato de Muacutetuo Diferentemente do afirmado pelo V Acoacuterdatildeo no sentido de que o dinheiro a ser recebido do Banco Pactuai natildeo cobriraacute todo o valor colocado na operaccedilatildeo o valor de face de R$ 450 milhotildees do Creacutedito BTG estaacute sujeito agrave incidecircncia de juros de 110 da taxa DI e deveraacute ser liquidado em 2020 por no miacutenimo os mesmos R$ 38 bilhotildees que foram originalmente disponibilizados agrave Requerente

shy Temshyse portanto que admitindoshyse que as operaccedilotildees descritas no Contrato de Pagamento ensejem o reconhecimento de uma receita essa receita decorreria de desconto concedido quando da quitaccedilatildeo antecipada dos passivos a qual possui clara natureza juriacutedica receita financeira e como tal estaacute sujeita ao PIS e a COFINS agrave aliacutequota zero nos termos do artigo Io do Decreto ndeg 544205

shy Ainda que se admita que no presente caso teria havido um perdatildeo de diacutevida E que esse perdatildeo tenha gerado uma receita a Requerente destaca que esse suposto perdatildeo remonta a uma diacutevida de natureza claramente financeira (ie obrigaccedilatildeo de pagar com relaccedilatildeo aos instrumentos financeiros Debecircntures e Contrato de Muacutetuo) Pelo princiacutepio segundo o qual o acessoacuterio segue o principal natildeo poderia o perdatildeo de uma diacutevida dessa natureza resultar no auferimento de receita de natureza diversa como equivocadamente indicado no V Acoacuterdatildeo recorrido O suposto perdatildeo de diacutevida concedido pelo FGC se operou com relaccedilatildeo a passivos de natureza evidentemente financeira que foram contraiacutedos pela Requerente junto a uma entidade claramente inserida no contexto do Sistema Financeiro Nacional (ie FGC) e em razatildeo de uma operaccedilatildeo financeira que resultou na reduccedilatildeo do montante de principal desse mesmo passivo financeiro

shy Imaginandoshyse uma situaccedilatildeo em que fosse possiacutevel descaracterizar todos os atos e negoacutecios juriacutedicos realizados para se tentar encontrar uma explicaccedilatildeo para a situaccedilatildeo analisada tershyseshyia o seguinte a controladora de um banco que apoacutes a verificaccedilatildeo em problemas na administraccedilatildeo do negoacutecio se vecirc obrigada para o resgate da instituiccedilatildeo a tomar uma seacuterie de atos juriacutedicos legiacutetimos com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico mas cujo resultado praacutetico culminou na alienaccedilatildeo da sua participaccedilatildeo societaacuteria na instituiccedilatildeo financeira

V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

shy Caso seja mantida a exigecircncia consubstanciada nos Autos de Infraccedilatildeo o que se admite apenas para argumentar a Requerente requer entatildeo que a exigecircncia dos juros seja limitada uacutenica e exclusivamente aos valores de principal excluindoshyse tal exigecircncia com relaccedilatildeo agrave multa de ofiacutecio acaso natildeo cancelada ante a sua evidente abusividade

Fl 2368DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 6

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A Uniatildeo por meio da PFN apresentou suas contrarrazotildees ao recurso voluntaacuterio aduzindo em siacutentese que

2 DO DIREITO

21 Da receita operacional

shy Eacute indene de duacutevidas que a daccedilatildeo em pagamento do creacutedito de R$ 450 milhotildees da interessada junto ao Banco BTG Pactual para quitaccedilatildeo das diacutevidas no valor total de R$ 38 bilhotildees com o FGC representa um auferimento de receita Vejashyse o que diz a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 2011 Por outro lado vejashyse o conceito contaacutebil de receita delineado na revogada Resoluccedilatildeo CFC nordm 1121 de 2008

shy De acordo com as regras contaacutebeis a receita relativa ao ganho auferido com a remissatildeo de diacutevidas considerashyse realizada quando da extinccedilatildeo do correspondente passivo Nesse sentido dispotildee a Resoluccedilatildeo do CFC nordm 750 de 1993 Dispotildee a Resoluccedilatildeo CFC nordm 77494 que () Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes ()

shy Portanto natildeo haacute duacutevidas que que a diminuiccedilatildeo do passivo resultante da liquidaccedilatildeo dos passivos (debecircntures e muacutetuo) deve ser reconhecida pela empresa como uma receita

shy Segundo a sistemaacutetica natildeo cumulativa as contribuiccedilotildees incidem sobre o faturamento mensal assim entendido como a totalidade das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

22 Da natureza juriacutedica da receita

shy Ao se analisar os fatos decorrentes dos autos chegashyse agrave conclusatildeo oacutebvia que o abatimento do capital obtido pela contribuinte com a daccedilatildeo em pagamento jamais poderia ser classificado como receita financeira O que houve no caso foi uma remissatildeo de diacutevidas que natildeo pode ser considerado receita financeira

shy O pagamento de obrigaccedilotildees (diacutevidas) constitui destinaccedilatildeo mas natildeo aplicaccedilatildeo dos recursos financeiros no sentido aqui utilizado O adimplemento de diacutevidas natildeo eacute objeto de remuneraccedilatildeo (obtenccedilatildeo de juros) eis que nesse caso natildeo haacute disponibilizaccedilatildeo de recursos proacuteprios para terceiros Assim temshyse que o abandono de parte ou da integralidade de diacutevida por parte do credor constitui para o devedor uma receita insubsistecircncia ativa que dado seu caraacuteter natildeo usual deve ser registrada como item extraordinaacuterio

shy Tratandoshyse pois de remissatildeo (seja total ou parcial) mesmo sendo um ato bilateral vecircshyse que sua natureza assemelhashyse a um desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado nem como despesa financeira (pelo vendedorcredora) ou como receita financeira (pelo compradordevedor) Da mesma forma um desconto incondicional pode ser aceito ou natildeo pelo comprador mas continua a ser um ato liberatoacuterio de vendedor que natildeo implica a caracterizaccedilatildeo de ldquoresultado financeirordquo Portanto natildeo assiste razatildeo agrave contribuinte pois a remissatildeo parcial dos passivos foi sim um ato liberatoacuterio do credor em favor da devedora

23 Dos juros sobre a multa

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shy O proacuteprio art 161 do CTN manda incidir juros de mora sobre o creacutedito tributaacuterio ou seja sobre o principal e a penalidade pecuniaacuteria natildeo havendo nenhuma disposiccedilatildeo legal que diga o contraacuterio

Eacute o relatoacuterio

Voto Vencido

Conselheira MARIA APARECIDA MARTINS DE PAULA Relatora

Atendidos aos requisitos de admissibilidade tomashyse conhecimento do recurso voluntaacuterio

III NULIDADES DOS AUTOS DE INFRACcedilAtildeO E DO V ACOacuteRDAtildeO RECORRIDO

(i) A Nulidade dos Autos de Infraccedilatildeo shy Falta de fundamentaccedilatildeo para desconsideraccedilatildeo de atos juriacutedicos praticados

Suscita a recorrente a nulidade dos autos de infraccedilatildeo tendo em vista que natildeo teria ocorrido o perdatildeo de diacutevidas alegado pela fiscalizaccedilatildeo como premissa da autuaccedilatildeo

Ocorre que natildeo obstante natildeo existisse nenhum documento ou contrato mencionando literalmente os termos remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida a fiscalizaccedilatildeo motivadamente qualificou juridicamente os fatos descritos nos documentos da contribuinte como um verdadeiro perdatildeo de diacutevidas natildeo havendo nisso qualquer nulidade mas a legiacutetima interpretaccedilatildeo dos negoacutecios da contribuinte em conformidade com o disposto no art 112 do Coacutedigo Civil Nas declaraccedilotildees de vontade se atenderaacute mais agrave intenccedilatildeo nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem

No mais a questatildeo de saber de os fatos narrados pela fiscalizaccedilatildeo caracterizaram ou natildeo um perdatildeo de diacutevidas eacute tema a ser discutido no meacuterito

(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

Improcede a alegaccedilatildeo da recorrente de que a Delegacia de Julgamento natildeo teria debatido a nulidade suscitada pela entatildeo impugnante

Conforme se vecirc no iniacutecio do voto da decisatildeo recorrida o julgador sustentou a legitimidade dos autos de infraccedilatildeo eis que estatildeo devidamente motivados e contecircm minudentemente a indicaccedilatildeo dos fatos e dos fundamentos juriacutedicos nos termos da Lei nordm 978499 do art art 10 do Decreto nordm 7023572 sem que representem qualquer situaccedilatildeo de nulidade descrita no art 59 desse Decreto

Na sequecircncia como era de se esperar natildeo tendo verificado situaccedilatildeo de nulidade na lavratura dos autos de infraccedilatildeo o julgador deixou a alegaccedilatildeo da impugnante da falsa premissa na autuaccedilatildeo de que natildeo seria o caso de perdatildeo de diacutevida para a anaacutelise na parte do meacuterito nos seguintes termos

() Por fim eacute de se mencionar conforme se verifica a seguir na anaacutelise do meacuterito que a fiscalizaccedilatildeo fundamentou os autos de infraccedilatildeo na realidade faacutetica natildeo tendo sido realizada portanto a adoccedilatildeo de falsa premissa

Fl 2370DF CARF MF

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Afastashyse dessa forma a preliminar de nulidade levantada [grifei] ()

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

Em breve resumo podemos assim descrever as negociaccedilotildees efetuadas pela contribuinte Siacutelvio Santos Participaccedilotildees (SSP) que redundaram na conclusatildeo da fiscalizaccedilatildeo de que houve um perdatildeo parcial da diacutevida entre a contribuinte e o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no montante de R$ 335 bilhotildees (= R$ 38 bilhotildees shy R$ 450 milhotildees)

a) a contribuinte contraiu duas diacutevidas com o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor total de R$ 38 bilhotildees o qual foi repassado diretamente ao Banco Panamericano

b) a contribuinte e sua controlada BF venderam a totalidade das accedilotildees que detinham do Banco Panamericano ao BTG Pactual o qual em contrapartida lhes pagou o valor de R$450 milhotildees em creacuteditos a receber

c) a contribuinte e a BF celebraram o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento com o FGC por meio do qual esse uacuteltimo aceitou o creacutedito no valor de R$ 450 milhotildees em creacuteditos a receber como daccedilatildeo em pagamento pela diacutevida de R$ 38 bilhotildees

Conforme explica Venosa1 a remissatildeo2 eacute o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento Ressalva o autor que apesar da remissatildeo ser uma espeacutecie de renuacutencia com ela natildeo se confunde pois embora possa ser um ato unilateral natildeo prescinde da concordacircncia do devedor Prossegue Venosa esclarecendo que nada impede que a remissatildeo tome a forma bilateral de um contrato mas natildeo eacute sua essecircncia Essencial eacute a aquiescecircncia do devedor ainda que presumida ou taacutecita

No caso concreto natildeo pairam duacutevidas do ato de vontade do FGC de liberar a contribuinte parcialmente do pagamento da diacutevida e da concordacircncia desta uacuteltima no ato A contribuinte e a BF cederam os seus creacuteditos ao FGC em valor correspondente somente a parte da diacutevida e o FGC os aceitou como quitaccedilatildeo integral das diacutevidas da contribuinte restando caracterizada remissatildeo parcial da diacutevida da contribuinte conforme consta na Consolidaccedilatildeo do Instrumento de Daccedilatildeo em Pagamento (fls 414421)

1 VENOSA Siacutelvio de Salvo Direito Civil teoria geral das obrigaccedilotildees e teoria geral dos contratos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2004 p 335 2 Coacutedigo Civil Da Remissatildeo das Diacutevidas Art 385 A remissatildeo da diacutevida aceita pelo devedor extingue a obrigaccedilatildeo mas sem prejuiacutezo de terceiro Art 386 A devoluccedilatildeo voluntaacuteria do tiacutetulo da obrigaccedilatildeo quando por escrito particular prova desoneraccedilatildeo do devedor e seus coshyobrigados se o credor for capaz de alienar e o devedor capaz de adquirir Art 387 A restituiccedilatildeo voluntaacuteria do objeto empenhado prova a renuacutencia do credor agrave garantia real natildeo a extinccedilatildeo da diacutevida Art 388 A remissatildeo concedida a um dos coshydevedores extingue a diacutevida na parte a ele correspondente de modo que ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros jaacute lhes natildeo pode cobrar o deacutebito sem deduccedilatildeo da parte remitida

Fl 2371DF CARF MF

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Alega a recorrente que contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor No entanto acredita que esse resultado escritural positivo natildeo representaria ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional por ela praticada de forma que natildeo estariam sujeitos agrave incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais

Natildeo assiste razatildeo agrave recorrente A baixa parcial das suas diacutevidas sem o correspondente pagamento no montante de R$ 335 bilhotildees constitui uma receita originada da extinccedilatildeo de um passivo (obrigaccedilatildeo) sem o desaparecimento concomitante de um ativo de igual ou superior valor constituindo sim um acreacutescimo patrimonial

Para a Equipe de Professores da FEAUSP3 a receita pode ser assim definida

()

Entendeshyse por Receita a entrada de elementos para o ativo sob forma de dinheiro ou direitos a receber correspondentes normalmente agrave venda de mercadorias de produtos ou agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Uma receita tambeacutem pode derivar de juros sobre depoacutesitos bancaacuterios ou tiacutetulos de alugueacuteis e outras origens

Agraves vezes a Receita ocorre em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de um passivo [negritei]

()

Conforme jaacute dispunha4 a Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no seu art 9ordm sect3ordm II sect 3ordm As receitas consideramshyse realizadas () II ndash quando da extinccedilatildeo parcial ou total de um passivo qualquer que seja o motivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior ()

Posteriormente mediante a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 8 de dezembro de 2011 assim se pronunciou o Conselho Federal de Contabilidade nos paraacutegrafos 425 e 447 inclusive mencionando o perdatildeo de diacutevidas como um exemplo de uma receita

()

3 IUDIacuteCIBUS Seacutergio (coord) Contabilidade Introdutoacuteria 11 ed Satildeo Paulo Atlas 2010 p 65 4 Antes de sua alteraccedilatildeo pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 1282 de 28 de maio de 2010

Fl 2372DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 8

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425Os elementos de receitas e despesas satildeo definidos como segue (a) receitas satildeo aumentos nos benefiacutecios econocircmicos durante o periacuteodo contaacutebil sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuiccedilatildeo de passivos que resultam em aumentos do patrimocircnio liacutequido e que natildeo estejam relacionados com a contribuiccedilatildeo dos detentores dos instrumentos patrimoniais () Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga) [negritei]

O Regulamento do Imposto de Renda assim se pronuncia sobre as receitas e despesas financeiras

Subseccedilatildeo I Receitas e Despesas Financeiras Receitas Art 373 Os juros o desconto o lucro na operaccedilatildeo de reporte e os rendimentos de aplicaccedilotildees financeiras de renda fixa ganhos pelo contribuinte seratildeo incluiacutedos no lucro operacional e quando derivados de operaccedilotildees ou tiacutetulos com vencimento posterior ao encerramento do periacuteodo de apuraccedilatildeo poderatildeo ser rateados pelos periacuteodos a que competirem (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 e Lei nordm 8981 de 1995 art 76 sect2ordm e Lei nordm 9249 de 1995 art 11 sect3ordm) Despesas Art 374 Os juros pagos ou incorridos pelo contribuinte satildeo dedutiacuteveis como custo ou despesa operacional observadas as seguintes normas (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 paraacutegrafo uacutenico) Ishy os juros pagos antecipadamente os descontos de tiacutetulos de creacutedito e o desaacutegio concedido na colocaccedilatildeo de debecircntures ou tiacutetulos de creacutedito deveratildeo ser apropriados pro rata temporis nos periacuteodos de apuraccedilatildeo a que competirem II shy os juros de empreacutestimos contraiacutedos para financiar a aquisiccedilatildeo ou construccedilatildeo de bens do ativo permanente incorridos durante as fases de construccedilatildeo e preacuteshyoperacional podem ser registrados no ativo diferido para serem amortizados ()

Na ausecircncia da completa definiccedilatildeo na legislaccedilatildeo sobre o que seriam receitas e despesas financeiras depreendeshyse do dispositivo acima que as receitas e despesas financeiras

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satildeo decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros de forma que poderiam ser conceituadas como receitas pela aplicaccedilatildeo de recursos pecuniaacuterios proacuteprios ou despesas pela utilizaccedilatildeo de recursos de terceiros

Como explicado na Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit de 31 de agosto de 2007 entendem Silveacuterio das Neves e Paulo Viceconti que os descontos financeiros satildeo aqueles ligados ou condicionados ao pagamento ou recebimento de tiacutetulos por antecipaccedilatildeo ldquosatildeo os descontos obtidos na liquidaccedilatildeo antecipada de obrigaccedilotildeesrdquo Ademais prescrevem esses autores que a conta ldquoDescontos Financeiros Obtidosrdquo (Receita Financeira) deveraacute ser encerrada a creacutedito de resultado do exerciacuteciordquo Por sua vez entendem ainda que os descontos incondicionais satildeo ldquoparcelas redutoras dos preccedilos de compra e venda constantes da nota fiscal ou da fatura de serviccedilo e natildeo dependentes de evento posterior agrave emissatildeo desses documentosrdquo (NEVES Silveacuterio das VICECONTI Paulo Eduardo Vilchez Contabilidade baacutesica 12 ed rev e atual Satildeo Paulo Frase Editora 2004 pp 115shy116)

Nessa esteira concluishyse com os fundamentos utilizados nessa Soluccedilatildeo de Consulta abaixo transcritos que o perdatildeo de diacutevida natildeo pode ser considerado como um desconto financeiro mas uma espeacutecie de desconto incondicional natildeo considerado como uma receita financeira

()

1188 In casu natildeo houve desconto por pagamento antecipado nem precircmio por resgate de tiacutetulo ou seja nenhum confronto entre aspectos financeiramente favoraacuteveis e desfavoraacuteveis mas sim um simples perdatildeo de diacutevida (ato liberatoacuterio) pela credora em favor da devedora (consulente) que se coaduna com o desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado como ldquoreceita financeirardquo Logo a presente insubsistecircncia ativa (do passivo) natildeo haacute de ser tratada como uma ldquoReceita Financeirardquo mas como ldquoReceita shy Outros Resultados Operacionaisrdquo o que leva ao entendimento que a remissatildeo de diacutevida eacute fato imponiacutevel da Cofins e do PIS

1189 O desconto tem natureza de receita financeira quando haacute novaccedilatildeo em virtude de uma contraposiccedilatildeo de fatores favoraacuteveis e desfavoraacuteveis (pagamento antecipado que gera uma reduccedilatildeo de juros ndash recebimento em funccedilatildeo do tempo de recebimento do creacutedito) o que eacute diferente do caso em tela que retrata uma remissatildeo da diacutevida (ato liberatoacuterio da credora em favor da devedora) pela qual houve um abandono do proacuteprio capital (principal)

11810 Depreendeshyse portanto que o valor relativo agraves diacutevidas perdoadas seja parcial ou integral constitui receita para o devedor Para que as receitas sejam consideradas como ldquofinanceirasrdquo haacute de haver como caracteriacutestica um ganho em razatildeo da disponibilidade de recursos para terceiros em funccedilatildeo de certo periacuteodo de tempo Sendo assim o perdatildeo da diacutevida ou sua reduccedilatildeo seja mediante renegociaccedilatildeo ou novaccedilatildeo natildeo constitui receita financeira Eacute irrelevante para caracterizar a receita tratarshyse de perdatildeo do principal ou da multa e juros Portanto o perdatildeo de multa e juros tambeacutem natildeo constitui receita financeira pois como acessoacuterios acompanham a natureza do principal

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12 Do exposto concluishyse que o perdatildeo de diacutevida pela credora eacute um ato juriacutedico que faz acrescer o patrimocircnio da devedora de modo que revela capacidade contributiva (objetiva) que por caracterizar uma receita operacional (diversa da receita financeira) implica receita tributaacutevel pela Cofins e pelo PIS com a aliacutequota superior a zero (diversamente do que trata o art 1ordm do Decreto nordm 5442 de 09052005 cc o sect2ordm do art 27 da Lei nordm 10865 de 30042004)

()

Sustenta a recorrente sem razatildeo que no caso concreto estarshyseshyia diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida sendo que os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estariam compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

Como bem argumentado na decisatildeo recorrida os abatimentos obtidos pela interessada para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras eis que

Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter receita por meio de empreacutestimos ou seja a empresa magicamente teria emprestado dinheiro do FGC para cobrir as inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil e ainda assim ao realizar a quitaccedilatildeo desses empreacutestimos teria obtido receitas de origem financeira

Vejashyse tambeacutem que a tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo No presente caso ao se aceitar a tese da interessada teriacuteamos a situaccedilatildeo iloacutegica pela qual a empresa emissora dos debecircntures (SSP) obteria receita financeira com a baixa dos tiacutetulos e a debenturista (FGC que tomou os debecircntures em garantia aos valores emprestados) teria que reconhecer uma despesa financeira

Ademais valores que foram emprestados pelo FGC para a contribuinte tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios natildeo podendo ter havido assim o abatimento de juros por pagamento antecipado Aleacutem do que os instrumentos legais (ldquoContrato de Muacutetuordquo ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avencasrdquo e o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento) foram todos assinados na mesma data em 31012011

Assim o perdatildeo parcial da diacutevida da contribuinte constitui uma receita decorrente de um acreacutescimo patrimonial para o devedor que natildeo pode ser qualificada como uma receita financeira vez que natildeo decorre de ganho em face da disponibilizaccedilatildeo de recursos

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para terceiros em certo periacuteodo de tempo O perdatildeo de uma diacutevida representa uma receita de natureza natildeo financeira cuja consequecircncia eacute o nascimento da capacidade contributiva para o PISPasep e a Cofins

Nesse sentido a Cosit shy CoordenaccedilatildeoshyGeral de Tributaccedilatildeo jaacute manifestou entendimento de que a remissatildeo de diacutevida representa uma receita operacional tributaacutevel pelo IRPJ CSLL PISPasep e Cofins

SOLUCcedilAtildeO DE CONSULTA Nordm 17 DE 27 DE ABRIL DE 2010

ASSUNTO Normas Gerais de Direito Tributaacuterio

EMENTA REMISSAtildeO DE DIacuteVIDA INCIDEcircNCIA DE IRPJ CSLL PISPASEP E COFINS

A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

DISPOSITIVOS LEGAIS art9ordm sect 3ordm II da Resoluccedilatildeo CFC No shy 750 de 1993 PARECER CTCFC N o shy 11 de 2004 art187 da Lei N o shy 6404 de 1976 arts 373 e 374 do RIR de 1999 art3ordm da Lei N o shy 9718 de 1998 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 10833 de 2003 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 106372002 art53 da Lei N o shy 9430 de 1996 arts 2ordm e 3ordm do Ato Declaratoacuterio Interpretativo SRF N o 25 de 2003 art 111 II do CTN

A questatildeo do perdatildeo de diacutevida jaacute foi apreciada no acircmbito do IRPJ pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuintes (1ordm CC) na 1ordf Cacircmara mediante o Acoacuterdatildeo 10197057 de 16122008 Relatora Sandra Maria Faroni com a seguinte ementa PERDAtildeO DE DIacuteVIDA TRIBUTACcedilAtildeO Constitui receita tributaacutevel o valor correspondente ao perdatildeo de diacutevida concedido agrave empresa

Tambeacutem a 1ordf Turma da 4ordf Cacircmara da 1ordf Seccedilatildeo do CARF manifestoushyse no mesmo sentido sobre o perdatildeo de juros de mora classificandoshyo como outras receitas operacionais tributaacuteveis pelo IRPJ CSLL e PISCofins conforme ementa abaixo

Processo nordm 102450037842008shy74 Acoacuterdatildeo nordm 1401001113ndash 4ordf Cacircmara 1ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 11 de fevereiro de 2014 Relator Antonio Bezerra Neto Ementa ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Anoshycalendaacuterio 2004 2005 2006 2007 PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como outras receitas operacionais

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

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DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

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V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

()

sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

()

Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

Fl 2380DF CARF MF

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

Fl 2388DF CARF MF

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 6: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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receita por meio de empreacutestimos A tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo

shy No tocante agrave argumentaccedilatildeo de que a receita obtida deve ser caracterizada como receita financeira porque houve a quitaccedilatildeo antecipada das diacutevidas eacute de se destacar dois pontos cruciais a) os valores que foram emprestados pela FGC para a interessada tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios assim natildeo houve abatimento de juros por pagamento antecipado simplesmente por que natildeo haviam juros a pagar e b) a forma como o problema do Banco Panamericano foi resolvido deixa muito claro que o abatimento das diacutevidas (debecircntures e muacutetuo) foi concedido na operaccedilatildeo conjunta (contrato de muacutetuovenda das accedilotildeesdaccedilatildeo em pagamento) com a aprovaccedilatildeo e recursos oriundos do FGC para evitar a insolvecircncia do Banco Panamericano natildeo podendo se admitir a tese da interessada de que a reduccedilatildeo nos valores das diacutevidas trataramshyse de descontos financeiros mesmo porque natildeo houve qualquer lapso temporal entre a data de obtenccedilatildeo do empreacutestimo e a data de sua liquidaccedilatildeo tendo em vista os instrumentos de concessatildeo (ldquoContrato de Muacutetuordquo) e quitaccedilatildeo (ldquoInstrumento de Daccedilatildeo em Pagamentordquo) terem sido assinados na mesma data

shy O perdatildeo de diacutevidas natildeo pode ser considerado como receita financeira uma vez que natildeo decorre da aplicaccedilatildeo de recursos da empresa Com efeito o pagamento de obrigaccedilotildees (diacutevidas) constitui destinaccedilatildeo mas natildeo aplicaccedilatildeo dos recursos financeiros no sentido aqui utilizado O adimplemento de diacutevidas natildeo eacute objeto de remuneraccedilatildeo (obtenccedilatildeo de juros) eis que nesse caso natildeo haacute disponibilizaccedilatildeo de recursos proacuteprios para terceiros Assim temshyse que o abandono de parte ou da integralidade de diacutevida por parte do credor constitui para o devedor uma receita insubsistecircncia ativa que dado seu caraacuteter natildeo usual deve ser registrada como item extraordinaacuterio

shy Ora como se verifica o FGC aceitou e financiou a operaccedilatildeo conjunta anteriormente mencionada (contrato de muacutetuovenda das accedilotildeesdaccedilatildeo em pagamento) assumindo de forma indireta o saneamento do Banco Panamericano e sabendo de antematildeo que somente iria receber o valor injetado na operaccedilatildeo sem qualquer correccedilatildeo monetaacuteria ou juros em 28 de julho de 2028 denotandoshyse muito claramente o perdatildeo da maior parte das diacutevidas da contribuinte junto ao FGC (R$ 3350000000 = R$ 3800000000shy R$ 450000000) Nesse sentido mostrashyse falaciosa a afirmaccedilatildeo da interessada de que o FGC deveraacute recuperar todo o valor emprestado Eacute evidente que o dinheiro a ser recebido do Banco Pactual natildeo cobriraacute todo o valor colocado na operaccedilatildeo e que o prejuiacutezo decorrente das inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil foram suportados em boa parte pelo FGC pois como visto o valor de ateacute R$ 38 bilhotildees somente seraacute recuperado sem qualquer correccedilatildeo monetaacuteria ou juros apoacutes 17 (dezessete) anos

A contribuinte foi regularmente cientificada da decisatildeo de primeira instacircncia em 17032016 pela via postal e apresentou recurso voluntaacuterio em 15042016 alegando em siacutentese que

III NULIDADES DOS AUTOS DE INFRACcedilAtildeO E DO V ACOacuteRDAtildeO RECORRIDO

(i) A Nulidade dos Autos de Infraccedilatildeo shy Falta de fundamentaccedilatildeo para desconsideraccedilatildeo de atos juriacutedicos praticados

shy Conforme se verifica pela leitura do Contrato de Pagamento a operaccedilatildeo realizada entre a Requerente e o FGC natildeo envolveu nenhuma oferta de remissatildeoperdatildeo de diacutevida por parte do FGC e tampouco ocorreu qualquer aceite por parte da Requerente com relaccedilatildeo ao perdatildeo de diacutevidas Em outras palavras o ato formal de remissatildeoperdatildeo de diacutevidas jamais ocorreu posto que natildeo foi pactuado entre as partes Assim tendo em vista que a principal premissa utilizada pela D Fiscalizaccedilatildeo na fundamentaccedilatildeo dos Autos de Infraccedilatildeo estaacute equivocada temshyse por demonstrada a NULIDADE que acomete os Autos de Infraccedilatildeo

Fl 2366DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 5

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(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

shy A DRJCTA efetivamente se esquiva de analisar abordar e debater o ponto trazido pela Requerente em sua Impugnaccedilatildeo qual seja se os documentos celebrados indicam a ocorrecircncia de um perdatildeo de diacutevidas como alega a D Fiscalizaccedilatildeo no TVF ou um desconto financeiro como alega a proacutepria Requerente Isso eacute causa de evidente nulidade da decisatildeo consubstanciada no v Acoacuterdatildeo recorrido conforme se verifica do artigo 31 e 59 do Decreto ndeg 7023572 bem como dos precedentes do CARF que analisaram tal dispositivo

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

A Ausecircncia de acreacutescimo patrimonial shy Impossibilidade de exigecircncia do PIS e COFINS sobre mera reduccedilatildeo de dispecircndios

shy Em primeiro lugar a Requerente destaca que natildeo auferiu qualquer acreacutescimo patrimonial efetivo em razatildeo do Contrato de Pagamento ou quitaccedilatildeo antecipada das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo natildeo sendo correto afirmar como faz a D Fiscalizaccedilatildeo e a DRJCTA que tais negoacutecios juriacutedicos ensejaram a ocorrecircncia do fato gerador do PIS e da COFINS

shy A Requerente apenas contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor (FGC shy fl 3 do TVF)

shy Muito embora numa anaacutelise meramente contaacutebil a Requerente tenha auferido um resultado escritural positivo em decorrecircncia da diminuiccedilatildeo do passivo natildeo se verifica como quer fazer crer as DD Fiscalizaccedilatildeo e DRJCTA qualquer auferimento de receita pelo simples fato que esse resultado escritural positivo simplesmente natildeo representa ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional praticada pela Requerente (ie compra venda investimentos etc)

B Ainda que tenha havido um perdatildeo parcial dos passivos natildeo haacute valores a recolher de PIS e COFINS

shy As reduccedilotildees de dispecircndios por meio de perdatildeo de diacutevidas natildeo configuram receitas propriamente ditas e por conseguinte natildeo ensejam a ocorrecircncia do fato gerador do PIS e da COFINS Assim caso se considere que o montante relativo agrave baixa de passivos realizada no contexto narrado acima seja juridicamente reconhecido como um ganho natildeo se trata de uma receita para fins de incidecircncia do PIS e da COFINS

C Se eacute que houve receita essa receita possui natureza financeira

shy Ainda que por hipoacutetese se possa falar em receita tal rendimento auferido quando da daccedilatildeo em pagamento possui natureza de receita financeira e portanto estaacute sujeita agrave aliacutequota zero do PIS e da COFINS

shy Isso porque o que ocorreu no caso em questatildeo foi um pagamento antecipado dos passivos incorridos junto ao FGC (que soacute teriam vencimento em 05112020 e 30112020 respectivamente) por meio da daccedilatildeo em pagamento do Creacutedito BTG Por conseguinte foi concedido pelo FGC um DESCONTO FINANCEIRO agrave Requerente em virtude do referido pagamento antecipado dessas diacutevidas

shy A proacutepria DRJCTA ao tecer longas consideraccedilotildees acerca da suposta inexistecircncia de definiccedilatildeo legal para o conceito juriacutedico de receitas financeiras (fl 2243) acabou por reconheceu

Fl 2367DF CARF MF

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que (i)o RIR99 conceitua o desconto como uma das hipoacuteteses que podem ensejar o reconhecimento de receitas financeiras (ii)descontos obtidos no pagamento antecipado e precircmios de resgatede tiacutetulos e debecircntures ensejam a verificaccedilatildeo de receitas financeiras (fl2245) e (iii) as receitas financeiras satildeo sempre decorrentes da aplicaccedilatildeo recursos pecuniaacuterios ou originadas com relaccedilatildeo aos mesmos (fl 2245) Ora se todas essas premissas satildeo aceitas como verdadeiras pela D DRJCTA simplesmente natildeo eacute possiacutevel afirmar a partir delas que a receita supostamente auferida pela Requerente natildeo teria natureza financeira Com isso a conclusatildeo da DRJCTA eacute contraditoacuteria com as premissas adotadas como razatildeo de decidir pela proacutepria decisatildeo

shy E natildeo soacute isso A referida conclusatildeo estaacute dissociada dos fatos amplamente comprovados nos presentes autos Isso porque conforme amplamente documentado nos autos em uma operaccedilatildeo realizada nos termos determinados pelo BACEN o credor (FGC) da Requerente aceitou receber menos do que lhe seria devido e conferiu quitaccedilatildeo total ante tal pagamento tendo em vista que seria realizado o pagamento antecipado da diacutevida (que de outra forma soacute venceria em 2020) Assim estamos diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida E os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estatildeo compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

shy Aleacutem disso natildeo se pode perder de vista ainda que o FGC deveraacute recuperar todo o valor inicial de principal que entregou agrave Requerente quando da subscriccedilatildeo das Debecircntures e da assinatura do Contrato de Muacutetuo Diferentemente do afirmado pelo V Acoacuterdatildeo no sentido de que o dinheiro a ser recebido do Banco Pactuai natildeo cobriraacute todo o valor colocado na operaccedilatildeo o valor de face de R$ 450 milhotildees do Creacutedito BTG estaacute sujeito agrave incidecircncia de juros de 110 da taxa DI e deveraacute ser liquidado em 2020 por no miacutenimo os mesmos R$ 38 bilhotildees que foram originalmente disponibilizados agrave Requerente

shy Temshyse portanto que admitindoshyse que as operaccedilotildees descritas no Contrato de Pagamento ensejem o reconhecimento de uma receita essa receita decorreria de desconto concedido quando da quitaccedilatildeo antecipada dos passivos a qual possui clara natureza juriacutedica receita financeira e como tal estaacute sujeita ao PIS e a COFINS agrave aliacutequota zero nos termos do artigo Io do Decreto ndeg 544205

shy Ainda que se admita que no presente caso teria havido um perdatildeo de diacutevida E que esse perdatildeo tenha gerado uma receita a Requerente destaca que esse suposto perdatildeo remonta a uma diacutevida de natureza claramente financeira (ie obrigaccedilatildeo de pagar com relaccedilatildeo aos instrumentos financeiros Debecircntures e Contrato de Muacutetuo) Pelo princiacutepio segundo o qual o acessoacuterio segue o principal natildeo poderia o perdatildeo de uma diacutevida dessa natureza resultar no auferimento de receita de natureza diversa como equivocadamente indicado no V Acoacuterdatildeo recorrido O suposto perdatildeo de diacutevida concedido pelo FGC se operou com relaccedilatildeo a passivos de natureza evidentemente financeira que foram contraiacutedos pela Requerente junto a uma entidade claramente inserida no contexto do Sistema Financeiro Nacional (ie FGC) e em razatildeo de uma operaccedilatildeo financeira que resultou na reduccedilatildeo do montante de principal desse mesmo passivo financeiro

shy Imaginandoshyse uma situaccedilatildeo em que fosse possiacutevel descaracterizar todos os atos e negoacutecios juriacutedicos realizados para se tentar encontrar uma explicaccedilatildeo para a situaccedilatildeo analisada tershyseshyia o seguinte a controladora de um banco que apoacutes a verificaccedilatildeo em problemas na administraccedilatildeo do negoacutecio se vecirc obrigada para o resgate da instituiccedilatildeo a tomar uma seacuterie de atos juriacutedicos legiacutetimos com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico mas cujo resultado praacutetico culminou na alienaccedilatildeo da sua participaccedilatildeo societaacuteria na instituiccedilatildeo financeira

V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

shy Caso seja mantida a exigecircncia consubstanciada nos Autos de Infraccedilatildeo o que se admite apenas para argumentar a Requerente requer entatildeo que a exigecircncia dos juros seja limitada uacutenica e exclusivamente aos valores de principal excluindoshyse tal exigecircncia com relaccedilatildeo agrave multa de ofiacutecio acaso natildeo cancelada ante a sua evidente abusividade

Fl 2368DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 6

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A Uniatildeo por meio da PFN apresentou suas contrarrazotildees ao recurso voluntaacuterio aduzindo em siacutentese que

2 DO DIREITO

21 Da receita operacional

shy Eacute indene de duacutevidas que a daccedilatildeo em pagamento do creacutedito de R$ 450 milhotildees da interessada junto ao Banco BTG Pactual para quitaccedilatildeo das diacutevidas no valor total de R$ 38 bilhotildees com o FGC representa um auferimento de receita Vejashyse o que diz a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 2011 Por outro lado vejashyse o conceito contaacutebil de receita delineado na revogada Resoluccedilatildeo CFC nordm 1121 de 2008

shy De acordo com as regras contaacutebeis a receita relativa ao ganho auferido com a remissatildeo de diacutevidas considerashyse realizada quando da extinccedilatildeo do correspondente passivo Nesse sentido dispotildee a Resoluccedilatildeo do CFC nordm 750 de 1993 Dispotildee a Resoluccedilatildeo CFC nordm 77494 que () Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes ()

shy Portanto natildeo haacute duacutevidas que que a diminuiccedilatildeo do passivo resultante da liquidaccedilatildeo dos passivos (debecircntures e muacutetuo) deve ser reconhecida pela empresa como uma receita

shy Segundo a sistemaacutetica natildeo cumulativa as contribuiccedilotildees incidem sobre o faturamento mensal assim entendido como a totalidade das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

22 Da natureza juriacutedica da receita

shy Ao se analisar os fatos decorrentes dos autos chegashyse agrave conclusatildeo oacutebvia que o abatimento do capital obtido pela contribuinte com a daccedilatildeo em pagamento jamais poderia ser classificado como receita financeira O que houve no caso foi uma remissatildeo de diacutevidas que natildeo pode ser considerado receita financeira

shy O pagamento de obrigaccedilotildees (diacutevidas) constitui destinaccedilatildeo mas natildeo aplicaccedilatildeo dos recursos financeiros no sentido aqui utilizado O adimplemento de diacutevidas natildeo eacute objeto de remuneraccedilatildeo (obtenccedilatildeo de juros) eis que nesse caso natildeo haacute disponibilizaccedilatildeo de recursos proacuteprios para terceiros Assim temshyse que o abandono de parte ou da integralidade de diacutevida por parte do credor constitui para o devedor uma receita insubsistecircncia ativa que dado seu caraacuteter natildeo usual deve ser registrada como item extraordinaacuterio

shy Tratandoshyse pois de remissatildeo (seja total ou parcial) mesmo sendo um ato bilateral vecircshyse que sua natureza assemelhashyse a um desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado nem como despesa financeira (pelo vendedorcredora) ou como receita financeira (pelo compradordevedor) Da mesma forma um desconto incondicional pode ser aceito ou natildeo pelo comprador mas continua a ser um ato liberatoacuterio de vendedor que natildeo implica a caracterizaccedilatildeo de ldquoresultado financeirordquo Portanto natildeo assiste razatildeo agrave contribuinte pois a remissatildeo parcial dos passivos foi sim um ato liberatoacuterio do credor em favor da devedora

23 Dos juros sobre a multa

Fl 2369DF CARF MF

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shy O proacuteprio art 161 do CTN manda incidir juros de mora sobre o creacutedito tributaacuterio ou seja sobre o principal e a penalidade pecuniaacuteria natildeo havendo nenhuma disposiccedilatildeo legal que diga o contraacuterio

Eacute o relatoacuterio

Voto Vencido

Conselheira MARIA APARECIDA MARTINS DE PAULA Relatora

Atendidos aos requisitos de admissibilidade tomashyse conhecimento do recurso voluntaacuterio

III NULIDADES DOS AUTOS DE INFRACcedilAtildeO E DO V ACOacuteRDAtildeO RECORRIDO

(i) A Nulidade dos Autos de Infraccedilatildeo shy Falta de fundamentaccedilatildeo para desconsideraccedilatildeo de atos juriacutedicos praticados

Suscita a recorrente a nulidade dos autos de infraccedilatildeo tendo em vista que natildeo teria ocorrido o perdatildeo de diacutevidas alegado pela fiscalizaccedilatildeo como premissa da autuaccedilatildeo

Ocorre que natildeo obstante natildeo existisse nenhum documento ou contrato mencionando literalmente os termos remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida a fiscalizaccedilatildeo motivadamente qualificou juridicamente os fatos descritos nos documentos da contribuinte como um verdadeiro perdatildeo de diacutevidas natildeo havendo nisso qualquer nulidade mas a legiacutetima interpretaccedilatildeo dos negoacutecios da contribuinte em conformidade com o disposto no art 112 do Coacutedigo Civil Nas declaraccedilotildees de vontade se atenderaacute mais agrave intenccedilatildeo nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem

No mais a questatildeo de saber de os fatos narrados pela fiscalizaccedilatildeo caracterizaram ou natildeo um perdatildeo de diacutevidas eacute tema a ser discutido no meacuterito

(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

Improcede a alegaccedilatildeo da recorrente de que a Delegacia de Julgamento natildeo teria debatido a nulidade suscitada pela entatildeo impugnante

Conforme se vecirc no iniacutecio do voto da decisatildeo recorrida o julgador sustentou a legitimidade dos autos de infraccedilatildeo eis que estatildeo devidamente motivados e contecircm minudentemente a indicaccedilatildeo dos fatos e dos fundamentos juriacutedicos nos termos da Lei nordm 978499 do art art 10 do Decreto nordm 7023572 sem que representem qualquer situaccedilatildeo de nulidade descrita no art 59 desse Decreto

Na sequecircncia como era de se esperar natildeo tendo verificado situaccedilatildeo de nulidade na lavratura dos autos de infraccedilatildeo o julgador deixou a alegaccedilatildeo da impugnante da falsa premissa na autuaccedilatildeo de que natildeo seria o caso de perdatildeo de diacutevida para a anaacutelise na parte do meacuterito nos seguintes termos

() Por fim eacute de se mencionar conforme se verifica a seguir na anaacutelise do meacuterito que a fiscalizaccedilatildeo fundamentou os autos de infraccedilatildeo na realidade faacutetica natildeo tendo sido realizada portanto a adoccedilatildeo de falsa premissa

Fl 2370DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 7

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Afastashyse dessa forma a preliminar de nulidade levantada [grifei] ()

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

Em breve resumo podemos assim descrever as negociaccedilotildees efetuadas pela contribuinte Siacutelvio Santos Participaccedilotildees (SSP) que redundaram na conclusatildeo da fiscalizaccedilatildeo de que houve um perdatildeo parcial da diacutevida entre a contribuinte e o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no montante de R$ 335 bilhotildees (= R$ 38 bilhotildees shy R$ 450 milhotildees)

a) a contribuinte contraiu duas diacutevidas com o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor total de R$ 38 bilhotildees o qual foi repassado diretamente ao Banco Panamericano

b) a contribuinte e sua controlada BF venderam a totalidade das accedilotildees que detinham do Banco Panamericano ao BTG Pactual o qual em contrapartida lhes pagou o valor de R$450 milhotildees em creacuteditos a receber

c) a contribuinte e a BF celebraram o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento com o FGC por meio do qual esse uacuteltimo aceitou o creacutedito no valor de R$ 450 milhotildees em creacuteditos a receber como daccedilatildeo em pagamento pela diacutevida de R$ 38 bilhotildees

Conforme explica Venosa1 a remissatildeo2 eacute o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento Ressalva o autor que apesar da remissatildeo ser uma espeacutecie de renuacutencia com ela natildeo se confunde pois embora possa ser um ato unilateral natildeo prescinde da concordacircncia do devedor Prossegue Venosa esclarecendo que nada impede que a remissatildeo tome a forma bilateral de um contrato mas natildeo eacute sua essecircncia Essencial eacute a aquiescecircncia do devedor ainda que presumida ou taacutecita

No caso concreto natildeo pairam duacutevidas do ato de vontade do FGC de liberar a contribuinte parcialmente do pagamento da diacutevida e da concordacircncia desta uacuteltima no ato A contribuinte e a BF cederam os seus creacuteditos ao FGC em valor correspondente somente a parte da diacutevida e o FGC os aceitou como quitaccedilatildeo integral das diacutevidas da contribuinte restando caracterizada remissatildeo parcial da diacutevida da contribuinte conforme consta na Consolidaccedilatildeo do Instrumento de Daccedilatildeo em Pagamento (fls 414421)

1 VENOSA Siacutelvio de Salvo Direito Civil teoria geral das obrigaccedilotildees e teoria geral dos contratos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2004 p 335 2 Coacutedigo Civil Da Remissatildeo das Diacutevidas Art 385 A remissatildeo da diacutevida aceita pelo devedor extingue a obrigaccedilatildeo mas sem prejuiacutezo de terceiro Art 386 A devoluccedilatildeo voluntaacuteria do tiacutetulo da obrigaccedilatildeo quando por escrito particular prova desoneraccedilatildeo do devedor e seus coshyobrigados se o credor for capaz de alienar e o devedor capaz de adquirir Art 387 A restituiccedilatildeo voluntaacuteria do objeto empenhado prova a renuacutencia do credor agrave garantia real natildeo a extinccedilatildeo da diacutevida Art 388 A remissatildeo concedida a um dos coshydevedores extingue a diacutevida na parte a ele correspondente de modo que ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros jaacute lhes natildeo pode cobrar o deacutebito sem deduccedilatildeo da parte remitida

Fl 2371DF CARF MF

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Alega a recorrente que contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor No entanto acredita que esse resultado escritural positivo natildeo representaria ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional por ela praticada de forma que natildeo estariam sujeitos agrave incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais

Natildeo assiste razatildeo agrave recorrente A baixa parcial das suas diacutevidas sem o correspondente pagamento no montante de R$ 335 bilhotildees constitui uma receita originada da extinccedilatildeo de um passivo (obrigaccedilatildeo) sem o desaparecimento concomitante de um ativo de igual ou superior valor constituindo sim um acreacutescimo patrimonial

Para a Equipe de Professores da FEAUSP3 a receita pode ser assim definida

()

Entendeshyse por Receita a entrada de elementos para o ativo sob forma de dinheiro ou direitos a receber correspondentes normalmente agrave venda de mercadorias de produtos ou agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Uma receita tambeacutem pode derivar de juros sobre depoacutesitos bancaacuterios ou tiacutetulos de alugueacuteis e outras origens

Agraves vezes a Receita ocorre em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de um passivo [negritei]

()

Conforme jaacute dispunha4 a Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no seu art 9ordm sect3ordm II sect 3ordm As receitas consideramshyse realizadas () II ndash quando da extinccedilatildeo parcial ou total de um passivo qualquer que seja o motivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior ()

Posteriormente mediante a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 8 de dezembro de 2011 assim se pronunciou o Conselho Federal de Contabilidade nos paraacutegrafos 425 e 447 inclusive mencionando o perdatildeo de diacutevidas como um exemplo de uma receita

()

3 IUDIacuteCIBUS Seacutergio (coord) Contabilidade Introdutoacuteria 11 ed Satildeo Paulo Atlas 2010 p 65 4 Antes de sua alteraccedilatildeo pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 1282 de 28 de maio de 2010

Fl 2372DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 8

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425Os elementos de receitas e despesas satildeo definidos como segue (a) receitas satildeo aumentos nos benefiacutecios econocircmicos durante o periacuteodo contaacutebil sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuiccedilatildeo de passivos que resultam em aumentos do patrimocircnio liacutequido e que natildeo estejam relacionados com a contribuiccedilatildeo dos detentores dos instrumentos patrimoniais () Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga) [negritei]

O Regulamento do Imposto de Renda assim se pronuncia sobre as receitas e despesas financeiras

Subseccedilatildeo I Receitas e Despesas Financeiras Receitas Art 373 Os juros o desconto o lucro na operaccedilatildeo de reporte e os rendimentos de aplicaccedilotildees financeiras de renda fixa ganhos pelo contribuinte seratildeo incluiacutedos no lucro operacional e quando derivados de operaccedilotildees ou tiacutetulos com vencimento posterior ao encerramento do periacuteodo de apuraccedilatildeo poderatildeo ser rateados pelos periacuteodos a que competirem (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 e Lei nordm 8981 de 1995 art 76 sect2ordm e Lei nordm 9249 de 1995 art 11 sect3ordm) Despesas Art 374 Os juros pagos ou incorridos pelo contribuinte satildeo dedutiacuteveis como custo ou despesa operacional observadas as seguintes normas (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 paraacutegrafo uacutenico) Ishy os juros pagos antecipadamente os descontos de tiacutetulos de creacutedito e o desaacutegio concedido na colocaccedilatildeo de debecircntures ou tiacutetulos de creacutedito deveratildeo ser apropriados pro rata temporis nos periacuteodos de apuraccedilatildeo a que competirem II shy os juros de empreacutestimos contraiacutedos para financiar a aquisiccedilatildeo ou construccedilatildeo de bens do ativo permanente incorridos durante as fases de construccedilatildeo e preacuteshyoperacional podem ser registrados no ativo diferido para serem amortizados ()

Na ausecircncia da completa definiccedilatildeo na legislaccedilatildeo sobre o que seriam receitas e despesas financeiras depreendeshyse do dispositivo acima que as receitas e despesas financeiras

Fl 2373DF CARF MF

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satildeo decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros de forma que poderiam ser conceituadas como receitas pela aplicaccedilatildeo de recursos pecuniaacuterios proacuteprios ou despesas pela utilizaccedilatildeo de recursos de terceiros

Como explicado na Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit de 31 de agosto de 2007 entendem Silveacuterio das Neves e Paulo Viceconti que os descontos financeiros satildeo aqueles ligados ou condicionados ao pagamento ou recebimento de tiacutetulos por antecipaccedilatildeo ldquosatildeo os descontos obtidos na liquidaccedilatildeo antecipada de obrigaccedilotildeesrdquo Ademais prescrevem esses autores que a conta ldquoDescontos Financeiros Obtidosrdquo (Receita Financeira) deveraacute ser encerrada a creacutedito de resultado do exerciacuteciordquo Por sua vez entendem ainda que os descontos incondicionais satildeo ldquoparcelas redutoras dos preccedilos de compra e venda constantes da nota fiscal ou da fatura de serviccedilo e natildeo dependentes de evento posterior agrave emissatildeo desses documentosrdquo (NEVES Silveacuterio das VICECONTI Paulo Eduardo Vilchez Contabilidade baacutesica 12 ed rev e atual Satildeo Paulo Frase Editora 2004 pp 115shy116)

Nessa esteira concluishyse com os fundamentos utilizados nessa Soluccedilatildeo de Consulta abaixo transcritos que o perdatildeo de diacutevida natildeo pode ser considerado como um desconto financeiro mas uma espeacutecie de desconto incondicional natildeo considerado como uma receita financeira

()

1188 In casu natildeo houve desconto por pagamento antecipado nem precircmio por resgate de tiacutetulo ou seja nenhum confronto entre aspectos financeiramente favoraacuteveis e desfavoraacuteveis mas sim um simples perdatildeo de diacutevida (ato liberatoacuterio) pela credora em favor da devedora (consulente) que se coaduna com o desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado como ldquoreceita financeirardquo Logo a presente insubsistecircncia ativa (do passivo) natildeo haacute de ser tratada como uma ldquoReceita Financeirardquo mas como ldquoReceita shy Outros Resultados Operacionaisrdquo o que leva ao entendimento que a remissatildeo de diacutevida eacute fato imponiacutevel da Cofins e do PIS

1189 O desconto tem natureza de receita financeira quando haacute novaccedilatildeo em virtude de uma contraposiccedilatildeo de fatores favoraacuteveis e desfavoraacuteveis (pagamento antecipado que gera uma reduccedilatildeo de juros ndash recebimento em funccedilatildeo do tempo de recebimento do creacutedito) o que eacute diferente do caso em tela que retrata uma remissatildeo da diacutevida (ato liberatoacuterio da credora em favor da devedora) pela qual houve um abandono do proacuteprio capital (principal)

11810 Depreendeshyse portanto que o valor relativo agraves diacutevidas perdoadas seja parcial ou integral constitui receita para o devedor Para que as receitas sejam consideradas como ldquofinanceirasrdquo haacute de haver como caracteriacutestica um ganho em razatildeo da disponibilidade de recursos para terceiros em funccedilatildeo de certo periacuteodo de tempo Sendo assim o perdatildeo da diacutevida ou sua reduccedilatildeo seja mediante renegociaccedilatildeo ou novaccedilatildeo natildeo constitui receita financeira Eacute irrelevante para caracterizar a receita tratarshyse de perdatildeo do principal ou da multa e juros Portanto o perdatildeo de multa e juros tambeacutem natildeo constitui receita financeira pois como acessoacuterios acompanham a natureza do principal

Fl 2374DF CARF MF

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12 Do exposto concluishyse que o perdatildeo de diacutevida pela credora eacute um ato juriacutedico que faz acrescer o patrimocircnio da devedora de modo que revela capacidade contributiva (objetiva) que por caracterizar uma receita operacional (diversa da receita financeira) implica receita tributaacutevel pela Cofins e pelo PIS com a aliacutequota superior a zero (diversamente do que trata o art 1ordm do Decreto nordm 5442 de 09052005 cc o sect2ordm do art 27 da Lei nordm 10865 de 30042004)

()

Sustenta a recorrente sem razatildeo que no caso concreto estarshyseshyia diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida sendo que os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estariam compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

Como bem argumentado na decisatildeo recorrida os abatimentos obtidos pela interessada para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras eis que

Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter receita por meio de empreacutestimos ou seja a empresa magicamente teria emprestado dinheiro do FGC para cobrir as inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil e ainda assim ao realizar a quitaccedilatildeo desses empreacutestimos teria obtido receitas de origem financeira

Vejashyse tambeacutem que a tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo No presente caso ao se aceitar a tese da interessada teriacuteamos a situaccedilatildeo iloacutegica pela qual a empresa emissora dos debecircntures (SSP) obteria receita financeira com a baixa dos tiacutetulos e a debenturista (FGC que tomou os debecircntures em garantia aos valores emprestados) teria que reconhecer uma despesa financeira

Ademais valores que foram emprestados pelo FGC para a contribuinte tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios natildeo podendo ter havido assim o abatimento de juros por pagamento antecipado Aleacutem do que os instrumentos legais (ldquoContrato de Muacutetuordquo ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avencasrdquo e o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento) foram todos assinados na mesma data em 31012011

Assim o perdatildeo parcial da diacutevida da contribuinte constitui uma receita decorrente de um acreacutescimo patrimonial para o devedor que natildeo pode ser qualificada como uma receita financeira vez que natildeo decorre de ganho em face da disponibilizaccedilatildeo de recursos

Fl 2375DF CARF MF

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para terceiros em certo periacuteodo de tempo O perdatildeo de uma diacutevida representa uma receita de natureza natildeo financeira cuja consequecircncia eacute o nascimento da capacidade contributiva para o PISPasep e a Cofins

Nesse sentido a Cosit shy CoordenaccedilatildeoshyGeral de Tributaccedilatildeo jaacute manifestou entendimento de que a remissatildeo de diacutevida representa uma receita operacional tributaacutevel pelo IRPJ CSLL PISPasep e Cofins

SOLUCcedilAtildeO DE CONSULTA Nordm 17 DE 27 DE ABRIL DE 2010

ASSUNTO Normas Gerais de Direito Tributaacuterio

EMENTA REMISSAtildeO DE DIacuteVIDA INCIDEcircNCIA DE IRPJ CSLL PISPASEP E COFINS

A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

DISPOSITIVOS LEGAIS art9ordm sect 3ordm II da Resoluccedilatildeo CFC No shy 750 de 1993 PARECER CTCFC N o shy 11 de 2004 art187 da Lei N o shy 6404 de 1976 arts 373 e 374 do RIR de 1999 art3ordm da Lei N o shy 9718 de 1998 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 10833 de 2003 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 106372002 art53 da Lei N o shy 9430 de 1996 arts 2ordm e 3ordm do Ato Declaratoacuterio Interpretativo SRF N o 25 de 2003 art 111 II do CTN

A questatildeo do perdatildeo de diacutevida jaacute foi apreciada no acircmbito do IRPJ pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuintes (1ordm CC) na 1ordf Cacircmara mediante o Acoacuterdatildeo 10197057 de 16122008 Relatora Sandra Maria Faroni com a seguinte ementa PERDAtildeO DE DIacuteVIDA TRIBUTACcedilAtildeO Constitui receita tributaacutevel o valor correspondente ao perdatildeo de diacutevida concedido agrave empresa

Tambeacutem a 1ordf Turma da 4ordf Cacircmara da 1ordf Seccedilatildeo do CARF manifestoushyse no mesmo sentido sobre o perdatildeo de juros de mora classificandoshyo como outras receitas operacionais tributaacuteveis pelo IRPJ CSLL e PISCofins conforme ementa abaixo

Processo nordm 102450037842008shy74 Acoacuterdatildeo nordm 1401001113ndash 4ordf Cacircmara 1ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 11 de fevereiro de 2014 Relator Antonio Bezerra Neto Ementa ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Anoshycalendaacuterio 2004 2005 2006 2007 PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como outras receitas operacionais

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

Fl 2377DF CARF MF

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

()

DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

()

V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

()

sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

Fl 2379DF CARF MF

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

()

Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

Fl 2380DF CARF MF

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

Fl 2383DF CARF MF

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

Fl 2391DF CARF MF

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

shy A DRJCTA efetivamente se esquiva de analisar abordar e debater o ponto trazido pela Requerente em sua Impugnaccedilatildeo qual seja se os documentos celebrados indicam a ocorrecircncia de um perdatildeo de diacutevidas como alega a D Fiscalizaccedilatildeo no TVF ou um desconto financeiro como alega a proacutepria Requerente Isso eacute causa de evidente nulidade da decisatildeo consubstanciada no v Acoacuterdatildeo recorrido conforme se verifica do artigo 31 e 59 do Decreto ndeg 7023572 bem como dos precedentes do CARF que analisaram tal dispositivo

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

A Ausecircncia de acreacutescimo patrimonial shy Impossibilidade de exigecircncia do PIS e COFINS sobre mera reduccedilatildeo de dispecircndios

shy Em primeiro lugar a Requerente destaca que natildeo auferiu qualquer acreacutescimo patrimonial efetivo em razatildeo do Contrato de Pagamento ou quitaccedilatildeo antecipada das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo natildeo sendo correto afirmar como faz a D Fiscalizaccedilatildeo e a DRJCTA que tais negoacutecios juriacutedicos ensejaram a ocorrecircncia do fato gerador do PIS e da COFINS

shy A Requerente apenas contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor (FGC shy fl 3 do TVF)

shy Muito embora numa anaacutelise meramente contaacutebil a Requerente tenha auferido um resultado escritural positivo em decorrecircncia da diminuiccedilatildeo do passivo natildeo se verifica como quer fazer crer as DD Fiscalizaccedilatildeo e DRJCTA qualquer auferimento de receita pelo simples fato que esse resultado escritural positivo simplesmente natildeo representa ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional praticada pela Requerente (ie compra venda investimentos etc)

B Ainda que tenha havido um perdatildeo parcial dos passivos natildeo haacute valores a recolher de PIS e COFINS

shy As reduccedilotildees de dispecircndios por meio de perdatildeo de diacutevidas natildeo configuram receitas propriamente ditas e por conseguinte natildeo ensejam a ocorrecircncia do fato gerador do PIS e da COFINS Assim caso se considere que o montante relativo agrave baixa de passivos realizada no contexto narrado acima seja juridicamente reconhecido como um ganho natildeo se trata de uma receita para fins de incidecircncia do PIS e da COFINS

C Se eacute que houve receita essa receita possui natureza financeira

shy Ainda que por hipoacutetese se possa falar em receita tal rendimento auferido quando da daccedilatildeo em pagamento possui natureza de receita financeira e portanto estaacute sujeita agrave aliacutequota zero do PIS e da COFINS

shy Isso porque o que ocorreu no caso em questatildeo foi um pagamento antecipado dos passivos incorridos junto ao FGC (que soacute teriam vencimento em 05112020 e 30112020 respectivamente) por meio da daccedilatildeo em pagamento do Creacutedito BTG Por conseguinte foi concedido pelo FGC um DESCONTO FINANCEIRO agrave Requerente em virtude do referido pagamento antecipado dessas diacutevidas

shy A proacutepria DRJCTA ao tecer longas consideraccedilotildees acerca da suposta inexistecircncia de definiccedilatildeo legal para o conceito juriacutedico de receitas financeiras (fl 2243) acabou por reconheceu

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que (i)o RIR99 conceitua o desconto como uma das hipoacuteteses que podem ensejar o reconhecimento de receitas financeiras (ii)descontos obtidos no pagamento antecipado e precircmios de resgatede tiacutetulos e debecircntures ensejam a verificaccedilatildeo de receitas financeiras (fl2245) e (iii) as receitas financeiras satildeo sempre decorrentes da aplicaccedilatildeo recursos pecuniaacuterios ou originadas com relaccedilatildeo aos mesmos (fl 2245) Ora se todas essas premissas satildeo aceitas como verdadeiras pela D DRJCTA simplesmente natildeo eacute possiacutevel afirmar a partir delas que a receita supostamente auferida pela Requerente natildeo teria natureza financeira Com isso a conclusatildeo da DRJCTA eacute contraditoacuteria com as premissas adotadas como razatildeo de decidir pela proacutepria decisatildeo

shy E natildeo soacute isso A referida conclusatildeo estaacute dissociada dos fatos amplamente comprovados nos presentes autos Isso porque conforme amplamente documentado nos autos em uma operaccedilatildeo realizada nos termos determinados pelo BACEN o credor (FGC) da Requerente aceitou receber menos do que lhe seria devido e conferiu quitaccedilatildeo total ante tal pagamento tendo em vista que seria realizado o pagamento antecipado da diacutevida (que de outra forma soacute venceria em 2020) Assim estamos diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida E os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estatildeo compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

shy Aleacutem disso natildeo se pode perder de vista ainda que o FGC deveraacute recuperar todo o valor inicial de principal que entregou agrave Requerente quando da subscriccedilatildeo das Debecircntures e da assinatura do Contrato de Muacutetuo Diferentemente do afirmado pelo V Acoacuterdatildeo no sentido de que o dinheiro a ser recebido do Banco Pactuai natildeo cobriraacute todo o valor colocado na operaccedilatildeo o valor de face de R$ 450 milhotildees do Creacutedito BTG estaacute sujeito agrave incidecircncia de juros de 110 da taxa DI e deveraacute ser liquidado em 2020 por no miacutenimo os mesmos R$ 38 bilhotildees que foram originalmente disponibilizados agrave Requerente

shy Temshyse portanto que admitindoshyse que as operaccedilotildees descritas no Contrato de Pagamento ensejem o reconhecimento de uma receita essa receita decorreria de desconto concedido quando da quitaccedilatildeo antecipada dos passivos a qual possui clara natureza juriacutedica receita financeira e como tal estaacute sujeita ao PIS e a COFINS agrave aliacutequota zero nos termos do artigo Io do Decreto ndeg 544205

shy Ainda que se admita que no presente caso teria havido um perdatildeo de diacutevida E que esse perdatildeo tenha gerado uma receita a Requerente destaca que esse suposto perdatildeo remonta a uma diacutevida de natureza claramente financeira (ie obrigaccedilatildeo de pagar com relaccedilatildeo aos instrumentos financeiros Debecircntures e Contrato de Muacutetuo) Pelo princiacutepio segundo o qual o acessoacuterio segue o principal natildeo poderia o perdatildeo de uma diacutevida dessa natureza resultar no auferimento de receita de natureza diversa como equivocadamente indicado no V Acoacuterdatildeo recorrido O suposto perdatildeo de diacutevida concedido pelo FGC se operou com relaccedilatildeo a passivos de natureza evidentemente financeira que foram contraiacutedos pela Requerente junto a uma entidade claramente inserida no contexto do Sistema Financeiro Nacional (ie FGC) e em razatildeo de uma operaccedilatildeo financeira que resultou na reduccedilatildeo do montante de principal desse mesmo passivo financeiro

shy Imaginandoshyse uma situaccedilatildeo em que fosse possiacutevel descaracterizar todos os atos e negoacutecios juriacutedicos realizados para se tentar encontrar uma explicaccedilatildeo para a situaccedilatildeo analisada tershyseshyia o seguinte a controladora de um banco que apoacutes a verificaccedilatildeo em problemas na administraccedilatildeo do negoacutecio se vecirc obrigada para o resgate da instituiccedilatildeo a tomar uma seacuterie de atos juriacutedicos legiacutetimos com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico mas cujo resultado praacutetico culminou na alienaccedilatildeo da sua participaccedilatildeo societaacuteria na instituiccedilatildeo financeira

V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

shy Caso seja mantida a exigecircncia consubstanciada nos Autos de Infraccedilatildeo o que se admite apenas para argumentar a Requerente requer entatildeo que a exigecircncia dos juros seja limitada uacutenica e exclusivamente aos valores de principal excluindoshyse tal exigecircncia com relaccedilatildeo agrave multa de ofiacutecio acaso natildeo cancelada ante a sua evidente abusividade

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A Uniatildeo por meio da PFN apresentou suas contrarrazotildees ao recurso voluntaacuterio aduzindo em siacutentese que

2 DO DIREITO

21 Da receita operacional

shy Eacute indene de duacutevidas que a daccedilatildeo em pagamento do creacutedito de R$ 450 milhotildees da interessada junto ao Banco BTG Pactual para quitaccedilatildeo das diacutevidas no valor total de R$ 38 bilhotildees com o FGC representa um auferimento de receita Vejashyse o que diz a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 2011 Por outro lado vejashyse o conceito contaacutebil de receita delineado na revogada Resoluccedilatildeo CFC nordm 1121 de 2008

shy De acordo com as regras contaacutebeis a receita relativa ao ganho auferido com a remissatildeo de diacutevidas considerashyse realizada quando da extinccedilatildeo do correspondente passivo Nesse sentido dispotildee a Resoluccedilatildeo do CFC nordm 750 de 1993 Dispotildee a Resoluccedilatildeo CFC nordm 77494 que () Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes ()

shy Portanto natildeo haacute duacutevidas que que a diminuiccedilatildeo do passivo resultante da liquidaccedilatildeo dos passivos (debecircntures e muacutetuo) deve ser reconhecida pela empresa como uma receita

shy Segundo a sistemaacutetica natildeo cumulativa as contribuiccedilotildees incidem sobre o faturamento mensal assim entendido como a totalidade das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

22 Da natureza juriacutedica da receita

shy Ao se analisar os fatos decorrentes dos autos chegashyse agrave conclusatildeo oacutebvia que o abatimento do capital obtido pela contribuinte com a daccedilatildeo em pagamento jamais poderia ser classificado como receita financeira O que houve no caso foi uma remissatildeo de diacutevidas que natildeo pode ser considerado receita financeira

shy O pagamento de obrigaccedilotildees (diacutevidas) constitui destinaccedilatildeo mas natildeo aplicaccedilatildeo dos recursos financeiros no sentido aqui utilizado O adimplemento de diacutevidas natildeo eacute objeto de remuneraccedilatildeo (obtenccedilatildeo de juros) eis que nesse caso natildeo haacute disponibilizaccedilatildeo de recursos proacuteprios para terceiros Assim temshyse que o abandono de parte ou da integralidade de diacutevida por parte do credor constitui para o devedor uma receita insubsistecircncia ativa que dado seu caraacuteter natildeo usual deve ser registrada como item extraordinaacuterio

shy Tratandoshyse pois de remissatildeo (seja total ou parcial) mesmo sendo um ato bilateral vecircshyse que sua natureza assemelhashyse a um desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado nem como despesa financeira (pelo vendedorcredora) ou como receita financeira (pelo compradordevedor) Da mesma forma um desconto incondicional pode ser aceito ou natildeo pelo comprador mas continua a ser um ato liberatoacuterio de vendedor que natildeo implica a caracterizaccedilatildeo de ldquoresultado financeirordquo Portanto natildeo assiste razatildeo agrave contribuinte pois a remissatildeo parcial dos passivos foi sim um ato liberatoacuterio do credor em favor da devedora

23 Dos juros sobre a multa

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shy O proacuteprio art 161 do CTN manda incidir juros de mora sobre o creacutedito tributaacuterio ou seja sobre o principal e a penalidade pecuniaacuteria natildeo havendo nenhuma disposiccedilatildeo legal que diga o contraacuterio

Eacute o relatoacuterio

Voto Vencido

Conselheira MARIA APARECIDA MARTINS DE PAULA Relatora

Atendidos aos requisitos de admissibilidade tomashyse conhecimento do recurso voluntaacuterio

III NULIDADES DOS AUTOS DE INFRACcedilAtildeO E DO V ACOacuteRDAtildeO RECORRIDO

(i) A Nulidade dos Autos de Infraccedilatildeo shy Falta de fundamentaccedilatildeo para desconsideraccedilatildeo de atos juriacutedicos praticados

Suscita a recorrente a nulidade dos autos de infraccedilatildeo tendo em vista que natildeo teria ocorrido o perdatildeo de diacutevidas alegado pela fiscalizaccedilatildeo como premissa da autuaccedilatildeo

Ocorre que natildeo obstante natildeo existisse nenhum documento ou contrato mencionando literalmente os termos remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida a fiscalizaccedilatildeo motivadamente qualificou juridicamente os fatos descritos nos documentos da contribuinte como um verdadeiro perdatildeo de diacutevidas natildeo havendo nisso qualquer nulidade mas a legiacutetima interpretaccedilatildeo dos negoacutecios da contribuinte em conformidade com o disposto no art 112 do Coacutedigo Civil Nas declaraccedilotildees de vontade se atenderaacute mais agrave intenccedilatildeo nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem

No mais a questatildeo de saber de os fatos narrados pela fiscalizaccedilatildeo caracterizaram ou natildeo um perdatildeo de diacutevidas eacute tema a ser discutido no meacuterito

(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

Improcede a alegaccedilatildeo da recorrente de que a Delegacia de Julgamento natildeo teria debatido a nulidade suscitada pela entatildeo impugnante

Conforme se vecirc no iniacutecio do voto da decisatildeo recorrida o julgador sustentou a legitimidade dos autos de infraccedilatildeo eis que estatildeo devidamente motivados e contecircm minudentemente a indicaccedilatildeo dos fatos e dos fundamentos juriacutedicos nos termos da Lei nordm 978499 do art art 10 do Decreto nordm 7023572 sem que representem qualquer situaccedilatildeo de nulidade descrita no art 59 desse Decreto

Na sequecircncia como era de se esperar natildeo tendo verificado situaccedilatildeo de nulidade na lavratura dos autos de infraccedilatildeo o julgador deixou a alegaccedilatildeo da impugnante da falsa premissa na autuaccedilatildeo de que natildeo seria o caso de perdatildeo de diacutevida para a anaacutelise na parte do meacuterito nos seguintes termos

() Por fim eacute de se mencionar conforme se verifica a seguir na anaacutelise do meacuterito que a fiscalizaccedilatildeo fundamentou os autos de infraccedilatildeo na realidade faacutetica natildeo tendo sido realizada portanto a adoccedilatildeo de falsa premissa

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Afastashyse dessa forma a preliminar de nulidade levantada [grifei] ()

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

Em breve resumo podemos assim descrever as negociaccedilotildees efetuadas pela contribuinte Siacutelvio Santos Participaccedilotildees (SSP) que redundaram na conclusatildeo da fiscalizaccedilatildeo de que houve um perdatildeo parcial da diacutevida entre a contribuinte e o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no montante de R$ 335 bilhotildees (= R$ 38 bilhotildees shy R$ 450 milhotildees)

a) a contribuinte contraiu duas diacutevidas com o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor total de R$ 38 bilhotildees o qual foi repassado diretamente ao Banco Panamericano

b) a contribuinte e sua controlada BF venderam a totalidade das accedilotildees que detinham do Banco Panamericano ao BTG Pactual o qual em contrapartida lhes pagou o valor de R$450 milhotildees em creacuteditos a receber

c) a contribuinte e a BF celebraram o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento com o FGC por meio do qual esse uacuteltimo aceitou o creacutedito no valor de R$ 450 milhotildees em creacuteditos a receber como daccedilatildeo em pagamento pela diacutevida de R$ 38 bilhotildees

Conforme explica Venosa1 a remissatildeo2 eacute o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento Ressalva o autor que apesar da remissatildeo ser uma espeacutecie de renuacutencia com ela natildeo se confunde pois embora possa ser um ato unilateral natildeo prescinde da concordacircncia do devedor Prossegue Venosa esclarecendo que nada impede que a remissatildeo tome a forma bilateral de um contrato mas natildeo eacute sua essecircncia Essencial eacute a aquiescecircncia do devedor ainda que presumida ou taacutecita

No caso concreto natildeo pairam duacutevidas do ato de vontade do FGC de liberar a contribuinte parcialmente do pagamento da diacutevida e da concordacircncia desta uacuteltima no ato A contribuinte e a BF cederam os seus creacuteditos ao FGC em valor correspondente somente a parte da diacutevida e o FGC os aceitou como quitaccedilatildeo integral das diacutevidas da contribuinte restando caracterizada remissatildeo parcial da diacutevida da contribuinte conforme consta na Consolidaccedilatildeo do Instrumento de Daccedilatildeo em Pagamento (fls 414421)

1 VENOSA Siacutelvio de Salvo Direito Civil teoria geral das obrigaccedilotildees e teoria geral dos contratos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2004 p 335 2 Coacutedigo Civil Da Remissatildeo das Diacutevidas Art 385 A remissatildeo da diacutevida aceita pelo devedor extingue a obrigaccedilatildeo mas sem prejuiacutezo de terceiro Art 386 A devoluccedilatildeo voluntaacuteria do tiacutetulo da obrigaccedilatildeo quando por escrito particular prova desoneraccedilatildeo do devedor e seus coshyobrigados se o credor for capaz de alienar e o devedor capaz de adquirir Art 387 A restituiccedilatildeo voluntaacuteria do objeto empenhado prova a renuacutencia do credor agrave garantia real natildeo a extinccedilatildeo da diacutevida Art 388 A remissatildeo concedida a um dos coshydevedores extingue a diacutevida na parte a ele correspondente de modo que ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros jaacute lhes natildeo pode cobrar o deacutebito sem deduccedilatildeo da parte remitida

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Alega a recorrente que contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor No entanto acredita que esse resultado escritural positivo natildeo representaria ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional por ela praticada de forma que natildeo estariam sujeitos agrave incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais

Natildeo assiste razatildeo agrave recorrente A baixa parcial das suas diacutevidas sem o correspondente pagamento no montante de R$ 335 bilhotildees constitui uma receita originada da extinccedilatildeo de um passivo (obrigaccedilatildeo) sem o desaparecimento concomitante de um ativo de igual ou superior valor constituindo sim um acreacutescimo patrimonial

Para a Equipe de Professores da FEAUSP3 a receita pode ser assim definida

()

Entendeshyse por Receita a entrada de elementos para o ativo sob forma de dinheiro ou direitos a receber correspondentes normalmente agrave venda de mercadorias de produtos ou agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Uma receita tambeacutem pode derivar de juros sobre depoacutesitos bancaacuterios ou tiacutetulos de alugueacuteis e outras origens

Agraves vezes a Receita ocorre em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de um passivo [negritei]

()

Conforme jaacute dispunha4 a Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no seu art 9ordm sect3ordm II sect 3ordm As receitas consideramshyse realizadas () II ndash quando da extinccedilatildeo parcial ou total de um passivo qualquer que seja o motivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior ()

Posteriormente mediante a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 8 de dezembro de 2011 assim se pronunciou o Conselho Federal de Contabilidade nos paraacutegrafos 425 e 447 inclusive mencionando o perdatildeo de diacutevidas como um exemplo de uma receita

()

3 IUDIacuteCIBUS Seacutergio (coord) Contabilidade Introdutoacuteria 11 ed Satildeo Paulo Atlas 2010 p 65 4 Antes de sua alteraccedilatildeo pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 1282 de 28 de maio de 2010

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425Os elementos de receitas e despesas satildeo definidos como segue (a) receitas satildeo aumentos nos benefiacutecios econocircmicos durante o periacuteodo contaacutebil sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuiccedilatildeo de passivos que resultam em aumentos do patrimocircnio liacutequido e que natildeo estejam relacionados com a contribuiccedilatildeo dos detentores dos instrumentos patrimoniais () Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga) [negritei]

O Regulamento do Imposto de Renda assim se pronuncia sobre as receitas e despesas financeiras

Subseccedilatildeo I Receitas e Despesas Financeiras Receitas Art 373 Os juros o desconto o lucro na operaccedilatildeo de reporte e os rendimentos de aplicaccedilotildees financeiras de renda fixa ganhos pelo contribuinte seratildeo incluiacutedos no lucro operacional e quando derivados de operaccedilotildees ou tiacutetulos com vencimento posterior ao encerramento do periacuteodo de apuraccedilatildeo poderatildeo ser rateados pelos periacuteodos a que competirem (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 e Lei nordm 8981 de 1995 art 76 sect2ordm e Lei nordm 9249 de 1995 art 11 sect3ordm) Despesas Art 374 Os juros pagos ou incorridos pelo contribuinte satildeo dedutiacuteveis como custo ou despesa operacional observadas as seguintes normas (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 paraacutegrafo uacutenico) Ishy os juros pagos antecipadamente os descontos de tiacutetulos de creacutedito e o desaacutegio concedido na colocaccedilatildeo de debecircntures ou tiacutetulos de creacutedito deveratildeo ser apropriados pro rata temporis nos periacuteodos de apuraccedilatildeo a que competirem II shy os juros de empreacutestimos contraiacutedos para financiar a aquisiccedilatildeo ou construccedilatildeo de bens do ativo permanente incorridos durante as fases de construccedilatildeo e preacuteshyoperacional podem ser registrados no ativo diferido para serem amortizados ()

Na ausecircncia da completa definiccedilatildeo na legislaccedilatildeo sobre o que seriam receitas e despesas financeiras depreendeshyse do dispositivo acima que as receitas e despesas financeiras

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satildeo decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros de forma que poderiam ser conceituadas como receitas pela aplicaccedilatildeo de recursos pecuniaacuterios proacuteprios ou despesas pela utilizaccedilatildeo de recursos de terceiros

Como explicado na Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit de 31 de agosto de 2007 entendem Silveacuterio das Neves e Paulo Viceconti que os descontos financeiros satildeo aqueles ligados ou condicionados ao pagamento ou recebimento de tiacutetulos por antecipaccedilatildeo ldquosatildeo os descontos obtidos na liquidaccedilatildeo antecipada de obrigaccedilotildeesrdquo Ademais prescrevem esses autores que a conta ldquoDescontos Financeiros Obtidosrdquo (Receita Financeira) deveraacute ser encerrada a creacutedito de resultado do exerciacuteciordquo Por sua vez entendem ainda que os descontos incondicionais satildeo ldquoparcelas redutoras dos preccedilos de compra e venda constantes da nota fiscal ou da fatura de serviccedilo e natildeo dependentes de evento posterior agrave emissatildeo desses documentosrdquo (NEVES Silveacuterio das VICECONTI Paulo Eduardo Vilchez Contabilidade baacutesica 12 ed rev e atual Satildeo Paulo Frase Editora 2004 pp 115shy116)

Nessa esteira concluishyse com os fundamentos utilizados nessa Soluccedilatildeo de Consulta abaixo transcritos que o perdatildeo de diacutevida natildeo pode ser considerado como um desconto financeiro mas uma espeacutecie de desconto incondicional natildeo considerado como uma receita financeira

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1188 In casu natildeo houve desconto por pagamento antecipado nem precircmio por resgate de tiacutetulo ou seja nenhum confronto entre aspectos financeiramente favoraacuteveis e desfavoraacuteveis mas sim um simples perdatildeo de diacutevida (ato liberatoacuterio) pela credora em favor da devedora (consulente) que se coaduna com o desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado como ldquoreceita financeirardquo Logo a presente insubsistecircncia ativa (do passivo) natildeo haacute de ser tratada como uma ldquoReceita Financeirardquo mas como ldquoReceita shy Outros Resultados Operacionaisrdquo o que leva ao entendimento que a remissatildeo de diacutevida eacute fato imponiacutevel da Cofins e do PIS

1189 O desconto tem natureza de receita financeira quando haacute novaccedilatildeo em virtude de uma contraposiccedilatildeo de fatores favoraacuteveis e desfavoraacuteveis (pagamento antecipado que gera uma reduccedilatildeo de juros ndash recebimento em funccedilatildeo do tempo de recebimento do creacutedito) o que eacute diferente do caso em tela que retrata uma remissatildeo da diacutevida (ato liberatoacuterio da credora em favor da devedora) pela qual houve um abandono do proacuteprio capital (principal)

11810 Depreendeshyse portanto que o valor relativo agraves diacutevidas perdoadas seja parcial ou integral constitui receita para o devedor Para que as receitas sejam consideradas como ldquofinanceirasrdquo haacute de haver como caracteriacutestica um ganho em razatildeo da disponibilidade de recursos para terceiros em funccedilatildeo de certo periacuteodo de tempo Sendo assim o perdatildeo da diacutevida ou sua reduccedilatildeo seja mediante renegociaccedilatildeo ou novaccedilatildeo natildeo constitui receita financeira Eacute irrelevante para caracterizar a receita tratarshyse de perdatildeo do principal ou da multa e juros Portanto o perdatildeo de multa e juros tambeacutem natildeo constitui receita financeira pois como acessoacuterios acompanham a natureza do principal

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12 Do exposto concluishyse que o perdatildeo de diacutevida pela credora eacute um ato juriacutedico que faz acrescer o patrimocircnio da devedora de modo que revela capacidade contributiva (objetiva) que por caracterizar uma receita operacional (diversa da receita financeira) implica receita tributaacutevel pela Cofins e pelo PIS com a aliacutequota superior a zero (diversamente do que trata o art 1ordm do Decreto nordm 5442 de 09052005 cc o sect2ordm do art 27 da Lei nordm 10865 de 30042004)

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Sustenta a recorrente sem razatildeo que no caso concreto estarshyseshyia diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida sendo que os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estariam compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

Como bem argumentado na decisatildeo recorrida os abatimentos obtidos pela interessada para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras eis que

Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter receita por meio de empreacutestimos ou seja a empresa magicamente teria emprestado dinheiro do FGC para cobrir as inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil e ainda assim ao realizar a quitaccedilatildeo desses empreacutestimos teria obtido receitas de origem financeira

Vejashyse tambeacutem que a tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo No presente caso ao se aceitar a tese da interessada teriacuteamos a situaccedilatildeo iloacutegica pela qual a empresa emissora dos debecircntures (SSP) obteria receita financeira com a baixa dos tiacutetulos e a debenturista (FGC que tomou os debecircntures em garantia aos valores emprestados) teria que reconhecer uma despesa financeira

Ademais valores que foram emprestados pelo FGC para a contribuinte tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios natildeo podendo ter havido assim o abatimento de juros por pagamento antecipado Aleacutem do que os instrumentos legais (ldquoContrato de Muacutetuordquo ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avencasrdquo e o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento) foram todos assinados na mesma data em 31012011

Assim o perdatildeo parcial da diacutevida da contribuinte constitui uma receita decorrente de um acreacutescimo patrimonial para o devedor que natildeo pode ser qualificada como uma receita financeira vez que natildeo decorre de ganho em face da disponibilizaccedilatildeo de recursos

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para terceiros em certo periacuteodo de tempo O perdatildeo de uma diacutevida representa uma receita de natureza natildeo financeira cuja consequecircncia eacute o nascimento da capacidade contributiva para o PISPasep e a Cofins

Nesse sentido a Cosit shy CoordenaccedilatildeoshyGeral de Tributaccedilatildeo jaacute manifestou entendimento de que a remissatildeo de diacutevida representa uma receita operacional tributaacutevel pelo IRPJ CSLL PISPasep e Cofins

SOLUCcedilAtildeO DE CONSULTA Nordm 17 DE 27 DE ABRIL DE 2010

ASSUNTO Normas Gerais de Direito Tributaacuterio

EMENTA REMISSAtildeO DE DIacuteVIDA INCIDEcircNCIA DE IRPJ CSLL PISPASEP E COFINS

A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

DISPOSITIVOS LEGAIS art9ordm sect 3ordm II da Resoluccedilatildeo CFC No shy 750 de 1993 PARECER CTCFC N o shy 11 de 2004 art187 da Lei N o shy 6404 de 1976 arts 373 e 374 do RIR de 1999 art3ordm da Lei N o shy 9718 de 1998 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 10833 de 2003 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 106372002 art53 da Lei N o shy 9430 de 1996 arts 2ordm e 3ordm do Ato Declaratoacuterio Interpretativo SRF N o 25 de 2003 art 111 II do CTN

A questatildeo do perdatildeo de diacutevida jaacute foi apreciada no acircmbito do IRPJ pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuintes (1ordm CC) na 1ordf Cacircmara mediante o Acoacuterdatildeo 10197057 de 16122008 Relatora Sandra Maria Faroni com a seguinte ementa PERDAtildeO DE DIacuteVIDA TRIBUTACcedilAtildeO Constitui receita tributaacutevel o valor correspondente ao perdatildeo de diacutevida concedido agrave empresa

Tambeacutem a 1ordf Turma da 4ordf Cacircmara da 1ordf Seccedilatildeo do CARF manifestoushyse no mesmo sentido sobre o perdatildeo de juros de mora classificandoshyo como outras receitas operacionais tributaacuteveis pelo IRPJ CSLL e PISCofins conforme ementa abaixo

Processo nordm 102450037842008shy74 Acoacuterdatildeo nordm 1401001113ndash 4ordf Cacircmara 1ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 11 de fevereiro de 2014 Relator Antonio Bezerra Neto Ementa ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Anoshycalendaacuterio 2004 2005 2006 2007 PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como outras receitas operacionais

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

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DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

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V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

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sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

()

Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

Fl 2388DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

Fl 2389DF CARF MF

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

Fl 2391DF CARF MF

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

Fl 2393DF CARF MF

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

Fl 2397DF CARF MF

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

Fl 2398DF CARF MF

Page 8: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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que (i)o RIR99 conceitua o desconto como uma das hipoacuteteses que podem ensejar o reconhecimento de receitas financeiras (ii)descontos obtidos no pagamento antecipado e precircmios de resgatede tiacutetulos e debecircntures ensejam a verificaccedilatildeo de receitas financeiras (fl2245) e (iii) as receitas financeiras satildeo sempre decorrentes da aplicaccedilatildeo recursos pecuniaacuterios ou originadas com relaccedilatildeo aos mesmos (fl 2245) Ora se todas essas premissas satildeo aceitas como verdadeiras pela D DRJCTA simplesmente natildeo eacute possiacutevel afirmar a partir delas que a receita supostamente auferida pela Requerente natildeo teria natureza financeira Com isso a conclusatildeo da DRJCTA eacute contraditoacuteria com as premissas adotadas como razatildeo de decidir pela proacutepria decisatildeo

shy E natildeo soacute isso A referida conclusatildeo estaacute dissociada dos fatos amplamente comprovados nos presentes autos Isso porque conforme amplamente documentado nos autos em uma operaccedilatildeo realizada nos termos determinados pelo BACEN o credor (FGC) da Requerente aceitou receber menos do que lhe seria devido e conferiu quitaccedilatildeo total ante tal pagamento tendo em vista que seria realizado o pagamento antecipado da diacutevida (que de outra forma soacute venceria em 2020) Assim estamos diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida E os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estatildeo compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

shy Aleacutem disso natildeo se pode perder de vista ainda que o FGC deveraacute recuperar todo o valor inicial de principal que entregou agrave Requerente quando da subscriccedilatildeo das Debecircntures e da assinatura do Contrato de Muacutetuo Diferentemente do afirmado pelo V Acoacuterdatildeo no sentido de que o dinheiro a ser recebido do Banco Pactuai natildeo cobriraacute todo o valor colocado na operaccedilatildeo o valor de face de R$ 450 milhotildees do Creacutedito BTG estaacute sujeito agrave incidecircncia de juros de 110 da taxa DI e deveraacute ser liquidado em 2020 por no miacutenimo os mesmos R$ 38 bilhotildees que foram originalmente disponibilizados agrave Requerente

shy Temshyse portanto que admitindoshyse que as operaccedilotildees descritas no Contrato de Pagamento ensejem o reconhecimento de uma receita essa receita decorreria de desconto concedido quando da quitaccedilatildeo antecipada dos passivos a qual possui clara natureza juriacutedica receita financeira e como tal estaacute sujeita ao PIS e a COFINS agrave aliacutequota zero nos termos do artigo Io do Decreto ndeg 544205

shy Ainda que se admita que no presente caso teria havido um perdatildeo de diacutevida E que esse perdatildeo tenha gerado uma receita a Requerente destaca que esse suposto perdatildeo remonta a uma diacutevida de natureza claramente financeira (ie obrigaccedilatildeo de pagar com relaccedilatildeo aos instrumentos financeiros Debecircntures e Contrato de Muacutetuo) Pelo princiacutepio segundo o qual o acessoacuterio segue o principal natildeo poderia o perdatildeo de uma diacutevida dessa natureza resultar no auferimento de receita de natureza diversa como equivocadamente indicado no V Acoacuterdatildeo recorrido O suposto perdatildeo de diacutevida concedido pelo FGC se operou com relaccedilatildeo a passivos de natureza evidentemente financeira que foram contraiacutedos pela Requerente junto a uma entidade claramente inserida no contexto do Sistema Financeiro Nacional (ie FGC) e em razatildeo de uma operaccedilatildeo financeira que resultou na reduccedilatildeo do montante de principal desse mesmo passivo financeiro

shy Imaginandoshyse uma situaccedilatildeo em que fosse possiacutevel descaracterizar todos os atos e negoacutecios juriacutedicos realizados para se tentar encontrar uma explicaccedilatildeo para a situaccedilatildeo analisada tershyseshyia o seguinte a controladora de um banco que apoacutes a verificaccedilatildeo em problemas na administraccedilatildeo do negoacutecio se vecirc obrigada para o resgate da instituiccedilatildeo a tomar uma seacuterie de atos juriacutedicos legiacutetimos com a participaccedilatildeo do poder puacuteblico mas cujo resultado praacutetico culminou na alienaccedilatildeo da sua participaccedilatildeo societaacuteria na instituiccedilatildeo financeira

V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

shy Caso seja mantida a exigecircncia consubstanciada nos Autos de Infraccedilatildeo o que se admite apenas para argumentar a Requerente requer entatildeo que a exigecircncia dos juros seja limitada uacutenica e exclusivamente aos valores de principal excluindoshyse tal exigecircncia com relaccedilatildeo agrave multa de ofiacutecio acaso natildeo cancelada ante a sua evidente abusividade

Fl 2368DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 6

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A Uniatildeo por meio da PFN apresentou suas contrarrazotildees ao recurso voluntaacuterio aduzindo em siacutentese que

2 DO DIREITO

21 Da receita operacional

shy Eacute indene de duacutevidas que a daccedilatildeo em pagamento do creacutedito de R$ 450 milhotildees da interessada junto ao Banco BTG Pactual para quitaccedilatildeo das diacutevidas no valor total de R$ 38 bilhotildees com o FGC representa um auferimento de receita Vejashyse o que diz a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 2011 Por outro lado vejashyse o conceito contaacutebil de receita delineado na revogada Resoluccedilatildeo CFC nordm 1121 de 2008

shy De acordo com as regras contaacutebeis a receita relativa ao ganho auferido com a remissatildeo de diacutevidas considerashyse realizada quando da extinccedilatildeo do correspondente passivo Nesse sentido dispotildee a Resoluccedilatildeo do CFC nordm 750 de 1993 Dispotildee a Resoluccedilatildeo CFC nordm 77494 que () Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes ()

shy Portanto natildeo haacute duacutevidas que que a diminuiccedilatildeo do passivo resultante da liquidaccedilatildeo dos passivos (debecircntures e muacutetuo) deve ser reconhecida pela empresa como uma receita

shy Segundo a sistemaacutetica natildeo cumulativa as contribuiccedilotildees incidem sobre o faturamento mensal assim entendido como a totalidade das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

22 Da natureza juriacutedica da receita

shy Ao se analisar os fatos decorrentes dos autos chegashyse agrave conclusatildeo oacutebvia que o abatimento do capital obtido pela contribuinte com a daccedilatildeo em pagamento jamais poderia ser classificado como receita financeira O que houve no caso foi uma remissatildeo de diacutevidas que natildeo pode ser considerado receita financeira

shy O pagamento de obrigaccedilotildees (diacutevidas) constitui destinaccedilatildeo mas natildeo aplicaccedilatildeo dos recursos financeiros no sentido aqui utilizado O adimplemento de diacutevidas natildeo eacute objeto de remuneraccedilatildeo (obtenccedilatildeo de juros) eis que nesse caso natildeo haacute disponibilizaccedilatildeo de recursos proacuteprios para terceiros Assim temshyse que o abandono de parte ou da integralidade de diacutevida por parte do credor constitui para o devedor uma receita insubsistecircncia ativa que dado seu caraacuteter natildeo usual deve ser registrada como item extraordinaacuterio

shy Tratandoshyse pois de remissatildeo (seja total ou parcial) mesmo sendo um ato bilateral vecircshyse que sua natureza assemelhashyse a um desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado nem como despesa financeira (pelo vendedorcredora) ou como receita financeira (pelo compradordevedor) Da mesma forma um desconto incondicional pode ser aceito ou natildeo pelo comprador mas continua a ser um ato liberatoacuterio de vendedor que natildeo implica a caracterizaccedilatildeo de ldquoresultado financeirordquo Portanto natildeo assiste razatildeo agrave contribuinte pois a remissatildeo parcial dos passivos foi sim um ato liberatoacuterio do credor em favor da devedora

23 Dos juros sobre a multa

Fl 2369DF CARF MF

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shy O proacuteprio art 161 do CTN manda incidir juros de mora sobre o creacutedito tributaacuterio ou seja sobre o principal e a penalidade pecuniaacuteria natildeo havendo nenhuma disposiccedilatildeo legal que diga o contraacuterio

Eacute o relatoacuterio

Voto Vencido

Conselheira MARIA APARECIDA MARTINS DE PAULA Relatora

Atendidos aos requisitos de admissibilidade tomashyse conhecimento do recurso voluntaacuterio

III NULIDADES DOS AUTOS DE INFRACcedilAtildeO E DO V ACOacuteRDAtildeO RECORRIDO

(i) A Nulidade dos Autos de Infraccedilatildeo shy Falta de fundamentaccedilatildeo para desconsideraccedilatildeo de atos juriacutedicos praticados

Suscita a recorrente a nulidade dos autos de infraccedilatildeo tendo em vista que natildeo teria ocorrido o perdatildeo de diacutevidas alegado pela fiscalizaccedilatildeo como premissa da autuaccedilatildeo

Ocorre que natildeo obstante natildeo existisse nenhum documento ou contrato mencionando literalmente os termos remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida a fiscalizaccedilatildeo motivadamente qualificou juridicamente os fatos descritos nos documentos da contribuinte como um verdadeiro perdatildeo de diacutevidas natildeo havendo nisso qualquer nulidade mas a legiacutetima interpretaccedilatildeo dos negoacutecios da contribuinte em conformidade com o disposto no art 112 do Coacutedigo Civil Nas declaraccedilotildees de vontade se atenderaacute mais agrave intenccedilatildeo nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem

No mais a questatildeo de saber de os fatos narrados pela fiscalizaccedilatildeo caracterizaram ou natildeo um perdatildeo de diacutevidas eacute tema a ser discutido no meacuterito

(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

Improcede a alegaccedilatildeo da recorrente de que a Delegacia de Julgamento natildeo teria debatido a nulidade suscitada pela entatildeo impugnante

Conforme se vecirc no iniacutecio do voto da decisatildeo recorrida o julgador sustentou a legitimidade dos autos de infraccedilatildeo eis que estatildeo devidamente motivados e contecircm minudentemente a indicaccedilatildeo dos fatos e dos fundamentos juriacutedicos nos termos da Lei nordm 978499 do art art 10 do Decreto nordm 7023572 sem que representem qualquer situaccedilatildeo de nulidade descrita no art 59 desse Decreto

Na sequecircncia como era de se esperar natildeo tendo verificado situaccedilatildeo de nulidade na lavratura dos autos de infraccedilatildeo o julgador deixou a alegaccedilatildeo da impugnante da falsa premissa na autuaccedilatildeo de que natildeo seria o caso de perdatildeo de diacutevida para a anaacutelise na parte do meacuterito nos seguintes termos

() Por fim eacute de se mencionar conforme se verifica a seguir na anaacutelise do meacuterito que a fiscalizaccedilatildeo fundamentou os autos de infraccedilatildeo na realidade faacutetica natildeo tendo sido realizada portanto a adoccedilatildeo de falsa premissa

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S3shyC4T2 Fl 7

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Afastashyse dessa forma a preliminar de nulidade levantada [grifei] ()

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

Em breve resumo podemos assim descrever as negociaccedilotildees efetuadas pela contribuinte Siacutelvio Santos Participaccedilotildees (SSP) que redundaram na conclusatildeo da fiscalizaccedilatildeo de que houve um perdatildeo parcial da diacutevida entre a contribuinte e o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no montante de R$ 335 bilhotildees (= R$ 38 bilhotildees shy R$ 450 milhotildees)

a) a contribuinte contraiu duas diacutevidas com o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor total de R$ 38 bilhotildees o qual foi repassado diretamente ao Banco Panamericano

b) a contribuinte e sua controlada BF venderam a totalidade das accedilotildees que detinham do Banco Panamericano ao BTG Pactual o qual em contrapartida lhes pagou o valor de R$450 milhotildees em creacuteditos a receber

c) a contribuinte e a BF celebraram o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento com o FGC por meio do qual esse uacuteltimo aceitou o creacutedito no valor de R$ 450 milhotildees em creacuteditos a receber como daccedilatildeo em pagamento pela diacutevida de R$ 38 bilhotildees

Conforme explica Venosa1 a remissatildeo2 eacute o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento Ressalva o autor que apesar da remissatildeo ser uma espeacutecie de renuacutencia com ela natildeo se confunde pois embora possa ser um ato unilateral natildeo prescinde da concordacircncia do devedor Prossegue Venosa esclarecendo que nada impede que a remissatildeo tome a forma bilateral de um contrato mas natildeo eacute sua essecircncia Essencial eacute a aquiescecircncia do devedor ainda que presumida ou taacutecita

No caso concreto natildeo pairam duacutevidas do ato de vontade do FGC de liberar a contribuinte parcialmente do pagamento da diacutevida e da concordacircncia desta uacuteltima no ato A contribuinte e a BF cederam os seus creacuteditos ao FGC em valor correspondente somente a parte da diacutevida e o FGC os aceitou como quitaccedilatildeo integral das diacutevidas da contribuinte restando caracterizada remissatildeo parcial da diacutevida da contribuinte conforme consta na Consolidaccedilatildeo do Instrumento de Daccedilatildeo em Pagamento (fls 414421)

1 VENOSA Siacutelvio de Salvo Direito Civil teoria geral das obrigaccedilotildees e teoria geral dos contratos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2004 p 335 2 Coacutedigo Civil Da Remissatildeo das Diacutevidas Art 385 A remissatildeo da diacutevida aceita pelo devedor extingue a obrigaccedilatildeo mas sem prejuiacutezo de terceiro Art 386 A devoluccedilatildeo voluntaacuteria do tiacutetulo da obrigaccedilatildeo quando por escrito particular prova desoneraccedilatildeo do devedor e seus coshyobrigados se o credor for capaz de alienar e o devedor capaz de adquirir Art 387 A restituiccedilatildeo voluntaacuteria do objeto empenhado prova a renuacutencia do credor agrave garantia real natildeo a extinccedilatildeo da diacutevida Art 388 A remissatildeo concedida a um dos coshydevedores extingue a diacutevida na parte a ele correspondente de modo que ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros jaacute lhes natildeo pode cobrar o deacutebito sem deduccedilatildeo da parte remitida

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Alega a recorrente que contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor No entanto acredita que esse resultado escritural positivo natildeo representaria ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional por ela praticada de forma que natildeo estariam sujeitos agrave incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais

Natildeo assiste razatildeo agrave recorrente A baixa parcial das suas diacutevidas sem o correspondente pagamento no montante de R$ 335 bilhotildees constitui uma receita originada da extinccedilatildeo de um passivo (obrigaccedilatildeo) sem o desaparecimento concomitante de um ativo de igual ou superior valor constituindo sim um acreacutescimo patrimonial

Para a Equipe de Professores da FEAUSP3 a receita pode ser assim definida

()

Entendeshyse por Receita a entrada de elementos para o ativo sob forma de dinheiro ou direitos a receber correspondentes normalmente agrave venda de mercadorias de produtos ou agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Uma receita tambeacutem pode derivar de juros sobre depoacutesitos bancaacuterios ou tiacutetulos de alugueacuteis e outras origens

Agraves vezes a Receita ocorre em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de um passivo [negritei]

()

Conforme jaacute dispunha4 a Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no seu art 9ordm sect3ordm II sect 3ordm As receitas consideramshyse realizadas () II ndash quando da extinccedilatildeo parcial ou total de um passivo qualquer que seja o motivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior ()

Posteriormente mediante a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 8 de dezembro de 2011 assim se pronunciou o Conselho Federal de Contabilidade nos paraacutegrafos 425 e 447 inclusive mencionando o perdatildeo de diacutevidas como um exemplo de uma receita

()

3 IUDIacuteCIBUS Seacutergio (coord) Contabilidade Introdutoacuteria 11 ed Satildeo Paulo Atlas 2010 p 65 4 Antes de sua alteraccedilatildeo pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 1282 de 28 de maio de 2010

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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425Os elementos de receitas e despesas satildeo definidos como segue (a) receitas satildeo aumentos nos benefiacutecios econocircmicos durante o periacuteodo contaacutebil sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuiccedilatildeo de passivos que resultam em aumentos do patrimocircnio liacutequido e que natildeo estejam relacionados com a contribuiccedilatildeo dos detentores dos instrumentos patrimoniais () Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga) [negritei]

O Regulamento do Imposto de Renda assim se pronuncia sobre as receitas e despesas financeiras

Subseccedilatildeo I Receitas e Despesas Financeiras Receitas Art 373 Os juros o desconto o lucro na operaccedilatildeo de reporte e os rendimentos de aplicaccedilotildees financeiras de renda fixa ganhos pelo contribuinte seratildeo incluiacutedos no lucro operacional e quando derivados de operaccedilotildees ou tiacutetulos com vencimento posterior ao encerramento do periacuteodo de apuraccedilatildeo poderatildeo ser rateados pelos periacuteodos a que competirem (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 e Lei nordm 8981 de 1995 art 76 sect2ordm e Lei nordm 9249 de 1995 art 11 sect3ordm) Despesas Art 374 Os juros pagos ou incorridos pelo contribuinte satildeo dedutiacuteveis como custo ou despesa operacional observadas as seguintes normas (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 paraacutegrafo uacutenico) Ishy os juros pagos antecipadamente os descontos de tiacutetulos de creacutedito e o desaacutegio concedido na colocaccedilatildeo de debecircntures ou tiacutetulos de creacutedito deveratildeo ser apropriados pro rata temporis nos periacuteodos de apuraccedilatildeo a que competirem II shy os juros de empreacutestimos contraiacutedos para financiar a aquisiccedilatildeo ou construccedilatildeo de bens do ativo permanente incorridos durante as fases de construccedilatildeo e preacuteshyoperacional podem ser registrados no ativo diferido para serem amortizados ()

Na ausecircncia da completa definiccedilatildeo na legislaccedilatildeo sobre o que seriam receitas e despesas financeiras depreendeshyse do dispositivo acima que as receitas e despesas financeiras

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satildeo decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros de forma que poderiam ser conceituadas como receitas pela aplicaccedilatildeo de recursos pecuniaacuterios proacuteprios ou despesas pela utilizaccedilatildeo de recursos de terceiros

Como explicado na Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit de 31 de agosto de 2007 entendem Silveacuterio das Neves e Paulo Viceconti que os descontos financeiros satildeo aqueles ligados ou condicionados ao pagamento ou recebimento de tiacutetulos por antecipaccedilatildeo ldquosatildeo os descontos obtidos na liquidaccedilatildeo antecipada de obrigaccedilotildeesrdquo Ademais prescrevem esses autores que a conta ldquoDescontos Financeiros Obtidosrdquo (Receita Financeira) deveraacute ser encerrada a creacutedito de resultado do exerciacuteciordquo Por sua vez entendem ainda que os descontos incondicionais satildeo ldquoparcelas redutoras dos preccedilos de compra e venda constantes da nota fiscal ou da fatura de serviccedilo e natildeo dependentes de evento posterior agrave emissatildeo desses documentosrdquo (NEVES Silveacuterio das VICECONTI Paulo Eduardo Vilchez Contabilidade baacutesica 12 ed rev e atual Satildeo Paulo Frase Editora 2004 pp 115shy116)

Nessa esteira concluishyse com os fundamentos utilizados nessa Soluccedilatildeo de Consulta abaixo transcritos que o perdatildeo de diacutevida natildeo pode ser considerado como um desconto financeiro mas uma espeacutecie de desconto incondicional natildeo considerado como uma receita financeira

()

1188 In casu natildeo houve desconto por pagamento antecipado nem precircmio por resgate de tiacutetulo ou seja nenhum confronto entre aspectos financeiramente favoraacuteveis e desfavoraacuteveis mas sim um simples perdatildeo de diacutevida (ato liberatoacuterio) pela credora em favor da devedora (consulente) que se coaduna com o desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado como ldquoreceita financeirardquo Logo a presente insubsistecircncia ativa (do passivo) natildeo haacute de ser tratada como uma ldquoReceita Financeirardquo mas como ldquoReceita shy Outros Resultados Operacionaisrdquo o que leva ao entendimento que a remissatildeo de diacutevida eacute fato imponiacutevel da Cofins e do PIS

1189 O desconto tem natureza de receita financeira quando haacute novaccedilatildeo em virtude de uma contraposiccedilatildeo de fatores favoraacuteveis e desfavoraacuteveis (pagamento antecipado que gera uma reduccedilatildeo de juros ndash recebimento em funccedilatildeo do tempo de recebimento do creacutedito) o que eacute diferente do caso em tela que retrata uma remissatildeo da diacutevida (ato liberatoacuterio da credora em favor da devedora) pela qual houve um abandono do proacuteprio capital (principal)

11810 Depreendeshyse portanto que o valor relativo agraves diacutevidas perdoadas seja parcial ou integral constitui receita para o devedor Para que as receitas sejam consideradas como ldquofinanceirasrdquo haacute de haver como caracteriacutestica um ganho em razatildeo da disponibilidade de recursos para terceiros em funccedilatildeo de certo periacuteodo de tempo Sendo assim o perdatildeo da diacutevida ou sua reduccedilatildeo seja mediante renegociaccedilatildeo ou novaccedilatildeo natildeo constitui receita financeira Eacute irrelevante para caracterizar a receita tratarshyse de perdatildeo do principal ou da multa e juros Portanto o perdatildeo de multa e juros tambeacutem natildeo constitui receita financeira pois como acessoacuterios acompanham a natureza do principal

Fl 2374DF CARF MF

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12 Do exposto concluishyse que o perdatildeo de diacutevida pela credora eacute um ato juriacutedico que faz acrescer o patrimocircnio da devedora de modo que revela capacidade contributiva (objetiva) que por caracterizar uma receita operacional (diversa da receita financeira) implica receita tributaacutevel pela Cofins e pelo PIS com a aliacutequota superior a zero (diversamente do que trata o art 1ordm do Decreto nordm 5442 de 09052005 cc o sect2ordm do art 27 da Lei nordm 10865 de 30042004)

()

Sustenta a recorrente sem razatildeo que no caso concreto estarshyseshyia diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida sendo que os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estariam compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

Como bem argumentado na decisatildeo recorrida os abatimentos obtidos pela interessada para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras eis que

Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter receita por meio de empreacutestimos ou seja a empresa magicamente teria emprestado dinheiro do FGC para cobrir as inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil e ainda assim ao realizar a quitaccedilatildeo desses empreacutestimos teria obtido receitas de origem financeira

Vejashyse tambeacutem que a tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo No presente caso ao se aceitar a tese da interessada teriacuteamos a situaccedilatildeo iloacutegica pela qual a empresa emissora dos debecircntures (SSP) obteria receita financeira com a baixa dos tiacutetulos e a debenturista (FGC que tomou os debecircntures em garantia aos valores emprestados) teria que reconhecer uma despesa financeira

Ademais valores que foram emprestados pelo FGC para a contribuinte tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios natildeo podendo ter havido assim o abatimento de juros por pagamento antecipado Aleacutem do que os instrumentos legais (ldquoContrato de Muacutetuordquo ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avencasrdquo e o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento) foram todos assinados na mesma data em 31012011

Assim o perdatildeo parcial da diacutevida da contribuinte constitui uma receita decorrente de um acreacutescimo patrimonial para o devedor que natildeo pode ser qualificada como uma receita financeira vez que natildeo decorre de ganho em face da disponibilizaccedilatildeo de recursos

Fl 2375DF CARF MF

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para terceiros em certo periacuteodo de tempo O perdatildeo de uma diacutevida representa uma receita de natureza natildeo financeira cuja consequecircncia eacute o nascimento da capacidade contributiva para o PISPasep e a Cofins

Nesse sentido a Cosit shy CoordenaccedilatildeoshyGeral de Tributaccedilatildeo jaacute manifestou entendimento de que a remissatildeo de diacutevida representa uma receita operacional tributaacutevel pelo IRPJ CSLL PISPasep e Cofins

SOLUCcedilAtildeO DE CONSULTA Nordm 17 DE 27 DE ABRIL DE 2010

ASSUNTO Normas Gerais de Direito Tributaacuterio

EMENTA REMISSAtildeO DE DIacuteVIDA INCIDEcircNCIA DE IRPJ CSLL PISPASEP E COFINS

A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

DISPOSITIVOS LEGAIS art9ordm sect 3ordm II da Resoluccedilatildeo CFC No shy 750 de 1993 PARECER CTCFC N o shy 11 de 2004 art187 da Lei N o shy 6404 de 1976 arts 373 e 374 do RIR de 1999 art3ordm da Lei N o shy 9718 de 1998 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 10833 de 2003 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 106372002 art53 da Lei N o shy 9430 de 1996 arts 2ordm e 3ordm do Ato Declaratoacuterio Interpretativo SRF N o 25 de 2003 art 111 II do CTN

A questatildeo do perdatildeo de diacutevida jaacute foi apreciada no acircmbito do IRPJ pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuintes (1ordm CC) na 1ordf Cacircmara mediante o Acoacuterdatildeo 10197057 de 16122008 Relatora Sandra Maria Faroni com a seguinte ementa PERDAtildeO DE DIacuteVIDA TRIBUTACcedilAtildeO Constitui receita tributaacutevel o valor correspondente ao perdatildeo de diacutevida concedido agrave empresa

Tambeacutem a 1ordf Turma da 4ordf Cacircmara da 1ordf Seccedilatildeo do CARF manifestoushyse no mesmo sentido sobre o perdatildeo de juros de mora classificandoshyo como outras receitas operacionais tributaacuteveis pelo IRPJ CSLL e PISCofins conforme ementa abaixo

Processo nordm 102450037842008shy74 Acoacuterdatildeo nordm 1401001113ndash 4ordf Cacircmara 1ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 11 de fevereiro de 2014 Relator Antonio Bezerra Neto Ementa ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Anoshycalendaacuterio 2004 2005 2006 2007 PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como outras receitas operacionais

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

Fl 2377DF CARF MF

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

()

DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

()

V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

()

sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

Fl 2379DF CARF MF

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

()

Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

Fl 2380DF CARF MF

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

Fl 2383DF CARF MF

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

Fl 2391DF CARF MF

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

Fl 2395DF CARF MF

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 9: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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A Uniatildeo por meio da PFN apresentou suas contrarrazotildees ao recurso voluntaacuterio aduzindo em siacutentese que

2 DO DIREITO

21 Da receita operacional

shy Eacute indene de duacutevidas que a daccedilatildeo em pagamento do creacutedito de R$ 450 milhotildees da interessada junto ao Banco BTG Pactual para quitaccedilatildeo das diacutevidas no valor total de R$ 38 bilhotildees com o FGC representa um auferimento de receita Vejashyse o que diz a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 2011 Por outro lado vejashyse o conceito contaacutebil de receita delineado na revogada Resoluccedilatildeo CFC nordm 1121 de 2008

shy De acordo com as regras contaacutebeis a receita relativa ao ganho auferido com a remissatildeo de diacutevidas considerashyse realizada quando da extinccedilatildeo do correspondente passivo Nesse sentido dispotildee a Resoluccedilatildeo do CFC nordm 750 de 1993 Dispotildee a Resoluccedilatildeo CFC nordm 77494 que () Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes ()

shy Portanto natildeo haacute duacutevidas que que a diminuiccedilatildeo do passivo resultante da liquidaccedilatildeo dos passivos (debecircntures e muacutetuo) deve ser reconhecida pela empresa como uma receita

shy Segundo a sistemaacutetica natildeo cumulativa as contribuiccedilotildees incidem sobre o faturamento mensal assim entendido como a totalidade das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

22 Da natureza juriacutedica da receita

shy Ao se analisar os fatos decorrentes dos autos chegashyse agrave conclusatildeo oacutebvia que o abatimento do capital obtido pela contribuinte com a daccedilatildeo em pagamento jamais poderia ser classificado como receita financeira O que houve no caso foi uma remissatildeo de diacutevidas que natildeo pode ser considerado receita financeira

shy O pagamento de obrigaccedilotildees (diacutevidas) constitui destinaccedilatildeo mas natildeo aplicaccedilatildeo dos recursos financeiros no sentido aqui utilizado O adimplemento de diacutevidas natildeo eacute objeto de remuneraccedilatildeo (obtenccedilatildeo de juros) eis que nesse caso natildeo haacute disponibilizaccedilatildeo de recursos proacuteprios para terceiros Assim temshyse que o abandono de parte ou da integralidade de diacutevida por parte do credor constitui para o devedor uma receita insubsistecircncia ativa que dado seu caraacuteter natildeo usual deve ser registrada como item extraordinaacuterio

shy Tratandoshyse pois de remissatildeo (seja total ou parcial) mesmo sendo um ato bilateral vecircshyse que sua natureza assemelhashyse a um desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado nem como despesa financeira (pelo vendedorcredora) ou como receita financeira (pelo compradordevedor) Da mesma forma um desconto incondicional pode ser aceito ou natildeo pelo comprador mas continua a ser um ato liberatoacuterio de vendedor que natildeo implica a caracterizaccedilatildeo de ldquoresultado financeirordquo Portanto natildeo assiste razatildeo agrave contribuinte pois a remissatildeo parcial dos passivos foi sim um ato liberatoacuterio do credor em favor da devedora

23 Dos juros sobre a multa

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shy O proacuteprio art 161 do CTN manda incidir juros de mora sobre o creacutedito tributaacuterio ou seja sobre o principal e a penalidade pecuniaacuteria natildeo havendo nenhuma disposiccedilatildeo legal que diga o contraacuterio

Eacute o relatoacuterio

Voto Vencido

Conselheira MARIA APARECIDA MARTINS DE PAULA Relatora

Atendidos aos requisitos de admissibilidade tomashyse conhecimento do recurso voluntaacuterio

III NULIDADES DOS AUTOS DE INFRACcedilAtildeO E DO V ACOacuteRDAtildeO RECORRIDO

(i) A Nulidade dos Autos de Infraccedilatildeo shy Falta de fundamentaccedilatildeo para desconsideraccedilatildeo de atos juriacutedicos praticados

Suscita a recorrente a nulidade dos autos de infraccedilatildeo tendo em vista que natildeo teria ocorrido o perdatildeo de diacutevidas alegado pela fiscalizaccedilatildeo como premissa da autuaccedilatildeo

Ocorre que natildeo obstante natildeo existisse nenhum documento ou contrato mencionando literalmente os termos remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida a fiscalizaccedilatildeo motivadamente qualificou juridicamente os fatos descritos nos documentos da contribuinte como um verdadeiro perdatildeo de diacutevidas natildeo havendo nisso qualquer nulidade mas a legiacutetima interpretaccedilatildeo dos negoacutecios da contribuinte em conformidade com o disposto no art 112 do Coacutedigo Civil Nas declaraccedilotildees de vontade se atenderaacute mais agrave intenccedilatildeo nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem

No mais a questatildeo de saber de os fatos narrados pela fiscalizaccedilatildeo caracterizaram ou natildeo um perdatildeo de diacutevidas eacute tema a ser discutido no meacuterito

(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

Improcede a alegaccedilatildeo da recorrente de que a Delegacia de Julgamento natildeo teria debatido a nulidade suscitada pela entatildeo impugnante

Conforme se vecirc no iniacutecio do voto da decisatildeo recorrida o julgador sustentou a legitimidade dos autos de infraccedilatildeo eis que estatildeo devidamente motivados e contecircm minudentemente a indicaccedilatildeo dos fatos e dos fundamentos juriacutedicos nos termos da Lei nordm 978499 do art art 10 do Decreto nordm 7023572 sem que representem qualquer situaccedilatildeo de nulidade descrita no art 59 desse Decreto

Na sequecircncia como era de se esperar natildeo tendo verificado situaccedilatildeo de nulidade na lavratura dos autos de infraccedilatildeo o julgador deixou a alegaccedilatildeo da impugnante da falsa premissa na autuaccedilatildeo de que natildeo seria o caso de perdatildeo de diacutevida para a anaacutelise na parte do meacuterito nos seguintes termos

() Por fim eacute de se mencionar conforme se verifica a seguir na anaacutelise do meacuterito que a fiscalizaccedilatildeo fundamentou os autos de infraccedilatildeo na realidade faacutetica natildeo tendo sido realizada portanto a adoccedilatildeo de falsa premissa

Fl 2370DF CARF MF

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S3shyC4T2 Fl 7

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Afastashyse dessa forma a preliminar de nulidade levantada [grifei] ()

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

Em breve resumo podemos assim descrever as negociaccedilotildees efetuadas pela contribuinte Siacutelvio Santos Participaccedilotildees (SSP) que redundaram na conclusatildeo da fiscalizaccedilatildeo de que houve um perdatildeo parcial da diacutevida entre a contribuinte e o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no montante de R$ 335 bilhotildees (= R$ 38 bilhotildees shy R$ 450 milhotildees)

a) a contribuinte contraiu duas diacutevidas com o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor total de R$ 38 bilhotildees o qual foi repassado diretamente ao Banco Panamericano

b) a contribuinte e sua controlada BF venderam a totalidade das accedilotildees que detinham do Banco Panamericano ao BTG Pactual o qual em contrapartida lhes pagou o valor de R$450 milhotildees em creacuteditos a receber

c) a contribuinte e a BF celebraram o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento com o FGC por meio do qual esse uacuteltimo aceitou o creacutedito no valor de R$ 450 milhotildees em creacuteditos a receber como daccedilatildeo em pagamento pela diacutevida de R$ 38 bilhotildees

Conforme explica Venosa1 a remissatildeo2 eacute o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento Ressalva o autor que apesar da remissatildeo ser uma espeacutecie de renuacutencia com ela natildeo se confunde pois embora possa ser um ato unilateral natildeo prescinde da concordacircncia do devedor Prossegue Venosa esclarecendo que nada impede que a remissatildeo tome a forma bilateral de um contrato mas natildeo eacute sua essecircncia Essencial eacute a aquiescecircncia do devedor ainda que presumida ou taacutecita

No caso concreto natildeo pairam duacutevidas do ato de vontade do FGC de liberar a contribuinte parcialmente do pagamento da diacutevida e da concordacircncia desta uacuteltima no ato A contribuinte e a BF cederam os seus creacuteditos ao FGC em valor correspondente somente a parte da diacutevida e o FGC os aceitou como quitaccedilatildeo integral das diacutevidas da contribuinte restando caracterizada remissatildeo parcial da diacutevida da contribuinte conforme consta na Consolidaccedilatildeo do Instrumento de Daccedilatildeo em Pagamento (fls 414421)

1 VENOSA Siacutelvio de Salvo Direito Civil teoria geral das obrigaccedilotildees e teoria geral dos contratos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2004 p 335 2 Coacutedigo Civil Da Remissatildeo das Diacutevidas Art 385 A remissatildeo da diacutevida aceita pelo devedor extingue a obrigaccedilatildeo mas sem prejuiacutezo de terceiro Art 386 A devoluccedilatildeo voluntaacuteria do tiacutetulo da obrigaccedilatildeo quando por escrito particular prova desoneraccedilatildeo do devedor e seus coshyobrigados se o credor for capaz de alienar e o devedor capaz de adquirir Art 387 A restituiccedilatildeo voluntaacuteria do objeto empenhado prova a renuacutencia do credor agrave garantia real natildeo a extinccedilatildeo da diacutevida Art 388 A remissatildeo concedida a um dos coshydevedores extingue a diacutevida na parte a ele correspondente de modo que ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros jaacute lhes natildeo pode cobrar o deacutebito sem deduccedilatildeo da parte remitida

Fl 2371DF CARF MF

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Alega a recorrente que contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor No entanto acredita que esse resultado escritural positivo natildeo representaria ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional por ela praticada de forma que natildeo estariam sujeitos agrave incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais

Natildeo assiste razatildeo agrave recorrente A baixa parcial das suas diacutevidas sem o correspondente pagamento no montante de R$ 335 bilhotildees constitui uma receita originada da extinccedilatildeo de um passivo (obrigaccedilatildeo) sem o desaparecimento concomitante de um ativo de igual ou superior valor constituindo sim um acreacutescimo patrimonial

Para a Equipe de Professores da FEAUSP3 a receita pode ser assim definida

()

Entendeshyse por Receita a entrada de elementos para o ativo sob forma de dinheiro ou direitos a receber correspondentes normalmente agrave venda de mercadorias de produtos ou agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Uma receita tambeacutem pode derivar de juros sobre depoacutesitos bancaacuterios ou tiacutetulos de alugueacuteis e outras origens

Agraves vezes a Receita ocorre em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de um passivo [negritei]

()

Conforme jaacute dispunha4 a Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no seu art 9ordm sect3ordm II sect 3ordm As receitas consideramshyse realizadas () II ndash quando da extinccedilatildeo parcial ou total de um passivo qualquer que seja o motivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior ()

Posteriormente mediante a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 8 de dezembro de 2011 assim se pronunciou o Conselho Federal de Contabilidade nos paraacutegrafos 425 e 447 inclusive mencionando o perdatildeo de diacutevidas como um exemplo de uma receita

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3 IUDIacuteCIBUS Seacutergio (coord) Contabilidade Introdutoacuteria 11 ed Satildeo Paulo Atlas 2010 p 65 4 Antes de sua alteraccedilatildeo pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 1282 de 28 de maio de 2010

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425Os elementos de receitas e despesas satildeo definidos como segue (a) receitas satildeo aumentos nos benefiacutecios econocircmicos durante o periacuteodo contaacutebil sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuiccedilatildeo de passivos que resultam em aumentos do patrimocircnio liacutequido e que natildeo estejam relacionados com a contribuiccedilatildeo dos detentores dos instrumentos patrimoniais () Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga) [negritei]

O Regulamento do Imposto de Renda assim se pronuncia sobre as receitas e despesas financeiras

Subseccedilatildeo I Receitas e Despesas Financeiras Receitas Art 373 Os juros o desconto o lucro na operaccedilatildeo de reporte e os rendimentos de aplicaccedilotildees financeiras de renda fixa ganhos pelo contribuinte seratildeo incluiacutedos no lucro operacional e quando derivados de operaccedilotildees ou tiacutetulos com vencimento posterior ao encerramento do periacuteodo de apuraccedilatildeo poderatildeo ser rateados pelos periacuteodos a que competirem (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 e Lei nordm 8981 de 1995 art 76 sect2ordm e Lei nordm 9249 de 1995 art 11 sect3ordm) Despesas Art 374 Os juros pagos ou incorridos pelo contribuinte satildeo dedutiacuteveis como custo ou despesa operacional observadas as seguintes normas (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 paraacutegrafo uacutenico) Ishy os juros pagos antecipadamente os descontos de tiacutetulos de creacutedito e o desaacutegio concedido na colocaccedilatildeo de debecircntures ou tiacutetulos de creacutedito deveratildeo ser apropriados pro rata temporis nos periacuteodos de apuraccedilatildeo a que competirem II shy os juros de empreacutestimos contraiacutedos para financiar a aquisiccedilatildeo ou construccedilatildeo de bens do ativo permanente incorridos durante as fases de construccedilatildeo e preacuteshyoperacional podem ser registrados no ativo diferido para serem amortizados ()

Na ausecircncia da completa definiccedilatildeo na legislaccedilatildeo sobre o que seriam receitas e despesas financeiras depreendeshyse do dispositivo acima que as receitas e despesas financeiras

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satildeo decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros de forma que poderiam ser conceituadas como receitas pela aplicaccedilatildeo de recursos pecuniaacuterios proacuteprios ou despesas pela utilizaccedilatildeo de recursos de terceiros

Como explicado na Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit de 31 de agosto de 2007 entendem Silveacuterio das Neves e Paulo Viceconti que os descontos financeiros satildeo aqueles ligados ou condicionados ao pagamento ou recebimento de tiacutetulos por antecipaccedilatildeo ldquosatildeo os descontos obtidos na liquidaccedilatildeo antecipada de obrigaccedilotildeesrdquo Ademais prescrevem esses autores que a conta ldquoDescontos Financeiros Obtidosrdquo (Receita Financeira) deveraacute ser encerrada a creacutedito de resultado do exerciacuteciordquo Por sua vez entendem ainda que os descontos incondicionais satildeo ldquoparcelas redutoras dos preccedilos de compra e venda constantes da nota fiscal ou da fatura de serviccedilo e natildeo dependentes de evento posterior agrave emissatildeo desses documentosrdquo (NEVES Silveacuterio das VICECONTI Paulo Eduardo Vilchez Contabilidade baacutesica 12 ed rev e atual Satildeo Paulo Frase Editora 2004 pp 115shy116)

Nessa esteira concluishyse com os fundamentos utilizados nessa Soluccedilatildeo de Consulta abaixo transcritos que o perdatildeo de diacutevida natildeo pode ser considerado como um desconto financeiro mas uma espeacutecie de desconto incondicional natildeo considerado como uma receita financeira

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1188 In casu natildeo houve desconto por pagamento antecipado nem precircmio por resgate de tiacutetulo ou seja nenhum confronto entre aspectos financeiramente favoraacuteveis e desfavoraacuteveis mas sim um simples perdatildeo de diacutevida (ato liberatoacuterio) pela credora em favor da devedora (consulente) que se coaduna com o desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado como ldquoreceita financeirardquo Logo a presente insubsistecircncia ativa (do passivo) natildeo haacute de ser tratada como uma ldquoReceita Financeirardquo mas como ldquoReceita shy Outros Resultados Operacionaisrdquo o que leva ao entendimento que a remissatildeo de diacutevida eacute fato imponiacutevel da Cofins e do PIS

1189 O desconto tem natureza de receita financeira quando haacute novaccedilatildeo em virtude de uma contraposiccedilatildeo de fatores favoraacuteveis e desfavoraacuteveis (pagamento antecipado que gera uma reduccedilatildeo de juros ndash recebimento em funccedilatildeo do tempo de recebimento do creacutedito) o que eacute diferente do caso em tela que retrata uma remissatildeo da diacutevida (ato liberatoacuterio da credora em favor da devedora) pela qual houve um abandono do proacuteprio capital (principal)

11810 Depreendeshyse portanto que o valor relativo agraves diacutevidas perdoadas seja parcial ou integral constitui receita para o devedor Para que as receitas sejam consideradas como ldquofinanceirasrdquo haacute de haver como caracteriacutestica um ganho em razatildeo da disponibilidade de recursos para terceiros em funccedilatildeo de certo periacuteodo de tempo Sendo assim o perdatildeo da diacutevida ou sua reduccedilatildeo seja mediante renegociaccedilatildeo ou novaccedilatildeo natildeo constitui receita financeira Eacute irrelevante para caracterizar a receita tratarshyse de perdatildeo do principal ou da multa e juros Portanto o perdatildeo de multa e juros tambeacutem natildeo constitui receita financeira pois como acessoacuterios acompanham a natureza do principal

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12 Do exposto concluishyse que o perdatildeo de diacutevida pela credora eacute um ato juriacutedico que faz acrescer o patrimocircnio da devedora de modo que revela capacidade contributiva (objetiva) que por caracterizar uma receita operacional (diversa da receita financeira) implica receita tributaacutevel pela Cofins e pelo PIS com a aliacutequota superior a zero (diversamente do que trata o art 1ordm do Decreto nordm 5442 de 09052005 cc o sect2ordm do art 27 da Lei nordm 10865 de 30042004)

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Sustenta a recorrente sem razatildeo que no caso concreto estarshyseshyia diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida sendo que os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estariam compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

Como bem argumentado na decisatildeo recorrida os abatimentos obtidos pela interessada para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras eis que

Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter receita por meio de empreacutestimos ou seja a empresa magicamente teria emprestado dinheiro do FGC para cobrir as inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil e ainda assim ao realizar a quitaccedilatildeo desses empreacutestimos teria obtido receitas de origem financeira

Vejashyse tambeacutem que a tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo No presente caso ao se aceitar a tese da interessada teriacuteamos a situaccedilatildeo iloacutegica pela qual a empresa emissora dos debecircntures (SSP) obteria receita financeira com a baixa dos tiacutetulos e a debenturista (FGC que tomou os debecircntures em garantia aos valores emprestados) teria que reconhecer uma despesa financeira

Ademais valores que foram emprestados pelo FGC para a contribuinte tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios natildeo podendo ter havido assim o abatimento de juros por pagamento antecipado Aleacutem do que os instrumentos legais (ldquoContrato de Muacutetuordquo ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avencasrdquo e o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento) foram todos assinados na mesma data em 31012011

Assim o perdatildeo parcial da diacutevida da contribuinte constitui uma receita decorrente de um acreacutescimo patrimonial para o devedor que natildeo pode ser qualificada como uma receita financeira vez que natildeo decorre de ganho em face da disponibilizaccedilatildeo de recursos

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para terceiros em certo periacuteodo de tempo O perdatildeo de uma diacutevida representa uma receita de natureza natildeo financeira cuja consequecircncia eacute o nascimento da capacidade contributiva para o PISPasep e a Cofins

Nesse sentido a Cosit shy CoordenaccedilatildeoshyGeral de Tributaccedilatildeo jaacute manifestou entendimento de que a remissatildeo de diacutevida representa uma receita operacional tributaacutevel pelo IRPJ CSLL PISPasep e Cofins

SOLUCcedilAtildeO DE CONSULTA Nordm 17 DE 27 DE ABRIL DE 2010

ASSUNTO Normas Gerais de Direito Tributaacuterio

EMENTA REMISSAtildeO DE DIacuteVIDA INCIDEcircNCIA DE IRPJ CSLL PISPASEP E COFINS

A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

DISPOSITIVOS LEGAIS art9ordm sect 3ordm II da Resoluccedilatildeo CFC No shy 750 de 1993 PARECER CTCFC N o shy 11 de 2004 art187 da Lei N o shy 6404 de 1976 arts 373 e 374 do RIR de 1999 art3ordm da Lei N o shy 9718 de 1998 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 10833 de 2003 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 106372002 art53 da Lei N o shy 9430 de 1996 arts 2ordm e 3ordm do Ato Declaratoacuterio Interpretativo SRF N o 25 de 2003 art 111 II do CTN

A questatildeo do perdatildeo de diacutevida jaacute foi apreciada no acircmbito do IRPJ pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuintes (1ordm CC) na 1ordf Cacircmara mediante o Acoacuterdatildeo 10197057 de 16122008 Relatora Sandra Maria Faroni com a seguinte ementa PERDAtildeO DE DIacuteVIDA TRIBUTACcedilAtildeO Constitui receita tributaacutevel o valor correspondente ao perdatildeo de diacutevida concedido agrave empresa

Tambeacutem a 1ordf Turma da 4ordf Cacircmara da 1ordf Seccedilatildeo do CARF manifestoushyse no mesmo sentido sobre o perdatildeo de juros de mora classificandoshyo como outras receitas operacionais tributaacuteveis pelo IRPJ CSLL e PISCofins conforme ementa abaixo

Processo nordm 102450037842008shy74 Acoacuterdatildeo nordm 1401001113ndash 4ordf Cacircmara 1ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 11 de fevereiro de 2014 Relator Antonio Bezerra Neto Ementa ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Anoshycalendaacuterio 2004 2005 2006 2007 PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como outras receitas operacionais

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

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DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

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V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

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sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

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Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

Fl 2380DF CARF MF

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 10: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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shy O proacuteprio art 161 do CTN manda incidir juros de mora sobre o creacutedito tributaacuterio ou seja sobre o principal e a penalidade pecuniaacuteria natildeo havendo nenhuma disposiccedilatildeo legal que diga o contraacuterio

Eacute o relatoacuterio

Voto Vencido

Conselheira MARIA APARECIDA MARTINS DE PAULA Relatora

Atendidos aos requisitos de admissibilidade tomashyse conhecimento do recurso voluntaacuterio

III NULIDADES DOS AUTOS DE INFRACcedilAtildeO E DO V ACOacuteRDAtildeO RECORRIDO

(i) A Nulidade dos Autos de Infraccedilatildeo shy Falta de fundamentaccedilatildeo para desconsideraccedilatildeo de atos juriacutedicos praticados

Suscita a recorrente a nulidade dos autos de infraccedilatildeo tendo em vista que natildeo teria ocorrido o perdatildeo de diacutevidas alegado pela fiscalizaccedilatildeo como premissa da autuaccedilatildeo

Ocorre que natildeo obstante natildeo existisse nenhum documento ou contrato mencionando literalmente os termos remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida a fiscalizaccedilatildeo motivadamente qualificou juridicamente os fatos descritos nos documentos da contribuinte como um verdadeiro perdatildeo de diacutevidas natildeo havendo nisso qualquer nulidade mas a legiacutetima interpretaccedilatildeo dos negoacutecios da contribuinte em conformidade com o disposto no art 112 do Coacutedigo Civil Nas declaraccedilotildees de vontade se atenderaacute mais agrave intenccedilatildeo nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem

No mais a questatildeo de saber de os fatos narrados pela fiscalizaccedilatildeo caracterizaram ou natildeo um perdatildeo de diacutevidas eacute tema a ser discutido no meacuterito

(ii) A Nulidade do V Acoacuterdatildeo recorrido shy Falta de anaacutelise dos argumentos de defesa apresentados

Improcede a alegaccedilatildeo da recorrente de que a Delegacia de Julgamento natildeo teria debatido a nulidade suscitada pela entatildeo impugnante

Conforme se vecirc no iniacutecio do voto da decisatildeo recorrida o julgador sustentou a legitimidade dos autos de infraccedilatildeo eis que estatildeo devidamente motivados e contecircm minudentemente a indicaccedilatildeo dos fatos e dos fundamentos juriacutedicos nos termos da Lei nordm 978499 do art art 10 do Decreto nordm 7023572 sem que representem qualquer situaccedilatildeo de nulidade descrita no art 59 desse Decreto

Na sequecircncia como era de se esperar natildeo tendo verificado situaccedilatildeo de nulidade na lavratura dos autos de infraccedilatildeo o julgador deixou a alegaccedilatildeo da impugnante da falsa premissa na autuaccedilatildeo de que natildeo seria o caso de perdatildeo de diacutevida para a anaacutelise na parte do meacuterito nos seguintes termos

() Por fim eacute de se mencionar conforme se verifica a seguir na anaacutelise do meacuterito que a fiscalizaccedilatildeo fundamentou os autos de infraccedilatildeo na realidade faacutetica natildeo tendo sido realizada portanto a adoccedilatildeo de falsa premissa

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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Afastashyse dessa forma a preliminar de nulidade levantada [grifei] ()

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

Em breve resumo podemos assim descrever as negociaccedilotildees efetuadas pela contribuinte Siacutelvio Santos Participaccedilotildees (SSP) que redundaram na conclusatildeo da fiscalizaccedilatildeo de que houve um perdatildeo parcial da diacutevida entre a contribuinte e o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no montante de R$ 335 bilhotildees (= R$ 38 bilhotildees shy R$ 450 milhotildees)

a) a contribuinte contraiu duas diacutevidas com o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor total de R$ 38 bilhotildees o qual foi repassado diretamente ao Banco Panamericano

b) a contribuinte e sua controlada BF venderam a totalidade das accedilotildees que detinham do Banco Panamericano ao BTG Pactual o qual em contrapartida lhes pagou o valor de R$450 milhotildees em creacuteditos a receber

c) a contribuinte e a BF celebraram o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento com o FGC por meio do qual esse uacuteltimo aceitou o creacutedito no valor de R$ 450 milhotildees em creacuteditos a receber como daccedilatildeo em pagamento pela diacutevida de R$ 38 bilhotildees

Conforme explica Venosa1 a remissatildeo2 eacute o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento Ressalva o autor que apesar da remissatildeo ser uma espeacutecie de renuacutencia com ela natildeo se confunde pois embora possa ser um ato unilateral natildeo prescinde da concordacircncia do devedor Prossegue Venosa esclarecendo que nada impede que a remissatildeo tome a forma bilateral de um contrato mas natildeo eacute sua essecircncia Essencial eacute a aquiescecircncia do devedor ainda que presumida ou taacutecita

No caso concreto natildeo pairam duacutevidas do ato de vontade do FGC de liberar a contribuinte parcialmente do pagamento da diacutevida e da concordacircncia desta uacuteltima no ato A contribuinte e a BF cederam os seus creacuteditos ao FGC em valor correspondente somente a parte da diacutevida e o FGC os aceitou como quitaccedilatildeo integral das diacutevidas da contribuinte restando caracterizada remissatildeo parcial da diacutevida da contribuinte conforme consta na Consolidaccedilatildeo do Instrumento de Daccedilatildeo em Pagamento (fls 414421)

1 VENOSA Siacutelvio de Salvo Direito Civil teoria geral das obrigaccedilotildees e teoria geral dos contratos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2004 p 335 2 Coacutedigo Civil Da Remissatildeo das Diacutevidas Art 385 A remissatildeo da diacutevida aceita pelo devedor extingue a obrigaccedilatildeo mas sem prejuiacutezo de terceiro Art 386 A devoluccedilatildeo voluntaacuteria do tiacutetulo da obrigaccedilatildeo quando por escrito particular prova desoneraccedilatildeo do devedor e seus coshyobrigados se o credor for capaz de alienar e o devedor capaz de adquirir Art 387 A restituiccedilatildeo voluntaacuteria do objeto empenhado prova a renuacutencia do credor agrave garantia real natildeo a extinccedilatildeo da diacutevida Art 388 A remissatildeo concedida a um dos coshydevedores extingue a diacutevida na parte a ele correspondente de modo que ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros jaacute lhes natildeo pode cobrar o deacutebito sem deduccedilatildeo da parte remitida

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Alega a recorrente que contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor No entanto acredita que esse resultado escritural positivo natildeo representaria ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional por ela praticada de forma que natildeo estariam sujeitos agrave incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais

Natildeo assiste razatildeo agrave recorrente A baixa parcial das suas diacutevidas sem o correspondente pagamento no montante de R$ 335 bilhotildees constitui uma receita originada da extinccedilatildeo de um passivo (obrigaccedilatildeo) sem o desaparecimento concomitante de um ativo de igual ou superior valor constituindo sim um acreacutescimo patrimonial

Para a Equipe de Professores da FEAUSP3 a receita pode ser assim definida

()

Entendeshyse por Receita a entrada de elementos para o ativo sob forma de dinheiro ou direitos a receber correspondentes normalmente agrave venda de mercadorias de produtos ou agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Uma receita tambeacutem pode derivar de juros sobre depoacutesitos bancaacuterios ou tiacutetulos de alugueacuteis e outras origens

Agraves vezes a Receita ocorre em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de um passivo [negritei]

()

Conforme jaacute dispunha4 a Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no seu art 9ordm sect3ordm II sect 3ordm As receitas consideramshyse realizadas () II ndash quando da extinccedilatildeo parcial ou total de um passivo qualquer que seja o motivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior ()

Posteriormente mediante a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 8 de dezembro de 2011 assim se pronunciou o Conselho Federal de Contabilidade nos paraacutegrafos 425 e 447 inclusive mencionando o perdatildeo de diacutevidas como um exemplo de uma receita

()

3 IUDIacuteCIBUS Seacutergio (coord) Contabilidade Introdutoacuteria 11 ed Satildeo Paulo Atlas 2010 p 65 4 Antes de sua alteraccedilatildeo pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 1282 de 28 de maio de 2010

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425Os elementos de receitas e despesas satildeo definidos como segue (a) receitas satildeo aumentos nos benefiacutecios econocircmicos durante o periacuteodo contaacutebil sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuiccedilatildeo de passivos que resultam em aumentos do patrimocircnio liacutequido e que natildeo estejam relacionados com a contribuiccedilatildeo dos detentores dos instrumentos patrimoniais () Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga) [negritei]

O Regulamento do Imposto de Renda assim se pronuncia sobre as receitas e despesas financeiras

Subseccedilatildeo I Receitas e Despesas Financeiras Receitas Art 373 Os juros o desconto o lucro na operaccedilatildeo de reporte e os rendimentos de aplicaccedilotildees financeiras de renda fixa ganhos pelo contribuinte seratildeo incluiacutedos no lucro operacional e quando derivados de operaccedilotildees ou tiacutetulos com vencimento posterior ao encerramento do periacuteodo de apuraccedilatildeo poderatildeo ser rateados pelos periacuteodos a que competirem (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 e Lei nordm 8981 de 1995 art 76 sect2ordm e Lei nordm 9249 de 1995 art 11 sect3ordm) Despesas Art 374 Os juros pagos ou incorridos pelo contribuinte satildeo dedutiacuteveis como custo ou despesa operacional observadas as seguintes normas (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 paraacutegrafo uacutenico) Ishy os juros pagos antecipadamente os descontos de tiacutetulos de creacutedito e o desaacutegio concedido na colocaccedilatildeo de debecircntures ou tiacutetulos de creacutedito deveratildeo ser apropriados pro rata temporis nos periacuteodos de apuraccedilatildeo a que competirem II shy os juros de empreacutestimos contraiacutedos para financiar a aquisiccedilatildeo ou construccedilatildeo de bens do ativo permanente incorridos durante as fases de construccedilatildeo e preacuteshyoperacional podem ser registrados no ativo diferido para serem amortizados ()

Na ausecircncia da completa definiccedilatildeo na legislaccedilatildeo sobre o que seriam receitas e despesas financeiras depreendeshyse do dispositivo acima que as receitas e despesas financeiras

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satildeo decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros de forma que poderiam ser conceituadas como receitas pela aplicaccedilatildeo de recursos pecuniaacuterios proacuteprios ou despesas pela utilizaccedilatildeo de recursos de terceiros

Como explicado na Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit de 31 de agosto de 2007 entendem Silveacuterio das Neves e Paulo Viceconti que os descontos financeiros satildeo aqueles ligados ou condicionados ao pagamento ou recebimento de tiacutetulos por antecipaccedilatildeo ldquosatildeo os descontos obtidos na liquidaccedilatildeo antecipada de obrigaccedilotildeesrdquo Ademais prescrevem esses autores que a conta ldquoDescontos Financeiros Obtidosrdquo (Receita Financeira) deveraacute ser encerrada a creacutedito de resultado do exerciacuteciordquo Por sua vez entendem ainda que os descontos incondicionais satildeo ldquoparcelas redutoras dos preccedilos de compra e venda constantes da nota fiscal ou da fatura de serviccedilo e natildeo dependentes de evento posterior agrave emissatildeo desses documentosrdquo (NEVES Silveacuterio das VICECONTI Paulo Eduardo Vilchez Contabilidade baacutesica 12 ed rev e atual Satildeo Paulo Frase Editora 2004 pp 115shy116)

Nessa esteira concluishyse com os fundamentos utilizados nessa Soluccedilatildeo de Consulta abaixo transcritos que o perdatildeo de diacutevida natildeo pode ser considerado como um desconto financeiro mas uma espeacutecie de desconto incondicional natildeo considerado como uma receita financeira

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1188 In casu natildeo houve desconto por pagamento antecipado nem precircmio por resgate de tiacutetulo ou seja nenhum confronto entre aspectos financeiramente favoraacuteveis e desfavoraacuteveis mas sim um simples perdatildeo de diacutevida (ato liberatoacuterio) pela credora em favor da devedora (consulente) que se coaduna com o desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado como ldquoreceita financeirardquo Logo a presente insubsistecircncia ativa (do passivo) natildeo haacute de ser tratada como uma ldquoReceita Financeirardquo mas como ldquoReceita shy Outros Resultados Operacionaisrdquo o que leva ao entendimento que a remissatildeo de diacutevida eacute fato imponiacutevel da Cofins e do PIS

1189 O desconto tem natureza de receita financeira quando haacute novaccedilatildeo em virtude de uma contraposiccedilatildeo de fatores favoraacuteveis e desfavoraacuteveis (pagamento antecipado que gera uma reduccedilatildeo de juros ndash recebimento em funccedilatildeo do tempo de recebimento do creacutedito) o que eacute diferente do caso em tela que retrata uma remissatildeo da diacutevida (ato liberatoacuterio da credora em favor da devedora) pela qual houve um abandono do proacuteprio capital (principal)

11810 Depreendeshyse portanto que o valor relativo agraves diacutevidas perdoadas seja parcial ou integral constitui receita para o devedor Para que as receitas sejam consideradas como ldquofinanceirasrdquo haacute de haver como caracteriacutestica um ganho em razatildeo da disponibilidade de recursos para terceiros em funccedilatildeo de certo periacuteodo de tempo Sendo assim o perdatildeo da diacutevida ou sua reduccedilatildeo seja mediante renegociaccedilatildeo ou novaccedilatildeo natildeo constitui receita financeira Eacute irrelevante para caracterizar a receita tratarshyse de perdatildeo do principal ou da multa e juros Portanto o perdatildeo de multa e juros tambeacutem natildeo constitui receita financeira pois como acessoacuterios acompanham a natureza do principal

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12 Do exposto concluishyse que o perdatildeo de diacutevida pela credora eacute um ato juriacutedico que faz acrescer o patrimocircnio da devedora de modo que revela capacidade contributiva (objetiva) que por caracterizar uma receita operacional (diversa da receita financeira) implica receita tributaacutevel pela Cofins e pelo PIS com a aliacutequota superior a zero (diversamente do que trata o art 1ordm do Decreto nordm 5442 de 09052005 cc o sect2ordm do art 27 da Lei nordm 10865 de 30042004)

()

Sustenta a recorrente sem razatildeo que no caso concreto estarshyseshyia diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida sendo que os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estariam compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

Como bem argumentado na decisatildeo recorrida os abatimentos obtidos pela interessada para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras eis que

Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter receita por meio de empreacutestimos ou seja a empresa magicamente teria emprestado dinheiro do FGC para cobrir as inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil e ainda assim ao realizar a quitaccedilatildeo desses empreacutestimos teria obtido receitas de origem financeira

Vejashyse tambeacutem que a tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo No presente caso ao se aceitar a tese da interessada teriacuteamos a situaccedilatildeo iloacutegica pela qual a empresa emissora dos debecircntures (SSP) obteria receita financeira com a baixa dos tiacutetulos e a debenturista (FGC que tomou os debecircntures em garantia aos valores emprestados) teria que reconhecer uma despesa financeira

Ademais valores que foram emprestados pelo FGC para a contribuinte tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios natildeo podendo ter havido assim o abatimento de juros por pagamento antecipado Aleacutem do que os instrumentos legais (ldquoContrato de Muacutetuordquo ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avencasrdquo e o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento) foram todos assinados na mesma data em 31012011

Assim o perdatildeo parcial da diacutevida da contribuinte constitui uma receita decorrente de um acreacutescimo patrimonial para o devedor que natildeo pode ser qualificada como uma receita financeira vez que natildeo decorre de ganho em face da disponibilizaccedilatildeo de recursos

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para terceiros em certo periacuteodo de tempo O perdatildeo de uma diacutevida representa uma receita de natureza natildeo financeira cuja consequecircncia eacute o nascimento da capacidade contributiva para o PISPasep e a Cofins

Nesse sentido a Cosit shy CoordenaccedilatildeoshyGeral de Tributaccedilatildeo jaacute manifestou entendimento de que a remissatildeo de diacutevida representa uma receita operacional tributaacutevel pelo IRPJ CSLL PISPasep e Cofins

SOLUCcedilAtildeO DE CONSULTA Nordm 17 DE 27 DE ABRIL DE 2010

ASSUNTO Normas Gerais de Direito Tributaacuterio

EMENTA REMISSAtildeO DE DIacuteVIDA INCIDEcircNCIA DE IRPJ CSLL PISPASEP E COFINS

A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

DISPOSITIVOS LEGAIS art9ordm sect 3ordm II da Resoluccedilatildeo CFC No shy 750 de 1993 PARECER CTCFC N o shy 11 de 2004 art187 da Lei N o shy 6404 de 1976 arts 373 e 374 do RIR de 1999 art3ordm da Lei N o shy 9718 de 1998 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 10833 de 2003 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 106372002 art53 da Lei N o shy 9430 de 1996 arts 2ordm e 3ordm do Ato Declaratoacuterio Interpretativo SRF N o 25 de 2003 art 111 II do CTN

A questatildeo do perdatildeo de diacutevida jaacute foi apreciada no acircmbito do IRPJ pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuintes (1ordm CC) na 1ordf Cacircmara mediante o Acoacuterdatildeo 10197057 de 16122008 Relatora Sandra Maria Faroni com a seguinte ementa PERDAtildeO DE DIacuteVIDA TRIBUTACcedilAtildeO Constitui receita tributaacutevel o valor correspondente ao perdatildeo de diacutevida concedido agrave empresa

Tambeacutem a 1ordf Turma da 4ordf Cacircmara da 1ordf Seccedilatildeo do CARF manifestoushyse no mesmo sentido sobre o perdatildeo de juros de mora classificandoshyo como outras receitas operacionais tributaacuteveis pelo IRPJ CSLL e PISCofins conforme ementa abaixo

Processo nordm 102450037842008shy74 Acoacuterdatildeo nordm 1401001113ndash 4ordf Cacircmara 1ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 11 de fevereiro de 2014 Relator Antonio Bezerra Neto Ementa ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Anoshycalendaacuterio 2004 2005 2006 2007 PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como outras receitas operacionais

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

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DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

Fl 2378DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

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V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

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sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

Fl 2379DF CARF MF

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

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Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

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Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

Fl 2390DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 17

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

Fl 2391DF CARF MF

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

Fl 2392DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 18

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

Fl 2393DF CARF MF

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

Fl 2397DF CARF MF

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 11: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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Afastashyse dessa forma a preliminar de nulidade levantada [grifei] ()

IV IMPOSSIBILIDADE DE EXIGEcircNCIA DO PIS E COFINS SOBRE A BAIXA DE PASSIVOS

Em breve resumo podemos assim descrever as negociaccedilotildees efetuadas pela contribuinte Siacutelvio Santos Participaccedilotildees (SSP) que redundaram na conclusatildeo da fiscalizaccedilatildeo de que houve um perdatildeo parcial da diacutevida entre a contribuinte e o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no montante de R$ 335 bilhotildees (= R$ 38 bilhotildees shy R$ 450 milhotildees)

a) a contribuinte contraiu duas diacutevidas com o Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor total de R$ 38 bilhotildees o qual foi repassado diretamente ao Banco Panamericano

b) a contribuinte e sua controlada BF venderam a totalidade das accedilotildees que detinham do Banco Panamericano ao BTG Pactual o qual em contrapartida lhes pagou o valor de R$450 milhotildees em creacuteditos a receber

c) a contribuinte e a BF celebraram o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento com o FGC por meio do qual esse uacuteltimo aceitou o creacutedito no valor de R$ 450 milhotildees em creacuteditos a receber como daccedilatildeo em pagamento pela diacutevida de R$ 38 bilhotildees

Conforme explica Venosa1 a remissatildeo2 eacute o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento Ressalva o autor que apesar da remissatildeo ser uma espeacutecie de renuacutencia com ela natildeo se confunde pois embora possa ser um ato unilateral natildeo prescinde da concordacircncia do devedor Prossegue Venosa esclarecendo que nada impede que a remissatildeo tome a forma bilateral de um contrato mas natildeo eacute sua essecircncia Essencial eacute a aquiescecircncia do devedor ainda que presumida ou taacutecita

No caso concreto natildeo pairam duacutevidas do ato de vontade do FGC de liberar a contribuinte parcialmente do pagamento da diacutevida e da concordacircncia desta uacuteltima no ato A contribuinte e a BF cederam os seus creacuteditos ao FGC em valor correspondente somente a parte da diacutevida e o FGC os aceitou como quitaccedilatildeo integral das diacutevidas da contribuinte restando caracterizada remissatildeo parcial da diacutevida da contribuinte conforme consta na Consolidaccedilatildeo do Instrumento de Daccedilatildeo em Pagamento (fls 414421)

1 VENOSA Siacutelvio de Salvo Direito Civil teoria geral das obrigaccedilotildees e teoria geral dos contratos 4 ed Satildeo Paulo Atlas 2004 p 335 2 Coacutedigo Civil Da Remissatildeo das Diacutevidas Art 385 A remissatildeo da diacutevida aceita pelo devedor extingue a obrigaccedilatildeo mas sem prejuiacutezo de terceiro Art 386 A devoluccedilatildeo voluntaacuteria do tiacutetulo da obrigaccedilatildeo quando por escrito particular prova desoneraccedilatildeo do devedor e seus coshyobrigados se o credor for capaz de alienar e o devedor capaz de adquirir Art 387 A restituiccedilatildeo voluntaacuteria do objeto empenhado prova a renuacutencia do credor agrave garantia real natildeo a extinccedilatildeo da diacutevida Art 388 A remissatildeo concedida a um dos coshydevedores extingue a diacutevida na parte a ele correspondente de modo que ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros jaacute lhes natildeo pode cobrar o deacutebito sem deduccedilatildeo da parte remitida

Fl 2371DF CARF MF

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Alega a recorrente que contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor No entanto acredita que esse resultado escritural positivo natildeo representaria ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional por ela praticada de forma que natildeo estariam sujeitos agrave incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais

Natildeo assiste razatildeo agrave recorrente A baixa parcial das suas diacutevidas sem o correspondente pagamento no montante de R$ 335 bilhotildees constitui uma receita originada da extinccedilatildeo de um passivo (obrigaccedilatildeo) sem o desaparecimento concomitante de um ativo de igual ou superior valor constituindo sim um acreacutescimo patrimonial

Para a Equipe de Professores da FEAUSP3 a receita pode ser assim definida

()

Entendeshyse por Receita a entrada de elementos para o ativo sob forma de dinheiro ou direitos a receber correspondentes normalmente agrave venda de mercadorias de produtos ou agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Uma receita tambeacutem pode derivar de juros sobre depoacutesitos bancaacuterios ou tiacutetulos de alugueacuteis e outras origens

Agraves vezes a Receita ocorre em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de um passivo [negritei]

()

Conforme jaacute dispunha4 a Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no seu art 9ordm sect3ordm II sect 3ordm As receitas consideramshyse realizadas () II ndash quando da extinccedilatildeo parcial ou total de um passivo qualquer que seja o motivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior ()

Posteriormente mediante a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 8 de dezembro de 2011 assim se pronunciou o Conselho Federal de Contabilidade nos paraacutegrafos 425 e 447 inclusive mencionando o perdatildeo de diacutevidas como um exemplo de uma receita

()

3 IUDIacuteCIBUS Seacutergio (coord) Contabilidade Introdutoacuteria 11 ed Satildeo Paulo Atlas 2010 p 65 4 Antes de sua alteraccedilatildeo pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 1282 de 28 de maio de 2010

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425Os elementos de receitas e despesas satildeo definidos como segue (a) receitas satildeo aumentos nos benefiacutecios econocircmicos durante o periacuteodo contaacutebil sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuiccedilatildeo de passivos que resultam em aumentos do patrimocircnio liacutequido e que natildeo estejam relacionados com a contribuiccedilatildeo dos detentores dos instrumentos patrimoniais () Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga) [negritei]

O Regulamento do Imposto de Renda assim se pronuncia sobre as receitas e despesas financeiras

Subseccedilatildeo I Receitas e Despesas Financeiras Receitas Art 373 Os juros o desconto o lucro na operaccedilatildeo de reporte e os rendimentos de aplicaccedilotildees financeiras de renda fixa ganhos pelo contribuinte seratildeo incluiacutedos no lucro operacional e quando derivados de operaccedilotildees ou tiacutetulos com vencimento posterior ao encerramento do periacuteodo de apuraccedilatildeo poderatildeo ser rateados pelos periacuteodos a que competirem (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 e Lei nordm 8981 de 1995 art 76 sect2ordm e Lei nordm 9249 de 1995 art 11 sect3ordm) Despesas Art 374 Os juros pagos ou incorridos pelo contribuinte satildeo dedutiacuteveis como custo ou despesa operacional observadas as seguintes normas (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 paraacutegrafo uacutenico) Ishy os juros pagos antecipadamente os descontos de tiacutetulos de creacutedito e o desaacutegio concedido na colocaccedilatildeo de debecircntures ou tiacutetulos de creacutedito deveratildeo ser apropriados pro rata temporis nos periacuteodos de apuraccedilatildeo a que competirem II shy os juros de empreacutestimos contraiacutedos para financiar a aquisiccedilatildeo ou construccedilatildeo de bens do ativo permanente incorridos durante as fases de construccedilatildeo e preacuteshyoperacional podem ser registrados no ativo diferido para serem amortizados ()

Na ausecircncia da completa definiccedilatildeo na legislaccedilatildeo sobre o que seriam receitas e despesas financeiras depreendeshyse do dispositivo acima que as receitas e despesas financeiras

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satildeo decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros de forma que poderiam ser conceituadas como receitas pela aplicaccedilatildeo de recursos pecuniaacuterios proacuteprios ou despesas pela utilizaccedilatildeo de recursos de terceiros

Como explicado na Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit de 31 de agosto de 2007 entendem Silveacuterio das Neves e Paulo Viceconti que os descontos financeiros satildeo aqueles ligados ou condicionados ao pagamento ou recebimento de tiacutetulos por antecipaccedilatildeo ldquosatildeo os descontos obtidos na liquidaccedilatildeo antecipada de obrigaccedilotildeesrdquo Ademais prescrevem esses autores que a conta ldquoDescontos Financeiros Obtidosrdquo (Receita Financeira) deveraacute ser encerrada a creacutedito de resultado do exerciacuteciordquo Por sua vez entendem ainda que os descontos incondicionais satildeo ldquoparcelas redutoras dos preccedilos de compra e venda constantes da nota fiscal ou da fatura de serviccedilo e natildeo dependentes de evento posterior agrave emissatildeo desses documentosrdquo (NEVES Silveacuterio das VICECONTI Paulo Eduardo Vilchez Contabilidade baacutesica 12 ed rev e atual Satildeo Paulo Frase Editora 2004 pp 115shy116)

Nessa esteira concluishyse com os fundamentos utilizados nessa Soluccedilatildeo de Consulta abaixo transcritos que o perdatildeo de diacutevida natildeo pode ser considerado como um desconto financeiro mas uma espeacutecie de desconto incondicional natildeo considerado como uma receita financeira

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1188 In casu natildeo houve desconto por pagamento antecipado nem precircmio por resgate de tiacutetulo ou seja nenhum confronto entre aspectos financeiramente favoraacuteveis e desfavoraacuteveis mas sim um simples perdatildeo de diacutevida (ato liberatoacuterio) pela credora em favor da devedora (consulente) que se coaduna com o desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado como ldquoreceita financeirardquo Logo a presente insubsistecircncia ativa (do passivo) natildeo haacute de ser tratada como uma ldquoReceita Financeirardquo mas como ldquoReceita shy Outros Resultados Operacionaisrdquo o que leva ao entendimento que a remissatildeo de diacutevida eacute fato imponiacutevel da Cofins e do PIS

1189 O desconto tem natureza de receita financeira quando haacute novaccedilatildeo em virtude de uma contraposiccedilatildeo de fatores favoraacuteveis e desfavoraacuteveis (pagamento antecipado que gera uma reduccedilatildeo de juros ndash recebimento em funccedilatildeo do tempo de recebimento do creacutedito) o que eacute diferente do caso em tela que retrata uma remissatildeo da diacutevida (ato liberatoacuterio da credora em favor da devedora) pela qual houve um abandono do proacuteprio capital (principal)

11810 Depreendeshyse portanto que o valor relativo agraves diacutevidas perdoadas seja parcial ou integral constitui receita para o devedor Para que as receitas sejam consideradas como ldquofinanceirasrdquo haacute de haver como caracteriacutestica um ganho em razatildeo da disponibilidade de recursos para terceiros em funccedilatildeo de certo periacuteodo de tempo Sendo assim o perdatildeo da diacutevida ou sua reduccedilatildeo seja mediante renegociaccedilatildeo ou novaccedilatildeo natildeo constitui receita financeira Eacute irrelevante para caracterizar a receita tratarshyse de perdatildeo do principal ou da multa e juros Portanto o perdatildeo de multa e juros tambeacutem natildeo constitui receita financeira pois como acessoacuterios acompanham a natureza do principal

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12 Do exposto concluishyse que o perdatildeo de diacutevida pela credora eacute um ato juriacutedico que faz acrescer o patrimocircnio da devedora de modo que revela capacidade contributiva (objetiva) que por caracterizar uma receita operacional (diversa da receita financeira) implica receita tributaacutevel pela Cofins e pelo PIS com a aliacutequota superior a zero (diversamente do que trata o art 1ordm do Decreto nordm 5442 de 09052005 cc o sect2ordm do art 27 da Lei nordm 10865 de 30042004)

()

Sustenta a recorrente sem razatildeo que no caso concreto estarshyseshyia diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida sendo que os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estariam compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

Como bem argumentado na decisatildeo recorrida os abatimentos obtidos pela interessada para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras eis que

Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter receita por meio de empreacutestimos ou seja a empresa magicamente teria emprestado dinheiro do FGC para cobrir as inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil e ainda assim ao realizar a quitaccedilatildeo desses empreacutestimos teria obtido receitas de origem financeira

Vejashyse tambeacutem que a tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo No presente caso ao se aceitar a tese da interessada teriacuteamos a situaccedilatildeo iloacutegica pela qual a empresa emissora dos debecircntures (SSP) obteria receita financeira com a baixa dos tiacutetulos e a debenturista (FGC que tomou os debecircntures em garantia aos valores emprestados) teria que reconhecer uma despesa financeira

Ademais valores que foram emprestados pelo FGC para a contribuinte tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios natildeo podendo ter havido assim o abatimento de juros por pagamento antecipado Aleacutem do que os instrumentos legais (ldquoContrato de Muacutetuordquo ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avencasrdquo e o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento) foram todos assinados na mesma data em 31012011

Assim o perdatildeo parcial da diacutevida da contribuinte constitui uma receita decorrente de um acreacutescimo patrimonial para o devedor que natildeo pode ser qualificada como uma receita financeira vez que natildeo decorre de ganho em face da disponibilizaccedilatildeo de recursos

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para terceiros em certo periacuteodo de tempo O perdatildeo de uma diacutevida representa uma receita de natureza natildeo financeira cuja consequecircncia eacute o nascimento da capacidade contributiva para o PISPasep e a Cofins

Nesse sentido a Cosit shy CoordenaccedilatildeoshyGeral de Tributaccedilatildeo jaacute manifestou entendimento de que a remissatildeo de diacutevida representa uma receita operacional tributaacutevel pelo IRPJ CSLL PISPasep e Cofins

SOLUCcedilAtildeO DE CONSULTA Nordm 17 DE 27 DE ABRIL DE 2010

ASSUNTO Normas Gerais de Direito Tributaacuterio

EMENTA REMISSAtildeO DE DIacuteVIDA INCIDEcircNCIA DE IRPJ CSLL PISPASEP E COFINS

A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

DISPOSITIVOS LEGAIS art9ordm sect 3ordm II da Resoluccedilatildeo CFC No shy 750 de 1993 PARECER CTCFC N o shy 11 de 2004 art187 da Lei N o shy 6404 de 1976 arts 373 e 374 do RIR de 1999 art3ordm da Lei N o shy 9718 de 1998 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 10833 de 2003 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 106372002 art53 da Lei N o shy 9430 de 1996 arts 2ordm e 3ordm do Ato Declaratoacuterio Interpretativo SRF N o 25 de 2003 art 111 II do CTN

A questatildeo do perdatildeo de diacutevida jaacute foi apreciada no acircmbito do IRPJ pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuintes (1ordm CC) na 1ordf Cacircmara mediante o Acoacuterdatildeo 10197057 de 16122008 Relatora Sandra Maria Faroni com a seguinte ementa PERDAtildeO DE DIacuteVIDA TRIBUTACcedilAtildeO Constitui receita tributaacutevel o valor correspondente ao perdatildeo de diacutevida concedido agrave empresa

Tambeacutem a 1ordf Turma da 4ordf Cacircmara da 1ordf Seccedilatildeo do CARF manifestoushyse no mesmo sentido sobre o perdatildeo de juros de mora classificandoshyo como outras receitas operacionais tributaacuteveis pelo IRPJ CSLL e PISCofins conforme ementa abaixo

Processo nordm 102450037842008shy74 Acoacuterdatildeo nordm 1401001113ndash 4ordf Cacircmara 1ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 11 de fevereiro de 2014 Relator Antonio Bezerra Neto Ementa ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Anoshycalendaacuterio 2004 2005 2006 2007 PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como outras receitas operacionais

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

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DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

Fl 2378DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

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V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

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sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

Fl 2379DF CARF MF

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

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Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

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Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

Fl 2390DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 17

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

Fl 2391DF CARF MF

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

Fl 2392DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 18

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

Fl 2393DF CARF MF

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

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Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

Fl 2397DF CARF MF

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 12: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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Alega a recorrente que contabilizou determinados passivos em razatildeo da captaccedilatildeo de recursos junto ao FGC por meio das Debecircntures e do Contrato de Muacutetuo e que em seguida apoacutes liquidar tais passivos por meio de daccedilatildeo em pagamento foi devidamente liberada da obrigaccedilatildeo relativa ao saldo remanescente em razatildeo de quitaccedilatildeo expressa outorgada pelo seu credor No entanto acredita que esse resultado escritural positivo natildeo representaria ingresso de novos valores em decorrecircncia de uma atividade operacional ou natildeo operacional por ela praticada de forma que natildeo estariam sujeitos agrave incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais

Natildeo assiste razatildeo agrave recorrente A baixa parcial das suas diacutevidas sem o correspondente pagamento no montante de R$ 335 bilhotildees constitui uma receita originada da extinccedilatildeo de um passivo (obrigaccedilatildeo) sem o desaparecimento concomitante de um ativo de igual ou superior valor constituindo sim um acreacutescimo patrimonial

Para a Equipe de Professores da FEAUSP3 a receita pode ser assim definida

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Entendeshyse por Receita a entrada de elementos para o ativo sob forma de dinheiro ou direitos a receber correspondentes normalmente agrave venda de mercadorias de produtos ou agrave prestaccedilatildeo de serviccedilos Uma receita tambeacutem pode derivar de juros sobre depoacutesitos bancaacuterios ou tiacutetulos de alugueacuteis e outras origens

Agraves vezes a Receita ocorre em funccedilatildeo da reduccedilatildeo de um passivo [negritei]

()

Conforme jaacute dispunha4 a Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no seu art 9ordm sect3ordm II sect 3ordm As receitas consideramshyse realizadas () II ndash quando da extinccedilatildeo parcial ou total de um passivo qualquer que seja o motivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior ()

Posteriormente mediante a Resoluccedilatildeo CFC nordm 1374 de 8 de dezembro de 2011 assim se pronunciou o Conselho Federal de Contabilidade nos paraacutegrafos 425 e 447 inclusive mencionando o perdatildeo de diacutevidas como um exemplo de uma receita

()

3 IUDIacuteCIBUS Seacutergio (coord) Contabilidade Introdutoacuteria 11 ed Satildeo Paulo Atlas 2010 p 65 4 Antes de sua alteraccedilatildeo pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 1282 de 28 de maio de 2010

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425Os elementos de receitas e despesas satildeo definidos como segue (a) receitas satildeo aumentos nos benefiacutecios econocircmicos durante o periacuteodo contaacutebil sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuiccedilatildeo de passivos que resultam em aumentos do patrimocircnio liacutequido e que natildeo estejam relacionados com a contribuiccedilatildeo dos detentores dos instrumentos patrimoniais () Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga) [negritei]

O Regulamento do Imposto de Renda assim se pronuncia sobre as receitas e despesas financeiras

Subseccedilatildeo I Receitas e Despesas Financeiras Receitas Art 373 Os juros o desconto o lucro na operaccedilatildeo de reporte e os rendimentos de aplicaccedilotildees financeiras de renda fixa ganhos pelo contribuinte seratildeo incluiacutedos no lucro operacional e quando derivados de operaccedilotildees ou tiacutetulos com vencimento posterior ao encerramento do periacuteodo de apuraccedilatildeo poderatildeo ser rateados pelos periacuteodos a que competirem (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 e Lei nordm 8981 de 1995 art 76 sect2ordm e Lei nordm 9249 de 1995 art 11 sect3ordm) Despesas Art 374 Os juros pagos ou incorridos pelo contribuinte satildeo dedutiacuteveis como custo ou despesa operacional observadas as seguintes normas (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 paraacutegrafo uacutenico) Ishy os juros pagos antecipadamente os descontos de tiacutetulos de creacutedito e o desaacutegio concedido na colocaccedilatildeo de debecircntures ou tiacutetulos de creacutedito deveratildeo ser apropriados pro rata temporis nos periacuteodos de apuraccedilatildeo a que competirem II shy os juros de empreacutestimos contraiacutedos para financiar a aquisiccedilatildeo ou construccedilatildeo de bens do ativo permanente incorridos durante as fases de construccedilatildeo e preacuteshyoperacional podem ser registrados no ativo diferido para serem amortizados ()

Na ausecircncia da completa definiccedilatildeo na legislaccedilatildeo sobre o que seriam receitas e despesas financeiras depreendeshyse do dispositivo acima que as receitas e despesas financeiras

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satildeo decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros de forma que poderiam ser conceituadas como receitas pela aplicaccedilatildeo de recursos pecuniaacuterios proacuteprios ou despesas pela utilizaccedilatildeo de recursos de terceiros

Como explicado na Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit de 31 de agosto de 2007 entendem Silveacuterio das Neves e Paulo Viceconti que os descontos financeiros satildeo aqueles ligados ou condicionados ao pagamento ou recebimento de tiacutetulos por antecipaccedilatildeo ldquosatildeo os descontos obtidos na liquidaccedilatildeo antecipada de obrigaccedilotildeesrdquo Ademais prescrevem esses autores que a conta ldquoDescontos Financeiros Obtidosrdquo (Receita Financeira) deveraacute ser encerrada a creacutedito de resultado do exerciacuteciordquo Por sua vez entendem ainda que os descontos incondicionais satildeo ldquoparcelas redutoras dos preccedilos de compra e venda constantes da nota fiscal ou da fatura de serviccedilo e natildeo dependentes de evento posterior agrave emissatildeo desses documentosrdquo (NEVES Silveacuterio das VICECONTI Paulo Eduardo Vilchez Contabilidade baacutesica 12 ed rev e atual Satildeo Paulo Frase Editora 2004 pp 115shy116)

Nessa esteira concluishyse com os fundamentos utilizados nessa Soluccedilatildeo de Consulta abaixo transcritos que o perdatildeo de diacutevida natildeo pode ser considerado como um desconto financeiro mas uma espeacutecie de desconto incondicional natildeo considerado como uma receita financeira

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1188 In casu natildeo houve desconto por pagamento antecipado nem precircmio por resgate de tiacutetulo ou seja nenhum confronto entre aspectos financeiramente favoraacuteveis e desfavoraacuteveis mas sim um simples perdatildeo de diacutevida (ato liberatoacuterio) pela credora em favor da devedora (consulente) que se coaduna com o desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado como ldquoreceita financeirardquo Logo a presente insubsistecircncia ativa (do passivo) natildeo haacute de ser tratada como uma ldquoReceita Financeirardquo mas como ldquoReceita shy Outros Resultados Operacionaisrdquo o que leva ao entendimento que a remissatildeo de diacutevida eacute fato imponiacutevel da Cofins e do PIS

1189 O desconto tem natureza de receita financeira quando haacute novaccedilatildeo em virtude de uma contraposiccedilatildeo de fatores favoraacuteveis e desfavoraacuteveis (pagamento antecipado que gera uma reduccedilatildeo de juros ndash recebimento em funccedilatildeo do tempo de recebimento do creacutedito) o que eacute diferente do caso em tela que retrata uma remissatildeo da diacutevida (ato liberatoacuterio da credora em favor da devedora) pela qual houve um abandono do proacuteprio capital (principal)

11810 Depreendeshyse portanto que o valor relativo agraves diacutevidas perdoadas seja parcial ou integral constitui receita para o devedor Para que as receitas sejam consideradas como ldquofinanceirasrdquo haacute de haver como caracteriacutestica um ganho em razatildeo da disponibilidade de recursos para terceiros em funccedilatildeo de certo periacuteodo de tempo Sendo assim o perdatildeo da diacutevida ou sua reduccedilatildeo seja mediante renegociaccedilatildeo ou novaccedilatildeo natildeo constitui receita financeira Eacute irrelevante para caracterizar a receita tratarshyse de perdatildeo do principal ou da multa e juros Portanto o perdatildeo de multa e juros tambeacutem natildeo constitui receita financeira pois como acessoacuterios acompanham a natureza do principal

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12 Do exposto concluishyse que o perdatildeo de diacutevida pela credora eacute um ato juriacutedico que faz acrescer o patrimocircnio da devedora de modo que revela capacidade contributiva (objetiva) que por caracterizar uma receita operacional (diversa da receita financeira) implica receita tributaacutevel pela Cofins e pelo PIS com a aliacutequota superior a zero (diversamente do que trata o art 1ordm do Decreto nordm 5442 de 09052005 cc o sect2ordm do art 27 da Lei nordm 10865 de 30042004)

()

Sustenta a recorrente sem razatildeo que no caso concreto estarshyseshyia diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida sendo que os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estariam compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

Como bem argumentado na decisatildeo recorrida os abatimentos obtidos pela interessada para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras eis que

Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter receita por meio de empreacutestimos ou seja a empresa magicamente teria emprestado dinheiro do FGC para cobrir as inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil e ainda assim ao realizar a quitaccedilatildeo desses empreacutestimos teria obtido receitas de origem financeira

Vejashyse tambeacutem que a tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo No presente caso ao se aceitar a tese da interessada teriacuteamos a situaccedilatildeo iloacutegica pela qual a empresa emissora dos debecircntures (SSP) obteria receita financeira com a baixa dos tiacutetulos e a debenturista (FGC que tomou os debecircntures em garantia aos valores emprestados) teria que reconhecer uma despesa financeira

Ademais valores que foram emprestados pelo FGC para a contribuinte tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios natildeo podendo ter havido assim o abatimento de juros por pagamento antecipado Aleacutem do que os instrumentos legais (ldquoContrato de Muacutetuordquo ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avencasrdquo e o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento) foram todos assinados na mesma data em 31012011

Assim o perdatildeo parcial da diacutevida da contribuinte constitui uma receita decorrente de um acreacutescimo patrimonial para o devedor que natildeo pode ser qualificada como uma receita financeira vez que natildeo decorre de ganho em face da disponibilizaccedilatildeo de recursos

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para terceiros em certo periacuteodo de tempo O perdatildeo de uma diacutevida representa uma receita de natureza natildeo financeira cuja consequecircncia eacute o nascimento da capacidade contributiva para o PISPasep e a Cofins

Nesse sentido a Cosit shy CoordenaccedilatildeoshyGeral de Tributaccedilatildeo jaacute manifestou entendimento de que a remissatildeo de diacutevida representa uma receita operacional tributaacutevel pelo IRPJ CSLL PISPasep e Cofins

SOLUCcedilAtildeO DE CONSULTA Nordm 17 DE 27 DE ABRIL DE 2010

ASSUNTO Normas Gerais de Direito Tributaacuterio

EMENTA REMISSAtildeO DE DIacuteVIDA INCIDEcircNCIA DE IRPJ CSLL PISPASEP E COFINS

A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

DISPOSITIVOS LEGAIS art9ordm sect 3ordm II da Resoluccedilatildeo CFC No shy 750 de 1993 PARECER CTCFC N o shy 11 de 2004 art187 da Lei N o shy 6404 de 1976 arts 373 e 374 do RIR de 1999 art3ordm da Lei N o shy 9718 de 1998 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 10833 de 2003 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 106372002 art53 da Lei N o shy 9430 de 1996 arts 2ordm e 3ordm do Ato Declaratoacuterio Interpretativo SRF N o 25 de 2003 art 111 II do CTN

A questatildeo do perdatildeo de diacutevida jaacute foi apreciada no acircmbito do IRPJ pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuintes (1ordm CC) na 1ordf Cacircmara mediante o Acoacuterdatildeo 10197057 de 16122008 Relatora Sandra Maria Faroni com a seguinte ementa PERDAtildeO DE DIacuteVIDA TRIBUTACcedilAtildeO Constitui receita tributaacutevel o valor correspondente ao perdatildeo de diacutevida concedido agrave empresa

Tambeacutem a 1ordf Turma da 4ordf Cacircmara da 1ordf Seccedilatildeo do CARF manifestoushyse no mesmo sentido sobre o perdatildeo de juros de mora classificandoshyo como outras receitas operacionais tributaacuteveis pelo IRPJ CSLL e PISCofins conforme ementa abaixo

Processo nordm 102450037842008shy74 Acoacuterdatildeo nordm 1401001113ndash 4ordf Cacircmara 1ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 11 de fevereiro de 2014 Relator Antonio Bezerra Neto Ementa ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Anoshycalendaacuterio 2004 2005 2006 2007 PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como outras receitas operacionais

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

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DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

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V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

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sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

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Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

Fl 2380DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

Fl 2381DF CARF MF

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

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Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 13: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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425Os elementos de receitas e despesas satildeo definidos como segue (a) receitas satildeo aumentos nos benefiacutecios econocircmicos durante o periacuteodo contaacutebil sob a forma da entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuiccedilatildeo de passivos que resultam em aumentos do patrimocircnio liacutequido e que natildeo estejam relacionados com a contribuiccedilatildeo dos detentores dos instrumentos patrimoniais () Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga) [negritei]

O Regulamento do Imposto de Renda assim se pronuncia sobre as receitas e despesas financeiras

Subseccedilatildeo I Receitas e Despesas Financeiras Receitas Art 373 Os juros o desconto o lucro na operaccedilatildeo de reporte e os rendimentos de aplicaccedilotildees financeiras de renda fixa ganhos pelo contribuinte seratildeo incluiacutedos no lucro operacional e quando derivados de operaccedilotildees ou tiacutetulos com vencimento posterior ao encerramento do periacuteodo de apuraccedilatildeo poderatildeo ser rateados pelos periacuteodos a que competirem (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 e Lei nordm 8981 de 1995 art 76 sect2ordm e Lei nordm 9249 de 1995 art 11 sect3ordm) Despesas Art 374 Os juros pagos ou incorridos pelo contribuinte satildeo dedutiacuteveis como custo ou despesa operacional observadas as seguintes normas (DecretoshyLei nordm 1598 de 1977 art 17 paraacutegrafo uacutenico) Ishy os juros pagos antecipadamente os descontos de tiacutetulos de creacutedito e o desaacutegio concedido na colocaccedilatildeo de debecircntures ou tiacutetulos de creacutedito deveratildeo ser apropriados pro rata temporis nos periacuteodos de apuraccedilatildeo a que competirem II shy os juros de empreacutestimos contraiacutedos para financiar a aquisiccedilatildeo ou construccedilatildeo de bens do ativo permanente incorridos durante as fases de construccedilatildeo e preacuteshyoperacional podem ser registrados no ativo diferido para serem amortizados ()

Na ausecircncia da completa definiccedilatildeo na legislaccedilatildeo sobre o que seriam receitas e despesas financeiras depreendeshyse do dispositivo acima que as receitas e despesas financeiras

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satildeo decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros de forma que poderiam ser conceituadas como receitas pela aplicaccedilatildeo de recursos pecuniaacuterios proacuteprios ou despesas pela utilizaccedilatildeo de recursos de terceiros

Como explicado na Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit de 31 de agosto de 2007 entendem Silveacuterio das Neves e Paulo Viceconti que os descontos financeiros satildeo aqueles ligados ou condicionados ao pagamento ou recebimento de tiacutetulos por antecipaccedilatildeo ldquosatildeo os descontos obtidos na liquidaccedilatildeo antecipada de obrigaccedilotildeesrdquo Ademais prescrevem esses autores que a conta ldquoDescontos Financeiros Obtidosrdquo (Receita Financeira) deveraacute ser encerrada a creacutedito de resultado do exerciacuteciordquo Por sua vez entendem ainda que os descontos incondicionais satildeo ldquoparcelas redutoras dos preccedilos de compra e venda constantes da nota fiscal ou da fatura de serviccedilo e natildeo dependentes de evento posterior agrave emissatildeo desses documentosrdquo (NEVES Silveacuterio das VICECONTI Paulo Eduardo Vilchez Contabilidade baacutesica 12 ed rev e atual Satildeo Paulo Frase Editora 2004 pp 115shy116)

Nessa esteira concluishyse com os fundamentos utilizados nessa Soluccedilatildeo de Consulta abaixo transcritos que o perdatildeo de diacutevida natildeo pode ser considerado como um desconto financeiro mas uma espeacutecie de desconto incondicional natildeo considerado como uma receita financeira

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1188 In casu natildeo houve desconto por pagamento antecipado nem precircmio por resgate de tiacutetulo ou seja nenhum confronto entre aspectos financeiramente favoraacuteveis e desfavoraacuteveis mas sim um simples perdatildeo de diacutevida (ato liberatoacuterio) pela credora em favor da devedora (consulente) que se coaduna com o desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado como ldquoreceita financeirardquo Logo a presente insubsistecircncia ativa (do passivo) natildeo haacute de ser tratada como uma ldquoReceita Financeirardquo mas como ldquoReceita shy Outros Resultados Operacionaisrdquo o que leva ao entendimento que a remissatildeo de diacutevida eacute fato imponiacutevel da Cofins e do PIS

1189 O desconto tem natureza de receita financeira quando haacute novaccedilatildeo em virtude de uma contraposiccedilatildeo de fatores favoraacuteveis e desfavoraacuteveis (pagamento antecipado que gera uma reduccedilatildeo de juros ndash recebimento em funccedilatildeo do tempo de recebimento do creacutedito) o que eacute diferente do caso em tela que retrata uma remissatildeo da diacutevida (ato liberatoacuterio da credora em favor da devedora) pela qual houve um abandono do proacuteprio capital (principal)

11810 Depreendeshyse portanto que o valor relativo agraves diacutevidas perdoadas seja parcial ou integral constitui receita para o devedor Para que as receitas sejam consideradas como ldquofinanceirasrdquo haacute de haver como caracteriacutestica um ganho em razatildeo da disponibilidade de recursos para terceiros em funccedilatildeo de certo periacuteodo de tempo Sendo assim o perdatildeo da diacutevida ou sua reduccedilatildeo seja mediante renegociaccedilatildeo ou novaccedilatildeo natildeo constitui receita financeira Eacute irrelevante para caracterizar a receita tratarshyse de perdatildeo do principal ou da multa e juros Portanto o perdatildeo de multa e juros tambeacutem natildeo constitui receita financeira pois como acessoacuterios acompanham a natureza do principal

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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12 Do exposto concluishyse que o perdatildeo de diacutevida pela credora eacute um ato juriacutedico que faz acrescer o patrimocircnio da devedora de modo que revela capacidade contributiva (objetiva) que por caracterizar uma receita operacional (diversa da receita financeira) implica receita tributaacutevel pela Cofins e pelo PIS com a aliacutequota superior a zero (diversamente do que trata o art 1ordm do Decreto nordm 5442 de 09052005 cc o sect2ordm do art 27 da Lei nordm 10865 de 30042004)

()

Sustenta a recorrente sem razatildeo que no caso concreto estarshyseshyia diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida sendo que os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estariam compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

Como bem argumentado na decisatildeo recorrida os abatimentos obtidos pela interessada para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras eis que

Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter receita por meio de empreacutestimos ou seja a empresa magicamente teria emprestado dinheiro do FGC para cobrir as inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil e ainda assim ao realizar a quitaccedilatildeo desses empreacutestimos teria obtido receitas de origem financeira

Vejashyse tambeacutem que a tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo No presente caso ao se aceitar a tese da interessada teriacuteamos a situaccedilatildeo iloacutegica pela qual a empresa emissora dos debecircntures (SSP) obteria receita financeira com a baixa dos tiacutetulos e a debenturista (FGC que tomou os debecircntures em garantia aos valores emprestados) teria que reconhecer uma despesa financeira

Ademais valores que foram emprestados pelo FGC para a contribuinte tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios natildeo podendo ter havido assim o abatimento de juros por pagamento antecipado Aleacutem do que os instrumentos legais (ldquoContrato de Muacutetuordquo ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avencasrdquo e o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento) foram todos assinados na mesma data em 31012011

Assim o perdatildeo parcial da diacutevida da contribuinte constitui uma receita decorrente de um acreacutescimo patrimonial para o devedor que natildeo pode ser qualificada como uma receita financeira vez que natildeo decorre de ganho em face da disponibilizaccedilatildeo de recursos

Fl 2375DF CARF MF

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para terceiros em certo periacuteodo de tempo O perdatildeo de uma diacutevida representa uma receita de natureza natildeo financeira cuja consequecircncia eacute o nascimento da capacidade contributiva para o PISPasep e a Cofins

Nesse sentido a Cosit shy CoordenaccedilatildeoshyGeral de Tributaccedilatildeo jaacute manifestou entendimento de que a remissatildeo de diacutevida representa uma receita operacional tributaacutevel pelo IRPJ CSLL PISPasep e Cofins

SOLUCcedilAtildeO DE CONSULTA Nordm 17 DE 27 DE ABRIL DE 2010

ASSUNTO Normas Gerais de Direito Tributaacuterio

EMENTA REMISSAtildeO DE DIacuteVIDA INCIDEcircNCIA DE IRPJ CSLL PISPASEP E COFINS

A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

DISPOSITIVOS LEGAIS art9ordm sect 3ordm II da Resoluccedilatildeo CFC No shy 750 de 1993 PARECER CTCFC N o shy 11 de 2004 art187 da Lei N o shy 6404 de 1976 arts 373 e 374 do RIR de 1999 art3ordm da Lei N o shy 9718 de 1998 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 10833 de 2003 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 106372002 art53 da Lei N o shy 9430 de 1996 arts 2ordm e 3ordm do Ato Declaratoacuterio Interpretativo SRF N o 25 de 2003 art 111 II do CTN

A questatildeo do perdatildeo de diacutevida jaacute foi apreciada no acircmbito do IRPJ pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuintes (1ordm CC) na 1ordf Cacircmara mediante o Acoacuterdatildeo 10197057 de 16122008 Relatora Sandra Maria Faroni com a seguinte ementa PERDAtildeO DE DIacuteVIDA TRIBUTACcedilAtildeO Constitui receita tributaacutevel o valor correspondente ao perdatildeo de diacutevida concedido agrave empresa

Tambeacutem a 1ordf Turma da 4ordf Cacircmara da 1ordf Seccedilatildeo do CARF manifestoushyse no mesmo sentido sobre o perdatildeo de juros de mora classificandoshyo como outras receitas operacionais tributaacuteveis pelo IRPJ CSLL e PISCofins conforme ementa abaixo

Processo nordm 102450037842008shy74 Acoacuterdatildeo nordm 1401001113ndash 4ordf Cacircmara 1ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 11 de fevereiro de 2014 Relator Antonio Bezerra Neto Ementa ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Anoshycalendaacuterio 2004 2005 2006 2007 PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como outras receitas operacionais

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

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DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

Fl 2378DF CARF MF

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

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V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

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sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

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Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

Fl 2380DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

Fl 2381DF CARF MF

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

Fl 2382DF CARF MF

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

Fl 2383DF CARF MF

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

Fl 2388DF CARF MF

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

Fl 2389DF CARF MF

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

Fl 2391DF CARF MF

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 14: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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satildeo decorrentes da aplicaccedilatildeo ou da origem de recursos financeiros de forma que poderiam ser conceituadas como receitas pela aplicaccedilatildeo de recursos pecuniaacuterios proacuteprios ou despesas pela utilizaccedilatildeo de recursos de terceiros

Como explicado na Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit de 31 de agosto de 2007 entendem Silveacuterio das Neves e Paulo Viceconti que os descontos financeiros satildeo aqueles ligados ou condicionados ao pagamento ou recebimento de tiacutetulos por antecipaccedilatildeo ldquosatildeo os descontos obtidos na liquidaccedilatildeo antecipada de obrigaccedilotildeesrdquo Ademais prescrevem esses autores que a conta ldquoDescontos Financeiros Obtidosrdquo (Receita Financeira) deveraacute ser encerrada a creacutedito de resultado do exerciacuteciordquo Por sua vez entendem ainda que os descontos incondicionais satildeo ldquoparcelas redutoras dos preccedilos de compra e venda constantes da nota fiscal ou da fatura de serviccedilo e natildeo dependentes de evento posterior agrave emissatildeo desses documentosrdquo (NEVES Silveacuterio das VICECONTI Paulo Eduardo Vilchez Contabilidade baacutesica 12 ed rev e atual Satildeo Paulo Frase Editora 2004 pp 115shy116)

Nessa esteira concluishyse com os fundamentos utilizados nessa Soluccedilatildeo de Consulta abaixo transcritos que o perdatildeo de diacutevida natildeo pode ser considerado como um desconto financeiro mas uma espeacutecie de desconto incondicional natildeo considerado como uma receita financeira

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1188 In casu natildeo houve desconto por pagamento antecipado nem precircmio por resgate de tiacutetulo ou seja nenhum confronto entre aspectos financeiramente favoraacuteveis e desfavoraacuteveis mas sim um simples perdatildeo de diacutevida (ato liberatoacuterio) pela credora em favor da devedora (consulente) que se coaduna com o desconto incondicional o qual natildeo eacute tratado como ldquoreceita financeirardquo Logo a presente insubsistecircncia ativa (do passivo) natildeo haacute de ser tratada como uma ldquoReceita Financeirardquo mas como ldquoReceita shy Outros Resultados Operacionaisrdquo o que leva ao entendimento que a remissatildeo de diacutevida eacute fato imponiacutevel da Cofins e do PIS

1189 O desconto tem natureza de receita financeira quando haacute novaccedilatildeo em virtude de uma contraposiccedilatildeo de fatores favoraacuteveis e desfavoraacuteveis (pagamento antecipado que gera uma reduccedilatildeo de juros ndash recebimento em funccedilatildeo do tempo de recebimento do creacutedito) o que eacute diferente do caso em tela que retrata uma remissatildeo da diacutevida (ato liberatoacuterio da credora em favor da devedora) pela qual houve um abandono do proacuteprio capital (principal)

11810 Depreendeshyse portanto que o valor relativo agraves diacutevidas perdoadas seja parcial ou integral constitui receita para o devedor Para que as receitas sejam consideradas como ldquofinanceirasrdquo haacute de haver como caracteriacutestica um ganho em razatildeo da disponibilidade de recursos para terceiros em funccedilatildeo de certo periacuteodo de tempo Sendo assim o perdatildeo da diacutevida ou sua reduccedilatildeo seja mediante renegociaccedilatildeo ou novaccedilatildeo natildeo constitui receita financeira Eacute irrelevante para caracterizar a receita tratarshyse de perdatildeo do principal ou da multa e juros Portanto o perdatildeo de multa e juros tambeacutem natildeo constitui receita financeira pois como acessoacuterios acompanham a natureza do principal

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12 Do exposto concluishyse que o perdatildeo de diacutevida pela credora eacute um ato juriacutedico que faz acrescer o patrimocircnio da devedora de modo que revela capacidade contributiva (objetiva) que por caracterizar uma receita operacional (diversa da receita financeira) implica receita tributaacutevel pela Cofins e pelo PIS com a aliacutequota superior a zero (diversamente do que trata o art 1ordm do Decreto nordm 5442 de 09052005 cc o sect2ordm do art 27 da Lei nordm 10865 de 30042004)

()

Sustenta a recorrente sem razatildeo que no caso concreto estarshyseshyia diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida sendo que os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estariam compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

Como bem argumentado na decisatildeo recorrida os abatimentos obtidos pela interessada para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras eis que

Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter receita por meio de empreacutestimos ou seja a empresa magicamente teria emprestado dinheiro do FGC para cobrir as inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil e ainda assim ao realizar a quitaccedilatildeo desses empreacutestimos teria obtido receitas de origem financeira

Vejashyse tambeacutem que a tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo No presente caso ao se aceitar a tese da interessada teriacuteamos a situaccedilatildeo iloacutegica pela qual a empresa emissora dos debecircntures (SSP) obteria receita financeira com a baixa dos tiacutetulos e a debenturista (FGC que tomou os debecircntures em garantia aos valores emprestados) teria que reconhecer uma despesa financeira

Ademais valores que foram emprestados pelo FGC para a contribuinte tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios natildeo podendo ter havido assim o abatimento de juros por pagamento antecipado Aleacutem do que os instrumentos legais (ldquoContrato de Muacutetuordquo ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avencasrdquo e o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento) foram todos assinados na mesma data em 31012011

Assim o perdatildeo parcial da diacutevida da contribuinte constitui uma receita decorrente de um acreacutescimo patrimonial para o devedor que natildeo pode ser qualificada como uma receita financeira vez que natildeo decorre de ganho em face da disponibilizaccedilatildeo de recursos

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para terceiros em certo periacuteodo de tempo O perdatildeo de uma diacutevida representa uma receita de natureza natildeo financeira cuja consequecircncia eacute o nascimento da capacidade contributiva para o PISPasep e a Cofins

Nesse sentido a Cosit shy CoordenaccedilatildeoshyGeral de Tributaccedilatildeo jaacute manifestou entendimento de que a remissatildeo de diacutevida representa uma receita operacional tributaacutevel pelo IRPJ CSLL PISPasep e Cofins

SOLUCcedilAtildeO DE CONSULTA Nordm 17 DE 27 DE ABRIL DE 2010

ASSUNTO Normas Gerais de Direito Tributaacuterio

EMENTA REMISSAtildeO DE DIacuteVIDA INCIDEcircNCIA DE IRPJ CSLL PISPASEP E COFINS

A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

DISPOSITIVOS LEGAIS art9ordm sect 3ordm II da Resoluccedilatildeo CFC No shy 750 de 1993 PARECER CTCFC N o shy 11 de 2004 art187 da Lei N o shy 6404 de 1976 arts 373 e 374 do RIR de 1999 art3ordm da Lei N o shy 9718 de 1998 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 10833 de 2003 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 106372002 art53 da Lei N o shy 9430 de 1996 arts 2ordm e 3ordm do Ato Declaratoacuterio Interpretativo SRF N o 25 de 2003 art 111 II do CTN

A questatildeo do perdatildeo de diacutevida jaacute foi apreciada no acircmbito do IRPJ pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuintes (1ordm CC) na 1ordf Cacircmara mediante o Acoacuterdatildeo 10197057 de 16122008 Relatora Sandra Maria Faroni com a seguinte ementa PERDAtildeO DE DIacuteVIDA TRIBUTACcedilAtildeO Constitui receita tributaacutevel o valor correspondente ao perdatildeo de diacutevida concedido agrave empresa

Tambeacutem a 1ordf Turma da 4ordf Cacircmara da 1ordf Seccedilatildeo do CARF manifestoushyse no mesmo sentido sobre o perdatildeo de juros de mora classificandoshyo como outras receitas operacionais tributaacuteveis pelo IRPJ CSLL e PISCofins conforme ementa abaixo

Processo nordm 102450037842008shy74 Acoacuterdatildeo nordm 1401001113ndash 4ordf Cacircmara 1ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 11 de fevereiro de 2014 Relator Antonio Bezerra Neto Ementa ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Anoshycalendaacuterio 2004 2005 2006 2007 PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como outras receitas operacionais

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

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DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

()

V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

()

sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

()

Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

Fl 2395DF CARF MF

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

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Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 15: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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12 Do exposto concluishyse que o perdatildeo de diacutevida pela credora eacute um ato juriacutedico que faz acrescer o patrimocircnio da devedora de modo que revela capacidade contributiva (objetiva) que por caracterizar uma receita operacional (diversa da receita financeira) implica receita tributaacutevel pela Cofins e pelo PIS com a aliacutequota superior a zero (diversamente do que trata o art 1ordm do Decreto nordm 5442 de 09052005 cc o sect2ordm do art 27 da Lei nordm 10865 de 30042004)

()

Sustenta a recorrente sem razatildeo que no caso concreto estarshyseshyia diante de uma situaccedilatildeo em que foi concedido um desconto em razatildeo do pagamento antecipado da diacutevida sendo que os descontos obtidos quando do pagamento antecipado de duplicatas e de outros tiacutetulos estariam compreendidos dentro do conceito de receitas financeiras

Como bem argumentado na decisatildeo recorrida os abatimentos obtidos pela interessada para a liquidaccedilatildeo de seus passivos (debecircntures e muacutetuo) junto ao FGC jamais poderiam ser classificados como receitas financeiras eis que

Na verdade ao se admitir o entendimento da interessada tershyseshyia uma situaccedilatildeo totalmente contraacuteria agrave definiccedilatildeo corrente de ldquoreceitas financeirasrdquo pois de forma inusitada a empresa teria conseguido obter receita por meio de empreacutestimos ou seja a empresa magicamente teria emprestado dinheiro do FGC para cobrir as inconsistecircncias contaacutebeis detectadas pelo Banco Central do Brasil e ainda assim ao realizar a quitaccedilatildeo desses empreacutestimos teria obtido receitas de origem financeira

Vejashyse tambeacutem que a tese de obtenccedilatildeo de receita financeira contraria de forma absurda o conceito de debecircnture A empresa que emite debecircntures normalmente paga aleacutem do valor de face do tiacutetulo emitido uma remuneraccedilatildeo adicional (juros) como precircmio pelo valor que lhe foi emprestado ou seja quem recebe a receita financeira eacute o debenturista aquele que adquira o tiacutetulo ou em uacuteltima instacircncia empresta o dinheiro para a emissora do debecircnture e natildeo a empresa emissora do tiacutetulo No presente caso ao se aceitar a tese da interessada teriacuteamos a situaccedilatildeo iloacutegica pela qual a empresa emissora dos debecircntures (SSP) obteria receita financeira com a baixa dos tiacutetulos e a debenturista (FGC que tomou os debecircntures em garantia aos valores emprestados) teria que reconhecer uma despesa financeira

Ademais valores que foram emprestados pelo FGC para a contribuinte tinham a obrigaccedilatildeo de serem devolvidos somente com a correccedilatildeo do poder aquisitivo da moeda sem qualquer juros compensatoacuterios natildeo podendo ter havido assim o abatimento de juros por pagamento antecipado Aleacutem do que os instrumentos legais (ldquoContrato de Muacutetuordquo ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avencasrdquo e o Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento) foram todos assinados na mesma data em 31012011

Assim o perdatildeo parcial da diacutevida da contribuinte constitui uma receita decorrente de um acreacutescimo patrimonial para o devedor que natildeo pode ser qualificada como uma receita financeira vez que natildeo decorre de ganho em face da disponibilizaccedilatildeo de recursos

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para terceiros em certo periacuteodo de tempo O perdatildeo de uma diacutevida representa uma receita de natureza natildeo financeira cuja consequecircncia eacute o nascimento da capacidade contributiva para o PISPasep e a Cofins

Nesse sentido a Cosit shy CoordenaccedilatildeoshyGeral de Tributaccedilatildeo jaacute manifestou entendimento de que a remissatildeo de diacutevida representa uma receita operacional tributaacutevel pelo IRPJ CSLL PISPasep e Cofins

SOLUCcedilAtildeO DE CONSULTA Nordm 17 DE 27 DE ABRIL DE 2010

ASSUNTO Normas Gerais de Direito Tributaacuterio

EMENTA REMISSAtildeO DE DIacuteVIDA INCIDEcircNCIA DE IRPJ CSLL PISPASEP E COFINS

A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

DISPOSITIVOS LEGAIS art9ordm sect 3ordm II da Resoluccedilatildeo CFC No shy 750 de 1993 PARECER CTCFC N o shy 11 de 2004 art187 da Lei N o shy 6404 de 1976 arts 373 e 374 do RIR de 1999 art3ordm da Lei N o shy 9718 de 1998 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 10833 de 2003 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 106372002 art53 da Lei N o shy 9430 de 1996 arts 2ordm e 3ordm do Ato Declaratoacuterio Interpretativo SRF N o 25 de 2003 art 111 II do CTN

A questatildeo do perdatildeo de diacutevida jaacute foi apreciada no acircmbito do IRPJ pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuintes (1ordm CC) na 1ordf Cacircmara mediante o Acoacuterdatildeo 10197057 de 16122008 Relatora Sandra Maria Faroni com a seguinte ementa PERDAtildeO DE DIacuteVIDA TRIBUTACcedilAtildeO Constitui receita tributaacutevel o valor correspondente ao perdatildeo de diacutevida concedido agrave empresa

Tambeacutem a 1ordf Turma da 4ordf Cacircmara da 1ordf Seccedilatildeo do CARF manifestoushyse no mesmo sentido sobre o perdatildeo de juros de mora classificandoshyo como outras receitas operacionais tributaacuteveis pelo IRPJ CSLL e PISCofins conforme ementa abaixo

Processo nordm 102450037842008shy74 Acoacuterdatildeo nordm 1401001113ndash 4ordf Cacircmara 1ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 11 de fevereiro de 2014 Relator Antonio Bezerra Neto Ementa ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Anoshycalendaacuterio 2004 2005 2006 2007 PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como outras receitas operacionais

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

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DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

Fl 2378DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 11

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

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V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

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sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

Fl 2379DF CARF MF

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

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Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

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Lei nordm 10833

Fl 2389DF CARF MF

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

Fl 2390DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 17

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

Fl 2391DF CARF MF

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

Fl 2392DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 18

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

Fl 2393DF CARF MF

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

Fl 2395DF CARF MF

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

Fl 2397DF CARF MF

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

Fl 2398DF CARF MF

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para terceiros em certo periacuteodo de tempo O perdatildeo de uma diacutevida representa uma receita de natureza natildeo financeira cuja consequecircncia eacute o nascimento da capacidade contributiva para o PISPasep e a Cofins

Nesse sentido a Cosit shy CoordenaccedilatildeoshyGeral de Tributaccedilatildeo jaacute manifestou entendimento de que a remissatildeo de diacutevida representa uma receita operacional tributaacutevel pelo IRPJ CSLL PISPasep e Cofins

SOLUCcedilAtildeO DE CONSULTA Nordm 17 DE 27 DE ABRIL DE 2010

ASSUNTO Normas Gerais de Direito Tributaacuterio

EMENTA REMISSAtildeO DE DIacuteVIDA INCIDEcircNCIA DE IRPJ CSLL PISPASEP E COFINS

A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

DISPOSITIVOS LEGAIS art9ordm sect 3ordm II da Resoluccedilatildeo CFC No shy 750 de 1993 PARECER CTCFC N o shy 11 de 2004 art187 da Lei N o shy 6404 de 1976 arts 373 e 374 do RIR de 1999 art3ordm da Lei N o shy 9718 de 1998 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 10833 de 2003 art 1ordm sect 3ordm V b da Lei N o shy 106372002 art53 da Lei N o shy 9430 de 1996 arts 2ordm e 3ordm do Ato Declaratoacuterio Interpretativo SRF N o 25 de 2003 art 111 II do CTN

A questatildeo do perdatildeo de diacutevida jaacute foi apreciada no acircmbito do IRPJ pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuintes (1ordm CC) na 1ordf Cacircmara mediante o Acoacuterdatildeo 10197057 de 16122008 Relatora Sandra Maria Faroni com a seguinte ementa PERDAtildeO DE DIacuteVIDA TRIBUTACcedilAtildeO Constitui receita tributaacutevel o valor correspondente ao perdatildeo de diacutevida concedido agrave empresa

Tambeacutem a 1ordf Turma da 4ordf Cacircmara da 1ordf Seccedilatildeo do CARF manifestoushyse no mesmo sentido sobre o perdatildeo de juros de mora classificandoshyo como outras receitas operacionais tributaacuteveis pelo IRPJ CSLL e PISCofins conforme ementa abaixo

Processo nordm 102450037842008shy74 Acoacuterdatildeo nordm 1401001113ndash 4ordf Cacircmara 1ordf Turma Ordinaacuteria Sessatildeo de 11 de fevereiro de 2014 Relator Antonio Bezerra Neto Ementa ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO Anoshycalendaacuterio 2004 2005 2006 2007 PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como outras receitas operacionais

Fl 2376DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

Fl 2377DF CARF MF

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

()

DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

()

V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

()

sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

Fl 2379DF CARF MF

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

()

Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 17: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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PERDAtildeO DE JUROS DE MORA NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO A remissatildeo de diacutevida importa para o devedor (remitido) acreacutescimo patrimonial (receita operacional diversa da receita financeira) por ser uma insubsistecircncia do passivo cujo fato imponiacutevel se concretiza no momento do ato remitente

Na Cacircmara Superior de Recursos Fiscais jaacute foi ratificado o entendimento de que o perdatildeo de juros produz acreacutescimo patrimonial tributaacutevel pelo IRPJ exceto no que concerne ao lucro presumido conforme trechos abaixo extraiacutedo do Voto Condutor do Acoacuterdatildeo

Processo nordm 10245003789200805 Acoacuterdatildeo nordm 9101002052ndash 1ordf Turma Sessatildeo de 11 de novembro de 2014 Mateacuteria Lucro Presumido Perdatildeo de diacutevida de juros Relator RAFAEL VIDAL DE ARAUJO () 13 Na ciecircncia contaacutebil temshyse que o desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo sem o surgimento de outro passivo ou o desaparecimento de um ativo de igual ou maior valor caracteriza a realizaccedilatildeo de uma receita Com efeito eacute o que se extrai da Resoluccedilatildeo CFC nordm 750 de 29121993 no dispositivo a seguir transcrito () 14 No mesmo sentido a Resoluccedilatildeo CFC nordm 7746 de 16121994 263 ndash Alguns detalhes sobre as receitas e seu reconhecimento A receita eacute considerada realizada no momento em que haacute a venda de bens e direitos da Entidade Embora esta seja a forma mais usual de geraccedilatildeo de receita tambeacutem haacute uma segunda possibilidade materializada na extinccedilatildeo parcial ou total de uma exigibilidade como no caso do perdatildeo de multa fiscal da anistia total ou parcial de uma diacutevida da eliminaccedilatildeo de passivo pelo desaparecimento do credor pelo ganho de causa em accedilatildeo em que se discutia uma diacutevida ou o seu montante jaacute devidamente provisionado ou outras circunstacircncias semelhantes 15 In casu vecircshyse claramente que quando haacute extinccedilatildeo de uma obrigaccedilatildeo (passivo) sem o desaparecimento concomitante de um bem ou direito (ativo) de igual ou superior valor eacute inegaacutevel a ocorrecircncia de um acreacutescimo patrimonial Logo a remissatildeo da diacutevida haacute de ser reconhecida como receita o que repercute no lucro liacutequido positivamente 151 A tal fato daacuteshyse o nome de ldquoinsubsistecircncia do passivordquo ou ldquoinsubsistecircncia ativardquo (desaparecimento de uma obrigaccedilatildeo) que eacute um fato modificativo aumentativo do patrimocircnio (aumento de disponibilidade de recursos ndash acreacutescimo patrimonial ndash sem obrigaccedilatildeo comutativa) Ou seja o perdatildeo de um passivo importa em aumento do patrimocircnio liacutequido da empresa agraciada O lanccedilamento contaacutebil eacute o seguinte D Juros a pagar (conta de passivo extinccedilatildeo da diacutevida)

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

()

DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

()

V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

()

sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

Fl 2379DF CARF MF

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

()

Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

Fl 2380DF CARF MF

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

Fl 2381DF CARF MF

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

Fl 2388DF CARF MF

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

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Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 18: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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C Insubsistecircncia ativa (conta de resultado receita em ldquosentido amplordquo) 152 Sobre o conceito de Insubsistecircncia Ativa ensina Ricardo J Ferreira o seguinte 137 Insubsistecircncias e superveniecircncias Insubsistecircncia Passiva ldquoInsubsistecircnciardquo eacute a condiccedilatildeo de algo que deixa de existir que desaparece O vocaacutebulo ldquopassivardquo tem o sentido de ldquonegativardquo ou ldquoque causa efeito negativo que natildeo se confunde com a expressatildeo ldquodo passivo (das obrigaccedilotildees do passivo exigiacutevel) Logo a insubsistecircncia passiva eacute relativa agravequilo que ao deixar de existir provoca efeito negativo sobre o patrimocircnio A mercadoria perdida em um incecircndio por exemplo eacute uma insubsistecircncia passiva Natildeo se trata poreacutem de uma insubsistecircncia do passivo Como o que deixou de existir foi um bem com a perda da mercadoria houve insubsistecircncia do ativo Portanto a conta Insubsistecircncias Passivas eacute de despesa (de natureza devedora) Insubsistecircncia Ativa Por analogia ldquoinsubsistecircncia ativardquo eacute quando algo que deixou de existir provoca o aumento do patrimocircnio vale dizer significa ldquoo efeito positivo de algo que deixou de existir Exemplo a prescriccedilatildeo de uma diacutevida que eacute uma insubsistecircncia do passivo A conta Insubsistecircncias Ativas eacute de receita (de natureza credora) () 16 Uma vez que tal acreacutescimo patrimonial adveacutem de uma receita depreendeshyse que foi concretizado um fato que influenciaraacute na base de caacutelculo do IRPJ e da CSLL pois houve aumento do lucro liacutequido (ou reduccedilatildeo do prejuiacutezo contaacutebil) 161 Perdoada a diacutevida sem o pagamento dos juros tal valor ficaraacute disponiacutevel agrave empresa que poderaacute empregaacuteshylo da forma que melhor lhe aprouver A disponibilidade econocircmica ou juriacutedica decorrente de acreacutescimo patrimonial eacute fato gerador do imposto de renda tal como previsto no art 43 II do CTN in verbis () 162 Destarte eacute irrefutaacutevel o acreacutescimo patrimonial (renda proveniente de disponibilidade) por parte da devedora que eacute a presente recorrente do qual haacute o inexoraacutevel surgimento de capacidade contributiva objetiva Isso posto o perdatildeo de uma diacutevida de juros eacute fato gerador do imposto de renda 17 Pelo entendimento como receita encontramshyse os seguintes pronunciamentos da RFB Soluccedilatildeo de Consulta nordm 17 SRRF01 Disit

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DECISAtildeO Nordm 297 de 21122000 SRRF06

EMENTA INSUBSISTEcircNCIA PASSIVA

Agrave baixa de valor registrado no passivo por insubsistecircncia da obrigaccedilatildeo de pagar (insubsistecircncia passiva) corresponde uma receita tributaacutevel no momento desta baixa

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

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V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

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sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

()

Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

Fl 2388DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

Fl 2389DF CARF MF

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

Fl 2391DF CARF MF

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

Fl 2393DF CARF MF

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

Fl 2397DF CARF MF

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

Fl 2398DF CARF MF

Page 19: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 SRRF09 Disit

O valor relativo agrave reduccedilatildeo de diacutevida decorrente de remissatildeo natildeo tem natureza de receita financeira devendo ser registrada como ldquooutras receitas operacionaisrdquo

Soluccedilatildeo de Consulta nordm 31 SRRF10 Disit

LUCRO REAL PERDAtildeO DE DIacuteVIDA CREacuteDITO DE SOacuteCIO

Constitui receita da pessoa juriacutedica devedora a importacircncia correspondente ao perdatildeo de diacutevida natildeo havendo previsatildeo legal para sua exclusatildeo do lucro liacutequido para efeito de apuraccedilatildeo do lucro real

()

V A MULTA DE OFIacuteCIO E OS JUROS APLICADOS

Por fim quanto agrave insurgecircncia relativa a incidecircncia de juros de mora sobre a multa aplicada entendo que os juros de mora satildeo devidos nos termos do art 61 caput e sect3deg da Lei nordm 943096 sobre os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal natildeo pagos no prazo previsto incidindo portanto tambeacutem sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento

Art 61 Os deacutebitos para com a Uniatildeo decorrentes de tributos e contribuiccedilotildees administrados pela Secretaria da Receita Federal cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1ordm de janeiro de 1997 natildeo pagos nos prazos previstos na legislaccedilatildeo especiacutefica seratildeo acrescidos de multa de mora calculada agrave taxa de trinta e trecircs centeacutesimos por cento por dia de atraso

()

sect 3ordm Sobre os deacutebitos a que se refere este artigo incidiratildeo juros de mora calculados agrave taxa a que se refere o sect 3ordm do art 5ordm a partir do primeiro dia do mecircs subsequumlente ao vencimento do prazo ateacute o mecircs anterior ao do pagamento e de um por cento no mecircs de pagamentordquo

Aleacutem disso a exigecircncia dos juros de mora sobre a multa de ofiacutecio apoacutes o respectivo vencimento encontra amparo tambeacutem no Decretoshylei nordm 1736795 cujos dispositivos abaixo transcritos dispotildeem sobre a incidecircncia dos juros de mora sobre os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria inclusive durante o prazo em que a cobranccedila estiver suspensa em face da interposiccedilatildeo de recurso administrativo ou de decisatildeo judicial cuja regra natildeo se aplica somente na hipoacutetese de depoacutesito administrativo ou judicial do montante integral6

5 Soluccedilatildeo de Consulta Cosit nordm 47de 04 de maio de 2016 ASSUNTO NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTAacuteRIO EMENTA OS JUROS DE MORA INCIDEM SOBRE A TOTALIDADE DO CREacuteDITO TRIBUTAacuteRIO DO QUAL FAZ PARTE A MULTA LANCcedilADA DE OFIacuteCIODISPOSITIVOS LEGAIS Lei nordm 5172 de 1966 (CTN) arts 113 sect 1ordm 139 e 161 Lei nordm 9430 de 1996 arts 44 e 61 sect 3ordm DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 arts 2ordm e 3ordm 6 ()

Fl 2379DF CARF MF

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

()

Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

Fl 2394DF CARF MF

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 20: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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Art 1ordm Os deacutebitos para com a Fazenda Nacional de natureza tributaacuteria natildeo pagos no vencimento seratildeo acrescidos de multa de mora consoante o previsto neste decretoshylei (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Paraacutegrafo uacutenico A multa de mora seraacute de 20 (vinte por cento) reduzida a 10 (dez por cento) se o pagamento for efetuado no prazo de 90 (noventa) dias contado a partir da data em que o tributo for devido (Redaccedilatildeo dada pelo DecretoshyLei nordm 2287 de 1986)

Art 2ordm shy Os deacutebitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional seratildeo acrescidos na via administrativa ou judicial de juros de mora contados do dia seguinte ao do vencimento e agrave razatildeo de 1 (um por cento) ao mecircs calendaacuterio ou fraccedilatildeo e calculados sobre o valor originaacuterio

Paraacutegrafo uacutenico Os juros de mora natildeo satildeo passiacuteveis de correccedilatildeo monetaacuteria e natildeo incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo 1ordm

Art 3ordm shy Entendeshyse por valor originaacuterio o que corresponda ao deacutebito excluiacutedas as parcelas relativas agrave correccedilatildeo monetaacuteria juros de mora multa de mora e ao encargo previsto no artigo 1ordm do Decretoshylei nordm 1025 de 21 de outubro de 1969 com a redaccedilatildeo dada pelos Decretosshyleis nordm 1569 de 8 de agosto de 1977 e nordm 1645 de 11 de dezembro de 1978

Art 4ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria continuaraacute a ser aplicada nos termos do artigo 5ordm do Decretoshylei nordm 1704 de 23 de outubro de 1979 ressalvado o disposto no paraacutegrafo uacutenico do artigo 2ordm deste Decretoshylei

Art 5ordm shy A correccedilatildeo monetaacuteria e os juros de mora seratildeo devidos inclusive durante o periacuteodo em que a respectiva cobranccedila houver sido suspensa por decisatildeo administrativa ou judicial

()

Assim pelo exposto voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntaacuterio

004 Haveraacute a incidecircncia de juros de mora durante o periacuteodo em que a cobranccedila do deacutebito estiver pendente de decisatildeo administrativa Sim De acordo com a legislaccedilatildeo tributaacuteria haacute incidecircncia de juros de mora sobre o valor dos tributos ou contribuiccedilotildees devidos e natildeo pagos nos respectivos vencimentos independentemente da eacutepoca em que ocorra o posterior pagamento e de se encontrar o creacutedito tributaacuterio na pendecircncia de decisatildeo administrativa ou judicial A uacutenica hipoacutetese em que se suspenderaacute a fluecircncia dos juros de mora eacute aquela em que houver o depoacutesito do montante integral do creacutedito tributaacuterio considerado como devido desde a data do depoacutesito quer seja este administrativo ou judicial Se o valor depositado for inferior agravequele necessaacuterio agrave liquidaccedilatildeo do deacutebito considerado como devido sobre a parcela natildeo depositada incidiratildeo normalmente os juros de mora por todo o periacuteodo transcorrido entre o vencimento e o pagamento Normativo RIR1999 art 953 sect 3ordm e DecretoshyLei nordm 1736 de 1979 art 5ordm () Extraiacutedo do Perguntas e Respostas no siacutetio da RFB httpidgreceitafazendagovbrorientacaotributariadeclaracoesshyeshydemonstrativosdipjshydeclaracaoshydeshyinformacoesshyeconomicoshyfiscaisshydashypjrespostasshy2012caputuloshyxviiishyacruscimosshylegaisshyrevisadashy2012pdf acesso em 08092016

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

Fl 2385DF CARF MF

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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(Assinatura Digital)

Maria Aparecida Martins de Paula shy Relatora

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 22: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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Voto Vencedor

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

1 Peccedilo vecircnia agrave Ilustre Relatora para divergir de seu voto quanto aos aspectos que seratildeo devidamente expostos abaixo iniciando meu voto por uma retomada dos fatos para contextualizaccedilatildeo da discussatildeo que iraacute ser desenvolvida adiante

2 Em siacutentese os fatos satildeo os seguintes

3 A Silvio Santos Participaccedilotildees SA (SSP) eacute uma sociedade holding que deteacutem participaccedilotildees societaacuterias em diversas pessoas juriacutedicas que fazem parte do Grupo Silvio Santos Em relaccedilatildeo ao presente caso conveacutem ressaltar que a SSP detinha participaccedilatildeo societaacuteria no Banco Panamericano (PANAMERICANO)

4 Ao final de 2010 o Banco Central do Brasil (BACEN) apurou irregularidades na contabilidade do Panamericano ao verificar o descumprimento do Patrimocircnio de Referecircncia Exigido cuja observacircncia eacute indispensaacutevel ao funcionamento deste tipo de instituiccedilatildeo conforme as disposiccedilotildees da Basileacuteia II e da regulaccedilatildeo prudencial do Bacen

5 Diante disso o Bacen determinou atraveacutes do Termo de Comparecimento DESUPGTSP4shy20100003 de 04112010 que a SSP i) aportasse recursos no Panamericano visando recompor o Patrimocircnio Liacutequido daquela instituiccedilatildeo ao montante exigido e ato contiacutenuo ii) alienasse a participaccedilatildeo societaacuteria detida pela SSP no Panamericano sob pena de liquidaccedilatildeo extrajudicial ex officio nos termos do artigo 15 I da Lei nordm 60241974

6 Em razatildeo disso o SSP tomou recursos junto ao Fundo Garantidor de Creacutedito (FGC) no valor de R$ 380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees) para aporte no Panamericano concretizadas da seguinte forma i) ldquoInstrumento Particular de Assunccedilatildeo Reciacuteproca de Obrigaccedilotildeesrdquo (Acordo) de 5 de novembro de 2010 ii) ldquoInstrumento Particular de Escritura da 1ordf Emissatildeo Privada de Debecircntures da Siacutelvio Santos Participaccedilotildees SArdquo (Escritura) de 5 de novembro de 2010 e o iii) ldquoContrato de Muacutetuordquo (Muacutetuo) de 31 de janeiro de 2011

7 Apoacutes a regularizaccedilatildeo da situaccedilatildeo patrimonial do Panamericano o controle acionaacuterio foi vendido ao Banco BTG Pactual (BTG) por meio do ldquoContrato de Compra e Venda de Accedilotildees e Outras Avenccedilasrdquo (Contrato) celebrado no dia 31 de janeiro de 2011 Atraveacutes do contrato a SSP e a BF Utilidades Domeacutesticas Ltda (BF) tinham um creacutedito a receber descrito na forma do item 14 do contrato

14 As Partes de comum acordo atribuem nesta data como contrapartida agrave aquisiccedilatildeo das Accedilotildees o menor dos seguintes valores (i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU (ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data (o menor destes dois valores doravante denominado o ldquoPreccedilordquo) A data em que a

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

Fl 2388DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 23: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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Compradora realizar o pagamento do Preccedilo seraacute doravante como ldquoData de Pagamentordquo

8 O creacutedito total de R$ 450 milhotildees foi contabilizado na SSP que por sua vez ficou devedora da BF em relaccedilatildeo aos R$ 4 milhotildees registrandoshyo como Creacutedito a Receber do BTG no valor nominal do tiacutetulo

9 Em seguida a SSP e o FGC celebraram um Instrumento Particular de Daccedilatildeo em Pagamento (Contrato de Pagamento) para ajustar termos e condiccedilotildees do pagamento das obrigaccedilotildees financeiras contratadas junto ao FGC Conforme a avenccedila a SSP cedeu o Creacutedito a Receber do BTG ao FGC para quitar as obrigaccedilotildees no valor de R$ 38 bilhotildees de reais

10 Em contrapartida o FGC outorgou quitaccedilatildeo agrave SSP o que levou agrave baixa do passivo existente e o registro na contabilidade da SSP de um valor de R$ 335 bilhotildees referente agrave diferenccedila entre o valor total das obrigaccedilotildees financeiras e o valor de face do creacutedito BTG As debecircntures emitidas pela SSP e subscritas integralmente pelo FGC foram canceladas e todas as garantias prestadas pela SSP pelas demais sociedades controladas por ela e pelo acionista controlador Senor Abravanel foram liberadas e extintas pelo FGC

11 A Receita Federal entendeu com fundamento na Resoluccedilatildeo CFC nordm 7501993 que a extinccedilatildeo de um passivo sem o desaparecimento concomitante de um ativo de valor igual ou maior corresponderia a perdatildeo de diacutevida constituindo receita para a SSP passiacutevel de incidecircncia de PIS e Cofins

12 Eacute esta a siacutentese do presente caso

13 O primeiro ponto a ser enfrentado diz respeito agrave consideraccedilatildeo do valor escriturado pela contabilidade da SSP relativo ao creacutedito a receber do BTG registrado no valor de R$ 450 milhotildees e utilizado como objeto de daccedilatildeo em pagamento para arcar com o passivo existente junto ao FGC

14 Em primeiro lugar verificashyse do dispositivo contratual citado no paraacutegrafo 7 deste voto que o contrato consubstancia um creacutedito que apto a ser realizado imediatamente na modalidade i de adimplemento ou apenas apoacutes 31072028 para a modalidade ii devendo ser atendido o menor valor

(i) R$ 45000000000 (quatrocentos e cinquenta milhotildees de reais) corrigido a partir da Data de Fechamento ateacute da Data de Pagamento (conforme abaixo definida) por 110 da Taxa DI o qual poderaacute ser pago a criteacuterio uacutenico e exclusivo da Compradora a partir da Data de Fechamento ateacute 31 de julho de 2028 OU

(ii) R$380000000000 (trecircs bilhotildees e oitocentos milhotildees de reais) o qual somente seraacute exigiacutevel em 31 de julho de 2028 natildeo sofrendo qualquer tipo de correccedilatildeo remuneraccedilatildeo ou atualizaccedilatildeo ateacute a referida data

15 Como eacute sabido os direitos de uma companhia que em uma determinada fase do ciclo operacional ainda natildeo foram realizados financeiramente isto eacute substituiacutedos por dinheiro devem ser computados no balanccedilo pelo valor de realizaccedilatildeo Assim sendo tal creacutedito

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

Fl 2389DF CARF MF

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

Fl 2390DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 17

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

Fl 2391DF CARF MF

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

Fl 2392DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 18

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

Fl 2393DF CARF MF

34

47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

Fl 2394DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 19

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

Fl 2395DF CARF MF

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

Fl 2396DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 20

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 24: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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na condiccedilatildeo de ativo circulante da SSP deveria ser avaliado nos termos do artigo 183 I b da Lei nordm 640476

Art 183 No balanccedilo os elementos do ativo seratildeo avaliados segundo os seguintes criteacuterios

I shy as aplicaccedilotildees em instrumentos financeiros inclusive derivativos e em direitos e tiacutetulos de creacuteditos classificados no ativo circulante ou no realizaacutevel a longo prazo (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11638de 2007)

a) pelo seu valor justo quando se tratar de aplicaccedilotildees destinadas agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda e (Redaccedilatildeo dada pela Lei nordm 11941 de 2009)

b) pelo valor de custo de aquisiccedilatildeo ou valor de emissatildeo atualizado conforme disposiccedilotildees legais ou contratuais ajustado ao valor provaacutevel de realizaccedilatildeo quando este for inferior no caso das demais aplicaccedilotildees e os direitos e tiacutetulos de creacutedito (Incluiacuteda pela Lei nordm 11638de 2007)

16 Como ensina o Professor Modesto Carvalhosa (Comentaacuterios agrave Lei das Sociedades Anocircnimas 3ordm Volume Satildeo Paulo Saraiva 2011 p 821shy822) a Lei nordm 116382007 alterou o inciso I do artigo citado acima passando a adotar uma concepccedilatildeo mais ampla do conceito de instrumentos financeiros determinando a sua avaliaccedilatildeo de forma coerente com os princiacutepios da contabilidade internacionalmente aceitos e reconhecendo a separaccedilatildeo de duas categorias

161 Aqueles destinados agrave negociaccedilatildeo ou disponiacuteveis para venda para os quais determina a avaliaccedilatildeo pelo seu valor de mercado como criteacuterio preciacutepuo de avaliaccedilatildeo e

162 As demais aplicaccedilotildees direitos e tiacutetulos de creacutedito para os quais manteacutem a exigecircncia de avaliaccedilatildeo pelo custo de aquisiccedilatildeo ou pelo valor de emissatildeo ajustando de acordo com as disposiccedilotildees legais e contratuais e pelas eventuais perdas em comparaccedilatildeo com o valor provaacutevel de realizaccedilatildeo

17 Salienta tambeacutem o citado professor que a Lei nordm 116382007 natildeo chegou a definir o que seria um instrumento financeiro manejando o termo em seu sentido contaacutebil refletido no Pronunciamento Teacutecnico CPC 39

11 Os termos seguintes satildeo utilizados neste Pronunciamento com os seguintes significados

Instrumento financeiro eacute qualquer contrato que decirc origem a um ativo financeiro para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade

Ativo financeiro eacute qualquer ativo que seja

(a) caixa

(b) instrumento patrimonial de outra entidade

(c) direito contratual

(i) de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra entidade ou

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

Fl 2391DF CARF MF

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 25: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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(ii) de troca de ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade sob condiccedilotildees potencialmente favoraacuteveis para a entidade

(d) um contrato que seja ou possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da CPC 39 6 proacutepria entidade e que

(i) natildeo eacute um derivativo no qual a entidade eacute ou pode ser obrigada a receber um nuacutemero variaacutevel de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade ou

(ii) um derivativo que seraacute ou poderaacute ser liquidado de outra forma que natildeo pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro por nuacutemero fixo de instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade Para esse propoacutesito os instrumentos patrimoniais da proacutepria entidade natildeo incluem os instrumentos financeiros com opccedilatildeo de venda classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16A e 16B os instrumentos que imponham a obrigaccedilatildeo a uma entidade de entregar agrave outra parte um pro rata como parte dos ativos liacutequidos da entidade apenas na liquidaccedilatildeo e satildeo classificados como instrumentos patrimoniais de acordo com os itens 16C e 16D ou os instrumentos que satildeo contratos para futuro recebimento ou entrega de instrumentos patrimoniais da entidade

18 Natildeo resta duacutevidas para noacutes que o creacutedito a receber do BTG corresponde a um ativo financeiro de imediatamente disponiacutevel para utilizaccedilatildeo por parte da SSP razatildeo pela qual o seu registro e avaliaccedilatildeo deveraacute se dar nos termos do artigo 183 I b da Lei das SA pela adoccedilatildeo do chamado custo de aquisiccedilatildeo Tal paracircmetro de preccedilo eacute justificado pelos seguintes motivos explicados por Alfredo Lamy e Bulhotildees Pedreira (Direito das Companhias V II Rio de Janeiro Forense 2009 p1596) a) os bens realizaacuteveis destinamshyse a ser convertidos em dinheiro e natildeo devem ser avaliados por valor superior ao de mercado na data do balanccedilo porque esse eacute o limite de realizaccedilatildeo do capital neles aplicado b) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute superior ao custo de aquisiccedilatildeo o bem deve continuar avaliado pelo custo porque a diferenccedila eacute lucro potencial que somente deveraacute ser reconhecido nas contas de resultado quando realizado c) se o valor de mercado na data do balanccedilo eacute inferior ao custo de aquisiccedilatildeo a sociedade empresaacuteria sofreu perda potencial que deve shy de acordo com o princiacutepio de conservadorismo shy ser reconhecida independentemente de realizaccedilatildeo

181 A uacutenica hipoacutetese de reavaliaccedilatildeo do ativo prevista no proacuteprio art 183 I b da Lei das SA eacute a hipoacutetese da realizaccedilatildeo do creacutedito gerar valor menor que o custo de aquisiccedilatildeo o que implicaria no provisionamento do prejuiacutezo

182 Isso implica em dizer que a SSP agiu corretamente em registrar no seu ativo o valor de face do creacutedito visto que natildeo haacute como determinar o valor de realizaccedilatildeo especialmente ante a possibilidade da liquidaccedilatildeo antecipada do creacutedito na forma do item i da claacuteusula 14 do contrato entre a SSP e a BTG

19 Aleacutem disso cabe ponderar tambeacutem a necessidade de observacircncia da Resoluccedilatildeo CFC nordm 12822010 cujo artigo 10 trata do chamado princiacutepio da prudecircncia ou princiacutepio da cautela que determina em condiccedilotildees de incerteza que os ativos e receitas natildeo sejam superestimados e os passivos e despesas natildeo sejam subestimados Segundo ele deveshyse adotar o menor valor para os componentes do Ativo e o maior para os do Passivo sempre que

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 26: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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estejam presentes alternativas igualmente vaacutelidas para a quantificaccedilatildeo das mutaccedilotildees patrimoniais que alterem o patrimocircnio liacutequido

20 Fica claro no presente caso que o creacutedito a receber da BTG possui como menor valor possiacutevel o montante nominal de R$ 450 milhotildees que seria devido na hipoacutetese de Data de Fechamento e Data de Pagamento coincidirem Haacute no caso a necessidade de reconhecimento da receita pela definitividade do ingresso ao passo que haacute a incerteza quanto ao valor real da receita a ser reconhecida em razatildeo da impossibilidade de determinar com precisatildeo o valor final Diante disso o valor a ser escriturado eacute o valor de face como o fez a SSP

21 Essa digressatildeo contaacutebil eacute relevante por um importante motivo

211 Por um lado verificashyse a niacutevel de evidecircncia que se trata de um creacutedito de valor muito superior ao seu valor de face shy bastaria uma pequena simulaccedilatildeo em uma calculadora financeira para verificar que o ajuste do valor inicial (R$ 450 milhotildees) pela CDI por alguns anos bastaria para ultrapassar o montante de R$ 38 bilhotildees implicando na aplicaccedilatildeo do menor valor em relaccedilatildeo agraves duas possibilidades de liquidaccedilatildeo do creacutedito

212 Por outro lado a contabilidade determina que se registre esse ativo com o menor valor possiacutevel preservando nesse caso o seu custo de aquisiccedilatildeo

22 A relevacircncia de tal ponto se daacute em razatildeo da Receita Federal ter construiacutedo toda a sua argumentaccedilatildeo sobre a consideraccedilatildeo de que a receita contaacutebil surgida da transferecircncia do Creacutedito a receber do BTG e sucessiva quitaccedilatildeo do passivo perante o FGC corresponderia i) a perdatildeo de diacutevida e ii) a receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

23 Deveshyse frisar nesse ponto que diferentemente do pugnado pela autoridade fiscalizadora ao adotar a definiccedilatildeo contaacutebil de receita para demonstraccedilatildeo de resultados o conceito de receita tributaacutevel no acircmbito do PISCofins natildeo eacute contaacutebil mas constitucional juriacutedico haja vista que se trata de expressatildeo invocada pelo Constituinte para definir a competecircncia da Uniatildeo no artigo 195 I b da Constituiccedilatildeo Federal

24 Da mesma forma o conceito de daccedilatildeo em pagamento cessatildeo de creacutedito e perdatildeo de diacutevida satildeo conceitos juriacutedicos do Direito Privado onde possuem um sentido teacutecnico especiacutefico que natildeo pode ser distorcido com vistas a qualificar juridicamente a perspectiva de determinado caso que o contabilidade forneceu

25 Podeshyse afirmar categoricamente que a forma de registro contaacutebil natildeo determina a incidecircncia tributaacuteria Esse eacute papel da lei exclusivamente Havendo discrepacircncia entre um registro contaacutebil e uma realidade juriacutedica natildeo deve restar duacutevida ao julgador da prevalecircncia desta sobre aquela

26 Passashyse pois a enfrentar especificamente os argumentos da autuaccedilatildeo

I) O conceito de receita tributaacutevel pelo PIS e pela Cofins

27 A fiscalizaccedilatildeo tributaacuteria adotou para fins de incidecircncia tributaacuteria o conceito de receita veiculado pela Resoluccedilatildeo CFC nordm 13742011 que qualificaria o perdatildeo de diacutevidas como espeacutecie de receita

Reconhecimento de receitas 447 A receita deve ser reconhecida na demonstraccedilatildeo do resultado quando resultar em aumento nos benefiacutecios

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

Fl 2388DF CARF MF

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

Fl 2389DF CARF MF

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

Fl 2390DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 17

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 27: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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econocircmicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuiccedilatildeo de passivo e puder ser mensurado com confiabilidade Isso significa na praacutetica que o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do aumento nos ativos ou da diminuiccedilatildeo nos passivos (por exemplo o aumento liacutequido nos ativos originado da venda de bens e serviccedilos ou o decreacutescimo do passivo originado do perdatildeo de diacutevida a ser paga)

28 De fato a fiscalizaccedilatildeo apontou precisamente um dispositivo de pronunciamento do Conselho Federal de Contabilidade que se presta a definir a receita mas olvidou em distinguir que se trata de um reconhecimento de receita na demonstraccedilatildeo do resultado Tratashyse de um escopo especiacutefico e distinto do reconhecimento de receita para fins de tributaccedilatildeo como expressamente reconhecimento no item 8A do Pronunciamento CPC nordm 30 verbis

8A A divulgaccedilatildeo da receita na demonstraccedilatildeo do resultado deve ser feita a partir das receitas conforme conceituadas neste Pronunciamento A entidade deve fazer uso de outras contas de controle interno como ldquoReceita Bruta Tributaacutevelrdquo para fins fiscais e outros

29 Como se vecirc cai por terra o fundamento contaacutebil da autuaccedilatildeo a partir do reconhecimento pela proacutepria contabilidade da diversidade entre o conceito de receita para fins de demonstraccedilatildeo de resultado e para fins de caacutelculo das contribuiccedilotildees sociais devidas shy tratamshyse de finalidades absolutamente distintas que demandam registros coerentes com seus proacuteprios escopos

30 Resta ultrapassada a fronteira de um conceito contaacutebil de receita o enfrentamento de um conceito constitucional e legal de receita para fins de determinaccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais bem como a delimitaccedilatildeo de sua base de caacutelculo

31 Em se tratando de um conceito utilizado pela Constituiccedilatildeo Federal e com reflexos nos textos do artigo 1ordm das Leis nordm 1063702 e 1083303 que determinam a incidecircncia do PISCofins natildeo cumulativo sobre o total das receitas auferidas no mecircs pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

32 Tal redaccedilatildeo do dispositivo como explica o Professor Marco Aureacutelio Greco tem o condatildeo de desatrelar da contabilidade o conceito de receita gerando dois efeitos opostos mas complementares de um lado se contabilmente algo natildeo estaacute registrado como receita mas tem essa natureza as contribuiccedilotildees devem incidir de outro lado se algo estaacute registrado contabilmente como receita mas natildeo tem essa natureza natildeo haacute incidecircncia das contribuiccedilotildees Outro natildeo foi o entendimento do Oacutergatildeo Pleno do Supremo Tribunal Federal ao julgar o Recurso Extraordinaacuterio nordm 606107RS sujeito agrave sistemaacutetica de repercussatildeo geral

O conceito de receita acolhido pelo art 195 I ldquobrdquo da Constituiccedilatildeo Federal natildeo se confunde com o conceito contaacutebil Entendimento aliaacutes expresso nas Leis 1063702 (art 1ordm) e Lei 1083303 (art 1ordm) que determinam a incidecircncia da contribuiccedilatildeo ao PISPASEP e da COFINS natildeo cumulativas sobre o total das receitas ldquoindependentemente de sua denominaccedilatildeo ou

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

Fl 2388DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 16

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

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Lei nordm 10833

Fl 2389DF CARF MF

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

Fl 2390DF CARF MF

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

Fl 2391DF CARF MF

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

Fl 2393DF CARF MF

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

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Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

Fl 2397DF CARF MF

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 28: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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classificaccedilatildeo contaacutebilrdquo Ainda que a contabilidade elaborada para fins de informaccedilatildeo ao mercado gestatildeo e planejamento das empresas possa ser tomada pela lei como ponto de partida para a determinaccedilatildeo das bases de caacutelculo de diversos tributos de modo algum subordina a tributaccedilatildeo

33 Como natildeo poderia deixar de ser natildeo cabe shy nem deve caber shy ao Conselho Federal de Contabilidade ou aos demais oacutergatildeos definidores de regras contaacutebeis a definiccedilatildeo da hipoacutetese de incidecircncia dos tributos brasileiro sob pena de subversatildeo da sistemaacutetica normativa de delimitaccedilatildeo de competecircncia pela Constituiccedilatildeo e definiccedilatildeo da incidecircncia pelas leis

34 Sob uma perspectiva histoacuterica o que se pode constatar eacute a tentativa constante de Uniatildeo de estender a hipoacutetese de incidecircncia das contribuiccedilotildees sociais esbarrando sempre no conceito constitucional de receita tributaacutevel e nas limitaccedilotildees legais Tal levantamento eacute feito de forma extremamente competente pelo Conselheiro Antonio Carlos Atulim em declaraccedilatildeo de voto apresentada no Acoacuterdatildeo nordm 3402shy003071 julgado em Maio de 2016 cujo conteuacutedo reproduzo abaixo

Historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento entendido como o produto da venda de mercadorias e da prestaccedilatildeo de serviccedilos

A tentativa de a Uniatildeo incluir no rol de incidecircncia das contribuiccedilotildees todas as receitas operacionais da pessoa juriacutedica tornoushyse uma odisseia que teve iniacutecio em julho de 1988 quando se pretendeu alterar a base de caacutelculo do PIS por meio da ediccedilatildeo de dois decretosshyleis

O PIS foi instituiacutedo por meio da Lei Complementar nordm 7 de 7 de setembro de 1970 a qual previa que as empresas privadas passariam a contribuir para o fundo com duas parcelas sendo uma com base na deduccedilatildeo do imposto de renda devido e outra com base no faturamento (arts 1ordm e 3ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute julho de 1988 quando foram editados os DecretosshyLeis nordm 2445 de 29 de junho de 1988 e nordm 2449 de 21 de julho de 1988 por meio dos quais as contribuiccedilotildees mensais ateacute entatildeo devidas sobre o faturamento passariam a incidir sobre a receita operacional bruta (art 1ordm V do DecretoshyLei nordm 244588)

A tentativa de a Uniatildeo ampliar a base de caacutelculo do PIS por essa via foi rechaccedilada pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nordm 148754 por meio do qual o Tribunal declarou a inconstitucionalidade formal dos DecretosshyLeis nordm 2445 e 2449 ambos de 1988

Relativamente ao financiamento da Seguridade Social a odisseia teve iniacutecio com a instituiccedilatildeo do Fundo de Investimento Social shy FINSOCIAL por meio da ediccedilatildeo do DecretoshyLei nordm 1940 de 25 de maio de 1982 quando foi criada uma contribuiccedilatildeo devida pelas empresas equivalente a 05 (cinco deacutecimos por cento) do faturamento (art 1ordm sect 1ordm)

Sobreveio entatildeo a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 e com o passar dos anos a aliacutequota inicial de 05 do FINSOCIAL foi sendo elevada ao mesmo tempo em que foi criada a Contribuiccedilatildeo Social sobre o Lucro (Lei nordm 7689 de 15 de dezembro de 1988)

Houve contestaccedilatildeo judicial por parte dos contribuintes e o Supremo Tribunal Federal mais uma vez foi chamado a intervir No julgamento do RE nordm 150764 o Tribunal manteve a cobranccedila do FINSOCIAL com a configuraccedilatildeo existente na data da promulgaccedilatildeo da CF88 declarando inconstitucionais as majoraccedilotildees procedidas em sua aliacutequota apoacutes o advento da nova ordem constitucional

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

Fl 2395DF CARF MF

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

Fl 2396DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 20

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

Fl 2397DF CARF MF

38

I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

Fl 2398DF CARF MF

Page 29: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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S3shyC4T2 Fl 16

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Diante da inviabilidade do aumento da contribuiccedilatildeo ao FINSOCIAL foi editada a Lei Complementar nordm 70 de 30 de dezembro de 1991 por meio da qual foi revogado o FINSOCIAL instituindoshyse a Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com aliacutequota de 2 incidente sobre o faturamento (art 2ordm)

Esse quadro legislativo se manteve ateacute a ediccedilatildeo da Lei nordm 9718 de 27 de novembro de 1998 por meio da qual a Uniatildeo mais uma vez tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS redefinindo o conceito de faturamento (art 3ordm sect 1ordm)

E mais uma vez a Uniatildeo viu sua tentativa frustrada pois por meio do RE nordm 390840 o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade do art 3ordm sect 1ordm da Lei nordm 971898

Desse breve retrospecto legislativo resulta a comprovaccedilatildeo da assertiva inicial deste voto no sentido de que historicamente essas contribuiccedilotildees sempre incidiram sobre o faturamento e que a intenccedilatildeo da Uniatildeo pelo menos a partir de 1988 sempre foi ampliar o campo de incidecircncia para abarcar a receita operacional

Todas as vezes em que a Uniatildeo tentou ampliar as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees ao PIS e COFINS para alcanccedilar as receitas operacionais das empresas houve declaraccedilatildeo de inconstitucionalidade da norma infraconstitucional

Esse quadro mudou com o advento da Emenda Constitucional nordm 20 de 15 de dezembro de 1998 por meio do qual foi alterado o texto do art 195 I b da CF88 que passou a prever a incidecircncia das contribuiccedilotildees destinadas ao custeio da seguridade social sobre a receita ou o faturamento

A partir dessa alteraccedilatildeo constitucional passou a existir permissatildeo para que o legislador incluiacutesse nas bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees destinadas ao financiamento da seguridade social qualquer receita auferida pela pessoa juriacutedica pois o texto constitucional utilizou o vocaacutebulo receita sem nenhuma qualificaccedilatildeo ou limitaccedilatildeo

Com lastro nessa alteraccedilatildeo constitucional foram editadas as Medidas Provisoacuterias nordm 66 de 2002 e 135 de 2003 que resultaram na Lei nordm 10637 de 30 de dezembro de 2002 e na Lei nordm 10833 de 29 de dezembro de 2003 respectivamente que nas suas redaccedilotildees originais definiram as bases de caacutelculo das contribuiccedilotildees nos seguintes termos

Lei nordm 10637

Art 1oA contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo para o PISPasep eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

Lei nordm 10833

Fl 2389DF CARF MF

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

()

A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

Fl 2390DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 17

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

Fl 2391DF CARF MF

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

Fl 2392DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 18

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

Fl 2393DF CARF MF

34

47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 30: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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Art 1oA Contribuiccedilatildeo para o Financiamento da Seguridade Social shy COFINS com a incidecircncia natildeoshycumulativa tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1oPara efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

sect 2oA base de caacutelculo da contribuiccedilatildeo eacute o valor do faturamento conforme definido no caput

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A primeira leitura desses dispositivos legais aparentemente autoriza a pretensatildeo fiscal de incluir a na base de caacutelculo das contribuiccedilotildees qualquer tipo de receita seja ela operacional ou natildeo operacional

Mas embora exista autorizaccedilatildeo na constituiccedilatildeo para a tributaccedilatildeo da receita em geral o legislador natildeo se valeu dessa faculdade pois natildeo soacute vinculou a totalidade das receitas ao termo faturamento mas tambeacutem excluiu expressamente da incidecircncia as receitas natildeo operacionais nos paraacutegrafos 3ordm dos arts 1ordm dessas duas leis

Nas cabeccedilas dos arts 1ordm de ambas as leis a menccedilatildeo ao termo faturamento limita a amplitude do total das receitas auferidas ao total das receitas operacionais uma vez que as receitas natildeoshyoperacionais natildeo se identificam com faturamento jaacute que natildeo decorrem da execuccedilatildeo do objeto social da pessoa juriacutedica

Tal afirmaccedilatildeo parece ser confirmada pelos paraacutegrafos 3ordm dos dois dispositivos citados que se encarregaram de excluir da incidecircncia das contribuiccedilotildees as receitas natildeo operacionais nos seguintes termos

Lei 106372002

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

I a IV shy omissis

Vshy referentes a

a) vendas canceladas ou aos descontos incondicionais concedidos

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

VIndashnatildeo operacionais decorrentes da venda de ativo imobilizado (incluiacutedo pela Lei nordm 106842003)

Lei nordm 108332003

sect 3oNatildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

Ishy omissis

IIshy natildeoshyoperacionais decorrentes da venda de ativo permanente

III e IVshy omissis

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 31: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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Vshy referentes a

a) omissis

b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda que natildeo representem ingresso de novas receitas o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de investimentos avaliados pelo custo de aquisiccedilatildeo que tenham sido computados como receita

()

Ao contraacuterio do entendimento de alguns esse rol de exclusotildees das receitas natildeo operacionais natildeo eacute exaustivo pois o legislador no momento da elaboraccedilatildeo da norma natildeo tem condiccedilotildees de prever todas as hipoacuteteses de receitas natildeo operacionais que podem se apresentar no mundo real

Tanto isso eacute verdade que com o advento da Lei nordm 12973 de 13 de maio de 2014 houve alteraccedilatildeo na teacutecnica de redaccedilatildeo dos artigos 1ordm das Leis nordm 106372002 e 108332003 pois ao mesmo tempo em que o legislador especificou e limitou a incidecircncia agraves receitas estabelecidas no art 12 do DecretoshyLei nordm 159877 e no art 183 VIII da Lei nordm 640476 houve ampliaccedilatildeo do rol de exclusotildees de receitas natildeoshyoperacionais das bases de caacutelculo fato que comprova que o rol de exclusotildees anteriormente existente natildeo era exaustivo Se fosse exaustivo natildeo seria necessaacuterio e nem logicamente possiacutevel que uma lei posterior viesse a ampliaacuteshylo

Assim se historicamente o legislador nunca pretendeu incluir as receitas natildeo operacionais nas bases de caacutelculo do PIS e COFINS e se existe previsatildeo expressa de exclusatildeo dessas receitas nas leis que instituiacuteram as contribuiccedilotildees natildeo cumulativas eacute incabiacutevel a pretensatildeo da fiscalizaccedilatildeo tributaacuteshylas

35 Com razatildeo o Ilustre Conselheiro retrocitado A legislaccedilatildeo do PISCofins natildeo cumulativo vigente agrave eacutepoca das operaccedilotildees realizadas pela SSP e o FGC previa em seu artigo 1ordm o seguinte

Art 1o A contribuiccedilatildeo para o PISPasep tem como fato gerador o faturamento mensal assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa juriacutedica independentemente de sua denominaccedilatildeo ou classificaccedilatildeo contaacutebil

sect 1o Para efeito do disposto neste artigo o total das receitas compreende a receita bruta da venda de bens e serviccedilos nas operaccedilotildees em conta proacutepria ou alheia e todas as demais receitas auferidas pela pessoa juriacutedica

36 Tal dispositivo enseja uma leitura conjunta com o art 12 do DecretoshyLei 159877 que definia expressamente o conceito de faturamento mensal e receita bruta nos seguintes termos

Art 12 shy A receita bruta das vendas e serviccedilos compreende o produto da venda de bens nas operaccedilotildees de conta proacutepria e o preccedilo dos serviccedilos prestados

37 Natildeo se estaacute diante no presente caso de receita bruta decorrente da venda de bens e serviccedilos caracterizado pela legislaccedilatildeo de regecircncia como o conjunto de fatos aptos a

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Page 32: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

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configurar a incidecircncia do PIS e da Cofins Eacute preciso mais do que simples ganho para que se configura receita tributaacutevel como tambeacutem consignou o STF no mesmo REx 606107RS

Sob o especiacutefico prisma constitucional receita bruta pode ser definida como o ingresso financeiro que se integra no patrimocircnio na condiccedilatildeo de elemento novo e positivo sem reservas ou condiccedilotildees (grifo nosso)

38 No caso em tela resta claro que o perdatildeo de diacutevida shy considerando aqui o fundamento da fiscalizaccedilatildeo shy nunca poderia ser tratado como receita para fins de tributaccedilatildeo (apenas para fins de demonstraccedilatildeo de resultado da empresa) por natildeo configurar ingresso Ele natildeo se integra ao patrimocircnio de forma inaugural shy natildeo haacute aquisiccedilatildeo de disponibilidade nova mas apenas eliminaccedilatildeo de um comprometimento patrimonial existente

39 E mais natildeo se trata de uma distinccedilatildeo que estamos inaugurando aqui mas sim de elemento de discriacutemen natildeo apenas consagrado jurisprudencialmente como tambeacutem pela proacutepria legislaccedilatildeo que natildeo se furtou em diversas oportunidades em deixar claro que a eliminaccedilatildeo de um passivo conquanto represente um ganho natildeo deve ingressar na base de caacutelculo do PIS e Cofins como no artigo 1ordm sect3ordm incisos V b X e XII da Lei nordm 1063702

Art 1ordm ()

sect 3o Natildeo integram a base de caacutelculo a que se refere este artigo as receitas

V shy referentes a b) reversotildees de provisotildees e recuperaccedilotildees de creacuteditos baixados como perda QUE NAtildeO REPRESENTEM INGRESSO DE NOVAS RECEITAS o resultado positivo da avaliaccedilatildeo de investimentos pelo valor do patrimocircnio liacutequido e os lucros e dividendos derivados de participaccedilotildees societaacuterias que tenham sido computados como receita

X shy de subvenccedilotildees para investimento inclusive mediante isenccedilatildeo ou reduccedilatildeo de impostos concedidas como estiacutemulo agrave implantaccedilatildeo ou expansatildeo de empreendimentos econocircmicos e de doaccedilotildees feitas pelo poder puacuteblico

XII shy relativas ao valor do imposto que deixar de ser pago em virtude das isenccedilotildees e reduccedilotildees de que tratam as aliacuteneas ldquoardquo ldquobrdquo ldquocrdquo e ldquoerdquo do sect 1o do art 19 do DecretoshyLei no 1598 de 26 de dezembro de 1977

40 A lei eacute categoacuterica sempre que estiver ausente o elemento de ingresso financeiro o ganho natildeo pode se enquadrar na categoria de receita tributaacutevel shy quando muito no conceito de receita contaacutebil para fins de demonstraccedilatildeo do resultado

41 Friseshyse todavia que se estaacute enfrentando aqui a impossibilidade da receita decorrente de perdatildeo de diacutevida compor a base de caacutelculo do PIS e da Cofins apenas para enfrentar o argumento da autuaccedilatildeo em suas proacuteprias bases pois logo em seguida seraacute demonstrado extensivamente que a operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento do creacutedito a receber do BTG entre a SSP e o FGC natildeo configura de forma alguma perdatildeo de diacutevida

II) Da Daccedilatildeo em Pagamento

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

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Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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42 Outro ponto de sustentaccedilatildeo da autuaccedilatildeo e da decisatildeo da DRJ se funda no argumento de que teria havido um perdatildeo de diacutevida na operaccedilatildeo sob argumento de que o FGC teria recebido como condiccedilatildeo da quitaccedilatildeo do passivo existente na SSP um creacutedito com valor de face menor do que o creacutedito que possui perante o devedor

43 Todavia eacute preciso observar que a operaccedilatildeo no caso envolveu uma daccedilatildeo em pagamento regulada nos artigos 356 a 359 do Coacutedigo Civil

CAPIacuteTULO V Da Daccedilatildeo em Pagamento

Art 356 O credor pode consentir em receber prestaccedilatildeo diversa da que lhe eacute devida

Art 357 Determinado o preccedilo da coisa dada em pagamento as relaccedilotildees entre as partes regularshyseshyatildeo pelas normas do contrato de compra e venda

Art 358 Se for tiacutetulo de creacutedito a coisa dada em pagamento a transferecircncia importaraacute em cessatildeo

Art 359 Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento restabelecershyseshyaacute a obrigaccedilatildeo primitiva ficando sem efeito a quitaccedilatildeo dada ressalvados os direitos de terceiros

44 A daccedilatildeo em pagamento possui como elemento baacutesico a alteraccedilatildeo do objeto do contrato mantendoshyse o liame obrigacional atraveacutes da substituiccedilatildeo da coisa que deveria ser prestada ou entregue por outra shy aliud pro alio Como pontua Orlando Gomes o credor natildeo eacute obrigado a receber coisa diversa da que constitui objeto da prestaccedilatildeo devida mas a partir de sua aquiescecircncia no recebimento de outro bem ou prestaccedilatildeo natildeo haacute que se distinguir a daccedilatildeo em pagamento de qualquer outro meio normal de cumprimento da prestaccedilatildeo (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p145)

45 Mais ainda uma vez concordando com a daccedilatildeo em pagamento a operaccedilatildeo tem pleno efeito liberatoacuterio shy daiacute a importacircncia do consentimento em vista de se tratar de uma operaccedilatildeo de caraacuteter natildeo compulsoacuterio para ser tomada como vaacutelida Desse modo natildeo haacute que se confundir shy confusatildeo esta presente no argumento fiscal shy entre modos de extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo e o dimensionamento da diacutevida Orlando Gomes novamente esclarece a esse respeito

O efeito que a daccedilatildeo em pagamento produz eacute a extinccedilatildeo do creacutedito qualquer que seja o valor da coisa dada em substituiccedilatildeo Natildeo importa que valha mais ou menos de que a quantia devida ou a coisa que deveria ser entregue Se valer menos o credor natildeo poderaacute exigir a diferenccedila Se valer mais o devedor natildeo teraacute o direito de exigir a restituiccedilatildeo do excedente Mas se o creacutedito for inexistente impotildeemshyse a devoluccedilatildeo da coisa entregue ou do seu valor (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p146)

46 O regime civil dos efeitos da daccedilatildeo em pagamento implica na imediata extinccedilatildeo da obrigaccedilatildeo (PONTES DE MIRANDA Tratado de Direito Privado v 25 sect3000 nordm4 p6) e em se tratando de daccedilatildeo de tiacutetulo de creacutedito aplicashyse o disposto nos artigos 286 a 299 do Coacutedigo Civil relativos agrave cessatildeo de creacutedito

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

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47 Conforme definido por Antunes Varela A cessatildeo de creacutedito consiste precisamente no contrato pelo qual o credor de determinada prestaccedilatildeo transmite a terceiro independentemente do consentimento do devedor a totalidade ou parte do seu creacutedito (Direito das Obrigaccedilotildees v2 Rio de Janeiro Forense 1978 p308) Tal negoacutecio juriacutedico tem a finalidade de transmitir um creacutedito preexistente a terceiro que natildeo participou da relaccedilatildeo juriacutedica originaacuteria shy no caso em tela a SSP pretendeu transmitir ao FGC creacutedito decorrente de negoacutecio assumido junto ao BTG

48 A distinccedilatildeo principal da cessatildeo de creacutedito claacutessica daquela prevista como espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento no art 358 do Coacutedigo Civil diz respeito agrave eficaacutecia liberatoacuteria que teraacute em relaccedilatildeo a uma obrigaccedilatildeo assumida entre o cessionaacuterio e o cedente do creacutedito a revelia do devedor do creacutedito cedido

49 Eacute preciso frisar mais uma vez que a natureza consensual da daccedilatildeo em pagamento eacute o que lhe garante a eficaacutecia liberatoacuteria independente do valor da diacutevida e do bem ou serviccedilo aceito como contraprestaccedilatildeo shy por exemplo seria possiacutevel que um devedor de uma diacutevida de R$ 100 mil reais oferecesse como pagamento um imoacutevel do valor de R$ 150 mil sem que sequer se pudesse cogitar do surgimento de uma inversatildeo nas posiccedilotildees originais passando o credor a ser devedor da diferenccedila de R$ 50 mil

50 A daccedilatildeo em pagamento natildeo exige uma preciso quid pro quo de valores para ter sua eficaacutecia liberatoacuteria

51 Esse parece ter sido exatamente o erro no argumento da autuaccedilatildeo fiscal ao interpretar o oferecimento de um creacutedito de R$ 450 milhotildees como pagamento de uma diacutevida de R$ 38 bilhotildees como uma daccedilatildeo em pagamento de parcela numericamente equivalente da diacutevida original seguida de uma remissatildeo do valor de R$ 335 bilhotildees

511 Como foi dito a daccedilatildeo em pagamento natildeo exige para sua realizaccedilatildeo que o valor do bem dado seja equivalente ao valor da diacutevida existente shy o que eacute corroborado pela eficaacutecia liberatoacuteria plena sem que eventuais excessos ou deacuteficits de valores gerem novas relaccedilotildees de creacutedito Assim cabe um uacuteltimo esclarecimento

512 A fiscalizaccedilatildeo considerou o valor registrado contabilmente no cruzamento com o valor do passivo baixado apoacutes a quitaccedilatildeo dada pelo FGC que resultou na receita eventual de R$ 335 bilhotildees Todavia eacute preciso retomar o que foi dito sobre o regime contaacutebil de registro de receitas que segue regras especiacuteficas que determinaram que laacute fosse colocado o valor de face do tiacutetulo

513 Entretanto natildeo eacute preciso entrar em minuacutecias econocircmicas para perceber que o creacutedito em questatildeo possui um valor real isto eacute o valor de realizaccedilatildeo dele muito maior do que os R$ 450 milhotildees que constam como valor nominal na Data de Fechamento Natildeo eacute a toa que quando o creacutedito for realizado cabe agrave SSP retificar o valor do ativo cedido na sua contabilidade para adequaacuteshylo ao valor da realizaccedilatildeo da qual gozou o FGC

514 Isso quer dizer que se na data X o creacutedito foi realizado no valor de por exemplo R$ 25 bilhotildees o montante da receita eventual da SSP deveria ser retificado agrave partir da retificaccedilatildeo do valor do ativo para o montante realizado Da mesma forma se na data Y o creacutedito for realizado por R$ 38 bilhotildees (conforme a regra ii) se verifica que o montante de receita eventual deveria ser retificado para zero

515 Imaginem dentro do exemplo do paraacutegrafo anterior que essa realizaccedilatildeo se deu apenas em 2025 e que o PISCofins sobre a receita eventual apurada do confronto entre

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

Fl 2396DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

S3shyC4T2 Fl 20

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

Fl 2397DF CARF MF

38

I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

Fl 2398DF CARF MF

Page 35: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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o passivo e o valor de face do creacutedito jaacute fora cobrado em 2017 Estariacuteamos na canhestra situaccedilatildeo de vultosas contribuiccedilotildees cobradas sobre uma receita que simplesmente desapareceu apoacutes a realizaccedilatildeo do creacutedito cedido e sem qualquer possibilidade da SSP pedir restituiccedilatildeo ou compensaccedilatildeo do tributo pago indevidamente em razatildeo da decadecircncia

516 O exemplo deixa claro que se trata de uma receita meramente contaacutebil mas que natildeo consubstancia ingresso financeiro e estaacute sujeita inclusive a desaparecer quando da realizaccedilatildeo do creacutedito cedido ocasiatildeo em que a SSP poderia corrigir o valor do ativo cedido

517 Resta claro assim que a divergecircncia entre o valor de face do creacutedito e o passivo da SSP existe apenas em razatildeo das regras vigentes de contabilidade visto que o valor real daquele eacute muito superior ao tomado como referecircncia pela fiscalizaccedilatildeo

52 Tratashyse de um equiacutevoco que contraria a loacutegica dos institutos do Direito Civil cuja observacircncia na seara tributaacuteria deve ser respeitada por forccedila dos artigos 109 e 110 do Coacutedigo Tributaacuterio Nacional verbis

Art 109 Os princiacutepios gerais de direito privado utilizamshyse para pesquisa da definiccedilatildeo do conteuacutedo e do alcance de seus institutos conceitos e formas mas natildeo para definiccedilatildeo dos respectivos efeitos tributaacuterios

Art 110 A lei tributaacuteria natildeo pode alterar a definiccedilatildeo o conteuacutedo e o alcance de institutos conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente pela Constituiccedilatildeo Federal pelas Constituiccedilotildees dos Estados ou pelas Leis Orgacircnicas do Distrito Federal ou dos Municiacutepios para definir ou limitar competecircncias tributaacuterias

53 Assim eacute juridicamente impossiacutevel que apoacutes uma daccedilatildeo em pagamento tomada com efeito liberatoacuterio total da obrigaccedilatildeo original exista algo a ser remido perdoado pois a diacutevida jaacute foi inteiramente extinta

54 Diferentemente do sustentado pela Ilustre Conselheira relatora natildeo se trata de caso de aplicaccedilatildeo da Soluccedilatildeo de Consulta nordm 306 shy SRRF9ordf RFDisit haja vista que natildeo haacute descontos financeiros o que haacute efetivamente eacute o encerramento do viacutenculo obrigacional entre o FGC e a SSP em razatildeo do efeito liberatoacuterio da daccedilatildeo em pagamento Natildeo haacute necessidade do bom entrega na daccedilatildeo em pagamento tenha exatamente o valor do creacutedito que se pretende extinguir tampouco procede a afirmaccedilatildeo de que em caso de diferenccedila a menor ou a maior se possa falar em surgimento de uma nova relaccedilatildeo creditiacutecia relativa a essa diferenccedila

55 Por fim cabe tambeacutem o contraste com a figura da remissatildeo definida por Venosa como o ato ou efeito de remitir perdoar uma diacutevida ocorrendo quando o credor libera o devedor no todo ou em parte sem receber pagamento(como citado pela relatora)

551 Toda obrigaccedilatildeo para alcanccedilar plena eficaacutecia depende do adimplemento ou pagamento da mesma shy eacute a sua morte natural Todavia existem diversos modos pelos quais uma obrigaccedilatildeo pode ser extinta shy eacute a liccedilatildeo da doutrina italiana (especialmente MESSINEO Manuale Elementare di Diritto Civile e Commerciale v 2 p356) ao distinguir os modos entre satisfatoacuterios e natildeoshysatisfatoacuterios

Fl 2395DF CARF MF

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

Fl 2396DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

Fl 2397DF CARF MF

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I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

Fl 2398DF CARF MF

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552 Ensina Orlando Gomes que satildeo satisfatoacuterios os modos atraveacutes dos quais o credor recebe a prestaccedilatildeo direta ou indiretamente Diretos satildeo aqueles em que o objeto da prestaccedilatildeo eacute entregue sendo o pagamento a hipoacutetese por excelecircncia ao passo que indiretos seriam aqueles em que ainda que natildeo se receba a prestaccedilatildeo haacute uma desobrigaccedilatildeo do devedor como nos casos de confusatildeo ou compensaccedilatildeo Por outro lado natildeo satisfatoacuterios satildeo os modos que desobrigam o devedor sem que o credor receba a prestaccedilatildeo como na novaccedilatildeo remissatildeo prescriccedilatildeo e impossibilidade superveniente de caraacuteter fortuito (Obrigaccedilotildees 17ordfed Rio de Janeiro Forense 2008 p151)

553 Natildeo restam duacutevidas de que a daccedilatildeo em pagamento nada mais eacute do que modalidade satisfatoacuteria direta pois se trata ao fim e ao cabo de simples modalidade de pagamento como reconhecido de forma ampla pela doutrina civilista

554 Muito longe disso a remissatildeo ou perdatildeo de diacutevida implica em um ato unilateral do credor com vistas agrave extinccedilatildeo do creacutedito atraveacutes da renuacutencia expressa do seu direito Ao se verificar o recebimento de um creacutedito jaacute resta absolutamente claro que o FGC natildeo praticou remissatildeo mas sim recebeu um direito de creacutedito perante terceiro como pagamento pela diacutevida assumida como de resto jaacute foi abordado anteriormente

555 Portanto tratashyse de rotunda impropriedade teacutecnica a qualificaccedilatildeo da operaccedilatildeo entre a SSP e o FGC como uma espeacutecie de remissatildeo ou perdatildeo sendo nos termos da legislaccedilatildeo de Direito Privado espeacutecie de daccedilatildeo em pagamento

c) Da inaplicabilidade dos precedentes citados da CSRF

56 Da mesma forma descabe aplicar no caso os precedentes apontados da Cacircmara Superior de Recursos Fiscais relativos ao julgamento de IRPJ Tratamshyse de materialidades tributaacuterias absolutamente distintas enquanto o PISCofins incidem sobre receitas decorrentes da atividade de venda de bens e serviccedilos o IR tem como fato gerador a aquisiccedilatildeo de disponibilidade econocircmica ou juriacutedica do produto do capital do trabalho ou de ambos bem como de proventos e quaisquer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 do CTN

57 Eacute clara na contabilidade a diferenccedila entre receitas propriamente ditas e simples ganhos da mesma forma que nem toda receita compotildee renda tributaacutevel e nem sempre a renda tributaacutevel depende de receita

571 Por exemplo a receita da venda de bens do ativo natildeo circulante nos termos do art 1ordm sect3ordm VI eacute enquadrada como receita mas excluiacuteda da base de caacutelculo do PISCofins ao passo que sequer poderia ser cogitada como materialidade da IR (salvo na realizaccedilatildeo de ganho de capital) pois natildeo implica em acreacutescimo patrimonial exigido pelo art 43 II do CTN

572 Outro exemplo seria o ajuste a valor presente de um imoacutevel do ativo da empresa para fins de oferececircshylo como garantia em um empreacutestimo Antes da Lei nordm 129732014 tal situaccedilatildeo natildeo seria enquadrada como receita mas poderia se reconhecer acreacutescimo patrimonial nos termos do art 43 II do CTN ainda que a legislaccedilatildeo ordinaacuteria soacute reconheccedila a realizaccedilatildeo dessa renda com a alienaccedilatildeo do ativo (diferentemente por exemplo de como decidiu a Suprema Corte norte americana no caso Helvering v Bruum em 1940 desvinculando a realizaccedilatildeo financeira da realizaccedilatildeo econocircmica)

Fl 2396DF CARF MF

Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

Fl 2397DF CARF MF

38

I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

Fl 2398DF CARF MF

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Processo nordm 163277208552014shy11 Acoacuterdatildeo nordm 3402shy004002

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58 Estes exemplos servem para deixar claro que as hipoacuteteses de incidecircncia do PISCofins e IRPJ satildeo absolutamente distintas natildeo sendo vaacutelida a invocaccedilatildeo de precedentes da CSRF sobre este uacuteltimo para orientar quanto ao primeiro

59 Este Colegiado jaacute enfrentou a distinccedilatildeo entre receita e renda com bastante rigor teacutecnico na ocasiatildeo do julgamento do Acoacuterdatildeo 3402shy003239 julgado em Agosto de 2016 e de relatoria da Conselheira Maria Aparecida que em seu voto consignou e aderiu agrave posiccedilatildeo do Professor Joseacute Antocircnio Minatel citada abaixo

O ingresso financeiro eacute um dos atributos que permitem qualificar o conteuacutedo material da receita mas nem todo ingresso tem natureza de receita Eacute preciso caraacuteter de definitividade da quantia ingressada e que tenha como causa o exerciacutecio de atividade empresarial

()

Jaacute afirmamos que receita pressupotildee ingresso no sentido de contraprestaccedilatildeo em dinheiro recebida por exemplo pelo comerciante proveniente da venda de mercadorias ou pela atividade desempenhada pelo prestador de serviccedilos assim como se qualificam no contexto de receita os juros que remuneram o capital transferido num contrato de muacutetuo Nessa concepccedilatildeo foram tomados sob o geneacuterico roacutetulo de receita por natildeo ser demais repetir que tais eventos tecircm configuraccedilatildeo instantacircnea de circulaccedilatildeo de riqueza aferiacutevel na contrapartida instantacircnea de cada negoacutecio ou operaccedilatildeo portanto prescindem de apuraccedilatildeo de resultado mediante confronto com os custos correspondentes O mesmo natildeo acontece com a renda conceito relacional pois pressupotildee avaliaccedilatildeo teacutecnica do efetivo resultado num determinado periacuteodo de tempo segundo meacutetodos e criteacuterios predefinidos para o que satildeo relevantes todos os fatores interrelacionados para exteriorizaacuteshylo (MINATEL Joseacute Antonio O Conteuacutedo do conceito de receita Satildeo Paulo MP Editora 2005)

60 Desse modo natildeo restam duacutevidas de que o raciociacutenio esgrimido nos casos de IRPJ natildeo tem aplicabilidade no acircmbito da discussatildeo travada no presente caso

d) Das preliminares de nulidade e da impossibilidade de cobranccedila de juros sobre multa de ofiacutecio

Em razatildeo da divergecircncia em relaccedilatildeo ao voto da relatora ter se dado quanto ao meacuterito e nos termos do artigo 59 sect3ordm do Decreto 7023572 (sect 3ordm Quando puder decidir do meacuterito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaraccedilatildeo de nulidade a autoridade julgadora natildeo a pronunciaraacute nem mandaraacute repetir o ato ou suprirshylhe a falta) em resolvendo de modo favoraacutevel ao Contribuinte o meacuterito do Recurso deixo de apreciar as preliminares de nulidade

Prejudicado tambeacutem o argumento da incidecircncia de juros sobre multa de ofiacutecio em razatildeo do provimento de meacuterito

e) Conclusatildeo

Podeshyse concluir que em siacutentese que

Fl 2397DF CARF MF

38

I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

Fl 2398DF CARF MF

Page 38: S3C4T2 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS · s3c4t2 fl. 2 1 1 s3c4t2 ministÉrio da fazenda conselho administrativo de recursos fiscais terceira seÇÃo de julgamento

38

I) A cessatildeo do creacutedito a receber da SSP para o FGC corresponde juridicamente a uma operaccedilatildeo de daccedilatildeo em pagamento tendo eficaacutecia liberatoacuteria plena

II) A receita eventual apurada no confronto entre o ativo cedido e o passivo baixado natildeo corresponde ao conceito de receita tributaacutevel do PIS e Cofins por natildeo se tratar de ingresso financeiro e por natildeo decorrer das atividades econocircmicas da empresa

III) A receita eventual decorre em rigor de uma disparidade entre o valor do registro contaacutebil que adotou o valor de face do tiacutetulo e o valor real do mesmo e natildeo de um perdatildeo de diacutevida como sustentado pela fiscalizaccedilatildeo

Ante o exposto voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntaacuterio do Contribuinte nos termos do presente voto

Eacute como voto

Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto

Fl 2398DF CARF MF