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SOCIOLOGIA MÓDULO 1: Descobrindo a Sociologia ENSINO PROFISSIONAL Bárbara Cunha 2014

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Manual Socio Log i A

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Page 1: Manual Socio Log i A

SOCIOLOGIA

MÓDULO 1: Descobrindo a Sociologia

ENSINO PROFISSIONAL

Bárbara Cunha

2014

Page 2: Manual Socio Log i A

2

ÍNDICE

Objetivo geral ........................................................................................................................... 3

Objetivos Específicos................................................................................................................. 3

Conteúdo Programático ............................................................................................................ 3

1. Ciências sociais e realidade social ...................................................................................... 4

1.1. Complexidade da realidade social .............................................................................. 4

1.2. Fenómeno Social Total (Marcel Mauss) ...................................................................... 5

1.3. Interdisciplinaridade e objeto das ciências sociais ...................................................... 5

2. Génese e objeto da Sociologia ........................................................................................... 6

2.1. O conceito de facto social .......................................................................................... 6

2.2. Características dos factos sociais ............................................................................... 6

2.3. Estrutura social e ação social ..................................................................................... 7

3. Produção do Conhecimento em Sociologia ........................................................................ 8

3.1. Conhecimento do senso comum ................................................................................ 8

3.2. Construção de conhecimento sociológico .................................................................. 8

3.3. Obstáculos à produção do conhecimento científico ................................................... 9

4. Novos campos de investigação ........................................................................................ 10

5. Estratégias de Investigação ............................................................................................. 11

5.1. A teoria ................................................................................................................... 11

5.2. As hipóteses teóricas ............................................................................................... 11

6. Modos de produção da informação: métodos disponíveis na Sociologia .......................... 12

6.1. O método ................................................................................................................ 12

6.2. As técnicas de investigação ...................................................................................... 14

7. Etapas da investigação .................................................................................................... 18

7.1. Pergunta de partida ................................................................................................. 19

7.2. Exploração, leituras e entrevistas exploratórias ....................................................... 19

7.3. Problemática ........................................................................................................... 19

7.4. Construção do modelo de análise ............................................................................ 19

7.5. Observação.............................................................................................................. 19

7.6. Análise das informações .......................................................................................... 19

7.7. Conclusões .............................................................................................................. 19

Bibliografia ............................................................................................................................. 20

Page 3: Manual Socio Log i A

3

Objetivo geral Os formandos deverão conhecer, num âmbito geral, a importância da perspetiva sociológica

na análise da realidade social.

Objetivos Específicos • Constatar a complexidade da realidade social identificando-a como objeto das ciências

sociais;

• Constatar a necessidade de uma abordagem interdisciplinar na análise da realidade

social;

• Explicitar a especificidade da abordagem sociológica da realidade social e a necessidade

de rutura com o senso comum;

• Reconhecer a necessidade da teoria e dos métodos na construção do conhecimento

sociológico;

• Caracterizar as etapas mais importantes da pesquisa sociológica e as formas de

apresentação dos resultados da investigação.

Conteúdo Programático 1. Ciências sociais e realidade social

2. Génese e objeto da Sociologia

3. Produção do Conhecimento em Sociologia

4. Novos campos de investigação

5. Estratégias de Investigação

6. Modos de produção da informação: métodos disponíveis na Sociologia

7. Etapas da investigação

Page 4: Manual Socio Log i A

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1. Ciências sociais e realidade social

1.1. Complexidade da realidade social Os seres humanos nascem incompletos, inacabados. É em sociedade, na convivência e

interação com os outros indivíduos constroem a sua humanidade. Somos fruto de uma

aprendizagem que apenas se pode realizar no meio social, na interação com outros

semelhantes a nós.

Não nascemos a saber andar, falar ou pensar. Essas potencialidades são inatas, isto é, nascem

connosco, fazem parte da nossa dimensão biológica e genética, mas só as desenvolvemos, de

facto, quando inseridos num determinado meio social. Daí que possamos afirmar que a

sociabilidade é, no ser humano uma característica fundamental – o ser humano é um ser

social.

A vida em grupo e as relações de cooperação que os seres humanos estabelecem entre si são

condição para a sobrevivência da espécie e facilitam a superação das dificuldades e dos

constrangimentos impostos pela própria natureza.

As sociedades organizam-se estabelecendo regras, formas de comunicação e procedimentos

comuns que facilitam as interações entre os seres humanos tornando mas fácil a vida em

sociedade e permitindo a própria subsistência do grupo. São estas regras que permitem que as

pessoas se entendam, cooperem na divisão do trabalho, transformem a própria natureza de

forma a facilitar a sua sobrevivência e que o grupo perdure no tempo.

A expressão “social” está ligada a esta ideia de coletividade, de vida em grupo, sendo a

realidade social constituída pelas relações que decorrem da vida em grupo, as interações

entre os seres humanos e entre estes e aquilo que os rodeia.

É evidente, no entanto, que estas interações têm de ser contextualizadas no tempo e no

espaço. A organização social, as regras, os valores, os costumes, a alimentação, as formas de

comunicação alteraram-se nos últimos 50 anos e são diferentes conforme a sociedade que

estivermos a analisar. O tempo cronológico e o contexto geográfico são variáveis que não

podemos esquecer quando estudamos a realidade social.

A realidade social tem muitas dimensões, muitas variáveis que a tornam complexa. Sendo a

realidade social tudo o que se passa no meio social, fenómenos sociais como a família, a

emigração, o desemprego, a religião, a delinquência juvenil, entre outros, têm implicações a

vários níveis do social e não podem ser isolados uns dos outros. Os fenómenos sociais não

podem ser analisados de forma isolada mas sim através das interações que entre eles existem.

Se os isolarmos do todo em que estão inseridos, das interações que têm com outras

dimensões do social, deixam de ter significado.

Tal como a sociedade não é o conjunto das pessoas que a constituem mas as relações que

entre elas existem, os fenómenos sociais só existem e têm sentido na relação que tem com os

outros fenómenos sociais. Daí a sua complexidade e a necessidade de uma abordagem de

várias ciências sociais, nunca as isolando do “todo social”.

Page 5: Manual Socio Log i A

5

1.2. Fenómeno Social Total (Marcel Mauss) Os fenómenos sociais, tendo em conta a sua complexidade e multidimensionalidade, têm

sempre, como vimos, de ser encarados em todas as suas dimensões e estudadas as interações

que estabelecem com outros fenómenos sociais e como o todo social. Todo o fenómeno social

é simultaneamente político, jurídico, económico, histórico, etc.

Só compreendemos o fenómeno da emigração se o virmos em todas as suas dimensões. Ele

tem implicações em muitos domínios das ciências sociais é, por isso, passível de ser estudado

por uma multiplicidade de ciências. Só o conjunto de todas estas dimensões e implicações

permitirá conhecer e entender o fenómeno.

1.3. Interdisciplinaridade e objeto das ciências sociais O que é social é, em simultâneo, económico, político, jurídico, histórico, antropológico, etc.

Todo o fenómeno social é um fenómeno social total. Daí a necessidade de intervenção das

várias ciências sociais, Todas estudam a mesma realidade mas sob perspetivas distintas.

Todas as ciências têm um conjunto de fenómenos que só elas estudam, que constitui o seu

objeto de estudo. Por exemplo, a Física estuda os fenómenos físicos, a Química os fenómenos

químicos. As Ciências Sociais estudam a realidade social, este é, portanto, o seu objeto real.

Contudo, o objeto específico, aquele que pertença apenas a cada uma delas é diferente: cada

uma delas analisa o mesmo fenómeno social real por um ângulo distinto, por uma perspetiva

específica, própria de cada ciência social e que só a ela cabe estudar.

Só o conjunto dos dados fornecidos por cada ciência social permitirá conhecer o fenómeno em

todas as suas dimensões. A necessidade de interdisciplinaridade e complementaridade entre

estas diferentes visões é fundamental. Nenhuma disciplina social pode, isoladamente explicar

o social. Cada uma das ciências sócias recolhe e integra o contributo das outras para a

explicação de um fenómeno social.

Page 6: Manual Socio Log i A

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2. Génese e objeto da Sociologia

2.1. O conceito de facto social A Sociologia estuda os fenómenos sociais sob uma perspetiva específica. Assim, o objeto da

Sociologia é todo o facto que decorre da vida em sociedade, das interações entre os seres

humanos e entre estes e o meio.

Os factos sociais são, portanto, o resultado da vida em sociedade, a forma como resolvemos

as questões do dia-a-dia, como nos relacionamos com os outros no meio. Como os define

Émile Durkheim os factos sociais são “maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao

indivíduo e dotadas de um poder coercivo em virtude do qual se lhes impõem”1

2.2. Características dos factos sociais A forma como Durkheim apresenta os factos sociais já nos diz algumas das suas características

fundamentais. Assim, os factos sociais têm três características fundamentais: são exteriores ao

indivíduo, são coercivos e por isso não dependem da vontade dos indivíduos e, por fim, são

relativos.

2.2.1. Exterioridade

Tudo o que ocorre no seio da sociedade é determinado exteriormente. Os factos sociais

existem e atuam sobre os indivíduos independentemente da sua vontade ou adesão

consciente. As regras sociais, os costumes, as próprias leis existem antes do nascimento dos

indivíduos e regulam os seus comportamentos sociais. Assim, a forma, os horários e os

próprios alimentos que comemos, a maneira como nos vestimos, os modos como nos

cumprimentamos são bons exemplos dessa “exterioridade”.

2.2.2. Coercividade

Traduz a força que os factos exercem sobre os indivíduos, condicionando-os a conformarem-se

às regras impostas pela sociedade onde estão inseridos. Tal força manifesta-se na imposição

de modelos de comportamento e materializa a ação coerciva dos factos sociais, ou seja, os

comportamentos sociais que se afastam daquilo que é esperado implicam uma sanção sobre o

transgressor.

2.2.3. Relatividade

Os factos sociais ocorrem num determinado espaço e tempo, isto é, dependem de elementos

próprios e estruturantes de um contexto social. A relatividade coloca em evidência dos aspetos

sociais distintos:

1 DURKHEIM, Émile (1993), As Regras do Método Sociológico, Lisboa: Editorial Presença

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A evolução cultural de uma sociedade, “as maneiras de agir, pensar e sentir” numa

sociedade evoluem ao longo do tempo. Por exemplo, há 50 anos, em Portugal, era

escandaloso e severamente punido um beijo entre namorados na rua. Hoje, o mesmo

facto é uma prática comum e perfeitamente aceitável.

A diversidade cultural das sociedades. Por exemplo, quando um professor está a

lecionar uma aula, não é tolerável que os alunos durmam e esse comportamento será

imediatamente censurado pelo professor. No Japão, o mesmo comportamento não é

reprovável, porque é entendido como resultado de uma necessidade natural.

2.3. Estrutura social e ação social Cada individuo possui características específicas, um código genético que herda dos seus

progenitores, metade pelo lado do pai e a outra metade pela mãe, e que se reflete nas

diferenças de cada individuo, fazendo dele uma pessoa única, com características únicas que

se encontram nas amostras do seu ADN. No entanto, enquanto “ser social” os indivíduos agem

de uma forma sincronizada consoante as regras estabelecidas pela sociedade em que vivem.

Ao contrário de Durkheim Max Weber concebe a ideia da Sociologia como uma ciência

compreensiva, deu primazia à dimensão individual da realidade social através da análise do

sentido que os indivíduos atribuem às ações.

Dito de outra forma, ao contrário de Durkheim que deu primazia às regularidades duradouras

que se verificam nos fenómenos sociais, Max Weber olha para a singularidade da ação

individual, empenhando-se em compreender e interpretar o sentido da ação social individual.

A ação social é, assim, para Weber o objeto de estudo central da Sociologia – ela procura

compreender o significado atribuído subjetivamente pelos atores sociais e a partir daí dar-lhe

uma explicação causal.

Page 8: Manual Socio Log i A

8

3. Produção do Conhecimento em Sociologia

3.1. Conhecimento do senso comum Todos os indivíduos, enquanto seres sócias são capazes de encontrar explicações para o que os

rodeia. Encontramos explicações para o aumento da criminalidade, para o aumento do

número de divórcios, etc. Ao longo das nossas vidas encontramos explicações que decorrem

das experiências que vivenciamos.

A familiaridade com o social e o conjunto de evidências espontâneas que esta permite, tornam

o que nos rodeia de fácil leitura e compreensão.

Esta atitude é uma atitude fruto do conhecimento vulgar ou do senso comum. O senso comum

é “o conhecimento vulgar e prático com que no quotidiano orientamos as nossas ações e

damos sentido à vida”2

3.2. Construção de conhecimento sociológico Nas ciências naturais os objetos de estudo são completamente exteriores ao investigador,

através do desenvolvimento de métodos e técnicas de observação e experimentação rigorosa

e controlada o cientista é capaz de produzir conhecimento rigoroso, longe do senso comum.

Este processo de construção de conhecimento científico é, no entanto, bastante diferente nas

ciências sociais. Ao contrário das ciências naturais, nas sociais os investigadores fazem parte

do objeto de estudo – ele próprio é um ser humano, um ser social. Assim, o cientista social

tem um conhecimento pessoal e prático de si e da realidade em que vive: o conhecimento do

senso comum.

A evolução do conhecimento científico veio colocar em causa muitas das crenças do senso

comum. Assim, uma atitude científica entra sempre em rutura com o conhecimento do senso

comum. Tudo aquilo que pensamos sobre as coisas que nos rodeiam terá de ser afastado ou

confirmado pela ciência. A ciência procura estabelecer e compreender as causas dos

fenómenos sociais, estabelecer relações entre as diferentes variáveis, estabelecer relações

entre as diferentes variáveis usando um método científico, uma estratégia de investigação.

Se considerarmos que o conhecimento do senso comum se baseia no aparente, no superficial,

facilmente se percebe que qualquer cientista social deve ultrapassar estas noções redutoras e

ver para além do óbvio, das suas opiniões pessoais e das ideias preconcebidas. Portanto, para

que o sociólogo possa produzir conhecimento científico terá de romper com o conhecimento

do senso comum. Como é que ele é capaz de fazer isso? Através de uma atitude de vigilância

constante, relativizando o seu conhecimento prático sobre a realidade durante a produção do

conhecimento científico.

2 SANTOS, Boaventura Sousa (1996), Um Discurso sobre as Ciências, Porto: Edições Afrontamento

Page 9: Manual Socio Log i A

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3.3. Obstáculos à produção do conhecimento científico A dificuldade da produção do conhecimento científico em Sociologia e que dificulta o trabalho

dos cientistas sociais está intrinsecamente ligada ao senso comum. No caso da Sociologia são

vários os obstáculos que o senso comum coloca ao trabalho científico:

Familiaridade com o social;

Explicação de tipo naturalista;

Explicação de tipo individualista;

Explicação de tipo etnocentrista.

3.3.1. Familiaridade com o social

Quanto mais próximo está o sociólogo da realidade que pretende analisar, maior é o risco de

enviesamento da pesquisa e mais difícil é o processo de rutura com as crenças do senso

comum, porque mais forte é a ilusão de transparência social. A familiaridade com o social

dificulta o seu questionamento e, logo, a sua análise científica, na medida em que a realidade

se nos apresenta de forma ilusoriamente transparente e óbvia.

3.3.2. Explicação de tipo naturalista

Por vezes, tentamos interpretar certos fenómenos sócias recorrendo a explicações

naturalistas, ou seja, a fatores de ordem física ou biológica, o que nos leva a atribuir as suas

causas à suposta natureza das coisas. A seguinte afirmação: “As mulheres são mais emotivas e

frágeis que os homens e, por isso, têm mais dificuldade em aceder a lugares de chefia”. O risco

desta crença está em procurar explicar um problema social através de pretensos atributos

intrínsecos à condição feminina.

3.3.3. Explicação de tipo individualista

Outros dos recursos que habitualmente utilizamos para explicar os fenómenos são os de

ordem individual ou psicológica. Tal acontece porque as causas sociais dos fenómenos

raramente são evidentes, pelo que se torna mais simples e cómodo este tipo de justificações.

Fica um exemplo: “As pessoas que se suicidam têm problemas mentais”.

3.3.4. Explicação de tipo etnocentrista

Quando olhamos para outras sociedades, outras classes sociais, outros grupos e tomamos

como referência a nossa própria realidade social e cultural, tendemos a explicar os fenómenos

dessa sociedade, classe ou grupo de uma forma etnocêntrica.

Tais explicações pressupõem um sentimento de superioridade e a sobrevalorização da própria

cultura, levando à formulação de juízos de valor que inferiorizam a especificidade social e

cultural da realidade observada.

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4. Novos campos de investigação A imaginação sociológica só tem como limites o rigor e a observância dos procedimentos do

método científico. À partida, todos os domínios da realidade podem ser analisados sob o

ponto de vista sociológico. A pertinência de um estudo depende da vontade do investigador,

dos recursos disponíveis. Há objetos mais inacessíveis do que outros, mas esses são, por vezes,

os mais interessantes. A Sociologia não resiste a ver para além das fachadas.

A Sociologia procura ver os bastidores da realidade social, por isso, é capaz de conduzir

investigações em variadíssimas áreas da realidade social: a globalização, as migrações, os

estilos de vida, as novas desigualdades sociais ou os estudos de género. Estes são alguns dos

temas na mira dos investigadores sociais.

Esta grande diversidade de temas de pesquisa é um dos sinais mais visíveis da crescente

especialização da Sociologia em objetos de estudo relativamente autónomos, ou “ramos”

especializados, que se dedicam a aprofundar o conhecimento sobre campos particularmente

complexos da realidade social. A título de exemplo refiram-se as sociologias da Educação, da

Juventude, da Família, do Trabalho e das Organizações, da Cultura, da Política, do Ambiente,

da Saúde, do Desenvolvimento

Page 11: Manual Socio Log i A

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5. Estratégias de Investigação A Sociologia, como qualquer outra ciência, requer procedimentos religiosos, tanto na

elaboração de teorias e conceitos como na aplicação de métodos e técnicas de investigação.

5.1. A teoria Sem uma teoria, isto é, um ponto de vista sobre a realidade, é impossível captar qualquer

fenómeno social. A teoria é como uma lanterna que desenha um círculo de luz num muro:

permite “ver” e “iluminar” a realidade. Na sua ausência, teríamos um “muro escuro”, isto é, a

realidade pareceria homogénea, indistinta e indiferente.

Ao estudarmos um fenómeno social como o insucesso escolar, por exemplo, muito depende

da teoria adotada, tal como o foco da lanterna ilumina diferentes zonas do “muro” consoante

a direção que lhe imprimimos.

Assim, se encararmos o insucesso escolar como o resultado de capacidades inatas aos

indivíduos, tenderemos a considerar que os “melhores alunos” são os mais inteligentes e os

“piores alunos” os que nasceram “burros” e “preguiçosos”. No entanto, se encararmos este

fenómeno como o resultado da estrutura social, inclinar-nos-emos para valorizar aspetos

como o meio económico, geográfico, social e cultural de origem de cada aluno. Logo,

mudando a teoria, muda a orientação da pesquisa. A teoria permite ao sociólogo observar a

realidade segundo uma determinada perspetiva.

5.2. As hipóteses teóricas Para iniciarmos um estudo em Sociologia deveremos adotar um ponto de vista sobre a

realidade, considerando, ainda que provisoriamente, determinadas hipóteses teóricas.

As hipóteses são como um guião para a pesquisa: indicam-nos o caminho a seguir – ainda que

esse caminho prove que as hipóteses são falsas! Caso se venha a comprovar que as hipóteses

de trabalho que definimos à partida são falsas devemos rever a teoria que adotamos

inicialmente e construir uma nova. Muitas vezes parte-se da teoria para negar a própria teoria.

Page 12: Manual Socio Log i A

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6. Modos de produção da informação: métodos disponíveis na

Sociologia

6.1. O método Para exercitar a imaginação sociológica devemos seguir um determinado método. Em que

consiste um método? Segundo Ferreira de Almeida e Madureira Pinto em “cada pesquisa

concreta caberia ao método selecionar as técnicas adequadas, controlar a sua utilização,

integrar os resultados parciais obtidos”3

Assim, ao efetuarmos uma pesquisa sobre as causas do insucesso escolar num determinado

território educativo, deveremos escolher um método que organize todo o processo de seleção,

recolha e tratamento de informação, isto é, técnicas de investigação. A informação que

devemos recolher para comprovar ou negar as nossas hipóteses teóricas de partida não existe

um estado “natural” ou “em bruto” na realidade.

Os principais métodos existentes em Sociologia são o extensivo e intensivo:

Método de medida ou análise extensiva. Este método implica a observação de

populações vastas. As populações amplas constituem o objeto da análise extensiva,

pelo que se recorre, muitas vezes, a técnicas de amostragem.

Método de estudo de caso ou análise intensiva. Este método é um processo de

investigação sociológica que se destina ao estudo de fenómenos particulares,

observando-os sob todos os aspetos. Segundo este método, os fenómenos são

analisados de uma forma intensiva, recorrendo a todas as técnicas disponíveis e a uma

amostra particular. A finalidade deste método é a compreensão ampla do fenómeno

na sua totalidade.

O primeiro método valoriza a comparação dos resultados e o seu tratamento estatístico. O

segundo realça a profundidade da observação dos fenómenos sociais. Não se pode considerar

que um destes métodos seja melhor do que outro, mas sim que existem vantagens e

desvantagens na utilização de cada um.

Vantagens dos métodos:

MÉTODO INTENSIVO MÉTODO EXTENSIVO

Profundidade da observação;

Valorização do quotidiano dos agentes sociais e das suas formas de expressão no próprio momento em

Observação de populações numerosas;

Comparabilidade dos resultados e

3 ALMEIDA, João Ferreira e PINTO, Madureira (1990), A Investigação em Ciências Sociais, Lisboa:

Editorial Presença

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que se produzem;

Atenção à especificidade de cada caso.

representatividade estatística;

Deteção de regularidades ou padrões nas práticas sociais estudadas.

Desvantagens dos métodos:

MÉTODO INTENSIVO MÉTODO EXTENSIVO

Dificuldade na generalização da informação recolhida nos estudos de caso;

Maior tendência para a empatia e identificação com os observados, com perda de objetividade;

Propicia uma hipervalorização da “margem de liberdade” dos agentes sociais.

Superficialidade da informação recolhida;

“Frieza” e dificuldade em captar o lado vivido dos fenómenos sociais;

Propicia uma hipervalorização dos constrangimentos, esquecendo a “margem de liberdade” dos agentes sociais.

Perante as vantagens e desvantagens em ambos os métodos mais utilizados em Sociologia,

vários autores defendem a sua combinação, aproveitando as respetivas vantagens e, se

possível, eliminando as suas desvantagens. A este esforço de combinação, que requer um

grande trabalho por parte do sociólogo, chamamos ecletismo metodológico.

Basta pensar na frequente conjugação de procedimentos qualitativos e quantitativas, em

quase todos dos passos da investigação nos deparamos com operações qualitativas e

quantitativas. As metodologias qualitativas não prescindem hoje de uma contabilização

estatística mínima da frequência dos fenómenos que observam. Pelo contrário, as

metodologias quantitativas também nunca o são por completo. É necessário selecionar e

definir o que vai ser medido e posteriormente interpretado.

Os métodos podem ser utilizados numa determinada pesquisa de acordo com a perspetiva

crítica da investigação-ação. Esta alia o conhecimento de uma situação à transformação dessa

mesma situação a partir dos resultados da própria pesquisa. O sociólogo Kurt Lewis definiu

bem esta atitude ao propor uma dupla recusa: “nem ação sem investigação, nem investigação

sem ação (…) cumpre-nos considerar a ação, a pesquisa e o treinamento como um triângulo

que se deve manter uno em benefício de qualquer um dos seus ângulos”4.

É ao longo do trabalho de campo que o investigar vai sentido esta necessidade de articulação,

inclusivamente, ao nível das técnicas de investigação utilizadas.

4 LEWIS, Kurt cit. por ESTEVES, António “A investigação-ação”, in SILVA, Augusto Santos e PINTO,

Madureira (1987), Metodologia das Ciências Sociais, Ed. Afrontamento, Porto

Page 14: Manual Socio Log i A

14

6.2. As técnicas de investigação As técnicas de investigação em Sociologia podem ser agrupadas do seguinte modo:

Documentais: análise estatística; análise de conteúdo

De inquirição: inquérito por questionário; entrevista; história de vida

De observação: observação participante; observação direta

6.2.1. Técnicas documentais

A análise documental incide sobre:

Fontes primárias – documentos produzidos pelo próprio investigador no decorrer da

pesquisa com os seus objetivos e hipóteses teóricas (por exemplo um caderno de

campo);

Fontes secundárias – documentos já existentes e concebidas por outras razões que

não as da pesquisa (por exemplo a análise de manuais escolares do Estado, de maneira

a evidenciar as relações existentes entre o conteúdo dos manuais e o regime político)

No caso da análise de conteúdo, o investigador constrói categorias que ajudam a desmontar

um determinado texto ou documento, descortinando significados atribuíveis quer ao autor

desse texto quer ao contexto (histórico, geográfico, social…) em que tal documento foi

produzido.

6.2.2. Técnicas de inquirição

6.2.2.1. Inquérito por questionário

No que se refere à inquirição, importa referir o inquérito por questionário que assenta na arte

de interrogar populações, geralmente vastas, com o intuito de descobrir regularidades.

Este instrumento compõem-se de:

Questões fechadas, que não permitem outras opções além das que constam no

inquérito (exemplo: sexo feminino ou masculino)

Questões abertas, que permitem que o inquirido responda de forma aberta (exemplo:

o que pensas da escola que frequentas?)

São possíveis ainda questões semiabertas ou semifechadas (exemplo: qual o tempo

escolar que mais aprecias? Aulas/furos/intervalos Quais as razões da tua resposta?)

Page 15: Manual Socio Log i A

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Um inquérito só deve assentar exclusivamente em questões fechadas quando conhecemos

suficientemente bem o campo de estudo. Caso contrário, torna-se uma violência para o

inquirido ter de sujeitar-se às opções predeterminadas, não podendo, do mesmo modo,

exprimir-se com mais liberdade.

6.2.2.2. Entrevista

As entrevistas são efetuadas a partir de um guião. Este reflete os objetivos da pesquisa, ou

seja, as questões ou tópicos que ele contém procuram abordar os vários temas que estão a ser

objeto de análise.

As entrevistas podem ser:

Diretivas, quando o entrevistador não concebe qualquer “margem e manobra” ao

entrevistado, seguindo rigidamente a ordem das perguntas do guião;

Semidiretivas ou em profundidade, mais frequentemente utilizadas, que traduzem um

compromisso entre a necessidade de abordar o entrevistado sobre determinados

temas mas valorizando a organização relativamente livre do seu discurso;

Não diretivas ou livres, quando não há propriamente um guião mas sim alguns temas

que conduzem a conversa; este tipo de entrevista é particularmente útil nas fases

exploratórias da pesquisa, em que é necessário recolher toda a informação disponível.

6.2.2.3. História de vida

As histórias de vida consistem numa série de entrevistas de tipo semidiretivo, geralmente

aplicadas em várias sessões, tendo subjacente um guião que procura cruzar dados biográficos

e ciclos de vida pessoais com circunstâncias históricas e sociais.

6.2.3. Técnicas de observação

Quanto à observação, sobressai, antes de mais, a observação participante, muito utilizada na

Antropologia mas também, cada vez mais, na Sociologia. Esta técnica consiste na entrada do

investigador num determinado terreno (uma aldeia, um bairro, uma comunidade, uma tribo…)

e na sua permanência durante algum tempo (vários meses, um, dois ou mais anos) nesse

terreno, ganhando familiaridade com os observados e interagindo com eles, como se

pertencesse ao seu território e cultura.

Habitualmente, designa-se por pesquisa etnográfica ou método etnográfico (modalidade do

método intensivo) a investigação alicerçada na observação participante. Esta investigação

articula várias técnicas e geralmente é registada num diário de campo.

A observação direta não requer qualquer ritual de “entrada” do investigador num

determinado campo. Caracteriza-se pelo facto de o investigador ver e ouvir de acordo com

Page 16: Manual Socio Log i A

16

uma grelha de observação preexistente, registando, por exemplo, posturas corporais,

indumentárias, conversas, descrições do espaço e da relação das pessoas com esse espaço.

6.2.4. Técnicas de amostragem

Voltando ao inquérito por questionário é usual inquirir-se apenas uma amostra representativa

e não toda a população que faz parte do nosso universo de análise, em particular quando este

universo é vasto. A amostra diz-se representativa quando, a partir dos resultados que se

obtêm, é possível inferir das características do universo, generalizando então tais resultados.

As amostram podem ser probabilísticas ou aleatórias, quando “cada um dos elementos da

população tenha uma probabilidade conhecida e não nula de ser representado na amostra –

no caso mais simples, cada elemento tem a mesma probabilidade de ser incluído na amostra”5

As amostras também podem ser não probabilísticas. Conhecerás, porventura, algumas, como

por exemplo:

Amostragem aleatória simples: de uma urna, onde constam todos os elementos da

população ou universo, vamos retirando aleatoriamente unidades até perfazer a

amostra desejada;

Amostragem por quotas: a representatividade procura-se através do estabelecimento

de quotas de inquiridos segundo determinadas características predefinidas (por

exemplo: idade, sexo, escolaridade…);

Outras amostragens: bola de neve ou intencional.

6.2.5. A recusa da neutralidade das técnicas

Apesar de serem apenas instrumentos de observação, as técnicas em si mesmas não podem

ser consideradas neutras. Observador e observado são sempre atores sociais em interação,

cada um deles com a sua particular história de vida, as suas vivências e experiências.

Por exemplo um inquérito por questionário ou uma entrevista aplicada a camponeses pobres

não pode ignorar que as sociedades camponesas têm muitas dificuldades em verbalizar o que

sentem. Assim, o sociólogo deve ter em consideração o contexto e as características da

população que está a analisar aquando da escolha do método e da aplicação das técnicas de

investigação.

As entrevistas, em particular, colocam face a face o entrevistador e o entrevistado. Exige-se,

por isso, que o primeiro exercite uma postura de escuta atenta e metódica, sem impor juízos

de valor ou pontos de vista particulares. A linguagem e os conceitos utilizados devem adequar-

se à população-alvo da técnica de investigação.

5 ALMEIDA, João Ferreira e PINTO, Madureira, op. cit.

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17

Em conclusão, as técnicas de investigação são sempre aplicadas em determinadas situações

sociais, constituindo elas próprias relações sociais entre agentes com características diferentes

e, frequentemente, com graus diversos de poder. Esta circunstância obriga o investigador a

uma permanente vigilância sociológica sobre o próprio processo de pesquisa.

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7. Etapas da investigação A teoria determina todo o processo de investigação. Ela determina a formulação da pergunta

de partida, que dá início ao processo de investigação. Depois disto inicia-se o processo de

investigação através da escolha do método, bem como da(s) técnica(s) a utilizar. Sendo a

teoria o ponto de partida, é também o ponto de chegada. O processo de investigação conduz à

formulação de uma nova teoria ou à reformulação de uma teoria já existente.

Sob o comando da teoria, o investigador traça um plano de trabalho que vai orientar todo o

seu processo de pesquisa.

O processo de investigação envolve um conjunto de etapas desde o momento em que o

investigador inicia o processo de pesquisa até que os resultados obtidos assumem uma forma

de escrita. Apesar da pesquisa empírica poder obedecer a diferentes estratégias, as suas

etapas seguem um modelo padrão. Anthony Giddens indica-nos os passos que o investigador

deve seguir:

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7.1. Pergunta de partida A Sociologia é, em boa medida, a arte e o ofício de questionar a realidade social. Qualquer

trabalho de investigação deve iniciar-se com uma pergunta simples, concisa e exequível, isto é,

capaz de despoletar um processo de pesquisa concreta e viável de acordo com os recursos

existentes (tempo, espaço, dinheiro, investigadores…)

7.2. Exploração, leituras e entrevistas exploratórias Antes de encetar a construção de um modelo de análise, importa conhecer de forma

exploratória a realidade que se pretende estudar. Como fazê-lo? Antes de mais, através de um

conjunto de leituras relevantes e representativas sobre a temática em questão.

7.3. Problemática A problemática consiste num conjunto de teorias e conceitos, bem como de relações que

entre eles se estabelecem, tendo em conta quer as leituras feitas quer as informações

recolhidas na fase exploratória.

7.4. Construção do modelo de análise Nesta etapa, o investigador cria já um ponto de vista sobre a realidade em estudo. Tal ponto

de vista será traduzido num conjunto de hipóteses, que são um agregado de respostas

possíveis para a pergunta de partida.

7.5. Observação Nesta altura o investigador deverá ser capaz de fazer o desenho metodológico da pesquisa e

de “descer” ao terreno. É no contacto com o terreno que o investigador escolherá o método e

a respetiva técnica a utilizar durante a investigação.

7.6. Análise das informações Posteriormente à seleção, recolha e tratamento das informações, estas devem ser analisadas

tendo em conta o ponto de vista teórico adotado, testando a validade das hipóteses

formuladas.

7.7. Conclusões As conclusões a que a pesquisa chegou indicam quais as hipóteses que forma confirmadas ou

infirmadas, bem como os pontos-chave de resposta à pergunta de partida, a par dos

contributos para o enriquecimento do conhecimento científico já existente. Caso as hipóteses

sejam infirmadas, o investigador pode reformulá-las e dar início a uma nova investigação.

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Bibliografia

Bibliografia Utilizada

ALMEIDA, João Ferreira e PINTO, Madureira (1990), A Investigação em Ciências Sociais,

Editorial Presença

DURKHEIM, Émile (1993), As Regras do Método Sociológico, Lisboa: Editorial Presença

FERREIRA, J. M. Carvalho et al (2001), Sociologia, Lisboa: MacGraw-Hill

FERREIRA, Virgínia (1989), “O inquérito por questionário na construção de dados

sociológicos” in Augusto S. Silva e José Madureira Pinto (orgs.) Metodologia das

Ciências Sociais, Porto: Edições Afrontamento

GIDDENS, Antony (1997), Sociologia, Lisboa : Fundação Calouste Gubenkian

GONÇALVES, Albertino (1998), Métodos e Técnicas de Investigação Social: programa,

conteúdo e métodos de ensino teórico e prático, Braga: Universidade do Minho

HILL, Manuela e HILL, Andrew (2005), Investigação por questionário, Lisboa: Edições

Sílabo

SANTOS, Boaventura Sousa (1996), Um Discurso sobre as Ciências, Porto: Edições

Afrontamento

QUIVY, Raymond e CAMPENHOUDT (2003), Manual de Investigação em Ciências

Sociais, Lisboa: Gradiva

Bibliografia recomendada

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE SOCIOLOGIA (1992), Código Deontológico do Sociólogo,

Lisboa: ICS

FERREIRA, J. M. Carvalho et al (2001), Sociologia, Lisboa: MacGraw-Hill

QUIVY, Raymond e CAMPENHOUDT (2003), Manual de Investigação em Ciências

Sociais, Lisboa: Gradiva

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Documentação de apoio

Análise Social

Sociologia – Problemas e Práticas

Revista Dirigir

Sites úteis

Associação Portuguesa de Sociologia

Instituto Nacional de Estatística

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ANEXO1: FICHAS DE ATIVIDADE

FICHA DE ACTIVIDADE 1

A utopia da igualdade

«As diferenças entre ricos e pobres estão a aumentar em todo o mundo, não só entre os

estratos sociais dentro de cada país, mas, sobretudo, entre os países.

Um dos últimos relatórios da ONU conclui que, em 1820, a desproporção da riqueza entre as

nações mais prósperas e as mais pobres era de três para um.

A diferença aumentou, em 1913, um ano antes do arranque da I Guerra Mundial, para uma

relação de 11 para 1, passando, em 1950, de 35 para 1 e, em 1992, de 72 para 1.»

In Público 2006-01-15

Pobreza persistente em Portugal

«Mais de metade dos agregados familiares, em Portugal, viveram numa situação vulnerável à

pobreza pelo menos durante um ano, no período entre 1995 e 2000. O fenómeno atinge um

grande número de pessoas que trabalham, mas cujos salários não chegam para satisfazer as

necessidades básicas: 49,7% da população pobre, em pelo menos um ano, tinha o trabalho

como principal fonte de rendimento. Os sucessivos programas de combate a este problema

tiveram quase sempre o mesmo resultado: “ineficácia”.

Estas são conclusões do estudo Um olhar sobre a pobreza em Portugal. O estudo adopta a

definição de pobreza como “situação de privação resultante de falta de recursos”. A linha de

pobreza é definida por um valor de 388€ por mês (em 12 meses)»

In Público, 2008-05-23

Discute com os teus colegas os textos que leste. Aborda em particular, a tua opinião sobre

os fatores que estão na origem da pobreza e das desigualdades.

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FICHA DE ACTIVIDADE 2

«A Economia, a Psicologia ou a Sociologia distinguem-se, não porque na realidade haja factos

exclusivamente económicos, psicológicos ou sociológicos, mas porque partem de perspetivas

teóricas distintas e constroem distintos objetos científicos (…)

É capital perceber que o económico, o político ou o simbólico não constituem compartimentos

estanques – são dimensões inerentes a toda a ação social, estão nela profundamente interligadas.

Se designarmos certas formas de conduta por económicas, outras por políticas, outras por

simbólicas, não é porque umas sejam na realidade exclusivamente económicas, outras políticas

e outras simbólicas – pelo contrário, a ação humana, tomada na sua intrínseca complexidade, é

ao mesmo tempo económica, política e simbólica (…)»

SILVA, Augusto S. e PINTO, Madureira (1989), Metodologia das Ciências Sociais, Porto: Afrontamento

1.“(…) é capital perceber que o económico, o político ou o simbólico não constituem

compartimentos estanques (..).”

Clarifica o sentido da frase.

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2. Esclarece em que sentido a existência de múltiplas ciências sociais traduz a

complexidade da realidade social.

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FICHA DE ACTIVIDADE 3

DROGA: UM FENÓMENO COMPLEXO

«Para cada problema existe sempre uma solução rápida, simples e errada»

Mencken, jornalista e linguista norte-americano

«(…) consideramos que não faz sentido responsabilizar de forma exacerbada os pais e o sistema

escolar por um fenómeno que assumiu proporções epidémicas e que é segundo ou terceiro

negócio mundial. Uma análise deste tipo é reducionista, simples e linear.

A miséria, as más condições de habitação, a discriminação de que o indivíduo é objeto, a

ausência de oportunidades para melhorar as condições de vida, a industrialização, o mau

planeamento urbano são, entre outros, fatores que também favorecem o aparecimento de

comportamentos toxicodependentes (…)

A toxicodependência tem a ver com a qualidade social e humana. Como tal, e na perspetiva do

sociólogo Georges Gurvitch, é um fenómeno social total, isto é, um fenómeno que quer na sua

estrutura própria quer nas suas relações e determinações, tem implicações simultaneamente em

vários níveis e em diferentes dimensões do real (…)

O fenómeno da toxicodependência terá de ter uma abordagem científica e abrangente no tocante

à prevenção, tratamento e reinserção social: (…) terá de ter uma abordagem interdisciplinar,

envolvendo os técnicos de saúde, da segurança social e da educação, juristas, os governantes, as

famílias, ou seja, toda a sociedade em geral na procura da melhoria do seu bem-estar e

qualidade de vida.

O texto que acabaste de ler demonstra a complexidade do fenómeno social “droga”.

1. Retira do texto duas expressões que provem a complexidade do fenómeno em causa.

2. Qual a metodologia sugerida no texto? Justifica-a.

3. Poder-se-á considerar o fenómeno social descrito como um fenómeno social total?

Justifica a resposta.

4. Comenta a frase com que o texto começa: “para cada problema existe sempre uma

solução rápida, simples e errada.”

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FICHA DE ACTIVIDADE 4

1. Supõe que queres estudar os hábitos de estudo dos colegas da tua turma. Identifica

o tipo de obstáculos que terias de ultrapassar para uma investigação objetiva.

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Atenta no seguinte diálogo:

José: – A minha mulher é uma consumista compulsiva.

João: – O que esperavas? É mulher.

Identifica o tipo de explicação avançada pelo João.

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FICHA DE ACTIVIDADE 5

O insucesso escolar

«O drama do insucesso escolar é relativamente recente. É a partir dos anos sessenta

que encontramos as suas primeiras manifestações. Foi então que se começou a exigir

que as escolas, por razões económicas e igualitárias, encontrassem formas de garantir

o sucesso escolar de todos os seus alunos. O que era atribuído até então ao foro

individual, tornou-se subitamente um problema insuportável sob o ponto de vista

social. A preguiça, a falta de capacidade ou interesse, deixaram de ser aceites como

explicação para o abandono todos os anos de milhares e milhares de crianças e jovens

do sistema educativo. A culpa do seu insucesso escolar passou a ser assumida como

um fracasso de toda a comunidade escolar. O sistema não fora a capaz de os motivar,

reter, fazer com que tivessem êxito. O desafio tornou-se tremendo, já que todos os

casos individuais se transformaram em problemas sociais. A escola secundária era a

menos preparada para a mudança. Durante séculos assumira como sua vocação

hierarquizar os alunos de acordo com o seu rendimento escolar, selecionando os mais

aptos e excluindo os que não fossem capazes de acompanhar as exigências que ela

mesma impunha.

É em grande parte por esta razão que hoje principal problema educativo é o de

identificar as manifestações e as causas do insucesso escolar. A listagem destas não

para de aumentar à medida que prosseguem os estudos.»

Adaptado do site http://educar.no.sapo.pt/

1. Distingue problema social de problema sociológico.

2. De que forma um problema social se pode transformar num problema sociológico?

3. Como vimos o insucesso escolar é simultaneamente um problema social e

sociológico. Avalia a importância da interdisciplinaridade das ciências sociais para

diminuir tal fenómeno.

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FICHA DE ACTIVIDADE 6

1. Os provérbios populares são uma das expressões mais límpidas das crenças do senso

comum em cada sociedade. Identifica 4 provérbios que te pareçam apresentar ideias ou

conceitos “inevitáveis”, “bons” ou “verdadeiros”, de acordo com as palavras de Anthony

Giddens.

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2. Analisa de que forma os provérbios que identificaste podem condicionar a nossa

interpretação e o nosso olhar sobre a realidade no dia-a-dia.

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3. Procura agora rebater esses mesmos provérbios e encontrar outras formas de olhar a

realidade que eles procuram descrever.

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FICHA DE ACTIVIDADE 7

1.Identifica os métodos existentes em Sociologia e clarifica as suas diferenças.

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2. Diz o que entendes por investigação-ação.

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3.Apresenta um exemplo em que a investigação-ação seja uma estratégia adequada.

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FICHA DE ACTIVIDADE 8

1. Indica se as seguintes afirmações são verdadeiras ou falsas.

a) A análise de conteúdo implica a presença do investigador no grupo observado.

b) As técnicas são independentes das teorias.

c) O investigador primeiro define o método e só depois as hipóteses teóricas.

d) Na observação participante o investigador está desde o início no grupo a investigar.

e) O inquérito por questionário pode ter perguntas abertas e fechadas.

f) Na entrevista estruturada o entrevistado não tem liberdade de resposta.

g) Nas entrevistas não estruturadas a informação recolhida é mais rica.

h) As entrevistas aplicam-se quando o universo a entrevistar é grande.

2. O inquérito por questionário é a técnica mais usada em Sociologia. Porquê?

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ANEXO 2: TRABALHOS DE AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

TRABALHO 1

Elabora um pequeno questionário com questões fechadas, abertas e semiabertas (10

questões) sobre as perceções subjetivas do insucesso escolar. Aplica o inquérito na tua

turma, apura os resultados e discute-os na sala de aula.