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Responsabilidade Socioambiental

Brasília, 2006

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Diretor-Presidente Alberto Borges Matias

Instituidores Carlos Alberto Campello David Forli Inocente

Gestor de Operações João Deléo

Professores Autores Responsabilidade Socioambiental Prof. Dr. Perci Coelho de Souza e Prof. Francilene Gomes Soares

Os autores são responsáveis pelo conteúdo.

Reitor Lauro Morhy

Vice-Reitor Timothy Martin Mulholland

Diretor Bernardo Kipnis

Coordenadora Pedagógica Maria de Fátima Guerra de Sousa

Designer Educacional Bruno Silveira Duarte

Ilustradores do Projeto Carlos Miguel Rodrigues; André Tunes; Tatiana Tibúrcio; Ribamar Araújo e Paulo Rodrigues

Capa Rodrigo Mafra e Eduardo Miranda

Editoração Alison Lazaro; Evaldo Abreu; Gibran Lima e Télyo Nunes

Universidade de Brasília – UnBCentro de Educação a Distância – CEADCampus Universitário Darcy Ribeiro, Multiuso 1 Bl. B Ent. B1/14 – CEP: 70919-790 Brasília-DFTel (61) 3349-0996 Fax (61) 3307-3048www.cead.unb.br [email protected]

INEPAD – Instituto de Ensino e Pesquisa em AdministraçãoRua Marechal Rondon, 571 – Jardim AméricaCEP: 14020-220 Ribeirão Preto-SPTel (16) 3911-2212www.inepad.org.br [email protected]

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APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................7

TEMA 1 - Ecologia, Poluição e Educação Ambiental .............................................9

TEMA 2 - Gestão Ambiental, Direito Ambiental e Legislação .......................... 21

TEMA 3 - População, Qualidade de Vida e Desenvolvimento Sustentável .... 29

TEMA 4 - Desenvolvimento Sustentável e Gestão Sustentável ...................... 39

TEMA 5 - Sustentabilidade e Negócios .................................................................... 51

TEMA 6 - Instrumentos Financeiros, Sustentabilidade e Desenvolvimento ... 59

TEMA 7 - Responsabilidade Social das Organizações ........................................ 65

TEMA 8 - Responsabilidade Social e Incentivo às Micro e Pequenas Empresas e Arranjos Produtivos Locais – APL ......................................................................... 73

TEMA 9 - Responsabilidade Social e o Terceiro Setor ......................................... 81

SUMÁRIO

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APRESENTAÇÃO

Caro(a) aluno(a),

Em 1969, o homem pisou pela primeira vez em solo lunar. Naquele instante, a humanidade alcançou a possibilidade tecnológica de rever-se sob uma nova perspectiva histórica. Por um lado, percebeu sua insignificância diante do universo e, por outro, sua fragilidade diante do próprio “progresso técnico”.

Com isso, faz-se necessário rever muitos dos preconceitos ético-políticos, para que se possa enfrentar o desafio de ultrapassar a grande distância que ainda nos separa dos princípios mais elementares dos direitos humanos, sociais e ambientais. Uma crítica radical do que foi feito num passado recente deve ser feita para que se torne possível pensar num bem-comum a ser desfrutado pelas gerações futuras.

Nesta disciplina, convidamos o leitor a adentrar-se na história de luta de um movimento social de escala planetária, que, através da autocrítica de caráter ético-político, tem em vista um projeto societário contrário aos interesses imediatistas da troca mercantil. O conteúdo programático em questão congrega diversos aspectos relacionados com os modos de superação da crise que se alastra do ponto de vista social e ambiental, sem que para isso se tenha que insistir nos mesmos paradigmas sócio-técnicos, políticos e culturais que a engendrou na trajetória desastrosa do século XX.

Alguns dos principais conceitos que vêm ganhando voz no coro formado por vários povos que compartilham esse desejo de um mundo melhor têm como ponto de partida uma chamada mundial para a necessidade de um exercício político que reverta o atual modelo de desenvolvimento econômico, sobretudo em termos macroscópicos. Visa-se, assim, o despertar de consciência das massas para uma crítica dos graves erros históricos até aqui cometidos e uma conseqüente mudança de atitude em relação aos mesmos.

O conteúdo desta disciplina apresenta uma perspectiva crítica ao modelo de desenvolvimento tradicional que negligencia a importância dos direitos sociais para superação da pobreza e das desigualdades sociais, bem como das reservas energéticas e da biodiversidade ambiental. Tais temas serão vistos como direitos universais que não se reduzem ao interesse mercantil, mas que nem por isso deixam de ser importantes à lógica de uma nova ética nos negócios.

O movimento social conhecido por socioambientalismo tem trabalhado neste sentido. A relevância deste novo paradigma será fundamentado em 9 temas que se complementam e que serão abordados no sentido de demonstrar, não só suas características, mas também a importância desse processo histórico que vem ganhando visibilidade mundial. A partir de seus fundamentos conceituais, o socioambientalismo inaugurou o termo responsabilidade socioambiental dentro da academia, sendo esta incorporada ao cotidiano de diversas disciplinas e profissões, habilitando-as a se transformarem em fonte de conhecimento indispensável

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APRESENTAÇÃO

à edifi cação de um modelo alternativo de ação empresarial comprometida com o seu meio e com os direitos sociais. Trata-se, portando, de uma disciplina que não desvincula a produção econômica do direito à vida e ao convívio social no planeta Terra.

Essa perspectiva da responsabilidade socioambiental propõe princípios que fundamentam uma nova dimensão espácio-temporal das empresas e que encorajam os empreendedores a saírem da clausura puramente mercantil. Assim, todos são convidados a visualizar novas possibilidades de aquisição de bens intangíveis que venham a emergir no âmbito do relacionamento social das empresas em seu entorno.

A disciplina Responsabilidade Socioambiental coloca-se como instrumento destinado a fortalecer a idéia de que as empresas podem ser consideradas co-responsáveis na manutenção das condições de reparação, de manutenção e de reprodução do meio ambiente juntamente com a valorização dos direitos sociais enquanto elementos intrínsecos e desejáveis aos negócios.

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TEMA 1TEMA 1

ECOLOGIA, POLUIÇÃO EEDUCAÇÃO AMBIENTAL

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TEMA 1ECOLOGIA, POLUIÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

TEMA 1: ECOLOGIA, POLUIÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Neste tema serão apresentados os fundamentos originários da Ecologia que foram apropriados e ampliados em sua relação com outras áreas do conheci-mento, engajadas nos propósitos do movimento socioambientalista mundial.

Ao tratar-se da poluição, procurou-se ir além da mera denúncia acerca dos usos e abusos dos recursos naturais. Os argumentos que articulam o processo de degradação da natureza e o processo de deterioração dos princípios elementa-res dos direitos humanos são apresentados de modo explícito como fatores que têm levado a humanidade a optar pela produção e pelo consumo em larga es-cala, de maneira míope, enviesada pela propaganda ideológica de um certo tipo de progresso de tendência reducionista e utilitarista da natureza, mostrando-se alheio à problemática social e aos fundamentos das condições de sobrevivência da espécie humana.

Associa-se a isso o surgimento do movimento socioambientalista ao processo de reação de inúmeros sujeitos coletivos, de instituições públicas e privadas na luta por um modelo de produção e reprodução do capital que não se afaste dos direitos sociais. O princípio de conservação ambiental como direito universal que atravessa simultaneamente o Estado, a sociedade e as empresas também foi de-senvolvido a partir deste processo. Vislumbra-se, deste modo, a possibilidade de se iniciar o resgate de enlaces humanistas desfeitos nos últimos séculos.

Na bandeira brasileira, talvez encontremos o melhor exemplo para demons-trar o drama e o dilema que se apresenta para todos os países do Planeta. No nosso símbolo maior de representação nacional, encontramos os elementos desse paradoxo. De um lado, a exaltação da natureza, a exuberância das cores das florestas, do céu azul e da energia do sol. De outro, a falência da idéia de pro-gresso como único caminho para atingirmos o bem-comum.

Assim, são objetivos deste tema:

• Apresentar os principais conceitos que se relacionam a um movimento social mundial de tomada de consciência crítica em relação à idéia de progresso desvinculada do compromisso ético com o meio ambiente.

Baseando-se na perspectiva ampliada e interdisciplinar da matriz sócio-eco-lógica, explicitar a proposta da responsabilidade sócio-ambiental como plata-forma de re-equacionamento da problemática do desenvolvimento econômico, tecnológico, etc, sem traumas ecológicos irreparáveis, com a incorporação da di-mensão ética da questão social.

Para isso, no primeiro momento, trataremos das noções de ecologia e de meio ambiente. Depois é preciso saber sobre os impactos da poluição, e sua relação com o desequilíbrio do sistema ecológico. Da mesma forma, cumpre destacar a importância da educação ambiental como estratégia de mobilização social, eco-nômica e política, tendo em vista a superação de um certo modo de ver o pro-gresso, que reforça e estimula o desenvolvimento de uma forma incompatível com a sustentabilidade ambiental.

Conceitos fundamentais para o futuro

A ciência comprova hoje o que há muitos séculos os filósofos gregos já espe-culavam. O planeta Terra nos fornece por meio da alimentação e da respiração

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TEMA 1ECOLOGIA, POLUIÇÃO EEDUCAÇÃO AMBIENTAL

cada átomo, cada molécula e cada tecido de nosso corpo. Desse modo, o ponto de partida para uma educação ecológica pressupõe a idéia de que nós so-mos a extensão do planeta Terra. Fazemos parte, portanto, de um círculo de sobrevivência comum entre os seres que habitam a Terra e os que nos habitam. Esse círculo é chamado também de ecossistema.

Até um determinado ponto da nossa história, o ecossistema não se apresentou de maneira tão crítica quanto se apresenta agora. À medida que os modernos modelos de desenvolvimento econômico se intensificaram com os processos de transformação da natureza, tornou-se cada vez mais evidente a incompatibilida-de entre as necessidades de consumo e as limitações da natureza no que diz res-peito ao fornecimento das matérias-primas destinadas aos processos produtivos.

Vinculados ao sistema ecológico planetário, podem ser destacados subsis-temas específicos. Coloquemos como exemplo o subsistema da mata atlântica brasileira. Por volta do ano de 1500, quando o Brasil foi descoberto e na Europa começava a se desenvolver o capitalismo. Havia cerca de um milhão de quilôme-tros quadrados de bioma que se estendia por uma faixa de três mil e quinhentos quilômetros por dezessete Estados brasileiros. Hoje, a mata atlântica, que conti-nua sendo agredida de forma implacável pela expansão das queimadas promo-vidas pela agricultura, pelo desmatamento madeireiro, pela pecuária e pela urbanização, ocupa pouco mais de 7% daquela área original.

Mas, o meio ambiente não se reduz à fauna e à flora. Na verdade, o meio ambiente é formado por fatores abióticos, bióticos e também pela cultura humana. O que se pode claramente observar na re-lação entre esses três fatores que constituem todo o meio ambiente é que essa inter-relação não se manifestou de maneira igual ao longo do tempo. Ultimamente, houve uma aceleração de todos os elementos que denunciam uma situação de crise de sustentabilidade e de equilíbrio entre esse tripé constituinte do ambiente terrestre.

Podemos chamar de fatores abióticos tudo o que diz respeito ao ar, ao solo e à temperatura. Ou seja, os fatores abióticos são elementos da natureza indis-pensáveis à manutenção dos fatores bióticos, que são constituídos pela fauna e pela flora.

Mas não podemos nos esquecer que também os fatores formados pela cultu-ra humana fazem parte da idéia de ambiente. São eles: os paradigmas, os princí-pios éticos, os valores filosóficos, os valores políticos, os valores científicos, e, jun-tamente com estes, os valores artísticos, econômicos, sociais, e religiosos, etc.A aceleração da crise de desgaste do ambiente está diretamente relacionada com a mudança de paradigma nos ciclos históricos da relação entre esses fatores.Um exemplo paradigmáticos está no modelo de desenvolvimento econômico, que com a Revolução Industrial passou a acelerar uma determinada maneira de pro-duzir e reproduzir a sociedade, tanto do ponto de vista da tecnoesfera quanto da psicoesfera. Essa relação vem se alterando radicalmente a ponto de comprome-ter a sustentabilidade dessa trilogia indispensável especialmente para os seres humanos, mas que também põe em risco a diversidade biológica em ritmo ace-lerado (Santos, 2001).

No século XIX, ligado à idéia de desenvolvimento, cristalizou-se um tipo de ideologia de progresso que desvinculava a relação do homem com os limites de sustentabilidade da natureza. Levou-se às últimas conseqüências a perspectiva de que a relação entre o homem e a natureza se reduziria à noção de sujeito

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como protagonista ético da história e a natureza como objeto passivo e ilimitado dessas intenções humanas.

A ideologia do progresso sustentava que o sujeito deveria satisfazer sua capa-cidade ilimitada de necessidades, sobretudo de consumo. Ao objeto-natureza caberia apenas fornecer ao primeiro, na sua capacidade ilimitada de provedora de bens materiais, a subordinação incondicional de passividade diante dos inte-resses do sujeito.

Na passagem deste início do século XXI, nada mais evidente do que o fracasso dessa ideologia de progresso, sobretudo nas suas premissas éticas. Primeiro, por-que fracassou a idéia de que o progresso seria igual para todos e que o consumo estaria ao alcance de todos e só traria benefícios à humanidade. Segundo, por-que, mais do que nunca, os fatores bióticos e abióticos manifestam-se violenta-mente em resposta ao modelo de desenvolvimento.

Mas a reação dos fatores abióticos e bióticos ao modelo de desenvolvimento também tem sido acelerada. Essas manifestações podem ser relacionadas aos seguintes fenômenos: efeito estufa, alterações climáticas, buraco na camada de ozônio, alterações das superfícies da Terra, desflorestamento, erosão do solo, des-truição do habitat, perda da biodiversidade, poluição, escassez de água potável, erosão da diversidade cultural, exclusão social, etc .

Uma relação tipicamente abiótica do ambiente no que diz respeito ao modelo de desenvolvimento é o chamado efeito estufa. Ele nada mais é do que o aumen-to da temperatura da Terra causada pelo acúmulo de gás carbônico (CO2). Mais de seis bilhões de toneladas de gás carbônico são lançadas na atmosfera por ano. Também se dispersa impunemente o gás metano (CH4) na atmosfera. O que se sabe é que a natureza reage à ultrapassagem de um limite tolerável de absorção desses dois tipos de gases. Segundo estudos mais recentes, quando esse limite é ultrapassado, o calor do sol passa a ficar aprisionado dentro da atmosfera, impe-dindo de retornar ao espaço cósmico.

As reações abióticas ao modelo de desenvolvimento afetam diretamente os seres humanos. Por exemplo, 55 mil casos de câncer de pele são registrados no Brasil por ano. A ciência já comprova que o câncer de pele está diretamente rela-cionado com o papel que o gás ozônio (O3) desempenha na natureza. Ele funcio-na como um filtro solar que protege a Terra contra a ação dos raios ultravioleta provenientes do Sol. Eles danificam especialmente as plantas e, por conseqüên-cia, todas as demais espécies da cadeia alimentar.

Uma reação biótica ao modelo de desenvolvimento que está se tornando cada vez mais evidente é o aparecimento de doenças transmitidas por animais

silvestres, e que vão em direção aos centros urbanos como decorrência da destruição do habitat.

A hantavirose1 é uma doença infecciosa grave, causada por vários tipos de vírus que são transmitidos ao homem por meio de água e de comida contaminada, por via respiratória, pelo pó, pelas fezes, pela urina e saliva dos roedores, por lesões de pele, enfim, pelo contato direto do homem com animais tipicamente silvestres.

Nada mais dramático como reação dos fatores abióticos e bióticos ao modelo de desenvolvimento do que o caso da água. Os estudos mais re-centes revelam que a escassez de água potável levará a humanidade, se não mudar o seu modelo de desenvolvimento, a um impasse de conseqü-

1A Hantavirose é uma das zoonoses que vem preocupando as autoridades sanitárias de todo o mundo. Sua ocorrência se deve principalmente a distúrbios ecológicos, destacando-se desmatamentos, alterações em ecossistemas associados ao comportamento econômico, social e cultural do homem. Assim como a Hantavirose, observa-se, hoje o surgimento e pro-liferação de graves doenças associadas à causa do desequilíbrio ambiental como é o caso recente da Gripe Aviária.

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ências catastróficas. Isso se evidencia na medida em que quanto mais cresce a população e as necessidades de acesso à água potável, mais se negligencia, por parte desse modelo, um cuidado especial aos mananciais naturais indispensáveis para a renovação dessa fonte de energia, saúde e sustentabilidade ambiental.

Quando se observa o crescimento populacional mundial associado ao despre-paro da maioria dos governos, das organizações e dos indivíduos para lidar com essas reações ambientais ao modelo de desenvolvimento, chega-se à conclusão de que na verdade vivemos em um momento em que é necessário superarmos um processo de analfabetismo ambiental, ou seja, a falta de conhecimento dos limites dos recursos naturais existentes no planeta, para entrarmos, finalmente, na tomada de consciência da necessidade de preservação desses recursos.

Portanto, paralelamente a uma crise ambiental, vivemos uma crise de consci-ência. Uma das formas de superar essa crise é um movimento social chamado de educação ambiental, que não pode ser entendida nem reduzida aos parâmetros da educação formal.

A educação ambiental é um processo contínuo, no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência de seu ambiente e adquirem condições e habilidades para enfrentar o desafio de repensar o modelo de desenvolvi-mento em um regime de sustentabilidade ambiental.

A educação ambiental é antes de tudo um processo que estimula a atitude de múltiplos sujeitos: sujeitos individuais, sujeitos coletivos e sujeitos institucionais.

Na perspectiva da educação ambiental, o meio ambiente é, em sua totalidade, uma relação que leva em consideração os limites de tolerância dos fatores abi-óticos, bióticos e humanos, de modo a não comprometer a sustentabilidade do conjunto dos ecossistemas.

Princípios da Educação Ambiental

Por meio da educação ambiental é possível mudar o estilo de vida, mudar a ética global, resgatar novos valores que viabilizam um outro modelo de desen-volvimento: o desenvolvimento sustentável.

Por esse ponto de vista, não se trata de negar a importância da produção em escala iniciada pela Revolução Industrial, mas de adotar novos critérios de eficá-cia social que não reduzam as necessidades humanas às necessidades do consu-mo de mercadorias, mas de ampliar as responsabilidades humanas em relação às gerações futuras.

A educação ambiental pressupõe o conhecimento de várias disciplinas, den-tre elas a ecologia. A ecologia é uma área da biologia que estuda as relações en-tre os sistemas vivos e os não-vivos, isto é, entre os fatores bióticos e abióticos.

Mas a educação ambiental não se reduz a uma disciplina em particular. Ela é um processo que se vincula à questão ambiental, atraindo diversos temas como: saneamento, saúde pública, comunicação e ecossistemas.

Na prática, a estratégia da educação ambiental se manifesta em ações políticas por excelência, em todas as variáveis que possam ser úteis a uma estratégia de mobilização da população em direção a um novo modelo de sustentabilidade .

Hoje podemos visualizar essa estratégia de educação ambiental em vários níveis de organização política como: municipal, estadual, federal e principalmente interna-cional, onde várias conquistas já foram obtidas, mas ainda há muito que fazer.

A finalidade da educação ambiental é mudar o modelo de desenvolvi-mento econômico, social e político, adotando o princípio da sustentabilida-de. Ou seja, o desenvolvimento sustentável é um modelo de relação do homem

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com o meio ambiente de maneira a compatibilizar o atendimento das necessida-des sociais e econômicas da humanidade com as necessidades de preservação do ambiente e dos recursos naturais sem comprometer a vida na Terra, principal-mente desejando que esta vida seja saudavelmente participada pelas gerações presentes e futuras.

Desse ponto de vista, a educação ambiental, para atingir a meta do de-senvolvimento sustentável, propõe, de saída, uma ruptura radical funda-mental, ou seja, uma crítica aos fundamentos e à prática política econômica e social que perpetua os atuais padrões de produção e consumo, crescimen-to populacional e desigualdades sociais vigentes.

Uma prática ambientalmente sustentável do ponto de vista econômico é uma prática onde a pesca não excede a produção dos pesqueiros. O uso da água ex-traída dos aqüíferos não excede a sua recarga, a derrubada das árvores não ex-cede a plantação e crescimento de novas árvores, a emissão de carbono não ex-cede a capacidade de assimilação da natureza. Portanto, a educação ambiental, rumo à sustentabilidade, implica em mudanças que não ocorrerão sem conflitos. Mas conflitos que põem em evidência os “modelos vigentes de desenvolvimen-to” tendem a perpetuar as relações de opressão de uso utilitarista da natureza, que nos levarão a continuar nesse ritmo, rumo ao suicídio ambiental humano. Isso quer dizer que a natureza certamente sobreviverá ao homem, mas o homem poderá não sobreviver a si próprio.

O problema da questão ambiental hoje não está localizado na falta de diretri-zes, parâmetros e alternativas para a sustentabilidade humana no meio ambien-te. Exemplo disso são os vários eventos internacionais que demarcam o com-promisso de muitos países com relação à crítica ao atual modelo de desenvolvi-mento (veja quadro de eventos internacionais, p.35). A questão está muito mais relacionada com a incapacidade dessas orientações gerais da nova legislação, que começa a surgir na busca da sustentabilidade em acompanhar ou reverter o ritmo da reação do meio biótico e abiótico ao modelo de desenvolvimento.

É preciso acelerar a capacidade de reação humana ao seu próprio modelo de desenvolvimento auto-destrutivo em direção aos conceitos de sustentabilida-de. É preciso que cada cidadão, cada empresa, cada governo, cada nação se mobilize rapidamente no sentido de reverter a lógica que se perpetuou no século passado.

A capacidade de reversão humana em direção ao desenvolvimento sustentável só será acelerada se for rompido o círculo vicioso promovido pelo atual modelo de desenvolvimento econômico que está sustentado na visão utilitarista dos re-cursos naturais como fontes apenas de lucro, como se nós todos não tivéssemos responsabilidade com a degradação ambiental produzida por esse modelo.

Para romper com o círculo vicioso, é necessário criar mecanismos que rever-tam essa lógica em favor de um círculo virtuoso. Para os especialistas, essa rup-tura só será acelerada se a idéia de responsabilidade social for disseminada por todos os poros da sociedade, desde a criança até os representantes dos países mais desenvolvidos e os diretores das empresas transnacionais. Mas é preciso que fique claro: a mobilização destes representantes e interesses do poder eco-nômico não cederá espaço passivamente. Eles só diminuirão a velocidade com aqueles que têm favorecido a autodestruição humana pela exploração indiscri-minada dos meios bióticos e abióticos se forem constrangidos e pressionados pelos movimentos sociais.

Algumas frentes dessa batalha de opiniões são evidentes nesta passagem para o século XXI. Podemos citar a conservação de energia, a racionalização do uso da

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água, a racionalização do uso de combustíveis fósseis, a compostagem, o refloresta-mento, a oficina de aproveitamento, preciclagem, a coleta seletiva e a reciclagem.

Mas o sucesso da nova perspectiva de desenvolvimento sustentável só será possível nesses diferentes campos de batalha se uma política ambiental for efe-tivada, ou seja, se a política ambiental for além da denúncia ou de um conjunto de diretrizes abstratas, ou de intenções.

Só conseguiremos acelerar a reversão do processo de autodestruição am-biental humana se conseguirmos, na velocidade dos fluxos das informações e das atitudes, via redes sociais e poderes de decisão, articular os níveis local e glo-bal tendo em vista a efetivação desse projeto coletivo de amplitude mundial.

O curioso é que a ideologia do progresso, que tende a resistir e a negar as evi-dências da necessidade da reversão do atual quadro de destruição sócio-ambiental, promovida pelo modelo de desenvolvimento econômico, não se dá conta de que o próprio modelo econômico não resiste e tende ao declínio, se mantivermos os atu-ais índices de destruição e de degradação ambiental. As tendências negativas que comprovam essa afirmação, são as seguintes: redução dos níveis do lençol freático, deterioração da qualidade da água subterrânea, encolhimento de áreas cultivadas, redução da pesca oceânica, demanda crescente por produtos florestais, urbaniza-ção crescente, população crescente, padrões de consumo dispendiosos, extinção acelerada de espécies vegetais e animais, analfabetismo ambiental e outros mais.

Por outro lado, encontramos também tendências positivas. É o caso de in-dicadores que demonstram a redução das usinas nucleares em todo mundo, o crescimento do uso da energia eólica (ventos), de energia solar e a possibilidade de descarbonização da energia mundial, isto é, a substituição do petróleo por fontes alternativas de energia.

Precisamos rever conceitos e costumes para podermos ampliar as áreas protegidas, criar impostos sobre o uso de carbono e enxofre, iniciar o que alguns especialistas chamam de era do hidrogênio como alternativa ao pe-tróleo, ampliar o uso do transporte coletivo, fazer valer e ampliar os tratados ambientais internacionais, acelerar o uso das fontes alternativas de energia e principalmente investir em educação.

Deverá cada um fazer a sua parte nesse processo de reversão da cultura e do modelo de desenvolvimento ambiental.

Em primeiro lugar, você pode contribuir com seu voto, pois ele é um instru-mento de mudança e pode servir como crítica aos políticos que representam os interesses da degradação ambiental,

Use, além disso, da crítica e dos seus direitos como habitante da Terra, sempre que possível. Assim, mostrará que se preocupa em garantir para as novas ge-rações as oportunidades que podem ser retiradas pelo modelo tradicional de desenvolvimento.

Conheça a legislação ambiental distrital e federal, pois é com base em argu-mentos de autoridade, que se pode efetivar uma crítica eficaz.

As árvores da sua rua e de seu bairro são um exemplo de patrimônio público. Comece por elas, para mobilizar sua vizinhança em busca de um novo conceito de preservação do bem coletivo.

O tráfico de animais silvestres tem sido amparado por uma cultura dissemina-da nas cidades e no campo. Desestimule esta prática criminosa prevista no artigo 29 na Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98 e decreto nº 3.179/99).

Recicle-se sempre que for possível. Ou seja, dê preferência a produtos que exibam compromisso e cuidado com o meio ambiente, e pense sempre antes

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TEMA 1ECOLOGIA, POLUIÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

de comprar. Por exemplo, não compre sprays que tenham CFCs. Esses gases agri-dem a camada de ozônio que nos protege dos raios solares causadores do cân-cer de pele.

A produção de lixo tem sido um dos maiores problemas e desafios ambientais da nossa era. Tente reduzir a produção de resíduos.

Informe-se sobre o grau de impacto no meio ambiente dos produtos que con-some. Existe uma série de produtos que são prejudiciais ao meio ambiente, por sua dificuldade de reciclagem : fraldas, toalhas de papel e outros produtos.

A economia de energia elétrica é uma forma eficaz de reversão do processo de degradação ambiental promovido pelas hidrelétricas. Utilize eletrodomésti-cos racionalmente.

Promova uma campanha de conscientização no seu trabalho pela mudança de hábitos. Por exemplo: prefira copos de vidro. Se for inevi-tável o uso de copos de plástico, utilize o mesmo copo diver-sas vezes; faça opção por lapiseira ao invés de lápis; imprima somente quando tiver certeza; enfim, construa um compa-nheirismo de trabalho responsável ecologicamente.

Há um cuidado muito especial e preocupante hoje em dia com as baterias de celulares. As pilhas não podem ser jo-gadas no lixo. Já existe uma política de reciclagem em vários países para que esses componentes sejam devolvidos para as empresas responsáveis por suas vendas.

Fortaleça a campanha anti-tabagista, pois a poluição no ambiente de trabalho é incontrolável quando o fumo se generaliza.

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ANOTE

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ANOTE

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TEMA 2TEMA 2

GESTÃO AMBIENTAL, DIREITO

AMBIENTAL E LEGISLAÇÃO

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TEMA 2GESTÃO AMBIENTAL, DIREITO

AMBIENTAL E LEGISLAÇÃO

TEMA 2: GESTÃO AMBIENTAL, DIREITO AMBIENTAL E LEGISLAÇÃO

Na exposição deste tema, observaremos que os fatores histórico-estruturais que levaram à produção da legislação ambiental brasileira na década de 1970 são identificados a partir de uma posição política nacional resistente à implementa-ção de novos valores sociais e éticos propostos pelo Desenvolvimento Susten-tável. Neste item, demonstraremos que essa reviravolta ideológico-política bra-sileira tem suas raízes, de um lado, na conjuntura política de redemocratização do país, e de outro, no debate intenso que passou a ocorrer no seio da sociedade civil brasileira acerca dos pressupostos jurídicos dos direitos socioambientais. O resultado foi o reposicionamento do Brasil, que passou a ocupar uma posição de destaque em termos de uma legislação focada no socioambientalismo.

Dividiremos este tema nos seguintes momentos de exposição: em primeiro lugar trataremos da evolução histórica do ambientalismo nos termos da legisla-ção ambiental em relação aos principais tratados ambientais globais . Em segun-do lugar nos interessa falar sobre princípios do direito em relação à degradação ambiental, destacando os impactos negativos nos setores produtivos, especial-mente na agricultura. E finalizamos o tema com uma sumária apresentação dos pressupostos jurídicos do direito ambiental.

Assim, os objetivos desse tema são:

• Observar a evolução histórico-estrutural da legislação ambiental brasileira;

• Analisar os princípios do direito em relação à degradação ambiental, destacando os impactos negativos nos setores produtivos, especialmente na agricultura;

• Apresentar os pressupostos jurídicos do direito ambiental.

Breve histórico do Sistema Nacional de Meio Ambiente

Atualmente a legislação ambiental brasileira é considerada muito avançada (DIAS, 2000). Essa legislação ocupou espaço de reconhecimento no cenário internacional graças à transformação política e às conquistas democráticas ocorridas no Brasil na década de 1980, redimindo o país do péssimo papel que havia desempenhado nos primeiros encontros internacionais ambientalistas nas décadas anteriores.

Nesse sentido, não se pode separar a legislação do surgimento do novo direi-to ambiental, que está associada ao processo de democratização da sociedade. Em outras palavras, o grau de consciência de uma sociedade em relação ao modelo de desenvolvimento econômico poderá ou não estar refletido na política ambiental. Depende do grau de democratização e de espaços de representação política nas instituições encarregadas de promoverem e ins-tituírem essa política como um todo.

Alguns autores afirmam que houve notáveis avanços na política ambiental brasileira na década de 1990, especialmente quando é observada a colocação de temas ambientais na agenda política nacional. O crescimento de setor ambien-tal governamental tanto do ponto de vista institucional como do financeiro e a promulgação de uma série de leis ambientais colocaram o país na vanguarda das questões ambientais mundiais (LITTLER 2003). No entanto, os especialistas são unânimes em reconhecer que, apesar dos avanços, o Brasil está longe de resolver seus múltiplos problemas ambientais.

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TEMA 2GESTÃO AMBIENTAL, DIREITO

AMBIENTAL E LEGISLAÇÃO

O ritmo de contaminação e destruição ambiental na última década foi mui-to acelerado e as ações de contraposição a esse ritmo continuam sendo débeis diante da força com que o desenvolvimento, na perspectiva degradante, se im-põe no país.

Como resultado da Rio-92, a cúpula mundial sobre o desenvolvimento susten-tável realizada em Joanesburgo em 2002, a Rio+10, o movimento socioambien-talista mundial produziu dois documentos fundamentais para a definição dos rumos da política brasileira de desenvolvimento sustentável. O primeiro docu-mento foi a declaração política sobre a busca do desenvolvimento sustentável e, o segundo, um plano de ação para orientação e implementação dos compromis-sos assumidos conjuntamente pelos países participantes.

Segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (BRASIL, 2003), o Brasil adotou uma firme posição de protagonista durante a Rio+10. Foi também um dos principais articuladores de duas importantes iniciativas: uma de caráter re-gional, a Iniciativa Latino-americana e Caribenha para o desenvolvimento sus-tentável (Ilac), aprovada na cúpula e incluída no plano de implementação; a ou-tra, de caráter global, a iniciativa que estabeleceu diretrizes, prioridades, metas e prazos para o aumento do uso de fontes renováveis de energia nas matrizes energéticas de todas os países do planeta.

No plano de implementação da cúpula Rio +10 encontramos a afirmação de que os esforços resultantes daquele encontro deverão integrar três componen-tes do desenvolvimento sustentável: o desenvolvimento econômico, o desenvol-vimento social e a proteção do meio ambiente como pilares interdependentes que se reforçam mutuamente. Além disso, os países representados naquela cú-pula se comprometeram a erradicar a pobreza e a modificar os padrões de sus-tentabilidade, de produção e consumo, a proteger e gerenciar a base de recursos naturais para o desenvolvimento econômico e social.

O documento orienta os países-membros a buscar a boa governança, isto é, valorizar as instituições democráticas sensíveis às necessidades da população, o estado de direito e as medidas anticorrupção, além de buscar a igualdade dos gêneros, em um ambiente propício aos investimentos comprometidos com os princípios do desenvolvimento sustentável.

A plenária da Cúpula Rio+10 enfatiza que a pobreza é o maior desafio global a ser enfrentado pelo mundo e requisito indispensável para o de-senvolvimento sustentável. Também aponta para a necessidade urgente de alteração dos padrões insustentáveis de produção e consumo.

A evolução histórica do ambientalismo brasileiro em relação aos principais tratados ambientais globais e seus rumos, permite ao país sair da posição de re-tardatário no processo de conscientização socioambiental no início da década de 1970, para ocupar, na virada do século XXI, uma posição de destaque num conjunto de leis e regulamentos que compõem a política nacional de meio am-biente e desenvolvimento sustentável.

A consolidação da ação ambiental por parte da sociedade civil que atra-vessou as décadas de 1960 e 1980 coincide com a expansão das agências e instituições de financiamento ambiental que ganharam impulso nas déca-das de 1980 e 1990.

Pode-se dizer que o conceito de políticas públicas se atrelou ao processo de conquistas sociais, o direito ao futuro, como sendo o conjunto de deci-sões inter-relacionadas definido por atores políticos que têm como finalida-de o ordenamento, a regulação e o controle do bem público. Assim, a idéia de políticas ambientais se refere a um conjunto de ações de caráter público

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que visam garantir a existência de um meio ambiente de boa qualidade para todos os cidadãos do país.

O primeiro grande marco legal dessa virada do posicionamento bra-sileiro no cenário internacional, pode ser datado de agosto de 1981, quando foi promulgada a Lei n° 6.938, que dispõe sobre a política na-cional do meio ambiente.

O artigo 2° da Lei, desdobrando os vários aspectos ambientais que devem ser tidos em conta pelo governo e pela sociedade, resume os objetivos da política nacional de meio ambiente: “A política nacional do meio ambiente tem por ob-jetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar no país condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e a proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: [...]”.(Lei Federal 6938/81, artº 2.)

O Congresso constituinte que atravessou os anos de 1987-1988 foi o cume de um processo de organização política da sociedade brasileira que resultou na pro-mulgação da Constituição Federal. Incorporou muitas das reivindicações dos mo-vimentos sociais, inclusive do movimento ambientalista. A principal incorporação na Lei Magna, das reivindicações desse movimento, diz respeito ao artigo 225 que foi dedicado exclusivamente ao meio ambiente. Estabeleceu pela primeira vez na história do país, que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equili-brado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”.

É um momento em que o Brasil entra em sintonia com o relatório final da Co-missão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que publicara em 1987, tendo como resultado o documento intitulado Nosso Futuro Comum. Nesse instante, o conceito de desenvolvimento sustentável passa a nortear os funda-mentos da política nacional de Meio Ambiente. Vai levar a cabo, em 1992, no Rio de Janeiro, a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambien-te e Desenvolvimento e do Fórum Global, na qual milhares de representantes governamentais e da sociedade civil fazem do Brasil uma referência importante na discussão mundial sobre o meio ambiente.

Começam a ser forjadas as bases institucionais do que seria mais tarde, conhe-cido como Sistema Nacional de Meio Ambiente e órgãos de proteção ambiental.

Nos anos posteriores à Constituinte, vários programas e instituições gover-namentais foram estabelecidos para atender crescentes demandas por proble-mas ambientais no país. Um exemplo foi a criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que foi criado a partir da fusão das agências Secretaria do Meio Ambiente - SEMA; Superintendência da Borracha - SUDHEVEA; Superintendência da Pesca – SUDEPE, e o Instituto Brasi-leiro de Desenvolvimento Florestal - IBDF.

Foi também iniciada a implementação do programa Nossa Natureza, a partir de 1989. No ano seguinte foi estabelecido o Fundo Nacional do Meio Ambiente, como parte do Programa Nacional do Meio Ambiente.

Em 1992 é criado o PPG7 - Programa-piloto para a proteção das florestas tro-picais no Brasil, resultado de uma assinatura de um acordo que foi estabelecido pelo grupo dos sete países industrializados (G7), para financiamento de ações de preservação das florestas tropicais no país.

Em 1993, a Secretaria do Meio Ambiente foi transformada em Ministério do Meio Ambiente e ampliou suas responsabilidades. Em 1996 foram criados dois programas para financiamento de política ambiental, o Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (PROBIO) e o Fundo Brasileiro para Biodiversidade (FUNBIO).

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É interessante notar que toda a ação governamental crescente no âmbito da política ambiental brasileira colocava-se na contramão da ideologia dominante na época. Conhecida como neoliberal, propunha a redução do tamanho e do orçamento do Estado para o atendimento de políticas sociais de maneira geral.

Na segunda metade da década de 1990 começa uma atualização da legislação ambiental garantindo a consolidação do Sistema Nacional de Meio Ambiente.

De 1997 a 2000, importantes legislações foram promulgadas: Lei de Recur-sos Hídricos (n° 9.433 de 1997), Lei de Crimes Ambientais (n° 9.605 de 1998), Lei de Educação Ambiental (n° 9.795 de 1997) e Lei do Sistema Nacional de Unida-des de Conservação (n° 9.985 de 2000). Essas e outras leis com várias medidas provisórias normatizaram as ações ambientais no país e criaram instrumentos políticos para sua efetiva implementação. É o conjunto desse complexo de nor-mas, leis, portarias e regulamentos que chamamos de Sistema Nacional de Meio Ambiente

Em 1992, o Brasil assina durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, a Conven-ção da Diversidade Biológica. Esta convenção foi ratificada pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo n°2, de 1994 e promulgada pelo presidente da República pelo Decreto 2.519 de 1998.

Essa iniciativa incorpora ao sistema nacional, a definição do conceito de di-versidade biológica chamada biodiversidade: “Havia variabilidade de organismos vivos de todas as origens compreendendo entre outros, os ecossistemas terres-tres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte, compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas”. (SANTILLI, 2005, pág.103).

Segundo Santilli(2005), a consagração legal do conceito de biodiversidade é importantíssima para o engajamento do Estado brasileiro na responsa-bilidade socioambiental mundial. O Brasil concentra a maior diversidade de espécies de plantas, mamíferos, anfíbios, peixes de água doce e insetos. Possui entre 10% e 20% de 1,5 milhão de espécies de animais e vegetais já catalogadas. São cerca de 55 mil espécies de plantas com sementes (apro-ximadamente 22% do total mundial), 502 espécies de mamíferos, 1.677 de aves, 600 de anfíbios e 2.657 de peixes. Respectivamente 10,8%, 17,2%, 15% e 10% das espécies existentes no planeta.

O passo decisivo foi dado com a promulgação da Lei 9.985 de 2000, que insti-tuiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), prote-ção aos bens socioambientais tangíveis.

A estratégia de criação de unidades de conservação ambiental tem uma espe-cial importância, porque regulamenta o que havia sido enunciado na Lei 6.938/81 que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente.

Passam a ser protegidas áreas de conservação, espaços territoriais, especial-mente tutelados pelo poder público. A definição de área protegida foi explici-tada na Convenção de Diversidade Biológica, como “área definida geografi-camente”, que é destinada ou regulamentada e administrada para alcançar objetivos específicos de conservação. O Brasil passa a ser signatário, muito próximo do que foi definido pela Comissão Mundial de Áreas Protegidas da União Internacional para Conservação da Natureza (IUECN).

Vinculada à idéia de unidades de conservação promulgada na Lei do SNUC está a definição de reservas extrativistas e reservas de desenvolvimento susten-tável, relacionada ao conceito de populações tradicionais. Trata-se de uma visão

crítica ao modelo preservacionista tradicional que tende a desconsiderar sua

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base no mito do mundo natural selvagem intocável, que afasta o homem da na-tureza e a presença humana das unidades de conservação.

Portanto, o paradigma novo inspirado no socioambientalismo, que a Lei do SNUC consagra é a participação das populações locais na implantação e na ges-

tão das unidades de conservação, conforme está explícito no art. 5°inciso III da Lei 9.985/2000.

Com essa nova visão, procura-se romper com a lógica vertical que norteou por muitos anos os processos de

criação de unidades de conservação de forma auto-ritária e unilateral pelo poder público, excluindo as populações locais.

É preciso ressaltar que existem unidades de conserva-ção que estão excluídas do Sistema Nacional de Unidades

de Conservação, ou seja, da Lei do SNUC. Entre elas destaca-mos os territórios indígenas e os de quilombolas.

Para a política de conservação de recursos ou de biodiversida-de deveria ser considerara a importância que os territórios indígenas

têm no contexto nacional, principalmente no contexto amazônico e construir possibilidades concretas de compatibilizar a conservação de recursos com os projetos de futuro de vários povos indígenas.

Esses autores consideram que muitas vezes, os povos indígenas se vêem sem alternativas econômicas e passam a ser cooptados por interesses claramente contrários à conservação ambiental.

Romper com essa lógica perversa torna-se um desafio – criar novos pa-radigmas jurídicos que possam compatibilizar a proteção aos povos indíge-nas e aos seus territórios com a utilização sustentável dos recursos naturais neles existentes.

Outro caso, são os territórios de quilombolas, unidades de conservação socio-ambiental com características jurídicas bem distintas das unidades de conserva-ção previstas na Lei do SNUC.

A biodiversidade não se reduz aos componentes tangíveis do socioambien-talismo. - é preciso reconhecer, cada vez mais, a importância dos bens intangí-veis da biodiversidade que estão intimamente ligados aos bens tangíveis. Não é possível dissociar um do outro pois o acesso a recursos genéticos situados em territórios protegidos é tão importante quanto os bens materiais contidos nes-sas unidades de conservação.

A definição de recursos genéticos é estabelecida no Art. 2° da Convenção so-bre Diversidade Biológica dentro da Conferência Rio 92. No documento, também assinado pelo Brasil, está definido que os recursos genéticos referem-se “ao ma-terial genético de valor real ou potencial” e material genético por sua vez é de-finido como “todo material de origem, vegetal, animal, microbiana ou outra que contenha unidades funcionais de hereditariedade”.

Na legislação encontramos na Medida Provisória n° 2.186-16 de 23 de agosto de 2001, a seguinte definição de patrimônio genético: “informação de origem genética, contida em amostras do todo ou de parte de espécime vegetal, fúngico, microbiano ou animal, na forma de moléculas e substân-cias provenientes do metabolismo destes seres vivos e de extratos obtidos destes organismos vivos ou mortos, encontrados em condições in situ, inclu-sive domesticados, ou mantidos em coleções ex situ, desde que coletados em condições in situ no território nacional, na plataforma continental ou na zona econômica exclusiva”.

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Princípios de aplicação do direito ambiental brasileiro

O desenvolvimento tecnológico tornou cada vez mais complexa a relação entre o Estado, a Sociedade e o direito das novas gerações a um futuro sustentável.

A estrutura do Sistema Na-cional do Meio Ambiente (SIS-NAMA), instituída e regulamen-tada a partir da Lei 6.938/81 pressupõe a participação da so-ciedade. No seu Art. 3° define a composição do SISNAMA da seguinte forma:

-Órgão superior: o Conselho de Governo;

-Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA);

-Órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da Repúbli-ca (SEMANPR);

-Órgão Executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Na-turais Renováveis (IBAMA).

Também fazem parte do Sistema: órgãos seccionais, órgãos e entidades da Administração Pública Federal direta e indireta, fundações instituídas pelo poder público cujas atividades estejam associadas à proteção da qualidade ambiental ou de disciplinamento do uso dos recursos ambientais. Por último, órgãos ou entidades municipais responsáveis pelo controle e fiscalização das atividades re-feridas anteriormente.

O CONAMA compõe-se de representantes do governo e da sociedade civil orga-nizada em plenária. Essa participação está assim disposta: um representante das Con-federações Nacionais do Comércio, da Indústria, da Agricultura, Confederações dos Trabalhadores na Indústria, no Comércio e na Agricultura, do Instituto Brasileiro de Si-derurgia, da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária, da Fundação Brasileira para Conservação da Natureza. Isso faz com que o CONAMA seja um espaço efetivo de participação democrática na implementação do Plano Nacional de Meio Ambiente.

Essa característica plural e democrática da legislação traz como desafio a ne-cessidade de lidar com um conjunto heterogêneo de atores políticos, sejam eles instituições ou agências governamentais, movimentos sociais, entidades produ-tivas, sindicatos, organizações ambientalistas, cientistas, pesquisadores ou gru-pos de cidadãos interessados.

O outro desafio é que, apesar da participação ser um princípio democrático fundamental, nos últimos anos observa-se que nem sempre esse princípio ga-rante uma participação consciente e efetiva. Em muitos casos a participação limi-ta-se à realização de uma audiência pública, na qual as pessoas conseguem ex-pressar sua opinião para um pequeno grupo, mas a tomada de decisão final fica restrita a um grupo ainda menor. Um outro aspecto a enfatizar é que a eficácia da participação depende do grau de informação e da qualidade dessa informação que as instituições dispõem para poder exercer a tomada de decisão coletiva.

Pressupostos das sanções administrativas à infração ambiental

Um dos princípios emanados da Conferência Rio 92 e que foi incorporado ao sistema legal brasileiro é o que diz que todo o poluidor deve ser o pagador dos danos ao meio ambiente.

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Esse princípio foi incorporado no sentido das leis ambientais que definem a responsabilidade civil e criminal desses poluidores. Nesse sentido, a lei de maior magnitude em defesa da política de meio ambiente é conhecida como a Lei de Crimes Ambientais (LCA), número 9.605 de 12 de fevereiro de 1998.

Assim como a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (6.938/81), foi regu-lamentada pelo decreto n°99.274/90, o decreto n° 3.179/99 foi o que regulamen-tou a Lei dos Crimes Ambientais.

É preciso incluir nesse conjunto de medidas legais, o decreto 99.733 de 12/02/98 que dispõe sobre a inclusão no orçamento, de projetos e obras federais de recur-sos destinados a prevenir ou corrigir os prejuízos de natureza ambiental e social, decorrentes da execução desses projetos e obras (MANOLLI, 2004 pág. 639).

Existe também a Lei de Responsabilidade Civil e Criminal por Danos Nuclea-res (1977) e a Lei sobre Parcelamento Urbano (1979).

Um dos instrumentos de maior importância na gestão ambiental é exi-gência da avaliação de impacto ambiental e licenciamento ambiental, cria-dos a partir da lei n° 6938/81 e da resolução n° 001/86, do CONAMA.

O segundo instrumento chamado de licenciamento ambiental integra-se ao primeiro, à avaliação ambiental e refere-se a um procedimento administrativo pelo qual o órgão competente licencia a localização, a instalação, a ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais considerados efetivos ou potencialmente poluidores, conforme resolução do CONAMA, n° 237, art.1°, inciso I.

Um instrumento típico dessa normatização legal é o Estudo de Impacto Am-biental (EIA-RIMA) e respectivo relatório. Esse estudo e esse relatório, exigidos pela Lei, concretizam o direito de receber resposta da administração pública, pelo interessado, para efeitos de liberação, adequação ou desistência da ativida-de em juízo, em termos de impacto ambiental.

A orientação do princípio da prevenção diz respeito à organização do espaço, isto é, àquela regulamentação que orienta o zoneamento ambiental e espaços territoriais especialmente protegidos. Segundo a Lei, o uso do espaço ambiental vincula-se à destinação que lhe é permitida, conforme as normalizações legais. Por esse conceito, é pela função que se pode reconhecer o uso do território que deverá ser utilizado. Se estiver fora da função prevista, o empreendimento cairá na ilegalidade.

Assim surge a idéia de zoneamento econômico-ecológico que se relaciona ao sistema de uso do recurso ambiental, segundo o qual essas regras precisam estar de acordo com as características da localidade. Esse processo é conhecido como zoneamento ambiental.

O zoneamento econômico-ecológico prioriza a proteção do ambiente em sua dimensão natural, mas também humana, como já vimos em relação às populações tradicionais, indígenas ou dos quilombolas. Nesse sentido a le-gislação incorporou ao sistema legal os conceitos de área protegida e de unidade de conservação.

O zoneamento econômico-ecológico dos espaços territoriais especial-mente protegidos são considerados pelo sistema brasileiro, em duas cate-gorias: a que define unidades de proteção integral e a que se relaciona a unidades de uso sustentável.

No primeiro caso, o objetivo básico é a conservação da natureza. Pode estar subdivido em estação ecológica, reserva biológica, parque nacional, monumen-to natural e refúgio da vida silvestre.

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No segundo caso é composto pelas seguintes subcategorias: áreas de prote-ção ambiental, área de relevante interesse ecológico, floresta nacional, reserva extrativista, reserva da fauna, reserva de desenvolvimento sustentável, reserva particular do patrimônio natural. Neste segundo caso, o uso é mais diversificado que nos anteriores.

Tais categorizações podem ser particularizadas de outras maneiras, mas o importante é que, segundo a Lei, sempre serão objeto de estudo técnico e de consulta pública, de maneira a permitir identificar a localização, a dimensão e os limites adequados do território a ser protegido.

Há uma necessidade urgente de maiores incentivos à criação de unidades de conservação além das existentes.

No caso de licenciamento ambiental onde o empreendimento proposto é identificado como o de significativo impacto ambiental, o empreendedor é obri-gado a apoiar a implantação e a manutenção de uma unidade de conservação do grupo de proteção integral.

Vejamos a seguir as sanções administrativas relativas aos impactos ambien-tais que podem ser articuladas aos princípios éticos e políticos que estão explici-tados no Sistema Nacional de Meio Ambiente l.

No caso de norma administrativa de proteção ao meio ambiente, as sanções previstas dizem respeito a uma sanção punitiva de tipo administrativo, ou seja, se refere aos casos da não-prestação da conduta ambiental adequada em relação a lei ou normas específicas. Isso acontece mediante processo jurídico, até se che-gar a um resultado final. É de notar, porém, que tanto sanções como procedimen-tos jurídicos de qualquer natureza, não podem ser aplicados automaticamente, sem garantias de bilateralidade, ou seja, sem a possibilidade do contraditório e de ampla defesa.

Há diferentes tipos de sanção punitiva. No caso do direito ambiental isso é evidente, dada a multiplicidades de tipos de agressão ao preceito jurídico correspondente. Considerando que o princípio da lei no caso das diretrizes da Política Nacional de Meio Ambiente ser mais preventivo do que corretivo ganha importância que as sanções estejam vinculadas mais à realização da gestão ambiental,do que propriamente à punição ao comportamento an-tijurídico. Convém que o infrator não entenda isso como uma perspectiva estimuladora da impunidade, já que o sistema legal prevê a sanção punitiva até às últimas conseqüências.

A Lei de Crimes Ambientais (Lei n°9.605 de 12 de fevereiro de 1998) dispõe claramente sobre isso definindo, além das sanções penais, as administrativas, em conseqüência de atos e condutas lesivas ao meio ambiente.

As sanções administrativas podem imputar ao infrator sanções do tipo advertência, multas simples, multa diária, apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, apetrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração, destruição ou inutiliza-ção do produto, suspensão de venda e fabricação do produto, embargo de obra ou atividade, demolição de obra, suspensão parcial ou total de ativida-des ou restritiva de direitos.

Vê-se claramente que tais instrumentos do processo administrativo estão relacionados com o Princípio 13 da Rio 92, quando afirma que os estados devem elaborar uma legislação nacional sobre a responsabilidade pela po-luição e por outros danos no meio ambiente, bem como sobre a indenização de suas vítimas.

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Ainda que a legislação brasileira careça de uma definição bem mais funda-mentada sobre algumas matérias relacionadas à responsabilização ambiental, o conjunto existente de sanções parece bem avançado.

A responsabilização ambiental é a forma encontrada pelo direito para com-pelir o responsável pelo meio ambiente ecologicamente equilibrado, a satisfazer sua obrigação de gestão ambiental dentro de um processo de desenvolvimento sustentável. (MANOLLI, 2004 pág. 653).

É importante ressaltar que a Política Nacional do Meio Ambiente, quando insti-tui a responsabilidade ambiental, possibilita a idéia de que o poder de sanção do Estado em relação à conduta ambiental inadequada, possa ser feito a partir de ini-ciativa da sociedade civil organizada. É o que os juristas chamam da tutela civil.

As principais ações processuais que se iniciam por esse tipo de tutela são a ação civil pública e a ação popular, sem esquecer das ações de vizinhança, sendo que essa última difere das primeiras que são coletivas. Isso quer di-zer que o sistema legal fortalece os sujeitos coletivos na sua missão de mo-vimentos sociais ecologicamente comprometidos com o desenvolvimento sustentável, incluindo a identificação e punição dos sujeitos agressores do meio ambiente e da sustentabilidade.

No Plano Plurianual 2004-2007, apresentado pelo Governo Federal, há um compromisso explícito com a idéia de sustentabilidade, na medida em que no subtítulo do texto se encontra a palavra sustentável relacionada com a idéia de crescimento.

No primeiro capítulo, Um novo Brasil é possível, no item 9, o documento afir-ma que o Plano Plurianual terá como objetivo inaugurar entre outras estratégias de longo prazo, a que diz respeito explicitamente ao crescimento ambientalmen-te sustentável, redutor das disparidades regionais dinamizado pelo mercado de consumo de massa, por investimentos e pela elevação da produtividade. Desta forma o plano coloca no mesmo patamar das prioridades de governo as dimen-sões, social, econômica, regional, ambiental e democrática.

Parte do pressuposto de que houve, até o momento, um modelo assi-métrico de desenvolvimento socioeconômico de conseqüências negativas e propõe uma consolidação de estratégia de crescimento sustentável que ultrapasse essa assimetria.

Para o enfrentamento desse problema, o plano prevê uma nova geografia desejada em que seja privilegiado o desenvolvimento solidário entre as di-versas regiões do país potencializando as vantagens da diversidade cultural, natural e social.

A dimensão ambiental é explicitamente entendida no período 2004-2007 como uma estratégia de desenvolvimento sustentável de longo prazo. Reconhe-ce-se no documento que são justamente os mais pobres que sofrem por mais exposição às áreas poluídas, inseguras e degradadas, estabelecendo uma relação entre os problemas que ameaçam nossos ecossistemas e diretamente relaciona-dos à degradação social.

A qualidade do ambiente afeta as comunidades e é uma prioridade e uma urgência a ser enfrentada pelo Plano Plurianual (PPA).

A preservação e o uso sustentável dos recursos naturais também ganharam destaque no referido documento, especialmente no que diz respeito às nossas florestas. A idéia é fortalecer as organizações ambientais do setor público pela aplicação imediata das leis e dos mecanismos de controle e regulação da ativi-dade econômica.

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Por fim, o PPA prevê a adição de critérios socioambientais para as políticas públicas como metas de melhoria de seus indicadores, com incentivos à parti-cipação das sociedades e à educação ambiental. Pode-se entender que não é de pouca monta a importância política dada pelo Governo Federal, à dimensão socioambiental. Cabe agora, verificarmos se no plano da aplicação dessas estra-tégias em ações de governo e da sociedade civil, existe a eficácia da proposição geral de governo.

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ANOTE

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TEMA 3TEMA 3

POPULAÇÃO, QUALIDADE DE VIDA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

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TEMA 3POPULAÇÃO, QUALIDADE DE VIDA E DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

TEMA 3: POPULAÇÃO, QUALIDADE DE VIDA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Neste tema, tentaremos mostrar a séria preocupação apresentada em estudos am-bientais com o crescimento populacional. Afinal, é preciso encontrar formas de abrigar, de alimentar, de vestir e, ainda, proporcionar fontes de sustento e outros recursos para bilhões de pessoas. Pretende-se também discutir a relação entre esse fator mencionado e a necessidade de garantir a preservação do ambiente em níveis local e global, já que o espaço ocupado por todo esse contingente populacional possui recursos finitos.

Abordaremos, enfim, o grande desafio atual de adequar os crescentes núme-ros populacionais à formulação de políticas, ao desenvolvimento de recursos humanos, aos recursos financeiros e ao desenvolvimento de novas tecnologias, tendo como base a auto-sustentação e a preservação do planeta.

Trataremos da relação entre contingente populacional e limite de recursos naturais existentes no planeta, buscando uma alternativa sustentável de desenvolvimento.

Realizar-se-á uma série de reflexões sobre crescimento populacional e neces-sidades urgentes para se pensar o uso responsável dos recursos naturais, bus-cando alternativas comprometidas com a redução da pobreza, conservação do meio ambiente e desenvolvimento sustentável.

Destacaremos as dificuldades de conter o avanço do crescimento populacio-nal e a formação de aglomerações humanas mal acondicionadas nas cidades, o que gera sérios problemas socioambientais. Buscar-se-á, também, discutir os desafios apresentados pelo modelo de desenvolvimento econômico proposto e a necessidade de compromisso com a sustentabilidade.

Deste modo, o objetivo desse tema é:

• Analisar o papel dos agentes desse modelo de desenvolvimento e a necessidade de se reverem as práticas existentes pensadas, tendo como objetivo um modelo que garanta a qualidade de vida da população atual e das gerações futuras.

Crescimento populacional e desenvolvimento sustentável

É surpreendente a velocidade do crescimento demográfico da população da Terra no último século. Igualmente surpreendente é o crescimento das

cidades. A população global estimada em cerca de 300 mi-lhões de habitantes, há 200 anos, ultrapassa hoje quase que 20 vezes esse número.

O crescimento populacional não foi sempre significativo. Por um longo período, a população mundial não cresceu abundan-temente. Foram-se alternando períodos de crescimento, como o início da Revolução Agrícola, seguido de declínio populacional. Esse último causado, principalmente, por fomes, por epidemias e por guerras.

A Revolução Industrial iniciada na Inglaterra na segunda metade do século XVIII alterou o ritmo do crescimento, apresentando uma nova realidade, qual seja, a transição da civilização agrícola para uma civilização industrial e urbana. Embora essa mudança tenha sido

marcada também por elevadas taxas de mortalidade, observa-se, após um século, a duplicação do número da população, passando de um para dois bilhões.

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TEMA 3POPULAÇÃO, QUALIDADE DE VIDA E DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

Foram necessários dezenas de milhares de anos para a humanidade atingir o primeiro bilhão de habitantes, isto por volta do ano de 1800. O próximo bilhão levou um pouco mais de um século, dobrando o número populacional no pla-neta. Num piscar de olhos, num período de apenas 30 anos, o terceiro bilhão era alcançado por volta de 1960.

O progresso da industrialização, combinado com os cuidados com a saúde e aliado ao avanço da medicina permitiu, depois da Segunda Guerra Mundial, um decréscimo rápido da taxa de mortalidade e um crescimento vertiginoso nos países em desenvolvimento.

Contudo, essa não foi a tendência mundial. Nos países industrializados, que apresentaram um rápido crescimento populacional até meados do século XX, devido ao forte avanço nas áreas de tecnologia, de saúde, de educação e de bem-estar material, mostrou-se uma baixa significativa desse crescimento ao final do mesmo século.

Diferentemente dessa realidade, regiões mais pobres do planeta não participaram dos avanços e das transformações sociais e econômicas, tendo que amargar o au-mento populacional lado a lado com o aumento significativo da pobreza.

Todo esse crescimento populacional foi acompanhado de uma mudança no modo de viver das pessoas que, da tradicional vida agrícola no campo, passou a responder aos avanços tecnológicos e industriais das cidades, com uma concepção de vida à parte da natureza. Cada vez mais intensificou-se o chamado êxodo rural. Houve uma transformação da realidade social e econômica dos países, que passaram de uma base majoritariamente rural, no início do século XX, para uma realidade totalmente urbana, com amontoados humanos vivendo nas metrópoles.

A década de 1990 foi considerada, segundo estimativas, como a fase mais in-tensa de crescimento populacional, com o nascimento de mais de um bilhão de pessoas em apenas 11 anos.

As alterações ocorridas não dizem respeito apenas ao contingente popula-cional transferido para as cidades, mas principalmente ao modelo econômico desenvolvido planetariamente, tendo como base a produção de bens, a irres-ponsabilidade ambiental e o consumismo exacerbado.

Estudos apresentados pelas Nações Unidas (2003) mostram projeções futuras da densidade demográfica do planeta2. Baseada numa variedade de hipóteses relativas à fertilidade, algumas situações podem ser pontuadas como prováveis, até a primeira metade deste século. As hipóteses são:

1- crescimento médio da população, seguindo os padrões atuais, alcan-çando 9,8 bilhões de habitantes;

2- fertilidade feminina diminuindo, podendo chegar aos níveis de repo-sição da população, igualando a equação: nascimento x óbitos;

3- uma baixa projeção em que a fertilidade alcançaria os níveis de repo-sição e depois começaria a cair, como aconteceu em vários países eu-ropeus. Se essa última hipótese se confirmasse, após algumas décadas, assistiríamos a uma diminuição da população global.

Nos três modelos apresentados, as diferenças só seriam sentidas após passa-das as primeiras décadas, onde, inicialmente, os números se manteriam como os atuais, depois se modificariam segundo cada tendência.

Dado que o futuro é uma incógnita, as taxas de fertilidade e de mortalidade poderão variar de acordo com as opções individuais, as políticas governamen-tais, os avanços tecnológicos, e da medicina, e de possíveis e imprevisíveis catás-2 As previsões da ONU nessa área têm sido acuradas: em 1958 a organização previa que no ano de 2000, quando atingi-

mos 6 bilhões, a população estaria em 6,3 bilhões – um erro muito pequeno para fins de planejamento estratégico.

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trofes que poderiam afetar grande parte da população mundial. Teríamos tam-bém quadros diferenciados, caso houvesse o aumento da expectativa de vida, decrescendo a taxa de mortalidade e impondo uma nova realidade como uma população cada vez mais idosa.

Um prolongamento da vida humana, criando uma expectativa de vida para os 80 anos, aumentaria em quase seis vezes o número de idosos no planeta. Desse total, a grande e absoluta parcela dessa população estaria situada em regiões como a África e a parte sul da Ásia, não nos países desenvolvidos. Contudo, essas áreas são as que apresentam elevada pobreza, baixa qualidade de vida e pior situação para as mulheres3.

Entretanto, não é só nos países pouco desenvolvidos ou em desenvolvimento, que se observa crescimento da taxa de natalidade. Ao contrário do que se pen-sa, em países industrializados como Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, as projeções apontam à continuidade do crescimento. Grande parte desse crescimento, nessas regiões, dá-se por causa da imigração e da alta taxa de fertilidade dos imigrantes. As futuras projeções ficam também dependentes das políticas de imigração adotadas por esses países.

Considerando que na década de 1960, cada habitante da Terra tinha em torno de seis hectares de terras produtivas, os números hoje se restringem a um sexto desse total. Essa perda considerável do espaço produtivo está ligada mais aos padrões de consumo atuais do que pelo impressionante número populacional do planeta.

Observa-se um padrão de vida altamente consumista, caracterizado pelo uso indiscriminado dos recursos naturais na fabricação de bens industrializados e na produção de alimentos, aliados a níveis crescentes de desperdício e poluição, pela fabricação de produtos pouco duráveis e, principalmente, por um compor-tamento insensível à dilapidação dos recursos naturais.

Mais do que o agravamento do aumento populacional, pode-se afirmar que o consumismo é o grande vilão que ameaça o futuro do planeta em relação à garantia da qualidade de vida das atuais e futuras gerações.

O aumento do consumo foi responsável por 75% do aumento de poluentes do ar nos países centrais entre 1970 e 1978, e 74% das emissões de dióxido de carbono entre 1965 e 1989.

Se toda população mundial seguir o padrão de produção, consumo e desper-dício dos países centrais, no que refere à utilização dos recursos naturais e con-sumo de energia, como esses fazem atualmente, seria necessários cinco planetas Terra para satisfazer às necessidades de todos.

Pegando como exemplo os Estados Unidos e o Japão4, altamente tecnológicos e com populações não tão ameaçadoras do ponto de vista numérico, refletindo sobre a cultura difundida nessas nações, baseada na abundância dos recursos, em que os níveis de produção e os padrões consumistas tendem a produzir maiores desperdícios, observamos claramente os efeitos do impacto desses mo-delos sobre o meio ambiente.

Utilizando o consumo de energia como medidor do impacto sobre a susten-tabilidade ambiental, observamos que uma pessoa nascida nos Estados Unidos representa duas vezes mais o impacto ambiental do que outra nascida na Suécia, ou treze vezes mais que as nascidas no Brasil. 3 Esse crescimento, segundo o “World Population Prospects - The 2002 Revision”, editado pela Divisão de População da

ONU em fevereiro de 2003, só não será maior em função do aumento das taxas de mortalidade motivadas pela Aids. Esse documento prevê que até 2010 a epidemia manterá a dinâmica ora observada, acreditando-se em reversão a partir daquele ano.

4 Segundo Dias (2002), a atual pegada ecológica de um cidadão americano ou japonês típico é de 4-5 hectares, por pes-soa, por ano. Ou seja, cada americano ou japonês usa essa área para sustentar-se, e isto representa cerca de três vezes mais a área que lhe cabe na divisão global.

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Se não forem encontradas novas alternativas para evitar que o consumo de-senfreado se torne uma ameaça crescente ao ecossistema, o controle do cresci-mento populacional não o fará. O planeta não pode suportar o nível de consu-mo praticado nos países centrais.

Na discussão sobre a fome e produção de alimentos suficientes para toda po-pulação mundial é importante considerar pontos que são geralmente ignorados, mas que são cruciais para entender essa dinâmica por uma ótica mais humana, como os aspectos sociais, econômicos e culturais da produção.

Esses aspectos são bem relevantes:

- terras subaproveitadas em atividades pastoris, enquanto poderiam ser cultivadas;

- grande concentração de renda e terras (principalmente nos países em de-senvolvimento), gerando contrastes e desigualdades sociais gigantescas;

- acesso cada vez mais difícil aos meios de produção agrícolas pelos pe-quenos produtores, trabalhadores rurais e sem-terra;

- grande consumo e principalmente o enorme desperdício de alimentos nos países desenvolvidos;

- utilização de imensas áreas rurais para produção de um só tipo de grão com objetivo de exportação.

Considerando a vontade e ação política determinada em resolver esses pro-blemas, entenderíamos a situação da fome no planeta como resolvida. Mas um outro fator, de grande e fundamental importância pesa sobre essas análises: as condições do meio ambiente para sustentar a demanda alimentícia mundial. O ponto crucial não é se existe espaço suficiente para produzir alimentos, mas prin-cipalmente as condições de produção, pensando no uso racional e respeitando as limitações ambientais a fim de evitar o saturamento da terra, que poderia levar à infertilidade do solo.

Um outro fenômeno mundial capaz de assustar qualquer pesquisador é o da velocidade de crescimento dos centros urbanos5. No Brasil, o elevado grau de urbanização adquirido nos últimos 50 anos é um fator determinante do cres-cimento e da formação da população brasileira. Uma população com cerca de 30% do total urbanizada em 1940, os números avançam para 55% em 1970, ul-trapassando hoje cerca de 75% do total da população nas cidades. Esses dados indicam que o processo de aumento da população urbana tem sido maior que o do total da população. O princípio desse prodígio está relacionado ao processo geral da industrialização intensificada a partir dos anos 1940 e 1950.

Boa parte da força de trabalho do campo à procura do mercado de trabalho ur-bano é imigrada para as cidades médias e grandes com o incremento das ativida-des industriais. A industrialização atua no impulso ao êxodo rural e também dire-ciona as grandes correntes migratórias para o sudeste brasileiro, principalmente para o eixo Rio – São Paulo. Como resultado desse grande afluxo de gente, as cida-des superlotam criando uma realidade adversa da conhecida. As cidades vizinhas aos grandes parques industriais também sentem o peso do fluxo da imigração e seu inchaço. Conhece-se, então, o agravamento dos problemas urbanos como: falta de infra-estrutura, precariedade dos serviços de educação e saúde para gran-de parte da população, poluição e conseqüente baixa qualidade de vida.

O desenvolvimento industrial aliado ao crescimento da população urbana cria problemas sérios relacionados à questão ambiental que vão além da polui-ção. Entre estes problemas destacam-se o uso descontrolado do solo, que causa danos aos rios, as inundações, o deslizamento de terras, os desmatamentos, as 5 Quase todo o crescimento está ocorrendo em cidades que ocupam 2% da superfície terrestre, mas consomem 75% de

seus recursos.

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TEMA 3POPULAÇÃO, QUALIDADE DE VIDA E DESENVOLVIMENTO

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construções irregulares em nascentes ou nas margens dos rios, e o aumento da produção de lixo.

Concomitantemente, aparecem sérios problemas de saúde pública, refletindo a inadequada gestão de esgotos sanitários dos resíduos sólidos urbanos. Isso porque a execução de serviços de infra-estrutura, de saneamento e de drenagem não acompanha o crescimento populacional.

Frente aos quadros cada vez maiores de degradação ambiental, alguns go-vernos propuseram iniciativas no sentido de minimizar os problemas apresen-tados, como projetos de despoluição de rios e de nascentes, atendimento das necessidades de saneamento básico, abastecimento de água, coleta e destina-ção própria do lixo, controle industrial da emissão de lixo tóxico e poluição e

monitoramento ambiental. Entretanto, essas iniciativas tiveram mais efeito da propaganda política que efetivação no processo de recuperação do meio.

O inchaço das cidades traz ao cenário nacional e mundial uma realidade pautada nas desigualdades e contradições. Re-alidade que pode ser observada, principalmente, nas grandes cidades da América Latina que incorporam à sua geografia condomínios de luxo e favelas, desperdícios e mendicância. A industrialização aumentou as cidades, gerou riquezas, mas também uma grande pobreza.

O crescimento da pobreza aumentou e ocupou espaços ad-versos como áreas de favelas, habitações precárias, loteamentos

irregulares e clandestinos. Estudos mostram que no Brasil, não só a proporção de pobres aumentou como também o grau de desigualdade entre a população. Como mostra o Censo 2000, quase um quarto da população ocupada recebe um salário mínimo, contrastando com os 2,6% de trabalhadores com faixa salarial superior a vinte salários. Isso se dá também no confronto regional quando se comparam regiões do Norte e Nordeste com as do Sudeste e Sul.

Essas dessemelhanças e os baixos rendimentos de grande parte da população estão relacionados com as características do mercado de trabalho e pelo agrava-mento da situação de emprego – caracterizado pelo desemprego, subemprego, crescimento da informalidade – tudo isso implicando a redução dos níveis de rendimento das pessoas.

Tal modelo produz exclu-são social e miséria por um lado, consumismo, opulência e desperdício, por outro. Ambos causam degradação ambiental e, em conseqüência, perda da qualidade de vida.

A pobreza no nosso país está diretamente relacionada com a má distribuição das riquezas, dos bens e serviços, dos direitos e das oportunidades. Não sendo um país pobre, o Brasil encontra-se em constante de-senvolvimento, demonstrando acentuado crescimento em variados setores. O problema não passa pela escassez material, mas pela divisão apropriada e justa das riquezas e dos recursos.

Carregando o slogan de país em desenvolvimento, durante toda a sua história moderna, esse conceito se tornou hegemônico em nossa cultura, relacionando-se

Figura 1 - Modelo de desenvolvimento não-sustentávelFonte 1 Dias, 2002 p. 33

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TEMA 3POPULAÇÃO, QUALIDADE DE VIDA E DESENVOLVIMENTO

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cada vez mais com a idéia de desenvolvimento como crescimento econômico. Con-tudo, ao lado do crescimento econômico, construímos uma enorme dívida social.

Assim, cabe o desafio de repensar o modelo de desenvolvimento que se quer para o país, partindo do pressuposto de que se devem observar questões como a busca da qualidade de vida para todas as pessoas. Um desenvolvimento que ponha o crescimento econômico ao lado do crescimento humano, do social e do uso sustentável dos recursos naturais renováveis e não-renováveis.

O modelo apresentado pelo desenvolvimento industrial foi marcado pela idéia de progresso material ilimitado, associado à prática irresponsável do uso indiscri-minado dos recursos naturais, em razão de uma ideologia de grande consumo. Porém, os impactos do desequilíbrio ecológico, gerados por essa prática, torna-ram-se tão gigantescos que a insustentabilidade da conservação desse padrão de vida, de produção e de consumo se tornou consenso em todo o planeta.

Para alcançar um padrão de desenvolvimento sustentável é necessário unir esforços de todas as esferas sociais, sem a exclusão de nenhum setor, discutindo temas importantes, como: explosão demográfica, controle de natalidade, desen-volvimento industrial e depredação do meio ambiente, políticas públicas - tudo voltado para a idéia de garantia da qualidade de vida.

Diretamente relacionados com a idéia de sustentabilidade estão a busca e o investimento social na conquista de uma boa governabilidade, na ampliação dos direitos políticos, no aprofundamento da democracia, envolvendo temas como controle público, transparência, prestação de contas e organização social.

Na perspectiva do uso sustentável dos bens naturais e na conquista da sus-tentabilidade, é necessário apontar para medidas que levem a ações e perspecti-vas viáveis como: o uso de fontes alternativas de produção de energia, proteção e exploração adequada da biodiversidade, recuperação de áreas degradadas, elaboração de um novo padrão de produção e consumo.

Qualidade de vida e projetos sustentáveis

A questão da sustentabilidade apresenta um elo que une as expectativas de satisfação das necessidades das gerações atuais e a responsabilidade com as ge-rações futuras, mostrando o desenvolvimento sustentável como paradigma do crescimento econômico equilibrado, que leva à conservação do meio ambiente, juntamente com as políticas estratégicas de erradicação da pobreza e das desi-gualdades sociais.

É nessa perspectiva que se reúnem esforços para criar um conjunto de eixos que garantam a sustentabilidade. Não como manual de soluções de problemas, mas como opções políticas voltadas para construção de uma agenda de desen-volvimento sustentável com padrões de produção e consumo.

Algumas iniciativas importantes como a criação de fóruns, ONGs, movimen-tos sociais promovem discussões com o objetivo encaminhar sugestões para o desenvolvimento sustentável em nosso país. Dentre as iniciativas apresentadas, destaca-se a Agenda 21 brasileira6, com a elaboração coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente. contando com a participação do empresariado e da socie-dade civil.

A Agenda 21 brasileira tem como eixo central a sustentabilidade, compa-tibilizando a conservação ambiental, a justiça social e o crescimento econô-mico. Ela apresenta propostas em seis eixos temáticos: agricultura sustentá-vel; cidades sustentáveis; infra-estrutura e integração regional; gestão dos 6 Cada país, estado, município e instituição deve ter sua Agenda-21 como contribuição efetiva ao estabelecimento do

desenvolvimento sustentável.

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recursos naturais; redução das desigualdades sociais; ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável.

Algumas idéias do documento já estão em implementação como a proteção dos recursos hídricos, a agricultura sustentável e o investimento em energias re-nováveis. Contudo, observa-se o pouco investimento financeiro nos programas para o meio ambiente.

Maia (2002) propõe, como contribuição ao debate, oito eixos focalizados na problemática da necessidade de alteração dos atuais padrões de produção e consumo. São eles, de forma simplificada: a garantia do acesso universal à ener-gia, utilizando fontes alternativas que causem menos impacto ambiental; prio-ridade do transporte coletivo; fortalecimento de setores da produção com uso racional de energia; política agropecuária sustentável; benefícios do desenvol-vimento da ciência e das tecnologias acessíveis à população; consolidação da legislação ambiental; potencialização de experiências que busquem soluções de problemas sócio-ambientais e econômicos ; indicadores para o monitoramento do desenvolvimento sustentável.

Entende-se por sustentabilidade, a conservação de um sistema ao longo do tem-po, considerando a interação entre as dimensões: econômica, ambiental e social.

Em suas várias dimensões, a sustentabilidade apresenta, em termos econô-micos, a conservação do capital natural. Em termos ambientais, deve-se evitar o esgotamento dos recursos da natureza, pois causa perigo na capacidade de renovação. Sua face social alerta para a preservação da diversidade dos seres humanos, permitindo que desenvolvam as suas potencialidades, por meio da educação, da saúde e da cultura.

Os indicadores de sustentabilidade têm a função de medir, de comparar e de auxiliar a tomada de decisões relativas à manutenção da qualidade de vida da população.

Tendo como base o desenvolvimento sustentável, os indicadores devem for-necer dados relevantes para medir o progresso quanto à sustentabilidade, au-xiliando a decisão das pessoas na solução dos problemas apresentados. Estes dados devem servir como instrumento para simplificar, quantificar e analisar in-formações técnicas, alertando sobre um problema antes que ele se torne crítico, indicando o que é necessário fazer para resolvê-lo.

Esses indicadores permitem estabelecer objetivos precisos para ações futu-ras, possibilitando que governo e sociedade sigam programas idealizados ou fa-çam alterações quando necessários; medindo os resultados e refletindo sobre a evolução das metas definidas. Os indicadores transformam-se em instrumentos para elaboração de políticas públicas, reavaliação de modelos e investimentos em setores que se encontram deficitários.

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ANOTE

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ANOTE

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TEMA 4TEMA 4

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E GESTÃO SUSTENTÁVEL

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TEMA 4DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL E GESTÃO SUSTENTÁVEL

TEMA 4: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E GESTÃO SUSTENTÁVEL

Foi demonstrado que a qualidade de vida está diretamente relacionada com o conceito de desenvolvimento sustentável, tendo em vista a crise atual relativa ao modelo de desenvolvimento que tratou o ambiente como mero objeto de consumo.

Neste tema, primeiramente será traçada uma breve evolução histórica do conceito de desenvolvimento sustentável, pontuando os principais tratados am-bientais globais e suas conseqüências. Também serão tratadas a economia do meio ambiente e a sua sustentabilidade. A relação entre a globalização e a nova perspectiva de negócios vinculada a esse conceito concluirá este tema.

Analisaremos a idéia de que vivemos inseridos num contexto histórico mar-cadamente influenciado pela ideologia da globalização. É dentro desta perspec-tiva que novas exigências se colocam a um mercado atravessado por impasses e contradições desconhecidas no modelo tradicional de gestão empresarial e que tendem a agravar ainda mais as situações de crise socioambiental. O ritmo e os pressupostos ético-político dessa trajetória podem ser revertidos, desde que forças sociais sejam mobilizadas.

Ver-se-á que a evolução da crítica ao padrão tradicional se coloca não como uma abstração, mas como uma ação afirmativa e propositiva em relação à pro-blemática socioambiental. A idéia de uma gestão empresarial articulada com a perspectiva de governança local, regional e global como fundamento do desen-volvimento sustentável é sistematizada. O movimento da responsabilidade socio-ambiental será abordado destacando-se como referência o ingresso de diversos países-membros que se tornaram signatários dos principais acordos aprovados nos fóruns mundiais promovidos pelas organizações das Nações Unidas.

Desse modo, o objetivo, neste tema, é estabelecer uma relação entre o conceito de desenvolvimento sustentável e o conceito de economia como um todo, tendo em vista o momento histórico conhecido por “globalização”.

Evolução do conceito de desenvolvimento sustentável

O conceito de desenvolvimento sustentável encontra suas raízes históricas nos resultados da Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente realizada em Estocolmo, capital da Suécia, em junho de 1972.

Nessa época, o Brasil, vivia seu apogeu de desenvolvimentismo industrial pre-conizado pelo governo militar e por isso foi um dos países que se posicionou contrariamente ao reconhecimento da importância dos problemas causados ao ambiente (Ferreira, 1992).

No mundo, vivia-se uma contradição fundamental que atravessou o evento de Estocolmo: enquanto nos países centrais já se começava a visualizar movimentos sociais de questionamento ao modelo de desenvolvimento não sustentável, os mesmos exportavam para os países periféricos uma concepção de industrializa-ção muito poluente e de intensa exploração de mão-de-obra desqualificada e barata (Guimarães, 1986).

O movimento ambientalista manifestava-se através de relatórios e começou a se fazer ouvir Um exemplo disso é o Clube de Roma que produziu a idéia de que

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TEMA 4DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL E GESTÃO SUSTENTÁVEL

os limites de crescimento econômico não eram ilimitados.

Um dos resultados significativos da Conferência de 1972 encontra-se na pas-sagem “o homem é, a um tempo, resultado e artífice do meio que o circunda, o qual lhe dá o sustento material e o brinda com a oportunidade de desenvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente”. (The Limits to Growth).

Nessa passagem pode-se observar a semente do conceito de desenvolvimen-to sustentável. Porém, a definição mais precisa deste conceito só veio a se mate-rializar em abril de 1987, no documento chamado Nosso Futuro Comum, que é o resultado de três anos de estudos da Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela ONU e presidida pela primeira-ministra norue-guesa Brundtland..

Para propor o fim da polêmica quanto à definição do que vinha sendo cogi-tado como desenvolvimento sustentável, a referida comissão propôs o seguinte conceito: “O desenvolvimento sustentável seria atingido pela retomada de cres-cimento, melhor distribuição de seus benefícios e pela racionalização do uso de energia, do atendimento às necessidades básicas das populações e pela estabili-zação dos níveis demográficos; assim como pela conservação da base de recursos, reorientação da tecnologia para a redução de seu impacto ecológico e a incorpo-ração de critérios ambientais nas decisões econômicas“. (CIMA, 1981, pág. 182)

Tal conceito foi definido no relatório da comissão, também conhecido como Re-latório Brundtland, sendo Jim Macneill um dos principais arquitetos dessa definição e que ficou conhecido como pai do conceito de desenvolvimento sustentável.

Na Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento publicada em 1992, por ocasião da Conferência mundial reunida nessa cidade, haverá avanços na formulação do conceito ao ser colocado explicitamente o ser humano como centro do desenvolvimento sustentável. O princípio primeiro da Declaração proclama explicitamente que “Os seres humanos constituem o cen-tro das preocupações do desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida sustentável e produtiva em harmonia com a natureza”. (Texto da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio de Janeiro, 1992).

Devido à não consonância entre a evolução dos conceitos e as práticas es-tabelecidas, a Conferência do Rio de Janeiro, também conhecida pelo nome de Eco 92, precisava aprovar mais do que uma definição. Era necessário divulgar um documento que contivesse um programa de ação mundial para estabelecer diretrizes para a relação entre o crescimento econômico e o desenvolvimento social fundamentados nos princípios da sustentabilidade. A partir daí, surgiu a instituição das Agendas 21. Por meio desse instrumento, iniciou-se uma bus-ca para a superação de problemas entre desenvolvimento econômico, social e meio ambiente.

A relação equilibrada entre o econômico, o social e o meio ambiente não tem sido uma discussão fácil: a orientação economicista costuma pensar o horizonte temporal em curto prazo enquanto com o conceito de desenvolvimento susten-tável, a dimensão temporal é estendida às futuras gerações.

Desde o Relatório Brundtland, a expressão “geração futura” passou a incidir sobre a disciplina econômica, entendendo o tempo como estando subordinado aos interesses entre gerações, como foi definido: “é o desenvolvimento que sa-tisfaz as necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as suas próprias necessidades”.

Um longo caminho foi traçado até chegar a essa noção de desenvolvimento sus-tentável. No quadro a seguir, encontra-se um resumo dos principais eventos que fize-ram a evolução histórica deste conceito e as principais convenções aprovadas:

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SUSTENTÁVEL E GESTÃO SUSTENTÁVEL

Ano Evento Contribuição ao conceito Sustentável

Resoluções aprovadas

1968 Cria-se o Clube de Roma. Formado por um grupo de trinta especialistas de diversas áreas, liderado pelo industrial Aurélio Peccei com o objetivo de discutir a crise da humani-dade.

Publica-se em 1972 o re-latório “Os limites do cres-cimento”, primeira denún-cia com fundamentação científica que desmascara o incessante crescimento material da sociedade a qualquer custo, sem se dar conta do custo final desse crescimento.

1972 Conferência da ONU sobre o ambiente humano ou Conferência de Estocol-mo. Teve como objetivo definir princípios comuns de preservação e de me-lhoria do meio ambiente humano entre os 113 pa-íses participantes.

Estabeleceu-se um plano de ação e recomendou-se que deveria ser estabe-lecido um programa in-ternacional de educação ambiental.

“Declaração sobre o meio ambiente humano”, con-tendo 23 princípios a se-rem observados pelos pa-íses-membros.

1973 No Brasil, a Presidência da República cria a Secretaria Especial do Meio Ambien-te – SEMA, vinculada ao Ministério do Interior.

Primeiro organismo bra-sileiro de ação nacional orientado para a gestão integrada do ambiente.

1975 A Unesco promove em Belgrado (Iugoslávia) um encontro internacional so-bre educação ambiental, mobilizando especialistas. de 65 países.

Proposta de uma nova ética global visando a er-radicação da pobreza, da fome, do analfabetismo, da poluição, da dominação e da exploração humana. A educação ambiental deve ser um processo contínuo e multidisciplinar, inte-grado às necessidades e as diferenças regionais e voltada para os interesses nacionais.

“Carta de Belgrado” Do-cumento que formula os princípios e as orienta-ções para o programa in-ternacional de educação ambiental – PIEA (IEEP)

1977 Primeira Conferência In-tergovernamental em Tbi-lisi, na Geórgia (ex-URSS).

A conferência precisou a natureza da educação ambiental, definiu seus princípios, objetivos e ca-racterísticas, formulando recomendações e estra-tégias pertinentes aos planos regional, nacional e internacional. Um dos resultados práticos mais importantes foi a apro-vação de medidas para a incorporação dos conteú-dos, diretrizes e atividades ambientais dos seus siste-mas educacionais, promo-vendo e intensificando trabalhos de reflexão, de pesquisa e de inovação com respeito à educação ambiental.

Publicação do livro, “Edu-cação Ambiental: as gran-des orientações da Confe-rência de Tbilisi”. (UNESCO, 1980). Até hoje as referências produzidas por esse even-to são utilizadas para o desenvolvimento de ati-vidades de educação am-biental.

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SUSTENTÁVEL E GESTÃO SUSTENTÁVEL

1979 Seminário sobre educação ambiental para a América Latina, na Costa Rica.

Estabeleceu linhas filosófi-cas para o desenvolvimen-to da educação ambiental na América Latina.

“Oficina para o desen-volvimento da educação ambiental na América La-tina”. Contém orientações de caráter sócio-cultural e econômicas como instru-mento técnico para habili-tar os agentes e a popula-ção na compreensão dos usos dos recursos naturais para suas necessidades.

1987 Congresso internacional sobre educação e infor-mação ambientais, Mos-cou.

Dez anos depois da Con-ferência de Tbilisi (1977), a Conferência de Moscou fez a primeira avaliação crítica demonstrando que o abismo entre as nações aumentou e as mazelas dos modelos de desen-volvimento econômico se espalharam pelo mundo, piorando as perspectivas para o futuro.

A análise feita a partir des-te congresso demonstrou que a situação mundial piorara desde a conferên-cia de Tbilisi. Apontou-se para o entendimento de que a promoção da Edu-cação Ambiental seria es-tratégico para a reversão do degradado quadro socioambiental verificado e para a busca da susten-tabilidade.

1992 Conferência da ONU so-bre meio ambiente e de-senvolvimento (UNCED), com a participação de 170 países, conhecida como Rio 92.

A Rio 92 corrobora as pre-missas do evento de Tbilisi e aprova a Agenda 21 que reorienta a educação para o desenvolvimento sus-tentável.

Estabelecimento da “Agenda 21”, documento em que foram declaradas as principais metas socio-ambientais mundiais a serem atingidas no século XXI, tanto no que se refe-re à educação ambiental, quanto à inclusão social, diminuição de violência e promoção de negócios socialmente responsáveis.

1997 Conferência Internacional Ambiente e Sociedade: educação e sensibilização do público para a susten-tabilidade, realizada em Thessalônica, na Grécia.

Proposta a reorientação da educação para sus-tentabilidade, declarando que esse conceito deve-ria abarcar não só meio ambiente como também a pobreza, a habitação, a saúde, a segurança ali-mentar, a democracia, os direitos humanos e a paz, resultando num imperati-vo moral e ético, no qual as diferenças culturais de-veriam ser respeitadas.

2002 Cúpula Mundial sobre o desenvolvimento susten-tável, conhecida como Rio+10, realizada na cida-de de Joanesburgo, África do Sul.

Desenvolvido plano de implementação para o desenvolvimento susten-tável com metas genéricas relacionadas ao acesso a água tratada, saneamento, recuperação de estoques pesqueiros, gerenciamen-to de resíduos tóxicos e uso de fontes alternativas de energia.

“Declaração de Joanes-burgo para o desenvolvi-mento sustentável”

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TEMA 4DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL E GESTÃO SUSTENTÁVEL

Economia local do desenvolvimento sustentável no contexto da globalização

Por ocasião do famoso relatório Nosso futuro comum, a Comissão Mundial sobre o meio ambiente lançou em 1987 o slogan “pensar globalmente, agir local-mente”, uma das mais importantes contribuições para definição do novo concei-to de desenvolvimento no século XXI.

Embora esta nova visão de desenvolvimento venha ganhando substância, se buscarmos as referências históricas desde a publicação do livro A primavera si-lenciosa, da bióloga Rachel Carson (1962), até a cúpula mundial sobre o desen-volvimento sustentável realizada em 2002 e consagrada como Rio+10, podemos dizer que os avanços socioambientais foram mínimos e houve, em alguns casos, retrocessos em termos de conquistas mundiais enunciadas desde a década de 1960, em que diversos movimentos sociais contestavam a conjuntura desenvol-vimentista e econômica desde o pós-guerra.

A primavera silenciosa não foi a primeira advertência pública a respeito do problema ambiental, mas foi uma obra que gerou indignação dada a maneira enfática com que denunciava impactos do tratamento agrícola baseados no abuso de adubação e pesticidas sobre o meio ambiente.

Desde os anos 60 manifestava-se uma insatisfação social com relação ao cres-cimento desordenado das cidades, exclusão social, autoritarismo político, amea-ça nuclear, desastres ambientais, entre outros problemas e isto teve importância fundamental para a definição dos rumos da crítica radical ao modelo de desen-volvimento não sustentável.

No entanto, mesmo reconhecida e ocupando espaços estratégicos em diver-sas convenções em nível internacional, nacional e local, a problemática ambien-tal, não conseguiu, ainda, ultrapassar a barreira da efetividade e barrar o ritmo com que se devastam os fatores fundamentais de equilíbrio entre os meios bió-ticos, abióticos e da cultura humana.

Na medida em que o movimento socioambientalista, foi se consolidando mun-dialmente, passou a existir no Brasil a construção de um movimento similar a partir da segunda metade dos anos 1980 (Santilli,2005).

O crescimento das vozes críticas ao progresso a qualquer custo, preconizado pelo regime militar, coincidiu com a consolidação e com a promulgação da nova Constituição em 1988.

O ambiente democrático conquistado pela sociedade civil brasileira foi de fundamental importância para que novas estratégias dos movimentos sociais passassem a considerar princípios ambientalistas.

Na Amazônia brasileira, por exemplo, houve articulação entre povos indígenas e populações tradicionais, e formaram-se alianças com movimentos nacionais e internacionais. A repercussão do assassinato de Chico Mendes, líder amazônico, militante sindical e fundador do Conselho Nacional dos Seringueiros, ajudou a impulsionar e a desenvolver a Aliança dos Povos da Floresta, um dos marcos fun-damentais do socioambientalismo.

A partir dessa experiência, o socioambientalismo regional e local na Amazônia passa a ter como pressuposto a idéia de que as políticas públicas ambientais só teriam eficácia e sustentabilidade política se incluíssem o interesse das comunidades locais e repartição social justa dos benefícios derivados da exploração dos recursos naturais.

Nesse sentido, os sujeitos coletivos locais passaram a serem vistos mundial-mente como indispensáveis para a eficácia de movimentos socioambientais

Das alianças locais com vistas a articulações internacionais, derivou-se a idéia de desenvolvimento regional sustentável e de arranjos produtivos locais.

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TEMA 4DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL E GESTÃO SUSTENTÁVEL

É bem verdade que iniciativas regionais de preocupação ambientalista já ti-nham sido iniciadas antes mesmo da Constituição de 1988, mas não gozaram do ambiente político democrático potencializador das articulações em âmbito internacional.

Vale destacar, no entanto, a importância que teve a iniciativa da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) liderada por José Lutzen-berger, ambientalista de fama internacional que apresentou denúncias contra os riscos para o meio ambiente e para a saúde humana decorrentes da utiliza-ção excessiva de agrotóxicos na agricultura. Tal iniciativa levou o governo do Rio Grande do Sul a promulgar a primeira Lei Estadual que regulamentava o uso de agrotóxicos. Nessa esteira, seguiu-se a aprovação de leis semelhantes nos Esta-dos de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, forçando a União a aprovar a lei nacio-nal de agrotóxicos, promulgada em 1989.

O principal marco na história do socioambientalismo brasileiro foi a Eco 92, a partir da qual foram articuladas em solo brasileiro iniciativas regionais e locais com o ambientalismo internacional, sob o respaldo da Organização das Nações Unidas. Diversos documentos internacionais assinados durante esta conferência são de fundamental importância para se entender essa articulação entre o local e o internacional.

Merecem destaque os princípios que nortearam a Conferência e se consolida-ram a partir da Eco-92:

a) Princípio do desenvolvimento sustentável: tal como já foi definido no Relatório Brundtland, explicita o direito intergeneracional, ou seja, o direito de intergerações ao meio ambiente ecologicamente equi-librado;

b) Princípio da precaução: a ausência de certeza científica não pode servir de pretexto para adiar a adoção de medidas que visam evitar danos ambientais;

c) Princípio do poluidor pagador: o poluidor deve, em princípio, assumir o custo da poluição que causa;

d) Princípio da participação social na gestão ambiental e do acesso à infor-mação ambiental;

e) Princípio da obrigatoriedade da intervenção estatal: atribui ao poder pú-blico a obrigação de defender o meio ambiente.

Relação entre globalização e a perspectiva de negócios vinculada ao Desen-volvimento Sustentável

Algumas conquistas do movimento socioambiental passaram a influenciar a nova perspectiva de desenvolvimento econômico e as relações locais e globais. Destacam-se alguns exemplos:

a) Biodiversidade

Resultado da Eco 92, de suma importância, foi a assinatura da convenção sobre diversidade biológica. Essa convenção reverteu a idéia de que os re-cursos naturais eram “patrimônio da humanidade”, e adotou o princípio da soberania dos Estados sobre os recursos biológicos e genéticos existentes em seus territórios. O Japão e os Estados Unidos não assinaram, até hoje, essa convenção, o que conflita com o direito nacional à biotecnologia, visto que tais países concentram as principais pesquisas em biotecnologia e, por-tanto, desejam livre acesso a tais recursos.

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Este conflito, articulado em âmbito internacional, concentra hoje, de um lado, paises como Brasil, México, China, Colômbia, Indonésia, Quênia, Peru, Venezuela, Equador, índia, Costa Rica e África do Sul, que, juntos, representam 70% da diver-sidade biológica do mundo e do outro lado aqueles países que não assinaram a convenção, por entenderem ter direitos sobre a biodiversidade e aos recursos genéticos existentes no mundo.

b) Descentralização e empoderamento local

Em que pesem as conquistas decorrentes da descentralização e o reconhe-cimento da importância dos municípios na configuração do arcabouço jurídico em defesa do meio ambiente, ainda estamos muito longe de uma articulação eficaz entre o local e o global, em prol de uma política de desenvolvimento sus-tentável. Isto se deve principalmente à existência de poucas normas legais que regulem a cooperação entre os três entes da federação brasileira: União, Estados e Municípios. Esse vácuo legislativo têm incapacitado os agentes locais na busca da diminuição do ritmo da atuação não sustentável.

Favorecendo a atuação dos agentes locais, a Lei Federal nº 6.938/81: lançou as bases da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), quando se criou o Siste-ma Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), órgão responsável pela articulação entre os três níveis de poder: Municipal, Estadual e Federal.

Observou-se, a partir daí, a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), órgão consultivo e deliberativo do SISNAMA, e como conseqüência, o aumento de participação dos municípios na definição das competências, uma vez que passaram a ter assento no conselho nacional.

Condição para exercerem suas competências licenciatórias, foi a implementa-ção dos Conselhos de Meio Ambiente nos Municípios, estes devem possuir cará-ter deliberativo e participação social, admitindo a contribuição de profissionais habilitados em seu quadro de servidores.

Outro aspecto que passou a reforçar ação municipal na defesa do meio am-biente, foi a recente Lei dos Crimes Ambientais, Lei Federal (n° 9.605/98) que dispôs sobre sanções penais e administrativas relativas a condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.

c) Estatuto das Cidades

A maior novidade no sentido de fortalecer o papel dos municípios em direção a um desenvolvimento sustentável, foi a Lei Federal n° 10.257/01, que estabelece as diretrizes gerais da política urbana e as normas de ordem pública e interesse social no uso da propriedade urbana em prol do bem-coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos tendo em vista o equilíbrio ambiental como princípio norteador dessas diretrizes.

A partir deste estatuto, o poder público e a população interessada passaram a ter, definidos em lei, os princípios: da garantia do direito às cidades sustentáveis; gestão democrática; planejamento de desenvolvimento das cidades; ordenação e controle do uso do solo; privilégio para investimentos geradores de bem-estar social; proteção do meio ambiente natural e do patrimônio cultural e das audiên-cias com o poder constituído local e a população interessada para implantação de empreendimentos impactantes (Littler,2003).

Com esse conjunto de instrumentos legais e diretrizes descentralizadas, as ini-ciativas locais para o desenvolvimento sustentável passaram a um novo patamar de luta pelo direito à cidade. O Brasil passou então a ficar em sintonia com as

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Resoluções da Assembléia Anual Habitat Internacional, realizada em 1993, nas Filipinas, com o título de Cidade e desenvolvimento sustentável.

O complexo urbano-industrial, típico do século XX, passou a ser o foco princi-pal na definição de estratégias e de políticas de desenvolvimento sustentável. No Brasil, esse tipo de estratégia tem um alto potencial de transformação, visto que convivemos, ao mesmo tempo, com os problemas típicos de países altamente industrializados e com problemas típicos de países pobres.

Não é difícil demonstrar que há hoje um processo de deterioração ambien-tal na maioria dos municípios brasileiros, principalmente dos recursos hídricos, do estrangulamento das estruturas das cidades, principalmente dos setores de saneamento, de habitação e de transporte. O maior exemplo disso é a região metropolitana de São Paulo. Com alto índice de industrialização, os índices de poluição no ar e na água são altos e agravam a cada dia, os problemas respira-tórios da população, mercê de uma infra-estrutura sanitária incompatível com o crescimento de uma cidade desse porte, mantendo-se assim problemas secula-res de saúde não resolvidos.

No caso do Brasil, há uma urgência na busca de alternativas que apontem para um desenvolvimento que garanta uma melhor qualidade de vida urbana.

É no município que o atual modelo de desenvolvimento não sustentável nu-tre suas raízes que se expandem em âmbito global.

O conceito de sociedade sustentável pode equacionar esse conjunto de pro-blemas que se manifestam sobretudo nas regiões metropolitanas brasileiras. Mas, para isso, é necessário que haja uma articulação dos poderes institucionais nas esferas municipal, estadual e federal, e principalmente a participação das organizações da sociedade civil, ocupando os espaços e ampliando o poder do conselho de representação das cidades.

Nunca o binômio local-global esteve tão em evidência quanto agora, a rela-ção e a amplitude do poder local, no que tange à sustentabilidade, só é possível e eficaz quando se tem em mente o fenômeno da globalização e suas díspares conseqüências sobre o homem e a natureza. Para que ocorra desenvolvimento com sustentabilidade das cidades, é preciso levar em consideração os princípios e as conquistas do movimento ambiental na criação de novos negócios no con-texto de globalização.

Segundo Ferreira (2003) na última década, a dinâmica da ordem mundial, chamada de globalização, intensificou os problemas sócio-ambientais na relação local-global. Isso ocorreu principalmente pelo efeito da ação política e econômi-ca das transnacionais, empresas que se deslocam nos seus fluxos de capital, ul-trapassando as barreiras legais e nacionais, fragilizando a idéia de Estado-Nação.

No entanto, a autora afirma também que durante os anos 1970 e 1980 os Es-tados Unidos e outros países altamente industrializados, adotaram dezenas de políticas ambientais e criaram novas instituições para desenvolver programa na áreas. Já na década de 1990 a agenda ambiental tomou rumos mais complexos. Complexidade que reside principalmente nas transformações mais significativas nos eixos da informática, que está revolucionando todas as áreas, em particular aquelas que lidam com o conhecimento e na biotecnologia, com potencial para nutrir as futuras transformações na agricultura, na indústria farmacêutica e em outros setores. As novas formas de energia, as telecomunicações e o desenvolvi-mento de novos materiais são também fatores importantes, uma vez que permi-tem novos avanços na eletrônica e assim por diante.

De tudo isso, é fundamental que se perceba, que o pólo mais dinâmico das relações econômicas, sociais e políticas se processa no ritmo do fluxo de capitais,

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que transcende a lógica dos Estados e das Nações.

Tais fluxos transnacionais não incorporam nem o direito nem os princípios da sustentabilidade. Todavia, estão se desenvolvendo de maneira altamente acele-rada. Um estudo feito na comunidade européia considera que nos últimos vinte anos, a produção de conhecimentos científicos dobrou em relação à totalidade de conhecimentos técnicos acumulados na história da humanidade (Ferreira, 2003:20).

Vivenciamos uma gigantesca renovação científica e isso deve ocupar uma po-sição central em nossas reflexões sobre a gestão econômica, social e ambiental. Se não reconhecermos o papel da plataforma material na lógica do desenvolvi-mento tradicional não teremos condições de compreender os impactos ambien-tais e não ambientais do futuro.

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ANOTE

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ANOTE

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TEMA 5TEMA 5

SUSTENTABILIDADE E NEGÓCIOS

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Neste tema, inicialmente, será mostrada a mudança no conceito de desen-volvimento sustentável, relacionando-o com as dimensões econômica, social e ambiental. Em seguida, serão discutidas estratégias para aliar práticas negociais à busca da sustentabilidade, demonstrando uma nova percepção para o modelo de desenvolvimento econômico.

Será abordada a expectativa de transformação social com a busca de incorpo-ração no mercado de consumo de uma nova clientela que vive na base da escala econômica e social, mas que tem mostrado grande potencial consumidor.

Por fim, será abordada a tendência de aliar estratégias negociais com a neces-sidade de desenvolvimento sustentável e como essa prática pode criar negócios e perspectivas futuras de desenvolvimento. O tema será finalizado com a analise de estratégias de desenvolvimento regional sustentável do Banco do Brasil.

Desse modo, na exposição do tema relaciona-se a questão da sustentabilida-de com os modelos de negócios apresentados pelas empresas. Discute-se como o padrão de crescimento econômico proporciona o direcionamento das deci-sões negociais até então. Chama-se a atenção para as novas orientações de orga-nização empresarial e social, baseadas na inter-relação da realidade econômica, social e ambiental.

Ao longo do texto, a atenção será dada à discussão do surgimento de novas estratégias empresariais voltadas para o compromisso com populações carentes e para o desenvolvimento de novos padrões de produção e consumo ligados ao conceito de sustentabilidade.

Demonstrar-se-á que a mudança de comportamento empresarial ocorre quando a sociedade começa a exercer no cenário mundial uma certa pressão por meio da sua organização e luta por seus direitos visando uma infra-estrutu-ra social pública capaz de atuar em benefício do bem comum e manter limpo o meio ambiente, conjuntamente com uma tomada de consciência do empresa-riado como co-responsável no processo de conservação ambiental.

Os objetivos deste tema são:

• Abordar as questões de concepções atuais sobre espaço e regionalismo, extrapolando-se os limites territoriais físicos para entendimentos que incluem as dimensões de tempo e espaços virtuais;

• Debater uma noção de desenvolvimento que leva em consideração o índice de desenvolvimento humano, inter-relacionando diversas nações;

• Analisar uma noção de sustentabilidade respeitando as dimensões sociais, ambientais, culturais, históricas, econômicas e políticas;

• Analisar a estratégia negocial voltada para o desenvolvimento regional sustentável, no caso do Banco do Brasil.

Sustentabilidade e responsabilidade socioambiental

O conceito de complexidade está relacionado com a capacidade de o ser hu-mano perceber inter-relações entre processos de diversos fenômenos. Esse pen-samento se constrói em função de relações, padrões e contextos, e desenvolve

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uma estrutura conceitual capaz de integrar as diversas dimensões da vida, entre elas a biológica, a cognitiva e a social.

Sendo assim, espera-se que as idéias referentes à educação ambiental possam ter um efeito multiplicador, influenciando o conjunto da sociedade nas mais va-riadas áreas de atuação, levando a uma mudança de comportamento fundamen-tal para que se alcance o tão importante desenvolvimento sustentável.

A partir desses conceitos percebe-se porque o modelo de crescimento eco-nômico que tem orientado decisões e ações da sociedade tradicional aponta inúmeras evidências de profunda crise.

A idéia de progresso não pode continuar a ser expressa pautada na des-truição de ambientes naturais, na enorme exclusão social, na extrema con-centração de renda e em outros dilemas socioculturais, já que as ações eco-nômicas estão relacionadas a todas as dimensões da sociedade.

Diversos setores sociais, entre eles as empresas, vêm se mobilizando para ven-cer o desafio de tornar realidade os princípios e práticas do desenvolvimento sustentável. Isto se dá por diversas formas, passando por empresas que tentam colocar os negócios a serviço da construção de uma sociedade melhor, enquan-to outras atuam como conseqüência de fatores externos que ameaçam a estabi-lidade empresarial e criam oportunidades de novos negócios. Surge a necessida-de de rediscutir os aspectos econômicos, sociais e ambientais do desempenho empresarial, além de priorizar os interesses de seus vários públicos.

Nas últimas décadas, a vida das empresas foi decisivamente afetada pelas questões ambientais. O comércio, tanto internacional quanto nacionalmente, de-frontou-se com o pesado requisito da exigência de um meio ambiente saudável.

Os valores ambientais evoluíram dos interesses periféricos ao centro das preocu-pações dos consumidores, principalmente entre os países ocidentais mais desenvol-vidos, provocando uma verdadeira revolução no marketing e no ciclo das produções.

A adoção de princípios e ações de gestão compatíveis com os ideais de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental têm se tornado o gran-de desafio para um número crescente de empresas. A gestão responsável de negócios é um dos fundamentos que se soma aos esforços da socieda-de civil e dos governos para viabilizar um modelo de desenvolvimento que leve em conta a qualidade de vida das pessoas:

“Negócios sustentáveis... indicam o potencial de uma nova abordagem para o desenvolvimento baseada na atuação do setor privado, capaz de gerar negócios lucrativos, melhorar a qualidade de vida dos mais carentes do mundo, respeitar a diversidade cultural e conservar a integridade ecológica do planeta. Oferecer esta contribuição social enquanto se cria valor para os acionistas, requer inovação e criatividade nas estratégias de negócio.” Stuart Hart e C.K. Prahalad, ( 2004).

Embora possa ser observada a adoção de práticas junto às comunidades do entorno das empresas, demonstrando certo avanço nesse sentido, há muito a ser feito sobretudo nas estratégias empresariais no quesito sustentabilidade. Ques-tões éticas têm sido motivo de constantes escândalos no mundo empresarial, mostrando a falta de consciência por parte do setor.

A sociedade, cada vez mais, vem se articulando e influenciando a comuni-dade empresarial para que direcione os negócios de acordo com princípios que sejam bons para todos. A ampliação da consciência social, em relação ao que se pode esperar das empresas, demonstra o forte crescimento da perspectiva da sustentabilidade e responsabilidade socioambiental junto à comunidade de negócios.

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Sérias mudanças terão que acontecer na gestão das empresas para lidar com as necessidades apresentadas pela sociedade, como também é esperada signifi-cativa mudança no modo de agir dos governos e dos padrões de consumo das populações.

Como grande parte da riqueza mundial é gerada e movimentada por insti-tuições financeiras, estas influenciam os resultados de atividades dos setores da economia, privilegiando empreendimentos ao redor do mundo.

Assim, os bancos, em razão das suas funções, estão em posição de grande in-fluência no dia-a-dia das empresas, comunidades, governos e até na vida das pessoas. Daí a importância do segmento financeiro da economia para o desen-volvimento sustentável por meio de iniciativas e ações que privilegiam a quali-dade de vida das pessoas.

Para formalizar o papel das instituições financeiras em práticas de sustentabi-lidade têm-se buscado diversas iniciativas. No início dos anos 1990 começaram as iniciativas financeiras do Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP), reu-nindo cerca de 270 bancos, seguradoras e instituições financeiras que se mobili-zaram para viabilizar uma estreita relação entre desempenho financeiro e meio ambiente.

Em 1995 foi lançado o Gerenciamento Sustentável de Ativos, que depois se uniria à Dow Jones e Company, para a criação do Índice de Sustentabilidade Dow Jones (DJSI); este indicador oferece uma avaliação de empresas considerando, além dos aspectos financeiros, a performance ambiental e social das empresas.

Em junho de 2003, foi lançado o documento Princípios do Equador que representa o compromisso dos bancos com um conjunto de políticas e di-retrizes socioambientais a serem utilizadas pelas instituições financeiras na análise de projetos de financiamentos acima de 50 milhões de dólares. As políticas e diretrizes têm como referência as salvaguardas adotadas pelo In-ternational Finance Corporation (IFC), ligado ao Banco Mundial., e partem do pressuposto de que grandes empreendimentos, potencialmente, podem causar grandes impactos ambientais e sociais, se não forem cuidadosamen-te estudados e planejados.

Os Princípios do Equador consideram questões como proteção a habitats na-turais e sítios arqueológicos, gerenciamento de pragas, segurança de barragens, reassentamento de populações, presença de populações indígenas, propriedade cultural, combate ao trabalho infantil, forçado ou escravo, projetos em águas in-ternacionais, saúde e segurança no trabalho.

O primeiro banco oficial brasileiro a integrar o grupo de instituições fi-nanceiras que aderiu aos Princípios do Equador foi o Banco do Brasil, em fevereiro de 2005.

Desenvolvimento sustentável como estratégia negocialA pirâmide econômica mundial é a divisão da população em camadas, de

acordo com o seu poder de compra e consumo. Assim dividida, encontram-se no topo, de 75 a 100 milhões de consumidores mais ricos. No meio, ficam as ca-madas 2 e 3, com os consumidores pobres das nações desenvolvidas e a classe média emergente dos países em desenvolvimento.Na quarta camada, ou base, ficam os quatro bilhões de pessoas miseráveis no mundo. Pode-se notar que a desigualdade vem aumentando a partir do ano de 1980 , pois, de acordo com as Nações Unidas, os 20% mais ricos do mundo passaram de 70% para 85% da renda total do mundo, e a renda correspondente aos 20% mais pobres caiu de 2,3% para 1,1%.

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Renda per capita anual em dólares* Camada População em milhões

Mais de $ 20.000 1 75 – 100$ 1.500 - $ 20.000 2 & 3 1.500 – 1750Menos de $ 1.500 4 4.000

A base da pirâmide sobrevive com renda inferior a 1,5 mil dólares por ano. No Brasil existem 140 milhões de pessoas no chamado mercado de baixa renda, correspondendo a 36% do consumo nacional.

Investimentos na base da pirâmide significam a retirada de bilhões de pes-soas da linha da miséria e do desespero, prevenindo o declínio das condições sociais, o caos político e a deterioração ambiental.

Este é o grande desafio do empresariado mundial: contribuir para que a população de baixa renda possa melhorar sua qualidade de vida, produzin-do produtos e serviços ecologicamente sustentáveis e economicamente ren-táveis, de acordo com as necessidades materiais e culturais da cada lugar.

Essa extrema desigualdade na distribuição das riquezas reforça a noção de que os pobres como maioria da população estejam fora da economia de mercado global. Esta realidade pode ser modificada se as empresas estiverem dispostas a alterar seu modelo de negócios, tornando a camada formada pelos mais pobres em um mercado rentável. A venda de produtos populares pode ser bastante alta. O uso do desenvolvimento comercial/econômico como ferramenta para tirar as pessoas da pobreza e dar a elas a chance de uma vida melhor é fator preponderan-te para assegurar a estabilidade e saúde da economia, reduzir os conflitos sociais e para dar continuidade ao sucesso das organizações. Veja o quadro a seguir:

Forças de inovação ImplicaçõesMaior acesso à TV e a informações en-tre pessoas de baixa renda

A camada 4 começa a tomar conheci-mento de produtos e serviços e com isso passa a buscar usufruir os seus be-nefícios

Diminuição do papel dos governos e do auxílio internacional

Maior atratividade para investimentos e maior cooperação das ONGs.

Excesso de capacidade e intensa com-petição nas camadas 1, 2 e 3.

A camada 4 representa um mercado praticamente intocado para o cresci-mento dos lucros

A necessidade de desestimular a mi-gração para os centros urbanos

As organizações devem criar produtos e serviços para as populações rurais7

Quando falamos de sustentabilidade, afirmamos a preocupação em obser-var as verdadeiras necessidades da população, transformando a produção e o consumo de bens voltados para as reais carências da população, para o bem de todos e saúde do planeta. Investir em produtos essenciais para os mais pobres é, sem dúvida, buscar o equilíbrio sustentável.

Esse desafio não é fácil. Como esse novo mercado é diferente dos padrões existentes, é necessário desenvolver uma estrutura comercial voltada para as ne-cessidades dessa população e criar uma infra-estrutura para esse mercado.

A capacidade de compra dessa camada pode ser provida pelo acesso ao cré-dito e aumento do potencial de ganho dos mais pobres.

Pirâmide Econômica MundialFonte: Baseado na paridade do poder de compra nos EUA. Fonte: U.N.World Reports).

Inovações e implicações para as organizações multinacionais na base da pirâmide mundialFonte: Hart, S. e Prahald, C.K. (2004).

Renda per capita anual em dólares* Camada População em milhões

Mais de $ 20.000 1 75 – 100$ 1.500 - $ 20.000 2 & 3 1.500 – 1750Menos de $ 1.500 4 4.000

7 Consideradas também as populações de pequenas comunidades urbano-rurais do interior.

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Iniciativas promovidas pela educação que colaborem para o acesso da cama-da 4 a produtos inovadores trarão transformações a todas as camadas da pirâ-mide, formando-se hábitos mais saudáveis e sustentáveis. Experiências com pro-dutos que não agridam o ecossistema são soluções que geralmente saem mais baratas e acessíveis, permitindo sua aquisição pelos mais pobres e questionando padrões poluidores ou devastadores existentes.

Percepção de Valor(Relação Preço-Performance)

Percepção de Qualidade

• Desenvolvimento de produtos• Produção• Distribuição

• Novos formatos de distribuição• Criação de produtos resistentes a con-

dições adversas (aquecimento, pó etc)

Sustentabilidade Rentabilidade

• Redução na intensidade de uso dos recursos

• Reciclagem• Energias renováveis

• Intensidade do investimento• Margens• Volume

Entretanto, as empresas não deverão atuar solitariamente. Deve haver um tra-balho conjunto envolvendo governo, ONGs, comunidade, instituições financei-ras e outras organizações. Assim, será mais fácil encontrar a fórmula do sucesso, criando poder de compra, atendendo aspirações, ampliando o acesso e cons-truindo soluções locais.

As informações apresentadas neste capítulo fomentam a discussão e ne-cessidade de repensar o modelo de desenvolvimento existente que já não responde mais aos anseios da sociedade do século XXI. O que antes era colo-cado em segundo plano, como as questões relativas ao meio ambiente e as condições de vida da parcela mais pobre da população, torna-se agora o eixo central das discussões. A falta de suprimento das reais necessidades huma-nas pelo atual modelo econômico e a ameaça do colapso total do planeta faz rever os anseios de antigos sonhadores que pensaram na possibilidade de um mundo mais justo e igualitário.

Talvez seja uma utopia pensar na igualdade entre os seres humanos, mas igno-rar as suas reais necessidades não é mais uma simples estratégia econômica. Essa parte da população deve ser incorporada ao processo de consumo de bens e à procura da sustentabilidade pelo bem real de todos no planeta. As estratégias de globalização e exclusão devem ser revistas pelas organizações multinacionais no sentido de adotar uma nova ótica para um capitalismo, que deve ser inclusivo.

Viu-se nas negociações na base da pirâmide que a grande promessa do mercado não está no pequeno número de ricos nos países desenvolvidos, mas nos bilhões de pessoas que anseiam por iniciar sua participação na eco-nomia de mercado.

A estratégia é aliar as necessidades do mundo contemporâneo e seus desa-fios de busca do desenvolvimento sustentável com estratégias negociais.

Não se pode falar em desenvolvimento, mesmo que não fosse sustentável, em uma realidade de bilhões de miseráveis. Não há economia, relação social ou natureza que resista. Essas necessidades abrem caminho depois para a busca da qualidade de vida como um modelo econômico estruturado no desenvolvi-

Novas estratégias para a base da pirâmide mundialFonte: Hart, S. e Prahald,C.K.(2004)

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mento sustentável, o que cria oportunidades num mundo saturado pela mesma lógica de produtos e consumo.

Padrões de consumos desenfreados, que deixam suas marcas de degradação pelo mundo, não podem ser mais tolerados. Deve-se desenvolver um novo mo-delo que revise a mera relação produção-consumo.

Os retornos para quem estiver disposto a investir em negó-cios sustentáveis incluem crescimento, lucratividade e contri-buições inestimáveis à humanidade. Muitas empresas já tra-balham nesta linha e nada têm a reclamar das suas finanças.

O trabalho de repensar modelos e novas tecnologias é desafiante. Exemplo disso é o uso da energia solar. Por ser uma tecnologia inovadora, contraria a lógica do atual modelo de energia dependente de petróleo nos países centrais. Por isso, investir na tecnologia da energia solar para satisfazer as necessidades dessa clientela pode ser um negócio novo e lucrativo, econômico do ponto de vis-ta do consumidor e principalmente sustentável.

Mostrando a lógica do modelo político-econômico de sustentabilidade, Hart (2005) desenha dois eixos. No horizontal à direita, características externas das empresas e à esquerda, as internas. No vertical, o tempo, sendo abaixo o hoje e acima o futuro.

Analisando o quadro acima, podemos pensar esse novo modelo tendo como bases: a ecologia, ao lançar e implementar a possibilidade de processos limpos e eficientes; a transparência, como forma de apurar o processo de gerenciamento corporativo nas empresas; tecnologias limpas, desenvolvendo produtos que não causem danos ao planeta usando a biotecnologia (entre outras) e sustentabilida-de e visão, tendo a inclusão social como um foro da sustentabilidade do planeta.

Alianças estratégicas: Estado, empresas e sociedade civil

Observando as diversas estratégias empresariais com compromisso pela bus-ca de uma realidade mundial sustentada ambientalmente, percebe-se a impos-sibilidade de atuação solitária. É preciso um esforço coletivo envolvendo os três níveis de governo: federal, estadual e municipal, as empresas e a sociedade civil nesta luta. Até porque todos são agentes e, ao mesmo tempo, beneficiários dos ganhos com uma mudança de padrão econômico.

Estando o desenvolvimento humano sustentável ligado às áreas da educa-ção, saúde, habitação, trabalho, direitos e liberdades, é fundamental que alianças sejam criadas para atingir esses fins. A organização, a participação e a atuação dos diversos setores são imprescindíveis, estabelecendo-se os papéis de cada um sem se limitar a buscar uma hierarquia entre os envolvidos.

Como os desafios são muitos, destaca-se fortemente o papel do Estado como articulador e propulsor dos projetos. O papel do mercado ou do capital empre-sarial deve ser ampliado, criando maiores condições para investimentos privados nos serviços essenciais, reforçando e articulando com as esferas do governo. O potencial da sociedade civil organizada destaca-se fortemente nas ações básicas de promoção e efetivação dos projetos.

Tomando como base o desafio educacional, a prioridade na elevação do capital humano, como proposta de grande destaque, impõe a ação do con-junto da sociedade complementando o papel do Estado. A sociedade civil tem como campo privilegiado de atuação as ações de erradicação do anal-

Figura 2 - Esquema do FuturoFonte: Hart, S. (2005)

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TEMA 6INSTRUMENTOS FINANCEIROS,

SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO

fabetismo de jovens e adultos, a complementação escolar e a capacitação de formadores e agentes. Ao setor empresarial caberá criar estímulos e con-tribuições tributárias favoráveis para o aporte de recursos.

Na nova relação estabelecida entre sociedade organizada, governo e empresas, observa-se em destaque o papel empresarial, já que historicamente esse setor se mostrou avesso às questões ambientais gerais. Mostrando ter um grande poten-cial poluidor, possui como característica específica ditar regras ao mercado de con-sumo apresentando produtos sem compromissos com o equilíbrio ambiental.

A educação ambiental tem atuado no sentido de promover empresas com baixo potencial poluidor e forte compromisso socioambiental. Esta já tem sido a grande propaganda de algumas empresas que contam com o forte apoio social.

Não é novidade que problemas socioambientais, como a pobreza, urbaniza-ção descontrolada, consumo e desperdício de energia, perda do solo agricultável, práticas agrícolas inadequadas, substâncias tóxicas perigosas, ineficiente gestão de recursos hídricos, mineração e garimpo predatórios, processos industriais po-luentes e a poluição do ar são problemas muito preocupantes que têm relação direta com o modo de produção adotado em uma região.

A mudança de perfil, que vai além da responsabilidade social, prevê o cresci-mento do potencial empresarial, detém grandes transformações favoráveis ao meio ambiente e cria oportunidade de negócios.

Os investimentos empresariais devem ir além do padrão negocial, garantindo benefícios para a sociedade como um todo. Exemplos podem ser tomados como investimentos nos processos de reciclagem e limpeza, engenharia de tecnolo-gias limpas e indústrias de medição e controle.

As iniciativas baseadas no tripé: Estado, empresas e sociedade civil organiza-da podem ir de questões mais gerais como educação formal para todos, até à

preocupação com o processo produtivo onde os investimentos que buscam a sustentabilidade vão da produção de materiais que não agridam o ecossistema até ao ecoturismo.

É importante ressaltar como a união dos três setores atua efetiva-mente no processo de educação ambiental, diminuindo o número dos

analfabetos ambientais, criando uma nova escala de valores voltados para a dignidade da vida humana.

O mercado financeiro viu-se invadido por um novo tipo de investimento, o socialmente responsável. Uma alterna-tiva de aplicação que leva em consideração aspectos so-ciais e ambientais no processo de tomada de decisão.

Do objetivo inicial de investidores em não arriscar os saldos de suas empresas em ações que apresentem

riscos futuros, como o de ter sua imagem manchada por problemas ambientais, partiu-se para investimentos que ganham uma nova “roupagem”, como a pro-messa de transformar a cidadania numa aplicação rentável. Um número cada vez maior de investidores está aderindo com empolgação aos fundos éticos ou socialmente responsáveis.

A fórmula é simples: o investidor quer equilibrar suas expectativas financeiras com o impacto dos investimentos nos meios sociais e ambientais, promovendo suas transformações.

O gigante mercado financeiro dos Estados Unidos já apresenta grande onda de investimentos com critérios sociais e ambientais8, mostrando uma tendência 8 São 230 fundos múltiplos nos EUA que utilizam algumas das chamadas peneiras, cuja função é identificar nas corpora-

ções com ações negociadas alguma característica não desejável nos aspectos ambientais ou sociais.

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de crescimento acentuado no mercado acionário, ultrapassando o crescimento do mercado tradicional.

Os fundos éticos, como também são chamados estes tipos de investimen-to, começam a construir uma nova realidade econômica, social e ambiental. Eles identificam as corporações com as ações negociadas e suas caracterís-ticas não-desejadas nos aspectos social e ambiental e fazem uma espécie de peneira, onde serão privilegiadas apenas as empresas que tenham o perfil de compromisso desejado.

Empresa desajustada com esse padrão pode até ser selecionada, mas tem que se comprometer a adaptar-se ao novo modelo. Isso aconteceu em 2005 com a Coca-Cola, que teve que usar 10% da pet reciclada em todo mundo, como embalagem.

No Brasil podemos observar o exemplo da BOVESPA que criou em dezem-bro de 2005 o Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores de São Paulo (ISE/Bovespa). Esse índice foi criado para se tornar marca de referência para o investimento socialmente responsável e indutor de boas práticas no meio empresarial brasileiro, refletindo o retorno de uma carteira composta por ações de empresas com os melhores desempenhos em todas as dimensões que medem sustentabilidade empresarial. O desenvolvimento econômico do país está intimamente relacionado com o bem-estar da socie-dade brasileira, segundo a Bovespa.9

Toda empresa tem que se preocupar com a imagem que passa para a so-ciedade, buscando reconhecimento como organização sólida e confiável, e avaliando o grande poder que tem sobre as pessoas, comunidades e nações. Poder esse que leva a uma grande responsabilidade não mais fundada ape-nas em eficiência econômica.

Anteriormente, as empresas justificavam seu modelo de crescimento econô-mico com a idéia de progresso para a comunidade onde se encontravam. Entre-tanto, observa-se que mantinham pouca relação com as verdadeiras necessida-des locais ou regionais. Por isso, o modelo empresarial desvinculado dos interes-ses sociais entra em crise.

A necessidade de envolvimento com um equilíbrio social e ambiental são fun-damentais. Em face disso, aumentaram os pilares de sustentação negocial que, além da eficiência econômica, têm que se comprometer com a equidade social, respeito ao meio ambiente e à cultura regional.

O poder da empresa deve ser usado para contribuir na solução dos pro-blemas socioambientais que aumentaram sensivelmente no último século, e estar atento à lógica do crescimento sustentado como padrão de funcio-namento. Ou seja, proteger o meio ambiente, contribuir para a inclusão social e respeitar a cultura local. Isso significa produzir mais com menos, reduzindo as pressões sobre o meio ambiente, estabelecendo relações de valorização dos tra-balhadores, clientes e fornecedores.

O modelo de gestão, os métodos de produção e os próprios produtos de-senvolvidos devem seguir o modelo da sustentabilidade sem comprometer os rendimentos da empresa.

Aliada aos critérios socioambientais das empresas cresce a consciência dos con-sumidores que demonstram grande preocupação com tais questões e declaram preferência por produtos com essas características. Alimentos, bebidas, produtos de limpeza, de saúde e de beleza são lançados freqüentemente com selos sociais e ambientalmente saudáveis, sendo cada vez mais procurados pelos consumidores. 9 O ISE conta com cerca de 40 ações de 28 empresas, selecionadas pela Bovespa com metodologia da Fundação Getúlio Var-

gas e apoio financeiro do International Finance Corporation (IFC). As companhias representam 12 setores da economia.

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Destacam-se também os investimentos nas áreas de reciclagem, limpeza e engenharia de tecnologias limpas. Tudo isso traz vantagens mercadológicas com recompensas profissionais e pessoais, unindo a contribuição para a limpeza am-biental à qualidade de vida das comunidades.

Nosso país tem se colocado na vanguarda das discussões internacionais sobre os novos modelos de desenvolvimento, mesmo que ainda tenha que avançar muito para atingir as metas propostas para a sustentabilidade. Desse modo, ob-servam-se iniciativas governamentais voltadas para o desenvolvimento econô-mico sustentável.

Estratégias Corporativas do Desenvolvimento Regional Sustentável

Segundo a teoria social crítica, só nos tornamos sujeitos da história, isto é, ca-pazes de tomarmos as rédeas da condição de homens e mulheres livres, quando nos reconhecemos assumindo atitudes políticas, socioeconômicas e culturais. Com senso crítico, ao fazermos isto, nos tornamos capazes de enfrentar qualquer tentativa que vise nos colocar na posição de objeto e não de sujeito da história.

Esta perspectiva é defendida por diversos autores, como Gramsci, Freire, Ka-pra e Souza Santos. Para eles, toda a pessoa possui, em algum grau, consciência da realidade em que vive, podendo torná-la cada vez mais crítica na medida em que interage dialogicamente com outras pessoas e instituições de seu meio e, depois, para além dele. Por outro lado, consideram também a existência de diver-sos fatores reificados e enraizados na cultura que são alienantes, representantes de poderes cristalizados que coisificam e robotizam o homem.

O processo de tornar-se cidadão ativo, possuidor de direitos e deveres, não é fácil. Exige grande investimento social, mental e econômico para romper com a inércia da falta de crença de que é possível e, paulatinamente, transformar o homem alienado – de seu pensamento e de suas ferramentas de trabalho, como Chaplin brilhantemente ilustrou em seu filme “Tempos Modernos” – em homem capaz de ler, escrever e reconstruir seu mundo, como nos ensina Freire (2001).

No entanto, apesar das imensas barreiras socialmente construídas e que impe-dem melhor distribuição de renda e oportunidades, estes autores têm apresen-tado diversas alternativas sociais de superação de dificuldades locais, regionais e globais. Pautam-se, como ponto de partida, no mais simples, fácil e de abrangên-cia local, trabalhando-se a partir das potencialidades naturais de cada localidade, focando-se objetivos coletivamente construídos e atentando-se para o diagnós-tico e superação de necessidades e dificuldades locais, sobretudo econômicas.

Na busca de uma construção social e coletiva de soluções locais para as ne-cessidades sociais, políticas, ambientais e econômicas de cada região, diversas ferramentas administrativas têm sido adaptadas para o ciclo de diagnóstico, pla-nejamento, execução, avaliação, correção dos pontos falhos no contexto especí-fico e potencialização dos acertos. Isto permite um referencial mais seguro para a decisão do quê, do quanto, do como e do onde investir.

Para ilustrar, o vídeo “Brasil Alternativo”, produzido pelo Instituto Ecoar para a Cidadania em parceria com a TV Cultura, é exemplo de instrumento que traz di-versos casos de movimentos de organização comunitária que partiram de con-

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textos amplamente desfavoráveis, como no semi-árido nordestino, em que o tripé - seca, coronelismo e pobreza - inviabilizava quaisquer tentativas individuais e / ou isoladas de reversão do quadro de êxodo rural, degradação ambiental, econô-mica e social. Demonstrou-se que a partir da sensibilização da comunidade para o enfrentamento organizado e coletivo de problemas regionais é possível não só a superação dos mesmos, mas também a busca de novos horizontes e desafios.

Saindo de uma realidade infértil e desesperançosa no passado, essas pessoas ou comunidades contam hoje com diversos sistemas produtivos locais engaja-dos em políticas de recuperação social através do financiamento de atividades econômicas planejadas com vista à sustentabilidade e ao fortalecimento local. Já existem atualmente diversas indústrias que exportam seus produtos. Quase não é possível acreditar nesta configuração atual quando nos defrontamos com a antiga configuração social, mas que ainda perdura em várias outras localidades do semi-árido, como a falta de planejamento dos negócios e de propriedades, falta de engajamento e participação social comunitária, compra de votos, falta de água, etc.

Este quadro é de suma importância no que diz respeito à veiculação de expe-riências e métodos “que deram certo”. Isto contribui para o fortalecimento de um pensamento coletivo “ possível” em substituição ao do “nada dá certo”. Como nos assegura Santos (2004), tais iniciativas servem de respaldo emocional e devem ser utilizados estrategicamente como modelo de processo e não apenas como receitas a serem repetidas.

Neste sentido, no mesmo vídeo supracitado, apresenta-se um processo de planejamento estratégico de pequenas propriedades rurais para o enfrentamen-to da seca, partindo-se da adaptação de instrumentos típicos da administração empresarial, de forma que mesmo a população analfabeta pudesse reorganizar suas propriedades tanto no aspecto interno do que e de como produzir, quanto voltada para a formação de redes locais para a sustentabilidade. Tomando este ponto de partida, há cooperativas e associações produtivas locais hoje que não só alfabetizaram seus conveniados, mas se organizaram em cadeias produtivas que extrapolam em muito sua região de origem.

Conceitos advindos da educação ambiental, como sustentabilidade, empo-deramento local, construções de Agendas 21, quando fortalecidos por estes instrumentos típicos da administração, da economia e contabilidade, como, por exemplo, o já citado planejamento estratégico, planos de melhorias contínuas, elaboração de cronogramas de execução, metas e fases, previsão de ganhos e custos, inclusive os sociais e ambientais, catalisam o atingimento dos almejados objetivos de desenvolvimento de associações produtivas locais que levem em consideração a sua manutenção no espaço–tempo, a revitalização da cultura e a proteção do ambiente em que se vive.

Fundamentos estratégicos para o Desenvolvimento Regional Sustentável

Concepção de Região. Um fundamento que toca a raiz do gerenciamento es-tratégico do desenvolvimento regional sustentável diz respeito a uma concep-ção do que se quer dizer com o termo “regional”. O vocábulo, mais do que uma referência a uma delimitação geográfica espacial, situa a experiência humana no espaço-tempo, dimensões cada vez mais intrínsecas, principalmente pela ques-tão da preservação do meio ambiente para as gerações atuais e as do futuro e pelo grande potencial destrutivo adquirido junto à revolução tecnológica.

Concepções atuais de diversas disciplinas científicas, tais como a filosofia, ci-ência política, geografia, sociologia e psicologia, entre outras, agregam ao con-

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ceito de localidade algo para além da concepção vigente até meados do século XX em que uma região era circunscrita apenas pelo espaço geográfico e natural de determinada área. O advento da informática e a criação de ambientes virtu-ais ampliaram consideravelmente o conceito de “região” aproximando-o mais à idéia de um locus ou nicho, definido por diversas características e estabelecido como um lugar em relação a outros lugares, considerando-se fatores locais que contribuem e se relacionam com fatores de diversos outros locais para a compo-sição de um todo.

Esta modificação no entendimento do que seja “regional” foi impulsionada por descobertas e inovações da física quântica, que inter-relaciona acontecimen-tos locais compondo um microssistema completo em si ao mesmo tempo em que é parte de um sistema maior, que será outro sistema completo em si e parte de outro sistema maior, .

Esta concepção se encontra claramente nas produções de Fritjof Kapra e dão sustentação para a recomendação do “Agir Local, Pensar Global”.

Na atualidade, tanto rompemos a barreira sócio-espacial, deslocando-nos num novo território informacional, a partir do desenvolvimento da tecnologia da informação e das telecomunicações, quanto rompemos os limites administra-tivos focados na produção pautados pelo desenvolvimento de instrumentos e de processos produtivos, extrapolando limites seguros de consumo de produtos industrializados em algumas áreas, em contraposição à total falta de perspec-tivas futuras e de qualidade, em outras regiões. Resultam da mesma matriz de pensamento, elevado à escala global, processos ambíguos e contraditórios que coexistem mutuamente.

Novos processos e meios informacionais e produtivos avançados foram apli-cados, por exemplo, na superprodução de grãos, hoje suficiente para não mais haver fome no mundo, sendo os mesmos processos aplicados paralelamente, também, na destinação desses grãos para ração animal, paradoxalmente con-tribuindo para a manutenção da fome no mundo.

As redes informacionais que nos tornam interdependentes em trocas e va-lores imateriais, tanto nos abrem possibilidades quanto passam a ditar novas regras de produção e consumo. Dependendo da estratégia adotada, ou nos tornaremos sujeitos-rede ou objetos-rede, ou seja, teremos papel ativo e agire-mos como sujeitos da história ou ocuparemos o lugar de objeto.

Tanto poderemos fazer revelar os fundamentos emergentes da manipulação como da libertação. Isso nos coloca na oportunidade histórica de nos posicio-narmos em relação ao futuro que não está previamente determinado, mas nos interpela como uma porta semi-aberta pela qual podemos optar pelo novo contido numa auto-crítica sincera dos modos e meios de existência global ou em insistirmos no velho modelo, reproduzindo-o e potencializado-o mascara-do no novo.

Desenvolvimento. O segundo fundamento a ser observado e sobre o qual assenta qualquer estratégia corporativa em desenvolvimento regional sus-tentável está subentendido na noção de desenvolvimento. Até à década de 70, o parâmetro mundial utilizado como medida de desenvolvimento de uma nação foi preponderantemente o critério econômico, representado pelo Produto Interno Bruto. Este critério nos envolveu em nomenclaturas hoje não mais utilizadas, mas que estão entranhadas em nossa cultura e influenciam nossa forma de relacionamento com outras nações. O rótulo de “nação sub-desenvolvida”, hoje substituído pelo de “nação em desenvolvi-mento” serviu e serve para comparações tendenciosas entre povos e suas re-

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lações econômicas. À sombra desse rótulo, os produtos, serviços, pensamento e cultura das nações sub-desenvolvidas eram desvalorizados, em contraste com a valorização e supervalorização dos produtos e da cultura das nações “desenvolvidas”, que se apresentavam, até então, como modelo a ser seguido, mas nunca alcançado.

Esta lógica, que influenciou na determinação desigual de preços entre produtos de uma ou de outra nação, está sendo posta em cheque com a ajuda da atual valorização do conceito de diversidade. Nesta perspectiva, o diferente é visto como algo necessário e que soma, ao invés de indesejável e gerador de conflitos. Elementos culturais de nações “em desenvolvimen-to” têm sido vistos como alternativa ao modelo econômico de países ricos, pautados na produção industrializada, a qualquer custo, não obstante, mo-tivador de guerras tais como as vivenciadas contemporaneamente no Mé-dio Oriente.

Diante deste panorama mundial, o indexador de desenvolvimento de uma na-ção utilizado pela ONU não é mais medido pela riqueza econômica. Este critério foi substituído pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que leva em con-sideração fatores relacionados com a qualidade de vida e com o uso dos recursos naturais. Considera-se, por exemplo, “em desenvolvimento” uma nação muito rica em recursos enérgicos, mas que concentra as rendas e benefícios destes recursos em pequena parcela da população, fazendo coexistir populações amplamente abastadas com populações amplamente miseráveis. Percebeu-se que este tipo de distribuição de renda leva, sempre e impreterivelmente, a relações sociais vio-lentas que afetam, por exemplo, a liberdade de ir e vir, a segurança pública e a condição de usufruir os bens conquistados.

Utilizando-se da noção de complexidade, em que um sistema fechado em si é, ao mesmo tempo, um sub-sistema de um sistema maior, como comparativo de relações de exploração verificado intra-nações e inter-nações, mantendo-se a lógica aplicada à avaliação dos países, leva-se ao entendimento, de que o mundo, impulsionado pela lógica “produção-consumo” está “sub-desenvolvido”, ou me-lhor, “em desenvolvimento”.

Sustentabilidade. A terceira impostação crítica ao imaginário desenvolvimen-tista e consumista diz respeito ao conceito de sustentabilidade como imperativo que acrescenta à dimensão social a idéia de sustentabilidade ambiental. Segun-do Sachs, “nos compete trabalhar com escalas múltiplas de tempo e espaço”, uma vez que o exagero e o abuso das sociedades do presente certamente afetarão negativamente as condições de sobrevivência das sociedades do futuro.

Sachs sugere que se pense em novos modelos de sustentabilidade levan-do-se em consideração 5 pilares fundamentais:

1 – Social: deve-se levar em consideração para a construção de novas polí-ticas sócio-desenvolvimentistas a perspectiva atual de ruptura social, que paira de forma ameaçadora sobre diversas regiões do planeta;

2 – Ambiental: devem-se levar em conta duas dimensões: a de prove-dora de recursos e a de recebedora, para a disposição de resíduos;

3 – Territorial: deve-se relacionar a distribuição de riquezas e recur-sos entre diversas populações e ramos de atividades;

4 – Econômico: deve-se pensar a viabilidade econômica como condi-ção sine qua non para que as coisas aconteçam;

5 – Político: deve-se visar a manutenção da governança democrática e das liberdades individuais.

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Princípios e Categorias-chave da estratégia para Desenvolvimento Regional Sustentável.

Definidos os paradigmas de mobilidade sócio-espacial e de desenvolvimento includente, sustentável e sustentado, a operacionalização estratégica do DRS, ne-cessita da utilização de algumas categorias-chave. São estas categorias que tornam eficazes as estratégias empresariais socioambientalmente responsáveis. Algumas dessas ferramentas conceituais são imprescindíveis, sem as quais, qualquer estra-tégia para DRS pode tornar-se discurso sem efetividade prática e conseqüente.

Vamos a elas:

Gerenciamento de crise

Epistemologicamente, crise quer dizer mudança. A primeira categoria é a que Sachs (2004) chama de gerenciamento de crises, ou seja, gerenciamento de mu-danças. Para esse autor, antes de tudo, uma estratégia local para desenvolvimen-to regional sustentável é composta por uma atitude pró-ativa de mudança ime-diata do paradigma de crescimento. Isto supõe a reversão da antiga mentalidade gerencial de desenvolvimento pautado na noção de financiamento pelo influxo de recursos externos e na acumulação de dívida externa. Na gerência de crises é necessário ter a coragem de reverter essa tradição optando pelo crescimento baseado na mobilização e na eficaz utilização dos recursos e das potencialidades internas. Para tanto é necessário que estratégias de negociação se engajem no projeto de nação que leve à frente o crescimento induzido pelo emprego. Segun-do Sachs (2004 p.17) isso será possível se a estratégia for composta por:

a) Fortalecimento dos poderes locais através do planejamento coletivo organiza-do, identificando-se tanto os gargalos quanto os recursos ociosos;

b) Estimulação e mobilização de recursos e iniciativas locais;

c) Reabilitação do sistema financeiro nacional, visando atender as necessidades das empresas e o financiamento de obras de interesse público e valorização de outras modalidades de trocas baseadas na quase-moeda e na promoção do escambo;

d) Modernização tributária, readequando o modelo fiscal que tende a favorecer o grande consumidor de recursos naturais e a poluição em grande escala. Im-postos progressivos para quem polui e incentivos fiscais para quem é socio-ambientalmente responsável são exemplos de aplicação de uma estratégia baseada na categoria de gerência de crise;

e) Potencialização das oportunidades de crescimento induzidas pela criação de empregos e com baixo índice de importações;

f) Modernização e uso da agricultura familiar como projeto de desenvolvimento rural, favorecendo a pluralidade da população do campo capacitada para lidar com a exploração da biomassa (biodiversidade-biomassa-biotecnologia);

g) Estimulação de ações afirmativas e do empreendedorismo, favorecendo traba-lhadores autônomos e microempresários a tornarem-se formais. Demonstrar por atitude solidária e educativa, mais do que por coerção violenta do Estado, que a situação de informalidade é um péssimo negócio para eles, para o mer-cado e para a nação;

h) Favorecimento de conexões mutuamente benéficas entre grandes e peque-nas empresas;

i) Favorecimento e incentivo aos pequenos negócios territorializados, consti-tuindo-se cadeias produtivas empresariais locais como um ato político de in-centivo ao desenvolvimento regional sustentável;

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j) Promoção da ocupação de um espaço ético-político competitivo pelas gran-des empresas na cadeia produtiva nacional, visando a ocupação responsável também em escala global.

Além da utilização dos princípios do gerenciamento de crises que visam a supe-ração do atual paradigma empresarial de competição local, com a conseqüente des-truição das atividades produtivas menores e o englobamento destas pelas corpora-ções maiores, preconiza-se a formação de cadeias produtivas que visam o suporte empresarial e para o desenvolvimento sustentável de diversos negócios em todas regiões, principalmente as historicamente menos favorecidas. No Brasil, são os casos das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Desta forma, acredita-se, haverá maior participação, autonomia e desenvolvimento sustentável destes locais, utilizando-se o saber local no combate aos problemas sociais e fortalecendo-se com novos parcei-ros comerciais.

Organicidade territorial

Há pouco dissemos que uma revolução tecnológica redimensiona a experiên-cia humana comprimindo o tempo e socializando o espaço sob o impacto intera-tivo das relações sociais a distância e das novas tecnologias de informação e co-municação – NTICs. Por outro lado, esse processo também reafirma a importância do território material, que ganhou novos contornos e dimensionamentos, incluin-do-se a noção de coesão orgânica à ação empresarial no território material.

Uma interessante ferramenta para o planejamento e concretização de planos de desenvolvimento regional sustentável é o método de geoprocessamento, que tem sido utilizado, mesmo nas ciências sociais, para avaliar a localização e organização social da população. Impor-tante contribuição para os estudos de economia regional, tem oferecido esta ferramenta, através da qual se pode mapear e avaliar, por exemplo, a distribuição de atividades econômicas no território. Esses dados são utilizados na construção de indicadores de concentração e para testes de hipóteses referentes aos padrões de aglomeração só-cio-econômicas, e, em particular, na atividade industrial.

Um recente trabalho de Edson P. Domingues e Ricardo Machado Ruiz (2006) utilizou essas ferramentas na apre-ciação da organização territorial da indústria brasileira e concluiu que há uma visível concentração de empresas com mais de 30 empregados no Sul, no Sudeste e na fai-xa litorânea, enquanto vazios e ilhas industriais ocupam as porções Centro - Oeste, Norte e Nordeste (fig 9)

Segundo esses estudos, o caso brasileiro é típico. Houve um aumento da par-ticipação do setor de serviços, mas a atividade industrial ainda representa o ele-mento-chave do dinamismo econômico nacional e regional, ocupando, porém, uma área não homogênea.

Foram identificadas 15 aglomerações industriais espaciais formadas por ape-nas 254 municípios (4,61% do total) e sua distribuição geográfica é restrita a al-gumas áreas metropolitanas e pólos industriais especializados de médio porte, quase todos concentrados no Sul e Sudeste.

As 15 aglomerações concentram 75% do produto industrial do país e a qua-se totalidade do produto das firmas inovadoras, exportadoras e intensivas em escala.As aglomerações industriais locais e enclaves industriais que, por sua vez, são conjuntos de municípios com atividade industrial significativa, mas de me-

Figura 3 - Concentração da disposição empresarial no território brasileiroFonte: Domingues e Ruiz, 2006

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nor escala e com alguma conexão econômica com municípios vizinhos, possuem menor participação no produto industrial (6%).

A grande maioria desses enclaves possui poucas condições materiais, de acu-mulação de capital e renda nacional para promoverem uma maior integração produtiva regional. O meio técnico-científico do seu entorno é inapropriado à dispersão industrial e suas economias locais são de pequena escala.

Uma estratégia corporativa em desenvolvimento regional sustentável não pode prescindir de uma perspectiva de organicidade territorial, observando:

1) Adoção de política pública de estímulo à descentralização dos investimentos;

2) Busca de reversão das tendências de exploração de recursos naturais do solo e subsolo;

3) Surgimento e desenvolvimento de novas centralidades urbanas regio-nais capazes de atrair as forças produtivas;

4) Reversão da metropolização de algumas cidades, especialmente fo-cando-se a dispersão das indústrias por todo território (Domingues e Ruiz, 2006 p.42).

Participação

Categoria-chave para o pleno exercício da estratégia negocial comprome-tida com o desenvolvimento regional sustentável. Sem adentrarmos muito na tradição sociológica que estuda os fundamentos da participação, pode-se re-sumir, concordando com Bandeira (1999), a defesa da importância da participa-ção em processos estratégicos na intervenção socioambiental em pelo menos cinco argumentos:

Um primeiro argumento focaliza o reconhecimento de que é na sociedade civil que se encontra a fonte da articulação dos atores sociais capazes de serem mobilizados para o desenvolvimento, seja em escala nacional, regional ou local.

Esse argumento destaca a necessidade da consulta aos segmentos da comu-nidade diretamente afetados, quando da concepção, elaboração, implementa-ção e avaliação das estratégias negociais de modo a assegurar sua eficiência e sustentabilidade.

Um segundo argumento, mais abrangente, é o que registra a importância da vitalidade de uma sociedade civil atuante na vida pública para a boa governança e para o desenvolvimento participativo. “Uma das conexões desse argumento é a implicação de que a participação da sociedade civil é importante para assegurar a transparência das ações e para permitir o combate eficiente à corrupção no setor público” (Bandeira, 1999 p.14).

O terceiro argumento vincula a participação à acumulação de capital social. Segundo o autor, estudos recentes apontam que o capital social composto pelo conjunto de fatores de natureza cultural, é o que aumenta a propensão dos ato-res sociais para a colaboração e para o empreendimento de ações coletivas, tor-nando-se importante fator de desenvolvimento.

O quarto argumento associa ao conceito da participação a operacionalização dos mecanismos de formulação e implementação de políticas públicas e o forta-lecimento da competitividade sistêmica de um país ou de uma região.

O quinto — e último — ressalta o papel desempenhado pela participação no processo de formação e consolidação das identidades regionais, que facilitam a construção de consensos básicos entre os atores sociais que são essenciais para o desenvolvimento.

Essas vertentes, em grande parte sobrepostas, acabam por

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destacar dois aspectos da participação. Um deles é o seu

caráter de elemento essencial da própria idéia de democracia

(Bandeira, 1999 p.12).

Fica nítido o entendimento de que a participação ocupa papel indispensável para a articulação de atores sociais e para a viabilização de processos de capaci-tação e de aprendizado coletivo que são extremamente relevantes para a pro-moção das estratégias em desenvolvimento regional sustentável.

Cadeia de Valor

O foco do desenvolvimento regional sustentável está em atividades pro-dutivas com visão de cadeia de valor. Algumas das metodologias de desen-volvimento regional apoiadas na sustentabilidade se propõem a classificar as organizações produtivas com visão de rede, de forma a criar parâmetros facilita-dores para a identificação e o diagnóstico de necessidades e de potencialidades. A organização das atividades produtivas desenvolve-se com estágios diferencia-dos de interação, cooperação e compartilhamento de conhecimentos. São três os tipos caracterizados, apresentados em seqüência pelo grau de organização:

1- Aglomerados: são agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, operando em atividades correlacionadas e que apresentam vínculos pouco expressivos de interação, cooperação e aprendizagem;

2- Arranjos Produtivos Locais: são aglomerados de agentes econômi-cos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, operando em atividades correlacionadas que apresentam vínculos expressivos de interação, cooperação e aprendizagem;

3- Cadeia ou Sistema Produtivo: representa o conjunto de aglomerados e arranjos produtivos locais, formando redes complexas com altos índices de articulação, cooperação e aprendizagem, sem limitação territorial.

Para promover o desenvolvimento sustentável não basta estabelecer como meta somente o crescimento econômico. Essa idéia foi superada, não apenas por razões filosóficas (busca de organicidade na estrutura produtiva) ou morais (busca da justiça social, do fim da pobreza, da igualdade de oportunidades, do respeito ao meio ambiente), mas pela própria avaliação dos resultados obtidos social, ambiental e economicamente, em curto, médio e longo prazo, onde diver-sos custos não percebidos no primeiro momento irrompem abruptamente.

A estratégia alternativa ao modelo limitado antigo é a busca de qualifi-cação pessoal diversificada, fortalecendo conhecimentos produzidos local-mente e não apenas na academia, a formação de redes e o planejamento de ações com foco no futuro.

Quando o assunto é responsabilidade socioambiental, deve-se pensar tam-bém em cadeia de valor e em qualidade. . Segundo os manuais de gestão pela qualidade, um produto tem valor quando possui as seguintes características: qualidade intrínseca, custo, atendimento ou entrega, moral (comprometimento e satisfação da força de trabalho envolvida na produção) e segurança (entendida como segurança das pessoas que trabalham e da comunidade envolvida, além do próprio consumidor). Ou seja, a cadeia produtiva precisa se organizar de tal modo que se constitua em cadeia de valor e que todas as dimensões das rela-ções com os públicos de interesse fiquem asseguradas, numa rede de compro-missos recíprocos e de longo prazo, que incluem as inovações tecnológicas e a

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redução dos custos, isto é, a qualidade (gerencial), a produtividade (econômica) e o comprometimento socioambiental com as gerações futuras.

Para compreender melhor o conceito, um bom exemplo é a cadeia produtiva de alimentos à base de mandioca na cidade de Aracaju (SE), hoje totalmente informal. Em nível microeconômico, a vendedora de “panquecas de tapioca”, recheadas com coco, queijo, etc., escolhe bem o coco e utiliza, no processo de produção, fogão, gás, panelas, colheres, etc. Mas na sua cadeia de valor, a fim de que o consumidor de tapioca goste da mercadoria e fique fiel, não só a qualidade dos insumos (tapio-ca, coco, queijo, manteiga) e o preço são fundamentais, mas é também necessário demonstrar higiene e limpeza, manter o ponto de venda lim-po, manter a freqüência do fornecimento e não gerar resíduos. Caso a produção de tapioca se estruturasse como cadeia de valor, os fornece-dores das matérias-primas garantiriam a qualidade de seus produtos, as vendedoras de tapioca seriam habilitadas a oferecer um padrão mí-nimo de qualidade, garantindo a “legítima tapioca sergipana”. A diferen-ça é o grau de cooperação intencional entre todos os atores envolvidos, com vistas à agregação de valor em cada uma das etapas.

Como vimos, a cadeia de valor abrange todas as ações que agregam valor ao produto, desde as fontes de matérias-primas até o produto final.

Considerando que uma das principais metas de qualquer empreendimento é o crescimento da rentabilidade, a cadeia de valor deve ser gerenciada, identifi-cando atividades que não adicionam valor para evitar dispêndios desnecessários, e procurando a melhoria contínua do produto, em todas as etapas da cadeia.

A partir do conceito de cadeia de valor, devem ser analisados os aspectos de pesquisa e desenvolvimento, design de produtos, serviços ou processos, produ-ção, marketing, distribuição, atendimento ao cliente.

A análise da cadeia de valor pode se tornar um grande diferencial competiti-vo. Depois que a cadeia de valor é totalmente articulada, decisões estratégicas fundamentais tornam-se mais nítidas. As decisões de investimentos podem ser vistas de uma perspectiva do seu impacto na cadeia global. Construir uma vanta-gem competitiva sustentável exige conhecimento de todos os atores envolvidos e dos estágios-chave que podem conduzir ao sucesso.

O enfoque na cadeia de valor pode representar, também, um diferencial e potencializar a distribuição de renda obtida ao longo das cadeias produtivas. Os produtos “in natura”, quando beneficiados, elevam a renda da produção

e geram empregos no campo, no processo de-nominado de verticalização. O crescimento da economia passa a ser possível, também, quando se incentiva o abastecimento da demanda com a produção local ou regional, refreando o esco-amento dos recursos financeiros na importação de produtos.

Alguns agentes financeiros vêm incentivando o fortalecimento de vocações e potencialidades eco-nômicas regionais em cadeias priorizadas como apicultura, artesanato, floricultura, ovino-caprino-cultura e turismo;

- o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, com o apoio do BNDES, vem

promovendo Fóruns de Competitividade para cadeias produtivas;

Figura 4 - Cadeia de Valor

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- o SEBRAE atua nos níveis nacional, estadual e regional com foco em cadeias produtivas;

- a Universidade Federal do Rio de Janeiro é o principal centro de pes-quisa na área de cadeias produtivas.

Para a efetivação eficiente de uma estratégia de desenvolvimento regional sus-tentável é necessário considerar a cadeia de valores na sua plenitude, incluindo-se os elementos culturais, a valorização da tradição, da história e da auto-estima locais.

Concertação, empreendedorismo e visão negocial

“Enquanto não estivermos compromissados, haverá hesitação, a possibilida-de de recuar, sempre a ineficácia. Em relação a todos os atos de iniciativa e de criação, existe uma verdade elementar – cuja ignorância mata inúmeros planos e idéias esplêndidas - que no momento em que definitivamente nos compromis-samos, a providência divina também se põe em movimento ... Todos os tipos de coisas ocorrem para nos ajudar, que em outras circunstâncias nunca teriam ocor-rido. Todo um fluir de acontecimentos surge a nosso favor, como resultado da de-cisão, todas as formas imprevistas de coincidências, encontros e ajuda material, que nenhum homem jamais poderia ter sonhado encontrar em seu caminho ... Qualquer coisa que você possa fazer ou sonhar, você pode começar. A coragem contém em si mesma, a força e a magia.” (Goethe)

Concertação é uma forma de promover a articulação entre pessoas e grupos. É a dinâmica pela qual diferentes atores de uma atividade produtiva com a visão sistêmica do negócio, localizados em um determinado território (comunidade ou região), se propõem, em parceria, a atuar e a alcançar o desenvolvimento re-gional sustentável de forma integrada, harmônica, compartilhada e com a dese-jada sinergia.

O processo de concertação traduz a idéia de concerto. Entre os vários com-ponentes de uma orquestra, cada um é responsável por um instrumento/ação, tem sua importância e sua hora de atuar, mas todos precisam trabalhar afinados e com uma regência (coordenação).

Algumas entidades que atuam com foco em desenvolvimento regional sus-tentável procuram desenvolver suas atividades fazendo concertação em torno de objetivos comuns com parceiros pertencentes aos diversos segmentos da sociedade, tais como: governo, empresas, sindicatos, associações, cooperativas, ONG, universidades, organismos internacionais, sistema “S”, etc.

Internamente, nestas entidades, a concertação é realizada por meio da articu-lação de suas diferentes unidades, departamentos e diretorias. Pode também ser o processo da comunicação dos conceitos, estratégia e metodologia de desen-volvimento regional sustentável, no âmbito interno. A concertação interna per-mite, ainda, colher subsídios para a identificação de novas atividades produtivas que possam ser desenvolvidas.

A estratégia negocial de desenvolvimento regional sustentável tem na participação ativa e integrada de seus intervenientes o diferencial e o fun-damento operacional. Assim, como forma de estimular, disseminar e consoli-dar a prática da concertação e o comprometimento de todos os envolvidos com o desenvolvimento regional sustentável, é fundamental que os coordenadores dos trabalhos, nas várias instâncias da organização, assegurem espaço nos co-mitês e nos contatos com outras unidades, para a troca de informações sobre a estratégia DRS.Como em qualquer grupo que se reúne, na concertação pode-se assumir diferentes papéis, em diferentes momentos, mas o intuito maior deve

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TEMA 5SUSTENTABILIDADE E NEGÓCIOS

sempre ser o desenvolvimento de todos. Deve-se buscar, sempre, a harmonia e o entrosamento. Os problemas ocorrem quando alguém tenta fazer prevalecer

seus interesses individuais sem o cuidado de preservar a harmonia.

É importante que todos os participantes da concertação tenham clareza da direção a seguir, saibam o que querem e onde querem chegar, sempre buscando

a sintonia entre os propósitos individuais e os do grupo, fazendo escolhas que ob-servem o mais amplamente possível as possibilidades do momento. É preciso es-tabelecer um foco comum para o direcio-namento dos esforços antes dispersos.

O princípio da concertação funda-menta organizações corporativas de modo a levá-las a efetivarem estraté-

gias de desenvolvimento regional sustentável que podem ser aplicadas em qualquer nível de formalização do poder constituinte, desorganizado, em organi-zação ou organizado, atraindo todos os agentes do processo para a órbita da es-tratégia de ação corporativa em atividades produtivas, com amplitude de visão da totalidade da cadeia de valor, incluindo-se os aglomerados, arranjos produti-vos locais e/ou as cadeias produtivas.

Assim, busca-se elevar a capacidade temporal da ação estratégica do negócio, não se restringindo a perspectiva de programa ou de projeto, pois estes meca-nismos tendem a ter começo, meio e fim. A aplicação da concertação às estraté-gias negociais alimenta um ciclo longo temporal e espacial de fortalecimento das relações sociais eticamente engajadas na valorização da cadeia de valor.

Tarefas de estratégias negociais de longo espectro espácio-temporal, por ex-celência, são compostas de diagnósticos e planos de negócios em desenvolvi-mento regional sustentável fundamentados em critérios econômicos que extra-polam a tradição da rentabilidade do capital em estrito senso e ganham terreno na dimensão dos lucros socioambientalmente compartilhados do capital social do conhecimento, da ciência e da tecnologia limpa e saudável.

A etapa de diagnóstico visa não só o levantamento das potencialidades e ne-cessidades para a constituição de uma APL ou de uma cadeia de valores. Visa também sua superação e o levantamento de subsídios para planos de desenvol-vimento regional sustentável de longo prazo.

Ainda sobre a etapa de diagnóstico, vale ressaltar que o mesmo não deve ser concebido de forma rígida e pontual, assim como não deve ser feito apenas pelo elemento catalisador do processo. Ele deve ser visto como instrumento proces-sual que avança em confiabilidade e credibilidade à medida que novos atores passem a compor o cenário local.

Também é válido lembrar que momentos diferentes trazem informações diferentes e que um tempo de elaboração e “digestão” das novidades são ne-cessários para a germinação de novas configurações grupais. Com a oferta de novas possibilidades de arranjos produtivos locais (ou outras formas de desen-volvimento em rede), pode-se criar a demanda. Ou seja, a partir da oferta de uma nova possibilidade de arranjos locais de desenvolvimento sustentável, pode-se criar uma massa crítica suficiente para o investimento de capitais sociais e para a concretização de novo paradigma.

Enfim, “concertar”, visando a implantação de planos de desenvolvimento regio-nal sustentável, exige ter uma visão negocial. Significa estar pronto para a nego-ciação, considerada como uma troca, como um exercício de convivência e uma

Figura 5 – Princípio da ConcertaçãoFonte : Adaptação dos autores

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maneira mais democrática de resolver conflitos. Para se obterem resultados mais consistentes, que não apareçam somente no momento, mas que persistam ao longo dos anos, é importante estar atento ao planejamento e à comunicação.

São passos fundamentais para a concertação e para a implementação de DRS:

1. Planejamento. O primeiro passo no planejamento é determinar os objeti-vos. O que se quer obter? Geralmente, há vários objetivos em jogo. É importante organizá-los por ordem de prioridade, lembrando que às vezes não se conse-gue realizá-los imediatamente, sendo necessário haver um tempo para que eles aconteçam. Deve-se ter em mente também, que em se tratando de desenvolvi-mento regional sustentável, os resultados devem ter como foco não somente os interesses imediatistas dos diferentes parceiros, mas também o desenvolvimen-to do município ou região, a responsabilidade socioambiental e o respeito à di-versidade. Portanto, os objetivos ideais, às vezes, devem ceder lugar aos objetivos realistas, passíveis de serem atendidos no momento.

É fundamental ter uma visão abrangente de todas as pessoas e processos en-volvidos na economia local. Qual é o contexto? Quem são os possíveis parceiros? Quais suas experiências? Como podem influenciar os resultados? Quais são as atividades produtivas da jurisdição? Como se pode agregar valor aos produtos de forma que resultem em maior rentabilidade?

2. Comunicação. Toda a negociação é um processo de relacionamento entre pessoas. E todo o relacionamento importa em comunicação.Assim, saber ouvir, perguntar e apresentar as idéias de forma clara e no momento oportuno, é bási-co. Portanto:

a) deve-se evitar monologar, pensando que se está dialogando. Às vezes, uma pessoa está falando e a outra nem entendeu bem o que é dito e já está pensando no que vai responder;

b) deve-se saber perguntar para obter as respostas esperadas;

c) deve-se estar atento às respostas, pois são os indicativos dos próximos passos a serem dados;

d) deve-se procurar primeiro compreender, para depois se fazer compre-ender. Para apresentar bem uma idéia ou proposta é preciso que ela es-teja de acordo com as necessidades, desejos e expectativas de todos.

Nem sempre os argumentos que usamos causam impacto nas pessoas, pois elas têm diferentes formas de pensar e agir, diferentes repertórios em sua histó-ria de vida.

Mesmo que surjam problemas não se devem perder de vista os objetivos.

Síntese

Fundamentos estratégicos para o Desenvolvimento Regional Sustentável(=DRS)

Conceito de Região. O conceito de região extrapola a concepção de delimita-ção física geográfica de uma área e inclui a relação espaço e tempo.Preocupa-se com o potencial destrutivo atual em relação à qualidade de vida e às gerações contemporâneas e futuras. Favorece a idéia de nicho e não a de região territorial, principalmente após o advento do desenvolvimento tecnológico e de ambien-tes virtuais. Modelo: relação entre sistemas e sub-sistemas, entre partes e todo. Slogan: agir local, pensar global.

Desenvolvimento. Substituição do parâmetro de concentração de riquezas pelo índice de desenvolvimento humano, que leva em consideração não só a quantidade de riquezas de uma nação, mas principalmente as condições sociais

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TEMA 5SUSTENTABILIDADE E NEGÓCIOS

de usufruí-la democraticamente. Relacionando-se o conceito de regionalidade com o de desenvolvimento e considerando a relação entre sistemas e sub-sis-

temas, enquanto houver povos e parcelas de diversas populações em situação de miséria, o mundo, como um todo, não poderá ser visto como desenvolvido, apesar de amplamente explorado em suas riquezas materiais.

Sustentabilidade. A sustentabilidade relaciona dimensões econômicas, sociais e ambientais. Deve levar em conta os fatores social, ambiental, territorial, econô-mico e político, respeitando as liberdades individuais e visando a convivência pacífica e democrática entre pessoas e povos, inclusive das futuras gerações.

Gerenciamento de Crises. Visa a mudança da cultura e do paradigma produ-ção-consumo, valorizando aspectos culturais, históricos e ambientais locais.

Organicidade Territorial. Mapeamento e avaliação de distribuição das ativida-des sócio-econômicas e ambientais pelo território como fonte de dados neces-sários ao planejamento de ações de DRS.

Participação. Fator que agrega elevada importância ao elemento humano, im-prescindível para o sucesso dos planos de DRS

Desenvolvimento de cadeias de valores. Refere-se à construção de redes de co-laboração desde o planejamento, desenvolvimento e produção até à distribui-ção e consumo de produtos e serviços sustentáveis visando a criação e agrega-ção de novos valores aos locais, produtos e serviços.

Concertação. Mapeamento, inclusão e orquestração de diversos atores e insti-tuições sociais visando a construção coletiva de soluções e superações regionais, tanto as sociais e ambientais, quanto as políticas e econômicas

O desenvolvimento sustentável no Banco do Brasil

Destacando-se como instituição de grande relevância e capacidade de atua-ção como agente propulsor desse novo processo no país, temos o Banco do Bra-sil. Por se encontrar presente em todas as regiões da nação é possível para esta instituição conhecer as características de cada uma, atuando como um agente articulador e mobilizador no processo de integração social.

Com histórico de trabalho voltado para a implementação de projetos ligados ao desenvolvimento social e econômico, a realização de operações de créditos para pequenos investidores, incluindo a população marginalizada do crescimen-to econômico, é um bom exemplo de sua atuação.

A empresa, em parceria com a iniciativa privada, a sociedade civil e o governo, vem desenvolvendo trabalhos que têm como foco o desenvolvimento susten-tável, atuando como catalisador de diferentes ações existentes nas regiões que tentam superar suas carências, promovendo o desenvolvimento econômico e social do lugar, aliado à preocupação ambiental e cultural.

É uma nova forma de visualização do perfil das localidades mais carentes exis-tentes em todo o território, reagrupando esforços na promoção do desenvolvi-mento sustentável.

Buscando contribuir para o equilíbrio distributivo de recursos e promo-ver o desenvolvimento em diversas regiões do território nacional, o Banco do Brasil tem priorizado sua atuação em DRS nas regiões Norte, Nordeste e Vales do Jequitinhonha e do Mucuri, justamente fora da área de concentra-ção do produto industrial do país e como forma de contribuir para o efetivo desenvolvimento sustentável daquelas regiões (veja Figura 6-Concentração da disposição empresarial no território brasileiro).

É a fórmula para gerar trabalho e renda de forma inclusiva, participativa

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TEMA 5SUSTENTABILIDADE E NEGÓCIOS

e principalmente sustentável, considerando as especificidades culturais das comunidades.

A estratégia básica do DRS – Desenvolvimento Regional Sustentável- consis-te em aliar adequação ambiental, justiça social, viabilidade econômica e respeito à diversidade cultural. Tudo isso integrado a esforços de agentes nas esferas fe-derais, estaduais e municipais, consoantes com a sociedade civil, estratos políti-cos, empresariais e religiosos, fomentando ações que promovam um avanço na qualidade de vida das pessoas.

Premissas

Desenvolver, aperfeiçoar e consolidar estratégia negocial que considere os as-pectos econômicos, sociais, ambientais e culturais e promova articulações com os atores intervenientes diretos ou indiretos da atividade produtiva com visão de ca-deia de valor, atuando de forma sinérgica no âmbito de padrões técnicos, de modo a implementar ações visando o desenvolvimento sustentável e a inclusão social;

• disponibilizar os capitais humano, social e financeiro do Banco para con-tribuir com o desenvolvimento do País;

• promover maior participação no mercado de baixa renda e ampliação da base de clientes;

• gerar novas oportunidades de negócios;

• contribuir para a fidelização de clientes e a perenização do Banco;

• disseminar propostas relacionadas com a responsabilidade socioam-biental em nível corporativo;

• atuar em consonância com iniciativas e políticas governamentais; mini-mizar riscos e maximizar resultados por meio de ações integradas.

Objetivos

Construir estratégias de negócios e procedimentos para otimizar a participa-ção do Banco em soluções para o desenvolvimento sustentável, mediante ações específicas para diferentes potencialidades regionais, tais como:

a) gerar trabalho e renda;

b) promover o acesso ao crédito - bancarização;

c) estimular e aperfeiçoar a capacidade de organização social (associati-vismo e cooperativismo);

d) desenvolver atividades produtivas, agregando valor aos produtos e serviços; e) promover a inclusão social e a inserção das pessoas nos mercados de trabalho, da produção e de consumo; e

f ) disseminar a cultura empreendedora.

Numa situação de crise, uma política estratégica de emancipação torna-se de fundamental importância para uma nação (Sachs, 2004). São imprescindíveis os esforços que mobilizam todas as categorias supracitadas para reabilitação do sistema financeiro nacional, ainda mais quando se trata de um país com graves indicadores de desigualdade social e uma trajetória de baixo crescimento. O pa-pel desempenhado pelas corporações de financiamento e de fomento ao desen-volvimento regional neste processo emancipatório é de fundamental importân-cia. Destaca-se neste sentido a atuação estratégica em DRS do Banco do Brasil.Estudo publicado pela revista Política Agrícola (Banco do Brasil, 2004) apresenta o Banco do Brasil como uma instituição oficial conhecedora das características de cada uma de nossas regiões e habilitada a desempenhar um importante papel

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TEMA 5SUSTENTABILIDADE E NEGÓCIOS

de impulsionador do processo desenvolvimento regional sustentável.

Como se sabe, o Banco do Brasil possui algumas características empresariais que o colocam em situação de vanguarda como instituição oficial comprome-tida com os fundamentos da responsabilidade socioambiental. É uma corpo-ração que tem uma história repleta de iniciativas voltadas para a redução das desigualdades sociais, seja no incentivo ao cooperativismo e ao associativismo, seja na efetivação de operações de giro e investimento para micro e pequenos empreendedores rurais e urbanos ou ainda na organização da produção.

Foi com esse currículo em responsabilidade social que mais recentemente o Banco do Brasil passou a atuar com foco em DRS como forma de catalisar ações de diferentes agentes em diversas comunidades, buscando-se a superação de carências e promoção do desenvolvimento. Esta empresa passou a executar uma estratégia negocial voltada para todas as etapas de uma atividade produtiva, isto é, para a cadeia de valores como um todo.

Com isso, pretende também promover a geração de trabalho e renda de for-ma sustentável, inclusiva e participativa, considerando as características locais, de natureza econômica, social, ambiental, institucional, política e cultural. (Banco do Brasil, 2004 p.70).

O Banco do Brasil propõe que sua estratégia seja sustentada pelo tripé: viabilidade econômica, justiça social e adequação ambiental sempre obser-vada e respeitada a diversidade cultural.

Assume também papel decisivo no princípio da concertação na medida em que sua atuação articula ações nas esferas federais, estaduais e municipais, da sociedade civil e dos meios político, empresarial e religioso. Sua estratégia em DRS visa um grau de eficácia que permite atingir um salto de qualidade nas con-dições de vida e nos indicadores de desenvolvimento locais.

A atuação do Banco do Brasil é realizada com a visão de cadeia de valor, apoiando atividades produtivas rurais e urbanas, identificadas como vocações ou potencialidades nas diferentes regiões, sejam elas ligadas ao agronegócio, ao comércio, aos serviços ou à indústria.

Etapas

O Banco do Brasil desenvolve sua estratégia em desenvolvimento regional sustentável, valendo-se de um método constituído das seguintes etapas:

a) Habilitação da Agência;

b) Concertação (Interna e Externa);

c) Escolha da Atividade Produtiva;

d) Anotações Históricas;

e) Formação da Equipe de Trabalho DRS;

f ) Elaboração do Diagnóstico DRS;

g) Elaboração do Plano de Negócios DRS;

h) Análises e Pareceres;

i) Implementação;

j) Monitoramento e Avaliação.

Avaliando-se a diversidade e quantidade de investimento, sua distribuição territorial entre os diversos setores produtivos, assim como a mobilização, a sen-sibilização e a capacitação de lideranças sociais e de funcionários para a realiza-

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TEMA 5SUSTENTABILIDADE E NEGÓCIOS

ção desta nova atividade e também o poder de desenvolvimento de planos de negócios DRS, evidencia-se no Banco do Brasil uma corporação com potencial de contribuição que a qualifica como ator estratégico no processo de reversão do paradigma tradicional brasileiro marcado pela desigualdade social e abuso no uso dos recursos naturais. É uma corporação que, do ponto de vista das cate-gorias-chave em DRS, pode vir a mobilizar sua estratégia na perspectiva da inter-venção espaço-temporal adequada a realidade do século XXI tendo em vista os imperativos do desenvolvimento sustentável com capilaridade nodal diversifica-da o suficiente para estar presente em todos os setores da economia brasileira.

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ANOTE

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TEMA 6TEMA 6

INSTRUMENTOS FINANCEIROS, SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO

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TEMA 6INSTRUMENTOS FINANCEIROS,

SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO

TEMA 6: INSTRUMENTOS FINANCEIROS, SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO

No exposição deste tema analisaremos as instituições financeiras enquanto instrumentos de políticas de investimento em programas de desenvolvimen-to segundo o modelo de gestão sustentável. Procuraremos mostrar como uma política de acesso ao crédito e aos micro e pequenos empreendedores contribui ativamente para o desenvolvimento das regiões e, conseqüentemente, para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Outro ponto que será discutido é a orientação dada ao se abordarem os pro-blemas ambientais existentes e os impactos que estes causam no mercado fi-nanceiro. Baseado nas variáveis ambientais e preocupado com os riscos que po-dem ser gerados por certos processos de produção, o mercado de crédito tem selecionado e incentivado os investimentos comprometidos com a sustentabili-dade do planeta.

Ligados aos conceitos socioambientais, novos tipos de investimentos surgem, atentos à consciência de preservação global, como a redução de poluentes e a responsabilidade com novos padrões de produção e consumo, aliados à visão empresarial de geração de lucros.

São objetivos deste tema:

• Abordar problemas ambientais surgidos a partir de um modelo de desenvolvimento econômico historicamente despreocupado com as questões ambientais, e de como toda a sociedade sofre os reflexos dessas práticas;

• Discutir as preocupações dos agentes empresariais e financeiros e as tentativas de minimizar o impacto do desenvolvimento sobre o planeta por meio de iniciativas de restrições de crédito e apoio a ações comprometidas com a responsabilidade socioambiental;

• Mostrar como a ação das instituições financeiras tem sido importante para enfrentar os desafios da sustentabilidade e buscar perspectivas de progresso aliadas ao compromisso com a qualidade de vida das populações.

Produtos e serviços financeiros sustentáveis

Preocupadas com o equilíbrio do planeta, muitas pessoas têm feito escolhas que são consideradas ecologicamente corretas ao comprarem produtos ou usarem serviços que sejam ambientalmente saudáveis, rejeitando os que não oferecem tais garantias. A maior conscientização dos consumidores tem provo-cado a criação de produtos voltados para esses mercados e a abertura de novas oportunidades de negócios, levando as empresas a redefinir suas estratégias de inserção no mercado.

Iniciativas como essas podem gerar impactos positivos nos indicadores so-ciais e ambientais, além de refletirem em indicadores econômicos como o Produ-to Interno Bruto (PIB). Para a conquista da sustentabilidade são válidos os meca-nismos de taxas, impostos e valoração dos custos ambientais. Daí, a necessidade de políticas que gerem recursos para serem investidos nessa área.

Pensando na necessidade de minimizar os impactos ecológicos de algumas

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TEMA 6INSTRUMENTOS FINANCEIROS,

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empresas, o governo procura atuar por meio de instrumentos financeiros, como incentivo fiscal para empresas que investem em tecnologia que reduz a poluição, privilegiando produtos ecologicamente desejáveis na sua política de compras, entre outras iniciativas.

Um dos grandes desafios para o desenvolvimento sustentável é a inclu-são das pessoas das camadas mais pobres no processo de produção. Muitas limitações são apresentadas por se tratar de pessoas com baixo grau de es-colaridade, sem experiência ou capacitação profissional. O desenvolvimen-to, entretanto, tem necessariamente que passar por elas, pois o equilíbrio da sociedade se dá também pela inclusão social.

O grande marco dos projetos de incentivos financeiros está na união do apoio econômico aos projetos ambientalmente responsáveis, da perspectiva da me-lhoria financeira de parte da população e da educação ambiental.

Construindo um modelo de sustentabilidade, essas empresas proporcionam emprego, renda e autonomia econômica às comunidades locais e regionais. A base de inovação para produtos sustentáveis está no conhecimento sobre o uso inteligente dos recursos naturais.

É importante ressaltar que os recursos financeiros não são em si a solução para acabar com o problema da pobreza. Eles auxiliam o desenvolvimento do sis-tema financeiro e alavancam a produção e o comércio, democratizando o acesso a esses serviços. Além disso, geram um bem-estar àqueles que rompem com as dificuldades e se projetam econômica e socialmente.

Observa-se, no Brasil, uma crescente procura por produtos que foram produ-zidos em condições especiais, principalmente alimentos livres de agrotóxicos. O produtor rural conscientiza-se que uma parcela dos consumidores está interes-sada em produtos que não sejam ofensivos à saúde e ao meio ambiente, dispon-do-se até a pagar mais caro por eles.

Essa decisão do consumidor força o mercado a procurar produtos que ado-tam tecnologia ambientalmente correta, influenciando a criação desse novo pa-drão de produção. É o chamado mercado verde, voltado para produtos e serviços de baixo impacto ambiental.

O conceito de sustentabilidade reorientou a abordagem de problemas am-bientais, mudando o significado do conceito de risco, passando a vinculá-lo à questão do modelo econômico e de desenvolvimento existentes.

O entendimento de que os riscos têm origem no próprio desenvolvimento, amplia a compreensão de problemas sérios, como os desastres ambientais, a contaminação e a pobreza. E abre questionamento sobre os atores diretos da destruição e o modo de produção adotado.

Com a crescente preocupação de organismos internacionais com a proble-mática e a busca de soluções eficientes, algumas relações foram estabelecidas. Dentre elas, a relação entre desastres ambientais e o nível de desenvolvimento dos países com as condições de vida da população e a degradação ambiental. Daí a urgência na aplicação do conhecimento técnico-científico para transfor-mar essa realidade, pois a falta de infra-estrutura aumenta o número de vítimas.

Apesar da preocupação com os efeitos nocivos dos desastres, estes aumenta-ram principalmente.devido às mudanças climáticas, algumas delas provocadas pelo efeito estufa.

Partindo dessa premissa, os riscos ambientais passaram a ser resultados não de causas naturais, mas de ações do homem no ambiente. A ameaça, que é a probabilidade de algo acontecer, associada à vulnerabilidade, que é a propensão

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TEMA 6INSTRUMENTOS FINANCEIROS,

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de uma sociedade para sofrer um dano, são os fatores que concorrem para o acontecimento dos desastres.

Pobreza e desastres se reforçam mutuamente10, gerando prejuízos econômicos que vão desde a perda de patrimônio à queda de produção e perda de empregos.

Exemplos de degradação ambiental e freqüentes desastres ambientais estão presentes nas grandes cidades. Isso se dá pelo fato de não contarem com a exigência de estudos de impacto ambiental na construção de indús-trias ou bairros.

Pensando em problemas não resolvidos no presente, e que causam danos no futuro, temos o caso dos passivos ambientais11. Eles são o resultado de uma produção industrial sem compromisso com a eliminação de seus dejetos e com prejuízos que podem causar ao meio ambiente.

Em muitos lugares, a capacidade do meio ambiente de se auto-regenerar está comprometida por causa da quantidade de substâncias nocivas, depositadas principalmente no subsolo e no aqüífero freático. Essas substâncias que tentam entrar nesses meios, ou já entraram, fazem com que naquele local haja um pas-sivo ambiental.

A recuperação dos passivos é uma necessidade, pois põe em perigo o equi-líbrio ambiental no futuro, mas há dificuldades relacionadas tecnologias pouco desenvolvidas e o montante elevado de despesas, ou seja, custa caro recuperar um ambiente degradado.

É importante salientar que uma solução simples e eficaz é evitar o surgimento de novos passivos ambientais. Mesmo uma área tão grande como a do nosso país apresenta pontos críticos que precisam ser analisados, como é caso da qua-lidade da água.

Como geralmente não podem ser identificados apenas pela aparência do local, muitos danos só são descobertos com o surgimento de problemas sérios como doenças graves, morte de pessoas e animais, comprometimento da vegetação.

Os aterros sanitários legalizados e os lixões são exemplos de passivos ambien-tais nas grandes cidades que se transformaram em pólos industriais. Geralmente é possível impedir a poluição do subsolo, mas há casos bastante sérios que exi-gem um estudo minucioso e medidas efetivas em sua recuperação, pois compro-metem seriamente o ambiente e o ser humano.

O tratamento dos passivos ambientais exige, além da vontade e interesse polí-ticos, a criação de uma base jurídica12. As questões ligadas à identificação e aná-lise são mais tranqüilas de solução. Porém, quando se trata da recuperação em si, esbarra-se num grande empecilho que é identificar o causador do mal e cobrar efetivamente os custos da obra de recuperação, que são muito altos. Nem sem-pre quem provoca a degradação tem condições de arcar com as despesas da reparação do estrago.

O Brasil é uma nação rica em recursos naturais, o que é um enorme privilégio em relação a inúmeros países que não desfrutam da mesma riqueza. Isso traz gran-de responsabilidade de gerenciamento desses recursos de forma equilibrada.

O território brasileiro é o único que possui as sete matrizes de commodities ambientais, mercadorias originadas de recursos naturais em condições sustentá-

10 Nos países em desenvolvimento, o setor mais pobre da população urbana está frequentemente assentado em locais inadequados sujeitos a inundações e deslizamentos ou próximos a locais de atividade industriais perigosas. Por isso a situação de pobreza está intimamente ligada aos desastres ambientais.

11 O problema dos passivos ambientais é uma característica típica das sociedades industriais modernas. Em muitos países foram subestimadas as dimensões quantitativas e financeiras desse problema.

12 O pagamento pelas conseqüências advindas de um passivo ambiental exige regulamentação jurídica bem definida no âmbito do direito ambiental.

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TEMA 6INSTRUMENTOS FINANCEIROS,

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veis. No mercado financeiro, o termo commodities quer dizer moeda, porque se transforma em dinheiro em qualquer parte do mundo.

As matérias-primas para a agricultura e indústria, tão valiosas e que desper-tam interesse são: água, energia, madeira, biodiversidade, reciclagem, controle de emissão de poluentes e minérios.

O que diferencia as commodities ambientais das demais é o fato de serem produzidas ou extraídas de forma sustentável, em processos que não agridem o meio e nem o seu potencial de regeneração. Isso traz benefícios econômicos e sociais, ao gerar empregos, renda, qualidade de vida e respeito às culturas das comunidades envolvidas.

Seguros de responsabilidade civil por danos de poluição

No Brasil há uma vasta e avançada legislação ambiental que trata de muitos te-mas, como a lei urbanística e de ordenamento do solo ou a lei de crimes ambien-tais, que vem direcionar o controle das atividades potencialmente poluidoras.

Em contrapartida observa-se a intensificação dos acidentes ambientais. Alia-do a isso existe um sistema centralizado de informações, o que dificulta a co-municação rápida e a tomada de decisão, que poderia evitar o avanço de um determinado problema.

Informações sobre riscos ambientais e de saúde, oferecidos pelas indústrias que manipulam produtos tóxicos, são ainda muito restritas, apesar de a lei orde-nar o acesso à informação pela população.

Percebe-se um jogo de interesses especulativos que transcendem a impor-tância do controle ambiental e se resume a interesses individuais, ou de um pe-queno grupo. Através desse jogo tenta-se manipular ou driblar a ação governa-mental, de forma irresponsável em relação ao conjunto da população.

A preservação ambiental e o uso sustentável de seus recursos passam pela informação à sociedade de todas as ações que direta ou indiretamente com ela se relacionam. Isso dá condições não só de identificar os causadores de danos ambientais, mas também de evitar, mediante conhecimento pré-vio, que problemas de maiores proporções possam ocorrer.

É verdade que apesar do avanço da lei de crimes ambientais, ainda se per-cebe uma lacuna na eficácia de seu cumprimento. Talvez devido à dificuldade de se estabelecerem os verdadeiros agentes causadores de males à natureza e à sociedade.

Preencher essa lacuna significa buscar soluções reparatórias ou indenizatórias decorrentes da responsabilidade civil por danos ao meio ambiente, identifican-do e enquadrando o agente causador.

A evolução da legislação de proteção ao meio ambiente e o avanço de clas-sificação e enquadramento dos crimes ambientais com responsabilidade penal, têm pressionado o empresariado a se posicionar mais responsavelmente sobre o assunto, incorporando a análise de riscos ambientais em sua estratégia.

O seguro ambiental tem o objetivo de disponibilizar recursos financeiros suficientes para cobrir gastos reparatórios ou indenizações devidas quan-do da ocorrência de poluições dispendiosas. A idéia é que a empresa segu-rada fique amparada quanto à ocorrência de pagamento de despesas advindas dos reparos necessários ao meio ambiente e, por outro lado, a seguradora exerça contínua vigilância para que a empresa não gere novos danos ambientais.

Se empresas que já protagonizaram sérios acidentes ecológicos no Brasil, esti-vessem sob rigorosas vistorias técnicas de seguradoras, não estariam enfrentan-

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TEMA 6INSTRUMENTOS FINANCEIROS,

SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO

do processos judiciais nem a sociedade teria que sofrer e lamentar os enormes prejuízos que sobre ela pesam.

Certamente que o seguro ambiental não representa a solução definitiva para todos os problemas encontrados, nem mesmo para o da poluição. Mas é um dispositivo a mais para a sociedade controlar, fiscalizar e gerir os riscos apresen-tados pela utilização do meio por indústrias.

Estratégia negocial para a sustentabilidade

Quando se trata de poluição ambiental vem logo à memória da população o chamado efeito estufa. Abordado como um problema do aquecimento glo-bal decorrente da grande concentração de gases na atmosfera, como dióxido de carbono, metano e outros, também chamados de gases de efeito estufa. Os impactos ambientais resultantes do aquecimento, como a mudança dos regimes de chuvas, a elevação dos níveis dos oceanos com o derretimento das calotas polares e outros, têm intensificado as discussões.

Pensando na necessidade de se cuidar dos problemas relativos às mudanças do clima, a Organização das Nações Unidas (ONU) tem desenvolvido políticas in-ternacionais voltadas para a solução dos impactos ambientais atmosféricos cau-sados pela atividade econômica humana, no sentido de diminuir a emissão dos gases que geram o efeito estufa e reduzir as conseqüências desse desequilíbrio.

As causas fundamentais do efeito estufa estão ligadas ao uso de com-bustíveis fósseis, não-renováveis, na produção de energia para as ativida-des humanas. A busca de solução para esse problema está na diminuição da emissão desses gases mudando a matriz energética suja por uma limpa, não poluente, que utilize combustível renovável e esteja dentro do conceito de desenvolvimento sustentável.

Grande avanço nesse sentido foi a assinatura, em 1997, no Japão, do Protocolo de Kyoto. Ele estabelece que os países industrializados devem reduzir suas emis-sões dos gases do efeito estufa em 5%, considerando as quantidades emitidas na atmosfera no ano de 1990.

Os países em desenvolvimento foram, de certa forma, poupados ao não se estabelecer metas para os mesmos. Há uma distinção de caráter compensatório para com esses países, considerando que necessitam de um esforço econômico maior para atingir metas de redução de emissão de gases em relação aos países já desenvolvidos. Considera-se também que os países desenvolvidos contribuí-ram muito para esse problema no seu processo histórico de industrialização.

Pensando nas dificuldades dos países industrializados em conseguir cumprir a meta estabelecida, devido à alta dos custos, o Protocolo prevê mecanismos de flexibilidade dessas metas baseado na troca de cotas da redução de emis-sões de gases na atmosfera. O mecanismo que estipula os tipos de projetos a serem desenvolvidos é o chamado mercado de crédito de carbono, do qual o Brasil só poderá participar pelo mecanismo de desenvolvimento limpo, baseado na emissão de certificado de redução de carbono, que poderá ser negociável por todos os países.

Como o gás metano tem um potencial de estufa 21 vezes maior que o gás car-bônico, o Brasil, por meio da suinocultura, poderá desenvolver projetos limpos de redução da emissão desse gás, pois cada tonelada de redução de metano na atmosfera renderá 21 créditos de uma tonelada de dióxido de carbono.

Apesar de não existir de forma completamente estruturada, o mercado de crédito de carbono abre oportunidades negociais. A previsão de negociação é

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em torno de U$13 bilhões até 2007. O Brasil, na vanguarda desse projeto, por meio do mercado brasileiro de redução de emissões, irá negociar ativos gerados por projetos que promovam a redução de emissões de gases de efeito estufa.

O sistema brasileiro visa a operacionalização do mercado a termo de crédito de carbono e um programa de capacitação de multiplicadores para realização das operações. As empresas que possuem projetos, que de alguma forma redu-zem emissões de poluentes, serão as principais beneficiadas com a criação desse mercado, pois poderão realizar parcerias com investidores, reduzindo os custos dos projetos.

Todo o esforço mundial para a redução de emissão de gases de efeito es-tufa e suas conseqüências para o futuro do planeta, têm esbarrado no fato de os países mais poluidores ambientalmente não se disporem a assinar o Protocolo. Os Estados Unidos, com 20,6% do total das emissões de gás carbôni-co, são o país mais poluidor do mundo, mas abandonaram em 2001 a negocia-ção do tratado por considerar que sua aplicação em território americano traria prejuízos econômicos e desemprego.

Uma referência importante para instituições administradoras de recursos es-trangeiros é o Dow Jones Sustainability World Index (DJSI). O DJSI é composto por empresas capazes de criar valor para os acionistas a longo prazo e gerenciar os riscos associados a fatores econômicos, ambientais e sociais

Seguindo a linha das preocupações socioambientais, encontramos as redes de economia solidária e sustentabilidade. Elas estão ligadas a ações de consumo, comercialização, produção e serviços em que se defende a participação coletiva, a autogestão, a auto-sustentação, a promoção de desenvolvimento humano, a responsabilidade social e a preservação do equilíbrio dos ecossistemas.

A idéia é realizar alternativas de organização tentando superar a lógica da concentração de riquezas, de exclusão social, de destruição dos ecossistemas e de exploração. Na perspectiva da construção de relações sociais, econômicas e ambientais, surgiram práticas como a autogestão das empresas pelos trabalha-dores, organização de marcas e credenciamento, agricultura ecológica, consumo crítico, sistemas locais de emprego e comércio, banco do povo, sistemas de mi-crocrédito, cooperativismo e associativismo, entre outras.

O consumo solidário parte da idéia de selecionar bens de consumo e serviços que atendam às necessidades de quem os adquire, ligada a um compromisso social com os que elaboram os produtos ou serviços, mantendo o equilíbrio dos ecossistemas. Ou seja, prioriza os produtos ligados a uma visão socialmente equilibrada.

O objetivo é difundir a idéia de que o consumo tem que ser uma escolha respon-sável. Produtos fabricados sob o selo da exploração de trabalhadores e destruição do meio ambiente trazem a marca desse modelo e o conseqüente incentivo de quem os compra. O ato de consumo passa a ter um caráter ético e político.

A economia solidária busca difundir esse ideal de consumo, fortalecendo sua rede de produção e venda e realimentando toda cadeia, já que os valores ge-rados no processo comercial retornam como novos investimentos. A idéia de economia solidária vem se ampliando em todo mundo, assim como a busca da população por seus produtos.

Os constantes investimentos no processo produtivo permitem o financiamen-to de outros empreendimentos e a inclusão de pessoas excluídas do processo econômico em atividades de trabalho e consumo, a ampliação da oferta de bens e serviços, a expansão das redes produtivas e a melhoria da qualidade de vida de todos os que aderem a essa proposta.

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O objetivo do mercado justo é incentivar a criação de cadeias produtivas sus-tentáveis do ponto de vista social e ambiental.

Com uma remuneração capaz de garantir a continuidade da produção, os pe-quenos produtores rurais começam a pensar na oportunidade de entrar em um mercado que, cada vez mais, ganha adeptos. É uma experiência bastante conhe-cida nos Estados Unidos, Canadá, França, Inglaterra, Alemanha e Suíça.

Existe na Europa uma preocupação em recuperar valores perdidos com a glo-balização econômica. Daí a busca por produtos cuja origem e aspectos de pro-dução estão ligados ao respeito pelo meio ambiente e à não-utilização da mão-de-obra infantil ou forçada.

Há um pacto de responsabilidade entre o comprador e o produtor, mostran-do que a relação é muito mais que comercial, agregando valores éticos, sociais e ambientais.

Destinado aos pequenos produtores rurais, agricultores familiares e trabalha-dores assalariados, o comércio justo tem como características, entre outras:

- Defesa da produção sustentável, aprimorando as relações entre traba-lhadores e meio ambiente;

- Relações comerciais responsáveis entre os participantes da cadeia de produção;

- Remuneração justa do trabalho e preços equivalentes aos produtos;

- Respeito ao patrimônio histórico e cultural das comunidades envolvidas.

O processo de globalização coloca o padrão econômico capitalista em um processo de contínua aceleração. As empresas não pensam em limites para seus negócios: compram a matéria-prima onde encontram melhores preços e qualidade, no Brasil, na China ou em qualquer outro lugar. Instalam suas fábricas onde existem incentivos fiscais e baixo custo de mão-de-obra e, vendem, por fim, seus produtos para todo o mundo.

Um microempresário, pensando nessa lógica globalizante, pode desesperar-se e até fechar suas portas mais cedo. Ele sente-se engolido pelo processo, sem condições de competitividade.

Entretanto, mudanças são observadas na lógica do mercado. É o que já foi discutido anteriormente: a responsabilidade social empresarial. Graças à neces-sidade de estabelecer novas relações comerciais, baseadas em novos valores, o eixo muda e a perspectiva dos pequenos também.

Não se pode negar a importância da educação para essa mudança. O acesso à informação e o conhecimento da realidade da destruição ambiental pela prática irresponsável da produção e consumo, faz uma grande parcela de consumidores reagir, exigindo uma mudança de postura.

Em sintonia com a preocupação de necessidade de equilíbrio ambiental e exigências de consumidores, as empresas percebem que precisam se atualizar frente a este novo contexto. As empresas que eram direcionadas para o produto, para o mercado e para o cliente, mudam sua direção para o social.

Investir não só na qualidade do produto, mas alinhar isso à qualidade dos processos, das relações empresariais envolvendo funcionários, fornece-dores, consumidores, sociedade e ecossistema é o ponto de partida. A ima-gem das empresas que adotam posicionamento ético, é sempre melhorada alcançando maior aceitação social.

As mudanças apresentadas estão ligadas ao que se chama responsabilidade social das empresas. “A noção de responsabilidade social empresarial decorre da

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compreensão de que a ação das empresas deve, necessariamente, trazer bene-fícios para a sociedade, propiciar a realização profissional dos empregados, pro-mover benefícios para os parceiros e para o meio ambiente e trazer retorno aos investidores ”(ETHOS, 2003). É a revolução do conceito de empresa que privile-gia o aspecto social.

Tendo o governo seguido, durante a década de 1990, os padrões econômi-cos e sociais neoliberais, percebeu-se o distanciamento da esfera pública do compromisso de resolver problemas sociais. Assim, o papel governamental foi deixando lacunas na sociedade, não se responsabilizando pelas garantias dos direitos da cidadania.

Esse espaço foi sendo preenchido pela sociedade civil organizada e pelas em-presas que, observando a ineficiência do Estado, viram-se na obrigação de pro-por alternativas para melhorar a realidade. É verdade que, inicialmente, quem se colocava frente às mudanças eram os empresários, como cidadãos trabalhando pelo bem comum. O papel da empresa, envolvendo todo o seu processo produ-tivo em prol de valores e necessidades sociais e ambientais, é mais recente.

Não é afirmar que as empresas perderam a lógica do mercado e agora se vol-tam para ações altruístas, mas é repensar que as próprias necessidades do mer-cado, com as mudanças gigantescas impostas pela nova realidade que vislum-bra, questiona o modelo anterior e impõe ações mais voltadas para os interesses gerais da sociedade: problemas como exclusão social, concentração de renda, depredação do meio ambiente, insatisfação popular, influenciam o consumo.

Assim, o crescimento de movimentos ecológicos e a consciência do consumi-dor em defender seus direitos, estrutura uma nova concepção de realidade pelo mundo empresarial principalmente no relacionamento empresa-sociedade, pre-ocupando-se cada vez mais com as questões sociais.

É como se fosse uma via de duas mãos: quanto mais a empresa se envolve com os problemas socioambientais, mais é reconhecida socialmente e isso faz com que seus produtos tenham maior aceitação. Investimentos em cidadania e qualidade de vida representam ganhos incalculáveis para todos.

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ANOTE

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Nesta temática daremos destaque aos principais argumentos que apontam para o surgimento de uma nova ética empresarial denominada de responsabili-dade social corporativa. Veremos que a emergência desse padrão ético-político-empresarial está associada ao movimento social que luta para a mudança do padrão ético-empresarial tradicional, no sentido de serem ultrapassados os limi-tes das funções sociais das empresas. O primeiro tópico caracteriza os elementos essenciais dessa tendência, identificando os padrões éticos que vêm fundamen-tando essa missão social empresarial, e aponta os desafios de tais corporações num contexto de rápidas transformações societárias, de crise de valores e de re-apropriação das perspectivas humanistas aplicadas aos negócios.

Valendo-se de uma breve revisão literária especializada, o texto preten-de demonstrar que essa mudança de paradigma empresarial assume como fundamento uma ação empreendedora alternativa que se associa, por prin-cípio, ao paradigma socioambiental.

Encontram-se sistematizados os conceitos-chave que explicitam a importân-cia de uma mudança de estratégia empresarial que aposta na idéia de que a sobrevivência corporativa, hoje, está calcada para além dos seus interesses eco-nômicos dos negócios. Não pode prescindir dos princípios da inclusão social de novos atores sociais que assumem a condição de partícipes da estratégia empre-sarial de curto, médio e longo prazo.

Mostraremos que a responsabilidade social corporativa se coloca em oposição ao padrão ético empresarial tradicional, visto que amplia tanto qualitativamen-te quanto quantitativamente o espectro de relacionamentos sociais. Trata-se de um modelo ético que amplifica a condição do empreendedorismo, habilitando-o para melhor se preparar para lidar com a crise macroeconômica, política, social e cultural em que estão inseridos os agentes econômicos.

O texto procura caracterizar a evocação e fortalecimento de um conjunto de diretrizes bem adaptadas à ação do mercado e aos princípios que não se subor-dinam, exclusivamente, ao míope interesse de atender às exigências da melhor oferta de rentabilidade monetária. Ao contrário, tende a não abrir mão dos fun-damentos que ampliam os horizontes empresariais no tempo e no espaço.

Em seguida, trataremos das implicações dessa mudança de foco ético e social empresarial, recuperando a discussão da gestão de pessoas que se vincula a esse novo paradigma. Retoma-se a idéia dos direitos humanos em relação ao mundo do trabalho, demonstrando os laços deste assunto em relação ao perfil da nova empresa engajada na estratégia da responsabilidade social corporativa. Enuncia-mos, por fim, que falar em responsabilidade socioambiental significa reconhecer a ampliação do espaço público da ação corporativa. Significa dizer que esse novo paradigma empresarial não só reavalia o potencial contido no feixe de relações sociais englobadas pela empresa como também os compromissos futuros conti-dos nas ações presentes em relação aos princípios de preservação do meio am-biente em que se insere.

São objetivos deste tema:

• Relacionar o surgimento dos conceitos de responsabilidade social aos princípios e fundamentos éticos que vêm reorientando a perspectiva de ação empresarial, socioambientalmente comprometida;

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• Demonstrar que a insistência no modelo tradicional que separa os interesses dos negócios das lutas pela superação dos processos de exclusão social e da degradação ambiental, redundam em maior ineficácia do sistema como um todo;

• Criticar esse erro histórico que se traduz simultaneamente em falência mercantil, propagação do aprofundamento da crise estrutural das relações fundamentais da sociedade e exploração desmedida dos ecossistemas.

Os fatores que têm levado as organizações empresariais a reverem seus tra-dicionais conceitos de gestão empresarial são explicitados ao se discutir a pers-pectiva da responsabilidade social como uma tendência histórica em processo de contra-cultura em relação ao paradigma tradicional conservador. Sem, no entan-to, cair no engodo de que estamos perto de uma reviravolta de princípios, cha-mar-se-á a atenção para a necessidade de se levarem em consideração as rápidas transformações sócio-técnicas que alteram a experiência espácio-temporal das condições gerais dos negócios e as relações sociais fundamentais da produção, comercialização e serviços em geral.

Empresas que se abrem, públicos que se mobilizam

Nos últimos anos tem crescido muito a divulgação, especialmente pelos meios de comunicação de massa, sobre experiências de investimentos privados com fi-nalidades compatíveis com os interesses públicos. Aparentemente, isso poderia sugerir uma contradição, tanto do ponto de vista teórico, quanto do ponto de vista prático. Mas isso só se verifica quando restringimos nossa perspectiva de análise à lógica tradicional de ver como díspar a conhecida tríade: Estado e so-ciedade versus mercado.

Segundo a lógica tradicional, a missão empresarial vincula-se exclusivamente ao interesse de seus acionistas. Nessa perspectiva, a noção de interesse público entraria em choque com a clássica distinção e incompatibilidade de princípios éticos que distinguem e põem inevitavelmente em situação antagônica as ne-cessidades públicas diante dos interesses e das aspirações de entes privados. No entanto, alguns autores13 vêm demonstrando que a revisão desses conceitos não só é possível como já é uma realidade. Inúmeras corporações já se deram conta de que a mudança de paradigma ético é não só uma questão filosófica incontornável, mas uma estratégia de ocupação de espaço e legitimidade. Esse movimento tem ganhado explicação e fundamentação teórica no conceito de responsabilidade social.

Segundo Ashley (2006), pode-se observar uma evolução do conceito de res-ponsabilidade social. Do ponto de vista histórico, é uma mudança que denota um deslocamento da motivação ética, tendo em vista a sobrevivência empresa-rial num momento de crise estrutural do capitalismo que se dissemina a partir de meados do século passado.

As exigências da crise e o rápido crescimento do movimento socioambiental empurram a empresa para a necessidade de uma revisão de conceitos e para a importância de um engajamento num projeto ético-político de amplitude socie-tária. Essa mudança tem-se caracterizado pela adoção dos princípios de respon-

13 Segundo Tenório (2004), a questão da responsabilidade social empresarial é uma temática não apenas recente, mas polêmica na literatura especializada. Pode-se encontrar fragmentos que fundamentam esse debate desde os pensa-mentos clássicos do liberalismo econômico de Adam Smith, Malthus e David Ricardo, passando pelos teóricos que discutiram os limites do capitalismo monopolista de Estado, como Keynes, Friedman até aos pensadores da atualidade que discutem a emergência de um porvir centrado na idéia do pós-fordismo, como Bell, Capra e De Masi.

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sabilidade social corporativa, isto é, uma intenção de ruptura como um modelo de desenvolvimento tradicional no nível dos compromissos privativos da empre-sa, fazendo-a se comunicar com os interesses públicos.

Para a autora, se observa com mais clareza, especialmente a partir dos anos 1970, a incorporação de novos parâmetros de eficácia empresarial marcadamen-te influenciados por valores éticos que extrapolam o restrito interesse mercantil. Verifica-se a adoção, em graus diferenciados, do compromisso empresarial com a implementação de estratégias de gestão que tendem a ultrapassar o clássico sentido de colocar como antagônicos os interesses públicos, de um lado, e as necessidades de mercado e os interesses privados, de outro.

Essa mudança da vontade político-empresarial incorporada por valores éticos é observada por Ashley em duas vertentes. Uma primeira visão procura incorpo-rar aos interesses clássicos da empresa a satisfação dos interesses e necessidades da comunidade na qual está inserida.

Uma segunda visão, menos divulgada, amplia ainda mais o espectro de ar-ticulação do projeto ético-político-empresarial porque abrange o que a autora chama de Stakeholders. O termo “stakeholders” foi colocado para designar o con-junto de pessoas ou empresas influenciadas direta ou indiretamente pelas ações de uma organização empresarial. Ele incorpora como interessados também nos negócios empresariais a natureza, o governo, a rede de fornecedores, a relação consumidor / comprador, etc. Trata-se, portanto, de uma maneira ainda mais radi-cal de se perceber a necessidade de ampliação da missão empresarial.

Essa vertente chama a atenção para o fato de que o lucro empresarial não se esgota na troca de bens materiais. Ao contrário, os valores que têm como fonte os bens intangíveis que se tornam cada vez mais vitais para a eficácia empresarial são incorporados à lógica da produção tradicional, pois rompem com as barreiras econômicas tradicionais que subjugam a poten-cialidade das relações sociais.

A responsabilidade social é um conceito que orienta a estratégia empre-sarial em direção à busca da incorporação da subjetividade social como parte do negócio.

É, por isso, um paradigma que nega o trágico, o falso e o aparente antago-nismo insuperável que tem colocado em situação de oposição os interesses da sociedade e os interesses da corporação empresarial. É uma proposta de revisão radical de conceitos que admite a possibilidade de se transcender a visão redu-cionista do negócio, antes restritiva ao estímulo das trocas simbólicas contidas nas relações sociais e agora interessada nos valores humanos de sobrevivência na terra como parte indispensável ao bom negócio.

Essa última visão é a que nos interessa ressaltar.É a idéia de alguns autores para os quais o paradigma da responsabilidade social termina por ser a estratégia mais adequada para conduzir o capitalismo no sentido ético-político do regime de produção pós-industrial e enfrentar, ao mesmo tempo, a crise estrutural pela qual ele passa.

Essa mudança de rumo se efetiva no nível das organizações. Ela está sendo conduzida não só em função das necessidades de sobrevivência das empresas em face dos desafios de um mercado altamente competitivo, mas também por força da percepção de que a (re)composição do capital social dessas organiza-ções, depende inevitavelmente de uma estratégia comunicativa que amplie seu espectro de interlocutores sociais tanto de dentro para fora quanto vice-versa. Esta nova habilidade empresarial torna-se o caminho eficaz para tornar mais for-te o compromisso social dos negócios, dentro do entendimento de que é esta

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a fórmula que irá conseguir atingir a principal fonte de valor na atualidade, que é o complexo das relações sociais, constituintes de patrimônios, bens e serviços de uma sociedade livre dos obstáculos de um tipo de “progresso” obtuso e com visão de curto prazo.

Esse complexo de relacionamentos significa uma ampliação das responsabi-lidades sociais da empresa. Como foi dito, Ashley utilizou a expressão stakehol-ders14, para referir-se ao conjunto de atores integrados no processo de responsa-bilidade social da empresa, incluindo demandantes de produtos, fornecedores, trabalhadores, gestores, acionistas, agentes financeiros, governo, comunidade local, ecossistema afetado pela sua operação, academia, etc. (Ethos, 2003b, p.11).

O fenômeno da ação social da empresa, para além dos seus interesses imediatos, passa a ser objeto de observação e análise não só no Brasil, mas em outros países. Teve início nos Estados Unidos, depois na Europa e agora nos é alcançado pelas regras globalizantes dos negócios em tempo real. Segundo o Instituto Ethos, a empresa responsável se ocupa da comunicação dialógica15 com as diferentes partes. Em primeiro lugar com os acionistas, depois com os funcionários, prestadores de serviços, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente. Isso, em diferentes espaços, de modo a asse-gurar que esse processo seja incor-porado pela organização no raio de influência da sua cadeia produtiva.

Tem-se argumentado que as em-presas, de maneira geral, consomem recursos naturais renováveis ou não, que estão direta ou indiretamente vinculados a um patrimônio que não lhes pertence, um patrimônio que concer-ne à humanidade. As empresas, portanto, vêm-se utilizando de capitais finan-ceiros e tecnológicos que pertencem a pessoas físicas e também à sociedade, donde se conclui que as empresas giram muito mais em função da sociedade do que em função delas mesmas, devendo em troca, no mínimo, prestar contas a essa sociedade sobre a eficiência no uso desses recursos.

O conceito de responsabilidade social, quando aplicado à lógica empresarial, rompe com o pensamento tradicional de as empresas se furtarem a uma discussão mais am-pliada do desempenho do processo produtivo na relação consumo e sociedade.

A responsabilidade social é vista, portanto, como um compromisso da empre-sa com relação à sociedade e à humanidade em geral. É uma forma de prestação de contas do seu desempenho, baseada na apropriação e no uso de recursos que originalmente não lhe pertencem (Melo Neto, 1999).

Essa nova perspectiva de reciprocidade de bem comum, redimensiona as relações sociais tanto do ponto de vista interno quanto do ponto de vista externo das empre-sas e é o argumento fundamental para que as empresas assumam seu posicionamen-to sociopolítico para além dos seus interesses imediatos, engajando-se na solução dos problemas sociais que afligem a sociedade em que se inserem.

Há outra definição de responsabilidade social empresarial limitada à atuação da empresa na condição de investidora em termos de projetos sociais, financian-do ações que possam ir além de um mecanismo de compensação das “perdas” da sociedade, colocando-se no tempo e no espaço dos direitos sociais que atra-vessam sua organização.14 Stakeholders pode ser traduzido como as partes interessadas no negócio. (Cf. Ethos, 2003b, p.99.)]15 Comunicação em via de mão dupla, onde são postos diferentes sujeitos em diálogo de maneira que todos tenham

espaço de fala e atenção e igualdade de oportunidades.

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Nesta visão, é necessário que vejamos a responsabilidade social das empresas em duas dimensões: a do público interno e a da comunidade.

A responsabilidade social interna diz respeito ao exercício da cidadania empresarial focada na relação com os empregados e seus dependentes. Ou seja, tudo aquilo que diz respeito a criar um ambiente humano e agradável de trabalho e a contribuir para o bem-estar comum daqueles que fazem as relações de produção imediata da empresa, e que não se reduz aos ganhos empresariais em termos de produtividade.

A responsabilidade social externa tem como foco a comunidade mais próxima da empresa, inserindo a dinâmica empresarial no contexto de vizi-nhança, municipalidade e em toda aquela dimensão espacial que circunda a dinâmica produtiva.

Do ponto de vista da questão ambiental, a responsabilidade social pode ser vista numa empresa ambientalmente responsável quando ela investe em tecno-logias antipoluentes, recicla produtos e lixo, implementa “auditorias verdes”, cria áreas verdes, mantém um relacionamento ético com os órgãos de fiscalização, executa programa interno de educação ambiental, diminui ao máximo o impac-to dos resíduos na produção do ambiente, é responsável pelo ciclo de vida de seus produtos e serviços e dissemina para a cadeia produtiva práticas relativas ao meio ambiente (Morales, 2002, p. 60).

Entretanto, não é sempre que ocorre esse novo paradigma de cidadania em-presarial. Há casos de empresas que são mais eficazes e atuantes em apenas uma dessas dimensões. Quando se consegue realizar a responsabilidade social nas diversas dimensões admite-se que há uma responsabilidade social plena.

Em primeiro lugar é preciso reconhecer que a adoção de valores ambientais representa uma mudança cultural e comportamental baseada na educação, no diálogo e na influência do que alguns autores chamam de stakeholders.

Dentro do que temos vindo a expor até aqui, lembramos que stakehol-ders quer dizer grupos de interesses que se relacionam, afetam e são afetados pela organização e atividades dela decorrentes. Este termo pode ser traduzido como parte interessada nos negócios da empresa. É a pessoa ou o grupo com interesse comum no desempenho da organização e no ambiente em que ela opera. A maioria das organizações possui os seguin-tes stakholders: os clientes, a força de trabalho, os acionistas, os proprietários, os fornecedores, e a sociedade.

O conjunto desses públicos internos e externos constitui o capital social da empresa. Na perspectiva da responsabilidade social, o público interno da empresa precisa ser reconhecido como um sujeito portador de direitos e de projetos sociopolíticos que não se reduz à idéia de mercadoria que se possa pagar como salário.

A forma da participação em lucros e resultados é um exemplo do reconheci-mento da contribuição dos funcionários para o desempenho da empresa, o que vai além das atribuições formais que lhe são dirigidas.

Se isso é verdade, a empresa deve reconhecer critérios de demissões que con-siderem o impacto dessa dispensa de forças de trabalho em relação às possibi-lidades de recolocação no mercado de trabalho, levando-se em conta o número de dependentes associados ao possível trabalhador demitido.

Desse ponto de vista, a responsabilidade social de uma empresa em relação ao seu público interno compromete-se a desenvolver uma política empresarial empenhada com a menor rotatividade possível de mão-de-obra em relação ao mercado, visto que isso afeta de forma positiva a qualidade não só de produtos

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e serviços oferecidos, como o índice de desemprego e conseqüentemente das diversas formas de manifestação da questão social, num entorno imediato do território em que se localiza a empresa.

Além disso, a empresa socialmente responsável deve valorizar a diversidade de seu público interno e oferecer oportunidades iguais independentemente de sexo, raça, idade e origem, entre outros, considerando o ambiente de trabalho, as diferentes histórias de vida, as habilidades e visões de mercado.

A mudança de paradigma implícita na idéia de responsabilidade social empre-sarial efetiva-se com maior escala em relação ao público externo. Por exemplo, uma nova perspectiva de visão de comunidade renova a cultura empresarial quando se faz um envolvimento claro, transparente e direto na comunidade em que está situada a empresa.

Desse ponto de vista externo, a responsabilidade socioambiental implica considerar como premissa de sua estratégia empresarial o pano de fundo do desenvolvimento sustentável como aquele tipo de perspectiva socioeconômica que tem a capacidade de atender às necessidades presentes de produção e consumo sem comprometer os direitos das gerações futuras. Isso requer uma revisão do conceito de comunidade.

Em primeiro lugar porque é da comunidade que, em geral, surgem as fontes de fornecimento dos insumos básicos para funcionamento de qualquer empre-endimento. É da comunidade de onde são fornecidos todos os elementos de in-fra-estrutura e mão-de-obra para a empresa. Portanto, uma empresa responsável socialmente vê na comunidade uma prioridade da administração, que precisa gerenciar um impacto de sua produtividade e manter o bom relacionamento com as organizações que atuam no seu entorno social imediato.

Uma nova maneira de relacionamento com os fornecedores também emana da responsabilidade social empresarial, visto que uma empresa, pólo de atração de muitos fornecedores, é uma organização que transmite valores de conduta ética no cumprimento de contratos e num relacionamento com os parceiros.

Nesse sentido, uma empresa socialmente responsável na cadeia produtiva tende a ter uma preocupação no incentivo dessas novas práticas em todos os seus fornecedores, tornando-os também engajados numa prática socialmente responsável, garantindo os padrões de proteção ambiental e de segurança e abolindo, por exemplo, a utilização da mão-de-obra infantil. Uma empresa imbu-ída da responsabilidade social exerce um poder de pressão nessa cadeia produti-va imediata, fazendo uso da força do bom exemplo na conduta do ato produtivo, na medida em que exige de seus parceiros, no ato de contratação, a reprodução dos novos valores éticos em que esteja engajada.

A responsabilidade social também se refere aos princípios éticos ativados no pro-cesso de informação, isto é, aplicando corretamente uma política de transparência nos resultados de seus principais indicadores, de modo que seja legível por seus acio-nistas proprietários e investidores. Uma prática socialmente responsável é incompatí-vel com condutas pouco transparentes em relação à publicidade institucional.

A fraude nos dados da empresa e nos relatórios de produtividade, de lucro e impacto ambiental revela o grau de dependência a que chegaram as empresas no que se refere a sua transparência em relação à sociedade. Sabe-se hoje que o bom desempenho econômico de uma empresa depende cada vez mais da confiabilidade dos dados não manipulados e divulgados para acesso de investi-dores. Sem confiabilidade nos dados informados pelas empresas, não há como o sistema informacional de investimentos externos operar satisfatoriamente16.

16 Veja os dados mais recentes nos EUA de empresas que foram pegas fraudando balancetes de indicadores econômicos para não perderem investidores no mercado financeiro.

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A fraude nos balanços, não só econômicos, mas sociais, revela-se não só uma prática ilegal, mas ineficaz a longo prazo. A boa conduta na divulgação de tais balanços define a reputação da empresa.

O princípio da transparência empresarial torna-se um capital social, que é um patrimônio imaterial que repercute positivamente no mercado, pois associa va-lores éticos à logomarca da empresa, tornando-a habilitada ou desabilitada pelo conjunto da sociedade para exercer sua parcela de co-responsabilidade na ex-pansão dos direitos humanos e socioambientais em que se insere.

Nesse sentido, também o sentimento contra a impunidade deve ser incor-porado ao paradigma da co-responsabilidade socioambiental pelas empresas. Por exemplo, o pagamento de propinas, que não está limitado à relação com os agentes de governo, deve ser uma ação combatida pela empresa social-mente responsável, pois esta deve atuar com transparência política, estimu-lando a cidadania, como fator indispensável para o êxito de um projeto ético, político e empresarial.

Encarar os concorrentes de outra maneira também é uma prática responsável, visto que, monopolizar ou oligopolizar o mercado tende a ser uma prática insus-tentável tanto do ponto de vista ecológico quanto socioeconômico.

A responsabilidade social e empresarial também diz respeito a um novo paradigma de relacionamento com os clientes, pois os consumidores já não são mais passivos, têm organizações próprias. Existe um movimento con-sumerista17 no Brasil e principalmente nos países mais desenvolvidos, que assume um caráter político, na medida em que se expressa no boicote de determinados produtos que não tenham embutido valores éticos, não só na relação da empresa com os seus públicos internos , mas também na relação com o meio ambiente. Isto quer dizer que o consumidor não olha mais para as embalagens dos produtos pela sua aparência, mas a sua decisão de com-pra leva em consideração outros valores, outros fatores que dizem respeito à responsabilidade social reconhecida dessas empresas.

Portanto, o novo desafio colocado às empresas em relação aos seus clientes é o de fazer uma autocrítica permanente quanto às implicações socioeconômicas, ambientais e políticas de seu processo produtivo, colocando seus relatórios ao acesso desses clientes em potencial.

Nesse sentido, a responsabilidade social percebe nas empresas um pólo que aglutina todos os stakeholders, ou seja, a responsabilidade social e empresarial ca-talisa a sinergia dos esforços entre iniciativa privada, Estado e sociedade, que po-derão ser os protagonistas de um novo paradigma socioeconômico dos países.

A primeira manifestação internacional organizada com o intuito de rever o papel da iniciativa privada em relação ao meio ambiente foi realizada na forma de um grupo de trabalho formado pela iniciativa privada mundial, participante da Conferência Internacional de Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro em 1992 (Rio-92), que representou um marco do grupo de empresários que parti-ciparam da Eco-92, no sentido de influenciar as discussões técnicas e políticas, mostrando à opinião pública as iniciativas implementadas pelas empresas.

Havia um espírito desse grupo empresarial atuante na Eco-92, na perspectiva de que a correta prática de responsabilidade social pode melhorar o desempe-nho e a sustentabilidade a médio e longo prazos, proporcionando um valor agre-gado à imagem corporativa da empresa, motivando o público interno, favore-cendo as decisões de compra por parte dos clientes, oferecendo uma vantagem

17 Nova designação para o consumidor consciente que busca levar em consideração, na escolha e compra de um produto, a responsabilidade socioambiental na produção.

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competitiva, bem como facilitando o acesso ao capital e ao financiamento. Por outras palavras, esse conjunto de atitudes novas poderia, na visão desses em-presários, mobilizar, de forma positiva, a cadeia produtiva, desde os dirigentes empresariais até aos governos local e federal.

É bem verdade que, conforme pesquisa realizada pelo Instituto Ethos, em parceria com o jornal Valor Econômico, publicada em 2000, na prática, a maioria dos consu-midores brasileiros ainda não considera o grau de responsabilidade social na hora de sua decisão de compra. Há muito que avançar no sentido de o consumidor brasileiro exercer o ato de compra como estratégia de prestigiar empresas socialmente respon-sáveis, mas nem por isso o exercício da punição por meio do boicote na compra de produtos de empresas socialmente responsáveis é uma ficção no país.

Os indicadores socioambientais do negócio

Nesse contexto, uma das saídas para o enfrentamento de tais problemas é abrir as portas para o diálogo entre governo, terceiro setor, organizações da so-ciedade civil e a ação socialmente responsável da iniciativa privada. A responsa-bilidade social e empresarial é, portanto, um compromisso com um novo paradig-ma ético nos negócios, de maneira a construir e combinar o resultado imediato da produção no retorno dos seus investimentos de capital, combinado com a qualidade de vida atual e futura, não só na relação com seu público imediato mas em relação à sociedade, de uma maneira geral.

O grande impulso em direção à avaliação da responsabilidade empre-sarial da empresas foi dado, no Brasil, a partir de 1997, com a criação do selo Balanço Social, pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômi-cas (IBASE). Este tipo de certificação tem como meta reconhecer o trabalho das empresas engajadas em projetos de responsabilidade social; essa premiação é feita por meio da divulgação desse selo, utilizando campanhas publicitárias nas propagandas e nas embalagens dos produtos de tais empresas.

Portanto, quando se fala em balanço social, fala-se de um documento conten-do os principais dados quantitativos que permite avaliar a situação da empresa no domínio social, medida em termos de indicadores sociais

Tais indicadores do balanço social possibilitam fazer uma radiografia da empresa que melhor gerencia e planeja seus recursos humanos e naturais e também as rela-ções com seus parceiros. Eles representam um conjunto de informações que relacio-nam as finalidades imediatas da empresa com os objetivos do desenvolvimento sus-tentável em relação à comunidade em que ela está inserida, assim como em relação ao meio ambiente, aos empregados e à sociedade, como um todo.

A institucionalização do balanço social no Brasil começou em 1997, por iniciativa da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em audiência pública, ao se divulgarem as demonstrações financeiras das empresas, e os indicadores de balanço social.

Por falta de consenso, a iniciativa não vingou. Até hoje as controvérsias e os dissensos em relação à obrigatoriedade da inclusão de ações sociais não têm favorecido o cumprimento de algumas regras de elaboração de balanço social no país.

Alguns autores afirmam que existem diferentes estágios de conscientização da necessidade de publicação de balanço social. Num primeiro estágio, o interes-se da empresa na publicação do balanço social se dá por uma adesão voluntária. Num segundo estágio, há uma obrigatoriedade da publicação de balanço social. E num terceiro estágio, de nível de conscientização mais alto, nós temos a ins-titucionalização do balanço social como prática de cidadania empresarial e de estratégia social (Melo Neto, 1999, p. 127).

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Quando se observa o balanço social das maiores empresas brasileiras, percebe-se uma tendência de aumento nos investimentos e em ações de res-ponsabilidade social, tanto do ponto de vista interno, quanto do externo.

São dois tipos de indicadores que compõem a fórmula de cálculo do balanço so-cial18. Indicadores laborais, que se referem à folha de pagamento (salários mais bene-fícios), observando-se os efeitos diretos sobre a melhoria da qualidade de vida dos funcionários da empresa, e indicadores sociais, que representam o total de gastos com impostos (impostos, contribuições e taxas), observando-se os efeitos indiretos sobre a melhoria da qualidade de vida dos funcionários e da população em geral.

Outro tipo de ação veiculada como responsabilidade social decorre do argumen-to de que, hoje em dia, não há grandes variações de preço ou qualidade que sejam diferenciais de algum produto. Responsabilidade social, portanto, vira valor agregado aos produtos. Dai que obrigações legais, quando cumpridas, são anunciadas como responsabilidade social, assim como benefícios aos funcionários. Mas não a degrada-ção do meio ambiente, quando existe, é anunciada como responsabilidade social. A percepção deste tipo de ocorrência normalmente gera grande descontentamento e a crítica de que isto é uma perversão do uso do termo responsabilidade social.

Uma corrente de pensamento contrária a esta é a de que este uso faz parte do campo, entendendo-se que a expressão surgiu para designar ações da iniciativa privada, mas que há um desenvolvimento natural das relações e que as pessoas são críticas o suficiente para perceberem os abusos.

Algumas formas de controle social para o mau uso do termo, dizem respeito, por exemplo, aos métodos utilizados no terceiro-setor, pois os mesmos promo-vem a participação do povo e o desenvolvimento de cidadania. Com isto, me-lhora-se a condição de reflexão, crítica e controle das ações que usam o nome responsabilidade social, como são aquelas que o governo desenvolve e as das próprias ONGs. Esta forma de controle está incluída nos critérios do IBASE (Insti-tuto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas)

Esse processo culminou na Eco-92, quando se fez a normatização dos produ-tos dos meios de produção em busca da qualidade do meio ambiente. Foi criada em 1996 a série ISO 14000, que normatizou os processos de certificação, dando uniformidade às especificações e diretrizes para o sistema de gestão ambiental.

Em 1997, foi criada a norma SA 8000, pela agência “CEPAA” que aborda as questões sociais relativas às condições de trabalho dos funcionários, ao local de trabalho e ao controle dessas questões na cadeia de fornecedores.

Em 1998, foram instituídos indicadores Ethos de responsabilidade social e em-presarial por um grupo de empresários, tendo como objetivo o auto-diagnóstico das empresas em relação à incorporação da visão de responsabilidade social.

Em síntese, pode-se dizer que a evolução do conceito de responsabilidade social ocorre no mesmo momento em que a consciência ambiental extrapola os muros da ecologia e ganha uma dimensão global baseada na filosofia do desenvolvimen-to sustentável como alternativa ao modelo de desenvolvimento tradicional.

Alguns autores observam que os recursos destinados a projetos de respon-sabilidade social e empresarial, em geral, são investimentos vultosos que ficam restritos a empresas de grande porte.

Em 2003, foi firmada uma parceria entre o Instituto Ethos, principal ator, no Brasil, da divulgação de idéias da responsabilidade social e empresarial, e o Ser-viço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), com o objetivo 18 Springer: ano 2001 (último ano divulgado no site www.balançosocial.org.br) Indicadores sociais internos (ISI): 22 mi-

lhões; externos (ISE): 75 mil; e ambientais (ISA): 39 mil. Gerdau: ano 2004 - ISI: 607 milhões; ISE: 3,34 milhões; e ISA: 45 mil. Random: ano 2004 - ISI: 129 mil; ISE: 160 mil. Bradesco: ano 2004 - ISI: 2,208 milhões; ISE: 2,32 milhões. Votorantim Grupo: ano 2004 - ISI: 606 mil; ISE: 3,264 milhões; e ISA: 154 mil.

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de divulgar o conceito de responsabilidade social e empresarial e incentivar sua incorporação no segmento de micro e pequenas empresas.

Falar de micro e pequenas empresas é estar atento a aproximadamente 99% das empresas formais brasileiras (IBGE, 2004). Mas o fato mais importante sobre esse segmento é que ele está distribuído no território de maneira muito diversi-ficada e de grande capilaridade.

Falar em cadeia de valor da ação social empresarial significa dizer que, na ca-deia da responsabilidade social empresarial, é possível afirmar que o paradigma novo reside na possibilidade de agregar valor ao processo produtivo empresarial com base em preceitos sociais.

Na perspectiva da responsabilidade social, admite-se que existem diferentes graus de agregação de valor em função de atividades desempenhadas pelo ca-pital social das empresas. Num pólo de menor valor agregado, encontram-se as atividades esportivas e as recreativas. E num outro pólo está o valor das ações sociais com as atividades geradoras de emprego e renda.

Entre um extremo e outro, temos atividades culturais ou educacionais e as-sistenciais. Essa distinção é importante para ressaltar que, se depender da dis-posição dessas atividades nessa seqüência de agregação de valor, as empresas podem ou não estimular o desenvolvimento social da comunidade.

Vivemos um momento de grande transformação do suporte tecnológico da sociedade mundial, de uma maneira extremamente veloz e impactante. Obser-va-se a transformação dos meios de comunicação e a socialização do acesso às redes telemáticas, influenciando não só os padrões de consumo, como também os modelos de produção das empresas, sejam elas transnacionais, sejam elas simplesmente empresas de pequeno porte.

Se a humanidade, por meio de seus agentes produtivos, especialmente as empresas, não assumirem para si a responsabilidade social, caminharemos rapidamente para a de-gradação não só do meio ambiente, mas sobretudo das relações sociais de convivência. Poderemos cair diretamente na barbárie, sem a possibilidade de alternativas que resga-tem a ética dos valores humanos. Talvez a responsabilidade social reincorpore essas tec-nologias, numa perspectiva mais justa e mais racional do desenvolvimento econômico.

Nesse sentido, na mudança de paradigma de desenvolvimento a partir da re-volução da responsabilidade social empresarial, o público e o privado, tornam-se cada vez mais interdependentes, e as fronteiras que separam os muros das em-presas dos horizontes citadinos estão cada vez mais intangíveis diante da revo-lução informacional a caminho.

Nesse sentido é necessário ampliar a noção de comunicação empresarial, com base no princípio de responsabilidade socioambiental aumentando a relação en-tre o sujeito e o espaço e considerando a mediação das novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC).

Isto quer dizer que o espaço público empresarial passa a ser ampliado e, por-tanto, o tipo de marketing social tradicional das empresas na perspectiva da res-ponsabilidade social ganha novos ingredientes críticos.

O novo espaço público da atuação da empresa socialmente responsável im-põe-se para a superação dos limites do desempenho tradicional empresarial, no que diz respeito ao lucro, ao crescimento e à sobrevivência.

É necessário, para a atuação empresarial, ampliar o locus de responsabilidade da gestão empresarial, transcendendo o espaço das cidades, via redes de comu-nicação, que interliguem os centros urbanos e ampliem a noção de urbano e ru-ral, de nacional e internacional, dinamizando uma teia mundial de valores éticos que resgatem o verdadeiro sentido de ser humano.

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ANOTE

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RESPONSABILIDADE SOCIAL, INCENTIVO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS E

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PRODUTIVOS LOCAIS – APL

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Neste tema discute-se a importância dos pequenos empreendimentos no processo produtivo geral e as dificuldades encontradas por esse setor para se estabelecer no mercado, podendo concorrer com seus produtos.

Mostra-se a importância de políticas de concessão de crédito e de incentivo ao desenvolvimento e estabilização das micro e pequenas empresas e as neces-sidades e problemas enfrentados por estas no processo produtivo geral. Discu-te-se também o que está sendo implementado para garantir a sobrevivência e o desenvolvimento desse setor produtivo.

Ressalta-se a importância dos arranjos produtivos locais como estratégia ne-gocial em que empresas de uma região ligadas por vínculos produtivos seme-lhantes se reúnem e desenvolvem um padrão de produtividade e de comerciali-zação, seguindo os modelos de um conglomerado.

Além disso, observa-se a interação e a cooperação existente entre as micro e pequenas empresas do arranjo produtivo local, direcionando os serviços e a pro-dução na tentativa de aumentar a eficiência do grupo. Isso é possível justamente pelo fato de as empresas estarem estabelecidas em uma determinada região se utilizarem dos conhecimentos e experiências adquiridos para maximizar a pro-dução, ajustando suas necessidades às vantagens apresentadas pela localidade.

São objetivos desse tema:

• Discutir o papel de micro e pequenas empresas na estratégia empresarial global e como esses empreendimentos têm contribuído para o progresso em muitas regiões do país;

• Abordar como a responsabilidade social e empresarial (RSE) se tornou um fator de competitividade também para as micro e pequenas empresas que vêm adotando novos parâmetros para produção e mercado e como uma política de concessão de crédito aos pequenos empreendedores é fator importante no desenvolvimento dessas empresas;

• Discutir os arranjos produtivos que congregam as empresas e as perspectivas para o setor, que vem garantindo o desenvolvimento e a estabilização ao mercado local e regional como também às comunidades onde estão inseridas.

Gestão, sustentabilidade e responsabilidade corporativa

A reflexão sobre o papel das empresas na sociedade e o discurso sobre a res-ponsabilidade social são recentes. Segundo Borger (2001), em seus primórdios, a própria instalação de uma empresa já estava imbuída de uma noção de cum-primento de responsabilidade, na medida em que se relacionava com geração de emprego, circulação de capital e dinamização da economia local em função dos negócios paralelos surgidos a partir das operações da empresa instalada. So-mente em um segundo momento, surge a discussão sobre as responsabilidades de uma empresa além dos resultados gerados diretamente por suas operações.

Avaliando o número de empresas existentes no país e a atuação destas no pro-cesso de desenvolvimento nacional, busca-se entender o papel das micro e das pequenas empresas existentes, que superam em muito o número de empresas de médio e grande porte, e sua inserção no processo de desenvolvimento regional.

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De acordo com dados do IBGE (2004), em 2002, as micro e pequenas empresas correspondiam a, aproximadamente, 99% das empresas formais atuantes no Bra-sil, retirando-se, do universo de análise, as organizações atuantes na administra-ção pública, na prestação de serviços coletivos e os organismos internacionais.

Atuavam no Brasil, em 2002, em números absolutos, 4.361.319 unidades for-mais. Deste total, 4.100.133 eram microempresas; 230.613 eram empresas de pequeno porte; 19.590 eram empresas de médio porte; e 10.983 consistiam em empresas de grande porte (IBGE, 2004)19.

São classificadas como microempresas, segundo o Estatuto das MPEs de 1999, as empresas que possuírem receita bruta anual igual ou inferior a R$ 433.755,14 (quatrocentos e trinta e três mil, setecentos e cinqüenta e cinco reais e quatorze centavos) e pequena a empresa com receita bruta anual superior a R$ 433.755,14 e igual ou inferior a R$ 2.133.222,00 (dois milhões, cento e trinta e três mil, duzen-tos e vinte e dois reais).

Segundo o Sebrae, considera-se microempresa do setor industrial aquela com até 19 pessoas ocupadas, e do setor de comércio e serviços a que possui até 9 pes-soas ocupadas. A pequena empresa do setor industrial possui de 20 a 99 pessoas ocupadas, e a do setor comercial e de serviços, de 10 a 49 pessoas ocupadas.

Aliando o número de empresas e o total de empregos gerados por estas, percebe-se a relevância do papel das micro e pequenas empresas no cenário econômico e social do país. Esses dados estimularam a criação de parceria en-tre o Instituto Ethos e o SEBRAE, com o objetivo de informar e estimular esses empresários a adotarem políticas e práticas de responsabilidade social e empre-sarial, por meio do Projeto Ethos-Sebrae de responsabilidade social para micro e pequenas empresas. Implementado sob coordenação do Instituto Ethos, este projeto gerou, em 2003 e 2004, produtos direcionados para o público formado por micro e pequenos empresários (Ethos, Sebrae, 2003).

O movimento da responsabilidade social empresarial tem crescido muito no Brasil e em todo o mundo, pois contribui diretamente para a solução de proble-mas sociais e ambientais da comunidade e costuma criar uma imagem positiva da empresa e dando maior poder de competitividade no mercado..

É significativo o número de grandes e médias empresas que selecionam seus parceiros nas pequenas ou microempresas, considerando os critérios de responsa-bilidade negocial. O acesso ao crédito também tem se pautado por este modelo.

Como exemplo temos o Grupo Pão de Açúcar, que criou em dezembro de 2002 o projeto “Caras do Brasil” para incentivar a produção e a comercialização de produtos que tenham o desenvolvimento sustentável como base de produ-ção, valorizando aspectos como geração de riquezas das comunidades e fixação em seus locais de origem. O projeto busca atender também o consumidor cons-ciente que avalia não só o produto final, mas também toda a cadeia produtiva, da produção ao descarte.

Outras grandes empresas, como a rede McDonald’s, impõem uma série de critérios para seleção de fornecedores de todos os portes, incluindo as micro e as pequenas empresas, ao mesmo tempo em que as ajuda a atingir as exigências feitas. Esses critérios são em sua grande maioria baseados em princípios da res-ponsabilidade socioambiental.

Para estabelecerem parcerias com as micro e as pequenas empresas, algumas grandes empreendedoras fazem certas exigências como:19 De acordo com o IBGE (2004), observando o universo das empresas formais que atuavam no Brasil em 2002, aproxima-

damente 49,5% das empresas concentravam-se no setor comercial; cerca de 25,5% atuavam na área de serviço; 13% representavam as empresas do setor industrial; os 12% restantes atuavam na administração pública, em provimento de serviços coletivos e compunham os organismos internacionais.

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- estarem legalmente constituídas, possibilitando a emissão de notas fis-cais e recolhimento de impostos;

- estarem de acordo com a legislação e os tratados vigentes;

- praticarem atos que repudiem o trabalho infantil e a discriminação às minorias;

- respeitarem os direitos dos povos indígenas;

- agirem com responsabilidade ambiental;

- obedecerem a leis referentes às questões sanitárias.

É interessante notar que as empresas com o perfil descrito ultrapassam suas obrigações legais, promovendo e estabelecendo relações éticas e transparentes, ganhando toda a sociedade e as próprias empresas, que podem passar a ganhar mais com o respeito, a admiração social e o crescente número de clientes.

Ao empregar a maioria da mão-de-obra e participar em setores industriais, comerciais e de serviços, além da garantia de uma parcela no PIB, as micro e as pequenas empresas mostram seu poder de atuação no cenário produtivo e de-senvolvimentista do país.

Entretanto, de acordo com o IBGE (2003)20, observam-se sérios problemas que cercam os micro e os pequenos empreendimentos. O principal é representado pelas altas taxas de mortalidade dessas empresas através das dificuldades de acesso ao crédito, da falta de suporte técnico, de gerenciamento adequado, de recursos humanos qualificados e da alta competitividade à qual estão sujeitas em relação a empresas de maior porte.

O conceito de responsabilidade social tende a refletir-se no trabalho cotidiano das empresas, na tomada de decisões que podem gerar impactos na sociedade e no meio ambiente, podendo atingir positivamente as micro e as pequenas empresas.

É a forma como as empresas gerenciam seus negócios que define sua inser-ção social. O respeito à ética ocorre quando as decisões de interesse próprio da sua gestão respeitam o direito, os valores e as necessidades de todos os que es-tão envolvidos no processo e serão direta ou indiretamente afetados por ele.

Espera-se, portanto, que também as micro e as pequenas empresas se preocu-pem, no desenvolvimento de suas atividades, com o impacto negativo que po-dem gerar no meio ambiente e com as relações respeitosas e dignas de trabalho, para estas colocarem no mercado um produto ou serviço de ótima qualidade, garantindo que os ganhos foram obtidos em todo o conjunto da produção, des-de a escolha do produto até à satisfação de todos os envolvidos no processo.

Segundo o Instituto Ethos (2004), nos princípios do Global Compact21, as em-presas são chamadas a apoiar e a respeitar a proteção de direitos humanos reco-nhecidos internacionalmente na sua área de influência e a garantir que em seus acordos e relações comerciais estes princípios sejam cumpridos.

Estes valores22 são apresentados pelo Instituto Ethos e pelo SEBRAE nos proje-tos de implementação de RSE em micro e pequenas empresas.

É importante ressaltar a postura de muitos fundos de investimento que, na hora de investir em pequenos negócios, impõem critérios de gestão socialmente responsável e ajudam as empresas selecionadas a transformarem sua gestão.

20 A questão da sobrevivência é fator crítico na operação das micro e das pequenas empresas,já que, de acordo com o IBGE (2003), as empresas que apresentaram as maiores taxas de mortalidade possuíam até 4 (quatro) pessoas ocupadas.

21 O Global Compact constitui um conjunto de dez princípios que as empresas signatárias devem observar relacionadas aos direitos humanos, direitos do trabalho, direitos ambientais e combate à corrupção. É uma iniciativa das Nações Uni-das desenvolvida com o objetivo de fortalecer a ligação do segmento empresarial com a responsabilidade social.

22 As áreas de implementação da RSE em micro e pequenas empresas apresentadas pelo Ethos e Sebrae são: valores de transparência, público interno, meio ambiente, fornecedores, consumidores / clientes, governo e sociedade.

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Assim, ações que impulsionam mercados locais têm sido também uma gran-de fonte de oportunidades de crescimento para os microempreendimentos.

Um exemplo foi a intervenção do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade de São Carlos (UFSCar) no auxílio a pequenos produtores de la-ranja em Bebedouro (SP), desenvolvendo um projeto sustentável que introduzia o suco de laranja no lanche escolar da rede municipal de ensino. Esta ação inter-rompeu o processo de exclusão social dos pequenos produtores desta fruta na região, mediante o rigoroso controle da produção pelos fabricantes de suco, que antes visavam apenas a exportação.

Dentro desse universo de transformações socioambientais, são redesenhados novos processos para melhorar o uso dos recursos naturais, por meio da infor-mação da origem e do destino de materiais utilizados e usando adequadamente essas informações no desenvolvimento dos negócios, administrando conscien-temente os recursos, reduzindo gastos e criando produtos e serviços cuidadosa-mente elaborados em atendimento aos consumidores mais exigentes, os preo-cupados com o destino do planeta.

Essa mudança de comportamento observada em toda a sociedade não tem origem apenas nos limites ambientais impostos pelo planeta, mas prin-cipalmente, pela consciência social de que é necessário e urgente respeitar essas limitações. Assim, a educação tem papel fundamental nessa mudança de postura. Por isso, toda a gestão empresarial deve estar preparada para esse contínuo processo de aprendizagem temática e tecnológica.

A responsabilidade socioambiental reforça o discurso de centenas de orga-nizações da sociedade civil, entre as quais, organizações não-governamentais (ONGs), associações de bairros, de defesa do meio ambiente, de várias minorias, organizações de defesa dos consumidores e outras. O envolvimento com esses grupos traz desafios e oportunidades negociais quando se tenta trabalhar em consonância com os direitos por eles defendidos.

Várias empresas brasileiras estão incorporadas ao desenvolvimento de prá-ticas significativas de gestão ambiental socialmente responsável. O principal desafio é o de equilibrar as exigências de competitividade com a necessidade de garantir o desenvolvimento sustentável, contemplando as reivindicações da sociedade civil.

Democratização de acesso ao crédito

Surgidos principalmente no final da década passada, os programas de cré-dito popular caracterizam-se pelo fato de o financiamento ser exclusivamente concedido a empreendedores já existentes na zona urbana e na área rural para a reestruturação das unidades produtivas.

No caso rural, a diversificação das atividades econômicas é assessorada por técnicas especializadas, contribuindo para a mudança das práticas arraigadas pouco eficientes, dando novas perspectivas ao pequeno produtor. A mudança nos hábitos ligados à produção é acompanhada pelo aumento da taxa de ocu-pação, ou seja, pela geração de empregos, pelo crescimento da produtividade nas unidades produtivas e pelo conseqüente avanço na geração de renda local.

Recentemente se percebe a multiplicação e a expansão, em vários pon-tos do país, de novas experiências de concessão de microcrédito. Na área urbana, destacam-se os projetos voltados para as comunidades faveladas e para as associações de bairros.

O microcrédito caracteriza-se por ser uma política pública de geração de em-prego e renda, com empréstimos de pequeno valor, a juros abaixo do mercado e

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para pessoas que não têm garantias reais a oferecer. Essa prática tem colaborado significativamente para a melhoria da qualidade de vida das populações de bai-xa renda, tanto as que se encontram nas grandes cidades, como as que estão em pontos diversos do país, como é o caso dos pequenos municípios.

O crédito popular rural nem sempre alcança o sucesso esperado no sentido de ser uma prática sustentável, porque o aumento da inadimplência associa-do a fatores diversificados e dificilmente controlados, entre os quais se contam os problemas climáticos, põe em falência os empreendimentos agrícolas. Daí a grande necessidade de diversificação das atividades desenvolvidas no campo, conjuntamente com a capacitação técnica e gerencial dos micro e dos pequenos empreendimentos rurais, na busca de bons resultados.

Pensando em financiar o crescimento e a estabilização dos pequenos empre-endimentos e ao mesmo tempo promover a expansão da atividade econômica, são implementadas estratégias de concessão de crédito aos grupos com pouca renda ou nenhuma condição de investir em seus negócios.

Vários projetos de concessão de crédito a micro e a pequenas empresas vêm melhorando a qualidade e a quantidade do acesso dos pequenos empreende-dores aos serviços financeiros sustentáveis e formais, em regiões pobres do Brasil. Esses programas demonstram a preocupação em resolver um problema bastan-te antigo, que é a falta de acesso por parte da população de baixa renda aos ser-viços financeiros. Isso porque uma política de juros altos pode colocar os micro e os pequenos empresários numa roda viva ao desenvolver suas atividades, tendo que escolher entre o pagamento de dívidas que se mostram intermináveis ou o investimento em suas atividades produtivas.

O projeto do Banco Mundial ao Nordeste do Brasil – por intermédio do CrediAmigo – visa, além dos empréstimos, oportunizar, aos pequenos em-presários, a organização e o controle das atividades, mediante serviços de capacitação focados na área de recursos humanos e gestão empresarial.

O Programa Nacional de Apoio à agricultura familiar (PRONAF) é uma experiên-cia que trabalha na linha de concessão de microcrédito para famílias na área rural. Ele garante o sucesso do programa pelo controle do processo de liberação do crédi-to, desde o primeiro contato, passando pela avaliação e a aprovação dos recursos.

Juntamente com os resultados positivos que consegue colher na área econô-mica, percebe-se o aumento das perspectivas de criação de renda para uma po-pulação com pouco ou nenhum acesso às linhas de crédito oficiais. O PRONAF atua na promoção e no fortalecimento gerencial das organizações comunitárias, aumentando as esperanças dos beneficiados com o programa e promovendo um ciclo saudável de produção em atendimento ao equilíbrio sustentável ambiental.

As linhas de microcrédito apresentam uma metodologia muito simples, por-que são criadas condições para que os empréstimos sejam liquidados e os juros sejam cobrados de tal forma que possam cobrir os custos operacionais, remu-nerando o capital investido e principalmente garantindo a sustentabilidade do programa. Deve-se ressaltar que um mecanismo para o sucesso do projeto é a considerável baixa da taxa de juros.

Essa política de microcrédito cuida dos aspectos referentes às finanças, mas também incentiva o associativismo, construindo uma rede de solidariedade que qualifica cada vez mais os atores sociais. Além da geração de emprego e renda há a promoção do desenvolvimento local.

O microcrédito apresenta mais do que uma solução para os problemas financeiros dos pequenos empreendedores. Ele traz perspectivas para a melhoria da qualidade de vida das pessoas envolvidas.

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PRODUTIVOS LOCAIS – APL

Se discutirmos fatores capazes de efetivamente diminuir a pobreza em nosso país, certamente falaremos de emprego e distribuição de renda. Estes se encontram diretamente relacionados à melhoria da qualidade de vida da população carente.

Historicamente, os recursos do sistema financeiro e estatal foram usados para financiar a média e a grande empresa. Os pequenos empresários sempre encon-traram as portas fechadas ou uma gama de dificuldades para obter linha de cré-dito. Em se tratando do trabalhador informal ou de alguém que pretende abrir um negócio, as dificuldades são as mesmas. Ambos sempre estiveram à margem do processo de financiamento e de liberação de crédito.

Os pequenos negócios formam um conjunto significativo da economia, pois atuam em diversas atividades, que vão desde a produção e comércio até à pres-tação de serviços.

O grande problema é que as condições de crédito oferecidas pela rede bancá-ria aos pequenos empreendedores são proibitivas. Normalmente, elas possuem muitas exigências e várias restrições.

Experiências em vários países, e também no Brasil, vêm mostrando como uma política de financiamento de crédito popular pode dar certo. Essas instituições credoras se comprometem com a comunidade em que estão inseridas, estabele-cendo mecanismos de concessão de créditos baseados na capacidade de coope-ração e organização das pessoas associadas em cooperativas de produção.

Uma experiência muito conhecida é a do Grameen Bank, em Bangladesh. Conhecido como Banco do Povo, esse banco busca institucionalizar o financia-mento de atividades que geram renda para a parcela mais pobre da população, contrariando as expectativas das instituições tradicionais.

No Brasil, a proposta do governo para auxiliar os pequenos empreendimentos no ajuste econômico do mercado atual, no intuito de dar condições para o cres-cimento produtivo e para a estabilização junto às grandes corporações, passa pela linha de concessão de financiamentos.

O objetivo inicial é promover e expandir as atividades econômicas, condu-zindo políticas de financiamento que venham beneficiar micro e pequenos empreendimentos.

Nessa perspectiva, os bancos públicos têm um importante papel. Eles vêm seguindo uma política de financiamento que promove o desenvolvimento eco-nômico e social. Assim, são importantes os diversos programas de apoio e finan-ciamento a setores estratégicos na geração de emprego e renda que canalizem recursos aos micro e aos pequenos empresários.

Programas como o de crédito assistido estão voltados para o setor da indústria e serviços, concedendo financiamentos, além de apoio técnico, via convênios com universidades e empresas de consultoria, aos micro e aos pequenos empresários.

Visando beneficiar o pequeno produtor, citam-se programas de revitalização de cooperativas, programas de apoio à fruticultura e programas de fortalecimen-to da agricultura familiar.

O crédito e o acesso a serviços financeiros representam instrumentos de-cisivos para o desenvolvimento, para a geração de emprego e renda e para a conseqüente inclusão social. Ampliar e democratizar o acesso ao crédito pelas micro e pequenas empresas, é fator primordial no processo de cons-trução da cidadania.

Outros projetos, sob a coordenação do Ministério da Fazenda, do Ministério do Trabalho e Emprego, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comér-cio Exterior, juntamente com o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o

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INCENTIVO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS E ARRANJOS

PRODUTIVOS LOCAIS – APL

BNDES, trabalham em conjunto a fim de disponibilizar linhas de financiamento para empréstimos de pequeno valor, com taxas de juros reduzidas, que ampliem o universo de atuação das cooperativas de crédito e simplifiquem a abertura de contas bancárias.

Seguindo esta medida, os bancos públicos anunciam atividades de crédito com baixos juros na linha de financiamento para micro e pequenas empresas.

A evolução da economia mundial através do fenômeno da globalização e ace-leração do processo capitalista, muda as relações econômicas e sociais até então conhecidas. As empresas ingressam numa concorrência de escala mundial, não conhecida anteriormente, para garantir mercados potenciais. Com essa competi-tividade acirrada, surge um novo panorama nas relações comerciais, que, aliadas aos avanços tecnológicos e à velocidade das informações, colaboram para mu-danças sociais.

Especificamente falando do setor privado, as empresas com grande velocida-de e criatividade começam a atuar na operacionalização de políticas para todo o público. Por meio da responsabilidade social, sentem-se obrigadas a se envolver em problemas sociais, em prol do bem de toda sociedade.

A força empresarial comprometida com as mudanças sociais é conseqü-ência das transformações mundiais observadas, que geraram problemas mais complexos de natureza não só econômica, mas social e ambiental tam-bém. É importante buscar soluções que privilegiem os três aspectos simul-taneamente e não pensar em tentativas unidirecionais que poderiam não surtir efeitos positivos.

Neste contexto tão complexo, observa-se que as micro e as pequenas empre-sas não passam ilesas dentro do processo. As mudanças implicam conseqüências de todo o tipo na vida das grandes empreendedoras, assim como das pequenas.

Acirrada a concorrência mediante a quebra das fronteiras mundiais, as pe-quenas empresas vão se adequando ao modelo de desenvolvimento imposto e muitas têm considerado a importância de impacto dos aspectos da responsabili-dade socioambiental nos negócios.

Questões sociais e ambientais assumiram importante papel nas decisões to-madas na empresa e no modo de gestão destas, influenciadas pelas pressões sociais e pela legislação vigente.

Como toda a empresa precisa de investimentos que as faça crescer e estabe-lecer no mercado, o governo lança políticas de financiamento que incentivam o setor a se desenvolver, como o acesso a políticas de crédito e financiamentos especiais: liberação de microcréditos, capital de giro, apoio às entidades de mi-crocrédito, ampliação de recursos para financiamento de projetos de interesse social, participação de bancos públicos na liberação dos créditos.

Arranjos produtivos locais - APLs

Surge um modelo produtivo baseado nas vocações regionais, em que o papel das micro e das pequenas empresas tem sido a estratégia para a promoção do desenvol-vimento local, principalmente em regiões que apresentam traços de cooperação.

Sinergias coletivas geradas pela participação em aglomerações produtivas efetivamente fortalecem as chances de sobrevivência no mercado cada vez mais competitivo (Cassiolato; Lastres, 2003).

Tais aglomerações produtivas apresentam capacidade de gerar riquezas e de se instituírem em locais possíveis e privilegiados de aprendizagem coletiva. Se-gundo Porter (1998), em uma economia globalizada, muitas vantagens competi-

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PRODUTIVOS LOCAIS – APL

tivas dependem de fatores locais, por isso ganham importância as concentrações geográficas de empresas.

Tais sistemas, chamados de Arranjos Produtivos Locais (APLs), são um aglo-merado de empresas localizadas em uma mesma região. Esse aglomerado apre-senta especialização produtiva e mantém vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais, como governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa (Termo de Referência SEBRAE – 2003), que, por excelência, têm origem na produção de um bem ou serviço.

Os APLs variam de tamanho, amplitude e estágio de desenvolvimento e são formados por instituições de todos os níveis, públicas ou privadas, sendo carac-terizados pelo processo de especialização produtiva das empresas. Isto quer di-zer que as empresas formadoras do aglomerado levam vantagens, uma vez que especializam sua produção direcionando-a a um produto, realizando, assim, a segmentação horizontal da produção.

As relações de cooperação e associação e as condições de proximidade e es-pecialização entre as empresas criam um tipo de aprendizado, que pode garantir avanços positivos no processo de produção, como: crescimento, criação de pro-dutos e facilidade de produção.

Os diferentes modos de participação nos processos de decisão dos APLs são chamados de governança. Ela se relaciona com a participação de poder e auto-ridade para gerenciar o processo de organização, articulação e coordenação dos interesses do arranjo. É formada pelo conjunto de representantes dos setores privado, público e comunidade, que pensa, discute e analisa as estratégias de desenvolvimento do aglomerado.

Os APLs apresentam características diferenciadas de um simples aglomerado de empresas em uma região. Os lados de cooperação e interação que mantêm o arranjo permitem o surgimento de uma nova realidade no lugar onde as pessoas vivem, produzem e se relacionam movidas por um mesmo interesse produtivo.

De um lado, observa-se o enfoque econômico que diz respeito ao envolvimen-to das empresas, dadas as facilidades de matéria-prima, canais de distribuição e outros; especializando-se em um determinado produto e agregando em torno de si fornecedores, prestadores de serviços e outros que viabilizam a produção. Do outro, percebe-se que a proximidade territorial cria um conjunto de relações entre as pessoas, por dividirem os mesmos espaços de lazer, cultura, esporte, in-dependentemente do cargo que ocupam na empresa.

Segundo Porter (1990), os APLs são uma espécie de Cluster. Os Clusters são concentrações geográficas de empresas similares, relacionadas ou complemen-tares, que atuam na mesma cadeia produtiva, auferindo vantagens de desem-penho por meio da locação e, eventualmente, da especialização. Essas empresas partilham, além da infra-estrutura, o mercado de trabalho especializado e con-frontam-se com oportunidades e ameaças comuns.

Puga (2003) fez um trabalho de mapeamento de APLs onde identificou “(...) 193 APLs, em 152 regiões. Ao final de 2001, havia mil estabelecimentos perten-centes aos setores desses arranjos, com 680 mil empregados. Entre os 193 encon-trados, 105 exportaram em 2002”.

Esses números chamaram a atenção do Governo Federal que direcionou um dos focos das ações das políticas de desenvolvimento econômico e social do país para os APLs, contemplando-os no Plano Plurianual de Ações 2004–2007 e implementando programas de ações aplicadas em diversos arranjos estabeleci-dos no território nacional.

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PRODUTIVOS LOCAIS – APL

É importante salientar que o surgimento dos APLs não dependeu do envolvi-mento das entidades públicas e sim de forma autônoma, através da identificação das necessidades da comunidade e conseqüente aproveitamento das vantagens territoriais para estruturação e desenvolvimento da produção.

Sendo os APLs lugares de ação coletiva, distinguem-se alguns pontos impor-tantes. O primeiro deles é que o sujeito dos APLs é o micro e o pequeno em-presário que se dedica., investe, trabalha, esperando a lucratividade, apesar das adversidades impostas pelo mercado. O segundo é a conscientização de que são a interação e a cooperação fatores decisivos para o desenvolvimento dos arran-jos produtivos, pois se definem em apoio mútuo entre as empresas na busca de soluções coletivas para os problemas.

No cenário da consolidação do arranjo, destaca-se o papel das instituições fi-nanceiras. Acostumados a tratar de crédito com pessoa física ou jurídica, os ban-cos deparam-se com a realidade de um arranjo produtivo, que é o conjunto de empresas que funcionam como se fosse um ser individual.

O papel do banco é o de se colocar para a construção do processo cooperati-vo, tornando-se elemento complementar no processo de geração de confiança e buscando soluções financeiras para empresas locais. A instituição financeira participará ativamente da realidade que cerca os arranjos produtivos acompa-nhando seu processo de transformação e estabelecendo laços de confiança com o empresário.

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ANOTE

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RESPONSABILIDADE SOCIAL E OTERCEIRO SETOR

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TERCEIRO SETOR

TEMA 9: RESPONSABILIDADE SOCIAL E O TERCEIRO SETOR

Neste último tema pretendemos finalizar o programa de estudos sistematizan-do algumas idéias que foram abordadas ao longo das outras temáticas, enfatizan-do o papel do Terceiro Setor tendo em vista as finalidades da responsabilidade so-cial num mundo em rápidas transformações. Admitiremos, por pressuposto, que o movimento internacional e local por um novo paradigma do desenvolvimento pode triunfar no sentido de fazer reverter o modelo de desenvolvimento tradicio-nal em favor de um novo projeto ético-político da responsabilidade social.

Em primeiro lugar, retomamos os aspectos conceituais do Terceiro Setor na sua dinâmica interna e externa, em seguida tratamos alguns elementos dos pro-jetos sociais no que diz respeito a sua elaboração, implementação e evaliação Por último analisaremos esses projetos a luz da emergência do novo espaço público proporcionado ao alcance do Marketing Social e do voluntariado empresarial.

Desse modo, o objetivo deste tema é propor uma discussão a respeito da importância de se considerarem os novos agentes do poder instituinte de crescente visibilidade teórica e reconhecimento político na sociedade contemporânea, principalmente na figura do terceiro setor.

Para isso, primeiramente, revisa-se a literatura relativa a esse sujeito coletivo, desde a origem do movimento socioambientalista e, num segundo momento, apresenta-se detalhadamente a relação entre o sistema de parcerias e comuni-cação entre empresas, entre efetivação e a avaliação de práticas socioambienta-listas que contemplem a atuação desse importante segmento social.

O Terceiro Setor na certificação ambiental

A certificação ambiental começou em 1977 com uma iniciativa alemã conhe-cida como o selo Anjo Azul. Este selo é hoje reconhecido como a primeira experi-ência dos assim chamados “Rótulos Ecológicos”. Essa experiência se traduziu num fato de relevante interesse internacional e se tornou um marco na história da certificação de produtos com finalidades sociais.

Desde então a International Organization form Standartization – ISO – passou a editar regulamentos com reconhecimento internacional sobre esse tipo de prá-ticas. A ISO tem sede em Genebra, na Suíça, desde 1947. Hoje congrega mais de 100 países representados. Cada país-membro integra os comitês gestores com um corpo de especialistas de notório saber em diversas áreas totalizando cerca de 95% da produção industrial no mundo.

Com o objetivo de criar normas e padrões internacionais, essa agência inter-nacional foi de fundamental importância para que o argumento da responsabili-dade socioambiental ocupasse respeitabilidade e referência técnico-científica de força para adentrar na lógica cotidiana produtiva e empresarial, tanto nas gran-des quanto nas micro e pequenas empresas de todos os países participantes. O Brasil participa da ISO tendo como principal interlocutor técnico-científico a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. A ABNT é uma sociedade pri-vada sem fins lucrativos, fundada em 1940 e reconhecida pelo governo brasileiro como o fórum nacional de normatização.

Para efeito desse nosso estudo, o ISO 14000 é o de maior relevância, pois trata das ferramentas que estabelecem uma padronização dos procedimentos relati-

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TERCEIRO SETOR

vos aos sistemas de gestão ambiental. A ISO 14000 tem por objetivo contribuir para a melhoria da qualidade ambiental diminuindo a poluição e integrando o setor produtivo na otimização dos recursos naturais.

A série ISO 14000 de normas relativas ao meio ambiente, conforme o qua-dro abaixo, demonstra a magnitude dos procedimentos que já se encontram em processo de normatização.

14000 Gestão Ambiental – Diretrizes para seleção e uso

14001 Sistema de Gestão Ambiental – Diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio

14004 Diretrizes para Auditoria Ambiental – Procedimentos de auditoria – Auditoria de Sistemas de Gestão Ambiental

14010 Diretrizes para Auditoria Ambiental – Princípios gerais

14011 Diretrizes para Auditoria Ambiental – Procedimentos de auditoria – Auditoria de Sistemas de Gestão Ambiental

14012 Diretrizes para Auditoria Ambiental – Critérios de qualificação para auditores ambientais

14020 Rótulos e Declarações Ambientais – Princípios básicos

14021 Rótulos e Declarações Ambientais – Autodeclarações ambientais – Termos e definições

14022 Rótulos e Declarações Ambientais – Autodeclarações ambientais – Símbolos

14023 Rótulos e Declarações Ambientais – Autodeclarações ambientais – Metodologias de teste e verificação

14024 Rótulos e Declarações Ambientais – Rotulagem ambiental tipo I – Diretrizes para princípios e procedimentos

14025 Rótulos e Declarações Ambientais – Rotulagem ambiental tipo III – Diretrizes para princípios e procedimentos

14031 Gestão Ambiental – Avaliação da performance ambiental

14040 Análise do Cliclo de Vida – Princípios e diretrizes

14041 Análise do Cliclo de Vida – Análise do inventário

14042 Análise do Cliclo de Vida – Avaliação do impacto

14043 Análise do Cliclo de Vida – Interpretação do ciclo de vida

14050 Gestão Ambiental – VocabulárioDiretrizes Série ISO 14000 para gestão ambientalFonte: ISO Guide 64 Guia para inclusão de aspectos ambientais em normas de produtos.NOTAS:1 - O título da futura norma IS0 14000 é provisório.2 - As normas IS0 14001, 14004, 14010, 14011 e 14012 já foram publicadas pela IS0 e poderão ser adquiridas nas Superintendências Regionais da ABNT.

Além a série ISO 14000 existe a Certificação Ambiental do Sistema de Gestão Ambiental (SGA). É um instrumento que a empresa utiliza para comprovar sua relação positiva com o meio ambiente. Nesse processo de Certificação é funda-mental que os organismos certificadores tenham credibilidade e aceitação inter-nacionais.O credenciamento por sua vez, desses organismos cerficadores deve ser feito segundo critérios rígidos e com metodologia própria com corpo técnico adequado aos objetivos e atividades inerentes aos processos de certificação.

Foi criada no INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia Normalização e Qua-lidade Industrial - uma comissão técnica de certificação ambiental com a missão de recomendar ao Comitê Brasileiro de Certificação os procedimentos e regula-mentos a serem utilizados atendendo as obrigações para com a ISO 14001.

O Protocolo Verde é outro caso de um esforço nacional em prol da consolidação

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TERCEIRO SETOR

da ética ambientalista no setor produtivo. Esse instrumento foi desenvolvido em 1995 e contém diretrizes para incorporação pelas instituições financeiras de pro-cedimentos de conduta ambientalmente responsáveis. O compromisso assumido por todos os bancos públicos federais restringe o acesso ao crédito e benefícios fiscais levando em consideração as determinações da legislação ambiental. Em 2005, um grupo interministerial avaliou os resultados da adoção do Protocolo Ver-de e propôs alterações que dependem de aprovação pelo Congresso Nacional.

É analisando esse conjunto de ferramentas normatizadoras de padrões técni-cos para o desenvolvimento sustentável em que o Brasil ingressa definitivamen-te na virada deste século XXI, no mundo que os empresários chamam de ecobu-siness, isto é o negócio na área ambiental. O econegócio brasileiro tem avançado a partir do momento em que o Banco Interamericano para o Desenvolvimento – BID, passou a investir consideravelmente no território nacional.

Podem-se enumerar algumas características dessa nova ordem social mun-dial que está afetando os negócios:

1) predomínio da ação comunitária sobre a ação estatal e empresarial;

2) mudanças profundas na relação entre os cidadãos e o governo;

3) uma nova concepção de Estado;

4) substituição dos interesses corporativos pelos interesses de uma nova hegemonia social;

5) diminuição da burocracia estatal e aumento de influência das organi-zações comunitárias,

6) aumento dos canais de comunicação comunitária;

7) emergência de redes de solidariedade social.

A chegada do terceiro setor à economia, para alguns autores, animou a pers-pectiva de ação sobre o social. Isto ocorreu porque é um setor que supera em vitalidade, legitimidade e harmonia, de um lado, a ordem da burocracia estatal (primeiro setor) e, de outro, a ordem econômica do mercado (2o Setor) (Melo Net-to, 1999 p.5).

É recente, no Brasil, a incorporação do conceito do terceiro setor. Este conceito é mais reconhecido nos Estados Unidos, onde surgiu. Entretanto, algumas inicia-tivas brasileiras tipicamente desse setor já ganharam visibilidade até internacio-nal, como são os casos do “Viva Rio”, do “Movimento da Cidadania contra a Fome e a Miséria” e do “Natal sem Fome”.

Do ponto de vista da literatura, alguns autores têm chamado a atenção para o fato de que o surgimento do conceito de terceiro setor no Brasil está associado a alguns fatos. O primeiro é o reconhecimento de que o Estado, sozinho, não reuni-ria as condições para enfrentar os desafios do desenvolvimento eqüitativo e sus-tentável. O segundo se relaciona ao reconhecimento geral de que o crescimento da ONGs no campo de projetos sociais específicos representa um incremento da ação pública que cresce à medida que o Estado se retira da execução concen-trando-se nas ações normativas. O terceiro, é a constatação de que o crescimento das iniciativas particulares com sentido de negócios rompe com a tradicional dicotomia entre o que é público e o que é particular.

Algumas características são típicas para definição do terceiro setor:

1) trata-se de uma esfera pública, não necessariamente governamental;

2) É constituída de iniciativas privadas mas de interesse e benefício comum;

3) conta com a participação de Organizações Não-Governamentais (ONGs) e;

4) compreende um conjunto de ações com o foco no bem-estar público.

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TERCEIRO SETOR

O dinamismo do terceiro setor movimenta hoje recursos na ordem de 4,5% do PIB mundial. Em 1995, as atividades sem fins lucrativos movimenta-ram cerca de 1,1 trilhão em 22 países. Evidentemente que essa movimenta-ção de capital se concentrou nos países mais desenvolvidos. Em especial nos Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Holanda, Bélgica, Suécia e outros. Na Europa ocidental, o terceiro setor representa, em média, 5% da econo-mia; na América Latina, a média cai para 2,1%. Na Europa central e no leste, é ainda menos, 1,3%.No Brasil, os investimentos sociais giram em torno de 0,5% do PIB (Melo Netto, 1999 p.9).

No livro de Melo Neto, (1999), encontramos, os ele-mentos definidores do Terceiro Setor, conforme o qua-dro abaixo. Nesse quadro observa-se claramente a pre-valência de atividades mobilizadoras de agentes tanto no setor público quanto do setor privado não subordina-das nem à lógica do mercado nem tampouco à lógica estatal.

Elementos Definidores Descrição

Foco Bem-estar público

Interesse comun

Questões centrais Probreza, desigualdade e exclusão social

Entidades participantes Empresas privadas, Estado, ONG’s e sociedade civil

Nível de atuação Comunitário e de base

Tipos de ações Ações de caráter público e privado, associativas e voluntárias

Elementos característicos do Terceiro SetorFonte: Melo Netto, 1999 p.8

O que é preciso reafirmar é que a emergência de novos atores sociais no en-caminhamento de um novo paradigma em contraposição ao modelo tradicional tem a ver com as novas tendências de execução dos projetos sociais.

É preciso observar que esses projetos sociais, que, não se subordinam imedia-tamente nem à lógica estatal nem tampouco à dos interesses dos particulares, mas que tem sido capaz de mobilizar ambos setores em favor de um terceiro setor, são um fato da maior importância para se entender uma estratégia eficaz de luta por um desenvolvimento sustentável mediante o exercício de uma res-ponsabilidade socioambiental.

Nesse sentido, os projetos sociais tornam-se uma ferramenta capaz de ampliar o espectro de atuação em favor de um mundo melhor porque têm sido capazes de mobilizar todos os setores vitais da sociedade contemporânea.

O Projeto Social torna-se o objeto sobre o qual se debruçam os três setores fundamentais da sociedade e transforma-se em elemento constitutivo e cons-tituinte da nova ordem social que é múltipla, plural e democrática. É múltipla porque congrega uma diversidade de especialidades temáticas de forma inter-dependente. É plural porque abriga diferentes discursos oriundos tanto do setor governamental quanto do mercado, e democrática porque respeita o direito de ser e de se fazer ouvir, sem deixar de representar os interesses desses diferentes agentes sociais.

Interessa-nos aqui privilegiar neste tema, a perspectiva do terceiro setor na efetivação dos chamados projetos sociais. Nosso pressuposto é que as mudan-ças significativas que vêm ocorrendo no mundo condicionam as ações sociais

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que obedecem a cinco tendências para efetivação dos projetos sociais:

1) descentralização das ações tendo como finalidade o incentivo à auto-nomia dos municípios para desenvolver seus próprios programas.

2) participação da comunidade considerando a necessidade de substi-tuição de práticas tecnocráticas onde grupos e técnicos definiam os propósitos de programas e projetos sem envolvimento concreto com as comunidades locais;

3) adoção de um novo modelo assistencial em que predomine a parceria com a sociedade e autogestão dos planos, programas e projetos, forta-lecendo os conselhos municipais;

4) implantação de programas sociais auto-sustentáveis, estimulando, por exemplo, o cooperativismo;

5) implantação de programas e projetos de renda mínima de combate à pobreza, ou , financiamento a micro e pequenas empresas para gera-ção de empregos.

O objetivo maior do engajamento dos três setores em projetos sociais é obter, cada um a seu modo, algum tipo de retorno social. Do ponto de vista empresa-rial (segundo setor), por exemplo, o retorno social para a empresa imbuída dos princípios da responsabilidade social ocorre quando a maioria dos seus públi-cos-alvos reconhece, privilegia e prestigia a atitude dessa empresa quando essa empresa investe em projetos sociais.

Neste caso, o desempenho empresarial obtém o reconhecimento público para além dos limites atingidos pela venda de seus produtos ou pela propagan-da mercadológica e, como conseqüência disso, passa a ser uma empresa-refe-rência no mercado, agregando novas faixas diferenciadas de consumidores em potencial, de seus produtos. Esses consumidores em potencial seriam inacessí-veis pela prática tradicional de ação de vendas no mercado. Como conseqüência, a empresa socialmente responsável passa a ocupar o espaço público construído pelos meios de comunicação de massa. Daí a importância do marketing social, que é, como veremos mais adiante, parte integrante e indispensável para a efeti-vação da estratégia de implementação dos projetos sociais pelo segundo setor.

O retorno social no contexto das empresas, pode ser identificado quando se observam os ganhos não só materiais, mas também imateriais, obtidos pela empresa investidora quando esta canaliza recursos para projetos so-ciais e ações comunitárias que sejam também do interesse do governo, so-bretudo local. Esse retorno pode ser medido e até quantificado em duas formas. A primeira delas, na obtenção de lucro social que pode ser observado no balanço social dessas empresas e, a segunda, quando se mede o alcance do reconheci-mento do público interno e externo, incluindo, até mesmo, os concorrentes e a sociedade em geral.

Do ponto de vista interno das empresas socialmente responsáveis , já é reco-nhecido o retorno em termos de ganho de produtividade dos seus funcionários quando estes se encontram mais motivados para o trabalho de rotina a partir do momento em que participam dos projetos sociais.

Do ponto de vista externo, a noção de lucro empresarial pode ser ampliada, tanto direta quanto indiretamente, na medida em que a empresa observa:

– o fortalecimento da sua imagem através de como o público associa a marca dos seus produtos;

– quando se monitora a quantidade e a qualidade da divulgação da em-presa na mídia;

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– quando se conquistam novos clientes a partir dessas práticas sociais;

– quando se conquista o reconhecimento público dessas ações sociais.

Existe a possibilidade também de avaliar o retorno social por diversos indi-cadores não-mercantis já reconhecidos. São indicadores projetados para captar e avaliar a eficiência dos êxitos empresariais na área social. Esses instrumentos podem contemplar:

– o grau de fortalecimento da imagem da empresa;

– o grau de potencialização da marca;

– os índices de lembrança da logo da empresa (recall);

– o grau de divulgação na mídia;

– o grau de afinidade dos funcionários e parceiros.

É importante entender a distinção entre responsabilidade social empresarial e filantropia. Segundo o Instituto Ethos, a filantropia trata basicamente de ação social externa da empresa, tendo como beneficiária principal a comunidade em suas diversas formas e organização, tais como: os conselhos comunitários, as or-ganizações não governamentais, as associações comunitárias etc. A responsabi-lidade socioambiental foca a cadeia de negócios da empresa e engloba preocu-pações com um público maior (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio-ambiente), cujas de-mandas e necessidades a empresa deve buscar entender e incorporar em seus negócios. Assim, a responsabilidade socioambiental trata diretamente dos negó-cios da empresa e como ela os conduz.

Para finalizar, nos parece importante falar um pouco mais sobre os diferentes tipos de marketing social, visto que esse conceito remete a uma discussão que vem ganhando destaque no cenário da luta pela implantação do paradigma do desenvolvimento sustentável, qual seja, a questão da elevação do grau de cons-ciência e participação social dos três setores fundamentais do projeto de socie-dade desejável para o futuro.

Em geral, quanto ao uso da expressão “marketing social”, tende-se a fazer uma distinção entre uma comunicação empresarial socialmente responsável e a abor-dagem de comunicação mais tradicional de cunho eminentemente de venda do produto da empresa.

Pode-se dizer que, enquanto o marketing social preconiza uma comunicação em-presarial que procura ampliar o seu público para além do perfil dos seus consumido-res regulares e tradicionais, não restringindo seus objetivos aos interesses mercan-tis imediatos, o segundo modelo de comunicação tende a se especializar cada vez mais em sentido de tornar mais eficientes os processos comunicativos de venda do produto, isto é, pesquisando métodos cada vez mais apropriados para incorporação da mensagem mercantil do produto produzido pela empresa. Enquanto o primeiro tende a se aproximar cada vez mais do conceito de publicidade de caráter público, afastando-se da propaganda, o segundo investe em sentido contrário.

O marketing social é, portanto, uma comunicação corporativa que visa fina-lidades múltiplas em que se inserem os interesses não só da empresa, mas dos seus empregados, da comunidade em que ela está envolvida e até de temas de interesse geral.

O que nos parece importante apresentar mais adiante é como a comunicação social pode ser desenvolvida pelas empresas tendo em vista a responsabilidade

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social. Como já se sabe pelo que foi desenvolvido ao longo dos textos das outras temáticas deste curso, a responsabilidade social pressupõe uma comunicação e um bom relacionamento com seus diversos públicos em potencial, não só das gerações em vida, mas comprometendo-se com os interesses daqueles que virão e que, desde antes de nascer, já são portadores de direitos sociais.

Nesse sentido, a comunicação é uma estratégia e uma ferramenta indispensá-vel ao êxito do princípio da responsabilidade social visto que, a depender do mo-delo de comunicação empresarial adotado, obtêm-se resultados diferenciados em relação aos diferentes públicos na órbita de comunicação da empresa.

Existem alguns momentos-chave em que a comunicação social pode exer-cer um papel estratégico na efetivação da responsabilidade social. O primeiro momento é aquele em que se toma a decisão de executar ações de responsabi-lidade social. Neste instante, a comunicação pode exercer o papel de mostrar, à empresa, a importância de ser uma empresa socialmente responsável. O segun-do momento poderíamos situá-lo na gestão do projeto social. Nesse campo, a comunicação social pode atuar de maneira decisiva visto que pode manter com transparência todas as etapas de concepção, implantação e manutenção do pro-jeto social assumido pela empresa. E, finalmente, um outro momento estratégico é quando a empresa se mobiliza para encaminhar a avaliação de resultados ob-tidos. É o momento do retorno social. A comunicação social, nesse caso, é vital para que, com a transparência e fidedignidade dos dados se possam redirecionar os sentidos da ação empresarial e ampliar o espectro de oportunidades da em-presa em relação aos seus diversos públicos (Bicalho, 2003 p.355).

De maneira objetiva, podemos dizer que existe uma tipologia de marketing social. Os mais conhecidos são: marketing da filantropia, marketing das campa-nhas sociais, marketing de patrocínio, marketing de projetos sociais, marketing de relacionamento e marketing da promoção social.

O marketing da filantropia corporativa surgiu nos Estados Unidos na década de 1970 e logo ganhou expressões similares em outros países. No Brasil, há uma situação diferente, mas também vem incorporando o uso desse recurso de co-municação social das empresas. São programas de doações empresariais com o objetivo de promover uma determinada imagem-tipo: “O empresário benfeitor”, “Empresa sensível aos problemas sociais”. Também passa idéia de ser uma atitude reforçadora da imagem da empresa etc. Uma outra maneira de marketing filan-trópico menos ostensivo é a destinação de uma parte das vendas para entidades filantrópicas ou beneficentes.

Um segundo tipo é o chamado de marketing das campanhas sociais. Nessa modalidade a empresa destina investimentos como patrocínio de campanhas sociais. Tem crescido exponencialmente nos últimos anos..

Um terceiro tipo é o de patrocínio de projetos sociais. Nesse caso o marketing assume uma característica de patrocinar terceiros para que estes tenham recur-sos para executar seus projetos sociais. Existem vários exemplos que utilizam a parceria com o governo financiando a execução de seus projetos e programas com finalidades sociais.

Um quarto tipo é o marketing de relacionamento de ações sociais. Possui como característica a ênfase no relacionamento com os parceiros e fornecedores,usando da força de ser empresa-pólo, fazendo aconselhamentos e promovendo a fideli-zação de clientes, o produto e a marca.

Por último o marketing da promoção social do produto e da marca procura chamar a atenção para que se encare o produto também como algo que pode ser associado a uma causa social. É,na prática, o efeito comunicativo que associa

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a logomarca e um produto a uma entidade sem fins lucrativos ou a uma cam-panha social do governo, em troca de uma percentagem do faturamento. Ao se utilizar desse tipo de comunicação social, a empresa agrega valor social ao seu negócio e aumenta as vendas do seu produto.

Gostaríamos de finalizar este conjunto de temas, elaborados com a finalida-de de divulgar o princípio de luta por um mundo melhor, e imbuídos da idéia de que um futuro mais sustentável é uma utopia possível de ser realizada, com uma palavra de estímulo e encorajamento ao engajamento de todos no Pro-jeto Social do Século XXI. Uma palavra que se encaixe no projeto de um de-senvolvimento que advogue o que um grande filósofo já dissera ao ver crescer as mazelas sociais da ideologia do progresso. Um projeto apoiado na utopia de fazer do mundo um lugar onde o livre desenvolvimento de cada um não signifique o comprometimento das potencialidades de todos os outros.

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ANOTE

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GLOSSÁRIO

Agenda 21 Global. Documento aprovado em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – (Rio 92) contendo compromissos para mudança do padrão de desenvolvimento; processo de planejamento estratégico e participativo que analisa a situa-ção atual de um país, Estado, município e região e elabora propostas volta-das para o futuro, de forma sustentável.

Agenda 21 Local. Processo participativo multi-setorial de construção de um programa de ação estratégico dirigido às questões prioritárias para o desenvolvimento sustentável local. Como tal, deve aglutinar os vários gru-pos sociais na programação de uma série de atividades em nível local, que impliquem mudanças no atual padrão de desenvolvimento, integrando as dimensões socioeconômicas, político-institucionais, culturais e ambien-tais da sustentabilidade. Pode ser entendida em diversos níveis, como, por exemplo, num Estado, num município, num bairro ou numa escola.

Aglomerados. são agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo território, operando em atividades correlacionadas e que apresentam vínculos pouco expressivos de interação, cooperação e aprendizagem;

Associação. Formação social que congrega pessoas interessadas em agir coletivamente a favor de um fim compartilhado. Em termos jurídicos, é de-finida como pessoa jurídica criada por grupo de indivíduos que partilhem idéias e unem esforços com um objetivo e sem finalidade lucrativa.

Autogestão. Modelo administrativo em que as decisões e o controle da empresa são exercidos pelos trabalhadores. É a participação direta e coleti-va na tomada de decisões e no poder da empresa.

Auto-sustentabilidade. Manutenção de algo sem interferências externas. Capacidade de sustentar-se às próprias custas.

Arranjos Produtivos Locais. são aglomerados de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um mesmo local ou território, operando em atividades correlacionadas que apresentam vínculos expressivos de in-teração, cooperação e aprendizagem.

Biodiversidade. (1) Referente à variedade de vida existente no planeta, seja terra, seja água. (2) Variedade de espécies de um ecossistema. (3) Con-junto de todas as espécies de plantas e animais e de seus ambientes na-turais existentes em uma determinada área. (4) Termo que se refere à va-riedade de genótipos, espécies, populações, comunidades, ecossistemas e processos ecológicos existentes em uma determinada região. A variedade pode ser medida em diferentes níveis: genes, espécies, níveis taxonômicos mais altos, comunidades e processos biológicos, ecossistemas, biomas e em diferentes escalas temporais e espaciais (ARRUDA et al, 2001).

Cadeia ou Sistema Produtivo. São conjuntos de aglomerados e arranjos produtivos locais, formando redes complexas com altos índices de articu-lação, cooperação e aprendizagem, sem limitação territorial.

Carbono. Elemento químico designado pela letra C e número atômico 12. O

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carbono é único entre os elementos, uma vez que forma um vasto número de compostos, mais do que todos os outros elementos combinados, com ex-ceção do hidrogênio. Existe em três formas alotrópicas principais: diamante, grafite e carbono amorfo. O diamante e o grafite ocorrem naturalmente como sólidos cristalinos e possuem propriedades diversas, enquanto carbo-no “amorfo” é um termo aplicado a uma grande variedade de substâncias carboníferas que não são classificadas como diamante ou grafite.

CFC ou clorofluorcarbono. Família de gases inventados pelo homem, não inflamáveis e de baixa toxicidade, usados por décadas como propelentes de aerossóis, para fabricar espumas, limpar equipamentos de precisão e em motores de aparelhos de refrigeração. Nos anos 70, descobriu-se que CFC é o grande vilão do buraco da camada de ozônio. Num processo, cujo prin-cipal marco é o Protocolo de Montreal, o uso do CFC vem sendo eliminado. A indústria vem desenvolvendo produtos alternativos. Entre estes, estão os HCFC, também prejudiciais à camada de ozônio, mas em grau menor.

Chorume. Líquido venenoso que se forma na decomposição do lixo, po-dendo contaminar o ambiente, se não houver cuidados especiais.

Coleta seletiva de resíduos ou lixo. Separação de vidros, plásticos, metais e papéis pela população para reutilização, ou reciclagem. Sem ela, esse pro-cesso pode ser impossibilitado. Por exemplo, não dá para reciclar papel que foi misturado a material tóxico. Na coleta seletiva em locais públicos, é usual identificar latões com cores padronizadas: azul para papel, amarelo para me-tal, verde para vidros, vermelho para plásticos, branco para lixo orgânico.

Compostagem. Processo de transformação de materiais orgânicos (lixo “úmido”), como restos de alimentos, em um fertilizante denominado com-posto, que tem a vantagem de melhorar as propriedades de retenção da umidade do solo. As usinas de compostagem nos centros urbanos realizam também a separação de lixo seco, encaminhando para a reciclagem.

Consumidor verde. Aquele que relaciona ao ato de comprar ou usar pro-dutos com a possibilidade de colaborar com a preservação ambiental. O consumidor verde sabe que, recusando-se a comprar determinados pro-dutos, pode desestimular a produção daquilo que agride o meio ambiente. Por isso, evita produtos que: (1) representem um risco à sua saúde ou de outros; (2) prejudiquem o ambiente durante a produção, uso ou despejo final ; (3) consumam muita energia; (4) apresentem excesso de embalagens, ou sejam descartáveis; (5) contenham ingredientes procedentes de habi-tats ou espécies ameaçadas; (6) tenham usado, no processo de produção, indevida ou cruelmente animais; (7) afetem negativamente outros povos, ou outros países.

Controle ambiental. Conjunto de ações tomadas visando manter em níveis satisfatórios as condições do ambiente. O termo pode também se referir à atuação do Poder Público na orientação, correção, fiscalização e monitoração ambiental de acordo com as diretrizes administrativas e as leis em vigor.

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Cooperativa. Sociedade ou empresa constituída por membros de um de-terminado grupo econômico ou social e que objetiva desempenhar, em benefício comum, determinada atividade econômica.

Cooperativismo. Princípio que dá às cooperativas um papel fundamental na organização econômica da sociedade.

Crime ambiental. Condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, confor-me caracterizadas na legislação ambiental e na Lei de Crimes Ambientais (Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998) (FEEMA, 1997).

Degradação ambiental. (1) Prejuízos causados ao meio ambiente, geral-mente resultantes de ações do homem sobre a natureza. Um exemplo é a substituição da vegetação nativa por pastos. (2) Termo usado para qualifi-car os processos resultantes dos danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades, tais como a quali-dade ou a capacidade produtiva dos recursos ambientais. (3) Degradação da qualidade ambiental – a alteração adversa das características do meio ambiente (Lei nº 6.938/81, art. 3º, II). (4) A degradação do ambiente ou dos recursos naturais é comumente considerada como decorrência de ações antrópicas, ao passo que a deterioração decorre, em geral, de processos naturais. (5) Processo gradual de alteração negativa do ambiente, resul-tante de atividades humanas; esgotamento ou destruição de todos ou da maior parte dos elementos de um determinado ambiente; destruição de um recurso potencialmente renovável; o mesmo que devastação ambien-tal (Glossário Ibama, 2003).

Densidade de população. (1) “É um índice que mede o volume da po-pulação em relação a um território”. (SAHOP, 1978). (18). (2) Razão entre o número de habitantes e a área da unidade espacial ou político-administra-tiva em que vivem, expressa em habitantes por hectare ou por quilômetro quadrado. A densidade de população é também usada, em ecologia, para o cálculo da densidade de um conjunto de indivíduos de uma mesma espé-cie.(3) É a grandeza desta em relação a alguma unidade espacial. Exemplifi-cando, o número de indivíduos ou da biomassa da população, por unidade de superfície ou de volume (CARVALHO, 1981). (4) Relação existente entre o número de indivíduos que compõem a população e o espaço ocupado por eles (Glossário Ibama, 2003).

Desenvolvimento sustentável. (1) Aquele que harmoniza o imperativo do crescimento econômico com a promoção da eqüidade social e preser-vação do patrimônio natural, garantindo assim que as necessidades das atuais gerações sejam atendidas sem comprometer o atendimento das ne-cessidades das gerações futuras. (2) Padrão de desenvolvimento no qual o crescimento da economia e a geração de riquezas estão integrados à pre-servação do ambiente, ao manejo adequado dos recursos naturais, assim como ao direito dos indivíduos à cidadania e à qualidade de vida. (3) Tipo de desenvolvimento que satisfaz as necessidades econômicas do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações. Leva em conside-ração, além dos fatores econômicos, aqueles de caráter social e ecológi-

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co, assim como as disponibilidades dos recursos naturais a curto e a longo prazo. (4) Forma socialmente justa e economicamente viável de exploração do ambiente que garanta a perenidade dos recursos naturais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a diversidade biológica e os demais atributos ecológicos em benefício das gerações futuras e atendendo às ne-cessidades do presente (ARRUDA et al, 2001).

Dióxido de carbono - (1) Gás incolor, incombustível e de odor e gosto sua-vemente ácidos, que entra em pequena parcela na constituição da atmos-fera, sendo a única fonte de carbono para as plantas clorofiladas. Em si não é venenoso e sua presença no ar até 2,5% não provoca danos, mas em uma porcentagem de 4 a 5% causa enjôo, e, a partir de 8%, aproximadamen-te, torna-se mortal. (2) Símbolo químico: CO

2, gás incolor, produzido pela

respiração animal, pela fermentação e pela queima de hidrocarbonetos; é absorvido pelas plantas durante a fotossíntese e eliminado por elas na au-sência de luz; o percentual de dióxido de carbono na atmosfera da Terra é pequeno, mas está aumentando, fato que pode intensificar o efeito estufa.

ECO-92 - (1) Conferência Internacional das Nações Unidas sobre Meio Am-biente e Desenvolvimento, que foi realizada no estado do Rio de Janeiro em 1992. A Eco-92 proclamou que os seres humanos estão no centro das preocupações sobre desenvolvimento sustentável e têm direito a uma vida saudável, produtiva e em harmonia com a natureza. (2) Denomina-ção comum da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, denominada internacionalmente de 1992 Earth Summit on Environment and Development. Aconteceu em junho de 1992, na cidade do Rio de Janeiro. Foi a maior reunião já realizada em toda a his-tória humana por qualquer motivo. A Rio-92 reuniu mais de 120 Chefes de Estado, e representantes no total de mais de 170 países. Foram elaborados cinco documentos, assinados pelos Chefes de Estado e representantes: a Declaração do Rio, a Agenda 21, a Convenção sobre Diversidade Biológica, a Convenção sobre Mudança do Clima e a Declaração de Princípios da Floresta.

Ecologia. (1) Ciência que estuda as relações dos seres vivos entre si e com o ambiente que os cerca. (2) O termo Ecologia foi criado por Ernest Haeckel (1834-1919) em 1869, em seu livro Generelle Morphologie der Organismen, para designar o estudo das relações de um organismo com seu ambiente inorgânico ou orgânico, em particular, o estudo das relações do tipo positi-vo ou amistoso e do tipo negativo (inimigos) com as plantas e animais com que convive (HAECKEL apud MARGELEF, 1980).

Ecossistema. (1) Ambiente em que há a troca de energia entre o meio e seus habitantes. (2) É o conjunto dos seres vivos e do seu meio ambiente físico, incluindo suas relações entre si. (3) Complexo sistema de relações mútuas entre os fatores bióticos (organismos vivos) e fatores abióticos (elementos físicos e químicos do ambiente) que interagem entre si, havendo transferên-cia de energia e matéria entre esses componentes. (4) Sistema integrado e auto-funcionante que consiste em interações de elementos bióticos e abió-ticos; seu tamanho pode variar consideravelmente (USDT, 1980).

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Educação ambiental. (1) Todo o processo educativo, que utiliza metodo-logias diversas, alicerçadas em base científica, com o objetivo de formar indivíduos capacitados a analisar, compreender e julgar problemas am-bientais, na busca de soluções que permitam ao homem coexistir de forma harmoniosa com a natureza. (2) Processo de aprendizagem e comunicação de problemas relacionados com a interação dos homens com seu ambien-te natural. É o instrumento de formação de uma consciência por meio do conhecimento e da reflexão sobre a realidade ambiental (FEEMA/ Assesso-ria de Comunicação, informação pessoal, 1986).

Efeito estufa. (1) Fenômeno de aquecimento da superfície terrestre de grande comprimento de onda, que é absorvida e reemitida pelo gás car-bônico e vapor de água na baixa atmosfera, eventualmente retornando à superfície. Embora ainda seja um assunto sujeito a controvérsias, alguns pesquisadores admitem que o efeito estufa poderia causar a fusão parcial das geleiras polares, ocasionando importante subida dos níveis oceânicos nos próximos decênios. (2) Aquecimento da superfície terrestre provocado pelo aumento da concentração de certos gases na atmosfera (gás carbôni-co e metano), o que altera o equilíbrio termodinâmico do planeta.

Gestão ambiental. O conceito original de gestão ambiental diz respeito à administração, pelo governo, do uso dos recursos ambientais, por meio de ações ou medidas econômicas, investimentos e providências institucionais e jurídicas, com a finalidade de manter ou recuperar a qualidade do meio ambiente, assegurar a produtividade dos recursos e o desenvolvimento social. Este conceito, entretanto, tem se ampliado nos últimos anos, para incluir, além da gestão pública do meio ambiente, os programas de ação desenvolvidos por empresas para administrar suas atividades dentro dos modernos princípios de proteção do meio ambiente.

Governança Corporativa. Governança corporativa são as práticas e os re-lacionamentos entre os Acionistas/Cotistas, Conselho de Administração, Diretoria, Auditoria Independente e Conselho Fiscal, com a finalidade de otimizar o desempenho da empresa e facilitar o acesso ao capital. A expres-são é utilizada para designar o tratamento dos assuntos relativos ao poder de controle e direção de uma empresa, bem como as diferentes formas e esferas de seu exercício e os diversos interesses que, de alguma forma, es-tão ligados à vida das sociedades comerciais.

Impacto ambiental. De acordo com a Resolução 001/86 do Conselho Na-cional do Meio Ambiente (CONAMA), é qualquer alteração das proprieda-des físico-químicas ou biológicas do meio ambiente, causadas direta ou indiretamente pela ação humana, e que podem afetar a saúde, segurança, bem-estar das pessoas, condições estéticas e sanitárias do ambiente e a qualidade dos recursos naturais. O impacto ambiental pode ser negati-vo ou positivo. A mesma Resolução determina que empreendimentos de maior porte devem fazer previamente o EIA/RIMA, Estudo e Relatório de Impacto Ambiental. (Fonte: Resolução 001/86 do CONAMA)

Marketing social. Atividade de criar, executar e controlar programas que

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visam mudança social; usa diversas técnicas de marketing de empresas, tais como identificação de audiências, desenvolvimento de produtos e medi-ção de resultados.

Microcrédito. Programa de pequenos empréstimos para que pessoas de baixa renda realizem projetos de auto-emprego e gerem renda, de modo a sustentar suas famílias.

Movimentos Sociais. São o segmento mais “politizado” do terceiro setor. Na luta pelo atendimento de demandas específicas, acabam criando enti-dades de base – associações civis – que defendem uma determinada causa ou um determinado fim, assumindo caráter reivindicatório ou contestató-rio junto à sociedade e ao Estado. São exemplos, as associações de bairro, os grupos feministas e os grupos de defesa dos direitos dos homossexuais, entre outros.

Meio ambiente. (1) Apresentam-se, para conceituar meio ambiente, defini-ções acadêmicas e legais, algumas de escopo limitado, abrangendo apenas os comportamentos naturais, outras refletindo a concepção mais recente, que considera o meio ambiente um sistema no qual interagem fatores de ordem física, biológica e socioeconômica. (2) O conjunto, em um dado mo-mento, dos agentes físicos, químicos, biológicos e dos fatores sociais sus-ceptíveis de terem um efeito direto ou indireto, imediato ou o termo, sobre os seres vivos e as atividades humanas (POUTREL & WASSERMAN, 1977). (3) A soma das condições extremas e influência que afetam a vida, o desenvol-vimento e, em última análise, a sobrevivência de um organismo (The World Bank, 1978).

ONG. (1) Expressão difundida a partir dos Estados Unidos (em inglês non governmental organization/NGO) para designar grupos de ação indepen-dente, sem vinculação com a administração pública. (2) Organizações Não- Governamentais, grupos de pressão social, de caráter diverso (ambienta-listas, étnicos, profissionais, etc.) que não tenham relação com o Estado (Glossário Ibama, 2003).

Parceria. Uma relação de mão dupla: os parceiros partilham seus recursos, de modo a trocar benefícios mútuos e a chegar a objetivos comuns. Tem como objetivo integrar a organização com a comunidade, conseguir recur-sos e dar visibilidade à sua organização.

Responsabilidade Social. Define o grau de amadurecimento de uma em-presa privada em relação ao impacto social de suas atividades. Abrange, em termos gerais, desenvolvimento comunitário, equilíbrio ambiental, tra-tamento justo aos funcionários, comunicações transparentes, retorno aos investidores, sinergia com parceiros e satisfação do consumidor.

Poluição ambiental. (1) Qualquer alteração do meio ambiente prejudicial aos seres vivos. Nesse caso, incluem-se a poluição atmosférica, provocada pelas nuvens de fumaça e vapor de instalações industriais e dos escapa-mentos de veículos, a poluição sonora, causada pelo barulho de máquinas, buzinas de veículos, sons de rádio, aparelhos de som e tevê muito altos e

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a poluição visual, decorrente do grande número de cartazes, faixas e lumi-nosos espalhados pelas ruas das cidades. (2) É a adição, seja por fonte na-tural seja por fonte humana, de qualquer substância estranha ao ar, à água ou ao solo, em tais quantidades que tornem esse recurso impróprio para uso específico ou estabelecido. Presença de matéria ou energia, cuja natu-reza, localização e quantidade produzam efeitos ambientais indesejados (The World Bank, 1978). (3) A degradação ambiental resultante de ativida-des que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem materiais estabeleci-dos (Lei nº 6.938 de 30.08.81 – Brasil). (4) A introdução, pelo homem, direta ou indiretamente, de substâncias ou energia no meio ambiente que resul-tem em efeitos deletérios de tal natureza que ponham em risco a saúde humana, afetem os recursos bióticos e os ecossistemas ou interfiram com usos legítimos do meio ambiente (Dec-Ece-Convention Pollution, 1983).

Preciclagem. Atitude proposta aos cidadãos de examinar o produto antes da compra, adquirindo apenas o que é durável (não descartável), que não tenha embalagem ou só o imprescindível, que seja verdadeiramente útil.

Protocolo de Kyoto. Instrumento legal para obrigar os países signatários da Convenção sobre Mudanças Climáticas a reduzir os níveis de emissão de gases de efeito estufa, que continuaram crescendo após a assinatura da con-venção, em 1992. O protocolo estipula a criação de um fundo anual de qua-se US$ 500 milhões, abastecido pelos países industrializados, para facilitar a adaptação das nações pobres às exigências do protocolo. Também determi-na regras para a compra e venda de créditos obtidos por cortes nas emissões de dióxido de carbono, apontado como o grande vilão do efeito estufa.

Qualidade ambiental. (1) O estado do meio ambiente, como objetiva-mente percebido, em termos de medição de seus componentes, ou subje-tivamente, em termos de atributos tais como beleza e valor (MUNN, 1979). (2) É o estado do ar, da água, do solo e dos ecossistemas, em relação aos efeitos da ação humana (HORBERRY, 1984).

Qualidade de vida. (1) Conceito que avalia as condições da existência do ser humano em relação ao ambiente que o cerca. A qualidade de vida re-presenta algo mais que um nível de vida particular mais elevado, pois pres-supõe uma infra-estrutura social pública capaz de atuar em benefício do bem comum e manter limpo o meio ambiente. (2) Resultado da máxima disponibilidade da infra-estrutura social pública para atuar em benefício do bem comum (condições gerais de habitação, saúde, educação, cultura, alimentação, lazer, etc.) e para manter o meio adequado à reprodução e ao desenvolvimento da sociedade, respeitando a capacidade de reposição dos recursos naturais; meio ambiente ecologicamente equilibrado é essencial à sadia qualidade de vida; nesse caso não se refere ao nível de vida privado.

Reciclagem. (1) Obtenção de materiais a partir de resíduos, introduzindo-os de novo no ciclo da reutilização, com a finalidade de reduzir o lixo indus-

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trial e doméstico. Reaproveitamento de algum material. (2) Reutilização de recursos por meio da recuperação de detritos, reconcentração e reproces-samento para o uso industrial. (3) Ato de tornar útil e disponível novamen-te, eventualmente mediante um processo de transformação físico-química, material que já foi utilizado anteriormente dentro de um sistema. Materiais que seriam descartados como lixo tornam-se novamente matéria-prima para a manufatura de bens, reduzindo a extração de recursos naturais.

Reduzir, Reutilizar e Reciclar. É a mais moderna visão a respeito do lixo. Deve-se primeiro reduzir a produção do lixo, através da preciclagem. Em vez de dispensar qualquer coisa, tentar reaproveitar (ex: uma embalagem torna-se caixa de costura.) A reciclagem vem como a última medida.

Recursos não-renováveis. (1) Recursos provenientes da decomposição da matéria orgânica acumulada há milhões de anos e que se encontram no interior das rochas e do subsolo. Ex.: petróleo, carvão fóssil. (2) Qualquer recurso natural finito que, em escala de tempo humana, uma vez consumi-do, não possa ser renovado.

Recursos renováveis. (1) Recursos que podem ser utilizados pelo homem e que podem ser recolocados na natureza (ex.: árvores, animais) ou já exis-tem à disposição sem que seja necessária a reposição (ex.: energia solar, ven-tos, água). (2) Qualquer bem, que, teoricamente, não possa ser totalmente consumido em função de sua capacidade de se reproduzir ou se regenerar. Podem ser recursos de fontes inesgotáveis (energia solar), provenientes de ciclos físicos (ciclo hidrológico) ou de sistemas biológicos (plantas e ani-mais que se multiplicam). Recentemente, a ação antrópica tem deplecio-nado drasticamente alguns recursos antes considerados renováveis. Isto decorre da exploração dos recursos num ritmo mais rápido do que eles são capazes de se renovar. (3) Recursos que existem em quantidades fixas e que somente se renovam por processos geológicos, químicos e físicos de milhões de anos: petróleo e carvão são recursos não-renováveis. (4) Que potencialmente podem durar indefinidamente porque são substituídos por processos naturais, desde que respeitadas suas características; alguns recursos naturais renováveis, como a água doce, própria para consumo, po-dem ter sua capacidade de reposição afetada por alterações externas. A poluição das fontes naturais de abastecimento torna a água potável um produto cada vez mais raro.

Relatório de Impacto Ambiental (Rima). O relatório de impacto ambien-tal é o documento que apresenta os resultados técnicos e científicos de avaliação de impacto ambiental. Constitui um documento do processo de avaliação de impacto ambiental e deve esclarecer todos os elementos da proposta em estudo, de modo que possam ser divulgados e apreciados pelos grupos sociais interessados e por todas as instituições envolvidas na tomada de decisão. O Rima tornou-se documento essencial para exame dos Conselhos de Meio Ambiente, assim como para a tomada de decisão das autoridades ambientais.

Sustentabilidade. (1) Qualidade, característica ou requisito do que é sus-

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tentável. Num processo ou num sistema, a sustentabilidade pressupõe o equilíbrio entre “entradas” e “saídas”, de modo a que uma dada realidade possa manter-se continuadamente com suas características essenciais. Na abordagem ambiental, a sustentabilidade é um requisito para que os ecos-sistemas permaneçam iguais a si mesmos, e para que os recursos possam ser utilizados somente com reposição e/ou substituição, evitando-se a sua depleção, de maneira a manter o equilíbrio ecológico ou uma relação ade-quada entre recursos e produção, e entre produção e consumo. (2) Pro-cesso de desenvolvimento sustentável que compatibiliza três dimensões intrínsecas que são: a conservação ambiental, a inclusão social e o cresci-mento econômico.

Sustentabilidade ambiental. Capacidade de desenvolver atividades eco-nômicas e de manter, ao mesmo tempo, a vitalidade dos componentes e processos de funcionamento dos ecossistemas. Baseia-se na hipótese de que é possível calcular a “vida útil” ou durabilidade do sistema natural, me-dir o “déficit ecológico” provocado pelas atividades humanas e saber como evitar impactos negativos no ecossistema.

Terceiro Setor. Espaço institucional que abriga um conjunto de ações de caráter privado, associativo e voluntarista, em geral estruturadas informal-mente, voltadas para a geração de bens e serviços públicos de consumo coletivo. Se houver lucro, deve ser reinvestido nos meios para se chegar aos fins definidos.

Transparência. Princípio do Direito Administrativo e da Administração Pú-blica, que obriga que todos os atos de entidades públicas sejam praticados com plena publicidade (aberto a todos) e com ampla prestação de contas.

Uso sustentável. Exploração do ambiente de maneira a garantir a pereni-dade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, man-tendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos, de forma social-mente justa e economicamente viável (Lei nº 9.985/2000, art. 2, XI).

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ANOTE

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ANOTE

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