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Limites e desafios do Governo Lula ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ Nº 168 – JULHO DE 2003 JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOS DOS DOS DOS DOS Guggenheim: Guggenheim: Guggenheim: Guggenheim: Guggenheim: estranho no Rio estranho no Rio estranho no Rio estranho no Rio estranho no Rio Página 15 A economia A economia A economia A economia A economia fluminense fluminense fluminense fluminense fluminense Página 11 A voz do A voz do A voz do A voz do A voz do Nor Nor Nor Nor Nordeste deste deste deste deste Página 16 Com sua margem de ação bastante limitada pelas restrições que inibem a iniciativa e os investimentos na Lei de Diretrizes Orçamentárias, o Governo Lula entrou no segundo semestre prometendo a retomada do crescimento. Será possível? É o que o JE busca responder nesta edição, seja na entrevista com o professor Fernando Cardim, da UFRJ, ou nos artigos do deputado federal Sérgio Miranda (PcdoB-MG), que analisa a LDO de 2004, ou do economista Pedro Quaresma, do Pacs, sobre o acordo do Brasil com o FMI. Páginas 3 a 10

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Page 1: Limites e desafios do Governo Lula - Corecon-RJ · 2016-03-04 · Limites e desafios do Governo Lula ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ JORNAL DOSDOSDOS Nº 168 –

Limites e desafiosdo Governo Lula

ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ

Nº 168 – JULHO DE 2003JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOSDOSDOSDOSDOS

Guggenheim:Guggenheim:Guggenheim:Guggenheim:Guggenheim:estranho no Rioestranho no Rioestranho no Rioestranho no Rioestranho no Rio

Página 15

A economiaA economiaA economiaA economiaA economiafluminensefluminensefluminensefluminensefluminense

Página 11

A voz doA voz doA voz doA voz doA voz doNorNorNorNorNordestedestedestedestedeste

Página 16

Com sua margem de ação bastante limitada pelas restrições que inibem a iniciativa e osinvestimentos na Lei de Diretrizes Orçamentárias, o Governo Lula entrou no segundosemestre prometendo a retomada do crescimento. Será possível? É o que o JE buscaresponder nesta edição, seja na entrevista com o professor Fernando Cardim, da UFRJ, ounos artigos do deputado federal Sérgio Miranda (PcdoB-MG), que analisa a LDO de 2004,ou do economista Pedro Quaresma, do Pacs, sobre o acordo do Brasil com o FMI.

Páginas 3 a 10

Page 2: Limites e desafios do Governo Lula - Corecon-RJ · 2016-03-04 · Limites e desafios do Governo Lula ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ JORNAL DOSDOSDOS Nº 168 –

EDITORIAL

ÓrÓrÓrÓrÓrgão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial doCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJ

ISSN 1519-7387

Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial: Ceci Juruá, Paulo Passarinho,Paulo Mibielli, Sidney Pascotto, Nelson Le Cocq, Gil-berto Caputo Santos, Gilberto Alcântara e JulioMiragaya · Editor: Editor: Editor: Editor: Editor: Nilo Sérgio Gomes - E-mail:[email protected] · I lustração: Ilustração: Ilustração: Ilustração: Ilustração: Aliedo ·Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista: Cássio Loredano · Diagramação e Diagramação e Diagramação e Diagramação e Diagramação e

FFFFFinalização: inalização: inalização: inalização: inalização: Rossana Henriques (21) 2462-4885 ·FFFFFotolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Impressão:essão:essão:essão:essão: Tipológica · T T T T Tiragem: iragem: iragem: iragem: iragem: 13.000exemplares · P P P P Periodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade: Mensal

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CORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJ

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Jornal dos

2 jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003

Ambigüidades e paradoxos

A presente edição do JE retoma, em suaspáginas centrais, a discussão – inicia-

da com a entrevista do professor ReinaldoGonçalves, em nosso número de maio – arespeito das possíveis e necessárias alterna-tivas à atual gestão macroeconômica do país.Afinal, conforme destaca Fernando Cardim,professor da UFRJ, nesta edição, o GovernoLula herdou uma situação trágica, mas o quetemos observado é a “radicalização do pro-grama (econômico) de FHC, com uma agres-sividade surpreendente”.

Agressividade que pode ser exemplificadana forma que o Palácio do Planalto vem uti-lizando para tentar “disciplinar” a sua baseparlamentar de apoio, em torno das posi-ções recém assumidas pelo comando dogoverno, mas que também pode ser ilustra-da, tanto pela proposta da Lei de DiretrizesOrçamentárias para 2004, quanto pelo acor-do ratificado com o FMI.

Os dois artigos sobre esses temas são tam-bém merecedores de destaque dessa edição.O deputado federal Sérgio Miranda (PCdoB/

MG) analisa a LDO para 2004 – onde chamaa atenção para a continuidade do endureci-mento fiscal e monetário, além da contami-nação às próprias diretrizes do Plano Plurianualde Investimentos para 2004/2007. E PedroQuaresma, economista do Pacs, nos dá um qua-dro sobre os compromissos do atual gover-no, junto ao FMI. Artigos elucidativos, talveznos ajudem a compreender as ambigüidadese paradoxos do Presidente Lula em relaçãoao seu passado e às suas promessas de cam-panha, particularmente de mudanças do mo-delo econômico herdado de Collor e FHC.

Por fim, chamamos a atenção dos leito-res para o artigo da equipe técnica doCorecon-RJ de apoio ao Fórum Popular doOrçamento do Rio de Janeiro, onde compa-ram-se os recursos alocados para algumasetapas preliminares do polêmico projeto deconstituição do Museu Guggenheim e a situ-ação de penúria e precariedade dos museusmunicipais, bem como o abandono, na prá-tica, dos projetos de constituição de novosmuseus para a cidade.

Pedido de assinaturaSou professora da UFF e venho me dedican-

do a pesquisas sobre trabalho-educação, em es-pecial, sobre “economia popular”. Mesmo nãosendo ”economista”, gostaria muito de receber ojornal de vocês. Seria possível? Será muitointeressante acompanhar o que pensa o Co-recon. Tive acesso ao número de abril e me pa-receram bastante contundentes as críticasao modelo neoliberal de acumulação do capital.

Lia Tiriba, Rio.

Mudança de endereçoRecebemos e agradecemos o exemplar do

Jornal dos Economistas. O periódico é de extre-ma importância para os alunos do curso de gra-duação em Ciências Econômicas da Faculdadede Economia da UMA, em BH. É do nosso inte-resse continuar recebendo regularmente.

Gostaríamos que fosse feita uma alteraçãono endereço de entrega.

Fátima Falci, Minas.

NE: as solicitações foram atendidas.

Cartas dos leitores

SumárioPágina 02 Editorial

Página 03 LDO 2004 – Sérgio Miranda

Página 05 Acordo FMI Brasil – Pedro Quaresma

Página 07 Dívida x Salários – Flávio Riani

Página 08 Entrevista: Fernando Cardim, Professor da UFRJ

Página 11 Especial – A economia flumenseHenrique Gurvitz

Página 15 Fórum do Orçamento –Museu Guggenheim

Página 16 A voz do NordestePrêmio Ignacio Rangel • Livro de Gilberto Dupas

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LDO 2004

3jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003

Sérgio Miranda*

A proposta do Governo Lula:pequenas variações

bservada sob a ótica dosprincipais pontos da LDO,a proposta de Lei de Dire-

trizes Orçamentárias enviada pelogoverno Lula apresenta pequenasvariações em relação às leis apro-vadas nos anos passados, e por umaparticularidade deste exercício nãodispõe de uma lista de prioridadese metas para o próximo, pois esta-rá submetida às definições do Pla-no Plurianual (PPA), cuja tramitaçãoinicia-se em setembro. Ficando odebate das prioridades e metas adi-ado para o segundo semestre, res-saltam-se as discussões sobre asmetas fiscais e as de superávit, osresultados pretendidos e as infor-mações sobre as projeções das prin-cipais variáveis macroeconômicas.

As projeções constantes doPLDO 2004 têm como quadro a

recuperação do crescimento eco-nômico, conjugada com a reversãoda evolução crescente da inflaçãoobservada a partir do segundo se-mestre de 2002. Neste aspecto, otexto considera os compromissoscom as metas inflacionárias e os cla-ros objetivos fiscais indispensáveispara a estabilidade duradoura, con-dições para a redução da taxa dejuros, da volatilidade cambial e paraincremento da poupança pública.

Valoriza a revisão da meta desuperávit primário de 3,75% do PIBpara 4,25% do PIB em face do au-mento da relação dívida/PIB ocorri-do em 2002, e acentua que o com-prometimento do atual governonão é apenas com um ajuste fiscalquantitativo, mas, sobretudo, coma melhoria da qualidade e equidadeda política fiscal ao longo do tempo.

Modelo enquadra o PPA

Diante do aumento das metasdo ajuste fiscal para o triênio 2004-2006, que compreende do pontode vista temporal a quase integrali-dade do próximo PPA, o anexoaponta que o PPA deverá ser“compatibilizado com as projeçõesdas despesas orçamentárias para2004/06. Isto deverá se dar em umquadro que compreenda o eventu-al papel de despesas com fontesnão-orçamentárias de financia-mento e de parcerias público-pri-vadas, sem, entretanto, prescindirem algumas áreas de gastos orça-mentários tradicionais”. A partirdesses investimentos, cria-se um ce-nário propício para “elevação dovolume das exportações e a expan-são do mercado interno de consu-mo, inclusive para as populaçõesde mais baixa renda, que serão ospilares do crescimento sustentadodo PIB nos próximos anos”.

Sob o aspecto constitucional háuma profunda inversão. Na práti-ca, as metas de resultado primárioimpostas para o próximo ano e indi-cativas para os outros dois subse-qüentes acabam por condicionar oconteúdo e a execução do próprioPlano Plurianual de Investimentos.Essa inversão não atende à lógicade planejamento determinada pelaConstituição Federal, mas está ple-namente de acordo com um mode-lo econômico onde, subtraído dasua capacidade de intervir diretamen-te na produção e mesmo na cons-trução de uma infra-estrutura, cabeao Estado induzir investimentosprivados, assegurando, por regrasclaras e estáveis, o retorno finan-ceiro para os investidores privados.

O cenário projetado para cres-cimento econômico, taxa de câm-bio e inflação é, conforme o pró-prio texto, conservador. Em 2002,por exemplo, a LDO previa umataxa de câmbio para dezembro da-quele ano de R$ 2,15, quando jáem 15 de abril, data do envio doprojeto ao Congresso, a cotação dodólar era de R$ 2,31, sem previsãode recuo – uma cotação que che-gou a R$ 2,80, quando da votaçãodo projeto, ao final de junho. Oprojeto previa crescimento de 4,5%para aquele ano, inflação de 4% ejuros nominais de 13,2% ao finaldo período. Projeções de tal formadeslocadas da realidade que redu-ziam o anexo de metas fiscais à fi-xação das metas de superávit, nãoservindo às previsões de receita,despesa, juros, PIB, câmbio, etc.

Mas, ainda assim, o anexo pres-tou-se à sua principal finalidade: de-terminar uma meta de superávit,que deveria ser atingida mesmoquando todos os demais parâme-tros, inclusive as receitas públicas,se frustrassem e o custo da conten-

ção de despesas comprometesse osdemais programas de governo.

As projeções e a realidade

Outro aspecto que merece serdiscutido é a tendência das proje-ções macroeconômicas. Em todas asLDOs se antecipa uma perspectivapositiva, a conquista do desenvolvi-mento sustentável, que decorre daprática de uma política fiscal respon-sável. O crescimento econômico se-rá crescente, a inflação declinante,o câmbio controlado, os juros reais setornarão civilizados e a dívida líqui-da do setor público, enfim, cairá.

A Tabela 1 apresenta as proje-ções que constavam de cada LDOpara cada um dos três anos subse-qüentes. É importante observar co-mo a previsão varia quando a reali-dade se aproxima. Veja o exemplode 2003. Se dependêssemos das pre-visões feitas pela LDO 2001, estaría-mos crescendo 5%. Pela LDO 2002,essa taxa seria de 4,5% e pela pró-pria Lei de Diretrizes de 2003, 4%.Mas, na realidade, hoje poucas pre-visões ultrapassam a casa de 2%,índice que vai diminuindo a cada diapela resistência em baixar os juros.

A partir dessas políticas orto-doxas, esse modelo monetaristatem levado o país a praticar jurosnominais e reais em descompassocom o resto do mundo, bem comocontribuído para a ampliação do de-semprego e subemprego, à quedada renda dos salários, à concentra-ção da renda e ao aprofundamentodas desigualdades. E, naturalmen-te, a um método de controle inflacio-nário caríssimo, em que esse custotambém se faz sentir no endivida-mento explosivo do setor público.Troca-se a inflação, mesmo sem ga-rantia do resultado, por uma dívi-da muito cara e de curto prazo.

Tabela 1: Evolução das previsões de crescimento realdo PIB e de Inflação, segundo as diversas Leis de Dire-trizes Orçamentárias.

Desde que as mensagens passaram a prever resulta-dos para três exercícios, há uma constante: o cresci-mento vai aumentar, a inflação vai cair, como resul-tantes de uma política fiscal responsável capaz deproduzir um crescimento sustentável.

O

Crescimento real do PIB (% a.a.)

2003 2004 2005 2006

LDO 2001 5,00LDO 2002 4,50 4,50LDO 2003 4,00 4,00 4,50PLDO 2004 3,50 4,00 4,50

Inflação IGP-DI (% a.a. - 12 meses)

2003 2004 2005 2006

LDO 2001 3,00LDO 2002 3,50 3,50LDO 2003 4,00 3,00 3,00PLDO 2004 9,41 6,15 4,46

Fonte: mensagens dos diversos projetos de LDO, de 2001 a2004. O projeto de LDO 2004 prevê a inflação pela variaçãomédia, resultando em valores menores que os parâmetros dosanos anteriores (ponta a ponta)

Na primeira parte do artigo, na edição passada, o parlamentar comunista expôs as amarrasherdadas de FHC, que limitam e restringem o poder e a soberania do governo na elaboração daLei de Diretrizes Orçamentárias para o ano que vem, a primeira da gestão Lula

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4 jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003

Superávit cada vez mais alto,dívida cada vez maior

Juros altos em demasia, portempo demais, fizeram estagnar aeconomia, enquanto alavancarama multiplicação da dívida. Assim –respondendo ao crescimento darelação dívida/PIB e na esperançade controle desse endividamento– a cada ano as LDOs foram ampli-ando as metas de ajuste fiscal. Nes-te modelo, o ajuste fiscal é o únicoinstrumento para se contrapor àirresponsabilidade na condução daspolíticas monetárias e cambiais.Não é de se estranhar que esse re-médio se demonstre ineficaz e quequalquer resultado obtido no con-trole da dívida dependa sempre docomportamento de outras variáveisexógenas e extra-fiscais, como, porexemplo, taxa de câmbio e de ju-ros, fluxo de recursos externos,comportamento da inflação.

Em 2000, a LDO 2001 projetavaque um resultado primário de 1,8%do PIB seria suficiente para dimi-nuir o grau de endividamento daUnião, que chegaria, em 2003, redu-zido a um percentual de 22,79% doPIB. Diante da sua insuficiência, ouineficácia, o superávit mínimo ca-paz de fazer cair a dívida foi subin-do ano a ano. A LDO 2002 continhametas de 2% para os três exercíciosseguintes; a LDO 2003, 2,25%; o pro-jeto de LDO 2004, 2,45%. E mesmoque os governos tenham semprepraticado superávits primários ain-da maiores do que os estabelecidosnas metas, a dívida não caiu: seguiuseu curso, sempre aumentando.

A evolução das previsõesmacroeconômicas de câmbio, jurose endividamento apresentadas nasdiversas LDOs para os três exercí-cios seguintes também pode servista na Tabela 2. Satisfeitas as pre-visões contidas na LDO 2001, aofinal de 2003 teríamos um câmbiode R$ 1,89, taxas de juros nominaisde 11,25%, permitindo assim que adívida da União estivesse controla-da num patamar de 22,79% do PIB.Havia uma condição: alcançarmosem 2001, 2002 e 2003 resultadosprimários de 1,89% do PIB.

Doce ilusão. O setor públicopraticou fielmente a cartilha doajuste fiscal. Os resultados primá-rios alcançados foram muito supe-

juros de 18% para 25%, no segundosemestre de 2002, bem como a suanova elevação para 26,5%, em 2003e, ainda, as alterações restritivas so-bre a liquidez do mercado aplicadassobre os níveis de recolhimentocompulsório e o encaixe obrigatóriosobre depósitos à vista.

Sobre o nível da atividade eco-nômica, que resulta em grandeparte dessas políticas, apenas a re-ferência de que a ampliação do pe-ríodo de convergência entre a in-flação verificada e a meta “procuraevitar custos desnecessários para aeconomia em termos de reduçãodo produto e do emprego”.

Uma questão que precisa serenfrentada em relação ao Anexoque apresenta os objetivos das po-líticas monetária, creditícia e cam-bial é a pretensão de incorporá-loà LDO, conforme determina o art.100 do Projeto. Passaria a integrara lei, inclusive, a meta de inflaçãopara 2004. Isso significa vincular oLegislativo e o Executivo aosparâmetros constantes desse Ane-xo, obrigando à sua obediência.

Hoje a meta inflacionária quedetermina a ação do Banco Cen-tral é fixada por decisão do Con-selho Monetário Nacional, proces-so disciplinado em decreto. Apartir da aprovação desse artigo,as metas de inflação da políticamonetária para 2004 passariam aconstar da Lei de Diretrizes Orça-mentárias. Essa pretensão contra-ria a Constituição e a própria Leide Responsabilidade Fiscal.

Há também conseqüências po-líticas que envolvem essa matéria:a fixação da meta inflacionária dapolítica monetária coincide com omodelo de banco central indepen-dente, que se reporta ao PoderLegislativo, antecipando, assim, aaprovação da lei que concederáessa independência à autoridademonetária (conforme permite a re-cente Emenda Constitucional 40).

A outra conseqüência política daincorporação dessas metas à LDO éa maior restrição à ação do Parla-mento. Habitualmente, o Congres-so, no momento da apreciação daproposta orçamentária, no segundosemestre de cada ano, atualiza asprojeções feitas seis meses antespelo projeto da LDO, adaptando alei às novas condições e projeções

Tabela 2 : Evolução das previsões de câmbio, taxa dejuros nominais, metas de resultado primário e de evo-lução da dívida líquida, segundo as diversas Leis de Di-retrizes Orçamentárias.Com uma política fiscal responsável, o câmbio estaráestabilizado e a taxa de juros será declinante. Cumpri-das as exigências e atendidas as expectativas do mer-cado, estabelecem-se os elementos fundamentais parao desenvolvimento sustentável.

riores aos previstos – e mesmo as-sim longe dos 22,79%. A dívida daUnião terminou o ano de 2002 numpatamar de 36%. Mesmo apuran-do os resultados parciais obtidosem 2003, quando somente a Uniãoobteve um superávit de 5,07% doPIB de janeiro a abril e o câmbioreverteu em parte as especulaçõesde 2002, beneficiando-se da gran-de entrada de capitais de curtoprazo atraídos pelos altos juros eainda favorecido pela desvaloriza-ção do dólar frente a praticamen-te todas as moedas, mesmo assima dívida da União está bem dis-tante das metas indicativas traçadaspelas LDOs de 2001 ou 2002.

Ressalte-se que, mesmo paraalcançar as metas de endividamen-to da LDO 2003, o governo federaldeverá continuar praticando umajuste nas contas que inviabilizagrande parte do seu divulgado pro-grama de governo e imobiliza osdiversos ministérios, promovendoum corte tão drástico nas despesasque também contribuiu, segundo oIBGE, para o resultado negativo doPIB no primeiro trimestre de 2003.

Diante de uma dívida que cres-ce contra as expectativas e todo oesforço fiscal, as LDOs têm, portan-to, que reconhecer, anualmente, umpatamar superior a partir do qual adívida vai enfim declinar, adiando arecompensa pelo sacrifício do ajus-te fiscal praticado. Desnecessárioreafirmar ainda a ausência mais com-pleta de resultados satisfatórios parao controle do endividamento obti-do por meio dessa política.

Subordinaro Legislativo às metas

No projeto de LDO 2004, o ane-xo que apresenta os objetivos daspolíticas monetária, creditícia ecambial, também determinado pelaLei de Responsabilidade Fiscal,deve mostrar como esses pontos in-terferem na construção da peça or-çamentária bem como na sua exe-cução. Também o conteúdo desseanexo trouxe pequenas inovações.

Podemos reafirmar que a políti-ca monetária continua estritamenteo serviço do controle inflacionárioe a estabilidade da moeda. A confir-mação disso é o fato de o BancoCentral ter elevado a taxa básica de

para o exercício seguinte. Reconhe-cer essas diferenças entre as proje-ções e a realidade é fundamentalpara que a lei contenha maior acer-to na estimativa de receitas e na fi-xação das despesas, especialmenteaquelas que precisam ser corrigidasfrente à inflação (as impactadas pelosalário mínimo, por exemplo).

Vinculado às projeções de infla-ção, câmbio e juros o Congresso Na-cional ficará impedido de realizar taisoperações, limitando sua capa-cidade de adequar a peça orçamen-tária às mudanças de conjuntura.Assim, toda a receita inflacionáriaque venha a ocorrer estará sob ainiciativa exclusiva do Poder Exe-cutivo e sob o seu tacão político.

* Deputado federal do PcdoB (MG)

Câmbio (R$/US$ em dezembro)

2003 2004 2005 2006

LDO 2001 1,89LDO 2002 2,18 2,21LDO 2003 2,42 2,45 2,48PLDO 2004 3,56 3,70 3,84

Taxa de juros nominal (% a.a. - 12 meses)

2003 2004 2005 2006

LDO 2001 11,25LDO 2002 12,30 12,30LDO 2003 12,84 11,25 10,21PLDO 2004 14,88 12,25 10,88

Meta de resultado primário (% do PIB)

2003 2004 2005 2006

LDO 2001 1,80LDO 2002 2,00 2,00LDO 2003 2,25 2,25 2,25PLDO 2004 2,45 2,45 2,45

Dívida Líquida da União (% do PIB)

2003 2004 2005 2006

LDO 2001 22,79LDO 2002 30,35 30,18LDO 2003 33,90 33,16 31,93PLDO 2004 35,53 35,14 34,11

Diante da incapacidade de controlar o câmbio ou di-minuir os juros e da necessidade de diminuir o grau deendividamento público, cada LDO estabelecia umameta maior de resultado primário e, mesmo assim, re-conhecia um patamar ainda maior para a dívida.

Fonte: mensagens dos diversos projetos de LDO, de 2001 a2004. O projeto de LDO 2004 prevê a taxa de juros pela varia-ção média, resultando em valores menores que os parâmetrosdos anos anteriores (ponta a ponta)

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O Governo Lula finalizou em 17 de março mais umaetapa do acordo do Brasil com o FMI, firmado emagosto de 2002. A Carta de Intenções do Governo brasi-leiro avalia que a crise do balanço de pagamentos, quese instalou no segundo semestre de 2002, tem origemfinanceira e política. O país necessitaria de um volumede recursos de US$ 30 bilhões para “restabelecer a con-fiança no cenário externo, possibilitar as discussões so-bre o caráter das políticas macroeconômicas após as elei-ções, além de servir de transição para o novo governo”,que se iniciaria em 2003.

5jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003

ACORDO BRASIL – FMI

aprovação de acordos com o Fun-do implica na adoção de certas po-líticas domésticas pelos países de-

vedores, as chamadas condicionalidades,que dizem respeito tanto à condução dapolítica econômica, no curto prazo, assimcomo às “reformas estruturais” que o Fun-do recomenda que sejam instaladas nospaíses que recebem recursos da instituição.

A meta de superávit primário definequanto o governo brasileiro resolve alcan-çar como saldo entre suas receitas e des-pesas, descontando os serviços da dívidapública. O governo FHC havia se compro-metido com um superávit de 3,75% do PIB,em 2003. O novo governo, para enfrentaras pressões inflacionárias, optou por re-ver este valor para o patamar de 4,25% doPIB, obrigando-se a efetuar inúmeros cor-tes nas despesas orçamentárias, incluindoos ministérios de cunho social.

A estabilização dos preços tem se apoi-ado, desde 1999, no programa de metasinflacionárias. O expediente mais utiliza-do neste sentido é a fixação da taxa Selic,de juros, que é usada como instrumentoregulador da inflação doméstica, ou seja,

partindo do princípio de que a alta de pre-ços resulta de um excesso de demanda naeconomia.

No entanto, este não parece ser nem delonge o quadro presente na economia bra-sileira, se levarmos em conta os altos índi-ces de desemprego, a retração da produ-ção industrial e a queda do salário real. Apersistente manutenção de uma elevadataxa de juros reais só vêm agravar este qua-dro. A Carta de Intenções ignora fatoresmuito mais preponderantes da inflação bra-sileira, tais como a instabilidade cambial,os diversos preços indexados ao dólar, osaumentos de tarifas de serviços públicosacordados nos contratos de privatização e,por último, mas não menos importante, osastronômicos custos financeiros resultan-tes da política de altos juros.

A fixação temerária, no acordo, de umpiso de US$ 5 bilhões para as reservas in-ternacionais, ou o equivalente a cerca deapenas um mês de importações, resulta,por sua vez, em maior vulnerabilidade emrelação aos movimentos do capital inter-nacional e menos soberania para gerirmosnossa política econômica.

Quanto às reformas, cabe destacar queo Acordo compromete o governo das se-guintes maneiras, segundo a Carta de In-tenções assinada com o FMI:• No campo previdenciário, há o compro-misso com o PL-9, projeto de lei que visaatribuir a grupos privados uma atividadeque historicamente faz parte dos deveresdo Estado, ao estabelecer a aposentadoriacomplementar privada para o setor públi-co. Como se pode observar, esta propostatem o claro intuito de abrir um novo mer-

Alternativasao neoliberalismo

O presente texto visa anali-sar, de forma mais minucio-sa, as principais condiciona-lidades presentes no acordoe a forma recente de atua-ção do Fundo com os paísesdevedores; e propor alterna-tivas aos caminhos adota-dos pelo atual Governo,mostrando assim que não hásentido dizer que “faltampropostas alternativas porparte dos que criticam as po-líticas oficiais vigentes”.

A

Pedro Quaresma*

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6 jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003

cado a grupos transnacionais de segurose previdência.• No campo financeiro, fica estabelecidoque o Governo formalizaria a autonomiado BC; há também o compromisso com avotação de uma nova lei de falências, visan-do acelerar a reestruturação das empresasem dificuldades e a garantia dos credores.• No campo tributário, o governo assumiuo compromisso com uma reforma enfocadana redução da regressividade das alíquotasde tributação da renda, do viés antiexporta-ções, da proporção de receitas vinculadas,da guerra fiscal entre estados, dos custos dearrecadação e da sonegação tributária.

A nova estratégia do FMI

Uma análise menos superficial permiteidentificar o real propósito dessascondicionalidades. A principal prioridadedo Fundo não é, como prevê sua carta defundação, o equilíbrio dos balanços depagamento dos países membros, mas simgarantir o retorno dos recursos empresta-dos pelos credores externos, multilaterais,bilaterais ou privados.

O superávit primário é a clara expres-são desta situação, uma vez que o Fundoestabelece uma meta, que monitora o re-sultado entre as receitas e as despesas cor-rentes do país, entre elas os gastos sociais,mas mantém livres de comprometimentosos gastos com os serviços da dívida. Esta éa mais clara manifestação de que, para oFundo, os gastos financeiros são prioritáriosem relação ao desenvolvimento do país.

Cabe ainda identificar no documento amais recente preocupação estratégica doFundo: a questão da ownership, ou seja, aapropriação das condicionalidades do Fun-do como políticas próprias de seus clien-tes. Logo após o início da discussão doacordo, realizou-se um encontro do entãopresidente Fernando Henrique Cardosocom os principais candidatos à Presidênciada República para discutir esse acordo como FMI, demonstrando assim a preocupa-ção do Fundo com a continuidade das po-líticas do seu interesse, o que está clara-mente refletida na Carta de Intenções, ondese lê que “os elementos-chave do progra-ma foram explicados aos candidatos e eles

se comprometeram a apoiá-los” (sic).Finalmente, numa clara intenção de

promover a persuasão do novo governo,inclusive por via financeira, o FMI estabe-leceu o cronograma de liberação de re-cursos com o qual o acordo foi implemen-tado, com uma liberação parcial de US$ 6bilhões, em 2002, no auge da crise, e orestante dos US$ 24 bilhões somente apartir de 2003, sujeito à aprovação do Fun-do a partir do acompanhamento das polí-ticas econômicas domésticas em curso.

Assim sendo, percebemos que a con-dução econômica do Governo Lula no seuinício de mandato, em que a ampla maio-ria das políticas econômicas e de propos-tas de reformas vem se confundindo comas condicionalidades presentes no acor-do, revela não só uma herança do gover-no passado, como se tem alardeado, mastambém o resultado desta nova estratégiade pressão política do FMI.

As alternativas

Acreditamos que só faz sentido definirmetas macroeconômicas em função de umprojeto maior do que a mera estabilidadede preços e a garantia de retornos dos pa-gamentos das dívidas em relação a atoresprivados ou às próprias instituições finan-ceiras multilaterais. O grande marco que dásentido a um plano de metas seria um pro-jeto de desenvolvimento próprio da Nação.

As políticas monetária e financeira têmpor objetivo garantir que o meio circulanteseja suficiente, possibilitando com o seufluxo que se faça circular a produção a to-dos os recantos do país. Além disso, o go-verno deve assumir uma política cambial,dado que o câmbio livre deixa a flutuaçãonas mãos dos investidores externos e dosdetentores de divisas dentro do país, emum contexto de predomínio do dólar so-bre todas as outras moedas nacionais.

Por essas razões, propomos uma políti-ca de regulação do fluxo cambial, assimcomo a Malásia e o Chile já fazem, queapresenta o potencial de sanear em poucotempo grande parte do risco de crise finan-ceira a que o Brasil hoje está submetido,devolvendo ao Estado a capacidade de fi-nanciar o projeto de desenvolvimento.

Na área fiscal, o quadro de comprome-timento do Orçamento da União com opagamento das dívidas públicas financei-ras deixado pelo Governo FHC é dramáti-co. Em 2002, 53,4% das despesas totaisforam dedicados ao serviço e rolagem dasdívidas financeiras, resultado obtido basi-camente por meio de cortes nos gastoscomo, por exemplo, os investimentos pú-blicos, que sofreram uma queda de 30,5%.

As políticas voltadas para a viabilizaçãodo pagamento de dívidas externas devemlevar em conta a atividade exportadora,única fonte de novas divisas de qualquernação (exceto os EUA). As medidas queacreditamos que seriam mais acessíveis aum país como o Brasil incluem: (1) a fixa-ção de um teto para o gasto orçamentáriocom dívidas financeiras; (2) a fixação deum percentual máximo das exportaçõespara o serviço da dívida externa; ou, (3) afixação de um percentual máximo da ba-lança comercial (supondo que existe saldopositivo) para aquele serviço, induzindo ospaíses credores a reduzirem suas proteçõescomerciais e facilitarem a entrada de pro-dutos brasileiros nos seus territórios.

Além dessas medidas, as tomadas de em-préstimos do exterior deveriam ser regula-mentadas, evitando que o País se endivi-dasse com divisas para setores e projetosque possam e devam ser financiados inter-namente e que não gerem retorno financei-ro no prazo requerido para seu pagamento,como é o caso dos empréstimos tomadosdo Banco Mundial e do BID para financiarprojetos nas áreas da educação, saúde,erradicação da fome e da pobreza, etc.

Entre as medidas urgentes para iniciara solução deste gravíssimo problema fiscaldo Brasil estariam: a redução gradual, maspersistente da taxa de juros; o alongamen-to dos perfis da dívida interna; a desinde-xação imediata dos títulos indexados; a fixa-ção de um teto para o gasto público com adívida interna, semelhante ao que vigorana Lei de Responsabilidade Fiscal; o esta-belecimento de um imposto sobre o ativoimobilizado das empresas, vinculando-o aopagamento da dívida interna.

* Economista do Instituto de Políticas Alternativas parao Cone Sul (Pacs)

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ARTIGO DO LEITOR Flávio Riani*

os poucos a sociedade civil vai to-mando consciência da necessidadede se ter organizações de classe de

peso para manifestar sua insatisfação comos rumos tomados nas ações de governono Brasil. Tal fato ficará mais evidente quan-do aumentar a desilusão da mudança abrup-ta do discurso do Presidente Lula e das prin-cipais lideranças do partido trabalhista.

É inaceitável e incompreensível que ad-ministradores públicos brasileiros tentemjustificar e convencer a sociedade brasilei-ra de que o problema do desajuste das fi-nanças públicas esteja nos salários dos ser-vidores públicos e nos gastos com aprevidência. Tais argumentos, vindos departidários do atual presidente da Repúbli-ca, deixam-nos confusos pois, momenta-neamente, achamos que nosso presidenteainda é o Fernando Collor caçando marajás.

Ninguém tem tido coragem de enfren-tar o problema central do desajuste das fi-nanças públicas, que indiscutivelmente con-centra-se na dívida e não em salários,benefícios, previdência, etc. Um professorque ganha R$ 700,00 por mês, um policialque ganha um pouco mais, um administra-dor público qualificado (os poucos queainda restam) que ganha R$ 1.500,00, podeser culpado pela crise financeira. Enquan-

DívidaX

Salários e Serviços BásicosA dívida pública no centro do debate sobre as finanças públicas

to isto acontece com eles, o país paga, porano, R$ 130 bilhões de encargos da dívida(equivalentes a 13 orçamentos ordinários doEstado de Minas Gerais) sem que seu esto-que diminua. Sem contar que esta dívidaque era de R$ 60 bilhões, em 1994, atingehoje o patamar de quase R$ 800 bilhões.Isto depois de já termos pago no mesmoperíodo mais de R$ 750 bilhões. Isto é queestá acabando com o setor público e nãoos salários pagos àqueles que trabalhamna prestação de serviços públicos.

Situação em Minas

Em Minas Gerais, a situação não é dife-rente. Em dezembro de 1998, a dívida pú-blica mineira era de R$ 18,8 bilhões. De1999 a 2002, o Estado pagou R$ 5,5 bilhõesde encargos da dívida, que representamduas vezes mais o que se pagava antes doacordo. Mesmo com este desembolso, esem que o Estado tenha contratado qual-quer nova dívida, em dezembro de 2002 oestoque da dívida pública estadual elevou-se para R$ 34 bilhões. Para os próximosquatro anos, com as atuais condições im-postas no acordo da dívida, Minas Geraisdesembolsará aproximadamente R$ 8 bi-lhões de encargos. Apesar disso, o esto-

que da dívida deverá atingir o patamar supe-rior a R$ 45 bilhões, em dezembro de 2006.

Como a dívida mineira é corrigida pelo IGP-DI, qualquer alteração de 0,5% ou 1% no IGP-DI eleva o estoque da dívida em valoressignificativamente maiores de quaisquerbenefícios que se corte dos funcionários.Situação oposta ocorrerá seguramente se aanálise for feita no Legislativo ou no Judiciá-rio. Mas nestes o governo não interfere.

Recentes reportagens apresentadas noscanais de televisão têm mostrado a preca-riedade de nossas rodovias, nossos presí-dios, a falta de recursos para segurançapública, falta de serviços médicos, etc. Masnenhuma delas tem procurado destacar oproblema da dívida. Se isto fosse feito,mostraria, por exemplo, que com o quese paga de juros da dívida, em um ano,poderia-se construir uma nova malha viá-ria em todo o país, centenas de penitenci-árias de segurança máxima, ter um efetivoprograma de geração de emprego (semnecessitar das falácias dos programas decombate à fome e à pobreza), um progra-ma adequado de renda mínima, efetivaeducação para os jovens, etc.

Infelizmente, o discurso do atual go-verno federal tem deixado perplexa a gran-de maioria que elegeu o atual presidente.Sabe-se das dificuldades de mudanças.Porém, mudar o discurso da ante-posse àposse é desesperador.

Nos últimos anos, pagamos a mais detributos o montante equivalente a 7% doPIB, cujo objetivo foi gerar superávits pri-mários que garantam o pagamento da dívi-da. O que diria Lula e seus fiéis seguidoresse ainda não tivesse havido a eleição ou,se, porventura, ele não tivesse sido eleito?

E eu achei que desta vez tinha acerta-do o voto...

* Coordenador e professor da Faculdade de CiênciasContábeis da Universidade de Itaúna, professor daPUC-MG, ex-secretário adjunto da Fazenda do Estadode Minas Gerais e leitor do JE.

Recentes reportagens (...) têm mostrado a precariedadede nossas rodovias, presídios, falta de segurança, servi-ços médicos, etc. Mas nenhuma delas tem procurado des-tacar o problema da dívida. Se isto fosse feito, mostraria,por exemplo, que com o que se paga de juros num anopoderia se construir uma nova malha viária em todo o país,centenas de penitenciárias de segurança máxima, ter umefetivo programa de geração de emprego, de renda míni-ma, efetiva educação para os jovens, etc.

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Fernando Cardim, professor do Instituto de Economia da UFRJENTREVISTA

8 jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003

Jornal dos Economistas –Qual é a sua avaliação da po-lítica econômica do GovernoLula nestes primeiros seis me-ses de mandato?Qual o foco dapolítica econômica que vemsendo empreendida?Fernando Cardim - Eu achoque os fatos falam por si mes-mos. De FHC herdamos umaeconomia estagnada, com ele-vado desemprego, sem inves-timentos, submissa ao FMI. Jáa política econômica de Lula,de quem esperávamos a lide-rança na mudança deste qua-dro, até agora nos deu desem-prego ainda maior, estagnaçãobeirando a recessão, empresasdesencorajadas a investir, aper-to fiscal além até mesmo dasmetas acordadas com o FMI,projetado para durar indefini-damente, política monetáriabeirando o irracional, em que

É possível, sim,uma política alternativa

o Banco Central leva a econo-mia ao abismo apenas para pro-var sua independência parafazê-lo. O governo Lula pare-ce contemplar a mesma mira-gem de FHC: a de que a “cre-dibilidade” conquistada pelobom comportamento frente acertos mercados financeirospermitirá a adoção de políticasde expansão, não percebendoque a credibilidade buscada éexatamente a de que nada seráfeito nessa direção. A políticaeconômica do presidente éaplaudida apenas pelos gruposque o rejeitaram no ano passa-do. Curiosamente, o governoparece ver isto como uma vir-tude, como uma vitória de seuspoderes de persuasão ao invésde uma rendição. O Bevilaqua,da PUC, colocou bem ao serescolhido para sucessor doYlan Goldfajn na diretoria do

Banco Central. Quando lheperguntaram sobre seu artigono jornal Valor Econômico ,condenando as idéias de Luladurante a campanha eleitoral,agora que ele era nomeadopara a diretoria do banco, suaresposta foi exemplar : a deque Lula tinha corrigido seusequívocos.

JE – Muitos analistas têm mos-trado ceticismo com r elação aogoverno, achando que ele dácontinuidade às políticas neo-liberais de FHC. Qual a suao p i n i ã o ?FC - O governo age como osconvertidos ao islamismo, des-critos por Naipaul em seus li-vros Among the Believers eBeyond Belief. Naipaul observaque nos países que visitou, pa-íses não-árabes que adotaramo islamismo, este tende a tomar

A retomada do crescimenda retomada dos investiPara que demanda elas do primeiro semestre ainções seriam a bóia salvaexportações estão se do Ipea. Investir para queconsumo, ou de investim

O professor Fernando Cardim tem uma afirmação a respeito dos primeiros seismeses do Governo Lula que, embora amarga, é bem definidora do quadro maisgeral do primeiro semestre de um governo popular, eleito sob as asas da espe-rança: quem está aplaudindo muito são os que mais rejeitavam Lula. Nessa en-trevista em que o JE retoma o debate sobre os primeiros seis meses do GovernoLula, o professor do IE da UFRJ diz que a possibilidade de uma política alterna-tiva não significa que ela seja fácil ou sem custos. Mas ela é possível.“Uma economia em expansão gerará excedentes para o cumpri-mento dos compromissos do governo (inclusive com o serviço dadívida) sem ter que matar a economia, como o fez FHC e o fazLula”, defende. Essa política alternativa diminuiria a pressão so-bre o setor público, reduzindo o superávit a níveis administráveise uma política fiscal expansiva, de investimento público, com que-da dos juros e retomada de controles de capitais, baixando avolatilidade do câmbio.

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uma forma mais radical paracompensar o pecado original deter nascido na crença errada. OPT adota a postura neoliberalcomo quem precisa se purgarde seus pecados na vida pre-gressa. É preciso não apenascrer, mas autoflagelar-se. A úni-ca mudança vista até agora comrelação a FHC é a radicalizaçãode seu programa, com umaagressividade surpreendente.Veja-se o trator passado no Con-gresso na questão do artigo 192,que regula o mercado financei-ro na Constituição, para que sepossa dar independência aoBanco Central, algo que FHCnão quis tentar.

JE – O Presidente Lula tem afir-mado que mudanças ocor rerãoa partir de agora, principal-mente com a r etomada do cres-cimento. Elas são possíveis, doseu ponto de vista?FC - A esperança, naturalmen-te, é a última que morre. Mu-danças seriam possíveis, aindaque, acredito, elas sejam mui-to mais difíceis agora do quequando o presidente assumiu,com o peso da popularidademostrada na eleição. Agora, osreais vencedores sabem do te-mor que domina o governo, ecomo é fácil desviá-lo de traje-tórias alternativas. Presidentesque propuseram mudanças ofizeram, na maioria das vezes,no início de sua administração,quando seu poder político eramaior. Veja Roosevelt, em 1933,ou Mitterrand em 1981. Mes-mo que depois iniciativas se-jam revertidas, e que algumasdelas se mostrem equivocadas,mantém-se a iniciativa política.Isto o governo parece ter per-dido. Sua base política no Con-gresso é maior, mas porque suaidentidade foi lançada ao mare seu prestígio político estásendo gasto na tentativa decontinuar “tratorando” os dis-sidentes de sua própria base.Não é impossível que o gover-no tome a iniciativa, mas pare-ce muito improvável. Até o mo-mento, o que apareceu foram

medidas de política social (ouanúncio de que medidas estãoa caminho), com reduzido po-der de alteração do quadro fun-damental de estagnação e de-semprego produzido pelacombinação de endurecimentofiscal, com endurecimento mo-netário (e agora com superva-lorização do real).

JE – Há risco de continuarmosno “pior dos mundos”, comuma estagflação, por exemplo?FC - A retomada do crescimentodepende crucialmente da reto-mada dos investimentos pelasempresas. Para que demandaelas vão produzir? No início doprimeiro semestre ainda pare-cia que exportações seriam abóia salva-vidas, mas agora atéas exportações estão se desa-celerando, conforme o Ipea.Investir para que, se não há de-manda de consumo, ou de in-vestimento ou do governo?Estagflação, contudo, é a com-binação de estagnação com in-flação. Inflação não está no ho-rizonte, apesar de muitosinsistirem que é preciso conti-nuar atirando, como nestes fil-mes de terror juvenis em que ovilão tem que ser morto váriasvezes porque ele sempre renas-ce, para prolongar a história.

JE – É possível uma gestão ma-croeconômica alternativa?FC - Muitos de nós insistimosnisso, criando um certo ruído,mas com reduzido sucesso. Nãose sugere que existem alterna-tivas fáceis, nem que não impli-quem custos para alguém. Su-gere-se apenas que esta políticaque prossegue não é, nem temcomo se tornar a alternativa queaqueles que votaram em Lulano ano passado esperavam.Uma política alternativa di-minuiria a pressão sobre o se-tor público, reduzindo as me-tas de superávit fiscal para níveisadministráveis. O serviço da dí-vida é inflado hoje pela inde-xação de quase toda a divida àtaxa de juros de curto prazo(Selic) e ao dólar. A taxa Selic

tem sido mantida muito altamesmo nos períodos em queela foi mais baixa porque, coma liberalização da conta de ca-pitais nos anos 90, é precisopagar aos investidores financei-ros locais e externos para quemantenham suas aplicaçõesaqui. Controles de capitais de-vem reduzir o poder de barga-nha destes grupos, permitindomanter o dólar flexível, aindaque menos volátil (e, assim, pre-judicando menos os exportado-res do que esta política atual).Movimentos do dólar deveriamrefletir os movimentos da con-ta corrente (exportação e impor-tação de bens e serviços) e nãoas mudanças de humor ou pres-sões de investidores financeiros.O controle reduziria as pressõessobre o dólar, permitindo man-ter a Selic em nível mais próxi-mo do apropriado. Se o dólarfor menos volátil e a Selic for re-duzida, o serviço da dívida cai ea necessidade de superávits tam-bém. A política fiscal pode setornar mais expansiva, aumen-tando os investimentos públi-cos, hoje quase inexistentes. A re-dução da Selic tornará a taxa dejuros mais suportável. Uma eco-nomia em expansão gerará ex-cedentes para o cumprimentodos compromissos do governo(inclusive com o serviço da dívi-da) sem ter que matar a econo-mia, como o fez FHC e o faz Lula.

JE – O senhor é um dos econo-mistas que mais insistem naimportância de o Brasil ado-tar mecanismo de controle se-letivo sobre os chamados fluxosde capital externo. Esta é umadas propostas que constam doManifesto subscrito por 300economistas, dentre os quais,

nto depende crucialmentementos pelas empresas.vão produzir? No início

nda parecia que exporta--vidas, mas agora até asesacelerando, conforme

e, se não há demanda demento ou do governo?

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o senhor se inclui, pedindomudanças na política econô-mica do Governo Lula. E é tam-bém um tema que par ece ga-nhar adesões no âmbito doConselho de DesenvolvimentoEconômico e Social. Como res-ponderia às críticas feitas pormembros do governo a essaproposta, como as do senadorAloísio Mercadante?FC – Quando o CDES começoua manifestar-se sobre esta ques-tão, um diretor do Banco Cen-tral resumiu a posição oficialafirmando que o governo é con-tra porque não funciona. Isto éridículo. O diretor do BC pare-ce não conhecer sequer a lite-ratura produzida pelo FMI a res-peito. Outra coisa que se diz éque controles são danosos por-que capitais de curto prazo são“pioneiros”: eles vêm para tes-tar o ambiente antes dos capi-tais permanentes. Outros, final-mente, dizem que controlesseletivos seriam fatais porquetodos os investimentos externossecariam. Isto ilustra a principaldificuldade de se discutir con-troles de capital: o nível médiode ignorância sobre o tema émuito grande, mesmo dentre osque deveriam conhecer algo arespeito, e todos parecem agirmais como lobistas do quecomo autoridades ou estudio-sos. A posição do FMI a respei-to é muito mais racional do quea do Governo Lula. Controlestêm sido “demonizados” por-que, naturalmente, aqueles queperderiam o poder de barganhaque têm – porque podem ame-açar a governo com a possibili-dade de fugas de capitais, antequalquer vislumbre de políticasalternativas, desenhando, emseu próprio interesse, cenáriosde caos sem qualquer base real.O Brasil teve uma ampla expe-riência com controles, cuja efi-cácia pode ser discutida, masque certamente não levou aocaos. Foi a liberalização da con-ta de capitais que nos levou aocaos presente, incluindo-se aí ascrises cambiais que já se torna-ram rotina.

O controle redu-ziria as pressõessobre o dólar, per-mitindo manter aSelic em nível maispróximo do apropri-ado. Se o dólar for

menos volátil e a Selic for reduzi-da, o serviço da dívida cai e a ne-cessidade de superávits também.A política fiscal pode se tornar maisexpansiva, aumentando os inves-timentos públicos, hoje quase ine-xistentes

contraditórios a respeito, masnão tenho como opinar. Umareforma previdenciária quetornasse o sistema menos de-sigual, eliminando os privilé-gios extremos que se verificamem alguns casos, e uma refor-ma tributária que tivesse umcaráter progressivo seriam pas-sos na direção correta, masnão posso julgar se as coisasse encaminham nesta direçãoou não.

JE – O Plano Plurianual de In-vestimentos (PPA) pode colocaro Brasil em uma trajetória ded e s e n v o l v i m e n t o ?FC – Difícil responder com omaterial que foi tornado pú-blico até agora. Pelo texto di-vulgado, parece difícil que alista de boas intenções e dedesejos virtuosos ali presentesseja viável em uma economiaem que investimentos têm deser efetuados por empresas,para as quais não existe de-manda, por um lado, nem re-cursos, por outro. Parece ha-ver uma grande expectativacom meios “inovadores” como

JE – Como avalia a anuncia-da adoção dessa medida pelogoverno argentino?FC – A adoção de controlesna Argentina é ilustrativa deuma tendência que parece es-tar se delineando com cadavez maior clareza: a importân-cia da liderança política. OPresidente Kirchner está de-monstrando que é possíveltentar algo diferente do con-junto de políticas suicidas queforam adotadas naquele país.Nossa esperança é que o Pre-sidente Lula acabe perceben-do isto, o que não significaque as políticas tenham queser as mesmas que as argenti-nas, mas que alternativas se-jam tentadas ao invés do des-file de autocongratulações queos membros do governo gos-tam de promover.

JE – Qual a sua opinião sobr eas duas r eformas em discus-são – da Previdência e a Tri-b u t á r i a ?FC – Não sou especialista emnenhuma das duas áreas. Te-nho visto muitos argumentos

parcerias, etc. Mas a verdadeé que o documento prepara-do pelo Ministério da Fazen-da, que deu tanta celeuma naimprensa, parece mais repre-sentativo do que o governo seprepara efetivamente para fa-zer do que o PPA. Mas eu es-pero estar errado e ser surpre-endido por um plano maissubstancioso de desenvolvi-mento, quando o documentocompleto for divulgado.

JE – Lula firmou o compromis-so com a Alca a partir de 2005.Qual a sua opinião sobr e aAlca e sobr e este prazo?FC – A política externa, apesarde alguns tropeços importan-tes, como na questão de Cuba,foi um dos poucos pontos for-tes destes seis meses de gover-no. O escorregão do Presi-dente, ao ceder às pressõesamericanas pela manutençãodo prazo da Alca, anunciandoa concordância com a data de2005 para início de vigência doacordo, pode muito provavel-mente ser contornado. A posi-ção brasileira tornou-se umpouco mais confortável com aeleição de Kirchner na Argen-tina, mas o Brasil deveria sermuito cuidadoso ao negociarcom um parceiro tão despro-porcionalmente grande comoos Estados Unidos. Alem dis-so, depois do 11 de setembro,a diplomacia americana tornou-se muito truculenta, aparente-mente baseada no principio deBush de que quem não estácom os EUA está contra eles, oque torna a negociação de umtratado razoável muito difícil.Eu tenho a impressão de quea nós seria mais vantajoso evi-tar a Alca neste momento, e ar-ticular uma posição comum depaíses em desenvolvimento sis-temicamente importantes,como a África do Sul, China,Rússia, etc., para a discussãoem fóruns mais amplos, comoa OMC. Não saberia dizer seesta é a estratégia do Itamara-ty, mas suas ênfases parecemser as corretas.

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ESPECIAL Henrique Gurvitz*

partir da dinâmica apresentada pelaeconomia fluminense no período

1996/2000, o presente artigo tem porobjetivo analisar os seus desdobramen-tos nas diferentes regiões do território flu-minense, considerando a divisão regionaladotada pelo Centro de Informações eDados do Estado do Rio de Janeiro (Cide).

Uma primeira observação a se fazerdiz respeito à atividade de Extração dePetróleo e Gás Natural na Bacia de Cam-pos. Apesar de inegavelmente integrar oconjunto das atividades econômicas doEstado do Rio de Janeiro, esta atividadenão ocorre efetivamente no seu territóriocontinental, dadas as suas característicasoff shore. Assim sendo, a sua considera-ção no contexto deste artigo introduz dis-torções na distribuição das atividades eco-nômicas no território fluminense.

Seguem-se, então, breves notas sobrecomo a questão foi abordada pelo Cide.Primeiramente, uma explicação sobre oValor Adicionado Fiscal (VAF). Trata-sede uma apuração em todos os estabele-cimentos de atividade econômica, que,totalizada por município, serve, entreoutros, como critério de partição da par-cela de 25% do ICMS arrecadado que cabeaos municípios (Fundo do ICMS).

No caso da Indústria Extrativa e deTransformação, o VAF é calculado peladiferença entre o que é faturado com osprodutos vendidos e o que é gasto com aaquisição de insumos e matérias primas.O VAF da Bacia de Campos é distribuídoaos municípios de São Francisco deItabapoana, São João da Barra, Campo dos

Fundação CIDE:As desigualdades daeconomia fluminense

Estudo sobre a dinâmica regional da economia fluminense,no período 1996/2000, mostra grande heterogeneidade. Nomesmo estado, o PIB varia de 25,6%, na Baía de Ilha Grandea – 0,09% na região Centro-Sul

Goytacazes, Quissamã, Carapebús, Macaé,Rio das Ostras, Casimiro de Abreu, Arma-ção dos Búzios e Cabo Frio, proporcio-nalmente ao que lhes cabe a título deroyalties pela exploração petrolífera.

Uma primeira tentativa de lidar coma questão consistiu em distribuir o PIBda Extração de Petróleo e Gás Naturalpor este mesmo critério de proporção.O resultado gerou grandes distorções,levando ao abandono do método. A tí-tulo de ilustração, a ser considerado estecritério o PIB per capita de Quissamã,em 2000, teria sido de US$ 125.000.

Uma segunda opção, também descar-tada, foi a distribuição deste PIB por to-dos os municípios fluminenses proporci-onalmente ao seu PIB, desconsiderandoesta atividade. Neste caso, a participaçãodo município do Rio de Janeiro na ativi-

dade seria superior a 60%, o que, evi-dentemente, é um contra-senso.

Finalmente, a solução adotada que, anosso ver, causa menos distorção na dis-tribuição regional das atividades econô-micas foi a criação do município fictício“Bacia de Campos”, onde é alocada a to-talidade da atividade de Extração de Pe-tróleo e Gás Natural. Como conseqüên-cia, a atividade é considerada no PIBestadual, mas desconsiderada quando aabordagem é intraestadual. Portanto, noque se segue, esta atividade – uma dasmais dinâmicas e a principal responsávelpelo recente dinamismo da economiafluminense – não está sendo levada emconta. Este fato vem realçar o desempe-nho das regiões de grande dinamismo,principalmente as que cresceram acima damédia estadual – Baia da Ilha Grande,Baixadas Litorâneas, Norte Fluminense eMédio Paraíba, como se pode ver abaixo.

A Dinâmica Regional

A tabela abaixo explicita a variaçãopercentual real do PIB.

Variação Percentual Real por Regiões de Governo

Estado do Rio de Janeiro - 1996/2000

(%)

Região de Governo valor

Estado 12,27

Região da Baía da Ilha Grande 25,60

Região das Baixadas Litorâneas 20,57

Região do Médio Paraíba 18,43

Região Norte Fluminense 15,93

Região Metropolitana 11,51

Região Noroeste Fluminense 1,72

Região Serrana 1,37

Região Centro-Sul Fluminense - 0,09

A

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O cotejo entre os valores das duastabelas permite a apreciação conjunta dodinamismo econômico (medido pelataxa de crescimento) e da capacidadeprodutiva (medida pelo PIB per capita).

Na primeira tabela, dividindo-se oconjunto das regiões segundo a media-na de sua distribuição, obtêm-se doisgrupos: o das quatro regiões com maiortaxa de crescimento e o das quatro regi-ões com menor taxa de crescimento. Pro-cedimento idêntico na segunda tabela,produz resultado semelhante no que dizrespeito ao PIB per capita.

A interseção destas duas distribuiçõesdivididas pela mediana produz umatipologia de quatro elementos, a saber:

1) Regiões de maior taxa de crescimen-to e maior PIB per capita2) Regiões de maior taxa de crescimen-to e menor PIB per capita3) Regiões de menor taxa de crescimen-to e maior PIB per capita4) Regiões de menor taxa de crescimen-to e menor PIB per capita

As regiões classificadas no grupo1 es-tão na situação mais privilegiada, poisaliam grande dinamismo com grande ca-pacidade produtiva. São as seguintes:Baia da Ilha Grande e Médio Paraíba.

No grupo 2 estão regiões de grandedinamismo, porém, de baixa capacida-

de produtiva. Em que pese esta baixacapacidade produtiva, o seu dinamismocoloca boas perspectivas no sentido dasuperação deste entrave. Classificam-seneste grupo as regiões das Baixadas Li-torâneas e do Norte Fluminense.

As que compõem o grupo 3, apesarda grande capacidade produtiva, regis-traram baixo dinamismo. Este grupo écomposto pelas Regiões Metropolitanae Serrana.

Finalmente, as do grupo 4 configu-ram a situação mais desfavorável, poisconjugam baixo dinamismo com baixacapacidade produtiva. As suas compo-nentes são: Centro-Sul Fluminense e No-roeste Fluminense.

O mapa, na página seguinte, visualizaesta tipologia nas diferentes partes doterritório fluminense.

Fatores de expansão

Em seguida, abordamos mais deta-lhadamente as regiões, procurando iden-tificar os seus fatores de expansão. Aúnica região que apresenta uma claravocação econômica é a do MédioParaíba, que tem na Indústria de Trans-formação, não somente o setor que pu-xou o seu crescimento no período 1996/2000, como o setor de maior peso noPIB. Aliás, trata-se da região mais indus-trializada do estado, ou seja, dentre to-das, é aquela em que o PIB da Indústria

de Transformação detém a maior parti-cipação no total. Os gêneros industriaisque mais se destacam são: Siderurgia,em Volta Redonda, e Material de Trans-porte, em Resende (Volkswagen) e Por-to Real (Peugeot-Citröen). Não se devedeixar de mencionar, também, as insta-lações industriais da Xerox, em Itatiaia.

Quanto à região da Baía da Ilha Gran-de, o seu crescimento foi impulsionadopor Transportes e Comunicações, o quetalvez esteja refletindo a importância,para a região, do terminal da Petrobrasem Angra dos Reis. Serviços Industriaisde Utilidade Pública também se desta-cam, denotando a importância da UsinaNuclear de Angra dos Reis.

No que se refere à região Norte, osseus fatores de crescimento foram Pres-tação de Serviços e Transportes e Co-municações, o que permite focalizar oseu dinamismo na exploração da Baciade Campos, dada a localização em Macaéda base de operações desta exploração.

Na região das Baixadas Litorâneas setem Transportes e Comunicações, o queindica, na ausência de alguma outra ati-vidade de vulto, que o incremento ob-servado no setor se deve ao desloca-mento de pessoas a passeio, conhecidavocação, principalmente, na chamadaRegião dos Lagos. Portanto, podemosidentificar o binômio Turismo/Veraneiocomo o fator de dinamismo desta região.

Quanto às demais regiões, de menordinamismo, a única que apresenta cresci-mento significativo é a Metropolitana. Asdemais, com taxas entre 1,72% e – 0,09%,praticamente se mantiveram no mesmopatamar no período considerado.

Região Metropolitana

A região Metropolitana, apesar de si-tuada neste último grupo, registrou umcrescimento de 11,51%, próximo da mé-dia estadual de 12,27%. Na realidade, tra-ta-se da região mais importante do esta-do, concentrando 72,9% do PIB estaduale 83,2% do PIB do conjunto das regiões(recorde-se que a diferença entre o PIBestadual e o do conjunto das regiões estálocalizada na exploração petrolífera). Osetor que puxou o crescimento na re-gião foi Transportes e Comunicações,

PIB per capita por Regiões de Governo

Estado do Rio de Janeiro - 2000

(R$ 1,00)

Região de Governo valor

Estado 11.052

Região do Médio Paraíba 11.752

Região Metropolitana 10.636

Região da Baía da Ilha Grande 7.031

Região Serrana 6.451

Região Norte Fluminense 4.746

Região Centro-Sul Fluminense 4.710

Região das Baixadas Litorâneas 4.587

Região Noroeste Fluminense 3.846

É interessante cotejar estes resultados com os do PIB per capita. A tabela aseguir estabelece o ranking segundo esta variável.

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especificamente Comunicações, dandoconta de uma demanda reprimida portelefonia fixa e da extraordinária expan-são da telefonia celular, no período.

Região Serrana

A região Serrana, apesar de situadano grupo de maior capacidade produti-va, teve o seu nível de atividade pratica-mente estacionado no período (variaçãode 1,37%). Trata-se da segunda regiãomais industrializada do estado, detento-ra do terceiro parque industrial. No en-tanto, o seu pequeno crescimento teveTransportes e Comunicações comoimpulsionador, ratificando, mais umavez, a influência da demanda reprimidapor telefonia fixa e a grande expansãoda telefonia celular.

O desempenho da Indústria de Trans-formação se caracterizou por uma con-tração de 5,2 %, no período. Em termosdo PIB per capita, observa-se claramenteuma dicotomia na região. De um lado,com PIB per capita superior a R$ 5.500,os municípios de Cantagalo (indústria docimento), Petrópolis (principalmente porser um centro regional, mas também pelo

porte de sua indústria), Nova Friburgo(indústria, principalmente de confecções),Teresópolis (turismo/veraneio) e Carmo(usina geradora de eletricidade). De ou-tro, com PIB per capita inferior a R$ 4.500,os demais nove municípios, com uma si-tuação muito semelhante à da região No-roeste, a de menor PIB per capita.

Centro-Sul e Noroeste

As regiões restantes, Centro-Sul e No-roeste, compõem o grupo 4 (menor di-namismo e menor capacidade produti-va). Na região Centro-Sul, a Indústria deTransformação detém uma participaçãosignificativa, estando concentrada nosmunicípios de Três Rios (Produtos Ali-mentares) e Areal (Farmacêutica), quedetêm 66,1% do setor na região. O PIBdesta região caiu 0,09%, no período. Osetor que mais contribuiu para esta que-da foi justamente a Indústria de Trans-formação.

A Região Noroeste é a de menor PIBper capita. O seu PIB cresceu 1,72% noperíodo. O setor que mais influiu nestapequena expansão foi, mais uma vez,Transportes e Comunicações. Esta re-

gião, que conheceu o seu auge no ciclocafeeiro fluminense, aparentemente ain-da não encontrou uma vocação econô-mica alternativa.

Conclusões

As atividades econômicas no territó-rio fluminense evoluíram de forma bas-tante desigual no período 1996/2000. Ataxa de variação real do PIB registrouvalores entre 25,60%, referentes à regiãoda Baia da Ilha Grande, e –0,09%, refe-rentes à região Centro-Sul.

Transportes e Comunicações foramos setores responsáveis pelo crescimen-to observado na maior parte das regi-ões e, exceto no caso das regiões Norte,Baixadas Litorâneas e da Baia da IlhaGrande, isto se deu por conta da ex-pansão da telefonia fixa e celular.

No que se refere ao PIB per capita oquadro também é de grande heteroge-neidade, o que reflete por sua vez umagrande heterogeneidade nos níveis dedesenvolvimento econômico das dife-rentes partes do território fluminense.

* Coordenador da Base de Dados da Fundação CIDE

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As matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de responsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Corecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Popular de opular de opular de opular de opular de OrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamento do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeiro.o.o.o.o.Equipe técnica: LEquipe técnica: LEquipe técnica: LEquipe técnica: LEquipe técnica: Luiz Mario Behnken, cooruiz Mario Behnken, cooruiz Mario Behnken, cooruiz Mario Behnken, cooruiz Mario Behnken, coordenador - Estagiários: Mariana Fdenador - Estagiários: Mariana Fdenador - Estagiários: Mariana Fdenador - Estagiários: Mariana Fdenador - Estagiários: Mariana Filgueiras e Ricarilgueiras e Ricarilgueiras e Ricarilgueiras e Ricarilgueiras e Ricardo Monteirdo Monteirdo Monteirdo Monteirdo Monteirooooo

CORECONCORECONCORECONCORECONCORECON: Av. Rio Branco, 109 - 19° andar - Rio de Janeiro/RJ - CEP 20054-900- Tel.: (21) 2232-8178 - Fax.: (21) 2509-8121Correio eletrônico: [email protected] - Portal: www.corecon-rj.org.br - www.fporj.blogger.com.brAs reuniões do Fórum são abertas: todas as quintas-feiras, às 18h, na sede do CORECON-RJ

FÓRUM POPULAR DO ORÇAMENTO

15jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003jornal dos economistas - julho de 2003

Secretaria Municipal de Culturacomporta, atualmente, sete progra-

mas de trabalho destinados à implantaçãoe conservação de museus na cidade doRio de Janeiro. As autorizações de gastosprevistas pela Lei Orçamentária Anual(LOA) de 2003 para este fim totalizam R$2.126.001,00.

Os remanejamentos e contingencia-mentos têm sido perversos para quase to-dos esses programas. Só neste ano, nosprimeiros meses de gestão, o prefeito jácontingenciou quase R$ 1 milhão. Comisso, projetos como o de restauração doMuseu do Carnaval e o de implantaçãodo Museu Universo ainda não saíram dopapel, porque os R$ 875 mil destinados aesses programas – R$ 102 mil e R$ 773mil, respectivamente – ainda não saíramdos cofres da prefeitura.

O grau de execução orçamentária dosprojetos, apurado até junho, indica que:ou os museus da cidade não necessitamdesses recursos, ou não há a intenção dese realizar os gastos autorizados por lei. OMuseu de Arte Moderna (MAM), apesarde ser de responsabilidade federal, contacom uma contribuição municipal anual. OMAM recebeu apenas R$ 55,3 mil dos R$400 mil previstos.

Em situação semelhante, está o Museuda Cidade, cujo programa de ação susten-ta uma autorização de gasto de R$ 200 mil,e só foram liquidados cerca de R$ 30 mil.Já o Museu do Chacrinha, cuja lei indican-do sua criação está aprovada desde 2001,não foi sequer construído. Permaneceintacta sua dotação de R$ 250 mil, apesardele fazer parte do orçamento desde 2002.

Gastando milhões

Entretanto, o sonho do prefeito emconstruir uma sucursal latino-americana domuseu Guggenheim alterou imediatamen-te o peso dos museus no orçamento. Em

Museu Guggenheim:um estranho no Riodecreto de 24/2/03, a prefeitura abriu umcrédito suplementar no valor de R$ 41,1milhões, a serem gastos no Projeto de Im-plantação de Museus, sendo que R$ 34,160milhões já foram empenhados somente parao Licenciamento de Marcas e Nomes.

Ou seja, a prefeitura, já em fevereiro, sedisponibilizou a gastar R$ 30 milhões (US$9,1 milhões) com o pagamento da primeiraparcela pelo uso do nome Guggenheim –valor exigido pela fundação, mesmo o proje-to não se concretizando. Será que somente apossibilidade de se construir um “Gugge-nheim” na cidade é 15 vezes mais impor-tante do que a implantação e manutençãode todos os outros museus apoiados pelaprefeitura do Rio?

A abertura desse crédito suplementarfoi feita a partir do superávit financeiroacumulado, em grande parte, pelo nãopagamento da dívida do município com aUnião (ver JE, maio). Além disso, a altera-ção do saldo disponível e da meta defini-da para a ação em questão mostra quãoforçada foi a inserção deste gasto não pla-nejado no orçamento municipal de 2003.A meta 0995, que definia a realização de30% dessa ação em 2003, foi alterada de-vido ao reforço de R$ 41 milhões, umavez que se teria um saldo disponível 118vezes maior que a dotação inicial de R$350 mil.

A meta foi modificada pelo decreto,que, no entanto, não explicita qual seria anova meta, deste ano. Em continuidade aessa averiguação foi consultada a Lei deDiretrizes Orçamentárias (LDO) para 2004.O curioso é que a mesma ação apresentaagora um objetivo específico diferente.

Se pela LOA de 2003 o objetivo especí-fico da ação era viabilizar e apoiar a im-plantação de museus e outros equipamen-tos culturais na cidade, para 2004 foiapresentado como objetivo implantar mu-seus de natureza exclusiva de direito públi-co – o que excluiria o Guggenheim (?). So-

mado a isso, houve alteração quanto à uni-dade de medida utilizada. Pela LOA/03 re-alizar-se-iam 30% dessa ação, enquanto aredação final da LDO para 2004 determinaa implantação de 10 museus no município.

Cabe não só ressaltar a total desconti-nuidade da ação governamental, caracteri-zada pelas alterações já descritas, como tam-bém questionar a viabilidade do projetoque, agora, passa a indicar a construção deum número de museus superior aos quecontam com o “apoio” da Prefeitura.

Mico no caixa

A vinda do Guggenheim para o Rio nãotem sido muito cortejada pelos moradoresda cidade, pois sabem que, como contri-buintes, teriam de arcar com a exorbitantedespesa para a sua implantação.

Só ao arquiteto francês Jean Nouvelseriam pagos mais de R$ 48 milhões, alémdo custo de aquisição de acervos e a ma-nutenção dispendiosa, pois o museu exi-ge cuidados especiais, devido à sua loca-lização abaixo do nível do mar. Omunicípio seria responsável ainda pelopagamento dos déficits operacionais domuseu durante 10 anos, o que poderiachegar a US$ 120 milhões.

Se de um lado temos um prefeito en-tusiasmado com a construção do museu –que, segundo ele, será benéfico para oturismo no Rio – temos também o fecha-mento de filiais do museu, como em LasVegas, por operarem permanentemente novermelho. Logo, há dúvida se de fato omuseu trará benefícios para a cidade ouse terá o fim de outras filiais, comprome-tendo o orçamento público.

Por enquanto, a maior beneficiada con-tinua sendo a Fundação Solomon Gugge-nheim, que tem no enorme dispêndio paraa implantação e manutenção do museu ummeio de melhorar sua atual situação finan-ceira nada próspera.

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CONJUNTURA

s entidades representativas dos eco-nomistas do Nordeste brasileiroconstataram que, sob a pressão do

movimento de globalização, o Nordestese separa de uma posição subordinada.

Há um dinamismo próprio da inserçãointernacional a ser avaliado, compreenden-do a participação de capitais internacio-nais e locais que passam a operar comreferenciais transnacionais, diferenciando-se dos padrões de participação na econo-mia nacional que se estruturaram desde adécada de 1950.

Dessa forma, o Nordeste passa a ter pa-pel específico no contexto dos relacionamen-tos do Brasil com a América do Norte, aEuropa, a África e com países do Oriente,inserindo-se no mapa mundial, ampliandoatividades sustentadas pelo mercado inter-nacional, que se desenvolvem separadamen-te do modelo exportador comandado peloscentros industriais do país.

Nestas condições, torna-se necessáriosuperar a visão condescendente e pater-nalista das regiões mais ricas, assim comoa concepção simplista da região como umconjunto de estados atrasados, irmanados

A voz do NordesteReunidas em julho último em Porto Seguro, na Bahia, as enti-dades presentes ao XX Encontro de Entidades de Economistasdo Nordeste divulgaram nota em que defendem a superaçãoda visão paternalista que se tem sobre a região, de forma acompreendê-la no contexto de ampla participação do comérciomundial, com relações próprias e independentes com os gran-des mercados internacionais. Em virtude do espaço, publica-mos a seguir uma edição do texto final do Encontro, esperandocontemplar o conteúdo principal.

por problemas comuns; para entendê-ladiversificada, com variadas condições deformação de capital e de crescimento, prin-cipalmente abrigando novas tendências dedinamismo no novo ambiente de interna-cionalidade, cujos capitais olham para omercado externo como prioridade frenteao mercado do Sul do país, e aspiram a umdesempenho de exportações.

Renovação política

O controle político do Nordeste sem-pre foi moeda de troca, que garantiu àsoligarquias vantagens econômicas da es-fera pública, permitindo-lhes posições van-tajosas de formação de capital e de renda.

A leitura do quadro político do Nor-deste mostra tendências de renovaçãopolítica, justamente a partir dos menoresestados. Além de contrastar com as lide-ranças regionais, essa renovação mostra-se como representação de forças locais quenão dependem das articulações nacionais.A política regional concebida para o Nor-deste desde o início da década de 90 osci-la entre meros desdobramentos de políti-

Lançado II Prêmio Ignacio Rangel

Foi lançado o II Prêmio de Redação Eco-nomista Ignacio Rangel, destinado a estudan-tes do ensino médio regular e profissionali-zante da rede pública estadual. O tema daredação é “A contribuição do economistapara o bem-estar da sociedade” e a promo-ção é uma parceria entre o Conselho Regio-nal de Economia do Rio de Janeiro (Corecon-RJ) e a Secretaria Estadual de Educação.

Os trabalhos deverão ser inscritos nas pró-prias escolas, que se encarregarão de en-caminhá-los à Coordenadoria Regional de Ensi-no. O prazo para essa entrega é 17 de setembroe os trabalhos deverão conter de 25 a 30 li-nhas. A comissão julgadora será composta portrês professores e dois economistas.

Os três melhores colocados receberãoprêmios em livros, dicionários, enciclopédi-as, estadias em pousadas e hotéis e um com-putador última geração. Os trabalhos serãopublicados neste JE e a entrega dos prêmiosserá em outubro.

as livrarias o novo livro de Gil-berto Dupas – Tensões con-

temporâneas entre o público e oprivado. O autor, que coordena oGrupo de Conjuntura Internacionalda USP e preside o Instituto de Es-tudos Econômicos e Sociais, colo-ca o leitor diante de tensões, taiscomo:

“Entre as tensões contemporâ-neas surge a ilusão de que se possa

cas nacionais concentradoras. Assim, hou-ve propostas irrelevantes que não levaramem conta seriamente os processos de trans-formação e os conflitos da região.

No momento, apenas se pretende re-criar a Sudene, sem considerar a visão atu-alizada da realidade e sem discutir ampla-mente o planejamento regional à luz dasnovas estratégias adotadas para o desen-volvimento dos estados nordestinos.Desconsidera-se a autonomia federativa,as novas lideranças políticas e do setorprivado da economia do Nordeste, semesquecer que a subordinação à políticaeconômica que se mantém no País signifi-ca o risco de frustrar, mais uma vez, a opor-tunidade de instituir-se um processo realde modernização sócio-econômica doNordeste.

pretender controlar tudo: um pro-cesso físico, um comportamentobiológico, uma ação social. A infor-mática se transforma em instru-mento e testemunha da passagemde uma sociedade industrial de pro-dução para uma sociedade de con-trole direto das operações e dasações pela informação, obedecen-do ao princípio da eficiência.”

“Atualmente, as corporações

apropriam-se do espaço público e otransformam em espaço publicitá-rio: os cidadãos que freqüentamesses espaços não o fazem maiscomo cidadãos, mas como consu-midores de informação, comunica-ção e entretenimento.”

O livro tem 145 páginas, apre-sentação de Alain Touraine e Fran-cisco de Oliveira, e a editora é a Paze Terra.

Tensões entre público e privado

A

N