ÓrgÃo oficial do corecon-rj e sindecon-rj a mordaça no …€¦ · palpite infeliz, que reflete...

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ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ Nº 187 FEVEREIRO DE 2005 JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOS DOS DOS DOS DOS A mordaça no IBGE Previdência Social: evidência Social: evidência Social: evidência Social: evidência Social: Geni dos liberais é a solução do P Geni dos liberais é a solução do P Geni dos liberais é a solução do P Geni dos liberais é a solução do P Geni dos liberais é a solução do País aís aís aís aís Página 5 Os questionamentos ao pr Os questionamentos ao pr Os questionamentos ao pr Os questionamentos ao pr Os questionamentos ao projeto ojeto ojeto ojeto ojeto que transpõe águas do V que transpõe águas do V que transpõe águas do V que transpõe águas do V que transpõe águas do Velho Chico elho Chico elho Chico elho Chico elho Chico Página 11 A principal instituição de pesquisa do país, res- ponsável pelas Contas Nacionais, pelo Censo Demográfico e pelos dados e estatísticas naci- onais e regionais mais importantes para a soci- edade e o Estado brasileiro, o IBGE está agora obrigado a informar, com 48 horas de antece- dência, ao Ministério do Planejamento, o teor de suas apurações. A medida provocou revolta e indignação entre os funcionários. E o pior: a constatação de que o governo atual, as- sim como os anteriores, mantém o mes- mo desconhecimento a respeito do mais im- portante instituto de pesquisa do país. Páginas 3 Plínio de Arruda Sampaio Jr Plínio de Arruda Sampaio Jr Plínio de Arruda Sampaio Jr Plínio de Arruda Sampaio Jr Plínio de Arruda Sampaio Jr. expõe por xpõe por xpõe por xpõe por xpõe porque deix que deix que deix que deix que deixou o PT ou o PT ou o PT ou o PT ou o PT Página 8

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Page 1: ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ A mordaça no …€¦ · Palpite infeliz, que reflete o descaso e o desconhecimento, nos seus dois primeiros anos de governo, em relação

ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ

Nº 187 FEVEREIRO DE 2005JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOSDOSDOSDOSDOS

A mordaça no IBGE

PPPPPrrrrrevidência Social:evidência Social:evidência Social:evidência Social:evidência Social:Geni dos liberais é a solução do PGeni dos liberais é a solução do PGeni dos liberais é a solução do PGeni dos liberais é a solução do PGeni dos liberais é a solução do Paísaísaísaísaís

Página 5

Os questionamentos ao prOs questionamentos ao prOs questionamentos ao prOs questionamentos ao prOs questionamentos ao projetoojetoojetoojetoojetoque transpõe águas do Vque transpõe águas do Vque transpõe águas do Vque transpõe águas do Vque transpõe águas do Velho Chicoelho Chicoelho Chicoelho Chicoelho Chico

Página 11

A principal instituição de pesquisa do país, res-

ponsável pelas Contas Nacionais, pelo Censo

Demográfico e pelos dados e estatísticas naci-

onais e regionais mais importantes para a soci-

edade e o Estado brasileiro, o IBGE está agora

obrigado a informar, com 48 horas de antece-

dência, ao Ministério do Planejamento, o teor

de suas apurações. A medida

provocou revolta e indignação

entre os funcionários. E o pior: a

constatação de que o governo atual, as-

sim como os anteriores, mantém o mes-

mo desconhecimento a respeito do mais im-

portante instituto de pesquisa do país.

Páginas 3

Plínio de Arruda Sampaio JrPlínio de Arruda Sampaio JrPlínio de Arruda Sampaio JrPlínio de Arruda Sampaio JrPlínio de Arruda Sampaio Jr.....eeeeexpõe porxpõe porxpõe porxpõe porxpõe porque deixque deixque deixque deixque deixou o PTou o PTou o PTou o PTou o PT

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Page 2: ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ A mordaça no …€¦ · Palpite infeliz, que reflete o descaso e o desconhecimento, nos seus dois primeiros anos de governo, em relação

EDITORIAL

ÓrÓrÓrÓrÓrgão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial doCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJ

ISSN 1519-7387

Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial: Gilberto Alcântara, GilbertoCaputo Santos, José Antônio Lutterbach Soares, PauloMibielli, Paulo Passarinho, Rafael Vieira da Silva, Ro-gério da Silva Rocha e Ruth Espínola Soriano.

Editor: Editor: Editor: Editor: Editor: Nilo Sérgio GomesCorreio eletrônico: [email protected]ção:Ilustração:Ilustração:Ilustração:Ilustração: AliedoCaricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista: Cássio LoredanoDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e Finalização:inalização:inalização:inalização:inalização:Rossana Henriques (21) 2462-4885FFFFFotolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Impressão:essão:essão:essão:essão: TipológicaTTTTTiragem: iragem: iragem: iragem: iragem: 13.000 exemplaresPPPPPeriodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade: Mensal

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Jornal dos

2 jornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - fevereireireireireiro de 2005o de 2005o de 2005o de 2005o de 2005

A mordaça, o São Francisco,a Previdência...

O novo ano trouxe velhas novidades ereintroduziu na conjuntura questõesque muitos acreditavam adormecidas.

Entre as primeiras, está a volta da mordaça, omesmo recurso que, pouco tempo atrás, ten-tou-se calar os Procuradores do MinistérioPúblico e impedir que divulgassem para a so-ciedade o andamento de processos e apura-ções de interesse público.

Recentemente, a mordaça voltou à cena.Desta vez, através de uma Portaria do Minis-tério do Planejamento, obrigando que todasas pesquisas e estatísticas nacionais e regio-nais produzidas pela principal instituição depesquisa do país, o Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística – IBGE, sejam infor-madas previamente ao ministério, com ante-cedência mínima de 48 horas.

No rol das velhas novidades, ganhou cor-po o retorno à cena do projeto de transposi-ção das águas do Rio São Francisco, o VelhoChico, questionado por diversas entidadesambientalistas e do movimento social porservir mais aos proprietários de terras e àpolítica coronelista do que às populações quesofrem com a seca. A velha política de jorrar

SumárioPágina 3 Governo versus IBGE:

Mordaça para quem precisa – Antonio Carlos Alkmim

Página 5 Previdência Social:

Geni dos liberais e solução para o País – Paulo Passarinho

Página 8 Entrevista – Plínio de Arruda Sampaio Jr.

O PT não é mais um instrumento de transformação

Página 11 Rio São Francisco:

Transpor por que e para quem? – Henrique Cortez

Página 13 FSM – A economia solidária se expande – Ruth Espínola Soriano

Página 15 Fórum Popular de Orçamento – Educação terá mais recursos

Página 16 Corecon-RJ defende nova reforma tributária

Programa de cursos do Corecon-RJ para 2005

recursos aos mesmos de sempre, privilegian-do o agronegócio e as grandes empreiteiras.

No mesmo diapasão, iniciou-se, a princí-pio, através da divulgação de “novos núme-ros e projeções” sobre o “rombo da Previ-dência Social”, a campanha de preparativospara uma nova “reforma”, buscando enxu-gar ainda mais os direitos dos trabalhadores,desta vez, do setor privado. Os mesmos que,tempos atrás, foram garfados em seus direi-tos previdenciários, com o limite de suas apo-sentadorias a um teto que os mantêm “nomercado” em busca da sobrevivência.

São temas que estão presentes nesta edi-ção do JE, que chega com algum atraso aleitores e leitoras, contudo, com uma pon-tualidade acertada com a conjuntura. Exem-plo desta proximidade com o que ocorre ànossa volta é a entrevista com o economistaPlínio de Arruda Sampaio Jr., um dos mili-tantes que se desligaram do Partido dos Tra-balhadores, recentemente. Por uma razãomuito simples, nas palavras de Plínio: “o PTnão é mais um instrumento de transforma-ção da sociedade brasileira”.

Com a palavra, leitores e leitoras.

O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Passarinho, de segundaà sexta-feira, das 7h30 às 9h, na Rádio Bandeirantes, AM, do Rio, 1360 khz.

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3jornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - fevereireireireireiro de 2005o de 2005o de 2005o de 2005o de 2005

Antonio Carlos Alkmim*QUESTÃO NACIONAL

presidente Lula, em decla-ração descabida, depreciouos resultados da POF,

comparando-a com pesquisas rea-lizadas pelos institutos de opinião,desconhecendo sua metodologia.A POF captura diretamente juntoàs famílias entrevistadas o seu or-çamento e, dentro de metodologiaprópria, através de uma balança,mediu o peso dos entrevistados, aocontrário de perguntá-los se pas-savam ou não fome, como insinuouo presidente da República.

Palpite infeliz, que reflete odescaso e o desconhecimento,nos seus dois primeiros anos degoverno, em relação ao IBGE.Para o Governo Lula o IBGE, aoque parece, é em primeiro lugarum problema. Mais um de seus

Governo versus IBGEMordaça para quem precisa

anacronismos, pois, durante acampanha eleitoral, Lula declarouque o Planejamento teria uma dasfunções principais dentro do seugoverno. Mas, na verdade, o mi-nistério do Planejamento, visivel-mente um ministério secundário,não articula um projeto estraté-gico para o país e, portanto, podeprescindir ou desconhecer infor-mações estruturais produzidaspelo IBGE.

Se fosse o contrário, o gover-no não teria tantas dificuldadesem se defender de setores dagrande mídia, interessados emassociar os resultados da POF àpertinência do programa FomeZero. Pois não esteve, dentro dospropósitos da POF, medir dire-tamente o evento da fome, que

não é automaticamente associa-do ao baixo peso, o que exigiriauma maior definição conceitual.

Baixo peso não significa ne-cessariamente desnutrição e serobeso não significa ter qualidadede vida e também não ser mise-rável, pobre, desnutrido ou even-tualmente passar fome. Neste tur-bilhão de confusão conceitual, ogoverno preferiu produzir o seumais recente ataque ao IBGE, oque vem se tornando habitual.

Peça tutorial

E veio a mordaça, através deuma portaria conjuntamente ela-borada pelo ministério do Plane-jamento e pela própria direção doIBGE. Uma peça tutorial, arbi-

trária e sem precedentes, pois, alei citada pelo decreto já defineos princípios de responsabilida-de do corpo técnico do IBGE,em relação ao sigilo das informa-ções. Ao mesmo tempo em queagride os pesquisadores, o decre-to procura garantir ao governo oacesso às informações estruturais,como as da POF, com uma ante-cedência de 48 horas.

O argumento é que não podea imprensa ter um acesso privile-giado em relação ao governo.Através de um procedimentoadotado na gestão anterior doIBGE, ocorre que, geralmente,uma semana antes da divulgaçãooficial um “embargo” reúne os pes-quisadores do IBGE e jornalis-tas, para melhor esclarecimento

Tudo começou com o lançamento da Pesquisa de OrçamentosFamiliares (POF), uma das mais originais e importantes pes-

quisas atualmente produzidas pelo IBGE e que trazdetalhadas informações sobre a estrutura de gas-tos e padrões de consumo das famílias brasilei-

ras. Importante dizer que a pesquisa foi levada acampo com todas as dificuldades orçamentárias, no

governo FHC, quando pesquisadores da rede de campodo IBGE tiveram que, literalmente, tirar dinheiro do seu pró-

prio bolso para cobrir despesas básicas como gasolina e manu-tenção de automóveis, entre outras, a fim de que se realizassetão importante empreendimento em todo o país. Um desprendi-mento que prova a forte intenção dos pesquisadores em cumprir,apesar do enfraquecimento da instituição pelos sucessivos gover-nos, a sua missão institucional, dentro de um contexto deglobalização, onde a informação em muitos casos vale mais do quea movimentação dos capitais. A divulgação da POF mais uma vez

mostrou que o IBGE, como instituição pública, produzinformação com qualidade para toda a sociedade.

O

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mite outra esquizofrenia, que é ovínculo do instituto a uma car-reira de Ciência e Tecnologia(C&T), ao mesmo tempo em queestá ligado diretamente ao minis-tério do Planejamento.

O recente episódio da eleiçãoda presidência da Câmara dosDeputados evidenciou que méto-dos de condução por parte do go-verno devem ser revistos. O pito,o enquadramento, a arrogância

discussão mais ampla sobre oIBGE. Coloca-se cada vez maispresente a necessidade de reali-zação de um congresso institucio-nal, com ampla participação dasociedade, que redefina o seu pa-pel junto ao governo e à socieda-de, preservando como princípiomaior a sua autonomia.

Ao invés disso, a direção doIBGE propõe, neste momento,um planejamento estratégico inter-no e não participativo, ou seja, amordaça de seda. Esperamos queo Governo Lula e a atual gestãodo IBGE façam, para usar um ter-mo já não tão em uso, uma reen-genharia, e não corram o risco deserem lembrados como aquelesque arrasaram uma instituição tãoconceituada e preciosa.

* Pesquisador do IBGE.

Correio: [email protected]

Coloca-se cada vez mais presente a necessidade de realização deum congresso institucional, com ampla participação da sociedade,que redefina o papel do IBGE junto ao governo e à sociedade

dos resultados da pesquisa queserá lançada. Há, por parte dosjornalistas, o compromisso denão divulgar previamente as in-formações. Quanto aos pesquisa-dores, estes ficam, como sempreestiveram, sujeitos à sua obriga-ção quanto ao sigilo. Além denefasto, o decreto estabelece acontradição. Dá ao governo umacesso privilegiado, lança umatutela desnecessária aos pesquisa-

dores (pois já legalmente defini-da), mas, ao mesmo tempo, logoapós a sua divulgação, apressam-se o ministro e o presidente doIBGE a afirmar em nota oficialque nada mudou em relação aos“embargos” com a imprensa.Samba da estatística louca, e cala-boca para a imprensa.

Criado o contraditório, nointerior da instituição instaurou-se o sentimento de revolta, des-confiança e receio. Revolta acu-mulada com todas as dificuldadesinesperadas com o Governo Lula:suspensão da Contagem e doCenso Agropecuário em 2005,restrições orçamentárias crescen-tes, ataques constantes às pesqui-sas e às metodologias emprega-das, sem uma discussão maisampla, gestão verticalizada histo-ricamente e não alterada pela atu-al direção do instituto, sem falarna crescente depauperização dascondições salariais, de trabalho ede qualidade de vida dos pesqui-sadores, que são os efetivos res-ponsáveis pela qualidade interna-cionalmente reconhecida denossas estatísticas.

Desconfiança, porque infor-mação com antecedência emmãos do governo nos traz recor-

dações sobre a possibilidade deregresso a tempos infelizes, quan-do o IBGE sofreu intervençõesmais graves e diretas por parte degovernos autoritários. Receio,porque ao mesmo tempo em quese lança a mordaça aos pesqui-sadores mantém-se o procedi-mento do “embargo”, no qual ostécnicos, se interpretarmos lite-ralmente o decreto, estão impe-didos de participar.

Congresso institucional

A questão de fundo que secoloca neste episódio é de longoalcance e estrutural. A quem aten-de o IBGE? Ao governo, à im-prensa ou à sociedade? Quemdefine suas atribuições? Quem ocontrola?

O IBGE modernizou-se, am-pliou substancialmente a sua ca-pacidade de produzir informa-ções, mas continua preso a umformato institucional que o dei-xa vulnerável. Além de não en-frentar esta discussão junto aosamplos setores da sociedade –Parlamento, entidades civis e sin-dicais, representantes da comuni-dade acadêmica – por omissão oudesinteresse o governo ainda per-

espalharam-se como um estiloque se reflete na condução de im-portantes segmentos do governoe órgãos do Estado. Urge uma

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5jornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - fevereireireireireiro de 2005o de 2005o de 2005o de 2005o de 2005

CONJUNTURA Paulo Passarinho*

Nesse período, porexemplo – e levando-seem conta o início do GovernoFHC, em janeiro de 1995,quando a moratória internacollorida já havia se consolidadoe o novo padrão monetário seimplantado – a dívida pública emtítulos federais elevou-se de R$62 bilhões para a espantosa cifrade R$ 826,7 bilhões (dado de ja-neiro de 2005 – Secretaria doTesouro Nacional), ainda quelembremos que, na segundametade da década passada, oprograma de privatizações do patrimônio es-tatal foi acelerado, sob o pretexto, dentre ou-tros, de se reduzir a dívida pública.

É lógico que se pode alegar que esse cres-cimento, em parte, se deu pelo fato do Te-souro ter federalizado as dívidas de estados emunicípios, assim como outros chamadosesqueletos. Mas o fato inegável é que a gran-de responsabilidade pela dinâmica e intensi-dade desse endividamento é da política mo-netária, coerente com a irresponsávelabertura, não só comercial, mas, especialmen-te, financeira a que estamos submetidos. Atémesmo o próprio endividamento dos esta-dos e municípios, nos anos 90, em grandeparte pode ser atribuído a este fator, confor-me gostava de lembrar o falecido governa-dor – paulista e tucano – Mário Covas.

Verdade inconveniente

A política monetária, a rigor, é refém dapolítica cambial que, por sua vez, se pauta pelapermissibilidade do amplo trânsito de qual-quer tipo de capital externo, dentro da lógicaliberal da dependência aos capitais estrangei-ros como fator positivo para o desenvolvi-mento nacional. A necessidade permanentede altas taxas de juros reais – para a atração

eni, como sabemos, é aquela per-sonagem do nosso universo musi-cal, imortalizada por Chico Buar-

que de Holanda, em uma das canções dacélebre Ópera do Malandro. “Joga pedra naGeni” passou, desde então, a significar umaespécie de bordão, referente à trilha sonorade todo e qualquer bode expiatório.

No caso específico da Previdência pú-blica, trata-se de apresentá-la, de acordo como ponto de vista liberal, como a grande vilãresponsável pelo alto endividamento pú-blico brasileiro. Afinal, alguma justificati-va plausível deve ser apresentada por

aqueles que defendem o padrão de ad-ministração macroeconômica do país,

em pleno vigor desde ostempos de Collor e que

perdura até os dias atuais.

O ano de 2005 teve início com uma forte retomada da ofensivado pensamento liberal contra a Previdência Social pública. Ma-térias jornalísticas, destaques para a opinião de economistasliberais, novos números sobre o suposto “rombo” da Previdên-cia fazem parte da estratégia que tem o objetivo de abrir maio-res espaços ainda para a evolução da Previdência privada nopaís. Como meta imediata, preparam-se as condições paramaiores fragilizações em relação à Previdência pública. A

desvinculação do reajuste do pisodos benefícios pagos peloRegime Geral da Previdên-cia Social do índice de cor-reção do salário mínimo é,agora, o próximo passo re-comendado pelos “especia-listas”, ao gosto do mercadofinanceiro.

Previdência Social

Geni dos liberaise solução para o País

G

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6 jornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - fevereireireireireiro de 2005o de 2005o de 2005o de 2005o de 2005

dos dólares que nos faltam e para a manuten-ção do padrão de funcionamento econômicoem vigor – e a conseqüente necessidade per-manente de venda de títulos, como forma dese enxugar a base monetária, expandida pelaenxurrada de moeda estrangeira, são os prin-cipais fatores de expansão do estoque de títu-los públicos em mãos do mercado.

Mas essa é uma verdade inconveniente aosliberais. Enfrentar e denunciar liberalizações nãosão pontos fortes dos herdeiros de AdamSmith ou de Marco Antônio, o imperador ro-mano que já propugnava que o bom gover-nante não deve gastar mais do que arrecada.

Nesse contexto, a justificativa para o ga-lopante e crescente endividamento estatalencontra no surrado e desgastado argumen-to do “excessivo gasto público” a sua razãode ser. O fato de, nos primeiros quatro anosdo governo anterior, apenas em dois delestermos registrado déficits primários (em 1996e 1997, com déficits em relação ao PIB de,respectivamente, 0,09% e 0,91%) e em todosos demais terem ocorrido superávits expres-sivos, exceto em 1995 e 1998, parece não fa-zer a menor diferença.

De 1999 para cá, o resultado fiscal primá-rio foi sempre positivo - acima de 3% do PIBem 99, 2000 e 2001; e acima de 4% em 2002,

2003 e 2004. Entretanto, a dívida em relaçãoao PIB se elevou de forma contínua, passan-do de 41,7%, em 1998, para 58,7%, em 2003,e apenas recuando um pouco, agora, em 2004,em decorrência do crescimento do próprioPIB. O que esses dados deixam claro?

Ora! Não são os gastos sociais, os investi-mentos ou a manutenção da máquina admi-nistrativa que produzem a expansão e o rit-mo do endividamento público. Afinal, se osrecursos que a sociedade recolhe aos cofresdo Estado – de uma forma injusta e desigual,sob o ponto de vista da progressividade tri-butária – são aplicados nessas finalidades emum volume inferior ao disponível pelo Tesou-ro, fica claro que o “ralo” das contas públicasse encontra nas despesas financeiras, infladasnão por uma volúpia perdulária do Estadoem investimentos e gastos de custeio, e simpor uma política monetária que alimenta deforma contínua o negócio da dívida pública, tãoao gosto de banqueiros e rentistas.

É neste quadro, que os gastos sociais daPrevidência pública acabam sendo colocadosna berlinda, pela lógica ilusionista dos libe-rais e de seus porta-vozes da grande impren-sa. Isto ocorre pelo fato real de, no pleno con-texto do brutal arrocho fiscal de custeio einvestimentos a que estamos submetidos, as

despesas previdenciárias se expandirem.Gravíssimo pecado para o credo liberal, issoimplica apontar de imediato a responsabili-dade por tão grave desvio de conduta.

Na opinião da revista Veja – que no últi-mo mês de janeiro dedicou algumas páginasao tema – o pecado original encontra-se nosConstituintes de 1988, que estenderam bene-fícios assistenciais, a serem custeados pelaPrevidência Pública, a uma massa de traba-lhadores – principalmente rurais – que jamaishavia contribuído anteriormente, sem que osparlamentares tivessem, para tanto, previstofontes de receita para tal “orgia de gastos”.

Rombo ou superávit?

Irresponsabilidade e mentira deslavadas,a revista omitiu que o Constituinte criou fon-tes de receitas, vinculadas estritamente aoscompromissos estatais com a Seguridade So-cial, conceito que inclui não somente direitosprevidenciários, mas também de Saúde e As-sistência Social. A Contribuição ao Financia-mento da Seguridade Social (Cofins), a Con-tribuição sobre o Lucro Líquido das Empresas(CSLL), boa parte das receitas dos concursosde prognósticos da Caixa Econômica Fede-ral são exemplos de fontes de receita criadas

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7jornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - fevereireireireireiro de 2005o de 2005o de 2005o de 2005o de 2005

pela Constituição de1988 e que “curiosa-mente” são desco-nhecidas pelos jor-nalistas da referidapublicação.

Dando continui-dade à ofensiva con-tra a Previdência So-cial pública, no finaldo mesmo mês de ja-neiro, os grandes jor-nais, abastecidos pormatérias que tinhamcomo fonte o pró-

prio ministério daPrevidên-cia Social,divulgaram

que o déficitdo setor havia sido

recorde em 2004: parauma “arrecadação líquida” de R$ 96,039 bi-lhões, as despesas com os benefícios pagosatingiram a soma de R$ 128,742 bilhões. Osnúmeros não mentem jamais e a realidade éque, mais uma vez, o “buraco” da Previdên-cia assustava: R$ 32,703 bilhões! Mais grave:dias após, o jornal Globo apontava, em suamanchete principal, em letras garrafais, queem 2005 o “rombo” seria ainda maior.

O fato é que, se é verdade que os núme-ros não mentem jamais, nem sempre o mes-mo se pode dizer de quem os produz ou osdivulga. No próprio mês de janeiro, um lei-tor atento dos jornais tomou conhecimentoque a arrecadação federal, em 2004, havia,também, batido um recorde. Além disso, sou-be que o tributo que mais influenciou esserecorde havia sido justamente a Cofins, comum aumento de 20,6% em relação ao arreca-dado em 2003, perfazendo uma receita de R$79,203 bilhões.

Mais, ainda: soube também que a receitada CSLL havia sido de R$ 20,264 bilhões.Pois, bem. Apenas o somatório dessas duasreceitas – lembremos que criadas para o fi-nanciamento da seguridade social – atingiu omontante de R$ 99,467 bilhões. Mais: em ter-mos de receitas da seguridade social, há de selevar em conta a CPMF (R$ 27,326 bilhões),entre outras.

Objetivamente, o que ocorre é que porforça da chamada Desvinculação de Receitasda União (DRU), o Poder Executivo Federal

é autorizado pelo Poder Legislativo adesestruturar o orçamento da SeguridadeSocial, com o intuito de se criar as condiçõesorçamentárias para o cumprimento das me-tas cavalares do hiper-arrocho fiscal, repre-sentado pelo superávit primário. A citada ar-recadação líquida, apresentada no cálculo dosuposto déficit previdenciário, é apenas o re-sultado das contribuições das empresas e dostrabalhadores descontados na fonte. E o su-posto déficit é apenas o resultado dessa arre-cadação, abatida pelo valor representado pelototal dos benefícios pagos pela Previdência.Em suma: mutilam-se as receitas e as compa-ram com o total das despesas pagas.

A rigor, em valores correntes, caso sejamrespeitadas as fontes de receitas da SeguridadeSocial, criadas pelo Constituinte de 88, e in-clusive reforçadas pela criação da CPMF, osaldo anual desse sistema tem sido, do ano2000 em diante, superior a R$ 30 bilhões. Aestimativa desse saldo para o exercício de 2004é de R$ 42,53 bilhões, de acordo com os téc-nicos da Associação Nacional dos Fiscais daPrevidência Social (ANFIP), incluindo-senesses números todas as despesas com a Saú-de e a Assistência Social.

Problema ou solução?

Lembramos, por fim, que esses saldos têmse dado em meio a graves problemas de ges-tão e da própria estrutura sistêmica da Previ-dência Social no Brasil, onde destacamos:• o impacto negativo sobre a arrecadaçãoprevidenciária que o processo de baixíssimocrescimento médio da economia, de 1990 atéhoje, produz;• o fato de mais da metade da população eco-nomicamente ativa não contribuir com o sis-tema previdenciário, por se encontrar nainformalidade;• o alto nível de sonegação e/ou apropriaçãoindébita das contribuições de empregados porparte de empresas, por força do precário exer-cício fiscalizatório, decorrente especialmente dobaixíssimo número de fiscais, em exercício;• o baixo nível de execução fiscal dos deve-dores da Previdência, cujo montante de dé-bitos ultrapassa a R$ 200 bilhões;• a falta de critérios na concessão - e a nãocompensação pelo Tesouro - das chamadasisenções fiscais previdenciárias;• a limitação do teto contributivo, vinculadoproporcionalmente ao salário mínimo e

correspondendo ao valor de 10vezes dessa referência, o quedistancia os valores pagos peloRegime Geral da Previdência So-cial da realidade do mercado de sa-lários do país, inclusive daqueles pra-ticados pelo próprio serviço público,contribuindo para a apropriaçãoprivada da poupança previdenciária dosassalariados de maior renda, por partede bancos e financeiras.

Com todas essas deformações, temos,mesmo assim, produzido saldos orçamen-tários anuais significativos, que acabam es-terilizados pela iníqua política monetá-ria em vigor. Nesse sentido, cabelembrar que se os constrangimentos queessa política produz viessem a ser sepultadose, ao mesmo tempo, uma verdadeira Refor-ma Previdenciária fosse levada à frente, po-deríamos constituir no Brasil uma Previdên-cia Social pública absolutamente robusta eequilibrada, sob o ponto de vista financeiro eatuarial. Um sistema que garantisse o paga-mento das despesas previdenciárias das gera-ções já aposentadas, com as contribuiçõesdaqueles em idade laborativa. Esse chamadosistema de repartição é viável em nosso país,ao contrário de outros, em decorrência daestrutura etária da nossa população, onde te-remos, segundo dados do próprio ministérioda Previdência, daqui a 40 anos – em 2045 –, 65% das pessoas com idade acima de 14anos, economicamente ativas.

Com um sistema com essas característi-cas, constituiríamos um regime de pagamen-tos de pensões e aposentadorias seguro, ba-seado no trabalho e nas contribuições dasgerações em idade ativa, e não nas supostasrentabilidades de um sistema financeiro cadavez mais especulativo e instável. Mas que,por outro lado, com os saldos correntes anu-ais produzidos, poderia permitir emprésti-mos para investimentos de médio e longoprazo – remunerados adequadamente e for-talecendo a robustez financeira do sistemaproposto.

A Previdência Pública, na verdade, nun-ca foi um problema: ao contrário, semprefoi uma solução – para o bem ou para o mal– ao gosto de cada um dos governantes quetivemos.

* Coordenador Geral do Sindicato dos Economistas do Rio

de Janeiro (Sindecon)

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ENTREVISTA Plínio de Arruda Sampaio Jr., economista e, professor da Unicamp

Jornal dos Economistas – Você é fundador doPartido dos Trabalhadores e acaba de deixar o Par-tido, em pronunciamento durante o Fórum SocialMundial. O que o levou a deixar o PT?

Plínio Jr. – Entrei no PT na primeira leva defiliação, quando ainda era estudante uni-

versitário. Até o início dos anos 90 as-sessorei o Partido e ao Lula sobre

questões econômicas. Daí em di-ante, as discordâncias me

afastaram da cúpula doPartido e minha atu-ação ficou circuns-crita à participaçãoem debates promo-

vidos pelos núcleos debase, que tentavam en-tender e resistir à gui-nada direitista do par-tido. Nesse período,acabei concentrando

minhas energias notrabalho político junto

aos movimentos sociais,sobretudo as pastorais sociais e oMST. Não me arrependo. Depoisde muita reflexão e muita conver-sa, decidi deixar o partido basi-camente por dois motivos. Emprimeiro lugar, porque estou con-vencido que o PT não é mais uminstrumento de transformação dasociedade brasileira. Ao contrá-rio. O PT converteu-se ao statusquo e, hoje, funciona como umaimportante peça na estratégia daburguesia de reciclar o neo-liberalismo no Brasil. Em segun-do lugar, porque estou certo deque é inútil batalhar dentro do PT.

Ao destruir a democracia interna, adireção do Partido liquidou toda e qualquer

possibilidade de uma correção de rota. Alias,que eu saiba, não existe nenhum partido deesquerda que tenha aderido à direita e depoisvoltado atrás. Gostaria muito de estar equivo-cado, mas creio que a degeneração política emoral do PT é irreversível.

“O PT não é mais um instruAo final da última edição do Fórum Social Mun-dial, em Porto Alegre, a principal mancheteda imprensa no último dia não foi qualqueratividade própria da programação do en-contro mundial. O grande destaque namídia ao encerrar-se o Fórum foi o des-ligamento de uma centena de mili-tantes e filiados do Partido dosTrabalhadores, poucos dias an-tes da celebração dos 25 anosde fundação do PT. Entre essesmilitantes, quase todos históri-cos e fundadores do Partido,nacionalmente e em suas regi-ões de militância, estava o eco-nomista e ex-assessor de Lulae do PT Plínio de Arruda Sam-paio Jr., professor da Unicamp, au-tor do livro “Entre a nação e a barbárie”e assessor de vários movimentos so-ciais, entre os quais, o Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra, oMST. O JE foi ouvi-lo e saber suasrazões para o desligamento deste quemuitos consideram o “maior Partidode esquerda da história do Brasil”.Mas também ouvir o que Plininho,como é mais conhecido entre os ami-gos e militantes de base, pensa sobrea conjuntura atual, os seus desdobra-mentos e o futuro do país, em especial,da esquerda e do movimento socialista, que,na opinião dele, ficaram órfãos com o que eleconsidera a guinada do PT para a direita. A se-guir, a íntegra de sua entrevista.

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JE – Quais diferenças você apontaria entre o PT dehoje e o PT que você ajudou a fundar e construir?Plínio Jr. – No início, o PT era um partidode luta, comprometido com os interesses dostrabalhadores. O Partido encarnava, então, aesperança de profundas mudanças sociais dopovo brasileiro. O PT era um partido ousadoe combativo. A dinâmica partidária era dadapela energia de quadros organicamente vin-culados aos movimentos sociais e às lutaspopulares. Hoje, o PT é um partido acomo-dado, perfeitamente integrado à ordem bur-guesa. O Partido é controlado por burocratastoscos, a serviço de uma oligarquia parlamen-tar que há muito tempo colocaram suas car-reiras pessoais acima de qualquer tipo de pro-jeto coletivo. O PT virou um partidoconvencional, ou seja, uma simples máquinaeleitoral. A incapacidade de o governo do PTpromover reformas sociais progressistas é aprova cabal da falência do Partido. Não pos-so avalizar um Partido que cumpre à risca oreceituário de reformas neoliberais ditadas pe-los organismos financeiros internacionais.

JE – Seria possível, na conjuntura nacional e inter-nacional em que vivemos, o PT ser um Partido dife-rente, revolucionário e socialista, por exemplo, rom-pendo com o FMI e estabelecendo novos marcos dedesenvolvimento econômico, político e cultural?Plínio Jr. – Para quem acredita no fim da his-tória, no pensamento único, no fim da classeoperária, na vitória final do capitalismo sobreo socialismo, na invencibilidade dos EstadosUnidos, não há mudança possível. Dentro destaconcepção, por pior que seja a situação social,os trabalhadores estão condenados a aceitar arealidade como um fato consumado. O pro-blema é que a globalização, as políticasneoliberais, o imperialismo norte-americanoacirram as contradições de classe e empurramos povos para a barbárie. A era do capitalismoglobal gera, portanto, muita insatisfação e muitarevolta. O PT deveria ser o instrumento desuperação da barbárie. Mas, na hora da verda-de, o Partido não esteve à altura dos desafioshistóricos. Agora, contenta-se em minorar,dentro das limitadíssimas restrições orçamen-

tárias, o sofrimento do povo. Para mudar asociedade brasileira, o PT deveria ter construí-do a força política necessária para enfrentar osinteresses internos e externos que perpetuamo capitalismo dependente. Não foi isso queaconteceu. Os equívocos de mais de uma dé-cada de rebaixamento do programa político,de abandono do trabalho de organização dopovo e de adesão aos métodos degeneradosda política burguesa acabaram cobrando o seupreço. As administrações do PT ficaram con-denadas a enquadrar-se nos cânones da ordemglobal. Por essa razão, o novo PT não tem amenor condição de promover mudanças soci-almente construtivas. Mas é claro que a histó-ria poderia ter sido diferente se o PT chegasseao governo tendo, previamente, construído opoder popular indispensável para enfrentar osdonos do poder. Basta olhar o que está acon-tecendo na Venezuela e o que está acontecen-do há 40 anos em Cuba, para saber que nãoexiste nenhum empecilho transcendental queimpeça o povo de construir a sua história.

JE – Como avalia a recente vitória do conservadorSeverino Cavalcanti, do PP de Pernambuco, parapresidir a Câmara Federal? Quais implicações estaeleição terá para a democracia brasileira e, em especi-al, para a etapa final do Governo Lula?Plínio Jr. – A eleição de Severino Cavalcanti émais um sintoma da grave crise política laten-te no Brasil. Ela põe em evidência o gritantedivórcio entre as aspirações do povo e as pre-ocupações fisiológicas da chamada “classe po-lítica”. Ela escancara a baderna que reina nosistema partidário. O episódio também é pe-dagógico, para mostrar os efeitos antidemo-cráticos do Governo Lula. É lamentável queo governo do PT tenha repetido a prática deafogar o Congresso Nacional com MedidasProvisórias e desrespeitar os representantes dopovo, a ponto de provocar uma verdadeira re-belião dos deputados. Mais lamentável ainda éque a rebelião tenha sido liderada por um de-putado que representa o espectro mais retró-grado da vida política nacional. Por ironia dodestino, como bem lembrou o ministro AldoRebelo, um leal representante da base de sus-

tentação do Governo Lula. Na minha opinião,o fato não tem maior relevância e será rapida-mente digerido pelo Planalto. A vitória do de-putado do PP pode tornar mais difícil o dia adia do Planalto, pode complicar um pouco aequação política da reeleição de Lula, mas nãoterá maiores conseqüências para as condiçõesde vida do brasileiro comum.

JE – O que falta, em seu ponto de vista, à democra-cia brasileira e como podemos entendê-la, após as cri-ses e intervenções de 1922, 1930, 1945, 1954,1964 e 1992 (impeachment de Collor)?Plínio Jr. – Aqui há fenômenos históricosbem distintos e é difícil buscar um denomi-nador comum entre eles. No entanto, gosta-ria de fazer duas observações. Em primeirolugar, a instabilidade institucional é uma dascaracterísticas da vida política brasileira. Sem-pre que nossa classe dominante, por qualquermotivo, se sentiu ameaçada, ela não hesitouem conspirar contra a legalidade. A lição des-te padrão de comportamento é clara. Não éprudente superestimar o fervor democráticode nossa burguesia. Para os donos do podera democracia é meramente instrumental. Sejulgarem necessário, jogam a Constituição nalata de lixo, sem pestanejar. Portanto, a sorteda democracia brasileira está nas mãos dasclasses subalternas. Ela interessa basicamen-te aos trabalhadores do campo e da cidade.Em segundo lugar, é preciso não mitificar oalcance da democracia brasileira. FlorestanFernandes qualificou o padrão de dominaçãono Brasil como uma “democracia restrita” –restrita aos endinheirados. Para os miseráveis,não há democracia real. Seria, de fato, umcontra-senso imaginar que numa sociedadeonde impera o “apartheid” econômico, soci-al e cultural, pudesse haver plena democraciapolítica. Por trás do verniz democrático, vi-vemos uma contra-revolução permanente. Aburguesia brasileira tem demonstrado umaincrível capacidade de bloquear qualquer ten-tativa de introduzir reformas sociais. Por isso,contra tudo o que seria razoável, o Brasil sim-plesmente não muda e continua campeãomundial de desigualdade social.

mento de transformação”

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JE – Dissidências no PT têm proporcionado a apa-rição de novos partidos. O que se pode esperar doPSol? Os dissidentes mais recentes do PT pretendemingressar neste novo Partido?Plínio Jr. – A traição do PT deixou a esquer-da órfã. A constatação de que o PT não émais um partido comprometido com as lutaspopulares e a transformação social gera umvazio político que – mais tempo, menos tem-po – será preenchido pelos que não abando-naram a utopia de construir uma sociedadejusta e democrática. Os companheiros queaderiram ao Manifesto Momento de Rupturasabem da importância do partido político naluta de classes. Mas não fizemos nenhumadiscussão sobre novos partidos. O assuntosequer foi tratado. Só, agora, livre do PT, éque o desafio de construir um novo instru-mento político entra na pauta. O processo de

da dívida externa e a lógica do ajuste fiscal per-manente comprometem o crescimento econô-mico auto-sustentável e inviabilizam as políti-cas públicas, fazendo com que o País fiquerefém de seus credores externos e internos.Existe, portanto, um antagonismo inconciliá-vel entre o padrão de estabilidade de preçosimposto pelo “mercado” e a possibilidade deuma política econômica que enfrente os pro-blemas concretos da população.

JE – Há alguma política e/ou iniciativa positiva noGoverno Lula? Qual? Por que é positiva?Plínio Jr. – É claro que existe muita genteboa no governo e muita experimentação. Narealidade, mesmo em governos abertamentede direita é possível, aqui e acolá, identificariniciativas positivas. No entanto, um gover-no não deve ser julgado por suas iniciativaspontuais, mas pelo sentido mais geral de suaspolíticas. E, com este critério, o saldo doGoverno Lula é péssimo, pois a linha domi-nante que organiza todas as ações do gover-no é a aposta na reciclagem do modeloneoliberal. Basta lembrar a onipotência deMeirelles (Henrique Meirelles, presidente doBC), do FMI e do Banco Mundial na condu-ção da política econômica e social, bem comoa vergonhosa presença de soldados brasilei-ros no Haiti, para desvendar a verdadeira na-tureza do Governo Lula. Trata-se de uma ad-ministração que obedece as ordens do“mercado”, dos organismos financeiros in-ternacionais e do governo norte-americano.

JE – Qual a expectativa para a fase final do Gover-no Lula, nestes dois últimos anos que lhe restam ecom a Câmara Federal sob controle de um conserva-dor e político fisiologista?Plínio Jr. – A vitória de Severino Cavalcantesela, definitivamente, o fim do momento ro-mântico do Governo Lula, quando se sonha-va com a possibilidade de que, em algummomento, por algum passe de mágica, o go-verno abandonaria o neoliberalismo e se re-conciliaria com a Nação. Enfim, o mito deque o Governo Lula estava em disputa aca-bou. Ninguém tem mais a menor dúvida dequem ganhou esta disputa. Portanto, inicia-se, agora, a fase assumidamente pragmáticado Governo Lula. Com o tempo, a adminis-tração que gerou tanta esperança de mudan-ça tende a ficar cada dia mais parecida comos governos de seus antecessores: FHC,Collor de Mello e José Sarney.

O processo de recomposição das forças socialistas vai seruma tarefa árdua. O novo partido precisa superar as limita-ções do PT, que levaram à sua impotência enquanto instru-mento de transformação social

recomposição das forças socialistas vai ser umatarefa árdua. O novo partido precisa superaras limitações do PT, que levaram à sua impo-tência enquanto instrumento de transforma-ção social. Também precisa envidar todos osesforços para assegurar a unidade das forçasde esquerdas, a fim de que não se repita a trá-gica fragmentação que ocorreu na Argentina.O PSol é uma iniciativa legitima de reorgani-zação da esquerda. Existem outras igualmen-te legítimas. Espero que todas convirjam paraum grande encontro das esquerdas, pois, maisdo que nunca, o Brasil precisa mudar e sómudará se houver um partido de esquerda fortee combativo, inequivocamente socialista, capazde levar às últimas conseqüências o desejo dapopulação brasileira de ajustar as contas comseu passado colonial, de vencer o jugo do im-perialismo que asfixia a economia popular ede realizar o sonho de viver em uma socieda-de justa e democrática.

JE – Embora todas as críticas ao continuísmoneoliberal da política monetária e da política fiscal, aeconomia apresentou, em 2004, um desempenho for-midável, com alguns recordes de resultados, como naindústria, nas vendas do comércio e na formação decapital fixo. É uma contradição ou o que seriam es-

tes resultados?Plínio Jr. – É preciso ter muito cuidado paraavaliar a conjuntura econômica. Não há dúvi-da que, 2004, foi um ano melhor do que osanteriores. Mas, se formos examinar os dadoscom cuidado veremos que o desempenho daeconomia não foi nada de excepcional. Emprimeiro lugar, é importante ter clareza que ocrescimento foi determinado, fundamental-mente, de fora para dentro, por uma conjun-tura internacional muito favorável. A contri-buição do mercado interno ficou por conta,basicamente, da expansão de bens de consu-mo durável, demandado pelos segmentos maisabastados da população. Nem poderia ser di-ferente, pois a política fiscal e monetária sãofortemente recessivas. Mudando a conjunturainternacional, dificilmente a economia brasi-leira conseguiria repetir tais resultados. Em

segundo lugar, o crescimento em torno de 5%ficou bem abaixo do verificado nas principaiseconomias latino-americanas. Considerandoque algo entre 2 e 3 pontos percentuais destetotal são produto de efeito estatístico, decor-rente da baixa base de comparação do PIB,pois 2003 foi um ano péssimo, o resultado ficapior ainda. Por fim, é necessário diferenciar oque é bom para o capital e o que é bom para otrabalho. Não se discute que 2004 foi um bomano para o capital, sobretudo, para o setor fi-nanceiro. Diga-se de passagem, para váriossegmentos do capital os anos anteriores tam-bém foram bem bons. Mas não se pode dizero mesmo em relação ao trabalho. O desem-prego continua elevadíssimo e a renda do as-salariado fortemente arrochada. Além disso, apolítica social continua contingenciada e os in-vestimentos públicos deprimidos. Olhando aconjuntura de uma perspectiva mais ampla, averdade é que nada foi feito para superar osproblemas responsáveis pela grave crise eco-nômica e social que se arrasta por mais de duasdécadas. Ao contrário do que martela a propa-ganda oficial, não podemos alimentar ilusõesem relação à possibilidade de um neolibe-ralismo menos regressivo, pois a elevada mag-nitude de despesas financeiras com o serviço

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Rio São Francisco

Transpor por que e para quem?

ara nós, do Sul e do Sudes-te, o sertão é uma incógni-ta. Vários anos de seca,

seguidos de chuvas intensas, ala-gamentos e inundações. Ora asreportagens mostram o chão res-secado, ora cidades alagadas.

Sem um contato mais próxi-mo, muitos ficam com a falsaimpressão de que o semi-árido éamaldiçoado e que jamais deviater sido habitado. Conheço a re-gião há anos e, ao longo do tem-po, conversei com inúmeras pes-soas, com as mais diferentesopiniões, percepções, mas sem-pre a mesma perplexidade.

De qualquer forma, o proble-ma fundamental continua sendo aseca, o estresse hídrico, o déficithídrico (evaporação superior à pre-cipitação), o manejo inadequadodas reservas de água e a falta deum programa que democratize o

acesso à água. A seca não dependede nossa vontade porque é resulta-do de condições geográficas e cli-máticas. Neste sentido, não existecombate à seca; no máximo tere-mos como conviver com ela, damesma forma como os esquimósconvivem com a neve.

As necessidades especiais dapopulação do semi-árido são maisdo que justas, e para atendê-las énecessário romper com as sim-plistas e ineficientes megas obrasna região e compreender que épossível desenvolver modelos deconvivência com a seca, tendocomo resultado o combate aomaior flagelo da região – a fome.

A fome no semi-árido estáclaramente associada à seca e,mais precisamente, ao acesso àágua. Água para beber, para irri-gar, para viver dignamente. Oacesso à água é a chave para o

combate à fome. Mas esta obser-vação não é uma emocionadadefesa da transposição do rio SãoFrancisco. Ao contrário, embasauma oposição aos equívocos des-te projeto porque, na realidade,pouco ou nada significará paramilhões de pessoas que continu-arão sem acesso à água.

Lógica centenária

Este projeto de transposiçãoé, na essência e no conceito, omesmo do governo FernandoHenrique Cardoso, que foi conce-bido para oferecer segurançahídrica aos grandes reservatórios,permitindo sua operação commaiores níveis médios, indepen-dentemente da recarga pluvial.Tendo os reservatórios como des-tino final, o projeto demonstra amanutenção do histórico modelode uso dos reservatórios – 70%para agricultura irrigada, 26% parauso dos grandes centros urbanose apenas os 4% restantes para o

O projeto de transposição do rio São Franciscodefendido pelo Governo Federal não atende agrandes desafios da região: regularizaçãofundiária, acesso à água e um modelo de desen-volvimento estruturado na agricultura familiar.

Henrique Cortez*COMBATE À SECA

uso difuso, ou seja, para a popula-ção isolada e dispersa. E isto emapenas 5% do semi-árido.

A agricultura irrigada, nestecaso, é a fruticultura e a carcini-cultura (criação de crustáceos, es-pecialmente, camarão), o rosto doagronegócio exportador no semi-árido. O agronegócio já está naregião há mais de 20 anos e pou-co ou nada contribuiu para a ge-ração de emprego e renda ou depadrões mínimos de verdadeirainclusão social.

Esta transposição segue a lógi-ca centenária de que a seca no semi-árido pode ser combatida comgrandes intervenções, grandes obrase, agora, com um salvacionistaprograma de obras, tão monu-mental quanto o problema da seca.

Nisto está a essência da cria-ção do Departamento Nacional deObras Contra a Seca – DNOCS,em 1945, com a concepção decombate à seca através de obras,principalmente, a construção deaçudes e/ou reservatórios.

P

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O DNOCS já construiu 291açudes públicos, armazenandomais de 15,3 bilhões de metroscúbicos de água. Na verdade, oconjunto de açudes e reservatóri-os públicos e privados do Nordes-te possui potencial de armaze-namento superior a 30 bilhões demetros cúbicos de água. Este vo-lume potencial de armazenamentojá seria, em tese, mais do que sufi-ciente para atender à demanda dapopulação do semi-árido.

O semi-árido brasileiro jáconta com uma impressionanterede de reservatórios e adutoras,mas pouco mudou para a maio-ria da população sertaneja, mes-mo depois de 60 anos da criaçãodo DNOCS, que por sinal é su-bordinado ao Ministério daIntegração Nacional.

No entanto, mesmo com umasignificativa açudagem, ainda sãofreqüentes as imagens de açudesquase vazios, mas, ainda assim, compotentes bombas de sucção, cap-tando grandes volumes de águapara irrigação, mesmo com a mai-or parte da população do entornosedenta e dependendo de carros ejegues-pipa, em clara violação dalógica, da ética e da legislação.

Ainda hoje muitos dos reser-vatórios perdidos no inicio de

2004 não foram re-cuperados e outrostantos possuem séri-os problemas de se-gurança por falta demanutenção, sempresob o argumento dafalta de verbas.

Não basta um gi-

um modelo de desenvolvimentobaseado na agricultura familiar.

Nas regiões Sul e Sudeste, osprogramas de convivência com aseca no semi-árido são pouco co-nhecidos. O mais importante esignificativo é o P1MC – Progra-ma de Formação e MobilizaçãoSocial para a Convivência com oSemi-Árido: um milhão de cister-nas rurais, coordenado pela Ar-ticulação no Semi-Árido Brasilei-ro – ASA (www.asabrasil.org.br).O programa P1MC, lançado em2000, tem como meta construir,em cinco anos, um milhão de cis-ternas de placas na região, queproporcionarão água limpa e dequalidade para cinco milhões depessoas. O programa já construiumais de 54 mil cisternas, que be-neficiam 260 mil pessoas.

ganizado programa de apoio àconstrução de cisternas, com ple-na integração federal – estadual –municipal, não apenas seria umamicro-solução importante para asobrevivência do sertanejo, comotambém, ao eliminar a indústria doscarros e jegues-pipa, seria um gran-de golpe no modelo mais dema-gógico do coronelismo.

Não se deve acreditar em so-luções únicas e simples para pro-blemas complexos, e no semi-ári-do não é diferente. O semi-áridoprecisa de políticas públicas efi-cazes, concebidas de forma inte-grada e sistêmica, que incluamincontáveis experiências de con-vivência com a seca. A convivên-cia com a seca exige várias açõese projetos, dentre os quais as cis-

gantesco esforço para a constru-ção de açudes e barragens porqueé absolutamente necessário um mo-delo de gerenciamento que garantaa sua eficiência, sua segurança eseu uso racional. Lamentavelmen-te isto ainda não foi sequer deba-tido, quanto mais solucionado.

Um milhão de cisternas

Ao longo do tempo e dosmais diversos governos federais,ficou demonstrado que, indepen-dentemente dos problemas crô-nicos de gerenciamento da açu-dagem, este conjunto de obrasnão atendeu à sua razão primeira– garantir à população do semi-árido uma convivência minima-mente digna com a seca.

Em resposta ao fracasso dasgrandes obras contra a seca, re-toma-se a proposta de solucio-nar o problema com uma mega-obra. Pena que ela não vá levarágua aos que tem sede, porquenão é este o seu objetivo. Ao serconcebida para a segurança hí-drica dos reservatórios, a trans-posição servirá ao maior usuá-rio dos reservatórios e adutoras– a agricultura irrigada. Ela ga-rantirá os crescentes volumes deágua exigidos pelo agronegócio

Sua importânciapode ser compreendi-da a partir do fato queuma cisterna, com 15mil litros em média,pode garantir o forne-cimento de água parauma família de 5 pes-soas por 8 meses, queé o período normal deestiagem na região.Um amplo e bem or-

ternas “de beber”, as cisternascomunitárias, as cisternas de pro-dução, as barragens subterrâne-as, as mandalas, e por aí vai. Mas,acima de tudo, é necessário ga-rantir o acesso à água.

Um projeto equivocado, co-mo a transposição do rio SãoFrancisco, atenderá os privile-giados de sempre e manterá asfreqüentes imagens de rios com-pletamente secos, de açudes exau-ridos e de ricas áreas irrigadas aolado da mais impensável aridez,simplesmente porque não visacriar garantias de acesso à água.

Se for para levar água a quemjá tem acesso não há necessidadede qualquer projeto, bastando au-mentar a eficiência no gerencia-mento e nos usos da açudagem dis-ponível. Para isto, não é necessário

fazer nada muito complicado, mui-to menos um projeto como a trans-posição do rio São Francisco.

É necessário e fundamentalque se foque nas efetivas soluçõesde convivência com a seca, oumanteremos a atual lógica perver-sa, em que vemos adutoras tãopróximas e, ao mesmo tempo, tãodistantes de tantos. Não adiantatangenciar o problema – precisa-mos garantir o acesso à água. Oacesso à cidadania.

Para nós, no Sul e no Sudes-te, o acesso à água é tão simples:abrir uma torneira. Para milhõesde brasileiros, continuará um so-nho distante.

* Ambientalista, subeditor do Jornal do

Meio Ambiente.

exportador.Este projeto, por-

tanto, como todas asoutras grandes obrasque pretensamentecombateriam a seca,não atende aos maio-res desafios da região:a regularização fun-diária, o acesso à águae a consolidação de

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13jornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - feverjornal dos economistas - fevereireireireireiro de 2005o de 2005o de 2005o de 2005o de 2005

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL Ruth Espínola Soriano*

ilberto Maringoni, em ar-tigo da Agência CartaMaior, tem razão quando

afirma que esta foi a melhor e amais política de todas as ediçõesdo Fórum Social Mundial (FSM),tendo sido a menos fragmentada,já que em sua nova estrutura, averticalidade favoreceu articula-ções entre entidades, redes, asso-ciações, organizações da socieda-de civil, agremiações políticas detodo o mundo.

Neste contexto, o movimentomundial da economia solidárianão tem do que se queixar. Des-de o primeiro Fórum, há um es-forço no sentido de abrir espaçospolíticos de debates e visibilidadedesta nova economia que se afir-ma enquanto mundial, prática vi-gente de um modo de produçãoalternativo ao hegemônico.

Em 2005, mais de 50 redes emovimentos internacionais deeconomia solidária se articularamem prol do FSM. O objetivo mai-or destas redes é permitir avan-ços na reflexão sobre suas prá-ticas, construir uma agenda

A economiasolidária

se expande

comum visando o desenvolvi-mento deste movimento por umaeconomia alternativa.

Este ano foi ainda mais im-portante para as articulações bra-sileiras de economia solidária,especialmente, para a Rede Bra-sileira de Socioeconomia Solidá-ria e para o Fórum Brasileiro deEconomia Solidária. Há quasedois anos elas conquistaram e dis-põem de uma Secretaria Nacio-nal de Economia Solidária (Se-naes), vinculada ao Ministério doTrabalho e Emprego e coordena-da pelo economista Paul Singer.

Rede de gestores

Pela primeira vez, na históriado país, a economia solidária é re-conhecida enquanto objeto depolíticas públicas em nível fede-ral, a exemplo da histórica experi-ência no Canadá e na França (Go-verno Jospin). Soma-se ainda ofato de, até dezembro de 2004,mais de 30 entes federativos exe-cutavam políticas públicas regio-nais na temática, dentre eles, três

estados da Federação. Estes, jun-tamente com a Senaes, compõema Rede de Gestores de PolíticasPúblicas em Economia Solidária.

Certamente, o cenário que oGoverno Lula tem apresentadoa este movimento contribuiu paraa visibilidade da economia soli-dária no FSM de 2005, assimcomo o processo de articulaçãodas redes internacionais nessescinco anos de Fórum.

O eixo temático em que a eco-nomia solidária ganhou mais visi-bilidade foi o intitulado “Econo-mia soberana dos e para os povos– contra a globalização neolib-eral”. Os principais seminários or-ganizados conjuntamente com asredes internacionais foram: finan-ças solidárias; segurança e sobera-nia alimentar; economia solidáriae Estado – radicalização da demo-cracia; redes e cadeias de produ-ção, comercialização e consumo;atores, movimentos sociais e seg-mentos protagonistas.

O painel que discutiu o temachamou-se “Economia solidária:desenvolvimento soberano e sus-tentável”, cuja mesa foi modera-da por Ignacio Ramonet, diretordo Le Monde Diplomatique, e com-posta por Paul Singer (Senaes/Brasil), José Luiz Coraggio (eco-nomista e assessor do Governo daArgentina), Carola Reintjes (Es-panha), Kamal Chenoy (Índia).

O FSM teve ainda uma moe-da social, o Txai. Contou com a

presença de mais de 600 trabalha-dores da economia solidária detodo Brasil; priorizou a comercia-lização e produtos do Fórum,oriundos de diversas cadeias pro-dutivas da economia solidária doBrasil, especialmente da região sul.

É notório que a economia so-lidária ainda não seja bem com-preendida e estudada pela maio-ria dos economistas. Há váriasrazões para isto, dentre elas po-

demos apontar algumas: por serrecente no meio acadêmico bra-sileiro; por suscitar questões po-lêmicas quando falamos do mun-do do trabalho cooperativista oude uma retomada do projeto so-cialista; por seu teor utópico etc.

Urge trazermos esta questãopara um debate mais amplo, tan-to em nossa categoria quantopara o grande público. Isto por-que “uma outra economia jáacontece”, o que é um dos lemasdo movimento no Brasil.

* Economista do PACS

Políticas Alternativas para o Cone Sul.

G

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FÓRUM POPULAR DE ORÇAMENTO

As matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de responsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Corecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Popular de opular de opular de opular de opular de OrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamento do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeiro.o.o.o.o.CoorCoorCoorCoorCoordenação Exdenação Exdenação Exdenação Exdenação Executiva do Fórum: Recutiva do Fórum: Recutiva do Fórum: Recutiva do Fórum: Recutiva do Fórum: Ruth Espínolauth Espínolauth Espínolauth Espínolauth Espínola Soriano Soriano Soriano Soriano Soriano,,,,, Luiz Mario BehnkLuiz Mario BehnkLuiz Mario BehnkLuiz Mario BehnkLuiz Mario Behnken e Camilla Sampaio. Estagiários: Bruno Lopes e Thiago Maren e Camilla Sampaio. Estagiários: Bruno Lopes e Thiago Maren e Camilla Sampaio. Estagiários: Bruno Lopes e Thiago Maren e Camilla Sampaio. Estagiários: Bruno Lopes e Thiago Maren e Camilla Sampaio. Estagiários: Bruno Lopes e Thiago Marques.ques.ques.ques.ques.

Correio eletrônico: [email protected] - Portal: www.corecon-rj.org.br - www.fporj.blogger.com.br

udo indica que a educaçãodeverá ter um acréscimo deaproximadamente 15%, no

orçamento municipal deste ano,em relação a 2004, totalizando as-sim cerca de R$ 1,6 bilhão. Aocomparar a função educação comas demais, observamos que esta re-presenta o terceiro maior gasto(17,74% do orçamento total), fi-cando atrás da Previdência Soci-al (20,96%) e da Saúde (19,24%).

Pelo gráfico ao lado podemosvisualizar a retomada dos gastosem Educação, em conjunto comos investimentos. Em 2004, afunção representava aproximada-mente R$ 1,39 bilhão e os inves-timentos aproximadamente R$69,2 milhões. Para 2005 represen-tam, respectivamente, R$ 1,6 bi-lhão e R$ 76 milhões.

Já o Fundo de Manutenção eDesenvolvimento do Ensino Fun-damental e Valorização do Magis-tério – Fundef – não acompanhaesse crescimento em relação a2004. Para 2005, é prevista umadiminuição total de R$ 1,89 milhão.

Podemos observar que mes-mo com o aumento da participa-ção na constituição do Fundef(contrapartida do município), ovalor total é reduzido em funçãoda queda das transferências. Talqueda pode ser explicada devidoao cálculo feito para a obtençãodo Fundef, que considera entreoutras variáveis o número de ma-trículas. Para 2004, é previsto umtotal de 767.524 matrículas e para2005, curiosamente, 763.252, ouseja, 4.272 matrículas a menos.

Limites constitucionais

De acordo com o art. 212, daConstituição Federal, o municí-pio aplicará, anualmente, no mí-nimo, 25% da receita resultantede impostos, inclusive as transfe-rências, na manutenção e desen-volvimento do ensino. Segueabaixo o quadro demonstrandoo cálculo para a obtenção do ín-dice de aplicação na Manutençãoe Desenvolvimento do EnsinoPúblico (MDE).

Educação terá mais recursos

Pelos resultados obtidos aaplicação na MDE esta dentro dalei constitucional, porém, em re-lação a 2003 é observada umaqueda do percentual de aplicação,ou seja, um aumento das despe-sas em proporção menor do queas receitas consideradas. O au-mento das receitas é caracteriza-do em maior parte pelos Impos-tos Próprios – IPTU, ISS, ITBI emultas e juros da dívida ativa.

Capacitação

Segundo a mensagem doExecutivo, na Proposta Orça-mentária, uma das prioridadesem educação para 2005 é a “va-lorização dos profissionais em educa-ção e a inclusão digital dos alunos darede municipal pública de ensino”.Destacamos abaixo dois progra-mas que caracterizam as priori-dades citadas.

1° “Capacitação de RecursosHumanos” (Educação) – objeti-vos: promover a qualidade nagestão pública, dando continui-dade à qualificação dos servido-

res, assegurando a melhora dosserviços e o aumento da produ-tividade.

2° “Desenvolvimento da In-formática Educativa” – objetivo:dotar as unidades de novas tecno-logias, introduzindo a linguagemda informática no processo peda-gógico, modernizando e qualifi-cando a educação e facilitando ainclusão social do aluno.

É notório que as prioridadesdescritas em relação aos anos an-teriores perde consideravelmen-te em termos orçamentários, oque não significa dizer ineficáciada prioridade, uma vez que não éconsiderada a execução dos pro-gramas, cabendo no decorrer de2005 acompanhar a execução.

Os gastos com funcionáriosem atividade na educação cresce-ram, em relação a 2003, aproxi-madamente 21%, enquanto comos inativos, 10%. Cabe ressaltarque os gastos com ativos da edu-cação representam 67% do total.Já os inativos representam 25%dos gastos totais da função Pre-vidência Social.

Em milhares R$

Receitas Arrecadadas 2003 2004 2005

Impostos Próprios 2.233.170 2.739.636 3.045.571

Transferência do Estado 1.068.981 1.347.377 1.406.047

Transferência da União 260.389 288.767 333.608

Participação na Constituição do Fundef 161.105 203.453 210.326

Transferência Adicional do Fundef 399.795 510.534 501.771

Total ( A ) 4.123.440 5.089.767 5.497.323

Despesas Realizadas

Secretaria M. de Educação 1.135.371 1.256.729 1.372.675

Secretaria de M. Esporte e Lazer - - 22.140

Secretaria M. de Desenv. Social 23.699 19.039 29.043

Secretaria Municipal de Administração 422.718 451.880 465.842

Total ( B ) 1.581.788 1.727.648 1.889.700

Percentual Aplicado na MDE ( B / A ) 38% 34% 34%

T

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CURSOS DO CORECON/RJ

PROGRAMAÇÃO DE CURSOS PARA 2005

TEORIA DOS JOGOSCurso de 24 horas-aulaProfessor Ronaldo Fiani (Doutor IE/UFRJ)

ConteúdoAnalisando os jogos – Equilíbrio de Nash – Jogos seqüenciais – Jogos repetidos – Jogos de informação incompleta

ECONOMIA DO BEM-ESTAR, IGUALDADE E POBREZA: UMA LEITURA CRÍTICAProfessor João Leonardo Medeiros (Doutor IE/UFRJ)

ConteúdoA tradição utilitarista e as teorias ortodoxas da pobreza – A revisão seniana: a justiça como equidade de Rawls/Sen – Leituras críticasdas concepções ortodoxas da pobreza

CURSOS PROGRAMADOS

Tópicos de Economia Política de Saúde – Carlos Octávio Ocké-Reis – 8 horas-aula – às terças-feiras – 29/mar a 19/abr

Teoria dos jogos – Ronaldo Fiani – 24 horas-aula – às quartas-feiras – 6/abr a 23/maio

Filosofia: uma introdução – Miguel Angel Barrachenea e Luiz Celso Pinho – 24 horas-aula – às quartas-feiras – 4/maio a 22/jun

Economia e meio ambiente – Cláudia Lúcia Bisaggio Soares – 12 horas-aula – de segunda-feira a quinta-feira – 27 a 30 jun

Economia do bem-estar, igualdade e pobreza – João Leonardo Medeiros – 24 horas-aula – às quintas-feiras – 7/abr a 9/jun

Avaliação de projetos - tópicos avançados – Eduardo Sá Fortes – 24 horas-aula – aos sábados – 7/maio a 25/jun

Regimes monetários: teoria – André Modenesi – 12 horas-aula – às segundas e quartas-feiras – 4 a 25/jul

Regimes monetários: experiência do Real – André Modenesi – 12 horas-aula - às segundas e quartas-feiras – 8 a 29/ago

Introdução à Economia Política:o pensamento de Karl Marx – Pablo Bielschowky eRodrigo Castelo Branco – 16 horas-aula – às quintas-feiras – 4/ago a 22/set

O pensamento econômico de Keynes – Jeniffer Hermann, João Sicsú e outros – 16 horas-aula – às segundas-feiras – 5/set a 24/out

Filosofia – Miguel Angel Barrachenea e Luiz Celso Pinho – 24 horas-aula - às quartas-feiras – 14/set a 16/nov

Análise de Investimentos – Eduardo Sá Fortes – 16 horas aula – às quintas-feiras – 6/out a 3/nov

Matemática aplicada à teoria econômica – Jorge Cláudio Cavalcante – 30 horas-aula – às terças e quintas-feiras –1º nov a 13/dez

Visite a página http://www.economistas.org.br para obter maiores informações e efetuar sua inscrição.Sugira um curso de seu interesse e dê sua opinião.

Em nota enviada aos senado-res e deputados federais, oConselho Regional de Econo-mia do Rio de Janeiro defendeuma nova reforma tributária,que reduza as desigualdadessociais e promova a justiça. Éa seguinte a íntegra da notaenviada aos parlamentares:

Corecon-RJ defende reformatributária progressiva e justa

Brasil precisa crescer gerando empre-go e renda. Somos campeões de desi-gualdade social no mundo, temos uma

das maiores taxas de juros do planeta e umsistema de tributação regressivo, que aumen-ta as nossas injustiças.

Precisamos de uma reforma tributáriaprogressiva que reduza as desigualdades, pro-mova investimentos em infraestrutura e naárea social, e resgate a nossa imensa dívidapara com nosso povo.

A Medida Provisória 232 e os contínuosaumentos nas taxas de juros caminham em

direção oposta, inibindo investimentos, one-rando trabalhadores e empresários produti-vos, ao contrário do que se faz em nosso paíscom o capital financeiro e especulativo.

A Reforma Tributária é uma necessidadeque precisa ser democraticamente debatidapela sociedade, não podendo ser resolvida pormeias medidas e pela via do recurso a “Medi-das Provisórias”.

Rio de janeiro, 07 de março de 2005Conselho Regional de Economiada 1

a

Região – Rio de Janeiro

O