ÓrgÃo oficial do corecon-rj, ierj e sindecon-rj ruptura … · 2016. 3. 4. · ÓrgÃo oficial do...

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ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOS DOS DOS DOS DOS Violência ou iolência ou iolência ou iolência ou iolência ou ilusão cognitiva? ilusão cognitiva? ilusão cognitiva? ilusão cognitiva? ilusão cognitiva? Página 3 Prefeitura gasta efeitura gasta efeitura gasta efeitura gasta efeitura gasta mais em obras mais em obras mais em obras mais em obras mais em obras Página 15 Novos cursos Novos cursos Novos cursos Novos cursos Novos cursos no Conselho no Conselho no Conselho no Conselho no Conselho Página 16 O Governo Lula não terá como es- capar do dilema que, desde sua pos- se, recai sobre as ações, opções e ini- ciativas que adota: continuar a política de FHC, sob os auspícios do FMI e Bird, ou romper com essa trajetória e con- vencer a comunidade financei- ra internacional e domésti- ca sobre os novos objetivos e propó- sitos da polí- tica macro- econômica. Esta é a tônica da entrevista ao JE do economista Marcos Arruda, do Instituto Políticas Alterna- tivas para o Cone Sul (Pacs), dando continuidade à avalia- ção dos primeiros meses de governo do Presidente Lula. Páginas 8 Ruptura ou continuidade Nº 169 – AGOSTO DE 2003

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  • ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ

    JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOSDOSDOSDOSDOS

    VVVVViolência ouiolência ouiolência ouiolência ouiolência ouilusão cognitiva?ilusão cognitiva?ilusão cognitiva?ilusão cognitiva?ilusão cognitiva?

    Página 3

    PPPPPrrrrrefeitura gastaefeitura gastaefeitura gastaefeitura gastaefeitura gastamais em obrasmais em obrasmais em obrasmais em obrasmais em obras

    Página 15

    Novos cursosNovos cursosNovos cursosNovos cursosNovos cursosno Conselhono Conselhono Conselhono Conselhono Conselho

    Página 16

    O Governo Lula não terá como es-capar do dilema que, desde sua pos-se, recai sobre as ações, opções e ini-ciativas que adota: continuar a políticade FHC, sob os auspícios do FMI e Bird,ou romper com essa trajetória e con-vencer a comunidade financei-ra internacional e domésti-ca sobre os novosobjetivos e propó-sitos da polí-tica macro-econômica.Esta é a tônica da entrevista ao JEdo economista Marcos Arruda,do Instituto Políticas Alterna-tivas para o Cone Sul (Pacs),dando continuidade à avalia-ção dos primeiros meses degoverno do Presidente Lula.

    Páginas 8

    Ruptura oucontinuidade

    Nº 169 – AGOSTO DE 2003

  • EDITORIAL

    ÓrÓrÓrÓrÓrgão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial doCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJ

    ISSN 1519-7387

    Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial: Ceci Juruá, Paulo Passarinho,Paulo Mibielli, Sidney Pascotto, Nelson Le Cocq, Gil-berto Caputo Santos, Gilberto Alcântara e JulioMiragaya · Editor: Editor: Editor: Editor: Editor: Nilo Sérgio Gomes - E-mail:[email protected] · I lustração: Ilustração: Ilustração: Ilustração: Ilustração: Aliedo ·Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista: Cássio Loredano · Diagramação e Diagramação e Diagramação e Diagramação e Diagramação eFFFFFinalização: inalização: inalização: inalização: inalização: Rossana Henriques (21) 2462-4885 ·FFFFFotolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Impressão:essão:essão:essão:essão: Tipológica · T T T T Tiragem: iragem: iragem: iragem: iragem: 13.000exemplares · P P P P Periodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade: Mensal

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    Jornal dos

    2 jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003

    Conversão com criatividade

    Apresente edição do JE chega à suaresidência no momento em que jános é possível, com base em indi-

    cadores diversos desses primeiros mesesdo Governo Lula, avaliar a real dimensãodas mudanças em curso no país.

    Aloísio Mercadante, economista e líderdo governo no Senado, nos lembra que a“cotação do dólar caiu acentuadamente,estabilizando-se em torno de R$ 3,00; o ris-co-país despencou de 2.400 para menos de800 pontos; restabeleceram-se os fluxos definanciamento externo às empresas; o paísvoltou a colocar títulos soberanos, alongan-do o perfil da dívida externa; o déficit nastransações correntes caiu do patamar de US$17 bilhões para um saldo positivo de US$1,3 bilhão nos últimos 12 meses, mercê doaumento recorde do saldo da balança co-mercial propiciado pelo crescimento de 24%das exportações, nos sete primeiros mesesde 2003; a dívida pública líquida caiu de62,2%, em outubro de 2002, para 55,4% doPIB, em junho passado; e a inflação, quehavia superado a casa dos 30% ao final de2002, mostra queda constante em todos osseus índices, com taxas inferiores a 7% nasprojeções para 12 meses” (“A retomada docrescimento”, Folha de S. Paulo, 24/8/03).

    Não há dúvidas de que são númerosque podem impressionar. Entretanto, apergunta imediata é se o ambientemacroeconômico favorece, de fato, a al-mejada retomada do crescimento, com aprometida geração de 10 milhões de em-pregos. Nesse sentido, cabe refletir a res-peito de outros dados. Em especial, aque-les que nos indicam o comportamento dachamada demanda agregada da economia,sinalizador objetivo no processo de toma-da de decisões dos investidores.

    Desde a posse do Presidente Lula, a

    SumárioPágina 03 Violência – Valdir Ramalho de Melo

    Página 05 Economia e Ambiente – Rafael Vieira e Rogério Rocha

    Página 07 Transgênicos – Pedro Paulo Silveira Felicíssimo

    Página 08 Entrevista: Marcos Arruda, do Pacs

    Página 12 Crises cambiais – Solange Srour

    Página 15 Fórum do Orçamento – Gastos da Prefeitura

    Página 16 Curso no Corecon

    taxa de desemprego aberto, medida peloIBGE, apresentou uma elevação contínua,mantendo-se estável (?) apenas no últi-mo mês de julho – em relação a junho,com 12,8% da força de trabalho à procu-ra de um emprego, provavelmente infor-mal, destituído de mínimos direitos e ex-tremamente instável. Por sua vez, nosúltimos 12 meses, os rendimentos médi-os dos trabalhadores reduziram-se emmais de 16%. O resultado fiscal primário,no primeiro semestre, nos informa, tam-bém, que R$ 40 bilhões deixaram de serutilizados em despesas de custeio e no-vos investimentos, ao mesmo tempo emque esta brutal economia de gastos co-briu apenas pouco mais de 50% do totaldas despesas com juros e encargos dadívida pública interna, que chegou a maisde R$ 74 bilhões.

    A própria festejada redução na taxanominal básica de juros, fixada na últimareunião do Copom em 22% a.a., cotejadacom a projeção de inflação para os próxi-mos 12 meses, com base no último dadomensal do INPC, nos indica uma taxa realde juros próxima a 15% a.a., um verdadei-ro atentado à produção.

    Ou seja: em relação a números, existeuma diversidade de indicadores que per-mite ilações ao gosto político de cada ana-lista. O que nos chama a atenção, contu-do, é a conversão do Governo Lula – ditadaou não pelas circunstâncias herdadas dogoverno anterior – à crença na política or-todoxa recomendada pelo FMI. Mas, lógi-co, com pitadas de criatividade e sensibi-lidade com os movimentos sociais, nacerteza de que este será o caminho paranos reencontrarmos com o propalado es-petáculo do crescimento. Custa a crer, mastrata-se de esperar para ver.

  • ILUSÃO COGNITIVA

    3jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003Valdir Ramalho de Melo*

    Diálogo de dois mundosacerca de violência no Rio

    Cleanto – Na minha infância, o Rio eratão pacato e sem riscos. Hoje, evita-se sairem minha casa, sobretudo, à noite. Afi-nal, pode-se ser assassinado a sangue-friopor qualquer motivo. E a qualquer momen-to podemos ser vítimas, não só de assassi-natos, como de assaltos, seqüestros...

    Felipe – Esse tipo de conversa exageraenormemente o risco dessas coisas. Suachance é muito maior de ser atropeladoao atravessar a rua, ou de morrer de do-enças como infarto, diabetes e câncer. Ade-mais, os riscos que você citou são prova-velmente muito menores, hoje, do quealgumas décadas atrás. Certamente o ris-co de morrer assassinado é mais baixo. Etem mais: para pessoas de classe médiacomo você, provavelmente o risco de sermorto por um assaltante é menor do quesê-lo por um parente ou amigo. Tambémnão me venha com o mito do passado idí-lico; essa é uma ilusão da mente já notada

    há séculos, não pre-cisa de Daniel

    Kahneman.

    Cleanto – Não, a violência tem ficado maisgrave. Veja quantas notícias de mortes hor-ripilantes, crueldades a sangue frio...

    Felipe – Esses são os poucos casos publi-cados porque têm impacto como notícia. Eo impacto vem exatamente da repulsa quegeram. A grande maioria dos eventos deviolência é bem menos grave; ou, menoscruel ou pouco impressionante. Não atrai-ria a atenção dos leitores e, por isso, não énoticiada.

    Cleanto – Não entendi bem. Pode dar umexemplo?

    Felipe – Veja esta notícia: “Menores usamgranada no Leme”. Para cada caso comoesse, há muitos outros, talvez uns 150 en-contros entre menores e cidadãos ou poli-ciais, nos quais os menores empregam ape-nas ameaças com um pequeno objeto nasmãos, ou, mais comumente, nada têm, masinsinuam que podem fazer mal. São encon-tros incômodos para o cidadão surpreen-dido, ou meramente desagradáveis, e por

    isso não são noticiados. O leitor ge-neraliza da notícia, e pensa que suavida estará em jogo ao se deparar comcerta situação, quando de fato suaschances são 150 vezes maiores de queisso não acontecerá.

    Cleanto – Mas o maior número denotícias prova que a freqüência de ca-

    sos de violência tem aumentado.

    Felipe – Não . O número de notícias au-menta ou diminui em função do interessejornalístico do assunto. Não significa que aviolência tenha aumentado ou diminuído,paralelamente. Lembre-se que, de cada 100homicídios, no ano, por exemplo, um jor-nal noticia talvez menos de 16 ou de 11.

    Cleanto – Não, estamos de fato vivendouma situação de guerra. Uma revista se-manal mostrou que o número de homicí-dios em nosso estado tem magnitude com-parável às guerras de Kosovo, da Palestina

    Há alguns meses, a propósi-to da concessão do PrêmioNobel de Economia a DanielKahneman, publiquei nestejornal um artigo sobre a ondade violência no Rio de Janei-ro, como um caso de ilusãocognitiva**. Perguntas de fa-miliares e reações de colegaslevaram-me a desenvolveraspectos do assunto. Parauma leitura mais acessível,apresento-os na forma de umdiálogo.

  • 4 jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003

    e até do Vietnã. Também,segundo um grande jornal, “Rio

    supera Israel em homicídios”.

    Felipe – Essas reportagens fo-ram escritas sem consultar es-pecialistas em pesquisa social,ao menos, gente que soubes-se analisar estatísticas. É umapena, aliás, que os nossos

    meios de comunicaçãonão contratem os nossosprofissionais quando pre-

    cisam dos serviços deles. Não há espaçoaqui para analisá-las. As sugestões einferências de que estamos próximos dealgo, como uma guerra são grosseiramen-te erradas, mesmo levando em conta so-mente mortos e feridos. Estamos muito,muito longe do nível de violência de umasituação de guerra típica, em particular dasguerras citadas na reportagem. E a com-paração com Israel é extremamente imper-tinente porque, fora o conflito palestino,é um país que está no grupo daqueles demais baixa violência no mundo.

    Cleanto – Bem, mas essa notícia recentecontradiz sua tese, e relata uma pesquisasocial: “A década de violência: pesquisarevela que em 12 anos cresceu 130% onúmero de assaltos no estado, em que 22pessoas são mortas por dia”.

    Felipe – Ela ilustra um outro mecanismode ilusão: crenças fortes determinam a per-cepção. A pessoa nem nota aquilo que nãoespera encontrar. Os jornalistas não sãodiferentes dos leitores; também absorvemas mesmas ilusões cognitivas. Os redatoresda notícia estavam tão convencidos da exis-tência da onda de violência que não per-ceberam o alcance das informações e aná-lises apresentadas pelos pesquisadores.Viram apenas o que confirmava aquilo quetinham certeza. Assim, entre os diversositens de violência, notaram a ascensão donúmero de assaltos e lhe deram ênfase. Nãonotaram o significado da evolução do ris-co de morte por homicídio, que ocorre serum indicador mais expressivo e mais perti-nente. Os dados que os pesquisadores lhespassaram mostram que esse risco ficou bemmenor agora do que no início dos anos 90.Se não tivessem sido vitimados pela ilusão,os redatores teriam escrito a notícia como:

    “A década da queda da violência: pesquisarevela que em 12 anos a taxa de homicídi-os caiu drasticamente”.

    Cleanto – Não me diga que a culpa é daimprensa. Nenhum pesquisador social oumesmo político experiente disse que a vio-lência é causada pela imprensa.

    Felipe – Claro. Mas, a propósito, quemdisse isso?

    Cleanto – Desconfio que ninguém. Algunsde nossos editores poderosos e jornalistasestabelecidos não admitem que a impren-sa seja criticada. Quando alguém ousa pre-tender apontar falhas é ridicularizado e acrítica é descrita como “aquela posiçãosimplista”. E também insinuam que o críti-co quer cortar a liberdade de imprensa. Écurioso porque os patriarcas da liberdadede expressão viam como sua função socialpermitia a crítica livre e desembaraçada.Os autoritários brasileiros vestem-se de pro-tetores da liberdade de imprensa para aba-far a crítica a eles próprios.

    Felipe – Meu Deus, você perdeu a cabe-ça! Quer cair no ostracismo! Dizer que anossa imprensa é autoritária...

    Cleanto – Digo que é uma coisa a exami-nar. Preste atenção: nossa imprensa estátodo dia apontando mazelas sociais asmais diversas, defeitos e problemas de maise mais instituições e pessoas conhecidas.Em mais da metade das notícias, colunase editoriais, os governantes são desprepa-rados e incompetentes, os políticos são cor-ruptos ou interesseiros, os funcionáriospúblicos maltratam o cidadão ou desper-diçam o dinheiro público, os empresáriossão sonegadores, as escolas particulares sãogananciosas... Porém, nesse mundo emque tudo é defeituoso, de má qualidade,sem lei, eles não se deixam contaminar eafetar; fazem um trabalho impecável. Nãosão comuns reportagens apontando errosda nossa imprensa, editores criticandofalhas de outros jornais ou revistas. Eles seprotegem em um corporativismo que os edi-tores só enxergam nos sindicatos.

    Felipe – Você quer dizer que em nossaimprensa há um conluio de oligopólio?

    Cleanto – Também é uma coisa a exami-nar. Lembre-se que os jornais são negócioscomerciais, não associações de abnegadosdevotos do bem comum. Eles limitam a com-

    petição entre si, não criticando uns aosoutros e, sobretudo, uns seguindo a inicia-tiva do outro. Quando um começa a acu-sar uma instituição ou pessoa famosa, ca-beria à imprensa dar igual peso à defesa eà acusação, porque imprensa não tem opapel de juiz. Mas não, todos aderem àmesma posição, nenhum toma posiçãoadversária à do outro. Os leitores se iludemcom esse consenso, e ficam com certeza deque o acusado é de fato culpado.

    Felipe – Entendo. Se a justiça tratar dife-rentemente o acusado, é nossa justiça quepassa por leniente ou conivente... São re-flexões interessantes. Mas nosso tópico éviolência. Confesso que algo me preocu-pa: historicamente, quando se espalha nopúblico o medo de ameaças difusas comoa violência, o terrorismo, o comunismo,imediatamente se abre espaço para os con-servadores mais autoritários reduzirem asliberdades democráticas e os direitos ci-vis. Veja os impressionantes eventos nosEUA depois do 11 de setembro...

    Cleanto – Quem diria? Um povo educado,que se considera a pátria da liberdade. Mastem acontecido entre nós. Propõem-se asForças Armadas nas ruas, ou encher depoliciais cada rua e esquina, “tolerânciazero” para infernizar a vidas dos páriassociais, como os mendigos e as prostitutas...

    Felipe – Nós temos centros de estudos daviolência, cujos pesquisadores dizem queessas medidas não vencem de fato a vio-lência. Mas, para cada artigo deles, há ou-tro de algum jornalista apavorado decla-rando que não sai mais de casa.

    Cleanto – Esses pesquisadores afirmamque resolver a questão da violência não ésó tarefa da polícia e até mesmo que a ta-refa principal não é dela. Isso não é “bommocismo”, ou coisa de esquerdista, paraquem todo problema só se resolve com dis-tribuição de renda?

    Felipe – Não. O que eles dizem reflete aliteratura internacional técnica e atualiza-da sobre crime e violência. São teses queatravessam posições de esquerda e direi-ta. Eles me parecem competentes, comuma contribuição valiosa. Pena que sejampouco ouvidos...

    * Consultor de ciências sociais ([email protected])** “Ilusão cognitiva: como se cria a onda de violên-cia”, JE, out. 2002, p. 8-9

  • A

    5jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003ECONOMIA E MEIO AMBIENTE Rafael Vieira

    e Rogério Rocha*

    discussão que seguepossui o caráter claro de

    reiterar as análises críticas eprospectivas sobre a questãosócio-ambiental e sua intrínse-ca relação com a dinâmica eco-nômica dos países no mundo.O destaque que é efetuadomenciona o Brasil como umceleiro de biodiversidade, re-cursos naturais e com uma eco-nomia que apresenta diagnós-tico medíocre quanto à relaçãoeconomia-meio ambiente.

    Não há dúvidas de que me-canismos para superação dequadros críticos relacionados àprodução e uso dos recursosnaturais; aos efeitos que as eta-pas produtivas geram no espa-ço ambiental e econômico –nesta ordem –, são desenvolvi-dos, aplicados e implantados,porém, com uma eficácia quedistancia do êxito que é devido.

    Nesse sentido, não obstanteas várias reuniões mundiais emque o tema meio ambiente foipauta, nos últimos anos, a pre-ocupação em alinhar necessi-dades de consumo e/ou deprodução com o uso dos re-cursos naturais (minério, água,florestas e, sobretudo, em des-taque, o petróleo) esteve e estápresente.

    Portanto, foi atado um laçode comprometimento conduzi-do por todos os interessadosno mundo (Ongs, grandes cor-porações, governos e organis-mos internacionais), que pro-

    Uma nova atitude eum novo paradigma

    vocou uma comoção interna-cional direcionada à relaçãoeconomia-meio ambiente, quegerou reformulações quanto aoaspecto jurídico, político soci-al, econômico e, sobretudo, demercado. É nesse viés, que osurgimento de um ‘novo para-digma sócio-ambiental’ é ergui-do para a condução do desen-volvimento sustentável.

    1

    Parâmetros e mudançasPor ser uma ciência social

    aplicada e, partindo do princí-pio teórico-acadêmico, a econo-mia é um berço de multidisci-plinaridade para a compreensãodas demais áreas em que existaa sua interface. Deste modo,furtar à economia a possibilida-de de gerar limites e possibili-dade para o planejamento deuma sociedade com o uso ex-tremo do meio ambiente seriaum delito à sobrevivência.

    A partir de uma análise glo-bal na relação economia-meioambiente, o debate que estácolocado – sendo este um con-junto de parâmetros – é da par-ticipação dos países na moçãointernacional para a construçãode uma sociedade compostapor tecnologias limpas, proces-sos produtivos sustentáveis,manutenção e preservação dosrecursos naturais – desde afauna em extinção até a coibi-ção da geração de artefatosbélicos nucleares – que reivin-dicam uma reestruturação da

    sociedade moderna e/ou pós-moderna, com característicasdiferenciadas do que se vive naatualidade, bem como do se-tor produtivo (agentes econô-micos: empresas e governo)junto à concepção de gestãoambiental e responsabilidadesócio-ambiental.

    “A economia global atualfoi formada por forças de mer-cado e não por princípios deecologia. Infelizmente, ao dei-xar de refletir os custos totaisdos bens e serviços, o mercadopresta informações enganosasaos tomadores de decisões eco-nômicas, em todos os níveis.Isso criou uma economia dis-torcida, fora de sincronia comos ecossistemas da Terra, umaeconomia que está destruindoseus sistemas naturais de supor-te”.(Brown, 2002).

    Nesse sentido, consideran-do as palavras de Brown, istopode ser observado como umdos resultados do processo deglobalização (do capital e/oudos mercados), onde a relaçãode mercado (setor privado) nãoconsidera a dinâmica ambientalou as transformações ambien-tais decorrentes do uso dos re-cursos naturais como um ele-mento de análise estrutural econjuntural.

    Esse cenário é devidamen-te aplicado ao contexto mun-dial e, sobretudo, brasileiro,

    quando emerge esse novo “es-copo” mercadológico face àsquestões que envolvem cres-cimento e desenvolvimentoeconômico, a questão ambien-tal e o princípio de desenvol-vimento sustentável.

    A questão ambiental no Bra-sil revela os seguintes aspectosde mudança: a) de reestrutura-ção do espaço competitivo demercado, em função das trans-formações do setor produtivosob o viés ambiental; b) a idéiade sustentabilidade do negócio;c) a participação governamen-tal; e, d) a participação das ins-tituições (fundações, Ongs, etc.)privadas envolvidas com aquestão ambiental.

    Enfim, numa concepção con-junta. Existe uma série de des-taques a serem apresentados eque demandariam outros argu-mentos, tais como a questão flo-restal, a de poluentes químicosda indústria e, sobretudo, da di-nâmica produtiva de exploraçãoe produção do petróleo.

    Um paradigmasócio-ambiental

    No Brasil, é reiterada pelosegmento empresarial a absor-ção de um “novo paradigmasócio-ambiental”, onde, segun-do Almeida (2003), o setor em-presarial ‘esclarecido’ sabe queos mecanismos para ingressare permanecer no mercado –sob este prisma – são essenci-ais. O que se propõe é uma

    “Embora a inquietante realidade ambiental seja por mui-tos ainda ignorada ou menosprezada, torna-se cada vezmais evidente que, quanto a seus rumos futuros, a huma-nidade se defronta com um gravíssimo dilema nos tem-pos atuais.”(Câmara,1996)

  • 6 jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003

    inovação de atitude. A esse res-peito, também é importanteressaltar que as oportunidadesque revelam mudança de ati-tude, no caso brasileiro, comoas de implantação de Mecanis-mos de Desenvolvimento Lim-po (MDL), que representammitigação de impactos in loco,estão diretamente ligadas aomeio ambiente e geram opor-tunidades nas dimensões doespaço econômico.

    Assim, não furtando a exis-tência de uma concepção comtendência tácita essencialmen-te na lógica de mercado, o se-tor privado propôs assumir oprincípio do desenvolvimentosustentável, considerando aseguinte premissa:“...a base dodesenvolvimento sustentável éum sistema de mercados aber-tos e competitivos, em que ospreços refletem com as trans-parências dos custos, inclusive,os ambientais. Se os preços sãofixados adequadamente, sem

    estarem, por exemplo, masca-rados por subsídios e políticasprotecionistas, a competiçãoestimula os produtores a usaro mínimo de recursos, reduzin-do o avanço sobre os sistemasnaturais. Também os estimulaa minimizar a poluição, se sãoobrigados a pagar pelo seu con-trole e pelos danos causados aomeio ambiente. E ainda pro-move a criação de novas tec-nologias para tornar a pro-dução mais eficiente do pontode vista econômico e am-biental” (Almeida, 2002).

    Enfim, não há, portanto, qual-quer desconfiança de que omercado brasileiro e o mundial

    foram direta ou indiretamentepressionados para apresentaruma nova identidade e coexis-tir na sua lógica com o uso dosrecursos naturais, remetendo-sea outros conceitos inerentes àdinâmica de mercado atual, quesão a responsabilidade social ea responsabilidade ambiental. Apostura do setor privado emdestacar o planejamento am-biental junto ao seu projeto dedesenvolvimento também foi(nos anos 90) e é atualmente,uma das vertentes de adequa-ção e adoção de um paradigmasócio-ambiental, aqui discutido,pois este considera diferentesaspectos, incluindo, o ecológi-

    * Rafael Vieira: economista, consultorem Meio Ambiente (EnviromentalConsultant in Offshore) e professor daUniverCidade e da UNIGRANRIO.Rogério Rocha: economista, professorda UniverCidade e da Faculdade SãoCamilo, Mestrando Economia Empresa-rial/UCAM.

    1 Desenvolvimento Sustentável –“...não é um estado permanente de har-monia, mas um processo de mudançasno qual a exploração dos recursos, aorientação dos investimentos, os rumosdo desenvolvimento tecnológico e a mu-dança institucional estão de acordocom as necessidades atuais e futu-ras”.(Brundtland, 1991, p.10)

    co-econômico, jurídico-ambien-tal, social e político para a gera-ção da sustentabilidade e dodesenvolvimento.

    Referências BibliográficasALMEIDA, F. O bom negócio da sustentabilidade.Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.BROWN, L. Eco-Economy. EPI-Earth Policy Institute / UMA-Universidade Livre da Mata Atlântica, 2001.CÂMARA, I. de Gusmão. Prefácio. In: Planejamento ambiental: caminho para participação popular e gestão ambientalpara o nosso futuro comum. Uma necessidade, um desafio. Rio de Janeiro: Thex Editora. Biblioteca Estácio de Sá, 1993.COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. (Relatório Brundtland) Nosso futuro co-mum. Rio de Janeiro, FGV, 1988.

  • 7jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003ARTIGO DO LEITOR Pedro Paulo Silveira Felicíssimo*

    Transgênicos x orgânicos

    uito se tem falado e de-batido, ultimamente,sobre as questões dos

    subsídios governamentais agrí-colas praticados no âmbito daUnião Européia, EUA e de ou-tros países avançados industri-almente em detrimento das ex-portações dessas commoditiespelos países em desenvolvimen-to, dos quais o Brasil tem sidoo maior adversário e debatedornos fóruns da OMC.

    Mas não são apenas as bar-reiras de subsídios que tornamdesleal a concorrência dos pro-dutos brasileiros no mercadoexterno: barreiras não tarifárias,como exigências fitossanitáriasmais rigorosas e, mais recente-mente, mapeamento dos pro-dutos de origem animal do iní-cio ao fim de sua cadeiaprodutiva, parecem um recei-tuário médico elegante a nosdizer: “alimento controladosujeito a restrições protecionis-tas da OMC”.

    Porém, silenciosamente,uma nova manobra nos basti-dores do poder promete noscolocar entre a cruz e a espa-da: querem nos tornar grandesprodutores e exportadores deprodutos orgânicos e importa-dores e disseminadores de ali-mentos transgênicos.

    Lembro que atualmente aagricultura brasileira passa poruma revolução e transforma-ção sem precedentes em suahistória acumulando supersa-fras a cada ano e que esta éuma condição sine qua non,segundo estudiosos do desen-

    volvimento econômico, para o“arranco” industrial, proporci-onando a agricultura, com asua mecanização e alta produ-tividade, a acumulação de ca-pital necessária aos investi-mentos produtivos em outrossetores e a liberação de mão-de-obra.

    Duas opções

    Voltando novamente àsquestões deste debate, gostariaque o leitor fizesse antes umaescolha entre as duas opçõesabaixo:

    (i) Acordar em sua fazen-da ou sítio pela manhã, abrira porta e, evitando respirar oar poluído pelos diversos a-grotóxicos de sua lavoura eos diversos buracos em seuterreno provocados pela ero-são, caminhar e dirigir-se aoceleiro, onde, de uma “cabra-ovelinha” (animal híbrido mo-dificado geneticamente, mis-to de cabra, ovelha e galinha),o leitor extrai os ovos, o leitee a lã necessários à sua ali-mentação e subsistência. Du-rante o almoço, o nosso ami-go poderá deliciar-se com umexcelente arroz GM com vita-mina A, a fim de suprir a suadeficiência alimentar de ter-ceiro mundo.

    (ii) Acordar em sua fazen-da ou sítio, embelezar-se coma paisagem natural, respirar oar puro de sua lavoura, reco-lher os alimentos orgânicosnecessários à alimentação, ten-do certeza absoluta de estar

    contribuindo para a sua saúdee a do planeta.

    Concluo sem receio que aescolha da primeira opção paramim é assustadora, sem contarque necessitaria comer 9 kg dearroz todos os dias para obtera quantidade necessária de vi-tamina A que duas cenourasfacilmente me dariam.

    À parte a brincadeira, o querealmente assusta é a recenteiniciativa do governo norteamericano de convidar parauma reunião 150 ministros daagricultura de países em de-senvolvimento e, veladamen-te, pressionar com a ameaçade não ajuda financeira e mi-litar a esses países, caso nãoaprovem leis que favoreçam acomercialização de produtosgeneticamente modificados,conforme denúncia desses go-vernos junto à Federação In-ternacional de Movimentos deAgricultura Orgânica.

    Um grande mercado

    Esse fato acontece quando,em recente pesquisa, foi cons-tatado que o consumo médiode alimentos orgânicos, na UE,representa cerca de 40% doconsumo total de alimentosnos países membros. Nos EUA,entre 20% a 30% da alimenta-ção são de produtos orgânicosou hidropônicos.

    Assustador também é aconstatação de uma pesquisarecente sobre a diversidadede espécies do milho mexi-cano, em que mutações ge-

    Uma nova manobra estaria sendo urdida: tornar países comoo Brasil em grandes exportadores de produtos orgânicos eimportadores de transgênicos

    néticas nos alimentos estavampresentes e são hereditárias,ou seja, alteram as espéciesnaturais ao longo do tempo,eliminando-as.

    Existe um grande mercadona Europa e EUA para a ex-portação de produtos orgâni-cos e o Brasil possui diversasvantagens comparativas a ou-tros países da América Latinae Ásia, seja pelo solo, clima oupela área em que o cultivo deorgânicos já está presente, seo governo brasileiro decidirpelos orgânicos e banir ostransgênicos. Esse debate é detoda a população brasileira:zelar pela saúde de seus des-cendentes e a do planeta écrucial.

    A conferência BioFach,para o desenvolvimento demercados orgânicos, que iráse realizar nos próximos dias25 e 26 de setembro, no Riode Janeiro – e pela primeiravez na América Latina, pode-rá ampliar o debate e trazertambém para o Brasil, em2004, a mais importante feirainternacional do mercado or-gânico – a BioFach de Nurem-berg, na Alemanha. Com isso,contribuindo para uma deci-são mais sensata e promisso-ra que poderá revolucionar anossa agricultura nos próxi-mos 10 anos e tornar o Brasila maior potência agrícola doséculo XXI.

    * Economista e Consultor emComércio Exterior. Correio:[email protected]

    M

  • Marcos Arruda, economista do Pacs*ENTREVISTA

    8 jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003

    Jornal dos Economistas – Qual o balan-ço que você faz destes sete meses de Gover-no Lula?Marcos Arruda – Em um contexto de umgoverno muito contraditório. Em primeirolugar, temos que considerar que é um go-verno de coalizão entre vários partidos eque, portanto, carrega muito mais do queum projeto unipartidário, que seria o doPT. É um governo que é puxado para vári-os lados, ao mesmo tempo, mas é precisoreconhecer que a liderança desse governoé do PT e que o PT tem preparado histori-camente o seu programa para governar.

    Infelizmente, já no meio do ano pas-sado, antes das eleições, vimos o PTabrir mão do essencial do projeto

    de governo dele para costuraressa aliança, que resultou emum perfil que, de jeito ne-nhum, está correspondendoao que a maioria dos eleito-

    res esperava. Tenho a convicçãode que as escolhas que o Governo

    Lula tem feito nos primeiros sete me-ses de mandato são equivocadas, no

    essencial. Elas partem de um conceito quedesvincula o econômico do social. Essas po-líticas constroem toda uma configuração vol-tada para o social, que não toma como refe-rência nem as fontes de financiamentos quese precisa gerar para viabilizar os projetossociais, nem tampouco as políticas macroeco-nômicas que são as que marcam ou aviabilização de uma política voltada para osocial ou a inviabilização da mesma. A or-dem social é gerada pela ordem econômicae o Governo Lula tem teimado em ignoraressa profunda interconexão entre os doiscampos. Nós vimos o Plano Plurianual (PPA)como um exemplo gritante disso.

    JE – Como assim?MA – O PPA teve grandes vantagens. Elefoi relativamente democratizado, abriu odebate, com 2 mil e 200 pessoas pelo Bra-sil afora debatendo o PPA com o Governo.Mas, ao mesmo tempo, se a gente exami-nar a fundo, o PPA é uma declaração deintenções que não tem os elementos quegarantam e mostrem que aqueles objetivosvão ser tornados viáveis; e essa seria toda

    Continuidade ou rupturaEconomista do Instituto Políticas Alternativaspara o Cone Sul (Pacs), Marcos Arruda é con-temporâneo das gerações que hoje alcança-ram o governo, com a eleição do PresidenteLula. E um crítico das opções que têm sido fei-tas pela equipe econômica atual. Em breve, lan-çará um livro com as cartas que, nos últimosanos, enviou a Lula e ao atual ministro chefedo Gabinete Civil, José Dirceu, propondocaminhos e alertando dos perigos daspolíticas em curso. Já está à ven-da, também, o livreto que produ-ziu, em parceria com o economis-ta Pedro Quaresma, in-titulado “Governo Lula e oacordo com o FMI: exis-tem alternativas”. Paraele, ainda há esperan-ças. Porém, seu grandetemor é a constataçãodo contínuo afastamen-to do PT das suas basese o seu distanciamentocada vez maior da socie-dade. A seguir, a entrevis-ta que concedeu ao JE na pe-núltima semana de agosto, emque assinala que o GovernoLula está vivendo o dilema dacontinuidade com o modeloherdado ou da sua ruptura.

  • Arq

    uivo

    Pac

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    9jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003

    uma discussão de fontes de financiamentopara realização do projeto de investimen-tos que o governo está propondo. A au-sência disso torna, como bem disse o Fiori(José Luiz Fiori, cientista político), em bre-ve análise que fez sobre o PPA, a promessado céu, sem dizer nada do que fazer en-quanto estamos na terra. É um exemplo dadesvinculação profunda que o governo temlevado entre o econômico e o social.

    JE – Quais as alternativas que poderiamter sido adotadas, desde o início do Go-verno, em particular em relação ao acor-do com o FMI?MA – Começo comentando que temos –eu e o Governo – uma aprofunda diver-gência em relação à estratégia que foi ado-tada para construir o Governo Lula, emquatro anos. A estratégia que propus, emdebate e em forma escrita, era aproveitarjustamente os primeiros seis meses paraanunciar e iniciar a reorientação do rumodas políticas macroeconômicas, no mo-mento em que o governo tem mais cacife,mais apoio social. Era ali que ele tinha queestar sinalizando e iniciando o processode mudanças para as quais foi eleito. Eleescolheu o caminho inverso: vamos paci-ficar os mercados internacionais, primei-ro. Mas são esses mercados que têm sebeneficiado cronicamente da crise. Em ter-mos de alternativas, diria que já perdemossete meses para iniciar o processo de mu-danças, e as mudanças tinham que partirdo macroeconômico, e não do social, por-que os impactos de uma mudança no cam-po econômico seriam integrais, na econo-mia e na sociedade.

    JE – Quais as conseqüências dessa opção?MA – Não ter feito isto significa que vai terde fazer, agora, com muito mais pena. Ou,então, vai ficar adiando até ficar impossí-vel fazer. O primeiro aspecto, portanto, éeste: colocar como eixo central uma políti-ca que não siga os rumos que o FMIpropugna. Qual é o espírito e a prática cen-tral que têm levado o FMI nos seus paco-tes de ajuste? É uma concepção monetaris-ta, de que é preciso controlar a moeda e ainflação e, através desse controle, fazer comque haja uma estabilidade econômica. Essalógica tem sido o fundamento de uma cres-cente concentração de renda e de riqueza,que tem estado na raiz dos desastres que a

    gente tem visto pelo mundo afora, inclusi-ve, o mais recente, a Argentina. Mudar derumo significa falar e fazer crescimento eco-nômico. A base desse crescimento tem queser redistribuição de renda e a restituiçãoao governo da capacidade de investir. Acapacidade de investir está lá na políticaorçamentária. É verdade que, no primeiroano, o governo está atrelado ao PlanoPlurianual (PPA) de Fernando HenriqueCardoso – há limites, então, nesse campo.Mas não havia em outros campos, em queera possível ter começado uma reativaçãoda atividade econômica, com redistribui-ção de renda.

    JE – Como, por exemplo?MA – Há instrumentos como, por exem-plo, os de combate à sonegação ou os queo BC tem para tocar imediatamente nascontas CC5 e parar com essa sangria per-manente de dinheiro que parte para fora,legalizada pelo Banco Central. Há umasérie de medidas que, em curto prazo,poderiam colocar de novo os recursos nasmãos do governo para ele investir ade-quadamente em reativação da economia.

    JE –Que postura, em sua opinião, o Go-verno Lula deveria ter tomado em feverei-ro, na primeira revisão do acordo com oFMI feito pela nova gestão?MA – Primeiro, em dezembro, quando oHorst Köhler veio visitar o Lula, ele já po-dia ter anunciado, pois já estava eleito, ti-nha base política para poder anunciar aoFMI um outro tipo de relação entre o Bra-sil e o Fundo. Vamos lembrar que quemestá colocando todas as cartas na mesa,com uma autonomia respeitável e semqualquer instrumento e cacife de negoci-ação política, neste momento, é NéstorKirchner, na Argentina. Sem nenhuma basede estabilidade no país, ele tem dito: nósqueremos fazer isso, não aceitamos imporaumento de tarifa imediatamente, mais issoe aquilo, e o FMI está aceitando as condi-ções que a Argentina coloca.

    JE – Mas ele faria isso sem o cenário Lulacriado ou a Argentina está fazendo issoexatamente porque hoje existe o fator Lula,no Brasil?MA – É difícil responder, é hipotética aresposta, mas que o Brasil com Lula facili-ta, é verdade. Mas está acontecendo o

    contrário: a Argentina está dizendo isso eo Brasil, não. A essência do artigo do AtílioBorón (cientista social argentino, em tex-to que circulou pela internet) é essa: alertaro Brasil para o fato de que todo o tempoem que a Argentina tomou decisõesmacroeconômicas favoráveis ao FMI, re-cebeu elogios retumbantes da sua fideli-dade, clarividência e correção. Ele alertade que há tempo para o Brasil parar deseguir o caminho imitador, que é de fra-casso certo, desastre anunciado.

    JE – Mas ao colocar alternativa para agestão macroeconômica e, ao mesmo tem-po, acenar para uma renegociação dasdívidas não seria justamente criar um cli-ma de insegurança junto aos investidoresinternacionais?MA – Acho que o mundo do capital po-deria até aprofundar suas intervençõespara enfraquecer e inviabilizar o GovernoLula. Isto é um risco real. Mas eu apostariana capacidade persuasiva do novo gover-no em convencer esses investidores de queo Governo Lula é acolhedor do capitalexterno que vier investir em crescimentoeconômico. Essa é a única coisa coerentecom o próprio projeto do Governo Lula.Claro que pode haver uma diminuição dofluxo de capital estrangeiro, mas era pre-ciso mostrar com números (só que oHenrique Meirelles não seria a pessoa certapara fazer isso) ao FMI: vocês não con-tinuando a investir no Brasil estarão ge-rando no país uma impossibilidade decontinuar pagando. Interessa a vocês con-tinuarem investindo no Brasil.

    JE – O Governo Lula, para alguns, é me-nos um governo de coalizão e mais umgoverno de disputa. Você acha que o mo-vimento social do Brasil está preparado,por exemplo, para interferir na decisãodo PPA?MA – Mais preparado do que em qual-quer outro país. As Leis de Diretrizes Or-çamentárias (LDOs) são aprovadas ano aano e o PPA é plurianual. Então, se conse-guirmos aprovar um PPA inteligente, coe-rente, que não só enuncie objetivos, masenuncie quais políticas econômicas vão

  • 10 jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003viabilizar esses objetivos, um documentode estratégia e não um documentoescatológico, a gente consegue condicio-nar as novas LDOs que vão aparecer anoa ano. É uma questão de começar um novoprocesso. Acho que o tema que é divisorda discussão é o seguinte: ou continuida-de ou ruptura. Não vejo uma terceira al-ternativa entre essas duas. Não é possívelfazer continuidade, mudando, como que-ria o (José) Serra. Você não muda e, sim,continua! É o que está acontecendo. Exis-te um ponto de inflexão que é fundamen-tal e eu acho que o Governo Lula tinhacondições, melhor do que qualquer go-verno na América Latina, de fazer umamudança de rumo logo no início. Colocarnovos termos na discussão.

    JE –Você disse que não tem como fugir dodilema ruptura ou continuidade. O Go-verno Lula seria levado em algum mo-mento a essa decisão?MA – Ele vai sim, queira ou não.O caminho que escolher vai de-pender muito mais do que tudoda presença da sociedade civilnas ruas. É preciso, e insistotodo o tempo, que a sociedadese ponha em campo, continua-mente, para pressionar o Gover-no Lula pelos seus interesses. Por-que o outro lado está sabendo sedefender muito bem, e está conse-guindo ganhar a quebra de braço.Ou a sociedade banca esse enfrenta-mento ou o Governo vai ser levado para ooutro lado, como já está sendo.

    JE – Você crê na possibilidade de estabele-cer um outro tipo de acordo com investi-dores internacionais importantes, que sãohoje as filiais das multinacionais instala-das no Brasil? Caberia espaço para umanegociação que não fosse com a turma deWall Street, mas com a de Detroit?MA – Essa é uma ótima pergunta. Peloque tenho pesquisado, me parece que émenos uma questão de atores do que demecanismos de política econômico-mone-tária. Se for falar em atores, veremos queuma grande quantidade de atores produ-tivos está continuamente tentada a inves-tir no financeiro porque rende mais, commuito menos esforço e risco. Então, elesse financeirizaram. Por que? Porque os me-canismos e a política global facilitam e con-vidam a isso. Por isso, me parece muitomais importante que o governo acene comessa política de redução da taxa de juros

    reais e que obrigue, pela própria realidadeque se cria, de uma nova demanda efetiva– que hoje é demanda reprimida, brutal-mente – os capitais a investirem onde vairender mais. Já não é no mercado financei-ro, é no setor produtivo da economia, nasrespostas às necessidades. Sem essa mu-dança de mecanismos e de concepção depolítica monetária não se vai conseguirconvencer ator nenhum. Não é uma ques-tão de papo com os atores. É uma questãode mecanismos e de políticas monetárias efinanceiras a serviço do país.

    JE – Soberania e novas regras de funcio-namento...MA – Novas regras e soberania. Natural-mente, os atores vão se reajustar às no-vas regras.

    JE – As sabotagens da direita in-ternacional poderiam seraplacadas simplesmentecom a constituição de no-vas regras de funcionamen-

    to da economia?MA – Eu nunca penso a eco-

    nomia de forma isolada. Acho quea economia tem um componentecultural, ideológico, fortíssimo. En-tão, é preciso que o governo este-ja educando tanto a populaçãoquanto os atores estrangeiros paraa sua nova concepção. É preciso

    romper o paradigma velho e ter acoragem de dizer: o mundo não foi

    feito sempre assim e nem vai conti-nuar sendo. Nós vamos inaugurar um

    novo caminho... E só se pode quebrarparadigma dizendo: havia um modo deexistir que não é o único possível. O Go-verno Lula tem meios para fazer isso. Temforça. Ele tem que confiar mais no povo.Mas ele parece que esqueceu que a maio-ria de eleitores, a massa de trabalhadores,vai estar dando fundamento e apoio paraele fazer as mudanças que são necessári-as. Isso é um argumento fortíssimo.

    JE – O Governo Lula é composto por umageração de políticos e militantes do movi-mento social da qual você faz parte e aqual você conhece muito bem. O que acon-teceu nos últimos anos, principalmente emtermos de opções políticas por parte da di-reção nacional do PT, principal responsá-vel pelo Governo Lula, que tem produzido,no mínimo, esse tipo de perplexidade, emvários setores da esquerda, brasileira emundial?

    MA – O meu temor é que o que tenha acon-tecido nesses 14, 15 anos de luta institucio-nal do PT, desde 1988, quando ganhamosas primeiras prefeituras e viemos conquis-tando espaços cada vez maiores na luta po-lítica institucional, é um gradual afastamentodas bases do PT e da sociedade. Isso eu jávi acontecer em vários países do mundo,não é novidade nenhuma. O que era novi-dade era o PT continuar sendo um partidode massas, num mundo onde não existempartidos de massas, não existe um partidopluralista, que abre espaço para o debate,que não tem centralismo democrático, quegera participação, organiza as bases em to-dos os recantos do país, isso era a novida-de. O PT é olhado pelo mundo afora – to-dos os países e os povos que lutam poruma humanidade emancipada olham parao PT com encantamento, porque é o únicoholofote que ainda brilha num mundo emque a esquerda inteira está em crise, nãosabe que caminhos seguir.

    JE – E o que isso significa?MA – É o impasse das esquerdas. Contraum projeto privatista do capital se ergueuum projeto estatista, que se chamou e seidentificou com o socialismo e esse foi umcaminho equivocado porque estatismo é oEstado no poder e socialismo é a sociedadeno poder, com uma economia construída apartir da sociedade. A esquerda, não tendoesse horizonte, acabou intimidada pelo fra-casso dos Estados no poder, que foram oschamados socialismos reais, que eu chamomais de virtuais. O resultado disso é que atéhoje estamos apalpando em busca de cami-nhos. Está inscrito em mil constituições “opovo no poder”, mas, na prática, isso nãoexiste. O PT estaria sendo o expoente quevai levar isso à prática. Onde foi parar o pro-jeto de “povo no poder”? Parece que sepul-tado, sob o encantamento do que é fazerpolítica institucional, ao ponto de o PT estarse desfigurando e se tornando um partidode quadros, vertical, autoritário, onde o pe-queno grupo da direção dita as regras eobriga todo mundo a seguir, cegamente, estecaminho. Este é o fim de qualquer projetode socialismo. Muito menos, socialismo de-mocrático. Este é o meu temor. É claro quenão julgo todo mundo sob um só padrão.Cada pessoa, a começar pelo Lula, tem umgrau diferente de compromisso ainda como projeto original. Eu sou um, dentro do PT,que luto pelo resgate do PT original, que éo PT do projeto da sociedade no poder.

    * Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul

  • 12 jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003ESTUDOS Solange Srour*

    Crises cambiais:um modelo aplicado

    à desvalorização do realse da paridade do poder de compra (PPP).Segundo esta hipótese, a taxa de câmbionominal entre dois países é determinada pelarelação entre seus níveis de preços.

    A PPP baseia-se Lei do Preço Único es-tendida para o nível de preços agregadoda economia e aplicada a um mercado com-petitivo integrado. Se a PPP é sempre váli-da, então a taxa de câmbio real é estacio-nária. Assim, os modelos que assumem aparidade do poder de compra não permi-tem explicar crises de realinhamento emregimes de câmbio fixo, onde a apreciaçãoda taxa de câmbio real deve ser necessari-amente revertida através do estreitamentodo diferencial de inflação entre o país do-méstico e o país estrangeiro ou através deum ataque especulativo que force umadepreciação da taxa de câmbio nominal.

    O principal objetivo deste artigo é de-senvolver um modelo que permita anali-sar crises causadas por choques exógenos,que modificam a taxa de câmbio real deuma economia cujo regime cambial é fixo.Logo, um modelo para este tipo particularde crise não pode assumir a validade daPPP em todos os momentos, mas apenasconsiderá-la como condição de equilíbrio.Nesta abordagem, qualquer alteração dataxa de câmbio real implica que se a eco-nomia mantiver a taxa de câmbio nominalfixa, terá que passar inevitavelmente poruma trajetória de ajuste do nível de pre-ços doméstico até alcançar novamente oequilíbrio da taxa de câmbio real.

    A desvalorização do real

    O interesse por crises deste tipo foi es-timulado pelas crises ocorridas em diver-sas regiões, desde 1997, e pela observa-ção do custoso processo de ajuste deeconomias que mantiveram o regime cam-bial fixo, como Brasil e Argentina, mesmoapós a ocorrência de vários choquesexógenos.

    Um assunto bastante discutido nos últimos anos no campo daEconomia Internacional é o fenômeno das crises cambiais. Gran-de parte deste interesse deriva do fato de que a última décadafoi um dos períodos da história econômica mais repletos deexemplos de crises cambiais, que englobam desde as da Euro-pa, no início dos anos 90, até as mais recentes, como as daRússia, Brasil e da Argentina.

    partir dessa extensiva evidênciaempírica, a modelagem teórica so-

    bre crises cambiais avançou nas mais di-versas direções. Os modelos que surgiramnos últimos anos conseguem conciliar téc-nicas que estão na fronteira do conheci-mento econômico com uma estrutura sim-plificada, permitindo a compreensão defenômenos bastante complexos.

    Apesar de tantos avanços teóricos e dasevidências que conectam crises cambiais aflutuações da taxa de câmbio real, a maioriados modelos continua assumindo a hipóte-

    A

  • 13jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003

    A contrapartida desta resistência foi umprocesso de retração econômica, aumen-to do desemprego, instabilidade políticae uma grande vulnerabilidade do regimecambial às expectativas dos agentes eco-nômicos. Entretanto, o interesse particu-lar do artigo é desenvolver um modeloespecífico para o caso brasileiro, que ex-plique a desvalorização do real, em 1999,com base em fundamentos reais.

    O artigo apresenta um modelo de cri-ses cambiais no qual a variável que con-duz a crise é o nível de produto. Esta éuma tentativa de explorar a lógica de umtipo de crise, onde a queda do produtocausada por choques exógenos torna amoeda doméstica frágil e suscetível a umataque especulativo.

    Isto ocorre porque a retração do nívelde atividade diminui o bem estar do gover-no, que fica mais disposto a abandonar oregime de câmbio fixo e aliviar as pressõesrecessivas sobre a economia. A queda donível de produto pode ser vislumbradacomo uma variável que sintetiza váriosoutros distúrbios sofridos por um país emdecorrência de choques, como, por exem-plo, aumento do desemprego, diminuiçãodo apoio político do governo, deteriora-ção do bem estar dos agentes e outros.

    No modelo desenvolvido, o país queadota o regime de câmbio fixo não possuiproblemas fiscais, ou seja, a restrição or-çamentária intertemporal do governo érespeitada. Será assumida a hipótese maisforte de que a economia tenha, a todomomento, um orçamento equilibrado eque o setor fiscal não interfira na determi-nação do nível de produto. Este tipo deabordagem simplificado é bastante ade-quado para explicar crises em sistemas decâmbio cujo principal problema não é ocrescimento explosivo do déficit fiscal e,sim, a enorme vulnerabilidade externa,como o caso do Brasil em 1999.

    Fator de persistência

    A característica distintiva deste mode-lo em relação à maioria dos modelos desegunda geração, que também focalizamcrises cambiais causadas por queda donível do produto, é que não será assumi-

    da a hipótese da paridade do poder decompra (PPP). Desta forma, o nível depreços da economia não será totalmenteflexível e o produto não voltará rapida-mente ao seu nível de pleno emprego apósa ocorrência de um choque exógeno.

    Há, assim, um fator de persistência doschoques na dinâmica de ajuste da econo-mia. Um determinado choque pode terseus efeitos ainda presentes na economiavários períodos após sua realização e tor-nar o regime cambial mais frágil diante deoutros choques. Quando o ajuste da eco-nomia aos choques não é instantâneo, umacrise cambial pode ser derivada da con-junção dos efeitos de diversos choquespequenos ao longo do tempo, e não ne-cessariamente resultado da ocorrência deum único choque de grande magnitude.

    Em uma economia onde os preços nãosão totalmente flexíveis, os choques nãoafetam apenas as trajetórias das variáveisnominais, mas também das variáveis reais.Isto permite analisar crises de rea-linhamento, ou seja, crises originadas pelanecessidade de ajuste das variáveis reais,como o caso brasileiro. O principal objeti-vo do modelo é estudar crises de reali-nhamento da taxa de câmbio real, isto é,crises causadas por desvios da taxa real decâmbio em relação ao seu nível de equilí-brio. O modelo identifica a queda do pro-duto como a variável mais importante nacondução dos ataques, porém, as condi-ções geradoras desta queda são a aprecia-ção real da taxa de câmbio e a conseqüen-te perda de competitividade da economia.

    Estes fatores parecem estar presentesna maioria das crises cambiais descritas naliteratura. Apesar de vários modelos, prin-cipalmente, os de primeira geração, for-necerem explicações para as apreciaçõesobservadas nos períodos que precedem aocorrência das crises, tais modelos nãoatribuem à apreciação real a causa princi-pal da crise cambial.

    Há diversas formas de modelar crisesde realinhamento, pois, muitas variáveisafetam a taxa de câmbio real, tanto direta-mente quanto indiretamente. Neste mode-lo, a taxa de câmbio real será afetada porrealizações de choques aleatórios na ba-lança de pagamentos. Tais choques podem

    causar tanto expansões quanto contraçõesda oferta monetária que terão efeitos sobreo produto, o nível de preços e conseqüen-temente sobre a taxa de câmbio real.

    Os choques aleatórios podem represen-tar diversos eventos exógenos à econo-mia, cuja realização não pode ser perfeita-mente antecipada pelos agentes privadose pelo governo, como, por exemplo, umaqueda (ou alta) no preço internacional,uma queda (ou alta) da taxa de juros in-ternacional, uma desvalorização (ou valo-rização) real da moeda de um parceirocomercial ou outros fatores que alterem oequilíbrio da conta corrente e/ou da con-ta capital do balanço de pagamentos.

    Alguns efeitos de contágio entre paí-ses também podem ser transmitidos atra-vés dos choques. Por exemplo, um defaultna dívida externa de um país similar podecausar uma fuga de capitais do país do-méstico, ou seja, ter as características deum choque negativo na conta capital.

    Os choques modificam a trajetória dasvariáveis macroeconômicas e a disposiçãodo governo em defender a taxa de câm-bio. Se os agentes conhecem a função uti-lidade do governo e sabem que este estádisposto a abandonar a paridade diantede condições adversas, formarão expecta-tivas racionalmente, incorporando a pos-sibilidade de alteração de regime. O regi-me não terá então credibilidade perfeita,ou seja, dependendo das especificaçõesda função distribuição dos choques e dosparâmetros do modelo, é possível haversempre uma probabilidade positiva deabandono da paridade.

    Uma vez que as expectativas dos agen-tes de abandono da paridade afetam ocomportamento das variáveis macroeco-nômicas, os efeitos dos choques na eco-nomia não são iguais aos efeitos dos mes-mos choques no caso em que o governopossui credibilidade perfeita, ou seja,quando os agentes não esperam umamudança de regime cambial qualquer queseja o estado da economia.

    Em um regime de câmbio fixo quecarece de credibilidade perfeita, a respos-ta de algumas variáveis, como nível deproduto, nível de preços, estoque mone-tário, nível de desemprego, taxa de jurosdoméstica, entre outras, aos choquesexógenos à economia é sensível ao com-portamento do governo, à formação das

    Quanto menor for a credibilidade dos agentes no regime decâmbio fixo, maior será o grau de desconforto do governo emaior será a probabilidade de ocorrências de crises.

  • 14 jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003

    expectativas dos agentes privados e àmaneira como estes dois setores da eco-nomia se relacionam. Tal interação é umaspecto fundamental do modelo. Quantomenor for a credibilidade dos agentes noregime de câmbio fixo, maior será o graude desconforto do governo e maior será aprobabilidade de ocorrências de crises.

    Por sua vez, quanto maior for o grau dedesconforto do governo, maior serão asexpectativas de mudança de regime. Destaforma, a ocorrência de crises cambiais podese tornar um fenômeno mais freqüente emum país com um regime de câmbio fixocom pouca credibilidade. Em alguns casos,as crises podem até mesmo ser causadaspela falta de credibilidade, ou seja, podemser resultado de profecias auto-realizáveis.

    Em suma, pode-se identificar como asprincipais motivações do modelo, a análi-se de crises originadas da necessidade deajuste da taxa de câmbio real, cujodesequilíbrio gera desconforto ao gover-no, através de variações no nível de pro-duto e a avaliação de como o comporta-mento dos agentes afeta tal ajuste e torna

    a economia mais vulnerável às crises. Oentendimento destas questões explicagrande parte da crise brasileira de 1999.

    A conclusão do artigo é que deixar asflutuações da taxa de câmbio real de ladona análise de crises cambiais pode sermuito custoso. O modelo tem várias im-plicações interessantes. Foi mostrado queas expectativas dos agentes têm papel fun-damental no processo de evolução dasvariáveis endógenas.

    Em um regime sem credibilidade per-feita, os efeitos dos choques exógenos são“magnificados” pelas expectativas de aban-dono do regime. Quando os preços nãosão totalmente flexíveis, as crises cambi-ais podem ser resultado da conjunção depequenos choques ao longo do tempo enão necessariamente conseqüências de umúnico choque de grande dimensão.

    Nestes casos, uma crise pode serdeflagrada, mesmo após um longo perío-do da ocorrência de um choque exógenosignificativo. A vulnerabilidade do regimee o ajuste da economia dependem de vá-rios parâmetros, entre os quais estão os

    custos de saída, que justificariam a ado-ção de regimes mais rígidos.

    Os resultados do modelo também pos-sibilitam o esclarecimento de outras crises,como a da Argentina. Os choques exógenossofridos por este país e o processo recessivoprolongado colocaram a economia em umasituação bastante vulnerável. A baixacredibilidade do regime fez com que oacúmulo de diversos choques levasse aoabandono do currency board.

    Por ter um custo de saída maior, ocurrency board faz com que o regime cam-bial seja mais resistente diante de situa-ções adversas, em relação aos demais ti-pos de regimes de câmbio fixo, masembute um difícil processo de ajuste. Estepode agravar os fundamentos, de tal for-ma que compense ao governo incorrer nosaltos custos de mudar o regime cambial.

    * Economista, premiada em segundo lugar no X Prê-mio Brasil de Economia (2002), na categoria Artigo.O texto acima é um resumo do texto, cujo título ori-ginal é “Crises cambiais: um modelo relaxando a hi-pótese da PPP aplicado à desvalorização do real”.

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    Correio eletrônico: [email protected] - Portal: www.corecon-rj.org.br - www.fporj.blogger.com.br – Reuniões do Fórum: quintas-feiras, às 18h, na sede do CORECON-RJ

    FÓRUM POPULAR DO ORÇAMENTO

    15jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003

    análise do primeiro semestredo Orçamento do municípiodo Rio revela que os rema-

    nejamentos de recursos foram todospara atender ao Poder Executivo.

    O acompanhamento do orça-mento de 2003 revela que, até 30de junho último, o total de recur-sos remanejados pelo prefeito dacidade do Rio de Janeiro foi de R$870.683.665,00. O saldo dosremanejamentos de todas as secre-tarias, isto é, o que foi reforçadosubtraindo o que foi retirado, foida ordem de R$ 402.991.937,10.

    O saldo positivo indica a utili-zação de recursos financeiros pro-venientes de superávit financeiro,excesso de arrecadação, convêniose etc. No entanto, o resultado glo-bal positivo não quer dizer que to-

    Orçamento Rio no semestreremanejamentos = R$ 870 milhões

    pal de Saúde que conta com umacréscimo de R$ 41.842.033, o que,levando em consideração sua au-torização de gasto para o ano de2003 - de cerca de R$ 1,3 bilhão,não chega a ser um grande reforço.Representa 3,02% de acréscimo emrelação à sua dotação inicial.

    A Secretaria Municipal de Edu-cação (SME) é outra que, até omomento, está sendo poucofavorecida. Com a dotação inicialprevista em torno de R$ 1,2 milhão,teve um aumento quase insignifi-cante, de menos de R$ 28 milhões,ou 2,36% de acréscimo na previ-são. Esse aumento na SME, junta-mente com o da Secretaria Munici-pal de Habitação, que foi inferior aR$ 37 milhões, foi superado peloaumento nos Encargos Gerais doMunicípio, para onde a prefeiturarealocou cerca de R$ 43 milhões.

    Os programas de trabalho quese encontram na Câmara Munici-pal e no Tribunal de Contas, isto é,os programas que fazem parte doPoder Legislativo, em nada foramalterados no primeiro semestre.Ambos possuem disponíveis asmesmas dotações previstas – de R$179.060.777,00 e R$ 66.497.000,00,respectivamente. Vemos que, tudoo que foi remanejado nesse semes-tre, refere-se ao Poder Executivo.

    Das 22 secretarias, seis delasencontram-se com saldo de rema-nejamento negativo, além daControladoria Geral, que conta commenos R$ 4 milhões. Dentre estas,pode-se destacar a Secretaria deFazenda, de onde foram retiradosR$ 17.271.863,00 – o que reduz em15,61% a sua dotação inicial; a Se-cretaria de Urbanismo, que temmenos 15,42% de sua dotação ini-cial, e a Secretaria Especial de De-senvolvimento Econômico, que dopouco previsto para esse ano –cerca de R$ 3,7 milhões – foramretirados R$ 2,7 milhões, deixandoessa secretaria desfavorecida em72,93%. Por fim, a reserva de con-tingência do município encontra-se com menos R$ 26.372.484,00.

    das as secretarias tenham sidofavorecidas. Desde o começo do e-xercício até o momento da análise,destaca-se a Secretaria Municipal deObras e Serviços Públicos como amais beneficiada. Com um acrésci-mo de R$ 178.547.428,51 em seu or-çamento, é responsável por 44,31%do saldo obtido pelas secretarias.

    Ou seja, os gastos com obrase serviços públicos têm sido fei-tos sem nenhuma restrição orça-mentária, já que com os acrésci-mos feitos por remanejamentos asecretaria já conta com uma dis-ponibilidade financeira 88%maior do que sua autorização degasto inicial, que foi de R$202.889.789,00. Cabe dizer queesse aumento ainda não inclui asobras destinadas à realização dos

    Jogos Pan Americanos de 2007,que provavelmente demandarãogastos ainda maiores.

    Números das desigualdadesOutra beneficiada com os re-

    manejamentos é a Secretaria Munici-pal das Culturas, que conta com umacréscimo de R$ 45.056.021,00, ou,11,18% do saldo total obtido nos re-manejamentos, expandindo a do-tação inicial – que era de R$41.206.004,00 – em 109,34%. Valeressaltar que dessa quantia R$ 41 mi-lhões são destinados ao Projeto deImplantação de Museus, sendo queR$ 30 milhões estão empenhadossomente para o pagamento do usodo nome do Museu Guggenheim.

    Com isso, a Secretaria das Cul-turas supera a Secretaria Munici-

    A

    ANÁLISE INICIAL DOS REMANEJAMENTOS 2003TOTAL REMANEJADO NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2003 870.683.665,00

    SECRETARIAS DOTAÇÃO INICIAL REMANEJAMENTO % %(remenejamento/ (remanejamento/

    /saldo) dotação inicial)

    Poder Executivo

    10-Secretaria Municipal de Governo 22.945.358,00 -3.269.900,00 -0,76% -14,25%11- Gabinete do Prefeito 44.753.854,00 19.999.121,36 4,66% 44,69%12-Controladoria Geral do Município 19.177.720,00 -4.000.000,00 -0,93% -20,86%13-Secretaria Municipal de Administração 24.745.230,00 -4.305.000,00 -1,00% -17,40%14- Secretaria Municipal de Fazenda 110.658.748,00 -17.271.863,00 -4,02% -15,61%15- Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos 202.889.789,00 178.547.428,51 41,58% 88,00%16-Secretaria Municipal de Educação 1.175.267.469,00 27.729.340,00 6,46% 2,36%17-Scretaria Municipal de desenvolvimento Social 183.428.675,00 9.160.133,22 2,13% 4,99%18-Secretaria Municipal de Saúde 1.385.775.062,00 41.842.033,00 9,75% 3,02%19-Secretaria especial de desenvolvimento econômicociência e tecnologia 3.724.198,00 -2.716.000,00 -0,63% -72,93%22-Procuradoria geral do município do rio de janeiro 36.300.966,00 1.240.000,00 0,29% 3,42%23-Secretaria Municipal de Urbanismo 19.500.341,00 -3.006.631,00 -0,70% -15,42%24-Secretaria Municipal de Meio Ambiente 66.819.058,00 17.331.719,00 4,04% 25,94%25-Secretaria Municipal de Esporte e Lazer 118.687.397,00 34.965.026,00 8,14% 29,46%26-Secretaria Municipal de Trabalho 20.252.471,00 9.036.407,00 2,10% 44,62%28-Secretaria Especial de Projetos Especiais 477.959,00 0,00 0,00% 0,00%29-Secretaria Municipal de Transportes 28.894.545,00 -1.937.513,00 -0,45% -6,71%30-Secretaria Municipal das Culturas 41.206.004,00 45.056.021,00 10,49% 109,34%31-Encargos Gerais do Município 1.952.920.183,00 43.180.279,00 10,06% 2,21%32-Secretaria Municipal de Habitação 185.051.165,00 36.805.303,37 8,57% 19,89%33-Secretaria Especial de Turismo 460.666,00 0,00 0,00% 0,00%34-Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos 5.864.440,00 0,00 0,00% 0,00%36-Secretaria especial de prevenção a dependência química 3.044.779,00 0,00 0,00% 0,00%37-Secretaria Especial da Terceira Idade 2.551.234,00 0,00 0,00% 0,00%38-Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais 5.663.262,00 0,00 0,00% 0,00%39-Secretaria Especial de Comunicação Social 0,00 978.516,64 0,23%

    SALDO DAS SECRETARIAS 429.364.421,10 100,00%

    Poder Legislativo

    20-Câmara municipal do rio de janeiro 179.060.777,00 0,00 0,00%21-Tribunal de contas do município do rio de janeiro 66.497.000,00 0,00 0,00%

  • 16 jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003jornal dos economistas - agosto de 2003

    ois cursos de especializa-ção em projetos de inves-timento e matemática

    financeira terão início, em se-tembro, no Conselho Regionalde Economia – Corecon-RJ. Ocurso de Avaliação de Projetosde Investimento começará nopróximo dia 29 de setembro e,no dia seguinte, terá início ode Matemática Financeira. Osdois cursos concederão bolsasde estudos, equivalentes a 50%do valor de cada um.

    O curso de Avaliação de Pro-jetos de Investimento irá até odia cinco de novembro. Seuobjetivo é analisar os principaisindicadores de seleção e ava-liação de projetos de investi-mento, através de instrumentalpróprio sensível a riscos e fle-xibilidade gerencial. Seu con-teúdo contém itens como Taxade Retorno, Custo de Capital,Índice de Lucratividade, risco eincerteza, construção e análisede fluxo de caixa e ponto deequilíbrio das operações.

    As aulas serão às segundas

    Conselho promove cursosA partir do final de setembro, têm início noCorecon os cursos de Avaliação de Projetosde Investimentos e de Matemática Financeira.Serão concedidas bolsas

    e quartas-feiras, das 18h30 às21h30, ao custo de R$ 340, mi-nistradas pelo economistaEduardo de Sá Fortes, mestreem Economia Empresarial pelaUniversidade Candido Mendes.

    Matemática

    O curso de Matemática Fi-nanceira terá a duração exatade um mês, iniciando-se no dia30 de setembro e com encerra-mento no dia 30 de outubro,às terças e quintas-feiras. A gra-de do curso inclui conceitosbásicos de matemática financei-ra, conceito e forma de repre-sentação de fluxo de caixa, ta-xas de juros, capitalização,amortização, etc.

    As aulas serão dadas peloeconomista Mauro Ricardo deMattos, contador e pós-gradu-ado em Administração pelaCoppead-UFRJ e mestrando emEconomia Empresarial pelaUCM, além de analista da Co-missão de Valores Mobiuliáriose professor da Estácio de Sá.

    CURSOS DO CORECON-RJ

    Avaliação de Projeto de InvestimentoPeríodo: 29/9 a 5/11Horário: 2ª e 4ª, 18h30 às 21h30Preço: R$ 340,00

    Matemática FinanceiraPeríodo: 30/9 a 30/10Horário: 3ª e 5ª, 18h30 às 21h30Preço: R$230,00 (duzentos e trinta reais)

    Local: Av. Rio Branco, 109 – 16º andarBolsa: Serão concedidas duas bolsas parciais de 50% do valor

    total. Para concorrer você deverá preencherum formulário específico.

    BIBLIOGRAFIA

    Avaliação de Projetos de InvestimentoBRIGHAM, Eugene F. Administração financeira: teoria e prática. São Paulo:Atlas, 2001.DIXIT, A. K.; PINDYCK, R. S. Investment under uncertainty. Princeton, N.J:Princeton University Press, 1994.LEMES, Antonio Barbosa. Administração financeira: princípios, fundamentose práticas brasileiras. Rio de Janeiro: Campus, 2002.

    Matemática FinanceiraPUCCINI, Abelardo de Lima. Matemática Financeira: objetiva e aplicada. 6ed. São Paulo: Saraiva, 1999. 308 p.SOBRINHO, José Dutra Vieira. Matemática Financeira. São Paulo: Atlas, 1998.ZENTGRAF, Roberto. Matemática Financeira objetiva. Rio de Janeiro:Editoração, 1997.FARIA, Rogério Gomes de. Matemática comercial e financeira. São Paulo:Mcgraw-hill do Brasil, 2000.MATHIAS, Washington F.; GOMES, José Maria. Matemática Financeira. 2 ed.São Paulo: Atlas, 1996.FARO, Clóvis de. Princípios e aplicações do cálculo financeiro. [S.L.]: LTC, 1995.JUER, Milton. Matemática Financeira. 4 ed. Rio de Janeiro: Ibmec, 1987.

    stá nas livrarias a novaedição do livro “Introdu-ção à economia – Da teo-

    ria à prática e da visão micro àmacroperspectiva”, do profes-sor Nilson Holanda, editadopela Editora Vozes. Elaborado,originariamente, para os cursosde economia da UniversidadeFederal do Ceará, o livro foieditado pela primeira vez em1978. A edição atual, de 2003,foi totalmente revisada e am-pliada pelo autor, com acrésci-

    Introdução à Economia tem nova ediçãomo de 15 capítulos em rela-ção à edição pioneira.

    Com 848 páginas, divididoem cinco partes – conceitosbásicos; problemas, questõese doutrinas econômicas; siste-ma econômico e oferta e pro-cura; microeconomia; e ma-croeconomia, o livro trazdefinições fundamentais,como a de Alfred Marshall, em“Principles of Economics”: “Aeconomia é o estudo da hu-manidade, no que diz respei-

    to a como ela vive, se movi-menta e pensa nos assuntosordinários da vida; todavia,trata principalmente daquelasmotivações que afetam de for-ma mais intensa e constante aconduta do homem na partecomercial de sua vida”.

    O livro de Nilson Holandapode ser obtido no Corecon,com descontos, através dosconvênios firmados pelo Con-selho com as principais edito-ras de livros do país.

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