ÓrgÃo oficial do corecon-rj e sindecon-rj cresce a ... · brasil mais desigual desigualdade...

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ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ Nº 188 MARÇO DE 2005 JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOS DOS DOS DOS DOS Levantamento feito pelo economista Marcio Pochmann, da Unicamp, aponta que aumentou a desigualdade entre os 10% mais ricos e os 20% mais pobres da população brasileira. Como superar esta desigualdade que marca historicamente a sociedade brasileira? O economista propõe alguns cami- nhos, em entrevista ao JE. Páginas 8 A mobilização A mobilização A mobilização A mobilização A mobilização contra a contra a contra a contra a contra a 7ª Licitação da ANP 7ª Licitação da ANP 7ª Licitação da ANP 7ª Licitação da ANP 7ª Licitação da ANP Página 3 Editora lança Editora lança Editora lança Editora lança Editora lança as obras r as obras r as obras r as obras r as obras reunidas de eunidas de eunidas de eunidas de eunidas de Ignácio R Ignácio R Ignácio R Ignácio R Ignácio Rangel angel angel angel angel Página 16 Crítica à Crítica à Crítica à Crítica à Crítica à visão do novo visão do novo visão do novo visão do novo visão do novo desenvolvimentismo desenvolvimentismo desenvolvimentismo desenvolvimentismo desenvolvimentismo Página 5 Cresce a desigualdade no Brasil Cresce a desigualdade no Brasil

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Nº 188 MARÇO DE 2005JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOSDOSDOSDOSDOS

Levantamento feito pelo economista Marcio Pochmann, da

Unicamp, aponta que aumentou a desigualdade entre os 10%

mais ricos e os 20% mais pobres da população brasileira.

Como superar esta desigualdade que marca historicamente

a sociedade brasileira? O economista propõe alguns cami-

nhos, em entrevista ao JE.

Páginas 8

A mobilizaçãoA mobilizaçãoA mobilizaçãoA mobilizaçãoA mobilizaçãocontra acontra acontra acontra acontra a

7ª Licitação da ANP7ª Licitação da ANP7ª Licitação da ANP7ª Licitação da ANP7ª Licitação da ANPPágina 3

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Crítica àCrítica àCrítica àCrítica àCrítica àvisão do novovisão do novovisão do novovisão do novovisão do novo

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Cresce a desigualdadeno Brasil

Cresce a desigualdadeno Brasil

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EDITORIAL

ÓrÓrÓrÓrÓrgão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial doCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJ

ISSN 1519-7387

Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial: Gilberto Alcântara, GilbertoCaputo Santos, José Antônio Lutterbach Soares, PauloMibielli, Paulo Passarinho, Rafael Vieira da Silva, Ro-gério da Silva Rocha e Ruth Espínola Soriano.

Editor: Editor: Editor: Editor: Editor: Nilo Sérgio GomesCorreio eletrônico: [email protected]ção:Ilustração:Ilustração:Ilustração:Ilustração: AliedoCaricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista: Cássio LoredanoDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e Finalização:inalização:inalização:inalização:inalização:Rossana Henriques (21) 2462-4885FFFFFotolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Impressão:essão:essão:essão:essão: TipológicaTTTTTiragem: iragem: iragem: iragem: iragem: 13.000 exemplaresPPPPPeriodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade: Mensal

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CORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALCORECON - CONSELHO REGIONALDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJDE ECONOMIA/RJ

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· ConConConConConselheirselheirselheirselheirselheirososososos Suplentes: Suplentes: Suplentes: Suplentes: Suplentes: 1º terço (2005/07):1º terço (2005/07):1º terço (2005/07):1º terço (2005/07):1º terço (2005/07):Regina Lúcia Gadioli dos Santos, Arthur CâmaraCardozo, Carlos Eduardo Frickmman Young. 2º terço2º terço2º terço2º terço2º terço(2003/05): (2003/05): (2003/05): (2003/05): (2003/05): Gilberto Caputo Santos. 3º terço (2004/3º terço (2004/3º terço (2004/3º terço (2004/3º terço (2004/06): 06): 06): 06): 06): Gilberto Alcântara da Cruz, Jorge de OliveiraCamargo e Rogério da Silva Rocha · Delegado EleitorDelegado EleitorDelegado EleitorDelegado EleitorDelegado EleitorEfetivo: Efetivo: Efetivo: Efetivo: Efetivo: José Antonio Lutterbach Soares · DelegadoDelegadoDelegadoDelegadoDelegadoEleitor Suplente: Eleitor Suplente: Eleitor Suplente: Eleitor Suplente: Eleitor Suplente: Paulo Sergio Souto

SINDECON - SINDICASINDECON - SINDICASINDECON - SINDICASINDECON - SINDICASINDECON - SINDICATO DOSTO DOSTO DOSTO DOSTO DOSECONOMISTECONOMISTECONOMISTECONOMISTECONOMISTAS DO ESTAS DO ESTAS DO ESTAS DO ESTAS DO ESTADO DO RJADO DO RJADO DO RJADO DO RJADO DO RJ

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Jornal dos

2 jornal dos economistas - março de 2005jornal dos economistas - março de 2005jornal dos economistas - março de 2005jornal dos economistas - março de 2005jornal dos economistas - março de 2005

Brasil mais desigualdesigualdade social e a distribuição darenda permanecem sendo o grandedesafio do Brasil, mais de sete déca-

das após a revolução de 1930, que retirou opaís dos marcos de uma política estritamenteagrário-exportadora.

O professor Celso Furtado já chamava aatenção para o fato de que o grande desafiobrasileiro não era o crescimento econômico,mas, sim, a distribuição da renda. Afinal, opaís cresceu continuamente durante 50 anose, nem por isso, reduziu-se a enorme distân-cia entre pobres e ricos. Pelo contrário.

Nesta edição, o JE abre espaços para re-tomar as abordagens sobre a desigualdade noBrasil. Tanto na entrevista do professor e eco-nomista Marcio Pochmann, que há poucorealizou levantamento em que concluiu que,entre 2001 e 2003, aumentou o fosso entreos 10% mais ricos e os 20% mais pobres,

SumárioPágina 3 7ª Rodada de Licitações das Bacias Sedimentares – Sydney Reis

Página 5 Crítica à perspectiva novo-desenvolvimentista – Rodrigo Gandra

Página 7 Quem é o dono do sol – Roberto Pereira D´Araujo

Página 8 Entrevista

Marcio Pochmann

Aumentou a distância

entre pobres e ricos no Brasil

Página 11 Os avanços e as novas perspectivas do FSM – Chico Whitacker

Página 15 Economia solidária – Luiz Felippe Nery Filho

Página 16 Editora publica obras reunidas de Ignácio Rangel

Economista lança livro sobre Venezuela

quanto no artigo em que o economistaRodrigo Gandra critica a visão novo-desenvolvimentista e retoma dados sobre oaumento da desigualdade em períodos de cres-cimento econômico.

A sociedade brasileira recentemente cele-brou 20 anos do fim da ditadura militar e iní-cio do processo de redemocratização do país.E este é um fator fundamental, como ressal-ta Marcio Pochmann, em sua entrevista, aoapontar os fatores que distinguem o Brasildos países onde é menor a desigualdade so-cial: a consolidação e amadurecimento da ex-periência democrática e a realização das re-formas agrária, tributária e social.

A questão que resta a esclarecer e que aentrevista de certa forma deixa no ar é sobrequando, no Brasil, teremos, enfim, essas re-formas que induzam a uma sociedade menosdesigual, mais justa e mais solidária.

O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Passarinho, de segundaà sexta-feira, das 7h30 às 9h, na Rádio Bandeirantes, AM, do Rio, 1360 khz.

A

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3jornal dos economistas - março de 2005jornal dos economistas - março de 2005jornal dos economistas - março de 2005jornal dos economistas - março de 2005jornal dos economistas - março de 2005

Sydney Reis*PRIVATIZAÇÃO

ocê sabia que está prevista para ocor-rer, em outubro de 2005, a 7

a

Roda-da de Licitações das Bacias Sedimen-

tares brasileiras?Sem qualquer visão estratégica para o país,

o Governo Lula, além de aprofundar o pro-cesso de licitações herdado de FHC, está dei-xando uma herança maldita para as futurasgerações, quando há perspectiva de um gran-de aumento no preço internacional do barrilde petróleo, em decorrência do consumo cres-cente e da produção decrescente por contado esgotamento das reserva mundiais.

Com a flexibilização do monopólio esta-tal, ocorrida na gestão de FHC, nem o preçoda gasolina baixou, nem se criou empregosno país, conforme era prometido na campa-nha governamental. A “política de competi-ção” beneficiou apenas as empresas estrangei-ras, que vem incorporando ao seu patrimônioreservas petrolíferas mapeadas pela Petrobras,antes que ocorra mudança da legislação, e vemtambém remunerando excessivamente osacionistas da Companhia, por conta dainternacionalização do preço dos derivados,exigida pelos investidores estrangeiros.

Quando se flexibilizou o monopólio esta-tal do petróleo, a justificativa era atribuída ànecessidade de capital externo para pesquisarnovas áreas potencialmente produtoras. Naprática, decorridos oito anos desta flexi-

7ª Rodada de Licitações das Bacias Sedimentares

Mais um crime contra o BrasilNos anos 40, culminando nos 50, tivemos o memorável movi-mento “O Petróleo é Nosso”, que mobilizou o povo brasileiropela instituição do monopólio estatal do petróleo e a criação daPetrobras. Nas décadas de 70 e 80, respectivamente, aPetrobras desenvolveu tecnologias inéditas de exploração eprodução de petróleo em águas profundas, passando a receberprêmios internacionais por sua destacada atuação.Mas a oligarquia brasileira, aliada a interesses estrangeiros,sempre tentou – e vem tentando, hoje, através da Lei 9478/97

bilização, isto não ocorreu. As empresas es-trangeiras não têm interesse em pesquisarnovas áreas, porque o risco é alto e há ofertapela Agência Nacional do Petróleo, Gás Na-tural e Biocombustíveis (ANP) de áreas jámapeadas pela empresa brasileira.

A Petrobras está concentrando investimen-tos em exploração e produção, a fim de impe-dir que blocos de concessão sejam forçosamen-te devolvidos à ANP para serem leiloados, emobediência à Lei 9.478/97, a Lei do Petróleo.

Após seis leilões, sendo quatro no gover-no FHC, quando foram transferidos para em-presas estrangeiras blocos pesquisados pelaPetrobras, o Governo Lula quer realizar a 7

a

Licitação – a terceira nesta gestão, esquecen-do-se da importância estratégica que o petró-leo tem para qualquer país que queira se de-senvolver e permanecer com soberania.

Além de praticamente “doar”, nestes lei-lões, as reservas pesquisadas pela Petrobras,a Lei 9478/97, aprovada no governo FHC,dá a propriedade do petróleo a quem o pro-duzir (artigo 26) e permite que o petróleopossa ser exportado (artigo 60), sem que te-nham sido verificadas as futuras necessida-des de produção e consumo do país.

Um verdadeiro crime contra o Brasil.

Ação de inconstitucionalidade

Contrário à absurda interpretação de quepode haver “monopólio de muitos produto-res”, o governador do Paraná, RobertoRequião (PMDB-PR), submeteu ao SupremoTribunal Federal (STF) uma Ação Direta deInconstitucionalidade (Adin nº 3273) contraalguns dispositivos da Lei 9478/97.

O Ministro Ayres Britto – designado relator– concedeu, liminarmente, parte do solicitadona Adin. Entretanto, o presidente Luiz InácioLula da Silva – representado pelo ProcuradorGeral da União – ingressou contra a decisãomonocrática do relator, através de um manda-to de segurança que foi prontamente acatado,

(Lei do Petróleo) – fazer o Paísretroceder à década de 40. OBrasil precisa da união de to-dos os brasileiros, tanto dasentidades de petroleiros quan-to da sociedade civil organiza-da, para que o Congresso Na-cional venha a adequar alegislação do petróleo à reali-dade, considerando o Brasiluma nação livre e soberana.Hoje, país que não domine ener-gia está fadado à submissão.

V

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também monocraticamente, pelo ministroNelson Jobim, presidente do STF.

No último dia 16 de março, o STF se reu-niu para julgar o mérito da Adin, decidindopela constitucionalidade da Lei 9478/97, queteve votos favoráveis dos ministros ErosGrau, Carlos Velloso, Cezar Peluso, GilmarMendes, Ellen Gracie, Sepúlveda Pertence eNelson Jobim. Já os ministros Carlos AyresBritto, Marco Aurélio de Mello e JoaquimBarbosa votaram favoravelmente à Adin. Oministro Marco Aurélio afirmou, em seu his-tórico voto de duas horas, do dia dois demarço, que “o monopólio não convive com atransferência da propriedade”.

Diante desta decisão, a sociedade civil or-ganizada deverá se mobilizar para que o Con-gresso Nacional reformule a Lei 9478/97, pois,diante da conjuntura internacional, determina-da pela geopolítica do petróleo, os países terãoque proteger as suas reservas deste energético.É questão de tempo e de coragem.

Da Petrobras para as multis

O fato mais notável em relação à Petrobras,durante o governo FHC, foi quando a despei-to de administrações que enfatizavam o resul-tado financeiro em detrimento do técnico e dopolítico, atendendo restrições orçamentáriasimpostas pelo acordo entre o governo Federale o FMI, a Petrobras indicou que atingiria aautosuficiência na produção de petróleo. Acres-centam-se, também, as inúmeras restrições àadministração de seu orçamento, gerado ex-clusivamente por suas operações empresariais.Desde 1973, o governo Federal não aporta umcentavo sequer na Petrobras.

O Governo FHC fez aprovar a “flexi-bilização” do monopólio estatal do petróleoe, com a promulgação da Lei 9478/97, crioua ANP, que “requisitou” o acervo daPetrobras e depois o vendeu às multinacionais,quase a preço de folhas fotocopiadas, quepropiciou as condições para a realização dos

(Coréia do Sul) – sem expressão em tecno-logia – graças a um quesito do Edital quefoi mal formulado.

O autor deste artigo ingressou na Justiçacom uma Ação Popular, com pedido de Me-dida Liminar (22

a

Vara Federal do Rio de Ja-neiro, Processo No: 2004.5101018709-4). Adra. Adriane Barretto Carvalho Rizzotto aca-tou o pedido de liminar, sustando os efeitosda 6

a

Rodada de Licitações. A ANP recorreu,alegando apenas que a Ação Popular tinhaconexão com outra Ação já ajuizada e, por-tanto, a decisão da dra. Adriane não teria efi-cácia. Mesmo tendo se passado mais de trêsmeses, o processo permanece inconcluso como juiz da 29

a

Vara Federal do Rio de Janeiro.É de fundamental importância registrar-

se que a Petrobras garante a auto-suficiên-cia na produção de petróleo por cerca de 15anos, aos níveis de consumo atuais, a partirde 2007 (talvez 2006). Logo, a produção depetróleo (óleo + gás natural) resultante da6

a

Rodada será, necessariamente, destinadaà exportação. (A Lei do Petróleo obriga quehaja produção pela concessionária, sob penade perda da concessão!).

O que os brasileiros devemfazer para evitar a depredação

do patrimônio brasileiro?

Exigir que o Legislativo Federal modifi-que a Lei 9478/97. Nesse sentido, há um pro-jeto de lei do senador Saturnino Braga (PT-RJ), cujo texto é o seguinte: “Ficam suspensasas licitações de novas áreas para a exploraçãode petróleo, até que o Congresso Nacionalaprove o planejamento energético do País, aser proposto pelo Conselho Nacional de Po-lítica Energética”.

* Diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobras -Aepet.

O Governo FHC fez aprovar a “flexibilização” do monopó-lio estatal do petróleo e, com a promulgação da Lei 9478/97, criou a ANP, que “requisitou” o acervo da Petrobras edepois o vendeu às multinacionais, quase a preço de fo-lhas fotocopiadas

A Petrobras é uma empresa de economiamista, de alto conteúdo estratégico, criada pelaLei 2004/53, extinta pelo artigo 83 da Lei9478/97. Além da missão de aumentar asreservas brasileiras de petróleo e mantê-lo sobo controle dos brasileiros, a empresa deveriavoltar a ter a função de abastecer o país dederivados ao menor custo para a sociedade.

Além disso, a empresa é fundamental nageração de tecnologia, empregos e impostos.No ano de 2004, por exemplo, recolheu aoscofres públicos, cerca de R$ 59,2 bilhões emimpostos, taxas, contribuições e participaçõesgovernamentais. Junto com as universidadesbrasileiras, a empresa vem desenvolvendotecnologias de ponta para a exploração e pro-dução de petróleo em águas profundas, cujaexcelência de execução já conta com o reco-nhecimento mundial manifesto por premia-ções, bem como pelas “parcerias” ofertadaspelos gigantes do setor petróleo para desen-volvimento de projetos em conjunto, inclusi-ve no exterior.

“leilões”. À Petrobras coube os riscos da pes-quisa e o mapeamento das bacias, enquantoàs multinacionais ficou reservado descontaros “bilhetes premiados”.

A 6a

Rodada de Licitações – a segunda noGoverno Lula – ocorreu em agosto de 2004,por pressão do ministério da Fazenda, aquies-cência das Minas e Energia e sem estudos quedeveriam estar ao encargo do Conselho Naci-onal de Planejamento Estratégico (CNPE) –órgão também criado pela Lei 9478/97, e queestá vinculado à pasta de Minas e Energia.

Só para mencionar um dos absurdos: aPetrobras foi instada a devolver à ANP, semapelação administrativa ou judicial, parte doBloco BC-60, no qual a companhia descobri-ra, sozinha, reservas estimadas em dois bi-lhões de barris de petróleo, isto já no cursodo Governo Lula.

A parte devolvida foi batizada pela ANPcomo bloco CM-61, sendo a vitrine da 6

a

Rodada, e que acabou arrematado em lei-lão pelo consórcio Devon (EUA) e SK

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DEBATE Rodrigo Mendes Gandra*

m primeiro lugar, deve-se terem mente que desigualdadede renda não é sinônimo de

pobreza. Deve-se concordar comBarros (2000) e Barros e Mendon-ça (1995, 1996, 2000) que a po-breza depende da desigualdade derenda e do crescimento econômi-co. Mas a desigualdade de renda

Crítica à perspectivanovo-desenvolvimentista

Na edição de janeiro do JE foi publicado umartigo de autoria de João Sicsú, Luiz Fernandode Paula e Renaut Michel, intitulado: “Por queum novo desenvolvimentismo?”. Apesar da co-erência geral do mesmo, os autores cometemum equívoco ao afirmarem que, na perspecti-va novo-desenvolvimentista (corrente da qualparecem fazer parte), “... somente o cresci-mento econômico a taxas elevadas e continu-adas pode minorar o problema de desigualda-de de economia brasileira”. (p. 5) Este artigomostra ao menos três evidências para refutara hipótese dos autores.

Em segundo lugar, quando serecorre aos dados registrados nadécada de 60, nota-se que ela foimarcada pela elevada taxa decrescimento (aproximadamente,6,1%) oriundo do processo desubstituição de importações daeconomia brasileira. Se por umlado a taxa de crescimento econô-mico foi elevada, por outro a con-centração de renda aumentou.Comparando os Censos de 1960e 1970, Fishlow (1972), Langoni(1973), Hoffmann (1978) e Hof-fmann e Duarte (1972) mostraram(através de diversos critérios) quea renda em 1970 estava mais con-centrada do que em 1960.

Analisando o índice de Ginientre 1960-1970, também cons-truídos a partir dos dados dosCensos Demográficos do IBGEde 1960 e 1970, nota-se que hou-ve um processo de aumento daconcentração de renda. Confor-me mostra a tabela 1, em 1960, oGini era 0,49; já em 1970, elepassa a ser 0,57 (i.e., ele sofre umavariação de 16%). Outro exem-

plo foi que a relação entre a ren-da do décimo mais rico da popu-lação e a renda do décimo maispobre, para o mesmo período,sofreu um aumento de 17,6%.

Com base na tabela 2, pode-se verificar que, entre 1960 e1970, enquanto os estratos maispobres e intermediários da popu-lação perderam sua participaçãona renda total, os estratos maisricos da população aumentarama sua participação. Além disso,enquanto a renda real dos 50%mais pobres da população remu-nerada obteve um aumento des-prezível de 1%, a renda real dos10% mais ricos da população re-munerada obteve um aumento de61%, ao mesmo tempo em queeste estrato aumentou em 20,5%a sua participação na renda total.

Segundo Duarte (1971: 46.Apud Hoffmann, 1978: 108), “...aconclusão que se apresenta é a de que

metade da população não foi atingida

pelos benefícios do crescimento econômico

(pelo menos em termos monetários) e

outros 30% tiveram acesso apenas

TABELA 1Brasil: desigualdade pessoal da renda em 1960 e 1970

Ano Gini Gini (var %) 10+/10- 10+/10- (var. %)1960 0,49 - 34 -1970 0,57 16,3 40 17,6

Fonte: Barros, Mendonça e Rocha (1993). Apud Barros e Mendonça (1995: 15)

E

não depende (ao menos direta-mente) da pobreza. Pode haversociedades extremamente pobres,mas com relativa igualdade de ren-da entre os indivíduos. Para redu-zir a desigualdade de renda, deve-se recorrer a outros mecanismosque não envolvem necessariamen-te o crescimento econômico.

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marginal a esses benefícios”. Nestaépoca, embora a pobreza tenhacaído, a desigualdade aumentou.

Crescimento e desigualdade

Assim, nota-se que o francocrescimento da década de 60 nãofoi capaz de distribuir renda. Porsua vez, mesmo em épocas de

recessão econômica, a desigualda-de de renda pode se tornar maisigualitária. Quando se analisa o pe-ríodo de 1990 a 1992, corres-pondente ao período da presidên-cia de Fernando Collor, verifica-seque a acentuada queda na rendaafetou principalmente os mais ri-cos (11,8% negativos contra 4,4%negativos, ao ano, dos mais po-

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bres). Segundo Neri (2000), foideste modo que o governo Collorconseguiu reduzir a desigualdade,i.e., nivelando a renda por baixo.

Em terceiro lugar, a literatu-ra econômica tem mostrado queo crescimento é que é uma vari-ável dependente da desigualda-de de renda. A título de exem-plo, autores tais como Person eTabellini (1994), Alesina e Ro-drik (1994), Birdsall e Londonõ(1997), Aghion et al (1999), eFerreira (1999 e 2000) encon-tram evidências de que quantomaior a desigualdade de rendamenor o crescimento econômi-co. Contudo, esta relação nãopode ser encarada como um re-sultado válido sob todas as cir-cunstâncias e localidades. Fur-man e Stiglitz (1998: 234-236)afirmam que as evidências em-píricas “... suggest that there is no

general answer to this question”.Em minha opinião, a desigual-

dade afeta mais a volatilidade docrescimento econômico do que asua própria magnitude. Isto por-que, a maior igualdade de rendaefetivaria demanda reprimida, ge-

TABELA 2Brasil: parcela da renda apropriada pelos estratos populacionais e aumentoda renda real média de cada estrato de 1960 e 1970

Percentil 1960 1970 Variação Aumento daRenda Real Média

de Cada Estrato

10- 1,17 1,11 -5,1% -10 2,32 2,05 -11,6% -10 3,42 2,97 -13,2% -10 4,65 3,88 -16,6% -10 6,15 4,90 -20,3% -10 7,66 5,91 -22,8% 8%10 9,41 7,37 -21,7% 3%10 10,85 9,57 -11,8% 10%10 14,69 14,45 -1,6% 23%10+ 39,66 47,79 20,5% 61%50- 17,71 14,91 -15,8% 1%5+ 27,69 34,86 25,9% 72%1+ 12,11 14,57 20,3% -Fonte: Ramos e Reis (1991: 42) e Hoffmann e Duarte (1972). Apud Hoffmann (1978: 108)

rando um mercado interno maisrobusto, o que tornaria o paísmenos dependente da conjunturainternacional (i.e., das flutuaçõesdo nível externo de demanda). Emsuma, em uma perspectiva estru-turalista, a redução da desigualda-de de renda seria parte de umaestratégia de desenvolvimentoeconômico voltada para o forta-lecimento do mercado interno.

Assim, de forma geral, esteartigo apenas quis enfatizar quenem todas as soluções para osmales que recaem sobre as variá-veis econômicas dependem docrescimento econômico. Assimcomo também, nem todas depen-dem de políticas expansionistas dogoverno

1

. A experiência brasileirajá deixou patente que um país podecrescer sob taxas elevadas, aumen-tando a desigualdade de renda. Porfim, as demais considerações doautor sobre a desigualdade de ren-da podem ser vistas na disserta-ção de mestrado de Gandra(2002), e no artigo “As causas dadesigualdade de renda no Brasil”,publicado na edição de outubro de2004 do Jornal dos Economistas.

* Mestre em Economia pela UFF e Analista de Investimentos de Projetos na Indústria de Exploração e Produção de Óleo e Gás. Correio: [email protected]

1 Sabe-se que o nível de investimento da economia é função da taxa de juros e do “estado de confiança” frente ao “animal spirit” (perfil de aversão ou propensão à incerteza) dos investidores.Assim, quanto maior o nível de incerteza (macroeconômica, política, regulatória, tributária, contratual, etc.) menor será a Eficiência Marginal do Capital, pois maior deverá ser o prêmio desejadopelo capitalista, expresso na taxa adotada para descontar o fluxo de caixa de seu projeto. Ao menos, dentro da indústria de Exploração e Produção (E&P) de Óleo e Gás (que investe anualmenteUS$ bilhões), o simples fato de o governo sinalizar estabilidade tributária já faria com que a incerteza no setor caísse e aumentasse o investimento. Só para se ter uma idéia, desde o momentoda flexibilização do mercado de upstream em 1998, já houve 16 ameaças e mudanças efetivas na regra de tributação (no âmbito Federal e Estadual). Não é à-toa, que várias empresas já desistiramde investir na área de E&P no Brasil.

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uando se afiança que o se-tor elétrico brasileiro nãotem similar no mundo,

poucos compreendem. O temaestá mais ligado à geografia bra-sileira, pois, a configuração degrandes reservatórios interligadoseletricamente só tem semelhantena província de Quebec, no Ca-nadá. Lá, o setor elétrico perma-nece em mãos do Estado, maspor razões outras que não as denatureza política.

Quando a base da geração épredominantemente hídrica, eonde a capacidade de garantir ofornecimento depende da acumu-lação de água nessas “cisternas”interligadas, ocorre um fenôme-no peculiar: para poder garantiro suprimento, adota-se um crité-rio conservador para definir umaenergia “assegurada”, que é asso-ciada a uma hipótese pessimistade afluências.

Como estamos sob um climatropical, na maior parte do tem-po as chuvas são intensas e, as-sim, as usinas hidráulicas são ca-pazes de gerar muito mais energiado que a parcela “assegurada”.Esse “excesso”, desde a implan-tação de um modelo de concep-ção mercantil, é compulsoria-mente vendido no mercado de

ENERGIA Roberto Pereira d’Araujo*

Quem é o dono do ?SOLApagões sucessivos colocam outra vez o se-tor elétrico nas manchetes e, apesar de sediferenciarem do racionamento, preocupama sociedade brasileira quanto à viabilidadede se obter os recursos para fazer face aosinvestimentos para um Brasil que cresce.

curto prazo por preços irrisóri-os. “Compram” essa energia usi-nas térmicas que são dispensadasde gerar, comercializadoras e dis-tribuidoras cuja demanda tenhaexcedido seus contratos.

O que pagamos

Mas qual é a gênese dessaenergia? Segundo estudo daUnesco, o Brasil possui, sozinho,18% dos recursos fluviais do pla-neta e, portanto, ela – esta energia– provém de generosas afluênciasdos nossos rios alimentados pelociclo hidrológico da terra. Por suavez, o ciclo nada mais é do queefeito da energia solar. Essa ener-gia barata alimenta as tomadas dopaís, da mesma maneira que a for-ma “assegurada”. Hoje, em fun-ção do período chuvoso, certa-mente estamos pagando a tarifacheia sem notar a diferença. Nomínimo, cerca de 10% da ener-gia gerada pelas hidráulicas (duasvezes a energia consumida noParaná) foi vendida a menos deR$ 20/MWh, em 2004, mas che-gou às nossas casas por R$ 270/MWh. Fora os impostos!

Portanto, é o caso de se per-guntar: afinal, quem é o dono dosol? Ora, se ser “dono” é ser o

beneficiário dessa dádiva, que sejaa sociedade como um todo. Por-tanto, é preciso questionar como,para quem e por quanto está sen-do vendido esse excesso. Quemse beneficia dessa energia quasegratuita? Até porque, como nãose pode prever o futuro, há sem-pre um risco associado a essa “li-quidação”, pois, numa súbitamudança climática, pode-se arre-pender de não se ter guardadoessa água nas “cisternas”. Casohaja esse engano, é a sociedadeque irá pagar sob a forma de fal-ta de energia no futuro.

No sistema mercantil, todoesse emaranhado de interessesficou concentrado em um núme-ro; o preço de curto prazo. Este,por sua vez, está ligado ao crité-rio de garantia do sistema, umassunto bastante subjetivo e queestá esquecido no novo modelo.Bastaria uma reflexão crítica so-bre esse critério, com a conse-qüente revisão dos preços e umacentralização de parte dos recur-sos desse mercado, para formarum fundo que muito ajudaria ofinanciamento da expansão dosetor. Evidentemente, é precisogarantir que ele não se transfor-me em mais um imposto que sedissipe no superávit primário.

Hoje, vive-se o pior dos mun-dos. As térmicas existentes se be-neficiam dessa compra compulsó-ria, pois podem vender a mesmaenergia por quase 10 vezes mais.Entretanto, esse privilégio é origi-nado no mesmo sistema de pre-ços que inviabiliza investimentosem novas térmicas que, sob o pon-to de vista competitivo, não têmchances no sistema brasileiro.

Nosso sistema geração-trans-missão é um monopólio naturalpor razões da natureza. Sob umaconfiguração mercantil, ele é ca-paz de gerar rendas oclusas que,sem um olhar cuidadoso, se per-dem para o interesse público. Omercado de curto prazo é apenasum exemplo dentre outros. Osapagões nos lembram que aindahá a necessidade de investimen-tos, principalmente em sistemasde controle. Nosso sistema pro-dutivo pode oferecer vantagensinéditas em outros sistemas. Nãoé necessária estatização, mas, emcompensação, não se perdoa quan-do, por falta de uma política ener-gética, se renega o velho adágiode que o sol nasceu para todos.

* Consultor na área de energia e diretor doInstituto de Desenvolvimento Estratégicodo Setor Energético (Ilumina)

Q

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ENTREVISTA Marcio Pochmann, professor da Unicamp

Jornal dos Economistas – Como foi essa pes-

quisa sobre a desigualdade de renda no país e o que

ela revela?

Marcio Pochmann – Fizemos um levan-tamento bastante amplo, levando em con-sideração um período de 20 anos. Basica-mente, do ano de 1983 até 2003, que foium período de situações bastante díspares.Nós tivemos crescimento econômico, combaixa inflação; um período de crescimen-to econômico, com alta inflação; e tam-bém tivemos períodos de desaceleraçãoeconômica, e até recessão com inflação esem inflação. E a nossa preocupação fun-damental era identificar em que medida asoscilações nas atividades econômicas re-percutiram, direta e indiretamente, sobrea desigualdade de renda. E desigualdadede renda, fundamentalmente, entre os tra-balhadores, a chamada população em ida-de ativa, com rendimento. Basicamente, apopulação com mais de 10 anos de idade,segundo o próprio IBGE. Então, é possí-vel observar o comportamento da desi-gualdade entre o segmento muito pobreda população – os 20% mais pobres – emrelação à população mais rica, que são jus-tamente os 10% mais ricos. Então, a rela-ção entre o rendimento médio dos 10%mais ricos, comparado ao rendimento

Aumentou a distância entreos mais pobres e os mais ricos

A desigualdade aumentou na sociedade brasileira. Pesquisa realizada pelo professor e econo-

mista Marcio Pochmann mostra que, entre 2001 e 2003, aumentou a distância entre os rendi-

mentos dos mais ricos e os dos mais pobres da população do país. Professor da Unicamp e ex-

Secretário de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da prefeita Marta Suplicy, Marcio

Pochmann, a partir de dados do IBGE, descobriu que, naquele período, houve uma queda gene-

ralizada da renda e que ela foi mais acelerada entre os 20% mais pobres da população, em

comparação com os 10% mais ricos. Ou seja, aumentou o fosso entre pobres e ricos no Brasil. O

JE foi entrevistá-lo para conhecer os detalhes da pesquisa e ouvir as opiniões dele a respeito de

como superar a concentração de renda e a enorme desigualdade social que ainda é a principal

marca da sociedade brasileira.

médio dos 20% mais pobres da popula-ção nos permitiu observar em que medidacaiu ou aumentou a desigualdade, justa-mente nestes dois segmentos da popula-ção em idade ativa. E observamos que, emum período recente, entre 2001 e 2003,quando a economia se comportou de ma-neira muito desfavorável em função dodecréscimo da atividade produtiva, doaumento do desemprego e queda do rendi-mento, houve uma perda maior de rendi-mento para o segmento mais pobre da po-pulação, basicamente os 20% mais pobres,enquanto que o rendimento dos 10% maisricos caiu, mas caiu relativamente menos e,portanto, a desigualdade teria aumentadonesse período que de 2001 a 2003.

JE – Isso seria decorrência de que, em sua opinião?

Pochmann – De maneira geral, é compre-ensível que a população com melhor rendi-mento tem sempre condições de proteger osseus ganhos utilizando-se, geralmente, dosmecanismos de aplicação financeira que pro-tegem os ganhos do trabalho, ao contráriodos mais pobres que foram prejudicados in-tensamente pelo comportamento econômicodesfavorável, porque o desemprego aumen-tou, nós tivemos muitas pessoas procurandotrabalho. Em geral, quando há muitas pesso-as que buscam trabalho, o rendimento médiotermina sendo reduzido e não há, em geral,entre os mais pobres, mecanismos de prote-ção de sua renda. Por conta disso, a rendacaiu muito mais do que a renda dos mais

Podemos ser favoráveis ou não ao

superávit primário, etc., mas há

uma organização na parte econô-

mica do governo, enquanto que na

área social é difícil observar isso

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ricos, ampliando então o leque de desigual-dades, sobretudo, nesses dois segmentos.

JE – O seu estudo bate com o da Fundação Seade,

que constatou ter aumentado a distância entre salá-

rio de homens e mulheres em 2004?

Pochmann – Exatamente. Nós, inclusive, uti-lizamos não apenas os dados do IBGE, mastambém dados primários referentes a outrasinstituições de pesquisas, entre elas, os própri-os dados da Fundação Seade e Dieese, quepesquisam o comportamento da renda dosocupados na região metropolitana de São Pau-lo, e de fato a situação é muito próxima daverificada com relação aos dados do IBGE,para o Brasil. Inclusive, foi possível avançarum pouco mais no ano de 2004 porque os da-dos da Fundação Seade e Dieese são mais atu-ais porque são pesquisas feitas mensalmente,enquanto os dados do IBGE são referentes aoano de 2003 (ainda este ano teremos o de2004). E esses dados mostram, inclusive, que,em 2004, a respeito da recuperação econômi-ca, com expansão importante do PIB de 5,2%,não houve uma distribuição de forma equâni-me porque, na verdade, pelos dados de SãoPaulo, nós não tivemos uma redução da desi-gualdade. Pelo contrário. Então, o processo dedesigualdade é intenso no Brasil, o crescimen-to econômico é fundamental para dar melho-res condições de enfrentamento da desigual-dade, mas sem ações objetivas, continuadas aolongo do tempo, nós podemos estar promo-vendo o prolongamento da desigualdade, as-sim como uma marca que tem sido a desigual-dade no Brasil ao longo dos tempos.

JE – O professor Celso Furtado nos dizia sempre

que o problema do Brasil não é o crescimento e sim a

distribuição da renda, porque o país cresceu durante

cinco décadas, mas isso não foi suficiente para distri-

buir renda, reduzir a desigualdade. Como distribuir

a renda no Brasil? Por que é tão difícil distribuir a

renda e por que ela sempre se concentra?

Pochmann – Olha, se nós acompanharmosa experiência de países exitosos no en-frentamento da desigualdade, certamente nóspoderemos perceber dois aspectos que nósno Brasil ainda não conseguimos avançar. Oprimeiro em relação à democracia. Países quetêm hoje menor desigualdade de renda sãopaíses com democracia consolidada, em quea participação popular sempre foi fundamen-tal para fazer com que a agenda de interessedos mais pobres estivesse representada nos

governos, no Legislativoe, sobretudo, na políticaeconômica. O Brasil,por exemplo, é um paíscom mais de 500 anosde existência e não tem50 anos de democraciaconsolidada. Então,esse é o primeiro as-pecto que nos desloca,digamos assim, do con-texto dos países que tive-ram melhores condiçõesde enfrentar a desigualda-de. E o segundo ponto dizrespeito às reformas, quesão chamadas reformascivilizatórias do capitalis-mo, nas quais o Brasilpraticamente não avançounada. Isto é, qualquer paísdesenvolvido fez reformaagrária, por exemplo, me-lhor distribuiu a estruturafundiária, criou mais proprie-tários. Os países desenvolvidosfizeram reforma tributária: osricos pagam mais impostos doque os pobres. E a terceira refor-ma é a social, que é aquela quegarantiu condições de acesso àeducação, saúde, transporte e habi-tação para todos. Nessas três refor-mas o Brasil, até agora, não conse-guiu avançar de forma efetiva. Nósainda não temos uma reforma agrária ampla,nós não tivemos uma reforma tributária queonere os mais ricos (no Brasil, pelo contrá-rio, os ricos praticamente não pagam impos-tos) e, por fim, a reforma social está para serfeita, na medida em que nós não temos aces-so universalizado às estruturas de educação,saúde, transporte e habitação. Esses dois obs-táculos dificultam a redução da desigualdadeda renda no país.

JE – A falta de uma participação popular mais

efetivas na condução do Estado não conduz também

à manutenção deste estado de coisas, desta desigual-

dade. Na verdade, nossa democracia ainda está res-

trita ao voto e às manifestações de rua. Não está

faltando uma participação mais direta, nos rumos da

própria administração das coisas públicas?

Pochmann – Com certeza. Evidentemen-te que a participação em ruas, manifesta-

ções, representam um dos aspectos da pró-pria participação popular. É necessárioconstatar no Brasil que a gente está viven-do, talvez, um período de maior registrode democracia. Mas nós ainda estamos mui-to aquém da chamada democracia par-ticipativa. O que nós temos no Brasil é umademocracia de representação: temos elei-ções, isso é importante e fundamental. Masé insuficiente para garantir que diferentesinteresses regionais, setoriais e popula-cionais façam parte da agenda política. Semdúvida nenhuma a participação por inter-médio de instituições que organizam os in-teresses, sejam sindicatos, partidos, associ-ações de bairros, entre tantas formas deorganização, é uma peça fundamental parapoder avançar rumo, entre outras coisas, aocombate à desigualdade de renda. E a cons-trução de políticas públicas que tenham

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participação popular certamente é o meca-nismo central, porque as mudanças naspolíticas públicas no Brasil representamuma necessidade, no meu modo de ver,porque muitas das ações e das políticaspúblicas são ineficientes em atender aosmais pobres.

JE – Mais de 300 economistas assinaram, no ano

passado, um manifesto criticando a política econômi-

ca. Eles apontam que esta política econômica que

está em curso é a mesma do governo anterior e não

garante a sustentabilidade do crescimento que obser-

vamos em 2004. Qual a sua opinião?

Pochmann – Nós já temos um acúmulo detempo que permite avaliar justamente os re-sultados deste tipo de política econômica.Basicamente, completamos 10 anos, estamos

por diante. Mais do que talvez constatar osresultados da política econômica é funda-mental uma reorganização na área social. Po-demos questionar ou não o comportamentoda política econômica, mas ela tem uma or-ganização, uma equipe econômica, um co-ordenador, tem metas e cronograma deações. Podemos ser favoráveis ou não ao su-perávit primário, etc., mas há uma organiza-ção na parte econômica do governo, enquan-to que na área social é difícil observar isso.Ou seja, não há uma equipe social, não háum coordenador social, não há um crono-grama, não há metas generalizadas que per-mitam, inclusive, a sociedade acompanhar.Por exemplo, quando o governo gasta de-mais, se porventura cair o superávit primá-rio ou se ele não conseguir cumprir a meta

indo para o décimo primeiro ano de umapolítica econômica muito parecida, com al-gumas nuances diferentes, é claro, entre ume outro governo, mas é uma certa continui-dade no tempo. Durante esse período de 10anos, por exemplo, de 1994 a 2004, tivemosquatro anos que foram de decréscimo na ren-da per capita, isto é, renda nacional divididapelo número de habitantes, e seis anos decrescimento, digamos assim, mas um cres-cimento relativamente muito baixo. Em ape-nas dois anos (em 1994 e em 2004) tivemoscrescimento do PIB bastante importantes,comparáveis com aqueles que tivemos du-rante os últimos 50 anos, de 1930 a 1980.Claro que quando a economia mundial vaibem, a política econômica, no caso do Bra-sil, também vai bem. Agora, a dificuldade éexatamente a estabilidade na economia mun-dial, a incerteza quanto à entrada de moedaforte para garantir as reservas, a própriaquestão da política externa do Brasil e assim

do superávit primário, há um debate nacio-nal sobre isso. Quando o Copom se reúne arespeito da taxa de juros, há um debate so-bre isso. Agora, na área social nós precisa-mos avançar rapidamente nesse sentido, termetas, cronogramas, uma equipe, pessoasque possam ser questionadas, aplaudidas ounão, se não conseguirem cumprir as metas.Então, a construção de uma agenda na áreasocial, no que diz respeito à educação, saú-de, habitação, transporte, emprego. Isso tudonos daria uma capacidade maior de organi-zação da área social e de fazer, então, umdebate sério a respeito das possibilidades dainclusão social em um ambiente macroeco-nômico como o que temos atualmente.

JE – O Programa Fome Zero, com a centralidade,

agora, na Bolsa Família, e o Ministério do Desenvol-

vimento Social não teriam esse papel centralizador e

organizador de uma política social?

Pochmann – O Governo Lula constituiu

um excelente diagnóstico a respeito dos pro-blemas sociais no Brasil, observando, em sín-tese, que a extrema fragmentação das políti-cas sociais, com atuação setorializada edispersa pela lógica da competição interbu-rocrática produzia resultados aquém do es-perado. Além do demasiado custo meio deoperacionalização dessas políticas setoriais,os ganhos encontram-se, em geral, poucopotencializados, porque a soma das partesnão produz um todo superior. Sabe-se queo processo de exclusão no Brasil manifesta-se cada vez mais totalizante, de tal formaque uma família pobre por insuficiência derenda, também apresenta, na maioria das ve-zes, problemas educacionais, habitacionais,de transporte, de saúde, entre outros. O pró-prio programa de governo produzido duran-te a campanha presidencial, em 2002, iden-tificou a necessidade de constituição deconvergências totalizantes no interior dapolítica social, possibilitando avançar paraalém da inclusão num determinado progra-ma social. Aliás, incluir pessoas é o mais fá-cil, conforme demonstra a história das polí-ticas sociais no Brasil. O complexo mesmodiz respeito à constituição de políticasemancipatórias (sociais, políticas e econômi-cas) para a população excluída, com capaci-dade plena de oferecer alternativas de auto-nomia. Para isso, contudo, a engenhariapolítica dos governos deve ser completamen-te diferente do que se tem hoje, pois há umanecessidade impostergável de revisão de pri-oridades, com um novo padrão de gestão daspolíticas sociais que leve à integração das po-líticas, com ações matriciais.O que se têm hoje está muito aquém do querealmente o país precisa para superação doatraso. Em nosso último livro (“Agenda nãoliberal da inclusão social no Brasil”, editoraCortez, 2005), identificamos o tamanho dadívida social no Brasil, que atinge R$ 7,2trilhões, quase 10 vezes maior do que a atu-al dívida pública, que possui toda uma aten-ção especial dos governos. Para que o paíspossa chegar em 2020 com um padrão deinclusão social superior ao de hoje, é neces-sário um conjunto de investimentos anuaisadicionais na saúde, educação, habitação,informática, cultura, entre outros, que equi-vale a 27,6% do PIB de 2004. Sem isso, to-davia, o Brasil corre o sério risco de encon-trar-se com o futuro em situação social muitopior do que já possui.

O complexo mesmo diz respeito à

constituição de políticas emancipa-

tórias (sociais, políticas e econô-

micas) para a população excluída,

com capacidade plena de oferecer

alternativas de autonomia

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Chico Whitaker*FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 2005

Os avanços e as novasperspectivas

Com sua quinta edição em 2005, em Porto Alegre, o Fórum Social Mundial se consolidoucomo a maior iniciativa política de escala global deste século. Em 2004, o desafio erarealizá-lo na Índia, país histórico e culturalmente bastante diferente do Brasil. Superadoesse desafio com o enorme sucesso deste Fórum do outro lado do mundo, em 2005 umanova aposta se apresentava: a de aproveitar as lições da Índia e a de confirmar a caminha-da que se vinha fazendo, na experimentação de uma forma diferente de pensar e agirpoliticamente, e na construção de uma nova cultura política, respeitosa da diversidade eda pluralidade, mais democrática e mais criativa. E, nessa perspectiva, o FSM de 2005constituiu efetivamente mais um avanço.

ão há que se esperar – como muitos odesejariam – que o Fórum cumpra opapel que é próprio às organizações

sociais, que mobilizam seus integrantes, defi-nem objetivos de luta e a conduzem para queesses objetivos sejam alcançados. O Fórum,em si mesmo, não é um ator político que in-terfere diretamente na realidade. Ele é somen-te um instrumento a serviço das organizaçõesque mudam essa realidade por sua ação, paraajudá-las a cumprir o seu papel. Quem mu-dará o mundo é a sociedade organizada, comoum ator político de parte inteira – cujo poderaté há pouco tempo não era reconhecido ounem mesmo conhecido, uma vez que os par-tidos e os governos ocupavam todo o espaçoda ação política.

Como instrumento, o que o Fórum faz éoferecer a oportunidade de um verdadeiroaprendizado, para essas organizações, de umaprática política não diretiva, horizontal e

participativa, que constitui, por assim dizer, suamarca registrada. Ele é tão somente um espaçopropício ao reconhecimento mútuo, à troca deexperiências e à intensificação de articulações,visando o surgimento e a multiplicação de inici-ativas capazes de dar mais eficácia à ação políti-ca transformadora. Eficácia essa que depende,em grande parte, também, da construção de umaunidade de tipo novo, que mantém a autono-mia de cada sujeito político, mas supera as bar-reiras que hoje dividem, entre si e dentro delesmesmos, os diferentes movimentos sociais, asorganizações não governamentais e as entida-des sindicais, enfraquecendo-os a todos.

Dentro dessa perspectiva de colocar emprática uma nova metodologia de ação políti-ca, o primeiro e talvez mais importante passodado em 2005 – nessa caminhada que iniciou-se há cinco anos atrás, sem que os própriosorganizadores do Fórum pudessem prever adimensão que ele tomaria - foi a decisão de

fazê-lo de forma totalmente auto-gestionada.No Fórum da Índia, já se tinha avançado bas-tante nessa preocupação participativa: dasmais de 1,2 mil atividades nele realizadas so-mente 13 eram de responsabilidade dosorganizadores. No Brasil, em 2005, osorganizadores zeraram, por assim dizer, suaspróprias propostas de atividades, passando acumprir de forma integral sua função de sim-ples facilitadores de oferecimento de um es-paço aberto a todos que se engajam, pelomundo afora, na construção do “outro mun-do possível” com que todos sonhamos.

Assim, realizaram uma consulta préviapara identificar as questões que os participan-tes desejariam discutir, reuniram essas ques-tões em 11 espaços temáticos, construírammais de 250 salas, providenciaram da melhorforma que lhes foi possível sistemas de tra-dução, etc. Aprofundou-se, assim, a opção quevinha se revelando a mais adequada à realiza-ção dos objetivos do Fórum, a de aberturado seu espaço às atividades em torno das quaisseus próprios participantes pretenderiam di-alogar com outros e construir novas alianças.

Esta característica tão fundamental ficoubem evidente pelo fato do programa do FSM2005 não prever grandes conferências, comgrandes estrelas. Houve algumas, mas elas foramorganizadas pelos próprios participantes,

Aprofundou-se, assim, a opção que vinha se revelando amais adequada à realização dos objetivos do Fórum, a deabertura do seu espaço às atividades em torno das quaisseus próprios participantes pretenderiam dialogar comoutros e construir novas alianças

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como foi o caso, por exemplo, de Saramago– num debate que atraiu grande público – oudos presidentes Lula e Chaves. Nenhum de-les veio a convite dos organizadores doFórum. Eles tão somente atenderam a con-vites feitos por organizações, dentro da regrada auto-gestão. Inclusive, dada a atraçãoexercida pelos dois presidentes, as organiza-ções que os convidaram decidiram realizar asatividades de que eles participariam no Giná-sio do Gigantinho, situado fora do TerritórioSocial Mundial - como era chamado o espaçodo Fórum - tendo que custear, elas próprias,o aluguel do ginásio.

O que se pode dizer é que essa opção ra-dical pela auto-organização dos eventos foibem sucedida. O FSM de 2005 foi conside-rado, pela maior parte das organizações quepromoveram atividades, o melhor de todosos Fóruns já realizados. Isto porque, de fato,elas conseguiram, nesse Fórum, avançar mui-to em convergências e parcerias que vinhamsendo construídas desde o primeiro Fórum.

Tal foi o caso, por exemplo, das organiza-ções que trabalham visando a proteção do bemcomum da humanidade, constituído pela água.Ou, daquelas que lutam pela anulação da dívi-da externa dos paises do Terceiro Mundo: es-tas conseguiram identificar suas divergências,avançar na superação dessas divergências econstruir novos planos de ação em comum.Muitas lutas de movimentos sociais – como,por exemplo, contra a Alca – avançaram bas-tante em articulação. Foi o que sentiram tam-bém os que conseguiram montar novas pro-postas e iniciativas visando reformar as NaçõesUnidas, para que ela possa cumprir efetivamen-te seus diferentes papéis, entre eles, a manu-tenção da paz no mundo, umas de suas maisdramáticas funções nos dias de hoje.

Mas esse sentimento de bons resultadosemergiu também da infinidade de novas ali-anças e parcerias, de grandes e pequenas di-mensões, expressas nas 352 “propostas deação para construir um outro mundo”, apre-

sentadas no ato de encerramento do Fórum,sendo que depois chegaram muitas outras,perfazendo hoje mais de 400 – o que indica avariedade e multiplicidade de ações que te-mos que realizar para essa construção.

Sobre este tipo de resultado vale ressaltarum aspecto que muitas vezes confunde o en-tendimento sobre o caráter do FSM, enquan-to espaço-instrumento e não enquanto movi-mento-fim. Muitos se angustiam com aurgência das ações a desenvolver, ou se entusi-asmam com a capacidade convocatória doFórum, e concluem que ele tem que terminarcom orientações concretas sobre a luta a de-senvolver, expressa em algum tipo de docu-mento final. Mas o que precisamos é fazer comque nossas próprias organizações assumam efe-tivamente essas urgências e possibilidades, emvez de pretender transformar o FSM em maisum movimento, entre outros, e competindocom os demais. Sem que, a partir de então,nada mais cumpra o papel que ele cumpre.

sem contestação. A cultura política das pirâ-mides de poder, das disciplinas militantes, emesmo de “pensamentos únicos” antagôni-cos ao de Davos, investe permanentementecontra essa opção apresentada na sua Cartade Princípios. Tal pode ser a explicação, porexemplo, neste Fórum de 2005, do “Mani-festo de Porto Alegre”, cujos autores afirma-ram que não estavam pretendendo apresen-tar um documento final, mas lhe deram essenome ambíguo. Essa ambigüidade fez comque, entre os demais participantes houvessereações a essa iniciativa que, na verdade, ain-da que assinada por 19 personalidades dig-nas do maior respeito, foi somente uma das352 propostas de ação apresentadas. Mas essareação mostra que esses participantes já se de-ram conta de que é preciso ultrapassar os ve-lhos modelos de ação política, que geram a de-pendência de dirigentes iluminados, e quelevaram, nesta edição do Fórum de 2005, amuitas vaias a Lula e muitos aplausos a Cháves.

Na verdade, mais do que discutir utopias, trata-se, noFórum, de avaliar o que já está sendo feito para realizá-las

Os escritores José Saramagoe Eduardo Galeano

Por isso mesmo, a Carta de Princípios doFórum interdita, por assim dizer, a apresen-tação de um documento final único – neces-sariamente redutor da diversidade das ques-tões tratadas e empobrecedor das perspectivase engajamentos que dele resultam. Essa Car-ta aponta para a possibilidade e mesmo ne-cessidade de que se multipliquem os docu-mentos finais, expressando engajamentosconcretos de quem os apresente, para umaação que não começará depois do Fórum, masque já vinha se realizando antes dele e conti-nua depois, num esforço de mudança domundo – já em curso.

Na verdade, mais do que discutir utopias,trata-se, no Fórum, de avaliar o que já estásendo feito para realizá-las, para dar conti-nuidade e mais eficácia a essa ação e apro-fundar os engajamentos de cada organização.A força que resultará da unidade que possaser assim construída – na diversidade – é queaponta para o surgimento desse novo ator po-lítico que vem sendo chamado de sociedadecivil planetária.

Mas é bem evidente que mesmo no Fórumde 2005 a opção de Fórum-espaço não ficou

As avaliações não foram, no entanto, so-mente positivas, ou mesmo entusiasmadas.Para quem foi ao Fórum colher informações,assistir a debates, ouvir a palavra e o testemu-nho de intelectuais ou ativistas reconhecidosmundialmente, nem tudo foi tão bonito. Suasexperiências podem ter sido ainda positivas,na medida em que tenham podido realizar seusobjetivos. Mas para todos, inclusive para os quese entusiasmaram com o Fórum, ele foi umautêntico sacrifício físico. O número de insufi-ciências organizativas foi grande, como seriaprevisível: nele reuniram-se 150.000 pessoas –50.000 a mais do que em 2003, em Porto Ale-gre, e em 2004, na Índia – e se arriscou realizá-lo num espaço físico novo inteiramente pre-parado para esse fim, na orla do lago Guaíba,em vez do espaço moderno e cômodo do Cen-tro de Convenções da Universidade Católicade Porto Alegre.

Vale a pena mencionar, neste aspecto, asexperiências feitas com a biotecnologia, nasconstruções e em outros cuidados de sus-tentabilidade ambiental. Mas sinalizações e co-municações insuficientes, assim como deficiên-cias na divulgação do programa de atividades,

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dificultaram o acesso dos interessados às cons-truções em lona em que elas se realizavam. Nassalas assim preparadas, espalhadas num espa-ço excessivamente extenso, ainda que aprazívelpela vista do lago e do por do sol, os ventila-dores nem sempre funcionavam. Por outrolado, as distâncias a percorrer – a pé – combi-nando-se com um calor escaldante e um solforte sempre presente, tornaram quase herói-ca a participação neste Fórum. Mas nem porisso ele deixou de ser marcado pela alegria,como sempre. E a escolha do local facilitou aparticipação, nas atividades realizadas, dos35.000 jovens que vieram para o Acampamen-to Internacional da Juventude – que tambémo organizaram de forma totalmente autogerida– e o Fórum se aproximou mais da populaçãoda cidade de Porto Alegre.

Junto a essa população, os resultados elei-torais de 2004 geraram um mal-entendido:uma vez decidido que o Fórum não seria emPorto Alegre, em 2006, passou-se a dizer nacidade que esses resultados fizeram com queo Fórum “fosse embora” de Porto Alegre,como se dependesse da iniciativa de gover-nos e de partidos. Na verdade a decisão derealizá-lo descentralizado em 2006 – inicial-

mente em Marrocos e na Venezuela, nas da-tas de Davos – e na África, em 2007, estavasendo amadurecida já desde o Fórum deMumbai, em 2004. O objetivo é o de expan-dir e enraizar o processo em todo o mundo.E nada impede que, em 2008, ele se realizenovamente na cidade em que nasceu.

Os passos que podem ser dados daqui parafrente, aproveitando-se a opção “metodoló-gica” adotada para preparar o Fórum de 2005,de estimular encontros, alianças e aglutinaçõesantes da sua realização, mostram-se promis-sores. Orientações nesse sentido podem vir aser tomadas na próxima reunião do Conse-lho Internacional do Fórum, neste final demarço, na Holanda. Elas apontam para a cri-

CURSOS DO CORECON/RJ

ação de uma espécie de diálogo permanente,em que as trocas de experiências, o reconhe-cimento mútuo, as articulações para aprofun-dar iniciativas e lançar novas ações poderãoser feitas utilizando-se mais intensamente emais organizadamente a internet, independen-temente dos eventos. Estes podem passar aser promovidos, de tempos em tempos, comoencontros presenciais, gerais ou temáticos, denível mundial, regional, nacional ou local, queconsolidem articulações e ações em curso. Sechegarmos a isso, assegurando a continuida-de e a expansão de uma ação transformadoraplural, não diretiva, é muito possível que con-sigamos realmente mudar o mundo, rumo àpaz, à igualdade e à fraternidade que todosalmejamos.

Atrevo-me a sugerir àqueles que deseja-rem conhecer mais de perto as perspectivasque se debatem no Fórum, a respeito delemesmo, a leitura do livro que lancei no Fórumde 2005: “O Desafio do Fórum Social Mun-dial – Um Modo de Ver”.

1

* Representante da Comissão Brasileira Justiça e Paz no Se-cretariado e no Conselho Internacional do FSM

1 Editoras Perseu Abramo e Loyola, 2005.

Presidente Hugo Chaves, da Venezuela

PROGRAMAÇÃO DE CURSOS PARA 2005

FILOSOFIAO curso visa estudar questões relevantes da filosofia. Discutir-se-ão os problemas ontológico, gnosiológico, ético, estético nos pensadores fundamentaisdo pensamento ocidental. Neste primeiro módulo, será focalizada a filosofia antiga. Abordar-se-á a questão ontológica nos pensadores pré-socráticos.Posteriormente, será a problemática do homem, da ética e do conhecimento nos sofistas em Sócrates. Finalmente, serão abordados os sistemas dePlatão e Aristóteles.Profesores: Miguel Angel de Barrenechea (Doutorado em Filosofia. IFCS-UFRJ, Pesquisador da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Unirio,Professor nos cursos de graduação, Professor no Mestrado em Memória Social e Documento) e Luiz Celso Pinho (Doutor em Filosofia, UniversidadeFederal do Rio de Janeiro - 2003, Pesquisador Associado UERJ/FAPERJ)

CURSOS PROGRAMADOS

Filosofia: uma introdução – Miguel Angel Barrachenea e Luiz Celso Pinho – 24 horas-aula – às quartas-feiras – 4/maio a 22/jun

Economia e meio ambiente – Cláudia Lúcia Bisaggio Soares – 12 horas-aula – de segunda-feira a quinta-feira – 27 a 30 jun

Avaliação de projetos - tópicos avançados – Eduardo Sá Fortes – 24 horas-aula – aos sábados – 7/maio a 25/jun

Regimes monetários: teoria – André Modenesi – 12 horas-aula – às segundas e quartas-feiras – 4 a 25/jul

Regimes monetários: experiência do Real – André Modenesi – 12 horas-aula - às segundas e quartas-feiras – 8 a 29/ago

Introdução à Economia Política:o pensamento de Karl Marx – Pablo Bielschowky eRodrigo Castelo Branco – 16 horas-aula – às quintas-feiras – 4/ago a 22/set

O pensamento econômico de Keynes – Jeniffer Hermann, João Sicsú e outros – 16 horas-aula – às segundas-feiras – 5/set a 24/out

Filosofia – Miguel Angel Barrachenea e Luiz Celso Pinho – 24 horas-aula - às quartas-feiras – 14/set a 16/nov

Análise de Investimentos – Eduardo Sá Fortes – 16 horas aula – às quintas-feiras – 6/out a 3/nov

Matemática aplicada à teoria econômica – Jorge Cláudio Cavalcante – 30 horas-aula – às terças e quintas-feiras –1º nov a 13/dez

Visite a página http://www.economistas.org.br para obter maiores informações e efetuar sua inscrição.Sugira um curso de seu interesse e dê sua opinião.

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ARTIGO DO LEITOR

Na próxima edição, o Fórum Popular de Orçamento trará uma ampla análisesobre o problema da saúde no Rio de Janeiro.

economia solidária é ummodo de organizar a eco-nomia fundado na valo-

rização do trabalho, do saber eda criatividade humanos, comotambém nos valores da coopera-ção, da partilha, da reciprocidadee da solidariedade. Trata-se de ummodo inteligente de organizar aprodução, o comércio e o consu-mo, de forma autogestionária,ética e sustentável, a partir dasnecessidades, desejos e aspiraçõesda pessoa e da comunidade, res-peitando as demais espécies danatureza e o meio ambiente. Va-loriza a diversidade de talentos,capacidades e recursos das pes-soas, comunidades, regiões e pa-íses, ao mesmo tempo em quebusca explorar as complemen-taridades entre eles, de forma agerar sempre maior bem viverpara cada um e para todos.

A moeda social é um instrumen-to que se usa para fazer as trocas,em vez do dinheiro oficial. Umadiferença importante entre amoeda social e o dinheiro oficialé que qualquer um pode fazer usodela, na medida em que tenhaalgo para produzir e para consu-mir dentro do espaço onde ela éaceita. A rigor, ela não é umamoeda, porque sua aceitação nãoé obrigatória como o dinheirooficial emitido pelos Bancos Cen-trais dos países. Sua aceitação évoluntária: é parte de uma atitu-de de compromisso com umaoutra economia, com a constru-ção de outras relações sociais.

Nas trocas solidárias partimos

Luiz Felippe Nery Filho*

Economia solidária

Um outro mercado é possívelO autor deste artigo participou da últimaedição do Fórum Social Mundial e viven-ciou a experiência da economia solidária,que está focada neste texto.

do conceito de “prossumidor”, istoé, cada um de nós é sempre pro-dutor de algo e consumidor dealgo. Todos temos algum saber,algo que podemos produzir ouum serviço a oferecer. Todos ne-cessitamos do que o outro pro-duz. A moeda social trabalha nosentido de resgatar talentos quenem sempre são reconhecidoscomo tais, e colocá-los a serviçode um coletivo comprometidocom a distribuição da riqueza en-tre todos os setores humanos.

Ela permite também umanova compreensão dos limites doatual sistema monetário e mos-tra as possibilidades de sistemasmonetários alternativos, que in-vertem o curso da concentraçãoda riqueza atualmente vigente.Em outras palavras, além dereativar a economia, ao permitira expressão de um mercado la-tente por falta de circulante, amoeda social é um instrumentode construção de cidadania queajuda a redefinir o próprio con-ceito de riqueza e solidariedade.

Critérios para a circulação

O txai, como moeda social,representa uma forma do produ-tor substituir a venda do seu pro-duto no mercado capitalista pela

venda no mercado das trocas so-lidárias. Além de estimular o co-mércio de produtos da economiasolidária, a moeda social e o mer-cado das trocas são a própriavivência de uma prática de altopotencial transformador das rela-ções sociais, por seu caráteremancipador e construtor de vín-culos para além dos dias do FSM:trata-se de um ato político quefortalece formas alternativas emais justas de produção, favoreceuma comercialização inteligente,que não fica refém da escassez dedinheiro e promove um consumoético, solidário e sustentável.

Todo produtor da economiasolidária cadastrado no Ecobancopoderá trocar seus produtos porum mínimo de 10 unidades e ummáximo de 100 unidades txai pordia. Os valores atribuídos comogarantia do lastro serão fixados emconjunto com o Ecobanco, res-ponsável pela circulação de umatabela de preços máximos sugeri-dos, já que na economia solidáriaos preços mínimos variam deacordo com os custos de produ-ção, diferentes em cada caso.

Porque queremos mostrarque é possível descobrir a abun-

dância, onde hoje só vemos a es-cassez. A economia solidária tra-balha com um novo movimento

cooperativo, que promove areformulação da economia volta-da para os setores populares,como protagonistas de sua vidasocial, incluindo os seus aspectoseconômicos. O movimento dastrocas solidárias (MTS) faz parteda economia solidária e caracte-riza-se por ações em que a escas-sez de dinheiro é compensadapelas trocas diretas e pelo uso dasmoedas sociais.

A experiência de um mercadode trocas solidárias contribui coma formação da consciência dosparticipantes do FSM sobre a fun-ção da moeda social, como ummétodo monetário que pode aju-dar a superar o modelo capitalis-ta. O processo de humanizaçãodas relações econômicas servepara demonstrar a possibilidade decriar novos mercados, onde pro-dutores e consumidores satisfa-zem mutuamente suas necessida-des sem o uso do dinheiro oficial.

O mercado das trocas solidá-rias é uma demonstração pedagó-gica e prática de como funcionamos diversos grupos de trocas exis-tentes da América Latina, Ásia,África e as experiências com mo-edas sociais do Canadá, Austrália,Indonésia e diversos países daEuropa. No FSM encontramospessoas de diferentes níveis de ren-da, procedência cultural e étnica,com suas experiências de vida:confiamos que muitos mais pro-jetos podem ser gerados nesse es-paço transformador.

* Economista. Correio: [email protected]

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ispersa e ainda desconhecida da mai-oria dos leitores a obra de IgnácioRangel será, pela primeira vez,

lançada em uma coletânea de dois volumespela Editora Contraponto, com o apoio doBNDES. O lançamento de “Ignácio Rangel.Obras reunidas” será no auditório do Con-selho Regional de Economia, no próximodia 28 de abril, às 19h.

Economista considerado por muitos comoum dos mais originais da América Latina, noséculo passado, Rangel deixou uma contribui-ção que até hoje permanece influenciando asnovas gerações de pensadores. Obras reunidas

traz aos leitores a tese de seu doutoramento,os sete livros dele que foram publicados, qua-tro coletâneas de textos e 15 artigos.

Lançamento será no auditório do Corecon,no próximo dia 28 de abril, às 19h.

Na introdução da obra, o economistaMárcio Henrique Monteiro de Castro assina-la a influência de Ignácio Rangel, lembrandosua participação na assessoria econômica deGetúlio Vargas e na elaboração dos projetosde constituição da Petrobras e da Eletrobrás,bem como na execução do Plano de Metasde Juscelino Kubitschek, como chefe do De-partamento Econômico do antigo BNDE,hoje acrescido do S de Social.

O volume 1 de Obras reunidas traz os pri-meiros trabalhos de Rangel, como “O desen-volvimento econômico no Brasil”, de 1954, eum texto considerado clássico na literatura dahistória econômica do país: “A inflação brasi-leira”, de 1963, onde ele analisa questões como“inflação e renda”, “liquidez e déficit orçamen-

retomada dos movimen-tos sociais na AméricaLatina e o papel que a

Venezuela vem conquistando àfrente de um processo de mu-

Editora publica

Obras reunidas de Ignácio Rangel

Economista lançalivro sobre a Venezuela

tário” e “taxa de imobilização do sistema”.Ainda neste volume, o trabalho escrito em 1985“Economia: milagre e antimilagre”. No segun-do volume, os textos sobre a questão agrária,tecnologia e crescimento e a economia brasi-leira contemporânea (anos 80).

danças nos países da região fo-ram os focos da palestra do eco-nomista e professor da Univer-sidade Federal de Santa Catarina(UFSC), Nildo Ouriques (foto),

Na próximo número doJE será publicada uma edição re-sumida da palestra de NildoOuriques. Maiores informaçõespodem ser obtidas no portalda internet www.ola.cse.ufsc.bre o livro pode ser adquiridoatravés do correio eletrô[email protected].

no auditório do Corecon-RJ, noúltimo dia 18 de março.

Ele veio ao Rio lançar o seunovo livro – Raízes no libertador,bolivarianismo e poder popular naVenezuela – que traz artigos deestudiosos e pesquisadores latino-americanos a respeito do que ocor-re na Venezuela, em especial, odesenvolvimento e enraizamentodo poder popular e sua influênciana condução do processo políticode mudança no país.

O livro é o primeiro publica-do pelo Observatório Latino-Americano, da UFSC, e reúne ostrabalhos apresentados durante asJornadas Bolivarianas, projeto quedebate a história e as conjunturasdos países da América Latina.

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