ÓrgÃo oficial do corecon-rj, ierj e sindecon-rj governo ... · a carta de lula ao povo ou...

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ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ Nº 166 – MAIO DE 2003 JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOS DOS DOS DOS DOS Vale a pena ale a pena ale a pena ale a pena ale a pena o P o P o P o P o Porto de Sepetiba? orto de Sepetiba? orto de Sepetiba? orto de Sepetiba? orto de Sepetiba? Página 5 Os jur Os jur Os jur Os jur Os juros os os os os pr pr pr pr precisam baixar ecisam baixar ecisam baixar ecisam baixar ecisam baixar Página 7 Indicador Indicador Indicador Indicador Indicadores es es es es sociais no Brasil sociais no Brasil sociais no Brasil sociais no Brasil sociais no Brasil Página 11 Próximo a completar o primeiro semestre de sua ges- tão, o Governo Lula enfrenta as primeiras críticas à sua política econômica. Nesta edição, o JE inicia uma série de entrevistas e artigos abordando críticas e alternativas aos rumos atuais da economia brasileira. Nessa edição, a en- trevista com o professor de economia Reinaldo Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Páginas 3 e 8 Governo Lula: a economia em xeque

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Page 1: ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ Governo ... · A carta de Lula ao povo ou política econômica: Lula x Lula As discrepâncias entre os princípios e objetivos formulados

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Nº 166 – MAIO DE 2003JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOSDOSDOSDOSDOS

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Página 11

Próximo a completar o primeiro semestre de sua ges-

tão, o Governo Lula enfrenta as primeiras críticas à sua

política econômica. Nesta edição, o JE inicia uma série de

entrevistas e artigos abordando críticas e alternativas aos

rumos atuais da economia brasileira. Nessa edição, a en-

trevista com o professor de economia Reinaldo Gonçalves,

da Universidade Federal do Rio de Janeiro.Páginas 3 e 8

Governo Lula:a economia

emxeque

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EDITORIAL

ÓrÓrÓrÓrÓrgão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial doCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJ

ISSN 1519-7387

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FFFFFinalização: inalização: inalização: inalização: inalização: Rossana Henriques (21) 2462-4885 ·FFFFFotolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Impressão:essão:essão:essão:essão: Tipológica · T T T T Tiragem: iragem: iragem: iragem: iragem: 13.000exemplares · P P P P Periodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade: Mensal

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Luzes

A

SumárioPágina 02 Editorial – Luzes

Página 03 Lula x Lula – Ronaldo Rangel

Página 05 Porto de Sepetiba – Eriksom T. Lima e Mário Carvalho Jr.

Página 07 Os juros têm que baixar – Manifesto Cofecon

Página 08 Entrevista: Reinaldo Gonçalves, professor da UFRJ

Página 11 Resenha – Paulo Mibielli

Página 13 Artigo do leitor – Alessandro Carvalho

Página 15 Fórum do Orçamento – Prefeitura não paga dívida

Página 16 Seminário: hegemonia e contra-hegemoniaEconomistas do Rio premiadosPetrobras perde recurso

política econômica do governo Lulaestá na berlinda. A manutenção das

principais características da política eco-nômica do governo anterior tem produzi-do reações que vão da compreensão con-formista – explicada pela trágica herançade FHC – à perplexidade que exige mu-danças, já.

A manutenção da atual taxa básica dejuros pelo Copom, em sua última reuniãode maio, reascendeu, ainda mais, o debatesobre os rumos da política econômica. DaFiesp, passando pelas centrais sindicais, atéparte da bancada de deputados federais dopróprio PT – o partido do Presidente Lula– há o crescente clamor por mudanças.

Clamor mais que justificado, entre ou-tras razões, pelo conteúdo do documentoReformas Estruturais e Política Econômi-ca, de responsabilidade do Ministério daFazenda, e que aponta um violentíssimoajuste fiscal, projetado até o ano de 2009!,transcendendo, assim, até mesmo a refe-rência temporal do mandato do PresidenteLula. Não há dúvidas, portanto, da urgên-cia das mudanças.

Mas como fazê-las?O JE, a partir desse número, abre suas

páginas centrais para entrevistas com eco-nomistas que abordem esse tema. O com-promisso maior das entidades dos econo-mistas do Rio de Janeiro sempre foi, hámuitos anos, a defesa de um projeto naci-

onal de desenvolvimento para o Brasil, ten-do como foco o crescimento econômicocom geração de empregos e inclusão so-cial, e, como meio, a distribuição de ren-da e riquezas.

A eleição de Luis Inácio Lula da Silva,em outubro último, abriu as esperançasde que, enfim, a política econômica en-contrar-se-ia com o sonho – real, possívele necessário – de transformar o Brasil atra-vés do trabalho e da justiça.

Entretanto, para muitos, esse sonho con-tinua distante. Mais grave: há os que afir-mam que sequer uma política de transiçãoestá em curso. A rigor, o que estaríamosassistindo seria o mero aprofundamento deum modelo que já deu mostras de sua in-capacidade, em colocar o país numa rotade crescimento econômico sustentado e decorreção das imensas deformações e desi-gualdades presentes em nossa sociedade.

É nesse sentido que queremos entrarpara valer nesse debate. E é com essa pre-ocupação que convidamos os leitores àreflexão sobre o atual momento político eeconômico. Nessas páginas do JE, a entre-vista com o professor Reinaldo Gonçalves,da UFRJ, abre uma série que, esperamos,confira luzes a esse debate.

É possível que dependa justamentedisso – do debate franco e claro – a supe-ração dos conformismos e perplexidadesque tomam conta de muitos de nós.

O Corecon-RJ apoia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Passarinho e MiltonTemer, de segunda à sexta-feira, das 7h30 às 9h, na Rádio Bandeirantes, do Rio, 1360 khz.

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CONJUNTURA Ronaldo Rangel*

3jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003

o auge da disputa elei-toral, o candidato Luiz

Inácio Lula da Silva alertava naCarta ao Povo Brasileiro que:“O sentimento que predominaé o de que o atual modelo es-gotou-se. Por isso, o país nãopode insistir nesse caminho,sob pena de ficar numa estag-nação crônica ou até mesmode sofrer, mais cedo ou maistarde, um colapso econômico,social e moral”.

A despeito da assertiva elei-toral, ainda nas primeiras sema-nas de seu governo o presiden-te empossado autorizou suaequipe a conduzir a políticaeconômica de “forma conserva-dora”. Diante da forte restriçãomacroeconômica herdada seriaextremamente arriscado mudaro modelo no curto prazo. Aprudência inicial, que em al-gum sentido recebeu apoio dequase todos os setores, se jus-tificava também pela necessi-dade premente de atrair recur-sos externos para cobrir nossodéficit cambial, sob pena deagravamento da já fortíssimarestrição externa.

Com efeito, tal opção deatuação para o ministério daFazenda permitiu a reversãodas expectativas desfavoráveis,notadamente, dos círculos fi-nanceiros, e culminaram coma acentuada queda do riscoBrasil. Porém, na prática, ogoverno Lula apenas deu con-tinuidade à lógica econômicada gestão anterior e aprofun-dou a política de metas parainflação, sustentada por umhiper-ajuste fiscal.

É desnecessário salientarque as concessões feitas por

A carta de Lula ao povo oupolítica econômica: Lula x Lula

As discrepâncias entre os princípios e objetivos formulados na Carta ao PovoBrasileiro e a política econômica que o Governo Lula vem seguindo

uma equipe econômica lidera-da por economistas sabida-mente adversários do “diagnós-tico petista” que deu base a seuprograma. Suas preferênciastécnicas e, porque não dizer,ideológicas, embora prometamum círculo virtuoso de cresci-mento – via equilíbrio fiscal –são absolutamente inconsisten-tes com a possibilidade deimplementação de uma políti-ca industrial ativa, com orestabelecimento das condi-ções de infra-estrutura produ-tiva e, principalmente, com aampliação de direitos sociais.

As teses defendidas pelaequipe econômica, como, porexemplo, que “o controle infla-cionário é pré-condição básicapara o crescimento” (sic) tão-somente justificam os cortes degastos públicos e, portanto, oencolhimento do papel do Es-tado, que perde capacidade deexecutar políticas sociais míni-mas, quer sejam de cunhoestruturante, quer de caráterdistributivo. Trata-se de fato daopção de governar pela linhade menor resistência, caracteri-zando-se num engodo aos elei-tores brasileiros que leram eacreditaram na Carta ao Povo,principalmente quando dizia:“O povo brasileiro quer mudarpara valer. Recusa qualquer for-ma de continuísmo, seja ele as-sumido ou mascarado”.

Não cabe discutir a impro-priedade técnica da políticaeconômica de Lula. Ela é umerro desastroso, uma arma-dilha para a sociedade brasi-leira. Caso não se promovauma inflexão em sua trajetóriaatual, aumentará a fragilidade

segmentos do meio político,intelectual e econômico, bemcomo os apoios quase irrestri-tos que deram a esta estratégiatinham como única finalidadegarantir a governabilidade noprimeiro momento, sendo quejamais imaginaram (ou concor-daram) com a manutenção dostatus quo dos últimos anos.

Novo diagnóstico

Ocorre que a atual políticaeconômica ou a “ortodoxia dobem” – como define o Presi-dente Lula – vem ganhandocada vez mais força e ênfase

na esfera governamental, tra-zendo em seu bojo um conjun-to de distorções que certamen-te vão combalir ainda mais aeconomia brasileira.

Todavia, os arautos de LuizInácio, falaciosamente, alegamque suas lideranças partidáriasnão abandonaram os eixos queestruturam o Programa de Go-verno que os alçou ao Planal-to e justificam a atual políticaeconômica pelo diagnóstico“mais claro”, que agora fazemsobre a realidade dos proble-mas brasileiros.

A verdade é que o “novodiagnóstico” foi constituído por

A atual política econômica ou a “or-todoxia do bem” – como define o Pre-sidente Lula – vem ganhando cadavez mais força, trazendo em seu bojoum conjunto de distorções que cer-tamente vão combalir ainda mais aeconomia brasileira

N

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4 jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003

(interna e externamente) denossa economia e, principal-mente, provocará a insuficiên-cia de emprego e, conseqüen-temente, das condições desobrevivência.

Será também uma armadilhapara o próprio governo que so-frerá a penalidade política esta-belecida pela remoção eleitoralpromovida pela cidadania incon-formada, a qual quis crer no can-didato do PT quando afirmou emsua Carta que “a sociedade estáconvencida que o Brasil continuavulnerável e de que a verdadeiraestabilidade precisa ser construí-da por corajosas e cuidadosasmudanças que os responsáveispelo atual modelo não queremabsolutamente fazer”.

Não basta apenas considerarmos que a opção de políticaeconômica do governo é tecnicamente inconsistente. (...)Diante da magnitude dos custos sociais e mesmo do riscode uma recessão sem precedentes que tal política fazantever, é fundamental que alternativas sejam apontadas

Alternativas existem

Não basta apenas conside-rarmos que a opção de políti-ca econômica do governo étecnicamente inconsistente.Tão pouco seria correto somen-te alertar que sua manutençãopode no médio prazo provo-car uma nova crise financeira,mais vulnerabilidade externa eum significativo conjunto ou-tro de problemas. Diante damagnitude dos custos sociaise mesmo do risco de umarecessão sem precedentes quetal política faz antever, é fun-damental que alternativas se-jam apontadas.

Uma alternativa extrema-mente criativa já esta dada nopróprio Programa de Governodo PT e sintetizada na Carta deLula: “A volta do crescimentoé o único remédio para impe-dir que se perpetue um círculo

vicioso entre metas de inflaçãobaixa, juro alto, oscilação cam-bial brusca e aumento da dívi-da pública. (...) O caminho parasuperar a fragilidade das finan-ças públicas é aumentar emelhorar a qualidade das ex-portações e promover umasubstituição competitiva de im-portações no curto prazo”.

Estas metas, absolutamen-te factíveis, seriam alcançadaspela ampla negociação comsegmentos da sociedade emtorno da redução das restriçõesmonetária, financeira e produ-tiva real, associada à possibili-dade de expansão de direitos.A base da agenda a ser nego-ciada seria a definição de umapolítica industrial voltada para

elevação da competitividadeem termos internos e para umainserção progressiva no âmbi-to externo.

Para tanto, algumas condi-ções tornavam-se, necessárias.Em primeiro lugar, seria coe-rente supor a ampliação da ca-pacidade de financiamentoestruturante. Visando isto, asagências de fomento se prepa-rariam para deixar gradativa-mente de fundear a dívida pú-blica e, portanto, abandonar opapel de caixa auxiliar do go-verno, recuperando seu fococomo instituições geradoras decrédito seletivo.

Gestão mais construtiva

Por sua vez, seria indispen-sável o estabelecimento de ele-vados saldos comerciais, obti-dos não somente pelo mero –e, por vezes, sazonal – cresci-mento das exportações, mas,

principalmente, pelo aumentoda participação efetiva do paísno comércio internacional(hoje inferior a 1% das transa-ções totais). Para este fim, se-ria listado um elenco de pro-dutos e serviços de alto valoragregado como linha con-dutora do esforço exportador,a par da diversificação da pau-ta e da reversão da tendênciade primarização das exporta-ções que, em 2002, totalizaram28,1% das vendas externas bra-sileiras (com crescimento de10,5% em relação a 2001, en-quanto as exportações de ma-nufaturas cresceram, no perío-do, apenas 0,29%).

Acessoriamente, o aumentodo saldo comercial e, portanto,

o ingresso líquido de divisas,retiraria pressão sobre as neces-sidades de financiamento do-méstico e seria presumível umamelhora nas condições de ad-ministração da dívida públicaconsolidada e, também, a redu-ção das transferências interna-cionais de reais.

Noutra direção, o Governodeveria recuperar sua capacida-de reguladora sobre os chama-dos serviços semipúblicos,notadamente no que diz respei-to à precificação indexada (sa-liente-se que os preços admi-nistrados vêm crescendo maisque os preços livres, gerandoforças inflacionárias) e definiçãode uma programação coordena-da de investimentos – já que seestima, por exemplo, que ha-verá sérios problemas de forne-cimento de energia elétrica se aeconomia tentar rodar num rit-mo mais aquecido.

Alcançados, mesmo que

parcialmente, os objetivos aci-ma, estariam criadas as condi-ções para a redução gradual esustentável da taxa de jurosreal do país. A redução da taxade juros, combinada com umapolítica de micro-crédito e commecanismos tributários dedesoneração do consumo po-pular, permitiria a ampliaçãodo mercado interno de con-sumo de massa, que seriaguindado exatamente pelaexpansão dos níveis de con-sumo das populações de me-nor renda. Entrando aqui oPrograma Fome Zero – enten-dido enquanto um programade renda mínima – como molamestra desta estratégia.

Pelo exposto, mesmo que

sumariamente, fica claro que ogoverno que hoje sucumbe aofundamentalismo de mercadoé o mesmo que elaborou e pos-sui um projeto econômicosustentável e factível, tendo,portanto, a possibilidade desubstituição de sua atual po-lítica por uma alternativa bemmais construtiva de gestão eco-nômica.

Luiz Inácio Lula da Silva foieleito graças a um ideário eco-nômico que pressupunha amudança do modelo. Cumprirou não os compromissos ex-plicitados em sua Carta aoPovo é o que fará a diferençaentre ser lembrado como umoperário que chegou à Presi-dência da República ou comoo presidente que recolocou oBrasil no rumo do desenvol-vimento.

* Professor de Política Macroeconômicae Conselheiro do Corecon-RJ

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LOGÍSTICA Eriksom Teixeira Lima* e Mário Carvalho Jr.**

titividade ao país pelos próximos 10 anose, melhor, quase tudo pode ser feito comdinheiro privado. Por que gastar dinhei-ro público?

3) Sepetiba apresenta característicasúnicas.

As exportações de minério não enfren-tam obstáculos e são realizadas em por-tos capixabas, maranhenses e no cariocade Guaíba (este, privado, existe há déca-das). As exportações de produtos agríco-las têm problemas, mas não encontram,em Sepetiba, qualquer solução boa e ba-rata. Pelo contrário! A movimentação decarga geral e de contêineres no porto doRio apresenta ociosidade acima de 50%,nas condições atuais. Caso sejam realiza-das pequenas intervenções em dragagem,reforma de cais e, principalmente, aper-

feiçoamentos nas concessões, ele temcondições de triplicar sua capacidade o-peracional e receber qualquer navio queSepetiba diz poder receber. Tudo isso semusar mais do que sua área no entorno daponte Rio-Niterói, com investimentos 70%a 80% inferiores, sendo metade deles,pelo menos, feitos pelos concessionári-os. Por que inventar e gastar dinheiropúblico?

4) Rio e Santos estão estranguladospelas cidades do seu entorno.

Qualquer turista brasileiro que visiteRotterdam, Antuérpia, Hamburgo, Barce-lona, Miami, entre outros, perceberá quea integração cidade-porto nessas cidadesé alta, havendo simbiose entre ambos. Per-ceberá mais: que em nenhuma delas se“reclama” da existência do porto, nem se

1) Toda crítica vem de paulistas.Ora, o projeto é apresentado como solu-

ção para o Brasil, portanto, deveria ser dis-cutido por todos e não só por cariocas. Afi-nal, encontrar soluções que aliem menorescustos para idênticos benefícios é mandató-rio. Há investimentos possíveis no próprioporto do Rio que beneficiariam o país, e quesão menores e mais eficientes do que os osdestinados a Sepetiba. Por que gastar mais?

2) Sepetiba é estratégico para 2020.Há investimentos melhores, mais ba-

ratos e muito mais eficientes a serem fei-tos já, para que se possa triplicar (ou atéquadruplicar) a capacidade de movimen-tação de contêineres no Sudeste/Sul, nosportos do Rio, de Santos, Paranaguá, RioGrande e nos do Espírito Santo. Esses por-tos, reaparelhados, assegurariam compe-

“Quando o Planalto man-da, o BNDES paga”, era otítulo do artigo de ElioGaspari na Folha de S.Paulo de 27 de abril de1997. Seis anos depois,ainda se pretende incine-rar recursos públicos como desnecessário porto deSepetiba.No último 11 de abril, oBNDES realizou o seminá-rio Sepetiba: Portal doAtlântico Sul, no qual fal-tou o principal: debate téc-nico. Nele, não foi dadoqualquer espaço para dis-cussões técnicas que des-mistifiquem a retórica pró-projeto. Vejamos entãonove argumentos:

Sepetiba: um gastodesnecessário

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6 jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003

pede que ele seja removido do centro desuas áreas urbanas. Por que aqui, um paíscarente de recursos, se pensa diferente?

5) Sepetiba está preparado para ossupernavios post-panamax.

Tirando a adjetivação retórica, “super-navios”, navios post-panamax são todosaqueles que não cruzam o canal do Pana-má. Esses navios já freqüentam os portosbrasileiros há anos. É importante destacarque os projetos desses navios não têm agrandiosidade proclamada, pois eles man-têm suas escalas nos portos internacionaisjá citados, cujas condições são pouco su-periores às dos portos do Rio e de Santos.O mais importante: no Rio e em Santos,melhorias podem ser facilmente implemen-tadas com investimentos bastante meno-res do que em Sepetiba (o projeto deSepetiba prevê mais de US$ 1,5 bilhão, eminvestimentos). Por que gastar oito ou 10vezes mais em Sepetiba para obter menosbenefícios do que nos atuais portos?

6) Sepetiba dispõe de grandes áreaspara expansão.

Trata-se de mais uma informação falsa,pois quase 90% da área atual do porto sãousados para depósito de minérios e decarvão, e as áreas disponíveis junto aoscais, que são as mais importante, estãototalmente ocupadas. Do ponto de vistaoperacional, a configuração proposta paraSepetiba é a pior do país.

7) Sepetiba possui grande calado na-tural.

Se isso fosse verdade, não teria sidofeita uma dragagem de cerca de 20 mi-lhões de metros cúbicos, o que daria paracobrir com 10 metros de areia toda aveni-da Brasil, desde o cais do porto do Rio atéseu término na BR-101 (Rio-Santos). Omais perverso é saber que Sepetiba, aocontrário do que proclamam seus exegetas,está localizada na foz do Guandu e docórrego da Guarda, local que apresentaos maiores índices de assoreamento den-

tre todas as baías brasileiras (o calado na-tural ali é de três metros, de lama!). Emoutras palavras, a destruição ecológica járealizada precisará continuar ad eternum.

8) Sepetiba ainda demanda centenasde milhões de dólares.

Os investimentos imediatos em trans-portes terrestres, apenas para tentar tornarviável Sepetiba (pasmem, ele ainda não éviável!), somam quase US$ 500 milhões. Serealizados, sua única utilidade será trans-portar produtos para Sepetiba, tornando-se o que os economistas chamam de “ativoespecífico”. A pior parte é que esses inves-timentos não apresentam retorno positivo,logo terão de ser realizados com recursospúblicos. Apesar de tudo, pode-se até ima-ginar um cenário em que, mesmo com tudoisso, Sepetiba não conseguiria concorrercom o porto do Rio, pois este possui carac-terísticas técnicas que lhe asseguram van-tagens operacionais e de preço dificilmen-te alcançáveis por Sepetiba. Por que gastarem obras desnecessárias para o País?

9) O Rio precisa de investimentos dogoverno federal.

Não há o que contestar, mas eles tal-vez não aconteçam, pois quando há di-nheiro para fazê-los, gasta-se em obrasdesnecessárias como esta. Se ao invés deinsistir no erro, se propor o gasto de US$40 milhões na modernização da infra-es-trutura do porto do Rio e os restantes US$460 milhões em projetos de reurbanização

da cidade que melhorem as condições devida da sua população carente, maioresserão os benefícios garantidos ao Rio e aoBrasil. Por que não otimizar benefícios àpopulação com dinheiro público?

Conclusão

Há muitos mais argumentos técnicoscontrários a Sepetiba, que favoreceriam oporto do Rio. Uma correta avaliação desseprojeto ainda está por ser feita. No casoespecífico de Sepetiba, pode-se afirmar,sem sombra de dúvida, que o projeto nãocumpre nenhum dos pré-requisitos paraser considerado estratégico.

O Rio de Janeiro tem espaço e poten-cialidades para pleitear projetos exeqüíveise que tragam real benefício para o estado.Não será com retóricas vazias como essa,com bravatas do tipo “o Rio Exige!”, quese encontrará solução para a decadênciaeconômica do estado.

Mais ainda: o debate sobre “projetosestratégicos” deve ser sempre feito sob aluz do sol, pois esse, como diz o jornalistaElio Gaspari, é excelente detergente, e,além disso, é a melhor fonte de luz paraaclarar idéias e iluminar os caminhos.

* Economista, empregado concursado do BNDES,publicou diversos artigos sobre transportes, navega-ção, logística e comércio exterior.

** Economista, professor da UERJ, com publicaçõesdiversas sobre comércio exterior.

O mais importante: no Rio e em Santos, melhoriaspodem ser facilmente implementadas com investi-mentos bastante menores do que em Sepetiba (o

projeto de Sepetiba prevê mais de US$ 1,5 bilhão, em inves-timentos). Por que gastar oito ou 10 vezes mais em Sepetibapara obter menos benefícios do que nos atuais portos?

O mais importante: no Rio e em Santos, melhorias podem ser facilmenteimplementadas com investimentos bastante menores do que em Sepetiba (oprojeto de Sepetiba prevê mais de US$ 1,5 bilhão, em investimentos). Por quegastar oito ou 10 vezes mais em Sepetiba para obter menos benefícios do quenos atuais portos?

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SOCIEDADE

e excluirmos países atravessandograves dificuldades temporárias, élícito afirmar que o Brasil registra

hoje as mais elevadas taxas de jurosdo mundo. E esse fato representa obs-táculo fundamental à retomada do de-senvolvimento.

Até pouco tempo atrás, se alegavaresultar tal situação do elevado “riscoBrasil”, determinado pelos nossos gran-des déficits fiscal e das contas exter-nas. Essa explicação foi invalidada pelademonstração de que países com “ris-co” superior ao nosso registravam ju-ros bastante mais baixos. Ou seja, nossaalta taxa de juros, e inclusive seu re-cente aumento, resulta não da açãodas forças do mercado, mas de deci-sões adotadas pelo Copom.

Para justificar o último aumento dataxa de juros, se alega a necessidadede conter a inflação. Ora, os preços po-dem ser estabilizados tanto por instru-mentos monetários (elevação da taxade juros) como por instrumentos fis-cais (diminuição do déficit público).Diante do elevado peso dos juros nasdespesas públicas do país, a simplesqueda de suas taxas reduzirá significa-tivamente o déficit fiscal, permitindomanter os preços sob controle. E o com-bate da pressão inflacionária através demenores juros, além de viabilizar a re-tomada dos investimentos, aliviará opeso dos dois importantes obstáculosao desenvolvimento, representadospelos déficits fiscal e cambial (agrava-do pela remuneração de investidoresestrangeiros que compram títulos pú-blicos). A solução correta para o pro-blema inflacionário é, assim, a baixa enão o aumento dos juros.

Os juros precisam baixar

Manifesto aprovado na mais recentePlenária do Conselho Federal de Eco-nomia defende a baixa, e não a alta,dos juros como terapia antiinflacionária

lega o Copom que a reduçãodos juros terá duas conseqüên-cias negativas: impedir a rola-

gem da dívida pública interna e redu-zir a entrada do capital estrangeiro,indispensável à cobertura do déficit denossa balança de transações correntes.

Ora, os altos juros pagos na rolagemde nossa dívida interna resultam da ina-ceitável pressão dos dealers, ou seja,dos bancos encarregados de colocarno mercado os títulos públicos. Suce-de que o Governo tem condições deresistir a essa pressão, usando instru-mentos à sua disposição como a ele-vação dos depósitos compulsórios. Esteúltimo instrumento já revelou, aliás, nopassado, sua plena eficácia.

Quanto à atração do capital estran-geiro o primeiro fato a ser considera-do é que, se a redução da taxa jurosfor gradual, esta se manterá, por pra-zo razoável, em níveis suficientes paraatrair a poupança externa. Se isso nãofor bastante, as vantagens resultantesda queda dos juros (retomada do de-senvolvimento e redução dos déficitsfiscal e cambial) justificam plenamen-te a adoção das medidas de exceção(por exemplo, controle dos fluxos in-ternacionais de capitais) que se fize-rem necessárias para manter a situa-ção sob controle.

Cofecon vem, assim, a públicopara afirmar (a) que a reduçãoda taxa de juros constitui medi-

da fundamental, não só para o paísretomar o desenvolvimento econômi-co como para reduzir substancialmen-te os desequilíbrios fiscal e cambial;(b) que a diminuição do déficit fiscal,através de menores juros nos títulosda dívida pública, será suficiente paramanter os preços sob controle; (c) quenão tem validade a alegação de serimpossível rolar a dívida pública eatrair a poupança externa no caso dabaixa dos juros; e (d) que o BancoCentral dispõe dos instrumentos ne-cessários para desencadear, desdelogo, a redução dos juros.

Não existe, assim, qualquer motivopara que providências nesse sentidodeixem de ser imediatamente adotadas.E estas serão importantes, por consti-tuírem o primeiro passo para novomodelo de desenvolvimento, tal comoprometido pelo atual Governo.

S

O

A

Manifesto aprovado pela Plenária do Conselho Federal de Economia, em sua 555a Sessão Plenária – Brasília, abril de 2003.

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Reinaldo Gonçalves, professor da UFRJENTREVISTA

8 jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003

Jornal dos Economistas – Por que mui-tos analistas têm mostrado ceticismo emrelação ao novo governo?Reinaldo Gonçalves – Isso não surpre-ende. Em uma rica síntese da história po-lítica brasileira, José Honório Rodrigues(Conciliação e Reforma, Ed. CivilizaçãoBrasileira, 1965) chegou à seguinte con-clusão: “As reformas dos líderes criadoresforam sempre contidas, ou porque as con-dições estruturais e as pressões externasos impediam de mover-se com maiordesembaraço ou porque o próprio mecan-ismo da conciliação os obrigava a conter-se, ou ainda porque diante das dificulda-des reduziam ou limitavam seus objetivos”.Os céticos tomam a História do Brasil comoreferência e pensam que não se deve es-perar mudanças significativas durante o go-verno Lula. Recupera-se, assim, a análisehistórica de José Honório Rodrigues, quenos dá a seguinte lição: “a política de con-ciliação, de transação, teve como princi-pal objetivo aplainar mais as divergênciasdos grupos dominantes que conceder be-nefícios ao povo”. As medidas de políticaeconômica nos primeiros meses do gover-

no indicam que estamos entrando em maisum período de conciliação e reforma quegerará mais instabilidade. Talvez não sejapor outra razão as críticas feitas por deca-nos da Ciência Econômica, no Brasil, comoFrancisco de Oliveira, Paul Singer,Theotônio dos Santos e João Paulo deAlmeida Magalhães. Lula está propondoum mecanismo de conciliação, que eledenominou de Pacto Social. Penso que Lulafrustrará as expectativas do povo brasileiroe repetirá o padrão histórico identificadopor José Honório Rodrigues como de “con-ciliação e reforma”. A menos que haja umaséria crise de governabilidade (provocadapor mais uma crise cambial) ou, então, gran-de mobilização e pressão popular, pensoque ainda não é dessa vez que entraremosem um novo ciclo histórico, que será mar-cado pela ruptura com uma trajetória dedesigualdade, miséria e injustiça.

JE – Mas, o presidente Lula não tem fala-do sempre em mudanças?RG - “Mudança” é o elemento-chave dodiscurso do presidente. No entanto, hámargem para duas interpretações. Por umlado, o empresariado, os banqueiros eoutros grupos conservadores entendemque o governo Lula pode significar mu-danças marginais no Brasil. Nesse caso,não haveria mudanças substantivas naeconomia, sociedade, política, cultura enas instituições, após um longo períodode transição. O discurso de Lula poderiaser encaixado num modesto compromis-so social-democrata ou social-liberal, quedaria maior racionalidade e, eventualmen-te, dinamismo à economia e reduziriamarginalmente os níveis dramáticos demiséria e desigualdade no Brasil. Lula as-sinalou claramente para um conjunto dereformas: previdência social, tributação,legislação trabalhista, estrutura sindical,reforma agrária e reforma política. Na vi-são conservadora, Lula prosseguiria avan-çando na margem. Ele retomaria as refor-mas iniciadas pelo governo neoliberal deFHC (previdência social, legislação traba-lhista e reforma agrária) e realizaria as re-formas que deixaram de ser imple-mentadas (tributação, estrutura sindical ereforma política). Nesse último caso, a

O JE inicia, nesta edição, uma sé-rie de entrevistas que pretende sera mais abrangente, no sentido dealcançar todas as correntes e fon-tes de propostas e políticas alter-nativas para que a economia brasi-leira retome o rumo do desenvolvi-mento, com distribuição de renda,inclusão social e redução das desi-gualdades e da dependência exter-na. Devido a problemas de agenda,não nos foi possível iniciar a sériecom o economista Marcos Lisboa,da equipe econômica do GovernoLula e responsável pela elaboraçãodo primeiro documento de estraté-gia macroeconômica - Política Eco-nômica e Reformas Estruturais,conforme era nossa intenção. Noentanto, a entrevista com ReinaldoGonçalves é tão instigante e rica emcríticas contundentes aos rumos eprumos da política da equipe eco-nômica atual que, certamente, re-presentantes do governo encontra-rão tempo para que, também emnossas páginas, possam apresen-tar suas idéias e visões.Afinal, pelo exposto na entrevistaque segue estamos diante de umasituação em que “a menos que hajauma séria crise de governabilidade(provocada por mais uma crise cam-bial) ou, então, grande mobilizaçãoe pressão popular, penso que aindanão é dessa vez que entraremos emum novo ciclo histórico, que serámarcado pela ruptura com uma tra-jetória de desigualdade, miséria einjustiça”. Reinaldo Gonçalves nãotergiversa: “Penso que Lula frustra-rá as expectativas do povo brasilei-ro e repetirá o padrão histórico iden-tificado por José Honório Rodriguescomo de ‘conciliação e reforma’”.Mas, identifica saídas: “O discursode Lula permite que o movimentosocial, trabalhadores, desemprega-dos, pobres, excluídos e todos osgrupos desfavorecidos da socieda-de brasileira apostem nas mudan-ças históricas”. A íntegra da entre-vista, concedida via correio eletrô-nico.

“Errar pior do que FHC

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9jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003

é trágico e, também, ridículo”expectativa, naturalmente, é que as refor-mas restrinjam-se a uma conciliação dedivergências e envolvam, fundamental-mente, mudanças marginais, que não afe-tem os interesses das frações dominantesda elite brasileira. Isto é, trata-se, somen-te, de dar maior racionalização ao sistema(previdenciário, tributário, etc).

JE – Mas isso frustraria a maioria da po-pulação brasileira, não?RG – O discurso de Lula permite que omovimento social, trabalhadores, desempre-gados, pobres, excluídos e todos os gru-pos desfavorecidos da sociedade brasileiraapostem nas mudanças históricas. Nessecaso, a expectativa é que, pela primeira vezna história do Brasil, o colapso de um mo-delo excludente não seja seguido pela tra-dicional fórmula da “conciliação e reforma”,que evita atender às aspirações de mudan-ças efetivas. Em contraste, as mudançashistóricas significam alterações nas estru-turas, processos e relações econômicas,sociais, políticas e culturais, “desde o mo-mento inicial do governo”. A expectativadas forças progressistas é que as reformasprometidas por Lula impliquem, efetiva-mente, em mudanças históricas. A reformada previdência social deve transcender alógica simplificadora do equacionamentofinanceiro. A reforma agrária deve ser ummecanismo de alterações profundas nas re-lações sociais no campo, na regularizaçãodo território e na estrutura de distribuiçãoda riqueza no país. A reforma política deveir muito além de problemas como fidelida-de partidária e financiamento de campa-nha. A reforma da legislação trabalhista eda estrutura sindical deve partir do pressu-posto que o trabalho não é uma mercado-ria qualquer e, portanto, deve superar emmuito a lógica neoliberal da flexibilização,desoneração de tributos e competitividade.A questão tributária, por seu turno, é vistacomo um instrumento-chave para se defi-

nir a orientação do novo governo, pois suaconfiguração geral define quem “paga aconta”. Nesse caso, espera-se que a refor-ma tributária seja tanto um instrumento deajuste macroeconômico, como de distribui-ção de riqueza e renda. Isto é, as reformasteriam como eixos estruturantes, tanto a ra-cionalização como a moralização e a distri-buição de renda e riqueza. Os primeirosmeses do governo foram decepcionantespara aqueles que pretendem mudanças his-tóricas. Os dois principais projetos de re-formas anunciados (previdenciária e tri-butária) têm claramente um foco naracionalização e negligenciam, em maior oumenor medida, os eixos da moralização eda distribuição. No que se refere à políticaeconômica externa, a percepção é que ha-verá um forte elemento de continuidade.As iniciativas do governo na área monetá-ria e financeira (reforma constitucional eautonomia do Banco Central) representamum retrocesso. Não há dúvida que a políti-ca macroeconômica de Lula está desfocada.

JE – Qual é o foco da política econômica?RG – O foco da política econômica de Lulaé claramente o combate à inflação. O con-trole da inflação é visto como premissabásica para a governabilidade. Nos primei-ros meses de governo houve um aumentoda taxa de juros, aparentemente como res-posta a uma revisão para cima da meta in-flacionária. Ao mesmo tempo, o governomanteve uma posição de “negligência be-nigna” com relação à apreciação cambial.Parece que voltamos a julho de 1994, quan-do foi lançado o Plano Real. Naturalmente,o aumento do superávit primário com baseno corte de gastos é consistente com apolítica monetária restritiva e a apreciaçãocambial, ambas orientadas para o combateà inflação. O resultado imediato desse con-junto de políticas restritivas é evidente:queda do investimento e do consumo e,portanto, contração da produção e da ren-

da, bem como o aumento do desemprego.A fonte da pressão inflacionária recente noBrasil é a desvalorização cambial ao longode 2002. Essa inflação de custos está sendocombatida com políticas restritivas orienta-das para a contração da demanda agrega-da como se a economia brasileira tivesseuma inflação de demanda. Ainda que a re-dução do nível de gastos possa funcionarcomo um contrapeso ao aumento de cus-tos, o controle da inflação via políticas res-tritivas não garante uma trajetória sustentá-vel de queda da inflação. A próxima crisecambial detonará uma elevação do nívelgeral de preços.

JE – Há risco de continuarmos no “piordos mundos”, com a estagflação?RG – No curto e médio prazo a economiabrasileira corre o risco de conviver comalta pressão inflacionária, alto nível de de-semprego dos fatores e enorme vulnera-bilidade externa. Primeiro, a política dejuros altos causa aumento dos custos fi-nanceiros e, portanto, pressiona a infla-ção de custos. Segundo, juros altos pro-vocam recessão e aumento do nível deociosidade da capacidade de produção.Esse fato faz com que os agentes econô-micos de maior poder aumentem os seusmark-ups, o que pressiona ainda mais ainflação de custos. Terceiro, a queda dosinvestimentos agrava os gargalos existen-tes no aparelho produtivo, o que resultaem novas pressões de custo. Quarto, aapreciação cambial, via o chamado “efei-to ricocheteio” não leva o nível de preçospara os níveis anteriores ao da deprecia-ção cambial. Quinto, a redução dos inves-timentos compromete a expansão do pro-duto potencial no médio prazo, o quepoderá resultar em pressões inflacionáriasno futuro próximo. Sexto, os juros altosagravam o desequilíbrio de estoque e defluxos das finanças públicas. A armadilhada dívida persiste: juro alto aumenta a

A expectativa, naturalmente, é que as reformas restrinjam-se a uma conciliação de diver-gências e envolvam, fundamentalmente, mudanças marginais, que não afetem os interes-ses das frações dominantes da elite brasileira. Isto é, trata-se, somente, de dar maiorracionalização ao sistema (previdenciário, tributário, etc)

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dívida pública; o que agrava o risco-país epressiona o câmbio; que provoca pressãoinflacionária e aumenta o juro. E, por fim,a política de juros altos, que atrai capitalde curto prazo e capital especulativo, au-menta a volatilidade e o risco de depreci-ações abruptas da taxa de câmbio e, por-tanto, de novas pressões inflacionárias ede maior vulnerabilidade externa. As po-líticas restritivas impõem um alto custo paraa economia. Essas políticas provocam vul-nerabilidade externa e, principalmente, de-semprego. Estabilizar primeiro e aumen-tar o emprego depois parece ser aorientação do governo Lula nos seus pri-meiros meses. Entretanto, a política mone-tária restritiva e a apreciação cambial nãogarantem uma queda sustentável da infla-ção. Essas políticas, certamente, reduzem ataxa de crescimento econômico e aumen-tam o desemprego. Vale ressaltar que umdos objetivos centrais do programa econô-mico do governo Lula é a geração de em-prego. Afinal de contas, não é só o famin-to, o desempregado também tem pressa.

JE – Será que não precisamos ser um pou-co mais pacientes com Lula?RG – Nos primeiros meses, o atual gover-no não fez qualquer mudança significati-va na política econômica herdada do go-verno anterior. Ademais, não há qualquersinalização de mudanças no rumo da eco-nomia. A percepção é que a política eco-nômica está sem rumo (pois replica a dogoverno anterior, que era um disparate) esem prumo (pois mantém o país numa tra-jetória de instabilidade e crise). É eviden-te que a economia brasileira precisa deuma fase de transição, tendo em vista aherança trágica do governo FHC. Isso estáclaramente escrito no programa de gover-no e, ademais, há um imperativo de ges-tão macroeconômica cautelosa e respon-sável, que todos querem e que o paísprecisa. Até aí, platitudes. No programado PT está explicitado que “o governo nãovai romper contratos nem revogar regrasestabelecidas”. Essa é uma importante di-retriz, mas que não pode ser confundidacom conformismo, falta de ousadia ou deestratégia. Ninguém contesta a platitudeque a reversão de estratégias e políticas(as mudanças) não ocorrerá num “passe

de mágica”. Contudo, isto não significaaprofundar o modelo trágico de FHC. Lulaparece que está contando a seguinte fá-bula: você pegou uma pneumonia porqueficou exposto à chuva e ao vento durantemuito tempo. Agora, vamos curar a pneu-monia ficando mais tempo ainda ao re-lento. Isso não tem cabimento. É, parasermos educados, um contra-senso.

JE – É possível uma gestão macroeconô-mica alternativa?RG – A resposta é um “SIM” maiúsculo.Entenda-se “rumo e prumo” como um con-junto de medidas de curto prazo que sãoconsistentes com o projeto de mudança(rumo) e eficazes (prumo). A resposta doscríticos e, pior, dos cada vez mais preocu-pados, é que há um conjunto de medidasque deveriam e poderiam ter sido imple-mentadas já no início do governo e queseriam consistentes e coerentes com o pro-grama econômico do PT. Podemos menci-onar algumas que, introduzidas no início eseguindo um esquema gradual, respeitari-am o imperativo da transição: controles dosfluxos de capitais internacionais; reduçãoda taxa de juros real; calibragem do depó-sito compulsório; expansão seletiva do cré-dito orientado para a produção; mini-mização do tema das metas inflacionárias;desdolarização da dívida pública; desdo-larização das tarifas dos serviços de utilida-de pública; redução do superávit primário;recomposição das reservas internacionais;medidas tributárias no sentido de eliminarprerrogativas de pagamento de impostossobre lucros e juros (exemplo, juros sobrecapital próprio); intervenção ativa no mer-cado cambial, objetivando a estabilidadeda trajetória de desvalorização efetiva docâmbio (dólar caro); e, auditoria da dívidaexterna. Essas medidas já teriam efeitomacroeconômico de curto prazo. Elas seri-am implementadas de forma gradual numperíodo de transição que pode durar deum a dois anos. Ademais, elas caracterizam-se pela consistência macroeconômica (têmprumo) e seguem as diretrizes do progra-ma econômico do PT (o que indica rumo).Para ilustrar, no programa está explicitadoque a âncora fiscal, “pela via dos superávitsprimários, exige um esforço de todos osbrasileiros, afetando especialmente a viabili-

dade dos programas sociais do setor públi-co”. As medidas acima flexibilizam a ânco-ra fiscal (imobilizadora, nefasta), que nãosomente inviabiliza programas sociais,como também mantém o país numa traje-tória de instabilidade e crise. O superávitprimário com juros altos é, simplesmente,autofágico.

JE – O Plano Plurianual de Investimentos(PPA) pode colocar o Brasil em uma traje-tória de desenvolvimento?RG – O foco de retomada do desenvolvi-mento com distribuição de riqueza e gera-ção de emprego é o único compatível coma diretriz básica do programa do GovernoLula, de redução da exclusão social. Essefoco também é o único que daria consis-tência e sustentabilidade ao Programa FomeZero. Visto que desemprego causa exclu-são social, todo esforço de redução donúmero de brasileiros passando fome fica-rá comprometido com o aumento do nú-mero de desempregados. Mas, para isso, énecessário abandonar a política de metasinflacionárias e de “hiperávit” fiscal. Essecasamento (na realidade, incestuoso, poiso juro alto é irmão gêmeo do déficit públi-co) só trava o processo de desenvolvimen-to. Retomo aqui a mesma análise que fizdo último PPA do FHC. Vulnerabilidadeexterna e políticas monetária e fiscal restri-tivas inibem o investimento público, tra-vam o investimento privado e o consumo.O “Brasil em Ação”, de 1995, e o PPA, de1999, foram peças de retórica. Como escre-vi na época, qualquer PPA se transformaem peça de propaganda (enganosa) e agi-tação quando há erros graves na políticamacroeconômica (“PPA e retomada do cres-cimento”, JE, agosto/99). Espero que da-qui a quatro anos não tenha que relembraressa minha entrevista. Se Lula continuar co-metendo “erros velhos” na política macroe-conômica, o seu PPA será o “Brasil em Açãoreloaded”. Citando, uma vez mais, o mes-tre José Honório Rodrigues “a conciliaçãoempequeneceu muitos líderes e não foi feitapara benefício do povo e do país”. Essa liçãofica como um alerta ao presidente LuísInácio Lula da Silva. Lula pode errar e errarde novo, mas precisa errar melhor do queFHC, pois esse último foi medíocre. Errar piordo que FHC é trágico e, também, ridículo.

Os dois principais projetos de reformas anunciados (previdenciária e tributária) têm cla-ramente um foco na racionalização e negligenciam, em maior ou menor medida, os eixosda moralização e da distribuição

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á é lugar comum dizer-seque um determinado livro

ou estudo veio “cobrir uma la-cuna” ou “fazia falta”, mas nãohá como fugir destas coloca-ções com relação ao mais queoportuno livro de Paulo Jan-nuzzi. É quase um “ovo deColombo”. O livro se propõe aexplicar o que é um indicadorsocial, seus tipos e proprieda-des, suas fontes de dados etambém o significado e uso dosmais importantes, numa lingua-gem inteligível para leigos noassunto. Simples, sem sersimplista, e muito útil.

Por que ninguém pensou (efez) isso antes? Mas o que maisespanta não é que este livro te-nha custado tanto a aparecer e,sim, por que até hoje não existeum similar para Indicadores Eco-nômicos. Não vou nem falar deindicadores ambientais, pois aijá seria “querer demais” (embo-ra exista algo próximo a isso,com a publicação Geocidadesdo Iser-Ibam-Redeh).

Outro mérito deste livro éque, de certa forma, ele é “trêsem um”, pois, como as áreasse interpenetram, muitos indi-cadores sociais são tambémeconômicos e ambientais/desustentabilidade. A taxa dedesocupação (também conhe-cida como taxa de desempre-go), por exemplo, é ao mesmotempo um indicador econômi-co, social e de sustentabilidade.Isso só aumenta a utilidade dotrabalho de Jannuzzi.

Citando o próprio autor,“atualmente, taxa de mortalida-

RESENHA Paulo Gonzaga Mibielli de Carvalho

Conceitos, fontes e aplicaçõesdos indicadores sociais no Brasil

de infantil, taxa de analfabetis-mo, nível de desemprego, graude indigência e pobreza, índicede desenvolvimento humanosão conceitos corriqueiramen-te citados nos jornais, na mídiaeletrônica, nos debates políti-cos” (p. 11). Mas o que signifi-cam, exatamente? Por que sãoconsiderados indicadores soci-ais? Para que servem? Jannuzziresponde a estas questões.

Origem dos indicadores

Um indicador surge de umanecessidade de quantificar ouoperacionalizar algo com sig-nificado social substantivopara a teoria ou para a políticapública. Ou seja, o ponto departida para a construção deum indicador é uma demandada teoria ou da política. Hávárias formas de quantificar ouoperacionalizar este conceito.

Portanto, deve-se adotar aopção que gere um indicadorcom o maior número possívelde propriedades desejáveis,que são: relevância social, vali-dade, confiabilidade, cobertu-ra, sensibilidade, especificida-de, inteligibilidade de suaconstrução, comunicabilidade,factibilidade para obtenção, pe-riodicidade na atualização, de-sagregabilidade e historicidade.Talvez, a parte mais interessantedo livro seja a discussão da im-portância destas propriedades.

Outra questão de granderelevância apresentada no livrosão os diferentes tipos/classi-ficações de indicadores, que

Uma resenha do livro Indicadores So-ciais no Brasil – Conceitos, Fontes deDados e Aplicações, de Paulo Jannuzzi,professor da Escola Nacional de Ciên-cias Estatísticas (Ence)

Um indicador surge de uma neces-sidade de quantificar ou operacio-nalizar algo com significado socialsubstantivo para a teoria ou para apolítica pública. Ou seja, o ponto departida para a construção de umindicador é uma demanda da teoriaou da política

J

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podem ser: simples/compos-tos; descritivo/normativo; qua-litativo/quantitativo; objeti-vo/subjetivo; insumo/fluxo/produto; esforço/resultado;performance/estoque; eficiên-cia/eficácia/efetividade social;absoluto/relativo. Dando al-guns exemplos: o IDH é umindicador composto, pois éuma média ponderada de ou-tros indicadores; número demédicos é um indicador deinsumo, o número de consul-tas médicas é de fluxo e a que-da da mortalidade e morbidadesão de produto/resultado.

Como já mencionado, hátambém uma exposição sobreas características das principaisfontes de dados – censos (ex.:demográfico), pesquisas amos-trais (ex: Pnad), registros ad-ministrativos (ex.: Rais) e dosprincipais indicadores nas áre-as de demografia, saúde,educação, cultura, mercado detrabalho, renda e pobreza,habitacionais e de infra-estru-tura urbana, qualidade de vidae meio ambiente, políticas so-ciais e de opinião pública, dedesenvolvimento e pobrezahumanos. Ao todo, mais de 60indicadores são analisados noque têm de essencial, semdetalhamentos excessivos.

Limitações

A grande limitação do livroé ser pequeno (141 páginas).Com mais espaço, vários pon-tos poderiam ser tratados commais profundidade e outrosacrescentados. Na primeira ca-tegoria ficam os indicadores (es-tritamente) ambientais (ex.: taxade desmatamento, nível de con-taminação do solo e da água)que são muito pouco desenvol-vidos, dado o exíguo espaço quelhes cabem (uma página e meia).

Faltam também exemplosde aplicações, mostrando naprática como se usam os indi-cadores na pesquisa acadêmi-ca e nas políticas públicas.Também se poderia ter dadomais espaço para a discussão

Algumas indicaçõesbibliográficas

sobre Indicadores Sociais

UNDP Human Development ReportPublicação anual do órgão das NaçõesUnidas responsável pelo IDH – UnitedNations Development Programme (UNDP).

Rico em estatísticas sociais de diferentespaíses, a cada ano se centra num tema.O de 2001, por exemplo, foi “novas

tecnologias e desenvolvimento humano”.Contém uma explicação didática da cons-trução do IDH.

IBGE Síntese de Indicadores Sociais2001 / IBGE Indicadores Sociais Mu-nicipais 2000Principais publicações do IBGE na área deindicadores sociais. Dados sobre o Brasil,

acompanhados de uma análise sucintados mesmos.

PNUD-IPEA-FJP-IBGE – Desenvolvi-mento Humano e Condições de Vida:Indicadores Brasileiros 1998O IPEA é responsável pelo cálculo do IDHbrasileiro, o que é feito para cada estadoe município. O livro é bastante didático e

vem acompanhado de CD-Rom, com oqual é possível produzir mapas temáticos.Infelizmente está desatualizado, pois não

utiliza dados do último censo demográfi-co. Deve estar para sair uma nova edição.

Salama, P. e Destremau O. – Tamanhoda Pobreza, Garamond, 1999.Este livro infelizmente não teve o desta-

que que merecia quando foi lançado noBrasil. Enfatiza a questão da medição dapobreza e dá destaque ao IDH. Tem um

posfácio sobre o Brasil, especialmenteescrito para a edição brasileira.

Jannuzzi P.considerações sobre o uso, mau uso eabuso dos indicadores sociais na formu-

lação de políticas públicas no Brasil. Re-vista de Administração Pública 36, janei-ro/fevereiro, 2002. Este artigo, em parte

resume e em parte complementa o livrodo autor. Especialmente interessante a crí-tica feita ao IDH

conceitual do início do livro.Seria interessante, por exem-plo, discutir a diferença entreevento, informação, estatísticae indicador. O IDH mereceriauma análise crítica, o que oautor só fez posteriormente, emartigo (Jannuzzi, 2002).

Na parte referente a diferen-tes tipos/classificações de indi-cadores faltou mencionar omodelo pressão, estado e res-posta, muito utilizado em indi-cadores de desenvolvimentosustentável. Mas nada disso, noentanto, tira os méritos do livro,que deve se tornar leitura obri-gatória para todos os interes-sados no tema indicadores so-ciais ou indicadores em geral.

Em tempo: as epígrafes doscapítulos são ótimas. Por exem-

O IDH é um indicador composto,pois é uma média ponderada deoutros indicadores; número demédicos é um indicador de insu-mo, o número de consultas médi-cas é de fluxo e a queda da mor-talidade e morbidade são deproduto/resultado

plo: “dados torturados confes-sam”, “uma cifra estatística iso-lada é como um poste com luzqueimada: pode servir comoapoio, mas sozinha não ilumi-na nada”. A bibliografia comen-tada, o glossário e os sites cita-dos são muito úteis.

Indicadores Sociais no Bra-sil – Conceitos, Fontes de Da-dos e Aplicações, de PauloJannuzzi, foi editado em 2001 eé da Alínea Editora, de Campi-nas (SP). O telefone para con-tatos é (19) 3232-9340 / 2319 eo correio eletrônico da editoraé www.atomoealinea.com.br.Infelizmente não é um livromuito fácil de achar, mesmo emlivrarias especializadas.

* Economista do IBGE e professor daENCE e da UNESA

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Produto Interno Bruto (PIB) expri-me a estimativa do valor da produ-

ção realizada dentro do território econô-mico de um país, e tal expressão refletediretamente o desempenho da economiaem termos de crescimento ou estagnação.No Brasil, podemos considerar a taxa decâmbio e a taxa de juros como os doisprincipais instrumentos de política econô-mica liberal ao longo dos últimos anos,que nos levaram a taxas de crescimentodo PIB insatisfatórias.

O PIB, de forma simplificada, é o re-sultado total da operação C + G+ (I ≅ P)+ (X – M); onde C é o consumo interno,G são os gastos do setor público, I sãoos investimentos, P é a poupança, X sãoas exportações e M são as importações.(I ≅ P) reflete a relação poupança-inves-timento e (X – M) eqüivale à balança co-mercial.

Dois momentos

Com a implementação do Plano Real,podemos balizar dois momentos distin-tos para a taxa de câmbio (e): um até 1998e outro de 1998 até os primeiros mesesdo atual governo. Para a taxa de juros (i),já não podemos fazer o mesmo, visto quea sua flutuação, durante o mesmo perío-do, não pode ser interpretada como uma“baixa”. Contudo, é importante uma rá-pida visão de como (i) e (e) podem influ-enciar no PIB.

Uma moeda nacional valorizada pelaparidade estabelecida em (e), com relaçãoao dólar norte-americano, favorece (M) e

ARTIGO DO LEITOR

13jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003

provoca uma balança comercial negativa.Ao contrário, uma moeda desvalorizadafrente ao dólar incentiva (X), cria um saldofavorável na balança comercial e uma pres-são positiva no PIB. Nesse sentido, a des-valorização de (e) pode provocar um au-mento no PIB.

Em contrapartida, uma taxa de juros (i)colocada acima da previsão de inflação (p)para o ano pode influenciar negativamen-te (C); reduz a termos insignificantes (I ≅P), pois é mais vantajoso “especular” fi-nanceiramente, sem que isso se reverta emaumento da produção e da renda; aumen-ta (G) com relação à administração de dí-vidas (pagamentos de juros); e, no geral,desfavorece parcialmente o crescimentoeconômico, já que os encargos do setorprodutivo sobem.

Na razão contrária, se (i) for reduzidapara patamares inferiores ao da inflaçãoesperada, com (p) sendo controlada ematé 40% a.a., segundo o Nobel de Econo-mia 2001, Joseph Stiglitz, o PIB pode al-cançar níveis de crescimento satisfatórios(More Instruments and Broader Goals:Moving Toward The Post-WashingtonConsensus, www.worldbank.org , janeirode 2002). Sem ilusões com o Banco Mun-dial e fazendo reservas a Stiglitz, acho quea equipe econômica do PT ignorou essedocumento.

De 1994 até hoje, a atividade econô-mica no Brasil é dirigida pelo setor finan-ceiro. Essa tendência deverá se confirmarno contexto Alca, devido aos “constrangi-mentos externos” provocados a partir doprotecionismo e da estratégia de seguran-

ça nacional norte-americanos sobre o nos-so setor produtivo. As taxas de juros ele-vadas defendidas pelo Consenso de Wa-shington estrangulam as empresas, emparticular, as pequenas e médias. Com umataxa de câmbio flutuante, podemos cum-prir as exigências do FMI, porém, semcontrolar o dólar, a inflação fica livre. E ocombate à inflação através da elevação de(i) é antagônica à vontade de crescer eco-nomicamente.

Os recentes aumentos do PIB podemser interpretados da seguinte maneira: (C)continua limitado por (i), pelo arrochosalarial e por uma política de créditorestritiva; (G) aumentou graças ao maiorendividamento do setor público e tam-bém à maior despesa com segurança pú-blica; a conta (I ≅ P) permanece paralisa-da, não há poupança nem investimento,uma outra conseqüência de (i); (X) seelevou e (M) foi reduzida devido à (e).Consumo em massa, graças a transferên-cias, sem poupança, gera um crescimen-to do PIB virtual. Assim, se crescemos,significa que há mais policiais nas ruas,mais lucros exportados e mais pagamen-to de juros.

As taxas de juros elevadas defendidas pelo Consenso deWashington estrangulam as empresas, em particular, aspequenas e médias. Com uma taxa de câmbio flutuante,podemos cumprir as exigências do FMI, porém, sem con-trolar o dólar, a inflação fica livre

Desvendando segredosdo crescimento econômico

As influências das taxas de câmbio e de juros sobre o resultado do PIB

O

Alessandro Carvalho

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As matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de responsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Corecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Popular de opular de opular de opular de opular de OrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamento do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeiro.o.o.o.o.Equipe técnica: LEquipe técnica: LEquipe técnica: LEquipe técnica: LEquipe técnica: Luiz Mario Behnken, cooruiz Mario Behnken, cooruiz Mario Behnken, cooruiz Mario Behnken, cooruiz Mario Behnken, coordenador - Estagiários: Mariana Fdenador - Estagiários: Mariana Fdenador - Estagiários: Mariana Fdenador - Estagiários: Mariana Fdenador - Estagiários: Mariana Filgueiras e Ricarilgueiras e Ricarilgueiras e Ricarilgueiras e Ricarilgueiras e Ricardo Monteirdo Monteirdo Monteirdo Monteirdo Monteirooooo

CORECONCORECONCORECONCORECONCORECON: Av. Rio Branco, 109 - 19° andar - Rio de Janeiro/RJ - CEP 20054-900- Tel.: (21) 2232-8178 - Fax.: (21) 2509-8121Correio eletrônico: [email protected] - Portal: www.corecon-rj.org.br - www.fporj.blogger.com.brAs reuniões do Fórum são abertas: todas as quintas-feiras, às 18h, na sede do CORECON-RJ

FÓRUM POPULAR DO ORÇAMENTO

15jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003jornal dos economistas - maio de 2003

receita do município foi de R$ 6,3 bi-lhões, o que representa um aumento

real de 4,7% em relação ao exercício anterior(valor corrigido de acordo com o IPCA-E).Esse aumento da receita total está atrelado,entre outras fontes, à rubrica das “alienaçõesde bens de crédito”, inexistente em 2001, novalor de R$ 150 milhões – explicado pelo res-gate de títulos de royalties da Petrobras ad-quiridos junto ao estado, e, principalmente, aum aumento de R$ 110 milhões para R$ 322milhões de receitas de contribuições (que apartir de 12/2001 passou a incluir também acontribuição patronal dos servidores).

Segundo a prefeitura, o aumento da recei-ta total do município ficou dentro das expecta-tivas previstas para o exercício em questão.Porém, a prerrogativa legal (art.43, da Lei Fe-deral 4320/64) de possuir outras fontes de recur-sos, como o superávit e excesso de arrecada-ção, que podem ser incorporadas, possibilitoua abertura de créditos adicionais na ordem deR$ 1,4 bilhão e elevou a autorização da despe-sa do exercício de 2002 para R$ 8 bilhões.

A expansão da despesa prevista de R$ 5,7bilhões (em 2001) para R$ 8 bilhões (em 2002)não foi concretizada – houve uma “economia”orçamentária de R$ 1,6 bilhão. A despesa em-penhada de R$ 6,4 bilhões, realizada em 2002,deixou claro o intuito de se expandir tanto adespesa: gozar da maior liberdade nos rema-nejamentos, que chegaram a mais de R$ 2 bi-lhões ao longo do ano. Além, é claro, de sus-tentar o superávit financeiro da prefeitura,construído nos exercícios anteriores.

Dívida aumenta

Nota-se que a manutenção de tal “superá-vit” ocorreu, em grande parte, devido ao não

O presente artigo tem como principal objetivo apresentaruma análise inicial dos elementos estruturais mais relevantescontidos na Prestação de Contas de 2002, publicada noD.O. de 28 de abril de 2003.

pagamento de amortizações da dívida. Aotodo, foram pagos apenas R$ 164 milhões dequase R$ 1 bilhão autorizado na LOA 2002. Ocurioso é o fato de o orçamento inicial autori-zar despesas no valor de R$ 6,3 bilhões (in-clusas as despesas com a dívida), depois acres-centar R$ 1,4 bilhão, mas somente gastar R$6,4 bilhões, sem que isso implicasse o paga-mento da dívida. Isto é, foi gasta a quantiarelativamente planejada, porém, com outrasdespesas que não a da dívida – o que serámatéria de análise futura, aqui nesta página.

Com isso, a dívida fundada que, em 2001,foi de R$ 4,9 bilhão, em 2002 ficou em tornode R$ 6,8 bilhões. Os restos a pagar do exer-cício de 2002 foram de R$ 883 milhões, oque significa que 13,9% da receita ainda seencontravam em posse da prefeitura após ofim do exercício. Assumindo que essa “so-bra” de recursos pode ser aplicada, geram-se ganhos financeiros por mais tempo, o queaumenta o volume em aplicações financei-ras. Essa prática, 3,1 % maior que no anoanterior, confirma a posição de “administra-dor de carteira” do prefeito (ver JE abril/03)e ajuda a entender porque as receitas pro-venientes de aplicações financeiras são aci-ma do previsto (149% acima da LOA).

O resultado primário teve um déficit deR$ 340 milhões contra R$ 706,4 milhões pre-vistos de superávit, enquanto o nominal fi-cou em torno de R$ 1,6 bilhão, bem distantedos R$ 500 milhões previstos na LOA 2002.Em ambos, a “justificativa” apresentada re-caiu sobre a inflação em 2002, que ficoumuito acima da divulgada no anexo de me-tas fiscais na LDO/2002, e a um aumentonão previsto na taxa de câmbio (qual o graude interferência da taxa de câmbio na dívidapública líquida?) No entanto, o que mais cha-

ma atenção neste ponto é o uso de um índi-ce de preços, o IGP-M (25%), maior do queo que estava sendo utilizado até então, oIPCA-E (12%). Por que a mudança?

Mais obras, menos saúde

Dando continuidade à comparação entreo estabelecido por lei e o executado, nota-se que, embora o prefeito tenha cumpridoos limites constitucionais e legais (Lei Res-ponsabilidade Fiscal) das principais despe-sas do governo – ensino, saúde e pessoal, asprioridades da prefeitura foram questionáveis.O aumento dos gastos com o ensino em 13%representou uma parcela pequena em rela-ção ao aumento dos gastos como um todo,de 27%, em relação a 2001. Os gastos compessoal tiveram queda de 1,71% e a saúdeteve uma redução em valores relativos de14,18%, como também em valores absolu-tos: de R$ 969 milhões para R$ 933 milhões,menos R$ 36 milhões, portanto.

A Secretaria Municipal de Obras e Servi-ços Públicos foi a mais favorecida na gestãode César Maia, em 2002. Esta obteve umaumento de 32% acima do aumento total doOrçamento e um gasto de R$ 398 milhões,executando 87% de sua dotação atualizada.Enquanto a Secretaria Municipal de Traba-lho teve sua dotação inicial reduzida em R$1,3 milhão, executando apenas 40%.

Por fim, nosso objetivo é ressaltar que oaumento das despesas, em 2002, não foi ori-entado para as áreas de maior importância paraa população, e também questionar as priorida-des estabelecidas no segundo ano da gestãode César Maia, visto que essas implicaram onão pagamento da dívida. Nas próximas edi-ções, daremos continuidade a essa análise.

Prefeitura fez caixanão pagando a dívida

A

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PETROBRAS/CORECON-RJ

Pedido é improcedente

O Conselho Federal de Economia, emsessão plenária realizada em abril, julgouimprocedente o pedido da Petrobras, dereconsideração da multa impetrada peloConselho Regional de Economia do Riode Janeiro, por a empresa recusar-se aapresentar a relação discriminada de seusfuncionários que exercem atividades pro-fissionais privativas de economistas.

A ação fiscalizadora do exercício daprofissão de economista visa, em últi-ma instância, a defesa da sociedade; eé uma atribuição dos Conselhos Regio-nais instituída por lei. O Corecon-RJ temcumprido este papel, tanto assim queacaba de encaminhar à Secretaria deAdministração e Reestruturação do Es-tado do Rio de Janeiro a mesma solici-tação, para que apresente a relação dis-criminada dos servidores do estado queestejam exercendo atividades profis-sionais de economistas.

Cátedra e Rede Unesco/Universi-dade das Nações Unidas em Eco-

nomia Global e Desenvolvimento Susten-tável (Reggen), em aliança com a UERJ,UFRJ, UFF e a Universidade Católica doRio de Janeiro, promoverão, em agostopróximo, o seminário internacionalHegemonia e contra-hegemonia: osimpasses da globalização e os processosde regionalização.

O seminário, que será realizado de 18a 22 de agosto, no Hotel Glória, trará aoRio de Janeiro especialistas de várias par-tes do mundo, com o objetivo de fazerum balanço dos problemas atuais da eco-nomia mundial, no ambiente intelectual epolítico brasileiro e latino-americano, ondeocorrem grandes mudanças políticas e ide-ológicas.

Entre os brasileiros estarão presentesnomes como Carlos Lessa, presidente doBNDES, Theotonio Santos e Daniel Aarão

Rio terá semináriointernacional em agosto

s economistas do Rio de Janeiroobtiveram expressivo desempenhono X Prêmio Brasil de Economia,

promovido pelo Conselho Federal de Eco-nomia (Cofecon). Na categoria artigo, oprimeiro lugar coube a Luiz FernandoRodrigues de Paula, do Rio, com o traba-lho “Determinantes e impactos da recen-te entrada de bancos europeus no Bra-sil”. O segundo, também premiou umaeconomista do Rio, Solange Srour, queconcorreu com o texto “Crises cambiais:um modelo relaxando a hipótese da PPPaplicado à desvalorização do Real”. Am-bos os trabalhos estarão sendo publica-dos pelo JE nas próximas edições.

Um outro representante do Rio de Ja-neiro também obteve boa colocação no XPrêmio Brasil de Economia. AlexandreSiciliano Espósito ficou na terceira colo-cação na categoria monografia de gradua-ção, com o trabalho “Privatização da Light:

Reis, da UFF, Emir Sader e Francisco deOliveira, da USP, Francisco CarlosTeixeira, Carlos Medeiros e Luiz CarlosPrado, da UFRJ e Luciano Coutinho, daUnicamp. Dos estrangeiros, já confirma-dos os nomes de André Gunder Frank eImmanuel Wallerstein, dos EUA, OrlandoCaputo, do Chile, Slobodan Pajovic, daIugoslávia, Pierre Salama, da França,Sunanda Sen, da Índia, e Xie Shou-guang,da China.

A Reggen, promotora do seminário, foifundada em 1997, com o objetivo de es-tabelecer conexões entre centros de pes-quisa e docência de todos os continen-tes, visando estudos sistemáticos sobre aglobalização e seu impacto nas realida-des regionais e nacionais. Ela é dirigidapelo professor Theotonio dos Santos, daUFF, e sua secretaria executiva está insta-lada no Instituto de Lógica e Teoria daCiência.

a repartição dos ganhos de produtivida-de”, que, no Prêmio Corecon-RJ de 2002,obteve o primeiro lugar. O resumo destetrabalho foi publicado no JE de agosto doano passado.

Os demais resultados da premiação doCofecon deste ano foram: na categoria dis-sertação de mestrado, o primeiro lugarcoube à Daniela Almeida Raposo, de Mi-nas Gerais, com o texto “Mercado de tra-balho e comércio internacional: uma aná-lise para Minas Gerais e São Paulo”; na demonografia de graduação, a primeira co-locação ficou com Fabio Althaus, do RioGrande do Sul, que concorreu com o tra-balho “Sistema de metas de inflação: umnovo arranjo de política monetária”; e osegundo lugar com Márcio Eduardo GarciaBezerra, do Ceará, com o texto “Análisedas intervenções públicas, visando a re-dução da pobreza: estudo de caso na zonaurbana e na zona rural”.

Economistas do Riopremiados

O

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