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ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ Nº 179 – JUNHO DE 2004 JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOS DOS DOS DOS DOS É hora de criar o controle popular O jurista e professor Fábio Konder Comparato critica o Gover- no Lula, por este seguir a mesma política de seu antecessor. E aponta para a necessidade de uma grande mobilização e pressão da sociedade brasileira, visando a criação do que ele chama de “instrumentos de controle popular da atuação dos governantes”. Autor de vários livros e premiado diversas vezes e por diferentes instituições, pela sua atuação em defesa dos direitos humanos, o professor falou com exclusividade ao JE. Páginas 8 a 10 Celso F Celso F Celso F Celso F Celso Furtado e os urtado e os urtado e os urtado e os urtado e os desafios da nova geração desafios da nova geração desafios da nova geração desafios da nova geração desafios da nova geração Página 3 Em defesa das nossas Em defesa das nossas Em defesa das nossas Em defesa das nossas Em defesa das nossas reser eser eser eser eservas estratégicas vas estratégicas vas estratégicas vas estratégicas vas estratégicas Página 7 A “comoção nacional” A “comoção nacional” A “comoção nacional” A “comoção nacional” A “comoção nacional” da taxa de jur da taxa de jur da taxa de jur da taxa de jur da taxa de juros os os os os Página 11

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ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ, IERJ E SINDECON-RJ

Nº 179 – JUNHO DE 2004JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOSDOSDOSDOSDOS

É hora de criaro controle popular

O jurista e professor Fábio Konder Comparato critica o Gover-

no Lula, por este seguir a mesma política de seu antecessor.

E aponta para a necessidade de uma grande mobilização e

pressão da sociedade brasileira, visando a criação do que

ele chama de “instrumentos de controle popular da

atuação dos governantes”. Autor de vários livros e

premiado diversas vezes e por diferentes instituições,

pela sua atuação em defesa dos direitos humanos,

o professor falou com exclusividade ao JE.

Páginas 8 a 10

Celso FCelso FCelso FCelso FCelso Furtado e osurtado e osurtado e osurtado e osurtado e osdesafios da nova geraçãodesafios da nova geraçãodesafios da nova geraçãodesafios da nova geraçãodesafios da nova geração

Página 3

Em defesa das nossasEm defesa das nossasEm defesa das nossasEm defesa das nossasEm defesa das nossasrrrrreseresereseresereservas estratégicasvas estratégicasvas estratégicasvas estratégicasvas estratégicas

Página 7

A “comoção nacional”A “comoção nacional”A “comoção nacional”A “comoção nacional”A “comoção nacional”da taxa de jurda taxa de jurda taxa de jurda taxa de jurda taxa de jurososososos

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EDITORIAL

ÓrÓrÓrÓrÓrgão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial doCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJCORECON - RJ, IERJ E SINDECON - RJ

ISSN 1519-7387

Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial: Ceci Juruá, Gilberto Alcântara,Gilberto Caputo Santos, José Antônio Lutterbach Soa-res, Paulo Mibielli, Paulo Passarinho, Rafael Vieira daSilva, Rogério da Silva Rocha e Ruth Espínola.

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Jornal dos

2 jornal dos economistas - junho de 2004jornal dos economistas - junho de 2004jornal dos economistas - junho de 2004jornal dos economistas - junho de 2004jornal dos economistas - junho de 2004

Criar o controle popular

C riar o controle popular das ações go-vernamentais, através da organizaçãode entidades da sociedade civil, como

OAB, CNBB, CMP e outras, em um fórumconjunto capaz de iniciativas e de cobrançasjunto aos governantes.

A proposta é defendida pelo professor deDireito Constitucional Fábio Konder Com-parato, em entrevista a esta edição do JE. Paraele, esta ação de “controle popular” sobre osórgãos de Estado não pode ser feita pelos par-tidos políticos, “que não servem para isso”.

Ele defende, então, que seja criado “umpoderoso grupo de pressão”, a partir da reu-nião de entidades civis e dos movimentossociais, de forma a mobilizar a sociedade comvistas “a criar em nosso sistema jurídico osinstrumentos de controle popular da atuaçãodos governantes”.

Apesar de reconhecer a superioridade doGoverno Lula em relação ao seu antecessor,

Fernando Henrique Cardoso, “que quebrouas pernas do Estado brasileiro”, o professorFábio Comparato, contudo, não se esquivaem apontar o governo atual como submisso“aos ditames do finado Conselho de Washing-ton, que o ministro Palocci lhe transmitiu”.

Crítico da política de sucessivos e perma-nentes superávits, ele alerta que se continuareste tipo de procedimento o país nem conse-guirá recursos para os investimentos que ne-cessita e tampouco irá saldar a volumosa dí-vida do país. “Temo que haja um erro deconta: para saldar a dívida pública a esse rit-mo precisaríamos de pelo menos um sécu-lo”, afirmou o jurista ao JE.

“A sorte dos atuais governantes é que elesvivem no presente. Daqui a 30 anos, se tanto,essa sua política será definida como crimecontra o povo”.

No que concordamos em gênero, núme-ro e grau.

SumárioPágina 03 Os desafios da nova geração – Celso Furtado

Página 05 Os investimentos em P&D

Pedro Paulo Felicíssimo e Rogelio de Castro Perez

Página 07 Em defesa de nossas reservas estratégicas

Clube de Engenharia

Página 08 Entrevista – Fábio Konder Comparato

Página 11 Taxa Selic – Manter ou não o país em comoção – Leonardo Condurú

Página 15 Fórum Popular de Orçamento – Gastos com o Pan maiores que em 2003

Página 16 Economista lança livro sobre a teoria dos jogos

Cursos do Corecon para o segundo semestre de 2004

O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Passarinho, de segundaà sexta-feira, das 7h30 às 9h, na Rádio Bandeirantes, do Rio, 1360 khz.

ErrataNa página 7 da última edição do JE, na matéria sob título “É preciso fazer o controle de capitais”, os

dados do último parágrafo estão incorretos. Na verdade, o professor Ricardo Carneiro, recorrendo a dados

do IBGE, alertou para a queda no consumo das famílias, que depois de crescer 0,4% em 2002, em compa-

ração a 2001, caiu 3,3% em 2003, em comparação com 2002. A queda de 1,5% foi do PIB per capita.

Pedimos desculpas aos leitores e ao professor. O Editor.

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Celso FurtadoMENSAGEM

oje, graças ao avanço das técnicas dainformação, os temas que aqui serãotratados vêm sendo discutidos em re-

des virtuais, como esta que co-organiza o se-minário – junto com o Instituto de Econo-mia da UFRJ e a CEPAL. Seus membros,professores e universitários, dispõem assimdos meios mais adequados para dar continui-dade e aprofundar o confronto de idéias, etambém para levar ao conhecimento da opi-nião pública informações valiosas que, comfreqüência, os centros de poder mantêm forade toda visibilidade.

Para alimentar os debates que se seguirão,me permitam tratar de questões que, só à pri-meira vista, parecem especificamente brasilei-ras. Na verdade, são problemas comuns à gran-de parte dos países em desenvolvimento.

Um caso de mau desenvolvimento

À diferença do que ocorria há quase meioséculo, quando me coube assumir a pasta dePlanejamento, no governo Federal, e dirigir aelaboração do Plano Trienal, hoje dispomosde um aprofundado conhecimento das estru-turas econômicas e sociais do nosso país. Gra-ças a esse conhecimento, fez-se evidente que noBrasil não houve correspondência entre cres-cimento econômico e desenvolvimento. É mes-mo corrente a afirmação de que o país seriaum caso conspícuo de mau desenvolvimento.

Poucas regiões do Terceiro Mundo terãoalcançado, nos anos 50 e 60, uma taxa de

crescimento tão elevada e terão realizado umprocesso de industrialização tão intenso. Aparticipação do investimento no produto in-terno brasileiro nesse período atingiu níveisraras vezes igualados, e traduziu um consi-derável esforço de acumulação, particular-mente nos setores de transportes e energia.

Porém, nesses anos e nos decênios seguin-tes, os salários reais da massa da populaçãonão refletiram o crescimento econômico. Ataxa de subemprego invisível, isto é, de pes-soas ganhando até um salário mínimo na ocu-pação principal, manteve-se surpreendente-mente alta. E, mais grave, a grande maioriada população rural pouco ou nada se benefi-ciou desse crescimento.

É verdade que, no período referido, a clas-se média, antes raquítica, passou a ocupar umespaço crescente. No entanto, a emergência deuma classe média afluente, em meio à pobre-

za, quando não miséria, de praticamente umterço da população, é a evidência maior do ma-logro da política de desenvolvimento seguida.

Se os 20 anos de regime militar agrava-ram o mau desenvolvimento, cabe-nos inda-gar por que, agora que a prática da democra-cia está incorporada à sociedade brasileira,ainda parece tão difícil promover mudançasnesse quadro.

Para se tracejar uma tentativa de respos-ta, não é demais relembrar certas idéias ele-mentares: o crescimento econômico, tal qual o co-nhecemos, vem se fundando na preservaçãodos privilégios das elites que satisfazem seuafã de modernização; já o desenvolvimento secaracteriza pelo seu projeto social subjacente.Dispor de recursos para investir está longede ser condição suficiente para preparar ummelhor futuro para a massa da população. Masquando o projeto social prioriza a efetiva

Os desafiosda nova geração

Hoje aqui se reúnem econo-mistas de muitos países paratrocar experiências e refletirsobre os graves problemas queafligem o mundo em desenvol-vimento face ao modelo neo-liberal imposto pelo processode globalização. Num passadonão muito remoto, encontroscomo este mais pareciam con-ciliábulos, a que tinham aces-so apenas alguns iniciados.

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melhoria das condições de vida dessa popu-lação, o crescimento se metamorfoseia emdesenvolvimento.

Ora, essa metamorfose não se dá espon-taneamente. Ela é fruto da realização de umprojeto, expressão de uma vontade política.As estruturas dos países que lideram o pro-cesso de desenvolvimento econômico e soci-al não resultaram de uma evolução automáti-ca, inercial, mas de opção política orientadapara formar uma sociedade apta a assumirum papel dinâmico nesse processo.

A recessão desmedida

No caso brasileiro, há que se enfrentar oproblema que condiciona tudo o mais: arecessão. É consensual a afirmação de que acrise que o Brasil enfrenta tem causas múlti-plas e complexas, mas talvez nenhuma sejade tanto peso como o descontrole, por partede sucessivos governos, das alavancas econô-mico-financeiras.

A recessão que se abate atualmente sobreo Brasil tem sua principal causa no corte des-medido nos investimentos públicos, o quegera efeitos particularmente nefastos nas re-giões mais dependentes de aplicações do go-verno federal.

Forçar um país que ainda não atendeu àsnecessidades mínimas de grande parte dapopulação a paralisar os setores mais moder-nos de sua economia, a congelar investimen-tos em áreas básicas como saúde e educação,para que se cumpram metas de ajustamentoda balança de pagamentos impostas porbeneficiários de altas taxas de juros é algo queescapa a qualquer racionalidade.

Compreende-se que esses beneficiários de-fendam seus interesses. O que não se compre-ende é que nós mesmos não defendamos comidêntico empenho o direito a desenvolver opaís. A continuar prevalecendo o ponto de vistados “recessionistas”, aqueles que colocam osinteresses dos nossos credores acima de ou-tras considerações na formulação da políticaeconômica, teremos de nos preparar para umprolongado período de retrocesso econômi-co, que conduzirá ao desmantelamento de boaparte do que se construiu no passado.

A experiência nos ensinou amplamenteque, se não se atacam de frente os problemasfundamentais, o esforço de acumulação ten-de a reproduzir, agravado, o mau desenvolvi-mento. Em contrapartida, se conseguirmos

satisfazer essa condição básica que é a recon-quista do direito de ter uma política de de-senvolvimento, terá chegado a hora da ver-dade para todos nós. Duas frentes seriam, emmeu entender, capazes de suscitar uma au-têntica mudança qualitativa no desenvolvi-mento do país: a reforma agrária e uma in-dustrialização que facilite o acesso àstecnologias de vanguarda.

O desenvolvimento não é apenas um pro-cesso de acumulação e de aumento de produ-tividade macroeconômica, mas principalmen-te o caminho de acesso a formas sociais maisaptas a estimular a criatividade humana e res-ponder às aspirações da coletividade. É cor-rente que se diga que a reforma agrária cons-titui um avanço no plano social, mas envolveum elevado custo econômico. Essa é uma vi-são equivocada.

O verdadeiro objetivo da reforma agráriaé liberar os agricultores para que se transfor-mem em atores dinâmicos no plano econô-mico. As reformas agrárias que desemboca-ram na coletivização das terras fracassaram,do ponto de vista econômico, pois as estru-turas agrárias tradicionais engendram a pas-sividade, razão pela qual sub-utilizam o po-tencial produtivo do mundo rural; e a grandeempresa agrícola moderna pressupõe um altonível de capitalização e só apresenta óbviasvantagens no plano operacional em setorescircunscritos da atividade agrícola.

No caso brasileiro, a estrutura agrária é oprincipal fator que causa a extremada concen-tração da renda. Não tanto porque a renda sejamais concentrada no setor agrícola do que noconjunto das atividades produtivas, mas porque,não havendo no campo praticamente nenhumapossibilidade de melhoria das condições de vida,a população rural tende a se deslocar para aszonas urbanas, aí congestionando a oferta demão-de-obra não especializada.

Uma nova estrutura agrária deverá tercomo principal objetivo dar elasticidade àoferta de alimentos de consumo popular. Tra-ta-se de uma pré-condição mas que por si sónão assegura o desenvolvimento. Este pres-supõe a existência do que os economistascostumam chamar de “motor”, ou seja, umcentro dinâmico capaz de impulsionar o con-junto do sistema. Vale dizer: não existe de-senvolvimento sem acumulação e avanço téc-nico. Seu impulso dinâmico vem da harmoniainterna do sistema produtivo em seu conjun-to, o que só se torna possível com a industri-alização. O problema crucial é definir o tipode industrialização capaz de gerar o verda-deiro desenvolvimento.

Não pretendo traçar aqui nem sequer umesboço de política industrial para o país. Gos-taria apenas de relembrar um ponto. A uni-ficação do mercado nacional, alcançada nosanos 30, foi exigência de um certo estágiode industrialização. Seus efeitos negativosnas áreas de tecido industrial mais frágil pu-deram, por algum tempo, ser amortecidosgraças aos elevados custos dos transportesinter-regionais.

Desde os anos 50, os transportes passa-ram a ser amplamente subsidiados, mediantea construção de estradas a fundo perdido euma política de baixos preços de combustí-veis. Hoje, estamos em outro estágio, e o paísdeveria se voltar para a industrialização quelhe dê acesso às tecnologias de ponta. Mas aquestão de fundo não deve ser esquecida:qualquer política de industrialização no Bra-sil tem de levar em conta a dimensão conti-nental e as peculiaridades regionais do país.

Não é por arrogância que me atrevo a fa-lar a meus colegas economistas em tom con-selheiro. A idade não nos outorga direitos,mas a experiência nos arma para enfrentarmuitos dissabores. Sabemos que uma lutadessa magnitude só terá êxito com a partici-pação entusiástica de toda uma geração. A nós,cientistas sociais, caberá a responsabilidademaior de velar para que não se repitam oserros do passado. Ou melhor, para que nãovoltem a ser adotadas falsas políticas de de-senvolvimento cujos benefícios se concentramnas mãos de poucos.

* Texto apresentado na III Conferência Internacional daRedCelsoFurtado, realizada no Rio de Janeiro, de 4 a 6 demaio de 2004. Este texto não pode ser reproduzido em todoou em parte em nenhum suporte sem a prévia autorizaçãodo autor.

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POLÍTICA INDUSTRIAL

odelo e símbolo da expansão do de-senvolvimento da indústria nacionaldesde a mudança para uma política

de substituição de importações, na década de50, a Petrobras, no primeiro semestre de 2003,recolheu impostos, taxas, royalties e participa-ções governamentais em torno de US$ 10bilhões. Somente em 2002, proporcionou cer-ca de US$ 400 milhões em royalties, contribu-indo para o desenvolvimento de 820 municí-pios, em 15 estados brasileiros.

Dos investimentos que realizará nas com-pras de serviços, materiais e equipamentos pre-vistos em cerca de US$ 24 bilhões para os pró-ximos cinco anos, cerca de 80% deverão serrealizados internamente. A presença da em-presa no mercado internacional, em 12 paísesdas Américas e da África, somando investi-mentos de US$ 116 milhões e um lucro líqui-do de US$ 134 milhões, no 1º semestre de2003, comprova que o sucesso dos processosde internacionalização da Petrobras e de mais

350 empresas brasileiras (Embraer, Marcopolo,Gerdau, Votorantim, Andrade Gutierrez,Norberto Odebrecht, Queiroz Galvão, citan-do apenas algumas das principais) passa a seruma realidade a se considerar em qualquer pla-nejamento estratégico visando a elaboração deuma nova política industrial para o país.

No entanto, as questões primordiais que secolocam agora ao debate para o setor público eprivado, na questão da elaboração e planejamen-to para uma nova fase de desenvolvimento in-dustrial, são: por que os benefícios dos proces-sos de internacionalização na economia brasileiranão refletiram em crescimento do Produto In-terno Bruto nos últimos anos. Por que não hou-ve recuo nas taxas de desemprego industrial?Quais são as medidas necessárias para a reto-mada a um desenvolvimento sustentável?

As respostas podem ser encontradas apartir de um estudo dos economistas daAlliance Capital Management LP, de Nova York,que demonstra que as quedas nos percentuais

de empregos industriais estão ocorrendo a ní-vel mundial, em quase todas as economias dospaíses mais industrializados. Entre 1995 e2002, no Brasil, 20%; no Japão, 16%; na Chi-na, 15%; e nos EUA, 11%, atingindo o nú-mero expressivo de dois milhões de postosde trabalho desativados na indústria.

A posteriori

A origem deste fenômeno também podeser explicitado na análise do ProfessorTheotônio dos Santos, da Universidade Fede-ral Fluminense, especialista em comércio in-ternacional: a globalização da economia estáestreitamente relacionando e incorporando aosprocessos de produção das empresas as ino-vações tecnológicas decorrentes da revoluçãocientífica-técnica, incrementada a partir da dé-cada de 80, quando as economias dos paísescentrais passaram por um período de retraçãodos investimentos externos (crise do petróleo

Pedro Paulo Silveira Felicíssimo* e Rogelio de Castro Perez**

Os investimentos em P&De as MPE’s de Base Tecnológica

Quando o Governo Lula acena com uma proposta de uma nova política indus-trial para o Brasil, uma empresa automaticamente aflui ao pensamento empre-sarial brasileiro: a Petrobras.

M

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6 jornal dos economistas - junho de 2004jornal dos economistas - junho de 2004jornal dos economistas - junho de 2004jornal dos economistas - junho de 2004jornal dos economistas - junho de 2004

de 74 e 79), e direcionaram esses investimen-tos públicos e privados internamente para aPesquisa & Desenvolvimento (P&D).

A introdução destas novas tecnologias à pro-dução industrial “a posteriori”, reduziu a quanti-dade necessária de mão de obra nas indústriasde ponta, exigindo em contrapartida um maiorgrau de especialização. E quais seriam as solu-ções para o desemprego estrutural e a retoma-da do desenvolvimento da indústria nacional?

Para os especialistas na área de engenharianaval, offshore, na área petrolífera, o desafio mai-or é o de recuperar a atividade da indústria na-cional de fornecedores de insumos tecnológi-cos de pequenos e médios portes, recompondoos quadros de engenharia, projetos, planeja-mento e gerenciamento das cadeias logísticasde suprimentos. Isto significa dar um grandesalto na logística internacional, de potencial im-portador de peças e equipamentos para expor-tador de tecnologias, realizando um trabalhode desenvolvimento de fornecedores nacionaispara bens e insumos, com tecnologia própriaatravés de uma completa interação com os mei-os acadêmicos e os centros de pesquisas e de-senvolvimento das universidades (vide o suces-so em outros países das incubadoras deempresas de base tecnológica).

Modelo das incubadoras

Os impactos de investimentos em P&Dnas pequenas e médias empresas de base tec-nológica, que são as grandes fornecedoras

destas tecnologias e insumos para os seto-res industriais e as maiores responsáveis pelamanutenção dos níveis de emprego nacio-nal, podem ser avaliados a partir da experi-ência internacional de alguns países, que ex-cepcionalmente, apresentaram crescimentodo emprego industrial no período 1995-2002, exemplos da Espanha, Canadá,Taiwan, México, Holanda e Austrália e desuas políticas de incentivos fiscais ao desen-volvimento das PME’s, em especial, nosmodelos das incubadoras de empresas. Com-parando, por exemplo, Canadá, Espanha eBrasil, (levando em consideração o tamanhodos mercados), temos:

o porte e a localização das empresas. Toda-via, esses estão limitados a 50% do impostodevido e podem ser diferidos em até cincoanos. São também consideradas despesasdedutíveis aquelas que estejam diretamentevinculadas à atividade de P&D da empresa,aos pagamentos efetuados a universidades,custos de pesquisa e a outras empresas.

Espanha – realizou mudanças significa-tivas na sua política industrial, priorizando oapoio as PME’s e ao tratamento coletivo dasmesmas. Foi formulada uma política de cortehorizontal, por meio de medidas de desen-volvimento, da articulação dos agentes envol-vidos ou mesmo da desburocratização de pro-cedimentos e maior logística.

A organização do Estado interfere nainstitucionalização e formulação das políticasdas empresas, não as dissociando da políticade desenvolvimento local.

A estrutura empresarial é largamente do-minada pelas PME’s (99,9%), respondendopor cerca de 80% da mão de obra emprega-da. As políticas de apoio às PME’s de basetecnológica estão vinculadas à Secretaria deEstado de Economia, de Energia e das PME’s,órgão do Ministério da Economia. Dentre assuas principais funções estão: desenvolvimen-to e gestão, parcerias públicas-privadas emprogramas de qualidade, desenho, inovação,informática, meio ambiente, novas tecnolo-gias e acesso a novos mercados.

Conclusão – portanto torna-se neces-sário que o planejamento de uma nova po-lítica industrial para as próximas décadas,leve em consideração e tenha como priorida-des, a recomposição dos quadros da indús-tria nacional de fornecedores de insumostecnológicos, em especial, as PME’s de basetecnológica, dos centros de pesquisa e de suasincubadoras de empresas, beneficiando, re-duzindo a vulnerabilidade externa e ampli-ando a competitividade internacional emsetores estratégicos (Petróleo, Aeroespacial,Química, Petroquímica, Indústria Naval,Construção Civil, Engenharia e IndústriaAutomobilística, citando apenas alguns dosmais importantes) e ao mesmo tempo incen-tivando os investimentos em P&D, atravésde uma política fiscal e de financiamentoseficiente e reduzindo o impacto do desem-prego estrutural.

*Economista e Consultor em Comércio Exterior**Graduando em EconomiaUniversidade Federal Fluminense.

Despesas com P&D em % do PIB(dados de 1992 – fonte OCDE)

Canadá 1.51%Espanha 0.85%Brasil 0.52%

Canadá – possui uma das mais ativas eantigas políticas de incentivos fiscais aos in-vestimentos em tecnologia (desde a décadade 40), a maioria, concentrada na área tribu-tária. É permitido deduzir integralmente osgastos de capital e até duas vezes o total dasdespesas correntes em P&D. É também au-torizada a depreciação acelerada das despe-sas de capital. Créditos fiscais são concedi-dos sobre as despesas de custeio em P&D,que variam entre 20% e 35% de acordo com

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6ª RODADA DE LICITAÇÕES DA ANP

7jornal dos economistas - junho de 2004jornal dos economistas - junho de 2004jornal dos economistas - junho de 2004jornal dos economistas - junho de 2004jornal dos economistas - junho de 2004

a década de 70, as grandes corporaçõesperderam as últimas concessões quetinham na Venezuela e no Oriente

Médio. Após 100 anos de domínio absoluto,elas se depararam sem reservas de petróleopara gerir seus negócios.

Mais recentemente, em 1990, a chamada“guerra do Golfo” se transformou em umconflito de proporções, envolvendo as gran-des potências, porque no Kuwait estão 9,3%das reservas de petróleo do planeta. A pró-pria guerra do Iraque tem como pano de fun-do a necessidade de os EUA e países desen-volvidos manterem o domínio sobre essasreservas críticas. Isto mostra que o petróleonão é uma commodity qualquer, mas sim umrecurso estratégico.

Dentro desse quadro, em almoço-confe-rência realizado na OTC, a ministra de Minase Energia, Dilma Rousseff, anunciou que, emagosto próximo, o Brasil vai promover a SextaRodada de Licitação. Para tal serão colocadosem leilão blocos localizados em Bacias Madu-ras (bacias terrestres Potiguar, Recôncavo eEspírito Santo); Bacias de Fronteira Tecnoló-gica (Foz do Amazonas, Costa Pará-Maranhão,Barrerinhas, Camamu-Almada, Jequitinhonhae Pelotas) e Bacias de Alto Potencial (Campos,Santos e Espírito Santo).

Antes da reunião da OTC, o Clube de En-genharia enviou carta à ministra, alinhando ospontos acima abordados e solicitando o adia-mento desse leilão, para que o país pudessedefinir melhor uma política de incremento denossas reservas de petróleo e, em conseqüên-cia, selecionar melhor os blocos a serem licita-dos. Manifestamos também a preocupaçãocom a exploração predatória de nossas reser-vas de petróleo e a colocação em leilão de áre-as já descobertas e exploradas pela Petrobras.

Ou seja, expressamos a nossa discordânciaquanto a se leiloar blocos nas áreas como asBacias de Campos e Santos, disponibilizandopara as empresas internacionais o conheci-mento de anos de trabalho exploratório e fru-to de tecnologia desenvolvida exclusivamen-te pela Petrobras.

O Conselho Diretor do Clube de Engenha-ria aprovou, em reunião de 10/05/2004, docu-mento sobre a política de petróleo em que re-força a posição antecipada pela diretoria, reco-mendando a suspensão da Sexta Rodada deLicitação da Agência Nacional de Petróleo (ANP).

Revisão da lei

Se interessar ao país ter investimentos es-trangeiros no setor petróleo, eles devem ser fei-tos nas áreas ainda não exploradas. Não se jus-tifica colocar em leilão áreas onde a Petrobrasfez grandes investimentos de pesquisa, pois istoé um ativo do país que deve ser valorizado. Sa-bemos que a Petrobras teve que devolver à ANPos chamados blocos azuis, caso do BC-60, ondeencontrou 2 bilhões de barris na parte norte dobloco, que agora poderão ir à leilão.

A flexibilização do monopólio estatal dopetróleo, através da lei 9478/97, precisa serrevista naquilo que confere liberdade de ex-portação do óleo encontrado, afetando a ma-nutenção das reservas nacionais de petróleo.A lei prevê atuação do Conselho Nacional dePolítica Energética (CNPE), que precisa tero seu papel reforçado, sendo necessário paraisso modificar a redação dos artigos 26, 56 e60, conferindo a ele um papel decisório nasquestões relativas à importação e exportaçãode petróleo, diante da necessidade estratégicade assegurar o aumento de nossas reservas.

Precisamos mobilizar os engenheiros emtorno desta luta, a qual deve ser também de to-dos os brasileiros e do Congresso Nacional, aquem cabe efetuar as alterações na Lei 9478/97.

As reservas brasileiras são capazes de aten-der à demanda atual por cerca de 18 anos,respondendo a produção da Petrobras por80% das necessidades do país, com a possi-bilidade de atingir a auto-suficiência nos pró-ximos três a quatro anos. Não podemoscolocá-las em risco com uma política que per-mita acesso irrestrito às áreas já pesquisadase mapeadas pela Petrobras.

* Publicado no Informativo da Aepet, de junho último.

Clube de Engenharia*

Em defesa de nossasreservas estratégicasNa última reunião da Offshore

Technology Conference (OTC),realizada no início de maio, emHouston (EUA), discutiu-se numpainel as perspectivas de esgo-tamento do petróleo, desde aprevisão feita pela chamada cur-va de Hubbert, de 1956, até es-tudos internacionais mais recen-tes. O preço do petróleo vemcrescendo, tendo atingido a mar-ca recorde de mais de US$ 41por barril, não havendo grandeperspectiva de volta a seus va-lores históricos anteriores. O a-gravamento do conflito no Orien-te Médio e no Iraque também nãodeixa margem para uma visão oti-mista de queda dos preços.Confirmando as previsões de1956 do Dr. King Hubbert, geó-logo da Shell Oil Company, aprodução americana passou porum pico, em 1970, depois do quesó tem decrescido. Da mesmaforma, a produção de óleo na por-ção inglesa do Mar do Norte,maior reserva descoberta nasúltimas décadas, já passou porum pico de produção, em 1988,com 12,3 milhões de toneladas,caindo, em maio de 2001, para9,8 milhões de toneladas, ouseja, uma queda de 21,5% emapenas dois anos e meio.

N

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ENTREVISTA Fábio Konder Comparato, professor de Direito Constitucional da USP.

Jornal dos Economistas –Como avalia as modificações introdu-

zidas na Constituição do país, na úl-

tima década?

Fábio Konder Comparato –Quando elaborei, em 1985, umanteprojeto de Constituição parao Brasil, a idéia central foi a de sereorganizar o Estado para con-duzir a política de desenvolvi-mento nacional. Daí o fato de terprevisto, como órgão indepen-dente, situado no mesmo nível doExecutivo e do Legislativo, umaSuperintendência Nacional dePlanejamento, que seria incumbi-da de elaborar o projeto de desen-volvimento para o país, subme-tendo-o à aprovação do CongressoNacional, bem como de supervi-sionar a sua aplicação. A idéia foirejeitada até mesmo pelo PT, queme havia pedido a elaboração doanteprojeto. Como todos sabem,vivemos há décadas sem um pro-jeto para este país, que continua,pois, à deriva, sofrendo, sem po-der reagir, as pressões externasque se avolumaram extraordina-riamente desde o início da era daglobalização capitalista. Como

bem diz a sabedoria popular,“marinheiro sem rumo, nem ven-to ajuda”. Tanto o Executivo,quanto o Legislativo vivem absor-vidos pelas questões conjunturais,ou mesmo do dia-a-dia. Não édeles que se pode esperar umapolítica de longo prazo. Raramen-te encontramos, nesses órgãos,verdadeiros estadistas. Ora, comodizia Churchill, a diferença entreo estadista e o simples político éque este se preocupa com as pró-ximas eleições, ao passo que oestadista se preocupa com as pró-ximas gerações. A partir dos anos80, submetemo-nos, de corpo ealma, aos ditames do chamado“Consenso de Washington”, ali-enando a estrangeiros o controledas empresas estatais, liberandoo fluxo de capitais, reduzindo uni-lateralmente as tarifas de impor-tação e, sobretudo, aumentandode maneira irresponsável o endi-vidamento público do país. O re-sultado dessa política suicida temsido demonstrado na contabilida-de nacional: baixo crescimentoeconômico e agravamento da in-justa distribuição de renda.

JE – Do ponto de vista constitucional,

quais são os limites para da governabi-

lidade tão reclamada pelo Executivo?

FKC – Grande parte dos 48 re-mendos praticados na Constitui-ção, desde a sua promulgação(média de mais de três por ano!),agravou o problema da centrali-zação irresponsável de poderesna chefia do Executivo, o qualsempre foi entre nós um órgãodominante e irresponsável. Atu-almente, mais de 90% das leispromulgadas (incluindo-se asprovenientes de medida provisó-ria) são de iniciativa do PoderExecutivo. A isto, no entanto,os corifeus do regime presiden-cialista chamam de “governabili-dade”, quando, na verdade, elatorna o país propriamente in-governável. Quando tudo, numagrande empresa, depende das de-cisões de uma só pessoa, o riscode ineficiência ou de abuso depoder é manifesto. Com muitomaior razão, o mesmo ocorre nogoverno de um país. O resultadoé que os presidentes da Repúbli-ca tendem – não só aqui, aliás,mas também em todos os paíseslatino-americanos e mesmo nosEUA – a ser simples fachada dogoverno. Eles atuam na vida po-lítica com base no seu prestígiopessoal (ou carisma, como dizemos seguidores de Max Weber).Quando esse prestígio diminui oudesaparece, o governo entra emcolapso. Nos EUA, o exemplomais marcante dessa falsificaçãopresidencial foi dado pelos oitoanos do mandato de RonaldReagan: o presidente era um fan-toche, manobrado pela equipegovernamental. O atual presiden-te Bush segue pelo mesmo cami-nho, com a agravante de que temmuito menos carisma que Rea-

Aos 67 anos de idade, o professor de DireitoConstitucional Fábio Konder Comparato é,hoje, uma voz destacada no país. Suas pala-vras são ouvidas com especial atenção. Dou-tor honoris causa da Universidade de Coimbrae doutor em Direito da Universidade de Paris,nesta entrevista ele retoma a discussão do con-trole popular sobre o governo. Para ele, é horade entidades do movimento social como OAB,CNBB, CMP e outras se articularem para in-fluir nos rumos do governo.

gan. Entre nós, com estilos dife-rentes, aconteceu o mesmo comFernando Henrique Cardoso e LuísInácio Lula da Silva. Antes tí-nhamos o efetivo governo Malan,manobrando por trás do prestí-gio intelectual do “príncipe dossociólogos”. Agora temos o efe-tivo governo Palocci, desenvol-vendo políticas ultraconservado-ras, sob o escudo do declinanteprestígio de um dos maiores lí-deres populares que o país já teve.A tese da chamada governabilida-de foi levantada, como todos sa-bem, pela Comissão Trilateral (quereunia personalidades influentesdos EUA, Europa Ocidental e Ja-pão), nos anos 70 do século XX,para sustentar que o Estado doBem-Estar Social punha em riscoa democracia, pelo fato de criar en-cargos financeiros excessivos parao funcionamento dos Poderes Pú-blicos, sem estimular a produção.Propunha-se, portanto, reduzir oumesmo suprimir de todo o poderde interferência do Estado no fun-cionamento normal dos mercados,e suprimir os direitos humanos decaráter econômico e social. Ora, agrande questão que se põe, hoje, nomundo todo e particularmente emnosso país, é a de se criar uma sobe-rania popular efetiva e não puramen-te simbólica. E isto só será conse-guido quando tivermos organizadoum verdadeiro poder de controle dopovo sobre o funcionamento detodos os órgãos do Estado, no sen-tido de: 1) fixação dos grandes ob-jetivos nacionais; 2) fiscalizaçãopermanente da atuação dos agen-tes públicos, perante a Constitui-ção e as leis; 3) responsabilização detodo e qualquer agente público di-retamente pelo cidadão, e não ape-nas pelos seus representantes polí-ticos, ou pelo Ministério Público.

“A tendência é para uma gestão medíocre da coi-sa pública. Mas o Governo Lula é e será muito su-perior ao de FHC”

É hora de cr

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JE – O governo Lula tem dado se-

qüência às políticas do seu antecessor.

O senhor concorda com esta avaliação?

FKC – O lamentável é que o Pre-sidente da República aceitou in

totum, de modo consciente ou in-consciente (pouco importa), osditames do finado Consenso deWashington, que o ministroPalocci lhe transmitiu. Com isto,deu continuidade à política neo-liberal inaugurada com o malfa-dado governo Collor de Mello.Tal significa que estamos há 14anos caminhando para trás, comocaranguejos. Quando a economiamundial retrocede, nós afunda-mos; quando ela avança, nós nosarrastamos. O único êxito propa-

Mas, pergunto, ele é devido à ou-sadia e capacidade de previsão dosagentes do mercado, ou simples-mente à decisão estatal de criar aEmbraer e a Embrapa? Algumdos nossos sábios economistas dogoverno já refletiu sobre a impor-tância do investimento em ciênciae tecnologia, como fator de cres-cimento econômico endógeno? Averdade nua e crua é que o gover-no deste país, como aplicado dis-cípulo do FMI, trabalha cons-cientemente para defender osinteresses dos credores do Esta-do, notadamente os credores ex-ternos, com o miserável argumen-to de que precisamos de capitalexterno para crescer. Que o FMI

atual idade, tenho pou-cas chances de assistir a esseespetáculo confortador. Enquan-to isso não ocorre, volto à ques-tão anterior: quem pode, no atualregime constitucional, fazer cessaressa aberração e pedir contas aosculpados? Infelizmente, ninguém.É uma falácia dizer que o povopode deixar de reeleger os gover-nantes. Todos sabem que, em ma-téria de políticas públicas, o tem-po desperdiçado é irrecuperável.

JE – Em sua Carta Aberta ao Presi-

dente Lula, o senhor faz alguns aler-

tas e coloca o Presidente da República

na condição de servo da sociedade. O

senhor acha que foi ouvido?

FKC – Na essência, o regime de-mocrático supõe que o povomanda e os seus representantespolíticos obedecem. É claro que

isto não é propriamen-te uma servidão (a não ser

simbolicamente, no plano mo-ral, como pregou Jesus aos seusdiscípulos), nem uma relação depatrão a empregado. É, em subs-tância, um poder de controle,como dito acima. Nas grandesempresas, os acionistas não po-dem (nem devem) imiscuir-se nosassuntos da administração cor-rente, mas têm todo interesse, sobpena de perda completa do seucapital, em supervisionar a açãodos administradores. Ora, opovo, que é “dono” do país, ele-ge governantes que, utilizando-sedos recursos que o povo lhes dá,fazem o que bem entendem, emproveito de quem quiserem, semserem obrigados a prestar contasao mandante. Na vida empresa-rial, isso dá causa a ações civis e

Quando a economia mundial retrocede, nós afun-damos; quando avança, nós nos arrastamos

iar o controle popular

lado da atual política econômicaestá em lograr sucessivos recor-des em matéria de superávit pri-mário. O de abril alcançou 6,35%do PIB. Com isto, o saldo da dí-vida pública obteve a formidávelbaixa de menos de 1%. ParaPalocci, deveríamos continuarcom esse aperto irresponsávelpor pelo menos 10 ou 12 anos.Temo que haja aí um erro de con-ta: para saldar a dívida pública aesse ritmo precisaríamos de pelomenos um século. Como soumuito ignorante em matéria eco-nômica, ficaria satisfeito se al-guém da famosa “equipe econô-mica” me explicasse como épossível haver crescimento eco-nômico sem formação de capitale investimentos produtivos emníveis minimamente satisfatórios.Esqueci-me de mencionar comoêxito da atual política econômicaos superávits da balança comercial!

pregue essa política, bem se com-preende, pois ele de há muitoabandonou o objetivo com que foicriado em Bretton Woods. Mas comisto, objetivamente falando, temosque os direitos fundamentais dapessoa humana em matéria eco-nômica e social são relegados aplano secundário, porque é preci-so continuar engordando os queemprestam dinheiro ao Estado. É,no fundo, a mesma argumentaçãoque se usava neste país no séculoXIX para defender a continuida-de da escravidão: sem ela nós afun-damos, gritavam os grandespróceres políticos. A sorte dos atu-ais governantes é que eles vivemno presente. Daqui a 30 anos, setanto, essa sua política será defini-da como crime contra o povo, eos responsáveis, tal como os atu-ais fazendeiros escravistas serão,fatalmente, condenados a pesadaspenas. Infelizmente, dada a minha

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mesmo penais contra os adminis-tradores inescrupulosos. No cam-po político, não. O povo tinha an-tes, segundo o antigo ditadopopular, o recurso de ir se quei-xar ao bispo. Agora, com a sepa-ração entre a Igreja e o Estado,nem isso é possível...

JE –Como o senhor avalia a proposta

da Reforma do Judiciário?

FKC – A Reforma Judiciária,agora em discussão avançada noCongresso Nacional, é irrelevantesob certos aspectos e gravemen-te deletéria sob outros aspectos.É irrelevante quanto ao preten-dido controle dos órgãos judiciá-rios, pois este será feito por umconselho composto, em sua mai-or parte, de representantes dopróprio Poder Judiciário. É dele-téria, porque, além de não resol-ver o problema grave da depen-dência do Judiciário em relaçãoao Executivo (na nomeação demembros dos tribunais superio-res e em matéria de financiamen-to do Poder como um todo), ain-da dá ao Supremo TribunalFederal o poder de suprimir oprincípio do duplo grau de juris-dição, com as famigeradas “sú-mulas vinculantes”. Ora, até avelhinha de Taubaté sabe que oacúmulo de recursos judiciais nasinstâncias superiores tem por cau-sa o abuso recursal dos órgãos es-tatais, como o INSS ou o Fisco.

JE – Há quem qualifique a atuação

do MST como ilegal e inconstitucional.

Qual a sua opinião?

FKC – Já me pronunciei váriasvezes sobre essa questão. Existeentre nós um direito fundamen-tal, que é o direito ao trabalho,muito superior ao direito de pro-priedade. Os sucessivos governos(o atual menos do que os anterio-res, diga-se com justiça) continu-am, no entanto, considerando quea propriedade é superior ao traba-lho. Por outro lado, quando aConstituição exige que toda, repi-ta-se, toda propriedade cumpra asua função social (art. 5º, incisoXXIII), e quando ela determinaem que casos a função social dapropriedade é cumprida em maté-ria agrária (art. 186), ela está impli-citamente exigindo que o PoderExecutivo promova as desapro-priações rurais, como sanção aodescumprimento da Constituiçãoem matéria de direitos humanosdo trabalhador sem terra. O MST,portanto, está levando a sério asexigências constitucionais que, tra-dicionalmente, nós consideramosuma “perfumaria jurídica”.

JE - Os movimentos sociais estão indo

às ruas por melhores salários e condições

de vida. Há quem alerte para “o perigo

de um retorno a 64”. O que acha?

FKC – Como sempre, o nossoatraso cultural em relação aospaíses ricos é de algumas deze-nas de anos. O sucesso ideológi-co da Comissão Trilateral, nosanos 70 do século XX, consistiuem convencer os países subde-senvolvidos de que as políticassociais põem em risco a demo-cracia (antigamente, os ideólogosdo mundo rico preferiam dizerque elas punham em risco o ca-

pitalismo). Não é que agora, trin-ta anos depois, resolvemos repe-tir o mesmo estribilho? Se o de-semprego aumenta (nos centrosmetropolitanos ele já ultrapassa20% da PEA) e a renda médiado trabalhador diminui, o quequeriam os “donos do poder”que os trabalhadores fizessem?Que eles invocassem o socorrode Santo Expedito, o santo dascausas perdidas?

JE – O governo vem realizando uma

política semelhante ao velho “toma-lá-

da-cá”. Há quem aponte como “padrão

Sarney”, referindo-se ao fisiologismo. O

senhor concorda?

FKC – Concordo. É por essa ra-zão que precisamos todos traba-lhar na organização do poder decontrole popular sobre os órgãosdo Estado. Os partidos políticosnão servem para isso, pois sãoconcorrentes na disputa do poderde governo. Poderíamos começar,por exemplo, por criar um pode-roso grupo de pressão, a partir daassociação da OAB com a CNBB,num trabalho de fiscalização per-manente do governo. Poderíamostambém contar com a atuação vi-gilante da Coordenação dos Mo-vimentos Populares (CMP), quereúne 23 entidades de defesa dosdireitos dos mais pobres. O obje-tivo final é um só: criar em nossosistema jurídico os instrumentosde controle popular da atuaçãodos governantes. Uma vez criadosesses instrumentos, o grupo depressão pode desaparecer.

JE – Que rumos o Governo Lula

aponta?

FKC – Creio que a tendênciamais evidente é para uma gestãomedíocre da coisa pública. Mas épreciso também reconhecer que,

O Governo Lula é e será muito superiorao Governo FHC, que quebrou as pernasdo Estado brasileiro

O MST está levando a sério as exigênciasconstitucionais que, tradicionalmente, nósconsideramos uma “perfumaria jurídica”

por mais decepcionante que seja,o Governo Lula é e será muitosuperior ao Governo FHC, quequebrou as pernas do Estado bra-sileiro, com a privatização dasestatais e o sucateamento dos ser-viços públicos, além de ter pari-do a monstruosa dívida públicaque sufoca o país.

JE – Qual sua avaliação de duas dé-

cadas de normalidade institucional e

democrática, no Brasil?

FKC – O grande risco atual é aagravação do ceticismo popularem torno do funcionamento dasinstituições democráticas. É osentimento paralisante, que jáavassala toda a América Latina.De acordo com o relatório de u-ma pesquisa de opinião públicarealizada na região sob o patro-cínio do PNUD (Programa deDesenvolvimento das NaçõesUnidas), 56,3% dos entrevistadosdeclaram ser o desenvolvimentoeconômico mais importante quea democracia; 54,7% apoiariamum governo autoritário, que fos-se capaz de resolver os problemaseconômicos do país; e 42,82%concordam que o Presidente daRepública possa agir contra asleis. Ora, no quadro latino-ame-ricano, o Brasil, segundo o insti-tuto chileno Latinobarómetro, é opaís onde a desconfiança em re-lação à democracia atingiu o ín-dice mais elevado. Portanto, oalerta está dado: ou bem conse-guimos tornar efetiva a sobera-nia do povo, mediante a criação dopoder de controle a que acimaaludi, ou continuaremos indefini-damente na mão de políticos in-competentes e irresponsáveis, àespera do pior. E aí, nem mesmoSanto Expedito será capaz de nostirar o buraco.

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TAXA SELIC Leonardo Condurú*

com a desenvoltura e o desem-baraço de uma estrela de cinema.

Alimentando a inflação

Em certas ocasiões, a manu-tenção de taxa de juros elevadacomo estratégia de combate à in-flação pode fazer a festa de ci-dadãos comuns e de banqueiros,indistintamente. No caso do in-vestidor comum, porque a re-

muneração líquida das suas eco-nomias retidas em fundos de in-vestimentos, do tipo DI, supe-ra, em muito, o rendimentomédio das cadernetas de pou-pança e da inflação, evitando,neste caso, a depreciação de seusativos pela ação do imposto in-flacionário. Quanto aos banquei-ros nem se fala, uma vez que asua taxa mínima de atratividade,ancorada na Selic, lhes propor-

cionam ganhos extraordinários,tendo em vista os elevadosspreads remuneratórios de suasaplicações, muito superiores aosseus custos de captação.

A parte ruim dessa história éque a taxa Selic vem retroalimen-tando a inflação, inibindo investi-mentos, transformando empresá-rios em banqueiros, e contribuindopara o aumento do desemprego. Aose procurar entender as controvér-sias que a taxa Selic vem suscitan-do, é fundamental remeter o de-bate ao passado recente, para quese conheça em detalhes o que se es-conde por trás dessa famosa taxa.

Em 2001, a crise energéticadoméstica, os ataques terroristasaos Estados Unidos e o default

argentino desviaram de rota ameta de inflação estabelecida na-quele ano. No ano seguinte, anoeleitoral, a meta também não foialcançada e o choque inflacioná-rio foi muito mais forte. Atribuí-vel este, em grande parte, à incer-teza sobre a política econômicado novo governo que se avizinha-va e ao aumento da aversão aorisco nos mercados internacionais(amplificado em função da crise deconfiança doméstica). Esse qua-dro fez eclodir a crise cambial de2002, levando o dólar a romper abarreira dos R$ 3,00 e se aproxi-mar perigosamente dos R$ 4,00.

De fato, a partir do Gráfico1, pode-se observar a contami-nação sofrida pela taxa Selic nes-se período, em função da crisemencionada, e que extravasa parao ano seguinte. Cabe ressaltarque, no último trimestre de 2002,a Selic avançou 4 pontos, já com

Os juros mencionados peloPresidente Lula diziam respeitoà Selic, a taxa básica de juros daeconomia. Utilizada como instru-mento primário da política mo-netária empreendida pelo BancoCentral, serve de referência paratodas as demais taxas de jurospraticadas no mercado financei-ro nacional.

O Comitê de Política Mone-tária (Copom) estabelece a metapara a taxa Selic, tomando comobase a previsão de inflação ajus-tada para o exercício. E tem aprerrogativa de fixar um viés detaxa de juros (de elevação ou deredução), que autoriza o presi-dente do BC a alterar a meta paraa Selic na direção do viés, sem-pre que alguma mudança signifi-cativa na conjuntura econômicafor esperada.

A política de estabilizaçãoempreendida pelo Governo Fe-deral a partir do Plano Real con-vergiu para o estabelecimento dasistemática de metas para a infla-ção, como diretriz para fixação doregime de política monetária, apartir de 1999. Nesse enfoque,assume particular relevância ocomportamento futuro do nívelde preços que deve ser consisten-te com as metas estabelecidas.

Por sua vez, sabe-se da teoriaeconômica

1

que as taxas de jurosrespondem significativamente àsexpectativas de inflação e, porconta disso, são um ótimo remé-dio contra choques inflacionári-os. Devido a essa característicaanticíclica, a taxa Selic adquire im-portância na economia brasileirae passa a ocupar espaço na mídia

O Presidente Lula declarou, em entrevista aojornal O Globo, de 23 de maio último, que “to-dos deveríamos ser responsáveis por controlara inflação e, ao mesmo tempo, fazer o país cres-cer”. Isso permitiria acabar com o que chamoude “comoção nacional sobre juros”. O que se-ria ótimo, não fosse fato sabido que a orienta-ção econômica brasileira tem sido, há anos,direcionada para a estabilização e não para ocrescimento.

Taxa de juros: manter ou nãoo país em comoção?

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a equipe do novo presidente tra-balhando na transição de governo.

Observando o gráfico 2, o lei-tor poderá perceber, mesmo que demaneira intuitiva, o momento deeclosão da crise cambial de 2002 (coin-cidente com os resultados das pes-quisas eleitorais de junho e julho,que apontavam o então candidatoLula como virtualmente eleito), suatransmissão aos preços no atacadoe depois ao consumidor final

2

.

Nó górdio do BC

O tecnicismo do BC ao propug-nar por taxas de juros elevadíssimaspara tratamento de choque de umainflação de causas díspares

3

, numaeconomia estagnada como a brasi-leira, levou a um aumento desneces-sário da dívida pública interna e àpercepção, por parte de setor em-presarial, de que os indicadores daeconomia deterioravam-se ra-pidamente, fazendo crer que o paíspassava por uma grave crise.

A insistência na colocação detítulos públicos com correçãocambial, atrelando parte da dívi-da interna ao dólar, já onerada pela

1 Analiticamente, o modelo de comportamento da taxa de juros nominal, no curto prazo, pode ser formulado através da seguinte equação: rt = i – Ö

1 ( ì

t - ì

t

e) + Ö

2 log(Y

t/Y

t

e)

p

e

t+1, onde: i,

é a taxa de juros real de longo prazo; ( ìt - ì

t

e), é a taxa de expansão monetária não antecipada (efeito-liquidez); log (Y

t/Y

t

e), é o excesso de renda nominal sobre a renda nominal antecipada

(efeito-renda); pe

t+1, é a taxa esperada de inflação (efeito-expectativa); Ö

1 > 0,

Ö

2 > 0 (coeficientes que dão a magnitude dos efeitos sobre a taxa de juros).

Em um programa de estabilização, quando há aperto monetário (redução da oferta de moeda e do crédito) para o combate à inflação, a taxa de juros nominal inicialmente aumenta devidoao efeito-liquidez. O efeito-renda atua contrariamente ao efeito-liquidez, deprimindo a taxa de juros em virtude da desaceleração inflacionária e da capacidade ociosa que surge na economia,e em determinado momento no tempo preponderará sobre ele e a taxa de juros começa a declinar. A inflação, então cai, e com ela ocorre a reversão das expectativas inflacionárias. Odeclínio da taxa de juros passa a ser mais rápido até que a nova taxa nominal de juros de longo prazo (r

t ) seja atingida. Nesta formulação, a hipótese fisheriana, r

t = i +

p

e

t+1 é válida apenas no

longo prazo, quando ìt = ì

t

e, e Y

t =Y

t

e

Ver a respeito, Barbosa, F. H. A demanda de moeda no Brasil: uma resenha da evidência empírica.Pesquisa e Planejamento Econômico, 8: 33-82. 1978. E, ainda, Inflação, Taxa de Juros e o Fenômeno da Ultrapassagem. Artigo apresentado em 1981, no II Encontro Latino-Americano deEconometria, no Rio de Janeiro.

dupla correção embutida na Selic,conduziu a resultados já sabidos:desestímulo aos investimentosprodutivos, desemprego, inflaçãoe aumento do endividamento (in-terno e externo), situação herda-da, no todo, pelo Governo Lula.

E é aí que reside o nó górdioda atuação do BC: ao criar expec-tativas perante a opinião públicade que as medidas de política eco-nômica adotadas pelo governosão a semente do progresso e debons frutos no futuro, comete umerro capital porque se contrapõeàquela diretriz histórica, mencio-nada no primeiro parágrafo des-se texto. E, como se sabe, quan-do o crescimento econômico émantido baixo por muito tempotende a comprometer a própriarazão de ser da estabilidade.

Exceto pelas contas externas,beneficiadas pelo câmbio favorávele sem a volatilidade de antes, o qua-dro econômico interno agravou-seno primeiro ano do novo governo,como pode ser constatado a partirdos gráficos 3, 4 e 5, com quedaacentuada nos investimentos, de6,6%; no consumo das famílias, de

3,3%, e na renda das famílias, de13,9% (agravada pelo aumento dacarga tributária). O desemprego au-menta para 12% da PEA e o PIB

cai 0,2%, o que não acontecia des-de 1992, e, em conseqüência, o PIBper capita cai 1,5%, em razão doaumento populacional de 1,3%.

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Além disso, a Selic permanece empatamares ainda muito elevados.

Somente em virtude da quedado PIB, o Governo Lula terá quecrescer a taxas anuais de 3,11%, nospróximos três anos, para obter omesmo crescimento econômico doGoverno FHC, de 2,33% a.a., emseus oito anos de mandato. O quenão será nada fácil, mantida a metado superávit fiscal de 4,25% do PIBe os atuais níveis de taxas de jurospara este e os próximos anos.

Diante desse quadro, não esta-ria o Governo Lula enredado numaarmadilha sem saída? É claro quenão. Existem alternativas disponí-veis para reversão do quadro eco-nômico atual, mas, para buscá-las,o governo terá que medir forçascontra adversários poderosos. Aesse respeito, têm-se alguns ingre-dientes para apimentar o debate.

As alternativas disponíveis

No tocante à vulnerabilidadeexterna e à exposição cambial, acentralização do câmbio por par-te do Banco Central poderia ser

um caminho. Com essa medida,seria possível um maior controleà livre movimentação de capitais,com vistas a uma maior seletivi-dade no fluxo de saídas desses re-cursos; uma gestão mais eficientedos contratos de empréstimos efinanciamentos que oneram a dí-vida externa, tanto do setor pú-blico quanto do setor privado;uma atuação mais rigorosa (oumesmo intervenção) no mercadode câmbio, tal como vem sendofeito na Malásia, com vistas a ini-bir movimentos especulativos e areforçar as reservas internacionaisdo país (o ágio ou o deságio nastransações com moeda estrangei-ra, bem como os custos adminis-trativos da intermediação poderi-am ser assumidos pelo BC).

Com relação às políticas fiscale monetária, algumas medidaspoderiam ser tomadas: desatrelarda Selic e do câmbio a indexaçãodos títulos públicos federais, tro-cando-a por um índice de preços(IGP-DI, por exemplo) ou umacesta de índices

4

; estabelecer umapolítica de investimentos em infra-

estrutura e habitação popular,como alternativa para geraçãoemergencial de empregos; definirpolíticas industriais incentivadaspor mecanismos tributários ecreditícios (inclusive as destinadasà exportação); cortar custeio emvez de investimentos, no controledo déficit público: as reformas dolegislativo e do judiciário, nesseparticular, seriam imperiosas, umavez que são os únicos poderes adispor de folgas nessa rubrica.

Pesquisas recentes têm apon-tado queda acentuada na popula-ridade do Presidente Lula, face àcrescente rejeição da opinião pú-blica em relação ao tratamentodado à inflação, aos juros eleva-dos e ao avanço do desemprego,e que nada teria a ver com ques-tões políticas, como se pensava.

Na realidade, a lógica perver-sa da especulação e da acumula-ção financeiras fora do escopoprodutivo, onde resplandecia aSelic, conduziu o Governo FHCa obter índices de desempenho

2 Goldfajn, I. et alli. “Inflation Targeting in Brazil: Lessons and Challenges”.Versão reduzida e atualizada. BCB, 2003. De acordo com esse estudo, a contribuição do repasse cambial para a inflação de 2002 foi de 46%; dos preços administrados, exclusive inércia ecâmbio, 15%; dos preços livres, exclusive inércia e câmbio, 31%, e da inércia, 7%.

3 Ibid. O grupo de preços administrados, nesse estudo, corresponde a 30% do IPCA, e inclui combustíveis, gás de cozinha, energia elétrica, telefonia e ônibus urbano. Nele não foi incluídaa taxa de juros Selic, o principal preço administrado da economia. Como se sabe, aqueles preços são fortemente influenciados pelos preços internacionais (com maior repasse da taxa decâmbio), e pela inflação passada (inércia). Assim sendo, não há por que duvidar do perfil da inflação, claramente de custos, submetida a tratamento de choque como se de demanda fosse.E custo vai a preço, mais cedo ou mais tarde. Daí, uma inflação latente atuaria mais adiante, retroalimentando o processo inflacionário e gerando um círculo vicioso indesejado, inerente aopróprio regime de metas de inflação.

4 De acordo com o BC, ao final de 2003, a dívida pública mobiliária federal interna, de R$ 728 bi, era indexada em cerca de 51%, pela Selic, e em 23,8%, pelo câmbio. Ou seja, somenteconsiderando os juros nominais de curto prazo, uma redução de 1% na Selic, implicaria em R$ 3,7 bi a menos de dívida.

5 Gonçalves, R. Desempenho presidencial e a herança FHC. Jornal do Economista, nº 155, junho/2002. Corecon – RJ.

econômico muito ruins, que lhevaleram o título de pior presiden-te do País

5

, na história da repúbli-ca, e que o fizeram abdicar, ofus-cado, da sucessão pretendida.

Nesse sentido, o aumento doPIB registrado pelo IBGE no pri-meiro trimestre de 2004, de 2,7%,relativamente a igual período de2003, não deveria ser tão enal-tecido pelo Governo, uma vez quese mostra tímido, quando compa-rado com o crescimento de outrospaíses, no mesmo período.

Como se vê, essa tal taxa Seliccostuma quimerizar políticos, aexemplo do que ocorreu com o ex-presidente FHC. Ao PresidenteLula, portanto, cabe o dilema de terde optar por manter a sociedadeem estado de “comoção nacionalem torno dos juros”, como afirma-ra, ou por saídas econômicas quenão o conduzam na mesma dire-ção trilhada por seu antecessor.

*Economista. Correio eletrônico:[email protected]

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FÓRUM POPULAR DE ORÇAMENTO

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Correio eletrônico: [email protected] - Portal: www.corecon-rj.org.br - www.fporj.blogger.com.br - Reuniões do Fórum: quintas-feiras, às 18h, na sede do CORECON-RJ

• Expansão da Educação Infantil, garantindoas ofertas necessárias de matrículas públicasna Pré-Escola até 2007 e nas Creches até 2012;• Aumentar a proporção de alunos que con-cluem a oitava série do ensino fundamental,atingindo 60% em 2007 e 80% em 2012;• Ampliar ensino fundamental para jovens eadultos com defasagem de aprendizagem:45.000 matrículas até 2007 e 70.000 até 2012;• Garantir o acesso à informática nas escolas:50% das escolas com laboratórios até 2007 e100% até 2012;• Expansão do sistema saúde da família: 100%das áreas de IDH abaixo de 0.70 até 2007;• Universalização do remédio em casa paraportadores de doenças crônicas até 2007;• Introdução do Cartão SUS: 50% até 2007 e100% até 2012;• Redução da mortalidade infantil para 18/100.000 até 2007 e 14/100.000 até 2012;• Redução da gestação de adolescentes até 18,anos em 30% até 2007 e 50% até 2012;• Expansão do Sistema de Cozinheiras Co-

munitárias, atingindo 50% das comunidadescom IDH abaixo de 0.65 em 2007 e 100%em 2012;• Educação de mães: 40.000 até 2007 e100.000 até 2012;• Expansão do Programa de Penas Alterna-tivas: 5.000 atendimentos até 2007 e 10.000até 2012;• Expandir a atenção a ex-detentos pelo Pro-jeto Agentes da Liberdade: 15.000 atendimen-tos até 2007 e 30.000 até 2012;• Ampliar o programa Favela Bairro para suaterceira etapa, atingindo um bilhão de dóla-res e um milhão de pessoas;• Urbanização e integração das comunidadescarentes para 50% em 2007 e 100% em 2012;• Estruturar rede de atendimento para popu-lação de rua para cobertura total até 2007;• Garantir a participação de 40.000 jovens até2007 e 100.000 até 2012 em programas inclusivos;• Garantir atenção a crianças até 14 anos, deforma que 100% estejam acolhidas em pro-gramas inclusivos até 2007;• Garantir mínimos sociais para todas as famíli-as com filhos nas escolas: até 2007 para todas asescolas em comunidades com IDH abaixo 0.65e até 2012 em 100% das escolas municipais;• Fortalecer todos os programas voltados paraa mulher;• Estruturar o Programa Geral de Trabalho eRenda para todas as comunidades com IDHmenor que 0.65 até 2007 e para todas comIDH até 0.75 em 2012;• Ampliar o Programa Rio Experiente para to-das as comunidades com IDH menor que 0.65em 2007 e para todas com IDH até 0.75 em 2012;• Garantir acessibilidade para portadores de

necessidades especiais em 50% da área urba-na até 2007 e 100% até 2012;• Consolidar Cadastro Único dos Programase Projetos Sociais desenvolvido pela prefei-tura construindo Porta de Entrada Unificada;• Ampliar o Projeto Células Culturais paratodas as comunidades com IDH 0.65 até 2007e com IDH 0.75 até 2012.

Gasto já é maior

Conseguimos identificar na Lei Orçamen-tária vigente alguns programas de trabalho re-lacionados com as metas da Agenda Socialdestacadas acima, a saber: “Obras de Urba-nização em Comunidades Carentes”; “Desen-volvimento da Informática Educativa”;“Obras e Equipamentos para as Unidades deEducação Infantil”; “Programa de Atendi-mento a os Jovens e Adultos”; “Programa deAssistência Social para População de Rua” e“Pessoal do Programa Saúde da Família”.

Tentaremos identificar outras rubricas eestaremos acompanhando a execução orça-mentária das já identificadas.

Veja a evolução do Programa de Trabalho“Jogos Pan-Americanos”, iniciado no mês pas-sado. Percebemos que do dia 20de maio até o dia 05 de julho foram liquidadosR$ 10.646.646,10. Desta forma, o total liqui-dado neste ano já chega a R$ 26.189.285,30,representando 11% a mais do que o total gas-to em 2003, que foi de R$ 23.613.566,94.

Gastos com Panmaiores que em 2003

Em continuidade ao acompanhamento da preparação dos Jogos do Pan2007, no Rio, reproduzimos as metas sociais estabelecidas pela prefeitura(D.O de 21 de julho de 2003), que “prevê sua implementação de formaprioritária para comunidades com IDH* até 0,65, em 2007, e 0,75, até 2012”.

Programa de Trabalho “Jogos Pan 2007” em 2004

Período Até 20 de maio Até 05 de julho

Dotação Inicial 30.562.851,00 30.562.851,00Dotação Atual 17.504.542,00 28.877.548,00Empenhado 17.325.089,47 28.698.095,47Liquidado 15.542.639,20 26.189.285,30

* Índice de Desenvolvimento Humano

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m 11 de outubro de 1994,a Real Academia de Ciên-cias da Suécia conferia o

Prêmio Nobel de Economia aJohn Nash, Reinhard Selten eJohn Harsanyi, “pelas suas análi-ses pioneiras do equilíbrio na te-oria dos jogos não cooperativos”.

No comunicado divulgado àimprensa, a Real Academia expli-cava que “a Teoria dos Jogos seorigina do estudo de jogos comoo xadrez e o pôquer. Todos sabemque, nesses jogos, os jogadorestêm de pensar nos próximos pas-sos – elaborando uma estratégiabaseada na expectativa das respos-tas do(s) outro(s) jogador(es). Essasituação de interação estratégicatambém caracteriza muitas situa-

ções econômicas, e a Teoria dosJogos tem provado ser muito útilna análise econômica”.

Era o reconhecimento formalda teoria dos jogos como um ins-trumental muito importante paraa análise de toda uma série de situa-ções de interação estratégica damaior importância, não apenas pa-ra o economista, mas também pa-ra o administrador de empresas.

Apresentar os conceitos bá-sicos dos jogos para estudantesde administração e economia éum dos principais objetivos dolivro Teoria dos Jogos: para cursos deadministração e economia, lançado hápouco pela Editora Campus.Com 208 páginas, o livro é deautoria do economista Ronaldo

Fiani, professor do Instituto deEconomia da UFRJ.

Ex-assessor do Ministério daFazenda nos anos 1994/95 e daAgência Nacional de Petróleo, du-rante 2001, Fiani foi pesquisadorvisitante do Centro de Estudos Bra-sileiros da Universidade de Oxford,em 2003, quando desenvolveu pes-quisa sobre os problemas institucio-nais do setor de energia, no Brasil.

“O livro apresenta os concei-tos fundamentais, de forma a ser-vir como introdução para osestudantes de administração e eco-nomia que ainda não tiveram con-tato com a teoria dos jogos, ou tra-varam conhecimento com estateoria apenas nos cursos básicos demicroeconomia”, afirma o autor.

Economista lança livrosobre a teoria dos jogos

Professor do IE-UFRJ, Ronaldo Fiani lança livro voltado para estudan-tes de economia e administração.

Questões em foco

Entre as diversas situaçõesque o livro aborda e que ajudamno entendimento e na compreen-são sobre a teoria dos jogos cons-tam algumas questões de grandeatualidade para o estudo da eco-nomia, como, por exemplo:• Quando a formação de cartelentre empresas de um setor é pro-vável?;• Deve-se ou não levar a sério aameaça de uma empresa, estabe-lecida em um setor da economia,de promover uma guerra de pre-ços caso outra empresa entre noseu setor?; e• Por que as negociações de comér-cio internacional são tão difíceis e,freqüentemente, improdutivas?

Para a professora Anita Kon,da FGV-SP e também da PUCpaulista, o livro de Fiani “é umacontribuição para o conhecimentointrodutório da teoria e das aplica-ções empíricas da teoria dos jogos,constituindo-se em instrumentorelevante para a análise e tomadade decisões em diversas áreas”.

Já o professor Sergio Bulga-cov, da Universidade Federal doParaná, destaca que “o texto pro-picia novos espaços, pleno depossibilidades profissionais e aca-dêmicas, por meio de uma maiorcompreensão do mundo comple-xo das organizações”.

Teoria dos Jogos: para cursos deadministração e economiaAutor: Ronaldo FianiEditora: Campus, Rio de Janeiro.Ano da edição: 2004Número de páginas: 208

CURSOS DO CORECON/RJ

PROGRAMAÇÃO DE CURSOS PARA O SEGUNDO SEMESTRE

AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INVESTIMENTO – Carga horária: 36 horas-aula – Preço: R$340,00Professor: Eduardo de Sá Fortes - Universidade Candido MendesHorário: 19 de julho a 25 de agosto (segundas e quartas-feiras, de 18h45 às 21h30)

ECONOMIA E MEIO AMBIENTE: UMA INTRODUÇÃOAO TEMA E APRESENTAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO – Carga horária: 24 horas-aula – Preço: R$190,00Professor: Cláudia Lúcia Bisaggio Soares - Universidade Federal de Santa CatarinaHorário: 13 a 24 de setembro de 2004 (segundas, quartas e sextas-feiras, de 18h45 às 21h30)

O PENSAMENTO ECONÔMICO DE KEYNES - Carga horária: 16 horas-aula – Preço: R$130,00Professor: João Sicsú - Jennifer Hermann - Antonio José Alves Júnior - Manoel Carlos Pires - Luiz Fernando de Paula - Rogério Sobreira- André Modenesi - Universidade Federal do Rio de JaneiroHorário: 14 de setembro a 7 de outubro (terças e quintas-feiras, de 18h45 às 20h30)

ECONOMIA DO BEM-ESTAR, IGUALDADE E POBREZA: UMA LEITURA CRÍTICA – Carga horária: 18 horas-aula – Preço: R$150,00Professor: João Leonardo Medeiros - Universidade Federal do Rio de JaneiroHorário: Início a partir de 13 de outubro - data a confirmar (uma vez por semana, de 18h45 às 21h30)

PRIMEIRA DÉCADA DO PLANO REAL: TEORIAS E EXPERIÊNCIAS – Carga horária: 24 horas-aula – Preço: R$190,00Professor: André de Mello Modenesi - Universidade Federal do Rio de JaneiroHorário: 3 de novembro a 1º de dezembro (segundas e quartas-feiras, 18h45 às 21h30)

MATEMÁTICA APLICADA À TEORIA ECONÔMICA – Carga horária: 40 horas-aula – Preço: R$170,00Professor: Jorge Cláudio - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e Antonio Carlos Assumpção - IBMECHorário: 25 de outubro a 1

o de dezembro (segundas, quartas e sextas-feiras, 18h45 às 20h30)

GLOBALIZAÇÃO FINANCEIRA: IMPACTOS E MECANISMOS DE DEFESA – Carga horária: 24 horas-aula – Preço: R$190,00Professor: João Sicsú e Jennifer Hermann - Universidade Federal do Rio de JaneiroHorário: 26 de outubro a 23 de novembro (terças e quintas-feiras, 18h45 às 21h30)

Informações e inscrições na página http://www.economistas.org.br ou naAv. Rio Branco, 109 - 16º andar - Secretaria de Cursos - 2232-8178 ramais 45 e 36

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