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ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ Nº 182 SETEMBRO DE 2004 JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOS DOS DOS DOS DOS Carlos Lessa e a economia solidária Carlos Lessa e a economia solidária Carlos Lessa e a economia solidária Carlos Lessa e a economia solidária Carlos Lessa e a economia solidária Página 3 O que eles querem para o Rio?

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ÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJÓRGÃO OFICIAL DO CORECON-RJ E SINDECON-RJ

Nº 182 SETEMBRO DE 2004JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL JORNAL DOSDOSDOSDOSDOS

Carlos Lessa e a economia solidáriaCarlos Lessa e a economia solidáriaCarlos Lessa e a economia solidáriaCarlos Lessa e a economia solidáriaCarlos Lessa e a economia solidáriaPágina 3

O que eles querempara o Rio?

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EDITORIAL

ÓrÓrÓrÓrÓrgão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial dogão Oficial doCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJCORECON - RJ E SINDECON - RJ

ISSN 1519-7387

Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial:Conselho Editorial: Gilberto Alcântara, GilbertoCaputo Santos, José Antônio Lutterbach Soares, PauloMibielli, Paulo Passarinho, Rafael Vieira da Silva, Ro-gério da Silva Rocha e Ruth Espínola Soriano.

Editor: Editor: Editor: Editor: Editor: Nilo Sérgio GomesCorreio eletrônico: [email protected]ção:Ilustração:Ilustração:Ilustração:Ilustração: AliedoCaricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista:Caricaturista: Cássio LoredanoDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e FDiagramação e Finalização:inalização:inalização:inalização:inalização:Rossana Henriques (21) 2462-4885FFFFFotolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Improtolito e Impressão:essão:essão:essão:essão: TipológicaTTTTTiragem: iragem: iragem: iragem: iragem: 13.000 exemplaresPPPPPeriodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade:eriodicidade: Mensal

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Jornal dos

2 jornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembro de 2004o de 2004o de 2004o de 2004o de 2004

Eleição e novos atores

N esta edição, o JE abriu suas páginas paraos cinco principais candidatos à Pre-feitura do Rio exporem suas idéias, pro-

postas e convicções. É uma contribuição aodebate sobre a cidade, seus problemas e oscaminhos para as suas soluções.

Contudo, este número traz outras abor-dagens tão ou mais interessantes. Uma delas,o artigo baseado no texto vencedor do XIVPrêmio Corecon de Monografia, de CarlosAugusto Góes Pacheco, que traz uma impor-tante reflexão sobre os municípios beneficia-dos pelos royalties do petróleo, resumida naseguinte questão: estão esses municípios sepreparando para o futuro próximo, quandoas reservas do ouro negro se esgotarem e es-sas receitas indenizatórias tiverem fim?

Outra abordagem extremamente interes-sante é a palestra do professor Carlos Lessa,no Dia do Economista, em que o presidentedo BNDES fez a apresentação de algumasdas iniciativas que o banco vêm tomando. Eo que mais chama a atenção nessa exposiçãode Lessa é o que ele chama de “novosprotagonismos”: a economia solidária.

SumárioPágina 03 O orgulho de ser brasileiro – Carlos Lessa

Página 06 Contra os gastos sociais e com segurança – João Leonardo Medeiros

Página 08 Especial – Eleições 2004 – O Rio pelo olhar dos seus candidatos

Página 11 Monografia – Os royalties do petróleo – Carlos Augusto Góes Pacheco

Página 15 Fórum Popular de Orçamento – A resposta do Secretário de Esportes

Página 16 Entrega do Prêmio de Monografia

Em uma época marcada pela reedição, àsvezes surpreendente, das receitas neoliberaisque tiveram seu auge nos governos deFernando Collor e de Fernando HenriqueCardoso – aumento de juros, elevado superá-vit primário, privatização, etc. – o professorLessa joga foco em um outro tipo de econo-mia, baseado na solidariedade e não na com-petição, e que ele considera como “um refe-rencial de outras formas de organizar umprocesso produtivo”.

Lembra e tem íntima relação com as afir-mações recentes do professor Celso Furtadoque, no intervalo de uma gravação de umdepoimento seu para o Conselho Federal deEconomia, afirmou que o crescimento eco-nômico, por si só, não garante distribuiçãode renda. Somente um novo tipo de desen-volvimento econômico, que mude as relaçõessociais, pode alcançar esse fim. E arrematouo nosso mestre: o Brasil precisa descobrir,inventar um modelo que tenha a sua cara eatenda às necessidades da sociedade e do país.

Por que não acreditar que isto é possível?Uma boa leitura e bons votos.

O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Passarinho, de segundaà sexta-feira, das 7h30 às 9h, na Rádio Bandeirantes, AM, do Rio, 1360 khz.

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13 DE AGOSTO Carlos Lessa

O orgulho de ser brasileiroPublicamos, a seguir, a palestra do professor Carlos Lessa, no Dia do Economis-ta, na sessão promovida pelo Corecon-RJ e pelo Sindicato dos Economistas paraa homenagem a ele e aos professores João Paulo de Almeida Magalhães e Mariada Conceição Tavares*.

P rimeiramente, quero dizer que o JoãoPaulo não está presente porque, nestanoite, na Bahia, faz uma conferência em

homenagem a Rômulo de Almeida, que foi che-fe da assessoria econômica de Vargas, foi quemredigiu os estatutos da Petrobras, sendo fun-dador do Banco do Nordeste do Brasil.

Vocês bem sabem que a cadeira que estousentado, hoje, é muito pesada, muito difícil,muito eletrificada, mas ela permite algumascoisas. Uma delas, que estamos promoven-do, é a edição de toda a obra de Rômulo deAlmeida, comentada. Vamos, logo depois,fazer o mesmo com a obra de Ignacio Rangel,e é nossa idéia que o BNDES vá, aos poucos,

colocando à disposição dos brasileiros o pen-samento desses – será que podemos chamarassim? – pais fundadores, entre os pais fun-dadores da nossa economia.

Quero dizer uma coisa a vocês: eu sou oti-mista. Algumas coisas nesse momento estãome dando muita alegria. Dirão vocês: vão re-solver o mundo? Vão resolver os problemasdo Brasil, inaugurar novos tempos? Não. Mas,certamente, na inauguração de novos tempos,serão ingredientes importantes.

Estava sendo chamado para ocupar algu-ma coisa que, por falta de outro nome, cha-mo de mesoeconomia. Isso me daria um raiode manobra grande, até porque eu sei bem oque é BNDES, e eu conheço bem suaspotencialidades. Quero dizer que a cada diame surpreende num plano positivo.

Vou dar algumas notícias, que são re-levantes. Quando recebemos o banco,

há 18 meses, ele tinha um orçamen-to aprovado de R$ 33 bilhões. Nósexecutamos esse orçamento, e vo-tamos para aprovar o orçamen-to seguinte, de R$ 48,7 bilhões.Quero dizer que com R$ 48,7bilhões, por qualquer critério deranqueamento, o BNDES émuito maior do que o BancoInteramericano de Desenvolvi-

mento. E, para opróximo ano,

já está aprovado um orçamento de R$ 60,8bilhões que, se for mantida mais ou menosessa paridade cambial, nos fará superar o Ban-co Mundial.

Então, nos dois anos do Governo Lulateremos dobrado o orçamento de aplicaçõesdo BNDES, o que não é um resultado trivi-al. E se vocês me perguntarem como issofoi feito, eu diria que, basicamente, lançan-do mão de potencialidades do banco e res-taurando-o como banco de desenvolvimen-to. Isso nos permitiu dar um tratamentocorreto à massa de esqueletos que herdamosdas administrações anteriores. Na verdade,tivemos em 2003 o maior lucro nominal dahistória do banco e nesse semestre tivemoso maior lucro bancário do país. É impressi-onante: tivemos mais lucro do que qualqueroutro grande banco brasileiro.

Como fizemos? Não construindo ganhosoperacionais excessivos, até porque rebaixa-mos nossa taxa de juros, reduzimos o spread,mas o fizemos porque pudemos reverter pro-visões de muita porcaria que herdamos dasadministrações anteriores. Acho extrema-mente importante que os economistas sai-bam disso: primeiro, que o BNDES é umpoderosíssimo instrumento do Estado na-cional brasileiro: 100% do Estado. Não temADR em lugar nenhum, por conseguinte, eleopera rigorosamente a partir de projeto deEstado e seguindo, de forma disciplinada econsistente, as orientações estratégicas fi-xadas pelo governo. Segundo, este banco é,permitam-me dizer-lhes, um elemento deorgulho dos brasileiros. Aliás, simbolica-

mente, o BNDES está aqui, tem umapassarela que, do outro lado, tem a

Petrobras. Ambas as instituições fo-ram fundadas por Getúlio Vargas,

que nesse ano completa 50 anosda sua morte.

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A riqueza do Nordeste

Como não consigo deixar de ser otimista,vou lhes dizer algo muito concreto: creio queo Nordeste, de região problema está em viasde se converter em região solução. Isso não énada trivial, porque da fatura social brasilei-ra, uma percentagem extremamente relevan-te, alguma coisa da ordem de 40% a 50% destafatura estão no semiárido nordestino e nascidades nordestinas.

O projeto de transposição de águas do rioSão Francisco já começou. O Ministério daIntegração Nacional já lançou a concorrênciapara a compra das primeiras grandes bom-bas. Apesar de ser difícil pactuar a vasta com-plexidade de interesses, que vão do es-tritamente econômico ao macropolítico, querocrer já houve suficiente convergência paradizer que haverá a transposição de águas doSão Francisco. Não com esse nome, porquetem uma temática de estados doadores e es-tados receptores que precisa ser articulada,mas a engenharia pesada vai ter a oportuni-dade não apenas de atender as necessidadesdos estados doadores, em termos de recur-sos hídricos, e resolver alguma coisa comopelo menos 20 vales nordestinos.

O Nordeste tem um solo, nesse vales, comexcelentes características agronômicas. Têmum povo com qualidade admirável, que é re-sistir, e por isso mesmo, uma grande capacida-de de se adaptar. Hoje, a tecnologia agronômi-ca de produção com pouca água, nessesterritórios, é totalmente dominada pelaEmbrapa e pelas universidades do Nordeste;e o Nordeste tem 320 dias de sol por ano. Issorepresenta uma vantagem decisiva em relaçãoa uma outra região, que é o Imperial Valley, naCalifórnia, que é o hectare agrícola mais valio-so dos Estados Unidos, que surgiu nos deser-tos próximos ao Grand Canyon, quando foifeita a transposição de águas do rio Coloradopara a região da Califórnia. E lá tem 230 diasde sol, enquanto o Nordeste tem 320 dias.

No plano das coisas absolutamente obje-tivas, vou citar algumas:

A produção de camarão saiu de zero e,em seis anos, já são US$ 300 milhões de ex-portação. É tão eficiente que Mr. Bush já ele-vou as tarifas e penalizou o nosso camarãonordestino, sob o argumento que era “dum-ping” camaraônico... Estamos exportando 20toneladas de flores tropicais por mês; se estáproduzindo vinho na região de Sobral, com

agricultura irrigada. Quero dizer o seguinte:é possível colecionar pequenos fragmentos dealtíssimo desempenho e a chegada das águasvai permitir resolver algumas questões.

Ao mesmo tempo, o projeto de novo tra-çado da TransNordestina vai realizar um ve-lho sonho de Ignacio Rangel. Ignacio sempreimaginou que, na faixa de transição entre oNordeste semiárido e o Centro Oeste, o Nor-deste semiárido e a Amazônia existiria umarco de terras com capacidade de produziralimentos. Hoje essa região produz 5 milhõesde toneladas de grãos e, com muita rapidez,pode chegar a 10 milhões de toneladas.

Isso é suficiente para permitir uma ferroviaque ligue os três portos grandes da região comesta faixa, e esse é um projeto priorizado pelopresidente da República. O BNDES vai ser ogrande financiador dessa nova ferrovia. A com-binação das operações ligadas à regularizaçãodo São Francisco com a TransNordestina mu-dam radicalmente as perspectivas do Nordeste.

A economia solidária

Há um ponto a dizer, em nível absolutamen-te diferente: tenho acompanhado de perto umtema que vamos chamar “novos protagonis-mos” ou, se quiserem, economia solidária. Umaidéia que bancou a conversão da Conforja, fali-da, na Uniforja, que é uma empresa de traba-lhadores cooperados. Quero dizer aos senho-res que a Uniforja está inteiramente recuperada,dobrou o faturamento neste ano, em relação aoano passado, e já começou, inclusive, a exportarum pouco para o exterior. Era uma empresaque estava condenada ao sucateamento.

Pergunta: vamos resolver o problema doemprego e retomar o desenvolvimento comessas experiências? Não. Mas vamos construir,no Brasil, um referencial de outras formas deorganizar um processo produtivo – isso nãoé trivial, não são experiências românticas, são

projetos que estão se desenvolvendo rigoro-samente dentro da regra do jogo, porém, quedependem de uma adequada engenhariainstitucional e de um adequado financiamen-to. As duas coisas vão sendo supridas. Oinstitucional pelo movimento sindical, e o fi-nanceiro pelo BNDES, Banco do Brasil, Cai-xa Econômica, etc.

Tenho a impressão que essas primeiras ex-periências vão ter um efeito de alavancagemde uma série de outras situações. A nova Leide Falência, quando aprovada, vai permitir mul-tiplicar experiências desse tipo, que hoje sãoimpedidas, porque o ritual da falência sucateiainteiramente as instalações durante o períodoem que se desenvolve o ritual da liquidação.

Há pouco tempo estive no nordeste doMaranhão, que é uma região absolutamentesem história econômica nenhuma. Nunca foiregião de nada, e por nunca ter produzidonada agora consegue explodir na ponta comum produto espantoso que é o mel, porque aregião tem uma floração intensa, principal-mente, flor de mangue. E tem uma abelhabrasileira chamada “tiúba”, que não tem fer-rão (bem brasileirinha!), que produz um melque está sendo exportado para a Alemanha.E uma cooperativa de apicultores feita pelaigreja, com todo o romantismo dessas orga-nizações, evoluiu de 60 quilos para 220 tone-ladas e, agora, exporta mel para a Alemanha.

Isso me permite dizer porque estou oti-mista, pois acho que temos um povo capazde histórias de espantar. A começar pela pró-pria história do presidente, que nasceu noNordeste, não sabe exatamente o dia do nas-cimento, como é muito freqüente, e que quan-do assumiu a presidência disse que estava re-cebendo o primeiro diploma da vida dele, odiploma de Presidente da República. Acho queesta é uma história que me parece sintetizarmuito da potencialidade que existe dentro dopovão brasileiro. Lá, com o mel da “tiúba”,

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Tenho acompanhado de per-to um tema que vamos cha-mar “novos protagonismos”ou, se quiserem, economiasolidária

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ou a trajetória absolutamente consistente domenino de Garanhuns à presidência da Re-pública são demonstrações de que este país écapaz de histórias de espantar.

E esse cavalheiro, que é nosso presidente,acabou de lançar como mote central um temaque me parece absolutamente fundamental: aauto-estima dos brasileiros. Estou absoluta-mente convencido que esta é uma temáticacentral. Se há acusação pesada que pode serfeita no plano do simbólico, do afetivo e doemocional aos Fernandos, é que eles conse-guiram operar uma retirada do futuro do ima-ginário e, ao mesmo tempo, conseguiram co-locar uma séria suspeita de que ser brasileiroé desvantajoso, desfavorável. Quem vai res-gatar? O nosso presidente da República. Eleestá convocando a sociedade brasileira a dis-cutir a questão da auto-estima. Acho que, emtorno dela, vamos começar a fazer uma sériede outras descobertas.

Mas, nesse momento, estou obsessivamentepreocupado com uma questão: acho que o temado Fome Zero não pode sair de pauta. O temada Fome Zero é para mim um divisor de águas.

Estamos fazendo isso na periferia de São Pau-lo, num município do Rio Grande do Sul, enão fiz em mais porque não consegui queoutros municípios pudessem chegar. Mas te-nho a esperança que estas duas experiênciassirvam de referencial para esta discussão.

A burguesia nacional

Tenho que fazer uma última observação: atese da burguesia nacional eu sempre olhei commuita suspeita. Mas agora tenho todas as ra-zões do mundo para ter todas as suspeitas domundo. Por que? Porque vou mostrar a vocêsuma história que começa com Pedro II. PedroII deu carta patente para uma companhia cha-mada Cervejaria Brahma e para outra chama-da Antarctica Paulista. A história das duas émuito conhecida no Império, porque como oRui Barbosa queimou os arquivos da escravi-dão, os pesquisadores foram atrás de fontes eencontraram os registros da Brahma, e elaterceirizava a mão-de-obra escrava. Ela não seimobilizava em escravos, pagava aluguel a pro-prietários de escravos, rentistas.

fazemos a cerveja que gostamos de beber. Atrajetória do empresário nacional, quando nãovende, é ele pular para fora. Não posso dizer,mas já tem outro empresário nacional que pa-rece que virou holandês. Então, o seguinte: atese da burguesia nacional já era há muito tem-po, como teoria. Por isso, a tal da economiasolidária, o tal novo protagonismo me seduz.

Quero terminar fazendo um comercial fi-nal de novos protagonistas. E vou fazer maisuma homenagem ao Nordeste: agora, para apraça de São Cristóvão. Vocês sabem qual é ahistória da feira de São Cristóvão? Pau de ara-ra, anos 40, os caminhões soltam as pessoaslá e aí os nordestinos daqui começaram a pe-dir para o caminhão trazer um pouco de ra-padura, um pouco de farinha, e rapidamentealguém começou a vender excedentes no lu-gar, isso foi crescendo, ocupou a calçada e aísurgiu o Agamenon. O Agamenon é um des-ses gênios da raça, que negociou a cidadaniaprogressiva para a feira. O que é a feira, hoje?Novecentas barracas, com nove a 10 pessoascada. É uma empresa que emprega diretamen-te 8 mil, 9 mil pessoas.

Não traz mais queijo do Nordeste. Comoqualquer grande empresa compra em Goiás,a carne de sol é feita em Nova Iguaçu, massabe o que é que fazem lá? Lá se dança forró,se come mocotó, se escuta literatura de cor-del feita por residentes no Rio e impressa noRio, mas nós criamos uma coisa espantosaque é o seguinte: é um centro comercial, acéu aberto, de nordestinidade, incomprávelpor qualquer cadeia, nem Iguatemi, nem WalMart, ninguém compra, sabe por que? São900 pequenos donos de barracas e ganharamtotal cidadania porque ocuparam, inclusive,aquela estrutura do Sergio Bernardes, que ébelíssima, curvas matemáticas...

Então, produziram essa coisa maravilhosa,que, semente em terra fértil, já estão surgindotrês outras no Rio de Janeiro, e eu falei com ogovernador de São Paulo, ele vem agora comi-go para conhecer o Agamenon, porque vocêssabem que São Paulo faz sempre as coisas de-pois que a gente, maiores e melhores. Então,vai provavelmente surgir em São Paulo umacoisa muito maior, pois tem mais nordestinos, eeu tenho a esperança de que a maior rede nestepaís venham a ser as feiras nordestinas, doOiapoque ao Chuí. E isso é belíssimo.

*A palestra da Professora Maria da Conceição Tavares foi

publicada na edição passada do JE.

Ele não pode ser tratado como uma propostaromântica, e por maior respeito que eu tenhaao Betinho, ele tem que ser traçado como umaestratégia de Estado, que passa pelas redes queexistem disponíveis. A escola primária é o lu-gar fundamental para esta campanha. Se ascrianças de sete a 14 anos tiverem três refei-ções, 365 dias por ano, e se puderem levar paraa escola, o seu irmão menor pela mão, nósvamos ampliar de dois a 14 anos e nós muda-mos a cara da fome no Brasil.

Estou dizendo isso até porque uma dascoisas que estamos fazendo no BNDES éapoiar experimentalmente alguns municípiosque estão vivendo a experiência de fornecera merenda, como um direito universal de ali-mentação para as crianças de dois a 14 anos.

Como é que ela cresceu? Com muita gi-nástica de copo, muita gente bebendo... Nosanos 30, o Banco do Brasil deu diversos fi-nanciamentos às duas cervejarias. O BNDES,entre 1960 e 2000, deu 700 financiamentospara a Brahma e a Antarctica e, inclusive,apoiou na compra que fizeram da Quilmesargentina. E não é que agora, os três con-troladores não venderam a Ambev? Eles vi-raram belgas. Trocaram o controle da Ambevpor uma participação minoritária na Inter-brew. Viraram belgas!!

A importância do que acontece é a seguin-te: antes, 54% dos dividendos eram pagos emreais. Agora, necessariamente terão que serconvertidos em euros. Tecnologia??!! Mas nósfazemos uma ótima cerveja, ou pelo menos,

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A tese da burguesia nacionaljá era há muito tempo, comoteoria. Por isso, a tal da eco-nomia solidária, o tal novoprotagonismo me seduz

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Contra os gastos sociaise com segurança

João Leonardo Medeiros*

essa maré – aparentemen-te rasante, aliás – poucasidéias têm sido tão difun-

didas, no sentido do dispositivoautolegitimador indicado, quan-to a noção de que a pobreza podee deve ser enfrentada medianteas assim-chamadas políticas so-ciais. Ainda mais porque, sobre-tudo aqui e em outros recantosdo depósito terceiro-mundista dorebotalho humano “globalizado”,essa primeira proposição temsido indiscriminadamente combi-nada com uma outra, igualmentefalsa. Trata-se do clamor desespe-rado pela segurança “pública”,como solução para o definha-mento das relações propriamen-te humanas e da vida cotidiana.

Como sempre o Brasil, em as-suntos dessa ordem, fornece exem-plos exemplares. Outro dia mesmovimos o governo e a imprensa di-vulgarem as novidades no projetode orçamento para o próximo ano,a saber: o aumento nos gastos “so-ciais” e nos gastos com segurança

Diz a velha máxima po-pular que uma mentirarepetida mil vezes tor-na-se verdade. Mais doque uma frase ocasio-nal, talvez se possahoje empregar este di-tado para expressarcom toda brevidadepossível o espírito dostempos. Afinal de con-tas, trata-se de um cla-ríssimo estratagemade autolegitimação pe-lo cansaço. Sendo o di-tado falso, procuralegitimar-se pela me-cânica repetição. Per-gunto eu: não tem sidoeste precisamente omecanismo emprega-do por inúmeras dascrenças – em si, dig-nas da mais completaridicularização – pos-tas em circulação namaré da ideologia he-gemônica?

pública. E isso no mesmo dia emque o governo e a imprensa tocavamas trombetas para celebrar (comuma certa razão, já que nos desa-costumamos a receber notícias des-te tipo) o que pode ou não ser, masjá era tido com sido, o início de umanova etapa de crescimento.

Detenhamo-nos inicialmente noorçamento. Em um país miserável,este instrumento da democracia,como se diz em tom humorístico,longe de ser uma simples peça jurí-dico-burocrático-ornamental, influ-encia decisivamente o futuro que sepode entrever no curto prazo e,como tendência, também no médioe no longo. Projeta, ao menos, o fu-turo que o governo em exercício, nascondições que encontra diante de si,vislumbra para o país. Como as con-dições são, e o presidente Da Silvanão se cansa de enfatizar, oficialmen-te otimistas, supõe-se que tambémo sejam o orçamento e a visão defuturo nele encerrada.

Pois não é que ocorre exata-mente o oposto: temos no orça-

mento não a expectativa de umfuturo otimista, mas o delinear deum futuro sem futuro.

Vejamos mais de perto a natu-reza do problema. O que significaum futuro no qual o Brasil, ouqualquer outro país, prevê ummaior dispêndio com as políticas“sociais” e de segurança “públi-ca”? Iniciando pelos “gastos” so-ciais, o mais importante aqui éexplicitar o que todos de certa for-ma já sabem ou podem facilmen-te reconhecer: a sua significaçãocontemporânea. Longe de se re-ferir a gastos que, de alguma for-ma, modificariam ativamente aexistência social de indivíduos ge-nericamente concebidos, os gastos“sociais” têm sido nas últimas dé-cadas sinônimo de cobertura pas-siva para as sobras humanas daeconomia. Em outros termos, gas-tos “sociais” são, atualmente, umpuro e simples eufemismo para ojá desgastado assistencialismo. Otom assistencialista fica claríssimoquando se observa que os gastos

N

POLÍTICA SOCIAL

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“sociais” se referem concreta-mente ao criativo leque de expe-dientes criado pela nossa familiar“bolsa-cracia”: bolsa-família, bol-sa-leite, bolsa-educação, bolsa-res-taurante, bolsa-hotel etc.

O que o assistencialismorevela?

Aos que se atrevem criticar oassistencialismo sempre se indagao que tem de mau nele: como mo-dificar a sociedade se as tropas dis-poníveis estão famintas? – questi-onam os mais radicais. A fome tempressa, lembram os apressados.

Pois bem, aos primeiros talvezpossamos lembrar que a Bastilhafoi tomada por hordas de miserá-veis famintos, apenas para menci-onar um episódio revolucionário.Isso não significa evidentementeuma defesa da fome como acele-rador de um processo de transfor-mação, mas uma singela recorda-ção da vacuidade da proposiçãocontida na pergunta-crítica.

Aos que nos chamam a aten-ção para a pressa da fome, sali-entamos que há tempos as pes-soas morrem de fome, semqualquer pressa, apesar do inces-sante e crescente esforço assisten-cialista. O fato de a fome em sipermanecer lentamente indica,com a simplicidade ímpar dosacontecimentos, que eventos des-se tipo não cedem a paliativos,mas a soluções efetivas.

É preciso, entretanto, retomara interrogação para enfim respon-dê-la: o que tem de mau, oassistencialismo?

Em si, nada. Nada mesmo,nada vezes nada.

Mas como visão de futuro,como ambição política do gover-no brasileiro, como projeto denação, como projeto internacio-nal de sociedade (já que é sabidoque se trata de um projeto mun-dial, chancelado pelas organiza-ções internacionais), o assisten-cialismo é, no mínimo, suspeito.

A equação é simples. Para aumen-tarem os gastos sociais, de duasuma: ou a pobreza, a miséria e adesigualdade atualmente existen-tes não se reduzem; ou aumen-tam. Se os humildes – digo, po-bres – e os assistidos – digo,miseráveis – aumentam em con-tingente, os gastos sociais aumen-tam. Ou não?

Naturalizar a miséria

Chegamos assim ao essencialdo problema. O fato de o gover-no declarar como projeto para opaís, num ano que seja, o aumen-to dos gastos “sociais” não ape-nas naturaliza o aumento da mi-séria, tornando-o uma previsãopara o ano seguinte, como escan-cara uma desalentadora rendiçãona tentativa de efetivamenteenfrentá-la, de um modo qualquer.Assume publicamente a incapaci-dade ou a suposta impossibilida-de de enfrentar ativamente a mi-séria. E tudo isso num quadropintado com tintas otimistas.

O que foi dito sobre os gastossociais, aplica-se igualmente à se-gurança “pública”. Também nestecaso não poderia ter nada contra asegurança “pública”, nada mesmo.Quem, em sã consciência, teria?

Mas, antecipar aumentos nosgastos com segurança não signifi-ca reconhecer que a principal fon-te originária da insegurança, a de-sigualdade social, não pode ou nãodeve ser efetivamente combatida?(Por favor, esqueçam as longasdivagações moralistas sobre o ca-ráter mau-caráter da violência.)

Imaginem se o orçamento daSuécia poderia prever um aumen-to dos gastos com segurança,num ano sequer?

Não dispensa isso, o fato de opacifismo sueco ter tudo a ver como belicismo brasileiro (o mundo églobalizado, não?); mas temos aíum excelente exemplo para, porcontraste, salientar a absurdidadeda proposição de que atacar a vi-

olência requer, por necessidade,violentar os violentos.

Tomando em conjunto todaa situação, o que significa a pu-blicação deste projeto orçamentá-rio no dia do anúncio do “espe-táculo do crescimento” é que nemmesmo o governo acredita que,além de espetacular, o espetácu-lo possa dar conta da nossa fa-mosíssima “questão social”.

Se, a despeito do crescimento,o projeto para o próximo ano pre-vê aumento dos gastos “sociais” edos gastos bélicos internos, só podeser que o governo não leva muitafé na continuidade do crescimentoou na sua capacidade de minorar(para ser modesto) as mazelas so-ciais. Sobram razões, neste últimocaso: a China cresce adoidado e adesigualdade social aumenta, osEUA também, para não mencio-nar a nossa própria história de cres-cimento com frustração “social”.

“Homo sacer –o não-inclusível”

Parece-me, enfim, que esta-mos diante de um reconhecimen-to tácito de uma visão particular-mente conservadora, e, por issomesmo, bastante difundida, dapobreza e dos pobres mesmo.Estes últimos têm sido encaradospela ideologia dominante comoHomo sacer, expressão de GiorgioAgamben, que Slavoj •i•ek temse ocupado em difundir.

O Homo sacer seria o indivíduoausente de cidadania, de direitos,para o qual os presos de Guantá-namo são uma instância clássica:presos que não podem sequer sersubmetidos a julgamento, já queas leis vigoram exclusivamentepara os cidadãos. Diante do Homo

sacer, que não é excluído, mas não-

inclusível, só duas atitudes seriamcabíveis: o assistencialismo, quan-do não incomodam, e a repres-são, quando incomodam. Ou ummisto de ambos, já que nunca sesabe quando podem incomodar.

O porquê da analogia já deveestar mais do que claro. O projetooficial de futuro do país contém, emsi, numa época de presumido oti-mismo, uma concepção velada emque os miseráveis brasileiros nãopassam de Homo sacer, sujeitos semquaisquer direitos, não-inclusíveis, eque, portanto, devem ser alvos orada caridade, ora do “afeto policial”dos cidadãos (repetindo Marx).

Naturalmente, podemos com-preender a proposta em voga comofruto da pura e simples irreflexão,do imediatismo alimentado pelopróprio estado calamitoso da nossavivência social, absolutamente de-gradada e degradante. Mas será que,exatamente por isso, pela intensida-de da desgraça, não deveríamos re-fletir com todo cuidado sobre o quetem sido dito, defendido e feito?

Nunca é demais lembrar queatitudes absolutamente pavorosasforam e são alimentadas pelosmais nobres sentimentos.

Não seria imperioso, enfim,estabelecer uma reflexão radical-

mente crítica da forma de interpre-tar este mundo arrasado pela mi-séria e pela guerra e de agir nele?

Essa constatação, evidente-mente, não implica de imediato sa-ber como reagir, mas ao menospossui a dignidade de conferir aoproblema a sua exata dimensão, dereconhecer a incapacidade deenfrentá-lo por métodos conven-cionais. Não me perguntem, por-tanto, o que fazer: como disse PauloEduardo Arantes, não sou bobo deoferecer resposta. Mas a crítica pelomenos não se pode dispensar.

* Doutor em Economia pela UFRJ.

O professor e pesquisador JoãoLeonardo Medeiros estará minis-trando, no Corecon-RJ, o cursoBem-estar, Igualdade e Pobreza:uma leitura crítica, às quintas-feiras à noite, no período de 21de outubro a 25 de novembro.Os interessados deverão fazersuas inscrições na páginawww.economistas.org.br.

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8 jornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembrjornal dos economistas - setembro de 2004o de 2004o de 2004o de 2004o de 2004

ESPECIAL

Para esta edição, às vésperas das eleiçõesmunicipais de outubro, o JE ouviu os candida-tos a Prefeito do Rio de Janeiro, a partir deduas questões formuladas para os cinco primei-ros colocados nas pesquisas pré-eleitorais –César Maia, Marcelo Crivella, Luiz Paulo Con-de, Jandira Feghali e Jorge Bittar.A cada candidato foi oferecido o mesmo espa-ço, de 3 mil caracteres, e deixada em aberto apossibilidade de responder às questões comomelhor parecesse a cada um.A seguir, as respostas às seguintes perguntas:1 – Quais suas prioridades para o desenvolvi-mento econômico da cidade?2 – Quais as propostas para o equacionamentoda dívida e do orçamento frente aos preceitosda Lei de Responsabilidade Fiscal?

Cesar Maia – PFL/PSDB

Plano de Metas para 500 mil empregos

A análise do quadro econômico

tem evidenciado a necessidade de po-

líticas públicas mais agressivas, que

privilegiem não só o emprego, mas

estratégias de geração de trabalho e

renda. Emprego, a prefeitura faz por

meio das obras, da contratação de ser-

vidores – nesses três anos e meio

contratamos 45 mil servidores – e dos

contratos de terceirização. A escolha

do Rio para sediar o Pan-Americano

de 2007 vai garantir milhares de em-

pregos, em diversas áreas, como cons-

trução, indústria têxtil, etc. O espor-

te e o turismo são atividades econômicas importantíssimas, e o Rio tem

enorme potencial nesses dois setores. Temos também projetos específicos

para áreas da cidade, como o “Desenvolvendo e capacitando a Zona Oes-

te”; e estudantes de economia do Centro Universitário Moacyr Bastos, que

integram o quadro de agentes do trabalho da Prefeitura, atuando nas comu-

nidades, estimulando o desenvolvimento econômico local. Temos ainda o

“Escola Carioca de Empreendedores Comunitários”, que desenvolve um

programa permanente de líderes, fomentando o desenvolvimento local e a

geração de trabalho e renda nas comunidades. O projeto tornou-se uma

incubadora de empreendimentos locais, desenvolvendo linha de pesquisa e

extensão sobre o desenvolvimento comunitário. Nosso plano de metas:

• Apoio, subsídio e isenções à criação de empresas de duas gerações,

com profissional aposentado e profissional recém-formado;

• Crédito direto a pequenos empreendedores e cooperativas, com paga-

mento em serviços e produtos;

• Intensificar o direcionamento de compras de uniformes da prefeitura

a cooperativas de costureiras;

• Criação de shoppings abertos em ruas de atividades econômicas con-

centradas, flexibilizando as posturas municipais;

• Desoneração fiscal das atividades ligadas a turismo, cultura e esporte;

• Profissionalização no turismo, hotelaria e esportes;

• Inicio das contratações para os jogos do Pan;

• Criar 500 mil empregos diretos e indiretos;

• Criar centros de capacitação profissional em 20 bairros;

• Implantar o SINE municipal em duas regiões da cidade.

A Prefeitura do Rio segue rigorosamente os princípios da LRF. A des-

pesa líquida com pessoal, em dezembro/03, atingiu 53,4% da Receita

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O Rio pelo olhardos seus candidatos

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Marcelo Crivella - PLFoco no turismo, cultura, esportes e tecnologia

A vocação natural do Rio con-

temporâneo é o setor de serviços,

particularmente o bloco de interes-

ses e atividades em torno do turis-

mo, entretenimento, cultura e espor-

tes. Não é que repelimos a indústria:

ela será bem vinda e contará com

os incentivos necessários. Mas, o Rio

é um campo privilegiado para ativi-

dades do terciário, com capacidade

extraordinária para geração de ren-

da e empregos de qualidade. O blo-

co de turismo, entretenimento, cul-

tura e esportes será o foco de nossa

atenção, apoiado por uma concepção e prática ativas de defesa do meio-

ambiente. A Prefeitura fará tudo para garantir o seu pleno desenvolvi-

mento, como fonte de emprego e renda para milhões de cariocas. O turis-

mo é a vocação natural e fundamental para a vida econômica da cidade, mas

temos de cuidar da manutenção do espírito carioca, tão ameaçado pela

violência e falta de políticas públicas que estabeleçam um planejamento

seguro de desenvolvimento econômico e social. O Rio de Janeiro conquis-

tou a referência internacional de principal centro turístico brasileiro, mas

perdeu alguns espaços por falta de um maior entrosamento entre os pode-

res municipal, estadual e federal, além de não dar a merecida valorização aos

segmentos da iniciativa privada que trabalham os produtos turísticos.

A violência crescente é perturbadora e afasta as pessoas das ruas e da

vida noturna, e afugenta os turistas. Nosso plano de governo, além de dar

prioridade ao corredor turístico do Galeão, às áreas de praias e pontos

turísticos, vai assegurar a revitalização do Centro da cidade e da Zona

Portuária, com presença permanente da Guarda Municipal, equipada com

armas tecnológicas e de informações, principalmente à noite, a fim de

restabelecer o verdadeiro espírito carioca nas ruas do Rio, devolvendo à

cidade a sua auto-estima. O Rio atravessa, como as demais metrópoles

brasileiras, uma crise social sem precedentes: alto desemprego e

subemprego decorrentes de duas décadas de desempenho econômico me-

díocre em todo o País. É a nossa juventude que sofre as conseqüências

mais dramáticas dessa crise, em razão da falta de perspectiva de uma rea-

lização pessoal e profissional na vida. A sociedade carioca sabe que a crise

social está na origem da criminalidade e da crise de segurança. Entretanto,

não podemos esperar indefinidamente pela mudança da política econômi-

ca para enfrentar a crise social. Temos que mobilizar nossas próprias for-

ças para isso, e a forma de fazê-lo, imediatamente, é empreender todos os

esforços para revitalizarmos a indústria de turismo, entretenimento, cultu-

ra e esportes. A cidade tem condições de participar do novo ciclo de

desenvolvimento, com a recém aprovada política industrial, em que um

Luiz Paulo Conde - PMDBUm Rio que atraia empresas e indústrias

Pretendo tomar várias medidas

para estimular o desenvolvimento

econômico da cidade em várias áre-

as. Entre elas, a de entretenimento,

cultura, lazer, turismo, financeira e

têxtil. Para a área de turismo temos

vários projetos, entre eles a criação

de eventos como a Semana da Cri-

ança e o Rio Beer Festival, além da

retomado do Plano Maravilha-Rio,

abandonado pelo atual prefeito. Es-

timularei a implantação e manuten-

ção das cooperativas de roupas no

estado, que empregam formalmen-

te 168 mil pessoas. Em parceria com o governo do estado, atuarei para

transformar o Rio no segundo maior pólo do mercado de seguros no país.

Este mercado cresce 25% ao ano. Outro esforço será feito para atrair

indústrias, que farão do Rio o segundo maior pólo da indústria farmacêu-

tica da América Latina. Na área de geração de empregos, vou criar progra-

mas de apoio a trabalhadores autônomos (são mais de 1,25 milhão de

autônomos no Rio de Janeiro). Criar programas de qualificação e prepara-

ção para os jovens serem absorvidos pelo mercado de trabalho – um deles

em parceria com o governo federal e as Forças Armadas, oferecendo

cursos e ampliando o tempo do serviço militar. Vou retomar também

diversos projetos abandonados pelo atual prefeito, como as Câmaras de

Desenvolvimento Local, que apóiam ações de geração de empregos, e os

Centros de Informática nas comunidades carentes.

De fato a sua preocupação sobre orçamento, endividamento do municí-

pio e, em conseqüência, a Lei de Responsabilidade Fiscal faz todo sentido.

Conforme dados da Controladoria Geral, após obter saldo orçamentário

positivo, em 2000, primeiro ano da gestão Cesar Maia, o município vem

acumulando seguidos déficits anuais. Hoje, há atrasos com fornecedores e

prestadores de serviço. Os compromissos assumidos com a realização do

Pan 2007 são outra dúvida. Por sua vez, não existe transparência no proces-

so de informação das contas públicas do município, o que dificulta a análise

externa. Ao final desta gestão, caso não cumpridas as obrigações da LRF, o

gestor público poderá ser responsabilizado. O equacionamento da questão

passará por um levantamento inicial do endividamento e obrigações assu-

midas, e o estabelecimento de uma programação financeira rígida.

Corrente Líquida, abaixo do limite de 60% (artigo 20 da LRF). No que se

refere às operações de crédito internas e externas, a Resolução 43/01

determina que o limite seja de 16% da RCL ao ano. O limite atingido pelo

Município ano passado foi de apenas 1,5%. Quanto à dívida com a União,

esta gestão está negociando, desde 2001, o abatimento de R$ 900 milhões

de créditos do governo federal com o município; também propõe a mu-

dança do índice de correção: substituir o IGP-DI, medido pela FGV e

sujeito às variações cambiais, pelo IPCA, índice oficial da inflação.

dos projetos prioritários é o apoio à produção e exportação de software.

Indústria limpa, compatível com a vocação turística, geradora de valor

agregado e de empregos, poder aquisitivo e efeito multiplicador de renda

e emprego. Faremos do Rio a capital brasileira do software.

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Jorge Bittar – PT/PSB

Democratizar a gestão pública

Criar o fomento às micro-finan-ças, de modo a aumentar a dispo-nibilidade de serviços financeirospara pequenas e microempresas etrabalhadores autônomos, e meca-nismos de interlocução com os po-deres públicos e com o setor fi-nanceiro. Produzir e disseminarinformações sobre essas empresase sobre tecnologia de micro-finan-ças. Estimular o cooperativismo decrédito. Além disso, pretendemos:• Fomentar serviços de desenvol-vimento empresarial, voltados àcapacitação, apoiar a comercialização, simplificar os trâmites buro-cráticos, incentivar o cooperativismo e outras formas de associativismo;expandir o Programa de Apoio ao Trabalhador Autônomo, voltado àcomercialização de serviços da construção civil;• Apoiar a chamada produção mais limpa, com o objetivo de reduzir o usode matérias primas, economizar água e energia, gerando menos resíduos;• Promover processos coletivos de aprendizagem, tais como redes,cooperativas, reunindo diferentes agentes e empresas;• Fazer do Rio a Cidade do Conhecimento. Agir em prol do aprimo-ramento das universidades, instituições de pesquisa e centrostecnológicos da cidade e de seus vínculos com as prioridades sociais;• Priorizar aquisição de bens e serviços junto às empresas locais;• Fortalecer a indústria cultural geradora de empregos e oportunidades;• Democratizar a gestão da política cultural;• Estruturar a Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento ePesca em condições de apoiar e assistir os agricultores e pescadores,com vistas a aumentar a produção e comercialização;• Executar obras de urbanismo e meio ambiente que forem necessári-as para a realização do Pan, em 2007.

A capacidade de endividamento será preservada pela manutençãoda relação Receita Corrente/Dívida Consolidada Líquida. Preservara capacidade de endividamento para financiar projetos importantespara a população. Investimentos seletivos e maximamente indutoresde inclusão sócio-cultural, cidadania e renda, associados àsustentabilidade da retomada da economia, permitindo manter está-vel aquela relação, sem aumento de impostos ou compressão de des-pesas não financeiras.

Vamos separar as contas do Regime Próprio de Previdência dosServidores Municipais das contas do Tesouro Municipal. Sabemos queo fundo previdenciário dispõe de reservas técnicas vultosas (R$ 1,7 bi),mas que estas reservas estão compromissadas com obrigações futurasde aposentadorias e pensões. Hoje, as reservas técnicas do fundo sãousadas para maquiar balanços e uma fictícia disponibilidade de caixa.Outra questão é a divida de curto prazo. A Prefeitura tem a prática definanciar-se no curto prazo com recursos de fornecedores e prestadoresde serviço, que chegam a ficar 10 meses sem receber o que têm direito.Uma visão financista míope, de curtíssimo prazo, que só prejudica ostrabalhadores dessas empresas. Acabaremos com isso.

Jandira Feghali - PCdoB

Retomar o desenvolvimento do Rio

O esvaziamento econômico do

Rio é uma realidade. É verdade que

nem todos os problemas da cidade

têm origem nela própria ou são de

responsabilidade de seus governan-

tes. Alguns são conseqüência da po-

lítica econômica vigente, que há uma

década privilegia os interesses do ca-

pital financeiro. Mesmo assim, a Pre-

feitura tem um papel a cumprir para

ajudar a retomada do desenvolvi-

mento da cidade. Para tal, vamos

tomar as seguintes medidas:

a) Estimular a construção civil e os

serviços de turismo e de infra-estrutura de serviços públicos (sanea-

mento, transporte, saúde, educação e energia);

b) Articular com a Caixa Econômica Federal um Fundo de Investimen-

to Imobiliário para financiamento da habitação popular, o que servirá

para reativar o setor da construção civil e criar empregos;

c) Redefinir os incentivos fiscais do Imposto sobre Serviços (ISS), com

destaque para as micros e pequenas empresas;

d) Desenvolver ações para fortalecer a indústria naval e a Marinha Mer-

cante na cidade;

e) Usar o poder de compra da prefeitura para apoiar empresas instaladas no Rio;

f) Reservar para empresas de pequeno porte as compras inferiores a R$ 30 mil;

g) Fortalecer a economia popular solidária, apoiando projetos comunitários;

h) Fortalecer cooperativas de crédito para o financiamento de micro e

pequenas empresas.

A resolução n° 43, do Senado Federal, limita em 11,5% o comprometi-

mento anual dos gastos das prefeituras com amortizações, juros e demais

encargos da dívida consolidada, em relação à receita corrente líquida. A

dívida da Prefeitura do Rio estava em 10,7% no ano passado, abaixo, por-

tanto, do limite estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Mas vem

crescendo perigosamente: em 2001 era equivalente a 7,6% e, em 2002, pas-

sou para 10%. Nesse passo, logo estaremos no limite permitido pela resolu-

ção do Senado, pois o ritmo do crescimento dos encargos da dívida é maior

do que o ritmo de crescimento da arrecadação da Prefeitura. Se somarmos

os gastos que terão que ser feitos para o Pan-Americano, o quadro que se

desenha é, ainda, mais grave. Isto, aliás, foi mencionado, em relatórios do

Tribunal de Contas do Município e do Fórum Popular de Orçamento.

Esta situação é o resultado da desastrada gestão financeira do atual

prefeito que, numa decisão arbitrária, elevou em 50% os custos da dívida

ao não pagar uma parcela que vencia no acordo negociado com o gover-

no federal. Assim, a dívida terá que ser renegociada, sob pena de inviabilizar

a gestão da prefeitura. Essa é uma situação que atinge a quase todas as

grandes cidades, inclusive, São Paulo. O que chama a atenção, no caso do

Rio, é a arrogância do prefeito, que se apressa em desqualificar as críticas

a sua gestão financeira. Mas, ao contrário do que diz, ele está deixando

uma verdadeira herança maldita para o seu sucessor, que terá que gover-

nar quatro anos com um rígido planejamento financeiro, democratica-

mente discutido com a sociedade, para que fiquem claras as dificuldades e

a necessidade de renegociação da dívida.

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esde a criação da Petrobras, em 1953,até as recentes descobertas realizadasna Bacia de Campos, a indústria de

petróleo brasileira vem apresentando um in-contestável potencial para a promoção de ino-vações nos diversos setores da indústria e, aomesmo tempo, na reprodução de renda eemprego, através de maciços investimentos eseu impacto sobre as demais cadeias produti-vas, devido a seu efeito multiplicador.

Sendo a necessidade contínua de esfor-ço exploratório uma das características daindústria do petróleo, são esperados maio-res investimentos no setor, a fim de garantiro nível de reservas compatível com a pro-dução no longo prazo. Porém, com o de-senvolvimento de novas tecnologias e asdescobertas de novas jazidas, principalmen-te na plataforma continental, as expectati-

MONOGRAFIA Carlos Augusto Góes Pacheco

Royalties do petróleo:

O texto a seguir é da monografia colocada em primeiro lugar noXIV Prêmio Corecon de Monografia.

Aplicação e impacto nodesenvolvimento econômico dosmunicípios da Bacia de Campos

vas são de a produção aumentar, gerandomais recursos, inclusive sob a forma deroyalties e participações especiais.

Os royalties podem ser entendidos comouma compensação financeira devida, prin-cipalmente, a Estados e Municípios, pelosconcessionários de exploração e produçãode petróleo e gás natural. Já a participaçãoespecial é um pagamento a que estão sujei-tos os campos com grande volume de pro-dução ou grande rentabilidade. Estes recur-sos, que se tornaram expressivos a partir de1998/1999, demonstraram-se fundamentaispara promover uma melhora na situação fis-cal do Estado e dos municípios fluminenses,especialmente daqueles nove pertencentes àZona de Produção Principal da Bacia deCampos (e que se constituem o foco desteartigo): Armação de Búzios, Cabo Frio,

Campos dos Goytacazes, Casimiro de Abreu,Carapebus, Macaé, Quissamã, Rio das Os-tras e São João da Barra.

Discrepâncias e distorções

Segundo dados da Agência Nacional doPetróleo (ANP)

1

, no ano de 2003 foram dis-tribuídos R$ 4,396 bilhões, a título de royalties,entre todos os beneficiários destas indeniza-ções, quantia 37% maior que a arrecadada noano anterior. Somente o Estado do Rio deJaneiro recebeu R$ 907,7 milhões, cerca de64,2% do total distribuído entre as unidadesda Federação. Já para as participações especi-ais, o montante alcançou a cifra de R$ 4,997bilhões, sendo destinado ao Estado do Riode Janeiro R$ 1,961 bilhão.

O súbito aumento dos royalties e partici-pações especiais originou-se de uma conjun-ção de fatores. Um deles foi o deslocamen-to da alíquota máxima de royalties (de 5% para10%, do valor da produção), a partir da pro-mulgação da Lei nº 9.478/97. Além deste,houve uma elevação dos preços de referên-cia utilizados nos cálculos dos royalties que,após o decreto nº 2.705/98, passaram a va-riar de acordo com os preços internacionaisdo petróleo e do gás natural, e com aflutuação do câmbio. Por fim, ocorreramaumentos na produção destes hidrocarbo-netos na Bacia de Campos, devido princi-palmente à grande produtividade de cam-pos gigantes, promovendo um crescimentoespetacular das participações especiais.

Destarte, as prefeituras viram-se com umrepentino crescimento de suas receitas, com

D

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o qual ainda não estavam preparadas, pois nãohavia sido realizado nenhum estudo de im-pacto ou planejamento para a utilização des-tes vultosos recursos.

Um dos problemas relacionados à distri-buição dos royalties e participações especiaisestá na discrepância das projeções marítimas,estabelecidas pelo IBGE, para delimitação daszonas de produção dos campos de petróleona plataforma continental, quando compara-das com os reais efeitos da indústria do pe-tróleo sobre os municípios atingidos. Comoeste procedimento de delimitação foi basea-do apenas em critérios físicos e não se consi-deraram os impactos socioeconômicos asso-ciados às atividades de exploração e produção(E&P), correspondente ao poço do respecti-vo município produtor, acabaram por gerardistorções na distribuição das indenizaçõespetrolíferas. Campos dos Goytacazes, porexemplo, é o município fluminense de maiorarrecadação, apesar de não possuir instalaçõessignificativas de apoio à atividade petrolífera,como Macaé.

Destinação dos royalties

Apesar disto, os royalties e participações es-peciais constituíram-se num importante refor-ço no orçamento, no sentido que possibilitousuperávits das receitas em relação às despesas,para a maioria dos municípios beneficiários,nos anos 2000/2001, revertendo a situaçãodeficitária em que se encontravam em 1997/1998 (de acordo com análise realizada a partirde dados do Tribunal de Contas do Estado doRio de Janeiro e da Fundação Centro de In-formações e Dados do Rio de Janeiro).

Cresceram também as participações da-queles recursos nas receitas totais municipais:a progressão das porcentagens, entre os anosde 1997 e 2000, apresentou um salto gigan-tesco e repentino de dependência da receitatotal municipal em relação aos royalties e par-

ticipações especiais, como, por exemplo, emRio das Ostras, passando de 2,27%, em 1997,para 71,51%, em 2000. Neste ano (2000), cin-co dos nove municípios em análise apresen-taram percentual superior a 50% de depen-dência das participações governamentais emrelação à receita total municipal.

O potencial dos royalties torna-se visívelquando comparados com as receitas tributá-rias municipais e os repasses intergoverna-mentais (que, tradicionalmente, sempre seconstituíram na principal fonte de recursosdos municípios). O volume arrecadado noperíodo 1997-2001 superou todas as outrasfontes, ultrapassando impostos significativos,como o ICMS e o ISS, para os nove municí-pios da Zona de Produção Principal. Para osdemais municípios do Norte Fluminense eBaixadas Litorâneas, verificou-se uma influ-ência menor dos royalties, revelando maiordependência das transferências intergover-namentais nos seus orçamentos.

Foi averiguada uma diminuição da parti-cipação dos tributos municipais na receitatotal. Como os municípios estão arrecadan-do mais com as participações governamen-tais, não está havendo preocupação, em al-guns casos, em garantir receitas próprias,permanecendo subordinados aos repasses deoutras esferas de governo, e ampliando a de-pendência em relação aos royalties e participa-ções especiais. Outro problema é a guerra fis-cal, levando municípios a abdicarem deimpostos, na esperança de que a atração deempresas possa vir a gerar rendimentos nolongo prazo.

Esta redução nos recursos tributários levaa crer que os municípios podem estar se utili-zando dos royalties para promover ajustes emsuas contas, a fim de se enquadrarem na le-gislação estabelecida pela Lei de Responsabi-lidade Fiscal. Isto contrasta a lógica das inde-nizações petrolíferas, que seria de oferecercondições para a sustentabilidade econômica

das regiões beneficiadas pelas atividades deE&P, num período posterior ao esgotamen-to das jazidas de petróleo e gás natural.

Desperdício de potencial

Quanto à capacidade de investimento, osnove municípios da Zona de Produção Prin-cipal apresentaram números sensivelmentesuperiores àqueles verificados no NorteFluminense e nas Baixadas Litorâneas, esta-belecendo-se a hipótese de que os royalties es-tão contribuindo para este aumento dos in-vestimentos, graças ao seu reforço nos cofrespúblicos municipais.

Todavia, os valores dos investimentos,quando comparados com as receitas deroyalties, no período de 1999-2001, evidenciaque estão sendo destinados para fins diver-sos, e não exclusivamente nesta categoria dedespesas de capital. Apesar deste procedimen-to estar de acordo com a legislação vigente,desperdiça-se um grande potencial de inves-timento, quando se consideram as áreas deuso das participações governamentaisestabelecidas por legislações anteriores à Leido Petróleo (como energia, abastecimento deágua, saneamento básico, etc.).

Das principais carências e obstáculos paraa atração de novos empreendimentos, reve-lou-se, de maneira unânime, entre as noveprincipais localidades em questão, a carênciade acessibilidade, traduzida por baixa dispo-nibilidade de estradas pavimentadas em rela-ção à área total do município. Isto pode vir ajustificar os vultosos montantes dos royalties,gastos em pavimentação, como uma tentati-va das prefeituras em resolver as carênciasmais relevantes, de modo mais imediato. Valelembrar que, uma via de comunicação é ca-paz de tirar do isolamento núcleos menores,de economia estagnada, possibilitando o au-mento de benefícios à sua população, quepassa a ter facilidade de acesso às localidadesque os fornecem, estimulando a dinamizaçãoe/ou a revitalização de suas economias.

No entanto, em alguns casos, estes gastosdirecionados apenas para um determinadoconjunto de setores, pode vir a ser um refle-xo de um possível desconhecimento, por partedos administradores municipais, dos limitesimpostos à utilização dos royalties (proibiçãode uso somente em pagamentos de dívidas epessoal). Alguns prefeitos ainda seguem a le-gislação estabelecida pela Lei nº 7.990/89, a

Em 2003, foram distribuídos R$ 4,396 bilhões, quantia 37%maior que a do ano anterior. Somente o Rio de Janeiro rece-beu R$ 907,7 milhões, cerca de 64,2% do total distribuídoentre as unidades da Federação. Já para as participaçõesespeciais, foram R$ 4,997 bilhões, destinando-se ao Rio deJaneiro R$ 1,961 bilhão.

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qual direcionava os gastos exclusivamentepara áreas de infraestrutura. Contudo, é sabi-do que obras desta natureza, e de caráterassistencialista, aparecem mais aos olhos dapopulação de baixa renda do que investimen-tos em setores sociais, levando a crer que talescolha vem de encontro a possíveis interes-ses eleitoreiros.

Dispersão das informações

Uma questão relevante foi o papel dosroyalties na determinação dos empregos for-mais, já que maior mão-de-obra foi emprega-da, a fim de atender às obras públicas muni-cipais proporcionadas pelo aumento dosinvestimentos. Os salários dos servidorespúblicos, no período analisado, sofreram rea-justes graças ao direcionamento das indeni-zações petrolíferas para estas obras deinfraestrutura, liberando impostos e demaisrepasses para outros fins.

Os maiores gastos em Habitação e Urba-nismo observados no período de 1997 a 2001relacionam-se ao impacto sofrido pelas loca-lidades próximas a áreas de E&P de petróleoe pela expansão urbana provocada pelo turis-mo. As despesas em Saúde e Educação, nomesmo período, superaram os repasses doSUS e Fundef, respectivamente, corroboran-do a suposição de que estes setores forambeneficiados com outros recursos, particular-mente dos royalties.

Existem inúmeras limitações para um pre-ciso processo de análise do real efeito das re-ceitas petrolíferas no desenvolvimento dosmunicípios. Um destes é a dificuldade de espe-cificar, de maneira precisa, as áreas beneficia-das pelos royalties e participações especiais, pelomotivo da dispersão das informações sobre oassunto abordado, até mesmo por parte daspróprias prefeituras beneficiadas. Ademais, écomplexa a desagregação dos benefícios oriun-dos das participações governamentais, daque-les originados pela indústria petrolífera comoum todo. Os orçamentos municipais, na for-ma como são declarados, enfatizam somentea gestão de caixa e o aspecto legal da lei, nãopermitindo a correta apropriação dos royalties

às áreas a que são direcionados.Some-se a este fato, o curto espaço de tem-

po decorrido do início do recebimento ex-pressivo das participações governamentais (apartir de 1998) e seus reais efeitos sobre avida socioeconômica municipal. A maturação

sustentabilidade, de diversificação da baseprodutiva local e da geração de trabalho e ren-da fora da cadeia do petróleo.

Há também, como um dos empecilhos naanálise das aplicações dos royalties e participa-ções especiais, a falta de transparência na apli-cação destes recursos. Como a atual legisla-ção não determina os setores que devam sercontemplados, a questão gira em torno deuma transparente e eficiente gestão, por par-te das Prefeituras, para a correta utilização dosroyalties. Além de promover obras de infraes-trutura física, o poder público municipal deveassumir responsabilidades nos setores deinfraestrutura social e econômica, com obje-tivo de promover a geração de empregos, amelhoria das condições de vida de seusmunícipes e garantir o crescimento diversifi-cado, participativo e auto-sustentável. Mais doque isso deve implementar ações conjuntascom outros municípios, para a promoção deum desenvolvimento regional.

Das potencialidades apresentadas pelaslocalidades em análise, destacam-se três gru-pos. Cabo Frio, Rio das Ostras, Armação deBúzios e Casimiro de Abreu possuem fortevocação turística. Macaé apresenta-se comoa única localidade com reais possibilidades decontinuidade de desenvolvimento através dainserção na cadeia produtiva petrolífera, en-quanto que Campos dos Goytacazes, Cara-pebus, Quissamã e São João da Barra concen-tram suas potencialidades na agroindústria.

Assim, o turismo e a fruticultura, juntamen-te com a recuperação da indústria sucroal-cooleira e o desenvolvimento efetivo do com-plexo industrial de E&P de petróleo e gásnatural, constituem-se as principais potencia-lidades a serem implementadas, com recursosoriundos, por exemplo, das indenizações dopetróleo e gás, para a revitalização dos municí-pios confrontantes da Bacia de Campos.

Aperfeiçoando estes setores, será possí-vel criar uma cadeia integrada de atividadeseconômicas, que permitirá o desenvolvimen-to sustentável, vindo a repercutir em outrossetores tradicionalmente relevantes, como acerâmica, a piscicultura, a indústria de docese a mineração, ao mesmo tempo em que re-duz a dependência das receitas municipais, dosroyalties da indústria petrolífera.

* Economista, formado pela UFRJ.

1 www.anp.gov.br

O potencial dos royaltiestorna-se visível quandocomparados com as recei-tas tributárias municipais eos repasses intergoverna-mentais (que, tradicional-mente, sempre se consti-tuíram na principal fontede recursos dos municípi-os). O volume arrecadadono período 1997-2001 su-perou todas as outras fon-tes, ultrapassando impos-tos significativos, como oICMS e o ISS, para osnove municípios da Zonade Produção Principal.

dos investimentos é lenta, e os resultados apa-recem somente no longo prazo. Há de se con-siderar que as demandas sociais são elevadas,e os índices refletem um acúmulo das açõesde sucessivas administrações municipais.

Do que foi visto, pode-se deduzir que arepartição das receitas dos royalties e partici-pações especiais está sendo direcionada aabastecer governos locais, dos recursos ne-cessários ao atendimento da demanda impre-vista por serviços públicos. Entretanto, pou-cos municípios apresentaram uma ação maisharmonizada, voltada para um projeto de

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FÓRUM POPULAR DE ORÇAMENTO

As matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de rAs matérias desta página são de responsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Coresponsabilidade da equipe técnica do Corecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Pecon-RJ, de apoio ao Fórum Popular de opular de opular de opular de opular de OrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamentoOrçamento do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeir do Rio de Janeiro.o.o.o.o.CoorCoorCoorCoorCoordenação Exdenação Exdenação Exdenação Exdenação Executiva do Fórum: Recutiva do Fórum: Recutiva do Fórum: Recutiva do Fórum: Recutiva do Fórum: Ruth Espínolauth Espínolauth Espínolauth Espínolauth Espínola Soriano Soriano Soriano Soriano Soriano,,,,, Luiz Mario BehnkLuiz Mario BehnkLuiz Mario BehnkLuiz Mario BehnkLuiz Mario Behnken e Camilla Sampaio. Estagiários: Bruno Lopes e Thiago Maren e Camilla Sampaio. Estagiários: Bruno Lopes e Thiago Maren e Camilla Sampaio. Estagiários: Bruno Lopes e Thiago Maren e Camilla Sampaio. Estagiários: Bruno Lopes e Thiago Maren e Camilla Sampaio. Estagiários: Bruno Lopes e Thiago Marques.ques.ques.ques.ques.

Correio eletrônico: [email protected] - Portal: www.corecon-rj.org.br - www.fporj.blogger.com.br

gradecemos ao secretário municipal deEsporte e Lazer, Ruy Cezar, pelo ofí-cio enviado ao Fórum Popular do

Orçamento, em resposta ao que fora publica-do na coluna do JE, de maio. Naquela ediçãofizemos uma comparação entre o programade trabalho “Jogos Pan 2007” e outras duasrubricas, também da secretaria de Esportes,porém, relativas ao desporto comunitário. Sãoelas: “Fornecimento de Bolsa-Esporte” e “In-fra-estrutura esportiva em praças”.

A despeito do que fora publicado em maio,o secretário ratificou as informações de queambos os programas não estavam sendo exe-cutados. Em relação à infra-estrutura em pra-ças, justificou a não execução pela opção daprefeitura em dar continuidade às obras jáiniciadas e enviou-nos informações a respei-to do programa de trabalho “Construção deUnidades Esportivas e de Lazer”.

Para este programa, a LOA estabeleceuuma dotação inicial de R$ 14.386.384,00 e,até o dia 30 de agosto, após remanejamentosfeitos ao longo do ano, haviam sido liquida-dos cerca de 105% deste montante. A LDOde 2004 prevê para este programa a constru-ção de: nove unidades esportivas; um centropoliesportivo, implantado na AP3; um par-que aquático, na AP3; 25 vilas olímpicas naAP5; 70% de implantação de vilas olímpicasna AP3; 16% de implantação de parque a-quático na AP5.

Viés comunitário

Cabe ressaltar que encontramos dois dosremanejamentos que “engordaram” a dota-ção deste programa: o decreto n° 24.464,publicado em 30 de julho no Diário Oficial,transferindo R$ 539.236,00 da rubrica “ser-vidores inativos da administração direta”, cujoobjetivo é “pagamento de aposentadoria de

Secretário de Esporteresponde ao Fórum

outros servidores inativos da administraçãodireta, conforme determina a lei municipal2.805/99”; e o decreto n° 24.515, de 13 deagosto, no D.O., remanejando R$ 400.000,00da rubrica “dívida externa”, cujo objetivo é“gerir as operações de crédito externas mu-nicipais, efetuando as amortizações”.

Para a rubrica “fornecimento da bolsa-esporte”, lamentou-se o fato de o programanão ter sido reiniciado, porém, foramexplicitados outros dois programas, tambémde cunho comunitário, que apresentam umritmo de execução bastante razoável, sendotodos os seus recursos provenientes do pró-prio município.

O primeiro deles, “manutenção e funcio-namento de unidades esportivas”, cujo obje-tivo é “atender crianças/jovens carentes edeficientes, através de atividades nos centros

principalmente para as comunidades caren-tes”. A dotação estabelecida pela LOA paraeste programa foi de R$ 5.596.971,00, sendoque até 30 de agosto já haviam sido liquida-dos 76% desta dotação. A LDO para 2004estabelece uma previsão de atendimento a1,016 milhão de pessoas.

Nota-se claramente um viés comunitáriopara este programa, no entanto, se levarmosem conta a dotação prevista pela LOA e ameta estabelecida pela LDO, o gasto por pes-soa no ano de 2004 será de R$ 5,51.

Em 30 de julho foi publicado no D.O. odecreto 24.466, remanejando R$ 857.000,00da rubrica “manutenção e funcionamento deunidades esportivas” para a rubrica “promo-ção do esporte e do lazer”, ambas destaca-das acima.

É com satisfação que registramos a exe-

A

Evolução Orçamentária dos programas explicitados acima em 2004.

Programas Construção Manutenção e Promoçãode Trabalho Unidades Funcionamento de do Esporte

e de Lazer Unidades Esportivas e do Lazer

Dotação Inicial R$ 14.386.384,00 R$ 20.330.614,00 R$ 5.596.971,00Dotação Atual R$ 16.936.881,00 R$ 23.963.140,00 R$ 7.510.868,00Empenhado R$ 16.814.842,02 R$ 14.437.469,14 R$ 4.904.107,99Liquidado R$ 15.097.835,83 R$ 11.281.838,05 R$ 4.266.231,33

Execução Orçamentária do período de 1/1/04 até 30/8/04

esportivos”, apresentou, até 30 de agosto, umpercentual de execução correspondente à cer-ca de 58% em relação à dotação estabelecidapela LOA, de R$ 20.330.614,00. Segundo aLDO para 2004, este programa pretendeatender a 102 mil crianças/jovens e deficien-tes, o que resulta em uma média de R$ 199,32por pessoa atendida.

O segundo programa de trabalho menci-onado foi “promoção do esporte e do lazer”,cujo objetivo é “manter projetos esportivos,

cução orçamentária dos programas acima, sejapelo cunho e abrangência social, seja pelosvalores. Nos dois casos, superiores aos pro-gramas não-executados citados na edição re-ferida. O cumprimento do orçado em pro-gramas desta natureza vai ao encontro do quealmejamos. Oxalá, essa postura permeassetoda prefeitura. O que destoa é registrarmoso rotineiro desprezo pelas contribuições da-das pelo poder legislativo através de emen-das ao orçamento.

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CURSOS DO CORECON/RJ

CURSO PREPARATÓRIO PARA O EXAME DA ANPEC

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS CENTROS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA

As inscrições para o novo Curso Preparatório para o Exame da ANPEC encontram-se abertas epretende-se fechar a turma - de no máximo 30 alunos - no mês de dezembro de 2004.Para melhorar a qualidade deste serviço prestado algumas modificações na estrutura do cursoserão implementadas em 2005.• No dia 11 de janeiro haverá uma prova contendo questões das cinco disciplinas do curso

(Matemática - Estatística - Macroeconomia - Microeconomia - Economia Brasileira), para seconhecer melhor o nível da nova turma.

• A disciplina Matemática teve sua carga horária dobrada, em função do extenso programado curso: em 2004 tivemos 96 horas-aula; em 2005, teremos 192 horas-aula.

• No dia 17 de janeiro começarão as aulas regulares do curso (de 18h45 às 21h30). Durantejaneiro e fevereiro haverá somente aulas de Matemática, às segundas, terças e quartas-feiras. As aulas não serão para revisão de matéria, portanto os conteúdos lançados nesseperíodo fazem parte do programa da disciplina.

• Em março, começarão as aulas de Estatística (às segundas), Macroeconomia (às terças),Microeconomia (às quintas). Às quartas e sextas-feiras estão reservadas para Matemática.

• Em abril, começarão as aulas de Economia Brasileira, às sextas-feiras, ficando o curso deMatemática reservado daí em diante para às quartas-feiras.

• Por último, informamos que o horário, de março a outubro, será de segundas e terças, das 18h às21h50 e quartas, quintas e sextas-feiras, de 18h45 às 21h30.

Acrescentamos, ainda, que caso haja uma grande procura para o turno da manhã, existe apossibilidade de abrirmos uma turma para este turno (com um mínimo de 20 alunos).

Faça já sua inscrição: http://www.economistas.org.br

Veja também

• Análise de Investimentos (aos sábados, de 16/10 a 27/11/04)• Economia do bem-estar, igualdade e pobreza: uma leitura crítica (às quintas-feiras, de 21/10 a 25/11/04)• Matemática aplicada à teoria econômica (às terças e sextas-feiras, de 26/10 a 07/12/04)• Globalização Financeira: impactos macroeconômicos e mecanismos de defesa (às terças-feiras, de 26/10 a 23/11/04)• Regimes Monetários: Teoria e a Experiência do Real (às quartas-feiras, de 03/11 a 01/12/04)

celebração do Dia do Economista,pelo Corecon-RJ e pelo Sindicatodos Economistas, no último 13 de

agosto, foi marcada pela homenagem aosprofessores Maria da Conceição Tavares,Carlos Lessa e João Paulo de Almeida Ma-galhães, e também pela entrega do XIV Prê-mio Corecon de Monografia. Foram trêsvencedores e duas menções honrosas.

Com a casa cheia, numa cerimônia reali-zada no antigo espaço da Biblioteca EginardoPires, no 16º andar do prédio da entidade, noCentro, a celebração encerrou-se com umanimado conjunto de chorinho. Os estudan-tes premiados receberam também livros epublicações da Fundação Konrad Adenauere as suas inscrições para o Curso de Pós-Gra-duação em Economia Empresarial, na Uni-versidade Federal Fluminense, em 2005.

Estudantes recebemPrêmio de Monografia

Orientadora do estudante Carlos AugustoGóes Pacheco, formado pela UFRJ, que ob-teve o primeiro lugar com a monografia quetratou da questão dos royalties do petróleo ede seus impactos nos municípios da Baciade Campos (ver pág. 11, desta edição), a pro-fessora Lia Hasenclever lembrou o ex-pre-sidente do Corecon, Clemente de Oliveira,que a estimulou, quando era tambémconselheira, a criar o prêmio, há 14 anos. Eladestacou a importância da monografia.

“Eu acho que a monografia nos permitediscutir a questão da pesquisa, a metodologiada profissão, as aplicações que nós podemosfazer, a seriedade com a formação dos nos-sos alunos”, disse Lia.

O presidente atual do Conselho, José An-tonio Lutterbach Soares, destacou a impor-tância dos três professores homenageados.

A

“Na decisão dessa homenagem e na es-colha dos três nomes pesou a certeza da dí-vida que temos, por suas vastas e importan-tes contribuições acadêmicas e intelectuais.Exerceram significativas influências na ciên-cia e no pensamento econômico do país edo exterior. Pesaram também na escolha suasações como políticos, as contribuições quederam às nossas entidades representativas, acondução de importantes políticas públicaspara o país, bem como enquanto professo-res, na formação de várias gerações de eco-nomistas. A eles, a quem nos acostumamosa chamar, carinhosamente, de Conceição,Lessa e João Paulo, devemos boa parte doorgulho que temos por sermos economistas”.

Premiados

A segunda colocação no XIV PrêmioCorecon coube ao estudante AlexandreHerzog Cardoso, com a monografia “Análisedas causas da baixa penetração do micro-cré-dito no Brasil”, orientado pelo professor Renêde Carvalho. O terceiro colocado foi Maurí-cio Loschi de Melo, com o trabalho “As ex-portações de produtos manufaturados da Ar-gentina para o Brasil no período 1992-1999”,orientado pelo professor Jorge Chami. Todosos três primeiros colocados são da UFRJ. Asmenções honrosas couberam aos estudantesCarlos Renato de Lima, da UERJ, e EduardoZilberman, da PUC.

Carlos Augusto Góes Pachecoe a professora Lia Hasenclever