jornal ufg 71

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PUBLICAÇÃO DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – ANO IX – Nº 71 – ABRIL 2015 Jornal UFG UFG BRASIL Mala Direta Postal 9912341620-DR/GO CORREIOS Básica Proteção à cultura indígena Confira nesta edição como a UFG tem colaborado na formação de professores capazes de conduzir novas perspectivas para a manutenção da diversidade cultural dos povos indígenas por meio da educação p. 4 e 5 Especialistas discutem Reforma Política e o que pode mudar no Brasil caso essa medida seja aprovada p. 6 e 7 Rede coordenada pela UFG estuda estratégias para preservação da biodiversidade do Cerrado p. 8 e 9 Tese premiada investigou o papel do homem e das mudanças climáticas na extinção dos grandes mamíferos na Era do Gelo p. 10 e 11 IImagem: Paulo César Xerente

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Publicação da Assessoria de Comunicação Universidade Federal de Goiás ANO IX – Nº 71 – ABRIL DE 2015 www.jornalufgonline.ufg.br

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  • PUBLICAO DA ASSESSORIA DE COMUNICAO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS ANO IX N 71 ABRIL 2015

    Jornal UFG UFG BRASILMala Direta Postal9912341620-DR/GOCORREIOSBsica

    Proteo cultura indgena

    Confira nesta edio como a UFG tem colaborado na formao de professores capazes de conduzir novas perspectivas para a manuteno da

    diversidade cultural dos povos indgenas por meio da educao p. 4 e 5

    Especialistas discutem Reforma Poltica e o que

    pode mudar no Brasil caso essa medida seja

    aprovada p. 6 e 7

    Rede coordenada pela UFG estuda estratgias

    para preservao da biodiversidade do

    Cerrado p. 8 e 9

    Tese premiada investigou o papel do

    homem e das mudanas climticas na extino

    dos grandes mamferos na Era do Gelo p. 10 e 11

    IImagem: Paulo Csar Xerente

  • 2O Jornal UFG aproveita esse ms em que come-morado o Dia do ndio, 19 de abril, para abor-dar um exemplo de como a diversidade de cul-turas tem sido trabalhada na Universidade. Como bem destacado na matria Novas trajetrias para resgatar as tradies , o incentivo manuteno do patrimnio cultural indgena uma das premissas do curso de graduao Educao Intercultural Indgena. Implanta-do na UFG em 2007, esse curso est aberto constru-o de uma proposta educacional diferenciada para as escolas indgenas das aldeias. Trata-se de uma repor-tagem importante para informar comunidade sobre o compromisso que uma instituio pblica de ensino superior tem com grupos minoritrios.

    Repercutimos ainda no mbito da interao com a sociedade, o modo como a UFG est colaborando na busca por solues para um grave problema social: o uso de drogas na infncia e adolescncia. Trazemos nessa edio uma reportagem sobre o curso a distn-cia que auxilia na capacitao de educadores para li-dar com dependentes qumicos. O curso oferecido pela UFG realizado em parceria com o governo do Esta-do de Gois e com outros seis Institutos de Educao Superior (IES), promovido pela Secretaria Nacional de Polticas sobre Drogas do Ministrio da Sade (Senad).

    A equipe do Jornal UFG espera, tambm, chamar a ateno dos nossos leitores para o debate sobre um assunto que tem sido recorrente na mdia e em rodas de conversas: O que seria a reforma poltica e como ela poderia ser feita? Prevista desde a Constituinte de 1988, a necessidade dessa reforma tem sido muito lembrada, especialmente depois da divulgao de es-cndalos de corrupo denunciados e investigados em vrias esferas do governo.

    Outro destaque desta edio a integrao da UFG em uma grande rede de pesquisa que aproxima instituies do Centro-Oeste. Confiram como, por meio do conhecimento cientfico, cientistas goianos avaliam a dinmica ambiental e tentam propor novos direcio-namentos para as polticas pblicas de conservao das espcies animais e vegetais do Cerrado brasilei-ro. Enfim, esperamos que os nossos leitores apreciem o contedo desta edio e possam levar adiante, em diferentes rodas de conversas, as informaes aqui apresentadas.

    * Coordenadora de imprensa da Ascom/UFG

    OPINIOJornal UFG Goinia, abril 2015

    Universidade Reitor: Orlando Afonso Valle do Amaral; Vice-reitor: Manuel Rodrigues Chaves; Pr-reitor de Graduao: Luiz Mello de Almeida Neto; Pr-reitor de Ps-Graduao: Jos Alexandre Felizola Diniz Filho; Pr-reitora de Pesquisa e Inovao: Maria Clorinda Soares Fioravanti; Pr-reitora de Extenso e Cultura: Giselle Ferreira Ottoni Cndido; Pr-reitor de Administrao e Finanas: Carlito Lariucci; Pr-reitor de Desenvolvimento Institucional e Recursos Humanos: Geci Jos Pereira da Silva; Pr-reitor de Assuntos da Comunidade Universitria: Elson Ferreira de Morais.

    Jornal UFG Coordenadora de Imprensa e editora-geral: Michele Martins; Editora: Anglica Queiroz; Conselho editorial: Angelita Pereira de Lima, Cleomar Rocha, Lus Maurcio Bini, Pablo Fabio Lisboa, Reinaldo Gonalves Nogueira e Silvana Coleta Santos Pereira; Suplente: Mariana Pires de Campos Telles; Projeto grfico e editorao eletrnica: Reuben Lago; Fotografia: Carlos Siqueira e Jlia Mariano; Reportagem: Anglica Queiroz, Serena Veloso e Silvnia de Cssia Lima; Reviso: Letcia Braz, Fabiene Batista e Bruna Tavares; Estagirios: Thassa Veiga; Bolsistas: Alex Maia, Caroline Almeida (Jornalismo) e Las Brito (Fotografia); Impresso: Centro Editorial e Grfico (Cegraf) da UFG; Tiragem: 7.000 exemplares

    Publicao da Assessoria de Comunicao Universidade Federal de Gois

    ANO IX N 71 ABRIL DE 2015www.jornalufgonline.ufg.br

    ASCOM Reitoria da UFG Cmpus Samambaia C.P.: 131 CEP 74001-970 Goinia GO

    Tel.: (62) 3521-1310 /3521-1311 www.ufg.br [email protected] www.ascom.ufg.br

    UFGJornal

    CAMINHOS DA PESQUISA

    Car

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    ra

    EDITORIAL

    Michele Martins*

    Anglica QueirozO espao da informao de interesse pblico

    O Programa de Formao em Pesquisa, promovido pelas Pr-reitorias de Pesquisa e Inovao (PRPI) e de Ps-Graduao (PRPG), recebeu no ms de maro a pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Snia Vasconcelos, que ministrou palestra sobre integridade em pesquisa e produo cientfica no Brasil. Confira a entrevista concedida pela professora Snia Vasconcelos ao Jornal UFG.

    Qual o principal desafio para a pesqui-sa e produo cientfica no Brasil hoje?

    Sabemos que os desafios so v-rios, que incluem maior investimento em pesquisa e desenvolvimento, no nme-ro de pesquisadores ativos, na qualidade da produo e na internacionalizao da cincia brasileira. Entretanto, talvez um dos maiores desafios seja estabelecer uma poltica de governana da pesquisa que, juntamente com esse investimento, possa fomentar uma cultura de integridade cien-tfica nas instituies. Creio que fomentar essa cultura pode contribuir objetivamen-te para a formao de pesquisadores mais crticos e comprometidos com a qualidade de suas contribuies, alm de estimular a conduta responsvel no processo de gera-o de conhecimento acadmico.

    H muita desinformao?H um conjunto de fatores que po-

    dem estimular prticas de m conduta cientfica e outros desvios ticos nas ati-vidades de pesquisa. A desinformao apenas um deles, mas no podemos assu-mir que esse o fator principal nos casos documentados.

    Que tipo de polticas pblicas poderiam ser criadas para minimizar os proble-mas de m conduta na pesquisa?

    Pensando em polticas institucionais, por exemplo, creio que estimular reflexes sobre a tica e integridade em pesquisa num ambiente de produo cientfica cada vez mais colaborativo, mas tambm plural e competitivo, tambm pode provocar um wake-up call para muitos nesse ambiente.

    Como membro do comit organizador, quais as suas expectativas para a reali-zao da 4 Conferncia Mundial em In-tegridade de Pesquisa no Brasil?

    As expectativas so as melhores possveis. Temos visto o interesse sobre o tema e sobre o evento aumentar consi-deravelmente desde que ele foi divulgado, em 2013. O incentivo e a divulgao dos

    nossos principais apoiadores, incluindo FAPESP, CAPES e SBPC, vem sendo de-cisivo.

    Esse evento pode contribuir para mu-dar a forma como a pesquisa cientfica brasileira vista l fora?

    Sim, acredito que essa realizao impacta positivamente a percepo inter-nacional sobre nosso sistema de pesqui-sa. Na verdade, o fato do Brasil sediar um evento mundial sobre esse tema, apoiado por seus principais rgos de financia-mento pesquisa, sinaliza, minimamen-te, que o tema relevante para sua co-munidade. O apoio e as representaes, no evento, de importantes instituies de pases responsveis por uma frao con-sidervel da produo cientfica mundial, tambm fortalece essa viso. Entretanto, o comit local de organizao acredita que a participao brasileira e as aes que de-correro a partir dessa conferncia que sero decisivas para consolidar o papel da integridade cientfica nas polticas de go-vernana da pesquisa no Brasil. O suces-so dessas polticas pode potencializar os esforos que j vm sendo feitos no pas para fortalecer as contribuies da cincia brasileira no cenrio internacional.

    Desafios para a produo cientfica no Brasil

    Professora abriu programao do Programa de Formao em Pesquisa

  • 3ENTREVISTARegina Pekelmann

    Markus

    Jornal UFG Goinia, abril de 2015

    Las

    Bri

    toProfissionalismo da mulher na cincia e na inovao

    Em 2015, as atividades do primeiro semestre da UFG foram abertas com a aula magna da professora Regina Pekelmann Markus, do Instituto de Biocincias da Universidade de So Paulo (USP). A aula ocorreu em seis de maro e foi acompanhada por professores e estudantes da graduao e ps-graduao. Ela apresentou dados sobre a Estratgia para Pesquisa e Inovao no Pas e apontou importantes conquistas, problemas e desafios. Regina Markus destacou pontos importantes para a consolidao das pesquisas dentro das universidades, considerando impactos econmicos, sociais e intelectuais, alm de outros fatores que so relevantes para o incentivo da produo cientfica na graduao e na ps-graduao, como a liberdade acadmica. Em entrevista ao Jornal UFG a professora tambm abordou o tema. Confira:

    Como tem conciliando as atividades acadmicas e de pesquisa?

    Na USP, eu tenho um gru-po de pesquisa que um grupo de crono farmacologia, ento eu tam-bm atuo na International Union of Pharmacology (IUPHA), aonde eu sou presidente de um dos co-mits. Eu gosto de duas coisas: do laboratrio e dos alunos. Eu no

    deixo de dar aula. Hoje eu dou aula na graduao para alunos de li-cenciatura da Biologia. Eu montei o curso super legal, que o curso de fisiologia do Ensino Mdio que para entender o corpo humano independente de laboratrio.

    A senhora tem minis-trado palestras sobre inova-o. Como podemos enten-der esse conceito?

    Na minha opinio, a inova-o uma consequncia. Se ob-servarmos os locais onde h mais inovao no mundo, veremos que o que eles mais preservam a ci-ncia bsica. Precisamos da base para inovar e o Brasil no pode perder isso. Transferir isso para o pblico e alcanar um produto fi-nal, chamamos isso de inovao. Levamos muitos anos para poder conseguir um pouquinho de inova-o. Existe inovao em humani-dades? Bom, eu no sou das hu-manidades, nem da inovao. Eu sou do ensino e da pesquisa, mas estudei bastante para poder estar aqui, hoje, fazendo uma palestra sobre inovao. Eu acredito que as artes so o que h de mais inova-dor no mundo. Os artistas inovam antes que qualquer cientista. esse conceito que precisamos ter. Inovamos a cada dia ao construir-mos novidades em cima do nosso passado. Ento isso que o Brasil precisa... o Brasil precisa se orgu-lhar do passado. Eu no tenho d-vida nenhuma que os pases que se orgulham do seu passado so realmente inovadores.

    Como podemos anali-sar o cenrio da pesquisa cientfica no Brasil atual-mente?

    Em outubro de 2014, antes das eleies a realidade me pa-recia muito menos problemtica. Mas tem muita gente trabalhando para conseguir novas oportuni-dades. As universidades federais acabaram de passar por um mo-mento de expanso. Houve con-tratao de gente muito boa e isso a coisa mais importante. Ou-tro dia fui a uma defesa de tese de um dos grupos de pesquisa mais produtivos do Brasil. Quan-do cheguei no laboratrio, vi que era de cho batido... Eu fiquei um pouco constrangida e me pergun-tei: Como esses caras produzem o que produzem e publicam em revistas de altssima qualidade? Participei primeiro de um semin-rio e, depois, fiquei respondendo a perguntas por mais de quarenta minutos. Mesmo depois da defe-sa da tese algum falou d pra senhora vir aqui me ajudar? eu disse claro que d. Havia muito interesse daquelas pessoas.

    Alguns estudos reve-lam que a participao da mulher no ensino e na edu-cao costuma ser maior que a dos homens, mas em relao liderana de gran-des grupos de pesquisas, essa participao feminina deixa de ser to grande. A senhora acha que o sistema acadmico deveria mudar de alguma forma?

    De forma alguma. Eu casei com 20 anos de idade, tive filho com 21 e trabalhei a vida inteira. Mas o processo diferente para os

    ... o Brasil precisa se orgulhar do

    passado. Eu no tenho dvida nenhuma que os pases que se orgulham

    do seu passado so realmente

    inovadores

    Eu no sou melhor nem pior por ser mulher. Ser mulher uma situao

    que independe de eu ser uma profissional.

    dois lados. questo de ter mais oportunidade? Na minha opinio todo mundo que ganhou oportu-nidade e no foi atrs nunca fez um bom servio. Eu no sou me-lhor nem pior por ser mulher. Ser mulher uma situao que inde-pende de eu ser uma profissional. E se no houver mulheres para o mercado de trabalho e no souber equacionar a vida como me, ento teremos problemas pela frente. Te-mos de dar para as mulheres possi-bilidades de poder chegar adiante. A mulher pode ser qualquer coisa dentro de suas capacidades fsicas. Temos que nos respeitar. Eu acho que nossos jovens precisam apren-der a respeitar as diferenas e gos-tar de ser diferente.

    Michele Martins

  • 4 VIDA ACADMICAJornal UFG Goinia, abril de 2015

    Fortalecer as tradies e valorizar a diversidadeEducao Intercultural Indgena prope formao diferenciada para professores de escolas indgenas por meio do incentivo manuteno do patrimnio cultural das comunidades

    Serena Veloso

    O impacto das transformaes culturais vivenciadas pelas comunidades indgenas com o passar dos anos pode ser sentido, cada vez mais, nas salas de aula das escolas de aldeias. Na aldeia Canoan, localizada no Estado do Tocantins, onde habitam os Java, as tradicionais brincadeiras infan-tis esto sendo substitudas rapi-damente pelo uso das tecnologias. A televiso, o rdio, o celular e ou-tros eletrnicos, passaram a fazer parte da rotina de crianas e ado-lescentes, que em sua maioria no conhecem algumas das importan-tes manifestaes culturais de sua etnia. Romildo Ixariri Java Arajo, 29 anos, professor de ensino fun-damental na aldeia, presencia o esquecimento ao longo do tempo dessas tradies.

    Foi aos nove anos de idade que viu sendo praticado pela ltima vez o Weriri Iras, cujo significado em portugus Aruan Mirim. Tra-ta-se de um conjunto de manifesta-es que incluem cantos, danas, brincadeiras e comidas tpicas, rea-lizado apenas com meninos de cinco a nove anos como preparao para o processo de transio para a vida

    adulta, quando comeam a partici-par dos rituais na Hetohoky (Casa Grande), local somente acessado pelos adultos.Antigamente ns no tnhamos o impacto dos no-indge-nas dentro das comunidades. Hoje em dia temos que conviver com to-dos os lados: o lado do branco e o lado do ndio, declarou o professor.

    Quando Romildo Ixariri Ja-va Arajo ingressou no curso de Educao Intercultural Indgena da UFG, viu a oportunidade de fortale-cer a prtica em sua comunidade, levando seus conhecimentos para as crianas nas escolas. Durante a pesquisa para o estgio escolar, em contato com os ancies, procurou investigar a fundo a manifestao e a razo de seu esquecimento por tantos anos. As descobertas de Ro-mildo Java renderam mais aulas que o esperado e ele aproveitou no s para ensinar os alunos sobre o que era o Weriri Iras, como tam-bm para realizar aulas prticas. Nunca pensei que haveria tanto envolvimento das crianas, co-mentou o professor.

    O incentivo manuten-o do patrimnio cultural indge-na uma das premissas do curso de graduao, implantado na UFG em 2007 e vinculado Faculda-

    de de Letras (FL), sendo a primeira universidade no Estado de Gois a abrir as portas para essa modalida-de de educao, voltada especifica-mente s questes culturais, polti-cas e sociais dos povos indgenas. O curso foi reconhecido com nota mxima na avaliao realizada pelo MEC em 2014. Atualmente, a licen-ciatura funciona dentro do Ncleo Takinahaky e atende cerca de 300 alunos de 20 povos, oriundos de co-munidades dos estados de Gois, Tocantins, Mato Grosso, Maranho e Par. Durante os cinco anos de curso, os estudantes desenvolvem aes que contribuem com os inte-resses das comunidades.

    Com diretrizes curricula-res diferenciadas das graduaes regulares, a Educao Intercul-tural Indgena constituda sob dois princpios pedaggicos: o da interculturalidade e o da trans-disciplinaridade. Por isso, o corpo docente formado por professores de diversas reas do conhecimento, cada um deles responsvel por um comit nos quais os alunos esto divididos segundo cada povo. Alm de cursar os temas contextuais, os graduandos tm a possibilidade de colocar em prtica o aprendizado construdo ao longo das aulas e ad-quirido em suas pesquisas durante os estgios nas escolas.

    O trabalho de concluso do curso o projeto extraescolar, no qual os alunos aprofundam o conhecimento sobre algum tema relacionado a uma das seguintes grandes reas: Cincias da Nature-za, Cincias da Cultura ou Cincias da Linguagem. Ns orientamos que eles conversem com os mais velhos e com o pessoal da sua comunidade e vejam temas que sejam interes-santes para serem abordados, ex-plica o vice-coordenador do curso, Carlos Abs da Cruz Bianchi. A apre-sentao do trabalho final, escrito na lngua materna, realizada na UFG e nas aldeias.

    Conhecimento em prticaA sede pelo conhecimento e o

    interesse em reavivar suas tradies, levam os alunos a quererem se in-filtrar no universo do sagrado. Falar sobre os ritos, muitas vezes envolve desvendar segredos guardados ape-nas pelos ancios. Wajumani Ka-raj, da aldeia Macaba, resolveu assumir a difcil tarefa de pesquisar as msicas especficas de cada povo Karaj, cantadas durante a festa do Aruan. Para isso, visitar cada al-deia e conversar com os caciques para fazer um levantamento de to-das as canes e, ainda, investigar o motivo de muitas delas no integra-rem mais os rituais. Esprito sagra-do da gua, o Aruan geralmente trazido pelo paj, que escolhe o dia e as msicas a serem cantadas nos festejos. Depois de realizar a pes-quisa, vou transmitir esses saberes para minha comunidade e coloc-los em prtica, relatou Wajumani Kara-j, que observou o esquecimento dos cnticos no s entre jovens, como tambm entre os adultos.

    Na pesquisa, ns busca-mos uma atualizao da nossa cul-tura para inseri-la no dia a dia da nossa aldeia, assim como no est-gio, explica Bidjawari Karaj, da etnia Karaj, egresso no curso em 2012. Para ele, o estgio propicia uma abertura para trabalhar nas escolas a valorizao da lngua e da cultura de seu povo. Nossa brin-cadeira est sendo ocupada pela brincadeira do branco, lamentou. Em sala de aula, Bidjawari Karaj aproveitou para ensinar algumas brincadeiras tradicionais esqueci-das com o tempo e discutir a razo de no serem mais praticadas.

    justamente essa interao entre formao acadmica e os sa-beres culturais indgenas que con-fere ao curso certa especificidade, diferenciando-o das outras modali-dades de graduao. Quando fala-mos da educao intercultural, nos

    Discusses em sala de aula interligam as diversas reas do conhecimento com os saberes culturais indgenas

    Professores do curso organizaram uma coletnea de livros com as pesquisas dos alunos sobre as manifestaes culturais das comunidades indgenas

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  • 5VIDA ACADMICAJornal UFG Goinia, abril de 2015

    referimos a uma educao que rom-pe fronteiras, explicou a professora Maria do Socorro Pimentel da Silva, orientadora do comit Karaj do Araguaia e primeira coordenadora do curso.

    Professora em aldeias du-rante 10 anos, Maria do Socor-ro Pimentel da Silva foi uma das idealizadoras do projeto poltico pedaggico da licenciatura, que objetivava atender uma antiga de-manda das comunidades nas pro-ximidades da Regio Centro-Oeste. A universidade tem uma tradio de pesquisa na rea indgena, prin-cipalmente na histria, antropolo-gia e lingustica, comentou.

    Educao concebida pelos indgenas e para os indgenasH muito o ensino nas escolas indgenas tem sido foco de discusses sobre a necessidade de uma educao que lide com as especificidades culturais de cada povo. A relao com os povos indgenas no Brasil foi sempre delicada, marcada pelo desgastante processo civilizatrio. No entanto, os movimentos organizados indgenas passaram a atuar de forma mais expressiva a partir da dcada de 1960 na luta por diversos direitos, incluindo educao. Foi somente a partir do perodo de redemocratizao do pas que houve uma abertura para inserir a pauta da formao bsica especfica nas escolas das aldeias.

    A Constituio Federal de 1988 passou a assegurar o direito das sociedades indgenas a um currculo diferenciado para a formao escolar, com autonomia no processo de aprendizagem. A escola indgena no voltada para o mercado, mas para a comunidade. uma escola contextualizada, ela tem que valorizar a lngua indgena e pensar na sustentabilidade do territrio, destacou o professor Alexandre Ferraz Herbetta.

    Antes vinculado Fundao Nacional do ndio (FUNAI), o ensino nas escolas indgenas passou a ser de responsabilidade do Ministrio da Educao (MEC) em 1991, que estabeleceu na Lei de Diretrizes e Bases da Educao princpios para uma educao pautada nos saberes e domnios culturais dos diferentes povos. Esse movimento atingiu tambm as universidades com a implantao dos primeiros cursos de Licenciatura Intercultural Indgena no final da dcada de 1990, atendendo s orientaes da prpria legislao que prev a necessidade de formao de professores indgenas para atuarem na educao fundamental e ensino mdio nas aldeias. A graduao surge com a proposta de capacit-los a dialogar sobre os conhecimentos acadmicos, as prticas culturais e a realidade de suas comunidades. Atualmente, existem mais de 20 cursos de Licenciatura Intercultural Indgena em todo o pas.

    Novas diretrizes para as escolas indgenasAlm do curso de graduao,

    o Ncleo Takinahaky criou em 2013 a especializao em Educa-o Intercultural Indgena. A ideia oferecer uma formao comple-mentar, que permita aos alunos a construo de uma proposta educacional diferenciada para as escolas indgenas de suas comu-nidades, com a elaborao de Pro-jetos Polticos Pedaggicos (PPP) que respeitem o contexto cultural, poltico e social dos diferentes po-vos. Trata-se de um documento que organiza as diretrizes peda-ggicas, as atividades necess-rias para o processo de ensino e aprendizagem e, principalmente,

    os princpios norteadores da ges-to de uma escola.

    De acordo com o vice-co-ordenador da especializao, Ale-xandre Herbetta, a iniciativa veio ao encontro das necessidades dos prprios estudantes, interessados em concretizar a formao adquiri-da durante a graduao com aes prticas. De certa forma, fazer o Projeto Poltico Pedaggico de uma escola colocar em prtica toda essa discusso sobre as pedagogias para indgenas. A partir de ento, eles podem fazer com que as es-colas funcionem com seus modos prprios de aprendizagem, anali-sou o professor.

    O desafio da permannciaEm julho de 2014, foi inau-

    gurada na UFG uma estrutura para comportar as atividades desenvolvi-das pelo curso. O Ncleo Takinahaky possui salas de aula, laboratrio de informtica, laboratrio de etnobio-logia e est sendo estruturada uma biblioteca setorial. Apesar de todas as instalaes montadas para aten-der confortavelmente os estudantes, um dos grandes desafios enfrenta-dos o da permanncia dos indge-nas at o final do curso. As dificulda-des de deslocamento e a falta de um local para abrig-los durante o pe-rodo das aulas presenciais na uni-versidade, se interpem motivao para dar continuidade aos estudos.

    O Governo Federal oferece um auxlio a estudantes indgenas cadastrados no Programa Nacional de Bolsa Permanncia. A iniciativa contribui na ampliao do acesso ao ensino superior, permanncia e diplomao dos graduandos, com a concesso de bolsas no valor de R$900,00. Para os ingressantes no primeiro ano da licenciatura, ainda no cadastrados no Bolsa Perma-nncia, a UFG dispe de recursos do Programa de Apoio Formao Superior e Licenciaturas Intercultu-rais Indgenas (Prolind) para custe-ar a alimentao e hospedagem na

    primeira etapa presencial do curso. O Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Docncia (Pibid) tam-bm oferece bolsas aos estudantes, destinadas a cobrir gastos com pes-quisas e o desenvolvimento das ati-vidades de docncia.

    Mesmo com o auxlio, o valor insuficiente para cobrir todas as despesas dos alunos, principalmen-te em relao moradia, pois grande parte dos locadores de imveis nas proximidades do Cmpus Samam-baia exige contratos para aluguel de casa de no mnimo seis meses, sendo que as etapas presenciais so realizadas nos meses de janeiro, fe-vereiro, julho e agosto. A bolsa no d para nos manter, por isso muitos ndios no ficam at o final do pero-do das aulas. Fiquei com dificuldade para terminar o curso, mas o caci-que falou para eu continuar esse tra-balho que muito importante para a nova gerao, declarou Samuel Saburua Java, que entrou no cur-so em 2010. Uma das reivindicaes dos estudantes a disponibilizao de alojamentos para se instalarem nos meses em que esto na univer-sidade. Para suprir esta demanda, a reitoria est estudando alternativas para melhorar as condies de per-manncia dos graduandos.

    Alunos Xavante debatem e escrevem, na prpria lngua, os conceitos de interculturalidade e transdiciplinaridade para

    apresentao de seminrio na aldeia

    Inaugurado em julho de 2014, o Ncleo Intercultural de Educao

    Indgena Takinahaky possui uma arquitetura inspirada nos elementos da cultura indgena

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  • 6 MESA-REDONDAJornal UFG Goinia, abril 2015

    Reforma Poltica no Brasil: possibilidades e perspectivasMuito temos ouvido falar sobre Reforma Poltica. Nas ruas e nas redes sociais h gente pedindo por ela. Mas voc sabe o que significa esse conceito e o que pode mudar na poltica brasileira caso essa medida seja aprovada? Para responder a esta e a outras questes, o Jornal UFG e o Programa Conexes da TV UFG convidaram Tales Pinto, professor do Instituto Federal Goiano (IFG) e mestre em Histria; Jos Elias Domingos, mestre em Cincias Sociais e professor do IFG; e o professor Robinson Almeida, da Faculdade de Cincias Sociais da Universidade Federal de Gois.

    O que significa, exa-tamente, Reforma Poltica?

    Robinson Almeida Re-forma Poltica um concei-to genrico, que diz respei-to s possveis mudanas das regras que regulamen-tam as relaes polticas no Brasil, principalmente quanto ao sistema repre-sentativo e a forma como escolhemos os nossos re-presentantes nos mbitos: federal, estadual e munici-pal. Refere-se, tambm, so-bre como as relaes entre os partidos polticos podem se organizar, influenciando a relao entre o poder le-gislativo e o executivo.

    Jos Elias Domingos importante entendermos

    que com a Reforma Pol-tica no haver uma mu-dana radical na estrutu-ra de representao. Hoje a discusso sobre o tema est muito aprofundada. Alguns pontos colocados em pauta no debate sobre essa reforma poltica esto adaptados ao contexto da democracia representati-va brasileira. Isso vai na contramo do que muitos polticos alegam quando dizem da dificuldade de implementar uma Reforma Poltica profunda.

    Tales Pinto Esta discus-so vem desde a dcada de 1990 e tomou fora ano passado. Em um primeiro momento, apesar de ha-ver um dilogo institucio-

    nal em relao s questes das tarifas do transpor-te coletivo, foram grupos organizados que deram o pontap inicial para as manifestaes. A popula-o organizada nas mani-festaes, tomou nas mos a ao poltica sem esperar que houvesse uma insti-tucionalizao dessas mu-danas. Em um segundo momento, percebemos a tentativa de canalizar essa ao direta, poltica e no--institucional para dentro das instituies. Agora po-demos entender a Reforma Poltica como uma resposta por parte das instituies de tentar sanar ou respon-der s reivindicaes que surgiram com as manifes-taes do ano passado.

    De que maneira a Reforma Poltica pode me-lhorar a participao da sociedade no nosso pro-cesso eleitoral e poltico?

    Robinson Almeida Ain-da no h um consenso sobre que pontos e em que direo mudar. O nosso sistema tem inmeras de-ficincias, porm existem diferentes agendas de mu-danas. Dessa forma, pre-cisamos saber que tipo de objetivo pretendemos atin-gir. Uma possvel meta a de fortalecer o poder exe-cutivo para que os gover-nos consigam implementar suas polticas pblicas. Avalio, por exemplo, que difcil para a presidente go-vernar, na medida em que tem que negociar com um congresso muito fragmen-tado em partidos polticos, em termos de interesse dos estados e em termos da Cmara dos Deputados e do Senado Federal. Ento, sob esta tica, seria ne-cessrio reduzir o nmero de partidos, implementar outras medidas que dimi-nussem a dificuldade do Executivo para governar e para negociar com o Con-gresso. Outra agenda di-ferente desta pensaria em no reduzir o nmero de partidos, por exemplo, mas deixar mais livre a organi-zao dos partidos polti-cos, pensando que a nossa sociedade diversificada e as diferentes posies pre-cisam estar igualmente re-presentadas no Congresso Nacional. Tem sido histori-camente difcil avanar em reformas mais profundas, como disse o colega. Pri-meiro de tudo porque no h um consenso sobre o que queremos e o que de-vemos fazer para atingir este objetivo. Qual aper-feioamento pode haver na Reforma Poltica? Depende de qual Reforma Poltica estamos falando.

    Tales Pinto Existem mo-vimentos sociais organiza-dos tentando trazer esta discusso da participao popular, que pode ser pen-sada na ao da prpria Presidncia da Repblica de criar instncias con-sultivas nas quais a po-pulao possa participar ativamente, apresentando propostas, mas no che-gando a decidir. A questo que isso uma alterao

    um pouco mais profunda que s a questo eleito-ral, o que tem causado um grande desgaste frente ao Governo Federal, porque a maior parte dos partidos que esto no Congresso Na-cional no aceitam este tipo de proposta por acreditar que significaria perda de poder representativo.

    Jos Elias Domingos Esse um debate que no pode ser restrito ao Con-gresso Nacional e ao Sena-do Federal, no pode ser restrito sem que haja uma ampliao do que concerne participao em relao a plebiscito ou referendo, porque existem pontos po-lmicos, visveis, concretos e passveis de serem re-alizados, mesmo a merc de ir contra, por exemplo, a cultura do voto no Bra-sil, que uma cultura de voto personalista. Uma das propostas da Refor-ma Poltica, por exemplo, um sistema de voto em lista aberta. Existem pro-postas de dar mais poder para os partidos selecio-narem os candidatos, que seriam aqueles que fariam parte da lista de pesso-as a serem eleitas. Assim, as pessoas estariam mais motivadas a votar no parti-do e no necessariamente no indivduo, fortalecendo justamente essa organiza-o que o intermediador entre o cidado e a vida poltica. Outra proposta de Reforma Poltica a de um sistema de lista fechada, onde voc vota na legenda. E a partir do momento que voc deposita o voto na le-genda, voc confia no seu programa e nas suas pro-postas. Isso faz com que o partido tenha mais possi-bilidades de mexer no ta-buleiro de quem vai entrar e quem no vai. So pro-postas interessantes, mas, ao mesmo tempo, so pro-postas que carecem de um debate junto populao, seja ele por plebiscito ou referendo. Esse debate j est sendo chamado, mas precisa cada vez mais ser fomentado, seja nos movi-mentos sociais, nos meios miditicos ou nas univer-sidades. um debate que precisa ferver.

    Como avaliam a questo da possibilida-de do fortalecimento dos partidos nas eleies?

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  • 7poltico? Se pensarmos que porque querer ajud-lo a fazer uma transformao social bonita, vivemos num conto de fadas.

    Tales Pinto Devemos questionar tambm, por exemplo, os interesses do financiamento pblico. Te-mos que pensar a servi-o de quem a poltica est hoje em dia. A poltica, se pensarmos na estrutura atual, est no interesse das grandes corporaes, que so as financiadoras das campanhas e quem conse-gue colocar seus represen-tantes l dentro. A questo : as mudanas propostas vo alterar esse tipo de si-tuao ou s vo mudar a forma pela qual essas em-presas conseguem influen-ciar a poltica de acordo com os seus interesses?

    Robinson Almeida O tema financiamento de campanha, diz respeito di-retamente a um dos pro-blemas centrais do nosso sistema poltico, a corrup-o. Nosso problema cen-tral no aquele poltico corrupto que quer pegar dinheiro para viajar, para ter um iate, mas, sim, o desvio de verbas pblicas para financiar campa-nhas. No entanto, gostaria de colocar essa preocu-pao com o dinheiro sob outra luz que a seguin-te: no h soluo mgica, nenhuma alternativa vai acabar com o caixa dois, com a corrupo e com a influncia do poder econ-mico. No h mar de rosas na vida, nem nas relaes polticas. Porm, o que po-demos fazer pensar em mudanas no nosso sis-tema eleitoral, para redu-zir a necessidade de gas-tos de campanhas e para torn-las mais baratas e, assim, reduzir o drama do financiamento e eventuais expedientes de corrupo

    Robinson Almeida Esse tem sido um clamor por parte de certos setores da sociedade brasileira. Po-rm, ns temos uma cul-tura de preferir votar em pessoas e h um grande desgaste dos partidos pol-ticos perante a opinio p-blica. A proposta de lista fechada uma tentativa de fortalecer os partidos po-lticos, fazendo com que o eleitorado tenha que olhar para os programas dos partidos na hora de esco-lher. Ou seja, os eleitores no vo mais escolher um candidato individual, mas sim um partido. Certa-mente, h e haver resis-tncias por parte de uma boa parte do eleitorado que acredita que votar num partido votar numa coi-sa virtual. Os partidos so mecanismos de agregao de votos, de manifestaes da vontade de setores da populao e so indispen-sveis nesse papel, por-tanto, no podemos abrir mo dos partidos polticos. A democracia representa-tiva , necessariamente, uma democracia em que os partidos exercem um papel fundamental e, em certa medida, eles tm que ser fortalecidos. No entan-to, eles so mecanismos insuficientes de agregao de interesses da sociedade civil, porque a sociedade complexa e impossvel reproduzir opes partid-rias to diversificadas para satisfazer as demandas de setores to diversificados. E isso nem seria desejvel, porque seria um sistema partidrio extremamente fragmentado.

    Tales Pinto Se h uma fragmentao dos interes-ses, eles dizem respeito a todo o conjunto da socie-dade. A prtica eleitoral brasileira , de certa for-ma, ligada a uma estrutu-ra coronelista que ainda se

    pega na questo de favores pessoais. O individual, na maioria das vezes, est li-gado a esse poder pessoal que alguns polticos tm em determinada regio. Portanto, a proposta de vo-tos em lista fechada tam-bm seria uma forma de coibir esse tipo de prtica.

    Jos Elias Domingos - Talvez possa fortalecer o interesse na participao. Vemos nas campanhas e nos programas eleitorais, programas personalistas. So raros os partidos que apresentam de fato um programa partidrio. Nor-malmente, vemos apenas partidos de esquerda fazen-do isso. Essa cultura pol-tica do eleitor de escolher a pessoa um resultado claro desse nosso fisiolo-gismo partidrio histrico. Um dos maiores partidos que representa esse jogo de barganha dentro do presi-dencialismo de coalizo o PMDB, que se caracteriza pela heterogeneidade dos seus componentes. Ento, no basta fomentarmos a discusso de Reforma Pol-tica com o sistema de lista fechada, incentivando essa educao poltica para alm da pessoa, preciso desen-volver uma poltica que vai alm de simplesmente dele-gar o poder de deliberao poltica para algum, for-talecendo essas instncias de deliberao poltica. Os polticos esquecem que o mandato do partido e que eles foram eleitos para nos representar. Neste momen-to entram novamente os interesses de grandes cor-poraes que, por trs des-ses partidos, orquestram a dinmica que vai desde a campanha eleitoral at a forma como eles votam no Congresso.

    Como mudanas no financiamento de campa-nhas podem alterar o jogo poltico no Brasil?

    Jos Elias Domingos Esse um ponto que pa-rece estar mais claro, em termos de avano em sua aprovao, para uma re-forma poltica imediata. Quando um candidato fi-nanciado por grandes cor-poraes, ele passa a servir essencialmente, em tese, a essas corporaes. Qual o interesse de um gran-de grupo em financiar um

    para financiar as campa-nhas eleitorais. Tambm acho que a propaganda eleitoral um show de horrores e que importan-te reduzirmos o nmero de partidos polticos com-petindo.

    Tales Pinto Mas isso no seria uma concentrao de poder muito forte em al-guns candidatos ou em al-guns partidos? Centralizar em partidos ou em alguns poucos partidos daria um poder muito grande a de-terminadas instituies polticas, que podem no representar todos os an-seios da populao. Na ver-dade, podemos criar outro problema que vai explodir um pouco mais frente.

    Robinson Almeida Acredito que o que apre-sentado como Reforma Poltica so os anseios de alguns setores organiza-dos da sociedade, que ge-ralmente tendem a pensar que eles esto do lado da sociedade inteira. Mas no so todos que pensam as-sim, outros setores da so-ciedade tm outras agen-das. Eu entendo a sua preocupao, realmente restringe mais. Ento, te-ramos que fazer com que esses partidos polticos se abrissem mais a interes-ses da sociedade. A minha preocupao com a lista fechada que os partidos polticos fiquem apenas na sua pauta. Na minha opinio, deveramos man-ter a lista aberta e permi-tir a institucionalizao de faces que j existem de forma mais ou menos formalizada nos partidos, grupos e sublegendas, de forma que o eleitor possa escolher o partido e, den-tro do partido, uma su-blinha. Assim, os poucos partidos existentes se tor-nariam mais porosos para os interesses que a socie-dade manifestar, sendo capazes de abranger essa pluralidade representando a sociedade.

    Pode ser conclama-do um referendo ou um plebiscito para convidar a populao a pensar mais sobre como ela quer essa Reforma Poltica?

    Jos Elias Domingos Veja bem, h uma distin-o entre referendo e ple-

    MESA-REDONDAJornal UFG Goinia, abril 2015

    biscito, que esto previstos na Constituio e tem a regulamentao na pr-pria lei eleitoral. H seto-res, inclusive partidrios, que defendem o plebiscito e h setores que defendem o referendo. importan-te ficar clara a distino entre os dois, que uma distino muito simples. No plebiscito, a populao vai aprovar os pontos de pauta a serem debatidos, ento a populao aprova a agenda. No referendo, a populao simplesmente ratifica aquilo que foi de-batido e colocado em pau-ta no Congresso. Ento, eu acho que esse ainda um debate morno, justa-mente porque a populao nem sabe a diferena en-tre um e outro. Temos um problema claro de cultura institucional, de falta des-ses pontos serem de fato colocados para discusso em diversas instituies, principalmente nos meios hegemnicos miditicos. A Reforma Poltica tem que entrar urgentemente na agenda de discusso em diferentes instituies, para que ns possamos, de fato, legitimar um debate que envolva um plebiscito ou um referendo. Porque corremos o risco, eu digo de antemo e ntido, de fazer tal como foi na ques-to do porte de armas. Foi um debate muito mal fei-to, que beira o ridculo, e temos que reconhecer isso. As pessoas no con-seguiram nem entender o que estavam deliberando ali. Ento, esse ponto da Reforma Poltica deve en-trar na agenda para alm do que os partidos dese-jam. E eu fao a seguinte provocao: as pessoas no se sentem realmente representadas pelos parti-dos. Ento como eles po-dem achar que incorporar uma demanda social para eles prprios debaterem significa Reforma Poltica?

    Robinson Almeida

    Tales Pinto

    Jos Elias Domingos

  • 8 PESQUISAJornal UFG Goinia, abril 2015

    Novas perspectivas para o futuro das espcies do CerradoPesquisadores de instituies do Centro-Oeste estudam a biodiversidade do segundo maior bioma brasileiro e propem estratgias para conservao das espcies

    Serena Veloso

    A conservao dos recursos naturais e da biodiversida-de das espcies do Cerrado uma das atuais preocupaes de pesquisadores do Centro-Oeste, diante das rpidas transformaes climticas e da intensa ocupao humana nessa regio nos ltimos anos. A afirmao de que as modi-ficaes no clima no afetariam a regio dos trpicos perdeu credi-bilidade quando estudos recentes em pases como o Brasil passaram a demonstrar a necessidade de se pensar estratgias para preservar a biodiversidade em biomas que so-freram grandes impactos, como o caso do Cerrado.

    Universidades e institutos de pesquisa da regio Centro-Oeste tm desenvolvido, de forma inte-grada, pesquisas com o objetivo de investigar padres e processos de biodiversidade do Cerrado e com-preender as implicaes na conser-vao e no manejo de populaes da fauna e flora. A iniciativa faz parte da Rede de Gentica Geogr-fica e Planejamento Regional para Conservao de Recursos Naturais do Cerrado (Genpac), formada no

    contexto da Rede Centro-Oeste de Ps-Graduao, Pesquisa e Inova-o (Rede Pr-Centro-Oeste). A rede Genpac coordenada pela UFG e integra 16 projetos de instituies participantes.

    A partir de estudos da variabi-lidade gentica de espcies represen-tativas do Cerrado, pesquisadores se propem a investigar a dinmica evolutiva ao longo de milhares de anos para compreender a atual con-figurao e distribuio geogrfica das espcies. A utilizao de ferra-mentas da matemtica computa-cional e da biologia molecular para integrao de anlises genticas po-pulacionais com padres macroeco-lgicos caractersticas ecolgicas padro das espcies, analisadas em grandes escalas geogrficas e evolu-tivas , constitui uma das novidades nas abordagens para a construo de estratgias para compreenso da biodiversidade e conservao das es-pcies do Cerrado.

    Alguns fatores so observa-dos para explicar a perturbao na variabilidade gentica, como o tipo de solo, no caso das plantas, mu-danas climticas e efeitos antr-picos, como a expanso da produ-o agrcola e a ocupao urbana.

    Novas perspectivas para a conservao Uma coisa que ns j perce-

    bemos que muitas das variaes genticas atuais so explicadas pelo modo como as espcies esta-vam distribudas h 20 mil anos, explicou o coordenador da rede Genpac e pr-reitor de Ps-Gradu-ao da UFG, Jos Alexandre Fe-lizola Diniz Filho. O coordenador ressaltou que as mudanas clim-ticas daquele perodo, que coincide com a glaciao da Terra, interferi-ram na configurao das espcies, que assumiram na atualidade uma nova distribuio no Cerrado.

    Um dos projetos da rede Genpac, coordenado pela professora do Departamento de Cincias Biol-gicas da Regional Jata, Levi Carina Terribile, tem por objetivo o desen-volvimento de modelos de nicho eco-lgico para entender a distribuio geogrfica de diferentes animais e plantas do Cerrado, estudados nos diversos projetos da rede. Os modelos

    so pensados em relao s mudan-as climticas ocorridas no perodo glacial e na atualidade, com projeo ainda para cenrios futuros.

    Com essas informaes, os pesquisadores pretendem identifi-car reas mais adequadas ocor-rncia das espcies na atualidade e prever a distribuio futura em lo-cais mais propensos sobrevivn-cia diante das novas configuraes climticas. Alm disso, sero ava-liados os efeitos do clima nos pa-dres de diversidade das espcies.

    Os resultados subsidiaro es-tratgias focadas na preservao de populaes ameaadas, como o pla-nejamento de unidades de conser-vao. As unidades de conservao que existem atualmente no Brasil no so totalmente eficientes para assegurar no futuro a preservao de reas de estabilidade climtica para as espcies do Cerrado em ex-tino, avaliou a professora.

    Mudanas do clima ameaam espciesUma das concluses prvias

    do projeto executado na Regional Jata est relacionada interfern-cia climtica na sobrevivncia das espcies. A maioria das espcies analisadas poder sofrer perda de rea de distribuio, aumentando o risco de extino diante das mu-danas climticas previstas, aler-tou Levi Carina Terribile.

    Segundo Jos Alexandre Di-niz Filho, grande parte das espcies do Cerrado no tem conseguido se

    adaptar s rpidas transformaes do clima ocorridas nos ltimos anos, o que tem provocado um des-locamento das populaes para a regio Sudeste. O problema disso que as espcies esto indo para a regio onde o meio ambiente mais perturbado devido ocupao hu-mana, afirmou. A mudana na distribuio tambm acarreta na reduo da variabilidade gentica, como revela uma das pesquisas da rede relacionada ao pequizeiro.

    Na Escola de Agronomia, o banco de germoplasma possui uma rea de 5 hectares com espcies nativas do Cerrado

    Recursos captados pelo Genpac possibilitaram a aquisio de novo sequenciador gentico

    Fotos: Carlos S

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  • 9PESQUISAJornal UFG Goinia, abril 2015

    Representao dos efeitos das mudanas climticas na distribuio de uma espcie do Cerrado. As mudanas climticas resultantes das atividades do homem podero acarretar consequncias importantes para muitas espcies, como por exemplo, a reduo das reas de adequabilidade climtica. No caso do pequizeiro Caryocar brasiliense (foto), os modelos de nicho indicam uma reduo da adequabilidade climtica na sua rea de distribuio, bem como a mudana espacial das reas mais importantes para a sua ocorrncia no final do sculo XXI.

    * Modelo CCSM. Fonte: CMIP5 < http://cmip-pcmdi.llnl.gov/cmip5/ >Variveis Bioclimticas: Bio1 - Temperatura mdia anual, Bio12 - Precipitao total anual, Bio14 - Precipitao no ms mais seco. Foto: Detalhe flor do pequi. Autoria: Frederico A. G.

    Mapeamento da diversidade genticaEntre as prioridades da rede

    est a disponibilizao de informa-es genticas, obtidas no sequen-ciamento de DNA e RNA das espcies, para estudos focados na biodiversi-dade do Cerrado. Para isso, um dos projetos da rede tem se dedicado ao desenvolvimento de marcadores mo-leculares especficos para animais, plantas e microrganismos aquticos do Cerrado, ferramentas utilizadas para isolar determinadas sequncias do DNA e estudar o comportamento gentico das espcies em grande es-cala geogrfica.

    Coordenado pela professora e pesquisadora do Instituto de Cin-cias Biolgicas (ICB), Mariana Pires de Campos Telles, o projeto Desen-volvimento de marcadores, genotipa-gem e caracterizao genmica de espcies do Cerrado desenvolve um dos aspectos centrais das pesquisas ligadas rede: a anlise gentica.

    Os marcadores moleculares so utilizados para mapear a varia-bilidade gentica e, com isso, com-preender aspectos relacionados com os processos microevolutivos, tais como o fluxo gnico, a deriva gentica e a seleo natural, atu-

    ando nas espcies. Essas informa-es microevolutivas nos ajudam a direcionar polticas pblicas ou estratgias de conservao mais eficientes na rea de ocorrncia natural das espcies, bem como podem direcionar coletas de mate-rial biolgico para a criao de uma coleo de germoplasma, destacou a pesquisadora.

    Com os recursos do edital da rede Pr-Centro-Oeste, foi possvel a aquisio de dois equipamentos para sequenciamento de DNA, um deles de segunda gerao, com tec-nologia capaz de gerar informaes milhares de vezes maiores que o modelo clssico. Por meio da na-notecnologia, a plataforma permite fazer o sequenciamento do DNA de cada espcie coletada.

    O material tambm utili-zado para estudar e caracterizar a estrutura do genoma dessas esp-cies. Segundo Mariana Telles, a ca-racterizao dessas estruturas pode ser utilizada na identificao de molculas do DNA de plantas nati-vas do Cerrado com potencial para o desenvolvimento de frmacos ou outras aplicaes na biotecnologia.

    Divulgao das informaesO que a coleo germoplasma?

    Ferramenta importante na conservao das espcies vege-tais, a coleo de germoplasma uma unidade conservadora do material gentico representativo da variabilidade gentica de esp-cies que possam dar origem a novos exemplares dessa populao. Desde 1996, a UFG possui, na Escola de Agronomia (EA), um ban-co de germoplasma de espcies frutferas nativas do Cerrado, que apresentam potencial de utilizao econmica. As pesquisas da rede Genpac tm atuado na complementao dessa coleo e pen-sa ainda na utilizao dessa diversidade para o pr-melhoramento das espcies de plantas, visando o cultivo para a produo agrcola.

    Rede Genpac integra pesquisas de instituies do Centro-Oeste

    Ao total, 70 pesquisadores, entre professores bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecno-lgico (CNPq), pesquisadores da graduao, ps-graduao e ps-doutorado de instituies de Gois, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal, participam da rede Genpac. Os projetos desenvolvidos so nas reas de macroecologia, filogeografia e gentica das populaes. Participam da rede a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa) e as Universidades de Braslia (UnB), Catlica de Braslia (UCB), Estadual de Gois (UEG), Estadual do Mato Grosso (UNEMAT), Federal de Gois (UFG), Federal do Mato Grosso (UFMT), Fe-deral do Mato Grosso do Sul (UFMS) e a Pontifcia Catlica de Gois (PUC-GO).

    A UFG integra o quadro na coordenao de sete proje-tos. Cerca de R$ 4 milhes foram destinados para o desenvol-vimento de todas as pesquisas, recursos oriundos do CNPq e da Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Gois (Fa-peg), por meio do edital da Rede Pr-Centro-Oeste.

    O compartilhamento com outros pesquisado-res das informaes levantadas pelos projetos tam-bm integra as perspectivas da rede Genpac. Para isso, est prevista a disponibilizao, em bancos de dados pblicos, dos modelos de nicho ecolgi-co e mapas de distribuio das espcies na atua-lidade e em cenrios futuros e, ainda, dos marca-dores moleculares das espcies estudadas. Outra proposta a produo de manuais e cartilhas com recomendaes sobre a conservao e a utilizao dos recursos naturais.

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  • 10 PESQUISAJornal UFG Goinia, abril 2015

    De volta Era do GeloRelao entre mudanas climticas e ao do homem na extino dos grandes mamferos do perodo interglacial foi investigada em tese premiada do Programa de Ps-Graduao em Ecologia e Evoluo

    Serena Veloso

    H 50 mil anos, no perodo Quaternrio Tardio, o pla-neta passou por diversas transformaes que resultaram na extino de espcies de grande por-te, a chamada megafauna, em to-dos os continentes. As mudanas climticas drsticas provocadas pela ltima glaciao, intercalada a perodos mais quentes e, por uma nova disperso do homem do con-tinente africano para diversos ter-ritrios, teriam sido algumas das causas do impacto sobre as esp-cies. O pesquisador Matheus Ribei-ro, professor do curso de Cincias Biolgicas da Regional Jata da UFG, props-se a investigar o papel relativo do homem e das mudanas climticas na extino da megafau-na da Amrica do Sul.

    A pesquisa resultou em uma tese desenvolvida no Programa de Ps-Graduao em Ecologia e Evo-luo do Instituto de Cincias Bio-lgicas (ICB) da UFG, orientada pelo professor e pr-reitor de Ps--Graduao, Jos Alexandre Felizo-

    Clima e humanos x megafauna

    Tigre-dente-de-sabre:Smilodon populator foi a nica espcie de tigre-dente-de-sabre a sobreviver na Amrica do Sul at o final do Pleistoceno, sendo considerado um dos maiores felinos que j existiu. A espcie era conhecida por seus longos caninos e chegava a pesar cerca de 300 quilogramas. Predava outros grandes animais como tatus, preguias-gigantes e proboscdeos. O mamfero era encontrado em todo o continente sul-americano, da Patagnia Amaznia, dos Andes Mata Atlntica.

    Para investigar os impactos climticos e antrpicos no pro-cesso de extino, Matheus Ribei-ro modelou o nicho ecolgico das espcies, ou seja, o conjunto de condies ambientais nas quais uma espcie capaz de se manter vivel. Em seguida, ele estimou a rea do habitat dessas espcies e simulou, por meio de um softwa-

    re livre, os impactos da interao com os humanos (predadores) no processo de crescimento das po-pulaes extintas (presas). Depois disso, foram quantificados os efei-tos relativos das mudanas clim-ticas e do homem sobre cada uma das espcies extintas na Amrica do Sul.

    A lista de animais pesqui-

    Extino da megafauna no PleistocenoO mapa exemplifica, de maneira representativa, a relao entre efeito climtico e a reduo na rea de distribuio das espcies da megafauna entre o ltimo Mximo Glacial, h 21 mil anos (rea sombreada maior) e a transio da poca do Pleistoceno para o Holoceno, h 11 mil anos (rea sombreada menor), perodo que a maior parte da megafauna foi extinta.

    la Diniz Filho. A conduo terica e metodolgica do estudo se deu em parceria com pesquisadores da Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Estadual de So Paulo (Unesp), da Universi-ty of Copenhagen, na Dinamarca, da Charles University, na Repbli-ca Tcheca, e do Museo Nacional de Ciencias Naturales, na Espanha. As reas da Ecologia e da Paleoecologia foram integradas, tendncia recente nos estudos internacionais que, se-gundo o pesquisador, tem conferido importantes avanos tericos.

    Apesar dos debates cient-ficos sobre o assunto, focarem na Amrica do Norte, Europa e Austr-lia, Matheus Ribeiro destacou que o maior nmero de espcies extin-tas em todo o planeta, no perodo Quaternrio Tardio, concentrou-se na Amrica do Sul, o que o motivou a estudar o continente. Durante esse perodo, estima-se que mais de 100 espcies de animais de grande porte foram extintas em todos os continentes, desaparecendo cerca de 80% da megafauna sul-america-na, explicou o pesquisador.

    sada envolve todos os mamferos de grande porte com peso maior que 44 quilos, extintos no pero-do para os quais existem regis-tros fsseis, o que compreende um total de 29 espcies. Esto includos animais como preguias e tatus gigantes, mamutes, tigres--dente-de-sabre, proboscdeo (se-melhantes aos elefantes), cavalos,

    toxodontes (semelhantes aos hi-poptamos) e ursos.

    A anlise, inclui ainda, pa-rmetros bsicos sobre as popu-laes das presas e do predador, como tamanho populacional, taxa de crescimento e consumo do pre-dador, utilizados em equaes que interagem o crescimento de ambas as populaes: humana e animal.

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  • 11PESQUISAJornal UFG Goinia, abril 2015

    Impactos sobre a sobrevivncia das espcies

    Tese premiada pela Capes

    Concludo em 2013, o trabalho de Matheus Ribeiro ganhou reconhecimento na comunidade cientfica com a conquista do Prmio Capes de Teses 2014, na rea de Biodiversidade. A premiao concedida pela Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes) s melhores teses de doutorado dos cursos de ps-graduao que integram o Sistema Nacional de Ps-Graduao. Para os vencedores so concedidas bolsas de ps-doutorado por at trs anos para desenvolvimento de pesquisa cientfica em instituies de renome.

    Tatus-Gigantes:Os tatus-gigantes tambm foram um grupo de mamferos bastante diverso. O maior e mais comum deles pertenceu ao gnero Doedicurus, que tinha como caractersticas a carapaa dura para defesa de seus predadores e uma bola de espinhos na ponta do rabo. Chegava a medir quatro metros de comprimento e pesava mais de uma tonelada. Habitavam toda a Amrica do Sul e tinham preferncia tanto por ambientes fechados (florestas) como abertos (Cerrado e Pampa).

    Preguia-gigante:Existiram vrias espcies de preguias-gigantes na Amrica do Sul. Eremotherium e Megatherium foram dois gneros comuns e so bem representados no registro fssil. Eremotherium vivia ao norte da Amrica do Sul, na regio tropical e pesava cerca de trs toneladas. J Megatherium era maior, chegava a pesar quatro toneladas e se distribua ao sul do continente, da Patagnia at Bolvia, Per e regio centro-sul do Brasil. Atualmente, outras espcies de preguias ainda habitam a Amrica do Sul, mas no possuem o tamanho corporal das extintas.

    Proboscdeos:Os proboscdeos foram animais semelhantes aos elefantes modernos, reconhecidos por possurem apndice nasal em forma de tromba. Cuvieronius e Notiomastodon so considerados, atualmente, os gneros mais comuns que habitaram o continente sul-americano no Pleistoceno. Cuvieronius pesava cerca de quatro toneladas e tinha preferncia por ambientes mais frios, como as cordilheiras. Mas o maior animal j existente na Amrica do Sul foi Notiomastodon. Habitante de biomas mais quentes (Amaznia, Cerrado), a espcie pesava cerca de seis toneladas.

    Evidncias cientficas apon-tam que a espcie humana teria sur-gido no Pleistoceno, uma das pocas do perodo Quaternrio, convivendo com outros homindeos que desa-pareceram na mesma poca. Uma vez que os humanos pr-histricos so considerados exmios caadores da megafauna, o efeito antrpico foi quantificado a partir do tempo ne-cessrio de interao entre predador e presa para que cada espcie da megafauna fosse extinta, comentou Matheus Ribeiro.

    Em relao ao clima, foi ob-servada a reduo da rea do habi-tat dessas espcies no perodo entre a ltima glaciao, h 21 mil anos, e a transio do Pleistoceno para o

    Holoceno, h 11 mil anos, quando teve incio o perodo interglacial, com o aquecimento da Terra e recuo das geleiras.

    A partir dos dados levanta-dos, o pesquisador concluiu que as extines ocorreram nos locais onde o clima era mais adequado para a sobrevivncia das espcies, pouco tempo aps os humanos chegarem Amrica do Sul e ca-las. No en-tanto, a influncia dos efeitos cli-mticos nos riscos de extino foi menor se comparada aos resultados da interao humana. A ao do ho-mem em populaes reduzidas, de-vido s questes climticas, tornou menos propensa sobrevivncia da megafauna na Amrica do Sul.

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  • 12 TECNOLOGIAJornal UFG Goinia, abril 2015

    UFG desenvolve software que monitora qualidade do leite

    Aplicativo desenvolvido em parceria com o Instituto de Informtica, a Escola de Veterinria e Zootecnia e empresa privada, j est sendo comercializado

    Anglica Queiroz

    Estimular o aprendizado contnuo e a consequente melhoria da qualidade final do leite, oferecendo informao estratgica, em tempo real, para os laticnios e produtores de leite. Essa a ideia central do softwa-re Painel da Qualidade do Leite (PQL), idealizado e desenvolvido por pesquisadores do Laborat-rio da Qualidade do Leite (LQL) pertencente ao Centro de Pesqui-sa de Alimentos (CPA) da Escola de Veterinria e Zootecnia (EVZ) da Universidade Federal de Gois (UFG), em parceria com a empre-sa Implanta IT Solutions.

    O aplicativo disponibiliza aos usurios um conjunto de in-formaes estratgicas a respeito do leite analisado no LQL, acres-cido de uma base de conhecimen-to produzida por pesquisadores da UFG. O gerente do LQL, Rodri-go Balduino, explica que a ideia surgiu em 2011, quando a empre-sa Implanta procurou a UFG para desenvolver o projeto. Tnhamos um banco de dados riqussimo que precisava ser explorado dina-micamente, relata.

    Segundo Rodrigo Balduino, a Escola de Veterinria e Zootec-nia entrou com o conhecimento e o banco de dados, o Instituto de Informtica ficou responsvel pela parte do desenvolvimento do sistema de segurana e a empre-sa Implanta participa extraindo

    esses dados e transformando-os em informao. Os pesquisado-res conversaram, ainda, com as indstrias para entender suas necessidades. Dilogo este que est sempre aberto, de acordo com Balduino. O software est em constante aperfeioamento de acordo com as demandas dos clientes, ressalta.

    Simplicidade e planejamento Rodrigo Balduino destaca que o aplicativo de fcil uso. Mesmo o usurio que no entende muito de informtica pode acompanhar com facilidade a evoluo na qua-lidade do leite produzido, garan-te o gerente do LQL. Ele tambm lembra que o software segue um padro de segurana da informa-o e cada usurio s ter aces-so s suas prprias anlises, no sendo possvel um gestor de um laticnio ter acesso a informaes de produtores de outros laticnios.

    O PQL disponibiliza aos gestores de laticnios, em tempo real, informaes j tabuladas e indicadores estratgicos sobre a qualidade do leite de um produ-tor, uma rota (roteiro) ou uma regio (cluster), permitindo uma avaliao precisa sobre seu rela-cionamento com os produtores. Munidos desse tipo de informa-o, os laticnios podem, entre outras aes, reduzir custos ope-racionais, aumentar a lucrati-vidade e abrir novos mercados, alm de melhorar o rendimento na produo.

    As empresas perdem tempo tabulando dados. O

    software j transforma esses dados na informao que o

    cliente precisa

    Apesar de inovador, a procu-ra pelo aplicativo ainda pequena, mas a expectativa do LQL de que ela cresa medida que os empre-srios forem conscientizando-se so-bre os benefcios da ferramenta que interativa e faz os clculos auto-maticamente. As empresas perdem tempo tabulando dados. O software j transforma esses dados na infor-mao que o cliente precisa para trabalhar e transformar em melho-rias, observa Rodrigo Balduino.

    O gerente do LQL lembra que as empresas no comearam a avaliar a qualidade do leite volun-tariamente. S o fizeram porque a lei exigiu. Mesmo assim, algumas ainda pegam os nossos laudos e guardam na gaveta, tornando mui-to difcil encontrar e organizar a in-formao quando ela necessria, conta. Para ele, somente agora que alguns laticnios esto enten-dendo como a qualidade impor-tante. Dependemos dessa evoluo da classe produtiva para o sucesso da implementao dessa ferramen-ta, mas acredito que essa evoluo j comeou, afirma, otimista.

    Gerente do LQL, Rodrigo Balduino, acredita que produtores apostaro

    na qualidade de seus produtos

    Aplicativo fornece informaes estratgicas, em tempo real

    Laboratrio da UFG atende laticnios de vrios estados do pas

    Como adquirirAps perodo de testes, o software j est sendo comercializado para

    clientes do LQL, mediante pagamento de anuidade ou mensalidade. Alm de Gois, o laboratrio da UFG atende laticnios de Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Maranho, Par, Rondnia e Amazonas. Para o futuro, a inteno dos gestores do projeto conseguir disponibilizar o software para todo o pas.

    Rodrigo Balduino explica que o valor da aquisio depende de cada caso e que so disponibilizadas quatro verses do aplicativo, permitindo que as indstrias de laticnios possam escolher a verso mais adequada ao seu porte ou sua disposio de investimento. O contrato feito pela UFG e os interessados devem procurar o LQL.

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  • 13EDUCAOJornal UFG Goinia, abril 2015

    Curso a distncia capacita educadores para lidar com dependentes qumicosIniciativa quer envolver professores, conselheiros tutelares, agentes de sade e agentes do Ministrio Pblico na luta contra o uso de drogas na infncia e adolescncia

    Alex Maia

    A dependncia de dro-gas lcitas e ilcitas um desafio cada vez maior para as autoridades de sade do Brasil. Uma pesquisa feita em 2013 pela Universidade Fede-ral de So Paulo (Unifesp), apontou que mais de oito milhes de pessoas so de-pendentes de algum tipo de droga. A Secretaria Nacio-nal de Polticas sobre Dro-gas do Ministrio da Sade (Senad), visando diminuir este dado, lanou o curso a distncia de Preveno do Uso de Drogas para Edu-cadores de Escolas Pbli-cas. Originalmente desen-volvido pela Universidade de Braslia (UnB), o curso foi encampado pela Senad com o intuito de que outras universidades organizas-sem e divulgassem-no em seus respectivos estados. A Universidade Federal de Gois (UFG) foi contem-plada e, desde o incio de 2014, oferece dez mil vagas para este curso.

    Oferecido gratuita-

    mente na modalidade en-sino a distnica (EaD), o curso tem a misso de au-xiliar as polticas pblicas para o enfrentamento do uso de drogas por crianas e adolescentes em situa-o de vulnerabilidade. As aulas capacitam professo-res, orientadores educacio-nais, assistentes sociais, agentes do conselho tute-lar e do Ministrio Pblico, envolvendo-os em aes voltadas para a preveno, promovendo e ampliando a participao comunitria. A coordenadora do projeto na UFG e professora da Facul-dade de Educao (FE) da instituio, Marilcia Lago, revela a importncia dessa iniciativa no cenrio atual das periferias das grandes cidades. O que se percebe que as escolas com maior ndice de ocorrncias poli-ciais, devido ao uso de dro-gas, esto nas periferias. A escola se sente impotente e apela para fora policial. preciso direcionar essa e ou-tras polticas pblicas para essas reas, destacou.

    Em parceria com o

    Estado de Gois, a UFG se juntou h outros seis Insti-tutos de Educao Superior (IES) que j desenvolvem o curso em seus respectivos Estados. Os 70 mil profis-sionais que se inscrevem anualmente, garantem cer-tificado de 180 horas como benefcio. Alm disso, Ma-rilcia Lago tambm des-tacou a compreenso que pode ser obtida por meio das aulas. O educador que faz o curso obtm uma compreenso contextua-lizada da vulnerabilidade, dos riscos, dos fatores pol-ticos e sociais que levam ao uso dessas substncias, relatou.

    Opinio dos cursistas A professora Snia Costa atua na alfabetizao de crianas no Centro de En-sino e Pesquisa Aplicada Educao (Cepae) da UFG. Ela fez o curso e relatou que as aulas provaram que ela estava errada sobre EaD. Esse curso cobra o acom-panhamento da apostila e exige que o aluno dedique tempo para as aulas, res-

    saltou. A professora de Ma-temtica, Hlida Ferreira, tambm se surpreendeu com a forma abrangente que as aulas virtuais abor-dam a preveno do uso de drogas. Eu imaginava que ia aprender sobre a parte qumica, sobre maconha e cocana, mas no foi nada disso, foi muito alm do que eu esperava, concluiu.

    O sucesso do curso repercutiu entre os profes-sores do Cepae e muitos outros j esto acompa-nhando o curso que ini-ciou em janeiro deste ano. A professora de Histria, Cinthia Bernardes, que trabalha com famlias de dependentes qumicos, es-pera que as aulas contri-buam para o trabalho que ela executa. Eu j tenho uma viso do que deve ser feito com relao ao uso de drogas e espero que o cur-so confirme ou descontrua o meu conceito, relatou a professora.

    Estruturado em cinco mdulos, o curso Preven-o do Uso de Drogas para Educadores de Escolas P-blicas oferece uma etapa obrigatria terico-meto-dolgica de 120 horas, nos quatro primeiros mdulos, e uma etapa opcional prti-ca de 60 horas. Esse ltimo mdulo feito de forma co-letiva em parceria com ou-tros educadores que atuem na mesma escola e que es-tejam frequentando as au-las de EaD. Essa parte pr-tica foi muito interessante. Discutimos juntos e na dinmica que traamos os caminhos a serem percorri-dos, destacou a professora de alfabetizao do Cepae, Snia Costa. A coordenado-ra, Marilcia Lago, acredita que o mtodo de dinmica coletiva pode ser adotado em outras esferas educacio-

    nais. Os agentes do Minis-trio Pblico, por exemplo, tambm desenvolvem pro-jetos coletivos. Essas aes de preveno desenvolvidas devem ser aplicadas na so-ciedade.

    O curso ofereci-do por meio do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) na Plataforma Moo-dle, com apoio de apostila e DVD. As atividades de aprendizagem contribuem para o desenvolvimento gradativo de preveno do uso de drogas, por meio da interao e da colabora-o entre cursistas de uma mesma escola e turma. O acompanhamento garan-tido em todo o percurso e realizado por educadores- tutores. Cada tutor acom-panha uma turma com cem educadores-cursistas, em geral, de um mesmo local.

    Durao do curso: 6 meses Carga horria: 180 horas Certificao: Todos os alunos recebem um certificado de concluso ao final do curso.Servio: Faculdade de Direito da UFG. Piso Superior, Sala 03, Praa Universitria, Goinia Telefones: (62) 3209-6517 / 3209-6518

    Quem pode se inscrever?

    Estudantes de graduao e ps-graduao,Professores e profissionais da rede pblica de ensino (municipal, estadual ou federal),Conselheiros TutelaresProfissionais do Sistema nico de Sade,Profissionais que desenvolvem projetos de preveno,Profissionais que trabalham com crianas e adolescentes.

    Coordenadora do Programa na UFG, professora Marilcia Lago apresenta a apostila do curso

    Professores participantes do curso a distncia confeccionam, em parceria com os alunos, cartazes de conscientizao

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  • 14 VIDA ACADMICAJornal UFG Goinia, abril 2015

    Ncleo de Lnguas incrementa ensino

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    Com atuao mais ampla, o Nucli/ UFG visa contribuir com o ensino de idiomas estrangeiros nas escolas pblicas e com as polticas pblicas

    de internacionalizao da educao superior

    Silvnia Lima

    O Ncleo de Lnguas (NucLi) do Programa Idiomas sem Fronteiras na UFG, alm de oferecer cursos presenciais de lngua inglesa, credenciado como centro aplicador do exame Test of English as a Foreign Lan-guage (TOEFLiTP) e oferece aplicaes gratuitas do exame ao longo do ano. Nos ltimos dois anos foram aplicados mais de quatro mil testes na comunidade universitria.

    Sob a coordenao geral da professora Maria Cris-tina Faria Dalacorte Ferreira e a coordenao pedaggica de Eliane Carolina de Oliveira, ambas da Faculdade de Le-tras, os cursos presenciais ofertados no NucLi/UFG abor-dam reas especficas, como o desenvolvimento de habili-dades orais (compreenso oral e conversao), habilidades escritas (ingls acadmico) e turmas de preparao para o TOEFL. Com cargas horrias diversas (16h, 32h, 48h ou 64h), os cursos so ofertados ao longo dos semestres leti-vos e nos perodos de frias.

    Para ingressar nos cursos presenciais necess-rio realizar o TOEFL, inclusive como forma de registro e avaliao do nvel do candidato. Vrias datas so ofereci-das para o teste neste primeiro semestre de 2015. O en-dereo para efetuar inscrio pela internet o seguinte: http://isfaluno.mec.gov.br

    Alm da possibilidade de ofertar outros idiomas, o Programa Idiomas sem Fronteiras, institudo pela Portaria n. 973, de 14 de novembro/2014, traz outra novidade: a extenso dos servios de formao e capacitao em idio-mas para servidores docentes e tcnico-administrativos das Instituies de Educao Superior (IES), bem como para professores de idiomas da rede pblica de educao bsica, alm da capacitao de estrangeiros em lngua por-tuguesa. O Nucli/UFG aguarda edital especfico para lan-ar turmas de Espanhol e Francs.

    Com o apoio dos Ncleos de Lnguas, o Programa Idiomas sem Fronteiras incentiva o aprendizado de lnguas e proporciona oportunidades de acesso, por meio do Ci-ncias sem Fronteiras e outros programas de mobilidade estudantil, a universidades de outros pases.

    ServioO Nucli/UFG funciona nas dependncias da Fa-

    culdade de Letras, na sala 83 do Bloco Bernardo lis, no Cmpus Samambaia.

    Para mais informaes: Site: https://inglessemfronteiras.letras.ufg.brEmail: [email protected]

    Bolsa de Estudos na ItliaO Centro de Lnguas da Faculdade de Letras da UFG informa que esto

    abertas as inscries para concorrer a uma bolsa de estudos em Lngua e Cultura Italiana. A bolsa de estudo de 899 e o curso ter quatro semanas de durao. A seleo ser realizada por meio de sorteio no dia 30 de abril, s 10 horas, no miniauditrio da Faculdade de Letras. Para se inscrever necessrio preencher o formulrio de participao e envi-lo, assinado, para o e-mail: [email protected]. Os candidatos no necessitam ter domnio da lngua italiana, mas a passagem de ida e volta da Itlia dever ser custeada pelo estudante.

    Bolsas Luso-Brasileiras Santander Universidades

    Esto abertas, at o dia 10 de maio, as inscries para a pr-seleo de estudantes de graduao da UFG para realizao de intercmbio acadmico em universidades portuguesas no segundo semestre de 2015. So oferecidas quatro bolsas no valor de R$ 10.587,06. O processo de seleo ser realizado por uma comisso indicada pela Coordenadoria de Assuntos Internacionais (CAI) da UFG, sendo que fica a critrio da universidade de destino a aceitao dos candidatos pr-selecionados.

    Bolsas Ibero-Americanas Santander Universidades

    Graduandos da UFG podem se inscrever at o dia 10 de maio para a pr-seleo de estudantes com interesse em realizar intercmbio acadmico em universidades da Argentina, Colmbia, Espanha, Mxico, Portugal e Uruguai. O Programa de Bolsas Ibero-Americanas Santander Universidades oferece cinco oportunidades para intercmbio no segundo semestre de 2015, com bolsas de R$ 9.624,60. Entre outros requisitos, os candidatos a intercmbio em instituies que no sejam portuguesas, devem ter conhecimento da lngua espanhola em nvel intermedirio (Espanhol B1), comprovado por meio do certificado Diploma de Espaol como Lengua Extranjera(Dele), ou Certificado de Espaol: Lengua y Uso (Celu), ou ainda declarao de aprovao em teste de proficincia promovido pela UFG nos dias 23 e 24 de abril, que avalie a compreenso e expresso escritas e orais em nvel intermedirio.

    Equipe do NucLi participa de 1 Encontro Nacional do Programa Idiomas sem Fronteiras

  • 15

    Tradicionalmente, os museus sempre foram conhecidos a partir de seu meio fsico, possuindo acervos materiais e visitantes. Com o surgimento da internet, os museus passaram a existir tambm no meio virtual, tendo a oportunidade de al-canar um maior pblico. Porm, essas instituies esto passando por alguns pro-blemas, como a falta de investimento e o interesse do pblico por outras formas de lazer. Na tentativa de solucionar esses pro-blemas, tem-se a possibilidade de usar trs ferramentas: a internet, a Publicidade e as Relaes Pblicas.

    A internet uma ferramenta essen-cial, uma vez que a juno dos meios fsico e digital promissora. Muitas pessoas ob-tm conhecimentos histricos por meio de sites de pesquisa, e os museus encontra-ram no meio digital uma forma de entrar em contato com o pblico de maneira dinmica e direta. A ampliao do contato com o se-tor do turismo aumenta as expectativas de visitas, j que muitos visitantes so estimu-lados, aps terem contato com imagens na internet.

    Alm disso, ainda que no seja poss-vel para o visitante ir at o meio fsico, sua visita via internet importante. De qualquer lugar do mundo, uma pessoa pode interpre-tar o contedo do site e contribuir para re-avivar a existncia do museu, por meio de comentrios e compartilhamentos.

    Quanto Publicidade, ela divulga e atrai a ateno do pblico. Afinal, devido falta de comunicao, muitas pessoas no sabem da existncia e do contedo de alguns museus. Assim, as visitas ficam restritas

    Museu: Quais as ferramentas para superar as dificuldades atuais?

    Lana de Arajo Gomides* Marina Roriz Rizzo Lousa da Cunha **

    ARTIGO COMUNIDADE PERGUNTA

    Por que h poucas vagas para graduao em Msica?

    Pergunta feita pelo vestibulando Eudine Ramalho, de Goinia.

    Ana Guiomar Rgo Souza, Diretora da Escola de Msica e Artes Cnicas (EMAC)

    Os cursos de Msica - Bacharelado e Msica - Licenciatura em Instrumento Musical e Canto, da Universidade Federal de Gois (UFG), oferecem um nmero menor de vagas em seu processo seletivo devido s especificidades desses cursos. As vagas ofertadas para Msica - Bacharelado so divididas nas habilitaes Canto, Composio, Regncia e Instrumentos Musicais. A habilitao Instrumen-tos Musicais ainda se subdivide nas seguintes op-es de instrumentos: Piano, Violo, Violino, Viola, Violoncelo, Contrabaixo, Flauta Transversal, Cla-rineta, Trompete, Trombone e Percusso. As aulas de instrumentos musicais so prticas e indivi-duais, com vistas a um adequado acompanhamen-to, orientao e preparao dos estudantes.

    Com exceo do piano, os demais instru-mentos musicais contam apenas com um profes-sor. Alm das aulas individuais e de canto, cada docente se responsabiliza por outras disciplinas e Trabalhos de Concluso de Curso. Sendo assim, se a cada ano um professor oferecer duas vagas, no ciclo de quatro anos ele ter oito alunos, os quais correspondem no mnimo, por semana, a 8 horas de aulas individuais de instrumento ou canto, mais 2 horas de aulas coletivas em Formao de Reper-trio, outras 2 horas de aulas em Literatura e Re-pertrio e 4 horas de Msica de Cmara ou Prti-ca de Orquestra, o que equivale aproximadamente a um total de 16 horas semanais s na graduao.

    Vrios desses docentes tambm ministram aulas na Ps-Graduao, alm dos que atuam em aes de pesquisa e extenso. A oferta de vagas deve acompanhar a carga horria estabelecida e, para que a EMAC oferea mais vagas, seria neces-srio a contratao de mais professores.

    O curso de Msica - Licenciatura nas habi-litaes Instrumento Musical e Ensino de Canto, apresenta a mesma estrutura do Bacharelado para o preenchimento de suas vagas. Para ingressar nos cursos de Msica, o candidato deve participar do Sistema de Seleo Unificada (SISU) e, sendo apro-vado, realizar o teste de Verificao de Habilidades e Conhecimentos Especficos (VHCE) como ltima fase do processo de seleo.

    UNIVERSIDADEJornal UFG Goinia, abril 2015C

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    aos estudantes de Museologia e intelectuais. Cabe, portanto, a publicidade promover o contato entre o museu e o pblico.

    J as Relaes Pblicas contribuem ao fazer parcerias e conseguir patrocnios, alm de conquistar uma aproximao maior jun-to ao pblico. Dessa forma, o museu conse-gue recursos financeiros para ser divulgado, conservado e at realizar eventos (tambm organizados com a ajuda dos profissionais de Relaes Pblicas), atraindo um pblico maior. O profissional dessa rea tambm tem facilidade de interpretar as necessidades tan-to dos museus quanto de outras instituies, rgos e possveis parceiros, fazendo com que as parcerias (como divulgaes, realizao de eventos, entre outros) sejam altamente posi-tivas para ambos os lados. Tal ferramenta essencial para melhorar a imagem do museu (que deve ser cada vez mais intensificado de-vido ao uso recorrente da internet) e criar vn-culos duradouros com a mdia.

    O museu uma instituio importan-te e mais pessoas precisam ser estimuladas a frequent-lo, virtual e pessoalmente. Por meio das trs ferramentas apresentadas, possvel que o museu contorne as dificulda-des enfrentadas, fazendo com que as pes-soas fiquem mais interessadas em frequen-t-lo. Por ser uma instituio de grande importncia, ele deve estar sempre atento s mudanas e s eventuais dificuldades que estas trazem. Afinal, se o museu parar, a histria no ser to bem contada para as geraes futuras.

    * Lana de Arajo Gomides (Auto-ra) Marina Roriz Rizzo Lousa da Cunha (Orientadora)

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    Nesta seo, a comunidade acadmica pode tirar suas dvidas sobre a universidade (bolsas, projetos, funcionamento da instituio, etc). Mande suas perguntas para o email [email protected]

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  • O lbum em quadrinhos BioCy-berDrama Saga, com roteiro de Edgar Franco e arte de Mozart Couto, publica-do pela Editora UFG em 2013, foi o nico representante goiano indicado ao Trofu HQmix 2014, considerado o Oscar dos quadrinhos brasileiros. Alm do reco-nhecimento dado pela indicao, Edgar Franco considera uma grande conquista ter conseguido que a Editora UFG pu-blicasse esse trabalho dentro da coleo Artexpresso, dedicada exclusivamente a livros de arte. Segundo ele, at aquele momento, nenhuma editora de universi-dade federal tinha publicado uma hist-ria em quadrinhos nesses moldes.

    A histria de BioCyberDrama Saga se passa na Aurora Ps-humana, universo ficcional transmdia criado por Edgar Franco, que inclui cerca de cem personagens e discute as interaes do ser humano com as novas tecnologias e as possibilidades futuras da biotecnolo-gia, robtica e nanotecnologia. O lbum traz ainda, 50 pginas de introduo, discorrendo sobre os 13 anos de pesqui-sa que resultaram na criao da obra.

    16 ARTEJornal UFG Goinia, abril 2015

    Uma vida dedicada arte dos quadrinhosO artista e professor Edgar Franco, da Faculdade de Artes Visuais, tem atrado alunos de todo o pas interessados em estudar as histrias em quadrinhos como forma de arte

    Anglica Queiroz

    Ainda criana, o professor da Faculdade de Artes Visuais (FAV), Edgar Franco, tornou-se um apaixonado por quadrinhos e foi com os gibis que seu pai comprava para ele na nica banca de Ituiutaba, cidade mineira onde nasceu, que ele aprendeu a ler. A paixo s cresceu e, ainda na adolescncia, ele se tor-nou tambm criador de quadrinhos, publicados em fanzines (do ingls fa-natic magazines, so publicaes fei-tas por e para as pessoas que gostam de um determinado tema em comum) de todo o pas.

    Hoje, Edgar Franco professor do Programa de Ps-graduao em Arte e Cultura Visual da FAV, onde coordena o grupo de pesquisa Cria_Ciber, e j pu-blicou dezenas de artigos e livros dedica-dos s suas pesquisas sobre histrias em quadrinhos, processos criativos e univer-sos ficcionais transmdia. O professor o responsvel por colocar a UFG como refe-rncia nacional no estudo dos quadrinhos como arte, recebendo alunos de mestrado e doutorado de todo o pas interessados em se aprofundar na temtica. Antes era difcil imaginarmos um programa de ps--graduao em artes que envolvesse pes-quisas sobre quadrinhos, como fazemos hoje aqui na UFG, comemora.

    Uma das grandes lutas do pes-quisador para acabar com o precon-ceito de que quadrinhos so coisa de criana. O foco de seu trabalho e do de seus orientandos so os quadrinhos au-torais, que exploram a linguagem das HQs como uma forma de expresso artstica, diferente dos comerciais, que tm como inteno atender demandas do mercado de entretenimento. Eu de-fendo os quadrinhos como uma genuna e poderosa forma narrativa de expres-so artstica, explica Edgar Franco.

    Desde 1996, Edgar Franco de-senvolve uma pesquisa pioneira no mundo sobre os quadrinhos na inter-net, que resultou no lanamento do li-vro HQtrnicas: do suporte papel rede Internet, com duas edies publicadas. O livro tornou-se referncia nacional e j foi citado em mais de cem pesquisas em todo o pas, entre artigos cientficos, trabalhos de concluso de curso, mes-trado e doutorado.

    O termo HQtrnicas, que j est sendo considerado em livros didticos, foi criado pelo professor para nomear os quadrinhos que incluem novos elemen-tos, como sons e trechos animados. Ou-tro termo novo, que tambm j comeou a ser utilizado por artistas e outros pes-quisadores, o neologismo HQforismo, criado em parceria com a professora Danielle Barros (Fiocruz/ RJ) e usado para denominar uma nova forma narra-tiva que une elementos dos quadrinhos s sentenas aforsticas.

    Posthuman TantraEdgar Franco ainda o mentor de um projeto musical performtico onde leva os quadrinhos e seu universo ficcional para o palco: a banda Posthuman Tantra, com CDs lanados na Sua, Frana e Japo e com fs em vrios pases do mundo. As apresentaes ao vivo contam com a participao dos integrantes de seu grupo de pesquisa, envolvendo inclusive orientandos de mestrado e doutorado, que criam figurino, vdeos e efeitos computacionais utilizados para transformar Edgar Franco, no palco, em personagens dos quadrinhos de sua Aurora Ps-humana.

    As msicas em ingls e portugus, que muitas vezes lembram a trilha sonora de filmes de horror, so produzidas com a ajuda de sintetizadores e falam desse admirvel mundo novo baseado na fuso entre DNA e silcio, com novas criaturas que mixam humano, animal, vegetal e mquinas. A banda j esteve em quatro regies do Brasil e costuma se apresentar em eventos acadmicos, assim como em festivais de msica alternativa, como o Goinia Noise.

    Apaixonado por quadrinhos, professor defende valor artstico dessa forma de expresso

    HQtrnica inclui sons e trechos animados

    Trabalho foi o nico representante goiano no Oscar dos quadrinhos

    Performances levam o universo dos quadrinhos ao palco

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    HQmix

    HQtrnicas e HQforismos