jornal do teatro #10

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JORNAL DO TEATRO MARÇO DE 2007 ^ MENSAL PUBLICAÇÃO GRATUITA A FILHA REBELDE Tudo por uma paixão: Cuba e Che Guevara B. B. BESTAS BESTIAIS no mundo dos reality-shows GOLDONI nasceu há 300 anos 10

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O Jornal do Teatro surgiu da vontade de experimentar, criar e dar espaços, a quem partilha o gosto pelo teatro. Das reflexões clássicas, à problemática da contemporaneidade, o Jornal do Teatro, do Teatro Nacional D. Maria II teve como principal alvo a reflexão sobre os tempos, que se mudam e evoluem e que, em última instância, são testemunhos ricos de cada época. De 2006, 2007 e 2008, período em que foi publicado, fez-se o retrato breve de uma ‘casa da cultura’ que é, antes de mais, uma casa aberta à sociedade e ao mundo.

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A FILhA REBELDE Tudo por uma paixão: Cuba e Che Guevara

B. B. BESTAS BESTIAIS no mundo dos reality-shows

GOLDONI nasceu há 300 anos

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Um Teatro Que Fala do Nosso Tempo

Depois do projecto “A Casa da Lenha” onde revisitámos a obra e a vida de Fernando Lopes Gra-ça, experiência que pensamos bem sucedida, a nossa História mais recente volta a ocupar a cena do Nacional. Desta vez com uma história que pensávamos não poder acontecer no Portu-gal de Salazar, a história utópica e uma filha rebelde do regime, Annie Silva Pais, que abandona o estatuto, com todas as como-didades e as mordomias, que o facto de ser filha do Director da polícia política do regime lhe dá, para ficar em Cuba e abra-çar a revolução que então muita gente acreditava estar a nascer.Uma história “descoberta” pe-los jornalistas do Expresso José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz, com versão de Margarida Fonseca Santos e dramaturgia e encenação da espanhola Helena Pimenta, também ela filha de um português, no que nos per-mite ir um pouco mais ao fundo do nosso passado recente, de-safio que desde o início nos pro-pusemos assumir.

Com a estreia de “A Filha Re-belde” damos início a um ciclo de espectáculos que abordam vários períodos da nossa Histó-ria, ciclo que terá continuidade com a estreia na Sala Estúdio do espectáculo “ B.B. Bestas Bes-tiais”, com o qual reflectimos sobre o efeito devastador que os “reality-shows” têm sobre as nossas vidas. Este trabalho, que assinala a estreia do actor José Neves na encenação, tem um elenco respeitável, onde desta-camos a presença de João Reis, actor que dará corpo a um ma-léfico Dj que se entretém a ma-nipular os outros num jogo onde não poderá haver vencedores. Um ciclo que terá continuidade em Abril com a estreia de uma adaptação do romance “Vinte e Zinco” de Mia Couto e da peça “As Longas Férias Com Oliveira Salazar” do autor extremenho Mediero.

Os clássicos continuam a ter um lugar de excelência na nos-sa programação, como o prova a apresentação de “Criadas para Todo o Serviço”, de Goldoni, em co-produção com o CENDREV e o Teatro dos Aloés, com o qual iniciámos uma programação comemorativa do tricentenário do nascimento do dramaturgo italiano. É também com esta peça que iniciámos as edições do Teatro Nacional.

Carlos Fragateiro

José Manuel Castanheira

DIreCção> Carlos Fragateiro e José Manuel CastanheiraCoorDeNação eDITorIal> a. ribeiro dos SantosreDaCção> a. ribeiro dos Santos, Margarida Gil dos reis, ricardo PaulouroDoCUMeNTação> andré CamecelhaGraFISMo> Nuno PatrícioFoToGraFIa> Margarida DiasProPrIeDaDe> TNDM II, SaIMPreSSão> Mirandela artes Gráficas

CaPa> Margarida DiasaGraDeCIMeNToS> Gérard Castello-lopes

ficha técnica

edito

rial

João lagarto recebe Prémio da CríticaA Associação Portuguesa de

Críticos de Teatro atribuiu o Prémio da Crítica relativo ao ano de 2006, ex-aequo à actriz Maria João Luís e ao actor João Lagarto, pelas suas interpretações, respectivamente, no espectáculo “Stabat Mater”, dos Artistas Unidos, e “Começar a Acabar”, uma co-produção entre o Teatro Nacional D. Maria II, os Cró-nicos Associação Cultural e o ACE – Teatro do Bolhão. O espectáculo, baseado num texto de Samuel Be-ckett, estreou-se na Sala Estúdio do Nacional, seguindo posterior-mente para o Porto, onde fez car-reira no Teatro do Bolhão.

notíc

ias

luiz Francisco rebello homenageado no Teatro NacionalA propósito da estreia de “Pe-

quenos Crimes Conjugais”, de Eric-Emmanuel Schmitt, no Teatro Nacional D. Maria II, a direcção ar-tística do Nacional homenageou o tradutor da peça, o teatrólogo Luiz Francisco Rebello, descerrando uma placa com o seu nome na pa-rede do Salão Nobre. Na ocasião, Luiz Francisco Rebello lembrou a sua relação com a casa onde, aos sete anos, decidiu dedicar a sua vida ao teatro. Em 1943, veria a sua peça “A Lição do Tempo” ser levada à cena na Sala Garrett, com interpretações de Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho, sob a direcção de Ribeirinho, e, em 1952, o seu “O Dia Seguinte” seria proibido pela censura no ensaio geral. A peça acabaria por estrear, em 1963. Em 1956, a sua peça “Alguém Terá de Morrer” subiu ao palco do Teatro Nacional com interpretações de Palmira Bastos, Amélia Rey Co-laço, Carmen Dolores e Rogério Paulo, entre outros.

Concertos de Música erudita no ÁtrioNos dias 13, 14 e 15, a Orquestra Metropolitana de Lisboa passará pelo

Átrio do Teatro Nacional para interpretar, sempre a partir das 19h00, algumas das peças mais significativas do repertório mundial de música erudita. No dia 13, o trio de oboés Trio Pasculli (constituído por David Costa, Salvador Paro-la e Sérgio Xavier) interpreta obras de Lino Vidal Guerreiro, Beethoven, Paul Harris e Gordon Jacob.

No dia 14, os músicos Bertrand Raoulx (fagote), Alexei Tolpygo (violino), Je-rôme Arnouf (trompa) e Marcos Magalhães (cravo) tocam peças de Carl Hein-rich Graun (“Trio para Trompa e Fagote”), Carl Stamitz (“Trio em Mi B Maior”) e Giovanni Punto (“Seis Quartetos Concertantes”, Op. 1, Vol. 1).

Finalmente, a 15, o trio formado por Jorge Camacho (clarinete), Franz Ort-ner (violoncelo) e Joana Gama (piano) toca Johannes Brahms (“Trio para Cla-rinete, Piano e Violoncelo”, Op. 114), Robert Schumann (“Adágio” e “Allegro”) e Alexandre Delgado (“Langará, para Clarinete Solo”).

“Maria” a rodar pelas escolas de lisboa e arredoresEstão abertas as inscrições para as escolas interessadas em ver o espectá-

culo “Maria”, uma reflexão contemporânea sobre a (in)capacidade dos nossos jovens de comunicarem, numa era em que o telemóvel e o computador pes-soal permitiram, a cada um, conviver com muita gente de uma forma apenas virtual. O espectáculo, que se desloca às escolas mediante marcação prévia (tel. 21 325 08 61), tem uma forte componente visual, sendo o cenário domina-do por uma encantatória “máquina do tempo”. Um projecto de Miguel Moreira, do Útero, em co-produção com o Teatro Nacional D. Maria II.

lançamento de peças na livraria do Teatro e DvD da Comédie Française

Para assinalar mais um Dia Mundial do Teatro, que se come-mora no próximo dia 27, o Tea-tro Nacional D. Maria II vai editar duas peças de teatro: “Vermelho Transparente”, de Jorge Guima-rães, e “B.B. Bestas Bestiais”, de Virgílio Almeida. Entretanto, já estão disponíveis, na Livraria do Teatro, DVD’s da Comédie-Fran-çaise: grandes textos dirigidos por alguns dos maiores encenadores contemporâneos que têm passado por aquela companhia mítica de Paris.

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Se é possível balizar o jorna-lismo, o trabalho de José Pedro Castanheira e de Valdemar Cruz enquadra-se talvez naquilo que definem de “jornalismo de inves-tigação de carácter histórico”. Definições à parte, o seu percur-so enquanto jornalistas mudou inesperadamente de rumo quan-do, em Agosto de 1999, entre-vistaram, em colaboração com a jornalista Luísa Meireles, para a revista do jornal “Expresso”, o embaixador Gonzaga Ferreira. “Gonzaga Ferreira estava em Ha-vana, na qualidade de embaixador de Portugal, precisamente na al-tura em que a filha do major Silva Pais decidiu romper com o pas-sado e abraçar de alma e cora-ção a revolução cubana, na altura ainda numa fase mais ou menos utópica. O embaixador e a esposa acompanharam de perto todo o drama de Annie – e disso nos deu conta na referida entrevista. No fim da entrevista, ao sairmos da casa do embaixador, percebemos logo que estava ali uma história absolutamente sensacional.”

Reconstituir o percurso de al-guém é também o querer contar a verdade, correr atrás dela ou não se alimentasse o jornalismo de investigação, no entender de Val-demar Cruz, “da curiosidade do

jornalista e da sua capacidade de questionar permanentemente os factos”. Seguiram-se, pois, três anos de investigação, repletos de viagens a Cuba, à Suiça, a vários locais em Portugal, somadas aos múltiplos contactos nos Estados Unidos, México e Brasil. A ver-dade corre veloz mas José Pe-dro Castanheira e Valdemar Cruz estenderam-lhe as mãos e, em 2002, a sua reportagem – «Annie Silva Pais – A Filha Rebelde» – foi distinguida com o Grande Prémio Gazeta, atribuído pelo Clube de Jornalistas.

A história, aparentemente pincelada por um toque de dra-ma familiar, contagia através da energia inesgotável de Annie Silva Pais, “uma força da natureza”, no entender de José Pedro Casta-nheira, “com uma coragem as-sombrosa, que a levou a ser capaz de mudar de vida. Ela foi capaz de fazer aquilo que quase todos nós ambicionámos, ou sonhámos, ou desejámos fazer pelo menos uma vez na vida – sem termos tido a for-ça interior, a coragem, a ousadia, a determinação que isso requer”. A filha do último director da PIDE coloriu a sua cinzenta existência, ou não fosse ela “uma mulher apaixonada e porventura exces-siva em todas as suas paixões”.

Educada no seio da burguesia lisboeta e casada com um diplo-mata suíço destacado em Havana, Annie troca as mordomias pelas ideias. José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz seguiram-lhe o rasto, contactaram todos os que quiseram partilhar as suas me-mórias, tiveram acesso ao arquivo dos familiares de Annie, onde se destaca o diário da mãe Arman-da Silva Pais, a arquivos oficiais como os arquivos Salazar, PIDE/DGS, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Arquivo Históri-co-Militar e foram a Cuba.

Uma viagem recebida com entusiasmo pelo embaixador de Cuba em Portugal mas sem a resposta desejada: “Era uma situação complexa, já que, por princípio, nenhum jornalista pode trabalhar em Cuba sem possuir a respectiva acreditação. Decidimos arriscar”. Um risco que lhes valeu o encontro com pessoas que aju-daram a reconstituir esta história, entre elas a costureira Melly Lo-pez, “uma fascinante personagem de romance”, de quem guardam boas recordações. O tempo pre-gou-lhes algumas partidas, como a impossibilidade de recolherem o testemunho da mãe e da filha: “Annie morrera na madrugada de 13 de Julho de 1990, vítima de do-

ença incurável. Tinha apenas 54 anos. A mãe morreu com 89 anos, apenas umas semanas antes de termos decidido contactá-la.”

Feita também das memórias individuais de todos os que en-contraram, esta reportagem, publicada já em livro, é um con-tributo para a História, ou não fosse a História, como salienta José Pedro Castanheira, compos-ta por várias pequenas histórias. “E é nessa história mais pequena que entra o jornalista, enquan-to, se quisermos, especialista da chamada história oral”. Histórias feitas de recordações, sentimen-tos, contradições que, por vezes, escondem a sua grandeza.

Agora, após esta adaptação a teatro que sobe ao palco do Teatro Nacional, talvez só falte a 7ª arte “porque a verdade é que adaptar uma história destas ao teatro é seguramente muito mais difícil do que transpô-la para o ecrã.” A vida de Annie continuará certamente a fazer correr muita tinta porque, como resume Valdemar Cruz, “é a partir de gente como Annie que o mundo, em vez de se transformar num lago de águas estagnadas, é um constante fervilhar de ideias e mudanças”. Insondáveis e inespe-rados são os caminhos da vida.

O acaso marcou-lhes encontro com a história de Annie Silva Pais. Nesse momento, os jornalistas José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz perceberam que estavam perante um tema sensacional. Dedicaram-lhe três anos e desse mergulho no passado nasceu aquele que é um dos melhores trabalhos jornalísticos da última década Margarida Gil dos Reis

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Estreia a 15 de Março> A Filha Rebelde>

“Ela foi capaz de fazer

aquilo que quase todos nós ambicionámos, ou sonhámos, ou desejámos fazer pelo me-

nos uma vez na vida –

sem termos tido a força

interior, a coragem, a ousadia,

a determinação que isso requer”

A FilhaRebelde: “Uma vida que dava um filme”

Perfil dos autoresJornalistas do “Expresso” assinaram, em co-autoria, “A Filha Rebelde”, com a chancela da Temas e Debates. José Pedro Castanheira (à esq.) é profissional desde 1974, tendo colaborado com o matutino “A Luta” e o semanário “O Jornal”, e tem-se dedicado à grande reportagem sobre a História recente de Portugual e das ex-colónias. Um trabalho reconhecido com vários prémios de jornalismo. Valdemar Cruz iniciou a sua activi-dade em “O Diário” e tem colaborações dispersas por várias publicações nacionais e estrangeiras.

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A equipa luso-espanhola respon-sável pelo espectáculo – cenó-grafo, figurinista, coreógrafa e director musical – explica como se inspirou para criar um trabalho que quer encantar o público do Teatro Nacional A. Ribeiro dos Santos

“No mesmo cenário há uma parte pictórica, viva, que nos

remete para a Havana dos anos 60, e outra, de ambientes

mais discretos, que lembram a Lisboa da mesma época”

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Nos bastidores do teatro, criadores explicam

Inspirado numa história verídi-ca, a acção de “A Filha Rebelde” decorre entre dois países sepa-rados pelo Oceano Atlântico, a partir dos finais da década de 50 e durante 30 anos de vida de An-nie Silva Pais, a filha do último director da PIDE. Ao longo de 37 cenas curtas, que ora decorrem em espaços públicos ora em gabi-netes fechados, entre o Portugal cinzento de Salazar e a Cuba colo-rida e eufórica de Che Guevara, os criadores tiveram pela frente uma tarefa não isenta de dificuldades. Ao Jornal do Teatro, explicaram como enfrentaram – e ultrapas-saram – os obstáculos.

O cenógrafo, José Manuel Cas-tanheira, diz que a primeira preo-cupação foi a de criar “um espaço fortemente simbólico e passível de aglutinar dois universos dis-tintos – como o eram Portugal e Cuba de então”. “O espaço tinha de ser suficientemente neutro e capaz de mostrar, ao mesmo tem-po, várias atmosferas diferentes através da cor e da iluminação.” Assim, no mesmo cenário há uma parte pictórica, viva, que nos re-mete para a Havana dos anos 60, e outra, de ambientes mais dis-cretos, que lembram a Lisboa da mesma época. “Serão os jogos de luz e de sombra que marcarão a separação entre os dois mundos”, remata.

Para a figurinista Ana Garay,

que trabalha pela segunda vez em Portugal, o problema era seme-lhante… E a solução, aproximada-mente a mesma. Admiradora con-fessa de Helena Pimenta, diz-nos que já nem sabe de quem partiu a ideia de vestir as personagens portuguesas apenas com brancos, negros e cinzentos... “Acho que foi uma decisão conjunta: minha e da Helena. De qualquer forma, a lei-tura é óbvia: queremos mostrar, através da cor, que o ambiente em que se vivia era repressor e de normas muito severas. Pelo con-trário, Havana, que vivia em pleno bulício revolucionário, está cheia de cores vivas e alegres”, diz a criadora.

Sobre o famoso vestido ver-melho que Annie leva ao baile – e com o qual terá supostamen-te encantado Che Guevara, num encontro ficcionado pela peça de Margarida Fonseca Santos – Ana Garay diz que foi um prazer criar um figurino para Ana Brandão. “É uma actriz com características físicas muito particulares… A An-nie Silva Pais era uma mulher de curvas generosas e de grande ca-pacidade sedutora. A Ana, sendo uma mulher menos exuberante, nem por isso é menos atraente… Trabalhei na criação de um vesti-do que desse à actriz uma figura feminina, mais sofisticada do que aquela a que está acostumada e vai ser uma surpresa.” Fundamental, também, para o

espectáculo de Helena Pimenta, é a música e a coreografia, respecti-vamente a cargo de João Cabrita e de Nuria Castejón. O músico – que assume aqui a função de director musical (depois de se ter estrea-do em teatro no espectáculo ‘Tor-dos à Deriva’, do Grupo de Teatro Terapêutico) – diz que, na banda sonora de “A Filha Rebelde”, há muito pouco de criação original.

Quase tudo são adaptações de música popular cubana e de can-tigas da Revolução. “É uma área que me agrada muito, senão não teria aceite este convite”, explica ao Jornal do Teatro. “E, depois, tem o aliciante extra de ser muito desafiante. A música cubana, ao contrário do que possa parecer, é extremamente difícil de tocar, so-bretudo para nós, que não somos cubanos e que não temos cultura

rítmica quase nenhuma.”O saxofonista e também “com-

positor por encomenda” (traba-lha na área do jazz, da pop e da electrónica), alerta para o facto de praticamente não haver músi-ca nas partes do espectáculo em que a acção decorre em Portugal. “Que música é que podia haver quando Salazar está a falar com Rosa Casaco? Não, Portugal não era nada musical naqueles tem-pos”, conclui.

Quanto a Nuria Castejón, que assina a coreografia do espectá-culo, diz-se encantada com o tra-balho dos actores portugueses. “Aceitei este convite, primeiro por-que queria voltar a trabalhar com a Helena Pimenta – com quem me entendo muito bem profissional-mente – e depois porque era uma nova oportunidade para trabalhar com os artistas portugueses”, ex-plica-nos, ela que no ano passado fez “O Barbeiro de Sevilha” no Te-atro Nacional de São Carlos. “Os portugueses deixaram-me uma excelente impressão, que confir-mei agora, na ‘Filha Rebelde’. São educados, disponíveis, têm muito boa energia e recebem bem as in-dicações que se lhes dá”, diz.

Mesmo não havendo dança propriamente dita no espectácu-lo, Nuria explica que, em cena, tudo é movimento. “O trabalho da Helena Pimenta é muito integral e quando fui chamada para traba-lhar aqui não foi para coreografar bailes… Mas para desenhar as transições de cena com música, para definir a atitude corporal dos actores… Com ou sem música. Cada momento deste espectáculo é estudado ao pormenor: desde a palavra ao movimento.”

Como se fez“A Filha Rebelde”

figurino: Ana Garay

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Pelos anos 60, o jovem Fer-nando Rosas era activista do movimento estudantil com uma actividade política clandestina in-tensa que, aliás, o levou à prisão em 1965 e em 1971. Viviam-se anos conturbados face a um re-gime já muito combalido. À crise do período do pós-Segunda Guer-ra Mundial e à campanha para as eleições presidenciais de 1958, com o aparecimento do General Humberto Delgado, sucede-se a explosão do Maio de 62, marca-do pelas manifestações de rua e pela crise académica. O Portugal

amordaçado sai à rua e começa a saborear a sua fugaz liberdade. “O resto dos anos 60 até à morte política de Salazar, em 1968, são anos de agonia”, diz o historia-dor Fernando Rosas. “Espera-se pela morte do regime, do ditador, numa quase velada de armas, numa ânsia de que o seu sucessor resolva a questão central: realizar uma abertura política, encami-nhar economicamente o país para a Europa, descolonizar, acabar com a guerra.” Lisboa, mas tam-bém um pouco por todo o país, é agora uma cidade agitada, onde

o movimento sindical e grevista se expande e o mundo intelectual ergue a voz contra o regime. No entanto, para grande espanto de muitos, o fascínio pela revolução cubana por parte da portuguesa, filha do responsável máximo do aparelho repressivo do regime ditatorial, chegou aos ouvidos de poucos. “De um ponto de vista testemunhal, esse acontecimento passou despercebido às pesso-as da época, foi abafado mesmo junto dos círculos políticos mais activos. Não me lembro sequer que essa história figurasse na im-prensa clandestina.” “Talvez por-que”, confessa Fernando Rosas, “se tratava de um assunto extre-mamente embaraçoso: os amo-res da filha do director da polícia política, amores alegadamente pelo próprio Che Guevara e, de qualquer maneira, pela opção por um regime comunista que a leva-ram a sair de Portugal e a ficar em Cuba, numa manifestação de clara oposição ao regime político de que o pai era um dos principais tutores e defensores”.

O jornalista António Valdemar, com a carteira profissional núme-ro 24, confirma. “Muitos sabiam, na época, desta história no meio jornalístico mas esta notícia fa-zia parte do rol das que não se podiam dar e que eram implaca-velmente cortadas pela censura”. Um fascinante percurso abafado, sobretudo porque Annie era filha de Fernando Silva Pais com quem, aliás, António Valdemar se cruzou profissionalmente várias vezes, nomeadamente quando o Major estava à frente da intendência ge-ral dos abastecimentos.

Tempos difíceis, inclusive em Cuba, onde o regime ditatorial mantinha os cubanos sob um controle muito rigoroso. As re-cordações do ex-diplomata Luís Gonzaga Ferreira dão-nos a co-nhecer uma Annie que se desta-cava pela sua beleza e pela paixão com que abraçava as causas em que acreditava: “Conheci-a logo que cheguei a Havana, em 1963, porque era uma portuguesa ca-sada com um diplomata suíço e porque os pais, quando souberam que tinha sido colocado em Cuba, logo me contactaram para levar à filha livros, roupa e outros objec-tos que lhe eram úteis, dado que havia grande faltas em Havana. Desde que a conhecemos nasceu uma amizade entre nós que se foi aprofundando até à data em que deixámos o país, em 1969.” Ra-

pidamente Annie se aproximou dos revolucionários cubanos e do próprio Che Guevara, desejando sempre o “máximo contacto com a revolução cubana e com várias pessoas, independentemente de serem altas figuras da revolução ou não”. Luís Gonzaga Ferreira ressalva que “Fidel nunca apro-veitou este caso politicamente. Tratou-o com a maior delicadeza diplomática. Ela foi das poucas pessoas a pedir asilo político e não lhe foi concedido para não criar um problema diplomático com a Suiça”. No entanto, ape-sar do afastamento de Portugal, Annie “era uma mulher cheia de contradições. Ela adorava o pai e mesmo estando apaixonada pela revolução cubana jamais levanta-va a voz contra ele”.

“A Annie Silva Pais desequili-brou o âmago do regime”, lembra Fernando Dacosta. “Quando ela parte para Cuba, o Silva Pais co-meça a ser marginalizado dentro da PIDE. Um drama familiar que foi compreendido por Salazar”, confidencia o jornalista. Para os mais curiosos, pode mesmo ler-se no último trabalho do jorna-lista, que já vai na sua 18ª edição, “Máscaras de Salazar”, declara-ções de D. Maria, governanta do presidente do Conselho, a propó-sito desta situação: “[O Major Sil-va Pais], pessoa sensível, sofreu muito com a fuga da filha para Cuba. Acho que a sua influência na polícia diminuiu a partir daí, embora continuasse como seu director […]. O senhor doutor pro-cedia como se nada tivesse acon-tecido, mas entre nós apiedava-se com as aflições do pobre major e desgraçado pai”. Esta é, por isso, uma história que, ao ser adapta-da agora a teatro, comprova, no entender de Fernando Dacosta, que “temos de olhar para este pe-ríodo descomprometidamente. O Eduardo Lourenço costuma dizer que o imaginário do Estado Novo é mais rico do que o imaginário da democracia!”. Quando lhe per-guntamos sobre a importância da figura de Annie Silva Pais, em ter-mos históricos, Dacosta apressa-se a citar Natália Correia: “Ser-se revolucionário hoje é preservar a memória. Sem memória não há ideias, sem ideias não há pensa-mento, sem pensamento não há criatividade, sem criatividade não há futuro”.

“Ser-se revolucionário hoje é preservar a memória. Sem memória não há ideias, sem ideias não há pensamento, sem pensamento não há criatividade, sem criatividade não há futuro”

© Gérard Castello-Lopes, Lisboa, 1956

Neste espectáculo o século XX é personagem

A história que o tempo escondeu

10 > TNDMII > 05

Annie Silva Pais, filha do último

director da PIDE, chega a Cuba a 12

de Outubro de 1962

desconhecendo o que o futuro lhe reservaria. Por ironia do

destino, a entrega

à revolução cubana afasta-a do Portugal de

Salazar. O Jornal do Teatro ouviu o historiador

Fernando Rosas, o

diplomata Luís Gonzaga

Ferreira e os jornalistas Fernando Dacosta e

António Valdemar.

Olhares que se cruzam e se en-

contram num ponto: esta é uma história

de vida rara e exemplar

Ricardo Paulouro

Page 6: Jornal do Teatro #10

06 > TNDMII > 10

> Entrevista a Ana Brandão

Não é uma actriz acidental. Aos 23 anos mudou o rumo da sua vida e abraçou a arte da representação. A 15 de Março sobe ao palco do Teatro Nacional como Annie Silva Pais, uma mulher que pede para vir à boca de cena iluminar uma vida que se diz a si própria.

Como surgiu este encontro com a personagem Annie Silva Pais?

Fiz em 2003, no Teatro da Trin-dade, uma peça do David Auburn, encenada pelo Claudio Hochman, “Proof”. A personagem que eu interpretava era alguém pertur-bado e louco. Acho que, de algum modo, o Carlos Fragateiro, quando me convidou para interpretar este papel, associou esta personagem à ‘Filha Rebelde’. No fundo, existe uma ligação entre ambas.

Como é que preparou a constru-ção desta personagem?

Já há bastante tempo que ti-nha lido dois livros sobre a ‘Filha Rebelde’, o do José Pedro Cas-tanheira e Valdemar Cruz e o ro-mance do José Fernandes Fafe, “Annie: uma Portuguesa na Revo-lução Cubana”. Este último livro centra-se mais na figura da Annie Silva Pais e descreve-a de uma forma talvez mais poética. Para o espectáculo centrei-me sobretudo no texto, adaptado pela Margarida Fonseca Santos.

A fronteira com a realidade é, neste espectáculo, bastante diluída. Esta proximidade com uma história real é algo que a assusta?

De certa forma é algo confran-gedor… Nunca tinha interpretado uma personagem que de facto tenha existido e que, infelizmen-te, está morta. Os únicos registos que temos dela são estes dois livros e algumas fotografias… Penso que existirão pessoas que virão assistir ao espectáculo e que a conheceram pessoalmente. Estou sempre a imaginar como seria esta mulher. Claro que isto é teatro, é ficção e só posso fazer aquilo que eu sinto, que a Helena [Pimenta] e os meus colegas sen-tem sobre quem é esta mulher. Prefiro guiar-me mais pelas suas ideias e pela adaptação da Marga-rida [Fonseca Santos] e deixar-me levar pelas emoções.

É assim que encara a persona-gem Annie Silva Pais, alguém guiado pelas emoções?

Sem dúvida, acho que ela era uma mulher de emoções e é nessa convicção que me tenho centrado. Só agora é que estou novamente a

olhar para o livro do José Fernan-des Fafe, sobretudo porque há uma parte da história que me incomoda bastante que é a morte. Mas prefi-ro centrar-me no texto de forma a torná-lo meu e conseguir chegar mais facilmente ao público. Curio-samente, ao começar a ler o guião, a minha primeira leitura sugeriu-me que a Annie era uma pessoa mimada, com alguns caprichos. No entanto, tenho a agradecer à Hele-na a forma como ela me fez ver de outra maneira a personagem. Nes-te momento sinto-me apaixonada por poder representar esta mulher. Trabalhar com a Helena tem sido uma óptima experiência porque ela dá-me liberdade em termos de interpretação. O meu único ob-jectivo é confiar na Helena e tentar libertar-me desse fantasma que é a existência real da Annie.

Como definiria, numa palavra, o percurso desta mulher?

Sorriso…

Porquê?Talvez um pouco devido a uma

expressão que o José Fernandes Fafe utiliza no seu livro, que acho lindíssima, ao resumir a Annie como “riso rapariga”. Na verda-de, a Annie sempre sorriu muito e eu olho para o espectáculo como um sorriso. É impossível fazer um espectáculo a ver-me de fora. E por vezes torna-se difícil di-zer coisas, à semelhança do que encontramos no texto, como “eu quero ajudar a criar uma socie-dade perfeita” ou “o meu marido, Pierre, pergunta-me porque gosto tanto de Cuba. Porque estas pes-soas estão sempre a comemorar, a fazer coisas juntas”. Quando li isto pensei, como vou dizer estas frases sem que elas soem a ‘cli-chés’… E realmente acho que a única forma de o fazer é com um sorriso.

Acredita que a revolução desta mulher foi, sobretudo, uma revolu-ção interior?

Está muito presente a ideia de que a Annie se apaixonou pelo Che Guevara. Na verdade, acho que qualquer um de nós se apai-xonaria por ele. Ao vermos as fo-tografias ou os registos dele pen-samos como seria impossível não nos apaixonarmos por ele. Imagi-no o que terá sido ter dançado, ter conversado com ele e depois viver tudo aquilo em Cuba… Acho que a Annie se apaixonou, sobretudo, por Cuba, pela revolução, pela li-berdade, pelos ideais.

O que é que esta personagem, que sobe ao palco no dia 15 deste mês, vai ter da Ana Brandão?

Vai ter a minha loucura, a mi-nha energia… e a minha sinceri-dade. Acho que sou sincera a fa-zer as coisas.

Considera estas duas mulheres, Annie Silva Pais e Ana Brandão, vencedoras?

Quando imagino a mãe da An-nie, incrivelmente representada pela Lídia Franco com quem, infe-lizmente, só contraceno uma vez, penso como é que a Annie se con-seguiu descolar daquele mundo. Ainda antes de ir para Cuba ela conseguiu fugir da cinzentude de Portugal e pressentir que existiam outras coisas para além do que se vivia no país. Considero-a, a esse nível, uma vencedora. Eu, até aos 23 anos, fui secretária num es-critório de Engenharia. Qualquer comparação à margem, era infeliz naquela profissão e uma pessoa muito inquieta. Podia ter ficado por ali mas, neste momento, sin-to-me realizada. Não sei se sou uma vencedora ou se algum dia serei mas sinto-me bem comigo própria.

A música tem tido também, para além da carreira como actriz, um pa-pel fundamental…

A música é muito importante na minha vida. Neste momento, tento não pensar demasiado nisso porque tenho há quase nove anos um projecto com o Carlos Bica, que é o meu tesouro, e que, infe-lizmente, está um pouco estag-nado. Gosto muito de fazer con-certos com ele mas vivemos um certo desalento. Portugal ainda não está preparado para este tipo de música.

Como caracteriza a experiência de ser encenada pela Helena Pi-menta?

Acho que tem sido uma expe-riência fabulosa. Curiosamente, é a primeira vez que estou a ser encenada por uma mulher! E é uma equipa de mulheres porque a Helena vem com a sua assistente, a Cristina, a Nuria, coreógrafa, a Ana, figurinista… Desde o início que tive uma grande empatia com a Helena. Ela tem uma energia in-crível e é uma mulher muito for-te que me ajudou a compreender como esta história não é sobre a Annie Silva Pais, mas sim sobre uma vida em busca dos ideais em que se acredita, da liberdade indi-vidual.

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Para interpretar Annie Silva Pais, Ana Brandão abriu a porta às emoções pois acredita que esta história é a vitória da liberdade individual. Sim, Ana Brandão condiz com a ‘Filha Rebelde’. É fácil imaginá-la apaixonada pela vida. Com um sorrisoEntrevista de Margarida Gil dos Reis

Page 7: Jornal do Teatro #10

10 > TNDMII > 07

Conversa com Helena Pimenta >

Os prémios que tem recebi-do ao longo da sua carreira não mentem: Helena Pimenta é, actu-almente, um dos maiores nomes do teatro espanhol contemporâ-neo. Directora da UR Teatro Ant-zerkia – que fundou em 1986 e com a qual tem percorrido o Mun-do – foi distinguida, em 1993, com o Prémio Nacional de Teatro, um galardão atribuído anualmente ao grupo teatral de maior destaque no país vizinho.

Considerada, também, uma grande especialista na obra de Shakespeare, de quem já montou oito peças, o seu primeiro espec-táculo a partir de textos do drama-turgo isabelino fez história: “Xes-pir” (uma brincadeira com o nome do autor) – construído a partir de “Coriolano”, “Ricardo III”, “Otelo” e “Romeu e Julieta” e que durava nada menos do que quatro horas (!) – foi visto por 400 mil especta-dores. A criadora, porém, desmis-tifica o “milagre”. E diz que não há “especialistas” em Shakespeare porque ele é demasiado grande.

“Acho que encontrámos, na al-tura, a chave certa para entrar na-quela fechadura: se, por um lado, houve um grande respeito pelo texto, por outro houve uma gran-de liberdade em abordá-lo e em levá-lo até ao espectador. Desde então, nunca mais parei de fazer Shakespeare e neste momento já levo vinte anos de relação com ele”, conta-nos. “Mas falar de es-pecialista é, talvez, exagerado. A obra de Shakespeare é inesgo-tável e ser-se especialista nela é quase impossível”, conclui.

E enquanto se vai preparando, mentalmente, para abordar mais um texto do autor isabelino – “Os Fidalgos de Verona”, para estrear, em princípio, no final deste ano – esta filha de pai português e de

mãe espanhola – vai estrear, este mês, a convite de José Manuel Castanheira, um espectáculo em solo nacional. Pela primeira vez na sua carreira. “Suponho que ele achou que este texto seria indi-cado para alguém que, como eu, está vinculado a Portugal”, explica a criadora. “Claro que ele conhece bem o meu trabalho, e acho que isso também justifica o convite... (sorriso) As primeiras conversas que tive com o Castanheira datam de há mais de ano e meio: assim que ele foi nomeado para o Teatro Nacional disse-me logo para pôr este espectáculo na minha agen-da. E eu aceitei o desafio. Com susto, mas aceitei e hoje estou feliz por tê-lo feito.”

Assumidamente uma mulher que gosta do trabalho de equipa – e que encara o teatro como uma construção de todo um conjunto de talentos, desde o cenógrafo ao iluminador, da figurinista aos ac-tores – Helena Pimenta conta-nos que trabalhar com os portugue-ses foi uma “descoberta maravi-lhosa”. “Conhecia os actores por-tugueses apenas de espectáculos que vi quando passei por Lisboa, mas nunca tinha trabalhado com eles. E estou muito satisfeita: desde o primeiro dia só recebi ge-nerosidade, concentração e res-peito. E acho que isso se vai notar no espectáculo!”

Sobre a história que vai levar à cena, a encenadora revela que teve algumas dúvidas... “Inicial-mente tive medo de cair no ro-mance cor-de-rosa, porque Annie é uma personagem muito emotiva e há uma série de acontecimentos que nos poderiam conduzir por um caminho de ligeireza...”, con-fessa. “Mas tentei perceber o que leva uma pessoa a romper com uma fase da sua vida muito cómo-

da, em que tem tudo, para se en-volver no sonho de uma sociedade melhor. Foi, afinal, a utopia dos anos 60: os homens acreditaram que podiam construir um mundo melhor.”

O espectáculo de Helena Pi-menta, a ter uma mensagem, será essa: a de nos fazer rever a capacidade de lutar que se es-conde dentro de cada um de nós. “Annie renunciou ao conforto. A sua viagem foi dolorosa, ela teve alegrias e tristezas, algumas de-cepções, certamente, mas levou a sua decisão até ao fim.”

Helena Pimenta, uma das mulheres mais influentes do teatro espanhol contemporâneo, é a encenadora de “A Filha Rebelde”. Ao Jornal do Teatro, fala da sua relação com Portugal, de AnnieSilva Pais e do trabalho com os actores portugueses A. Ribeiro dos Santos

Sobre a nossa capacidade de lutar

Page 8: Jornal do Teatro #10

08 > TNDM II > 10 < Pequenos Crimes Conjugais

> Entrevista a Margarida Marinho e Paulo Pires

Qual é a resistência do amor a anos de coabitação, qual é a sua sobrevivência a partir do primeiro encontro?Segundo o próprio Schmitt, o que aconteceria a Romeu e Julieta após 15 anos de vida conjunta?Os actores revelam ao Jornal do Teatro a sua perspectiva sobre uma peça que nos faz pensar so-bre as várias dimensões do casa-mento, os efeitos que o jogo entre a ilusão e a lucidez podem ter. Porque a paixão também se pode cruzar com a violência e o medo da solidão é omnipresente. Uma peça para ouvir, digerir, acreditar ou não. Afinal, não começará o amor no seu próprio fim?

Jornal do Teatro Consideram que esta é uma história sobre o começo ou o fim do amor?

Margarida Marinho Apesar da história de amor entre Luísa e Jai-me, parece-me claro que a peça não se pronuncia sobre o fim do amor, mas sobre a história anun-ciada do fim do casamento.

Paulo Pires Esta é uma história sobre o amor, de uma forma ge-ral, entre duas pessoas diferen-

tes, juntas há quinze anos, onde ao longo do tempo foram ficando desconfianças, fantasmas, per-guntas por fazer…

Quais são as várias dimensões que, em vossa opinião, envolvem este casamento?

Margarida Marinho Duas biogra-fias muitíssimo fortes, capazes de tudo. Mas nem estas persona-gens, extraordinárias, são capa-zes de fugir à erosão do tempo. O que é que sucede a “Romeu e Ju-lieta ao fim de quinze anos de vida em comum?” - pergunta o autor. As personagens respondem em duelo.

Paulo Pires O amor tem um infi-nito de dimensões. Este amor tem aqui uma longa duração. Numa hora e meia, porque este espec-táculo passa-se em tempo real, são chamadas a este momento uma série de questões que pare-cem ter assombrado anos de uma relação.

A história centra-se na súbita am-nésia de Jaime. Esta é uma metáfora da relação marido e mulher?

Margarida Marinho A amnésia de Jaime foi arquitectada por ele

ao longo de muito tempo. Jaime “fez-se” amnésico.

Paulo Pires De alguma forma, sim. A questão da amnésia é mui-to interessante pois, no fundo, simboliza a sensação de ouvirmos algo sobre nós sem saber que estamos presentes. É um exercí-cio fantástico, uma carta lançada por esta personagem, Jaime, um homem controlador, cheio de te-orias, que a pouco e pouco tenta manipular toda a relação.

Poderemos falar de uma certa amnésia da personagem Luísa?

Margarida Marinho Para Luísa, a grande história da sua vida é o seu casamento. A sua profissão é ser casada e o seu ‘eu’ anda a re-boque da curva emocional de Jai-me. E depois, uma mulher nunca esquece...

O que torna este espectáculo uma história actual?

Margarida Marinho Depois da fa-lência da família tradicional ainda falarmos em casamento. Não é extraordinário?

Paulo Pires O facto de se tratar da relação de um casal torna este espectáculo algo que será sempre

actual. Esta relação será sempre a que nós quisermos. Não tem de ser necessariamente uma relação amorosa mas é sim uma relação de quinze anos. Em suma, é uma história intemporal.

Qual o aspecto de “Pequenos Crimes Conjugais”, de Eric-Emma-nuel Schmitt, que mais os surpre-endeu?

Margarida Marinho O profundo jogo da palavra.

Paulo Pires Este espectáculo tem uma componente muito forte na sua relação com o público. Es-tamos no meio do público, rodea-dos, quase como se estivéssemos num apartamento e o público fos-sem os vizinhos que ouvissem to-

das as nossas conversas. E estas pessoas estão de tal forma pró-ximas que as suas respirações, tudo o que fazem, nos levam por um ou por outro caminho, conta-giando-nos a nós, actores.

Numa palavra, como definiriam esta história?

Margarida Marinho O amor (e o ocidente).

Paulo Pires Não consigo defi-ni-la. Cabe aos actores encontrar dúvidas mas não soluções. Caberá talvez mais ao público fazer esse exercício. Enquanto estamos no palco, este Jaime e esta Luísa são vistos e observados pelo público. É quase uma ida ao psicólogo. É o pú-blico que tem de tirar as ilações.

(In)toleráveisVidas

Em “Pequenos

Crimes Conjugais”, de

Eric-Emmanuel Schmitt,

Margarida Marinho

e Paulo Pires formam um

casal que se digladia com o possível fim do

amor. Tragédia ou

comédia, esta é uma reflexão

sobre o começo e o fim das

coisas, os ciclos que a vida nos

reserva Entrevista conduzida por

Ricardo Paulouro

“Estamos no meio do público, rodeados, quase como se estivéssemos num apartamento e o público fossem os vizinhos que ouvissem todas as nossas conversas”

Page 9: Jornal do Teatro #10

10 > TNDMII > 09

“Se querem uma imagem do futuro, imaginem uma bota a pisar constantemente uma cara”, disse George Orwell em “1984”, ao retra-tar uma sociedade onde até pensar pode ser crime. A sociedade rigo-rosamente vigiada, onde nem os pensamentos são livres, tornou-se um dos maiores pesadelos do sé-culo XX. Disso é exemplo o progra-ma Big Brother que, em 2000, inva-diu os ecrãs em Portugal. Ao longo de quatro edições com anónimos e mais duas com caras conhecidas, o programa foi objecto de amplo debate sociológico e as alegrias, conflitos e lágrimas dos concor-rentes fizeram vibrar milhões de espectadores. Foi, aliás, por essa ocasião que nasceu a ideia que da-ria origem a “Bestas Bestiais”, as-sinado por Virgílio Almeida e com a estreia de José Neves numa ence-nação ao nível profissional. “A ideia de todas aquelas pessoas metidas numa casa despertou-nos interes-se. Começámos a trocar algumas opiniões sobre o assunto, a cruzar este programa com outras obras como “Os Cavalos Também se Aba-tem” e pensámos como poderia ser interessante colocar este universo numa peça de teatro”, conta José Neves ao Jornal do Teatro. Este é, por isso, hoje, um trabalho amadu-recido que nasceu a partir da ideia de um espaço exíguo, quase sufo-cante, onde se cruzam vidas, lou-curas, amores e desamores.

Facilmente o espectador se tor-na íntimo dos concorrentes deste “reality show” num palco que é, nada mais, nada menos do que uma maratona de dança. Seis persona-gens partilham a “arena”, um rin-gue de boxe, num velho armazém à beira-rio, convertido numa pista. Bruce, Sabina, Priscilo, Jorgina/Di-nis e Céu dançam há 27 dias neste concurso, um labirinto de exaustão. Comandados pelo mestre-de-ceri-mónias do “show”, o Dj Bigbang, qual filósofo indolente que tenta quebrar os concorrentes com os seus juízos ácidos, cada concorren-te, enquanto dança, partilha a sua história, os segredos mais íntimos e ocultos, enquanto tenta elimi-nar o adversário. Vale tudo menos perder. O tempo é aqui um inimigo que torna progressivamente mais visível a inquietante ideia de che-gar ao fim a todo o custo, algo que brota do mais íntimo de cada per-sonagem. “À semelhança de um “reality show” como o Big Brother, onde tudo se passa durante perío-dos de 24 horas, este espectáculo tem também um tempo real, algo que acelera ainda mais a fadiga dos

intervenientes. No entanto, nesta peça, o tempo não é um tempo na-turalista, isto é, ele não se sucede necessariamente pelo movimento do relógio.”, acrescenta José Ne-ves. À velocidade do tempo associa-se o estreitamento da consciência que nos faz perceber como a vida pode ser tão cruel, dentro ou fora da maratona de dança. No enten-der do encenador, é isto que torna esta peça um espectáculo verda-deiramente actual, este conjunto de “situações extremadas que, no fundo, nos levam a sentir o indiví-duo como um ser único e diferente

dos outros mas, ao mesmo tempo, com uma atitude quase grotesca, animalesca.” Bestas ou bestiais, o que interessa é sobreviver face ao olho de vidro que está por toda a parte, no velho armazém à beira rio, em casa, no supermercado ou no trabalho. Um olhar atento, que disseca e reprova. É assim que a sociedade se vê, vigiada, analisada. Talvez, por isso, a melhor palavra para José Neves para caracterizar este espectáculo, onde tudo pode acontecer, seja microondas. Por-quê? “Porque tudo ferve apesar de não conseguirmos ver a fonte

de calor. Parece que tudo está em ebulição mas não se percebe por-quê. Quase como se toda a energia que irradia daquele espaço fosse algo que vem de trás. Este é um sítio onde a energia com que as pessoas se relacionam já não é normal, onde a mínima faísca é um detonador.”

Neste espaço aglutinador as relações podem ser caóticas. Tro-cam-se falas ora violentas, ora po-éticas, assustadoramente à beira do colapso. Este texto forte que, por vezes, nos confronta com a ca-pacidade de deglutir a crueldade do

que se vai ouvindo é, acima de tudo, um levantar de questões sobre o indivíduo e a sua individualidade. Daí a escolha deste título “que nos sugere logo vários jogos de lin-guagem: BBs, Brigitte Bardot, Big Brother… até nas novas matrículas dos carros já surge este BB… So-mos todos dóceis, bestas, Brigitte Bardots, aparentemente príncipes e princesas, mas temos também dentro de nós o nosso lado bestial.” O espectador questiona-se se esta será uma história redentora com um final feliz. Ilusão ou farsa, o “grande irmão” continua atento.

Inspira-se no ambiente dos “reality shows” e tenta fazer um retrato da condição humana. “B.B. Bestas Bestiais” é um (não) lugar onde cada participante excede os seus limites. Objectivo: Vencer Margarida Gil dos Reis

José Neves estreia-se na encenação

B.B. Bestas Bestiais: sobreviver até ao fim

(da esq. para a dir.) Carlos Gomes, João Reis, Patrícia Bull e Adriano Luz (em cima), Dora Bernardo e Daniel Martinho

© Composição de Dora Longo Bahia a partir de fotografia de Margarida Dias

Page 10: Jornal do Teatro #10

10 > TNDM II > 10

> Criadas para Todo o Serviço

Carlo Goldoni nasceu há pre-cisamente 300 anos e embora o pai fosse médico e ele próprio se tivesse dedicado à advocacia – profissão com que ganhou a vida durante vários anos – acabou por seguir a sua verdadeira paixão: o teatro. Dando-se o caso de ser dotado de um talento excepcional para a escrita teatral, operou, em poucos anos, uma verdadeira re-volução na cena da época. Goldo-ni juntou aquilo que parecia, pelo menos aparentemente, inconci-liável: pegou na tradição popular da “commedia dell’arte” e acres-centou-lhe a qualidade do texto, a graciosidade da linguagem, a profundidade da análise social. Às figuras tipo que inundavam os pal-cos populares mas que divertiam, tantas vezes, apenas devido ao virtuosismo dos actores, pecando pela pobreza dos textos (impro-visados), deu peças elaboradas e que iam directamente ao coração dos pecados da sociedade do séc. XVIII. E fê-lo com tanta pontaria – e habilidade – que toda a gente se reconheceu em cena e se divertiu com isso.

Acabado de estrear no palco do Teatro Garcia de Resende, em Évo-

ra, resultado de uma colaboração entre o Teatro Nacional D. Maria II, o Cendrev – Centro Dramático de Évora e o Teatro dos Aloés, “Cria-das para Todo o Serviço”, encena-do por José Peixoto, é a primeira produção que assinala entre nós as comemorações do tricentenário do autor italiano. A peça, recém-editada com a chancela do TNDM II, acaba de estrear no palco do Teatro da Politécnica, em Lisboa, onde cumprirá carreira até dia 18, antes de seguir para Amadora, onde se apresentará, nos Recreios da Amadora, entre 21 deste mês e dia 1 de Abril. Ao Jornal do Teatro, o encenador explica a razão des-ta escolha: se por um lado a peça lhe pareceu “uma comédia tipica-mente goldoniana”, por outro, ela assinala um ponto de viragem na carreira do dramaturgo italiano do século XVIII.

“A acção das ‘Criadas’ decorre em Veneza durante o Carnaval e Goldoni usou o facto dos criados terem direito a um dia de folga para mostrar como toda a gente pode corromper e ser corrompi-da”, diz José Peixoto. “Quando têm liberdade, os criados põem-se a imitar os amos e a repetir todos os

seus vícios… Ora é o ponto de par-tida que Goldoni usa para mostrar em que ponto estava a sociedade da sua época.” Se a peça tem uma lição moral, o encenador acrescen-ta que ela assinala também o início do interesse crescente de Goldoni pelas classes populares.

“A partir desta peça, Goldoni vai progressivamente abandonando a burguesia – uma classe cujo trata-mento privilegiava nos seus textos – para pôr o povo cada vez mais em cena. Ele vai tentar compreender cada vez melhor a realidade social que o enquadrava e é isso que o torna, hoje, um autor tão impor-tante e a que vale a pena prestar atenção.”

Feliz com o espectáculo que acaba de estrear, José Peixoto diz ainda que foi com muita satisfação que viu até que ponto os actores mais jovens aderiram à escrita de Goldoni e à sua proposta cénica. “Gosto do que vejo em cena e sin-to-me recompensado pelo meu es-forço”, diz-nos. “O elenco está ex-tremamente empenhado e apesar de termos tido pouco tempo para trabalhar houve uma grande entre-ga das pessoas – o que se nota em palco.”

Neste ano de comemorações Goldoni, José Peixoto anuncia ainda que tem em manga mais um projecto que envolve o Teatro Nacional D. Maria II e o Cendrev – Centro Dramático de Évora. Tra-ta-se de “A Guerra”, uma peça iné-dita em Portugal, que tem estreia prevista para 4 de Outubro no Gar-cia de Resende, em Évora, e que depois seguirá para os Recreios da Amadora. E enquanto está na forja a edição dessa mesma peça pelo Nacional, está em agenda uma colaboração entre o D. Maria II, o Teatro Stabille da Sardenha e o Te-atro Nacional da Croácia.

Trata-se de um projecto que envolve escritores dos três países, desafiados a reescrever os “cano-vacci” de Goldoni e a transformá-los numa peça que, para já, tem o título provisório de “Goldoni Termi-nus”. O espectáculo fará uma an-testreia em Portugal (Sala Garrett do TNDM II) e na Croácia, antes de fazer a sua estreia absoluta duran-te a Bienal de Veneza, que ocorre já no próximo mês de Julho.

No ano em que passam 300 anos sobre o nascimento do grande renovador do teatro italiano do século XVIII, o Teatro Nacional associa-se às celebrações e prepara várias edições de peças do autor. E enquanto o espectáculo “Criadas para Todo o Serviço” faz carreira na Politécnica, está em agenda uma grande produção internacional, com estreia mundial na Bienal de Veneza A. Ribeiro dos Santos

Celebrações do tricentenário do autor italianoD

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Goldoni juntou aquilo que parecia inconciliável: pegou na tradição popular da “commedia dell’arte” e acrescentou--lhe a quali-dade do texto, a graciosidade da linguagem,a profundidadeda análise social

Page 11: Jornal do Teatro #10

Ana e Hanna 11h *

Ana e Hanna 11h *

B.B. Bestas Bestiais 21h45

B.B. Bestas Bestiais 21h45

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B.B. Bestas Bestiais 16h15

Contos de Shakespeare 10h45*

Contos de Shakespeare 11h

Contos de Shakespeare 10h45*

Contos de Shakespeare 10h45*

Contos de Shakespeare 10h45*

Contos de Shakespeare 10h45*

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www.teatro-dmaria.pt

CalendárioSALA GARRETT SALA ESTÚDIO SALÃO NOBRE ÁTRIO

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 16h00

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Amor de Perdição 24h

Amor de Perdição 24h

Amor de Perdição 19h45

Antena 2 concerto 19h

Antena 2 concerto 19h

Amor de Perdição 24h

Amor de Perdição 24h

Amor de Perdição 24h

Amor de Perdição 19h45

Amor de Perdição 24h

Amor de Perdição 24h

Amor de Perdição 24h

Amor de Perdição 19h45

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 16h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 16h30

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Pequenos Crimes Conjugais 21h30

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Pequenos Crimes Conjugais 16h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 16h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Pequenos Crimes Conjugais 21h30

Contos de Shakespeare 10h45*

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Contos de Shakespeare 16h

Contos de Shakespeare 11h

Contos de Shakespeare 10h45*

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Contos de Shakespeare 16h

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B.B. Bestas Bestiais 21h45

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A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 16h00

Pequenos Crimes Conjugais 16h30

Vinte e Zinco 21h30

Shakespeare 10h45*

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A Filha Rebelde 21h30

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A Filha Rebelde 16h

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A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

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A Filha Rebelde 16h

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 16h

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

B.B. Bestas Bestiais 21h45

B.B. Bestas Bestiais 21h45

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B.B. Bestas Bestiais 16h15

B.B. Bestas Bestiais 21h45

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B.B. Bestas Bestiais 16h15

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Vinte e Zinco 21h30

Vinte e Zinco 21h30

Vinte e Zinco 21h30

Vinte e Zinco 16h30

Contos de Shakespeare 10h45*

Contos de Shakespeare 11h

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SALA GARRETT SALA ESTÚDIO SALÃO NOBRE ÁTRIO

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Antena 2 concerto 19h

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

A Filha Rebelde 21h30

* SOB MARCAÇÃO

Até 25 anos, + de 65 anos e grupos + 15 pessoas - 30% DE DESCONTODESCONTOS PARA GRUPOS - entre 30 a 40% DE DESCONTO

RESERVAS>[email protected]> 21 325 08 35Informações> 21 325 08 27

DESCONTOS>DIA DO ESPECTADOR (5ª feiras) - 50% DE DESCONTOBILHETE DO DIA - entre as 14h00 e 15h00 - €5,00(limite 60 bilhetes Sala Garrett; 10 bilhetes Sala Estúdio)

PREÇOS>SALA GARRETT de €12,50 a €15,00 <> SALA ESTÚDIO €10,00 <> SALÃO NOBRE €12,00 <> ÁTRIO €8,00

Shakespeare 11h

Contos de Shakespeare 11h

Contos de Shakespeare 11h

Contos de Shakespeare 16h

Contos de Shakespeare 16h

Contos de Shakespeare 16h

Contos de Shakespeare 16h

Com

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Page 12: Jornal do Teatro #10

Pequenos Crimes ConjugaisAté 1 Abr. SALÃO NOBRE 3ª a SÁB. 21H30 DOM. 16H30 M/16

de Eric-Emmanuel Schmitt encenação JOSÉ FONSECA E COSTA com Margarida Marinho e Paulo Pires produção TNDM II

Contos de Shakespeare14 a 30 Março ÁTRIO SÁB e DOM. 11H00 (durante a semana para escolas, sob marcação)

1 a 29 Abril SALA gARRETT SÁB 16H00 DOM. 11H00 (durante a semana para escolas, sob marcação)

encenação CLAUDIO HOCHMAN com Catarina guerreiro, Fernanda Paulo, Joana de Carvalho e Luís godinhoprodução TNDM II M/6

Amor de Perdiçãoou good bye my love good bye as long as you remember me I’ll never be too far

Até 18 Mar. ÁTRIO 5ª A SÁB. 24H00 DOM. 19H45 M/16

a partir de Camilo Castelo Branco encenação VERA PAZ e RICARDO MOURAcom Maria João Pereira, Mónica garcez, Patrícia Faustino, Vera Paz, Luís Hipólito, Paulo Lázaro, Ricardo Moura, Rui Lacerda e Sérgio grilo produção TNDM II

Ana e HannaAté 27 Mar.SALA gARRETT 4ª e 5ª 11H00 (para escolas, sob marcação) M/12

de John Retallackencenação ANTóNIO FEIOcom Vânia e Rita Calçada Bastosprodução TNDM II

Criadas Para Todo o ServiçoAté 18 Mar. TEATRO DA POLITÉCNICA 3ª a SÁB. 21H30 DOM. 16H00

21 Mar. a 1 Abr. RECREIOS DA AMADORA 3ª a SÁB. 21H30 DOM. 16H00

de Carlo goldoniencenação e dramaturgia JOSÉ PEIXOTOco-produção TNDM II, TEATRO DOS ALOÉS e CENDREVM/12

Memorial do Convento Até 30 Jun. PALÁCIO NACIONAL DE MAFRA 4ª a 6ª 14H00 (escolas sob marcação) SÁB. 16H (sob marcação) M/12

a partir de “Memorial do Convento” de José Saramago encenação e direcção FILOMENA OLIVEIRAprodução TNDM II em colaboração com o PALÁCIO NACIONAL DE MAFRA

Maria em itinerância pelas escolas M/6

direcção MIgUEL MOREIRAco-produção TNDM II, ÚTERO, ESPAÇO DO TEMPO e CULTURPROJECT

Estreias em Março

A Filha Rebelde 15 Mar. SALA gARRETT 3ª a SÁB. 21H30 DOM. 16H00 M/12

de José Pedro Castanheira e Valdemar Cruz

versão Margarida Fonseca Santos

dramaturgia e encenação HELENA PIMENTA com Alexandre Ovídio, Amílcar Azenha, Ana Brandão, Anabela Teixeira, Bibi gomes, Célia Alturas,

Eurico Lopes, Jaime Vishal, Joana Brandão, José Henrique Neto, Lídia Franco, Manuel Coelho,

Marques D’Arede, Nádia Santos, Raquel Dias, Rui Quintas, Sérgio Silva e Vítor Norte

produção TNDM II

B.B. Bestas Bestiais29 Mar. SALA ESTÚDIO 3ª a SÁB. 21H45 DOM. 16H15 M/16

de Virgílio Almeidaencenação JOSÉ NEVEScom Adriano Luz, Carlos gomes, Daniel Martinho, Dora Bernardo, Patrícia Bull e João Reis

co-produção TNDM II e KLASSIKUS