jornal de teatro edição nr.06

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Uma publicação da Aver Editora - 1º a 15 de Julho de 2009 - Ano I Nº 6 R$ 5,00 Vera Zimmermann fala sobre TV, teatro, vida, carreira, Nelson Rodrigues... ENTREVISTA Pág. 7 Teatro-dança perde sua criadora: Pina Bausch, aos 68 anos HOMENAGEM As muitas faces do dramaturgo Tom Stoppard Figura emblemática, Sir Tom Sttopard, um dos mais importantes nomes do teatro mundial, terá nova peça encenada no Brasil. Teatro Maipo, o símbolo de uma época na Argentina Conheça a história de um lugar mítico, considerado a catedral do Teatro de Revista Portenha, em meio a comediantes e vedetes. INTERNACIONAL VIDA E OBRA A arte de uma lei que dá voz para os artistas Decreto publicado há mais de 30 anos garante respeito à classe artística, que faz valer a sua dignidade, sua honra e seus direitos. HISTÓRIA Agentes: tê-los ou não tê-los, eis a questão Em um mercado cada vez mais fechado, presença do agente tem se tornado fundamental, embora nem todos pensem assim MARKETING CULTURAL DANÇA Emoção à flor da pele no Festival Ballace Bahia, em Camaçari Pág. 20 Pág. 22 Pág. 21 Pág. 23 Pág. 8 Págs. 10 e 11 Canela (RS), Florianópolis (SC), Londrina (PR), São José do Rio Preto (SP) e Joinville (SC). Estes são os endereços dos principais festivais de teatro, de dança e de inúmeras outras formas de arte que acontecem nos meses de junho e julho. Motivo de alegria não só para os artistas, mas, principalmente, para a plateia (de todos os gostos e exigências), que poderá acompanhar bem de perto o talento de gente apaixonada pelo que faz e que se esmera para agradar e emocionar este respeitável público. Acrobacias no Festival de Londrina (PR) Inovação na capital catarinense Espetáculos de rua em São José do Rio Preto Caras e bocas para agitar Canela (RS) Vítima de câncer, Pina morreu dia 30 José Wilker, Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Paulo Gracindo, Orlando Miranda e Maria Pompeo debatem a criação da Lei nº 6.533, em 1978 Dada a largada para o período de festivais Pags. 12 a 18 Celia Aguiar / Divulgação Divulgação Anderson Espinosa Divulgação Carlos Roberto / Divulgação Divulgação

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Jornal de Teatro

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Page 1: Jornal de Teatro Edição Nr.06

Uma publicação da Aver Editora - 1º a 15 de Julho de 2009 - Ano I Nº 6 R$ 5,00

Vera Zimmermann fala sobre TV, teatro, vida, carreira, Nelson Rodrigues...

ENTREVISTA

Pág. 7

Teatro-dança perde sua criadora: Pina Bausch, aos 68 anos

HOMENAGEM

As muitas faces do dramaturgo Tom StoppardFigura emblemática, Sir Tom Sttopard, um dos mais importantes nomes do teatro mundial, terá nova peça encenada no Brasil.

Teatro Maipo, o símbolo de uma época na Argentina Conheça a história de um lugar mítico, considerado a catedral do Teatro de Revista Portenha, em meio a comediantes e vedetes.

INTERNACIONAL

VIDA E OBRA

A arte de uma lei que dá voz para os artistas Decreto publicado há mais de 30 anos garante respeito à classe artística, que faz valer a sua dignidade, sua honra e seus direitos.

HISTÓRIA

Agentes: tê-los ou não tê-los, eis a questãoEm um mercado cada vez mais fechado, presença do agente tem se tornado fundamental, embora nem todos pensem assim

MARKETING CULTURAL

DANÇAEmoção à fl or da pele no Festival Ballace Bahia, em Camaçari

Pág. 20

Pág. 22

Pág. 21

Pág. 23

Pág. 8

Págs. 10 e 11

Canela (RS), Florianópolis (SC), Londrina (PR), São José do Rio Preto (SP) e Joinville (SC). Estes são os endereços dos principais festivais de teatro, de dança e de inúmeras outras formas de arte que acontecem nos meses de junho e julho. Motivo de alegria não só para os artistas, mas, principalmente, para a plateia (de todos os gostos e exigências), que poderá acompanhar bem de perto o talento de gente apaixonada pelo que faz e que se esmera para agradar e emocionar este respeitável público.

Acrobacias no Festival de Londrina (PR)

Inovação na capital catarinense

Espetáculos de rua em São José do Rio Preto

Caras e bocas para agitar Canela (RS)

Vítima de câncer, Pina morreu dia 30

José Wilker, Fernanda Montenegro, Fernando Torres, Paulo Gracindo, Orlando Miranda e Maria Pompeo debatem a criação da Lei nº 6.533, em 1978

Dada a largada para o período

de festivais

Pags. 12 a 18

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Divulgação

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2 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

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Page 3: Jornal de Teatro Edição Nr.06

31º a 15 de Julho de 2009Jornal de Teatro

Editorial

Cartas

Índice

w w w . a v e r e d i t o r a . c o m . b r

Presidente: Cláudio Magnavita [email protected]

Vice-presidentes: Helcio Estrella

[email protected] Espinosa

[email protected]

Presidente: Cláudio MagnavitaDiretores: Jarbas Homem de Mello, Anderson Espinosa e Fernando Nogueira

Redação: Rodrigo Figueiredo (editor-chefe), Rodrigoh Bueno (editor) e Fernando Pratti (chefe de reportagem) Rio de Janeiro - Alysson Cardinali Neto, Daniel Pinton, Douglas de Barros e Felipe SilSão Paulo - Danilo Braga, Ive Andrade e Pablo Ribera BarberyBrasília - Alexandre Gonzaga, Dominique Belbenoit, Renata Hermeto e Sérgio Nery Porto Alegre - Adriana Machado e Felipe PrestesFlorianópolis - Adoniran PeresSalvador - Paloma Jacobina

Marketing: Bruno Rangel ([email protected]) eDiego Silva Costa Comercial: Washington Ramalho([email protected])

Redação Rio de Janeiro: Rua General Padilha, 134 - São Cristóvão - Rio de Janeiro (RJ). CEP: 20920-390 - Fone/Fax: (21) 2509-1675

Redação Brasília: SCN QD 01 BL F America Office Tower - Sala: 1209 - Asa Norte - Brasília (DF) - CEP: 70711-905. Tel.: (61) 3327-1449

Redação Porto Alegre: Rua José de Alencar, 386 - sala 802/803 - Menino Deus - Porto Alegre (RS). CEP: 90880-480. Tel.: (51) 3231-3745 / 3231-3734

Redação Florianópolis: Av. Osmar Cunha, 251 - sala 503, Ed. Pérola Negra, Centro - Florianópolis (SC). CEP: 88015-200. Tel.: (48) 3224-2388

Redação Salvador: Rua José Peroba, 275, sala 401 - Ed. Metrópolis, Costa Azul, Salvador / BA. CEP: 41770-235Tel.: (71) 3017-1938

Email Redação: [email protected] Arte: Ana Canto, Bruno Pacheco, Danilo Braga, Gabriela de Freitas e Keila Casarin.

Correspondência e Assinaturas:

Augusto Boal será homenageado em conferência internacional que acontece em julho no Rio de Janeiro

Teatro do OprimidoBASTIDORES..............................................................5

O multiartista fala de sua experiência com sonoplastia teatral. O músico está em cartaz com “A Vida Que Pedi, Adeus”

Histórias e curiosidades da “catedral da Revista”, a centenária casa de espetáculos de Buenos Aires

Theo Werneck

Teatro Maipo

TÉCNICA .................................................................

INTERNACIONAL....................................................

19

23

Festival Internacional de Londrina discute “Acessibilidade Para a Democratização da Cultura”

FILOFESTIVAIS...............................................................14

Fundação Nacional de Artes lança três editais para viabilizar 86 projetos no setor artístico

Funarte EDITAIS..................................................................... 9

w w w . j o r n a l d e t e a t r o . c o m . b rPublicações da Aver Editora:

Jornal de Turismo - Aviação em Revista - JT Magazine - Jornal Informe do Empresário

Redação São Paulo: Rua da Consolação, 1992 - 10º andar - CEP: 01302-000 - São Paulo (SP)Fone/FAX: (11) 3257.0577

Administração: Elisângela Delabilia ([email protected])Colaboradores: Adriano Fanti e Luciana Chama

Rodrigoh BuenoEditor do Jornal de Teatro

Junho e julho marcam o período dos festivais de teatro, de dança e de todas as artes que emocionam o público em cinco cidade brasileiras

Págs.: 12 a 18

FESTIVAIS

Impressão: F. Câmara Gráfica e Editora

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É hora de aproveitar esse espaço nobre do jornal para agradecer as pessoas que encontramos até aqui. Uso o verbo “encontrar” não com o sentido de achar ou descobrir, mas com o signi cado de tornar próximo. Encontros in-ternos de uma equipe localizada em seis cidades diferentes e com experiências e formações variadas. Encontros de ideias artísticas espalhadas pelo Brasil. Encontros de referências e problemas brasileiros que também podem ser per-cebidos em outros palcos. Encontro de paixão e trabalho para um espetáculo que não se encerra com o aplauso.

En m, o encontro nunca esteve tão presente em uma edição do Jornal de Teatro, e isso acontece, em grande parte, pela presença marcante das matérias de Festivais. Para mim, este é um reencontro com estes eventos que sempre me fascinaram pela experiência oferecida de conferir espetáculos às vezes tão diferentes nos mesmos palcos. O principal dos Festivais são as pessoas que o formam, que deixam suas cidades (ora vencem di culdades) para divulgar ou projetar seus trabalhos para novos públicos.

Essa edição vem também com essa proposta de encontrar – agora no sen-tido de descobrir e mais ainda, de redescobrir – novos públicos que tragam as ideias para novos trabalhos. Para isso, nada melhor que dedicar grande parte de nossas páginas aos maiores incentivadores do intercâmbio teatral brasileiro: os festivais, que fervilham pelo País principalmente nos meses de junho e ju-lho; e as companhias que não tem os pés grudados no mesmo palco e se jogam atrás de novos encontros.

Encontra a luz, arruma o cenário, embala os gurinos e cuida da caixa de maquiagem. Depois do jantar senta na cama do hotel, passa o texto ou ensaia mais uma vez a coreogra a e faz as contas para ver como está a verba da pro-dução. No dia seguinte, divulga o espetáculo e pensa na próxima turnê. Onde está a arte na rotina destes empreendedores culturais? Me atrevo a uma resposta: nos encontros que acontecem nesses intervalos, sejam fora ou dentro do palco.

Encontra a luz, arruma o cenário..

PARABÉNS PELA EDIÇÃO DE 16 A 30 DE JUNHOÀ toda equipe de colaboradores do Jornal de Teatro,Parabéns pela edição que está linda e de excelente nível cultural e artístico.

Em especial ao repórter Felipe Sil pela matéria sobre a Tônia Carrero que está incrível, um excelente texto.

AtenciosamenteCia de Teatro Contemporâneo

Rua Conde de Irajá 253 – Botafogo - tels.: 21 25375204 ou 31832391 www.ciadeteatrocontemporaneo.com.br

Page 4: Jornal de Teatro Edição Nr.06

4 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Bastidores

Entre os dias 9 e 12 de julho é pos-sível conferir, no Teatro Dança, em São Paulo, o espetáculo “Mané Gostoso”, produção do Ballet Stagium.

O título “Mané Gostoso” é uma alusão ao boneco feito em madeira – brinquedo infantil facilmente encontrado nas feiras nordestinas – e que tem pernas e braços movimentados por meio de cordões.

A coreogra a de Decio Otero é uma

FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DE DOURADOS SELECIONA ESPETÁCULOS

A Universidade Federal da Gran-de Dourados (UFGD) e o Institu-to para o Desenvolvimento da Arte e da Cultura (IDAC) publicaram o edital para seleção de espetáculos da edição 2009 do Festival Internacio-nal de Teatro de Dourados/Mato Grosso do Sul (FIT - Dourados).O festival acontece de 8 a 16 de se-tembro e homenageará o diretor e dramaturgo Augusto Boal. O evento conta com quatro mostras: regional, universitária, nacional e internacional, sendo os espetáculos para as mostras regional e universitário selecionados por meio de edital, enquanto que para as mostras nacional e internacional se-rão convidados pela organização.

Os grupos interessados poderão fazer suas inscrições pelo site www.ufgd.edu.br/proex/coc até o dia 15 de julho. A divulgação dos seleciona-dos acontece até o dia 3 de agosto.

CONSTRUÇÃO DO TEATRO MUNICIPAL GERA

POLÊMICA EMBALNEÁRIO CAMBORIÚDepois de conseguir passar por

um abaixo-assinado feito pela pró-pria população pedindo o m do projeto, o Teatro Municipal de Bal-neário Camboriú é motivo de nova polêmica: a obra não deve ser en-tregue dentro do prazo previsto.O prazo de conclusão, apresentado pela Prefeitura, foi para novembro deste ano, mas, segundo fontes da ci-dade, a obra está bastante atrasada e a empresa que venceu a licitação para o empreendimento requer um valor maior que os R$ 3,1 milhões liberados.

Essa confusão retoma uma discus-são que já havia entre os moradores e a Prefeitura. O teatro está localizado na antiga praça Bruno Nitz, que, se-gundo os moradores, era um dos pou-cos espaços públicos ainda existentes na cidade – e, segundo o projeto, o Teatro não contaria com estaciona-mento para o público.

OPINIÃO DE GENTE GRANDE NO RECIFE

Um novo espetáculo de Ana Eli-zabeth Japiá Motta já está sendo pro-duzido em Recife. E, para ajudar na dramaturgia da peça, a diretora foi a campo para saber o que as crianças pensam da “cidade ideal”.

Contemplada com uma bolsa de es-tímulo à criação artística da Funarte, a pesquisadora coletou depoimentos de crianças de 8 a 10 anos de seis escolas do Recife, entre instituições públicas e privadas. No processo, convidava alu-nos para manipularem um jogo que contém pequenos blocos de madeira para construção de edi cações em mi-niatura. Os jogos e as impressões de Ana Elizabeth e de seu grupo, o Mar-co Zero, resultarão em um espetáculo com estreia prevista para outubro.

A famosa marca da espada de Zor-ro estará nos palcos brasileiros com “Zorro – O Musical”, espetáculo ain-da sem previsão de estreia, mas que já contou com audições no nal de junho, em São Paulo. O texto é uma versão da montagem londrina, que es-treou com grande sucesso em março de 2009, na Inglaterra, baseado no li-vro de Isabel Allende.

O ritmo cigano estará presente nas danças amencas e na trilha sonora – composta por canções novas e clássicas do grupo Gipsy Kings, como “Bambe-leo,” “Baila Me” e “Djobi Djoba”.

ZORRO – O MUSICAL

O Festival Internacional de Teatro Porto Alegre em Cena, realizado na capital gaúcha há 16 anos, está entre os 25 pro-jetos selecionados no País pelo Ministério do Turismo, como Eventos Geradores de Fluxo Turístico. Em 2009, dez estados brasileiros inscreveram projetos: Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catari-na, São Paulo e Rio Grande do Sul. A 16ª edição do Porto Alegre em Cena acontece em setembro, entre os dias 8 e 21.

PORTO ALEGRE EM CENASELECIONADO COMO EVENTO

GERADOR DE FLUXO TURÍSTICO

CONTAÇÃO DE HISTÓRIA PARA MULHERES SÁBIAS

A montagem é da Cia. Pé na Porta e reúne quatro histórias que têm como tema central a mulher como arquétipo de qualidades e possibilidades humanas. “Contos de Mulheres Sábias” é en-cenado por três jovens atores (André Martins, Daniela Mota e Patrícia Si-nhorini), e tem a direção de Simone Grande e Kika Antunes – famosas no gênero da Contação de Histórias.

Estreia dia 4 de julho, no Teatro Coletivo Fábrica, em São Paulo, a peça “Contos

de Mulheres Sábias”, baseada em contos de tradição oral reunidos

pela escritora Regina Macha-do no livro “O Violino

Cigano e outros contos de mulheres sábias”.

BALLET STAGIUM DE UM JEITINHO GOSTOSO

MARIA PEREGRINAENCERRA TEMPORADA

NA FUNARTE SÃO PAULO O premiado espetáculo “Maria Pere-

grina”, de Luís Alberto de Abreu, segue com a temporada até o dia 19 de julho, no Teatro de Arena Eugênio Kusnet. No pal-co, sob direção de Claudio Mendel, estão os atores Adriana Barja, Vander Palma, Conceição de Castro, Caren Ruaro, André Ravasco e Tamara Cardoso.

O enredo, transitando entre o dra-ma e a comédia, apresenta três histórias distintas que narram o universo da san-ta popular Maria Peregrina. Conhecida como Nega do Saco ou Maria do Saco, ela viveu mais de 20 anos nas ruas de Santana, um dos bairros mais antigos de São José dos Campos (SP). Após a sua morte, em 1964, passou a ser considera-da santa popular, integrando o universo folclórico do Vale do Paraíba.

A peça Maria Peregrina tem uma his-tória de nove anos em cartaz e, após sua estreia, em junho de 2000, registra uma trajetória com 40 prêmios, 200 apre-sentações e um público estimado de 70 mil espectadores. Entre as premiações, destaque para o autor, que ganhou o Prêmio Shell 2003, e no 30º Festival Na-cional de Teatro de Ponta Grossa (PR) 2002 como Melhor Espetáculo, Melhor Direção, Melhor Atriz (Andréia Barros), Melhor Atriz Coadjuvante (Conceição de Castro), Melhor Cenário, Melhor Fi-gurino e Melhor Autor Nacional. A peça viajou pelo interior de São Paulo e pela Capital com o sucesso de público e crí-tica, participando também de festivais importantes por todo o Brasil.

leitura moderna da cultura popular nor-destina, com trilha sonora assinada pelo grupo Quinteto Violado. Com direção te-atral de Marika Gidali, a obra homenageia o pernambucano Luiz Gonzaga, com mú-sicas como Asa Branca, Assum Preto e Forró de Mané Vito na trilha sonora.

Confira a programação comple-ta do Teatro Dança em www.apaa-cultural.or g .br

Flávio Moraes

Peça mostra folclore do Vale do Paraíba

“Mané Gostoso” tem músicas de Luiz Gonzaga em seu repertório

Festival é realizado há 16 anos no RS

Fotos: Divulgação

Page 5: Jornal de Teatro Edição Nr.06

51º a 15 de Julho de 2009Jornal de Teatro

Evento, que acontece de 20 até 26 de julho, na capital carioca, será um tributo a Augusto Boal e um marco histórico para a continuidade de sua obra

A Conferência Internacional de Teatro do Oprimido é uma realização do Centro do Teatro de Oprimido e contará com a participação de ativis-tas da Austrália, de Israel, da Palestina, do Nepal, do Paquistão, da Índia, da Suécia, da Holanda, da Áustria, da Alemanha, da Inglaterra, da França, da Itália, da Espanha, de Portugal, do Senegal, de Guiné-Bissau, do Sudão, de Moçambique, de Angola, do Canadá, dos EUA, de Porto Rico, da Argentina, do Uruguai e do Brasil. Ao final da Con-ferência, esses ativistas realizarão um encontro para discutir os desafios para o desenvolvimento de projetos locais e planejar ações de cooperação internacional.

Com entrada franca, a reunião, que acontece na Caixa Cultural – Teatro Nelson Rodrigues, terá, ainda, painéis de discussão (política, pedagogia, educação, opressão contra a mulher, saúde men-tal, direitos humanos, zonas de conflito etc) sobre o impacto do Teatro do Oprimido em diferentes áreas temáticas e regiões do mundo; mostra in-ternacional de vídeos (Alemanha, Paquistão, Ca-nadá, Espanha, Moçambique e Índia). Na Caixa

Começou no dia 29 de junho, a Mostra

de Teatro Dad 2009/1, com o espetáculo “O País de Helena”, inspirado na obra do escritor uruguaio Eduardo Galeano. Ao fim de cada semestre os formandos do Departamento de Arte Dramática da Ufrgs apresentam traba-lhos que foram realizados no período, caso desta obra que ainda será apresentada, nos dias 6 e 7 de julho, e tem no elenco e direção estudantes do departamento.

Elisa Volpatto e Priscila Colombi, por exemplo, cursaram a cadeira de Estágio de Atuação II e agora formam o elenco de “O País de Helena”. A direção é de Ana Paula Zanandréa, que cursou Estágio de Monta-gem II. A orientação é da professora Inês Alcaraz Marocco.

Além desta produção, haverá montagens como “Fragmentos Lorquianos”, cujo objetivo é encontrar e levar à cena as mulheres que po-voam a poesia do autor; e “Fina Flor”, que tem roteiro e atuação dos alunos Letícia Pinheiro e Thiago Pirajira. Na obra, duas senhoras se en-

CURSO GRATUITO DOCRÍTICA TEATRAL

Estão abertas as inscrições para o Curso de Crítica Teatral do Núcleo de Estudos do Teatro Contemporâneo da Escola Livre de Teatro (ELT). O curso tem coordenação do crítico Kil Abreu e vai de agosto a dezembro, às terças-feiras, das 14 às 18h. Programa: A prática da crítica teatral – sua função social, modos, questões e impasses. A história da crítica no teatro brasilei-ro moderno. A cena contemporânea, seus materiais e os métodos de análise. As inscrições vão até o dia 17 de julho, de segunda a sexta-feira, das 9 às 12h e das 13 às 17h, na ELT. Documentos necessários: cópia do RG e uma foto 3 x 4. Seleção: dia 4 de agosto, das 14 às 18h. Entrevista com o coordenador do Núcleo. Mais informações: (11) 4996-2164. Local: Escola Livre de Teatro de Santo André – Praça Rui Barbosa, 12. Bairro Santa Terezinha. As inscrições e o curso, assim como todas as ativida-des da ELT, são gratuitos.

FESTIVAL DE TEATRODE CUIABÁ

Foram prorrogadas até o dia 4 de julho as inscrições para a 3ª Miti – Mostra Internacional de Teatro In-fantil de Cuiabá. A mostra acontecerá de 28 de setembro a 4 de outubro e tem sua programação composta por espetáculos nacionais e internacio-nais, seminários, o cinas, show mu-sical e exposições. Mais informações: (65) 3028-6285 ou [email protected].

4º FESTIVAL NACIONAL DETEATRO DE JUIZ DE FORA

Estão abertas as inscrições para o 4º Festival Nacional de Teatro de Juiz de Fora, que acontecerá entre 31 de agosto e 7 de setembro. As inscrições poderão ser feitas de 22 de junho a 17 de julho, via Cor-reios, no endereço: 4º Festival Na-cional de Teatro de Juiz de Fora/ Av. Barão do Rio Branco, 2.234 – Centro, Juiz de Fora, Minas Ge-rais. CEP: 36016-310.

Os grupos e companhias tea-trais poderão inscrever espetáculos nas seguintes categorias: Adulto, Infantil e Espetáculo de Rua. Mais informações: (32)3690-7033 ou www.pjf.mg.gov.br.

NOVA DATA PARA OPRÊMIO CAREQUINHA

Foi prorrogado para o dia 10 de julho o prazo para as inscrições no Prêmio Funarte Carequinha de Estí-mulo ao Circo, premiação criada pela Fundação Nacional de Artes (Funar-te). O objetivo é apoiar companhias, empresas, associações, trupes ou gru-pos circenses que queiram adquirir equipamentos, produzir espetáculos, realizar pesquisas, promover mostras e festivais ou homenagear artistas que tenham contribuído para o desenvolvi-mento do circo. Os interessados devem enviar seus projetos, via Correios, para a Coordenação de Circo da Funarte. Mais informações: [email protected] ou (21) 2279-8034.

Cena do espetáculo “O Amargo Santo da Puri cação”, da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz que esta-rá nas cidade gaúcha de Viamão, dia 5 de julho, e em Bom Jesus, dia 18.

Divulgação

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Bastidores

Está em cartaz no teatro anexo da O cina Cultural Oswald de Andrade, em São

Paulo, a peça “Estórias Ordinárias”, sob direção de Jair Assumpção. A montagem é uma livre adaptação de

três contos de “A Vida Como Ela É”, de Nelson Rodrigues: “Mausoléu”, “Diabólica” e “Selvage-

ria”. A peça ca em cartaz até 9 de agosto, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo.

AL-MANÃK COMPANHIA TEATRAL ESTREIA “ESTÓRIAS ORDINÁRIAS”

“Como Passar em Concurso Públi-co” prorroga a temporada no Teatro Gazeta, em São Paulo. Depois das tem-poradas em Brasília e no Rio de Janeiro, a Cia. de Comédia G7 completa seis me-ses na capital paulista, com o espetáculo que já soma mais de dois anos em cartaz e 250 mil espectadores. No palco estão os atores Benetti Mendes, Felipe Gra-cindo, Frederico Braga e Rodolfo Cor-dón, responsáveis também pela autoria do texto e da direção.

“COMO PASSAR EM CONCURSO PÚBLICO” PRORROGA A TEM-PORADA NO TEATRO GAZETA,

EM SÃO PAULO

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RIO DE JANEIRO APRESENTA A CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE TEATRO DO OPRIMIDO

Cultural – Teatro de Arena, acontece apresenta-ções de espetáculos (nacionais e internacionais) de Teatro-Fórum com sessões de Teatro Legislati-vo, a preços populares.

Na sede do Centro de Teatro do Oprimido, acontece o Encontro Internacional de Praticantes do Teatro do Oprimido, exclusivo para grupos, projetos e instituições com reconhecida ativi-dade com o método do Teatro do Oprimido em suas regiões e países. Nos três espaços haverá exposições de produções da Estética do Opri-mido, última pesquisa realizada por Boal. A pro-gramação completa está disponibilizada no site ww.ctorio.org.br.

FORMANDOS DA UFRGS APRESENTAM TRABALHOS contram e falam de lembranças, confu-sões entre realidade e fantasia, passado e presente.

Haverá, ainda, o painel “Expres-são Dramática na Educação Infan-til: longa jornada escola a dentro”, apresentação do trabalho de conclusão de curso da formanda em Licenciatura, Daiane Frigo, orientada pela professora Vera Lúcia Bertoni dos Santos. Além disso, acontece a mostra paralela de alunos que não estão concluindo o curso.

As peças ocorrem nas salas Qorpo Santo (Av Paulo Gama, s/n, Campus Central da Ufrgs) e Alziro Azevedo (Av Salgado Filho, 340 – Cen-tro). A entrada é sempre franca. Informações completas sobre a programação em http://mostradad.blogspot.com. Felipe Prestes

Conferência vai homenagear Augusto Boal

“Ói Nóis Aqui Traveiz” na Serra Gaúcha

Em cartaz, no Teatro anexo da O cina Cultural Oswald de Andrade, clássicos de Nelson Rodrigues como: “A Vida Como Ela É”

Cia da Comédia: seis meses em SP

Divulgação

Divulgação

“O País de Helena” de Eduardo Galeano

Page 6: Jornal de Teatro Edição Nr.06

6 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Com 60 anos de carreira, a atriz Tonia Carrero será a ho-menageada da noite, durante a terceira edição do Prêmio APTR de Teatro. A festa, que promete ser uma das prin-cipais atrações do teatro na-cional este ano, está marcada para o dia 6 de julho, às 21h, no Teatro Fashion Mall, em São Conrado, e contará com a apresentação dos atores Thia-go Lacerda e Zezé Polessa, além de roteiro e direção do autor Flávio Marinho.

O Prêmio da Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro estreia, em 2009, nova categoria, a de “Melhor Espetáculo”. Outra novida-de é a categoria de “Melhor Produção” que, a partir deste ano, passa a ser escolhida pelos próprios associados da APTR. Ano passado, já foram criadas as categorias “Homenagem Especial”, além dos títulos de “Melhor Ator” e Melhor Atriz” em papéis de coadjuvantes.

Ao todo, são 12 catego-

Festa da Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro fará homenagem à atriz Tônia Carrero, que completa 60 anos de carreira

rias, com 48 indicações de es-petáculos estrelados durante a temporada de 2008. Entre os jurados, nomes consagrados da crítica teatral, como Barba-ra Heliodora, Macksen Luiz, Lionel Fischer, Debora Ghi-velder, André Gomes, Tânia Brandão e Mauro Ferreira. Os premiados receberão das mãos de colegas da ribalta uma esta-tueta idealizada pelo produtor Fernando Libonati.

Os espetáculos “Ensina-me a Viver” e “Noviça Rebelde” receberam o maior número de indicações, sete cada um. Já “Traição”, dirigido por Ary Coslov, e “Clandestinos”, es-crito e dirigido por João Falcão, concorrem em quatro catego-rias. Mesmo sendo realizado mais uma vez sem patrocínio (apoiado apenas pela segurado-ra Porto Seguro), a premiação, atualmente, é um dos princi-pais eventos teatrais da cidade, segundo conta Flávio Marinho.

“O Prêmio APTR surgiu da necessidade de se preen-cher um vazio. Historicamente, o teatro tinha vários prêmios

Prêmio

Por Douglas de Barros importantes, como Molière, Mambembe, Ibeu de Teatro, Coca-Cola. No entanto, dos anos 1990 para cá, isso foi mu-dando e só restou o Shell. As empresas privadas e as esferas do governo se desinteressaram pela cultura, em geral, e pelo teatro, em particular”, lamenta.

Marinho explica ainda que nunca existiu um prêmio cujo corpo de jurados fosse for-mado pelos críticos, os únicos que vêem todas as produções. “Criamos o Prêmio APTR de Teatro para celebrar e festejar o nosso meio de vida, den-tro das nossas possibilidades. Será uma festa à la Oscar, com muita emoção, humor e gla-mour”, revela.

Para cada categoria, um grande nome para a entrega do prêmio. Feras como Nathália Thimberg, Aderbal Freire Fi-lho, Lúcio Mauro, Júlia Lem-mertz, Alcione Araújo, Kalma Murtinho e Amir Haddad, en-tre outros. “É uma festa emi-nentemente teatral, rica em animação e amor pelo teatro”, completa Flávio Marinho.

Prêmio APTR de Teatro completa três anos com novidades

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“A Noviça Rebelde”, com Saulo Vasconcelos e Kiara Sasso

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71º a 15 de Julho de 2009Jornal de Teatro

Depois de 28 anos de trabalho no teatro, no cinema e na televisão, Vera Zimmermann reencontra nos palcos Nelson Rodrigues, o autor de sua pri-meira atuação. Em entrevista ao Jor-nal de Teatro, a atriz revela o que pen-sa sobre cada meio onde trabalha. E dispara: “Não há papel para mim no cinema brasileiro”.

Jornal de Teatro – Há alguma di-ferença na sua visão de Nelson Rodri-gues da primeira vez que você inter-pretou uma obra dele para agora, em cartaz com “Vestido de Noiva”?

Vera Zimmermann – Muita dife-rença. Quando eu comecei com Nelson eu não sabia nada de teatro e caí de pára-quedas naquela companhia maravilhosa (Espetáculo Nelson Rodrigues – O Eter-no Reencontro, com direção de Antunes Filho). Aprendi coisas absolutamente in-críveis. Eu era praticamente uma adoles-cente, mas, mesmo naquela época, já tinha alguma compreensão e curiosidade sobre o trabalho dele. Hoje tenho um aprofun-damento maior do trabalho dele e do meu. Existe uma diferença imensa entre 1981 e 2009, e, claro, que eu já tinha visto várias coisas de Nelson, mas é diferente quando você vai fazer mais um espetáculo. Você estuda Nelson de outra maneira, principal-mente junto com o Gabriel (Vilella) e toda nossa equipe, porque é um autor genial.

JT – Seu trabalho teatral conta com grandes autores. Você acha importan-te fazer os clássicos?

VZ – Acho fundamental. Graças a Deus, z vários espetáculos de autores clássicos, principalmente junto com o Gabriel. Ele tem essa necessidade de tra-balhar com os gênios da dramaturgia uni-versal. É um privilégio poder estudar um Fausto, Becket. Eu acho muito importante poder circular por todos esses tipos de ca-beças que escrevem essas loucuras maravi-lhosas, que só acrescentam.

JT – Como começou a parceria de trabalho com o Gabriel Vilella?

VZ – “Vestido de Noiva” é o sexto espetáculo que faço com ele. Começou em 2000, quando a gente fez “Replay”. Ele me chamou através de um amigo, Léo Pacheco, que trabalhava com ele e logo a gente se apegou. O Gabriel tem um pou-co esse hábito de trabalhar novamente com os atores que ele tem a nidade. E eu tirei a sorte grande porque o Gabriel é um gênio, o tipo de teatro dele me interessa, a gente fala uma língua parecida.

JT – Você tem uma maneira parti-cular de conduzir sua carreira, “toma as rédeas” das negociações..

Veraz!Entrevista

Vera Zimmermann – atriz

[ve.raz - adj m+f (lat verace) 1 Que diz a verdade. 2 Em que há verdade; verídico. sup abs sint: veracíssimo] Dicionário Michaelis

VZ – Eu acho que no Brasil, infeliz-mente, a gente não tem agente que ca brigando por nós, o melhor agente somos nós mesmos. Agora, é óbvio que quan-do você está em evidência, precisa de um agente. Evidência que eu quero dizer é que você está na novela das oito na Rede Globo, porque daí todo mundo quer você e você precisa de alguém para atender seu telefone e suprir em tudo que as pessoas querem oferecer, convidar e não sei o quê. Agora, comigo, eu realmente que falo. Te-nho muitas amizades, vendo meu peixe. Não é que eu não tenha agente e co em casa parada, eu vou à luta, mostro minha disponibilidade, meu tempo e minha von-tade de trabalhar com as pessoas. Se tem uma coisa que eu z, faço e vou fazer cada vez mais é estar em contato com esses pro ssionais. A gente tem que estar esper-to nesse mercado competitivo.

JT – Qual sua relação com o cinema? VZ – Acho cinema uma coisa meio

complicada para fazer no Brasil para uma pessoa que tem meus traços físicos. A maioria dos lmes nacionais conta muita história do País, fala da pobreza, da favela, essas coisas. E eu, loira de olho azul, mes-mo brasileira, acho que tenho um merca-do restrito. Não há muito papel para mim no cinema brasileiro. Eu acho o cinema nacional maravilhoso, mas eu não tenho muito essa ilusão porque eu sei que não tenho cara de brasileira.

JT – Mesmo já atuando no teatro sua projeção no início da carreira veio mesmo da televisão?

VZ – Televisão é nosso ganha-pão e é um aprendizado de improviso. Não há tempo para se aprofundar no texto, a gente vai lá e faz. Ao mesmo tempo é um exercício muito difícil porque é imediato. Isso torna o trabalho muito legal, um de-sa o instigante e um ganha-pão – porque se a gente for depender só de teatro para sobreviver é complicado. A televisão me ajudou muito. Fazer a Divina Magda (na novela “Meu Bem, Meu Mal”, da Rede Globo) foi um empurrão na minha vida, mas eu nunca deixei de ter a consciência de que eu precisava manter o trabalho no teatro, que eu não podia fazer só televisão. Na época da novela eu era muito jovem, tinha que aprender muita coisa. É o que eu tenho feito e vou fazer para o resto da vida: estudar e aprender.

JT – Ao falar de Vera Zimmermann é difícil esquecer a música “Vera Gata”, do Caetano Veloso..

VZ – As pessoas falam “como você conheceu o Caetano?” e essa pergunta me arrepia, porque eu já a respondi milhão de vezes. Mas é uma honra eterna, não tem uma pessoa que não queria ter uma músi-ca feita pelo Caetano, um dos nossos me-lhores cantores, artistas e compositores.

Por Rodrigoh Bueno e Jarbas Homem de Mello

Todo o universo do teatro em um só jornal

www.jornaldeteatro.com.br

João

Cal

das

Vera Ziemmermann em cena no espetáculo rodrigueano “Vestido de Noiva”

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8 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

A criação de uma política pública voltada à Cultura em Rio Branco (AC) começou em 2005, com o I Fórum Munici-pal de Cultura, proposto pela FGB (Fundação Municipal de Cultura Garibaldi Brasil). A idéia era traçar um diagnóstico da situação dos setores ligados à cultura no município e fazer um levantamento dos princi-pais problemas estruturais e sociais enfrentados e relacionar suas principais expectativas em curto, médio e longo prazo.

A capital do Acre contava apenas com a Lei Municipal de Incentivo à Cultura, criada em 1993 e alterada em 1999. Em 2006, o trabalho cou pela co-leta de referências bibliográ -cas e estudos sobre as políticas culturais propostas pelo Go-verno Federal, bem como so-

Marketing Cultural

Agentes de ator se tornam fundamentaisEm um mercado cada vez mais fechado, o artista precisa ter alguém para gerenciar a sua carreira e orientá-lo profissionalmente

Para ser ator, talento é fun-damental... Mas não o su cien-te. A pro ssão, há tempos, exi-ge não somente os requisitos de formação cênica, mas envolve muita burocracia – através de contratos, testes e indicações de conhecidos – o que torna es-senciais os famosos “contatos”. Para facilitar esses caminhos e deixar que o artista preocupe-se somente em mostrar a sua arte, existe o agente de ator.

O agente é a gura que faz a intermediação entre diretores de elenco e atores, conduz a carrei-ra do artista (marca testes, envia material e promove seu casting). Para isso, é consenso no merca-do que esse pro ssional precisa ter amplo conhecimento cultural e não necessita ser artista para isso. “É muita responsabilida-de ter a carreira de alguém nas mãos. O agente precisa ter uma visão de business, uma cabeça diferente da do artista, agendar os trabalhos certos para poder fazer seu trabalho bem feito”, explica o gestor cultural do gru-po TMB, Oliver Callegali.

“Hoje, o agente é um pro s-sional necessário”, avalia Marcos Montenegro, da agência Mon-tenegro e Raman, que tem um casting de 180 artistas e recebe cerca de 10.000 propostas por mês de gente que deseja ser

ServiçoMontenegro e Raman

www.montenegroeraman.com.br

Grupo TMBTelefone: (11) 3656 7672

agenciada. Grandes agências como essas tem amplo portfólio não só de atores, mas de canto-res, atletas e até mesmo de jorna-listas, o que prova o valor desse pro ssional em diversos âmbi-tos da mídia. “Para ser um bom agente, ter os contatos certos é decisivo, além de saber fazer abordagens na hora certa, sem ser inconveniente”, diz Marcos.

Apesar da relevância do agente na carreira do ator, o mercado não está em ampla expansão. “A demanda por agenciamento é muito grande, o mercado, então, cresce, mas não muito”, frisa Oliver. Para Montenegro, isso acontece porque “o mercado já não é grande de maneira geral”.

Mas como o ator pode sa-ber se seu agente faz o trabalho certo? Primeiro, é importante identi car o foco do agente, se ele trabalha com o tipo de área que o ator deseja. Depois, ana-lisar quais são as pessoas que trabalham com ele, se há identi- cação com seus trabalhos pas-sados. Cobrar o agente de forma excessiva, exigindo trabalhos, nunca é a opção certa. “O ator que começa a ‘pentelhar’ (sic) o agente pode ser queimado no mercado, que é uma área peque-na, na qual todos se conhecem”, avisa Oliver Callegali, para quem é fundamental construir uma relação de con ança com quem

vai gerenciar sua carreira. “O pro ssionalismo é fundamental. Tratar com seriedade, mas de-pois de um tempo você se torna amigo, é como uma família”, ex-plica Montenegro.

Entre atores de teatro, de te-levisão e de cinema, para o ges-tor Callegali a função do agente é mais ou menos relevante. “Em teatro é menos válido, porque o artista precisa passar pelo

casting, não tem errou/voltou. Portanto, ca mais difícil o artis-ta conseguir o trabalho apenas porque foi indicado”, a rma. Mas essa opinião pode diver-gir. “Um agente é fundamental para qualquer ator hoje em dia”, observa Montenegro, acrescen-tando que o que de fato varia é a porcentagem do agente nos contratos para as diferentes áre-as. “Existem números padrão

Política Cultural

Por Ive Andrade

Por Renata Hermeto

Rio Branco tem lei de incentivo à cultura, “mas ainda não é suficiente”bre experiências de outros es-tados e municípios brasileiros.

A partir destes estudos, a FGB montou um documen-to que propunha a criação de quatro novos instrumentos de gestão: Conselho Municipal de Políticas Culturais, Fundo Municipal de Cultura, Cadastro Cultural de Rio Branco e Lei Municipal de Patrimônio Cul-tural. O documento foi levado, em primeira mão, para o Con-cultura (Conselho Estadual de Cultura) e para a Fundação Es-tadual de Cultura. Ambos r-maram parceria para trabalhar na criação da lei.

O público foi o primeiro a ter contato com o projeto. Por meio do site da prefeitura e do blog de cultura, o documento pôde ser analisado pelos in-teressados. De acordo com dados da prefeitura, foram re-alizados cerca de 300 downlo-

ads. Depois de três meses de análise, o município conseguiu, en m, a alteração da lei.

O documento foi, então, encaminhado ao PROJURI (Procuradoria Jurídica do mu-nicípio), que aconselhou o desmembramento da nova lei. No m do processo, dois pro-jetos de lei foram apresentados e aprovados pela Câmara dos Vereadores: a lei 1.676/2007, que institui o Sistema Munici-pal de Cultura de Rio Branco, e a lei 1.677, a Lei Municipal de Patrimônio Cultural, ambas de 20 de dezembro de 2007, apro-vadas, sem alteração, pela Câ-mara Municipal de Vereadores.

LEI DE INCENTIVO À CULTURA

Há uma orientação do Con-selho Municipal de Políticas Culturais para revisão desta lei, uma das deliberações da I Con-

ferência Municipal de Cultura, realizada em 2007. Na ocasião, foi formada uma Comissão de Revisão, veri cando-se, mais tarde, a ausência de condições, naquele momento, de empre-ender tal ação. “Inclusive das Artes Cênicas, no sentido de termos mecanismos de nan-ciamento mais adequados à realidade local e mais signi ca-tivos para os produtores cultu-rais locais”, informa Flavia Bu-larqui, responsável pelo setor de Informação.

No que se refere aos meca-nismos de nanciamento, a Lei Municipal de Incentivo à Cul-tura disponibilizou, em 2008, a quantia de R$ 566.678,74, con-cedendo recursos a 80 projetos culturais. A inovação do SMC foi o funcionamento do FMC (Fundo Municipal de Cultura). Ainda em 2008, o FMC traba-lhou com a importância de R$

300.000, distribuídos em qua-tro editais, três deles temáticos: Edital 1: Formação; Edital 2: Produção e Circulação; Edital 3: Intercâmbio. O último se encontra aberto até o dia 17 de outubro, uni cado, ou seja, contemplando diversas nature-zas de projetos.

De acordo com Flavia Bu-larqui e Eurilinda Figueredo, chefe do departamento de Articulação, “a lei não atende com e ciência, já que conta-mos com poucos recursos dis-poníveis para o nanciamen-to de projetos. Em 2009, por exemplo, foram R$ 780.000 para atender projetos nas áre-as de arte (incluindo as artes cênicas), esporte e patrimônio cultural”. Ela acrescenta: “Em 2009, tivemos 13 projetos de Artes Cênicas apresentados e, desses, somente seis foram aprovados”.

Relação de con ança: o agente Marcos Montenegro com os atores Irene Ravache e Cacau Hygino

para contratos publicitários, de teatro, de televisão ou de cine-ma. Mas isso pode variar de agente para agente e contrato para contrato”, diz um dos do-nos da Montenegro e Raman.

Divulgação

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91º a 15 de Julho de 2009Jornal de Teatro

Opinião

Editais

Tivesse eu o objetivo de atrair a ira de boa parte dos diretores brasileiros, eu começaria este pequeno artigo criando uma nova máxima: autor bom é autor vivo. Mas como respeito profundamen-te a classe dos diretores e tive o privilégio de me tornar amigo íntimo de quase todos com quem já trabalhei, me permito aqui uma pequena alteração nesta máxima recém-criada: autor bom também pode ser autor vivo. Ou vice-versa. Difícil é fazer com que alguns profissionais acreditem nisso.

Muito estranha a figura do autor. Ela parece incomodar não somente durante os ensaios, mas também ao longo da temporada. Como se nós, autores, fôssemos uma espécie de inspetor geral in-teressado no livro-caixa da companhia. Quando, na verdade, acredito eu, queremos ver apenas como é a voz, o corpo, a emoção e, principalmente, como se equilibram em pé todas aquelas personagens que, ao escaparem do nosso computador e da nossa impressora, não passavam de figuras chapadas em branco e preto. Se somos mesmos os pais biológicos de tantas histórias, penso que nosso acesso ao berçário deveria ser irrestrito. Porém, respeito as barreiras.

Assumo aqui que não sei dirigir. Não tenho uma visão cênica aprimorada, meu conhecimento de luz é primário, tenho uma queda, pequena, é verdade, mas ainda assim incontrolada para o melodra-ma e sinceramente não sei se conseguiria controlar um grupo de atores. Mais que isso: talvez eu já me sentisse satisfeito com a primeira visão do personagem que cada um deles me apresentasse. Por isso, minha admiração ao profissional que entende daquilo que eu não entendo: o diretor.

Mas existe uma sutileza que se encontra mais em poder do autor do que nas mãos do diretor e do elenco: é a sutileza da intenção, é aquela filigrana de emoção que parecia concentrada unicamente naquela palavra que o diretor resolveu cortar, é o silêncio entre uma frase e outra que, num primeiro

Qual deve ser o envolvimento de um dramaturgo na encenação de um espetáculo? A peça ganha mais com a interferência do criador do texto, ou somente com a exploração do diretor e dos atores sobre o texto?

Sérgio Roveri

A Funarte (Fundação Nacional de Ar-tes) apresentou mais um apoio à cultura brasileira ao lançar, no último dia 30, os editais de três projetos de incentivo à arte: o do “Prêmio Interações Estéticas - Resi-dências Artísticas em Pontos de Cultura”, o do “Bolsa Funarte de Produção Crítica sobre Conteúdos Artísticos em Mídias Digitais/Internet” e o da “Bolsa Funarte de Criação Literária”. O objetivo da fun-dação com esses projetos é impulsionar e potencializar a produção e difusão artísti-ca, a capacitação pro ssional e o debate de ideias no setor de cultura. Para cumprir essas expectativas, a Funarte viabilizará 86 projetos, através desses editais.

Para o Prêmio Interações Estéticas, serão investidos R$ 2 milhões – do orça-mento da Secretaria de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura – nas propos-tas vencedoras. Promovido em parceria com a Secretaria de Cidadania Cultural do MinC, o Prêmio, que vai para sua segun-da edição, oferece a possibilidade de de-senvolver projetos integrados à ações de Pontos de Cultura de todo o País, sendo que artistas de diversos segmentos podem concorrer. Serão concedidos 71 prêmios: 66 deles, com valores entre R$ 15 mil e R$ 50 mil, serão divididos entre as cinco regiões brasileiras; os outros cinco, de R$ 90 mil cada, estão destinados a projetos de “Abrangência Nacional”.

A Bolsa Funarte de Produção Crítica sobre Conteúdos Artísticos em Mídias Digitais/Internet também chega à se-gunda edição e oferece condições para que pesquisadores, teóricos, artistas e estudantes possam criar, estudar e se de-dicar à produção de conhecimento críti-

momento, somente o autor é capaz de ouvir.E então eu me pergunto: se é possível contar com esta ferramenta valiosíssima, que é a observa-

ção do autor, qual o sentido em desprezá-la? Não pareceria muito mais lógico e produtivo se, durante as leituras de mesa e, mais adiante, nos ensaios propriamente ditos, o elenco pudesse ter a chance de solicitar ao autor um hemograma completo dos seus personagens – ainda que os elementos ofe-recidos por ele fossem desprezados ao longo do processo? Imagino o imenso deleite que seria poder perguntar a Shakespeare se Hamlet é mais vítima de loucura ou de caprichos. Talvez não estejamos criando Hamlet, alguns podem argumentar, mas sabemos o que estamos criando. E andamos cada vez mais loucos para compartilhar este saber.

Entendo que o processo de direção pode ser tão solitário quanto o é, na maioria das vezes, o processo de escrita de um texto. Mas, o que eu defendo aqui, é a possibilidade de uma democrati-zação nestas relações. Que cada um tenha o direito de mostrar o que sabe e o que tem de melhor. Quem ganha com isso não sou eu, os diretores ou o elenco. Quem ganha com isso é aquela pessoa desconhecida, que sai de casa, enfrenta filas e deixa alguns reais na bilheteria como um crédito de confiança em nosso trabalho. A ela, devemos tudo. O resto a gente resolve nas coxias.

Sérgio Roveri é jornalista e dramaturgo. É autor das peças Andaime, prêmio Funarte de Dramaturgia, e Abre as Asas Sobre Nós, prêmio Shell de autor. Duas peças de sua autoria

estão em cartaz em São Paulo até o fim de julho: Dueto da Solidão, no Sesc Vila Mariana, e A Vida que eu Pedi, Adeus, no Teatro Cosipa

Funarte lança editais para viabilizar 86 projetos do setor artísticoFundação apresenta três novos projetos de incentivo à arte e oferece prêmios de até R$ 50 mil para potencializar cada vez mais a área

co sobre a arte brasileira na atualidade e sua relação com as tecnologias digitais. Serão distribuídas cinco bolsas de R$ 30 mil, uma para cada região do Brasil. As propostas de trabalho devem estar rela-cionadas à análise de conteúdos artísti-cos – das áreas de artes visuais, de dan-ça, de circo, de teatro, de performance, de fotogra a, de música, do audiovisual e da literatura – que tenham sido criados

ou estejam expostos em websites, CDs, DVDs e celulares, entre outros.

Já a Bolsa Funarte de Criação Literária tem como principal objetivo fomentar a produção de textos literários inéditos nos gêneros lírico e narrativo. A Funarte con-templará, por meio deste programa, dez autores brasileiros, dois de cada região. Cada um receberá uma bolsa de R$ 30 mil. Os prêmios e as bolsas darão viabilidade a

projetos de todas as regiões do País. Dessa forma, a Funarte cria integração cultural em todo o Brasil, valoriza a diversidade cultural brasileira e democratiza o acesso dos pro ssionais aos meios de produção artística e intelectual, colocando ao alcan-ce do público trabalhos que nem sempre encontram espaço na grande indústria do entretenimento. As inscrições se en-cerram no dia 13 de agosto.

Por Pablo Ribera

Fundação pretende, com os três editais, impulsionar e promover a integração cultural no Brasil

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10 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Dança

Ballet da vida

Por Carla Costa

Apresentações de dança moderna, de salão, popular e balé clássico encheram o calen-dário cultural da cidade de Ca-maçari (BA). Para a população local, o Festival Ballace Bahia é a oportunidade de ver de perto a beleza de coreogra as cui-dadosamente desenhadas para emocionar, e que tem como pano de fundo a história de vida dos integrantes das seleti-vas que nomeiam os três indi-cados para as vagas da Escola de Ballet Bolshoi para 2009.

Este ano, 1200 bailarinos de todo o País se inscreveram na disputa, realizada entre 11 e 14 de junho, pelo terceiro ano consecutivo, na cidade baia-na. Em meio a coreogra as e passos precisos, eles mostra-vam a excelência do trabalho desenvolvido em classes sem muita estrutura, mas que nunca

representaram empecilho para quem tem vontade de vencer. A nal, estudar no Bolshoi do Brasil pode ser a oportunidade de mudar para melhor todo o percurso de vida.

Na plateia, os sonhos dos participantes eram multiplica-dos pelos dos pais e familiares. Eles acompanharam, ansiosos, cada apresentação. Este ano, o evento – que teve apresenta-ções paralelas incluídas ao fes-tival, devido à grande demanda de público – registrou público recorde de 3.500 expectadores no Teatro Cidade do Saber.

As audições foram acom-panhadas pela coordenadora, Sylvana Albuquerque, e pela coordenadora artística do Bol-shoi no Brasil, Maria Antonieta Spadari. A meta era selecionar os dois melhores dançarinos do Festival Ballace e mais uma criança que estude no comple-xo artístico, Cidade do Saber, para integrar o corpo do Bol-

shoi no Brasil. Para Sylvana Albuquerque,

todos os participantes foram vencedores, pois muitas vezes eles não têm espaço adequado para ensaiar, nem condições -nanceiras para investir até mes-mo nos próprios vestuários. “A importância desse trabalho já fala por si só, pois tudo o que fomenta a cultura e a dança deve ser considerado primor-dial para o desenvolvimento de qualquer ser humano”, a r-ma. Segundo ela, os bailarinos baianos mostram que sabem o valor da arte e se destacam em exibilidade, bravura e vontade de vencer. “Temos muito pra-zer em assisti-los”, conclui.

Apesar do nervosismo e an-siedade dos participantes, eles não negaram a felicidade em poder participar de um evento tão importante e que lhes abre portas. Além de, também, terem oportunidade de fazer um in-tercâmbio de experiências com

AUDIÇÃO É APENAS A PRIMEIRA BARREIRA ENFRENTADA PELOS DANÇARINOS

Além dos cursos de aperfei-çoamento, a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil oferece a to-dos os bolsistas ensino regular gratuito, uniformes, plano de saúde, transporte e alimenta-ção. Mas não dá moradia aos bailarinos. O que, para muitos, como a bailarina Anelice Sou-za, de 11 anos, é um grande obstáculo para seguir em fren-te. “Rezo todos os dias para que Deus me dê a graça de conseguir ir para lá, pois tenho certeza que é a grande chance da minha vida, de seguir o meu sonho e ainda ajudar a minha família”, desabafa.

A menina, agora, precisa vencer mais uma etapa: con-seguir patrocínio para manter uma moradia durante todo o período que precisará car em Joinville para completar o cur-so. Criança humilde, que mora em uma região de classe baixa

pro ssionais e praticantes da dança de outros cantos do País.

Quando é chegada a hora de conhecer os dois escolhidos pelos coordenadores, a Bahia – sede do festival – é nomeada, pelo segundo ano consecutivo, a grande vencedora ( ca com as duas vagas do Bolshoi). As bailarinas Lara Pithon e Aneli-ce Souza ganharam bolsas inte-grais, mas, para fazer o curso, terão que mudar radicalmente

o estilo de vida. Isso signi ca, inclusive, morar em outro esta-do, pois a instituição se localiza em Santa Catarina, na cidade de Joinville.

O curso, que tem duração de oito anos, oferece aulas te-óricas, técnicas de dança, curso de inglês, aulas de literatura, de piano e de pilates. Ao término desse período, os bailarinos sempre voltam ao Bolshoi para novos aperfeiçoamentos.

de Salvador, Anelice vive com os pais, garçons, e com sua irmã. Todos vivem em uma casa simples, com a renda de dois salários mínimos. A mãe, Márcia Souza, conta que, des-de criança, Anelice dava sinais do quanto tinha vocação para o balé. “Ela sempre andou na ponta do pé e se destacava nas festas devido a forma de dan-çar”, revela Márcia.

Márcia conta, ainda, que a boneca Barbie sempre foi a inspiração da sua lha, que ten-tava imitar os passos que a per-sonagem fazia em comerciais e lmes. “Ela me pedia para entrar em uma escola de dan-ça, mas, infelizmente, minha falta de condições nanceiras não permitia. Doía muito ver a minha lha cheia de potencial, mas sem oportunidades”, diz Márcia.

Quando Anelice completou

9 anos, a mãe dela conseguiu colocá-la na academia de dança do bairro. Foi lá que a garota teve apoio para seguir em fren-te. Assim que começaram as aulas, sua professora de dança,

Vera Monteiro, percebeu que estava diante de uma excelente bailarina. “Ela tem grande po-tencial. Só precisamos lapidá-la para que ela se torne uma péro-la preciosíssima. Anelice é uma criança que dança com emoção e é muito carinhosa”, avalia Monteiro.

Anelice, que já ganhou di-versos prêmios, diz que não esperava ser escolhida pelo Bolshoi, apesar de ter a cons-ciência de que dança bem. Ela conta que, quando soube do resultado do concurso, cou muito feliz e só pensou que era chegado o momento de dar melhores condições de vida para sua família.

Quando questionada so-bre a saudade que sentirá dos familiares, Anelice responde que seria muito bom se todos pudessem se mudar para Santa Catarina com ela, mas, como já

está sendo difícil a sua própria ida, a menina a rma que irá segurar a emoção e seguir em frente. “Sei que deve ser difícil car tão longe, mas não vou me abater. Quero ir e aprovei-tar essa grande chance. Peço a ajuda de todos que possam me apoiar a conquistar o meu so-nho”, frisa Anelice.

O desempenho de Ane-lice fez com que os auditores adiantassem o início do curso da garota, que só deveria in-gressar no Bolshoi em feverei-ro de 2010. Assim, caso consi-ga patrocínio para comprar as passagens e pagar por moradia, a menina começará o curso no segundo semestre deste ano.

Apoio: Quem quiser ajudar Anelice deve entrar em

contato com a professora Vera Monteiro através do

telefone (71) 8816-9028

Anelice, de 11 anos: patrocínio para mudar para Joinville

Bailarina Mariana Gomes pretende um dia ser júri do Festival

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Page 11: Jornal de Teatro Edição Nr.06

111º a 15 de Julho de 2009Jornal de Teatro

HISTÓRIA DO FESTIVAL MOSTRA QUE A PARTICIPAÇÃO POPULAR É O MAIOR RESPONSÁVEL PELO

SEU CRESCIMENTO

Esta foi a quarta edição do Ballace, realizado na Bahia desde o ano de 2006. A primeira sede do festival foi Salvador. No entanto, de-pois da inauguração da Cidade do Saber, instituição pública que ofe-rece aulas de dança para a comu-nidade carente da região, surgiu a viabilidade da transferência para um município da Região Metropolitana.

A Cidade do Saber não ofe-rece apenas espaço físico para a realização do festival. Dela saem, também, os dançarinos que, anualmente, emocionam e brigam com garra por uma vaga na seletiva. Este ano, 300 alunos da Cidade do Saber concorreram a apenas uma vaga.

No entanto, de acordo com a coordenadora da seletiva na Bahia, Sylvana Albuquerque, após as audições, quatro estudantes foram selecionados. As crianças escolhidas – Débora Leal Santos de Carvalho, Elisa Bonfim Mene-zes, Pámela dos Santos Silva e Yasmin Ribas Ferreira – participa-rão da seletiva, nos dias 17 e 18 de outubro, em Joinville.

Elas disputarão as 40 vagas com bailarinos de todo o mundo. No entanto, segundo as coorde-nadoras do festival realizado na Bahia, o número pode ser altera-do pelo desempenho dos concor-rentes e das performances. “Eles já são vencedores. Desejo aos selecionados muita garra e deter-minação. E que consigam vencer mais essa etapa, mas que, princi-palmente, não se frustrem se não conseguirem passar. Existem vá-rios caminhos e o Bolshoi é ape-nas um deles”, finalizou Sylvana.

Em 2008, o Ballace trouxe o diretor Pavel Kasarian, da Escola do Teatro Bolshoi , para selecionar alunos da comunidade, oferecen-do-lhes duas bolsas de estudo completas. A expectativa inicial dos representantes do Bolshoi era a de selecionar crianças para a etapa nacional. No entanto, eles foram surpreendidos pela aptidão dos participantes e decidiram, de forma inédita, aumentar o número de vagas para aquele ano.

Assim, oito alunos foram classificados e concorreram com mais 500 candidatos de todo Brasil. Finalmente, quatro crian-ças foram contempladas com as bolsas de estudo. Números que tem crescido com a realização de cada uma das novas edições. Para se ter uma ideia, de 2008 para 2009, o número de inscri-tos cresceu de 1000 para 1500, firmando o Ballace no calendário artístico nacional.

Junto com os números, o festival chama a atenção de no-mes de peso da dança, que se envolvem com o projeto. Assim, bailarinos brasileiros de destaque que participam de companhias e eventos consagrados nacio-nal e internacionalmente, além de estudantes e praticantes da dança do Brasil, têm se reunido no palco e plateia do TCS. Isso contribui para inserir o Comple-xo de arte-educação camaça-riense como parte importante do cenário da dança mundial.

De férias na Bahia, a baia-na Mariana Gomes, única bra-sileira que compõe o corpo de dança do Ballet Bolshoi na Rússia, conta sua história, fala da saudade e sobre a vontade que tem de compor o corpo de jurados do Festival Ballace. A companhia da qual Mariana faz parte é considerada a mais tradicional do mundo, funda-da em 1776, e conhecida mun-dialmente devido aos rigoro-sos critérios para a seleção, perfeição e precisão de todos os passos dos seus bailarinos. “É preciso muita coragem e determinação, além de técnica, muito caráter e inteligência”, explica Mariana.

Com apenas 21 anos, ela é o exemplo de determinação e superação que inspira a maioria dos dançarinos brasileiros. A sua trajetória na dança foi inicia-da aos 7 anos, quando começou a estudar na Escola de Ballet Adalgisa Rolim, na cidade de Lauro de Freitas (BA). Aos 14 anos, ela foi incentivada por sua professora de dança para fazer um teste na Escola de Teatro do Bolshoi, de Joinville, e aca-bou selecionada entre os 4.700 currículos enviados.

Mariana passou a inte-grar o corpo de baile e a via-jar por todo o Brasil, sempre com medalhas de honra como melhor aluna. Em 2005, nas avaliações anuais, feitas por professores de Moscou, foi

BAIANA REPRESENTA BRASIL NO BALÉ DA RÚSSIA

selecionada para o estágio re-munerado e se mudou para a capital Russa. Mariana conta que teve problemas de adapta-ção e sofreu discriminação por ser brasileira, mas soube ven-cer os obstáculos, inclusive, o mais difícil deles: a saudade que sentia da sua família e dos amigos. “Aprendi a conviver com a saudade, e aprendi que tudo é uma questão de costu-

me”, conta.Com uma rotina inten-

sa, ensaios diários, das 8h às 22h30, e intervalos de três horas com folgas somente na segunda-feira, Mariana teve sua grande chance ao subs-tituir uma bailarina russa, 15 minutos antes da estreia do es-petáculo Bolt. “Era uma apre-sentação difícil e nem todo mundo sabia fazer tudo, mas

eu sabia, porque sempre estu-dei tudo. Assim ganhei meu espaço”, diz.

A bailarina admite que o caminho até o Bolshoi da Rússia é árduo, e, infelizmen-te, nem todos que estudam no Bolshoi do Brasil terão a mesma oportunidade. “Infe-lizmente não é fácil conse-guir chegar lá e mostrar suas qualidades, mas, com certeza, a maioria dos bailarinos terá chance em outras companhias do mundo”, avalia Mariana.

Ela conta que conhece e já ouviu falar muito do Festival Ballace. Para Mariana, é muito importante saber que, através deste evento, vários baianos são selecionados para o Bol-shoi. “Eu ainda não participei, mas, assim que receber um convite, terei o maior prazer em realizar uma apresentação e de ser jurada também”.

Mariana naliza a entre-vista deixando para todos os bailarinos brasileiros uma mensagem de incentivo. “Se-jam muito mais que bailarinos, muito mais que estagiários, muito mais que contratados, façam a diferença. Usem a inteligência e nunca percam a humildade. Dancem quando estiverem tristes e com sauda-des, quando estiverem de fol-ga e até mesmo de férias. Dan-cem pra curar todas as dores, mas que seja sempre com amor”, nalizou a bailarina.

Festival realizado pelo Bolshoi movimenta calendário cultural de cidade baiana e alimenta sonho de pro ssionalização de bailarinos de todo o Nordeste

Mariana Gomes, a baiana de 21 anos que conquistou a Rússia

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131º a 15 de Julho de 2009Jornal de Teatro

OFICINAS DE FORMAÇÃO FOMENTAM A EDUCAÇÃO DURANTE O FESTIVAL

Serão quatro atividades para atores, diretores, bailarinos e até jornalistasA programação de Atividades Formativas no FIT incluirá diversas oficinas, de-

bates, palestras e encontros, todos gratuitos e abertos ao público. As inscrições começaram no dia 1º de julho e seguem até o fim das vagas, que são limitadas. Os espaços, segundo os organizadores, serão dedicados à aprendizagem e apri-moramento não só de atores, mas de bailarinos, de diretores e até de jornalistas de arte. Serão quatro oficinas teatrais:

A Teatro do Oprimido, nos dias 17 e 18 de julho, apresentará princípios bá-sicos da teoria do teatro e experimentação prática através de jogos, exercícios e uma encenação. O diferencial é que crianças a partir de 13 anos já podem participar dessa oficina.

O grupo argentino Los Corderos coordenará a oficina O Corpo Criativo no Teatro, no terceiro dia de festival. O foco ficará nas ferramentas do que o ator dispõe, como o preparo de sua voz, de seu físico e de sua composição espacial, fornecendo um treinamento no qual o ator poderá descobrir suas limitações.

A oficina Princípios Excêntricos acontecerá no dia 25 e também terá presen-ça internacional, graças ao norte-americano Avner Eisenberg, que irá explorar maneiras de encontrar personagens e criar materiais, abrangendo três áreas: balanceamento e controle do espaço, encontro e estabelecimento de cumplici-dade com o público e parceiros e resolução de problemas como um método de trabalhar no palco.

Voltada aos jornalistas e a quem gosta de escrever, o Atelier de Crítica Teatral terá a presença de Kil Abreu, hoje colaborador da revista “Bravo!” e com vasto currículo na área cultural. É a oficina mais longa, com quatro dias de duração, de 21 a 24.

Para se inscrever em uma das atividades, basta comparecer à secretaria do FIT, no primeiro andar do Centro Cultural Daud Jorge Simão, localizado na praça Jornalista Leonardo Gomes, s/n (Praça Cívica). Mais informações pelo telefone (17) 3215-1770.

sentações, confraternização e troca de ideias, formando um dos ambientes mais esperados do festival. A extensa progra-mação tem alguns destaques, como a intervenção do grupo mineiro As Obscênicas, com “Baby Dolls – Uma Exposição de Bonecas” e “Bolha Lumi-nosa – Experimento Transa-piens”, da Cia Teatro Lumbra e o Clube da Sombra.

As artes plásticas também terão espaço com a instalação do artista Carlos Bachi “Ár-vorearbretreearbol”. Entre os espetáculos musicais estão o show de Karine Alexandrino, músicos argentinos apresentan-do uma fusão de ritmos latino-americanos em “La Cartelera y sus Limones Domingueros” e o inglês Tetine apresentando seu último álbum. A variedade de estilos musicais está garanti-da durante as noites do espaço, com apresentação do DJ Bocka, do DJ Mabel, do DJ Cláudio Gorayeb, do DJ Fábio Lopes e do DJ Jefferson D’Melo.

APRESENTAÇÕES NAS RUAS

O FIT terá dois espetácu-los gratuitos ao público nas ruas de São José do Rio Pre-to. A Oigalê Cooperativa de Artistas Teatrais apresenta “Miséria, Servidor de Dois Estancieiros”, adaptada li-vremente da commedia dell’arte “Arlequim, Servidor de Dois Amos”, de Carlo Goldoni. A principal história trata de um anti-herói que não conseguiu entrar nem no céu nem no inferno e decide arranjar um emprego.

A segunda atração de rua é do Teatro que Roda. É a “Das Saborosas Aventuras de D. Quixote de La Mancha e seu Escudeiro Sancho Pan-ça - Um Capítulo que Poderia ter Sido”, que fala sobre um executivo que se cansa de sua vida e mergulha em um mun-do imaginário, imaginando ser

o famoso personagem de Mi-guel de Cervantes.

COMPANHIAS INTERNACIONAIS

Companhias internacionais terão espaço no festival des-te ano. França, Chile, Estados Unidos, Espanha e Argentina estão entre os que poderão apresentar suas obras na cidade de São José do Rio Preto.

O espetáculo francês “Ar-cane” é que fará a estreia, dia 16, trazendo uma relação acrobática entre homem e objeto. O grupo chileno Te-atro en El Blanco apresenta “Neva”, peça ambientada em São Petesburgo, na Rússia, que trata sobre manifestações dos operários por melhores condições de vida.

O norte-americano Avner Eisenberg mostra, através da comédia, sua simplicidade po-ética com um de seus grandes sucessos na Broadway, “Avner, the Eccentric”. Da Espanha, vem o grupo Los Cordelos.sc com a “Crónica de José Agar-rotado (Menudo Hijo de Puta)” e “Sienta La Cabeza”, onde o público é o protagonista. Ain-da com o idioma espanhol, os argentinos trazem o espetáculo “Tercer Cuerpo”, onde cinco personagens se unem através da solidão que os assola e a ne-cessidade de amar.

ATIVIDADES FORMATIVAS

A organização do festival traz, nesta edição, diversas ati-vidades de formação para os interessados nas artes cênicas com o objetivo de oferecer um espaço para o aprimoramen-to desses pro ssionais. Entre as atividades estão palestras, debates, o cinas, lançamentos editoriais, lmes e encontros de pro ssionais da área.

O Painel Crítico funciona como uma forma de compre-ender melhor o trabalho dos críticos de teatro e contará

com o trabalho de seis leitores críticos, que publicarão seus textos no jornal do festival e no site o cial. São eles: Walter Lima Torres, da UFP, Curiti-ba (PR); Kil Abreu, da Escola Livre de Teatro, Santo André (SP); Bia Medeiros, da UNB, Brasília (DF); Lúcio Agra, da PUC São Paulo (SP); Clóvis Massa, da UFRSG, Porto Ale-gre (RS); e Luiz Marfuz, da UFBA, Salvador (BA).

No Open Space, o tema do FIT, a subjetividade, será colocado em pauta em duas atividades. Primeiro a subjeti-vidade contida nos processos de criação coletiva e depois a fruição subjetiva e leitura crí-tica, com a participação dos leitores críticos, dos alunos do Atelier de Crítica Teatral e dos críticos dos jornais, TVs e sites convidados pelo festival.

DO DRAMA À COMÉDIA

Companhias consagradas e inovadoras se apresentam em diversos espaços do FIT. O Grupo Macunaíma é um deles, com o espetáculo “A Falecida Vapt Vupt”, de Nel-son Rodrigues. Outro texto do dramaturgo brasileiro, “Se-nhora dos Afogados”, ganha nova produção no festival, feita pelo Núcleo Experimen-tal. Os baianos da companhia Dimenti Produções Cultu-rais também terão Rodrigues como fonte de inspiração na peça “Batata!”.

Isabel Teixeira, vencedora do prêmio Shell 2009 de melhor atriz, apresentará o espetácu-lo que lhe concedeu o prêmio, “Rainha[(s)] - Duas Atrizes em Busca de um Coração”, dirigido por Cibele Forjaz, com Georgete Fadel no elenco. Também me-rece destaque o monólogo “El-dorado”, de Eduardo Okamoto; “O Cantil”, da companhia cea-rense Teatro Máquina; e o espe-táculo “A Margem”, da Compa-nhia do Gesto, do Rio de Janeiro.

SERVIÇO:Festival Internacional de São José do Rio PretoQuando e onde? Entre os dias 16 e 25 de julho, em São José do Rio Preto, SPQuanto?Entre R$ 10 e R$ 2,50Mais informações: www.festivalriopreto.com.br

FIT TRAZ LANÇAMENTOS DE LIVROS E EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICADentro da programação de Atividades Formativas, o FIT traz o lança-

mento de produções editoriais que abordam a temática teatral. Um dos destaques é o livro Fotografia de Palco, da fotógrafa Lenise Pinheiro. Para realização desta obra, Lenise inspirou-se no trabalho de Fredi Kleemann (1927-1974), fotógrafo que registrou as produções do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e da Companhia Cacilda Becker. O diferencial de Lenise é a busca pelo “instantâneo não elaborado” e não apenas o retrato.

O lançamento do livro é acompanhado de uma exposição fotográfi-ca com as imagens presentes no livro. Na mesma noite, dia 17 de julho, também acontece o lançamento das obras: O Teatro da Morte, de Tadeuz Kantor; Revista Sala Preta – nº 8.

Festivais

A proposta experimental do FIT será mantida em 2009 Em 1969, o Festival de Teatro de São José do Rio Preto surgiu com caráter competitivo

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12 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

O Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto chega a sua 40ª edição, em 2009, com mais de cem apresentações de grupos nacionais, interna-cionais e regionais em sua pro-gramação. Este ano, o FIT terá como tema a subjetividade e manterá o caráter experimen-tal e não-competitivo que o caracteriza desde 2001. Os ingressos começam a ser vendidos, virtualmente, no dia 7 de julho, através do site o cial do festival (www.festivalriopreto.com.br). A par-tir do dia 11 de julho será possível também adquirir as entradas pessoalmen-te no Sesc Rio Preto ou em 27 outras unidades do Sesc no Estado de São Paulo. Os preços das apresentações variam en-tre R$ 2,50 e R$ 10.

MÓDULO TEATRO E CIÊNCIA

Em 2009, o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Pre-to trará uma combinação inusitada em um de seus módulos: a união do te-atro com o tema ciência, apresentado pelo grupo paulistano Núcleo Arte e Ciência no Palco com dois espetáculos. O pri-meiro é “Einstein”, que já passou por mais de 350 cidades pelo País e completa dez anos. O en-redo apresenta uma visão humanizada do gênio da física, com nuances de sua personalidade captadas no palco. Em São José do Rio Preto, a estréia da peça acon-tecerá no dia 21 de julho.

Outra apresentação que une o mundo cientí -co ao teatral é “After Da-

rwin”, que trata dos con i-tos de Charles Darwin com o

capitão Robert Fitzroy. O es-petáculo aproxima a teoria do cientista ao contexto contem-porâneo. No FIT, sua estreia acontecerá no dia 24.

MÓDULO OCUPAÇÃONo Módulo Ocupação, to-

dos os anos um grupo de des-taque nas artes cênicas ganha espaço exclusivo e pode trazer de volta suas criações e as me-lhores obras. No aniversário de 40 anos de criação do festival, o carioca Companhia dos Atores é o convidado. Com 20 anos de carreira, os artistas cariocas apresentarão em São José do Rio Preto quatro espetáculos, entre os dias 20 e 25 de julho.

“Talvez” é um deles, onde um homem marcado pela in-trospecção e esquizofrenia tranca-se em seu apartamen-to e inicia uma relação curio-sa com os espectadores. Nos dias 20 e 21, “Apropriação” discutirá temas como livre ar-bítrio, autoria e impotência do homem perante seu criador, através de trechos de obras, declarações e entrevistas do dramaturgo Harold Pinter.

Situada nos anos 40, a peça “Esta Propriedade está Con-denada” traz como pano de fundo o encontro de dois ado-lescentes no sul dos Estados Unidos e, a partir daí, desen-rola uma seção de lembranças de clássicos cinematográ cos e trechos de populares canções norte-americanas.

Com direção de Gerald Thomas, o último espetáculo a ser apresentado pela com-panhia será “Bate Man”, onde a personagem é torturada e, durante a peça, constroi uma profunda análise do homem contemporâneo.

ALDEIA FITNo módulo Aldeia FIT, dez

grupos teatrais de São José do Rio Preto marcam presença no festival. Os artistas foram esco-lhidos através de uma seleção que tinha 21 candidatos, na qual foi levado em conta a qualidade técnica, o texto e a interpreta-ção, entre outros aspectos.

Entre os selecionados es-tão a Cia Teatral Só Riso, com o espetáculo “Liz, eu e o Pás-saro Encantado”, onde a ima-ginação de uma menina e sua relação com um pássaro le-

Divulgada a programação do

40º. Festival de Teatro de São José do Rio Preto

Com o tema Subjetividade, evento se divide em módulos por áreas temáticas

vam ao público referências de mundos diferentes. Já o Balé de Rio Preto apresenta “Alma Aprisionada”, onde o grupo se arrisca em uma performan-ce entre a lucidez e a loucura, tratando da personalidade de Stela do Patrocínio.

Dentro de um contexto po-pular, a Cia Forrobodó de Tea-tro apresenta “É Poesia Popu-lar”, que conta a história de um casal de retirantes que chega à cidade grande em busca de uma vida melhor, mas seguem pelo Brasil cantando cordéis. O trabalho da Cia Palhaços Noturnos será “Melodrama”, onde o humor e o deboche se misturam em diversas peque-nas histórias.

Interpretando o clássico li-terário “Memórias de um Sar-gento de Milícias”, a Cia Fá-brica dos Sonhos mostra com humor a conhecida história de Leonardo Filho, enquanto a Trupe Gato e Sapato conta a história de dois artistas de cir-co: o palhaço Pirueta e a bai-larina Penélope, que perdem seus empregos e agora tentam montar o próprio show. As di- culdades dessa empreitada te-cem a história da peça.

O espetáculo “As Noivas”, da Cia Livre de Teatro, é uma adaptação livre de três contos de Nelson Rodrigues, com um toque contemporâneo. Na peça, três mulheres com perso-nalidades distintas, mas com o mesmo sonho: usar um vesti-do de noiva. Em “O Girassol”, a história é a do menino Brás não gosta de sua vida e quando adulto deixa o interior em bus-ca de seus sonhos. O espetácu-lo é da Cia da Boca e trata da terra e sua relação com os seres humanos.

Três empregadas domésti-cas acreditam ter matado sua patroa em “Três é D+”, da Cur-ta Produções Artísticas. O espe-táculo promete arrancar risos da plateia enquanto as mulheres tentam provar sua inocência.

NÃO-LUGARO espaço noturno Não-

Lugar é reservado para apre-

O Festival InternacioTeatro de São José do Riochega a sua 40ª edição, emcom mais de cem apresende grupos nacionais, incionais e regionais em sugramação. Este ano, o Fcomo tema a subjetivimanterá o caráter expetal e não-competitivocaracteriza desde 20ingressos começam vendidos, virtualmendia 7 de julho, atrasite o cial do festivafestivalriopreto.com.br). rrtir do dia 11 de julhpossível também aas entradas pessote no Sesc Rio Prem 27 outras undo Sesc no EstaSão Paulo. Os preçapresentações varitre R$ 2,50 e R$ 1

MÓDULO TEAE CIÊNCI

Em 2009, o Internacional de de São José do Rto trará uma combinusitada em um módulos: a uniãoatro com o tema apresentado pelo paulistano Núclee Ciência no Palcdois espetáculos. meiro é “Einsteinjá passou por m350 cidades pelo completa dez anosredo apresenta umhumanizada do gêfísica, com nuancespersonalidade captapalco. Em São José Preto, a estréia da peçtecerá no dia 21 de jul

Outra apreseque une o mundo cco ao teatral é “Afte

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Com o tema Subjet

Por Ive Andrade

Festivais

O espetáculo francês Arcane traz a relação acrobática entre homem e objeto

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14 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Participação artística como arma para

democracia realA 41ª edição do FILO (Fes-

tival Internacional de Londrina), que acabou no nal de junho, en-tra para a história das artes bra-sileiras graças à redação de uma carta oriunda do debate Acessi-bilidade Para a Democratização da Cultura, em que o foco para a Arte Inclusiva, ou seja, aquela preocupada com a participação de todos os indivíduos de nos-sa sociedade na feitura e rece-bimento dos objetos artísticos, teve pioneiro destaque.

Já havia participado de fes-tivais nacionais realizados pelo Movimento Arte Sem Barrei-ras, como jornalista e o cineiro, como também do alemão Dan-cing Crossing Festival, como bai-larino, e com o grupo português Dançando Com a Diferença, como pesquisador em dança in-clusiva (que chamo de dança das diferenças), mas em todos esses eventos citados, a segmentação segregava os ditos inclusos do meio artístico a ser incluídos. Já o FILO 2009 agregou a sua se-leta pauta de fomento artístico, de merecido reconhecimento no curso desses anos, a questão da chamada Arte Inclusiva.

Mas, voltemos à carta: ela é endereçada a todos os festivais, sejam nacionais ou internacio-nais, para que estes reconheçam artistas de cientes com igualda-de de possibilidades de partici-pação, desde que a arte a que se dedicam esteja dentro dos critérios de excelência artística exigidos por tais festivais. Outro quesito da carta, que exige uma reformulação mais complexa dos meios, diz respeito à acessi-bilidade da recepção dos espetá-culos apresentados em festivais, ou seja, que através da tecnolo-gia e de outros meios – como um intérprete em LIBRAS – seja possível a recepção por de- cientes visuais, auditivos etc.

O DEBATEQuem participou das mais

de quatro horas de duração do debate Acessibilidade Para a Democratização da Cultu-ra, mediado por Paulo Braz – membro da Comissão Orga-nizadora do FILO –, sabe que os apontamentos ali nascidos são apenas rebentos prematu-ros de discussões que ocuparão enorme parcela de nosso porvir, mas, na contramão de tantos projetos capazes de nos engra-vidar de questões para, na se-quência, nos abandonar órfãos de espaços para a continuação das discussões, o FILO 2009, na pessoa do próprio Braz, se comprometeu com a continui-dade do projeto nas próximas edições do evento.

“Desde o princípio, o FILO é um festival preocupado com o processo, então, é natural a con-tinuidade do projeto de Arte In-clusiva nas próximas edições do Festival”, completou Paulo Braz.

A jornalista, empreendedo-ra social, escritora, fundadora da Escola de Gente –Educa-ção Para Inclusão e do grupo de teatro Os Inclusos e Os Si-sos a rmou categoricamente: “sem se pensar na questão da acessibilidade não há evolução democrática”. Em miúdos, a palavra democracia – carac-terizada pela participação de todos os cidadãos do povo, em que, por meio do voto, escolhemos nossos repre-sentantes, cuja missão é debater e legislar assuntos de relevância social – só atinge seu pleno signi ca-do quando representantes de cada segmento social, preocupados em solucionar os problemas de forma comu-nitária, tiverem efetiva partici-pação no debate social.

O problema disso, também apontado por Werneck, é que os segmentos acabam por bus-car soluções muito especí cas e geram uma espécie de exclusão

dentro da própria idéia de inclu-são. Citou como exemplo as rei-vindicações de grupos de surdos com capacidade de leitura labial, batalhando por direitos especí -cos a sua classe, desconsiderando aqueles de cientes auditivos sem a capacidade de leitura labial.

Virou lugar-comum o dis-curso individualista em todas as instâncias. Nada a fazer, en-tão? Não. Continuemos tentan-do interpretar o que nos dizem nossos representantes para as-segurarmos um futuro mais comunitário, votando em quem nos parecer melhor representar.

O debate Acessibilidade Para a Democratização da Cultura, como se pode perceber, alcançou escalas além do sentido objetivo da questão “acessibilidade”. Mas a apresentação do grupo carioca Os Inclusos e Os Sisos é referência objetiva no quesito recepção aces-sível (as representações do grupo procuram destinarem-se aos mais diferentes públicos, contando, para isso, com uma intérprete de LIBRAS, posicionada numa das laterais do palco de modo a car iluminada sem que isso inter ra na iluminação do espetáculo, fones de ouvido c o m

áudio descrições, para que os de- cientes visuais possam acompa-nhar os detalhes da encenação, e um sistema de legendagem instantânea, na outra lateral do palco, destinado aos de cientes auditivos alfabetizados). Segundo a rmou Cláudia Werneck, esse é o modelo do “teatro do futuro”, cuja recepção será pautada pela acessibilidade geral.

ARTISTAS HERÓICOS POR SEREM DEFICIENTES

OU, SIMPLESMENTE, ARTISTAS?

Como de ciente que já deu a cara a tapa nos palcos, dan-çando em Via Sem Regra, de Gerda König, com a alemã Din a 13 Tanzcompany comungo com a inquietação que preo-cupa sobremaneira o bailarino Edu O, que apresentou o inte-ressante “Judite Quer Chorar, Mas Não Consegue”, no FILO 2009: o reconheci-mento de nosso trabalho está atrelado ao fato de nos-

sa de ciência nos colocar num pedestal cerzidos com âmulas heróicas daquele que consegue uma vitória apesar de enfrentar todas as adversidades ou somos reconhecidos pelo nosso real valor artístico (única “vitória” que nos interessa obter)?

Guardo uma lição de Henri-que Amoedo, diretor-artístico do grupo português Dançando Com a Diferença: “O resultado artísti-co pode ser bom ou ruim inde-pendentemente da condição física de quem o apresenta”. Posto isso, devemos ater nosso foco de aten-ção no gesto, na fala, na melodia, na poesia, en m, no objeto artísti-co em si e não em quem o produ-ziu para medirmos sua relevância e/ ou qualidade artística.

Edu O., por exemplo, apresenta em Judite Quer Chorar, Mas Não Consegue uma bela obra de dança-teatro sobre as dores e os sabores vindos com a transformação.

*Michel Fernandes é jornalista cultural, crítico e

pesquisador de teatro. Editor do

www.aplausobrasil.com.br.

Por Michel Fernandes*especial para o Jornal de Teatro

Festivais

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Bailarino Edu O durante o espetáculo “Judite Quer Chorar, Mas Não Consegue”

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151º a 15 de Julho de 2009Jornal de Teatro

Teatro de animação estimula cultura catarinenseTerceira edição do Fita Floripa bate recorde de público e 20 mil pessoas vibram com as apresentações de 19 companhias de teatro e animação

Por Adoniran Peres

Durante uma semana, visi-tantes que vieram contemplar as belezas naturais de Florianópo-lis, estudantes e a população em geral da região catarinense tive-ram dias culturalmente anima-dos. Representantes do teatro de animação do Peru, da Itália, da Espanha, da França e de várias localidades brasileiras estiveram na capital e zeram das ruas, das praças e dos espaços públicos da cidade grandes palcos de impor-tantes espetáculos. O motivo de tanta manifestação cultural foi a terceira edição do Fita Floripa (Festival Internacional de Teatro de Animação de Florianópolis), que ocorreu entre os dias 14 e 20 de junho. O evento teve a par-ticipação de 19 companhias de teatro e animação e arrebanhou um público estimado em 20 mil pessoas, um recorde para os or-ganizadores, cinco mil a mais que em 2008. “Isso signi ca a reali-zação de um quarto FitaFloripa”, a rmou a coordenadora geral do festival, Sassá Moretti, que assi-na a coordenação executiva do evento junto com Zélia Sabino.

No total, 41 apresentações nacionais e internacionais foram realizadas em 13 espaços da ca-pital, gratuitamente ou a preços populares (de R$ 4 e R$ 8). O sucesso foi tão grande que hou-ve necessidade de uma segunda sessão em um dos espetáculos, como é o caso da peça o “Ha-gënbeck”, da Cia. Experimentus Teatrais, de Itajaí. Os ingressos já haviam se esgotado quatro horas antes do início da apresentação. Entre os espetáculos mais es-perados estavam os internacio-nais. A abertura do evento, dia 14, contou com a participação de grande público, que assistiu a companhia peruana Teatro Hugo & Inês, com “Cuentos Pequeños”, que se utiliza de partes do corpo para dar vida a personagens. Receberam muitos

Festivais

aplausos a magia das sombras da Cia. Gioco Vita, da Itália, com “Pépé e Stella.

Outro destaque foi “Passa-ge Désemboîté”, da companhia francesa Les Apostrophés. O espetáculo invadiu as ruas do centro de Florianópolis e pren-deu atenção dos transeuntes e curiosos. Quem parou para as-sistir, deu boas risadas. Homens de terno e gravata manipulavam objetos simples, fazendo deles personagens que ditavam o rit-mo das ações dos quatros atores, com o sanfoneiro que conduzia o público entre as várias histó-rias. O encerramento, dia 18, -cou por conta da Cia. Jordi Ber-tran, da Espanha, no Centro de Cultura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com “Antologia”.

Mas não foi só isso: a magia

Teatro Hugo & Inês, do Peru, em “Cuentos Pequeños”, durante a abertura do festival: partes do corpo dão vida aos personagens

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Des le de abertura do Fita Floripa 2009 pelas ruas de FlorianópolisPassage Desemboîte, do Grupo Frances Les Apostrofes, invadiu, com muito bom humor, as ruas da Capital

do teatro oresceu em outros pontos da cidade, com compa-nhias nacionais, com destaque para os catarinenses. Os brasi-leiros mostraram igualmente ao que vieram, como a Cia. Circo de Bonecos, com o espetáculo “Circus – A nova turnée”, que encantou e lotou o auditório principal da Universidade Fe-deral de Santa Catarina (UFSC). Já o espetáculo “Socorro”, do Ronda Grupo de Dança e Te-atro, de Florianópolis, lotou o teatro da Ubro, entre outros que entraram em cena, como as com-panhias Cirquinho do Revirado, com “O Sonho de Natanael”, o Anima Sonho com a “Bonecrô-nicas” e “Circus – A Nova Tur-née”, da Cia. Circus de Bonecos, e o “Menino Maluquinho”, da Cia. Andante. Mais informações em www. ta oripa.com.br

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16 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Criança ou adulto, não importa a ida-de, o olhar de encantamento é o mesmo. E este brilho nos olhos é um fenômeno que acontece há mais de duas décadas, em uma pequena e bucólica cidade serrana do Rio Grande do Sul. Todo ano é assim. O 21º Festival Internacional de Teatro de Bonecos de Canela não traz, apenas, os melhores espetáculos do mundo, as mais novas técnicas de manipulação e o talen-to dramático de atores responsáveis a dar vida às suas mais incríveis criações. O evento – o mais duradouro do gênero no País e também um dos mais longevos das artes cênicas – movimenta o município de inúmeras maneiras. Turistas vindos de várias partes do Estado lotam hoteis, res-taurantes e o comércio local, que por sua vez, se “enfeita” para receber o público e os consumidores. Este colorido especial, capaz de remeter às travessuras da infân-cia, está presente em todos os cantos: nas esquinas, nos bancos das praças, nas vi-trines das lojas e nas janelas das casas.

Vinda de Caxias do Sul, Simone Pellenz e sua lha, Amanda, de 9 anos, se desloca-ram para o município especialmente para prestigiar o festival. “É difícil encontrar es-petáculos como este durante o ano. Estou achando bem bacana, principalmente por-que podemos escolher entre as programa-ções fechadas e as de rua também”, diz Si-mone. “Ou seja, têm atrações para todos os gostos e em duas versões, o que demonstra a boa organização do festival”, completa.

FORMAS INOVADORASO Festival Internacional de Teatro de

Bonecos de Canela contou com um pú-blico de mais de 30 mil pessoas durante os quatro dias de realização (de 18 a 21 de ju-nho). Bonequeiros do Brasil, da Finlândia, da Espanha, da Argentina e da Itália, em um total de 120 artistas, apresentaram 50 espetáculos (a metade atrações de rua). As técnicas foram as mais variadas: sombras, os, luvas, varas, com bonecos grandes e pequenos, representando bebês, homens, mulheres, idosos e animais.

Espetáculos lúdicos, nostálgicos ou sim-plesmente irreverentes e que nunca se repe-tem. Com exceção de um ou outro sucesso do passado. “Existe uma preocupação em trazer uma programação de vanguarda, alguns mais fáceis de serem aceitos pelo público, caracterizando-se por ser o mais puro entretenimento, outros mais densos e investigativos”, a rma a diretora artística do festival, há 21 anos, Marina Meimes Gil, res-ponsável pela curadoria em conjunto com os bonequeiros Nelson Haas e Beth Bado.

Destes, existem grupos que preferem a improvisação e o contato direto com o público. Na praça, dezenas de crian-ças se acotovelavam para ver de perto os imaginários Malry e Halry, do “Circo de Pulgas”, do catarinense Marcio Correa, integrante do grupo Legião de Palhaços. Utilizando a técnica de manipulação e ilu-sionismo, o domador-clown divertiu pela simplicidade características da obra. “Este espetáculo existe desde 1998 e há muito tempo não faço apresentações em teatros fechados”, diz o artista.

Os gaúchos Jeffersonn Silveira e Cíce-ro Pereira, do grupo Giba, Gibão, Gibóia seguem a mesma linha. “As aventuras de pantaleão, o mágico trapalhão” existe há 15 anos e já foi apresentado em colégios, comunidades carentes, para menores in-

fratores, crianças portadoras de HIV e ve-getativas. “Procuramos envolver o público e gostamos de levar alegria. Para nós, artis-tas, ver o sorriso desta garotada traz uma realização pessoal muito forte, sem querer ser demagogo”, confessa Silveira.

Canela, na Serra Gaúcha, se enfeita todos os anos para receber os bonecos e fantoches

Festivais

Por Adriana Machado Fotos Anderson Espinosa

Page 17: Jornal de Teatro Edição Nr.06

171º a 15 de Julho de 2009Jornal de Teatro

O Festival Internacional de Teatro de Bonecos de Canela contou com uma programação equilibrada, para atender a todas as idades e a todas as tendências da arte bonequeira. Foram 18 peças apresentadas nos teatros e nos espaços públicos. Além disso, o festival “veste” toda a cidade com bonecos, incluindo os in áveis, e até mesmo uma cobra de 40 metros. Outra atração foi a exposi-ção dos bonecos do grupo Cia O Na-vegante, locados para a minissérie Hoje é Dia de Maria.

Quem subiu a serra teve a oportuni-dade de assistir novidades recém-estrea-das na Europa, espetáculos de vanguarda e encenações de grande porte, que exi-giram 17 horas de montagem de cenário e infraestrutura. Casos de Pinocchio, do grupo Giramundo, de Belo Horizonte, e de Katoamispiste (Vanish Point), a atra-ção pós-dramática da vez, vinda da Fin-lândia. Todos os espetáculos internacio-nais vieram ao Brasil pela primeira vez.

Com direção e adaptação de Marcos Malafaia, Beatriz Apocalypse e Ulisses Tavares, os mineiros trouxeram a inser-ção do vídeo como elemento cênico, a composição da trilha sonora no sistema quadrifônico, o uso de madeira e obje-tos de demolições, a aproximação entre manipulação e dança e o uso simultâ-neo das técnicas tradicionais do teatro de bonecos. Tudo para re etir sobre a formação do ser humano através da restrição da liberdade e do prazer.

Já a representante da Finlândia apre-sentou uma proposta pós-dramática, que misturou animação com muita tec-nologia e elementos do cinema novo, circo e dança. O cenário foi formado por três telões que exibiam imagens urbanas e da natureza durante a en-

O melhor no mundo emteatro de formas animadas

cenação. Algumas performances apre-sentadas no palco também apareceram ecoadas nas projeções. Entre os efei-tos, o ator animou um pássaro com as mãos, que saiu voando, surgindo num mergulho em imagens pré-gravadas.

A programação, segundo a diretora artística Marina Meimes Gil, é luxuosa. Estética à parte, com certeza é um bom resumo do que acontece de melhor no mundo em teatro de formas anima-das. Exemplo disso é o espanhol “Don Juan, Memória Amarga de M”i, que es-treou no festival Titirimundo 2009, na Segóvia, onde se consagrou como o me-lhor espetáculo. Também recebeu o prê-mio do júri popular do 10º Festival de Teatro de Bonecos de Belo Horizonte.

Valéria Guglietti – “No Toquen Mis Manos”, Espanha.Técnica de manipulação: sombras chinesasWHS – “Katoamispiste”, Finlândia. Técnica de manipulação: objetosPelmànec Teatre – “Don Juan, Memoria Amarga de Mi”, Espanha.Técnica de manipulação: diretaGioco Vita – Pepe e Estrella, Itália.Técnica de manipulação: sombras chinesas

ESPETÁCULOS NACIONAISContadores de histórias – “Em concerto”, Paraty (RJ). Técnica de manipulação: diretaGiramundo Teatro de Bonecos – “Pedro e o Lobo”, Belo Horizonte (MG).Técnica de manipulação: marioneteGiramundo Teatro de Bonecos – “Pinocchio”, Belo Horizonte (MG). Técnica de manipulação: marionete/balcão/luva/sombraBonecos Canela – Cultura Viva – “Sonho de uma noite de verão”, Canela (RS). Técnica de manipulação: luva

APRESENTAÇÕES DE RUA Kossa Nostra – “Kruvikas” , Argentina. Técnica de manipulação: luva/vara/direta e mista Pia Fraus – “Bichos do Brasil”, São Paulo. Técnica de manipulação: direta de infláveis gigantesLegião de Palhaços – “Circo de Pulgas”, Rio do Sul (SC). Técnica de manipulação: ilusionismoGiba Gibão Jibóia – “As Aventuras de Pantaleão”, Porto Alegre (RS). Técnica de manipulação: luva/gatilhos/varaCia. O Navegante – “Musicircus”, Mariana (MG). Técnica de manipulação: marionetes Cia. Bonecos da Gente – “Afro-descendentes”, Alvorada (RS). Técnica de manipulação: diretaPREGANDO PEÇA – “O MACACO SIMÃO”, GRAVATAÍ (RS).TÉCNICA DE MANIPULAÇÃO: MAROTE COM VARA CALÇADA DI VERSO – “TRAPIZONGA”, CURITIBA (PR).TÉCNICA DE MANIPULAÇÃO: DIRETA E MARIONETES BANDO NÉON EXPERIÊNCIA CÊNICA – “TEATRO DE LAMBE-LAMBE”, JOINVILE (SC).TÉCNICA DE MANIPULAÇÃO: DIRETA

DE CANELA: TEATRO DE BONECOS PADRE FRANCO – “A VIAGEM DE UM BARQUINHO”.TÉCNICA DE MANIPULAÇÃO: DIRETABONEQUEIROS MIRINS – INSTALAÇÃOGRUPO PÉ GRANDE – “BONECOS GIGANTES”. TÉCNICA DE MANIPULAÇÃO: DIRETA GRUPO SÓ RINDO. TÉCNICA DE MANIPULAÇÃO: DIRETAEXTRAS: MOSTRA DE FILMES, DESCENTRALIZAÇÃO, CAIXA LAMBE-LAMBE E CINEMA 3D

GRUPOS PARTICIPANTES:ESPETÁCULOS INTERNACIONAIS

OS PREMIADOS DA NOITE DE ENCERRAMENTO, NA OPINIÃO DO PÚBLICO:

MELHOR ESPETÁCULO APRESENTADO NOS TEATROS: “NO TOQUEN MIS MANOS”, DE VALÉRIA GUGLIETTI, DA ESPANHA

MELHOR ESPETÁCULO DE RUA DO BONECOS DO CHAPÉU, “BICHOS DO BRASIL”, DO PIA FRAUS, DE SÃO PAULO

Marcio Correa, da Legião de Palhaços, apresenta “Circo de Pulgas” no meio da rua para crianças de todas as idades

Festivais

Boneco gigante “imita” gestos humanos

Espetáculos se notabilizaram pela irreverência

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18 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Festival de Dança de Joinville investe na troca de experiências Além das apresentações e mostras de dança, a aposta dos organizadores são os Cursos, Oficinas, Workshops e Seminários de Dança

Por Adoniran Peres

Não é exagero se afirmar que a 27ª edição do Festival de Dança de Join-ville promete ser um sucesso, com muitas atrações de (rara) beleza e qua-lidade. Afinal, entre os dias 15 e 25 de julho, cinco mil participantes, entre bailarinos, coreógrafos, professores e pesquisadores da dança colocarão a cidade catarinense sob os holofotes do mundo da arte. Se, anteriormen-te, a mostra competitiva era a parte mais evidente do evento, hoje tudo é importante e cada atração ganha a sua projeção.

A programação didática/pedagó-gica, por exemplo, é uma das apostas dos organizadores que, a cada ano, atrai milhares de estudantes e profis-sionais da dança que vêem nos cursos e oficinas, workshops coreográficos e seminários de dança oportunidades ímpares de se aperfeiçoarem. Cerca de 2.800 vagas são oferecidas para a reflexão e aprimoramento, um aumen-to de 39% em relação ao ano passado. Apenas nos cursos e oficinas são 2.040 vagas, em 59 turmas de 44 cursos, que englobam de balé clássico ao jazz con-temporâneo, sapateado e dança de rua.

Voltado ao meio acadêmico (univer-sitários, mestre e doutores em dança), os seminários chegam à terceira edição e provocam uma re exão sobre o tema Dança e educação - como o dançarino aprende, com quem aprende e onde en-sina. Com o título Algumas perguntas sobre dança e educação, as conferências e exercícios contarão com 17 pro ssio-nais convidados – todos pesquisadores renomados na área – que abordarão questões instigantes e polêmicas como Artes-educações: as abordagens são mesmo plurais?, Quem pode mesmo ensinar balé?, Grandes mestres – pode-mos duvidar deles? e Onde se produz o artista de dança?, Centros de forma-ção – o que há para além das acade-mias?, entre outros.

Ainda nesta 21ª edição, os seminá-rios ganham um dia a mais e serão rea-

lizados de 22 a 25 de julho. As palestras serão realizadas nos três primeiros dias do evento. No quarto dia o espaço se abre para a prática, com a apresentação de estudos produzidos nas universida-des. Ao todo, 500 vagas foram abertas para os interessados. Durante o evento, também será lançado o livro Seminá-rios de Dança 2 – O que quer e o que pode a técnica, resultados das discus-sões desenvolvidas em 2008.

ENCONTRO DAS RUASAlém das apresentações e mostras de

danças, que já são referências consagradas mundialmente, outra aposta é o Encontro das Ruas. Voltado para a cultura urbana, a atração chega à quarta edição repleta de inovações. Neste ano, abre espaço para no-vas linguagens e estilos, amplia a Mostra de Gra te, ganha uma comissão técnica com-posta por expoentes da cultura hip hop no País e no mundo e avança na organização

PRINCIPAIS ATRAÇÕES:

Noites especiais de Abertura, de Gala e dos Campeões

Mostra Contemporânea de Dança

Mostra Competitiva – balé clássico, clássico de repertório, dança

contemporânea, danças populares, jazz, sapateado e dança de rua

Meia Ponta – apresentações infantis

Feira da Sapatilha

Palcos Abertos – apresentações gratuitas em centros comerciais, praças, fábricas e

na Feira da Sapatilha

Cursos e oficinas

Seminários de dança

Workshops coreográficos

Encontro das Ruas

Rua da Dança

Visitando os Bastidores

Festivais

das tradicionais batalhas de MCs FreeSty-le, Popping, Locking e Hip Hop FreeStyle, com a inclusão de um novo estilo, o House Dance. A seleção dos participantes tam-bém mudou: os candidatos se inscreveram no processo seletivo postando vídeos com suas performances no YouTube.

PROGRAMAÇÃOA programação o cial traz, ainda, a tra-

dicional noite de abertura que contará, no dia 15 de julho, no Centreventos Cau Han-sen, com a energia da companhia francesa S’poart e da companhia brasileira Discípu-los do Ritmo. Em 11 dias, o Festival terá, ainda, Noite de Gala e dos Campeões à Mostra Competitiva, as apresentações do Meia Ponta ou Palcos Abertos, além da Fei-ra da Sapatilha, a maior do setor no Brasil, que apresenta produtos, artigos e acessó-rios de dança e reúne mais de 70 exposito-res. Mais informações em www.festivalde-danca.com.br.

Cerca de 2.800 vagas são oferecidas para os seminários, cursos e workshops. A integração entre a professora e a aluna, durante a aula de balé clássico, contagia as demais bailarinas

As inúmeras o cinas acontecem em auditórios, no palco e em salas de ensaio

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191º a 15 de Julho de 2009Jornal de Teatro

O IBTT (Instituto Brasi-leiro de Técnica Teatral) está com novidades. O acervo da biblioteca, em São Paulo, está aberto a qualquer pessoa que queira acesso à importante literatura da técnica teatral mundial: “O acervo está dis-ponível a todos os interessa-dos. É um patrimônio cultural que encaramos como público, do teatro brasileiro”, conta Cláudia Gomes, diretora de comunicação do instituto.

‘Tudo é música’ para TheoTheo Werneck é um ar-

tista multimídia. Não só por-que trabalha com áudio, mas, sim, por que é um multiartis-ta: ator, sonoplasta, DJ, mú-sico, pesquisador musical. Hoje atua no Theo Werne-ck Blues Trio e está em car-taz com “A Vida Que Pedi, Adeus” no Teatro Cosipa, onde é responsável pela trilha sonora inovadora – com uma só composição, a sonoplas-tia se dá através de texturas sonoras captadas no mundo real, ruidagens urbanas e sons verdadeiros das gran-des cidades. O Jornal de Te-atro subiu até a ilha de som e escutou o que Théo tem a tocar – ou melhor, a dizer.

Jornal de Teatro – Se você tivesse que explicar para al-guém sobre o que se trata o seu trabalho como sonoplasta no teatro, como você o faria?

Theo Werneck – Comecei minha carreira no teatro aos 17 anos. Fui técnico, cenotécnico, assistente de cenogra a, contra-regra e operei bonecos. Um dia, trabalhando como contrarre-gra na peça infantil “Esqueci a porta da cabeça aberta”, um ator não foi avisado de uma mu-dança de horário e como eu sa-bia todos os textos fui chamado para substituí-lo. Na montagem seguinte do grupo, ganhei um personagem e passei da coxia para o palco. A música sempre caminhou lado a lado com a ex-periência no teatro, então, fazer a música de um espetáculo é parte natural da minha experiência.

JT – Onde você busca suas referências para a criação da trilha teatral?

TW – Em tudo. No cinema, nos shows, na televisão, nas artes plásticas, na moda, nos discos antigos (sou pesquisador de mú-

Técnica

Artista multimídia, em cartaz com a peça ‘A Vida Que Pedi, Adeus’ fala sobre o som dos palcos e das mesas, e de como caiu no mundo da coxia

Por Danilo Braga

sica para cinema, z a pesquisa musical de “Carandiru”, o lme).

JT – Na peça que está em cartaz, “A vida que Pedi, Adeus”, você usou recursos da vida real, gravações de sons urbanos e ruidagem para compor a trilha da montagem. Porque trazer o real como op-ção à uma criação arti cial?

TW – A idéia é fugir do ób-vio e trazer o ambiente urbano para dentro do teatro usando a trilha como textura sonora.

JT – Que tipo de equipa-mento você utilizou? Quan-to e como isso in uenciou no seu trabalho?

TW – Trabalhei com muita gente que me in uenciou e me ensinou a ‘fuçar’ nas coisas e obter sons do que aparecesse. Trabalhei com o André Abuja-mra no grupo Boi Voador, com Ulisses Cruz e também fui dire-tor musical. Pude, então, enten-der que a música não é nenhum monstro de sete cabeças, mas algo que está no cotidiano das pessoas, dentro da cabeça delas (todo mundo, ou quase todo

mundo, cria uma trilha quando caminha ou quando está dentro do metrô, do ônibus...). Para as gravações usei um gravador e microfone digitais.

JT – Qual a principal dife-rença, em se tratando do pro-cesso criativo, na concepção de “A Vida que Pedi, Adeus” e “A Alma Boa de Setsuan”?

TW – São trabalhos com-pletamente diferentes, na ‘Alma Boa...’ usei mais a composição e criação musical no sentido de trilha sonora mesmo, com temas para cada cena. Na ‘A Vida Que Eu Pedi...’ a pesquisa foi mais conceitual, no sentido de criar ambientes dentro das situações.

JT – Na coletiva de “A vida”, você mencionou que só há uma composição mu-sical na peça toda, o que se entende por “música”. O que é a música para você?

TW – Aprendi com o meu irmão André Abujamra que tudo pode ser música, tudo... Até o nada é musica...

JT – Você costuma trans-por elementos de outros

sentidos (como a visão ou tato) para o seu trabalho? Ou você só se baseia no in- nito universo dos sons? TW – Cada trabalho é um tra-balho. Quando trabalhei com o circo dos acrobáticos Fratelli tive que me ligar nos tempos coreo-grá cos dos números do circo e, por vezes, acompanhar o movi-mentos dos artistas e trapezistas. É um pouco de tudo misturado.

JT – Algumas de suas pri-meiras discotecagens caram famosas no Teatro Mambem-be. Você acha que o fato de um teatro abrigar, de certa forma, suas origens in uen-cia o seu trabalho hoje?

TW – A minha experiência com teatro e performances nos anos 80/90, sem dúvida, in uenciou e in uencia o meu trabalho como um todo, seja tocando, cantando, atuando ou discotecando.

JT – E como ator, o que você usa dessa formação dramática para suas cria-ções audiofônicas?

TW – Na verdade, acho que

todos os atores poderiam, eu disse poderiam, aprender a de-senhar, como exercício, para se colocar em cena, para entender o campo cênico. O desenho é matemática, assim como a mú-sica, e isso in uencia e modi -ca tudo. Nós, que não somos só matemática, podemos sentir as coisas e interpretá-las.

JT – Qual é o seu som preferido? E o seu ruído?

TW – Adoro som de tro-vões, adoro sons inusitados e inesperados, bips e sons ele-trônicos, batuque em banco de metrô ou de ônibus, batuques em latas de lixo. Guitarra dis-torcida. Tudo.

JT – Você gosta de fazer barulho (em todo e qualquer sentido)?

TW – Amo! Fazer barulho ou fazer um som é premissa básica para ser ouvido ou en-tendido no universo, seja o choro do nenê ou o violino do vizinho aprendendo a tocar, o seu lho aprendendo a asso-biar, seu sobrinho tocando he-avy metal, tudo é música.

Acervo do IBTT é aberto à comunidade para consultaA biblioteca conta com tí-

tulos importantes da técnica teatral. A lista completa você confere no nosso site, www.jornaldeteatro.com.br. Os li-vros em português incluem a obra de Osmar Rodrigues Cruz (O teatro e sua técnica), Hamil-ton Saraiva (Eletricidade Básica para Teatro), Função Estética da Luz, de Roberto Gil Camar-go e o famoso Antitratado de Cenogra a, de Gianni Ratto.

O acervo conta, também,

com programas de teatro (com datas de 1940), um banco de imagens com mais de 4.600 fotos e guras raras e inéditas. Também estão no acervo mais de dez títulos de revistas sobre tecnologia teatral, muitas de-las fora de circulação e outras datadas da década de 1960. É possível encontrar a maioria desses títulos desde a primeira edição. Também a documen-tação de espetáculos interna-cionais (como Les Miserables,

Cats e Chicago entre outras superproduções) estão dispo-níveis para consulta e pesquisa.

Há, ainda, textos e obras em suas línguas originais. Entre eles estão o Manual de Iluminação e o Manual de Técnicas de Palco de Carlos Cabral (Portugal ); Diseño de la Iluminación Teatral, de Maurício Rinaldi (Argentina); Les Écrans sur la Scène, de Bátrice Picon-Vallin (Suíça) e Traité de Scéno Graphie, de

Pierre Sonrel (França). Em inglês estão disponíveis, en-tre outros títulos The ABC of Stage Lighting (Francis Reid), Lighting the Stage: Art and Pratice (Willard Bellman), The Art of Stage Lighting (Frede-rick Bentham), Light Fantastic (Max Keller) e A Syllabus of Stage Lighting (Stanley Mc-Candless). O IBTT está, tam-bém, construindo um novo site, que deve car pronto na segunda quinzena de julho.

Theo Werneck: “Fazer barulho é a premissa para ser ouvido no universo” “ A Vida Que Pedi, Adeus” usa gravações urbanas em sua trilha sonora

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20 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Homenagem

A dançarina e coreógrafa alemã Pina Bausch faleceu na terça-feira, dia 30, aos 68 anos. Cinco dias antes, Pina havia sido diagnosticada com um câncer, mas as cir-cunstâncias de sua morte ainda não foram divulgadas. Pina faleceu em sua residência, em Wuppertal, onde, poucos dias antes, estava nos palco com sua equipe.

Pina Bausch nasceu na cidade de So-lingen, oeste da Alemanha, em 27 de ju-lho de 1940. Nasceu Josephine Bausch mas, logo no início da carreira, mudou seu nome. As primeiras apresentações lúdicas com o balé infantil ocorreram em Wu-ppertal e Essen. Com 15 anos, iniciou sua formação de dança na Folkwangschule de Essen, fundada pelo célebre coreógrafo Kurt Joos, em 1955.

Pouco tempo depois, no início da dé-cada de 60, ganhou notoriedade na Metro-politan Opera de Nova Iorque e na Juillard School Music, aonde apresentou seus espe-táculos de dança. Nos anos 70, Pina criou novas formas e estilos no teatro e na dança. Dez anos mais tarde, seu trabalho ganhou, na Alemanha, a mesma importância que o teatro falado e caracterizou o país como berço do segmento artístico.

Pina Bausch era considerada a gran-de dama da dança contemporânea ale-mã, já que tinha um estilo expressionis-ta único que, no início de sua carreira, provocou grandes polêmicas, antes de ser reconhecido mundialmente. O tea-tro-dança, como a maioria denomina, foi a principal contribuição dela. Pina, no entanto, se referia a uma abordagem psicológica individual.

A companhia de Pina Bausch esteve pela última vez no Brasil em 2006 e deve voltar para shows em São Paulo, em se-tembro, quando mostrará duas obras im-portantes na carreira da coreógrafa: “Café Müller”, peça de 1978, e “A Sagração da Primavera”, de 1975, com música de Igor Stravinsky. Trata-se do mesmo programa que Bausch e seu grupo de Wuppertal apresentaram no Brasil em 1980, na pri-meira turnê da companhia no País.

Logo no fechamento do jornal tive-mos a notícia do falecimento de Pina Bausch e ocorreu falar com o amigo Daniel Granieri, que esteve em dois tra-balhos com a coreógrafa. A surpresa foi que o ator não sabia do ocorrido e, emo-cionado, revelou traços desconhecidos da criadora do teatro-dança.

“Estive em dois trabalhos com a Pina Bausch no Brasil e me impressionou a forma como ela lidava com as pesso-as. Para mim, ela é mais do que a cria-dora do teatro-dança, pois seu trabalho em performance também é único. Ela renovou a dança contemporânea e se tornou uma grande formadora de opi-nião mundial em artes do corpo”, disse.

Precursora do teatro-dança, Pina Bausch morre aos 68 anosDançarina e coreógrafa alemã sofria de câncer e faleceu cinco dias após o diagnóstico. Circunstâncias da morte, porém, não foram divulgadas

Cada peça é um novo apelo para que o espectador con e em si mesmo, se enxergue e se sinta”, dizia ela. “Cada peça é diferente, mas pro-fundamente ligada a mim.

Emocionado, Daniel Granieri fala sobre a personalidade de sua madrinha na dança

“Mas a principal característica que atri-buo a ela é o poder de unir através da dança. Ela fez o que muitos estadistas não conseguiram: unir raças e difundir a cultura de povos tão diferentes. Dona de uma humildade impressionante, ela dei-xava claro para todas pessoas – e tratava todos absolutamente da mesma forma – que se o trabalho artístico não é feito com verdade, não vale a pena fazer. O que importa é levar para o palco a essên-cia do ser-humano e isso ela fazia mui-to bem. Ela destacava nas pessoas o que elas tinham de melhor”, revela.

O PROFESSOR DE FORRÓDaniel relembra uma história ocorrida

em 2002, enquanto estava em cartaz com o espetáculo “Brasil”, no Teatro Alfa. De-

“Ela destacava nas pessoas o que elas tinham de melhor”

Por Rodrigoh Bueno pois do espetáculo, os bailarinos brasileiros resolveram levar os estrangeiros para co-nhecer a noite brasileira e acabaram em um forró. O entusiasmo do grupo foi tanto, que na noite seguinte Pina Bausch – que estava na companhia de Caetano Veloso nesta noite – quis conferir a dança e cou-be a Daniel ensiná-la. “Caetano foi junto e acabou dando uma canja de `Cajuína´. Foi uma noite incrível e, mais uma vez, Pina Bausch mostrou o respeito e admiração que tem pelos ritmos regionais, sempre se-gurando seu cigarro inseparável”, conta ele.

Daniel Granieri é ator e seu tra-balho em televisão poderá ser con-ferido no programa “Por Toda Mi-nha Vida – Cazuza”, na Rede Globo, ainda sem previsão de exibição.

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Fotos: Divulgação

A Companhia de Pina Bausch esteve no Brasil pela última vez em 2006. O grupo deve voltar a São Paulo em setembro desse ano

Pina criou, nos anos 70, o que é chamado hoje de teatro-dança

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211º a 15 de Julho de 2009Jornal de Teatro

A origem histórica do título de “sir” remete a quem pos-suía domínio sobre um feudo, sobre o mercado de escravos ou era apenas uma forma de agraciar algumas personalida-des da nobreza e da realeza nos tempos medievais. Com a modernidade e o avanço so-cial, o título passou a pertencer àqueles que dominavam um conhecimento especí co sobre algum assunto. Foi assim, por exemplo, com o físico Sir Isaac Newton e com o cineasta Sir Charlie Chaplin. Mas a mesma regra não pode se aplicar a Sir Tom Stoppard. Muito além do papel de autor e dramaturgo, Stoppard oferece, desde 1958, quando começou a trabalhar como crítico teatral e colunis-ta no Bristol Evening World (Inglaterra), trabalhos diversi- cados para re exão históri-ca e antropológica, obras que repercutem e elevam o pensa-mento daqueles que puderam ser atingidos pelo seu furacão de ideias.

Para entender Stoppard e seu processo criativo é preci-so voltar um pouco no tempo, mais precisamente 72 anos, idade completada por Stoppard dia 3 de julho. Nascido em 1937, na então Tchecoslováquia, presenciou sua terra ser invadida pelos nazistas e se mudou com dois anos de idade para Singapura. Mais uma invasão, mais uma mudança. Por conta da invasão japonesa à Sin-gapura, foi com sua família para a Índia, onde recebeu educação inglesa e, en m, se estabilizou. Mas logo se desestabilizou. Ainda bem. Aos 17 anos largou os es-tudos e começou a trabalhar em jornais, onde se envolveu nal-mente com as artes, para sorte do grande público.

O escritor tcheco natura-lizado inglês talvez seja mais conhecido no Brasil pela co-autoria, junto com Marc Nor-man, de “Shakespeare Apaixo-nado”, blockbuster de 1998, vencedor de sete estatuetas do Oscar, incluindo melhor lme e melhor roteiro. Mas, muito an-tes, sua obra já havia encantado plateias em todo o mundo. Sua estreia no teatro foi em “Ro-sencrantz e Guilderstern es-tão Mortos”, de 1966, na qual Stoppard se inspira em dois amigos de infância de Hamlet, onde o príncipe é aparentemen-te secundário e toda a história parece invertida: era o início da recorrente utilização de perso-nagens historicamente meno-res e de metalinguística teatral. Sua consagração, porém, veio com a montagem da trilogia

A dramaturgia atrevida de Sir Tom StoppardNo mês do aniversário do autor, Jornal de Teatro mostra por que ele é considerado um dos mais importantes nomes do teatro mundial

Vida & Obra

Por Daniel Pinton

“A Fronteira da Utopia” (The Coast of Utopia), em 2002. A história, com vários intelectuais e revolucionários russos, pas-sa a mensagem que a História nada mais é do que uma ironia em movimento a peça rendeu a Stoppard sete prêmios Tony – o Oscar do teatro.

No Brasil seu trabalho pas-sou a ser mais conhecido e re-conhecido a partir de sua par-ticipação na edição de 2008 da Flip (Festa Literária Interna-cional de Paraty). No evento, onde foi a principal atração, Stoppard falou, com mediação de Luis Fernando Veríssimo, sobre o processo criativo de suas principais peças, principal-mente “Rock’n Roll”, de 2006, espetáculo que se passa duran-te a emergência do movimento democrático no leste europeu, pouco depois de eclodir a Pri-mavera de Praga, chegando à Revolução de Veludo, sob a perspectiva dos defensores da liberdade e do proletariado.

No embalo da vinda do es-critor ao Brasil, o diretor Cae-

tano Vilella se movimenta para encenar, a partir de outubro, “Travesties”, obra de 1974 de Stoppard. A peça é uma paró-dia do livro A importância de ser Prudente, de Oscar Wilde. “Eu queria um autor contem-porâneo que falasse do papel do artista na sociedade e tivesse o viés político. Aí, caiu no Tom Stoppard. Conheci o “Traves-ties” e vi que tinha muito sobre o que eu queria falar, então fui atrás. Ele queria me conhecer para saber qual seria a minha leitura da peça, pois, segundo ele, “Travesties” é o texto dele mais difícil de se traduzir. Tive-mos um encontro no Aeropor-to de Cumbica e nossa conversa durou quatro horas. Ele gostou e aprovou a minha proposta, falou que eu estava no caminho certo e me deu total liberdade. O medo de Stoppard era de a peça ter um viés mais comer-cial, ele não quer isso. Ele foi muito acessível, quei até sem graça. Não existe muito isso no teatro de o autor antes de ceder os direitos querer te conhecer

olho no olho, ainda mais partin-do de um autor do porte dele. Após isso, trocamos correspon-dência por duas ou três vezes e o meu tradutor, Marco Antônio Pâmio, foi a Londres se encon-trar com ele para resolver os úl-timos detalhes”, conta Villela.

O tradutor da peça, Marco Antônio Pâmio, que também é ator, destaca o desa o que foi traduzir o texto mais difícil de Stoppard. “O “Travesties” é muito verborrágico, ele mistu-ra, em uma mesma obra, vários planos narrativos. Como é uma peça que se passa na cabeça de um personagem, há ashes de memória num jogo de ida e vinda misturando três planos históricos reais. Você tem que ter domínio de assuntos e even-tos diversos para tornar viável a montagem desse quebra-cabeça na cabeça da plateia. Stoppard coloca tudo isso em um calde-rão com bastante sentido e lógi-ca, porém, exige bastante aten-ção da plateia, do leitor”, diz.

Pâmio lembra que teve de interromper seu trabalho diver-sas vezes para estudar a fundo os assuntos tratados e poder entender o que traduzia. “Tra-vesties” é uma peça muito con-centrada em conteúdo. Geral-mente levo um ou dois meses para um trabalho de tradução e acabei levando sete, oito me-ses porque houve momentos em que tive que parar tudo para estudar. Fui elucidando um monte de elementos quase como charadas para aquilo ter sentido na tradução. Stoppard brinca muito com a linguagem, ela é muito atrevida. Ele faz um jogo de metáforas, sonoridades no inglês, que para o tradutor

é bastante desa ador”, explica Pâmio. O encontro com Sto-ppard foi, segundo ele, impres-cindível para que a tradução da peça fosse feita sem tirar o seu sentido original. Para a surpresa do tradutor, o escritor inglês se mostrou inteiramente solícito e aberto a tirar dúvidas comuns se tratando de um texto teatral metalinguístico. “Fui me encon-trar com ele em janeiro deste ano. Ele é uma criatura adorá-vel, uma pessoa de simplicidade no convívio. Ele foi digníssimo, solícito, sem qualquer ponta de esnobismo. Fomos ao teatro, to-mamos um café e ele teve total disponibilidade para elucidar, discutir qualquer dúvida que eu tivesse no texto. O tempo que ele dedicou a mim foi algo que ele nem precisaria fazer, mas ele cou bastante impressionado com alguém de fora da Inglater-ra fazendo sua obra considerada a mais difícil”, diz.

Fica a dica do Jornal de Te-atro para aqueles que já conhe-cem a obra de Sir Tom Stoppard e, principalmente, àqueles que ainda não tiveram a oportuni-dade de entrar em contato com o universo de re exão daquele que é hoje em dia não “apenas” um dos maiores dramaturgos ainda vivos, mas também um iluminista contemporâneo. Um homem que, apesar de não ter um e-mail e sequer ter paciência para digitar em um computador, desenvolve em suas obras um espírito jovem-contestador in-capaz de datar seu trabalho cada vez mais atemporal.

1966: Rosencrantz & GuildensternAre Dead1968: Enter a Free Man 1968: The Real Inspector Hound1970: After Magritte1972: Jumpers 1972: Artist Descending a Staircase1973: Born Yesterday1974: Travesties1976: Dirty Linen andNew-Found-Land1977: Every Good BoyDeserves Favour1978: Night and Day1979: Dogg’s Hamlet,Cahoot’s Macbeth1979: 15-Minute Hamlet 1979: Undiscovered Country 1981: On the Razzle 1982: The Real Thing1984: Rough Crossing1986: Dalliance 1988: Hapgood 1993: Arcadia1995: Indian Ink1997: The Invention of Love 2002: The Coast of Utopia2004: Enrico IV2006: Rock’n Roll

BIOGRAFIA TEATRAL (NOMES ORIGINAIS):

Stoppard (à dir) recebeu Marco Antônio Pâmio, em Londres, para uma conversa sobre a sua peça ‘Travesties’

Trazido para o Brasil, ‘Rock’n Roll’ foi tema de debate na Flip de 2008

Arquivo Pessoal

Divulgação

Page 22: Jornal de Teatro Edição Nr.06

22 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Por Felipe Sil

Dignidade, honra, respei-to... Direitos conquistados na base de muita luta e per-severança. Enquanto algu-mas profissões, como a de jornalista, ainda sofrem com processos conturbados de regulamentação, os “artistas e técnicos em espetáculos de diversões” comemoram, ain-da hoje, a Lei nº 6.533, de 24 de maio de 1978, regulamen-tada pelo Decreto nº 82.385, de 05 de outubro do mesmo ano, que coordena e dá as diretrizes legais para a clas-se. Parece difícil imaginar, mas trabalhar com a arte, an-tes desse período, era quase como assinar um papel na sociedade de vagabundo ou prostituta. É graças à luta de dezenas de grandes nomes do teatro no passado que, hoje, aqueles que alegram, animam, dão esperanças e também fazem chorar têm seus direitos e benefícios ga-rantidos na Constituição. Lei elogiada efusivamente por especialistas e estudiosos, ela respeita o que diferencia os artistas de um trabalhador comum: a capacidade de fa-zer emocionar.

Cada pessoa tem o poder e a capacidade de assumir um personagem e atuar em determinada cena. Carrega dentro de si um sonho de se transformar em outro al-guém, talvez um melhor indi-víduo ou um indivíduo mais feliz. Para cada profissão, porém, existe a necessidade de uma formação competen-te e séria. Atuar é uma arte, mas sem estudos, cursos técnicos e faculdades não se pode exercer o trabalho da melhor maneira possível. Lélia Abramo, Paulo Autran, Dercy Gonçalves, Nair Bello, Beth Pinho... Quando se ini-ciou a movimentação pela re-gularização e reconhecimen-to do trabalho de ator, em meados dos anos 1970, al-guns dos maiores nomes do teatro brasileiro levantaram a voz para defender a classe. Era de se esperar. Afinal, os artistas não eram vistos pela população como verdadei-ros profissionais e ficavam vulneráveis a pressões e de-cisões de cada novo gover-no autoritário, que tomava as rédeas do Brasil. Para se ter ideia, as mulheres que decidiam seguir essa carreira

História

Dignidade regulamentada em leiComo um decreto publicado há mais de 30 anos garantiu o respeito a todos os profissionais da arte

eram geralmente equiparadas às prostitutas. Chegavam a utilizar, inclusive, a mesma carteirinha de identificação.

Após uma luta árdua e inabalável – só assim para explicar o porquê da de-mora na aprovação da Lei 6533, em 1978 – que, final-mente, foram garantidas as habilitações de ator, de di-retor e de cenógrafo. Desde então, para exercer a pro-fissão, é obrigatório o re-gistro profissional na DRT (Delegacia Regional do Tra-balho). Paulo Autran, até o final da vida, queixava-se da demora na regulariza-ção, lembrando, inclusive, de outros países subdesen-volvidos no resto do mun-do que também passam pelos mesmo problemas.Tornar digna a profissão de artista: este é o principal benefício da lei, segundo Eugênio Santos, diretor da área de projetos do Sated-RJ (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio). Embora a classe seja admirada atualmente pela sociedade, em meados da dé-cada de 1920, quem escolhia essa carreira era tido como homossexual ou prostituta. “Lembro que a Dercy Gon-çalves comentava, a todo momento, que tinha uma carteira de serviço que era a mesma usada por garotas de programa. Não existia gla-mour nenhum em ser ator ou atriz. As mães advertiam aos filhos para que nunca esco-

lhessem essa profissão, pois era coisa de viado”, comenta.

O ator Paulo Betti, que participou da luta pela regula-mentação, quando ainda fazia parte do EAD-USP (Escola de Arte Dramática de São Paulo), em 1975, reforça os comentá-rios dados pela saudosa Dercy. “Os artistas de teatro não eram reconhecidos como pro ssio-nais. O decreto regulamentou uma pro ssão e isso é muito importante, pois legitima e consagra. A nal, o estudo faz do artista um melhor pro ssio-nal. A preparação do ator não termina nunca. Ele precisa es-tar sempre pronto e atento. É uma pro ssão muito difícil, já que envolve dois componentes explosivos: vaidade e insegu-rança”, avalia.

ASSEMBLEIAS FUNDAMENTAIS

As melhorias propicia-das pela Lei nº 6.533, aliás, não se restringem ao aspecto moral. Pela questão da espe-cificidade do trabalho de um ator, até 1978 os profissio-nais da classe não se sentiam amparados juridicamente pe-las regras trabalhistas vigen-tes. “Não temos um horário comum como o de outros trabalhadores. Precisávamos que as leis dessem atenção a esse fato. Aquele foi um mo-mento especial. Lutávamos não só pela regularização de nossas carreiras, mas por melhorias políticas, já que es-távamos na época da ditadu-ra. As assembleias dos sindi-catos viviam lotadas e todos

que tinham uma opinião for-mada iam lá jogar a sua”, re-corda, com carinho, Eugenio Santos, que também é ator e diretor de teatro.

Rosamaria Murtinho, atriz consagrada e atualmente em cartaz com o musical “Isau-rinha - Samba, Jazz & Bossa Nova” , no Teatro João Ca-etano, foi uma das que mais lutaram pela regularização da pro ssão, nos anos 70. “Ía-mos sempre que podíamos a Brasília para realizar reuni-ões e debater o assunto com as autoridades da época. Não apenas eu, mas todos os gran-des atores de então. A regu-larização é importantíssima não só quanto aos direitos trabalhistas, mas porque ga-rante boa formação acadêmi-ca, que é essencial para quem deseja seguir carreira. Não é qualquer um que começa a atuar e, sem mais nem menos, autodenomina-se ator. A pes-soa precisa passar por uma provação. Uma faculdade ou um curso proporcionam mais conhecimento”, diz.

Para a atriz, porém, a classe artística não tem con-seguido apoio, atualmente, por parte do governo – mes-mo após mais de 30 anos da regulamentação da profissão. “Não somos bem vistos pelo poder público. Sofremos pressões de governos auto-ritários, mas os dirigentes sempre frequentavam os te-atros e entendiam de arte. Hoje nós somos vistos como polemistas por quem tem o poder e isso é uma prova de

que muitos estigmas do pas-sado ainda não foram supe-rados”, observa.

Eugenio Santos, por sua vez, ainda vê brechas na lei que precisam ser superadas. “Toda lei tende a perder sua validade com o passar do tempo. Acho que essa regu-lamentação de 1978 ainda é válida, mas, hoje, há outros aspectos que precisam ser considerados. O principal é em questão ao direito de imagem. Antigamente só tí-nhamos VHS e o cinema. Hoje é possível ver imagens e filmes em diversos meios, como celular, computador e por aí vai. A lei não é clara quanto a isso e o sindicato precisa se sentar para deba-ter o assunto”, revela.

O ator Ricardo Blat foi um dos primeiros a conse-guir o registro profissional como ator, mais especifi-camente o 616º, em 25 de maio de 1979. “No Brasil, há muita gente se achando muito inspirada e muito ator querendo alcançar sucesso financeiro rápido. É impor-tante ter talento, mas ter es-tudos para entender e saber as ferramentas necessárias para se usar na profissão. A escola é um bom lugar para se filtrar e se eliminar apro-veitadores. Em uma boa es-cola, quem for aproveitador entenderá logo do que real-mente trata essa profissão. O ator é aquele que liga o céu e a terra, um porta-voz dos seres humanos e um repórter dos sentimentos”, declara.

20 anos do decreto: atores encenam a luta pela regulamentação O ator Otávio Augusto discursa em assembleia no Sated-RJ

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231º a 15 de Julho de 2009Jornal de Teatro

Não é grande coisa: um amontoado de dez ou 12 ruas, cada uma com quatro ou cinco blocos em torno de uma avenida que corta Manhattan. A Broa-dway é a veia por onde circula o sangue daquilo que se conhece como Theater District. E o seu coração é a famosa Times Square, que de praça não tem nada.

Ali ca a TKTS, onde milha-res de pessoas formam diariamen-te las quilométricas para tentar um ingressinho mais em conta para um dos tantos musicais con-corridos da cidade. Ao chegar ao alto de sua vermelha e iluminada escadaria, o primeiro pensamento que ocorre é o que seria daquilo tudo se Gilberto Kassab fosse prefeito de Nova Iorque. Prova-velmente, a Lei da Cidade Limpa ceifaria daquela área o que ela tem de melhor: seus cartazes, painéis de LED, luminosos e fachadas de neon – um inconfundível festival de luzes e cores. O casamento da poluição visual com o glamour, da comunicação de massa com o entretenimento.

Mas não podemos esquecer

Internacional

Por Daniela RodriguezRevista Mutis X El Foro

O Grande Teatro Maipo: A Catedral da Revista

Era o centenário da Revo-lução de Maio e a Argentina se preparava para uma grande festa. Buenos Aires, a Paris da América do Sul, se converteu em um grande cenário, com ave-nidas iluminadas, esplêndidos edifícios públicos, grandes lojas e palácios. Em maio de 1908, praticamente com o início dos preparativos do Centenário, e em uma etapa de grande desen-volvimento artístico e literário, foram inaugurados dois grandes teatros: o Colón e o Scala. O pri-meiro seria o templo da música clássica e o segundo se conver-teria, com os anos, na Catedral da Revista, o Teatro Maipo.

No dia 7 de maio de 1908, começou o teatro aristocrático, com a estreia de “La Revue de la Scala”. É o terceiro music-hall em Buenos Aires, depois de Ca-sino e o Royal Music Hall. Os di-ários o classi cavam como aris-tocrático porque se correspondia com uma concorrência de públi-co de alto nível socioeconômico, típico da rua Esmeralda.

O estilo do Scala foi a can-ção, o diálogo breve e o cancan. Apresentavam-se operetas, vau-devilles, revistas breves que alter-navam com variedades, frente a um público masculino para o qual as vedetes insinuavam mui-to mais do que mostravam.

Em 10 de dezembro de

1912, os diários mais impor-tantes do momento publicaram uma frase que dizia: Última fun-ção e fechamento do teatro para efetuar com rapidez as obras de ampliação. Hoje, o diretor do es-paço, Lino Patalano, conta que foram fechados por estarem li-gados aos Lombardo, a maior família de prostituição daquele momento. Reabriram as portas em outubro de 1915 com outro nome: Teatro Esmeralda, como a rua aonde está localizado. Qui-seram fazer uma concorrência mais familiar e a novidade foi a incorporação de um cinema.

Durante esses anos, foi ce-nário para o debute de atração variada da dupla Gardel/Razza-no, com um repertório muito variado. Em 14 de outubro de 1917, estrearam o tango “Lita”, logo chamado “Mi Noche Tris-te”, considerado na história como o primeiro tango-canção.

ABERTURAApenas em 1922, o teatro

recebe o nome de Maipo. Nes-sa época, realizou funções a companhia parisiana Ba-ta-clan. Eram quadros breves de baile, canto e dança, com coristas bas-tante desvestidas para a época, coroadas de penas e brilhantes falsos. Este espetáculo inspirou novas ideias estéticas no concei-to de Revista portenha.

Em 1944, Luis César Ama-dori compra o teatro e Pepe Arias marca como maestro da

arte da sátira política. Realizou seu espetáculo no Maipo, até que Perón o fez calar-se.

Este ano, se completaram cem anos desde que foi aberto o Scala. Cem anos de penas e lante-joulas, de comediantes e vedetes, de escadarias e telões vermelhos: o Teatro da Revista Porteña.

O FANTASMA DO MAIPONo ano de 1950, Luis Cá-

ceres chegava a Buenos Aires à procura de um trabalho e de um lugar para viver. Começou a tra-balhar no Teatro Maipo como maquinista. Lembram seus co-legas que ele era muito perfec-cionista, chegava pontualmente e começava seu trabalho sem pausa até o m da jornada.

Um sábado de 1985, depois de 35 anos, realizou todas as suas tarefas, cumprimentou ao pessoal e, às 18h, se enforcou no terraço, enquanto no palco o pú-blico batia palmas para alguma obra. Há 15 dias, Cáceres havia descoberto que sofria de uma doença terminal. Desde esse dia, ele se transformou no fantasma teatral mais famoso do Maipo.

Às vezes, o escutam traba-lhar na sala de máquinas. Da o cina do quinto andar do teatro, Lino Patalano conta: “Quando saio ao corredor para pegar o elevador, eu não aper-to o botão para chamá-lo. Ele vem sozinho. Ao abrir a porta, eu digo “obrigado Cáceres”.(Tradução: Pablo Ribera)

Alguns pensamentos insigni cantes sobre a BroadwayPor Gerson Steves* que, de nitivamente, a Broadway

não é aqui – embora tantos ten-tem impor a Sampa esse dever quase histórico de colocar em seus palcos os ecos culturais da grande Meca. E, como éis se-guidores, nos voltamos em sua direção e nos curvamos reveren-temente, para o bem e para o mal. O que não é de hoje.

Desde sempre hospedamos reverentes as grandes compa-nhias de teatro e ópera italianas, inglesas ou francesas. É cantada em verso e prosa a vinda da Di-vina Sarah às terras brasileiras. Muito depois, já nos tempos do TBC, aqueles grandes diretores, cenógrafos e iluminadores italia-nos colocaram em nossos palcos espetáculos que agradavam à bur-guesia da época que, por alguma razão, não podia ver os originais na Europa ou nos Estados Uni-dos. Talvez uma das causas seja o fato de que a burguesia, via de re-gra, é inculta e não domina outras culturas e línguas.

Quem sabe a isso se deva o enorme sucesso dos musicais da Broadway por aqui e a quantida-de tão pequena de brasileiros nas platéias do distrito teatral de Ma-

nhattan. Isso não quer dizer que não haja brasileiros em Nova Ior-que. Claro que há. Todos procu-rando outlets e sales – uma horda de sacoleiros e sacoleiras loucos pelas griffes do Sex and The City. Nos teatros? Quase nenhum.

Mas a Broadway sobrevive, apesar da crise que fez serem can-celados diversos shows e dimi-nuiu as las do TKTS. Sobrevive graças ao turismo local e a um público quase careta, que força produtores e artistas a apostarem cada vez mais as suas chas no conservadorismo.

Explico. Os espetáculos mu-sicais de maior sucesso hoje são aqueles que investem em terrenos seguros e conhecidos: a diversão em família (com uma dose supor-tável de sacanagem), os remakes de antigos e garantidos sucessos, ou aquelas que têm por trás um fe-nômeno cinematográ co anterior.

A fórmula é a do bom e velho entretenimento: uma pitada de romance, uma mensagem crítica ou edi cante com baixos teores de violência ou agressividade, muita cantoria, boas piadas e a preservação dos valores locais.

Nessa esteira, estão grandes

sucessos como: “Avenue Q” (Muppet Show pra gente gran-de, com mensagem edi cante), “Billy Eliot” e “Mamma Mia” (com canções pra lá de manjadas do ABBA); os infantis “Shrek”, “Mary Poppins” e “A Pequena Sereia” (com seus cenários mi-rabolantes e efeitos especiais); e nossos velhos conhecidos “Hair”, “Chicago e South Paci c”.

Claro que há oásis nesse de-serto. Mas quem, por aqui, se in-teressaria por peças como “The 39 Steps” (que une Hitchcock com Monty Pyton), “Blythe Spirit “(uma saborosa comédia de Noël Coward) ou ainda a comédia de humor negro de Yasmina Reza, “God of Carnage”? Estão longe de cruzar o oceano e aportarem em terras tupiniquins.

Todos são espetáculos deli-ciosos, que cam ainda melhores lá, em seu idioma original, com as piadas locais e elencos que dominam não apenas seu ofício, mas principalmente o contexto cultural em que a obra se insere e os públicos aos quais é dirigida. Por aqui, cabe a nós tentarmos formar plateias para um teatro brasileiro. Claro que não apenas

de autores ou temas nacionais, mas produzido com brasilidade e olhos voltados não para o pró-prio umbigo, mas para a própria realidade cultural. E deixemos a Broadway com seu franchising onde está.

O Maipo é o berço do tango-canção e abriga o espírito de Luis Cáceres

* Gerson Steves tem 25 anos de atividades teatrais na cidade de São Paulo, tendo atuado como di-retor, dramaturgo, ator, produtor e professor. Também é um grande fã de teatro musical.

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24 1º a 15 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

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RESPOSTA: C – CACHOEIRA DO CARACOL, CANELA, RS