jornal de teatro edição nr. 13

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Uma publicação da Aver Editora - 16 a 31 de Outubro de 2009 - Ano I Nº 13 R$ 5,00 HISTÓRIA ENTREVISTA DANÇA Ballet Teatro Guaíra celebra 40 anos Págs. 8, 9 e 10 Pág. 11 INTERNACIONAL FESTIVAIS Pág. 14 Pág. 18 Mina Oliveira fala sobre sua história e emociona Hollywood FORMAÇÃO POLÍTICA CULTURAL Pág. 23 Pág. 22 Núcleo vocacional apresenta mais de 100 projetos em São Paulo Manifestações marcam a troca de coordenador da Escola Livre de Teatro Pluralidade artística é destaque na segunda edição do Fiac-BA Cristina Pereira comemora, nos palcos, 40 anos de carreira O ano de 2009 é especial para Cristina Pereira: 60 anos de vida e 40 de profissão, comemorados na peça “A Tartaruga de Darwin” e Internet Teatro Orkut, YouTube, Facebook, MySpace, Twitter... Não importa a ferramenta, o certo é que a internet modificou os nossos hábitos diários. Tirar proveito dos seus benefícios é o grande desafio. A classe artística e teatral parece ter absorvido muito bem a filosofia desse democrático ambiente virtual. Já é possível assistir espetáculos inteiros sem sair de casa. A web está aí. Não ouse reprimi-la. Viaje pelo tempo através dos teatros de estilo Luso-brasileiro Págs. 20 e 21

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Jornal de Teatro Edição Nr. 13Uma publicacao AVER Editora

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Page 1: Jornal de Teatro Edição Nr. 13

J O R N A L d e T U R I S M O 8 a 1 4 d e J U N H O d e 2 0 0 924

Uma publicação da Aver Editora - 16 a 31 de Outubro de 2009 - Ano I Nº 13 R$ 5,00

HISTÓRIA

ENTREVISTA

DANÇABallet Teatro Guaíra celebra 40 anos

Págs. 8, 9 e 10

Pág. 11

INTERNACIONAL

FESTIVAIS

Pág. 14

Pág. 18

Mina Oliveira fala sobre sua história e emociona Hollywood

FORMAÇÃO

POLÍTICA CULTURAL

Pág. 23

Pág. 22

Núcleo vocacional apresenta mais de 100 projetos em São Paulo

Manifestações marcam a troca de coordenador da Escola Livre de Teatro

Pluralidade artística é destaque na segunda edição do Fiac-BA

Cristina Pereira comemora, nos palcos, 40 anos de carreira

O ano de 2009 é especial para Cristina Pereira: 60 anos de vida e 40 de profissão, comemorados na peça “A Tartaruga de Darwin”

e InternetTeatro

Orkut, YouTube, Facebook, MySpace, Twitter...Não importa a ferramenta, o certo é que a internet modificou os nossos hábitos diários. Tirar proveito dos seus benefícios é o grande desafio. A classe artística e teatral parece ter absorvido muito bem a filosofia desse democrático ambiente virtual. Já é possível assistir espetáculos inteiros sem sair de casa. A web está aí. Não ouse reprimi-la.

Viaje pelo tempo através dos teatros de estilo Luso-brasileiro Págs. 20 e 21

Page 2: Jornal de Teatro Edição Nr. 13

2 16 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Prezado cliente: preço por pessoa, somente parte marítima, em cabines duplas, conforme categoria mencionada, taxas de embarque e marítimas não estão incluídas. Preço, data de saída e condições de pagamento sujeitos a reajustes e mudanças sem prévio aviso. Câmbio promocional US$ 1,00 = R$ 1,79. Oferta de lugares limitada e reservas sujeitas a confirmação. Ofertas válidas para compras realizadas até 1 dia após a publicação deste anúncio. Parcelamento em até 10 vezes iguais e mensais com cheque, cartão ou boleto bancário sujeito a aprovação de crédito. As taxas de embarque e gorjetas não estão incluídas e deverão ser paga por todos os passageiros, inclusive crianças. Consulte datas promocionais com nossos vendedores.

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Page 3: Jornal de Teatro Edição Nr. 13

316 a 31 de Outubro de 2009Jornal de Teatro

Editorial

Índice

A comediante abre o coração para o Jornal de Teatro e conta histórias dos seus 40 anos de carreira generosa

As facetas de Cristina PereiraENTREVISTA..................................................8 a 10

Reportagem mostra que os teatros de estilo luso-brasileiros têm em comum não só as fachadas, mas também a importância histórica

Conheça a história da atriz brasileira que construiu carreira fora do país e, atualmente, exalta seu valor com “LOL - Latina on the Loose”

Segredos por trás da arquitetura

Mina Olivera encanta Hollywood

HISTÓRIA...................................................

INTERNACIONAL.....................................................

20 e 21

23

O diretor e professor de teatro da Universidade Federal da Bahia revela sentir-se confortável entre a pesquisa, a prática e a troca de conhecimento

Conheça Luiz MarfuzSALVADOR...................................................16 e 17

Novas experiências no meio virtual mostram que a classe teatral encontrou um forte aliado na divulgação e promoção da arte

Teatro e internet: combinação que dá certo REPORTAGEM.............................................12 e 13

Rodrigoh BuenoEditor do Jornal de Teatro

Balé Teatro Guaíra completa 40 anos de história construída por bailarinos, diretores e coreógrafos de renome

Pág 11

DANÇA

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w w w . a v e r e d i t o r a . c o m . b r

Presidente: Cláudio Magnavita [email protected]

Vice-presidentes: Helcio Estrella

[email protected] Espinosa

[email protected]

Presidente: Cláudio MagnavitaDiretor Editorial: José Aparecido MiguelDiretores: Jarbas Homem de Mello, Anderson Espinosa e Fernando NogueiraRedação: Rodrigo Figueiredo (editor-chefe), Rodrigoh Bueno (editor) e Fernando Pratti (chefe de reportagem) Rio de Janeiro - Alysson Cardinali Neto, Daniel Pinton Schilklaper, Douglas de Barros e Felipe SilSão Paulo - Carlos Gabriel Alves, Ive Andrade e Pablo Ribera BarberyBrasília - Dominique Belbenoit, Sérgio Nery e Adair de Oliveira JuniorPorto Alegre - Adriana Machado, Leonardo Serafim e Letícia Souza Florianópolis - Adoniran Peres e Liliane RibeiroSalvador - Paloma Jacobina

Marketing: Bruno Rangel ([email protected])

Redação Rio de Janeiro: Rua General Padilha, 134 - São Cristóvão - Rio de Janeiro (RJ). CEP: 20920-390 - Fone/Fax: (21) 2509-1675

Redação Brasília: SCS - Quadra 02 - Bloco D - Edifício Oscar Niemeyer - sala 1101 - Brasília-DF. CEP: 70316-900Tel.: (61) 3327-1449

Redação Porto Alegre: Avenida Borges de Medeiros, 410 - sala 916 - Centro - Porto Alegre (RS). CEP: 90020-023. Tel.: (51) 3231-3745 / 3061 3483

Redação Florianópolis: Rua Dom Jaime Câmara, nº 179 - Sala 506 - Ed. Regency Tower - Centro - Florianópolis (SC). CEP: 88015-200Tel.: (48) 3024-3575 / 3024-3571

Redação Salvador: Rua José Peroba, 275, sala 401 - Ed. Metrópolis, Costa Azul, Salvador / BA. CEP: 41770-235Tel.: (71) 3017-1938

Email Redação: [email protected] Arte: Bruno Pacheco, Gabriela de Freitase Valeska Gomes

Correspondência e Assinaturas:

w w w . j o r n a l d e t e a t r o . c o m . b r

Publicações da Aver Editora: Jornal de Turismo - Aviação em Revista - JT MagazineJornal Informe do Empresário - SET - Próxima Viagem

Redação São Paulo: Rua da Consolação, 1992 - 10º andar - CEP: 01302-000 - São Paulo (SP)Fone/FAX: (11) 3257.0577

Administração: Elisângela Delabilia ([email protected])

Colaboradores: Gerson Esteves, Michel Fernandes, Adriano Fanti e Luciana Chama

Impressão: F. Câmara Gráfica e Editora

Ensaio onlineO teatro parece ter sido uma das últimas expressões artísticas a se

render à internet. Afinal, uma cena filmada não perde a magia presencial que garante o momento do espetáculo? Discutimos este tema na redação da única forma possível: online. A equipe do Jornal de Teatro está em seis cidades diferentes e os colaboradores em dois países distintos. Para ilus-trar o método que as informações teatrais chegaram às próximas páginas vamos revelar o processo de fechamento desta edição, apresentando nós mesmos como personagens.

Depois de uma triagem em e-mails, revistas, sites e livros a equipe realiza uma reunião de pauta via Skype. Com os colaboradores interna-cionais o contato mais fácil. Por Orkut, de onde Luciana revela que ficou impressionada com a qualidade do espetáculo de uma brasileira em Los Angeles, que foi indicado por uma amiga no Facebook, de uma brasileira em Los Angeles. Também pelo Orkut, Adriano Fanti contou que está na Alemanha e gravou entrevistas com alguns dos profissionais mais respei-tados no mundo dos musicais – matéria que vamos conferir nas próximas edições. Michel Fernandes prefere o MSN e, por lá, dividiu conosco a alegria de comemorar sete anos do seu portal Aplauso Brasil.

Gerson Steves já assumiu em sua coluna que tem aproveitado a fun-cionalidade do Facebook e é pelo chat de lá que trocamos alguns “pen-samentos insignificantes”. Pausa na edição para decidir o layout do novo site do Jornal de Teatro (www.jornaldeteatro.com.br) e para entrevistar o novo estagiário da redação, contato feito por mensagens diretas do Twit-ter. As matérias chegam e é hora de baixar fotos do Flickr e Picasa. De al-guma forma, todas as redes sociais ou serviços de conversa online foram empregados exclusivamente para troca de informações teatrais.

Mais que na troca de informações e na divulgação, o teatro descobre uma nova ferramenta técnica a seu favor, seja em interações ao vivo no palco ou em registros que podem ser incorporados ao espetáculo (con-forme a matéria nas páginas 12 e 13). Para responder a pergunta inicial, recorro às definições conceituais do querido amigo Michaelis, que nada dizem sobre a obrigatoriedade de tempo e espaço na interpretação.

Teatro te.a.tro sm (lat theatru) 1 Casa ou lugar destinado à re-presentação de obras dramáticas, óperas ou outros espetáculos pú-blicos. 2 Circo, anfiteatro. 3 Conjunto das obras dramáticas de um autor. 4 Coletânea das obras dramáticas de uma nação. 5 Literatu-ra ou arte dramática. 6 A arte de compor obras dramáticas ou de representá-las. 7 A profissão de ator ou de atriz. 8 Lugar onde se verifica qualquer acontecimento notável. 9 Aparência vã, miragem, ilusão. 10 Obra escrita para instruir sobre certos princípios; exem-plo, modelo, regra. (...)

Portanto, cortinas abertas para a interatividade e que essa “aparência vã, miragem, ilusão” explore cada vez as fronteiras online!

Page 4: Jornal de Teatro Edição Nr. 13

CÂMARA APROVA A CRIAÇÃO DO VALE-CULTURA PARA TRABALHADORES (AGÊNCIA CÂMARA)Benefício será dado a quem ganha até cinco salários mí-

nimos e permitirá acesso a produtos e serviços de artes vi-suais, artes cênicas, audiovisual, literatura, música e patri-mônio cultural. Aposentados também receberão o vale. O Plenário aprovou, dia 14 de outubro, o Projeto de Lei 5798/09, do Executivo, que cria o benefício. O vale mensal de R$ 50 será distribuído pelas empresas que aderirem ao Programa Cultura do Trabalhador e poderá ser usado na compra de serviços ou produtos culturais, como livros e ingressos para cinemas, teatros e museus. A matéria precisa ser votada ainda pelo Senado.

O texto aprovado é o substitutivo da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, de autoria da deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS). Ele estende o benefício aos trabalhadores com deficiência que ganham até sete salários mínimos mensais.

CARTÃO MAGNÉTICO

O repasse dos R$ 50 não poderá ser feito em dinheiro e sim, preferencialmente, por meio de cartão magnético. O vale em papel só será permitido quando for inviável o uso do cartão. As empre-sas poderão descontar do trabalhador até 10% do Vale-Cultura, mas ele terá a opção de não aceitar o benefício. As áreas definidas pelo projeto para uso do vale são artes visuais, artes cênicas, au-diovisual, literatura e humanidades, música e patrimônio cultural.

ACESSO RESTRITO

Segundo o IBGE, uma pequena parcela da população tem acesso à cultura no País. Apenas 14% dos brasileiros vão re-gularmente aos cinemas, 96% não freqüentam museus, 93% nunca foram a uma exposição de arte e 78% nunca assistiram a um espetáculo de dança.

O governo considera alarmante o fato de 90% dos municí-pios não possuírem cinemas, teatros, museus ou centros culturais. Segundo a relatora, o Vale-Cultura “contribuirá, com certeza, para a reversão desses lamentáveis indicadores”.(Agência Câmara)

LLOYD WEBBER ANUNCIA SEQUÊNCIA DE “O FANTASMA DA

ÓPERA”O compositor britânico Andrew Lloyd We-

bber anunciou, no início de outubro, a esperada sequência do musical “O Fantasma da Ópera”, cuja trama se passa na Ópera de Paris. A sequ-ência se passará em um parque de diversões em Coney Island, Nova Iorque. A nova montagem, intitulada “Love never dies” (“O amor nunca morre”), estreará em março, no Teatro Adelphi, em Londres. “O Fantasma da Ópera” é um dos musicais mais aclamados do mundo.

O espetáculo também será apresentado em Nova Iorque, a partir de novembro de 2010, e na Austrália, em 2011. A história de “Love Never Dies” começa uma década após o final do musical original e mostra que o fantasma teve de deixar a Ópera de Paris para se mudar para Coney Island, o icônico parque de diver-sões do Brooklin, em Nova Iorque.

ÚLTIMAS VAGAS!Terá início, em novembro, a Oficina de Dramaturgia do Ator, co-

ordenada pelo ator, diretor e dramaturgo Gerson Steves. A oficina tem como objetivo desenvolver um espetáculo teatral, tendo por princí-pio a improvisação do ator e a construção da dramaturgia, através de estímulos internos e externos. Além disso, visa explorar técnicas de improvisação e pesquisa para a construção de uma linguagem própria ao espetáculo fundindo elementos do teatro, da dança e multimídia.

A rotina de pesquisa e treinamento do corpo físico, vocal e criativo do ator também estarão presentes nos encontros que acontecem duas vezes por semana durante o módulo, que dura cinco meses. As aulas acontecem no Espaço do Cineclube Augusta (Rua Augusta 1.239, São Paulo).

Gerson Steves tem 25 anos de carreira. É graduado em Pro-paganda e Marketing pela ESPM e em jornalismo pela Fundação Cásper Líbero. Sua formação em teatro iniciou-se no Teatro-Escola Macunaíma. Cursou mestrado pelo Instituto das Artes da Unesp. Atuou em espetáculos de Cacá Rosset, Maria Alice Vergueiro, Ge-rald Thomas, Grupo XPTO. Dirigiu mais de 20 espetáculos teatrais e também atuou como autor e figurinista. Mais informações em www.gersonsteves.com.br ou (11) 8315.7404 / (11) 7655.7267.

4 16 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Bastidores

Dani Luque e Bruno Fagundes se encontram nos bastidores do espetáculo “Tamo Junto!”, de Marco Luque

TOM HANKS ARRECADA DINHEIRO PARA SEU ANTIGO GRUPO DE

TEATROO ator Tom Hanks mos-

trou que não se esquece de suas origens. Ele esteve em Cleveland, nos Estados Uni-dos, para ajudar a arrecadar dinheiro para um grupo de teatro de Ohio, onde deu os primeiros passos em sua car-reira artística. O grupo precisa de uma nova sede e o ator de-cidiu participar de um evento que arrecadasse fundos para o novo lar da companhia.

Hanks declarou que tem boas lembranças de seu pri-meiro emprego na área. Como a história de diversos atores que começaram no teatro, ape-sar de não ter nenhum dinheiro na época, o artista gostava de trabalhar durante as madruga-das, quando tinha a função de desmontar os cenários em um teatro de colégio, o Lakewood High School, em 1977.

Atualmente, o astro está longe de ter problemas mone-tários e dublará pela terceira vez o personagem Woody, na aguardada animação Toy Story 3, que tem estreia prevista para junho de 2010.

“A GERAÇÃO TRIANON” RETORNA AOS PALCOS DO RIO

Estreia dia 22 de outubro, no Teatro da Casa de Cultura Lau-ra Alvim, o espetáculo “A Geração Trianon”, de Anamaria Nunes (Prêmio Shell de Melhor Autor em 1988), considerado um dos im-portantes textos da dramaturgia brasileira do século XX. A direção é de Luiz Antonio Pilar e Cristina Bethencourt. No elenco de 14 atores estão Licurgo, Marília Medina, Marta Paret, Marcio Vito, Ro-gério Barros, Rubens Camelo, Tracy Segal, Marcos Damigo, Rodol-fo Mesquita, Rael Barja, Julia Deccache, Antonio Alves, Alex Reis, André Rocha e o pianista Christian Bizotto.

Peça retrata a importânciado Teatro Trianon, entre

as décadas de 1920 e 1930, para a dramaturgia brasileira

Fotos: Divulgação

Page 5: Jornal de Teatro Edição Nr. 13

516 a 31 de Outubro de 2009Jornal de Teatro

BastidoresDIRETOR REGINALDO

NASCIMENTO REALIZA OFICINA

SOBRE A OBRA DE ARRABAL EM

SÃO PAULOAs aulas acontecem no

Sesc Santana, entre os dias 11 e 15 de novembro, e pre-tendem realizar uma imer-são no “Universo Arraba-lesco”, criando um breve panorama sobre sua obra para investigar sua lingua-gem estética, a criação das personagens e a importân-cia do texto em seu teatro.

Serão realizadas leituras, análise de cenas de textos e debates sobre os temas: Te-atro do Absurdo, Teatro Pâ-nico, a dramaturgia de Fer-nando Arrabal e o processo de criação do ator, entre outras questões. Reginaldo Nascimento é diretor do Te-atro Kaus Cia Experimental.

Mais informações através do telefone (11) 2971-8700.

CICLO DE AUTORES FRANCESES CONTEMPORÂNEOS APRESENTA “PAWANA” No dia 28 de outubro acontecerá, no Centro Cultural Ban-

co do Brasil, a leitura dramática do texto Pawana, do autor francês Jean-Marie Gustave Le Clésio, um dos mais renomados dramaturgos contemporâneos, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, em 2008. Após a dramatização do texto, que será dirigida pelo francês Georges Lavaudant, a plateia é convidada a participar de um debate com o elenco (Otávio Martins e Lu-ciano Chirolli) e a direção da peça, mediado pelo dramaturgo Roberto Alvim. A entrada é gratuita.

ÁGORA COMEMORA DEZ ANOS RECONSTRUINDO SHAKESPEARE

Como parte das comemorações dos seus dez anos de atividades, aliada à busca de uma revisão crítica de sua produção nesse período, o Ágora Teatro apresenta o espetáculo “Reconstruindo Ricardo III – Parte 1”. A montagem, dirigida e protagonizada por Celso Frateschi, estreia dia 29 de outubro e segue até dezembro. O elenco é formado por Angelo Brandini, Bruno Gavranic, Cintya Chaves, Denise Cecchi, Jairo Leme, Mawusi Tulani, Valdir Griçço e Viviane Marques.

Cintya Chaves e Celso Frateschi: foco em Shakespeare

Luciano Chirolli e Otávio Martins em cena no CCBB

Paulo César Peréio e João Velho: pai e filho em ‘Escuta, Zé Mané’

CIRQUE DU SOLEIL SE PREPARA PARA NOVO

ESPETÁCULO NOS EUAO novo espetáculo do Cir-

que du Soleil fará sua estreia em Chicago, dia 19 de no-vembro, e em Nova Iorque, no começo de 2010. “Banana Shpeel” é a nova criação do escritor-diretor David Shiner, que terá como estrelas Micha-el Longoria, que participou da produção da Broadway “Jersey Boys”, e Annaleigh Ashford, atriz que tem em seu currículo musicais como “Wicked”.

Ainda sobre o elenco, a dupla de sapateadores Jose-ph e Josette Wiggan, Dmitry Bulkin, Vanessa Alvarez, Ro-byn Baltzer e Alex Ellis são alguns dos outros nomes da equipe que serão dirigidos pelo criador do espetácu-lo, David Shiner, com dire-ção musical de Jean-François Côte. A direção artística fica por conta de Gilles Ste-Croix e Guy Laliberté, criador do Cirque du Soleil.

A estreia em Chicago acon-tecerá no Chicago Theater e seguirá até 3 de janeiro de 2010. Depois, o espetáculo irá para o Beacon Theather, em Nova Iorque, de 4 de feverei-ro até dia 30 de abril de 2010. Mais informações sobre a peça e ingressos no site

ESPETÁCULO INFANTIL “O REI LEÃO” COMPLETA DEZ ANOS NO WEST END

O musical infantil da Disney, “O Rei Leão”, marca o seu déci-mo aniversário em Londres, no West End. A estreia aconteceu em 19 de outubro de 1999 e, desde então, já foi visto por mais de oito milhões de pessoas em mais de 4200 apresentações, com ocupação média de 93% no teatro. Com esses números, a bilheteria arreca-dou, aproximadamente, US$ 457 milhões e é um dos espetáculos que mais foi apresentado na história do West End.

Mais de 225 atores de 22 países participaram do elenco, sendo que 64 crianças já fizeram os papéis do jovem Simba e da jovem Nala. O produtor e presidente da Disney Theatrical Productions declarou que está “tremendamente orgulhoso” pelo sucesso do musical, que teve produção de Julie Taymor. A produtora com-pletou dizendo que o que a satisfaz no espetáculo é que ele “ul-trapassa as barreiras culturais e raciais” e é uma história que fala com todos igualmente.

“O Rei Leão” também está em cartaz em Nova Iorque, Las Vegas, Tóquio, Hamburgo e Paris, além de uma turnê pela América do Norte. Em Londres, a programação segue até dia 29 de agosto do ano que vem. Para mais informações: www.thelionking.co.uk

COMPLETANDO 20 ANOS, CCBB HOMENAGEIA LUIZ ANTÔNIO MARTINEZ CORRÊA COM

O “THEATRO MUSICAL BRAZILEIRO”Em 1989, no primeiro ano de funcionamento do CCBB Rio de

Janeiro (Centro Cultural Banco do Brasil), era apresentado, no Teatro II, o premiado “Theatro Musical Brasileiro I”, do já falecido diretor Luiz Antônio Martinez Corrêa, “o grande crítico da sociedade brasi-leira”, como era chamado. Agora, em comemoração aos 20 anos do local, a peça terá uma nova montagem, com estreia prevista para 28 de outubro. A homenagem reúne nomes estelares. A supervisão é de ninguém menos que Bibi Ferreira e a direção de Fábio Pilar.

Luiz Antônio Martinez Corrêa (1950-1987), apesar de ter faleci-do ainda jovem, conseguiu seu lugar na história do teatro brasileiro. A obra “Theatro Musical Brazileiro”, eternamente contemporânea, rendeu-lhe o prêmio Mambembe de melhor diretor, em 1985. Trata-se de um espetáculo de proporções épicas. A peça abrange o período entre 1860 e 1914, sendo fruto de pesquisa realizada por Luiz com a atriz-cantora Annabel Albernaz e o pianista Marshall Netherland. O esforço não foi em vão. Juntos, eles recuperaram libretos e partituras de revistas preciosas, burletas e comédias musicais de quase um sécu-lo de teatro para reviver um dos períodos mais populares alcançados pelo teatro brasileiro: o tempo áureo dos musicais.

Reapresentar uma obra de tais proporções exige profissionalismo e artistas de nível. A escolha da equipe foi cuidadosamente elaborada para que houvesse integração, sinergia e identificação com o con-ceito, preservando, assim, as principais características do espetáculo. Além de Bibi Ferreira e Fábio Pilar, o comando dos bastidores fica por conta de Kalma Murtinho (figurino), Analu Prestes (cenário) de Analu Prestes, Claudia Vigonne (coordenação artística), Aurélio de Simone (iluminação) e Marcelo Alonso Neves (direção musical).

PERÉIO COMEMORA 50 ANOS DE CARREIRA COM O ESPETÁCULO “ESCUTA, ZÉ MANÉ” EM SÃO PAULO

O Sesc Avenida Paulista apresenta, a partir do dia 23 de outubro, o espetáculo “Escuta, Zé Mane!”, que comemora os 50 anos de car-reira do ator Paulo Cesar Peréio. A montagem fica em cartaz até o dia 29 de novembro e apresenta um texto livremente inspirado em “Lis-ten, little man”. Peréio faz uma releitura das ideias do psiquiatra aus-tríaco Wilhelm Reich, incorporando-as à sua própria personalidade.

Na peça, Peréio/Reich concede uma palestra e, no decorrer da conversação, é confrontado com seus outros “Eus”; o masculino, jovem, e o “Eu” feminino. A direção é de Lenerson Polonini e o elenco conta ainda com João Velho (filho de Peréio) e Neca Zarvos.

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Page 6: Jornal de Teatro Edição Nr. 13

6 16 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Editais

Marketing Cultural

Desde a sua fundação, em 2002, a Braskem, uma das prin-cipais empresas petroquímicas do Brasil, sempre abraçou os projetos culturais do País e le-vou incentivo a diversos festi-vais em solo nacional. Em pou-co mais de seis anos de vida, a empresa virou referência na arte e tem proporcionado a chance de milhares de artis-tas mostrarem seus trabalhos. Uma das áreas que mais recebe investimento é o teatro.

Segundo a assessoria de im-prensa da Braskem, o objetivo dos patrocínios é abrir opor-tunidades e reconhecer novos atores e diretores, além de va-lorizar a cultura tradicional das comunidades, principalmente as que estão localizadas ao re-dor das unidades da marca, como acontece com o Porto Alegre em Cena e com o Prê-mio Braskem de Teatro, na Bahia.

Reconhecido como um dos grandes festivais do Brasil, o Porto Alegre Em Cena, que chegou a sua 16º edição este ano, já reuniu mais de 690 pe-ças, de 32 países, em sua lon-ga trajetória. Estima-se que pelo menos 700 mil gaúchos

Edital do TCA vai selecionar dois espetáculos para próxima temporadaUm dos escolhidos terá temática infanto-juvenil e o outro, temática livre. A temporada será no Centro Cultural de Plataforma, em Salvador

Encerra-se, dia 6 de novem-bro, o prazo das inscrições para o edital de Montagem do TCA Núcleo (Núcleo de Teatro do Teatro Castro Alves), que traz inovações para o período 2009-2010 e recursos previstos de R$ 200 mil para cada um dos projetos contemplados. Além de ampliar o número de produções, que passou de uma para duas, o edital deste ano também levará uma de suas montagens para ser exibida no subúrbio ferroviário de Salva-dor, no Centro Cultural de Pla-taforma.

Com temática livre, o espe-táculo terá temporada no local com o intuito de envolver pes-soas da comunidade nas ativi-dades artísticas das oficinas, segundo o diretor do TCA, Moacyr Gramacho. O novo edital do TCA Núcleo está dis-ponível no site do TCA (www.tca.ba.gov.br) e da Fundação Cultural (www.fundacaocultu-ral.ba.gov.br).

As regras deste ano tam-

bém determinam que cada peça deverá ter, no mínimo, cinco atores. Os produtores interessados poderão se inscre-ver nos dois projetos, mas so-mente serão contemplados em uma das categorias. Devido ao formato ampliado, serão du-plicadas as oficinas de atores, direção, produção, cenário, fi-gurino e iluminação, envolven-do um número ainda maior de profissionais das artes cênicas,

inclusive nomes internacionais que serão convidados para mi-nistrar as oficinas, a exemplo da consagrada cenógrafa e es-critora inglesa Pamela Howard.

O edital do TCA foi lança-do pouco mais de uma sema-na depois do encerramento da montagem contemplada pelo projeto do ano passado, “Je-remias, o Profeta da Chuva”. Escrito e dirigido por Adelice Souza, o espetáculo ficou qua-

se dois meses em cartaz, na Sala do Coro, sempre de sexta-feira a domingo. O TCA anunciou que 2.889 espectadores con-feriram o trabalho, que teve, pela primeira vez no teatro baiano, sessões especiais com áudio-descrição e tradução em libras para deficientes visuais e auditivos.

O projeto existe desde 1995, quando foi inaugurado com a montagem “Otelo”, com dire-

ção de Carmem Paternostro. Nesses 15 anos, espetáculos de sucesso como “Volpone”, de Ben Jonson, com direção de Fernando Guerreiro, e “Ham-let”, de Shakespeare, com dire-ção de Arildo Déda, em 2005, têm marcado a história do teatro baiano. “Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, direção de Luiz Marfuz, por exemplo, levou sete indicações e cinco prêmios no Braskem de Teatro 2008.

Braskem: levando festivais do Sul ao Nordeste do BrasilPorto Alegre Em Cena e Prêmio Braskem de Teatro recebem apoio da empresa, que, desde 2002, apóia os projetos culturais do País

pisaram nas casas culturais da cidade durante o evento. Um pouco desse sucesso deve-se a Braskem que, patrocinando o Em Cena há quatro anos, foi uma das responsáveis pelo crescimento da festa. Graças ao apoio da petroquímica, a capital gaúcha teve a honra de receber nomes consagrados de todo o mundo, desde o dra-maturgo norte-americano Bob Wilson até o diretor francês

Patrice Chéreau. Além de financiar o festi-

val, a Braskem promove, no evento, o Prêmio Braskem em Cena, que contempla as pro-duções locais e provoca inte-ratividade entre as encenações e o público. Criado em 2006, ele tem como intenção dar visibilidade aos novos talen-tos do Rio Grande do Sul e premiar as melhores apresen-tações. O grande vencedor da

edição 2009 foi “O Sobrado”, peça criada pelo grupo Cer-co, promovida pelo Departa-mento de Arte Dramática do Instituto de Artes da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Em Salvador, a empresa destaca-se pela vastidão de projetos, tendo como carro-chefe o Prêmio Braskem de Teatro, festa que já virou tra-dição na capital baiana. Anual-

mente, o Teatro Castro Alves recebe a nata dos artistas do Estado para premiar as me-lhores obras. Ao todo são dez categorias que dividem um significativo valor monetário e o reconhecimento da popu-lação. Na última edição, que aconteceu em abril deste ano, os vencedores do segmento de melhor espetáculo adulto e de melhor espetáculo infanto-ju-venil receberam um prêmio no valor de R$ 30 mil, enquanto as demais categorias foram con-templadas com R$ 5 mil cada uma, além do troféu.

Fugindo dos palcos, mas não das artes, a Braskem tam-bém leva seu incentivo a ou-tros campos da cultura nacio-nal. Ainda na capital baiana, acontecem o Prêmio de Aca-demia de Letras, voltada para escritores e poetas, e o Prêmio Braskem Cultura e Arte, que apoia a produção para autores inéditos nas áreas de música, literatura, artes plásticas e cine-ma. Já o Fronteiras do Pensa-mento Braskem, projeto lança-do em Porto Alegre, em 2006, visa promover encontros com troca de ideias para o desenvol-vimento da sociedade, e, recen-temente, foi adotado pelas ci-dades de São Paulo e Salvador.

Por Paloma Jacobina

Por Leonardo Serafim

Momentos “Jeremias, o Profeta da Chuva”, peça contemplada com o prêmio do TCA Núcleo, em 2009, e que ficou quase dois meses em cartaz

Entrega do Prêmio Brasken, em 2009: a meta é promover a interatividade entre as encenações e o público

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Prêmios

A premiação da 16ª edi-ção do Festival de Teatro do Rio foi marcada não só pela emoção dos vencedores, mas, também, pela confirmação do sucesso do evento. Foram mais de dois mil espectadores durante os dez dias de apre-sentação, na Casa de Cultura Laura Alvim. A diversidade de gêneros apresentados no palco e a integração entre público e artistas (aqueles podiam votar e debater seus espetáculos fa-voritos) contribuíram para o sucesso do evento, cuja direto-ra, Anunciata de Almeida, co-memorava a realização mais do que bem-sucedida do festival.

“Essa edição foi um suces-so. Tivemos casa cheia todos os dias, com lotação esgotada, e pessoas de fora querendo as-sistir aos espetáculos. Acredito que o evento cumpriu o seu pa-pel de dar a oportunidade para que todos possam ter acesso à experiência do teatro. Muitos espectadores do festival estive-ram pela primeira vez em con-

Mais de dois mil espectadores puderam debater e eleger seus espetáculos favoritos

premia os destaques da 16ª ediçãoCom votação popular, Festival de Teatro do Rio

Por Felipe Sil tato com essa arte e esse era o nosso objetivo”, comemora Anunciata.

Três espetáculos dividi-ram a premiação desta edição do festival. A peça “Filhos do Brasil”, dirigida por Oswaldo Montenegro, levou seis prê-mios. Já “Relações – Peça Qua-se Romântica”, com direção de Leandro Muniz, venceu em quatro categorias. A montagem “Viúva, Porém Honesta”, diri-gida por Dudu Gama, ganhou três prêmios. O prêmio de Me-lhor Texto foi para a monta-gem “Relações – Peça Quase Romântica”, que também ar-rebatou os prêmios de Melhor Ator (Marcio Machado), Me-lhor Atriz (Cecília Hoeltz), e Melhor Ator Coadjuvante (An-derson Cunha). Para Leandro Muniz, diretor de “Relações – Peça Quase Romântica”, a participação no festival foi uma importante vitrine para a com-panhia. “Espero que a gente consiga fazer uma temporada maior depois desse sucesso no festival. Como o evento é gra-tuito, muita gente assistiu ao

espetáculo, e os prêmios foram importantíssimos para a carrei-ra da peça”, afirma Leandro.

O grande nome da noite, porém, foi Oswaldo Montene-gro. Ele venceu nas categorias Melhor Iluminação, Melhor Direção, Prêmio Especial pela Trilha Sonora e Melhor Espe-táculo pelo júri oficial e pelo voto popular, o que rendeu à Cia. Mulungo (que encenou “Filhos do Brasil”) uma pre-miação dupla em dinheiro. “Participar do festival foi uma alegria enorme, pois tirou os grupos teatrais de uma solidão que asfixia. Tivemos contato com colegas, com profissio-nais da área, com outros tipos de visão. Além disso, a visibi-lidade que o festival propor-ciona é muito importante para os grupos iniciantes. Me sinto profundamente honrado em receber todos esses prêmios”, declarou Oswaldo Montene-gro. Já o grupo Cia. do Foco foi o vencedor nas categorias Cenografia (Cachalote Mat-tos), Figurino (Ricardo Rocha) e Atriz Coadjuvante (Renata

Tavares) com a montagem “Vi-úva, Porém Honesta”, dirigida por Dudu Gama.

O XVI Festival de Teatro do Rio contou com o apoio dos governos municipal e es-tadual do Rio, além da Funarj (Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio) e de outros órgãos e empresas.

Especialistas e público te-cem elogios às peças e ao mo-delo do festival

O Festival de Teatro do Rio é, há 16 anos, importante fer-ramenta de fomento à cultu-ra teatral na cidade. Não é só apenas a mistura de gêneros das apresentações que chama a atenção do público, mas, tam-bém, os inúmeros debates e oficinas gratuitas com signifi-cativos nomes da cena teatral. “Este ano, tivemos gêneros muito diferentes como comé-dias, musicais, textos de nomes como Nelson Rodrigues, o maior dramaturgo desse País, e Oswaldo Montenegro, que produz um outro estilo de te-atro. Esse encontro é muito in-teressante. O Festival de Teatro

do Rio tem fomentado cultura e isso é imprescindível”, frisa o ator e diretor Cláudio Hanley, que fez parte do júri.

Após cada espetáculo reali-zado no Festival de Teatro do Rio havia um debate. Segundo o escritor Sérgio Fonta, um dos debatedores dessa edição, o objetivo é pontuar o trabalho que foi encenado e esclarecer a plateia. “O debate é uma boa ponte entre artistas e público, ajudando a conscientizar e a agregar. O Festival de Teatro do Rio merece todo o nosso aplauso”, celebra.

Uma mostra de como a integração entre público e os artistas foi essencial para o su-cesso do evento está nas pala-vras de Júlia Albuquerque, uma das centenas de espectadoras que marcaram presença em vá-rios dias do festival. “Me sinto muito feliz, já que meu voto foi para o espetáculo vencedor. O festival é ótimo, as peças são muito bacanas e é tudo de gra-ça. Qualquer um pode assistir. O público só tem a agradecer essa oportunidade.”

A montagem “ Viúva, porém honesta” foi uma das mais aplaudidas

Renata Tavares (à dir.) foi a melhor atriz coadjuvante do festival “ Os filhos do Brasil”, de Oswaldo Montenegro, levou seis prêmios inclusive o de melhor espetáculo

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Entrevista

Jornal de Teatro – Qual a emoção de completar qua-tro décadas de profissão? Que lições tira destes 40 anos de carreira? Cristina Pereira – A emoção de ter chegado até aqui poden-do sobreviver do meu trabalho. Ver quantas boas oportunida-des tive, quantas lutas, algumas poucas tristezas, mas essas são mais do trabalho na televisão. O teatro é mais generoso.

JT – Qual o segredo para se chegar a uma data tão espe-cial?CP – Trabalhar e acreditar.

JT – Como pretende come-morá-la? Imaginava, um dia, celebrar 40 anos de carreira? CP – Nunca pensei nisso. Só este ano. Acho que a melhor comemoração é no palco, cla-ro, fazendo esse texto do Juan Mayorga e com esse elenco de amigos. Com saúde. Se puder-mos, vamos viajar e mostrar o trabalho para outras plateias. Será um luxo!

JT – Por que uma das for-mas escolhidas para festejar foi no palco, encenando “A Tartaruga de Darwin”? CP – Foi uma ideia do Paulo Betti, que viu o espetáculo em Madri e ficou muito entusias-mado. Quando a Casa da Gávea montou o projeto, tivemos a ideia de incluir a comemoração dos 40 anos de teatro. A festa,

“O teatro é maisPor Alysson Cardinali Neto

Engraçada, divertida, cômica, brincalhona... Ok, Cris-tina Pereira é tudo isso. Afinal, em 40 anos de carreira, tornou-se uma das mais famosas comediantes do País. Mas essa paulistana “da gema” é muito mais do que uma expert na arte de fazer rir: talentosa, dedicada e apaixona-da (pela vida e pela profissão), a atriz, com 60 anos (mui-to) bem vividos, usa seu talento não só para divertir, mas para fazer pensar. Não nega as origens (“Acho que sou comediante, o que é uma definição bastante abrangen-te”), mas, ao comemorar – no palco – as quatro décadas de carreira, com a peça “A Tartaruga de Darwin”, mostra ser muito mais do que, “apenas”, uma humorista de su-cesso. Feliz, esta leonina com luz própria – e que não pre-cisa provar mais nada a ninguém – abre seu coração para o Jornal de Teatro. Fala sobre televisão (onde começou a brilhar e guarda algumas más recordações), mas declara seu amor, mesmo, pelos palcos (“O Teatro, junto com mi-nha família, é a minha vida”). E faz uma revelação: “Que-ria fazer mais cinema, mas ninguém me convida”, lamen-ta a atriz, que, entre uma apresentação e outra, no Teatro do Sesi, ainda encontra tempo (e fôlego) para co-dirigir a Casa da Gávea – um centro de artes cênicas fundado por ela, Paulo Betti, Eliane Giardini, Antônio Grassi e outros atores – e dar aulas de teatro. Com vocês, Cristina Pereira:

na realidade, começou no dia de meus 60 anos (9 de agosto), quando aproveitamos para reu-nir a equipe, os amigos e fazer uma leitura do texto, dentro do ciclo de leituras da Casa.

JT – Como é trabalhar e contracenar com Paulo Bet-ti (ele dirige e atua na peça, que também tem no elenco Vera Fajardo e Rafael Pon-zi)? CP – Somos amigos há mais de 20 anos, quase 30. Eu acompanho o trabalho, a car-reira do Paulo desde a EAD (Escola de Arte Dramática da USP), onde também fiz minha formação, no final dos anos 1960. Temos afinidades polí-ticas, ideológicas e artísticas, além de uma história de vida com algumas semelhanças. Somos uma espécie de irmãos, pois também discutimos mui-to.

JT – “A Tartaruga de Da-rwin” é uma fábula sobre a História contemporânea, onde realidade e fantasia se misturam na figura de sua personagem (Harriet), uma tartaruga que Charles Da-rwin trouxe das Ilhas Ga-lápagos, está em processo de evolução para a forma humana e, graças à sua lon-gevidade, presenciou algu-mas das mais emblemáticas passagens históricas – a revolução russa, os campos

de concentração nazistas, o bombardeio de Guernica, entre outros eventos da hu-manidade nos séculos XIX e XX. Como é interpretar Harriet? Que mensagem você tenta passar ao viven-ciar uma tartaruga? Como é a trama da peça? CP – Sempre opinamos ao re-presentar um texto desse por-te e conteúdo. Procuro fazer tudo com a máxima verdade e emoção. Acho que o texto do Mayorga fala sobre a “evolu-ção monstruosa” do homem, que seria uma grande tristeza para Darwin, se estivesse vivo. Há uma análise crítica da pos-tura do homem hoje. A peça fornece rico material histórico, com o qual podemos refletir sobre o que aconteceu. É ex-tremamente mobilizante para mim contar toda essa história, todas as passagens, principal-mente as das duas guerras.

JT – Vamos entrar no túnel do tempo. Como foi o início de sua carreira? O que te le-vou a ser atriz? CP – Resolvi ser atriz no iní-cio da adolescência, em São Paulo. Soube da EAD pelo jornal e fui atrás. O que me le-vou foi a paixão por cinema e pelas histórias que eu lia quan-do criança.

JT – Quais os maiores obs-táculos que você enfrentou para se firmar na profissão?

CP – Timidez, medo no iní-cio, pois vinha de um colégio de freiras salesianas e era uma menina ultra comportada. De-pois, fui driblando as outras dificuldades que surgiram. Era um verdadeiro malabarismo, mas eu acabava sempre de pé e pronta para a próxima.

JT – Ao olhar para trás, quais os momentos que mais te marcaram (positiva e negativamente)? CP – Os momentos sempre foram as pessoas na minha for-mação e convívio artístico. Para não cometer injustiças (risos): Dr. Alfredo Mesquita, Myriam Muniz, Ademar Guerra, Celso Nunes, Emilio De Biasi, Mario Masetti, Naum Alves de Souza, Paulo Medeiros de Albuquer-que, lá em São Paulo, e ainda meus amigos Vic Militello, Ri-cardo Blat, Stela e Teresa Frei-tas, Ronaldo Ciambroni. Rafael Ponzi, Paulo Betti, Eliane Giar-dini, Isa Kopelman, Carmo So-dré, Ana Carolina (diretora de cinema), Flavio Marinho (aqui no Rio, fiz três espetáculos dele, grande amigo com quem aprendi e aprendo muito), o Teatro dos Quatro, Sergio Bri-to, Yara Amaral (saudosa), Ary Fontoura, José Wilker, Diogo Vilela, Louise Cardoso, Wolf Maya, Jorge Fernando, Chico Tenreiro (grande amigo, assim que chegamos ao Rio), Elias Andreato (me dirigiu em “Tan-tã” e me ensinou muito), An-

dré Valli (queridíssimo), nosso grupo na Casa da Gávea em Dona Rosita: Rubens Araújo, Duse Naccaratti (saudosa), Le-onardo Vieira e Nidia Ferreira.

JT – É, a lista e grande...CP – Sim. E tem mais: Teresa Montero, que escreveu comi-go “Angela Sant’Anna”, Hele-na Varvaki, Lucinha Cordeiro, Rafael Camargo, Ronald Tei-xeira, Anderson Cunha, que nos acompanha até hoje na “Tartaruga”, muito especial. Moacyr Góes, Julio Bressa-ne, Hector Babenco, Gustavo Paso, Jô Bilac, Verônica Ma-chado (fono), Carmen Luz, agora na “Tartaruga”, Vera Fajardo e Rafael Ponzi, sócios e companheiros na Casa da Gávea, ao lado do Paulo Betti, de quem já falei, e muitos ou-tros que me escapam mas que me ensinaram muito.

JT – Você, ao longo da car-reira, demonstrou seu ta-lento não só na televisão, mas no teatro e no cinema. Qual desses meios mais te agrada? Por quê? CP – Gosto dos três. No teatro temos mais autonomia, mas gos-to também de cinema e televisão. Depende do que estamos fazen-do. Tudo tem que ter qualidade mesmo que não tenha muita.

JT – É inegável, porém, que a televisão (principalmente no período em que você foi

Cristina em ação na peça “Tantã”, com direção de um de seus melhores ami-gos, Elias Andreatto, em 1994, na Casa da Gávea

Fotos: Divulgação

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generoso”Entrevista

contratada da Rede Globo) te deu maior visibilidade. Como define seu período na “Venus Platinada”? Quais recordações traz, por exem-plo, da personagem Fedora Abdala, a Fefê, de “Sassari-cando”, e os famosos qua-dros que fez no TV Pirata? CP – Foram trabalhos bons, boas oportunidades que tive, com qualidade e inovação. Até hoje as pessoas falam da Fedora de “Sassaricando”, uma novela do Silvio de Abreu que sempre aproveitou muito o meu humor. Ele escreve as personagens pen-sando no ator que interpretará e tudo fica muito natural. A TV Pirata foi um marco na televi-são, pois inovou o humor na te-linha, era maravilhoso. Fizemos a novela e o início da TV Pirata, tudo junto, era uma loucura. E, à noite, eu ia para o teatro fazer “O Amigo da Onça”, que foi, de certa forma, o embrião da Casa da Gávea.

JT – Aliás, por que você saiu da Rede Globo (em 1991)? Comenta-se que foi por questões políticas envolven-do sua participação no qua-dro “O Povo Pirata”, do hu-morístico TV Pirata, e o fato de você ser simpatizante do PT. O que houve realmente? CP – Era uma outra época. Foi um pouco de tudo e o fato de terminar um contrato e não haver um convite ou interes-

se da direção daquele núcleo em renovar comigo, apesar do sucesso do meu trabalho. Eu fazia um espetáculo de tea-tro, “Corações desesperados”, com Ary Fontoura e direção do Jorginho, o Jorge Fernan-do, que tentaram, junto com o Silvio de Abreu, me ajudar na renovação do contrato na Globo. Mas não foi possível.

JT – No início da nossa conversa, você falou que as poucas tristezas que teve na carreira foram provenientes do trabalho na televisão. Como assim?CP – (séria) Ah, prefiro não fa-lar muito sobre isso. Não quero me aprofundar neste tema. Por isso disse que o teatro é mais generoso. Minhas tristezas com a televisão fazem parte do passado, não vale a pena falar de um período tão distante.

JT – Devido ao seu grande sucesso não só no TV Pira-ta, mas em novelas de cunho mais humorístico, você fi-cou marcada por fazer pa-peis cômicos (exemplo dis-so foi o seu sucesso em TV Pirata). Como você se define como atriz? CP – Acho que sou comediante, o que é uma definição bastan-te abrangente. Acredito que os comediantes possam fazer qual-quer personagem, desde que se-jam questionadores e inquietos.

JT – Como foi a experiência nos demais trabalhos televi-sivos que você fez em outras emissoras, como Manchete, SBT e Record? CP – Foram bons trabalhos. Na realidade, comecei na TV Tupi, em 1979, com uma novela chamada “Dinhei-ro vivo”, do Mário Prata, em que fazia a Garapa, uma corintiana como eu. Estava grávida e passava horas, à noite, decorando a escalação do Corinthians em diversas épocas, auxiliada pelo Rafa-el Ponzi, com quem eu era casada e que entende tudo de futebol. Na Manchete, fiz uma novela escrita pelo José Louzeiro, de muito su-cesso, “Corpo Santo”, e, no SBT, um seriado do Marcos Caruso e da Jandira Martini, “Brava gente”, dirigido pelo Roberto Talma. Tive o pra-zer de voltar a trabalhar com minha mestra, Myriam Mu-niz. Na Band, fizemos uma novela “O campeão” e, mais recentemente, participei de “Floribella”, uma novela voltada para o público ado-lescente. Atualmente, sou contratada da Record, onde estou muito feliz e fiz “Vidas opostas”, do Marcilio Mora-es, além do seriado “A Lei e o Crime”, também do Marcílio. Tenho, pela primeira vez, um contrato de longa duração e projetos com a televisão.

JT – Quais projetos?CP – Ainda não quero dar muitos detalhes, mas preten-do fazer, na Record, um pro-grama voltado para o público feminino, um programa bem humorado. Farei esse progra-ma com a Stella Freitas, uma grande amiga, com a qual trabalho há 40 anos, desde quando ela tinha o grupo tea-tral “Amanhã”, em São Paulo. Aliás, temos também um pro-jeto para teatro, para ser exe-cutado após a temporada da “Tartaruga”. É um trabalho também voltado para o públi-co feminino, que está sendo escrito pela Marta Góes e de-verá ser lançado no segundo semestre de 2010.

JT – Qual sua maior virtude como atriz? Qual o defeito? CP – Acho que a verdade, a entrega ao trabalho seria a qualidade. O defeito, a tensão que provoca o exagero.

JT – De todas as persona-gens que você interpretou na televisão, qual te deu mais trabalho? E mais sa-tisfação? Qual você esque-ceria? CP – A que deu mais traba-lho foi a Yeda, de “Elas por elas”, minha primeira novela na Globo. Satisfação foi Fefê, de “Sassaricando”. Não es-queceria nenhuma. Todas me serviram como aprendizado.

JT – Além de atriz, você é sócia fundadora da Casa da Gávea, um Centro Cultural com aulas de teatro, além de projetos e discussões de filmes, livros e vídeos. Fale sobre o projeto, iniciado em maio de 1992, e que, desde então, só cresce (em 2001, a Casa da Gávea recebeu o Prêmio Estácio de Sá na ca-tegoria Artes Cênicas). CP – A Casa da Gávea é a nos-sa trincheira cultural, como definiu o Paulo (Betti). Nesses 17 anos de trabalho fizemos muita coisa boa. Mas só nos damos conta quando paramos para arrumar os arquivos, para dar uma geral, ou quando al-guém de fora, importante, re-conhece o valor desse centro cultural, como aconteceu no Projeto Memória do Teatro Brasileiro e o Flavio Migliac-cio falou da gente com a maior propriedade. Isso nos deixou muito felizes.

JT – Outro exemplo de sua dedicação à arte é o fato de você ser professora de tea-tro. Por que e como passa seus ensinamentos à futura geração? CP – Gosto muito de dar aulas, de fomentar ideias e trabalhos. Isso aconteceu, algumas vezes, na Casa da Gávea, como em 92/94, com os atores da tercei-ra idade que resolveram formar

Caras e bocas em “Aurora da Minha Vida” , outra peça de

muito sucesso protagonizada

pela atriz

O teatro é uma das paixões de Cristina, que também brilha

no cinema e na televisão

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A CARREIRA DE CRISTINAConsagrada no teatro, Cristina Pereira atuou em mais de 20 peças como

atriz e diretora. No cinema, trabalhou com Hector Babenco, Bruno Barreto, Júlio Bressane e Ana Carolina. Mas ficou famosa com as personagens cômicas que interpretou na tevê, como a marcante Fedora Abdala, a Fefê, de Sassa-ricando, e os inúmeros quadros que fez no TV Pirata, ambos da Globo. Seu início de carreira foi na extinta TV Tupi, na novela “Dinheiro vivo”, do Mário Prata. Cristina é sócia fundadora da Casa da Gávea, atriz, diretora e professora de teatro. Atuou nas peças “O Círculo de Giz Caucasiano”, de Bertolt Brecht; “A Missa Leiga”, de Chico de Assis; “Equus”, de Peter Shaffer; “Mahagonny”, de Bertolt Brecht; “Jogos na hora da Sesta”, de Roma Mahieu; “A Aurora da minha vida”, de Naum Alves de Souza; “A mente capta”, de Mauro Rasi; “Foi bom, meu bem?”, de Luis Alberto de Abreu; “Assim é, se lhe parece”, de Luigi Pirandello; “Sábado, Domingo e Segunda”, de Eduardo De Filippo; “O Amigo da Onça”, de Chico Caruso; “Corações desesperados”, de Flávio de Souza; “Tantã”, de Rafael Camargo; “Salve Amizade”, de Flávio Marinho; “Dona Rosita, A Solteira”, de Federico Garcia Lorca; “Entre o Céu e o In-ferno”, de Teresa Montero e Cristina Pereira; “Por que Você Não Disse Que Me Amava”, de Vera Karam; “Abalou Bangu”, de Flávio Marinho; e “Alzira Power”, de Antonio Bivar.

Na televisão atuou em “Elas por Elas”, de Cassiano Gabus Mendes; “Guerra dos Sexos”, de Silvio de Abreu; “Vereda Tropical”, de Carlos Lombardi; “Sas-saricando”, de Silvio de Abreu; e “TV Pirata” (estas na Rede Globo); “Corpo Santo”, de José Louzeiro (TV Manchete); “Brava Gente”, de Marcos Caruso e Jandira Martini (SBT); “O campeão” e “Floribella (Bandeirantes); “Vidas Opostas” e “A Lei e o Crime”, ambos de Marcílio Moraes, (TV Record). No teatro dirigiu “Morte e Vida Severina”, com atores da terceira idade na Casa da Gávea; “Grude, pocket show”; “Histórias de cronópios e de famas”; “O Desejado”; “Amigas”, “Dona Rosita, a solteira”, uma co-direção com Antonio Grassi; “Querida Mamãe”, em Lisboa; “Entre o Céu e o Inferno”.

“A TARTARUGA DE DARWIN”

LOCAL: Teatro Sesi (Avenida Graça Aranha, nº 1 - Centro / RJ. Tels: (21) 2563.4164 e2563.4166.HORÁRIOS: de sexta-feira a domingo, às 19h30DURAÇÃO: 80 minutosINGRESSOS: R$ 30 e R$15 (meia entrada)CAPACIDADE: 350 espectadoresCLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: 14 anosTEMPORADA: até 15 de novembro

um grupo chamado Revivendo. Montamos “Morte e Vida Seve-rina”, foi um trabalho especial e alguns se profissionalizaram e estão na ativa. Ou em 98/2000, com a montagem de “Dona Rosita”, a partir de uma oficina sobre Lorca, que originou um pequeno e sólido grupo que, mais tarde, fez “Entre o Céu e o Inferno”, onde escrevi e dirigi, dividindo a escrita com a Teresa Montero e a direção com a Hele-na Varvaki. Depois houve outras oficinas, como as denominadas “A comédia levada a sério”.

JT – Mas como é sua meto-dologia para ensinar teatro?CP – Procuro fazer junto com os alunos, estimulá-los, aprovei-tar o que eles têm e me forne-cem como material de trabalho.

JT – E como é o seu retorno?CP – Fico muito cansada nesses cursos e oficinas, mas me envol-vo demais com o trabalho. Sou, também, muito questionadora e exigente comigo, pois acho que muitos cursos são picaretagem. Acho que poucos são bons pro-fessores porque é muito difícil mesmo. Há coisas que não se ensinam, não dá. E para dar au-las há que se saber muito.

JT – Quem você destaca nes-ta nova safra de atores e atri-zes surgidos ultimamente? CP – Gostei demais de ter tra-balhado com uma atriz muito talentosa, a Lidiane Ribeiro. Ela era a protagonista de “Desespe-radas”, um texto do Jô Bilac.

JT – Qual recado você daria para esta geração? CP – Persistência, disciplina, humildade (não exagerada, culpada, mas reconhecedora das falhas), envolvimento com o trabalho e dedicação. Quan-do fiz, ano passado, “Alzira Power”, ouvi uma frase dita pelo Gustavo Paso, ótimo di-retor, que “o teatro te dá o que você dá para ele”. É isso.

JT – Como, hoje, seria a Cristina Pereira em início de carreira? CP – Mais estudiosa, atenta, exigente e ousada.

JT – Falamos muito de tele-visão, mas o que é o teatro na sua vida? E o cinema? CP – O Teatro, junto com minha família, é a minha vida. Cinema, uma experiência mui-to boa, principalmente nos fil-mes da Ana Carolina. Queria fazer mais cinema, mas nin-guém me convida.

JT – Quais os planos para o futuro? CP – Muitos, sempre. Aliás, estar na Casa da Gávea, supõe que se tenha muitos projetos, muita energia e fé para tocá-los. Essa é a filosofia do Paulo Betti e a nossa.

Entrevista

A ATRIZ NO PALCOA peça “A Tartaruga de Darwin”, do espanhol Juan Mayorga, comemora os 40 anos de carreira

de Cristina Pereira. A atriz celebra a data (no Teatro Sesi, até 15 de novembro), ao lado dos amigos e sócios da Casa da Gávea Paulo Betti (acumulando as funções de ator e diretor), Vera Fajardo e Rafael Ponzi (também tradutor do texto). A peça marca, ainda, a volta de Paulo Betti, que tem se dedicado não só à televisão, mas ao cinema, à direção teatral e aos palcos como ator. Este ano, aliás, além das quatro décadas profissionais de Cristina, comemora-se os 200 anos do do nascimento de Charles Darwin, autor de “A Origem das Espécies”, livro definitivo para o pensamento científico acerca do desenvolvimento da vida e a origem do homem. As idéias de Darwin foram inspiradoras para Mayor-ga na criação do texto que originou “A Tartaruga de Darwin”.

Dupla afinada: Cristina e Paulo Betti em “A Tartaruga de Darwin”. Amizade de quase 30 anos, com afinidades políticas, ideológicas e artisticas. “Somos uma espécie de irmãos, pois também discutimos muito”, diz a atriz.

Rir e fazer rir, rotina nos 40 anos de carreira da humorista

“O Amigo da Onça”, com grande elenco, outro sucesso de Cristina O humor irônico, uma das marcas da atriz na peça “A Mente Capta”

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Dança

De repente eles chegaram lá, diante do palco enorme do Guairão. Os pés espremidos dentro da sapatilha, a admira-ção e respeito por aquele lugar. Deixaram para trás seis horas diárias de suas vidas para estar ali, movimentando o imaginá-rio do público e buscando a perfeição dos movimentos do corpo. Numa casa que não é a deles, mas que, mesmo assim, chamaram-na de lar. Paixão. Os bailarinos são movidos por isso. O Balé Teatro Guaíra é movido por isso. Depois de quatro dé-cadas de empenho e dedicação, a companhia, hoje considerada uma das mais importantes do País, comemora o aniversário de criação como manda o figu-rino: com um repertório com mais de 130 coreografias.

Desde o início, a compa-nhia acumulou respeitável re-pertório, com obras de expres-sivos nomes, e transformou a dança na própria alma do Tea-tro Guaíra. O teatro surgiu na década de 1950, época em que Curitiba via nascer uma evo-lução cultural sem preceden-tes com o governo de Bento Munhoz da Rocha Netto, um visionário que previa a reali-zação de grandes óperas no palco daquele que se tornaria um dos mais importantes tea-tros do País. Somente em 1969

Balé Teatro Guaíra comemora 40 anosBailarinos, diretores e coreógrafos de renome marcam a história da companhia curitibana, que acumula repertório respeitável de peças

o Corpo de Baile da Fundação Teatro Guaíra, como era cha-mado na época, foi criado pelo governo do Paraná, após con-curso público para contratação dos bailarinos. Os primeiros diretores foram Ceme Jambay e Yara Cunto.

Com o passar dos anos, os palcos da companhia abrigaram diretores, coreógrafos e baila-rinos de renome nacional e in-ternacional. Contudo, para a ex-bailarina e atual diretora do Balé Teatro Guaíra, Carla Reinecke, o balé local começou a ser reco-nhecido sete anos depois de sua criação. “Depois que Hugo De-lavalle, diretor da época, coreo-grafou “Giselle”, nós estreamos no Paraná e depois fizemos uma extensa turnê: São Paulo, Brasília, Porto Alegre e vários outros lugares. Foi aí que as pessoas começaram a falar do Balé Clássico Guaíra. Inclusive, foi nessa época que aumentou a quantidade de bailarinos para balés desse porte”, revela. O es-petáculo “Giselle” estreou com a bailarina argentina Mônica Panader como protagonista e depois teve Ana Botafogo no papel-título.

A direção de Carlos Trin-cheiras, coreógrafo português de renome internacional, tam-bém é considerada um marco na história da companhia. No período de 1979 a 1993, Trin-cheiras remontou vários clássi-

cos e criou coreografias como “Sagração da Primavera”, “Ar-chipel 3”, “Variações de Pagani-ni”, “Da vida e da morte”, “O Grande Circo Místico”, sucesso duas vezes em turnês, e “Len-das do Iguaçu”, que ganhou re-centemente uma nova versão de Rui Moreira para comemorar o aniversário do Balé Teatro Gua-íra. Depois da morte de Trin-cheiras e a ida de sua esposa, Iza-bel Santa Rosa, para a direção, outros diretores passaram pelo BTG, como Jair Moraes, Marta Nejm e Cristina Purri. Diversos coreógrafos convidados, como Luis Arrieta, Tíndaro Silvano e Márcia Haydée também fizeram parte da história do Guaíra. Em 1999, Suzana Braga assumiu e a companhia se dividiu em duas. Foi criado o Guaíra 2 Cia. De Dança, que segue a linha de intérprete-criador, na qual o coreógrafo pede aos bailarinos que façam pesquisa e tragam sugestões para a composição dos movimentos da coreogra-fia. O G2 foi assumido, desde sua criação, por Carla Reinecke. Para ela, o contato com outros coreógrafos também é essen-cial. “É importante a troca de informação, pois isso sempre dá uma reciclada. O mais im-portante, porém, é, na direção, conseguir manter o bailarino animado, trabalhar bem a parte técnica e artística. Isso acho que a gente tem conseguido”, conta.

Para Ricardo Garanhani, há 19 anos na companhia, o bailarino é, por si só, um ser humano disciplinado, pois já é criado dessa forma. “Existe a cobrança profissional, mas acredito que a cobrança seja mais individual. Como já so-mos criados assim, nesse sis-tema de muita disciplina, de muito esforço, acabamos sen-do pessoas muito dedicadas”, diz. Garanhani é arquiteto e já recebeu o Troféu Gralha Azul – primeiro prêmio oficial a ho-menagear os artistas e técnicos do Teatro no Paraná – cinco vezes na categoria adereço.

O PALCOHá algo de mágico no pal-

co do Teatro Guaíra. Maior que muitos do Brasil, o Guai-rão é o auditório mais co-nhecido da casa, com 2.173 lugares. Mas é o tablado que impressiona. “Na época que eu era bailarina, veio para cá um rapaz contratado. Ele estava começando. Era a pri-meira companhia profissional dele. Daí, começamos a fazer aula no estúdio e no primeiro ensaio de palco que tivemos – foi a primeira vez que viu aquele palco enorme – ele ficou encantado e andava fa-lando: ‘Que maravilha!’ Ele falava e ia andando para trás, olhando tudo, até que acabou caindo no fosso. Não se ma-

chucou, graças a Deus, mas várias pessoas já caíram por causa disso”, relembra a atual diretora Carla Reinecke.

Uma apresentação de balé clássico depende de muitos fa-tores para que tudo corra con-forme o esperado. Dependen-do do tamanho da coreografia e do tempo para produzi-la, um espetáculo pode precisar da contribuição de muitas pes-soas, como é o caso de “Ro-meu e Julieta”, que teve cerca 200 colaborações. “Quando o coreógrafo não é da cidade, ele vem, fica 15, 20 dias, mon-ta uma parte do espetáculo e depois volta para casa dele. Enquanto isso, ensaiamos, até ficar bem afinado. O “Romeu e Julieta”, que é uma peça mais longa (duas horas), demorou quase cinco meses para ficar pronto”, revela a diretora.

PROJETOS PARA O FUTURO

No final deste ano, será lan-çado o livro sobre os 40 anos do Balé Guaíra, organizado por Cristiane Wosniack, ex-bailarina do BTG, professora de História da Dança na FAP e professora de dança contem-porânea. Para o ano que vem, a companhia pretende fazer turnês dos espetáculos novos: “Romeu e Julieta”, “Lendas das Cataratas do Iguaçu” e o “Quebra Nozes”.

Por Liliane Ribeiro

Cores e movimento no palco do “Guairão”. Quatro décadas do Balé Guaíra será comemorado com livro no fim do ano

Sérgio Vieira

Page 12: Jornal de Teatro Edição Nr. 13

1 2 1 316 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro 16 a 31 de Outubro de 2009Jornal de Teatro

Reportagem Reportagem

Está cada vez mais difícil precisar o quanto é essencial o uso da internet no dia a dia das pessoas, das empresas e das instituições. Parece clichê, mas tal necessidade abriu novo debate a respei-to do acesso a essa tecnologia. Discute-se, atualmente, não só políticas eficien-tes de inclusão, já que o computador populariza-se em larga escala, mas, principalmente, os hábitos de compor-tamento para se conviver em harmonia com o mundo virtual. Isso porque a de-pendência da internet deixou usuários na corda bamba entre a necessidade e o vício. Afinal, o que não se pode fazer pela internet?

Alheios a essas discussões, desen-volvedores e produtores de conteúdo querem mesmo é criar soluções e no-vas ferramentas para otimizar tarefas diárias, disseminar informações e en-treter. A internet oferece um leque de possibilidades, seja para simplesmente convidar um amigo para uma festa ou mesmo assistir a uma peça teatral. É isso mesmo. Já é possível assistir pe-ças teatrais inteiras com exclusividade e ao vivo sem sair de casa. É preciso apenas ter uma boa conexão.

Essa é a proposta inovadora de projetos como o “Teatro para Al-guém” e a iniciativa da Companhia Silenciosa, de Curitiba (ver quadro). A classe teatral, que viu sua arte se es-palhar através do site de vídeos You Tube, graças a personagens cômicos

Teatro

cliqueaumPor Bruno Pacheco de grupos nacionais até então vistos

apenas nos palcos, mostra que o mun-do do teatro está de olho nas possibili-dades oferecidas pela internet. É a tec-nologia como uma oportunidade de se divulgar e se aproximar do público.

A democrática internet dá chance a qualquer um de conseguir seus 15 minutos de fama, o que torna a busca pela popularidade uma verdadeira ba-talha. Grace Gianoukas, idealizadora, diretora e atriz do espetáculo “Terça Insana”, um dos grandes sucessos da rede, acredita que a internet pode ser muito mais explorada. “Nós ainda descobriremos e inventaremos mi-lhões de novos recursos. Por enquan-to, estamos diante do infinito, sem bússola. É a corrida do ouro. Quem chegar primeiro, ganha. Foi dada a largada, cada um corre para um lado e não sabemos para onde estamos nos encaminhando. Podemos achar ouro ou fezes..”, ironiza.

Quando o site de vídeos YouTu-be surgiu, há quatro anos, era difícil imaginar que a sensação daquele mo-mento pós-orkut, torna-se-ia todo o universo de oportunidades no qual se revelou. Rapidamente, ouro e fezes se espalharam pela rede. E no pote por trás do arco-íris estavam as esquetes teatrais. “Hermanoteu”, personagem da Cia de comédia Os melhores do Mundo, “Traficante Viado”, sucesso do grupo de stand-up comedy Dez-necessários, e a “Irmã Selma”, a freira mau-humorada do espetáculo “Terça

Insana”. Todos esses saíram dos pal-cos, acumularam milhões de acessos e uma legião de seguidores que divulga-ram através de e-mails, blogs e sites ou-tros trabalhos dos respectivos grupos. Como consequência, salas de teatro lo-tadas a cada apresentação.

A utilização da web e redes sociais para divulgação pelas companhias, grupos e produções teatrais aumenta a cada dia, seja por orkut, facebook, myspace etc. No ano em que a inter-net completou 40 anos de existência (a data foi comemorada no dia 2 de setembro), a novidade é o Twitter. Es-tima-se que 15 milhões dos 1,5 bilhão de usuários de internet do mundo já se renderam à proposta do microblog: responder a simples pergunta “O que você está fazendo?” em 140 caracte-res. O Twitter popularizou-se rapida-mente não só por ser um diário virtu-al, mas, também, por ser um espaço para apresentar ideias e ideais.

O sucesso na internet não é uma exclusividade das stand ups e grupos de comédia. Amadores, artistas, tea-tros e companhias iniciantes também usam de sites e redes sociais para auto promoção. E a coisa dá certo. A atriz Maria Alice Vergueiro, por exemplo, virou hit com sua atuação no polêmi-co vídeo “Tapa na Pantera”, na qual a veterana artista expõe uma suposta relação com o uso da maconha. Em entrevista ao Jornal de Teatro, em ju-nho, Maria Alice deixou clara suas in-tenções com o vídeo, além de colocar

em debate um dos grandes males do mundo virtual: a incerteza quanto a veracidade dos conteúdos.

“Eu vi que ninguém estava inte-ressado na maconha. Pensei que eu ia pegar toda essa moçada interessada na maconha, mas não. A maior parte das pessoas estava na dúvida se eu era atriz ou se a personagem era real, se eu era a personagem. Porque, até então, o YouTube estava hospedando vídeos da festinha de aniversário do filho, aquela coisa... E eu trouxe algo mais elabora-do. Ou então parecia que realmente era um flagrante meu. Eu mesma comecei a discutir o que era ser atriz para mim”, revela Maria Alice.

Fugir dos fakes – perfis falsos – e das informações incorretas é o grande desafio imposto pela web. Buscar fon-tes seguras e selecionar o conteúdo é o caminho para não pisar nas “fezes”. A atriz Jussara Freire sabe bem o que é isso. No Wikipédia, a enciclopédia virtual, sua biografia consta que ela é natural de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Jussara, no entanto, afirma que é paulista. “Muita gente acha que isso é verdade e se pauta pela informação que está na net. Não sou matogrossense”, diz.

CADA UM NO

SEU QUADRADODentro do vasto universo oferecido

pelas mídias sociais, cada um elege o recurso virtual mais adequado ao seu objetivo. E tem quem prefira todos. O

grupo Ato de Teatro-Educação de São Paulo encontrou no Orkut um ponto de encontro entre os atores, além de ter um feedback de suas produções. “As principais notícias e aconteci-mentos a que os atores devem estar a par invariavelmente nos chega, pri-meiramente, por Orkut. Recentemen-te, decidimos iniciar um blog no qual pudéssemos apresentar um pouco mais a respeito do grupo. A proposta é, além de servir como um meio de divulgação rápido e permanente, de-positar um pouco da vivência de cada ator, conforme o processo de criação se dá e surge a disponibilidade de se testemunhar, por escrito, e disponi-bilizar para a comunidade. Também como um espaço para divulgar fotos e vídeos que possam auxiliar a do-cumentação da trajetória do grupo”, conta a diretora Ana Cláudia Segadas. Eles também utilizam o Youtube.com e o Twitter.

Já a Companhia Barbixas de Hu-mor, que realiza o espetáculo Impro-vável, um dos campeões de acesso atual, também creditam o sucesso nas bilheterias ao YouTube. “Usamos muito o site. Atualmente, é a nossa ferramenta mais forte. Mas também usamos o nosso site, mailing... O You-Tube faz com que as pessoas vejam um pouco do nosso trabalho antes de ir ao teatro. No site as pessoas conhe-cem a gente um pouco mais”, explica Daniel Nascimento, um dos membros da trupe.

TERÇA INSANA: MIX DE AÇÕES VIRTUAISSucesso nos palcos e na web, “Terça Insana”

viu a popularidade dos seus personagens e inte-grantes expandir-se com a chegada do Youtube. Segundo Grace, o Terça não é só um espetáculo de humor. Ela esclarece que o Terça Insana possui três frentes de trabalho e cada uma delas usa ferramen-tas de internet diferentes: Projeto Terça Insana, a Terça Insana Produções Artísticas e o show Terça In-sana. “Para quem se interessa pelo nosso trabalho e quer ter acesso às informações originais sobre o que é o Projeto Terça Insana, é só acessar nosso site oficial (www.tercainsana.com.br). Lá, é possí-vel encontrar toda a nossa história, os objetivos, as diretrizes e a abrangência do campo de atuação do Projeto. As empresas interessadas em oferecer patrocínio ou em contratar nossos shows também podem conhecer a fundo nossa proposta artística e de entretenimento”, frisa.

Ela explica que a parte executiva é a Terça In-sana Produções Artísticas que, segundo a diretora, não sobrevive sem a internet. A ferramenta auxi-lia na troca de informações e no fechamento de contratos. Já o show Terça Insana é o espetáculo em si, onde os personagens podem ser vistos, ao vivo. “A equipe de criação do show utiliza a inter-net como ferramenta de pesquisa de conteúdo, na busca de referências e resgate de tesouros cultu-rais que auxiliam na formatação dos espetáculos da trupe, que se renovam a cada mês”, acrescenta.

Grace atribui o sucesso das esquetes do grupo na internet ao lançamento do primeiro DVD que, coincidentemente, saiu no período em que o Youtu-be se tornava febre entre os usuários. “São ações que tiveram total iniciativa dos fãs da Terça Insana, sendo que muitos têm o universo virtual como uma extensão natural de suas vidas. É a maneira que algumas pessoas encontram para prestigiar seus ídolos, de mostrar aquilo que admiram para os amigos, não importando em que parte do mundo este amigo esteja. A Terça Insana entende que isso é um processo natural, pois o relacionamento do público com o artista mudou radicalmente com

a ascensão da internet. A mensagem que o públi-co transmite com estas atitudes é que não há mais espaço para intermediários neste ramo e, se algum profissional ainda almeja viver de arte e entreteni-mento, terá que rever uma série de paradigmas e se adaptar às novas ferramentas que a grande rede oferece”, encerra.

JORNAL DE TEATRO NO TWITTERO twitter é a bola da vez do mundo virtual e uma

febre que não para de crescer no Brasil. Produções teatrais, grupos e artistas aderiram ao bloguinho e apresentam, em primeira mão, suas agendas e tra-balhos. O Jornal de Teatro também está no twitter e possui, atualmente, cerca de 1200 seguidores que recebem o link das matérias no site oficial da publi-cação – www.jornaldeteatro.com.br. Para a equipe do jornal, o Twitter ainda tem outra função. Esta re-portagem, por exemplo, utilizou alguns personagens e grupos contactados através do microblog. Por isso, não deixe de seguir o Jornal de Teatro e, quem sabe, colaborar em nossas próximas edições.

WWW.TEATROPARAALGUÉM.COM.BRO “Teatro para Alguém” é a experiência mais

complexa e integrada quando se trata de teatro e internet. Criado pela atriz, autora e diretora Renata Jesion, o site disponibiliza espetáculos para serem visualizados a qualquer hora e de qualquer lugar, gra-tuitamente. É a personificação da ideia de ir ao teatro sem sair de casa. Ou melhor, entrar na casa. O site foi formatado como uma casa e os espetáculos se dividem entre os cômodos.

Com apenas dez meses de vida, o site já recebe cerca de 800 visitas por dia. Em tempos de estreia, esse número pode chegar a duas mil. Aproximada-mente, 500 pessoas acompanham as apresentações ao vivo. Na última sexta-feira foi a estreia de “Me-lhor que a Clarisse Lispector”, de Heloisa Pait. As produções permanecem em cartaz durante um mês. Mas o internauta pode acessar peças que já saíram de cartaz. É só ir até o porão da casa, onde as apresentações ficam armazenadas.

EXPERIÊNCIA AO VIVOO ator Elias Andreato estreou no teatro virtual

seu espetáculo solo “Doido”, em setembro, em apresentação ao vivo. Foi a primeira vez que uma peça esteve em cartaz no palco real e virtual.

GRUPO CURITIBANO EXIBE ESPETÁCULO AO VIVO NA INTERNET

A Companhia Silenciosa, do Paraná, é mais uma a utilizar as novas tecnologias para levar a sua arte para o maior número possível de ex-pectadores. Tanto que o grupo, que realizou uma polêmica e divertida participação no Fes-tival de Curitiba, em março deste ano, estreia, no próximo dia 13 de novembro – no palco e na web –, o espetáculo Burlescas.

Trata-se de uma releitura da trajetória do Teatro Burlesco – apresentação teatral que consiste em uma paródia ou sátira – através dos tempos. Na montagem, um espetáculo multimídia, com ingredientes de crítica social, ironia, reflexão e entretenimento em perfor-mances de dança, esquetes, projeção de vídeo e música eletrônica. “É uma revisitação do burlesco. O espetáculo segue a história desse estilo teatral e ganha características nacionais, como o teatro de revista e o teatro de rebolado, até chegar ao que temos nos dias de hoje”, ex-plica Léo Glück, um dos atores do projeto.

A Companhia Silenciosa faz parte do Movimento de Teatro de Grupo de Curitiba e desenvolve um ambiente de pesquisa e produção artística que se tornou referência no teatro do sul do Brasil. A peça inédita e com seis horas de duração será apresentada no Espaço Cultural 92 Graus (rua Desembar-gador Benvindo Valente, 280) e contará com transmissão simultânea através da página da trupe na internet (www.companhiasilencio-sa.com). O espetáculo será em novembro, nos dias 13, 20 e 27 e em dezembro (dias 12, 17 e 19), sempre a partir das 23h. Por Douglas de Barros

João CaldasLauro Sollero

Grace: “Nós ainda inventaremos” Paulinho Serra fez sucesso na internet com “Traficante viado” Grupo Barbixas de Humor credita o sucesso ao You Tube “Doido” ficou em cartaz no site Teatro para Alguém

Fotos: Divulgação

Page 13: Jornal de Teatro Edição Nr. 13

1 2 1 316 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro 16 a 31 de Outubro de 2009Jornal de Teatro

Reportagem Reportagem

Está cada vez mais difícil precisar o quanto é essencial o uso da internet no dia a dia das pessoas, das empresas e das instituições. Parece clichê, mas tal necessidade abriu novo debate a respei-to do acesso a essa tecnologia. Discute-se, atualmente, não só políticas eficien-tes de inclusão, já que o computador populariza-se em larga escala, mas, principalmente, os hábitos de compor-tamento para se conviver em harmonia com o mundo virtual. Isso porque a de-pendência da internet deixou usuários na corda bamba entre a necessidade e o vício. Afinal, o que não se pode fazer pela internet?

Alheios a essas discussões, desen-volvedores e produtores de conteúdo querem mesmo é criar soluções e no-vas ferramentas para otimizar tarefas diárias, disseminar informações e en-treter. A internet oferece um leque de possibilidades, seja para simplesmente convidar um amigo para uma festa ou mesmo assistir a uma peça teatral. É isso mesmo. Já é possível assistir pe-ças teatrais inteiras com exclusividade e ao vivo sem sair de casa. É preciso apenas ter uma boa conexão.

Essa é a proposta inovadora de projetos como o “Teatro para Al-guém” e a iniciativa da Companhia Silenciosa, de Curitiba (ver quadro). A classe teatral, que viu sua arte se es-palhar através do site de vídeos You Tube, graças a personagens cômicos

Teatro

cliqueaumPor Bruno Pacheco de grupos nacionais até então vistos

apenas nos palcos, mostra que o mun-do do teatro está de olho nas possibili-dades oferecidas pela internet. É a tec-nologia como uma oportunidade de se divulgar e se aproximar do público.

A democrática internet dá chance a qualquer um de conseguir seus 15 minutos de fama, o que torna a busca pela popularidade uma verdadeira ba-talha. Grace Gianoukas, idealizadora, diretora e atriz do espetáculo “Terça Insana”, um dos grandes sucessos da rede, acredita que a internet pode ser muito mais explorada. “Nós ainda descobriremos e inventaremos mi-lhões de novos recursos. Por enquan-to, estamos diante do infinito, sem bússola. É a corrida do ouro. Quem chegar primeiro, ganha. Foi dada a largada, cada um corre para um lado e não sabemos para onde estamos nos encaminhando. Podemos achar ouro ou fezes..”, ironiza.

Quando o site de vídeos YouTu-be surgiu, há quatro anos, era difícil imaginar que a sensação daquele mo-mento pós-orkut, torna-se-ia todo o universo de oportunidades no qual se revelou. Rapidamente, ouro e fezes se espalharam pela rede. E no pote por trás do arco-íris estavam as esquetes teatrais. “Hermanoteu”, personagem da Cia de comédia Os melhores do Mundo, “Traficante Viado”, sucesso do grupo de stand-up comedy Dez-necessários, e a “Irmã Selma”, a freira mau-humorada do espetáculo “Terça

Insana”. Todos esses saíram dos pal-cos, acumularam milhões de acessos e uma legião de seguidores que divulga-ram através de e-mails, blogs e sites ou-tros trabalhos dos respectivos grupos. Como consequência, salas de teatro lo-tadas a cada apresentação.

A utilização da web e redes sociais para divulgação pelas companhias, grupos e produções teatrais aumenta a cada dia, seja por orkut, facebook, myspace etc. No ano em que a inter-net completou 40 anos de existência (a data foi comemorada no dia 2 de setembro), a novidade é o Twitter. Es-tima-se que 15 milhões dos 1,5 bilhão de usuários de internet do mundo já se renderam à proposta do microblog: responder a simples pergunta “O que você está fazendo?” em 140 caracte-res. O Twitter popularizou-se rapida-mente não só por ser um diário virtu-al, mas, também, por ser um espaço para apresentar ideias e ideais.

O sucesso na internet não é uma exclusividade das stand ups e grupos de comédia. Amadores, artistas, tea-tros e companhias iniciantes também usam de sites e redes sociais para auto promoção. E a coisa dá certo. A atriz Maria Alice Vergueiro, por exemplo, virou hit com sua atuação no polêmi-co vídeo “Tapa na Pantera”, na qual a veterana artista expõe uma suposta relação com o uso da maconha. Em entrevista ao Jornal de Teatro, em ju-nho, Maria Alice deixou clara suas in-tenções com o vídeo, além de colocar

em debate um dos grandes males do mundo virtual: a incerteza quanto a veracidade dos conteúdos.

“Eu vi que ninguém estava inte-ressado na maconha. Pensei que eu ia pegar toda essa moçada interessada na maconha, mas não. A maior parte das pessoas estava na dúvida se eu era atriz ou se a personagem era real, se eu era a personagem. Porque, até então, o YouTube estava hospedando vídeos da festinha de aniversário do filho, aquela coisa... E eu trouxe algo mais elabora-do. Ou então parecia que realmente era um flagrante meu. Eu mesma comecei a discutir o que era ser atriz para mim”, revela Maria Alice.

Fugir dos fakes – perfis falsos – e das informações incorretas é o grande desafio imposto pela web. Buscar fon-tes seguras e selecionar o conteúdo é o caminho para não pisar nas “fezes”. A atriz Jussara Freire sabe bem o que é isso. No Wikipédia, a enciclopédia virtual, sua biografia consta que ela é natural de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Jussara, no entanto, afirma que é paulista. “Muita gente acha que isso é verdade e se pauta pela informação que está na net. Não sou matogrossense”, diz.

CADA UM NO

SEU QUADRADODentro do vasto universo oferecido

pelas mídias sociais, cada um elege o recurso virtual mais adequado ao seu objetivo. E tem quem prefira todos. O

grupo Ato de Teatro-Educação de São Paulo encontrou no Orkut um ponto de encontro entre os atores, além de ter um feedback de suas produções. “As principais notícias e aconteci-mentos a que os atores devem estar a par invariavelmente nos chega, pri-meiramente, por Orkut. Recentemen-te, decidimos iniciar um blog no qual pudéssemos apresentar um pouco mais a respeito do grupo. A proposta é, além de servir como um meio de divulgação rápido e permanente, de-positar um pouco da vivência de cada ator, conforme o processo de criação se dá e surge a disponibilidade de se testemunhar, por escrito, e disponi-bilizar para a comunidade. Também como um espaço para divulgar fotos e vídeos que possam auxiliar a do-cumentação da trajetória do grupo”, conta a diretora Ana Cláudia Segadas. Eles também utilizam o Youtube.com e o Twitter.

Já a Companhia Barbixas de Hu-mor, que realiza o espetáculo Impro-vável, um dos campeões de acesso atual, também creditam o sucesso nas bilheterias ao YouTube. “Usamos muito o site. Atualmente, é a nossa ferramenta mais forte. Mas também usamos o nosso site, mailing... O You-Tube faz com que as pessoas vejam um pouco do nosso trabalho antes de ir ao teatro. No site as pessoas conhe-cem a gente um pouco mais”, explica Daniel Nascimento, um dos membros da trupe.

TERÇA INSANA: MIX DE AÇÕES VIRTUAISSucesso nos palcos e na web, “Terça Insana”

viu a popularidade dos seus personagens e inte-grantes expandir-se com a chegada do Youtube. Segundo Grace, o Terça não é só um espetáculo de humor. Ela esclarece que o Terça Insana possui três frentes de trabalho e cada uma delas usa ferramen-tas de internet diferentes: Projeto Terça Insana, a Terça Insana Produções Artísticas e o show Terça In-sana. “Para quem se interessa pelo nosso trabalho e quer ter acesso às informações originais sobre o que é o Projeto Terça Insana, é só acessar nosso site oficial (www.tercainsana.com.br). Lá, é possí-vel encontrar toda a nossa história, os objetivos, as diretrizes e a abrangência do campo de atuação do Projeto. As empresas interessadas em oferecer patrocínio ou em contratar nossos shows também podem conhecer a fundo nossa proposta artística e de entretenimento”, frisa.

Ela explica que a parte executiva é a Terça In-sana Produções Artísticas que, segundo a diretora, não sobrevive sem a internet. A ferramenta auxi-lia na troca de informações e no fechamento de contratos. Já o show Terça Insana é o espetáculo em si, onde os personagens podem ser vistos, ao vivo. “A equipe de criação do show utiliza a inter-net como ferramenta de pesquisa de conteúdo, na busca de referências e resgate de tesouros cultu-rais que auxiliam na formatação dos espetáculos da trupe, que se renovam a cada mês”, acrescenta.

Grace atribui o sucesso das esquetes do grupo na internet ao lançamento do primeiro DVD que, coincidentemente, saiu no período em que o Youtu-be se tornava febre entre os usuários. “São ações que tiveram total iniciativa dos fãs da Terça Insana, sendo que muitos têm o universo virtual como uma extensão natural de suas vidas. É a maneira que algumas pessoas encontram para prestigiar seus ídolos, de mostrar aquilo que admiram para os amigos, não importando em que parte do mundo este amigo esteja. A Terça Insana entende que isso é um processo natural, pois o relacionamento do público com o artista mudou radicalmente com

a ascensão da internet. A mensagem que o públi-co transmite com estas atitudes é que não há mais espaço para intermediários neste ramo e, se algum profissional ainda almeja viver de arte e entreteni-mento, terá que rever uma série de paradigmas e se adaptar às novas ferramentas que a grande rede oferece”, encerra.

JORNAL DE TEATRO NO TWITTERO twitter é a bola da vez do mundo virtual e uma

febre que não para de crescer no Brasil. Produções teatrais, grupos e artistas aderiram ao bloguinho e apresentam, em primeira mão, suas agendas e tra-balhos. O Jornal de Teatro também está no twitter e possui, atualmente, cerca de 1200 seguidores que recebem o link das matérias no site oficial da publi-cação – www.jornaldeteatro.com.br. Para a equipe do jornal, o Twitter ainda tem outra função. Esta re-portagem, por exemplo, utilizou alguns personagens e grupos contactados através do microblog. Por isso, não deixe de seguir o Jornal de Teatro e, quem sabe, colaborar em nossas próximas edições.

WWW.TEATROPARAALGUÉM.COM.BRO “Teatro para Alguém” é a experiência mais

complexa e integrada quando se trata de teatro e internet. Criado pela atriz, autora e diretora Renata Jesion, o site disponibiliza espetáculos para serem visualizados a qualquer hora e de qualquer lugar, gra-tuitamente. É a personificação da ideia de ir ao teatro sem sair de casa. Ou melhor, entrar na casa. O site foi formatado como uma casa e os espetáculos se dividem entre os cômodos.

Com apenas dez meses de vida, o site já recebe cerca de 800 visitas por dia. Em tempos de estreia, esse número pode chegar a duas mil. Aproximada-mente, 500 pessoas acompanham as apresentações ao vivo. Na última sexta-feira foi a estreia de “Me-lhor que a Clarisse Lispector”, de Heloisa Pait. As produções permanecem em cartaz durante um mês. Mas o internauta pode acessar peças que já saíram de cartaz. É só ir até o porão da casa, onde as apresentações ficam armazenadas.

EXPERIÊNCIA AO VIVOO ator Elias Andreato estreou no teatro virtual

seu espetáculo solo “Doido”, em setembro, em apresentação ao vivo. Foi a primeira vez que uma peça esteve em cartaz no palco real e virtual.

GRUPO CURITIBANO EXIBE ESPETÁCULO AO VIVO NA INTERNET

A Companhia Silenciosa, do Paraná, é mais uma a utilizar as novas tecnologias para levar a sua arte para o maior número possível de ex-pectadores. Tanto que o grupo, que realizou uma polêmica e divertida participação no Fes-tival de Curitiba, em março deste ano, estreia, no próximo dia 13 de novembro – no palco e na web –, o espetáculo Burlescas.

Trata-se de uma releitura da trajetória do Teatro Burlesco – apresentação teatral que consiste em uma paródia ou sátira – através dos tempos. Na montagem, um espetáculo multimídia, com ingredientes de crítica social, ironia, reflexão e entretenimento em perfor-mances de dança, esquetes, projeção de vídeo e música eletrônica. “É uma revisitação do burlesco. O espetáculo segue a história desse estilo teatral e ganha características nacionais, como o teatro de revista e o teatro de rebolado, até chegar ao que temos nos dias de hoje”, ex-plica Léo Glück, um dos atores do projeto.

A Companhia Silenciosa faz parte do Movimento de Teatro de Grupo de Curitiba e desenvolve um ambiente de pesquisa e produção artística que se tornou referência no teatro do sul do Brasil. A peça inédita e com seis horas de duração será apresentada no Espaço Cultural 92 Graus (rua Desembar-gador Benvindo Valente, 280) e contará com transmissão simultânea através da página da trupe na internet (www.companhiasilencio-sa.com). O espetáculo será em novembro, nos dias 13, 20 e 27 e em dezembro (dias 12, 17 e 19), sempre a partir das 23h. Por Douglas de Barros

João CaldasLauro Sollero

Grace: “Nós ainda inventaremos” Paulinho Serra fez sucesso na internet com “Traficante viado” Grupo Barbixas de Humor credita o sucesso ao You Tube “Doido” ficou em cartaz no site Teatro para Alguém

Fotos: Divulgação

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1 4 16 a 31 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Formação

A cidade de São Paulo re-cebe, entre os dias 1º e 29 de novembro, mais de 100 mostras públicas gratuitas dos proje-tos de Teatro, Dança e Música, distribuídos em 67 diferentes pontos. Todos os grupos foram orientados nestas linguagens e se apresentarão com o objetivo de promover a relação entre comu-nidade, equipamentos e projetos, compartilhando experiências e processos para mostrar os resul-tados e favorecer o intercâmbio entre os grupos. As mostras, todas com recomendação etária livre e com duração de cerca de 90 minutos, são eventos de cará-ter artístico destinados a expor e compartilhar, junto ao público, acontecimentos cênicos (acom-panhados de formas e procedi-mentos diversos de apreciação) resultantes dos processos desen-volvidos pelo Núcleo Vocacio-nal ao longo do ano.

O projeto de Teatro Vo-cacional surgiu em 2001. Em 2007, foi a vez da Dança ser contemplada. Pautado pelo en-contro entre cultura e educação de forma continuada, o Núcleo Vocacional atravessou os anos formando pessoas interessa-das em entrar em contato com a arte, sem fazer diferenciação entre amadorismo e profissio-nalismo. Quando foi implanta-do, o Projeto Teatro Vocacional visava incentivar a produção teatral e transformá-la em fer-ramenta para compreensão da realidade, pois o participante desta ação passava a ser agente tanto na criação artística quanto na elaboração de pontos de vis-ta sobre o entorno, a partir de uma leitura crítica e reflexiva da realidade.

Um outro foco do proje-

“NA EDIÇÃO 2009, MANTEMOS A

MISSÃO DE PRIORIZAR PROJETOS QUE

PRIVILEGIAM UM ENCONTRO REAL ENTRE

CULTURA E EDUCAÇÃO, PRINCIPALMENTE

NAS SUAS ESSÊNCIAS DE BASES”

I N T E R A Ç Ã O E C O N T I N U I D A D E N A S M O S T R A S D O

Núcleo Vocacional em São PauloSecretarias de Cultura e Educação apresentam o resultado dos Projetos Dança, Música e Teatro Vocacional

to sempre foi descentralizar as ações de arte-educação, com o intuito de difundir o exercício de arte por toda a cidade, so-bretudo nas regiões periféricas, onde o acesso a espetáculos de qualquer natureza ainda é inci-piente. Além da formação na linguagem escolhida, o partici-pante do projeto recebe orien-tações para expandir o apren-dizado. No caso de teatro, há companhias que nasceram do projeto e se profissionalizaram. Os participantes da área de dan-ça também já deram alguns pas-sos importantes neste sentido.

Foi a partir de duas experiên-cias vitoriosas que surgiu o pro-jeto Música Vocacional, lançado em 2008. Assim como nos dois projetos iniciais, a ação é coor-denada por artistas-orientadores selecionados por meio de edi-tal público de chamamento. Os profissionais coordenam ativida-des que acontecem em equipa-mentos da Secretaria Municipal de Cultura, como o Centro Cul-tural da Juventude e bibliotecas públicas e também nos oito novos Centros Educacionais Unificados (CEUs), administra-dos pela Secretaria Municipal de Educação. “A trajetória do Nú-cleo Vocacional é marcada por constante criação e transforma-ção. Na edição 2009, mantemos

a missão de priorizar projetos que privilegiam um encontro real entre cultura e educação, principalmente nas suas essên-cias de bases”, disse Expedito Araújo, coordenador do Núcleo.

O ARTISTA-ORIENTADORO profissional contratado

para atuar como artista-orien-tador no Projeto Vocacional, além de possuir comprovada experiência artístico-pedagógi-ca, precisa realmente identificar-se com o material de trabalho: a arte e a ação cultural. É jus-tamente por isso que o Voca-cional preza a pluralidade de formações artísticas em grupos de pesquisa continuada e expe-riências pedagógicas, para pro-porcionar aos artistas-vocacio-nados um diálogo amplo com a criação cênica contemporânea, auxiliando na ampliação dos olhares sobre o mundo.

Nesta edição, em diálogo com a cena cultural paulistana, com coordenação geral de Ex-pedito Araujo, artistas como Luciana Schwinden (Teatro da Vertigem), Gabriela Flores (Cia da Mentira), Marcelo de Andra-de (Os Fofos), Paulo Celestino (Grupo XIX de Teatro), Da-goberto Feliz (Folias), Silvanah Santos (Cia Os Satyros), Ana Flavia Chrispiniano (IVO 60),

Patricia Guifford (Cia São Jorge de Variedades), Mauricio Len-castre (Cia dos Isights), Claudia de Souza (Cia Danças), Fernan-do Machado (Cia Stacatto de Dança), Luis Ferron (Núcleo Luis Ferron), Wellington Du-arte (Núcleo Zélia Monteiro), Pedro Peu (Núcleo Omstrab), José Leonel (Centro Experi-mental de Música SESC Con-solação), Ana Claudia César (Grupo As Choronas), Robson Lourenço (Prof. Dança Fac. Anhembi Morumbi) Matteo Bonfitto (Prof Artes Cênicas Unicamp), Ivan Delmanto, Cas-sio Santiago, Soraya Aguillera, Ana Andreatta, Wilma de Sou-za, Ana Roxo, Zina Filler, So-lange Borelli, Deca Madureira, entre outros, são orientadores dos processos que estarão nas mostras públicas.

NÚMEROS DOS PROJETOSO número crescente de ins-

critos no projeto é um reflexo do acolhimento da iniciativa por parte da sociedade. O nú-mero de integrantes dos gru-pos orientados praticamente dobrou de 2006 para 2007, de 370 pessoas para 610 artistas vocacionados, chegando a 980 em 2008. O número de atendi-mento atingiu seis mil cidadãos de forma direta e 25 mil indire-tamente. A programação com-pleta está disponível no site www.cultura.prefeitura.sp.gov.br

MAIS INFORMAÇÕES: Secretaria Municipal de Cultura

Departamento de Expansão CulturalDivisão de FormaçãoNúcleo VocacionalTel. (11) 3397-0166 e 0167 / (11) 9848-0255

Rodrigo Netto

Desde 2001, o projeto vocacional de Teatro forma pessoas interessadas em entrar em contato com a arte, sem fazer distinção entre amadorismo e profissionalismo

Em 2007, a dança também passou a ser comtemplada pelo Núcleo

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Formação

A partir do próximo dia 23, a Bahia abre suas cortinas para o Fiac-BA 2009 (Festival Inter-nacional de Artes Cênicas da Bahia), em busca de uma cada vez maior pluralidade artística, com produções nacionais e in-ternacionais. Até o dia 31 de ou-tubro, serão 26 montagens com artistas de companhias de sete países, além do Brasil: a França, com “L’ Effert de Serge” e “La Prix, La Porte”; o Chile, com “Neva” e “Diciembre”; o Se-negal, com “J’accuse”; a Dina-marca, com “Orô de Otelo”; a Holanda, com “Bull Dancing/Urro de Omi Boi”; a Alemanha, com “Jardim das Delícias”; e os Estados Unidos, com “La Prix, La Porte”. Entre os nacionais, a capital baiana recebe criações de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, numa diversida-de que inclui o cruzamento de hip-hop e dança contemporânea, como o “H3”, e de ilusionismo e teatro, como o “Além da Mági-ca”; trabalhos de clown, como o “A Noite dos Palhaços Mudos”; e centrados na investigação de uma dramaturgia moderna e da interpretação, como “Rainha(s), Duas Atrizes em Busca de um Coração”, “In On It” e “Comu-nicação a Uma Academia”.

O festival, no entanto, não se resume a apresentações de espe-táculos diversos. A iniciativa in-clui atividades de formação e re-flexão, como oficinas, palestras, encontros e lançamento de livro, além do Lounge Fiac Oi, um es-paço de convivência que engloba outras linguagens artísticas. “O sucesso da primeira edição trou-xe alegria, mas veio acompanha-do de muita responsabilidade. Assumimos, desde o princípio, tentar trazer para a Bahia uma programação voltada para o que está acontecendo no mundo, em termos de experimentação estéti-ca e de linguagem. Continuamos com o mesmo espírito e com-prometimento, pautados pela busca de espetáculos de qualida-de, provocadores e inovadores”, enfatiza Nehle Franke, codireto-ra do Fiac-BA, que coordena o evento em conjunto com Felipe de Assis e Ricardo Libório.

FIAC-BA chega a segunda edição visando a pluralidade artística

A provocação e a inovação às quais a diretora se refere não fal-tam à peça que, emblematicamen-te, abre o festival, dia 23, às 20h, no Teatro Castro Alves, só para convidados: “Regurgitofagia”. Nela, o ator e autor Michel Mela-med lança mão do cruzamento de várias linguagens, como o teatro, a poesia falada, o stand-up comedy, sua performance e as artes visuais, para discutir a sobrecarga de estí-mulos do mundo contemporâneo e a relação que a sociedade de consumo estabelece com a cul-tura. Através de uma interface tecnológica, cada reação sonora da plateia (risos, aplausos, tosses etc.) é captada por microfones e transformada em descarga elétrica sobre o corpo do ator/autor. Assim, Melamed constrói

uma espécie de espetáculo-ma-nifesto, no qual propõe que se “vomite” os excessos a fim de avaliarmos o que de fato quere-mos redeglutir. A partir da noite da abertura, o Fiac-BA se espa-lha por 16 palcos diferentes.

“O público deve esperar uma programação diversificada e com um olhar bastante es-pecial para o trabalho do ator. Muitos desses espetáculos têm elenco reduzido. Isso não foi um critério, mas em um ano de incertezas, pode ter nos in-fluenciado indiretamente. Con-tudo, o que pautou a escolha foi a qualidade”, explica Felipe de Assis, lembrando que o fes-tival ainda ampliou de 23 para 26 a oferta de atrações, em rela-ção à primeira edição.

O Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia será palco de uma homenagem ao ator e diretor baiano Arildo Deda, que completa 70 anos de vida e está se aposentando da escola de Teatro da UFBA, no auge da sua maturidade criativa. O projeto tem o apoio da Secretaria de Cultura e de alu-nos e professores da UFBa, que realizarão uma leitura dramática do texto de Luiz Marfuz e que será interpretado pelo próprio Arildo Deda. A leitura de A Última Seção de Teatro, com direção de Marfuz, acontece dia 29, no Teatro Martins Gonçalvez, às 19h. Em seguida, em novembro, a peça estreia, no Teatro Vila Velha, com exibição nos dias 27, 28 e 29, seguido por seções 4, 5 e 6 de dezembro.

SERVIÇO: de 18 a 20 de outubro, os ingressos para o festival serão vendidos a preços promocionais de R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia), exclusivamente na bilheteria do Teatro Castro Alves (das 12h às 18h) – Tel: (71) 3117-4899. No dia da apresentação, a venda de ingressos se dará exclusivamente nas bilheterias dos teatros. Durante o Fiac, o valor de qualquer ingresso é de R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Mais informações com Beto Mettig: (71) 9112-6782, Joceval Santana: (71) 9975-8368, Jean Cardoso: (71) 8803-2894 ou em www.fiacbahia.com.br.

Por Daniel Pinton Schilklaper

O espetáculo “In on it”, com Fernando Eiras e Emílio de Mello, é uma das atrações do Fiac-BA, depois de uma boa temporada no Rio de Janeiro

A Bahia abrirá suas cortinas para peças com pluralidade artística, como as montagens Jeremias (foto à esquerda), Diciembre (foto central) e L’ Effert de Serge ( foto à direita)

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David Glat Ximena Roza Divulgação

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Salvador

Jornal de Teatro – Você co-meçou sua carreira de teatro de maneira inusitada, certo?Luiz Marfuz – Curiosamente, comecei a trabalhar na escola de administração de empresas da Bahia, onde tive minha primeira formação. Por conta da militân-cia política da década de 1970, quando arte e política andavam muito juntas, nós nos reunimos para formar um grupo de tea-tro. O grupo surgiu associado à militância estudantil, com temas associados à política. Nós criti-cávamos a formação curricular, aquele currículo tecnicista, de base americana, porque quería-mos um currículo de base huma-nística. Isso gerou um movimen-to de teatro dentro da faculdade, que resultou na peça “Cartão de Ponto”, em 1975. Minha trajetó-ria começa fora do âmbito da es-cola de teatro. Minha formação de teatro vem pela prática, pelo fazer. Fora as coisas de infância e da adolescência.

JT – E quando você desco-briu que estava completa-mente envolvido com o tea-tro? LM – Muito cedo. Aí, eu vou para a infância mesmo. Come-cei fazendo teatro de interior. No fundo de casa. Isso eu sem-pre fazia.

A alegria triunfa sobre a dor. O teatro triunfa sobre o horrorPor Paloma Jacobina

Sentado em um dos bancos do pátio do antigo casarão da Es-cola de Teatro da UFBA (Universidade Federal da Bahia), em Sal-vador, o diretor e professor de teatro Luiz Marfuz dava uma última olhada no projeto de mestrado de um dos alunos da instituição. Era final de tarde de uma véspera de feriado nacional prolongado e a única data disponível na atribulada agenda desse baiano que, hoje, é respeitado não só por seu trabalho como diretor, professor e es-critor, mas, também, por desenvolver projetos como o programa educacional Arte, Talento e Cidadania, do Liceu de Artes e Ofícios da Bahia. Marfuz foi co-autor e diretor do espetáculo e projeto pedagógico “Cuida Bem de Mim” (há 11 anos em cartaz) e acredita que está nesse nicho de mercado a oportunidade de trabalho para a maioria dos diretores e atores brasileiros. Na semana da entrevista para o Jornal de Teatro, Marfuz tinha se dividido entre as aulas que profere na escola, um programa na homenagem que organi-za para outro professor da UFBA (prestes a se aposentar), Arildo Deda – e que terá leitura livre no FIAC (Festival Internacional de Artes Cênicas), que acontece em Salvador, em outubro, e a estréia de um espetáculo montado especialmente para celebrar o aniversá-rio da Escola de Administração da UFBA. É assim todos os dias. Entre a pesquisa e a prática, ao transitar entre os extremos da arte, Marfuz se sente confortável. Com a mesma segurança que domina as práticas de teatro, ele defende as pesquisas e a transferência de conhecimento. “O saber teatral é fundamental como norte de uma experiência para o ator”. Acadêmico que nunca largou os palcos, esse mestre em Comunicação e Culturas Contemporâneas, doutor em Artes Cênicas, traça um panorama do teatro baiano, fala das possibilidades de formação de atores e do futuro.

JT – Mas por que você ha-via escolhido administração como formação?LM – Isso tem a ver com o espírito da época. Administra-ção seria a carreira dominan-te. O que representa hoje as carreiras ligadas à informática. Um mercado seguro. Eu fi-quei muito dividido entre fa-zer comunicação, teatro e ad-ministração. Mas decidi fazer administração e gostei muito da minha escolha. Trabalhei na área por quase 18 anos, em grandes empresas. Mas o te-atro sempre ficou pulsando. Quando terminei o curso de administração, formei um gru-po teatral chamado Carranca, que se inseriu no contexto do teatro baiano e durou sete anos, com peças minhas, pe-ças coletivas e adaptações de livros. Esse grupo era forma-do por emergentes das univer-sidades, todos formados em outros cursos que não teatro. Foi quando comecei minha in-serção no teatro e no campo educacional, porque, em se-guida, fiz Comunicação Social com especialização em jorna-lismo e, em seguida, mestrado na mesma área. Logo após o mestrado, fiz concurso para a escola (de teatro), em 1996, onde estou até hoje.

JT – Você chegou com uma formação bem diferente do que se espera, certo? LM – Eu estou na academia, mas venho de uma prática. Aqui na academia, meu lugar é o de alguém que vem de uma prática e procura sistematizar e refletir sobre esse lugar. Eu nunca largo o saber teatral, pois ele é funda-mental como norte de uma ex-periência de opção de vida.

JT – Mas isso não é o co-mum. O que vemos, normal-mente, é o profissional que segue a carreira acadêmica largar o teatro. Por quê?LM – Há essa tendência de depender da natureza dos pro-jetos pedagógicos da escola e de depender do que cada um busca. A universidade propi-cia um campo muito grande de reflexão, mas, também, de experimentação. Então, aqui, por exemplo, ensinamos teatro, mas não só teoria de teatro.

JT – Qual a particularidade da escola de teatro da UFBA?LM – A escola de teatro tem uma formação diferente das outras escolas. Primeira do Brasil, ela foi criada de um pro-jeto artístico pensado por artis-tas que estavam em uma práti-ca. Então, o currículo refletirá

este pensamento. Não se trata de um grupo de acadêmicos, pensadores, mestres e doutores que se reúnem para fazer esta grade. Optamos pelo caminho contrário, com um grupo de artistas de teatro que concebe uma escola. Esta escola surgiu com duas características funda-mentais: ela se move pela práti-ca e é pensada por artistas.

JT – Você diria que tais ca-racterísticas são ideais para a formação dos atores? Você destacaria o curso que a UFBA oferece no cenário nacional?LM – É difícil falar como mo-delo, mas eu diria que é o que mais me identifico. Para mim é. Estou me posicionando mes-mo. Temos os modelos dos conservatórios franceses, por exemplo, que são muito teó-ricos. É uma forma de pensar e refletir sobre teatro, que tem pouco campo para a prática e a informação. Afinal, o teatro é muito ligado ao fazer artísti-co, com o trabalho do corpo, da voz e da interpretação, além do movimento, da emoção, do gesto – tudo isso é físico e você discutir sobre isso é bom, pois elucida e faz com que você as-simile os ensinamentos. JT – Quanto mais você tem

a prática, mais preparado você estará para enfrentar o cotidiano?LM – Nós falamos em merca-do, mas nunca foi tão compli-cado para o artista falar desta área como hoje em dia, pois ele tem de se nutrir de vários instru-mentos e armas para enfrentar o mercado. A teoria, por si só, não é suficiente. O artista tem que fazer. Peter Brook, que não é de nenhuma universidade, mas criou o centro de pesquisa tea-tral, é uma universidade viva. Ele diz que não existe diretor desem-pregado, porque, se ele quiser fazer, junta o elenco e faz. Esse instinto de fazer é fundamental para o artista. Caso contrário, ele cede fácil aos obstáculos da so-ciedade e do mercado.

JT – Então a formação aca-dêmica é o que estrutura o ator para o mercado?LM – Sim. Mas, sem o fazer artístico fomentado pela facul-dade, ele se fragilizará diante do que possa acontecer lá fora. Os obstáculos são muito grandes e, se você não tiver garra, não vai fazer nada. Você tem de apren-der a fazer teatro na faculdade. Com várias condições mate-riais e econômicas, entre outras, você irá adquirir um jeito de vencer as adversidades.

”“É quase

uma condenação fazer teatro. Uma bela

condenação. E você tem de cumprir esta pena

com muito prazer

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Os teatros de vanguarda e experimental são defendidos pelo diretor

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Salvador

JT – Mas ainda sim é muito difícil...LM – Sim, não se sobrevive de teatro unicamente. Eu larguei administração e uma carreira sólida para fazer teatro. Sou professor da escola há 12 anos, tenho doutorado em artes cêni-cas, dou cursos e oficinas. Daí, você me pergunta se eu vivo de teatro? Sim, mas eu não vivo de bilheteria de espetáculo.

JT – É essa é a diferença?LM – Claro. O artista que vive de espetáculo raramente vive de bilheteria. Quando falo viver de teatro, me refiro ao campo de arte e educação, que é muito forte na Bahia, estado referên-cia pela criação de ONGs como a Cipó, por exemplo. Além disso, existem as empresas que investem no campo de res-ponsabilidade social. Há muito teatro-empresa. Você vive de te-atro e não de bilheteria. É muito difícil fazer um espetáculo hoje sem patrocínio, seja ele de qual-quer ordem (estatal ou privada). Temos muitos teatro-empresas. Então, você tem a possibilida-de de realizar, mas você precisa de patrocínio. Porque, quando você trabalha com bilheteria, depois que todos os custos são pagos, sobra muito pouco. Aí

você observa como se faz cada vez mais monólogos. Ninguém se arrisca a fazer qualquer coisa, porque não se aceita qualquer coisa no teatro.

JT – Você acha que o teatro baiano seguiu essas mudan-ças e amadureceu?LM – Acho. Amadureceu por-que o próprio artista se tornou exigente. Quando pensamos em fazer uma peça atualmente, todos esses elementos são pen-sados. Na década de 1970, o improviso funcionava. Sabe por quê? Porque, naquela época, as pessoas iam ao teatro em busca de uma mensagem. Havia uma questão ideológica muito for-te. O que importava era o que era dito no teatro, por conta do momento de ditadura vigente no Brasil. O teatro era um espa-ço de escoamento do não dito, dessas tensões e da necessidade de se posicionar. Quando criei “Cartão de Ponto” (1975), foi com essa intenção. O público aplaudia falas. Hoje, porém, pe-las possibilidades tecnológicas do teatro, ele tende muito mais a buscar o campo visual do es-petáculo.

JT – Qual significado o te-atro passou a ter para o pú-blico com essa mudança de

perspectiva? Você acha que ele esta perdendo essa im-portância a partir das mu-danças sociais?LM – Antes era importante gritar e falar. Hoje, você grita e fala dialogando com poéticas e estéticas. Não dá para ficar somente no discurso. Nós não perdemos o significado, mas ganhamos inúmeros significa-dos em função desta própria mudança. Por isso, é importan-te existir o teatro de vanguarda e o teatro experimental. Esses grupos têm pesquisado formas e conceitos que, neste momen-to, não foram aceitos mas, com o passar do tempo, se tornarão uma estética que irá se instau-rar na sociedade.

JT – Me dê um exemplo disso.LM – A forma como o públi-co aceita os monólogos. Você assiste a espetáculos com pou-cos elementos de cena porque o público se acostumou com essas mudanças. Antigamente, os espetáculos tinham a preocu-pação de reproduzir fielmente o ambiente no palco. Hoje você tem referências, como a de An-tunes Filho, que trabalha com o palco nu. Isso muda a per-cepção do público e consolida determinadas estéticas. Agora, o trabalho do Estado e das em-

”“Antes, era importante gritar. Hoje, faz-se

teatro dialogando com poéticas e estéticas. Não dá para ficar

somente no discurso

presas é estimular esses grupos a experimentar outras estéticas para que a linguagem se renove. Se você fizer só o que o público gosta, o teatro vai se fossilizar.

JT – Como podemos com-parar o teatro baiano com o do restante do Brasil?LM – O teatro baiano é muito pouco conhecido fora do Bra-sil. É um teatro forte, mas não muito reconhecido devido a uma certa comodidade de não nos deslocarmos daqui. É mui-to caro fazer teatro, ainda mais se viajar pelo País. Por isso é fá-cil você ter uma espetáculo do eixo Rio-São Paulo aqui. Te-mos um teatro forte, mas que vira o que nós chamamos de teatro secreto, porque, quando o levamos para festivais, as crí-ticas sempre são extremamente positivas. Pouca gente vê e as coisas não acontecem. Muitas coisas também têm aconteci-do à margem, assim como os trabalhos que estão na vitrine. Quando você conhece esses dois extremos, percebe que tem muita coisa acontecendo. Evidentemente que também temos que destacar o teatro nas periferias, nas comunida-des, que levam novos atores, com visões modificadas, para o teatro profissional.

JT – O que você espera do teatro baiano em 2010?LM – Sou otimista e acredito na luta. O artista tem, por natu-reza, que avançar. Esse foi um ano de muita luta e reclame. É quase uma condenação fazer teatro. Uma bela condenação. E você tem de cumprir esta pena com muito prazer. O sofrimen-to, que é inerente à atividade do teatro, se consegue transformar em prazer. É como se juntas-sem as duas instâncias (ator e personagem) à dor e alegria. Você está falando de uma dor intensa, mas, também, da dor e alegria de criar. O ator triun-fa sobre o horror e faz a beleza sobrevoar as ruínas. Você tem de conviver com as ruínas, mas alçar voos sobre o abismo que se coloca para o artista.

PAPO DE COXIA

Um nome esquecido: Ilmara Rodrigues.

Um grande momento: quando optei por trabalhar com os jovens no “Cuida bem de Mim”.

Uma peça inesquecível: “O Último Carro”, de João das Neves, na década de 70.

Marfuz é respeitado não só por seu trabalho como diretor, professor e escritor, mas por desenvolver projetos como o programa educacional Arte, Talento e Cidadania, na Bahia

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manifestações

Política Cultural

O clima entre a ELT (Escola Livre de Teatro), criada há 19 anos e reconhecida nacionalmente por seu sistema de ges-tão democrático, e a secretaria de cultura da cidade paulista de Santo André não é de extrema leveza. Motivo? A demissão do professor e coordenador Edgar Cas-tro, no último dia 8 de setembro, e a en-trada, em seu lugar, de Eliana Gonçalves – indicada pela prefeitura local – como coordenadora administrativa da escola. A iniciativa desagradou a maioria dos alunos e mestres da ELT e resultou em protestos dos representantes da classe artística paulistana. Eles têm reivindica-do, junto aos poderes executivo e legis-lativo da cidade, a volta do coordenador, alegando que a atitude é necessária para a preservação do projeto pedagógico da instituição.

Insatisfeitos, os artistas ligados à ins-tituição entregaram ao prefeito Aidan Ravin e ao secretário de cultura, Ed-son Salvo Melo, uma carta com várias reivindicações do grupo, entre elas a readmissão do professor Edgar Castro e a demissão de Eliana. “Solicitamos ao Executivo a reavaliação da demissão do coordenador e mestre Edgar Castro, que ajuda a construir a História da ELT há 11 anos de forma íntegra, inovado-ra e constante. Solicitamos, também, a transferência da funcionária Eliana Gonçalves para outro setor da munici-palidade a que ela possa emprestar o seu conhecimento profissional de maneira efetivamente útil, segundo o seu perfil”, dizia um trecho do documento.

Em resposta, a Secretaria de Cultu-ra de Santo André encaminhou outra carta à escola, assinada pelo secretário Salvo Melo, sobre as reivindicações dos membros da ELT. E negou-se a demitir a atual coordenadora: “Entendemos que determinadas posturas podem ser revis-tas, desde que pautadas sempre pelo mecanismo que mais é prezado pela co-munidade em sua carta: o diálogo. Aten-demos e atenderemos à Comunidade ELT em sua reivindicação principal: a manutenção do projeto e da Escola Li-vre de Teatro, não abrindo mão, contu-do, da prerrogativa administrativa e legal de indicarmos sua coordenação.”

e paralisação marcaram o último mês na Escola Livre de Teatro

Protestos,

MANIFESTAÇÕESNo dia 11 de setembro, cerca de 300

artistas participaram de uma passeata, como forma de protesto, que saiu da Rua Rui Barbosa com destino ao Paço Mu-nicipal. O objetivo era entregar a carta para a prefeitura e um abaixo-assinado ao secretário Salvo Melo. Fizeram par-te do ato, além de dezenas de alunos e mestres da escola, diversas companhias e grupos teatrais, bem como as atrizes Maria Alice Vergueiro e Leona Cavali, o ator Antonio Petrin e as diretoras Geor-gete Fadel e Cibele Forjaz.

Como parte das manifestações, a es-cola suspendeu atividades durante uma semana – entre os dias 21 e 25 de setem-bro – e organizou a “Semana ELT em alerta”. O movimento abriu as portas da escola para diversos grupos teatrais, de dança e artistas se apresentarem e pro-moverem debates.

No último dia 8, representantes da escola foram à Câmara Municipal de Santo André e discursaram nas tribunas livres, com o objetivo de intensificar o diálogo entre a ELT e os membros do poder executivo e legislativo da cidade. Na ocasião, os membros da escola e um grupo de vereadores afinaram os discur-sos, com o intuito de chegar a um acor-do. A comunidade aceitou a permanên-cia de Eliana Gonçalves no cargo, desde que haja uma adequação na atitude da coordenadora em prol do projeto.

O professor Edgar Castro ressal-tou que o importante é o projeto da Escola Livre de teatro, não se tratando de uma questão pessoal. “Somos tudo menos intransigentes. Queremos o bem da escola e isso significa a expansão do projeto original, não sua retração, como estava acontecendo.”

EXPECTATIVASApós mais de um mês de debates e

discussões a situação ainda não está resol-vida. Em seu blog oficial (www.mundoli-vre-sa.blogspot.com), a ELT divulgou que recebeu, de forma não oficial, a autoriza-ção para reintegrar o professor Edgar Cas-tro à escola. “Após este mês de conversas com o Executivo e com o Legislativo, a Escola Livre de Teatro tem a resposta de que seu Mestre Edgar Castro está de volta ao corpo docente e que o novo coordena-

dor será escolhido pela comunidade ELT. Só não se tem a oficialização da Secretaria de Cultura, Esportes e Lazer. A Comuni-dade pede esta oficialização.”

A secretaria ainda não se manifestou sobre o retorno de Castro, mas os mem-bros da escola estão otimistas em rela-ção a um desfecho positivo em breve. “O impasse ainda continua, mas, apa-rentemente, estamos caminhando para um diálogo responsável”, mencionou um dos avisos deixados no blog da esco-la. Castro, que já retomou as atividades, revela que a escola tem passado por um processo conturbado, porém, marcan-

te. “Apesar do período de incerteza por qual passamos, esse período tem sido muito rico. Ainda estamos refletindo so-bre o que significa essa experiência po-lítica pela qual estamos passando, sem falar dos diversos apoios que recebemos e visibilidade que alcançamos defenden-do nosso projeto pedagógico”.

A demora na oficialização do acordo deve atrasar o cronograma de aulas, que passará por uma nova eleição de coorde-nador pedagógico ainda este ano. Castro afirmou que o mês de janeiro deve ser usado para repor as aulas perdidas du-rante o período de paralisação.

Por Carlos Gabriel Alves

Unidos, os alunos da ELT se reuniram e, através de passeatas e debates, defendem Edgar

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Opinião

Para os nossos filhosGerson Steves

Desde o dia em que a cidade do Rio de Janeiro foi eleita sede dos Jogos Olímpicos de 2016, tenho ouvido muito certa palavra sobre a qual nunca dediquei mais que al-guns segundos de atenção: legado. De imediato, ocorreu-me a célebre frase de Machado de Assis, em Dom Casmurro: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”.

Eu, que vou passar por esta vida sem herdeiros, às vezes me pegava pensando sobre o que seriam dos meus livros e discos (pobre herança!) no dia da minha morte – se é que nesse tempo ainda se ouvirão discos ou se lerão livros. Acontece que, agora, tenho refletido mais sobre as nossas heranças culturais, aquelas que recebi e as que deixarei como le-gado às futuras gerações. Assunto cheio de sutilezas históricas e nu-ances de vaidade, ainda mais ao abordar uma arte como o teatro, supostamente efêmera.

Não é novidade que o teatro tem a explosão do acontecimen-to, a surpresa da eventualidade, a costumeira fugacidade de tudo que é momentâneo. Exige atenção ime-diata. Possui uma urgência intrínseca menos percebida em outras artes.

Telas e esculturas continuarão nos corredores de museus e gale-rias por séculos, talvez. Sinfonias e até balés continuarão a ser repe-tidos preservando o gênio de seus criadores. Do mesmo modo que fotografias, monumentos e projetos arquitetônicos continuam alvo de preservação e até reprodução mun-do afora. Quanto ao teatro, o muito que se pode esperar é que estudan-tes leiam as obras de mestres como Nelson Rodrigues, Lorca ou Shakes-peare. E, com sorte, vejam algumas dessas obras encenadas pela ótica de seus contemporâneos – o que pode ser para o bem e para o mal.

Mas aquela encenação específi-ca, o trabalho daquele determinado artista, sua visão de beleza e dor, suas

reflexões sobre a obra literária (afinal, dramaturgia é literatura e não teatro) perdem-se quando o artista se vai. Felizmente, há os registros. E se os há, é preciso que sejam preservados, vistos, lidos, divulgados. Em tempos em que não mais se acorre aos livros e sim ao Google ou ao Youtube, curio-samente ainda há um mercado para livros de arte, inclusive teatro.

Funcionam como peças de um quebra-cabeça a serem colocadas lado a lado, formando o quadro do que foi o teatro do nosso tempo. É possível conhecer a arte de Gianni Ratto, José de Anchieta Costa, Cyro Del Nero. Alguns de nossos grandes atores podem ser vistos pelas lentes de Vânia Toledo e Lenise Pinheiro. Isso sem falar em pensadores que exerceram a crítica como forma de reflexão e cuja linhagem começa com Machado de Assis e se estende até nomes como Décio de Almeida Prado, Yan Michalski, Bárbara Helio-dora e Alberto Guzik. Portanto, corra-mos às livrarias.

Mas e como fica o trabalho do ator? Esta sombra que desaparece no entardecer de seu tempo? Ele mesmo, veículo primeiro e último do teatro, sem o qual esta arte não se faz, é espectro que se esvai de nossos olhos tão logo o pano cai. De nossos atores e atrizes ficam as fotos, os cartazes e os programas das peças. Sobram seus poucos re-gistros em cinema e televisão, que nos dão tão somente a pálida ideia de sua genialidade.

E, nestes tempos de marketing cultural em que cinemas e teatros levam nomes de instituições finan-ceiras pouco preocupadas com a arte e mais com a isenção de im-postos, mídia e decorrente retorno de imagem, com alguma sorte os nomes de nossos grandes artistas passarão a apadrinhar algum espa-ço de espetáculos. No futuro, pou-cos saberão quem foram ou que rosto tiveram.

A palavra talento tem sua origem no dinheiro. E é, de fato, nosso maior

bem. Recebemos uma herança fabulosa, temos um legado con-siderável a deixar, vivemos num tempo em que isso é possível e temos meios para tal. Precisamos, portanto, apenas ensinar os jovens a preservar essa riqueza, fazendo-a prosperar, crescer e multiplicar no exercício da arte. Para que aos filhos de todos nós não lhes seja deixado o legado miserável que ora se apresenta.

* Gerson Steves tem 25 anos de atividades teatrais na cidade de São Paulo, tendo atuado como diretor, dramaturgo, ator, produtor e professor. Não tem filhos, mas adotou os inúmeros alunos que teve como tal.

* Gerson Steves tem 25 anos de atividades teatrais na cida-de de São Paulo, tendo atuado como diretor, dramaturgo, ator, produtor e professor. Tem tui-tado à beça ultimamente (www.gersonsteves.com.br).

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Macaxeira

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História

Os teatros brasileiros podem ser classificados e separados en-tre grupos e estilos distintos. Ao analisar os cinco considerados de arquitetura luso-brasileira, encontramos mais do que apenas um estilo de construção. A maioria dos edifícios, que estão espalhados por quatro das cinco regiões do Brasil, foi construída no século XIX, por uma vontade do povo de fazer crescer – ou, muitas vezes, nascer – a vida cultural dentro de cidades pequenas e aparentemen-te sem cena teatral. As crises estruturais, de falta de verba, ou que vieram com o advento do cinema, também traçam paralelos entre os teatros de fachada simplista, que originalmente tinham seus ca-marotes como divisórias sociais. O Jornal de Teatro te leva, então, a viajar pelo tempo, através de alguns dos espaços que foram cená-rios da história das artes cênicas no Brasil.

arquiteturaHistória contada através da

Teatros de estilo luso-brasileiro têm em comum mais do que suas fachadas

Por Ive Andrade

TEATRO SÃO JOÃOLAPA, PARANÁ

A Vila Nova do Príncipe de Santo Antônio da Lapa, no Paraná, só tem registros de sua atividade cultural a partir da segunda metade do século XIX, quando foi declarada cidade, em 1872. Quatro anos depois da decla-ração nascia o Teatro São João, uma iniciativa de alguns moradores locais que formavam a Associação Literária Lapeana, criada com o objetivo de organizar uma biblioteca e construir um teatro, que teve o projeto do en-genheiro admirador das artes cênicas, Francisco Therézio Porto.

A inauguração do espaço acon-teceu somente em 1887, com um espetáculo da Companhia Souza Bastos de Operetas. A Revolução Federalista, em 1930, fechou o es-paço, que, nessa época, se trans-formou em enfermaria. Anos mais tarde, o teatro reabriu suas portas e se transformou em cinema. Além dos filmes, o local hospedava festas, exposições e leilões.

Nos anos 1970, as companhias de teatro de diversos estados bra-sileiros puderam voltar a utilizar o Teatro São João como espaço cêni-co e deram espaço, também, a cur-sos de teatro. Sua estrutura interna é toda revestida em madeira, como outros teatros brasileiros que se-guem o mesmo estilo arquitetônico. Recentemente foi restaurado com recursos do Iphan (Instituto do Pa-trimônio Histórico e Artístico Na-cional) e da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Continua em atividade.

TEATRO MUNICIPAL DE SABARÁ – SABARÁ, MINAS GERAISPouco se sabe sobre os primeiros anos desse teatro, um dos mais antigos

edifícios de Minas Gerais. Documentos registram apenas a importância que o espaço teve para o universo cultural da cidade de Sabará, como palco de festas para a realeza e comemorações populares durante boa parte do século XIX. O Teatro Municipal de Sabará, originalmente conhecido como “Casa de Ópera”, foi construído entre 1818-19 e deu origem à vida teatral da pequena cidade, que, na época, tinha por volta de oito mil habitantes. Foram esses moradores que lutaram pela construção do teatro e que mantiveram a administração do local durante anos, mantendo uma ligação forte com a coroa.

A relação com a realeza marcou o espaço em um importante episódio da história brasileira. O teatro recebeu a visita de Dom Pedro I e a cidade o recepcionou com festa, em meio à revolta constitucionalista que se espalhava rapidamente por todo o País. Depois da execução do hino nacional, antes de começar o espetáculo em homenagem ao imperador, enquanto Dom Pedro I se posicionava em seu camarote, ouviu-se no teatro um grito de “Viva o Imperador Pedro I”. A declaração se seguiu de um constrangedor silêncio, quebrado pelos revoltosos constitucionalistas, que res-ponderam: “Viva o senhor D. Pedro I, enquanto for constitucional”. Pouco tempo depois, Dom Pedro I abdica de seu trono em favor de seu filho. Cinquenta anos mais tarde, em 1881, o Teatro de Sabará recebeu com louvor o Imperador Dom Pedro II.

Já no início do século XX, o teatro entra em uma fase de completa decadência e só reabre suas portas em 1970, após uma restauração, que o pôs em funcionamento até os dias de hoje.

TEATRO MUNICIPAL DE PIRENÓPOLISPIRENÓPOLIS, GOIÁS

A construção do espaço teatral de Pirenópolis não foi um processo simples e levou mais de uma década para ser concluída. O lavrador local Sebastião Pompeu de Pina to-mou a iniciativa de erguer um teatro na cidade, em 1889, e com a ajuda da comunidade conseguiu, 12 anos depois, inaugurar a casa de espetáculos, em 1901. O dinheiro para a construção foi arrecadado através de leilões de alimentos, roupas, animais e outros bens que os cidadãos da cidade doaram para a obra.

Como o estilo luso-brasileiro propõe, sua estrutura é vi-sivelmente recoberta de madeira e o palco do Municipal de Pirenópolis foi, durante muitas décadas, palco de peças tea-trais, óperas e espetáculos de dança. Com o surgimento do cinema, como muitos teatros brasileiros, o local entrou em crise e passou a ser utilizado de diversas formas distantes do propósito original do espaço: serraria, fábrica de móveis, comércio, bar, garagem e, inclusive, cinema.

O teatro passou por duas grandes reformas nas déca-das de 1980 e 1990. A última modernizou o espaço interno, preservando a fachada e estrutura, uma vez que o espaço foi tombado como patrimônio cultural no mesmo ano de sua reabertura, em 1999. Hoje, o Municipal de Pirenópolis conta com uma perfeita acústica, poltronas acolchoadas e ar condicionado, instalado em 2003.

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História

TEATRO MUNICIPAL DE OURO PRETO – OURO PRETO,

MINAS GERAISConsiderado o teatro mais antigo da

América do Sul, o Municipal de Ouro Preto foi inaugurado em 6 de junho de 1770, com o nome Casa de Ópera de Vila Rica. O diferencial do teatro, na época, não era sua arquitetura, mas a preocupa-ção de seu construtor, o coronel João de Sousa Lisboa, em manter um bom elenco de artistas e espetáculos. O criador do te-atro era um entusiasta das artes cênicas e dedicou sua vida ao espaço. Com sua morte, em 1778, o teatro teve proble-mas e ressurgiu apenas oito anos depois, como centro cultural da cidade.

Os altos e baixos levaram o teatro por suas diversas reformas, mas o esti-lo simplista de sua fachada permanece, com uma mistura de estilos que vão do neoclássico, passando pelo barroco, chegando ao luso-brasileiro. Apesar de ter sido palco de espetáculos nacionais e internacionais, nas primeiras décadas do século XIX, a chamada Casa de Ópera não tinha a estrutura luxuosa das casas da Europa. As grandes mudanças se concentraram nos séculos XIX e XX, com a reconstrução de camarotes, que adquiriram o formato de ferradura, e de-coração interna.

Finalmente, em 1985, depois de in-filtrações, desabamentos e outros pro-blemas estruturais, o teatro fechou suas portas para a realização de uma expres-siva mudança. Hoje recebe, além dos espetáculos de grande porte, turistas interessados na história do mais antigo teatro brasileiro.

TEATRO SETE DE SETEMBRO – PENEDO, ALAGOASA Sociedade Filarmônica Sete de Setembro foi fundada por Manoel Pereira de Carvalho, em 1865. A

princípio, as afinidades com a música uniam seus participantes e, mais tarde, o teatro passou a fazer parte desse cenário cultural. Foi então que surgiu o ideal de inaugurar um espaço para os espetáculos das artes cênicas em Alagoas. Quase 20 anos depois da fundação do grupo, na cidade de Penedo, o primeiro teatro do estado de Alagoas foi inaugurado, no dia 7 de setembro, no final do século XIX, em 1884.

Durante a reforma, o arquiteto italiano Luiz Lucariny ficou responsável por dar ares de sofis-ticação à obra e deixar o espaço com estrutura internacional. Para financiar tal obra, o local, ainda inacabado e utilizado para a apresentação de espetáculos, viu o dinheiro arrecadado na bilheteria ser utilizado para a construção.

O espaço tornou-se rapidamente o centro das atenções culturais da cidade e do estado. Foi cenário de espetáculos de diversas companhias nacionais e internacionais. A primeira crise veio – como é o caso de muitos outros no Brasil – com o surgimento do cinema. No início do século XX, uma tela de projeção montada no Sete de Setembro passou a competir com os espetáculos teatrais e venceu a “briga” quando o teatro foi transformado em um cinema, até 1959.

Depois dessa data, problemas financeiros fizeram que o teatro parasse de funcionar dentro de seus propósitos originais e quase foi definitivamente fechado. Entretanto, esforços de alguns órgãos de cultura possibilitaram a restauração do edifício na década de 1980 e permitiram que o teatro voltasse às atividades originais.

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Vida e Obra

Por Leonardo Serafim

O adjetivo polivalente cai como uma luva na hora de des-crever Luiz Paulo Vasconcellos. Em 50 anos de carreira, comple-tados em 2009, não existe área no cenário teatral em que ele não tenha emprestado seu talento. Escritor, diretor, ator, professor, ensaísta e, até mesmo, bilheteiro são algumas das versatilidades que ajudam a traçar a personali-dade e o talento do artista, um dos responsáveis pelo cresci-mento do teatro gaúcho.

Nascido na cidade do Rio de Janeiro, em 1941, Luiz Pau-lo Vasconcellos conheceu o mundo das artes cênicas aos 18 anos, quando um amigo o con-vidou para participar de um es-petáculo amador. Sua história nos palcos profissionais come-çou oito anos depois. Mesmo sem o apoio total do pai, um homem singular, que amava a música erudita, mas repudia-va a dramaturgia, Luiz Paulo resolveu se aventurar no Con-servatório Nacional de Teatro, cursando direção teatral.

Em sua primeira aparição como ator, na obra “Pic-Nic no Front”, de Fernando Arrabal, a genialidade, que tanto marca sua carreira, ficou em segundo plano, sendo dominada pelo nervosismo, que culminou no esquecimento de sua única fala. “Fazia o papel de um enfermeiro que recolhia feridos e cadáveres depois das batalhas. No dia da estreia, não consegui me lembrar no meu texto” conta o mestre.

Após dirigir o espetáculo “Mãe Coragem”, de Bertolt Brecht, como trabalho final do curso de gradução, Luiz Pau-lo Vasconcellos recebeu uma chance que mudaria a sua car-reira, transformando-o em um importante nome do teatro gaúcho. Precisando de um di-retor para comandar um grupo de jovens atores, Gerd Bor-nheim, então chefe do Curso de Arte Dramática da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) convidou Luiz Paulo para tal missão.

Admirador das obras do dramaturgo alemão Brecht, que sempre usou como temática a degradação humana e a luta pela emancipação social do homem, Luiz Paulo resolveu, novamente, encenar uma peça do artista. E a escolha não poderia ser mais acertada. “Vim e dirigi ‘A Ópera dos Três Vinténs’, que ficou três meses em cartaz com casa cheia e foi o maior sucesso que Porto Alegre jamais havia visto com uma produção local. Foi incrível. Como era um trabalho acadêmi-co, pudemos reproduzir Brecht

Vasconcellos: carioca que conquistou Porto Alegre

sem passar pela censura.”Censura que tentou, mas

nunca conseguiu atrapalhar os trabalhos do carioca. Militante confesso, Luiz Paulo Vascon-cellos nunca aceitou as impo-sições do governo e sempre defendeu seus ideais. Foi assim na passeata dos Cem Mil, dia 26 de junho de 1968, no Rio de Ja-neiro, evento o qual ele ainda se orgulha de ter participado. Foi assim no movimento “arte da resistência”, que reunia intelec-tuais e estudantes para protestar contra as ações governamentais.

Porém, o dramaturgo não

esconde que contou também com a sorte para escapar das represálias. Segundo ele, nun-ca ninguém interferiu em seus espetáculos, muito pelo fato de grande parte de suas obras te-rem sido feitas em escolas de teatro, que, na época, não eram submetidas à censura.

TRANSFORMANDO O TEATRO DE PORTO

ALEGRE EM REFERÊNCIAGraças ao sucesso da peça

“A Ópera dos Três Vinténs”, Luiz Paulo ganhou o papel de professor na CAD (Curso de

Arte Dramática), colaborando para a reestruturação das artes cênicas no Estado e se tornan-do o grande incentivador do teatro local. Ciente do poten-cial cultural do sul do Brasil, ele acreditava que Porto Alegre tinha reais condições de ser a terceira força nacional, pronta para brigar de igual para igual com o eixo Rio-São Paulo.

Conciliando aulas com es-petáculos nos anos 1970, o carioca ajudou a encenar diver-sos textos de artistas da região, como “¿Quem Roubou Meu Anabela?”, de Ivo Bender, e

“Boneca Teresa ou Canção de Amor e Morte de Gelsi e Valdi-nete”, de Carlos Carvalho.

Em 1977, foi escolhido como Diretor do Instituto de Artes da UFRGS, cargo que ocuparia até 1997. Com uma carreira consolidada no Brasil, Luiz Paulo decidiu continuar estudando e viajou para os Es-tados Unidos. A experiência de dirigir espetáculos no âmbito acadêmico se manteve na Terra do Tio Sam, onde ele realizou duas montagens no curso de mestrado na State University of New York, com as encena-ções “Miss Margarida’s Way” (Apareceu a Margarida), de Roberto Athayde, em 1981; e “The Bakkhai” (As Bacantes), de Eurípides, em 1982.

Em seu retorno a Porto Alegre, montou “A Alma Boa de Set-Suan”, de Bertolt Bre-cht, em 1986, e publicou, no ano seguinte, seu “Dicionário de Teatro”, com “um saudável toque de ineditismo”, como afirma Yan Michalski, no pre-fácio, por se tratar da primeira obra desse gênero escrita por um autor brasileiro.

A VIDA CONTINUADevido a sua importância

para o teatro do Rio Grande do Sul, Luiz Paulo recebeu jus-ta homenagem, na última edi-ção do Porto Alegre Em Cena. Uma exposição intitulada: Luiz Paulo Vasconcellos: 50 anos de teatro, foi organizada em um shopping da cidade.

Foram 39 módulos feitos a partir de belas fotografias que registraram momentos marcan-tes da vida profissional e pesso-al do artista. A mostra incluiu, além de muitas fotos de dife-rentes momentos de sua carrei-ra, cartazes de projetos cênicos variados, entre outras relíquias. Mas engana-se quem acha que, após esse reconhecimento, o dramaturgo pretende des-cansar. Pelo contrário. Aos 69 anos, Luiz Paulo Vasconcellos não pensa em parar e conti-nua com o ritmo acelerado de outros tempos. Além de seguir sua carreira nos palcos, atuando no espetáculo “Platão: Dois em Um”, ele se mantém ocupado com atividades paralelas, bus-cando material para um futuro livro e lecionando no Teatro Escola de Porto Alegre.

Luiz Paulo, que segue os ensinamentos de Pablo Pi-casso, acredita que tem muita lenhar para queimar. “Repito o que Picasso, então com 70 anos, disse quando lhe pergun-taram qual a sua melhor fase: a próxima! Quero continuar fa-zendo o que eu gosto.”

Presente na passeata dos Cem Mil, Vasconcellos nunca aceitou as imposições do governo e defendeu seus ideais

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Internacional

Luciana ChamaLos Angeles

Não dei a menor bola quando o espetáculo entrou em cartaz. E confesso só ter despencado da minha casa, em Venice, ate Downtown para assisti-lo depois de ler os comentários positivos de uma amiga no Facebook. Uma co-média sobre as aventuras e os desafios de uma brasileira em terras estrangeiras que busca por seus sonhos, mantendo na memória o ensinamento de sua avó: “show them your worth” (mostre o seu valor). Apesar da semelhança com a minha vivência, o tema não me instigou. Paguei a minha língua por ter sido preconcei-tuosa: “LOL – Latina on the Loose” é uma delícia.

É teatro no qual o ator é o senhor do palco, sustenta-do pela qualidade da escrita e interpretação. Que surpresa boa foi testemunhar o talento que é Mina Olivera. Apresen-tado principalmente em in-glês (com algumas inserções também em espanhol e por-tuguês) o texto é autobiográ-fico, escrito e estrelado pela própria. Seu instrumento é o corpo e, com sua voz, ela de-nota a personalidade e o afeto das muitas personagens que interpreta. Mina segura a onda dos 90 minutos de espetáculo sozinha e com graça, carisma e atitude – visivelmente con-quista cada coração ocupado dos 300 lugares do Los Ange-les Theatre Center.

A atriz relata sua histó-ria e de sua família desde a vida pobre dos avós, o casa-mento nada convencional de seus pais até sua jornada pe-las Américas, quando sai em busca de sua liberdade, auto-conhecimento e o sonho de estudar teatro na concorrida Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA). En-frentando preconceitos e até mesmo frustrada depois de ser desencorajada pela racista consultora da universidade, Mina se sobressai e é aceita pela UCLA; gradua-se com honra e passa a frente dos co-legas americanos. A garota in-segura vinda do Rio de Janeiro

Atriz brasileira encanta plateias em HollywoodMina Olivera mostra seu valor com “LOL – Latina on the Loose” e toca o coração do público

transforma-se em mulher guer-reira e aprende a se respeitar.

O espetáculo me ganhou pela verdade com que Mina apresenta a história de sua vida e a coragem de levá-la em cena aqui nos Estados Unidos. Quem passa pela experiência de viver fora de sua pátria entende com propriedade o valor da luta pela ousadia da aventura. Superando com dignidade as dificuldades do mega competitivo mercado cinematográfico em Hollywood, a atriz carioca decidiu transfor-mar a herança latina em vanta-gem: construiu a própria opor-tunidade e lotou o teatro nas poucas semanas que ficou em cartaz. Foi com enorme prazer que assisti a brasileira desempe-nhar com sucesso, na terra dos gringos, a sua função máxima como artista: Mina tocou, lá no fundo, o coração do seu público. Na entrevista abaixo, um pouco mais de Mina Olivera.

Luciana Chama – Mina, pa-rabéns pela performance. Adorei o texto. O que te levou a escrevê-lo?Mina Olivera – Primeiro, por causa da minha avó. Eu sempre senti culpa, pois ela morreu e eu estava aqui. A gente tinha um relacionamento único e eu sem-pre gostei de repetir as histórias dela. Minha avó sempre foi mui-to verdadeira, até no episódio do dia em que cheguei em casa e tinha um recado na secretária eletrônica dizendo “Neguinha, tô indo pro hospital e é pra morrer, viu? Só tô ligando pra despedir.Te amo, adeus, tchau”.

LC – Ela falou assim mesmo?MO – Falou, cheguei em casa e quase morri (risos). Engraçado que, hoje, penso que minha avó estava me dando todas as falas para o meu primeiro trabalho como escritora e eu que não estava sabendo! Outro motivo foi porque eu queria passar a mensagem de você comandar a sua vida, de não ficar esperando, de realmente ir à luta e não ter medo de fracassar. Não dá para ficar no banco do passageiro en-quanto a vida passa.

LC – Qual a maior dificulda-de de se fazer teatro em Los Angeles?MO – O público! L.A. é uma cidade dominada pelo cinema. Os atores terminam de filmar, ficam desempregados, daí vão fazer teatro para fazer uma gra-

na ou porque precisam de um agente ou empresário para se re-colocar no mercado cinemato-gráfico. Eles se juntam e fazem teatro com a intenção de atrair esses executivos, sem se voltar muito para a qualidade da pro-dução. Então, o nível do que é feito cai um pouco e as pessoas não se sentem muito motivadas a freqüentar o teatro. Elas foram assistir algumas vezes, não gos-taram e não voltam. Fora que é difícil a vida de fazer teatro, pro-duzir... eu ralei muito para reali-zar essa peça.

LC – E a comunidade brasi-leira daqui, veio te assistir?MO – Olha, engraçado porque quando comecei a promover o espetáculo muita gente aqui me adiantou: não conte com o pú-blico brasileiro! Mas quando fui pedir apoio ao Consulado Bra-sileiro de LA, eu disse ao vice-cônsul “Dorival, pode ser que eu esteja errada, mas eu vou contar com o povo brasileiro!” (risos) O brasileiro gosta de te-atro. Eu sei que se eles virem uma peça legal vão me apoiar. Então, vi bastante brasileiro durante a temporada, até por-que muita gente passa pelas ex-periências e dificuldades que eu mostro na peça.

LC – O público se identifica muito com as suas experiên-cias em cena. O texto trata da superação de dificuldades, as pessoas se veem ali no palco, é a historia de todo mundo...MO – Engraçado, acho que quanto mais sincera sou sobre a minha vida, quando coloco mais de mim no espetáculo, mais vira a historia de todo mundo. Eu

não tentei fazer a história de todo mundo. Eu fui bem espe-cífica com as coisas que aconte-ceram. Mas, por ser uma versão bem sincera, de mostrar mesmo as vezes que eu fui humilhada, as vezes que eu me emocionei, mais as pessoas se identificam.

LC – A história não é tão co-mum para o público america-no. Qual foi o maior desafio artístico para encená-la? MO – O desafio dessa peça foi que eu sempre achei que para as pessoas se identificarem com a minha avó, elas tinham que sa-ber de onde ela vinha. Eu tinha que explicar que essa mulher, apesar de não ter dinheiro ne-nhum e ter vindo do nada, sem-pre foi muito digna. Casou com marido rico que perdeu tudo, uma das filhas morreu nos seus braços e ela nunca perdeu a dig-nidade. Então, se eu deixasse de contar essa parte, não ia fazer sentido a mensagem da peça, de

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ela querer que eu mostrasse o meu valor.

LC – Faz alguma diferen-ça ser brasileira e não his-pânica para esse mercado de trabalho?MO – Eu sempre trabalhei muito aqui, fiz muito papel em filme e televisão, mas sempre fiquei chateada com o tipo de papel escrito para latinos, porque não existem escritores que entendam esse valor. É um americano que não tem a menor fami-liaridade com a cultura latina e que escreve um papel para latino. Daí, o que acontece não é um personagem in-teiro Vira um estereótipo! Faltam papéis bons e como tem uma quantidade mui-to maior de imigrantes que vêm do México e outros pa-íses da América Latina, claro que a maioria dos papéis são para esse tipo.

Mina é mais do que um belo rosto

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A carioca Mina apresenta a história de sua vida e transforma sua herança latina em vantagem profissional

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