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01 lisboaMITE’06

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O Jornal do Teatro surgiu da vontade de experimentar, criar e dar espaços, a quem partilha o gosto pelo teatro. Das reflexões clássicas, à problemática da contemporaneidade, o Jornal do Teatro, do Teatro Nacional D. Maria II teve como principal alvo a reflexão sobre os tempos, que se mudam e evoluem e que, em última instância, são testemunhos ricos de cada época. De 2006, 2007 e 2008, período em que foi publicado, fez-se o retrato breve de uma ‘casa da cultura’ que é, antes de mais, uma casa aberta à sociedade e ao mundo.

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Page 1: Jornal do Teatro

01 lisboaMITE’06

Page 2: Jornal do Teatro

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O Salão Nobre do TNDM II será, durante a Lisboa Mite, o espaço privilegiado para con-versas sobre teatro, às 18h00. Os criadores que nos visitam, e que têm trabalho para mostrar, vão partilhar com os estudiosos de teatro e com o público em geral as suas experiências no campo teatral.

Dia 23 de Junho, a grande especialista vicentina Ana Zamora falará sobre o seu tra-balho continuado a partir da obra de Gil Vicente, um genial autor que, tanto escreveu em português como em castelhano.

Dia 05 de Julho, o conhecido teatrólogo Georges Banu virá discorrer sobre o trabalho importante de renovação teatral que actualmente se desenvolve nos países de Leste e que volta a afirmar-se na cena mundial.

Dia 11 de Julho, o jovem encenador Emmanuel Demarcy-Mota falará sobre a génese e crescimento de centros culturais na periferia das grandes cidades e sobre a importância que assumem para o desenvolvimento local.

Dia 26 de Julho, o autor e encenador José Sanchis Sinisterra partilhará as suas refle-xões sobre a dramaturgia contemporânea e sobre a obra fragmentária, um tema que o fascina cada vez mais.

A Lisboa Mite’06 é o primeiro sinal público daquilo que nos propomos fazer no novo Teatro Nacional, um sinal que pretendemos suficientemente revelador dos pressupostos essenciais do nosso projecto. Pretendemos, antes de mais, abrir este espaço às mais diversas temáticas e correntes artísticas, e nesse aspecto a programação da Mite é plural quanto baste. Por Lisboa passarão várias produções de textos clássicos, mas também peças importantes da dramaturgia contemporânea, como acontece com o texto de José Sanchis Sinisterra e com uma peça fundamental de Eugène Ionesco, “Rinoceronte”.

Depois, pretendemos estabelecer redes de cumplicidades com companhias interna-cionais, de forma a incentivar o cruzamento de experiências e projectos, e de promover a criação de novos produtos e novas formas de fazer.

Todas as companhias incluídas no programa são, de uma maneira ou de outra, já nos-sas conhecidas. Temos desenvolvido trabalho em conjunto ou, pelo menos, temos tido vontade de o fazer. E com esta cumplicidade esperamos criar condições para que os pro-jectos sobrevivam para além do efémero que são as mostras ou os festivais sazonais de teatro.

Outro objectivo da nossa gestão passa pela afirmação de Lisboa e do Teatro Nacional como um espaço de referência no contexto internacional do teatro e das artes do espec-táculo.

Queremos um Teatro Nacional que seja uma montra das diferentes abordagens que, nas artes performativas, se vão fazendo, tanto em Portugal como no estrangeiro. Mas queremos que essa plataforma tenha uma identidade própria, o que pensamos conseguir tanto pela afirmação da nossa História, como pela posição privilegiada que ocupamos no Continente Europeu.

Uma posição geográfica e uma história que nos permite ser um ponto de encontro por excelência entre os criadores europeus, africanos e latino-americanos, um ponto de encontro que pode e deve funcionar com um estatuto de permanência e que terá os seus momentos de visibilidade pública nas mostras que nos propomos realizar todos os anos.

Correndo o risco de parecer demasiado ambiciosos, estes são objectivos que procu-ramos atingir a médio prazo, tendo consciência de que há todo um capital adquirido que nos permitiu, em apenas dois meses, preparar a 1.a edição da Lisboa Mite. A forma fácil como esta mostra se tornou uma realidade prova que estão criadas as condições para a internacionalização do Teatro Nacional, de resto o sentido maior de uma instituição de serviço público como é este teatro.

Este é o primeiro de uma série de cadernos que pretendemos publicar durante a Lisboa Mite’06 e com os quais queremos chegar mais perto do público e chamar a atenção para as nossas propostas culturais. Neste primeiro caderno, desenhamos, a traço grosso, uma panorâmica geral da programação da mostra, que esperamos seja do vosso agrado.

Carlos FragateiroJosé Manuel Castanheira

Editorial

Debates

Um filme aclamado pela crítica e recebido com grande êxito em Portugal. Realizado por Marco Tullio Giordana e com interpretação, entre outros, de Maya Sansa (que, na Lisboa, Mite, protagoniza “Il Lettore a Ore” e partici-pa em “Metamorphoses”), Luigi Lo Cascio, Alessio Boni, Adriana Asti, Sónia Bergamasco. Conquistou já os prémios Un Certain Regard (Cannes), Prémio do Público (Roterdão e Palm Springs), Prémio Melhor Realizador (Seattle).

Itália; 2003; 366’; cor;22 de Julho; Sala Garrett; 17.00h (I Parte) e 21.00h (II Parte)PREÇO> €3,00

Cinema

Os O’Questrada apresentam, na Lisboa Mite’06, um espectáculo divertido e surpreen-dente, no Átrio do TNDMII, todas as sextas-fei-ras, às 24h, de 16 de Junho a 26 de Julho.

Universal e indescritível, a sua sonoridade ousa uma fusão única impregnada do espírito do fado, da ska, da pop, do funnáná. Esta tru-pe de cinco músicos fala uma língua popular, numa grande viagem sonora.

Músicas no Átrio

A Melhor Juventude (La Meglio Gioventú)

O’Questrada

RODRIGO GONÇALVES TRIO (piano/contrabaixo/bateria)> 17 de JunhoVGO (Variable Geometry Orchestra) > 24 de JunhoJOANA MACHADO TRIO> 1 de JulhoZUM TRIO> 8 de JulhoJOÃO PAULO ESTEVES DA SILVA> 15 de JulhoCOMMUNION QUINTET> 22 de Julho

PREÇO COMUM> €5,00 e €3,00 para jovens < de 25 anos

Jazz> às 24h

Nova EsplanadaDurante a Lisboa Mite’06, abre, bem no centro da cidade e por baixo do frontão

do TNDMII, uma nova esplanada com vista para o Rossio.

Livraria do TeatroA Livraria do Teatro já se encontra aberta ao público, de terça-feira a sábado, das 14h00 às 22h00 e domingo, das 14h00 às 18h00. Aqui poderá encontrar obras de referência nas artes do espectáculo.

DIRECÇÃO> Carlos Fragateiro

e José Manuel Castanheira

COORDENAÇÃO> Pedro Mendonça

COORDENAÇÃO EDITORIAL> A. Ribeiro dos Santos

REDACÇÃO> A. Ribeiro dos Santos,

Margarida Gil dos Reis, Ricardo Paulouro

DOCUMENTAÇÃO> André Camecelha

GRAFISMO> Nuno Patrício

FOTOGRAFIA> Margarida Dias

PROPRIEDADE> TNDM II, SA

IMPRESSÃO> Mirandela Artes Gráficas

Ficha Técnica

Page 3: Jornal do Teatro

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Otelo >

Ter ou não ter, eis a questão

A abrir a programação da Lisboa MITE’06 – Mostra Internacional de Teatro, o Teatro Nacional propõe ao público português co-nhecer o trabalho do premiadíssimo Marco Antônio Rodrigues, conhecido pelas abor-dagens inesperadas das obras que traba-lha. O encenador brasileiro, que em 2002 levou à cena “Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago, traz a Lisboa uma releitura muito especial de uma das maiores tragé-dias de William Shakespeare.

Enquanto é relativamente consensual e a maior parte dos teatrólogos se inclina a considerar “Otelo” como a obra definitiva sobre o ciúme e o seu potencial destrui-dor, Marco Antônio Rodrigues releu o texto como a “tragédia da propriedade”. O pró-prio explica que escolheu levar “Otelo” à cena porque os falsos valores que Shakes-peare expôs na peça continuam vigentes no Brasil do século XXI. A desigualdade social, o preconceito...

“Otelo é classicamente conhecido como a tragédia do ciúme”, afirma. “Porém, para nós, é a tragédia da propriedade, pois é ela que acaba com as coisas mais significantes da vida, como o amor, e que leva Otelo a as-sassinar Desdémona.”

Esta atitude socialmente comprometida não é, de resto, nova no trabalho deste cria-dor, que nunca escondeu qual a sua posição

sobre a arte e o papel do artista no contex-to social. Uma das suas declarações mais polémicas é aquela em que apelidou alguns dos seus colegas de “bobos da corte”. “Infe-lizmente, os artistas, alguns consagrados, abdicaram do seu papel de ser que reflecte, e passaram a ser os bobos da corte neste esquema todo. (...) A partir do momento em que você se torna um vendedor de bagulhos, como poderá ter algum vínculo com a so-

ciedade? Evidentemente, a conexão vai-se desfazendo. Sem este pacto, não há arte.”

Num cenário que se abre para as cenas colectivas e se fecha para as cenas intimis-tas, o público – que partilhará o palco com os actores – deve ir preparado para reflectir sobre as questões propostas, mas também para se divertir, já que um dos objectivos do

trabalho desta companhia é o de aproximar tanto quanto possível quem faz de quem vê teatro. Para isso, concorre também uma banda sonora surpreendente, que inclui os temas “New York, New York”, imortalizado por Frank Sinatra, e a célebre canção “The End”, dos Doors, que Francis Ford Coppola inclui no filme “Apocalipse Now”.

Refira-se que “Otelo” chega até nós com as melhores referências: não só críticas ex-

celentes, mas também os prémios de Me-lhor Espectáculo da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) 2003 e os Prémios Shell para Direcção e Cenografia.

O público, esse, saudou um espectácu-lo apelativo, até para aqueles espectadores que não são frequentadores habituais das salas de teatro.

Uma companhia celebrada pela vitalidade e pela inovação, a Folias d’Arte traz a Lisboa um espectáculo que mostra bem com que linhas se cose o novo teatro brasileiro: sem vedetas de televisão, com muita energia e imaginação A. Ribeiro dos Santos

TEXTO> William Shakespeare

TRADUÇÃO> Maria Sílvia Betti

ENCENAÇÃO> Marco Antônio Rodrigues

CENOGRAFIA> Ulisses Cohn

FIGURINOS> Atílio Beline Vaz

DIRECÇÃO MUSICAL> Dagoberto Feliz

DESENHO DE LUZ> Érike Busoni

Otelo

16>17>21.30H>18>16.00H

SALA GARRETT

Duração>3 horas, com intervalo> €7,50 a €15

Ficha Artística

O encenador Marco Antônio Rodrigues explica que escolheu levar “Otelo” à cena porque os falsos valores que Shakespeare expôs na peça continuam vigentes no Brasil do século XXI. A desigualdade social, o preconceito...

Cinema

Page 4: Jornal do Teatro

A Lisboa Mite’06 traz a Portugal uma das obras maiores que Gil Vicente escreveu em castelhano, “D. Duardos”, pela Companhia Nacional de Teatro Clássico de Madrid, com a direcção e versão de Ana Zamora, ceno-grafia de Richard Cenier e direcção musical, música e arranjos de Alicia Lázaro, nos dias 22, 23 e 24 de Junho, às 21h30 e no dia 25, às 16 horas.

Para Ana Zamora, diplomada em Direc-ção de Cena pela Real Escola Superior de Arte Dramática de Madrid, esta peça é o retrato perfeito da condição humana, uma obra que fala sobre o amor como destino. E se nos deixarmos envolver no mundo sim-bólico de Gil Vicente, onde a poesia, a dan-ça, a música e o canto fazem parte de um universo cuja sensibilidade renovou o teatro, apercebemo-nos que “D. Duardos” é, como salienta Ana Zamora, a “busca da individua-lidade humana”.

Com data imprecisa de representação,

possivelmente por volta de 1522, a “Tragi-comédia de D. Duardos” inaugura um novo período na carreira de Gil Vicente. As per-sonagens nobres que se exprimem numa retórica requintada, provenientes talvez das novelas de cavalaria, ainda fazem as delí-cias do público. Dom Duardos, “príncipe de Inglaterra”, é um cavaleiro andante que cor-re o mundo em busca de aventuras e proe-

zas. A intriga decorre na corte do Imperador Palmeirim. D. Duardos desafia Primaleão, filho de Palmeirim, para um duelo, mas este manda a filha, Flérida, separá-los. A partir desse instante, D. Duardos apaixona-se por Flérida. Ela, por sua vez, sonha com o ca-valeiro desconhecido. Mas por que se quer assegurar que esta o ama por si mesmo e não por ser príncipe, D. Duardos faz-se pas-sar pelo filho do jardineiro. A cena desloca--se para o jardim do palácio, um dos temas aliás privilegiados na obra de Gil Vicente, esse lugar de amor, poesia e harmonia e,

sobretudo, de cumplicidades. A tragicomé-dia desenrola-se em torno de uma sucessão de encontros e revelações e faz-nos sentir o longo caminho do amor que as personagens têm de percorrer.

Tendo estreado a 9 de Fevereiro, no Teatro Pavón, em Madrid, esta peça marcou as co-memorações dos 20 anos do Teatro Clássico e foi unanimemente aclamada pela crítica pela harmoniosa combinação de diferentes meios de expressão artísticos. Para Eduardo Vasco, director da Companhia, o Teatro Clás-sico de Madrid dá assim a conhecer uma das obras clássicas não estritamente teatrais e um dos mais belos textos líricos da drama-turgia universal.

A renovação de uma Companhia

Criada em 1986 com o objectivo de di-fundir o teatro clássico espanhol, a Compa-nhia Nacional de Teatro Clássico de Madrid comemora este ano o seu 20.o aniversário. Lope de Vega, Calderón de la Barca, Cervan-tes e Gil Vicente são alguns dos nomes que, no entender do seu director, Eduardo Vas-co, celebram “20 anos de emoções” e tex-tos marcantes do Renascimento e do século XVIII que se somam ao repertório da Com-panhia, centrada, sobretudo, no Século de Ouro. Um regresso às origens que nos mos-tra quão actuais estes textos podem ser.

A tragicomédia desenrola-se em torno de uma sucessão de encontros e revelações e faz-nos sentir o longo caminho do amor que as personagens têm de percorrer

D. DuardosO amor como destino

A Companhia Nacional de Teatro Clássico de Madrid apresenta “D. Duardos”, de Gil Vicente, na versão de Ana Zamora. Um regresso às origens do teatro em língua castelhana Margarida Gil dos Reis

TEXTO> Gil Vicente

VERSÃO> ENCENAÇÃO> Ana Zamora

CENOGRAFIA> Richard Cenier

MÚSICA> Alicia Lázaro

DESENHO DE LUZ> Miguel Ángel Camacho

COREOGRAFIA> Lieven Baert

Tragicomédia de D. Duardos

22>23>24>21.30H>25>16.00h>JUNHOSALA GARRETT

Duração>1h42”, sem intervalo> €7,50 a €15

Ficha Artística

04 > lisboaMITE’06 > 01

> Tragicomédia de D. Duardos

Page 5: Jornal do Teatro

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D. Juan >

D. Juan. O Trágico e o Cómico no palco

O Teatro do Bolhão e a Academia Con-temporânea do Espectáculo trazem a Lis-boa, nos dias 29, 30 de Junho e 1 de Julho, às 21h30, e dia 2 de Julho, às 16, “D. Juan” ou o Festim de Pedra, de Molière.

Com um elenco composto por dez acto-res, protagonizado por António Capelo (D. Juan) e João Paulo Costa (Esganarelo), esta peça é uma ambiciosa produção do Teatro do Bolhão e da ACE dirigido por Kuniaki Ida,

que valorizou as dimensões plástica e visual do texto, criando um espectáculo tecnica-mente arrojado. Com cenografia de Kuniaki Ida e Paulo Oliveira e banda sonora de José Prata, a partir do “Magnificat” de J. S. Bach, “D. Juan” ou o “Festim de Pedra” explora tecnicamente o trágico mas também o có-mico, a vida e a morte, o amor e o sofrimen-to, enriquecido pelas escolhas cénicas do

conceituado realizador japonês, inspiradas no universo barroco.

A história não se limita a retratar os amo-res do libertino personagem mítico D. Juan mas reflecte sobre a vida e a liberdade. D. Juan, um indivíduo cínico mas sedutor que quer preservar a sua liberdade individual, é aqui retratado com toda a actualidade, con-trastando com o seu criado Esganarelo, ser-vo submisso.

Num cenário luxuriante, onde os veludos vermelhos imperam, como convém ao re-belde D. Juan, a necessidade de moralizar e criticar o “mau uso” do amor pelos homens fica bem clara nesta peça.

Alguma crítica chega mesmo a afirmar que esta peça será talvez um auto-retrato de Molière, um dos nomes maiores da dra-maturgia universal. Encontramos aqui um

universo cheio de carências afectivas, onde se tentam estabelecer fronteiras emocio-nais entre as personagens e onde a reflexão filosófica e metafísica tem um importante papel.

Às sucessivas e ininterruptas “releituras” deste mito da cultura ocidental, feitas por, entre outros, Lord Byron, George Bernard Shaw, Mozart/ Lorenzo da Ponte ou Richard Strauss, deve agora juntar-se uma nova lei-

tura, a do encenador japonês Kuniaki Ida para o Teatro do Bolhão.

Enquadrada num estratégia conjunta da ACE/Teatro do Bolhão, no Porto, que visa a criação de espectáculos tendo por base textos de autores centrais na dramaturgia universal, esta peça surge na sequência da encenação de outros autores como Bertolt Brecht, Edward Albee e Samuel Beckett.

O Teatro do Bolhão apresenta, em Lisboa, “D. Juan”, de Molière.

Uma excelente encenação do conceituado japonês

Kuniaki Ida e uma interpretação magnífica

de António Capelo e João Paulo Costa

Ricardo Paulouro

TEXTO> Molière

TRADUÇÃO> Manuel Resende

ENCENAÇÃO> Kuniaki Ida

CENOGRAFIA> Kuniaki Ida e Paulo Oliveira

DESENHO DE LUZ> José Carlos Gomes

FIGURINOS> Ana Teresa Castelo

Otelo

29>30>21.30H>JUNHO>

01>16.00H>JULHOSALA GARRETT

Duração> 3horas, com intervalo> €7,50 a €15

Ficha Artística

Com um elenco composto por dez actores, protagonizado por António Capelo (D. Juan) e João Paulo Costa (Esganarelo), esta peça é uma ambiciosa produção do Teatro do Bolhão e da ACE dirigido por Kuniaki Ida que valorizou as dimensões plástica e visual do texto

Page 6: Jornal do Teatro

Nos dias 4 e 5 de Julho, o público do Tea-tro Nacional vai ter a oportunidade de ver um espectáculo já celebrado por inúmeras plateias internacionais. “Electra”, que o en-cenador romeno Mihai Maniutiu concebeu a partir das peças “Electra”, de Sófocles, e “Orestes”, de Eurípides, é uma produção que tem sido aclamada em todo o lado e que mostra bem a vitalidade de uma nova vaga de criadores teatrais vindos de Leste.

Com uma componente visual fortíssi-ma, esta criação faz-se também notar por combinar, na perfeição, a tradição grega do coro e as intervenções musicais do grupo de música popular Iza (originário das Ma-ramures), que partilha o palco com o elen-

co e sublinha o sabor arcaico do texto. Du-rante os ensaios, o encenador descobriu, maravilhado, que os versos do canto coral das tragédias se adapta perfeitamente à música do grupo Iza e decidiu incluí-lo no espectáculo. Os protagonistas – Mariana Presencan (Electra) e Marian Râlea (Ores-tes) – também têm feito muito pelo sucesso desta produção, graças à sua forte presen-ça cénica.

De resto, é sobejamente conhecida a história de Electra, a jovem que decide ma-tar a mãe, Clitemnestra, para vingar o pai, Agamémnon. Auxiliada pelo irmão, Orestes, cabe-lhe promover um acto que chocará a sociedade em que vive, mas deixará satis-

feito o seu grande desejo de justiça.O mito - que deu origem, na linguagem

psicanalítica, ao Complexo de Electra (equi-valente feminino do complexo de Édipo) - foi reescrito, pelo menos, por dois grandes dramaturgos da Grécia Antiga: Sófocles, o equilibrado, o esteta, e Eurípides, o ousado, o excessivo.

Aproveitando o melhor de cada um, Ma-niutiu concebeu um espectáculo que o pró-prio classifica de “feliz”. Uma produção que mereceu os melhores elogios por parte de Georges Banu, que disse tratar-se de um “espectáculo que fascina pela sua energia física e pelo esplendor trágico”.

Quanto à figura de Mihai Maniutiu, o criador desdobra-se por diversas áreas. Encenador, professor de teatro, ensaís-ta e escritor (já publicou seis romances e dois volumes de contos), tem percorrido o Mundo com espectáculos que não páram de acumular prémios. O público do Reino Unido, Bélgica, França, Canadá, Egipto, Áustria, Hungria, Finlândia e Brasil já se rendeu ao seu talento. Agora é Lisboa que vai ter oportunidade de ver um espectáculo que não deixará de impressionar.

Uma produção que mereceu os melhores elogios por parte de Georges Banu, que disse tratar-se de um “espectáculo que fascina pela sua energia física e pelo esplendor trágico”

A mulher que matou a mãe por amor ao pai

Do Leste chega uma proposta de revisitação de um dos maiores mitos clássicos: a história da destemida Electra, cuja força anímica ninguém consegue parar e que defronta tudo e todos. A sociedade e as leis pelas quais esta se rege. Um espectáculo de grande impacto visual e emotivoA. Ribeiro dos Santos

TEXTO> Sófocles e Eurípides

ENCENAÇÃO> Mihai Maniutiu

CENOGRAFIA> Cristian Rusu

MÚSICA> Grupo Iza

Electra

04>05>21.30H>JULHOSALA GARRETT

Duração>1hora, sem intervalo> €7,50 a €15

Ficha Artística

06 > lisboaMITE’06 > 01

> Electra

Page 7: Jornal do Teatro

“5 Heures du Matin” é talvez um dos me-lhores exemplos de um espaço multidisci-plinar onde o teatro, a dança, a fotografia e a música se combinam. No dia 8 de Julho, às 21h30 e no dia 9, às 16 horas, a Com-panhia Pigeons International, de Montréal, apresenta, no Teatro Nacional, a segunda parte da trilogia da luso-descendente Paula de Vasconcelos, legendada em português.

A história passa-se em torno do sofri-mento de uma mulher de 41 anos, filha de uma irlandesa e de um italiano, casada, sem filhos, com um curso de psicologia e fotógrafa. A viver em Montréal e com o ma-rido em Nova Iorque, esta mulher acaba por desabafar com um estrangeiro, psicó-logo de profissão, que estudou fotografia. A mulher é interpretada por Annick Berge-ron, o analista pelo actor português Bru-no Schiappa. Do elenco fazem ainda parte

duas bailarinas, a brasileira Milene Azze e a quebequense Nathalie Blanchet, e o actor Paul-Antoine Taillefer.

A reflexão sobre a Humanidade, convi-dando-nos a olhar para a vida e para aquele que poderá ser um destino comum, dá lu-gar a uma metáfora construída a partir do trabalho fotográfico de Serge Clément.

São cerca de 80 fotografias de Dakar,

Lisboa, Budapeste, Istambul, Mambai, Banguecoque, Santiago, Valparaiso e Nova Iorque, todas captadas na alvorada, às 5 da manhã. Imagens de cidades que desper-tam, utilizadas aqui enquanto projecção e ilustração do que se passa em palco, mas sempre preservando a autonomia da foto-grafia.

Este é um exercício de convívio com o si-lêncio do amanhecer, quando todos ainda teimam em ficar de olhos fechados mas,

simultaneamente, nasce a expectativa da alvorada. Uma contemplação do mundo tal qual ele se nos apresenta ou, como salien-ta Paula de Vasconcelos, uma “evocação do presente”.

Nesta comunicação entre as palavras e a dança, constrói-se um tempo-espaço poéticos, onde o corpo é a voz da própria poesia.

“5 Heures du Matin”, que estreou em Abril do ano passado, é o melhor exemplo do contributo que Paula de Vasconcelos tem trazido ao teatro-dança, onde as fron-teiras entre as artes são permeáveis e os modelos de inteligência cénica correspon-dem à audácia dos espectáculos.

Paula de Vasconcelos trabalha com por-tugueses na sua companhia desde o ano 2000, aquando da co-produção que os Pi-geons International tiveram com a Funda-ção Calouste Gulbenkian, para levar à cena “L’Autre”, um espectáculo a partir de uma obra de José Saramago. Na altura, através de um workshop, elegeu Carla Ribeiro e Bruno Schiappa para o elenco dessa peça, tendo este ultimo continuado a colaborar regularmente na Companhia.

Em “5 Heures du Matin”, Bruno Schia-ppa dá vida a um analista que tem uma magnífica tirada sobre o “Guardador de Re-banhos”, de Fernando Pessoa.

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5 Heures du Matin >

Este é um exercício de convívio com o silêncio do amanhecer, quando todos ainda teimam em ficar de olhos fechados mas, simultaneamente, nasce a expectativa da alvorada

Paula de Vasconcelos apresenta a segunda parte da sua Trilogia da Terra. Em “5 Heures du Matin”, uma obra de referência para o teatro-dança, respira-se poesiaMargarida Gil dos Reis

TEXTO> ENCENAÇÃO>

CENOGRAFIA> COREOGRAFIA>

Paula de Vasconcelos

DESENHO DE LUZ> Guy Sinard

FOTOGRAFIAS> Serge Clément

5 Heures du Matin

08>21.30H>09>16.00h>JULHOSALA GARRETT

Duração>1h30”, sem intervalo> €7,50 a €15

Ficha Artística

A Poesia silenciosa do corpo

Page 8: Jornal do Teatro

O Théâtre De la Comédie, de Reims, apresenta “Rinoceronte”, de um dos gran-des autores do teatro universal, Ionesco. Com encenação de um francês com raízes em Portugal, Emmanuel Demarcy-Mota, “Rinoceronte” será apresentado nos dias 13 e 14 de Julho, às 21h30, no Teatro Na-cional, em Lisboa.

Para Emmanuel Demarcy-Mota, esta peça de Ionesco é bastante actual, pois fala sobre a libertação do que de mais oculto escondemos, o monstro que vive dentro de cada um de nós. Encontramos, mais uma vez, o absurdo, o contraste entre o individu-al, que se transforma e metamorfoseia e a civilização que tenta preservar as aparên-cias, não de indivíduos mas de um colec-tivo. Demarcy-Mota, que conta nesta peça com o magnífico trabalho de cenografia de Yves Collete, com a colaboração de Sébas-tien Marrey, enfatiza a passagem de um totalitarismo social para aquela que será uma alegoria civilizacional.

A habitual intriga dá lugar a uma suces-são de sequências cénicas que retratam o percurso de um rinoceronte pelas ruas de uma pequena cidade adormecida pela me-diocridade. Este rinoceronte foi um homem, Jean, que se metamorfoseou, interpretado

aqui por Hugues Quester. A partir desta pri-meira metamorfose, todos os outros habi-tantes despertam o monstro que há em si, num processo de contaminação progressiva.

A violência, a ambição desmedida, o egoísmo, a vaidade darão lugar a uma “ri-nocerite”. No final, apesar da metamorfose quase generalizada, sobrará um único ho-mem, Bérenger, amigo de Jean, interpre-tado por Serge Maggiani que será o único a conservar valores humanistas.

Esta peça de Ionesco reflecte sobre o que de mais absurdo pode existir na civili-zação, numa luta permanente contra a an-gústia existencial, num século XX onde se manisfestam acções de totalitarismo que transformam todas as personagens em animais selvagens.

Uma referência da dramaturgia universal

Ionesco nasceu na Roménia em 1912 e escreveu “Rinoceronte” em 1958 que foi, ao ser representado em 1960, o seu primeiro grande sucesso. Nos seus primeiros tra-balhos, o jogo com a linguagem e com o sentido das palavras preparam já as alego-rias ontológicas e políticas que triunfarão alguns anos depois na sua carreira. “O Rei Está a Morrer”, “A Cantora Careca”, “As Ca-deiras”, são algumas das suas peças que consagraram Ionesco e acompanharam a sua reflexão sobre a condição humana.

“Respeito as leis fundamentais do tea-tro: uma ideia simples, uma progressão igualmente simples e uma queda”.

Para Emmanuel Demarcy-Mota, esta peça de Ionesco é bastante actual pois fala sobre a libertação do que de mais oculto escondemos, o monstro que vive dentro de cada um de nós

Ionesco ou a condição humana

O Théâtre De La Comédie, de Reims, traz à Lisboa Mite’06, pela mão de Emmanuel Demarcy-Mota, “Rinoceronte”, uma das obras maiores de Ionesco.O teatro do absurdo no seu esplendor máximo Ricardo Paulouro

TEXTO> Eugène Ionesco

ENCENAÇÃO> Emmanuel Demarcy-Mota

CENOGRAFIA> DESENHO DE LUZ> Yves Collet

MÚSICA> Jefferson Lembeye

FIGURINOS> Corinne Baudelot

APOIO> Association Française d’ Action Artistique

Rhinocéros

13>14>21.30H>JULHOSALA GARRETT

Duração>2h10”, sem intervalo> €7,50 a €15

Ficha Artística

08 > lisboaMITE’06 > 01

> Rhinocéros

Page 9: Jornal do Teatro

De Itália chega-nos, a 19, 20 e 21 de Ju-nho, uma proposta invulgar de um criador que constitui um caso à parte no panorama teatral italiano. Gianluigi Tosto – cuja for-mação inclui, para além da representação, experiência na área da dança e da música – é um “performer” que se propõe neste espectáculo devolver o carácter oral aos três grandes poemas da Antiguidade Clás-sica: a “Ilíada” e a “Odisseia”, de Homero, e a “Eneida”, de Virgílio.

Em três noites consecutivas, sempre a partir das 21h45, Tosto dirá o essencial dos poemas que nos contam as aventuras e desventuras dos grandes heróis antigos, assim como as suas relações nem sem-pre pacíficas com os deuses. Histórias que todos conhecemos e que fazem parte do património cultural colectivo, textos que inicialmente eram concebidos para serem ditos em voz alta e que assim serão devol-vidos à sua função primeira: a de unir uma plateia em torno da voz e da figura de um bardo.

Recorrendo a várias traduções – Tos-to procurou aquelas que melhor transmi-tissem a musicalidade inerente ao texto mas também que melhor exprimissem os sentimentos das personagens e a magia do mundo da mitologia – e usando instru-mentos musicais muito simples, o criador concebeu com este trabalho uma espé-cie de antídoto ao massacre de imagens que temos de enfrentar diariamente. Num

mundo dominado pelo virtual e poluído pelo excesso de informação, a sua proposta é a de pararmos um pouco para reencontrar o prazer de ouvir contar histórias. Em cena, Tosto desdobra-se em vários registos: des-de o narrador objectivo até às personagens, entregues aos seus sentimentos excessi-vos. Um ‘one-man-show’ especialmente destinado a quem aprecia o essencial da arte do actor: a capacidade de comunicar com o público.

Um percurso fora do comum

Pela primeira vez em Portugal, Gian-luigi Tosto é um intérprete com formação multidisciplinar. Estudou interpretação em Florença (com o encenador Orazio Costa) e, no Actors’ Studio de Nova Iorque, estu-dou dança moderna com discípulos de Mary Wigman, Kurt Joss e Martha Graham. Entre os seus mestres, contam-se Ludwig Flaszen

(co-fundador do Teatro Laboratório de Wro-claw, juntamente com Jerzy Grotowski), John Strasberg, o dançarino de Butô Mitsu-ro Sasaki ou a bailarina Julie Stanzak (que dançou na companhia de Pina Bausch). Em Itália tem colaborado com inúmeras compa-nhias e é muito aplaudido pelos seus dotes interpretativos. Nos últimos anos começou a interessar-se cada vez mais pela narração como forma privilegiada de contacto entre o actor e o público. Investiu então nos reci-tais, que dá por toda a parte e em que se faz acompanhar de músicos ao vivo para dizer poesia contemporânea indiana, israelita e palestiniana. Os espectáculos de narra-ção, como estes de “Ilíada”, “Odisseia”, de Homero e “Eneida” de Virgílio, têm servido de base para momentos muito especiais de contacto entre o actor e plateias de especta-dores extasiados perante a sua capacidade de os entreter, graças à plasticidade da sua voz e à presença do seu corpo.

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Ilíada, Eneida, Odisseia >

O criador concebeu estes espectáculos como uma espécie de antídoto ao massacre de imagens que temos de enfrentar diariamente.A sua proposta é a de pararmos um pouco para reencontrar o prazer de ouvircontar histórias

Um intérprete que recupera uma das funções mais nobres do teatro: a arte de contar uma história. Recorrendo a alguns instrumentos simples,mas também aos primeiros utensílios de qualquer actor. A voz e o corpo A. Ribeiro dos Santos

Ilíada

19>21.45H>JULHOSALA ESTÚDIO

Duração>1h15”, sem intervalo> €10

SALA ESTÚDIO

Eneida

20>21.45H>JULHOSALA ESTÚDIO

Duração>1h30”, sem intervalo> €10

Odisseia

21>21.45H>JULHODuração>1h30”, sem intervalo> €10

TEXTO> Homero e Virgílio

DIRECÇÃO E INTERPRETAÇÃO> Gianluigi Tosto

DESENHO DE LUZ> Paolo Magni

Ficha Artística

Um corpo, uma voz

história e uma

Page 10: Jornal do Teatro

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> Metamorphoses

A partir da tradução moderna e da relei-tura dos contos de Ovídio,“Tales from Ovid”, feita por Ted Hughes e publicada pela pri-meira vez em 1997, Alessandro Fabrizi apresenta nas Ruínas do Carmo, em Lisboa, nos dias 25, 26 e 27 de Julho, às 22h00, uma das versões mais brilhantes daquele que é já um clássico da literatura ocidental.

Fabrizi, que dirigiu recentemente a adaptação de R.L.Lane de “Bartleby The Scrivener” e produziu, há dois anos, no Teatro Rosi, em Ravenna, a peça “Ritratto Frontale”, tem-se ainda destacado no cam-po da música e do cinema. Trabalhou com Anthony Minghella, em “The Talented Mr. Ripley”, com Tom Tykwer (“Heaven”) e Faith Akin (“Solino”), acumulando uma carreira académica de referência.

Para Alessandro Fabrizi e Kristin Linkla-ter, este conjunto de sete histórias é uma longa balada em várias línguas – Italiano, Inglês e Francês –, onde cada actor re-presenta utilizando a sua língua materna. Numa estrutura não-cénica, os actores jo-gam e jogam-se, alternadamente, em mo-mentos colectivos ou individuais, e recriam uma das célebres versões mitológicas da criação do mundo.

Esta peça, adaptada sempre a espaços não convencionais – foi feita, por exemplo,

numa ilha no Sul de Itália, a fim de se pre-senciar a explosão de lava de um vulcão ainda activo -, utilizará agora as Ruínas do Carmo como palco.

A “performance” tem início com a can-ção da criação do mundo, a partir do caos. Segue-se um conjunto de histórias, algu-mas delas marcantes no nosso imaginário mítico: o hermafrodita Teresias, a história de Echo e Narcissus, Tereus, Myrrha, que dá à luz Adónis, fruto da relação incestuosa com o pai, a história de Vénus e Adónis e a história de amor de Pyramus e Thisbe.

O elenco é de luxo, contando com um conjunto de quinze actores americanos e europeus bem conhecidos do público, tais como: Ken Cheeseman, um dos acto-res escolhidos por Clint Eastwood para os seus filmes “Mystic River”, “Next Stop”,

“Wonderland”, “Domino One”...; Christian Crahay, que trabalhou com Peter Brook, por exemplo, em “Timon of Athens”; Ma-nuela Mandracchia e Valentino Villa, duas

presenças assíduas nos trabalhos dirigidos por Luca Ronconi. Estão ainda neste elenco Laura Mazzi, actriz muito presente nas pe-ças encenadas por Ronconi, bem como no cinema e televisão, em séries como “Cuore Contro Cuore”, “Nana”...; Maya Sansa, uma das mais recentes promessas do cinema italiano e um valor na nova geração de ac-tores, entre muitos outros.

A música original é de Gianluca Misiti, executada por dois guitarristas ao vivo. Este “work in progress” é constituído por um conjunto de histórias de paixões e trans-formações, onde a imaginação do público é um forte aliado.

Esta peça, adaptada sempre a espaços não convencionais – foi feita numa ilha no Sul de Itália, a fim de se presenciar a explosão de lava de um vulcão ainda activo - utilizará agora as Ruínas do Carmo como palco

Uma balada para a imaginação

As “Metamorphoses” de Ovídio vêm a Lisboa, às Ruínas do Carmo, pela mão de Alessandro Fabrizi. A demonstrarem que as Metamorfoses também se metamorfoseiam. Margarida Gil dos Reis

TEXTO> Ovídio

CRIAÇÃO> Alessandro Fabrizi e Kristin Linklater

ENCENAÇÃO> Alessandro Fabrizi

MÚSICA> Gianluca Misiti

Metamorphosis

21>22>22.0H>JULHORUÍNAS DO CARMO

Duração>1h50”, com intervalo> €15

Ficha Artística

Page 11: Jornal do Teatro

O Teatro Metastasio Stabile Della Toscana, de Prato, Florença, encerra a Lisboa Mite’06 com as apresentações, de 25 a 27 de Julho, às 21h30, de “Il Lettore a Ore” - “Leitor por Horas”, em tradução livre - uma das mais recentes peças de José Sanchis Sinisterra e que, depois de uma estreia fulgurante em Espanha, tem conhecido montagens em paí-ses tão diversos como o México, a França, os Estados Unidos ou a Argentina.

Considerado por muitos como o drama-turgo contemporâneo mais influente do pa-norama teatral espanhol, Sinisterra escre-veu esta peça em 1998 e arrecadou com a produção que agora nos chega os conceitua-dos Prémios Max para Melhor Actor, Melhor Espectáculo e Melhor Autor de 2000. O texto revela que, aos 66 anos, o autor tem um do-

mínio perfeito das suas capacidades expres-sivas e consegue despertar, com a maior das facilidades, as emoções do espectador. Acresce dizer que o espaço cénico deste

trabalho tem a assinatura de José Manuel Castanheira, um factor que sem dúvida sus-citará o interesse do público da Lisboa Mite.

O ponto de partida para “Leitor por Ho-ras” é muito simples: Celso é um homem de negócios, proprietário de uma bibliote-ca, rico e culto, que decide contratar um professor empobrecido, Ismael, para ler romances à sua filha Lorena. Com uma condição: Ismael deverá fazer a leitura tão limpa e mecânica quanto possível, sem fa-zer entoações para não condicionar a in-terpretação de Lorena. Esta, que está cega desde os sete anos (altura em que lhe mor-reu a mãe), deverá tirar as suas próprias conclusões daquilo que ouve. Só que as coisas não correm exactamente de acordo com os planos do progenitor...

Ao longo do espectáculo, o espectador vai ouvir excertos de grandes obras da litera-tura mundial. Obras de Lampedusa, Joseph Conrad, Gustave Flaubert, e muitos outros,

vão tocar o espectador como tocam Lorena. Progressivamente, os mundos imaginários que esses livros evocam vão apresentar-se como a única realidade existente. É essa, de resto, uma das reflexões mais interes-santes que este espectáculo suscita: onde está a fronteira entre a mentira e a verdade numa obra literária? De que maneira aqui-lo que lemos nos influencia e determina a nossa existência?

Com um elenco de luxo - constituído por Maya Sansa, uma das vedetas emergentes do cinema italiano, Gianluigi Tosto e Adria-no Iurissevich -, o espectáculo tem uma estrutura fragmentária e “obriga” o espec-tador a preencher os espaços deixados em branco pelo dramaturgo.

Laboratório do teatro europeu

O Teatro Metastasio, sediado na cidade de Prato, muito próxima de Florença, tor-nou-se, graças ao trabalho lá desenvolvido por nomes como Vittorio Gasman, Giorgio Strehler ou Luca Ronconi, um espaço míti-co para os amantes do teatro. Ali se expe-rimentaram novas linguagens e se abriram novos caminhos para a arte teatral. José Sanchis Sinisterra é herdeiro dessa linha-gem de grandes criadores que ditaram a evolução do teatro. Actualmente, é director artístico dos teatros da Fundação Metasta-sio, de Florença.

Um elenco de luxo constituído por Maya Sansa, Gianluigi Tosto e Adriano Iurissevich, dirigidos por José Sanchis Sinisterra. Uma verdadeira obra de arte sobre as fronteiras entre o real e a ficção

O Ritual Misterioso da Leitura

José Sanchis Sinisterra, uma referência incontornável do teatro contemporâneo, fecha com chave de ouro o Lisboa Mite’06

“Il Lettore a Ore” é uma peça cheia de referências a grandes obras literárias e transforma o espectador num leitor Ricardo Paulouro

TEXTO E ENCENAÇÃO> José Sanchis Sinisterra

TRADUÇÃO> Antonella Caron

CENOGRAFIA> José Manuel Castanheira

DESENHO DE LUZ> Roberto Innocenti

FIGURINOS> Valeria Comandini

MÚSICA ORIGINAL> Alessandro Mangini

Il Lettore a Ore

25>26>21.30H>JULHOSALA GARRETT

Duração>1h50”, com intervalo> €7,50 a €15

Ficha Artística

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Il Lettore a Ore >