jornal de teatro edição nr.7

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Uma publicação da Aver Editora - 16 a 31 de Julho de 2009 - Ano I Nº 7 R$ 5,00 Atrizes do grupo XIX de Teatro, durante a peça “Hysteria”, interpretam as vidas de mulheres internadas em asilos psiquiátricos Política também faz a cabeça de BeĴi Sérgio Brito (de óculos): o melhor ator Conheça a mágica dos caracterizadores de personagens TÉCNICA Pág. 15 Escola de Teatro da UFBA: um templo da história da arte baiana FORMAÇÃO A arte na visão do ‘pernambucano’ Ariano Suassuna Nascido na Cidade da Parahyba - hoje João Pessoa (PB) - Ariano Suassuna é considerado o paraibano mais pernambucano que se conhece e um decifrador de brasilidades, que faz da arte nordestina um ideal. VIDA E OBRA RIO DE JANEIRO Parabéns com muita música e dança para o Theatro Municipal Pág. 16 Pág. 21 Págs. 10 e 11 Págs. 6 e 7 Aos 56 anos, o ator Paulo Betti fala, em entrevista exclusiva ao Jornal do Teatro, sobre sua vida, sobre sua carreira e sobre a coragem de sempre dar a cara a tapa, seja nos palcos, nas telas ou, até mesmo, na política. Eclético, garante não ter medo de nada. Nem de se reinventar e voltar às origens, como fez durante a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), quando andou pelas ruas da cidade vestido de árvore, em encenação para a peça “Sonho de uma Noite de São João”, para alegria de seu filho, João Betti. ENTREVISTA PRÊMIOS Pág. 19 Págs. 12, 13 e 14 A loucura em cena Dizem que de loucos, todos temos um pouco. Com a classe artística não é diferente. Afinal, as artes, muitas vezes, se manifestam como o limiar entre loucura e razão. É o que acontece, por exemplo, no Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, onde, atrás da ocupação de espaços ociosos, artistas encenam montagens e promovem ensaios e oficinas. É através de peças teatrais que a esquizofrenia, a bipolaridade, a psicose e outras formas de insanidade mental são retratas, dando vida à personagens atormentadas, que gritam, choram e, por que não, emocionam. É no teatro que os dramas provocados pela loucura são mostrados, debatidos, encenados e... curados. As muitas histórias de Betti APTR premia em 12 categorias Os melhores do teatro, em 2008, foram premiados pela APTR (Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro), dia 6 de julho. Destaque para “Inveja dos Anjos” (espetáculo e iluminador) e Sérgio Brito (melhor ator). O visual do elenco de “Hairspray” Adalberto Lima / Divulgação Divulgação APTR Fábio Toledo

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Jornal de Teatro

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Page 1: Jornal de Teatro Edição Nr.7

Uma publicação da Aver Editora - 16 a 31 de Julho de 2009 - Ano I Nº 7 R$ 5,00

Atrizes do grupo XIX de Teatro, durante a peça “Hysteria”, interpretam as vidas de mulheres internadas em asilos psiquiátricos

Política também faz a cabeça de Be i

Sérgio Brito (de óculos): o melhor ator

Conheça a mágica dos caracterizadores de personagens

TÉCNICA

Pág. 15

Escola de Teatro da UFBA: um templo da história da arte baiana

FORMAÇÃO

A arte na visão do ‘pernambucano’Ariano SuassunaNascido na Cidade da Parahyba - hoje João Pessoa (PB) - Ariano Suassuna é considerado o paraibano mais pernambucano que se conhece e um decifrador de brasilidades, que faz da arte nordestina um ideal.

VIDA E OBRA

RIO DE JANEIRO

Parabéns com muita música e dança para o Theatro Municipal

Pág. 16

Pág. 21 Págs. 10 e 11 Págs. 6 e 7

Aos 56 anos, o ator Paulo Betti fala, em entrevista exclusiva ao Jornal do Teatro, sobre sua vida, sobre sua carreira e sobre a coragem de sempre dar a cara a tapa, seja nos palcos, nas telas ou, até mesmo, na política. Eclético, garante não ter medo de nada. Nem de se reinventar e voltar às origens, como fez durante a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), quando andou pelas ruas da cidade vestido de árvore, em encenação para a peça “Sonho de uma Noite de São João”, para alegria de seu fi lho, João Betti.

ENTREVISTA PRÊMIOS

Pág. 19

Págs. 12, 13 e 14

A loucura em cenaDizem que de loucos, todos temos um pouco. Com a classe artística não é diferente. Afi nal, as artes, muitas vezes, se manifestam como o limiar entre loucura e razão. É o que acontece, por exemplo, no Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre, onde, atrás da ocupação de espaços ociosos, artistas encenam montagens e promovem ensaios e ofi cinas. É através de peças teatrais que a esquizofrenia, a bipolaridade, a psicose e outras formas de insanidade mental são retratas, dando vida à personagens atormentadas, que gritam, choram e, por que não, emocionam. É no teatro que os dramas provocados pela loucura são mostrados, debatidos, encenados e... curados.

As muitas histórias de Betti

APTR premia em 12 categoriasOs melhores do teatro, em 2008, foram premiados pela APTR (Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro), dia 6 de julho. Destaque para “Inveja dos Anjos” (espetáculo e iluminador) e Sérgio Brito (melhor ator).

O visual do elenco de “Hairspray”

Adalberto Lima / D

ivulgação

Div

ulga

ção

APTR

Fábio Toledo

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2 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Page 3: Jornal de Teatro Edição Nr.7

316 a 31 de Julho de 2009Jornal de Teatro

Editorial

Índice

w w w . a v e r e d i t o r a . c o m . b r

Presidente: Cláudio Magnavita [email protected]

Vice-presidentes: Helcio Estrella

[email protected] Espinosa

[email protected]

Presidente: Cláudio MagnavitaDiretores: Jarbas Homem de Mello, Anderson Espinosa e Fernando Nogueira

Redação: Rodrigo Figueiredo (editor-chefe), Rodrigoh Bueno (editor) e Fernando Pratti (chefe de reportagem) Rio de Janeiro - Alysson Cardinali Neto, Daniel Pinton, Douglas de Barros e Felipe SilSão Paulo - Danilo Braga, Ive Andrade e Pablo Ribera BarberyBrasília - Dominique Belbenoit e Sérgio Nery Porto Alegre - Adriana Machado Florianópolis - Adoniran PeresSalvador - Paloma Jacobina

Marketing: Bruno Rangel ([email protected]) Comercial: Washington Ramalho([email protected])

Redação Rio de Janeiro: Rua General Padilha, 134 - São Cristóvão - Rio de Janeiro (RJ). CEP: 20920-390 - Fone/Fax: (21) 2509-1675

Redação Brasília: SCN QD 01 BL F America Office Tower - Sala: 1209 - Asa Norte - Brasília (DF) - CEP: 70711-905. Tel.: (61) 3327-1449

Redação Porto Alegre: Rua José de Alencar, 386 - sala 802/803 - Menino Deus - Porto Alegre (RS). CEP: 90880-480. Tel.: (51) 3231-3745 / 3231-3734

Redação Florianópolis: Av. Osmar Cunha, 251 - sala 503, Ed. Pérola Negra, Centro - Florianópolis (SC). CEP: 88015-200. Tel.: (48) 3224-2388

Redação Salvador: Rua José Peroba, 275, sala 401 - Ed. Metrópolis, Costa Azul, Salvador / BA. CEP: 41770-235Tel.: (71) 3017-1938

Email Redação: [email protected] Arte: Ana Canto, Bruno Pacheco,Gabriela de Freitas e Valeska Gomes

Correspondência e Assinaturas:

Associação do Rio de Janeiro celebrou, em 12 categorias, os melhores do teatro em 2008 e homenageou Tônia Carrero pelos 60 anos de carreira

APTRPRÊMIOS...........................................................6 e 7

Programação dos eventos promove o intercâmbio cultural e de linguagens através das artes cênicas

Saiba o que pensa e o que diz o homem que é considerado umdecifrador de brasilidades e apaixonado pelas artes nordestinas

Festlip, FIL e Porto Alegre em Cena

Ariano Suassuna

FESTIVAIS...................................................

VIDA & OBRA..........................................................

17 e 18

21

Montagens abordam a insanidade em suas mais distintas formas e questionam o conceito de loucura nos dias de hoje

A loucura em forma de arteREPORTAGEM.............................................12 a 14

O ator, símbolo de versatilidade nas artes cênicas, fala sobrepolítica, engajamento, ideologias e convicções no meio artístico

Paulo Betti ENTREVISTA.............................................................10

w w w . j o r n a l d e t e a t r o . c o m . b rPublicações da Aver Editora:

Jornal de Turismo - Aviação em Revista - JT Magazine - Jornal Informe do Empresário

Redação São Paulo: Rua da Consolação, 1992 - 10º andar - CEP: 01302-000 - São Paulo (SP)Fone/FAX: (11) 3257.0577

Administração: Elisângela Delabilia ([email protected])Colaboradores: Adriano Fanti e Luciana Chama

Rodrigoh BuenoEditor do Jornal de Teatro

Inaugurado no dia 14 de julho de 1909, o Theatro Municipal comemorou seus 100 anos com pompa e circunstância

Pág.: 16

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Impressão: F. Câmara Gráfica e Editora

Arqu

ivo

Briga de MeninasNo início de julho, uma polêmica envolvendo “Essas Meninas”

e seus direitos autorais invadiu as páginas dos cadernos de cultura dos principais jornais do País. Ao estrear o espetáculo “Essas Me-ninas”, no Teatro Laura Alvim, no Rio de Janeiro, a autora da peça, Maitê Proença atiçou a fúria, ou melhor, a insatisfação da autora original do texto, a escritora Lygia Fagundes Telles, membro da Academia Brasileira de Letras.

O título das obras é idêntico, mas o texto em si e o processo que os levou ao público é bastante distinto. A escritora confessou que pensou em levar a decisão para os tribunais quando soube da notícia – até por já estar em produção a representação do seu já reconhecido texto para o teatro, com adaptação de Maria Adelaide Amaral. Aliás, já havia até uma data para a estreia, outubro – como foi divulgado durante a leitura do texto por Barbara Paz em São Paulo.

Do outro lado da polêmica, há um espetáculo em cartaz com histórias confessionais escritas pela atriz, que se comprometeu a mudar o nome. Segundo revelou para jornalistas, Maitê trocou e-mails com Lygia provando que não conseguiu trocar o nome a tem-po, por questões que envolviam patrocínio. Ou seja, a cortesia en-cerra quando Maitê diz que não perderia o patrocínio, pois “Essas Meninas” trata-se de um nome muito genérico.

Se assim fosse em todas as artes, o número de distorções em relação à “nomes simples” seria absurdo. Na hora de nomear uma obra, os autores seriam prevenidos: “Evitem as formas simples, di-retas, objetivas e que se façam entender”. Surgiriam “O Grito” em pop-art mostrando um Carnaval, ou “Chega de Saudade” contando a história da Jamaica em um belo tango.

Lygia abriu mão do processo, mas confessou que teve vontade de ir à estreia, subir no palco e chamar a atriz de ladra. Sem a ação judicial, nada vai acontecer em favor dos direitos do verdadeiro au-tor. Prova da necessidade de reorganização em um tempo no qual a ética e a propriedade na arte perdem espaço para as relações de mídia e patrocínio.

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4 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

CONFIRMADO: “SIMPLESMENTE EU. CLARICE LISPECTOR” EM BRASÍLIA

A edição brasiliense do Palco Aberto terá a apresentação do espetáculo “Simplesmente Eu. Clarice Lispector” e uma palestra da atriz Beth Goulart no dia 31 de julho, às 14h, no teatro do CCBB, com entrada franca. A peça foi extraída de depoimentos, entre-vistas, correspondências de Clarice Lispector e trechos dos livros “Perto do Coração Selvagem” e “Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres”, além dos contos “Amor” e “Perdoando Deus”. O monólogo conta a trajetória da escritora em busca do entendimen-to do amor, de seu universo, suas dúvidas e contradições.

A direção, adaptação e interpretação é de Beth Goulart, sob a supervisão de Amir Haddad, iluminação de Maneco Quinderé, ce-nário de Ronald Teixeira e gurino de Beth Filipecki. O espetáculo permanece no espaço até o dia 2 de agosto. As inscrições para o workshop devem ser efetuadas pelo telefone (61) 3310-7420.

Em comemoração aos quin-ze anos de existência do Teatro de Bonecos Seres de Luz, o gru-po apresentará o seu repertório entre os dias 8 e 30 de agosto no Centro Cultural São Paulo, próximo à estação Vergueiro do metrô. Entre os espetáculos adul-tos e infantis, estão “Espalhando Sonhos”, “Pipistrello”, “O Acro-bata”, “Cuando Tu No Estás”, “A-la-pi-pe-tuá” e o recente “Convocadores de Estrelas”.

No evento, serão ministra-das duas o cinas gratuitamen-te ao público. A presença do

BastidoresMEMORIAL DA AMÉRICA LATINA RECEBE

ENCONTRO NACIONAL DE DANÇAO XXVIII Encontro Na-

cional de Dança (Enda 2009) acontece nos dias 31 de ju-lho, 1º e 2 de agosto, sexta (às 20 horas), sábado e do-mingo (às 16 horas e 20h30), no Auditório Simon Bolívar do Memorial da América Latina, em São Paulo. O tradicional evento, rea-lizado pelo Sindicato dos Pro ssionais de Dança do Estado de São Paulo (Sin-dDança), apresenta um atual panorama da dança para o público paulistano.

Esta edição do Encon-tro vai reunir 110 apresen-tações, distribuídas em cin-co espetáculos. Os grupos - oriundos de diversas cida-des paulistas - mostram co-reogra as de até 6 minutos de duração (cerca de 20 por sessão, com as mais variadas formações). A mostra se ca-racteriza pelo dinamismo nas apresentações e pela va-riedade nos estilos de dança, que promete agradar a to-dos os gostos. O público vai apreciar espetáculos de balé clássico, moderno e contem-

porâneo, dança folclórica e de salão, sapateado, jazz e hip hop.O Enda conta com um corpo de jurados que avalia o desem-penho dos grupos e escolhe aqueles que mais se destacam. No encerramento do evento serão conhecidos Os Melhores dos Melhores de 2009: premia-ção que inclui participação ga-rantida no Grande Gala Enda 2009 (dias 3 e 4 de outubro,

também no Memorial), quan-do será entregue os prêmios em dinheiro, e bolsa de estu-dos no Brasil e Exterior para aqueles que obtiverem as maiores notas do júri. Pode ainda haver o Prêmio Reve-lação, mas este dependerá de excepcional qualidade técni-ca e artística dos concorrentes.Neste ano, as personalida-

des do mundo da dança que compõem a banca julga-

dora são: a coreógrafa Sara Debenedetti (Milão, Itália), Silvio Lemgruber (coreógrafo da Rede

Globo), Fernando Calvozo (Diretor de Atividades Culturais do Memorial da América Latina) e Norma Masella (ex-primeira bailarina e ex-diretora do The-atro Municipal de São Paulo).O Encontro funciona como uma eliminatória para o Gran-de Gala Enda, a festa de apoteose, que acontece no mesmo ano, quando os ven-cedores são homenageados e apresentam as coreogra as campeãs em um grande espe-táculo. Mais informações em www.memorial.sp.gov.br.

CENTRO TÉCNICO DO TCA REALIZA CURSOS DE CENOTÉCNICA E COSTURA

CÊNICA EM SALVADOR

O Centro Técnico do Teatro Castro Alves (TCA), em Salvador (BA), referên-cia em engenharia de es-petáculo teatral, promove curso técnico de Cenotec-nia, ministrado por Adriano Passos e Israel “Gão” Luz, e de Modelagem para Costura Cênica, ministrado por Lina Lemos. Os interessados po-dem realizar suas inscrições durante os dias 13 e 24 de julho, das 14 às 18h, no Nú-cleo de Produção do TCA, mediante apresentação do currículo e fotocópias da carteira de identidade e CPF, e pagamento da taxa de inscrição no valor de R$ 10. O número de vagas é de apenas 15 por o cina.

O curso de Cenotecnia é voltado para iniciantes em tecnologia da arte cê-

nica, enquanto o curso de Modelagem para Costura Cênica tem como público alvo gurinistas e costu-reiras, com o objetivo de aperfeiçoar a modelagem e o corte, visando o conforto e a segurança para os intér-pretes. As aulas acontecem entre os dias 27 de julho e 21 de agosto, sempre às segundas, quartas e sextas, das 9h às 13h nas instala-ções do próprio Centro Técnico.

BONECOS DO SERES DE LUZ SE APRESENTA NO CCSP GRATUITAMENTEInerte (o cina de técnicas de manipulação nos dias 11 e 12 de agosto) e Várias couraças e um nariz (o cina de clown nos dias 13 e 14 de agosto). Ainda, uma mostra fotográ ca reuni-rá várias fotos da trajetória do grupo, como espetáculos, via-gens, e imagens de seus princi-pais mestres.

O grupo, contemplado pelo Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2008 foi fundado em 1994 por Lily Curcio e Abel Saavedra. Representou o País em diversos festivais internacionais.

A companhia já se apresentou na Noruega, na Suíça, na República Tcheca, na Espanha, na Itália, na Bolívia no México, na Colômbia, na Argentina, no Equador, no Peru, e foi o único representan-te da América Latina em Taiwan no Festival International de Ka-osiung. Selecionado entre mais de 370 grupos para representar o País, “Cuando Tu No Estás” foi o premiado do 13º World Festi-val of Puppet Art Praga 2009 na categoria melhor criação artísti-ca, em maio de 2009 na Repúbli-ca Tcheca.

Renato Hatsushi

Divulgação

Vitor Dam

iani

Fabi

an

O Centro Cultural São Paulo será a casa dos bonecos entre os dias 8 e 30 de agosto

Beth Goulart faz palestra no CCBB em Brasília, com entrada franca

Inscrições de 13 a 24 de julho

Page 5: Jornal de Teatro Edição Nr.7

516 a 31 de Julho de 2009Jornal de Teatro

Bastidores530 VAGAS PARA OFICINASGRATUITAS EM VITÓRIA

“TEMPORADA SESC DE TEATRO” LEVA GRUPOS INTERNACIONAIS PARA CAMPINAS

O evento começa no dia 15 de julho, em Campinas, e segue em diversas uni-dades do Sesc do interior do estado, em parceria com o Festival Internacional de Teatro de Rio Preto (FIT). A programação vai até o 21 de julho e conta com apre-sentações de grupos nacionais e internacionais.

No Sesc Campinas, a temporada será aberta com uma estreia local, a peça “Bra-sil Menino” da Cia. Berro D’Água. As apresentações seguintes são de grupos te-atrais vindos de Salvador, Rio de Janeiro, Londrina e Argentina. O encerramento ca por conta da companhia espanhola Los Corderos S.C., com o espetáculo “Cró-nica de Josó Agarrotado”. Mais informações em www.sescsp.org.br.

O espetáculo “A Noite do Barquei-ro” faz única apresentação no dia 19 de julho, domingo, no Teatro Cacilda Becker, de São Bernardo do Campo (SP). A montagem é um solo com o ator Hélio Cícero, vencedor de prê-mios teatrais como Mambembe, Ape-tesp e Inacen, que comemora 30 anos de carreira com esse texto de Samir Yazbek, que também assina a direção.

O enredo da peça é um recorte na vida de um homem que, após uma tempestade, encontra-se em uma ilha

BEM CASADOEntre os dias 17 e 19 de julho, a paulistana Juliana Moraes

e a carioca Márcia Milhazes dividem o palco do Teatro de Dança, em São Paulo, para apresentar suas coreogra as no programa “Bem Casado”, uma série de apresentações de dois espetáculos na mesma noite, sendo sempre artistas-criadores de cidades diferentes. Para iniciar as apresentações, Juliana Moraes estará no palco com “3 Tempos Num Quarto Sem Lembranças”. Em seguida, Milhazes mostra a coreogra a “A Moça”, inédita em São Paulo. Mais informações: www.teatro-dedanca.org.br

“Teatro se não ca bom é muito constrangedor (...) quando é chato, é muito chato”, disse o cineasta Fernando Meirelles, diretor da série “Som e Fúria”, da Rede Globo, ao portal G1.

TRIXMIXAbrem-se as cortinas de

um cabaré contemporâneoO palco do Teatro Easy, em São Paulo, apre-

senta durante a primeira quinta-feira de todos os meses o “Trixmix- Cabaret Contemporâneo”, uma releitura dos espetáculos do nal do século XIX.

Revezam-se no palco artistas de várias verten-tes, em apresentações autorais de aproximadamente 10 minutos cada. Na edição de 6 de agosto já estão con rmadas as atrações: William Amaral e Fábio Espósito - atores cômicos; Álvaro- músico e ator do Jogando no Quintal; Mariana Duarte – tecido burlesco; show de Geórgia Branco e a Banda Trix-mix; Canal 3- esquetes cômicas; e a participação da drag-queen Stefany di Bourbon.

Mais informações: Tel (11) 3611-3121

FIQUE ATENTO!O premiado espetáculo “Inveja dos Anjos” terá temporada em São Paulo no início de agosto. O local ainda não foi con rmado, mas tudo indica que o palco será o do Sesc Consolação, na região central da cidade. “Inveja dos Anjos” venceu a edição carioca do Prêmio Shell de Teatro 2008, nas categorias de Melhor Atriz (Patrícia Selonk) e Melhor Autor (Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes); e o Prêmio APTR 2008, nas categorias de Melhor Espetáculo e Melhor Iluminação (Maneco Quinderé).

Todo o universo do teatro em um só jornal

De 21 a 25 de julho, a Escola de Teatro e Dança Fa , em Vitória (ES), está com inscrições abertas para o ci-nas nas áreas de teatro, dança e circo. Serão oferecidas 530 vagas e o início das aulas será em agosto. A coordena-ção das o cinas é de Lilian Menenguci.Os interessados podem se inscrever nas o cinas de consciência ao mo-vimento para a terceira idade; dança contemporânea; balé; dança de salão; jogos dramáticos; iniciação teatral; preparatório para quali cação teatral; técnica circense; teatro para terceira idade; teatro brasileiro; construção de personagens (ator e formas anima-das); e oralidade e educação vocal para professores. As o cinas são gratuitas, incluindo a inscrição para os cursos.Inscrições: de 21 a 25 de JulhoInformações: (27) 3381-6922 / 3381-6924

A NOITE DO BARQUEIROdeserta, à espera do dia amanhecer para seguir viagem. Enquanto o tempo pas-sa, ele re ete sobre a vida e questiona o sentido de sua existência.

No mesmo dia, o autor e diretor Sa-mir Yazbek ministra o Workshop de Dra-maturgia, abordando o processo de cria-ção de “A Noite do Barqueiro”, das 13 às 15 horas. O encontro será na Biblioteca Guimarães Rosa (Av. João Firmino, 900, Assunção/SBC). Mais informações no Teatro Cacilda Becker – São Bernardo do Campo (SP). Fone: (11) 4348-1081.

FESTIVAL DE CENAS CURTASA Cia. de Teatro Contemporâneo

realiza em julho, no Rio de Janeiro, o II Festival Contemporâneo de Cenas Cur-tas (em parceria com o Espaço Tápias Escola de Dança). O objetivo é abrir espaço para novas propostas e para no-vos artistas nas áreas de dança, teatro, poesia e performance. Mais informa-ções em www.ciadeteatrocontemporaneo.com.br ou pelo fone: (21) 2537-5204

Arnaldo Torres / Divulgação

Gil G

rossi / Divulgação

Divulgação www.jornaldeteatro.com.br

Page 6: Jornal de Teatro Edição Nr.7

6 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Prêmios

Imprensa na porta, tapete vermelho e até “torcida orga-nizada”. Esses são alguns dos indicadores do sucesso de um dos prêmios mais esperados pela classe artística no Rio de Janeiro, o APTR (Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro), cuja terceira edição premiou, na noite de 6 de julho, os melhores de 2008, em 12 categorias. A cerimônia, aberta pela atriz Nicete Bruno e comandada, com elegância e estilo, pela dupla Thiago Lacer-da e Zezé Polessa, aconteceu no teatro do Shopping Fashion Mall, em São Conrado, que -cou lotado, mas sem a presença mais marcante: Tônia Carrero.

Homenageada da noite – pelos 60 anos de carreira –, a atriz não compareceu à pre-miação (devido a uma indispo-sição) e foi representada pelos netos Miguel e Luisa Thiré, -lhos do ator Cecil Thiré. Mes-mo sem a luz de Tônia, o públi-co se emocionou com o vídeo apresentado e as estórias dos anos dourados do teatro nacio-nal. “Dizem que beleza não põe mesa, mas no caso dessa grande atriz, beleza não só pôs a mesa, como marcou o destino de uma das melhores atrizes que o nos-so País conheceu”, disse Thiago Lacerda, ao apresentar o ponto alto da noite.

Pouco antes, na abertura da cerimônia, o ator e come-diante Lúcio Mauro foi cha-mado para entregar o prêmio Categoria Especial, conquis-tado pela Cia. Dos Atores. O grupo, formado em 1988 com trabalhos de cunho experimen-tal, tem como objetivo suprir a necessidade de estudar e experimentar novas possibili-dades da cena teatral e já rea-lizou trabalhos como “Ensaio.Hamlet” e “Melodrama” entre outras. Ao agradecer, o ator e diretor Enrique Diaz brincou: “somos oito integrantes, o que signi cam oito loucuras”, disse, referindo-se aos outros sete “loucos”: os atores César Augusto, Gustavo Gasparani, Marcelo Olinto, Marcelo Valle e as atrizes Bel Garcia, Drica Moraes e Susana Ribeiro.

Emocionado, Lúcio Mau-ro disse que o teatro é feito de muito esforço e incertezas e que o mais importante não

E o prêmio vai para...Em noite de celebração da APTR, novos artistas e atores consagrados comemoram a festa do teatro carioca, que contou com homenagem a Tônia Carrero

Por Douglas de Barros

é ganhar o prêmio, mas saber porque ganhou. “O teatro é tão nobre, que é a única mercado-ria que se paga antes de se ver. Poderia dizer que estou tremen-do pela minha idade, mas é pela emoção de pisar neste palco. Minha vida começou no teatro, aos 14 anos, e ainda sinto minha voz vibrar como antes’’, revelou o ator, emocionado.

Mais uma vez, o experiente Sérgio Britto recebeu o prêmio de melhor ator, entregue pelo também ator Edwin Louise. O ator foi premiado por suas atu-ações em “Ato sem palavras” e em “A última gravação de Kra-pp”. Em seu discurso, Britto se disse satisfeito pelos bons re-sultados em sua carreira. “Nós, atores, passamos muitas vezes

por fases. Fases em que camos meio apagados e fases em que tudo dá certo”, disse o ator.

Nathália Timberg apre-sentou o vencedor de Melhor Atriz. Bibi Ferreira foi eleita por “Às Favas Com Os Escrúpu-los”. Bibi, no entanto, foi mais uma a não comparecer ao even-to, alegando ser realizado muito tarde e porque iria iniciar, no dia seguinte à premiação, uma tem-porada de 14 apresentações de seu espetáculo sobre a cantora Edith Piaf. A estátua foi recebi-da por Nilson Raman.

Entre a nova geração, Fer-nando Eiras (“Noviça Re-belde”) recebeu o prêmio de melhor ator coadjuvante das mãos do ator Lúcio Mauro Fi-lho. Eiras festejou cantando o

amor ao teatro, e, em seguida fez menção aos seus concor-rentes de prêmio. “Eu sou Ro-dolfo Vaz, Marcelo Guerra e Armando Babaioff. Sou a bola da vez, mas como o jogo é toda noite, somos todos vencedores e perdedores”, frisou o jovem ator. Já a atriz Júlia Lemmertz entregou o prêmio de melhor atriz coadjuvante à baiana Ana Paula Bouzas por seu papel em “Dona Flor e Seus dois Mari-dos”. A jovem atriz agradeceu à bailarina e atriz Marilena An-saldi. “Uma vez olhei uma pes-soa pelo buraco da fechadura quando tinha cerca de oito ou nove anos. Foi então que en-tendi que a dança poderia ser teatro”, relembrou Ana Paula.

Heloísa Perissê foi a esco-

lhida para entregar um dos prê-mios mais esperados da noite. a estatueta de Melhor Espetá-culo do Ano, que cou com o excelente “Inveja dos Anos”, da Armazém Companhia de Teatro. A peça retrata a vida de personagens sem muitas pers-pectivas, que moram em uma cidade do interior do Brasil. “Inveja dos Anjos” recebeu, ainda, o prêmio de melhor ilu-minador para Maneco Quin-deré. Outro espetáculo dupla-mente premiado foi “Traição”, com Ary Koslov, como melhor diretor, e Marcos Flaksman como melhor cenógrafo. Ao receber o prêmio, Koslov agra-deceu ao autor Harold Pinter que, segundo Ary, é mestre por sua “habilidade em produzir la-

Divulgação APTR

Natália Timberg (a esq.) e Paulo Goulart, cumprimentam a atriz e agora produtora Glória Menezes, vencedora com “Ensina-me a viver”

Page 7: Jornal de Teatro Edição Nr.7

716 a 31 de Julho de 2009Jornal de Teatro

Prêmios

AUTORJoão Falcão – “Clandestinos”DIRETORAry Koslov – “Traição”CENÓGRAFOMarcos Flaksman – “Traição”FIGURINISTANey Madeira – “O Santo e a Porca” e “Entropia”ILUMINADORManeco Quinderé – “Inveja dos anjos”ATOR PROTAGONISTASérgio Britto – “Ato sem palavras” e “A última gravação de Krapp”ATRIZ PROTAGONISTABibi Ferreira – “Às favas com os escrúpulos”ATOR COADJUVANTEFernando Eiras – “A noviça rebelde”ATRIZ COADJUVANTEAna Paula Bouzas – “Dona Flor e seus dois maridos”CATEGORIA ESPECIAL20 anos da Cia dos AtoresESPETÁCULO“Inveja dos Anjos”PRODUÇÃO (categoria votada pelos associados da APTR)“Ensina-me a viver” Realização: Primeira Página Produções CulturaisProdutores associados: Arlindo Lopes, Glória Menezes e Maria Siman

PREMIADOS NO 3º PRÊMIO APTR DE TEATRO

cunas a serem preenchidas pelo espectador”.

A novidade do ano cou por conta da escolha da melhor produção, única categoria eleita pelos membros da APTR. A Pri-meira Página Produções Cultu-rais, dos produtores associados Arlindo Lopes, Glória Menezes e Maria Siman, faturou o prêmio por “Ensina-me a viver”. A atriz Glória Menezes, uma das produ-toras associadas, foi aplaudida de pé pelos presentes. Emocionada, falou sobre o prêmio e sobre a produção em sociedade no su-cesso de “Primeira Página”.

“Foi uma soma de acertos. O diretor é um batalhador, um me-nino que foi sempre atrás do que queria João é excelente diretor e um ser humano maravilhoso” , disse Glória. O prêmio, último a ser anunciado, foi entregue por Eduardo Barata, presidente da APTR e realizador do evento. Barata prometeu mais novidades para 2010. “Ano que vem tere-mos uma nova categoria, a de apoiador de teatro”, revelou.

‘PRÊMIO DERESISTÊNCIA’

Mesmo sem a presença de patrocinadores para projetos na área teatral, os membros da APTR (Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro) decidiram pela re-alização do evento devido à importância da festa para o Rio de Janeiro. Chamado pela entidade como “prêmio de re-sistência”, trata-se do único no setor teatral concedido pela crí-tica especializada (a premiação teve sua primeira edição em dezembro de 2006 e a segun-da em outubro de 2008). De acordo com o autor Flávio Ma-rinho, responsável pelo rotei-ro da festa, “o Prêmio APTR surgiu da necessidade de se

preencher um vazio. Criamos o Prêmio APTR de Teatro para celebrar e festejar o nosso meio de vida, dentro das nossas pos-sibilidades”. Este ano, o corpo de jurados foi composto por Barbara Heliodora, Macksen Luiz, Lionel Fischer, Debora Ghivelder, André Gomes, Tâ-nia Brandão e Mauro Ferreira. Já a estatueta entregue aos ven-cedores foi idealizada pelo pro-dutor Fernando Libonati.

SEIS ANOS DE APTRFundada em julho de 2003,

a Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro surgiu a partir da necessidade de pro-dutores teatrais se unirem para promover a união e a harmonia entre os pro ssionais, além de defender os interesses da classe. A APTR é uma entidade civil, de direito privado, sem ns lu-crativos, e que reúne produto-res teatrais de relevante atuação da produção carioca e nacional. Dos principais objetivos da APTR destacam-se: a forma-ção, a sensibilização e a amplia-ção do público teatral; e o zelo pelos interesses coletivos nas políticas públicas, morais, cultu-rais e materiais dos produtores do Estado do Rio de Janeiro e de todo o Brasil.

Em seu estatuto, a associa-ção a rma que seus membros visam promover a representa-ção dos produtores de espetá-culos de artes cênicas perante órgãos públicos e privados, visando garantir, divulgar e in-centivar o exercício da produ-ção teatral; bem como desen-volver e incrementar relações com as outras entidades cultu-rais, além de estimular os me-lhores esforços para promover e digni car o teatro brasileiro, atuando em todas as áreas na realização de tais objetivos.

Douglas de Barros

Douglas de Barros

Zezé Polessa e Thiago Lacerda foram os mestres de cerimônia na festa no teatro Fashion Mall

Lúcio Mauro se emocionou ao entregar o prêmio de Categoria Especial pelos 20 anos de CIA dos atores

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8 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Por Dominique Belbenoit

Criada em 2003, a Coopera-tiva Brasiliense de Teatro tem, hoje, pouco mais de 100 asso-ciados, entre eles, artistas, técni-cos de teatro e circo, diretores e vários outros envolvidos nesse segmento. A presidente, Laura Cavalheiro, conta que os objeti-vos da associação são represen-tar a categoria, gerar emprego e favorecer a democratização do acesso ao teatro. A cooperativa teve um início pré-determinado, conta a presidente, que assumiu o cargo há quatro anos. “Ela foi fundada há seis anos por um grupo de sete companhias de te-atro”, revela Laura.

Movidos pela paixão às artes cênicas, estas e outras compa-nhias sentiram a necessidade de uma instituição que represen-tasse a categoria e defendesse os interesses comuns. Os sete grupos, compostos de 28 artis-tas e diretores, resolveram sair às ruas para divulgar seus trabalhos. “Eles criaram o projeto Teatro em Movimento, cujo objetivo era oferecer, durante um perío-do de quatro meses, o cinas te-atrais gratuitas em dez cidades satélites. Os próprios alunos montavam e apresentavam suas peças. No total, foram 110 peças apresentadas nessas cidades e no plano piloto”, conta a veterana do teatro.

Com isso, os grupos con-seguiram mais visibilidade e despertaram o interesse de em-presas públicas e privadas para eventuais patrocínios. “O objeti-vo principal foi a criação de um espaço destinado à categoria, no qual se pudesse fomentar as ati-vidades teatrais em Brasília, for-mar um público, aprimorar ar-tistas e, principalmente, realizar ações que pudessem contribuir com o desenvolvimento sócio-

Sindicais Dança

Doutoras Palhaças: consultas levam alegria aos hospitais brasilienses. Sem a cooperativa, isso não seria possível

A cooperativa tem um núcleo voltado para as artes cincerses

O Balé Folclórico da Bahia resgata a cultura do Estado em suas apresentações

Cooperativa Brasiliense de Teatroapoia projetos e luta por incentivos

cultural da comunidade”, diz a presidente, que já está em seu segundo mandato.

A cooperativa atua junto a Fóruns de Cultura, de Teatro e ao Fórum de Circo do Distrito Fe-deral. Para fazer parte dessa ini-ciativa não é difícil. Basta obter o registro na Delegacia Regional do Trabalho e se inscrever na coo-perativa. “Só temos pro ssionais com diploma ou atestado de ca-pacitação dado pelo Sindicato dos Artistas e Técnicos”. O sustento nanceiro da instituição é oriun-do dos próprios cooperados, que pagam meio salário mínimo por ano dividido em 12 meses.

O teatro não é o único seg-mento que faz parte da coopera-tiva brasiliense. Segundo Laura, existe, também, um núcleo de circo, cuja demanda de projetos aumenta cada vez mais. Prova disso é o projeto de palhaços Doutoras Música e Risos, cria-do, no ano passado, pela artista especializada em teatro e circo, Antônia Vilarinho. “Começa-mos como voluntários, nesse projeto, mas, felizmente, conse-guimos um patrocínio da Petro-bras para este semestre”, revela

a criadora. O projeto consiste em levar

alegria para os hospitais do Dis-trito Federal. As “consultas” são feitas por um grupo de doutoras bem diferentes. Elas chegam cada uma com um estetoscópio e trazem, também, instrumen-tos pouco usuais no ambiente hospitalar: viola caipira, violão, bongô, cavaquinho, triângulo. No nal das contas, a cura é tra-zida pelo bom humor. Crianças e adultos são cuidadosamente “examinados” pelas doutoras palhaças Fronha (Antonia Vi-larinho), Matusquela (Manuela Castelo Branco), Berruga (Elisa Carneiro) e Savana (Karinne Ri-beiro) fazendo graça, palhaçadas e tocando bastante música.

“É um tipo de projeto que não poderia ter saído do papel se não fosse a cooperativa. Ela nos dá mais visibilidade e conso-lidação. Brasília não é fácil para a classe, por isso, é importante fazer parte de uma associação como esta. Eu também lutei pela criação desta cooperativa, mas outras companhias teatrais tentaram criar algo semelhante antes de nós e falharam”, revela.

Por Carla Costa

A Bahia tem respaldo e des-taque mundial no meio artístico. Um dos fatores que comprova isto é o fato do estado ser o úni-co do País a ter uma companhia de dança folclórica pro ssional de representatividade, com tur-nês nacionais e internacionais. O BFB (Balé Folclórico da Bahia) se destaca pelos prêmios conquistados e nas respostas que recebe do seu público e crí-tica especializada, desde a sua criação, em 1988.

Atualmente, 38 integrantes, entre dançarinos, músicos e cantores, compõem o quadro do BFB. Devido ao respeito conquistado e ao nível técnico, o grupo vem chamando a aten-ção dos mais exigentes pro s-sionais e críticos da área de dan-ça do mundo.

Para o fundador e diretor geral do BFB, Walson Botelho, o grupo deve seu sucesso ao fato do baiano ser versátil, ter olho diferente e conseguir pra-ticar todos os tipos de dança com grande facilidade, ritmo e descontração.

Balé Folclórico da Bahia valoriza artistas locais

Mas, Botelho revela que apesar de todo este potencial o BFB, desde a sua criação, nun-ca teve patrocínio e conta ape-nas com o apoio da Secretaria de Cultura e do Estado para se manter. “Essa falta de incenti-vo impede a possibilidade da criação de novas coreogra as e também na produção de guri-nos”, explica Botelho.

De acordo com a diretora da primeira escola de balé clássico da Bahia, a Ebateca, Ana Cristi-na Gonçalves, a falta de incen-tivo di culta que os bailarinos baianos façam carreira no seu próprio estado. Devido a isso, bons bailarinos se mudam para o sul e para fora do país em bus-ca de uma carreira promissora.

“Nós já tivemos e temos óti-mos bailarinos, porém essa falta de investimento na arte nos faz perder grandes talentos que são muitos valorizados lá fora, mas apesar disso, todos os meus bai-larinos tem orgulho de repre-sentar a Bahia. Nós mostramos que não vivemos em ritmo de malemolência, mas muito pelo contrário, temos in nitas com-petências”, diz Ana Cristina.

“POR QUE TENHO ESSA FORMA?” PRORROGA TEMPORADA EM SÃO PAULO

A pesquisa de mais de vinte anos da coreógrafa Zélia Monteiro resultou no espetáculo “Por que tenho essa forma?”, em cartaz em São Paulo até o dia 30 de agosto. O trabalho é conhecido pela interferência de movimento, música e luz no palco – reunindo artistas de diferentes áreas para discutir temas como corpo, espaço e tempo. O espetáculo está em cartaz no Sesc Consolação, segue para o Cine Olido e depois Centro Cultural São Paulo, ambos no centro da cidade.

Pautado pela improvisação, o elenco segue uma estratégia de criação e de composição cênica que investiga modos de criar e de compor textos coreográficos. A subjetividade está presente nos movimentos que diferen-ciam o instante – inserido entre o passado e o futuro - e a duração – que se constrói durante o percurso.

Bailarina e professora desde 1977, Zélia Monteiro estudou dança clás-sica em Milão e trabalhou com nomes como Maria Melô e Klauss Vianna. Foi premiada em 1987 (APCA), 1988 (Lei Sarney) e 1992 (APCA). Em 1993 recebeu a Bolsa Vitae de Artes para pesquisa coreográfica realizada em Pa-ris, onde deu aulas regulares. Em abril de 2006 recebeu o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna da Funarte, para realização de pesquisa. Em dezembro de 2006 recebeu o Prêmio PAC Circulação, da Secretaria de Estado da Cultu-ra (SP), para tournée de espetáculo e, em 2007, recebeu o Prêmio Fomento à Dança, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Fotos: Dominique Belbenoit

Divulgação

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916 a 31 de Julho de 2009Jornal de Teatro

Fazer cultura com resistên-cia. O nome do grupo teatral a seguir já diz algo? “Ói Nóis Aqui Traveiz”. Escrito em por-tuguês não-formal, o nome do grupo emite a ideia da vocação popular, ou seja, de cultura para todos. Essas são apenas algumas das propostas desta Tribo de Atuadores de Porto Alegre (RS). Conhecidos por fazer arte com contestação, eles são destaque entre os grupos de teatro e espa-ços culturais gaúchos e referên-cia também nacionalmente.

Em busca de renovação na linguagem cênica, a Tribo de Atuadores do Ói Nóis entrou em cena no dia 31 de março de 1978 com as peças “Divina Pro-porção” e “A Felicidade Não Es-perneia Patati Patatá”, ambas es-critas por Júlio Zanotta. Durante esses 31 anos, o grupo criou uma estética pessoal, fundada na pes-quisa dramatúrgica, musical, plástica, no estudo da história e da cultura, além da experimenta-ção dos recursos teatrais a partir do trabalho autoral do ator.

Não se limitando à sala de espetáculos, desenvolveu, tam-bém, uma linguagem própria de teatro de rua, além de traba-lhos artístico-pedagógicos junto à comunidade local. “Atuamos coletivamente em todo proces-so de cada espetáculo, desde a montagem até a manutenção do espaço. Acreditamos que o tea-tro, assim como a cultura, é um direito necessário de cada cida-dão. Fazemos cultura como ins-trumento de discussão”, explica Tânia Faria, atuadora da Tribo.

Entre as diversas áreas que o grupo desenvolve, destaque para a Escola de Teatro Popular, que funciona desde 2000, e o Proje-to Teatro como Instrumento de Discussão Social, desenvolvido desde 1988, com o cinas gra-tuitas à população. Na área da criação teatral, além do Teatro de Rua, o Teatro de Vivência atua no sentido de experiência partilhada, em que o espectador torna-se participante da cena, inserido em ambientes cênicos junto com os atores, quebrando a divisão palco/platéia.

Diante destas atuações, os artistas do Ói Nóis avaliam o te-atro como instrumento de des-velamento e análise da realidade e entendem que sua função é so-cial, contribuindo para o conhe-cimento e o aprimoramento hu-mano. “A lógica do mercado não pauta as ações do grupo. Tendo 31 anos de trabalho continuado, a Tribo recebeu apoio através da Lei Rouanet nos últimos quatro anos. Isto aponta para uma das

Há 31 anos em ação, Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz resiste ao tempo ecomemora 25 anos de constituição do seu espaço multidisciplinar Terreira da Tribo

Teatro para todos Por Adoniran Peres

palavras chaves da trajetória do Ói Nóis: resistência”, enfa-tiza Pedro de Camilis, atuador do grupo.

COMEMORAÇÕESO último dia 14 de julho foi

uma data importante de conti-nuidade desta resistência do gru-po, com a comemoração dos 25 anos de constituição do espaço multidisciplinar Terreira da Tri-bo. Criado seis anos depois da concepção do Ói Nóis, o local também é a sede do grupo des-de 1984 e funciona como Escola de Teatro Popular oferecendo diversas o cinas abertas e gratui-tas para a população. Para cele-brar este dia especial houve uma noite de comemorações na qual foi lançado o sexto número da revista “Cavalo Louco”, produ-zida pelo grupo. A programação incluiu, ainda, a apresentação dos exercícios cênicos “A Comé-dia do Trabalho” e “Aquele que diz Sim/Aquele que diz Não”, desenvolvidos através do Pro-jeto Teatro como instrumento de discussão social, atualmen-

te patrocinado pelo Instituto Votorantim.

O espaço multidisciplinar não se resume somente a um lu-gar de o cinas e espetáculos. É também para compartilhamen-to de experiências com outros grupos, realizando seminários, ciclos de debates, o cinas aber-tas à comunidade para prática artístico-pedagógica, além de se explorar as possibilidades cêni-cas produzidas pela Tribo com o intuito de realizar uma investiga-ção atorial, estética e ética.

Gerida de forma libertária pelo Ói Nóis Aqui Traveiz, a Terreira da Tribo se tornou peça fundamental para o desenvolvi-mento do teatro portoalegrense. Várias das suas manifestações já foram apropriadas pela cidade como o Teatro de Rua, hoje com vários grupos atuando regular-mente, e as o cinas populares de teatro desenvolvidas em diversos bairros de Porto Alegre.

ATUAÇÃO

Camilis, atuador do grupo, explica que, atualmente, a tribo

realiza a Mostra Ói Nóis Aqui Traveiz: Jogos de Aprendiza-gem, um circuito pelos bairros da cidade com os trabalhos de-senvolvidos pelos atuadores em o cinas populares de teatro em oito bairros. “Junto a esta Mos-tra, apresentamos, quase todos os ns-de-semana, o espetáculo de Teatro de Rua “O Amargo Santo da Puri cação”. A peça, criação coletiva baseada em Sar-tre e em Allen Gin – que teve sua montagem censurada em 1980 – estreou em setembro de 2008, durante o 15° Poa em Cena. O espetáculo já foi apresentado em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Curitiba, em Brasília e em Salva-dor (circulou, ainda, por 15 cida-des do interior do Estado, pelo Sesc/RS). Atualmente, realiza um circuito pelos bairros popu-lares de Porto Alegre e região metropolitana.

PREMIADODurante esses anos, o grupo

recebeu muitos prêmios com seus espetáculos. Entre eles: “A Doméstica”(1985) e “Fim de

Partida”(1986). Já a criação cole-tiva “Ostal” (1989) concedeu ao grupo os Prêmios Açorianos de melhor espetáculo, cenogra a e produção. De 1990 até 1992 foi encenado “Antígona”, ritos de paixão e morte, que recebeu os Prêmios Açorianos de melhor espetáculo, direção, cenogra a, gurino e ator coadjuvante. “Se Não Tem Pão, Comam Bolo!” (1996) foi premiado como me-lhor espetáculo de Teatro de Rua, e o grupo foi premiado pelo conjunto de sua obra. O espetá-culo “Independência ou Morte!” (1996) foi premiado no Festival Nacional de Teatro Isnard Aze-vedo de Florianópolis (SC).

Em 2008, o grupo recebeu os Prêmios Açorianos de melhor cenogra a e ator Coadjuvante por “A Missão – Lembrança de uma Revolução”. Neste mesmo ano a Tribo recebeu, também, o Prêmio Shell na categoria es-pecial pela pesquisa e criação coletiva e melhor trilha original de Johann Alex de Souza de “Aos que virão depois de nós - Kassandra In Process.”

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Tribo de Atuadores desenvolve o cinas gratuitas a população

Ói Nóis Aqui Traveiz fazem da cultura um instrumento de discussão Grupo do Rio Grande do Sul busca a renovação da linguagem cênica

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10 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Jornal de Teatro – O que você ainda carrega de ensina-mentos e lições da EAD/USP, onde começou a carreira?

Paulo Betti – A gente aprendia a levar o teatro a sério com disciplina, responsabilida-de e ética. O exame de admis-são era muito seletivo. Para se ter uma ideia, concorriam 700 aspirantes, eram aprovados 20 e depois de um mês de exames práticos, teóricos, subjetivos... Aí vinham os três anos de au-las. Na minha turma zemos quatro montagens com dire-tores importantes e eu tive a

sorte de participar de muitas montagens do segundo e do terceiro ano, quando ainda es-tava no primeiro.

JT – E como foi tal expe-riência?

PB – Pude ver Eugenio Kusnet trabalhando “Os Pe-quenos Burgueses”, de Gorki. Trabalhei com Emilio di Bia-si, Fernando Peixoto, Sylnei Siqueira, Antonio Mercado Netto, Sylvio Zilber, Miryan Muniz, Fausto Fuser, Luiz Nagib Amary, Jonas Bloch, Celso Nunes, Alberto Guzik,

EntrevistaPaulo Betti – ator

Sem medo de inovar e de dar opiniãoPor Felipe Sil

O ator Paulo Betti, 56 anos, já fez de tudo em sua área. Televisão,

cinema, teatro... Poucos artistas da dramaturgia brasileira podem

dizer que possuem a versatilidade deste profissional. Com o nome

e o currículo que tem, poderia viver calmamente, na base de megaes-

petáculos e trabalhos esporádicos destinados ao grande público. Paulo

Betti, porém, continua inovador e mantém as raízes do início da carreira,

quando foi um dos fundadores do grupo experimental Pessoal do Victor

e aluno da EAD/USP (Escola de Arte Dramática da Universidade de São

Paulo). Na última edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty),

surpreendeu o público presente ao andar pela cidade vestido de árvore,

em encenação para a peça “Sonho de uma Noite de São João”. O ator

também não tem medo de falar sobre política e é conhecido como um

dos mais envolvidos no assunto dentro do meio teatral. Nesta entrevista

para o Jornal de Teatro, entretanto, garante que todas as suas ideologias

e convicções ficam fora de sua arte, apesar de admitir que ela é sempre,

no final das contas, um posicionamento político.

Candida Teixeira, Maria José de Carvalho, Renata Palotti-ni, Mylene Pacheco, Yolanda Amadei, Clovis Garcia, Pau-lo Mendonça, Lucio Galvão, Leda Cury, tantos excelentes mestres... Mas aprendi muito com Carlos Alberto Sofredini, Elvira Gentil, Laerte Morrone e Armando Azzari. Lembro a voz do Sofredini, pausada, rou-ca, dizendo “não se poupe”, “não se poupe”, uma espécie de bordão teatral e caz, abso-lutamente essência de nossa atividade onde poupar-se, dar menos, é proibido.

JT – Como analisa, hoje, sua experiência no grupo experimental Pessoal do Victor, que você ajudou a fundar em 1975?

PB – Foi uma espécie de universidade de teatro pra mim. O grupo estudava, pes-quisava, fazia montagens sobre temas interessantes como a cultura caipira, o surrealismo, a obra de Kafka... Tudo com a continuidade do trabalho de

Celso Nunes, que nos acompa-nhou e nos deu de presente a montagem nal de curso, que foi “Victor e as Crianças no Poder” de Roger Vitrac, que deu nome ao nosso grupo.

JT – Você sempre teve uma posição política mui-to forte. Tem o costume delevar essas ideias para sua atuação?

PB – Não gosto de levar

Segundo Paulo Be i, ser ator é “acreditar que tudo pode mudar, tudo pode ser de outra maneira”

“ Nunca vi lugar que se aplaude mais em pé do que o Brasil”

Fábio Toledo

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1116 a 31 de Julho de 2009Jornal de Teatro

Entrevista Paulo Betti esbanja versatilidade nos palcos, na telinha e até nas ruas

política para o palco. Não pen-so na adequação política das peças que faço. Penso na den-sidade das obras do ponto de vista poético e dramatúrgico. Mas evidentemente que existe um ltro, que é a minha manei-ra de ver a vida, e nisso incluí a política, a percepção do poder, do jogo, da hipocrisia e tudo mais. Só que não penso, por exemplo, nos Sem Terra e na sua luta quando z “Na Carre-ra do Divino”, peça do Carlos Alberto Sofredini. No entanto, serve como uma luva para cam-panhas do MST, por exemplo. Aquilo, para mim, era emoção pura. Um libelo contra a injus-tiça da perda da terra ancestral, mas era uma preocupação mui-to mais humana e individual do que política e coletiva.

JT – Acha importante para o artista ter posicionamento político bem de nido?

PB – Não, acho que é impor-tante o artista ser bom no que faz e respeitar seus colegas e sua arte. Isso é mais do que su cien-te. Quem quiser se meter em política que se meta, leve suas bordoadas, sofra as consequên-cias de expor suas posições, porque posições todos nós te-mos, e exerça suas pequenas in- uências. Alguns de nós, como Antonio Grassi, Beth Mendes, Pitanga, Stephan Nercesian, Antonio Pedro, Hugo Carvana, Celso Frateschi, Gianfrancesco Guarnieri e muitos outros che-gam a ocupar cargos elevados na área cultural do governo. Me exponho muito politicamente, defendo as ideias que acredito, acompanho as reviravoltas do jogo político e pago caro por isso. Já fui acusado maciçamente pela imprensa. Eu sabia que era

parte do jogo político, mas é um preço alto que se paga.

JT – Como você faz a ligação entre política e arte?

PB – A política está em toda a parte. A arte expressa o momento histórico, emocional e político de sua época. Toda obra de arte é um posiciona-mento político.

JT – Você acabou de encenar, ao ar livre, em Paraty, o espe-táculo “Sonho de uma Noi-te de São João”, baseado em Shakespeare. Em outras oca-siões você também já se apre-sentou nas ruas do Rio. Como é essa experiência? Por que é importante e quais as diferen-ças de não atuar para um pú-blico mais selecionado?

PB – A rua é o espaço mais livre e mais difícil de se traba-lhar. A pessoa assiste em pé. Quando enche o saco vai em-bora, toma uma cerveja, fala com o amigo... Não tem aquela convenção hipócrita de ter que car até o nal e aplaudir em pé. Nunca vi lugar que se aplau-de mais em pé do que o Brasil. Parece até que entendemos pra burro de teatro, porque precisa ser muito entendido para car aplaudindo em pé. Eu tenho verdadeira admiração e respei-to pelos artistas que trabalham na rua. Desde o mais so stica-do ao mais simples, aquele cara que promete engolir um prego no nal da performance, a Fa-miglia Milani, O Tá na Rua, do Amir, Galpão Cine Horto, de Minas Gerais; e tantos outros.

JT – Viveu alguma experi-ência anterior, neste sentido?

PB – Na Casa da Gávea es-távamos nos sentindo aprisio-nados no nosso pequeno pal-co. Tive a ideia de irmos para a praça que existe em frente, no Baixo Gávea, ano passado, com o “Sonho”. Foi lindo. Esse ano resolvemos repetir e zemos em Paraty, Quissamã, Piraí e Barra do Piraí. Foi muito legal. Em Pa-raty parecia que estávamos num autêntico teatro elizabethano. A Igreja de Santa Rita e o casario de Paraty ecoavam uma acústica perfeita para nossa peça. Foi um gosto trabalhar nessa peça. Meu lho me viu trabalhar pela pri-meira vez. Me viu sentado no meio o, vestido de árvore, su-ado, com a maquiagem borran-do. Ele sacou direitinho o que é o meu ofício.

JT – Qual a peça e o persona-gem que você se recorda com mais carinho?

PB – Muitas! Mas “Na Car-rera do Divino” foi um momen-to especial de minha vida.

JT – Você também já teve

grandes papeis na TV. Como foi parar nesse meio equal produção e personagem te marcou mais?

PB – A televisão entrou na minha vida entre 1977 e 1978, quando z a novela “Como Sal-var meu Casamento”, na Tupi. De lá para cá, nunca mais dei-xei de trabalhar no meio. Gos-to muito de atuar na TV. Acho um privilégio poder fazer no-velas, estabelecer um vínculo forte com nosso povo, entrar em suas casas e contar histórias.Acho a televisão o espaço mais importante da cultura brasileira. Quase todas as informações cul-turais que o o nosso povo recebe é através dela.

JT – Em que meio pre-fere trabalhar? Teatro ou TV? Quais são as principais

Ator, apesar de consagrado, costuma encenar peças gratuitas nas ruas, como nas de Paraty recentemente

diferenças entre os dois quan-to à atuação e à produção?

PB – O teatro tem uma produção mais artesanal, re-quer mais tempo de elabora-ção, nos prepara e nos corri-ge. Já a televisão exige mais rapidez. Gosto dos dois. O bom é quando podemos reve-zar, um no teatro e um na TV. De vez em quando no cinema também.

JT – O que é ser ator para você?

PB – É colocar nosso cor-po, voz e sentimentos para re-presentar um personagem le-vando distração, divertimento e conhecimento para o máxi-mo de pessoas. É acreditar que tudo pode mudar. Tudo pode ser de outra maneira. É fazer conviver o vaidoso e o insegu-

ro. O sublime e o mesquinho.

JT – Que conselho dá para os jovens atores? Ain-da é importante fazer artede vanguarda e buscar expe-rimentações em suas obras?

PB – O importante é ler gran-des romances, cuidar do cor-po, ver grandes lmes, peças...Viver intensamente e não “se poupar”.

JT – Em declaração, na últi-ma edição do Jornal de Teatro, você a rmou que to do ator, por uma deforma ção pro s-sional decor ren te do ofício, éva i doso. Como não deixar a vaida de in uenciar o trabalho?

PB – Temos que equilibrar a vaidade e a nossa insegurança.Não deixar que nenhuma so-bressaia.

Fábio Toledo

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12 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Por Felipe Prestes

As artes, muitas vezes, manifestam-se como o limiar entre loucura e razão. Talvez, pelo detrimento da racionali-dade em favor da sensibilidade. Em Porto Alegre, a busca pela ocupação de espaços ociosos levou parte da cena teatral a um contato inusitado com a loucura. Desde 1999, grupos têm utilizado pavilhões que estavam abandonados no Hos-pital Psiquiátrico São Pedro, pertencente ao Estado, para ensaios, o cinas e atividades como montagem de cenários.

O local, além de ser o es-paço que tanto as companhias precisam para se manter, pro-porciona re exão sobre ques-tões sociais que envolvem a oposição entre loucura e nor-malidade. A parte do hospital utilizada pelas companhias tem ainda o apelo estético que pou-cos lugares podem oferecer.

O então Hospício São Pe-dro foi inaugurado em 1884, ainda durante o Segundo Rei-nado. Era o primeiro espaço destinado aos “alienados” em Porto Alegre e em toda a Pro-víncia de São Pedro do Rio Grande do Sul. O enorme so-brado de dois andares remete ao século XIX. Os portões en-ferrujados e as janelas em arco dão um charme todo especial para quem faz arte no local.

Não poderia haver lugar mais apropriado para que o grupo Falos e Stercus montas-se a peça “In Surto”, que abor-dava a temática da loucura. Foi nesse projeto que, há dez anos,

Reportagem

Na Casados LoucosPrédio histórico do Hospital Psiquiátrico São Pedro serve de base para grupos de teatro em Porto Alegre

primeiro se levou teatro para o Hospital Psiquiátrico São Pe-dro. “Sempre tivemos o per l de buscar espaços na cidade para apresentação de nossos trabalhos”, conta Alexandre Vargas, um dos fundadores do Falos e Stercus.

O grupo que montou o “In Surto” falou diretamente com a direção do São Pedro, que atendeu o pedido dos artistas. “Coincidiu com um forte de-bate da luta anti-manicomial. Então foi um momento pro-pício para a entrada do teatro no espaço”, explica Alexandre. No mesmo período, 144 inter-nos foram transferidos para moradias, deixando espaços abandonados.

A temporada do “In Sur-to” teve boa repercussão, mas foi montada do lado de fora do prédio. Os pavilhões cinco e seis do hospital se encontra-vam cheios de entulhos, como camas e documentos.

As apresentações geraram interesse da Bienal do Merco-sul. A organização deste even-to conseguiu limpar a área para uma de suas instalações e isso impulsionou o pedido do Falos e Stercus para utilizar aquele espaço, novamente atendido pela direção do hospital. Ao longo dos dez anos outros gru-pos foram ocupando espaços dos pavilhões.

Entre estes, está o Oigalê – Cooperativa de Artistas Tea-trais, que em 2002 fez um pedi-do junto à direção do hospital para também utilizar as depen-dências. “Sem um local como este, nosso trabalho ca inviá-

vel. Todos os grupos que estão aqui são de pesquisa, têm um trabalho continuado”, explica Vera Parenza, atriz e produtora que faz parte do Oigalê.

O tipo de utilização do Hos-pital São Pedro se tornou refe-rência para o projeto Usina das Artes, que foi celebrado como lei municipal em 2009 e cede es-

Para Alexandre Vargas, a atu-ação das companhias não tem sido vista com bons olhos pelas novas administrações estaduais, desde 2003, quando a Secreta-ria Estadual de Cultura passou a interferir no local. “Primeiro, uma antiga diretora do Lacen (Insti-tuto Estadual de Artes Cênicas) fez auto-propaganda utilizando o espaço, no qual não fez mais que reformar um banheiro. Depois co-meçaram a surgir boatos de que o prédio seria destinado para uma empresa ligada à fabricação de computadores”, conta.

Hoje, há o permanente te-mor de que os grupos tenham de ser realocados. “Existem boatos de que o governo pre-tende instalar uma empresa que fabrica computadores aqui, utilizando a Uergs (Universidade Estadual do Rio Grande do Sul) como ponte”, diz o ator.

Juliana Erpen, diretora-geral da Secretaria de Cultura do Esta-do, afirma que a direção do hospi-tal tem planos para a área, sobre os quais não conhece detalhes. Vera Parenza considera que a vi-são que o atual governo tem para com a saúde mental condiz com a retirada dos grupos.

“Quando entramos aqui, havia uma diretoria no hospital que con-siderava que o paciente precisava interagir com o mundo, que esta-va ligada à luta anti-manicomial. A

paços da Usina do Gasômetro, dando a possibilidade que gru-pos de atuação continuada pos-sam gerir salas do prédio histó-rico, também em Porto Alegre.

Pavilhões abandonados de unidade servem para ensaios, o cinas e atividades como montagem de cenários. Eles proporcionam re exões sobre os aspectos da loucura e da normalidade

GRUPOS PODEM PERDER O ESPAÇO nossa presença estava bastante co-nectada a isso. Agora parece que as coisas estão voltando atrás, no sen-tido de manter os internos afastados do convívio com outras pessoas”.

Por ora, o que tem garantido a permanência dos artistas tem sido as atas das reuniões que são realizadas periodicamente com a Secretaria da Cultura, nas quais este órgão se com-promete a ceder o espaço. O que os grupos querem, porém, é poder gerir a área em comodato (contrato gra-tuito, que cede temporariamente o lugar), o que dificilmente deverá ocor-rer. Vera Parenza também lamenta o fim das apresentações e ressalta que se deve a uma mudança no tratamen-to dos pacientes.

“Era super saudável, havia uma troca muito boa. Muitas vezes na en-trada do hospital não se sabia quem era espectador da peça e quem era paciente aguardando atendimento”, diz Vera, que conta, também, que a diretoria que acolheu os artistas incentivava as apresentações, por considerar importante este contato entre os doentes e as pessoas ditas normais, e até ajudava na impressão do material de divulgação das peças.

As que eram apresentadas para os internos foram uma grande per-da, em termos da experiência que proporcionavam. “Eles tinham por nós um grande respeito. Via neles uma ingenuidade muito grande, e havia forte desconstrução sobre o comportamento da plateia”, relata

Alexandre. “Era um rompimento da formalidade. Se o interno tinha vontade de se expressar no meio da peça, ele o fazia”, exemplifica Alexandre, acrescentando que a possibilidade de haver maior in-terface com os “loucos” não é tão simples, pois é necessária uma qualificação especial.

“Não basta ser ator para saber lidar com essas pessoas. Existe uma série de cuidados es-peciais, medicamentos que pre-cisam tomar, objetos que não po-dem estar por perto”. O escritor também explica como a loucura influencia o teatro. “Não vejo relação entre loucura e teatro, mas há uma certa ‘desrazão’ que precisamos ter ao pensar a arte”. Alexandre relata que tipo de re-flexão o trabalho no São Pedro proporciona. “Há uma visão sim-plista sobre a loucura. Tem muito mais de abandono e exclusão do que propriamente uma doença que obrigue alguém a ficar deste lado dos muros”.

Muros que têm significados opostos para “loucos” e artistas. Para os primeiros, a liberdade pode estar do lado de fora. Já os grupos de teatro conseguiram certa autonomia do lado de den-tro. Mas os interesses governa-mentais muitas vezes preferem ver ambos no sentido contrário daquele que pode lhes trazer mais felicidade. Uma loucura!

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1316 a 31 de Julho de 2009Jornal de Teatro

Reportagem

Cena de “ Hysteria”, que retrata a vida de mulheres internadas em asilos psiquiátricos

Por Danilo Braga

A loucura, segundo explica a psicologia, é uma disfunção nas mentes humanas que a faz ter pensamentos não aceitos e entendidos normalmente pelos instrumentos de entendimen-to e cognição da sociedade em que vive o paciente. Pode ser causada por uma doença ou ser a própria doença tomando conta do corpo do paciente. A interpretação, segundo acreditam alguns atores, é em-prestar o seu corpo à uma per-sonagem, que vai gritar, chorar, sentir e existir através do seu corpo. Essa interpretação é uma forma de fugir da sua re-alidade e adotar para si, outra. Na esquizofrenia, bipolaridade, psicose e em todas as formas de insanidade mental, você em-presta o seu corpo para a doen-ça, que possui e domina a sua mente. A sua realidade passa a ser a doença.

O interessante acontece quando há a fusão desses dois casos – o ator empresta o cor-po à uma personagem que vai sublocar o seu corpo à uma doença ou insanidade. Além de exigir esforços adicionais do ator, um papel como esse exige uma pesquisa e uma sensibili-dade ímpar, entre berros, mur-ros e qualquer outra forma em que a loucura possa se manifes-tar. Certamente não é um tra-

Quem é o insano aqui?Montagens abordam o tema de diversas maneiras. Afinal, não é louco quem só ri e quem só chora?

balho fácil, mas temos grandes exemplos de montagens onde a insanidade levou o público e a crítica à loucura (esta, no sen-tido mais ameno da palavra). Um dos maiores nomes quando se pensa em loucura é “Hysteria”, do Grupo XIX de Teatro. A montagem é focada na mulher brasileira que viveu no País na transição entre o rural para o industrial. O texto surgiu da descrição das condi-ções em que viviam as mulhe-res internadas em asilos psiqui-átricos da época. Atualmente está em cartaz pelo Sesc Santa Catarina, em Florianópolis, com o projeto Palco Giratório. “Gotas ao Dia” aborda o tema de outra forma: Lyssa acorda em um hospital psiqui-átrico, sob observação. Tenta, ao decorrer do texto, enten-der o porquê de estar naque-le ambiente, em que período da história ela vive, que dia e que horas serão. Foi apresen-tada no Teatro Augusta, em São Paulo e foi a montagem de estréia do grupo Teatro de Risco. Assim como “Hysteria”, a montagem foi fruto de pes-quisa baseada em casos reais de doenças mentais. Outro espetáculo que cuida do tema da loucura é “Toc Toc”, escrita pelo francês Laurent Baf e. Em cartaz até 2 de agosto no Teatro do Leblon, no Rio de Janeiro, a peça apre-

senta seis personagens com TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo. As personagens que se mostram incomodadas e, de certa forma, até com ver-gonha de seus transtornos pas-sam a dialogar sobre o assunto e a sala de espera do consul-tório se torna uma espécie de autoterapia entre os pacientes. Indo nas origens mais profun-das da literatura clássica lo-só ca, a encenação “Filoso a

Tanto a obra – sejam suas pe-ças teatrais, romances, crônicas, memórias e folhetins, entre ou-tros – quanto a vida do escritor Nelson Rodrigues (1912-1980), considerado, com justeza, o dra-maturgo brasileiro mais ousado, criativo e inovador de todos os tempos, o remetem ao obsessi-vo tema da morte. Mesmo que o adultério, as complexidades se-xuais, taras e incestos sejam, tam-bém, temas recorrentes, a Morte protagoniza, de uma forma ou de outra, cada uma de suas obras.Mesmo sabendo que a obsessão é apenas um desvio comportamen-tal, que de tal mania possa sur-gir um desconforto mental para quem a sente ou para aquele que é o alvo do obsedado, concorde-mos que tal mania exacerbada é potencial condutora da loucura, ou, no mínimo, de atos insanos.

Basta seguirmos a trajetória de duas personagens rodrigue-

da Loucura”, da Cia. Fuzarca de Teatro é inspirada na obra “Elogio da Loucura”, do escri-tor, lósofo e teólogo Erasmo de Rotterdam. O espetáculo traz personagens acorrenta-dos por uma cadeia de acon-tecimentos onde a fé, o amor, a vingança, o ódio e a paixão formam a colcha de retalhos do texto ímpar de Erasmo.

Essas montagens levan-tam uma questão que pode

aparecer no público, eventu-almente: onde reside a loucu-ra? Está mesmo embutida em nós como diz o “Elogio da Loucura”? Uma mera carac-terística humana, como suge-re “Hysteria”? Fruto da pós-modernidade gerada na vida urbana, como em “Toc Toc”? Todas essas montagens dão vazão à questionamentos peri-gosos que, por sua vez, podem despertar a loucura em você.

A OBSESSÃO DE NELSON RODRIGUESPor Michel Fernandes, especial para o Jornal de Teatro

anas para constatarmos o quão negativo tem a obsessão que Nel-son Rodrigues utiliza para conce-ber a psique de suas personagens: Moema, protagonista de uma de suas Tragédias Míticas, “Senhora dos Afogados”; e Zulmira, perso-nagem principal de “A Falecida”, tragédia carioca do autor. Tanto uma quanto a outra personagem personi cam na morte sua ob-sessão. Se, por um lado, Moema vislumbra nas mortes que causa o único meio para atingir seu m, por outro, Zulmira acredita que sua morte lhe trará a redenção de seus pecados e planeja seu velório com requintes de quem deseja, a qualquer custo, recuperar a digni-dade que sua situação social nun-ca lhe permitiu exercer.Em encenações que pretendem deixar a vaga localidade carioca e as referências ao cotidiano que, como observou o estudioso Da-vid George em “Grupo Macunaí-

ma: Carnavalização e Mito” (série Estudos da Editora Perspectiva), faz a dramaturgia rodrigueana parecer datada e de maior inteli-gibilidade a alguns nichos sociais do Rio de Janeiro, o diretor Antu-nes Filho mergulha num universo “mítico e arquetípico” em suas incursões ao universo drama-túrgico do autor. David George aponta a montagem “Nelson 2 Rodrigues” (1984), que conden-sava as peças “Álbum de Família” e “Toda Nudez Será Castiga-da” – na realidade a redução do espetáculo Nelson Rodrigues – “O Eterno Retorno” (1981) que trazia mais duas peças do autor: “Os Sete Gatinhos” e “O Beijo no Asfalto” – tão fundamen-tal ao teatro brasileiro quanto a montagem de “Vestido de Noi-va” (1943), por Ziembinski. Para David, o “teatro moderno brasi-leiro poderia ser situado” entre “essas memoráveis montagens

de textos de Nelson Rodrigues”.Esse preâmbulo da história de nosso teatro serve tão-somente para notarmos a agudeza arque-típica no tratamento de suas per-sonagens e como Antunes Filho trata com cuidadoso bisturi suas dissecações das mesmas em mon-tagens memoráveis. Assim o fez, ano passado, com a controversa encenação de “Senhora dos Afo-gados”, elevando a tragédia da família Drummond ao posto da falta de paradigmas que a Institui-ção Família, e Moema (na monta-gem vivida pela atriz Angélica di Paula) ao arquétipo do sombrio e vazio vindos com essa ausência de modelos. Esse ano, Antunes retorna a Nelson com “A Faleci-da Vapt-vupt”, sua terceira incur-são a peça “A Falecida” (encena-da por ele, em 1965, com alunos da Escola de Artes Dramáticas, e no espetáculo “Paraíso Zona Norte”, em 1989) e ca já a curio-

sidade em saber como ele tratará a obsessão de Zulmira e de cada um dos personagens da obra.

Michel Fernandes é jor-nalista cultural, crítico e pes-quisador de teatro. Editor do www.aplausobrasi l .com.br

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14 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Por Paloma Jacobina

Juliana (nome ctício) não pôde estar presente ao enterro do seu irmão mais velho e nunca se perdoou por isso. Por mais de 10 anos, um sentimento de culpa e solidão a corroeu por dentro, levando para longe a tranquilidade de uma mente já inquieta. Só mais de uma década depois, a paciente esquizofrênica da terapeuta de fa-mília e casal, Isabel Rosana Barbosa, pôde chorar sua perda e, nalmente, enterrar o irmão perdido. Foi no palco dramático, cercado por entes queridos interpretados por colegas de terapia e se despedindo de um caixão ilusório que Juliana se sen-tiu livre para colocar sua dor para fora.

A loucura sempre foi tema de l-mes, livros e personagens históricos. Grandes artistas sempre estiveram no limiar entre os devaneios e a realidade do mundo que os cercam, em especial quando mergulham em personagens com carga dramártica pesada. Foi o que aconteceu com o ator baiano Ângelo Flávio na pele do ‘aprendiz de margi-nal’, Tonho, vivido no longametragem de Paulo Alcântara, “Estranhos”. “O cheiro de pólvora impregnou minha mão por muito mais tempo do que qualquer um imaginaria”, relembra.

Ao contrário do que se esperava, o apagar das luzes não suprimiu a dor do malandro Tonho, nem a arrancou do peito do ator. “Construí no Tonho um típico malandro brasileiro, mas também dei a ele hombridade e assas-sinar a garotinha acabou com ele e co-migo também. Ficamos os dois muito mal por muito tempo”, revela.

Segundo Ângelo Flávio, é impossível construir um personagem denso sem ter a aura imaculada pela realidade interpre-tada. “É muito difícil viver sem aprender com os personagens. Isso, porque, para construir personagens completos, abri-mos mão dos nossos princípios morais e culturais, e não há como fazer isso e sairmos ilesos. Nesse processo, nós so-fremos, aprendemos e nos humaniza-mos”, concluiu.

E nesse jogo de vida e arte, persona-gens ilusórios se misturam àqueles reais no intuito de emocionar, construir e de-formar a nossa realidade. Foi assim que Ângelo Flávio trabalhou durante muitos anos no Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, acompanhando o grupo de apoio psicossocial Gira Mundo e viven-do um pouco da loucura de cada um dos internos como forma de se aproximar deles. É assim que a professora e mem-bro do Conselho Baiano de Psicodrama, Isabel Rosana, trabalha até hoje as pesso-as que têm na realidade do dia-a-dia seu maior medo de viver.

Defensora da técnica desenvolvida pelo médico romeno Jacobo Levy Mo-reno para o tratamento de pacientes com os mais variados tipos de problemas psicossociais, Isabel Rosana explica que oferece uma proposta terapêutica, de tra-tamento. “Você não interpreta uma mo-dalidade teatral, e sim, a sua vida. E isso faz toda diferença. Digo isso, porque, ao

Drama RealHistórias de superação através do psicodrama

interpretar a própria vida, você leva toda a carga de emoção que viveu para aquele momento e isso vai te ajudar a trabalhar questões que estão dentro de você, te ma-chucando”, explica.

De acordo com a pro ssional, o psi-codrama possibilita ao paciente a entrega total a emoções reprimidas. Durante as sessões, divididas em aquecimento, dra-matização e comentários, a assustadora realidade é enfrentada com o apoio de pro ssionais. “A sala é chamada de pal-co dramático. Nela, surge o protagonis-ta. Por exemplo, na terapia de grupo ou no grupo de várias pessoas, alguém leva um tema de alguma situação que esteja vivendo e esse tema é levado para ser re-presentado no palco dramático”, revela.

Diferente do teatro, que leva ao palco a vida dos outros, o texto feito por um autor no psicodrama se leva aos palcos a própria vida. Segundo Isabel, o psicodrama não é só dramatização, mas a base para outras técnicas que se chamam técnicas de ação. “Quando eu falo ‘ir ao palco dramatizar’, não necessariamente seja uma utilização de uma historinha, mas podemos utilizar ou-tros recursos para que o protagonista possa trazer a sua história e possa ser tratada”, re-vela Isabel Rosana.

Segundo a pro ssional, ao dramatizar a própria vida, o paciente leva para o palco algo que já fez. “Por exemplo, você tem uma relação difícil com sua mãe, então o terapeuta pede para que você entre em cena e dramatize isso. Ao interpretar situações e sensações do cotidiano, você se dá conta do seu próprio personagem naquele con-texto”, detalha.

É quando o paciente, nalmente, se dá conta das próprias ações, das for-mas como age e como responde. E isso acontece não só na dramatização. Ao contar a própria história, mas a partir dos recursos que o diretor do psicodra-ma utiliza, o paciente vai se dando conta do que acontece. É quando ele percebe que atitude tem em relação à mãe.

Mas existem restrições no uso do psico-drama em pacientes. Alguns pro ssionais, inclusive, desaprovam o uso da técnica em psicóticos, apesar da doutora Isabel Rosa-na a rmar que elas podem apenas variar, de acordo com a necessidade de cada um. “Algumas técnicas não são recomendadas, mas não existem proibições. Na escola, você tem uma disciplina que é psicodrama para psicóticos. Infelizmente, a sociedade em geral ainda tem pouco conhecimento. Mas isso acontece até nas pessoas da área psíquica. O pior é que associamos essa fal-ta de conhecimento ao preconceito que as pessoas têm. O meu desejo que as pessoas se abrissem mais e pudessem entender, ler e estudar o psicodrama para tirar a visão preconceituosa e preconcebida que existe”, desabafa a especialista.

“Não vou usar qualquer recurso com o psicótico, mas o psicodrama tem uma in -nidade de coisas que podem ser usadas. O psicodrama é mais uma alternativa dentre as outras que podem ser utilizadas para tra-tamento de pacientes ou é mais e caz ou mais especí co. Como se encaixa no uni-verso da psicanálise e psicoterapia. Um bom

exemplo é traba-lhar com objetos interme-diários. Trabalhar a dramatização, consi-derando que a gente não vai esperar que o portador de doença mental aja como um indivíduo neurótico ou normal sem graves problemas psicóticos”, explicou.

O uso do psicodrama no tratamento de pacientes com distúrbios psicológicos é hoje tão bem aceito no meio pro ssional, que o aumento pela procura e oferta de cursos que preparem os pro ssionais tem aumentado signi cativamen-te. Atualmente, eles podem ser en-contrados em vários lugares do Brasil, reunidos em torno da Federação Brasileira de Psicodrama e das associações estaduais. A maioria dos cursos está nas universidades federais, e São Paulo é o local que tem mais escola de psicodrama.

Pode ser usada para diversas interven-ções. “No caso da utilização para psicóticos eu considero um excelente recurso, inclusi-ve, além da psicanálise. Muito psicanalista não atende pacientes psicóticos, porque acredita que não possui ferramentas para isto. Um paciente com transtorno men-tal pode ter no psicodrama uma excelente ferramenta para o cuidado terapêutico”, naliza.

Reportagem

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Por Ive Andrade

Com quase 20 anos de pro ssão, o caracterizador Anderson Bueno tem em seu currículo grandes espetáculos como “O Fantasma da Ópe-ra”, “Godspell” e “Victor ou Victória”. Os dois últimos marcaram por serem traba-lhos desa adores, verdadei-ros divisores de águas em sua carreira. “No ‘Fantasma’ não houve trabalho de criação propriamente dito. Eles trou-xeram o material e tínhamos que seguir à risca. Em termos de execução foi ótimo, pois, no Brasil, não temos esse tipo de espetáculo. Ainda estamos caminhando para ter um busi-ness de entretenimento como o americano”, explica.

Como um dos efeitos que colocam o ator em contato com sua personagem, a caracteri-zação teatral é fundamental na construção de qualquer história. Seja sutil, em uma maquiagem básica, ou agressiva, em um processo de envelhecimento, o papel do caracterizador é tirar a personagem do papel e trazê-la para a realidade. Para executar tal tarefa, o visagista não é a úni-ca peça fundamental.

“[Em primeiro lugar] ouço a intenção do diretor, falo com o gurinista para podermos seguir a mesma linha e conver-so com o ator para decidirmos

Formando personagens através da maquiagemCaracterizadores usam seus inúmeros recursos para dar vida às histórias que vemos nos palcos e traduzir a fiel imagem das personagens

Técnica

Marketing Cultural

Por Pablo Ribera

O centro de educação Cul-tura Inglesa trabalha no Brasil com o propósito de não ser apenas uma escola de idiomas, mas, também, como propa-gadora da cultura britânica no nosso País. E uma de suas ferramentas para concretizar esse projeto é o teatro. A esco-la apoia espetáculos realizados por dramaturgos de origem britânica, visando um entendi-mento maior das pessoas sobre a importância desses autores. “O que fazemos são pequenos apoios a peças em cartaz, para que, assim, a cultura da Grã-Bretanha seja propagada no Brasil”, disse o gerente cultural da escola, Laerte Mello.

Um exemplo é o patrocínio do centro de educação para a peça “DNA”, de Dennis Kelly. No enredo, um grupo de ado-lescentes comete um grave erro por levar uma brincadeira

Cultura Inglesa apoia espetáculos de dramaturgos britânicosàs últimas conseqüências e, na tentativa de ocultar o ato, se en-volve em uma série de aconte-cimentos que complicam, cada vez mais, a delicada situação.

Além de apoio, a Cultura Inglesa promove uma série de espetáculos culturais baseados em autores ingleses. O Cultu-ra Inglesa Festival, realizado anualmente, apresenta formato original, inaugurado em 2004, no qual a cultura britânica é in-terpretada e recriada por artis-tas brasileiros das áreas de artes visuais, do cinema, da dança e do teatro adulto e infantil. Com o patrocínio da Cultura Inglesa, os projetos escolhidos por uma curadoria de jornalis-tas, acadêmicos e artistas das diversas áreas se transformam em 15 atrações produzidas es-pecialmente para o festival.

Na última edição, em maio deste ano, a Cultura Inglesa disponibilizou, ao todo, R$ 487 mil para patrocinar a produ-

ção dos projetos selecionados. Dessa verba, R$ 25 mil foram destinados para premiar as me-lhores produções. O patrocínio para cada um dos três projetos escolhidos por área foi distri-buída da seguinte maneira: R$ 36 mil (Teatro Adulto), R$ 31 mil (Teatro Infantil, Dança e Cinema Digital de cção e ani-mação) e R$ 25 mil para Artes Visuais.

Uma das peças premiadas foi “Celebração”, do inglês Harold Pinter. A história se passa em um restaurante, onde os personagens Julie e Lambert comemoram seu aniversário de casamento, acompanha-dos de um casal formado pela irmã dela, Prue, e do irmão dele, Matt. Em outra mesa, o banqueiro Russel celebra seu sucesso pessoal com a esposa Suki. A vulgaridade e insensi-bilidade grosseira desses perso-nagens é a característica princi-pal da obra.

Encenadas em português, as peças de teatro adulto de-vem ser de autoria de drama-turgo britânico ou inspiradas em textos literários ou poéticos de autores britânicos, e ser diri-gida ao público jovem (a partir dos 14 anos). Os espetáculos infantis deverão ser voltados a crianças a partir de 7 anos e inspirados na arte ou na cultura inglesa. As montagens poderão seguir padrões convencionais de encenação ou adotar os for-matos dos espetáculos de rua e teatro de bonecos. Os projetos

de dança deverão propor co-reogra as inéditas inspiradas na obra de um ou mais artistas plásticos britânicos. A temática deverá ser dirigida a jovens a partir de 14 anos.

Os candidatos podem aces-sar o site www.culturainglesasp.com.br/festival para conhecer o regulamento do processo de seleção, obter cópia da cha de inscrição e esclarecer dúvidas por meio do e-mail [email protected]. As inscrições para a 14ª edição do festival já estão abertas.

qual será a personalidade des-sa personagem”, explica Bue-no, que, atualmente, trabalha no musical “Hairspray”. Sua equipe, composta por seis pes-soas, transforma o ator Edson Celulari em uma dona de casa acima do peso em todas as apresentações. “No caso do Edson, por exemplo, optamos por uma peruca toda desgre-nhada, pois é assim que ele está montando a personagem, é uma mulher que não passa um pente no cabelo sequer, totalmente desleixada”.

Apesar de sempre atrás das coxias, o caracterizador tem um trabalho desa ador: cabe a ele propor uma etapa essencial do físico do personagem, o que inclui embelezar, envelhecer ou até mudar o sexo do ator, mas sem deixar que resultado nal que óbvio. “Hoje em dia, o público não quer ser iludido no teatro. Deseja que o ator mos-tre atitude e não que escon-dido atrás de uma máscara”, a rma o coordenador do curso de maquiagem, caracterização e improviso do Tuca, Pablo Moreira. “Existe uma busca pela sutileza. Hoje são poucos os teatros com mais de mil lu-gares em que a maquiagem tem que ser mais pesada, pois o pú-blico não ca mais tão distante. E os produtos existentes ago-ra possibilitam essa sutileza”, completa Bueno.

Mas, como é comum no meio teatral, não basta, ape-nas, talento. “Antes de mais nada, é preciso que exista res-peito pela pro ssão. Acontece muito de o artista querer car lindo, independentemente se a personagem é alcoólatra, um monstro ou um louco. Mas ele deve ouvir as ideias do ca-racterizador e vice-versa para executar um bom trabalho”, a rma Bueno.

Além disso, no Brasil, a oferta de produtos de maquia-gem é escassa e os materiais existentes geralmente são ca-ros, o que di culta o trabalho dos caracterizadores. Cursos sobre a área ajudam os atores a desenvolver o trabalho básico de caracterização. “Nossa in-tenção com o curso é mostrar para os pro ssionais da área o básico, que é possível fazer com muito pouco. O ator deve saber pelo menos disfarçar al-guma marca, passar base e lá-pis de olho. Até porque o ca-racterizador, muitas vezes, não permanece durante todas as apresentações, isso só acontece nos grandes espetáculos e mu-sicais”, ressalta Moreira, que também explica que a caracte-rização pode ser simples, mas que sempre deve existir, tanto em atrizes quanto nos atores. “São artifícios que pode não parecer, mas são essenciais”.

Muitos caracterizadores

trabalham com cinema, teatro, televisão, moda, publicidade e convivem com as diferenças que essas áreas exigem. No teatro, a exatidão é fundamen-tal, pois o caracterizador não pode entrar no meio da cena para retocar ou corrigir algum erro. Mas é inevitável que algo aconteça em quase duas dé-cadas de carreira, como con-ta Bueno. “No ‘Fantasma’ tinham próteses e na minha primeira semana sozinho, sem os americanos auxiliando, a prótese começou a descolar do rosto do ator Saulo Vas-concelos, o que estragaria o espetáculo para o público. Ainda bem que o Saulo é um pro ssional que soube lidar com a situação e a gente re-mediou rapidamente durante uma de suas trocas de roupa”.

Para Bueno, o teatro tam-bém possibilita que o carac-terizador trabalhe muito mais criativamente e artisticamente. “No teatro, você faz parte do processo de criação, do uni-verso daquela produção. Já na moda poderia ser qualquer ou-tro fazendo seu trabalho”, ex-plica o visagista, que também dá aulas na área corporativa, sobre como se maquiar no seu dia a dia, trabalho que não exi-ge tanta criatividade, mas que exempli ca a importância da caracterização, ainda que seja para atuar apenas na vida real.

Bueno (de preto) e o ator Edson Celulari, à carater, antes de subir ao palco em “Hairspray”: peruca desgrenhada para uma dona de casa acima do peso

“Celebração”, de Harold Pinter, é uma das peças apoiadas

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16 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Rio de Janeiro

Um dos palcos mais char-mosos e históricos do Brasil completou 100 anos com uma festa que esteve à altura do nome do Theatro Municipal do Rio. Inaugurado em 1909, no dia 14 de julho, o local tornou-se rapidamente o centro da ati-vidade lírica e teatral da então capital do País. Hoje, é uma das maiores atrações turísticas da cidade. Fechado desde outubro de 2008 para obras de restaura-ção e modernização, com previ-são de término para novembro deste ano, o teatro teve seu cen-tenário comemorado na data de seu aniversário com muita dança e música em um grande palco armado na Cinelândia, além de uma grande exposição montada no interior do prédio, que lembrou os principais mo-mentos da casa.

A celebração, patrocinada pelo Governo do Estado do Rio através da Secretaria de Estado de Cultura, começou pela ma-nhã, quando cerca de três mil pessoas tiveram acesso ao inte-rior do Theatro Municipal para ver a exposição que reúne fo-tos de seus grandes momentos, além de documentos, programas e gravações. Às 14h, começaram as apresentações da Orquestra Sinfônica, do Coro e do Ballet do Theatro Municipal.

As principais estrelas do Cor-po de Baile do Theatro Munici-pal estiveram presentes, incluin-do a consagrada bailarina Ana Botafogo. A programação teve trechos de “Floresta Amazôni-ca”, “O Corsário” e “Coppelia”. Já às 20h, com a presença de dois importantes nomes da música lírica internacional, o tenor ar-gentino Marcelo Álvarez e a so-prano coreana Sumi Jo, o Coro e a Orquestra Sinfônica do Thea-tro interpretaram um repertório franco-brasileiro, com regência do maestro Roberto Minczuk. O objetivo do programa foi lembrar as origens do histórico prédio, nascido no orescer da república brasileira e inaugurado no dia da celebração da queda da Bastilha. É também uma ho-menagem ao Ano da França no Brasil, comemorado esse ano.

A comemoração pelo cente-nário de um centro de cultura tão importante para o Rio de Janeiro mexeu com políticos e autorida-des. “Foi um instrumento funda-mental de emancipação do povo. O Theatro Municipal é uma joia

C O M E M O R A C E N T E N Á R I O C O M G R A N D E F E S TA

Theatro MunicipalAniversário de palcohistórico foi marcado por muita música e dançaPor Felipe Sil

THEATRO MUNICIPAL: CEM ANOS DE GLÓRIA

da coroa do Rio de Janeiro. Co-memorar o seu centenário é co-memorar história e emancipação com o prazer que o Theatro gera ao nosso povo”, festeja o gover-nador do Rio, Sérgio Cabral.

A secretária de Estado de Cultura, Adriana Rattes, tam-bém não cansou de tecer elogios ao prédio histórico. “O Theatro Municipal é um pilar da cultura brasileira e poder comemorar seu centenário com uma refor-ma histórica, que o devolverá a seu viço original, é também uma forma de homenagear o traba-lho de todos os artistas que tra-balharam ou trabalharão no tea-tro e de presentear o público do Rio de Janeiro”, celebra.

A celebração do centenário do Theatro Municipal incluiu,

também, os lançamentos de uma moeda e um selo comemo-rativo da data. Diversos funcio-nários da casa foram homena-geados por serviços prestados em um cerimônia que contou com a presença dos atores Sér-gio Britto e Fernando Eiras.

“É uma honra e um pre-sente estar à frente do Theatro num momento tão importan-te de sua história, conduzindo uma obra que vai devolver ao Municipal toda a nobreza que ele tem e que merece ter intac-ta. É muito bom poder estar ao lado da equipe bárbara que tenho aqui, essencial para que eu possa executar tarefas tão importantes, não só na parte da programação, mas como todo o trabalho de restauração, que

é muito delicado. É um orgu-lho estar aqui neste centenário. Agradeço a secretária Adriana Rattes e o governador por te-rem entregue a joia da coroa em minhas mãos”, diz Carla Ca-murati, presidente da Fundação Theatro Municipal.

No momento, o teatro pas-sa não só por uma reforma em sua parte estrutural (hidráulica, elétrica, etc), como também por uma grande modernização. A ideia é reabrir o Theatro Munici-pal para o público em novembro com todo o charme centenário do prédio intacto, mas com um atendimento ao público e aos ar-tistas dignos do atual século.

PROGRAMAÇÃOO tradicional Dia do Mu-

nicipal de Portas Abertas, que acontece todos os anos na data do aniversário da casa, foi co-memorado mesmo com o pré-dio em obras. Pela manhã, o público pôde entrar no prédio para apreciar uma exposição montada aos trabalhos de res-tauração. A história do Theatro Municipal foi contada desde o projeto de sua criação, no início da década de 1900, até os dias atuais, por meio de um grande acervo de fotos digitalizadas.

São aproximadamente mil fotos, além de vídeos e seis dife-rentes partes: os artistas célebres que passaram pelo palco da casa; os grandes espetáculos e eventos que zeram parte da programa-ção do Municipal; documentos que contam a história da casa, como plantas, croquis e progra-mas; imagens da construção do prédio; detalhes de peças deco-rativas, como as estátuas, vitrais e afrescos que se espalham pelo Municipal; e as personalidades que passaram por lá. Na exposi-ção estavam imagens de artistas da música, da dança e das artes cênicas. São nomes como Enri-co Caruso, Toscanini, Nijinsky, Fernanda Montenegro, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Oscar Niemeyer.

A partir das 14h, entraram em cena os bailarinos do Cor-po de Baile do Municipal. Eles apresentaram trechos de vários balés consagrados. Os princi-pais dançarinos da companhia como Márcia Jacqueline, Nora Esteves, Filipe Moreira e Cícero Gomes estavam em cena.

Às 20h, teve início o grande concerto da noite, com a Or-questra do Theatro Municipal, regida por Roberto Minczuk, e a participação do Coro do Theatro, além dos cantores líri-cos Marcelo Álvarez e Sumi Jo. O público ainda assistiu a mais dois números de dança dentro desse show especial. No pro-grama noturno, Ana Botafogo e Francisco Timbó dançaram um trecho de “Floresta Ama-zônica”, com coreogra a de Dalal Achcar; e, para encerrar, foi apresentada a peça “Grand Finale”, também coreografada por Dalal Achcar, reunindo no palco Ana Botafogo, Cláudia Mota, Márcia Jaqueline, Fran-cisco Timbó, Filipe Moreira, Cí-cero Gomes e o Corpo de Baile. Durante as apresentações, os bailarinos foram acompanha-dos pela orquestra e pelo coro do Theatro Municipal, além da cantora Sumi Jo, que inter-pretou “Canção de Amor”, de Villa-Lobos, na apresentação de “Floresta Amazônica”.

“ Floresta Amazônica”, de Villa-Lobos, é encenada em comemoração aos cem anos de Theatro

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1. Ballet Corpo de Baile do Theatro Municipal. 2. Getúlio Vargas no Carnaval de 1951. 3. Leskova, Tatiana e Tamara-Taumanova no Theatro Municipal. 4. Cacilda Becker, Manoel Bandeira e Cleyde Yaconis. 5. La Travia a de Ze reli de 1979. 6. Orquestra com Violeta Coelho Ne o de Freitas. 7. Funcionários na década de 60. 8. Postal colorizado do Theatro Municipal. 9. Postal do Theatro Municipal com a Praça Marechal Floriano, no Rio

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1716 a 31 de Julho de 2009Jornal de Teatro

De Angola:- Grupo Elinga TeatroEspetáculo “Kimpa Vita: A Profe-tiza Ardente” - texto e direção de José Mena Abrantes- Grupo Horizonte Nzinga BandiEspetáculo “Sobreviver no Tarra-fal” - texto de Antônio Jacinto e direção de Adelino Caracol

Do Brasil:- Cia. Luna Lunera (Belo Horizon-te-MG)Espetáculo “Cortiços” - concep-ção da Cia. Luna Lunera e Tuca Pi-nheiro e direção de Tuca Pinheiro- Cia. de Teatro Antroexposto (São Paulo-SP)Espetáculo “Complexo Sistema de Enfraquecimento as Sensibilidade” - texto e direção de Ruy Filho

De Cabo Verde:- Grupo de Teatro do Centro Cultu-ral Português de MindeloEspetáculo “No Inferno” - texto e direção de João Branco- Companhia de Teatro Solaris

Festlip promove intercâmbio cultural entre países lusófonosPor Daniel Pinton

Se por um lado a aplicação do Novo Acordo Ortográ co da Língua Portuguesa trouxe a equiparação da escrita entre os países colonizados por Portugal, a segunda edição da Festlip (Fes-tival de Teatro da Língua Portu-guesa), ocorrida de entre os dias 2 e 12 de julho, no Rio de Janei-ro, celebrou as diferenças cultu-rais entre Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçam-bique e Portugal. Além de 11 espetáculos teatrais, abertos ao público, encenados por grupos destes países no Espaço Sesc, no Sesc Tijuca e no Teatro Sesc Ginástico, eventos temáticos fo-ram promovidos pela cidade em busca de maior intercâmbio de informações entre os represen-tantes da língua lusófona.

“Um dos objetivos do festival é justamente tornar possível este diálogo entre as linguagens de trabalho em diferentes culturas, de tornar viável um encontro de irmãos de língua para uma comu-nicação sem fronteiras. Se a uni- cação do idioma é uma questão complexa, a uni cação pelo te-atro também é, mas tem se tor-nado realidade. Através das artes cênicas, pode-se re etir sobre esta questão. A ideia é, inclusive, criar um banco de dados com os

Festivais

atores de língua portuguesa e, no futuro, dar origem a uma coope-rativa de pro ssionais de teatro”, projeta Tânia Pires, idealizadora e produtora do Festlip.

O movimento artístico do festival, no entanto, não cou restrito apenas aos palcos tea-trais. No dia 4 de julho, o Estrela da Lapa recebeu o Festlipshow, uma série de apresentações mu-sicais com artistas lusófonos como Fidjus e Mario Lucio, de Cabo Verde; Abel Duerê, de An-gola; DJ Falcão e Bongar – Coco da Xambá, do Brasil. A gastro-nomia dos países também se fez presente desde a abertura do fes-

tival e pode ser conferida até o dia 31 de julho, durante a Mostra Gourmet – O Sabor da Língua Portuguesa, no Restaurante 00 Cozinha Contemporânea, na Gávea (anexo ao Planetário).

“Ainda existe, no Brasil, o não despertar para o conhecimento e consumo das culturas dos nossos irmãos de língua. Enquanto isso, a cultura brasileira adentra sem grandes di culdades e permeada de aplausos em todos os países da língua lusófona. Na primeira edição do Festlip, cou claro que a uni cação da língua falada é algo intangível. A peculiaridade das expressões e vocabulários

Espetáculo “Psycho” - texto de Valódia Monteiro e direção de Herlandson Lima Duarte

De Guiné Bissau:- Grupo Teatro do Oprimido – Bissau GTOEspetáculo “Nó Mama – Frutos da Mesma Árvore”

De Moçambique:- Grupo M’BEUEspetáculo “O Homem Ideal” - texto e direção de Evaristo Abreu- Grupo TijacEspetáculo “Mar Me Quer” - texto de Mia Couto e direção de Mickael Fontaine

De Portugal:- Companhia Teatral Primeiros SintomasEspetáculo “Lindos Dias” - texto de Miguel Castro Caldas e direção de Bruno Bravo- Companhia Teatral Artistas UnidosEspetáculo “Uma Solidão Dema-siado Ruidosa” - texto de Bohimil Hrabal e direção de Antônio Simão

é a referência mais forte de um povo. Essa distância só tem um caminho a ser quebrada, através do intercâmbio cultural entre es-ses países”, justi ca Tânia.

Nesta edição do festival, o homenageado e ganhador do Troféu Festlip – 2009 foi o pre-

miado escritor e dramaturgo moçambicano Mia Couto, prota-gonista de expressiva contribui-ção e aprimoramento do teatro em seu país. O prêmio revelação cou com o grupo português Artistas Unidos pela peça “Uma Solidão Demasiado Ruidosa”.

ESPETÁCULOS ENCENADOS

Mia Couto é o homenageado e ganhador do Troféu Festilip-2009

- Cia. Caixa do Elefante (Rio Grande do Sul)Espetáculo “Banda Salsicha Re-cheada” - criação de Cia. Caixa do Elefante

- Cia. Eolienne (França)Espetáculo “Les Jardins d’Eden” - direção de Florence Caillon

- Cia. Étant Donné (França)Espetáculo “Papotages – Taga-relices” - criação de Frédérike Unger e Jérôme FerronEspetáculo “ZigZag” - criação de Frédérike Unger e Jérôme Ferron

- Cia. Florence (França)Espetáculo “Un Petit Chaperon Rouge” - direção de Florence Lavaud

- Cia. Jérôme Thomas (França)Espetáculo “Duo” - performan-ce de Jérôme Thomas e Jean François Baez e direção de Jérôme Thomas

- Cia. Mamulengos Só Riso (Recife)Espetáculo “Folgazões & Foli-ões” - texto e direção de Fer-nando Augusto Gonçalves

- Cia. Le Plat du Jour (São Paulo)Espetáculo “Chapeuzinho Ver-melho” - texto de Le Plat du Jour

Com sucesso, FIL leva programação multicultural a São PauloA sétima edição do FIL

(Festival Internacional Intercâm-bio de Linguagens) não apenas trouxe mais uma vez ao público carioca seu anual conceito holís-tico de arte, mas também, pela primeira vez, levou a São Paulo sua programação multicultural. Celebrando o Ano da França no Brasil, o evento apresentou, entre os dias 2 e 7 de julho – no Rio de Janeiro –, e entre 7 e 12 de julho – em São Paulo –, grupos teatrais nacionais e franceses.

Na edição carioca, participa-ram sete companhias francesas, sete companhias brasileiras - com direito a um work in progress de binacionalidade, quatro o cinas gratuitas, uma mesa-redonda e um workshop. Os espetáculos foram encenados no Centro de Referência Cultura Infância/Teatro Municipal do Jockey, no Centro Cultural Banco do Brasil (Teatros 1 e 3), Teatro Planetário, Teatro da Caixa Econômica Fe-deral, Centro Cultural Oi Futuro e Teatro Carlos Gomes.

“A resposta do público foi acima da esperada. Tivemos mui-ta procura. Cada vez mais busca-mos trabalhos que mostrem ino-vação e ousadia sempre aliados ao re namento da percepção do imaginário e das agradáveis sen-sações humanas. Desta forma, nosso festival é el ao público já conquistado e abre as portas e ja-

nelas para os novos espectadores. Nossa intenção é a mistura. O encontro possível de linguagens, público e gerações. Só é possível transmitir cultura e identidade se a recebermos desde pequenos”, comenta Karen Acioly, idealiza-dora e diretora-artística do FIL.

Em São Paulo, apesar do nú-mero menor de apresentações e do período mais curto de exibição do festival, o FIL deu, em sua es-treia, seu primeiro passo em busca de popularizar o evento na cidade com a exibição dos espetáculos “A Lenda do Príncipe que tinha Rosto”, do Brasil; “Fedegunda”, binacional; e “9.81”, “Lulu et la Malle Aimée”, “Un Petit Chape-ron Rouge” vindos da França. “No ano passado tivemos um pú-blico de 14 mil pessoas. Estamos muito felizes por chegar a São Paulo. Mesmo que em um forma-to tímido, foi um espetáculo. Su-

perlotou. Queremos plantar uma semente. Mostrar o que se produz de diferente e inovador para toda a família”, explica Karen.

Mesmo com o sucesso do FIL na chegada à mais nova sede do evento, a organização do fes-tival descarta incluir mais uma cidade, por enquanto, para suas apresentações. A ideia é primei-ro consolidar o festival em São Paulo para, depois, seguir para outros locais, assim como acon-teceu quando começou no Rio de Janeiro, em 2002. Para 2010, o festival volta a receber grupos não apenas vindos da França, mas também de nacionalidades diversi cadas. “Convidaremos grupos de vários países. Ano que vem nosso formato volta ao nor-mal e queremos uma presença bem forte da nossa brasilidade e da América Latina”, projeta a idealizadora. (Daniel Pinton)

e direção de Fernando Escrich

- Cia. Scénes de Cirque (França)Espetáculo “9.81” - roteiro, performance e direção de Eric Lecomte

- Cia. de Teatro Artesanal (Rio de Janeiro) Espetáculo “A Lenda do Prín-cipe que tinha Rosto” - texto de Gustavo Bicalho e direção de Gustavo Bicalho e Henrique Gonçalves

- Cia. Teatro Jovem (Rio de Janeiro)Espetáculo “O Homem da Cabe-ça de Papelão” - texto de João do Rio adaptado por Eduardo Bakr e direção de Tadeu Aguiar

- Cie Arcosm (França)Espetáculo “Lulu et la Malle Ai-mée” - roteiro, performance e di-reção de Eléonore Guisnet-Meyer

- Fábulosa Cia. de Bonecos (Belo Horizonte)Espetáculo “João e o Pé de Fei-jão” - texto de Charles Perrault adaptado por Eduardo Felix e Márcio Gouvêa e direção de Ju-nia Melillo

- Fedegunda (Rio de Janeiro e França)Texto e direção de Karen Acioly

ESPETÁCULOS APRESENTADOS

“ A lenda do príncipe que tinha rosto” fez sucesso no festival

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18 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Festivais

Fanáticos, apreciadores ou simplesmente simpatizantes do teatro devem car atentos e ano-tar na agenda a extensa progra-mação prevista entre 8 e 21 de setembro. Nestes dias, a capital gaúcha será, literalmente, palco de mais de 50 espetáculos, entre nacionais e internacionais, da 16ª edição do Porto Alegre em Cena, festival organizado pela Secretaria de Cultura de Porto Alegre e que ganhou projeção fora do País graças à excelên-cia de sua programação. Prova disso é ter sido selecionado, este ano, pelo Ministério do Tu-rismo, como um dos grandes eventos geradores de uxo tu-rístico e propagação da imagem positiva do Brasil.

Realizado pela prefeitura da capital gaúcha, o Em Cena traz, anualmente, reconhecidas montagens (incluindo de músi-ca e dança), muitas delas com diretores e atores que raramen-te vêm ao Brasil, além de mos-trar um signi cativo recorte da cena local. O Théâtre du So-leil, presente na programação do Em Cena, em 2007, é um dos exemplos, assim como as vindas de Peter Brook, Nekro-sius e a grande atriz argentina Norma Aleandro, entre tantos outros encenadores, atores, bailarinos e musicistas. Esses espetáculos movimentam a cidade durante duas semanas e ocupam teatros, espaços pú-blicos das regiões da descen-

Porto Alegre em Cena divulga a programação de sua 16ª. edição, com mais de 50 espetáculos

Por Adriana Machado

S U C E S S O S M U N D I A I S N O S PA L C O S D E

PORTO ALEGRE

DIVERSIDADE CULTURAL PARA TODOS OS GOSTOS

França e Canadá serão os dois países mais presentes e representativos do 16º Porto Alegre em Cena. Sem desmerecer os espetáculos nacionais, com certeza a atração mais importante é a peça Quartett, que trará pela primeira vez um espetáculo de Bob Wilson para o Estado, ao lado de gran-des nomes do teatro mundial, integrantes da programação em edições an-teriores, tais como Peter Brook, Eimuntas Nekrosius e Frank Castorf e Ariane Mnouchkine. A montagem francesa de Quartett, texto do alemão Heiner Muller, será marcada pela presença da atriz Isabelle Hupert, presença mar-cante em filmes cinematográficos.

Outra presença francesa é a do cineasta Patrice Chéreau, do filme Rai-nha Margot (1994), atuando como ator em O Grande Inquisidor e dirigindo sua atriz fetiche, Dominique Blanc, em La Doleur, adaptação de obra de Marguerite Duras. Do Canadá são três as opções: Crépuscule des Océans, da companhia Daniel Léveillé Danse; In Paradisum, da Coleman Lemieux & Compagnie´s, e Kiss Bill (paródia do filme Kill Bill), da portuguesa radicada no Canadá, Paula Vasconcellos. Crépuscule é a terceira obra de uma tri-logia do coreógrafo canadense Daniel Léveillé. A montagem utiliza corpos musculosos onde cada movimento pode ser percebido.

Os bailarinos entram em cena nus ou com roupas de baixo e executam com maestria movimentos ora sutis, ora enérgicos. Tudo sob a trilha sono-ra das Sonatas Para Piano, de Beethoven, que dão o clima que a peça es-sencialmente lírica pede. Léveillé é um dos mais conceituados coreógrafos canadenses e sua marca é o vigor físico dos seus bailarinos. O espetáculo In Paradisum, ainda do Canadá, também é dança e uma criação do coreó-grafo James Kudelka, montagem cheia de emoções fortes, técnica, humor, sutilezas e olhares marotos, num espetáculo que mostra os bailarinos em duetos, exaltando o amor.

Mas o 16º Porto Alegre em Cena trará também algumas curiosidades e outras inovações cênicas, como a apresentação do teatro de bonecos, representado por Giacomina em Voyage, da companhia Is Mascareddas, vinda da Sardenha, na Itália, numa homenagem à ópera de Eugênio Tavo-lana e Tosino Anfossi. Outra é a montagem uruguaia de um texto brasileiro de Nelson Rodrigues, Los Siete Gatitos, dirigido por Sergio Lazzo. Do mes-mo país vem El Ultimo Fuego, da dramaturga alemã Dea Loher, numa visão da realidade atual: a insegurança, o terrorismo, a violência, as drogas e um universo caótico espremido num espaço fechado.

Da Argentina, as atrações são Luisa de Estrella contra su Casa, do dire-tor Ariel Farace, que constrói um retrato da solidão utilizando um cotidiano repetitivo e metódico. Da Colômbia vem Simplesmente el fin Del Mundo, onde, depois de muitos anos de ausência, homem volta para anunciar sua morte para a família, acertar contas e retomar assuntos pendentes antes de desaparecer, com direção de Manuel Enrique Orjuela Cortés. E do Chile, o grupo Teatro em el Blanco apresenta duas peças: Diciembre (obra de fic-ção política) e Neva, livremente inspirada no histórico massacre nas ruas da cidade, fato conhecido como Domingo Sangrento.

Não menos importantes, a programação contará também com as atra-ções nacionais em espetáculos vindos de diversas regiões do País tais como Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul, Belo Horizonte, Goiás e Rio Grande do Sul. Os temas abordados são os mais diversos possíveis, espetáculos livremente inspira-dos em grandes obras (Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa), e no trabalho de dramaturgos no porte de Nelson Rodrigues e William Shakes-peare, em histórias marcantes, surpreendentes, ousadas, que farão refletir e emocionarão o público de todas as maneiras.

tralização da cultura e ruas de Porto Alegre.

A 16ª edição promete não ser diferente. O espetáculo Quartett, do diretor Bob Wil-son, será protagonizado pela atriz francesa Isabelle Huppert, encerrando o evento, nos dias 23, 24 e 25 de setembro, no Te-atro do Sesi, com capacidade para 1.790 pessoas. Outra estre-la internacional que brilhará na capital gaúcha é Patrice Chére-au, marcando o Ano da França no Brasil. Entre os grupos na-cionais destaca-se Amok Teatro, com a peça O Dragão, retratan-do o con ito entre palestinos e israelenses, a dança Dolores (do Mimulus, de Belo Horizonte), livremente inspirado na obra de Pedro Almodóvar e os balés Les Noces e Serenade, da São Paulo Cia de Dança.

Também vão concorrer ao Prêmio Braskem (um dos pa-trocinadores desta edição) dez espetáculos locais. “O evento colocou a capital gaúcha no mapa mundial, trazendo alguns dos melhores encenadores do século 20. O Em Cena foi cres-cendo de importância, é assim que se trabalha a arte”, a rma Luciano Alabarse, curador e coordenador do festival. Na coletiva de imprensa, realizada no dia 7 de julho, no Solar Para-íso, em Porto Alegre, estiveram presentes autoridades locais, como o prefeito da cidade, José Fogaça, o secretário municipal da cultura, Sergius Gonzaga, um dos homenageados, Luiz

Paulo Vasconcellos, jornalistas, diretores e atores locais.

Segundo Fogaça, o Porto Alegre em Cena liga a cida-de com o que há de ponta no mundo cultural do planeta. “O evento ganhou signi cado nos últimos anos pela elevação dos seus espetáculos”, acrescentou o prefeito. “É sempre impor-tante revolucionar a cidade, compartilhar a energia criadora, esta lava vulcânica repleta de muitos diálogos e atores fora do País”, completou Carlota Albuquerque, diretora da Terp-sí Teatro de Dança. Luiz Paulo Vasconcellos, por sua vez, gos-tou da programação. “O mais importante de tudo é surpreen-der”, disse. O diretor teatral até citou a presença do espetáculo gaúcho “O Sobrado” como uma escolha acertada.

“ O Dragão”: Guerra gera re exão

“Rainha(s) - Duas atrizes em busca de um personagem” será destaque

Adaptação de Lya Lu , “O silêncio dos amantes”aborda as dores da falta de comunicação humana

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Formação

Em agosto, a Escola de Te-atro da UFBA (Universidade Federal da Bahia) comemora 53 anos de funcionamento. Cria-da em 1956, foi a primeira do Brasil construída dentro de um espaço universitário e ligada a uma instituição de nível supe-rior. Outro ponto de destaque da escola baiana é o fato de ser a única do País a possuir quatro espaços de artes separadas.

Na instituição, é possível encontrar, além da graduação em teatro, a formação em dan-ça, música e a escola de belas artes. O antes e o depois da criação da Escola de Teatro da UFBA modi ca totalmente a história do teatro baiano, já que sua existência tem propor-cionado novas possibilidades para que o papel do encenador, tipos de atuação e o uso da iluminação elétrica sejam tra-balhados sistematicamente nas artes cênicas de Salvador.

O projeto, na época inova-dor, foi idealizado pelo reitor Edgard Santos, que buscou a identidade da universidade a partir da cultura e da arte, bem como sua integração com a ciência. Para concretizar seus objetivos, o reitor convidou o diretor e cenógrafo Martim Gonçalves para dirigir o espaço artístico-pedagógico que ajudou a prover uma formação univer-sitária e artística experimental e pro ssionalizante, modelar e, sobretudo, contemporânea.

De acordo com o drama-turgo, arte-educador e doutor em artes cênicas pela UFBA Raimundo Leão, o vínculo à universidade deu maior ascen-são à escola. “É possível com-provar isto pela documentação existente e registros dos jornais e revistas da época”, explica. O que, para ele, possibilitou, tam-bém, que outras instituições universitárias se mobilizassem para criar cursos de teatro.

Leão explica que, inicial-mente, a Escola de Teatro funcionou no porão da reito-ria. Depois passou a ocupar o casarão onde hoje está situada uma unidade da Residência Universitária. Atualmente ocu-pa o casarão do antigo Solar Santo Antônio. O edifício é um projeto do arquiteto Rossi Baptista, construído para ser a residência do comendador Bernardo Martins Catharino.

Nos anos 1940, funcionou nas instalações de um antigo hotel. A construção foi adapta-

Criada em 1956, Escola de Teatro da UFBA foi a primeira do País ligada a uma instituição de nível superior

Por Carla Costa

da e aparelhada para ser a es-cola, construindo-se o Teatro Santo Antônio – inaugurado em 1958. A encenação de “Se-nhorita Júlia”, texto de August Strindberg, sob a direção de Martim Gonçalves, marcou a abertura da nova sede.

A partir desse momento, o pequeno teatro concentrou as produções do grupo A Barca da Escola de Teatro. Após os sete anos de reforma, o teatro foi totalmente reestruturado e reformado, passando a ser chamado Martim Gonçalves, em homenagem ao seu pri-meiro administrador.

Ao longo de sua trajetória, a instituição passou por diversas fases e esteve sempre presente na vida cultural da cidade. Por ela passaram diversos nomes de destaque no cenário artís-tico brasileiro como os atores Milton Gonçalves, Roberto Assis, Nilda Spencer, Geraldo

DelRey, Lia Mara, João Gama e Othon Bastos.

“Estudar aqui foi uma das coisas mais importantes da minha vida. Eu tive a sorte de aprender com ótimos pro s-sionais e hoje, como professor desta unidade, faço questão de manter a qualidade de ensino que tive”, revela o ex-aluno da Escola de Teatro nos anos 60, Arildo Deda.

Mesmo nos momentos de crise, o teatro não deixou de apresentar a sua produção artístico-pedagógica ao criar um estreito vínculo não apenas com o público universitário, mas acolhendo diversos seg-mentos da população sotero-politana. “De 1956 até o sur-gimento da Sociedade Teatro dos Novos (1959), responsável pela construção do Teatro Vila Velha, a Escola de Teatro foi o centro irradiador da produção teatral baiana”, explica Rai-

mundo Leão. Segundo ele, depois da cria-

ção da Escola de Teatro, pen-sando no teatro que se fez na Bahia, houve uma mudança ra-dical na maneira de se encenar. “O espetáculo tomou outra dimensão e fazer teatro deixou de ser uma atividade diletante para se tornar uma prática or-ganizada por outros códigos. As plateias passaram a ver es-petáculos de qualidade estética inegável”, frisou.

Atualmente, Salvador pos-sui cinco escolas de teatro, além das o cinas que são mi-nistradas em outros espaços e acontecem durante todo ano, proporcionando o contato dos interessados com os temas e conteúdos da arte teatral. Para Leão, não existe diferença en-tre o que se ensina nas escolas de teatro do eixo Rio-São Pau-lo. Ele explica que pode haver apenas diferenças de discipli-nas ou no conteúdo didático, além da disponibilidade de ins-tituições de ensino para o exer-cício da atividade.

“O que há de peculiar no Sul é a quantidade de espaços destinados ao ensino do tea-tro, tanto os públicos quanto os particulares. Ao cursar o bacharelado e a licenciatura, o aluno recebe um cabedal de in-formação que lhe dá segurança para atuar e produzir conheci-mento na área, isso incluindo os programas de pós-gradua-

ção”, diz Raimundo.À frente da Escola de Te-

atro desde 2008, o diretor Daniel Marques explica que a escola de teatro possui três habilitações (direção, interpre-tação e literatura) lecionadas em sete semestres. Nos últi-mos anos, a instituição recebeu nota máxima (seis) na avaliação realizada pela Capes, em sua pós-graduação (Mestrado e Doutorado), assim como nota máxima (cinco) em seus cursos de g-raduação, avaliação reali-zada pelo Guia do Estudante, publicação que há 12 anos ava-lia as instituições de ensino su-perior brasileiras. “A Escola de Teatro da UFBA é hoje, assim como no passado, um centro de referência da arte teatral no Brasil”, a rma.

O gestor revela que o nú-mero de inscritos no processo seletivo deu um salto dos anos 90 para cá. Para ele, o aumento na procura, ao passar dos tem-pos, é o re exo da mudança da sociedade que, no decorrer dos anos, mais precisamente após a ditadura, passou a dar mais atenção às áreas sensíveis e desperta o interesse na forma-ção de ator. “A gente não quer só comida, diversão e arte! Ain-da bem que o homem do sécu-lo XX é um homem completo e que tem ânsia por diversão”, a rma Daniel.

Anualmente, cerca de 20 espetáculos são montados por professores, alunos e artistas convidados. As apresentações são realizadas nos espaços cul-turais da cidade, mas para o diretor, ainda assim, é quase que impossível a inserção des-ses pro ssionais no mercado de trabalho. “É difícil, não só aqui em Salvador, que os atores e diretores, mesmo após a for-mação na faculdade, consigam emprego e possam se sustentar ao longo da vida. Digo para meus alunos essa realidade e sempre deixo claro que eles de-vem sempre fazer um trabalho diferenciado, criativo e, acima de tudo, honesto”, diz.

Daniel revela que, para ele, o principal motivo para a falta de emprego é a falta de von-tade política. “Deveria ser re-alizado um encaminhamento melhor dos alunos para a pro- ssão. Por que não criam con-cursos públicos para que os estudantes formados passem a ensinar a alunos de escolas pú-blicas? É tão simples resolver isso, mas ninguém faz nada”, desabafa o educador.

Da Bahia para o Brasil

Escola de Teatro da UFBA é única do País a possuir quatro espaços de artes separados

Teatro baiano pode ser dividido entre o antes e o depois da UFBA

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20 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

Opinião

Por Gerson Esteves

Pensamentos insigni cantes sobre os tais laboratóriosOutro dia eu vi uma entre-

vista no Jô com aquela atriz que foi modelo. (Como é o nome dela? Não tem impor-tância.) É uma que faz sempre e só novelas do mesmo autor, dirigidas pelo mesmo diretor. Essas novelas que têm homem sem camisa o tempo todo.

O negócio é que ela estava lá ridicularizando os cursos de teatro que zera nos anos 70 nos States. E sacaneou com o Living Theatre! Logo o avô do teatro alternativo, o pai do off-broadway, uma das grandes in-venções do teatro norte-ame-ricano no século XX (houve teatro americano antes do séc. XX?). Ficou um tempão fa-zendo piada dos exercícios, da pesquisa, das ferramentas de descoberta de uma nova cena, de um novo tipo de ator, mais corporal, por vezes mais visce-ral e talvez até menos técnico. Um ator criativo e, sobretudo, senhor da sua criação.

Então me lembrei da Judith Malina e do Julian Beck, fun-dadores do Living Theatre. A Judith Malina é a memorável vovó da “Família Adams I”. E o Julian todo mundo conhece como aquela gura assustado-ramente magra no “Poltergeist 2”. Pois é... Eles revoluciona-ram o teatro e caram lem-brados por esses dois lmes de segunda! São os mistérios

Gerson Steves tem 25 anos de atividades teatrais na cidade de São Paulo, tendo atuado como diretor, dramaturgo, ator, produtor e professor. Portanto, fez muita pesquisa na vida.

da mediocridade, do lugar-comum, do esculacho que é a memória cultural de todo can-to, em qualquer lugar.

Entre nós, é inevitável lem-brar-se de nomes como o de Maria Alice, que cou conhe-cida pelo grande público como a velhinha que andou dando uns tapas na Pantera! A Maria formou artistas, participou da montagem histórica do “Rei da Vela” no O cina, fundou os dois núcleos do Teatro do Ornitorrinco, se apresentou por todo o mundo, fez cine-ma e até deu o ar da sua graça na TV. E ca reduzida a uma bizarra velinha maconheira!? Uma grande brincadeira, cla-ro. Que ela só topou graças à sua con ança na juventude e nas novas ideias. À sua mara-vilhosa loucura sã!

Em sua autobiogra a não-autorizada, Maria diz: “Os ar-tistas tendem a intuir o futuro, deixam o inconsciente livre, permitem o vir-a-ser. Isso me torna aventureira, sabendo que ninguém é dono de uma úni-ca verdade, e eu deixo uir a minha intuição, gozo com ela principalmente quando en-contro um outro que também embarca nessa... Percebo nis-so um caráter espontâneo de solidariedade. Tudo já foi dito de outras maneiras. A gente, no máximo, pode reorganizar aquilo que já foi expresso. Des-sa forma poderemos sempre

completar o que o outro come-çou. O “ser mestre” é a gente começar a perceber que nossa vivência é mais épica do que psicológica. O ator é um privi-legiado. A vontade de ser ator é o desejo de se desprender. Quem estiver numa boa escola ou grupo de teatro não precisa fazer terapia.”

É a mesma loucura que movia a Myriam Muniz. Um dia eu a vi, numa sala de aula, protagonizar uma das cenas mais fortes e delicadas que já presenciei no ensino do teatro. Ela colocou um jovem ator em pé e disse pra ele com a sua voz italianadamente rouca, de quem fumava e bebia uma boa cervejinha... Ela disse: “eu vou fazer uma coisa em você e você reage”.

Daí ela pôs as mãos no pei-to do jovem e deu um empur-rão. A reação dele foi apenas de afastamento. Ela deu um passo em direção a ele e deu outro empurrão. Novo afastamento. Isso se repetiu algumas vezes até que ela começou a bater o pé e o jovem começou a car acuado. Num dado momento, ele começou a correr em cír-culos e ela correndo atrás dele. Até que ela parou, virou-se e apenas esperou que ele viesse correndo até o seu encontro, completando o círculo. Nesse instante, diante do susto do aluno ao dar de cara com a mestra, ela o amparou e disse

com a mesma voz, só que ter-namente: “você só sabe fugir, né? Não precisa ter medo... isso aqui é só teatro... é tudo de brin-cadeirinha, bobo!”

Judith Malina, Maria Alice e Myriam Muniz... todas fun-dadoras, atrizes e diretoras de um teatro vivo, investigativo, instigante. Um teatro sem ver-dades absolutas, sem certezas. De onde brotam as dúvidas, de onde saem as respostas, de onde nascem as verdadeiras obras de arte e os grandes atores – e não

a pasteurização dos enlatados. É por essas e mais aquelas

que pre ro não usar a palavra que arrepia – laboratório. Nun-ca usei. Sempre optei pelos termos pesquisa, investigação, experimentação. Um velho professor dizia mais ou menos assim: “nos anos 60 a gente fa-zia tanto laboratório... mistura-va os ingredientes, não anotava a fórmula nem as condições de experimentação... feito cientis-ta maluco que, um dia, acaba mandando tudo pros ares!”

“Loucura” é um espetáculo que advém de uma pesquisa so-bre este tema que a mim sempre foi inquietante. O “louco” mui-tas vezes é colocado como um ser que perdeu o contato com a realidade e me pergunto: será? Ele pode simplesmente enxergar com novos olhos coisas que sim-plesmente não queremos olhar, dada a sua profundidade, sua intensidade. Um “louco” é um homem perdido em si, perder-se em si é entrar no labirinto do Rei Minos sem o o de Ariadne, é encontrar o Minotauro, meio homem, meio bicho e ser de-vorado. A porção animal vem à tona e tudo que é imposto como bons costumes, regras sociais e acordos se desfazem. O “louco” de nosso espetáculo não segue as regras, não tem superego que lhe diga o que é certo ou errado, ele é id puro; pulsão e potência.

Sempre tive na literatura uma aliada – poesia, prosa, dramatur-gia, biogra a – são mundos que se abrem, ampliam a imaginação do ator, nos colocam em lugares que sozinhos muitas vezes não

Gabriel Miziara é ator e diretor, membro da Cia. Elevador de Teatro Pano-râmico que ano que vem comemora dez anos de existência. “Loucura” foi seu primeiro monólogo.

A experiência de quem viveu a loucura (nos palcos) visitaríamos. Nos apresentam fa-cetas, espelhamentos de nós es-palhados nas personagens e nas vidas de Shakespeare, Camus, Beckett, Brecht, Jung, Rilke, en-tre tantos outros.

E foi a partir deste territó-rio, do imaginário desses auto-res, que nasceu o espetáculo. Conjuntamente com Marcelo Lazzaratto, diretor e mais que isso, um grande companheiro de vida e de palco, mergulhamos nesta pesquisa, entrevendo nas páginas desses autores trechos que iluminassem a “Loucura”. Seis meses depois, em dois ns de semana, entre pilhas de livros e textos, conseguimos o esque-leto dramatúrgico da peça. Op-tamos por a peça acontecer em uma revolução solar, ou seja, um dia na vida deste “louco” que nunca nomeamos, ele apenas é. O que se tem no palco é um ta-blado branco e um ator. Um dia esse “louco” foi colocado neste espaço – seria uma cela? – e ali é abastecido por livros, comida, um urinol para as necessidades siológicas e no momento de revolta uma camisa de força, claro. O que ele busca? Ele

é um homem que avidamente se questiona, que purga suas dores através de palavras e cir-cunstâncias alheias a ele. Nesse sentido podemos estabelecer uma relação desse louco com o trabalho de ator. Será que no ofício do ator, de algum modo não encontramos essa mesma busca? Importante salientar que durante o processo op-tamos por não fazer visitas a instituições psiquiátricas que-ríamos descobrir como a “lou-cura” em mim se manifestava.

Em 2001 estreou “Loucura” monólogo da Cia. Elevador de Teatro Panorâmico. Como es-creveu Alberto Guzik em sua crítica no jornal “O Estado de São Paulo”: “Loucura é o mais verbal dos espetáculos físicos e o mais físico dos espetáculos da palavra”. O que é apresentado ao público em 50 minutos é pul-são e potência dentro de uma partitura física rígida e desta col-cha de retalhos textual elemen-tos que indicam a fragmentação deste homem. Contabilizo no corpo pontos no queixo, uma artéria estourada no braço, ca-los, luxações. Muitas vezes sai

do espetáculo absolutamente esgotado física e mentalmente. Este território exige viscera-lidade, exige o não poupar-se. Levei sim “o personagem pra cama”, muitas noites de insô-nia, pesadelos, exaustão. Duran-te o período de ensaios muitas vezes zemos três “gerais” e o terceiro era sempre o melhor, pois desta exaustão brotava a verdade deste homem, exausto por debater-se consigo mesmo. Eu era muito jovem na época, estreei “Loucura” com 23 anos, recém saído do Teatro-escola Célia Helena – onde me formei e onde hoje dou aula. Olhando a trajetória desde a estreia até hoje e contabilizando mais ou menos 150 apresentações, o espetáculo foi se modi cando, mas se modi cando por dentro, visto que as inquietações mu-dam, novas perguntas são feitas. Em “Loucura” não procuramos responder, dar um diagnóstico sobre o tema e sim dividir per-guntas, propor questionamen-tos. Muitas vezes escutamos que o espetáculo deveria se cha-mar “Sanidade” e não “Loucu-ra”, exatamente por isso.

Por Gabriel Miziara

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Vida & Obra

“Arte, para mim, não é pro-duto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte, para mim, é missão, vocação e festa”. Assim pensa Ariano Suassuna, 82 anos, escritor, dramaturgo, músico, artista plástico, advoga-do, professor, pensador e tantas outras de nições que possam explicar a personalidade e o ta-lento deste que é considerado um decifrador de brasilidades. Nascido na Cidade da Parahyba – hoje João Pessoa (PB) –, em 16 de junho de 1927, Suassuna, des-de a adolescência, dedica-se, de corpo e alma, à missão de fazer arte e levá-la a um povo faminto não só por comida, mas por co-nhecimento. Defensor militan-te da cultura do Nordeste, Su-assuna, através de sua vocação para essa arte, extraiu o que há de melhor dela e, com estilo próprio, fez – e ainda faz – a festa de seus admiradores. De-talhe: que se espalham não só pelo Nordeste brasileiro, mas por todo o País, pelo mundo.

O Movimento Armorial, criado por Ariano Suassuna, é um exemplo da complexidade e da genialidade de seu autor. O paraibano mais pernambucano do Brasil (Suassuna foi morar no Recife aos 15 anos e, lá, desen-volveu seus estudos – formou-se em Direito, em 1950 e em Filoso a, em 1964) é o respon-sável pela criação de uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do nordestino – que é, antes de tudo, um forte, como dizia Euclides da Cunha. Foi através dos valores da re-gião, com seu vasto arcabouço erudito e teórico, que Suassu-na, com sua escrita, reuniu, ao mesmo tempo, elementos do simbolismo, do barroco e da li-teratura de cordel, fazendo do Sertão o palco ideal de ques-tões humanas que se repetem em qualquer lugar do mundo.

A “nordestinidade” está no sangue deste homem de forma-ção calvinista e posteriormente agnóstico, que converteu-se ao catolicismo (gesto que marca-ria de nitivamente a sua obra) e começou a mostrar seus dons literários aos 18 anos de idade, quando escreveu o poema “No-turno”, publicado em destaque no Jornal do Commercio, do Re-cife, em outubro de 1945. Não demoraria para o teatro entrar em sua vida. Criador do Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP), Suassuna, entre 1946 e

S I M P L E S M E N T E I M P E R D Í V E LAriano Suassuna:

Conhecido como um decifrador de brasilidades, o paraibano mais pernambucano do Brasil faz da arte um dom e encanta a todos

Por Alysson Cardinali Neto

1953, sob in uência direta de Hermilo Borba Filho, começou a escrever peças e a construir uma obra modelar, referência obrigatória para todos os que desejam conhecer a dramatur-gia nacional – fundaria, ainda, em 1960, o Teatro Popular do Nordeste (TPN). O romanceiro popular nordestino e a tradição mediterrânea são as característi-cas principais do teatro de Suas-suna, que fundamentaram toda a concepção moderna de uma dramaturgia nordestina erudita.

SALVE O “AUTO DACOMPADECIDA”

Entre as suas inúmeras pe-ças conhecidas (e premiadas), destaque para “O Auto da Compadecida”, de 1955, que projetou Suassuna em todo o País e fez o crítico teatral Sába-to Magaldi de nir a obra como “o texto mais popular do mo-derno teatro brasileiro”. Esta peça, aliás, abriu as portas da te-levisão e do cinema para o seu autor devido às adaptações para os dois meios. Outro exemplo do talento de Suassuna é o ro-mance “A Pedra do Reino”, também adaptada para a televi-são e que revelou outra faceta de Ariano: seu talento com as palavras. Talento que o levou a ocupar, desde 1990, a cadeira

32 da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Por falar em palavras, Ariano, embora aclamado como um dos maiores dramaturgos e roman-cistas de língua portuguesa, é, também, um poeta de mão cheia. Sua produção poética acompa-nhou, durante muitos anos, a produção teatral. O estudo apro-fundado da poesia popular foi – e ainda é – uma constante na vida deste homem, até porque é partindo principalmente dos fo-lhetos do romanceiro popular nordestino que Suassuna encon-trou o caminho para criar toda a sua obra teatral (seus primeiros poemas datam de 1946, 1947 e 1948 como “A Morte do Touro Mão de Pau”, “Beira-mar”, “Os Guabirabas”, “Encontro” e “A Barca do Céu”, entre outros).

TRAGÉDIA NA INFÂNCIA A genialidade de Ariano Suas-

suna é conhecida (e reconhecida) mundialmente, mas sua vida nem sempre foi feita, apenas, de ale-gria. Uma tragédia familiar marca sua trajetória: a morte de seu pai, João Urbano Pessoa de Vascon-cellos Suassuna, em 1930, no Rio de Janeiro. João Suassuna era de-putado federal quando, por ques-tões políticas ligadas à Revolução de 1930, foi assassinado. Ariano tinha, na época, três anos de ida-

de, mas viu seu destino ser alte-rado em razão deste fato. Viúva, a mãe de Ariano, Rita de Cássia Vilar, mudou-se com a família do Sítio Acauã, no sertão paraibano, para a cidade de Taperoá, na re-gião do Cariri do estado. Devido à morte de João Urbano, porém, Ariano e toda a família, para fugir das represálias dos grupos oposi-tores ao seu falecido pai, foram obrigados a fazer uma verdadeira peregrinação por inúmeras cida-des antes de se xar no Recife, onde Suassuna daria início à car-reira artística, embora, em Tape-roá, tenha vivido sua primeira ex-periência com o teatro, ao assistir a uma peça de mamulengos e a um desa o de viola – cujo cará-ter de improvisação marcaria a obre teatral de Ariano.

Hoje secretário de Cultura de Pernambuco, Ariano Suassu-na possui como meta apresentar e estimular a produção de uma arte de qualidade, com bases nas raízes do povo brasileiro. Arte de qualidade que é traduzida nas diversas peças do autor que, ainda hoje, são encenadas pelos mais variados grupos teatrais. A mais recente é a comédia “Farsa da Boa Preguiça”, de 1960, uma das mais importantes para o te-atro brasileiro contemporâneo. Dirigida por João das Neves (um dos fundadores do Grupo Opi-

nião e que, este ano, completa 50 anos de carreira), com inter-pretação dos atores Guilherme Piva, Bianca Byington, Ernani Moraes, Daniela Fontan e gran-de elenco, a peça narra a história de Joaquim Simão (Guilherme Piva), poeta de cordel, pobre e “preguiçoso”, que só pensa em dormir (estará em cartaz a partir do dia 7 de agosto, no Teatro das Artes, no Shopping Eldorado em São Paulo).

Joaquim é casado com Ne-vinha (Daniela Fontan), mulher religiosa e dedicada ao marido e aos lhos. O casal mais rico da cidade, Aderaldo Catacão (Erna-ni Moraes) e Clarabela (Bianca Byington), possui um relaciona-mento aberto. Aderaldo é apai-xonado por Nevinha e Clarabela quer conquistar Joaquim Simão. Três demônios fazem de tudo para que o pobre casal se ren-da a tentação e caia no pecado, enquanto dois santos tentam intervir. Jesus observa e avalia tudo. A partir daí, situações inusitadas e muito divertidas fazem deste texto uma das pe-ças mais divertidas do teatro brasileiro. “Ao encenar esse texto queremos reverenciar o mestre Ariano Suassuna e sua obra. Queremos celebrar, com carinho e alegria, aquilo que somos: artistas do povo brasi-leiro”, resume João das Neves.

Para Ariano Suassuna, a “Farsa da Boa Preguiça” tem outros focos mais importan-tes do que retratar, apenas, a preguiça. “Não defendo indis-criminadamente a preguiça — coisa que, aliás, não poderia fazer, pois ela é um dos ‘sete vícios capitais’ do Catecismo”, brinca Suassuna, feliz com o resultado obtido pela nova en-cenação de sua peça, indicada para todas as idades, inclusive jovens e adolescentes.

“Farsa da Boa Preguiça” pro-move, também, o lançamento o cial do catálogo e do “Museu Digital Ariano Suassuna” (www.arianosuassuna.com.br), que apre-senta todo o acervo do artista, distribuído em coleções e sub-coleções, como bibliogra a, exposições, manuscritos, entre-vistas, correspondências, obras de arte, fotogra as etc. Esse acervo, uma vez convertido em imagens digitais, amplia enor-memente seu potencial de frui-ção, numa proporção impossí-vel de ser atingida pelas visitas locais ao acervo físico. Um presente para os admiradores desse grande mestre e homem.

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Ariano Suassuna inspira, há decadas, jovens artistas, como os que encenam “Farsa da Boa Preguiça” em São Paulo

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Internacional

Algo inédito no meio tea-tral. Devido ao avanço da gri-pe A (H1N1) na Argentina, os teatros daquele país se en-contram fechados desde o dia 6 de julho. A ordem partiu do Governo Federal, em conjunto com a associação local de em-presários teatrais. A decisão foi tomada após semanas de salas vazias e de muito debate e po-lêmica na imprensa argentina sobre as medidas o ciais toma-das até então (que não seriam uni cadas). A In uenza já cau-sou a morte de 137 pessoas na Argentina (até o fechamento desta edição do JT).

“Os teatros privados sus-penderam todas as peças teatrais do país, mas não sa-bemos o que ocorrerá nos teatros estatais”, anunciou, em entrevista coletiva, Carlos Rottemberg, presidente da Associação de Empresários Teatrais, que reúne alguns dos maiores nomes do setor teatral. O dinheiro pago ante-riormente deve ser devolvido.

Gripe A fecha as portas dos teatros na ArgentinaMedida inédita é tentativa desesperada do Governo para deter avanço da Influenza

Por Felipe Sil Para a Argentina, o fecha-mento de teatros é considera-do um desastre no setor eco-nômico cultural. A nal, julho é um dos melhores meses da atividade, por causa das férias de inverno, mas as projeções dos empresários são de queda de 70% nas vendas de ingres-sos, comparadas com julho de 2008. A associação também di-vulga que o surto da gripe no país diminuiu em 80% o núme-ro de espectadores nas salas.

Especialistas em produção teatral a rmam que o período com as portas fechadas deve causar grandes prejuízos ao setor, na Argentina, que se re etirão por muitos meses. Para se ter ideia da gravidade do assunto, quando procurado pelo Jornal de Teatro para fa-lar sobre o caso, o presidente da Associação de Produtores de Teatro do Rio (APTR), Eduardo Barata, limitou-se a dizer: “Sobre isso, pre ro nem comentar. Deus me livre um problema desses no Rio”.

O avanço da in uenza na Argentina também levou à

suspensão de outras ativida-des culturais, educacionais e esportivas, mesmo onde não houve proibições do governo. Ao menos 20 distritos da pro-víncia de Buenos Aires cance-laram suas atividades públicas e ordenaram o fechamento de bares, danceterias, piscinas, ginásios, bingos, cinemas, te-

atros e museus. Praticamente estão interrompidas todas as atividades infantis, inclusive as relacionadas às férias de in-verno. Outras programações tradicionais neste período no país, como o “Café Cultura Nación”, apresentações da Orquestra Nacional Argenti-na, balés, coral e bandas tam-

bém estão suspensas. Os ci-nemas continuam abertos. Há a recomendação, porém, de que os espectadores deixem uma cadeira vazia entre eles, o que é facilitado pela queda de público.

Em boa parte do país, as autoridades locais chegaram a adiantar as férias escolares de inverno para conter as trans-missões nas salas de aula. Aproximadamente dez mi-lhões de estudantes tiveram o seu descanso estendido para ajudar a evitar que a doen-ça se espalhe. O governo da presidente Cristina Kirchner ainda estuda outras medidas para evitar a propagação da gripe A (H1N1). No comér-cio varejista, há fortes receios de que a situação na Argenti-na chegue a um ponto extre-mo, que levará ao fechamento de todos os lugares públicos. Fato é que vários municípios no interior já cancelaram to-das as atividades culturais, sociais e esportivas, além de terem fechado os estabeleci-mentos comerciais.

Arquivo/JT

O Colón sofre com a nova gripe: 80% dos espectadores fora dos teatros

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2316 a 31 de Julho de 2009Jornal de Teatro

Trocar cultura é um proces-so enriquecedor, então quero começar a entregar algumas dicas de serviços que rolam por aqui, que jogam a favor do público. Iniciando nesta colu-na, de tempos em tempos sigo postando sugestões aos “tea-trais” de plantão.

Goldstar: trata-se de um serviço on-line que estimula pessoas a saírem mais de casa para assistir a teatro, música, dança, eventos esportivos e até wine tasting, aulas de sushi e rodeios. Como? A Goldstar trabalha diretamente com mais

InternacionalDireto de Londres, Adriano Fanti apresenta aos leitores do Jornal de Teatro detalhes da estreia do musical sobre Dorian Gray – clássico de Oscar Wilde. Já Luciana Chama aposta na modernidade. De Los Angeles ela divide algumas soluções encontradas por lá para difundir e promover o teatro na cidade.

West End, a place that boasts inspiration!Dear all,Recentemente, o West

End foi presenteado com mais uma obra inspiradora: uma adaptação de muito bom gosto baseada na famosa obra de Oscar Wilde, “O Retrato de Dorian Gray”. Em cartaz no Leiscester Square Thea-tre, a montagem envolve um elenco de cinco artistas mul-tifacetados que se desdobram para dar vida à “Dorian Gray, a musical drama”.

A obra conta a história de Dorian Gray, um jovem da alta sociedade inglesa do século XIX. Imerso em sua vaidade e anseios por juventude eter-na, Dorian se apaixona por um retrato seu, pintado pelo amigo Basil Hallward. A paixão acon-tece depois que a personagem ouve do cínico e hedonista aristocrata Lord Henry Wotton os dizeres: “o senhor dispõe só de alguns anos para viver deve-ras, perfeitamente, plenamente. Quando a mocidade passar, a sua beleza ir-se-á com ela; en-tão o senhor descobrirá que já

Adriano FantiLondres

não o aguardam triunfos, ou que só lhe restam as vitórias medíocres que a recordação do passado tornará mais amargas que destroçadas”.

Tive a oportunidade de prestigiar a peça na estreia e conversar com o elenco na festa para a imprensa, após o espetáculo. Conversei em par-ticular com a talentosíssima atriz Janna Yngwe, que inter-preta Syble Vaine no espetácu-lo. Graduada pela conceituada Guildford School of Acting, Janna falou sobre as peculia-ridades desta adaptação, onde todos os atores do espetáculo, além de atuar e cantar, também tocam instrumentos durante a peça. No caso de Janna, além dos números de dança, a apre-sentação acontece também com um violoncello e o piano presente em cena.

O que mais me chamou a atenção nesta montagem que leva como subtítulo um drama musical é a na linha divisória entre teatro musical e teatro convencional (musical e straight

play), que é onde a adaptação se encontra.

A diretora da peça Linnie Reedman manteve intacto o es-tilo aristocrata inglês e vitoria-no da obra, sem comprometer em momento algum o trabalho de Oscar Wilde. As transições

bruscas entre canções e texto (tão frequentemente encon-tradas em pecas musicais) fo-ram feitas de forma tão sutil que quase não é possível clas-si cá-la como musical, e sim, como uma peça habitual com intervenções musicais. Isso é evidente na cena em que Do-rian resolve escrever uma carta para Sybel Vaine, após esse lhe ter dito monstruosidades. Na cena, Dorian senta-se ao pia-no e escreve a carta em forma de uma canção. “A plateia mal percebe a transição entre texto e música”, conta Janna. Isso também se deve à direção de Linnie, que não mirou nenhu-ma das canções diretamente à plateia, dando um toque singe-lo aos números musicais.

Um paralelo pode ser esta-belecido entre “Dorian Gray, a musical drama”, e “A Little Night Music” (fabulosa obra musical de Stephen Sondheim) atualmente em cartaz no West End. Ambas trazem a Inglater-ra vitoriana de emoções repri-midas como pano de fundo e

atores músicos. Mas, apesar de “A Little Night Music” também ter muitos elementos de teatro convencional em estilo e texto, as passagens entre canto e fala são mais estruturadas nos mol-des de teatro musical. No en-tanto, são feitas de ótimo tom.

Em geral, o espetáculo foi dirigido visando o total apro-veitamento do elenco peque-no. Fica, sobretudo latente, quando Dorian em sua aluci-nação vê fantasmas em todos os cantos: a sensação é de que realmente há no palco o dobro de atores em cena. Esperta, Linnie economizou uma grana com contratação de atores...

Luciana ChamaLos Angeles

Tupi or not tupi?de 3.200 casas de espetáculos espalhadas pelo país e oferece uma lista variada de ingressos com preços pela metade (ou às vezes até mais baratos) para seu mailing list. Ao invés de atolar a caixa de mensagens de seus membros com propagan-das desinteressantes, o Golds-tar seleciona as melhores dicas culturais e outras divertidas ex-periências com um acesso fácil e e ciente. No site também se encontra notas e opiniões dos assinantes, e dicas de onde es-tacionar, como se vestir, onde comer, tudo para tornar a noite mais agradável. Para a casa de espetáculo, listar a sua atração com a Goldstar é mais e ciente do que gastar tubos de dinhei-ro num anúncio de jornal, uma vez que o público alvo é garan-tido e concentrado. Já para o público, o serviço é cômodo, rápido, informativo e funciona! Minhas experiências com o site foram nota dez e pude conferir atrações de nível cinco estrelas como George Benson e Dia-

na Krall no Hollywood Bowl, “Spring Awakening” no Ah-manson Theatre e “Wicked” no Pantages Theatre. Mais de-talhes no www.goldstar.com.

Twitter: além de informar detalhes íntimos e afazeres do dia-a-dia das pessoas, o bem-vindo Twitter é uma poderosa ferramenta de comunicação para quem sabe fazer bom uso dela. Mais uma vez, uma al-ternativa para quem não tem apoio para investir num anún-cio de jornal ou revista, gastar umas horas em frente ao com-putador colecionando amigos pode se tornar bem lucrativo a médio prazo. A promoção no Twitter é para um público di-recionado, seleto e o processo, claro, imediato.

Carteirinhas: é verdade que ingressos para espetáculos ao vivo tem um custo um tanto quanto alto para a maioria dos bolsos, hoje em dia. No Brasil, boa parte deve-se à adorada e odiada carteirinha de estudante – ainda não deu pra entender

que o uso desse recurso como lei in exível praticamente do-bra o preço dos ingressos? De qualquer forma, é sempre inteligente facilitar a compra e o acesso do público à cultura. Aqui na Califórnia, por exem-plo, os programas de desconto para estudantes são encarados como incentivo por parte dos lugares que abrigam cultura;

por não ser uma obrigação, não são todas as casas e cine-mas que oferecem desconto, e a redução do valor é de ge-ralmente 10% da inteira, e não 50%. Ao menos dessa forma a carteirinha passa a ser van-tagem não só para estimular o consumidor pelas artes, mas como o produtor a bene ciar seu público.

“Dorian Gray”: musical e drama

Colunista dá (preciosas) dicas que podem servir para o teatro brasileiro

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24 16 a 31 de Julho de 2009 Jornal de Teatro

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