jornal de teatro edicao nr.12

24
Uma publicação da Aver Editora - 1 a 15 de Outubro de 2009 - Ano I Nº 12 R$ 5,00 FESTIVAIS Pág. 16 Pág. 12 e 13 Fenatib leva beleza e encanto aos jovens apreciadores do teatro Fábio Torres / Divulgação teatro O é valorizado no Brasil ? infantil EDITAIS Pág. 6 Política inclusiva da Caixa Econômica Federal promove revolução cultural POLÍTICA CULTURAL VIDA E OBRA ESPECIAL DANÇA ENTREVISTA Pág. 20 Pág. 21 Pág. 11 Pág. 7 Aprovação da PEC 150 permite viabilização do Plano Nacional de Cultura A trajetória de Miriam Mehler, incansável na arte de criar as personagens Talentosa desde menina, Bia Bedran dá uma aula de como se dedicar às crianças Giséle Santoro revela os detalhes da história do balé na capital federal Divulgação Atores em ação durante “Filhotes da Amazônia”, da Cia Pia Fraus: falta de importância dada às peças infantis leva mui- tos deles a optarem pelo teatro ‘adulto’ Marcos Caruso revela quais foram as parcerias de sucesso que teve durante os 36 anos de carreira Mesmo sendo um dos gran- des formadores de público e primeiro contato de muita gente com o teatro, o gênero sofre com a falta de patro- cínio e valorização dentro e fora da classe artística. Quem garantiu isso ao Jornal de Tea- tro foram profissionais de di- ferentes partes do Brasil que, mesmo com todas as difi- culdades, acreditam que um trabalho de qualidade sem- pre terá reconhecimento.

Upload: claudia

Post on 12-Jun-2015

784 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Uma publicacao AVER Editora

TRANSCRIPT

Page 1: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

Uma publicação da Aver Editora - 1 a 15 de Outubro de 2009 - Ano I Nº 12 R$ 5,00

FESTIVAIS

Pág. 16

Pág. 12 e 13

Fenatib leva beleza e encanto aos jovens apreciadores do teatro

Fábi

o To

rres

/ D

ivul

gaçã

o

teatroOé valorizado no Brasil?infantil

EDITAIS

Pág. 6

Política inclusiva da Caixa Econômica Federal promove revolução cultural

POLÍTICA CULTURAL

VIDA E OBRA

ESPECIAL

DANÇA

ENTREVISTA

Pág. 20

Pág. 21

Pág. 11

Pág. 7

Aprovação da PEC 150 permite viabilização do Plano Nacional de Cultura

A trajetória de Miriam Mehler, incansável na arte de criar as personagens

Talentosa desde menina, Bia Bedran dá uma aula de como se dedicar às crianças

Giséle Santoro revela os detalhes da história do balé na capital federal

Divulgação

Atores em ação durante “Filhotes da Amazônia”, da Cia Pia Fraus: falta de importância dada às peças infantis leva mui-tos deles a optarem pelo teatro ‘adulto’

Marcos Caruso revela quais foram as parcerias de sucesso que teve durante os36 anos de carreira

Mesmo sendo um dos gran-des formadores de público e primeiro contato de muita gente com o teatro, o gênero sofre com a falta de patro-

cínio e valorização dentro e fora da classe artística. Quem garantiu isso ao Jornal de Tea-tro foram profissionais de di-ferentes partes do Brasil que,

mesmo com todas as difi-culdades, acreditam que um trabalho de qualidade sem-pre terá reconhecimento.

Page 2: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

2 1 a 15 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Santiago e Região dos Vinhos7 noites .................................................................. Entrada R$ 776, + 9x de R$ 344,88Inclui passagem aérea, traslados e hospedagem de 5 noites em Santiago, 1 em Curicó, 1 em Santa Cruz com café da manhã. Ticket de trem Santiago/Curicó. Passeio aos vinhedos na região de Curicó com almoço típico e degustação, rota do vinho de Colchagua com almoço e degustação. Passeio pela cidade de Santiago, Viña del Mar, Valparaíso e tour Santiago by night com degustação de vinhos. Assistência de viagem internacional.À vista R$ 3.880, Base US$ 2.088, Preço para saídas diárias de outubro a novembro.

Santiago2, 3 e 4 noites................................Entrada R$ 244, + 9x de R$ 108,44Inclui passagem aérea, traslados e hospedagem. Moderna e vibrante, a capital chilena vem atraindo cada vez mais visitantes em busca de novidade e também de paisagens incríveis da cordilheira que emoldura o horizonte. À vista R$ 1.220, Base US$ 658, Preço de 2 noites para saídas diárias até 1o/dezembro.

Santiago, Patagônia e Torres del Paine7 noites .........................................................Entrada R$ 762, + 9x de R$ 338,66Inclui passagem aérea, traslados e 4 noites de hospedagem em Santiago, 1 em Punta Arenas, 2 em Puerto Natales com café da manhã. Passeio pelas cidades de Santiago e Punta Arenas. Tour ao Parque Nacional Torres Del Paine com Cueva de Milodon e assistência de viagem internacional. À vista R$ 3.810, Base US$ 2.048, Preço para saídas diárias de outubro a novembro.

Não espere que te contem,VIVA VOCÊ MESMO.

Lago Villarrica

Prezado agente: os preços publicados são por pessoa, com hospedagem em apartamento duplo, saindo de São Paulo. Preços, datas de saída e condições de pagamento sujeitos a reajuste e mudança sem aviso prévio. Oferta de lugares limitada e reservas sujeitas a confirmação. Parcelamento promocional em até 10x sem juros, sendo a 1a parcela no ato da compra e as demais mensais com cheque ou cartão. Passeios não incluem ingressos. Ofertas válidas para compras realizadas até 1 dia após a publicação deste anúncio. Preços calculados com base no câmbio do dia 18/9/2009: US$ 1,00 = R$ 1,86, estando, portanto, sujeitos a variações e serão recalculados na data da compra. Taxas de embarque cobradas pelos aeroportos não estão incluídas nos preços. Fotos ilustrativas.

Acesse: www.agentescvc.com.br ou cvc.com.brConfi e nos 37 anos da maior operadora de turismo das Américas.

Page 3: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

31 a 15 de Outubro de 2009Jornal de Teatro

Editorial

Índice

Diretores do órgão consideram relevante o aumento no número de inscrições de projetos e creditam o avanço a uma política inclusiva

CEF registra crescimento de propostas para editaisEDITAIS.......................................................................6

Teatro criado pelo lendário palhaço Teleco no Rio Grande do Sul continua encantando a plateia após 36 anos

Conheça a história da sala que foi feita como o Teatro do Zoológico de Buenos Aires e se transformou em um espaço de investigação teatral

Três décadas atraindo multidões no Sul do Brasil

Teatro Sarmiento: a casa do experimento

HISTÓRIA.................................................................

INTERNACIONAL.....................................................

22

23

Miriam Mehler, com 74 anos e mais de 50 peças no currículo, garante que não pensa em parar de atuar

Uma dama que não usa black-tieVIDA & OBRA................................................................21

Festival Nacional de Teatro Infantil de Blumenau apresentou peças focadas exclusivamente no universo das crianças

Fenatib reinventa o teatro infantilFESTIVAIS................................................................16

Rodrigoh BuenoEditor do Jornal de Teatro

Atores e diretores do teatro infantil avaliam se o segmento já alcançou a maturidade no Brasil

Págs 12 e 13

REPORTAGEM

Cad

u C

inel

li /

Div

ulga

ção

w w w . a v e r e d i t o r a . c o m . b r

Presidente: Cláudio Magnavita [email protected]

Vice-presidentes: Helcio Estrella

[email protected] Espinosa

[email protected]

Presidente: Cláudio MagnavitaDiretores: Jarbas Homem de Mello, Anderson Espinosa e Fernando Nogueira

Redação: Rodrigo Figueiredo (editor-chefe), Rodrigoh Bueno (editor) e Fernando Pratti (chefe de reportagem) Rio de Janeiro - Alysson Cardinali Neto, Daniel Pinton Schilklaper, Douglas de Barros e Felipe SilSão Paulo - Carlos Gabriel Alves, Ive Andrade e Pablo Ribera BarberyBrasília - Dominique Belbenoit, Sérgio Nery e Adair de Oliveira JuniorPorto Alegre - Adriana Machado, Leonardo Serafim e Letícia Souza Florianópolis - Adoniran Peres e Liliane RibeiroSalvador - Paloma Jacobina

Marketing: Bruno Rangel ([email protected])

Redação Rio de Janeiro: Rua General Padilha, 134 - São Cristóvão - Rio de Janeiro (RJ). CEP: 20920-390 - Fone/Fax: (21) 2509-1675

Redação Brasília: SCS - Quadra 02 - Bloco D - Edifício Oscar Niemeyer - sala 1101 - Brasília-DF. CEP: 70316-900Tel.: (61) 3327-1449

Redação Porto Alegre: Avenida Borges de Medeiros, 410 - sala 916 - Centro - Porto Alegre (RS). CEP: 90020-023. Tel.: (51) 3231-3745 / 3061 3483

Redação Florianópolis: Rua Dom Jaime Câmara, nº 179 - Sala 506 - Ed. Regency Tower - Centro - Florianópolis (SC). CEP: 88015-200Tel.: (48) 3024-3575 / 3024-3571

Redação Salvador: Rua José Peroba, 275, sala 401 - Ed. Metrópolis, Costa Azul, Salvador / BA. CEP: 41770-235Tel.: (71) 3017-1938

Email Redação: [email protected] Arte: Bruno Pacheco, Gabriela de Freitase Valeska Gomes

Correspondência e Assinaturas:

w w w . j o r n a l d e t e a t r o . c o m . b r

Publicações da Aver Editora: Jornal de Turismo - Aviação em Revista - JT MagazineJornal Informe do Empresário - SET - Próxima Viagem

Redação São Paulo: Rua da Consolação, 1992 - 10º andar - CEP: 01302-000 - São Paulo (SP)Fone/FAX: (11) 3257.0577

Administração: Elisângela Delabilia ([email protected])

Colaboradores: Gerson Esteves, Michel Fernandes, Adriano Fanti e Luciana Chama

Impressão: F. Câmara Gráfica e Editora

Ao observar as 11 edições passadas do Jornal de Teatro, percebemos o pouco espaço que demos para o teatro infantil. Não há nenhum moti-vo especial para isso, mas, simplesmente, o assunto passava pelas reuni-ões de pauta. E por quê? Será que não se ouve falar de teatro infantil nos demais meios de comunicação e nas mesas de discussão pelo mesmo motivo, por que “passa batido”? Sem justificativas, resolvemos dedicar grande parte desta edição (que não por acaso circula durante o Dia das Crianças) para os profissionais que talvez mais se dediquem a formações de público, à construção de pensamento teatral e ao primeiro contato de multidões com o palco. Sim, multidões – sem medo de exagerar -, pois, em uma pequena amostragem que fizemos, percebemos que o primeiro contato com a atividade dramática de grande parte das pessoas que nos cercam foi durante o período escolar, nas famosas excursões ao teatro.

Mesmo que o hábito não tenha sido mantido fora da escola, a im-pressão inicial vem dali – e talvez a motivação para seguir uma carreira. Dentre os profissionais de teatro infantil com que conversamos, muitos concordam que a escolha de viver da arte veio deste período e que há falta de valorização dos espetáculos porque muitas produções não re-presentam muito bem a classe.

Peço licença para dividir uma história pessoal, retomada sempre que minha família conta as situações bizarras da infância de cada um. Com quatro ou cinco anos, meus pais me levaram ao teatro, e interessado, sentei nas primeiras filas de uma casa lotada. No palco surgiram prín-cipes, princesas, fadas – mas eu não estava preparado para o bruxo - e, quando ele surgiu, saí correndo desesperado por todo o teatro. Entre risos de toda plateia e principalmente dos meus pais, tiveram que me explicar que nada daquilo era real. Este deve ter sido o meu primeiro contato com o teatro e, com certeza, se confunde com o de grande parte dos leitores.

As mães ainda contam histórias para as crianças antes de dormir? Minha geração ainda teve isso e contávamos também com a poesia dos circos de final de semana e de pessoas como Bia Bedran na televisão. O que considero mais interessante nos espetáculos infantis, assim como na contação de histórias, lendas, fábulas e até nos melodramas circenses, é que o final dos mocinhos nem sempre é feliz. Qual a realidade dos artistas do teatro infantil? Suas histórias de vida, como as que interpre-tam, nem sempre têm final feliz? Acompanhe nas próximas páginas do Jornal de Teatro o depoimento de alguns destes artistas que vencem a desvalorização e conquistam as crianças de todas as idades.

Profissionais da inocência

Diretor Editorial: José Aparecido Miguel

Page 4: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

FUNARTE SÃO PAULO LANÇA CINCO NOVOS EDITAIS DE OCUPAÇÃO DESTINADOS ÀS ARTES CÊNICAS

A Funarte (Fundação Nacional de Artes) lança novos editais de artes cênicas para a ocu-pação das salas Carlos Miranda e Renée Gumiel, localizadas no Complexo Cultural Funarte, em São Paulo, e do Teatro de Arena Eugênio Kusnet. Os editais já estão disponíveis no site orgão. Serão selecionados, ao todo, cinco projetos que, entre outubro e dezembro, ocuparão estes espaços. Interessados em participar do processo seletivo para a Sala René Gumiel devem enviar seus projetos à Funarte até 9 de outubro. Para os demais editais, as inscrições seguem até 10 de outubro.

Por meio dessa iniciativa, a fundação destinará R$ 220 mil a montagens de espetáculos. Dois dos editais lançados contemplam especificamente o teatro infantil e um está voltado para a revisão crítica da dramaturgia nacional - tema a que se dedica o Teatro de Arena. A seleção será realizada por especialistas em teatro e obedecerá às seguintes diretrizes gerais: excelência artística do projeto, qualificação dos profissionais envolvidos, viabilidade prática da proposta e relevância das contrapartidas apresentadas.

Poderão participar dos editais, com apenas um projeto, companhias, grupos ou empresas, com ou sem fins lucrativos, de natureza cultural, com pelo menos dois anos de atividades comprovadas. Os selecionados deverão realizar pelo menos uma atividade gratuita voltada para escolas, públicas ou particulares, e comunidades do entorno. Mais informações em www.funarte.gov.br

Até onde um casal pode chegar na tentativa de rein-ventar um relacionamento? O espetáculo “Cara a Tapa” promete responder a essas perguntas. No elenco estão os atores Priscila Assum e Marcello Melo. A direção é de Renato Farias e o texto de Tarcísio Lara Puiati. A peça segue temporada no Teatro Café Pequeno.

ESTREIA O TEATRO LÁ EM CASA, EM SÃO PAULO

Priscila Amorim e Marcello Melo tentam reinventar um relacionamento

O espaço Teatro Lá em Casa é a nova sede do Grupo de Teatro Meio

4 1 a 15 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Bastidores

TEATRO AUGUSTA ABRE TESTE

PARA NÚCLEO EXPERIMENTALO Núcleo Experi-

mental do Teatro Au-gusta seleciona atores para nova montagem do grupo, a peça “Co-ronado”, do drama-turgo norte-americano Dennis Lehane e dire-ção de David Rock. Os testes acontecem nos dias 13 e 14 de outu-bro, das 10h às 17h, no Teatro Augusta (Rua Augusta, 943 – São Paulo) e serão agen-dados pela direção do espetáculo. Os ensaios da peça acontecem de 19 de outubro a 10 de dezembro de 2009 e de 4 a 20 de janeiro de 2010, de segunda a quinta-feira, das 10h às 14h, com estreia mar-cada para janeiro de 2010. O Núcleo Ex-perimental do Teatro Augusta tem no currí-culo os espetáculos “R & J” e “Mojo”. Para participar, o ator/atriz deve enviar material (currículo e duas fotos 10x15) para o e-mail: [email protected]. Mais infor-mações sobre as ce-nas para o teste estão no blog www.corona-do2010.blogspot.com

O FURACÃO ISABELLE HUPPERT Em temporada no Brasil com o espetáculo “Quartett”, do di-

retor americano Bob Wilson e do autor alemão Heiner Müller, a atriz francesa Isabelle Huppert foi o assunto no meio teatral nas últimas semanas. Seja pelo belíssimo trabalho que apresentou no palco, pelas homenagens que recebeu ou – principalmente – pelas excentricidades características de uma diva.

Foram trocas de hotéis nas cidades pelas quais passou, pedidos imediatos e a falta de interesse em conversar com a imprensa bra-sileira. Sobraram poucos registros fotográficos da visita, mas quem conferiu o espetáculo garante que a personalidade da atriz agrada mesmo é no palco. “Quartett” integra o calendário oficial do Ano da França no Brasil e é uma adaptação ao romance de Choderlos de Laclos, “As Relações Perigosas”.

Isabelle Huppert é um das mais versáteis e premiadas atrizes das últimas décadas. Tem prêmios como duas Palmas de Ouro em Can-nes (por “Violette Nozière”, em 1978; e “A Professora de Piano”, em 2001), dois Festivais de Veneza (“Um Assunto de Mulheres”, em 1988; e “Mulheres Diabólicas”, em 1995), um Urso de Pra-ta em Berlim (“8 Mulheres”, 2002), um César (1996, também por “Mulheres Diabólicas”) e um Bafta (como atriz revelação por “Um Amor Tão Frágil”, de 1977), entre outros.

TELEDRAMARTUGIA BRASILEIRA: ARTE OU

ESPETÁCULO? O livro “Teledramatur-

gia brasileira: arte ou es-petáculo?”, de Ana Maria Figueiredo, é dirigido a to-dos que são afetados pelas novelas da televisão – ain-da quando as criticamos como mero divertimento sem qualidade artística ou educativa. Só que há dife-renças entre as várias cate-gorias da teledramaturgia, que permitem qualificar algumas como mais res-ponsáveis diante da arte e do público que outras. “Não será importante in-vestigar a contribuição de tais teledramas à cultura popular brasileira?”, per-gunta a autora.

“CARA A TAPA” EM TEMPORADA NO LEBLON, NO RIO

Cinco anos depois de terem se transformado em companhia teatral, o Grupo de Teatro Meio – coordena-do pelo diretor Alex Brasil – inaugura sua sede no dia 3 de outubro, às 20h30. Na aber-

tura desse novo espaço cultural, batizado de Teatro Lá em Casa, será feita a estreia do espetácu-lo “O Gênio em Concurso”. O espaço fica na Rua Lopes de Oliveira, 635, Barra Funda, e remete à informalidade e ao

aconchego de uma casa. Ape-sar de ser a sede do Grupo de Teatro Meio, o espaço é aber-to para abrigar manifestações artísticas de outros grupos interessados e promete ofere-cer oficinas e seminários.

Isabelle Ruppert atraiu atenção da imprensa brasileira

Reinaldo Canato/ Entrelinhas

Divulgação

Div

ulga

ção

Repr

oduç

ão

Page 5: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

51 a 15 de Outubro de 2009Jornal de Teatro

Bastidores

CATHERINE ZETA-JONES ESTREIA NA BROADWAY

O musical “A Little Night Music” é uma adaptação do filme de 1955 do sueco Ing-mar Bergman, traduzido no Brasil como “Sorrisos de uma noite de amor”. O espetáculo teve sua primeira aparição nos palcos da Broadway nos anos 1970 e agora tem sua reestreia marcada para novembro com grandes nomes no elenco.

A atriz vencedora do Os-car pelo musical “Chicago”, Catherine Zeta-Jones fará sua estreia nos palcos nova-ior-quinos ao lado da ganhadora de cinco prêmios Tony Ange-la Lansburry. As mulheres fa-rão os papéis de Desiree Ar-mfeldt e Madame Armfeldt, respectivamente. Na primeira versão, as estrelas eram Gly-nis Johns, Hermione Gingold e Len Cariou.

“A Little Night Music” terá direção de Trevor Nunn e tri-lha de Stephen Sondheim em curta temporada, de 24 de no-vembro a 13 de dezembro, no Walter Kerr Theater.

STEVEN SPIELBERG QUER REVELAR BASTIDORES DA BROADWAY

O diretor Steven Spielberg e o canal de televisão americano Showtime querem fazer um programa sobre os bastidores de um espetáculo da Broadway. A ideia é similar ao que foi visto no Brasil, em junho deste ano, na minissérie “Som e Fúria” que, por sua vez, foi baseada na série canadense “Strings and Arrows”. Ambas mos-travam cenas sobre o que acontecia por trás das coxias. No caso de Spielberg – e dos produtores Craig Zadan e Neil Meron – a sé-rie pretende expor todo o processo que envolve uma produção da Broadway, desde a criação ao dia da estreia. Os envolvidos preten-dem montar a peça de fato nos palcos depois que a série for ao ar.

Apesar de a série ainda estar em sua fase inicial, os representantes da Showtime negam qualquer tipo de comentário sobre o programa (os produtores estão se reunindo com diversos roteiristas, com a in-tenção de evidenciar os diversos pontos de vista que se confrontam na hora de montar um espetáculo, dos atores aos investidores).

CURSO ORIENTA ESPAÇOS CULTURAIS SOBRE COMO RECEBER PESSOAS COM

NECESSIDADES ESPECIAISA SMPED (Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiên-

cia e Mobilidade Reduzida) lança um curso para orientar ges-tores, produtores e funcionários de espaços culturais sobre o relacionamento com pessoas com necessidades especiais. O objetivo é combater o preconceito e criar um ambiente de inclusão e convivência. As primeiras edições do curso foram ministradas a funcionários da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).

A primeira etapa do programa inclui vistoria e orientações técnicas realizadas por arquitetos da CPA (Comissão Perma-nente de Acessibilidade), tendo como foco a acessibilidade arquitetônica. A segunda consiste em sensibilizar os funcio-nários para melhorar o atendimento, simulando situações do cotidiano, como auxiliar um cego com seu cão guia, empurrar uma cadeira de rodas ou atender um surdo na lanchonete. A etapa seguinte inclui reuniões com gestores e administradores do espaço.

O curso integra o programa “Sem Barreiras na Cultura”. Os espaços culturais interessados em receber as aulas devem entrar em contato com a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida e agendar uma visita da equipe. Mais informações: http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/deficiencia_mobilidade_reduzida

Realizado pelo grupo Falos & Stercus e pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, o Festival de Teatro de Rua de Porto Alegre foi aprovado pela Caixa Econômica Federal e já tem garantida a sua segunda edição, prevista para 2010. O evento pretende reunir oito grupos de teatro de rua do Estado e dois convidados das demais regiões do Brasil. Serão 30 apresentações para um pú-blico estimado de 50 mil espectadores. Para a formação dos artistas e técnicos, serão realizadas oficinas, seminários e um ciclo de debates. A primeira edição do evento foi realizada entre 21 a 28 de abril.

“PEQUENA MISS SUNSHINE” E “COMO ÁGUA PARA CHOCOLATE” SÃO ADAPTADOS PARA O TEATROO filme independente de comédia “Pequena Miss Sunshine” e

o livro “Como água para chocolate”, de 1989, de Laura Esquivel – que mais tarde também foi parar nas grandes telas – foram os escolhidos para participar do laboratório anual Sundance Institute Theatre Lab. As obras serão adaptadas como musicais de teatro na temporada 2009-2010. O Sundance Institute Theater Lab propõe auxiliar profissionais de teatro que queiram desenvolver suas ha-bilidades “sem a pressão da produção, com a ajuda de um time de atores profissionais e artistas talentosos que podem ajudar a mol-dar o trabalho”, como o site da instituição explica. “Pequena Miss Sunshine” teve sua estreia em 2006, justamente no Sundance Film Festival, e agora se transforma em musical com música de William Finn e direção de James Lapine. Já “Como água para chocolate”, que tem composição de Lila Downs e Paul R. Cohen, também teve a estreia de sua versão cinematográfica em Sundance.

Após temporada muito bem-sucedida no Teatro Augusta, em São Paulo, o espetáculo “Aguar-do Notícias da Polônia”, de João Fábio Cabral, reestréia no dia 7 de outubro, no Espaço dos Satyros 1, na praça Roosevelt. No elenco es-tão Fábio Rhoden, Gabi Cywinski, Guilherme Gonzalez, Julia Bo-brow e Roberta Uhller, sob autoria e direção de João Fábio Cabral.

MISTÉRIO BUFOSegue até 12 de outubro, no Centro Cultural Banco do Brasil

de Brasília, a temporada do espetáculo “Mistério Bufo”. Na foto de camarim, as atrizes Carol Machado, Raquel Karro e o diretor Fábio Ferreira.

GARANTIDA A REALIZAÇÃO DA 2º EDIÇÃO DO FESTIVAL DE TEATRO DE RUA DE PORTO ALEGRE

“AGUARDO NOTÍCIAS DA POLÔNIA” REESTRÉIA EM SÃO PAULO

Festival irá reunir oito grupos de rua para um público estimado de 50 mil espectadores

Div

ulga

ção

Divulgação

Sergio Martins

Reestreia aguardada em SP

Page 6: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

6 1 a 15 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Editais

Por Felipe Sil

Efervescência cultural. A CEF (Caixa Econômica Fe-deral) registrou aumento de propostas recebidas, fato con-siderado relevante para os editais culturais. As propostas para Ocupação dos Espaços Culturais da Caixa contaram com um crescimento de 42% em relação a 2008 (2.771 tra-balhos enviados). Já para Fes-tivais de Teatro e Dança foram recepcionados 312 projetos, número 16% superior ao re-gistrado no ano passado. O maior aumento percentual, porém, ficou por conta do edi-tal Apoio ao Artesanato Brasi-leiro, que recebeu 420 projetos e superou em 92% as inscri-ções de 2008. Os três editais totalizaram 3.503 propostas, de todas as regiões do País. O investimento previsto é de R$ 28 milhões.

A escolha dos vencedores dos editais, que deve ocorrer até o dia 30 de novembro, cos-tuma ser divulgada em toda a imprensa e se dá, anualmente, via edital público de ocupação. A Caixa direciona ações para o apoio a projetos e progra-mas culturais relacionados aos segmentos de teatro, artes plásticas, fotografia, dança, música e artesanato. São prio-rizados eventos que circulam nos espaços da Caixa Cultural localizados em Brasília, Curi-tiba, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Há, porém, des-tinação também para projetos de todos os Estados do País, assim como ações culturais que ocorrem em espaços de terceiros.

Para os diretores do órgão, os números só comprovam que os patrocínios culturais da Caixa ganharam ainda mais força ao longo dos últimos anos, ao lado da histórica atu-ação nos segmentos sociais, e assumem mais responsabili-dades na área cultural do País. Para o gerente nacional de Promoções, Cultura e Espor-tes, Gerson Bordignon, “o re-corde de inscrições é resulta-do de uma política inclusiva, de afirmação dos valores do País e preservação do patri-mônio estético brasileiro, re-presentado pela criatividade de nosso povo”.

NOVAS ÁREAS E ESPAÇOS

A Caixa ainda prevê a inau-guração de mais três espaços culturais, além das unidades que já estão em funcionamen-to, nas cidades de Fortaleza,

CEF registra crescimento de propostas para editaisDiretores do órgão consideram relevante o aumento no número de inscrições de projetos e creditam o avanço a uma política inclusiva

Recife e Porto Alegre. Eles ainda estão em fase de refor-ma e adaptação. As inaugu-rações estão previstas para 2010. “A Caixa acredita que, dessa maneira, contribui para a democratização do acesso ao patrocínio cultural e pos-sibilita aos artistas dos mais distantes municípios brasi-leiros concorrerem ao patro-cínio para a sua realização. Cabe um destaque: a maioria das atividades que acontece na Caixa Cultural é suportada por projetos pedagógicos que ela mesma coordena, contem-plando as atividades de visita-ção, monitoria, oficinas, além de lanche e transporte para crianças, idosos e portadores de necessidades especiais”, esclarece Gerson.

Para Regina Albuquerque, gerente da Caixa Cultural no Rio, uma explicação que pode ser dada para o aumento sig-nificativo das propostas re-cebidas é a segmentação dos editais. “O de apoio ao arte-sanato brasileiro, por exem-plo, é recente. Com essa seg-mentação, os artistas acabam sabendo dessa oportunidade pelo boca-a-boca. Isso legi-tima os editais, que passam a ser vistos como porta de

entrada para muitos profis-sionais. Esse patrocínio da Caixa é transparente e cada vez mais dá suporte não só a artistas renomados, mas a ar-tistas iniciantes”, garante.

Lançado em 2008, o edital da CEF Programa Caixa de Apoio ao Artesanato Brasilei-ro tem como foco o desenvol-vimento de comunidades arte-sãs e de sua sustentabilidade, além da valorização do arte-sanato tradicional e da cultura brasileira, contemplando todo o processo produtivo, desde a aquisição de matéria-prima até a comercialização do pro-duto. O programa consiste no patrocínio a comunidades artesãs por meio de um pro-cesso seletivo público, aberto anualmente a todas as regiões do País.

Os projetos para o edi-tal (foram recebidas 420 propostas) serão analisa-dos com base em critérios como o manejo sustentável da matéria-prima para a pro-dução artesanal, a adequação das unidades produtivas aos princípios de economia soli-dária, a sustentabilidade do projeto, comércio justo, a qualidade artística e o cará-ter tradicional do artesanato

produzido, além do impacto social positivo na comunida-de em que estão inseridos. A primeira edição do programa culminou no patrocínio a 16 pontos de vários Estados brasileiros, com um investi-mento total de R$ 550 mil.

EVENTOS

NACIONAISOutro edital da Caixa é o

Festivais de Teatro e Dança, em que a seleção dos pro-jetos é feita com bases nos princípios de nacionalização dos recursos, com o objeti-vo de promover e incentivar as diversas manifestações ar-tísticas e culturais em todo o território nacional. Foram recebidas 312 propostas. O edital atende a critérios como análise da concepção geral do projeto, expectativa de inte-resse do público, currículo do proponente e das companhias integrantes e adequação orça-mentária, além de perspectiva de contribuição ao enriqueci-mento sociocultural da comu-nidade e o caráter de respon-sabilidade social.

Em 2008, a Caixa lançou a segunda edição do programa para seleção de Festivais de Teatro e Dança, referente ao

ano de 2009. Foram selecio-nados 28 projetos de teatro e 20 de dança, dentro de um to-tal de 272 projetos inscritos, com um investimento total de R$ 3,45 milhões. O primeiro processo seletivo para o pa-trocínio de projetos de fes-tivais havia sido lançado no primeiro semestre de 2008 e teve 531 projetos inscritos de todo o Brasil.

Com um investimento de R$ 2,9 milhões, a Caixa contemplou um total de 36 projetos de festivais, sendo 21 de teatro e 15 de dança. A instituição, como empresa pública, julga que a escolha de projetos culturais para pa-trocínio, via processo seleti-vo público, visa dar transpa-rência à gestão dos recursos disponíveis para este fim. “O mais legal de todos esses edi-tais é que eles descentralizam a cultura em todas as regiões do País. Notamos um aumen-to considerável de propostas recebidas de todos os Esta-dos do Brasil. Tudo devido à credibilidade que os editais da Caixa têm ganho dentro da classe artística. Isso é maravi-lhoso porque foge daquele eixo Rio-São Paulo apenas”, comemora Regina.

>> Bordignon: ‘O recorde de inscrições é resultado de uma política inclusiva, de afirmação dos valores do País e preservação do nosso patrimônio estético’

Div

ulga

ção

Page 7: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

71 a 15 de Outubro de 2009Jornal de Teatro

Dança

Por Adair de OliveiraA capital federal possui ou-

tras bancadas além daquelas formadas no Congresso Na-cional, onde os parlamentares se encontram para discutir pro-jetos de leis e outras demandas de cunho nacional. Na bancada de cá, que não é formada por políticos, existe um grupo de difusores que trabalha ardu-amente para que a dança, em especial o balé, se mantenha vivo na capital. Para isso, a arte conta com um grupo de talen-tos como a ex-bailarina e pro-fessora, Giséle Santoro, conhe-cida internacionalmente como a Maìtre de Ballet. O título Maìtre é o resultado de mais de 30 anos dedicados à arte da dança. É a própria Giséle que conta um pouco desse pano-rama e como foi ser uma das pioneiras a trazê-la para uma cidade que acabara de nascer no Centro-Oeste brasileiro.

Os primeiros passos não foram muito bem sucedidos na nova capital do País, devido o golpe militar de 1964. “Os projetos profissionais de que participei, no início de Brasí-lia, não tiveram prosseguimen-to por razões de força maior. O primeiro deles, a fundação de uma escola profissional de dança e de um corpo de baile não aconteceu porque o exa-me de seleção para contratação dos bailarinos foi realizado no dia do golpe militar. O se-gundo, o curso de graduação em dança da UnB (Universi-dade de Brasília), em fase de implantação, foi adiado em novembro de 1965, quando mais de 280 docentes da UnB pediram demissão coletiva. Enquanto isso, eu dava aulas particulares de dança na sede do Bancrévea – foi um dos primeiros clubes do Distrito Federal –, até a época em que deixamos a cidade (Giséle e o marido, o maestro Cláudio Santoro) para ir para o exílio, em 1966.

O retorno de Giséle a Bra-sília aconteceu em 1978, com a missão de organizar a Escola Profissional de Dança do Dis-trito Federal e o Corpo de Balé do TNCS (Teatro Nacional Cláudio Santoro). O projeto foi interrompido novamen-te devido à mudança de go-verno. Durante este período, estabeleceram-se na cidade as bailarinas Norma Lília e a Lú-cia Toller. Ainda no mesmo pe-ríodo foi fundada na cidade a Academia Advanced, de Glória Cruz e Soraia Amorim. No ano

A coreografia de uma cidadeGiséle Santoro ajuda a apresentar a história da dança em Brasília

seguinte, Cecília Leite e a Yara de Cunto abriram uma esco-la de música e dança chamada Academia Stilo, na quadra 302 Norte e na avenida W3 Sul, mas as iniciativas não duraram muito tempo.

Giséle conta que, nesse mo-mento, surgiram várias escolas como IGE, Ofélia Corvelo e Regina Maura, entre outras. Mas boa parte delas foi fecha-da, o que levou à instalação de aulas de balé em colégios par-ticulares e academias de ginás-tica. “Com isso, a clientela das academias de balé particulares, composta principalmente de crianças, diminuiu incrivel-mente. Com a proliferação das academias de ginástica e o advento da popularidade de outros estilos de dança, novas escolas foram aparecendo e, para sobreviver, a maioria ofe-rece, além do balé – que muitas vezes passa a ser complemento e não prioridade –, um mix de atividades físicas de todos os gêneros”, conta.

Em 1980, foi aberta na ci-dade a Academia de Balé e Artes Cênicas Gisèle Santo-ro, que funcionou até 1987. A escola patrocinou dois cursos

nacionais de aperfeiçoamento em dança, com professores de nome nacional e internacional, que foi o embrião dos Seminá-rios Internacionais de Dança de Brasília, iniciados em 1991. A cidade contou com compa-nhias como Asas e Eixos, que teve curta duração; o Endan-ças, ligado à UnB, mas que aca-bou quando seu fundador foi para o Rio de Janeiro; o Balé de Câmera Gisèle Santoro e o Balé de Brasília, com bailarinos selecionados por audição que existe até hoje, mas que, por falta de espaço próprio, não mantém uma temporada regu-lar. Há, também, grupos con-temporâneos, desligados de academias, mas com bases di-versas de apoio e que mantêm atividade regular como o Alaya, de Lenora Lobo, e, posterior-mente, o Anti Status Quo, de Luciana Lara, e o Basirah, de Gisele Rodrigues, além do mais recente grupo, o Atmos Cia de Dança, de Janson Damasceno e Sheyla.

DIFICULDADESE RESULTADOS

Entre os obstáculos encon-trados pelo balé em Brasília

estão não só a falta de espa-ço para desenvolvê-lo, mas o pouco financiamento e, princi-palmente, no caso da dança, a rotatividade de bailarinos. Nas cidades em que as artes, em geral, e a dança, em particular, se desenvolvem, há o binômio formação/mercado de traba-lho. O que significa haver uma escola estatal de formação pro-fissional e um corpo de baile. As duas vertentes, conectadas, se auto-alimentam. Em Brasília, só a música dispõe deste binô-mio (na área de formação, com a Escola de Música e o Departa-mento de Música da UnB, bem como na área profissional, com a Orquestra do Teatro Nacional Claudio Santoro).

“Como a cidade não propor-ciona nada de nível profissional na área de formação em dança e não oferece o consequente mer-cado de trabalho, os praticantes de dança na cidade só têm como opção parar de dançar, ao che-garem à crítica fase do vestibu-lar, e continuar no amadorismo, fazendo da dança um hobby. Ou ir para outros centros, seja no País, seja no exterior”, expli-ca Giséle, acrescentando que a cidade possui grupos de expres-

são, mas ainda falta um estilo ou marca, devido à dança na cidade ainda ser muito jovem.

Outro dado apontado por ela é que não há um calendário oficial em Brasília, devido a não existência de um orçamento de apoio. Mas os bailarinos brasi-leiros podem contar com um dos mais importantes festivais de dança realizado no País, o Se-minário Internacional de Dança de Brasília, concebido pela pró-pria Giséle. O evento acontece sempre em julho, no TNCS, e conta com o apoio da Secreta-ria de Cultura do Distrito Fede-ral, com a Associação Cultural Claudio Santoro, embaixadas e instituições culturais nacionais e internacionais.

O Festival oferece cursos, diversas disciplinas práticas e teóricas de dança e teatro. Ou-tra característica do encontro é a oferta de bolsas de estudo em prestigiosas instituições de en-sino na Europa e nos Estados Unidos, estágios remunerados e até contratos em diversos teatros e companhias no exterior. Des-de a criação, o evento concedeu mais de 260 bolsas de estudos, estágios e contratos para jovens bailarinos brasileiros de talento.

Div

ulga

ção

Mar

celo

Dis

chin

ger

/ D

ivul

gaçã

o

>> Apesar das dificuldades, como falta de espaço e de financiamento, o balé em Brasília persiste e busca cada vez mais ares de profissionalismo

Page 8: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

8 1 a 15 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Entrevista

Por Daniel Pinton Schilklaper

Marcos Caruso, uma exceção

O que pode mais desejar um homem já consagrado naquilo que ama? O que pode mais desejar um ator com recordes de público na sua carreira? Foram basicamente estas perguntas que logo me surgiram quando eu

soube que entrevistaria Marcos Caruso. O que seriam, a princípio, duas páginas dedicadas a ele, se tornaram três – por conta da simpatia, da disponibilidade e, mais do que tudo, da coragem deste homem do teatro em abrir o seu coração. Nesta longa entrevista, o ator e dramaturgo fala, bem à vontade, dos mais diver-sos temas comuns a todos os cidadãos brasileiros: da era das “celebridades”, do consumismo desenfreado, de uma sociedade aprisionada e, é claro, da política e da inércia da população frente ao seu cenário atual. Como não poderia deixar de ser, Marcos Caruso fala, também, do teatro brasileiro: disserta sobre seus 36 anos de profissão, seus grandes sucessos (como “Trair e Coçar, é Só Começar”), suas parcerias, a questão do patrocínio teatral, e “As Pontes de Madison”, espetáculo que protagoniza atualmente ao lado de sua grande companheira (e ex-mulher) Jussara Freire.

Jornal de Teatro – Como e quando foi seu primeiro contato com o teatro?Marcos Caruso – Quando ainda era criança. Minha mãe morreu quando eu tinha dez dias de vida e fui criado, em parte, pela a minha avó, que me deu um boneco de fanto-che. Desde aquele momento, comecei a criar historinhas, a fazer o meu teatrinho.

JT – Você é formado em di-reito. Por que essa escolha? Realmente pensava em tra-balhar na área?MC – Meu pai me aconselhou a ter um diploma, caso minha vida de ator não desse certo. Então, escolhi direito como o meu plano B. Imaginei que com o direito eu poderia, no mínimo, representar nos tribu-nais, acusando ou defendendo um réu.

JT – E como foi a reação da sua família?MC – Meu pai reagiu numa boa. Ele viu que era aquilo que eu realmente queria fazer e me apoiou. Não houve pro-blema algum.

JT – Muita gente costuma criticar a nova geração de atores, já que muitos “caem de paraquedas” na profissão

como “celebridades”. Qual a sua opinião a respeito des-sa nova geração?MC – É exatamente contrária. As pessoas que “caem de pa-raquedas” também são muito bem-vindas. Quem não tem talento não resiste ao teatro. A seleção natural vai automatica-mente se encarregar de cortar do meio aquele que não tem talento. Veja, por exemplo, esse talento que é a Grazi Massafera. Eu só acho uma pena porque, muitas vezes, gente de talento não tem ainda o espaço que merece.

JT – Hoje em dia está mais fácil ou mais difícil se pro-duzir uma peça em relação à década de 1970, quando você começou?MC – Está mais difícil. Os do-nos de teatro cobram preços altíssimos, os jornais cobram fortunas para divulgar o nosso trabalho e os próprios técnicos e profissionais da área pedem va-lores altíssimos. Por quê? Porque ninguém produz sem patrocínio. Então, na medida que se tem um patrocínio, todo mundo eleva o seu preço e se torna impossível fazer uma produção sem patro-cínio hoje em dia.

JT – Então, como você tem agido?MC – Eu sou uma exceção.

Tenho grandes sucessos na mi-nha carreira. Tenho três peças de seis anos em cartaz, tenho duas peças de sete anos em cartaz, tenho uma peça de 23 anos. Eu nunca, na minha vida profissional, fiquei no teatro menos de nove meses em car-taz. Eu sempre fui um ator de muita sorte por ter feito muito sucesso. De todas as peças que fiz, que foram mais de 30, tive patrocínio em quatro (foram essas últimas que fiz). Eu sem-pre fui um homem que produzi com o meu dinheiro, produzia com o dinheiro que eu ganhava do teatro. Eu investia no teatro aquilo que eu recebia do teatro. E não só eu, muita gente fez isso: Antônio Fagundes, Marco Nanini, Paulo Goulart, Othon Bastos, Eva Wilma, Raul Cor-tez, Irene Ravache, Juca de Oli-veira... Muita gente fez isso du-rante muitos anos. Estiveram sempre em cartaz colocando dinheiro do próprio bolso no teatro. Hoje em dia mudou, pois as regras mudaram. E mu-daram, acho, para pior.

JT – Falta incentivo público? Como você vê as iniciativas do poder público para o teatro?MC – Existem algumas coi-sas interessantes. Algumas leis que são interessantes, como a lei de fomento da Prefeitura

de São Paulo. Mas acho que o teatro tem de ser patrocinado de uma outra forma, embora isso resulte em uma discussão enorme. Acho que, hoje, está mais difícil. Em “Operação Abafa”, que ficou quase dois anos e três meses em cartaz, produzimos com R$ 50 mil, então é possível. Em São Paulo ainda existem muitos grupos que conseguem sobreviver as-sim, mas acho que o dinheiro tem sido usado para poucos e, muitas vezes, dado àqueles que não precisam.

JT – Acredita que hoje em dia a pessoa precisa ter uma imagem atrelada à TV para conseguir patrocínio?MC – O patrocinador exige que essa pessoa tenha uma imagem atrelada à TV. Isso é injusto para com a arte. O Ma-teus Nachtergaele, antes de ter ido para a Globo, fez “Livro de Jó”, um dos maiores suces-sos do teatro brasileiro, e não tinha patrocínio nenhum. É um cara que hoje talvez tenha porque está na Globo. Mas, independentemente de estar com a cara na Globo, ele tem talento, só para dar um exem-plo. Existem poucas empresas com sensibilidade de apoiar verdadeiramente o talento em todos os níveis – um ator, um

autor ou um diretor – sem que não tenham passado pela tele-visão. Eu entendo que para a empresa o retorno para o seu produto deva ser maior (com ator na TV), mas ninguém ga-rante que um ator que está na televisão leve mais público do que um que não está.

JT – Baseado me que você diz isso?MC – Sou um exemplo disso. Tenho 36 anos de profissão e seis anos de Rede Globo. Os outros 30 anos anteriores eu sobrevivi – e muito bem – do teatro. Sobrevivi brilhantemen-te. Sou um nome conhecido em São Paulo devido ao que eu faço no teatro. Esses últimos seis anos da Rede Globo me deram uma projeção nacional, maior visibilidade, mas eu nun-ca precisei da minha imagem na televisão para levar público ao teatro e acho que poucas pes-soas precisaram, graças a Deus. Hoje a mentalidade passa a ser mais consumista. Vivemos em um mundo mais capitalista do que nunca, no qual o seu pro-duto tem que ter uma cara e, se você puder valorizar o seu pro-duto com uma cara mais ven-dável, melhor. Nós não gosta-ríamos que fosse assim, mas as empresas praticamente exigem que alguém do seu elenco es-

“Esses seis anos de Globo me deram projeção nacional, mas eu nunca precisei, para levar público ao teatro, da minha imagem na TV e acho que poucas pessoas precisaram, graças a Deus”

Marcos Caruso é símbolo de experiência com seus 36 anos de profissão

Fotos de divulgação

Page 9: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

91 a 15 de Outubro de 2009Jornal de Teatro

Entrevista“Eu sou uma exceção. Eu nunca, na minha vida profissional, fiquei no teatro menos de nove

meses em cartaz. Eu sempre fui um ator de muita sorte por ter feito muito sucesso”

teja na televisão. Pelo lado do mercado eu entendo, mas não entendo pelo lado da arte.

JT – “Sua Excelência, o Candidato”, de 1985, apesar de cômico, não deixa de ser uma crítica aos políticos, já naquela época. Como você enxerga a política hoje em dia? Mudou muita coisa da década de 1980 para cá?MC – Mudou. Hoje podemos falar abertamente, vivemos uma democracia mais plena, podemos saber das falcatruas, das injustiças e dos resultados das CPIs que, na maioria das vezes, não são aquilo que a gente gostaria que fosse, mas, de qualquer forma, você tem abertura e liberdade. Acho que isso nós ganhamos. Isso o povo brasileiro conquistou: essa abertura para você falar livremente aquilo que pensa a respeito, coisa que não se fala-va até 1984.

JT – Você enxerga a peça como pioneira nesse sentido?MC – “O Candidato” foi a primeira peça a falar aberta-mente de política e a colocar o dedo na ferida dos problemas políticos do País pós-abertura democrática. Tanto que nós ganhamos o Prêmio Molière daquele ano por conta da con-tundência daquele espetáculo, um prêmio que nunca tinha sido dado para autores de co-média. Depois disso, a Jandira Martini e eu escrevemos vá-rias outras peças e colocamos o dedo na ferida de proble-mas, além de políticos, sociais e econômicos do País. Assim foi “Jogo de Cintura” (1989), “Porca Miséria” (1993), e, re-centemente, “Operação Aba-fa” (2004), onde nos apro-veitamos de forma oportuna um momento político para, através da comédia, falarmos da tragédia que era aquele mo-mento em que vivíamos.

JT – E como você avalia o espaço atualmente para se falar de política no teatro?MC – Acho que tem diminu-ído. Como autor de comédia de costumes e como autor de um teatro político, que sou há mais de 25 anos, acho que está sumindo porque a internet é muito rápida. Você se posicio-na imediatamente diante de um site, de um blog, de uma notí-cia que você lê... Coisa que não acontecia antes. Se você fizer um texto político no Brasil de hoje, onde o presidente da Re-

pública tem 80% de aprovação, e não pegar a veia correta, você poderá ser chamado de ingê-nuo ou panfletário.

JT – Você vê o público um pouco desinteressado com o tema político?MC – Totalmente. Estamos vi-vendo em um mundo onde as pessoas se isolaram. Não estou dizendo que sou contra ou a fa-vor, mas a realidade de 2009 é que você se fecha em sua casa com grades, se fecha em seu carro com vidros elétricos, se fecha em seu mundo com seu celular. Quando você não quer conversar com alguém, você põe o celular na orelha, finge que está conversando com uma pessoa e se fecha em seu mun-do. Seu escritório vira uma pas-tinha de computador. Então o ser humano foi se isolando pe-las circunstâncias do momento, da vida, do meio em que esta-mos vivendo, da evolução tecno-lógica. O ser humano se isolou de tal forma que não consegue mais agir em grupo, agir coleti-vamente. Você, nos anos 1960, agia coletivamente, ia para as ruas. Nos anos 1970 e 1980, que foram anos de chumbo, você, de certa forma, agia coletivamente, se reunia clandestinamente ou, através de metáforas, fazia com que o seu discurso chegasse aos ouvidos das pessoas. Hoje esta-mos isolados.

JT – Diante da atual conjun-tura, você já pensa em algum tema, algum texto político?MC – Eu não sei qual será o próximo tema político que a Jandira e eu abraçaremos. Va-mos esperar a eleição de 2010. JT – Gostaria que você co-mentasse também sobre “Trair e Coçar é Só Come-çar”. Você imaginava, en-quanto escrevia a peça, que ela poderia chegar a ser re-corde absoluto de público na história do teatro brasileiro? MC – Jamais. Acho que nin-guém pensa em fazer um suces-so tão longo e, ao que me parece, eterno, porque não tem sinais de que vá terminar tão cedo. Claro que, quando eu escrevi, tinha certeza de que estava es-crevendo uma comédia mate-maticamente feita para fazer rir de 60 em 60 segundos. É um vaudeville e você não tem como errar. É feito para o público que quer apenas rir, quer ape-nas o divertimento. Que a peça faria sucesso eu tinha certeza enquanto eu estava escrevendo.

“Está mais difícil de se produzir. Os donos de teatro, os jornais e os próprios técnicos e profissionais da área cobram preços altíssimos. As regras mudaram e acho que mudaram para pior”

JT – E por que você acha que a peça fez esse sucesso tão estrondoso?MC – O sucesso é resultado de uma união de qualidades: um elenco estrelar e de muito talento, como foi o da estreia, um teatro bem localizado, uma bela divulgação, uma direção boa, com aquele texto... Não tem por que ela não ficar muito tempo em cartaz. Agora, um, dois, três anos, tudo bem. Qua-tro você fala: ‘Nossa!’. Cinco fala: ‘Ainda?’. Seis, sete, oito, fala: ‘Mas, meu Deus’. Depois de dez anos eu fui verificar, fazer uma pesquisa e descobri que a peça já estava quase che-gando em sua segunda geração de espectadores. Chegou a um ponto em que, em uma roda de quatro pessoas, três já haviam assistido e a quarta, como fi-cava sem assunto, meio que se obrigava a ir. O “Trair e Coçar” foi visto por seis milhões de pessoas em 23 anos. Isso é uma loucura. E não é nada perto do que ele atingiria se ele passas-se na televisão: seria visto por 80, 150 milhões de pessoas em uma só noite. A peça pratica-mente não viajou o Brasil. Ain-da tem uma longa caminhada. Então, acho que vou embora um dia e “Trair e Coçar” fica. Caruso e Sandra Bréa. Grande parte da carreira do ator foi sobre os palcos

Caruso com Marília Pêra. Para o ator, o próprio meio se encarrega de eliminar os que não possuem talento

Fotos de divulgação

Page 10: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

1 0 1 a 15 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Entrevista

JT – Você sempre se dá muito bem quando tra-balha com mulheres (tem parceria autoral de mais de 20 anos com Jandira Mar-tini, foi casado durante 20 anos com Jussara Freire e, como agora em “Pontes de Madison”, sempre se desta-cou no palco ao lado dela e, na televisão, formou dupla memorável com a Lilia Ca-bral em “Páginas da Vida”). Você tem mais facilidade em trabalhar com mulhe-res? Por que você acha que isso acontece?MC – Você está me chaman-do a atenção agora para isso. Eu não tenho parcerias mas-culinas mesmo. Fiquei cinco anos e meio com a Irene Ra-vache, em “Intimidade Inde-cente”, trabalhei durante três anos com a Regina Duarte, em “Honra”, além de outras mulheres que participaram da minha trajetória. Eu não sei. Eu realmente nunca fiz um trabalho de dois homens no palco. Acho que é destino.

JT – E o fato de dividir cena com alguém que você foi casado durante 20 anos? A intimidade entre os atores facilita?MC – É um presente. Sem dú-vida alguma facilita. Primeiro porque nós já temos uma inti-midade cênica e, obviamente, para esta peça (“Pontes de Ma-dison”), onde o tema central é uma história de amor, é claro que você ter uma intimidade

“Existem poucas empresas que têm uma sensibilidade de apoiar verdadeiramente o talento em todos os níveis: um ator, um autor ou um diretor sem que não tenham passados pela televisão”

afetiva e carnal – eu sei onde pegar na Jussara, não precisa-mos ensaiar – só ajuda. E nós somos muito amigos. Fomos casados durante 20 anos, es-tamos separados há 15, mas somos grandes amigos, não ficamos mais de uma semana sem nos falar. É muito praze-roso poder dividir o palco em uma história com um tema como este, com uma mulher que eu amei e que ainda amo como minha ex-mulher e co-locar isso para fora em cena. Torna-se realmente mais fácil. JT – Como está sendo a re-cepção do público a “Pontes de Madison”?MC – Impressionante. O pú-blico mais velho se emocio-na porque estamos contan-do uma história de amor na maturidade. O público com mais de 40 anos se emocio-na muito e o público mais jovem, de 20 a 35, reflete sobre esse amor que aconte-ce uma vez só na vida, essa coisa única que, se você per-der esse bonde, não encontra outro. Voltando ao tema da superficialidade em que vi-vemos, o beijante e o ficante são termos mais adequados a essa geração. E uma geração que vai ver um espetáculo onde ninguém só beija, só fica, reflete até que ponto ser beijante ou ser ficante hoje em dia é bom e até que pon-to quando chegar um amor desse não vai passar por uma revisão de suas necessidades

amorosas, físicas. A peça é um grande sucesso.

JT – Você acredita em finais felizes para paixões avassa-ladoras?MC – Eu acho que a gente tem sempre que acreditar, por-que a gente sempre espera que o nosso final seja feliz. Somos criados com finais felizes. Co-meça-se a história com “Era uma vez...” e termina-se sem-pre com “E foram felizes para sempre”. De repente a gente vê que a vida não é um sonho, não é um conto de fadas e que os finais não são necessaria-mente felizes, ao contrário, a maioria deles é infeliz.

JT – Já se viu como o Ro-bert, tendo uma paixão avassaladora?MC – Já me vi uma vez sim, mas ela não era casada (risos). Não dá para fazer um paralelo.

JT – Vocês pretendem viajar com a peça no ano que vem? MC – Ficamos até 20 de de-zembro em São Paulo e a ideia é ir para o Rio depois, fazer al-gumas capitais.

JT – Pretende se dedicar também à TV, ao cinema?MC – Eu devo fazer a próxi-ma novela das sete “Bom Dia Frankenstein”, estou escreven-do uma minissérie com a Jan-dira Martini, que ainda vamos apresentar à Globo, e tentando esboçar ainda um texto de tea-tro para 2011 ou 2012.

SOBRE A PEÇA “PONTES DE MADISON”:

As “Pontes de Madison”, best seller de Robert James Waller, em cartaz no Teatro Renaissance, até 20 de dezembro, trata da história de amor entre Francesca Johnson (Jussara Freire), uma mulher casada, e Robert Kincaid (Marcos Caruso), fotógrafo da revista “National Geographic” que vai até o condado de Madi-son, em Iowa (EUA), registrar imagens das famosas pontes co-bertas. Em apenas quatro dias, Robert e Francesca passam por uma avassaladora paixão e depois vivem um longo desencontro, preenchido por raro e intenso amor. A partir deste simples encon-tro suas vidas se modificarão para sempre. É um romance com toques de humor. A história é contada em flashbacks, a partir da leitura dos diários de Francesca,, que revela essa passagem de sua vida, encontrados por seus filhos Carolyne (Luciene Adami) e Michael (Paulo Coronato) depois de sua morte. O drama simples e tocante discute profundos valores humanos pouco utilizados nos dias de hoje.

FICHA TÉCNICA:

Autor: Robert James WallerTradução e Adaptação: Alexandre TenórioDireção: Regina GaldinoElenco: Marcos Caruso como Robert Kincaid, Jussara Freire

como Francesca Johnson, Luciene Adami como Caroline Johnson e Paulo Coronato como Michael Johnson

Cenário: Marco LimaFigurinos e Visagismo: Fábio NamatameIluminação: Ney Bonfante

“De repente a gente vê que a vida não é um sonho, não é um conto de fadas e que os finais não são necessariamente felizes, ao contrário, a maioria deles é infeliz”

Caruso e Irene Ravache. As grandes parcerias do consagrado ator, em 36 anos de carreira, foram mulheres

Caruso e Cleyde Yaconis. Ator fará próxima novela das sete, da Globo

Fotos: Divulgação

Page 11: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

1 11 a 15 de Outubro de 2009Jornal de Teatro

Foi em Niterói (RJ), no dia 26 de novembro de 1955, que Bia Bedran nasceu, ou melhor, estreou. Isso porque, desde criança, assim bem pequenini-nha, a menina, criada em famí-lia de artistas, começou a escre-ver músicas e poemas, coisas que, geralmente, toda criança que lê e se diverte com a litera-tura faz. “No início, eu não so-nhava em ser artista da infân-cia. Eu era criança e gostava de ler. Gostava de contar, fabular o que eu lia. Às vezes, só para mim mesma, para o meu fazer, gostava de me trabalhar artisti-camente”, relembra Bia.

Na adolescência, assim já mais mocinha, seu pai sempre a inscrevia em concursos de música e só revelava a idade da filha depois, para ela não ser desclassificada. Nessa fase, Bia fazia sua arte pensando nos adultos. Fazia sambas, toadas, músicas políticas e concorria com adultos em festivais de canção. Tanto que foi muito influenciada por João de Barro, Braguinha, Lamartine Babo e pelas músicas da Rádio Nacio-nal. Precoce, não?

Sua carreira começou para valer em 1973, aos 17 anos (nem era gente grande ainda a menina). Na época, sua família montou um grupo de teatro para crianças. As apresentações aconteciam no quintal da casa de uma tia, daí o nome Quin-tal Teatro Infantil. “Eu descobri a minha vocação quando tive

Especial

Por Douglas de Barros

Era uma vez Bia Bedran, uma menina que nasceu para fazer as crianças sonharem e hoje ensina a quem quiser a viver feliz para semprea sorte de trabalhar no grupo que minha família criou. Éra-mos, ao todo, 23 entre irmãos e primos da família Martini Be-dran. Minha mãe escrevia peças para crianças e a família toda trabalhava. Minha avó fazia os vestidos e meu avô ficava na bilheteria. Eu, com 17 anos, era uma das mais velhas do grupo. Nesse tempo foi que eu desco-bri esse mundo”, diz Bia.

A arte de contar estórias veio naturalmente com o con-vívio com as crianças. Foi nessa época que a jovem atriz entrou no mundo mágico da contação de estórias. “Aí descobri que contar estória era diferente do que interpretar. Toda vez que eu entrava na voz da narradora, percebia que a criançada pres-tava mais atenção. A criança tem uma paixão pela narração, pelo texto contado. Quando eu narro, quando eu falo do per-sonagem, eu sinto uma atenção maior”, explica.

Hoje, já com 54 anos, Bia Bedran tem sete livros publi-cados, oito discos e um DVD. A artista já compôs mais de 300 canções. Dessas, 100 mú-sicas foram gravadas. A atriz também foi apresentadora de televisão. De 1986 até 1993, Bia esteve à frente do “Conta Conto”, na antiga TV Educa-tiva, atual TV Brasil. Em 1988 e 1989, apresentou o programa ecológico “Baleia Verde”, na extinta TV Manchete, além de “Lá vem História”, na TV Cul-tura e “Alfabetização no Can-teiro de Obras”, pela Fundação

Roberto Marinho.Os planos dessa eterna

menina, no entanto, não pa-ram por aí. Seu próximo passo pode ser na telona. “Só falta agora cinema. Não vou morrer sem fazer um filme, trabalhar atuando ou ser uma narradora, mas é um sonho ainda. Minha filha acabou de se formar em cinema e a gente tem conver-sado muito sobre isso ultima-mente”, vibra.

“QUEM CONTA ESTÓRIA FAZ O OUTRO

IMAGINAR”Professora concursada des-

de 1985, Bia dava aulas de mu-sicalização para as crianças do CAP (Colégio de Aplicação) da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). No início, ela só ensinava música. Com o tempo, o hábito de ler e contar estórias invadiu suas aulas. Foi então que descobriu que bom mesmo era cantar e contar ao mesmo tempo. “São quase 25 anos como professora na Uerj. No decorrer do tempo, eu já era contadora de estórias na vida artística e fui incorporan-do a coisa do ensinar música para as crianças, mas ensinar também o fazer, o contar, mú-sica dentro de uma estória, estória com canções e fui mu-dando a minha metodologia que era só de ensino músical, para fazer estórias junto com canções”, explica.

Nessa época, Bia Bedran foi chamada para dar aulas em uma oficina chamada A Arte

de Cantar e Contar Estórias, para professores e educadores. Seu desejo é passar para outros essa nobre arte. “De lá para cá já se passaram 14 anos, sempre às segundas e quartas à noite. Essa oficina eu trabalho com educadores, não mais crianças, e ensino esse ‘making-off ’ de como é contar estórias e como construir pequenos adereços, entre outras coisas”, revela.

Segundo Bia, o contar estó-rias revela uma troca de experi-ências muito interessante. Na-quele curto espaço de tempo, que pode durar dez, 20 minu-tos ou até meia hora, o intér-prete só tem ali a sua palavra, a sua voz, a sua mão, os seus olhos, e, principalmente, a sua expressão. Todo o resto é ima-ginado por quem ouve. “En-sinar a contar estória nem é tanto a coisa do ator, não é en-sinar a interpretar, mas ensinar a amar esse fazer tão atávico ao homem, que é esse momento que você senta, conta coisas re-ais e imaginárias. Às vezes você conta um fato que realmente aconteceu”.

A educadora se mostra pre-ocupada com a perda do hábi-to de conversar e acredita que o mundo hoje precisa pisar no freio. “As pessoas hoje, nessa vida muito corrida, têm pouco tempo para contar suas histó-rias pessoais. Em um tempo mais antigo, as pessoas tinham esse hábito naturalmente, não existia aulas de contar estória. Não tinha televisão, as pessoas faziam uma roda e o que exis-

tia era a troca de experiências, o ato de contar para o outro o que você viveu”, relembra.

Essa falta de tempo tam-bém tem prejudicado a forma-ção das crianças. Bia comenta que elas precisam ler mais e não somente assistir televisão ou navegar pela internet. “A criança também entra num frisson de cada vez mais apren-der conteúdo e mais conteúdo. Esse é o momento em que o professor para e conta uma es-tória. É o momento do sonho. A criança viaja como se fosse uma parada no tempo, não uma parada onde ela fica vazia, uma parada ativa. A alma está em repouso mais ela está aten-ta, está sentindo”, ensina.

A professora revela, ainda, dicas para quem também quer viver essa experiência. “Quem quer contar e viver de estórias tem que descobrir o que quer ser. Quer ser um educador ou contar profissionalmente em eventos de literatura? É preci-so descobrir que sente prazer com isso e depois focar. Tra-balho em hospitais e, diferen-temente de atuar em um palco, em todas essas modalidades tem que amar contar estórias, tem que gostar da literatura, de transformar o texto lido em um texto coloquialmente fa-lado. Treinar em casa, montar um repertório e fazer cursos”, explica mais uma vez a profes-sora que sabe que, no final de toda estória tem que ter um “e viveram felizes para sempre”. E quem quiser que conte outra.

Vou te contar uma estória

Page 12: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

1 2 1 a 15 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro 1 31 a 15 de Outubro de 2009Jornal de Teatro

Reportagem

Na carreira de grande parte dos artis-tas brasileiros está lá, bem no início da lista de trabalhos no currículo, alguma peça de teatro infantil. É por este meio que atores e atrizes têm o primeiro contato com a arte dos palcos. Invariavelmente, porém, profissionais do teatro fogem do gênero com o passar dos anos. Uma onda de pre-conceito marca o estilo, já estigmatizado no setor. Prova disso é a dificuldade de patrocínio e os investimentos menores em comparação com o teatro considera-do “adulto”. Fica a questão: por que as peças infantis não são valorizadas no Bra-sil, ao contrário dos países desenvolvidos, que costumam dar atenção e verbas “cari-nhosas” para o assunto?

As explicações são as mais diversas. As obras feitas para crianças geralmente não contam com grandes celebridades, atuais puxadoras de verbas no País. Os trabalhos infantis também não costumam ser vistos pelo meio acadêmico como algo produtivo financeiramente, nem intelectu-almente sério. O teatro infantil, porém, é um grande formador de público: o futuro. “A criança que tem contato com o teatro desde cedo já tem uma vantagem sobre as outras. Irá se tornar uma pessoa amante das artes e com ideias bem consolidadas de solidariedade, amizade e outras virtu-des”, avalia Fafá Rennó, atriz da Compa-nhia Luna Lunera, de Belo Horizonte.

Nada disso, entretanto, parece ser su-

Por Felipe Sil

infantil à espera da maturidade

Reportagem

ficiente para facilitar a captação de verbas. O mais recente espetáculo da Cia. Luna Lunera, “Um Gato para Gertrudes”, só conseguiu patrocínio após meses de sua-da luta. A suposta baixa rentabilidade de peças infantis era a justificava usada por instituições que negavam a parceria. De certa forma, empresários e financiadores têm suas razões para tanto receio em in-vestir nesse tipo de teatro. Afinal, o espaço dado para o estilo é praticamente nulo nos grandes meios de comunicação. A divul-gação nos jornais e canais de TV de maior audiência é irrisória. Em uma economia de mercado, um fator dessa grandeza já é suficiente para assustar nomes importan-tes da iniciativa privada.

QUALIDADE COMODIFERENCIAL

A consequência não poderia ser pior. Alarmados com o escasso patrocínio oferecido para o teatro infantil, muitos atores e produtores fogem do ramo e migram para obras destinadas a um pú-blico de maior idade, esvaziando ainda mais o estilo. Outro caminho inverso, abominado por antigos artistas, é a có-pia barata de sucessos do exterior como forma de atrair a atenção do público. “Então fazem toda essa porcaria que vemos por aí, que só serve para estragar a imagem do teatro infantil. Há muita produção ruim no mercado e isso nos envergonha”, lamenta Amauri Ernani, que atua no segmento há 23 anos e é

diretor artístico da Companhia Palco Produções, do Rio de Janeiro.

Um dos maiores erros do atual ce-nário do teatro infantil, segundo Fafá Rennó, é a insistência em apelar para a linguagem “infantilóide” para atingir o público-alvo. O uso da infantilidade extrema como forma de atrair a atenção da garotada já foi provado insuficiente em outros meios. Em desenhos anima-dos e filmes feitos atualmente para os menores um detalhe chama a atenção: a rapidez das cenas. Pesquisadores e estudiosos da psicologia infantil afir-mam, há alguns anos, que as crianças, hoje, preferem enredos velozes, ágeis e vibrantes, mas que, no fundo, a moral continue presente, mesmo que indireta-mente. “Esse é o caminho para o teatro infantil. Aquele negócio de Tom & Jerry é ultrapassado. Os artistas brasileiros que trabalham nesse ramo precisam enten-der isso. Já saí no meio de apresentações recentemente porque não aguentava ver aquela linguagem infantilóide, que não prende a atenção dos menores. O ideal é que o diretor pense sempre em fazer algo que não agrade apenas as crianças, mas, também, seus pais, já que são eles, afinal, que levam a garotada para a fren-te dos palcos e estes precisam se sentir convencidos de que vale a pena voltar”, comenta.

A dificuldade para se obter patrocí-nio, alinhada com a baixa qualidade das produções atuais, fez com que boa parte

da classe artística brasileira tenha desen-volvido um preconceito contra o teatro infantil. Os mais prejudicados são os atores que escolheram esse caminho, que acabam estigmatizados entre colegas de profissão. “É um absurdo essa ideia. O teatro infantil me proporciona desafios tão complexos quanto o teatro adulto. Só que, infelizmente, existe esse preconcei-to, gerado em grande parte pela mídia, que nos nega espaço de divulgação. O que é uma besteira, já que, mesmo entre tanta coisa ruim, há muitos autores novos se destacando no meio, principalmente em Curitiba, onde, a meu ver, há muitas obras de qualidade, que visam entreter a criança e não possuem um papel apenas didático, já que este não deve ser o único caminho”, relata Amauri.

EXPERIÊNCIA DE SUCESSOCuritiba é mesmo uma cidade dife-

rente quanto ao teatro infantil. Na cida-de, o estilo é admirado e estudado desde a década 1980, quando artistas, autores e intelectuais apaixonados debatiam o tema e buscavam maneiras de aprimorar as encenações e a metodologia. Foi nes-ta onda de pesquisas e criatividade que a atriz Letícia Guimarães decidiu começar a carreira com a peça “Menino Malu-quinho”, em 1987. Desde aquela década, o teatro infantil não arrefeceu na capital do Paraná, onde a produção artística para menores continua efervescente. “Aquele maravilhoso movimento ajudou a formar

um modelo de atuação. Lembro que não gostávamos do rótulo de teatro infantil. Na verdade, o que funciona é realizar pe-ças para crianças de todas as idades, fora do sentido cronológico do ser humano. Essa, talvez, seja a melhor maneira de nos livrarmos do preconceito que hoje reina na mídia. Muito desse estigma, porém, pode ser explicado quando notamos tan-tas produções que funcionam, na verdade, como caça-niqueis. Essa falta de respeito com a criança, que muito se vê por aí, é a causa de muitos problemas do segmen-to no Brasil”, analisa Letícia, que hoje faz parte da Companhia do Abração.

Uma opinião dissonante de boa par-te da classe artística é a de Beto Andre-ta, diretor da Companhia Pia Fraus. Para ele, o Brasil é um país cruel, que elimina as chances de sucesso de qualquer pes-soa ou empresa que esteja abaixo de um nível alto de excelência. De qualquer maneira, o mercado para o teatro in-fantil continuaria a oferecer um espaço razoável para a divulgação desse tipo de peça. “Já fizemos quase 20 montagens e sempre contamos com casas cheias. Ao todo, já realizei mais de mil espetáculos. O problema é que a classe teatral ainda é muito pouco profissional. Trabalho desde 1984 e consegui fazer meu cami-nho dentro do mercado. Não adianta só reclamar. O artista precisa avaliar, tam-bém, o próprio trabalho. Muitos ainda têm aquela visão romântica do século XVIII, mas, além de ter talento, é neces-

sário certo empreendedorismo para al-cançar o sonhado lugar de destaque. Ali-ás, trata-se de um mercado”, comenta.

Há, também, quem veja um seg-mento que se valoriza cada vez mais no País. É o caso de Warley Goulart, diretor do grupo Tapetes Contado-res de Histórias. No dia 3 de outubro, duas peças da companhia estreiam na Caixa Cultural de São Paulo: “Palavras Andantes” e “Bicho do Mato”. Desde 2003, o grupo conta com o patrocínio da instituição, com espetáculos sempre lotados e divulgação eficiente. “Não poderia dizer o contrário. Temos essa parceria e também vemos um número cada vez maior de pais levando suas crianças às peças. O fato é que real-mente existe preconceito contra todo tipo de trabalho feito para o público infantil, não só no teatro. A situação da literatura infanto-juvenil é um dos maiores exemplos. Isso é uma grande besteira. Só que, graças a Deus, temos tido sucesso e acho que a receptivida-de do brasileiro para esse segmento do teatro aumentou bastante nos últimos anos”, afirma.

Uma realidade, porém, é o fato de o teatro infantil ter papel essencial na for-mação dos jovens, embora ainda persis-ta uma dúvida: o segmento é valorizado no Brasil? A resposta, talvez, só possa ser dada daqui a alguns anos, quando esses menores se tornarão adultos e de-cidirão sobre o futuro do País.

FALTA DE PATROCÍNIO E ESPE-TÁCULOS RUINS ABASTECEM A

CRISE DO SEGMENTOInício dos anos 1990. A mega-em-

presa Coca-Cola decide criar o Prêmio Coca-Cola de Teatro Infantil e passa a patrocinar entre dez e 15 peças todos os anos. Há um boom de expectadores e o segmento entra em uma fase promisso-ra, após anos escondido nas sombras do meio. Nomes importantes como Teresa Frota, Carlos Augusto Nazareth e Dudu Sandroni ganham força. No final da dé-cada, entretanto, a marca decide encerrar com os patrocínios e o setor é esvaziado. Pior: não só o teatro infantil perde seu maior patrocinador, como a grande mí-dia deixa de dar atenção especial ao tra-balho feito para a garotada. O poder pú-blico, por sua vez, manteve a tradição de desrespeitar o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e pouco tem ajudado a alavancar o segmento com incentivos e licitações. “Não se respeita o que está na lei, que é clara quanto à prioridade que se deve dar às crianças em todos os setores. Quem trabalha com crianças no Brasil parece fadado ao prejuízo. Veja o caso dos nossos professores da rede públi-ca”, lamenta Antonio Carlos Bernardes, secretário do CBTIJ (Centro Brasileiro Teatro para Infância e Juventude).

A instituição, junto com o Cepetin (Centro de Pesquisa e Estudo do Teatro Infantil), ainda mantém as esperanças de um forte desenvolvimento do setor no

Brasil. No momento, a luta é para persu-adir grandes empresas para que voltem a investir maciçamente neste tipo de te-atro. Para Antonio Carlos, artistas e pro-dutores não conseguem mais ver bene-fícios em trabalhar e produzir uma obra voltada especialmente para as crianças. “Ninguém quer ter prejuízo. Nos edi-tais abertos pelo poder público, o teatro infantil concorre sempre junto do adul-to e o número de premiados do nosso segmento é baixíssimo. Então, há duas opções: investir no meio com recursos próprios ou participar daquelas produ-ções horrorosas que hoje são abundantes por aí, com fantasias pessimamente de-senhadas, e musicais super produzidos, mas sem nenhum conteúdo”, diz.

Além da péssima qualidade das peças atuais, voltadas ao público menor de ida-de, existem outros motivos apontados para a estigmatização do teatro infantil entre os próprios artistas. Um deles é a formação acadêmica, voltada, exclusiva-mente, para a atuação em programas de TV, o que leva ao esvaziamento das sa-las. Outro ocorre devido à violência na cidade, o que, muitas vezes, faz os pais pensarem cautelosamente se realmente é benéfico levar seus filhos ao teatro em vez de mantê-los em casa. Há, ainda, a falta de informação. Carlos Augusto Na-zareth foi o último crítico especializado em teatro infantil no Rio de Janeiro. Em 2007, saiu do Jornal do Brasil e deixou órfão o segmento, que, àquela altura, já respirava com a ajuda de aparelhos.

“Não é do interesse da grande mídia falar sobre teatro infantil. Eles preferem comentar aquela peça que tem um ator global e que é encenada em shoppings da elite. Isso não é sinônimo de qualidade. Os pais, então, ficam sem saber onde le-var seus filhos a uma boa peça e acabam caindo na armadilha de levar as crianças a uma dessas peças sem qualidade alguma. Muitos grandes produtores da década de 1990 desistiram do meio. Não sem razão. Afinal, não é um investimento lucrati-vo. Não há financiamento e os horários reservados para as apresentações costu-mam ser os piores possíveis. Os artistas brasileiros que têm preconceito com o teatro infantil também têm suas razões, já que, atualmente, muitos trabalhos pro-duzidos para crianças são horrorosos. A imagem do segmento foi muito arranha-da”, revolta-se Carlos Augusto, que tam-bém é diretor do Cepetin.

Teatro

As cores e a magia do teatro infantil ainda não são garantia de sucesso profissional para seus atores. Meio ainda sofre grande preconceito e tem dificuldades para obter patrocínios para novas peças

Bruno Magalhães / DivulgaçãoDivulgação Bruno Magalhães / DivulgaçãoElenize Dezgeniski / Divulgação Tony Licardo / Divulgação

Page 13: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

1 2 1 a 15 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro 1 31 a 15 de Outubro de 2009Jornal de Teatro

Reportagem

Na carreira de grande parte dos artis-tas brasileiros está lá, bem no início da lista de trabalhos no currículo, alguma peça de teatro infantil. É por este meio que atores e atrizes têm o primeiro contato com a arte dos palcos. Invariavelmente, porém, profissionais do teatro fogem do gênero com o passar dos anos. Uma onda de pre-conceito marca o estilo, já estigmatizado no setor. Prova disso é a dificuldade de patrocínio e os investimentos menores em comparação com o teatro considera-do “adulto”. Fica a questão: por que as peças infantis não são valorizadas no Bra-sil, ao contrário dos países desenvolvidos, que costumam dar atenção e verbas “cari-nhosas” para o assunto?

As explicações são as mais diversas. As obras feitas para crianças geralmente não contam com grandes celebridades, atuais puxadoras de verbas no País. Os trabalhos infantis também não costumam ser vistos pelo meio acadêmico como algo produtivo financeiramente, nem intelectu-almente sério. O teatro infantil, porém, é um grande formador de público: o futuro. “A criança que tem contato com o teatro desde cedo já tem uma vantagem sobre as outras. Irá se tornar uma pessoa amante das artes e com ideias bem consolidadas de solidariedade, amizade e outras virtu-des”, avalia Fafá Rennó, atriz da Compa-nhia Luna Lunera, de Belo Horizonte.

Nada disso, entretanto, parece ser su-

Por Felipe Sil

infantil à espera da maturidade

Reportagem

ficiente para facilitar a captação de verbas. O mais recente espetáculo da Cia. Luna Lunera, “Um Gato para Gertrudes”, só conseguiu patrocínio após meses de sua-da luta. A suposta baixa rentabilidade de peças infantis era a justificava usada por instituições que negavam a parceria. De certa forma, empresários e financiadores têm suas razões para tanto receio em in-vestir nesse tipo de teatro. Afinal, o espaço dado para o estilo é praticamente nulo nos grandes meios de comunicação. A divul-gação nos jornais e canais de TV de maior audiência é irrisória. Em uma economia de mercado, um fator dessa grandeza já é suficiente para assustar nomes importan-tes da iniciativa privada.

QUALIDADE COMODIFERENCIAL

A consequência não poderia ser pior. Alarmados com o escasso patrocínio oferecido para o teatro infantil, muitos atores e produtores fogem do ramo e migram para obras destinadas a um pú-blico de maior idade, esvaziando ainda mais o estilo. Outro caminho inverso, abominado por antigos artistas, é a có-pia barata de sucessos do exterior como forma de atrair a atenção do público. “Então fazem toda essa porcaria que vemos por aí, que só serve para estragar a imagem do teatro infantil. Há muita produção ruim no mercado e isso nos envergonha”, lamenta Amauri Ernani, que atua no segmento há 23 anos e é

diretor artístico da Companhia Palco Produções, do Rio de Janeiro.

Um dos maiores erros do atual ce-nário do teatro infantil, segundo Fafá Rennó, é a insistência em apelar para a linguagem “infantilóide” para atingir o público-alvo. O uso da infantilidade extrema como forma de atrair a atenção da garotada já foi provado insuficiente em outros meios. Em desenhos anima-dos e filmes feitos atualmente para os menores um detalhe chama a atenção: a rapidez das cenas. Pesquisadores e estudiosos da psicologia infantil afir-mam, há alguns anos, que as crianças, hoje, preferem enredos velozes, ágeis e vibrantes, mas que, no fundo, a moral continue presente, mesmo que indireta-mente. “Esse é o caminho para o teatro infantil. Aquele negócio de Tom & Jerry é ultrapassado. Os artistas brasileiros que trabalham nesse ramo precisam enten-der isso. Já saí no meio de apresentações recentemente porque não aguentava ver aquela linguagem infantilóide, que não prende a atenção dos menores. O ideal é que o diretor pense sempre em fazer algo que não agrade apenas as crianças, mas, também, seus pais, já que são eles, afinal, que levam a garotada para a fren-te dos palcos e estes precisam se sentir convencidos de que vale a pena voltar”, comenta.

A dificuldade para se obter patrocí-nio, alinhada com a baixa qualidade das produções atuais, fez com que boa parte

da classe artística brasileira tenha desen-volvido um preconceito contra o teatro infantil. Os mais prejudicados são os atores que escolheram esse caminho, que acabam estigmatizados entre colegas de profissão. “É um absurdo essa ideia. O teatro infantil me proporciona desafios tão complexos quanto o teatro adulto. Só que, infelizmente, existe esse preconcei-to, gerado em grande parte pela mídia, que nos nega espaço de divulgação. O que é uma besteira, já que, mesmo entre tanta coisa ruim, há muitos autores novos se destacando no meio, principalmente em Curitiba, onde, a meu ver, há muitas obras de qualidade, que visam entreter a criança e não possuem um papel apenas didático, já que este não deve ser o único caminho”, relata Amauri.

EXPERIÊNCIA DE SUCESSOCuritiba é mesmo uma cidade dife-

rente quanto ao teatro infantil. Na cida-de, o estilo é admirado e estudado desde a década 1980, quando artistas, autores e intelectuais apaixonados debatiam o tema e buscavam maneiras de aprimorar as encenações e a metodologia. Foi nes-ta onda de pesquisas e criatividade que a atriz Letícia Guimarães decidiu começar a carreira com a peça “Menino Malu-quinho”, em 1987. Desde aquela década, o teatro infantil não arrefeceu na capital do Paraná, onde a produção artística para menores continua efervescente. “Aquele maravilhoso movimento ajudou a formar

um modelo de atuação. Lembro que não gostávamos do rótulo de teatro infantil. Na verdade, o que funciona é realizar pe-ças para crianças de todas as idades, fora do sentido cronológico do ser humano. Essa, talvez, seja a melhor maneira de nos livrarmos do preconceito que hoje reina na mídia. Muito desse estigma, porém, pode ser explicado quando notamos tan-tas produções que funcionam, na verdade, como caça-niqueis. Essa falta de respeito com a criança, que muito se vê por aí, é a causa de muitos problemas do segmen-to no Brasil”, analisa Letícia, que hoje faz parte da Companhia do Abração.

Uma opinião dissonante de boa par-te da classe artística é a de Beto Andre-ta, diretor da Companhia Pia Fraus. Para ele, o Brasil é um país cruel, que elimina as chances de sucesso de qualquer pes-soa ou empresa que esteja abaixo de um nível alto de excelência. De qualquer maneira, o mercado para o teatro in-fantil continuaria a oferecer um espaço razoável para a divulgação desse tipo de peça. “Já fizemos quase 20 montagens e sempre contamos com casas cheias. Ao todo, já realizei mais de mil espetáculos. O problema é que a classe teatral ainda é muito pouco profissional. Trabalho desde 1984 e consegui fazer meu cami-nho dentro do mercado. Não adianta só reclamar. O artista precisa avaliar, tam-bém, o próprio trabalho. Muitos ainda têm aquela visão romântica do século XVIII, mas, além de ter talento, é neces-

sário certo empreendedorismo para al-cançar o sonhado lugar de destaque. Ali-ás, trata-se de um mercado”, comenta.

Há, também, quem veja um seg-mento que se valoriza cada vez mais no País. É o caso de Warley Goulart, diretor do grupo Tapetes Contado-res de Histórias. No dia 3 de outubro, duas peças da companhia estreiam na Caixa Cultural de São Paulo: “Palavras Andantes” e “Bicho do Mato”. Desde 2003, o grupo conta com o patrocínio da instituição, com espetáculos sempre lotados e divulgação eficiente. “Não poderia dizer o contrário. Temos essa parceria e também vemos um número cada vez maior de pais levando suas crianças às peças. O fato é que real-mente existe preconceito contra todo tipo de trabalho feito para o público infantil, não só no teatro. A situação da literatura infanto-juvenil é um dos maiores exemplos. Isso é uma grande besteira. Só que, graças a Deus, temos tido sucesso e acho que a receptivida-de do brasileiro para esse segmento do teatro aumentou bastante nos últimos anos”, afirma.

Uma realidade, porém, é o fato de o teatro infantil ter papel essencial na for-mação dos jovens, embora ainda persis-ta uma dúvida: o segmento é valorizado no Brasil? A resposta, talvez, só possa ser dada daqui a alguns anos, quando esses menores se tornarão adultos e de-cidirão sobre o futuro do País.

FALTA DE PATROCÍNIO E ESPE-TÁCULOS RUINS ABASTECEM A

CRISE DO SEGMENTOInício dos anos 1990. A mega-em-

presa Coca-Cola decide criar o Prêmio Coca-Cola de Teatro Infantil e passa a patrocinar entre dez e 15 peças todos os anos. Há um boom de expectadores e o segmento entra em uma fase promisso-ra, após anos escondido nas sombras do meio. Nomes importantes como Teresa Frota, Carlos Augusto Nazareth e Dudu Sandroni ganham força. No final da dé-cada, entretanto, a marca decide encerrar com os patrocínios e o setor é esvaziado. Pior: não só o teatro infantil perde seu maior patrocinador, como a grande mí-dia deixa de dar atenção especial ao tra-balho feito para a garotada. O poder pú-blico, por sua vez, manteve a tradição de desrespeitar o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e pouco tem ajudado a alavancar o segmento com incentivos e licitações. “Não se respeita o que está na lei, que é clara quanto à prioridade que se deve dar às crianças em todos os setores. Quem trabalha com crianças no Brasil parece fadado ao prejuízo. Veja o caso dos nossos professores da rede públi-ca”, lamenta Antonio Carlos Bernardes, secretário do CBTIJ (Centro Brasileiro Teatro para Infância e Juventude).

A instituição, junto com o Cepetin (Centro de Pesquisa e Estudo do Teatro Infantil), ainda mantém as esperanças de um forte desenvolvimento do setor no

Brasil. No momento, a luta é para persu-adir grandes empresas para que voltem a investir maciçamente neste tipo de te-atro. Para Antonio Carlos, artistas e pro-dutores não conseguem mais ver bene-fícios em trabalhar e produzir uma obra voltada especialmente para as crianças. “Ninguém quer ter prejuízo. Nos edi-tais abertos pelo poder público, o teatro infantil concorre sempre junto do adul-to e o número de premiados do nosso segmento é baixíssimo. Então, há duas opções: investir no meio com recursos próprios ou participar daquelas produ-ções horrorosas que hoje são abundantes por aí, com fantasias pessimamente de-senhadas, e musicais super produzidos, mas sem nenhum conteúdo”, diz.

Além da péssima qualidade das peças atuais, voltadas ao público menor de ida-de, existem outros motivos apontados para a estigmatização do teatro infantil entre os próprios artistas. Um deles é a formação acadêmica, voltada, exclusiva-mente, para a atuação em programas de TV, o que leva ao esvaziamento das sa-las. Outro ocorre devido à violência na cidade, o que, muitas vezes, faz os pais pensarem cautelosamente se realmente é benéfico levar seus filhos ao teatro em vez de mantê-los em casa. Há, ainda, a falta de informação. Carlos Augusto Na-zareth foi o último crítico especializado em teatro infantil no Rio de Janeiro. Em 2007, saiu do Jornal do Brasil e deixou órfão o segmento, que, àquela altura, já respirava com a ajuda de aparelhos.

“Não é do interesse da grande mídia falar sobre teatro infantil. Eles preferem comentar aquela peça que tem um ator global e que é encenada em shoppings da elite. Isso não é sinônimo de qualidade. Os pais, então, ficam sem saber onde le-var seus filhos a uma boa peça e acabam caindo na armadilha de levar as crianças a uma dessas peças sem qualidade alguma. Muitos grandes produtores da década de 1990 desistiram do meio. Não sem razão. Afinal, não é um investimento lucrati-vo. Não há financiamento e os horários reservados para as apresentações costu-mam ser os piores possíveis. Os artistas brasileiros que têm preconceito com o teatro infantil também têm suas razões, já que, atualmente, muitos trabalhos pro-duzidos para crianças são horrorosos. A imagem do segmento foi muito arranha-da”, revolta-se Carlos Augusto, que tam-bém é diretor do Cepetin.

Teatro

As cores e a magia do teatro infantil ainda não são garantia de sucesso profissional para seus atores. Meio ainda sofre grande preconceito e tem dificuldades para obter patrocínios para novas peças

Bruno Magalhães / DivulgaçãoDivulgação Bruno Magalhães / DivulgaçãoElenize Dezgeniski / Divulgação Tony Licardo / Divulgação

Page 14: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

1 4 1 a 15 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Por Michel Fernandes - especial para o Jornal de Teatro*

Um dos sentidos figurados da palavra “mosaico” diz que seu uso se refere a qualquer trabalho intelectual em que o conjunto completo reúne em si fragmentos que compõem o todo. Tal significado não poderia ser mais bem aplicado à Coleção Aplauso, uma vez que seus títulos são pequenos recortes a resgatar a memória das artes brasileiras. O trabalho foi coordenado pelo renoma-do crítico de cinema Rubens Ewald Filho, da Imprensa Ofi-cial do Estado de São Paulo.

Segundo Rubens, Hubert Alqueres, presidente da Im-prensa Oficial, o procurou, há cinco anos, com a proposta de “resgatar a memória cultural do Brasil” por meio da publica-ção de perfis de atores, de atri-

zes, de diretores, da pesquisa iconográfica, da publicação de textos teatrais, de compilações de críticas de teatro e cinema, além de roteiros de filmes, en-tre outros. Nasceu, aí, a Cole-ção Aplauso, consequência de uma das principais missões da Imprensa Oficial, a de registrar a história oficial do País.

Artistas, intelectuais e as pessoas que sentiram mais de perto o patrulhamento feito du-rante os anos sombrios de Di-tadura Militar a respeito do que se podia e o que não se podia expressar sobre os fatos reais que marcaram aquele período, podem temer o fato de que a Coleção Aplauso tenha como propósito ser veículo de registro da História Oficial. Contudo, o contemporâneo regime demo-crático de direito não comporta mais os rigores da censura ma-nipulando os fatos. De mais a mais, Ewald Filho, na condução

dos 200 títulos que a coleção já apresenta, deixa aos autores es-paço para a impressão de suas próprias assinaturas na escrita dos livros, em lugar da manipu-lação do que e como tal assunto pode ser tratado. O rigor é úni-co: a excelência na confecção e no produto final.

Diferentes meios reconhe-cem a qualidade literária e in-vestigativa dos textos escritos para os diversos volumes da Coleção Aplauso. Ano pas-sado, por exemplo, o Prêmio Jabuti, uma das premiações literárias mais relevantes, con-cedeu ao perfil de Raul Cortez – “Raul Cortez – Sem Medo de se Expor” –, de Nydia Lícia, o título de Melhor Biografia.

Para Rubens, 200 títulos são números relevantes já que o preço dos livros é popular. “Além da divulgação e da dis-tribuição cada vez maior, acho que, com o lançamento da bio-

grafia de Tônia (Carrero), al-cançamos um novo padrão de qualidade com o mesmo preço de capa”, afirma. Realmente não é difícil encontrarmos os títulos da Coleção Aplauso em estantes das livrarias de maior fama da cidade de São Paulo e, sem sombra de dúvidas, “Tô-nia Carrero – Movida Pela Pai-xão”, de Tânia Carvalho, tem uma primorosa edição, em pa-pel de alta qualidade, que res-salta as fotografias seleciona-das por Marcelo Pestana. Um resgate, além de registro, de uma trajetória teatral de mais de meio século.

Esse mosaico nos faz ter um panorama não linear da história de nosso teatro moderno, que ainda não tem nem um sécu-lo e já se revela de exuberante qualidade. Ao lermos cada um dos perfis vamos montando o quebra-cabeça das reminiscên-cias do palco brasileiro. A cada

nova leitura as partes se encai-xam e tudo faz sentido. E, lendo outro perfil, o derradeiro senti-do se transforma e, doravante, percebemos que somos como co-autores, dialogando, à nossa própria maneira, e erigindo o todo desse painel histórico.

Não é à toa que o atual go-vernador de São Paulo, José Serra, adotou, com simpatia e eficiência, o projeto criado ain-da no mandato de Geraldo Al-ckmin e requisitou à equipe que iniciem a incursão pelas veredas da Música Popular Brasileira (MPB). “A pedido do governa-dor (José) Serra, começamos a entrar na MPB fazendo biogra-fias de gente como Inezita Bar-roso, Johnny Alf, Angela Maria, Alaíde Costa, Leny Andrade e outros”, completa.

*Michel Fernandes é jorna-lista cultural, crítico, pesquisa-dor de teatro e editor do www.aplausobrasil.com.br

Artigo

Sindicais

Coleção Aplausofaz um mosaico da memória teatral

Tônia Carrero em três momentos: biografia da atriz, feita por Tânia Carvalho, tem qualidade gráfica e textual sem precedentes

Criança é coisa séria Centro de Pesquisa e Estudo do Teatro Infantil incentiva produções teatrais para os pequenos

“A criança se vê no mundo através da cena do teatro. Ela se emociona, questiona, fica em dúvida. Amplia seus horizontes além de seu cotidiano familiar e escolar”. Esta relação próxima do teatro com a criança é defen-dida por Carlos Augusto Naza-reth, dramaturgo, diretor e pro-fessor de literatura. Ele defende a arte de atuar como parte fun-damental da formação do ser humano e, em 2006, fundou, no Rio de Janeiro, o Cepetin (Cen-tro de Pesquisa e Estudo do Te-atro Infantil).

A intenção é desenvolver ações e aumentar a qualidade deste tipo de espetáculo. Pen-sando assim, o Cepetin criou os prêmios Zilka Sallaberry e Ana Maria Machado de Dra-maturgia, ambos voltados para o teatro infantil. “Queremos estimular que profissionais ga-baritados sejam reconhecidos, separando o joio do trigo”, conta Carlos Augusto. O Cen-

tro de Pesquisa estimula tam-bém a leitura de textos teatrais através da Coleção Cepetin de Teatro Infantil, com a publi-cação de livros de teatro para crianças, distribuídos em esco-las e bibliotecas.

Este ano, a instituição, com patrocínio da Lamsa (Linha Amarela S/A), desenvolveu um projeto com crianças da rede municipal de ensino do Complexo da Favela da Maré, comunidade carente do Rio de Janeiro, distribuindo livros com textos teatrais e levando as crianças ao teatro. Carlos Au-gusto reclama do pouco incen-tivo para o estudo mais apro-fundado das questões teóricas que envolvem os espetáculos para crianças: “Nos falta verba e apoio governamental para po-dermos traçar um perfil técnico da situação do teatro infantil.”

No site da instituição (www.cepetin.com.br) é possível en-contrar estudos teóricos sobre o tema, textos teatrais, entre-vistas, filmes e uma seção de

espetáculos recomendados que ajuda na divulgação do teatro infantil. Rômulo Rodrigues, ator, autor, produtor cultural e um dos fundadores da ins-tituição, alerta para o espaço

reduzido dado pela mídia às produções destinadas ao públi-co infantil: “As peças não são divulgadas, não têm retorno e, assim, não são patrocinadas. Uma reação em cadeia”.

PRÊMIOSEm 2006, o Cepetin criou o

Prêmio Zilka Sallaberry de Teatro Infantil. Com patrocínio da Oi e da seguradora Porto Seguro, são apresentados os destaques em dez categorias. Durante o ano, quatro jurados avaliam os espetáculos em cartaz no Rio de Janeiro e fa-zem pré-indicações. No fim do ano, são anunciados os indicados e, na véspera da cerimônia de entrega do prêmio, em março, são definidos os vencedores de cada categoria.

O Prêmio Ana Maria Machado de Dramaturgia Infantil é nacional e chega a sua terceira edição. Os textos a serem inscritos precisam possibilitar a encenação de um es-petáculo de, no mínimo 45 minutos, serem inéditos e não adaptações de outras obras. Três jurados elegem as melhores obras do ano. O primeiro colocado recebe R$ 1.500 em di-nheiro, além ter seu textos publica-dos em forma de livro pela editora Autores Associados, com o selo Ci-randa das Letras. O regulamento de cada premiação está no site do Ce-petin (www.cepetin.com.br).

Hassum e Melhem: melhor ator 2006 com espetáculo “Nós no tempo”

Divulgação

Por Gabriela de Freitas

Page 15: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

1 51 a 15 de Outubro de 2009Jornal de Teatro

Formação

vidaCom mais de mil alunos em

sua unidade na capital paulista, o Teatro Escola Macunaíma chega ao seu 35º aniversário com um projeto de expansão que leva cur-sos de teatro para outras seis cida-des espalhadas pelo estado de São Paulo. O diferencial é que não são escolas de teatro. São faculdades e colégios que incluíram em suas grades extracurriculares o pro-grama de artes cênicas. “Nos-so intuito é difundir e levar a arte para esses lugares. Em São Paulo existe uma variedade de cursos e fora do estado existem apenas alguns pólos centraliza-dos. Queremos democratizar a arte”, explicou o diretor do Ma-cunaíma, Luciano Castiel.

Arte educando para a

Teatro Escola Macunaíma lança plano de expansão em escolas e faculdades do estado de São Paulo

Depois da implementação do projeto, no tradicional colé-gio paulistano Pueri Domus, em março, o Macunaíma segue para as Faculdades Veris, do grupo IBMEC, e Pitágoras, além dos colégios Gutenberg, Marconi e Dottori. Os cursos – em Cam-pinas, em Sorocaba, em Jundiaí, em Mogi das Cruzes, em Gua-rulhos e em São Miguel Paulista – não se limitam às paredes das escolas e tiveram inscrições aber-tas à comunidade. “O plano de expansão foi uma ação conjunta entre nós e as escolas, ao longo dos últimos quatro meses”, reve-la o diretor do Macunaíma.

FORMAÇÃO DE ATORES-CIDADÃOSPara Castiel, a diferença entre

Ainda dá tempo de se ins-crever para os cursos bimestrais distribuídos pelo estado de São Paulo. O preço médio dos cursos é de R$ 96 por mês. Para mais informações entre no site da es-cola: www.macunaima.com.br

os alunos que procuram a sede, em São Paulo, e os que buscam o curso não é tão grande quanto parece. “Existe uma euforia vin-da de ambas as partes, de quem busca o curso básico na escola com a intenção de ser ator e os outros que veem esse como um trabalho de evolução pessoal e acabam se apaixonando pelo te-atro, querendo se tornar atores”, diz Castiel, acrescentando que a metodologia da escola não tem foco apenas na arte do teatro. “Os ensinamentos da arte não se limitam às salas de aula. Temos o hábito de lidar com os obstáculos dos alunos, desde emocionais até físicos. Muito mais do que teatro, nós pretendemos educá-los para a vida, criando atores cidadãos, criativos e auto-suficientes.”

A ARTE NO CAMPO DA LÓGICAComo fazem parte da gra-

de extracurricular, os cursos não são obrigatórios, mas têm obtido retorno positivo em lugares nos quais a arte, geralmente, perde espaço para os estudos matemá-ticos e de lógica. “Temos sido muito bem recebidos em faculda-des de administração, que ficaram durante muito tempo separadas da arte. Hoje o corporativo des-cobriu a arte como necessária, importante, algo que faz parte da construção do ser humano”, frisa o diretor, que acredita que a ideia principal do projeto é democra-tizar a arte para esse público que nem sempre esteve ligado a ela.

A metodologia da escola, que trabalha com o Teatro de Verda-

de e o método de formação de atores desenvolvido por Stanis-laviski, é fundamental no pro-cesso de expansão. “Temos uma metodologia sólida, que pode ser levada a qualquer lugar, mesmo para alunos que ainda vão apren-der o bê-á-bá”, explica Castiel. “Somos uma das maiores esco-las de teatro do Brasil, o que a gente faz é teatro, não é vídeo, comercial ou televisão. Teatro é o que a gente acredita”.

Por Ive Andrade

Quando ‘fazer arte’ vira sinônimo de talento e vocação para as artes Crianças de 3 a 6 anos desenvolvem criatividade, raciocínio e aprendem a importância de trabalhar em oficina de teatro para público infantil

Você conseguiria imaginar crianças, de três a seis anos de idade, criando histórias e ela-borando espetáculos teatrais com suas próprias ideias? Pois é exatamente o que acontece no “Fazendo Arte”, do Tepa (Te-atro Escola de Porto Alegre). Orientados pela atriz Eveliana Marques, mais conhecida como Ekin, os pequenos têm, na ofici-na, a oportunidade de descobrir que o seu mundo próprio pode servir para criar cenas de teatro.

Reunidos todos os sábados pela manhã, desde agosto des-te ano, as crianças apresentam grande intimidade com o uni-verso teatral. A ampla sala tem espaço livre para brincadeiras e o principal: um grande palco. Nele, histórias e personagens tradicionais ganham versões adaptadas pelos próprios alu-nos, de acordo com a manei-ra com que cada um enxerga aquele herói ou vilão.

Não existir certo ou erra-do é uma das regras. Portanto, a bruxa não é necessariamente má ou vestirá preto, o príncipe poderá abdicar do cavalo ao buscar a princesa de carro e a fada madrinha realizar os seus

próprios desejos. Tudo depen-derá do autor da história. “Cada um é livre para fazer tudo da sua forma, criando seu personagem como quiser”, explica Ekin.

É através desta liberdade de criação que as crianças desen-volvem a autoconfiança para transformar seus sonhos em es-petáculos. São eles próprios que montam o cenário e organizam a história e as personagens. O grupo é dividido em dois gru-pos aleatórios: os atores do dia e a plateia. Assim, a segunda regra é colocada em prática. Respeito entre os colegas é, segundo a ministrante, fundamental para o bom andamento da oficina. Sa-ber diferenciar a hora de ouvir, agradecer e aplaudir é essencial.

Regadas a muita diversão, está a terceira e última regra: as aulas também tem seus mo-mentos de profundo aprendiza-do. A inserção de termos técni-cos da arte à mentes tão jovens e dispersas parece uma tarefa complicadíssima para leigos, mas não para Ekin. “A técnica é introduzida, aos poucos, ao cotidiano deles. Por serem mui-to curiosos e inteligentes, eles querem aprender sempre. Du-rante as brincadeiras, introdu-zo informações técnicas como

figurino e coxia, por exemplo, e eles memorizam com muita facilidade”, garante a atriz.

Ekin revela que começou a lecionar para o público infantil com a intenção de desenvolver seu trabalho de atriz e passar todo seu aprendizado adiante. Ela vê nas crianças um labo-ratório ininterrupto e afirma aprender muito com eles. “Essa faixa etária é quando eles estão criando sua personalidade. Vejo o teatro como uma forma de contribuir para o desenvolvi-mento no ser humano”.

O objetivo primordial da “Fazendo Arte” nos seus cin-co anos de existência não é o de formar artistas, mas de despertar o “ser criativo” e desenvolver na criança suas potencialidades e dificuldades individuais, ativar imaginação e espontaneidade, além de trabalhar a desinibição e a re-lação de grupo. “Não estamos analisando quem está fazendo bem ou mal, certo ou errado, o importante é se divertir”, res-salta Ekin. Ao final da oficina, os pequenos irão apresentar um espetáculo com direito a plateia, e será a grande oportu-nidade de expor o trabalho de três meses de aprendizado.

Por Letícia Souza

Liberdade de criação é a tônica das aulas, para deleite da criançada

Letícia Souza / Divulgação

Page 16: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

1 6 1 a 15 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Festivais

o teatro infantil

Um festival que visa o cres-

cimento cultural dos futuros

consumidores da arte. Assim

pode ser definido o Fenatib

(Festival Nacional de Teatro

Infantil de Blumenau), que, en-

tre os dias 9 e 12 de setembro

– exatamente um mês an-

tes do Dia da Criança –, fez

a alegria dos pequenos em

Santa Catarina. Em sua 13ª

edição, o encontro, considera-

do um dos mais im

portantes

do gênero no Brasil e realizado

anualmente desde 1997, apre-

senta diferentes peças teatrais

focadas exclusivamente no uni-

verso infantil. “Os debatedores

que participaram este ano co-

mentaram que, no gênero 100%

infantil, o Fenatib é o único

festival no Brasil que prioriza

o foco exclusivo nas crianças”,

comenta Rolf Geske, gerente

e organizador de evento.

Um dos diferenciais

do evento são as carac-

terísticas dos espe-

táculos selecio-

nados para as

apresen-

t a -

ções. Entre as atribuições para

seleção, composta por uma co-

missão indicada pela organiza-

ção do festival, estão priorizar

espetáculos que valorizem a

inteligência e a capacidade de

compreensão da criança, con-

templem uma diversidade de

linguagens que, na medida do

possível, atenda a diversidade

regional e se adequem aos es-

paços oferecidos pelo Fenatib.

Segundo Geske, o festival tem

a preocupação de promover o

imaginário infantil e busca fu-

gir das meras cópias televisivas,

que normalmente oferecem lin-

guagens de textos com mensa-

gens prontas.

“Buscamos peças que tra-

balhem a emoção das crianças

para, através dessa emoção,

cativá-las, bem como estimu-

lar o interesse pela cultura te-

atral. O evento apresenta pe-

ças que deixam, além de um

resgate cultural, um legado

cultural. Entre as característi-

cas do Fenatib, geralmente os

produtores dos espetáculos se-

lecionados têm um perfil que

segue a linha contrária à peças

como “Os Três Porquinhos”

e “Branca de Neve e os Sete

Anões”. Esse tipo de espetá-

culo pode até ser apresenta-

do no festival, mas com uma

nova roupagem, que atenda às

exigências do evento. Como

exemplo, apresentamos, neste

ano, a peça a “Lili reinventa

Quintana”, do Grupo Téspis

Cia. de Teatro, de Itajaí (SC).

O espetáculo homenageia o

centenário do poeta Mário

Quintana e faz uma releitura

de sua obra”, explica Geske.

O FESTIVAL

Além de ser apresentado no

Teatro Carlos Gomes e no Au-

ditório da Fundação Cultural

de Blumenau, os espetáculos

são levados para vários espaços

alternativos da cidade: praças,

escolas, hospitais, clubes e pe-

riferia. “A população de Blu-

menau espera ansiosamente a

realização do Fenatib. Quando

recebemos o retorno, no qual o

filho comenta com o pai fazen-

do alguns questionamentos so-

bre as cenas, os temas, o que o

espetáculo abordou, podemos

concluir que foi gratificante a

realização do festival. Com essa

fórmula sentimos, a cada ano,

que o Fenatib é um sucesso.

Ver o encantamento com que

as crianças saem dos auditórios

já é compensador.”, destaca

Rolf Geske.

Com entrada franca e pú-

blico estimado em mais de 15

mil pessoas, o Fenatib apre-

sentou mostras não compe-

titivas, abertas à participação

de grupos teatrais de todo o

Brasil e da América do Sul,

amadores ou profissionais.

Neste ano, foram seleciona-

dos para participar do festi-

val 16 grupos não só de Santa

Catarina, mas do Rio de Ja-

neiro, de Minas Gerais, de

São Paulo, do Paraná, do Rio

Grande do Sul e do Distrito

Federal. Entre as atrações, o

público pôde escolher os es-

petáculos de clown, formas

animadas, teatro de bonecos

e de sombras e contação de

histórias, com música ao vivo,

além de teatro de drama-

turgia tradicional. Paralela-

mente, aconteceram também

oficinas, debates, palestras e

mesas redondas sobre os tra-

balhos apresentados. Os pro-

fessores da rede municipal de

ensino tiveram a oportuni-

dade de aprender recur-

sos teatrais como fer-

ramenta para tornar

o ensino às

crianças mais

dinâmico.

Festival tra

z peças que

reinventam

Ciranda das Flores, um espetáculo colorido e recheado de cantigas e brincadeiras

Por Adoniran Peres

Fotos: Divulgação

Page 17: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

1 71 a 15 de Outubro de 2009Jornal de Teatro

A FestivaisRO

TEIR

O

nimadoEnquanto alguns produtores reclamam da falta de incentivo ao teatro infantil no Brasil, outros arrumam as malas e se lançam nos festivais que acontecem durante todo o ano. Além da troca de experiências e referências características dos eventos, os festivais são uma grande vitrine para curadores e investidores. Saiba quando, onde e por que acontecem as grandes reuniões do gênero.

Por Liliane Ribeiro

Chega ao palco do GACEMSS um dos personagens mais famosos da TV

2º FENATIFS (FESTIVAL NACIONAL DE TEATRO INFANTIL DE FEIRA DE SANTANA/ BA)

A segunda maior cidade da Bahia se prepara para sediar o 2 º FENATIFS (Festival Nacional de Teatro Infantil de Feira de Santana). Neste ano, 29 monta-gens de diversas regiões do País estarão presentes nos espetáculos que aconte-cem entre os dias 3 e 12 de outubro. O festival baiano não tem caráter com-petitivo e abrangerá quatro categorias: Mostra Nacional, Mostra Interior do Nordeste, Mostra de Talentos Mirins e Mostra Jovens Talentos. Serão realiza-das atividades como debates, oficinas, sessões de contação de histórias, pales-tras e mesas redondas.

SERVIÇOData em 2009: entre 3 e 12 de outubroContatos: Coordenação de Teatro do Cuca - Tel: (75) 3221-9766e-mails: [email protected] e [email protected]

11º FESTIVAL DE TEATRO INFANTIL DO ESPÍRITO SANTO

Dez peças estão em cartaz no 11º Festival de Teatro In-fantil do Espírito Santo, que dura quase 70 dias. De terça a sexta-feira, os espetáculos são encenados exclusivamente para grupos escolares e, aos finais de semana, para o públi-co em geral. A organização do evento visitou, no primeiro semestre deste ano, 310 escolas da Grande Vitória e de al-guns municípios do interior do Estado do Espírito Santo a fim de agendar a ida das instituições de ensino ao teatro.

SERVIÇOData em 2009: entre 12 agosto e 18 de outubro Realização e Produção: Alfa 4 Produção e EventosContatos: e-mail: [email protected] / www.festival-deteatroinfantil.com.br

III FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO INFANTO-JUVENIL (SÃO PAULO/ SP)

Grupos de teatro da Bélgica, da Alemanha, do Brasil e da Suíça. Sete dias de apresentações, com espetáculos de rua, música, leitura dramática, narração e contação de his-tórias. Essa é a receita de 2009 para o III Festival Interna-cional de Teatro Infanto-Juvenil, que acontece de 2 a 8 de outubro, e inclui na programação mesas de reflexão, deba-tes e oficinas com convidados da Argentina e da Turquia.

SERVIÇOData em 2009: de 2 a 8 de outubroContatos: (11) 5522-1283 / www.paideiabrasil.com.br Realização: Cia. Paidéia Associação CulturalPatrocínio: Caixa Econômica Federal

6º FESTIVAL GACEMSS DA CRIANÇA (VOLTA REDONDA/RJ)

O Festival GACEMSS (Grêmio Artístico e Cultural Edmundo de Macedo Soares e Silva) da Criança já é tra-dição em Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro. O evento, que conta com apresentações teatrais de grupos de Barra Mansa, do Rio de Janeiro, de São Lourenço e de Volta Redonda, já atraiu, nas cinco edições anteriores, mais de 43 mil crianças. O GACEMSS é destinado a toda rede educacional do sul do Rio de Janeiro e redondezas, com o intuito de unir promoção cultural e inclusão social.

SERVIÇOData em 2009: 1 a 16 de outubroContatos: www.gacemss.com.bre-mail: [email protected]: (24) 3342-4202 / (24) 3343-1770 / (24) 3343- 3033Realização e Produção: GACEMSS – Grêmio Artístico e Cultural Edmundo de Macedo Soares e Silva

O cascudo douradinho em “Amigo lata, amigo rio”

FESTIVAL DE TEATRO INFANTIL DE SALTO/ SP

A segunda edição do festival, que aconteceu em agosto, reuniu 60 atrações e teve um público de 14 mil pessoas na cidade de Salto, que fica a 100 quilômetros de São Paulo. Os morado-res lotaram a praça XV de Novembro para assistir as peças e disputar ingressos de espetáculos como “Co-coricó, uma aventura no te-atro”; “Os Saltimbancos”, apresentado pela Cia Tea-tral Vernáculo de Salto; e a “Saga da Bruxa Morgana”, com Rosi Campos. Durante todo o festival, ônibus gra-tuitos estiveram disponíveis para levar as pessoas para os espaços culturais.

SERVIÇOData em 2009: de 20 a 23 de agostoIngressos: Toda a progra-mação foi gratuita, mas ne-cessária a retirada de senhas dos espetáculos com uma hora de antecedência nos respectivos locais de apre-sentação.Realização e Produção: Se-cretaria de Estado da Cultura do Estado de São PauloCo-Produção: APAA – Associa-ção Paulista dos Amigos da ArteParceria: Prefeitura e Secre-taria de Cultura e Turismo do Município de Salto

Tchutchuco anima a criançada

“Cocoricó”: sucesso com a garotada

“O sapato do meu tio”: sucesso em 2008

“Mogli, o menino lobo” é uma das atração em solo capixaba

Divulgação

Divulgação

Foto

s: D

ivul

gaçã

o

Page 18: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

1 8 1 a 15 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Festivais

Antes de começar a entrevista com o Jornal de Teatro, o organizador do Por-to Alegre em Cena recebe alguns convi-dados no belo casarão que serve como sede de produção do evento na capital gaúcha. Exibe, orgulhoso, as lembranças dos amigos que já passaram por ali e se lembra dos que ainda estão chegando. “Avisa a Ná que não poderei buscá-la no aeroporto, mas nos vemos sem falta no almoço”, diz para uma de suas produto-ras entre um convidado e outro.

Este é Luciano Alabarse, criador, ide-alizador e agregador do Porto Alegre Em Cena. “Faço questão de receber pessoal-mente os artistas que vêm para o festival, e não por qualquer papel institucional. Gosto de receber as pessoas, possibilitar os encontros e firmar os laços que me prendem a cada um deles: essa paixão louca e inquietante pela arte”, disse.

E é fato. Na noite anterior, acompa-nhei Luciano aguardando pacientemen-te para entrar no camarim de três jovens atores pernambucanos e possibilitar a eles mais um encontro.

AS DAMAS DE CAIOO espetáculo era “Monólogos de

Caio F.”, uma junção de três peças de duas companhias pernambucanas. No palco, os atores Antonio Rodrigues, Hen-rique Ponzi e Marcelo Francisco. Um Caio Fernando Abreu apresentado com um sotaque diferente e ousado – por le-var para a terra do autor os traços con-temporâneos dos jovens atores. Além de Luciano, estava na plateia a irmã do autor e o diretor Gilberto Gawronski, que por mais de dez anos (e em vários idiomas) interpretou o brilhante texto “Dama da

A hora dos encontros

Luciano Alabarse revela a real motivação do Porto Alegre em Cena

Noite”, de seu amigo Caio.Tensão dupla na sala de espetáculo:

de Gawronski na expectativa de ver um texto tão íntimo com um novo intérpre-te; e do ator, frente à sua grande referên-cia. “Gilberto confessou que estava com muito medo e ansioso para ver a mon-tagem. ‘Sei de cada palavra, cada pausa. Conheço tudo neste texto’ confessou ele a mim”, disse Luciano.

“No intervalo ele me abraçou e de-sabou de tanto chorar. Era o texto ga-nhando nova vida. As palavras do nosso amigo Caio transformando novamen-te”, completa Luciano.

O ator Marcelo Francisco, que vive em Garanhuns, Pernambuco, revela que soube da presença ilustre minutos antes de entrar em cena. “Fiquei muito nervo-so e tive medo de não conseguir realizar meu trabalho como queria, mas a emoção parece ter sido positiva e o resultado foi elogiado, inclusive pelo Gilberto, que me disse que Caio ‘abençoaria’ a minha inter-pretação. A irmã do autor também usou essas palavras e disse que ele certamente estava por ali muito emocionado com esse encontro. Para mim foi um momento marcante que com certeza vou carregar por toda a minha vida artística”, conta.

REJEIÇÃOSe os encontros ocasionados pelo fes-

tival são marcantes para algumas pessoas, outras preferem concentrar o tempo cri-ticando a programação e comparando-a com os demais festivais. Luciano explica que o Porto Alegre em Cena tem uma meta: oportunizar diálogos, seja entre os artistas, entre artista e público; artista e cidade; e espetáculos e crítica. “Quando uma peça causa rejeição na plateia nossa meta também foi alcançada. É importan-

te ter contato com diferentes referências para se escolher qual mais se relaciona com você. Isso agrega maturidade e des-perta um olhar diferente para o mundo das artes”, conta.

Para ele, o mesmo acontece com a classe artística da cidade, que “divide com esses grandes nomes do teatro mundial o padrão vibratório que domi-na a cidade durante o festival”.

“E AS NOVIDADES?”O que esperar de novo em um festival

já consolidado e respeitado no universo cênico? Continuidade – ou melhor, se-guir desconstruindo as bases do teatro. “A única obrigação que temos na hora de montar a grade é com a consistência do

projeto, a humanidade presente na atua-ção. Não sei muito bem da programação dos outros festivais e nem procuro saber. Ninguém concorre. Muito pelo contrá-rio, o sucesso de diferentes eventos acaba reverberando em todos”, revela.

Ao que tudo indica, Luciano Alabar-se já deu os primeiros passos para a pró-xima edição do Porto Alegre em Cena. Aliás, os dá todos os dias. “Me orgulho dos amigos que fiz durante a minha vida artística e é deles que busco as referên-cias e a paixão para essa loucura de fes-tival. Cada ano somos novos amigos e espero que possam aproveitar os dias em Porto Alegre. Eu e minha equipe queremos, apenas, fazer diariamente o melhor festival possível”, revela.

Por Rodrigoh Bueno

”“Gosto de receber as pessoas, possibilitar os encontros e firmar os laços que me prendem a cada

um deles: essa paixão louca e inquietante pela arte

Divulgação

Marcelo e Gawronski. Gerações diferentes de apaixonados por Caio Fernando AbreuMarcelo Francisco em cena em “A Dama da Noite”, famosa e reconhecida obra de Caio

Diego Pisante

Divulgação

Luciano Alabarse: ‘O sucesso de diferentes eventos acaba reverberando em todos’

Page 19: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

1 91 a 15 de Outubro de 2009Jornal de Teatro

Prêmios

Opinião

Criado com o intuito de valorizar as produções gaú-chas que participam do festi-val de teatro Porto Alegre Em Cena, o 4º Prêmio Braskem em Cena foi entregue na capi-tal gaúcha, no dia 21 de setem-bro, no Theatro São Pedro, e teve como grande ganhador

Tocar o barco e virar o lemeGerson Steves

Ando maluco por (e com) sites de relacionamento tipo Facebook ou Twitter. São ferramentas que aproximam pessoas, valorizam ta-lentos, ajudam a divulgar trabalhos e a promover ideias – para o bem e para o mal. O sonoplasta Fê Pi-natti me apresentou a blogosfera – espécie de universo paralelo das ideias, onde todo mundo escreve sobre tudo, especialmente os pró-prios umbigos.

Nessa toada, passo horas dos meus dias lendo o que dizem os colegas, vendo o que estão apron-tando, articulando pensamentos banais sobre o cotidiano: qual o papel do teatro nestes tempos de virtualidade? Qual sua função na era multimeios, em um começo de século em que, como preconizou Platão, nos afastamos da vida para fixar os olhos nas sombras do fun-do da caverna? Mas, se tudo são sombras nas cavernas virtuais, cadê a vida? E o teatro? Afinal, para o filósofo grego, a arte era também uma espécie de fundo de caverna. Aviso de antemão: não tenho as respostas.

Luz e sombra. Vida e arte. Verda-des e mentiras. Virtudes e pecados. Por dias, estes têm sido os binômios a ocupar minha cabeça em martela-das de estética e ética. Ary França (grande amigo e comediante, não necessariamente nessa ordem) disse no Facebook que eu precisava “fa-zer cursinho para ateu e largar essa mania de pecado”. Mas o que é esta nossa arte senão uma arena pública onde praticamos uma espécie de re-ligiosidade pagã, na qual exorcizamos demônios, desfilamos um sem-fim de pecados e culpas dostoievskiamente expostas como feridas abertas?

Em “Odisseia do Teatro Brasilei-ro” – depoimentos compilados por Silvana Garcia – Antunes Filho pro-põe a reflexão: “como podemos ree-laborar o futuro?” E responde: “preci-samos enfrentar essa nova realidade que está aí... largar as besteiras do passado, estudar e tocar o barco.” Tomo a liberdade de emendar outra analogia: precisamos virar o leme.

Alguém disse que, no futuro, tal-vez a única possibilidade que as pes-soas tenham de estar unidas em gru-po e partilhar algo que as emocione

seja na arena. Temos de rever a ideia da arena futura. Reavaliar o que move-rá as pessoas até ela, arrancando-as dos chats, fóruns e eme-esse-enes da vida. São tempos de novos profetas. Em que milhares falam para milhões num clique. Vivemos em constante estado de atenção: checamos fontes, avaliamos consistências, nos defen-demos de armadilhas. E, ao mesmo tempo, perdemos o foco do que de fato importa: tocar o barco para onde? Virar o leme em que direção?

Tenho patinado nessa misce-lânea de assuntos. Noutro dia, fui assistir ao Blue Men Group e ouvi de um amigo que o espetáculo era datado. O que é ser datado? O que vi foi uma divertida crítica aos meios de comunicação, à manipulação das massas, à celebrização do anoni-mato. Nada mais atual. Será que é porque o frisson dos anos 1990 já passou e eles agora são espécie de franchising viajando pelo planeta? Ou porque meu amigo seja mais ante-nado que a maioria e o resultado lhe soe déja-vu. Mesmo assim é efer-vescente e instigante.

Do mesmo modo que, para dizer

o mínimo, é revigorante rever as core-ografias do Wuppertaler Tanztheater. “Café Müller”, em que se vê com niti-dez a fusão entre dança e teatro, é de 1978. Antes disso, Pina fizera o visceral e poético Sagração da Primavera (‘75). Alguém ousaria dizê-las datadas? Não seria egoísmo dos construtores de um pensamento contemporâneo privar as novas gerações de ver estas obras, sob o rótulo de serem datadas? Ao contrário: são modelos de como tocar o barco e virar o leme.

Retomo o binômio verdade-men-tira, tão vivo no teatro, e recorro à dramaturgia Rodrigueana. São tex-tos em que nada é verdade, nada é fato. Há o recurso do flash-back, da narrativa de um terceiro sobre algo vivido pelos protagonistas, o olhar da imprensa, um diário esquecido ou uma gravação suicida. São pontos-de-vista. A verdade objetiva é o que menos importa.

O teatro sempre enfrentou o de-safio de retratar o homem em seu tempo. E nos habituamos a pensar que o bom teatro é o que permanece vivo para além do seu tempo. Talvez o grande desafio em nossos dias seja

olhar para a verdade em um mun-do em que cada vez mais o que importa é o ponto-de-vista.

Para mim, tempo e espaço têm perdido a importância. Ainda mais após ter visto “O Fantástico Reparador de Feridas”, de Brian Friel, que celebra os 50 anos de carreira de um dos nossos grandes atores, Walter Breda (bem acom-panhado por Mariana Muniz e Rubens Caribé). Os três, em cena, por meio de relatos muito particu-lares, constroem – ou descons-troem – uma verdade que jamais existirá, devida sua distância no tempo e no espaço. Além de re-flexão sobre a verdade, é metáfora para o fazer artístico que merece ser vista, refletida e preservada como norte aos que desejam tocar o barco e virar o leme.

* Gerson Steves tem 25 anos de atividades teatrais na cidade de São Paulo, tendo atuado como diretor, dramaturgo, ator, produtor e professor. E tem tuitado à beça ultimamente (www.gersonsteves.com.br).

Por Rodrigoh Bueno

Braskem premia espetáculos gaúchosParticipantes do Porto Alegre em Cena concorreram em cinco categorias. “O Sobrado”, de Inês Marocco, foi o grande vencedor do festival

“O Sobrado”, dirigido por Inês Marocco. O espetáculo é uma criação do grupo Cer-co, promovida pelo Departa-mento de Arte Dramática do Instituto de Artes da UFRGS. No discurso de agradecimen-to, os alunos pontuaram: “Es-peramos que mais professores saiam de seus gabinetes, onde passam o tempo escrevendo

artigos e vão para a palco”.“O Sobrado” recebeu os

troféus de melhor espetácu-lo dos júris oficial e popular, votado em urnas nas saídas dos teatros. Os prêmios so-mam R$ 23 mil. Também foram vencedores o diretor Zé Adão Barbosa, pelo es-petáculo “A Arca de Noé”; a atriz Aracy Esteves, por

“Marleni”, de Liliana Sulz-bach e Márcia do Canto; e o ator Daniel Colin de “A Vida Sexual dos Macacos”.

Destinada às produções do Rio Grande do Sul, o Prêmio Braskem contou com dez pe-ças concorrentes, que foram apresentadas na 16ª edição do Porto Alegre em Cena: “A Arca de Noé”, “A vida sexu-

al dos macacos”, “Desvario”, “Ditos e malditos – uma insta-lação coreográfica”, “Marleni”, “Mulheres fortes em corpos frágeis”, “O bairro”, “O mé-dico à força”, “O Sobrado” e “Teresa e o aquário”. Os jorna-listas Antonio Holhfeldt, Rena-to Mendonça, Vera Pinto, Helio Barcellos e Roger Lerina foram os jurados desta premiação.

O vitorioso elenco do espetáculo “O Sobrado” sobe ao palco do Theatro São Pedro, na capital gaúcha, enquanto Zé Adão Barbosa e Inês Marocco exibem, orgulhosos, seus troféus

Fotos: Angela Alegria POA em Cena/Divulgação PMPA

Page 20: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

2 0 1 a 15 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

Política Cultural

A Comissão Especial de Tramitação – destinada a ana-lisar, simultaneamente, qua-tro propostas de emendas à Constituição que vinculam recursos orçamentários para a Cultura (PECs 324/01, 427/01, 150/03 e 310/04) – aprovou, por unanimidade, na tarde do dia 23 de setembro, o texto substitutivo do depu-tado José Fernando Apareci-do de Oliveira (PV-MG). De acordo com o parecer do rela-tor, a PEC 150/2003 é a mais exequível, pois determina que, anualmente, 2% do orça-mento federal, 1,5% dos esta-dos e 1% dos municípios, ad-vindos de receitas resultantes de impostos, sejam aplicados diretamente em Cultura. Atu-almente, o Governo Federal investe entre 0,7% e 0,8% do Orçamento da União na área cultural.

A PEC 150/2003 é consi-derada essencial para que se estruture o Plano Nacional de Cultura (PNC), cujo texto também foi aprovado no dia 23, na Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos De-putados. Com relação às duas votações, o ministro da Cul-tura, Juca Ferreira, manifes-tou-se em nota oficial. “Este

Aprovada a PEC 150Emenda Constitucional, aprovada pela Comissão Especial de Tramitação, garante a vinculação de receitas para a área da Cultura

Marcello Casal Jr / ABr

avanço se traduz na garantia crucial de recursos para a área, mas seu alcance é muito maior. Significa que, uma vez aprovados estes instrumen-tos, nós, brasileiros, enfim, surgiremos como pessoas e nação que se cultivam, que abandonam definitivamen-te o complexo de vira-latas

apontado por Nelson Rodri-gues, para, enfim, assumir-se no mundo como seres afetos à cultura – a cultura que nos traduz, explica, alimenta e po-siciona no mundo.”

Já o secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cul-tura, José Luiz Herencia, que acompanhou as duas votações,

afirma: “O estado brasileiro passará e ter maior planeja-mento cultural com a aprova-ção do PNC e, ao mesmo tem-po, garantirá recursos por meio da PEC 150. As duas propos-tas se complementam para que possamos assumir maior res-ponsabilidade com relação ao campo cultural”, explicou.

PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONALO texto aprovado contou

com apenas uma alteração, su-gerida pelo deputado Zezéu Ribeiro (PT-BA): a palavra “cul-tura” em vez da expressão “cul-tura nacional’. O parlamentar explicou que a intenção é pre-venir que ocorram interpreta-ções equivocadas do dispositivo legal. “Depois, poderiam falar que a PEC não serve para a pro-moção de concertos de música clássica porque não se trata de cultura nacional”, disse.

A PEC 150/2003 ainda será votada, em Plenário, na Câma-ra dos Deputados e no Senado Federal. Existe, porém, um cli-ma de confiança em torno do tema. “Através dessa emenda haverá uma recolocação de re-cursos para que tenhamos uma política cultural mais eficien-te”, afirmou o deputado José Fernando, ao final da reunião.

O deputado Geraldo Ma-gela (PT-DF), presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura, também se mostrou otimista, mas admitiu que existem dificuldades para aprovar uma Emenda Consti-tucional. Segundo ele, trata-se de um “trabalho hercúleo”, mas a meta é aprovar a PEC ainda este ano e, assim, garantir maiores recursos para o setor cultural em 2010.

O Plano Nacional de Cultura (PNC) avançou de forma signi-ficativa, dia 23 de setembro. O substitutivo do Projeto de Lei foi aprovado na Comissão de Educação e Cultura (CEC) da Câmara dos Deputados. Agora, o texto segue para a Comissão de Constituição e Justiça e de Ci-dadania (CCJC) para aprovação.

O PNC, que orientará as polí-ticas culturais em um horizonte de dez anos, foi elaborado com base em debates e estudos realizados desde 2003, com intensa partici-pação social. “O Estado brasileiro caminha para adquirir, pela primei-ra vez, capacidade de planejamen-to das políticas nessa área”, avaliou o secretário de Políticas Culturais do MinC, José Luiz Herencia.

“As diretrizes, objetivos e metas do Plano orientarão os in-vestimentos do poder público”, complementou Herencia, acres-

Unanimidade no Plano Nacional de Cultura

centando. “Agora enfrentaremos a próxima luta, que é garantir a capacidade de investimento de um Estado que está assumindo suas responsabilidades para reverter os indicadores de exclusão cultural no País”, disse o secretário, para quem foi a falta de planejamento que gerou “as enormes distorções visíveis no modelo de financia-mento cultural.”

Herencia destacou, ainda, “a sensibilidade e o empenho dos parlamentares de todos os partidos” na CEC da Câmara dos Deputados, em especial da presidente da Comissão, depu-tada Maria do Rosário (PT-RS), e da relatora do Projeto de Lei. Pelo MinC, também acompa-nharam a votação o presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Sérgio Mamberti, e o secretário executivo substituto, Gustavo Vidigal.

Roosewelt Pinheiro / ABr

A deputada Maria do Rosário, presidente da CEC, teve seu empenho e sensibilidade elogiados por Herencia

O ministro da Cultura, Juca Ferreira, é só sorrisos com as aprovações: fim do complexo de vira-latas

Por Comunicação Social/MINC

Page 21: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

2 11 a 15 de Outubro de 2009Jornal de Teatro

Por Carlos Gabriel Alves

Mais de meio século de car-reira, atuação em cerca de 50 peças, 20 produções teatrais, participação em 25 telenovelas, oito aparições no cinema, traba-lhos com dublagem, teleteatro ao vivo, idealização de um teatro em São Paulo e 74 anos de vida. Esses são os números de Miriam Mehler, uma mulher que tem sua vida confundida com a história do teatro paulista e nacional, e que não pensa em parar de atuar.

“Eu escolhi essa profissão por amor, por paixão e continuo com essa paixão até hoje. Cada vez que entro em cena me sinto muito bem e realizada. Gosto do contato direto com o público e o teatro te possibilita isso na hora. Atuar é o que mais me encanta na vida. Se me convidarem, vou continuar me apresentando até morrer”.

Tamanha paixão e vocação foram despertadas ainda na in-fância, quando Miriam freqüen-tava teatros com a família. “Meus pais costumavam me levar para assistir peças. Quando chegava em casa, representava os papéis que tinha assistido. Gosto de atu-ar desde pequena”, conta a atriz.

No entanto, quando decidiu fazer a EAD (Escola de Arte Dramática), em São Paulo, se de-parou com uma exigência de seu pai: se quisesse ser atriz precisaria entrar na faculdade de Direito. Miriam acatou a decisão, e, após ser aprovada no curso de direito, ingressou na EAD, onde ficou por quatro anos.

NOITES DE GALASua estreia nos palcos foi em

grande estilo, em peça que inau-gurou uma nova fase no Teatro de Arena, em 1958. Miriam clas-sifica a obra “Eles Não Usam Black-Tie”, de Gianfrancesco Guarnieri, como “um marco”, e relembra: “Na época, o Teatro Arena estava no limite. Ou essa peça do Guarnieri emplacava ou o teatro fechava. Eu resol-vi topar, apostei com eles, e foi uma aposta vitoriosa. A peça fez imenso sucesso e foi uma gran-de estreia, não só minha, mas do Guarnieri como autor também.”

O ano de 1958, o primeiro após se formar na EAD, trouxe grandes frutos para a atriz, que, além de participar da bem suce-dida montagem de Guarnieri, também fez parte do elenco de “Um Panorama Visto da Ponte”, de Alberto D´aversa – produ-ção do consagrado TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), primeira companhia teatral profissional do País – e ganhou o prêmio de atriz revelação da APTC

Uma dama que não usa black-tieVida & Obra

(Associação Paulista de Críticos Teatrais), por sua atuação em “A Lição”, de Eugène Ionesco e di-reção de Luís de Lima.

Com sua carreira em ascensão, Miriam ligou-se, em 1963, ao Tea-tro Oficina, onde atuou em peças como “Quatro Num Quarto”, de Valentin Kataev, “Pequenos Burgueses”, de Máximo Gorki, e “Andorra”, de Max Frisch.

Miriam relembra com cari-nho esse período, no qual teve a oportunidade de trabalhar com grandes nomes da dramaturgia brasileira. “Foi uma época muito boa. Aprendi muita coisa. Pude trabalhar com Zé Celso, que era um diretor sensacional. Tínha-mos também Eugênio Kusnet, que era professor e ator maravi-lhoso. Foi uma experiência que me enriqueceu muito”.

No final dos anos 1960 e iní-cio dos 1970, Miriam e seu mari-do na época, Perry Sales, investi-ram esforços para a inauguração do Teatro Paiol, em São Paulo. Ela revela que a ideia do proje-to foi mais de Sales do que dela, com o ideal de que tivessem um espaço onde pudessem trabalhar juntos. “O teatro, na verdade, era um galpão. Nós o construímos. No começo, pretendíamos fa-zer só peças nacionais, mas logo percebemos que precisaríamos

trabalha também com grandes textos”, comenta.

Nos dez anos em que esteve à frente do Paiol – mesmo depois de separar-se de Sales – Miriam não só atuou, mas também pro-duziu diversas peças. Destaques para as montagens “A Flor da Pele”, “Abelardo e Luísa”, “Bo-nitinha, mas Ordinária”, “Greta Garbo, Quem Diria, Acabou no Irajá”, “Salva”, “Absurda Pessoa” e “Um Grito Parado no Ar”.

DANOS IRREVERSÍVEISA ditadura militar, instaurada

no País na época em que Miriam ainda estava no Teatro Oficina, trouxe sérias conseqüências ao modo de o teatro ser feito e apre-sentando. “No início da ditadura estava em cartaz com a peça “Os Pequenos Burgueses” e fomos obrigados a parar com as apre-sentações”, conta a atriz.

Essa não foi a única dificulda-de que o regime causou aos ato-res. “As peças eram censuradas e cortadas. Tínhamos que apre-sentar uma sessão completa para os censores liberarem ou não as montagens”, diz Miriam.

Porém, mesmo diante dessa atmosfera de censura, vigilância e controle, Miriam consegue apon-tar algo de positivo: “Foi, para os autores e atores, uma época muito

criativa, pois tínhamos de driblar essas dificuldades e dar um jeito de fazer as coisas andarem”, diz a atriz, que ressalta a importância do movimento teatral no contex-to. “Tínhamos que lutar contra a ditadura e nossas armas eram a palavra e o teatro”, frisa Miriam, acrescentando que esse período foi traumático e de danos irrever-síveis não somente para o País,

mas para o meio. “Esses 21 anos de ditadura afastaram o público dos teatros e sentimos os reflexos disso até hoje”.

Nos anos pós-regime mili-tar, a atriz – com sua carreira já consolidada – continuou atuando e se destacando. Nas décadas de 1980 e 1990, esteve nos elencos de “Tem um Psicanalista na Nos-sa Cama”, de João Bethencourt, “Não Explica que Complica”, de Alan Auckbourn, “A Herdeira”, com direção de Flávio Rangel, “Luar em Branco e Preto” e “Vi-dros Partidos”, última obra do autor Arthur Miller, dirigido por Iacov Hillel.

Em 2009, a atriz esteve em cartaz, em São Paulo, com a peça “Mãe é Karma”. No elenco, Re-nato Borghi, amigo desde a época em que atuaram juntos no Teatro Oficina. Para Miriam, atuar com Borghi é fácil e natural. “Temos uma compreensão e intimidade cênica como eu nunca vi com outra pessoa. Para quem assiste à peça, parece realmente que so-mos marido e mulher”, enfatiza.

Miriam admite que interpre-tar é um grande desafio e que ao longo de sua carreira sempre teve dificuldades para montar seus papéis, “dando um pou-co da Miriam para cada perso-nagem e tirando um pouco de cada personagem para a Mi-riam”. Com uma trajetória de sucesso tanto na televisão quan-to no teatro, a atriz conta que gostaria de ter atuado mais no cinema. Mas não esconde sua preferência pelos palcos. “Entre os três, fico com o teatro, mas para mim o importante é atuar e representar. É disso que eu gos-to, seja na tela ou na televisão. Mas é do teatro que me alimen-to. É a base de tudo”.

Miriam, com 74 anos, garante: “Se me convidarem, vou continuar me apresentando até morrer”

Miriam atuou em “Mãe é Karma” junto com o ator Renato Borghi

Foto

s: J

oão

Cal

das

/ D

ivul

gaçã

o

Page 22: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

2 2 1 a 15 de Outubro de 2009 Jornal de Teatro

História

Por Leonardo Serafim

Da delicadeza de dois olhos femininos cor de mar surgiu uma paixão arrebatadora que cresceu, ganhou vida e trans-formou um singelo palhaço em lenda artística no Rio Grande do Sul. Esse enredo, que mais lembra um conto de fadas mo-derno, graças a sua magia e encanto, é o começo da longa história do Teatro Teleco, que há 36 anos encanta multidões por onde passa.

Tudo começou em 1964. Antônio Adair Machado, o Te-leco, até então locutor de uma rádio do interior do Paraná e palhaço nas horas vagas, tra-balhava tranquilamente no es-túdio de uma estação em Rio Negro quando o destino ba-teu a sua porta. Era uma bela jovem, de 19 anos, chamada Tiana, que acabara de sair de um colégio de freiras e pro-curava seu primeiro emprego. Encantado com a beleza da moça, Teleco não pensou duas vezes em contratá-la como sua assistente. Em pouco tem-po, os dois colegas de traba-lho viraram bons amigos. E de amigos transformaram-se em casal, que, por partilha-rem o mesmo gosto pelas ar-tes cênicas, decidiram dedicar suas vidas ao teatro popular. Após peregrinar, por muitos anos em diversas companhias nos estados do Sul do Brasil,

Teatro Teleco: três décadas atraindo multidões no Sul do Brasil

Teleco decidiu voltar às (ve-lhas) origens: retornou, junto com a mulher, a sua cidade natal, Novo Hamburgo, onde havia iniciado a carreira artísti-ca. Desde muito jovem, Teleco sempre esteve presente nos cir-cos gaúchos, que praticamente tornaram-se sua segunda casa. Tentando ganhar seu espaço, começou vendendo balas e picolés até conseguir pisar no picadeiro pela primeira vez aos 14 anos. Após sua aparição, apenas uma meta pairava sua cabeça: construir um teatro e distribuir alegria para o máxi-mo de pessoas.

TEATRO TELECOO sonho de infância virou

realidade graças a um amigo, que lhe emprestou dinheiro para a construção de um cir-co, em 1972. Com a ideia fir-me de que poderia brilhar nas comunidades carentes do Rio Grande do Sul, o palhaço, jun-to com Tiana, sua filha Ana Beatriz e um jovem elenco de artistas, inaugurou o Teatro Teleco, que, em pouco tempo virou um dos principais e úl-timos grupos mambembes do País.

Mesmo ficando boa parte de sua vida em uma cadeira de rodas, devido a uma cirur-gia mal sucedida, e passando fome em diversos momentos, Teleco, ao lado de seus irmãos – como costumava chamar

seus colegas de carreira – sem-pre perseverou, criando uma tradição dentro do seu teatro, que vive até os dias atuais. Te-leco faleceu em 2008, mas o legado do teatro popular, que faz multidões rirem e chora-rem, se mantém.

TRADIÇÃO NOS MELODRAMAS

CIRCENCESComo diria Tiana, mulher

de Teleco, o show tem que continuar. É o que acontece desde a morte do velho mes-tre. Como não poderia ser diferente, sua família tocou o barco adiante e manteve a tra-dição do teatro. Atualmente, são 28 “irmãos” que dividem tarefas e os modestos, mas aconchegantes, traileres do grupo, para manter a chama viva de Teleco.

Com uma graça que trans-cende o tempo, a trupe con-tinua tirando aplausos do público devido à sua forma inocente de apresentação. Considerado por muitos, e até mesmo por Teteco (novo líder da trupe), um estilo dissolvido do melodrama, o Teatro Tele-co traz em sua história mais de 200 peças, que tanto orgulham os artistas. Composta em sua grande maioria por comédias, escritas por Ana Beatriz, o “circo” sempre tentou entre-ter com humor infantil, capaz de atrair tanto os mais velhos quanto as crianças. A ideia de agradar o povo com piadas sutis se mantém. Com encena-ções simples, como “Teteco: o Açougueiro”, ou “Teteco: o Professor”, os espectadores se deleitam com as leves tra-palhadas do palhaço e de seus

companheiros de cena. Porém, engana-se quem

pensa que a comédia é a úni-ca vertente que corre nas veias dessa família. Como um bom ator deve ser, Teleco sempre apreciou todos os campos da dramaturgia, sendo um admi-rador ferrenho das fortes in-terpretações. Foi nos dramas que ele fez milhares de fãs se debulharem em lágrimas, com espetáculos como “A canção de Bernadete” e “O céu uniu dois corações”, entre outros. Apesar do sucesso de outrora, os dramalhões, que tanto mar-caram a trajetória do Teatro Teleco, já não fazem mais par-te do repertório. “O povo está cansado de sofrer na vida real. Quando vem nos assistir, quer sair daqui gargalhando, para esquecer os problemas do co-tidiano”, afirma Tiana.

Teleco se transformou em uma verdadeira lenda do Rio Grande do Sul

Antônio Adair Machado, o palhaço Teleco, faleceu em 2008, mas a tradição de seu teatro ainda emociona

Fotos: Divulgação

Page 23: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

2 31 a 15 de Outubro de 2009Jornal de Teatro

Internacional

Uma criança com algodão doce em uma das mãos e todo o rosto manchado de rosa chora. Sua mãe, puxando-a por uma mão, insiste para que ela continue a caminhar, mas ela decide não fazê-lo. “Quero cumprimentar os macacos”, diz a menina em seu linguajar ainda pequeno e entre lágri-mas. Um grupo de estrangei-ros tira fotos enquanto um guia explica-lhes que vão con-tinuar caminhando pela ave-nida Sarmiento, em Buenos Aires, até o monumento do Libertador. Um casal de na-morados que se olha e se beija como se não existisse outra realidade que a dele. Todos possuem um ritmo muito len-to, despreocupado; levantando o olhar, no mesmo prédio do Zoológico, todos podem con-ferir uma grande galeria cober-ta onde se lê: Teatro Sarmiento – Investigação Teatral.

O TEATRO INFANTIL

“O Teatro Sarmiento exis-te desde meados da década de 30, segundo os poucos registros que temos”, susten-ta Carlos Fos, subdiretor do Centro de Documentação de Teatro e Dança do Complexo Teatral de Buenos Aires. Uma placa que se encontra em uma das paredes externas do te-atro o certifica da seguinte maneira: Teatro Infantil, 21 de janeiro de 1938. Int. Muni-cipal Dr. Mariano de Vedia y Mitre. A princípio era somen-te um grande anfiteatro ao ar livre, que apresentava obras para crianças aproveitando o grande público que ia ao zo-ológico. Logo foi construído um galpão coberto, onde co-locaram o cenário, mas, com o passar do tempo, as obras não tiveram continuidade e o gal-pão começou a ser utilizado como depósito, no qual eram guardados desde forragens para os animais até ferramen-tas e material de construção.

Em 1955, já com o seu

Teatro Sarmiento:

A casa do ExperimentoUma viagem pela história desta sala que foi feita como o Teatro do Zoológico de Buenos Aires e chegou a se transformar em um espaço de investigação, onde tudo está por se descobrir em meio a animais

Por Daniela Rodríguez, Revista Mutis X El Foro

Tradução: Pablo Ribera

nome atual, o teatro come-çou a realizar apresentações, sobretudo no verão, já que as instalações não eram as ade-quadas para afrontar o frio do inverno. Os espetáculos infan-tis foram os que dominaram o cartaz, mas também houve uma variedade de obras diri-gidas aos adultos. Realizou-se, ainda, um ciclo de leituras ba-seado em autores nacionais e a versão de “Um Tal Servando Gómez”, de Samuel Eichel-baum, que dirigiu Jorge Petra-glia. “O problema do teatro é que, com o passar dos anos, não foi sendo construído um horizonte teatral, não estava dirigido a um público deter-minado. Além disso, não tinha um perfil definido e não havia uma programação planificada no tempo que conseguiu um público cativo. Isto acontecia pela incapacidade ou pela falta de verbas”, explica Carlos Fos.

Nos anos 70, a sala pas-sou a depender do Teatro San Martín e o espetáculo que inaugurou este período foi “Universexus”, primeira obra dirigida por Pepito Cibrian.

“A proposta se baseia em um jogo coreográfico e musical pensado para comunicar uma forma de livre expressão, na qual as necessidades afetivas da juventude brigam por de-monstrar sua localização na sociedade” (La voz del pue-blo, 12/03/71). Significou uma quebra, marcando, assim, uma época de manifestações vanguardistas e transgressoras.

Na década de 80, e já de-pendendo da Organização Teatral Presidente Alvear, se manteve reiteradamente ina-bilitado. Foi utilizado pelos estudantes da Emad (Escola Municipal de Arte Dramáti-ca) como sala de ensaio e de apresentações de fim de ano. “Meus dois últimos anos na Emad os fiz no Teatro Sar-miento. Por isso, este lugar é muito significativo na minha vida. Tive muita coerência na minha carreira dentro da mu-nicipalidade: terminar de es-tudar lá e agora estar na dire-ção deste lugar é algo que me enche de satisfação”, conta Vivi Tellas, atual diretora ar-tística do teatro.

Sobreviveu à privatização do zoológico, nos anos 90, e o mais destacável desta épo-ca foram as obras infantis do grupo La Galera Encantada, os espetáculos de dança con-temporânea montados pelo Centro Cultural Rector Ricar-do Rojas e o humor desestru-turado e irreverente do Los Macocos.

PROCURANDO SUA PRÓPRIA IDENTIDADE

O teatro tem uma entrada de portas vidradas que per-mitem ver a bilheteria des-de o lado de fora. O hall de entrada é um espaço muito reduzido, com duas cadei-ras, como as de uma sala de espera. Em uma das paredes há um grande cartaz: “Biodra-ma XIII: Deus ex machina”, dirigida por Santiago Gober-nori, a obra que atualmente está sendo exibida. Ao cami-nhar por um estreito corredor se chega a uma sala com 250 poltronas. No palco está tudo pronto como se a peça fosse começar em breve. Ao atra-

vessar uma das portas que se encontra à esquerda do palco, pode-se ver um grande pátio com flores, plantas e o grama-do cuidadosamente cortado. Uma grande grade separa o teatro do zoológico. Desde lá pode-se observar as jaulas dos animais e os pais passeando com seus filhos, sendo leva-dos pela mão. “Uma vez co-meçaram a tirar fotos de nós desde o outro lado da grade, como se isto fosse uma jaula do zoológico e nós fossemos seus protagonistas”, lembra, entre risadas, Vivi Tellas.

Desde 2000, o Teatro Sar-miento faz parte do Complexo Teatral de Buenos Aires, junto com o Teatro San Martín, o De la Ribera, o Presidente Alvear e o Regio. O objetivo do com-plexo foi transformar a sala em um lugar de investigação e ex-periências de novas tendências cênicas e, assim, criar um perfil definido para o teatro, ausen-te durante toda a sua história. Para levar a cabo essa tarefa, Kive Staiff, diretor-geral e ar-tístico do complexo, convocou Vivi Tellas. “Há vários anos eu vinha pensando que algum dos teatros estatais deveria oferecer espetáculos de experimentação teatral. O primeiro teatro que pensei foi no De la Ribera, até que Kive Staiff me ofereceu ser diretora-artística deste”, co-menta Tellas.

“Tinha que buscar pri-meiramente a visibilidade do teatro. Todos o conheciam, mas como um atrativo a mais dentro do zoológico. Assim, consegui que iluminassem a avenida Sarmiento. No pri-meiro ano me dediquei exclu-sivamente a repará-lo e a co-locá-lo em condições”, conta a criadora do Projeto Biodra-ma. “O Teatro Sarmiento é um lugar de campo, distante do turbilhão e dos tempos desta cidade, que abre a mente para deixar entrar a criativida-de e permite a busca de outras formas de teatralidade”, con-clui Vivi Tellas.

Fotos: Divulgação

No palco do Teatro Sarmiento, tudo pronto como se o espetáculo em cartaz estivesse prestes a começar

As portas vidradas permitem ver a bilheteria desde o lado de fora

Page 24: Jornal de Teatro Edicao Nr.12

2 4 1 a 15 de Outubro de 2009 Jornal de TeatroAF ASA 0035-09M AN FESTAS 260X368.pdf 08.09.09 10:18:56