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Maria Clara Tomaz MachadoDiretora de Comunicação Social

EXPEDIENTEISSN 2317-7683

O Jornal da UFU é uma publicação mensal da Diretoria de Comunicação Social (Dirco) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).Av. João Aves de Ávila, 2121, Bloco 1S, Santa Mônica, 38.400-902, Uberlândia-MG. Telefone: 55 (34) 3239-4350. www.dirco.ufu.br | [email protected].

Diretora de ComunicaçãoMaria Clara Tomaz Machado Coordenador de JornalismoFabiano GoulartCoordenador de ConteúdoCairo Mohamad Ibrahim KatribEquipe de JornalismoDiélen Borges, Eliane Moreira, Frinéia Chaves, José Amaral Neto, Jussara Coelho, Marco Cavalcanti e Renata NeivaEstagiários em JornalismoAline Pires e Júnior BarbosaEditoraEliane Moreira (RP525/RN)Projeto gráfico e diagramaçãoElisa ChueiriRevisãoDiélen Borges eMaria Clara Tomaz MachadoFotografiaMilton SantosImpressãoImprensa Universitária - Gráfica UFUTiragem3000 exemplaresDocente colaboradorEduardo MacedoReitor: Elmiro Santos Resende | Vice-reitor:Eduardo Nunes Guimarães | Chefe de ga-binete: José Antônio Gallo | Pró-reitora de Graduação: Marisa Lomônaco de Paula Naves | Pró-reitora de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis: Dalva Maria de Olivei-ra Silva | Pró-reitor de Pesquisa e Pós-gra-duação: Marcelo Emílio Beletti | Pró-reitor de Planejamento e Administração: José Francisco Ribeiro | Pró-reitora de Recursos Humanos: Marlene Marins de Camargos Borges | Prefeito Universitário: RegesEduardo Franco Teodoro

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texto e foto Aline Pires

Estudante de Fisioterapia é ouro no halterofilismo

Em tempo de Copa: reivindicações e realizações

Faculdade de Educação Física é referência no esporte paralímpico

O Brasil, de fato, é um país de contrastes. De um lado, o país da Copa, verde e amarelo, da Shaki-ra se exibindo em um clipe com todos os “heróis do gramado”, das propagandas vendendo de TVs a tênis. De outro, o país dos movimentos sociais nas ruas, das greves dos motoristas parando as gran-des metrópoles, da crítica à falta de uma política nacional consistente no que diz respeito a saúde, educação, moradia e segurança.

Sabemos que a contenção de verbas no ano de 2014 para as universidades federais é um fato con-sumado. A UFU tem experimentado na pele, cotidianamente, essa restrição de recursos e, de forma crítica, a Pró-reitoria de Planejamento e Administração (Proplad) fez, a partir da matriz orçamentá-ria, uma proposta democrática, aprovada pelo Conselho Diretor (Condir), em 14 de março de 2014. A partir dela, cada unidade orçamentária e administrativa será responsável pelos seus gastos, de ma-neira transparente e lúcida, como explica o professor José Francisco Ribeiro no seu artigo.

Todavia, há que se enunciarem as realizações acadêmicas e administrativas da UFU, que não nos deixam esmorecer e apontam para caminhos e trilhas que tornam possível concretizar sonhos pas-sados e ações culturais que colocam esta universidade no cenário nacional. É o caso, por exemplo, da efetivação de nove tradutores e intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (Libras), vinculados ao Centro de Ensino, Pesquisa, Extensão e Atendimento em Educação Especial (Cepae) da Faculdade de Educação (Faced), cuja prioridade é atender aos surdos matriculados nos cursos de graduação da UFU. Vale lembrar que, em sintonia com essa ação do Cepae, está em vigência, desde 2014, o curso de Língua Brasileira de Sinais do Instituto de Letras (Ileel).

Num outro viés, a mostra Rumos Dança - UFU, numa parceria entre Pró-reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis (Proex), Secretaria Municipal de Cultura e Banco Itaú, trouxe para Uberlândia um grande evento, entre os dias 5 e 8 de junho, aberto para artistas de todo o território nacional. Espetáculos de envergadura, palestras e oficinas compuseram uma programação inédita na cidade. Estiveram aqui, entre outros nomes de referência na área, Wagner Schwartz, Wagner Ribot, Pina Miranda, Cláudia Müller, Clarissa Sacchelli, Fernanda Belivaqua e Alexandre Molina.

Para finalizar, devemos ressaltar a inauguração do Laboratório de Aeronáutica do curso de Enge-nharia Mecânica, um empreendimento da UFU que vem para consolidar a excelência desta universi-dade. No que diz respeito aos campi avançados, a gestão atual, por meio da Prefeitura Universitária, reuniu-se com seus professores, alunos e técnicos administrativos, ouvindo suas demandas e anun-ciando os futuros empreendimentos. Entre eles, podemos enumerar, de forma resumida, a licita-ção de novos blocos para abrigar cursos já aprovados, a elaboração de plano diretor para os campi, a instalação de novos pontos de rede de telefonia, a entrega de veículos, novos laboratórios, sala de professores, espaço para diretório acadêmico, aumento do efetivo de técnicos administrativos, inau-guração de restaurante e cantinas. Vale lembrar ainda a concessão da Rádiocomunitária FM em Mon-te Carmelo (91 MHz) e Ituiutaba (105,9 MHz) e a repetidora TV Universitária para Patos de Minas.

É o bastante? Nem de longe contempla as nossas aspirações. Entretanto, sempre é bom lembrar que, reivindicando e caminhando, se chega lá.

“Eu estava muito segura com o trabalho que foi feito no treinamento. É claro que teve frio na barriga, mas todo mundo estava confiante”, relem-bra Amanda Sousa, aluna de Fisiote-rapia da UFU e atleta paraolímpica, que ganhou sua décima medalha no dia 26 de março. A conquista foi o ouro no halterofilismo do Campe-onato Para-Sulamericano, disputa que aconteceu em Santiago no Chi-le, com a participação de competido-res da Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. A atleta de 22 anos ven-ceu a competição, contra outras qua-tro adversárias, erguendo 74 Kg.

Voltando um pouco no tem-po, em outubro 2010, foi criado, no Campus Educação Física da UFU, o primeiro Centro de Treinamen-to de Halterofilismo Paraolímpico do país, resultado de uma parceria entre a UFU e o Comitê Paralímpi-co Brasileiro. A criação do Centro de Treinamento só foi possível com a fundação, no mesmo ano, da pri-meira Academia Paralímpica Bra-sileira e isso permitiu que, além de professores e profissionais capaci-tados que já existiam na cidade, a universidade também tivesse um espaço com equipamentos adequa-dos para o treinamento da modali-dade. O intuito era não só oferecer a estrutura física para o treinamento dos atletas, mas também possibilitar a formação e treinamento de técni-cos capacitados.

Desde então, atletas de todo Bra-sil têm vindo a Uberlândia, a fim de aperfeiçoar a prática esportiva. Atu-

almente, a Seleção Brasileira de Hal-terofilismo Paraolímpico tem um calendário anual de treinamento agendado na Academia Paralímpica, na qual fazem um trabalho de aper-feiçoamento das técnicas de levan-tamento de peso e preparação para competições, juntamente com os téc-nicos. No restante do tempo, a aca-demia atende atletas de Uberlândia.

O treinador da equipe uberlan-dense da modalidade, Weverton Santos, participou do processo de fundação do Centro de Treinamento e afirma que os investimentos feitos para oferecer equipamentos adequa-dos, juntamente com o trabalho téc-nico de alto desempenho que tem sido realizado com os atletas, têm dado resultados surpreendentes nos campeonatos, como é o exemplo da Amanda.

Sobre as expectativas antes da competição, ela conta que “era uma seleção de atletas jovens, com me-

nos de 25 anos. O objetivo era ga-nhar experiência, não era medalha”. Amanda não tem dúvidas de qual foi o seu diferencial na disputa em que superou as expectativas: “foi uma competição em que, na verdade, não ganhou o mais forte, ganhou o mais técnico.” De acordo com a paraleta, o trabalho técnico que vem sendo de-senvolvido é o grande diferencial da escola nacional: “a técnica brasileira tem surpreendido muita gente lá fora”.

Amanda pratica halterofilismo desde 2009 e compete desde 2010. Mesmo com esses anos de experi-ência, a emoção de uma competição internacional é única e, em suas pa-lavras, “uma sensação indescritível”. A atleta, que ficou sem dormir na noite anterior à competição, diz não ter disfarçado a emoção: “chorei hor-rores na entrega da premiação e du-rante o hino nacional. Só quem vive essa honra sabe o orgulho que a gente sente”.

Amanda Sousa conquista sua décima medalha na modalidade

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texto Miguel Rodrigues de Sousa Neto Doutor em História Social pela UFU e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Aquidauana

Tradutores e intérpretesde Libras chegam à UFU

Servidoresatuarão na inclusão

dos surdos na universidade

texto e fotos Diélen Borges

No dia 17 de maio celebra-se a luta contra a homofobia. A data foi escolhida por ter sido neste dia, em 1990, que a Organização Mundial de Saúde retirou de seu Código Inter-nacional de Doenças a homossexu-alidade: de 1977 até então, o desejo de uma pessoa por outra do mesmo sexo foi considerado uma doença mental. Vários países retiraram, antes ou depois, a homossexualidade dessa condição; no Brasil, isso ocorreu em 1985 – o que não quer dizer, entre-tanto, que nossa sociedade inteira pa-rou de pensar assim.

Cada indivíduo tem seus desejos e eles são múltiplos. Nós somos se-res histórica e socialmente constitu-ídos; não estamos fadados aos nossos aspectos biológicos apenas. Somos inseridos em sociedade, sofremos demandas e respondemos a elas das mais variadas maneiras. Assim, ser homem ou ser mulher são apenas algumas das opções que temos. Ser homem e desejar mulheres ou ser mulher e desejar homens são possibi-lidades, não uma sentença.

O que ocorre, no entanto, é que nossa sociedade – assim como tantas

outras – elegeu a heterossexualidade como modelo e dois tipos ideais fo-ram elaborados para corroborá-lo: o homem forte e viril e a mulher frágil e submissa. Temos sido compulsoria-mente adequados a esse modelo des-de que nascemos: menino ou menina que devem se tornar, mais tarde, ho-mem e mulher – e devem se desejar.

Não é tão simples. Homens e mulheres têm orientado seu de-sejo erótico-afetivo para homens, para mulheres ou para ambos. Inde-pendentemente disso, têm também construído identidades de gênero

próprias: homens que se travestem, mulheres que se tornam masculinas, homens que passam por cirurgias para tornarem seus corpos femini-nos, mulheres que realizam procedi-mentos médicos para tornarem seus corpos masculinos – e essas são ape-nas algumas opções.

A sociedade, normativa, nem sempre recebe bem tais indivíduos. Na passagem do século XIX para o século XX, homossexuais ou travestis eram estudados pela medicina legal. A homossexualidade era retrata-da como uma característica doentia, geralmente ligada a ambientes insa-lubres (pobres) e à degenerescência da raça branca (a mestiçagem), e, no caso masculino, à desonra de se tor-nar parecido com a mulher (frágil).

E o que fazer com tais sujeitos? Le-vá-los para manicômios e lá deixá-los, como exemplificam o Colônia, famo-so hospício da cidade de Barbacena, ou o Febrônio Índio do Brasil, internado por quase 60 anos no Manicômio Ju-diciário do Rio de Janeiro. Deixá–los nas margens, nas periferias das cida-des, como as rodovias e ruas ermas destinadas à sua prostituição – à qual muitos anônimos recorrem. Xingá-los: viado, sapatão, baitola, mulher-macho, maricas. Espancá-los, para que voltem a seguir a norma imposta ou, pelo me-nos, para que aprendam que seu lugar é inferior. Matá-los. Como se tem feito a cada 28 horas no Brasil, segundo re-latório divulgado em 12 de abril pelo Grupo Gay da Bahia.

É preciso lutar contra a homofo-bia, esse ódio contra a população de lésbicas, gays, bissexuais e transgêne-ros que leva a tanta violência. Tam-bém é preciso atentar para o fato de que cada parcela dessa sigla (LGBT) sofre violências específicas, como a lesbofobia (ódio às lésbicas) e a trans-fobia (aversão aos transgêneros). É preciso lutar, de maneira mais ampla, construindo políticas públicas, uma nova educação e legislação específica, contra todas as máscaras ideológicas que têm tornado, nesse país, a dife-rença de identidade de gênero e eróti-co-afetiva um fator de desigualdade, exclusão, violência e morte.

O primeiro semestre de 2014 trou-xe aulas muito diferentes para alguns alunos da UFU: os seis estudantes de graduação e os três de pós-graduação que são surdos. Eles, agora, são acom-panhados por nove tradutores e intér-pretes de Língua Brasileira de Sinais (Libras), que tomaram posse na uni-versidade no dia 12 de março. Os ser-vidores estão vinculados ao Centro de Ensino, Pesquisa, Extensão e Atendi-mento em Educação Especial (Cepae) da Faculdade de Educação (Faced).

A prioridade de atuação desses profissionais, segundo a coordena-dora do Cepae, professora Eliamar Godoi, é no atendimento aos surdos matriculados nos cursos de gradu-ação. O tradutor e intérprete acom-panha o estudante durante as aulas, facilitando a comunicação com o professor. A intérprete Helika Ete da Silva Ribeiro explica que também há sempre um profissional de plantão na sala de recursos do Cepae.

Além disso, os profissionais atu-am no atendimento a alunos da pós–graduação – fazendo a tradução em defesas de teses e dissertações em que um surdo estiver apresentan-do–, em eventos com surdos ins-critos e em reuniões internas da universidade das quais participem servidores surdos.

Na UFU há seis alunos surdos em cursos de graduação (Química, Ma-temática, Estatística, Letras, Teatro e Ciências Biológicas) e três na pós--graduação. Sarah Julianna Takada Ferreira é surda e cursa o segundo pe-ríodo de Matemática. Antes da chega-da dos intérpretes, as aulas eram mais

difíceis para ela: “eu sofria demais porque eu não tinha acompanha-mento nas minhas aulas e não conse-guia me comunicar com o professor”. A estudante pretende ser professora bilíngue e acompanhou o processo de chegada dos novos servidores: “o Cepae solicitava intérprete e, às vezes, conseguia, mas ele logo saía, porque era prestador de serviços. Aí falaram que ia ter concurso para intérprete e eu fiquei muito feliz”.

A intérprete Letícia Leite ressalta a importância de haver uma adaptação no currículo para que, de fato, o alu-no surdo seja incluído na educação superior: “os intérpretes e os alunos estão reaprendendo e trazendo esse discurso do diferente para sala de aula, não apenas no respeitar, mas no reconhecer as diferenças, que parte desse princípio de adaptar, de trazer mais recursos visuais”. Letícia elogia o envolvimento dos professores que têm o cuidado de disponibilizar o conteúdo das aulas para o intérprete, com antecedência, para que ele possa se preparar para o acompanhamento em sala de aula.

As tradutoras e intérpretes Letícia Leite, Marina Ferreira Lopes, Kátia Souza e Helika Ete da Silva Ribeiro

Sarah Julianna (centro) cursa Matemática e é atendida em plantão no Cepae

As unidades acadêmicas e adminis-trativas e demais setores da UFU

que necessitarem de serviços de tradutores e intérpretes de Libras devem encaminhar suas solicitações ao Cepae com, no mínimo, dois dias úteis de antecedência.

As solicitações devem ser feitas por meio de formulário dis-ponível na página da Faced (www.faced.ufu.br) e do Cepae (www.cepae.faced.ufu.br). As dúvidas e sugestões podem ser encaminhadas ao e-mail [email protected].

SOLICITAÇÕES

Homofobia, violênciae morte: até quando?

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Se a saúde pública no Brasil está doente, a saúde mental está na UTI. A afirmação é do professor Peterson Gandolfi da Faculdade de Gestão em Negócios (Fagen) da UFU, cam-pus Patos de Minas que, de 2010 a 2013, em sua pesquisa de doutora-do, analisou os fatores associados às internações e reinternações de pacientes com transtornos mentais severos. Entre os itens pesquisados foram avaliados atendimento, uso dos medicamentos, atenção psicos-social, apoio da família, papel do cuidador e, por fim, o uso de álcool e drogas.

Aprovada no Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da UFU, a base de dados veio de 295 questionários feitos com familiares de pacientes, atendidos pelo Hos-pital Psiquiátrico de Ituiutaba que é referência para nove municípios (Ituiutaba, Santa Vitória, Ipiaçu, Gurinhatã, Centralina, Capinópo-lis, Canápolis, Campina Verde e Ca-choeira Dourada), uma população de aproximadamente 200 mil pes-soas. “A ideia era explicar porque pessoas com determinado transtor-no eram reinternadas e outras não”, diz Gandolfi.

Na pesquisa, o professor percebeu que 80% dos pacientes do Hospital Psiquiátrico estão associados às rein-ternações. Sob o ponto de vista de gestão, a reinternação, segundo Pe-terson, pode significar a necessidade de um gasto desnecessário e conse-quência de um conjunto de fatores, dentro da rede de atenção psicos-social que falharam. “É uma crítica teórica ao sistema e, baseado nessa curiosidade, eu e meu orientador re-solvemos pesquisar”. O levantamen-to, que também usou informações de 3.500 internações registradas entre 2003 e 2010, do DATASUS, apontou que a maior parte dos pacientes que foi internada, dentre as diversas ca-tegorias de doenças, sofria de esqui-zofrenia, transtorno relativo ao uso de álcool e outras drogas, depressão maior e transtorno de humor, den-tre outras. A população investigada, composta basicamente de usuários do Sistema Único de Saúde (SUS),

era de baixa remuneração e escolari-dade e, aproximadamente, 60% eram do sexo feminino.

A tese orientada pelo professor Álvaro Escrivão Júnior, do Programa de Pós-graduação da Fundação Ge-túlio Vargas de São Paulo - que con-centra uma área de estudo no tema: Administração e planejamento em saúde-, teve como proposta, “olhar o sistema de saúde, sob o ponto de vis-ta de gestão”, explica Gandolfi.

ResultadosPor meio de um modelo matemá-

tico, a tese testou hipóteses e propôs mostrar como seria o processo de to-mada de decisão, sob o ponto de vis-ta do gestor público de saúde mental. O trabalho mostrou que o núme-ro de psiquiatras na microrregião é reduzido para atender a demanda. “Percebemos que o paciente só vai ao psiquiatra no limite e, aqueles aten-didos pelo especialista têm dez vezes menos chance de ser internado, do que um que não tem este atendimen-to”, conta o professor.

Com relação ao acesso e uso de medicamentos, a pesquisa apontou que o paciente que utiliza somente o serviço de distribuição pelo sistema público tende a internar mais do que o aquele que também compra medi-camentos na rede privada. “Não con-seguimos aprofundar nessas causas, mas sabe-se que, na maioria dos ca-sos, os pacientes devem usar vários medicamentos em conjunto para se obter o efeito desejado. Em alguns casos, verificou-se que existe falta de algum desses medicamentos; em outras situações, o paciente não vai até a farmácia da rede porque não consegue chegar lá sozinho ou mes-mo porque tem vergonha de ir; e, em outros casos, o paciente não usa porque, simplesmente, acha que não necessita mais, isto é, ‘já me sinto bem e não preciso mais usar’, são fa-las comuns entre pacientes”, afirma Peterson.

No trabalho, foi constatado que pacientes que usam álcool têm 13 ve-zes mais chance de serem internados do que o que não usam. Outra hipó-tese analisada foi a do cuidador dos

pacientes: aquele paciente que con-ta com uma pessoa que “realmen-te” faz o papel de cuidador, feito na maioria das vezes por familiares, tem 13% menos chance de internar-se do que não tem. “O papel do cuidador é fundamental. Notamos que traba-lhar um processo de conscientização e formação desta pessoa melhoraria o sistema todo”, ressalta Galdonfi.

Extensão À medida que a pesquisa era de-

senvolvida, foram trabalhados dois projetos de extensão, em parceira com os cursos de Serviço Social e Administração da Faculdade de Ci-ências Integradas do Pontal (FACIP/ UFU) e o curso de Psicologia da Uni-versidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). “Eu acredito fielmente que a universidade tem que promover e contribuir para transformar a so-ciedade”, diz o professor que vê nos projetos de extensão o principal ca-minho dentro da universidade para promover uma transformação social.

O primeiro projeto, Grupo Inte-rativo de Suporte e Apoio Mútuo aos familiares de portadores de transtor-nos mentais severos ((GISAM), teve apoio do Núcleo de Apoio Saúde da Família de Ituiutaba (NASF). “Por meio de um estudo qualitativo, des-cobrimos que a família sofre demais com o paciente e com o processo da desospitalização”, disse o professor. O projeto, que aconteceu de maio a no-vembro de 2012, acompanhou essas pessoas que, por meio de encontros, externalizavam seus sentimentos e emoções, acompanhados por profis-sionais de psicologia e serviço social. A avaliação final, segundo Gandolfi, foi que os familiares aprenderam a li-dar com a doença e com os pacientes. No período do curso, nenhum dos pacientes foi (re) internado.

O outro projeto foi desenvolvi-do em Santa Vitória e serviu para dar apoio à implantação e operacio-nalização do Centro Terapêutico de Santa Vitória, que tem função pare-cida com um Centro de Atendimen-to Psicossocial (CAPS). De acordo com Lúcia Helena Gonçalves Silva, assistente social de Santa Vitória há 26 anos, a estrutura permitiu que a reinternação caísse praticamente a zero e a pesquisa possibilitou que ou-tras cidades conhecessem os serviços oferecidos pelo município. O proje-to de extensão ajudou com estrutura, bolsista do projeto, palestras, debates e apoio de material. Gandolfi perce-beu que o segredo do êxito da expe-riência de Santa Vitória foi estudar as orientações do Plano Diretor de Saú-de do governo do estado de Minas Gerais e promover atendimento por equipe multidisciplinar. “O Centro faz o acolhimento dos pacientes de forma humanizada, promove consul-tas periódicas com psiquiatra e par-ticipa de ações de lazer e cultura. O

grande sucesso também foi atribuído à liderança da coordenadora do cen-tro”, ressalta o professor.

Relatos e próximos passosEm abril deste ano, Gandolfi

apresentou os resultados da tese e fez um debate sobre como poderiam ser úteis e transformados em ações e políticas públicas. Foi durante o encontro do Conselho de Secretá-rios Municipais de Saúde (Cosems), realizado pela Gerência Regional de Saúde de Ituiutaba. “Os secre-tários de Saúde da Microrregião se mostraram muito interessados nos resultados. Achei extremamen-te importante e ético apresentar os resultados que consegui para o grupo que acreditou e apoiou a mi-nha pesquisa. E, como pesquisador formado, aproveitei para indicar novos desafios que gostaria de en-tender, como, por exemplo, por que se receita, distribui e usa tantos an-tiansiolíticos e antidepressivos na rede?”, relata o professor.

Segundo Elizeth Adad Gui-marães, referência técnica em saúde mental da Regio-nal de Saúde de Ituiutaba, a pesquisa de Gandolfi já trou-

xe alguns avanços e contribuiu para identificar diver-sos fatores que, se sanados, podem trazer melhorias ao serviço de atendimento desses pacientes, entre eles:

Algumas internações de casos como Alzheimer e de-pressão, que poderiam ser tratados em casa, estão no Hospital Psiquiátrico, porque a família não aceita esses pacientes.

A pesquisa revelou que, em Ituiutaba, muitos pacien-tes eram reinternados por falta do CAPS, estrutura que foi criada em dezembro de 2013.

O município de Gurinhatã, com base nos resultados da pesquisa, contratou psicólogo e nutricionista, ati-tude que reduziu as internações. Os gestores, agora, já avaliam a necessidade de criação de um programa para melhorar o atendimento em saúde mental.

O estudo apontou que os municípios de Ipiaçu, Cen-tralina e Canápolis não disponibilizavam programas de saúde mental e, depois de relatada a deficiência, esses profissionais foram contratados.

IMPRESSÃODE QUEM ESTÁ DE FORA

Até onde é necessária?

“Acima de tudo sou um extensionista”

(Re)internaçãode doentes mentais

texto Eliane Moreirafoto Milton Santos

Peterson GandolfiPesquisa foi tema da tese de doutorado do professor Peterson Gandolfi

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texto Jussara Coelho

O negro após o13 de maio

Em 13 de maio é comemorado o Dia da Abolição da Escravatura. Há o que celebrar? Quem é o protagonis-ta? Esta data provoca discussões na sociedade, porque parte dos movi-mentos afro-brasileiros acredita que, nas comemorações e na história con-tada, não se destaca o protagonismo do negro no processo da abolição.

Onde está o negro 126 anos de-pois? Segundo dados do Censo de 2010, o Brasil tem hoje 16,3 milhões de miseráveis, com renda inferior a setenta reais mensais. Destes, cerca de 70% são negros. Porém, o Censo salienta ainda que houve ascensão dos negros para classe média nos úl-timos oito anos. Atualmente, 53,5% dos negros estão nas classes A, B e C.

Para Aparecida Calmin, dirigente do Grupo de Integração da Consci-ência Negra de Uberlândia (Grico-neu), o mês de maio serve para uma reflexão sobre a posição que o negro

ocupa na sociedade pós-abolição. Se-gundo a dirigente, foi um processo que demandou muitos anos e deixou sequelas violentas na comunidade negra.

A Pesquisa das Características Ét-nico-Raciais da População: um Estu-do das Categorias de Classificação de Cor ou Raça (Pecerp) colheu infor-mações em uma amostra com cerca de 15 mil domicílios dos Estados do Amazonas, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Dis-trito Federal. O estudo constatou que 63,7% dos entrevistados acreditam que a cor ou raça influencia na vida. Entre as situações nas quais esses dois fatores têm maior influência, o trabalho aparece em primeiro lugar, seguido pela relação com a polícia e a justiça, o convívio social e a escola.

A Lei Áurea foi aprovada fren-te a uma série de questões políticas em 1888. Cairo Mohamad Ibrahim

Katrib, doutor em História, coor-denador de extensão do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da UFU, afirma que um dia depois da assinatura da lei não foi feita nenhu-ma política que remetesse à inserção do negro na sociedade. O Brasil foi o último país a abolir a escravidão nas Américas, o que mais explorou e o que tem maior população negra fora do ambiente africano.

O negro e a educaçãoUma das lutas enfrentadas pelo

movimento negro no Brasil se refe-re à Lei de Cotas nas universidades brasileiras. Desde seu início, segundo os apoiadores dessa lei, a justificati-va é fundamentada na exploração do negro, na sua inserção em um espaço social marginalizado e desqualifica-do profissionalmente para o merca-do de trabalho. Assim, a Lei de Cotas propõe tratar a educação de forma

diferenciada no que diz respeito ao acesso às instituições de ensino su-às instituições de ensino su-s instituições de ensino su-perior como uma maneira de colocar o afrodescendente em condições de competir em grau de igualdade com outras etnias.

A Lei n° 12.711 de 29 de agosto de 2012 regulamentou tal conquis-ta, garantindo: “a reserva de 50% das matrículas por curso e turno nas 59 universidades federais e 38 institutos federais de educação, ciência e tec-nologia a alunos oriundos integral-mente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos. Os demais 50% das vagas permanecem para ampla con-corrência. Em cada instituição fede-ral de ensino superior, as vagas serão preenchidas, por curso e turno, por autodeclarados pretos, pardos e in-dígenas, em proporção no mínimo igual à de pretos, pardos e indígenas na população da unidade da Federa-

ção onde está instalada a instituição, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”.

As cotas na UFU são distribuídas de acordo com essa lei. São destinadas 50% das vagas dos processos seletivos para cotas. O primeiro quesito é ter cursado integralmente o ensino mé-dio em escola pública. Dentre os 50% das cotas, 25% são destinadas para pretos, pardos e indígenas com ren-da igual ou menor que 1,5 salário mí-í-nimo per capita. Os outros 25% são destinados a pretos, pardos, indíge-nas, independente de renda.

Problema resolvido? Katrib con-corda com o sistema de cotas, mas alega que, apenas com esta política, o afrodescendente não vai ter o mesmo espaço que o branco que estuda na escola particular ou pública, pois não tem as mesmas oportunidades por mal completarem o ensino médio.

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O historiador comenta que o negro não se enxerga no ambiente escolar e acadêmico e que o problema co-meça desde os livros didáticos, com a representação do negro no açoi-te, humilhado. O docente esclare-ce: “no Império, quando Dom Pedro começou o processo de identidade nacional, fazendo os primeiros com-pêndios que deram início aos livros didáticos no Brasil, excluiu o negro e o indígena do processo. Naquele mo-mento não havia interesse em o ne-gro ser protagonista”.

O que tem sido feito? Katrib acen-tua que muitas foram as lutas para que o negro obtivesse sua vida, desde a colonização do Brasil, contada. Tais lutas culminaram em leis que ajudam a dar visibilidade ao negro, à sua his-tória e aos seus costumes.

Em 10 de março de 2008 criou--se a Lei 11.645, que tornou obriga-tório, nos estabelecimentos de ensino

por essa população ter passado pelo processo de escravização, não teria condições de assumir o mercado de assalariados, principalmente em in-dústrias, no trabalho mecanizado e na agricultura do café.

A antropóloga alega que, junto a isso, vem o racismo relacionado à cor da pele, à origem e à história so-à origem e à história so- origem e à história so-à história so- história so-cial que tem suas bases no proces-so de escravidão. Ela acrescenta que toda essa marca interfere no en-frentamento no mercado de traba-lho que já se dá de forma desigual, pois o negro era tratado como im-becil e incompetente. “Assim, as elites investiram em trazer uma população de migração europeia branca para trabalhar nas frentes industriais. O negro teria condições para o trabalho se houvesse inves-timento dentro do próprio país de utilizar a mão de obra dessa popu-lação”, orienta Claudelir.

A professora assegura que, com o fortalecimento dos movimentos so-ciais afro-brasileiros, começa a haver alguma mudança na configuração do mercado de trabalho que, até hoje, é penoso e desigual para o afrodescen-dente. As lutas resultaram no ganho das cotas nas universidades e, atual-mente, as cotas em concurso público. A antropóloga ressalta que as pessoas negras ainda ganham menos que as pessoas brancas.

Claudelir finaliza: “a população negra de inferior não tem nada. Nós ajudamos a construir o país. Desde que a gente chegou aqui, nós, a po-pulação negra, contribuímos com nosso trabalho, com nosso gasto de energia, principalmente na condi-ção de escravo. Todos os equipamen-tos culturais do período colonial, as igrejas e a extração de várias rique-zas, desde a cana-de-açúcar até a ex-tração mineral e produção do ouro, foram realizadas pela mão de obra afrobrasileira. É necessário um retor-no disso para a população negra. Fo-ram mais de 300 anos de escravidão a troco de quê? De todo trabalho que o negro fez para a construção do país, o retorno é o racismo!”.

fundamental e médio, públicos e pri-vados, o estudo da história e cultura afro-brasileira. Para Katrib, essa lei vem para dar visibilidade ao negro que foi silenciado durante séculos. “Vejo que o grande problema enfren-tado pelos professores é o preconcei-to da própria escola, de sua direção, que não sabe ou não quer abordar a disciplina. O livro didático da escola, por exemplo, não chama o negro de afrodescendente ou de negro, chama de escravo, mostra o negro no tron-co, como uma mera mercadoria. Os novos livros mostram que não eram assim”, salienta o historiador.

Outro fator que atrapalha na es-colarização do afrodescendente, segundo o historiador, é o autopre-conceito. Ele comenta que o Progra-ma de Educação Tutorial (PET) (Re)conectando Saberes da UFU, do qual ele é tutor, vai para as escolas e tra-balha com a questão da negritude com as crianças, faz oficina de tran-ça, aborda a identidade e o pertenci-mento. “Nessas ocasiões, a criança se vê negra, chega em casa e fala para os pais que na escola fez uma atividade e a professora disse que ela é negra. A mãe responde que ela não é negra, que é mulatinha, é marrom bombom, é moreninha. Esses termos são pejo-rativos. Acabam criando uma discre-pância da imagem. Quando, em um país, as pessoas se recusam a reco-nhecer aquilo que elas são é porque a ferida do racismo é muito profunda. A negação de si próprio é a expressão da discriminação”, completa Katrib.

O negro e o trabalhoO fim da escravidão não signifi-

cou necessariamente a inserção do negro na sociedade. Segundo Clau-delir Corrêa Clemente, professora de Antropologia na UFU e doutora em Ciências Sociais, após a escra-vidão, o afrodescendente passou a enfrentar um mercado de trabalho capitalista, que requer novas práticas profissionais, diferentes da situação de escravidão. A docente afirma que a elite branca utilizou esse mote para desqualificar o negro, alegando que,

O afrodescendente na educação, no trabalho e na sociedade

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Há um ano, metade dos estudan-tes que ingressam na UFU cursou integralmente o ensino médio em es-colas públicas. Dentre esses cotistas, 50% são de famílias com renda bruta mensal igual ou inferior a salário mí-nimo e meio e 50% têm renda acima desse valor e, ainda, 60% são pretos, pardos e indígenas.

Antes da adesão à Lei nº 12.711/2012, a chamada Lei de Co-tas, o perfil socioeconômico predo-minante entre os alunos da UFU era o da classe B: 52,51% do total, segun-do dados da Diretoria de Assuntos Estudantis (Dires) referentes a 2010. Se somadas, as classes C, D e E repre-sentavam 27,13% dos discentes. Os outros 20,35% eram da classe A.

Hoje, as cotas garantem a uma parcela de estudantes de baixa renda o ingresso ao ensino superior. Mas e a permanência? O Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), cria-

do pelo governo federal em 2008, tem como objetivos “democratizar as condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal, minimizar os efeitos das desigualda-des sociais e regionais na permanên-cia e conclusão da educação superior, reduzir as taxas de retenção e evasão e contribuir para a promoção da in-clusão social pela educação”.

O Pnaes prevê ações de assistência estudantil nas seguintes áreas: mora-dia estudantil, alimentação, transpor-te, atenção à saúde, inclusão digital, cultura, esporte, creche, apoio pedagó-gico e acesso, participação e aprendi-zagem de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimen-to, altas habilidades e superdotação. Segundo a assessoria de comunicação do Ministério da Educação (MEC), nos cinco primeiros anos, o Pnaes in-vestiu R$ 1 bilhão em assistência estu-dantil a alunos das instituições federais de educação superior (Ifes).

“Nós temos, de dois anos para cá, um crescimento da popularização da universidade, que é algo muito posi-tivo, pelo qual nós lutamos muito, só que traz consigo um agravamento da demanda pela assistência estudantil que não se tem conseguido atender”,

afirma o estudante Max Ziller, do curso de Ciência da Computação da UFU e coordenador geral do Diretó-rio Central dos Estudantes (DCE). “A expansão da universidade, infe-lizmente, não foi acompanhada pela expansão proporcional dessa assis-tência”, diz o representante estudantil.

Assistência na UFUTrês irmãos da família Rocha e

Silva, da zona rural de Indianópolis, hoje moram em Uberlândia e estu-dam na UFU: Abadia Adenísia, do nono período de Educação Física, Maria José, do sétimo período de Enfermagem, e Elder Elmídio, do terceiro período de Estatística. Eles sempre estudaram em escola pública; a mãe recebe um salário mínimo de aposentadoria por invalidez e o pai é aposentado por idade.

Como os três se mantêm na ci-dade e na universidade? Maria José recebe bolsa moradia no valor de R$ 300 e paga o aluguel da casa em que mora com os irmãos. Os três rece-bem bolsa transporte (50 passes) e alimentação (Maria José tem o di-reito de fazer duas refeições diárias no Restaurante Universitário e os outros dois podem fazer uma refei-

ção). As irmãs ainda foram apro-vadas como bolsistas do Programa de Educação Tutorial (PET) Cone-xões de Saberes Educomunicação, da Faculdade de Educação, que se-leciona estudantes não apenas com base em critérios meritocráticos, mas considera também o histórico socioeconômico.

As políticas de assistência es-tudantil na UFU são de responsa-bilidade da Diretoria de Assuntos Estudantis (Dires). As modalidades atuais são bolsa moradia (R$ 300), bolsa alimentação (almoço e/ou jan-tar no Restaurante Universitário nos campi Santa Mônica e Umuarama ou auxílio de R$ 180 ou R$ 250 onde não há RU), bolsa transporte (passes escolares), bolsa Central de Línguas (desconto nas mensalidades dos cur-sos de idiomas), Projeto de Emprés-timo do Instrumental Odontológico (oferece instrumental, em caráter de empréstimo, aos estudantes do cur-so de Odontologia), passagens para estudantes que vão apresentar traba-lhos em eventos ou que estejam em modalidade nacional e internacio-nal (até R$ 5 mil).

Nos Restaurantes Universitários dos campi Santa Mônica e Umuara-ma, o número de refeições servidas anualmente passou de aproximada-mente 520 mil no ano de 2011 para 557 mil em 2012 e 849 mil em 2013. Há ainda outro restaurante em fase final de construção no campus Pon-tal e dois em fase de projeto para os campi de Uberlândia.

O prédio da moradia estudantil, com 152 vagas, começou a receber alunos no início do primeiro semes-tre letivo de 2014. O espaço foi inau-gurado no final de 2012, porém, de acordo com o diretor, não tinha Habi-te-se (certidão emitida pela Prefeitura Municipal para atestar que a unidade construída está em condições de ser habitada), o padrão de energia elé-trica não estava ligado, a largura das portas dos apartamentos destinados a pessoas com deficiência era incom-patível com a mobilidade de um ca-deirante, entre outros problemas que precisaram ser corrigidos.

Outra política de assistência é a Bolsa Permanência do governo fe-deral, no valor R$ 400, concedida a estudantes matriculados em cur-sos de graduação com carga horá-ria média superior ou igual a cinco horas diárias. Na UFU, aproximada-mente 40 estudantes são beneficia-dos, pois o MEC avaliou apenas os cursos de Medicina e Biomedicina como compatíveis com as regras do benefício.

DesafiosA estimativa para 2014, de acor-

do com Leonardo Barbosa e Silva, di-retor de Assuntos Estudantis, é que a UFU gaste R$ 12 milhões em bolsas e mais R$ 8 a 9 milhões em outras ações de assistência. O professor alerta que os recursos repassados pelo MEC à UFU são inferiores às necessidades da instituição: “Nós ti-vemos, de janeiro de 2013 para ja-neiro de 2014, um aumento de mais

de 40% do número de bolsas. Em termos de valores, como o valor das bolsas oscila, isso chegou a quase 70% de aumento, sendo que os re-cursos de um ano para outro au-mentaram cerca de 20%”.

Silva indica dois gargalos na as-sistência estudantil na UFU. Um de-les é a falta de creches para filhos de estudantes: “esse ano eu creio que a gente já aprova; nós não vamos ter recursos, mas pelo menos ela vai es-tar aprovada”. O outro é a saúde: “não temos programas integrados de aten-ção à saúde do estudante. Nós temos setor de psicologia, de nutrição, de esporte e lazer, mas os esforços não são integrados”, completa.

Na tentativa de solucionar o pro-blema, no ano passado, a UFU enviou um documento ao MEC indicando um déficit de R$ 3 milhões na verba destinada à universidade para assis-tência estudantil. Segundo o diretor de Assuntos Estudantis, não houve

resposta do ministério. “Nesse ano, nós redigimos um novo documento, fomos ao MEC apresentar para o pro-fessor Dilvo Ristoff [Diretor de Po-líticas e Programas de Graduação] e para a professora Adriana Weska [Di-retora de Desenvolvimento da Rede de Ifes] e resposta deles foi negati-va”, conta Silva. A Dires também tem desenvolvido ações junto ao Fórum Nacional dos Pró-Reitores de Ações Estudantis (Fonaprace), Associação Nacional dos Dirigentes das Ifes (An-difes) e outras entidades, no sentido de destacar a necessidade de se des-tinar mais recursos para políticas de permanência no ensino superior.

Os discentes também estão se articulando. Entre os dias 9 e 11 de maio, a União Nacional dos Estu-dantes (UNE) promoveu, em Ouro Preto, o III Seminário Nacional de Assistência Estudantil. O tema foi “Entrar, Permanecer e Transformar a Universidade”.

A gente não quer só comidaNo PET Conexões Educomu-

nicação, o ganho vai além da bolsa. “Não é comum, em uma universi-dade, parar para discutir as dificul-dades de minorias. E este programa faz isso e faz muito bem feito”, relata Abadia Adenísia. “Eu me sinto parte desta minoria, pois é raro ver alguém permanecer em uma graduação com a base que eu tive, tanto na parte da educação formal quanto da formação de valores e opinião”, completa.

Na família Rocha e Silva, como em outras famílias de classes popu-lares, o incentivo ao trabalho predo-minava. “A minha primeira formação foi a desconstrução dessa formação de ‘trabalhadora’ que a minha família me proporcionou. Não julgo eles por isso, pois é o que eles tinham para passar”, relembra a estudante de Edu-cação Física, citando os debates e as leituras da vida acadêmica como di-visor de águas na sua formação.

Quandopermanecer

na universidadeé o desafio

Cotas mudam perfil do aluno e demandam mais políticas de permanência

texto Diélen Borges foto Jussara Coelho

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12 Jornal da UFU Jornal da UFU 13

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texto Prof. José Francisco Ribeiro Pró-reitor de Planejamento e Administração

ESCLARECIMENTOS SOBRE A NOVA POLÍTICA DE DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS INTERNOS NA UFU

Nos últimos anos, as unidades acadêmicas têm recebido os seus recursos orçamentários com base numa Matriz de Distribuição de Re-cursos, que é regulamentada pela resolução 03/2003 do Conselho Di-retor (CONDIR). Em 2014, aplica-ram-se as mesmas regras dos anos anteriores para a distribuição desses recursos, de Outros Custeios e Ca-pital (OCC), de diárias e passagens. Não houve nenhuma inovação me-todológica em relação à distribuição desses recursos, que totalizaram o montante de R$ 6.516.000,00.

Além destes, usualmente distri-buídos, foram descentralizados para as unidades acadêmicas, unidades administrativas, Escola Técnica de Saúde (ESTES) e Escola de Educação Básica (ESEBA) os recursos a serem despendidos com (i) transportes (em veículos da UFU ou terceirizados), (ii) Gráfica da UFU, (iii) manutenção e reparo de equipamentos e iv) gases nobres. Isso não é novidade absoluta, pois no passado já se distribuíram re-cursos para a gráfica e a manutenção. Cabe esclarecer à comunidade quais são as razões que levaram a adminis-tração superior a adotar tais medidas, como a distribuição foi feita e de que forma será gerida ao longo do ano.

DAS MOTIVAÇÕES i) Racionalização no uso dos recursos públicos

Até o ano passado, não havia li-mites estabelecidos para serem gas-tos com a frota. Se houvesse veículo e motorista disponível, da UFU ou das

empresas terceirizadas, a solicitação era prontamente atendida. O único fator inibidor para a solicitação de veículos na garagem era quando o deslocamento envolvia o pagamen-to de diárias de motoristas, pois es-sas eram bancadas pelas unidades acadêmicas e administrativas. Havia situações em que um deslocamen-to era solicitado e o solicitante não comparecia, ou seja, a viagem não se realizava, mas a UFU tinha que arcar, por força de contrato, com o deslo-camento do serviço terceirizado até o local de embarque do solicitante. Acontecia também, de forma recor-rente, o fato de dois veículos saírem de Uberlândia para um mesmo des-tino, com cerca de meia hora de di-ferença e conduzindo apenas um ou dois passageiros. Às vezes, os solici-tantes apresentavam as suas justifica-tivas para tanto, mas não avaliavam os custos envolvidos, afinal, quem es-tava pagando o deslocamento era a UFU (leia-se administração central).

Situação análoga acontecia com a utilização da gráfica. Não havia li-mites para se produzirem banners, folders, cartazes, etc. Tudo que era pedido era atendido. Eventualmen-te, um usuário ou outro manifestava preocupações com o custo do mate-rial produzido. Em algumas ocasi-ões, o demandante do serviço sequer comparecia para buscar o material impresso, quando não se produziam exemplares além do necessário, afi-nal, quem estava pagando pela im-pressão era a UFU.

Quanto aos serviços de manuten-ção e reparo de equipamentos, a si-

tuação não era diferente. Não havia restrições. Se o concerto de determi-nado equipamento custava R$900,00 e um equipamento novo, R$ 1.100,00, mandava-se consertar sem a crítica devida, afinal, quem estava pagando a conta era a UFU.

Quanto aos gases, a Pró-Reitoria de Planejamento e Administração (PROPLAD) já implementou a sua distribuição em 2013 para as unida-des acadêmicas, que não são muitas, e, em 2014, ampliou-se a distribuição para as unidades administrativas.

Assim, o fato de a UFU (admi-nistração central) se responsabilizar, nos últimos anos, pelo pagamento dos gastos com frota, gráfica, manu-tenção e gases, sem limites orçamen-tários estabelecidos, induziu a um certo relaxamento por parte da co-munidade acadêmica e administrati-va no uso desses recursos.

Na base desta discussão está uma premissa fundamental: os recur-sos orçamentários, lamentavelmen-te, não são infinitos; são limitados e é preciso geri-los com o cuidado devido.

ii) Descentralização e corresponsabilidade na gestão dos recursos

Uma vez admitido que os recur-sos não são infinitos, é preciso ter um mecanismo de gestão que, na impos-sibilidade orçamentária de atender a todas as demandas, permita estabe-lecer prioridades entre elas e arbitrar entre aquelas que serão atendidas e as que não serão. Obviamente, a admi-nistração central não tem competên-

cia e nem sabedoria para definir tais prioridades. Esse papel cabe à uni-dade acadêmica ou administrativa em que as demandas são apresenta-das e podem ser mais bem cotejadas e avaliadas.

À luz disto é que se decidiu pela descentralização dos recursos orça-mentários. Pretende-se, assim, com-partilhar ou corresponsabilizar a administração central e as unidades acadêmicas e administrativas pela gestão mais eficiente dos recursos. Essa descentralização – apenas de frota, gráfica, manutenção e gases – envolveu a distribuição adicional de aproximadamente R$ 5,3 milhões a mais do que o valor distribuído via matriz de OCC, diárias e passagens para as unidades acadêmicas.

iii) Maior visibilidade dos gastos orçamentários

Ao descentralizar os recursos, optou-se por fazê-lo para todos os centros de custo da UFU. A descentra-lização alcançou unidades acadêmi-cas e administrativas sem distinção. Esse é um fato da maior relevância. A comunidade saberá quanto está alocado em cada uma das despesas em frota, gráfica, manutenção e gases para todos na UFU, da reitoria à mais nova unidade acadêmica. Para além da transparência, essa divulgação oferece alguns elementos que, ainda que de forma aproximada, permite avaliar os custos de certas atividades que desenvolvemos. Estão na página da PROPLAD os valores distribuídos para 2014 e poderemos,

caso autorizados pelo CONDIR, atualizar e divulgar regularmente os valores gastos pelas unidades.

iv) Maior apropriação e conhecimento dos custos

Outro efeito importante decor-rente da descentralização foi a divul-gação efetiva dos custos envolvidos na execução das nossas atividades. Até então, as unidades não sabiam o custo associado a uma viagem, fosse ela para o Nordeste ou para o interior de São Paulo, por exemplo. Raras as exceções em que os usuários se pre-ocupavam com o valor dos serviços.

Imprimiam-se folders e conserta-vam-se equipamentos, mas ocasio-nalmente havia a preocupação sobre os custos envolvidos. Um melhor co-nhecimento sobre os valores dos ser-viços ajuda no planejamento mais eficiente dos recursos.

DA METODOLOGIA DE DISTRIBUIÇÃO i) O valor gasto em 2013 corrigido pelo IPCA

Uma vez definida a descentraliza-ção, a PROPLAD desenvolveu uma série de estudos, tendo em vista uma distribuição justa dos recursos. Ex-perimentou-se, num dado momen-to, aplicar a resolução 04/2010, que regulamenta a distribuição da frota, mas esta abordagem foi abandona-da, dadas as distorções importantes que a metodologia gerou quando se compararam os dados históricos. Por exemplo: uma unidade A que, em 2013, gastou R$ 1.500,00, se aplica-das as regras estabelecidas pela re-solução, receberia R$ 14.619,00, um valor seguramente muito acima das suas necessidades; por outro lado, uma unidade B que, em 2013, gastou R$ 98.000,00 receberia tão somente R$ 42.822,00.

Diante deste fato, optou-se por distribuir, em 2014, o valor gasto em 2013 corrigido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Assim, no caso da frota, por exemplo, que dos valores distribuí-dos é o mais sensível, tomou-se como referência o que a unidade gastou em 2013, corrigiu-se este número pelo IPCA e o resultado foi o valor dado à unidade em 2014. Dessa forma, pro-curou-se garantir que as unidades utilizem os veículos em 2014 num patamar aproximado ao utilizado em 2013. Esses recursos, no entanto, não puderam ser, neste momento, in-tegralmente distribuídos. Contudo, eles também não serão totalmente consumidos neste momento.

ii) Do contingenciamento que as IFES estão sujeitas no momento

Neste momento (14/05) o orça-mento da UFU, como das demais

Instituições Federais de Ensino Su-perior (IFES), está contingenciado. Temos liberado apenas 50% do nosso custeio e 30% dos nossos recursos em investimento. Isso significa que não temos autorização da Secretaria do Tesouro Nacional para empenhar in-tegralmente o nosso orçamento que consta da Lei Orçamentária Anual (LOA). O governo está, no momento, com uma política de liberação gradu-al do orçamento, em torno de 5% ao mês. É por isso que a administração central não

pode liberar integralmente para as unidades, neste momento, o que elas terão por direito a receber. Te-mos a expectativa de que o governo libere integralmente o nosso orça-mento. Mas é preciso precaver e con-siderar, por exemplo, a hipótese de essa liberação acontecer bem no final do exercício, o que dificultaria o de-senvolvimento pleno de algumas das nossas atividades. Esse cenário não é de todo improvável, à luz do que ob-servamos ao final do ano passado, quando tivemos alguma retenção or-çamentária (emendas parlamentares não liberadas). De qualquer forma, a administração central deverá estar atenta a esta questão e ir liberando os recursos para as unidades acadêmi-cas e administrativas na medida em que o Ministério da Educação (MEC) for descontingenciando o orçamento da universidade. Sugerimos às uni-dades que, se necessário, façam o seu planejamento em torno do valor in-tegral previsto na matriz distribuída e que, se possível, distribuam as des-pesas de maneira uniforme ao longo do ano.

DOS DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS

No enfrentamento deste proble-ma – a melhor racionalização na uti-lização dos recursos distribuídos –, deparamo-nos com inúmeros desa-fios. Mas, a cada situação complexa a ser vencida, convencíamo-nos cada vez mais da necessidade, urgência e importância em se encontrar solu-ções. No que toca à administração central, tornam-se evidentes alguns

pontos que estão sendo e/ou serão melhorados a partir desta iniciativa. Destacamos alguns:

i) A Divisão de Transportes (DI-TRA) terá que aprimorar os seus mecanismos de acompanhamento e controle da frota e os usuários, de maneira geral, deverão se adequar às novas regras. Os usuários da fro-ta ficarão mais atentos e cuidadosos no preenchimento dos seus mapas de viagens. Não será permitido deixar mapas de viagem em branco. Todo quilômetro rodado será debitado dos recursos do solicitante. Os mapas de-verão ser entregues à DITRA dentro de cinco dias após a viagem, sob pena de se inviabilizarem quaisquer novos pedidos de suas unidades acadêmi-cas ou administrativas;

ii) A Diretoria de Compras e Li-citações (DIRCL) e a Diretoria de Logística (DIRLO) deverão buscar a celebração de contratos cada vez mais vantajosos e adequados às ne-cessidades da instituição. Já estamos revendo os contratos da frota.

iii) A Divisão de Gráfica (DIGRA) e Divisão de Manutenção em Equi-pamentos (DIMAN) terão clientes mais exigentes e zelosos para com os serviços prestados de agora em dian-te. Os valores cobrados serão sempre questionados e os usuários deverão ser mais cuidadosos no dimensiona-mento dos seus serviços;

iv) O Centro de Tecnologia da Informação (CTI) tem aprimorado as suas ferramentas de informática. Inúmeros módulos do Sistema de Gestão (SG), a partir da decisão pela descentralização dos recursos, já fo-ram desenvolvidos e já estão disponi-bilizados para a comunidade e alguns aprimoramentos estão em curso. Em breve, as solicitações de compras se-rão todas via web, no SG.

v) A PROPLAD deverá aprimo-rar os seus mecanismos de controle e de apoio na execução deste projeto. Todos, do planejamento à contabili-dade, passando pela compra e Dire-

toria de Administração de Materiais (DIRAM), estão envolvidos neste processo.

vi) Precisamos apropriar, de ma-neira mais precisa, os diferentes cus-tos envolvidos nos serviços. Qual é, de fato, o custo do quilômetro rodado, considerando as diversas situações: com veículo terceirizado, com veículo da UFU, com motorista, sem motoris-ta, etc.? Quanto custa a impressão de um folder na nossa gráfica e na em-presa terceirizada? Como ficam os contratos de manutenção preventi-va? São inúmeras as questões a serem vencidas, mas a responsabilidade que temos como gestores dos recursos pú-blicos nos impõe o imperativo de en-frentar os desafios colocados.

Para as unidades acadêmicas e administrativas, amplia-se a respon-sabilidade na gestão do seu orçamen-to. O volume de recursos aumentou significativamente; em algumas situ-ações, multiplicou por três. Mas esse aumento não acontece impunemen-te. As unidades têm, agora, que arbi-trar, gerir e definir prioridades sobre assuntos ou coisas que antes não ti-nham. Novos conflitos, novos desa-fios, novos tensionamentos deverão ser (e já estão sendo!) administrados.

Por outro lado, a administração central deve estar atenta ao sistema e, de forma eficiente e, sobretudo, transparente, fazer as correções devi-das. Tem-se que observar com aten-ção as especificidades da comunidade sem, contudo, transformar a gestão de recursos em demandas de balcão. É preciso rapidamente construir um melhor modelo de distribuição destes e de outros recursos orçamentários, um modelo que não se vincule estri-tamente dos valores históricos, que premie e não venha a punir as unida-des que forem eficientes e eficazes na gestão dos recursos. Este talvez seja o maior dos desafios no momento.

O fato é que saímos todos da nos-sa zona de conforto. É nossa chan-ce de avançar e não temos dúvida de que haveremos de dar um passo adiante e construir, de forma coleti-va, o nosso melhor caminho.

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texto Júnior Barbosa

Projeto de popularização da ciência incentiva à amamentação

Primeiro alimento

Amamentar, quase sempre, é uma das primeiras coisas que uma mãe faz após o nascimento de seu filho, e é justamente sobre esse ato que o Imu-nocast trata. O projeto é uma série de programas em áudio (podcasts), que têm como objetivo promover o alei-tamento materno como a principal forma de alimentação nos primeiros anos de vida das crianças. A inicia-tiva, que existe desde 2011, já teve mais de 80 episódios publicados em seu blog e iniciou uma série de cur-tas em vídeo gravados em formato de animação stop motion.

O Imunocast surgiu a partir do desejo pessoal da coordenadora do projeto, a professora Mônica Camar-go Sopelete, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFU, de realizar algo em prol da sociedade, por ter pas-sado por problemas durante a ama-mentação de sua filha. “Eu tive uma filha que teve dificuldades e precisava de amamentação exclusiva. Até dois anos e dez meses, eu a amamentei, sem inclusive ela tomar água. Man-ter a amamentação por tanto tempo não é fácil. Percebi o quanto as outras mães tinham dúvidas, medos e difi-culdades”, diz.

A produção dos programas con-siste na divulgação de pesquisas acadêmicas que tratam sobre a ama-mentação, traduzindo os textos cien-tíficos para uma linguagem mais acessível. Os programas também dão

dicas sobre a melhor maneira de se realizar a amamentação, evitando problemas para a mãe e para o bebê, e também falam sobre doenças e complicações que podem ser preve-nidas por meio da amamentação.

A importância social é o desta-que quando se trata do Imunocast. Dar visibilidade para as pesquisas envolvendo a amamentação, divul-gando-as para a sociedade, e utilizar o projeto como ferramenta de en-sino dentro da universidade são as propostas levantadas pela professo-ra Mônica. “Eu aproveitei estar como professora e como pesquisadora para solicitar bolsas e participar de proje-tos. Tentei utilizar essa minha capaci-dade de poder gerenciar um projeto para algo que fosse socialmente im-portante para mim”, afirma.

Mônica também esclarece qual é a importância do aleitamento para o desenvolvimento do bebê e os efei-tos que uma boa amamentação ou a falta dela podem causar no futuro de cada indivíduo: “em imunologia, a gente fala do leite materno porque deveria ser o primeiro alimento que todos nós deveríamos consumir. Ele ajuda a modular o sistema imune para o resto de nossas vidas, inclu-sive para quando nós formos idosos, prevenindo contra doenças que po-demos vir a ter, como o câncer, do-enças cardiorrespiratórias e alergias”, esclarece.

Para iniciar o projeto, a professo-ra Mônica procurou ajuda no curso de Comunicação Social: habilita-ção em Jornalismo da UFU e con-seguiu o apoio da professora Mirna Tonus para realizar a parte técnica que envolvia a produção dos pod-casts. As professoras destacaram a importância do intercâmbio entre as diferentes áreas do conhecimen-to dentro da universidade. “A vida é multidisciplinar, então, por que a gente fica compartimentalizan-do? Cada área tem as suas caracte-rísticas, mas essa interação eu acho que é muito interessante, principal-mente para a divulgação da ciên-cia. A universidade produz ciência. Se essa interação favorece a popu-larização e a divulgação cientifica, é válida. Agora, eu acho que acon-tece pouco. Deu certo nesse caso porque não ficou aquela visão ins-trumentalista do Jornalismo e da Comunicação, foi uma integração

de conhecimentos, uma parceria”, ressalta Mirna.

Camila Katayama Passini, aluna do curso de Enfermagem da UFU e bolsista do Imunocast, acredita que essa atividade de extensão comple-mentou os conhecimentos adquiri-dos em sala de aula. “Eu consegui ter um contato muito maior com o aleitamento materno. Eu tive infor-mações [no projeto] que eu não tive no curso: de pesquisas que eu não tinha conhecimento, da importân-cia do aleitamento, de [tratamento de] doenças em que ele ajuda. En-tão, foi um complemento total”, diz. Até hoje a iniciativa já teve cerca de 10 bolsistas e obteve financiamentos da Pró-Reitoria de Extensão, Cul-tura e Assuntos Estudantis (Pro-ex) e da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd). Os podcasts e vídeos pro-duzidos no Imunocast podem ser acessados no blog do projeto: http://imunocastufu.blogspot.com.br/.

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Tratar as dificuldades de desenvolvimento e aprendizagem na idade escolar de modo pe-dagógico científico, como propõe este livro, é em si um salto de qualidade significativo em relação às tristes formas de medicali-zação da infância que vêm, infelizmente, avançando em nossa realidade – envolven-do tanto as crianças que têm problemas de adaptação à escola quanto as que apresen-tam dificuldades de aprendizagem. De um modo geral, as crianças que se beneficiam da avaliação neuropsicológica são aquelas que apresentam dificuldades em seu de-senvolvimento e na aprendizagem escolar. Portanto, este livro interessa a todos os pro-fissionais que atuam com Educação Infantil e é dirigido para fundamentar a educação de qualidade de todas as crianças de 0 a 6 anos.

AVALIAÇÃO DAS NEOFORMAÇÕES PSICOLÓGICAS DA IDADE PRÉ-ESCOLARLuis Quintanar Rojas / Yulia Solovieva(Tradução de Caio Morais e Jamile Chastinet)

Profissional do Direito sabe lidar com gente e bicho

Amado: um homem que faz jus

ao nome

texto Frinéia Chavesfoto Milton Santos

DISCUSSÕES TUSCULANASMarcos Túlio Cícero (Tradução de Bruno Fregni Basseto)

Quarto volume da Coleção de Estudo Acadêmico, em edição bilíngue (Latim/Português), este livro não se debruça sobre questões metafísicas, mas aborda temas que inquietam qualquer vivente, perplexo ante problemas inevitáveis e sem soluções visíveis: a morte, a dor física, o sofrimento moral, a busca de felicidade. A obra filosófi-ca foi escrita em meados de 45 a.C., sob a forma de diálogos ou debates. Para Cícero, todo o saber sistematizado nas várias áreas só terá sentido se vier apoiado pelo estudo da Filosofia e por sua finalidade, que é a busca da Sabedoria.

Com 28 anos de serviços pres-tados para a UFU, Amado da Silva Nunes Júnior apresenta, no currícu-lo, uma invejável escalada de cargos e feitos no Hospital Veterinário. Para apresentar tudo isso num espaço tão pequeno, optei por resumir e pratica-mente abrir mão das aspas. E que o autor da obra me perdoe.

Na década de 80, Amado come-çou a carreira como auxiliar de es-critório e foi promovido a secretário. Depois, se tornou gerente adminis-trativo e, agora, pelo segundo man-dato consecutivo, é diretor. Na última eleição, em dezembro de 2012, con-quistou 99,9% dos votos válidos. E mais: nos 42 hospitais veterinários do país, Amado é o único talento técnico administrativo a ocupar tal posição.

Ele assumiu o cargo de direção em meio a dívidas e denúncias pelo não atendimento às exigências da Vi-gilância Sanitária, uso indevido de animais em pesquisas e distorção nas práticas acadêmicas.

Não por acaso, boa parte do avan-ço do Hospital Veterinário da UFU coincide com sua gestão. O reconhe-cimento do Ministério da Educação (MEC), a inserção do órgão na matriz orçamentária da União e o Programa de Residência Médica encabeçam a lista. A prestação de serviços saltou de 15 mil, em 2006, para cerca de 60 mil, no ano passado, considerando o trabalho social, feito gratuitamente.

Em termos de qualidade, basta di-zer que a unidade é o maior e mais completo centro de referência em serviços médicos-veterinários para as regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.

Como o mandato só se encerra em 2017, até lá, são muitos desafios: atendimento 24 horas, todos os dias, com plantões nos fins de semana; informatização do sistema e a nova planta do Hospital para o Campus Glória.

Um profissional que faz jus ao próprio nome. Na avaliação da equi-pe com que trabalha, Amado é um líder que pensa coletivamente, agre-ga e valoriza os recursos humanos. Bacharel em Direito, com especia-lização em Gestão de Pessoas, este homem destaca no currículo: “casa-do com Maria Amélia Prado Nunes”. Quero crer, diante do exposto, ser esta, uma mulher de sorte grande.

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Amanda Pereira, Cíntia Sousa, Suzana Arantes, Patrícia Alves e professora Mirna Tonus escreveram sobre Luiz Tomé, Luiz Lara e Wander Tomaz

texto José Amaral Netofotos Milton Santos

Por dentro da Enciclopédia doRádio Esportivo com a UFU

Professora Sandra Garcia, do curso de Jornalismo da UFU

A voz esportiva do rádio mineiro tem seu registro eterno por meio da iniciativa de se biografar 382 radia-listas que fizeram e fazem dessa his-tória. Assim nasceu a Enciclopédia do Rádio Esportivo Mineiro, traba-lho que compõe o projeto de pes-quisa das jornalistas Nair Prata (Universidade Federal de Ouro Pre-to - UFOP) e Maria Cláudia Santos (Rádio Itatiaia), com seus 101 auto-res participantes, entre professores, pesquisadores, profissionais de mer-cado e estudantes de graduação e pós-graduação.

O chargista Son Salvador é o autor da capa e os prefácios foram escritos pelo presidente da Associação Mineira de Cronistas Esportivos (AMCE), Luiz Carlos Gomes, e pelo vice-presidente da Associação Brasileira das Emisso-ras de Rádio e Televisão (ABERT) e diretor-presidente da Rede Itatiaia de

Rádio, Emanuel Carneiro, sob a ban-deira da Editora Insular.

Em várias entrevistas, a profes-sora Nair Prata tem explicado que foram necessários três anos de pes-quisa para fazer deste trabalho uma realidade. Resultou desse esforço um inventário biográfico dos principais profissionais com atuação na editoria de esportes do rádio em Minas Ge-rais. Ela observa que “o propósito da pesquisa foi contar a história do rádio esportivo mineiro – ou pelo menos parte dela – por meio da trajetória dos profissionais que a construíram”.

O curso de Comunicação Social: habilitação em Jornalismo da UFU tem presença importante na Enci-clopédia do Rádio Esportivo Minei-ro. Com a orientação das professoras Mirna Tonus e Sandra Garcia, os alu-nos Cíntia Sousa, Lucas Ferreira Mar-tins, Mariana Goulart Hueb, Renato

Henriques de Faria, Patricia Alves, Caio Nunes, Suzana Arantes, Amanda Pereira e Paula Arantes trabalharam com a região do Triângulo Mineiro. Os estudantes deram a sua contri-buição na concepção das biografias de Antônio Guilherme da Cunha, Jo-nas Conti, Jorge Eustáquio Sérvulo, José Antônio Luiz Filho, José Gonçal-ves Moreira (Jotinha), Julio César de Oliveira, Rogério Freitas Muniz, Luiz Antônio Costa e ainda três radialis-tas de Uberlândia: Luiz Alberto Tomé (Rádio Universitária), Luiz Humberto Lara e Wander Tomaz.

Segundo as idealizadoras, trata-se de uma “obra aberta e o livro é, ainda, uma lista incompleta”. Há muita histó-ria para ser complementada e outras ainda a serem contadas, mas elas con-sideram um marco inicial de relevân-cia para a literatura e para a história do rádio.