intro ead cap1

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Curso EAD da UECE

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  • Introduo

    a Educao a Distncia

    e Informtica Bsica

    Eloisa Maia Vidal

    Jos Everardo Bessa Maia

  • Sumrio

    Parte 1 - Introduo a EADCapitulo 1 Educao a distncia: rompendo fronteiras

    Introduo1. EAD: em busca de conceitos e definies2. Educao a Distncia no Mundo3. Educao a Distncia no Brasil3.1 Modelos de EAD adotados no Brasil4. Universidade Aberta do Brasil (UAB)5. Recursos pedaggicos em EAD6. O professor na EAD: a polissemia da funo Sntese do Captulo Referncias

    Capitulo 2 Tecnologias na educao Introduo 1. As possibilidades didticas da tecnologia2. O meio impresso3. A educao audiovisual3.1 Retroprojetor/Data show3.2 Vdeo e televiso4. A tecnologia educacional e o professor5. As formas de trabalhar o computador na educaoSntese do Captulo Referncias

    Captulo 3 EAD na UECE: lies aprendidasIntroduo 1. Semeando em terreno desconhecido2. Construo do modelo de EAD na UAB/UECE3. Processos de interao em EAD na UAB/UECE4. Consideraes finaisSntese do Captulo Referncias

    Capitulo 4 Recursos educacionais na UAB/UECEIntroduo1. Estrutura educacional a disposio do aluno1.1 Material impresso1.2 Videoaulas1.3 Videoconferncia ou web conference1.4 Quadro branco eletrnico2. Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA)3. Encontros presenciais Sntese do Captulo Referncias

  • Capitulo 5 Sistemtica de avaliao nos cursos da UAB/UECEIntroduo1. Avaliao de aprendizagem continua e abrangente2. Tipos e comentos da avaliao da aprendizagem3. Avaliao presencial e a distnciaSntese do Captulo Referncias

    Parte 2 Informtica Bsica Capitulo 6 Informtica Educativa: histrico e fundamentos

    Introduo 1. A evoluo da Informtica Educativa no Brasil2. Experincias brasileiras: histrico e avaliao 3. Informtica Educativa e EAD4. Currculo e a organizao disciplinar5. Informtica Educativa e currculo6. Informtica Educativa e mudana de paradigma na educaoSntese do Captulo Referncias

    Capitulo 7 - A rede mundial de computadores a internetIntroduo 1. O que a internet2. A educao em uma nova era3. Internet e educao4. Pginas www e seus potenciais educativos5. Cognio e computador6. Navegando na internetSntese do Captulo Referncias

    Captulo 8 O Ambiente Virtual de Aprendizagem: Moodle1. O que o Moodle2. Caractersticas do Moodle3. Funcionamento do Moodle3.1 Tornando-se um usurio3.2 Acessando o ambiente Moodle3.3 Editar perfil3.4 Perfil do usurio: dados opcionais3.4 Acessando o curso3.6 Tela inicial dos cursos3.7 Acessando disciplinas3.8 Material disponibilizado3.9 Participantes 3.10 Cancelamento de inscrio

    Sobre os autores

  • Apresentao

    Este livro o primeiro volume do conjunto de materiais didticos que voc, como aluno de um curso de graduao a distncia da Universidade Estadual do Cear, vai receber ao longo das disciplinas que cursar.

    Ele est dividido em duas partes e oito captulos, que procuram intro-duzir conceitos fundamentais para quem esta iniciando os estudos com a uti-lizao da modalidade de educao a distncia. A parte 1 dividida em 5 ca-ptulos contemplando aspectos da EAD e descrevendo em detalhes o projeto estruturado para os cursos da UAB. O captulo 1 dedicado a apresentar a educao a distncia, mostrando o que vem sendo feito no mundo e no Brasil, especialmente nas ltimas dcadas. A trajetria da criao da Universidade Aberta do Brasil (UAB), uma rede de instituies de ensino superior pblicas, da qual a UECE faz parte descrita e os recursos pedaggicos mais comu-mente utilizados em EAD so apresentados. Um tpico dedicado a discutir o papel do professor na EAD e suas mltiplas funes, mostrando que embora haja um redimensionamento de suas atribuies docentes, ele continua com papel to relevante quanto na educao presencial.

    No captulo 2 se discute o uso das tecnologias na educao, suas possi-bilidades didticas e metodolgicas, com destaque para o meio impresso, con-siderado um dos primeiros recursos e at hoje importante e necessrio mesmo diante do forte apelo que as novas tecnologias da informao e comunicao vem mostrando. Neste captulo tambm se apresentam conceitos e caracters-ticas da educao audiovisual, das relaes entre a tecnologia educacional e o professor e as formas de trabalhar o computador e a internet na educao.

    O captulo 3 descreve a experincia da UECE com educao a distn-cia desde as primeiras iniciativas nos anos 90 at a participao nos editais que criam a Universidade Aberta do Brasil. Enfoca tambm a construo do modelo de EAD adotado nos cursos da UAB, cujos fundamentos encontram--se na experincia educativa de Dewey, na epistemologia gentica de Piaget, nas concepes de interao social de Vygotsky e na pedagogia da autono-mia de Paulo Freire. Ateno especial dada aos processos de interao reconhecidos e trabalhados nos cursos a partir da trade aluno professor contedo mediadas pelas tecnologias da informao e comunicao.

    O captulo 4 descreve e detalha os recursos educacionais utilizados nos cursos da UAB explicitando seu grau de sincronicidade, funes e formas de organizao. Inicia com os materiais impressos, considerados o suporte bsi-co sobre o qual se apoiam as atividades sncronas e assncronas do Moodle, e

  • que servem de referncia para preparao das videoaulas, vdeoconferncias e web conference e momentos presenciais. Em seguida, so apresentadas as principais caractersticas e funes das videoaulas, videoconferncias e web conference, e tambm como est estruturado, quais ferramentas disponveis e funcionalidades do AVA Moodle. A parte final do capitulo dedicada a des-crio dos momentos presenciais realizados nos polos, com participao do professor formador.

    O captulo 5 dedicado a apresentar e explicar como ocorre a avalia-o de aprendizagem dos cursos da UAB. Partindo de uma concepo de avaliao contnua e abrangente detalha os processos de avaliao presen-cial e a distncia e como se d o clculo de notas para efeitos de rendimento.

    A parte 2 constituda de 3 captulos e dedicada a introduzir conceitos bsicos de Informtica Educativa, situando o aluno no contexto da revoluo que introduz computadores e internet no ambiente escolar e na relevncia que as tecnologias da informao e comunicao vm adquirindo para a educa-o a distncia.

    O capitulo 6 discute sobre a evoluo da informtica educativa no Bra-sil, descrevendo, de forma sucinta, as principais experincias na rea. Pro-cura lanar algumas questes sobre a lgica que orienta a organizao cur-ricular, com sua abordagem predominantemente disciplinar e de que modos a informtica educativa, o computador e a internet podem contribuir para a ruptura com a fragmentao, em busca de uma proposta que aponte para a contextualizao e interdisciplinaridade.

    O captulo 7 focaliza a rede mundial de computadores a internet his-toricizando a sua origem e de que forma ela pode impactar a educao nesta nova era. Um tpico explora aspectos relacionados a cognio e ao com-putador, considerando que a internet traz mudanas profundas no processo ensino-aprendizagem.

    No captulo 8 so apresentados e descritos aspectos do ambiente virtual de aprendizagem, o Moodle, utilizado pela UECE nos seus cursos de graduao e ps-graduao a distncia. As orientaes buscam intro-duzir o aluno no acesso e navegao pelo Moodle, atravs da descrio de alguns comandos e telas de abertura.

    Esperamos que voc, ao concluir a disciplina a qual est associada este livro, seja capaz de desenvolver as atividades que se apresentaro ao longo das demais disciplinas que constituem a matriz curricular do seu curso e que veja a educao a distncia como uma modalidade de ensino que se realiza num ambiente aberto, flexvel, adaptado as diversas necessidades de aprendizagem e facilmente acessvel para todos, em distintas situaes.

    Os autores

  • Introduo a EAD 7

    PARTE 1Introduo a EAD

  • Captulo 1Educao a distncia:

    rompendo fronteiras

    Introduo

    Este captulo procura, por meio de uma reviso de literatura, explicitar algumas definies e conceitos que abrangem o termo educao a distncia e seu carter polissmico. O captulo tambm apresenta um breve histri-co da educao a distncia no mundo e no Brasil, procurando destacar sua importncia, significado e modelos adotados, especialmente aqueles que se desenvolvem com os avanos no campo das tecnologias da informao e co-municao, a partir da segunda metade do sculo XX e mais recentemente, com o advento dos computadores e da internet.

    feito um breve histrico sobre a criao, objetivos e concepo da Universidade Aberta do Brasil e de como ela se desenvolve na Universidade Estadual do Cear, na qual o curso de graduao que voc est cursando se vincula institucionalmente.

    A parte final do captulo dedicada a discutir sobre os recursos peda-ggicos utilizados desde o desenvolvimento das primeiras iniciativas em EAD at os dias atuais, ou seja, dos materiais impressos at as tecnologias de informao e comunicao que possibilitam as interaes sncronas e assn-cronas. Introduz tambm uma reflexo sobre o significado do professor e do tutor, e as mudanas advindas do uso dos novos recursos tecnolgicos, que passam a demandar novas atribuies para esses profissionais.

    1. EAD: conceitos e definies

    Desde seu surgimento, a Educao a Distncia (EAD) tem suscitado questionamentos quanto sua definio. Ao longo dos anos, muitos estudio-sos tem feito tentativas no sentido de conceituar esta modalidade de ensino, que vem incorporando novos mecanismos e estratgias pedaggicas e tec-nolgicas no decorrer da sua histria.

  • Vidal, E. M. e Bessa Maia, J. E.10

    Entre as definies mais conhecidas podemos citar a de Gustavo Ciri-gliano (1983) que diz que a educao da distncia um ponto intermedirio de uma linha continua em cujos extremos se situam de um lado, a relao presencial professor-aluno, e, de outro, a educao autodidata, aberta, em que o aluno no precisa da ajuda do professor (apud LANDIM, 1997, p. 28).

    Garcia Llamas, por sua vez, define educao a distncia como uma es-tratgia educativa baseada na aplicao da tecnologia aprendizagem, sem limitao de lugar, tempo, ocupao ou idade dos alunos. Implica novos papis para os alunos e para os professores, novas atitudes e novos enfoques meto-dolgicos (IDEM, p. 29). Nessa mesma linha caminha a concepo da Unes-co, ao definir a educao sem fronteiras como um ambiente de ensino aber-to, flexvel, adaptado as diversas necessidades de aprendizagem e facilmente acessvel para todos, em distintas situaes1 (UNESCO, s/d, p. 1) e que busca superar obstculos relacionados ao espao, tempo, idade e circunstncias.

    A EAD pode tambm ser definida como uma

    relao professor-aluno ou ensino-aprendizagem mediada pedago-

    gicamente e mediatizada por diversos materiais instrucionais e pela

    orientao tutorial. Isto vlido tanto para ambientes pedaggicos tra-

    dicionais como para aqueles que usam as novas tecnologias2 (RIA-NO, 1997, p. 20).

    Considerando as definies citadas percebe-se que a EAD mantm a trade pedaggica professor aluno contedo e redimensiona as relaes que podem ser estabelecidas entre os trs elementos a partir de duas variveis fsicas: o tempo e o espao. As maneiras de percepo dessas duas variveis a partir da revoluo industrial e tecnolgica decorrente da microeletrnica se modificam e se reorganizam, criando um amplo espectro de interaes e mediaes que vo impactar a EAD.

    A educao a distncia apresenta caractersticas especficas, rompen-do com a concepo da presencialidade no processo de ensino-aprendiza-gem. Para a EAD, o ato pedaggico no mais centrado na figura do profes-sor, e no parte mais do pressuposto de que a aprendizagem s acontece a partir de uma aula realizada com a presena deste e do aluno.

    Sua concepo se fundamenta no fato de que o processo de ensino--aprendizagem pode ser visto como a busca de uma aprendizagem autno-ma, independente, em que o usurio se converte em sujeito de sua prpria aprendizagem e centro de todo o sistema3 (RIANO, 1997, p. 21). Isso vai contribuir para formao de cidados ativos e crticos que procuram solues e participam de maneira criativa nos processos sociais. Ou seja, a EAD, pelos prprios mecanismos pedaggicos adotados, favorece a formao de cida-

    1 Un ambiente de enseanza abierto, flexible, adaptado a las diversas necesidades de aprendizaje y facilmente asequible para todos en distintas situaciones (Traduo livre da autora).

    2 Relacin docente-alumno, enseanza-aprendizaje mediada pedaggicametne y mediatizada por diversos materiales instrucionales y por la orientacin tutorial. Esto es vlido tanto para soportes estrictamente artesanales asi como para el uso de nuevas tecnologias. (Traduo livre da autora)

    3 Una aprendizaje autmono, independiente, donde el usuario se convierte en sujeito de su prprio aprendizaje y centro de todo el sistema. (Traduo livre da autora)

  • Introduo a EAD 11

    dos mais engajados socialmente, conscientes de sua autonomia intelectual e capazes de se posicionarem criticamente diante das mais diversas situaes.

    Ainda entre as especificidades da EAD, podemos destacar o fato desta, na maioria das vezes, trabalhar com estudantes adultos e se utilizar de material autoinstrucional e estudo individualizado, em que o aluno aprende a aprender, a estudar a partir do seu esforo e por conta prpria, desenvolvendo habilidades de independncia e iniciativa. Esse esforo de aprendizagem produz uma mudana gnosiolgica4 em que a autonomia e o autodidatismo5 passam a nortear a apren-dizagem. Permite tambm que as diferenas individuais sejam respeitadas e que as preferncias por tempo e local para estudo possam acontecer sem prejuzos para a aprendizagem.

    A andragogia o termo mais utilizando quando nos referimos a educa-o de adultos. Diferentemente do carter diretivo da pedagogia, que se dirige a crianas, a andragogia teria seu foco no aprender fazendo.

    As aes de EAD so norteadas por alguns princpios, entre eles:

    Flexibilidade, permitindo mudanas durante o processo, no s para os professores, mas tambm, para os alunos.

    Contextualizao, satisfazendo com rapidez demandas e necessi-dades educativas ditadas por situaes socioeconmicas especfi-cas de regies ou localidades.

    Diversificao, gerando atividades e materiais que permitam diver-sas formas de aprendizagem.

    Abertura, permitindo que o aluno administre seu tempo e espao de forma autnoma (LEITE, 1998, p. 38).

    Esses princpios representam uma ruptura com o modelo de educao presencial e apontam para o carter democrtico da EAD, j que esta nos remete a reflexes sobre os meios utilizados e as estratgias de acompanha-mento e avaliao a serem implementadas, uma vez que a relao ensino--aprendizagem no mais se restringe ao momento de contato do aluno com o professor.

    As duas ltimas dcadas do sculo XX so marcadas pela insero das tecnologias digitais na EAD. Essas novas ferramentas permitem desenvolver a aprendizagem mediada por processos de interao sncrona6 e assncrona7. A internet causa uma verdadeira revoluo no processo ensino-aprendizagem na EAD, na medida em que o aluno passa a ser considerado mais como parceiro do que como um agente passivo na construo do conhecimento. J o profes-sor exerce um papel coletivo de orientador, colaborador, treinador, mediador e tambm parceiro.

    A nova perspectiva aberta pelas tecnologias digitais fortalece o enfo-que central da EAD, que se baseia na premissa de que a educao deve

    4 Referente a gnosiologia, teoria geral do conhecimento humano, voltada para uma reflexo em torno da origem, natureza e limites do ato cognitivo, frequentemente apontando suas distores e condicionamentos subjetivos, em um ponto de vista tendente ao idealismo, ou sua preciso e veracidade objetivas, em uma perspectiva realista. Mesmo que teoria do conhecimento.

    5 Ato de estudar e adquirir instruo por si mesmo, dispensando a orientao de professores.

    6 Que acontece simultaneamente.

    7 Que no sincrnico, que no apresenta sincronia ou sincronismo; assincrnico.

  • Vidal, E. M. e Bessa Maia, J. E.12

    ser construda por meio de uma ao colaborativa, obtida pela sinergia entre alunos, professores e tutores que passam a reconstruir virtualmente espa-os reais de interao.

    2. Educao a Distncia no Mundo

    As aulas por correspondncia so as primeiras iniciativas de ensino a distncia que se tem notcia. Registros de 1856 relatam experincias pioneiras de educao distncia, quando Charles Toussaint e Gustav Langenscheit criam a primeira escola de lnguas por correspondncia. J em 1892, feita uma tentativa inicial de formao de professores para as escolas paroquiais por correspondncia, curso oferecido pela Universidade de Chicago. Neste mesmo perodo, outras experincias foram desenvolvidas em vrios pases, sempre tendo no material impresso, o meio de difuso, por excelncia.

    A primeira metade do sculo XX marcada por inmeras iniciativas de oferta de cursos usando a educao a distncia tendo o material impresso como recurso pedaggico e o envio por correspondncia, a forma de comunicao com os alunos.

    Em 1928 a BBC8 comea a promover cursos para a educao de adul-tos usando o rdio. Com isso, essa tecnologia comea a ser utilizada em v-rios pases para transmisso de programas educacionais, inclusive no Brasil. Este perodo marcado pela introduo de novas metodologias no ensino por correspondncia, que com os avanos cientficos e tecnolgicos sofrem forte influncia dos novos meios de comunicao de massa, a exemplo do Cdigo Morse9, telefone, e depois, televiso. Muitas experincias usando EAD foram desenvolvidas no perodo ps-guerra, especialmente pela necessidade de ca-pacitar a populao europeia em novas atividades laborais.

    O cenrio ps-guerra exige novas dinmicas sociais e os avanos cientficos e tecnolgicos ocorridos durante a guerra demandam novas profisses e ocupaes. O nmero de professores insuficiente para atender uma popula-o que procura cada vez mais educao. Neste sentido, a educao a distncia se coloca como uma alternativa que permite atender, em maior escala, o con-tingente de pessoas que querem se qualificar para o mercado. As primeiras experincias da Open University surgem neste perodo, com a participao da BBC, especialmente para uso do rdio e da emergente televiso.

    Mas o grande avano em EAD se deu a partir dos anos 1960, quando vrias universidades europeias e de outros continentes comearam a atuar na educao secundria e superior. Nas ltimas dcadas, a adeso EAD tem sido ampliada chegando nos dias atuais a ter alcance global (MOORE, 2007). A EAD atinge pases que se situam dentre os mais diversos patamares

    8 A British Broadcasting Corporation (BBC) uma emissora pblica de rdio e televiso do Reino Unido (Inglaterra e demais pases), fundada em 1922.

    9 Durante a Segunda Guerra Mundial, o Cdigo Morse foi utilizado para capacitao dos soldados norte-americanos que iam para frente de guerra.

  • Introduo a EAD 13

    de maturao educacional e de desenvolvimento socioeconmico, a exemplo da China, Coria, Finlndia, Noruega, Austrlia, frica do Sul, Portugal, Es-tados Unidos, Costa Rica, Venezuela, Palestina, Arglia, Lbia, ndia e Brasil. No ensino superior destacam-se Reino Unido, Canad, Alemanha e Espanha, alm da Turquia, que sedia a maior universidade a distncia do mundo10.

    Os formatos apresentados para viabilizao da EAD variam quanto ao grau de presencialidade, nvel de interatividade, tipos de recursos instru-cionais utilizados, mbito de atuao e escala de abrangncia. Experincias como a da Open University do Reino Unido, Korea National Open University da Coria, da Universidad Nacional de Educacin a Distancia da Espanha, e da Universidade Aberta de Portugal, dentre tantas outras, serviram de refern-cia para as iniciativas em EAD que passaram a ser concebidas e ofertadas por instituies pblicas e privadas nos 5 continentes.

    3. Educao a Distncia no Brasil

    A histria da EAD no Brasil cheia de percalos e interrupes. Desde as primeiras dcadas do sculo XX algumas experincias so desenvolvidas, com uso de material impresso e rdio, tecnologias disponveis poca. A R-dio Sociedade do Rio de Janeiro, criada em 1923, mais tarde incorporada pelo Ministrio da Educao, uma das primeiras iniciativas de EAD que se tem notcia. O Instituto Monitor criado em 1939 e o Instituto Universal Brasileiro fundado em 1941 so exemplos de iniciativas que ainda hoje oferecem cursos por correspondncia atendendo estudantes em todo o territrio nacional.

    Como poltica pblica, a EAD se inicia em 1972 com a incluso de al-gumas experincias de ensino a distncia que vinham sendo desenvolvidas no pas nos Planos Bsicos de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (PBDCT). Sobre essas experincias, merece destaque alguns projetos finan-ciados pelo I PBDCT (1972 - 1974), entre eles, projeto Saci, Joo de Barro e Lobato, que tinham como objetivo o ensino utilizando a televiso para atingir o pblico de 1o grau11, nas sries iniciais, numa tentativa de criar uma rede de ensino a distncia.

    No II PBDCT (1975 - 1979), os projetos de Desenvolvimento da Tele-ducao e novas tcnicas educacionais para o Ensino Superior mantm a ideia de criao de uma rede de ensino a distncia (VIDAL, 1995). Utilizando basicamente o meio televisivo, essas experincias foram pontuais, mas mos-traram as amplas possibilidades que a educao a distncia poderia ter para um pas de dimenses continentais como o Brasil12.

    A partir dos anos 1990 a educao distncia comea a ser concebi-da num contexto mais amplo dos Projetos Pedaggicos Nacionais ganhando

    10 Anadolu University (http:aof.anadolu.edu.tr).

    11 O termo primeiro grau uma designao anterior a atual LDB para o Ensino Fundamental.

    12 No Estado do Cear, surge em 1974, uma experincia pioneira na oferta de educao com uso da televiso. Estamos nos referindo ao Sistema de Telensino, uma iniciativa de educao a distncia que foi concebida e estruturada como alternativa a carncia de professores e materiais para atender as exigncias de oferta das sries terminais do antigo 1 grau (6 a 9 anos do atual Ensino Fundamental), feitas pela Lei n 5692/71. Inicialmente, o Telensino atendia um nmero reduzido de turmas e municpios, com os profissionais envolvidos recebendo formao especfica para atuar como Orientadores de Aprendizagem. Em 1993/94, no Governo Ciro Gomes, o Telensino foi universalizado, como resposta ao dficit de professores da rede pblica e a necessidade de ampliao de matrculas nesta etapa de ensino. Foi a experincia do Cear com uso da televiso como recurso pedaggico e a estrutura de apoio no mbito escolar, com os Manuais e o Orientador de Aprendizagem que inspirou a Fundao Roberto Marinho a criar o projeto Telecurso, na dcada de 1980.

  • Vidal, E. M. e Bessa Maia, J. E.14

    mais espao no cenrio educacional, sendo os primeiros grandes projetos relacionados com a televiso13. Em 1996, pela primeira vez, a EAD includa na legislao educacional, com a nova LDB reconhecendo a educao a dis-tncia como uma modalidade de educao no artigo 80 da referida lei.

    Importante destacar que antes mesmo da publicao da LDB em 1996, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em 1994 realizou o primeiro processo seletivo para um curso de graduao a distncia, dirigido para for-mao de professores das sries iniciais do ensino fundamental. O referido curso foi oferecido em algumas cidades do Estado, contando com 352 alunos matriculados. O curso da UFMT utilizava material impresso com mediao de tutoria presencial nas cidades polos das turmas. Este modelo passou a servir de referncia para outras instituies de ensino superior que, aos poucos fo-ram iniciando suas atividades na rea de EAD.

    Em 1996 aparecem os primeiros cursos de mestrado oferecidos com uso de videoconferncias, na Universidade Federal de Santa Catarina. Eles visavam atender demandas especficas de empresas, por meio do uso da tecnologia di-gital e interatividade em udio e vdeo. Estas experincias, a princpio, foram de-senvolvidas nas universidades pblicas e a partir delas comeou a se formar no Brasil, profissionais cuja atuao e rea de pesquisa passou a ser a EAD.

    O processo de normalizao da EAD no Brasil ocorreu a partir da pu-blicao da LDB de 1996 (n 9.394/96), com o artigo 80 quando menciona que O Poder Pblico incentivar o desenvolvimento e a vinculao de pro-gramas de ensino a distncia, em todos os nveis e modalidades de ensino, e de educao continuada. Tal reconhecimento, apesar das crticas decla-radas pelo uso do termo ensino distncia e no educao distncia por autores como Demo (1998), representou um avano significativo para as iniciativas que j estavam em andamento nesse sentido e estimulou a adoo mais frequente dessa modalidade.

    Aps legitimado e regulamentado pelo Decreto n 2.494/98, em Art. 1, a educao distncia passa a ter uma definio oficial:

    A Educao distncia uma forma de ensino que possibilita a auto-

    -aprendizagem, com a mediao de recursos didticos sistematica-

    mente organizados, apresentados em diferentes suportes de infor-

    mao, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos

    diversos meios de comunicao.

    O Decreto n 2.561/98 e a Portaria Ministerial n 301/98 alteram os ar-tigos 11 e 12 do Decreto n 2.494/98 e normalizam os procedimentos de cre-denciamento das instituies interessadas em oferecer cursos a distncia em nveis de graduao e educao profissional tecnolgica.

    13 Podemos citar entre esses projetos televisivos: Um salto para o futuro, Faa e Refaa e outros.

    DEMO, P. Metodologia para quem quer aprender. Atlas, So Paulo, 2008.

  • Introduo a EAD 15

    Este perodo ps-LDB foi marcado por experincias diversas com a in-troduo no s dos recursos pedaggicos j disponveis material impresso, videoaulas, tutoria e professor conteudista mas pela incluso de tecnologias digitais capazes de criar ambientes virtuais de aprendizagem com interao sncrona e assncrona; o desenvolvimento de metodologias prprias para for-matar e imprimir material impresso; a criao de estrutura tcnica e de recur-sos humanos para apoio a atividades de multimdia e a concepo de uma logstica para oferta de curso EAD em escala nacional, etc.

    Tambm foram criadas estratgias para gesto administrativa e peda-ggica visando atender alunos on line atravs de centrais remotas de mo-nitoria e tutoria. Foram organizadas e preparadas equipes e desenvolvidas tecnologias para lanar os primeiros cursos on line do pas. Entre as institui-es pioneiras destacam-se: Universidade Federal de Santa Catarina, Uni-versidade Federal de Pernambuco; Universidade Federal de Minas Gerais; Universidade Federal de Rio Grande do Sul; Universidade Federal de So Paulo; Universidade Anhembi Morumbi; Pontifcia Universidade Catlica de Campinas e o Centro Universitrio Carioca.

    Em 1998 se inicia a oferta de cursos de ps-graduao lato sensu via internet, o que gera a expanso desta modalidade de oferta no pas. Com a oferta de cursos de graduao e de ps-graduao, as instituies de ensi-no superior procuram a certificao oficial para atuar em EAD e provocam o MEC a elaborar um conjunto de documentos que normatizam e estabelecem parmetros de qualidade para implantao destes tipos de cursos.

    De 1994 a 2011 a histria da EAD no Brasil registra avanos significa-tivos e de forma acelerada, chegando a compensar o lento ritmo com que caminhou na segunda metade do sculo XX em relao a outros pases que criaram seus sistemas de EAD. No ano de 2007 foi aprovada e sancionada a Lei n 11.502, que indica para o ensino pblico o uso conjugado do ensino presencial e a distncia em cursos para a formao inicial de profissionais do magistrio, e neste caso, a educao a distncia apontada como mo-dalidade preferencial para a formao continuada de professores.

    Importante destacar que nesses 17 anos o pas conseguiu estabelecer a base legal que orienta esta modalidade de ensino, criou mecanismos para a certificao de instituies que trabalham com educao a distncia, analisou propostas e emitiu autorizao de cursos, estimulou o desenvolvimento de pesquisas que vieram a produzir modelos pedaggicos e tecnolgicos que levaram a consolidao da EAD no pas.

  • Vidal, E. M. e Bessa Maia, J. E.16

    3.1. Modelos de EAD adotados no Brasil

    Vianney (2009) afirma que a EAD no Brasil, de 1994 at os dias de hoje se desenvolveu a partir de cinco modelos, que so:

    O modelo de tele-educao com transmisso ao vivo e via satlite em canal aberto para todo o Pas. O exemplo mais conhecido e de alcance nacional o Telecurso da Fundao Roberto Marinho, embora outras experincias tenham acontecido em menor escala, inclusive na Cear, com o telensino.

    O modelo de videoeducao com reproduo pr-gravada em forma de teleaulas.

    O modelo semipresencial, com uma proposta de interiorizao universitria que combina a educao a distncia com a presencial em polos regionais, que funcionam como unidades presenciais de apoio para acesso dos alu-nos a laboratrios, bibliotecas e salas de aula para realizao de tutoria pre-sencial em parceria com as prefeituras municipais. Este modelo foi adotado inicialmente pela UFMT, por outras instituies e pela UAB.

    O modelo de universidade virtual, com uma EAD caracterizada pelo uso intensivo de tecnologias digitais para a entrega de contedos e atividades para os alunos e para promover a interao destes com professores, cole-gas e suporte tcnico e administrativo. Neste modelo as etapas presenciais so reservadas para a realizao de provas, com as demais atividades sendo realizadas a distncia. No incio dos anos 2000 universidades corpo-rativas surgidas em empresas brasileiras adotaram este modelo.

    O modelo em que os alunos dos cursos a distncia permanecem pero-dos regulares na instituio (de forma presencial) onde realizam no ape-nas provas, mas atividades em laboratrio, por exemplo. Universidades europeias veem adotando sistematicamente esse modelo na oferta de cursos de mestrado e doutorado dos quais muitos estudantes brasileiros tem participando.

    Ao longo deste perodo possvel destacar as seguintes tecnologias utilizadas pelas instituies brasileiras:

    1. TV por satlite: produo e transmisso de teleaulas ao vivo, com recep-o simultnea e cobertura para todo o territrio nacional.

    2. Videoaulas: produo de aulas pr-formatadas, para reproduo em rede nacional ou em telessalas.

    3. Impressos: desenvolvimento de abordagem conceitual e implementao do mesmo para publicao de contedos e atividades de aprendizagem em forma de livros didticos especficos para uso em EAD14.

    4. Videoconferncia: tecnologia para uso educacional utilizando sistemas bi e multidirecionais com interao por udio e vdeo, integrando mltiplos

    14 Uma experincia bem sucedida sobre EAD com uso de material impresso vem sendo realizada desde 1985, pela Fundao Demcrito Rocha do Grupo de Comunicao O POVO. Trata-se de cursos de extenso universitria produzidos em parceira com as instituies de ensino superior cearenses e veiculados encartados no jornal, uma vez por semana. Desde sua criao j foram oferecidos 63 cursos, com mais de 930.000 cursistas matriculados.

  • Introduo a EAD 17

    espaos conectados ao vivo, para realizao de aulas, conferncias e se-es interativas de defesas de teses, dissertaes e monografias.

    5. Telefonia: uso de sistemas convencionais de telefonia para atendimentos diversos a alunos, tais como secretaria, monitoria, tutoria, suporte adminis-trativo e pedaggico.

    6. Internet: desenvolvimento de sistemas autnomos para uso como ambien-tes virtuais de aprendizagem, de abordagens metodolgicas para o proces-so ensino-aprendizagem on line ou off line, com aplicao de ferramentas criadas ou adquiridas.

    7. Telefonia mvel: por meados de 2008 encontrava-se em fase inicial estu-dos para o uso educacional e aplicado a educao a distncia os recursos de telefonia celular e outros dispositivos mveis (VIANNEy, 2008).

    4. A Universidade Aberta do Brasil (UAB)

    A Universidade Aberta do Brasil (UAB) surge como uma iniciativa do MEC visando a incluso social e educacional por meio da oferta de educao superior a distncia. Ciente de que a ampliao de vagas nas universidades federais enfrentava srias limitaes, o MEC viu na UAB a possibilidade de democratizar, expandir e interiorizar o ensino supe-rior pblico e gratuito no pas, com apoio da educao distncia e a incorporao de novas metodologias de ensino, especialmente o uso de tecnologias digitais.

    Sua institucionalizao ocorreu pelo Decreto n 5.800/2006 que dis-pe sobre o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) e buscou in-centivar as instituies pblicas a participarem de programas de formao inicial e continuada de professores para educao bsica que podiam ser ofertados na modalidade a distncia, se colocando com uma alternativa imediata para um problema crnico: a carncia de professores para atua-rem na educao bsica.

    A Universidade Aberta do Brasil constituda por uma rede nacional ex-perimental voltada para pesquisa e para a educao superior (compreendendo formao inicial e continuada) que ser formada pelo conjunto de instituies pblicas de ensino superior, em articulao e integrao com o conjunto de polos municipais de apoio presencial.

    A figura 1 mostra como se estrutura o sistema UAB.

    In http://portal.mec.gov.br/seed

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    O programa UAB oferece cursos de graduao, sequencial, ps--graduao lato sensu e stricto sensu prioritariamente orientados para a formao de professores e administrao pblica. O funcionamento desses cursos a distncia a partir de uma metodologia de ensino com o apoio de novas tecnologias so implementados por Instituies de educao superior (Universidades ou Institutos Federais) e que possuem como ponto de apoio presencial os polos localizados em diversos muni-cpios que tiveram suas propostas de criao aprovadas pela CAPES.

    Figura 1 Modelo sistmico da UABFonte: MEC, Apresentao UAB 2009.

    A UAB no constitui uma nova instituio para o MEC. Na verda-de ela apresenta uma configurao de rede, envolvendo as Instituies Federais de Ensino Superior (Ifes) e as Instituies Pblicas de Ensino Superior (Ipes), que no caso, representam as universidades estaduais, includas a partir do segundo edital (2006/2007).

    O quadro 1 mostra a evoluo das matrculas dos alunos brasileiros em cursos graduao oferecidos na modalidade EAD. Uma anlise ano a ano permite constatar que em onze anos, o nmero de alunos cresceu de forma exponencial. Considerando o nmero de polos criados e a quantidade de instituies envolvidas, pode-se afirmar que a EAD, de fato, se instaura como uma modalidade de educao de grande relevncia para o pas.

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    Quadro 1

    VARIAO DAS MATRCULAS EM CURSOS A DISTNCIA NA GRADUAO

    Ano N de Matrculas % em relao ao ano anterior

    2000 5.287

    2001 5.359 1,4%

    2002 40.714 659,7%

    2003 49.911 22,6%

    2004 59.611 19,4%

    2005 114.642 92,3%

    2006 207.206 80,7%

    2007 369.766 78,5%

    2008 761.000 105,8%

    2009 838.125 10%

    2010 930.179 11%Fontes: Censos do Ensino Superior/INEP

    A matrcula em cursos de graduao no Brasil em 2010 correspondia a 6.379.299 alunos, sendo que a matrcula em cursos de EAD representa 14,6% do total. A graduao presencial apresenta 28.577 cursos e a gradu-ao a distncia possui 930 cursos. Tais dados so relevantes, pois enquan-to os cursos presenciais possuem uma mdia de 190 alunos por curso, os cursos a distncia apresentam uma mdia de 1.000 alunos por curso, o que representa otimizao dos custos de produo e desenvolvimento.

    5. Recursos pedaggicos em EAD

    As primeiras experincias com EAD tinham no material impresso, o re-curso pedaggico por excelncia. A evoluo desta modalidade de educao mostra que apesar do uso de multimeios que permitem interaes sncronas e assncronas, o material impresso ainda

    destaca-se como elemento principal, como a pea-chave dessa meto-

    dologia de ensino. Isto porque ele o instrumento de trabalho fisica-mente palpvel, que pertence ao aluno e pode ser manipulado onde e

    quando ele quiser, uma vez que est a sua disposio constantemente

    (RIBEIRO, 1997, p. 35).

    O material impresso tem que ser capaz de suprir tarefas que no modelo presencial assumido pelo professor, tais como incentivar, informar, orientar, dirigir, controlar. Segundo especialistas em produo desse tipo de material, na hora de redigi-lo, deve-se ter sempre presente tudo o que um bom profes-sor faz, os comportamentos daqueles docentes de que conservamos uma boa lembrana e aqueles que ns prprios praticamos nas aulas presenciais, a fim de transport-los de algum modo para nossos textos.

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    Portanto, a produo de material impresso decisiva para o xito de um curso, e por isso deve ser bem planejado, ter coerncia com a linha pedaggica do curso e clareza de objetivos. Deve ainda facilitar no s a socializao dos saberes j produzidos, mas ser um indutor no proces-so de construo de novos conhecimentos, bem como articular, de forma contextualizada, a teoria com o mundo vivencial no qual est inserido o aluno, atendendo aos postulados da andragogia15.

    Sabe-se hoje que a EAD pode acontecer de vrias maneiras envolvendo recursos tecnolgicos e meios de comunicaes diversos. Resultados mostram que aqueles que incluem a comunicao de dupla via educador-educando tm resultados iguais ou superiores aos apresentados pelo ensino presencial. Segundo Gonalves (1997) o termo a distncia, que indica separao fsica do professor e do aluno, no exclui o contato direto dos alunos entre si ou do aluno com algum que possa apoi-lo na aprendizagem, tornando-o sujeito do processo de construo de seu prprio conhecimento.

    No que se refere a estratgias de acompanhamento, a tutoria se apre-senta como um componente tpico de aes de ensino a distncia em que a comunicao se d nos dois sentidos (GONALVES, 1997, p. 13). A tutoria, por significar um ponto de encontro para todos os alunos, entre si e com o tu-tor, se apresenta sempre como um momento de grande riqueza educacional.

    O tutor no assume o papel de professor,

    mas se pe disposio do aluno para auxili-lo na construo do prprio caminho: no d mais aulas; agora ele orienta e reorienta a

    aprendizagem dos alunos, ajuda no esclarecimento de suas dvidas, identifica dificuldades, sugere novas leituras ou atividades, organiza atividades de estudo em grupo, supervisiona a prtica de oficina ou laboratrio e assim por diante (IDEM, p. 14).

    No que tange as tecnologias digitais para fins de EAD destacam-se o de-senvolvimento de softwares educativos e a utilizao da internet. Na EAD, orien-tada com base nos meios telemticos (internet, web conferncias e teleconfe-rncias), o processo de aprendizagem virtual assemelha-se ao de natureza presencial, na medida em que envolve agentes que interagem uns com os outros, socializando-se, trocando experincias e vivncias, impresses, con-tedos, atitudes, desejos e motivaes, acumulando e reproduzindo conhe-cimento atravs da linguagem virtual e da mediao realizada pelos tutores.

    Para que as novas tecnologias sejam assimiladas de forma rpida, importante que as interaes se deem de modo rico, diversificado, e aplicado cultura ideolgica, social e conjuntural na qual o aluno est inserido mais facilmente, permitindo torn-lo habilitado a realizar a construo do conheci-mento naturalmente, de forma resignificada, plena e permanente.

    15 A andragogia a arte ou cincia de orientar adultos a aprender

  • Introduo a EAD 21

    6. O professor na EAD: a polissemia16 da funo

    O advento das tecnologias digitais (computador e internet) possibilitou uma ampliao do acesso a informaes e a velocidade de comunicao en-tre os mais diversos sujeitos. Tais ferramentas, quando utilizadas na educao a distncia tm facilitado o acesso ao conhecimento a um maior nmero de pessoas, de forma virtual.

    As instituies educacionais pblicas e privadas tm reagido as inova-es advindas das tecnologias da informao e comunicao (TIC) e veem procurando se adaptar s atuais exigncias do contexto social e tecnolgico da era digital e dos benefcios por ela viabilizados. Para isso, elas tm consti-tudo grupos de estudo e trabalho para reformulao dos cursos presenciais e elaborao de projetos de cursos a distncia, incluindo o uso de recursos pedaggicos que permitem a interatividade sincrnica (em tempo real) e as-sincrnica (em tempo diferido).

    A utilizao desses mltiplos mecanismos de comunicao no cam-po educacional, atravs da internet (e-mail, chats, news, webconferncias, fruns) amplia as possibilidades da aprendizagem dinmica e participativa, tanto por meio presencial como a distncia, transpondo o conceito tradicional de tempo e espao e estabelecendo novas pontes entre o estar juntos fisica-mente e virtualmente (MORAN, 2001, p. 8).

    Todas essas mudanas no campo da informao, comunicao e co-nhecimento tm provocado desafios no plano da ao docente. As funes tradicionais dos professores tm sido questionadas em virtude da incluso das tecnologias que chegam ao ambiente escolar. A sociedade do conheci-mento do sculo XXI vem exigindo, cada vez mais, a melhoria dos padres de qualidade na educao. Com isso demandam novas posturas profissionais daqueles que esto atuando em suas atividades laborais.

    A educao convocada a revisar-se, a instituir novas prticas e conso-lidar boas experincias e os professores so os principais atores mobilizados a apresentar respostas a esses processos de mudanas.

    Hoje, j no possvel ensinar do mesmo modo que se fazia no sculo passado. Os alunos no so os mesmos, dado que o conhecimento advindo das vivncias sociais e cotidianas se ampliou, face aos estmulos e a facilida-de de receber e trocar informaes. Os meios de comunicao e as redes so-ciais alargaram o repertrio de informaes colaborando, juntamente com as instituies formais de ensino, para a formao pessoal e coletiva dos agentes no contexto da sociedade em que vivem e interagem.

    Como afirma Morin (2001), a educao um dos mais poderosos ins-trumentos de mudana e para que ela cumpra seu papel social importante que esta seja permanentemente compreendida como tal.

    16 Multiplicidade de sentidos de uma palavra ou locuo,Esta seo contou com a colaborao de Ana Perpetua Ellery Corra, poca, orientanda da autora no Mestrado Acadmico em Educao da UECE.

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    Aos professores, cabe a funo de tornar a sala de aula um espao de reflexes, de forma a preparar seus alunos para se situarem no ecltico e multifacetado terreno apresentado pela era da informao. Tornam-se exign-cias deste novo modelo, a capacidade de autogerenciar sua aprendizagem, o desenvolvimento de habilidades de pesquisar, de se expressar, de se reco-nhecer e de se relacionar.

    As novas tecnologias e a educao devem caminhar numa mesma direo uma vez que os indivduos que frequentam as escolas e espaos educacionais so os mesmos que dialogam, se relacionam, aprendem e se comunicam por meio das redes de comunicao disponveis pela internet.

    A presso exercida pelas novas tecnologias incide no somente no es-pao educacional, mas nesta esfera atribuda maior notoriedade por ser este reconhecido como espao propulsor do conhecimento, do desenvolvimento do saber e vocacionado para a formao de competncias.

    Neste novo contexto, idealiza-se um professor como aquele que est permanentemente atualizado com o contedo da sua disciplina, tem que ser ao mesmo tempo inventivo e inovador, tem a capacidade de estimular a auto-nomia, a criatividade, o raciocnio, a criticidade, sem perder de vista a capaci-dade de ser sensvel aos ritmos e s expectativas dos seus alunos.

    O professor mobiliza os alunos no sentido da construo de significados para os conhecimentos que lhes so apresentados, a fim de que estes se sintam motivados a trocar suas experincias, registrarem suas descobertas e compartilharem suas impresses com a turma, se tornando participantes ativos na dinmica da sociedade em que esto inseridos.

    Diante do mutante cenrio da sociedade tecnolgica, o professor preci-sa estar olhando para o futuro, de forma a antecipar os desafios que lhe sero impostos. Tem que ser conhecedor das propostas pedaggicas em que se en-volve profissionalmente e delas se apropriar plenamente alm de se dedicar verdadeiramente s suas misses e valores.

    Nesse contexto de tantas reformulaes, em que o professor pode estar inserido em prticas docentes presenciais, a distncia ou em contextos hbri-dos, sua ao deve incorporar uma plasticidade que permita o seu desenvol-vimento adequado face s caractersticas prprias de cada modalidade.

    A dinmica e a abordagem pedaggica do professor no contexto presen-cial se diferenciam daquele que atua em EAD em muitos aspectos, tais como:

    O grau de presencialidade.

    A rigidez do tempo destinado para o desenvolvimento de cada aula.

    A forma de interatividade, de construo do conhecimento, de apresenta-o do contedo.

  • Introduo a EAD 23

    Os mecanismos utilizados para manuteno do interesse e da motivao por parte do aluno.

    Na busca de encontrar o formato adequado para melhor utilizar-se das caractersticas positivas da EAD, evitando a replicao das estrat-gias praticadas para o ensino presencial, que as formaes a distncia veem procurando desenvolver estratgias que a caracterizem e diferen-ciem, criando a sua prpria identidade.

    Cada experincia realizada, seja presencialmente ou a distncia, tem suas especificidades e exige do docente uma adequao sua proposta. O papel e a postura do docente passam, portanto, a ser influenciados no somente por seus atributos pessoais, mas tambm pelo projeto poltico pe-daggico de cada programa, projeto ou ao educacional a que este se filia.

    Bons docentes na educao presencial no so necessariamente profissionais ideais para atuarem na EAD, nem tampouco um bom profes-sor no contexto da EAD tem equivalente performance na educao pre-sencial, embora precisem ter atributos em comum.

    A diferena da linguagem oralizada adotada na modalidade presencial e da mediada pelos recursos miditicos, a forma de interatividade, o design edu-cacional, o cenrio onde ocorrem as prticas pedaggicas, os mecanismos de estmulos visuais, sensoriais e cognitivos exigem estratgias pedaggicas que se adaptem as distintas realidades17.

    Cabe ao professor de EAD desenvolver habilidades que permitam que os aprendentes passem a articular os saberes e as capacidades adquiridas para utilizao na vida real.

    O estabelecimento de uma cultura de formao de professores, asso-ciada a uma oferta ampliada de cursos nessa linha de abordagem, com ca-ractersticas mais aplicadas do que tericas, pode ser um caminho rumo formalizao dessas competncias.

    Contudo, importante que os professores estejam preparados e sejam incentivados a acompanhar essas mudanas que repercutem diretamente na sua prtica pedaggica, ao mesmo tempo em que as instituies educacionais devem ser (re)estruturadas tecnologicamente para atender a essas questes.

    Sntese do captulo Este captulo procura apresentar e discutir conceitos relacionados a de-

    finio de educao a distncia. Apresenta os princpios que norteiam a EAD e de que forma eles representam uma mudana de paradigma em relao a educao presencial.

    17 O Governo Federal tem avanado na formao de educadores em todo o pas para atuarem na EAD, voltados para programas como o Programa Nacional de Informtica na Educao (Proinfo), lanado em 1995 - 1996), TVEscola, Proformao, mas ainda existe uma parcela da populao docente que se encontra margem deste tipo de qualificao.

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    feita uma breve descrio da educao a distncia no mundo, desde meados do sculo XIX at os dias atuais e um resgate histrico da EAD no Brasil, com destaque para os avanos registrados nos ltimos quinze anos. Uma seo dedicada a explicitar os modelos de EAD adotados no pas bem como as tecnologias utilizadas pelas instituies brasileiras, especialmente as novas tecnologias da informao e comunicao. Descreve o contexto e circunstncias que levaram ao surgimento da Universidade Aberta do Brasil (UAB), seu foco de atuao e o modelo adotado.

    O ltimo tpico dedicado a discutir o papel do professor nos novos modelos de EAD que se desenham no contexto das tecnologias da informa-o e comunicao, dos mecanismos de mediao sncronos e assncronos e das configuraes em rede.

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