indisciplina: falta de limites ou inversÂo de valores · o fenômeno da indisciplina em ambiente...

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INDISCIPLINA: FALTA DE LIMITES OU INVERSÂO DE VALORES?

Cleonice Pereira de Almeida1

Tânia Maria Rechia Schroeder2

RESUMO: A indisciplina dentro da sala de aula é comumente atribuída pelos professores à falta de limites que não são mais impostos pela família, a qual não tem mais controle sobre seus filhos e consequentemente o respeito, a responsabilidade, a solidariedade deixou de fazer parte do vocabulário cotidiano. A questão da indisciplina escolar é um tema que sempre gerou muita polêmica e descobrir quais são as suas causas não é tarefa fácil, mas sabemos que as desigualdades econômicas e sociais, a crise de valores, a falta de limites e o conflito de gerações, são exemplos de alguns fatores que podem explicar os desequilíbrios que afetam tanto a vida social, como a vida escolar. O presente estudo buscou fazer uma reflexão sobre as causas da indisciplina considerada excessiva pelos professores na turma do 8º ano do Ensino Fundamental que estava inviabilizando o trabalho pedagógico, deixando os professores visivelmente extenuados. Para tanto foram realizados encontros com os professores, leitura das atas dos conselhos de classe da turma para compreender um pouco mais as queixas dos professores. Diante dos dados colhidos, foi elaborado um projeto de intervenção pedagógica o qual foi trabalhado com alunos, professores e pais/responsáveis. Foram aplicados questionários aos alunos, trabalhado alguns vídeos, realizadas dinâmicas com o intuito de repensar e vivenciar alguns valores para uma boa convivência entre alunos/alunos e alunos/professores.

PALAVRAS-CHAVE: Indisciplina. Valores humanos. Limites. Ensino/Aprendizagem.

1 Professora Pedagoga participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), SEED/PR.

2 Professora Orientadora – UNIOESTE.

I – INTRODUÇÂO:

Nos dias de hoje, mais que em qualquer outra época, o professor enfrenta

desafios relacionados ao comportamento dos alunos em sala de aula que dificultam

sobremaneira a realização do seu trabalho. Vivemos em um mundo em mudanças,

em que há grande volume de informações que circulam numa velocidade

vertiginosa, a tecnologia evolui em ritmo estonteante, a sociedade se transforma e

os valores parecem ser cada dia menos importante.

Diante das intensas turbulências pela quais passa a nossa sociedade com

tanta violência urbana, corrupção, desprezo pelo ser humano, como trabalhar com

alunos que, segundo os professores, se recusam a realizar as atividades, por vezes

parecem se divertir em grupos de provocação, agredindo colegas e impossibilitando

as aulas?

Vivemos em uma era em que o tempo parece ser escasso, os níveis de

afetividade no seio da família vem sofrendo diversas transformações devido às

novas configurações familiares como: divórcio, famílias ampliadas, redução do

número de filhos, a tríplice jornada da mulher e do homem reduz enormemente sua

disponibilidade para cuidar dos filhos, redundando em uma família em que as

relações de parentesco se tornam bastante complexas, e a participação da família

na escola diminui cada vez mais.

A escola expressa problemas da sociedade contemporânea. Vem exigindo

posicionamentos, decisões e atitudes de professores inseguros e sobrecarregados

diante de tantas cobranças e exigências de sua profissão. Nesse contexto, o

fenômeno da indisciplina vem crescendo constantemente, produto de uma

sociedade na qual os valores humanos tais como: o respeito, o amor, a

compreensão, a fraternidade, a valorização da vida, da família e diversos outros não

tem sido valorizados suficientemente.

Seria então a indisciplina um produto de uma sociedade que não criou

apreço pelos valores humanos e acabou formando adultos sem referenciais de

cidadania e de respeito pelo próximo? Seria pela falta de limites da família, a qual

não teria mais controle sobre seus filhos? Como estabelecer uma verdadeira

parceria com os pais quando muitas vezes, eles pautam a educação de seus filhos

em valores divergentes aos da escola? Como trabalhar eficientemente com

estabelecimento de limites, de modo a ajudar na socialização e no crescimento das

crianças visando a uma disciplina emancipadora? E assim surgem vários

questionamentos sobre como agir, como traçar limites de maneira firme, porém

amorosa e como inserir no processo educacional valores que possibilitem a

formação integral de nossos alunos.

Tendo como ponto de partida as frequentes queixas dos professores sobre

as dificuldades de aprendizagem causadas pela indisciplina, agressividade e pela

falta de limites e valores humanos, e tendo como objetivo procurar entender essa

realidade para melhor intervir, foram realizadas dinâmicas, roda de conversa,

trabalhado com vídeos e aplicados questionários aos professores e alunos do 8º Ano

A, do período matutino do Colégio Estadual Diamante D’Oeste, do município de

Diamante D’Oeste. Com os professores, o foco da discussão se deslocou para a

origem da indisciplina, discutindo então sobre a prática da equipe escolar, as

propostas didáticas, o domínio do professor sobre o conteúdo, sua postura frente ao

aluno e sua ação em situação de conflito. Para tanto foram realizadas leituras de

textos, aplicados questionários e vídeos. E com pais ou responsáveis foram

realizadas rodas de conversa e diálogos individuais para a compreensão de como se

dá essa convivência familiar.

2 – INDISCIPLINA: FALTA DE LIMITES OU INVERSÂO DE VALORES?

O fenômeno da indisciplina em ambiente escolar está relacionado a uma

série de variáveis. Não é pertinente abordar a temática da indisciplina na escola de

uma forma isolada em relação à realidade maior.

As causas da indisciplina são múltiplas, e, muitas vezes, elas estão mais nos contextos que a produzem do que no indivíduo. Mas, como a indisciplina gera indisciplina, da mesma maneira que a violência gera violência, a indisciplina na escola pode expressar, na realidade, alguma coisa para além do desejo de perturbar ou de ser indisciplinado. Ás vezes, ela representa a dificuldade do aluno para ser reconhecido; outras é a expressão dos maus tratos que recebe ou dos problemas familiares. (PARRAT-DAYAN. 2011, p.9).

A mesma autora salienta que:

Para a historiadora e filósofa M. T. Estrela, os atos de indisciplina podem ser agrupados em três categorias: O primeiro tipo de indisciplina caracteriza-se pela intenção de escapar do trabalho escolar considerado fastidioso, pífio, desinteressante ou mesmo difícil. Evitar o trabalho escolar é para o aluno, a razão da indisciplina. A segunda forma de indisciplina tem como objetivo a obstrução. A

indisciplina tende a impedir parcial ou totalmente o normal desenvolvimento do curso dado pelo professor. Finalmente, a terceira modalidade da indisciplina é um protesto contra as regras e as formas de trabalho. (PARRAT-DAYAN. 2011, p. 27).

Para FRANCO (1986), o trabalho escolar não pode realmente se efetivar

sem esforço, dedicação e, principalmente disciplina.

A disciplina é condição fundamental para a formação da cidadania e para a

concentração dos alunos em processos de aprendizagem e bom aproveitamento. A

disciplina é o primeiro princípio da educação. E esse se dá no ambiente doméstico.

Temos presenciado, no decorrer de nossa profissão, uma recorrente queixa

por parte dos professores de que as famílias vêm perdendo sua capacidade de

oferecer a socialização primária.

Segundo as percepções destes profissionais que atuam no Colégio Estadual

Diamante D’Oeste, no município de Diamante D’Oeste, as transformações nas

configurações familiares tais como, ausência da figura paterna ou materna;

alterações da figura paterna ao longo da infância; pais com excessiva carga de

trabalho delegando toda a educação de seus filhos para, os Centros de Educação

Infantil, pré-escolas ou com alguém que cuide dela.

É frequente a afirmação, por parte dos professores, que as famílias (de

classe média) se transformaram num grupo de pessoas que moram juntas, mas se

isolam diante da TV ou do computador em detrimento do diálogo.

Os professores relatam que as causas da indisciplina na sala de aula

decorrem de problemas familiares, excessiva ou falta de proteção dos pais,

carências sociais, influência de ídolos violentos, desmotivação dos alunos, abuso de

drogas, falta de interesse, agressividade, desafio à autoridade do professor e

incapacidade de fixação do conteúdo. Para eles, aluno indisciplinado é aquele que

não permanece no lugar, conversa o tempo todo, não realiza as atividades em sala,

não respeita o colega nem o professor e fala palavrão.

Vasconcellos (1999, p. 228) inclui, entre as queixas dos professores sobre a

indisciplina, o desinteresse dos alunos com a aprendizagem, devido ao contato que

eles têm com a tecnologia, contato o qual não é proporcionado pela escola; como

também a influência negativa exercida pela mídia, especialmente a TV, com

programas violentos, que contribuem para o aparecimento da indisciplina.

Em geral, quando os educadores referem-se ao problema da disciplina na

escola, normalmente o reduz a algo que diz respeito somente ao aluno (grifo

nosso) (Franco, 1986). Reduzir o problema da indisciplina somente aos alunos é um

fator preocupante uma vez que demonstra que os professores não estão realizando

auto-avaliações e nem considerando as implicações de seu trabalho para a

produção de comportamentos tidos como indisciplinados.

Parrat-Dayan (2011, p. 78) afirma que:

Para analisar os problemas de indisciplina é interessante analisar o discurso dos educadores sobre o tema. Assim, uma representação hoje comum entre os professores é a que supõe, no contexto social atual, a manifestação de uma perda de valores que se reflete na conduta dos alunos, associada a mudanças negativas nos processos de socialização das famílias.

Na linha de raciocínio de Parrat-Dayan, é frequente presenciarmos essas

representações que os educadores possuem ao afirmarem que muitas famílias

acreditam que obter o amor de seus filhos é liberar e aceitar atitudes que, muitas

vezes, os próprios pais condenam e não aprovam, mas não têm a coragem de evitar

e acreditam que poderão ferir ou frustrar os sentimentos de seus filhos, tornando-se

conivente com as atitudes deles.

Afirmam reiteradas vezes sobre a necessidade de os pais, através do afeto,

impor limites e saber dizer “não” na hora certa, pois uma criança identifica quando

um não pode ser um talvez e, nesse caso, não irá cumprir o estipulado.

A criança que não escuta “não”, não aprende a conviver com a falta de algo

e, por este motivo, poderá apresentar dificuldade para manter uma conduta estável

que permita centralizar a atenção e pensar. Entretanto, num ambiente autoritário,

com excesso de ordens, ameaças e castigos podem levar à inibição e uma baixa

autoestima determina dificuldades para enfrentar desafios. Então, criticar não ajuda,

é preciso mostrar que sucessos e insucessos fazem parte da vida, valorizar e elogiar

atitudes positivas e reprovar as negativas faz com que a criança aprenda sobre a

vida e não abale sua autoestima.

Embora estas constatações dos educadores sobre as famílias de seus

alunos expressem, em parte, a realidade atual é necessário cautela para não

cairmos na armadilha das discussões que não consideram as múltiplas variáveis que

envolvem o fenômeno da disciplina.

O fenômeno da indisciplina pode ser gerado pelo comportamento de pais e

professores inseguros em suas decisões que podem estimular crianças que testam

suas possibilidades de acordo com seus desejos, que nem sempre são os mais

recomendáveis naquela situação.

É fundamental acreditar que impor limites é iniciar o processo de

compreensão e apreensão do outro e que ninguém pode respeitar o outro se não

aprender quais são os seus limites e isso inclui compreender que nem sempre se

pode fazer tudo que se deseja na vida.

PARRATY-DAYAN (2011, p. 20) define que, no sentido mais geral, a

disciplina aparece como um conjunto de regras e obrigações de um determinado

grupo social e que vem acompanhado de sanções nos casos em que as regras e/ou

obrigações forem desrespeitadas.

O mesmo autor esclarece que se a disciplina só existe pelo medo que o

aluno tem de ser castigado ou quando o professor adota uma postura autoritária

para estabelecê-la, ela se torna negativa porque, em vez de permitir que o aluno

cresça e conquiste sua autonomia, ela o infantiliza e o mantém dependente.

3 – PROCEDIMENTOS:

Foram aplicados questionários para os alunos do 8º ano do Ensino

fundamental, do período matutino, do Colégio Estadual Diamante D’Oeste e aos

professores da turma para verificar a queixa e entender a indisciplina vista como

falta de limites e até mesmo como inversão de valores. Também foram realizadas

rodas de conversa com as famílias com o intuito de compreender como se davam os

relacionamentos familiares.

Depois de aplicados os questionários, das conversas realizadas, foram

analisados os resultados e definidos alguns procedimentos na tentativa de minimizar

os problemas detectados.

Foram elaborados então, um projeto de intervenção pedagógica, na

tentativa de melhorar a relação professor/aluno e aluno/aluno e auxiliar os

professores numa reflexão sobre os conceitos de indisciplina. Para tanto, foram

realizadas leituras de textos e discussões com os professores, atividades, dinâmicas

e vídeos com os alunos.

3.1 - DESCRIÇÂO DOS INSTRUMENTOS:

3.1.1 – QUESTIONÁRIO: PROFESSORES

Como a queixa dos professores do 8º ano era de uma indisciplina

excessiva, quase inviabilizando o trabalho pedagógico, formulamos um questionário

que foi respondido por todos os professores relatando como sentiam a indisciplina

na turma e como mediavam os conflitos.

Dos oito professores da turma, sendo um do sexo masculino e sete do

sexo feminino, sete responderam que consideram a indisciplina nesta turma muito

importante, ou seja, com grande necessidade de ser trabalhada, pois entre 21% e

60% do tempo de aula é investido em temas relacionados com a indisciplina e

conflitos que geram agressões verbais, agressões físicas, insultos, ameaças,

importunar e rir de alguém.

Na pergunta, “Quando a classe apresenta um problema de indisciplina ou

conflito, como você age?” seis relataram que encaminham para a direção ou equipe

pedagógica e dois disseram que conversam em particular com o aluno. Na questão,

“Indique a solução que você considera mais apropriada para minimizar os problemas

na sala de aula?” cinco dos oito professores consideram que a solução mais

apropriada é aplicar sanções rígidas e três que é necessário detectar e realizar um

tratamento dos casos especiais.

3.1.2 – QUESTIONÁRIO: ALUNOS

Para um melhor conhecimento da turma foi aplicado um questionário

tentando entender os relacionamentos na família e escola. Em primeiro lugar foi

perguntado “Com quem você mora?” dos 21 alunos, seis moram com os pais (pai e

mãe), os demais moram com a irmã, tios, avós ou só com a mãe.

Na pergunta “Como você se sente em casa”? “treze alunos disseram que se

sentiam à vontade, tendo um bom relacionamento com a família, seis responderam

“normal, nem bem nem mal” e duas alunas colocaram que não se sentem à vontade

em casa”. Quando questionado como se sentem no colégio, cinco se sentem muito

bem, treze alunos normal, bem, e três, duas alunas e um aluno disseram que se

sentem muito mal e não gostam da escola.

Foram questionados também se sentiam medo de vir para o colégio e qual a

causa principal do seu medo: dezesseis alunos relataram que nunca sentiram medo,

cinco alunos disseram que sentiam medo algumas vezes, quatro por medo de

colegas e um por medo das avaliações.

Quanto à pergunta “Como você é tratado pelos professores”, alguns

responderam “normais, bem” e a maioria “regular, nem bem nem mal”. Para a

pergunta “Sua sala é indisciplinada?” a maioria dos alunos acha a sala muito

indisciplinada “às vezes”, e “Você é um aluno indisciplinado?” também a maioria

respondeu “às vezes”. E essa indisciplina eles atribuem à falta de interesse, não

gostar da disciplina, geralmente aos próprios colegas que segundo eles não tem

limites e alguns até sugeriram retirar um aluno da sala que na visão deles é o

causador de toda bagunça.

A turma é composta por dez alunas e onze alunos, sendo três com doze

anos, sete com treze, sete com quatorze e quatro com quinze anos.

Durante os trabalhos realizados, notou-se que esses alunos, não

expressaram curiosidade nem interesse pelos assuntos, essa também é uma queixa

dos professores.

Percebemos também que por detrás de muitas atitudes existem motivos

obscuros, que às vezes não estão no controle da escola, necessitando então alertar

a família sobre seu papel e suas responsabilidades.

A relação vincular dos membros dessas famílias mostraram-se um tanto

quanto frágeis. Alguns pais demonstraram que não sabem lidar com a rebeldia de

seus filhos. E, sendo a formação do vínculo entre os membros do grupo familiar, o

primeiro formado na vida, irá certamente influenciar os vínculos que vierem

posteriormente e, principalmente, interferir no comportamento e aprendizagem.

Identificou-se, também, que muitos alunos indisciplinados se sentem

sozinhos, abandonados, sem apoio, carentes e a indisciplina seria uma forma de

chamar a atenção.

3.1.3 – RODA DE CONVERSA COM OS PAIS

Foram realizados dois encontros com pais e responsáveis, com roda de

conversa e conversa individual em alguns casos mais complicados. Apesar de ter

sido colocado a todos da importância da reunião, (foi telefonado a todos os pais e/ou

responsáveis), cinco pais não compareceram. O que se percebeu é que algumas

famílias estão inseguras na educação dos filhos, pois não organizam o ambiente

familiar, esses alunos não tem hora para dormir, não tem um horário para estudo,

não trazem o material para a escola etc. De acordo com CASTRO (2011, p.32),

Estes pais, por serem muito ocupados, não querem pagar o preço de limitar a principal ocupação do filho, visto que, para isso, teriam que investir mais tempo no acompanhamento do mesmo. Apesar de terem consciência do prejuízo, mantêm-se omissos, dizendo que ‘não sabem o que fazer’. Dar limites nem sempre é fácil: exige disciplina também dos pais.

Identificou-se nas reuniões com os pais a indiferença de alguns e a pressa

para irem embora. Os pais mais interessados fizeram comentários demonstrando

preocupação enquanto outros permaneceram calados. E ao final da reunião foi

colocado que precisávamos ter uma conversa em particular com alguns pais,

somente cinco permaneceram na escola os demais saíram rapidamente.

Os pais firmaram o compromisso de acompanharem a vida escolar de seu

filho e que qualquer ocorrência era para ser comunicado que viriam à escola. No dia

seguinte houve uma agressão a um aluno e foi telefonado para os pais e um deles

respondeu que não tinha tempo e que a escola resolvesse.

A família precisa estar livre de resistência quando se deparar com professores ou profissionais da área para esclarecer ou ouvir como seu filho se comporta na escola. Quando a família comparece no atendimento da escola, o que é dito a respeito do filho em comum normalmente é muito produtivo para aprimorar e adotar novas decisões. SILVA (2011, p. 96).

É no encontro: escola – aluno – família, que se pode construir uma relação

de troca, de complementaridade que possibilita a todos educar e serem educados.

Além disso, o educador deve ser cidadão consciente, possuindo uma visão crítica do

mundo para poder propor situações de aprendizagem para a vida, com bases em

princípios e valores.

E, é na família, pelo seu ambiente de amor afetivo, onde se aprende aquelas

atitudes e valores fundamentais, que vão estruturar socialmente. É na família que se

decide a personalidade de todo ser humano e ela continua sendo a fundamental

transmissora dos valores humanos, religiosos e sociais.

Silva (2011, p. 129) ainda destaca que:

Família é [...] de suma importância para a composição de um cidadão. Independentemente de quais forem os membros da família, pai, mãe, avó, avô, tio, primos, papagaio, periquitos, seja lá o que for, nós precisamos de uma família.

4 – RELAÇÂO PROFESSORES E ALUNOS

Diante dos problemas de indisciplina enfrentados na sala do 8º ano, a

relação entre professores e alunos, está longe do que deveria ser, pois diante do

quadro que se desenha esta relação também é atingida. Os professores

demonstraram insegurança, hesitantes em tomar algumas decisões em casos de

indisciplina e muitas vezes batendo de frente com os alunos.

Todo professor tem que ter claro que a sala de aula é um lugar de relações:

com o saber, com o outro, consigo mesmo. Portanto é natural que nesse espaço se

descortinem antipatias, alegrias, conflitos, medos rejeições etc. Toda relação social

implica num custo e, além de propiciar saber, poderá ser prazerosa ou conflitante.

Na vivência das relações com seus alunos, os professores expressam seu conhecimento e o seu compromisso com o desenvolvimento social, emocional e cognitivo dos mesmos. Para tanto, precisam conhecer-se melhor, investir no seu aprimoramento interpessoal e intrapessoal, tendo uma visão mais ampla dos seus alunos, não só no que diz respeito ao desenvolvimento cognitivo, mas, antes de tudo, enxergando-o empaticamente como um ser humano integral, dentro de toda fragilidade que é peculiar aos seres humanos CASTRO (2011, p.84).

O professor tem que consentir estabelecer um laço, para construir uma

relação de confiança com seus alunos.

Segundo CASTRO (2011, p.85):

Os alunos que ali estão em sua sala de aula trazem mundos dentro de si, trazem seus históricos conscientes, impulsos e forças reguladoras, além de forças de identificação com desejos de encontrar referenciais a construir. São sujeitos e assim devem ser considerados, respeitados e ouvidos, além de alimentados por imagens positivas.

O jovem às vezes se descobre inseguro e necessitado de modelos que

tenham como característica básica a coerência de vida, onde entram os exemplos

de união e respeito da família e a competência da escola para que esse jovem

possa encontrar-se com um conjunto de convicções e de uma experiência de vida

fundamental em seu processo educativo.

Segundo Aquino (1996, p. 50)

A saída possível está no coração mesmo da relação professor-aluno, isto é, nos nossos vínculos cotidianos e, principalmente, na maneira com que nos posicionamos perante o nosso outro complementar. Afinal de contas, o lugar de professor é imediatamente relativo ao do aluno, e vice versa.

5 - PROJETO DE INTERVENÇÂO PEDAGÓGICA

Visando contribuir com a melhoria das relações interpessoais no ambiente

escolar e tentar amenizar o nível de indisciplina dos alunos e em consequência o

ensino e aprendizagem, foram selecionados textos, vídeos, dinâmicas e atividades

para dois encontros com os professores, dois com pais e/ou responsáveis e nove

encontro com os alunos.

Nossa intervenção considerou a importância das famílias no processo de

socialização das crianças, uma vez que família é:

[...] o primeiro contexto de socialização, [a família] exerce, indubitavelmente, grande influência sobre a criança e adolescente. A atitude dos pais e suas práticas de criação e educação são aspectos que interferem no desenvolvimento individual e, consequentemente, influenciam o comportamento da criança na escola (REGO 1996, p.97).

Nas reuniões escolares percebemos que são justamente os pais dos alunos

que apresentam problemas de comportamento ou de dificuldades de aprendizagem

que se fazem ausentes. Em geral, demonstrando falta de preocupação, de

entendimento da importância de se estudar, falta de tempo para seus filhos etc..

No entanto o que se percebeu no trabalho com os pais e responsáveis é que

se sentem inseguros porque a tarefa de educar um filho não é fácil e colocar limites

e fazer respeitar regras é uma coisa que adolescente não gosta.

Como as relações pessoais e interpessoais se destacam neste âmbito, são

merecedoras de profunda análise e reflexões. E em concordância com vários

estudiosos e pesquisadores, sabemos que os valores humanos constituem a base

da formação humana. Assim sentimos a necessidade da elaboração de um projeto

que enfocasse esse aspecto.

Procuramos enaltecer o respeito mútuo, a alegria de compartilhar bens

materiais, mas principalmente os ingredientes que enriquecem a alma, os

verdadeiros valores do coração.

O material explorado, vídeos, textos, confecção de cartazes, dinâmicas,

questionários, músicas, rodinha de conversas fizeram com que cada um colocasse

suas ideias, provocando profundas reflexões, debates e experiências e,

percebessem também, que o espaço escolar contribui para que as relações entre

educadores e alunos tragam o entendimento das normas escolares favorecendo

para que os momentos vividos na escola sejam ao menos suportáveis. Pois, as

relações que se expressam nesse local devem ajudar a ampliar a visão de mundo

de todos os envolvidos com o ato pedagógico.

É nosso de ver educar nossas crianças e jovens sem o temor de aplicar os limites, as regras e as respectivas normas, pois estas serão o suprassumo que circundará os passos nos degraus da vida e, sobretudo, ensiná-los por meio de valores. Fazer perceber que perdoar é renovar o espírito, que ser tolerante é conseguir enxergar o que muitos não veem que ser solidário é a maior demonstração de humanidade, que ser caridoso é ajudar o próximo, que amar é a maior dádiva dada ao homem para ir a algum lugar. Este é o maior desafio dos educadores: “educar nossas crianças e nossos jovens sem medo, mas com limites e valores” (SILVA, 2011, p. 175).

5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio desse deste trabalho, concluímos que é um grande desafio, uma

busca de caminhos, um refazer de descaminhos, acreditando numa educação

transformadora.

Diante da multiplicidade de problemas característicos do alunado desta

turma, percebeu-se que as causas alegadas para justificar essa indisciplina

estavam, antes do projeto de intervenção pedagógica, sempre focadas nos alunos e

às questões familiares. Procuramos problematizar as representações que os

professores possuíam de seus alunos e de suas famílias, em razão de que estas

representações poderiam estar conduzindo-os a certa acomodação no desempenho

de seus trabalhos de educadores e limitadores no ambiente escolar.

É fundamental que se entenda que pais e professores assumem lugares

distintos e cumprem funções diferentes, porém complementares, na educação de

crianças e adolescentes. É importante criar entre família e escola um espaço de

acolhimento, ajuda e aprendizado mútuo de estratégias produtivas e eficazes na

educação de jovens e crianças.

Os professores, após discussões, leituras de textos, compreenderam que, é

necessário superar as tradicionais formas de acusação e as transferências de

responsabilidades e que é necessário também ir à raiz do problema, compreender

suas múltiplas e complexas causas a fim de poder assumir a parte que lhes cabe. E,

não podemos esquecer que, para compreender as atitudes de um aluno, temos que

conhecer sua história de família porque é ali que reside a maioria das respostas.

Pois muito do que ele é, é fruto do ambiente em que foi criado. E isso pode

ser tanto em lares desfeitos, refeitos ou inabaláveis. Podemos então, concluir que a

carência de limites e a inversão de valores acabam resultando sim na indisciplina na

sala de aula e escola. Portanto os valores constituem a base da formação humana e

limites faz com que a criança ou adolescente se sinta seguro e aprenda a respeitar

as pessoas bem como as regras e valores da sociedade,

Valores e limites devem ser estabelecidos de acordo com as fases em que a

criança ou adolescente se encontram. Quando trabalhados desde cedo

proporcionam à criança uma estrutura que lhe permitirá uma adolescência mais

tranquila. E para mudar a perspectiva em relação à indisciplina é imprescindível que

a escola se responsabilize cotidianamente por garantir um ambiente de cooperação,

em que os valores humanos, o respeito, a dignidade e a integridade marquem as

relações.

Entretanto, não podemos esquecer que situações de conflito e indisciplina

sempre irão ocorrer, e lidar com a causa do conflito, não atribuir culpa, não impor

punições será o mais importante. Descobrir quais são as causas da indisciplina não

é tarefa fácil, no entanto é um tema que precisa ser estudado, discutido pelo coletivo

da escola. E, para amenizar a indisciplina escolar requer visão e também ação de

forma conjunta com a participação ativa da família, com a conscientização do aluno

e com a transformação da escola.

REFERÊNCIAS:

AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina na escola: Alternativas Teóricas e Práticas.

São Paulo: Summus, 1996.

BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional: Lei nº 9.394

Promulgada em 20 de Dezembro de 1996. Brasília. Editora do Brasil, 1996.

CASTRO, Edileide. Afetividade e limites: uma parceria entre família e escola /

Edileide Castro – 3. Ed. – Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.

DAMKE, Anderléia Sotoriva. A percepção social da indisciplina escolar /

Anderléia Sotoriva Damke. – Curitiba: UTP, 2008.

D’ANTOLA, ARLETE. Disciplina na escola: autoridade versus autoritarismo. São

Paulo: EPU. 1989.

DE LA TAILLE, Y. Limites: três dimensões educacionais. São Paulo: Ática, 1998.

FRANCO, L. A. C. A disciplina na escola. In: revista da ANDE, São Paulo, nº 11, p.

62-67, 1986.

PARANÁ. Secretaria do Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação

básica. Curitiba, 2008.

PARRAT-DAYAN, Silvia. Trad. Silvia Beatriz Adoue e Augusto Juncal – Como

enfrentar a indisciplina na escola. 2. Ed.. – São Paulo: Contexto, 2011.

REGO, T. C. R. A indisciplina e o processo educativo: uma análise na perspectiva

vygotskyana. In: AQUINO, J. G. (org.). Indisciplina na escola. 11ª Ed. São Paulo:

Summus, 1996.

SILVA, Lucy. Filhos e alunos sem limites: um desafio para pais e professores/

Lucy Silva, Regina Mara Conrado – Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011.

VASCONCELOS, C. Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa

em sala de aula e na escola. 13. Ed. São Paulo: Libertad, 2000.