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II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores
FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: NARRATIVAS ACERCA DA PESQUISA E PRÁTICA PEDAGÓGICA NO CURSO DE PEDAGOGIA
Alessandra Da Silva Reis Costa, Ester Maria Figueiredo Souza
Eixo 1 - Formação inicial de professores para a educação básica
- Relato de Pesquisa - Apresentação Oral
O artigo tem objetivo compreender a contribuição do componente curricular Pesquisa e Prática Pedagógica do curso de Pedagogia para a formação inicial de professores, especificamente, para o exercício da docência e da pesquisa na formação do pedagogo. O texto aborda as discussões sobre formação inicial para a docência, o papel da reflexão na prática docente e discute a concepção de currículo que fundamenta a argumentação deste estudo. Para tanto, toma como referências teóricas, Alarcão (2007), André (2006), Imbernón (2001), Silva (2003), Souza (2009) entre outros. Utiliza como ferramenta metodológica, narrativas produzidas por licenciandos do curso de Pedagogia. Analisa narrativas dos licenciandos de Pedagogia com base nos procedimentos da análise textual discursiva. Os resultados destacam que os licenciandos avaliam como relevante a contribuição do componente Pesquisa e Prática Pedagógica e Pesquisa no processo formativo para a docência. Por meio da análise dos discursos extraídos das narrativas, evidencia-se a importância de privilegiar as dimensões da pesquisa e da prática pedagógica desde o início do curso de formação inicial no sentido de promover uma formação que instrumentalize os futuros professores para uma atuação numa perspectiva crítica e investigativa. Palavras-chave: Formação inicial de professores. Pesquisa. Prática Pedagógica.
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FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: NARRATIVAS ACERCA DA PESQUISA E PRÁTICA PEDAGÓGICA NO CURSO DE PEDAGOGIA
Alessandra da Silva Reis Costai. Programa de Pós-Graduação em Educação
da UESB e Universidade do Estado da Bahia, UNEB; Ester Maria Figueiredo
Souzaii
. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB.
Considerações Iniciais Inúmeros debates têm pautado os cursos de formação inicial de professores.
Diversas temáticas acompanham estes debates, desde deliberações legais sobre
organização curricular, carga horária, eixos de formação, discussões pertinentes à
qualidade e ressignificação da profissão diante das demandas da sociedade atual.
Ressaltamos que para atender aos desafios postos ao campo da formação de
professores, a organização curricular dos cursos responsáveis por essa formação,
precisa pensar novas dinâmicas de construção da profissão como redes complexas que
nos levam a novas concepções de formação de docência. Essas reflexões
contextualizam o objetivo central deste estudo, que consiste em compreender a
percepção dos licenciandos do curso de Pedagogia sobre a contribuição do componente
Pesquisa e Prática Pedagógica para o exercício da pesquisa e da docência.
Nesse sentido, argumentarmos em defesa da pesquisa associada ao contexto das
práticas pedagógicas como princípio formador docente, pois consideramos que as
atividades que favorecem o contato do pedagogo em formação inicial com as práticas
pedagógicas de ensino e as práticas de pesquisa devem fazer parte do contexto de
formação dos licenciandos desde o início do curso, a fim de que seja favorecida a
reflexão sobre a prática docente e que professor assuma em sua prática, uma postura
crítica e investigativa diante dos desafios da profissão docente.
Em consonância com o tema e o objetivo central deste texto, a discussão teórica
envolverá os seguintes eixos: formação inicial de professores, o papel da reflexão na
formação e na prática docente; o currículo para a formação de professores.
Formação inicial de professores: por um novo enfoque
A formação docente está constantemente atrelada aos debates acerca da
qualidade da educação. Como elemento importante para pensar melhorias na educação,
concentram-se inúmeros desafios na etapa da formação inicial para a docência, dentre
vários, destacamos a necessidade de superação do enfoque técnico e reprodutivista que,
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historicamente, tem marcado a organização curricular para a formação de professores,
um enfoque que não mais atende às demandas atuais da educação, se considerarmos a
complexidade da realidade de atuação desses profissionais.
Diante desse desafio, a formação inicial para a docência deve possibilitar ao futuro
professor o desenvolvimento de conhecimentos teórico-práticos que o instrumentalize
para uma atuação consciente, reflexiva, crítica e investigativa. Imbernón (2001) afirma
que, é necessário estabelecer uma formação inicial que proporcione um arcabouço de
conhecimentos nos âmbitos científico, cultural, contextual e pessoal que possibilite ao
futuro professor ou professora assumir a tarefa educativa em toda a sua complexidade,
atuando de modo reflexivo com a flexibilidade e o rigor necessários.
Em recente discussão sobre a relação formação docente e desenvolvimento
curricular, Muñoz (2013) argumenta sobre o desafio de pensar a formação docente sob
um novo enfoque, ressalta que os modelos baseados no desenvolvimento individual e
treinamento estão obsoletos. O autor discute sobre a importância de favorecer processos
formativos apoiados no desenvolvimento e aperfeiçoamento do ensino, de modo que o
professor possa ser não um mero consumidor do currículo e assumir o seu protagonismo
na melhoria da escola. Nesse novo enfoque, o autor defende que a organização
curricular dos cursos de formação docente seja baseada na promoção de uma postura
investigativa e de pesquisa desde a formação inicial.
O movimento que valoriza a perspectiva investigativo-reflexiva na formação do
professor, tem início no final da década de 1980 e início de 1990, difundido pelas idéias
de Donald Schön. Embora os estudos de Schön não tratem, especificamente, sobre a
formação do professor, obtiveram considerável repercussão nessa área, impulsionando
várias produções (ALARCÃO, 2007; LÜDKE, 2001; ANDRÉ, 2006) sobre a reflexão na
prática docente.
A prática da pesquisa e experiências que possibilitem uma prática investigativa
devem funcionar como fundamento da formação inicial, Lüdke (2001) defende essa idéia
e argumenta que o professor que não tiver acesso a uma formação baseada na pesquisa
como princípio formativo terá menos recursos para questionar sua prática e o contexto na
qual esta se insere.
Sobre a discussão acerca do professor reflexivo, Alarcão (2007, p. 41) se posiciona
afirmando que, “A noção de professor reflexivo baseia-se na consciência da capacidade
de pensamento e reflexão que caracteriza o ser humano como criativo e não como mero
reprodutor de idéias e práticas que lhe são exteriores”. Essa afirmação no conduz a
pensar a categoria do professor reflexivo como um dos aportes pra a organização
curricular da formação inicial para a docência, pois ao ter a oportunidade de vivenciar
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situações e pesquisa e o exercício da reflexão desde o início da formação, o docente terá
mais chances assumir uma postura investigativa e reflexiva da própria prática.
André (2006) afirma que numa proposta de formação de professores na perspectiva
da pesquisa,
[...] toma-se como ponto de partida o papel didático da pesquisa na formação de professores, já que ela pode propiciar o desenvolvimento de sujeitos autônomos, livres e emancipados. A pesquisa pode tornar o sujeito-professor capaz de refletir sobre sua prática profissional e de buscar formas (conhecimento, habilidade, atitudes, relações) que o ajudem a aperfeiçoar cada vez mais seu trabalho docente, de modo que possa participar efetivamente do processo de emancipação das pessoas. (ANDRÉ, 2006, p.123)
A autora argumenta ainda que, o momento da formação inicial é fundamental, pois
é quando se formam as imagens, as metáforas, os esquemas sobre a profissão e que
refletirão no exercício docente. Ainda segundo a autora, é necessário utilizar na formação
inicial estratégias metodológicas orientadas pela pesquisa o que possibilitará ao
licenciando uma apropriação ativa do conhecimento apoiadas ao mesmo tempo numa
perspectiva pedagógica e epistemológica. Segundo a autora,
Ensinar a pesquisar é o que se propõe, ou seja, criar situações e atividades que propiciem aos alunos aprender a observar, a formular uma questão de pesquisa, a encontrar dados instrumentais que lhes permitam elucidar tal questão e os tornem capazes de expressar os seus achados e suas novas dúvidas. (ANDRÉ, 2006, p. 125)
Compartilhamos dos argumentos em defesa de um novo redimensionamento para a
formação de professores, um enfoque baseado na reflexão sobre prática e na adoção da
pesquisa como elemento fundante da formação inicial. Ademais acrescentamos que a
reflexividade deve ampliar-se para além do limite intraescolar, desvinculando-a da
exclusividade da dimensão individual e vinculação apenas análise do trabalho diário do
professor. Deve estar associada à categoria da reflexividade, a dimensão política da
educação, de modo a não fragilizar o docente diante da complexidade da realidade social
na qual a escola e a prática docente estão inseridas.
Sobre o currículo da formação de professores
Pensar uma proposta de formação implica refletir sobre os pressupostos que a
fundamentam e sobre a sua intencionalidade. O currículo destinado a uma formação
inicial requer, acima de tudo, que as intencionalidades que permeiam o seu processo
sejam revistas, analisadas. É necessário compreender também a materialização do
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currículo de uma proposta de formação ocorre entrelaçada às experiências de vida, às
relações sociais, culturais, afetivas, dentre outros aspectos que vão atribuindo um caráter
de complexidade ao processo formativo.
Neste estudo, focalizamos o curso de Pedagogia, com o objetivo de analisar as
percepções dos licenciandos quanto à contribuição desse currículo, especificamente, do
componente Pesquisa e Prática Pedagógica para a sua formação. Por se tratar de um
estudo que envolve a composição curricular de um curso de formação inicial de
professores, que envolve o currículo prescrito e o currículo vivenciado e a percepção dos
sujeitos sobre o seu processo de formação, adotamos a concepção de currículo como
prática de significação. Nessa concepção, Silva (2003) afirma que o currículo como
prática de significação deve estar interligado com a cultura, pois a produção de
identidades é resultado de práticas culturais.
Durante a investigação que deu origem a este texto, os licenciandos do curso de
Pedagogia foram provocados a produzir narrativas nas quais relataram o seu
envolvimento com o componente curricular Pesquisa e Prática e Pesquisa e Estágio e,
por meio das narrativas, expressaram-se sobre a contribuição dos desses componentes
do currículo em sua formação, com ênfase no exercício da pesquisa e da docência.
Desse modo, foram considerados e os sentidos e os significados que os licenciandos
atribuíram ao seu processo formativo a partir da materialização do currículo do curso.
Silva (2003) destaca que,
O currículo como espaço de significação, está estreitamente vinculado ao processo de formação de identidades sociais. [...] Dessa perspectiva, o currículo não pode ser visto apenas como espaço de transmissão de conhecimentos. O currículo está centralmente envolvido naquilo que somos, naquilo que nos tornamos, naquilo que nos tornaremos. O currículo produz e nos produz. (SILVA, 2003, p. 23).
Assim entendida, a concepção de currículo para os cursos de formação reclama
outra lógica, não mais uma lógica rígida, ordenada, linear, baseada, exclusivamente, na
transmissão de conhecimentos técnicos. Assim entendido, o currículo deve constitui-se
num espaço que incorpore a complexidade da formação docente, que reflita sobre o
profissional que se formar a partir da vivência do currículo que lhe é proposto.
A pesquisa
Realizou-se uma pesquisa exploratória que teve como instrumento metodológico,
narrativas dos licenciandos do curso de Pedagogia.
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A pesquisa foi realizada na Universidade do Estado da Bahia - UNEB /
Departamento de Educação – DEDC Campus XIIiii
Os sujeitos desse estudo constituíram-se por graduandos do quarto, sexto e oitavo
períodos do curso de Pedagogia da UNEB-DEDC-XII.
, com foco no currículo do curso de
Pedagogia.
O curso de Pedagogia investigado possui uma organização curricular que tem a
Pesquisa e Prática Pedagógica como eixo articulador da formação de professores e
contempla em sua proposta curricular, o estágio supervisionado como Pesquisa e
Estágio, essa característica justifica a escolha pelo curso.
As narrativas foram analisadas com base nos procedimentos da análise textual
discursiva. Os relatos foram identificados com letras aleatórias do alfabeto, seguidas da
letra (N) que indica o instrumento utilizado e seguido de um número ordinal para a
indicação do período do curso em se encontrava o licenciando quando as narrativas
foram produzidas.
O que revelam as narrativas
Por meio da análise das narrativas, evidenciou-se que a maioria dos relatos dos
licenciandos, ressalta de modo positivo a contribuição dos componentes de Pesquisa e
Prática Pedagógica e Pesquisa e Estágio em sua formação para o exercício da pesquisa
e da docência. Observou-se nas narrativas que os momentos e as estratégias
pedagógicas baseadas na pesquisa, nos primeiros semestre do curso, eram destinados,
na maioria das vezes, ao tratamento dos procedimentos técnicos e das normas para
organização das pesquisas, como consta nos relatos que seguem:
O componente curricular PPP possibilita um conhecimento importante com referência a projetos de pesquisa, como elaborar, o método a utilizar na pesquisa... (AN 4º) Aprendemos normas da ABNT, como desenvolver projetos e a forma de organizar os trabalhos. (PN6º) A disciplina PPP no currículo tem contribuído muito [...], primordialmente para a construção do conhecimento em relação aos tipos de pesquisa, seus instrumentos para coleta de dados, a parte metodológica, os procedimentos e as etapas que uma pesquisa demanda [...] (DN 4º)
O componente curricular Pesquisa e Prática Pedagógica, desde o início do curso,
traz em sua proposta a prática pedagógica associada à pesquisa, ainda assim, poucos
relatos destacaram o contato com os espaços de práticas já nos primeiros semestres.
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Um momento bastante importante que teve foi no 3º semestre [...] tive a primeira experiência de campo [...] fomos até as escolas de EJA e do ensino fundamental e senti interessada pelo ensino na prática. (DN 4º)
Mesmo diante das condições objetivas de materialização do currículo numa
instituição, indica-se que seja analisada a possibilidade de tornar possível a articulação
da pesquisa e da prática pedagógica desde o início do curso. André (2001) destaca que,
ter a pesquisa como eixo central do curso de formação inicial é um avanço, mas requer
que o trabalho pedagógico seja realizado coletivamente. A autora afirma ainda que,
Pode, além disso, traduzir-se no uso da pesquisa como mediação, ou seja, que as disciplinas e atividades do curso incluam a análise de pesquisas que retratem o cotidiano escolar, visando aproximar os futuros docentes da realidade das escolas, levando-os a refazer o processo da pesquisa e a discutir sua metodologia e os seus resultados. (ANDRÉ, 2001, p. 61)
O momento do estágio supervisionado e também a disciplina de Pesquisa e Prática
Pedagógica foram citadas nas narrativas a partir de diferentes sentidos individuais sobre
a vivência do estágio, tanto como oportunidade de vivenciar os desafios das salas de
aula, como uma possibilidade certificação da escolha pelo curso. As narrativas revelaram
também o entendimento dos licenciandos em relação à pesquisa como eixo da docência.
Os estágios supervisionados vieram por antecipar as cenas que encontraríamos futuramente em sala de aula, possibilitando a socialização, discussão e proposição de possíveis soluções a determinadas situações frequentemente vivenciadas em sala de aula. (IN 6º) Quanto ao estágio, acredito ter grande valia pois quem nunca teve contato com a docência, é esse o momento de decidir que rumo tomar em sua carreira profissional, eu particularmente me identifiquei com estágio em espaços não formais. (GN 6º) A disciplina de PPP traz o foco à prática pedagógica, ou seja, como atuar em sala de aula e outros espaços da educação, buscando também pesquisar sobre as melhores maneiras, as formas de atuação mais eficiente no processo educacional e estas buscas tem como ferramenta principal a pesquisa e isso é comum no estágio supervisionado que também se apoia na pesquisa, tanto teórica e também nas reflexões da própria prática. (UN 8º)
Os fragmentos acima nos remetem a algumas reflexões acerca da prática
pedagógica nos estágios curriculares e aos estágios como espaço para a vivência dessas
práticas. Nunes (2011, p. 101) no diz sobre a importância de “sentir-se professor desde a
formação inicial” e ressalta que, “Para alguns estudantes, os estágios curriculares
supervisionados constituem a primeira oportunidade que têm de experimentar a
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docência” e afirma que, as situações de prática nos estágios supervisionados “pode
ajudá-los a vencer os medos e as incertezas em relação à atividade docente”. O autor
acrescenta ainda que,
Os estágios curriculares são uma oportunidade de estudo muito importante para a formação do futuro professor. Como tal, eles precisam, em nosso entendimento, ser percebidos pelos estudantes e pelos professores como uma experiência formativa em que todos os momentos são relevantes para que os estagiários possam ter um primeiro entendimento do que é a prática pedagógica e de como se processa a escolarização na educação básica, agora vista na ótica de futuros professores. (NUNES, 2011, p. 135)
Para tanto, Nunes (2011, p. 135) argumenta que os futuros professores devem ter
um olhar científico de “coletar informações da e na prática” para que, a partir delas o seu
próprio ser professor possa começar a ser constituído. Esse olhar científico referido pelo
autor foi pontuando em relatos que sinalizaram outro sentido para a pesquisa, um sentido
para além das normas técnicas e, associado ao desenvolvimento de uma postura
investigativa e inquietadora frente à prática.
Favorece em nosso exercício da docência e da pesquisa, uma vez que nos proporciona uma observação, uma pesquisa com maior ênfase num determinado tema [...] um encontro com a prática, visto que isso nos possibilita perceber como a educação está sendo concebida, como é a prática dos professores, etc. (HN 6º) Pude perceber o quanto é importante os estudantes conhecer o campo da pesquisa, pois para aprimorar nossos conhecimentos é necessário que nossos estudos não fiquem restritos apenas à leitura de texto e livros. O trabalho com a pesquisa nos permite ir além, observar o espaço que temos interesse em conhecer e vivenciá-lo. (XN 8º) [...] ajudar a desenvolver “um espírito científico” (TN 6º)
Acrescentamos à análise realizada que, o momento de realização do TCC foi
recorrente nas narrativas, na maioria das vezes citado como momento tenso, para o qual
deveria ser destinado um tempo maior para o contato com o campo. Mas também
merece destaque o reconhecimento do TCC pelo licenciandos, como espaço para
realizar “uma pesquisa com maior ênfase num determinado tema” como consta no
depoimento acima.
Conforme os relatos abaixo, os licenciandos evidenciaram a contribuição dos
componentes de Pesquisa e Prática Pedagógica e Pesquisa e Estágio, as narrativas
faziam referência à pesquisa, às situações de investigação, a reflexão sobre a prática, a
importância de vivenciar por meio das atividades de prática pedagógica, a possibilidade
de estar em contato com o cotidiano da sala de aula da Educação Básica.
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[...] vejo a disciplina de PPP de forma positiva tanto no exercício da pesquisa quanto da docência, pois durante as pesquisas realizadas possibilitou a compreensão da relação teoria e prática. (CN 4º) [...] Ao longo do curso pude perceber o quanto é necessário associarmos a pesquisa a nossa prática. (FN 6º) [...] nos possibilita compreender o cotidiano e os sujeitos envolvidos numa sala de aula. (TN 6º) Propicia desenvolver análises críticas-reflexivas sobre a atuação profissional do professor [...] o contato com a disciplina de PPP e as experiências de estagio no curso de Pedagogia é de fundamental importância para [...] conhecer situações de investigação. (VN 8º)
Como prevê a organização curricular do curso, os estágios ocorrem também em
espaços não formais. Refletindo sobre as narrativas, os licenciandos a prática
pedagógica alguns relatos referem-se a esses estágios, o que nos remete a reflexão
sobre um conceito mais amplo de prática pedagógica, não se restringindo apenas à sala
de aula.
A disciplina de PPP traz o foco à prática pedagógica, ou seja, como atuar em sala de aula e outros espaços da educação, buscando também pesquisar sobre as melhores maneiras, as formas de atuação mais eficiente no processo educacional e estas buscas têm como ferramenta principal a pesquisa [...] (UN 8º)
Souza (2009) expõe a necessidade de compreendermos a formação de professores
como resultante de uma Práxis Pedagógica, entendida como práxis institucional,
multidimensional e intencional. Essa Práxis Pedagógica, segundo o autor, supõe propiciar
uma nova formação aos novos profissionais para a educação, uma forma formação que
os considere como profissionais críticos e atuantes que, inseridos no seu contexto social
e histórico, conscientes de suas intencionalidades, possam ter sedimentada sua
competência profissional com base não somente em conhecimento técnicos, mas no trato
à dimensão humana tão necessária ao exercício profissional em educação. O autor
afirma ainda que,
Práxis pedagógica que tanto pode ser realizada nas escolas, nos movimentos sociais e políticos. Mas sobretudo e de modo especial, nas atividades educativas desenvolvidas na formação de professores, mas também na de trabalhadores (adolescentes, jovens e adultos) que se fizerem estudantes com aqueles e aquelas que se apropriarem das ideias propostas por uma Pedagogia que se assuma na construção do humano como centralidade.(SOUZA, 2009, p81)
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Nessa discussão, Santiago e Neto (2006) compartilham com Souza (2009),
afirmando que a prática pedagógica constitui uma forma específica de práxis, segundo
esses autores, a práxis é uma prática social que envolve atividade teórico-prática.
Sustentam que a prática pedagógica pressupõe uma teoria que a fundamente e a guie,
uma vez que não há prática destituída de teoria, bem como a teoria só existe em relação
com a prática. Sob esse olhar, compreendida como unidade teoria e prática, a prática
pedagógica deixa de ser uma atividade humana puramente mecânica e automática.
Diante dos entendimentos acerca da contribuição do componente Pesquisa e
Prática Pedagógica e Pesquisa e Estágio para a formação inicial na pesquisa na
docência, foi possível compreender, por meio dos discursos extraídos das narrativas, a
relevância desses componentes no currículo do curso de Pedagogia e na formação dos
futuros professores. Todavia algumas lacunas foram pontuadas, dentre várias,
pontuamos a referência à articulação do componente pesquisa com demais disciplinas do
curso que poderia ser se melhorada, o pouco tempo destinado ao contato com o campo
durante a realização do TCC e dos estágios e o depoimento de um licenciando
mencionando distância entre as primeiras orientações sobre pesquisa e a realização do
TCC, potuando que as práticas deveriam ser mais constantes.
Considerações finais
A nossa intenção com a realização deste estudo consistiu em analisar as
percepções dos pedagogos em formação inicial, sobre a contribuição do componente
Pesquisa e Prática Pedagógica para a formação inicial de professores, com ênfase nas
dimensões da docência e da pesquisa. Para tanto, buscamos promover um debate da
fomação de professores, enfocando a importância da pesquisa e da prática pedagógica
no currículo da formação inicial em Pedagogia.
Em síntese, pela análise das narrativas, percebe-se a importância de privilegiar as
dimensões da pesquisa e da prática pedagógica desde o início do curso de formação
inicial em Pedagogia. Embora tenhamos evidenciado, por meio das narrativas, algumas
lacunas na efetivação do trabalho com a pesquisa e a prática pedagógica no curso,
podemos afirmar que a prática do curso referente ao componente curricular analisado
aproxima da concepção e constituição do currículo do curso.
A partir da análise realizada defendemos que um novo redimensionamento no
conteúdo e desenho curricular dos cursos de formação inicial de professores se faz
necessário para que essa formação ultrapasse a histórica perspectiva técnica e ativista
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da profissão docente, contribuindo para a formação de profissionais dotados de uma
postura crítica e investigativa diante dos desafios da prática educativa.
Ressaltamos que a relação dos professores em formação inicial com as situações
de pesquisa e prática pedagógica desde o início do curso poderá contribuir para o
aprimoramento da sua futura atuação nas situações de ensino e reflexão sobre a sua
própria prática, o que implicará que a pesquisa sobre a prática somada ao suporte
teórico-conceitual se faz imprescindível como ferramenta profissional. Quando dissociada
da dimensão da pesquisa, a formação inicial de professores poderá incorrer numa
formação que, possivelmente, conduzirá futuros professores a desenvolverem uma
prática meramente ativista.
Vislumbramos que as provocações e reflexões ponderadas neste estudo possam
contribuir para o aperfeiçoamento do currículo de formação inicial na instituição
pesquisada e possa também ser utilizado como estudo multiplicador de reflexões e
debates em outros espaços de formação de professores.
Notas
i Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Professora da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. [email protected] ii Professora Titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Doutora em Educação. emfsouza@gmail. iii Universidade do Estado da Bahia (UNEB), instituição multicampi composta de 24 Campi e 29 Departamentos com oferta do curso de Pedagogia em 13 campi. O campus XII localiza-se na cidade de Guanambi, município da região centro-sul do estado da Bahia. Referências
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