ii congresso nacional de formação de professores xii...
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II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores
HTPC SOB A PERSPECTIVA DE FORMAÇÃO NA ESCOLA: A ARTICULAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA.
Valéria Duarte Coelho França, Maria Auxiliadora De Resende Braga Marques, Noeli Prestes Padilha Rivas
Eixo 2 - Projetos e práticas de formação continuada
- Relato de Pesquisa - Apresentação Oral
Elucidar de que forma as HTPCs (Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo) configuram momentos adequados para a realização de formação continuada, aproximando as relações teoria e prática. Por meio de pesquisa-ação crítica de abordagem qualitativa, buscou-se compreender como se dá o processo de formação continuada dos professores no espaço da HTPC. Verificamos que este espaço é concreto, onde acontecem encontros semanais que podem contribuir para a reflexão coletiva, para o diálogo entre a teoria e a prática, podendo ser consideradas como um dos pilares de sustentação para as ações desenvolvidas na escola, pelos professores, com o objetivo primordial de oferecer um ensino de qualidade nas escolas públicas estaduais. De acordo com as percepções dos professores que participaram da pesquisa, alguns fatores se expressam de modo mais acentuado, entre outros, a indisciplina e a desmotivação dos alunos em relação aos conteúdos escolares, os quais são os principais fatores dificultadores da ação docente. Esses temas são levados à discussão coletiva como forma de encontrar soluções e apontar novos desafios de superação de dicotomias que atendam às necessidades de todos e que possam ser tratadas tanto no cotidiano da escola, como na prática do professor, na perspectiva da ação coletiva. No entanto, muito ainda precisa ser feito na perspectiva da formação continuada da docência, e por isso, esses espaços de discussão e reflexão representam no interior da escola, um papel importante. A definição de políticas públicas de apoio a formação continuada de professores no ambiente escolar, deve nascer no cotidiano escolar. Palavras-chave: Formação continuada, HTPC, teoria e prática
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HTPC SOB A PERSPECTIVA DE FORMAÇÃO NA ESCOLA: A ARTICULAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA.
Prof. Ms.Valéria Duarte Coelho França; Prof. Drª. Maria Auxiliadora de Resende Braga Marques. PPGE, CUML; Prof. Dra. Noeli Prestes Padilha Rivas. FFCLRP, USP.
Introdução
O presente trabalho decorre de uma pesquisa realizada na Pós-Graduação em
Educação, nível mestrado, a qual teve como objetivo elucidar de que forma as HTPCs
(Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo) configuram momentos adequados para a
realização de formação continuada, no âmbito da escola, e se esses encontros
semanais são capazes de contribuir de alguma forma no sentido de proporcionar uma
maior aproximação entre as relações teoria e prática.
A LDBEN 9394/96 apontou a necessidade de proporcionar aos professores a
continuidade de sua formação após deixar a universidade e ingressar na profissão.
Atribui aos poderes públicos a obrigatoriedade de oferta de ações que levem ao
desenvolvimento profissional e pessoal do docente em serviço. Com isso, a formação
continuada passa a ocupar espaços nos debates. Para Gatti (2008), a formação
continuada é considerada como “aprimoramento de professores nos avanços,
renovações e inovações de suas áreas, dando sustentação à sua criatividade pessoal
e à de grupos profissionais, em função de rearranjos nas produções científicas e
culturais.” (p.58). A última reforma educacional realizada no sistema público de ensino
do estado de São Paulo, denominada “São Paulo faz Escola” atende ao disposto na
LDBEN 9394/96, por meio da Lei Complementar 836/97 em que prevê que as HTPCs
devem ser utilizadas como momentos de aperfeiçoamento individual e coletivo dos
educadores. (SÃO PAULO, 1997).
No Estado de São Paulo, as Horas de Trabalho Pedagógico Coletivo configuram-se
em momentos destinados à reunião de professores e gestores das instituições
educativas. A partir de 2012, em atendimento à Lei Complementar nº 836/1997, que
trata do Piso Salarial, há alterações na carga horária para os professores da rede
estadual paulista, bem como na denominação desses encontros, ou seja, ATPC (Aulas
de Trabalho Pedagógico Coletivo). No entanto as finalidades continuam as mesmas,
conforme a legislação que a rege: “trata-se de momento destinado a reuniões e outros
trabalhos pedagógicos e de estudo” (SÃO PAULO, Lei 836/97, artigo 13).
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Em seus estudos sobre a profissão docente, Nóvoa (2009) ressalta que as práticas
pedagógicas são investidas de referencial teórico e metodológico, o que lhe confere
complexidade. Nessa perspectiva, o autor aponta cinco dimensões que permeiam a
profissão docente: as práticas, a profissão, a pessoa, a partilha e o público. Destaca-
se neste texto, a dimensão “partilha”, pois a mesma tem como pressuposto a
valorização do “trabalho em equipe e o exercício coletivo da profissão, reforçando a
importância dos projetos educativos de escola.” (p.40).
Outra questão importante nesse cenário diz respeito às discussões acerca da
formação continuada centrada na escola, a qual começa a se destacar a partir da
década de 1990, como colocado por Imbérnon (2010):
Foi uma época criativa e muito importante na formação continuada, cujas contribuições e reflexões ainda vivemos assimilando. A mistura do modelo de treinamento com planos de formação, o modelo de desenvolvimento e melhoria, surgido a partir da reforma introduzida pelas leis, ao se estabelecerem os projetos educativos e curriculares, o modelo questionador, a pesquisa-ação, tão divulgada e conhecida, porém pouco praticada por suas necessárias condições de desenvolvimento, e a maioria dos textos sobre o campo de conhecimento fazem com que agora seja a época em que se inicia uma nova maneira de se enfocar, de analisar e de praticar a formação dos professores. Mesmo que ainda haja o predomínio de um discurso excessivamente simbólico e de uma continuação perpétua da separação entre a teoria e a prática (p. 22).
A perspectiva da escola como lócus de formação continuada de docentes conta, ainda
com a defesa de autores como LIBÂNEO, 2010; BRZEZINSKI, 2008; ALARCÃO, 2003
entre outros que entendem a escola como ponto de partida para as ações de formação
em serviço, por se tratar de local em que as possibilidades do trabalho coletivo ocorra
de forma mais abrangente e que é nela que se encontram os temas que precisam ser
discutidos e refletidos por aqueles que a constituem. Ainda, por ser um ambiente que
proporciona a construção dos saberes da experiência docente.
Brzezinski (2008) define a formação dos professores “como um processo marcado
pela complexidade do conhecimento, pela crítica, pela reflexão-ação, pela criatividade,
pelo reconhecimento da identidade cultural dos envolvidos no processo formativo e
pela relação entre formadores e aprendentes” (p. 1141). Assim, constitui-se, em
movimento polifônico, não estagnado, em busca de sentidos e significados para os
entraves políticos, sociais, culturais que adentram suas práticas cotidianas. É o
amálgama de diversificados posicionamentos, pensamentos, histórias do ambiente de
trabalho que se constituem nas instituições de ensino.
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Para Alarcão (2003), uma das imposições colocadas aos professores no contexto da
educação contemporânea é que os projetos de formação continuada levem em conta
o conceito de professor-investigador, segundo as descrições de Stenhouse (1996),
que acredita nos professores como pesquisadores e observadores de suas práticas e
de suas ações e, por isso, a necessidade de envolvê-los na pesquisa e reflexão crítica
sobre seu trabalho em busca da (re) construção do currículo a ser implementado por
intermédio de suas ações didáticas. Ainda de acordo com as ideias de Alarcão (2003),
três conceitos estão envolvidos na filosofia de trabalho defendida por Stenhouse:
[...] a de que a observação e a compreensão do que vai acontecendo são fundamentais no desenvolvimento dos projetos curriculares, de que os professores em grupo adquirem dinâmicas muito próprias e de que os professores se encontram, também eles, em processos de aprendizagem para os quais a investigação contribui. (ALARCÃO, 2003, p.45).
Considerando ainda as idéias de Alarcão (2003) “ser professor investigador é ter
atitude intelectual crítica, questionadora da realidade e de si próprio”, é questionar as
dificuldades que enfrentam no dia a dia, com vistas a sua compreensão e posterior
solução. Ninguém melhor do que o professor conhece o contexto específico em que se
passa a investigação.
Enfim, a escola deve ser considerada como principal local de formação continuada por
“possibilitar momentos de reflexão sobre a ação no coletivo dos professores para o
redirecionamento das práticas individuais e coletivas, que rumo se tomará em relação
às reflexões feitas e a revisão do projeto político-pedagógico quando necessário.”
(MENDES, 2008, p. 48). São inúmeros os motivos que privilegiam a escola como lócus
favorável à formação docente, além dos já mencionados, mas o mais importante é que
é para ela que se voltarão as ações transformadoras resultantes desses processos
formativos.
Formação continuada de professores: o que acontece na escola?
Para a realização da pesquisa foram observadas quinze reuniões de HTPC entre os
anos de 2010 e 2011, numa escola estadual da periferia de uma cidade do interior
paulista. A referida escola teve baixo IDESP (Índice de desenvolvimento da educação
do estado de São Paulo), de acordo com os dados do SARESP (Sistema de Avaliação
de Resultados de São Paulo), nos anos de 2007 e 2008. Mediante esses resultados foi
elaborado pela equipe gestora e professores, um Plano de Ação do qual fazia parte a
reestruturação das HTPCs, com vistas a propiciar momentos de formação da equipe
docente.
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Em comum acordo, professores e equipe gestora concluíram que os temas a serem
discutidos nos momentos de formação deveriam versar sobre as dificuldades
enfrentadas pelos docentes em suas práticas cotidianas. A equipe de gestão recorreu
a documento oficial da secretaria da educação, Resolução 80/2010, que apresenta o
perfil docente esperado para os professores da rede estadual paulista, bem como
sugestão de bibliografia, de forma a atender as necessidades apresentadas pela
equipe escolar e ainda familiarizar os participantes com textos a serem utilizados em
provas realizadas pela própria secretaria com diferentes propósitos, principalmente a
Prova Mérito, que acrescenta 10% ao salário base dos educadores.
Desses encontros participavam professores dos três ciclos atendidos pela escola
(Ensino Fundamental I e II e Ensino Médio), o que restringiu os temas a assuntos mais
gerais como indisciplina, condições de trabalho, entre outros. Ao longo dos encontros
pode-se perceber que essa estruturação enriqueceu as discussões por confrontar
diferentes pontos de vista, o que gerou o debate e a reflexão coletiva que culminavam,
muitas vezes, no planejamento de ações a serem desenvolvidas com vistas à
mudança de atitudes, tanto de professores como de alunos. Esses momentos também
eram utilizados para a análise e retomada dessas ações e quando necessário
adequações para melhor desenvolvimento das mesmas.
Um fato importante percebido durante a pesquisa é que a diretora da unidade estava
sempre presente e pronta a ajudar nas questões pedagógicas. Proporcionou
condições para a realização das horas de HTPC a que cada professor fazia jus,
garantindo assim, a continuidade do processo de formação. Mendes (2008), apoiada
nas ideias de Libâneo (2003), define gestão democrática como a que “se baseia na
relação orgânica entre a direção e participação do pessoal da escola” (p.48) Para a
autora, esse tipo de gerenciamento acentua a busca de objetivos comuns que são
assumidos e levados adiante por todos.
O cotidiano da escola como ponto de partida
Libâneo(2010), ao discutir a formação continuada de professores, esclarece que “as
políticas de formação de professores não estão partindo de políticas educativas para a
escola e para aprendizagem dos alunos” (p.28). Para o autor, essas políticas devem
ser pensadas a partir de contextos concretos de ensino e aprendizagem, ou seja, é
dentro das instituições escolares que se devem buscar elementos necessários para se
pensar as políticas de formação docente, uma vez que são nesses espaços que os
professores vão atuar.
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Nesse cenário, os projetos de formação continuada que concebem a escola como
local de realização dessas ações enfrentam muitos obstáculos, como a dificuldade em
se estabelecer um espaço de reflexão, discussão e troca de experiências, de modo a
incentivar maior participação dos professores junto ao espaço coletivo do ambiente
escolar. Além desses, tem-se também, a falta de incentivo por parte das políticas
públicas voltadas para a formação continuada em serviço, que não proporciona a
formação adequada para os professores coordenadores que irão atuar como
“formadores” de professores; a revisão da jornada de trabalho e a remuneração que
propicie aos docentes se envolverem mais com sua própria formação.
O projeto de formação apresentado pela escola participante da pesquisa consistia no
levantamento das necessidades formativas do grupo em diferentes momentos: nas
reuniões em que foram feitas as observações, os assuntos tratados se relacionavam
ao ambiente escolar, as dificuldades enfrentadas em sala de aula, a falta de condições
físicas e materiais para a realização do trabalho pedagógico, entre outros. Os HTPCs
específicos de cada ciclo se pautavam em assuntos mais específicos, como estudo de
caso de alunos com dificuldades de aprendizagem, leitura de textos teóricos que
subsidiassem os professores no atendimento desses alunos, entre outros pertinentes
e necessários de acordo com a opinião de cada grupo.
A escola é uma instituição concreta e também contraditória, e, diante disso, depende
de constantes transformações, tendo em vista às necessidades da sociedade
contemporânea. Os saberes e os conhecimentos demandam novas discussões
formativas que não são as mesmas o tempo todo, mudam conforme o contexto
histórico, social e cultural em que se inserem. Assim, propostas de formação
continuada centrada na escola precisam de conexões em constante movimento de
reflexão, análise crítica, avaliação e proposição de novas práticas, num processo
contínuo e permanente, sem perder de vista a relação entre a teoria e prática.
Pode-se perceber durante a pesquisa que as ações propostas eram retomadas a todo
o momento com a finalidade de fazer com que cada professor refletisse sobre sua
prática, avaliando-a quanto a sua razão de ser ou não e, nesse último caso, buscando
a construção de novas estratégias. Nesse sentido, confirmou-se a teoria de que não
há outra maneira de se realizar um processo de formação permanente sem a
retomada, avaliação e recondução das práticas educativas como a melhor maneira de
se atingir realmente inovações que levem a melhoria da qualidade do ensino oferecido
nas escolas públicas.
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Os estudos teóricos também estiveram presentes nas reuniões observadas, em
contrapartida às trocas de experiências entre os professores, reforçando o que coloca
Pimenta (2009) de que a teoria e a prática não estão desvinculadas nos processos de
formação. Os saberes da experiência, gerados pelos professores no seu percurso
profissional, são aliados às práticas rotineiras que no caso das ações propostas eram
o ponto de partida para as reflexões, sempre com base em teorias que pudessem
ratificar e validar os saberes produzidos pelo grupo.
Outros encontros observados versaram sobre temas como: uma oficina que levou os
professores a discutirem problemas considerados banais, mas que se tornaram
obstáculos ao bom desenvolvimento do ensino e aprendizagem e que poderiam ser
melhor resolvidos se houvesse uma relação professor-aluno mais aberta, baseada no
diálogo e na negociação de regras de convivência em sala de aula. Realizaram-se
estudos de casos de classes em que a indisciplina generalizada gerou grandes
problemas de aprendizagem e foram propostas estratégias de ensino e de ações que
levassem a reversão desses quadros. Foram também abordadas e debatidas
questões relacionadas à falta de condições de trabalho para os professores, a perda
da sua autonomia a partir da proposição, por parte da secretaria da educação, de um
currículo unificado elaborado por técnicos contratados, sem o envolvimento dos
professores da rede que compõem o “chão da escola”. As relações interpessoais
(professor e aluno, professor e professor, aluno e aluno), assim como a falta de
participação da família na escola foram outros temas discutidos nos encontros de
HTPC no período pesquisado.
Percebeu-se também que os professores estão angustiados perante a falta de critérios
claros e objetivos em relação ao papel desempenhado por eles nesse novo cenário
educacional. São norteados pelas diretrizes propostas pelas agências internacionais,
por meio de políticas de profissionalização pautadas pela produtividade, que no caso
desses trabalhadores, está alicerçada nos rendimentos alcançados por seus alunos
em avaliações externas como o SARESP e a Prova Brasil. Segundo Contreras (2002),
os docentes estão passando por uma transição tanto nas “características de suas
condições de trabalho quanto nas tarefas que realizam” o que o aproximam da
condição de operário. Nesse contexto, a docência enfrenta uma crise de significado
que leva seus protagonistas a acreditarem que o fracasso escolar se deve a fatores
externos a escola e aos professores.
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Fatores extra-escolares interferem no desempenho acadêmico de crianças e jovens,
mas não são as únicas causas da indisciplina e desmotivação geral dos alunos. As
justificativas para os problemas enfrentados pelos educadores hoje, devem ser
procuradas dentro do espaço escolar, seja nas condições físicas da escola, seja nas
práticas dos professores, no currículo em ação ou em qualquer outro lugar que não
fora de seus muros.
Para Libâneo(2010), as ações de formação de professores devem atender “a
demandas muito concretas, a decisões operacionais, que dizem respeito
primordialmente a formas de se garantir uma aprendizagem de qualidade a todos os
alunos” (p.35). Assim, justifica-se a busca dos temas de estudo dentro do próprio
grupo que compõem o cotidiano escolar e a construção coletiva dos meios de transpor
os obstáculos.
Na concepção de Pimenta(2009), a perspectiva do trabalho pedagógico como trabalho
coletivo deve ser priorizada desde a formação inicial dos futuros professores como
uma maneira de se entender e respeitar as “linguagens e saberes diferentes de cada
campo específico do conhecimento” (p. 17). Essa perspectiva subsidiou a análise das
ações construídas nos momentos de HTPC de forma coletiva, pela equipe gestora e
de professores.
A equipe da escola pesquisada se mobilizou e procurou desenvolver ações de
formação continuada que se utilizou das HTPCs como momento de realização dessa
formação. Pela observação das análises pode-se perceber a preocupação em se
buscar soluções para os problemas enfrentados pela escola e sua equipe,
independentemente das condições oferecidas pelo sistema de ensino da qual fazem
parte, procurando propiciar melhores condições de trabalho aos professores de sua
alçada e de aprendizagem para suas crianças e jovens.
Considerações finais
Entendemos que os processos de formação centrados na escola são momentos
importantes para a reflexão sobre a prática cotidiana, as condições de trabalho e como
os espaços escolares podem contribuir, nas instituições públicas, para a tomada de
decisões que envolvem o coletivo da escola, visando à melhoria da qualidade do
ensino, entre outros tantos pontos importantes para desenvolvimento da formação
docente. Nesse sentido, as HTPCs se configuram em espaços propícios para a
realização da formação continuada centrada na escola, pois proporcionam momentos
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de encontro entre a maioria dos professores que compõem o quadro da instituição
escolar, tornando possível a concretização de ações como as elencadas.
O que se conclui das observações realizadas é que as HTPCs, desde que se
proponham a isso, com o planejamento coletivo das ações a serem realizadas,
empenhos das equipes docentes e de gestão, são espaços democráticos de estudo,
reflexão sobre a prática, de troca de experiências e de aprendizagem, desde que
todos estejam motivados a isso, ou seja, que a coordenação se empenhe na
proposição de temas de estudos que levem em consideração as necessidades
elencadas pelo grupo e que este se mobilize em relação ao desenvolvimento da leitura
crítica e implantação das ações propostas nesses encontros.
Percebemos, pela análise de questionário aplicado aos professores que, a maioria
deles entende a formação continuada como algo bom, que os leva ao
desenvolvimento profissional, a melhoria das práticas pedagógicas, a troca de
experiências. No entanto, parecem ter esquecido as batalhas enfrentadas para a
conquista desse espaço, pois acham esses momentos maçantes, sem sentido e
“horário de tempo perdido”. Após a apresentação da proposta de formação elaborada
pela escola e aberta à participação de todos, parece que esse quadro vem mostrando
uma leve mudança. Já não se tem muito absenteísmo de professores nesses
momentos, o que era um fator preocupante para a gestão da escola. Parece-nos que a
partir do momento em que os professores se percebem parte integrante dos processos
que a eles são destinados, assumem uma postura mais participativa e coletiva.
Chamamos a atenção sobre a importância e a necessidade do trabalho coletivo para
que as práticas educativas possam ser confrontadas e melhoradas a partir do exemplo
do outro, conforme colocado por Nóvoa (2009), Pimenta (2009) e Libâneo (2010) entre
outros autores, a respeito do trabalho em equipe, das práticas de
“coresponsabilização” e à “partilha” dos conhecimentos.
O coletivo é considerado em todos os momentos, mas existe uma confusão em
relação ao trabalho em equipe. Nos encontros todos participam, dão suas
contribuições, ajudam a elencar ações que devem ser levadas adiante por todos, mas
ao adentrarem suas salas de aula, diante da complexidade das situações, agem da
forma costumeira, de acordo com suas experiências anteriores.
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No entanto, a formação centrada na escola é um processo em longo prazo, que requer
iniciativas comuns, empenho, participação, cooperação e incentivo. É necessário
começar por fazer com que os professores voltem a acreditar em si mesmos, nas suas
capacidades críticas, que entendam que a formação continuada é um meio de
crescimento profissional e pessoal, mas que deve contar com as trocas entre pares,
com o apoio entre colegas de profissão que muitas vezes se sentem perdidos e
desiludidos com a luta por condições dignas de trabalho. Também é necessária a
reestruturação dos encontros, o levantamento das necessidades e conhecimentos
prévios do grupo, a adesão de todos através da participação nesse planejamento.
O que este trabalho apresentou representa apenas o ponto de partida de uma escola
que se propõe a se (re)construir a partir das pessoas que nela estão envolvidas, das
contribuições de todos que a ela pertencem. No entanto, são muitas as limitações
encontradas, desde a cobrança por instâncias superiores, que vêem a HTPC como
momento de se buscar meios de “treinar” os alunos para a realização de uma boa
avaliação externa, que levará ao recebimento de bônus, à aceitação por parte dos
professores de que não passam de executores dos planos elaborados pela equipe da
Secretaria Estadual da Educação. Conclui-se, com base nas observações, que os
professores se encontram num dilema pois, ao mesmo tempo que se aceitam como
executores de políticas públicas propostas por terceiros, entendem que sua práxis vai
além disso, mas estão desestimulados e não sabem o que fazer para reverter essa
situação.
É necessário, portanto, um empenho no sentido de motivar os professores a acreditar
em si mesmos, nas suas capacidades críticas, enfim, na construção de suas próprias
identidades, buscando na formação continuada uma possibilidade de crescimento
intelectual, profissional e pessoal. Para tanto, a maior aproximação e apropriação nas
relações entre teoria e prática, troca de experiências entre os pares, podem contribuir
na luta por melhores condições do trabalho docente e principalmente por maior
incentivo à formação continuada.
Sem concluir, acredita-se que os encontros proporcionados pela HTPC, são
necessários e podem contribuir para o levantamento das necessidades de novos
conhecimentos, troca entre os saberes construídos na prática, novas demandas de
formação continuada. Porém, far-se-á necessário a superação das dicotomias
existentes entre teoria e prática no âmbito da escola e dos espaços concretos da
formação continuada.
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REFERÊNCIAS
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