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4617 IMAGENS SOBRE MATEMÁTICOS NA FORMAÇÃO DE ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA Ricardo SCUCUGLIA RODRIGUES DA SILVA, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de São José do Rio Preto Eixo Temático 1: Formação Inicial de Professores da Educação Básica Agência Financiadora: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) [email protected] 1. Introdução Neste artigo, discuto aspectos de uma pesquisa (em desenvolvimento) cujo objetivo é investigar o papel da produção de Performances Matemáticas Digitais (PMDs) na formação inicial de professores de matemática (licenciandos em matemática e pedagogia) com relação a (des)construção de imagens sobre os matemáticos. Especificamente, neste texto, discuto algumas imagens elaboradas por alunos de um curso de graduação em pedagogia, buscando refletir sobre o papel educacional da produção de PMDs nesse processo formativo de futuros professores (de matemática). Contando com a participação de 20 alunos nessa etapa da pesquisa, cada um dos participantes elaborou dois “desenhos”, os quais são considerados dados da pesquisa. No primeiro desenho, os alunos expressaram (artisticamente) suas visões sobre como as pessoas veem os matemáticos. Ou seja, eles buscaram responder (por meio das artes visuais) o seguinte questionamento: qual a imagem pública dos matemáticos? No segundo desenho, os estudantes expressaram uma “imagem ideal” sobre um matemático, ou seja: como você gostaria que as pessoas vissem os matemáticos? Os desenhos dos participantes foram organizados em dois “eixos”. O primeiro eixo foi formado pelos desenhos referentes a imagem pública dos matemáticos na visão dos estudantes. O segundo eixo diz respeito ao conjunto de imagens “ideais” dos matemáticos criadas pelos alunos participantes. Cabe mencionar que a imagem pública da matemática e dos matemáticos tem sido uma temática em pesquisa realizadas por autores como Lim (1999) i e Picker e Berry (2000). Mais recentemente, autores como Gadanidis e Scucuglia (2010) têm discutido essa temática no âmbito da produção de PMDs (SCUCUGLIA, 2014). Basicamente, PMD diz respeito ao uso integrado das artes (performáticas) de das tecnologias digitais em Educação Matemática. Contudo, a expressão PMD é utilizada de maneira plural, pois tem sido utilizada para se referir a uma recente linha de pesquisa em Educação Matemática e como uma possibilidade para o ensino e aprendizagem de matemática (BORBA; SCUCUGLIA; GADANIDIS, 2015).

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IMAGENS SOBRE MATEMÁTICOS NA FORMAÇÃO DE ESTUDANTES DE

GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

Ricardo SCUCUGLIA RODRIGUES DA SILVA, Universidade Estadual Paulista(UNESP), Campus de São José do Rio Preto

Eixo Temático 1: Formação Inicial de Professores da Educação BásicaAgência Financiadora: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq)[email protected]

1. Introdução

Neste artigo, discuto aspectos de uma pesquisa (em desenvolvimento) cujo

objetivo é investigar o papel da produção de Performances Matemáticas Digitais (PMDs)

na formação inicial de professores de matemática (licenciandos em matemática e

pedagogia) com relação a (des)construção de imagens sobre os matemáticos.

Especificamente, neste texto, discuto algumas imagens elaboradas por alunos de um

curso de graduação em pedagogia, buscando refletir sobre o papel educacional da

produção de PMDs nesse processo formativo de futuros professores (de matemática).

Contando com a participação de 20 alunos nessa etapa da pesquisa, cada um dos

participantes elaborou dois “desenhos”, os quais são considerados dados da pesquisa.

No primeiro desenho, os alunos expressaram (artisticamente) suas visões sobre como as

pessoas veem os matemáticos. Ou seja, eles buscaram responder (por meio das artes

visuais) o seguinte questionamento: qual a imagem pública dos matemáticos? No

segundo desenho, os estudantes expressaram uma “imagem ideal” sobre um

matemático, ou seja: como você gostaria que as pessoas vissem os matemáticos?

Os desenhos dos participantes foram organizados em dois “eixos”. O primeiro eixo

foi formado pelos desenhos referentes a imagem pública dos matemáticos na visão dos

estudantes. O segundo eixo diz respeito ao conjunto de imagens “ideais” dos

matemáticos criadas pelos alunos participantes.

Cabe mencionar que a imagem pública da matemática e dos matemáticos tem

sido uma temática em pesquisa realizadas por autores como Lim (1999) i e Picker e Berry

(2000). Mais recentemente, autores como Gadanidis e Scucuglia (2010) têm discutido

essa temática no âmbito da produção de PMDs (SCUCUGLIA, 2014).

Basicamente, PMD diz respeito ao uso integrado das artes (performáticas) de das

tecnologias digitais em Educação Matemática. Contudo, a expressão PMD é utilizada de

maneira plural, pois tem sido utilizada para se referir a uma recente linha de pesquisa em

Educação Matemática e como uma possibilidade para o ensino e aprendizagem de

matemática (BORBA; SCUCUGLIA; GADANIDIS, 2015).

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Além disso, PMD assume um significado semiótico, pois também pode ser

entendida enquanto texto/narrativa multimodal utilizada para comunicação/representação

matemática por meio das artes (SCUCUGLIA, 2012). Nesse contexto, o tipo mais comum

de PMDs são os vídeos digitais nos quais estudantes e professores comunicam ideias

matemáticas por meio da música, teatro, dança, cinema e outras expressões artísticas.

Tais vídeos podem ser acessados em ambientes online como o YouTube, por exemplo ou

plataformas/repositórios educacionais como o Portal do Professor (MEC) e o Currículo+,

da Secretaria de Educação do Governo do Estado de São Paulo.

Nesse sentido, dois aspectos devem estar claros ao leitor nesta introdução: (1)

PMD é uma temática central da pesquisa (em desenvolvimento) relatada neste artigo. Tal

perspectiva diz respeito ao uso “inovador” e integrado das artes e das tecnologias digitais

no ensino e aprendizagem de matemática; (2) O objetivo das atividades de pesquisa

discutidas neste texto é investigar imagem de futuros professores de matemática dos

Anos Iniciais do Ensino Fundamental, considerando um ambiente de aprendizagem no

qual se explora PMD enquanto possibilidade didático-pedagógica na formação de alunos

de graduação em pedagogia.

2. Perspectivas Teóricas

A expressão PMD surgiu a partir do desenvolvimento de uma pesquisa financiada

por uma agência de fomento canadenseii, a qual havia publicado um edital específico

para a submissão de propostas que promovessem a inovação em Ciências Sociais e

Humanas. Algumas das principais inquietações enunciadas sobre PMD foram:

O que aconteceria se os matemáticos e os educadores matemáticos semovessem além do domínio da avaliação e usassem uma lente artísticapara “realizar performance” matemática? Se nós olharmos a matemáticacomo expressão performática, o que veremos? Pensamento matemáticoe ensino e aprendizagem de matemática como performance podemajudar a desestabilizar e reorganizar nossa compreensão sobre o quesignifica fazer matemática com tecnologia (GADANIDIS; BORBA, 2006).

Nesse sentido, desde de sua concepção em 2006, os resultados de pesquisas

sobre PMD vêm ganhando espaço dialógico, aceitação e projeção na comunidade

acadêmica da Educação Matemática, tendo resultados de pesquisa publicados em

cenários de reconhecido prestígio na área (GADANIDIS; BORBA, 2008).

Ao analisarem retrospectivamente o uso de tecnologias digitais em Educação

Matemática no Brasil, Borba, Scucuglia e Gadanidis (2015) argumentam que vivenciamos

atualmente uma quarta fase. Nessa perspectiva, a primeira fase diz respeito ao uso de

calculadoras e uso do software LOGO. A segunda fase se refere ao uso de softwares de

geometria dinâmica, softwares gráficos e de computação algébrica.

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A terceira fase é caracterizada pelo surgimento da Internet e a educação a

distância online, que fomentou iniciativas importantes na formação continuada de

professores de matemática. Consequentemente,

A quarta fase, pode ser caracterizada pelos seguintes aspectos: (a)surgimento do software GeoGebra, que transformou qualitativamente asegunda fase ao integrar geometria dinâmica e software gráfico em umamesma plataforma computacional; (b) surgimento da Internet rápida, quepermitiu o suporte e compartilhamento de arquivos ou textosmultimodais, principalmente os vídeos digitais; (c) acessibilidade atecnologias digitais portáteis com acesso à Internet, como notebooks,tablets, telefones celulares, câmeras digitais, etc. (d) uso da Internet emsala de aula presencial (...) (e) surgimento da noção e produção de PMD(BORBA; SCUCUGLIA, 2015, p. 24).

Portanto, PMD pode ser considerada uma perspectiva atualmente destacada na

literatura em Educação Matemática no que se refere do uso de tecnologias digitais no

ensino e aprendizagem de matemática, incluindo a formação inicial e continuada de

professores (BORBA; GADANIDIS, 2008). Dentre diversificados aspectos, a literatura

sobre formação de professores destaca que poucas disciplinas têm como objetivo central

constituir ambientes formativos ao licenciando para o uso de tecnologias digitais.

De acordo com Nacarato (2007), parte da literatura sobre a formação inicial de

professores de matemática tende a enfatizar:

[o] conteúdo matemático específico, desconsiderando que o saberdisciplinar é apenas uma das dimensões do saber docente e que essesaber disciplinar, se desprovido de uma abordagem pedagógica ecurricular, não oferece ao futuro professor as condições mínimas para oexercício da profissão docente na escola básica (NACARATO, 2007, p.144).

Além disso, é pertinente destacar que,

O conhecimento profissional do docente emerge na e a partir da práticae se legitima em projetos de experimentação reflexiva e democrática nopróprio processo de construção e reconstrução da prática reflexiva. Emoutras palavras, o elemento fundamental na prática do docente, ocomponente básico do conhecimento especializado útil e relevante, é odesenvolvimento da reflexão (...), compreensão situacional (...), como umprocesso de reconstrução da própria experiência e do própriopensamento ao indagar as condições materiais, sociais, políticas epessoais que configuram o desenvolvimento da concreta situaçãoeducativa da qual participa o docente (GOMES, 2001, p.190).

Além das perspectivas sobre PMD e formação (inicial) de professores

apresentadas, cabe ainda mencionar que autores como Picker e Berry (2001)

argumentam que investigações sobre as imagens que alunos têm sobre a matemática e

os matemáticos podem ajudar professores a “compreender as atitudes dos estudantes

em relação a matemática, seus equívocos e opiniões sobre a matéria”, (...) [e] uma

maneira de descobrir estas atitudes é solicitar aos alunos que desenhem um matemático”

(PICKER; BERRY, 2001, p. 202).

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Considera-se essa uma questão relevante no que se refere a multiplicidade de

saberes e/ou conhecimentos pertinentes na formação de licenciandos em matemática e

pedagogia bem como na prática docente (SCUCUGLIA; GREGORUTTI, 2015). Picker e

Berry (2000), baseado em desenhos produzidos por 476 alunos em uma pesquisa

internacional proposta em cinco países, comentam que “com pequenas diferenças

culturais certas imagens estereotipadas de matemáticos são comuns aos alunos” (...)

“essas imagens indicam que, para alunos entre 12 e13 anos, os matemáticos e o trabalho

que eles fazem são, praticamente, invisíveis” (PICKER; BERRY, 2000, p.65).

Rensaa (2006) problematiza o papel da mídia em apoiar a visão da matemática

como uma atividade exclusivamente masculina. Renssa (2006) entrevistou pessoas em

um terminal de aeroporto para investigar suas imagens sobre os matemáticos. A autora

criou um questionário para perguntar às pessoas como eles imagivam um matemático.

Em suas conclusões, ela destacou que muitas pessoas veem o matemático como um

homem que trabalha em um escritório ou ensina a matéria em sala de aula. Rensaa

(2006) sugere que a imagem esterotipada sobre a atividade profissional dos matemáticos

está associada a imagem negativa que as pessoas carregam sobre a matemática.

Rock e Shaw (2000) desenvolveram um estudo basedo no questionamento “o que

as crianças pensam sobre os matemáticos?” Os autores se concentraram em três

perguntas principais: (1) O que os matemáticos fazem? (2) Que tipos de problemas os

matemáticos resolvem? (3) Quais as ferramentas ou instrumentos que os matemáticos

usam? Rock e Shaw (2000) utilizaram estas perguntas para criar uma pesquisa voluntária

para alunos de diferentes níveis escolares (Educação Infantil e Ensino Fundamental).

3. Metodologia da Pesquisa

No âmbito geral da pesquisa em desenvolvimento, a metodologia é de natureza

qualitativa (DENZIN; LINCOLN, 2005). A produção e análise de dados envolve

diversificadas perspectivas como a realização e registro audiovisual de cursos de

extensão universitária, estudo de casos, análise de vídeos, análise de PMDs conceituais,

entrevistas semiestruturadas e elaboração de representações (artísticas) em atividades

de ensino. No caso específico dos dados discutidos neste artigo, a perspectiva

metodológica enfatizada é o estudo de caso qualitativo (STAKE, 2005).

De acordo com Ponte (2006), o estudo de caso:

É uma investigação que se assume como particularística, isto é, que sedebruça deliberadamente sobre uma situação específica que se supõeser única ou especial, pelo menos em certos aspectos, procurandodescobrir a que há nela de mais essencial e característico e, dessemodo, contribuir para a compreensão global de um certo fenómeno deinteresse (PONTE, 2006, p. 2).

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De modo geral, a principal pergunta de pesquisa explorada nesse artigo é: que

imagens alunos de graduação em pedagogia têm sobre os matemáticos? De maneira

específica e/ou exploratória, os seguintes questionamentos também são discutidos: Na

visão dos estudantes, qual a imagem pública dos matemáticos e qual seria uma imagem

“ideal”? Qual o papel formativo da produção de PMDs no processo de (des)construção

das imagens (públicas e ideais) dos estudantes de graduação em pedagogia? Qual o

papel didático-pedagógico da produção de PMDs na formação inicial de professores (da

Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental)?

Para a produção de dados neste estudo foi solicitado em sala de aula e via e-mail

institucional que os 36 alunos da disciplina intitulada “Conteúdo e Metodologia do Ensino

de Matemática” realizassem (voluntariamente) uma atividade de ensino que servia como

base para a produção de dados da presente pesquisa. Estando cientes na natureza da

atividade, foi proposto aos alunos elaborarem dois “desenhos”:

(1) No primeiro, o objetivo era representar a imagem pública dos matemáticos, ou

seja, representar artisticamente a imagem na qual, na visão do estudante, as

pessoas em geral veem os matemáticos. Os participantes foram engajados em

uma atividade na qual deveriam responder por meio das artes visuais o

seguinte questionamento: Qual a imagem pública dos matemáticos?

(2) No segundo, o objetivo era representar artisticamente uma imagem “ideal” de

um matemático, ou seja, uma imagem (alternativa) na qual eles gostariam que

as pessoas vissem os matemáticos.

É importante mencionar que os participantes estavam cientes de que seus

desenhos seriam utilizados como dados em uma pesquisa voltada a produção de uma

PMD sobre a imagem (pública) dos matemáticos, ou seja, os alunos concordaram com a

proposta de que seus desenhos seriam utilizados como dados de pesquisa: suas obras

seriam analisadas e publicadas; publicadas em relatórios e artigos, na elaboração de um

vídeo sobre a imagem dos matemáticos, e que o vídeo seria publicado na Internet, com

acesso público e gratuito. Cabe também mencionar que, PMD já havia sido um tema

discutido e explorado em sala de aula enquanto possibilidade metodológica para o ensino

de matemática fundamentado no uso integrado das artes e das tecnologias digitais.

4. Análise dos Dados

Dentre os 36 estudantes convidados, 20 participaram da pesquisa, enviando seus

desenhos ao presente autor via e-mail (documento digitalizado) ou entregando em mãos

em obra artística elaborada em folha de sulfite ou material similar.

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Os dados foram inicialmente organizados em um quadro de modo que na primeira

coluna foram inseridos a imagens públicas e na segunda coluna as “imagens ideais”

criadas pelos alunos. Essa organização “tabular” dos dados permitiu que fosse realizada

uma análise comparativa entre os desenhos de um mesmo participante e entre desenhos

de diferentes participantes em um mesmo eixoiii. A seguir, apresento os principais

aspectos analíticos das atividades de pesquisa discutidas neste artigo.

4.1. Imagens Públicas sobre os Matemáticos

Em termos de imagem pública dos matemáticos, dentre os 20 participantes, seis

(N = 6) demonstram uma imagem do tipo “efeito Einstein”, como denominam Picker e

Berry (2000). Um total de cinco imagens (N = 5), incluindo algumas do tipo “Einstein”,

enfatizaram o local fundamental de trabalho dos matemáticos como sendo a sala de aula.

Dentre essas imagens, a maioria demonstrou o ambiente de sala de aula associado a

algo negativo ou frio, com pessoas/alunos com semblantes “tristes” ou a presença de

objetos ao invés de pessoas. Duas imagens (N = 2) explicitaram os matemáticos como

pessoas/profissionais autoritários ou estressados. A imagem do matemático como

“louco”, “maluco” e/ou “nerd” esteve presente em seis desenhos (N = 6). Tais imagens

são comuns na mídia e em filmes como, por exemplo, “Uma mente brilhante”, que narra a

história de vida do matemático John Nash enfatizando aspectos de sua esquizofrenia.

Quatro desenhos (N = 4) associaram a imagem dos matemáticos a algo

monstruoso ou a um vilão. Apenas um desenho (N = 1) associou a imagem do

matemático ao uso de calculadora e/ou a um cientista. Predominantemente, a imagem

pública do matemático foi associada pelos participantes a uma atividade profissional

realizada por indivíduos do sexo masculino (RENSAA, 2006). Apenas um desenho (N =

1) associou a imagem da mulher enquanto uma profissional em matemática.

Cabe mencionar que oito participantes (N = 8) não elaboraram suas próprias

imagens, ou seja, apresentaram imagens “prontas” ou de modo “adaptadas”, coletadas

provavelmente por meio de acesso a Internet; imagens cuja autoria artística não é do

próprio participante. No conjunto de imagens a seguir (Figura/s 1), apresento as

principais imagens que compilam a visão dos 20 estudantes com relação a imagem

pública dos matemáticosiv. Por uma questão de direitos autorais, a imagens que não são

de autoria dos próprios participantes não são apresentadas no quadro.

Figura(s) 1: Imagens públicas sobre os matemáticos elaboradas pelos graduandos em pedagogia

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Fonte: Dados de Pesquisa

Com base nos 20 desenhos apresentados pelos estudantes, argumenta-se que as

imagens públicas sobre os matemáticos não se diferenciam significativamente do

conjunto de imagens provenientes das pesquisas já realizadas na área, ou seja, o

presente estudo corrobora com resultados encontrados na literatura. Em termos de

resultados, o eixo 1 de dados não revela aspectos consideravelmente diferenciados.

Destaca-se “apenas” o talento artístico e criatividade peculiar de alguns dos alunos

participantes desta pesquisa, estudantes de graduação em pedagogia.

Picker e Berry (2000), por exemplo, propuseram sete categorias para identificar

semelhanças entre os desenhos de matemáticos de alunos de diferentes países:

(1) Matemáticos e coerção: os estudantes veem os matemáticos como

professores que usam intimidação, violência ou ameaças em sala de aula. Essa

imagem é também associada aos matemáticos enquanto “monstros ou vilões”.

(2) Matemáticos como “tolos ou nerds”: retratados como desprovidos de senso

comum, senso de moda, antissociais, individualistas.

(3) Matemáticos exaustos: descritos como impacientes, tensos e cansados.

(4) Matemáticos que não sabem ensinar: uma sala de aula é desenhada na qual o

professor de matemática não é capaz de “liderar” as aulas, ou não

conhece/domina o conteúdo.

(5) Matemáticos e arrogância: representados como sendo muito inteligentes, mas

frios e arrogantes. A imagem do vilão também está associada a esta categoria.

(6) Efeito Einstein: o físico Albert Einstein é representado como um “ícone” em

termos de um indivíduo com experrtise em termos conhecimento matemático e

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genialidade acadêmico-científica. Normalmente, essas imagens são influenciadas

pela mídia, incluindo livros, desenhos animados e filmes.

(7) Matemáticos com poderes especiais: por não compreenderem a explicação de

professores em sala de aula, o matemático é visto como um mágico, pois a

atividade matemática é associada a algum tipo de ilusionismo. Algo extraordinário

é necessário para compreender e realizar a atividade matemática.

Portanto, na presente pesquisa, pode-se concluir que as imagens públicas sobre

os matemáticos criadas pelos participantes não se diferenciaram significativamente das

categorias elaboradas no estudo de Picker e Berry (2000) e da literatura sobre essa

temática de modo geral (ROCK; SHAW, 2000; PICKER; BERRY, 2001; RENSAA, 2006).

4.2. Imagens Alternativas sobre os Matemáticos

O segundo conjunto de imagens criadas pelos alunos de graduação em

pedagogia – como você gostaria que as pessoas vissem os matemáticos? – é composto

por imagens que desconstroem, em sua maioria, as imagens negativas explicitadas no

primeiro eixo (imagem pública dos matemáticos), propondo a construção de imagens

alternativas “ideais”. Nesse contexto, os estudantes optaram em apresentar imagens

associadas a “boas” características ou qualidades como: o matemático como professor,

mas em uma sala de aula na qual as pessoas estão “felizes”, sorrindo, jogando, se

divertindo, realizando atividades prazerosas, humanas; esses aspectos puderam ser

identificados em, pelo menos, nove desenhos (N = 9).

Em três desenhos (N = 3), assim como na categoria anterior, o trabalho do

matemático foi associado ao de um cientista, ou seja, um profissional da área de

ciências naturais como física, biologia e química. Em contraste com a categoria anterior,

em oito desenhos (N = 8), a presença da mulher (RENSAA, 2006) esteve associada a

atividade matemática nas imagens “ideais” construídas pelos participantes.

Em quatro desenhos (N = 4), a imagem do matemático esteve associada a

performance musical e a imagem de um rock/pop star como Elvis Presley. A elaboração

de tais imagens pode estar associada ao fato dos participantes terem explorado em aula

questões sobre PMDs musicais enquanto possibilidade no ensino de matemáticav.

Em três desenhos (N = 3), a atividade do matemático foi associada ao trabalho

coletivo/colaborativo, em contraste com as imagens do matemático como um indivíduo

“antissocial”, “egoísta”, “solitário”, ou incapaz de realizar trabalhos interpessoais. Em um

desenho (N = 1), a imagem do matemático esteve associada ao mercado de trabalho,

ou seja, ao seu papel profissional na realização de atividades ligadas a economia,

produção industrial (engenharia) e desenvolvimento tecnológico/computacional.

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Finalmente, uma das imagens apresentadas (N = 1), foi a de uma fotografia na

qual os alunos participantes da pesquisa e seus colegas de disciplina aparecem em sala

de aula. Essa imagem é muito interessante, pois explicita a possibilidade dos próprios

alunos de pedagogia, (potencialmente) futuros professores de matemática dos Anos

Iniciais do Ensino Fundamental, estarem criando uma identidade enquanto matemáticos

(GADANIDIS, 2012).

No conjunto de imagens apresentadas a seguir (Figura/s 2), exponho algumas das

principais imagens elaboradas pelos participantes da pesquisa com relação a “imagem

ideal” sobre os matemáticos:

Figura(s) 2: Imagens “ideais” sobre os matemáticos elaboradas pelos graduandos em pedagogia

Fonte: Dados de Pesquisa

Portanto, com base na análise realizada na pesquisa relatada neste texto,

considera-se que o uso das artes e das tecnologias digitais, em especial a produção de

PMDs, oferece meios para que futuros professores descontruam imagens negativas

sobre os matemáticos e busquem elaborar e divulgar imagens alternativas, associadas a

“boas” qualidades ou características. Nesse sentido, além de se fomentar a formação de

ambientes nos quais são construídas imagens alternativas sobre os matemáticos – em

relação aquelas (estereotipadas/negativas) apontadas na literatura – é possível

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estabelecer relações relevantes entre as considerações emergentes na presente

pesquisa e perspectivas destacadas na formação de professores.

5. Conclusões

De acordo com Tardif (2002), o saber docente é um “saber plural, formado de

diversos saberes provenientes das instituições de formação, da formação profissional,

dos currículos e da prática cotidiana, o saber docente é, portanto, essencialmente

heterogêneo” (TARDIF, 2002, p. 54). Além disso, Tardif (2002) destaca a existência de

quatro tipos diferentes de saberes envolvidos atividade docente: formação profissional,

disciplinares, curriculares e experienciais.

Com base nessas perspectivas sobre formação de professores, visando explorar

tais aspectos no âmbito da pesquisa em PMD, Alencar e Scucuglia, (2014) propuseram

uma categorização considerando três tipos de conhecimentos significativos para prática

profissional docente: (1) curricular (2) especializado sobre o conteúdo e (3) pedagógico

sobre o conteúdo. Essa categorização compila e articula diferentes concepções,

nomenclaturas e autores presentes na literatura sobre formação de professores e oferece

fundamentação interpretativa ao desenvolvimento de pesquisas sobre formação de

professores envolvendo a produção de PMDs, incluindo a exploração de aspectos sobre

a imagem (pública e “ideal”) dos matemáticos na visão de licenciandos em matemática e

pedagogia, foco central da pesquisa relatada neste artigo.

O fato de se explorar em sala de aula PMD enquanto possibilidade didático-

pedagógica com relação a elaboração de imagens dessa natureza está em fase em

investigação na presente pesquisa, por meio da análise de entrevistas já realizadas e

outros procedimentos analíticos-metodológicos. No entanto, há evidencias iniciais com

relação ao papel significativo da produção de PMD na formação de professores no que

se referente a aprendizagem matemática e possibilidade metodológica didático-

pedagógica fundamentada no uso integrado das artes das tecnologias digitais (BORBA;

SCUCUGLIA, GADANIDIS, 2015).

Diversas limitações podem ser apontadas com relação à pesquisa em PMD

(SCUCUGLIA, 2015), principalmente devido ao fato de PMD ser uma linha de pesquisa

muito recente e em fase inicial de consolidação em Educação Matemática. Há grande

necessidade de se desenvolver estudos sobre essas temáticas. Contudo, o presente

estudo colabora com a elucidação de uma possibilidade na formação matemática de

alunos de graduação em pedagogia, especificamente no que se refere a construção de

imagens alternativas sobre a matemática e os matemáticos. Considera-se tal

possibilidade um aspecto relevante na formação inicial desses professores.

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Em breve (meados de janeiro/fevereiro de 2016), a PMD em fase de produção

com base nos dados apresentados neste artigo estará disponível online com acesso

gratuito por meio do canal YouTube. Ou seja, no atual momento da pesquisa, estou

produzindo um vídeo digital de caráter educacional, entendido como PMD no contexto do

presente estudo. Esse vídeo, dentre outras possibilidades, pode ser considerado uma

representação da inteligência coletiva em um processo colaborativo de formação inicial

de professores, no qual foram construídas, desconstruídas e reconstruídas imagens

sobre os matemáticos. Tal aspecto é considerado relevante na formação didático-

pedagógica-matemática de alunos de um curso de graduação em pedagogia.

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i “O termo “imagem da matemática” [ou “imagem dos matemáticos”] é conceituado como uma representaçãomental ou visão da matemática [ou dos matemáticos], presumivelmente construída como resultado socialdas experiências, mediadas pela escola, pelos pais, pelos colegas ou pela mídia de massa” (LIM, 1999, p.13).ii Social Sciences and Humanities Research Council of Canadaiii O quadro não é apresentado neste texto devido a sua extensão (tanto em termos de número de laudascomo ao fato de sua inserção tornar o arquivo .doc “muito pesado”).iv Do ponto de vista metodológico, é importante mencionar uma perspectiva apresentada por Marshall(1996), no que se refere a amostragem de dados na pesquisa qualitativa. De acordo com o autor, em umaabordagem do tipo amostra por julgamento, “o pesquisador deve selecionar ativamente a amostra maisprodutiva para responder à pergunta de pesquisa (...). Durante a interpretação dos dados é importanteconsiderar os sujeitos que dão suporte a explicações emergentes e, talvez mais importante ainda, ossujeitos que discordam” (MARSHALL, 1996, p. 532, tradução nossa).v Uma das PMDs (musicais) produzidas pelos estudantes, por exemplo, está disponível emhttps://youtu.be/guPVf1-v6cE.