hoje macau 21 fev 2014 #3035

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 SEXTA-FEIRA 21 DE FEVEREIRO DE 2014 ANO XIII Nº 3035 PUB O Comissariado de Auditoria foi peremptório: a po- lícia não é imparcial no que toca a passar multas. A falta de critérios na avaliação de infracções de trânsito faz com que os agentes passem a multa com base na sua avaliação pessoal e não de acordo com o Código da Estrada. Os aparelhos de vigilância de trânsito da DSAT também não foram poupados: têm falhas que ultrapassam os limites aceitáveis. AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB PUB DEPUTADOS QUESTIONAM Será Macau um lugar preparado para receber? TURISMO PÁGINA 2 NEGÓCIOS NOUTRA “ILHA” Qianhai aberta às empresas de Macau OLHO NA LUSOFONIA PÁGINA 4 Divulgado ontem, o balanço da crimina- lidade respeitante ao ano passado mostra que o aumento das receitas de jogo provo- caram um maior número de sequestros. O secretário para a Segurança, Cheong Kuok Vá, justificou a relação e os números com a prática de agiotagem. PÁGINA 7 MINUTAS A CAMINHO CCAC, CA e MP ficam encarregues da análise prévia CONTRATOS PÚBLICOS PÁGINA 3 BALANÇO DA CRIMINALIDADE 2013 Jogo em alta causa aumento de 74% dos raptos na RAEM MULTAS Auditoria acusa agentes da PSP de imparcialidade Um peso e duas medidas hojemacau PÁGINA 5

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Hoje Macau N.º3034 de 21 de Fevereiro de 2014

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Page 1: Hoje Macau 21 FEV 2014 #3035

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 S E X TA - F E I R A 2 1 D E F E V E R E I R O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 0 3 5

PUB

O Comissariado de Auditoria foi peremptório: a po-lícia não é imparcial no que toca a passar multas. A falta de critérios na avaliação de infracções de trânsito faz com que os agentes passem a multa com base na sua avaliação pessoal e não de acordo com o Código da Estrada. Os aparelhos de vigilância de trânsito da DSAT também não foram poupados: têm falhas que ultrapassam os limites aceitáveis.

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

PUB

DEPUTADOS QUESTIONAM

Será Macau um lugar preparado para receber?

TURISMO PÁGINA 2

NEGÓCIOS NOUTRA “ILHA”

Qianhai abertaàs empresasde Macau

OLHO NA LUSOFONIA PÁGINA 4

Divulgado ontem, o balanço da crimina-lidade respeitante ao ano passado mostra que o aumento das receitas de jogo provo-caram um maior número de sequestros. O secretário para a Segurança, Cheong Kuok Vá, justificou a relação e os números com a prática de agiotagem. PÁGINA 7

MINUTAS A CAMINHO

CCAC, CA e MP ficam encarregues da análise prévia

CONTRATOS PÚBLICOS PÁGINA 3

BALANÇO DA CRIMINALIDADE 2013

Jogo em alta causa aumento de 74%dos raptos na RAEM

MULTAS Auditoria acusa agentes da PSP de imparcialidade

Um pesoe duasmedidas

hojemacau

PÁGINA 5

Page 2: Hoje Macau 21 FEV 2014 #3035

TIAG

O AL

CÂNT

ARA

2 hoje macau sexta-feira 21.2.2014POLÍTICA

O Executivo admitiu ontem na Assembleia Legislativa (AL) que

os futuros contratos do jogo, aquando da sua revisão, po-derão conter cláusulas que obriguem à contratação de portadores de deficiência. Iong Kong Io, presidente do Instituto de Acção Social (IAS), defendeu mesmo que as seis operadoras “devem ter mais responsabilidade social”. “O Governo irá negociar com as concessionárias do jogo para resolver o problema. Vamos falar aquando dos contratos de concessão para terem mais responsabilidade.”

Contudo, a deputada An-gela Leong, representante do sector e directora executiva da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), passou a bola para o Governo. “As conces-sionárias estão dispostas a contratar, mas o Governo deve ser a primeira entidade a dar

Taipa pequena Projecto ainda está em estudo O deputado Au Kam San interpelou ontem o Governo sobre o projecto da Taipa pequena, onde está prevista a construção de seis torres residenciais e que poderá ter um impacto ecológico na zona. Mas Lau Si Io, secretário para as Obras Públicas e Transportes, garantiu que ainda não pode avançar dados concretos sobre o empreendimento, uma vez que as novas leis de terras e do planeamento urbanístico entram em vigor já a 1 de Março. “É um projecto complicado e precisamos de tempo. Não vou entrar em pormenores sobre novas medidas a implementar. O projecto está a ser analisado e não consigo avançar pormenores.” Recorde-se que o mesmo empreendimento foi alvo de criticas por parte de associações de protecção ambiental, e os deputados falaram da falta de existência de leis especificas sobre o assunto. Lau Si Io garantiu que os avanços vão acontecer este ano. “Em 2014 vamos apressar a criação do regime de impacto ambiental para que se possa avançar para a consulta pública. Temos de estabelecer um regime operacional à altura das necessidades.”

TURISMO NG KUOK CHEONG DISSE QUE PEQUIM DEVE OLHAR PARA QUESTÃO

“Será que Macau é cidade própria para se habitar?”

DEFICIENTES CONTRATOS DO JOGO PODERÃO ABRANGER EMPREGO NO FUTURO

Governo deve dar primeiro passo

Deputados voltam a questionar capacidade do território para receber visitantes, mas Helena de Senna Fernandes garantiu que números estão dentro dos estudos feitos. Directora garantiu “plano geral” para este ano

ANDREIA SOFIA [email protected]

N O segundo dia de sessão plenária de-dicada às respostas do Governo às

interpelações dos deputados, o hemiciclo voltou a lançar acusações aos Serviços de Turismo (DST) face à real capacidade do território para receber tantos turistas.

O deputado Ng Kuok Cheong disse mesmo que está na hora de Pequim olhar para a questão. “Talvez não baste ao Governo da RAEM olhar para estas questões, mas também ao Governo Central.”

Já Mak Soi Kun foi mais longe. “Será que Macau é uma cidade própria para

se habitar? Uma pessoa aguenta comer por dia duas ou três tigelas de arroz, tudo bem, agora seis ou sete por dia já é demais”, numa clara referência ao número de visitantes.

Au Kam San disse mes-mo que quem vem apenas visitar o território não volta. “Macau tem sempre dois mundos. Um é o da popula-ção, que é sempre diferente do Governo. Os turistas que vêm cá passear vêm uma vez e não voltam. Claro que quem vem jogar regressa muitas vezes, e para fazer compras ainda vá.”

A directora dos Serviços de Turismo (DST), Helena de Senna Fernandes, disse que “esta ano vamos criar

um plano geral para o de-senvolvimento do sector do turismo”, com aposta na qualidade do serviço. Mas garantiu que a situação não é alarmante.

“63% dos nossos turistas vêm da China e temos um aumento considerado con-trolável, porque é apenas de um digito. Mas é impossível que os turistas do exterior possam substituir os da Chi-na. 70 mil turistas por dia é um número abaixo do que foi avançado no estudo do Ins-tituto de Formação Turística (IFT) e não esperamos que o número de turistas atinja o número máximo.”

Mas de uma coisa Helena de Senna Fernandes tem a certeza. “Não queremos

levar os turistas para os bairros comunitários porque isso irá gerar impacto nos moradores.”

COMPANHIAS AÉREAS SEM LUCROFace aos estudos, José Pe-reira Coutinho frisou que os seus resultados nunca espe-lham as reais necessidades da população. E lembrou a necessidade de quebrar o monopólio do espaço aéreo, por forma a trazer mais visitantes internacionais. “Quando é que podemos internacionalizar os nossos percursos aéreos? Temos uma questão estrutural, que é o monopólio de muitos serviços do aeroporto.”

Mas a directora da DST

Talvez não baste ao Governo da RAEM olhar para estas questões, mas também ao Governo Central NG KUOK CHEONG Deputado

disse que a questão não de-pende apenas das decisões da RAEM. “As companhias aéreas é que optam pelos voos, e ao fazer o cálculo dos passageiros a transpor-tar podem considerar que

não têm retorno suficien-te. Temos vindo a entrar em contacto estreito com as companhias, que nos pedem dados, e penso que quando conseguirem lucrar vamos ter mais voos.”

oportunidades de emprego. Pergunto ainda porque é que não se pode utilizar o actual espaço da Universidade de Macau (UMAC) para activi-dades com deficientes.”

O presidente do IAS pôs, para já, essa possibilidade de parte, uma vez que a instituição

ainda não se mudou totalmen-te para a Ilha da Montanha. Apesar dos deputados terem exigido mais contratações por parte das empresas de jogo, a verdade é que o Executivo foi alvo de sugestões. “Espero que o Governo possa desempenhar um papel mais activo nesta

matéria. Os serviços públicos deveriam criar mais vagas para os deficientes com capacidade de trabalho”, disse Ng Kuok Cheong.

Já Si Ka Lon falou da ques-tão do talento. “Há pessoas com pequenas capacidades de trabalho e as concessionárias do jogo devem assumir res-ponsabilidades para facultar trabalho a essas pessoas. As pessoas com deficiência podem ser talentosas em certas áreas.”

De resto, os deputados chamaram ainda a atenção para a falta de existência de infra-estruturas adequadas em muitos dos departamentos públicos. “Muitos serviços públicos não têm essas ins-talações, como é que se pode permitir que essas pessoas tenham acesso aos serviços públicos? Por exemplo o Mi-nistério Público ou os Serviços de Administração e Função Pública não têm.” - A.S.S.

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3 políticahoje macau sexta-feira 21.2.2014

O secretário Francis Tam anunciou que os contratos públicos vão passar a ser analisados previamente pelas três entidades. Deputados aplaudem a medida e frisam que figura da Auditoria não basta para fiscalizar ANDREIA SOFIA [email protected]

O S deputados Chan Meng Kam e Song Pek Kei interpelaram o Executivo quanto à

necessidade de análise prévia dos contratos públicos de prestação de serviços, evocando o antigo Tribunal de Contas (TC) do tempo da Administração portuguesa.

Mas o secretário para a Eco-nomia e Finanças, Francis Tam, tranquilizou o hemiciclo com o anúncio de uma nova medida. “A fiscalização actual não é prévia e não tem uma natureza judicial, mas não quer dizer que não haja fiscalização. O Comissariado contra a Corrupção (CCAC), Comissariado da Audi-

O S deputados acu-saram ontem o Executivo de ser

contraditório no caso da trans-ferência de um complexo de ‘slot-machines’ para o Hotel Cantão, na zona do Porto Inte-rior. Isto porque o Governo já disse que deseja eliminar estes jogos das zonas residenciais, mas acabou por permitir a transferência de lugar.

“A situação no Hotel Cantão foi um caso polémico. Se o Governo tem esse objec-tivo porque é que autorizou a deslocação? Parece-me contraditório”, disse Ella Lei. Já Au Kam San garantiu que este é um exemplo de como a lei “foi feita sem rigor e tem lacunas”. “Voltámos a ter ‘slot-machines’ num bairro comunitário!”

Francis Tam, secretário para a Economia e Finanças, disse que tudo aconteceu porque estamos em pleno período de transição, mas garantiu que os novos con-tratos das operadoras terão novas regras. “Em 2015, 2016, aquando da revisão

CONTRATOS PÚBLICOS CCAC, AUDITORIA E MINISTÉRIO PÚBLICO VÃO RECEBER MINUTAS

O ganho na análise prévia

ANGELA LEONG NÃO QUER QUE FUNCIONÁRIOS JOGUEMA deputada Angela Leong pediu ao secretário Francis Tam para que proíba os funcionários do jogo de jogarem em todos os casinos do território. “Em 2015 ou 2016 o Governo vai analisar as renovações dos contratos. Peço ao Governo, em colaboração com as concessionárias, que defina que é proibido aos funcionários do jogo de jogar em todos os casinos de Macau.” Já Lam Heong Sang, vice-presidente da Assembleia Legislativa (AL), pediu mesmo a proibição do jogo para todos os residentes. Recorde-se que recentemente foram noticiados dados que mostram que 60% dos funcionários dos casinos jogam em espaços de outras operadoras, uma vez que a lei não permite que joguem no seu local de trabalho.

JOGO FRANCIS TAM PROMETE “NOVAS EXIGÊNCIAS” SOBRE ‘SLOT-MACHINES’

Contradição no Hotel Cantãodos contratos, vai apresentar novas exigências. Quando necessário o Governo vai adoptar as devidas medidas.”

“O Governo tem vindo a prestar toda a atenção em re-lação ao jogo junto dos espa-ços comunitários. O Execu-tivo não vai autorizar novos centros de ‘slot-machines’, só permitimos a deslocação para outras instalações. Este ano só vão restar quatro cen-tros de apostas e lotarias junto aos centros comunitários e esperamos que não afectem os bairros.”

“Depois de um estudo e de termos ouvido a população aprovámos o regulamento administrativo, que visa um período transitório da trans-ferência das ‘slot-machines’ para outras zonas. Depois o Governo pode erradicar. O que pretendemos é que em meados deste ano os centros

de apostas fora dos casinos sejam apenas quatro, e que no futuro sejam retirados. Se sur-gir algum problema no Hotel Cantão vamos analisar”, disse ainda Francis Tam.

Mas não só as ‘slot-ma-chines’ serão alvo de regras apertadas daqui a cerca de dois

anos. “Vai ser feita uma revi-são global do sector do jogo. Este é o tempo oportuno para rever todo o desenvolvimento do jogo, que pode ter um impacto na nossa economia. O Governo não vai conceder mais terrenos para casinos e não vai aceitar novos projec-tos. Nos próximos dez anos vamos tentar manter o limite máximo de crescimento das mesas em 3% e isso pode evi-tar a ampliação da grandeza dos casinos.” – A.S.S.

toria (CA) e Ministério Público (MP) têm de receber as minutas dos contratos para a auscultação de opiniões. O Governo, com base nas experiências do passado, vai asse-gurar que os contratos estejam de acordo com os interesses de Macau e entregar essas minutas.”

“Sabemos que a população dá muita atenção a esta questão e por isso é que o Chefe do Executivo fez um despacho, para que as minutas sejam entregues às três entidades. O Governo não vai tomar uma atitude passiva.”

Contudo, um contrato terá esca-pado a estas três entidades, nome-adamente o acordo provisório com a Vang Iek Rádio Táxis, a empresa dos táxis amarelos. “O contrato não foi entregue às três entidades para uma análise prévia”, disse, em resposta a Leong Veng Chai.

AUDITORIA NÃOCONSEGUE PREVENIROs deputados pediram mais poder de fiscalização dos contratos por parte da Assembleia Legislativa (AL) e lembraram que o CA não consegue prevenir ilegalidades e problemas contratuais, à semelhança do que já aconteceu com os autocarros, táxis ou Metro Ligeiro. “No passado tí-nhamos o TC para saber se os bens adquiridos estavam de acordo com a

lei, e o decreto-lei de 1984 (sobre a aquisição de bens e serviços no sector público) não está modernizado. O CA não consegue prevenir o que é feito pelo Governo e essas situações vão continuar a aparecer.”

A fiscalização actual não é prévia e não tem uma natureza judicial, mas não quer dizer que não haja fiscalização. O Comissariado contra a Corrupção (CCAC), Comissariado da Auditoria (CA) e Ministério Público (MP) têm de receber as minutas dos contratos para a auscultação de opiniões FRANCIS TAM Secretáriopara a Economia e Finanças

Também Au Kam San disse que “o CA não tem esse mecanismo e só pode fazer uma avaliação à posteriori”.

Francis Tam negou a necessida-de de criar uma nova lei de aquisição

de bens, e voltou a prometer maior ligação com o hemiciclo. “No futuro vamos reforçar o diálogo com a AL e comissões. O Governo tem dado atenção a esta matéria e já apresen-tou propostas de melhoria.”

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4 política hoje macau sexta-feira 21.2.2014

RITA MARQUES [email protected]

E M 2013, Shenzhen e Macau tiveram um registo de trocas comerciais mais intenso. O volume de importações a

Macau aumentou 60%. Os investi-mentos directos de Macau cresceram três vezes mais. Os indicadores po-sitivos são salientados por Xu Qin, presidente do município vizinho de Hong Kong, que antecipa uma co-operação ainda mais alargada entre as duas regiões.

Shenzhen quer aproveitar o acesso privilegiado de Macau aos países de língua portuguesa, mas dispõe-se a reservar espaço em Qianhai para as PME’s de Macau. A ideia saiu do encontro anual entre as autoridades de Shenzhen e Ma-cau, onde foram assinados acordos na área do comércio, economia e turismo. “Esperamos tirar algum proveito desta plataforma com o mundo lusófono e expandir os nossos investimentos ou atrair mais investimentos estrangeiros, especialmente participar em al-

CECÍLIA L [email protected]

G ABRIEL Tong admite que “é normal” os deputados nomeados tenham opiniões semelhantes às do Gover-

no, mas descarta que isso implique falta de supervisão à Administração. As declarações foram feitas a um canal chinês de televisão, no programa “Call in Macau”.

O deputado nomeado considera que os deputados nomeados têm a mesma posição do Governo, o que é uma coisa “normal”, mas que, “contudo, isso não influencia a

supervisão dos deputados ao trabalho do Governo”. “Nós também temos canais para receber opiniões dos cidadãos e podemos transmitir os desejos da população.”

No programa de debate, alguns cidadãos queixaram-se que os votos dos deputados nomeados não conseguem reflectir os dese-jos dos residentes, pelo que a sua presença no hemiciclo não tem qualquer efeito na supervisão do Governo. “Porque é que, além do aumento dos rendimentos dos funcioná-rios públicos, vocês, deputados nomeados e indirectos, votam sempre contra outras coisas, como contra o debate sobre o plano de ordenamento da zona norte da Taipa ou a proposta de lei da violência doméstica e a proposta de lei dos animais?”, questionou um telespectador.

Gabriel Tong admitiu que, em muitas propostas de lei ele votou contra, mas diz que a votação não pode ser sempre a favor. “Tenho de considerar várias partes, incluindo a minha própria opinião legal, para tomar uma decisão. Por exemplo, o debate sobre a zona norte da Taipa iria ser feito mais cedo do que

a entrada em vigor de outras leis [Terras e de Planeamento Urbanístico], por isso, o debate iria ser inútil, daí ter votado contra.”

Gabriel Tong diz que o mesmo caso aconteceu com o projecto de lei da protec-ção animal. “Dei um alto nível de atenção ao assunto, mas como o Governo já está a preparar a proposta, prefiro esperar pela proposta do Governo.”

Tong apontou ainda que, mesmo os deputados da mesma associação, fazem votações diferentes em alguns assuntos e que também há deputados de diferentes grupos que votam o mesmo.

Há ainda cidadãos que se queixaram que os deputados nomeados são difíceis de ser contactados, pelo que já foi sugerido que tivessem um escritório conjunto e criassem uma linha telefónica de apoio ao cidadão. Gabriel Tong explicou que já criou uma conta no Facebook para comunicar com os cidadãos, onde também publicou o seu número de telemóvel, para assim servir a população o melhor possível, dentro da sua capacidade.

Inviabilizada via especialno terminal de Hong KongO Gabinete do Secretário para a Segurança respondeu à interpelação escrita de Mak Soi Kun sobre a razão por que não há uma via especial para os residentes de RAEM na fronteira do terminal marítimo de Hong Kong. O chefe do gabinete Vong Chun Fat explicou que em 2007 as autoridades pediram às autoridades da região vizinha que fosse criada uma via especial para os residentes de Macau. No entanto, as autoridades de Hong Kong explicaram que a falta de recursos humanos não permite criar estas condições. Ainda assim, a PSP vai continuar a negociar e acompanhar o assunto com o Governo da RAEHK.

Fong Chi Keong querque Cantão olhe paraa Marcha da CaridadeFong Chi Keong, delegado do comité de Cantão da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e membro da Associação de Beneficência do Kiang Wu, disse numa conferência de imprensa que a Marcha da Caridade pode ser uma boa referência para Cantão. O deputado sugere que a Maratona de Cantão, que já se realizou por duas vezes, se possa reverter numa marcha de caridade, de modo a aproveitar os fundos para ajudar os grupos vulneráveis.

TRINTA PROJECTOS PARA DAR ENTRADA NA ILHA DA MONTANHAO secretário Francis Tam revelou que, em Março, será conhecido o resultado de avaliação dos projectos de Macau que poderão ter entrada na Ilha de Montanha. Entre 89 projectos candidatos, o Governo seleccionará 30. O Executivo encontra-se agora a estabelecer a prioridade dos projectos e, ao mesmo tempo, a negociar com as empresas que usam demasiado terreno para reduzir a área na Ilha da Montanha. Agora, o terreno para estes 30 projectos tem uma área de 4,5 quilómetros quadrados. “Ainda vamos negociar com as autoridades de Hengqin, se alguns destes 30 projectos não conseguirem vir a realizar-se, os restantes projectos podem ser substitui-los”, explicou o secretário para a Economia e Finanças.

Shenzhen veio a Macau manifestar interesse na plataforma que liga a RAEM ao países de língua portuguesa. Governo acena afirmativamente. Por sua vez, as empresas locais ganham um acesso a uma “segunda Ilha da Montanha”: Qinhai

QIANHAI SHENZHEN ABRE PORTAS ÀS EMPRESAS DE MACAU EM TROCA DE ACESSO AO MUNDO DE LÍNGUA PORTUGUESA

Piscar o olho à lusofonia

GABRIEL TONG DEPUTADOS NOMEADOS COM OPINIÃO SEMELHANTE À DO GOVERNO É NORMAL

“Supervisão acontece na mesma”

gumas áreas mais privilegiadas no mundo lusófono.[...] Cada qual dos países lusófonos tem as suas vantagens. Vários produtos são vendidos em todo o mundo. Shenzhen também tem os seus próprios produtos que desejamos divulgar e comercializar no mer-cado lusófono. Bastando dizer isto para perceber quão importante é o papel de Macau como interme-diário e interposto entre os países da lusofonia e a China”, assumiu o responsável, numa conferência de imprensa ontem de manhã na sede do Governo.

Francis Tam responde positi-vamente. O secretário para a Eco-nomia e Finanças diz que haverá “oportunidades de cooperação” entre Shenzhen e Macau na criação dos três novos centros estratégicos no âmbito do Fórum Macau.

Xu Qin diz que esta importância “insubstituível” e “singular” de Ma-cau abre espaço a uma cooperação além-fronteiras, mas também a aprofundamento de negócios regio-nais na área do turismo, educação, medicina tradicional chinesa, entre outras. Uma das novas estratégias em que Shenzhen quer incluir Macau é

naquilo a que chama de “nova rota marítima da seda para o século XXI” e no aprofundamento da “economia de Baía”, a fim de desenvolver a in-dústria marítima. Mas é em Qianhai, a Ilha da Montanha de Shenzhen, que o governo da província quer dar espaço às empresas da RAEM. “Temos que dar muita importância para o desenvolvimento de Qianhai e necessitamos muito e convidamos à participação da parte de Macau, das suas empresas. Podemos até dizer que temos já uma uniformização dos mecanismos e das estratégias de cooperação com Macau. Portan-to, entre Qianhai-Macau e Ilha da Montanha-Macau”, frisou o presi-dente do município chinês.

“As empresas de Macau tam-bém já têm uma base sólida para desenvolver para além das frontei-ras de Macau. Qianhai é também

SHENZHEN INVADIR MACAU COM CARROS ELÉCTRICOS A província vizinha de Hong Kong quer colaborar com Macau também na área de protecção ambiental. Para tal, disponibiliza-se a ajudar a trazer carros eléctricos ao território. Em Shenzhen circulam seis mil destes veículos ecológicos. “Como temos maturidade na implementação de carros eléctricos iremos também tentar estudar esta possibilidade de implementar a indústria em Macau. Por exemplo, temos as nossas empresas, que têm já um negócio muito bem implementado, por isso, esperamos mais oportunidades de cooperação. Ambas as partes já manifestaram o interesse de intensificar esta cooperação”, indicou Xu Qin.

uma zona económica de trans-formação de produtos numa base de distribuição de mercadorias e iremos, de certeza, aprender com a experiência dos outros.”

O representante da província dá conta de um total de 10 mil empresas este ano naquela zona económica.

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5SOCIEDADEhoje macau sexta-feira 21.2.2014

JOANA [email protected]

H Á falta de uniformidade na forma como os agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) passam

multas e isso está a fazer com que documentos importantes e receitas possam ser extraviadas. A acusação foi ontem feita pelo Comissariado de Auditoria (CA), num relatório sobre os meios de autuação das infracções de trânsito, tornado público ao fim da manhã.

O CA aponta que a PSP não tem critérios uniformes para exa-minar as imagens captadas pelos sistemas electrónicos de vigilância que, posteriormente podem dar origem a multas. A avaliação às infracções filmadas pelas câmaras de vigilância – passagem de sinais vermelhos, detecção de excesso de velocidade, estacionamento ilegal, por exemplo – é feita pelos próprios agentes, com base na sua experiência. Algo que, diz o CA, é grave. “Ao não dispor de critérios uniformes de exame, apoia-se demasiadamente na experiência profissional dos agentes para pro-ceder ou não a autuações. A falta de critérios definidos não assegura que os agentes examinadores apliquem os mesmos critérios no exame e dá azo a alguma subjecti-vidade na apreciação, prejudicando a imparcialidade na autuação.”

Mais ainda, os próprios agen-tes da polícia não são obrigados a justificar porque não passaram

A falta de critérios na avaliação de infracções de trânsito leva a que as muitas sejam passadas com base em avaliações pessoais dos agentes da PSP. A acusação é feita pelo Comissariado de Auditoria, que lançou um relatório onde aponta falhas também à DSAT: os aparelhos de vigilância do trânsito não funcionam bem e têm falhas que ultrapassam os 80%

AUDITORIA AGENTES DA PSP NÃO SÃO IMPARCIAIS A PASSAR MULTAS

À vontade do senhor agente

SECRETÁRIO GARANTE MAIOR “GESTÃO INTERNA” DA PSPCheong Kuok Vá explica que a PSP já reagiu às críticas do Comissariado de Auditoria, no entanto, ontem afiançou que será aperfeiçoada a “gestão interna sucessivamente conforme a estrutura da corporação”. “Pensamos que sempre há espaço de melhoria. Vamo-nos esforçar para fazer melhor gestão e informação dos procedimentos, no que diz respeito à emissão e processamento de talões de multas”, explica, sobre a alegada imparcialidade do efectivo responsável por esta prática. No caso das falhas apontadas à DSAT, o secretário para a segurança disse, durante a conferência de imprensa sobre o balanço da criminalidade, que compete àquele organismo “analisar e fazer a manutenção” das câmaras de CCTV, mas que as duas entidades têm comunicado sobre esta matéria.

multas em casos de infracção. De acordo com o relatório, a PSP diz ser impossível registar todos os motivos que levaram a polícia a decidir não autuar eventuais in-fractores – devido à “quantidade” de imagens recolhidas -, mas o CA discorda. A auditoria feita revela que há uma verificação aleatória de casos a autuar, mas o CA diz que isso não é suficiente para perceber, à posteriori, se houve erro ou não na actuação dos agentes e nas suas decisões de não passar multas.

Dentro da PSP há mais do que um serviço responsável pelas autuações, mas a falta de orga-

nização entre os departamentos leva também a que existam fa-lhas. “O exame de auditoria por amostragem detectou mais de 1500 notificações em parte in-certa, extraviadas ou cujas cópias não foram digitalizadas. (...) Não há um tratamento uniforme na gestão das notificações entre os diversos serviços autuantes e o mecanismo de gestão do serviço coordenador é mais fraco.” O CA diz que a gestão da PSP é má, a ponto de não detectar extravios de notificações, nem assegura se-quer que os dados dos infractores sejam registados correctamente no

sistema informático. Além disso, e contrariamente ao previsto pelo Governo, os agentes não têm todos aparelhos electrónicos de autua-ção, simplesmente porque a PSP não elaborou o plano para dotar os polícias destes equipamentos.

DSAT CULPADAO CA aponta o dedo não só à PSP, como à Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), que acusa de não resolver os problemas que lhe são transmitidas pelos agen-tes da polícia. Por exemplo, a não captação de imagens pelos sistemas de vigilância da polícia. “Decorridos mais de dez anos, a PSP não con-cretizou, ainda, a generalização do uso de aparelhos electrónicos para autuação das infracções de trânsito”, pode ler-se.

A utilização destes aparelhos começou em 2002, precisamente para se fazer uso das tecnologias para reforçar o trabalho policial. “O CA analisou as imagens captadas pelos sistemas de vigilância e os correspondentes registos de autu-ação de 2012, tendo verificado que houve meses em que muitos dos postos de detecção não captaram

imagens, outros em que menos de 20% das imagens captadas estavam em condições para se proceder a autuações e alguns sem registo de qualquer imagem durante todo o ano. A DSAT, entidade respon-sável pela instalação e reparação dos sistemas recebe mensalmente informações da PSP relatando os problemas registados, contudo, decorrido mais de um ano, não se verificaram melhorias.”

O comissariado acusa a DSAT de não perceber que faz parte das sua funções assegurar que as ima-gens captadas pelas câmaras sejam válidas para eventuais autuações. O organismo diz mesmo que o de-partamento dirigido por Wong Wan não satisfaz no que diz respeito ao acompanhamento dado às máquinas, como manutenções e reparações em caso de necessidade. “O CA apurou que os dispositivos apresentam taxas mensais elevadas de situações em que não captaram imagens (...) ou em que as imagens são fotos inúteis.” As taxas de falha das câmaras de vi-gilância e de detecção de velocidade chegam aos 81,25%.

A necessidade de todos os de-partamentos do Governo saberem as suas competências foi realçada pelo CA, que assegura que a DSAT está a prejudicar o funcionamento normal de outros serviços devido às suas próprias insuficiências.

Entre 2008 e 2012, o número de acidentes mortais e infracções aumentou, sendo que as receitas derivadas das multas ultrapassa-ram os cem milhões de patacas em 2012. Estes dados servem de base para a preocupação do CÁ, que aponta que a aplicação de sanções serve para ensinar os infractores e as receitas são bem visas. O comissariado afirma, por isso, que a execução correcta dos trabalhos deve ser objecto de atenção.

O Comissariado de Auditoria aponta que a PSP não tem critérios uniformes para examinar as imagens captadas pelos sistemas electrónicos de vigilância que, posteriormente podem dar origem a multas

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TIAG

O AL

CÂNT

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6 sociedade hoje macau sexta-feira 21.2.2014

JOANA [email protected]

A defesa de Peter Lam, Arturo Chiang Calderon, Fong Tin Wo e Chong Kit – os arguidos que res-

pondem perante o Tribunal Judicial de Base por tentativa de homicídio de uma mulher – está a insistir na tese de roubo, contrariando a acu-sação do Ministério Público (MP). Foi ontem mais uma audiência do julgamento que tem Calderon, antigo investigador da Polícia Judiciária (PJ) e tido como braço direito de Pan Nga Koi, como o organizador do plano que começou devido a um caso extra-conjugal.

Durante a sessão, foram ouvidos três agentes da PJ, envolvidos na investigação, a par de escutas tele-fónicas aos arguidos. Nas conversas é possível perceber que dois dos homens, Fong e Chong, estavam a perseguir e a vigiar a mulher de Peter Lam, primeiro arguido no processo, que terá sido quem enco-mendou o assassinato da mulher, de acordo com a acusação. Contudo, e à semelhança do que aconteceu na primeira sessão, em nenhum caso se ouve falar em ordem para matar ou na palavra “homicídio”. Algo a que a defesa se agarrou, até porque os próprios agentes da PJ admitem que nunca ouviram falar em homicídio, tirando apenas essa conclusão com base nas escutas e na sua percepção.

Questionado tanto pelo MP e tribunal, como pela defesa, Lam Keng Chin, agente da PJ, explica porque é que não é aceite a tese de que Chong Kit, que acabou detido na posse de uma chave de fendas quando seguia a mulher de Peter

CECÍLIA L [email protected]

A Associação Novo Ma-cau (ANM) divulgou ontem a sua proposta

para a linha de Seac Pai Van no traçado do Metro Ligeiro. A associação pró-democrata considera que o Governo está a persuadir os cidadãos a aceitar a proposta actual, sem saber se os moradores apoiam a ideia e o traçado. Nesse sentido, a ANM insta o Gabinete para as Infra-estruturas de Trans-portes (GIT) a realizar uma consulta pública para aferir o pensamento da população sobre o assunto.

O GIT já fez duas sessões públicas sobre a extensão da li-nha até Seac Pai Van. Depois, o

TRIBUNAL DEFESA DE ARGUIDOS QUE RESPONDEM POR TENTATIVA DE HOMICÍDIO INSISTE EM TESE DE ROUBO

Entre gravações e hipóteses

Lam, poderia estar a pensar em cometer roubo e não assassiná-la. “Acho que não tinha intenção de roubar, porque não era preciso fazer um plano de dois ou três meses para roubar alguém. Ele não precisaria daquela arma se fosse roubo, tendo em conta a estatura do arguido e da senhora, ele é muito forte.”

Tanto Álvaro Rodrigues, que defende Peter Lam, como Teresa Teixeira da Silva, defensora de Fong e Chong, afirmam que a mulher poderia ter consigo dinhei-ro, fichas de casino ou carimbos,

uma vez que trabalhava no casino do Galaxy. Foram encontradas mais de 200 mil patacas no cofre da casa onde a mulher vivia com Peter Lam, mas a PJ não conseguiu identificar de quem seria o dinheiro e a ofendida nunca foi revistada, uma vez que as autoridades en-tenderam “que o objectivo nunca seria roubo”.

OUTRAS HIPÓTESES A defesa tentou ainda mostrar que a chave de fendas poderia ser apenas para assustar a mulher, uma vez que se sabe que ela mantinha um

caso com outro homem, estando ainda a viver com Lam e a filha. As testemunhas rejeitam a hipóte-se, mas não aparentam ter provas suficientes para o sustentar. “Se a arma fosse apenas para assustar, não estaria modificada”, atirou o agente da PJ. A chave de fendas terá sido afiada, segundo a acusação.

Nas gravações é possível per-ceber que haveria algum tipo de interesse na mulher, mas as conversas não são suficientemente perceptíveis para perceber qual. “Havia uma câmara, aquele não era o local certo para fazer obras de decoração”, pode

ser ouvido. “É um bocado difícil [actuar], a rua está cheia de gente, à noite é melhor. (...) Ontem tivemos oportunidade, mas ela começou a correr. Fomos atrás, mas saiu um grupo de pessoas e o ‘gordo’ [Chong Kit] ficou com medo de actuar. Ele

assustou-se, foi a sorte dela. Faltou pouco, quase tínhamos oportu-nidade, mas eu vi ela a ligar ao outro gajo [amante] para ele a ir buscar.” Segundo a polícia, “obras de decoração”, significa

“ordem para matar”. Uma das escutas ontem passa-

das pelo MP – onde se ouve Peter Lam a dizer que a esposa pode ir onde quiser, desde que seja feliz – foi tida como benéfica para a defesa. “Se ela quiser o divórcio, tem. Só queria uma casa onde viver com a minha filha e a empregada, se ela quiser voltar, volta se não, vai. Já não podemos dormir nem viver juntos”, ouve-se Lam dizer. Álvaro Rodrigues quer, ainda assim, ouvir uma outra gravação, onde se pode ficar com a impressão de que o alvo não seria a mulher, mas sim o amante. Esta foi uma das teses apresentadas pelos advogados logo na primeira sessão e contraria a tese da acusação, deixando dúvidas sobre o caso.

No mesmo sentido, também não se ouviram ainda conversas que indi-quem que Calderon tenha cometido o crime de acolhimento ilegal a Chong Kit, sendo um recibo de despesas de água de uma morada onde o quarto arguido teria ficado a dormir à che-gada da China, de onde é, a única coisa que se encontrou na casa de Calderon. O julgamento continua na próxima semana, depois do MP ter prescindido de outros dois agentes da PJ que iam servir de testemunhas.

METRO LIGEIRO NOVO MACAU QUER NOVA CONSULTA PÚBLICA PARA LINHA DE SEAC PAI VAN

Ainda há muito por discutir, senhoresGoverno acabou por divulgar três opções para os cidadãos escolherem e a maioria pre-fere a primeira possibiliadade aventada porque passa no meio dos prédios e no futuro hospital, e causa menos ruídos ou perturbações para quem ali vive. Igualmente trata-se de uma solução cuja construção acabará por ser mais rápida.

Ao mesmo tempo, exis-tem residentes que pediram rapidez nas obras e o prolon-gamento da linha até à vila de Coloane.

Esta primeira consulta

termina no próximo dia 23, domingo, contudo a ANM não vê que o problema possa ser resolvido apenas com esta auscultação. Segundo disse ontem, existem cidadãos que expressaram a sua preocu-pação nas obras do Metro Ligeiro em Coloane, local que consideram ser o pulmão de um território onde espaços verdes são inexistentes.

O presidente da ANM, Jason Chao, considera que as três propostas governamen-tais colocadas a auscultação pública carecem de falhas

básicas de informação orça-mental, onde se inclui o custo da construção, o projecto, o número de passageiros es-perados para o uso do ramal e até que tarifa deverá ser escolhida. “A Novo Macau considera que as três opções não são aceitáveis. Existe fal-ta de informações financeiras e os cidadãos estão a escolher opções sem saber todas as informações detalhadas so-bre as mesmas. O resultado final da auscultação não será, certamente, o melhor para o interesse público.”

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7 sociedadehoje macau sexta-feira 21.2.2014

RITA MARQUES [email protected]

E M 2013, houve 150 sequestros. O núme-ro de casos subiu ex-ponencialmente face

ao ano anterior, com mais 64 registos. O aumento do número de raptos em 74,4% foi justificado pelo secretá-rio para a segurança com a capacidade dos casinos gera-rem mais receitas, que incita à prática de agiotagem. Estes crimes inserem-se numa actividade delituosa geral que registou uma subida de 7,9%. “As actividades que têm a ver com lucro

A MGM China, operadora de casinos em Macau que tem como uma das principais

accionistas Pansy Ho, filha do mag-nata Stanley Ho, anunciou ontem um aumento de 18% dos lucros em 2013 para o equivalente a cerca de 5.000 milhões de patacas.

De acordo com os dados divul-gados, os lucros de 2013 subiram para cerca de 5.386 milhões de patacas, depois das receitas globais da empresa, que explora um casino e um hotel em Macau, se terem ampliado também 18% para cerca de 25.979 milhões de patacas.

Com os resultados positivos, a MGM China, que na quarta-feira tinha anunciado um bónus aos seus trabalhadores equivalente ao salá-rio, o segundo bónus pago referente ao ano fiscal de 2013, o total dos

BALANÇO DA CRIMINALIDADE 2013 RECEITAS DO JOGO MOTIVAM AUMENTO DE 74% DOS SEQUESTROS

Mais lucro nas mesas, mais raptos

MGM LUCROS DE 5.000 MILHÕES DE PATACAS EM 2013

Novo recorde de receitas

O dinheiro gerado nos casinos tem levado a um maior número de sequestros. O secretário para a Segurança assegura que este crime está relacionado com a prática de agiotagem

em Macau dois homicídios (menos um do que em 2012).

AUMENTO DE TURISTAS FAZ DISPARAR TRÁFICO DE DROGAOutra preocupação para as autoridades locais passa, como já tem vindo a ser hábito, pelo tráfico e venda de drogas. O aumento em 80,5%, desta vez, é culpa do crescendo anual de visi-tantes. Mas se há aumento, explica o secretário, deve--se a uma melhor actuação conjunta entre entidades policiais locais e vizinhas. “Isto penso que tem a ver com a vinda de mais turis-tas. No ano passado, vieram cá mais de 28 milhões de turistas.[...] Temos mais troca de informações com as autoridades policiais das zonas próximas de Macau e fazemos mais operações. E, como resultado. desco-brimos mais casos. Tanto a PSP como a PJ estão muito atentas e vamos fazer melhores esforços para combater este tipo de criminalidade”, evidencia.

Por outro lado, o crime de consumo de estupefacientes cresceu em 18,2%, com mais 50 casos detectados. Cheong Kuok Vá volta a anunciar que serão acrescentadas cinco drogas psicotrópicas à lista de estupefacientes ilíci-tos, anexa à lei de combate ao tráfico de drogas. Segundo explicou, o encontro com o Conselho Executivo tem lugar hoje.

junto dos casinos também aumentaram proporcional-mente, isto tem a ver com actividades ilícitas nos arredores dos casinos”, explicou ontem Cheong Kuok Vá, numa conferên-cia de imprensa sobre o balanço da criminalidade em 2013.

Sobre a forma de com-bater este crime, Cheong não apresenta nenhuma nova estratégia. “A PJ e a PSP estão muito atentas sobre este tipo de activi-dades ilícitas. Vão fazer mais patrulhamento, mais rondas, identificar os mal-feitores e adicionar os me-

canismos de identificação na esquadra ou expulsão do território, conforme a lei”, assegurou.

Os casos de usura subi-ram, no ano passado, 9,5%. Mais expressivos foram os casos de extorsão com um aumento registado de 52,3%. No geral, os “cri-mes contra o património” - que incluem a subida ainda nos casos de burla e furto por carteirista – tiveram um aumento geral de 6%. “Na maioria, [a extorsão] é feita por mensagens de telemóvel. Nos territórios vizinhos tem acontecido o mesmo. Temos efectuado operações para divulgar este tipo de crime. Temos todos de fazer trabalhos de prevenção. No caso de burla, houve 108 casos efectuados através do tele-fone. Na rede informática também há este tipo de bur-la com cartões de ATM”, exemplifica o responsável.

De resto, sequestro foi o único a sofrer um aumento na categoria de “crimes contra a pessoa”. As ofensas simples e graves à integridade física, a viola-ção, ameaça e abuso sexual de crianças diminuíram, ainda que timidamente. No ano passado, tiveram lugar

ao segmento não jogo e vai abrir portas no início de 2016.

Com um investimento de cer-ca de 23.000 milhões de patacas previsto para o novo projecto, a MGM China conta com depósitos em dinheiro de cerca de 8.000 mi-lhões de patacas, débitos de cerca de 4.340 patacas e cerca de 11.400 milhões de patacas disponíveis para levantamento em facilidades de crédito.

Grant Bowie, CEO do MGM China, mostrou-se optimista e con-fiante no crescimento da operadora no território. “Estamos entusiasma-dos por ter atingido novos recordes financeiros em todos os segmentos. Crescemos pelo sexto ano consecu-tivo por termos ido de encontro, e até excedido, as expectativas dos nossos clientes”, disse.

dividendos por acção da empresa subiu 48% para 1,52 patacas.

Ao longo de 2013 o hotel da MGM manteve uma taxa de ocu-pação de 98,3% com uma receita por quarto disponível a fixar-se nas cerca de 2.098 patacas.

No anúncio das contas da em-presa a MGM China refere também que o seu projecto no Cotai, aterros entre as ilhas da Taipa e de Coloane, está a decorrer conforme previsto e o hotel/casino que irá disponibi-lizar 1.600 quartos, 500 mesas de jogo, 2.500 ‘slot-machines’ e 85% da área de construção dedicada

PROCESSOS DISCIPLINARES A POLÍCIAS SERÃO CONHECIDOS, DIZ CHEONG KUOK VÁOs agentes policiais que fizeram infracções serão alvo de sanções. A garantia é dada pelo secretário para a segurança. Chong Kuok Vá diz que, de entre um grande contigente, é natural que haja “malfeitores”. No entanto, estes serão punidos e os casos conhecidos publicamente. O trabalho também será optimizado com a vinda do novo comandante da PSP, Ma Io Kun, que tem “medidas novas” para pôr em acção. “Temos 4 a 5 mil pessoas, parte desse efectivo pode efectuar actos ilegais, mas nós também temos medidas sancionais. Também se vai punir os malfeitores dentro da polícia. Iremos transferir aos órgãos judiciais e internamente também vamos fazer procedimentos disciplinares. Os processos disciplinares vão ser publicados de futuro”, assegurou Cheong Kuok Vá.

150 sequestros em 2013

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8 hoje macau sexta-feira 21.2.2014CHINA

A China continua a ser a maior cre-dora da muito endividada eco-

nomia norte-americana, mas está agora a vender os títulos dessa dívida a um ritmo como já não se via desde 2011. Os especialistas mostram-se preocupados com possíveis consequências da aparente viragem na política chinesa.

Com 1 ,27 b i l i õe s (1.270.000.000.000) de dólares em títulos de dívida norte-americana, a Repú-blica Popular da China continua a ser a grande

L IU Xia, que vive em prisão domiciliária desde a detenção do marido, o prémio Nobel

Liu Xiaobo, foi internada num centro hospitalar de Pequim, re-velou o advogado à agência Efe.

O advogado, que apenas se iden-tifica como Shang, disse que Liu Xia tinha sido internada domingo, mas escusou-se a fornecer mais detalhes “por precaução”.

H UA Erxu, que aos 117 anos era uma das mais velhas pessoas no mundo, mor-

reu na localidade de Wenshui, na província oriental chinesa de Jiangxi, informou ontem a imprensa do país.

De acordo com a agência Xinhua, a idosa faleceu às 12:50 de terça-feira rodeada de uma centena de descendentes. “Era uma mulher aberta, com a cabeça muito lúcida”, disseram vizinhos ao salientarem que Hua Erxu bebia regularmente vinho de ar-roz que ela própria fazia e ainda realizava tarefas domésticas.

Com seis filhos, Hua Erxu estava viúva há 53 anos.

Antes de morrer, Hua Erxu podia ter sido considerada a pes-soa mais velha do mundo, mas a ausência de datas de nascimento fiáveis na China no século XIX

A petrolífera Sinopec, uma das maiores empresas chinesas,

abriu ao investimento priva-do o seu sector comercial, incluindo mais de 30.000 estações de serviços, num “grande passo para refor-mar as empresas estatais” do país, anunciou ontem o China Daily.

A abertura, que pode ir até 30% do capital,

abrange as condutas e armazenamento de acordo com o plano aprovado na quarta-feira pela adminis-tração da Sinopec (China Petroleum and Chemical Corp), refere o jornal. “A entrada de investidores privados ajudará a acelerar o processo de especializa-ção da companhia. Sob a supervisão dos investido-res e das autoridades, a

companhia pode explorar novos modelos de negó-cio e aumentar o nível de operações do mercado”, diz um comunicado da Sinopec citado pelo jornal.

É a primeira grande empresa estatal chinesa a anunciar a abertura ao capital privado desde que a direcção do Partido Co-munista Chinês aprovou um audacioso pacote de

medidas para “aprofundar as reformas económicas”, em Novembro passado.

A Sinopec emprega mais de um milhão de pessoas.

Em 2013, a empresa ficou em 4.º lugar na lista das 500 maiores companhias do mundo elaborada anualmente pela revista norte-americana Fortune.

PEQUIM VENDE TÍTULOS DE DÍVIDA NORTE-AMERICANA EM GRANDE QUANTIDADE

A ritmo mais do que acelerado

MULHER DE ACTIVISTA LIU XIAOBO HOSPITALIZADA NA CAPITAL CHINESA

Uma questão de precauçãoMORREU UMA DAS MAIS VELHAS DO MUNDO

117 anos de vida

GRANDE PETROLÍFERA ESTATAL ABERTA AO INVESTIMENTO PRIVADO

Venha de lá esse dinheirinho

financiadora do défice comercial dos EUA. Mas a política de vender ace-leradamente esses títulos pode constituir um sintoma de que o Governo chinês confie agora menos numa ilimitada solvência norte--americana.

Para já, a China vendeu títulos da dívida norte--americana na ordem dos 47.800 milhões de dólares (equivalente a 34.800 milhões de euros), o que sobretudo suscita apreen-são por vir na sequência do anúncio da Reserva Federal

dos EUA, já neste mês de Fevereiro, de

Segundo Aaron Kohli, um especialista em taxas de juro citado pela agência Blomberg, “se a China continuar a vender nos próximos um ou dois meses, surgirão mais preocupações sobre quem compra a dívida do país”.

Um outro especialista ci-tado pela Bloomberg, Louis Kuijs, afirma que a China tenta deste modo reduzir a sua dependência em relação ao principal credor, os EUA, mas que “para eles [os chine-ses] é difícil fazê-lo, porque os EUA continuam a ser de longe o mercado com mais liquidez e na verdade não é assim tão fácil encontrar colocação para todos aque-les biliões de dólares das reservas chinesas”.

acaba por retirar das listas dos mais velhos os idosos chineses.

Actualmente, segundo o Livro Guinness dos Recordes, a pessoa mais velha com vida é a japonesa Misao Okawa, que em Março irá completar 116 anos.

Outra mulher chinesa, a ui-gur Alimihan Seyiti, solicitou ao Guinness que seja reconhecida a sua data de nascimento – 25 de Junho de 1886, há quase 128 anos – o que a ser considerado a tornará na pessoa mais velha do mundo.

A mulher do prémio Nobel da Paz vive em prisão domiciliária desde 2010 quando o seu mari-do, Liu Xiabo, foi galardoado com a distinção internacional o que gerou problemas de saúde e económicos.

Activistas como Zeng Jinyan advertiram para o grave estado de saúde de Liu Xia que padece de problemas cardíacos e depressão.

A mulher de Liu Xiaobo tem re-cusado receber tratamento médico sob controlo policial por temer que as autoridades utilizem essa descul-pa a deter num centro psiquiátrico.

Em Dezembro, Liu Xia, pu-blicou um texto denunciando o isolamento em que vive desde 2010 juntamente com a sua amiga Zeng Jinyan, também activista de Direitos Humanos.

Na missiva dirigida às autori-dades e publicada por Zeng à sua chegada a Hong Kong, Liu Xia reclamava o seu direito de visitar um médico livremente, manter con-tacto com o seu marido, trabalhar e ter um salário.

Liu Xiaobo foi condenado em Dezembro de 2009 a 11 anos de prisão por “subversão” depois de assinar um documento - a “carta08” - que apelava a reformas democrá-ticas na China.

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hoje macau sexta-feira 21.2.2014

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ANNOUNCEMENT

1. Objective: Open invitation to one tender.2. Procuring entity: Macao Science Center Limited.3. Address of procuring

entity:Avenida Dr. Sun Yat-Sen

4. Works, goods and services to be procured:

Lum Sum Works for Design and Construction Waterproof Layer for Observation Deck on the fifth floor of Macao Science CenterPA-14-018

5. Location of service provision:

Macao Science Center.

6. Conditions of entry: Registered supplier under relevant categories of Macao Science Center Limited.

7. Method for obtaining tender documentation:

Registered suppliers can send in your request through email to [email protected]. For suppliers not yet registered, please attach with commercial registration documents & contact details.

8. Tender submission location and deadline:

Location: Deadline:

Avenida Dr. Sun Yat-Sen, Macao Science Center.The 20th day starting from the date of announcement or 13thMarch, 2014 (Thursday) at 5:00pm (Macao time).

9. Tender opening location and time:

Location: Avenida Dr. Sun Yat-Sen, Macao Science Center.

Time: The first working day after the deadline or 14th March, 2014 (Friday) at 3:00 pm (Macao time).

Bidder or its representative shall be present at the Tender Opening for clarification of possible questions arisen from submitted tenders.

10. Validity period of the tender:

90 days starting from the date of tender opening (the validity period may be extended according to the Tender Procedures).

11. Provisional guarantee: MOP200,000.00(Macao Patacas Two Hundred Thousand), by bank guarantee.

12. Definitive guarantee: 5% of total contract value of works and an additional 5% from each payment will be deducted to guarantee fulfillment of the contract.

13. Selection Criteria: After fulfilling the requirement in Chapter IV of the tender document, the awarded tender will be selected based on the following criteria:

Price 50%Experience of similar projects 10%Design and Drawings 10%Quality (Material, Engineer 30%declaration, Construction plans,Construction progress, etc.)

14. Additional information:

All related information will be uploaded to the Macao Science Center website (http://www.msc.org.mo/) from the day following the publication of this announcement until the tender closing date. Bidders are responsible to visit the website for additional information.

15. Base price: No base price.

Macao Science Center Limited21st February, 2014

O Tribunal Permanente de Arbitragem começa em Se-tembro as audições à queixa apresentada por Timor-Leste

contra a Austrália para anular um tratado que impede o estabelecimento de fron-teiras marítimas entre os dois países, anunciou ontem o Governo. “As audições vão ser entre 27 de Setembro e dois de Outubro”, disse à agência Lusa o ministro do Petróleo timorense, Alfredo Pires.

Timor-Leste acusou formalmente, junto do Tribunal Permanente Arbitral de Haia, a Austrália de alegada espionagem quando estava a ser negociado o Tratado sobre Certos Ajustes Marítimos no Mar de Timor (CMATS), em 2004.

Com a arbitragem internacional, Ti-mor-Leste pretende ver o tratado anulado, para conseguir negociar a limitação das fronteiras marítimas e, assim, tirar todos os proveitos da exploração do campo de gás de Greater Sunrise, que vale biliões de dólares.

O ministro Alfredo Pires explicou tam-bém que na terça-feira Timor-Leste fez a sua exposição sobre o assunto no Tribunal Permanente de Arbitragem, em Haia, e que a Austrália o vai fazer a 19 de Maio.

Timor-Leste e a Austrália voltam a fazer exposições a 18 de Julho e 18 de Agosto, respectivamente, disse.

O caso vai ser analisado por um painel de juízes composto pelo professor Tullio Treves, Lord Collins of Mapesbury e pelo professor W. Michael Reisman.

Timor-Leste é representado pelo embaixador timorense no Reino Unido, Joaquim da Fonseca, Amy McMullen,

O primeiro-ministro in-diano, Manmohan

Singh, considerou ontem que os planos de libertação dos assassinos de Rajiv Gandhi contrariam os prin-cípios de justiça. “Libertar os assassinos de um antigo primeiro-ministro da Índia e nosso grande líder, bem como de outros indianos inocentes, será contrário a todos os princípios de justiça”, disse ao revelar que o Governo já iniciou o procedimento legal para travar esse objectivo.

Na quarta-feira o estado de Tamil Nadu aprovou a libertação dos sete conde-nados pelo homicídio do antigo primeiro-ministro indiano Rajiv Gandhi, deci-são que tem de ser ratificada pelo Executivo central.

O Governo do estado onde foi cometido o crime em 1991 tomou a decisão um dia depois do Supremo

TRIBUNAL DE ARBITRAGEM DE HAIA INICIA EM SETEMBRO AUDIÇÕES A TIMOR-LESTE E AUSTRÁLIA

Resolver o imbróglio

PM indiano contra libertação de assassinos de Rajiv Gandhi

Sir Elihu Lauterpacht, professor Vaughan Lowe e Bernard Collaery.

Paralelamente ao processo no Tribunal Permanente de Arbitragem, Timor-Leste apresentou também ao Tribunal Internacio-nal de Justiça uma queixa contra a Austrália por causa de documentos confidenciais apreendidos pela secreta australiana du-rante uma rusga ao escritório do advogado que representa as autoridades timorenses.

Na queixa, Timor-Leste pede ao Tri-bunal Internacional de Justiça que ordene à Austrália a restituição dos documentos confidenciais.

Neste caso, as primeiras audiências fo-ram realizadas em Janeiro, tendo o Tribunal Internacional de Justiça marcado novas audições para 28 de Abril e 28 de Julho.

Tribunal comutar a pena de três dos condenados para prisão perpétua e deixou nas mãos do executivo local um possível indulto.

Os sete condenados Murugan, Perarivalan, Santhan, Nalini, Ravi-chandran, Jayaku-mar e Robert Pius, integram um grupo de 26

pessoas condenadas à mor-te em 1998 pelo homicídio de Rajiv Gandhi e faziam parte do grupo rebelde Tigres Tamil do Sri Lanka que atentaram contra o então chefe de Governo

por este ter envia-do uma mis-

são de paz para aquele país.

9REGIÃO

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10 hoje macau sexta-feira 21.2.2014EVENTOS

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

FRANCIS BACON – LÓGICA DA SENSAÇÃO • Gilles Deleuze Francis Bacon – Lógica da Sensação apresenta-nos o trabalho filosófico de Gilles Deleuze em confronto com a obra de um dos pintores mais marcantes do século XX: Francis Bacon. Tendo como base a lógica não-racional da sensação, Deleuze inaugura uma nova concepção da estética, que encontra a sua origem e paralelo em determinados aspectos das pinturas de Bacon. O texto, publicado pela primeira vez em 1981 (Éditions de la Différence, 2 vols.), está organizado numa cadência quase musical, dividindo-se em 17 sequências, através das quais vamos não só descobrindo uma composição de conceitos, mas ainda as ligações entre as artes visuais e as áreas da filosofia, da literatura e da música. Gilles Deleuze (1925-1995) é um dos mais importantes pensadores franceses da segunda metade do século XX. Ensinou história da filosofia na Sorbonne e foi professor durante vários anos na Universidade de Paris VIII. Publicou diversas obras de referência nas áreas da filosofia, da literatura, da pintura e do cinema.

ICEBERG • Clive Cussler O gigantesco iceberg no Atlântico Norte era um túmulo flutuante. A colossal massa de gelo encerrava um navio no seu interior; selado de tal forma que nem o mastro era visível. Uma patrulha da guarda costeira percebeu que algo se escondia no seu interior. Deixaram marcas para enviar uma equipa de investigação, mas alguém apagou a sinalização para que este local não fosse encontrado novamente. Duas figuras foram avistadas no local. Eis um mistério dos mares comparável ao Triângulo das Bermudas. Mas, para o Major Dirk Pitt, o maior aventureiro da Agência, esta foi a primeira pista de uma sequência de acontecimentos fantásticos que o levarão muito perto e demasiadas vezes à beira da morte. Que sinistra e bizarra conspiração se desenrola nas inóspitas tundras da Islândia? Que segredo macabro se esconde debaixo de um Iceberg?

A S 85 obras do ar-tista catalão Joan Miró que perten-ciam ao banco

BPN, entretanto nacionaliza-do, voltarão a leilão em Junho em Londres, anunciou ontem a leiloeira Christie’s.

Porém, na breve declara-ção enviada à agência Lusa, a leiloeira remeteu outros detalhes para mais tarde, não adiantando informação sobre o paradeiro actual das 84 pin-turas e esculturas. “Temos o prazer de poder confirmar que vamos oferecer a colecção das 85 obras de Miró em leilão em Junho. Mais detalhes serão anunciados em devida altu-ra”, indicou uma porta-voz.

A declaração da leiloeira foi feita depois o presidente do conselho de administração da Parvalorem, Francisco Nogueira Leite, ter afirman-do na quarta-feira perante os deputados da Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura que seria marcado um novo leilão

“assim que houver condições económicas para o fazer”.

O responsável garantiu ainda na mesma altura que “as obras voltarão a Portugal até ao final de Fevereiro, sem custos para os contribuintes”.

As 85 obras de Joan Miró estavam para ser vendidas a 04 de Fevereiro, em Lon-dres, segundo um contrato estabelecido com a leiloaria Christie´s, que acabou por cancelar a venda quando sur-giram dúvidas relativamente à legalidade da sua saída de Portugal. “As incertezas jurídicas criadas pela disputa em curso” nos tribunais por-tugueses “significam que não podemos oferecer as obras para venda de forma segura”, justificou e leiloeira na altura.

A Parvalorem, a Parups e a Parparticipadas são as empresas criadas pelo Estado para a recuperação de créditos do antigo Banco Português de Negócios (BPN), nacionali-zado em 2008.

A audição do presidente

do conselho de administração da Parvalorem aconteceu numa altura em que o Tribu-nal Administrativo de Círculo de Lisboa está a avaliar uma providência cautelar inter-posta pelo Ministério Público (MP) para suspensão das de-liberações e actos referentes à alienação das obras de Miró.

Trata-se da segunda pro-vidência cautelar sobre este caso, depois de o MP ter interposto outra providência cautelar, que foi indeferida pelo mesmo tribunal, pedin-do a suspensão da venda do acervo de obras que eram do BPN.

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, disse publicamente que a venda é para se concretizar e o secretário de Estado da Cul-tura, Jorge Barreto Xavier, disse que “a aquisição da colecção de Joan Miró não é considerada uma priori-dade no actual contexto de organização das colecções do Estado” português.

A centenária e classificada Igreja das Mercês, situada em pleno centro histórico

de Évora, vai entrar em obras de reparação, após ter sofrido danos na sua estrutura durante a construção de um novo hotel.

António Carlos Silva, da Direc-ção Regional de Cultura do Alentejo (DRCAlen), adiantou ontem à agên-cia Lusa que a empresa proprietária do hotel e o empreiteiro decidiram avançar com a reparação da igreja e que “o projecto já está adjudicado a uma empresa especializada”.

O director de serviços de bens culturais da DRCAlen realçou que “o espólio do Museu de Évora que

MIRÓ CHRISTIE’S MARCA PARA JUNHO NOVO LEILÃO DAS 85 OBRAS QUE PERTENCIAM AO BPN

Segundo acto

IGREJA DE ÉVORA DATADA DE 1670 VAI SER REPARADA

Imóvel de Interesse Públicoestava guardado na igreja já foi distribuído por outros espaços” e que, por sugestão da protecção civil municipal, foi criado um perímetro de segurança. “Não há perigo de der-rocada iminente. Longe disso, mas, por uma questão de precaução, foram feitos alguns trabalhos e foi criado um perímetro de segurança”, referiu.

Durante a construção do hotel B&B Évora, já inaugurado, foram detectados danos, como “o surgimento

de fissuras”, na Igreja das Mercês, construída em 1670 e classificada como Imóvel de Interesse Público.

A unidade hoteleira, do grupo português Endutex Hotéis, está localizada, na Rua do Raimundo, uma das artérias que faz ligação à Praça do Giraldo, “sala de visitas” da cidade alentejana, ao lado da igreja.

Contactada pela Lusa, Gisela Barros, da Endutex Hotéis, explicou que estão “a aguardar o projecto de

reparação” para, depois, se “avan-çar com a reparação” da igreja, prevendo a sua conclusão “num par de meses”. “A não reparação do agravamento de algumas fendas preexistentes nunca esteve para nós em causa”, disse, indicando que, por ser um edifício especial, o processo “foi avaliado com mais cuidado e rigor, o que exigiu mais tem-po para validação

final de todos os intervenientes, in-cluindo técnicos peritos do seguro”.

A responsável escusou-se a revelar quem vai suportar os custos das obras de recuperação, por o “processo estar em curso”, conside-rando que, “nesta altura, a garantia da intervenção iminente é o que realmente”.

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hoje macau sexta-feira 21.2.2014 eventos 11

A terceira edição do Festi-val Literário de Macau – Rota das Letras a ter

lugar entre os dias 20 e 30 de Março, contará com a presença da jovem escritora e jornalista da China, Jiang Fangzhou, e da também autora e jornalista portuguesa Clara Ferreira Al-ves, informa o comunicado de imprensa da organização, que remete para o próximo dia 26 deste mês o anúncio em con-ferência de imprensa dos res-tantes nomes da programação do festival deste ano.

Ainda segundo a nota da organização, o Festival Lite-rário, organizado pelo jornal Ponto Final e pelo Instituto Cultural de Macau, seguirá o modelo das edições anteriores, com conferências e debates abertos ao público, visitas a universidades e contacto com escolas secundárias locais, uma feira do livro, exposições de artes plásticas, concertos e projecções de filmes.

CLARA FERREIRA ALVES E JIANG FANGZHOU NO FESTIVAL ROTA DAS LETRAS 2013

Festa literária entre 20 e 30 de Março

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Para esta terceira edição do Rota das Letras, a organização promete trazer até Macau trazer nomes maiores das letras lusó-fonas, da China Continental, de Hong Kong e de Taiwan, para além de um autor de língua espanhola e da presença de vários escritores de Macau.

Durante o Festival deste ano será ainda lançado o segundo livro de contos,

ensaios e poemas inspirados em Macau. Os textos escritos pelos autores convidados da segunda edição juntam-se aos vencedores do concurso de contos que decorreu ao longo dos últimos meses, com o nome dos galardoados a ser anunciado na conferên-cia de imprensa da próxima quarta-feira, informa a orga-nização. - J.C.M.

O músico Pedro Abru-nhosa disse ontem, em Macau, que a

maior preocupação dos por-tugueses “é a falta de espe-rança”, numa palestra que dedicou à crise e à emigração, e durante a qual também in-terpretou algumas músicas ao piano. “A maior preocupação neste momento para os portu-gueses é a falta de esperança. E o discurso dos políticos não é um discurso optimista, não é um discurso esperançoso, é tudo menos um discurso poé-tico. Poético não é de certeza, é um discurso tecnocrata, é um discurso hermético, às vezes até pernicioso, que repete uma mentira - a mentira da austeridade”, afirmou.

Pedro Abrunhosa falava na palestra “Música e Arte: antídotos para a angústia so-cial em tempos de números”, no Instituto Politécnico de Macau, respondendo a um convite que o director do Cen-tro Pedagógico e Científico de Língua Portuguesa justificou com o facto de o autor de “Contramão” ser poeta, além de músico. “É sobretudo um poeta, um homem do seu tempo e do seu país”, disse Carlos André.

PEDRO ABRUNHOSA PREOCUPAÇÃO DOS PORTUGUESES “É A FALTA DE ESPERANÇA”

“O discurso dos políticos é tudo menos um discurso poético”

No início da palestra, um aviso à plateia, essencialmente lusófona: “Não venho anun-ciar o fim da crise em Portugal, como muitos gostariam e eu próprio gostaria”, palavras do músico seguidas das notas ao

piano: “Voámos em contra-mão/ E há de haver outro lugar/ E palavras para dizer/ Quando a terra abraça o mar/ É como um filho a nascer”, tema que dá nome ao seu mais recente álbum, e que foi distinguido

este ano pela Sociedade Por-tuguesa de Autores.

Pedro Abrunhosa invocou o “Manifesto contra a Crise - Compromisso com a Ciência, a Cultura e as Artes”, que subscreveu com mais de cem

intelectuais e cientistas portu-gueses, e que foi apresentado no final de Janeiro, na Fun-dação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. “Vivemos uma situação profundíssima de crise, em que grandes valores ao nível da cultura, da ciência e da academia têm de aban-donar o país para poderem trabalhar e viver com digni-dade. Portugal tornou-se um país pobre - se já era pobre empobreceu -, e a realidade é a frustração generalizada de que não há uma pessoa ou uma força a quem possamos culpar, é uma sensação de impotência”, afirmou.

Pedro Abrunhosa tocou também a música “Para os braços da minha mãe”, que fala da nova vaga de emigração.

Questionado sobre se já tinha pensado em sair de Portugal, como o fez há pou-cos dias o também cantor e

compositor Fernando Tordo, Abrunhosa respondeu: “Não, nunca pensei. A questão do Fernando Tordo é um problema de mercado e da pequenez geográfica de um país culturalmente enorme”.

Num contexto de crise, continuou Abrunhosa, “a mú-sica serve de paliativo social e válvula de escape” e também “serve para mudar o mundo”. “Saber que os portugueses choram comigo, mas também riem comigo é o que me faz continuar a escrever canções”, acrescentou.

O músico dirigiu ainda al-gumas palavras sobre Macau: “Esta viagem foi muito be-néfica. É uma aprendizagem constante. E retornar a Macau foi uma surpresa. Está muito diferente”.

Pedro Abrunhosa é o vencedor da última edição do Prémio Pedro Osório, atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores, com “Contramão”, o seu sétimo álbum de originais. O prémio foi instituído em homenagem ao compositor falecido em Janeiro de 2012, tem o valor pecuniário de dois mil euros e vai ser entregue no próximo dia 26, em Lisboa.

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12 hoje macau sexta-feira 21.2.2014

hARTE

S, L

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S E

IDEI

AS

José simões morais(TEXTO E FOTOS)

女娲 NU WA

A MÃE NATUREZA OU A DEUSA MÃE

N A quarta-feira passada, dia 20 da primeira Lua, cele-brou-se o aniversário de Nu Wa, figura mitológica

da História chinesa, representante da sociedade matriarcal e deusa primitiva da fertilidade.

Causa-nos uma certa estranheza não existir em Macau, no vasto conjunto de estátuas de deuses, a imagem de Fu Xi, assim como, o templo dedicado à sua consorte e irmã Nu Wa, nunca ter me-recido apoio do Instituto Cultural, tal como dá a outros templos. Muitas são as pessoas que vêm ao templo situado entre a Rua das Estalagens e a Travessa dos Algibebes, confluência com as ruas da Palha e de S. Paulo, mas de todas as vezes que o visitamos no dia do aniver-sário desta importantíssima deusa da fertilidade, nunca vislumbramos sequer um ramo de flores para aí enviado por parte do governo da RAEM.

Há duas vias para se abordar Nu Wa, conhecida por Nôi-Vó em cantonen-se. Representando a cultura matriarcal que fez a ponte entre o Paleolítico e o Neolítico e está ligada à mãe criadora ou, como sendo uma figura histórica que nos chega integrada no grupo San Huang Wu Di, isto é, os ancestrais da chineses conhecidos pelos Três Sobe-ranos e os Cinco Imperadores.

Se não existem dúvidas quanto a Fu Xi e Shen Nong serem dois dos três mitológicos Ancestrais Soberanos (San Huang, 三皇), é no livro Bu Shi Ji San Huang ban ji (补史记 三皇本纪) es-crito na dinastia Tang por Sima Zhen (司马贞 c.697-c.732), para comple-mentar o livro Memórias Históricas de Sima Qian, que se refere ser Nu Wa o outro dos três Augustos.

Nu Wa nasceu entre o ano 2953 e 2852 a.n.E., três meses depois do seu irmão Fu Xi, como nos diz Sima Zhen, ambos com o apelido Feng (风, Vento) e por isso se compreende terem diferentes mães. Pe-ríodo em que as tribos se estavam a unir e a passar do matriarcal para o patriarcal. Foi durante uma viagem para realizar a reunião entre duas tribos que Fu Xi foi concebido em Sichuan, de onde sua mãe era natural e pertencia à tribo matriarcal Hua Xu. Preparava esta tribo para se jun-tar à poderosa tribo patriarcal Feng, cujo totem era uma serpente, que deu o tronco do Dragão, à qual pertencia o pai de Nu

Wa e Fu Xi. Encontrava-se ela sediada na província de Gansu, na área onde hoje se situa a prefeitura de Tianshui, onde veio a nascer Fu Xi, tal como a sua irmã, Nu Wa, que viu a luz do dia num local mais para norte da cidade, hoje Loncheng. Como ambos ficaram com o apelido do pai, Feng, significa viverem já as duas tribos no sistema patriarcal, tendo crescido jun-tos como refere uma história mitológica.

CONFRONTO ENTRE OS HUMANOS E O DEUS DO TROVÃOSegundo uma tradição oral usada numa canção da minoria Miao, (洪水朝天, Hong Shui Chao Tian), há muitos anos o deus do Trovão e do Vento eram ir-mãos, tendo-se separado e enquanto Lei Gong, (雷公) o deus do Trovão vi-via no Céu, Jiang Yang (姜央), o deus do Vento vivia na Terra. Ao desenten-derem-se entraram em guerra, o que deu origem a uma grande inundação e levou a água a chegar quase ao Céu.

A história que se segue vem da provín-cia de Guangxi, perpetuada oralmente e que mais tarde ficou registada no livro 民间故事资料 Min Jian Gu Shi Zi Liao.

O deus do Trovão (Lei Gong) cons-tantemente aparecia nos céus e com tempestades, de intensas chuvas e tro-voadas, fustigava os agricultores, arrui-nando as suas culturas.

Farto de ser vítima de tais calamidades e desesperado de trabalhar para no fim nada colher, certo dia o agricultor Zhang Bao Bo (张宝卜), ao olhar para o céu e vendo que se aproximava uma nova tem-pestade, resolveu confrontar Lei Gong. Preparou uma gaiola de ferro e depen-durando-a num poste, acirrou o deus do Trovão. Perante o desplante daquele terreno ser, dos céus investiu irado com tal provocação, mas o agricultor armado com uma forquilha de ferro e cabo de madeira, apanhou-o e num rápido gesto, colocou-o dentro da gaiola. O deus as-sim aprisionado perdeu o poder de fazer chover, voltando o Sol a raiar.

Como o agricultor tinha compromis-sos inadiáveis a tratar, antes de partir avisou os seus dois filhos para não irem junto à gaiola, nem conversarem com quem lá estava e sobretudo não lhe da-rem água a beber.

Mas como todos sabemos, quando às crianças se proíbe algo sem lhes expli-car as razões e ainda por cima usando

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13 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 21.2.2014

HÁ DUAS VIAS PARA SE ABORDAR NU WA, CONHECIDA

POR NÔI-VÓ EM CANTONENSE. REPRESENTANDO

A CULTURA MATRIARCAL QUE FEZ A PONTE ENTRE

O PALEOLÍTICO E O NEOLÍTICO E ESTÁ LIGADA À

MÃE CRIADORA OU, COMO SENDO UMA FIGURA

HISTÓRICA QUE NOS CHEGA INTEGRADA NO GRUPO

SAN HUANG WU DI, ISTO É, OS ANCESTRAIS DA

CHINESES CONHECIDOS PELOS TRÊS SOBERANOS E

OS CINCO IMPERADORES

o não, a tentação vence sempre. E foi isso que aconteceu. Fartas de estarem em casa devido às constantes intempé-ries, aproveitando o Sol que voltara a aparecer ao fim longos dias de chuva, as duas crianças, o rapaz de nome Fu Xi e a rapariga chamada Nu Wa, brincavam no pátio da casa. O deus do Trovão, que precisava de comunicar com o deus das Águas para conseguir reaver a sua pode-rosa força, apercebendo-se que poderia tirar partido da inocência das crianças, começou a lamentar-se do imenso calor que fazia. As crianças, avisadas, procu-ravam não o escutar mas, ao verem o estado mirrado em que este se encontra-va, perante as constantes e tormentosas súplicas, iam ficando condoídas. Que-bradas pela compaixão perante tão ino-fensiva imagem, começaram a vacilar e percebendo tal, o deus prometeu não lhes fazer mal se estas lhe dessem ape-nas umas gotas de água para apaziguar a sua sede. Crentes que um pouquinho de água não traria grandes consequências, deram-lhe de beber.

Mal o deus tocou na água, logo voltou a sua força e poder, conseguindo assim libertar-se da gaiola. Grande foi o susto para as crianças, que ficaram sem se me-xer. Então o deus do Trovão foi ter com elas e entregou-lhes um dos seus dentes dizendo-lhes para o plantarem na terra, pois este as iria salvar da grande calami-dade que ele iria provocar, devido à ou-sadia humana de o terem preso.

Mal o deus do Trovão partiu e após se encontrar com o deus da Água deu início à vingança e tão grande foi que em poucos dias toda a Terra estava co-berta por água. Seguindo o conselho do deus, os dois irmãos viram sair da terra uma grande cabaça que se partiu mal a água chegou, embarcando cada um numa das metades. Levados pelas correntes, andaram alguns dias à deri-va, tendo-se perdido um do outro. Es-tavam as águas a chegar ao céu, quando

o Imperador de Jade ordenou aos seus subordinados para voltarem a restabe-lecer a normalidade e assim as águas regressaram aos seus normais leitos.

NU WA CRIA OS NOVOS SERES HUMANOSSe para alguns estudiosos, Nu Wa e Fu Xi foram chefes de ancestrais tribos, para outros sinólogos, eles não foram Seres Humanos mas, representantes de Cultu-ras, que fizeram a transição do período Paleolítico para o Neolítico. Nu Wa, a representar a sociedade matriarcal, encarregue da reprodução de todas as coisas vivas, é a deusa primitiva da ferti-lidade. Já Fu Xi fez a complementaridade numa abrangência de um Todo, do Todo que vinha do Paleolítico e era preciso ser guardado para a nova idade que chegava,

- o Neolítico, iniciado no oitavo milénio e que se desenrolou até ao início do ter-ceiro milénio antes da nossa Era.

Para apresentar a nova concepção de Natureza que esta deusa carrega, temos que fazer um esforço de imaginação e recuar a um período entre os 30 mil e os 5 mil anos. Anterior a esse período tinha vivido o Homem de Neandertal, que tomou consciência da sua existên-cia há 65 mil anos quando na sociedade não se fazia ainda distinções de class-es, famílias e não havia propriedade privada. É com a chegada do Homem sa-piens sapiens vindo de África, que corres-pondeu à penúltima glaciação ocorrida há 35 mil anos, que a sociedade co-meçou a mudar para matriarcal, muito devido à necessidade de sobrevivência da espécie. Com o avanço do gelo, há a mudança de fazer a caça. As famílias agrupam-se para preparar as batidas às manadas de animais de grande porte. Inicia-se um novo período, que vai até ao quinto milénio antes da nossa Era, quando apareceu uma nova consciên-cia de Natureza, encarregue da repro-dução de todas as coisas vivas e por isso, surgiu a Cultura Nu Wa como deusa primitiva da fertilidade represen-tante da sociedade matriarcal.

Após a última grande glaciação, ocorrida entre os 20 mil anos e os 10 mil anos antes da nossa Era, a comida oferecida pela Natureza começou a ra-rear e dá-se início à Revolução Agríco-la, há dez mil anos.

Com o degelo, as águas jorram por todo o lado, tanto a Oriente como a Ocidente da placa euro-asiática e em 7600 a.n.E. cria-se um grande lago na

Ásia Central. Desse enorme lago sobra hoje apenas alguns grandes reservatórios como os mares Negro, Morto, Cáspio e o Aral, ou os lagos Baikal e Balkhash. Tais acontecimentos apenas se baseiam em histórias mitológicas, lendas e espe-culações, já que não têm prova científica pois, apenas resta areia. Também as cos-tas marítimas foram submersas e o mar avançou pela terra dentro.

As áreas de cultivo voltam a avançar para Norte e famílias com os seus reba-nhos para lá partem.

A SEGUIR AO DILÚVIONo período compreendido entre os anos 8000 e 1300 a.n.E., a China teve sete grandes inundações e as alterações cli-máticas acompanharam as ocorridas na placa continental euro-asiática. É pelo estudo geográfico e geológico que se percebe as grandes mudanças que acon-teceram após essa última glaciação. As fortes correntes dos rios desviam os seus leitos e transformam terrenos outrora fér-teis em desertos, levando as populações, que nas margens habitavam, a terem que ir procurar outros locais para viver.

Após o dilúvio e separada do seu ir-mão, Nu Wa solitariamente vagueava pelo mundo recém-criado onde não ha-via viva alma e por tal, sentia-se muito só. Um dia, meditando sentada na margem do rio, esculpiu da lama as aves de capo-eira, no segundo dia os cães, no terceiro os porcos, no quarto as cabras, no quinto os búfalos e no sexto dia os cavalos. Ao sétimo dia da primeira Lua, ao contem-plar o seu reflexo na água, apanhou um punhado de lama e começou a modelá-la à sua imagem, mas em vez de uma cauda fez duas pernas, para que esta escultura se mantivesse de pé. Ao pousá-la, esta fi-gura adquiriu vida. Contente com a sua criação, continuou a modelar mais e mais criaturas. Resolveu assim povoar o mun-do, mas percebeu que tal tarefa era imen-sa e nunca mais a terminaria. Então, deci-dida a usar os seus poderes sobrenaturais, pegou num ramo e passando-o pela lama fê-lo girar no ar e os salpicos, ao tocar o chão, transformaram-se em novos se-res humanos. Percebendo o efémero das suas criações resolveu dividi-las entre ho-mens e mulheres, com aparelho reprodu-tivo para perpetuar a espécie humana e assim apareceu a Humanidade. Por isso, o sétimo dia da primeira Lua é no calen-dário chinês o aniversário dos humanos.

Já como chefe, quando Fu Xi levou a sua tribo à procura de terras férteis na direcção do Oriente, a sua irmã e es-posa, pois casaram-se na montanha sa-grada Kunlun, Nu Wa acompanhou-o. Chegaram onde hoje é a província de Henan e após promoverem casamen-tos, separaram-se. Nu Wa partiu para o Norte, onde actualmente se situa a po-voação de Wihua e foi aí que visitamos o seu mausoléu.

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hoje macau sexta-feira 21.2.2014

DESLUMBRAMENTONOS MOMENTOS CERTOSU M dia ideal para o peixe-banana,

a primeira das  Nove Histó-rias de J. D. Salinger (1919-2010), culmina com o sui-

cídio de Seymour Glass, personagem central de boa parte da ficção do autor norte-americano. Este volume de con-tos foi o segundo livro publicado de Sa-linger, em 1953, sucedendo à obra que o imortalizou — e que foi o seu único ro-mance —, À Espera no Centeio (1951). Embora Seymour e os seus pais e os seus irmãos — a família Glass — não apare-cessem nesse romance, estariam em to-das as obras seguintes. De tal forma esta família se tornou uma obsessão para Sa-linger que em Seymour: Uma Introdução é sugerido que Buddy, o segundo mais velho dos filhos dos Glass, seria o autor de À Espera no Centeio.

O suicídio de Seymour não é aqui denunciado com o perverso prazer de estragar surpresas aos leitores: é o acontecimento-chave em torno do qual se ergue quase toda a obra de Sa-linger e é impossível falar desta sem re-ferir este episódio. A família Glass é a protagonista dos dois únicos livros que publicaria depois desta colectânea de contos — Franny e Zooey (1961) e Car-pinteiros, Levantai Alto o Pau de Fileira e Sey-mour: Uma Introdução  (1963) — e Sey-mour, mesmo quando não é o centro da narrativa, paira sempre sobre os irmãos como uma assombração demasiado material para se confundir com a nu-vem dos cigarros que os Glass fumam compulsivamente.

A forma como se constrói o puzzle que é a história desta família depen-derá sempre da ordem em que o leitor escolher ler os livros. Nas Nove Histó-rias  encontrará três peças do enigma: o já referido conto inaugural, o segun-do, Pai torcido no Connecticut, e o quin-to , Em baixo no bote. Um dia ideal para o peixe-banana, o primeiro, é o único que se assemelha a uma pista verdadeira. Nele, Seymour é-nos apresentado pri-meiro através de uma conversa tele-fónica entre a sua mulher, com quem passava umas férias na Florida, e a mãe desta. Poucas páginas depois, o conto centra-se na sua ida à praia e num diá-logo que estabelece com uma menina, Sybil, acerca dos fascinantes peixes--banana. A obra-prima que é este con-to começa a construir-se no telefone-ma da mulher. A mãe da mulher teme pela filha, mas esta parece achar ape-nas divertidos os desvios do marido, mesmo quando são literais, como a sua tendência para, ao conduzir, ficar de tal forma hipnotizado pelas árvores que ladeiam a estrada que sente o im-pulso de conduzir contra elas.

Os distúrbios de Seymour podem ou não ser comprovados no diálogo

que mantém com Sybil: pode parecer o discurso de um louco, mas as persona-gens de Salinger têm sempre esta ten-dência para falar com as crianças como se estas fossem gente crescida (aliás, as crianças de Salinger são quase sempre muito adultas). Conseguimos ouvir a voz de Seymour e a forma séria e elo-quente como diz coisas como: “Whir-ly Wood, Connecticut? (…) Isso por acaso não é perto de Whirly Wood, Connecticut?” ou “Azeitonas... gosto. Azeitonas e cera. Nunca vou para lado nenhum sem elas.”

Este diálogo maravilhoso, imbuído

da ondulação poética em que Salinger era mestre, anestesia o leitor com um leveza e boa disposição, para depois, em apenas uma página, nos dar a vio-lenta chapada que é o regresso de Sey-mour ao quarto. Tem uma interacção bizarra, e agora sim assustadora, com uma inquilina do hotel no elevador, chega ao quarto, tira uma arma da mala e suicida-se com um tiro na têmpora direita. É um conto sublime, que nada perde por já sabermos em que consis-te ou como acaba. Consegue ser tanto mais sublime quanto??? mais vezes o lemos.

Gonçalo MiraIN PÚBLICO

14 h

Os outros dois contos relativos à família Glass não chegam a ser peças completas. São, por assim dizer, pe-quenos apêndices de uma história que, na verdade, não se aproxima sequer de estar completa após lida toda a obra conhecida de Salinger.  Pai torcido no Connecticut é um encontro entre duas ex--colegas de dormitório dos tempos da universidade, Mary Jane e Eloise. Per-tence ao universo Glass porque Eloise, a anfitriã, era a viúva, entretanto casada novamente, de Walt Glass, morto no Japão já depois do fim da guerra, num acidente militar com explosivos. No diálogo das duas amigas traça-se um breve retrato de Walt e explica-se a sua morte, mas é um conto que vive de muito mais do que isso. Há, também aqui, uma criança peculiar, a filha de Eloise, e uma deliciosa conversa sobre relações, regada a whisky e envolta no fumo de muitos cigarros.

Em baixo no bote, a última história dos Glass nesta colectânea, tem como pro-tagonista Boo Boo Tannenbaum, nome de solteira Glass, e o seu filho Lionel. É-nos dado, uma vez mais, o diálogo adulto-criança, desta feita mãe-filho, e o talento de Salinger para este tipo de interacção não podia estar mais em evidência. É uma daquelas histórias em que nada acontece, mas das quais se sai de alma cheia. Um rapazinho metido num bote, atracado ao cais, do qual não quer sair, e a mãe a tentar conven-cê-lo. É só isto e isto é tanto.

Dos restantes seis contos, só dois não envolvem crianças ou adolescen-tes. Um deles, A fase azul de De Daumier--Smith, estando longe de ser fraco, é o elemento mais destoante do conjunto. Contudo, se por um lado parece não encaixar harmoniosamente numa selec-ção que, sem este texto, seria coerente ao expoente da perfeição, por outro lado permite-nos tomar contacto com uma versatilidade da qual, até aqui, podíamos duvidar. Quanto à outra história livre de crianças, Linda boca e verdes meus olhos, é génio puro. De novo, nada acontece. Um homem está na cama com uma mulher, o telefone toca, ele atende. Todo o conto é o di-álogo que ele mantém com este inter-locutor, que faz queixas da mulher que ainda não voltou para casa e em quem não confia. O leitor apercebe-se cedo de que a mulher de que o outro fala é, muito provavelmente, aquela que está na cama com o amigo, mas no fim do

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15 artes, letras e ideiashoje macau sexta-feira 21.2.2014

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NOTIFICAÇÃO EDITAL (Pagamento da multa aplicada)

João Paulo Sou, Chefe do Departamento de Inspecção do Trabalho Subst.º, manda que se proceda, nos termos dos artigos 14.º e 15.º do Regulamento Administrativo n.º 26/2008 – Normas de funcionamento das acções inspectivas do trabalho, conjugados com os artigos 58.º, n.º 2 do artigo 72.º e n.º 2 do artigo 136.º do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 57/99/M, de 11 de Outubro, à notificação da transgressora da Notificação n.º 31/R/2014, a sociedade “EASTER – GRUPO PARA AS NOVAS TECNOLOGIAS, LIMITADA”, com sede na Avenida Padre Tomás Pereira, n.º 889, Edifício “Hotel Novo Século”, bloco E-F, Taipa, Macau, para no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do 1.º dia útil seguinte ao da publicação dos presentes éditos, proceder ao pagamento da multa da aludida notificação, no valor de Mop$5.000,00 (cinco mil patacas), por prática da infracção administrativa prevista no n.º 6 do artigo 63.º da Lei n.º 7/2008 – Lei das relações de trabalho e punida na alínea 9) do n.º 1 do artigo 88.º da Lei n.º 7/2008, devendo ainda, nos 5 (cinco) dias subsequentes ao do termo do atrás citado prazo, fazer prova do pagamento efectuado. As cópias da informação e do despacho, a notificação e a guia depósito deverão ser levantadas, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Inspecção do Trabalho, sita na Avenida do Dr. Francisco Vieira Machado, n.ºs 221-279, Edifício “Advance Plaza”, 1.º andar, Macau, sendo facultada a consulta do processo n.º 8688/2012, instruído por estes Serviços. Decorridos os prazos, sem que tenha sido dado cumprimento à presente notificação, é lavrada a respectiva certidão e remetida à Repartição das Execuções Fiscais da Direcção dos Serviços de Finanças para efeitos de cobrança coerciva nos termos legais. Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais – Departamento de Inspecção do Trabalho, aos 13 de Fevereiro de 2014.

O Chefe do Departamento Subst.º,

João Paulo Sou

N.º 11/2014

NOVE HISTÓRIAS

É UM DAQUELES

LIVROS DOS QUAIS

NÃO SE SAI COMO

SE ENTROU: PODE

SAIR-SE MAIS FELIZ

OU MAIS TRISTE,

DEPENDENDO DA

FORMA COMO SE

VIVE A LEITURA

conto há qualquer coisa que vem bara-lhar as ideias, qualquer coisa que insta-la qualquer coisa — o medo, a loucura ou outra coisa qualquer. Certamente o génio de Salinger.

Dos quatro contos ainda não refe-ridos, aqueles em que esse génio vibra com repercussões mais fortes são Para Esmé — com amor e sordidez e Teddy. Para Esmé é a mais triste das nove narrativas. É a história de um soldado americano em Inglaterra, onde se prepara para o desembarque na Normandia — ecos da biografia do autor. O conto divide-se em duas partes emocionalmente opos-tas. Na primeira, o soldado conhece uma rapariga que canta no coro da igreja e com quem acaba por se cruzar e manter um loquaz diálogo num café. Na segunda, a guerra terminou e o soldado é uma pessoa diferente. Aqui, sim, justifica-se não levantar o pano. Diga-se apenas que estamos perante uma obra-prima de arquitectura nar-rativa: todos os pormenores, desde a construção frásica aos gestos descritos, confluem para criar o ambiente certo

que cada uma das duas partes da histó-ria exige. É uma pequena maravilha ao alcance apenas dos mais dotados entre os mais dotados. Ao alcance apenas de Salinger.

Teddy é o conto que fecha o livro e fá-lo elevando a melancolia, que atra-vessa todo o livro, à sua potência máxi-ma. O protagonista é um miúdo de dez anos que começa por nos parecer “ape-nas” sobredotado e acaba por se reve-lar, além de sobredotado, uma criança “especial”, crente fiel em Deus e na teo-ria vedanta da reencarnação, praticante de meditação capaz de “sair das dimen-sões finitas” e, aparentemente, capaz de prever com exactidão quando e como vão morrer as pessoas. Salinger coloca este rapaz num cruzeiro, o local menos esperado para um místico de dez anos, e é este antagonismo gritante entre o cenário e a narração que confere a Te-ddy aquela graça que Salinger nos traz sempre, por mais melancólicas, tristes e depressivas que sejam as suas histórias.

Das Nove Histórias falta só referir Pou-co antes da guerra com os esquimós, a menos

melancólica mas também a que menos vive para lá das páginas, e O homem que ri, um relato fantástico de aventuras, onde a China faz fronteira com Paris, intercalado com a história de amor do monitor de um grupo de escuteiros.

Nove Histórias  é um daqueles livros dos quais não se sai como se entrou. Pode sair-se mais feliz ou mais triste, dependendo da forma como se vive a leitura, mas nunca indiferente. É um daqueles livros de contos que enver-gonham muitos bons romances. É um daqueles livros que obrigam um leitor que gosta de sublinhar passagens e de guardar citações a ter um lápis sempre à mão. É um daqueles livros a que se regressa depois de termos lido vários livros “apenas” muito bons, em busca do conforto do deslumbramento. E é, acima de tudo, e aí reside o génio, um livro que sabe deslumbrar apenas nos momentos certos. Não é um espectá-culo de fogo-de-artifício ininterrupto, é a estrela cadente inesperada que nos faz parar na noite, que nos indica o ca-minho.

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João Corvofonte da inveja

Pu YiPOR MIM FALO

“Abatam-nos” a todos

Os salafrários de todos os países uniram-se.

LARYSSA OLIVEIRA, A MULHER QUE DEIXOU NEYMAR SOLTEIRO

Chama-se Laryssa Oliveira, tem 25 anos, é de Ipatinga, no Brasil, es-tuda administração, é modelo e é o motivo pelo qual Neymar terminou a relação com Bruna Marquezine. A modelo já veio a público confirmar que teve um caso com Neymar, foi processada pelo jogador mas promete não se silenciar com isso. Depois dessa publicação nas redes sociais ter sido amplamente divulgada pelos jornais brasileiros, as especulações em torno de um possível final de relação entre Neymar e Bruna foram mais que muitas. Agora, é oficial.

A namorada perfeita tem que ter seios “tamanho” 34C• De acordo com uma pesquisa feita a 2.000 homens britânicos a namorada perfeita tem que ser morena com mamas tamanho 34C. Deve adorar futebol e ser parecida com Kelly Brook. A pesquisa foi feita via aplicação Lovoo que, segundo o que diz no Google Paly (onde a aplicação é distribuída), “é o único aplicativo social no mundo com o Live-Radar, usado diariamente por milhões de usuários. Diariamente surgem dezenas de milhares de novos usuários!”. Aos utilizadores foi perguntado como seria a namorada ideal.

Adepto inglês a caminho do Mundial de Futebol à boleia• Há quatro anos, o inglês Andrew Grady foi à boleia até à África do Sul para acompanhar o Mundial de Futebol. Não gastou um cêntimo com as viagens. Usou apenas o polegar e contou com demonstrações de solidariedade pelo caminho, contou reportagem do “Daily Mirror”. Pois, agora, o morador de South Shields (Inglaterra), vai repetir a dose para ir ao Mundial de Futebol que se realiza no Brasil disputado entre 12 de Junho e 13 de Julho de 2014. A longa aventura de Andrew passará pela Sibéria (Rússia), pelo Canadá, pelos EUA, pelo México, pela América Central, até chegar à Amazónia, a tempo, espera ele, de acompanhar a estreia da Inglaterra contra a Itália, em Manaus, no dia 14 de Junho. Se conseguir lá chegar a tempo vai deparar-se com um outro problema: não tem bilhete para o jogo!

C I N E M ACineteatro

16 FUTILIDADES hoje macau sexta-feira 21.2.2014

Esta semana, como em muitas outras de agitação na Assembleia Legislativa, encheu-se de tesourinhos deprimentes. Por incrível que pareça, continua a surpreender-nos a falta de capacidade dos deputados. A nós que, com mais ou menos proximidade linguística, analisamos quotidianamente o carácter de cada um, moldado pelas ideias defendidas e, respectivamente, pela (im)pertinência de argumentações. É tão nítida a sua falta de aptidão, de conhecimentos e até de senso comum, que chega a chocar crianças inocentes... Sabe-se que não vão lá parar por mérito. Isso é facto mais do que consumado. A população não sabe escolher os poucos que elege. Ou, por outra, os seus critérios de escolha colocam em primeiro lugar o número de oferendas que cada candidato tem capacidade de dar. Quem está nessa corrida para ganhar, não deixa escapar assentos – um, dois ou até três (quantos mais, mais tem a perder a população durante quatro anos). E as associações bem como o Governo jogam com interesses nas suas opções. A linha que os separa é, por isso, muito ténue.Mas, de facto, choca a incompetência crónica destes moços. Sobretudo, aqueles jovens licenciados, que deveriam ter uma cabeça fresca. Não, ao contrário, só lhes sai barbaridades. E, acima deles, não há quem lhes ponha travão. Devia haver um regulamento da Assembleia Legislativa que os pusesse a pagar multas (de peso) por cada ideia imbecil. Ao fim da terceira, era chutá-los ao pontapé para fora do edifício de Nam Van, para sentirem na pele a dor e a humilhação de maus-tratos públicos. Se os animais precisam de quem os defenda, estas criaturas idiotas não têm defesa possível! É de lamentar...

SALA 1ROBOCOP [C]Um filme de: José PadilhaCom: Joel Kinnaman, Gary Oldman, Michael Keaton, Abbie Cornish14.30, 16.30, 19.30, 21.30

WINTER’S TALE [B]Um filme de: Akiva GoldsmanCom: Colin Farrell, Jessica Brown Findlay, Jennifer Connelly14.30, 21.30

SALA 2 THE LEGO MOVIE [A](FALADO EM CANTONÊS)

Um filme de: Phil Lord, Chris Miller16.45, 19.30

SALA 3FROM VEGAS TO MACAU [C](FALADO EM CANTONÊSLEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Wong JingCom: Chow Yun-Fat, Nicholas Tse14.30, 21.30

ENDLESS LOVE [B]Um filme de: Shana FesteCom: Alex Pettyfer, Gabriella Wilde, Robert Patrick16.30, 19.30

ROBOCOP

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17hoje macau sexta-feira 21.2.2014 OPINIÃOcontramãoISABEL CASTRO

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C LARO que a polícia está a cumprir a lei quando, às nove da manhã de um domingo, estaciona uma viatura de duas rodas no meio da rua e desata a multar os automóveis cujos donos ainda não desceram de roupão para pôr a moeda no respectivo parquímetro. Cla-ro que a polícia está a cumprir

a lei quando aguarda pacientemente, de bloco em punho, numa zona pouco movimentada do território, que os sinais verdes dos parquí-metros passem a ter a luz vermelha. Claro que a polícia está a cumprir a lei quando multa por a lei não ser respeitada. A polícia cumpre a lei e faz a lei ser cumprida. Mas, assim de repente, parece-me que a polícia – a polícia de trânsito – devia empenhar-se com a mesma dedicação e rigor a questões que me parecem mais pertinentes.

Algumas delas foram ontem apontadas num relatório do Comissariado da Auditoria, que acusa a Polícia de Segurança Pública de falta de uniformidade na gestão dos procedimentos relacionados com infracções de trânsito. O exercício do comissariado tem que ver sobretudo com notificações, a utilização dos sistemas informáticos e o modo como são geridos os sistemas de videovigilância espalhados pelo território. Pelo meio, os Serviços para os Assuntos de Tráfego também levam por tabela. Faltou uma grande questão: os parquímetros de Macau. Mas talvez seja matéria para o Co-missariado contra a Corrupção – ou então para o Ministério Público.

Não é novidade para ninguém – e não será por certo nem para a polícia, nem para os Serviços para os Assuntos de Tráfego – que os parquímetros de Macau são uns prevaricadores. A razão é simples: não dão recibo. Para se fazer prova de que se meteu a moeda na ranhura certa pelo tempo certo é preciso recorrer a um complicado proce-dimento que passa por ir à polícia pedir o registo do parquímetro que se utilizou. A polícia, por sua vez, tem de pedir o registo à empresa que gere os aparelhos. Não acredito que muitos condutores percam tempo com estas burocracias por causa de uma multa de 300 patacas.

A lei de Macau diz que quem cumpre a obrigação tem o direito de exigir quitação. Em linguagem para cidadão comum, diz a lei de Macau que a serviços e a produtos adquiridos corresponde, na troca, um recibo. É a prova de que se pagou o serviço ou o

Claro que a polícia não pode estar em todo o lado e acredito que não tenha mãos a medir. Assim sendo, que meça bem as mãos que tem e que as utilize com critério, com sensatez. Que não complique a vida a quem já tem uma vida complicada numa cidade que não é simples

O que não se vê

produto. Mas os parquímetros de Macau não me permitem, enquanto utente do ser-viço, obter um recibo para apresentar, por exemplo, no meu local de trabalho quando estaciono o carro em serviço.

Ao contrário de tantas cidades espalhadas por esse mundo fora, os parquímetros de Macau não me permitem meter uma moeda à noite para não estar preocupada com a tal

polícia em duas rodas que, pelo fresco da manhã, zelosa e apreensiva com a ordem pública, se atira à caça da multa como se do crime mais grave se tratasse. Mas – e lá está – claro que a polícia está a cumprir a lei ao multar condutores que não cumprem a lei ao não estarem a utilizar correctamente um aparelho que também ele não cumpre a lei. Confuso? Não, Macau.

Claro que a polícia cumpre a lei quando multa condutores aflitos que param os carros com os quatro piscas ligados para irem num instantinho à farmácia ou ao supermercado. Claro que a polícia cumpre a lei quando multa carros parados em cima da linha amarela com gente lá dentro que espera por alguém que foi numa aflição ao hospital. Claro que a polícia cumpre a lei quando passa a pente fino zonas habitacionais, sem serviços nem comércio, à procura da mais pequena infrac-ção – sim, que as infracções têm tamanho e não são todas iguais no feitio.

O que não se vê é a polícia a multar os camiões que andam com carga sem ser de-vidamente acondicionada – a associação de motoristas diz que são às centenas os cami-ões nestas condições. Também não se vê a polícia a multar as carrinhas e os autocarros de transporte de turistas que andam por aí envoltos em nuvens de fumo preto a colorir

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o ar que respiramos. E, por falar em turistas, parece-me que a polícia também tem uma certa dificuldade em detectar autocarros pa-rados no centro da cidade, em local proibido e a atrapalhar o trânsito, enquanto dezenas de visitantes saltam directamente para o meio da estrada. Também nunca vi – e estão lá há anos – recados carinhosos da polícia pendurados nos muitos atrelados e camiões que, estacio-nados em cima de linhas amarelas, enfeitam as ruas em torno da Assembleia Legislativa.

Claro que isto não é matéria para um relatório do Comissariado da Auditoria. E claro que a polícia tem muito que fazer com o aumento do número de viaturas em Macau – foi essa a justificação usada na contestação às críticas deixadas no relatório ontem divulgado. Claro que a polícia não pode estar em todo o lado e acredito que não tenha mãos a medir. Assim sendo, que meça bem as mãos que tem e que as utilize com critério, com sensatez. Que não complique a vida a quem já tem uma vida complicada numa cidade que não é simples. Que se preocupe com o que é realmente importante, com as infracções que são realmente graves. Que se preocupe com coisas mais sérias que autuar automóveis parados em zonas onde só as duas rodas da polícia circulam ao domingo de manhã.

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A S sucessivas vertigens e crises cujo desfecho esteve muito próximo do abismo, a Guerra-fria, terminou sem que o conflito central se ti-vesse registado. Os motivos que para isso concorreram são de uma vastidão e com-plexidade que em muito ultrapassam o quadro de

qualquer reflexão. Que razões terão permi-tido que, mesmo num quadro de oposição cerrada entre Estados, a paz tivesse sido salva no interior das próprias possibilidades políticas garantidas pelo papel central do Estado nas relações internacionais?

É de realçar que no período da Guerra--fria o ingrediente da inimizade ideológica, cuja virulência foi sublinhada pelo Prémio Nobel da Medicina de 1973, Konrad Lorenz, no seu livro “Civilized Man’s Eight Dea-dly”, juntou-se a todos os outros factores de agressividade internacional, como o mecanismo de forças do equilíbrio do poder e a fria reabilitação da guerra como instru-mento legítimo de expressão da vontade e interesses dos Estados.

A introdução das armas de destruição massiva foi o instrumento da aniquilação da racionalidade bélica. A paridade nuclear entre as duas superpotências, a multiplicação da capacidade nuclear de “overkill” nos arse-nais dos blocos rivais veio ferir mortalmente o pensamento estratégico, pois retirou-lhe o suporte teleológico em que assentava, ou seja, a própria noção de vitória militar como condição essencial para a obtenção de ganhos políticos correlativos.

É essa interrogação a chave que nos per-mite compreender como em plena Guerra--fria foi possível encontrar, em paralelo com a estratégia indirecta traduzida em conflitos de baixa ou média intensidade, em que os blocos rivais se confrontavam através de aliados distantes, uma conduta pautada pela necessidade, compulsiva obrigatória de cooperação.

A destruição do edifício conceptual em que se baseava a racionalidade estratégica, que é a causa suficiente para o extraordinário fenómeno de Mikhail Gorbachev, deu ori-gem, antes dele, à complexa e entrelaçada teia de negociações para o controlo da corrida armamentista, assim como a uma abundante

perspect ivasJORGE RODRIGUES SIMÃO

As conclusões destes grupos de trabalho apontaram para a corrida aos armamentos como uma das principais causas para o aumento da insegurança que, aparentemente, essas opções armamentistas pretenderiam evitar

A crise ambiental e social global“Urgently needed is a new interpretation of the principle of national sovereignty. This is, of course, a very delicate subject in an era witnessing the tempestuous rebirth of national feelings. Still, all nations have recognized to varying degrees that the principle of absolute sovereignty is no longer functional in certain spheres. The number of international agreements having to do with resolving the most varied kinds of problems-from arms reduction to environmental measures-and the rapidly multiplying number of such agreements are graphic evidence of the need to redefine national sovereignty.”

Mikhail Gorbachev and George ShriverOn My Country and the World

série de dispositivos de precaução e aviso mútuo cujo desiderato consistia em evitar o inicio de um conflito nuclear, ou de uma escalada precipitada, na base de uma decisão fundada sobre um conjunto deficiente ou insuficiente de informações.

A partir do final da década de 1960, tornou-se particularmente visível que um outro fenómeno forçava, em determinadas condições, a condutas de cooperação entre Estados com interesses diametralmente opostos. Tratou-se do advento dos primeiros sintomas da crise ambiental e social global.

O trabalho precursor de algumas comis-sões, mesmo antes de declínio da Guerra--fria, laborando geralmente no âmbito da Organização das Nações Unidas, chefiadas por personalidades políticas de reconhecida dimensão internacional, veio dar visibi-lidade à estreita relação entre o ambiente e a segurança, demonstrando que, na fase critica da civilização técnico-científica de rosto planetário em que nos movemos, a degradação do ambiente é simultaneamente uma causa e um factor de insegurança e uma consequência grave da negligência concep-tual em que consiste em associar a questão da paz e da segurança a considerações do foro estritamente militar.

O trabalho de algumas Comissões, entre o final da década de 1970 e da década de 1980 deve ser realçado, como foi a Comissão para as Relações Norte-Sul, presidida pelo antigo chanceler da República Federal da Alemanha, Willy Brandt; a Comissão para o Desarmamento International e a Segurança, liderada pelo malogrado primeiro-ministro sueco, Olof Palme; a Comissão sobre o Desenvolvimento e Armamento, dirigida pela ex-ministra sueca para o desenvolvi-mento, Inga Thorson e a Comissão para o Ambiente e o Desenvolvimento liderada pela ex-primeira-ministra da Noruega, GroHarlem Brundtland.

As conclusões destes grupos de trabalho apontaram para a corrida aos armamentos como uma das principais causas para o au-mento da insegurança que, aparentemente, essas opções armamentistas pretenderiam evitar. A visão estritamente militar da segurança agravava e tornava invisível a deterioração das condições sociais e am-bientais em que a verdadeira e duradoura paz tem de assentar.

É possível por analogia com o ocorrido no decurso da fase terminal da Guerra-fria, afirmar que muitos dos problemas ambien-tais, sobretudo, aqueles que se revestem de características e alcance globais, cons-tituem imperativos para uma cooperação compulsiva, dado que nenhum dos actores da cena internacional consegue externa-lizar aos outros parceiros da comunidade internacional os prejuízos, guardando para si os hipotéticos benefícios, assim como no desfecho de uma eventual guerra nuclear todos os envolvidos sofreriam, também no que à crise ambiental e social diz respeito, todos os Estados e povos envolvidos sofre-

rão, mais tarde ou mais cedo, em maior ou menor grau, as consequências do adiamento das decisões que poderão corrigir o agravar os factores críticos.

Tal como ocorre na gestão de bacias hidrográficas internacionais, nalguns ca-sos, parece ser contrariada esta visão que aponta para a cooperação compulsiva. Assim, na maioria dos casos, os países que se encontram a montante têm vantagem sobre os países que se situam a jusante. As obras hidráulicas que os primeiros realizam retiram aos segundos um potencial hídrico que pode comprometer as suas opções de desenvolvimento. Mas, mesmo neste hori-zonte que se pode inscrever na matriz clássica dos conflitos “zero-sum”, de acordo com a teoria dos jogos, dificilmente se poderá falar de uma vitória considerável.

O ecologista americano Stefan Kratz demonstrou num estudo sobre as lutas ao redor das bacias hidrográficas do Jordão, Nilo, Tigre-Eufrates e do Ganges, a comple-xidade, delicadeza e interacção dos factores envolvidos nos litígios sobre rios internacio-nais apresentando-se como um síndrome, envolvendo questões que não podem ser resolvidas num quadro de concorrência e confrontação aberta, como é o caso do crescimento demográfico exponencial e de actividades agrícolas insustentáveis.

O fim da Guerra-fria, sem a ocorrência de um conflito central entre as duas potências dominantes no sistema bipolar que a acom-panhou ao longo de quase cinco décadas, dei-xou pelo menos tantas esperanças, quantas inquietações. A proliferação depois de 1989, de conflitos regionais de baixa intensidade veio provar que a diminuição do risco de uma guerra nuclear central não é equivalente à diminuição do perigo da banalização de recursos às armas como metodologia comum para a resolução dos conflitos entre Estados e no interior dos mesmos.

A diminuição do risco de uma catástrofe termonuclear deve ser interpretada num horizonte meramente conjuntural e não estrutural ou definitivamente. Na verdade, a paz relativa em que vivemos, sempre inter-rompida por conflitos nacionais e regionais, é uma paz sem ordem, de tréguas mais ou

menos longas que aguardam ou a construção de uma ordem internacional fundada nos reais princípios do Estado de direito, o que significa a partilha progressiva de soberania e a ampliação da esfera de intervenção da cidadania, do qual a União Europeia é o exemplo lapidar imperfeito e descontínuo, ou a reconstrução de uma nova geopolítica entre as potências candidatas a uma nova divisão da hegemonia mundial.

A filosofia clássica de Thomas Hobbes e de Immanuel Kant, identificou o centro nevrálgico do problema da paz e dos cami-nhos de alternativa tais como, onde reina a guerra de todos contra todos, isto é, o estado de natureza e os ditames do interesse escu-dado apenas na brutalidade da força, é dever construir a paz, o mesmo é dizer, uma ordem tanto civil como internacional, fundada na força da razão e no império do direito.

A história veio conferir ao dilema político ético, inerente à escolha da melhor sociedade possível, o timbre da necessidade máxima, aquele que só ocorre quando é a própria sobrevivência que está em jogo. A vitória sobre a guerra depende da capacidade de se conjugarem politicamente muitos outros factores que se agitam na crise civilizacional da modernidade em que nos debatemos. Podemos não ter as mesmas bandeiras nem os mesmos nomes para as nossas esperanças, mas convivemos debaixo das sombras das mesmas ameaças.

Se os países continuarem a crescer ao ritmo desenfreado das últimas décadas contra o planeta e se a prosperidade das gerações actuais for conseguida à custa da degradação ecológica como o inevitável empobrecimento das possibilidades de escolha das gerações futuras e se o fosso entre pobres e ricos continuar a aumentar, não existirá uma paz duradoura e sustentável.

O que está em causa só pode ser traduzido visivelmente na ordem, nas instituições e na linguagem da esfera política. O primado do político é o que liberta a meditação filosófica do risco da perda no labirinto quando a guerra entra no campo do estudo e da reflexão. A filosofia política ensina-nos, igualmente, que se a guerra não deve ser sujeita a uma simples condenação ética, se não podemos ignorar o papel essencial desempenhado pela guerra na génese das culturas mundiais, também não deixa de ser verdade que só modificações radicais no âmbito da nossa respiração cultural e da nossa habitação do mundo, poderão firmar e assegurar de modo consciente os ganhos políticos que venham entretanto a ser conseguidos.

A paz deve ser construída na assembleia pública, na luz do confronto político, na complexa teia de relações jurídico-políticas, mas apenas poderá ser confirmada no lento, profundo e disciplinado esforço de alteração dos padrões e finalidades que determinam a condição e o coração dos seres humanos. Trata-se de uma tarefa ciclópica, a um tempo individual e comum, silenciosa e institucio-nal, ética e educacional.

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Gonçalo Lobo Pinheiro Redacção Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; Joana de Freitas; José C. Mendes; Rita Marques Ramos Colaboradores Amélia Vieira; Ana Cristina Alves; António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Gonçalo Lobo Pinheiro; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

O director-geral da TDM, Leong Kam Chun, costu-mava marcar presença nos jantares de Primavera, de-dicados à imprensa depois do Novo Ano Chinês. Mas a partir de Março de 2014 não vai mais aparecer nes-ses jantares com a mesma designação. Na verdade,

não é anormal que uma pessoa abandone um cargo quando o seu contrato chega ao fim. Mas o caso da demissão de Leong Kam Chun, tem a ver com a atitude do governo face à liberdade de imprensa, para além da incompetência governamental em matéria de relações públicas.

Enquanto director da TDM, Leong teve duas iniciativas que mereceram a minha admiração. Uma, foi o lançamento do programa “Fórum Macau” como um fórum aberto de discussão sobre a actualidade e outra foi o programa “História da Assem-bleia Legislativa” produzido para ir para o ar no ano de eleições para a Assembleia Legislativa de 2013. Leong foi bastante pressionado por causa destes dois programas. Quanto ao “Fórum Macau”, foi publicamente anunciado no final de 2012, sem quaisquer

*Ex-deputado e membroda Associação Novo Macau Democrático

um gr i to no desertoPAUL CHAN WAI CHI*

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Na verdade, Macau até tem comunicação social, só que é uma imprensa que não tolera a justiça, a objectividade e que é incapaz de permanecer imparcial

Macau não tem comunicação socialexplicações, que o programa iria acabar em 2013. Embora o Chefe do Executivo tenha dito que não exerceu qualquer pressão so-bre o assunto, o público manifestou o seu desagrado pelo fim do programa. Na altura, enquanto deputado, fiz uma sobre o fim do programa e incentivei a Associação de Novo Macau a fazer um “Novo Fórum Macau” no mesmo local em que aquele programa era

realizado. Finalmente, o programa voltou a ser emitido e continua a existir até hoje. No entanto, os actuais convidados do programa são menos representativos do que os do passado. O programa de discussão política, produzido e transmitido em 2013, “História da Assembleia Legislativa”, destinava-se na verdade a familiarizar o público com a Assembleia Legislativa através do debate sobre a sua formação e a sua história. Foram convidadas várias pessoas de diferentes sectores da sociedade, deputados inclusive,

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para expressar as suas opiniões e debater a história da Assembleia com o apresentador do programa. Eu e o deputado Mak Soi Kun, fomos dois dos convidados que trocaram ideias num dos episódios. Mas, ao fim de poucos episódios, o programa foi cortado sem qualquer explicação. O programa voltou a ser emitido em Setembro de 2013, depois das eleições para a Assembleia Legislativa.

Mais ainda, eu e Mak Soi Kun fomos o único par de deputados convidados para o programa, todos os outros apareceram individualmente. Enquanto testemunha da produção do programa, atrevo-me a dizer que o episódio em que eu e Mak debate-mos ideias, não foi tão interessante, depois de editado e transmitido, como realmente aconteceu quando foi gravado. Estes dois incidentes parecem demonstrar que Leong trouxe mudanças e novidades para a TDM, para além de cumprir as suas obrigações,

mesmo sendo um homem de negócios com um passado de contabilidade. É uma grande perda para a TDM, uma vez que o Chefe do Executivo não o convidou para ficar, o que também revela que o governo da RAEM não gosta de mudanças e de novidades. Se Macau continuar fechada no conservado-rismo vai ter cada vez mais problemas. O comentador Dr. Ricardo Reis da Camões Tam disse no “Novo Fórum Macau”, “Macau não tem comunicação social”. Na verdade, Macau até tem comunicação social, só que é uma imprensa que não tolera a justiça, a objectividade e que é incapaz de permanecer imparcial. Leong é uma pessoa que está aberta a novidades, que tenta fazer mudanças e que dá voz a diferentes pontos de vista. É uma pena que a TDM não aceite uma pessoa aberta como ele. Se situações como esta se repetirem, temo que no futuro Macau apenas tenha um Gabinete de Comunicação Social em vez de uma comunicação social. Temos de trabalhar com mais afinco para defender a comunicação social de Macau e salvaguardar o quarto poder!

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hoje macau sexta-feira 21.2.2014

Eurogrupo considera que Portugal “continua no bom caminho”O presidente do Eurogrupo disse que Portugal continua no bom caminho para o regresso aos mercados, dando como exemplo a emissão de dívida com forte procura estrangeira na semana passada. Presente na Comissão de Assuntos Económicos do Parlamento Europeu, Jeroen Dijsselbloem disse também que a estratégia para consolidar a retoma económica na zona euro se revela acertada, e, referindo-se aos países que têm ou tiveram assistência financeira, sublinhou que Irlanda e Espanha já concluíram com sucesso os respectivos programas e que Portugal para lá caminha. “Portugal, como sabem, está a aproximar-se do fim do programa e este continua perfeitamente no caminho certo. A última revisão sublinhou o sucesso de Portugal em melhorar a competitividade e promover um crescimento assente nas exportações”, analisou.

Estudo confirma relação entre genese hipertensãoUm estudo, que será apresentado esta quinta-feira no 8.º Congresso Português de Hipertensão, concluiu que existe uma relação entre os factores genéticos e uma maior tendência para desenvolver hipertensão arterial e uma maior sensibilidade ao sal. A investigação demonstra também que a prevalência de hipertensão na população portuguesa é de 42,2% e que 57,4% dos hipertensos não estão controlados. Elaborado pela Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH), o estudo consistiu em analisar 16 variantes genéticas de 12 genes, retirados de amostras do estudo PHYSA (Portuguese Hypertension and Salt Study), apresentado no ano passado.

NASA planeiaproduzir água na Luae oxigénio em MarteA NASA, agência espacial norte-americana, pretende realizar missões na Lua e em Marte, com o intuito de demonstrar como produzir água, no primeiro caso, e oxigénio, no segundo. Para concretizar este objectivo, a NASA planeia enviar um robô à Lua em 2018 e a Marte em 2020, para exploração de recursos no local. No satélite natural da Terra, a NASA pretende analisar a constituição do solo e extrair hidrogénio e oxigénio, enquanto em Marte o objectivo passaria por extrair oxigénio da atmosfera.

Coreias Famílias reencontram-seComeçaram os encontros entre as famílias divididas há mais de 60 anos pela Guerra da Coreia (1950-53). Um grupo de 140 sul-coreanos rumou a um complexo turístico da Coreia do Norte para participar da primeira das duas rodadas deste encontro. “Os sul-coreanos eleitos para integrar o primeiro dia de reuniões encontraram-se, como previsto, às 15h (hora local)) com os seus familiares do Norte”, confirmou à agência Efe uma porta-voz do Ministério da Unificação de Seul. As famílias permanecem duas horas na sala de convenções de um hotel, onde tem lugar a primeira reunião colectiva e, depois, participam num jantar organizado pela Coreia do Norte. Seul reiterou a intenção de chegar a acordo com Pyongyang para a realização de reuniões de forma periódica, já que a cada ano morrem centenas de idosos sem poder reencontrar-se com seus familiares que vivem do outro lado da fronteira.

Fukushima Fugade 100 toneladas água radioactiva detectadaA Tokyo Electric Power, empresa que administra a central nuclear Fukushima no Japão, comunicou ontem a fuga de cerca de 100 toneladas de água radioactiva de um dos tanques. A água ultrapassou a barreira e saiu do tanque que armazena o líquido contaminado, com 230 milhões de becquerel por litro de estrôncio. Contudo, os responsáveis pela central acreditam que o líquido contaminado não tenha chegado ao mar devido a presença de uma calha acoplada ao tanque. A fuga ocorreu novamente num dos depósitos que foram construídos, após a explosão causada pelo tsunami de 2011, para armazenar líquido contaminada. O sismo acompanhado pelo tsunami de 11 de Março de 2011 provocou em Fukushima o pior acidente nuclear desde Chernobyl, na Ucrânia, em 1986

Moçambique Mais de nove mil pessoas ameaçadas pelas cheiasA subida das águas está a ameaçar cerca de nove mil pessoas na província da Zambézia, centro de Moçambique. As populações que vivem perto dos rios está a ser evacuadas como prevenção, informaram ontem os serviços de emergência. “Cerca de nove mil pessoas estão em risco em Licungo, o rio já inundou algumas aldeias”, afirmou Rita Almeida, porta-voz do Instituto Nacional de Gestão de Desastres. A província de Sofala é até agora a região mais afectada, depois de o rio Pungoe ter transbordado as suas margens no final da semana passada, cortando o acesso rodoviário entre a Beira, a segunda maior cidade do país, e o vizinho Zimbabwe.

cartoonpor Stephff

SÉRGIO [email protected]

Á LVARO Mourato é dos nomes incontornáveis do automobilismo lo-

cal, um dos pilotos de ponta do Campeonato de Macau de Carros de Turismo (MTCS, na sigla inglesa), com títulos em carteira. Com vários anos de experiência, desde as duas rodas ao karting, Mourato, que foi o melhor piloto da RAEM na Corrida de Interport MAC/HKG – Hotel Fortuna do 60.º Grande Prémio de Macau, foi nas últimas temporadas o único corredor a ameaçar o domínio de Chou Keng Kuan na categoria N2000, destinada às viaturas mais próximas daquelas utilizadas no dia-a-dia.

Contudo, a Associação Geral Automóvel de Macau-China (AAMC), inspirada nas últimas normativas da Federação Inter-nacional do Automóvel, resolveu colocar um ponto final na popular categoria do MTCS, que acomo-

AUTOMOBILISMO FIM DE CATEGORIA FAZ PILOTO PENSAR EM OPÇÕES

Mourato na indefiniçãodava os pilotos com orçamentos mais apertados e ao mesmo tem-po proporcionava uma excelente escola para aqueles que queriam dar os primeiros passos no des-porto, introduzindo uma nova categoria para viaturas derivadas de estrada, mas equipadas com motores 1.6 litros turbo.

Esta mudança regulamentar está a colocar em risco a conti-nuidade de vários habitues da categoria N2000 e Mourato não é excepção. “Ainda não tomei uma decisão quanto ao MTCS, porque não tenho disposição para preparar um carro novo 1.6T de estrada de raiz para carro de com-petição. Isto fazia-se nos anos setenta e oitenta! A minha ideia era comprar um carro de fábrica, ou seja, um carro já preparado para competir. Mas não é fácil, pois existem muito poucas es-colhas disponíveis no mercado”, explicou Mourato ao HM, ele que, dentro das limitações do seu orçamento, avalia outras opções para continuar activo no MTCS

e assim obter a qualificação para o Grande Prémio de Macau. “Se no fim não conseguir encontrar qualquer carro preparado, vou alugar um carro da (categoria) Roadsport para me qualificar. Este ano o MTCS vai ser mais difícil e complicado, pois as vagas vão ser menos do que as do ano passado”, deixa o aviso.

CONTINUAÇÃODA APOSTA INTERNACIONALDepois de ter participado no Malaysian Super Series (MSS), na categoria de carros de turismo, com a equipa semi-oficial da Proton nas duas últimas tempo-radas, Mourato espera continuar a presença internacional esta época. “O campeonato continua a ser o meu favorito. É sempre interessante competir em provas internacionais, contra pilotos mais experiente de países da região asiática, como japoneses, coreanos, indonésios, malaios e até australianos”, diz.

No entanto, também aqui o ex-vencedor da Corrida do Tro-féu Fortuna tem um problema em mãos para resolver e este prende-se com os apoios ofereci-dos pelo Governo da RAEM aos pilotos locais. “O campeonato MSS ainda não está registado no calendário internacional da FIA e por isso ainda não estou confirmado. É arriscado um piloto inscrever-se antes da publicação da prova na FIA. Se o campeonato não for registado na FIA, o piloto não tem direito ao subsidio da Fundação Macau. Por isso temos de ter a certeza antes da inscrição em qualquer provas.”