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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X HABERMAS E O “OUTRO” DA ESFERA PÚBLICA Loren Marie Vituri Berbert 1 Resumo : Com o fim do modelo socialista e a queda do muro de Berlim no final da década de 1980, as teorias democráticas vem disputando espaço dentro da teoria política: um vasto campo pode ser mencionado, com contribuições das chamadas democracias liberal, representativa, participativa, associativa, etc. Entre elas no entanto, a que ganhou mais espaço na década de 1990, e que até hoje influencia grande parte da discussão é a corrente deliberativa. Este artigo propõe-se uma crítica centrada na democracia deliberativa de vertente habermasiana, que compreende princípios de racionalidade e regras gerais para a possibilidade de comunicação e deliberação na esfera pública. Tal crítica fundamenta-se nos argumentos de feministas como Seyla Benhabib e Iris Marion Young, a respeito do potencial excludente dos princípios da deliberação como foram postulados, ou seja, a partir de um modelo de racionalidade que é masculino e que rejeita a possibilidade de entrada do “Outro” na esfera pública. Problema este que parece se manifestar de forma sintomática na cojuntura política brasileira atual, que parece viver um momento de recrudescimento das forças conservadoras, e invisibilizadora das diferenças. Palavras-chave: Democracia deliberativa, crítica feminista, racionalidade. Introdução Dentre os diversos temas abarcados pela teoria política contemporânea, um dos mais profícuos é, com certeza, os referentes às discussões acerca da democracia. Desde o clássico de Alexis de Tocqueville, A democracia na América 2 fruto da viagem do pensador francês aos Estados Unidos em 1831, o tema tem sido desenvolvido por sociólogos, filósofos e cientistas políticos de várias matrizes políticas e ideológicas. Alguns trabalhos, como o do próprio Tocqueville, são focados em análises empíricas da realidade democrática, tanto é que a obra do autor é, além de uma análise sociológica, um importante documento histórico cujo relato nos fornece um amplo panorama da sociedade norte americana do século XIX. Outros trabalhos, como o do cientista político norte-americano Robert Dahl também amparam sua teoria em análises empíricas das sociedades ditas democráticas 3 , procurando definições mais específicas, que possam instrumentalizar avaliações acerca dos diversos regimes políticos e instituições normalmente considerados democráticos. Dessa forma, a obra de Dahl se 1 Mestranda do Programa de Pós Graduação em Sociologia Política da UFSC. 2 Obviamente a cronologia que remonta a Tocqueville não contempla os tratados sobre democracia de Platão ou Aristóteles, que se ocupavam de uma noção de democracia muito diferente daquela com a qual lidamos nos dias de hoje. 3 Poliarquia é o termo utilizado por Dahl para se referir a sociedades que se encontram em um processo amplo de democratização. (DAHL, 2012, p.350-355).

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

HABERMAS E O “OUTRO” DA ESFERA PÚBLICA

Loren Marie Vituri Berbert1

Resumo : Com o fim do modelo socialista e a queda do muro de Berlim no final da década de

1980, as teorias democráticas vem disputando espaço dentro da teoria política: um vasto campo

pode ser mencionado, com contribuições das chamadas democracias liberal, representativa,

participativa, associativa, etc. Entre elas no entanto, a que ganhou mais espaço na década de 1990,

e que até hoje influencia grande parte da discussão é a corrente deliberativa. Este artigo propõe-se

uma crítica centrada na democracia deliberativa de vertente habermasiana, que compreende

princípios de racionalidade e regras gerais para a possibilidade de comunicação e deliberação na

esfera pública. Tal crítica fundamenta-se nos argumentos de feministas como Seyla Benhabib e Iris

Marion Young, a respeito do potencial excludente dos princípios da deliberação como foram

postulados, ou seja, a partir de um modelo de racionalidade que é masculino e que rejeita a

possibilidade de entrada do “Outro” na esfera pública. Problema este que parece se manifestar de

forma sintomática na cojuntura política brasileira atual, que parece viver um momento de

recrudescimento das forças conservadoras, e invisibilizadora das diferenças.

Palavras-chave: Democracia deliberativa, crítica feminista, racionalidade.

Introdução

Dentre os diversos temas abarcados pela teoria política contemporânea, um dos mais

profícuos é, com certeza, os referentes às discussões acerca da democracia. Desde o clássico de

Alexis de Tocqueville, A democracia na América2fruto da viagem do pensador francês aos Estados

Unidos em 1831, o tema tem sido desenvolvido por sociólogos, filósofos e cientistas políticos de

várias matrizes políticas e ideológicas. Alguns trabalhos, como o do próprio Tocqueville, são

focados em análises empíricas da realidade democrática, tanto é que a obra do autor é, além de uma

análise sociológica, um importante documento histórico cujo relato nos fornece um amplo

panorama da sociedade norte americana do século XIX.

Outros trabalhos, como o do cientista político norte-americano Robert Dahl também

amparam sua teoria em análises empíricas das sociedades ditas democráticas3, procurando

definições mais específicas, que possam instrumentalizar avaliações acerca dos diversos regimes

políticos e instituições normalmente considerados democráticos. Dessa forma, a obra de Dahl se

1 Mestranda do Programa de Pós Graduação em Sociologia Política da UFSC. 2 Obviamente a cronologia que remonta a Tocqueville não contempla os tratados sobre democracia de Platão ou Aristóteles, que se ocupavam de uma noção de democracia muito diferente daquela com a qual lidamos nos dias de hoje. 3 Poliarquia é o termo utilizado por Dahl para se referir a sociedades que se encontram em um processo amplo de democratização. (DAHL, 2012, p.350-355).

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distancia dos teóricos da democracia ditos normativos, como por exemplo, Jurgen Habermas, autor

da renomada teoria da democracia deliberativa. Como recorda Luis Felipe Miguel:

Há mais de cinquenta anos, no mundo ocidental, a democracia tornou-se o

horizonte normativo da prática e do discurso políticos. Tamanho consenso esconde

uma profunda divergência quanto ao sentido da democracia: como é comum em

relação a palavras que se tornam objeto de disputa política, os diferentes grupos

empenhados em ostentar o rótulo promovem sua ressemantização, adequando seu

significado aos interesses que defendem. (MIGUEL, 2005, p. 5)

Nesse sentido, dizer teoria democrática não quer dizer muita coisa, haja vista a profunda

diferença entre as diversas correntes políticas e perspectivas que se apropriam da questão. Neste

novo cenário, a teoria democrática teve de abrigar desde os liberais mais “procedimentalistas”, até

os democratas participacionistas mais radicais. Essa profusão de interpretações foi, no entanto,

benéfica para a crítica democrática:

Se, de um lado, o valor da democracia como conjunto de regras formais para a

sucessão e autorização de governantes alcançou consensos sem precedentes, de

outro, a subsequente expansão do número de novas democracias e a ausência de

“inimigos” externos que reforçassem posturas defensivas, propiciaram o

alargamento da crítica democrática a emergência de agendas dirigidas a indagar e

questionar a qualidade das velhas e novas democracias. (LAVALLE & VERA,

2011, p. 109)

Em meio a tal cenário, onde a opção socialista não mais se apresentava, começavam a surgir

teorias democráticas as mais diversas, porém, talvez a que mais tenha feito sucesso durante a

década de 1990 foi a teoria da democracia deliberativa, principalmente a de vertente habermasiana.

A terceira via habermasiana

Como apontado anteriormente, o contexto social do final do século XX viabilizou a noção

de que um regime político democrático era aquele a ser alcançado. No entanto, esse “consenso” não

eliminava as brutais diferenças entre as concepções de democracia dos defensores do Estado de

direito e das liberdades individuais, daqueles que colocavam a ênfase democrática na soberania

popular. Tal “controvérsia” não é nova nas discussões políticas, e remonta a falta de conciliação

entre valores liberais e valores republicanos, uma questão famosa dentro do debate político a partir

do discurso proferido por Benjamin Constant em 1819, Da liberdade dos antigos comparada à dos

modernos.

Tal debate seria o ponto de partida inicial para a teorização habermasiana da democracia

deliberativa, que constituiria, segundo o autor, em uma terceira via. O olhar de Habermas sobre os

dois modelos normativos de democracia os descreve da seguinte forma:

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A diferença decisiva reside na compreensão do papel que cabe ao processo

democrático. Na concepção “liberal”, esse processo cumpre a tarefa de programar

o Estado para que se volte ao interesse da sociedade: imagina-se o Estado como

aparato da administração pública, e a sociedade como sistema de circulação de

pessoas em particular e do trabalho social dessas pessoas, estruturada segundo leis

de mercado. A política, sob essa perspectiva, e no sentido de formação política da

vontade dos cidadãos, tem a função de congregar e impor interesses sociais em

particular mediante um aparato estatal já especializado no uso administrativo do

poder político para fins coletivos. Segundo a concepção “republicana”, a política

não se confunde com essa função mediadora; mais do que isso, ela é constitutiva do processo de coletivização social como um todo. Concebe-se a política

como forma de reflexão sobre um contexto de vida ético. (HABERMAS,

2004, p. 277-278)

A partir de tal perspectiva, Habermas se impõe a tarefa de “aprimorar” tais modelos em uma

terceira via complementar, não tornada um oximoro. Ideia parecida é encontrada também na

discussão do autor acerca da “coesão interna entre Estado de direito e democracia”, onde defende a

concepção segundo a qual existiria uma “equiprimordialidade” entre a autonomia pública e a

autonomia privada – ou as liberdades dos antigos e dos modernos, para Benjamin Constant. Assim,

para o autor, os dois elementos fundamentais dos Estados democráticos de direito, qual sejam o

domínio das leis (direitos individuais clássicos) e a soberania popular (direito à participação), são

igualmente importantes e pressupõe-se de forma mútua. (ib., p. 298-301)

A “política deliberativa” como denomina o autor, baseia-se nas condições de comunicação

do processo político, visando resultados racionais. Ou seja, é um modelo de procedimento

democrático que tem como elemento central a “estrutura da comunicação linguística”, onde a

deliberação atua como o principal instrumento de tomada de decisões. Segundo Habermas, assim a

razão prática, ora voltada para os direitos do homem na concepção liberal de política, ora voltada

para a eticidade de uma comunidade particular, no caso republicano/comunitarista, agora é limitada

a regras e normas argumentativas e discursivas. (ib., 2004, p. 286)

Neste aspecto Habermas esvazia a política deliberativa de um conteúdo moral, e coloca a

ênfase na noção de um procedimento democrático capaz de aprimorar a tomada de decisões a partir

de normas que tem na racionalidade e na possibilidade de consenso via comunicação, os elementos

centrais da política. Segundo o autor, em tal teoria do discurso:

(...) procedimento e pressupostos comunicacionais da formação democrática da

opinião e da vontade funcionam como importantes escoadouros da racionalização

discursiva das decisões de um governo e administração vinculados ao direito e à

lei. Racionalização significa mais que mera legitimação, mas menos que a própria

ação de constituir o poder. (...) A opinião pública transformada em poder

comunicativo segundo procedimentos democráticos não pode ‘dominar’, mas

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apenas direcionar o uso do poder administrativo para determinados canais.

(HABERMAS, 2004, p. 290)

Com a opinião pública transformada em poder comunicativo, o potencial da democracia de

levar os interesses generalizáveis dos cidadãos até a as esferas institucionalizadas do poder torna-se

algo mais factível do que em democracias meramente “agregativas” que tem sua principal fonte de

legitimidade nos processos eleitorais. No entanto, a questão referente à crítica que será

desenvolvida no decorrer do artigo é relativa exatamente ao tipo de normas estabelecidas para o

processo de deliberação, baseada na “racionalização” dos interesses e das opiniões.

Para a cientista política Seyla Benhabib, a legitimidade de tal processo democrático deve-se

à pressuposição de que representa uma perspectiva imparcial e no interesse de todos. Assim, um

processo deliberativo seria válido quando apresentasse as seguintes características:

1) A participação na deliberação é regulada por normas de igualdade e simetria;

todos tem as mesmas chances de iniciar os atos de fala, questionar, interrogar, e

abrir o debate; 2) todos tem o direito de questionar os tópicos fixados no diálogo; e

3) todos tem o direito de introduzir argumentos reflexivos sobre as regras do

procedimento discursivo e o modo pelo qual elas são aplicadas ou conduzidas. Não

há prima facie regras que limitem a agenda da conversação, ou a identidade dos

participantes, contanto que cada pessoa ou grupo excluído possa mostrar

justificadamente que são atingidos de modo relevante pela norma proposta em

questão. (BENHABIB, 2007, p. 51)

No artigo Deliberative democracy or agonistic pluralismo (2000), Chantal Mouffe aponta

que para a vertente habermasiana da democracia deliberativa, a possibilidade de tal processo

democrático alcançar resultados racionais (ou razoáveis) depende de sua aproximação com uma

“condição ideal” do discurso, onde os indivíduos livres e iguais encontrarão um ambiente

deliberativo imparcial, que leva a um processo tão “aberto” quanto possível, o que aumenta as

chances de que interesses gerais sejam aceitos por aqueles afetados pela questão de forma mais

relevante.

Para Mouffe, os expoentes de tal corrente deliberativa não negam a existência empírica de

obstáculos para tal situação ideal de discurso, por isso consideram-na como um marco regulatório,

mais do que como uma possibilidade concreta, haja vista as diversas limitações da vida em

sociedade que nos afastam da perspectiva de agirmos de acordo com nosso “eu racionalmente

universal”, deixando de lado nossos respectivos interesses particulares. (MOUFFE, 2000, p. 5-6)

Assim, ainda que tal modelo conte com uma concepção de legitimidade mais sofisticada do

que aquela baseada somente no voto, ao considerar um complexo processo de formação de opinião

pública via deliberação por cidadãos livres e iguais, e a efetiva informação das instâncias

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institucionalizadas do poder a partir da formação de tais “acordos”, ou consensos, é possível

vislumbrar as dificuldades de colocar em operação um modelo de deliberação democrática que, para

que possa resultar em consensos “razoáveis”, deva estar submetido a regras normativas tão

afastadas da realidade. Haja vista a multiplicidade de fatores e relações de poder que dificultam – e

em alguns casos impossibilitam – que o ambiente deliberativo seja considerado imparcial e, mais

ainda, os cidadãos possam de fato deliberar de forma “livre e igual”. Ainda que tal cenário ideal

fosse concretizado, ainda restaria a questão de como munir os cidadãos do “véu da ignorância”4, a

fim de que pudessem fazer política afastando-se de seus interesses particulares.

Habermas e o “Outro” na esfera pública

Ainda assim, algumas das principais críticas referentes à teoria de política deliberativa

desenvolvida por Habermas não se originam em sua difícil aplicabilidade no “mundo real”, mas,

por outro lado, exatamente no tipo de exigências normativas que coloca em evidência. Ou seja, a

pergunta a ser levantada seria: Ainda que tal modelo pudesse ser alcançado, e as condições ideais de

discursos fossem alcançadas, seria tal modelo de democracia o mais adequado na sociedade

contemporânea? Ela de fato reúne os elementos necessários para garantir o acesso da maior parte

dos cidadãos a um contexto de fala onde as argumentações dos sujeitos tivessem todos o mesmo

peso?

A crítica aqui desenvolvida considera que, alcançada a condição ideal do discurso, esta seria,

em si mesma, um tipo de consenso deslocado no processo deliberativo. Pois, ao firmar os critérios

de racionalidade, imparcialidade, neutralidade e universalidade, o intuito democrático de abarcar

diferentes “vozes” que, através do processo deliberativo buscarão um consenso; é diversamente

suprimido por um tipo de consenso a priori, anterior à possibilidade de deliberação. Tal argumento

pretende evidenciar o potencial de exclusão de tal instrumento democrático, “escondido” por trás de

uma retórica estruturada tendo como base a racionalidade e sua pretensa universalidade.

Foram-se os tempos em que os filósofos e cientistas alimentavam a crença nos ideais

iluministas como portadores do “progresso” humano, e colocavam a razão individual em um altar

4 Recurso expositivo originalmente desenvolvido por John Rawls para simular a “posição original” dos indivíduos, onde ainda não se tem uma diferenciação social entre os mesmos. Com o revestimento do “véu de ignorância”, a possibilidade de escolha de um critério de justiça mais “equânime” entre os indivíduos seria maior, já que os mesmos não poderiam acessar suas respectivas posições sociais nesse momento. (RAWLS, 2008, p. 13-26)

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antropocêntrico. Principalmente desde as calamidades levadas a cabo na segunda guerra mundial5,

é possível encontrar diferentes abordagens críticas às pretensões de racionalidade presentes no

pensamento moderno. Tal desconfiança, no entanto, não é compartilhada por Habermas, um

defensor do projeto da modernidade.

Nesse sentido, a racionalidade e a universalidade apregoadas e exigidas como princípio e

também como resultado do processo deliberativo, podem ser analisadas a partir de um discurso

bastante específico: aquele tornado hegemônico pelo projeto de modernidade. Esse discurso,

bastante em voga especialmente no século XIX, teve ampla influência no surgimento da sociologia,

e pode ser observado inclusive nas ideias principais do sociólogo alemão, Max Weber.

Sua vasta obra, tematiza de forma recorrente a questão da racionalização do mundo

moderno. Sua análise sobre o desenvolvimento do capitalismo, em um de seus mais importantes

trabalhos A ética protestante e o espírito do capitalismo Weber desenvolve a hipótese de que a

marca característica do capitalismo moderno seria exatamente sua racionalização, com relação a

modos de produção anteriores. No trecho a seguir o autor afirma a relação intrínseca entre o

capitalismo moderno e a racionalidade ocidental:

À primeira vista, a forma especial do moderno capitalismo ocidental teria sido

fortemente influenciada pelo desenvolvimento das possibilidades técnicas. Sua

racionalidade é hoje essencialmente dependente da calculabilidade dos fatores

técnicos mais importantes. Mas isso significa, basicamente, que é dependente da

ciência moderna, em especial das ciências naturais fundadas na matemática e em

experimentações exatas e racionais. (WEBER, 2001, p. 31)

Em toda a introdução da obra, o autor descreve o capitalismo contemporâneo a partir do

“racionalismo peculiar e específico da cultural ocidental” (WEBER, 2001, p. 32). Assim, é feito o

reconhecimento da familiaridade entre os elementos: ocidental, racional e moderno. No entanto, e

de forma paradoxal, a racionalidade moderna ocidental é entendida como parâmetro

universalizante, por exemplo na deliberação habermasiana. A linguagem necessária para adentrar

em um debate público está baseada em um tipo de postura / identidade muito específica que não

necessariamente contempla todos os sujeitos interessados em partilhar a formação de uma opinião

pública.

Nesse sentido é possível visualizar porque o consenso de Habermas estaria deslocado: as

diferenças e possibilidades de alteridade são suprimidas em um primeiro momento, quando os

indivíduos que não representam o ideal de racionalidade hegemonicamente construído, são

5 Mesmo antes disso, é possível encontrar críticos ferrenhos ao ideal moderno de racionalidade, como por exemplo a crítica de Nietzsche, que descarta a possibilidade de apreensão racional do mundo, e a pretensão de verdades universais postuladas pela modernidade através de um sujeito unificado e alienado de suas paixões. (JARDIM, 2001)

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submetidos a uma dinâmica de poder pouco democrática. Dessa forma, mulheres, negros, indígenas,

portadores de deficiência, LGBTTs, entre outros grupos que não encarnam o tipo de racionalidade

“peculiar e específica” do ocidente moderno não podem esperar que o ambiente deliberativo seja

vivenciado de forma imparcial.

O caso mais emblemático, porque mais debatido na academia nos últimos anos, talvez seja o

da exclusão das mulheres da esfera pública. As análises por parte da teoria feminista apontam tal

fato como uma realidade histórica, que vem sendo superada a cada dia, mas ainda constrange o

acesso de muitas mulheres à esfera pública6. Em O contrato sexual, Carole Pateman, uma das mais

reconhecidas teóricas da democracia participacionista, descreve a contribuição da teoria política

moderna para a manutenção do patriarcado7, a partir da revisão de alguns argumentos dos

contratualistas. Segundo ela:

No turning-point entre o antigo mundo do status e o mundo moderno do contrato

conta-se mais uma história sobre o nascimento político masculino. A história do

contrato original é, provavelmente, a maior narrativa sobre a criação de uma nova

existência política pelos homens. Mas desta vez, as mulheres já foram derrotadas e

declaradas irrelevantes para a política e a reprodução. Agora, o pai está sendo

atacado. O contrato original mostra como o monopólio do poder criador pelos pais

foi tomado e dividido uniformemente entre os homens. Na sociedade civil, todos os

homens, não apenas os pais, podem gerar a vida e o direito políticos. A criação

política não é própria da paternidade, e sim da masculinidade. (PATEMAN, 1993,

p. 60-61)

Dessa forma, ainda que nas sociedades contemporâneas venhamos assistindo a uma

progressiva entrada de mulheres no espaço da política, tal espaço foi pensado sempre a partir de

uma lógica masculina. Tal lógica implica em grande medida nos conceitos de racionalidade e

universalidade presentes na teoria habermasiana da democracia. Luis Felipe Miguel em Democracia

e representação defende que Habermas reproduz as premissas do liberalismo contratualista em sua

visão da esfera pública:

A idealização da esfera burguesa dos séculos XVIII e XIX demonstra uma notável

insensibilidade ao problema da exclusão de grupos sociais. Trabalhadores e

mulheres, para citar os exemplos mais evidentes, estavam ausentes da esfera

pública burguesa. Habermas não deixa de perceber e anotar tal ausência. Mas ela

aparece como contingente e não como estruturadora de características centrais da

esfera pública burguesa setecentista e oitocentista. Trata-se de um equívoco, pois a

abertura para o diálogo e o espírito de fair-play – que parecem comandar as

discussões sobre questões de interesse comum – só são possíveis na medida em que

6 Esfera pública será aqui entendido como oposto ao ambiente privado, doméstico, e especificamente para designar o âmbito da política. 7 Entendido como o “único conceito que se refere especificamente à sujeição da mulher, e que singulariza a forma do direito político que todos os homens exercem pelo fato de serem homens. ” (PATEMAN, 1993, p. 39).

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estão eliminados, de antemão, os principais focos de tensão social. (MIGUEL,

2014, p. 69)

A crítica de Miguel é contundente, e fundamenta-se em sua maior parte no caráter utópico e

liberal que Habermas dá à esfera pública. Nesse sentido o autor aponta a divisão liberal entre esfera

privada como âmbito da desigualdade em contraposição ao âmbito da esfera pública, como espaço

da igualdade política. Segundo ele, tal interpretação visa dissimular o fato de que as desigualdades

referentes ao gênero e à economia por exemplo, são profundamente relevantes na esfera política.

Nesse sentido, para ele os cidadãos atuam na esfera pública e discutem “como se fossem” iguais,

vista a impossibilidade substantiva de tal igualdade (MIGUEL, 2014, p. 69).

Além disso, sugere ele, a identidade dos cidadãos, ao contrário do que defende Habermas, é

sim importante no espaço deliberativo. Segundo ele “As diferentes posições na sociedade conferem

diferentes graus de eficácia discursiva a seus ocupantes. ” (Ibidem, p.89). Nesse sentido, é a partir

de uma crítica à dissimulação das desigualdades sociais que Miguel desconfia da proposta

habermasiana, sofisticadamente abstrata, e sem instrumentos suficientes para lidar com a realidade.

Quando o autor aponta os diferentes graus de eficácia discursiva ou a “(...) inferioridade dos grupos

dominados no manejo eficaz das ferramentas discursivas exigidas (...)” (ibidem, p.88) ele pretende

demarcar as relações de poder e dominação que continuam a existir nos espaços de deliberação,

inclusive com relação à própria linguagem a ser adotada.

No entanto, o que não fica evidente é se a crítica de Miguel entende a igualdade na esfera

pública como um objetivo a ser alcançado. Quanto à desigualdade material e de status, é possível

defender que sim, o processo democrático ganharia com a supressão de tais desigualdades. Porém,

uma esfera pública homogênea, que conseguisse de fato minimizar tanto quanto possível as

diferenças entre linguagens e formas de expressão, seria uma esfera pública mais democrática? O

constrangimento da forma não seria, em algum grau, um constrangimento de conteúdo e, nesse

sentido, uma hierarquização das formas de vida?

A cientista política norte-americana Iris Marion Young desenvolve em A imparcialidade e o

Público Cívico uma crítica poderosa à teoria política, e à democracia habermasiana a partir de

argumentos das análises de feministas. Reforçando o posicionamento de Pateman, ela coloca em

xeque a possibilidade de emancipação feminina pela via da política liberal:

Recentes estudos feministas da teoria e prática política moderna cada vez mais

argumentam que os ideais do liberalismo e da teoria do contrato, tais como

igualdade formal e racionalidade universal, acham-se profundamente prejudicados

pelos preconceitos masculinos sobre o que significa ser humano e a natureza da

sociedade. Esses estudos sugerem que se a cultura moderna no Ocidente tem sido

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inteiramente dominada pelos homens, pouca esperança haverá de dar novo aspecto

a esses ideais de modo a possibilitar a inclusão das mulheres. (YOUNG, 1987,

p.67)

Dessa forma, o diagnóstico feministas para os problemas da esfera pública atrelada à política

moderna e, mais especificamente, em Habermas é mais radical e, por tanto, mais complexa. A

inclusão do “Outro” na esfera pública depende de uma profunda crítica às estruturas da política

moderna. Um dos pontos centrais da argumentação da autora por uma “vida pública heterogênea”,

reside na crítica à oposição entre razão e afetividade tanto na política moderna quanto na proposta

de Habermas. Tal divisão é parte dos pares dicotômicos hierarquizados no discurso da modernidade

como razão/ afeto, cultura/natureza, masculino/feminino, universal/particular e etc.

A autora coloca o problema como um elemento de exclusão dos indivíduos do “público

cívico”:

Ao presumir que a razão se opõe a desejo, afetividade e ao corpo, o público cívico

deve excluir aspectos físicos e afetivos da existência humana. Na prática, esse

pressuposto força uma homogeneidade de cidadãos ao público cívico. Exclui do

público aqueles indivíduos e grupos que não se ajustam ao modelo de cidadão

racional que pode transcender corpo e sentimento. Essa exclusão é baseada em

duas tendências que os feministas acentuam: a oposição entre razão e desejo, e a

associação desses traços com tipos de pessoas. (YOUNG, 1987, p. 75-76)

Assim, uma vez que certa categoria de pessoas é identificada como menos “imparcialmente

racionais” do que o ideal, elas são excluídas do público, em favor de uma suposta neutralidade e

universalidades necessárias ao fazer político. Para Young, a ética comunicativa habermasiana de

modelo dialógico superaria o monologismo da razão deontológica. No entanto, ressalta que

Habermas falha ao não definir a razão de forma contextual, mantendo seu compromisso com um

modelo de razão normativamente imparcial (YOUNG, 1987, p. 78-79).

Consequentemente, a necessidade de o sujeito alienar-se de uma identidade individual – que

ao mesmo tempo pode referir-se a pertencimentos de grupo - que pressuponha a conexão com

sentimentos e demandas particulares, continua um pressuposto importante para o modelo de

deliberação de Habermas, uma vez que o consenso almejado por tal processo seria resultado de uma

racionalidade considerada a partir de um ponto de vista imparcial. Tal questão elaborada por Seyla

Benhabib em O outro generalizado e o outro concreto. A autora define os respectivos paradigmas

da seguinte forma:

O ponto de vista do outro generalizado exige que enxerguemos todo e cada

indivíduo como um ser racional habilitado aos mesmos direitos e deveres que

gostaríamos de atribuir a nós mesmos. Ao admitirmos o ponto de vista, abstraímos

a individualidade e a identidade concreta do outro. Presumimos que o outro, como

nós mesmos, é um ser que tema necessidades concretas, desejos e afetos, mas que o

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que constitui a sua dignidade moral não é o que nos diferencia um dos outros, mas

o que nós, como agentes racionais que falam e agem, temos em comum. (...) Por

outro lado, o ponto de vista do outro concreto exige que enxerguemos todo e cada

ser racional como um indivíduo com uma história concreta, identidade e

constituição afetivo-emocional. Ao admitir esse ponto de vista, abstraímos aquilo

que temos em comum. Procuramos compreender as necessidades do outro, suas

motivações, o que ele ou ela procura, e o que ele ou ela deseja. (BENHABIB,

1987, p. 97-98)

A crítica da autora, no entanto, não está sendo dirigida aos pressupostos da democracia

deliberativa, mas acima de tudo à teoria moral universalista de John Rawls. Benhabib é, ela mesma

uma defensora do processo deliberativo, e do que denomina uma “ética comunicativa de

intepretações necessárias”.8Aqui a autora leva a “terceira via” a um outro estágio, que tenha em

conta as histórias concretas dos agentes morais e onde o outro generalizado, essa abstração

fantasmagórica, ganhe “substância” e qualidade intersubjetiva.

Ainda assim, sua crítica a Rawls e sua diferenciação entre a teoria do autor e a abordagem

deliberativa podem ser questionadas, por exemplo, a partir do ponto de vista de Mouffe, que no

artigo mencionado anteriormente apresenta as convergências entre a lógica de Rawls e de

Habermas. Nesse sentido, a autora identifica ambos autores como deliberativistas, ao terem como

elemento específico de suas teorias a promoção de um tipo de racionalidade de dimensão normativa

e não meramente instrumental, e o objetivo de reconciliação entre liberalismo e ideais democráticos

(MOUFFE, 2000, p. 2-3). Assim, para a autora, Rawls e Habermas tem mais em comum do que

pretende a disputa entre os autores, e aspectos fundamentais de ambas as teorias.

Considerações finais

Em When, where and why do we need deliberation, voting, and other means of organizing

democracy? Mark Warren sugere uma abordagem da crítica democrática não voltada para modelos,

mas para os problemas e funções democráticas. Nesse sentido, o autor apresenta a deliberação como

um meio a ser utilizado para alcançar as “funções democráticas”, que seriam a inclusão

empoderada, comunicação e formação de vontade coletiva, e capacidade de decisão coletiva. Para o

autor, os modelos democráticos não deveriam ser entendidos como autossuficientes, mas

considerados a partir dos pontos fortes que apresentam para a efetivação das funções democráticas

(WARREN, 2012).

8 O que não quer dizer que a autora não delimite algumas diferenças entre a sua abordagem da democracia deliberativa daquela habermasiana, como a “implausibilidade” de sua apresentação do “outro concreto”. (BENHABIB, 1987, p.195, nota 33.)

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A partir de tal perspectiva poderíamos considerar que a democracia deliberativa

habermasiana apresenta um elemento interessante de legitimação da política, que supera aqueles

modelos baseados apenas no voto. E que traz o centro do processo democrático para a sociedade

civil, o parece ser um elemento de descentralização do poder e da influência política, das

instituições, para os espaços de formação da opinião pública. No entanto, é preciso persistir na

crítica aos princípios do liberalismo que tornam a democracia deliberativa um dispositivo de

exclusão.

Os argumentos mobilizados nesta discussão, alguns com cerca de trinta anos, continuam a

exercer um importante papel crítico a fundamentos do liberalismo que são também os fundamentos

da democracia deliberativa. A crítica feminista, e também a crítica de teóricos do pós-colonialismo

e da perspectiva decolonial latino-americana9, que apesar de não terem sido apresentados no artigo

também enfatizam os problemas do discurso moderno hegemônico, e sua relação com a reprodução

das desigualdades sociais, e o possível esgotamento de tal projeto de modernidade; continuam

relevantes.

Em um momento histórico onde não parece haver uma alternativa “sustentável” que possa

competir com a democracia liberal, e onde é possível perceber um claro fortalecimento de discursos

que pretendem deslegitimar a entrada de grupos minoritários, ou oprimidos na esfera pública – vide

recente guinada conservadora no cenário político tanto em âmbito nacional quanto internacional- é

imprescindível que tal debate continue em pauta. Nesse sentido, o fortalecimento dos ideais

democráticos depende, mais do que nunca, na ênfase em elementos que possam fazer da esfera

pública um ambiente substancialmente inclusivo e diversificado.

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Política 2. Porto Alegre: L&PM Editores, 1985 (p. 9-25)

9 Vide, por exemplo a obra organizada por Edgardo Lander: A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais – Perspectivas Latino-americanas, de 2005, para a contribuição de vários autores.

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Habermas and the “other” of the public sphere

Abstract: With the end of socialist model and the fall of the Berlin wall at the end of the 1980

decade, the democratic theories are disputing space inside the political theory: a vast field can be

mentioned, with the contributions of the so-called liberal, representative, participative, associative

democracies etc. Among them, however, the one that earned more space in the 1990 decade, and

still influences a big part of the discussion until this day is the deliberative current. This paper

proposes a Habermasian deliberative democracy centered critic, which comprises principles of

rationality and general rules for the possibility of communication and deliberation in the public

sphere. Such critic is based on the feminist arguments as Seyla Benhabib and Iris Marion Young’s,

regarding the excluding potential of the deliberative principles as they were postulated, that is, from

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a rationality model that is masculine and rejects the possibility of entry of the “Other” in the public

sphere. Problem which seems to manifest itself in a symptomatic way in current Brazilian political

conjuncture, that appears to live a moment of recrudescence of conservative forces and

homogenizer of differences.

Keywords: Deliberative democracy, feminist critic, rationality.