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Saúde da Mulher * Gravidez Estarei Grávida |Testes |Procedimentos |FAQs |Alimentação|Exercicio Fisico | Doenças |Complicações |Parto | Situações Especiais A gravidez e a sua conclusão lógica, o parto, são fases únicas na vida de qualquer casal e, em especial, de qualquer mulher. Sendo um dos acontecimentos mais banais da Natureza, é sempre especial para cada pessoa nele envolvida, quer para os progenitores quer, por motivos óbvios, para o ser que vai nascer. Desde sempre, a humanidade compreendeu que o período de gestação de um novo ser vivo deve acompanhar-se de cuidados redobrados e de atitudes saudáveis. Felizmente que, ao longo dos tempos, a evolução da ciência e da qualidade de vida, pelo menos nas sociedades mais desenvolvidas nas quais podemos considerar estar integrados, têm vindo a permitir uma gravidez e um parto cada vez mais vigiados e com menos riscos para a mãe e para a futura criança. É portanto importante que sejam bem conhecidas as normas básicas de prevenção das doenças, anomalias e acidentes que podem surgir durante uma gravidez ou um parto, e que, apesar de cada vez mais raros, continuam a causar vítimas mais ou menos graves todos os anos. Esta secção destina-se a fornecer algum auxílio aos futuros progenitores e a tentar esclarecer algumas dúvidas que possam surgir. Estarei grávida? Existem vários sinais que indiciam uma gravidez: Falta de um ou mais períodos menstruais É o sinal clássico de que existe probabilidade de se estar grávida Aliás, em termos médicos, numa mulher em idade fértil que tenha uma ou mais faltas menstruais, é sempre forçoso proceder a um teste de gravidez (ver abaixo) . Alterações do tamanho e da consistência das glândulas mamárias É também um sinal muito frequente na mulher que engravidou e que de imediato nota alterações nas suas glândulas mamárias. Náuseas (enjoos) e vómitos Aparecem muitas vezes como primeiro sinal, e é frequente acompanharem com maior ou menor intensidade os primeiros meses da gravidez. Outros sinais Também são relatados com frequência fadiga, aumento da frequência

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Saúde da Mulher *

Gravidez

Estarei Grávida |Testes |Procedimentos |FAQs |Alimentação|Exercicio Fisico | Doenças |Complicações |Parto | Situações Especiais

A gravidez e a sua conclusão lógica, o parto, são fases únicas na vida de qualquer casal e, em especial, de qualquer mulher. Sendo um dos acontecimentos mais banais da Natureza, é sempre especial para cada pessoa nele envolvida, quer para os progenitores quer, por motivos óbvios, para o ser que vai nascer.

Desde sempre, a humanidade compreendeu que o período de gestação de um novo ser vivo deve acompanhar-se de cuidados redobrados e de atitudes saudáveis. Felizmente que, ao longo dos tempos, a evolução da ciência e da qualidade de vida, pelo menos nas sociedades mais desenvolvidas nas quais podemos considerar estar integrados, têm vindo a permitir uma gravidez e um parto cada vez mais vigiados e com menos riscos para a mãe e para a futura criança.

É portanto importante que sejam bem conhecidas as normas básicas de prevenção das doenças, anomalias e acidentes que podem surgir durante uma gravidez ou um parto, e que, apesar de cada vez mais raros, continuam a causar vítimas mais ou menos graves todos os anos.

Esta secção destina-se a fornecer algum auxílio aos futuros progenitores e a tentar esclarecer algumas dúvidas que possam surgir.

Estarei grávida?

Existem vários sinais que indiciam uma gravidez:

• Falta de um ou mais períodos menstruais É o sinal clássico de que existe probabilidade de se estar grávida Aliás, em termos médicos, numa mulher em idade fértil que tenha uma ou mais faltas menstruais, é sempre forçoso proceder a um teste de gravidez (ver abaixo) .

• Alterações do tamanho e da consistência das glândulas mamárias É também um sinal muito frequente na mulher que engravidou e que de imediato nota alterações nas suas glândulas mamárias.

• Náuseas (enjoos) e vómitos Aparecem muitas vezes como primeiro sinal, e é frequente acompanharem com maior ou menor intensidade os primeiros meses da gravidez.

• Outros sinais Também são relatados com frequência fadiga, aumento da frequência

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urinária, sensações de cheiros estranhos e aumento da sensibilidade aos estímulos. Perante um ou mais destes sinais, sobretudo dos três primeiros, deverá dirigir-se ao seu médico de família ou ao ginecologista/obstetra, a fim de ser confirmada a gravidez. Normalmente, começa-se por um teste à urina que indica com uma elevada taxa de segurança se ela existe ou não. Os testes vendidos nas farmácias para serem utilizados em casa são também bastante fiáveis. As falhas a eles atribuídas devem-se, em geral, a uma má técnica de execução por parte de quem os comprou.

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Testes de Gravidez

Como funcionam? Todos os testes pesquisam uma hormona chamada gonadotrofina coriónica (human chorionic gonadotropinque – HCG) que está presente no sangue e na urina sempre que uma mulher está grávida. Esta hormona também é conhecida como hormona da gravidez. Qual a diferença entre o teste à urina e o teste ao sangue? Os testes à urina podem ser comprados em qualquer farmácia, não são muito caros, e podem ser feitos em privacidade absoluta. Existem vários tipos de teste cuja execução varia, tal como o tempo de espera para obter o resultado, e por isso deve ler-se com cuidado as instruções que os acompanham.

A sua fiabilidade anda entre os 97% e os 99%, pelo que são bastante seguros. Porém, há circunstâncias em que a leitura dos resultados deixa algumas dúvidas pelo que, nesse caso, se aconselha a fazer novo teste passados alguns dias (3 a 7), ou então fazer um teste ao sangue.

Uma vez que nas fases muito iniciais de uma gravidez, as quantidades de hormona da gravidez na urina ainda são muito baixas, estes testes só são fiáveis cerca de duas semanas após a ovulação, ou seja, mais ou menos na altura em que era suposto aparecer o período menstrual. Normalmente, espera-se até haver 3 a 4 dias de atraso, embora os mais sensíveis possam detectar uma gravidez logo no primeiro dia de falha menstrual.

Se o período não aparecer mas o teste for negativo, pode ainda não ter havido tempo para a hormona da gravidez existir em quantidade suficiente na urina, pelo que é sempre aconselhável fazer novo teste ao fim de 3 a 7 dias. Em relação aos testes feitos ao sangue, há dois tipos:

• O teste quantitativo de hormona da gravidez (Beta HCG) mede a quantidade exacta de hormona no sangue, o que quer dizer que detecta mesmo pequeníssimas percentagens, sendo por isso muito sensível.

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• O teste qualitativo HCG simples dá apenas uma resposta sobre se há ou não gravidez, sendo em termos de fiabilidade sobreponível aos testes de urina.

Ambos os testes, no entanto, detectam uma eventual gravidez mais precocemente do que os da urina, uma vez que a hormona aparece mais cedo no sangue. Assim, podem indicar a existência de uma gravidez 6 a 8 dias depois da ovulação, em termos práticos cerca de 11 dias depois da relação de risco. Pode haver interferências com os testes ? A maioria dos medicamentos, incluindo pílulas contraceptivas e antibióticos, NÃO interfere com os testes. O álcool e as drogas ilícitas também não interferem mas, obviamente, não devem ser tomados se houver intenção de engravidar. Apenas os medicamentos contendo gonadotrofina coriónica, que são normalmente usados para tratar a infertilidade, podem dar falsos positivos.

Outras técnicas Outras técnicas mais sofisticadas podem ser utilizadas, como seja o caso da ultra-sonografia, vulgarmente conhecida por ecografia, que permite não só confirmar a gravidez, como avaliar o tempo de evolução e a vitalidade do feto.

Como proceder? No caso de se confirmar a gravidez, a primeira atitude a tomar é a de planear a sua evolução. Deverá assim escolher um médico para acompanhar esta situação. Hoje em dia, na maioria dos Centros de Saúde do país, os médicos de família estão devidamente habilitados e articulados com as maternidades, de modo a poderem fazer uma vigilância adequada da mãe e da futura criança. No entanto, se preferir, pode socorrer-se de imediato do apoio do obstetra da sua escolha. O mais importante é que seja feita uma vigilância continuada e regular até ao fim da gravidez, e mesmo até algum tempo depois do parto ter ocorrido.

O tempo médio de gestação é de 40 semanas a contar do 1º dia da última menstruação. No entanto, considera-se normal que o parto ocorra entre as 38 e as 42 semanas a contar da mesma data.

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Testes e Procedimentos Na sua primeira visita ao médico, será feito um exame físico geral, uma história clínica em que serão especialmente focados os seus antecedentes obstétricos, como gravidezes e/ou partos anteriores, abortos, história ginecológica, doenças que já teve ou que existem na sua família e na do pai, etc.

No exame físico serão avaliados, entre outros, a sua tensão arterial, peso,

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urina, auscultação, inchaço das pernas, auscultação do feto, verificação do desenvolvimento do útero e o seu posicionamento, para além de outros parâmetros. As vacinas da grávida, nomeadamente do tétano, também devem ser verificadas e postas em dia. No caso de existir uma situação de risco, deve ser feita a vacina da Hepatite B. É também nesta altura que se pedem os primeiros exames de controlo ao sangue e à urina e, eventualmente, outros como a ecografia ou a amniocentese . O seu médico deverá também estabelecer um calendário de visitas médicas pré-natais, normalmente dentro do seguinte esquema: . Uma visita por mês até às 28 semanas . Uma visita de 15 em 15 dias das 28 às 36 semanas . Visitas semanais a partir das 36 semanas até ao parto (cerca das 40 semanas).

Análises ao sangue e à urina Se não existirem razões para avançar com testes especiais, como acontece na maioria dos casos, poderão ser pedidos, entre outros, os seguintes exames de rotina: - Glicose, para avaliar se existe ou não diabetes - Hemograma, para avaliar alguma anemia e o estado dos elementos do sangue - Ureia e creatinina, que indicam o bom funcionamento renal - Ácido úrico, para ver se existe ou não em excesso no sangue - Urina simples e urocultura, que mostram a constituição da urina e se existe alguma infecção - Grupo sanguíneo e RH da mulher (e do pai, no caso da mulher ser RH negativa) para poder prevenir futuras reacções alérgicas do feto - VDRL, para pesquisa da Sífilis , e anticorpos da Toxoplasmose, Rubéola, Hepatite B e SIDA .

Estes exames serão, todos ou em parte, repetidos ao longo da gravidez.

Ultra-sonografia (ecografia) Após a quarta semana, já se poderá utilizar a ecografia, a fim de avaliar o desenvolvimento fetal e a sua evolução, posição, datar com segurança a gestação, avaliar a existência de alguns tipos de anomalias, e, também algo muito importante, estabelecer os primeiros laços visuais com os pais, ajudando a consolidar a carga afectiva que ao longo dos tempos se vai desenvolvendo. É um exame seguro, indolor e pouco demorado.

Amniocentese Chama-se líquido amniótico ao líquido onde o feto flutua dentro do útero. Estando em íntimo contacto com o feto, também aí se encontram algumas células da futura criança em suspensão, pelo que, se as conseguirmos analisar, poderemos avaliar a carga genética do bebé e averiguar a existência ou não de certas anomalias, como por exemplo, o síndroma de Down

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(mongolismo). Este exame está indicado para certos casos de risco, nomeadamente nas mães já com idade acima dos 35 ou naquelas famílias em que haja casos de certas doenças congénitas. O método é bastante seguro, sendo raras as complicações em consequência do exame (1 caso em 400). O exame consiste na introdução, com anestesia local, de uma agulha especial guiada por ecografia e que atravessa o abdómen e o útero até chegar ao líquido amniótico, do qual se aspira uma pequena quantidade para ser estudada.

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Questões Frequentes

• Posso continuar a beber café ou chá? Não existem provas de que a toma regular de cafés, chá, colas ou outras bebidas com cafeína possam causar defeitos nas futuras crianças. No entanto, existem alguma indicações no sentido de que poderá haver uma ligeira tendência para o risco de aborto no 1º e 2º trimestres. Assim, e segundo o National Institute of Child Health, não parece haver problema em beber o equivalente a três chávenas de café por dia. Mas o ideal será preferir sempre as bebidas descafeinadas.

• Posso tomar medicamentos? Toda a medicação deve ser sempre da iniciativa do seu médico que avaliará aquilo que pode ou não pode tomar. Nunca se automedique.

• Posso trabalhar com o computador? Sim. Todos os estudos feitos até agora não revelaram qualquer efeito prejudicial das radiações dos ecrãs sobre o feto. É, no entanto, recomendado que se mantenha a uma distância de 45 centímetros em relação ao monitor.

• Que alimentos devo evitar? Para além de toda e qualquer quantidade de álcool, devem-se evitar todos os excessos em termos de açúcares, gorduras, fritos e todos os alimentos pouco cozinhados, sejam eles carne, peixe ou ovos, bem como o leite não pasteurizado. A carne mal passada pode transmitir uma doença chamada toxoplasmose que pode causar defeitos ou mesmo a morte do bebé. Também se deve ter especial precaução com as saladas cruas (deixá-las de molho com três ou quatro gotas de lixívia antes de as preparar) e com os cremes e molhos facilmente contamináveis por microorganismos, especialmente no tempo quente.

• Fumar e beber durante a gravidez será assim tão prejudicial? Está mais que provado que o tabaco, mesmo fumado passivamente ou seja inalando o fumo dos outros, é extremamente prejudicial para o bebé. Na verdade, pode provocar alterações da placenta, risco de aborto ou parto prematuro e atrasos do crescimento. É por isso que a futura mãe não só não deverá fumar como também deverá evitar locais onde haja fumo. Quanto ao álcool, é recomendada a abstenção absoluta, uma vez que

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se sabe que também aumenta o risco de aborto, parto prematuro e pode, nas situações de maior abuso, causar o síndrome fetal alcoólico que se caracteriza por sérios defeitos de nascença, com diminuição do crânio, atraso mental e outras deformidades.

• Devo tomar vitaminas? Se a sua alimentação for equilibrada e variada, não deverá ser necessário. No entanto, deixe-se guiar pelo seu médico. Muitas vezes, é dado um suplemento em ferro e ácido fólico para auxiliar a gravidez e prevenir certas doenças do bebé. No entanto, é preciso ter em conta que o abuso de certas vitaminas, como a vitamina A, pode ser tóxico para o feto.

• As relações sexuais podem magoar o bebé? Normalmente, e à excepção dos últimos dias da gravidez, não há qualquer problema em manter relações sexuais durante a gestação a não ser que se trate de uma gravidez de risco, necessitando de cuidados especiais. Nesses casos, com certeza que o seu médico aconselhará abstinência. Como é lógico, também se deverão evitar actividades sexuais que exijam posições que comprimam demasiado a barriga da grávida.

• Posso viajar? Com as estradas em bom estado que hoje temos, não existe qualquer problema em viajar de carro. Apenas é aconselhável fazer paragens de tempos a tempos se a viagem durar mais de 1 hora. Convém, no entanto, evitar viajar por maus pisos. Quanto ao avião, não existem razões para não viajar, devendo no entanto saber-se que os regulamentos aeronáuticos não permitem que se viaje com mais de 36 semanas de gravidez. Já agora informamos que não existe qualquer perigo em passar nos detectores de metais que existem nos aeroportos.

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Alimentação Durante as 40 semanas de gravidez, toda a alimentação do bebé é fornecida pela mãe. Além disso, a própria mãe necessita de mais energias para se preparar para o parto e para atravessar saudavelmente todo o período de gestação. É portanto fundamental que, de preferência mesmo antes da gravidez, a futura mãe tenha determinados cuidados alimentares no que respeita à qualidade, quantidade e frequência dos alimentos que ingere.

Existem dezenas de livros e revistas sobre este assunto. Por vezes, o único objectivo de muitas dessas publicações é vender, sem se preocuparem com os conceitos errados que não raramente veiculam e com a confusão que frequentemente lançam nas futuras mães, muitas vezes já ansiosas pelos desafios que a maternidade lhes põe. É preciso dizer que apenas existe uma regra fixa no que respeita a este assunto - Bom Senso.

É com esse espírito que, a seguir, fornecemos algumas indicações sobre os

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cuidados alimentares na grávida.

Mudanças dos hábitos alimentares

Não se sabe com certeza a razão das alterações dos gostos alimentares durante a gravidez. Segundo alguns estudos, 75% a 90% das grávidas têm, pelo menos, uma fixação por determinado alimento durante a gestação (os famosos "desejos"), e 50% a 85% adquirem, pelo menos, uma aversão alimentar. Os enjoos afectam pelo menos 50% durante os primeiros tempos. Até certo ponto, estas alterações podem ser devidas às alterações hormonais verificadas no organismo. Antigamente, considerava-se este fenómeno como uma maneira do organismo preencher deficiências em determinados componentes alimentares. Na realidade, nada está provado nesse sentido. Outras alterações têm a ver com o aumento da salivação, que é um fenómeno normal, e com a sensação de azia, sobretudo nas fases mais avançadas da gravidez, à medida que o útero vai aumentando e apertando o espaço destinado ao estômago.

Quanto ao vómitos, e para além de medicação adequada, pode-se melhorar a situação aumentando a frequência das refeições e diminuindo as quantidades ingeridas de cada vez, dando preferência a alimentos com fibras, frutas, vegetais e líquidos em grande quantidade. A azia pode ser melhorada também com a ingestão de refeições pequenas e mais numerosas e evitando sentar-se ou deitar-se no fim de comer. Em caso de necessidade, poder-se-á fazer uma terapêutica com anti-ácidos.

O que é proibido

Não existem provas de que a toma regular de cafés, chá, colas ou outras bebidas com cafeína possam causar defeitos nas futuras crianças. No entanto, existem algumas indicações no sentido de que poderá haver uma ligeira tendência para o risco de aborto no 1º e 2º trimestres. Assim, e segundo o National Institute of Child Health, não parece haver problema em beber o equivalente a três chávenas de café por dia. Mas o ideal será preferir sempre as bebidas descafeinadas. Para além de toda e qualquer quantidade de álcool, devem-se evitar todos os excessos em termos de açúcares, gorduras, fritos e todos os alimentos pouco cozinhados, sejam eles carne, peixe ou ovos, bem como o leite não pasteurizado. A carne mal passada pode transmitir uma doença chamada toxoplasmose, que pode causar defeitos ou mesmo a morte do bebé. Também se deve ter especial precaução com as saladas cruas (deixá-las de molho com três ou quatro gotas de lixívia antes de as preparar) e com os cremes e molhos facilmente contamináveis por microorganismos, especialmente no tempo quente.

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Necessidades Diárias De Alimentos

Todas as dietas devem incluir sempre alimentos dos vários grupos, nomeadamente hidratos de carbono (pão, massa, arroz, batata, cereais crus), proteínas (peixe, carne, ovos, leite), vitaminas (frutas e vegetais), minerais (frutas, leite, frutos secos e vegetais) e gorduras (queijo, azeite, leite).

A seguir, fornecemos uma lista que descreve as necessidades diárias de alimentos, segundo o American College of Obstetricians and Gynecologists.

Alimentos Funções Quantidade A Lembrar Pão, cereais, arroz e massa

Fornecem hidratos de carbono, importante fonte de energia, vitaminas, minerais e fibras

1 fatia de pão, 30 gr de cereais crus, 1/2 chávena de cereais cozinhados, arroz ou massa ou 1 batata média/grande

Escolha pão integral, e cereais com fibras. Deve fazer várias refeições dentro deste grupo em cada dia

Vegetais Fornecem vitaminas A e C, fibras, acido fólico e minerais como o ferro e magnésio

1 chávena de saladas cruas, 1/2 chávena de vegetais cozinhados, 3/4 de chávena de sumo de vegetais

Escolha vegetais verdes escuros (espinafres, brócolos...) cenouras, milho e ervilhas, grão de bico

Fruta Vitaminas A e C, potássio e fibras

1 banana ou uma maçã ou laranja médias, 1/2 chávena de fruta em lata, 3/4 de sumo

Escolher fruta fresca, congelada ou enlatada. Prefira os sumos naturais sem açúcar

Aves e peixe, carne, feijão, ovos e frutos secos

Vitamina B, proteínas, ferro, zinco. Especialmente importante na gravidez, dado o feto necessitar de bastantes quantidades para o seu desenvolvimento

150 gramas de carne ou peixe ou aves cozinhadas sem gorduras, 1/2 chávena de feijão, 1 ovo ou 30 gr de carne magra

Escolha carnes magras e tire as peles e gorduras antes de cozinhar. Lentilhas e, frutos secos são também boas fontes de proteínas. Evitar frituras e assados com gorduras

Leite, iogurte e queijo

Proteínas, cálcio, fósforo e vitaminas. O cálcio é especialmente importante no desenvolvimento ósseo

1 chávena de leite ou 1 iogurte. 120 gr de queijo

Escolha alimentos com baixo teor de gorduras (magro ou "light"). Se não puder comer lácteos, utilize vegetais com folhas verdes, amendoins ou amêndoas secas, que também contêm cálcio.

Nota: por chávena, entende-se o volume do que em Portugal se conhece como chávena almoçadeira

Procure, dentro do possível, distribuir as suas refeições de modo a que consiga ingerir, em cada dia, os nutrientes acima mencionados. As quantidades podem ter de ser ajustadas, conforme o ganho de peso ao longo da gravidez seja ou não adequado. Não se esqueça de beber muita água.

Aumento de peso

À medida que a gravidez avança, o apetite tende a aumentar para que assim não faltem ao bebé os nutrientes de que necessita. As necessidades calóricas em relação à normalidade requerem um aumento de 300 calorias/dia na grávida. Durante a gravidez, uma mulher normalmente constituída deverá aumentar entre 11,5 kgs e 15,5 kgs, uma magra deverá ir até aos 18,5 kgs e

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uma obesa de 7 kg a 9 kgs . As obesas não deverão aproveitar a gravidez para emagrecer! Mas podem habituar-se a ter hábitos alimentares mais saudáveis e disciplinados. Este ganho de peso é distribuído entre a mãe e o feto em proporções variáveis ao longo da gravidez. Depósitos de gordura materna são constituídos durante as fases iniciais da gravidez até atingirem o seu máximo a meio do tempo. Vão depois servir como reserva de energia para alimentar o rápido crescimento fetal que se verifica a partir dessa altura.

Idealmente, deveria haver um aumento de 1,5 kg a 3,800 kgs no 1º trimestre e 350 grs a 450 grs por semana depois disso. O aumento mais rápido de peso ocorre nos últimos três meses. Uma ou duas semanas depois do nascimento, a mãe já perdeu em média 8 a 9 kgs. Ao fim de 4 a 6 meses, o peso voltou ao normal.

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Exercício Físico Durante a gravidez, como aliás durante as outras fases da vida, o exercício físico, praticado de forma regular e adequada, constitui uma das actividades ideais para uma boa manutenção da forma física, uma evolução mais harmoniosa do organismo materno durante a gestação, e uma melhor recuperação após o parto. O próprio parto é, aliás, grandemente beneficiado se a futura mãe praticar uma actividade física regular durante a gravidez. Por outro lado, as sensações desagradáveis que a gravidez provoca em muitos casos, como as dores articulares, musculares e pernas pesadas, diminuem de forma flagrante se houver actividade física moderada. É necessário, no entanto, que antes de se dedicar a praticar ginástica ou qualquer outra forma de exercício, a futura mãe consulte o seu médico a fim de saber se, eventualmente, existem condicionantes à actividade física. Isto é válido, sobretudo, nos casos em que a grávida não tem hábitos de exercício regulares.

Pode-se afirmar que qualquer forma de exercício é segura desde que praticada com moderação. Como é óbvio, actividades que acarretem o risco de traumatizar a mãe ou o feto, como o esqui, montanhismo ou desportos radicais, estão desaconselhadas durante esta fase e devem ser substituídas por outras modalidades mais "protegidas".

Existem, em muitos locais, aulas de "ginástica para grávidas". Embora normalmente sejam ministradas por profissionais credenciados e com prática, convém sempre informar-se sobre a idoneidade e competência profissional de quem orienta essas aulas.

De acordo com os "guidelines" do American College of Obstetricians and Gynecologists, existem determinadas recomendações a ter em conta, para as quais chamamos a melhor atenção:

• Faça exercício pelo menos 3 vezes por semana, durante um mínimo de 20

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minutos de cada vez. Evite sessões de exercícios intensos seguidos de longos períodos de inactividade.

• Evite exercícios que a obriguem a deitar-se de barriga após o terceiro mês de gravidez.

• Evite longos períodos em pé sem se mexer.

• Evite exercício intenso em ambientes quentes, húmidos ou se tiver febre.

• Se sentir que algo não está bem durante um determinado exercício, não o faça.

• Evite movimentos ou actividades com impactos frequentes ou violentos.

• Utilize um soutien que dê um bom apoio e proteja convenientemente o seu peito. É natural que tenha de comprar tamanhos maiores durante a gravidez.

• Use calçado apropriado, de modo a que os pés e tornozelos estejam bem protegidos e não escorreguem.

• Lembre-se que o seu centro de gravidade, e por conseguinte o seu equilíbrio, mudam durante a gravidez, devido ao peso crescente do bebé.

• Evite exercícios em que tenha de dobrar demasiado os joelhos, levantamentos simultâneos das duas pernas, e saltos com as pernas esticadas (devem amortecer a queda).

• Comece sempre com 5 minutos de marcha lenta ou bicicleta estática com pouca resistência, para aquecer bem os músculos. O exercício mais intenso não deve exceder os 15 minutos seguidos.

• Após o exercício mais intenso,faça 5 a 10 minutos de actividade gradualmente menos intensa, que deve terminar com exercícios suaves de relaxamento muscular ("stretching").

• Não se canse demasiado, nunca fique exausta!

• Meça o seu ritmo cardíaco durante as fases de exercício mais activo. O ritmo não deve exceder as 140 pulsações por minuto.

• Após um exercício no chão, levante-se lentamente para evitar vertigens. Após estar de pé, ande durante um ou dois minutos.

• Beba água antes, durante e após a sessão de ginástica. Lembre-se que o seu corpo necessita de estar hidratado.

• Aumente o número de calorias diárias de acordo com as necessidades da gravidez (ver " Alimentação "), ou seja, cerca de 300 calorias extra por dia.

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Durante a gravidez,não deve fazer exercício com o objectivo de perder peso!

• Páre o exercício e consulte o seu médico se sentir algum dos seguintes sintomas – dor, hemorragia vaginal, vertigens ou desmaio, falta de ar, batimentos cardíacos irregulares ou excessivamente rápidos (mais de 160), dificuldade em andar, dores nas costas ou zona do púbis e contracções uterinas.

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Doenças e Gravidez Os avanços da Medicina permitem, hoje em dia, que mulheres portadoras de doenças que outrora impediriam ou desaconselhariam uma gravidez, possam engravidar e ter filhos sem problemas de maior, desde que convenientemente vigiadas e controladas.

Se está a pensar em ter filhos e é portadora de uma doença crónica, deverá, no entanto, informar-se primeiro junto do seu médico se poderá avançar para uma gravidez, e quais os cuidados que deverá passar a ter. Muitas doenças necessitam de medicação que poderá ser prejudicial para o feto. No entanto, é possível modificar, baixar ou até suspender temporariamente as doses. Mas tal deverá ser sempre feito sob rigorosa vigilância médica. Para além das precauções com os medicamentos, poderá também ser necessário tomar certas precauções durante a gravidez, considerando os riscos que, para a mãe e para o filho, a doença poderá colocar.

Falemos agora de algumas das doenças que mais frequentemente põem problemas durante a gravidez:

• Asma

• Diabetes

• Doenças cardíacas

• Hipertensão

Asma

A asma é uma doença do aparelho respiratório, na qual as vias respiratórias ficam obstruídas, dificultando assim, em maior ou menor grau, a respiração dos doentes. É uma afecção crónica que pode ser desencadeada por uma reacção alérgica, uma infecção, uma exposição a determinados produtos tóxicos, por medicamentos ou outros factores menos frequentes. Entre as mulheres asmáticas que engravidam, cerca de 25% pioram dos seus sintomas, 25% melhoram e 50% não notam alterações. Cerca de 1% das

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mulheres desenvolvem asma em consequência da sua gravidez. Se, numa primeira gravidez, desenvolveu uma asma ou os sintomas se agravaram, é de esperar que tal volte a acontecer da próxima vez que ficar grávida.

Felizmente, os medicamentos utilizados hoje em dia para aliviar e prevenir as crises asmáticas não têm efeitos prejudiciais sobre o feto, pelo que podem continuar a ser tomados durante a gravidez, embora sempre sob a vigilância do médico. Uma mulher asmática pode assim contar com uma gravidez e parto normais, devendo no entanto tomar algumas precauções:

• Procure identificar e evitar o contacto com as substâncias que lhe causam as crises, como é, frequentemente, o caso do tabaco, poeiras, pólenes, pêlos e penas de animais, perfumes, certos alimentos e medicamentos. No caso de alergia aos pólenes, evite sair de casa durante a manhã, sobretudo na Primavera, altura em que existe maior quantidade no ar. Ao viajar de carro, ligue o ar condicionado (no caso de o ter), ou feche a entrada de ar do exterior, ao atravessar zonas com grandes concentrações de plantas e árvores (mimosas, eucaliptos, pinheiros, abetos...).

• Remova de sua casa ou dos locais onde permanece mais tempo todos os objectos que possam servir de depósito a poeiras e similares (tapetes, alcatifas, cortinas, almofadas de penas) e aspire com frequência os estofos. Proíba o fumo dentro de casa, remova eventuais animais (pássaros, gatos, cães) para zonas mais exteriores.

Doenças e Gravidez

Diabetes

Hoje em dia, ao contrário do que sucedia ainda há alguns anos, é possível a uma diabética engravidar e ter um parto e um bebé normais. A diabetes é uma doença em que os níveis de açúcar (glicose) no organismo se elevam em demasia, por haver uma deficiência na produção ou na utilização da insulina, que é uma hormona produzida pelo organismo para controlar aqueles níveis. Por outro lado, devido às hormonas produzidas pela placenta, pode haver uma alteração na produção de insulina e uma mulher que nunca teve os níveis de açúcar elevados, desenvolver aquilo a que se chama "diabetes gestacional", uma situação que aparece usualmente na segunda metade da gravidez e desaparece após o parto. É por isso que se fazem frequentes controlos da glicose durante o tempo de gestação.

Uma diabetes mal controlada, em que os níveis de açúcar se mantêm elevados, aumenta determinados riscos, nomeadamente defeitos de nascença a nível cardíaco, renal e da espinha. Por outro lado, se o feto receber demasiado açúcar durante a gravidez, correrá o risco de nascer com peso e tamanho acima do normal (macrosomia),

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o que dificulta o parto e aumenta os riscos de uma diabetes na criança.

Em conclusão, uma grávida diabética deve fazer um controlo apertado da sua glicemia (o ideal seria dispor em casa de um aparelho de medição e fazer controlos de, pelo menos, uma vez ao dia), e seguir uma alimentação e medicação adequadas e frequentemente reguladas em função dos valores de açúcar encontrados. Deve evitar os doces e o álcool e fazer uma alimentação repartida em, pelo menos, seis pequenas refeições ao longo do dia, procurando comer alimentos variados. Ao contrário de uma crença ainda muito espalhada, deve ingerir bastantes vezes hidratos de carbono de absorção lenta (batata, arroz, massa, pão), se bem que em pequenas quantidades de cada vez. É também importante o exercício físico moderado, que ajuda a "queimar" o açúcar em excesso.

Doenças e Gravidez

Doenças cardíacas

Durante a gravidez, o coração vai ser obrigado a bombear mais 30% a 40% de sangue por minuto em relação ao normal. Esta sobrecarga que lhe é exigida, a fim de poder alimentar a circulação do bebé, pode ser problemática no caso da grávida sofrer de alguma doença do coração como febre reumática ou insuficiência cardíaca. Assim, é sempre aconselhável consultar o médico se sofrer de algum tipo de doença do coração e quiser engravidar Por sua vez, a própria gravidez pode causar o aparecimento de determinadas alterações cardíacas que devem ser vigiadas (sopros, arritmias, palpitações, etc.).

Eis algumas situações a que se deve estar atento(a):

• A maior parte das mulheres com problemas cardíacos pode engravidar desde que continue sendo vigiadas. Antes de o fazer, no entanto, deve consultar sempre o médico, a fim de ser efectuado um estudo sobre as condições do seu aparelho cardio-circulatório para suportar uma gestação completa e um parto. Normalmente, serão pedidos alguns exames, como um electrocardiograma, eventualmente com prova de esforço, uma ecografia ao coração, e uma radiografia ao tórax. Na posse dos elementos fornecidos por estes ou outros exames, o médico decidirá as medidas a adoptar. Um ponto a ter em conta é que as crianças nascidas de mães com deficiências congénitas do coração têm também maior probabilidade de vir a sofrer de anomalias cardíacas, sendo sempre de boa norma serem seguidas pelo cardiologista pediatra que pode, inclusivamente, avaliar o coração do feto através de uma ecografia fetal a partir das 17 semanas.

• Febre reumática - esta doença, causada pela infecção com um micróbio chamado estreptococos, pode levar à afecção das válvulas do coração, para

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além de outros locais, as quais se tornam mais espessas e deixam de vedar correctamente as cavidades cardíacas, baixando assim o rendimento circulatório. Normalmente, as lesões não impedem que se engravide, mas deve haver uma monitorização regular durante a gestação.

• Certas formas de arritmia (batimentos cardíacos irregulares) ou de cardiomiopatia (doença do músculo do coração) podem agravar-se durante uma gravidez. Por outro lado, as medicações muitas vezes utilizadas nestas situações bem como nas pessoas a quem foi implantada uma válvula artificial, sendo medicações que vão diminuir a coagulação do sangue, podem prejudicar o bebé. Os anti-coagulantes dados por via injectável (heparina) não colocam esses problemas e podem constituir uma alternativa, desde que a vigilância seja apertada.

• Existem, no entanto, alguns casos de doença cardíaca em que a gravidez está formalmente desaconselhada; é o que acontece na coarctação da aorta, em que esta artéria, que leva o sangue para toda a zona abdominal, se encontra estreitada, não permitindo uma correcta circulação e pondo em risco a vida do feto e da mãe. O mesmo sucede nos casos de estenose (aperto) da válvula aórtica, em que esta (que permite a entrada de sangue para a citada artéria) se encontra demasiado estreitada. Também nos casos em que haja certas deformidades cardíacas, é desaconselhável a gravidez. Em algumas destas situações, pode fazer-se uma correcção cirúrgica, possibilitando uma gravidez posterior. A hipertensão pulmonar (não confundir com hipertensão arterial), em que existe uma elevada pressão de sangue nos vasos pulmonares, é também uma contra-indicação da gravidez.

Doenças e Gravidez

Hipertensão arterial

Uma tensão arterial de 140/90 é considerada elevada numa grávida. Como já vimos anteriormente, no capítulo sobre " Complicações da gravidez ", uma tensão elevada pode trazer graves problemas para a mãe e para o feto. É por isso fundamental que a sua medição se faça de uma forma regular, pelo menos uma vez por semana, e que qualquer alteração seja de imediato comunicada ao seu médico. Existem também outros sinais que podem estar relacionados e que também devem ser vigiados:

• Súbito aumento de peso (mais de meio kg/dia)

• Cefaleias permanentes ou muito intensas

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• Dores na zona superior direita do abdómen

• Edemas (inchaços) acentuados das mãos e face (nos pés é normal)

Cerca de 7% das mulheres vão sofrer de hipertensão durante a gravidez. Algumas delas nunca tinham tido anteriormente tensões elevadas, aparecendo esta situação geralmente após a 20ª semana. Neste caso, está-se em presença de uma hipertensão gravídica que é mais frequente nas mulheres que já a tiveram em gravidezes anteriores, nas diabéticas, nas doentes renais, maiores de 40 anos ou que estejam grávidas de gémeos.

No caso de já ser uma doente hipertensa antes da gravidez, não existe qualquer problema em continuar a medicação para baixar a tensão, desde que controlada pelo médico. Com a excepção de um grupo de medicamentos conhecidos por "inibidores do enzima de conversão" ou IECA, que podem ser facilmente substituídos, os medicamentos anti-hipertensores são seguros para as grávidas.

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Complicações da Gravidez

Durante a gravidez, podem surgir vários problemas e complicações. Na maioria dos casos, são situações benignas e facilmente resolúveis, mas existe uma percentagem de casos em que os riscos, em termos de saúde para a mãe ou para o bebé, são reais e requerem intervenção adequada e atempada. Vamos aqui focar alguns dos problemas mais comuns que podem surgir no decorrer de uma gestação:

• Vómitos

• Pernas pesadas e varizes

• Azia

• Polaquiúria (urinar frequentemente)

• Hemorragias

• Atraso de crescimento fetal

• Gravidez ectópica

• Pré-eclâmpsia

• Aborto espontâneo

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Vómitos

Mais frequentes nas fases iniciais da gestação, podem aparecer muito precocemente e ser, por vezes, o primeiro sinal de uma gravidez ( estarei grávida? ). A sua causa está provavelmente relacionada com as alterações hormonais pelas quais o organismo está a passar. Normalmente não põem problemas de maior e muitas das grávidas suportam-nos sem grande sofrimento, não sendo mesmo necessária qualquer medicação. No entanto, há casos em que se tornam muito frequentes e em que o aspecto nutricional da futura mãe pode ficar em risco. Nessas situações, é conveniente fazer tratamento medicamentoso anti-emético, existindo, hoje em dia, no mercado preparados perfeitamente adequados à gravidez. Para além desses medicamentos, aconselha-se a ter determinados cuidados alimentares, nomeadamente, evitar refeições pesadas e abundantes e excesso de doces, dar preferência a alimentos mais leves como saladas, frutas, legumes e peixe magro, beber líquidos com abundância, evitar os excitantes como o café e colas bem como as bebidas com álcool. Também não se deve andar em jejum ou estar longos períodos de tempo sem se alimentar. As refeições devem ser frequentes e em pequena quantidade de cada vez.

Complicações na Gravidez

Pernas pesadas e varizes

Esta situação, também comum, aparece mais para o fim da gravidez, quando o peso da criança começa a comprimir os vasos que fazem a circulação de retorno dos membros inferiores. As alterações de textura dos tecidos (mais "moles") bem como o ambiente hormonal também contribuem para o aparecimento ou agravamento desta situação. Nas mulheres que já sofriam de varizes, nas obesas, nas mulheres que estão muito tempo paradas em pé e naquelas que têm hábitos de tabagismo, os sintomas podem ser mais graves e acentuados.

Existem quatro pontos a ter em conta para minimizar esta situação:

• Eliminar os factores de risco, como é o caso de tabagismo, evitar engordar demasiado durante a gestação (ver aumento de peso ) e procurar não estar muito tempo parada em pé. Naquelas profissões em que esta última situação acontece (cabeleireiras, balconistas, etc.), devem fazer-se pequenos intervalos, durante os quais a grávida se deve sentar ou mesmo deitar com as pernas levantadas. Quando em pé, será vantajoso fazer regularmente pequenas contracções dos músculos das pernas, o que se consegue, por exemplo, pondo-se em bicos de pés repetidamente ou fazendo movimentos de marcha parada. Nos casos limite, poderá ser necessário recorrer à baixa ou licença de parto antecipada (consultar legislação ). <

• Fazer exercício físico regular e apropriado ( exercício na gravidez ) e, sempre que estiver sentada, procurar estar com as pernas elevadas.

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Eventualmente, colocar uma pequena altura por debaixo das pernas quando se for deitar.

• Usar calçado apropriado, que deve ser largo mas sem tendência para cair, raso ou com pouco salto, e antiderrapante. Usar, sobretudo a partir do segundo trimestre, meias de descanso ou mesmo meias elásticas, de preferência collants que envolvam todo o membro inferior até à cintura.

• Consultar sempre o médico, a fim de averiguar se estas medidas são suficientes ou se é necessário tomar alguma medicação específica para melhorar a circulação.

Complicações na Gravidez

Azia

É outro sintoma geralmente benigno e frequente na segunda metade da gestação. Deve-se ao facto da criança "empurrar" o estômago e o comprimir, fazendo com que haja um refluxo do ácido existente no estômago para o esófago e, assim, provocar uma sensação de queimadura conhecida como azia.

A melhor maneira de obviar a esta situação é fazer o que já recomendamos para os vómitos - refeições frequentes e em pequenas quantidades de cada vez. É necessário também evitar que o estômago fique comprimido após as refeições, procurando não se sentar, curvar ou deitar nessas alturas. Deverá haver cuidados redobrados com o tabaco e os alimentos mais agressivos para o estômago, como é o caso do álcool, picantes, bebidas com gás, alimentos que fermentem muito, como é o caso dos bolos, pão branco, ou feijão e grão. Se necessário, podem-se tomar medicamentos anti-ácidos ou protectores da mucosa gástrica, que devem ser sempre autorizados pelo médico.

Complicações na Gravidez

Polaquiúria (urinar frequentemente)

É também um sintoma mais usual na segunda metade da gravidez. A principal causa é o peso progressivamente maior que o bebé vai fazendo sobre a bexiga, a qual, ficando com menos espaço, tem de esvaziar mais vezes. Neste caso, não existe grande solução senão paciência, mas é sempre conveniente pôr o problema ao médico, uma vez que pode estar em causa uma infecção urinária a necessitar de tratamento e que também se manifesta por micções frequentes, embora muitas vezes seja acompanhada de dores ou ardor ao urinar e de mal-estar.

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Complicações na Gravidez

Hemorragias

Uma hemorragia vaginal na grávida é sempre uma situação a ser investigada com urgência.

Embora seja algo que ocorre com certa frequência durante a gravidez (uma em cada quatro, sobretudo no primeiro trimestre), e que nem sempre corresponde a uma situação grave, é necessário ter presente que também pode ser o sinal de que qualquer coisa de muito sério se está a passar. Durante o primeiro trimestre, por exemplo, pode ser o primeiro sinal de um aborto espontâneo ou de uma gravidez ectópica , enquanto que uma hemorragia mais para o final da gestação pode significar uma separação da placenta (o órgão onde se fazem as trocas de nutrientes, oxigénio e outros componentes entre a mãe e o feto) em relação ao útero (abruptio placentae) ou pode haver uma placenta prévia, situação em que a placenta recobre o canal cervical do útero , levando à necessidade de se fazer uma cesariana de urgência.

No entanto, cerca de metade das mulheres que tiveram hemorragias durante a gestação acabam por ter um parto normal e dar à luz crianças sem problemas de saúde. As hemorragias podem efectivamente ser consequência de situações mais benignas como sejam a irritação da zona cervical do útero, em consequência da actividade sexual ou da implantação do embrião no útero (nesse caso, a hemorragia ocorre muito cedo, mais ou menos na altura em que deveria aparecer o período se não estivesse grávida). Nestes casos, as hemorragias são em pequenas quantidades e têm um aspecto acastanhado. Podem também haver hemorragias mais avermelhadas sem que isso signifique haver uma situação grave. Tal é o caso em que se verifica um ligeiro e breve descolamento da placenta que depois se volta a colocar no sítio, ou quando existem pequenas inflamações no revestimento do útero.

Mas voltamos a repetir, em qualquer caso em que se verifique haver uma hemorragia vaginal, mesmo que ligeira e pouco viva, é obrigatório ir de imediato ao médico ou a um serviço de urgência a fim de se determinarem as causas e de, eventualmente, se avançar com um tratamento adequado.

Complicações na Gravidez

Atraso de crescimento fetal

Considera-se haver atraso de crescimento fetal quando a criança nasce com um peso abaixo do percentil 10 para a respectiva idade de gestação. Em termos gerais, o percentil representa o desvio, para uma determinada idade, em relação à média que é 50. Isto quer dizer que uma criança com um percentil 50 corresponde à média geral da população com a mesma idade, e

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uma criança com um percentil 80 está 30 pontos acima da média para a sua idade. Assim, uma criança com um percentil abaixo de 10 está mais de 40 pontos abaixo da média para a sua idade, sendo considerada como tendo atraso de crescimento fetal. Também é importante ter em conta que uma criança pode nascer com pouco peso (menos de 2,500 Kg ) mas ser prematura e, portanto, esse peso estar correcto para a idade de gestação respectiva. Este conceito é importante, porque os recém nascidos com atraso de crescimento fetal estão numa situação de risco acrescido em termos de saúde e de desenvolvimento físico e psíquico.

Esta situação é normalmente causada por "agressões" que o feto sofreu durante a gestação, nomeadamente carências de nutrição, uso de tabaco, álcool, e infecções ou problemas vasculares que tenham afectado a irrigação da placenta, que é o órgão onde se fazem as trocas de nutrientes, oxigénio e outros componentes entre a mãe e o feto. Outras causas são a hipertensão durante a gravidez, problemas crónicos de saúde da mãe, toxicodependência, alterações genéticas e gravidezes gemelares (com mais de um feto). É importante saber que o atraso de crescimento fetal é mais grave e de pior prognóstico nos casos em que as citadas agressões, e logo o atraso de desenvolvimento, começaram mais cedo durante a gravidez, sendo mais provável uma total recuperação do bebé naqueles casos em que a agressão fetal começou só após as 30 semanas.

Um método de diagnóstico importante para avaliar a evolução do crescimento do feto é a ultra-sonografia fetal, normalmente conhecida como ecografia, que pode detectar esta e outras anomalias ainda a tempo de se intervir através da prevenção e de terapêuticas apropriadas.

Complicações na Gravidez

Gravidez ectópica

Verifica-se em cerca de 1% das gestações e consiste na implantação do embrião fora do útero, normalmente nas trompas de Falópio . À medida que o embrião vai crescendo, a trompa vai-se dilatando, provocando dores e, eventualmente, hemorragias a partir de certa altura. Caso não se intervenha a tempo, pode dar-se o rompimento das trompas, normalmente cerca da sexta semana de gravidez, situação de alto risco para a mãe e que pode mesmo levar à morte.

Esta situação é normalmente causada por anomalias da permeabilidade das trompas, que impedem assim que o ovo progrida para o útero e fazem com que fique bloqueado no interior do tubo que constitui a trompa. Na sua origem, podem estar anomalias congénitas, mas também, frequentemente, cicatrizes de Doenças Sexualmente Transmissíveis , um D.I.U. mal adaptado, ou uma patologia conhecida como endometriose.

A Gravidez Ectópica pode ser diagnosticada através de um exame pélvico,

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ecografia ou teste ao sangue. Nas fases iniciais, quando ainda só existe distensão mas não há rotura, os sinais mais típicos são dores fortes a nível do abdómen e ombro, normalmente só de um lado. Pode haver hemorragia vaginal, sensação de desmaio ou mesmo perda de consciência. Se a trompa chegar a romper, há dor muito intensa e estado de choque (coma). O pulso torna-se rápido e fraco, a pele pálida e húmida. É necessária hospitalização imediata.

O tratamento da gravidez ectópica é cirúrgico.

Complicações na Gravidez

Pré-eclampsia

É um conjunto de sintomas que se pode verificar em cerca de 5% das gestações, normalmente entre a 20ª e 24ª semana. Caracteriza-se por tensão arterial elevada, edemas (inchaços), alterações dos reflexos musculares, presença anormal de proteínas na urina e aumento de peso rápido e progressivo (mais de 0,5 kg/dia). Outros sintomas podem aparecer, tais como cefaleias, náuseas e dores abdominais.

Esta doença pode evoluir para uma situação mais grave, a Eclâmpsia, em que existe o risco de convulsões, alterações da coagulação do sangue, problemas do fígado e mesmo, em casos raros, de morte da mãe. O risco é maior nas grávidas com história de tensão arterial elevada, diabetes, doenças renais e com familiares com casos de pré-eclâmpsia.

Nos casos mais graves, em que aparecem cefaleias, alterações da visão e inchaço das mãos e pernas, pode ser necessária a hospitalização para tratamento com drogas anti-hipertensoras e vigilância do feto. Nos casos mais ligeiros, a grávida será aconselhada a ficar em casa, de cama, com uma alimentação rica em proteínas e água e pobre em sal.

A toma de uma pequena dose de aspirina a partir da 24ª semana de gravidez, pode ter um efeito preventivo nos casos de risco. Mas tal só deve ser feito com autorização médica.

Complicações na Gravidez

Aborto espontâneo

Como o nome indica, consiste na perda espontânea do embrião. É relativamente comum, ocorrendo em média numa em cada seis gravidezes, especialmente nas primeiras semanas (45% dos casos). É mais frequente em mulheres mais velhas e com história de abortos anteriores.

Os sinais mais típicos são a hemorragia vaginal, dores nas costas e o

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desaparecimento dos vómitos ou do aumento de volume do peito.

Quanto às causas, as anomalias genéticas do feto vêm à frente, com cerca de 50% dos casos. No fundo, trata-se aqui de um meio que a Natureza utiliza para impedir o desenvolvimento de uma gravidez dum feto com graves deficiências. Outras causas incluem diabetes da mãe, drogas, álcool, exposição a poluentes como o chumbo, formaldeído e arsénico, defeitos anatómicos do útero, infecções ginecológicas e traumatismos. Não está provado que a exposição aos monitores de computadores possa provocar o aborto.

No caso de antecedentes ou de ameaça de aborto, é recomendável repouso absoluto na cama, eventualmente internamento hospitalar.

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Trabalho de Parto e Nascimento Trabalho de Parto

O trabalho de parto é aquela fase que decorre desde que o útero começa a expulsar o feto, contraindo-se e provocando a gradual descida do bebé, e ao mesmo tempo dilatando o colo do útero para o deixar passar para o exterior.

Muitas grávidas, sobretudo as que o são pela primeira vez, têm uma grande ansiedade em relação aos sinais que indicam que o parto está prestes a acontecer. Embora sejam diferentes de mulher para mulher, existem sintomas que são constantes, nomeadamente as contracções, em que a grávida sente que os músculos uterinos se começam a contrair com um determinado ritmo, sinal de que o útero está a "empurrar" o feto para fora. O colo do útero começa também a dilatar-se (o que só é detectável na maternidade) para deixar passar o feto, e este é outro sinal inequívoco de que o parto está em curso. O outro sintoma da iminência do parto é a rotura do "saco das águas", que não é mais do que o rompimento do saco amniótico, membrana que continha o líquido no seio do qual flutuava até aí o feto.

Sobretudo na primeira gravidez, e caso não haja qualquer situação especial para que o seu médico a tenha avisado, o trabalho de parto vai ainda durar umas horas, pelo que não é necessário precipitar-se em corrida para a maternidade. Normalmente, a primeira fase durante a qual o colo se dilata, dura cerca de seis horas nas primíparas (mulheres grávidas pela primeira vez).

Uma das grandes dúvidas que se põe às grávidas pouco experientes, é como saber se as contracções que estão a ter significam que o parto está a chegar.

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Efectivamente, ao longo das fases mais adiantadas da gravidez, a mulher vai sentindo de quando em quando contracções uterinas (conhecidas como contracções de Braxton-Hicks). No entanto, quando começa o trabalho de parto, as contracções tornam-se mais frequentes, dolorosas e com um ritmo regular, sendo cada vez menos espaçadas.

A tabela que a seguir mostramos, baseada no American College of Obstetricians and Gynecologists, pode ajudá-la a distinguir as contracções de um verdadeiro trabalho de parto das de um falso:

CONTRACÇÕES TRABALHO DE PARTO FALSO PARTO RITMO Regular e cada vez mais frequente Irregular, e não aumenta de frequência EFEITOS DA MOVIMENTAÇÃO DA MÃE

As contracções não são afectadas As contracções podem parar (p.ex. ao andar)

LOCALIZAÇÃO Normalmente de trás para a frente, podendo ser só à frente

Geralmente só à frente

INTENSIDADE Cada vez mais fortes, prolongadas e dolorosas

Geralmente fracas, pouco dolorosas e sem aumento de intensidade

Contacte o médico quando as contracções durarem pelo menos 30 a 70 segundos cada uma e ocorrerem em intervalos regulares. Deverá ir para a maternidade quando as contracções estiverem espaçadas de cinco minutos ou menos, ou quando tiver mais de 12 contracções numa hora, embora irregulares.

A rotura do saco amniótico manifesta-se por uma saída, que pode ser súbita ou gradual, de um líquido claro e transparente, podendo acontecer sem que hajam contracções.

Um conselho: embora não deva haver precipitações, é bom que a sua mala e a do bebé, estejam preparadas com alguma antecedência e que as pessoas da casa saibam onde estão. No caso de ser uma segunda gravidez, o trabalho de parto poderá demorar menos, pelo que demasiada descontracção também não é aconselhável...

O Parto

Normalmente o parto dura cerca de 12 a 14 horas numa primípara (mulher que está grávida pela primeira vez) e algumas horas menos nas que já tiveram mais filhos. Existem três estadios distintos:

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• O primeiro estadio, que é o mais demorado, começa com o início da dilatação do canal cervical e acaba quando a dilatação está completa. Consta de três fases:

• Fase inicial, que dura em média 6 a 8 horas nas primíparas, e que começa com contracções leves de 30 a 60 segundos, espaçadas de 5 a 30 minutos. Durante esta fase, o colo dilata-se para cerca de 2 a 5 centímetros e o bebé inicia a descida para a pélvis.

• Fase activa, que dura em média 3 a 4 horas nas primíparas e, durante a qual, o saco amniótico se rompe, caso ainda não tenha acontecido. As contracções tornam-se mais fortes, dolorosas, menos espaçadas ( 3 a 5 minutos) e duram mais ( 45 a 60 segundos cada). O colo dilata-se agora para 5 a 8 centímetros de diâmetro e a cabeça do feto desce ainda mais, podendo comprimir os ossos da bacia na parte posterior, causando dores aí e nas pernas.

• Fase de transição, que dura de 15 a 90 minutos em média, mas que é a mais intensa em termos de sintomas, podendo haver náuseas, vómitos, tremores, cefaleias, descontrolo nervoso, irritabilidade, e suores. As contracções são agora mais violentas e dolorosas, espaçadas de 1 a 3 minutos, e duram de 60 a 90 segundos. É nesta altura que se devem empregar as técnicas respiratórias e de relaxamento. Tratam-se de exercícios difíceis de descrever aqui, mas que o seu médico ou enfermeira poderão ensinar. Durante esta fase, o colo dilata-se totalmente e a cabeça do bebé aparece no canal de saída.

Como se pode ver, consideramos aqui um parto normal, em que a posição do feto é de cabeça para baixo. Existem contudo outras situações em que se pode apresentar de pélvis (desce de nádegas para a frente e pernas dobradas para cima) ou mesmo em posição transversal. Em muitas destas situações, opta-se hoje em dia por fazer uma cesariana (parto em que o feto é extraído cirurgicamente, abrindo o abdómen e o útero da mãe), tanto mais que as ecografias antes realizadas permitem saber antecipadamente qual a posição de apresentação.

• O segundo estadio consta do acontecimento principal, ou seja, o nascimento do bebé. A mulher sente uma necessidade imperiosa de "puxar" como se estivesse a defecar, devido a uma sensação intensa de pressão e aperto. São estes "puxões" que ajudam o feto a sair para o exterior. As contracções diminuem, enquanto a cabeça do feto aparece na saída da vagina. Após a saída da cabeça, a parte mais volumosa, os ombros e o resto do corpo retiram-se sem dificuldade. Por vezes, o médico necessita fazer um pequeno corte (episiotomia) na zona lateral da saída da vagina a fim de facilitar a passagem do feto que, de outro modo, poderia rasgar aquela zona e dificultar a sua posterior reparação.

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Também acontece com alguma frequência ter de se auxiliar a passagem da cabeça para o exterior com uma espécie de tenazes em forma de colher (forceps) que se adaptam à cabeça do bebé e o puxam para fora. Outra modalidade de fazer essa tracção da cabeça é com o uso de ventosas que se colocam no couro cabeludo (que para o caso convém não ser muito cabeludo...).

• O terceiro estadio começa após o nascimento do bebé e termina com a expulsão da placenta que, entretanto, se descolou da parede do útero. Dura cerca de 20 minutos e é o mais "fácil". O médico sutura as zonas que tenham sido laceradas ou cortadas pela eventual episiotomia .

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Situações Especiais - Gravidez após os 40 e Gémeos Existem determinadas situações em que a gravidez foge um pouco ao que é considerado como normal. Entre várias, escolhemos duas - a gravidez após os 35 anos , cada vez mais frequente mas que implica certos riscos de que é preciso estar consciente, e a gravidez gemelar .

Gravidez após os 35 anos

Estima-se que, no próximo ano, nos países desenvolvidos, 1 em cada 12 gravidezes seja de uma mulher com mais de 35 anos. Embora os riscos de uma gravidez a partir desta idade sejam algo maiores do que em mulheres mais novas, os avanços médicos permitem, hoje em dia, monitorizar de uma forma muito completa essas situações e a maioria das mulheres na casa dos 30 ou 40 anos têm filhos perfeitamente saudáveis.

No entanto, é conveniente ter em conta determinados aspectos, no caso de pretender engravidar após os 35 anos:

• Maior risco de aborto Embora seja menor do que nas adolescentes, é mais elevado do que nas mulheres dos 20 aos 30. As mulheres com mais de 40 anos têm um risco duas vezes mais elevado do que as de 20 a 30.

• Mais problemas de saúde durante a gravidez Estão aumentados os riscos de vir a sofrer de tensão arterial elevada , diabetes, problemas cardiovasculares, e hemorragias .

• Partos mais difíceis As mulheres com mais de 35 anos têm uma probabilidade de cerca de 70 a 80% de terem um parto por cesariana (parto em que o feto é extraído cirurgicamente, abrindo o abdómen e o útero da mãe). Também a probabilidade de virem a ter gémeos é maior do que nas mulheres mais novas.

• Maior risco de problemas genéticos na criança Este é com certeza o risco que mais aflige e preocupa as grávidas acima dos 35 anos.

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O problema mais comum é o de a criança vir a sofrer do sindroma de Down, popularmente conhecido como "mongolismo", em que existe atraso mental desde leve a muito profundo e anomalias físicas várias. Segundo as estatísticas, são as seguintes as probabilidades de uma mulher dar à luz uma criança com síndroma de Down:

25 anos 1 em 1250 30 anos 1 em 952 35 anos 1 em 385 40 anos 1 em 106

Se o pai tiver mais de 55 anos, a probabilidade daquela doença é também elevada, independentemente da idade da mãe.

Hoje em dia, estão indicados exames pré-natais nos casos de risco acrescido de doenças congénitas. Esses exames, nomeadamente a amniocentese , permitem analisar determinadas características do feto e, eventualmente, fazer uma interrupção da gravidez , prevista na Lei. Para além da idade da mãe, e em certa medida do pai, também importa saber os antecedentes pessoais ou familiares de doença congénita.

Todas as grávidas com mais de 35 anos devem seguir ainda com mais rigor as indicações de que já falámos em termos de alimentação, exercício, uso de tabaco e álcool e vigilância médica.

Partos Múltiplos

Um parto múltiplo pode começar de duas formas. No caso de gémeos não-idêntícos, dois óvulos (de um ou de ambos os ovários) são fertilizados, produzindo gémeos do mesmo ou de sexos diferentes e não mais parecidos que outros irmãos. Geralmente, cada gémeo tem a sua própria placenta, apesar de as placentas se poderem fundir a determinada altura e parecerem apenas uma, tornando-a um guia pouco rigoroso para determinar se gémeos do mesmo sexo são não-idênticos ou idênticos. Gémeos idênticos desenvolvem-se depois de um único óvulo se dividir após a fertilização. As células separadas dão origem a bébés que partilham os mesmos genes. Gémeos idênticos são sempre do mesmo sexo e desenvolvem-se juntos na mesma placenta, possuindo rigorosamente o mesmo ADN e, por conseguinte, o mesmo código genético.

Nos Estados Unidos, as probabilidades de ter gémeos não-idênticos são de 1 para 90. A taxa de gravidez múltipla é mais elevada em pacientes que tenham usado drogas fertilizantes e/ou tenham feito fertilização 'in vitro'. Étnicamente, a maior percentagem verifica-se nos afro-americanos - 1 em cada 70 partos. Os caucasianos têm gémeos na relação de 1 em cada 88 partos, enquanto os asiáticos possuem a mais baixa taxa de partos múltiplos (1 em 150 para as mulheres japonesas e 1 em 300 para as mulheres chinesas).

A probabilidade de ter gémeos idênticos não é influenciada pela raça e é na

Page 26: Gravidez - USF Monte de Caparicausf-montecaparica.min-saude.pt/Documents/SaudeMulher.pdf · mais faltas menstruais, é sempre forçoso proceder a um teste de gravidez (ver abaixo

relação de 3 a 5 em cada 1.000 nascimentos. Se a sua primeira gravidez resultar em gémeos, será 5 vezes mais provável que tenha gémeos na sua gravidez seguinte.

Nos Estados Unidos, os trigémeos ocorrem na relação de 1 em cada 7 500 gravidezes e quadrigémeos de 1 em cada 650 000 gravidezes. Os gémeos são mais comuns se tiver mais de 35 anos, se houver gémeos na sua família, se teve gémeos anteriormente, se usou drogas fertilizadoras (que estimulam a libertação de mais de um óvulo) ou se já passou por várias gravidezes (a probabilidade de ter gémeos aumenta com cada gravidez).

Um parto múltiplo é, muitas vezes, previsto através de exames de ultra-sons. Comparada com uma gravidez de um único feto, a gravidez múltipla é diferente em alguns aspectos. Eis o que poderá esperar:

• Sintomas de gravidez aumentados, tais como o enjoo matinal e o aumento do peito, devido aos níveis mais elevados de hormonas de gravidez;

• Aumento substancial do peso. Deve esperar aumentar mais de 18kg se tiver um peso normal no início da gravidez. Deve adicionar 300 calorias por dia à sua dieta para cada bébé. Recomenda-se um ganho médio de cerca de 700g por semana, durante o segundo e o terceiro trimestres;

• Um útero muito pesado e dilatado, que causa fadiga, falta de fôlego, aumenta a probabilidade de azia, prisão de ventre, desconforto pélvico, incontinência, dores nas costas e hemorróidas, tudo provocado pela pressão do útero nos órgãos;

• Apresentação invulgar dos bébés, como por exemplo, um deles surgir com a cabeça primeiro e o outro com os pés primeiro, tornando o parto mais complexo. Por esta razão, é desejável que o parto seja realizado num centro médico que tenha serviços especializados de obstetrícia e uma unidade de cuidados para recém-nascidos;

• Stress e ansiedade sobre a gravidez e suas complicações, tais como, parto prematuro, pré-eclâmpsia, trabalho de parto prolongado e problemas nos recém-nascidos;

• O tempo médio de uma gravidez é de 37 a 38 semanas. Há uma taxa mais elevada de partos prematuros e uma maior percentagem de recém-nascidos com peso baixo - menos de 2,5kg. O aumento inadequado de peso maternal pode ser em parte responsável pelo resultado menos bom.

(*) Fontes: www.sexualidades.com