geografia polÍtica na bacia do prata: assimetrias na gestÃo de recursos hÍdricos e seus reflexos...

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GEOGRAFIA POLÍTICA NA BACIA DO PRATA: ASSIMETRIAS NA GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS E SEUS REFLEXOS NA CONTEMPORANEIDADE ESPÍNDOLA, Isabela B.; GARCIA, Tatiana de S. L. RESUMO A água é motivo de poder, conflito e cooperação entre os Estados em decorrência de sua importância e indispensabilidade para a vida dos seres vivos. As preocupações a respeito da utilização e aproveitamento da água de acordo com os princípios do desenvolvimento sustentável devem fazer parte da agenda de todos Estados e instituições internacionais que atuam no Sistema Internacional. Nesse sentido, considera-se essencial que os recursos hídricos, sobretudo aqueles que podem ser compartilhados por vários países e por múltiplos setores econômicos e grupos sociais, possuam uma gestão adequada para atender as demandas e enfrentar os desafios que o setor hídrico oferece para qualquer país. Através da pesquisa bibliográfica e documental, este artigo analisa as assimetrias na gestão de recursos hídricos transfronteiriços na Bacia do Prata (Figura 1). Historicamente, a Bacia do Prata foi palco de contestações e conflitos entre os cinco países beneficiários de suas águas internacionais. Contudo, a partir da celebração de Tratados Bi e Multilaterais, especialmente na área energética, as relações regionais assumiram outros níveis. Partimos das abordagens da geografia política, das relações internacionais e do direito para analisar o aparato normativo criado para a gestão compartilhada e integrada dos recursos hídricos da Bacia do Prata. Apesar da existência de Tratados e projetos de cooperação entre os países que compartilham dos recursos hídricos provenientes da Bacia Prata e de suas sub-bacias, verificou-se que há muitas disparidades no acesso e aproveitamento de suas águas, especialmente nas faixas de fronteira. Outro aspecto que demonstra a assimetria entre os países platinos, refere-se aos diferentes instrumentos empregados na gestão doméstica das sub-bacias que compõe a Bacia do Prata, expressando a falta de percepção da conexão e dos princípios norteadores de gestão integrada de bacias hidrográficas transfronteiriças. CONSIDERAÇÕES Baixo nível de integração entre os Estados beneficiários das águas da Bacia do Prata; Baixa preocupação dos atores políticos, econômicos e sociais em efetivar um gestão integrada de recursos hídricos transfronteiriços; Legislações ambientais e/ou específicas para as tratativas de recursos hídricos dos países platinos não são compatíveis e não convergem para objetivos comuns; Baixa capacidade de convergência de interesses que reflitam em políticas públicas ambientais regionais; Diferenças nos desenhos institucionais das entidades públicas nacionais e subnacionais ligadas à gestão de águas; Dificuldade das instituições regionais intergovernamentais em promover, de fato, a governança compartilhada de recursos hídricos transfronteiriços; Hidro-hegemonia de alguns atores estatais e atores não estatais (setores produtivos-econômicos) capazes de influenciar nas arenas locais, nacionais e internacionais que tratem da gestão das águas transfonteiriças. REFERÊNCIAS ALMEIDA, B. R.; CASTRO, E. L. F.; RIBEIRO, M. R. S. Recursos hídricos transfronteiriços no MERCOSUL: sustentabilidade, gestão compartilhada e cooperação internacional. Revista da Secretaria do Tribunal Permanente de Revisão, p. 355-389, 2015. ASSUNÇÃO, F. N.; BURSZTYN, M. A. Conflitos pelo uso dos recursos naturais. In: THEODORO, S. H. Conflitos e uso sustentável dos recursos naturais . Rio de Janeiro: Garamond, 2002, p. 53-69. BARROS-PLATIAU, A. F; VARELLA, M. D.; SCHLEICHER, R. T. Meio ambiente e relações internacionais: perspectivas teóricas, respostas institucionais e novas dimensões de debate. Revista Brasileira de Política internacional, v. 47, n. 2, p. 100-130, 2004. BERNARDES, C. A. A má utilização de águas doces compartilhadas por nações e suas implicações . 2013. 51 f. Trabalho de Conclusão (especialização) - Curso de especialização em Direito Internacional, Ambiental e Consumidor, Faculdade de Direito, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. CALHMAN, O. K. B.; HORA, M. A. G. M. Shared Management of Water Resources among Sovereign States in Latin America: The Case of the River Plate Basin. Journal of Environmental Protection, v. 7, p. 1089-1095, 2016. CANOTILHO, J. J. G. O Regime Jurídico Internacional dos Rios Transfronteiriços . Coimbra: Coimbra Editora, 2006. CAPONERA, D.A. Patterns of Cooperation in International Water Law: Principles and Institutions. Natural Resources Journal , vol. 25. p. 563, 1985. CASTRO, J. E. Water governance in the twentieth first century. Ambiente e Sociedade, 2007, Vol. X (2): 97-118. CAUBET, C. A água doce nas relações internacionais. Barueri, SP: Manoel, 2006. JACOBI, P. R. Governança da Água no Brasil. In: RIBEIRO, W. C. (org.). Governança da Água no Brasil: uma visão interdisciplinar. São Paulo: Annablume, 2009: 35-59. KETTELHUT, J. T. S.; PEREIRA, P. R. G. Gestão de recursos hídricos transfronteiriços: experiência brasileira da bacia do rio da Prata. REGA, Vol. 3, no. 2, p. 5-12, jul./dez. 2006. MENDIONDO, E. M. Gestão Hídrica Sustentável em Bacias Sulamericanas para o século XXI – Desafios da Hidro-Solidariedade em Projetos Transnacionais. São Carlos: USP, 2004. Relatório Técnico do NIBH- SHS/EESC/USP. MIRUMACHI, Naho. Transboundary water security: Reviewing the importance of national regulatory and accountability capacities in international transboundary river basins. Water security: Principles, perspectives and practices, 2013, p. 166-177. MONIZ BANDEIRA, L. A. A Expansão do Brasil e a Formação dos Estados na Bacia do Prata: Argentina, Uruguai e Paraguai (da colonização à Guerra da Tríplice Aliança) – 4ª ed., rev. e ampl. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. 320 p. SEMINÁRIO PERSPECTIVAS DE NATUREZA 5 A 8 DE JUNHO DE 2017 USP - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Figura 1: Disposição da Bacia do Prata na América do Sul. Fonte: Comitê Intergovernamental Coordenador dos Países da Bacia do Prata (CIC). Programa de Gestão Sustentável dos Recursos Hídricos da Bacia do Prata. Disponível em: http://www.cicplata.org/documents/08122011/Cuenca_Portugues.pdf Acesso em: Maio/2017

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Page 1: GEOGRAFIA POLÍTICA NA BACIA DO PRATA: ASSIMETRIAS NA GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS E SEUS REFLEXOS NA CONTEMPORANEIDADE

GEOGRAFIA POLÍTICA NA BACIA DO PRATA: ASSIMETRIAS NA GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS E SEUS REFLEXOS NA

CONTEMPORANEIDADE

ESPÍNDOLA, Isabela B.; GARCIA, Tatiana de S. L.

RESUMO

A água é motivo de poder, conflito e cooperação entre os Estados em decorrência de sua importância e indispensabilidade para a vida dos seres vivos. As preocupações a respeito da utilização e aproveitamento da água de acordo com os princípios do desenvolvimento sustentável devem fazer parte da agenda de todos Estados e instituições internacionais que atuam no Sistema Internacional. Nesse sentido, considera-se essencial que os recursos hídricos, sobretudo aqueles que podem ser compartilhados por vários países e por múltiplos setores econômicos e grupos sociais, possuam uma gestão adequada para atender as demandas e enfrentar os desafios que o setor hídrico oferece para qualquer país. Através da pesquisa bibliográfica e documental, este artigo analisa as assimetrias na gestão de recursos hídricos transfronteiriços na Bacia do Prata (Figura 1). Historicamente, a Bacia do Prata foi palco de contestações e conflitos entre os cinco países beneficiários de suas águas internacionais. Contudo, a partir da celebração de Tratados Bi e Multilaterais, especialmente na área energética, as relações regionais assumiram outros níveis. Partimos das abordagens da geografia política, das relações internacionais e do direito para analisar o aparato normativo criado para a gestão compartilhada e integrada dos recursos hídricos da Bacia do Prata. Apesar da existência de Tratados e projetos de cooperação entre os países que compartilham dos recursos hídricos provenientes da Bacia Prata e de suas sub-bacias, verificou-se que há muitas disparidades no acesso e aproveitamento de suas águas, especialmente nas faixas de fronteira. Outro aspecto que demonstra a assimetria entre os países platinos, refere-se aos diferentes instrumentos empregados na gestão doméstica das sub-bacias que compõe a Bacia do Prata, expressando a falta de percepção da conexão e dos princípios norteadores de gestão integrada de bacias hidrográficas transfronteiriças.

CONSIDERAÇÕES•Baixo nível de integração entre os Estados beneficiários das águas da Bacia do Prata; •Baixa preocupação dos atores políticos, econômicos e sociais em efetivar um gestão integrada de recursos hídricos transfronteiriços; •Legislações ambientais e/ou específicas para as tratativas de recursos hídricos dos países platinos não são compatíveis e não convergem para objetivos comuns; •Baixa capacidade de convergência de interesses que reflitam em políticas públicas ambientais regionais; •Diferenças nos desenhos institucionais das entidades públicas nacionais e subnacionais ligadas à gestão de águas;•Dificuldade das instituições regionais intergovernamentais em promover, de fato, a governança compartilhada de recursos hídricos transfronteiriços;•Hidro-hegemonia de alguns atores estatais e atores não estatais (setores produtivos-econômicos) capazes de influenciar nas arenas locais, nacionais e internacionais que tratem da gestão das águas transfonteiriças.

REFERÊNCIASALMEIDA, B. R.; CASTRO, E. L. F.; RIBEIRO, M. R. S. Recursos hídricos transfronteiriços no MERCOSUL: sustentabilidade, gestão compartilhada e cooperação internacional. Revista da Secretaria do Tribunal Permanente de Revisão, p. 355-389, 2015.ASSUNÇÃO, F. N.; BURSZTYN, M. A. Conflitos pelo uso dos recursos naturais. In: THEODORO, S. H. Conflitos e uso sustentável dos recursos naturais. Rio de Janeiro: Garamond, 2002, p. 53-69.BARROS-PLATIAU, A. F; VARELLA, M. D.; SCHLEICHER, R. T. Meio ambiente e relações internacionais: perspectivas teóricas, respostas institucionais e novas dimensões de debate. Revista Brasileira de Política internacional, v. 47, n. 2, p. 100-130, 2004.BERNARDES, C. A. A má utilização de águas doces compartilhadas por nações e suas implicações. 2013. 51 f. Trabalho de Conclusão (especialização) - Curso de especialização em Direito Internacional, Ambiental e Consumidor, Faculdade de Direito, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.CALHMAN, O. K. B.; HORA, M. A. G. M. Shared Management of Water Resources among Sovereign States in Latin America: The Case of the River Plate Basin. Journal of Environmental Protection, v. 7, p. 1089-1095, 2016.CANOTILHO, J. J. G. O Regime Jurídico Internacional dos Rios Transfronteiriços. Coimbra: Coimbra Editora, 2006.CAPONERA, D.A. Patterns of Cooperation in International Water Law: Principles and Institutions. Natural Resources Journal, vol. 25. p. 563, 1985.CASTRO, J. E. Water governance in the twentieth first century. Ambiente e Sociedade, 2007, Vol. X (2): 97-118.CAUBET, C. A água doce nas relações internacionais. Barueri, SP: Manoel, 2006.JACOBI, P. R. Governança da Água no Brasil. In: RIBEIRO, W. C. (org.). Governança da Água no Brasil: uma visão interdisciplinar. São Paulo: Annablume, 2009: 35-59.KETTELHUT, J. T. S.; PEREIRA, P. R. G. Gestão de recursos hídricos transfronteiriços: experiência brasileira da bacia do rio da Prata. REGA, Vol. 3, no. 2, p. 5-12, jul./dez. 2006. MENDIONDO, E. M. Gestão Hídrica Sustentável em Bacias Sulamericanas para o século XXI – Desafios da Hidro-Solidariedade em Projetos Transnacionais. São Carlos: USP, 2004. Relatório Técnico do NIBH-SHS/EESC/USP.MIRUMACHI, Naho. Transboundary water security: Reviewing the importance of national regulatory and accountability capacities in international transboundary river basins. Water security: Principles, perspectives and practices, 2013, p. 166-177.MONIZ BANDEIRA, L. A. A Expansão do Brasil e a Formação dos Estados na Bacia do Prata: Argentina, Uruguai e Paraguai (da colonização à Guerra da Tríplice Aliança) – 4ª ed., rev. e ampl. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. 320 p.

SEMINÁRIO PERSPECTIVAS DE NATUREZA 5 A 8 DE JUNHO DE 2017

USP - UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Figura 1: Disposição da Bacia do Prata na América do Sul. Fonte: Comitê Intergovernamental Coordenador dos Países da Bacia do Prata (CIC). Programa de Gestão Sustentável dos Recursos Hídricos da Bacia do Prata. Disponível em: http://www.cicplata.org/documents/08122011/Cuenca_Portugues.pdf Acesso em: Maio/2017