fundamentos da educação dos surdos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA LICENCIATURA EM LETRAS/ LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DE SURDOS Professoras Autoras: Gladis Perlin e Karin Strobel

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA LICENCIATURA EM LETRAS/ LNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

FUNDAMENTOS DA EDUCAO DE SURDOS

Professoras Autoras: Gladis Perlin e Karin Strobel

Florianpolis, 2008

APRESENTAO Na disciplina Fundamentos da Educao de Surdos buscamos os conhecimentos dos fundamentos filosficos, histricos, sociolgicos e econmicos da Educao e com isto procuramos refletir a realidade da educao de surdos no Brasil. O que nos trouxe ao encontro de vocs foi a necessidade de dialogarmos sobre os fundamentos da educao de surdos. E estamos sentindo que no suficiente aquilo que prprio da educao. Nem as aberturas buscadas pelas atuais posies culturais dos surdos. O que importa so aqueles os signos e significados fortes que deslocam as velhas construes e anunciam elementos novos e velhos que vo sendo agrupados de forma a movimentar os fundamentos da educao de surdos. Estas mudanas de vises mostram os resultados daquilo que os surdos hoje queremos dizer como sendo um novo jeito de ser surdo. Ser surdo com identificao naquilo que rompe nos aspectos que envolvem a educao no que nos entendia como deficientes. Nosso impulso para que ela no mais fique nas malhas da correo, mas nas orientaes fundamentais que despertam nossa diferena para as condies de existncia. De nosso ponto de vista os fundamentos da educao passam a ser teorizados a partir dos espaos da cultura surda. Que pode ser definida como sendo: histria cultural, lngua de sinais, identidades diferentes, leis, pedagogia surda, literatura surda, e outros jeitos de ver o mundo ou seja dos espaos de Estudos Culturais e em Estudos Surdos. Estes oferecem possibilidades (de teorizar) no so mais a partir do tradicional cujo estilo de pensamento era fundamentalmente particular para o qual as proposies surdas eram empricas. Hoje tal posio mudou e os espaos surdos na educao se revestem de significados com o trabalho pensado dentro de

certas tradies histricas, e atuais que renovam o espao da educao do surdo. Assim de maneira alguma, as concepes entendidas como sendo da educao especial faz parte dos fundamentos da educao dos surdos. Com a presena dos Estudos Culturais temos novos pontos de partida alguns apontamentos que direcionam:

1. Um breve passeio pelas razes da histria de educao de surdos 2. Modelos educacionais na educao de surdos 3. Identidades surdas fundamentando a educao. 4. A Histria da legislao e educao de surdos 5. Legislao e educao de surdos nos dias atuais 6. As polticas de incluso e excluso sociais e educacionais

Pode-se dizer que agora os termos de fundamentos de educao dos surdos convergem em torno da mesma problemtica. Aqui esto a respeito varias diferenas importantes que no mais se fundam na velha pedagogia de cunho ouvicentrico, isto , que est centralizada numa concepo do ser ouvinte. Desejamos muito empenho em seus estudos, e no prometemos uma fcil compreenso da realidade educacional dos surdos, no entanto, nos estudos culturais eles so o que h de possvel no momento. Apresentamos aqui os objetivos que norteiam nossos estudos nesta disciplina.

OBJETIVO GERAL Buscar conhecimentos dos fundamentos filosficos, histricos, sociolgicos e econmicos da Educao de Surdos para que seja possvel identificar a

lngua de sinais, seus espaos, sua possibilidade da emergncia de posies didticas e sua percepo como lngua de um povo.

OBJETIVOS ESPECFICOS Fundamentar a lngua de sinais com suas possibilidades na histria Mostrar as resistncias da lngua de sinais face ao historicismo Identificar fundamentos legais da educao de surdos Apresentar os fundamentos da educao dos surdos Procurar refletir a realidade da educao de surdos no Brasil Fomentar a anlise crtica do papel da Educao de Surdos diante da realidade scio-cultural brasileira Estimular a discusso das relaes existentes entre educao de surdos, cultura e lngua de sinais.

UNIDADE 01 - UM BREVE PASSEIO PELAS RAZES DA HISTRIA DE EDUCAO DE SURDOS

Para refletirmos as fundamentaes da educao de surdos atual, no h nada melhor do que fazer um breve passeio pelas razes da histria de surdos. Conhecer a histria de surdos no nos proporciona apenas para adicionarmos conhecimentos, mas tambm para refletirmos e questionarmos diversos acontecimentos relacionados com a educao em vrias pocas, por exemplo, por que atualmente apesar de se ter uma poltica de incluso, o sujeito surdo continua excludo? A histria da educao de surdos no uma histria difcil de ser analisada e compreendida, ela evolui continuamente apesar de vrios impactos marcantes, no entanto, vivemos momentos histricos caracterizados por mudanas, turbulncias e crises, mas tambm de surgimento de oportunidades. Como vemos pelo ttulo do texto Um breve passeio pelas razes da histria de educao de surdos. Porque razes? pelas razes numa histria que surge revelaes trazendo luz as discusses educacionais das diferentes metodologias, pode-se observar que a raiz central das disputas sempre esteve ligada a respeito da lngua, ou seja, se os sujeitos surdos deveriam desenvolver a aprendizagem atravs da lngua de sinais ou da lngua oral? Antes de surgirem estas discusses sobre a educao, os sujeitos surdos eram rejeitados pela sociedade e posteriormente eram isolados nos asilos para que pudessem ser protegidos, pois no se acreditava que pudessem ter uma educao em funo da sua anormalidade, ou seja aquela conduta marcada pela intolerncia obscura na viso negativa sobre os surdos, viam-nos como anormais ou doentes Muitos anos depois os sujeitos surdos passam a ser vistos como cidados com direitos e deveres de participao na sociedade, mas sob uma viso de assistencial excluda.

Naquela poca, no tinham escolas para os sujeitos surdos. Com esta preocupao educacional de sujeitos surdos fizeram surgir numerosos professores que desenvolveram seus trabalhos com os sujeitos surdos e de diferentes mtodos de ensino. Quando ns observamos atentamente a situao atual da educao de surdos, ns podemos perceber que houve ruptura em alguma parte de historia de surdos e que esta ruptura est aos poucos sendo preenchida nestas ltimas dcadas. At recentemente os povos surdos sofreram com esta ruptura, pois para a maioria deles a educao verdadeira comeou somente depois quando saram da escola na idade de adolescncia, ao terem contato com os outros sujeitos surdos adultos nas associaes de surdos. O ano de 1880 foi o clmax da histria de surdos, que adicionou a fora de um lado de muitos perodos de duelos polmicos de opostos educacionais: a lngua de sinais e o oralismo. Neste ano foi realizado um Congresso Internacional de Professores de Surdos em Milo, Itlia, para discutir e avaliar a importncia de trs mtodos rivais: lngua de sinais, oralista e mista (lngua de sinais e o oral). Os temas propostos foram: vantagens e desvantagens do internato, tempo de instruo, nmero de alunos por classe, trabalhos mais apropriados aos surdos, enfermidades, medidas, medidas curativas e preventivas, etc. Apesar da variedade de temas, as discusses voltaram-se s questes do oralismo e da lngua de sinais. (BORNE, 2002, p.51) Nenhum outro evento na historia de surdos teve um impacto maior na educao de povos surdos como este que provocou uma turbulncia sria na educao que arrasou por mais de cem anos nos quais os sujeitos surdos ficaram subjugados s prticas ouvintistas, tendo que abandonar sua cultura, a sua identidade surda e se submeteram a uma etnocntrica ouvintista, tendo de imit-los.

Por exemplo: houve avanos na viso clnica, que faziam das escolas dos surdos espaos de reabilitao de fala e treinamento auditivo preocupando-se apenas em curar os surdos que eram vistos como deficientes e no em educar. Aps o congresso, as maiorias dos pases adotaram rapidamente o mtodo oral nas escolas para surdos proibindo oficialmente a lngua de sinais e ali comeou uma longa e sofrida batalha do povo surdo para defender o direito lingstico cultural. No foi sempre assim, havia momentos antes do congresso de 1880 em que a lngua de sinais era mais valorizada. Por exemplo: havia professores que juntavam na tarefa de demonstrar a veracidade da aprendizagem dos sujeitos surdos ao usar a lngua de sinais e o alfabeto manual e em muitos lugares havia professores surdos. Na poca os povos surdos no tinham problemas com a educao, maiorias de sujeitos surdos dominavam na arte da escrita e h evidncia que haviam muitos escritores surdos, artistas surdos, professores surdos e outros sujeitos surdos bens sucedidos. Houve a crise sria entre a cultura surda e a educao, pois ao percorrer a trajetria histrica do povo surdo e suas diferentes representaes sociais vemos os domnios do ouvintismo relativos a qualquer situao relacionada vida social e educacional dos sujeitos surdos. Houve fracassos na educao de surdos devido predominncia do oralismo puro na forma de ouvintismo, entretanto, em ltimos 20 anos comearam perceber que os povos surdos poderiam ser educados atravs da lngua dos sinais. A votao de Congresso de Milo provocou um rombo que ocasionou a queda de educao de surdos e agora os povos surdos esto criando foras e animo para levantarem-se e lutarem pelos seus direitos a educao. Entretanto, isto no significou a banimento dos mtodos oralistas, que continuaram a ser utilizados at hoje, mas a lngua de sinais, cultura e identidade surda ganharam mais potencia e sendo mais valorizada.

A proibio da lngua de sinais por mais de 100 anos sempre esteve viva nas mentes dos povos surdos at hoje, no entanto, agora o desafio para o povo surdo construir uma nova histria cultural, com o reconhecimento e o respeito das diferenas, valorizao de sua lngua, a emancipao dos sujeitos surdos de todas as formas de opresso ouvintistas e seu livre desenvolvimento espontneo de identidade cultural!

REFLEXOEm sntese, a histria dos Surdos, contada pelos no-Surdos, mais ou menos assim: primeiramente os Surdos foram descobertos pelos ouvintes, depois eles foram isolados da sociedade para serem educados e afinal conseguirem ser como os ouvintes; quando no mais se pde isol-los, porque eles comearam a formar grupos que se fortaleciam, tentou-se dispers-los, para que no criassem guetos. ( S, 2004, p.3)

CONCEITOS Ouvintismo: (...) um conjunto de representaes dos ouvintes, a partir do qual o surdo est obrigado a olhar-se e narrar-se como se fosse ouvinte.(SKLIAR, 1998, p 15). Viso Clnica: nesta viso a escola de surdos s se preocupa com as atividades da rea de sade, vem os sujeitos surdos como pacientes ou doentes nas orelhas que necessitam serem tratados a todo custo por exemplo: os exerccios teraputicas de treinamento auditivos e os exerccios de preparao dos rgos fonador, que fazem parte do trabalho do professor de surdos quando atua na abordagem oralista. Nesta viso clinica geralmente categorizam os sujeitos surdos atravs de graus de surdez e no

pelas suas identidades culturais. Povo Surdo: Quando pronunciamos povo surdo, estamos nos referindo aos sujeitos surdos que no habitam no mesmo local, mas que esto ligados por uma origem, por um cdigo tico de formao visual, independente do grau de evoluo lingstica, tais como a lngua de sinais, a cultura surda e quaisquer outros laos. (STROBEL, 2008, p.29). Comunidade Surda: Ento entendemos que a comunidade surda de fato no s de sujeitos surdos, h tambm sujeitos ouvintes- membros de famlia, intrpretes, professores, amigos e outros- que participam e compartilham os mesmos interesses em comuns em uma determinada localizao. (...) Em que lugares? Geralmente em associao de surdos, federaes de surdos, igrejas e outros. (STROBEL, 2008, p.29). Esteretipo: (...) uma viso supersimplificada e usualmente carregada de valores sobre as atitudes, comportamento e expectativas de um grupo ou de um indivduo. Tais vises, que podem ser profundamente baseadas em culturas sexistas, racistas ou preconceituosas, so altamente resistentes mudana e tem um papel significativo na modelagem das atitudes dos membros da cultura para com os outros (...). (EDGAR e SEDGWICK, 2003, p.107) Ser Surdo: (...) olhar a identidade surda dentro dos componentes que constituem as identidades essenciais com as quais se agenciam as dinmicas de poder. uma experincia na convivncia do ser na diferena (PERLIN E MIRANDA, 2003, p.217) Etnocentrismo: De acordo com ROCHA (1984), etnocentrismo uma viso do mundo onde o nosso prprio grupo tomado como centro de tudo e todos os outros so pensados (...) atravs dos nossos valores..., partindo deste conceito, dentro do contexto de histria de surdos, podemos dizer que etnocntrica ouvintista a idia de sujeitos ouvintes que no aceitam os sujeitos surdos como diferena cultural e sim que eles tem de moldar com modelo ouvinte, isto , tem de imitar aos ouvintes falando e ouvindo.

PARA LEITURAS COMPLEMENTARES SUGERIMOS:-

SKLIAR, 1997

Carlos,

Educao

&

excluso:

abordagens

scio-

antropolgicas em educao especial. Porto Alegre: Editora Mediao,

-

_______________ La educacin de los sordos Una reconstruccin histrica, cognitiva y pedaggica. Mendoza: EDIUNC, 1997

-

S, Ndia Regina Limeira de, Cultura, Poder e Educao de Surdos. Manaus: INEP, 2002.

-

SACKS, Oliver. Vendo Vozes: Uma jornada pelo mundo dos surdos. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1990

UNIDADE 02 - MODELOS EDUCACIONAIS NA EDUCAO DE SURDOS No princpio da histria de educao de surdos os sujeitos surdos eram considerados intelectualmente inferiores, por isso eram trancados em asilos e quando se perceberam que os sujeitos surdos tinham a capacidade de aprender e com isto surgiram pesquisas e experimentos das diferentes metodologias e formas adaptadas de ensino. Neste trabalho procuramos fundamentar nos cincos modelos

educacionais na educao de surdos e presentes em maior ou menor intensidades nas escolas para surdos que so o Oralismo, a Comunicao Total, o Bilingismo, a Pedagogia do Surdo e processo Intercultural.

-

ORALISMO, COMUNICAO TOTAL BILINGISMO. PEDAGOGIA DO SURDO MEDIAO INTERCULTURAL

2.1. O Oralismo e suas estratgias Na histria houve uma poca que tinha ampla valorizao e aceitao da lngua de sinais e a partir do congresso de Milo de 1880, a lngua de sinais foi banida completamente na educao de surdos impondo ao povo surdo o oralismo. Devido evoluo tecnolgicos que facilitavam a prtica da oralizao pelo sujeito surdo, o oralismo ganhou fora a partir da segunda metade do sculo XIX.

A modalidade oralista baseia-se na crena de que a nica forma desejvel de comunicao para o sujeito surdo, e a lngua de sinais deve ser evitada a todo custo porque atrapalha o desenvolvimento da oralizao.

COMENTRIO Tem muitos mtodos orais diferentes na educao com os surdos, o oralismo um dos recursos que usa o treinamento de fala, leitura labial, e outros, este recurso usada dentro das metodologias orais, entre eles, o verbotonal, oral modelo materno reflexivo, perdoncini e entre outros.

Essa concepo de educao enquadra-se no modelo clnico, esta viso afirma a importncia da integrao dos sujeitos surdos na comunidade de ouvintes e que para isto possa ocorrer-se o sujeito surdo deve oralizar bem fazendo uma reabilitao de fala em direo normalidade exigida pela sociedade. O oralismo, ou filosofia oralista, usa a integrao da criana surda comunidade de ouvintes, dando-lhe condies de desenvolver a lngua oral (no caso do Brasil, o Portugus). O oralismo percebe a surdez como uma deficincia que deve ser minimizada atravs da estimulao auditiva. (GOLDFELD, 1997, pp. 30 e 31) E com isto persistiu a aplicao de inmeros mtodos oralistas, geralmente estrangeiros, buscando estratgias de ensino que poderiam transformar em realidade o desejo de ver os sujeitos surdos falando e ouvindo, fazendo com que os rgos governamentais dessem enormes verbas para a aquisio de equipamentos em que pudessem potencializar os restos auditivos e com os projetos de formao de professores leigos que muitas vezes faziam o papel de fonoaudilogos, ficando assim a proposta educacional direcionada somente para a reabilitao de fala aos sujeitos surdos.

Dessa forma, ate recentemente muitos sujeitos surdos foram triados e avaliados clinicamente, encaminhados em escolas publicas e foi estimulada a criao de instituies de reabilitao particulares.

COMENTRIO Na rea de sade classificam-se os surdos atravs de exames audiometrias. Graus de surdez mais conhecida : Leve/ Moderada/ Severa / Profunda Audiometria: exame da audio realizado por meio de instrumentos e avaliao da capacidade para apreender os diferentes sons da fala e de classificao de surdez em vrios graus.

Segundo DORZIAT (2006) as tcnicas mais utilizadas no modelo oral:

O TREINAMENTO AUDITIVO O DESENVOLVIMENTO DA FALA A LEITURA LABIAL

- O treinamento auditivo: estimulao auditiva para reconhecimento e discriminao de rudos, sons ambientais e sons da fala, geralmente fazem treinamento com as aparelhagens como AASI, e outros.

CONCEITO: AASI: o aparelho de amplificao sonora individual, que aumenta os sons, possibilitando que o sujeito com surdez consiga escutar, este aparelho auditivo, tem vrios tipos de fabricaes e de diferentes modelos, o mais tradicional o colocado atrs da orelha com molde da orelha

interna, conhecido popularmente como aparelho auditivo.

- O desenvolvimento da fala: exerccios para a mobilidade e tonicidade dos rgos envolvidos na fonao, lbios, mandbula, lngua etc, e exerccios de respirao e relaxamento, - A leitura labial: treino para a identificao da palavra falada atravs da decodificao dos movimentos orais do emissor

COMENTRIO Essa tcnica de leitura labial: ler a posio dos lbios e captar os movimentos dos lbios de algum est falando s til quando o interlocutor formula as palavras de frente com clareza e devagar. (...) a maioria de surdos s conseguem ler 20% da mensagem atravs da leitura labial, perdendo a maioria das informaes. Geralmente os surdos deduzem as mensagens de leitura labial atravs do contexto dito.

Na dcada de anos 60, brotou a lngua dos sinais associada com a oralizao, surgindo o modelo misto denominado de Comunicao Total que trouxe o reconhecimento e valorizao de lngua de sinais que foi muito oprimida e marginalizada por mais de 100 anos. 2.2. Comunicao Total uma modalidade miscigenada De acordo com Denton apud Freeman, Carbin, Boese (1999), a definio citada freqentemente sobre a Comunicao Total a seguinte: A Comunicao Total inclui todo o espectro dos modos lingsticos: gestos criados pelas crianas, lngua de sinais, fala, leitura oro-facial, alfabeto manual, leitura e escrita. A Comunicao Total incorpora o

desenvolvimento de quaisquer restos de audio para a melhoria das habilidades de fala ou de leitura oro-facial, atravs de uso constante, por um longo perodo de tempo, de aparelhos auditivos individuais e/ou sistemas de alta fidelidade para amplificao em grupo (p.171) A Comunicao Total foi desenvolvida em meados de 1960, aps do fracasso de Oralismo puro em muitos sujeitos surdos, comearam a ponderar em juntar o oralismo com a lngua de sinais simultaneamente como uma alternativa de comunicao.

PARA REFLETIR Vrios autores publicados pronunciam criticamente dessa

modalidade mista, dizem que o maior problema a mistura de duas lnguas, a lngua portuguesa e a lngua de sinais resultando numa terceira modalidade que o portugus sinalizado, essa prtica recebe tambm o nome de bimodalismo que encoraja o uso inadequado da lngua de sinais, j que a mesma tem gramtica diferente de lngua portuguesa.

2.3. O Bilingismo e sua aproximao do cultural A modalidade Bilnge uma proposta de ensino usada por escolas que se sugerem acessar aos sujeitos surdos duas lnguas no contexto escolar. As pesquisas tm mostrado que essa proposta a mais adequada para o ensino de crianas surdas, tendo em vista que considera a lngua de sinais como primeira lngua e a partir da se passam para o ensino da segunda lngua que o portugus que pode ser na modalidade escrita ou oral. O Bilingismo caracteriza-se da seguinte forma:

O Bilingismo tem como pressuposto bsico que o surdo deve ser Bilnge, ou seja deve adquirir como lngua materna a lngua de sinais, que considerada a lngua natural dos surdos e, como Segunda lngua , a lngua oficial de seu pas(...)os autores ligados ao Bilingismo percebem o surdo de forma bastante diferente dos autores oralistas e da Comunicao Total. Para os bilingistas, o surdo no precisa almejar uma vida semelhante ao ouvinte, podendo assumir sua surdez. (GOLDFELD, 1997, p. 38) Na ideologia de bilingismo as crianas surdas precisam ser postas em contato primeiro com pessoas fluentes na lngua de sinais, sejam seus pais, professores ou outros. Para discutir essa questo, SKLIAR (1998-b) apresenta quatro diferentes projetos polticos que sustentam e subjazem educao bilnge para surdos:

O bilingismo com aspecto tradicional O bilingismo com aspecto humanista e liberal O bilingismo progressista O Bilingismo critico na educao surdos

. - O bilingismo com aspecto tradicional. Apresenta uma viso colonialista sobre a surdez. Impera o ouvintismo e a identidade incompleta dos surdos. Os professores continuam com sua formao nos modelos da educao com idias clnicas. Esse tipo de bilingismo tende globalizao da cultura. - O bilingismo com aspecto humanista e liberal Considera a existncia de uma igualdade natural entre ouvintes e surdos. A desigualdade, no entanto, mostra a existncia de uma limitao de

oportunidade social aos surdos. Isso se constitui numa presso para aqueles que vivem a situao de desigualdade histrica e so forados a alcanar uma certa igualdade. - O bilingismo progressista Tende a aproximar-se e a enfatizar a noo de diferena cultural que caracteriza a surdez, porm essencializa e ignora a histria e a cultura. Assim, seriam Surdos (com S masculo), porm no comprometidos com seus aspectos polticos. - O Bilingismo critico na educao surdos Sublinha o papel desempea la lengua y las representaciones en la construccin de significados y de identidades sordas Na realidade esta modalidade tem seus pontos positivos e negativos, tem escolas que usam lngua de sinais como mediao com o oral e no como a produo cultural lingstica, treinam o oralismo como sendo a primeira lngua, usando o mtodo tradicional, esforando para adquirir os equipamentos tecnolgicos que possibilitem mostrar a capacidade do surdo aproximar-se a um modelo ouvinte e dizem que fazem trabalho bilnge com os surdos, mas na prtica no feita corretamente.

REFLEXO Vemos que hoje em dia ainda existem muitas praticas ouvintistas e escolas usando mtodos ultrapassados, no se preocupando em atualizar participando em congressos e cursos, ou ainda iniciam dizendo serem a favor em lngua de sinais e aos poucos, sem ningum perceber vo diminuindo-o, assim como afirma FELIPE (2004) Aceita-se programas bilnges transitrias, que iniciando com a Libras, gradualmente substituir essa lngua pela lngua portuguesa.

Para ter um modelo cultural realmente venturoso, os povos surdos aspiram pela valorizao de lngua de sinais como a primeira lngua e tendo suas opinies respeitadas, pois os sujeitos ouvintes continuam sempre decidindo por sujeitos surdos, disputando em relao de poder acima dos lideres surdos em diversas reas, onde eles so importantes participar e acima de tudo querem a dignidade de Ser Surdo!

Esta verdade sublime o Surdo encontra quando entra para o mundo totalmente visual - espacial da Comunidade Surda interagindo com a Cultura Surda, Artes Surdas, Identidade Surda, Lngua de Sinais dos Surdos Urbanos e dos ndios Surdos, Pedagogia Surda em toda a sua complexidade e diferenas. (VILHALVA, 2004)

2.4. Pedagogia Surda: traos culturais da diferena e da mediao intercultural Saindo das modalidades tradicionais de educao de surdos que trabalham com a normalidade ou mtodos clnicos ou que usam outros mtodos de regulao, entramos na modalidade da diferena.

Fundamentar

a

educao

de

surdos

nesta

teorizao

cultural

contempornea sobre a identidade e a diferena parece ser o caminho hoje. Entramos em momentos que primam pela defesa cultural: a educao na diferena na mediao intercultural. Esta modalidade oferece fundamento para a educao dos surdos a partir de uma viso em uma outra filosofia invarivel hoje. Em que a educao d-se no momento em que o surdo colocado em contato com sua diferena para que acontea a subjetivao e as trocas culturais. A modalidade da diferena se fundamenta na subjetivao cultural. Ele surge no momento que os surdos atingem sua identidade, atravs da diferena cultural, surge no espao ps-colonial. Neste espao no mais h a sujeio ao que do ouvinte, no ocorre mais a hibridao, ocorre a aprendizagem nativa prpria do surdo. uma modalidade querida e sonhada pelo povo surdo, visto que a luta atual dos surdos pela constituio da subjetividade ao jeito surdo de ser. Outro ponto importante em que a educao de surdos pode fundamentar-se hoje est no procedimento intercultural que trabalha com as identidades surdas constitudas. Este procedimento intercultural de educao de surdos um processo coerente com a necessidade de habilidades e competncias, face necessidade do sujeito surdo posicionar-se frente s diferentes culturas e suas peculiaridades. O procedimento, a parte do conceito de que: Todos ns nos localizamos em vocabulrios culturais e, sem eles, no conseguimos produzir enunciaes enquanto sujeitos culturais (Hall, 2003, p. 83). Em vista do intercultural requerer produes para as trocas, defesas e afirmaes, este procedimento dispe o sujeito surdo para a mediao cultural. O procedimento da mediao cultural no rejeita a cultura ouvinte. A cultura ouvinte est a como cultura, e a metodologia arma estratgias para a posio de diferena, para a afirmao cultural. Neste procedimento o processo inverte a regulao. No mais o ouvinte que regula o surdo, no mais o anmalo, ou o surdo excludo na sua inferioridade. a cultura surda que regula o surdo em direo a seu ser

diferente e a sua defesa diante daquilo que chamo de praticas discriminatrias que mapeiam populaes sobre marcas visveis e transparentes de poder que as mantm na subalternidade. neste sentido que surge o modelo que se segue ao bilingismo critico e no tem somente a lngua de sinais, como lngua de instruo. Em termos de currculo, como diz Silva (2000, p. 97), O outro cultural sempre um problema, pois coloca permanentemente em cheque nossa prpria identidade. A questo da Identidade, da diferena e do outro um problema social e ao mesmo tempo um problema pedaggico e curricular. um problema social porque o encontro com o outro, com o estranho, com o diferente, inevitvel. O modelo se sobressai por acabar com as praticas de regulao subjetivadas ao modelo ouvinte e por introduzir a questo cultural. importante dizer que este procedimento est constitudo no interior da cultura e da diferena, de forma a favorecer a subjetivao. Nesta perspectiva, a pedagogia e o currculo tm a identidade e a diferena como questes de poltica. A sua posio enunciativa, para os tempos atuais, complexa e problemtica, mas presente. A concepo de Hall (1997) para aquilo que ele chama de fechamento arbitrrio oriunda de um outro olhar sobre o sujeito surdo que quer ser aceito como , com sua identidade e sua diferena. Este fechamento necessrio ao sujeito para a abertura de espaos de subjetivao das identidades. Nesse caso surdos que esto defendendo que no h mais surdez, deficincia, mas a educao deve ser constituda de uma outra modalidade metodolgica, com base na cultura surda. E tambm neste caso os ouvintes esto olhando para o surdo como sendo diferentes, isto aqueles que so portadores de outra cultura.

CONCEITO Diferena: Refere-se s diferenas culturais nos diversos grupos sociais. Por diferena entende-se a diferena mesma no contendo aspectos da mesmidade que posies iluministas pregam para atingir a perfeio. Intercultural: para fleuri (2000).o que inovador em educao o iniciar a focalizar momentos e processos produzidos face as diferenas culturais. Nesta direo, a perspectiva intercultural pode estimular os surdos a enfatizar os aspectos de identidade/alteridade com estmulos para desenvolver a capacidade de reflexo sobre a diferena cultural, ao lado da possibilidade solidria de interao com outros grupos culturais. Identidade cultural uma forma de distinguir os diferentes grupos sociais e culturais entre si. A identidade cultural pode ser melhor entendida se considerarmos a produo da poltica da identidade, que tambm d origem a esta metodologia da educao do surdo.

Para aumentar seu conhecimento sobre os modelos educacionais de surdos, sugerimos que assista aos seguintes filmes: Filhos do Silncio Seu nome Jonah

PARA LEITURAS COMPLEMENTARES SUGERIMOS

QUADROS, Ronice. Educao de surdos: a aquisio da linguagem, Porto Alegre: Artes Mdicas, 1997 SKLIAR, Carlos (org.) Atualidade da Educao Bilnge para Surdos. Processos e projetos pedaggicos. Volume I Mediao, 1999. _____________ Atualidade da Educao Bilnge para Surdos. Interfaces entre pedagogia e lingstica. Volume II Porto Alegre: Editora Mediao, 1999 FERNANDES, Eullia (org). Surdez e Bilingismo. Porto Alegre: Editora Mediao, 2005. Porto Alegre: Editora

UNIDADE 03 - IDENTIDADES SURDAS FUNDAMENTANDO A EDUCAO: AS IDENTIFICAES E OS LOCAIS DAS IDENTIDADES A educao que os surdos queremos tem fundamentos numa srie de pressupostos culturais entre eles deve estar inserida na identidade, alteridade, cultura e diferena surda. A cultura surda constituda de significantes e significados, tal como contada nas narrativas surdas. Vejamos alguns aspectos da cultura surda contidos nas narrativas surdas. Primeiramente temos narrativas pedaggicas onde enfatiza o jeito surdo de ensinar, onde apela por estratgias de ensino visuais, transmisso de conhecimentos em lngua de sinais, com presena de professores surdos; as narrativas da poltica pedem outras consideraes em ralao s leis, mtodos de educao, sade; as narrativas lingsticas que apelam pela diferena e autenticidade de nossa lngua de sinais; as narrativas da identidade remetem a que o sujeito subjetiva e simplesmente se reconhea surdo; as narrativas das artes como literatura, teatro, piadas, bem como na poesia, que, como disse Raquel Sutton Spencer (2005), enfatizam e celebram a beleza e a complexidade de nossa lngua de sinais, pedem respeito a nossa diferena enquanto surdos, constroem relacionamentos sociais e nos defendem das ameaas nossa identidade, transmitem valores culturais motivando a troca de experincias sobre o ser surdos, celebram o sucesso do surdo e do povo surdo. Estas narrativas, sem pretender esgotar sobre o assunto remetem para a riqueza e expressividade da cultura surda. nesta srie de narrativas que enfatizam nossa cultura, moldam a nossa identidade que vamos tecendo a nossa identificao dos surdos. Vale a afirmao de Hall (2003, p: 83) todos nos localizamos em vocabulrios culturais e sem eles no conseguimos produzir enunciaes enquanto sujeitos culturais. A cultura surda tem seus locais pelos quais convido voc, agora, a transitar, alguns locais onde as identidades surdas se constituem. Porm lembre-se que a identidade surda no fica restrita a estes pontos de identificao, ela principalmente se constitui no encontro eu-outro.

Para iniciar, temos um exemplo. As concentraes surdas de Porto Alegre tem sido um tema constante nas narrativas. Foi l que entre os anos de 1986 a nossos dias iniciou uma nova fase pela poltica surda nos aspectos principais que movimentaram os direitos dos surdos no Brasil e redirecionaram a poltica nacional para os surdos: educao, direitos, lngua, sade, leis, defesas culturais e pesquisas. Assim sendo, Porto Alegre local capaz de lanar luzes de identificao poltica e cultural, uma cidade de referencia identitria para os surdos do Brasil. Aquela cidade contm a historia de vida de muitos sujeitos surdos e enfatiza como aconteceram os elos fortes, os embates o local de memria aquilo que poderamos denominar de terra de origem, de determinao de construir identidades surdas. Muitos surdos do Brasil todo buscam Porto Alegre, lugar que pode soar como um novo comeo, empenhar de novo, levar uma vida melhorno dizer de Sarup ( p. 269). Mas seria errneo ver Porto Alegre como nico local de identificao. Isto adere do fato de que as identidades surdas so mltiplas. H locais que estabelecem elos e as identidades aceitam estes fragmentos. Assim ser surdo da capital gacha no o mesmo que ser surdo do interior gacho. Na verdade existem identificaes com o local. Assim a identidade surda tambm se constitui no local. Se olharmos as interferncias da famlia, da associao, da escola, da cidade, do interior nas identidades veremos elas se constiturem diversamente. Vamos ensaiar nossa identidade subordinada a nosso semelhante surdo. Inicialmente vamos analisar o que uma professora surda sinalizou em lngua de sinais sobre seu passado quando aconteceu o seu encontro surdo-surdo. [....] aquilo no momento de meu encontro com os outros surdos era o igual que eu queria, tinha a comunicao que eu queria. Aquilo que identificava eles identificava a mim tambm e fazia ser eu mesma, igual. (PERLIN, 1998, p. 54) cultura surda trazida como elemento constituidor de nossas identidades como surdos, na relao de poder com os ouvintes e na produo

de significados a respeito de ns, do nosso grupo, de outros grupos culturais. O encontro surdo-surdo representa, pois, a possibilidade de troca de significados de constituio de identidades. Assim, o outro igual, o mesmo, aquele que usa a mesma lngua e que consegue construir possibilidades de troca efetiva e compartilhar o processo poltico que significa e d sentido.

CONCEITO Narrativas culturais - geralmente na teoria cultural se identifica como narrativas aqueles discursos dos sujeitos ou grupos que esto marcados por praticas culturais Encontro surdo-surdo: Processo de encontro entre dois sujeitos surdos em que acontece a sutura. O termo sutura pode ser usado em Estudos Culturais para referir ao processo pelo qual o sujeito constri sua identidade em interao com o outro semelhante. Cultura surda: Os resultados das interaes dos surdos com o meio em que vivem, os jeitos de interpretar o mundo, de viver nele se constitui no complexo campo de produes culturais dos surdos com uma serie de produes culturais que podem ser todas como produes culturais ou seja: lngua de sinais, identidades, pedagogia, poltica, leis, artes, etc...

PARA LEITURAS COMPLEMENTARES SUGERIMOS - HALL, Stuart, A Identidade Cultural na Ps-Modernidade, Rio de Janeiro,DP&A Editora, 2004. - PERLIN, Gldis T.T. Identidades surdas. In Skliar Carlos (org.) A Surdez: um olhar sobre as diferenas. Porto Alegre: Editora Mediao, 1998

UNIDADE 04 - A HISTRIA DA LEGISLAO E EDUCAO DE SURDOS A atual fundamentao da educao dos surdos na legislao teve uma caminhada longa e suas possibilidades enunciativas foram mudando ao longo dos anos. medida que se descobria a cultura surda e por esta a lngua de sinais a legislao foi-se ampliando. A importncia da educao de surdos foi sentida antes de 1961, um ano depois que Stokoe com sua pesquisa defendeu a lngua de sinais com status de lngua. Neste ano, a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional j estava legislando a respeito com dois artigos (88 e 89) referentes educao dos excepcionais, garantindo, desta forma, o direito educao. Esta lei, no artigo 89, registra que o governo vai se comprometer em ajudar as ONGS - organizaes no-governamentais a prestarem servios educacionais aos deficientes e entre eles os surdos. Na Constituio brasileira de 1967 h alguns artigos assegurando aos surdos o direito de receber educao. Do mesmo modo a atual Constituio datada de 1988, abre espao a nossos direitos educao diferenciada uma vez que assegura nosso direito diferena cultural. Segue o texto da constituio atual datada de 1998 onde um de seus artigos refere sobre a cultura..

art. 215. o Estado garantir a todos o pleno exerccio dos direitos culturais e acesso s fontes da cultura nacional, e apoiar e incentivar a valorizao e a difuso das manifestaes culturais. 1 - o Estado proteger as manifestaes das culturas populares, indgenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatrio nacional. 2 - a lei dispor sobre a fixao de datas comemorativas de alta significao para os diferentes segmentos tnicos nacionais.

A cultura a esta como que para garantir nosso lugar como diferena e fundamentar nossa educao. Ela emerge como constituidora dos fundamentos da educao no que tm de interferncia as contradies de outras culturas na educao dos surdos. Em 1973 com a criao do CENESP - Centro Nacional de Educao Especial o governo deu mais ateno educao de surdos, este trabalho antes era delegado as ONGS. No ano de 1996 com a nova LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, a lei confirmava com a Constituio Brasileira a educao de surdos. A nova LDB tem algumas inovaes que permitem indicar melhor perspectivas governamentais e legislativas para a educao de surdos. Nesta h um captulo dedicado incluso, bem como as escolas de surdos. Mais importante contribuio trouxe o decreto governamental 5.626 de 22 de dezembro de 2005 que institui o ensino aos surdos na lngua de sinais. O fato de que o surdo um sujeito que produz cultura baseada na experincia visual requer uma educao fundamentada nesta sua diferena cultural. Com isto a Constituio que assegura o direito a diferentes expresses culturais no povo brasileiro, faz antever a necessidade de serem respeitados os direitos culturais dos surdos. Para tanto j h uma srie de legislaes em relao educao do surdo, bem como em outros espaos sociais onde o surdo interage adquirindo o conhecimento, garantindo sua fundamentao cultural,. Na sociedade brasileira a legislao sobre os surdos presente e de forma abundante. Isto faz antever a presena de uma serie complexa de legislaes que no so para a excluso, a captura, mas para o pleno direito diferena. Estas legislaes estabelecem alguns fatos obrigatrios por exemplo a educao especial, a educao inclusiva que, mesmo no garantindo o acesso cultura surda, garantem o direito educao. Mas tambm h legislao que estabelece o momento de uso pleno do direito cultural de acordo, seja ela Constituio Brasileira, seja com as demais leis educacionais.

O ltimo decreto governamental 5.626 de 22 de dezembro de 2005 trouxe importantes inovaes para a fundamentao da educao de surdos. Inclusive identifica os surdos como aqueles que interagem com o mundo por meio de experincias visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da lngua de sinais. Paralelamente a esta legislao surge um contraste marcante onde alguns conflitos se situam em diferentes contextos tericos como a educao especial que acompanha a teoria moderna; o bilingismo fruto da teoria critica e o uso de lngua de sinais e cultura surda fruto da teoria cultural em educao de surdos. No obstante as diferentes concepes que levam a avanos ou recuos, os surdos brasileiros estamos bem protegidos por leis que servem de fundamentos a educao. H ainda algumas legislaes controversas cultura surda, como por exemplo: educar a audio, esta contestada pratica de responsabilidade da rea da sade e no da educao, mesmo esteja longe de atender ao legado cultural e que mais se serve para o intercultural surdo tambm protegida por lei.

VOCE SABIA QUE... Rmulo, o fundador de Roma, por volta de 753 a.C. decretou que todos os surdos recm-nascidos e crianas at aos trs anos de idade teriam de ser inseminadas, porque eram um peso e problema para o Estado? (RADUTZKY, 1992)

Fundamentos legais a partir da cultura surda: Com a Constituio comemora-se os avanos concedidos a presena da cultura surda na educao de surdos.

Os

problemas

da

interao

cultural

s

emergem

nas

fronteira

significativas das culturas onde significados e valores ajeitam-se sob cada cultura. Assim a cultura dos ndios, dos surdos, dos negros no e nunca ser a mesma. A cultura surda , sua realidade determinada pela existncia da lngua de sinais, de jeito surdo de ser diferente, de viver, de entender o mundo. O conceito de cultura surda por vezes sofre com a predominncia de uma cultura nica, no entanto ela produzida no momento da diferenciao, ocasionando quebra do domnio culturalista. A enunciao da diferena cultural problematiza a

CONCEITO Culturalista: viso existente na teoria critica que, segundo thompson (2005, 26), significa atitude de superioridade de algumas culturas.

J o decreto governamental 5.626 de 22 de dezembro de 2005 no captulo VI d garantia do direito a educao nas escolas ou classes de surdos no que refere a que tenham em seus quadros a lngua de sinais, bem como a lngua nacional vigente.

UNIDADE 05 - LEGISLAO E EDUCAO DE SURDOS NOS DIAS ATUAIS O fato de que o surdo um sujeito que produz cultura baseada na experincia visual requer uma educao fundamentada nesta sua diferena cultural. Com isto a Constituio que assegura o direito a diferentes expresses culturais no povo brasileiro, faz antever a necessidade de serem respeitados os direitos culturais dos surdos. Para tanto j h uma srie de legislaes em relao educao do surdo, bem como em outros espaos sociais onde o surdo interage adquirindo o conhecimento, garantindo sua fundamentao cultural,. Na sociedade brasileira a legislao sobre os surdos presente e de forma abundante. Isto faz antever a presena de uma serie complexa de legislaes que no so para a excluso, a captura, mas para o pleno direito diferena. Estas legislaes estabelecem alguns fatos obrigatrios por exemplo a educao especial, a educao inclusiva que, mesmo no garantindo o acesso cultura surda, garantem o direito educao. Mas tambm h legislao que estabelece o momento de uso pleno do direito cultural de acordo, seja ela Constituio Brasileira, seja com as demais leis educacionais. O ltimo decreto governamental 5.626 de 22 de dezembro de 2005 trouxe importantes inovaes para a fundamentao da educao de surdos. Inclusive identifica os surdos como aqueles que interagem com o mundo por meio de experincias visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da lngua de sinais. Paralelamente a esta legislao surge um contraste marcante onde alguns conflitos se situam em diferentes contextos tericos como a educao especial que acompanha a teoria moderna; o bilingismo fruto da teoria critica e o uso de lngua de sinais e cultura surda fruto da teoria cultural em educao de surdos. No obstante as diferentes concepes que levam a avanos ou recuos, os surdos brasileiros estamos bem protegidos por leis que servem de fundamentos a educao. H ainda algumas legislaes controversas cultura surda, como por exemplo: educar a audio, esta contestada pratica de responsabilidade da

rea da sade e no da educao, mesmo esteja longe de atender ao legado cultural e que mais se serve para o intercultural surdo tambm protegida por lei. No Brasil, a lngua de sinais oficial como lngua de uso dos surdos. garantida pela lei 10.436, de 24 de abril de 2002 e interessante notar tambm que quase todos os Estados brasileiros j tm em seu quadro a lei que defende lngua de sinais e a torna de uso oficial nestes Estados. Sobre a oficializao da lngua de sinais a nvel nacional, ela j era garantida pelo Congresso Nacional em 1996 atravs do decreto:

Art. 1 - A Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 26-B: "Art. 26-B - Ser garantida s pessoas surdas, em todas as etapas e modalidades da educao bsica, nas redes pblicas e privadas de ensino, a oferta da Lngua Brasileira de Sinais - LIBRAS, na condio de lngua nativa das pessoas surdas". Art. 2 - Esta Lei entra vigor na data de sua publicao

Mais adiante segue o Projeto de Lei do Senado n 180, DE 2004 que altera a Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educao nacional, fazendo o enquadramento no currculo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da oferta da Lngua Brasileira de Sinais LIBRAS - em todas as etapas e modalidades da educao bsica.

O Congresso Nacional decreta: Art. 1 - A Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 26-B: "Art. 26-B - Ser garantida s pessoas surdas, em todas as etapas e modalidades da educao bsica, nas redes pblicas e privadas de ensino, a oferta da Lngua Brasileira de Sinais - LIBRAS, na condio de lngua nativa das pessoas surdas". Art. 2 - Esta Lei entra vigor na data de sua publicao.

Com essa lei temos que a presena da lngua de sinais se tornou fundamental na educao de surdos. Estes fundamentos foram solidificados com o decreto governamental 5.626 de 22 de dezembro de 2005 que intensifica estas afirmaes e as regulamenta, inclusive tornando obrigatrio o uso de lngua de sinais no somente aos surdos mas tambm aos professores que os atendem bem como motivando a presena de interpretes. Com relao a acessibilidade na comunicao: importante notar que no somente em educao mas em outros campos e entre eles na comunicao a lei se mostra presente para garantir o direito. Na lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000 garante acessibilidade aos surdos no que se refere aos meios essenciais de participao social e da qual nos pode beneficiar. O Artigo 17 desta lei explica que o Poder Pblico dever promover a eliminao de barreiras na comunicao e estabelecer mecanismos e alternativas tcnicas que tornem acessveis os sistemas de comunicao para garantir o direito de acesso informao, comunicao, ao trabalho, educao, ao transporte, cultura, ao esporte e ao lazer. E tambm para acessibilidade, no que refere aos surdos:

o art. 18 desta lei cita que: o poder pblico dever implementar a formao de profissionais intrpretes de lngua de sinais para facilitar qualquer tipo de comunicao direta ao surdo . Em relao a necessidade de comunicao visual para os surdos, o Art. 19 desta mesma lei prope que se tomem iniciativas visando:

Medidas tcnicas com o objetivo de permitir o uso da lngua de sinais ou outra subtitulao, para garantir o direito de acesso informao.

J o decreto governamental 5.626 de 22 de dezembro de 2005 no captulo VI incisivo em afirmar que as instituies de ensino devem proporcionar tradutor/intrprete aos alunos surdos: Art. 23 2 -As instituies privadas e publicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscaro implementar as medidas das referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficincia auditiva o acesso a comunicao e a educao.

preciso ficar atento para fundamentar a educao dos surdos nos princpios legais que garantem ao surdo o direito a diferena!

CONCEITO Enquadramento: refere ao grau de controle das formas de uso do processo. Assim o processo de enquadramento da lngua de sinais no currculo garantido por lei. A educao de surdos, seja na escola de surdos, seja a incluso deve determinar e controlar, segundo a lei, a presena da lngua de sinais garantindo sua proficincia entre os professores, funcionrios e demais membros do contingente escolar.

UNIDADE 06 - AS POLTICAS DE INCLUSO E EXCLUSO SOCIAIS E EDUCACIONAIS

Est havendo uma poltica em rumo apelidada de incluso, a sociedade comea a perceber a existncia de povo surdo e procura se organizar para receb-los de forma adequada e os prprios sujeitos surdos comeam a exigir seus espaos, sua representao de diferena cultural lingsticos. A incluso no ocorre somente nas escolas, pode ocorrer tambm nos restaurantes, nos shoppings, nos trabalhos, nos rgos pblicos, nas lojas, nas igrejas e em outros ambientes de interao humana.

REFLEXO Quando comentamos em incluir porque tem sujeitos que esto excludas isto , esto fora. A educao inclusiva no se refere apenas aos sujeitos deficientes, refere tambm educao para todos, ento vamos refletir, o fato desses sujeitos estarem dentro da escola significa que eles esto includos?

Voces sabem como comeou a poltica de incluso de surdos nas escolas de ouvintes? No ano de 1994, os representantes de mais de oitenta pases se renem na Espanha e assinam a Declarao de Salamanca, um dos mais importantes documentos de compromisso de garantia de direitos educacionais. Este documento declara as escolas regulares inclusivas como o meio mais eficaz de combate discriminao e ordena que as escolas devam

acolher todas as crianas, independentemente de suas condies fsicas, intelectuais, sociais, emocionais ou lingsticas. A poltica evidenciada na Declarao de Salamanca foi adotada na maioria dos pases e na elaborao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao (lei n 9394/96) observamos que em um de seus captulos sobre a educao especial onde apia e inclui parmetros para a integrao/incluso do aluno especial na escola regular, a Declarao faz ressalva situao lingstica dos surdos e defendeu as escolas e classes para eles (item 30). O problema que os governos no respeitam essa ressalva e trataram os surdos como os demais alunos. Muitos especialistas alimentam os discursos de incluso; sem perceberem as conseqncias deste processo que s tem contribuindo mais ainda para a frustrao educacional dos sujeitos surdos. Estes especialistas no tm nenhuma experincia na prtica em sala de aula com os sujeitos surdos acabando em colocarem-nos no mesmo patamar dos deficientes visuais, deficientes mentais e outros, sem se dar conta que os sujeitos surdos possuem uma identidade lingstica e cultural que os diferencia. Segundo SKLIAR: Um dos problemas, na minha opinio, a confuso que se faz entre democracia e tratamento igualitrio. Quando um surdo tratado da mesma maneira que um ouvinte, ele fica em desvantagem. A democracia implicaria, ento, no respeito s peculiaridades de cada aluno seu ritmo de aprendizagem e necessidades particulares (1998, p.37)

Sabemos que a proposta governamental colocar o sujeito surdo na sala de aula junto com professores sem capacitao para trabalhar com surdos. Vemos muitos sujeitos surdos conclurem o Ensino Mdio sem saber escrever sequer um bilhete. Porque ocorreu este no escolarizao dos mesmos? Ento os alunos surdos que antes que eram excludos so agora sendo destitudos do direito de sua lngua na incluso dentro de escolas de ouvintes.

Mas vamos refletir: isto est sendo feito corretamente? Isto o ideal? Realmente significa a incluso para os surdos? Ao percorrer a trajetria histrica do povo surdo e suas diferentes representaes sociais, procuramos alcanar a compreenso de o porque que houve muitos sujeitos surdos tiveram fracassos na incluso nas escolas de ouvintes. Vamos refletir estes momentos histricos da excluso, integrao e incluso por que passava a educao de surdos. Embora sejam poucos estes registros frente ao povo surdo, vemos que historicamente o povo ouvinte sempre decidiu como seria a educao de surdos. Na antiguidade no havia a preocupao de formao educacional de sujeitos surdos, uma vez que os mesmos no eram vistos como cidados produtivos ou teis sociedade. A partir da Idade Mdia, muitos pedagogos e filsofos apaixonados pela educao discutiam sobre a integrao social dos surdos: de qual integrao se tratava? Qual seria o preo que o povo surdo iria pagar por esta integrao? Nesta fase o atendimento era voltado filantropia e ao assistencialismo, os sujeitos surdos eram entregues pelas famlias s instituies e asilos em regime de internato at que estivessem aptos para retornar para o convvio familiar, o que, invariamente acontecia no inicio da idade adulta. Depois entra em cena a preocupao de resgatar os surdos do anonimato e traz-los ao convvio social como sujeitos com direitos que mereceriam a ateno de todas as instituies educacionais organizadas e ocorreu a expanso do atendimento especializado com as campanhas de preveno e identificao da surdez. Com a incluso dos surdos no processo educacional, vimos que esses sujeitos no desenvolveram o seu potencial em virtude que sujeitos ouvintes

queriam que os sujeitos surdos tivessem o modelo ouvintista, impondo-lhes o oralismo e o treinamento auditivo no respeitando a identidade cultural dos mesmos. E com isto houve o desequilbrio educacional dos sujeitos surdos. Este discurso sobre a educao de surdos estava fora do contexto, pois muitas vezes os sujeitos surdos eram vistos como retardados sendo poupados dos contedos escolares mais complexos, empurrados de uma srie para outra srie e tambm foram proibidas de compartilhar uma lngua cultural do povo surdo, sendo tratados como dbeis mentais com a eternizao da infncia. Percebemos pelos relatos dos professores das escolas de ouvintes que, apesar de todos os obstculos e dificuldades, alguns se mostram receptivos e abertos para dar continuidade ao processo e outros se mostram resistncias em aprender de como lidar com alunos surdos. Os povos surdos lutam pelas escolas de surdos, no entanto, a realidade que existe no Brasil o total de 5.564 Municpios e ofertado atendimento de educao especial 82,3% destes Municpios1

REFLEXO O que fazer com os sujeitos surdos que moram em cidades pequenas, onde no existe comunidade surda? Como vamos tir-los de perto de suas famlias e mand-los para as escolas de surdos nas grandes cidades? Isto no voltar na histria para o passado?

1

Fonte: http://portal.mec.gov.br/seesp/index.php?option=content&task=view&id=62&Itemid=191).

Hoje o Brasil conta com vrias classes especiais, salas de recursos, ou seja, espaos educacionais para surdos dentro de escolas regulares e escola para surdos para garantir o atendimento de alunos surdos matriculados nas diferentes escolas brasileiras. E os municpios menores podero estar organizando atividades de educao em escolas plos2 sistematicamente, j que os sujeitos surdos necessitam interagir entre si para que a lngua de sinais esteja evoluo e fluncia lingstica. O ideal que na incluso nas escolas de ouvintes, que as mesmas se preparem para dar aos alunos surdos os contedos pela lngua de sinais, atravs de recursos visuais, tais como figuras, lngua portuguesa escrita e leitura, a fim de desenvolver nos alunos a memria visual e o hbito de leitura, que recebam apoio de professor especialista conhecedor de lngua de sinais e enfim, dando intrpretes de lngua de sinais, para o maior acompanhamento das aulas. Outra possibilidade contar com a ajuda de professores surdos, que auxiliem o professor regente e trabalhem com a lngua de sinais nas escolas. Cito novamente Skliar: Nesse sentido, a escola democrtica aquela que se prepara para atender cada um de seus alunos. Se ela no tem condies de fazer esse atendimento, o professor precisa entrar em contato com os rgos competentes e discutir o tema. Como responsvel por vrios cursos de libras e de interpretes, entendo que a formao de professores para atender a alunos surdos depende da convivncia com a comunidade surda, a aprendizagem da lngua de sinais e o estudo de uma pedagogia ampla. (1998, p.37) Felizmente o MEC, freqentemente por meio de sua valorosa Secretaria de Educao Especial, tem feito esforos crescentes para valorizar a Libras e para garantir o seu ensino ao professorado, em observncia estrita 2

lei federal 10.172 que determina o ensino de Libras aos surdos e familiares, e lei federal 10.436 que determina que os sistemas educacionais federal, estaduais e municipais incluam o ensino da Libras como parte dos parmetros curriculares nacionais nos cursos de formao de educao especial, fonoaudiologia e magistrio nos nveis mdio e superior. importante refletirmos na pedagogia surda e procedimento intercultural Esta nova proposta da pedagogia da diferena inspira novos mtodos de ensino na educao aos surdos, tambm propcia uma metodologia de ensino que produz o enunciativo do desejo de subjetivao cultural. Leva em conta uma estratgia pedaggica e curricular de abordagem da identidade e da diferena, precisamente as contribuies da teoria cultural recente. Nesta posio, entra em discusso a construo da subjetividade que celebra a identidade e a diferena culturais. Este o procedimento de ensino ao surdo que acontece atualmente nos palcos das salas de aula, em presena de professores surdos e ouvintes, se bem que pouco visvel, no pesquisado, mas presente. Os professores comprometidos com o projeto da pedagogia da diferena tm por objetivo abrir base material e discursiva de maneira especfica a produzir significado e representar a diferena surda nos seus projetos pedaggicos. Seria um erro considerar esta diferente concepo de construo da subjetividade surda, como uma construo para um gueto como muitos referem. A diferena ser sempre diferena. A construo da subjetividade cultural o objetivo mais presente nesta metodologia. Trata-se mais de uma concepo sociolgica do surdo como pertencente a um grupo cultural. Prima pela sua diferena como construo sociolgica na defesa de uma liberdade social onde o sujeito surdo est

presente e se torna capaz de desenvencilhar-se das diversas presses sociais durante a interao cultural, como no caso, no qual a sociedade lhe impe o papel de deficiente. O Brasil necessita perceber o sujeito surdo, como uma diferena lingstica e cultural. Como que os governantes brasileiros e parte da sociedade defendem a incluso de tantos grupos marginalizados, como uma forma de transformao social, se sequer conseguem notar as diferenas de quem est concretamente ao seu lado, sem ser notado? (...) Compreendemos que no basta apenas transmitir nossos conhecimentos. preciso que saibamos compreender, ouvir, atender as angstias, os anseios, s lutas e, principalmente, reconhecer as conquistas, por menores que sejam, pois de pequenos fragmentos que se constroem pavilhes (Lorenzetti, 2006)

CONCEITO Escolas plo: so as escolas de surdos ou escolas regulares com classes especiais que atendem somente surdos. Em alguns Estados Brasileiros existe estes servios. Nas referidas escolas tem professor bilnge, interprete e instrutor surdo. Os alunos so da regio ou regies adjacentes Regulao nos processos culturais - no sentido que de acordo com a teorizao ps-estruturalista que fundamenta boa parte dos estudos culturais a identidade cultural s pode ser compreendida como um processo social discursivo. Ela est em conexo com a produo da diferena.

REFLEXES NORTEADORAS PARA ENTREVISTA:

1- Qual o conhecimento dos professores que atuam com alunos surdos a respeito de surdos, identidade, cultura e lngua? 2- Qual a forma de comunicao utilizada na sala de aula com os alunos surdos? 3- Quais as dificuldades dos professores em relao com os alunos surdos? 4- Quais as sugestes dos professores para melhorar a qualidade de incluso de sujeitos surdos em salas de aulas?

PARA LEITURAS COMPLEMENTARES SUGERIMOS Declarao de Salamanca (http://www.lerparaver.com/legislacao/internacional_salamanca.html) Lei de Diretrizes e Bases da Educao (lei n 9394/96) (http://www.rebidia.org.br/noticias/educacao/direduc.html) Lei no 10.172, de 9 de janeiro de 2001 (http://www.presidencia.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10172.htm) Lei n 10.436, de 24 de abril de 2002 (http://www.presidencia.gov.br/CCIVIL/LEIS/2002/L10436.htm)

CONCLUSAO

Fundamentando a educao dos surdos em aspectos culturais a estamos fazendo com que ela se torne inovadora. Estamos desemaranhando a educao e invertendo o aspecto que ela tem de interferncias, de criar um modelo pronto para o surdo. A histria nos ensina que modelos prontos j existiram. Modelos para fazer o outro narrar-se, construir sua subjetividade determinada. A lei nos empurra para frente, par a conquista de nossos direitos, nosso lugar cultural, nossa pedagogia, nossa histria. Ns surdos sempre soubemos que o desmantelamento da obrigao de nos espelharmos na cultura ouvicentrica nos tornaria diferentes, nos tornaria inevitavelmente possuidores de nossa identidade como surdos. A esta nossa identidade, uma perigosa aventura de pensar no alm, na diferena, construir nosso outro, nossa alteridade.

REFERNCIAS:

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