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Averbação. Ata de assembleia geral. Associação civil. Exibição de cópias em conformidade com o original. Inadmissibilidade. Nulidade do registro. REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Averbação - Ata de assembleia geral de associação civil - Exibição de cópias, declaradas em conformidade com o documento original - Inadmissibilidade - Nulidade do registro (Lei nº 6.015/73, art. 214, caput) - Recurso provido. CGJSP - PROCESSO: 28595/2010 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: Barretos DATA JULGAMENTO: 30/05/2011 Relator: Maurício Vidigal íntegra: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Corregedoria Geral da Justiça Processo CG nº 2010/28595 (174/2011-E) REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Averbação - Ata de assembleia geral de associação civil - Exibição de cópias, declaradas em conformidade com o documento original - Inadmissibilidade - Nulidade do registro (Lei nº 6.015/73, art. 214, caput) - Recurso provido. Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça: Trata-se de apelação interposta por SAMIR RAMERES PEREIRA e RICARDO MARQUES DE MELLO contra decisão do Corregedor Permanente do Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Barretos, indeferindo "pedido de providências" (fls. 552-553). Aduziram os recorrentes, em essência, que o registrador admitiu "cópias infiéis" de atas de assembleias gerais da associação Clube dos Leões do Brasil de Barretos, com violação do art. 121 da Lei nº 6.015/73 e do art. 1.151 do Código Civil (fls. 555-558). Por determinação (fl. 565), foi integrada ao contraditório a associação interessada na subsistência dos atos registrários, cuja denominação atual é Clube Recanto dos Lagos (fls. 575-580). O Ministério Público manifestou-se pelo improvimento (fls. 562-563 e 641). Esse o relatório. Passo a opinar. Os atos questionados consistem em averbações (Código Civil, art. 45, caput, parte final) de atas de assembleia geral, e não de registro stricto sensu, para existência legal de pessoa jurídica de direito privado (Lei nº 6.015/73, art. 119; Código Civil, arts. 45 caput, 985 e 1.150). Portanto, cabível é o recurso administrativo, de competência da Corregedoria Geral da Justiça, nos termos do art. 246 do Decreto-lei Complementar Estadual nº 3/69, como já decidiu o Conselho Superior da Magistratura (Apelação nº 57.554- 0/0, Rel. Des. Sérgio Augusto Nigro Conceição, j. 14.9.99). Não obstante o equívoco é forçoso conhecer da apelação como recurso administrativo, por aplicação do princípio da fungibilidade. Os recorrentes alegaram que as atas de assembleias gerais da associação civil Clube dos Leões do Brasil de Barretos, realizadas em 20.2.91, 12.2.92, 17.2.93, 30.3.94, 11.3.95, 30.3.96, 20.4.97, 14.3.98, 29.4.99, 2.2.00, 7.2.01, 29.5.02, 26.4.03, 18.2.04, 20.4.05, 17.5.06, 7.3.07 e 6.2.08, foram averbadas indevidamente, pois o teor das cópias não correspondia ao lançado no livro próprio original. Conforme entendimento assente na Corregedoria Geral da Justiça (Processos CG 2009/24761, 2008/108173, 2008/100534, 2008/87737) e no Conselho Superior da Magistratura (Apelação nº 864-6/4, Rel. Des. Ruy Camilo, j. 21.10.08; Apelação nº 17-6/0, Rel. Des. Luiz Tâmbara, j. 7.11.03; Apelação nº 7.120-0/9, Rel. Des. Sylvio do Amaral, j. 1º.6.87), não se admite o registro de cópias, ainda que autenticadas. É que o exame de legalidade inerente à qualificação registrária pressupõe exibição do título em si. Em caso específico de averbação de ata de assembleia se ressaltou que, sem o documento original o procedimento assume caráter meramente teórico-doutrinário, tornando-se inviável o ingresso (Processo CG 2009/11746). Apesar disso, aqui foram aceitas "cópias fiéis das atas extraídas do livro próprio", como reconheceu o oficial (fl. 546).

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Page 1: FMB 2a. fase SP... · Web viewPrescindível também ação própria, pois à Administração Pública (e a atividade correcional da função notarial e de registro é de natureza

Averbação. Ata de assembleia geral. Associação civil. Exibição de cópias em conformidade com o original. Inadmissibilidade. Nulidade do registro.

REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Averbação - Ata de assembleia geral de associação civil - Exibição de cópias, declaradas em conformidade com o documento original - Inadmissibilidade - Nulidade do registro (Lei nº 6.015/73, art. 214, caput) - Recurso provido.

CGJSP - PROCESSO: 28595/2010 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: Barretos DATA JULGAMENTO: 30/05/2011 Relator: Maurício Vidigal íntegra:

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Corregedoria Geral da Justiça

Processo CG nº 2010/28595

 (174/2011-E)

REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Averbação - Ata de assembleia geral de associação civil - Exibição de cópias, declaradas em conformidade com o documento original - Inadmissibilidade - Nulidade do registro (Lei nº 6.015/73, art. 214, caput) - Recurso provido.

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça:

Trata-se de apelação interposta por SAMIR RAMERES PEREIRA e RICARDO MARQUES DE MELLO contra decisão do Corregedor Permanente do Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Barretos, indeferindo "pedido de providências" (fls. 552-553). Aduziram os recorrentes, em essência, que o registrador admitiu "cópias infiéis" de atas de assembleias gerais da associação Clube dos Leões do Brasil de Barretos, com violação do art. 121 da Lei nº 6.015/73 e do art. 1.151 do Código Civil (fls. 555-558).

Por determinação (fl. 565), foi integrada ao contraditório a associação interessada na subsistência dos atos registrários, cuja denominação atual é Clube Recanto dos Lagos (fls. 575-580).

O Ministério Público manifestou-se pelo improvimento (fls. 562-563 e 641).

Esse o relatório. Passo a opinar.

Os atos questionados consistem em averbações (Código Civil, art. 45, caput, parte final) de atas de assembleia geral, e não de registro stricto sensu, para existência legal de pessoa jurídica de direito privado (Lei nº 6.015/73, art. 119; Código Civil, arts. 45 caput, 985 e 1.150).

Portanto, cabível é o recurso administrativo, de competência da Corregedoria Geral da Justiça, nos termos do art. 246 do Decreto-lei Complementar Estadual nº 3/69, como já decidiu o Conselho Superior da Magistratura (Apelação nº 57.554-0/0, Rel. Des. Sérgio Augusto Nigro Conceição, j. 14.9.99).

Não obstante o equívoco é forçoso conhecer da apelação como recurso administrativo, por aplicação do princípio da fungibilidade.

Os recorrentes alegaram que as atas de assembleias gerais da associação civil Clube dos Leões do Brasil de Barretos, realizadas em 20.2.91, 12.2.92, 17.2.93, 30.3.94, 11.3.95, 30.3.96, 20.4.97, 14.3.98, 29.4.99, 2.2.00, 7.2.01, 29.5.02, 26.4.03, 18.2.04, 20.4.05, 17.5.06, 7.3.07 e 6.2.08, foram averbadas indevidamente, pois o teor das cópias não correspondia ao lançado no livro próprio original.

Conforme entendimento assente na Corregedoria Geral da Justiça (Processos CG 2009/24761, 2008/108173, 2008/100534, 2008/87737) e no Conselho Superior da Magistratura (Apelação nº 864-6/4, Rel. Des. Ruy Camilo, j. 21.10.08; Apelação nº 17-6/0, Rel. Des. Luiz Tâmbara, j. 7.11.03; Apelação nº 7.120-0/9, Rel. Des. Sylvio do Amaral, j. 1º.6.87), não se admite o registro de cópias, ainda que autenticadas.

É que o exame de legalidade inerente à qualificação registrária pressupõe exibição do título em si.

Em caso específico de averbação de ata de assembleia se ressaltou que, sem o documento original o procedimento assume caráter meramente teórico-doutrinário, tornando-se inviável o ingresso (Processo CG 2009/11746).

Apesar disso, aqui foram aceitas "cópias fiéis das atas extraídas do livro próprio", como reconheceu o oficial (fl. 546).

Logo, evidentemente a insurgência dos recorrentes não recai sobre aspectos intrínsecos do título, para além do limite formal da qualificação.

Impende ressaltar ainda, que os papéis admitidos pelo oficial de registro não eram cópias fiéis das atas de assembleia geral.

Em verdade, nem se tratava de reprodução reprográfica, mas sim de digitação e impressão do conteúdo das atas com os recursos da informática. Seria algo semelhante à extinta pública-forma, usada antes do advento da cópia fotostática e atualmente proscrita (NSCGJ, Cap. XIV, subitem 51.2).

Contudo, são perceptíveis as divergências entre os textos das atas manuscritas e das supostas cópias fiéis, o que deflui do exame da documentação que instruiu o "pedido de providências" (fls. 10 e seguintes).

A solução, então, é a declaração de nulidade do registro, por aplicação do art. 214, caput, da Lei nº 6.015/73.

Deveras, a averbação de reproduções inautênticas implica nulidade de pleno direito, por significar violação de requisito formal do registro. Há invalidade direta do registro, independentemente do título causal.

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Prescindível também ação própria, pois à Administração Pública (e a atividade correcional da função notarial e de registro é de natureza administrativa) é lícito invalidar os próprios atos, haja vista o princípio da autotutela ou da revisão hierárquica (Supremo Tribunal Federal, Súmulas 346 e 473).

A Administração Pública "está obrigada a policiar, em relação ao mérito e à legalidade, os atos administrativos que pratica. Cabe-lhe, assim, retirar do ordenamento jurídico os atos inconvenientes e inoportunos e os ilegítimos. Os primeiros através da revogação e os últimos mediante anulação" (Gasparini, Diogenes, Direito Administrativo, São Paulo: Saraiva, 1993, 3ª edição, pág. 13).

Conforme a lição de Hely Lopes Meirelles, a "anulação dos atos administrativos pela própria Administração constitui a forma normal de invalidação de atividade ilegítima do Poder Público. Essa faculdade assenta no poder de autotutela do Estado. É uma justiça interna, exercida pelas autoridades administrativas em defesa da instituição e da legalidade de seus atos" (Direito Administrativo Brasileiro, São Paulo: Malheiros, 2001, 26ª edição, pág. 197).

A associação asseverou que a assembleia geral (órgão soberano da entidade), reunida em 16 de dezembro de 2009, ratificou todas as atas relacionadas pelos recorrentes (fls. 578).

Porém, não se efetivou a respectiva averbação.

O oficial de registro certificou que a última averbação (35249) se refere à ata de assembleia geral extraordinária realizada em 3 de junho de 2009. Na mesma certidão há notícia do protocolo nº 35749, relativo à assembleia geral de 25 de maio de 2009 (fls. 648 e 649). A questão é objeto do Processo CG 2009/126615, em que provido recurso administrativo para anular a decisão do Corregedor Permanente.

Isso elide qualquer alegação de convalidação ou confirmação do ato de registro. Demais disso, por se tratar de nulidade absoluta - considerando o interesse público que permeia o sistema registrário -, não há falar em convalescimento, tal como acontece com o negócio jurídico nulo no Direito Privado (Código Civil, art. 169).

Posto isso, o parecer que respeitosamente submeto à elevada apreciação de Vossa Excelência é no sentido de conhecer da apelação como recurso administrativo, dando-lhe provimento a fim de declarar nulas as averbações números 34956 a 34973 do Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Barretos. Propõe-se, ainda, que o Corregedor Permanente apure a responsabilidade disciplinar do oficial de registro.

Sub censura.

São Paulo, 13 de maio de 2011.

JOMAR JUAREZ AMORIM

Juiz Auxiliar da Corregedoria

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA

CONCLUSÃO

Em 18 de maio de 2011, faço estes autos conclusos ao Excelentíssimo Senhor Desembargador MAURÍCIO VIDIGAL, DD. Corregedor Geral da Justiça. Eu, ______ (Joelma Santiago), Escrevente Técnico Judiciário do GATJ 3, subscrevi.

Processo nº 2010/28595

Aprovo o parecer do MM. Juiz Auxiliar da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, conheço da apelação como recurso administrativo, dando-lhe provimento a fim de declarar nulas as averbações números 34956 a 34973 do Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Barretos.

Determino, ainda, que o Corregedor Permanente apure a responsabilidade disciplinar do oficial de registro.

São Paulo, 30 maio de 2011.

MAURÍCIO VIDIGAL

Corregedor Geral da Justiça

 

 

 

 

 

 

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Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Sociedade simples - exclusão de sócios - via judicial.

Registro Civil de Pessoas Jurídicas - Sociedade simples - averbação de alteração contratual que contém cláusula de exclusão extrajudicial de sócio - impossibilidade - art. 1.030 do Código Civil - regra específica que afasta a incidência do art. 44, § 2o, Código Civil - Recurso não provido

CGJSP - PROCESSO: 133.553/2013 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 26/11/2013 DATA DJ: 10/12/2013 Relator: José Renato NaliniLegislação:

CCB - Código Civil Brasileiro | 10.406/2002, ART: 1030

íntegra:

PROCESSO Nº 2013/133553 - SÃO PAULO - TIEMI YAMADA & CIA S/S - Advogado: JOEL RODRIGUES CORRÊA, OAB/SP 186.390 (927/13-E), digo (533/13-E) [sic]

Registro Civil de Pessoas Jurídicas - Sociedade simples - averbação de alteração contratual que contém cláusula de exclusão extrajudicial de sócio - impossibilidade - art. 1.030 do Código Civil - regra específica que afasta a incidência do art. 44, § 2o, Código Civil - Recurso não provido

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça:

Inconformada com a r. decisão de fls. 297/299 que indeferiu a averbação do instrumento de alteração e consolidação contratual por meio do qual se pretende a exclusão de sócio de serviço, recorre Tiemi Yamada & Cia S/S (fls. 302/308).

Aduz, em suma, que a exclusão extrajudicial é possível e cita, em seu favor, o Enunciado 280 do Consellho da Justiça Federal so STJ. Aduz que a exclusão prevista no art. 1.030, do Código Civil, restringe-se ao sócio que detém cotas sociais, e que a exclusão de sócio de serviço pela via judicial não se coaduna com a natureza de suas obrigações, uma vez que sequer detém capital social.

Contrarrazões às fls. 312/313.

A Douta Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo não provimento do recurso (fls. 318/319).

É o relatório.

Opino.

Embora intitulado de apelação, nada impede que o recurso, pela fungibilidade recursal, seja recebido como administrativo, na forma do art. 246, do Código Judiciário, uma vez que o ato pretendido pela recorrente é passível de averbação (de alteração contratual de sociedade simples) e não de registro em sentido estrito. 

A exclusão do sócio da sociedade simples está disciplinada no art. 1.030, do Código Civil, segundo o qual:

Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente.

A norma exige de forma expressa que a exclusão do sócio, de serviço ou não - pois a lei não distingue - seja judicial por iniciativa da maioria dos demais.

Trata-se de norma especial que cuida de maneira específica do modo pelo qual o sócio da sociedade simples pode ser excluído. Ora, se há regra específica sobre o tema, não há como se invocar a incidência do art. 44, § 2º, do Código Civil, para sustentar a aplicação subsidiária do art. 57, sob pena de se fazer letra morta do art. 1.030.

A urgência reclamada pelo recorrente e a suposta morosidade da Justiça para o deslinde da exclusão judicial não têm o condão de afastar a incidência de art. 1.030, do Código Civil, que, de forma expressa, exige, tirante a situação prevista no parágrafo único, do art. 1.004[1], processo judicial.

Deste modo, fica claro que o instrumento particular de alteração e consolidação contratual ora recusado, na parte em que prevê exclusão extrajudicial de sócio fora da hipótese prevista no parágrafo único, do art. 1.004, do Código Civil, contraria o princípio da legalidade registral.

É nesse sentido, também, o r. parecer da ilustrada Procuradoria Geral de Justiça.

Nesses termos, o parecer que respeitosamente submeto à elevada consideração de Vossa Excelência é no sentido de que seja negado provimento ao recurso.

Sub censura.

São Paulo, 25 de novembro de 2013.

Gustavo Henrique Bretas Marzagão

Juiz Assessor da Corregedoria

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CONCLUSÃO

VISTOS

Aprovo o parecer do MM. Juiz Assessor da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 26/11/2013

JOSÉ RENATO NALINI

Corregedor Geral da Justiça

[1] Art. 1.004, Parágrafo único. Verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios preferir, à indenização, a exclusão do sócio remisso, ou reduzir-lhe a quota ao montante já realizado, aplicando-se, em ambos os casos, o disposto no § 1o do art. 1.031.

 

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Registro Civil de Pessoas jurídicas. Sociedade unipessoal.

Sociedade composta de três sócios - um dos quais pessoa jurídica; Faleceram dois, acarretando a unipessoalidade da sociedade - vedada pela legislação brasileira.

CSMSP - APELAÇÃO CÍVEL: 11.659-0/2 CSMSP - APELAÇÃO CÍVELLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 17/09/1990 DATA DJ: 29/10/1990 Relator: Onei Raphael íntegra:

APELAÇÃO CÍVEL 11.659-0/2 - CAPITAL

 

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral:

 

Cuida-se de recurso interposto pela COMPANHIA ADMINISTRADORA RAMBISA, contra a r. decisão do MM. Juiz da Primeira Vara de Registros Públicos da Capital que, em procedimento de dúvida denegou registro a alteração contratual da "Imobiliária Riala Ltda.", em vistas de sua dissolução legal.

Sustenta, em síntese, que a decisão se influenciou por tese individualista, hoje superada pelo desenvolvimento do direito, pelo que seria admissível o reconhecimento de mera dissolução parcial e não absoluta. Cita doutrina em abono de sua tese, e alega que, diante da decisão não poderá nem mesmo constituir defensor para representar a indigitada sociedade nas ações que lhe forem propostas, sujeitando a própria apelante até mesmo aos efeitos da falência. Conclui pela reforma do julgado, a fim que se possibilite o registro da pretendida alteração.

O Ministério Público, em ambas as instâncias (fls. 40/41 e 44/45), é pelo improvimento.

É o relatório do essencial.

O P I N O.

A recorrente buscou registro de alteração contratual da "Imobiliária Riala Ltda.", pela qual nela ingressava Eduardo Rodrigues Liberado, em vista do falecimento de dois dos três sócios que a integravam (Antonio de Mello Bitencourt e Heitor Fidale). Recusou-o o Oficial sob o fundamento de que as quotas sociais dos falecidos deveriam ser partilhadas, pelo que deveria a alteração vir acompanhada do competente formal.

O motivo da recusa foi desacolhido pela r. decisão. Todavia, por fundamento diverso, se manteve a negativa de recurso.

E não poderia ser de modo diverso.

A hipótese não exigia apresentação do formal de partilha para comprovação do destino das quotas sociais. É que o estatuto social vedava o ingresso dos sucessores. As quotas seriam redistribuídas aos remanescentes, apurando-se os haveres na forma ali e pagos os herdeiros. Tal motivo, portanto, não justificava a recusa. Preciso, aliás, o parecer do I. Doutor Curador (fls. 24/7).

Mas o reconhecimento da dissolução da sociedade por impossibilidade legal de sua continuação, acolhido pela r. decisão, é inquestionável.

É que o direito pátrio não reconhece a sociedade unipessoal. E quando o excepciona, só o faz a forma anônima.

Ademais, a doutrina colacionada pelo apelante tem em conta, em especial, o conceito social de empresa - do que a hipótese não cuida. Trata-se de sociedade civil, que, ao que tudo indica, de há muito não se encontra em atividade. A tanto de acrescente - na esteira de argumentos fáticos - como enveredou a recorrente, que desde a morte do ex-sócio Heitor (10.11.71) até a de Antonio (8.10.74) decorreu lapso de tempo suficiente a readmissão de outro, pena de - na eventualidade da morte deste ou extinção da própria recorrente - não restasse a sociedade dissolvida pela existência de um único sócio.

Mas não é só.

Parece que - pela forma como redigida a cláusula estatuária não era mesmo desejo dos sócios a manutenção da sociedade em caso de morte.

É certo que - de outro lado - não se comunga da assertiva do I. Doutor Curador no sentido de que pela ausência de capital. A previsão do artigo 336, 1, do Código Comercial (aplicável por analogia), não é absoluta, mas apenas relativa, demandando prova a respeito. Expresso, aliás, o dispositivo: "As mesmas sociedades podem ser dissolvidas..." (grifo nosso).

Nem impressiona a alegação de que a sociedade não poderá sequer constituir procurador para representá-la em juízo, o que - por extensão - lhe acarretará o ônus de responder isoladamente. Para tanto, deverá a recorrente (como, por sinal, já o deveria ter feito) dar início ao processo de dissolução, nomeando-se, posteriormente, liquidante, que representará a sociedade.

A r. decisão - mantendo a negativa de registro (embora por fundamento diverso) - deu ao procedimento a solução adequada.

Nestes termos, o parecer que me permito submeter à elevada apreciação de Vossa Excelência é no sentido de se negar provimento ao recurso interposto por COMPANHIA ADMINISTRADORA RAMBISA, mantendo-se a recusa, embora por motivo diverso do que justificou a suscitação.

São Paulo, 15 de agosto de 1990.

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(a) VITO JOSÉ GUGLIELMI, Juiz Auxiliar da Corregedoria.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL N.º 11.659-0/2, da Comarca da CAPITAL, em que é apelante a COMPANHIA ADMINISTRADORA RABISA e apelado o OFICIAL DO 1º CARTÓRIO DE REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS.

A C O R D A M os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votação unânime, em negar provimento ao recurso.

A requerimento da COMPANHIA ADMINISTRADORA RAMBISA, suscita o Oficial do 1º Cartório de Registro de Títulos e Documentos da Capital a presente dúvida, aduzindo haver adiado o arquivamento da alteração contratual da empresa, eis que o instrumento deveria estar acompanhado de formais de partilha dos sócios falecidos, para comprovação do destino das quotas sociais que lhes pertenciam.

Regularmente processada e com parecer favorável do Dr. Curador de Registros Públicos (fls. 24/27), a dúvida em questão foi julgada procedente (fls. 29/31), ensejando o recurso deduzido às fls. 33/37, onde a recorrente busca a reforma da decisão com vista a ser proferida uma construção pretoriana que dê solução à presente questão formal, tudo no sentido de mais alta Justiça.

Pelo improvimento do recurso é o parecer do Ministério Público de ambos os graus, opinando o Dr. Juiz de Direito Auxiliar da Corregedoria também no sentido de se negar provimento ao recurso interposto, mantendo-se a recusa, embora por motivo diverso do que justificou a suscitação.

É o relatório.

Acolho integralmente o aparecer do Dr. Juiz de Direito Auxiliar.

A hipótese é de negativa de registro de alteração de contrato de sociedade civil, onde se busca a inclusão de novo sócio. Originalmente a sociedade era constituída de três sócios (duas pessoas físicas e uma jurídica). Faleceram em 1971 e 1974, respectivamente, dois sócios. (Antonio e Heitor). Exigiu o Oficial o formal de partilha para verificar o destino das quotas sociais. Todavia, nos estatutos havia previsão específica de que - em caso de falecimento - as quotas seriam distribuídas aos remanescentes, apurando-se os haveres e pagos os herdeiros. Não justificava, portanto, tal motivo, a recusa. Outro motivo, porém impede o acesso do título. É que com o falecimento de dois dos três sócios, acabou a sociedade unipessoal, não reconhecida no direito brasileiro, pelo que impõe-se sua dissolução legal. Por fundamento diverso, em conseqüência, mantém-se a recusa.

Nega-se provimento ao recurso.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, com votos vencedores, os Desembargadores ANICETO LOPES ALIENDE, Presidente do Tribunal de Justiça e ODYR JOSÉ PINTO PORTO, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça.

São Paulo, 17 de setembro de 1990.

(a) ONEI RAPHAEL, Corregedor Geral da Justiça e Relator

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Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Associação sem fins lucrativos. Registro - erro - cancelamento administrativo - nulidade de pleno direito. Título - assinaturas.

Cancelamento de registro. Nulidade de pleno direito. Impossibilidade de reconhecimento de vícios intrínsecos na via administrativa.

1VRPSP - PROCESSO: 583.00.2009.130018-1 1VRPSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 19/06/2009 DATA DJ: 07/07/2009 Relator: Gustavo Henrique Bretas MarzagãoLegislação:

Lei 6.015/73, art. 214. Código Civil, arts. 130 e 145, III.

íntegra:

583.00.2009.130018-1/000000-000 - nº ordem 457/2009 - Pedido de Providencias - EDIVALDO MARTINS E OUTROS - Fls. 27/30 - Vistos. Posto isso, INDEFIRO o pedido deduzido na inicial. Oportunamente, ao arquivo. P.R.I.C. CP. 135. (D.J.E. de 07.07.2009)

Cancelamento de registro. Nulidade de pleno direito. Impossibilidade de reconhecimento de vícios intrínsecos na via administrativa.

VISTOS. Cuida-se de pedido de cancelamento do registro da ata de fundação do Clube dos Amigos do Western, efetivado sob o nº 13.115, no 10º Registro de Títulos e Documentos e Civil da Pessoa Jurídica da Capital.

Aduzem os interessados que o Oficial foi induzido em erro porque o título registrado contém assinaturas que não pertencem aos signatários.

Informações do Oficial às fls. 21/22.

O Ministério Público opinou pela extinção do feito em virtude da incompetência do juízo e inadequação da via eleita (fls. 23/25).

É O RELATÓRIO. FUNDAMENTO E DECIDO.

Segundo informam os interessados, o Oficial do RTD foi induzido em erro uma vez que as assinaturas constantes da lista de presença da ata de fundação do Clube Amigos do Western não pertencem aos seus signatários.

Sucede que esse tipo de vício, como bem aduziu o Ministério Público, não é passível de reconhecimento nesta estreita via administrativa.

A respeito dos limites da aferição da nulidade de pleno direito prevista no art. 214, da Lei nº 6.015/73, e reconhecível na via administrativa, observa Narciso Orlandi Neto:

"É preciso distinguir nulidade direta do registro e nulidade do título, com reflexo no registro. O registro não pode ser cancelado por nulidade do título, salvo em processo contencioso de que participe o titular do direito inscrito. Em outras palavras, o art. 214 da Lei n. 6015/73 é exceção. E como se sabe se o registro é ou não nulo de pleno direito? Sabe-se que o registro é ou não nulo de pleno direito examinando-o separadamente do título que lhe deu causa, apenas à luz dos princípios que regem o registro, a saber se foram cumpridos os requisitos formais. A indagação da nulidade do registro deve ficar restrita aos "defeitos formais do assento, ligados à inobservância de formalidades essenciais da inscrição (Código Civil, arts. 130 e 145, III)" (Afrânio de Carvalho, Retificação do Registro, in RDI 13, p. 17). ... A nulidade a que se refere o art. 214 da Lei de Registros Públicos é exclusiva do registro, absolutamente independente do título, tanto que, uma vez declarada, permite que o mesmo título seja novamente registrado. ... A nulidade que pode ser declarada diretamente independentemente de ação, é de direito formal, extrínseca. Ela não pode alcançar o título, que subsiste íntegro e, em muitos casos, apto a, novamente, ingressar no registro. ... Problemas relativos ao consentimento das partes, diz respeito ao título, tanto quanto sua representação e a elaboração material do instrumento. Assim, se houve fraude, se a assinatura do transmitente foi falsificada, se o instrumento público não consta dos livros de nenhum notário, se a procuração que serviu na representação de uma das partes é falsa, se o consentimento do alienante foi obtido com violência, são todos problemas atinentes ao título. Podem afetar o registro, mas obliquamente. Só podem determinar o cancelamento do registro, em cumprimento de sentença que declare a nulidade do título e, em conseqüência, do registro..." (Retificação do Registro de Imóveis, Ed. Oliveira Mendes, pág. 183/192 - grifou-se).

A obra cita elucidativo parecer da Corregedoria Geral da Justiça de São Paulo, de lavra do MM. Juiz Marcelo Martins Berthe, aprovado pelo Des. Márcio Martins Bonilha, em que se entendeu que:

"A chamada nulidade de pleno direito, tal como prevista no art. 214 da Lei de Registros Públicos, não admite o exame de elementos intrínsecos, que refogem à atividade qualificadora do oficial registrador. E em não existindo vício na qualificação do título, ou no processo de registro propriamente dito, não há o que corrigir na esfera administrativa" (págs. 185/6).

À luz de tudo o que se viu, fica evidente que esta via administrativa é inadequada para examinar eventual falsificação ocorrida no título que deu causa ao registro cujo cancelamento ora se pleiteia.

Observe-se, outrossim, que os interessados insurgem-se, de forma expressa, apenas contra os vícios do título, sem apontar qualquer defeito na qualificação do Oficial.

Devem os interessados buscar a via judicial.

Assim, eventuais vícios internos do título devem ser perquiridos e pronunciados, de forma soberana e com todas as garantias do contraditório, em processo jurisdicional apropriado, que produzirá o efeito natural de cancelamento do registro.

Posto isso, INDEFIRO o pedido deduzido na inicial.

Oportunamente, ao arquivo. P.R.I.C.

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São Paulo, 19 de junho de 2009.

Gustavo Henrique Bretas Marzagão

Juiz de Direito

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Associação civil - incorporação. Sociedade. Escritura pública. Continuidade. Denominação social - alteração.

EMENTA NÃO OFICIAL - Associação - Pessoa jurídica - Incorporação. Para instrumentalizar a incorporação de associações civis (pessoa jurídica) é necessária a escritura pública (art. 1.033 c.c. art. 1.116 do CC). A prévia alteração de denominação social é requisito essencial para o acesso do título em observância ao princípio da continuidade.

1VRPSP - PROCESSO: 0041052-21.2010.8.26-0100 1VRPSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 07/01/2011 DATA DJ: 02/02/2011 Cartório: 5º Oficial de Registro de Imóveis da CapitalRelator: Gustavo Henrique Bretas MarzagãoLegislação:

Lei 6015/73 - Lei 8.934/94

íntegra:

Processo nº. 0041052-21.2010.8.26-0100 - Dúvida 5º Oficial de Registro de Imóveis da Capital

VISTOS.

Cuida-se de dúvida suscitada pelo 5º Oficial de Registro de Imóveis de São Paulo, que denegou o registro da escritura pública de compra e venda lavrada nas notas do 27º Tabelião desta Capital por meio da qual a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein, sucessora da Sociedade Religiosa e Beneficente Israelita "Lar dos Velhos", aliena a Marcos Concilio o imóvel objeto da matrícula nº 4.655, daquela Serventia de Imóveis.

Embora intimado (fl. 28), o interessado não impugnou a dúvida (fl. 30).

O Ministério Público opinou pela procedência da dúvida (fls. 31/32).

É O RELATÓRIO. FUNDAMENTO E DECIDO.

Aduz o Oficial que a recusa do registro decorre, preliminarmente, de questões ligadas à instrumentalização da incorporação da Sociedade Religiosa e Beneficente "Lar dos Velhos" pela ora alienante Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein.

Isto porque, pelo que aferiu da documentação apresentada ao longo das prenotações do título, a Sociedade Religiosa e Beneficente Israelita "Lar dos Velhos" teria mudado, em 01.12.03, sua denominação para Sociedade Religiosa e Beneficente "Lar Golda Meir".

Assim, a mudança da titularidade do imóvel ora requerida demandaria, antes, a apresentação dos documentos hábeis para a averbação da mudança da denominação social de Sociedade Religiosa e Beneficente Israelita "Lar dos Velhos" para Sociedade Religiosa e Beneficente Israelita "Lar Golda Meir" para que, em seguida, se averbe a incorporação feita pela Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein.

De fato, a razão está com o Oficial.

O imóvel encontra-se registrado em nome de Sociedade Religiosa e Beneficente Israelita "Lar dos Velhos" (fl. 06/07).

Na escritura de compra e venda ora recusada, porém, não é ela que consta como alienante, mas a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein, na qualidade de sua sucessora.

De acordo com o princípio da continuidade, "em relação a cada imóvel, adequadamente individuado, deve existir uma cadeia de titularidade à vista da qual só se fará a inscrição de um direito se o outorgante dele aparecer no registro como seu titular. Assim, as sucessivas transmissões, que derivam umas das outras, asseguram a preexistência do imóvel no patrimônio do transferente" (Afrânio de Carvalho, in Registro de Imóveis, Editora Forense, 4ª Ed., p. 254).

Narciso Orlandi Neto esclarece ainda que: "No sistema que adota o princípio da continuidade, os registros têm de observar um encadeamento subjetivo. Os atos têm de ter, numa das partes, a pessoa cujo nome já consta do registro. A pessoa que transmite um direito tem de constar do registro como titular desse direito, valendo para o registro o que vale para validade dos negócios: nemo dat quod non habet" (Retificação do Registro de Imóveis, Juarez de Oliveira, pág. 55/56).

O princípio da continuidade é tratado pela Lei nº 6015/73 em seus arts. 195 e 237, in verbis:

"Art. 195 - Se o imóvel não estiver matriculado ou registrado em nome do outorgante, o oficial exigirá a prévia matrícula e o registro do título anterior, qualquer que seja a sua natureza, para manter a continuidade do registro."; e

"Art. 237 - Ainda que o imóvel esteja matriculado, não se fará registro que dependa da apresentação de título anterior, a fim de que se preserve a continuidade do registro."

Assim, para que se respeite o encadeamento subjetivo supra é preciso que primeiro o imóvel seja registrado em nome de Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein, o que pressupõe, também em obséquio à continuidade, a prévia averbação da alteração da denominação da Sociedade Religiosa e Beneficente Israelita "Lar dos Velhos" para Sociedade Religiosa e Beneficente Israelita "Lar Golda Meir".

Mas não é só.

Na linha do que bem indicou o Oficial, a questão referente à instrumentalização da incorporação - fato anterior à presente escritura pública recusada - também é fator impeditivo do registro. Assim é porque a incorporação não ocorreu por meio de escritura pública, o que era de rigor, uma vez que dentro do patrimônio incorporado estava o imóvel objeto do título ora recusado.

Sabe-se que no regime dos registros públicos impera a legalidade estrita de sorte que não se admite a utilização de dispositivos legais por analogia, mormente os de exceção. Disso decorre que o art. 64, da Lei nº 8.934/94, que se refere apenas às certidões das juntas comerciais sem qualquer ressalva quanto às oriundas do registro civil das pessoas jurídicas, não pode ser aplicado por analogia a fim de dispensar a escritura pública para os atos de transmissão dos imóveis da sociedade incorporada para a incorporadora, ora alienante.

Incide, assim, o art. 108, do Código Civil, em sua plenitude: "Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País."

O desrespeito à forma do ato implica quebra da continuidade registral na medida em que, inexistente título hábil para a transferência do domínio à ora alientante, esta não poderia vendê-lo ao interessado.

Posto isso, julgo procedente a dúvida suscitada pelo 5º Oficial de Registro de Imóveis para manter a qualificação negativa do título.

Oportunamente, cumpra-se o disposto no art. 203, I, da Lei nº 6.015/73.

Nada sendo requerido no prazo legal, ao arquivo.

P.R.I.C.

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São Paulo, 7 de janeiro de 2011.

Gustavo Henrique Bretas Marzagão.Juiz de Direito.

CP. 427 (D.J.E. de 02.02.2011)

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REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Averbação - Ata de Assembléia Geral - Eleição de Diretoria - Associação.

REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Averbação de Ata de Assembléia Geral de Eleição de Diretoria de Associação - Edital de convocação não publicado em órgão de imprensa local e não afixado na sede - Ofensa ao Estatuto Social - Recurso não provido.

CGJSP - PROCESSO: 143.179/2009 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: Catanduva DATA JULGAMENTO: 26/10/2010 Relator: Walter Rocha Barone íntegra:

Proc. CG nº 143.179/2009 - (310/2010-E)

RECURSO ADMINISTRATIVORecorrente: Luís Carlos Pavan JuniorRef.: 1º Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Catanduva

REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Averbação de Ata de Assembléia Geral de Eleição de Diretoria de Associação - Edital de convocação não publicado em órgão de imprensa local e não afixado na sede - Ofensa ao Estatuto Social - Recurso não provido.

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça:

Trata-se de recurso administrativo interposto por Luís Carlos Pavan Junior contra r. decisão do MM. Juiz Corregedor Permanente do 1º Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Catanduva, que manteve as exigências formuladas pela respectiva Serventia Extrajudicial para a averbação da Ata da Assembléia Geral Ordinária de Eleição de Diretoria da Associação Cultural e Comunitária Catanduvense.

O recorrente requereu a reforma da decisão proferida, sustentando que a r. decisão de 1º grau partiu da premissa de que as formas devem se sobrepor ao resultado. Aduziu que o edital foi afixado na sede da emissora, mas referido fato não constou da ata. Acrescentou que o jornal Diário da Região, da cidade de São José do Rio Preto, em que publicado o edital de convocação, é de grande circulação em Catanduva. Afirmou, ademais, que não há previsão estatutária para que as assembléias sejam obrigatoriamente realizadas em sua sede, devendo, pois, ser autorizada a averbação da ata em tela, a fim de que prevaleça a boa-fé objetiva.

O Ministério Público opinou pelo improvimento do recurso.

O presente procedimento administrativo foi encaminhado ao Colendo Conselho Superior da Magistratura e posteriormente foi redistribuído a esta Egrégia Corregedoria Geral da Justiça, dado não se tratar de Dúvida Registrária, mas sim de procedimento relativo a ato de averbação (fls.52/54).

É o relatório.Opino.

Em primeiro lugar, ressalte-se que embora o recorrente tenha intitulado seu recurso como apelação, trata-se na verdade de recurso administrativo, como tal devendo ser apreciado, nos termos do artigo 246 do Código Judiciário do Estado de São Paulo, já que o inconformismo foi manifestado contra r. decisão proferida no âmbito administrativo pelo MM. Juiz Corregedor Permanente da Serventia Extrajudicial em exame.

O presente recurso não comporta provimento. 

Segundo afirmado pelo Oficial a fls.04, e não impugnado pelo recorrente, o artigo 7º, parágrafo 1º, do estatuto da Associação Cultural e Comunitária Catanduvense, estabelece que a convocação para a Assembléia Geral deve ser feita por edital afixado na sede e estúdios da entidade (grifei), mas tal requisito de validade da assembléia não foi observado, uma vez que essa associação, segundo o artigo 1º de seu estatuto, está sediada na Rua Araraquara, n°620, na Cidade de Catanduva, e o estúdio da rádio comunitária mantida por ela está localizado na Rua Estância, n°916, também na Cidade de Catanduva, e o edital de convocação, por seu turno, foi afixado'no recinto do imóvel localizado à Rua Antonio Girol, n° 766,' naquele município, conforme consta do preâmbulo da ata de eleição juntada a fls.07/08.  

Na medida em que se optou por realizar a assembléia em local diverso da sede da associação, era preciso ter em conta que a afixação de cópia do edital de convocação no próprio recinto de realização do ato não dispensava, nem substituía, a exigência estatutária de que tais editais fossem afixados na sede e estúdios da entidade, nos termos de seu estatuto, artigo 7º, parágrafo 1º.

Não obstante a alegação do recorrente no sentido de que o edital de convocação teria sido afixado na sede da emissora, e que este fato não teria constado, porém, da ata em tela, tal afirmação não dá ensejo à averbação pretendida, posto que não respaldada por nenhuma prova dos autos. 

Aliás, o teor da ata em exame indica justamente o contrário, isto é, que o edital de convocação tenha sido afixado apenas no recinto em que realizada a assembléia e não nos locais determinados pelo estatuto.

Por outro lado, o próprio recorrente admitiu em seu recurso que o edital de convocação para a assembléia de eleição de Diretoria não foi publicado em periódico local, mas sim no jornal Diário da Região, da Cidade de são José do Rio Preto, o que implica dizer não ter sido atendido, também nesse ponto, o artigo 7º, §1º, do Estatuto, que dispõe (fls.04):

'(...) A convocação deverá ser feita com pelo menos oito dias de antecedência, através de edital afixado (...), com divulgação de pelo menos quatro chamadas diárias durante a programação da rádio e por publicação em jornal ou revista de circulação local ou por panfletagem ... (grifei)

Embora o recorrente tenha sustentado que o edital de convocação para a assembléia geral em tela foi publicado no jornal Diário da Região, da cidade de São José do Rio Preto, que supostamente teria grande penetração no município de Catanduva, trata-se de avaliação subjetiva sem qualquer respaldo probatório. Ademais, não foi apresentada nenhuma justificativa plausível para que se tenha optado por publicar o edital de convocação em outra cidade e não no próprio município em que se realizou a assembléia em tela, havendo que se presumir, por conseguinte, que referida circunstância tenha restringido a publicidade que necessariamente deveria ser conferida ao ato.

Na medida em que o estatuto da associação em exame não foi obedecido, apresenta-se cabível a recusa da averbação da ata da eleição de diretoria levada a efeito sem a observância das regras estabelecidas pela própria entidade para a sua realização.

Ressalte-se que os registros públicos regem-se pelo princípio da legalidade estrita, e os estatutos sociais fazem lei entre os respectivos associados, razão pela qual não se pode sustentar que os óbices levantados pelo Oficial Registrador se constituam em formalismo exacerbado, a justificar sua inobservância.

Tampouco se presta a tal desiderato a invocação do princípio da boa-fé objetiva, o qual se mostra impertinente 'in casu'. 

Por fim, tendo em vista não ter restado demonstrado nos autos que haja previsão estatutária para que as assembléias da associação em tela sejam realizadas exclusivamente em sua sede, não se constitue em irregularidade a circunstância de que a eleição em exame tenha ocorrido no imóvel da Rua Antônio Girol, n° 766, na Cidade de Catanduva. O afastamento de tal óbice, contudo, não dá azo à averbação pretendida, uma vez que subsistentes, como visto, as demais exigências formuladas pelo Sr. Oficial. 

Ante o exposto, o parecer que respeitosamente submeto ao elevado critério de Vossa Excelência é no sentido de que a apelação interposta pelo recorrente seja recebida como recurso administrativo, na forma do artigo 246 do Código Judiciário do Estado de São Paulo, e que a ele seja negado provimento.

Sub Censura.São Paulo, 26 de outubro de 2010.

(a) WALTER ROCHA BARONEJuiz Auxiliar da Corregedoria

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DECISÃO: Aprovo o parecer do MM. Juiz Auxiliar a Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, recebo a apelação interposta como recurso administrativo, na forma do art. 246 do Código Judiciário do Estado de São Paulo, e nego-lhe provimento. Publique-se. São Paulo, 28 de outubro de 2010. (a) Des. ANTONIO CARLOS MUNHOZ SOARES, Corregedor Geral da Justiça.

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Registro civil de pessoas jurídicas. Associação. Dúvida - exigências - concordância parcial - prejudicialidade. Continuidade - diretoria - administrador provisório. Reconhecimento de firma - representante legal.

EMENTA NÃO OFICIAL. 1) - Para a constituição do elo de continuidade na administração de associações civis, é necessário que a última diretoria registrada, por declaração formal, reconheça a sucessão alcançando os atos atuais. Caso contrário, deve-se buscar a nomeação de administrador provisório na esfera judicial, nos termos do art. 49, do Código Civil. 2) - A concordância, ainda que em parte, com as exigências formuladas pelo Oficial, prejudica o julgamento do mérito da dúvida na medida em que impede a aferição da registrabilidade do título na data de sua apresentação.

1VRPSP - PROCESSO: 583.00.2009.140826-2 1VRPSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 24/06/2009 DATA DJ: 14/07/2009 Relator: Gustavo Henrique Bretas MarzagãoLegislação:

Lei 6.015/73

íntegra:

583.00.2009.140826-2/000000-000 - nº ordem 583/2009 - Dúvida de Reg. de Títulos e Documentos - 1º OFICIAL DE REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURÍDICA DE SPAULO X SOCIEDADE BENEFICENTE E INSTRUTIVA NOSSA SENHORA DO BOM CONSELHO. CP. 169. - ADV ARISTIDES FIAMOZZINI FILHO OAB/SP 75308 (D.J.E. de 14.07.2009)

VISTOS.

Cuida-se de dúvida suscitada pelo 1º Registro de Títulos e Documentos e Civil da Pessoa Jurídica que recusou a averbação da ata de assembléia geral extraordinária, realizada em 16.03.09, da associação SOCIEDADE BENEFICENTE E INSTRUTIVA NOSSA SENHORA DO BOM CONSELHO.

Aduz o Oficial que a ata não comporta averbação porque a nomeação de administrador provisório compete ao Poder Judiciário; divergência entre os nomes da associação constantes do título (art. 1º do Estatuto) e do registro; ausência de reconhecimento de firma do representante legal da entidade nas vias da ata e do estatuto; (item 11, Seção II, Capítulo XVIII, das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça); e ausência de esclarecimento da eleição do Conselho Deliberativo.

A dúvida foi impugnada às fls. 62/66.

O Ministério Público opinou no sentido de a dúvida ser julgada prejudicada (fls. 68/70).

É O RELATÓRIO. FUNDAMENTO E DECIDO.

Assiste razão ao Ministério Público, quando aduz que o julgamento da dúvida está prejudicado.

Em sua impugnação (fls. 62/66), a interessada concorda de forma expressa com as exigências do Oficial relativas à correção do nome da entidade, e ao reconhecimento da firma do representante legal, insurgindo-se contra as demais.

Sucede que a concordância, ainda que em parte, com as exigências formuladas pelo Oficial, prejudica o julgamento do mérito da dúvida, na medida em que impede a aferição da registrabilidade do título na data de sua apresentação.

Por isso, deveria a interessada primeiro ter cumprido as exigências incontroversas para, em seguida, reapresentar o título e requerer que o Sr. Oficial suscitasse a dúvida quanto às demais.

Assim não fosse, haveria injusta prorrogação do prazo da prenotação, em potencial prejuízo a terceiros portadores de títulos contraditórios.

Neste sentido, já decidiu o Colendo Conselho Superior da Magistratura, nos autos da Apelação Cível nº 31.719-0/3:

"Como é sabido o procedimento de dúvida não admite sejam atendidas exigências no curso do procedimento. Ao ser suscitada a dúvida, a requerimento do interessado, o título recusado deve ser prenotado para que esteja assegurado o direito de prioridade do apresentante. Se fosse admitido cumprir exigência durante o procedimento, estaria aberto caminho para uma injusta prorrogação do prazo da prenotação, que, muita vez, viria em prejuízo dos eventuais detentores de títulos contraditórios. Tem-se, pois, que o provimento judicial, em procedimento de dúvida, deverá ser sempre positivo ou negativo, a fim de que o registro seja ou não autorizado diante da dissensão que existia ao tempo da suscitação. O cumprimento de exigências depois daquele momento, como sucedeu no caso, ou mesmo a aceitação da procedência do outro óbice que tinha sido posto contra o registro, com a afirmação de que este deverá ser atendido depois, tal como se verifica das razões de recurso, prejudicam a dúvida, pelo que falece interesse recursal à recorrente. Não há como se levar em conta, por estes motivos, o atendimento das exigências depois da suscitação, nem como considerar a promessa de que o alvará de desdobro deverá ser mais tarde providenciado. É tranqüila a jurisprudência deste Colendo Conselho Superior da Magistratura, há muito orientada nessa direção (Ap. Cíveis nºs 30.763-0/6, da Comarca de Itapecerica da Serra e 31.007-0/4, da Comarca de São Caetano do Sul). Isto posto, prejudicada a dúvida, não conhecem do recurso".

Ainda que assim não fosse, a dúvida seria procedente. A interessada admite expressamente sua situação de irregularidade, a qual perdura há anos, tendo o último ato sido arquivado em 1993, referente à ata de assembléia de 05.05.93.

Essa situação denota a ausência do indispensável elo de continuidade entre a composição da última diretoria regular e a que ora se apresenta, o que impediria o registro da ata de16.03.09.

Correta, por conseguinte, a afirmação do Oficial, de que, para a constituição do elo de continuidade, seria preciso que a última diretoria registrada, por declaração formal, reconhecesse a sucessão até os atos presentes, indicando os sucessores, os quais também deveriam subscrevê-la.

Caso contrário, deverá a interessada buscar a nomeação de administrador provisório na esfera judicial, nos termos do art. 49, do Código Civil, nos termos do que vem decidindo a Egrégia Corregedoria Geral de Justiça:

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""REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Averbação de ata de assembléia de eleição de diretoria - Ausência de averbação, por vários anos, das atas das assembléias anteriores, observando-se que o registro delas em RTD não dispensa a devida inscrição no RCPJ competente - Falta, ainda, de documentos essenciais à inscrição de atas de assembléias - Aplicação do artigo 1.153 do Código Civil - Averbação inadmissível - Nomeação de administrador provisório (artigo 49 do Código Civil), na esfera administrativa do Juízo Corregedor, é inviável, conforme sólida orientação precedente (Procs. CG nºs 1.283/2003 206/20044, 610/2004, 611/2004, entre outros) - Recurso não provido."( Processo CG.959/2006, grifou-se).

Diante do exposto, JULGO PREJUDICADA a dúvida inversamente suscitada por SOCIEDADE BENEFICENTE E INSTRUTIVA NOSSA SENHORA DO BOM CONSELHO, cujo título foi prenotado pelo 1º Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil da Pessoa Jurídica sob o nº 385.452.

Oportunamente cumpra-se o artigo 203, I, da Lei 6.015/73.

Nada sendo requerido no prazo legal, ao arquivo.

P.R.I.

São Paulo, 24 de junho de 2009.

Gustavo Henrique Bretas Marzagão

Juiz de Direito

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Registro Civil de pessoas jurídicas. Federação - associação - ata de assembleia geral - averbação. Princípio de continuidade. Administrador provisório.

EMENTA NÃO OFICIAL. Federação - associação - lacuna temporal na administração. Nomeação de administrador provisório na esfera judicial (art. 49, do Código Civil).

1VRPSP - PROCESSO: 100.09.348643-9 1VRPSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 08/03/2010 DATA DJ: 23/03/2010 Cartório: 1º Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da CapitalRelator: Gustavo Henrique Bretas Marzagão íntegra:

Proc. 100.09.348643-9 Pedido de Providências 1º Registro de Títulos e Documentos . CP-580 (D.J.E. de 23.03.2010)

VISTOS.

Cuida-se de pedido de providências intentado pelo 1º Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Capital que recusou a averbação da ata de assembleia geral extraordinária da Federação Paulista de Taekwondô, realizada em 06.06.09, por entender que a continuidade registral não foi observada, bem como em virtude da não apresentação dos documentos indicados na inicial.

O interessado apresentou impugnação (fls. 99/100).

O Ministério Público opinou pelo indeferimento da averbação por violação ao princípio da continuidade (fls. 102/104).

É O RELATÓRIO.

FUNDAMENTO E DECIDO.

O cerne do presente feito reside no exame do princípio da continuidade porque as outras exigências, a despeito de procedentes, são facilmente contornáveis, como o próprio interessado deixou a entender em sua impugnação.

Na última ata eleitoral arquivada, constou que os mandatos terminariam em 01.03.06. A ata que ora se pretende averbar é de 06.06.09. Nesse interregno de três anos, não houve eleições formais, tendo o interessado, último vice-presidente eleito, que ora representa a Federação Paulista de Taekwondô, assumido informalmente a presidência desde o passamento do último presidente regular Sang In Kim.

Como se vê, não se observou o procedimento previsto no art. 31º, do estauto, segundo o qual no caso de vagar o cargo de presidente, o vice presidente, além de assumir a presidência, tem de convocar em 90 dias assembleia geral para realizar nova eleição a fim de completar o prazo do mandato.

Nem se alegue que o parágrafo único, do art. 31º, conferia poderes ao interessado porque sua vigência limitava-se à do mandato regular, que se encerrou em 01.03.06.

Portanto, a partir daí, evidenciou-se a existência de período de lacuna, caracterizando a ausência do indispensável elo de continuidade entre a composição da última diretoria regular e a que ora se apresenta.

Assim, para a constituição desse elo, é preciso que a última diretoria registrada reconheça, por declaração formal, a sucessão até os atos presentes indicando os sucessores os quais também devem subscrevê-la.

Caso contrário, deve a interessada buscar a nomeação de administrador provisório na esfera judicial, nos termos do art. 49, do Código Civil, nos termos do que vem decidindo a Egrégia Corregedoria Geral de Justiça: "REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Averbação de ata de assembléia de eleição de diretoria - Ausência de averbação, por vários anos, das atas das assembléias anteriores, observando-se que o registro delas em RTD não dispensa a devida inscrição no RCPJ competente - Falta, ainda, de documentos essenciais à inscrição de atas de assembléias - Aplicação do artigo 1.153 do Código Civil - Averbação inadmissível Nomeação de administrador provisório (artigo 49 do Código Civil), na esfera administrativa do Juízo Corregedor, é inviável, conforme sólida orientação precedente (Procs. CG nºs1.283/2003, 206/2004, 610/2004, 611/2004, entre outros) - Recurso não provido."( Processo CG. 959/2006, grifou-se).

Nesse sentido, o r. Parecer do Ministério Público (fls. 102/104).

São corriqueiros os casos de associações irregulares que, depois de anos sem averbar suas atas, não conseguem averbar aquela por meio da qual pretendem regularizar sua situação jurídica.

A despeito da boa intenção do interessado, fato é que os registros públicos são regidos por princípios rígidos dos quais o Oficial Registrado não pode abrir mão, pena de colocar em risco a segurança jurídica das informações de que tem a guarda em sua Serventia.

Anote-se, por fim, que o precedente citado pelo interessado não se aplica ao caso em foco porque cuida de hipótese diversa. Lá, diferentemente do que ocorre aqui, o estatuto dispunha que os diretores eleitos, ainda que vencidos os mandatos, permaneceriam nos cargos até que seus sucessores fossem eleitos. Essa peculiaridade assegurou a validade da administração além do prazo regular até a eleição de seus sucessores, de modo que a continuidade foi preservada.

Posto isso, acolho a promoção feita pelo 1º Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Capital para indeferir o pedido de averbação da ata de assembleia ocorrida em 06.06.09.

Nada sendo requerido no prazo legal, ao arquivo.

P.R.I.C.

São Paulo, 8 de março de 2010.

Gustavo Henrique Bretas MarzagãoJuiz de Direito

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Registro Civil de Pessoa Jurídica - Sindicato - Pessoa jurídica de direito privado. Código Civil - aplicabilidade.

Registro Civil de Pessoa Jurídica - Sindicato - Pessoa jurídica de direito privado - Aplicação do Código Civil - Necessidade de adaptação nos termos do artigo 2.031 doCódigo Civil - Recurso não provido.

CGJSP - PROCESSO: 106.153/2012 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: Araçatuba DATA JULGAMENTO: 17/10/2012 DATA DJ: 31/10/2012 Relator: José Renato NaliniLegislação:

CC2002 - Código Civil de 2002 | 10.406/2002, ART: 44, 2031

íntegra:

Processo CG nº 2012/106153

ARAÇATUBA - SINDICATO DOS SERVIDORES MUNICIPAIS DE ARAÇATUBA - SISEMA - Advogado: MARCOS ROBERTO DE SOUZA, OAB/SP 251 .639.

DECISÃO: Aprovo o parecer do MM. Juiz Assessor da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, nego provimento ao recurso. São Paulo, 17 de outubro de 2012. (a) JOSÉ RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justiça.

Diário da Justiça Eletrônico de 31.10.2012

PODER JUDICIÁRIO - TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO - CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA

Processo CG nº 2012/106153

(369/2012-E)

Registro Civil de Pessoa Jurídica - Sindicato - Pessoa jurídica de direito privado - Aplicação do Código Civil - Necessidade de adaptação nos termos do artigo 2.031 doCódigo Civil - Recurso não provido.

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça:

Trata-se de recurso administrativo interposto pelo Sindicato dos Servidores Municipais de Araçatuba - SISEMA contra decisão do MM. Juiz Corregedor Permanente do Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Araçatuba que julgou improcedente pedido de averbação de ata sem a adaptação dos estatutos aos termos do Código Civil de 2002, pugnando pela reforma do decidido com a realização do ato (a fls. 112/123).

A Douta Procuradoria Geral da Justiça requereu a remessa do feito a Corregedoria Geral da Justiça e no mérito opinou pelo não provimento do recurso (a fls. 127/129).

O processo foi remetido pelo E. Conselho Superior da Magistratura para Corregedoria Geral da Justiça (a fls. 130/131).

É o relatório.

Passo a opinar.

O art. 44 do Código Civil deve ser compreendido de forma ampla, assim, o rol de pessoas jurídicas indicadas é meramente exemplificativo, donde possível a inclusão de outros entes coletivos portadores de situação jurídica semelhante, no caso, os sindicatos.

Desse modo, os sindicatos por sua estrutura jurídica são equiparados às associações.

Há precedente administrativo como se observa do trecho do parecer do Dr. Álvaro Luiz Valery Mirra, MM. Juiz Auxiliar da Corregedoria, aprovado pelo Exmo. Sr. Des. Ruy Camilo, Corregedor Geral da Justiça à época, no processo 24.755/2009, como segue:

Com efeito, os sindicatos são pessoas jurídicas de direito privado, voltadas à defesa dos direitos e interesses de determinada categoria profissional, dentro de uma dadaárea territorial. Como pessoas jurídicas de direito privado, estão incluídos na categoria jurídica das associações (art. 44, I, do CC) e têm sua existência legal a partir da inscrição de seus atos constitutivos no respectivo registro (art. 45, caput, do CC). Tal registro, ademais, nos termos dos arts. 114 e seguintes da Lei n. 6.015/1973, é oregistro civil das pessoas jurídicas (cf. José Eduardo Sabo Paes, Fundações, associações e entidades de interesse social. 6ª ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 89).

No mesmo sentido são os enunciados ns. 142 e 144 do Conselho da Justiça Federal aprovado na Jornada de Direito Civil:

142 - Art. 44: Os partidos políticos, os sindicatos e as associações religiosas possuem natureza associativa, aplicando-se-lhes o Código Civil.

144 - Art. 44: A relação das pessoas jurídicas de direito privado constante do art. 44, incs I a V, do Código Civil não é exaustiva.

Diante disso, respeitosamente, diversamente do afirmado no recurso, em nosso entender é cabível a aplicação das disposições do Código Civil aos sindicatos.

Nessa linha, o art. 2.031 do Código Civil, dispõe:

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Art. 2.031. As associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis anteriores, bem como os empresários, deverão se adaptar às disposições deste Código até 11 de janeiro de 2007.

Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às organizações religiosas nem aos partidos políticos.

Portanto, competia ao sindicato a adaptação de seus estatutos ao Código Civil de 2002, o que não houve.

Assim, inviável o acesso do título ao registro público sem a necessária adaptação.

O precedente administrativo desta Corregedoria Geral da Justiça referido acima (processo 24.755/2009) segue essa linha, como se observa de sua ementa:

Registro Civil de Pessoa Jurídica - Sindicato - Pessoa jurídica de direito privado qualificado como associação - Imprescindível, para sua existência jurídica, inscrição do ato constitutivo no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, ainda que se admita, igualmente, em acréscimo, a necessidade de registro complementar no Ministério do Trabalho e Emprego - Submissão da entidade sindical às normas do Código Civil de 2002, inclusive no tocante à do art. 2.031 que prevê a adaptação dos atos constitutivos das associações às novas regras por aquele estatuídas - Averbação de ata de assembleia geral de posse dos componentes dos órgãos de administração da entidade que deve ser precedida da aludida adequação estatutária às regras do novo Código Civil - Exigências outras, ainda, não impugnadas pelo Recorrente, que se mostram acertadas - Recusa manifestada pelo Oficial Registrador que merece ser prestigiada - Recurso não provido.

Essa orientação, como informado no recurso, foi aceita pelo recorrente, o qual realizou Assembleia Geral Extraordinária para alteração de seu Estatuto Social em conformidade ao Código Civil, a qual, todavia, teve seu ingresso obstado por nota de devolução da serventia extrajudicial.

No âmbito deste recurso não é possível examinar a negativa de averbação da ata desta outra Assembleia Geral Extraordinária em razão da ausência de documentos, bem como do não seu exame pela Corregedoria Permanente.

Nessa ordem de ideias, houve correção no procedimento de negar o ingresso da ata sem o cumprimento do disposto no art. 2.031 do Código Civil.

Por fim, a presente situação difere do decidido no processo CG 2012/106155, porquanto a hipótese ora em julgamento não trata da norma contida no art. 977 do Código Civil, conforme especificidade daquele julgado.

Ante o exposto, o parecer que, respeitosamente, submete-se à elevada apreciação de Vossa Excelência é no sentido de ser negado provimento ao recurso.

Sub censura.

São Paulo, 02 de outubro de 2.012.

Marcelo Benacchío

Juiz Assessor da Corregedoria

DECISÃO: Aprovo o parecer do MM. Juiz Assessor da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, nego provimento ao recurso. São Paulo, 17.10.2012. - (a)JOSÉ RENATO NALINI - Corregedor Geral da Justiça.

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Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Registro de Títulos e documentos. Sindicato. Ata. Conservação e perpetuidade. Cópia. Microfilme.

EMENTA OFICIAL: Registro de Títulos e Documentos - Dúvida - Atas de constituição e composição de entidade sindical - Matéria afeta ao setor de Anexo de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, ainda que destinada à mera conservação inteligência do artigo 127, parágrafo único da Lei nº 6.015/73 - Apresentação, ademais, de cópias extraídas de microfilmes para o pretendido registro, a inviabilizá-lo - Recusa confirmada - Recurso não provido.

CSMSP - APELAÇÃO CÍVEL: 023889-0/4 CSMSP - APELAÇÃO CÍVELLOCALIDADE: Santo André DATA JULGAMENTO: 06/12/1995 Relator: Antônio Carlos Alves BragaLegislação:Lei 6015/73, artS. 114, 127, parág. único. íntegra:

Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL Nº 23.889-0/4, da Comarca de SANTO ANDRÉ, em que é apelante SINDICATO DO COMÉRCIO VAREJISTA DE DERIVADOS DE PETRÓLEO DO ESTADO DE SÃO PAULO (repdo.p/Sr. Aldo Guarda) e apelado o OFICIAL DO 1º CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS E ANEXOS local. ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votação unânime, em negar provimento ao recurso. 1. Cuida-se de apelação interposta pela entidade sindical, contra a r. sentença que julgou procedente a presente dúvida, vedando o acesso almejado, reputada acertada a recusa constante da nota de devolução de fls. 49. Busca o recorrente registrar, no Anexo de Registro de Títulos e Documentos, certidões, contendo peças relativas à sua constituição. O representante do Ministério Público opina pelo improvimento, ao passo que a Douta Procuradoria é pelo não conhecimento do recurso, por entender que a matéria não diz respeito à dúvida registrária. É o relatório. 2. A hipótese é de recurso tirado contra decisão que impediu registro relativo à constituição do recorrente. Rejeita-se, desde logo, a alegação de que a matéria posta em controvérsia não diz respeito à dúvida registrária. O dissenso, na espécie vertente, tem estrita relação com as exigências de fls. 49, não satisfeitas, no processo de registro, nos termos do artigo 198 da Lei de Registros Públicos. Quanto ao mérito, a matéria já foi objeto de recente apreciação por este órgão, em caso análogo, envolvendo similar irresignação do recorrente, onde se concluiu que a negativa do registro era medida de rigor (Apelação Cível 23.932-0/1, da Comarca de Guarulhos). Na espécie, o requerimento foi dirigido, equivocadamente, ao Anexo de Registro de Títulos e Documentos. Ainda que, sob o escopo de salvaguardar e garantir direitos, a pretensão esbarra no óbice do parágrafo único da Lei 6.015/73, que contempla a possibilidade de se efetivar no Anexo de Títulos e Documentos a realização de qualquer registro não atribuído expressamente a outro ofício. No caso dos autos, a natureza da pretensão, a despeito de sua propalada finalidade de conservação, deveria ser dirigida ao cartório em que assentado o registro civil da pessoa jurídica, que, por imposição legal (art. 114 da Lei n. 6.015/73), é o setor apto a proceder tal inscrição. A impossibilidade do acesso almejado decorre, portanto, da ausência de atribuição do Anexo de Títulos e Documentos para efetivar o registro. Por seu turno, a decisão proferida pela Corregedoria Permanente da Comarca de Barretos (fls. 69/71), enfrentando a matéria de forma diversa para permitir o acesso registrário não tem o condão de alterar o deslinde deste procedimento, na consideração de que erros pretéritos não justificam nem legitimam outros que venham a ser realizados. No mais, além de o acesso, nessas condições, ferir a legislação (art. 127, parágrafo único da Lei 6.015/73) e afrontar as Normas de Serviço da Eg. Corregedoria Geral da Justiça (Cap. XIX, item 3.1), cumpre salientar que, mesmo superado esse óbice, o registro não seria cabível. É que as certidões expedidas para o almejado registro provêm de cópias extraídas de microfilme, a inviabilizar, igualmente, o acesso, sob pena de se ter como letra morta o disposto no artigo 221 da Lei de Registros Públicos, o que não se admite. 3. Nestes termos, negam provimento ao recurso, mantida a sentença impugnada. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, com votos vencedores, os Desembargadores JOSÉ ALBERTO WEISS DE ANDRADE, Presidente do Tribunal de Justiça e YUSSEF SAID CAHALI, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça. São Paulo, 30 de outubro de 1995. (a) ANTÔNIO CARLOS ALVES BRAGA, Corregedor Geral da Justiça e relator.

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REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Sindicato. Ata - Assembléia Geral - Eleição de Diretoria.

REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Averbação de Atas de Assembléia Geral de Eleição de Diretoria de Sindicato e Atas de reunião de comissão eleitoral - Convocação não realizada no prazo devido - Afixação de editais não comprovada - Ofensa ao Estatuto Social - Ingresso inviável - Recurso não provido.

CGJSP - PROCESSO: 135.863/2010 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: Mairiporã DATA JULGAMENTO: 13/12/2010 Relator: Walter Rocha Barone íntegra:

Proc. CG nº 135.863/2010 - (393/2010-E)

RECURSO ADMINISTRATIVORecorrente: Sandro Felipe Chama Ref.: Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Mairiporã

REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Averbação de Atas de Assembléia Geral de Eleição de Diretoria de Sindicato e Atas de reunião de comissão eleitoral - Convocação não realizada no prazo devido - Afixação de editais não comprovada - Ofensa ao Estatuto Social - Ingresso inviável - Recurso não provido.

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça:

Trata-se de recurso administrativo interposto por Sandro Felipe Chama contra r. decisão do MM. Juiz Corregedor Permanente do Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Mairiporã, que manteve as exigências formuladas pela respectiva Serventia Extrajudicial para a averbação das atas descritas a fls.02, relativas ao Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Municipal.

O recorrente requereu a reforma parcial da decisão proferida, pretendendo o registro das atas de 17/12/2007, 25/10/2007 e 13/02/2008. Alegou que na primeira ata foi eleito conselho fiscal com três membros, sendo que os outros três são suplentes, conforme re-ratificação. Aduziu que o prazo previsto no estatuto foi observado, como vislumbrado pelo Oficial. Acrescentou que a ata de 25/10/07 observou o prazo fixado pelo artigo 99 do Estatuto Social, e não o artigo 84, inaplicável à hipótese. Quanto à ata de 13/02/2008, afirmou ser inviável provar que o edital de convocação foi afixado em todos os lugares indicados no artigo 97, §1º, do Estatuto.

O Ministério Público opinou pelo não provimento do recurso.

O presente procedimento administrativo foi encaminhado ao Colendo Conselho Superior da Magistratura e posteriormente foi redistribuído a esta Egrégia Corregedoria Geral da Justiça, dado não se tratar de Dúvida Registrária, mas sim de procedimento relativo a ato de averbação (fls.218/220).

É o relatório.Opino.

Em primeiro lugar, ressalte-se que embora o recorrente tenha intitulado seu recurso como apelação, trata-se na verdade de recurso administrativo, como tal devendo ser apreciado, nos termos do artigo 246 do Código Judiciário do Estado de São Paulo, já que o inconformismo foi manifestado contra r. decisão proferida no âmbito administrativo pelo MM. Juiz Corregedor Permanente da Serventia Extrajudicial em exame.

O presente recurso não comporta provimento. 

No que se refere à ata de 17/12/2007, relativa à reunião da comissão eleitoral (fls.48/51 e 54/56), existe obstáculo intransponível ao ingresso do título, pois nessa ata foram indicados dois secretários em cada chapa, com inobservância, portanto, do artigo 32, alínea 'c', do Estatuto Social (fls.27), que prevê a existência apenas do cargo de Secretário Geral, e não dos cargos de 1º e 2º secretários, como ocorreu, o que impede, por si só, a averbação pretendida.

Também impede a averbação do título o fato de terem sido eleitos suplentes para o Conselho Fiscal e para o Conselho de Representantes, sem que tenham sido observados os requisitos fixados pelo Estatuto.

Com efeito, o artigo 54 do Estatuto Social estabelece que, para cada órgão Diretivo do Sindicato, poderão ser eleitos membros efetivos e suplentes, devendo para tanto haver deliberação favorável da Assembleia Geral especialmente convocada para esse fim. (grifei)

Na medida em que não foi demonstrado nos autos que tenha sido realizada Assembleia Geral, especialmente convocada para esse fim, e tampouco que nela tenha sido deliberado em favor da eleição de suplentes para os cargos diretivos em tela, mostra-se de rigor concluir que essa exigência estatutária não foi obedecida, o que torna ilegal, pois, a candidatura e posterior escolha dos suplentes que foram eleitos.

A ata de Assembleia Geral de 25/10/2007 também apresenta irregularidade que impede a sua averbação, uma vez que a convocação para esse ato não observou a antecedência mínima de 10 dias fixada pelo artigo 84, 'caput', do Estatuto Social. Referido prazo não se confunde, pois, com aquele previsto pelo artigo 99, §1º, do Estatuto, visto que este dispositivo determina que a assembleia geral extraordinária, que elegerá os membros da comissão eleitoral, seja realizada até 05 dias antes da publicação do edital de convocação das eleições, o que nada tem a ver, portanto, com o prazo de convocação daquela assembleia extraordinária.

Na medida em que o jornal juntado a fls.20-A comprova que a convocação foi publicada no dia 20/10/2007 e a assembleia ocorreu no dia 25 do mesmo mês, resta incontroverso que o artigo 84, 'caput', já referido, foi desrespeitado.

Por fim, a ata de assembleia geral de 13/02/2008 tampouco pode ser averbada, uma vez que não foi comprovada a afixação dos editais de convocação das eleições, nos lugares especificados pelo artigo 97, §§, do Estatuto Social.

Diversamente do que sustentado, tal afixação, se ocorrida, poderia ter sido facilmente comprovada, por exemplo, através de declarações dos responsáveis pelos órgãos mencionados no artigo 97, §3º, em tela.

Ante o exposto, o parecer que respeitosamente submeto ao elevado critério de Vossa Excelência é no sentido de que a apelação interposta pelo recorrente seja recebida como recurso administrativo, na forma do artigo 246 do Código Judiciário do Estado de São Paulo, e que a ele seja negado provimento.

Sub Censura.São Paulo, 13 de dezembro de 2010.

(a) WALTER ROCHA BARONEJuiz Auxiliar da Corregedoria

DECISÃO: Aprovo o parecer do MM. Juiz Auxiliar da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, recebo a apelação interposta como recurso administrativo, na forma do art. 246 do Código Judiciário do Estado de São Paulo, negando-lhe provimento. Publique-se. São Paulo, 15 de dezembro de 2010. (a) Des. ANTONIO CARLOS MUNHOZ SOARES, Corregedor Geral da Justiça.

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Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Sindicato. Alteração estatutária - averbação. Mandato - dirigente - prazo - CLT - divergência. Legalidade.

Registro civil de pessoa jurídica - federal sindical - estatuto que prevê mandato de dirigente com prazo distinto daquele previsto na CLT, art. 538, § 1º - recusa do ofício de registro civil - princípio da legalidade - impossibilidade de discutir, no juízo administrativo, a constitucionalidade ou não dessa regra - pedido de providência indeferido (i. e., mantida a recusa).

1VRPSP - PROCESSO: 1070573-86.2013.8.26.0100 1VRPSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 12/11/2013 DATA DJ: 16/11/2013 Relator: Josué Modesto PassosLegislação:

CLT - Consolidação das Leis do Trabalho | 5.452/1943, ART: 538, PAR: 1ºCF - Constituição da República | 1988

íntegra:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

COMARCA DE SÃO PAULO

FORO CENTRAL CÍVEL

1ª VARA DE REGISTROS PÚBLICOS

PRAÇA JOÃO MENDES S/Nº, São Paulo - SP - CEP 01501-900

SENTENÇA

Processo nº: 1070573-86.2013.8.26.0100 Classe - Assunto Pedido de Providências - Registro de Imóveis

Requerente: FEDERAÇÃO DOS SINDICATOS DOS SERVIDORES PÚBLICOS NO ESTADO DE SÃO PAULO - FESSP-ESP

CONCLUSÃO

Em 6 de novembro de 2013 faço conclusos estes autos ao MM. Juiz de Direito Josué Modesto Passos, desta Primeira Vara de Registros Públicos. Do que, para constar, lavro este termo. Eu, ____________, escrevente, digitei.

Registro civil de pessoa jurídica - federal sindical - estatuto que prevê mandato de dirigente com prazo distinto daquele previsto na CLT, art. 538, § 1º - recusa do ofício de registro civil - princípio da legalidade - impossibilidade de discutir, no juízo administrativo, a constitucionalidade ou não dessa regra - pedido de providência indeferido (i. e., mantida a recusa).

CP 324

Vistos etc.

1. A Federação dos Sindicatos dos Servidores Públicos do Estado de São Paulo - FESSP-ESP requereu providências acerca de recusa do 1º Ofício de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica de São Paulo (1º RTD), que negou averbação de alteração de estatuto sindical em que não se previu mandato de três anos, conforme a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, art. 538, § 1º.

1.1. O pedido de providências veio instruído com documentos (fls. 06-52).

1.2. Materializados os autos (fls. 53), a interessada trouxe os originais do título que pretende fazer averbar (fls. 55 e 58-147).

2. O 1º RTD prenotou o título (fls. 151: 460.365) e prestou informações (fls. 150-153).

2.1. As informações vieram acompanhadas de documentos (fls. 154-159).

3. O Ministério Público manifestou-se pela improcedência do pedido, ou seja, pela manutenção da recusa (fls. 161-163).

4. É o relatório. Passo a fundamentar e a decidir.

5. Como salientaram ad abundantiam o 1º RTD e o Ministério Público, em matéria registral vige o princípio de legalidade estrita, de sorte que o estatuto sindical de fato tinha de observar o disposto na CLT, art. 538, § 1º, e não é dado ao ofício de registro civil de pessoas jurídicas (nem à respectiva corregedoria permanente) decidir se tal regra está ou não em vigor, quando não há sua revogação expressa.

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5.1. É o que já decidiu esta 1ª Vara de Registros Públicos nos autos 0052008-28.2012.8.26.0100, verbis:

De outro lado, as decisões administrativas, da Egrégia Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo, orientam-se de modo firme no sentido de que não se fará controle da constitucionalidade, afirmando-se a inconstitucionalidade de lei ou mesmo reconhecendo a sua não recepção em face da nova ordem constitucional. O efeito de controle concentrado da constitucionalidade na esfera administrativa violaria todo o sistema de controle da constitucionalidade, sem que se observasse o devido processo legal, com o contraditório e a ampla defesa. Daí porque também a outra exigência, que está relacionada ao tempo do mandato, para que seja adequado ao prazo legal estabelecido no artigo 538, § 1º da CLT deve ser tida como procedente. Não haveria como fazer, no âmbito administrativo, qualquer interpretação no sentido de que essa disposição legal não foi recepcionada pela Carta de 1988, por tudo quanto já foi expendido acima.

6. Do exposto, indefiro o pedido de providências deduzido por Federação dos Sindicatos dos Servidores Públicos do Estado de São Paulo - FESSP- ESP perante o 1º Ofício do Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica de São Paulo (prenotação 460.365).

Não há custas, despesas processuais ou honorários advocatícios.

Desta sentença cabe recurso administrativo, com efeito suspensivo, dentro em quinze dias, para a E. Corregedoria Geral da Justiça.

P. R. I.

São Paulo, 12 de novembro de 2013.

JOSUÉ MODESTO PASSOS

Juiz de Direito

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REGISTRO DE CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Sindicato - Assembléia Geral extraordinária - cancelamento de averbação - Registro - nulidade intrínseca.

REGISTRO DE CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Pretensão de cancelamento de averbação de ata de assembléia extraordinária de sindicato - Inexistência de nulidade intrínseca ao procedimento de registro - Inobservância, ademais, do contraditório e ampla defesa uma vez que o próprio recorrente, que foi excluído da direção do sindicato, interveio em nome deste, como se ainda o representasse, para anuir com o cancelamento pretendido - Remessa dos interessados às vias ordinárias - Recurso não provido.

CGJSP - PROCESSO: 2009/1064 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: Iguape DATA JULGAMENTO: 17/08/2009 DATA DJ: 28/08/2009 Relator: LUIZ ELIAS TÂMBARALegislação:

Lei 10.406/02 - Lei 6.015/73

íntegra:

Parecer 240/2009-E - Processo CG 2009/1064

(240/2009-E)

REGISTRO DE CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Pretensão de cancelamento de averbação de ata de assembléia extraordinária de sindicato - Inexistência de nulidade intrínseca ao procedimento de registro - Inobservância, ademais, do contraditório e ampla defesa uma vez que o próprio recorrente, que foi excluído da direção do sindicato, interveio em nome deste, como se ainda o representasse, para anuir com o cancelamento pretendido - Remessa dos interessados às vias ordinárias - Recurso não provido.

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça :

Trata-se de recurso interposto por Alcino Frederico Nicol, agindo em nome do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguape, contra r. decisão da MM. Juíza Corregedora Permanente que não acolheu reclamação formulada contra o Oficial de Registro Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Iguape e remeteu para as vias ordinárias a pretensão de cancelamento de averbação de ata de assembléia geral extraordinária daquela entidade.

O recorrente alega, em suma, que na averbação da ata de assembléia geral extraordinária, promovida sob nº 10727/06, não se observou o parágrafo único do artigo 156 da Lei de Registros Públicos porque o Oficial de Registro Civil de Pessoa Jurídica foi, previamente, informado da "...impossibilidade do registro da Ata combatida, surgindo a fundada suspeita de fraude" (fls. 164). Aduz que em 08 de dezembro de 2005 apresentou ao Oficial de Registro Civil de Pessoa Jurídica impugnação à averbação da ata da assembléia geral extraordinária, mas o ato, mesmo assim, acabou realizado em 16 de janeiro de 2006. Assevera que a ata foi lavrada em desconformidade com os artigos 53 a 60 da Lei nº 10.406/02 e o artigo 8º, inciso II, da Constituição Federal porque as pessoas que participaram da assembléia não integram o sindicato, o mesmo ocorrendo com os diretores que foram eleitos. Além disso, no edital de convocação da assembléia foi irregularmente utilizada a denominação do sindicato, por pessoas que não o representavam, ao passo que a destituição da diretoria anteriormente eleita foi realizada sem concessão do direito ao contraditório e ampla defesa. Afirma que os autores da ata da assembléia passaram a utilizar os valores mantidos em depósitos bancários e as contribuições sindicais recebidas e, mais, deixaram de tutelar os interesses rurais. Considera que cabia ao Juízo da Comarca de Iguape paralisar as atividades realizadas de forma ilícita. Requer a reforma da r. decisão para que sejam sustados os efeitos da ata da assembléia que impugnou.

A douta Procuradoria Geral de Justiça opina pelo não provimento do recurso (fls. 193/197).

Opino.

O presente procedimento teve origem em reclamação encaminhada pelo Senhor Alcino Frederico Nicol, via Internet, contra a averbação, pelo Oficial de Registro Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Iguape, da ata de assembléia geral extraordinária do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguape que foi realizada em 08 de dezembro de 2005 (fls. 97/109) porque, segundo alegou, a assembléia foi irregularmente convocada, por pessoas que não tinham legitimidade para representar o sindicato, fato que comunicou, previamente, ao Oficial de Registro Civil de Pessoa Jurídica de Iguape e que ensejou o ajuizamento de ações judiciais em que não obteve a tutela pleiteada.

O Oficial de Registro Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Iguape, instado a se manifestar, prestou informações em que relatou fatos relativos ao registro dos atos constitutivos e do estatuto do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguape e às averbações subseqüentemente realizadas (fls. 11/15).

No que tange à ata da assembléia geral extraordinária realizada em 08 de dezembro de 2005, entendeu o Sr. Oficial de Registro de Imóveis de Iguape que contém irregularidades consistentes em: I) não consta arquivamento de documento que comprove o cumprimento dos artigos 5º, alínea "a", e 13, alíneas "a" a "h", e seu parágrafo único, todos do Estatuto do Sindicato; II) não foi comprovado o preenchimento dos requisitos previstos no artigo 18, parágrafo único, do Estatuto Social para a convocação da assembléia geral extraordinária por membros do sindicato; III) não foi comprovado requerimento de convocação da assembléia geral extraordinária ao antigo presidente ; IV) não foi comprovado que o jornal em que publicado o edital de convocação da assembléia geral extraordinária está regularmente matriculado no Registro Civil de Pessoa Jurídica (fls. 14/15).

Tanto os fatos alegados pelo recorrente como os noticiados pelo Oficial de Registro Civil de Pessoa Jurídica de Iguape, contudo, não autorizam o cancelamento administrativo da averbação da ata da assembléia geral extraordinária realizada em 08 de dezembro de 2005 porque não configuram nulidade de pleno direito intrínseca ao procedimento de registro considerado em seu sentido lato, única que é passível de reconhecimento nesta esfera conforme assentado nos antecedentes desta Egrégia Corregedoria Geral da Justiça. Nesse sentido foi o r. parecer apresentado pelo MM. Juiz Auxiliar, Dr. Luís Paulo Aliende Ribeiro, no Processo CG n° 2.478/00, com o seguinte teor:

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"Afirma, nas razões de recurso, que se insurge contra a conduta do oficial registrador, de ter permitido o registro de documentos viciados, defendendo a competência das Varas de Registros Públicos para a solução da questão.

Ocorre, no entanto, que a competência das Varas de Registros Públicos da Comarca da Capital abrange apenas as questões relativas à atividade da Corregedoria Permanente dos Notários e Registradores, no exercício de atividade administrativa, razão pela qual foi o pedido do recorrente processado e decidido nos limites desta atribuição, o que revela o acerto da r. decisão de primeiro grau que, ao concluir pela necessidade de que os vícios apontados, inerentes aos atos jurídicos de criação das pessoas jurídicas, somente poderiam ser apreciados na via jurisdicional contenciosa, assegurado o contraditório e a ampla defesa, remeteu os interessados às vias ordinárias.

Isso porque a pretensão do recorrente, como bem expresso na r. decisão recorrida, não pode ser alcançada na via administrativa, por não se verificar, na efetivação dos registros e questão, vício registrário que autorizasse seu cancelamento administrativo. Tal conclusão se mostra correta em face das circunstâncias, eficientemente descritas na r. decisão recorrida, de que os vícios apontados dizem respeito a elementos intrínsecos dos atos constitutivos das pessoas jurídicas em questão, não se verificando erro na natureza registrária, ou seja, relativo a elemento formais dos títulos ou falha no procedimento de registro.

Assim, somente na via jurisdicional contenciosa, assegurado o contraditório e a ampla defesa, é que poderão ser apreciadas as questões descritas pelo recorrente, as quais, nos termos da eficiente e minuciosa análise efetivada pelo MM. Juiz Corregedor Permanente, não dizem respeito a aspectos formais dos documentos, que poderiam ter sido verificados pelo registrador, mas a questões intrínsecas, inerentes aos atos jurídicos referidos, e cuja análise extrapola os limites da atuação administrativa ".

Neste caso concreto, a ata da assembléia geral extraordinária realizada em 08 de dezembro de 2005 foi apresentada ao Oficial de Registro de Iguape, para averbação (fls. 96/98), instruída com: I) a qualificação dos membros da Junta Governativa (fls. 99): II) a cópia do edital de convocação dos associados, publicado na edição de 10 a 16 de novembro de 2005 do jornal "Notícias do Vale" (fls. 100); III) a relação das pessoas presentes na assembléia (fls. 102/104); IV) a lista de presença e de assinatura das referidas pessoas (fls.105/109).

Não se vislumbra, diante desses documentos, vício formal no procedimento de averbação da assembléia geral extraordinária pelo Oficial de Registro Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Iguape, apto a ensejar a anulação administrativa do ato registrário impugnado pelo recorrente.

Eventuais outros vícios intrínsecos ao título, ou seja, inerentes ao procedimento de convocação da assembléia e sua realização, que indiretamente podem afetar o registro, dependem de reconhecimento em ação própria, contenciosa, a ser promovida nas vias ordinárias.

Essa conclusão, por outro lado, não é afastada pela alegada violação do artigo 8º, inciso II, da Constituição Federal, que estabelece a unicidade sindical, porque na assembléia geral extraordinária realizada em 08 de dezembro de 2005 nada foi deliberado sobre a criação de outra organização sindical ou sobre a base territorial do sindicato já existente.

O mesmo ocorre com a alegada violação do artigo 156, parágrafo único, da Lei nº 6.015/73, que dispõe:

"Art. 156. O oficial deverá recusar registro a título e a documento que não se revistam das formalidades legais.

Parágrafo único. Se tiver suspeita de falsificação, poderá o oficial sobrestar no registro, depois de protocolado o documento, até notificar o apresentante dessa circunstância; se este insistir, o registro será feito com essa nota, podendo o oficial, entretanto, submeter a dúvida ao Juiz competente, ou notificar o signatário para assistir ao registro, mencionando também as alegações pelo último aduzidas ".

Segundo alegado pelo recorrente, o edital de convocação da assembléia geral extraordinária seria ideologicamente falso porque não foi expedido pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguape regularmente representado por sua então diretoria.

Ocorre que a falsidade a que se refere o parágrafo único do artigo 156 da Lei nº 6.015/73 é a material, única apurável mediante exame os aspectos físicos do título e, portanto, passível de constatação pelo Oficial de Registro Civil de Pessoa Jurídica.

Walter Cruz Swensson, Renato Swensson Neto, Afonso Celso da Silva e Alessandra Seino Granja Swensson, em igual linha, ao comentar o referido artigo ensinam que:

"Havendo suspeita de falsificação do título, no caso de falsidade material tão somente (excluída a hipótese de falsidade ideológica), poderá o Oficial tomar uma das providências alvitradas pelo parágrafo único" (Lei de Registros Públicos Anotada, 2ª ed., São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p. 231).

A suposta falsidade ideológica do edital de convocação da assembléia geral extraordinária que foi publicado em jornal local e que se encontra reproduzido às fls. 100, por essa razão, não pode ser reconhecida no âmbito administrativo de atuação, como corretamente decidido pela MM. Juíza Corregedora Permanente.

Bem por isso, a prévia notificação do Oficial de Registro Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Iguape comunicando a existência de litígio sobre a realização da assembléia geral extraordinária, com impugnação à validade do edital, que foi efetivamente publicado, porque supostamente elaborado com falsidade ideológica, não impedia o protocolo da ata e sua averbação.

Igual se dá com a suposta inobservância da ampla defesa e contraditório no procedimento adotado para a destituição dos membros da anterior diretoria do sindicato, porque se trata de questão afeta à validade intrínseca das deliberações tomadas pela assembléia geral extraordinária, cuja regularidade não cabia ao Oficial de Registro Civil de Pessoa Jurídica aquilatar no exame de qualificação da ata que acabou averbada.

Não prevalecem, por tais motivos, os fundamentos adotados pelo recorrente para o cancelamento administrativo da averbação da ata da assembléia geral extraordinária que impugnou.

Por outro lado, os vícios na averbação da ata que foram apontados pelo Oficial de Registro Civil de Pessoa Jurídica não caracterizam nulidades do procedimento de registro nem são, ainda que em tese, insanáveis, motivo pelo qual, também neste ponto, prevalece a remessa dos interessados às vias ordinárias para que em ação própria, contenciosa, seja solucionado o litígio relativo à validade da assembléia que foi realizada.

Primeiro porque a prova do cumprimento dos artigos 5º, alínea "a", e 13, alíneas "a" a "h", e seu parágrafo único, todos do Estatuto Social, que dizem respeito às condições para o associado votar e ser votado nas assembléias do Sindicato (fls. 35/36), não foi, ao que consta dos documentos de fls. 43/95, exigida para a averbação de qualquer outra ata de eleição de diretoria, nem foi exigida para as averbações de atas de duas outras assembléias em que o próprio recorrente, Alcino Frederico Nicol, foi nomeado presidente de Juntas Governativas (fls. 45/48 e 72/75).

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Ademais, não cabe ao Oficial de Registro Civil de Pessoa Jurídica arquivar relação dos associados, com suas atualizações, para verificar a regularidade da participação e votação em assembléia geral do sindicato, nem compete verificar se os membros votantes não têm débitos com as contribuições sindicais.

Ainda, não competia ao Oficial de Registro Civil de Pessoa Jurídica, na qualificação da ata da assembléia geral extraordinária, verificar o preenchimento do quorum previsto no artigo 18, parágrafo único, do Estatuto Social, porque fixado em porcentagem dos associados do sindicato não devedores de contribuições sindicais (fls. 37).

A eventual ausência de requerimento de convocação da assembléia geral extraordinária ao antigo presidente, por outro lado, é matéria que depende de prova, sob o crivo do contraditório, e que não permite o cancelamento da averbação na esfera administrativa, mesmo porque a prévia ciência, pelo recorrente e ex-presidente do sindicato, da convocação da assembléia geral extraordinária está evidenciada pela própria reclamação que originou o presente expediente, em que constou: "Ocorre que sabendo antecipadamente das intenções dos defraudadores e usurpadores, este sindicato se dirigiu à Justiça Local pelo processo 836/05 em 25/11/2005, juntando todos os documentos e as provas da fraude, quase 15 dias antes do feito irregular..." (fls. 03).

O edital de convocação da assembléia geral extraordinária, por sua vez, foi publicado em jornal de circulação local (fls. 100), não cabendo ao Sindicato o controle da regularidade da matrícula desse jornal no Registro Civil de Pessoa Jurídica.

Ademais, convém observar que as supostas irregularidades apontadas pelo Oficial de Registro Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Iguape nas informações que prestou atingiriam tanto a averbação da ata da assembléia geral extraordinária impugnada pelo recorrente como o registro e as averbações de atos anteriores, iniciando-se pelo próprio registro do sindicato que teve os atos constitutivos arquivados em 25 de julho de 1978 sem que estivessem acompanhados do Estatuto Social (fls. 11/12, itens 1 a 3), existindo arquivado, apenas, Estatuto Social elaborado em 13 de novembro de 1995 (fls. 34/43).

Além disso, o Sr. Oficial de Registro Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Iguape apontou, como irregularidade, a falta de averbação da ata da assembléia geral ordinária e extraordinária que em 23 de novembro de 2000 elegeu diretoria (fls. 13) de que, anoto, o recorrente participou como presidente (fls. 55/62).

Também foi apontada a falta de averbação de ata de assembléia realizada em 20 de fevereiro de 2004 (fls. 13).

O longo decurso do tempo, porém, não autorizam que agora, neste procedimento administrativo, sejam, de ofício, adotadas medidas tendentes a cancelamento de outros atos registrários que não foram objeto de impugnação específica e que, ademais, produziram efeitos jurídicos já consolidados.

Por fim, nem mesmo se caracterizada nulidade poderia a averbação da ata de assembléia geral extraordinária ser anulada neste procedimento administrativa.

É que a anulação, se cabível, demandaria a prévia instauração do contraditório mediante cientificação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguape, representado pela diretoria eleita na assembléia geral extraordinária realizada em 08 de dezembro de 2005, para oferecer resposta e, assim, exercer o direito à ampla defesa.

Isso porque a averbação da ata da assembléia geral extraordinária, enquanto não cancelada, produz todos os efeitos que lhe são inerentes (artigo 252 da Lei nº6.015/73), não exercendo o recorrente, a partir de então, a representação do sindicato.

Ocorre que o próprio recorrente, então já destituído da presidência, em 29 de março de 2008 juntou aos autos petição em que nomeou Advogado para representar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguape (fls. 117/118), o qual, na seqüência, ofereceu manifestação, ainda em nome do Sindicato, anuindo com o cancelamento pretendido (fls. 119/122), e depois interpôs o presente recurso (fls. 163/166).

Portanto, em razão de ato do recorrente, não foi o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguape, representado por sua atual diretoria, regularmente cientificado deste procedimento, nem interveio para se manifestar sobre a pretensão deduzida, com o que não se encontram atendidos os requisitos do contraditório e ampla defesa que são indispensáveis para o cancelamento pretendido.

Diante disso, não restava à MM. Juíza que prolatou a bem fundamentada decisão recorrida, Dra. Bárbara Donadio Antunes Chinen, outra alternativa senão a de remeter os interessados às vias ordinárias.

Ante o exposto, o parecer que respeitosamente submeto ao elevado critério de Vossa Excelência é no sentido de negar provimento ao recurso.

Sub censura .

São Paulo, 03 de agosto de 2009.

(a) José Marcelo Tossi Silva

Juiz Auxiliar da Corregedoria

DECISÃO: Acolho o parecer do MM. Juiz Auxiliar da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, nego provimento ao recurso. Publique-se. São Paulo, 17 de agosto de 2009. (a) LUIZ ELIAS TÂMBARA - Corregedor Geral da Justiça em Exercício

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Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Sindicato - personalidade jurídica - não constituição. Continuidade. Qualificação registraria.

SINDICATO - PERSONALIDADE JURÍDICA - AQUISIÇÃO PELO REGISTRO CIVIL - REGISTRO NO MINISTÉRIO DO TRABALHO - RELEVÂNCIA - UNICIDADE SINDICAL - RECURSO NÃO PROVIDO.

CSMSP - APELAÇÃO CÍVEL: 0079062-29.2009.8.26.0114 CSMSP - APELAÇÃO CÍVELLOCALIDADE: Campinas DATA JULGAMENTO: 07/02/2013 DATA DJ: 02/04/2013 Relator: José Renato Nalini íntegra:

Registro Civil de Pessoa Jurídica. Entidade sindical não constituída. Continuidade. Qualificação registraria.

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA

Apelação Cível nº 0079062-29.2009.8.26.0114

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL N° 0079062-29.2009.8.26.0114, da Comarca de CAMPINAS, em que é apelante o SINDICATO DE TRABALHADORES NA INDÚSTRIA DE ENERGIA ELÉTRICA DE CAMPINAS e apelado o 2º OFICIAL DE REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURÍDICAda referida Comarca.

ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votação unânime, em negar provimento ao recurso, de conformidade com o voto do Desembargador Relator, que fica fazendo parte integrante do presente julgado.

Participaram do julgamento os Desembargadores IVAN RICARDO GARISIO SARTORI, Presidente do Tribunal de Justiça, JOSÉ GASPAR GONZAGA FRANCESCHINI, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça, WALTER DE ALMEIDA GUILHERME, Decano em exercício, SAMUEL ALVES DE MELO JÚNIOR, ANTÔNIO JOSÉ SILVEIRA PAULILO eANTÔNIO CARLOS TRISTÃO RIBEIRO, respectivamente, Presidentes das Seções de Direito Público, Privado e Criminal do Tribunal de Justiça.

São Paulo, 07 de fevereiro de 2013.

JOSÉ RENATO NALINI

Corregedor Geral da Justiça e Relator

Apelação Cível n° 0079062-29.2009.8.26.0114

Apelante: Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia Elétrica de Campinas

Apelado: 2º Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Campinas.

VOTO N° 21.187

SINDICATO - PERSONALIDADE JURÍDICA - AQUISIÇÃO PELO REGISTRO CIVIL - REGISTRO NO MINISTÉRIO DO TRABALHO - RELEVÂNCIA - UNICIDADE SINDICAL - RECURSO NÃO PROVIDO.

Trata-se de apelação interposta contra r. sentença que reconheceu a impossibilidade do registro de ata de posse da entidade sindical não constituída no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, por inobservância do princípio da continuidade registral.

O apelante sustentou que a exigência de registro da pessoa jurídica no Cartório Civil de Pessoas Jurídicas decorre da Constituição Federal, não atingindo os sindicatos constituídos em data anterior, constituídos com o simples registro no Ministério do Trabalho.

A Douta Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo não provimento do recurso.

É o relatório.

A decisão de 1º grau não merece reforma.

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Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro (art. 45 do Código Civil).

Inexistindo regular constituição do Sindicato apelante no Registro Civil das Pessoas Jurídicas torna-se descabido o pedido de registro da ata de posse da entidade sindical, por inobservância do princípio da continuidade, que exige o encadeamento dos atos jurídicos.

De maneira diversa ao sustentado pela parte interessada em seu recurso, o registro do sindicato no Ministério do Trabalho, tem mero escopo de fixar a sua procedência, em face ao princípio da unidade sindical (Agravo de Instrumento nº 1085388-0, Comarca de OSASCO, 35ª Câmara de Direito Privado, Des. Artur Marques, data do julgamento 26/03/07) e não constituir a pessoa jurídica. Nesse sentido:

"EMENTA: CONSTITUCIONAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. JULGAMENTO PELO RELATOR. CPC, art. 557, §1º-A: LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL. CONSTITUCIONAL. SINDICATO. REGISTRO NO MINISTÉRIO DO TRABALHO: LIBERDADE E UNICIDADE SINDICAL. CF., art. 8º, I e II. I. - Legitimidade constitucional da atribuição conferida ao relator para negar seguimento a recurso ou a prove-lo - RI/STF, art. 21, §1º: Lei 8.038/90, art. 38: CPC art. 557, §1º -A - desde que, mediante recurso (agravo), possam as decisões ser submetidas ao controle do Colegiado. II. - Liberdade e unicidade sindical: competência para o registro de entidades sindicais (CF., art. 8º. I c II): recepção, pela CF/88, da competência do Ministério do Trabalho para o registro. Esse registro é que propicia verificar se a unicidade sindical, limitação constitucional ao principio da liberdade sindical, estaria sendo observada ou não, já que o Ministério do Trabalho é detentor das informações respectivas. III. - Precedentes do STF: MI 144-SP, Pertence. Plenário, "DJ" de 28/5/93: RMS 21.758-DF, Pertence,1ª Turma, "DJ" de 04/11 94: ADIn 1121 (MC)-RS, Celso de Mello, "DJ" de 06.10.95: RE 134.300-DF, Pertence, 1ª Turma, 16/8/94. IV. - RE provido. Agravo Improvido" (AgRg no RE: 222.285/SP, publicado em 22.3.2002, Segunda Turma, da relatoria do em. Ministro Carlos Velloso).

Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao recurso.

JOSÉ RENATO NALINI

Corregedora Geral da Justiça e Relator

 

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Registro Civil de Pessoa Jurídica. Transformação societária. Associação - Sociedade simples - natureza jurídica - distinção. PROUNI. FIES.

"Pedido de Providências - averbação da transformação de Associação em sociedade - expressa disposição legal (art. 13 da Lei 11.096/2005) - participação nos programas PROUNI e FIES - concessão de bolsas e financiamento estudantil - excepcionalidade da transformação desde que preenchidos os requisitos (aprovação por unanimidade dos sócios, paridade patrimonial entre a associação e a sociedade e a integralização das cotas sociais) - documentos apresentados nos moldes condicionantes - deferimento da averbação - pedido procedente".

1VRPSP - PROCESSO: 1023270-42.2014.8.26.0100 1VRPSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 19/05/2014 DATA DJ: 28/05/2014 Relator: Tânia Mara AhualliLegislação:

CCB - Código Civil Brasileiro | 10.406/2002, ART: 44LO - Lei 11.096/2005 | 11.096/2005, ART: 13

íntegra:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCOMARCA DE SÃO PAULO - FORO CENTRAL CÍVEL1ª VARA DE REGISTROS PÚBLICOS

SENTENÇA

Processo Digital nº: 1023270-42.2014.8.26.0100Classe - Assunto Cautelar Inominada - PropriedadeRequerente: ASSOCIAÇÃO DE CULTURA E ENSINO - ACE

"Pedido de Providências - averbação da transformação de Associação em sociedade - expressa disposição legal (art. 13 da Lei 11.096/2005) - participação nos programas PROUNI e FIES - concessão de bolsas e financiamento estudantil - excepcionalidade da transformação desde que preenchidos os requisitos (aprovação por unanimidade dos sócios, paridade patrimonial entre a associação e a sociedade e a integralização das cotas sociais) - documentos apresentados nos moldes condicionantes - deferimento da averbação - pedido procedente".

Vistos.

Primeiramente verifico que o presente procedimento apesar de ter sido recebido como dúvida direta por ocasião do despacho de fl. 181, trata-se na verdade de pedido de providências, levando-se em consideração que a requerente pleiteia a averbação da transformação de associação em sociedade. Retifique-se a autuação.

Feita essa consideração, passo a análise do feito:

Trata-se de pedido de providências formulado pela Associação de Cultura e Ensino - ACE, em face da negativa do 4º Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Capital em proceder à averbação da alteração da associação em sociedade.

Informa que a modificação pleiteada visa adequar-se aos programas do PROUNI e FIES, com o escopo de proporcionar um melhor atendimento aos alunos de baixa renda com a concessão de bolsas de estudos e financiamento estudantil.

O Oficial embasa sua recusa no fato de que a pretensão contraria os precedentes desta Corregedoria Permanente, bem como reiteradas decisões proferidas pela Corregedoria Geral de Justiça. Todavia, diante da disposição normativa expressa (artigo 13 da Lei 11.096/2005), não descartou a eventual possibilidade de realizar a averbação, apresentando, outrossim, alguns requisitos para a efetiva transformação, que seriam: aprovação por unanimidade dos sócios; apresentação de balanço patrimonial para verificação da manutenção da paridade patrimonial entre a associação e a sociedade e integralização das cotas sociais.

O Ministério Público solicitou a intimação da requerente sobre as informações fornecidas pelo Registrador, sendo que ela reiterou seu pedido inicial e apresentou novos documentos às fls. 342/362.

Neste contexto, o Douto Promotor opinou pelo parcial acolhimento do pedido, autorizando-se a averbação da transformação, desde que observadas as condicionantes levantadas pelo Oficial (fls.291/295 e 367).

É o relatório.

Passo a fundamentar e a decidir.

Com razão o Oficial Registrador e o Ministério Público.

A associação e a sociedade possuem natureza distinta, muito embora ambas sejam pessoas jurídicas previstas no artigo 44 do Código Civil.

Na lição de ilustre jurista Nestor Duarte:

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"As associações são pessoas jurídicas de finalidades não econômicas, que se constituem pela união de pessoas. Tanto quanto as sociedades, apresentam uma estrutura interna fundada em um conjunto de pessoas (universitas personarum), mas diferem entre si, porque as sociedades têm fins econômicos, enquanto as associações não; distinguem-se as associações das fundações, porque estas têm por substrato um patrimônio (universitas bonorum)" (Código Civil comentado: doutrina e jurisprudência: Lei n. 10.406, de 10.01.2002: contém o código civil de 1916 - coordenador Cezar Peluso. 2 ed. rev. e atual. - Barueri, SP: Manole, 2008 - p.59).

Portanto, em regra, não se admite a transformação de uma em outra, já que traduzem finalidades díspares desde o seu nascimento.

A presente hipótese constitui, entretanto, exceção à regra geral estabelecida pelo Código Civil, por existir norma específica a esse respeito. O artigo 13 da Lei 11.096/2005 é explícito ao estabelecer que:

Art. 13. As pessoas jurídicas de direito privado, mantenedoras de instituições de ensino superior, sem fins lucrativos, que adotarem as regras de seleção de estudantes bolsistas a que se refere o art. 11 desta Lei e que estejam no gozo da isenção da contribuição para a seguridade social de que trata o § 7º do art. 195 da Constituição Federal, que optarem, a partir da data de publicação desta Lei, por transformar sua natureza jurídica em sociedade de fins econômicos, na forma facultada pelo art. 7o-A da Lei no 9.131, de 24 de novembro de 1995, passarão a pagar a quota patronal para a previdência social de forma gradual, durante o prazo de 5 (cinco) anos, na razão de 20% (vinte por cento) do valor devido a cada ano, cumulativamente, até atingir o valor integral das contribuições devidas.

Parágrafo único. A pessoa jurídica de direito privado transformada em sociedade de fins econômicos passará a pagar a contribuição previdenciária de que trata o caput deste artigo a partir do 1º dia do mês de realização da assembleia geral que autorizar a transformação da sua natureza jurídica, respeitada a gradação correspondente ao respectivo ano.

Com a instituição do PROUNI visou-se precipuamente facilitar o acesso de estudantes carentes ao ensino superior ao oferecer bolsas de estudos de 50% ou 100% da mensalidade em faculdades particulares, sendo que, em contrapartida, as instituições de ensino superior que aderirem ao programa passam a gozar de algumas vantagens fiscais.

Neste aspecto:

"Tributário - Ação Ordinária - Lei 11.096, de 13/01/2005, resultado da conversão da Medida Provisória nº 213 de 10.09.2004 - Criação do Programa Universidade Para Todos/PROUNI - Tratamento Fiscal diferenciado assegurado ao setor de educação superior - Sociedades Privadas mantenedoras de Instituições de Ensino Superior, sem fins lucrativos - Beneficiárias de Imunidade Tributária (art. 195, § 7º CF de 1988) - Opção de transformação em sociedade empresária - concessão de benefício fiscal com duração por prazo determinado - Autorização legal para recolhimento gradual de contribuição previdenciária patronal - Definição do termo a quo - Primeiro dia de realização da Assembleia Geral de aprovação da transformação societária - vedação legal à postergação do recolhimento mediante compensação futura - Interpretação consentânea com a finalidade da norma - Implicação de direito fundamental à educação" (TRF-2 - AC - Apelação Cível: AC 2009.51.01.017945-9. Juiz Federal Convocado Theophilo Miguel)

Conforme se denota dos elementos trazidos a este processo, o Oficial Registrador e o Ministério Público não se opuseram à transformação da associação em sociedade, tendo em vista que a requerente encontra-se amparada por lei específica. Todavia, em razão da profunda alteração da natureza jurídica, gerando reflexos patrimoniais, zelosamente foi exigido a observância de alguns requisitos, os quais, de acordo com a nova Ata de Assembleia Geral Extraordinária realizada em 28.04.2014, foram devidamente cumpridos.

Conforme se verifica à fl.342, houve a presença da totalidade dos associados, que aprovaram, por unanimidade de votos e sem reservas, a transformação da natureza jurídica de associação sem fins lucrativos para sociedade simples limitada com fins lucrativos. O quórum deliberativo está comprovado pelas assinaturas à fl. 346.

Foi apresentado balanço patrimonial da associação a fim de se verificar a manutenção da paridade patrimonial entre a associação e a sociedade. Em relação a esta exigência, houve adaptação na nova ata elaborada, retificando-se o capital social da sociedade para manter a paridade patrimonial (fl.343/344), passando a constar como capital social o valor de R$ 2.831.299,00 (dois milhões, oitocentos e trinta e um mil, duzentos e noventa e nove reais) quotas, com valor nominal de R$ 1,00 cada uma, devidamente integralizadas. E no item 3 aprovou-se por unanimidade o aumento do capital social para R$ 2.900.000,00 (dois milhões e novecentos mil reais):

"... As 68.701 novas quotas subscritas são integralizadas por meio do aporte em moeda corrente nacional realizados pelos sócios da Sociedade..."

Houve a modificação da cláusula 5ª do Contrato Social, nos termos do item 4 de fls. 345, para a integralização das cotas sociais. Como é sabido, a responsabilidade direta de cada sócio limita-se á obrigação de integralizar as quotas que subscreveu, embora exista a obrigação solidária pela integralização das quotas subscritas pelos demais sócios.

"Cláusula 5ª: O capital da Sociedade, totalmente subscrito e integralizado em moeda corrente nacional é de R$ 2.900.000,00 (dois milhões e novecentos mil reais), dividido em 2.900,00 (dois milhões e novecentos mil) quotas, de valor nominal de R$ (1,00) cada uma, distribuídas entre os sócios da seguinte maneira..."

"item 4, §3º: A responsabilidade dos sócios limita-se ao valor de suas respectivas quotas, sendo todas solidariamente responsáveis pela integralização do capital social subscrito e não integralizado, conforme o artigo 1052 do CC, não respondendo pelas obrigações sociais, nem mesmo subsidiariamente, observadas as normas cogentes aplicáveis, inclusive na hipótese de liquidação da sociedade"

Por fim, nos termos do laudo de avaliação do patrimônio líquido contábil apurado por meio dos livros contábeis (fls. 359/362), tem-se que o patrimônio líquido em 31.12.2013 é igual a R$ 2.771.299,65 , o que condiz com a integralização do capital conforme a quota parte de cada sócio.

Logo, com a aprovação da nova Ata de Assembleia realizada em 28.04.2014 e anexos I e II, entendo plenamente cumpridas as exigências formuladas pelo Oficial Registrador às fls. 237/248 e possível o ingresso do título.

Do exposto, o requerimento da e determino que seja averbada a transformação da associação em sociedade junto ao 4º Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Capital.

Não há custas, despesas processuais nem honorários advocatícios decorrentes deste procedimento.

Oportunamente, arquivem-se os autos.

P.R.I.C

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São Paulo, 19 de maio de 2014.

Tânia Mara Ahualli

Juíza de Direito

Recurso administrativo. Averbação. Alteração estatutária. Transformação de sociedade em associação. Indeferimento.

REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS - Apelação recebida como recurso administrativo - Averbação de alteração estatutária, consistente na transformação de sociedade empresária em associação - Pedido indeferido pelo MM. Juiz Corregedor Permanente - Negado provimento ao recurso.

CGJSP - PROCESSO: 80114/2011 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 25/07/2011 Relator: Maurício Vidigal íntegra:

PODER JUDICIÁRIO

SÃO PAULO

CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA

Processo nº 2011/80114

(252/2011-E)

REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS - Apelação recebida como recurso administrativo - Averbação de alteração estatutária, consistente na transformação de sociedade empresária em associação - Pedido indeferido pelo MM. Juiz Corregedor Permanente - Negado provimento ao recurso.

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça:

Cuida-se da apelação interposta por Sociedade Educacional Doze de Outubro Ltda. contra decisão proferida pelo MM. Juiz de Direito Corregedor Permanente do 1º Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoas Jurídicas da Capital.

Tal decisão (fls. 85-A/87) indeferiu pedido de averbação de alteração estatutária, consistente na transformação de sociedade em associação (fls.07/52).

Alega a apelante (fls. 90/101), em resumo, ser o caso de reforma da decisão atacada. Isto porque a lei não veda tal transformação de sociedade em associação, não podendo se deixar de observar o princípio da razoabilidade. Ante o exposto, pugna pelo provimento do reclamo.

A digna Procuradoria de Justiça posicionou-se pela manutenção do decisum (fls. 110/113).

Em virtude da competência, os autos foram remetidos pelo Conselho Superior da Magistratura a esta Corregedoria Geral da Justiça (fls. 115).

É o relatório.

Passo a opinar.

De início, observo que foi interposto recurso de apelação.

Ocorre que não encontra ela previsão legal para a hipótese dos autos, que consiste em procedimento administrativo registrário.

Nada impede, contudo, que se receba o presente como recurso administrativo capitulado no artigo 246 do Código Judiciário do Estado de São Paulo.

O recurso deve, assim, ser conhecido.

De resto, no caso em tela, analisando-se os elementos constantes dos autos, não há mesmo como se realizar a averbação, conforme bem ressaltado, tanto pelo oficial suscitante (fls. 02/05 e 53/54), quanto pelo seu MM. Juiz Corregedor (fls. 85-A/87) e ainda pelo MP que oficiou em primeiro (fls. 83/84 e 105/106) e segundo (fls. 110/113) graus, restando, assim, isolado o posicionamento do recorrente.

Foi, assim, bem indeferido o pedido de averbação de alteração estatutária, consistente na transformação de sociedade em associação.

Corretamente, foi observado pelo zeloso registrador que o instituto da transformação só se opera entre sociedades.

Assim dispõe o Código Civil em vigor:

CAPÍTULO X - Da Transformação, da Incorporação, da Fusão e da Cisão das Sociedades

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Art. 1.113. O ato de transformação independe de dissolução ou liquidação da sociedade, e obedecerá aos preceitos reguladores da constituição e inscrição próprios do tipo em que vai converter-se.

Art. 1.114. A transformação   depende do consentimento de todos os sócios, salvo se prevista no ato constitutivo, caso em que o dissidente poderá retirar-se da sociedade, aplicando-se, no silêncio do estatuto ou do contrato social, o disposto no art. 1.031 (grifos não originais).

E não se pode confundir associação (artigo 44, inciso I, do já referido diploma legal) com sociedade (artigo 44, inciso II).

Neste sentido já decidiu esta Corregedoria Geral da Justiça no precedente colacionado pelo registrador a fls. 65/74, bem como no Processo nº 494/2006.

Em direção convergente há o v. acórdão proferido pelo Egrégio Conselho Superior da Magistratura por ocasião do julgamento da Apelação Cível nº 990.10.208.229-6.

Note-se que não é a Lei da S/A, mas sim o Código Civil de 2.002, aqui aplicável, como se verifica em seu artigo 2.033:

Art. 2.033. Salvo o disposto em lei especial, as modificações dos atos constitutivos das pessoas jurídicas referidas no art. 44,  bem como a sua transformação , incorporação, cisão ou fusão, regem-se desde logo por este Código (grifos não originais).

Por derradeiro, o princípio da razoabilidade não autoriza a violação a preceitos de lei.

Diante do exposto, o parecer que respeitosamente submeto à elevada apreciação de Vossa Excelência é no sentido de que se receba a apelação como recurso administrativo, negando-lhe provimento e, após ciência ao MP, retornem estes autos à origem.

Sub censura.

São Paulo, 15 de julho de 2011.

ROBERTO MAIA FILHO

Juiz Auxiliar da Corregedoria

PODER JUICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA

CONCLUSÃO

Em 22 de julho de 2011, faço estes autos conclusos ao Excelentíssimo Senhor Desembargador MAURÍCIO VIDIGAL, DD. Corregedor Geral da Justiça. Eu,______ (Ivone Pio Novo), Escrevente Técnico Judiciário do GATJ 3, subscrevi.

Processo nº 2011/80114

Aprovo o parecer do MM. Juiz Auxiliar da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, recebo a apelação como recurso administrativo, na forma do art. 246 do Código Judiciário do Estado de São Paulo, negando-lhe provimento.

Ciente o MP, devolvam-se estes autos à origem.

Publique-se.

São Paulo, 25 de julho de 2011.

MAURÍCIO VIDIGAL

Corregedor Geral da Justiça

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Serviço de Controle do Pessoal, Expedientes e Procedimentos Administrativos

Despachos/Pareceres/Decisões 289/2007

Parecer 289/2007-E - Processo CG. 226/2007 Data inclusão: 22/02/2008

289/2007-ERegistro Civil de Pessoa Jurídica – Averbações de alterações de estatuto e contrato sociais - Operação de incorporação de sociedade por quotas de responsabilidade limitada por associação civil – Pessoas jurídicas registradas em serventias distintas – Impossibilidade da prática de todos os atos em uma mesma serventia – Necessidade, ainda, de concomitante ou prévia averbação da incorporação para a averbação da extinção da sociedade incorporada - Inadequação, ademais, da certidão positiva com efeitos negativos obtida no INSS para a prática do ato de extinção da sociedade incorporada – Recusa acertada das averbações - Recurso não provido.Registro Civil de Pessoa Jurídica – Operação de incorporação de sociedade limitada por associação civil - Pessoas jurídicas de naturezas diversas e submetidas a regimes jurídicos igualmente diversos – Ausência de previsão legal que autorize a incorporação - Inviabilidade da prática dos atos pretendidos - Recurso não provido.Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça:

Trata-se de recurso administrativo interposto pelo Centro

Renovo de Educação Ltda. contra decisão da Meritíssima Juíza Corregedora Permanente do

1º Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca da

Capital que indeferiu requerimento de averbação, no registro n. 150.801 da serventia, de

alteração de contrato social de sua extinção por incorporação havida pelo Instituto Renovo

de Educação, associação sem fins lucrativos registrada no 3º Registro Civil de Pessoas

Jurídicas desta Capital, por considerar inadequada a certidão negativa de débitos com o

INSS apresentada para a realização do ato (fls. 196 a 199).

Sustenta que inexiste, no caso, vedação legal expressa a

respeito da incorporação de sociedade limitada por associação civil, a inviabilizar o

acolhimento, no registro civil em questão, da ata de alteração do contrato social resultante

da operação realizada no âmbito de ambas as pessoas jurídicas – incorporadora e

incorporada. Por outro lado, aduz que com a incorporação realizada, a incorporadora

assumiu todo o passivo da incorporada, incluindo débitos com a Previdência Social, já

devidamente parcelados com o INSS, nenhuma inadequação se podendo vislumbrar na

certidão positiva com efeito negativo que acompanha o requerimento, expedida pela própria

autarquia, para fins de registro em cartório da incorporação concretizada. Assim, requer seja

provido o recurso interposto e determinada averbação da incorporação sem as exigências

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formuladas pelo Oficial Registrador, no tocante à certidão do INSS (fls. 207 a 247).

A Douta Procuradoria Geral de Justiça opinou no sentido do

não provimento do recurso, argumentando com a impossibilidade de incorporação, por

associação civil sem fins lucrativos, de sociedade por quotas de responsabilidade limitada

(fls. 259 a 261).

É o relatório.

Passo a opinar.

O recurso interposto, salvo melhor juízo de Vossa

Excelência, não comporta provimento.

Com efeito, a Recorrente é pessoa jurídica constituída na

modalidade de sociedade por quotas de responsabilidade limitada (fls. 15 a 20), estando

registrada sob nº 150.801 no 1º Registro Civil de Pessoas Jurídicas desta Capital, e

pretende a averbação, nessa mesma serventia, de alterações em estatuto e contrato sociais,

por meio das quais se aperfeiçoou sua incorporação pelo Instituto Renovo, associação civil

registrada no 3º Registro Civil de Pessoas Jurídicas, igualmente desta Capital.

Desde logo, cabe ressaltar a impropriedade do

requerimento da Recorrente de averbação da incorporação no 1º Registro Civil de Pessoas

Jurídicas, onde se encontra o seu registro, pois, na condição de sociedade incorporada, o

que se admitiria é apenas a averbação da sua extinção, nos termos do art. 1.118 do Código

Civil. A rigor, inclusive, essa averbação da extinção deveria se dar pela incorporadora e não

pela ora Recorrente, a qual já estaria, segundo seu próprio entendimento, extinta.

Quanto à incorporação propriamente dita, tem-se que a sua

averbação deveria ser requerida, uma vez mais, pela entidade incorporadora – Instituto

Renovo – e junto ao 3º Oficial de Registro Civil de Pessoas Jurídicas, onde registrado o

estatuto desta última, o que não se deu.

Aliás, a bem dizer, não se poderia sequer proceder à

averbação da extinção da sociedade incorporada, no 1º Registro Civil de Pessoas Jurídicas,

sem que concomitante ou previamente se desse a averbação da incorporação, no 3º

Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

De toda sorte, ainda que assim não se entendesse, caberia

mencionar, na esteira da respeitável decisão proferida pela Meritíssima Juíza Corregedora

Permanente, a inadequação da certidão positiva com efeitos negativos do INSS trazida pela

Recorrente.

De fato, se, como visto, no 1º Registro Civil de Pessoas

Jurídicas o ato passível de averbação seria tão-só o da extinção da sociedade incorporada,

não apareceria como adequada a certidão emitida para fins de “registro ou arquivamento, no

órgão próprio, de ato relativo a redução de capital social e a transferência de controle de

cotas de sociedades de responsabilidade limitada, e a cisão parcial ou a transformação de

entidade ou de sociedade comercial ou civil” (fls. 52). Diversamente, seria imprescindível a

obtenção de outro modelo de certidão, concernente ao “registro ou arquivamento, em órgão

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próprio, de ato relativo à baixa de firma individual, à cisão total ou extinção de entidade ou

de sociedade comercial ou civil”, como esclarecido pelo próprio INSS (fls. 186).

À evidência, todas essas circunstâncias, acima

discriminadas, já seriam suficientes, na espécie, para inviabilizar a prática dos atos

pretendidos pela Recorrente.

Mas não é só.

Não há como ignorar, na hipótese presente, que a

Recorrente pretende obter a averbação de atos de sua incorporação, como pessoa jurídica

constituída sob a forma de sociedade por quotas de responsabilidade limitada, por outra

pessoa jurídica, constituída sob a forma de associação civil. Ou seja: trata-se de operação

de incorporação realizada por uma associação civil relativamente a uma sociedade por

quotas de responsabilidade limitada, com extinção desta última e incorporação do patrimônio

respectivo por aquela primeira.

Contudo, tal não se apresenta possível, pesem embora os

argumentos expendidos pela Recorrente.

Isso porque, como sabido, as associações civis se formam

pela reunião de pessoas, físicas ou jurídicas, com objetivos não econômicos, inexistindo,

entre os associados, obrigações recíprocas (art. 53 do Código Civil). Já as sociedades –

sejam elas empresárias ou não - constituem-se de pessoas que somam esforços ou

recursos para atingir objetivos de natureza econômica, partilhando entre si os resultados

(art. 981 do Código Civil). Assim, enquanto nas sociedades se verificam o desempenho de

atividade econômica e a distribuição de lucros entre os sócios, nas associações tal não

ocorre, não se buscando fins lucrativos e nem havendo entre os associados partilha e

distribuição de eventual superávit.

Pertinente invocar, neste passo, a doutrina de Marcelo

Fortes Barbosa Filho sobre o tema:

“(...) tanto uma sociedade não-empresária quanto uma

sociedade empresária obtêm uma remuneração pelo implemento de sua atividade-fim e

buscam auferir lucros, a serem distribuídos, de conformidade com o disposto em seus atos

constitutivos, entre os sócios. A distribuição de lucros constitui o elemento distintivo entre a

sociedade e a associação, visto que, nesta última, mesmo obtida uma remuneração pelo

exercício da atividade-fim e auferido superávit, este não será compartilhado e distribuído

entre os associados, mas reinvestido. As associações empreendem atividades não

destinadas a proporcionar interesse econômico aos associados, buscando atingir finalidades

de ordem moral.” (In: PELUSO, Cezar (Coord.). Código Civil Comentado – doutrina e

jurisprudência. Barueri, SP: Manole, 2007, p. 823, comentário ao art. 982).

Como se pode perceber, está-se diante de pessoas

jurídicas de natureza completamente diversa, uma, a sociedade, voltada a atividade

eminentemente econômica, com distribuição de lucros entre os sócios, e a outra, a

associação, sem fins econômicos, de ordem eminentemente moral, que não partilha ou

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distribui eventual remuneração ou superávit entre os associados.

A hipótese ora em discussão, portanto, não cuida de

mutações realizadas em pessoas jurídicas de mesma natureza, como uma sociedade

incorporando outra sociedade, ou uma associação incorporando outra associação, o que se

admite, à luz do disposto no art. 1.116 do CC, relativamente às sociedades, e nos termos do

art. 2.033 do CC, segundo se pode deduzir, no tocante às associações. O que houve,

efetivamente, foi a incorporação de uma sociedade por uma associação, operação não

prevista expressamente na lei e que deve ser tida como incompatível com os regimes

jurídicos totalmente diversos de ambas.

Nesse sentido, pertinente o questionamento feito pelo

Oficial Registrador, secundado pelo Ministério Público em ambas as instâncias, quanto à

legalidade da operação de incorporação que se pretende ver averbada, matéria que se situa

dentro de sua atividade típica e precípua de qualificação registral, para admissão ou não do

ingresso do título apresentado no registro.

Dessa forma, não há como negar que, qualquer que seja o

ângulo pelo qual se pretenda analisar as questões suscitadas, deve-se ter como correta a

recusa do Oficial no tocante às averbações pretendidas pela Recorrente.

Nesses termos, o parecer que se submete à elevada

consideração de Vossa Excelência é no sentido de ser negado provimento ao recurso

interposto.

Sub censura.

São Paulo, 17 de agosto de 2007.

(a) ÁLVARO LUIZ VALERY MIRRAJuiz Auxiliar da Corregedoria

DECISÃO: Aprovo o parecer do MM. Juiz Auxiliar da Corregedoria e por seus fundamentos,

que adoto nego provimento ao recurso interposto. Publique-se. São Paulo, 28 de agosto de

2007. (a) GILBERTO PASSOS DE FREITAS, Corregedor Geral da Justiça

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Processo 0008637-14.2012.8.26.0100 - Pedido de Providências - Tabelionato de Protestos de Títulos - Oficial do 4º Registro de Títulos e Documentos da Comarca de São Paulo e outros - Registro civil das pessoas jurídicas - averbação de transformação de associação em sociedade anônima - ao tempo em que foi feita a averbação da transformação de uma associação em sociedade anônima, ainda não havia decisão correcional explícita sobre esse tema que, ademais, toca a causa da inscrição, e não a forma da inscrição ela mesma - assim, tratando-se (a) de inscrição regularmente feita no tempo em que era possível fazê-la regularmente e, também, (b) de discussão que vai à causa da inscrição, e não à inscrição mesma, não é caso de mandar desfazer, na esfera administrativa, a averbação em discussão: a providência (datum sed non concessum que seja cabível) depende das vias ordinárias - extinção e arquivamento do pedido de providências. CP 65 Vistos etc. 1. Por ordem da E. Corregedoria Geral da Justiça - CGJ (fls. 02) iniciaram-se estes autos de providências, em que se discute o registro (rectius, a averbação) 583501, de 3 de fevereiro de 2011, feito pelo 4º Ofício do Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoas Jurídicas de São Paulo (4º RTD) 1.1. A Procuradoria da Junta Comercial do Estado de São Paulo representara providências à CGJ (fls. 03), que noticiou haver impugnado, na Junta Comercial (Jucesp), o arquivamento de um ato de transformação da associação civil CTC Centro de Tecnologia Canavieira em sociedade anônima, transformação essa que, se fosse possível (no que a Procuradoria não acredita), implicaria duplo registro (um, no registro civil das pessoas jurídicas; outro, na Jucesp), e sobre tal situação necessitaria, a Procuradoria, de um esclarecimento que servisse de orientação e direcionamento, em particular porque o caso concreto não se coadunaria com a solução dada pelo Conselho Superior da Magistratura - CSM (Apelação Cível - Ap. Cív. 990.10.208.229-6) e pela própria CGJ (autos CG 226/2007). 1.2. A representação da Procuradoria da Jucesp (fls. 03) veio acompanhada de cópias de documentos (fls. 04-111). 2. O 4º RTD prestou informações (fls. 113-09), instruídas com cópias de documentos (fls. 116-126). 2.1. Segundo as informações, na Ap. Cív. CSM 990.10.208.229-6 e no Proc. CG 494/2006 ficou estabelecido que não se pode averbar a transformação de corporações (sociedades e associações) em fundações, e viceversa. Porém, a possibilidade de averbar a transformação de associação em sociedade era questão em aberto na época (= 3 de fevereiro de 2011) em que se fez a averbação 583501; porém, em 25 de julho de 2011, com o julgamento dado no Proc. CG 2011/80114, a CGJ fez patente que não se pode averbar transformação de associação em sociedade, e vice-versa. Com efeito, os associados não têm cotas do patrimônio das associações; na sociedade, pelo contrário, o sócio tem de possuir cota do capital social; assim, a transformação de associação em sociedade implica, por via oblíqua, a apropriação do patrimônio da associação pelos associados, que ex abrupto passam a ostentar a qualidade de sócio sem nunca haver integralizado nada: de fato, foge da sistemática legal que o sócio receba, graciosamente, da própria sociedade, cotas de patrimônio social, o que é exatamente o contrário da integralização exigida em lei. 3. O Ministério Público manifestou-se pela inviabilidade da averbação da transformação da associação em sociedade (fls. 132). 4. O CTC Centro de Tecnologia Canavieira manifestou-se, alegando que nos termos do Cód. Civil vigente - CC/2002, arts. 44 e 2.033, é possível a transformação de associação em sociedade (fls. 134- 148). 4.1. O CTC fez juntar documentos (fls. 149-204ª e 208-240). 5. Veio aos autos cópia da decisão proferida por esta 1ª Vara de Registros Públicos - 1ª VRP nos autos 100.10.021671-3, feito em que se decidiu que não é possível transformar sociedade em associação (fls. 246-248). 6. O 4º RTD voltou a manifestar-se (fls. 252-253). 6.1. Salientou o 4º RTD que, salvo melhor juízo, nestes autos não há pedido de anulação da averbação 583501, mas consulta sobre a orientação da CGJ na matéria; ademais, em caso de anulação dessa

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averbação, pode ser que daí não sucedesse ipso facto a anulação do registro correlativo, caso em que, paradoxalmente, haveria dois registros simultâneos e incompatíveis entre si. 7. A Procuradoria da Jucesp voltou a manifestar-se (fls. 270-271), e esclareceu que refoge às suas atribuições, mas que a questão deve ser resolvida na esfera correcional, sendo o caso por meio de provocação do Ministério Público. 7.1. A Procuradoria da Jucesp trouxe documentos (fls. 272-300). 8. O 4º RTD voltou a prestar informações (fls. 306-307). 8.1. O 4º RTD salientou que in casu não há nulidade extrínseca, i. e., nulidade de pleno direito da averbação, e sim discussão sobre a respectiva causa, o que tem de ser discutido fora da esfera administrativa. 9. A Procuradoria da Jucesp manifestou-se (fls. 326-329). 10. O Ministério Público deu parecer pela manutenção da averbação em discussão (fls. 331-332). 11. O CTC voltou a manifestar-se (fls. 335-342) e a trazer documentos (fls. 343-413). 12. A Procuradoria da Jucesp manifestou-se (fls. 427-431) e a trazer documentos (fls. 432-454) 13. O Ministério Público voltou a reiterar seu parecer pela manutenção da averbação e pela inexistência de providências correcionais que tomar (fls. 456-457). 14. O CTC manifestou-se novamente (fls. 459-461) e trouxe novas cópias (fls. 463-519). 15. O Ministério Público reiterou seu parecer (fls. 520). 16. É o relatório. Passo a fundamentar e a decidir. 17. Como de há muito haviam esclarecido o 4º RTD (fls. 306-307, especialmente) e o Ministério Público (fls. 331-332 e 456-457), somente a partir da decisão dada no Proc. CG 80114/2011, em 25 de julho de 2011, que ficou decidido que não era possível averbar transformação de associação em sociedade (e vice-versa); antes disso, só se havia decidido que não se podiam averbar (a) nem a transformação de associação em fundação (Proc. CG 494/2006, j. 24.07.06, DJ 28.08.06), (b) nem a incorporação de sociedade limitada por associação (Proc. CG 226/07, j. 17.08.07, DJ 24.10.07), (b) nem a transformação de sociedade anônima em fundação (CSM, Ap. Cív. 990.10.208.229-6, j. 31.08.10, DJ 24.11.10); logo, é excessivo dizer que por força de uma posterior decisão correcional esteja ipso facto desfeita uma inscrição (no caso, uma averbação do registro civil das pessoas jurídicas) que, ao menos em tese, era possível no tempo em que foi feita, especialmente quando se considera que a decisão superveniente não alcançou o modo de fazer a inscrição em si mesma, e sim a sua causa (i. e., a possibilidade legal ou não de se proceder a uma certa espécie de transformação de pessoa jurídica), matéria essa que, afastando-se já da esfera estritamente registrária (ou administrativa, ou correcional) só pode ser discutida nas vias ordinárias. 18. Do exposto, não havendo providências correcionais que tomar, declaro extintos estes autos de providências. Não há custas, despesas processuais nem honorários advocatícios. Desta sentença cabe recurso, dentro em quinze dias, com efeito suspensivo, para a E. Corregedoria Geral da Justiça. Oportunamente, arquivem-se estes autos. P. R. I. São Paulo, 12 de dezembro de 2013. JOSUÉ MODESTO PASSOS Juiz de Direito - ADV: JOSE PROCOPIO DA SILVA DE SOUZA DIAS (OAB 146427/SP), FLAVIO PEREIRA LIMA (OAB 120111/SP), REGINA MARIA RODRIGUES DA SILVA JACOVAZ (OAB 91362/SP) (D.J.E. de 29.01.2014 - SP)

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Registro civil das pessoas jurídicas. Empresa individual de responsabilidade limitada - EIRELI. Organização unipessoal. empresário individual. Autocontrato.

REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS - Empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) - Pessoa jurídica de direito privado (artigo 44, VI, do CC) - Organização jurídica unipessoal da exploração empresarial - Plena subjetividade jurídica - Favor ao desenvolvimento da atividade econômica exercida pelo empresário individual - Vedada sua instrumentalização para recompor a pluralidade de sócios de sociedade cujo remanescente é seu titular - Ofensa a ratio legis (artigos 980-A, §§ 2.º e 3.º, e 1.033, IV e parágrafo único, do CC) - Alteração contratual inválida - Autocontrato ilegal - Colisão de interesses empresariais - Averbação - Desqualificação registral confirmada - Recurso provido. [v. Embargos opostos a esta decisão aqui, NE.]

CGJSP - PROCESSO: 111.946/2013 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 30/07/2013 DATA DJ: 09/08/2013 Relator: José Renato Nalini íntegra:

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULOCORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇAProc. n.º 2013/00111946 - fls. 1 (261/2013-E)

REGISTRO CIVIL DE PESSOAS JURÍDICAS - Empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) - Pessoa jurídica de direito privado (artigo 44, VI, do CC) - Organização jurídica unipessoal da exploração empresarial - Plena subjetividade jurídica - Favor ao desenvolvimento da atividade econômica exercida pelo empresário individual - Vedada sua instrumentalização para recompor a pluralidade de sócios de sociedade cujo remanescente é seu titular - Ofensa a ratio legis (artigos 980-A, §§ 2.º e 3.º, e 1.033, IV e parágrafo único, do CC) - Alteração contratual inválida - Autocontrato ilegal - Colisão de interesses empresariais - Averbação - Desqualificação registral confirmada - Recurso provido.

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça,

O Ministério Público do Estado de São Paulo recorre contra a sentença que, ao afastar a pertinência da exigência formulada pelo 2.º Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Capital[1], determinou a averbação da 11.ª alteração contratual da interessada Paulistana Administração e Participações Ltda.[2]

O recorrente argumenta que a recomposição da pluralidade de sócios perseguida pela interessada não pode ser obtida mediante o ingresso de empresa individual de responsabilidade limitada - Busch Empreendimentos e Participações EIRELI - cujo titular é o sócio remanescente dela, Paulistana Administração e Participações Ltda., e invoca os princípios da transparência e da segurança jurídica.[3]

Recebido o recurso[4], os autos, com a resposta apresentada pela interessada[5], foram enviados ao Conselho Superior da Magistratura[6] e a Procuradoria Geral de Justiça, depois de ressaltar a competência da Corregedoria Geral da Justiça para analisá-lo, propôs o provimento do recurso[7].

Com o reconhecimento de que o juízo negativo de qualificação registral recaiu sobre título passível de averbação, a incompetência do Conselho Superior da Magistratura foi declarada e os autos encaminhados à Corregedoria Geral da Justiça, órgão competente para apreciá-lo.[8]

É o relatório. OPINO.

A interessada, sociedade simples por quotas de responsabilidade limitada (artigo 983, caput, do CC[9]), subsiste com um sócio, José Carlos Macedo Soares Busch, desde a 10.ª alteração do seu contrato social, motivada pelo falecimento do outro sócio, José Gustavo Macedo Soares.[10]

Com o propósito de recompor a pluralidade de sócios, e impedir sua dissolução, porque a unipessoalidade não pode perdurar por mais de cento e oitenta dias (artigo 1.033, IV, do CC[11]), a interessada apresentou, para averbação (artigo 45, caput, e parágrafo único do artigo 999, ambos do CC[12]), alteração contratual prevendo, como outro sócio, a Busch Empreendimentos e Participações EIRELI, a quem o remanescente cedeu 96 das 9.600 quotas integrantes do capital social.[13]

No entanto, o sócio remanescente, José Carlos Macedo Soares Busch, é o titular da EIRELI, e a questão posta é se, nessas circunstâncias, a empresa individual de responsabilidade limitada pode servir ao restabelecimento da pluralidade de sócios da interessada.

Com o advento da Lei n.º 12.441/2011, as empresas individuais de responsabilidade limitada, constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social (artigo 980-A, caput, do CC[14]), foi erigida à qualidade de pessoa jurídica de direito privado (artigo 44, VI, do CC[15]).

Introduziu-se na ordem jurídica pátria um novo tipo de pessoa jurídica; personificou-se, à vista da realidade social, não um agrupamento de pessoas naturais que congregam esforços e haveres direcionados à realização de fins comuns, tampouco um patrimônio vinculado a fim específico, não econômico, típico das fundações, mas a empresa[16], por iniciativa e vontade de uma só pessoa, seu titular, para fins de limitação de responsabilidade, e com constituição de patrimônio especial.

Malgrado a perplexidade que possa provocar, dada a confusão entre sujeito de direito e objeto, superada por decisão do legislador voltada à realização de uma política jurídica e o alcance de fins social e economicamente úteis, tal como, antes, ocorreu com as fundações[17], conferiu-se, pontual e originalmente, por ficção de Direito, mediante o processo técnico da ficção[18], capacidade jurídica à empresa, atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços(artigo 966, caput, do CC[19]).

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Atribuiu-se personalidade jurídica à EIRELI, com segregação do patrimônio da pessoa que a constitui, de forma a evitar confusão patrimonial, para favorecer a empresacomo atividade econômica desenvolvida pelo empresário individual, limitar o risco do empreendimento e estimular o desenvolvimento econômico.

Reflexamente, a inovação inibe as sociedades supostas, compostas por homens de palha para atender a pluralidade de sócios; viabiliza a regularização da situação de inúmeros empresários que atuam à margem do sistema legal, permite o cadastramento fiscal[20]; beneficia os consumidores e agrega valores sociais (empregos, impostos, facilitação de acesso a bens e serviços, entre outros)[21].

Marcelo Fortes Barbosa Filho observa, com justeza, a finalidade principal da criação legislativa:

No âmbito do direito de empresa, a mais importante alteração sofrida pelo Código Civil foi trazida pela Lei n. 12.441, de 11.07.2011, e corresponde à introdução da empresa individual de responsabilidade limitada. Permite-se um desdobramento da personalidade jurídica do indivíduo (pessoa física) ou do ente imaterial (pessoa jurídica) para que uma segregação patrimonial seja realizada. Uma parcela do patrimônio da pessoa física ou jurídica é separada, com o fim precípuo de limitar o risco econômico-financeiro de um empreendimento. Não surge uma sociedade unipessoal ou uma nova espécie de empresário individual. Não surge uma nova pessoa,criando-se, isso sim, limites para os riscos assumidos a partir do patrimônio separado.[22]

No entanto, a novidade não ficou na separação patrimonial, com a formação de duas massas patrimoniais distintas, uma delas separada do patrimônio geral, individualizada e especificamente afeta à atividade empresarial, importante, mas insuficiente para os fins projetados.

Por escolha do legislador, preocupado também com a coerência sistemática, criou-se, mediante construção técnica, uma nova pessoa jurídica, outro centro de imputação de direitos e deveres, com existência independente e autonomia patrimonial, denominado empresa individual de responsabilidade limitada.

Nessa linha, o Enunciado n.º 469 aprovado na V Jornada de Direito Civil promovida pelo Conselho da Justiça Federal (CJF) por meio de seu Centro de Estudos Judiciários (CEJ):

469 - Arts. 44 e 980-A: A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) não é sociedade, mas novo ente jurídico personificado.

O enunciado n.º 3, aprovado na I Jornada de Direito Comercial, também realizada pelo CEJ do CJF, não destoa:

3. A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI não é sociedade unipessoal, mas um novo ente, distinto da pessoa do empresário e da sociedade empresária.

Diante do sistema jurídico pátrio, nitidamente contratualista em matéria societária, no qual a sociedade unipessoal é exceção[23] e a unipessoalidade superveniente é temporária[24], resolveu-se por nova fórmula, outra organização jurídica unipessoal da exploração empresarial, alternativa à sociedade, à forma societária, mas dotada de plena subjetividade jurídica.

Optou-se, para instrumentalizar a limitação de responsabilidade do empresário individual, pela solução personificada: a inovação normativa não se restringiu, insista-se, à separação patrimonial, do patrimônio especial afeto a uma atividade, a um objetivo, a uma finalidade econômica, à satisfação de necessidades determinadas.

Tal como a União Europeia, que igualmente aderiu à solução personificada, porém sob a forma societária (sociedade unipessoal) [25], o legislador nacional deu prevalência às ponderações de ordem prática - guiadas por fatores econômicos, orientadas no sentido de tutelar a continuidade e preservação da empresa, proteger o patrimônio do empresário individual, garantir o acesso ao crédito, impulsionar o empreendedorismo e estimular o desenvolvimento -, em detrimento da coerência lógica.

A respeito do assunto, da utilidade jurídico-econômica da limitação de responsabilidade do empresário individual, das formas por meio das quais é instrumentalizada no direito comparado e da indispensabilidade "de uma forma jurídica que permita intermediar a relação entre empresário e empresa", principalmente em razão das peculiaridades do fenômeno empresarial, os ensinamentos de Calixto Salomão Filho são valiosíssimos.[26]

Embora prefira a forma organizativa societária, adotada pela Comunidade Europeia, o renomado professor das Arcadas respaldou, em certa medida, e previamente, com seu texto anterior à Lei n.º 12.441/2011, a solução incorporada à ordem jurídica nacional: 

Soluções parciais como o patrimônio separado não parecem capazes de resolver o problema da proteção dos credores, nem tampouco de fornecer um meio de incentivo à atividade do pequeno comerciante individual. Caso se queira insistir na forma não societária, a solução mais aceitável e realista parece ser a de uma organização tão vizinha à societária e dotada de uma capacidade jurídica tão ampla, que chamá-la ou não de sociedade torna-se uma questão terminológica.[27] (grifei)

Realmente, a instituição da empresa individual de responsabilidade limitada como pessoa jurídica, submetida, no que couber, às "regras previstas para as sociedades limitadas" (§ 6.º do artigo 980-A do CC[28]), reflete claramente essa opção.

A solução idealizada foi aplaudida por Modesto Carvalhosa, ao prefaciar a obra de Paulo Leonardo Vilela Cardoso, com apontamentos elucidativos:

... a empresa individual surge no Brasil para atender necessidades de caráter prático e, em particular para satisfazer a pretensão legítima dos empresários em obter o benefício da limitação de responsabilidade no exercício da atividade.

Preferiu-se aqui denominá-la "empresa individual", de modo a evitar incoerências lógico-lexicais decorrentes do emprego do termo "sociedade" ao referir-se a uma pessoa jurídica formada por um único participante, como ocorre na Comunidade Europeia.

Deve-se ter em mente que, diferentemente das sociedades, não se trata de organizar uma pluralidade de pessoas para a consecução de um fim comum, mas de criar uma estrutura formal voltada para a exploração da empresa por um único indivíduo, que permita a limitação de sua responsabilidade e consecução de seu objeto.

A empresa individual não deve ser entendida como uma manifestação patológica ou atípica, de modo a ser admitida ou tolerada somente para satisfazer situações específicas. Pelo contrário, necessita ser compreendida como uma situação ordinária, a exigir apenas o emprego de determinadas soluções no que se refere ao seu regime jurídico, que se justificam precisamente pela presença de um único participante, sem alterar as características essenciais da atividade empresária desenvolvida.[29]

Dentro desse contexto, a EIRELI poderá, em nome próprio, adquirir direitos e contrair obrigações e, inclusive, "ter participação no capital de outras sociedades".[30]

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Entretanto, isso não significa que possa ser utilizada, instrumentalizada, para, em direta afronta a ratio legis, recompor a pluralidade de sócios de sociedade da qual seu titular é o remanescente.

A transformação da sociedade em EIRELI é uma alternativa para impedir a dissolução decorrente da unipessoalidade superveniente (§ 3.º do artigo 980-A  e 1.033, IV e parágrafo único, do CC[31]), não uma saída - planejada, in concreto, por José Carlos Macedo Soares Busch -, para restabelecer a pluralidade de sócios e, a piorar, driblar impedimento legal e viabilizar a entrada pela porta dos fundos de situação cujo acesso, pela da frente, foi vedado.

Tolerada a operação planeada pela interessada, no seu interesse empresarial e no do seu sócio remanescente, titular da EIRELI, abre-se possibilidade de contornar, por via oblíqua, indireta, sob a aparência de sociedade, a proibição de constituição de mais de uma empresa individual de responsabilidade limitada pela mesma pessoa natural (§ 2.º do artigo 980-A do CC[32]).

Fere as sensibilidades éticas permitir à EIRELI servir de impulso e ferramenta para a formação sociedades fictícias: é contrário à teleologia legal admiti-la como trampolim para a perpetuação de situações fáticas indesejadas; o efeito colateral visado, antecipou-se, foi outro, o desencorajamento das sociedades de fachada, porque não mais necessárias para fins de limitação da responsabilidade.

A situação ainda expressa uma autocontratação inválida: a alteração contratual cuja averbação é discutida, projetada por José Carlos Macedo Soares Busch, que intervém na operação com dupla qualidade - na de sócio e administrador da interessada e na de titular e administrador da Busch Empreendimentos e Participações EIRELI -, concentrando em si centros de interesses diversos e dispondo de dois patrimônios distintos, evidencia típica hipótese de contrato consigo mesmo.

A propósito, os esclarecimentos de Gustavo Tepedino são oportunos:

O Código de 2002 traz previsão expressa da autocontratação inspirado nos diplomas italiano e português. O contrato consigo mesmo também denominado autocontrato, decorre do fenômeno da representação, e pode se manifestar por duas hipóteses distintas. Na primeira, aquele que intervém em duplo papel é, ao mesmo tempo, uma das partes contratantes, vale dizer, o representante, em vez de estipular o contrato com terceiro, celebra consigo próprio, reunindo, em sua pessoa, centro de interesses diversos; na segunda, o detentor das duas situações jurídicas representa ao menos duas outras pessoas por força de relações jurídicas representativas diversas, configurando-se hipótese de dupla representação, isto é, vontades pertencentes a titulares distintos são expressas por um único emitente. Nesta última hipótese, o representante não figura no negócio jurídico representativo; não adquire direitos nem obrigações, os quais são reservados, exclusivamente, aos representados.[33] (grifei)

Além de inexistir expressa autorização para a engenhosa negociação, ofensiva ao espírito da Lei n.º 12.441/2011, resta caracterizada a concentração de interesses empresariais antagônicos em uma mesma pessoa: trata-se de causa objetiva de anulabilidade.[34] O conflito de interesses é latente; a operação objetiva atender apenas aos interesses empresariais da Paulistana Administração e Participações Ltda.; os da EIRELI, instrumento a serviço daquela, são desconsiderados.

Debaixo dessa ótica, e embora não proscrito o autocontrato (artigo 117, caput, do CC[35]), o negócio jurídico sob análise é inválido, porque - inócua, pela peculiaridade da situação, eventual anuência do representado, a EIRELI que está sob a titularidade do sócio da recorrida, e ausente expressa permissão legal -, a inocorrência de colisão de interesses em potência era imprescindível para aceitação do contrato consigo mesmo.[36]

Ademais, para resolução do dissenso, pouco importa que alterações contratuais semelhantes, também envolvendo o sócio remanescente da interessada, José Carlos Macedo Soares Busch, foram aceitas pela Junta Comercial do Estado de São Paulo - JUCESP[37], contemporaneamente à constituição da EIRELI[38]: aliás, evidenciam o mau uso, a instrumentação da Busch Empreendimentos e Participações EIRELI.

Enfim, a desqualificação registral se mostrou acertada; justifica-se, nessa trilha, a reforma da r. sentença impugnada, nada obstante seus judiciosos fundamentos.

Pelo exposto, o parecer que respeitosamente submeto à apreciação de Vossa Excelência propõe o provimento do recurso administrativo, com reconhecimento do acerto do juízo negativo de qualificação registral e, para conhecimento, o envio de cópias do parecer e da r. decisão que eventualmente aprová-lo à JUCESP.

Sub censura.

São Paulo, 25 de julho de 2013.

Luciano Gonçalves Paes Leme

Juiz Assessor da Corregedoria

Aprovo o parecer do MM. Juiz Assessor da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, dou provimento ao recurso administrativo do Ministério Público do Estado de São Paulo, com reconhecimento do acerto da desqualificação registral e, para ciência, o encaminhamento de cópias do parecer e desta decisão à JUCESP.

Publique-se, inclusive, pela relevância do tema discutido, o parecer.

São Paulo, 30 de julho 2013

JOSÉ RENATO NALINI

Corregedor Geral da Justiça

Corregedor Geral da Justiça

[1]Fls. 77.

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[2]Fls. 89/92.

[3]Fls. 93/99.

[4]Fls. 101

[5]Fls. 104/113.

[6]Fls. 115.

[7]Fls. 119/121.

[8]Fls. 122.

[9]Artigo 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias. (grifei)

[10]Fls. 7/16.

[11]Artigo 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: (...)

IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias; (...). (grifei)

[12]Artigo 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. (grifei)

Artigo 999. (...)

Parágrafo único. Qualquer modificação do contrato social será averbada, cumprindo-se as formalidades previstas no artigo antecedente. (grifei)

[13]Fls. 17/25, 26/34 e 35/43.

[14]Artigo 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País.

[15]Artigo 44. São pessoas jurídicas de direito privado: (...)

VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. (grifei)

[16]Rubens Requião. Curso de Direito Comercial. 32.ª ed. Atualizada por Rubens Edmundo Requião. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 114. v. 1; Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery. Código Civil comentado. 10.ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 307, nota 18, e p. 1.014, nota 7.

[17]A propósito de controvérsia semelhante envolvendo as fundações, conferir as notas oportunas do mestre Silvio Rodrigues (Direito Civil: parte geral. 25.ª ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 76-80. v. 1).

[18]Cf. Orlando Gomes. Introdução ao Direito Civil. 19.ª ed. Atualizada por Edvaldo Brito e Reginalda Paranhos de Brito. Rio de Janeiro: Forense, 2008. p. 167-171.

[19]Artigo 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

[20]Rubens Requião, op. cit., 114.

[21]Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, op. cit., p. 1.013.

[22]Código Civil comentado: doutrina e jurisprudência. 6.ª ed. Ministro Cezar Peluso (coord.). São Paulo: Manole, 2012. p. 991.

[23]Casos da subsidiária integral, prevista na Lei das Sociedades por Ações (artigo 251 da Lei n.º 6.404/1976), que tem como único acionista uma sociedade brasileira, e das empresas públicas.

[24]Situações positivadas nos artigos 1.033, IV, do Código Civil, e 206, I, d, da Lei das Sociedade por Ações.

[25]Diretiva 2009/102/CE do Parlamento Europeu e do Conselho da União Europeia, de 16 de setembro de 2009, em matéria de direito das sociedades relativa às sociedades de responsabilidade limitada com um único sócio.

[26]O novo direito societário. 4.ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2011. p. 202-231.

[27]Op. cit., p. 226-227.

[28]Artigo 980-A. (...)

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§ 6º Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas.

[29]O empresário de responsabilidade limitada. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 13-14.

[30]Rubens Requião, op. cit., p. 117.

[31]Artigo 980-A. (...)

§ 3º A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio,independentemente das razões que motivaram tal concentração.

Artigo 1.033. (...)

Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio remanescente, inclusive na hipótese de concentração de todas as cotas da sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro Público de Empresas Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empresário individual ou para empresa individual de responsabilidade limitada, observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código.

[32]Artigo 980-A. (...)

§ 2º A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade. (grifei)

[33]Gustavo Tepedino, op. cit., p. 140-141.

[34]A técnica da representação e os novos princípios contratuais. In: Temas de Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2009. p. 125-144. t. III. p. 138-139.

[35]Artigo 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo.

[36]Mairam Gonçalves Maia Júnior. A representação no negócio jurídico. 2.ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. P. 189-195.

[37]Fls. 48/57, 58/67 e 68/76.

[38]Fls. 44/47. 

 

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Registro Civil de Pessoa Jurídica. Empresa individual de responsabilidade limitada - EIRELI.

EMENTA NÃO OFICIAL. Empresa individual de responsabilidade limitada - EIRELI - Pessoa Jurídica de Direito Privado, com personalidade jurídica e patrimônio próprios pode participar como sócia em outra sociedade.

1VRPSP - PROCESSO: 0046207-34.2012.8.26.0100 1VRPSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 24/01/2013 DATA DJ: 18/02/2013 Relator: Marcelo Martins Berthe íntegra:

 

Processo 0046207-34.2012.8.26.0100 - Dúvida - Tabelionato de Protestos de Títulos - Paulistana Administração e Participações Ltda

Vistos.

Tratam os autos de dúvida inversa proposta por Paulistana Administração e Participações Ltda. perante o 2º Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Capital, devido a nota devolutiva que recusou o registro de ato societário que inclui como sócia na empresa suscitante de propriedade de José Carlos Macedo Soares Busch, outra empresa também de sua propriedade, por ele criada, a empresa individual Busch Empreendimentos e Participações EIRELI, para assim recompor a pluralidade de sócios perdida com o falecimento de seu pai que por herança a ele transmitiu as quotas da empresa suscitante pertencentes ao extinto.

Ouvido o Oficial Registrador, este informou que no seu entendimento, a pluralidade de sócios exigida pela lei nos artigos 981 e 1.033, IV do Código Civil não está atendida, uma vez que o único proprietário da Empresa Paulistana Administração e Participações Ltda. é José Carlos Macedo Soares Busch, o mesmo proprietário da EIRELI ingressante como sócia na empresa Paulistana Administração e Participações Ltda. (fls. 79/81).

O Ministério Público opinou pela improcedência do pedido, mantendo-se o óbice imposto pelo Oficial Registrador (fls. 83/85).

É o relatório.

Decido.

Com o advento da Lei 12.441/2011 e a criação da empresa individual de responsabilidade limitada - EIRELI, abriu-se caminho para a existência de empresa individual de responsabilidade limitada, como pessoa jurídica de direito privado, tal como ficou expressamente estatuído no artigo 44, VI, do Código Civil, acrescentado pelo referido diploma legal.

A EIRELI tem autorização legislativa para que seja constituída por um único titular, dispensada a pluralidade de sócios, cumprindo que o capital social seja totalmente integralizado pelo titular, ficando claro que haverá separação patrimonial entre aquele do titular e o da empresa individual de responsabilidade limitada.

Fica sujeita a EIRELI às regras aplicáveis às sociedades limitadas, no que couber, e sujeita-se à desconsideração da personalidade jurídica, nos termos da lei, assim como expressamente ficou assentado nas razões do veto imposto ao parágrafo 4º do artigo 980 A, acrescentado pela Lei 12.441/2011 ao Código Civil.

Nessa ordem de idéias é a EIRELI Pessoa Jurídica de Direito Privado, com personalidade jurídica e patrimônio próprios, podendo adquirir bens e transferi-los, não se encontrando, inclusive, qualquer proibição para que participe como sócia em outra sociedade, assim como o poderia ser uma sociedade por cotas de responsabilidade limitada, cujas disposições, ex vi legis são aplicáveis às EIRELI, por imperativo do artigo 980, § 6º, acrescentado pela Lei Federal 12.441/2011 ao Código Civil.

Com patrimônio próprio separado de seu titular, reconhecida pessoa jurídica de direito privado com autonomia e personalidade jurídica próprias, sujeita à desconsideração da personalidade jurídica apenas na forma da lei, tem-se que nada está a obstar o ingresso dessa empresa individual de responsabilidade limitada como sócia, ainda, que o único sócio remanescente dessa sociedade seja o mesmo titular da empresa individual de responsabilidade limitada.

O que importa para a pluralidade de sócios é a existência de mais de uma pessoa, com patrimônios e personalidades jurídicas próprios. E nesse caso não se confundem a pessoa jurídica da empresa individual, com a pessoa de seu titular pessoa natural com patrimônio diverso e personalidade jurídica distinta.

Não há proibição legal para isso e a própria existência jurídica da figura da Eireli no ordenamento jurídico, torna forçoso reconhecer a possibilidade de uma pessoa jurídica ter apenas um titular e com ele não se confunda, tendo patrimônio e personalidade jurídica próprios.

Possível até supor incompatibilidade entre os interesses do titular da Eireli e da própria empresa individual de responsabilidade limitada, porquanto os interesses empresariais podem, em muitos casos, tomar contornos que não se compatibilizariam com o interesse particular do seu titular, fato que haverá de ser oportunamente solucionado pela forma e meios próprios, se tal viesse a ocorrer.

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A verdade é que criada a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada ela ganha autonomia em relação ao seu titular, respondendo pessoalmente com seu patrimônio por suas atividades, sem que se confundam patrimônios e interesses.

No passado já se criara também entre as sociedades por ações a subsidiária integral, que também trouxe alguma perplexidade inicial, mas que é pessoa jurídica de direito privado com autonomia, patrimônio e personalidade jurídica próprios.

Não há, pois, como falar que uma sociedade não pudesse receber uma Eireli como sócia, apenas porque o único sócio, pessoa natural, e o titular da Eireli, sejam os mesmos. Haverá duas pessoas diversas, e que não podem ser confundidas.

A pluralidade de sócios deve ter sua existência considerada a partir da existência de pessoas diversas, pouco dizendo que uma das pessoas jurídicas de direito privado tenha como titular a mesma pessoa natural que integra a sociedade, o que é irrelevante para a regular existência da sociedade com pluralidade de pessoas.

Assim afasto o óbice posto para a averbação da alteração contratual que pretende o ingresso da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada EIRELI como sócia da requerente.

Encaminhem-se estes autos ao Oficial Registrador competente para que dê cumprimento à Portaria Conjunta nº 01/2008 das Varas de Registros Públicos da Capital de São Paulo.

Nos termos da citada portaria esta sentença servirá de título para o registro, não sendo necessária a expedição de novos documentos.

Oportunamente, ao arquivo.

P.R.I.

São Paulo, 24 de janeiro de 2013.

Dr. Marcelo Martins Berthe - Juiz de Direito - CP 336

ADV: LUIZ ANTONIO GOMIERO JUNIOR (OAB 154733/SP), FERNANDO RUDGE LEITE NETO (OAB 84786/SP), ANA LIGIA GOMIERO-GUTHRIE (OAB 228303/SP), JULIANA DE LIRA INABA SCARPELINI (OAB 288989/SP) (D.J.E. de 18.02.2013 - SP)

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Registro Civil de Pessoa Jurídica. Distrato social - averbação. CND's - inexigibilidade.

Registro civil de pessoas jurídicas - pedido de providências - a averbação de modificações em estatutos e contratos sociais não mais depende de certidões negativas concernentes a tributos federais (Receita Federal), a débitos previdenciários (INSS) e ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) - determinação para averbação de dissolução decretada em juízo.

1VRPSP - PROCESSO: 0033708-81.2013.8.26.0100 1VRPSP - PROCESSOLOCALIDADE: São Paulo DATA JULGAMENTO: 23/07/2013 DATA DJ: 01/08/2013 Relator: Josué Modesto Passos íntegra:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

COMARCA DE SÃO PAULO

FORO CENTRAL CÍVEL

1ª VARA DE REGISTROS PÚBLICOS

PRAÇA JOÃO MENDES S/Nº, São Paulo - SP - CEP 01501-900

0033708-81.2013.8.26.0100

SENTENÇA

Processo nº: 0033708-81.2013.8.26.0100 - Pedido de Providências

Requerente: 2ª Vara Cível do Foro Regional VII - Itaquera

CONCLUSÃO

Em 2 de julho de 2013, faço estes autos conclusos a(o) MM(A). Juiz(a) de Direito Josué Modesto Passos, da 1ª Vara de Registros Públicos. Eu, ________, Patrícia Esmelri Alves de Almeida, Escrevente, digitei.

Registro civil de pessoas jurídicas - pedido de providências - a averbação de modificações em estatutos e contratos sociais não mais depende de certidões negativas concernentes a tributos federais (Receita Federal), a débitos previdenciários (INSS) e ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) - determinação para averbação de dissolução decretada em juízo.

CP 168

Vistos etc.

1. Por representação (fls. 02) da 2ª Vara Cível do Foro Regional VII Itaquera (lá, autos 0314319-84.1997.8.26.0007) foram instaurados estes autos de providências, para que se desse cumprimento, junto ao 3º Ofício do Registro de Títulos e Documentos e Civil da Pessoa Jurídica de São Paulo (3º RTD), à decisão judicial (fls. 03-17) que decretara a dissolução da Associação Comunitária da 3ª Divisão e Adjacências, também denominada Centro Comunitário da 3ª Divisão, cumprimento esse que até agora não fora possível, porque se estavam exigindo certidões de regularidade fiscal e previdenciária (fls. 20-21).

1.1. A representação veio instruída por documentos (fls. 03-27).

2. O 3º RTD prestou informações (fls. 29-32).

2.1. Segundo as informações, em outubro de 2012 não se praticara a averbação da dissolução da associação, porque, segundo o entendimento então consolidado nesta 1ª Vara de Registros Públicos (1ª VRP), era necessário exigir certidões fiscais e previdenciárias mesmo nos casos em que a dissolução de associação fosse decretada pelo Poder Judiciário; contudo, a E. Corregedoria Geral da Justiça (CGJ) mudou essa orientação a partir do parecer 440/12-E,

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segundo o qual a exigência posta na Lei n. 8.212, de 24 de julho de 1991, art. 47, I, d, não incide para averbações de alterações estatutárias e contratuais; portanto, hoje é possível a averbação determinada pela 2ª Vara Cível do Foro Regional VII.

3. O Ministério Público opinou por que se fizesse a averbação (fls. 34).

4. É o relatório. Passo a fundamentar e a decidir.

5. Como fez notar o 3º RTD, a exigência de certidões negativas de débitos federais (Receita Federal, Instituto Nacional do Seguro Social e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) não mais se sustenta, uma vez que, por conta de inconstitucionalidade reconhecida em processo contencioso, a CGJ acabou por declarar, também na esfera administrativa, que esses documentos não são necessários para a averbação de modificações em estatutos e contratos sociais ou associativos. Decidiu a CGJ:

"Como o caso em exame se amolda aos julgados acima, a exigência feita pelo Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica deve ser afastada porque condiciona a prática de atos da vida civil da pessoa jurídica à prévia quitação de débitos tributários. Observe-se que, embora a via administrativa não possa declarar inconstitucionalidade de lei, cabe-lhe aplicar entendimento pacificado por quem, por força Constitucional, detenha essa competência. Por todas essas razões é que, respeitosamente, sugere-se a mudança do atual entendimento desta Corregedoria Geral, permitindo-se, daqui para diante, que as averbações das alterações estatutárias e contratuais ocorram independentemente do atendimento do art. 47,1, "d", da Lei nº 8.212/91, regra que vigerá, também, para as Serventias de outras naturezas." (Proc. CGJ 2012/63829 parecer 440/12-E, j. 09.11.12).

Portanto, a averbação da dissolução tem de ser cumprida, tal como prevista na decisão judicial, independentemente das certidões referidas.

6. Do exposto, determino ao 3º Ofício do Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Capital que proceda à averbação da dissolução da Associação Comunitária da 3ª Divisão e Adjacências, também denominada Centro Comunitário da 3ª Divisão,   como determinada a fls. 03-17.

Não há custas, despesas processuais ou honorários advocatícios.

Desta sentença cabe recurso administrativo, com efeito suspensivo, para a E. Corregedoria Geral da Justiça, no prazo de quinze dias (Cód. Judiciário de São Paulo, art. 246).

Esta sentença vale como mandado (Portaria Conjunta 01/08).

Oportunamente, arquivem-se os autos com as cautelas legais.

P. R. I.

São Paulo, 23 de julho de 2013.

Josué Modesto Passos

Juiz de Direito

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Registro Civil de Pessoa Jurídica. Averbação. Alteração de contrato social. Prazos.

REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Averbação de instrumento de alteração contratual recusada - Título firmado no prazo de 180 dias fixado pelo artigo 1.033, IV, CC, mas prenotado dias depois de vencido aquele - Retardo na prenotação, inferior a 30 dias, que não caracteriza a hipótese de dissolução da sociedade prevista pela legislação civil - Averbação possível - Recurso provido.

CGJSP - PROCESSO: 85331/2011 CGJSP - PROCESSOLOCALIDADE: Santos DATA JULGAMENTO: 18/10/2011 Relator: Maurício Vidigal íntegra:

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA

Proc. CG nº 2011/85331

(361/11-E)

RECURSO ADMINISTRATIVO

Recorrente: L.C. Dedetizadora e Desentupidora Ltda.

Ref.: Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Santos

REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Averbação de instrumento de alteração contratual recusada - Título firmado no prazo de 180 dias fixado pelo artigo 1.033, IV, CC, mas prenotado dias depois de vencido aquele - Retardo na prenotação, inferior a 30 dias, que não caracteriza a hipótese de dissolução da sociedade prevista pela legislação civil - Averbação possível - Recurso provido.

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça:

Trata-se de recurso administrativo interposto por L.C Dedetizadora e Desentupidora Ltda, contra r. decisão do MM. Juiz Corregedor Permanente do Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Santos, que manteve a recusa em averbar alteração do contrato social da empresa, em que houve ingresso de novo sócio, por considerar ultrapassado o prazo para tanto fixado pelo artigo 1.033, IV, do Código Civil.

A recorrente alegou, em suma, que a sociedade em exame não pode ser considerada extinta, visto que o prazo de 180 dias, definido pelo artigo 1.033, IV, do Código Civil, foi ultrapassado em apenas 16 dias. Invocou jurisprudência em que se afirmou não tratar de prazo peremptório.

O Ministério Público opinou pelo provimento do recurso.

É o relatório.

Opino.

Em primeiro lugar, ressalte-se que, embora a recorrente tenha intitulado seu recurso como apelação, trata-se na verdade de recurso administrativo, como tal devendo ser apreciado, nos termos do artigo 246 do Código Judiciário do Estado de São Paulo, já que o inconformismo foi manifestado contra r. decisão proferida no âmbito administrativo pelo MM. Juiz Corregedor Permanente da Serventia Extrajudicial em exame.

O presente recurso comporta provimento.

Embora o artigo 1.033, IV, do Código Civil, estabeleça que "Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de 180 (cento e oitenta) dias", a hipótese dos autos apresenta peculiaridades que recomendam tratamento excepcional.

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A alteração contratual de fls. 40/45, em que o sócio Clayton retirou-se da pessoa jurídica "L.C. Dedetizadora e Desentupidora Ltda.", a qual, em razão de referido fato, passou a contar, exclusivamente, com o sócio Luís Carlos, foi firmada em 14/07/2010, prenotada em 04/08/2010 e averbada em 09/08/2010.

O ingresso de novo sócio na sociedade deveria ter sido averbado até o dia 08/02/2011, tendo em conta o prazo de 180 dias fixado pelo Código Civil para a regularização do quadro societário, a contar da data da averbação anterior.

A alteração contratual de fls. 13/18, em que a sócia Elaine Cristina ingressou na pessoa jurídica em exame, foi firmada em 01/02/2011, mas só foi prenotada em 03/03/2011 (fls. 09).

O prazo para a prenotação do título e subsequente averbação da alteração contratual foi, em tese, ultrapassado. Todavia, considerando que referido instrumento foi firmado em 01/02/2011, isto é, dentro do prazo de 180 dias fixado pelo artigo 1.033, IV, do Código Civil, e foi prenotado menos de 30 dias depois da data final estabelecida pela legislação para a regularização do quadro societário da pessoa jurídica em comento, é possível admitir a averbação do título, entendendo-se inocorrente, "in casu", a dissolução da sociedade, já que observado o prazo fixado por lei quando da elaboração do instrumento de alteração contratual, sem embargo de ter havido certa demora na sua apresentação para registro, demora esta, contudo, que, por ser inferior a 30 dias, pode, excepcionalmente, ser considerada irrelevante para o deslinde da controvérsia.

Ante o exposto, o parecer que respeitosamente submeto ao elevado critério de Vossa Excelência é no sentido de que a apelação interposta pela recorrente seja recebida como recurso administrativo, na forma do artigo 246 do Código Judiciário do Estado de São Paulo, e que a ele seja dado provimento, para o fim de ser permitida a averbação pleiteada.

Sub censura.

São Paulo, 13 de outubro de 2011.

WALTER ROCHA BARONE

Juiz Auxiliar da Corregedoria

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

CORREGEDORIA GERAL DA JUSTIÇA

CONCLUSÃO

Em 14 de outubro de 2011, faço estes autos conclusos ao Excelentíssimo Senhor Desembargador MAURÍCIO VIDIGAL, DD. Corregedor Geral da Justiça. Eu ______ (Rosa Maia), Escrevente Técnico Judiciário do GATJ 3, subscrevi.

Processo nº 2011/85331

Aprovo o parecer do MM. Juiz Auxiliar da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, recebo a apelação interposta como recurso administrativo, na forma do art. 246 do Código Judiciário Estadual, e dou provimento, para o fim de permitir a averbação pleiteada.

Publique-se.

São Paulo, 18 de outubro de 2011.

MAURÍCIO VIDIGAL

Corregedor Geral da Justiça

 

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Embargos de declaração - obscuridade - reconhecimento. Ata de assembleia - Pessoa Jurídica - Registro de Títulos e Documentos - registro facultativo - mera conservação. NSCGJ - alteração. Embargos acolhidos.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - Registro de Títulos e Documentos - Obscuridade reconhecida, uma vez que o acórdão abordou questão diversa do pedido do embargante - Alteração das NSCGJ, no curso do processamento do recurso, que possibilita o recebimento e provimento dos embargos com efeito modificativo - Possibilidade de registro facultativo do documento apresentado pelo embargante, para fim de mera conservação, a teor do item 3, do Capítulo XIX, das NSCGJ.

CSMSP - EMBARGOS DECLARATÓRIOS: 0000916-35.2012.8.26.0286/50001 CSMSP - EMBARGOS DECLARATÓRIOSLOCALIDADE: Itu DATA JULGAMENTO: 18/03/2014 DATA DJ: 05/05/2014 Relator: Elliot AkelLegislação:

CCB - Código Civil Brasileiro | 10.406/2002, ART: 45

LRP - Lei de Registros Públicos | 6.015/1973, ART: 127, INC: VII

íntegra:

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA

Apelação Cível nº 0000916-35.2012.8.26.0286/50001

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos de Declaração nº 0000916-35.2012.8.26.0286/50001, da Comarca de Itu, em que é embargante SINDPRESP - SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS IND. FABRICANTES DE PEÇAS E PREFABRICADOS EM CONCRETO DO ESTADO DE SÃO PAULO, é embargado OFICIAL DE REGISTRO DE IMÓVEIS, TÍTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURÍDICA DA COMARCA DE ITU.

ACORDAM, em Conselho Superior de Magistratura do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "ACOLHERAM OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, PARA SANAR OBSCURIDADE VERIFICADA NO ACÓRDÃO QUE REJEITOU EMBARGOS DE DECLARAÇÃO ANTERIORES E MANTEVE O ARESTO QUE PRESTIGIOU A DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU, EMPRESTANDO-LHES, EXCEPCIONALMENTE, EFEITO MODIFICATIVO E, VIA DE CONSEQUÊNCIA, DERAM PROVIMENTO AO RECURSO ADMINISTRATIVO PARA DETERMINAR O REGISTRO DO DOCUMENTO DE FLS. 42/43 PERANTE O REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS, COM A RESSALVA DO ITEM 3, DO CAPÍTULO XIX, NAS NSCGJ, V.U.", de conformidade com o voto do(a) Relator(a), que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores RENATO NALINI (Presidente), EROS PICELI, GUERRIERI REZENDE, ARTUR MARQUES, PINHEIRO FRANCO E RICARDO ANAFE.

São Paulo, 18 de março de 2014.

ELLIOT AKEL

RELATOR

Embargos de Declaração nº 0000916-35.2012.8.26.0286/50001

Embargante: SINDPRESP - Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Fabricantes de Peças e Pré-Fabricados em Concreto do Estado de São Paulo

Embargado: Oficial do Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica de Itu

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Voto nº 34.003

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - Registro de Títulos e Documentos - Obscuridade reconhecida, uma vez que o acórdão abordou questão diversa do pedido do embargante - Alteração das NSCGJ, no curso do processamento do recurso, que possibilita o recebimento e provimento dos embargos com efeito modificativo - Possibilidade de registro facultativo do documento apresentado pelo embargante, para fim de mera conservação, a teor do item 3, do Capítulo XIX, das NSCGJ.

Estes embargos de declaração foram tirados em face de outros embargos de declaração, opostos a acórdão que manteve a sentença de procedência de Dúvida, de maneira a impossibilitar o registro de Ata no Registro de Títulos e Documentos.

O documento que se pretende registrar é o de fls. 42/43 ("ATA DA ASSEMBLÉIA GERAL EXTRAORDINÁRIA DE FUNDAÇÃO DO SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS FABRICANTES DE PEÇAS E PRÉ-FABRICADOS EM CONCRETO DE ITU, SALTO, PORTO FELIZ, ITUPEVA, CABREÚVA E BOITUVA.").

A Serventia onde se pretende registrá-lo cumula as atribuições de Títulos e Documentos e Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

Em todas as oportunidades em que se manifestou, o embargante deixou claro que não pretende o registro da Ata no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, mas sim no Registro de Títulos e Documentos, e isso nos termos do art. 127, VII, da Lei de Registro Públicos.

Inobstante, a sentença de primeiro grau negou o registro, fundada no art. 114 da Lei de Registros Públicos, olvidando-se de que tal dispositivo está inserido no Título sobre Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Embargos de declaração a ela opostos foram desacolhidos.

O acórdão que manteve tal sentença, embora não mencione o art. 114 da LRP, fundou-se no art. 45 do Código Civil e no item 2 do Capítulo XVIII das NSCGJ, como se o embargante pretendesse o registro de ata para a constituição de pessoa jurídica, o que não corresponde à realidade. E a decisão proferida nos primeiros embargos de declaração não sanou a obscuridade apontada.

Em que pese a denominação do documento ("ATA DA ASSEMBLÉIA GERAL EXTRAORDINÁRIA DE FUNDAÇÃO DO SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS FABRICANTES DE PEÇAS E PRÉ-FABRICADOS EM CONCRETO DE ITU, SALTO, PORTO FELIZ, ITUPEVA, CABREÚVA E BOITUVA") o que se vê é que o embargante deseja, tão somente, registrar esse documento perante o Registro de Títulos e Documentos - e tem interesse nisso, pois, ao final, acabou não sendo criado outro Sindicato, diverso do seu. Não pretendeu, em momento algum, constituir pessoa jurídica nem registrar nenhuma alteração nessa pessoa.

Daí porque a sentença e o acórdão não trataram, em verdade, da hipótese posta nos autos. E a obscuridade não foi sanada através dos primeiros embargos de declaração opostos.

Dito isso, é preciso ressaltar que havia, antes, vedação à pretensão do embargante, no item 3.1 do Capítulo XIX das NSCGJ ("É vedado o registro de quaisquer atos relativos a associações e sociedades civis, mesmo que os atos constitutivos estejam registrados no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do próprio cartório"). E o Sindicato é abrangido por essa regra por equiparação.

Ao longo do processamento do recurso, o item 3.1 foi suprimido e o item 3 teve sua redação alterada, pelo Provimento CG 41/2013. Eis a nova redação do item 3:  No caso de registro facultativo, Aro a seguinte declaração: "registro efetuado, nos termos do art. 127, VII, da Lei de Registro Públicos, apenas para fins de mera conservação, prova apenas a existência, a data e o conteúdo do documento, não gerando publicidade nem efeitos em relação a terceiros".

Pelo princípio da instrumentalidade do processo e levando-se em conta, ainda, que se está no âmbito de procedimento administrativo, não há óbice, a meu ver, a que, em sede de julgamento de embargos de declaração, se aplique a redação em vigor das NSCGJ, a fim de que a decisão espelhe o regramento atual da matéria.

Por isso, não se vislumbra impedimento a que o embargante registre o documento de fls. 42/43, ainda que para mero fim de conservação, perante o Registro de Título e Documentos, com a ressalva do item 3, do Capítulo XIX, das NSCGJ.

Nesses termos, pelo meu voto ACOLHO OS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, para sanar obscuridade verificada no acórdão que rejeitou embargos de declaração anteriores e manteve o aresto que prestigiou a decisão de primeiro grau, emprestando-lhes excepcionalmente efeito modificativo e, via de consequência, DOU PROVIMENTO ao recurso administrativo  para determinar o registro do documento de fls. 42/43 perante o Registro de Títulos e Documentos, com a ressalva do item 3, do Capítulo XIX, das NSCGJ.

HAMILTON ELLIOT AKEL

Corregedor Geral da Justiça e Relator

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Registro Civil de Pessoa Jurídica. Sindicato. Denominação social.

REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Razões de apelação dissociadas do fundamento da sentença - Similitude das denominações dos sindicatos confrontadas - Assento - Confusão inadmissível - Registro do sindicato apelante desautorizado - Desqualificação - Pertinência - Apelação não conhecido.

CSMSP - APELAÇÃO CÍVEL: 0000006-62.2012.8.26.0268 CSMSP - APELAÇÃO CÍVELLOCALIDADE: Itapecerica da Serra DATA JULGAMENTO: 07/02/2013 DATA DJ: 22/05/2013 Relator: José Renato Nalini íntegra:

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL N° 0000006-62.2012.8.26.0268, da Comarca de ITAPECERICA DA SERRA, em que é apelante SINPROMIS - SINDICATO DOS PROFESSORES DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE ITAPECERICA DA SERRA e apelado o OFICIAL DE REGISTRO DE IMÓVEIS, TÍTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURÍDICA da referida Comarca.

ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votação unânime, em não conhecer do recurso, de conformidade com o voto do Desembargador Relator, que fica fazendo parte integrante do presente julgado.

Participaram do julgamento os Desembargadores IVAN RICARDO GARISIO SARTORI, Presidente do Tribunal de Justiça, JOSÉ GASPAR GONZAGA FRANCESCHINI, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça, WALTER DE ALMEIDA GUILHERME, Decano em exercício, SAMUEL ALVES DE MELOJUNIOR, ANTONIO JOSÉ SILVEIRA PAULILO e ANTONIO CARLOS TRISTÃO RIBEIRO,respectivamente, Presidentes das Seções de Direito Público, Privado e Criminal do Tribunal de Justiça.

São Paulo, 07 de fevereiro de 2013.

JOSÉ RENATO NALINI

Corregedor Geral da Justiça e Relator

Apelação Cível n.° 0000006-62.2012.8.26.0268

Apelante: Sindicato dos Professores da Rede Pública Municipal de Itapecerica da Serra - Sinpromis

Apelado: Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Itapecerica da Serra

VOTO N° 21.196

REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - Razões de apelação dissociadas do fundamento da sentença - Similitude das denominações dos sindicatos confrontadas - Assento - Confusão inadmissível - Registro do sindicato apelante desautorizado - Desqualificação - Pertinência - Apelação não conhecido.

O oficial de registro, ao suscitar dúvida e justificar a desqualificação do título, afirmou existir similitude entre a denominação do interessado e a do Sindicato dos Professores das Escolas Públicas Municipais de Itapecerica da Serra (SIPROEM), cujo título foi prenotado e registrado precedentemente (fls. 02, 25 e 30/35).

A interessada, por sua vez, sustentou: o registro do SIPROEM não poderia ter sido aceito; tal sindicato não tem representatividade no Município de Itapecerica da Serra nem conta com o reconhecimento do Ministério do Trabalho; e não há exata correspondência entre as denominações dos sindicatos (fls. 40/44).

Com a manifestação do Ministério Público (fls. 176), a dúvida foi julgada procedente (fls. 178), motivo pelo qual interposta apelação, com reiteração de argumentos anteriores, mas, especialmente, sem questionamento sobre a falta de similitude anotada na decisão (fls. 179/184).

Uma vez recebido o recurso (fls. 186), os autos foram enviados ao Conselho Superior da Magistratura (fls. 192 e 193) e, ato contínuo, a Procuradoria Geral da Justiça propôs o não conhecimento do recurso e, subsidiariamente, o seu desprovimento (fls. 195/196).

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É o relatório.

Conforme bem observado pela Douta Procuradoria Geral da Justiça, o recurso não admite conhecimento, porquanto, firme em precedentes jurisprudenciais colhidos na obra de Theotonio Negrão e outros, as razões expostas na apelação estão dissociadas do que decidido (fls. 196).

Na realidade, o interessado, ora apelante, não se insurgiu especificamente contra o fundamento lançado na sentença. De fato, não atacou a similitude existente entre as denominações dos sindicatos, então determinante para o julgamento procedente da dúvida (fls. 178).

De todo modo, se conhecido fosse o recurso, seria o caso de negar-lhe provimento: com efeito, confrontada a denominação do interessado - Sindicato dos Professores da Rede Pública Municipal deItapecerica da Serra -, com a do sindicato cujo estatuto antes foi registrado - Sindicato dos Professores das Escolas Públicas Municipais de Itapecerica da Serra (SIPROEM) -, nota-se, facilmente, a inconveniência do assento pretendido.

As denominações dos sindicatos, constituídos com idênticas finalidades, distinguem-se por expressões desprovidas de idoneidade para afastar confusões entre um e outro: a do interessado, faz menção aRede Pública, enquanto a outra, a confrontada, refere-se a Escolas Públicas. Enfim, a sutil diferença desautoriza o registro do estatuto da interessada.

Trata-se de solução, aliás, afinada com precedentes deste Colendo Conselho Superior da Magistratura:

Registro de Pessoas Jurídicas - Dúvida - Registro de entidade sindical negado - Existência de registro anterior, com a mesma denominação - Admissibilidade de alteração do nome, com exclusão dos elementos similares - Recurso prejudicado (Apelação Cível n.° 31.007-0/4, julgado em 15.03.1996, relator Desembargador Márcio Martins Bonilha).

Registro Civil de Pessoa Jurídica - Os sindicatos têm natureza jurídica de associação civil competindo duplo registro (Ministério do Trabalho e Registro Civil de Pessoa Jurídica) - Impossibilidade do registro de sindicato com denominação semelhante a de outra associação anteriormente registrada - Registro negado - Recurso não provido (Apelação Cível n.° 0014630-42.2009.8.26.0068 Julgada em 06.10.2011, relator Desembargador Maurício Vidigal).

De mais a mais, as considerações agitadas pelo interessado, versando sobre elementos estranhos à qualificação registral, não justificam o assento pretendido.

Aliás, no primeiro precedente lembrado, constou que "a atividade do registrador restringe-se, à evidência, ao exame do aspecto formal dos atos e documentos que lhes são submetidos, com as restrições previstas no artigo 115 da Lei n.° 6.015/73, quanto ao registro dos atos constitutivos de pessoas jurídicas, independentemente de qualquer outro controle."

Já no outro, ao ser enfocado o ponto relacionado com o duplo registro, restou assinalado que, "em virtude da diversidade de esferas administrativas e finalidades (representação sindical e personalidade jurídica), é irrelevante para o registro da ata objeto desta apelação as questões atinentes ao princípio da unicidade e à representação sindical.'

Assim sendo, não conheço do recurso.

JOSÉ RENATO NALINI

Corregedor Geral da Justiça e Relator. (D.J.E. de 02.04.2013 - SP)

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Dúvida inversa. Título. Cópia. Prejudicialidade. Registro de Títulos e Documentos. Associação. Ata de Fundação. Desqualificação. Assento no RCPJ.

REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS - DÚVIDA INVERSA - ADMISSIBILIDADE - TÍTULO - CÓPIA - DÚVIDA PREJUDICADA - ATA DE FUNDAÇÃO DE UMA ASSOCIAÇÃO DE CLUBES - TÍTULO PASSÍVEL DE ASSENTO NO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS - DESQUALIFICAÇÃO REGISTRAL ACERTADA - RECURSO NÃO CONHECIDO.

CSMSP - APELAÇÃO CÍVEL: 9000002-82.2012.8.26.0101 CSMSP - APELAÇÃO CÍVELLOCALIDADE: Caçapava DATA JULGAMENTO: 18/04/2013 DATA DJ: 24/05/2013 Relator: José Renato Nalini íntegra:

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA

Proc. nº 9000002-82.2012.8.26.0101

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 9000002-82.2012.8.26.0101, da Comarca de Caçapava, em que é apelante WANDERLEY GERMANO E SILVA, é apelado OFICIAL DE REGISTRO DE IMÓVEIS, TÍTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURÍDICA DA COMARCA DE CAÇAPAVA.

ACORDAM, em Conselho Superior de Magistratura do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "AO DAR POR PREJUDICADA A DÚVIDA INVERSA, NÃO CONHECERAM DA APELAÇÃO, V.U.", de conformidade com o voto do(a) Relator(a), que integra este acórdão.

Participaram do julgamento os Desembargadores IVAN RICARDO GARISIO SARTORI, Presidente do Tribunal de Justiça, JOSÉ GASPAR GONZAGA FRANCESCHINI, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça, WALTER DE ALMEIDA GUILHERME, Decano em exercício, SAMUEL ALVES DE MELO JUNIOR, ANTONIO JOSÉ SILVEIRA PAULILO e ANTONIO CARLOS TRISTÃO RIBEIRO, respectivamente, Presidentes das Seções de Direito Público, Privado e Criminal do Tribunal de Justiça.

São Paulo, 18 de abril de 2013.

RENATO NALINI

RELATOR

Apelação Cível n.º 9000002-82.2012.8.26.0101

Apelante: WANDERLEY GERMANO E SILVA

Apelado: OFICIAL DE REGISTRO DE IMÓVEIS, DE TÍTULOS E DOCUMENTOS, CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS E TABELIÃO DE PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS DA COMARCA DE CAÇAPAVA

VOTO Nº 21.236

REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS - DÚVIDA INVERSA - ADMISSIBILIDADE - TÍTULO - CÓPIA - DÚVIDA PREJUDICADA - ATA DE FUNDAÇÃO DE UMA ASSOCIAÇÃO DE CLUBES - TÍTULO PASSÍVEL DE ASSENTO NO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS - DESQUALIFICAÇÃO REGISTRAL ACERTADA - RECURSO NÃO CONHECIDO.

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Wanderley Germano e Silva, inconformado com a desqualificação da ata de fundação de clubes independentes entre si, suscitou dúvida inversa, porque sustenta ser dispensável a exibição da via original do título e a pertinência do assento pretendido, a ser realizado no Registro de Títulos e Documentos (fls. 02/04).

O Oficial, instado, e na linha da nota devolutiva (fls. 06), argumentou: simples cópia não tem acesso ao Registro de Títulos e Documentos e o título apresentado é suscetível de registro apenas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas (fls. 12/13).

Depois do parecer do representante do Ministério Público (fls. 15), e dos esclarecimentos prestados pelo interessado (fls. 17), o MM Juiz Corregedor Permanente julgou a dúvida improcedente (fls. 18), razão pela qual o interessado interpôs apelação, com reiteração das pretéritas alegações (fls. 19/22).

Recebido recurso (fls. 24), e enviados os autos ao Conselho Superior da Magistratura, abriu-se vista à Procuradoria Geral da Justiça, que propôs o desprovimento da apelação (fls. 30/32).

É o relatório.

O interessado, ao expressar sua discordância em relação à desqualificação do título apresentado para registro, suscitou dúvida inversa, criação pretoriana admitida pelo Conselho Superior da Magistratura[i]: de fato, ao invés de requerer a suscitação ao Oficial, dirigiu a sua irresignação ao MM Juiz Corregedor Permanente (fls. 02/04). No entanto, o inconformismo não merece prosperar.

Inicialmente, porque a dúvida está prejudicada: ora, o requerimento não foi instruído com a via original da ata de fundação de clubes independentes entre si, mas, nota-se, com simples cópia (fls. 06/08). E assim, sem a exibição do original, o reexame da desqualificação é vedado.

Com efeito, é inadmissível o acesso de cópia ao registro, conforme a jurisprudência do Conselho Superior da Magistratura. [ii] Sequer a apresentação de cópia autenticada supre a falta da via original.[iii]

Por outro lado, o documento exibido é insuscetível de assento no Registro de Títulos e Documentos: na realidade, é passível de inscrição exclusivamente no Registro Civil das Pessoas Jurídicas (artigo 114, I, da Lei n.º 6.015/1973).

Enfim, uma vez considerada a função suplementar do Registro de Títulos e Documentos (artigo 127, parágrafo único, da Lei n.º 6.015/1973), a prestação de serviços pretendida resta inviabilizada, mesmo que intencionada somente a conservação do documento.

Na realidade, a facultatividade afirmada no inciso VII do artigo 127 da Lei n.º 6.015/1973 pressupõe, é claro, a admissibilidade do registro, vedado no caso vertente.

Logo, o recurso, ainda que a dúvida não estivesse prejudicada, seria desprovido.

Pelo exposto, ao dar por prejudicada a dúvida inversa, não conheço da apelação.

JOSÉ RENATO NALINI

Corregedor Geral da Justiça e Relator

[i] Apelação Cível n.º 23.623-0/1, relator Desembargador Antônio Carlos Alves Braga, julgada em 20.02.1995; Apelação Cível n.º 76.030-0/8, relator Desembargador Luís de Macedo, julgada em 08.03.2001; e Apelação Cível n.º 990.10..261.081-0, relator Desembargador Munhoz Soares, julgada em 14.09.2010.

[ii] Apelação Cível n.º 33.624-0/4, relator Desembargador Márcio Martins Bonilha, julgado em 12.09.1996; Apelação Cível n.º 94.033-0/3, relator Desembargador Luiz Tâmbara, julgado em 13.09.2002; Apelação Cível n.º 278-6/0, relator Desembargador José Mário Antonio Cardinale, julgado em 20.01.2005.

[iii] Apelação Cível n.º 38.411-0/9, relator Desembargador Márcio Martins Bonilha, julgado em 07.04.1997; Apelação Cível n.º 77.181-0/3, relator Desembargador Luís de Macedo, julgado em 08.03.2001; Apelação Cível n.º 516-6/7, relator Desembargador Gilberto Passos de Freitas, julgado em 18.05.2006.

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Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Sindicato. Personalidade jurídica - aquisição. Requisitos legais.

SINDICATO - PERSONALIDADE JURÍDICA - AQUISIÇÃO PELO REGISTRO CIVIL - IMPOSSIBILIDADE - INOBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS LEGAIS - RECURSO NÃO PROVIDO.

CSMSP - APELAÇÃO CÍVEL: 0012819-67.2010.8.26.0438 CSMSP - APELAÇÃO CÍVELLOCALIDADE: Penápolis DATA JULGAMENTO: 28/02/2013 DATA DJ: 03/04/2013 Relator: José Renato Nalini íntegra:

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO n° 0012819-67.2010.8.26.0438, daComarca de PENÁPOLIS, em que é apelante SINDICATO DOS TRABALHADORES EM HOTÉIS, BARES E RESTAURANTES DE PENÁPOLIS E REGIÃO e apelado O OFICIAL DE REGISTRO DE IMÓVEIS, TÍTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURÍDICA DA COMARCA DE PENÁPOLIS.

ACORDAM, em Conselho Superior de Magistratura do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, V.U.", de conformidade com o voto do(a) Relator(a), que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores IVAN RICARDO GARISIO SARTORI,Presidente do Tribunal de Justiça, JOSÉ GASPAR GONZAGA FRANCESCHINI, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça, FRANCISCO ROBERTO ALVES BEVILACQUA, Decano, SAMUEL ALVES DE MELO JÚNIOR, ANTÔNIO JOSÉ SILVEIRA PAULILO e ANTÔNIO CARLOS TRISTÃO RIBEIRO,respectivamente, Presidentes das Seções de Direito Público, Privado e Criminal do Tribunal de Justiça.

São Paulo, 28 de fevereiro de 2013.

RENATO NALINI

RELATOR

Apelação Cível n° 0012819-67.2010.8.26.0438

Apelante: Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Bares e Restaurantes de Penápolis e Região.

Apelado: Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca de Penápolis.

VOTO N° 21.218

SINDICATO - PERSONALIDADE JURÍDICA - AQUISIÇÃO PELO REGISTRO CIVIL - IMPOSSIBILIDADE - INOBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS LEGAIS - RECURSO NÃO PROVIDO.

Trata-se de apelação interposta contra r. sentença que reconheceu a impossibilidade do registro de ato constitutivo de pessoa jurídica junto ao Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas da Comarca de Penápolis, por descumprimento de exigências legais para tanto.

O apelante sustentou, preliminarmente, que a sentença de 1º grau seria nula em decorrência da falta de enfrentamento de todas as matérias alegadas no processo; no mérito, afirmou que as exigências apontadas pelo Oficial seriam descabidas o que autorizaria o registro da pessoa jurídica.

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A Douta Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo não provimento do recurso (fls. 870/875).

É o relatório.

A preliminar de nulidade da sentença não merece acolhimento.

De fato, o registro do sindicato no Ministério do Trabalho, tem mero escopo de fixar a sua procedência, em face ao princípio da unidade sindical (Agravo de Instrumento n° 1085388- 0, Comarca de OSASCO, 35ª Câmara de Direito Privado, Des. Artur Marques, data do julgamento 26/03/07) e não constituir a pessoa jurídica. A decisão atacada em nada afronta a súmula n° 677 do Supremo Tribunal Federal.

A atuação do Registrador - diga-se, conforme dispõe o art. 156 da LRP - limitou-se a verificar o descumprimento do item 3, Capítulo XVIII, das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça, bem como a inobservância dos requisitos legais do art. 120 da LRP, para fim de registro da pessoa jurídica.

De igual modo, melhor sorte não assiste ao apelante no tocante à alegação de descaso da sentença com o enfrentamento de todos os argumentos arguidos na impugnação, pois a decisão mostra-se devidamente fundamentada, em prestigio ao art. 93, IX da Constituição Federal.

No mérito é de rigor o não provimento do recurso de apelação. Dispensada a análise das questões surgidas no curso do procedimento administrativo e que transbordam da via administrativa, mas comportam maior exploração na esfera judicial - fls. 462/467, 468/524, 585/592, 808/815 - constato que o pedido de constituição do sindicato não observou a Lei de Registros Públicos, em particular o artigo 120, o que basta para a manutenção de procedência da dúvida.

Não descartada a estranheza da notícia de fls. 494 - que indica que no dia da assembleia de constituição da pessoa jurídica alguns dos interessados teriam sido agredidos e expulsos do local, o que denota a falta de ambiente harmônico e democrático para reunião de fundação - resta claro que a lista originalmente apresentada dos fundadores da pessoa jurídica mostrava-se imperfeita (fls. 77), nos moldes do que dispõe o art. 120, inciso VI, da LRP, e merecia como exigido pelo Registrador devido conserto.

O documento supostamente destinado a reparar a exigência acima referida (fls. 402) é insuficiente e não pode ser aceito.

Afinal, a regular qualificação de apenas 16 dos membros fundadores com a repetição de Felipe da Silva Macedo no número 2 e 17 é incompreensível diante de uma primeira lista contendo 31 nomes.

A lista de fls. 402 não reflete a vontade real dos primeiros fundadores, ausentes de nominação e assinatura no documento, o que fragiliza o princípio da segurança jurídica.

Diversamente do alegado na peça recursal não se está diante de vício sanável, fruto de mero equivoco de digitação, mas de gravame irreparável nos termos apresentados. Ademais, quanto às outras tantas exigências - saliento acertadas - indicadas pelo Registrador em sua nota de devolução, observo que a peça recursal em análise não trouxe impugnação especificada o que dispensa maior enfrentamento.

Portanto, ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao recurso.

JOSÉ RENATO NALINI

Corregedor Geral da Justiça e Relator

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Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 6451 - 11/6/2014

OPINIÃO

•A regra do artigo 127, VII, da Lei n° 6.015/73 e o registro facultativo, para efeito de conservação, em RTD – Parte II – Graciano Pinheiro de Siqueira*

 

*O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP e Colunista do Boletim Eletrônico INR.

Nota da Redação INR: os editores das Publicações INR – Informativo Notarial e Registral alertam que os direitos relativos ao artigo opinativo publicado nesta edição foram adquiridos onerosamente por meio de contrato de cessão celebrado com o autor, e que a sua reprodução, em qualquer meio de comunicação, é terminantemente proibida.

A forma como o registro facultativo, para efeito de mera conservação do documento, vem sendo atualmente efetuado, com base na regra do artigo 127, VII, da Lei n° 6.015/73, poderá sofrer profunda modificação, já que cresce um movimento que defende o REGISTRO FACULTATIVO SIGILOSO, desde que haja, por parte daqueles que o produziram, requerimento expresso neste sentido, contra o qual, como não poderia deixar de ser, colocam-se posições contrárias e algumas indagações, como adiante veremos.

Trata-se, em verdade, do confronto entre, de um lado, os princípios da privacidade e da intimidade, e, de outro, os princípios da publicidade e do direito à informação.

A ideia é restringir a publicidade do documento assentado para efeito de mera conservação, a qual ficará restrita às pessoas que nele compareceram como partes, vedando-se, desde que estas requeiram ao registrador, a divulgação de seu conteúdo a qualquer terceiro interessado, por meio da expedição de certidão.

Para aqueles que defendem a mudança de paradigma, apoiando o REGISTRO FACULTATIVO SIGILOSO, há que se reconhecer aos cidadãos, além dos direitos à privacidade e à intimidade, o direito de preservação de dados de caráter pessoal, inseridos em documentos, que só a eles interessam.

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Já os que são contra, sustentam que a não publicidade do registro realizado, ainda que para fins de mera guarda e conservação do documento, colide com uma das finalidades do registro público, ferindo, frontalmente, o disposto no artigo 1°, da Lei n° 8.935/1994, que estabelece que “Serviços notariais e de registro são os de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos” (o grifo é nosso). Vale dizer: a publicidade é inerente ao registro público, ou, como afirma Serpa Lopes, “a publicidade é corolário necessário, atributo lógico do registro”, não podendo, por isso, ser negada, exceto no caso de determinação judicial.

Além disso, afirmam que essa nova modalidade de registro vulnerará a garantia constitucional ao direito de informação e ao fornecimento de certidão.

As novas redações dadas aos itens 3 e 4, do Capítulo XIX, das NSCGJSP, aparentemente, admitem o registro facultativo sigiloso, ao estabelecer que:

“3. No caso do registro facultativo, exclusivamente para fins de mera conservação, o Oficial fará abaixo do registro a seguinte declaração: “registro efetuado, nos termos do art. 127, VII, da Lei dos Registros Públicos, apenas para fins de mera conservação, prova apenas a existência, a data e o conteúdo do documento, não gerando publicidade nem efeitos em relação a terceiros” (o grifo é nosso).

“4. O interessado deverá ser previamente esclarecido de que o registro facultativo exclusivamente para fins de mera conservação prova apenas a existência, data e conteúdo do documento, não gerando publicidade nem efeitos em relação a terceiros, sendo vedada qualquer indicação que possa ensejar dúvida sobre a natureza do registro ou confusão com a eficácia decorrente de outras espécies de atos registrais” (o grifo é nosso).

Não obstante, não indicam o modo como o mesmo deva ser efetuado.

Pelo que se tem notícia, esse registro facultativo sigiloso será feito em “pastas fechadas de documentos”, que serão arquivadas no RTD, que passará a ser um grande “arquivo público”, em contraposição aos “arquivos privados” existentes, que digitalizam e arquivam documentos diversos, reduzindo, assim, o problema da falta de espaço físico para guardá-los, faltando-lhes, contudo, o atributo da “fé pública”, própria do registrador.

Dentre os questionamentos levantados, podemos destacar os seguintes:

1) Qual será o critério para a cobrança dos emolumentos para o registro facultativo sigiloso de documentos?

Quer nos parecer que, neste caso, não poderá ser adotada a mesma tabela empregada para os casos em que se pretende, com o registro, garantir ao documento outros efeitos além daquele da simples guarda e conservação, desconsiderando-se, por isso, qualquer valor nele declarado. Dizendo de outro modo: o custo do registro deverá ser módico (X centavos por página), para que possa ser atrativo, viabilizando, inclusive, a concorrência com os “arquivos privados” anteriormente mencionados. O ganho se dará em razão da quantidade e não da qualidade (em valor) do documento.

2) Como será efetuada a qualificação desses títulos?

Os defensores do registro facultativo sigiloso argumentam que nenhuma análise dos documentos deverá ser efetivada, na medida em que se estará fazendo, basicamente, um arquivamento e não um registro propriamente dito.

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Ainda que assim seja, isso, sem dúvida, vai ao desencontro de tudo o que se vem falando, ao longo do tempo, a respeito do registrador, isto é, que ele não é um mero “carimbador” ou um mero “arquivador” de papéis.

Não se deve esquecer que, de acordo com a regra do artigo 156, da Lei dos Registros Públicos, “O oficial deverá recusar registro a título e a documento que não se revistam das formalidades legais”, bem como que deve ser recusado o registro de documentos nos quais haja, v.g., ofensa à moral e aos bons costumes. Destarte, caso não seja feita qualquer qualificação, apresentando o título ou documento tais características, deve o registro (ou arquivamento), a rigor, ser recusado, lembrando que a atividade do registrador é estritamente regulada pela lei.

Portanto, a falta de qualificação, parece ser um fator desfavorável ao registro facultativo sigiloso, nos moldes como se pretende.

3) Aplica-se ao registro facultativo sigiloso o princípio da territorialidade?

A resposta, a nosso ver, é positiva, já que, de acordo com o artigo 130, da LRP, todos os atos enumerados nos arts. 127 e 129 serão registrados no domicílio das partes contratantes e, quando residam estas em circunscrições territoriais diversas, far-se-á o registro em todas elas. Há, entretanto, quem entenda que ao registro facultativo sigiloso não deva ser aplicado tal princípio, cabendo ao interessado no assentamento escolher o Cartório onde pretende arquivar seu documento, para simples conservação.

Não há nenhuma dúvida de que o registrador, acompanhando, especialmente, a evolução tecnológica, deva buscar novos nichos de mercado, sendo o registro facultativo sigiloso, apenas, um deles, não podendo, entretanto, ser ele considerado como a tábua de salvação do RTD.

Dizer que o futuro da especialidade de Registro de Títulos e Documentos está no registro facultativo realizado na forma aqui tratada é, no mínimo, um desprestígio para o registrador, que, para ser simples arquivador de títulos, documentos e papéis, sequer precisaria ter a qualificação que lhe confere a lei de ser um “profissional do direito”, depois de passar por um difícil concurso público de provas e títulos, que lhe garante a outorga da delegação de um registro público.

O futuro do RTD, quem sabe, está na recuperação dos registros perdidos com o passar dos anos, como é o caso da alienação fiduciária, daí ser merecedora de aplausos a recente iniciativa de aproximação do segmento com a Febraban, acontecida, recentemente, em Brasília, via Anoreg/Br.

Resta saber se a mudança preconizada, caso aprovada, na forma como aqui referida, não dependerá de alteração legislativa ou se bastará simples modificação normativa.

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 6451 - 11/6/2014

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Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 6407 - 14/5/2014

OPINIÃO

•A regra do artigo 127, VII, da Lei n° 6.015/73 e o registro facultativo, para efeito de conservação, em RTD –Graciano Pinheiro de Siqueira*

 

*O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP e Colunista do Boletim Eletrônico INR.

Nota da Redação INR: os editores das Publicações INR – Informativo Notarial e Registral alertam que os direitos relativos ao artigo opinativo publicado nesta edição foram adquiridos onerosamente por meio de contrato de cessão celebrado com o autor, e que a sua reprodução, em qualquer meio de comunicação, é terminantemente proibida.

Duas são as correntes doutrinária a respeito da regra do artigo 127, VII, da Lei n° 6.015/73 (Lei dos Registros Públicos). Uma, afirmando, taxativamente, em razão da subsidiariedade (residualidade e supletividade) que lhe é peculiar, que, no Registro de Títulos e Documentos, somente poderão ser assentados documentos que não pertençam a outra especialidade, segundo, inclusive, a norma estampada no parágrafo único, do artigo 127, da mesma lei. Vale dizer: não poderá ser feito, no RTD, o registro, nem mesmo para efeito de merca conservação, caso o documento deva ser inscrito em outro órgão de registro público. Outra, afirmando que, em razão do disposto no mencionado inciso VII, do artigo 127, da LRP, será possível o registro, de QUALQUER DOCUMENTO, para o fim de sua guarda e conservação, ainda que para ele exista órgão competente. Neste caso, deve o registrador tomar por cautela, a fim de não levar o leigo a engano, exigir que o interessado o requeira por escrito, além de apor, no

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documento, carimbo ou etiqueta informando que o assento efetuado o foi, apenas, para fim de conservação. Nestes termos, será viável, por exemplo, que um compromisso de compra e venda relativo a bem imóvel, cujo registro pertence, naturalmente, ao Registro Predial, até para proporcionar ao compromissário comprador direito real oponível a terceiros, seja assentado em RTD, principalmente se o documento, face a exigências formuladas, teve o registro recusado pelo Registro de Imóveis, nada impedindo e, sendo até aconselhável, que a NOTA DEVOLUTIVA seja também registrada.

Assim sendo, a questão de fazer ou não o registro de documentos engavetados e relativos, v.g., a bens imóveis, vai depender do entendimento de cada registrador, observadas, evidentemente, as Normas de Serviço (Códigos de Normas) da Corregedoria Geral da Justiça de cada unidade da federação, para saber se nelas há, ou não, impedimento para a prática do ato pelo registrador do RTD.

O Código de Normas do Estado da Bahia, por exemplo, admite, expressamente, o registro, em seu art. 756, abaixo transcrito:

“Art.756. Em se tratando de documentos que tenham por objeto a transmissão, constituição ou extinção de direitos reais sobre imóveis, poderá ser feito o seu registro, desde que consignado expressamente que este se destina unicamente à sua conservação e fixação de data, não gerando a constituição de domínio ou outro direito real.

Parágrafo único. Com observância dessas cautelas, é admitido o registro de contratos particulares de promessa de compra e venda de propriedade imobiliária, que impliquem loteamento ou parcelamento irregular do solo urbano ou fracionamento incabível de área rural”.

Regra semelhante é encontrada no Código de Normas do Piauí, art. 684.

As recentes NSCGJSP, embora não façam referência expressa ao registro, em RTD, de contrato que envolva bem imóvel, trata do registro para efeito de mera conservação nos itens 3 e 4 do Capítulo XIX, que têm o seguinte teor:

“3. No caso do registro facultativo, exclusivamente para fins de mera conservação, o Oficial fará abaixo do registro a seguinte declaração: “registro efetuado, nos termos do art. 127, VII, da Lei dos Registros Públicos, apenas para fins de mera conservação, prova apenas a existência, a data e o conteúdo do documento, não gerando publicidade nem efeitos em relação a terceiros”.

“4. O interessado deverá ser previamente esclarecido de que o registro facultativo exclusivamente para fins de mera conservação prova apenas a existência, data e conteúdo do documento, não gerando publicidade nem efeitos em relação a terceiros, sendo vedada qualquer indicação que possa ensejar dúvida sobre a natureza do registro ou confusão com a eficácia decorrente de outras espécies de atos registrais”.

No recentíssimo Código de Normas de Minas Gerais, parágrafo 4°, do art. 358, assim está estabelecido:

“Os documentos relativos à transmissão ou oneração de propriedade imóvel só poderão ser registrados para conservação após registro no Ofício de Registro de Imóveis competente”.

O Provimento CGJ/MS n° 25, de 3 dezembro de 2008, por sua vez, ao dispor sobre a possibilidade do registro (lato senso) dos contratos utilizados por

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mutuários do SFH para transmissão de seus direitos sobre o imóvel adquirido, sem a necessária intervenção do agente financeiro – os chamados “contratos de gaveta”, estabelece que os mesmos serão objeto de averbação, na matrícula do imóvel, junto aos Cartórios de Registro de Imóveis do Estado de Mato Grosso do Sul.

Foram justificativas para a edição do mencionado Provimento: 1) os Tribunais pátrios vêm firmando entendimento no sentido de reconhecer como válido o ato de vontade manifestado entre o mutuário originário e o terceiro; 2) a intenção do legislador de disciplinar essa situação está manifesta na promulgação da Lei n° 10.140/2000, que, expressamente, autorizou a regularização dos “contratos de gaveta” firmados, sem a anuência do agente financeiro, entre o mutuário e o cessionário, até outubro de 1996; e, 3) a ampla e adequada publicidade acerca da situação do imóvel permite ao interessado no mesmo sopesar os pós e contras do negócio que pretende entabular e tomar a posição que melhor lhe convier, evitando, assim, boa parte dos conflitos decorrentes do desconhecimento acerca da realidade fática do imóvel por terceiros de boa-fé.

Advirta-se que a averbação tratada no citado Provimento não tem caráter constitutivo de direito real, destinando-se tão somente a tornar pública a situação fática dos imóveis em questão, para ciência de todos e principalmente de eventuais adquirentes do bem.

Enfim, o certo é que, adotada a segunda corrente, tem-se que o registro para fins de mera conservação, pelo menos em RTD, provaria a existência do negócio consubstanciado no instrumento, bem como o seu conteúdo, além de autenticar a data em que firmado o documento.

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 6407 - 14/5/2014

 

  

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Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 5792 - 17/4/2013

OPINIÃO

•Está a Sociedade Simples sujeita à falência? – Graciano Pinheiro de Siqueira*

 

*O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP e Colunista do Boletim Eletrônico INR.

Nota da Redação INR: os editores das Publicações INR – Informativo Notarial e Registral alertam que os direitos relativos ao artigo opinativo publicado nesta edição foram adquiridos onerosamente por meio de contrato de cessão celebrado com o autor, e que a sua reprodução, em qualquer meio de comunicação, é terminantemente proibida.

A resposta à questão acima é, como regra geral, negativa, eis que, nos termos da vigente Lei n° 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência somente são aplicáveis a quem é empresário, gênero do qual são espécies o empresário individual, a sociedade empresária e a empresa individual de responsabilidade limitada, sendo a sociedade simples, em última análise, a sociedade não empresária.

O artigo 982 do Código Civil assim se refere às sociedades empresárias:

“Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.

Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa”.

O preceito direciona o intérprete ao entendimento do conceito de empresário (“atividade própria de empresário”) e, dessa forma, nos leva à leitura do art. 966, que tem o seguinte enunciado:

“Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

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Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa”.

Diante de tais disposições, convém lembrar que o Código Civil, ao adotar a “teoria da empresa”, rompeu, definitivamente, com a antiga distinção entre sociedades mercantis e civis, que tinha por alicerce o critério material da prática de “atos de comércio”, os quais, diga-se de passagem, nunca foram precisamente definidos, em que o objeto social, em regra, era o fator decisivo para diferenciá-las.

Com o atual Código Civil, passaram a coexistir duas novas naturezas de sociedades – a empresária e a simples -, as quais têm seu campo de incidência não mais vinculado, isoladamente, à atividade econômica que venham a praticar (produção ou circulação de bens ou de serviços). Qualquer que seja ela, mais importante mesmo que o objeto social será o modo como essa atividade será exercida. Se praticada com a predominância da organização (organização dos fatores de produção, quais sejam: capital, trabalho alheio, insumos e tecnologia) sobre a atuação pessoal dos sócios, constituindo esta, apenas, o que o CC/02 chama de “elemento de empresa”, teremos a sociedade empresária. Ao contrário, se a atuação pessoal dos sócios for mais importante do que a organização, sobrepondo-se a ela, teremos a sociedade simples.

O Enunciado n° 194, do Conselho da Justiça Federal assim estabelece:

“Os profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se a organização dos fatores de produção for mais importante que a atividade pessoal desenvolvida”.

É oportuno observar que, a nosso ver, a sociedade simples não está restrita ao campo das atividades ligadas à profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como sugere a literalidade do parágrafo único do artigo 966, supra citado, estendendo-se a qualquer área de atuação, desde que não se enquadre no contexto empresarial. Neste sentido o Enunciado n° 196, do Conselho da Justiça Federal.

Suas estrutura e organização passam, contudo, por estágios de complexidade cada vez maior, atingindo, a partir de certo ponto, o patamar em que predomina a empresarialidade, oportunidade em que deverá “transformar” sua natureza para empresária. Supera-se, dessa forma, a sociedade simples, situada em estágio mais singelo, e passa-se a acolher a figura da sociedade empresária, não porque pratique o comércio, nos moldes tradicionalmente aceitos, mas porque exerce a atividade empresarial, de contornos muito mais amplos.

Tendo natureza simples, a sociedade deve ser registrada perante o Registro Civil das Pessoas Jurídicas, ainda que adote tipo empresário, ou seja, a opção pelo tipo empresarial (limitada, em nome coletivo ou comandita simples) não afasta a natureza simples da sociedade. É o que diz, aliás, o Enunciado n° 57, do Conselho da Justiça Federal.

Tendo natureza empresária, a sociedade deve ser registrada perante o Registro Público de Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais.

É bem verdade, toda essa mudança conceitual tem gerado polêmicas nos campos doutrinário e jurisprudencial, pois era muito mais seguro, juridicamente, fazer a distinção entre as naturezas de sociedades em face das atividades por elas desenvolvidas. Caso prestassem serviços, registravam-se, em regra, perante o RCPJ; e, caso praticassem o comércio ou a indústria, perante a Junta Comercial.

Voltando às atividades de caráter intelectual, de natureza científica, literária ou artística, viu-se que as mesmas, em regra, são consideradas como não empresárias. Desse modo, no âmbito da sociedade, quando esta atuar na área dos médicos, advogados, arquitetos, engenheiros, químicos, farmacêuticos (profissão intelectual de natureza científica), escritores (natureza literária), músicos, profissionais dedicados ao desenho artístico ou de modas, fotógrafos

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(natureza artística), por exemplo, será simples, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa,   tornando-se, assim, empresária.

Em isso ocorrendo, a resposta à questão anteriormente formulada passa a ser positiva, sujeitando a sociedade simples às regras da lei falimentar.

Exemplo disso encontramos na recente decisão do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, cujo acórdão é, abaixo, integralmente transcrito:

“TRIBUNAL DE JUSTIÇAPODER JUDICIÁRIOSão PauloRegistro: 2013.0000165321

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº 0187821-36.2012.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é agravante COLEGIO OPEC ORGANIZAÇÃO PENHENSE DE EDUCAÇÃO E CULTURA S C LTDA, é agravado MARLI FERREIRA DE CARVALHO .

ACORDAM, em 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOSÉ REYNALDO(Presidente), TASSO DUARTE DE MELO E LIGIA ARAÚJO BISOGNI.

São Paulo, 25 de março de 2013.JOSÉ REYNALDORELATORAssinatura Eletrônica

VOTO Nº: 13784AGRV.: 0187821-36.2012.8.26.0000COMARCA: São Paulo[JUIZ: Caio Marcelo Mendes de Oliveira]AGTE.: Colégio Opec Organização Penhense de Educação e Cultura S/C Ltda.AGDO.: Marli Ferreira de Carvalho-ME

*Falência. Entidade educacional. Sociedade simples por quotas de responsabilidade limitada, registrada em cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas (artigos 983 e 1.150 do Código Civil). Verificação do objetivo de prestar serviços de natureza intelectual mediante o emprego de “elementos de empresa” à sua atividade, ou seja, sob um contexto de organização dos meios de produção para obtenção de lucros e expansão mercadológica. Características próprias de sociedade empresária, alcançada, sem restrições, pelo conceito descrito no caput do artigo 966 do Código Civil, extensivo às sociedades quando a atividade econômica é desenvolvida por uma coletividade de empreendedores ou sócios, e não de forma unipessoal, como bem descrevem os artigos 981 e seguintes do referido diploma legal. Circunstâncias que apontam para sua submissão à disciplina da Lei n° 11,101/2005. Decretação de quebra mantida. Agravo de instrumento desprovido.*

Agravo de instrumento interposto a r. decisão que decretou a falência do Colégio Opec Organização Pinheirense de Educação e Cultura S/C Ltda., postulada por Marli Ferreira de Carvalho-ME.

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O agravante alega, em suma, a impossibilidade da decretação de sua quebra ante o disposto nos artigos 966, parágrafo único, e 982, caput, do Código Civil, por ser sociedade simples prestadora de serviços intelectuais, registrada em cartório de registro civil de pessoas jurídicas e não submetida à disciplina da Lei n° 11.101/2005. Requer a concessão de efeito suspensivo ao recurso, a fim de evitar as graves consequências da quebra, e, ao final, o seu provimento com a revogação da decretação da falência.

Negada a suspensividade em decisão monocrática do Relator (fls.332/332vº), sobrevieram a manifestação do Administrador Judicial (fls. 335/336) e o Parecer da Douta Procuradoria Geral de Justiça pelo provimento do agravo (fls. 339/341).

A agravada não apresentou contraminuta, apesar de regularmente intimada (v. fls. 333 e certidão de fls. 337).

É o relatório.

A r. decisão recorrida decretou a falência do ora agravante Colégio Opec Organização Pinheirense de Educação e Cultura S/C Ltda., afastando a tese defensiva de seu Curador Especial, fundada no argumento da insubmissão daquela à disciplina falimentar por se tratar de sociedade simples exploradora de atividade intelectual e não registrada na Junta Comercial do Estado.

Há, nos autos, provas do enquadramento atual do agravante como sociedade simples de modalidade limitada originariamente, sociedade civil por quotas de responsabilidade limitada (cf. fls. 72/76), exercente de atividade econômica de natureza intelectual: o contrato social com indicação do objetivo social de prestação de serviços educacionais nos níveis de ensino infantil, fundamental e médio, e o respectivo registro do instrumento no 3º Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Capital (cf. fls. 142/153 e 266).

Vale observar que tal circunstância não apresenta qualquer anomalia sob o prisma jurídico, pois as normas dos artigos 983 e 1.150 do Código Civil expressamente autorizam a constituição de sociedade simples no Registro Civil de Pessoas Jurídicas sob qualquer das modalidades de sociedade empresarial exceto a de sociedade por ações.

A opção pela adoção da modalidade de responsabilidade limitada (Ltda.) indica, contudo, que a agravante objetiva prestar serviços de natureza intelectual mediante o emprego de “elementos de empresa” à sua atividade, ou seja, sob um contexto de organização dos meios de produção para obtenção de lucros e expansão mercadológica.

Assim agindo, lhe alcança sem restrições o conceito de empresário, descrito no caput do artigo 966 do Código Civil, extensivo às sociedades quando a atividade econômica é desenvolvida por uma coletividade de empreendedores ou sócios, e não de forma unipessoal, como bem descrevem os artigos 981 e seguintes do referido diploma legal.

Neste sentido, as notas de Ricardo Fiuza e Fábio Bellote, citadas por Alfredo de Assis Gonçalves Neto (in “Direito de Empresa”, 3ª ed., RT, 2010, pp. 74/75):

“Essa oração ['se o exercício da profissão constituir elemento de empresa', ressalva da parte final do parágrafo único do art. 966 do Código Civil]  vem causando sérias dificuldades para sua compreensão. Com base nela tem-se sustentado que o exercício de atividade intelectual estruturada e organizada, produzida em volume expressivo, caracteriza a pessoa que a exerce como empresário. É o que sustenta, por exemplo, FÁBIOBELLOTE GOMES, para quem as atividades de prestação de serviços de natureza intelectual, científica, artística ou literária 'poderão ser classificadas como atividades empresariais na medida em que o seu titular o empresário efetivamente organize o trabalho de

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terceiros, numa clara organização dos meios de produção, que nada mais é do que o elemento de empresa, também chamado de empresarialidade' (Manual de direito comercial, p. 13). Já RICARDO FIUZA, em outra variante, considera que, se a atividade intelectual possuir natureza econômica, estará caracterizado o elemento de empresa, quando assevera que 'se o exercício da profissão intelectual constituir elemento de empresa, isto é, estiver voltado para a produção ou circulação de bens e serviços, essas atividades intelectuais enquadram-se também como sendo de natureza econômica, ficando caracterizadas como atividades empresariais' (Novo Código Civil comentado, p. 967).”

Não discrepam deste entendimento os Enunciados 54, 194 e 195, aprovados pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, abaixo transcritos:

“É caracterizador do elemento empresa a declaração da atividade-fim, assim como a prática de atos empresariais.”

“Os profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se a organização dos fatores da produção for mais importante que a atividade pessoal desenvolvida.”

“A expressão 'elemento de empresa' demandainterpretação econômica, devendo ser analisada sob a égide da absorção da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos fatores da organização empresarial.”

Não pode ser outra a conclusão, portanto, senão a de que a agravante possui todas as características próprias de uma sociedade empresária, suscetível à disciplina da Lei nº 11.101/2005, conquanto constituída como sociedade simples cujo objetivo social consiste na prestação de serviços educacionais, de natureza intelectual.

Salutar transcrever, neste ponto, o comentário feito por Manoel Justino Bezerra ao artigo 1º desta lei especial (in “Lei de Recuperação de Empresas e Falência”, 8ª ed., RT, 2013, p. 63), aplicável à hipótese:

“Anote-se, ainda, que as sociedades civis que existiam no regime do Código Civil anterior, sujeitam-se às disposições desta lei se apresentarem o elemento de empresa. Imagine-se, por exemplo, a típica sociedade civil anterior (...). No regime do Código Civil anterior, tratava-se de sociedade civil, não passível de falência. Já no regime do Código Civil atual, e por portar os elementos de empresa (art. 966), é sociedade empresária, submetendo-se, em consequência, ao regime da presente Lei. Interessante observação é feita por Graciano Pinheiro de Siqueira, para tentar diferenciar sociedade simples de sociedade empresária, a partir do exame da organização da atividade. Diz ele que, 'se a organização da sociedade prevalecer sobre as características pessoais e profissionais dos sócios, é sociedade empresária. Se as características pessoais forem determinantes para a atividade, é sociedade simples.'”

Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso, mantendo-se a decretação da falência do Colégio Opec Organização Pinheirense de Educação e Cultura S/C Ltda.

JOSÉ REYNALDO

Relator’

Com todo respeito, em relação ao Acórdão anteriormente transcrito, discordamos quando o mesmo menciona que, pelo simples fato de ter a sociedade adotado o tipo empresário limitada ela tornou-se uma sociedade empresária, eis que, de acordo com o já citado Enunciado n° 57, do Conselho da Justiça Federal, “a opção pelo tipo empresarial não afasta a natureza simples da sociedade”, mantendo seu registro, portanto, perante o Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

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Também no Rio de Janeiro, encontramos decisão unânime proferida pela 9ª. Câmara Cível do Tribunal de Justiça daquele Estado, na Apelação n° 0106837-38.2004.8.19.001, cuja ementa segue abaixo:

“Apelação Cível. Pedido de falência. Prestação de serviço médico. Atividade empresarial. Reconheci mento. Sociedade irregular. Falta de registro na Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro. Reforma da decisão. Decretação da falência com reconhecimento da responsabilidade solidária e ilimitada dos sócios. Recurso provido”.

Reformando, pois, a decisão de primeiro grau, que entendeu não ser a sociedade em questão uma sociedade empresária, tendo em conta “não possuir os requisitos para a sua caracterização presentes no art. 966 do Código Civil”, o Tribunal vislumbrou seu enquadramento de modo diverso. Nas razões de decidir, o Colegiado deixou assentado: (...) No entanto, analisando os atos constitutivos, verifica-se presente a organização de administração, retirada de pro-labore, distribuição de lucros e rateio das despesas, além de evidente exercício de atividade econômica de forma organizada para a produção de serviços na área da saúde. A atividade exercida pela apelada não se enquadra na exceção prevista no parágrafo único do art. 966 do Código Civil. O fato de ser formada exclusivamente por profissionais da área da saúde, não afasta a caracterização do “elemento de empresa” (...)

Também em relação a essa decisão cabe, “data vênia” reparo, pois, ao que parece, foi a partir da análise do contrato social (método, no mínimo, controvertido), o Tribunal firmou convencimento de que a estruturação da sociedade conduzia à sua configuração como sociedade empresária, apesar desse contrato estar registrado perante o RCPJ, sob a rubrica de sociedade simples.

Em suma, tem-se que, como regra geral, a sociedade simples, não está sujeita à disciplina da Lei n° 11.101/2005. Todavia, caso seja provado que o exercício de sua atividade é desenvolvido com empresarialidade, onde a atuação pessoal dos sócios constitua, apenas, um elemento de empresa, poderá ela submeter-se aos efeitos da falência.

Bibliografia:

CAMPINHO, Sérgio. Reflexões sobre o Projeto de Código Comercial, obra coletiva coordenada por Fábio Ulhoa Coelho, Tiago Asfor Rocha Lima e Marcelo Guedes Nunes.

Sociedade Simples e Empresárias: Necessidade de uma Revisão de Conceitos. 2013. Editora Saraiva, págs. 425 a 436.

SIQUEIRA, Graciano Pinheiro. Novo Código Civil – Questões Controvertidas – Direito de Empresa – Série Grandes Temas de Direito Privado – Vol. 8, obra coletiva coordenada por Mário Luiz Delgado e Jones Figueirêdo Alves.

Dissolução da Sociedade Limitada por Deliberação dos Sócios: Questões controvertidas. 2010. Editora Método. Págs. 321 a 336.

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 5792 - 17/4/2013

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Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 6328 - 21/3/2014

OPINIÃO

•Da adaptação das associações, sociedades e fundações às disposições do Código Civil (CC, art. 2.031) –Graciano Pinheiro de Siqueira*

 

*O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP e Colunista do Boletim Eletrônico INR.

Nota da Redação INR: os editores das Publicações INR – Informativo Notarial e Registral alertam que os direitos relativos ao artigo opinativo publicado nesta edição foram adquiridos onerosamente por meio de contrato de cessão celebrado com o autor, e que a sua reprodução, em qualquer meio de comunicação, é terminantemente proibida.

Recentemente, o Exmo. Sr. Corregedor Geral da Justiça, Hamilton Elliot Akel, aprovou o Parecer 28/2014-E, relativo ao Processo n° 2013/166848 – São Paulo – Paulo Generoso (Classificadores INR-SP n° 039 – 27.02.2014), ao final transcrito, no sentido de orientar os Oficiais do Registro Civil das Pessoas Jurídicas a exigir, para o registro de distrato das sociedades constituídas antes da entrada em vigor do Código Civil de 2002, a adaptação de seu contrato social, na forma do seu art. 2.031, o qual, diante da relevância da matéria, foi publicado, por três vezes, no D.O.E.

Cabe ressaltar que a referida regra do art. 2.031 do diploma civil pátrio não se aplica apenas ao caso de distrato social, mas, também a todo ato de pessoa jurídica constituída antes da vigência do Código Civil de 2002, qualquer que seja a espécie desta (associação, sociedade e fundação), e, apesar do prazo de adequação já ter se expirado em 11 de janeiro de 2007, isso não significa que quem ainda não se adaptou esteja desobrigado de fazê-lo. Assim sendo, não será possível, v.g., averbar, no RCPJ, uma alteração de contrato social de simples mudança de sede, caso o contrato social não esteja adequado às regras do CC, no mínimo para dizer que a sociedade, que tinha natureza civil, passou a ter natureza simples ou empresária. Da mesma forma, não poderá ser averbada, p.ex., uma ata de eleição de Diretoria de associação, se esta não estiver com seu estatuto devidamente ajustado às disposições do atual Código Civil. O mesmo se diga em relação ao registro de livros contábeis das pessoas jurídicas, etc...

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Portanto, o Parecer, in comento, está de acordo com a doutrina e decisões administrativas existentes sobre a matéria. Todavia, a nosso ver, no caso específico de distrato social, a regra de que a falta de adaptação do contrato social impede o seu registro, comporta exceção, desde que a assinatura do instrumento tenha ocorrido antes da entrada em vigor do atual Código Civil, em face do disposto no art. 2.035 deste, 1ª. parte, que estabelece que “A validade dos negócios e demais atos jurídicos, constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045,...”, o que, reconhecemos, são casos bastante raros, mas que podem surgir.

Para sustentar nosso entendimento, passamos a tratar do tema “dissolução de sociedade contratual”.

Preliminarmente, cabe observar que, como bem adverte o Prof. Fábio Ulhoa Coelho, a “Dissolução é conceito que pode ser utilizado em dois sentidos diferentes: para compreender todo o processo de término da personalidade jurídica da sociedade comercial (sentido largo) ou para individuar o ato específico que desencadeia este processo ou que importa na desvinculação de um dos sócios do quadro associativo (sentido estrito)”.

Para melhor entendimento do assunto, trataremos da sequência de atos coordenados que visa por fim à personalidade jurídica de uma sociedade como sendo “processo de extinção da pessoa jurídica”, reservando o uso do termo “dissolução” para nos referir, apenas, à primeira fase desse processo. As demais fases são a liquidação e a extinção propriamente dita, como veremos.

Interessa-nos cuidar, aqui, tão somente, da extinção total de uma sociedade, processada extrajudicialmente, a qual pode se dar: I- pelo encerramento da liquidação (pago o passivo e rateado o ativo remanescente, o liquidante fará uma prestação de contas; aprovadas estas, encerra-se a liquidação, e a pessoa jurídica se extingue); e, II) pela incorporação, fusão ou cisão com versão de todo o patrimônio em outras sociedades.

Pois bem. A extinção de uma sociedade marca o término da sua existência; é o perecimento da organização ditado pela desvinculação dos elementos humanos e materiais que dela faziam parte. Dessa despersonalização do ente jurídico decorre a baixa dos respectivos registros, inscrições e matrículas nos órgãos competentes. A extinção, precedida pelas fases de liquidação do patrimônio social e da partilha dos lucros ou prejuízos entre os sócios, dá-se com o ato final, executado em dado momento, no qual se tem por cumprido todo o processo de liquidação.

Como visto, o ato inicial do processo que põe fim à personalidade jurídica é a dissolução, ato pelo qual se manifesta a vontade ou se constata a obrigação de encerrar a existência de uma sociedade. Pode ser definida como o momento em que se decide a sua extinção, passando-se, imediatamente, à fase de liquidação. Essa decisão pode ser tomada por deliberação dos sócios, observados os quóruns estabelecidos na legislação vigente, ou decorrer de determinação legal.

É importante ressaltar que a dissolução não retira da sociedade a personalidade jurídica, que se conserva até a sua extinção propriamente dita, com o fim de proceder à liquidação. Dizendo de outro modo, a dissolução não extingue a personalidade jurídica de imediato, pois a pessoa jurídica continua a existir até que se concluam as negociações pendentes, procedendo-se à liquidação das ultimadas, conforme disposto no art. 51 do Código Civil.

A liquidação, por sua vez, consiste no conjunto de atos preparatórios da extinção, voltados a realizar o ativo, pagar o passivo e destinar o saldo que houver (líquido), mediante partilha, aos componentes da sociedade, na forma do contrato social ou da lei. Pode ser voluntária (amigável, extrajudicial) ou forçada (judicial). Destarte, a liquidação corresponde ao período que antecede a extinção da pessoa jurídica, após ocorrida a causa que deu origem à sua dissolução, no qual ficam suspensas todas as negociações que vinham sendo mantidas como atividade normal, continuando apenas as já iniciadas, para serem concluídas. Nada impede, no entanto, que os sócios decidam pela cessação do estado de liquidação e volte a sociedade a

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exercer as atividades para as quais foi constituída, havendo, inclusive, previsão expressa nesse sentido (CC, art.1071, VI).

Também durante a liquidação, subsiste a personalidade jurídica da sociedade, que deverá fazer uso da expressão “em liquidação” no final de sua denominação. Nesta fase, não se interrompem ou modificam suas obrigações fiscais, qualquer que seja a causa da liquidação. Consequentemente, a pessoa jurídica será tributada até findar-se sua liquidação, ou seja, embora interrompida a normalidade da vida negocial pela paralisação da atividade-fim, deve o liquidante manter a escrituração de suas operações, levantar balanços periódicos, apresentar declarações, pagar os tributos exigidos e cumprir todas as demais obrigações previstas na legislação tributária.

Compete aos sócios, em reunião ou assembleia, não constando dos atos constitutivos, deliberar o modo de liquidação e nomear o liquidante, que poderá ser destituído, a qualquer tempo, pelo órgão que o tiver nomeado, em se tratando de dissolução de pessoa jurídica de pleno direito, como é o caso das sociedades contratuais (arts. 1.033, 1.044 e 1.089 do Código Civil).

Considera-se extinta a pessoa jurídica no momento do encerramento de sua liquidação, assim entendida a total destinação do seu acervo líquido, independentemente do assentamento do distrato social, o qual, não obstante, deve ser encaminhado, pelo liquidante, ao órgão de registro público competente, uma vez encerrada a liquidação, promovendo-se, assim, ao cancelamento da inscrição da pessoa jurídica. Este cancelamento, contudo, tem caráter meramente declaratório, já que a sociedade, uma vez liquidado o seu ativo e passivo, já deixou de ser pessoa jurídica.

Do exposto, podemos chegar às seguintes deduções:

1) A dissolução da sociedade não implica a extinção de sua personalidade jurídica, circunstância que se dá apenas por ocasião do término do procedimento de liquidação dos respectivos bens, direitos e obrigações.

2) Apurado o ativo e o passivo, o patrimônio líquido remanescente será partilhado entre os sócios, proporcionalmente à participação societária de cada um deles, salvo outra condição ajustada no Contrato Social, ou em ato posterior, como alteração, por exemplo. Concluída a partilha, encerra-se o processo de liquidação da sociedade, e, com tal fato, extingue-se a personalidade jurídica da mesma.

3) Não é o registro (leia-se averbação) do distrato social, no órgão de registro público competente (Junta Comercial ou Cartório), que faz com que a sociedade deixe de ser uma pessoa jurídica. Isso já acontece, de pleno direito, quando, repita-se, concluída a partilha, com o que se encerra o processo de liquidação.

4) Diferentemente do que ocorre com o registro do contrato social, que tem caráter constitutivo, dele surgindo a pessoa jurídica, a averbação do distrato social tem caráter meramente declaratório, eis que a desconstituição da personalidade jurídica já ocorreu com o fim da liquidação.

5) A não averbação do distrato social, em descumprimento ao disposto no art. 1.102, I, do Código Civil, implica numa irregularidade, pela qual o liquidante, bem como os sócios, responderão de forma pessoal e, consequentemente, de forma ilimitada. Essa condição, no entanto, em nada altera a situação da sociedade, que está de pleno direito dissolvida (leia-se extinta), com a consequente perda da personalidade jurídica pela ultimação da liquidação. O registro do distrato social dará, apenas, publicidade à extinção, daí a obrigação do liquidante de apresentá-lo perante o Cartório ou Junta Comercial, pois o registro produz efeitos erga omnes.

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Não é incomum a ocorrência da chamada “dissolução de fato”, onde os sócios, ao revés de observarem os procedimentos legais para extinção da sociedade, limitam-se a vender o patrimônio e encerrar as atividades, ou, como se diz, popularmente, “baixar as portas”. Tal situação é ilegal e comporta, como mencionado, a responsabilidade do liquidante e dos sócios pela dissolução irregular, que transforma a responsabilidade dos mesmos em responsabilidade ilimitada.

Em suma, se o distrato social foi assinado após a vigência do Código Civil atual, dúvida não há de que a adaptação prevista no seu art. 2031 é requisito sine qua non para sua averbação, em respeito ao principio do “tempus regit actum”, pelo qual o título deve guardar conformidade com as regras do registro no momento da apresentação. Este, entretanto, não deve prevalecer, s.m.j., se o distrato tiver sido assinado antes da entrada em vigor do aludido Codex, estando, inclusive, com firmas reconhecidas da época em que firmado, tratando-se, pois, de ato jurídico perfeito, realizado à luz da legislação anterior, daí dever prevalecer o princípio da irretroatividade das leis, com a consequente dispensa da aludida adequação, aplicando-se ao caso a regra do art. 2.035 do Código Civil, 1ª. parte.

Essa é, a propósito, a mesma situação da sociedade existente antes da entrada em vigor do Código Civil, em face da regra contida no art. 977 do Código Civil, que prevê a impossibilidade de constituição de sociedade entre marido e mulher quando forem os mesmos casados pelo regime da comunhão universal de bens ou da separação obrigatória, e que tanta polêmica causou, a ponto de se afirmar, num primeiro momento, que mesmo as sociedades antigas deveriam se adaptar ao Código Civil, impossibilitando a sua continuidade caso os sócios fossem casados entre si por um daqueles regimes de bens, em total desrespeito ao direito adquirido e, por via de consequência, ao ato jurídico perfeito, situação esta já pacificada no sentido de que as sociedades antigas, compostas por sócios que sejam casados entre si, podem continuar existindo, qualquer que seja o regime de bens por eles adotado.

Já no caso, p.ex., de uma alteração de contrato social firmada antes da vigência do CC/02, esta não poderá ser averbada, sem que ocorra a adequação do art. 2031, não podendo ser falar em ato jurídico perfeito. É que o contrato de sociedade é contrato de trato sucessivo, que não se esgota no momento de sua pactuação. Se a sociedade continua existindo, não poderá ela qualificar-se, após o advento do CC/02, como sociedade civil, já que este novo diploma das relações privadas não mais contempla tal natureza de sociedade.

Por fim, fica uma pergunta: considerando-se que o distrato foi assinado antes da vigência do Código Civil e um dos ex-sócios vem a falecer. Como fica essa situação se o entendimento for no sentido de que o registro do documento depende de adaptação do contrato social às regras do Código Civil?

Para reflexão.

“DICOGE 5.1

PROCESSO Nº 2013/166848 - SÃO PAULO - PAULO GENEROSO.

Parecer (28/2014-E)

REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS - Necessidade de adaptação das sociedades, constituídas na forma de leis anteriores ao Código Civil de 2002, antes de sua regular extinção - Inteligência do art. 2.031 e artigos que tratam da dissolução e liquidação das sociedades - Exigência correta.

Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça:

Cuida-se de procedimento iniciado por interessado em registrar distrato de empresa inativa, ao argumento de que não é razoável que, para essa providência, o Oficial do Registro Civil das Pessoas Jurídicas exija sua adaptação ao Código Civil de 2002.

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Colheram-se informações na ANOREG e do IRTDPJ-SP, que esclareceram que a exigência é justificada, na medida em que o art. 2.031 do Código Civil concedeu prazo para a adaptação e ela é necessária para que se proceda à correta dissolução e liquidação das sociedades.

É o relatório.

Passo a opinar.

A exigência é mesmo justificada.

Com efeito, não obstante a inatividade de fato de uma sociedade, ela permanece, enquanto não dissolvida, existente e sujeito de obrigações.

Por essa razão, os artigos 1.102 e seguintes prescrevem a forma como, depois de dissolvida a sociedade, ela será liquidada.

Apenas após a regular liquidação, com seu encerramento, é que se verificará a existência de credores não satisfeitos e se apurará a responsabilidade dos sócios e até mesmo do liquidante.

Para essa verificação, no entanto, é necessário que a sociedade esteja adaptada ao regime do Código Civil. Ao contrário do que imagina o interessado e muitos sócios que pretendem a pura e simples extinção formal das sociedades de que fazem parte, essa extinção é condicionada ao regramento legal.

Esse regramento veio exposto, de maneira detalhada, no Código Civil. Como corolário, o mesmo diploma legal, em suas Disposições Finais e Transitórias, dispôs, no art. 2.031, que “as associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis anteriores, bem como os empresários, deverão se adaptar às disposições deste Código até 11 de janeiro de 2007.”

Veja-se que foi concedido tempo absolutamente suficiente para a adaptação, quatro anos desde a entrada em vigor do Código. Ainda que se trate de sociedades inativas, de fato, mas formalmente ativas e, por isso, sujeitos de direitos e obrigações, a adaptação era cogente e, necessariamente, anterior à dissolução e extinção.

Em resumo: pretendendo-se a extinção da sociedade, deve-se seguir o que determina o regramento do Código Civil. E para a obediência a esse regramento, o primeiro passo é a adaptação. Cuida-se, frise-se, de normas cogentes, que o Oficial não pode ignorar.

Logo, não é mesmo viável permitir o registro de distrato sem que, antes, se adapte a sociedade, na forma do art. 2.031 do Código Civil e sejam obedecidas as suas prescrições.

Assim, o parecer que submeto a Vossa Excelência é no sentido de orientar os Oficiais do Registro Civil das Pessoas Jurídicas a exigir, para o registro de distrato das sociedades constituídas antes da entrada em vigor do Código Civil de 2002, a adaptação de seu contrato social, na forma do seu art. 2.031. E, diante da relevância da matéria, sugiro a publicação do presente parecer, por três vezes, no D.O.E.

Sub censura.

São Paulo, 30 de janeiro de 2014.

Swarai Cervone de Oliveira

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Juiz Assessor da Corregedoria

DECISÃO: Vistos. Aprovo o parecer do MM. Juiz Auxiliar da Corregedoria, por seus fundamentos, e determino a publicação do parecer, para orientação aos Oficiais do Registro Civil das Pessoas Jurídicas, em três dias alternados no D.O.E. Publique-se.

São Paulo, 11 de fevereiro de 2014. (a) HAMILTON ELLIOT AKEL, Corregedor Geral da Justiça. (D.J.E. de 27.02.2014 - SP)”

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 6328 - 21/3/2014

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 6006 - 28/8/2013

OPINIÃO

•Das novas normas relativas ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas – Graciano Pinheiro de Siqueira*

 

*O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP e Colunista do Boletim Eletrônico INR.

Nota da Redação INR: os editores das Publicações INR – Informativo Notarial e Registral alertam que os direitos relativos ao artigo opinativo publicado nesta edição foram adquiridos onerosamente por meio de contrato de cessão celebrado com o autor, e que a sua reprodução, em qualquer meio de comunicação, é terminantemente proibida.

No dia 09 de agosto de 2013 foi disponibilizado, no Diário da Justiça Eletrônico – Caderno Administrativo, São Paulo, Ano VI – Edição 1473, páginas 10 a 14, o Provimento n° 23/2013, decorrente do Parecer 274/2013-E, que modificou, integralmente, o Capítulo XVIII, do Tomo II, das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo, dando sequência, assim, às atualizações que vêm sendo efetuadas nos diversos Capítulos do referido Tomo, com objetivo de constante aperfeiçoamento do regramento administrativo existente, o que, em relação ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, se fazia mesmo necessário, em face, especialmente, das profundas alterações ocorridas na legislação civil pátria e inseridas no atual Código Civil, notadamente aquelas verificadas em seu Livro II, que trata do Direito de Empresa, devendo, aludido Provimento, entrar em vigor 60 (sessenta) dias após a sua primeira publicação.

No entanto, como reconhece o próprio Parecer anteriormente mencionado, as atualizações aprovadas “foram pontuais, objetivando simplesmente adequar o texto administrativo ao sistema legal e jurisprudencial atual”, daí poder-se dizer que foram mínimas, diferentemente do que se observa em relação ao também novel Código de Normas e Procedimentos dos Serviços Notariais e de Registro do Estado da Bahia, aprovado pelo Provimento Conjunto n° CGJ/CCI – 009/2013, disponibilizado no Diário da Justiça Eletrônico n° 1013, de 13 de agosto de 2013, Cad. 1, página 106 e seguintes, que, no Título V, cuida de forma detalhada e até mesmo mais avançada sobre o assunto.

A maior crítica que pode ser feita ao texto paulista reside no fato de que o mesmo não tratou do registro eletrônico, uma vez que a Lei n° 11.977, de 7 de julho de 2009, prevê a instituição,

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para todas as especialidades, de sistema de registro eletrônico, observados os prazos e condições estabelecidos em regulamento (art. 37).

Em relação à redação ainda vigente, podemos elencar as seguintes modificações:

1) o RCPJ terá por atribuição registrar os atos constitutivos, contratos sociais e estatutos das sociedades simples (não se fala mais em sociedade civil), ainda que adotem tipo empresário (não se fala mais em sociedade comercial), com exceção das sociedades por ações (sociedade anônima e sociedade comandita por ações); das associações; das organizações religiosas; das fundações de direito privado; das empresas individuais de responsabilidade limitada, de natureza simples; das cooperativas; e, dos sindicatos.

Destaca-se a possibilidade do registro da EIRELI (de natureza simples) e da cooperativa, em que pese divergência doutrinária a respeito do tema.

Quanto aos sindicatos, ratifica-se a posição pacífica do STJ no sentido de que a aquisição da personalidade jurídica dos mesmos se dá com o registro de seu estatuto perante o RCPJ, ainda que, “a posteriori”, continue sendo feito o registro sindical junto ao Ministério do Trabalho e Emprego, para efeito, especialmente, do controle do princípio da unicidade sindical, segundo o qual somente pode existir uma única organização sindical na mesma base territorial (área de atuação do sindicato), a qual não pode ser inferior à área de um Município.

Em relação aos livros das pessoas jurídicas nada se falou sobre o recebimento dos mesmos no meio eletrônico, em face do que dispõe o Decreto 6.022, de 22 de janeiro de 2007 (alterado pelo Decreto 7.979, de 08 de abril de 2013), que instituiu o Sistema Público de Escrituração Digital-Sped para o empresário e às pessoas jurídicas, inclusive imunes e isentas. Vale dizer: o Sped será aplicável a qualquer das pessoas jurídicas arroladas no art. 44 do Código Civil.

2) O visto de advogado somente será exigido nos atos constitutivos (não se fala mais em visto nas alterações), o que melhor se coaduna com o disposto no parágrafo 2°, do art. 1°, da Lei n° 8.906, de 4 de julho de 1994 (Estatuto da Advocacia) e no art. 36, do Decreto n° 1800, de 30 de janeiro de 1996, Decreto este que regulamentou a Lei n° 8934, de 18 de novembro de 1994, sendo certo que, em se tratando de sociedade ou EIRELI enquadradas como ME ou EPP, o visto será dispensado.

3) Como regra geral, o registro (lato senso) de atos relativos a uma fundação devem ser submetidos à apreciação, prévia, da Curadoria de Fundações (MP), exceto se se tratar de fundação previdenciária, cuja autorização será concedida pelo órgão regulador e fiscalizador competente, nos termos da Lei Complementar n° 109, de 29 de maio de 2001.

Daquilo que ficou mantido, pensamos que merecem maior reflexão, para eventual modernização, os seguintes itens:

a) 3, que estabelece que “É vedado, na mesma Comarca, o registro de pessoas jurídicas com nome empresarial (denominação social ou razão social) ou denominação idêntica ou semelhante a outra já existente, que possa ocasionar dúvida aos usuários do serviço”.

É que tal dispositivo colide com a regra do “caput” do art. 1166, do Código Civil, que assegura o uso exclusivo do nome nos limites do Estado (e não apenas da Comarca).

b) 18, 19 (e subitem 19.1) e 20, que, em suma, exigem prova de inscrição prévia em Conselho Regional, com indicação do respectivo responsável técnico, quando a sociedade atuar em área de profissão regulamentada.

Como já nos manifestamos anteriormente (Boletim Eletrônico   INR   n° 5756 , de 26/03/2013 ), a matéria vem sendo tratada de forma equivocada, daí ser merecedora de reparos. Senão, vejamos.

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Com efeito, cabe, preliminarmente, na análise da questão, destacar o fato jurídico relevante, relativo ao início da personalidade jurídica, conforme preceitua o artigo 45 do Código Civil vigente, “in verbis”:

“Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo”.

Assim, somente depois da solenidade havida perante o órgão de registro público competente, no caso o Registro Civil das Pessoas Jurídicas, é que o ente adquire personalidade jurídica, o que lhe permite ser considerado “sujeito de direito”, ou seja, titular de direitos e obrigações na órbita da vida civil.

Já o artigo 1° da Lei n° 6.839/80, e cujo teor é abrangente e vago ao mesmo tempo, cuida de tema diverso, qual seja, o do funcionamento, isto é, do exercício da atividade profissional, como se pode verificar pela sua simples leitura:

“Art. 1°. O registro de empresas e anotações dos profissionais legalmente habilitados, delas encarregados, serão obrigatórios nas entidades competentes para a fiscalização do exercício das diversas profissões, em razão da atividade básica ou em relação àquela pela qual prestem serviços a terceiros”.

Note-se, a propósito, que em momento algum, na redação do citado art. 1°, faz-se menção a registro prévio, antecedente mesmo do registro em Cartório. O que se depreende dos termos da referida norma, de iniciativa do Ministério do Trabalho, é que, em se tratando de empresas (leia-se sociedades) organizadas e voltadas eminentemente à prestação dos diversos serviços de profissionais liberais, somente poderão elas funcionar desde que devidamente registradas nos Conselhos Regionais competentes, e sob a responsabilidade de técnico igualmente habilitado por tais Conselhos.

Não nos é dado confundir, porém, dois momentos jurídicos que, embora relevantes, são distintos entre si – o da existência legal e o do funcionamento. No primeiro caso, os órgãos competentes são os registros públicos, e, no segundo, as entidades competentes para a expedição de “alvarás” para funcionamento, os quais têm o poder de polícia para fiscalizar o funcionamento do estabelecimento.

Pela lógica, a aquisição da personalidade jurídica, obtida com o registro em Cartório ou na Junta Comercial, deve anteceder à autorização para funcionamento, concedida pelo Conselho Regional competente, a qual, diga-se de passagem, não se confunde com aquela autorização, prevista no artigo 45 do Código Civil, necessária, excepcionalmente, para a existência da própria pessoa jurídica.

Nessa segunda fase aventada, quando a atividade é regulamentada e para ela se exige um técnico responsável, é que atuam os Conselhos Regionais, cuja atuação é voltada aos seus filiados e não à empresa em si.

Imprescindível é, portanto, que se vislumbre, primordialmente, a distância que se verifica entre a aquisição da personalidade jurídica e a aquisição de habilitação para funcionamento de uma pessoa jurídica.

Cumpre ainda ressaltar que existe uma diferença marcante entre o exercício da profissão própria do profissional liberal e a exploração da atividade feita por pessoa jurídica, que não se confunde nem com o profissional, nem com a atividade técnica profissional que é privativa do mesmo.

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Com efeito, certas atividades profissionais admitem, por sua natureza, a arregimentação de capital e força de trabalho para que possa ser exercida na forma “empresarial”, isto é, com risco, concursos de várias pessoas e fins lucrativos.

O direito de exercício de atividade econômica, é importante dizer, não constitui um dom que o indivíduo haja recebido de leis.

Sem dúvida, a passagem preliminar dos atos constitutivos e de alterações subsequentes por qualquer Conselho Regional é algo que burocratiza o registro de uma pessoa jurídica. A maioria deles, sequer, analisa o documento, em que pesem mantenham-no consigo por muitos dias, estando mais preocupados com outras questões, dentre as quais o recebimento de anuidades, muitas vezes exorbitantes, com valores bem acima daqueles cobrados pelo órgão de registro público.

Há Conselhos que até, em determinado período do ano, paralisam, temporariamente, suas atividades, em decorrência, por exemplo, de datas festivas.

Isso posto, tem-se, claramente, que só após o início da existência legal é que a pessoa está sujeita ao cumprimento de formalidades legais necessárias ao seu funcionamento, tais como: inscrição no CNPJ, alvará de localização, inscrição municipal, inscrição estadual, bem assim inscrição em Conselhos Regionais.

No âmbito das Juntas Comerciais, inclusive, a dispensa de passagem prévia por Conselho Regional está expressa na lei, nos termos do art. 37, do Decreto n° 1.800/96, que assim estabelece:

“Art. 37. O arquivamento de ato de empresa mercantil sujeita a controle de órgão de fiscalização de exercício profissional não dependerá de aprovação prévia desse órgão”.

Lembre-se que referido Decreto regulamentou a Lei n° 8.934/94, que trata do Registro Público de Empresas Mercantis.

A rigor, por força do disposto no artigo 1.150 do Código Civil, a regra acima mencionada deveria estar sendo observada e aplicada pelos RCPJs, já que, no mais das vezes, a sociedade simples adota o tipo “limitada”, espécie de sociedade empresária.

Ademais, não poderão ser exigidos pelos órgãos e entidades envolvidos na abertura e fechamento de empresas, dos 3 (três) âmbitos de governo, comprovação de regularidade de prepostos dos empresários ou pessoas jurídicas com seus órgãos de classe, sob qualquer forma, como requisito para deferimento de ato de inscrição, alteração ou baixa de empresa, bem como para autenticação de instrumento de escrituração (art. 10, III, da Lei Complementar n° 123/06 – Lei Geral da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte).

Por todo exposto, nosso entendimento é de que o tema deve, “data vênia”, ser revisto, devendo a passagem por Conselho Regional ser efetuada posteriormente ao registro público, facilitando, deste modo, o acesso dos atos constitutivos e de suas modificações ao sistema. Esta, inclusive, a posição adotada pelo Estado da Bahia (vide art. 715 do Código de Normas).

c) 22, que exige, para o caso de transferência de sede, de uma Comarca para outra (o que se aplica também às hipóteses de criação de filial e de mudança de natureza de sociedade), certidão de inteiro teor.

A nosso ver, caso no instrumento que formaliza a transferência de sede, a criação de filial ou a mudança de natureza, tenha sido feita a consolidação do contrato social, bastaria apresentação de certidão em breve relato, o que, por certo, além de desburocratizar, proporcionará, ao interessado no registro, sensível economia em termos de custo de emolumentos.

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Para efeito de conhecimento e também de comparação, transcrevemos abaixo as novas normas relativas ao RCPJ, tanto do Estado de São Paulo, como do Estado da Bahia.

CAPÍTULO XVIII

DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICASSEÇÃO IDA ESCRITURAÇÃO1. É atribuição dos Oficiais do Registro Civil das Pessoas Jurídicas:a) registrar os atos constitutivos, contratos sociais e estatutos das sociedades simples; das associações; das organizações religiosas; das fundações de direito privado; das empresas individuais de responsabilidade limitada, de natureza simples; das cooperativas; e, dos sindicatos.b) registrar as sociedades simples revestidas das formas empresárias, conforme estabelecido no Código Civil, com exceção das sociedades anônimas e das sociedades em comandita por ações.c) matricular jornais, revistas e demais publicações periódicas, oficinas impressoras, empresas de radiodifusão que mantenham serviços de notícias, reportagens, comentários, debates e entrevistas, e as empresas que tenham por objeto o agenciamento de notícias.d) averbar, nas respectivas inscrições e matrículas, todas as alterações supervenientes.e) fornecer certidões dos atos arquivados e dos que praticarem em razão do ofício.f) registrar e autenticar livros das pessoas jurídicas registradas, exigindo a apresentação do livro anterior, observando-se sua rigorosa sequência numérica, com a comprovação de, no mínimo, 50% (cinquenta por cento) da utilização de suas páginas, bem como uma cópia reprográfica do termo de encerramento para arquivo no Serviço.1.1. Os atos constitutivos, contratos sociais e estatutos das sociedades simples, associações, organizações religiosas, fundações de direito privado, empresas individuais de responsabilidade limitada, cooperativas e associações só serão admitidos a registro e arquivamento quando visados por advogado, devidamente identificado com nome e número de inscrição na OAB, exceto no caso de sociedade simples enquadrada como Microempresa (ME) ou Empresa de Pequeno Porte (EPP), quando o visto é dispensado.1.2. O registro de atos relativos a uma fundação só será feito se devidamente autorizado pelo Ministério Público.1.3. No caso de fundação previdenciária, a autorização, excepcionalmente, caberá ao órgão regulador e fiscalizador competente, vinculado ao Ministério da Previdência Social, nos termos da Lei Complementar nº 109/01, que trata da previdência complementar (previdência privada).2. É vedado o registro de quaisquer atos relativos às sociedades simples; associações; organizações religiosas; fundações de direito privado; empresas individuais de responsabilidade limitada, de natureza simples; cooperativas; e, sindicatos, se os atos constitutivos não estiverem registrados no mesmo Serviço.3. É vedado, na mesma Comarca, o registro de pessoas jurídicas com nome empresarial (denominação social ou razão social) ou denominação idêntica ou semelhante a outra já existente, que possa ocasionar dúvida aos usuários do serviço.4. A execução dos serviços concernentes ao registro do empresário constitui atribuição exclusiva do Registro Público de Empresas Mercantis (Junta Comercial).5. Além dos livros e classificadores obrigatórios e comuns a todas as Serventias (item 44, do Capítulo XIII, das NSCGJ), deve o Serviço do Registro Civil das Pessoas Jurídicas manter os seguintes livros:a) A, para os fins indicados no item1, alíneas a e b, com 300 (trezentas) folhas;b) B, para a matrícula de oficinas impressoras, jornais, periódicos, empresas de radiodifusão e agências de notícias, com 150 (cento e cinquenta) folhas;c) Protocolo, para lançamento de atos, conforme previsto no item 6 e prenotação dos títulos não registrados imediatamente.5.1. Os livros A e B poderão ser substituídos pelo sistema de microfilmagem, com termos de abertura e encerramento no início e no fim de cada rolo de microfilme.6. Serão lançados no livro Protocolo todos os requerimentos, documentos, papéis e títulos ingressados, que digam respeito a atos de registro ou averbação.6.1. A escrituração do livro deverá ser independente do Livro Protocolo do Registro de Títulos e Documentos.

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7. O livro Protocolo poderá ser escriturado pelo sistema de folhas soltas, colecionadas em pastas, em ordem numérica e cronológica, contendo 300 (trezentas) folhas, ou mais as necessárias para que se complete o expediente do dia em que esse número for atingido.7.1. A natureza do documento ou título poderá ser indicada abreviadamente.7.2. Faculta-se a substituição da coluna destinada ao lançamento do dia e mês por termo de encerramento diário, lavrado pelo oficial, seu substituto legal ou escrevente autorizado.7.3. Quando microfilmado, quer por ocasião do encerramento, quer diariamente, o termo diário de encerramento deverá inutilizar todo o espaço não aproveitado da folha.7.4. O número de ordem começará de 1 (um) e seguirá ao infinito, sem interrupção.8. Os atos constitutivos de pessoas jurídicas e suas alterações não poderão ser registrados quando o seu objeto ou circunstâncias relevantes indiquem destino ou atividades ilícitos ou contrários, nocivos ou perigosos ao bem público, à segurança do Estado e da coletividade, à ordem pública ou social, à moral e aos bons costumes.8.1. Ocorrendo quaisquer desses motivos, o oficial do registro, de ofício ou por provocação de qualquer autoridade, sobrestará o processo de registro, prenotará o título e suscitará dúvida para o Juiz Corregedor Permanente, que a decidirá.9. Os exemplares de contratos, atos, estatutos e publicações registrados deverão ser arquivados e encadernados por período certo, ou microfilmados, com índice em ordem cronológica e alfabética, permitida a adoção do sistema de fichas.9.1. Será elaborado idêntico índice para todos os registros lavrados.9.2. Entende-se como período certo, para os fins deste inciso, o ano civil ou meses nele compreendidos.9.3. Do índice constará, além do nome da pessoa jurídica, as seguintes informações:a) No caso de sociedades e EIRELI o nome completo dos sócios e dos administradores, com a indicação de sua nacionalidade, estado civil, profissão, endereço, identidade e CPF, em sendo pessoas físicas, o nome, endereço e CNPJ para o caso de pessoas jurídicas, bem como a quantidade de cotas e o valor da participação no capital social;b) Para as associações e fundações o nome completo dos administradores, com a indicação de sua nacionalidade, estado civil, profissão, endereço, identidade e CPF.10. Quando o funcionamento da sociedade depender de aprovação da autoridade, sem esta não poderá ser feito o registro.SEÇÃO IIDA PESSOA JURÍDICA11. Para o registro da pessoa jurídica serão apresentadas duas vias originais do ato constitutivo, contrato social ou estatuto, pelas quais far-se-á o registro, mediante requerimento escrito firmado pelos sócios, administrador, designado na forma da lei, ou interessado, considerado este como toda e qualquer pessoa que, tendo direito ou legítimo interesse, possa ser afetada pela ausência do arquivamento do ato.11.1. Quando da apresentação do estatuto de entidade sem fins lucrativos, deverão ser juntadas a ata de constituição e a de eleição e posse da primeira diretoria e demais órgãos, estando seus integrantes devidamente qualificados e com mandato fixado, nada impedindo a existência de uma única ata para tratar de ambos os temas.11.2. Todas as folhas dos contratos constitutivos de sociedade deverão ser rubricadas por todos os sócios e, ao final, o reconhecimento de suas assinaturas. Nas entidades sem fins lucrativos a rubrica será aposta por seu representante legal, com o reconhecimento de sua firma ao final.12. Se o registro não puder ser efetuado imediatamente, o Oficial prenotará o título atribuindo-lhe o respectivo número de ordem e informará ao apresentante, por escrito e com recibo, o dia em que o documento estará registrado e disponível ou com a indicação dos motivos pelos quais não o efetuou. Esse prazo será de 10 (dez) dias úteis, contados da data da prenotação.13. Se na comarca houver mais de um Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o Oficial informará aos demais o nome com o qual pretenda a pessoa jurídica ser constituída para os fins do disposto no item 3, devendo estes responder no prazo de 2 (dois) dias úteis.14. Havendo exigência a ser satisfeita, o oficial indica-la-á por escrito ao apresentante, que, no prazo de trinta dias contados de seu lançamento no protocolo, poderá satisfazê-la ou requerer a suscitação de dúvida.14.1. As exigências deverão ser formuladas de uma só vez, de forma clara e objetiva, em papel timbrado, com identificação e assinatura do oficial ou do escrevente responsável.

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14.2. A cópia da nota de devolução, com o recibo do apresentante, será arquivada em pasta segundo a ordem cronológica, a fim de possibilitar o controle das exigências e a observância dos prazos.14.3. A ocorrência da devolução com exigência será lançada na coluna própria do Livro de Protocolo. Satisfeita a exigência no prazo, o reingresso do título será também lançado na mesma coluna; se o título for reapresentado sem o cumprimento da exigência ou fora do prazo, o mesmo será objeto de outra prenotação.14.4. Não satisfeita a exigência nem requerida a suscitação de dúvida no prazo referido neste item, o oficial cancelará a prenotação.15. Na hipótese de dúvida, o oficial anotará no Livro de Protocolo sua ocorrência e dará ciência de seus termos ao apresentante, fornecendo-lhe cópia da suscitação e notificando-o para impugná-la, perante o juízo competente, no prazo de quinze dias.15.1. Certificado o cumprimento do disposto neste item, remeter-se-ão ao juízo competente, mediante carga, as razões da dúvida, acompanhadas do título.16. Não havendo impedimento ao registro ou sendo a dúvida julgada improcedente, o oficial o fará, obedecidas as seguintes indicações:a) a denominação, o fundo social, quando houver, os fins e a sede da associação ou fundação, bem como o tempo de sua duração;b) o modo por que se administra e representa a sociedade, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente;c) se o estatuto, o contrato ou o compromisso é reformável, no tocante a administração, e de que modo;d) se os membros respondem ou não, subsidiariamente pelas obrigações sociais;e) as condições de extinção da pessoa jurídica e nesse caso o destino do seu patrimônio; ef) os nomes dos fundadores ou instituidores e dos membros da diretoria, provisória ou definitiva, com a indicação da nacionalidade, estado civil e profissão de cada um, bem como o nome e residência do requerente do registro.17. Todos os documentos que, posteriormente, autorizem averbações, deverão ser juntados aos autos que derem origem ao registro, com a respectiva certidão do ato realizado; quando arquivados separadamente dos autos originais e suas alterações, estas deverão reportar-se obrigatoriamente a eles, com referências recíprocas.17.1. As averbações serão concentradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas em que foi efetuado o registro do ato constitutivo, contrato social ou estatuto, vedando-se sua consecução em qualquer outra unidade.17.2. Nas averbações, é obrigatória a inserção do número de inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), desde que devidamente efetuada, que passará a integrar o índice.18. As averbações referentes às fundações dependerão da anuência do Ministério Público, exceto em se tratando de fundação previdenciária, cuja anuência será dada pelo órgão regulador e fiscalizador vinculado ao Ministério da Previdência Social.19. Para o registro dos atos constitutivos e de suas alterações, das sociedades a que se refere o artigo 1º da Lei Federal6.839, de 30 de outubro de 1980, exigir-se-á a comprovação do pedido de inscrição no respectivo órgão de disciplina e fiscalização do exercício profissional.19.1. Em razão do disposto no Decreto nº 60.459/67, na Resolução nº 81/2002, do Conselho Nacional de Seguros Privados e na Circular nº 127/2000 da Superintendência de Seguros Privados, a previsão supra (item 19) não se aplica às hipóteses de registro e averbações relativos às Sociedades Corretoras de Seguros.20. Será obrigatória a comprovação da existência de um responsável técnico da empresa, quando a lei assim o dispuser.21. É vedado o registro, no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, da constituição de sociedade de advogados.22. Nas hipóteses de transferência de sede e demais registros de ato oriundo de outra Comarca, o requerimento deverá estar instruído com certidão, de inteiro teor, dos atos registrados na unidade registral de origem.23. As publicações da imprensa relacionadas às pessoas jurídicas registradas serão arquivadas por página inteira, no original ou cópia autenticada.SEÇÃO IIIDO REGISTRO DE JORNAIS; OFICINAS IMPRESSORAS; EMPRESAS DE RADIODIFUSÃO E AGÊNCIAS DE NOTÍCIASDO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICA

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24. Os pedidos de matrícula serão feitos mediante requerimento, contendo as informações e instruídos com os documentos seguintes:I - em caso de jornais e outros periódicos:a) título do jornal ou periódico, sede da redação, administração e oficinas impressoras, esclarecendo, quanto a estas, se são próprias ou de terceiros, e indicando, neste caso, os respectivos proprietários;b) nome, nacionalidade, estado civil, profissão, RG, CPF, domicílio e prova da nacionalidade do diretor ou redator-chefe;c) nome, nacionalidade, estado civil, profissão, RG, CPF, domicílio e prova da nacionalidade do proprietário;d) se propriedade de pessoa jurídica, exemplar do respectivo ato constitutivo, contrato social ou estatuto, bem como nome, nacionalidade, estado civil, profissão, RG, CPF, domicílio e prova de nacionalidade dos diretores, administradores e sócios/associados/membros, além da indicação de sua inscrição no CNPJ.II - em caso de oficinas impressoras:a) nome, nacionalidade, estado civil, profissão, RG, CPF, domicílio e prova de nacionalidade do administrador e do proprietário, se pessoa natural.b) sede da administração, lugar, rua e número onde funcionam as oficinas e denominação destas;c) se propriedade de pessoa jurídica, exemplar do respectivo ato constitutivo, contrato social ou estatuto, bem como nome, nacionalidade, estado civil, profissão, RG, CPF, domicílio e prova da nacionalidade dos diretores, administradores e sócios/associados/membros da proprietária, além da indicação de sua inscrição no CNPJ;III - em caso de empresas de radiodifusão:a) designação da emissora, sede de sua administração e local das instalações do estúdio;b) nome, nacionalidade, estado civil, profissão, RG, CPF, domicílio e prova da nacionalidade do diretor ou redator-chefe responsável pelos serviços de notícias, reportagens, comentários, debates e entrevistas;IV - em caso de empresas noticiosas:a) nome, nacionalidade, estado civil, profissão, RG, CPF, domicílio e prova da nacionalidade do administrador e do proprietário, se pessoa natural;b) sede da administração;c) se propriedade de pessoa jurídica, exemplar do respectivo ato constitutivo, contrato social ou estatuto, bem como nome, nacionalidade, estado civil, profissão, RG, CPF, domicílio e prova da nacionalidade dos diretores, administradores e sócios/associados/membros da proprietária, além da indicação de sua inscrição no CNPJ.25. As alterações em qualquer dessas declarações ou documentos deverão ser averbadas na matrícula no prazo de 8 (oito) dias e a cada ato deverá corresponder um requerimento.26. Verificando o oficial que os requerimentos de averbação acham-se fora de prazo, ou que os pedidos de matrícula referem-se a publicações já em circulação, representará ao Juiz Corregedor Permanente, para considerar sobre a aplicação da multa.27. A multa prevista no artigo 124 da Lei de Registros Publicos será fixada de acordo com os valores de referência, estabelecidos pelo Governo Federal.28. Salvo disposição em contrário, a multa será recolhida pelo interessado à União, em guias próprias.29. O processo de matrícula será o mesmo do registro das sociedades e fundações.29.1. O requerente apresentará sua petição em duas vias, com firmas reconhecidas, acompanhada dos documentos exigidos na lei; autuada a primeira via juntamente com os documentos, o oficial rubricará e numerará as folhas, certificando os atos realizados.29.2. O oficial lançará, nas duas vias, a certidão do registro, com o respectivo número de ordem, livro e folha, entregando a segunda ao requerente.SEÇÃO IVDO REGISTRO E AUTENTICAÇÃO DOS LIVROS CONTÁBEIS DE PESSOAS JURÍDICAS30. Sem prejuízo da competência das repartições da Secretaria da Receita Federal do Brasil, os Oficiais do Registro Civil das Pessoas Jurídicas poderão registrar e autenticar os livros contábeis, obrigatórios e facultativos, das pessoas jurídicas cujos atos constitutivos nele estejam registrados, ou as fichas que os substituírem.30.1. Quando os instrumentos de escrituração mercantil forem conjuntos de fichas ou folhas soltas, formulários impressos ou livros escriturados por processamento eletrônico de dados, poderão ser apresentados à autenticação encadernados, emblocados ou enfeixados.

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30.2. A autenticação de novo livro será feita mediante a exibição do livro anterior a ser encerrado.31. Faculta-se o uso de chancela para a rubrica dos livros, devendo constar do termo o nome do funcionário ao qual for atribuído esse encargo.32. Não há necessidade de requerimento escrito solicitando registro e rubrica de livros.33. A autenticação será efetuada com a microfilmagem do termo ou sua anotação no livro de registro, dispensando-se a adoção de livro especial.34. Se adotado o sistema de fichas, poder-se-á escriturar englobadamente ambos os livros, abrindo-se uma ficha para cada sociedade, nela fazendo constar o registro e as autenticações subsequentes.35. As custas e emolumentos correspondentes serão cobrados na mesma proporção dos valores previstos para a autenticação de livros comerciais pelos Distribuidores.”

TÍTULO V

DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICASCAPÍTULO IDAS FUNÇÕESArt. 702. Aos Oficiais do Registro Civil de Pessoas Jurídicas compete:I. registrar os atos constitutivos ou os estatutos das associações, das organizações religiosas, dos sindicatos e das fundações, exceto as de direito público;II. registrar os contratos sociais das sociedades simples, independente de seu objeto, quer adotem o tipo simples (simples pura) quer adotem os tipos empresários, com exceção da sociedade anônima e da sociedade em comandita por ações, bem como das cooperativas e das empresas individuais de responsabilidade limitada de natureza simples;III. registrar jornais e demais publicações periódicas, oficinas impressoras, empresas de radiodifusão que mantenham serviços de notícias, reportagens, comentários, debates e entrevistas, e empresas que tenham por objeto o agenciamento de notícias;IV. averbar, nas respectivas inscrições e matrículas, todas as alterações supervenientes, atendidas as exigências das leis específicas em vigor;V. fornecer certidões dos atos praticados em papel ou digitalmente;VI. registrar, averbando e autenticando livros das sociedades simples, das empresas individuais de responsabilidade limitada de natureza simples, associações, fundações, organizações religiosas e cooperativas.CAPÍTULO IIDOS LIVROS DE REGISTROArt. 703. Deve o Serviço do Registro Civil das Pessoas Jurídicas manter os seguintes livros:I. "A", para os fins indicados nos números I e II do art. 114 da Lei de Registros Públicos, com 300 (trezentas) folhas;II. "B", para a matrícula de oficinas, impressoras, jornais, periódicos, empresas de radiodifusão e agências de notícias, com 150 (cento e cinquenta) folhas;III. Protocolo, para lançamento de atos, e prenotação dos títulos não registrados imediatamente, com 300 folhas;§ 1º. O número de folhas dos Livros “A” e “B” poderá ser reduzido ou aumentado, a pedido do Oficial o Juiz Corregedor Permanente.§ 2º. Os livros obrigatórios deverão ser encadernados conforme previsto na legislação, ou mantidos eletronicamente, disponíveis para impressão.§ 3º. Os livros escriturados eletronicamente devem apresentar cada lançamento associado às imagens dos documentos gravados digitalmente, disponíveis para impressão.§ 4º. Sendo os livros eletrônicos, é obrigatória a manutenção de sistema de backup atualizado em local diverso da serventia, a fim de garantir a integridade dos dados, na hipótese de caso fortuito ou força maior que danifique o acervo eletrônico existente na serventia.Art. 704. Serão lançados no livro Protocolo todos os requerimentos, documentos, papéis e títulos ingressados, que digam respeito a atos de registro ou averbação.§ 1º. Os instrumentos apresentados para fins de exame e registro serão protocolizados observando-se numeração sequencial pela ordem cronológica de apresentação.§ 2º. A escrituração do livro Protocolo de Pessoas Jurídicas deverá ser independente do Livro Protocolo do Registro de Títulos e Documentos.§ 3º. A natureza formal do documento poderá ser indicada abreviadamente no respectivo livro.CAPÍTULO III

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DO REGISTROSEÇÃO IDAS DISPOSIÇÕES GERAISArt. 705. A existência legal das pessoas jurídicas só começa com o registro de seus atos constitutivos.Art. 706. O registro das associações, organizações religiosas, sindicatos, fundações e sociedades simples consistirá da declaração feita no livro, pelo Oficial, do número de ordem, data da apresentação e espécie do ato constitutivo, que deverá conter as seguintes indicações:I. a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver;II. o modo por que se administra e representa a sociedade, a associação, organizações religiosas, sindicatos e fundações, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente;III. se o estatuto, o contrato ou o compromisso é reformável quanto à administração, e de que modo;IV. se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais;V. as condições de extinção da pessoa jurídica e, nesse caso, o destino do seu patrimônio;VI. os nomes dos fundadores ou instituidores e dos membros da diretoria, provisória ou definitiva, com a individualização de cada um deles, e residência do apresentante.Art. 707. Os documentos gerados por certificação digital serão registrados e mantidos integralmente em arquivo eletrônico com as assinaturas eletrônicas necessárias para o registro da pessoa jurídica, inclusive a assinatura do Oficial ou do seu substituto, com certificação digital.Art. 708. Para o registro das fundações e averbação das alterações de seus estatutos, exigir-se-á aprovação prévia do Ministério Público da respectiva Unidade da Federação.Art. 709. No registro de atos constitutivos e estatutos de entidades sindicais, o controle da unicidade sindical e sua área de atuação não será feito pelo Registrador, cabendo ao Ministério do Trabalho zelar pela observância do princípio da unicidade, nos termos da Súmula nº 677, do Supremo Tribunal Federal.Art. 710. Para o registro das pessoas jurídicas, o seu representante legal formulará petição ao Oficial, acompanhada de 02 (dois) exemplares do estatuto, compromisso ou contrato.§ 1º. Os documentos quando apresentados em apenas uma via, a original será arquivada obrigatoriamente no Serviço, admitida a solicitação de certidão respectiva, cobrados as taxas e emolumentos incidentes.§ 2º. Para registro de ata de pessoa jurídica em livro manuscrito encadernado, será exigida cópia reprográfica para arquivo no Serviço.§ 3º. A critério do Oficial, para fins do registro a que se refere o parágrafo anterior, a cópia reprográfica poderá ser providenciada pela própria unidade de registro, mediante o pagamento das despesas pela parte interessada.Art. 711. Tratando-se de sociedade simples, tanto na sua forma típica quanto se adotando uma das formas das sociedades empresárias, as folhas do contrato social serão, obrigatoriamente, rubricadas por todos os sócios.Art. 712. Tratando-se de sociedade simples na sua forma típica será obrigatório o reconhecimento de firmas dos sócios; no caso de sociedade simples que adote tipo empresário, o reconhecimento de firmas anteriormente mencionado é facultativo, eis que, neste caso, o registrador deve observar as regras atinentes ao Registro Público das Empresas Mercantis, que o dispensa (art. 1.150 do Código Civil).Art. 713. A declaração firmada pelos contratantes quanto à natureza simples da sociedade não poderá ser questionada pelo Registrador.Art. 714. A exigência de aprovação ou autorização para a constituição ou para o funcionamento de sociedade será admitida, desde que, expressamente, prevista em Lei Federal.Art. 715. O registro de sociedade independe de sua inscrição, ou de seus associados, em órgãos de fiscalização profissional.Art. 716. Quando o funcionamento de sociedade depender de aprovação da autoridade, sem esta não se fará o registro.Art. 717. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária.Art. 718. Os atos iniciais de constituição de sociedades, bem como de fusão, cisão, dissolução ou transformação do tipo societário, só serão admitidos a registro e arquivamento quando

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visados por advogados, em regular exercício da profissão, sendo necessária a indicação do nome e número de inscrição do signatário.Parágrafo Único. Fica dispensado o visto de advogado no contrato social da sociedade que tenha apresentado declaração de enquadramento como microempresa ou empresa de pequeno porte.Art. 719. É vedado, no mesmo cartório, o registro de pessoas jurídicas com a mesma denominação ou razão social.Art. 720. No âmbito do Registro Civil das Pessoas Jurídicas, é vedado o registro de constituição de sociedades de advogados.Art. 721. No caso de transferência de registro por mudança de sede, o ato de alteração deverá ser registrado primeiro no registro primitivo e depois no Registro Civil das Pessoas Jurídicas da nova sede.§ 1º. Nas hipóteses de transferência de sede, o requerimento para registro no cartório de destino deverá estar instruído com certidão de breve relato de todos os registros, duas vias (em certidão) de todos os atos registrados na unidade de registro de origem, além do registro da sua transferência no cartório de origem.§ 2º. Os documentos a que se referem o parágrafo anterior, quando apresentados em apenas uma via, a original será arquivada obrigatoriamente no Serviço, admitida a solicitação de certidão respectiva, cobrados as taxas e emolumentos incidentes.Art. 722. No caso de registro de filial, o ato que autorizou a abertura de filial, sucursal ou agência, deverá ser primeiro registrado no Registro Civil das Pessoas Jurídicas da sede, para depois servir como documento de abertura de registro no Registro Civil das Pessoas Jurídicas onde a filial se estabelecer.Art. 723. O serviço do novo registro por transferência ou de abertura de filial cobrará emolumentos como registro inicial.Parágrafo único: Em se tratando de retorno ou reabertura de filial, serão cobrados emolumentos correspondentes à averbação.Art. 724. Sempre que houver juntada de publicações da imprensa deverão ser juntadas por página inteira (original ou cópia autenticada).Art. 725. Os registros e averbações posteriores à constituição serão concentrados no serviço de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, onde foi arquivado seu ato constitutivo, vedando-se seu arquivamento em qualquer outro serviço.Art. 726. Os atos constitutivos de pessoas jurídicas e suas alterações não poderão ser registrados quando seu objeto ou circunstâncias relevantes indicarem destino ou atividades ilícitos, contrários, nocivos ou perigosos ao bem público, à segurança do Estado ou da coletividade, à ordem pública ou social, à moral ou aos bons costumes.Parágrafo Único. Ocorrendo quaisquer desses motivos, o Oficial Registrador, de ofício ou por provocação de qualquer autoridade, sobrestará o processo de registro, e suscitará dúvida para o Juiz, que a decidirá.Art. 727. Em sendo constatada falsificação de documentos pelo Oficial, encaminhar-se-á o mesmo ao Juiz Corregedor Permanente, para as providências cabíveis.Art. 728. Se o registro não puder ser efetuado imediatamente, o oficial prenotará o título atribuindo-lhe o respectivo número de ordem e informará ao apresentante, por escrito e com recibo, o prazo máximo em que o título estará registrado e disponível ou com a indicação dos motivos por que não o efetuou.Art. 729. Havendo exigência a ser satisfeita, o Oficial a indicará, por escrito, ao apresentante, que, no prazo de trinta dias, contados de seu lançamento no protocolo, poderá satisfazê-la ou requerer a suscitação de dúvida.Parágrafo Único. A via registrada da parte interessada, ou a que estiver em exigência, se não retirada no prazo de 180 dias, poderá ser eliminada pelo registrador.Art. 730. Não satisfeita a exigência nem requerida a suscitação de dúvida, no prazo de trinta dias, o oficial cancelará a prenotação.Art. 731. As exigências deverão ser formuladas em papel timbrado, com identificação do oficial ou do escrevente responsável.Art. 732. Na hipótese de dúvida, o oficial dará ciência de seus termos ao apresentante, fornecendo-lhe cópia da suscitação e notificando-o para impugná-la perante o juízo competente, no prazo de quinze dias.Art. 733. Certificado o cumprimento do disposto no artigo anterior, remeter-se-ão ao juízo competente, mediante carga, as razões da dúvida, acompanhadas do título.

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Art. 734. Os instrumentos de contratos sociais, estatutos, atos constitutivos, atas, publicações e demais atos registrados serão arquivados e indexados de forma lógica e cronológica, de modo que facilite sua localização.Art. 735. Todas as averbações registradas serão juntadas ao expediente originário do registro, com a respectiva certidão do ato realizado.Parágrafo Único. Arquivadas separadamente do expediente original, suas alterações reportar-se-ão obrigatoriamente a ele, com referências recíprocas.Art. 736. Sempre que exigido pelo apresentante, e desde que pagas as taxas e emolumentos, será o documento apresentado recebido para fins de prenotação.Art. 737. Em sendo apresentado para registro fundação ou constituição de pessoa jurídica, após realizado o protocolo, não será possível a transferência de custas para outra unidade de serviço.Art. 738. Em sendo apresentado para registro fundação ou constituição de pessoa jurídica, após formulada exigência pelo Cartório, não será devida a restituição de emolumentos.Art. 739. As ordens judiciais para averbação de atos não gratuitos serão registradas, devendo o registrador comunicar ao juízo o qual emitiu a ordem, o aviso do registro e do prazo de caducidade de 30 dias do registro, caso o interessado não recolha os emolumentos e acréscimos para averbação do ato.Parágrafo Único. Não recolhendo o interessado as custas devidas no prazo a que se refere o caput deste artigo, deverá o Titular encaminhar expediente à Vara de Registros Públicos para, se for o caso, vir a ser declarado o cancelamento do registro.Art. 740. Nas averbações de pessoas jurídicas que versem sobre extinção, fusão, incorporação, cisão total ou parcial e redução do capital social, deverá ser comprovada sua regularidade fiscal, apresentando as seguintes certidões:I. Certificado de Regularidade perante o FGTS, expedido pela Caixa Econômica Federal;II. Certidão Negativa de Débito junto ao INSS, emitida pelo Instituto Nacional de Seguro Social (com fins específicos para a prática do ato);III. Certidão Negativa de Débito de Tributos e Contribuições para com a Fazenda Nacional emitida pela Receita Federal;IV. Certidão Negativa de Inscrição de Dívida Ativa da União emitida pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional;§1º. As sociedades enquadradas no regime da Lei Complementar nº 123/06 estão dispensadas desta comprovação.§2º. No caso de redução do capital, além da apresentação das Certidões de regularidade fiscal, o registro dependerá também da juntada da publicação a que se referem os artigos 1.084, §1º e 1152, §1º do Código Civil.Art. 741. As ordens judiciais para averbação de atos que dependam de apresentação das certidões a que se refere o artigo anterior serão, independentemente da apresentação das mesmas, registradas, devendo o Registrador comunicar ao juízo que emitiu a ordem, o aviso do registro e do prazo de sua caducidade de trinta (30) dias, caso o interessado não apresente as certidões.Parágrafo Único. Não apresentando o interessado as certidões de regularidade fiscal, deverá o Titular encaminhar expediente ao Juiz Corregedor Permanente para fins de declaração do cancelamento do registro efetuado.SEÇÃO IIDO REGISTRO DE LIVROS FISCAISArt. 742. Para registro e autenticação de livros fiscais, será exigida a apresentação do livro anterior, observando-se sua rigorosa sequência numérica, bem como uma cópia reprográfica do termo de abertura e de encerramento, além da Certidão de Regularidade Profissional para arquivo no Serviço.§ 1º. O registro e autenticação de livros serão requeridos por escrito pelo interessado.§ 2º. Poderão ser registrados livros digitais, seja pelo SPED (Escrituração Fiscal Digital) da Receita Federal ou outro sistema digital que permita a segurança e imutabilidade.§ 3º. Será dispensada a apresentação do livro anterior quando o mesmo for processado por meio eletrônico.§ 4º. É vedado o registro e autenticação de livros de pessoas jurídicas cujos atos constitutivos não estejam registrados no Serviço.Art. 743. Os livros contábeis averbados e autenticados deverão ter suas folhas rubricadas, facultando o uso de chancela ou carimbos, constando no registro o nome do funcionário responsável pelo ato.

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SEÇÃO IIIDO REGISTRO DE JORNAIS, OFICINAS IMPRESSORAS, EMPRESAS DE RADIODIFUSÃO E AGÊNCIAS DE NOTÍCIASArt. 744. Os pedidos de matrícula conterão as informações e documentos seguintes:I. Em relação a jornais e outros periódicos:a) título do jornal ou periódico, sede da redação, administração e oficinas impressoras, esclarecendo, quanto a estas, se são próprias ou de terceiros, indicando, neste caso, os respectivos proprietários;b) nome, idade, residência e prova de nacionalidade do diretor ou redator-chefe e do proprietário;c) se propriedade de pessoa jurídica, exemplar do respectivo estatuto ou contrato social, e nome, idade, residência e prova de nacionalidade dos diretores, gerentes e sócios da pessoa jurídica proprietária.II. Se forem oficinas impressoras:a) nome, nacionalidade, idade e residência do gerente e do proprietário, se pessoa física;b) sede da administração, lugar, rua e número onde funcionam as oficinas e denominação destas;c) exemplar do contrato ou estatuto social, se pertencentes a pessoa jurídica.III. Cuidando de empresas de radiodifusão:a) designação da emissora, sede de sua administração e local das instalações do estúdio;b) nome, idade, residência e prova de nacionalidade do diretor, ou redator-chefe responsável pelos serviços, reportagens, comentários, debates e entrevistas.IV. Em caso de empresa noticiosa:a) nome, nacionalidade, idade e residência do gerente e do proprietário, se pessoa física;b) sede da administração;c) exemplar do contrato ou estatuto social, se pessoa jurídica.Art. 745. As alterações nas informações ou documentos serão averbadas na matrícula, no prazo de 08 (oito) dias e, a cada declaração a ser averbada, corresponderá um requerimento.Art. 746. Verificando o Oficial a intempestividade dos requerimentos de averbação, ou que os pedidos de matrícula se referem a publicações já em circulação, representará ao Juiz competente, para considerar sobre a aplicação de multa.Art. 747.O pedido de matrícula, mediante requerimento com firma reconhecida, conterá as informações e documentos exigidos, apresentadas as declarações em 02 (duas) vias, ficando uma via arquivada no processo e a outra devolvida ao requerente após o registro.Parágrafo Único. O Oficial rubricará as folhas e certificará os atos praticados.SEÇÃO IVDAS DISPOSIÇÕES FINAISArt. 748. As associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis anteriores, somente poderão efetuar averbações nos seus atos constitutivos se estes estiverem devidamente adaptados às disposições da Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002.Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às organizações religiosas nem aos partidos políticos.Art. 749. Se a administração da pessoa jurídica vier a faltar, o juiz, a requerimento de qualquer interessado, nomear-lhe-á administrador provisório.Art. 750. Em caso de morte de um dos sócios da sociedade simples e dispondo o contrato social pelo prosseguimento da sociedade com os herdeiros ou sucessores do sócio prémorto, o espólio, devidamente representado por seu inventariante, ou por representante, nomeado pelo Juízo, exercerá os direitos e obrigações do falecido na sociedade até que seja definida e homologada a partilha.§ 1º. Para exercer a representação, o representante deverá anexar a certidão de sua nomeação para o cargo.§ 2º. No caso de alienação, cessão, transferência, transformação, incorporação, fusão e cisão parcial ou total e extinção, será indispensável a apresentação do respectivo alvará judicial específico para a prática do ato.§ 3º. A escritura pública de Inventário e Partilha constitui título hábil para formalizar a transmissão de domínio e direitos, conforme os termos nela expressos, não só para o registro imobiliário, como também, para promoção dos demais atos subsequentes, que se fizerem necessários à materialização das transferências (DETRAN, Junta Comercial, Registro Civil de Pessoas Jurídicas, bancos, companhias telefônicas etc.), desde que todas as partes

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interessadas, maiores e capazes, estejam assistidas por advogado comum ou advogado de cada uma delas, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.§ 4º. Caso o inventário já esteja encerrado, os herdeiros ou sucessores assumirão seus respectivos direitos, instruindo-se o ato de sua admissão, conforme o caso, com a carta de adjudicação de bens, a escritura de inventário ou formal de partilha.Art. 751. No caso de alteração contratual não assinada por todos os sócios, a sociedade deverá levar a registro, concomitantemente, prova de convocação do sócio ausente.Art. 752. O sócio poderá ser representado na reunião ou assembleia por outro sócio, ou por advogado, mediante outorga de mandato, devendo o instrumento respectivo ser levado também a registro.

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 6006 - 28/8/2013

 Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 5756 - 26/3/2013

OPINIÃO

•Da prova de inscrição prévia em órgão de disciplina e fiscalização do exercício profissional (Conselhos Regionais) – Graciano Pinheiro de Siqueira*

 

*O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP e Colunista do Boletim Eletrônico INR.

Nota da Redação INR: os editores das Publicações INR – Informativo Notarial e Registral alertam que os direitos relativos ao artigo opinativo publicado nesta edição foram adquiridos onerosamente por meio de contrato de cessão celebrado com o autor, e que a sua reprodução, em qualquer meio de comunicação, é terminantemente proibida.

Recentemente, foram atualizados os Capítulos XIII, XIV e XVII, inseridos no Tomo II das Normas de Serviço da E. Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo, esperando-se, para breve, também modificações nos Capítulos XVIII e XIX.

Dentre as várias sugestões apresentadas para a modernização do mencionado Capítulo XVIII, merece destaque aquela que visa à dispensa da prova de inscrição prévia em órgão de disciplina e fiscalização do exercício profissional (Conselhos Regionais), o que se dá em razão do disposto nas referidas Normas de Serviço, Capítulo XVIII, Seção II (Da Pessoa Jurídica), item 19, cujo teor é o seguinte:

“Para o registro dos atos constitutivos e de suas alterações, das sociedades a que se refere o artigo 1° da Lei Federal n° 6.839, de 30 de outubro de 1.980, exigir-se-á a comprovação do pedido de inscrição no respectivo órgão de disciplina e fiscalização do exercício profissional”.

É, portanto, por força da regra acima que os Registros Civis das Pessoas Jurídicas do Estado de São Paulo vêm exigindo a passagem do ato constitutivo ou das alterações contratuais de sociedades simples, e também agora de empresas individuais de responsabilidade limitada,

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quando atuem em área vinculada a Conselhos Regionais, fazendo-o em observância a comando normativo emanado de órgão hierárquico superior, no intuito de colaborar com a fiscalização dessas entidades, em prol do interesse público, segundo orientação da própria Corregedoria Geral. Trata-se, no entanto, de atribuição anômala e descabida.

Todavia, tal procedimento tem causado entraves que dificultam o registro de boa parte dos documentos levados a registro (lato senso) perante o RCPJ, em detrimento dos interessados nos mesmos.

Além disso, quer nos parecer que a matéria vem sendo tratada de forma equivocada, daí ser merecedora de reparos. Senão, vejamos.

Com efeito, cabe, preliminarmente, na análise da questão, destacar o fato jurídico relevante, relativo ao início da personalidade jurídica, conforme preceitua o artigo 45 do Código Civil vigente, “in verbis”:

“Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo”.

Assim, somente depois da solenidade havida perante o órgão de registro público competente, no caso o Registro Civil das Pessoas Jurídicas, é que o ente adquire personalidade jurídica, o que lhe permite ser considerado “sujeito de direito”, ou seja, titular de direitos e obrigações na órbita da vida civil.

Já o artigo 1° da Lei n° 6.839/80, anteriormente mencionado, e cujo teor é abrangente e vago ao mesmo tempo, cuida de tema diverso, qual seja, o do funcionamento, isto é, do exercício da atividade profissional, como se pode verificar pela sua simples leitura:

“Art. 1°. O registro de empresas e anotações dos profissionais legalmente habilitados, delas encarregados, serão obrigatórios nas entidades competentes para a fiscalização do exercício das diversas profissões, em razão da atividade básica ou em relação àquela pela qual prestem serviços a terceiros”.

Note-se, a propósito, que em momento algum, na redação do citado art. 1°, faz-se menção a registro prévio, antecedente mesmo do registro em Cartório. O que se depreende dos termos da referida norma, de iniciativa do Ministério do Trabalho, é que, em se tratando de empresas (leia-se sociedades) organizadas e voltadas eminentemente à prestação dos diversos serviços de profissionais liberais, somente poderão elas funcionar desde que devidamente registradas nos Conselhos Regionais competentes, e sob a responsabilidade de técnico igualmente habilitado por tais Conselhos.

Não nos é dado confundir, porém, dois momentos jurídicos que, embora relevantes, são distintos entre si – o da existência legal e o do funcionamento. No primeiro caso, os órgãos competentes são os registros públicos, e, no segundo, as entidades competentes para a expedição de “alvarás” para funcionamento, os quais têm o poder de polícia para fiscalizar o funcionamento do estabelecimento.

Pela lógica, a aquisição da personalidade jurídica, obtida com o registro em Cartório ou na Junta Comercial, deve anteceder à autorização para funcionamento, concedida pelo Conselho Regional competente, a qual, diga-se de passagem, não se confunde com aquela autorização, prevista no artigo 45 do Código Civil, necessária, excepcionalmente, para a existência da própria pessoa jurídica.

Nessa segunda fase aventada, quando a atividade é regulamentada e para ela se exige um técnico responsável, é que atuam os Conselhos Regionais, cuja atuação é voltada aos seus filiados e não à empresa em si.

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Imprescindível é, portanto, que se vislumbre, primordialmente, a distância que se verifica entre a aquisição da personalidade jurídica e a aquisição de habilitação para funcionamento de uma pessoa jurídica.

Cumpre ainda ressaltar que existe uma diferença marcante entre o exercício da profissão própria do profissional liberal e a exploração da atividade feita por pessoa jurídica, que não se confunde nem com o profissional, nem com a atividade técnica profissional que é privativa do mesmo.

Com efeito, certas atividades profissionais admitem, por sua natureza, a arregimentação de capital e força de trabalho para que possa ser exercida na forma “empresarial”, isto é, com risco, concursos de várias pessoas e fins lucrativos.

O direito de exercício de atividade econômica, é importante dizer, não constitui um dom que o indivíduo haja recebido de leis.

Sem dúvida, a passagem preliminar dos atos constitutivos e de alterações subsequentes por qualquer Conselho Regional é algo que burocratiza o registro de uma pessoa jurídica. A maioria deles, sequer, analisa o documento, em que pesem mantenham-no consigo por muitos dias, estando mais preocupados com outras questões, dentre as quais o recebimento de anuidades, muitas vezes exorbitantes, com valores bem acima daqueles cobrados pelo órgão de registro público.

Há Conselhos que até, em determinado período do ano, paralisam, temporariamente, suas atividades, em decorrência, por exemplo, de datas festivas.

Isso posto, tem-se, claramente, que só após o início da existência legal é que a pessoa está sujeita ao cumprimento de formalidades legais necessárias ao seu funcionamento, tais como: inscrição no CNPJ, alvará de localização, inscrição municipal, inscrição estadual, bem assim inscrição em Conselhos Regionais.

No âmbito das Juntas Comerciais, inclusive, a dispensa de passagem prévia por Conselho Regional está expressa na lei, nos termos do art. 37, do Decreto n° 1.800/96, que assim estabelece:

“Art. 37. O arquivamento de ato de empresa mercantil sujeita a controle de órgão de fiscalização de exercício profissional não dependerá de aprovação prévia desse órgão”.

Lembre-se que referido Decreto regulamentou a Lei n° 8.934/94, que trata do Registro Público de Empresas Mercantis.

A rigor, por força do disposto no artigo 1.150 do Código Civil, a regra acima mencionada deveria estar sendo observada e aplicada pelos RCPJs, já que, no mais das vezes, a sociedade simples adota o tipo limitada, espécie de sociedade empresária.

Ademais, não poderão ser exigidos pelos órgãos e entidades envolvidos na abertura e fechamento de empresas, dos 3 (três) âmbitos de governo, comprovação de regularidade de prepostos dos empresários ou pessoas jurídicas com seus órgãos de classe, sob qualquer forma, como requisito para deferimento de ato de inscrição, alteração ou baixa de empresa, bem como para autenticação de instrumento de escrituração (art. 10, III, da Lei Complementar n° 123/06 – Lei Geral da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte).

Por todo exposto, nosso entendimento é de que o tema deve ser revisto, devendo a passagem por Conselho Regional ser efetuada posteriormente ao registro público, facilitando, deste modo, o acesso dos atos constitutivos e de suas modificações ao sistema.

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 5756 - 26/3/2013

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Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 5902 - 26/6/2013

OPINIÃO

•Nome empresarial – Graciano Pinheiro de Siqueira*

 

*O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP, Ex-4° Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca da Capital/SP, Professor em Cursos Preparatórios e de Pós-Graduação na área notarial e registral (FMB, LFG, Marcato, Ductor/Campinas, Anoreg/BR, PUC/SP, dentre outros), Consultor do IRTDPJBRASIL-Instituto de Registro de Títulos e Documentos e de Pessoas Jurídicas do Brasil e Colunista do Boletim Eletrônico INR.

Nota da Redação INR: os editores das Publicações INR – Informativo Notarial e Registral alertam que os direitos relativos ao artigo opinativo publicado nesta edição foram adquiridos onerosamente por meio de contrato de cessão celebrado com o autor, e que a sua reprodução, em qualquer meio de comunicação, é terminantemente proibida.

Tenho sido constantemente consultado a respeito da formação do nome a ser utilizada pelas diversas espécies de pessoas jurídicas de direito privado afetas ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, daí achar oportuno escrever sobre o assunto.

Por NOME EMPRESARIAL deve-se entender aquele sob o qual o empresário, a empresa individual de responsabilidade limitada e a sociedade empresária exercem suas atividades e se obrigam nos atos a elas pertinentes, constituindo-se em gênero, do qual a DENOMINAÇÃO SOCIAL e a FIRMA/RAZÃO SOCIAL são espécies.

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A matéria vem tratada, especialmente, no art. 1155 e seguintes do Código Civil, que, estranhamente no mesmo capítulo, cuidou da formação do nome a ser utilizado pelas cooperativas e sociedades em conta de participação, que não se utilizam de nome empresarial. Dela também cuida a Instrução Normativa DNRC n° 116, de 22 de novembro de 2011.

Como se verá adiante, não é incorreto afirmar que a sociedade de natureza simples, ou seja, a sociedade não empresária, quando se reveste de tipo empresário (limitada, em nome coletivo ou comandita simples), adota também nome empresarial, o mesmo não podendo ser dito em relação à sociedade simples pura, que emprega, necessariamente, denominação, que não é, a nosso ver, o mesmo que denominação social, mas que o legislador não definiu como se configura.

Embora pelo Enunciado n° 213, do Conselho da Justiça Federal, seja possível o uso de razão social em se tratando de sociedade simples pura, ousamos discordar desse posicionamento. Para nós, a sociedade simples pura deve utilizar-se, sempre, de denominação. Vide, neste sentido, o inciso II, do art. 997 e o parágrafo único, do art. 1155, ambos do Código Civil.

A proteção dada ao nome empresarial decorre, automaticamente, do ato de inscrição de empresário individual ou do arquivamento de ato constitutivo de empresa individual de responsabilidade limitada ou de sociedade empresária, bem como de sua alteração nesse sentido, e circunscreve-se à unidade federativa de jurisdição da Junta Comercial que o tiver procedido (art. 11, da citada Instrução Normativa do DNRC). No mesmo sentido, a regra do art. 1166 do Código Civil, que indica, em seu parágrafo único, a possibilidade de extensão da proteção em nível nacional, caso o nome empresarial seja depositado em cada uma das Juntas Comerciais, cuja atuação é estadual.

O nome empresarial atenderá aos princípios da veracidade e da novidade e não poderá conter palavras ou expressões que sejam atentatórias à moral e aos bons costumes

Observado o princípio da novidade, não poderão coexistir, na mesma unidade federativa, dois nomes empresariais idênticos ou semelhantes, e, caso a firma ou denominação seja idêntica ou semelhante à de outra empresa já registrada, deverá ser modificada ou acrescida de designação que a distinga.

Não vamos, aqui, entrar no mérito de questões relacionadas à colidência entre nome empresarial e marca registrada perante o INPI (Instituto Nacional a Propriedade Industrial).

A denominação social poderá ser formada com palavras de uso comum ou vulgar na língua nacional ou estrangeira e oucom expressões de fantasia. É o que diz a primeira parte do inciso III, do art. 5°, da mencionada Instrução Normativa DNRC n° 116.

O empresário individual opera sob firma constituída por seu nome, completo ou abreviado, aditando-lhe, se quiser, designação mais precisa da sua pessoa ou do gênero de atividade.

A sociedade em que houver sócios de responsabilidade ilimitada operará sob firma/razão social, na qual somente os nomes daqueles poderão figurar, bastando para formá-la aditar ao nome de um deles a expressão "e companhia" ou sua abreviatura.

A firma será composta com o nome de um ou mais sócios, desde que pessoas físicas, de modo indicativo da relação social, sendo certo que o nome de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar, nela não pode ser conservado.

Pode a sociedade limitada adotar firma/razão social ou denominação social, integradas pela palavra final "limitada" ou a sua abreviatura. O mesmo se diga em relação à empresa individual de responsabilidade limitada, cujo nome será integrado da palavra final “eireli” (parágrafo 1°, do art. 980-A, do Código Civil).

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A omissão da palavra "limitada" determina a responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade.

A denominação social, como regra geral, deve designar o objeto da sociedade, sendo permitido nela figurar o nome de um ou mais sócios. A exceção fica por conta da sociedade enquadrada como ME ou EPP, quando a inclusão do objeto, na denominação social, é facultativa, nos termos do art. 72, “in fine”, da Lei Complementar n° 123/06 (Lei Geral da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte)

A sociedade cooperativa funciona sob denominação integrada pelo vocábulo "cooperativa".

A sociedade anônima opera sob denominação designativa do objeto social, integrada pelas expressões "sociedade anônima" ou "companhia", por extenso ou abreviadamente. Pode constar da denominação o nome do fundador, acionista, ou pessoa que haja concorrido para o bom êxito da formação da companhia.

A sociedade em comandita por ações pode, em lugar de firma, adotar denominação designativa do objeto social, aditada da expressão "comandita por ações".

A sociedade em conta de participação não pode ter firma ou denominação.

O nome empresarial não pode ser objeto de alienação. Porém, o adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos, pode, se o contrato o permitir, usar o nome do alienante, precedido do seu próprio, com a qualificação de sucessor.

Cabe ao prejudicado, a qualquer tempo, ação para anular a inscrição do nome empresarial feita com violação da lei ou do contrato.

A inscrição do nome empresarial será cancelada, a requerimento de qualquer interessado, quando cessar o exercício da atividade para que foi adotado, ou quando ultimar-se a liquidação da sociedade que o inscreveu.

Havendo alteração contratual que modifique o nome utilizado pela pessoa jurídica, ficará ele liberado para ser usado por outra pessoa jurídica.

Embora a lei não determine como é a configuração da denominação das SOCIEDADES SIMPLES PURAS, DAS ASSOCIAÇÕES E DAS FUNDAÇÕES, tem-se que, como parâmetro, poderão elas se valer, para o fim de sua formação, como também para efeito de sua proteção, dos mesmos critérios aplicáveis ao nome empresarial. A propósito, nos termos do já citado parágrafo único, do art. 1155 do Código Civil, a proteção que se dá ao nome empresarial se estende à denominação das sociedades simples (leia-se sociedades simples puras), das associações (o mesmo valendo para as organizações religiosas) e das fundações. De qualquer modo, é importante frisar, há, por assim dizer, uma liberdade para a composição da denominação dessas modalidades de pessoas jurídicas de direito privado.

Assim sendo, a proteção da denominação de uma sociedade simples pura, de uma associação ou de uma fundação, bem como do nome empresarial de uma sociedade simples que adote tipo empresário (normalmente o tipo limitada) decorrerá do registro de seus atos constitutivos perante o Registro Civil das Pessoas Jurídicas competente (o do local da sede), que não deverá proceder ao assentamento quando o nome escolhido for igual ou semelhante ao de outra entidade já registrada, nada impedindo que seja o mesmo composto, no todo ou em parte, com palavras alienígenas (estrangeiras).

O mesmo se diga em relação à denominação social de uma sociedade simples que adota o tipo limitada, a qual deverá levar a entender, em português, o objeto social, desde que não seja a sociedade enquadrada como ME ou EPP, caso em que a inclusão do objeto é facultativa, conforme alhures mencionado.

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É relevante mencionar que o uso das expressões “S/S” ou “SOCIEDADE SIMPLES”, no final do nome utilizado pela sociedade simples, qualquer que seja o tipo por ela adotado, não é obrigatória, por falta de expressa previsão legal neste sentido. Entretanto, é de todo conveniente tal prática, pois permite àquele que as ler saber, de plano, que se trata de sociedade dessa natureza. Era o que acontecia anteriormente com o em uso, no nome, da sigla S/C pela extinta sociedade civil.

Relativamente à fundação, é comum, e até aconselhável, que tal expressão apareça na denominação, em que pese não haja determinação legal neste sentido.

Por fim, é importante verificar se, nas NORMAS DE SERVIÇO DA CORREGEDORIA GERAL JUSTIÇA (CÓDIGO DE NORMAS) do Estado em que atua o registrador, há algum item tratando da matéria. As do Estado de São Paulo, por exemplo, estão em total desacordo com a legislação vigente, eis que impedem, apenas, o registro de pessoas jurídicas com nomes idênticos ao de outra já registrada, na mesma Comarca (item 3, do Capítulo XVIII). Vale dizer: com base neste dispositivo, nome semelhante pode ser registrado (o que não é recomendado, caso o nome escolhido seja muito semelhante ao de pessoa jurídica já registrada), sem que se faça, inclusive, uma busca em todas as serventias de RCPJ do Estado de São Paulo, o que seria de rigor, já que, como visto, a lei visa proteger o nome empresarial, pelo menos, em âmbito estadual.

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 5902 - 26/6/2013

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Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 4644 - 8/6/2011

OPINIÃO

•Da empresa individual como modalidade de pessoa jurídica – Primeiras considerações – Graciano Pinheiro de Siqueira*

 

* O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP.

Conforme consta do site do Senado Federal (http://www.senado.gov.br), foi aprovado, nesta quarta-feira (1º/06/2011), pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), Projeto de Lei da Câmara (PLC 18/11), de autoria do Deputado Marcos Montes (DEM-MG), que institui, na legislação brasileira, a modalidade de “empresa individual de responsabilidade limitada”, em decisão terminativa, por unanimidade, devendo ir a sanção.

Aludido PLC tem por escopo, em suma, alterar a Lei nº 10.406/2002, que instituiu o Código Civil, para acrescentar o artigo 980-A, o inciso VI ao artigo 44 e alterar o parágrafo único do artigo 1033, para dispor sobre a empresa individual de responsabilidade limitada, estabelecendo que: (I) será ela constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário mínimo vigente no País; (II) seu nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão “EIRELI” após a firma ou a denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada; (III) a pessoa natural que a constituir somente poderá figurar numa única empresa dessa modalidade; (IV) a empresa poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio; (V) somente o patrimônio social da empresa responderá pelas suas dívidas, não se confundindo em qualquer situação com o patrimônio da pessoa natural que a constitui; (VI) poderá ser atribuída à empresa constituída para a prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional; (VII) aplicam-se à empresa, no que couber,

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as regras previstas para as sociedades limitadas; dispõe que a Lei entra em vigor após decorridos 180 dias de sua publicação.

Em outras palavras, cria-se, no direito pátrio, a tão sonhada “sociedade unipessoal de responsabilidade limitada”, que, além de limitar o risco daquele que, individualmente, exerce atividade econômica, garantindo-lhe maior segurança jurídica, fará com que deixem de existir “sócios fictícios”, verdadeiros “laranjas”, apenas para cumprir exigências legais.

A propósito, do próprio texto projetado se conclui que a “empresa individual de responsabilidade limitada” seja uma nova modalidade societária, pois manterá ela capital social (“caput” do artigo 980-A); poderá adotar, como nome empresarial,firma ou denominação social (parágrafo 1º, do artigo 980-A); poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração (parágrafo 3º, do artigo 980-A); e, somente o patrimônio social da empresa responderá por suas dívidas, não se confundindo em qualquer situação com o patrimônio da pessoa natural que a constitui (parágrafo 4º, do artigo 980-A). Caso assim não se entenda, o uso das expressões em negrito destacadas é totalmente impróprio, gerando, no mínimo, uma grande confusão.

Não obstante, merece reparo, a nosso ver, a redação proposta para o parágrafo único, do artigo 1033 do Código Civil, quando faz referência, apenas, ao Registro Público de Empresas Mercantis, quando deveria mencionar, corretamente,órgão de registro público   competente,  pois, de conformidade com a segunda parte do artigo 983 do Código Civil, a sociedade simples, que, em última análise, é a sociedade não empresária, pode constituir-se de acordo com alguns tipos societários empresários, dentre os quais a limitada, da qual a “empresa individual de responsabilidade limitada” é derivada, tanto que as regras daquela, no que couber, a esta se aplicam (parágrafo 6º, do artigo 980-A). Ora, quem pode o mais (ser limitada), pode também o menos (ser empresa individual de responsabilidade limitada).

Por oportuno, convém destacar que mesmo que a sociedade simples adote tipo empresário, nem por isso se tornará uma sociedade empresária, mantendo registro, portanto, perante o Registro Civil das Pessoas Jurídicas, a quem, para tanto, o artigo 1150 do Código Civil confere competência.

Lembre-se que “considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços” (artigo 966, do Código Civil), e que “não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa” (parágrafo único, do artigo 966, do Código Civil).

A sociedade empresária funciona através da organização estrutural, preponderando a atuação dos sócios na direção da empresa, e não propriamente na atuação direta da atividade fim exercida, esta então realiza por seus empregados.

No que toca à sociedade simples, o seu funcionamento se dá através do trabalho pessoal dos sócios, ainda que tenha empregados, pois estes apenas trabalham colaborando. Vale dizer, o que predomina é a atividade produtiva exercida diretamente, como atividade fim, pelo próprio sócio, em que pese possa contar com a colaboração de empregados seus.

Dizendo de outro modo, na sociedade simples tem mais peso a atuação pessoal dos sócios, que suplanta a organização coordenada das pessoas e dos bens utilizados para a produção ou para a prestação de serviços. Na sociedade empresária, por sua vez, ocorre justamente o contrário.

Pelo exposto, conclui-se que nada impede que uma sociedade de natureza simples possa ser constituída como, ou se torne, no decorrer de sua existência, “empresa individual de responsabilidade limitada”, o que beneficiará, notadamente, aqueles empreendedores (não

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empresários) que exerçam profissão regulamentada, como, dentre outros, os contadores, os médicos, os dentistas, que poderão, individualmente, atuar e sair da informalidade, sem colocar em risco seus bens particulares.

Cabe, finalmente, ressaltar que a regra do artigo 1033 do Código Civil é própria da sociedade simples, se aplicando, subsidiariamente, a outros tipos societários.

Essas as nossas primeiras considerações.

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 4644 - 8/6/2011

 

 

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 4714 - 14/7/2011

OPINIÃO

•Da empresa individual como modalidade de pessoa jurídica – Novas considerações – Graciano Pinheiro de Siqueira*

 

* O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP.

Na data de anteontem (12/07/2011), foi publicada, no DOU, a Lei nº 12.441, de 11 de julho de 2011), resultante do PLC 18/11, de autoria do Deputado Marcos Montes (DEM-MG), objeto de nossas primeiras considerações sobre o tema, a qual permite a constituição de “empresa individual de responsabilidade limitada”.

Aludida lei, em suma, altera a Lei nº 10.406/2002, que instituiu o Código Civil, para acrescentar o artigo 980-A, o inciso VI ao artigo 44 e alterar o parágrafo único do artigo 1033, estabelecendo que: (I) será ela composta por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário mínimo vigente no País; (II) seu nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão “EIRELI” após a firma ou a denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada; (III) a pessoa natural que a constituir somente poderá figurar numa única empresa dessa modalidade; (IV) a empresa poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio; (V) somente o patrimônio social da empresa responderá pelas suas dívidas, não se confundindo em qualquer situação com o patrimônio da pessoa natural que a constitui; (VI) poderá ser atribuída à empresa constituída para a prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional; (VII) aplicam-se à empresa, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas; dispõe que a Lei entra

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em vigor após decorridos 180 dias de sua publicação.

Em outras palavras, cria-se, no direito pátrio, a tão sonhada “sociedade unipessoal de responsabilidade limitada”, que, além de limitar o risco daquele que, individualmente, exerce atividade econômica, garantindo-lhe maior segurança jurídica, fará com que deixem de existir “sócios fictícios”, verdadeiros “laranjas”, apenas para cumprir exigências legais.

A propósito, do próprio texto legal se conclui que a “empresa individual de responsabilidade limitada” seja uma nova modalidade societária, pois manterá ela capital social (“caput” do artigo 980-A); poderá adotar, como nome empresarial,firma ou denominação social (parágrafo 1º, do artigo 980-A); poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração (parágrafo 3º, do artigo 980-A); e, somente o patrimônio social da empresa responderá por suas dívidas, não se confundindo em qualquer situação com o patrimônio da pessoa natural que a constitui (parágrafo 4º, do artigo 980-A). Caso assim não se entenda, o uso das expressões em negrito destacadas é totalmente impróprio, gerando, no mínimo, uma grande confusão.

Não obstante, merece reparo, a nosso ver, a redação dada ao parágrafo único, do artigo 1.033, do Código Civil, quando faz referência, apenas, ao Registro Público de Empresas Mercantis, quando deveria mencionar, corretamente, órgão de registro público   competente,  pois, de conformidade com a segunda parte do artigo 983, do Código Civil, a sociedade simples, que, em última análise, é a sociedade não empresária, pode constituir-se de acordo com alguns tipos societários empresários, dentre os quais a limitada, da qual a “empresa individual de responsabilidade limitada” é derivada, tanto que as regras daquela, no que couber, a esta se aplicam (parágrafo 6º, do artigo 980-A). Ora, quem pode o mais (ser limitada), pode também o menos (ser empresa individual de responsabilidade limitada).

Ademais, cabe observar que, tecnicamente, o legislador jamais poderia ter feito menção ao Registro Público de Empresas Mercantis no mencionado parágrafo único, do artigo 1033, já que esta é uma norma relativa à sociedade simples, que pode, eventualmente, nos casos de omissão, ser utilizada, subsidiariamente, pelos demais tipos societários, exceto a limitada e a sociedade por ações, que têm normas próprias.

Por oportuno, convém destacar que mesmo que a sociedade simples adote tipo empresário, nem por isso se tornará uma sociedade empresária, mantendo registro, portanto, perante o Registro Civil das Pessoas Jurídicas, a quem, para tanto, o artigo 1150 do Código Civil confere competência.

Lembre-se que “considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços” (artigo 966, do Código Civil), e que “não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa” (parágrafo único, do artigo 966, do Código Civil).

A sociedade empresária funciona através da organização estrutural, preponderando a atuação dos sócios na direção da empresa, e não propriamente na atuação direta da atividade fim exercida, esta então realiza por seus empregados.

No que toca à sociedade simples, o seu funcionamento se dá através do trabalho

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pessoal dos sócios, ainda que tenha empregados, pois estes apenas trabalham colaborando. Vale dizer, o que predomina é a atividade produtiva exercida diretamente, como atividade fim, pelo próprio sócio, em que pese possa contar com a colaboração de empregados seus.

Dizendo de outro modo, na sociedade simples tem mais peso a atuação pessoal dos sócios, que suplanta a organização coordenada das pessoas e dos bens utilizados para a produção ou para a prestação de serviços. Na sociedade empresária, por sua vez, ocorre justamente o contrário.

Pelo exposto, conclui-se que nada impede que uma sociedade de natureza simples possa ser constituída como, ou se transforme em, no decorrer de sua existência, “empresa (leia-se sociedade) individual de responsabilidade limitada”, o que beneficiará, especialmente, aqueles empreendedores (não empresários) que exerçam profissão regulamentada, como, dentre outros, os contadores, os médicos, os dentistas, que poderão atuar individualmente e sair da informalidade, sem colocar em risco seus bens particulares.

Aliás, o mesmo raciocínio pode ser extraído do texto projetado de Código Comercial (PL 1572/2011), minutado pelo Prof. Fábio Ulhoa Coelho, notadamente de seus artigos 173, 192 e 665 (dá nova redação, dentre outros, aos artigos 983 e 1.150 do Código Civil).

Para finalizar, é oportuno verificar que o parágrafo 5º, do artigo 980-A, do Código Civil, faz alusão aos prestadores de serviços de qualquer natureza, que, no mais das vezes, exercem atividade econômica não empresária, devendo, por isso, continuar sendo registrados perante o RCPJ, quer como sociedade simples limitada, quer como “empresa individual de responsabilidade limitada”, de natureza simples.

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 4714 - 14/7/2011

 

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Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 5381 - 2/8/2012

OPINIÃO

•Novos questionamentos sobre a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI – Graciano Pinheiro de Siqueira*

 

*O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP, Professor em Cursos de Especialização e Preparatórios para Concursos Públicos na área Notarial e de Registro, Ex- 4º Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca da Capital/SP e Colunista do Boletim Eletrônico INR.

Nota da Redação INR: os editores das Publicações INR –Informativo Notarial e Registral alertam que os direitos relativos ao artigo opinativo publicado nesta edição foram adquiridos onerosamente por meio de contrato de cessão celebrado com o autor, e que a sua reprodução, em qualquer meio de comunicação, é terminantemente proibida.

Como se sabe, a EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA, também conhecida pela sigla EIRELI, foi introduzida em nosso ordenamento jurídico pela Lei nº 12.441/2.011, como uma nova modalidade de pessoa jurídica de direito privado e, desde então, tem sido alvo de vários questionamentos relacionados, por exemplo, à sua natureza jurídica, titularidade, capital social, administração, etc... O mais recente tem a ver com a possibilidade, ou não, de, numa sociedade, serem sócios, uma pessoa natural e uma EIRELI, cujo titular é essa mesma pessoa natural, o que, a nosso ver, é perfeitamente praticável.

No entanto, encontramos posicionamento diverso, entendendo que a EIRELI não desnatura o caráter da “firma individual”, mas tem a natureza de simples afetação de parcela do patrimônio da pessoa natural que exerce, individualmente, atividade econômica na condição de empresário ou não empresário. Vale dizer: o titular da EIRELI continua pessoa natural, apenas seu patrimônio, excedente do capital social, fica desobrigado de responsabilidade nas obrigações da empresa. Em outras palavras, a sociedade da EIRELI com seu titular não atende ao requisito da pluralidade de pessoas, constituindo-se num “artificialismo”, uma espécie de “drible” na lei, incompatível com seu “espírito” e contrário à “mens legis”.

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Ousamos discordar dessa posição, pois, quis o legislador, ao criar a EIRELI, instituir uma nova espécie de pessoa jurídica (A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) não é sociedade, mas um novo ente jurídico personificado – Enunciado 469, do Conselho da Justiça Federal), tanto que a elencou, no rol do art. 44 do Código Civil, como tal. A propósito, para aqueles que sustentam que a EIRELI é uma sociedade unipessoal, poder-se-ia dizer que ela é, em verdade, uma sub-espécie da sociedade limitada, tanto que as regras desta, no que couber, àquela se aplicam subsidiariamente.

Assim sendo, vale para o titular da EIRELI o mesmo que se afirma em relação ao sócio de uma sociedade no que diz respeito à sua pessoa: ele não se confunde com a pessoa jurídica (EIRELI) da qual é integrante.

O fato é que, em momento algum proibiu o legislador que a EIRELI seja sócia de uma ou de várias sociedades, desde que, evidentemente, o tipo societário escolhido o permita. A única vedação que existe, na lei, é a de que o titular de uma EIRELI, que só pode ser pessoa natural (Enunciado nº 468, do Conselho da Justiça Federal e Instrução Normativa nº 117, do DNRC – Departamento Nacional de Registro do Comércio), não participe de outra pessoa jurídica dessa mesma modalidade.

Destarte, se o legislador não distingue, não cabe ao intérprete fazer a distinção.

Ligado ao tema acima mencionado, advém uma outra questão, qual seja, se pode, ou não, haver mudança de titularidade na EIRELI?

Para quem alega que na Empresa Individual de Responsabilidade Limitada o seu titular continua pessoa natural, a resposta mais coerente seria pela negativa, já que não é possível ao empresário individual (antiga firma individual), em regra, tal transferência.

Para nós, a mudança de titularidade, na EIRELI, é também possível, alicerçado no argumento de que a Lei nº 12.441/2.011 não criou a figura do EMPRESÁRIO INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA, com patrimônio de afetação destinado ao exercício da atividade, o qual não se confunde com seu patrimônio pessoal, mas, sim, a EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA, a qual, repita-se, como pessoa jurídica, é sujeito de direitos.

Vale a pena transcrever aqui o Enunciado nº 470, do Conselho da Justiça Federal, cujo teor é o seguinte: “O patrimônio da empresa individual de responsabilidade limitada responderá pelas dívidas da pessoa jurídica, não se confundindo com o patrimônio da pessoa natural que a constitui, sem prejuízo da aplicação do instituto da desconsideração da personalidade jurídica”.

Outro assunto que poderá causar controvérsia tem relação com o art. 977, do Código Civil, que trata da participação, numa mesma sociedade, de sócios casados, entre si, pelo regime da comunhão universal de bens ou da separação obrigatória, o que é expressamente vedado.

A propósito, tal dispositivo é dos mais polêmicos dentro do Código Civil vigente, não em razão das novas sociedades, eis que para elas, como visto, a vedação existe. A discussão está em saber se a regra se aplica às sociedades antigas, que, no mais das vezes, já estão constituídas há muito tempo.

Destacam-se, aí, duas correntes. A primeira, dizendo que a regra do art. 977, do Código Civil, não tem aplicação às sociedades antigas, pois deve ser respeitado o ato jurídico perfeito e o direito adquirido. Neste sentido, as posições do Conselho da Justiça Federal (Enunciado nº 204), do DNRC – Departamento Nacional do Registro do Comércio (Parecer nº 125/2.003) e da JUCESP - Junta Comercial do Estado de São Paulo (Pareceres 259 e 269, ambos de 2.003).

A segunda, que é posição do Conselho Superior da Magistratura do Estado de São Paulo, a qual, para o Cartórios de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, tem caráter normativo, a regra do art. 977 é aplicável, inclusive, para as sociedades antigas, que não poderão permanecer

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com a composição societária, devendo, por isso, um dos cônjuges, delas se retirar. Outra alternativa será a mudança do regime de bens, observados, para tanto, os requisitos previstos no Código Civil. Na pior das hipóteses, deverá a sociedade ser extinta.

O posicionamento do CSM é a mesmo do Prof. Pablo Stolze Gagliano, para quem o contrato de sociedade é contrato de trato sucessivo que não se esgota no momento de sua pactuação. Daí não poder se falar em ato jurídico perfeito e, muito menos, em direito adquirido.

Há, ainda, para “entornar o caldo”, uma terceira corrente, baseada na posição topográfica em que situado o referido art. 977, do Código Civil. Em razão dessa posição, poder-se-ia afirmar que a citada regra somente se aplicaria aos empresários e, por via de conseqüência, aos sócios de sociedade empresária. Em outras palavras, a regra do art. 977 não abrangeria a sociedade de natureza simples, que, em última análise, é a sociedade não empresária.

Esse tema, aliás, já chegou ao STJ, que, embora continue entendendo que a mencionada regra se aplica à sociedade simples, já tem decisões não unânimes a respeito.

Pois bem. A controvérsia que poderá existir em relação ao art. 977, no que diz respeito à EIRELI, reside no fato de saber se poderão, ou não, os cônjuges, casados, por exemplo, sob o regime da comunhão universal de bens, sendo titulares, cada um deles, de uma dessa espécie de pessoa jurídica, constituir uma sociedade, onde as mesmas sejam as sócias?

A questão é relevante, pois, também neste caso, poderá se pensar em burla à lei, já que no fundo estarão sendo sócios o marido e a mulher, casados por regime de bens impedido pela regra do art. 977.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, temos que não haverá óbice para tal constituição.

Não obstante, reconhecemos a possibilidade de debate, daí tratarmos do assunto, no mínimo, para reflexão, enquanto aguardamos o posicionamento da doutrina e da jurisprudência a respeito da matéria.

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 5381 - 2/8/2012

 

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 Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 5528 - 25/10/2012

OPINIÃO

•A sociedade entre marido e mulher e a regra do artigo 977 do Código Civil – Graciano Pinheiro de Siqueira*

 

*O autor é especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP, professor em Cursos de Pós-Graduação e Preparatórios para Concursos Públicos na área notarial e de registro, ex-4º Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Comarca da Capital/SP, consultor do Instituto de Registro de Títulos e Documentos e de Pessoas Jurídicas do Brasil-IRTDPJBRASIL e Colunista do Boletim Eletrônico INR.

Nota da Redação INR: os editores das Publicações INR – Informativo Notarial e Registral alertam que os direitos relativos ao artigo opinativo publicado nesta edição foram adquiridos onerosamente por meio de contrato de cessão celebrado com o autor, e que a sua reprodução, em qualquer meio de comunicação, é terminantemente proibida.

Recentemente, a Corregedoria Geral da Justiça, seguindo os passos do Conselho Superior da Magistratura, mudou seu posicionamento a respeito da possibilidade de manutenção de sociedade constituída antes da vigência do atual Código Civil, quando nesta existirem sócios casados, entre si, pelo regime da comunhão universal de bens ou da separação obrigatória (hipóteses do artigo 1641, incisos I, II e III, do CC).

Até então, o entendimento, para os Cartórios de Registro Civil das Pessoas Jurídicas do Estado de São Paulo, era de que a sociedade, nas condições acima, não poderia ser mantida, sendo dois, basicamente, os motivos da recusa. O primeiro, no sentido de que a regra do artigo 977, do Código Civil, é uma norma de ordem pública, que não pode ser modificada pela vontade dos particulares. O segundo, fundamentado no argumento de que o contrato de sociedade é contrato de trato sucessivo, que não se esgota no momento da pactuação, daí não se poder falar em ato jurídico perfeito e, tampouco, em direito adquirido, razões, justamente, alegadas, ao contrário, pelo DNRC (Departamento Nacional de Registro do Comércio), pela JUCESP (Junta Comercial do Estado de São Paulo) e pelo CJF (Conselho da Justiça Federal),

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para a preservação da sociedade. Vide, neste sentido, o Parecer nº 125/03, do DNRC; os Pareceres nºs 259 e 268, da JUCESP; e, o Enunciado nº 204, do CJF.

Para as sociedades registradas perante o RCPJ, antes da sentença abaixo transcrita, restariam como alternativas: (i) a saída de um dos cônjuges do quadro de sócios; (ii) a mudança do regime de bens, que agora é possível, segundo a legislação vigente; (iii) a extinção da pessoa jurídica; e, (iv) a mudança da natureza da sociedade para empresária.

Portanto, o óbice para a continuidade da sociedade deixou de existir, uniformizando-se, assim, a matéria.

Vejamos, então, a decisão:

“PROCESSO Nº 2012/106155 – SANTO ANDRÉ – FAST FORWARD IDIOMAS S/C LIMITADA - EPP – Advogado: ANTONIO DEBESSA, OAB/RJ 111.551 e FLAVIO CASTELLANO, OAB/SP 53.682

Parecer (314/2012-E)

REGISTRO CIVIL DE PESSOA JURÍDICA - pessoa jurídica constituída antes da vigência do Novo Código Civil - transformação de sociedade simples em empresária - mera repactuação do contrato do social já celebrado que não interfere na preexistência da personalidade jurídica - não incidência da regra do artigo 977 do Código Civil - garantia constitucional do ato jurídico perfeito (CF art. 5o XXXVI) que prevalece sobre o art. 2031 do Código Civil - modificação de orientação dos precedentes da Corregedoria Geral da Justiça - recurso provido Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral da Justiça:

Trata-se de apelação interposta por Fast Forward S/C Ltda. objetivando a reforma da r decisão de fls. 37/38, que julgou extinto o feito sem apreciação do mérito por reconhecer ocorrência de litispendência.

Alega a recorrente inexistência de litispendência em procedimento administrativo e, no mérito, aduz ser possível averbar a alteração contratual por meio da qual operou sua transformação de sociedade simples em empresária, porque constituída antes do Novo Código Civil, incidindo, portanto, a garantia constitucional do ato jurídico perfeito (fls. 43/51).

A Douta Procuradoria Geral de Justiça opinou pela remessa do feito a esta Corregedoria Geral e, no mérito, pelo não provimento do recurso (fls. 64/69).

É o relatório.

Opino.

De início, observe-se que a recorrente interpôs recurso de apelação, o qual não se encontra previsão legal para a hipótese dos autos, que consiste em procedimento administrativo relacionado à averbação de alteração contratual de pessoa jurídica no Registro Civil da Pessoa Jurídica.

Nada impede, contudo, que se receba a presente apelação como recurso administrativo, na forma do art. 246, do Código Judiciário do Estado de São Paulo, para apreciação por esta Corregedoria Geral da Justiça.

A recorrente pretende averbar junto ao 2º Oficial de Títulos e Documentos e Civil da Pessoa Jurídica a 4ª alteração e consolidação de seu contrato social (fls. 16/22), pela qual adapta suas disposições ao Novo Código Civil e transforma a sua natureza jurídica

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de sociedade simples para sociedade empresária, para futuro registro perante a Junta Comercial do Estado de São Paulo.

Ocorre que, de acordo com as informações constantes dos autos, além deste feito, outro feito - anteriormente ajuizado - já tramita junto à E. Corregedoria Permanente do 2º Oficial de Títulos e Documentos e Civil da Pessoa Jurídica, com idêntico propósito, isto é, averbar a 4ª alteração e consolidação do contrato social da recorrente (Processo nº 1793/11).

Essa situação demonstra evidente ocorrência de litispendência, motivo por que o MM. Juiz Corregedor Permanente, com acerto, extinguiu o presente feito, porque distribuído por último.

A alegação da recorrente de que o instituto da litispendência só tem lugar em processo judicial não procede. Decorre da própria lógica do processo - judicial ou administrativo - a impossibilidade de dois feitos idênticos tramitarem concomitantemente, podendo dar ensejo a decisões conflitantes, o que, como cediço, traz mais insegurança do que a própria ausência de decisão.

Ainda em preliminar, de rigor também o reconhecimento da prejudicialidade do feito, porque a recorrente não apresentou, em seu requerimento inicial, a via original do título cujo ingresso pretende no fólio real (fls. 16/22).

Nesse sentido:

“REGISTRO DE IMÓVEIS - Apelação recebida como recurso administrativo - Título judicial também se submete à qualificação registrária - Mandado de penhora - Inviabilidade de sua averbação - Ausência da via original, da nota devolutiva e da prenotação - Irresignação parcial - Recurso improvido. (Proc. CG nº 108.758/2010)”

Não fossem essas circunstâncias preliminares, a recusa do Oficial de Títulos e Documentos e Civil da Pessoa Jurídica poderia ser afastada.

A sociedade recorrente constituiu-se em 1995, portanto sob a égide do Código Civil de 1916, que não previa regramento similar ao atual art. 977, do Código Civil, que veda a contratação de sociedade entre cônjuges casados no regime da comunhão universal ou no da separação obrigatória.

Essa situação - malgrado os respeitosos entendimentos em sentido contrário, notadamente os precedentes desta Corregedoria Geral 1 - afasta a incidência da norma prevista no art. 977, do Novo Código Civil, porque configurado o ato jurídico perfeito.

É o entendimento de Marcelo Fortes Barbosa Filho, para quem:

“as sociedades constituídas antes do início da vigência do Novo Código não foram atingidas (pela regra do artigo 977), dado o princípio da preservação do ato jurídico perfeito, inserido no artigo 5º, XXXVI, da Constituição da República, como reconhecido pelo Departamento Nacional do Registro do Comércio (Parecer DNRC/Cojur, n.125/03)¸ descartada, então, a necessidade de alteração do quadro social ou do regime de bens adotado”. 2

Em sentido idêntico, Arnaldo Rizzardo 3, Theotônio Negrão e José Roberto Ferreira Gouvêa 4, Antonio Jeová Santos 5, e Maria Helena Diniz 6.

Vossa Excelência, nos autos da Apelação Cível nº 358.867-5/0-00, da 1ª Câmara de Direito Público, deixou assentado que:

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“A vedação do artigo 977 do CC não se aplica às sociedades registradas anteriormente à vigência da nova lei, mas incide apenas para as sociedades a serem constituídas após 11.1.2003. O artigo 2031 do CC não incide sobre sociedades entre cônjuges cujos atos constitutivos sejam anteriores ao advento da nova normatividade, pois a eles socorre o direito adquirido de índole fundante e de ênfase explicitada na Constituição de 1988, a partir da alteração topográfica do capítulo dos direitos e garantias individuais” 7

E que:

“A superveniência de nova disciplina contida no Código Civil de 2002 não obriga o casal a adotar novo pacto patrimonial no casamento, nem a desfazer a sociedade, menos ainda a desfazer o casamento. Não foi essa a intenção do legislador. E se fora, encontraria a barreira do direito adquirido, fundamental no capítulo dos direitos e garantias individuais tão enfatizados na Constituição Cidadã de 1988.”

No mesmo sentido, a Apelação Cível nº 0001763-93.2011.8.26.0408 8:

“Ação de obrigação de fazer Oficial registrário que nega averbação de alteração social de sociedade simples, consistente na mera mudança de endereço, fundamentando-se na regra do artigo 977 do Código Civil. Sociedade constituída antes do advento da Lei Federal no 10.046/02. Aplicação da regra do artigo 5o, XXXVI, da Constituição Federal. A proibição contida na regra legal não atinge as sociedades entre cônjuges já constituídas ao tempo em que o Código Civil de 2002 entrou em vigor Recurso provido. Sentença reformada.”

E, mais recentemente, o próprio C. Conselho Superior da Magistratura, alterando anterior posicionamento na esfera administrativa, também passou a reputar que esse tipo de situação configura ato jurídico perfeito 9.

A hipótese em exame cuida de pretensão de averbação de alteração contratual por meio da qual uma sociedade simples, com registro perante a Serventia de Títulos e Documentos e Civil da Pessoa Jurídica, pretende alterar sua natureza jurídica para sociedade empresarial, com registro doravante perante a Junta Comercial do Estado de São Paulo - JUCESP.

A transformação corresponde à alteração da forma típica inicialmente escolhida, o que implica uma repactuação do contrato social já celebrado. Tal ato pressupõe a existência de personalidade jurídica e não modifica a realidade econômica ou social em que se assenta o empreendimento comum desenvolvido, mas apenas a fórmula jurídica reguladora da agregação dos sócios.

Nesse sentido, os sócios escolhem, voluntariamente, por meio de deliberação especial, um novo tipo societário, em substituição ao primeiro, provocando um rearranjo das relações jurídicas plurilaterais peculiares a uma sociedade personificada. Não há extinção do contrato de sociedade ou da pessoa jurídica criada, sobrevivendo, apesar da mudança do conteúdo, todos os vínculos decorrentes, mantida, inclusive, a repartição do capital social 10.

Ora, se a transformação pressupõe existência de personalidade jurídica e não extingue o contrato de sociedade vigente nem a pessoa jurídica criada, parece inafastável a ideia de que aquela constituída antes do Novo Código Civil e que agora pretende operar transformação de simples para empresarial está acobertada pela garantia constitucional do ato jurídico perfeito (CF 5º XXXVI), o que lhe afasta da incidência da regra do art. 977, do Código Civil vigente.

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Destaque-se que o simples fato de se estar migrando do Registro de Títulos e Documentos e Civil da Pessoa Jurídica para a Junta Comercial não tem o condão de alterar essa realidade: são registros diferentes, mas a pessoa jurídica continua a mesma.

Já existia; apenas está se modificando.

Diante de tais considerações é que se mostra adequada e tempestiva a modificação do entendimento então vigente nesta E. Corregedoria Geral, a fim de que, em hipóteses futuras envolvendo a questão ora debatida, permita-se a averbação das alterações contratuais das sociedades formadas entre marido e mulher casados no regime da comunhão universal ou no da separação obrigatória anteriormente ao Novo Código Civil.

No caso em exame, como visto, tal não será possível porque, além da litispendência, não consta dos autos a via original da alteração contratual a ser averbada.

Posto isto, o parecer que submeto ao elevado critério de Vossa Excelência é no sentido de que o recurso de apelação interposto seja recebido como recurso administrativo e que dele não se conheça.

Em caso de aprovação, sugiro a publicação no DJE e Portal do Extrajudicial para conhecimento geral.

Sub censura.

São Paulo, 03 de setembro de 2012.Gustavo Henrique Bretas MarzagãoJuiz Assessor da Corregedoria

1 Processo CG 26.373/2010

2 BARBOSA FILHO, Marcelo Fortes, in PELUSO, Cezar, Código Civil Comentado, (Coord), 2ª ed., Barueri, Manole, 2008, p.919.

3 RIZZARDO, Arnaldo, Direito de Empresa, Forense, 2ª ed., p.75.

4 GOUVÊA, José Roberto Ferreira e NEGRÃO, Theotônio, Código Civil Comentado, nota 3 ao artigo 977, que menciona o Enunciado 204 do Conselho da Justiça Federal

5 SANTOS, Antonio Jeová, Direito Intertemporal e o Novo Código Civil, SP, RT, 2ª ed., p.176.

6 DINIZ, Maria Helena, Código Civil Anotado, 12ª ed, SP, Saraiva, 2006, p.767.

7 Apelação Cível nº 358.867-5/0-00, 1ª Câmara de Direito Público, Rel. Des. Renato Nalini, j. 18.04.06.

8 Apelação Cível nº 0001763-93.2011.8.26.0408 , rel. Des. Luiz Sérgio Fernandes de Souza, j. 04.06.2012

9 Apelação Cível nº 0049360-12.2011.8.26.0100

10 BARBOSA FILHO, Marcelo Fortes, in PELUSO, Cezar, Código Civil Comentado, (Coord), 4ª ed., Barueri, Manole, 2012, p.1088.

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DECISÃO: Aprovo o parecer do MM. Juiz Assessor da Corregedoria e, por seus fundamentos, que adoto, recebo o recurso de apelação interposto como recurso administrativo e dele não conheço.

Publique-se o parecer na íntegra para conhecimento geral.

São Paulo, 04 de setembro de 2012.(a) JOSÉ RENATO NALINICorregedor Geral da Justiça. (D.J.E. de 21.09.2012)”.

É de se observar, outrossim, que se encontra na Comissão de Constituição Justiça e Cidadania, aguardando relator, o projeto (PLS 611/11) do senador Francisco Dornelles (PP-RJ), que libera quem for casado, seja qual for o regime de bens do matrimônio, para contratar sociedade com o cônjuge ou com terceiros. Tal projeto vai ser votado em decisão terminativa.

Na opinião de Dornelles, esse impedimento não se harmoniza com o Código Civil em vigor, tratando-se de verdadeiro retrocesso, uma vez que, antes da entrada em vigência do novo Código Civil, tanto a doutrina como a jurisprudência, haviam consolidado o entendimento de não haver impedimento para sociedade entre cônjuges, qualquer que fosse o regime de bens adotado no casamento.

Dornelles afirma que o STF, em recurso extraordinário julgado em 1985, já reconhecia que é legítima a sociedade por quotas que tenha como sócios exclusivos marido e mulher. Isso porque, não havendo dispositivo legal que proibisse essa sociedade comercial, ela era necessariamente válida.

Ele observa, contudo, que o STJ invoca a vedação legal contida no artigo 977, do Código Civil, para decidir pela impossibilidade de contratação de sociedade entre cônjuges casados no regime de comunhão universal ou separação obrigatória. O tribunal entende ainda que essa vedação se aplica tanto às sociedade empresárias quanto às simples.

Para Dornelles, “não há nada que justifique essa restrição”.

Alerte-se, finalmente, que essa posição do STJ de que a regra do artigo 977 se aplica tanto à sociedade empresária como à simples, atualmente, não é mais unânime, havendo posição pela sua não aplicação à segunda (sociedade simples), ao argumento de que o dispositivo somente diz respeito ao empresário e, por via de conseqüência, ao sócio de sociedade empresária, levando-se em consideração, para tanto, a posição topográfica em que inserido o mencionado artigo, no texto do Código Civil.

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 5528 - 25/10/2012

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Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 4892 - 19/10/2011

OPINIÃO

•Da participação de incapaz (menor) em sociedade – Graciano Pinheiro de Siqueira*

 

*O autor é 4º Oficial (Designado) de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica da Capital/SP, especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP.

O presente trabalho é resultado de representação formulada pelo Ministério Público do Trabalho, encaminhada à Egrégia Corregedoria Geral da Justiça (fls. 2), e desta para a 1ª. Vara de Registros Públicos da Capital/SP, que, na qualidade de Juízo Corregedor Permanente do 4º Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica, cargo do qual, até o momento, somos o designado para por ele responder, solicitou-nos informação a respeito do registro (lato senso) de uma alteração de contrato social, efetuado no ano de 2008, a qual foi, com fulcro nos argumentos abaixo, devidamente prestada, no processo nº 0036419-30.2011.8.26.0100, cuja decisão transcrevemos no final.

Segundo o representante do Ministério Público do Trabalho, aludida alteração contratual, em face da admissão, no quadro de sócios, de menor impúbere, teria sido elaborada “ao arrepio das normas específicas aplicáveis à espécie, a saber: Artigo 974 Código Civil vigente: “Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor da herança. Parágrafo 1º Nos casos deste artigo,precederá autorização judicial, após exame das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser

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revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros”, concluindo ser o ato jurídico nulo pleno jure, já que a entrada da menor, na sociedade, se deu sem a mencionada autorização judicial.

Ocorre, entretanto, que os dispositivos do Código Civil, supra citados, dirigem-se ao empresário individual, e não à sociedade, o que se vê, claramente, da redação da norma, não fosse suficiente o fato de estar ela inserida no capítulo relativo à capacidade do empresário, e dizem respeito a uma situação específica, qual seja, a da possibilidade, excepcional, de o empresário incapaz exercer empresa (atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens e prestação de serviços) nos casos de incapacidade superveniente ou incapacidade do sucessor na sucessão por morte, conforme, inclusive, Enunciado nº 203 do Conselho da Justiça Federal, aprovado na III Jornada de Direito Civil.

Efetivamente, pode ocorrer que o pai ou a mãe do menor sejam empresários (individuais) e que, em determinado momento, não mais possam ou queiram continuar com sua empresa. De fato, pode qualquer deles ser atingido por uma incapacidade superveniente ou falecer ou, ainda, ter de abandonar o empreendimento por qualquer motivo, como na opção de assumir um cargo público que lhe traz impedimento, etc... Situação semelhante verifica-se quando falece um parente do qual o menor é único herdeiro.

Se qualquer desses eventos ocorrer e não houver quem tenha condições de dar prosseguimento à empresa, pode o menor, como qualquer outro incapaz, “por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida (...) por seus pais ou pelo autor da herança”, observadas as mesmas condições previstas nos parágrafos 1º e 2º do art. 974 do Código Civil. Neste sentido, os comentários ao referido art. 974, feitos tanto por Ricardo Fiúza, na obra “Novo Código Civil Comentado”, 2002, Editora Saraiva, 1ª. Edição, 2ª. Tiragem, p. 880, como por Alfredo de Assis Gonçalves Neto, na obra “Direito de Empresa – Comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código Civil”, 2007, Editora Revista dos Tribunais, págs. 89 a 92.

Circunstância diversa é a relacionada ao ingresso de   incapaz, incluindo aí o menor, púbere ou impúbere, em sociedade, por   causa mortis  (herança de quotas) ou por ato   inter vivos (doação ou alienação de quotas), assunto este que já rendeu muita discussão, mas que, hodiernamente, está pacificado, notadamente a partir da “Talvez a mais importante decisão do STF, no último período de trinta anos, na matéria relacionada com o direito societário, foi a que resultou na liberação para a participação de menores de idade nas sociedades por quotas de responsabilidade limitada” (Problemas das Sociedades Limitadas e Soluções da Jurisprudência, LED Editora de Direito, 1997, p. 25, Luiz Antonio Soares Hentz).

Eis o leading case:

Denegou a Junta Comercial do Estado de São Paulo o arquivamento de alteração contratual, segundo a qual passavam a integrar determinada sociedade por quotas de responsabilidade limitada dois menores, filhos do principal quotista, estando o capital inteiramente realizado e vedado aos menores-quotistas os poderes de administração e gerência.

Interposto mandado de segurança, com resultado favorável nas duas instâncias ordinárias, alçou-se o processo ao Pretório Excelso, o qual, a 26 de maio de 1976, sendo relator o Ministro Xavier de Albuquerque, confirmou a concessão domandamus. E fê-lo, à unanimidade, em Sessão Plenária, fundado nas lições de João Eunápio Borges, Plácido e Silva, Pedro Barbosa Pereira e Cunha Peixoto, tendo o acórdão a seguinte ementa: “Sociedade por Quotas, de responsabilidade limitada. Participação de menores, com capital integralizado e sem poderes de gerência e administração, como quotistas. Admissibilidade reconhecida, sem ofensa ao art. 1º do Código Comercial” (Revista Trimestral de Jurisprudência, vol. 78, p. 608. O acórdão do 1º Tribunal de Alçada Civil de S.Paulo está publicado in RT 471/132). No mesmo sentido, pode ser conferido o julgamento unânime do STF, por seu Pleno, no Recurso Extraordinário nº 82433-SP (DJU, seção I, de 08/07/76, pág. 5.129).

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No tocante à realização do capital social, tal exigência se justifica, pois, uma vez integralizadas as quotas sociais de todosos sócios, em princípio, nenhum deles mais poderá ser chamado para responder com seus bens pessoais pelas dívidas da sociedade, e essa é uma das grandes vantagens apresentadas pelas sociedades limitadas. Mas, mesmo que ocorra responsabilização pessoal, esta, por óbvio, somente poderá recair naquele que exercer a administração da sociedade, o que em relação ao sócio menor é vedado.

Tamanha repercussão tiveram os julgados que, já em novembro de 1976, o DNRC (Departamento Nacional de Registro do Comércio), expedia ofício-circular nº 22, expressamente determinando a todas as Juntas Comerciais do País sua integral observância, verbis:

“Tendo em vista que a jurisprudência é fonte de lei e como as decisões do STF a tornam exigível aos casos análogos, entende o DNRC que, doravante, as Juntas Comerciais devem aceitar e deferir os contratos sociais onde figurem menores impúberes, desde que as suas cotas estejam integralizadas e não constem nos contratos sociais atribuições aos mesmos, relativos à gerência e administração” (sic).

O ofício-circular ,vê-se hialinamente, procurou sintetizar a veneranda decisão de nossa mais Alta Corte, tanto que, referindo-se o julgamento a menores impúberes, o adjetivo foi nele repetido, em flagrante ilogicidade, dando azo a que se concluísse que os menores púberes estariam impedidos de adquirir o status de sócio das limitadas.

Embora acabasse não sendo essa a conclusão das Juntas, o equívoco, no entanto, somente foi corrigido com a edição, pelo mesmo DNRC, da Instrução Normativa nº 29, de 19 de abril de 1991, do seguinte teor:

“Art. 17 – O arquivamento de atos de sociedades por quotas de responsabilidade limitada, da qual participam menores, será procedido pelo órgão de registro, desde que:I- o capital da sociedade esteja totalmente integralizado, tanto na constituição, como nas alterações contratuais;II- não seja atribuído ao menor quaisquer poderes de gerência ou administração;III- o sócio menor seja representado ou assistido, conforme o caso”.

Ainda que revogada a referida IN nº 29 pela IN nº 46, de 06/03/1996, o certo é que a posição do DNRC quanto ao tema continua sendo a mesma até o presente momento, bastando, para tanto, verificar a IN nº 98, de 23/12/2003, que trata do Manual de Atos de Registro da Sociedade Limitada, em seus itens 1.2.16.5 e 1.2.23.7, que assim dispõem:

“1.2.16.5 – Sócio menor de 18 anos, não emancipadoParticipando da sociedade sócio menor, não emancipado, o capital social deverá estar totalmente integralizado, e este não pode fazer parte da administração.1.2.23.7 – Sócio menor de 18 anos, não emancipadoNão poderão ser atribuídos ao sócio menor de 18 anos, não emancipado, poderes de administração.”A própria JUCESP tem dois Enunciados sobre a matéria (8 e 9), com a seguinte redação:“8 - Administração – sócio menorO sócio menor, não emancipado, não pode ser administrador de sociedade.9- Sócios representados e assistidos

Havendo sócio absolutamente ou relativamente incapaz, o contrato, na primeira hipótese, deverá ser assinado pelo representante legal, na segunda hipótese, pelo sócio e por quem o assistir, Código Civil art. 1690”.

É importante frisar que o menor, ou qualquer outra pessoa, por assumirem a condição de sócio, não se tornam empresários. Empresária será a sociedade da qual participam.

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Sobre a evolução histórica da questão e a posição doutrinária a respeito (pró e contra a participação de menor em sociedade), vale a pena verificar a obra “Das Sociedades Limitadas”, de José Waldecy Lucena, Editora Renovar, 2003, 5ª. Edição, págs. 228 a 232. Convém, também, sobre o assunto, conhecer o pensamento dos juristas José Edwaldo Tavares Borba e Sérgio Campinho nas obras, respectivamente, “Direito Societário”, 2004, 9ª. Edição, Editora Renovar, págs. 42 a 45 e 62, e “O Direito de Empresa à Luz do Novo Código Civil”, 2005, 5ª. Edição, Editora Renovar, págs. 195 a 198.

Portanto, com base nas decisões unânimes do STF, as Juntas Comerciais, e, por extensão, os Registros Civis das Pessoas Jurídicas, vêm, de há muito tempo, aceitando contratos ou alterações contratuais com sócios menores, desde que presentes os pressupostos indicados pelo Tribunal, e, com o advento da recentíssima Lei nº 12.399, de 1º de abril de 2011, deverão fazê-lo com muito mais razão, eis que a novel legislação acrescentou, ao artigo 974 do Código Civil, o parágrafo 3º, com o seguinte teor:

“Art. 974....Parágrafo 3º O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de formaconjunta, os seguintes pressupostos:I- o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade;II- o capital social deve ser totalmente integralizado;III- o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser representados por seus representantes legais.”

Evidentemente, em se tratando de uma sociedade de natureza simples, a mesma regra deverá ser observada pelo RCPJ.

Note-se que aquilo que já estava consagrado pela doutrina e pela jurisprudência foi incorporado, pelo legislador, no ordenamento jurídico pátrio, sendo oportuno destacar que, em nenhum momento, para o ingresso de incapaz emsociedade, e, em especial, do menor, se falou em autorização judicial.

De todo o exposto, tem-se que o registro efetuado pela serventia é, contrariando o entendimento do parquet, perfeitamente válido e eficaz, estando em plena consonância com o direito, eis que realizado com rigorosa observância dos requisitos acima mencionados.

Cabe observar que a sociedade, em razão da sua última averbação, efetivada em 2009, mudou sua natureza, de simples para empresária, deslocando seus registros para a JUCESP.

A recente decisão, de 10 de outubro de 2011, abraçou, integralmente, nosso raciocínio sobre o tema, sendo do seguinte teor:

“Processo nº: 0036419-30.2011.8.26.0100 – Pedido de ProvidênciasRequerente: Corregedoria Geral da Justiça

Conclusão.Em 29.09.2011, faço estes autos conclusos ao MM. Juiz Gustavo Henrique Bretãs Marzagão. Eu,_______, esc., subs.

VISTOS.

Cuida-se de expediente encaminhado pela E. Corregedoria Geral da Justiça contendo representação formulada pelo Ministério Público do Trabalho contra o 4º Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica nos autos da reclamação trabalhista nº 00359-2009-072-02-00-6, da E. 72ª. Vara do Trabalho.

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Aduz o Ministério Público do Trabalho que a menor impúbere Suzanna Heinze foi inserida na sociedade empresarial reclamada naquela ação trabalhista ao arrepio do art. 974, parágrafo 1º, do Código Civil, na medida em que sem autorização judicial, o que torna nulo de pleno direito o ato jurídico na forma do art. 166, I e V, do Código Civil (fls. 159/160).

O Oficial prestou informações às fls. 167/175.

É O RELATÓRIO.

FUNDAMENTO E DECIDO.

A representação do Ministério Público do Trabalho questiona a alteração contratual da empresa S.H. Lavanderia LTDA, reclamada e executada nos autos da ação trabalhista nº 00359-2009-072-02-00-6, da E. 72ª. Vara do Trabalho, por meio da qual foi inserida na qualidade de sócia a menor impúbere Suzanna Heinze sem a autorização judicial prevista no parágrafo 1º, do art. 974, do Código Civil.

Exercer empresa é diferente de ser sócio de sociedade. A autorização judicial de que cuida o parágrafo 1º, do art. 974, do Código Civil, diz respeito ao empresário individual e não ao sócio de sociedade.

Fábio Ulhoa Coelho bem explica a diferença entre o empresário individual e a sociedade empresária:

“Deve-se desde logo acentuar que os sócios da sociedade empresária não são empresários. Quando pessoas (naturais) unem seus esforços para, em sociedade, ganhar dinheiro com a exploração empresarial de uma atividade econômica, elas não se tornam empresárias. A sociedade por elas constituída, uma pessoa jurídica com personalidade autônoma, sujeito de direito independente, é que será empresária, para todos os efeitos legais. Os sócios da sociedade empresária são empreendedores ou investidores, de acordo com a colaboração dada à sociedade (os empreendedores, além de capital, costumam devotar também trabalho à pessoa jurídica, na condição de seus administradores, ou as controlam; os investidores limitam-se a aportar capital). As regras que são aplicáveis ao empresário individual não se aplicam aos sócios da sociedade empresária – é muito importante apreender isto” (Manual de Direito Comercial, Saraiva, 17ª. Ed., págs. 19/21 – grifou-se).

E continua:

“Em relação às pessoas físicas, o exercício de atividade empresarial é vedado em duas hipóteses(relembre-se que não se está cuidando, aqui, das condições pra uma pessoa física ser sócia de sociedade empresária, mas par ser empresária individual). A primeira diz respeito à proteção dela mesma, expressa em normas sobre capacidade (CC, arts. 972, 974 a 976); a segunda refere-se à proteção de terceiros e se manifesta em proibições o exercício da empresa (CC, art. 973). (grifou-se)”

Mais adiante, ao tratar dos requisitos das sociedades contratuais, expõe que:

“é importante ressaltar que a contratação de sociedade limitada por menor, devidamente representado ou assistido, tem sido admitida pela jurisprudência, desde que não tenha poderes de administração e o capital social esteja totalmente integralizado” (pág. 132).

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É nesse última situação que se insere o caso em exame. De acordo com a cláusula quarta, do contrato social, administração da sociedade compete com exclusividade a Paulo Roberto Heinze. O capital social está totalmente integralizado (cláusula segunda) e a menor está representada por seu pai (cláusula primeira – fls. 63/68).

Há tempos o Supremo Tribunal Federal admite que o menor seja sócio de sociedade limitada, desde representado ou assistido, que o capital social esteja totalmente integralizado, e que não exerça atos de administração:

“SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA. PARTICIPAÇÃO DE MENORES, COM CAPITAL INTEGRALIZADO E SEM PODERES DE GERENCIA E ADMINISTRAÇÃO COM COTISTAS. ADMISSIBILIDADE RECONHECIDA, SEM OFENSA AO ART. I DO CÓDIGO COMERCIAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO NÃO CONHECIDO.”(RE 82433-SP).

Correta, por conseguinte, a qualificação do 4º Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica ao averbar a alteração contratual questionada pelo Ministério Público Federal na presente reclamação, porque inaplicável, na espécie, o parágrafo 1º, do art. 974, do Código Civil.

É certo que, ao que tudo indica, a alteração contratual em questão sugere manobra furtiva de responsabilização frente ao credor trabalhista. Contudo, esse fato é de natureza intrínseca do título, de modo que não pode ser conhecida por esta Corregedoria Permanente, cuja competência limita-se ao exame dos aspectos extrínsecos do título, os quais estão em harmonia com o ordenamento jurídico. Assim, a anulação da alteração contratual deve ser postulada nas vias ordinárias.

Posto isso, não verificada qualquer violação funcional na conduta do Oficial de Registro de Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica, determino o arquivamento dos autos.

Com cópia desta, comunique-se a E. Corregedoria Geral da Justiça, e ao MM. Juízo da E. 72ª. Vara do Trabalho.

Oportunamente, ao arquivo.

P.R.I.C.

São Paulo, 10 de outubro de 2011.

- assinatura digital ao lado –

Gustavo Henrique Bretãs MarzagãoJuiz de Direito”

Publicado no Boletim Eletrônico INR nº 4892 - 19/10/2011

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TRANSFORMAÇÃO, INCORPORAÇÃO, CISÃO E FUSÃO ENTRE PESSOAS JURÍDICAS ELENCADAS NO ARTIGO 44DO CÓDIGO CIVIL.

* Graciano Pinheiro de Siqueira

Tem sido bastante discutida a possibilidade, ou não, de ocorrer, entre as várias espécies de pessoas jurídicas de direito privado, elencadas no rol do artigo 44 do Código Civil (sociedades, associações, fundações, organizações religiosas, partidos políticos e empresas individuais de responsabilidade limitada), atransformação,aincorporação,a cisão e afusão, cujos conceitos constam, respectivamente, dos artigos 220, 227, 228 e 229 da Lei n° 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas). Delas também trata o Código Civil, definindo a transformação no artigo 1.113; a incorporação no artigo 1.116;e, a fusão no artigo 1.119. Quanto à cisão, deixou aludido Código de descrevê-la, embora a ela faça referência no Capítulo X, do Subtítulo II, do Livro II, bem como no artigo 1.122caput e seu parágrafo 3°.De plano, é importante asseverarque as operações acima mencionadas são essencialmente societárias, e, quando realizadas, envolverão, em regra,sociedades, de tipos iguais ou diferentes (artigo 223, da Lei n° 6.404/76), qualquer que seja a sua natureza (simples ou empresária).A grande questão que se coloca é saber se, de tais processos,poderão participar pessoas jurídicas que não sejam, apenas, sociedades, o que, de fato, reconhecemos, é tema bastante tormentoso.

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Há quem sustente que a resposta estaria na regra do artigo 2.033 do Código Civil, que assim estabelece:“Art. 2.033. Salvo o disposto em lei especial, as modificações dos atos constitutivos das pessoas jurídicas referidas no art. 44, bem como a sua transformação, incorporação, cisão ou fusão, regem-se desde logo por este Código”. Destarte, com base neste dispositivo, poderia, indiscriminadamente, haver, v.g., a transformação de uma sociedade em associação e vice-versa; a transformação de uma associação em fundação e vice-versa; a incorporação de uma associação por uma sociedade e vice-versa, etc...Ousamos discordar desse posicionamento, embora entendendo que poderá ocorrer, sim, excepcionalmente, a transformação, assim como a incorporação, a cisão e a fusão entre pessoas jurídicas que não sejam, necessariamente, sociedades, desde que, para tanto, exista expressa previsão legal, a qual, por certo, não é o citado artigo 2.033 do Código Civil, que deve, assim, ser visto com ressalvas. É o que acontece, por exemplo:a) com os Partidos Políticos, que embora tenham natureza associativa, poderão fundir-se e incorporar-se, nos termos do artigo 2°, da Lei n° 9.096/95, que assim dispõe: “é livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos cujos programas respeitem a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais da pessoa humana";b) com os Sindicatos, que também têm natureza associativa, e que poderão dissociar-se,já que a regra do artigo 571, combinada com a do parágrafo único, do artigo 572, da CLT, fazem referência ao instituto da dissociação (algo que se aproxima da cisão parcial). Além disso, poderão, ainda, fundir-se e incorporar-se, de acordo com a Portaria n° 326/2.013, do Ministério do Trabalho e Emprego, a qual trata do registro de Sindicato (organização sindical de primeiro grau) perante este órgão (o registro de organizações sindicais de segundo grau, isto é, Federações e Confederações é regulado pela Portaria n° 186/2.008) e mesmo que não se trate de uma lei em sentido formal tem ela caráter normativo, sendo, por isso, rigorosamente seguida.c) com as Cooperativas, que, embora sejam consideradas como sociedade simples (artigo 982, p.único, “in fine”, do Código Civil), são, na verdade, um híbrido entre sociedade e associação, e poderão fundir-se, incorporar-se e desmembrar-se (cindir-se), conforme Capítulo X, da Lei n° 5.764/71, bem como alterar a sua forma jurídica (leia-se transformar-se), de acordo com o art. 63, IV da referida lei do cooperativismo.Especificamente em relação às associações (pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos) mantenedoras de instituições privadas de ensino superior, deve ser observado que a regra, de caráter transitório, do

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parágrafo único, do artigo 2°, do Decreto 2.207/97, que previa, expressamente, a possibilidade de mudança de sua natureza (leia-se transformação), de associação em uma das formas (societárias) estabelecidas nas leis comerciais, não mais prevalece, já que aludido Decreto foi revogado pelo Decreto 2.306/97, que foi revogado pelo Decreto n° 3.860/2001, que foi revogado pelo Decreto 5.773/2006, sendo que nenhum deles tratou mais do tema. Atente-se que o Decreto 2.207/97 regulamentava, dentre outros, o artigo 19, da Lei n° 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases do Ensino).Lembre-se que, de acordo com o artigo 7°-A, da Lei n° 9.131/95, as pessoas jurídicas de direito privado, mantenedoras de instituições de ensino superior, previstas no inciso II, do artigo 19, da Lei 9.394/96, podem assumir qualquer das formas admitidas em direito, de natureza civil ou comercial, ou seja, constituir-se como sociedade, civil ou comercial, associação (sociedade civil sem fins lucrativos) ou fundação, nos termos do Código Civil de 1.916, que vigorava na época, o que não significa, a nosso ver, no entanto, como sustentam alguns, autorização para a transformação daquelas entidades, de associação para sociedade, e como sugerem, aliás, expressamente, as regras do art. 13, da Lei n° 11.096/2005, que instituiu o Prouni e regulou a atuação de entidades beneficentes de assistência social no ensino superior, bem como do parágrafo 1°, do art. 17, da Instrução NormativaSRF n° 113/98, eis que, como visto, a regra do artigo 7°-A, da Lei n° 9.131/95,limitou-se a permitir que as mantenedoras de instituições de ensino superior assumissem quaisquer das formas admitidas em direitos, de natureza civil ou comercial, e não a transformação de uma associação em sociedade.Por oportuno, destaque-se que, hodiernamente, a sociedade civil e a sociedade comercial foram substituídas, respectivamente, pela sociedade simples e pela sociedade empresária.A propósito, caso fosse possível a transformação, a natureza da sociedade, por certo, deveria ser empresária e não simples, pois, muito dificilmente, a atuação pessoal dos sócios, ainda que de caráter intelectual, seria mais relevante do que a organização, constituindo o exercício da atividade pelos mesmos mero elemento de empresa, nos termos do parágrafo único, do artigo 966 do Código Civil.Também a regra do art. 27 da Lei Pelé (Lei n° 9.615/98), que incentivava os clubes de futebol, normalmente constituídos sob a forma de associação, a se transformarem em sociedade civil com fins lucrativos ou em sociedade comercial não mais vigora.Há entendimento de que a existência, no estatuto, de regra permissiva, v.g., da transformação da associação em sociedade, seria válida, já que o estatuto é a lei (não em sentido formal, evidentemente) que rege a vida da entidade, argumento este que, atualmente, não tem sido mais aceito pela 1ª. Vara de Registros Públicos da Capital/SP, que, seguindo o entendimento,

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com caráter normativo, da E. Corregedoria Geral da Justiça do Estado de São Paulo, tem se posicionado no sentido de que a transformação consiste, exclusivamente, namudança de tipo societário, o que, “data máxima venia”, pode sercontestado, em que pese seja esta, efetivamente, a regra geral.Ainda em relação à citada 1ª. VRP, tem ela aceito a incorporação de uma associação por outra, independentemente de permissão legal expressa.Lembre-se que, atualmente, é possível a transformação de registro de empresário individual em sociedade empresária ou simples , como também em empresa individual de responsabilidade limitada, sendo a recíproca verdadeira, ou seja, pode-se solicitar a transformação de registro de empresário individual ou de empresa individual de responsabilidade limitada em sociedade empresária ou simples. No entanto, essa transformação de registro não é o mesmo que transformação, espécie de operação societária. Neste sentido o Enunciado n° 465, do Conselho da Justiça Federal, assim disposto: “A “transformação de registro”prevista no art. 968, § 3º, e no art. 1.033, parágrafo único, do Código Civil nãose confunde com a figura da transformação de pessoa jurídica”.

É pacífico o entendimento, pela CGJ/SP, de que não é possível a transformação de associação em fundação e vice-versa, por se tratarem de modalidades de pessoasjurídicas com estruturas completamente distintas.Por fim, note-se, a título de ilustração, que até entre pessoas jurídicas de direito público interno é possível que aconteça incorporação, fusão e desmembramento. É o que se dá com Estados e Municípios, nos termos da Constituição Federal.

•Graciano Pinheiro de Siqueira, especialista em Direito Comercial pela Faculdade de Direito da USP e colunista do Boletim Eletrônico INR.

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Enunciados Jornadas de Direito Civil – Conselho da Justiça Federal:

7 – Art. 50: Só se aplica a desconsideração da personalidade jurídica quando houver a

prática de ato irregular e, limitadamente, aos administradores ou sócios que nela hajam

incorrido.

8 – Art. 62, parágrafo único: A constituição de fundação para fins científicos, educacionais

ou de promoção do meio ambiente está compreendida no Código Civil, art. 62, parágrafo

único.

9 – Art. 62, parágrafo único: Deve ser interpretado de modo a excluir apenas as fundações

com fins lucrativos.

10 – Art. 66, § 1º: Em face do princípio da especialidade, o art. 66, § 1º, deve ser

interpretado em sintonia com os arts. 70 e 178 da LC n. 75/93.

51 – Art. 50: A teoria da desconsideração da personalidade jurídica – disregard doctrine – fica

positivada no novo Código Civil, mantidos os parâmetros existentes nos microssistemas

legais e na construção jurídica sobre o tema.

52 – Art. 903: Por força da regra do art. 903 do Código Civil, as disposições relativas aos

títulos de crédito não se aplicam aos já existentes.

53 – Art. 966: Deve-se levar em consideração o princípio da função social na interpretação

das normas relativas à empresa, a despeito da falta de referência expressa.

54 – Art. 966: É caracterizador do elemento empresa a declaração da atividade-fim, assim

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como a prática de atos empresariais.

55 – Arts. 968, 969 e 1.150: O domicílio da pessoa jurídica empresarial regular é o

estatutário ou o contratual em que indicada a sede da empresa, na forma dos arts. 968,

IV, e 969, combinado com o art. 1.150, todos do Código Civil.

56 – Art. 970: O Código Civil não definiu o conceito de pequeno empresário; a lei que o

definir deverá exigir a adoção do livro-diário. (Cancelado pelo En. 235 – III Jornada)

57 – Art. 983: A opção pelo tipo empresarial não afasta a natureza simples da sociedade.

58 – Arts. 986 e seguintes: A sociedade em comum compreende as figuras doutrinárias da

sociedade de fato e da irregular .

59 – Arts. 990, 1.009, 1.016, 1.017 e 1.091: Os sociogestores e os administradores das

empresas são responsáveis subsidiária e ilimitadamente pelos atos ilícitos praticados, de

má gestão ou contrários ao previsto no contrato social ou estatuto, consoante

estabelecem os arts. 990, 1.009, 1.016, 1.017 e 1.091, todos do Código Civil. I, III, IV e V Jornadas de Direito Civil 23

60 – Art. 1.011, § 1º: As expressões “de peita” ou “suborno” do § 1º do art. 1.011 do novo

Código Civil devem ser entendidas como corrupção, ativa ou passiva.

61 – Art. 1.023: O termo “subsidiariamente” constante do inc. VIII do art. 997 do Código

Civil deverá ser substituído por “solidariamente” a fim de compatibilizar esse dispositivo

com o art. 1.023 do mesmo Código.

62 – Art. 1.031: Com a exclusão do sócio remisso, a forma de reembolso das suas quotas, em

regra, deve-se dar com base em balanço especial, realizado na data da exclusão.

63 – Art. 1.043: Suprimir o art. 1.043 ou interpretá-lo no sentido de que só será aplicado às

sociedades ajustadas por prazo determinado.

64 – Art. 1.148: A alienação do estabelecimento empresarial importa, como regra, na

manutenção do contrato de locação em que o alienante figura como locatário. (Cancelado

pelo En. 234 – III Jornada)

65 – Art. 1.052: A expressão “sociedade limitada” tratada no art. 1.052 e seguintes do novo

Código Civil deve ser interpretada stricto sensu, como “sociedade por quotas de

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responsabilidade limitada”.

66 – Art. 1.062: A teor do § 2º do art. 1.062 do Código Civil, o administrador só pode ser

pessoa natural.

67 – Arts. 1.085, 1.030 e 1.033, III: A quebra do affectio societatis não é causa para a

exclusão do sócio minoritário, mas apenas para dissolução (parcial) da sociedade.

68 – Arts. 1.088 e 1.089: Suprimir os arts. 1.088 e 1.089 do novo Código Civil em razão de

estar a matéria regulamentada em lei especial.

69 – Art. 1.093: As sociedades cooperativas são sociedades simples sujeitas à inscrição nas

juntas comerciais.

70 – Art. 1.116: As disposições sobre incorporação, fusão e cisão previstas no Código Civil

não se aplicam às sociedades anônimas. As disposições da Lei n. 6.404/76 sobre essa

matéria aplicam-se, por analogia, às demais sociedades naquilo em que o Código Civil for

omisso.

71 – Arts. 1.158 e 1.160: Suprimir o art. 1.160 do Código Civil por estar a matéria regulada

mais adequadamente no art. 3º da Lei n. 6.404/76 (disciplinadora das S.A.) e dar nova

redação ao § 2º do art. 1.158, de modo a retirar a exigência da designação do objeto da

sociedade.

72 – Art. 1.164: Suprimir o art. 1.164 do novo Código Civil.

73 – Art. 2.031: Não havendo revogação do art 1.160 do Código Civil nem modificação do §

2º do art. 1.158 do mesmo diploma, é de interpretar-se este dispositivo no sentido de

não aplicá-lo à denominação das sociedades anônimas e sociedades Ltda., já existentes,

em razão de se tratar de direito inerente à sua personalidade.

74 – Art. 2.045: Apesar da falta de menção expressa, como exigido pelas LCs 95/98 e

107/2001, estão revogadas as disposições de leis especiais que contiverem matéria

regulada inteiramente no novo Código Civil, como, v.g., as disposições da Lei n.

6.404/76, referente à sociedade comandita por ações, e do Decreto n. 3.708/1919,

sobre sociedade de responsabilidade limitada.

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75 – Art. 2.045: A disciplina de matéria mercantil no novo Código Civil não afeta a autonomia

do Direito Comercial.

141 – Art. 41: A remissão do art. 41, parágrafo único, do Código Civil às pessoas jurídicas de

direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado”, diz respeito às

fundações públicas e aos entes de fiscalização do exercício profissional.

142 – Art. 44: Os partidos políticos, os sindicatos e as associações religiosas possuem natureza

associativa, aplicando-se-lhes o Código Civil.

143 – Art. 44: A liberdade de funcionamento das organizações religiosas não afasta o controle

de legalidade e legitimidade constitucional de seu registro, nem a possibilidade de

reexame, pelo Judiciário, da compatibilidade de seus atos com a lei e com seus estatutos.

144 – Art. 44: A relação das pessoas jurídicas de direito privado constante do art. 44, incs. I a

V, do Código Civil não é exaustiva.

145 – Art. 47: O art. 47 não afasta a aplicação da teoria da aparência.

146 – Art. 50: Nas relações civis, interpretam-se restritivamente os parâmetros de

desconsideração da personalidade jurídica previstos no art. 50 (desvio de finalidade social

ou confusão patrimonial). (Este Enunciado não prejudica o Enunciado n. 7)

147 – Art. 66: A expressão “por mais de um Estado”, contida no § 2o do art. 66, não exclui o

Distrito Federal e os Territórios. A atribuição de velar pelas fundações, prevista no art.

66 e seus parágrafos, ao MP local – isto é, dos Estados, DF e Territórios onde situadas –

não exclui a necessidade de fiscalização de tais pessoas jurídicas pelo MPF, quando se

tratar de fundações instituídas ou mantidas pela União, autarquia ou empresa pública

federal, ou que destas recebam verbas, nos termos da Constituição, da LC n. 75/93 e da

Lei de Improbidade.

193 – Art. 966: O exercício das atividades de natureza exclusivamente intelectual está excluído

do conceito de empresa.

194 – Art. 966: Os profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se a organização

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dos fatores de produção for mais importante que a atividade pessoal desenvolvida.

195 – Art. 966: A expressão “elemento de empresa” demanda interpretação econômica,

devendo ser analisada sob a égide da absorção da atividade intelectual, de natureza

científica, literária ou artística, como um dos fatores da organização empresarial.

196 – Arts. 966 e 982: A sociedade de natureza simples não tem seu objeto restrito às

atividades intelectuais.

197 – Arts. 966, 967 e 972: A pessoa natural, maior de 16 e menor de 18 anos, é reputada

empresário regular se satisfizer os requisitos dos arts. 966 e 967; todavia, não tem direito a

concordata preventiva, por não exercer regularmente a atividade por mais de dois anos.

198 – Art. 967: A inscrição do empresário na Junta Comercial não é requisito para a sua

caracterização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal providência. O empresário

irregular reúne os requisitos do art. 966, sujeitando-se às normas do Código Civil e da

legislação comercial, salvo naquilo em que forem incompatíveis com a sua condição ou

diante de expressa disposição em contrário.

199 – Art. 967: A inscrição do empresário ou sociedade empresária é requisito delineador de

sua regularidade, e não de sua caracterização.

200 – Art. 970: É possível a qualquer empresário individual, em situação regular, solicitar seu

enquadramento como microempresário ou empresário de pequeno porte, observadas as

exigências e restrições legais.

201 – Arts. 971 e 984: O empresário rural e a sociedade empresária rural, inscritos no registro

público de empresas mercantis, estão sujeitos à falência e podem requerer concordata.

202 – Arts. 971 e 984: O registro do empresário ou sociedade rural na Junta Comercial é

facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime jurídico empresarial. É

inaplicável esse regime ao empresário ou sociedade rural que não exercer tal opção.

203 – Art. 974: O exercício da empresa por empresário incapaz, representado ou assistido,

somente é possível nos casos de incapacidade superveniente ou incapacidade do sucessor

na sucessão por morte.

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204 – Art. 977: A proibição de sociedade entre pessoas casadas sob o regime da comunhão

universal ou da separação obrigatória só atinge as sociedades constituídas após a vigência

do Código Civil de 2002.

205 – Art. 977: Adotar as seguintes interpretações ao art. 977: (1) a vedação à participação de

cônjuges casados nas condições previstas no artigo refere-se unicamente a uma mesma

sociedade; (2) o artigo abrange tanto a participação originária (na constituição da

sociedade) quanto a derivada, isto é, fica vedado o ingresso de sócio casado em

sociedade de que já participa o outro cônjuge.

206 – Arts. 981, 983, 997, 1.006, 1.007 e 1.094: A contribuição do sócio exclusivamente em

prestação de serviços é permitida nas sociedades cooperativas (art. 1.094, I) e nas

sociedades simples propriamente ditas (art. 983, 2ª parte).

207 – Art. 982: A natureza de sociedade simples da cooperativa, por força legal, não a impede

de ser sócia de qualquer tipo societário, tampouco de praticar ato de empresa.

208 – Arts. 983, 986 e 991: As normas do Código Civil para as sociedades em comum e em

conta de participação são aplicáveis independentemente de a atividade dos sócios, ou do

sócio ostensivo, ser ou não própria de empresário sujeito a registro (distinção feita pelo

art. 982 do Código Civil entre sociedade simples e empresária).

209 – Arts. 985, 986 e 1.150: O art. 986 deve ser interpretado em sintonia com os arts. 985

e 1.150, de modo a ser considerada em comum a sociedade que não tiver seu ato

constitutivo inscrito no registro próprio ou em desacordo com as normas legais previstas

para esse registro (art. 1.150), ressalvadas as hipóteses de registros efetuados de boa-fé.

210 – Art. 988: O patrimônio especial a que se refere o art. 988 é aquele afetado ao exercício

da atividade, garantidor de terceiro, e de titularidade dos sócios em comum, em face da

ausência de personalidade jurídica.

211 – Art. 989: Presume-se disjuntiva a administração dos sócios a que se refere o art. 989.

212 – Art. 990: Embora a sociedade em comum não tenha personalidade jurídica, o sócio que

tem seus bens constritos por dívida contraída em favor da sociedade, e não participou do

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ato por meio do qual foi contraída a obrigação, tem o direito de indicar bens afetados às

atividades empresariais para substituir a constrição.

213 – Art. 997: O art. 997, inc. II, não exclui a possibilidade de sociedade simples utilizar

firma ou razão social.

214 – Arts. 997 e 1.054: As indicações contidas no art. 997 não são exaustivas, aplicando-se

outras exigências contidas na legislação pertinente, para fins de registro.

215 – Art. 998: A sede a que se refere o caput do art. 998 poderá ser a da administração ou a

do estabelecimento onde se realizam as atividades sociais.

216 – Arts. 999, 1.004 e 1.030: O quórum de deliberação previsto no art. 1.004, parágrafo

único, e no art. 1.030 é de maioria absoluta do capital representado pelas quotas dos

demais sócios, consoante a regra geral fixada no art. 999 para as deliberações na

sociedade simples. Esse entendimento aplica-se ao art. 1.058 em caso de exclusão de

sócio remisso ou redução do valor de sua quota ao montante já integralizado.

217 – Arts. 1.010 e 1.053: Com a regência supletiva da sociedade limitada, pela lei das sociedades

por ações, ao sócio que participar de deliberação na qual tenha interesse contrário ao da

sociedade aplicar-se-á o disposto no art. 115, § 3º, da Lei n. 6.404/76. Nos demais casos,

incide o art. 1.010, § 3º, se o voto proferido foi decisivo para a aprovação da deliberação,

ou o art. 187 (abuso do direito), se o voto não tiver prevalecido.

218 – Art. 1.011: Não são necessárias certidões de nenhuma espécie para comprovar os requisitos

do art. 1.011 no ato de registro da sociedade, bastando declaração de desimpedimento.

219 – Art. 1.015: Está positivada a teoria ultra vires no Direito brasileiro, com as seguintes

ressalvas: (a) o ato ultra vires não produz efeito apenas em relação à sociedade; (b) sem

embargo, a sociedade poderá, por meio de seu órgão deliberativo, ratificá-lo; (c) o

Código Civil amenizou o rigor da teoria ultra vires, admitindo os poderes implícitos dos

administradores para realizar negócios acessórios ou conexos ao objeto social, os quais

não constituem operações evidentemente estranhas aos negócios da sociedade; (d) não se

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aplica o art. 1.015 às sociedades por ações, em virtude da existência de regra especial de

responsabilidade dos administradores (art. 158, II, Lei n. 6.404/76). I, III, IV e V Jornadas de Direito Civil 43

220 – Art. 1.016: É obrigatória a aplicação do art. 1.016 do Código Civil de 2002, que regula

a responsabilidade dos administradores, a todas as sociedades limitadas, mesmo àquelas

cujo contrato social preveja a aplicação supletiva das normas das sociedades anônimas.

221 – Art. 1.028: Diante da possibilidade de o contrato social permitir o ingresso na sociedade

do sucessor de sócio falecido, ou de os sócios acordarem com os herdeiros a substituição

de sócio falecido, sem liquidação da quota em ambos os casos, é lícita a participação de

menor em sociedade limitada, estando o capital integralizado, em virtude da inexistência

de vedação no Código Civil.

222 – Art. 1.053: Não se aplica o art. 997, V, à sociedade limitada na hipótese de regência

supletiva pelas regras das sociedades simples.

223 – Art. 1.053: O parágrafo único do art. 1.053 não significa a aplicação em bloco da Lei n.

6.404/76 ou das disposições sobre a sociedade simples. O contrato social pode adotar,

nas omissões do Código sobre as sociedades limitadas, tanto as regras das sociedades

simples quanto as das sociedades anônimas.

224 – Art. 1.055: A solidariedade entre os sócios da sociedade limitada pela exata estimação

dos bens conferidos ao capital social abrange os casos de constituição e aumento do

capital e cessa após cinco anos da data do respectivo registro.

225 – Art. 1.057: Sociedade limitada. Instrumento de cessão de quotas. Na omissão do

contrato social, a cessão de quotas sociais de uma sociedade limitada pode ser feita por

instrumento próprio, averbado no registro da sociedade, independentemente de alteração

contratual, nos termos do art. 1.057 e parágrafo único do Código Civil.

226 – Art. 1.074: A exigência da presença de três quartos do capital social, como quórum

mínimo de instalação em primeira convocação, pode ser alterada pelo contrato de

sociedade limitada com até dez sócios, quando as deliberações sociais obedecerem à

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forma de reunião, sem prejuízo da observância das regras do art. 1.076 referentes ao

quórum de deliberação.

227 – Art. 1.076 c/c 1.071: O quórum mínimo para a deliberação da cisão da sociedade

limitada é de três quartos do capital social.

228 – Art. 1.078: As sociedades limitadas estão dispensadas da publicação das demonstrações

financeiras a que se refere o § 3º do art. 1.078. Naquelas de até dez sócios, a

deliberação de que trata o art. 1.078 pode dar-se na forma dos §§ 2º e 3º do art.

1.072, e a qualquer tempo, desde que haja previsão contratual nesse sentido.

229 – Art. 1.080: A responsabilidade ilimitada dos sócios pelas deliberações infringentes da lei

ou do contrato torna desnecessária a desconsideração da personalidade jurídica, por não constituir a autonomia patrimonial da pessoa jurídica escudo para a responsabilização

pessoal e direta.

230 – Art. 1.089: A fusão e a incorporação de sociedade anônima continuam reguladas pelas

normas previstas na Lei n. 6.404/76, não revogadas pelo Código Civil (art. 1.089),

quanto a esse tipo societário.

231 – Arts. 1.116 a 1.122: A cisão de sociedades continua disciplinada na Lei n. 6.404/76,

aplicável a todos os tipos societários, inclusive no que se refere aos direitos dos credores.

Interpretação dos arts. 1.116 a 1.122 do Código Civil.

232 – Arts. 1.116, 1.117 e 1.120: Nas fusões e incorporações entre sociedades reguladas pelo

Código Civil, é facultativa a elaboração de protocolo firmado pelos sócios ou

administradores das sociedades; havendo sociedade anônima ou comandita por ações

envolvida na operação, a obrigatoriedade do protocolo e da justificação somente a ela se

aplica.

233 – Art. 1.142: A sistemática do contrato de trespasse delineada pelo Código Civil nos arts.

1.142 e ss., especialmente seus efeitos obrigacionais, aplica-se somente quando o

conjunto de bens transferidos importar a transmissão da funcionalidade do

estabelecimento empresarial.

234 – Art. 1.148: Quando do trespasse do estabelecimento empresarial, o contrato de locação

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do respectivo ponto não se transmite automaticamente ao adquirente. Fica cancelado o

Enunciado n. 64.

235 – Art. 1.179: O pequeno empresário, dispensado da escrituração, é aquele previsto na Lei

n. 9.841/99. Fica cancelado o Enunciado n. 56.

280 – Arts. 44, 57 e 60: Por força do art. 44, § 2º, consideram-se aplicáveis às sociedades

reguladas pelo Livro II da Parte Especial, exceto às limitadas, os arts. 57 e 60, nos

seguintes termos: a) em havendo previsão contratual, é possível aos sócios deliberar a

exclusão de sócio por justa causa, pela via extrajudicial, cabendo ao contrato disciplinar o

procedimento de exclusão, assegurado o direito de defesa, por aplicação analógica do

art. 1.085; b) as deliberações sociais poderão ser convocadas por iniciativa de sócios que

representem 1/5 (um quinto) do capital social, na omissão do contrato. A mesma regra

aplica-se na hipótese de criação, pelo contrato, de outros órgãos de deliberação

colegiada. 281 – Art. 50: A aplicação da teoria da desconsideração, descrita no art. 50 do Código Civil,

prescinde da demonstração de insolvência da pessoa jurídica. 282 – Art. 50: O encerramento irregular das atividades da pessoa jurídica, por si só, não basta

para caracterizar abuso da personalidade jurídica. 283 – Art. 50: É cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada “inversa” para

alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens

pessoais, com prejuízo a terceiros.

284 – Art. 50. As pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos ou de fins

não-econômicos estão abrangidas no conceito de abuso da personalidade jurídica.

285 – Art. 50. A teoria da desconsideração, prevista no art. 50 do Código Civil, pode

ser invocada pela pessoa jurídica em seu favor. 286 – Art. 52. Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à

pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas

titulares de tais direitos.

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382 – Art. 983: Nas sociedades, o registro observa a natureza da atividade (empresarial ou não

– art. 966); as demais questões seguem as normas pertinentes ao tipo societário adotado

(art. 983). São exceções as sociedades por ações e as cooperativas (art. 982, parágrafo

único).

383 – Art. 997: A falta de registro do contrato social (irregularidade originária – art. 998) ou

de alteração contratual versando sobre matéria referida no art. 997 (irregularidade I, III, IV e V Jornadas de Direito Civil 59

superveniente – art. 999, parágrafo único) conduz à aplicação das regras da sociedade

em comum (art. 986).

384 – Art. 999: Nas sociedades personificadas previstas no Código Civil, exceto a cooperativa,

é admissível o acordo de sócios, por aplicação analógica das normas relativas às

sociedades por ações pertinentes ao acordo de acionistas.

385 – Art. 999: A unanimidade exigida para a modificação do contrato social somente alcança

as matérias referidas no art. 997, prevalecendo, nos demais casos de deliberação dos

sócios, a maioria absoluta, se outra mais qualificada não for prevista no contrato.

386 – Na apuração dos haveres do sócio devedor, por conseqüência da liquidação de suas

quotas na sociedade para pagamento ao seu credor (art. 1.026, parágrafo único), não

devem ser consideradas eventuais disposições contratuais restritivas à determinação de

seu valor.

387 – Art. 1.026: A opção entre fazer a execução recair sobre o que ao sócio couber no lucro

da sociedade ou sobre a parte que lhe tocar em dissolução orienta-se pelos princípios da

menor onerosidade e da função social da empresa.

388 – Art. 1.026: O disposto no art. 1.026 do Código Civil não exclui a possibilidade de o

credor fazer recair a execução sobre os direitos patrimoniais da quota de participação

que o devedor possui no capital da sociedade.

389 – Art. 1.026: Quando se tratar de sócio de serviço, não poderá haver penhora das verbas

descritas no art. 1026, se de caráter alimentar.

390 – Art. 1.029: Em regra, é livre a retirada de sócio nas sociedades limitadas e anônimas

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fechadas, por prazo indeterminado, desde que tenham integralizado a respectiva parcela

do capital, operando-se a denúncia (arts. 473 e 1.029).

391 – Arts. 1.031, 1.057 e 1.058: A sociedade limitada pode adquirir suas próprias quotas,

observadas as condições estabelecidas na Lei das Sociedades por Ações.

392 – Art. 1.077: Nas hipóteses do art. 1.077 do Código Civil, cabe aos sócios delimitar seus

contornos para compatibilizá-los com os princípios da preservação e da função social da

empresa, aplicando-se, supletiva (art. 1.053, parágrafo único) ou analogicamente (art. 4º

da LICC), o art. 137, § 3º, da Lei das Sociedades por Ações, para permitir a

reconsideração da deliberação que autorizou a retirada do sócio dissidente.

394 – Art. 2.031: Ainda que não promovida a adequação do contrato social no prazo previsto

no art. 2.031 do Código Civil, as sociedades não perdem a personalidade jurídica

adquirida antes de seu advento.

395 – Art. 2.031: A sociedade registrada antes da vigência do Código Civil não está obrigada a

adaptar seu nome às novas disposições.

396 – Art. 2.035: A capacidade para contratar a constituição da sociedade submete-se à lei

vigente no momento do registro.

406 – Art. 50: A desconsideração da personalidade jurídica alcança os grupos de sociedade

quando estiverem presentes os pressupostos do art. 50 do Código Civil e houver

prejuízo para os credores até o limite transferido entre as sociedades.

407 – Art. 61: A obrigatoriedade de destinação do patrimônio líquido remanescente da

associação à instituição municipal, estadual ou federal de fins idênticos ou semelhantes,

em face da omissão do estatuto, possui caráter subsidiário, devendo prevalecer a

vontade dos associados, desde que seja contemplada entidade que persiga fins não

econômicos. 465 – Arts. 968, § 3º, e 1.033, parágrafo único: A “transformação de registro” prevista no

art. 968, § 3º, e no art. 1.033, parágrafo único, do Código Civil não se confunde com

a figura da transformação de pessoa jurídica.

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466 – Arts. 968, IV, parte final, e 997, II: Para fins do Direito Falimentar, o local do principal

estabelecimento é aquele de onde partem as decisões empresariais, e não

necessariamente a sede indicada no registro público.

467 – Art. 974, § 3º: A exigência de integralização do capital social prevista no art. 974, §

3º, não se aplica à participação de incapazes em sociedades anônimas e em sociedades

com sócios de responsabilidade ilimitada nas quais a integralização do capital social não

influa na proteção do incapaz.

468 – Art. 980-A: A empresa individual de responsabilidade limitada só poderá ser

constituída por pessoa natural.

469 – Arts. 44 e 980-A: A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) não é

sociedade, mas novo ente jurídico personificado.

470 – Art. 980-A: O patrimônio da empresa individual de responsabilidade limitada

responderá pelas dívidas da pessoa jurídica, não se confundindo com o patrimônio da

pessoa natural que a constitui, sem prejuízo da aplicação do instituto da

desconsideração da personalidade jurídica.

471 – Os atos constitutivos da EIRELI devem ser arquivados no registro competente, para fins

de aquisição de personalidade jurídica. A falta de arquivamento ou de registro de

alterações dos atos constitutivos configura irregularidade superveniente.

472 – Art. 980-A: É inadequada a utilização da expressão “social” para as empresas

individuais de responsabilidade limitada.

473 – Art. 980-A, § 5º: A imagem, o nome ou a voz não podem ser utilizados para a

integralização do capital da EIRELI.

474 – Arts. 981 e 983: Os profissionais liberais podem organizar-se sob a forma de

sociedade simples, convencionando a responsabilidade limitada dos sócios por dívidas

da sociedade, a despeito da responsabilidade ilimitada por atos praticados no exercício

da profissão. 475 – Arts. 981 e 983: Considerando ser da essência do contrato de sociedade a partilha do

risco entre os sócios, não desfigura a sociedade simples o fato de o respectivo contrato

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social prever distribuição de lucros, rateio de despesas e concurso de auxiliares.

476 – Art. 982: Eventuais classificações conferidas pela lei tributária às sociedades não

influem para sua caracterização como empresárias ou simples, especialmente no que se

refere ao registro dos atos constitutivos e à submissão ou não aos dispositivos da Lei n.

11.101/2005.

477 – Art. 983: O art. 983 do Código Civil permite que a sociedade simples opte por um dos

tipos empresariais dos arts. 1.039 a 1.092 do Código Civil. Adotada a forma de

sociedade anônima ou de comandita por ações, porém ela será considerada empresária. 478 – Art. 997, caput e inc. III: A integralização do capital social em bens imóveis pode ser

feita por instrumento particular de contrato social ou de alteração contratual, ainda que

se trate de sociedade sujeita ao registro exclusivamente no registro civil de pessoas

jurídicas.

479 – Art. 997, VII: Na sociedade simples pura (art. 983, parte final, do CC/2002), a

responsabilidade dos sócios depende de previsão contratual. Em caso de omissão, será

ilimitada e subsidiária, conforme o disposto nos arts. 1.023 e 1.024 do CC/2002.

480 – Art. 1.029: Revogado o Enunciado n. 390 da III Jornada [“Em regra, é livre a retirada

de sócio nas sociedades limitadas e anônimas fechadas, por prazo indeterminado, desde I, III, IV e V Jornadas de Direito Civil 69

que tenham integralizado a respectiva parcela do capital, operando-se a denúncia (arts.

473 e 1.029)”].

481 – Art. 1.030, parágrafo único: O insolvente civil fica de pleno direito excluído das

sociedades contratuais das quais seja sócio.

482 – Art. 884 e 1.031: Na apuração de haveres de sócio retirante de sociedade holding ou

controladora, deve ser apurado o valor global do patrimônio, salvo previsão contratual

diversa. Para tanto, deve-se considerar o valor real da participação da holding ou

controladora nas sociedades que o referido sócio integra.

483 – Art. 1.033, parágrafo único: Admite-se a transformação do registro da sociedade

anônima, na hipótese do art. 206, I, d, da Lei n. 6.404/1976, em empresário individual

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ou empresa individual de responsabilidade limitada.

484 – Art. 1074, § 1º: Quando as deliberações sociais obedecerem à forma de reunião, na

sociedade limitada com até 10 (dez) sócios, é possível que a representação do sócio

seja feita por outras pessoas além das mencionadas no § 1º do art. 1.074 do Código

Civil (outro sócio ou advogado), desde que prevista no contrato social.

485 – Art. 1.076: O sócio que participa da administração societária não pode votar nas

deliberações acerca de suas próprias contas, na forma dos arts. 1.071, I, e 1.074, §

2º, do Código Civil.

486 – Art. 1.134: A sociedade estrangeira pode, independentemente de autorização do Poder

Executivo, ser sócia em sociedades de outros tipos além das anônimas.

487 – Arts. 50, 884, 1.009, 1.016, 1.036 e 1.080: Na apuração de haveres de sócio

retirante (art. 1.031 do CC), devem ser afastados os efeitos da diluição injustificada e

ilícita da participação deste na sociedade.

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Enuciados Jornada de Direito Comercial – Conselho da Justiça Federal:

1. Decisão judicial que considera ser o nome empresarial violador do direito de marca não implica a anulação do respectivo registro no órgão próprio nem lhe retira os efeitos, preservado o direito de o empresário alterá-lo.

2. A vedação de registro de marca que reproduza ou imite elemento característico ou diferenciador de nome empresarial de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação (art. 124, V, da Lei n. 9.279/1996), deve ser interpretada restritivamente e em consonância com o art. 1.166 do Código Civil.

3. A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI não é sociedade unipessoal, mas um novo ente, distinto da pessoa do empresário e da sociedade empresária.

4. Uma vez subscrito e efetivamente integralizado, o capital da empresa individual de responsabilidade limitada não sofrerá nenhuma influência decorrente de ulteriores alterações no salário mínimo.

5. Quanto às obrigações decorrentes de sua atividade, o empresário individual tipificado no art. 966 do Código Civil responderá primeiramente com os bens vinculados à exploração de sua atividade econômica, nos termos do art. 1.024 do Código Civil.

6. O empresário individual regularmente inscrito é o destinatário da norma do art. 978 do Código Civil, que permite alienar ou gravar de ônus real o imóvel incorporado à empresa, desde que exista, se for o caso, prévio registro de autorização conjugal no Cartório de Imóveis, devendo tais requisitos constar do instrumento de alienação ou de instituição do ônus real, com a consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis.

9. Quando aplicado às relações jurídicas empresariais, o art. 50 do Código Civil não pode ser interpretado analogamente ao art. 28, § 5º, do CDC ou ao art. 2º, § 2º, da CLT.

10. Nas sociedades simples, os sócios podem limitar suas responsabilidades entre si, à proporção da participação no capital social, ressalvadas as disposições específicas.

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11. A regra do art. 1.015, parágrafo único, do Código Civil deve ser aplicada à luz da teoria da aparência e do primado da boa-fé objetiva, de modo a prestigiar a segurança do tráfego negocial. As sociedades se obrigam perante terceiros de boa-fé.

12. A regra contida no art. 1.055, § 1º, do Código Civil deve ser aplicada na hipótese de inexatidão da avaliação de bens conferidos ao capital social; a responsabilidade nela prevista não afasta a desconsideração da personalidade jurídica quando presentes seus requisitos legais.

13. A decisão que decretar a dissolução parcial da sociedade deverá indicar a data de desligamento do sócio e o critério de apuração de haveres.

14. É vedado aos administradores de sociedades anônimas votarem para aprovação/rejeição de suas próprias contas, mesmo que o façam por interposta pessoa.

16. O adquirente de cotas ou ações adere ao contrato social ou estatuto no que se refere à cláusula compromissória (cláusula de arbitragem) nele existente; assim, estará vinculado à previsão da opção da jurisdição arbitral, independentemente de assinatura e/ou manifestação específica a esse respeito.

17. Na sociedade limitada com dois sócios, o sócio titular de mais da metade do capital social pode excluir extrajudicialmente o sócio minoritário desde que atendidas as exigências materiais e procedimentais previstas no art. 1.085, caput e parágrafo único, do CC.

18. O capital social da sociedade limitada poderá ser integralizado, no todo ou em parte, com quotas ou ações de outra sociedade, cabendo aos sócios a escolha do critério de avaliação das respectivas participações societárias, diante da responsabilidade solidária pela exata estimação dos bens conferidos ao capital social, nos termos do art. 1.055, § 1º, do Código Civil.