ergonomia aplicada ao call center

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO ERGONOMIA APLICADA AO CALL CENTER: CUMPRIMENTO DAS EXIGÊNCIAS DO ANEXO II DA NORMA REGULAMENTADORA 17 – UM ESTUDO DE CASO THIAGO ALVES BERNARDES ORIENTADORA: JOCELI FERNANDES ALENCASTRO BETTINI DE ALBUQUERQUE LINS Cuiabá – MT Setembro/2010

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Page 1: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA

ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

ERGONOMIA APLICADA AO CALL CENTER: CUMPRIMENTO DAS EXIGÊNCIAS DO ANEXO II DA

NORMA REGULAMENTADORA 17 – UM ESTUDO DE CASO

THIAGO ALVES BERNARDES

ORIENTADORA: JOCELI FERNANDES ALENCASTRO BETTINI DE ALBUQUERQUE LINS

Cuiabá – MT Setembro/2010

Page 2: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

ii

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA

ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

ERGONOMIA APLICADA AO CALL CENTER: CUMPRIMENTO DAS EXIGÊNCIAS DO ANEXO II DA

NORMA REGULAMENTADORA 17 – UM ESTUDO DE CASO

THIAGO ALVES BERNARDES Monografia submetida à Universidade Federal de Mato Grosso para obtenção do grau de especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho

ORIENTADORA: JOCELI FERNANDES ALENCASTRO BETTINI DE ALBUQUERQUE LINS

Cuiabá – MT Setembro/2010

Page 3: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

iii

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA

ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

CERTFICADO DE APROVAÇÃO Título: ERGONOMIA APLICADA AO CALL CENTER: CUMPRIMENTO DAS EXIGÊNCIAS DO ANEXO II DA NORMA REGULAMENTADORA 17 – UM ESTUDO DE CASO Aluno: THIAGO ALVES BERNARDES Orientadora: Joceli Fernandes Alencastro Bettini de Albuquerque Lins Aprovada em 10 de Setembro de 2010 ___________________________________ Profª MSc. Luciane C. Durante Coordenadora do Curso Comissão Examinadora:

______________________________ Profª MSc. Joceli Fernandes Alencastro Bettini de Albuquerque Lins

Universidade Federal de Mato Grosso

______________________________ Prof. Dr. Márcio de Lara Pinto

Universidade Federal de Mato Grosso

_______________________________ Profª MSc. Luciane Cleonice Durante Universidade Federal de Mato Grosso

Page 4: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

iv

DEDICATÓRIA

A Deus pelo dom da vida. A Khadine o amor da minha vida. Aos meus pais que me deram o que há de mais valioso nesse mundo, a Educação.

Page 5: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

v

AGRADECIMENTOS

• A Profa Joceli Lins – pela orientação e confiança.

• A Profa. Luciane Durante – por ter coordenado tão bem mais um

curso de especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho

• A todos os docentes do curso de Especialização em Engenharia de

Segurança do Trabalho – pela paciência e conhecimento que com

grande maestria e dedicação nos foi transmitido.

• A todos que direta ou indiretamente contribuíram para o bom

funcionamento do curso.

• Aos meus grandes amigos Breno Mattos Mathias e Johnny Flor

Davanso – parceiros que em vários momentos me deram apoio e me

ajudaram muito nessa trajetória.

Page 6: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

vi

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS......................................................................................viii

LISTA DE TABELAS.......................................................................................ix

LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS.............................................................x

RESUMO........................................................................................................xi

ABSTRACT....................................................................................................xii

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO.......................................................................1

1.1 Problemática e Justificativa............................................................1

1.2 Objetivo Geral.................................................................................2

1.4 Objetivos Específicos......................................................................3

CAPÍTULO 2 – REVISÃO DE LITERATURA..................................................4

2.1 Call Center: Conceitos....................................................................4

2.1.1 Surgimento do Call Center................................................4

2.1.2 Call Center Como Mercado de Trabalho..........................5

2.1.3 Tipos de Call Center.........................................................7

2.2 Ergonomia: Conceitos, Evolução, Legislação e Aplicação em Call

Center...................................................................................................8

2.2.1 Ergonomia: Definições e Conceitos..................................8

2.2.2 Origem e Evolução da Ergonomia....................................9

2.2.3 A Evolução da legislação brasileira em ergonomia........11

2.2.4 Ergonomia em Call Center.............................................12

2.2.5 Principais Tópicos do Anexo II da NR-17.......................14

CAPÍTULO 3 – MATERIAIS E MÉTODOS...................................................16

3.1 Metodologia..................................................................................16

3.2 Local e Período............................................................................16

3.3 Coleta de Dados...........................................................................17

3.4 Análise dos dados........................................................................17

CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES........................................18

4.1 O Centro de Atendimento ao Cliente – CAC...............................18

4.2 Funcionamento do CAC..............................................................18

Page 7: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

vii

4.3 Condições de Cumprimento da NR 17.........................................21

4.3.1 Mobiliário do Posto de Atendimento................................21

4.3.2 Assento...........................................................................24

4.3.3 Equipamentos de Trabalho.............................................25

4.3.4 Condições Ambientais do Trabalho.................................26

4.3.5 Condições Sanitárias de Conforto...................................28

4.3.6 Capacitação....................................................................31

4.3.7 Organização do Trabalho................................................32

5 CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................34

5.1 Conclusões e Recomendações....................................................34

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................36

ANEXO I........................................................................................................41

DECLARAÇÃO DE NÃO VIOLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS................44

Page 8: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mobiliário Modelo Antigo..............................................................22

Figura 2 – Mobiliário Modelo Novo................................................................22

Figura 3 – Assento.........................................................................................24

Figura 4 – Head Set.......................................................................................26

Figura 5 – Isolamento Acústico.....................................................................26

Figura 6 – Layout do Centro de Atendimento ao Cliente...............................27

Figura 7 – Sala de Lanche.............................................................................28

Figura 8 – Sala de Descanso – Entrada........................................................29

Figura 9 – Sala de Descanso – Espaço Interno............................................29

Figura 10 – Armários.....................................................................................30

Page 9: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

ix

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Ranking das empresas de Call Center........................................06

Tabela 2 – Número de chamadas atendidas (URA X Atendentes)...............19

Tabela 3 – Quadro de Funcionário do CAC..................................................20

Tabela 4 – Histórico de chamadas do CAC..................................................20

Page 10: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

x

LISTA DE ABREVIATURAS

ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia

ABT – Associação Brasileira de Teleserviços/Telemarketing

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CAC – Centro de Atendimento ao Cliente

CRM – Customer Relationship Manager

IEA – International Ergonomics Association

LER / DORT – Lesão por Esforço Repetitivo / Doença Osteo-Muscular

Relacionada ao Trabalho

MAON – Manual de Atendimento On-line

MS – Ministério da Saúde

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

NR – Norma Regulamentadora

OIT – Organização Internacional do Trabalho

PA – Posição de Atendimento

PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

SAC – Serviço de Atendimento ao Cliente

URA – Unidade de Resposta Audível

Page 11: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

xi

RESUMO Bernardes, T. A. Ergonomia aplicada ao Call Center : Cumprimento das exigências do Anexo II da Norma Regulamentadora 17 – Um estudo de caso . Monografia de conclusão do Curso de Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho. Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso, 2010. Com o desenvolvimento pelo qual a humanidade vem passando, vários processos sofreram modificações, algumas atividades foram extintas e outras surgiram, como os serviços de teleatendimento/telemarketing. Dentro deste contexto, o setor de Call Center é um dos ramos que mais cresce em relação à geração de emprego no país. Com esse crescimento surgem também as problemáticas. O objetivo desse estudo foi identificar os problemas relacionados à ergonomia em Call Center, principalmente após a implantação do anexo II da Norma Regulamentadora 17, dedicado exclusivamente a essa atividade. O estudo foi realizado em um Centro de Atendimento ao Cliente na cidade de Cuiabá. Após levantamento em campo e análise foi constatado que o local objeto de estudo atende parcialmente às determinações da norma. Os aspectos de organização do trabalho foram completamente atendidos, enquanto os itens relacionados aos fatores biomecânicos estão defasados e, em alguns casos, em desacordo com a norma. O presente estudo limitou-se aos fatores biomecânicos e de organização do trabalho. Palavras-chave: Ergonomia, Call Center, Teleatendimento/Telemarketing.

Page 12: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

xii

ABSTRACT With the development that humanity has been going through, many processes suffered modifications, some activities were extinguished and another ones have appeared, as for example the services of telemarketing. Following this context, the Call Center’s sector is one of the activities that more develop in relation to the generation of jobs in the country. And with this progress also appear the problems. The objective of this study was to identify the problems related to the ergonomics of the Call Center, mainly after the implantation of the annex II of the Regulatory Standard 17, exclusively dedicated to this activity. The study was realized at the Client Service Center in Cuiabá’s city. After survey and analysis in the area it was verified that the place that was object of study partially comply the determinations of the Regulatory Standard. The aspects of the organization on the labor were completely attended, while the items related to the biomechanical factors are out of phase and, in some cases, in disaccord with the Regulatory Standard. The present study was limited to the biomechanical factors and the organization of work. Keywords: Ergonomics, Call Center, Telemarketing.

Page 13: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

1

1 – INTRODUÇÃO

1.1 – Problemática e Justificativa

As últimas décadas do século XX foram marcadas pela informatização

acelerada, tendo havido uma expansão gigantesca do uso de computadores

e sistemas de comunicação, de acordo com Eistman et al., (2002) apud

Tessler (2002). O avanço tecnológico tem mudado drasticamente o dia-a-dia

das pessoas, seja no ambiente de trabalho, no lar, no lazer, dentre outros,

em qualquer lugar a tecnologia está presente a alterando a rotina dos seres

humanos. As pessoas estão cada vez mais ocupadas e dispondo de menos

tempo para aprender novas tarefas e facilidades proporcionadas por essa

evolução, principalmente para lidar com as dificuldades apresentadas pelo

novo cenário tecnológico. Ao discar o telefone para fazer uma solicitação ou

reclamação, ou ainda, para tirar algumas dúvidas poupa-se muito tempo.

Esta é a razão do crescimento das demandas das centrais de atendimentos

(VOSS et al., 2000).

Um call center é constituído basicamente por operadores (atendentes

de telemarketing), computadores e equipamentos de telecomunicações,

garantindo a interação com os clientes, usuários e/ou parceiros das

organizações. As estações de trabalhos são projetadas para manter o

operador protegido contra a interferência de ruído, o que acaba gerando

exclusão social. Além disso, praticamente durante todo o período de trabalho

o operador se mantém na mesma posição (sentado) utilizando apenas as

mãos para desenvolver as suas atividades, o que pode ocasionar um grande

número de casos de doenças ocupacionais como a Lesão por Esforço

Repetitivo / Doença Osteo-muscular Relacionada ao Trabalho (LER/DORT).

De acordo com Bargnara (2000) aos operadores são requeridas

algumas habilidades, tais como, conhecimentos específicos sobre o produto

e/ou serviço da empresa em que trabalha, comunicação e linguística e,

Page 14: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

2

principalmente, capacidade de absorver sobrecarga quantitativa e cognitiva,

levando o funcionário a um elevado grau de estresse.

Considerando que o mercado de teleatendimento é recente e está em

crescimento, já representando um dos principais mercados de geração de

emprego, os problemas ergonômicos relativos à área tomaram a atenção.

Em 2007, a Portaria n° 9 aprovou o anexo II da Norm a Regulamentadora 17,

dedicado exclusivamente ao Trabalho em Teleatendimento/Telemarketing,

abrangendo diversos aspectos, de modo a proporcionar um máximo de

conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente dos operadores.

Com a nova normatização muitas empresas tiveram que fazer

adequações para cumprir as novas determinações, em muitos casos tendo

que aumentar número de funcionários, por conta da carga de trabalho

excessiva, não mais permitida, e alterações nos mobiliários e espaços

dedicados aos operadores.

Este trabalho objetivou apresentar o estudo de caso realizado em um

determinado Call Center, visando verificar os impactos que o anexo II da

Norma Regulamentadora NR 17 acarretou, quais providências foram

tomadas e qual o estágio atual em relação ao cumprimento desta

normatização.

1.2 – Objetivo Geral

O objetivo geral desta pesquisa é realizar estudo de caso para verificar se as

exigências da Norma Regulamentadora NR 17 estão sendo cumpridas em

um Call center.

Page 15: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

3

1.3 – Objetivos Específicos

a) Levantar as condições ergonômicas referentes aos aspectos

biomecânicos e organizacionais de um determinado Call Center após

as alterações ocorridas na legislação para este setor.

b) Identificar quais determinações da legislação relativa à ergonomia em

Call Center foram acatadas pela empresa após a implantação do

anexo II da Norma Regulamentadora NR 17;

c) Verificar os principais impactos decorrentes da implantação do anexo

II da Norma Regulamentadora NR 17 no Call Center.

Page 16: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

4

2 – REVISÃO DE LITERATURA

2.1 – Call Center: Conceitos

2.1.1 – Surgimento do Call Center

É possível afirmar que os Call Centers existem desde quando as

empresas disponibilizaram telefones aos seus colaboradores para

atendimento ao cliente. As primeiras centrais de atendimento foram

instaladas pelas companhias telefônicas e destinadas à conexão de

chamadas locais, ainda sem a denominação de Telemarketing. Após os

anos 60, um juiz federal americano ordenou a Ford Motor Company que

estabelecesse uma linha de telefone gratuita para atendimento de

comunicações de defeitos de veículos, o inicio oficial da campanha de

telemarketing, segundo Bagnara (2000).

Inicialmente a única tecnologia de suporte era o telefone. O

representante da organização, que posteriormente seria chamado de

operador de telemarketing, ou conseguia responder imediatamente às

questões colocadas ou pedia o nome e número de telefone do chamador

para lhe telefonar posteriormente, após uma consulta manual em registros,

ficheiros e outros elementos suportados em papel. Tratava-se de uma

atividade que demandava muito tempo (Hawkins et al., 2001 apud Rijo et al.,

2006). Nos anos 60 e 70, com o uso dos computadores, foi possível

reduzir/eliminar a necessidade de pesquisa manual e da chamada de retorno

(Koole et al., 2002 apud Rijo et al., 2006).

Em 1972, a Rockwell, empresa de automação eletrônica, desenvolveu

uma central automática de distribuição de chamadas telefônicas. Entretando

foi somente no início da década de 1980 que as centrais de teleatendimento

se difundiram mundialmente, surgindo formalmente o conceito de Call

Center. Em 1984 a American Telephone and Telegraph (AT&T), empresa de

telefonia americana, realizou uma campanha de telemarketing contatando 16

Page 17: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

5

milhões de pessoas por meio de operadores de centrais de teleatendimento.

(TESSLER, 2002).

As centrais de atendimentos possuem diversas denominações, tais

como Call Center, Help Desk, Serviço de Atendimento ao Cliente, dentre

outras e podem ser relacionados à venda de produtos e serviços (tele-pizza,

tele-chaveiro), atendimento de emergência (bombeiro, polícia, ambulância),

utilidade pública (eletricidade, água, telecomunicações), informações sobre

utilitários (eletrodomésticos, máquinas, equipamentos, internet), captação de

donativos (campanhas de doações) entre outros.

2.1.2 – Call Center como Mercado de Trabalho

Segundo McHatton (1988) apud Montoro (1998) “o telefone é a

ferramenta de marketing que tem custo mais eficaz e que usa o tempo de

maneira mais eficiente”. Nesta afirmação são citadas duas coisas que estão

sendo cada vez mais valorizadas no mundo globalizado, custo e tempo. O

autor ainda ressalta que de acordo com uma pesquisa de 1985 o custo

médio de uma venda pessoal nos Estados Unidos chegou a 229,70 dólares

enquanto que por telefone, este custo foi menor que 8 dólares. Estes

números justificam claramente a opção do mercado de telemarketing, bem

como seu rápido crescimento.

O maior pólo mundial dos Call Centers é a Índia, principalmente pela

língua nativa em inglês e pelos baixos custos trabalhistas, fazendo com que

as empresas inglesas, canadenses e americanas terceirizem seus serviços

de atendimento ao cliente neste país. Na América Latina o setor está em

franco crescimento. Segundo Universia-Knowledge@Wharton (2003) um

estudo da Giga Information Group mostra que a América Latina está se

tornando um espaço bastante atraente para a instalação de centrais de

atendimentos telefônicos, com um crescimento estimado de 25%. Um dos

principais motivos para as empresas começarem a se instalar da América

Latina é o uso do idioma espanhol. Nos Estados Unidos, por exemplo, a

Page 18: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

6

população hispânica é a minoria mais representativa do país, tendo um

poder de compra anual de 432 milhões de dólares.

Atualmente o Brasil detém 60% dos Call Centers da América Latina,

uma das vantagens é a tecnologia de ponta e a mão-de-obra capacitada

para atender diversos tipos de serviços de empresas brasileiras e

estrangeiras. De acordo com a Associação Brasileira de Telesserviços,

somente nos três últimos anos o crescimento do setor de telemarketing no

Brasil atingiu 235%, tornando-se um dos maiores empregadores do país.

Cerca de 45% dos profissionais contratados pelas empresas têm entre 18 e

24 anos e 76,8% são mulheres muitos sem qualquer experiência anterior. A

jornada de trabalho, geralmente 36 horas semanais, é uma das grandes

vantagens para os estudantes, já que o trabalho não atrapalha os estudos e

vice-e-versa. O número de funcionários esperados para 2010 deverá ficar

entre 1,1 e 1,2 milhão, entre próprios e terceirizados (Portal Call Center,

2010).

Tabela 1 – Ranking das empresas de Call Center.

Empresa Faturamento 2008

(em reais)

Funcionários PAs

Contax 1.774.700.000,00 74.499 32.153

Atento 1.737.000.000,00 73.000 31.000

Tivit 386.400.000,00 23.000 12.000

Dedic 331.353.000,00 15.582 7.424

Algar Tecnologia 227.000.000,00 8.500 6.000

Teleperformance 204.337.866,67 8.000 5.800

Vidax 179.000.000,00 4.800 3.000

TMKT Contact Center 176.822.471,00 10.314 5.271

CSU.Contact 138.100.000,00 9.365 4.540

AeC 136.495.694,29 8.869 5.300

TOTAL 5.291.209.031,96 235.929 112.488

Fonte: Anuário Brasileiro de Call Center e Customer Relationship Manager

(CRM) de 2008.

Page 19: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

7

A tabela 1 apresenta os números de mercado das dez maiores

empresas de Call Center1. Pelos dados apresentados, é possível verificar

que a indústria de Call Center apresenta-se como um segmento forte e

consolidado. Conforme Cassiano (2006), esse setor no Brasil é

relativamente novo, pois 72% dos Call Center tem menos de 8 anos, sendo

que 76% foram criados após 1990, a perspectiva de crescimento é de 17%

ao ano, esse segmento tende a representar parcela significativa do mercado

de trabalho brasileiro.

2.1.3 – Tipos de Call Center

No início, o termo telemarketing era conhecido como vendas por

telefone, posteriormente passou a ser identificado por outras ações de

marketing, principalmente por atendimento ao cliente. Atualmente possui

uma atuação bastante diversificada e está presente nos mais diversos

ramos: Varejo, Bancos, Telecom, Seguros, Mídia, Saúde, Serviços Públicos,

dentre outros.

De acordo com Montoro (1998), podemos elencar como principais

áreas de concentração:

a) Telemarketing ou Televendas: Vendas de produtos e/ou

serviços, direta ou indiretamente;

b) Atendimento ao cliente: Receber, analisar e encaminhar

dúvidas, sugestões e reclamações dos clientes de uma

organização;

c) Pesquisa de Mercado: Busca de informação a respeito do

comportamento, necessidade, e opinião dos clientes ou futuros

clientes de uma empresa.

Existem três modalidades de Call Center: Ativo, Receptivo e Misto. A

modalidade Ativo é aquela na qual o operador faz as chamadas telefônicas

para o cliente. São encontradas normalmente em centrais de vendas ou

1 Ranking realizado de acordo com o faturamento de 2008.

Page 20: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

8

televendas, e também em centrais responsáveis por pesquisas de

mercados. O Receptivo refere-se àquela em que a empresa recebe a

ligação do cliente. Geralmente são chamadas atendidas pelo Serviço de

Atendimento ao Cliente (SAC). Já na modalidade mista, há uma mescla das

duas modalidades anteriores, na qual o operador é responsável tanto pelas

ligações recebidas quando pelas ligações realizadas (MONTORO, 1998).

2.2 – Ergonomia: Conceitos, Evolução, Legislação e Aplicação

em Call Center

2.2.1 – Ergonomia: Definições e Conceitos

A palavra ergonomia deriva do grego Ergon [trabalho] e nomos

[normas, regras, leis]. Segundo Murrel (1965) “A Ergonomia pode ser

definida como o estudo científico das relações entre o homem e o seu

ambiente de trabalho”.

“A Ergonomia é uma ciência interdisciplinar. Ela compreende a fisiologia e a psicologia do trabalho, bem como a antropometria e a sociedade no trabalho. O objetivo prático da ergonomia é a adaptação do posto de trabalho, dos instrumentos, das máquinas, dos horários, do meio ambiente às exigências do homem (...)” (GRANDJEAN, 1968.).

Iida (1990) define ergonomia como sendo o estudo da adaptação do

trabalho ao homem, sendo o trabalho entendido como toda a situação em

que ocorre o relacionamento entre o homem e seu trabalho.

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (1960) a

Ergonomia é a aplicação de ciências humanas e o ajustamento mútuo ideal

entre o homem e seu trabalho, cujos resultados se medem em termos de

eficiência humana e bem estar no trabalho. É o conjunto de ciências e

tecnologias que procura o ajuste confortável e produtivo entre o ser humano

e o seu trabalho.

A Associação Internacional de Ergonomia (IEA) define Ergonomia da

seguinte forma:

Page 21: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

9

“Uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar do ser humano e o desempenho global do sistema”. (IEA, 2000)

Os domínios da ergonomia pode ser divido, de maneira geral, em três áreas:

”Ergonomia Física: Está relacionada com as características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica em sua relação a atividade física. Os tópicos relevantes incluem o estudo da postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios músculo-esqueletais relacionados ao trabalho, projeto do posto de trabalho, segurança de saúde. Ergonomia Cognitiva: Refere-se aos processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio e resposta motora conforme aferem as interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema. Os tópicos relevantes incluem os estudo da carga mental de trabalho, tomada de decisão, desempenho especializado, interação homem computador, stress e treinamento conforme esses se relacionem a projetos envolvendo seres humanos e sistemas. Ergonomia Organizacional: Concerne à otimização dos sistemas sócio-técnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas e de processos. Os tópicos relevantes incluem comunicações, projeto de trabalho, organização temporal do trabalho, trabalho e grupo, projeto participativo, novos paradigmas do trabalho, trabalho cooperativo, cultura organizacional, organizações em rede, tele-trabalho e gestão da qualidade.” (ABERGO, 2010).

2.2.2 – Origem e Evolução da Ergonomia

Pode-se dizer que a Ergonomia existe desde a Idade da Pedra,

quando o homem descobriu que a pedra poderia ser afiada até ficar

pontiaguda transformando-a em uma lança ou em um machado, ou quando

posicionavam galhos ou troncos de árvores em obstáculos, como alavancas,

em ambas situações estavam aplicando a Ergonomia.

“Enquanto a produção se dava de modo artesanal, era possível obter

formas úteis, funcionais e ergonômicas sem excessivos requisitos

projetuais.” (MORAES & MONT’ALVÃO, 2003, p. 7)

Iida (1990) diz que a ergonomia tem data oficial de nascimento, 12 de

julho de 1949, quando um grupo de cientistas e pesquisadores se reuniram

pela primeira vez na Inglaterra com o objetivo de discutir e formalizar a

existência desse novo ramo.

Page 22: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

10

Durante a II Guerra Mundial, registrou-se um alto índice de acidentes

causados pela utilização inadequada dos aparelhos como radares, aviões,

tanques, submarinos, dentre outros.

Moraes e Mont’alvão (2003) destacam que

“Uma importante lição de engenharia, proveniente da II Guerra Mundial, é que as máquinas não lutam sozinhas. A guerra solicitou e produziu maquinismos novos e complexos, porém, geralmente, essas inovações não faziam o que se esperavam delas. Tal ocorria porque excediam ou não se adaptavam às características e capacidades humanas. Por exemplo, o radar foi chamado de olho da armada, mas o radar não vê. Por mais rápido e preciso que seja, será quase inútil, se o operador não puder interpretar as informações apresentadas na tela e decidir a tempo. Similarmente, um avião de caça, por mais veloz e eficaz que seja, será um fracasso se o piloto não puder voa-lo com rapidez, segurança e eficiência”. (CHAPANIS, 1959 apud MORAES & MONT’ALVÃO, 2003, p. 8).

Como cada soldado ou piloto morto representava sérios problemas

para as Forças Armadas, os responsáveis, preocupados, organizaram um

grupo de cientistas e pesquisadores de diversas áreas para examinar o

desenho desses aparelhos. A conseqüência disso, foi o redesenho de

diversos deles, adaptando-os melhor ao desempenho do organismo humano

(IIDA & WIERZZBICKI, 1978).

Após a guerra estes cientistas tornaram a se reunir na Inglaterra em

1949, conforme citado, oficializando o estudo da Ergonomia. O termo

ergonomia já tinha sido citado por Woitej Yastembowsky (1857) em sua obra

intitulada “Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseada nas leis

objetivas da ciência sobre a natureza.”, mas somente em 1950, com a

fundação da Ergonomics Research Society, que a ergonomia se expandiu

no mundo (IIDA, 1990).

Nos Estados Unidos e Canadá, o termo utilizado que mais se

aproxima da ergonomia é Human Factors (Fatores Humanos). A Associação

Americana de Ergonomia é chamada de Human Factors Society, embora

realizem estudos junto a seus associados para incorporação do termo

ergonomia, passando para Human Factors and Ergonomics Society.

Segundo Iida (1990) a Human Factors teve inicialmente uma conotação

militar, que de certa forma persiste até hoje, em virtude do Departamento de

Page 23: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

11

Defesa dos Estados Unidos apoiarem suas pesquisas. De acordo com

Moraes & Mont’Alvão (2003), no Brasil adotou-se o uso do termo Ergonomia

pela difusão dos primeiros livros aqui publicados.

Com a informatização dos postos de trabalhos e a automatização de

processos e sistemas produtivos, ocorreram mudanças profundas nos

hábitos, atitudes e esquemas de trabalho, criando algumas novas situações

em que o operador responsável pelo controle do sistema permanece isolado

e em constante vigilância por muitas horas, seja durante o dia ou a noite,

ocasionando alto nível de tensão, embora não implique, aparentemente, em

nenhum esforço para o operador. Diante desta nova realidade a ergonomia

passa também por um processo de renovação, embora não tenha

acompanhado o progresso tecnológico, conforme Moraes & Mont’Alvão

(2003).

2.2.3 – A evolução da legislação brasileira em ergo nomia

A Lei n° 6.514 de 22 de dezembro de 1977 alterou o Capítulo V do

Título II, da Consolidação das Leis Trabalhistas do Brasil, e tornou

obrigatório, no Brasil, a observância de normas de segurança e medicina do

trabalho, sendo que, bem ou mal, introduziu dois artigos relativos à

ergonomia (sem utilizar esse termo). O artigo 198 restringiu a 60 kg o peso

máximo que um trabalhador pode remover individualmente e o artigo 199

tornou obrigatório a colocação de assentos que assegurem a postura correta

ao trabalhador. Já em 1978, a Portaria 3.214 de 08 de junho de 1978

aprovou as normas regulamentadoras – NR`s – relativas a segurança e

medicina do trabalho (LIMA, 2004).

A Norma Regulamentadora 17 foi homologada pelo Ministério do

Trabalho e Previdência Social no dia 06 de julho de 1978, pela Portaria GM

n° 3.214. Na sua primeira versão, tratou simplesmen te sobre o levantamento

e transporte de cargas, bancadas, mesas e assentos nos locais de trabalho.

Porém em 1990, lhe foi dada nova redação, através da Portaria 3.751 de 23

Page 24: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

12

de novembro de 1990, estabelecendo parâmetros e introduzindo a

obrigatoriedade do estudo da organização do trabalho (TESSLER, 2002).

Em 2007, as Portarias n° 08 e 09 de 30 de março de 2007 e a

Portaria n° 13 de 21 de junho de 2007, alteraram no vamente a NR-17

incluindo a ela mais dois anexos. O anexo I foi dedicado ao Trabalho dos

Operadores de Check-out e o anexo II, Trabalho em

Teleatendimento/Telemarketing. Essas alterações deixam claras as

mudanças ocorridas no mercado de trabalho, principalmente com a

informatização.

2.2.4 – Ergonomia em Call Center

O setor de serviços é o que mais se expande com a modernização da

sociedade. A mão-de-obra excedente do campo e da indústria, frutos do

processo de mecanização e automação dessas áreas, é absorvida pelo

setor de serviços, segundo IIDA (1990). Com a evolução tecnológica, novas

necessidades estão surgindo, fazendo com que o ser humano crie novos

mecanismos e métodos para as tarefas do dia-a-dia.

Como já citado anteriormente, o setor de Call Center é recente e com

ele novas necessidades surgiram, inclusive ergonômicas. Antigamente não

se pensava em aplicar ergonomia em trabalhadores que passavam toda a

sua jornada de trabalho sentados. O foco inicial foi o trabalho “braçal” que

exigiam esforços dos trabalhadores, mesmo porque, nessa época, os

trabalhadores (em sua maioria) desenvolviam esse tipo de serviço.

A própria legislação brasileira de ergonomia é retrato das novas

necessidades que surgem com as mudanças tecnológicas ocorridas.

De acordo com a NR-17, anexo II, entende-se como Call Center o

ambiente de trabalho no qual a principal atividade é conduzida via telefone

e/ou rádio com utilização simultânea de terminais de computador. A referida

NR abrange tanto as empresas destinadas especificamente à prestação de

serviços de teleatendimento (terceirizadas) quanto para as empresas com

Page 25: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

13

distintas finalidades, mas que mantém esse tipo de serviços sob o controle

da organização (próprios). Aborda vários aspectos das atividades

desenvolvidas neste setor, desde aspectos biomecânicos, como mobiliários

e equipamentos dos postos de trabalhos, quanto os organizacionais,

definindo jornadas de trabalho, tempo de repouso, dentre outros.

Os riscos ergonômicos são os fatores que podem afetar a integridade

física ou mental do trabalhador, proporcionando-lhe desconforto ou doença.

De acordo com Oda et al., (1998), são considerados riscos ergonômicos:

esforços físicos, levantamento de peso, postura inadequada, controle rígido

de produtividade, situação de estresse, trabalhos em períodos noturnos,

jornada de trabalho prolongada, monotonia e repetitividade e imposição de

rotina intensa. Exceção feita ao levantamento de peso e esforço físico, que

não são aplicáveis à atividade de teleatendimento, os demais fatores são

característicos de um Call Center.

Os riscos ergonômicos podem gerar distúrbios psicológicos e

fisiológicos e provocar sérios danos à saúde do trabalhador como, por

exemplo, LER/DORT, hipertensão arterial, diabetes, dentre outros (ODA et

al., 1998). Além dos fatores relacionados à saúde do trabalhador, outros

fatores como a queda da produtividade, faltas e afastamentos são algumas

das conseqüências quando da ocorrência de alguns desses distúrbios,

principalmente no caso da LER/DORT, que são percebidos após algum

tempo de incidência.

“As estatísticas demonstram um crescimento no número de casos de

DORT.” (PRZYSIEZNY, 2000). Segundo Rocha apud Wünsch Filho (1995),

o motivo seria “a modificação dos processos de trabalho decorrente da

modernização e automação por que passam diversos setores da economia e

que exigem dos trabalhadores movimentos monótonos e repetitivos”.

Przysiezny (2000) indica que as principais vítimas seriam digitadores,

bancários, telefonistas, dentre outros.

“Por isso é primordial realizar uma avaliação ergonômica minuciosa

para que se possam implantar programas de prevenção a esses distúrbios”

(MOCCELLIN, 2007).

Page 26: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

14

2.2.5 – Principais Tópicos do Anexo II da NR-17

Comentaremos a seguir os principais tópicos relacionados à NR 17,

em seu anexo II:

A Capacitação sobre os riscos das atividades e medidas de

prevenção é obrigatória. Deve ter, no mínimo, quatro horas na admissão e

uma reciclagem a cada seis meses. Os sistemas de monitoramento não

podem ser usados para aceleração do trabalho e, quando existirem, devem

apenas estar disponíveis para consulta dos operadores. Estes podem sair

dos postos a qualquer momento para satisfazer suas necessidades

fisiológicas, sem repercussão sobre avaliações e remunerações.

Para jornadas de 6h, além de um intervalo de 20 minutos para

alimentação e repouso, devem ser concedidas duas pausas de 10 minutos

contínuos. Para jornada de 4h, deve ser concedida uma pausa de 10

minutos. Deve existir local para lanche, ambiente adequado para descanso

durante as pausas e armários individuais com chave.

Os conjuntos de microfone e fone de ouvido (head sets) devem ser

individuais e permitir o controle de volume e a alternância entre orelhas.

Cada posição de atendimento pode ter um único head set, desde que as

partes que permitem qualquer espécie de contágio ou risco à saúde sejam

de uso individual. As Mesas de trabalho devem ter 75cm de profundidade e

90cm de largura, se usadas sem material de consulta e 90cm de

profundidade e 100cm de largura, quando usadas com material de consulta.

As cadeiras devem ser estofadas, ter bordas arredondadas, cinco pés de

apoio com rodízios, regulagens para a posição do contorno e altura do

assento, permitindo o correto apoio dos pés no chão.

Os mobiliários devem ser adaptados para atender as carências de

portadores de necessidades especiais, assim como o acesso às instalações,

aos sanitários e a outros equipamentos.

Como prevenção à "Síndrome do Edifício Doente" é obrigatório o

controle dos sistemas de climatização, conforme normas do Ministério da

Saúde e da ANVISA. A temperatura no ambiente pode variar entre 20°C e

Page 27: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

15

23°C. As empresas devem manter programas de vigilân cia epidemiológica

para prevenção e detecção precoce de doenças relacionadas ao trabalho.

As empresas devem implementar diálogos que favoreçam

micropausas e evitem carga vocal intensa para os atendentes. Também

deve ser estimulada a ingestão de água potável, que deve ser fornecida

gratuitamente.

Page 28: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

16

3 – MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 – Metodologia

O tipo de pesquisa utilizada foi o estudo descritivo na modalidade

estudo de caso de caráter qualitativo. Segundo Gil (1991) apud Silva &

Menezes (2001) o estudo de caso é um estudo profundo de um ou poucos

objetos de maneira que permita o seu amplo de detalhado conhecimento. De

acordo com o mesmo aturo o tipo de pesquisa descritiva envolve técnicas

padronizadas de coleta de dados, assumindo, em geral, a forma de

Levantamento e o aspecto qualitativo da pesquisa considera que há uma

relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito.

O estudo abrangeu os diversos aspectos contidos no anexo II da NR-

17 relacionados aos fatores biomecânicos e organizacionais, levantando a

situação atual em relação ao cumprimento do que a norma determina,

através de observações e medições “in loco”, análises de dados e relatórios

e entrevistas informais com a coordenação e funcionários. Todos os dados e

relatórios foram fornecidos pela coordenação do Centro de Atendimento, que

autorizou a realização deste estudo.

3.2 – Local e Período

O estudo foi realizado em um Centro de Atendimento ao Cliente

localizado na cidade de Cuiabá – MT, durante o período de maio/2010 a

julho/2010.

Page 29: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

17

3.3 – Coleta dos dados

A coleta dos dados foi realizada através de observações e medições

“in loco”, análises de dados e relatórios, entrevistas informais com a

coordenação e funcionários, e fotografias tiradas durante as visitas

realizadas. As visitas foram realizadas em diversos dias (dias da semana e

finais de semana) e em diferentes horários (matutino, vespertino e noturno).

Os relatórios e dados foram cedidos pela coordenação do CAC.

Para auxílio e direcionamento dos trabalhos, foi elaborado um Chek-

list (Anexo I) com os pontos que foram observados e que serão descritos a

seguir.

a) Tipo de mobiliário e posto de atendimento;

b) Tipo de assentos;

c) Equipamentos de trabalho utilizados;

d) Descrição das condições ambientais de trabalho;

e) Descrição das condições sanitárias de conforto;

f) Capacitações realizadas;

g) Forma de organização do Trabalho.

3.4 – Análise dos dados

Os dados foram analisados conforme organizados no chek-list (Anexo

I), considerando a relevância de sua exigência na Norma Regulamentadora

17.

Page 30: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

18

CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 – O Centro de Atendimento ao Cliente – CAC

O Centro de Atendimento ao Cliente é composto por um total de 152

funcionários, englobando desde atendentes (operadores de telemarketing)

até supervisores e coordenador. Seu principal objetivo é prestar atendimento

aos clientes da empresa, registrando solicitações e/ou reclamações,

esclarecimento de dúvidas, dentre outras informações.

4.2 – Funcionamento do CAC

O CAC objeto de estudo atende consumidores 24 horas por dia e

todos os dias da semana, operando atualmente com 88 Posições de

Atendimento (PA`s), entretanto não ficam todas ativas o tempo todo. Nos

horários de menor fluxo de ligações o número de PA`s ativo é reduzido. Por

exemplo, durante a madrugada ficam ativos somente 5 PA`s. O número do

CAC é do tipo 0800, ou seja, é gratuito ao consumidor. Antes do

atendimento pessoal o consumidor que liga para o CAC é direcionado para

Unidade de Resposta Audível (URA), que oferece uma lista de opções de

serviços, possibilitando ao cliente fazer alguns serviços automaticamente

sem precisar falar com um atendente, sendo esta a última opção do menu,

nos casos de informações ou alguma dúvida.

Embora haja essa possibilidade, de atendimento automático pela

URA, a maioria das ligações são direcionadas para os atendentes, conforme

mostra a Tabela 2. Segundo informação da coordenação do Centro de

Atendimento, os consumidores sentem-se mais seguros com o atendimento

pessoal. A maioria dos serviços poderiam ser realizados através da URA,

reduzindo o fluxo de chamadas para os atendentes.

Page 31: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

19

Tabela 2 – Número de chamadas atendidas (URA X Atendentes).

Número de Chamadas Abr/10 Mai/10 Jun/10

Atendidas pela URA 6.747 4.700 7.139

Atendidas pessoalmente 187.841 195.261 180.258

TOTAL 194.588 199.961 187.397

Os atendentes são os funcionários que conversam com os

consumidores, no entanto existem outros profissionais no CAC para dar

suporte para o atendimento, basicamente são:

a) Supervisor: É a pessoa que fica próxima aos atendentes para

esclarecimentos de possíveis dúvidas/orientações no momento

do atendimento ao cliente;

b) Monitor: É a pessoa responsável por monitorar a qualidade do

atendimento do CAC, ele escuta as gravações para verificar se

foi adotado procedimento correto, se o cliente foi bem atendido

e se está ocorrendo tudo dentro do previsto;

c) Back-Office: É a pessoa que dá suporte para os atendentes e

supervisores para contato com outras áreas, por exemplo, nos

casos de desligamentos emergenciais o Back-Office entra em

contato com o Centro de Operações da Distribuição para

verificar o que ocorreu e qual a previsão de retorno da energia,

repassando essas informações aos supervisores/atendentes;

d) Analista de Tráfego: É a pessoa que analisa o fluxo de

chamadas e emite os relatórios do setor como, por exemplo,

relatórios de chamadas e relatório de produtividade;

e) Coordenador: É o responsável pela gestão administrativa e

operacional do CAC.

A Tabela 3 mostra a distribuição dos funcionários do Centro de

Atendimento ao Cliente bem como a representatividade de cada função em

relação ao quadro total do CAC.

Page 32: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

20

Tabela 3 – Quadro de Funcionários do CAC.

Cargo/Função Quantidade %

Analista de Tráfego 1 0,66

Atendente de Consumidor 133 87,5

Back-Oficce 7 4,61

Coordenador 1 0,66

Monitor 2 1,32

Supervisor 8 5,26

TOTAL 152 100

Fonte: Quadro de funcionário CAC.

O CAC opera atualmente com aproximadamente 200.000 ligações por

mês, ou seja, uma média de cerca de 6.750 ligações por dia. A Tabela 4 traz

o histórico de atendimento dos últimos doze meses.

Tabela 4 – Histórico de chamadas do CAC.

Mês Total de Chamadas

Junho/2010 190.939

Maio/2010 204.547

Abril/2010 200.727

Março/2010 238.408

Fevereiro/2010 205.481

Janeiro/2010 175.803

Dezembro/2009 143.182

Novembro/2009 222.643

Outubro/2009 202.652

Setembro/2009 218.714

Agosto/2009 188.741

Julho/2009 238.160

Fonte: Relatório de chamadas CAC.

Page 33: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

21

O maior número de chamadas é concentrado nos dias da semana, de

segunda-feira a sexta-feira, chegando ao patamar de 10.000 ligações em

alguns dias, nos finais de semana a quantidade de ligações é bem inferior,

menos da metade em relação aos dias da semana.

Analisando a Tabela 4 é possível verificar uma redução no fluxo de

ligações nos meses de Dezembro e Janeiro, justificada pelo período festivo,

onde o número de reclamações, esclarecimentos e dúvidas é menor.

4.3 – Condições de Cumprimento da NR 17

Como já relatado foram realizadas várias visitas técnicas no Centro de

Atendimento ao Cliente para levantamento e análise das condições

ergonômicas de trabalho conforme o anexo II da Norma Regulamentadora

NR 17. Os itens observados e descritos a seguir, foram organizados de

acordo com o Chek-List (Anexo I) elaborado.

4.3.1 – Mobiliário do Posto de Atendimento

No posto de atendimento observou-se que são utilizados dois tipos de

mobiliários no Centro de Atendimento: Modelo antigo (Figura 1) – tipo de

mobiliário utilizado anteriormente à implantação da norma – e o Modelo

Atual (Figura 2) – tipo de mobiliário que atende plenamente às

determinações ergonômicas.

O modelo antigo de mobiliário possui medidas de acordo com a

determinação, 90 cm de largura e 70 de comprimento, as bordas são

arredondadas e o espaço sob a superfície de trabalho é de 75 cm,

atendendo aos requisitos da norma.

Page 34: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

22

Figura 1 – Mobiliário Modelo Antigo.

No entanto, após a implantação do Anexo II da NR 17, em 2007,

surgiu a necessidade da substituição do mobiliário utilizado no Centro de

Atendimento, pois este não atendia às seguintes exigências: A superfície de

apoio do teclado e do monitor de vídeo não são reguláveis e independentes

e não possuem apoio para pés, nos casos de funcionários que não

alcancem o solo.

Figura 2 – Mobiliário Modelo Novo.

Objetivando não acarretar impactos financeiros elevados com

substituição de todo o mobiliário nos casos de Call Centers que não

Page 35: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

23

possuíam seu mobiliário atendendo às exigências, a norma permite uma

substituição gradativa.

Conforme NR 17 (MTE, 2007):

“O disposto no item 2 desta norma (MOBILIÁRIOS DO POSTO DE TRABALHO) será implementado em um prazo de adaptação gradual de, no máximo, 05 (cinco) anos, sendo de 10% (dez por cento) no primeiro ano, 25% (vinte e cinco por cento) no segundo ano, 45% (quarenta e cinco por cento) no terceiro ano, 75% (setenta e cinco por cento) no quarto ano e 100% (cem por cento) no quinto ano.” (NR 17, anexo II, item 10.2, 2007).

Das 88 posições de atendimento, 22 estão atendendo plenamente às

exigências da norma, ou seja, 25%, obedecendo a regra de graduação

imposta. E empresa possui um cronograma para substituição dos mobiliários

de forma a garantir o cumprimento da norma.

Durante esse período de transição, os atendentes continuam

utilizando mobiliários inadequados para o desenvolvimento das suas

funções, uma vez já se comprovou a ineficácia dos modelos utilizados

anteriormente.

As condições de trabalho no terminal de computador são mais

severas em relação ao trabalho tradicional de escritório e as inadaptações

ergonômicas do posto de trabalho podem provocar conseqüências bastante

incômodas, por exemplo, fadiga visual, dores musculares no pescoço e

ombros e dores nos tendões dos dedos (IIDA, 1990). Acarretando, desta

forma, uma série de problemas, para o trabalhador, que sofrerá com as

lesões e/ou doenças, e para a própria empresa, com a queda da

produtividade/rendimento, empenho, dedicação e, em alguns casos, com o

afastamento do seu funcionário.

O ideal, no caso do Centro de Atendimento ao Cliente em estudo,

seria a imediata substituição para novos modelos que encaixem

perfeitamente às exigências da norma proporcionando ao funcionário maior

conforto e segurança.

Page 36: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

24

4.3.2 – Assento

Os assentos utilizados antes da implantação da norma já atendiam

aos requisitos exigidos, tais como; serem dotados de cinco pés com rodízios,

superfície estofada nas regiões de contato corporal, encosto ajustável, apoio

para os braços e dimensões adequadas. Destoa forma, não houve

necessidade de providências para adaptação destes, apenas substituição ou

conserto dos assentos danificados que, segundo a coordenação do Centro

de Atendimento ao Cliente, ocorre frequentemente em virtude da freqüência

em que tais equipamentos são utilizados no dia-a-dia.

A Figura 3 mostra o assento utilizado no Centro de Atendimento,

dotado de cinco pés com rodízio, superfícies almofadadas, superfície e

encosto ajustáveis e apoio regulável para os braços.

Figura 3 – Assento.

O assento utilizado propicia segurança e conforto para os atendentes.

São novos e não foi encontrado nenhum com defeito disponível para o uso.

De acordo com informações da coordenação, todos os assentos que

Page 37: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

25

apresentam algum tipo de defeito são separados e enviados para

manutenção, se possível, caso contrário é descartado.

4.3.3 – Equipamentos de Trabalho

A norma permite duas possibilidades para o emprego dos head sets

no Call Center. Uma é o fornecimento individual, ou seja, cada funcionário

possui o seu head set. Outra é a fixação do head set em cada posição de

atendimento, contanto que as partes de contato sejam de uso individual.

Essa segunda possibilidade é a adotada no Centro de Atendimento

ao Cliente. Conforme informação da coordenação foi realizada a tentativa

para fornecimento de head sets individuais, porém, verificou-se um grande

número de avarias nesses equipamentos, sendo que o principal motivo

apurado foi armazenamento e guarda inadequada. Desta forma, alterou-se o

procedimento e os head sets foram fixados nas posições de atendimento,

reduzindo o número de head sets danificados. Esse novo procedimento,

apesar do principal objetivo ser econômico, não interfere na qualidade dos

equipamentos disponibilizados para os atendentes, uma vez que estes são

dispostos de forma fixa em cada posição de atendimento, ficando cada head

set, exclusivo para dois atendentes.

Os head set utilizado atualmente – Figura 4 – permite a alternância

entre as orelhas, o dispositivo de controle do volume fica acessível ao

funcionário sendo de fácil manuseio. Para alternância entre as orelhas basta

girar o microfone para o lado oposto e trocar o fone de ouvido de orelha.

Para que não haja nenhum tipo de contato com partes contagiosas, os

atendentes recebem uma “espuma” protetora para adicioná-la ao fone de

ouvido do head set, permitindo um maior conforto, higiene – pois essa

espuma é individual – e segurança quanto aos níveis de ruídos, pois a

espuma funciona como um filtro.

Foi constatado que os head sets não possuem local adequados para

guarda. Conforme citado, os aparelhos são fixados nas posições de

Page 38: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

26

atendimento, e estas, por sua vez, não possuem nenhum tipo de gaveta

para armazenamento deste aparelho, deixando-o expostos sobre a

superfície do mobiliário enquanto não é utilizado. Sugere-se nestes casos, a

adoção da técnica de fornecimento de head sets individuais.

Figura 4 – Head Set.

4.3.4 – Condições Ambientais de Trabalho

Pela Figura 5 é possível verificar que o Centro de Atendimento ao

Cliente é dotado de condições acústicas adequadas para serviços de

comunicação telefônica. Tal dispositivo abafa ruídos permitindo uma

isolação acústica tanto dos sons externos e internos.

Figura 5 – Isolamento Acústico.

Page 39: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

27

O ambiente possui climatização, porém, a distribuição não está

adequada, é possível identificar alguns pontos do recinto que a temperatura

não é confortável, principalmente no período vespertino. Neste período o sol

incide sobre as janelas, que apesar se possuírem película da cor preta, do

tipo fumê e cortinas persianas, não são suficientes para propiciar um

ambiente termicamente confortável.

A climatização é realizada por quatro aparelhos condicionadores de ar

tipo Split de 60.000 BTU`s cada. A sala de atendimento possui uma área de

203,28 m2, desta forma um total de aproximadamente 162.000 BTU

distribuídos de forma correta seria suficiente para a climatização adequada.

A Figura 6 mostra o layout do Centro de Atendimento, sendo indicado

os pontos onde estão localizados os aparelhos condicionadores de ar. Pode-

se verificar que a disposição dos aparelhos não é adequada, foram alocados

em frente a outro aparelho. Sugere-se neste caso, um rearranjo de tais

equipamentos de tal modo que cada um seja alocado em um corredor,

propiciando uma distribuição de ar condicionado mais uniforme.

Figura 6 – Layout do Centro de Atendimento ao Cliente.

Page 40: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

28

A norma determina também que sejam instalados aparelhos

indicativos da temperatura para os funcionários, que não foi constatado no

local. A aquisição de tal equipamento não representa custo elevado e, se

instalado em local de fácil visualização evita a necessidade de compra de

mais de um exemplar.

4.3.5 – Condições Sanitárias de Conforto

O Centro de atendimento ao Cliente possui os recintos e itens

relacionados às condições sanitárias de conforto exigidos pela norma. Existe

local para lanche (Figura 7) e para descanso (Figuras 8 e 9), são fornecidos

armários para guarda de objetos pessoais aos colaboradores (Figura 10) e o

acesso à água potável aos colaboradores é através de três bebedouros

localizados no corredor de acesso ao Centro de Atendimento.

Figura 7 – Sala de Lanche.

Page 41: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

29

No entanto, a sala de descompressão (sala de descanso) não possui

um espaço adequado. Possui apenas um sofá de três lugares, os demais

funcionários que adentrarem à sala deverão se acomodar no chão, deitando

sobre um tapete e algumas almofadas. De acordo com a escala de

intervalos, em cada pausa saem para descanso seis funcionários em média,

o recomendado seria a disponibilização de mais cinco assentos.

Figura 8 – Sala de Descanso - Entrada.

Figura 9 – Sala de Descanso – Espaço Interno.

Page 42: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

30

O atendente dispõe de 10 minutos em cada pausa. Alguns

funcionários nem usufruem da sala de descompressão (sala de descanso)

alegando que não há tempo hábil para o repouso, saindo da sala de

atendimento somente para atender as necessidades básicas, como beber

água e ir ao banheiro. Nestes casos, a pausa não funciona como um

momento de relaxamento. Somente nos intervalos – de 20 minutos ou uma

hora e meia, dependendo do turno – que os atendentes adentram na sala de

descanso. Como as pausas e intervalos são determinados pela Norma

Regulamentadora NR 17, não é possível a alteração desta rotina.

Figura 10 – Armários.

Os armários (Figura 10) têm como finalidade a guarda de objetos

pessoais dos atendentes, são dotados de cadeados e chaves, permitindo o

sigilo e a segurança dos pertences dos funcionários. Porém, existem apenas

48 armários, que são divididos entre os 133 atendentes, uma média de

quase três funcionários por armário. Neste caso, sugere-se a aquisição de

mais armários para a individualização dos pertences de cada funcionários.

Page 43: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

31

4.3.6 – Capacitação

De acordo com a coordenação do Centro de Atendimento, todos os

funcionários ao ingressarem, recebem treinamento específico para

desenvolvimento da atividade do dia-a-dia e juntamente a esse treinamento

é concedido um período para as informações relativas aos riscos, saúde e

medidas de prevenção relacionadas à atividade de teleatendimento. O

treinamento consiste em uma carga horária de 30 horas teóricas, nas quais

são repassadas todas as informações que o atendente irá vivenciar no seu

dia-a-dia e um período indeterminado de prática, onde ele fará escutas de

atendimento e será monitorado por um funcionário mais experiente. Ele

finalizará o período de treinamento assim que estiver apto para realizar

atendimentos sem auxílio.

O Centro de Atendimento conta também com uma outra importante

ferramenta que auxilia nos treinamentos, principalmente nas reciclagens,

trata-se do E-Learning. O E-Learning é uma ferramenta de treinamento On-

line, que fica disponível em um link dentro da Intranet (Manual de

Atendimento On-line) para o qual todos os atendentes têm acesso. Neste

sistema são inseridos diversos treinamentos e procedimentos, dentre eles

sobre riscos, saúde e medidas de prevenção.

Através do E-Learning a coordenação tem total controle de acessos

dos funcionários aos treinamentos, quanto tempo de duração, dia e hora de

acesso e sistema de avaliação com o desempenho do treinando. Essa

ferramenta serve também de auxilio aos atendentes, pois mesmo os

módulos já acessados ficam disponíveis para leituras e esclarecimentos

posteriores.

Verificou-se que quanto à capacitação o local objeto de estudo

apresentou um nível excelente de desenvolvimento, principalmente em

virtude das mídias e métodos utilizados para treinamento dos seus

funcionários. Considerando a dinâmica que os Call Centers têm que possuir

atualmente para o repasse e uniformização das rotinas e procedimentos de

atendimento ao cliente, o E-learning e o Manual de Atendimento On-line

Page 44: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

32

(MAON) são preciosas ferramentas para a capacitação e reciclagem dos

funcionários.

4.3.7 – Organização do Trabalho

O Centro de Atendimento conta uma intranet própria para notícias,

informações e procedimentos para os atendentes, denominado de Manual

de Atendimento On-line (MAON), nesta intranet são divulgadas

mensalmente as escalas de trabalho, escalas de turno mensal, escalas de

final de semana, escalas de intervalos e escalas de férias.

Existem dois tipos de turno para os atendentes do Centro de

Atendimento, turno de seis horas diárias (36 horas semanais) e turno de sete

horas diárias (35 horas semanais), em ambos os casos são obedecidas às

determinações quanto às pausas e intervalos. As escala de finais de

semanas é elaborada de tal forma que cada atendente tenha, no mínimo, um

domingo de folga por mês, tendo inclusive o direito a troca de turnos para

poder adequar seu turno as necessidades pessoais.

O turno de 36 horas semanais desenvolve suas atividade em seis

horas diárias, ou seja, ficará escalado para trabalhar aos finais de semana.

O turno de 35 horas é desenvolvido em sete horas diárias (3,5 horas no

período matutino e 3,5 horas no vespertino), não sendo escalado para

trabalho aos finais de semana.

A definição do turno do funcionário é feita no ato da contratação, caso

este prefira outro tipo de escala ele tem a possibilidade de troca, desde que

haja disponibilidade por parte do Centro de Atendimento.

O centro de atendimento conta um moderno sistema de

monitoramento e registro de chamadas, onde são realizados todos os

controles e emitidos todos os relatórios, inclusive de produtividade. No

entanto, em atendimento ao que se pede a norma, tais controles são

utilizados apenas para gestão operacional do Call Center, não servindo de

mecanismo para aceleração do trabalho.

Page 45: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

33

Seguindo uma determinação específica do setor, todas as chamadas

são gravadas e todos os atendentes têm ciência de tal procedimento.

De maneira geral, a organização do trabalho no Centro de

Atendimento ao Cliente é excelente. Alguns pontos contribuem para que isso

ocorra, como resoluções específicas para o setor de atividade da empresa,

que a obriga empregar mecanismos e processos de qualidade para o

desempenho das atividades. Bem como a atualização da Norma

Regulamentadora, com seu Anexo II, que traz inúmeras determinações

relativas à organização do trabalho em Centrais de Atendimento.

Page 46: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

34

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 – Conclusões e Recomendações

Através do estudo de caso foi possível verificar que mesmo após três

anos da homologação do Anexo II da Norma Regulamentadora NR 17

muitas exigências ainda não foram cumpridas. Essa nova regulamentação

acarretou grandes impactos, relacionados à ergonomia, para o setor de

teleatendimento (Call Center). Juntamente com a legislação de saúde de

segurança do trabalho, algumas outras determinações específicas da área

estão mudando consideravelmente o setor. Isso reflete a importância que

essa atividade começa a tomar.

Foram analisados no estudo de caso os fatores biomecânicos e

organizacionais e constatado vários pontos positivos e negativos. Dentre os

pontos positivos pode-se destacar o sistema de treinamento on-line (E-

Learning), muito útil, de fácil acesso e ao alcance de todos os funcionários a

qualquer hora do dia. Também a forma de divulgação das escalas facilita à

troca de turno por parte dos funcionários, tendo este a possibilidade de

adequar o horário de trabalho com a sua vida pessoal.

Como pontos negativos podem ser citados o sistema de climatização,

fator essencial para o conforto e bem estar, impactando diretamente na

qualidade e produtividade do profissional e o mobiliário, que atendente

apenas às exigências mínimas da norma, quanto à substituição para

adequação das novas exigências.

De maneira geral, foi constatado que os aspectos organizacionais

(organização do trabalho e capacitação) estão atendendo plenamente aos

requisitos legais, enquanto os fatores biomecânicos (mobiliários, condições

ambientais de trabalho, condições sanitárias de conforto) estão defasados e

em desacordo com a normatização.

Page 47: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

35

Para atendimento às determinações impostas pela legislação em

vigor e, principalmente, para proporcionar um ambiente seguro, salubre e

confortável aos funcionários, são recomendadas as seguintes medidas.

a) Readequação do sistema de climatização da sala de

atendimento: A quantidade de aparelhos existentes é suficiente

para proporcionar uma temperatura agradável, porém, em

virtude da má distribuição dos aparelhos condicionadores de ar

isso não está ocorrendo. Os investimentos para tal adequação

são mínimos, praticamente apenas com mão-de-obra;

b) Substituição dos 66 mobiliários restantes do modelo antigo:

Este é o fator que representa o custo mais elevado para

adequação. No entanto a norma exige que até o ano de 2012

todos os mobiliários sejam trocados;

c) Aquisição de mais um sofá de, no mínimo, três lugares para a

sala de descompressão (descanso): Como em cada pausa

saem em média 6 atendentes (no máximo 8), o sofá atual, de

três lugares não é suficiente para acomodação de todos. O

espaço físico da sala de descompressão é suficiente para

comportar mais um sofá;

d) Aquisição de armários: A quantidade de armários atual atende

apenas um terço do número de atendentes.

Ressaltamos que o presente estudo limitou-se no levantamento e

análise dos fatores biomecânicos e organizacionais contidos no Anexo II da

NR 17 (MTE, 2007). Esta norma contempla também outros aspectos, tais

como: Psicológicos e os Programas de Saúde Ocupacional (PCMSO) e de

Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) que não foram abordados e

merecem novos estudos.

Page 48: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

36

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Page 53: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

41

ANEXO I – CHECK LIST UTILIZADO NAS VISITAS EM CAMPO

Page 54: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

42

Page 55: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

43

Page 56: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ARQUITETURA, ENGENHARIA E TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

DECLARAÇÃO DE NÃO VIOLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS DE

TERCEIROS

Eu, THIAGO ALVES BERNARDES, CPF: 008.714.421-24, aluno do Curso

de Especialização em Engenharia de Segurança do trabalho da

Universidade Federal de Mato Grosso, declaro para os devidos fins que:

a) a monografia intitulada: ERGONOMIA APLICADA AO CALL

CENTER: CUMPRIMENTO DAS EXIGÊNCIAS DO ANEXO II DA N ORMA

REGULAMENTADORA 17 – UM ESTUDO DE CASO de minha autoria, não

viola os direitos autorais de terceiros, sejam eles pessoas físicas ou

jurídicas;

b) que a monografia de conclusão do curso de Especialização em

Engenharia de Segurança do Trabalho ora submetida à Banca composta

pela Portaria n° ______ não constitui-se em reprodu ção de obra alheia,

ainda com direitos autorais protegidos ou já em domínio público;

c) que em havendo textos, tabelas e Figuras transcritos de obras de

terceiros com direitos autorais protegidos ou de domínio público tal como

idéias e conceitos de terceiros, mesmo que sejam encontrados na Internet,

os mesmos estão com os devidos créditos aos autores originais e estão

incluídas apenas com o intuito de deixar o trabalho autocontido;

d) que os originais das autorizações para inclusão dos materiais do item c)

emitidas pelos proprietários dos direitos autorais, se for o caso, estão em

meu poder;

Page 57: Ergonomia Aplicada Ao CALL CENTER

45

e) que tenho ciência das Diretrizes e Normas Regulamentadoras de

Pesquisas descritas na Resolução CNS Nº 196/1996 e da obrigação de

cumprir as disposições previstas na Constituição Federativa do Brasil de

1988 e na legislação brasileira relativa à violação de direitos autorais como

Código do Consumidor, Código Civil e Código Penal Brasileiro.

Cuiabá, 10 / 09 / 2010.

Assinatura: _____________________________________