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Direito Processual Penal Dr. Mário Rheingantz 1 AÇÕES AUTÔNOMAS DE IMPUGNAÇÃO São meios previstos no ordenamento jurídico para socorrer-se do poder jurisdicional a fim de atacar decisão judicial ou administrativa que afete possa afetar, a esfera de direitos fundamentais, relacionados à matéria criminal, em especial, sua liberdade de locomoção. Podem ter o objetivo de rever decisão judicial condenatória transitada em julgado, impugnar, judicialmente, decisão administrativa, ou servir como um sucedâneo recursal para o reexame de decisão judicial que cause gravame a uma das partes. HABEAS CORPUS Origem histórica. Segundo a doutrina, apareceu na Magna Carta de 1215 (Nenhum homem será detido, feito prisioneiro, exceto mediante julgamento de seus pares e de acordo com a lei da terra), imposta ao rei João Sem Terra. Outra corrente, no entanto, sustenta que o instituto teve origem já no direito romano. A expressão Habeas Corpus surgiu em 1679 com o “Habeas Corpus Act”. No Brasil, vem previsto desde o Código de Processo Criminal do Império de 1832, passando pela Constituição Republicana de 1891, quando era prevista em termos amplos, ou seja, destinada a tutelar qualquer direito (doutrina brasileira do Habeas Corpus, liderada por Ruy Barcosa) estando consagrado na CF/88 bem como em nosso CPP atual. Previsão constitucional. Art. 5º LXVIII da CF/88: LXVIII conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; Garante, direta ou, indiretamente, o direito de locomoção, previsto no artigo 5º, XV, da CF/88: XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; Previsão legal. Arts. 647 a 667 do CPP Conceito. É uma ação de natureza penal, uma garantia constitucional destinada a proteger o direito à liberdade de locomoção ou, um remédio constitucional a ser utilizado contra lesão ou ameaça ao direito de ir e vir. Por essa razão, possui rito célere, devendo ser acompanhado de prova pré-constituída se a prova da ilegalidade se encontrar ao alcance do impetrante. Se não se encontrar, o juiz ou tribunal poderão requisitar a documentação, se plausível e fundada a alegação. Natureza jurídica. Embora inserido no CPP entre os recursos, não possui natureza recursal. É uma ação autônoma de impugnação. É que recurso pressupõe sempre a existência de uma decisão judicial não transitada em julgado, sendo, ainda, meio interno de atacar a decisão, enquanto o HC pode ser impetrado contra atos administrativos, e também contra decisões judiciais já transitadas em julgado, sendo ação autônoma, ou seja, tramitando independentemente do processo em que eventual decisão esteja sendo atacada. Não está, portanto, sujeito a prazo preclusivo, podendo ser interposto antes do processo, durante sua tramitação e, até mesmo, após o trânsito em julgado. Pode possuir eficácia declaratória (ex. Declaração de extinção da punibilidade, reconhecimento de uma nulidade antes do trânsito em julgado), constitutiva (ex. Anulação da decisão judicial transitada em julgado, pois desconstitui a coisa julgada), condenatória (ex. Além da declaração da existência do direito à liberdade, também se condena nas custas a autoridade que, por má-fé ou evidente abuso de poder, determinou a coação ilegal, art. 653 do CPP), mandamental (ex. hipótese em que se determina a liberação do paciente, preso). Princípios Celeridade, gratuidade e informalidade

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AÇÕES AUTÔNOMAS DE IMPUGNAÇÃO

São meios previstos no ordenamento jurídico para socorrer-se do poder jurisdicional a fim de atacar decisão judicial ou administrativa que afete possa afetar, a esfera de direitos fundamentais, relacionados à matéria criminal, em especial, sua liberdade de locomoção. Podem ter o objetivo de rever decisão judicial condenatória transitada em julgado, impugnar, judicialmente, decisão administrativa, ou servir como um sucedâneo recursal para o reexame de decisão judicial que cause gravame a uma das partes.

HABEAS CORPUS

Origem histórica. Segundo a doutrina, apareceu na Magna Carta de 1215 (Nenhum homem será detido, feito prisioneiro, exceto mediante julgamento de seus pares e de acordo com a lei da terra), imposta ao rei João Sem Terra. Outra corrente, no entanto, sustenta que o instituto teve origem já no direito romano. A expressão Habeas Corpus surgiu em 1679 com o “Habeas Corpus Act”. No Brasil, vem previsto desde o Código de Processo Criminal do Império de 1832, passando pela Constituição Republicana de 1891, quando era prevista em termos amplos, ou seja, destinada a tutelar qualquer direito (doutrina brasileira do Habeas Corpus, liderada por Ruy Barcosa) estando consagrado na CF/88 bem como em nosso CPP atual.

Previsão constitucional. Art. 5º LXVIII da CF/88: LXVIII conceder-se-á "habeas-corpus" sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; Garante, direta ou, indiretamente, o direito de locomoção, previsto no artigo 5º, XV, da CF/88: XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; Previsão legal. Arts. 647 a 667 do CPP Conceito. É uma ação de natureza penal, uma garantia constitucional destinada a proteger o direito à liberdade de locomoção ou, um remédio constitucional a ser utilizado contra lesão ou ameaça ao direito de ir e vir. Por essa razão, possui rito célere, devendo ser acompanhado de prova pré-constituída se a prova da ilegalidade se encontrar ao alcance do impetrante. Se não se encontrar, o juiz ou tribunal poderão requisitar a documentação, se plausível e fundada a alegação. Natureza jurídica. Embora inserido no CPP entre os recursos, não possui natureza recursal. É uma ação autônoma de impugnação. É que recurso pressupõe sempre a existência de uma decisão judicial não transitada em julgado, sendo, ainda, meio interno de atacar a decisão, enquanto o HC pode ser impetrado contra atos administrativos, e também contra decisões judiciais já transitadas em julgado, sendo ação autônoma, ou seja, tramitando independentemente do processo em que eventual decisão esteja sendo atacada. Não está, portanto, sujeito a prazo preclusivo, podendo ser interposto antes do processo, durante sua tramitação e, até mesmo, após o trânsito em julgado. Pode possuir eficácia declaratória (ex. Declaração de extinção da punibilidade, reconhecimento de uma nulidade antes do trânsito em julgado), constitutiva (ex. Anulação da decisão judicial transitada em julgado, pois desconstitui a coisa julgada), condenatória (ex. Além da declaração da existência do direito à liberdade, também se condena nas custas a autoridade que, por má-fé ou evidente abuso de poder, determinou a coação ilegal, art. 653 do CPP), mandamental (ex. hipótese em que se determina a liberação do paciente, preso). Princípios Celeridade, gratuidade e informalidade

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Espécies de habeas corpus: Habeas Corpus repressivo ou liberatório. Cabível após a efetivação do constrangimento ilegal à ao direito de ir e vir. Habeas Corpus suspensivo. Segundo Nestor Távora, Cabível quando já há ordem de prisão que ainda não foi cumprida. Habeas Corpus preventivo. Cabível quando houver concreta ameaça à liberdade de locomoção do paciente. Ou seja, deve haver fundado receio de prisão ilegal, não bastando mero receio, devendo haver ameaça séria e concreta do constrangimento à liberdade de locomoção. Habeas Corpus profilático. Cabível quando se busca combater suspendendo ou impugnando atos processuais ou administrativos, que possam, no futuro, levar o réu a uma prisão ilegal. Ou seja, há uma ameaça potencial. Ex. Trancamento de inquérito policial ou ação penal, para suspender o processo em razão de questão prejudicial, ex. Acusado de bigamia, alega que o primeiro casamento era nulo, fato que está discutindo no juízo cível. CAUSA DE PEDIR E COISA JULGADA NO HC A causa de pedir do Habeas-corpus é a violação ou a ameaça de violação à liberdade de ir e vir do paciente. A causa de pedir remota é o detalhamento do ato que viola o direito da parte. A causa de pedir próxima é norma jurídica construída a partir da aplicação do ordenamento jurídico em face da situação fática descrita. No Habeas Corpus adota-se a teoria da substanciação, pois a causa de pedir limita-se ao que foi descrito na ação, não se operando eficácia preclusiva em relação ao que, embora não alegado, poderia tê-lo sido feito pela parte. Ou seja, alterando-se a causa de pedir remota, poder-se-ia, propor nova ação de Habeas Corpus, pois não estaria o fato alcançado pela coisa julgada. Em relação à matéria debatida no HC, caso ocorra antecipação de discussão de questão que poderia ser debatida em sede de apelação, uma vez transitado em julgado o HC e não impugnado este, não pode a mesma questão ser rediscutida em sede de apelação. Nesse sentido:

APELAÇÃO - PRECLUSÃO DA MATÉRIA - PRONUNCIAMENTO DECORRENTE DE HABEAS CORPUS. Tratando-se de tema apreciado na via de habeas corpus, antes mesmo da prolação da sentença, descabe empolgá- lo, no que ligado a vício de procedimento quando da interposição da apelação. Esta sofre as peias da preclusão maior, ao contrário do próprio habeas corpus. (HC 80760 / SP - SÃO PAULO - HABEAS CORPUS Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO Julgamento: 27/03/2001 Órgão Julgador: Segunda Turma)

Sujeitos do Habeas corpus. Legitimidade ativa: Impetrante. É uma ação penal constitucional popular, ou seja, pode ser impetrada por qualquer do povo, em seu favor ou em favor de outrem, podendo ser impetrada até mesmo pelo Ministério Público. Não é necessária capacidade postulatória do impetrante. Pessoa jurídica pode impetrar HC? Juiz? Legitimidade passiva. Autoridade coatora. É o responsável pela coação impugnada. Pode ser tanto uma autoridade Pública (juiz, promotor, delegado de polícia etc.), quanto um particular. Paciente. É o sujeito que está sofrendo a coação. É o sujeito em favor do qual está sendo impetrada a ordem. Pode ser qualquer pessoa natural, nacional ou estrangeira. Pode o paciente ser pessoa jurídica?

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A maior parte da doutrina entende que não. A priori, pode-se não vislumbrar essa possibilidade, pois não estaria sujeita à privação na liberdade de locomoção. No entanto, em caso de crimes ambientais, há a dupla imputação, ou seja, a denúncia deve se dar tanto em face da pessoa física quanto da jurídica. Em face disso, há precedente do STF admitindo a possibilidade de HC para trancamento da ação penal em que se beneficia pessoa jurídica.

EMENTA: PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME AMBIENTAL. HABEAS CORPUS PARA TUTELAR PESSOA JURÍDICA ACUSADA EM AÇÃO PENAL. ADMISSIBILIDADE. INÉPCIA DA DENÚNCIA: INOCORRÊNCIA. DENÚNCIA QUE RELATOU a SUPOSTA AÇÃO CRIMINOSA DOS AGENTES, EM VÍNCULO DIRETO COM A PESSOA JURÍDICA CO-ACUSADA. CARACTERÍSTICA INTERESTADUAL DO RIO POLUÍDO QUE NÃO AFASTA DE TODO A COMPETÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA E BIS IN IDEM. INOCORRÊNCIA. EXCEPCIONALIDADE DA ORDEM DE TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. ORDEM DENEGADA. I - Responsabilidade penal da pessoa jurídica, para ser aplicada, exige alargamento de alguns conceitos tradicionalmente empregados na seara criminal, a exemplo da culpabilidade, estendendo-se a elas também as medidas assecuratórias, como o habeas corpus. II - Writ que deve ser havido como instrumento hábil para proteger pessoa jurídica contra ilegalidades ou abuso de poder quando figurar como co-ré em ação penal que apura a prática de delitos ambientais, para os quais é cominada pena privativa de liberdade. (...). VII - Ordem denegada.(HC 92921 / BA - BAHIA HABEAS CORPUS Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI Julgamento: 19/08/2008 Órgão Julgador: Primeira Turma)

Podem os efeitos do Habeas Corpus se estenderem a quem não é paciente? Sim, embora HC não seja recurso, é cabível efeito extensivo do Habeas Corpus. Ex. Trancamento da ação penal em razão da atipicidade do fato, em HC impetrado em favor do suposto autor se estende ao suposto partícipe. Hipóteses de cabimento. Dirige-se contra atos atentatórios da liberdade de locomoção. Pode ser ajuizado contra lesão ou ameaça real ou potencial. Ou seja, tanto quando o paciente estiver preso (lesão – HC repressivo), quanto quando houver contra ele uma ordem de prisão expedida - ameaça real – (HC suspensivo), bem como quando embora não haja uma ordem de prisão, haja fundadas razões de que o paciente poderá vir a sofrer uma privação de sua liberdade de locomoção (salvo conduto ou Habeas Corpus preventivo), bem como contra atos que potencialmente possam causar uma lesão ilegal à liberdade ambulatória, como o início de uma atividade persecutória contra ele instaurada, desde que, por fato certo, e que , para a conduta, seja prevista a aplicação de uma pena privativa de liberdade. Atenção: não cabe HC quando do ato ou processo não puder resultar lesão à liberdade de locomoção. Nesse sentido, as súmulas 693, 694 e 695 do STF: SÚMULA 693: NÃO CABE "HABEAS CORPUS" CONTRA DECISÃO CONDENATÓRIA A PENA DE MULTA, OU RELATIVO A PROCESSO EM CURSO POR INFRAÇÃO PENAL A QUE A PENA PECUNIÁRIA SEJA A ÚNICA COMINADA. SÚMULA 694: NÃO CABE "HABEAS CORPUS" CONTRA A IMPOSIÇÃO DA PENA DE EXCLUSÃO DE MILITAR OU DE PERDA DE PATENTE OU DE FUNÇÃO PÚBLICA. SÚMULA 695: NÃO CABE "HABEAS CORPUS" QUANDO JÁ EXTINTA A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE. As cortes superiores, recentemente, vem não aceitando HC impetrados perante elas como substitutivos de recursos ordinários. Nesse sentido:

O Supremo Tribunal Federal, pela sua Primeira Turma, passou a adotar orientação no sentido de não mais admitir habeas corpus substitutivo de recurso ordinário. Precedentes: HC 109.956/PR, Ministro Marco Aurélio, DJe de 11.9.2012, e HC 104.045/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, DJe de 6.9.2012, dentre outros. # Este Superior Tribunal de Justiça, na esteira de tal entendimento, tem amoldado o cabimento do remédio heróico, sem perder de vista, contudo, princípios constitucionais, sobretudo o do devido processo legal e da ampla defesa. Nessa toada, tem-se analisado as questões suscitadas na exordial a fim de se verificar a existência de constrangimento ilegal para, se for o caso, deferir-se a ordem de ofício. A propósito: HC 221.200/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe de 19.9.2012. (HC 169556 / RJ QUINTA TURMA, relatora: Ministra MARILZA MAYNARD (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/SE) (8300).

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Segundo o artigo 647 do CPP:

Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar

Obs. Em relação à punição disciplinar, não cabe HC em relação ao mérito do ato administrativo, mas é cabível em relação a sua legalidade. Na lição de Eugênio Pacelli e Douglas Fischer:

“Embora os regulamentos internos militares sejam normas interna corporis, que tratam das transgressões disciplinares, as quais estão sujeitos os militares, muitas vezes, na aplicação da penalidade, não se observa o devido processo legal (substancial), na medida em que são impostas penas sem que se garanta efetivamente a ampla defesa e o contraditório. Malgrado o direito militar seja um ramo do direito com princípios e peculiaridades, como qualquer outro ramo subordina-se aos cânones constitucionais. Sendo assim, o respeito à hierarquia e à disciplina (que são basilares no âmbito da caserna) não podem justificar a violação de direitos fundamentais garantidos a todos os cidadãos, especificamente os militares que eventualmente transgridam as regras internas. Significa que, quando violados dispositivos constitucionais que tratam da ampla defesa e do contraditório, é cabível, em tese, a impetração de Habeas Corpus para afastar a ilegalidade. Portanto, o que resta vedado ao controle judicial é o exame da conveniência e da oportunidade da medida disciplinar adotada. O controle da legalidade do ato – mormente em se tratando de restrição à liberdade – jamais poderá ser excluído da análise do poder judiciário.” (Comentários ao Código de Processo Penal e à sua jurisprudência, 2012, p. 1327).

O CPP elenca hipóteses de cabimento do HC. Obs. Não se trata de hipóteses taxativas, pois a norma constitucional que prevê o HC não possui eficácia contida, conforme a célebre classificação de José Afonso da Silva. Não cabe, portanto, à lei restringir as hipóteses de cabimento do HC. Desse modo, a previsão do CPP é meramente exemplificativa. Art. 648 do CPP: a coação considerar-se-á ilegal: Inciso I – Quando não houver justa causa. Muito utilizada quando a persecução penal (investigação preliminar ou ação penal) não estiver fundada em suporte probatório mínimo, bem como quando houver manifesta atipicidade do fato, ou quando extinta a punibilidade do agente. Nada impede, no entanto, que seja impetrado com base em tal inciso, quando faltar justa causa para ordem de prisão. É hipótese ampla e significa, em resumo, que o ato impugnado não possui juridicidade. Obs. Em sendo acolhido HC por falta de suporte probatório mínimo, a coisa julgada será formal, pois uma vez obtido o suporte probatório, nada obsta que a persecução seja renovada. Já em caso de atipicidade do fato e de extinção da punibilidade, a coisa julgada é material. Inciso II – quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei. Ex. Excesso de prazo na prisão temporária, ou fim do cumprimento da pena imposta. A prisão preventiva não possui prazo máximo previsto em lei. Mas parte da doutrina entende que não poderiam ser extrapolados os prazos previstos em lei para a prática dos atos processuais. Discute-se se os prazos devem ser analisados individualmente ou globalmente. A jurisprudência tem relativizado o rigor matemático dos prazos, mas estes não podem ultrapassar a duração razoável do processo (art. 5 º, LXVIII da CF/88) e a dignidade humana (art. 1, III, da CF/88). Inciso III – Quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo. É expressão do artigo 5º, incisos LIII (LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente) ; e LXI ( ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei); ambos da CF/88. Portanto, cabe HC quando a ação penal for intentada perante autoridade incompetente, bem como quando eventual prisão for determinada por autoridade incompetente.

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É com base nesses dispositivos que constituem verdadeiros direitos fundamentais que parcela da doutrina entende que no processo penal, toda incompetência deveria ser absoluta. Inciso IV – quando houver cessado o motivo que autorizou a coação. É o que ocorre, por exemplo, ao fim da instrução processsual, quando a prisão preventiva é determinada com fundamento na conveniência da instrução criminal. Inciso V – Quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei autoriza. Aqui deve-se fazer uma interpretação extensiva (a lei disse menos do que gostaria de dizer) para incluir também todas as hipóteses de liberdade provisória com ou sem fiança. Ou seja, cabível a liberdade provisória e não concedida esta, caberá a impetração de HC. Essa interpretação ganha ainda mais força a partir da lei 12.403/2011 pela qual o flagrante possui natureza de prisão pré-cautelar. Além disso, com base no princípio da igualdade, entendemos que, uma vez admitida a liberdade provisória com fiança e não podendo o preso pagá-la, é impositiva a liberdade provisória mesmo sem fiança. (tal posicionamento deve ser adotado em provas de Defensoria Pública) Inciso VI – quando o processo for manifestamente nulo. Aqui não há restrição às nulidades absolutas, podendo-se incluir, também as relativas. No entanto, não se pode olvidar que estas necessitam de prova do prejuízo e de arguição no momento oportuno, sob pena de preclusão. Deve-se atentar para o princípio da consequencialidade. Observe-se, aqui, também, a crítica, a ser adotada em provas de Defensoria Pública, de que no processo penal, forma é garantia e, portanto, desrespeitada a forma, haveria ofensa à garantia constitucional do devido processo legal. Por consequência, no processo penal, toda a nulidade deveria ser absoluta, sendo indevida a categorização típica do processo civil. Inciso VII – quando extinta a punibilidade – É cabível quando ocorrer a extinção da punibilidade (ex. Prescrição, abolitio criminis...). A extinção já é um fato consumado, mas precisa-se da declaração judicial. Pode ser utilizado inclusive para atacar decisões de internações de adolescentes por medidas sócio-educativas? Pode ser utilizado como sucedâneo de revisão criminal? É cabível exame de provas em sede de HC? O exame da matéria fática dependente da análise da prova produzida no processo não é cabível. No entanto, é possível a discussão de matéria probatória, consistente na validade e licitude das provas, bem como em relação a regras atinentes ao direito probatório. Nesse sentido já decidiu o STF:

“não cabe habeas corpus para solver controvérsia de fato dependente da ponderação de provas desencontradas; cabe, entretanto, para aferir a idoneidade jurídica ou não das provas nas quais se fundou a decisão condenatória.” (HC nº 84.740-RS, Rel. Min, Sepúlveda Pertence, publicado no DJ em 22.4.2005).

Competência. Deve-se levar em conta a autoridade coatora e o paciente. Competência do STF – (arts. 102, I, “d” e “i” da CF/88) – Quando o paciente for o Presidente da República, o vice, membros do congresso nacional, membros do STF e dos Tribunais Superiores, o PGR, Ministros de Estado, Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, membros do TCU e chefes de missão diplomática de caráter permanente. - Quando o coator for Tribunal Superior ou quando coator ou paciente for autoridade ou funcionário cujos atos

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estejam sujeitos diretamente à jurisdição do STF, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância. - Em grau recursal compete julgar o ROC quando denegado HC impetrado em Tribunal Superior. Competência do STJ - (art. 105 – I da CF/88) - quando o coator ou paciente for Governador dos Estados e do Distrito Federal, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais - quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral. Segundo a jurisprudência, compete ainda julgar HC contra ato de Tribunal de Justiça Militar Estadual.

MED. CAUT. EM HABEAS CORPUS 95.980-6 RIO GRANDE DO SUL: EMENTA: “HABEAS CORPUS”. TRIBUNAL DE JUSTIÇA MILITAR (CF, ART. 125, § 3º). FALTA DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. “HABEAS CORPUS” NÃO CONHECIDO. REMESSA DOS AUTOS AO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (CF, ART. 105, I, “C”). - Os Tribunais de Justiça Militar dos Estados-membros (CF, art. 125, § 3º) – situados no mesmo plano institucional dos Tribunais de Justiça estaduais (RTJ 162/1113 – RTJ 176/203, v.g.) — não se qualificam, constitucionalmente, como Tribunais Superiores da União (RTJ 197/1005), razão pela qual falece competência, a esta Suprema Corte, para o julgamento de “habeas corpus” impetrado contra atos e decisões emanados de tais Cortes judiciárias castrenses locais. - Cabe, ao Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 105, I, “c”) – e não ao Superior Tribunal Militar (CC 7.346/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO) —, processar e julgar, originariamente, a ação de “habeas corpus”, quando a coação for imputável a Tribunal de Justiça Militar instituído por Estado-membro (CF, art. 125, § 3º). Precedentes. DECISÃO: Não compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, originariamente, pedidos de “habeas corpus” deduzidos contra atos e decisões proferidos por Tribunal de Justiça Militar estadual (HC 88.724-MC/SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), hoje apenas existente na organização judiciária dos Estados de São Paulo, do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais (CF, art. 125, § 3º).

- compete, ainda, julgar o ROC quando denegados nos Tjs ou TRFs. STM – compete ao STM julgar HC quando a autoridade coatora for militar federal, uma vez e o fato se relacionar a crime de alçada da justiça militar federal, pois que os conselhos de justiça militar não tem competência para julgar HC. TJM - Nos Estados em que há TJM (RS, MG, RJ e SP), cabe a estes julgar HC quando a coação partir de autoridade militar estadual e se relacionar a processo de competência da justiça militar estadual. Nos demais estados, a competência é do TJ. TSE – HC, em matéria eleitoral quando a autoridade coatora for TRE ou ministro de estado, TRE – quando o coator ou paciente for juiz eleitoral, sendo a matéria eleitoral. Competência dos Tjs e TRFs – Serão competentes para julgamento originário de HC, os tribunais de segunda instância quando a autoridade coatora ou paciente tiver foro por prerrogativa de função no respectivo tribunal. Assim eventual HC impetrado contra juiz estadual será julgado pelo TJ, contra juiz federal, no TRF, o mesmo vale para promotor (TJ) e procurador de justiça com atuação no primeiro grau (TRF). Importante!!!! Cabe ao TJ e ao TRF o julgamento de HC impetrado contra decisões de turmas recursais, respectivamente, da justiça estadual e federal. Esse entendimento decorre do HC 86.834/SP, o qual superou o entendimento expresso na súmula 690 do STF.

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COMPETÊNCIA - HABEAS CORPUS - DEFINIÇÃO. A competência para o julgamento do habeas corpus é definida pelos envolvidos - paciente e impetrante. COMPETÊNCIA - HABEAS CORPUS - ATO DE TURMA RECURSAL. Estando os integrantes das turmas recursais dos juizados especiais submetidos, nos crimes comuns e nos de responsabilidade, à jurisdição do tribunal de justiça ou do tribunal regional federal, incumbe a cada qual, conforme o caso, julgar os habeas impetrados contra ato que tenham praticado. COMPETÊNCIA - HABEAS CORPUS - LIMINAR. Uma vez ocorrida a declinação da competência, cumpre preservar o quadro decisório decorrente do deferimento de medida acauteladora, ficando a manutenção, ou não, a critério do órgão competente. HC 86834 / SP - SÃO PAULO HABEAS CORPUS Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO Julgamento: 23/08/2006 Órgão Julgador: Tribunal Pleno

Justiça Trabalhista Tribunal regional do Trabalho possui competência para julgamento de HC (art. 114, IV da CF/88)? Pela CF/88 sim, mas como não tem competência para julgar crime, fica muito restrita essa possibilidade. Situação possível era a do depositário infiel. Por lógico, quando a coação partir do TRT, a competência será do TST. Competência dos juízes de 1º grau. (juiz de direito, juiz federal, juiz eleitoral) É competente o juiz de primeiro grau quando a autoridade coatora e o paciente não possuírem foro por prerrogativa de função. É o que ocorre, por exemplo, com os atos praticados pela polícia judiciária. Quanto à competência “ratione materiae”, o critério a ser observado é a natureza da infração penal que ensejou a coação e não a esfera da autoridade policial. Assim, caberá ao juiz estadual a apreciação do HC impetrado contra Delegado de Polícia Federal, quando a coação se der na investigação de crime de competência da justiça estadual. PROCESSAMENTO Procedimento. O procedimento do HC possui rito célere e simplificado. A inicial não possui as exigências formais das peças privativas de profissionais do direito, na medida em que qualquer pessoa pode impetrar habeas corpus. Na petição deverá haver a exposição do fato, o nome da pessoa cuja liberdade está ameaçada bem como da autoridade coatora (art. 654 do CPP. Apresentada a petição, o juiz, poderá, querendo, ouvir o paciente, se ele se encontrar preso. Em primeira instância, não se exige, nem sequer que seja ouvido o MP. Na segunda instância, o MP deve ser ouvido, nos termos do decreto-lei 552/69, segundo o qual o MP receberá, após a prestação de informações pela autoridade coatora vista pelo prazo de dois dias, passado o prazo, com ou sem parecer os autos irão conclusos, sendo assegurada, ainda, a sustentação oral. Quando impetrado perante tribunal, este poderá pedir informações à autoridade coatora (art. 662), sendo que parte da doutrina entende que o dispositivo se aplica também ao HC impetrado em primeira instância. Embora não previsto em lei, a jurisprudência é tranquila no sentido da possibilidade de concessão de liminar em HC. Havendo, no entanto, alguns entendimentos em sentido contrário, fundamentados na falta de previsão legal. É cabível contra decisões monocráticas de tribunais que indeferem a liminar de HC? Possui aplicação a súmula 691 do STF? Como regra o STF aplica a súmula, mas aceita que, excepcionalmente, seja afastada, quando a ilegalidade da prisão for manifesta. Nesse sentido, recente decisão do Ministro Joaquim Barbosa (online, acessado em 03/03/13, http://www.conjur.com.br/2012-out-02/supremo-tribunal-federal-concede-habeas-corpus-liminar-stj)

Diante do exposto, tendo em vista a fragilidade da fundamentacao da prisao preventiva, considerando os entendimentos assentados nos precedentes citados e tendo presente que o caso em analise e daqueles que autorizam a superacao do entendimento firmado na Sumula n° 691 deste Supremo Tribunal, defiro o pedido de liminar em favor do paciente ..... e determino a expedicao de alvara

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de soltura para que este aguarde em liberdade o julgamento do processo penal a que responde (autos nº 405.01.2012.013250-5) na 2ª Vara Criminal de Osasco/SP, ate a decisao de merito do presente writ, salvo se por outro motivo deva permanecer preso e sem prejuizo de nova decretacao de prisao preventiva caso necessaria Solicitem-se informacoes ao Juizo da 2ª Vara Criminal de Osasco/SP. Recebida as informacoes, de-se vista a Procuradoria Geral da Republica. Publique-se. Int.. Brasilia, 27 de setembro de 2012. Ministro JOAQUIM BARBOSA Relator Documento assinado digitalmente

Segundo o regramento do CPP, e diga-se que a lei 8038 faz remissão a este, quando trata do HC:

Art. 656. Recebida a petição de habeas corpus, o juiz, se julgar necessário, e estiver preso o paciente, mandará que este Ihe seja imediatamente apresentado em dia e hora que designar. Parágrafo único. Em caso de desobediência, será expedido mandado de prisão contra o detentor, que será processado na forma da lei, e o juiz providenciará para que o paciente seja tirado da prisão e apresentado em juízo.

obs. Obediência é crime de menor potencial ofensivo e, portanto, assinando o TC, não se impõe a lavratura do flagrante ao desobediente.

Art. 655. O carcereiro ou o diretor da prisão, o escrivão, o oficial de justiça ou a autoridade judiciária ou policial que embaraçar ou procrastinar a expedição de ordem de habeas corpus, as informações sobre a causa da prisão, a condução e apresentação do paciente, ou a sua soltura, será multado na quantia de duzentos mil-réis a um conto de réis, sem prejuízo das penas em que incorrer. As multas serão impostas pelo juiz do tribunal que julgar o habeas corpus, salvo quando se tratar de autoridade judiciária, caso em que caberá ao Supremo Tribunal Federal ou ao Tribunal de Apelação impor as multas.

Art. 657. Se o paciente estiver preso, nenhum motivo escusará a sua apresentação, salvo: I - grave enfermidade do paciente; Il - não estar ele sob a guarda da pessoa a quem se atribui a detenção; III - se o comparecimento não tiver sido determinado pelo juiz ou pelo tribunal. Parágrafo único. O juiz poderá ir ao local em que o paciente se encontrar, se este não puder ser apresentado por motivo de doença. Art. 658. O detentor declarará à ordem de quem o paciente estiver preso.

Art. 659. Se o juiz ou o tribunal verificar que já cessou a violência ou coação ilegal, julgará prejudicado o pedido. Não tendo ocorrido a cessação da violência ou coação ilegal: Art. 649. O juiz ou o tribunal, dentro dos limites da sua jurisdição, fará passar imediatamente a ordem impetrada, nos casos em que tenha cabimento, seja qual for a autoridade coatora.

Art. 651. A concessão do habeas corpus não obstará, nem porá termo ao processo, desde que este não esteja em conflito com os fundamentos daquela. Art. 652. Se o habeas corpus for concedido em virtude de nulidade do processo, este será renovado.

Art. 661. Em caso de competência originária do Tribunal de Apelação, a petição de habeas corpus

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será apresentada ao secretário, que a enviará imediatamente ao presidente do tribunal, ou da câmara criminal, ou da turma, que estiver reunida, ou primeiro tiver de reunir-se.

Na prática, hoje, está em desuso a apresentação do preso ao julgador que, percebendo a ilegalidade, pode conceder, imediatamente, a medida liminar. Pode também, o julgador, rejeitar liminarmente a inicial, o que deve ser feito com parcimônia, já que se está a tratar de direito à liberdade de locomoção, sendo que a lei permite que se intime o autor para preencher os requisitos nesse caso:

Art. 662. Se a petição contiver os requisitos do art. 654, § 1o, o presidente, se necessário, requisitará da autoridade indicada como coatora informações por escrito. Faltando, porém, qualquer daqueles requisitos, o presidente mandará preenchê-lo, logo que Ihe for apresentada a petição. Art. 663. As diligências do artigo anterior não serão ordenadas, se o presidente entender que o habeas corpus deva ser indeferido in limine. Nesse caso, levará a petição ao tribunal, câmara ou turma, para que delibere a respeito.

O HC tem prioridade de julgamento:

Art. 664. Recebidas as informações, ou dispensadas, o habeas corpus será julgado na primeira sessão, podendo, entretanto, adiar-se o julgamento para a sessão seguinte. JULGAMENTO Art. 660. Efetuadas as diligências, e interrogado o paciente, o juiz decidirá, fundamentadamente, dentro de 24 (vinte e quatro) horas. § 1o Se a decisão for favorável ao paciente, será logo posto em liberdade, salvo se por outro motivo dever ser mantido na prisão. § 2o Se os documentos que instruírem a petição evidenciarem a ilegalidade da coação, o juiz ou o tribunal ordenará que cesse imediatamente o constrangimento. § 3o Se a ilegalidade decorrer do fato de não ter sido o paciente admitido a prestar fiança, o juiz arbitrará o valor desta, que poderá ser prestada perante ele, remetendo, neste caso, à autoridade os respectivos autos, para serem anexados aos do inquérito policial ou aos do processo judicial. § 4o Se a ordem de habeas corpus for concedida para evitar ameaça de violência ou coação ilegal, dar-se-á ao paciente salvo-conduto assinado pelo juiz. § 5o Será incontinenti enviada cópia da decisão à autoridade que tiver ordenado a prisão ou tiver o paciente à sua disposição, a fim de juntar-se aos autos do processo. § 6o Quando o paciente estiver preso em lugar que não seja o da sede do juízo ou do tribunal que conceder a ordem, o alvará de soltura será expedido pelo telégrafo, se houver, observadas as formalidades estabelecidas no art. 289, parágrafo único, in fine, ou por via postal. Art. 664 - Parágrafo único. A decisão será tomada por maioria de votos. Havendo empate, se o presidente não tiver tomado parte na votação, proferirá voto de desempate; no caso contrário, prevalecerá a decisão mais favorável ao paciente.

Concedida a ordem, o paciente será imediatamente posto em liberdade ou, será expedido salvo conduto. Ressalte-se que os juízes e Tribunais podem, a qualquer tempo, conceder ordem de Habeas Corpus de ofício, sempre que verificarem que alguém, no curso do processo, sofre ou está ameaçado de sofrer coação ilegal em sua liberdade de locomoção. Tal possibilidade está positivada no art. 654, § 2º do CPP:

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Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.

Recursos. Das ordens de HC deferidas em primeiro grau caberá reexame necessário (art. 574, I do CPP., de duvidosa constitucionalidade, embora majoritariamente se entenda por sua constitucionalidade. Da decisão que conceder ou negar HC em primeiro grau caberá RSE (art. 581, X do CPP). Parte da doutrina entende que com a legitimação do assistente de acusação para requerer a prisão preventiva, consequentemente também é parte legítima para recorrer da decisão concessiva de HC, desde que no curso do processo, pois na investigação e na execução da pena, não há assistente de acusação. Assim, restaria inaplicável a súmula 208 do STF. O prazo do RSE é de cinco dias para interposição e dois dias para razões, lembrando que MP e DPE tem prazo em dobro para recorrer e a DPE tem prazo em dobro também para contrarrazões Das decisões denegatórias de HC julgados originariamente em segunda instância caberá recurso ordinário constitucional perante o STJ, o mesmo ocorre quando o HC é impetrado em primeira instância, indeferido, a parte interpõe RSE, também improvido (art. 105, II “a”, da CF/88), no prazo de 5 dias (súmula 319 do STF). Das decisões denegatórias de HC julgados originariamente pelo STJ caberá recurso ordinário constitucional perante o STF, no prazo de 5 dias (art. 102, II, “a” da CF/88). O ROC deve ser dirigido ao presidente do Tribunal “a quo” e as razões ao presidente do Tribunal “ad quem”, mas a petição de interposição deve vir já acompanhada das razões do recurso, tudo no prazo de 5 dias. Obs. Embora para a impetração do HC não seja exigida a capacidade postulatória, na via recursal essa capacidade é exigida.

MANDADO DE SEGURANÇA EM MATÉRIA CRIMINAL

Previsão Constitucional – art. 5º LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; Previsão legal. Lei 12.016/2009. Natureza Jurídica. É uma ação de natureza cível, mas que pode ser utilizada no processo pena. É ação autônoma, que, no processo penal, visa a atacar decisão judicial que não possa ser atacada por recurso com efeito suspensivo, desde que não caiba Habeas Corpus. Atuará, portanto, como sucedâneo recursal. Nesse sentido, a súmula 267 do STF: Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição. Prazo. 120 dias do ato impugnado. Tal prazo é decadencial. Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado. Cabimento. - Não pode caber recurso ou Habeas Corpus.

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- O ato impugnado precisa ser de autoridade pública, ao contrário do HC em que se admite seja ato de particular. No entanto, equiparam-se a autoridades públicas: art. 1º, § 1º da lei do MS: Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições. Súmula 510 do STF: PRATICADO O ATO POR AUTORIDADE, NO EXERCÍCIO DE COMPETÊNCIA DELEGADA, CONTRA ELA CABE O MANDADO DE SEGURANÇA OU A MEDIDA JUDICIAL. - Deve visar tutelar lesão ou ameaça a direito líquido e certo, em razão de ilegalidade ou abuso de poder. O que é direito líquido e certo? Líquido, é o que pode ser exigível de plano, sem necessidade de dilações para obtenção do conteúdo do direito. Certo, pois deve vir demonstrado por prova pré-constituída. Líquido, porque delimitado na sua extensão. Por isso, se houver necessidade de instrução, é inadequada a via eleita. Observe-se que em caso de denegação por ausência de prova pré-constituída, faz coisa julgada apenas formal. Assim, nada impede, portanto, que o impetrante se valha de via que permite cognição vertical aprofundada. Nesse ponto, o art. 19 da lei 12016/09: Art. 19. A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir o mérito, não impedirá que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais. Além disso, nada impede nova impetração de MS dentro do prazo decadencial a teor do art. 6º, § 6º da lei 12016/09: O pedido de mandado de segurança poderá ser renovado dentro do prazo decadencial, se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o mérito. O artigo 5º enumera hipóteses de não cabimento do MS:

Art. 5o Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: I - de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução; Isso não significa que o sujeito precise esgotar as vias administrativas, bastando que não caiba mais recurso. Ex. Findo o prazo para recorrer. Caso haja interposição de recurso, fica suspenso o prazo para impetração de HC. II - de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo; III - de decisão judicial transitada em julgado.

No mesmo sentido, a súmula 268 do STF: Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado. Acrescente-se que só cabe MS contra atos de efeitos concretos, não sendo cabível contra lei em tese. Nesse sentido: Súmula 266 do STF: Não cabe mandado de segurança contra lei em tese. Segundo Nucci, o Mandado de Segurança em matéria criminal vem sendo usado nas seguintes hipóteses: - Obstar quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico e de outros dados. - autorizar acesso de advogado a autos processuais ou investigativos, preservando direito líquido e certo do Defensor – ver SV 14. - Assegurar presença de Defensor durante produção de prova na fase inquisitorial

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- pelo ofendido, quando sia atuação como assistente da acusação for impedida pelo juiz de forma injustificada Pode, ainda, ser utilizado pela defesa: - quando, impossível no curso do processo que o acusado venha a sofrer privação da liberdade, ex. Art. 28 da lei 11.343/06. - quando o acusado for pessoa jurídica. Mais, pode ser utilizado também para: - agregar efeito suspensivo a recurso. - pela vítima, para trancar inquérito ou processo quando a ação penal for privada ou pública condicionada, quando a vítima não tiver autorizado o início da persecução. Competência. Difere especialmente do HC no que tange à competência para julgar ato de membro de órgão colegiado ou de Tribunal, pois nesses casos, a competência é do próprio tribunal ao qual pertence a autoridade ou do qual emanou o ato. STF: Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: o mandado de segurança e o "habeas-data" contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; II - julgar, em recurso ordinário: a) o "habeas-corpus", o mandado de segurança, o "habeas-data" e o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão; STJ: Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal; II - julgar, em recurso ordinário: b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão; TRFs: Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: c) os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal; II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição. Obs. Predomina o entendimento de que compete ao TRF julgar MS contra ato de Procurador da República Juízes Federais: Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

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VIII - os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais TJ: MS contra atos de juízes de direito e, segundo entendimento majoritário, promotores de justiça(STJ – Resp 697.005/SP 6ª Turma, Rel. Min Hélio Quaglia Barbosa, DJ 26.04.2005). Turmas recursais: contra atos de juizados especiais criminais e da própria turma recursal. Nesse sentido, o entendimento do pleno do STF: MS 25614 AgR / SP - SÃO PAULO AG.REG. EM MANDADO DE SEGURANÇA Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI Julgamento: 02/03/2011 Órgão Julgador: Tribunal Pleno Juiz de direito: Competência residual Legitimidade ativa: O impetrante pode ser qualquer pessoa que sinta-se lesada ou ameaçada em direito líquido e certo. Ou seja, acusado, querelante, MP, Defensor, ofendido, ou até terceiros. Legitmidade Passiva: é a autoridade coatora, embora alguns entendam que não se trata propriamente de uma legitimidade passiva, pode-se entender que é a autoridade coatora. É que as informações prestadas, não teriam exatamente a natureza de defesa. É a pessoa que titulariza a autoridade da qual emanou o ato. Observe-se que o art. 7º determina comunicação tanto à autoridade coatora quanto ao ente público ao qual se encontra vinculado: Art. 7o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará: I - que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações; II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para que, querendo, ingresse no feito; Obs. Quando o impetrante for o MP, é necessária a citação do réu como litisconsorte passivo, nos termos da súmula 701 do STF: NO MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO CONTRA DECISÃO PROFERIDA EM PROCESSO PENAL, É OBRIGATÓRIA A CITAÇÃO DO RÉU COMO LITISCONSORTE PASSIVO. Procedimento, (segundo Válter Kenji Ishida). Ao despachar a inicial, o juiz ordenará: I - que se notifique o coator do conteúdo da petição inicial, enviando-lhe a segunda via apresentada com as cópias dos documentos, a fim de que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações; II - que se dê ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, enviando-lhe cópia da inicial sem documentos, para que, querendo, ingresse no feito; III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica (art. 7º). Da decisão do juiz de primeiro grau que conceder ou denegar a liminar caberá agravo de instrumento (art. 7º, § 1º). Os efeitos da medida liminar, salvo se revogada ou cassada, persistirão até a prolação da sentença (art. 7º, § 3º). Deferida a medida liminar, o processo terá prioridade para julgamento (art. 7º, § 4º). A liminar poderá ter o efeito antecipatório ou cautelar. É antecipatório quando gera os efeitos pretendidos na ação. É cautelar quando não antecipa esses efeitos, apenas assegurando.

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A liminar pode ser revogada. O presidente do tribunal poderá sustar os efeitos da liminar para evitar grave lesão à ordem, saúde, segurança e à economia (art. 15). Dessa decisão, cabe agravo sem efeito suspensivo (art. 15). Indeferido o pedido de suspensão ou provido o agravo a que se refere o caput deste artigo, caberá novo pedido de suspensão ao presidente do tribunal competente para conhecer de eventual recurso especial ou extraordinário (art. 15, § 1º). Poderá o juiz, em caso de urgência, notificar a autoridade por telegrama, radiograma ou outro meio que assegure a autenticidade do documento e a imediata ciência pela autoridade (art. 4º, § 1º). Será decretada a perempção ou caducidade da medida liminar ex officio ou a requerimento do Ministério Público quando, concedida a medida, o impetrante criar obstáculo ao normal andamento do processo ou deixar de promover, por mais de 3 (três) dias úteis, os atos e as diligências que lhe cumprirem (art. 8º). As informações são facultativas. O réu deve figurar como litisconsorte passivo no mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público (Súmula 701 do STF). O Ministério Público sempre participa do mandado de segurança tanto em primeiro como em segundo grau, com prazo de dez dias (art. 12). (Angela C. Cangiano Machado e outros, Elementos do direito, processo penal, p. 251). A sentença deve ser prolatada em trinta dias (art. 12, parágrafo único). Art. 20. Os processos de mandado de segurança e os respectivos recursos terão prioridade sobre todos os atos judiciais, salvo habeas corpus. Recursos: Contra decisão em juízo de primeiro grau, cabe apelação. Art. 14. Da sentença, denegando ou concedendo o mandado, cabe apelação. § 1o Concedida a segurança, a sentença estará sujeita obrigatoriamente ao duplo grau de jurisdição. § 2o Estende-se à autoridade coatora o direito de recorrer. Contra decisão de TJ ou TRF, cabe ROC ao STJ em 15 dias. Contra decisão de Tribunais Superiores, cabe ROC ao STF em 5 dias (súmula 319 do STF: O PRAZO DO RECURSO ORDINÁRIO PARA O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, EM "HABEAS CORPUS" OU MANDADO DE SEGURANÇA, É DE CINCO DIAS). Art. 25. Não cabem, no processo de mandado de segurança, a interposição de embargos infringentes e a condenação ao pagamento dos honorários advocatícios, sem prejuízo da aplicação de sanções no caso de litigância de má-fé. REVISÃO CRIMINAL Conceito. É a ação capaz de atacar decisão condenatória ou absolutória imprópria, transitada em julgado, com vício de processamento ou julgamento, caracterizando-se, na lição de Paulo Rangel, como ação apta a resgatar o “status dignitatis” do acusado. Efeitos. A ação criminal visa à rescisão da sentença “juízo rescindens” e, pode pleitar que uma nova decisão seja proferida “juízo rescisorium”. Assim, é possível que ocorra apenas o primeiro, isoladamente, bem como ambos cumulativamente. Objetivos. Pode buscar a anulação do processo, a absolvição, a desclassificação, a redução da pena, enfim, qualquer situação que favoreça o acusado. Condições gerais da ação. Transito em julgado e decisão desfavorável ao réu.

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Cabimento (condições específicas). Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida: I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos autos; II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos comprovadamente falsos; III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena. Pode ser proposta ação de revisão criminal contra alteração de entendimento jurisprudencial? Pacelli entende que sim, mas a jurisprudência majoritária entende que não. Existe prazo decadencial para a propositura de revisão criminal? Art. 622. A revisão poderá ser requerida em qualquer tempo, antes da extinção da pena ou após. É possível mais de uma revisão criminal em face do mesmo processo? E com o mesmo fundamento? Art. 622, Parágrafo único. Não será admissível a reiteração do pedido, salvo se fundado em novas provas. É possível ajuizar a revisão criminal após a extinção da pena? E após a morte do réu? Art. 623. A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente habilitado ou, no caso de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. É possível ajuizar revisão criminal contra decisão que absolve por insuficiência de provas, a fim de comprovar a inexistência do fato? E em caso de extinção da punibilidade, para buscar absolvição? Revisão Criminal x Soberania dos veredictos. A CF/88 assegura, em seu art. 5º, XXXVIII “c”: é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: c) a soberania dos veredictos; Será possível, então, desconstituir decisão do Júri por meio da revisão criminal? Inicialmente, embora não haja previsão expressa de revisão criminal na CF/88, possui ela natureza constitucional, sendo decorrência da ampla defesa. Ademais, as garantias do Júri são instituídas em favor do réu. Logo, não há porque obstaculizar essa fundamental ferramenta de exercício da ampla defesa. Além disso, a CF/88 garante a inafastabilidade de o poder judiciário apreciar lesão ou ameaça a direito. A discussão doutrinária seria se, nesse caso, o Tribunal exerce apenas o juízo rescindendo ou também ou rescisório. Vem prevalecendo que o juízo rescisório também pode ser exercido pelo Tribunal, em razão de que, a decisão atacada já transitou em julgado e Competência. A competência para julgar a revisão criminal compete ao Tribunal que apreciou o mérito da ação penal. Em caso de trânsito em julgado no primeiro grau, a competência é do Tribunal ao qual se vincula o juiz. Ver: art. 102 I, “j”, 105, I e 108, I, “b”, todos da CF/88.

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Legitimidade ativa. próprio réu ou procurador (não se exige capacidade postulatória, a exemplo do HC). Discute-se se pode haver legitimidade do MP no ajuizamento da revisão criminal. No RHC 80796/2001, Rel. Min. Marco Aurélio, entendeu-se pela ilegitimidade. Na doutrina, prevalece a legitimidade. Em caso de morte do réu, seus parentes podem propor a ação ( cônjuge, ascendente, descendente ou irmão), bem como a companheira, em face da igualdade constitucional. Processamento. Art. 625. O requerimento será distribuído a um relator e a um revisor, devendo funcionar como relator um desembargador que não tenha pronunciado decisão em qualquer fase do processo. § 1o O requerimento será instruído com a certidão de haver passado em julgado a sentença condenatória e com as peças necessárias à comprovação dos fatos argüidos. § 2o O relator poderá determinar que se apensem os autos originais, se daí não advier dificuldade à execução normal da sentença. § 3o Se o relator julgar insuficientemente instruído o pedido e inconveniente ao interesse da justiça que se apensem os autos originais, indeferi-lo-á in limine, dando recurso para as câmaras reunidas ou para o tribunal, conforme o caso (art. 624, parágrafo único). § 4o Interposto o recurso por petição e independentemente de termo, o relator apresentará o processo em mesa para o julgamento e o relatará, sem tomar parte na discussão. Obs. Esse recurso é o agravo regimental. § 5o Se o requerimento não for indeferido in limine, abrir-se-á vista dos autos ao procurador-geral, que dará parecer no prazo de dez dias. Em seguida, examinados os autos, sucessivamente, em igual prazo, pelo relator e revisor, julgar-se-á o pedido na sessão que o presidente designar. É possível que, durante o trâmite da revisão, o réu seja provisoriamente solto, se preso estiver. No entanto, tal hipótese é mais restrita, pois a condenação está abarcada pelo trãnsito em julgado. Obs. 2. Embora não caiba dilação probatória, no rito da revisão criminal, nada impede, que antes de ajuizá-la, pode o acusado produzi-las através de ação cautelar preparatória, com pedido, inclusive, de audiência de justificação prévia. Art. 631. Quando, no curso da revisão, falecer a pessoa, cuja condenação tiver de ser revista, o presidente do tribunal nomeará curador para a defesa. Ônus da prova. Cabe ao autor da revisão comprovar as razões para a procedência do pedido. No entanto, isso não significa a aplicação do falacioso “in dubio pro societate”, pois o princípio reitor do processo penal é sempre o “in dubio pro reo”. Em verdade, o autor da revisão deve demonstrar a existência de razões para a procedência da pretensão, ou seja, é ele quem deve trazer os elementos ao processo. Mas a análise dessa prova deve seguir as mesmas regras de qualquer processo penal. Tal posicionamento, no entanto, é controvertido, encontrando resistência, em especial, em setores mais conservadores da doutrina. Julgamento. Art. 626. Julgando procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a classificação da infração, absolver o réu, modificar a pena ou anular o processo. Obs. No caso de anulação, o Tribunal exerce apenas o juízo rescindendo. Nos demais, exerce também o juízo rescisório. Art. 626, Parágrafo único. De qualquer maneira, não poderá ser agravada a pena imposta pela decisão revista. (vedação da “reformatio in pejus” também se aplica na revisão criminal). Art. 627. A absolvição implicará o restabelecimento de todos os direitos perdidos em virtude da condenação,

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devendo o tribunal, se for caso, impor a medida de segurança cabível. Possibilidade de indenização. Art. 630. O tribunal, se o interessado o requerer, poderá reconhecer o direito a uma justa indenização pelos prejuízos sofridos. § 1o Por essa indenização, que será liquidada no juízo cível, responderá a União, se a condenação tiver sido proferida pela justiça do Distrito Federal ou de Território, ou o Estado, se o tiver sido pela respectiva justiça. § 2o A indenização não será devida: a) se o erro ou a injustiça da condenação proceder de ato ou falta imputável ao próprio impetrante, como a confissão ou a ocultação de prova em seu poder; b) se a acusação houver sido meramente privada.