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1 JUIZ FEDERAL Prof. Cristiano Colombo - Classifique os fatos à luz da Teoria do Fato Jurídico. 1.1. Do Conceito de Fatos Jurídicos em Sentido Amplo (Lato Sensu) Segundo Pontes de Miranda: “Os fatos do mundo ou interessam ao direito, ou não interessam. Se interessam, entram no subconjunto do mundo que se chama mundo jurídico e se tornam fatos jurídicos, pela incidência das regras jurídicas, que assim assinalam.” 1 (Grifou-se) Exemplifica o festejado jurista: “(...) a morte de A abre a sucessão de A, dissolve a comunhão de bens entre A e B, dissolve a sociedade A & Companhia, exclui a A na lista de sócios do Jockey Club e de professor do Instituto de Biologia ou membro do corpo diplomático.” 2 Assim, a morte, que se dá no mundo dos fatos e interessa para o mundo jurídico, trata-se de “fato jurídico”, acarretando “efeitos jurídicos”, como a herança e a extinção da condição de associado ou de membro de corpo diplomático. 1.2. Da Classificação dos Fatos Jurídicos Assim, os fatos que interessam para o mundo jurídico são denominados de fatos jurídicos em sentido amplo ou lato sensu. É o que se verifica da lição de Orlando Gomes: “No sentido lato, é todo acontecimento, dependente, ou não, da vontade humana, a que o direito atribui eficácia.” 3 São fatos jurídicos, portanto, os acontecimentos que podem ocasionar efeitos jurídicos: aquisitivos, modificativos e extintivos de direito. 4 Os fatos jurídicos em sentido lato dividem-se em: fatos jurídicos em sentido estrito (stricto sensu), atos jurídicos lícitos (atos meramente lícitos; negócios jurídicos e atos-fatos jurídicos) e atos ilícitos. 1.2.1. Dos Fatos Jurídicos em Sentido Estrito (Stricto Sensu) Os fatos jurídicos em sentido estrito são aqueles que não dependem da vontade humana. Segundo Pontes de Miranda: “Fatos Jurídicos stricto sensu são os fatos que entram no mundo jurídico, sem que haja, na composição deles, o ato humano, (...) e.g., nascimento, morte, idade; adjunção, mistura, confusão, produção de frutos, aluvião, aparição de ilha.” 5 Os fatos jurídicos em sentido estrito dividem-se em: a) acontecimentos ordinários: maioridade, nascimento, morte, avulsão, álveo abandonado; b) acontecimentos extraordinários: força maior, tais como: raio que provoca danos em veículo, inundação; caso fortuito: como greve, motim. 6 1 PONTES DE MIRANDA,, 1999, Tomo I, p. 52. 2 Ibid., p. 52. 3 GOMES, 2010, p.187. 4 VENOSA, 2010, v. 1, p. 324. 5 PONTES DE MIRANDA, 1999, Tomo II, p. 225. 6 DINIZ, 2010, p. 405.

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JUIZ FEDERAL

Prof. Cristiano Colombo

- Classifique os fatos à luz da Teoria do Fato Jurídico.

1.1. Do Conceito de Fatos Jurídicos em Sentido Amplo (Lato Sensu)

Segundo Pontes de Miranda: “Os fatos do mundo ou interessam ao direito, ou não interessam. Se interessam, entram no subconjunto do mundo que se chama mundo jurídico e se tornam fatos jurídicos, pela incidência das regras jurídicas, que assim assinalam.”1 (Grifou-se) Exemplifica o festejado jurista: “(...) a morte de A abre a sucessão de A, dissolve a comunhão de bens entre A e B, dissolve a sociedade A & Companhia, exclui a A na lista de sócios do Jockey Club e de professor do Instituto de Biologia ou membro do corpo diplomático.”2 Assim, a morte, que se dá no mundo dos fatos e interessa para o mundo jurídico, trata-se de “fato jurídico”, acarretando “efeitos jurídicos”, como a herança e a extinção da condição de associado ou de membro de corpo diplomático.

1.2. Da Classificação dos Fatos Jurídicos

Assim, os fatos que interessam para o mundo jurídico são denominados de fatos jurídicos em sentido amplo ou lato sensu. É o que se verifica da lição de Orlando Gomes: “No sentido lato, é todo acontecimento, dependente, ou não, da vontade humana, a que o direito atribui eficácia.”3 São fatos jurídicos, portanto, os acontecimentos que podem ocasionar efeitos jurídicos: aquisitivos, modificativos e extintivos de direito.4

Os fatos jurídicos em sentido lato dividem-se em: fatos jurídicos em sentido estrito (stricto sensu), atos jurídicos lícitos (atos meramente lícitos; negócios jurídicos e atos-fatos jurídicos) e atos ilícitos.

1.2.1. Dos Fatos Jurídicos em Sentido Estrito (Stricto Sensu)

Os fatos jurídicos em sentido estrito são aqueles que não dependem da vontade humana. Segundo Pontes de Miranda: “Fatos Jurídicos stricto sensu são os fatos que entram no mundo jurídico, sem que haja, na composição deles, o ato humano, (...) e.g., nascimento, morte, idade; adjunção, mistura, confusão, produção de frutos, aluvião, aparição de ilha.”5 Os fatos jurídicos em sentido estrito dividem-se em: a) acontecimentos ordinários: maioridade, nascimento, morte, avulsão, álveo abandonado; b) acontecimentos extraordinários: força maior, tais como: raio que provoca danos em veículo, inundação; caso fortuito: como greve, motim.6

1 PONTES DE MIRANDA,, 1999, Tomo I, p. 52.

2 Ibid., p. 52.

3 GOMES, 2010, p.187.

4 VENOSA, 2010, v. 1, p. 324.

5 PONTES DE MIRANDA, 1999, Tomo II, p. 225.

6 DINIZ, 2010, p. 405.

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1.2.2. Dos Atos Jurídicos Lícitos

Os fatos jurídicos lato sensu que são voluntários denominam-se “atos jurídicos”7. Os atos jurídicos lícitos dividem-se em: atos meramente lícitos, negócios jurídicos e ato-fato jurídico.

1.2.2.1. Dos Atos Meramente Lícitos

Os atos meramente lícitos são aqueles que ocorrem por simples declarações de vontade que produzem efeitos já estabelecidos na lei, como é o caso da fixação do domicílio e do reconhecimento de paternidade.8 Importa destacar que, por exemplo, uma vez reconhecida a paternidade, não pode o pai limitar os efeitos de tal ato lícito, não há um “querer especial” quanto a determinados efeitos, eis que decorrem da lei, como o dever de alimentos, de proteção do menor, entre outros.

1.2.2.2. Dos Negócios Jurídicos

Os negócios jurídicos são aqueles em que os efeitos jurídicos são ajustados pela vontade das partes. É o que se depreende da lição de Orlando Gomes: “Negócio jurídico é toda a declaração de vontade destinada à produção de efeitos jurídicos correspondentes ao intento prático do declarante, se reconhecido e garantido a lei.”9 Sílvio de Salvo Venosa assim refere: “Quando existe por parte da pessoa a intenção específica de gerar efeitos jurídicos ao adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos, estamos diante de um negócio jurídico.”10 Os negócios jurídicos podem ser unilaterais (testamento), como bilaterais (compra e venda, locação).

1.2.2.3. Do Ato-Fato Jurídico

O ato-fato jurídico decorre da vontade humana, no entanto, é irrelevante para o direito se a pessoa teve ou não a intenção de praticá-lo.11 É o clássico exemplo da criança de nove anos que adquire balas de goma em um bar, realizando típico contrato de compra e venda. A princípio, analisando com o rigor da lei, o contrato é nulo de pleno direito, todavia, o direito considera irrelevante para este caso a intenção de praticá-lo. É o que refere Sílvio de Salvo Venosa: “Nesse sentido, costuma chamar-se à exemplificação os atos praticados por uma criança, na compra e venda de pequenos confeitos. Não se nega, porém, que há um sentido de negócio jurídico do infante que compra confeitos em um botequim.”12 Este é o ato-

7 AMARAL, 2003, p. 344.

8 Ibid., p. 344.

9 GOMES, 2010, p. 213.

10 VENOSA, 2010, v. 1, p. 325.

11 VENOSA, 2010, v. 1, p. 324-325.

12 Ibid., p. 325.

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fato jurídico. Segundo Pontes de Miranda: “Os atos-fatos jurídicos são os fatos jurídicos que escapam às classes dos negócios jurídicos, dos atos jurídicos stricto sensu, dos atos ilícitos, inclusive, atos de infração culposa das obrigações, da posição do réu e de excetuado (ilicitude infringente contratual), das caducidades por culpa e dos fatos jurídicos stricto sensu. Abrangem os chamados atos reais, a responsabilidade sem culpa, seja contratual seja extracontratual e as caducidades sem culpa (exceto o perdão).” 13

1.2.3. Dos Atos Ilícitos

Conforme leciona Arnaldo Rizzardo: “O ato ilícito, pois, é toda ação ou omissão que não se mantém dentro da ordem jurídica, ou que o ordenamento condena e aplica sanções.”14 Importa destacar que o Código Civil Brasileiro traz em dois dispositivos legais o conceito de ato ilícito. O primeiro, na linha da teoria clássica: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.” E, de acordo com a vedação do Abuso do Direito, a saber: “Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.”

- Em matéria de representação, é possível celebrar negócio consigo mesmo?

1.3. Da Representação

Segundo Arnaldo Rizzardo: “A representação é a manifestação expressa de vontade do participante do negócio jurídico por uma pessoa distinta, a qual se faz presente, atua, decide e exterioriza a vontade daquele.”15 Para Nestor Duarte: “Há representação quando uma pessoa atua juridicamente em nome de outra.”16

1.3.1. Da Representação Legal e da Representação Convencional

A representação é poder concedido pela lei ou pelo interessado. É o que se depreende do artigo 115 do Código Civil Brasileiro: “Art. 115. Os poderes de representação conferem-se por lei ou pelo interessado.”

A representação é legal quando decorrente diretamente de dispositivo de lei, que pode ser exemplificado: a) pelo poder de representação dos pais

13 PONTES DE MIRANDA, 2000, Tomo II, p. 421. 14 RIZZARDO, 2007, p. 560.

15 RIZZARDO, 2007, p. 432.

16 DUARTE, 2010, p. 104.

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em relação aos seus filhos, nos termos do que preceitua o artigo 1.690 do Código Civil Brasileiro17, quando se trata do poder familiar; b) no instituto da tutela, conforme o artigo 1.747 do Código Civil Brasileiro18; c) no instituto da curatela, a teor do artigo 1.774 do Código Civil Brasileiro, quando determina que sejam aplicadas subsidiariamente as regras da tutela.19

A representação é convencional ou voluntária20 quando decorrente de manifestação de vontade (ato volitivo), que é o caso do contrato típico de mandato. É o que dispõe o artigo 653 do Código Civil Brasileiro: “Art. 653. Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses. A procuração é o instrumento do mandato.” (Grifou-se). Como exemplos, têm-se: a) o mandato judicial21, exercido pelo advogado-outorgado; b) aquele que confere uma procuração pública para terceiro representá-lo em compra e venda de imóvel acima de trinta salários mínimos; c) o mandato de um condômino a outro para representá-lo em assembleia condominial.

1.4. Dos Efeitos da Manifestação nos Limites de seus Poderes

Dispõe o artigo 116 do Código Civil Brasileiro que: “Art. 116. A manifestação de vontade pelo representante, nos limites de seus poderes, produz efeitos em relação ao representado.” É o que leciona Maria Helena Diniz: “(...) uma vez realizado o negócio pelo representante, os direitos serão adquiridos pelo representado, incorporando-se em seu patrimônio; igualmente os deveres contraídos em nome do representado devem ser por ele cumpridos, e por eles responde o seu acervo patrimonial.”22 Assim, no contrato de mandato, os poderes são classificados em “termos gerais” ou “com poderes especiais e expressos”.23 Cumpre destacar que os atos praticados por quem não tenha mandato, ou o tenha sem poderes suficientes, são ineficazes em relação ao representado, salvo se este o ratificar.24

17 Código Civil Brasileiro, artigo 1.690: “Art. 1.690. Compete aos pais, e na falta de um deles ao outro, com exclusividade,

representar os filhos menores de dezesseis anos, bem como assisti-los até completarem a maioridade ou serem emancipados.” 18 Código Civil Brasileiro, artigo 1.747: “Art. 1.747: Compete mais ao tutor: I - representar o menor, até os dezesseis anos, nos

atos da vida civil, e assisti-lo, após essa idade, nos atos em que for parte;” 19 Código Civil Brasileiro, artigo 1.774: “Art. 1.774. Aplicam-se à curatela as disposições concernentes à tutela, com as

modificações dos artigos seguintes.” 20 PEREIRA, 2007, v. 1, p. 618.

21 Código Civil Brasileiro, artigo 692: “Art. 692. O mandato judicial fica subordinado às normas que lhe dizem respeito,

constantes da legislação processual, e, supletivamente, às estabelecidas neste Código.” 22 DINIZ, 2010, p. 461.

23 Código Civil Brasileiro, artigo 661: “Art. 661. O mandato em termos gerais só confere poderes de administração. § 1o

Para alienar, hipotecar, transigir, ou praticar outros quaisquer atos que exorbitem da administração ordinária, depende a procuração de poderes especiais e expressos. § 2

o O poder de transigir não importa o de firmar compromisso.” (Grifou-se)

24 Código Civil Brasileiro, artigo 662: “Art. 662. Os atos praticados por quem não tenha mandato, ou o tenha sem poderes

suficientes, são ineficazes em relação àquele em cujo nome foram praticados, salvo se este os ratificar.”

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1.4.1. Da Anulabilidade da Autocontratação

Em regra, é anulável o negócio jurídico que o representante celebre consigo mesmo, denominado como “autocontrato”, salvo se autorizar o representado. Suponha-se a hipótese do sujeito A, na qualidade de representante, ter recebido poderes para locar imóvel do sujeito B, ora representado. Tendo o próprio representante vindo a se interessar na locação do imóvel, o sujeito A firma o negócio na condição de locatário e, também, simultaneamente, como locador, representando o sujeito B, acabando por negociar consigo mesmo. Este negócio, em não havendo autorização expressa do representado, é anulável.25 Importa destacar que o parágrafo único do artigo 117 adverte, ainda, para evitar fraude à lei: “Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido subestabelecidos.” (Grifou-se)

1.4.2. Da Procuração em Causa Própria

Importa destacar que, conforme o artigo 685 do Código Civil Brasileiro, é possível juridicamente firmar instrumento de procuração com cláusula “em causa própria”, a saber: “Art. 685. Conferido o mandato com a cláusula ‘em causa própria’, a sua revogação não terá eficácia, nem se extinguirá pela morte de qualquer das partes, ficando o mandatário dispensado de prestar contas, e podendo transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto do mandato, obedecidas as formalidades legais.”

Exemplifica Francisco Amaral: “É também irrevogável a procuração em causa própria (in rem propriam, in rem suam), espécie em que se outorgam poderes ao procurador para administrar certo negócio, como coisa sua, no seu próprio interesse, como, por exemplo, na procuração ao credor para vender um bem do representado, e pagar-se com o preço da venda.”26

Conforme acórdão do Superior Tribunal de Justiça, Recurso Especial sob o n. 303707/MG, da relatoria da Ministra Nancy Andrighi, restou enfrentada a matéria:

Ação anulatória de escritura pública de compra e venda. Alienação de imóvel de fundação. Retorno de imóvel antes doado para o patrimônio do originário doador por procuração in rem suam e posterior alienação a terceiro. Impossibilidade. Ausência de autorização judicial.

- A procuração in rem suam não encerra conteúdo de mandato, não mantendo apenas a aparência de procuração autorizativa de representação. Caracteriza-se, em verdade, como negócio jurídico dispositivo, translativo de direitos que dispensa prestação de contas, tem caráter irrevogável e confere poderes gerais, no exclusivo interesse do

25 Código Civil Brasileiro, artigo 117: “Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o

representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo.” 26 AMARAL 2003, p. 464.

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outorgado. A irrevogabilidade lhe é ínsita justamente por ser seu objeto a transferência de direitos gratuita ou onerosa.

- Para a validade da alienação do patrimônio da fundação é imprescindível a autorização judicial com a participação do órgão ministerial, formalidade que se suprimida acarreta a nulidade do ato negocial, pois a tutela do Poder Público – sob a forma de participação do Estado-juiz, mediante autorização judicial –, é de ser exigida. (Grifou-se)

1.4.3. Da Obrigação do Representante de Provar seus Poderes

O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome do representado, sua condição de mandatário, bem como a extensão dos seus poderes. Assim não fazendo o representante, responde pessoalmente pelos poderes que excederem.27

1.4.4. Da Anulação do Negócio Jurídico havendo Conflito de Interesses entre Representante e Representado

Nos termos do artigo 119 do Código Civil Brasileiro: “Art. 119. É anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou.” (Grifou-se)

O termo “concluído pelo representante em conflito de interesses com o representado” significa que o negócio foi assinado pelo representante, tendo este agido contrariamente às instruções dadas pelo representado, não lhe sendo fiel, colidindo-se os interesses.28 Assim, com o objetivo de proteger o terceiro de boa-fé, o negócio será anulável quando houver conflito de interesses somente se o terceiro tinha conhecimento da existência do conflito entre representante e representado, ou deveria ser de seu conhecimento. Para esta última hipótese, será necessária a análise do caso concreto, pois, suponha tratar-se de fato notório em pequeno município interiorano, em que passa a ser notícia nos meios de comunicação locais o referido conflito. Logo, será anulável o negócio, pois se o terceiro não sabe, já deveria saber.

Aduza-se que o legislador estabeleceu prazo decadencial para o ajuizamento de ação anulatória, a saber: “Artigo 118. (...) Parágrafo único. É de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio ou da cessação da incapacidade, o prazo de decadência para pleitear-se a anulação prevista neste artigo.” (Grifou-se)

27 Código Civil Brasileiro, artigo 118: “Art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome do

representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo, responder pelos atos que a estes excederem.” 28 DUARTE, 2010, p. 106-107.

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1.4.5. Dos Requisitos e Efeitos da Representação Legal e Convencional

Conforme disposto no artigo 120 do Código Civil Brasileiro: “Art. 120. Os requisitos e os efeitos da representação legal são os estabelecidos nas normas respectivas; os da representação voluntária são os da Parte Especial deste Código.”

Assim, aplicar-se-ão os seguintes dispositivos para:

a) representação legal: poder familiar (artigos 1.630 a 1.638 do Código Civil Brasileiro); tutela (artigos 1.728 a 1.766 do Código Civil Brasileiro); curatela (artigos 1.767 a 1.783 do Código Civil Brasileiro);

b) representação voluntária (convencional), nos termos dos artigos 653 ao 692 do Código Civil Brasileiro, referente ao contrato de mandato.

- Disserte sobre o Princípio da Gravitação de Bens.

O ACESSÓRIO SEGUE O PRINCIPAL:

Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.

PERECIMENTO:

Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.

DETERIORAÇÃO:

Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.

Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos.

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RES PERIT DOMINO:

Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação.

Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes.

- Qual a diferença entre obrigações indivisíveis e obrigações solidárias?

Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.

Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico.

Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda.

Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados.

FORMA DE QUITAÇÃO:

Art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando:

I - a todos conjuntamente;

II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.

Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total.

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Art. 262. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente.

Parágrafo único. O mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação ou confusão.

Art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos.

§ 1o Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais.

§ 2o Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos.

OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS

Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda.

Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.

Da Solidariedade Ativa – Credores

Art. 267. Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro.

Art. 269. O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago.

Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível.

Art. 271. Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade.

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Art. 272. O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba.

Art. 273. A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros.

Da Solidariedade Passiva - Devedores

Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.

Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores.

Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores.

Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado.

Art. 280. Todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a ação tenha sido proposta somente contra um; mas o culpado responde aos outros pela obrigação acrescida.

Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores.

Art. 284. No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão também os exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação incumbia ao insolvente.

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Art. 285. Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar.

- Qual a diferença entre obrigações quesíveis e portáveis?

Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.

Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles.

Art. 328. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem.

Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor.

Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato.

Disserte sobre a principiologia dos direitos reais:

1. Dos Princípios dos Direitos Reais

Os princípios dos Direitos Reais são os seguintes:

a) Princípio do Absolutismo: O direito real é erga omnes, enquanto o direito de crédito é oponível somente a um sujeito passivo determinado ou determinável, em razão da relatividade;

b) Princípio da Publicidade: Para que todos possam respeitar os direitos reais, há necessidade de dotá-los de visibilidade, a fim de que sejam conhecidos por terceiros. A publicidade, nas aquisições de bens imóveis derivadas de atos entre vivos dá-se pelo registro do título no Registro Imobiliário, enquanto que, em se tratando de coisas móveis, pela tradição;

c) Princípio de Sequela: Prerrogativa de obter ou perseguir a coisa que estiver em poder de quem quer que esteja. Pode ser utilizado por um titular do direito real contra outro, por exemplo: usufrutuário em desfavor do nu-proprietário;

d) Princípio da Especialidade: O objeto do direito real é determinado, enquanto o do direito pessoal pode ser determinável;

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e) Princípio da Atualidade: O direito real exige a existência atual da coisa, enquanto o direito pessoal é compatível com a futuridade. Essa é a regra geral, que comporta exceções, tais como: incorporação e promessa de unidade autônoma a ser construída levada a registro;

f) Princípio da Exclusividade: O direito real é exclusivo, porque não podem existir dois direitos reais contraditórios sobre a mesma coisa. A exclusividade existe no condomínio, quando o comunheiro tem fração ideal sobre a coisa;

Disserte sobre os Princípios Contratuais.

REVISÃO DOS ARTIGOS SOBRE PRINCÍPIOS CONTRATUAIS:

Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.

Enunciado 21 do Conselho da Justiça Federal: a função social do contrato, prevista no artigo 421 do Novo Código Civil, constitui cláusula geral, ao impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa de crédito.

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

Conclusão: momento da assinatura. Execução: durante a relação contratual.

Boa-fé Objetiva x Boa-fé subjetiva.

O artigo trata de boa-fé objetiva, ou seja, uma conduta social, o homem médio, o standard jurídico. Comportamento dentro dos padrões sociais, com lisura, honestidade e correção.

Boa-fé subjetiva é um estado psicológico. (na teoria da posse, inclusive, para fins da usucapião ordinária).

Enunciado 24, Conselho da Justiça Federal: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no artigo 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independente de culpa.

Nos termos do que preceitua o artigo 113 do Código Civil Brasileiro, tem-se que: “Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a

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boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.” Neste sentido, o dispositivo traz normas de interpretação dos negócios jurídicos, de hermenêutica jurídica.

A boa-fé referida no dispositivo em comento é a “boa-fé objetiva”, que se diferencia da boa-fé subjetiva. A boa-fé objetiva, nos ensinamentos de Sílvio de Salvo Venosa, assim se conceitua: “O intérprete parte de um padrão de conduta comum, do homem médio, naquele caso concreto, levando em consideração os aspectos sociais envolvidos. Desse modo, a boa-fé objetiva se traduz de forma mais perceptível como uma regra de conduta, um dever de agir de acordo com os padrões sociais estabelecidos e reconhecidos.” 29 O célebre jurista Clóvis Veríssimo do Couto e Silva assim preceituou, acerca dos deveres secundários decorrentes do Princípio da boa-fé objetiva: “Consistem em indicações, atos de proteção, como o dever de afastar danos, atos de vigilância, guarda, de cooperação, de assistência.” 30

Importa destacar que a boa-fé subjetiva se difere da boa-fé objetiva, uma vez que na boa-fé subjetiva há um aspecto psicológico a ser verificado, como, nas hipóteses de possuidor de boa-fé e de má-fé, em que o possuidor de boa-fé desconhece o vício de sua posse, enquanto o possuidor de má-fé é plenamente conhecedor da violência, clandestinidade ou precariedade.

Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.

Contratos de adesão: cláusulas-bloco. A manifestação dá-se pela adesão (adesivo). Diferencia-se do contrato paritário, marcado pela existência de uma etapa de negociação de cláusulas.

O artigo 423 determina que as cláusulas duvidosas e que não estão claras deverão ser interpretadas contra quem redigiu o contrato.

29 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. Volume 2. São Paulo: Editora Atlas, 2009, 9ª edição, p. 368. 30 COUTO E SILVA, Clóvis Veríssimo do. Obrigação como Processo. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006,1ª

edição, 3ª reimpressão, p. 93.

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Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.

Pode-se exemplificar pela nulidade de cláusulas que afastem a responsabilidade civil, cláusula de foro de eleição de contrato.

Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.

O Direito Romano preocupava-se com a taxatividade dos negócios. Com o rigor formal. Consistem os contratos atípicos justamente nessa maior amplitude de ação reservada aos particulares em sua autonomia privada e liberdade contratual.

Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

O testamento é a forma negocial de operar a transmissão de todo um patrimônio. É negócio jurídico unilateral mortis causa.

O testamento pode ser revogado a qualquer tempo.

Todavia, é vedado o pacto corvina, pois gera expectativa de óbito para os herdeiros, como se ficassem como corvos aguardando este momento.

ESTUDO DIRIGIDO – MATERIAL COMPLEMENTAR

Fonte: DA SILVA, Luis Renato Ferreira. “Revisão dos Contratos: Do Código Civil ao Código do Consumidor.” Rio de Janeiro: Forense, 1999. Dissertação de Mestrado junto ao Programa de Pós Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Principais pontos levantados em estudo sobre o texto acima identificado:

1) EVOLUÇÃO DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS

As relações obrigacionais atingem as atividades mais essenciais, cotidianas, criam-se através da sociedade de consumo.

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A noção clássica romana transforma-se, encontra-se enriquecida por deveres e obrigações recíprocos. O novo enfoque permite ver a obrigação como um processo (Clóvis Veríssimo do Couto e Silva) (finalidade a que se destina, ser adimplida).

Não existem obrigações exclusivas ao devedor, mas também ao credor. Bilateralidade das obrigações. Decorre do princípio da boa-fé.

2) PRIMADO DA MANUTENÇÃO DOS CONTRATOS

Clássica Solução: inadimplemento – resolução; mácula congênita à formação do contrato, como na lesão – rescisão.

Influências históricas: duas grandes guerras, queda do liberalismo, fazem surgir novos entendimentos.

Regras publicísticas penetram nas relações de direito privado.

O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) serve como paradigma, em face destas mudanças, buscando a manutenção.

3) OBJETO DA DISSERTAÇÃO

Em face das modificações no tratamento das relações obrigacionais, examinam-se as causas que podem oportunizar ao juiz a revisão dos contratos, com a manutenção dos contratos, evitando o desfazimento.

Tradicionalmente, a revisão se dá com a teoria da imprevisão. Existem outras causas.

“Basta que se use na leitura do Código Civil, as lentes que são usadas para ler o Código de Defesa do Consumidor.”

4) PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE

Apanhado Histórico

A autonomia da vontade remonta os fins do século XIX, início do século XX.

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Os romanos tinham a noção de que a palavra dada deveria ser mantida – formalismo.

Com a moral cristã, fala-se em santidade dos contratos, que, com sua violação, importava em pecado. O pecado do descumprimento dava obrigatoriedade aos contratos.

Grotius traz o voluntarismo jurídico, laicização do direito, antropocentrismo no direito. O individualismo preside as relações jurídicas.

No liberalismo econômico, o sistema de trocas torna-se a fonte do poder econômico.

O direito internacional privado tem sido apontado como nascedouro da expressão autonomia privada – livre determinação.

A partir desta internacionalização, os tratadistas franceses aplicam no direito interno.

Na atualidade, o papel da vontade é minorado, desenvolvido em termos menos individualistas que a doutrina liberal.

“O intervencionismo atual tem em mira a formação de um estado de bem-estar social, preservando-se a individualidade, sem esquecer de que só no convívio social o homem adquire seu pleno desenvolvimento.”

Qual a diferença entre a estrutura tradicional e a moderna da autonomia da vontade?

Estrutura Tradicional da Autonomia da Vontade:

Teoria da Vontade

A versão puramente voluntarista encontra abrigo na teoria sobre a interpretação dos negócios, onde se valoriza a vontade que as partes tinham ao elaborar o pacto. Essencial é vontade interna (Savigny). A declaração assumia caráter acidental.

Teoria da Declaração

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Os oposicionistas alegavam de que nada valeria a vontade interna, sem a sua exteriorização. A declaração era a vontade entre a vontade e as obrigações novas.

Ambas baseavam-se no dogma da vontade.

A crítica feita pelo autor é que: “as duas teses esquecem o vínculo dinâmico do vínculo obrigacional (seu enfoque como processo) e cristalizam a vontade no momento da formação ou da declaração, sem cuidar da sua evolução.

Teoria Preceptiva (preceitos) de Emílio Betti

Emílio Betti, na Teoria Geral do Negócio Jurídico, afasta-se do subjetivismo e torna a autonomia da vontade algo objetivo. Ganha a autonomia da vontade caráter preceptivo, ou seja, é fonte criadora de relações jurídicas. Há a flexibilização do direito subjetivo e do dogma da vontade para dar guarida à boa-fé objetiva, justiça contratual.

Reflexos no Ordenamento Jurídico

Constitucional: Princípio da Liberdade Econômica (1º e 170)

Direito Privado: a) Liberdade Contratual; b) efeito vinculante dos contratos, c) interpretação e execução dos contratos, d) limites da autonomia.

a) Liberdade Contratual: contratar ou não, com quem contratar e cláusulas da contratação.

As cláusulas da contratação é o conteúdo contratual, onde se dá o abuso do poder econômico.

b) Efeito vinculante dos contratos: pacta sunt servanda - a ideia de cumprimento – surge com a santidade. Aperfeiçoado o contrato, que decorre da liberdade das partes – não pode mais contra ele, exceto vício de vontade. Imobiliza o querer. Escravizadas as partes.

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Dificuldades: atrelamento das partes e do julgador. Os atos são absolutamente vinculantes.

c) Interpretação e Execução dos Contratos:

“Nas declarações de vontade se atenderá mais à sua intenção que o sentido literal da linguagem.”

“Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.”

d) Limites à Autonomia:

Na teoria tradicional, somente o vício de consentimento poderia invalidar a proposta aceita, bem como violação aos bons costumes e à ordem publica.

A partir deste entendimento, no Brasil, afastava-se a lesão enorme, não se podendo conceber que desproporção afastasse o que havia sido acordado. Não se aceitava, ainda, a quebra da base do negócio jurídico.

Estrutura Moderna

As crises sociais, mudança no desenvolvimento econômico.

Modificações Genéricas na Formação

Constituição de Weimar, bem como a Mexicana, ambiente de conquistas sociais. Atos administrativos passam a ser formativos de direito privado. Estreita-se o campo da autonomia da vontade. Não se acredita mais na isonomia das partes contratantes, tentando mitigar as diferenças.

Obriga-se a renovar contratos (Lei do Inquilinato).

Minoração da Vontade

Preços Mínimos e Máximos.

Atos existenciais – sociedade moderna – progressiva padronização, práticas reiteradas, “são na verdade mito mais atos-fatos”, vontade desconsiderada. (Luís Renato Ferreira da Silva”,

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Autonomia vista como poder-função

Não se volta somente aos fins individuais do titular, mas engloba fins gerais, finalidades coletivas.

Funcionalização Constitucional da Autonomia

Autonomia como valor social.

“Portanto, a moderna noção de autonomia privada se insere dentro de um quadro onde os fins condicionam os meios (...) voltada para uma sociedade massificada onde o indivíduo perde como tal mas ganha como membro da comunidade.”

Reflexos no ordenamento:

Funcionalização da liberdade contratual

Incidência imediata das normas constitucionais que visam a garantir a igualdade dos cidadãos e a livre iniciativa como valor social. (ex.: transportador, artigo 739. “O transportador não pode recusar passageiros, salvo os casos previstos nos regulamentos, ou se as condições de higiene ou de saúde do interessado o justificarem.”)

Incremento dos motivos para requerer revisão

Campo maior ao julgador para revisão. Antes, efeito vinculante dos contratos acabava por dificultar muito.

Atual dogmática está permeada pelo princípio da boa-fé. “criar expectativas que são legítimas no desenrolar das relações jurídicas.” (deveres secundários).

Para adequar às expectativas legítimas aceitam-se: teoria da imprevisão, cláusulas abusivas, lesão enorme, quebra da base objetiva do contrato.

Nova Função da Interpretação na Jurisprudência

Direcionamento da interpretação para o reequilíbrio das prestações.

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Contratos de execução diferida ou continuada.

Modificação da rigidez do pacta sunt servanda.

Utilidade e Justiça como limites impostos à autonomia da vontade

Realidade da Utilidade e da Justiça.

Justiça Comutatividade e satisfação da necessidade dos contratantes. (boa-fé)

Teoria da Quebra da Base Objetiva do Contrato

Professora Cláudia Lima Marques leciona: “A norma do artigo 6º, do CDC avança ao não exigir que o fato superveniente seja imprevisível ou irresistível, apenas exige a quebra da base objetiva do negócio, a quebra do seu equilíbrio intrínseco, a destruição da relação de equivalência entre prestações. Ao desaparecimento do fim essencial do contrato. Em outras palavras, o elemento autorizador da ação modificadora do Judiciário é o resultado objetivo da engenharia contratual que agora apresenta mencionada onerosidade excessiva para o consumidor, resultado de simples fato superveniente, fato que não necessita ser extraordinário, irresistível, fato que poderia ser previsto e não foi”.

DOS PRINCÍPIOS CONTRATUAIS

Fonte: DA SILVA, Luis Renato Ferreira. “A função social do contrato no novo Código Civil e sua conexão com a solidariedade social.” (In: Sarlet, Ingo Wolfgang. O novo Código Civil e a Constituição. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006)

Princípio da Função Social

Principais pontos levantados em estudo sobre o texto acima identificado:

Os aspectos preliminares:

5) A ideia de constitucionalização do direito civil se apresente sob dois enfoques: formal e material.

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Formalmente: mesmo dispositivos havidos na Constituição, repetem-se nos Código Civil. (Usucapião -183 e 191), direito de família (226) e dano moral (artigo 5º, V e X).

Materialmente: O autor cita Gustavo Tepedino, tendo referido, em seus “Temas de Direito Civil”, que: “unidade do sistema, deslocando a tábua axiológica da Constituição da República o ponto de referência antes localizado no Código Civil”.

6) Três são os princípios basilares: os princípios da liberdade de contratual, função social do contrato e da boa-fé. A ideia foi estabelecer cláusulas gerais, inserindo através delas, o conteúdo constitucional no corpo do direito civil codificado.

Deve-se ler o Código com as lentes da Constituição, artigo 3º, I, dispõe como objetivo, construir uma sociedade solidária.

7) A doutrina solidarista:

Artigo 3º, I, da Constituição da República Federativa do Brasil.

Refere “Émile Durkheim”- refere que a sociedade sofisticada precisa de colaboração entre os indivíduos – a busca da solidariedade depende de um sistema nervoso central que será desempenhado pelo direito.

8) Solidariedade nas relações contratuais:

Objetivo – solidariedade; (artigo 3º, I da CRFB)

Na visão oitocentista, direito civil – relações próprias do indivíduo, com vontade soberana das partes para decidir o conteúdo contratual, modificar o alcance das manifestações volitivas.

Atualmente, há limitações.

“Em uma sociedade economicamente massificada, o entrelaçamento dos contratos mantidos entre os vários elos da cadeia de circulação de riqueza faz com que cada contrato individual exerça uma influência e tenha importância em todos os demais contratos que possam estar

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relacionados.” (inadimplência atinge o lojista, que atinge o fornecedor da matéria-prima, por conseguinte, o crédito).

O reconhecimento da limitação de contratar pela função social concretiza o elemento solidarista. (artigo 421 do CCB)

9) Cooperação nos contratos:

A solidariedade social – traduz a ideia de cooperação

Cooperação – ideia da boa-fé. (artigo 422 do CCB)

Os contratos se inserem em uma cadeia produtiva, que reflete na vida de terceiros.

10) Funcionalização de institutos jurídicos e seu mecanismo de atuação:

A função promocional do Direito está vinculada a institutos.

Função Social se aplica: ao poder familiar, à propriedade (artigo 5º, XXII, da CRFB, inclusive, 182 e 184 da CRFB)

O artigo 421 é prova de que os contratos passaram a ser funcionalizados.

“Com isto está condicionada a manutenção da liberdade enquanto o contrato cumprir a função social.”

11) Circulação de Riquezas como função social do contrato:

Relações de trocas permitem a circulação de riquezas. Os contratos são instrumentos jurídicos de circulação e ativação da economia. Há um caráter “transcendental”. O contrato extrapola os interesses dos contratantes, atinge toda a cadeia econômica.

Assim, o contrato, que é típico ato da autonomia da vontade, toma a sua faceta pública. O contrato ao manter a circulação de riquezas cumprirá a função social.

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12) O papel da utilidade e da justiça para permitir o cumprimento da função social

Trocas: justas e úteis.

Caso não sejam, deixarão os contratos de serem cumpridos.

“Entende-se que o essencial no contrato não é a manutenção absoluta da vontade inicial, mas a conformidade com a justiça comutativa.. A comutatividade contratual determina o equilíbrio, tornando o pacto útil. A justiça protege o contrato.”

13) Função social e o efeito relativo dos contratos

Relativismo contratual: “res inter alios actos, aliis neque nocet, neque prodest”. Ou seja, somente as partes podem ser prejudicadas ou favorecidas. As cláusulas contratuais somente se dão em relação às partes.

Contudo, a partir da ideia de que transcende os interesses exclusivos dos contratantes, há uma minoração deste relativismo.

O contrato acaba sendo oponível a terceiros. Exemplo: Cláusula de Não-Concorrência.

14) Minoração dos efeitos relativos: distribuidores, seguradora e aquisição de imóvel hipotecado

Distribuidora de petróleo:

Todos os produtos deviam ser comprados da mesma bandeira (regra governamental), na mesma distribuidora-originária-fornecedora.

Não mais sendo aplicada esta regra, passaram os donos dos postos a comprar outros produtos que não a gasolina de outras distribuidoras. As “outras distribuidoras” passaram a ser processadas pela distribuidora-originária-fornecedora , que alegava não matinha relação contratual com a primitiva fornecedora. Pelo princípio da função social e solidariedade estendeu-se a responsabilidade às “outras distribuidoras”.

Seguradoras:

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Contrato de Seguro:

A seguradora não tem relação direta com a vítima do acidente.

Havia casos em que o segurado não tinha patrimônio.

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça atribuiu legitimidade da vítima cobrar diretamente da seguradora.

Imóvel hipotecado:

O construtor adquire o terreno e faz um mútuo para financiar a obra, dando o terreno como garantia hipotecária ao agente financeiro.

O adquirente do imóvel (morador) paga todo o apartamento ao construtor. O construtor não paga o agente financeiro.

Contudo, o morador não tem excutido o apartamento, uma vez que a quitação diante do construtor se estende a terceiros, ou seja, perante o agente financeiro.

15) Revisão Contratual

Quando se perde a comutatividade do contrato, mister uma revisão.

A desproporção gera o inadimplemento.

Pacta sunt servanda x revisão.

16) Lesão

A lesão tem como objetivo recompor a perda do sinalagma genético. (desproporção inicial). (157 do CCB)

Nasce da necessidade ou da inexperiência.

Filia-se à lesão subjetiva.

17) Onerosidade Excessiva

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Teoria da Imprevisão. 478, 479 do CCB.

Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.

Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato.

18) Função Social dos Contratos e Solidariedade

“Essa leitura do artigo 421 intenta, como dito desde o início, fazer uma vinculação com a ideia constitucional da solidariedade a ser organizada no mundo jurídico privado pelo Código Civil, buscando fomentar a cooperação das partes contratantes a fim de propiciar a circulação útil e justa das riquezas.”

INFORMATIVOS E SÚMULAS RELEVANTES:

Informativo de 6 de março de 2013.

DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. APLICABILIDADE DA TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE PARA A APURAÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL OCASIONADA POR ERRO MÉDICO.

A teoria da perda de uma chance pode ser utilizada como critério para a apuração de responsabilidade civil ocasionada por erro médico na hipótese em que o erro tenha reduzido possibilidades concretas e reais de cura de paciente que venha a falecer em razão da doença tratada de maneira inadequada pelo médico. De início, pode-se argumentar ser

impossível a aplicação da teoria da perda de uma chance na seara médica,

tendo em vista a suposta ausência de nexo causal entre a conduta (o erro do

médico) e o dano (lesão gerada pela perda da vida), uma vez que o prejuízo

causado pelo óbito da paciente teve como causa direta e imediata a própria

doença, e não o erro médico. Assim, alega-se que a referida teoria estaria

em confronto claro com a regra insculpida no art. 403 do CC, que veda a

indenização de danos indiretamente gerados pela conduta do réu. Deve-se

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notar, contudo, que a responsabilidade civil pela perda da chance não atua,

nem mesmo na seara médica, no campo da mitigação do nexo causal. A

perda da chance, em verdade, consubstancia uma modalidade autônoma de

indenização, passível de ser invocada nas hipóteses em que não se puder

apurar a responsabilidade direta do agente pelo dano final. Nessas

situações, o agente não responde pelo resultado para o qual sua conduta

pode ter contribuído, mas apenas pela chance de que ele privou a paciente.

A chance em si – desde que seja concreta, real, com alto grau de

probabilidade de obter um benefício ou de evitar um prejuízo – é

considerada um bem autônomo e perfeitamente reparável. De tal modo, é

direto o nexo causal entre a conduta (o erro médico) e o dano (lesão gerada

pela perda de bem jurídico autônomo: a chance). Inexistindo, portanto,

afronta à regra inserida no art. 403 do CC, mostra-se aplicável a teoria da

perda de uma chance aos casos em que o erro médico tenha reduzido

chances concretas e reais que poderiam ter sido postas à disposição da

paciente. REsp 1.254.141-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012. DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. FIXAÇÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO PELA PERDA DE UMA CHANCE.

Não é possível a fixação da indenização pela perda de uma chance no valor integral correspondente ao dano final experimentado pela vítima, mesmo na hipótese em que a teoria da perda de uma chance tenha sido utilizada como critério para a apuração de responsabilidade civil ocasionada por erro médico. Isso porque o valor da indenização pela

perda de uma chance somente poderá representar uma proporção do dano

final experimentado pela vítima. REsp 1.254.141-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012.

Decisão acerca do Nome:

DIREITO CIVIL. REGISTROS PÚBLICOS. POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO DE PATRONÍMICO PATERNO NO FINAL DO NOME DO FILHO, AINDA QUE EM ORDEM DIVERSA DAQUELA CONSTANTE DO NOME DO PAI.

Admite-se, excepcional e motivadamente, após apreciação judicial, a retificação de registro civil para inclusão de patronímico paterno no final do nome do filho, ainda que em ordem diversa daquela constante do nome do pai, se comprovado que tal retificação se faz necessária para corresponder, adequadamente, à forma como aquele e sua família são conhecidos no meio social em que vivem. A regra

geral, no direito brasileiro, é a da imutabilidade ou definitividade do nome civil, mas

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são admitidas exceções, como a prevista no art. 57 da Lei n. 6.015/1973, hipótese na

qual se enquadra o caso, que exige motivação, audiência do Ministério Público e

prolação de sentença judicial. A lei, todavia, não faz nenhuma exigência no que tange à

observância de determinada ordem quanto aos apelidos de família, seja no momento do

registro do nome do indivíduo ou por ocasião da sua posterior retificação. Ademais,

inexiste proibição legal de que a ordem do sobrenome dos filhos seja distinta daquela

presente no sobrenome dos pais. REsp 1.323.677-MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/2/2013.

DIREITO CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ASSALTO DE CORRENTISTA EM VIA PÚBLICA APÓS O SAQUE.

A instituição financeira não pode ser responsabilizada por assalto sofrido por sua correntista em via pública, isto é, fora das dependências de sua agência bancária, após a retirada, na agência, de valores em espécie, sem que tenha havido qualquer falha determinante para a ocorrência do sinistro no sistema de segurança da instituição. O STJ tem reconhecido amplamente a responsabilidade objetiva dos

bancos pelos assaltos ocorridos no interior de suas agências, em razão do risco inerente

à atividade bancária. Além disso, já se reconheceu, também, a responsabilidade da

instituição financeira por assalto acontecido nas dependências de estacionamento

oferecido aos seus clientes exatamente com o escopo de mais segurança. Não há,

contudo, como responsabilizar a instituição financeira na hipótese em que o assalto

tenha ocorrido fora das dependências da agência bancária, em via pública, sem que

tenha havido qualquer falha na segurança interna da agência bancária que propiciasse a

atuação dos criminosos após a efetivação do saque, tendo em vista a inexistência de

vício na prestação de serviços por parte da instituição financeira. Além do mais, se o

ilícito ocorre em via pública, é do Estado, e não da instituição financeira, o dever de

garantir a segurança dos cidadãos e de evitar a atuação dos criminosos. Precedente

citado: REsp 402.870-SP, DJ 14/2/2005. REsp 1.284.962-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/12/2012.

DIREITO CIVIL. SEGURO DE VIDA. OMISSÃO DE DOENÇA PREEXISTENTE.

A doença preexistente não informada no momento da contratação do seguro de vida não exime a seguradora de honrar sua obrigação se o óbito decorrer de causa diversa da doença omitida. Ainda que o segurado omita doença existente antes da assinatura do

contrato e mesmo que tal doença tenha contribuído indiretamente para a morte, enseja

enriquecimento ilícito permitir que a seguradora celebre o contrato sem a cautela de exigir

exame médico, receba os pagamentos mensais e, após a ocorrência de sinistro sem relação

direta com o mal preexistente, negue a cobertura. REsp 765.471-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgamento em 6/12/2012. DIREITO CIVIL. RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE BIOLÓGICA REQUERIDA PELO FILHO. ADOÇÃO À BRASILEIRA.

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É possível o reconhecimento da paternidade biológica e a anulação do registro de nascimento na hipótese em que pleiteados pelo filho adotado conforme prática conhecida como “adoção à brasileira”. A paternidade biológica traz em si

responsabilidades que lhe são intrínsecas e que, somente em situações excepcionais,

previstas em lei, podem ser afastadas. O direito da pessoa ao reconhecimento de sua

ancestralidade e origem genética insere-se nos atributos da própria personalidade. A prática

conhecida como “adoção à brasileira”, ao contrário da adoção legal, não tem a aptidão de

romper os vínculos civis entre o filho e os pais biológicos, que devem ser restabelecidos

sempre que o filho manifestar o seu desejo de desfazer o liame jurídico advindo do registro

ilegalmente levado a efeito, restaurando-se, por conseguinte, todos os consectários legais

da paternidade biológica, como os registrais, os patrimoniais e os hereditários. Dessa

forma, a filiação socioafetiva desenvolvida com os pais registrais não afasta os direitos do

filho resultantes da filiação biológica, não podendo, nesse sentido, haver equiparação entre

a “adoção à brasileira” e a adoção regular. Ademais, embora a “adoção à brasileira”, muitas

vezes, não denote torpeza de quem a pratica, pode ela ser instrumental de diversos ilícitos,

como os relacionados ao tráfico internacional de crianças, além de poder não refletir o

melhor interesse do menor. Precedente citado: REsp 833.712-RS, DJ 4/6/2007. REsp 1.167.993-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2012.

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Súmula 479

As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.

Súmula 388

A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.

Súmula 387

É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.

Súmula 370

Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.