direito civil (obrigações) - transmissão das obrigações

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UNIDADE IV – TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES – CESSÕES 1. Noção São as possibilidades de substituições subjetivas das obrigações pelas vontades das partes, sem alteração do objeto da obrigação. A denominação cessão decorre da alienação de bens imateriais no direito. A obrigação poderá transferir-se, ativa (crédito) ou passivamente (débito), segundo as normas estabelecidas na legislação vigente. A transferência de créditos, a assunção de dividas, enfim, a circulação de títulos em geral, aponta para a importância do tema, que está intimamente ligado às relações negociais. 2. Cessão de Crédito Crédito é um valor ativo no patrimônio do credor. Cessão de Crédito é um negócio jurídico pelo qual o credor transmite total ou parcialmente a um terceiro seu crédito, mantendo-se a relação obrigacional primitiva com o mesmo devedor. A cessão de crédito consiste em um negócio jurídico por meio do qual o credor (cedente) transmite total ou parcialmente o seu crédito a um terceiro (cessionário), mantendo-se a relação obrigacional primitiva com o mesmo devedor (cedido). É desnecessário o consentimento prévio do devedor para que ocorra a cessão, ou seja, o sujeito passivo não tem o direito de impedir a transmissão do crédito, muito embora a sua notificação seja exigida para que o negócio produza os efeitos desejados. Exemplo de cessão de crédito, de natureza onerosa: A emprestou 5mil reais a B, pelo prazo de 03 anos, tendo a dívida sido afiançada por C. Passado 01 ano, o mutuante tem inesperadamente necessidade de dinheiro. Como não pode ainda exigir a restituição da quantia mutuada, vende o

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UNIDADE IV – TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES – CESSÕES

1. NoçãoSão as possibilidades de substituições subjetivas das obrigações pelas vontades das partes, sem alteração do objeto da obrigação. A denominação cessão decorre da alienação de bens imateriais no direito.

A obrigação poderá transferir-se, ativa (crédito) ou passivamente (débito), segundo as normas estabelecidas na legislação vigente.A transferência de créditos, a assunção de dividas, enfim, a circulação de títulos em geral, aponta para a importância do tema, que está intimamente ligado às relações negociais.

2. Cessão de CréditoCrédito é um valor ativo no patrimônio do credor. Cessão de Crédito é um negócio jurídico pelo qual o credor transmite total ou parcialmente a um terceiro seu crédito, mantendo-se a relação obrigacional primitiva com o mesmo devedor.

A cessão de crédito consiste em um negócio jurídico por meio do qual o credor (cedente) transmite total ou parcialmente o seu crédito a um terceiro (cessionário), mantendo-se a relação obrigacional primitiva com o mesmo devedor (cedido).É desnecessário o consentimento prévio do devedor para que ocorra a cessão, ou seja, o sujeito passivo não tem o direito de impedir a transmissão do crédito, muito embora a sua notificação seja exigida para que o negócio produza os efeitos desejados.Exemplo de cessão de crédito, de natureza onerosa: A emprestou 5mil reais a B, pelo prazo de 03 anos, tendo a dívida sido afiançada por C. Passado 01 ano, o mutuante tem inesperadamente necessidade de dinheiro. Como não pode ainda exigir a restituição da quantia mutuada, vende o crédito por 4200reais a D, que não hesita em o adquirir pela confiança que deposita na solvabilidade do fiador.Conclui-se que cessão de crédito não poderá ocorrer em três hipóteses: a) se a natureza da obrigação for incompatível com a cessão; b) se houver vedação legal; c) se houver cláusula contratual proibitiva.2.1. Classificação quanto à origema) Legal: é aquela que decorre de lei, tendo origem na norma jurídica (exemplo: multas, juros e garantias).b) Judicial: é aquela oriunda de decisão judicial (exemplo: atribuição judicial de determinado crédito ao herdeiro do falecido).c) Convencional: decorre do acordo firmado entre cedente e cessionário (exemplo: factoring).2.2. Sujeitosa) Cedente: é aquele que aliena o direito.b) Cessionário: é aquele que adquire o direito.c) Cedido: é aquele que a quem incumbe cumprir a obrigação.

Art. 2861 – Permissão de cessão, exceções e cláusula proibitiva da cessão.Regra – desnecessária a autorização prévia do cedido, mas não sua notificação; cláusula proibitiva – é importante estabelecer o conhecimento da proibição por parte do cessionário, o qual será elemento descaracterizador da boa-fé.Art. 2872 – Acessórios.Regra – o cedido deve ser claramente notificado da cisão (multiplicidade de credores).Art. 2883 – Eficácia da transmissão de crédito perante terceiros.Regra – deverá ser realizado o registro do ato para que este tenha efeitos erga omnes.Art. 2894 – Registro do crédito hipotecário.Art. 2905 – importância da autorização e notificação do cedido.Regra – no caso de falta de notificação ao cedido o pagamento deverá ser realizado ao credor primitivo.Art. 2916 – multiplicidade de cessões.Art. 2927 – pagamento ao credor primitivo e com múltiplas cessões.Regra: o devedor que paga ao credor antes do conhecimento da cessão fica desobrigado; no caso de múltiplas cessões o credor deve pagar o cessionário que lhe apresentar o título da cessão; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da cessão.Art. 2938 – exercício dos atos conservatórios do direito cedido.Regra – eficácia do ato fica dependente de notificação.Art. 2949 – oposição de exceções pelo cedido.Art. 29510 – responsabilidade do cessionário pela existência do crédito (dívida) na cessão onerosa.Regra – existindo má-fé, o cedente fica responsabilizado, seja a cessão onerosa ou gratuita.Art. 29611 – cessão pro soluto (regra geral).

1 Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a contravenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé se não constar do instrumento da obrigação.2 Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios.3 Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do §1º do artigo 654.4 Art. 289. O cessionário de crédito hipotecário tem o direito de fazer averbar a cessão no registro de imóvel.5 Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita.6 Art. 291. Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se completar com tradição do título do crédito cedido.7 Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação.8 Art. 293. Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor, pode o cessionário exercer os atos conservatórios do direito cedido.9 Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente.10 Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé.11 Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor.

Pro soluto – é aquela que confere quitação plena e imediata do débito do cedente para com o cessionário, exonerando o cedente; não há responsabilidade do cedente pela solvência do cedido.Art. 29712 – cessão pro solvendo (exceção).Pro solvendo – é aquela em que a transferência do crédito é feita com intuito de extinguir a obrigação apenas quando o crédito for efetivamente cobrado; situação em que o cedente responde perante o cessionário pela solvência do cedido.Art. 29813 – penhorabilidade da cessão.

3. Cessão de DébitoDébito é um valor passivo no patrimônio do devedor.A cessão de débito ou assunção de dívida consiste em um negócio jurídico por meio do qual o devedor, com o expresso consentimento do credor, transmite a um terceiro a sua obrigação.Para que seja reputada válida, além dos pressupostos gerais do negócio jurídico, a cessão de débito deverá observar os seguintes requisitos: a) a presença de uma relação jurídica obrigacional juridicamente válida; b) a substituição do devedor, mantendo-se a relação jurídica originária; c) a anuência expressa do credor.3.1. Sujeitosa) Cedente: antigo devedor.b) Cessionário: novo credor.c) Cedido: credor primitivo.

Art. 29914 – conceito.Art. 299, §único 15– obrigatoriedade da anuência por parte do credor.Regra – possibilidade de assunção cumulativa do débito: a) por dois novos devedores; b) pelo antigo e o novo devedor.

3.2. Classificaçãoa) Assunção por expromissão: hipótese em que o terceiro assume a obrigação, independentemente do consentimento do devedor primitivo. É aquela em que terceira pessoa assume espontaneamente o débito da outra, sendo que o devedor originário não toma parte nessa operação, podendo ser:a.1) Liberatória: exoneração da obrigação do devedor primitivo.

12 Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a cobrança.13 Art. 298. O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado substituindo somente contra o credor os direitos de terceiro.14 Art. 299. É faculdade a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava.15 Art. 299, §único. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa.

a.2) Cumulativa: quando o expromitente entra na relação com o novo devedor, ao lado do devedor primitivo.b) Assunção por delegação: é aquela em que o devedor originário, denominado delegante, transfere o débito a terceiro (delegatário), com a anuência do credor (delegado). Decorre de negócio pactuado entre o devedor originário e o terceiro, com a devida anuência do credor. O devedor-cedente é o delegante; o terceiro-cessionário, delegado; e o credor, o delegatário. Poderá ter efeito exclusivamente liberatório, não remanescendo qualquer responsabilidade para o devedor originário, como também poderá admitir a subsistência da responsabilidade do delegante, que responderá pelo débito em caso de inadimplência do novo devedor.

Art. 30016 – extinção de garantias.Art. 30117 – anulação da cessão de débito.Art. 30218 – oponibilidade de exceções.Art. 30319 – consentimento do credor.

4. Cessão de ContratoÉ a transferência da inteira posição ativa e passiva da relação contratual, incluindo o conjunto de direitos e obrigações de que é titular uma pessoa.A cessão de contrato ou de posição contratual é instituto jurídico conhecido da doutrina que, surpreendentemente, não mereceu a devida atenção no CC.Para que seja considerada válida, a cessão de contrato deverá observar os seguintes requisitos: a) a celebração de um negócio jurídico entre cedente e cessionários; b) integralidade da cessão; c) a anuência expressa da outra parte.4.1. Sujeitosa) Cedente: possuidor originário do contrato.b) Cedido: parte contrária do contrato.c) Cessionário: aquele que assume a posição do contratante primitivo.

Regra – necessidade de anuência do contratante.

16 Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originalmente dadas ao credor.17 Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação.18 Art. 302. O novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo.19 Art. 303. O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento.