construção enxuta (lean construction)

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA – CCT DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL PÓS-GRADUAÇÃO EM GERENCIAMENTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL ESTUDO SOBRE A FILOSOFIA DA CONSTRUÇÃO ENXUTA APLICADA AS CONSTRUÇÕES DE PEQUENO PORTE KLAYRTON ROMMEL SANTOS FERREIRA JUAZEIRO DO NORTE – CE 2012

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Page 1: Construção Enxuta (Lean Construction)

UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA – CCT

DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL

PÓS-GRADUAÇÃO EM

GERENCIAMENTO DA CONSTRUÇÃO CIVIL

ESTUDO SOBRE A FILOSOFIA DA CONSTRUÇÃO

ENXUTA APLICADA AS CONSTRUÇÕES DE

PEQUENO PORTE

KLAYRTON ROMMEL SANTOS FERREIRA

JUAZEIRO DO NORTE – CE

2012

Page 2: Construção Enxuta (Lean Construction)

KLAYRTON ROMMEL SANTOS FERREIRA

Aluno do Curso de Pós-Graduação em Gerenciamento da

Construção Civil – URCA

ESTUDO SOBRE A FILOSOFIA DA CONSTRUÇÃO

ENXUTA APLICADA AS CONSTRUÇÕES DE

PEQUENO PORTE

Monografia elaborada para fins de avaliação final do Curso de Pós-Graduação em Gerenciamento da Construção Civil, pela Universidade Regional do Cariri – URCA, sob a orientação do Prof° MSc. Dimas de Castro e Silva Neto.

JUAZEIRO DO NORTE – CE

2012

Page 3: Construção Enxuta (Lean Construction)

ESTUDO SOBRE A FILOSOFIA DA CONSTRUÇÃO

ENXUTA APLICADA AS CONSTRUÇÕES DE

PEQUENO PORTE

Elaborado por: Klayrton Rommel Santos Ferreira

Aluno do Curso de Pós-Graduação em Gerenciamento da Construção Civil – URCA

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Prof. MSc. Dimas de Castro e Silva Neto

Orientador

____________________________________ Prof. MSc. Jefferson Luiz Alves Marinho

____________________________________ Prof. MSc. Luiz Soares de Lima

Monografia aprovada em ______ /_______ /_________, com nota_________.

JUAZEIRO DO NORTE – CE 2012

Page 4: Construção Enxuta (Lean Construction)

Dedico esse trabalho as mulheres de

minha vida: minha amada esposa, que

tanto me motiva e a minha mãe, que

sempre me incentiva na busca do melhor.

Page 5: Construção Enxuta (Lean Construction)

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus, Senhor de minha vida por me escolher

para glorificá-lo e me capacitar para o desenvolvimento desse trabalho, assim como

em todas as minhas atividades.

A Maria dos Milagres, minha doce mãe, pelo apoio contínuo e sábios

ensinamentos ao longo da vida.

A minha maravilhosa esposa Lutércia Sampaio por estar sempre ao meu lado,

motivando-me diariamente na busca dos meus ideais.

A todos os familiares que acompanham e incentivam minha trajetória,

desejando-me sucesso profissional e pessoal.

Ao grande amigo e irmão Jefferson Marinho, pelas constantes demonstrações

de amizade, assim como a toda sua família.

Ao professor Dimas de Castro pela orientação, tempo investido, material

cedido e esforço, para a realização deste trabalho.

A colega Neurinha, do Departamento de Construção Civil da URCA, pelo

carinho, atenção e confiança.

A Janiere Bandeira, pelo apoio e auxílio no desenvolvimento desta

monografia.

A todos que, de alguma forma, colaboraram direta ou indiretamente.

Page 6: Construção Enxuta (Lean Construction)

“Porque o SENHOR dá a sabedoria; da sua

boca é que vem o conhecimento e o

entendimento.”

Provérbios 2:6

Page 7: Construção Enxuta (Lean Construction)

RESUMO

Mesmo sendo a maior provedora de empregos diretos e indiretos, a construção civil

ocupa lugar de destaque junto aos outros setores industriais no que se refere ao

desperdício de matéria-prima, mão-de-obra e tempo. Devido a essa forte realidade,

vários esforços são somados na tentativa de minimizar tamanha perca. Atualmente

muitas empresas estão discutindo o emprego e os benefícios que novas filosofias

podem gerar. Uma delas é a incorporação dos conceitos da mentalidade enxuta

para a construção civil. O desenvolvimento desse trabalho tem o objetivo de estudar

essa nova forma de pensar e a aplicabilidade dos conceitos da Lean Construction

nas construções de pequeno porte, assim como outras ferramentas que podem

auxiliar a concretização dos três principais resultados esperados: a entrega do

produto no prazo, a redução do desperdício e a maximização do valor. Para tal fim,

foram realizados estudos exploratórios em bibliografias já desenvolvidas sobre o

tema, através de consultas literárias, teses e internet. Dessa forma, verificou-se que

as empresas que já detém domínio dessa ferramenta, conseguem melhores

resultados na gestão dos profissionais e dos insumos e, consequentemente,

acúmulo de lucros. Nas construções de pequeno porte, os resultados também

podem ser expressivos e tornar essa prática cada vez mais presente. É notório que

a construção enxuta trouxe inovações ao processo de planejamento e gestão na

produção civil, mas sua aplicação ainda não é amplamente considerada no setor.

Um dos problemas para esse fato é a dificuldade de transmitir e sedimentar seus

conceitos, uma vez que o principal instrumento dessa nova filosofia foca na

mudança de pensamento de como se deve planejar e executar tarefas.

Palavras-chave: Construção enxuta. Planejamento.

Page 8: Construção Enxuta (Lean Construction)

ABSTRACT

Despite being the leading provider of direct and indirect jobs, construction occupies a

prominent place alongside other industrial sectors with regard to the waste of raw

materials, labor, manpower and time. Due to this strong reality, several efforts are

added in an attempt to minimize such waste. Currently many companies are

discussing employment and the benefits it can generate new philosophies. One is the

incorporation of the concepts of lean thinking for the construction industry. The

development of this work is to study this new way of thinking and applicability d

concepts of Lean Construction in small buildings, as well as other tools that can help

achieve the three main outcomes: delivering the product on time, reducing waste and

maximizing value. To this end, we performed exploratory studies in bibliographies on

the subject has developed, through consultation literary theses and internet. Thus, it

was found that companies that already owns this domain tool, achieve better results

in the management of professional and inputs and, consequently, accumulation of

profits. Constructs N small, the results can also be expressive and make this practice

increasingly present. It is clear that building lean brought innovations to the process

of planning and management in civil production, but its implementation is still not

widely regarded in the industry. One of the problems for this fact is the difficulty of

conveying their concepts and sediment, since the main instrument of this new

philosophy focuses on changing the thinking of how to plan and execute tasks.

Keywords: Lean Construction. Planning.

Page 9: Construção Enxuta (Lean Construction)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Movimentos dos trabalhadores ................................................................. 21

Figura 2: Processo de produção convencional baseado no modelo de conversão .. 22

Figura 3: Processo de produção na construção enxuta ........................................... 23

Figura 4: Programa 5S ............................................................................................. 24

Figura 5: Esquema da mentalidade Lean ................................................................. 32

Figura 6: Layout de canteiro para fabricação de concreto ....................................... 34

Figura 7: Atendendo a necessidade do cliente......................................................... 35

Figura 8: Perda de material em alvenaria ................................................................ 35

Figura 9: Falta de material........................................................................................ 36

Figura 10: Elementos pré-fabricados em aço ........................................................... 37

Figura 11: Divisórias internas em gesso .................................................................. 38

Figura 12: Flanelógrafo de aviso .............................................................................. 38

Figura 13: Estoque tipo supermercado .................................................................... 39

Figura 14: Capacitação de colaboradores ................................................................ 40

Figura 15: Caixa de sugestões ................................................................................. 40

Figura 16: Carrinho para transporte de material e utensílios ................................... 41

Figura 17: Carrinho adaptado para transporte de argamassa .................................. 41

Figura 18: Classificação das perdas ........................................................................ 42

Figura 19: Sistema Last Planner .............................................................................. 45

Figura 20: Percentual por produção concluída – PPC ............................................ 45

Figura 21: PPC por equipe em um determinado período ......................................... 46

Figura 22: Causa de descumprimento da programação .......................................... 48

Figura 23: Mapa da Região Metropolitana do Cariri (RMC) ..................................... 49

Page 10: Construção Enxuta (Lean Construction)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Definições 5S .......................................................................................... 25

Quadro 2: Identificação / Providências ..................................................................... 26

Quadro 3: Grandes empreendimentos na RMC ....................................................... 50

Quadro 4: Geração de empregos formais ................................................................ 51

Quadro 5: Piso salarial 2011 .................................................................................... 52

Page 11: Construção Enxuta (Lean Construction)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 13

2. OBJETIVOS ................................................................................................................................ 16

2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................... 16

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................... 16

3. METODOLOGIA ......................................................................................................................... 17

4. JUSTIFICATIVA ......................................................................................................................... 18

5. REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................................................... 19

5.1 MENTALIDADE ENXUTA E SEUS PRINCÍPIOS ...................................................... 19

5.2 CONSTRUÇÃO ENXUTA (LEAN CONSTRUCTION) ................................................ 21

5.3 PROGRAMA 5S ........................................................................................................ 24

5.3.1 SENSO DE UTILIZAÇÃO (SEIRI) ........................................................................ 26

5.3.2 SENSO DE ORDENAÇÃO (SEITON) .................................................................. 26

5.3.3 SENSO DE LIMPEZA (SEISO) ............................................................................ 27

5.3.4 SENSO DE SAÚDE (SEIKETSU) ........................................................................ 27

5.3.5 SENSO DE AUTODISCIPLINA (SHITSUKE) ....................................................... 28

5.4 PRINCÍPIOS DA CONSTRUÇÃO ENXUTA .............................................................. 29

5.5 APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA CONSTRUÇÃO ENXUTA NAS CONSTRUÇÕES DE PEQUENO PORTE .................................................................................................... 33

5.5.1 REDUÇÃO DA QUANTIDADE DE ATIVIDADES QUE NÃO AGREGAM VALOR AO PRODUTO.............................................................................................................. 34

5.5.2 AUMENTO DO VALOR DO PRODUTO CONSIDERANDO AS NECESSIDADES DOS CLIENTES. .......................................................................................................... 34

5.5.3 REDUÇÃO DA VARIABILIDADE DOS PROCESSOS VISANDO À PADRONIZAÇÃO. ........................................................................................................ 35

5.5.4 REDUÇÃO DO TEMPO DE CICLO DE ATIVIDADES. ......................................... 36

5.5.5 SIMPLIFICAÇÃO DA EXECUÇÃO DAS ATIVIDADES ATRAVÉS DA REDUÇÃO DO NÚMERO DE PASSOS. ......................................................................................... 36

5.5.6 AUMENTO DA FLEXIBILIDADE DAS SAÍDAS DOS PROCESSOS. ................... 37

5.5.7 AUMENTO DA TRANSPARÊNCIA DOS PROCESSOS. ..................................... 38

5.5.8 FOCO DO CONTROLE GLOBAL DE FORMA SISTÊMICA. ................................ 39

5.5.9 INTRODUÇÃO DE MELHORIAS CONTÍNUAS. .................................................. 39

Page 12: Construção Enxuta (Lean Construction)

5.5.10 EQUILÍBRIO DE MELHORIAS ENTRE FLUXO E CONVERSÃO. ..................... 40

5.5.11 BENCHMARKING. ............................................................................................. 41

5.6 PLANEJAMENTO COMO FERRAMENTA DA CONSTRUÇÃO ENXUTA ................. 42

5.6.1 LAST PLANNER ................................................................................................. 44

5.7 CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................................. 49

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................ 53

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 55

Page 13: Construção Enxuta (Lean Construction)

13

1. INTRODUÇÃO

A construção civil vem, ao longo da última década, passando por

transformações significativas em seus processos construtivos. Com a finalidade de

sempre buscar a melhor qualidade pelo menor preço, devido um mercado altamente

competitivo e, hoje, criterioso.

Graças a um superaquecimento através de incentivos do governo, esse setor

conseguiu um crescimento significativo em 2010, resultando em aproximadamente

11%, devido à estabilização da economia e aumento da renda no Brasil. E em 2011,

espera-se um desenvolvimento em torno de 6% (SINDUSCON – SP, 2011).

Em torno de 45% de todo investimento realizado no Brasil, em qualquer nível

de atividade, converge para o segmento, ou seja, se forem injetados recursos para o

desenvolvimento nas áreas da saúde ou educação, será necessária a contratação

de serviços para construção ou reformas de hospitais, postos de saúde, escolas,

creches, entre outros. E o mesmo nos setores da indústria, comércio e moradia

familiar, diretamente falando (SOUZA, 2006).

A Fundação Getúlio Vargas (FGV) registrou que o emprego formal nesse

segmento cresceu 10,9% no 1º trimestre de 2011. Apesar da clara redução no

crescimento, às expectativas para os próximos anos continuam sendo promissoras.

Revelando assim que a indústria de transformação está assumindo seu poder de

agente desenvolvedor do país, formalizando muitos empregos e isso se reflete

diretamente na busca da qualificação profissional, a fim de produzir obras

observando as evidentes exigências do mercado: qualidade e preço.

Como o objetivo de toda empresa é gerar lucros, na construção civil não é

diferente. E esse desejo somente será atendido se o cliente receber exatamente

aquilo que comprou, no tempo certo e pelo preço que ele esteja disposto a pagar.

Para alcançar esses objetivos, o setor está iniciando a aplicação dos

princípios da Lean Thinking (Mentalidade Enxuta), que para o setor foi batizada de

Lean Construction (Construção Enxuta). O sistema Lean pode ser resumido como

uma estratégia de aumentar o grau de exultação do cliente, com a minimização do

desperdício, utilizando assim de maneira satisfatória os seus recursos.

Page 14: Construção Enxuta (Lean Construction)

14

A filosofia Lean pode ser entendida como uma nova concepção do sistema de

produção desenvolvido na fábrica de automóveis Toyota, no Japão, logo após a

Segunda Guerra Mundial. Como a indústria japonesa estava com sua produtividade

muito baixa e a falta de recurso era enorme, o engenheiro Taiichi Ohno desenvolveu

esse novo sistema (BARREIRA, [S.I.]).

O STP (Sistema Toyota de Produção) objetiva aumentar a eficiência da

produção pela eliminação contínua de desperdício (MIRANDA et al., 2003).

Como a base de sustentação do STP é a absoluta eliminação do desperdício,

com o intuito de facilitar a identificação dos mesmos, Ohno (1998, apud MIRANDA,

2003) relacionou os desperdícios ocorridos no sistema e os classificou em sete (7)

tipos:

• Superprodução - Refere-se aos desperdícios que ocorrem quando se

produz quantidades maiores do que realmente é necessário.

• Tempo de Espera - Refere-se aos materiais que aguardam em filas

para serem processados ou trabalhadores ociosos.

• Transporte - Está associado ao manuseio excessivo ou inadequado

dos materiais. É uma atividade que nunca agrega valor ao produto.

• Processamento - Geralmente se dá na execução inadequada da

atividade ou operações que não precisam existir para a conclusão da

produção;

• Estoque - Existência de estoques excessivos, em função da

programação inadequada, gera desperdício de material e financeiro.

• Movimentação - Realização de movimentos desnecessários por parte

dos trabalhadores, durante a execução de suas atividades.

• Defeitos - Produzir produtos defeituosos significa desperdiçar materiais,

mão-de-obra e tempo.

Page 15: Construção Enxuta (Lean Construction)

15

Ao final dos anos 80, o então conhecido STP passou a ser chamado Sistema

de Produção Enxuta (GHINATO, 1996 apud MIRANDA, 2003). E em 1992, o

finlandês Lauri Koskela apresentou um modelo de sistema de produção adaptado a

Construção Civil, o hoje conhecido Lean Construction, que em sua essência,

fundamenta-se nos cinco princípios da Mentalidade Enxuta (WOMACK e JONES,

1998 apud JUNQUEIRA, 2006):

• Valor - Preço que o cliente está disposto a pagar pelo produto.

• Fluxo de Valor - Identificar a cadeia de valor e eliminar os desperdícios

na realização do produto.

• Fluxo - Mudanças necessárias para alcançar o fluxo de valor desejado

e fazer o produto fluir sem interrupções.

• “Puxar” - Produzir somente o necessário, sem estoque. Combate ao

desperdício por superprodução.

• Perfeição - Melhoria contínua. Aprendendo com o que se faz.

A Construção Enxuta incorpora as vantagens do processo artesanal ao

processo de produção em massa, evitando as inconveniências dos altos custos com

a inflexibilidade de produção, respectivamente (DANLBAAR, 1997 apud

WIGINESCKI, 2009).

Page 16: Construção Enxuta (Lean Construction)

16

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Identificar os princípios que norteiam a filosofia da Construção Enxuta,

através de revisão de literatura, para verificar sua aplicabilidade em construções de

pequeno porte.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Verificar a importância do tema para a construção civil;

• Mostrar o uso dos princípios e ferramentas Lean para as construções de

pequeno porte;

• Verificar a aplicação de outras ferramentas que contribuem para a

implantação do pensamento enxuto.

Page 17: Construção Enxuta (Lean Construction)

17

3. METODOLOGIA

Ao iniciar a discussão da metodologia adotada para a realização deste

trabalho é de fundamental importância destacar que a estratégia de observação

sobre os procedimentos técnicos adotados foi à pesquisa bibliográfica.

Esse tipo de pesquisa, por ser desenvolvida com base em material já

elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, possibilita um

estudo mais abrangente.

A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Essa vantagem torna-se particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço (GIL, 2002, p. 45).

A pesquisa bibliográfica também se volve imprescindível quando se precisa

de dados históricos, que em muitas situações não há outra forma de conhecer os

fatos acontecidos com maior precisão e confiabilidade (GIL, 2002).

Do ponto de vista dos objetivos do trabalho, esta pesquisa poder ser

classificada como exploratória, pois visa determinar a existência ou não, de

determinado fenômeno, além de proporcionar maior conhecimento com o problema

(GIL, 2002).

Como em muitas pesquisas, essa tem o claro objetivo no aprimoramento de

ideias. Para isso, foram de extrema necessidade os levantamentos bibliográficos e

análise de exemplos que estimulam a compreensão.

As análises bibliográficas, de onde visou extrair os principais conceitos,

definições e interpretações sobre o tema proposto, foram realizadas em material

disponível na internet, literaturas e teses. Com o objetivo de coletar informações

atualizadas e confiáveis sobre o assunto, buscou-se ainda dados em sites do

governo brasileiro e instituições conceituadas.

Page 18: Construção Enxuta (Lean Construction)

18

4. JUSTIFICATIVA

A produtividade na indústria da construção civil pode melhorar através de um

conjunto de alterações, desde a concepção até a conclusão de todo o processo de

uma obra, ou seja, modificações organizacionais, tecnológicas, estruturais,

psicológicas e, principalmente, administrativas.

É evidente que a construção civil tem potencial de crescer ainda mais se

forem detectados as melhores técnicas de construção, gerenciamento e controle de

obras. Como resultado dessas mudanças, pode-se destacar a redução dos valores

praticados para execução das obras, melhoramento na remuneração dos

colaboradores, minimização do desperdício de materiais e, consequentemente, o

crescimento para as empresas do setor. Contudo, essas alterações nos modelos

atuais de processo de produção de edificações representa um grande desafio para

essas empresas empreendedoras (BRANCO, 2004 apud WIGINESCKI, 2009).

Como a construção civil é a maior geradora de empregos formalizados em

nosso país, e registrou em 2010 um crescimento significativo de 11%, espera-se

para o ano de 2011 uma expansão de cerca de 6% (IBGE, 2011). Há possibilidade

de ótimos retornos financeiros nesse seguimento, e consegue-se aumentar essa

rentabilidade ainda mais se desenvolvidos trabalhos de reeducação nos canteiros de

obras e construtoras.

Page 19: Construção Enxuta (Lean Construction)

19

5. REFERENCIAL TEÓRICO

5.1 MENTALIDADE ENXUTA E SEUS PRINCÍPIOS

Os princípios da Mentalidade Enxuta (Lean Thinking), por ser uma filosofia,

busca levar aos seus usuários uma mudança de pensamento e comportamento; e

propõe motivar a realização de práticas que geram o bem-estar ao ambiente de

trabalho, produtividade e redução nos custos da obra, seja através do uso de novas

tecnologias ou, simplesmente, a correção ou melhoria de um processo já

desenvolvido (WOMACK et al, 1992 apud JUNQUEIRA, 2006).

De acordo com esses autores, esse pensamento é denominado enxuto por

valer-se de menos quantidade de tudo o que se relaciona com a produção em

massa e requer metade de todos os esforços para desenvolver novos produtos na

metade do tempo.

Para chegar a esse objetivo, Womack et al (1998, apud JUNQUEIRA, 2006)

elaboraram cinco princípios:

1. VALOR

A princípio, deve-se compreender o que é valor para o cliente, pois este

princípio é o ponto de partida para o bom emprego de todos os demais princípios da

filosofia Lean. Essa identificação inclui definir exatamente quais características do

produto e serviços que o cliente está disposto a pagar. Esta é a base para a

identificação de possíveis desperdícios, elencados como tudo aquilo que não agrega

valor, servindo como base para a aplicação dos demais princípios.

2. FLUXO DE VALOR

Identificar e eliminar desperdícios ao longo de toda a cadeia de valor, da

matéria-prima ao cliente final. Para se chegar a esse fim, faz-se imprescindível uma

gestão de fluxos físicos de pessoas, materiais e equipamentos no canteiro de obra,

processo que deve ser observado na fase de planejamento e controle da produção.

Page 20: Construção Enxuta (Lean Construction)

20

3. FLUXO CONTÍNUO

Realizar todas as atividades que agregam valor sem interrupções, eliminando

os desperdícios e reduzindo o lead time (período entre o início de uma atividade até

o seu término). Seguindo este raciocínio pode-se dizer que o conceito de fluxo é

fundamental dentro da filosofia Lean, uma vez que sua implantação resulta em alta

produtividade.

4. PRODUÇÃO PUXADA

Juntamente com o princípio do fluxo contínuo, o conceito de produção puxada

pode ser considerado como o mais característico da Lean, sendo essencial na

tentativa de eliminação das perdas, pois se deve produzir somente no tempo certo.

E para que isso ocorra, todas as comunicações devem ser diretas e precisas.

5. PERFEIÇÃO

O processo em busca da perfeição se dá através da melhoria e aprendizado

contínuos, e deve ser desenvolvimento principalmente na base da hierarquia

funcional.

A aplicação desta estratégia garante que problemas possam ser detectados e

solucionados no menor espaço de tempo possível.

Page 21: Construção Enxuta (Lean Construction)

21

5.2 CONSTRUÇÃO ENXUTA (LEAN CONSTRUCTION)

A abordagem Lean na construção civil busca sequenciar as atividades de

modo integrado, esquematizando as atividades de forma balanceada, ou seja,

atividades cadenciadas e no mesmo ritmo. O resultado deste tipo de solução é

alcançar a quebra de isolamento da sequência de atividades na obra.

O principal foco da produção enxuta é eliminar as atividades que não

agregam valor – atividades que apenas consomem tempo, recursos ou espaço, e

não cooperam para atender as principais necessidades dos clientes. A Construção

Enxuta pode ser entendida como uma forma de desenho de sistema de produção

objetivado em gerar o máximo possível de valor (KOSKELA, 1992).

Figura 1: Movimentos dos trabalhadores

Fonte: Bulhões (2009)

Segundo o mesmo autor, enquanto os conceitos tradicionais do sistema de

produção da construção apresentam um único objetivo final, a entrega do produto, a

Page 22: Construção Enxuta (Lean Construction)

22

construção enxuta tem seus conceitos voltados a três objetivos principais: a entrega

do produto, a maximização do valor e a redução do desperdício.

Desta forma, compreende-se que o fim desejado afeta diretamente os meios

necessários para chegar-se até esse fim (LICHTIA, 2004, apud WIGINESCKI, 2009).

O processo de construção enxuta começou com uma tentativa de modificar a

forma de como o trabalho é gerenciado (KOSKELA, 2000), que propõem uma

melhoria organizacional das atividades (processos), eliminando mão-de-obra ociosa

e otimizando recursos disponíveis.

Na construção civil, a forma como se enxerga um processo de produção é o

Modelo de Conversão, representado pela Figura 02, segundo Koskela (1992).

Figura 2: Processo de produção convencional baseado no modelo de conversão

Fonte: Koskela (1992)

Onde o processo de produção é subdividido em subprocessos e a

minimização dos custos totais do processo somente ocorre quando o custo de cada

subprocesso é reduzido separadamente, desta forma, associando o valor do produto

somente ao custo dos seus insumos (ISATTO et al, 2000).

Page 23: Construção Enxuta (Lean Construction)

23

Figura 3: Processo de produção na construção enxuta

Fonte: Koskela (1992)

A Figura 03, modelo proposto por Koskela em 1992, mostra as etapas do

processo de produção na construção civil. Dessa forma, qualquer melhoria em um

desses elementos, gera melhoria a todo o processo.

Page 24: Construção Enxuta (Lean Construction)

24

5.3 PROGRAMA 5S

O "Programa 5S", assim como a filosofia Lean, foi idealizado no Japão, em

1950, devido à necessidade de organizar o país após a 2ª Guerra Mundial.

De fácil aplicabilidade, seus conceitos tornaram-se famosos quando as

empresas começaram um processo de "revitalização" em seus processos.

O Programa 5S é muito mais do que uma ferramenta de apoio. Com a missão

de atingir alguns aspectos culturais da organização e assim, estimular a evolução de

pensamentos e comportamentos a níveis mais apropriados a realidade produtiva e

organizacional.

Por ser um processo educativo, o objetivo principal é o combate ao

desperdício, seja de tempo, de materiais ou na perda humana.

O Programa 5S é um conjunto de cinco conceitos simples e sua aplicação

traz grandes vantagens para as empresas e pessoas que os aplicam.

Solomon (2004 apud WIGINESCKI, 2009) afirma que o 5S é uma ferramenta

para manter a “casa” em ordem; organiza os materiais de forma customizada, de

maneira que tudo tenha um lugar e que tudo esteja em seu lugar.

Como em português não existem palavras que tradução fielmente o sentido

dos 5S, convencionou-se da seguinte forma:

Figura 4: Programa 5S

Fonte: Fernandes (2009)

Page 25: Construção Enxuta (Lean Construction)

25

JAPÃO BRASIL DEFINIÇÃO

SEIRI SENSO DE UTILIZAÇÃO

Selecionar os documentos, materiais,

equipamentos necessários dos

desnecessários, visando à utilização

racional.

SEITON SENSO DE ORDENAÇÃO

Efetuar a arrumação dos objetos,

materiais e informações úteis, de

maneira funcional, permitindo acesso

rápido e fácil.

SEISO SENSO DE LIMPEZA

Limpar é eliminar a sujeira,

inspecionando para descobrir e atacar as

fontes de problemas.

SEIKETSU SENSO DE SAÚDE

Eliminar fatores que possam atuar

negativamente sobre os indivíduos no

ambiente de trabalho.

SHITSUKE SENSO DE

AUTODISCIPLINA

Conscientizar as pessoas da

necessidade de buscar o

autodesenvolvimento e consolidar as

melhorias alcançadas com a prática dos

sensos anteriores.

Quadro 1: Definições 5S

Fonte: Fernandes (2009)

Segundo Barreira [S.I.], o programa 5S antecede a implantação de um

sistema Lean, deixando o local de trabalho autoexplicativo, auto-organizável e auto-

melhorável, assim fornecendo as bases para implantação da mentalidade enxuta.

Page 26: Construção Enxuta (Lean Construction)

26

5.3.1 SENSO DE UTILIZAÇÃO (SEIRI)

Essa técnica é utilizada para identificar e eliminar objetos e informações

desnecessárias, existentes no local de trabalho. Seu conceito chave é a utilização.

Ao aprender a diferenciar o que é necessário do que é desnecessário, é

possível focar apenas naquilo que é preciso para a realização de um trabalho.

(VALVERDE E CINTRA, 2006 apud WIGINESCKI, 2009). Dessa forma, Aplicando

corretamente esse princípio, no local de trabalho constará apenas o que é

necessário para o desenvolvimento da atividade.

IDENTIFICAÇÃO PROVIDÊNCIAS

Uso Constante Colocar no próprio local de trabalho

Uso Ocasional Colocar próximo ao local de trabalho

Uso Raro Colocar no almoxarifado, etc.

Desnecessário Descartar, disponibilizar a outro.

Quadro 2: Identificação / Providências

Fonte: Barreiras [S.I.]

5.3.2 SENSO DE ORDENAÇÃO (SEITON)

Segundo Osada (1992 apud FERNANDES, 2009), depois de eliminar tudo o

que não precisa, o próximo passo seria resolver quanto guardar e onde. De acordo

com a definição de Masao (1997, apud FERNANDES, 2009) temos que o senso de

ordenação significa “deixar os materiais a serem utilizados sempre disponíveis, sem

precisar procura-los”.

O ‘senso de ordenação’ pode ser definido como “um otimizador da área de

trabalho”, pois consiste em definir critérios e locais apropriados para estocagem,

depósitos de ferramentas e materiais, armazenamento e fluxo de informações, ou

seja, “fazer com que as coisas necessárias sejam utilizadas com rapidez e

segurança, a qualquer momento” (HABU et al, 1992 apud CAMPOS et al., [S.I.]).

Page 27: Construção Enxuta (Lean Construction)

27

A sistematização do ambiente de trabalho propicia o gerenciamento eficaz,

através da otimização dos insumos, força de trabalho e meios de produção. Com

isso, os benefícios gerados são inúmeros, pois em ambiente ordenado o trabalho é

mais objetivo, aumenta-se a produtividade, reduzem-se os custos e os acidentes de

trabalho, economiza-se tempo, entre outros benefícios.

5.3.3 SENSO DE LIMPEZA (SEISO)

Não sujar. Esse é o foco principal do Seiso, uma vez que equivale a praticar a

limpeza da maneira tradicional e rotineira e, sobretudo (SILVA, 1996, FERNANDES,

et al, 2009). Analisando de forma holística, a limpeza dentro do 5S significa manter

todos os equipamentos em perfeita condições de uso, transformando a limpeza

realizada em oportunidades para inspeções detalhadas, quando poderão ser

identificados problemas reais ou potenciais.

Todos os agentes que agridem o meio-ambiente podem ser englobados como

sujeira (iluminação deficiente, mau cheiro, ruídos, pouca ventilação, poeira, etc.).

5.3.4 SENSO DE SAÚDE (SEIKETSU)

Consiste basicamente em garantir ambiente não agressivo e livre de agentes

poluentes, manter boas condições sanitárias nas áreas comuns (banheiros, cozinha,

refeitório, etc.), zelar pela higiene pessoal, gerar e disponibilizar informações e

comunicados de forma clara e, no sentido mais amplo do senso, ter ética no trabalho

e manter relações interpessoais saudáveis, tanto dentro quanto fora da empresa

(FERNANDES et al, 2009).

De forma simplificada, o senso de saúde significa manter as condições de

trabalho, físicas e mentais, favoráveis à saúde.

Segundo Masao (1997, FERNANDES et al, 2009), esse senso, no oriente,

foca mais a saúde física, enquanto no Brasil possui um sentido mais vasto, pois

inclui a saúde mental.

Page 28: Construção Enxuta (Lean Construction)

28

5.3.5 SENSO DE AUTODISCIPLINA (SHITSUKE)

O compromisso individual com o cumprimento dos padrões éticos, morais e

técnicos que definem o programa 5S, solidifica-se com essa última fase do

programa. Se o Shitsuke está sendo executado, necessariamente implica dizer que

todas as etapas do 5S estão se concretizando. Quando as pessoas começam a

fazer o que tem que ser feito e da maneira correta, significa que existe disciplina.

Segundo Campos et al, este é o senso mais difícil de ser implementado, pois

envolve mudança de comportamento e pensamento. E como é próprio ao ser

humano à resistência a mudanças, quer seja por medo, comodismo, etc.

Fernandes et al, 2009, relata outros aspectos que compreendem esse senso:

• Agir com etiqueta,

• Praticar sempre a arrumação depois do trabalho concluído,

• Chamar à atenção mutuamente,

• Esforçar para se tornar um bom funcionário e um bom cidadão, ou seja,

procurar praticar naturalmente os primeiros sensos.

Page 29: Construção Enxuta (Lean Construction)

29

5.4 PRINCÍPIOS DA CONSTRUÇÃO ENXUTA

Esse tipo de filosofia foi alicerçado pelo mesmo autor através dos princípios

básicos para gestão de processo:

I - Redução da quantidade de atividades que não agregam valor ao

produto.

Esse princípio define a melhoria contínua nos processos para ganhar maior

eficiência e redução de suas perdas. Dessa forma, as atividades desnecessárias são

todas aquelas que não atribuem valor ao produto, considerando que existem

atividades que não agregam valor, mas não podem ser eliminadas por serem

fundamentais para a eficiência de todo o processo, como por exemplo, o

treinamento da mão-de-obra (KOSKELA, 1992).

II - Aumento do valor do produto considerando as necessidades dos

clientes.

É através da clara necessidade e expectativa do cliente que se pode produzir

algo de real valor que o satisfaça. Para se chegar a isso é necessário conhecer os

desejos do cliente, uma vez que o conceito de valor está diretamente associado à

ótica desse empreendedor e o que ele precisa para alcançar essa satisfação

(KOSKELA, 1992).

III - Redução da variabilidade dos processos, visando à padronização.

Como a variabilidade tem em sua essência produtiva o aumento do tempo

necessário para condução do serviço/produto proposto e, consequentemente,

aumento dos gastos para esse fim, um produto padronizado (uniforme) tem o poder

de trazer maior satisfação, uma vez que a relação qualidade x especificação foi

atendida. Da mesma forma, quanto maior a variabilidade maior o número de

atividades que não agregam valor, gerando assim gastos desnecessários (SHINGO,

1996).

Page 30: Construção Enxuta (Lean Construction)

30

IV - Redução do tempo de ciclo de atividades.

Este princípio esta relacionado com a otimização dos tempos necessários

para a produção do produto/serviço determinado. O tempo de ciclo divide-se em:

transporte, espera, processamento e inspeção (KOSKELA, 1992).

V - Simplificação da execução das atividades através da redução do

número de passos.

Em processo produtivo, quanto menor o número de passos de uma atividade

maior o resultado, e menor o custo. A melhoria no rendimento dá-se pela redução ou

eliminação das atividades que não agregam valor, e a minimização do custo obtém-

se através da redução do desperdício gerado em cada passo (ISATTO et al., 2000).

VI - Aumento da flexibilidade das saídas dos processos.

Não contraditório com a simplificação de execução das atividades, o aumento

de flexibilidade busca gerar valor ao empreendimento através do uso de mão-de-

obra polivalente, por exemplo, ou seja, são princípios complementares (ISATTO et

al., 2000).

VII - Aumento da transparência dos processos.

O objetivo desse ensinamento, através do aumento das informações

disponíveis, é evitar erros e agilizar o processo de execução das tarefas (KOSKELA,

1992). Também pode ser utilizado como ferramenta para motivar a mão-de-obra,

melhorando todo o processo.

VIII - Foco do controle global, de forma sistêmica.

Com um controle bem estruturado, pode-se não só identificar, mas corrigir os

desvios que podem interferir no processo (BERNANDES, 2003). Esse princípio deve

ser aplicado de forma que não venha a prejudicar as etapas do processo, como por

exemplo, a hora correta de se efetuar uma inspeção de alvenaria, de forma que se

corrija algum erro executado sem desfavorecer a continuidade da construção da

mesma.

Page 31: Construção Enxuta (Lean Construction)

31

IX - Introdução de melhorias contínuas.

Após identificação das melhorias que podem ser agregadas ao processo de

forma a torná-la mais eficiente, devem ser introduzi-las. Segundo Koskela (2002),

sempre haverá melhorias que podem ser absorvidas, de forma que reduzam o

desperdício e aumento do valor.

X - Equilíbrio de melhorias entre fluxo e conversão.

Princípio que deve ser observado na etapa de planejamento, evitando assim

introdução de novos tecnologias e métodos que iriam lesar o processo, já que

comprometeria o ensinamento da redução da variabilidade (KOSKELA, 2002).

Koskela ainda comenta que quanto maior a complexibilidade do processo, o

impacto gerado pelas melhorias também será maior, assim como os benefícios

alcançados pelo controle dos desperdícios.

XI - Benchmarking.

Refere-se a uma forma de aprendizagem através dos produtos já

desenvolvidos. Não se trata de copiar a mesma mecânica de execução que está

sendo aplicada em outras empresas líder de mercado. É preciso conhecer os

próprios processos, entender os princípios que sustentam os métodos praticados

pelas empresas concorrentes e, adaptá-las considerando a realidade da própria

empresa, segundo Koskela (1992). É um princípio que em sua natureza destaca-se

a troca de informações entre usuários do processo, permitindo assim o crescimento

coletivo e entre empresas do mesmo segmento, seja através de consultas, estudos

ou observação.

Por se tratar de uma mudança na forma de pensar, a construção enxuta tem

que vencer alguns obstáculos, e um dos maiores é a implantação do processo com

as pessoas envolvidas. Para eliminar esta barreira são necessárias aulas de

treinamentos voltadas à mudança de atitudes, que, quando conquistada, observar-

se-á melhorias acontecendo realmente. Esses entraves são identificados por causa

da falta de familiaridade ou a ausência de entendimento dos conceitos Lean.

Contudo, isto pode ser alterado através de treinamentos e do reconhecimento da

mudança de comportamento (SALEM, 2005 apud WIGINESCKI, 2009).

Page 32: Construção Enxuta (Lean Construction)

32

Figura 5: Esquema da mentalidade Lean

Fonte: Alves (2011)

A maximização do valor e a minimização do desperdício gera um grande

lucro, que vem a ser a diferença entre o preço e o custo; consequentemente, para se

buscar lucro deve buscar aumentar o valor e reduzir o desperdício.

Page 33: Construção Enxuta (Lean Construction)

33

5.5 APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA CONSTRUÇÃO ENXUTA NAS

CONSTRUÇÕES DE PEQUENO PORTE

A partir do momento que se utiliza os ensinamentos para tentar tornar uma

construção enxuta, sem desperdício, transferimos boa parte da responsabilidade

para os executores das tarefas, uma vez que são eles quem realmente iram gerar o

valor agregado à obra e redução de custos desnecessários.

Em um ambiente de pequeno porte, o gerenciamento da aplicabilidade e

controle dessa filosofia se torna muito mais fácil, considerando que o número de

operários é reduzido, assim como o espaço físico.

Com os olhos voltados para esse tipo de obra, os princípios da Lean

Construction garantem se aplicados corretamente, o sucesso da minimização de

custos, maximização na excelência do trabalho, cumprimento de prazos e satisfação

de todos os agentes participantes do processo, sejam operários, gerentes e clientes.

Conforme Souza e Silva e Felizardo (2007, apud WIGINESCKI, 2009), as

pequenas obras são, em sua maioria, desprovidas de planejamento e

acompanhamento; apresentando assim um grande número de problemas como

retrabalhos, desperdícios e baixa qualidade do produto final. Um dos motivos deste

descaso é o valor reduzido dos orçamentos, levando à ocorrência deste tipo de

problemas.

Segundo os mesmos autores, o uso de princípios da construção enxuta em

obras de curto prazo apresentam grandes vantagens, principalmente quando se

volta os olhos à redução do tempo de ciclos, uma vez que atrasos na obra podem

significar faturamento perdido por dias não trabalhados, como no caso de

empreendimentos comerciais, por exemplo.

Fazendo proveito desse modelo em toda sua estrutura podemos, a nível

exemplificativo, identificar as seguintes melhorias para as construções de pequeno

porte:

Page 34: Construção Enxuta (Lean Construction)

34

5.5.1 REDUÇÃO DA QUANTIDADE DE ATIVIDADES QUE NÃO AGREGAM

VALOR AO PRODUTO.

Como forma de exemplificar esse princípio, a figura abaixo mostra dois

layouts de canteiro de obra para a produção de concreto. Observar-se claramente

que uma melhor disposição dos materiais, cria um ambiente de trabalho mais

racionalizado, gerando produtividade e reduzindo o desperdício de tempo e material.

Figura 6: Layout de canteiro para fabricação de concreto

Fonte: O autor (2011)

5.5.2 AUMENTO DO VALOR DO PRODUTO CONSIDERANDO AS

NECESSIDADES DOS CLIENTES.

Um fator que agrega valor bastante satisfatório é o cumprimento das

exigências pré-estabelecidas pelo cliente.

Essas informações, segundo Isatto et al. (2000), devem ser coletadas antes

da iniciação dos projetos para que possam ser consideradas evitando assim,

mudanças na programação e execução dos serviços e, consequentemente, atrasos

e desperdícios, conforme ilustrado na figura 7.

Page 35: Construção Enxuta (Lean Construction)

35

Figura 7: Atendendo a necessidade do cliente

Fonte: Souza (2005)

5.5.3 REDUÇÃO DA VARIABILIDADE DOS PROCESSOS VISANDO À

PADRONIZAÇÃO.

Reduzindo a variação de medidas entre blocos cerâmicos, visando uma

uniformização, se reduzirá o excesso de argamassa necessária para emboço e

reboco e, consequentemente, se ganhará em produtividade dos operários.

Figura 8: Perda de material em alvenaria

Fonte: O autor (2011)

Page 36: Construção Enxuta (Lean Construction)

36

Verifica-se que devido à variação das dimensões do tijolo a quantidade de

argamassa foi maior que a quantidade definida em projeto. Esse excesso significa

gasto de material e mão-de-obra, extrapolando assim o custo do orçamento inicial.

5.5.4 REDUÇÃO DO TEMPO DE CICLO DE ATIVIDADES.

Conforme Koskela (1992) esse elemento da filosofia Lean somente é atendido

quando reduzimos ou eliminamos a atividade que prejudica o processo, já que o

objetivo é ganhar em velocidade para atender os prazos definidos.

Figura 9: Falta de material Fonte: Souza (2005) modificado pelo autor (2011)

Devido à falha no planejamento de aquisição de material, por exemplo, o

processo pode até parar por completo causando desperdício de mão-de-obra,

afetando seriamente os preceitos da Construção Enxuta quanto à produtividade e

tempo.

5.5.5 SIMPLIFICAÇÃO DA EXECUÇÃO DAS ATIVIDADES ATRAVÉS DA

REDUÇÃO DO NÚMERO DE PASSOS.

Uma excelente estratégia para alcançar o sucesso desse princípio,

principalmente nas construções de pequeno porte, é a utilização de elementos pré-

fabricados, como mostrado na figura 10 abaixo:

Page 37: Construção Enxuta (Lean Construction)

37

Figura 10: Elementos pré-fabricados em aço

Fonte: Gerdau (2011)

Com essa medida, elimina-se o passo de corte e dobra de ferragem para a

confecção da armação de uma viga ou de um pilar, por exemplo.

5.5.6 AUMENTO DA FLEXIBILIDADE DAS SAÍDAS DOS PROCESSOS.

Com o emprego de peças em gesso utilizadas como divisórias internas da

edificação, o empreendimento torna-se mais flexível às mudanças que satisfaçam a

desejos futuros dos clientes e que não foram definidos na fase de planejamento.

Page 38: Construção Enxuta (Lean Construction)

38

Figura 11: Divisórias internas em gesso

Fonte: O autor (2011)

Esse preceito é sinônimo de aperfeiçoamento das características do produto.

Trata-se de flexibilidade permitida, ainda que não planejada inicialmente.

5.5.7 AUMENTO DA TRANSPARÊNCIA DOS PROCESSOS.

Aplicação de meios visuais que facilitem a compreensão do processo, como

instruções das quantidades dos agregados que devem compor o concreto, utilizando

unidades de medidas de fácil entendimento por parte dos operários.

Figura 12: Flanelógrafo de aviso

Fonte: O autor (2011)

Page 39: Construção Enxuta (Lean Construction)

39

5.5.8 FOCO DO CONTROLE GLOBAL DE FORMA SISTÊMICA.

Definição do momento ideal para aquisição de materiais evitando, assim,

atrasos ou compra em demasia, o que poderá ocasionar desperdício por excesso de

estoque.

Figura 13: Estoque tipo supermercado

Fonte: Romanel (2009)

Com a implantação do estoque tipo supermercado, os matérias e produtos

utilizados nos processos ficam armazenados de forma a proporcionar uma ampla

visão e fácil acesso aos mesmos, além de permitir um controle mais detalhado e

assim, um melhor gerenciamento.

5.5.9 INTRODUÇÃO DE MELHORIAS CONTÍNUAS.

Através de inspeção dos serviços já executados e comparando com o

programado pelo planejamento consegue-se vislumbrar novas estratégias para

eliminar ou reduzir erros cometidos.

Considerando os nortes que a filosofia Lean defende, identifica-se que mais

importante que inspecionar é fornecer aos participantes do processo todas as

orientações pertinentes. Isso pode ocorrer através de cursos de capacitação,

reciclagem, etc.

Page 40: Construção Enxuta (Lean Construction)

40

Figura 14: Capacitação de colaboradores

Fonte: Romanel (2009)

Com a finalidade de sempre melhorar, a utilização de caixa de sugestões

também pode ajudar os gestores da obra na forma como os seus colaboradores

precisam ser qualificados e motivados, expressando suas reais necessidades e

anseios.

Figura 15: Caixa de sugestões

Fonte: O autor (2011)

5.5.10 EQUILÍBRIO DE MELHORIAS ENTRE FLUXO E CONVERSÃO.

A utilização de carrinhos e pallets para transportar os materiais pela obra

possibilita a acomodação dos materiais de forma adequada, pois além de evitar

danos proporciona agilidade no que se refere à quantidade de material que é

transportado.

Page 41: Construção Enxuta (Lean Construction)

41

Figura 16: Carrinho para transporte de material e utensílios

Fonte: Romanel (2009) 5.5.11 BENCHMARKING.

Troca de experiências entre os planejadores e executores do processo com o

intuito de aprimorar os conhecimentos.

As melhores práticas de mercado são importante estímulo para atingir

avanços nas melhorias em torno de uma reconfiguração dos processos.

Figura 17: Carrinho adaptado para transporte de argamassa

Fonte: Romanel (2009)

Page 42: Construção Enxuta (Lean Construction)

42

5.6 PLANEJAMENTO COMO FERRAMENTA DA CONSTRUÇÃO ENXUTA

O desperdício inerente à construção é gerado, em sua maior parte, por

retrabalhos devidos a problemas de projetos ou erros de construção e às atividades

que não agregam valor nos fluxos de material e trabalho, tais como esperas,

movimentação, inspeção, atividades duplicadas e acidentes (KOSKELA, 1992).

Segundo Pontes (2004 apud WIGINESCKI, 2009) pode-se definir perdas

como o uso de quantidades maiores do que as necessárias para a produção de um

produto ou serviço. Estas perdas podem ser oriundas de desperdício de materiais

e/ou de execução de tarefas desnecessárias.

Para eliminar ou reduzir esses desperdícios um dos elementos de grande

relevância para a construção enxuta é o planejamento, onde, nessa fase e com

controle durante a obra, consegue-se melhorar a produtividade através da redução

de atrasos, da melhor sequência construtiva, da coordenação de atividades

simultâneas e uso racional dos materiais (BALLARD, 1994).

O sucesso de qualquer obra está diretamente ligado ao cumprimento das

orientações fornecidas pelo planejamento executivo, e com isso conseguem-se os

resultados esperados, que são:

PERDAS

FINANCEIRAS FÍSICAS

ESTRITAMENTE

FINANCEIRAS

DECORRENTE DAS

PERDAS DE

RECURSOS FÍSICOS

MÃO-DE-OBRA EQUIPAMENTOS MATERIAIS

Figura 18: Classificação das perdas

Fonte: Souza (2005)

Page 43: Construção Enxuta (Lean Construction)

43

• Redução dos custos diretos;

• Aumento de lucro;

• Redução dos custos de manutenção;

• Minimização de distância entre local de armazenagem de material e local

de manuseio;

• Redução do quadro de funcionários;

• Redução de retrabalhos;

• Redução do desperdício de materiais;

• Cumprimento de prazos.

Segundo Ballard (1994), o planejamento está intimamente relacionado à ideia

de produção protegida. Ele se motiva na necessidade de estabelecer metodologias

que conduzam à elaboração de um conjunto de tarefas que sejam executadas em

sua totalidade. Para a realização deste enfoque, destacam-se os pacotes de

trabalho.

O mesmo autor explica que para se desenvolver um pacote de trabalho deve-

se escolher as atividades que tem as melhores condições de serem executadas. E

para essa seleção, a observância dos quesitos abaixo auxilia na melhor escolha de

pacote de serviço a ser executado:

• Definição: Pacotes de trabalhos bem especificados tornam possível a

quantidade de trabalhadores, de materiais e equipamentos a ser usado.

• Sequenciamento: Sequência coerente com a programação da obra.

• Tamanho: Tarefas dimensionadas considerando a capacidade de

produção e o período planejado.

Page 44: Construção Enxuta (Lean Construction)

44

• Confiabilidade: Requisitos necessários à execução da atividade. Caso um

requisito não seja atendido, a produção pode ser interrompida apresentar

baixa produtividade.

• Aprendizagem: Identificação e análise das causas que impossibilitaram a

conclusão da atividade no prazo e especificações estabelecidas.

Para um planejamento bem desenvolvido a organização é o item principal, ou

seja, é sair de um estado de alocação de tarefas para uma estruturação no ambiente

adequado para a ação humana. A execução das atividades deve ser um canal de

mão dupla, onde o alcance das metas ocorre por meio do comprometimento. O

gerenciamento de controle tem que priorizar a prevenção de problemas à auditoria,

conforme Solomon (2004, apud WIGINESCKI, 2009).

O processo de planejamento, principalmente para a construção civil, deve ser

encarado como de suma importância, devido ao caráter único dos produtos e alta

variabilidade nos processos. Formoso (1999, apud BULHÕES, 2009) comenta que

as deficiências no planejamento e controle da produção são uma das principais

causas da baixa performance desse setor quando se refere à produtividade e

cumprimento de prazos.

5.6.1 LAST PLANNER

Para obtenção dos resultados desejados, o Last Planner ou Último Planejador

é a pessoa ou grupo responsável pela decisão e coordenação das atividades que

serão desenvolvidas, com a finalidade de melhorar o fluxo de operação e controle da

produção (BALLARD, 1994).

Ballard (2000, apud WIGINESCKI, 2009), afirma que o Last Planner pode ser

compreendido como um mecanismo para transformar o que deveria ser feito e o que

pode ser feito, no que será realizado, formando um inventário de trabalho pronto.

Incluir tarefas neste planejamento significa comprometer-se com o que será

realmente executado.

Page 45: Construção Enxuta (Lean Construction)

45

Figura 19: Sistema Last Planner

Fonte: Villas-Bôas (2004)

Planejamento em curto prazo, esse é o nível de atuação do Last Planner, ou

seja, é onde são tomadas as últimas decisões a respeito do fluxo de trabalho, tais

como pequenos ajustes no sequenciamento das equipes, em função do

cumprimento de tarefas antecedentes e da disponibilidade de recursos, tanto de

mão-de-obra quanto de materiais e equipamentos. Visando, assim, eliminar ou

reduzir a influência de imprevistos na execução completa das tarefas (BALLARD,

1994).

Para Ballard (2000), o sistema de controle Last Planner, na realidade é uma

filosofia, com regras e procedimentos. E para esses procedimentos, existem

ferramentas que podem facilitar a sua implementação.

Uma importante ferramenta existente para uso do Last Planner é o percentual

de produção concluída (PPC), destaca Ballard (1994). E o mesmo apresenta o PPC

como o número de operações que foram planejadas e devidamente completadas,

dividido pela quantidade de operações planejadas, expresso em porcentagem:

QUANTIDADE DE TAREFAS CUMPRIDAS PPC = QUANTIDADE TOTAL DE TAREFAS PROGRAMADAS

Figura 20: Percentual por produção concluída – PPC

Fonte: Mattos (2010)

Page 46: Construção Enxuta (Lean Construction)

46

Esse percentual indica a eficácia do planejamento e do nível de exatidão da

programação em curto prazo. É a quantidade de atividades que os supervisores de

equipes se comprometeram a fazer, comparada com o que foi realmente feito. A

análise das inconformidades pode levar à raiz das causas, de forma que melhorias

possam ser feitas em atividades futuras. Apesar dos problemas serem encontrados

no nível do Last Planner, as causas destes problemas pode ser encontrado em

qualquer um dos níveis de planejamento (BALLARD, 1994).

Mattos (2010) destaca que PPC com índices muito baixos podem representar

uma baixa produtividade ou uma grande incidência de fatores inesperados. Em

contrapartida, índices muito altos de PPC podem representar produtividade fácil de

ser realizada o que pode vir a ocasionar acomodações nas equipes.

O mesmo autor ainda comenta que a programação deve servir para incitar as

equipes a atingir produtividades mais altas e bater metas de produção. Que um

patamar de desempenho fixado na faixa de 75% a 85%, revela uma boa

produtividade em uma programação desafiadora.

Figura 21: PPC por equipe em um determinado período

Fonte: Mattos (2010)

De posse dessas informações, o Last Planner pode mapear a causa que

originou o descumprimento das metas estabelecidas. A seguir, as causas de

descumprimento da programação segundo Mattos (2010):

• PROJETO:

o Alteração de projeto;

Page 47: Construção Enxuta (Lean Construction)

47

o Erro de projeto (ou falta de detalhes).

• MÃO DE OBRA:

o Falta de pessoal;

o Baixa produtividade;

o Superestimação da produtividade;

o Retrabalhos.

• MATERIAL:

o Material fora da especificação;

o Material entregue fora do prazo;

o Perda de material superior à prevista.

• EQUIPAMENTO:

o Falta de equipamento;

o Falta de operador;

o Equipamento quebrado ou parado.

• AMBIENTE DE TRABALHO:

o Condições meteorológicas adversas;

o Falta de frente de serviço;

o Interferências com outros serviços/equipes.

• PROGRAMAÇÃO:

o Atrasos na tarefa antecedente;

o Erros de programação;

o Programação incompreensível.

Page 48: Construção Enxuta (Lean Construction)

48

Com base nas causas de descumprimento, o planejador pode criar um

histograma que revelam quais são as fontes de erros mais comuns e, assim, possa

tomar as medidas oportunas para diminui-las ou extingui-las.

Figura 22: Causa de descumprimento da programação

Fonte: Mattos (2010)

Nota-se que essa importante ferramenta utilizada pelo Last Planner, está

fundamentada no aprendizado, fazendo uso do principio da Melhoria Contínua

defendido por Koskela. O controle, o replanejamento e a tomada de decisão são

sempre realizados utilizando informações e indicadores coletados durante o

processo anterior e buscam, sempre, a melhoria, baseados na aprendizagem,

tentando perceber os reais motivos dos problemas ocorridos, para que esses não

venham a acontecer novamente, mantendo, assim, uma atitude proativa frente aos

problemas (BERNARDES, 2001 apud KUREK, 2005).

Assim, destaca-se que um planejamento eficiente melhora a produtividade por

meio da redução de atrasos, da realização do trabalho na sequência construtiva

mais lógica, combinando a força de trabalho com o trabalho disponível, coordenando

atividades polivalentes interdependentes, entre outras. Uma das atitudes mais

eficazes para a melhoria da produtividade é a excelência no planejamento

(BALLARD, 1994).

Page 49: Construção Enxuta (Lean Construction)

49

5.7 CONTEXTUALIZAÇÃO

Localizada a aproximadamente 533 km de Fortaleza, capital do Ceará, a

cidade de Juazeiro do Norte é destaque no Estado e no País por ser um dos

maiores centros religioso.

De acordo com o Censo realizado pelo IBGE em 2010, esse importante

município contava com uma população de 249.939 habitantes e estimava que em 1°

de julho de 2011, ultrapassaria as 252.841 pessoas. Sendo assim a terceira maior

cidade do Ceará em número de moradores, e a centésima do Brasil.

Atualmente, destaca-se também como a terceira maior economia do Estado

do Ceará, ficando atrás apenas da capital e do município de Maracanaú, ambas

pertencentes à Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).

Em junho de 2009, por força da Lei Complementar Estadual n° 78, foi criada a

Região Metropolitana do Cariri (RMC), composta pelos municípios de Juazeiro do

Norte, Crato, Barbalha, Caririaçu, Farias Brito, Jardim, Missão Velha, Nova Olinda e

Santana do Cariri.

Figura 23: Mapa da Região Metropolitana do Cariri (RMC) Fonte: IPECE (2011)

Page 50: Construção Enxuta (Lean Construction)

50

O reflexo do desenvolvimento econômico da Região Metropolitana do Cariri

pode ser conferido pelos grandes empreendimentos que já se instalaram, e os que

estão em processo de desenvolvimento e implantação.

Segundo Marinho (2007) a posição da Região do Cariri no mercado imobiliário

é privilegiada, pois seus investidores trabalham com autofinanciamentos e recursos

oriundos da poupança ou FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), quando

se tratado de crédito.

Abaixo, alguns exemplos de obras que revelam esse crescimento

excepcional:

RECURSOS EMPREENDIMENTO LOCALIDADE STATUS

Iniciativa Pública

Hospital Regional do Cariri

(HRC) Juazeiro do Norte Concluído

Centro de Abastecimento

(CEASA) Barbalha Em conclusão

Centro de Convenções do Cariri Crato Em conclusão

Iniciativa Privada

Atacadão (grupo Carrefour) Juazeiro do Norte Concluído

Hiper Bom Preço (grupo

Walmart) Juazeiro do Norte Concluído

Maxxi Atacado (grupo Walmart) Juazeiro do Norte Concluído

Cariri Shopping (ampliação) Juazeiro do Norte Em construção

Juazeiro Shopping Center Juazeiro do Norte Em construção

Central Park Juazeiro do Norte Em construção

Office Cariri Juazeiro do Norte Em construção

Mansão Cariri Juazeiro do Norte Em construção

Quadro 3: Grandes empreendimentos na RMC

Fonte: O autor (2011)

Page 51: Construção Enxuta (Lean Construction)

51

O setor da construção civil é o que mais emprega atualmente, com mais de

nove mil pessoas registradas, segundo a Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte.

De janeiro a outubro de 2011, segundo dados coletados no sítio eletrônico, o

município de Juazeiro conseguiu preencher mais de 3.704 postos de trabalho, sendo

um recorde de desenvolvimento para a região.

Cidades Saldo Comércio Serviços Const. Civil Indústria

CEARÁ 52.580 10.221 26.606 10.221 5.532 Fortaleza – CE 35.515 4.418 20.477 9.011 1.609 Campina Grande – PB 3.759 1.045 1.573 608 533 Feira de Santana – BA 3.974 1.909 1.866 -701 900 Juazeiro do Norte – CE 3.704 927 1.267 734 776 Maracanaú – CE 2.433 441 1.092 -412 1.312 Caruaru – PE 2.222 584 1.229 90 319 Mossoró – RN 2.110 16 719 1.365 10

Quadro 4: Geração de empregos formais

Fonte: SEPLAD (2011)

Essa importantíssima indústria de transformação tem sido destaque na região,

principalmente pelo lançamento em grande escala de prédios e condomínios

residenciais, bem como grandes empreendimentos comerciais. Alcançando, assim,

altos índices de crescimento no mercado imobiliário, em torno de 10% ao ano,

segundo a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico (2011).

A Região Metropolitana do Cariri destaca-se ainda como detentora do maior

projeto habitacional do interior do Estado, sendo 1.280 unidades financiadas pelo

Governo Federal através do programa Minha Casa, Minha Vida, somente em

Juazeiro do Norte.

Juntamente com as obras comerciais e residenciais, são previstas grandes

obras de infraestrutura, mobilidade urbana e logística:

• Anel viário;

• Macrodrenagem;

Page 52: Construção Enxuta (Lean Construction)

52

• Ampliação do aeroporto;

• Porto de cargas e descargas ligadas a Transnordestina;

• Porto seco;

• Ampliação e criação de novas linhas do metrô.

Devido ao forte crescimento no setor, a escassez de mão-de-obra é um

problema que preocupa os empreendedores, questão sendo obrigados a buscar

trabalhadores nas cidades e Estados vizinhos.

Como a oferta está maior do que a procura, os construtores se veem

obrigados a melhorar os benefícios ofertados. Segundo o Sindicato dos

Trabalhadores de Indústria da Construção Civil (2011), o aumento salarial da classe

e outros benefícios, acobertados pela convenção coletiva do trabalho da construção

civil, motiva os profissionais a buscarem estar regularizados em empresas, uma vez

que a informalidade nesse setor alcança índices altíssimos.

Função Piso Salarial

AUXILIAR R$ 556,00

PROFISSIONAL R$ 810,00

MESTRE DE OBRA R$ 1.490,00

Quadro 5: Piso salarial 2011

Fonte: O autor (2011)

Page 53: Construção Enxuta (Lean Construction)

53

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As práticas de gestão fundamentadas nos princípios e métodos da construção

enxuta são totalmente viáveis a qualquer tipo de empreendimento na Construção

Civil, e deve ser aplicada para tornar mais competitiva a empresa que detém a

vontade de fazer posse e uso dessa filosofia, que busca aperfeiçoar todo o processo

de produção, desde a concepção do projeto até a conclusão da obra.

O ramo da construção civil está ficando mais competitivo com o passar dos

anos, e incumbe a cada empresa a utilização de estratégias para ter sucesso nesta

disputa pelo mercado. As ferramentas da construção enxuta auxiliam as

construtoras para que tenham um maior controle na produção e na gestão de

suprimentos, procurando evitar retrabalhos e desperdícios que são comuns nesse

importante seguimento.

Como a Construção Enxuta não se baseia em implantação de novas

tecnologias, ela indica ideias e soluções alternativas para a melhoria dos processos

construtivos através da racionalização das atividades e otimização dos fluxos

existentes, necessárias à execução da obra. Assim sendo, essa filosofia pode ser

destacada como uma das melhores soluções para o sistema de gerenciamento da

construção. Embora pareça ser um processo de fácil implementação, na aplicação

dessa metodologia precisa-se de muita dedicação, empenho e organização, para

que seus resultados sejam alcançados com sucesso, pois se trata de uma mudança

não somente administrativa, mas cultural.

O bom emprego dos princípios da construção enxuta propostos por Koskela

proporcionam melhoramentos perceptíveis no sistema de construção das obras. A

inserção das ferramentas adotadas neste estudo e das boas práticas das mesmas é

uma maneira de introduzir os elementos basilares dessa nova filosofia de produção.

O ingresso do sistema Lean nas obras coopera para a visualização de um

novo paradigma de produção que proporciona ideias para desenvolver novas

pesquisas e a busca pelas melhorias contínuas nos processos produtivos de

qualquer empresa, segundo Peralta (2002).

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Este trabalho apresenta-se como ponto de conscientização do processo de

mudança necessária para a construção civil. Neste contexto, foram aglutinadas

algumas sugestões para novos estudos:

• Diagnosticar o comportamento e aceitabilidade das empresas de construção

civil com relação ao emprego da filosofia enxuta na Região Metropolitana do

Cariri;

• Estudos mais aprofundados focados no sistema de fornecimento e estoque de

materiais, assim como em modelos mais eficientes de sua logística de

entrega e logística interna no canteiro de obras;

• Novas pesquisas que possam resultar em um melhoramento nos métodos de

gerenciamento com ênfase no controle e melhora contínua dos processos de

execução;

• Desenvolver novos estudos relacionados com os modelos existentes de

orçamentação, visando à possibilidade de redução dos custos de mão-de-

obra e consumo de insumos;

• Aplicação de outras ferramentas utilizadas pela filosofia Lean, às construções

de pequeno porte.

Page 55: Construção Enxuta (Lean Construction)

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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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