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Data de Criação: 05/10/2020
Criado por: Biblioteca
Clipping SCA
Os artigos reproduzidos neste clipping de notícias são, tanto no conteúdo quanto
na forma, de inteira responsabilidade de seus autores. Não traduzem, por isso
mesmo, a opinião legal ou manifestação de integrante da SiqueiraCastro.
Sumário das
Matérias:
Aneel não vê perda de distribuidoras
Valor ––05 de outubro.............................................01
Aneel não vê perda de distribuidoras
Valor ––05 de outubro.............................................04
Marco do gás elevará competitividade industrial, reforça Abrace
Valor ––05 de outubro.............................................07
Como as economias morrem
Valor ––05 de outubro.............................................09
Um ecossistema para o combate à irregularidade digital
Valor ––05 de outubro.............................................11
Governo federal não pode deixar de pagar suas dívidas
Valor ––05 de outubro.............................................13
Fim do desconto acelera projetos de renováveis
Valor ––05 de outubro.............................................15
Precificação horária da energia terá efeitos distintos no mercado
Valor ––05 de outubro.............................................18
Banco do Brasil amplia investimento em geração solar
Valor ––05 de outubro.............................................20
Movimento falimentar
Valor ––05 de outubro.............................................22
CVM prepara unificação das regras de ofertas
Valor ––05 de outubro.............................................24
Justiça do Trabalho concede habeas corpus e libera passaportes de sócios
Valor ––05 de outubro.............................................28
Fundador do Andrade e Fichtner tenta revisão de acordo firmado para sua saída
Valor ––05 de outubro.............................................31
Grupos econômicos e execuções fiscais
Valor ––05 de outubro.............................................33
Governo quer extinguir desconto de 20% em declaração simplificada do IR
Folha ––05 de outubro.............................................35
Campanha quer regulação para inibir compra de ouro ilegal por instituições financeiras
Folha ––05 de outubro.............................................39
Rio vai ampliar dependência do petróleo, e royalties chegarão a 25% da receita
Globo ––05 de outubro.............................................42
Aumento de queixas leva governo a notificar companhias aéreas
Globo ––05 de outubro.............................................45
Substituto do PIS/Cofins alivia a carga tributária dos mais pobres, mostra estudo da Economia
Globo ––05 de outubro.............................................48
Estados não podem impor cadastro de compradores de celular, diz STF
Conjur ––05 de outubro.............................................51
Sindicato deve retirar negativação de empresa por suposta inadimplência de contribuição
Migalhas ––05 de outubro.............................................54
TJ/MG revoga liminar a mineradora que perdeu propriedade de bem para credor fiduciário
Migalhas ––05 de outubro.............................................55
Economia prepara MP para reduzir de 17 para 3 dias a abertura de empresas
Jota ––05 de outubro.....................................................56
Lutas por reconhecimento, racismo e ações afirmativas privadas
Jota ––05 de outubro....................................................60
Valor Econômico
Caderno: Primeira Página, segunda-feira 05 de outubro de 2020.
Aneel não vê perda de distribuidoras
Companhias calculam perdas de
R$ 6 bilhões em decorrência da
pandemia, mas a estimativa é
rejeitada informalmente pela
cúpula da agência
Por Daniel Rittner — De Brasília
As distribuidoras de energia terão
dificuldade para alterar contratos e,
assim, obter o reequilíbrio econômico
com o objetivo de compensar possíveis
perdas provocadas pela pandemia. As
companhias estimam prejuízo de R$ 6
bilhões, mas o cálculo é rejeitado pela
cúpula da Aneel. Nos bastidores, a
ordem na agência reguladora é adotar
postura rigorosa com as empresas.
Aneel vê ganhos das distribuidoras e pretende limitar revisão de tarifa
Agência está inclinada por
reequilíbrio inferior aos R$ 6 bi
desejados por empresas
Por Daniel Rittner — De Brasília
As distribuidoras de energia terão
grande dificuldade para emplacar um
01
reequilíbrio econômico da magnitude
pretendida em seus contratos. Elas
calculam perdas de R$ 6 bilhões em
decorrência da pandemia, mas a
estimativa é rejeitada informalmente
pela cúpula da Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel).
Nos bastidores, a ordem na agência
reguladora é adotar uma postura de
rigor com as empresas do setor, vistas
como menos impactadas pela crise do
que têm dado a entender. O balanço das
principais elétricas no segundo
trimestre, auge da pandemia, tem sido
mencionado pelas autoridades para
justificar essa avaliação.
O lucro líquido da Neoenergia chegou a
R$ 423 milhões, o da Equatorial atingiu
R$ 406 milhões e o da EDP Brasil foi de
R$ 237 milhões no período entre abril e
junho. Cemig e CPFL, com forte
representatividade também no
segmento de geração, tiveram resultado
positivo de R$ 1,043 bilhão e de R$ 462
milhões, respectivamente.
A Energisa teve prejuízo, mas a Aneel
vê influência do desempenho nas
concessões do Acre e de Rondônia -
distribuidoras privatizadas pela
Eletrobras em 2018.
Consulta pública sobre a metodologia
de cálculo de eventuais desequilíbrios
econômicos foi aberta pela agência em
agosto e termina hoje. É a partir dessa
definição que as empresas poderão
apresentar oficialmente seus pedidos,
mas a Associação Brasileira de
Distribuidores de Energia Elétrica
(Abradee) divulgou que estima a
necessidade de reequilíbrio de R$ 5, 5
bilhões a R$ 6 bilhões. Isso resultaria
em revisão extraordinária das tarifas
(RTEs) entre 2,5% e 3,5%.
Na Aneel, dois pontos são ressaltados
para minimizar o impacto da pandemia.
Primeiro: a demanda por energia já
voltou ao patamar verificado no mesmo
período do ano passado. Segundo: o
índice de inadimplência das contas de
luz teria ficado em 1,40% nos últimos
60 dias - abaixo da média histórica de
1,9%.
Para um integrante da diretoria da
agência, muitas distribuidoras terão
suas expectativas frustradas sobre o
crescimento do mercado em 2020, mas
isso não significa que os demais
consumidores devam pagar por isso. “O
desequilíbrio não é simplesmente a
diferença entre o mercado projetado
para 2020, no fim de 2019, e o
efetivamente verificado. Uma coisa é
deixar de ganhar o que se almejava,
outra coisa é perder”, diz a autoridade.
De acordo com essa autoridade, não
significa negar uma revisão
extraordinária de tarifa das
distribuidoras, mas que provavelmente
ela ficará abaixo do imaginado pelas
companhias.
Outro argumento citado na Aneel é que
o setor elétrico foi um dos mais
ajudados pelo governo no socorro de R$
15,3 bilhões em empréstimo liderado
pelo Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) para atenuar prejuízos
imediatos. A amortização do
empréstimo será feita em 54 meses,
com carência até junho de 2021.
O Congresso Nacional pressiona na
mesma linha. Na quinta-feira, um
pedido de auditoria operacional ou
“qualquer outro procedimento” para
02
acompanhar as discussões sobre
reequilíbrio das distribuidoras na Aneel
foi encaminhado ao Tribunal de Contas
da União (TCU) pelo presidente da
Comissão de Minas e Energia da
Câmara, deputado Silas Câmara
(Republicanos-AM).
“A sociedade brasileira já está sendo
excessivamente castigada com os efeitos
da pandemia, não sendo justo que seja
chamada a arcar com todos os prejuízos
dela decorrentes, muito menos em
favor da expectativa de lucro de poucas
empresas”, escreveu o deputado, no
ofício endereçado ao tribunal.
A Abradee discorda da percepção que
foi relatada ao Valor pela Aneel. “Levar
em consideração a performance
financeira de grupos econômicos que
mantêm atividades de geração,
transmissão, comercialização e
distribuição de energia elétrica para
analisar a necessidade de reequilíbrio
das distribuidoras é incorreto. A CP
[consulta pública] 35 trata das
distribuidoras”, afirmou o presidente da
associação Marcos Madureira.
“O poder regulador tem consciência
dessa distinção e sabe que a decisão do
tamanho da RTE das distribuidoras
depende dos impactos de natureza
extraordinária de cada uma delas, e não
de resultados de lucro de geração e da
transmissão”, disse o executivo.
Madureira ressaltou que as empresas
entendem que três fatores devem ser
contemplados na metodologia: queda
de mercado (perdas da parcela B), a
inadimplência (receitas irrecuperáveis)
e a sobrecontratação involuntária de
energia. E lembrou que os contratos
preveem reequilíbrio em caso de
eventos extraordinários.
Para ele, o não reconhecimento ou
reconhecimento do desequilíbrio a
partir de critérios pouco claros seria um
“sinal temerário”. “Trata-se de respeito
aos contratos, manutenção da
segurança jurídica e preservação da
atratividade do segmento de
distribuição, além de todos os ramos da
infraestrutura, para novos
investimentos”, concluiu.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020
/10/05/aneel-ve-ganhos-das-distribuidoras-e-
pretende-limitar-revisao-de-tarifa.ghtml
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03
Valor Econômico
Caderno: Primeira Pagina, segunda-feira 05de outubro de 2020.
Aneel não vê perda de distribuidoras
Companhias calculam perdas de
R$ 6 bilhões em decorrência da
pandemia, mas a estimativa é
rejeitada informalmente pela
cúpula da agência
Por Daniel Rittner — De Brasília
As distribuidoras de energia terão
dificuldade para alterar contratos e,
assim, obter o reequilíbrio econômico
com o objetivo de compensar
possíveis perdas provocadas pela
pandemia. As companhias estimam
prejuízo de R$ 6 bilhões, mas o
cálculo é rejeitado pela cúpula da
Aneel. Nos bastidores, a ordem na
agência reguladora é adotar postura
rigorosa com as empresas.
Aneel vê ganhos das distribuidoras e pretende limitar revisão de tarifa
Agência está inclinada por
reequilíbrio inferior aos R$ 6 bi
desejados por empresas
Por Daniel Rittner — De Brasília
04
As distribuidoras de energia terão
grande dificuldade para emplacar um
reequilíbrio econômico da magnitude
pretendida em seus contratos. Elas
calculam perdas de R$ 6 bilhões em
decorrência da pandemia, mas a
estimativa é rejeitada informalmente
pela cúpula da Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel).
Nos bastidores, a ordem na agência
reguladora é adotar uma postura de
rigor com as empresas do setor, vistas
como menos impactadas pela crise do
que têm dado a entender. O balanço
das principais elétricas no segundo
trimestre, auge da pandemia, tem
sido mencionado pelas autoridades
para justificar essa avaliação.
O lucro líquido da Neoenergia chegou
a R$ 423 milhões, o da Equatorial
atingiu R$ 406 milhões e o da EDP
Brasil foi de R$ 237 milhões no
período entre abril e junho. Cemig e
CPFL, com forte representatividade
também no segmento de geração,
tiveram resultado positivo de R$
1,043 bilhão e de R$ 462 milhões,
respectivamente.
A Energisa teve prejuízo, mas a Aneel
vê influência do desempenho nas
concessões do Acre e de Rondônia -
distribuidoras privatizadas pela
Eletrobras em 2018.
Consulta pública sobre a metodologia
de cálculo de eventuais desequilíbrios
econômicos foi aberta pela agência
em agosto e termina hoje. É a partir
dessa definição que as empresas
poderão apresentar oficialmente seus
pedidos, mas a Associação Brasileira
de Distribuidores de Energia Elétrica
(Abradee) divulgou que estima a
necessidade de reequilíbrio de R$ 5, 5
bilhões a R$ 6 bilhões. Isso resultaria
em revisão extraordinária das tarifas
(RTEs) entre 2,5% e 3,5%.
Na Aneel, dois pontos são ressaltados
para minimizar o impacto da
pandemia. Primeiro: a demanda por
energia já voltou ao patamar
verificado no mesmo período do ano
passado. Segundo: o índice de
inadimplência das contas de luz teria
ficado em 1,40% nos últimos 60 dias -
abaixo da média histórica de 1,9%.
Para um integrante da diretoria da
agência, muitas distribuidoras terão
suas expectativas frustradas sobre o
crescimento do mercado em 2020,
mas isso não significa que os demais
consumidores devam pagar por isso.
“O desequilíbrio não é simplesmente
a diferença entre o mercado projetado
para 2020, no fim de 2019, e o
efetivamente verificado. Uma coisa é
deixar de ganhar o que se almejava,
outra coisa é perder”, diz a
autoridade.
De acordo com essa autoridade, não
significa negar uma revisão
extraordinária de tarifa das
distribuidoras, mas que
provavelmente ela ficará abaixo do
imaginado pelas companhias.
Outro argumento citado na Aneel é
que o setor elétrico foi um dos mais
ajudados pelo governo no socorro de
R$ 15,3 bilhões em empréstimo
liderado pelo Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) para atenuar prejuízos
imediatos. A amortização do
empréstimo será feita em 54 meses,
com carência até junho de 2021.
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O Congresso Nacional pressiona na
mesma linha. Na quinta-feira, um
pedido de auditoria operacional ou
“qualquer outro procedimento” para
acompanhar as discussões sobre
reequilíbrio das distribuidoras na
Aneel foi encaminhado ao Tribunal de
Contas da União (TCU) pelo
presidente da Comissão de Minas e
Energia da Câmara, deputado Silas
Câmara (Republicanos-AM).
“A sociedade brasileira já está sendo
excessivamente castigada com os
efeitos da pandemia, não sendo justo
que seja chamada a arcar com todos
os prejuízos dela decorrentes, muito
menos em favor da expectativa de
lucro de poucas empresas”, escreveu o
deputado, no ofício endereçado ao
tribunal.
A Abradee discorda da percepção que
foi relatada ao Valor pela Aneel.
“Levar em consideração a
performance financeira de grupos
econômicos que mantêm atividades
de geração, transmissão,
comercialização e distribuição de
energia elétrica para analisar a
necessidade de reequilíbrio das
distribuidoras é incorreto. A CP
[consulta pública] 35 trata das
distribuidoras”, afirmou o presidente
da associação Marcos Madureira.
“O poder regulador tem consciência
dessa distinção e sabe que a decisão
do tamanho da RTE das
distribuidoras depende dos impactos
de natureza extraordinária de cada
uma delas, e não de resultados de
lucro de geração e da transmissão”,
disse o executivo.
Madureira ressaltou que as empresas
entendem que três fatores devem ser
contemplados na metodologia: queda
de mercado (perdas da parcela B), a
inadimplência (receitas
irrecuperáveis) e a sobrecontratação
involuntária de energia. E lembrou
que os contratos preveem reequilíbrio
em caso de eventos extraordinários.
Para ele, o não reconhecimento ou
reconhecimento do desequilíbrio a
partir de critérios pouco claros seria
um “sinal temerário”. “Trata-se de
respeito aos contratos, manutenção
da segurança jurídica e preservação
da atratividade do segmento de
distribuição, além de todos os ramos
da infraestrutura, para novos
investimentos”, concluiu.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/20
20/10/05/aneel-ve-ganhos-das-
distribuidoras-e-pretende-limitar-revisao-de-
tarifa.ghtml
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06
Valor Econômico
Caderno: Brasil, segunda-feira 05de outubro de 2020.
Marco do gás elevará competitividade industrial, reforça Abrace
Para o presidente da entidade,
Paulo Pedrosa, redução do preço
da energia impulsionará
produção de itens de maior valor
agregado
Por Rafael Bitencourt — De
Brasília
Pedrosa: redução do preço da energia
impulsionará produção com valor
agregado — Foto: Silvia Zamboni/Valor
O novo marco legal do mercado de
gás, que passou pela Câmara e é
analisado no Senado, será capaz de
acionar “gatilhos de competitividade”
na indústria nacional, segundo o
presidente-executivo da Abrace,
Paulo Pedrosa, que representa
grandes consumidores de energia e
07
indústrias eletrointensivas. Ao
participar de Live do Valor na sexta-
feira, ele disse que a redução do preço
da energia, por meio da competição,
impulsionará a produção de bens com
maior valor agregado, que vinha
sendo abandonada nos últimos anos.
A estratégia de reduzir o preço do gás
natural e da conta de luz considera o
fato de, em muitas situações, a
energia responder por 40% do custo
de produtos. Na avaliação de Pedrosa,
é uma oportunidade para a indústria
se tornar mais competitiva, pois o
preço da energia brasileira “não cabe
mais dentro do produto”.
“O Brasil reduziu imensamente a
produção de alumínio. Em vez de
avançarmos na cadeia produtiva,
passar a fabricar ligas especiais de
alumínio e peças para automóveis,
estamos regredindo na cadeia para
exportar produto-base”, disse
Pedrosa, que foi diretor da Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e
secretário-executivo do Ministério de
Minas e Energia no governo Michel
Temer.
Durante o bate-papo conduzido pelo
jornalista Daniel Rittner, repórter
especial do Valor em Brasília,
Pedrosa disse que a “maioria
esmagadora” do setor produtivo está
engajada na aprovação da versão
atual do texto discutido no Senado.
Segundo ele, estão envolvidos
segmentos que vão da produção “do
biscoito à cerveja, do brinquedo ao
aço, do vidro à indústria química, do
têxtil à siderurgia”.
A Abrace prevê que a redução do
preço do gás natural, a partir da
entrada em vigor da nova lei, será
capaz de gerar mais quatro milhões
de empregos no país. De acordo com a
associação, a indústria deve triplicar o
consumo do insumo.
“A nova lei cria os elementos para a
gente ter muitos produtores de um
lado, com livre acesso aos sistema de
transporte e tratamento de gás,
atendendo a muitos consumidores do
outro lado. Ter um grande mercado
nacional em que a competição vai
definir os preços e os investimentos
tanto na cadeia do gás quanto da
indústria”, afirmou o presidente-
executivo da Abrace.
Pedroza alerta para o risco da
proposta de modernização do
mercado de gás ser prejudicada com
ajustes no Congresso. Segundo ele,
integrantes do próprio mercado de
gás, como as distribuidoras, ou do
setor elétrico pressionam para
modificar o texto atual. “É importante
apoiá-lo e trabalhar contra
modificações que atrapalham a lógica
do projeto original”, afirmou.
O executivo disse que a proposta atual
já consolida a migração do Brasil do
monopólio estatal da Petrobras para
um mercado competitivo. Durante a
entrevista, ele relatou que o próprio
setor industrial que representa abriu
mão de “alguns avanços” para ter o
projeto de lei aprovado rapidamente,
com entendimento de que o “ótimo é
inimigo do bom”.
Para Pedrosa, o mais importante é
que o princípio da competição
prevaleça sobre mecanismos
sugeridos para atender a interesses de
setores específicos. Ele considera que
08
algumas modificações podem trazer
“vícios” semelhantes aos observados
no setor elétrico, onde metade da
conta é composta por subsídios e
encargos.
“No Brasil, a energia é um tema muito
capturado por especialistas e por
integrantes da cadeia do mercado,
como se a energia fosse um fim em si
mesmo ou um veículo para conduzir
políticas públicas e um conjunto de
interesses pontuais”, disse na
transmissão. Ele se posiciona contra
os subsídios para financiar novos
gasodutos ou termelétricas a gás,
defendidos por alguns agentes
econômicos.
A Abrace chegou a lançar campanha
nas redes sociais para mostrar a
participação da energia no custo de
produtos, como do leite (40%) e da
casa popular (25%). Pedrosa destaca
que o Brasil tem vantagens, em
termos energéticos, em relação a
muitos países. “Na verdade, isso é
capturado e destruído pelas mordidas
que a energia leva do poço de petróleo
ao botijão, à fábrica ou da geração no
painel solar ao franco congelado”,
afirmou, em transmissão pelo site e
pelas páginas do Valor no YouTube,
no LinkedIn e no Facebook.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/
10/05/marco-do-gas-elevara-
competitividade-industrial-reforca-
abrace.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Politica, segunda-feira 05de outubro de 2020.
Como as economias morrem
Depois do teto, próxima vítima
poderá ser a autonomia do
Bacen
As ambições de um político o tornam
capaz de passar por cima de anos de
amizade e a desprezar laços de
parentesco mesmo em momentos
difíceis de saúde - o que dirá em
relação a compromissos com a
estabilidade econômica do país.
Em 1959, Lucas Lopes era o ministro
da Fazenda do presidente Juscelino
Kubitschek. Companheiro fiel desde
os tempos da campanha de JK para o
governo de Minas, o engenheiro foi o
cérebro por trás da criação da Cemig -
polo indutor da industrialização
mineira, que catapultou JK ao
primeiro plano da política nacional - e
idealizador do famoso Plano de
Metas, o programa
desenvolvimentista que prometeu
entregar “50 anos em 5”. JK e Lucas
Lopes eram tão próximos que seus
filhos vieram a se casar.
Após o teto, próxima vítima
poderá ser a autonomia do
Bacen
Depois de presidir o BNDE (o “S” só
viria a ser acrescentado no início da
década de 1980), Lucas Lopes foi
09
escalado para comandar a economia
do país em meio ao desequilíbrio das
contas públicas gerado
principalmente pela construção de
Brasília. Ao lado de Roberto Campos,
concebeu o Plano de Estabilização
Monetária (PEM), cujo propósito era
deter o crescimento do déficit público
por meio de um controle mais rígido
dos gastos e aprovar uma
minirreforma tributária destinada a
aumentar a arrecadação, além de
reduzir a expansão do crédito para
aliviar a inflação. A dupla Lopes &
Campos ainda planejava rever a
política de incentivos para o café e
iniciou negociações de um novo
empréstimo junto ao FMI para evitar
uma crise cambial.
Qualquer ministro da Fazenda que
tenha que defender a austeridade
fiscal frente a um presidente que só
pensa na sua popularidade vive em
permanente estresse - e o de Lucas
Lopes era tão grande que ele acabou
sofrendo um infarto em 30 de maio
de 1959. Com o grande amigo (e
futuro consogro) correndo risco de
vida, JK não pensou duas vezes:
nomeou o expansionista Sebastião
Paes de Almeida em seu lugar,
rompeu com o FMI, autorizou um
reajuste no preço do café e ampliou
ainda mais os gastos públicos para
entregar a nova capital dentro do
prazo. Se o populismo de um político
não respeita nem os laços pessoais
mais íntimos, não serão as
instituições econômicas que o
deterão.
Em 2018 foi lançado o best-seller
“Como as Democracias Morrem”,
escrito por Steven Levitsky e Daniel
Ziblatt, ambos professores de ciência
política de Harvard. O argumento
central do livro é que líderes
autoritários estariam sorrateiramente
enfraquecendo as instituições ao
rejeitarem as regras do jogo
democrático, encorajarem a
intolerância e a violência e
restringirem as liberdade civis,
atacando especialmente a imprensa.
Desde a campanha eleitoral,
Bolsonaro vem sendo apontado como
o exemplar brasileiro dessa nova safra
de governantes que buscam
permanecer no poder e impor suas
vontades não pelo uso de tanques e
metralhadoras, mas por forçarem
diuturnamente as grades de proteção
da democracia.
A aliança firmada com o Centrão nos
últimos meses tende a arrefecer esses
temores. Cada vez mais refém da
“velha política” para proteger a si
mesmo e à sua família de processos e
também para ampliar sua aprovação
entre a população mais pobre do
Norte e do Nordeste, parece que não é
mais a democracia quem corre perigo
no Brasil - mas sim a economia.
Bolsonaro colheu os frutos imediatos
da enorme injeção de recursos
públicos para combater os efeitos do
coronavírus sobre trabalhadores e
empresas. Com a popularidade em
níveis recordes, inebriou-se com a
perspectiva de uma vitória fácil
quando tentar a reeleição. O
problema é que 2022 está muito
distante.
Os sinais de desequilíbrio na
economia brasileira aparecem em
todas as frentes. O déficit e a dívida
pública estão em trajetória explosiva,
elevando o risco-país e afugentando o
capital externo. A saída de
10
investidores pressiona a taxa de
câmbio, que encarece insumos
importados e estimula o agronegócio
e indústrias nacionais a direcionarem
suas vendas ao exterior. Os índices no
atacado já mostram uma forte
inflação de custos e os consumidores
nos supermercados se assustam com
os preços dos alimentos.
Tecnicamente, não há muita dúvida
sobre o caminho para recuperar o
equilíbrio. Passado o pior da
pandemia, caberia ao governo
recolher a artilharia fiscal montada
para combater a covid e avançar nas
causas estruturais de um
desequilíbrio que já incomodava
desde antes da chegada do vírus:
trabalhar pela aprovação das PECs
emergencial e do pacto federativo e
atacar uma reforma administrativa
muito mais corajosa do que a
apresentada ao Congresso no mês
passado.
O problema é que o receituário
técnico entra em colisão com as
ambições políticas de Bolsonaro. Um
ajuste rigoroso pode abortar a
recuperação e inviabiliza a
continuidade dos agrados
distribuídos aos futuros eleitores de
2022. O teto de gastos parece ser a
primeira vítima do populismo fiscal
do Palácio do Planalto. Mas é pouco
provável que o ataque às instituições
econômicas pare por aí.
O abandono do teto e a falta de
comprometimento do governo com a
sustentabilidade das contas públicas
elevarão ainda mais o câmbio ao
longo de 2021 e 2022, pressionando a
inflação. Estará o presidente
preparado para ver o dólar romper a
barreira dos R$ 6 ou R$ 7? À medida
em que a eleição se aproximar, será
que Bolsonaro aceitará passivamente
aumentos na taxa de juros?
Uma vez derrubado o teto de gastos,
quem entra na mira do populismo
presidencial é a autonomia
operacional do Banco Central. Para
não colocar em risco seus planos
eleitorais, não me surpreenderia se
Bolsonaro tentasse influenciar o
Comitê de Política Monetária por uma
maior leniência com a inflação ou até
mesmo pela busca de soluções
“criativas” para conter a taxa de
câmbio, como o uso mais intenso das
reservas internacionais ou medidas de
controle de saída de capitais.
Nestes novos tempos, são incomuns
as grandes rupturas
macroeconômicas provocadas por
declaração de moratórias, confisco de
poupanças ou rompimento com o
FMI. O perigo hoje em dia é o
sorrateiro enfraquecimento das
instituições econômicas por líderes
populistas que só pensam em
permanecer no poder a qualquer
custo.
Bruno Carazza é mestre em
economia, doutor em direito e
autor de “Dinheiro, Eleições e
Poder: as engrenagens do
sistema político brasileiro”.
Escreve às segundas-feiras
E-mail:
https://valor.globo.com/politica/coluna/com
o-as-economias-morrem.ghtml
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11
Valor Econômico
Caderno: Brasil, segunda-feira 05de outubro de 2020.
Um ecossistema para o combate à irregularidade digital
Acordo é inédito no mundo
Por Diogo Rais, Camila Tsuzuki
e Roberta Battisti
O Tribunal Superior Eleitoral
anunciou diversas parcerias para o
combate às irregularidades eleitorais
digitais, em especial, as fake news.
Entre elas, temos o acordo inédito no
mundo que foi feito entre o WhatsApp
Inc e uma autoridade eleitoral
nacional, além de acordos com o
Facebook, Google, Agências de
Checagem e a Conexis Brasil Digital.
Se por um lado esses acordos são
vistos como um avanço no combate a
desinformação e as demais
irregularidades eleitorais digitais, por
outro, surgem preocupações com a
liberdade de expressão tanto de
candidatos quanto de eleitores. Mas o
que podemos esperar dessa parceria?
Nas eleições de 2018 a internet, em
especial nas redes sociais e no
WhatsApp, tornou-se palco de
debates políticos, muitos deles,
infelizmente, alimentados pela
polarização, desinformação e discurso
de ódio. O Ministro Luiz Fux,
presidente do TSE à época, afirmou
11
que, diferente dos Estados Unidos,
onde as “fake news” são monitoradas
e depois reprimidas, aqui, no Brasil, a
remoção das notícias seriam feitas de
forma preventiva. No entanto, irônica
e infelizmente, a Justiça Eleitoral foi
reduzida a uma das maiores vítimas
da desinformação, que não só
alcançou candidatos e partidos, como
também questionou a legitimidade da
votação eletrônica.
Chegamos a 2020 com um cenário
eleitoral, embora incerto,
exponencialmente digital. Esforços
como a possibilidade de realização de
convenções eleitorais virtuais, o
investimento em treinamento virtual
de mesários e as próprias parcerias
firmadas com plataformas e agências
de checagem evidenciam o
reconhecimento pela Justiça Eleitoral
da internet como um espaço para o
debate público e uma oportunidade
para promoção da democracia.
As parcerias firmadas podem
promover o comparecimento às
urnas, garantir que mesários sejam
fortalecidos em seu papel
fundamental no processo e que
eleitores recebam informações de
qualidade, sendo incentivados a
verificar o conteúdo e também em
assumir sua própria responsabilidade
neste ecossistema.
Nos parece que o anúncio dos acordos
de cooperação representa a evolução
no relacionamento entre a Justiça
Eleitoral e as plataformas e o
reconhecimento da internet como um
espaço público relevante na sociedade
brasileira. O fato é que a
movimentação conjunta do poder
público e de plataformas podem
colocar em xeque a proliferação de
desinformação e impactar
positivamente as eleições de 2020.
Afinal um fenômeno tão complexo
como a desinformação requer
soluções multidisciplinares,
intersetoriais e acima de tudo
coletivas. Esperamos que acordos
como esses possam inspirar e
fomentar outros setores da sociedade
a unir esforços na construção de um
ambiente de cooperação em prol da
democracia.
Diogo Rais é advogado,
professor doutor em Direito
Eleitoral da Universidade
Mackenzie, diretor geral e
fundador do Instituto Liberdade
Digital
Camila Tsuzuki é advogada,
diretora de planejamento do
Instituto Liberdade Digital (ILD)
Roberta Battisti é advogada,
pesquisadora do Instituto
Liberdade Digital (ILD)
https://valor.globo.com/politica/coluna/
um-ecossistema-para-o-combate-a-
irregularidade-digital.ghtml
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12
Valor Econômico
Caderno: Opinião, segunda-feira 05de outubro de 2020.
Governo federal não pode deixar de pagar suas dívidas
O respeito a contratos e a
decisões judiciais é uma das
bases do Estado democrático de
direito
O que mais espanta na proposta de
limitar o pagamento de precatórios
pela União e usar os recursos que
sobrarem para custear o novo
programa social do governo, chamado
por alguns de Renda Cidadã e por
outros de Renda Brasil, é que ela teve
a chancela do presidente Jair
Bolsonaro e do ministro da Economia,
Paulo Guedes. Os dois estavam
presentes no momento em que o
senador Márcio Bittar (MDB-AC),
relator da proposta orçamentária para
2021, a anunciou, no Palácio da
Alvorada, em nome do governo.
O precatório é uma requisição de
pagamento expedida pela Justiça para
que a Fazenda pública (da União, do
Estado ou do município) pague um
determinado débito. Ele é o resultado
de uma ação que tramitou na Justiça,
normalmente durante anos, passando
por todas as instâncias devidas, e já
com decisão definitiva, transitada em
julgado. Ou seja, o gestor público não
tem mais como recorrer. Só lhe resta
pagar. O precatório, portanto, é uma
dívida líquida e certa da Fazenda
pública.
13
Compete ao Presidente do Tribunal
em que o processo tramitou formular
a requisição do pagamento. No caso
da União, em julho de cada ano, os
Tribunais Superiores encaminham ao
Executivo a relação dos precatórios
que deverão ser incorporados à
despesa orçamentária do exercício
seguinte. O governo não tem,
portanto, qualquer interferência
sobre o valor anual dessa despesa.
O precatório resulta de ação do
cidadão contra o Poder público. As
ações tratam de tudo, desde
reparações por desapropriações feitas
pela União, Estados ou municípios,
perdas em virtude de medidas
adotadas por equipes econômicas no
passado que prejudicaram empresas,
até queixas contra o INSS pelo não
pagamento devido de aposentadorias
e pensões, entre outros benefícios. É o
cidadão que se sentiu lesado em seus
direitos pelo agente público e recorre
ao Judiciário.
Ao propor um limite para o
pagamento dos precatórios, o governo
está simplesmente dizendo que não
quer pagar o montante que a Justiça
determinou. Ou melhor, só pagará um
determinado valor. O resto, ficará
para ser pago pelas gerações futuras.
Em última análise, a atual geração
está transferindo a conta de uma
despesa que fez para ser paga pelas
gerações seguintes.
A forte reação da sociedade brasileira
a essa proposta, que foi expressa na
mídia na semana passada, indica um
amadurecimento importante, que
precisa ser comemorado. A sociedade
expressou sua indignação com uma
iniciativa do governo federal que
claramente desrespeita decisões
judiciais.
O respeito a contratos e a decisões
judiciais é uma das bases do Estado
democrático de direito. Um governo
que propõe não honrar o pagamento
de suas dívidas está ferindo o
compromisso de respeitar esses
princípios. Não se pode aceitar o
calote como algo justificável, mesmo
que sua finalidade seja, como neste
caso, para financiar um gasto social.
O Brasil deixou claro isso na semana
passada.
Outro fato surpreendente foi a
suspeita levantada pelo ministro
Paulo Guedes, ao sugerir que estaria
ocorrendo “uma indústria do
precatório”, pois esta despesa da
União, segundo informou, “explodiu”
nos últimos anos. Ela teria sido de R$
10 bilhões a R$ 12 bilhões no período
do governo da ex-presidente Dilma
Rousseff e teria saltado para R$ 55
bilhões em 2021.
Sem dúvida, a despesa com o
pagamento de precatórios vem
crescendo muito. De acordo com
dados do Siga Brasil, o sistema
eletrônico de acompanhamento
orçamentário do Senado, esse gasto
ficou em R$ 14,2 bilhões em 2012, em
valores correntes, passou para R$
24,6 bilhões em 2015 e para R$ 41,3
bilhões no ano passado. A previsão
orçamentária para este ano é de R$
54,3 bilhões, sendo que, até setembro,
já havia sido pago R$ 44,1 bilhões.
Para 2021, a previsão é de R$ 55,5
bilhões, sendo R$ 17,2 bilhões de
sentenças judiciais de pequeno valor
(até 60 salários mínimos).
É evidente que, como qualquer
despesa pública, o pagamento de
14
precatórios precisa estar sujeito a
avaliações. É uma boa iniciativa que
se faça uma análise criteriosa dessa
despesa para que sejam verificadas as
razões desse forte crescimento.
Não parece ser prudente, no entanto,
fazer ilações no sentido de que estaria
existindo uma “indústria de
precatórios”, pois isso levanta sérias
suspeitas sobre todo o Judiciário.
https://valor.globo.com/opiniao/noticia/202
0/10/05/governo-federal-nao-pode-deixar-
de-pagar-suas-dividas.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Empresas, segunda-feira 05de outubro de 2020.
Fim do desconto acelera projetos de renováveis
Geradores e desenvolvedores
correm para viabilizar projetos
de fontes “incentivadas” de
energia antes do fim dos
subsídios
Por Letícia Fucuchima — De São
Paulo
A perspectiva de fim dos subsídios às
fontes renováveis de energia, prevista
pela medida provisória 998/2020,
tem levado geradores e
desenvolvedores a acelerarem
negociações e trâmites para entrar
com pedidos de outorga de projetos
na Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel).
Editada no início de setembro, a MP
998 prevê que o desconto de pelo
menos 50% nas tarifas do uso dos
sistemas de transmissão e
15
distribuição está garantido para
empreendimentos de fontes
“incentivadas” (eólica, solar,
biomassa e PCH) que solicitarem
outorga até 1º de setembro de 2021 e
iniciarem operações em até 48 meses.
Apesar da incerteza sobre a conversão
da MP em lei, agentes do setor
entendem que o assunto, já em
discussão há anos, se tornou mais
concreto com a proposta do governo.
Por isso, as empresas têm preferido
acelerar processos do que correr o
risco de perder o benefício.
Entre os geradores, há quem avalie
inverter a prática comum e pedir
outorgas mesmo sem ter ainda um
contrato de compra e venda de
energia (PPA) assinado. É o caso da
Echoenergia, braço da gestora
britânica Actis para projetos de
energia renovável. “Para projetos que
devemos assinar [com consumidores]
num futuro próximo, entendo que é
responsável da nossa parte começar o
processo de outorga agora, em vez de
esperar. Até porque posso perder essa
janela”, afirma o presidente, Edgard
Corrochano. A companhia tem 1
gigawatt (GW) em complexos eólicos
operacionais e mais 2 GW em projetos
no “pipeline” para os próximos anos.
Normalmente, geradores preferem ter
um contrato em mãos para garantir a
viabilidade das usinas antes de iniciar
os procedimentos junto à Aneel,
aponta Fabiana Vidigal de Figueiredo,
sócia de energia e meio ambiente do
CMT Advogados. Ela observa que o
pedido de outorga exige o aporte de
garantias financeiras, em valores não
desprezíveis. Além disso, quando o
documento é expedido, começam a
correr prazos para a implantação do
projeto, que podem gerar multas em
caso de descumprimento.
O diretor de Novos Negócios da Casa
dos Ventos, Lucas Araripe, entende
que a fonte solar tem uma facilidade
nesse processo. Isso porque, no caso
da solar, não há obrigação de aporte
de garantias na hora de pedir a
outorga, de forma que o prejuízo
financeiro é menor se o projeto não
sair do papel. “Já o eólico, tem que
ser algo mais concreto para entrar
com o pedido”. A companhia já tem
outorgas para o 1,5 GW em projetos
eólicos que deve construir no Rio
Grande do Norte e na Bahia até 2023.
Outra empresa que tem se apressado
após a edição da MP é a Rio Alto,
desenvolvedora e geradora focada em
energia solar. “Na nossa programação
dos próximos anos, já estamos no
processo de outorga dos parques para
conseguir esse incentivo”, afirma o
sócio-fundador, Rafael Brandão. Ele
defende, porém, que é preciso “certo
cuidado” para que essa correria não
leve a um acúmulo de projetos sem
rigor técnico no mercado. “Muitas
empresas estão outorgando projetos
para depois vendê-los. Não sei se isso
faz sentido, e se você tiver um monte
de outorga e não vender?”
No segmento de geração, é comum
que empresas se especializem nas
diferentes fases dos projetos
(desenvolvimento inicial, construção,
operação), em alguns casos atuando
em apenas uma dessas etapas. Por
isso, especialistas apostam também
num aquecimento no mercado de
fusões e aquisições (M&A, na sigla em
inglês), com empresas de projetos
correndo para obter outorga como
forma de valorizar seus ativos antes
16
de buscar compradores. “Projetos de
desenvolvedores já com requisição de
outorga se tornaram muito mais
valiosos do dia para a noite”, afirma
Raphael Gomes, sócio da área de
Energia do escritório Demarest.
De acordo com a Aneel, ainda não é
possível enxergar efeitos concretos
dessa “corrida” do mercado nos dados
mais recentes, possivelmente pelo
pouco tempo desde a publicação da
MP. De todo modo, o volume de
projetos já outorgados pela agência
mostra o forte interesse do mercado
na geração renovável: neste ano,
foram emitidas 220 outorgas para
projetos eólicos e solares no mercado
livre (ACL), somando 8,2 GW de
potência.
Mesmo com tanto projeto no
mercado, especialistas acreditam que
haverá demanda para colocá-los de
pé. A leitura é que empresas que
estejam capitalizadas podem acelerar
a contratação de energia de longo
prazo para garantir o benefício. Além
disso, as renováveis se tornaram
ainda mais atrativas com o
fortalecimento da agenda “ESG” (sigla
para governança ambiental, social e
empresarial).
Além de negociações bilaterais, outra
forma de viabilizar os
empreendimentos têm sido os leilões
organizados pelas próprias elétricas
para compra de energia de terceiros.
No último mês, Engie e Furnas
abriram certames do tipo. “A energia
vendida para Furnas, a partir do
leilão, necessariamente ainda fará jus
aos incentivos”, explicita a estatal, em
comunicado sobre a licitação.
Os impactos da retirada dos
incentivos sobre os preços e a
competitividade das renováveis ainda
não são claros. No geral, especialistas
e geradores entendem que a energia
eólica e solar devem continuar
competitivas, a exemplo do observado
nos últimos leilões regulados. Entre
as duas fontes, há quem considere
que a solar pode ser mais afetada pelo
fim do desconto - segundo um estudo
da consultoria Greener, o preço da
energia solar pode ter acréscimo de
quase R$ 20/MWh com o fim do
desconto no “fio”.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/20
20/10/05/fim-do-desconto-acelera-projetos-
de-renovaveis.ghtml
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17
Valor Econômico
Caderno: Empresas, segunda-feira 05de outubro de 2020.
Precificação horária da energia terá efeitos distintos no mercado
Estudo da comercializadora
Trinity aponta que metalurgia e
manufaturados diversos podem
ser os mais afetados pela
mudança do PLD em 2021
Por Letícia Fucuchima — De São
Paulo
Confirmada para janeiro de 2021, a
mudança no preço da energia elétrica
no mercado de curto prazo, o “PLD”,
terá efeitos distintos sobre os vários
setores da economia que contratam o
insumo no ambiente de contratação
livre (ACL) e também sobre as
companhias geradoras de energia.
Do lado dos consumidores, a
passagem para uma variação de
preços hora a hora poderá trazer
custos adicionais a todos os ramos de
atividade, segundo um estudo da
18
comercializadora Trinity. O
levantamento mostra que os
consumidores tendem a ter uma
exposição negativa, ou seja, teriam
que pagar a mais na liquidação
financeira mensal na Câmara de
Comercialização de Energia Elétrica
(CCEE).
Embora grande parte dos contratos
no mercado livre determine uma
entrega constante de energia, o
consumo normalmente varia ao longo
dia e da semana, de maneira que
sempre existem faltas ou sobras de
energia, valoradas ao preço daquele
momento. Hoje, a definição do preço
de curto prazo é feita em base
semanal. A partir do ano que vem,
passa a vigorar um cálculo de preço
horário.
Pelo estudo da Trinity, a entrada do
PLD horário afetará principalmente a
metalurgia e manufaturados diversos.
Para esses setores, foram calculados
custos adicionais de, respectivamente,
R$ 4,73 por megawatt-hora (MWh) e
R$ 5,16 /MWh caso a nova
sistemática já estivesse em vigor. Isso
se deve ao perfil de consumo dessas
indústrias, que teriam mais sobras de
energia aos finais de semana, quando
os preços diminuem
significativamente em relação aos
praticados em horários comerciais.
Os setores de comércio e de serviços
(incluindo shoppings e hotéis), com
elevado número de consumidores no
ACL, devem perceber um efeito mais
brando da aplicação do preço horário,
aponta o levantamento. Já os menos
impactados seriam as atividades de
químicos e saneamento, pelo fato de
possuírem processos contínuos, que
garantem um perfil de consumo
regular ao longo do dia e da semana.
Já no caso das geradoras, a Trinity
estimou que, com o PLD horário, a
energia solar de uma usina no interior
do Piauí valeria em torno de R$ 1,32 a
mais a cada mil quilowatt-hora (kWh)
gerados. Já a energia eólica de uma
usina no interior do Rio Grande do
Norte, com geração mais intensa à
noite, vale cerca de R$ 10 a menos a
cada mil kWh.
Os dados utilizados no estudo são
baseados na carteira de clientes da
comercializadora, que soma 450
consumidores e geradores, com 2,5
GW. Para preços, foram usadas as
simulações do PLD horário “sombra”
divulgadas pela CCEE no ano de 2019
- os números de 2020 foram
excluídos devido ao impacto da
pandemia sobre os preços, que
distorceria a análise.
Segundo o CEO da Trinity, João
Sanches, muitos consumidores ainda
não estão atentos à mudança para o
PLD horário. “É um assunto bastante
relevante, mas que não está sendo
tratado com a importância que
deveria. Por outro lado, os geradores
estão bem preocupados,
principalmente os de fonte eólica no
Norte e no Nordeste, com geração
mais intensa na madrugada, hora que
está ficando mais barata”, explica.
Para minimizar potenciais efeitos, o
executivo afirma que o consumidor
deve contratar energia de acordo com
seu perfil de consumo. Outra solução
é tentar deslocar o consumo para
horas mais baratas. “Mas isso é difícil,
muitas vezes os custos de fazer esse
tipo de deslocamento são bem
19
maiores do que a eventual exposição
na CCEE”.
Bastante aguardada, a entrada em
vigor do PLD horário em 2021 já foi
confirmada pelo governo, após anos
de postergação. A mudança é bem
vista pelos agentes do setor elétrico: a
expectativa é que os preços fiquem
mais próximos da realidade das
operações do ONS, o que permitirá
identificar ineficiências e
oportunidades de otimização.
“Estamos preparados e a decisão de
um período de análise com a operação
utilizando o novo sistema foi
positiva”, afirmou Rui Altieri,
presidente do conselho de
administração da CCEE, na semana
passada.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/20
20/10/05/precificacao-horaria-da-energia-
tera-efeitos-distintos-no-mercado.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Empresas, segunda-feira 05de outubro de 2020.
Banco do Brasil amplia investimento em geração solar
Banco do Brasil expande
investimentos em energia solar
para atender demanda de
agências
Por Gabriela Ruddy — Do Rio
Forni, do BB: aposta no “ganha-ganha”
com donos de usinas fotovoltaícas —
Foto: Divulgação
Em meio à busca por redução de
custos no contexto da crescente
digitalização bancária, o Banco do
Brasil (BB) estuda lançar novas
licitações para contratar usinas de
20
energia solar em São Paulo, no
Paraná e em Santa Catarina. O banco
também tem interesse em levar a
geração solar para agências no Rio
Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rio
Grande do Norte e Espírito Santo.
Os projetos, no entanto, dependem
das discussões sobre as novas regras
para geração distribuída - modalidade
na qual o consumidor gera sua
própria energia, localmente ou de
forma remota.
No momento, a Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) debate o
aperfeiçoamento das regras atuais.
Hoje, o consumidor que se encaixa na
categoria não recolhe a tarifa de uso
do sistema de distribuição (Tusd) em
relação à energia que fornece à rede
elétrica, mas as distribuidoras de
energia defendem que a tarifa seja
cobrada para não onerar os custos
para os demais usuários. “Nós, como
investidores, queremos o mercado
estável e com custos transparentes e
eficientes. Temos a predisposição
para investir e estamos focados em
tornar nossa matriz mais limpa, mas a
questão econômica pesa. Se a
alteração regulatória for impor um
custo isso vai, no mínimo, diminuir
nosso apetite”, diz José Ricardo
Forni, diretor de suprimentos,
infraestrutura e patrimônio do BB.
Ao todo, o Banco do Brasil tem sete
projetos de geração solar contratados,
como parte de um plano de
sustentabilidade em curso desde
2004. Juntas, as plantas têm
capacidade para gerar 42 gigawatts-
hora (GWh) de energia por ano. A
expectativa é de uma redução das
despesas com energia elétrica de R$
277 milhões em 15 anos.
No momento, o BB está homologando
contratos com a EDP para novos
projetos em Goiás, Bahia e Ceará,
enquanto aguarda a entrega de uma
usina no Distrito Federal pelo
consórcio Espaço Y, FazSol (antiga
YES) e a japonesa Shizen. O consórcio
assumiu as obras em Brasília depois
de a Sices, vencedora da licitação,
entrar em recuperação judicial no
começo deste ano.
De acordo com Nélio Pereira, diretor
da FazSol, o andamento do projeto
também foi afetado nos últimos
meses pela pandemia, pois diversas
fornecedoras dedicaram esforços para
a fabricação de equipamentos
hospitalares. “Estamos voltando a
uma situação de normalidade, mas os
fornecedores estão pedindo sempre
prazos maiores agora nas negociações
e isso tem um impacto na engenharia
dos projetos", diz Pereira.
A primeira usina contrata pelo BB
entrou em operação em março deste
ano, em Porteirinha (MG). Entregue
pela EDP, a unidade tem capacidade
instalada de 5 megawatt (MW) e pode
atender até 100 agências. A segunda
usina vai ser inaugurada em 15 de
outubro, em São Domingos do
Araguaia, no Pará. O
empreendimento com capacidade de 1
MW vai garantir o fornecimento de
energia renovável para compensar o
consumo de 35 das agências do banco
no Estado. A expectativa é reduzir em
45% a conta de energia das unidades,
e resultar em economia de R$ 17
milhões em 15 anos. O projeto foi
desenvolvido pelo consórcio Espaço
Y, FazSol (antiga YES) e Shizen, que
21
vai receber R$ 16,7 milhões ao longo
do contrato da operação.
Além dessas, o banco espera contar
com uma terceira unidade de geração
solar para atender a suja demanda em
março de 2021, em Araçuaí, também
em Minas. O foco no Estado está
relacionado não somente ao alto
número de agências - Minas é a
unidade da Federação com o maior
número de municípios -, como
também aos incentivos tributários da
legislação estadual para o setor.
“O perfil da rede de agências está
mudando, o tamanho das unidades
está sendo reduzido, mas elas não vão
desaparecer. Olhamos o consumo de
energia de longo prazo sob essa
perspectiva”, diz Forni, do BB.
“Contratamos a compra da energia ao
longo desse tempo, mas o
investimento é feito pela empresa que
constrói a usina. É um ganha-ganha,
mas o projeto tem que ser de longo
prazo para ser viável.”
https://valor.globo.com/empresas/notici
a/2020/10/05/banco-do-brasil-amplia-
investimento-em-geracao-solar.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Empresas, segunda-feira 05de outubro de 2020.
Movimento falimentar
Falências Requeridas
Requerido: Bruno’s Car Compra e
Venda de Automóveis Eireli ME -
CNPJ: 23.456.604/0001-42 -
Endereço: Av. Automóvel Clube, 164,
Centro - Requerente: Angélica Dutra
Santos Silva - Vara/Comarca: 3a Vara
de São João de Meriti/RJ
Falências Decretadas
Empresa: Fbs Frigorífico Bom Sabor
Eireli - CNPJ: 23.943.126/0001-03 -
Endereço: Rua Sergipe, 03 A, Centro,
Ouro Verde/sp - Administrador
Judicial: O Próprio Administrador
Judicial da Recuperação Judicial
Rescindida, Sr. Artur Bonini do Prado
- Vara/Comarca: 2a Vara de
Dracena/SP - Observação:
Recuperação Judicial convolada em
Falência.
Processos de Falência Extintos
Requerido: Angels Açúcar, Álcool e
Trigo Ltda. - CNPJ: 11.484.230/0001-
90 - Requerente: New Trade Fomento
Mercantil Ltda. - Vara/Comarca: 8a
Vara de Campinas/SP - Observação:
Pedido julgado improcedente.
Requerido: Benge Engenharia e
Serviços Eireli - CNPJ:
22
15.808.984/0001-09 - Endereço: Av.
Dr. Heitor Nascimento, 196, Bloco B,
Sala 63, Bairro Morumbi -
Requerente: Telbra Ex Indústria e
Comércio Ltda. - Vara/Comarca: 1a
Vara de Paulínia/SP - Observação:
Desistência homologada.
Requerido: Godoy & Baptistella
Indústria e Comércio de Produtos de
Higiene Ltda. - CNPJ:
10.619.983/0001-00 - Requerente:
Gama Mpman Importação e
Exportação Ltda. - Vara/Comarca: 1a
Vara de São Pedro/SP - Observação:
Desistência homologada.
Recuperação Judicial Requerida
Empresa: Artluiz Bar e Restaurante
Eireli, Nome Fantasia Choppão
Central Sempre Vila - CNPJ:
28.262.030/0001-95 - Endereço:
Bulevar Vinte e Oito de Setembro,
238, Bairro Vila Isabel -
Vara/Comarca: 2a Vara Empresarial
do Rio de Janeiro/RJ
Recuperação Judicial Deferida
Empresa: Hotéis e Pousadas Belle
Mer Brasil S/A - CNPJ:
33.927.815/0001-70 - Endereço:
Estrada Para Arraial D Ajuda, 07,
Arraial D Ajuda - Administrador
Judicial: Sr. Sebastião Silva Júnior,
Administrador e Técnico Contábil -
Vara/Comarca: Vara Cível de Porto
Seguro/BA
Empresa: Mar D’ouro Hotel e Parque
Ltda., Nome Fantasia Eco Resort -
CNPJ: 25.129.618/0001-87 -
Endereço: Estrada Para Arraial D
Ajuda, 01, Arraial D Ajuda -
Administrador Judicial: Sr. Sebastião
Silva Júnior, Administrador e Técnico
Contábil - Vara/Comarca: Vara Cível
de Porto Seguro/BA
Empresa: Mwl Brasil Rodas & Eixos
Ltda. - CNPJ: 03.234.027/0001-37 -
Endereço: Rodovia Vito Ardito, S/nº,
Km 01, Bairro Campo Grande -
Administrador Judicial: Brasil
Trustee Assessoria e Consultoria
Ltda., Representada Pelo Dr. Filipe
Marques Mangerona - Vara/Comarca:
1a Vara de Caçapava/SP
https://valor.globo.com/empresas/noticia/20
20/10/05/eaf03f7d-movimento-
falimentar.ghtml
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23
Valor Econômico
Caderno: Finanças, segunda-feira 05de outubro de 2020.
CVM prepara unificação das regras de ofertas
Novo regime para as ofertas
públicas pode alavancar as
emissões no mercado de
capitais, afirma Marcelo
Barbosa, presidente da CVM
Por Juliana Schincariol — Do Rio
Barbosa, presidente da CVM: A autarquia
pode pedir que companhias divulguem
informações sócio-ambientais — Foto:
Alexandre Campbell/Valor
A Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) desenha um novo regime de
ofertas para dar mais fluidez às
emissões no mercado de capitais
brasileiro. O objetivo do regulador é
unificar as regras atuais, e eliminar,
por exemplo, a restrição da
participação de um número máximo
24
de investidores nas emissões via
instrução 476, que não exige registro
prévio na autarquia. A decisão é
estratégica e mira o desenvolvimento
do mercado, segundo o presidente
Marcelo Barbosa. "É importante
também ter ofertas da instrução 400,
que permitem mais dispersão e
liquidez", disse, em entrevista
ao Valor.
As potenciais mudanças - que ainda
dependem de audiência pública -
ocorrem em meio à chegada de mais
de 3 milhões de investidores à bolsa,
em busca de alternativas de
investimentos, diante dos juros em
suas mínimas históricas. Os novos
entrantes aumentam as
responsabilidades do regulador em
todas as esferas, em especial a
educação financeira e proteção do
mercado. Ainda que a CVM tenha
acelerado julgamentos e reduzido o
estoque de processos, para Barbosa, o
melhor efeito da atuação preventiva
da autarquia ocorre quando uma
decisão tomada em um caso repercute
no mercado, mesmo sem um
comando adicional do regulador. Leia
abaixo os principais trechos da
entrevista, concedida às vésperas da
Semana Mundial do Investidor, que
tem início nesta segunda-feira.
É importante olhar para as ações
dos ‘influencers’ do mesmo jeito
que analisaríamos se não
estivessem na rede social”
Valor: Nos últimos três anos, desde
o início do seu mandato na CVM, o
número de investidores em bolsa
disparou. O que foi feito desde então
para facilitar o acesso ao mercado?
Marcelo Barbosa: Há iniciativas
em diversos campos. O trabalho não é
só para a nova base de investidores,
mas para o desenvolvimento do
mercado como um todo. O avanço no
mercado de dívida, a nova regra de
BDRs e o “crowdfunding” de
investimentos são exemplos de
oportunidades de ativos que até
pouco tempo não estavam
considerados. Intensificamos os
canais de contato com o público
investidor. Temos tido um aumento
das demandas e consultas e
procurado respondê-las. Passamos a
divulgar as informações sobre
prestadores de serviços suspensos, o
que ajuda os investidores a fazerem
escolhas mais conscientes. E a
atividade sancionadora tem
aumentando em eficiência ano após
ano.
Valor: Uma nova regra de ofertas
está entre as prioridades da CVM. O
que esperar das mudanças?
Barbosa: O trabalho tem grande
potencial de alavancar emissões. Um
pedido de registro de oferta é um
processo e queremos agregar fluidez.
Até para ofertas dispensadas de
registro vamos fazer este esforço. Ao
fim do dia, o que vai surgir é uma
norma que vai substituir as regras
400 (que exige registro da CVM) e
476 (que tem dispensa de registro).
Aos poucos, já incorporamos alguns
aprimoramentos, como o pedido de
registro em base confidencial, a
dispensa de aprovação prévia de
material publicitário e eliminação de
janelas para pedidos de registro de
ofertas. Vamos oferecer um regime
inteiro com avanços.
25
Valor: A CVM analisa retirar a
restrição do número de investidores
que participam das ofertas
realizadas via 476. Como isso pode
impulsionar o mercado?
Barbosa: Será dada mais
flexibilidade no momento da
preparação da oferta e será possível
procurar o mercado de forma mais
livre. Também aumenta a
possibilidade de captação e pode
acelerar os processos.
Valor: Como o sr. avalia a instrução
476 da forma que foi feita e adotada
pelo mercado?
Barbosa: Do ponto de vista de
aceitação do mercado, a 476 foi
altamente bem-sucedida. De certa
forma podemos dizer que ela
canibalizou um pouco a [instrução]
400. Resolvemos em dado momento
segurar essa expansão. Porque no fim
do dia é importante também ter
ofertas da 400, que permitem mais
dispersão, maior liquidez. E a 476
tem essas limitações. A decisão
estratégica que tomamos do ponto de
vista de desenvolvimento do mercado
foi concentrar os esforços em um
regime novo, mais amplo, que
permita que os regimes compitam,
vamos dizer, em igualdade de
condições. E achamos que isso será
melhor para o mercado.
Valor: O mercado já consegue
perceber a aplicação da instrução
607, que permite à CVM impor
sanções mais duras?
Barbosa: Para uma avaliação sobre o
efeito da aplicação da instrução 607 é
preciso isolar os casos julgados na
vigência da regra e não compará-los
aos anteriores. É importante olhar o
valor da penalidade aplicada frente a
conduta em cada caso. Uma multa de
R$ 100 mil é leve? Uma multa de R$
100 milhões é necessariamente
pesada? É preciso olhar a conduta, e a
dosimetria tem que ser proporcional.
Valor: A CVM tende a agir de
maneira mais preventiva para
proteger o mercado?
Barbosa: Existem várias formas de
atuação preventiva, entre elas a
educação (dos investidores) e a
comunicação das nossas atividades. O
ideal é que a cada decisão e
manifestação da CVM seja gerado um
efeito pedagógico para impedir esse
tipo de conduta. Acreditamos que isso
tem acontecido. Estamos sendo
procurados por agentes de mercado
que querem entender melhor as
consequências de decisões que
tomamos. O melhor efeito preventivo
é quando uma decisão tomada em um
caso repercute e o mercado reage a
ela, mesmo sem que tenha sido dado
nenhum comando ao resto do
mercado. Isso é o ideal.
Valor: Houve suspensões
preventivas no passado. Foi o caso,
por exemplo, em 2007, por insider, e
em 2018, com debêntures
irregulares. Isso pode se repetir?
Barbosa: Estes são exemplos de
ações preventivas específicas e não
descartamos fazer novamente. Mas
tem que surgir um caso. O uso deste
tipo de ferramenta é sempre cercado
de um trabalho anterior de avaliação
do impacto. Diversos aspectos são
levados em conta. Os casos de 2018
geraram processos sancionadores que
ainda estão em andamento.
26
Valor: A CVM pretende em algum
momento regular a atuação dos
influencers de investimentos?
Barbosa: É importante olhar para
esses casos do mesmo jeito que
analisaríamos se não estivessem
numa rede social, que tem essa
função propagadora como
particularidade. Recebemos muitas
denúncias e estamos olhando.
Inclusive há um trabalho sendo feito
de ampliação da supervisão sobre
conteúdo das redes sociais.
Valor: Uma recente medida da CVM
foi a redução dos percentuais
mínimos para o exercício de direito
dos minoritários. É um caminho para
facilitar a reparação de danos?
Barbosa: Isso vem desde 2018, de
um trabalho com o ministério da
Economia e apoio da OCDE. É um
trabalho amplo de reforço dos meios
de proteção dos investidores. Essa é
uma das áreas que precisa de
aprimoramento regulatórios e
legislativo. Já começamos a ver
resultados. Os percentuais tinham
que ser ajustados para patamares
mais realistas. A decisão foi para
equilibrar os percentuais entre o que
os torna disponíveis na prática mas
sem ser tão fáceis para que (os
investidores) nem precisem pensar
antes de fazer, para que não haja
abuso.
Valor: Qual o próximo passo?
Barbosa: Uma parte adicional da
entrega será também na parte de
arbitragem. Há aprimoramentos a
serem efeitos. Quando se fala de
arbitragem em companhias abertas, é
muito importante entender que, entre
o sigilo típico da arbitragem e o dever
de divulgação de fatos relevantes
relacionados a uma companhia
aberta, esse segundo prevalece. O
sigilo típico da arbitragem não afasta
de maneira nenhuma o dever de
divulgação. Os aprimoramentos irão
nesse sentido.
Valor: Com o aumento da demanda
por investimentos ESG, a CVM
também pode pedir que companhias
divulguem informações referentes a
ações sócio-ambientais?
Barbosa: Sim, sem dúvida. Esse é
um aspecto com o qual a CVM tem
uma atenção muito grande. O avanço
da transparência sobre esses aspectos
é uma medida de aumento da
competitividade do mercado. A
evolução das políticas de
investimento de grandes investidores
institucionais estrangeiros leva cada
vez mais em conta esses aspectos.
Valor: A CVM aumentou o ritmo de
julgamentos e reduziu o estoque de
processos. Mas ainda é cobrada por
mais agilidade em suas respostas,
especialmente em casos de maior
repercussão.
Barbosa: Temos que estar sempre
preparados para iniciar os trabalhos
da forma mais tempestiva possível, ao
mesmo tempo não podemos deixar de
apurar. E não podemos tomar
decisões que tenham consequências
tão graves sem ser baseados. É o
devido processo que temos que
seguir, assim como outras autarquias
ou o próprio judiciário. Senão, vamos
acabar pecando pelo outro lado, de
atuação não refletida ou precipitada.
Temos que manter a atuação
equilibrada até para garantir o
respaldo das nossa decisões. Não
27
podemos dar margem para questões
judiciais.
https://valor.globo.com/impresso/20201
005/
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Valor Econômico
Caderno: Legislação e Tributos, segunda-feira 05de outubro de 2020.
Justiça do Trabalho concede habeas corpus e libera passaportes de sócios
Há decisões no TST e nos TRTs
de São Paulo, Pernambuco e Rio
Grande do Sul
Por Adriana Aguiar — De São
Paulo
Advogado Daniel Chiode: habeas corpus
se aplica também ao direito de trabalhar
e de ir e vir ao trabalho — Foto: Claudio
Belli/Valor
Sócios de empresas com dívidas
trabalhistas pendentes têm
conseguido liberar passaportes com
um recurso ainda muito pouco
utilizado na Justiça do Trabalho, o
habeas corpus (HC). Há decisões no
Tribunal Superior do Trabalho (TST)
e em Tribunais Regionais do Trabalho
(TRTs), como os de São Paulo,
Pernambuco e do Rio Grande do Sul.
28
Em todas, os magistrados entenderam
que a retenção do documento
restringe o direito de ir e vir,
assegurado pela Constituição.
Há alguns anos, o habeas corpus era
usado para liberar executivos, na
rescisão de contratos, de acordos com
cláusulas de não concorrência e até
jogadores de futebol ou outros atletas
impedidos de trabalhar por multas
consideradas abusivas ou ilegais
previstas em contratos, segundo o
advogado Daniel Chiode, do Chiode
Minicucci Advogados. Agora, o
recurso passou a ser adotado contra a
apreensão de carteira de motorista e
passaporte, por exemplo.
“A ideia de ir e vir, habitualmente
lembrada como direito protegido em
habeas corpus, se aplica também ao
direito de trabalhar e de ir e vir do
trabalho e garantir a liberdade de
exercer uma atividade profissional e
se manter”, diz o advogado.
Apesar de possível a utilização do
habeas corpus na seara trabalhista,
foram julgados apenas 222 pedidos
em toda a Justiça do Trabalho, de
2015 até julho deste ano, segundo
dados fornecidos pelo Tribunal
Superior do Trabalho (TST), a pedido
do Valor. Boa parte (191 deles) foi
julgada em segunda instância.
Um recente julgamento, da Subseção
II Especializada em Dissídios
Individuais (SDI-2) do Tribunal
Superior do Trabalho (TST),
responsável por consolidar a
jurisprudência, deve dar mais força ao
uso do habeas corpus para a liberação
de passaportes, segundo advogados
trabalhistas. Os ministros, em sessão
virtual, em agosto, reconheceram a
possibilidade e fundamentaram o
entendimento com julgados do
Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Os magistrados analisaram habeas
corpus impetrado pelo sócio de uma
empresa que teve passaporte retido
pela Vara do Trabalho de Caçapava
(SP). Ele responde por uma dívida de
R$ 105 mil (em valores corrigidos)
com um vigilante. Na execução, a
Justiça do Trabalho não localizou
bens para o pagamento do valor. O
juiz determinou então a retenção da
carteira nacional de habilitação
(CNH) e do passaporte dos sócios da
empresa com a afirmação de “quem
deve, não pode possuir veículo nem
fazer viagens internacionais”.
A decisão foi mantida pelo TRT de
Campinas (15ª Região). No TST, o
relator, ministro Evandro Valadão,
votou pela manutenção do
entendimento. Para ele, o habeas
corpus não é a via adequada, pois não
se trata efetivamente do direito à
liberdade de locomoção. Contudo, ele
ficou vencido.
Prevaleceu voto do ministro Vieira de
Mello Filho. Para ele, essa questão foi
pacificada pelo STJ, a quem cumpre
uniformizar a jurisprudência
processual civil. Foi mantido, porém,
o indeferimento quanto à retenção da
carteira de motorista (RO-8790-
04.2018.5.15.0000).
Para o advogado trabalhista Maurício
Corrêa da Veiga, do Corrêa da Veiga
Advogados, que já assessorou
jogadores de futebol em pedidos de
habeas corpus, o julgamento da SDI-2
do TST deu um novo rumo ao tema.
Desde 2018, o tribunal havia deixado
de admitir o recurso para o direito de
29
ir e vir secundários - que não estão
com sua locomoção cerceada de forma
direta.
“A partir do momento que é possível a
impetração de habeas corpus para
suspender uma ordem de apreensão
de passaporte pelo princípio da
liberdade e dignidade da pessoa
humana, pode ser usado também
quando se trata de dissolução de
vínculo de emprego de atleta”, diz.
A segunda instância também tem
seguido esse caminho. Em recente
decisão do TRT de São Paulo (2ª
Região), os desembargadores da
Seção de Dissídios Individuais - (SDI-
4) foram unânimes ao confirmar no
mérito liminar concedida em habeas
corpus em 2019 para liberar o
passaporte de sócia em uma empresa
de transporte. (HC 1003312-
24.2019.5.02.0000)
Na execução, o juiz determinou a
suspensão de seu passaporte e saída
do país com a fundamentação de que
a sócia tem patrimônio declarado no
exterior no valor de R$ 189 mil e que
a remessa de valores ao exterior seria
uma blindagem patrimonial. Ainda
haveria risco de a executada se
ausentar do país definitivamente.
Ao analisar o caso, contudo, a
desembargadora Sônia Aparecida
Mascaro Nascimento entendeu que a
sócia não estaria ocultando valores no
exterior, pelo fato de os declarar no
Imposto de Renda. “Ademais, inexiste
qualquer restrição legal ao envio de
montantes para contas ou aplicações
no exterior, desde que devidamente
declarados à Fazenda Pública, como
ocorreu na hipótese.”
Além disso, destacou que o valor
apontado, pouco mais de US$ 30 mil,
apesar de não representar nem 0,2%
da dívida executada, pode ser
perseguido pelo juiz por meio dos
métodos de cooperação internacional.
“Assim, não vislumbro qual a
utilidade/necessidade da suspensão
do passaporte e direito de entrar e
sair do país, pois tais medidas não se
traduzirão, tampouco acarretarão -
nem mesmo de forma indireta -, em
apreensão de bem apto a quitar a
dívida”, diz.
Em Pernambuco, o Pleno do TRT
também liberou passaporte da sócia
de uma empresa, além da carteira
nacional de habilitação. Em decisão
monocrática, a desembargadora
Virgina Malta Canavarro afirma estar
seguindo a jurisprudência do STJ e
também do TRT local (HC nº
0000810-21.2019.5.06.0000).
Há ainda decisão no TRT do Rio
Grande do Sul. O desembargador
Fernando Luiz de Moura Cassal, da 1ª
Seção de Dissídios Individuais, foi
contra a medida tomada contra o
sócio de uma empresa em Sapiranga
(RS). Para ele, a suspensão do
passaporte interfere no direito de ir e
vir (HC 0021023-
05.2019.5.04.0000).
Segundo o advogado criminalista e
professor de direito da FGV-SP, Davi
Tangerino, em princípio não haveria
impedimento para a Justiça do
Trabalho julgar esses casos. Ele
afirma que o habeas corpus é um
instrumento constitucional para
afastar ilegalidade, atual ou iminente,
ao direito de ir e vir.
No Regimento Interno do STJ,
acrescenta, há previsão para que as
30
turmas não criminais (que compõem
a 1ª Seção ao tratar de Direito
Público) julguem, por exemplo, a
expulsão de estrangeiros pelo
ministro da Justiça. “Analogicamente,
a aplicação na Justiça do Trabalho
pode fazer sentido, já que não há uma
vedação constitucional”, diz
Tangerino.
https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2
020/10/05/justica-do-trabalho-concede-
habeas-corpus-e-libera-passaportes-de-
socios.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Legislação e Tributos, segunda-feira 05de outubro de 2020.
Fundador do Andrade e Fichtner tenta revisão de acordo firmado para sua saída
Ex-sócio alega que ao assinar
desligamento sofria de severa
depressão que interferiu na sua
capacidade de negociar contrato
Por Ana Paula Ragazzi — De São
Paulo
Cerca de um ano e meio após se
retirar do escritório que fundou há 35
anos, o advogado José Antonio
Velasco Fichtner Pereira foi à Justiça
para revisar as condições econômico-
financeiras de sua saída, apurou
o Valor. Ele alega que, ao assinar o
seu desligamento, sofria de uma
severa depressão que interferiu na
sua capacidade de avaliar e negociar
os termos do contrato.
O Andrade e Fichtner Advogados foi
um escritório tradicional do Rio de
Janeiro, um dos principais em
questões de arbitragem e contencioso
nas áreas de telecomunicações,
seguros, ambiental e logística. José
Antonio é irmão de Regis Fichtner,
que foi secretário da Casa Civil (2007
-2014) no governo Sérgio Cabral.
Investigado pela Lava-Jato, Regis foi
preso por duas vezes, em 2017 e 2019,
31
por suspeita de recebimento de
propina. Foi solto pela 2ª Turma do
Supremo Tribunal Federal (STF), com
a consideração do relator, ministro
Gilmar Mendes, de que a nova prisão
havia sido baseada apenas em relatos
de delatores, o que violaria a
legislação.
Na ocasião da segunda prisão de
Regis, em fevereiro de 2019, a Polícia
Federal fez buscas também na casa de
José Antonio e em seu escritório,
depois que Cabral afirmou, em
delação, que José Antonio teria
envolvimento em situações ilícitas
junto ao irmão. Desde então, nada
avançou ou foi provado em relação às
denúncias contra os irmãos.
A situação de busca e apreensão no
escritório, no entanto, causou uma
situação insustentável para a
permanência de José Antonio, de
acordo com fontes. Em comum
acordo com outros sócios foi definido
o desligamento, em março. E o
escritório passou a chamar
Mannheimer, Perez e Lyra
Advogados.
O Valor apurou que José Antonio
alega que, no momento em que
assinou sua saída, sofria de séria
depressão que interferia em sua
capacidade cognitiva. Segundo fontes
que tiveram acesso ao processo antes
que fosse decretado segredo de
Justiça, ele teria anexado aos autos do
processo pareceres de médicos
psiquiatras que o acompanharam
naquele momento.
Depois que superou os problemas
psicológicos, José Antonio teria
revisado os contratos e percebido que
“deixou dinheiro na mesa”. O pedido
dele não é para voltar ao escritório,
mas de uma revisão da remuneração
recebida por processos nos quais
trabalhou e que tiveram desfecho
depois de sua saída.
Segundo fontes do setor, é comum
que se um advogado deixa o escritório
ou em caso de falecimento, que ele ou
família recebam um valor
proporcional às causas que deixou em
andamento. Como exemplo, se ele
saiu em março e uma causa foi
definida em abril, teria direito a
honorário integral. Se a definição foi
seis meses depois, receberia um
determinado percentual do valor.
O que José Antonio alega agora é que
esses cálculos definidos em sua saída
não foram os mais justos. Na ação,
José Antonio alega que era o principal
nome do escritório, e o responsável
por levar 90% das causas à banca,
informam as fontes.
José Antonio entrou como uma ação
de produção de provas contra o
Mannheimer, Perez e Lyra Advogados
e seu principal sócio, Sergio
Mannheimer. Nela, pede que
entreguem uma cópia de um
documento chamado “contrato de
divisão de honorários”, que traz
justamente as regras que ele demanda
agora que sejam cumpridas. Esse
“contrato” teria sido feito pelos sócios
e cada um deles teria cópia.
O curioso, e que tem gerado
comentários no meio advocatício, é
que o “documento” seria uma folha de
papel, mas que não atende a nenhum
procedimento legal: não é assinado
por testemunhas, não prevê
penalidades para o seu
descumprimento, nem um foro para
32
discussão de seus termos. Seria
apenas um registro para guiar a
distribuição das participações.
A discussão do caso, avaliam fontes,
deverá ser em torno da depressão
alegada por José Antonio, se ela, de
fato existiu, e se interferiu na sua
capacidade de decisão.
Em nota, o Mannheimer Perez e Lyra
diz que não pode comentar o caso,
que está em segredo de justiça
decretado a pedido do próprio José
Antonio, e lamenta a publicidade da
discussão sigilosa. Afirma ainda que
José Antonio retirou-se do escritório
“em razão dos notórios problemas do
ex-sócio com as autoridades”, e
assinou um contrato “detalhado e
amplamente negociado”, que lhe
assegura “remuneração condizente
com o papel que exerceu nos
processos anteriores à sua saída” e
vem sendo cumprido integralmente.
Procurado, o Ferro, Castro Neves,
Daltro & Gomide Advogados, que
defende José Antonio, não deu
entrevista.
https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2
020/10/05/fundador-do-andrade-e-fichtner-
tenta-revisao-de-acordo-firmado-para-sua-
saida.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Legislação e Tributos, segunda-feira 05 de outubro de 2020.
Grupos econômicos e execuções fiscais
Não é a caracterização do grupo
econômico em si que enseja a
responsabilização solidária, mas
o abuso da personalidade
jurídica
Por Daniel Zugman e Frederico
Bastos
No atual panorama de crise
econômica, no qual cresce o
inadimplemento de obrigações
tributárias, uma empresa pode correr
o risco de sofrer execuções fiscais
mesmo se estiver com as contas em
dia. Isso porque as procuradorias das
Fazendas Públicas recorrentemente
realizam pedidos de
redirecionamento de execuções fiscais
do CNPJ devedor para outras
empresas do mesmo grupo.
A esse respeito, há controvérsia na
jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça (STJ) sobre a necessidade
de instauração do Incidente de
Desconsideração da Personalidade
Jurídica (IDPJ) para o
redirecionamento da execução fiscal.
Há decisões em ambos os sentidos -
pela incompatibilidade entre o IDPJ e
a Lei de Execuções Fiscais, e pela
obrigatoriedade do IDPJ em
determinadas circunstâncias.
33
Não é a caracterização do grupo
econômico em si que enseja a
responsabilização solidária, mas
o abuso da personalidade
jurídica
A unificação de um entendimento é
fundamental para assegurar maior
segurança jurídica e também porque o
IDPJ garante ao contribuinte o direito
ao contraditório e à ampla defesa em
relação à execução fiscal
redirecionada, bem como a suspensão
do processo executivo.
Embora ainda se aguarde a
consolidação da jurisprudência, é
possível extrair pontos de referência
que podem orientar os contribuintes a
partir da análise das decisões mais
recentes do STJ sobre o tema.
Primeiramente, o fato de pessoas
jurídicas pertencerem a um mesmo
grupo econômico, por si só, não
autoriza a cobrança do crédito
tributário, inadimplido pelo devedor
original, contra outras empresas do
mesmo grupo.
O IDPJ é descabido nos casos em que
a pessoa jurídica para a qual se
pretende redirecionar a execução
consta na Certidão de Dívida Ativa
(CDA). Mesmo que não conste no
título executivo, ainda assim é
descabido o IDPJ desde que o Fisco
efetivamente demonstre a
responsabilidade do novo devedor
com base nos artigos 134 e 135 do
Código Tributário Nacional (CTN).
Em casos não enquadrados nas
referidas hipóteses, o
redirecionamento depende da
comprovação de abuso de
personalidade, caracterizado pelo
desvio de finalidade ou confusão
patrimonial. Nesse caso, segundo
decisões recentes do STJ, é
imprescindível a instauração do IDPJ
da pessoa jurídica devedora. Ressalte-
se que com a abertura do incidente,
recai sobre o Fisco o ônus de
comprovar eventual abuso de
personalidade.
Se o caso não se enquadrar em
quaisquer das hipóteses acima,
remanesce possibilidade de
redirecionamento da execução fiscal
com fundamento na responsabilidade
solidária do art. 124 do CTN, baseada
no “interesse comum” das partes.
Sobre isso, há dois aspectos que
merecem destaque. O conceito de
interesse comum pressupõe interesse
jurídico das partes no fato gerador do
tributo, e não meramente econômico,
razão pela qual não se admite a
responsabilização unicamente em
virtude de se integrar o mesmo grupo
e eventualmente se beneficiar
economicamente de determinada
situação praticada por outra empresa
do grupo. Por interesse comum,
portanto, entende-se a prática do fato
gerador conjuntamente pelas
empresas, ou a participação efetiva de
ato fraudulento que tenha gerado
economia tributária para uma das
empresas.
Sendo assim, os grupos econômicos
regulares, em que se respeita a
personalidade jurídica das sociedades
integrantes, mantendo-se sua
autonomia patrimonial e operacional,
não podem sofrer a responsabilização
solidária do art. 124 do CTN.
Desta feita, não é a caracterização do
grupo econômico em si que enseja a
34
responsabilização solidária, mas o
abuso da personalidade jurídica. Isso,
inclusive, foi expressamente
consignado no art. 50 do Código Civil,
que foi alterado recentemente para
detalhar as hipóteses de
desconsideração de personalidade
jurídica de devedor.
A outra hipótese do art. 124 do CTN
diz respeito à existência de norma
legal expressa que atribua
responsabilidade tributária a terceiro
vinculado ao fato gerador. Nesse caso,
não há maiores discussões, já que o
devedor a quem a execução é
redirecionada está expressamente
vinculado ao fato gerador desde o
nascimento da obrigação tributária.
Portanto, é possível interpretar, a
partir da jurisprudência do STJ, que o
redirecionamento de execução fiscal a
pessoa jurídica que integra o mesmo
grupo econômico da sociedade
originalmente executada, independe
da instauração do IDPJ caso: (a) a
pessoa jurídica objeto do
redirecionamento conste da CDA; (b)
comprovadamente verifique-se uma
das hipóteses de responsabilização de
terceiros (artigos 134 e 135 do CTN);
(c) a pessoa jurídica tenha interesse
comum no fato gerador (i.e., interesse
jurídico), juntamente à empresa
devedora (artigo 124, I, do CTN), e (d)
exista norma expressa atribuindo
responsabilidade tributária ao
terceiro (artigo 124, II, do CTN).
Nas demais hipóteses, a Corte tem
manifestações no sentido de que o
IDPJ é compatível com a execução
fiscal, devendo ser aplicado
subsidiariamente de modo a permitir
ao contribuinte o exercício do
contraditório e da ampla defesa de
maneira menos gravosa, bem como
restringindo o redirecionamento de
execução fiscal apenas após
comprovado abuso de personalidade
da pessoa jurídica devedora.
Daniel Zugman e Frederico
Bastos são sócios da área
tributária do escritório BVZ
Advogados e professores de
Direito Tributário nas
instituições Insper, FGV e
Ibmec.
Este artigo reflete as opiniões do
autor, e não do jornal Valor
Econômico. O jornal não se
responsabiliza e nem pode ser
responsabilizado pelas
informações acima ou por
prejuízos de qualquer natureza
em decorrência do uso dessas
informações
https://valor.globo.com/legislacao/notici
a/2020/10/05/grupos-economicos-e-
execucoes-fiscais.ghtml
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35
Caderno: Mercado, segunda-feira 05 de outubro de 2020.
Governo quer extinguir desconto de 20% em declaração simplificada do IR
Em troca, seria mantido direito às
deduções médicas e de educação; verba
iria para o Renda Cidadã
Bernardo Caram
BRASÍLIA
Com o objetivo de financiar o Renda
Cidadã, o governo estuda extinguir o
desconto de 20% concedido
automaticamente a contribuintes que
optam pela declaração simplificada do
Imposto de Renda da pessoa física. A
medida pode atingir mais de 17 milhões
de pessoas.
Em substituição, segundo fontes que
participam da elaboração da medida,
seria mantido o direito às deduções
médicas e educacionais, benefícios que
estavam na mira da equipe econômica
desde o ano passado.
Criado há 45 anos, o formulário
simplificado da declaração do Imposto
de Renda deixaria de existir.
O objetivo é usar os recursos
economizados com o fim do desconto
padrão de 20% para financiar
a ampliação do Bolsa Família, criando o
novo programa social do governo, com
o nome de Renda Cidadã. Ainda assim
seria necessário, no entanto, abrir
espaço no teto de gastos, regra que
limita as despesas públicas à variação
da inflação.
35
Gabriel Cabral/Folhapress
Quem opta pelo modelo simplificado
tem uma dedução padrão de 20% do
valor dos rendimentos tributáveis,
abatimento que substitui todas as
outras deduções. O limite atual desse
desconto é de R$ 16.754,34 por
contribuinte.
A outra opção existente hoje, e que seria
mantida, é a declaração completa,
atualmente indicada para quem teve
custos que podem ser deduzidos acima
dos 20%. Ela permite que a base
tributável seja reduzida se o
contribuinte apresentar despesas
médicas, educacionais, previdenciárias
e com dependentes.
Inicialmente, a ideia do ministro Paulo
Guedes (Economia) era acabar com as
deduções médicas e de educação. O
argumento era que esses descontos
representam elevados custos à União e
vão diretamente para o bolso da classe
média, sem benefício aos mais pobres.
A conta desses dois descontos é de
aproximadamente R$ 20 bilhões em
um ano.
Agora, o plano mudou, e o Ministério
da Economia quer reforçar o discurso
de que não pretende prejudicar a classe
média, fortemente atingida pela
pandemia do novo coronavírus.
De acordo um técnico do ministério,
com a manutenção das deduções
existentes hoje no modelo completo, o
contribuinte continuará com o direito
de abater aqueles gastos que
efetivamente foram feitos.
A pasta argumenta que o modelo
simplificado somente fazia sentido
quando o mundo não era digitalizado, e
os contribuintes tinham um trabalho
enorme para guardar, reunir e
recuperar a papelada que seria
apresentada para viabilizar as
deduções.
O time de Guedes ainda trabalha nas
contas da economia que seria gerada
com a medida.
Na declaração referente ao ano de 2019,
17,4 milhões de pessoas optaram pelo
formulário simplificado, enquanto 12,9
milhões usaram o modelo completo.
Para os cadastrados no sistema
simplificado, a redução global na base
de cálculo foi de R$ 136,5 bilhões. Sobre
esse valor, portanto, o imposto não
incidiu. Como o desconto é padrão e
automático, em muitos casos o
contribuinte nem possui, de fato,
despesas a serem deduzidas da base de
cálculo do imposto.
Técnicos explicam que esse montante
de desconto não será eliminado em sua
totalidade com a medida porque muitas
pessoas que optaram pelo modelo
simplificado poderiam passar a declarar
e deduzir pela modalidade completa.
A nova proposta foi formulada para ser
apresentada ao presidente Jair
Bolsonaro como uma das soluções para
o impasse que envolve o novo programa
social do governo, que a equipe de
36
Guedes insiste em batizar de Renda
Cidadã.
Segundo técnicos do Ministério da
Economia, somente com essa medida, o
benefício mensal médio do Bolsa
Família poderia ser ampliado de R$ 190
para valores entre R$ 230 e R$ 240.
Membros da área econômica afirmam
que, diante da urgência de se criar o
novo programa social, a proposta para
extinguir a declaração simplificada tem
de ser apresentada no curto prazo. Isso
seria feito antes mesmo do envio de um
pacote mais amplo da reforma
tributária, que incluiria a ampliação da
faixa de isenção do Imposto de Renda.
A equipe econômica, no entanto,
mantém a defesa de que outros
programas sociais existentes hoje sejam
condensados para formar o Renda
Cidadã.
Guedes tem afirmado que o governo
conta com um cardápio de 27
programas que poderiam ser fundidos.
Como Bolsonaro vetou a extinção de
parte dessas ações, como o abono
salarial, a equipe econômica trabalha na
reestruturação de parte dos programas,
em vez de extingui-los.
A Folha mostrou na última semana
que uma das ideias é limitar faixa de
renda dos beneficiários do abono, uma
espécie de 14º pago a trabalhadores
com renda de até dois salários mínimos.
A mudança liberaria R$ 8 bilhões do
Orçamento.
Em conversas com aliados, Guedes
afirmou no fim de semana que o Renda
Cidadã deveria ser formado pela fusão
desses programas e “turbinado” pela
extinção do desconto padrão do
Imposto de Renda.
Por se tratar de uma renúncia de
receita, o fim desse benefício ampliaria
a arrecadação do governo, mas não
abriria espaço no teto de gastos.
Portanto, o problema de financiamento
do programa seria resolvido apenas
parcialmente.
Na proposta do Ministério da
Economia, seria feita uma triangulação:
o governo usaria a verba do desconto
padrão para bancar o programa e, ao
mesmo tempo, cortaria outras despesas
para abrir espaço no teto.
Guedes determinou que sua equipe faça
um pente-fino no Orçamento para
encontrar verbas que possam ser
cortadas.
Uma das ideias é a de limitar gastos
com precatórios, dívidas do governo
reconhecidas pela Justiça. Essa
proposta chegou a ser apresentada
como fonte direta de financiamento do
programa social, o que gerou forte
reação negativa do mercado e entre
parlamentares e especialistas.
O ministro da Economia tem se
defendido com o argumento de que a
ideia não estava diretamente ligada ao
programa social e que a limitação de
pagamentos atingirá apenas grandes
débitos, respeitando a lei.
Outra opção defendida por Guedes para
abrir espaço no teto de gastos é a
retirada de amarras do Orçamento, no
que classifica como desvinculação,
desindexação e desobrigação dos
recursos públicos.
37
A medida, no entanto, sofre com
a resistência de Bolsonaro. Isso porque
uma das ações, por exemplo, acabaria
com a correção do salário mínimo pela
inflação e também poderia congelar o
valor de aposentadorias.
GOVERNO PODE EXTINGUIR
DESCONTO PARA
DECLARAÇÕESS
SIMPLIFICADAS DO IR
Qual era a ideia anterior do
governo?
• A equipe econômica defendia o
fim das deduções médicas e de
educação do IRPF (Imposto de
Renda da Pessoa Física)
• O argumento era que esses
descontos tributários têm alto
custo e vão para os bolsos da
classe média, não gerando
benefício aos mais pobres
• Em um ano, o governo deixa de
arrecadar aproximadamente R$
20 bilhões com os dois tipos de
dedução
Qual é a nova proposta?
• O Ministério da Economia quer
acabar com a declaração
simplificada: governo estuda
extinguir o desconto padrão de
20% sobre a base de cálculo
tributável para contribuintes
que optam pelo modelo
simplificado da declaração do IR
• A declaração simplificada é
vantajosa porque garante um
desconto padrão de 20%
automático, independentemente
de o contribuinte ter ou não
despesas a deduzir
• Nesse caso, o governo abriria
mão de extinguir as deduções
médicas e de educação
• A pasta argumenta que a
medida não prejudica a classe
média porque o contribuinte
seguiria com o direito de
deduzir aquilo que efetivamente
tem direito na declaração
completa
Qual o objetivo?
Recursos economizados pela União com
o fim do benefício seriam destinados ao
novo programa social do governo
Problema de verba para o
programa social estaria resolvido
com a medida?
• Parcialmente. Apesar de
conseguir uma fonte de
recursos, o governo ainda
precisaria abrir espaço no teto
de gastos, que já está esgotado
• Para isso, o time de Guedes
vasculha o Orçamento para
cortar despesas sujeitas ao teto.
Uma das opções avaliadas é
adiar gastos com precatórios
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/
10/governo-quer-extinguir-desconto-de-20-em-
declaracao-simplificada-do-ir.shtml
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38
Caderno: Mercado, segunda-feira 05 de outubro de 2020.
Campanha quer regulação para inibir compra de ouro ilegal por instituições financeiras
Proposta está em consulta pública e
será encaminhada ao Banco Central e à
CVM
Thais Carrança
SÃO PAULO
Para vender ouro atualmente a uma
instituição financeira, um garimpeiro
precisa apenas mostrar seu documento
de identidade, preencher um formulário
à mão e dizer de onde vem o metal, sem
a necessidade de qualquer
comprovação.
A falta de certificação de origem abre
brecha para que toneladas de ouro
produzidas de maneira ilegal, em terras
indígenas ou unidades de conservação
na Amazônia, entrem no mercado
financeiro, onde passam a ser
comercializadas legalmente, sem
nenhum controle.
Para mudar essa situação e inibir a
compra de ouro ilegal por instituições
financeiras, uma organização não
governamental pretende apresentar ao
Banco Central e à CVM (Comissão de
Valores Mobiliários, que regula o
mercado de capitais) uma proposta de
regulação, que está em consulta pública
até 3 de novembro.
Segundo o Instituto Escolhas,
responsável pela iniciativa, uma
normatização é particularmente
39
relevante no momento atual, em que o
garimpo ilegal na região amazônica está
sendo impulsionado pelo alto preço do
metal no mercado internacional, pela
redução da fiscalização da atividade
garimpeira e pelas indicações do
governo no sentido de legalizar
garimpos em áreas hoje protegidas.
De janeiro a agosto de 2020, a
exportações brasileiras de ouro
cresceram 30,5% em valor em relação a
igual período de 2019, somando US$ 3
bilhões, segundo dados do MDIC
(Ministério da Indústria, Comércio
Exterior e Serviços). Em volume, o
incremento foi de 5,2% na comparação
anual, para 64 toneladas.
Na média de janeiro a agosto, a cotação
do ouro subiu 27% em relação a igual
período de 2019, impulsionada
pela busca dos investidores por ativos
financeiros seguros, em meio à crise
provocada pela pandemia do
coronavírus.
“Queremos que haja mais controle
sobre a comercialização do ouro,
porque hoje não há nenhum controle de
origem e, por isso, os esquemas ilegais
proliferam na Amazônia”, diz Larissa
Rodrigues, gerente de projetos do
Instituto Escolhas.
Segundo ela, das cerca de 100 toneladas
de ouro produzidas pelo Brasil
anualmente, aproximadamente um
terço vem de garimpos, onde se
concentra a produção ilegal do minério.
Esse ouro entra para o mercado
financeiro ao ser vendido para DTVMs
(Distribuidoras de Títulos e Valores
Mobiliários), instituições financeiras
que mantêm postos de compra do metal
na Amazônia.
“A ideia é que haja uma validação da
comprovação de origem e que isso seja
feito num sistema eletrônico, que
permita o cruzamento com outras bases
de dados, como de arrecadação de
impostos e de produção da Agência
Nacional de Mineração”, explica
Larissa.
A advogada Ana Luci Grizzi, da Veirano
Advogados, autora das minutas da
proposta, diz que a ideia é que a DTVM,
na hora da compra do ouro, faça uma
uma espécie de miniauditoria do
vendedor.
“O comprador deve checar se o ouro foi
extraído de fato de uma área que tem o
direito de lavra concedido pela Agência
Nacional de Mineração e se a pessoa
que está fazendo aquela
comercialização é a titular do direito de
lavra ou tem um contrato com quem
tem esse direito”, afirma. O vendedor
terá que apresentar também a licença
ambiental da área.
O garimpo ilegal tem forte impacto
social, expondo comunidades indígenas
como os Yanomami, em Roraima, e os
Munduruku, no Pará, à violência e a
riscos à saúde, como a contaminação
por mercúrio ou pela Covid-19, trazida
pelos garimpeiros.
Também tem grande impacto
ambiental, contribuindo para o
desflorestamento.
Segundo levantamento divulgado em
junho pelo Greenpeace, com base em
dados do Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais), o desmatamento
provocado por garimpos ilegais em
unidades de conservação na
Amazônia aumentou 80,6% nos quatro
primeiros meses de 2020, em relação
ao mesmo período do ano passado. Em
40
terras indígenas, o crescimento do
desmatamento por garimpo foi de
13,4% na mesma comparação.
Nesse cenário, o Instituto Escolhas
destaca a importância das instituições
financeiras e dos órgãos reguladores
participarem do esforço para inibir o
comércio de ouro produzido de forma
ilegal.
“Todo ouro de garimpo
necessariamente precisa entrar no
mercado por uma instituição financeira,
então são elas que podem exigir um
lastro de origem legal e de
conformidade ambiental para esse
ouro”, diz Larissa.
“Os órgãos reguladores devem fazer a
exigência disso, porque se não há
obrigação legal, isso não vira prática,
infelizmente.”
Procurada para comentar a iniciativa, a
Febraban (Federação Brasileira de
Bancos) disse que a entidade e os
bancos a ela associados não
compactuam com más práticas e estão
empenhados em fortalecer
permanentemente práticas de diligência
socioambiental.
“O setor bancário sempre esteve atento
à necessidade do desenvolvimento
sustentável e tem consciência de que é
necessário avançar no gerenciamento e
na mitigação dos riscos socioambientais
nos negócios com os clientes e canalizar
cada vez mais recursos, principalmente
privados, para financiar a transição
para a economia verde, sempre com a
preocupação de garantir a estabilidade
e resiliência do setor financeiro.”
O Banco Central disse através de sua
assessoria de imprensa que não iria
comentar e a CVM não respondeu ao
pedido de posicionamento.
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/
10/campanha-quer-regulacao-para-inibir-
compra-de-ouro-ilegal-por-instituicoes-
financeiras.shtml
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41
Caderno: Mercado, segunda-feira 05 de outubro de 2020.
Rio vai ampliar dependência do petróleo, e royalties chegarão a 25% da receita
Participação deve crescer em relação
ao volume total de recursos até 2023.
Até 2019, era de 20%. Estado e
municípios vivem a expectativa com o
julgamento no STF que vai decidir
sobre a distribuição dos recursos
Pedro Capetti e Cássia Almeida
Esperança. Pescadores de Saquarema
esperam que os royalties sejam usados
para melhorar a navegabilidade na
laguna, permitindo a pesca na maré baixa
Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
RIO — Rio de Janeiro, Espírito Santo
e São Paulo recebem o maior volume
de royalties no país. E vão se
beneficiar dessa nova onda de
recursos do pré-sal, o que deve
manter a economia do Rio ainda
dependente da atividade de óleo e gás
e os cofres públicos, dos royalties, por
um bom tempo.
Nos próximos anos, os royalties vão
ocupar mais espaço no total de
receitas do Rio. Pelas previsões no
Orçamento, a parcela vai subir de
20%, em 2019, da receita corrente
líquida (disponível para gastar) para
representar 25% entre 2021 e 2023.
42
— O Rio de Janeiro será por muito
tempo “petrodependente”, e o Brasil
será dependente do Rio. Ainda somos
o maior produtor de óleo do Brasil, e
não vejo nada diferente disso no
futuro. Há outros ambientes de
produção de óleo, mas nada
comparado à produtividade do pré-
sal. É algo imbatível diante do que
conhecemos hoje — afirma Karine
Fragozo, gerente de Petróleo, Gás e
Naval da Firjan.
Nos próximos quatro anos, as cidades
do petróleo vão receber valor recorde
de R$ 47,6 bilhões em royalties.
Ferramenta digital no site do GLOBO,
o Monitor dos Royalties, mostra como
as cidades usam os recursos e o
desempenho de seus indicadores
sociais.
— É fundamental o entendimento
entre os vários poderes e entes
federados, para que o Rio não sofra
essa injustiça. Porém, há um volume
de produção maior com o pré-sal que
pode ser compartilhado com o
conjunto do país.
O Rio aderiu à proposta de acordo do
Espírito Santo para dar fim ao
impasse que se arrasta há sete anos. O
estado propôs mudanças nos termos
desse entendimento com estados não
produtores. Ainda assim, deixaria de
receber R$ 7,7 bilhões até 2025. O
objetivo é evitar o risco de perder R$
67,9 bilhões caso o resultado seja
desfavorável para o Rio.
O ministro de Minas e Energia, Bento
Albuquerque, já se manifestou a favor
do entendimento e disse que a adesão
do Rio ao acordo é passo importante
para encerrar o impasse.
Segundo Karine, embora ter recursos
em caixa sobrando seja um aspecto
favorável para a administração
pública, isso não significa,
necessariamente, que o estado ou
município terá avanços substanciais
em educação, saúde, segurança e
emprego. O que pode fazer a
diferença é a capacidade de gestão
dos recursos.
Para analistas, as cidades do Norte
Fluminense tiveram “oportunidades
perdidas” nos últimos anos. Para
Manuel Thedim, diretor executivo do
Instituto de Estudos de Trabalho e
Sociedade (IETS), houve maquiagem
e pouco investimento em
infraestrutura:
— As calçadas de porcelanato ficaram
conhecidas em detrimento da
periferia. Mas as cidades que
começaram a receber os royalties do
pré-sal, como Niterói e Maricá, têm
procurado investir, criaram fundos de
infraestrutura.
Campos chegou a receber mais de R$
2 bilhões por ano do petróleo, mas
com a queda da produção na Bacia de
Campos, recebe cerca de R$ 700
milhões, um terço de sua receita. A
população é o dobro da que registrava
antes dos royalties, mas com metade
do orçamento do passado. O
investimento público desde 2001 era
bem menor que os milhões recebidos
de royalties. E o quadro piorou nos
últimos anos.
Até a pandemia, 10% dos royalties
que Campos recebia iam direto para o
pagamento de empréstimos, no
programa intitulado “Venda do
Futuro":
43
— Infelizmente não tiveram a
responsabilidade de investir onde
precisávamos. Os royalties são finitos
e não trabalharam para tornar a
cidade menos dependente. Campos
deixou de avançar muito diante do
que recebeu — diz o prefeito Rafael
Diniz (Cidadania).
Macaé pode ter uma segunda
oportunidade. Receberá mais R$ 4
bilhões até 2024, mais da metade do
que recebeu entre 2000 e 2019. Pode
ser nova chance de aproveitar melhor
os recursos. A criação de fundos,
como está fazendo Maricá, foi
importante para combater a
pandemia:
Moeda própria. Mumbuca só é aceita em
Maricá e movimenta o comércio Foto:
Brenno Carvalho / Agência O Globo
— Esses fundos mostram que os
municípios aprenderam alguma coisa,
mas quanto ao planejamento de
médio e longo prazo, não sabemos. O
pecado é olhar a cidade como lugar
onde se constroem coisas: asfalto,
iluminação pública, sambódromo, e
não como algo integrado — diz José
Luis Vianna, professor da Cândido
Mendes, que estuda o impacto dos
royalties nas cidades.
Procurada, a Prefeitura Macaé não
quis comentar.
Maricá vive a segunda chance de se
desenvolver com base no petróleo. A
primeira foi no Comperj, hoje Polo
Gaslub Itaboraí, obra interrompida
com a crise na Petrobras.
Condomínios de alto padrão
surgiram, mas encalharam.
— Maricá por muito tempo foi algo
como garimpo de ouro, todo mundo
veio pra cá. Mas um novo ciclo está
começando — diz Delfim Moreira,
vice-presidente da Associação
Comercial de Maricá (ACM).
Nos últimos dez anos, a população da
cidade cresceu 30%, segundo o IBGE.
E deve continuar aumentando.
Em Saquarema, os royalties podem
trazer mais renda para 2 mil
pescadores. A pesca só é feita em
horários de maré alta. O canal da
laguna da cidade está assoreado há
cinco anos, impedindo a saída de
barcos para pesca de sardinha e
camarão.
— Hoje temos que esperar a maré
para sair. É prejuízo — reclama Pedro
da Colônia.
Abu Dhabi brasileira
O plano de criar uma Abu Dhabi no
interior fluminense, em referência à
capital dos Emirados Árabes,
naufragou. Chegou-se a oferecer aulas
de mandarim em escolas públicas em
São João da Barra (RJ) na expectativa
da chegada de investimentos com o
Porto do Açu, idealizado pelo
empresário Eike Batista.
— Não se investiu em qualidade de
vida. Houve apropriação do recurso
pela minoria de sempre — afirma
44
Marcos Pedlowski, pesquisador da
Universidade Estadual do Norte
Fluminense.
https://oglobo.globo.com/economia/rio-vai-
ampliar-dependencia-do-petroleo-royalties-
chegarao-25-da-receita-1
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Caderno: Mercado, segunda-feira 05 de outubro de 2020.
Aumento de queixas leva governo a notificar companhias aéreas
Empresas terão que informar número
de consumidores afetados por
cancelamentos de voos e dados de
atendimento
Raphaela Ribas
Avião decolando visto do terminal do
aeroporto Foto: Reprodução
RIO - A Secretaria Nacional do
Consumidor (Senacon), órgão do
Ministério da Justiça, vai notificar na
segunda-feira as companhias aéreas
Gol, Latam, Azul e Passaredo Linhas
Aéreas, para que prestem
esclarecimentos sobre o crescimento
das reclamações durante a pandemia,
especialmente sobre cancelamentos,
reembolsos e a eficácia dos canais de
comunicação para o consumidor.
As empresas terão dez dias para
prestar informações como o número
de voos cancelados,
45
quantos vouchers foram emitidos e
reembolsos mês a mês. As aéreas
também terão de dizer quantos
consumidores foram afetados e quais
os mecanismos de atendimento
oferecidos a essa clientela.
— Se não responderam ou houver
indícios de violação do direito do
consumidor, abriremos um processo
administrativo para cada empresa.
Isso pode gerar multa superior a R$
10 milhões. Elas ainda podem ser
obrigadas a adotar medidas para
ajustar o atendimento ao consumidor
— explica Juliana Domingues, titular
da Senacon.
Aumento nas queixas
Segundo a secretária, de janeiro a
setembro, houve um aumento de
cerca de 55% nas reclamações
registradas no Sistema Nacional de
Informações de Defesa do
Consumidor (Sindec), que reúne as
queixas feitas nos Procons de todo o
país, em relação ao mesmo período do
ano passado.
Já no Consumidor.gov.br, portal de
intermediação de conflitos do governo
federal, houve uma alta de 40% de
janeiro a julho, em relação aos
mesmos meses de 2019. Foram 39.519
contra 28.244 no primeiros setes
meses do ano passado.
Durante a pandemia, as principais
queixas têm sido cancelamento de
voos, dificuldade no reembolso e
cobrança indevida ou abusiva para
alterar ou cancelar o contrato. O pico
de reclamação se deu nos meses de
março e abril, com 6.508 e 11.314
registros, respectivamente. Nos
mesmos meses de 2019, foram
contabilizadas 2.705 e 3.457.
A Associação Brasileira das Empresas
Aéreas (Abear) lembra que abril foi
um mês crítico de cancelamentos de
voos e, consequentemente, de
reclamações de passageiros devido ao
severo impacto da pandemia do
coronavírus, e destaca que nos meses
seguintes a malha aérea foi se
ajustando.
Espera no telefone
A engenheira Marina Espíndola é uma
das passageiras que tiveram
problema. Ela tinha duas passagens
da Gol. A primeira, marcada para
maio, foi cancelada em abril.
— Tentei contato por telefone várias
vezes. Esperei 58 minutos e desisti.
Pelo site, sempre que tentava
reagendar me cobrariam taxas, só
pelo chat consegui resolver sem a
cobrança.
Marina teve dificuldade para falar
com a Gol depois que cancelaram dois
voos seus Foto: Arquivo pessoal
Em setembro, outro voo de Marina
foi cancelado. Ao tentar remarcar, a
única opção ofertada resultaria em
uma espera de dez horas para pegar a
ponte aérea:
— Pouco antes da viagem, vi que
abriram um voo próximo ao meu
horário original e não avisaram. Tive
46
que insistir, pois teimavam que não
era possível remarcar. Entendo as
mudanças por causa da pandemia,
mas, às vezes, parece que cancelam
para juntar todos os passageiros em
um só voo e reduzir custos. Todos os
voos que peguei estavam lotados.
Já a gestora comercial Isabelle
Rodrigues conseguiu resolver com
facilidade sua troca de voos da Gol,
mas na Latam teve dificuldades. Ela
comprou, em maio, um pacote de
hotel e hospedagem para comemorar
o aniversário da filha em Gramado:
— Em julho, recebi um e-mail da
Latam informando do cancelamento.
Tentei ligar várias vezes, sempre com
espera de mais de 40 minutos.
Quando conseguia falar, a ligação caía
e ninguém retornava. Insisti até que
me deram uma opção, mas ruim. O
pior é o atendimento.
Durante a pandemia também foi
assinado um Termo de Ajustamento
de Conduta (TAC) entre as empresas
aéreas e o governo para minimizar os
impactos para o setor. O TAC prevê
que quem optar pelo reembolso da
passagem deve esperar até 12 meses,
após o fim da pandemia, para receber
o dinheiro, ainda com desconto de
multas e taxas.
Por outro lado, a remarcação deve ser
gratuita. E caso a empresa não tenha
opção de voo, terá que acomodar o
passageiro em outra companhia.
Outra alternativa é manter o crédito
no valor da passagem por até 18
meses.
Guarde documentos
O diretor de relações Institucionais
do Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor (Idec), Igor Britto,
argumenta que as novas regras não
são claras e as empresas se
beneficiam nas brechas:
— Além disso, há muitos relatos sobre
falta voos para reacomodar os
passageiros e cobrança por
remarcações.
Caso o cliente não consiga falar com a
empresa nos canais oferecidos, Britto
orienta que procure a Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac) no
aeroporto ou recorra aos Procons ou
ao Consumidor.gov.
Flávia Lira, analista de proteção e
defesa do consumidor do Procon RJ,
alerta para a necessidade de guardar
provas:
— Tente documentar tudo,
com prints de conversas no site,
ofertas e e-mails para tentar um
acordo ou processo depois, se for o
caso.
Procurada a Gol não esclareceu as
dúvidas sobre os cancelamentos,
cobranças e falha no canais de
comunicação, apenas informou que a
programação de voos passa por
ajustes constantes para equilibrar a
qualidade do atendimento ao cenário
causado pela pandemia.
Tanto a Latam quanto a Azul
destacaram o efeito da pandemia
sobre as operações, o que levou a uma
queda drástica no número de voos, e
disseram que reforçaram suas equipes
de atendimento ao consumidor, além
de seguir as regras da Anac.
47
A Latam acrescentou que no caso da
Isabelle, a cliente foi reacomodada e
ressaltou ainda que desde o início da
pandemia flexibilizou as suas regras
comerciais.
https://oglobo.globo.com/economia/defesa-
do-consumidor/aumento-de-queixas-leva-
governo-notificar-companhias-aereas-
24675538
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Caderno: Mercado segunda-feira 05 de outubro de 2020.
Substituto do PIS/Cofins alivia a carga tributária dos mais pobres, mostra estudo da Economia
A Contribuição sobre Bens e Serviços
terá, segundo a proposta do governo,
alíquota única de 12% sobre bens e
serviços e pode aliviar a carga
tributária principalmente de famílias
com renda de até R$ 89 por pessoa
Idiana Tomazelli, O Estado de
S.Paulo
05 de outubro de 2020 | 08h30
BRASÍLIA - A criação
da Contribuição sobre Bens e
Serviços (CBS) em substituição
ao PIS e à Cofins pode aliviar a
carga tributária da população de
menor renda e ampliar seu poder de
consumo, principalmente em famílias
que ganham até R$ 89 por pessoa,
afirma a Secretaria de Política
Econômica (SPE) do Ministério da
Economia. Os brasileiros que
ganham acima de R$ 5 mil por pessoa
devem ter o maior aumento relativo
da tributação.
48
No documento, a Economia informou que
expectativa para receitas em 2020 piorou
R$ 9,725 bi, passando a R$ 1,446 tri.
Foto: José Cruz/Agência Brasil
Os cálculos, antecipados
ao Estadão/Broadcast, serão
divulgados nesta segunda-feira, 5, na
nota “CBS: em direção à menor
regressividade do sistema tributário
brasileiro”. A intenção dos técnicos é
trazer um foco novo de discussão
sobre a unificação de tributos sobre o
consumo, até agora centralizada nos
impactos sobre as empresas.
O setor de serviços é um dos que mais
se opõem à proposta de criar a CBS,
encaminhada pelo governo ao
Congresso Nacional em julho como
primeira fase da reforma tributária. O
projeto de lei está sendo discutido na
mesma comissão mista que trata das
PECs da Câmara e do Senado, mais
amplas e que incluem mudanças na
tributação de Estados e municípios.
As discussões, porém, estão travadas.
Segundo os cálculos da SPE, as
famílias com renda de até R$ 89 por
pessoa terão uma queda de 0,6 ponto
porcentual na sua alíquota efetiva
média (o quanto a pessoa paga de
imposto proporcionalmente à sua
renda). O alívio se estende até
famílias com renda de R$ 1 mil por
pessoa, embora com menos
intensidade. Acima disso, a mudança
de PIS/Cofins para a CBS levará a
família a pagar mais imposto que no
regime atual, aumento que chega a
0,4 ponto porcentual para quem
ganha acima de R$ 5 mil por pessoa.
A proposta do governo para a CBS
prevê uma alíquota única de 12%
sobre bens e serviços, acabando com
grande parte dos regimes especiais e
simplificando a tributação. O
subsecretário de Política Fiscal da
SPE, Erik Figueiredo, afirma que as
estimativas comprovam que uma
alíquota unificada é capaz de tornar
um tributo mais progressivo, ou seja,
cobrar relativamente mais de quem
tem maior renda.
“A ideia de progressividade hoje é de
alíquotas diferenciadas, variando de
acordo com a renda. Mas isso seria
verdade se todas as pessoas
consumissem bens similares. As
pessoas consomem bens diferentes.
Temos que definir o perfil e qual é a
alíquota dessas pessoas”, explica
Figueiredo.
Cálculo
Para chegar ao resultado, a equipe da
SPE traçou o perfil da cesta de
consumo das famílias de acordo com
a faixa de renda. Além disso, utilizou
a matriz de insumo-produto do IBGE
para identificar por quantos passos na
cadeia de produção um produto ou
serviço passa antes de ser consumido.
Esse procedimento é importante
porque a CBS incide sobre o valor
adicionado em cada uma dessas
etapas de melhoria ou transformação
- ou seja, quanto mais elaborado o
bem ou serviço, maior tende ser a
tributação.
49
No caso das famílias mais pobres,
com renda de até R$ 89 por pessoa,
mais da metade (54%) do orçamento é
destinada a serviços básicos, e 13%
são empregados no pagamento de
contas como água e luz. Apenas 6%
vão para gastos com saúde e educação
privados, e outros 10% vão para a
construção, compra ou aluguel da
casa.
À medida que a renda familiar cresce,
os serviços básicos e as contas de
água e luz perdem peso no
orçamento, enquanto despesas com
saúde e educação e a casa ganham
força. Nos lares com renda acima de
R$ 5 mil por pessoa, 49% do
orçamento vão para serviços
considerados “luxo”, 13% para
compra ou aluguel da casa e 14% para
saúde e educação. A nota não detalha
quais serviços são considerados
básicos ou de luxo.
Para as famílias de baixa renda, a SPE
ainda estimou o efeito prático do
alívio da CBS sobre a renda desses
lares. Para quem ganha até R$ 89 por
pessoa, o “respiro” trazido pelo novo
tributo seria suficiente para arcar com
todo o consumo de legumes e
verduras, por exemplo, uma vez que a
diferença na alíquota efetiva equivale
a 112% do que essas famílias gastam
com esses bens. O alívio ainda
bastaria para garantir 73% do
consumo de leite, ou 173% do gasto
com macarrão.
“A ideia é mostrar que tem uma parte
significativa dos agentes que estão
fora da discussão, que são os
consumidores. E temos que
considerar a heterogeneidade dos
consumidores. Quando observamos
impactos diferenciados, damos uma
dimensão completamente nova. Às
vezes esse debate fica muito técnico,
sem observar a realidade”, diz
Figueiredo.
https://economia.estadao.com.br/noticias/ge
ral,substituto-do-piscofins-alivia-a-carga-
tributaria-dos-mais-pobres-mostra-estudo-
da-economia,70003463768
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Segunda-feira, 05 de outubro de 2020
Estados não podem impor cadastro de compradores de celular, diz STF
Por Danilo Vital
A competência da União para legislar
sobre tema de telecomunicações tem
caráter exauriente. A intervenção
legislativa por parte dos estados
pressupõe a existência de lei
complementar que os autorize a
abordar questões específicas. Assim,
são inconstitucionais as leis que
impõem obrigação de cadastrar os
compradores de celular.
Competência para dispor sobre criação
de cadastro de usuários de telefonia
celular é da exclusiva da União,
segundo STFReprodução
Foi essa a conclusão alcançada pelo
Plenário Virtual do Supremo Tribunal
Federal, que julgou procedentes duas
ações diretas de inconstitucionalidades
referentes a leis que obrigavam as
empresas de telefonia móveis a criar um
cadastro de todos os compradores e
usuários de telefone celular.
51
Trata-se da Lei 11.707/2001, de Santa
Catarina; e da Lei 16.269/2016, de São
Paulo. Ambos os casos foram relatados
pelo ministro Celso de Mello, decano da
corte, que deu a mesma solução, sendo
acompanhado pela maioria.
Para o relator, a absoluta privatividade
da União para legislar sobre o tema é
apenas reforçada pelas características
do setor de telecomunicações, em que
existe relação de interdependência
entre os diversos serviços que o
compõem.
É por isso que a edição de legislações
locais de caráter fragmentário, que
imponham a operadoras de atuação
nacional, quando não global, regras
específicas destinadas a atender
ambições regionais é medida em
desacordo com a necessidade de
promover e de preservar a segurança
jurídica e a eficiência indispensáveis ao
desenvolvimento das telecomunicações.
Esse desenvolvimento, segundo o
decano, só pode ser proporcionado
“pela adoção de um regime jurídico
coerente, uniforme, estruturado e
operacional, cuja organização , em
conformidade com o que estabelece o
texto constitucional, incumbe , com
absoluta privatividade, à União
Federal”.
“A implementação de um sistema
normativo harmonioso e equilibrado,
vocacionado à integração de tecnologias
e à projeção mundial, mostra-se em
tudo incompatível com a existência de
um mosaico legislativo composto por
regimes jurídicos parciais e
conflitantes, dispersados pelas diversas
regiões do território nacional”, concluiu
o ministro.
A implementação de um sistema
normativo harmonioso é incompatível
com mosaico legislativo, disse ministro
Celso de MelloSCO/STF
Ressalva
No julgamento do caso referente à lei de
São Paulo, o ministro Luiz Edson
Fachin acompanhou o relator com uma
pequena ressalva: em sua visão de
federalismo cooperativo, o estado pode
exercer competência concorrente
concernente ao direito do consumidor
quando não houver vedação expressa
na legislação federal, como no caso.
“Porém, o cadastro não serve à defesa
do consumidor, mas parece criar um
banco de dados pessoais sem as
cautelas e salvaguardas necessárias e
agora exigidas também pela Lei
13.709/2018 para a proteção do direito
à intimidade e à vida privada”,
acrescentou.
Voto vencido
Ficaram vencidos os ministros Marco
Aurélio e Alexandre de Moraes. Para o
primeiro, as normas não invadiram
competência da União, mas, em vez
disso, potencializaram o mecanismo de
tutela da dignidade dos consumidores.
52
Para ministro Marco Aurélio, as
leis potencializaram o mecanismo de
tutela da dignidade dos consumidores Carlos Moura/SCO/STF
“Ausente interferência na atividade-fim
das pessoas jurídicas abrangidas pela
eficácia do ato atacado, mostra-se
inexistente usurpação de competência
da União”, disse o vice-decano do STF.
E para o ministro Alexandre de Moraes,
o conteúdo das normas estaduais não
interferem no núcleo básico de
prestação dos serviços de
telecomunicações, cuja competência é
privativa da União.
“O objeto da norma questionada é
referente diretamente à segurança
pública, onde a Constituição Federal
preceitua ser dever do Estado (União,
estados/Distrito Federal e municípios),
direito e responsabilidade de todos,
devendo ser exercida para a
preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do
patrimônio, conforme detalhado nos
itens anteriores”, defendeu.
ADI 5.608 (São Paulo)
Clique aqui para ler o voto do
ministro Celso de Mello
Clique aqui para ler a ressalva do
ministro Luiz Edson Fachin
Clique aqui para ler o voto do
ministro Marco Aurélio
Clique aqui para ler o voto do
ministro Alexandre de Moraes
ADI 2.488 (Santa Catarina)
Danilo Vital é correspondente da
revista Consultor Jurídico em
Brasília.
Revista Consultor Jurídico, 4 de
outubro de 2020, 9h30
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Segunda-feira, 05 de outubro de 2020
Sindicato deve retirar negativação de empresa por suposta inadimplência de contribuição
O magistrado verificou documento
juntado pela empresa que demonstrou
que todas as contribuições pretensas
do sindicato se referem a período
posterior à reforma trabalhista.
O juiz do Trabalho Farley Roberto
Rodrigues de Carvalho Ferreira, da 71ª
vara de SP, deferiu liminar para
determinar que um sindicato exclua o
nome de uma empresa de logística do
cadastro de inadimplentes.
O magistrado verificou documento
juntado pela empresa que demonstrou
que todas as contribuições pretendidas
pelo sindicato se referem a período
posterior à reforma trabalhista.
A empresa ajuizou ação dizendo que o
seu nome foi incluído no sistema do
Serasa por contribuições sindicais,
inclusive anteriores à reforma
trabalhista. Em um primeiro momento,
foi negada a tutela de retirar a
negativação do nome da empresa.
54
No entanto, em um novo requerimento
de tutela de urgência após o pagamento
da contribuição sindical anterior à
reforma trabalhista, o magistrado
verificou que a empresa juntou
documentos que mostraram que todas
as contribuições pretensas do sindicato
referem-se a período posterior à
reforma trabalhista, ou seja, quando a
contribuição já não é mais obrigatória.
Assim, considerou o risco de dano
irreparável, já que "trata-se de fato
notório de que a inclusão em sistema de
proteção ao crédito pode ocasionar
perda de fornecedores, clientes ou
perdas contratuais incompatíveis com o
exercício regular da atividade
econômica pela autora", disse.
Deferiu, por fim a liminar para
determinar que o sindicato exclua o
nome da autora de serviços de proteção
ao crédito, sob pena de multa.
O advogado Vitor Krikor
Gueogjian (Ratc & Gueogjian
Advogados) atuou no caso.
• Processo: 1000727-
43.2020.5.02.0071
Veja a decisão.
https://migalhas.uol.com.br/quentes/334329/sindicato-deve-retirar-
negativacao-de-empresa-por-suposta-inadimplencia-de-contribuicao
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Segunda-feira, 05 de outubro de 2020
TJ/MG revoga liminar a mineradora que perdeu propriedade de bem para credor fiduciário
Para o colegiado, não foi demonstrada
a posse anterior praticada pela parte
autora.
A 12ª câmara Cível do TJ/MG revogou
medida liminar de reintegração de
posse anteriormente concedida a
mineradora. Para o colegiado, não foi
demonstrada a posse anterior praticada
pela parte autora.
Consta nos autos que a mineradora
ajuizou ação de reintegração de posse
alegando ser possuidora de imóvel
rural, o qual fora adquirido pelo
recorrente junto a banco. Sustentou
que, não obstante a aquisição de parte
do bem pelo recorrente, a posse não lhe
teria sido transmitida por meio da
escritura, eis que se encontra pendente
a ação de consignação em pagamento
ajuizada pela mineradora.
Posse do imóvel
Ao analisar o caso, o relator, juiz
convocado Renan Chaves Carreira
55
Machado, observou que a mineradora
se tornou inadimplente em relação à
cédula de crédito bancária emitida,
razão pela qual a instituição financeira
deu início à execução extrajudicial da
garantia de alienação fiduciária.
Para o juiz, inexiste qualquer decisão
oriunda da ação de consignação c/c
revisão contratual que assegure a posse
do bem até decisão final transitada em
julgada. Verificou ainda que, após a
consolidação da propriedade do imóvel
a favor do banco, o agravante adquiriu o
imóvel diretamente da referida
instituição financeira, por meio do
contrato de compra e venda.
"Além da posse indireta recebida, o
agravante passou a exercer a posse
direta do imóvel, na medida em que
compareceu ao local e firmou contrato
de comodato com o então possuidor,
anterior ao ajuizamento da ação de
reintegração de posse."
O colegiado acompanhou o voto do
relator por unanimidade.
O advogado Eduardo Gonzaga de Paula,
da Sociedade de Advogados Lacerda,
Diniz e Sena, atua pelo réu.
• Processo: 1429893-
53.2019.8.13.0000
Veja a decisão.
Por: Redação do Migalhas
Atualizado em: 3/10/2020 14:10
https://migalhas.uol.com.br/quentes/334312/tj-mg-revoga-liminar-a-
mineradora-que-perdeu-propriedade-de-bem-para-credor-fiduciario
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Segunda-feira, 05 de outubro de 2020
Economia prepara MP para reduzir de 17 para 3 dias a abertura de empresas
Ideia é elevar Brasil da 138ª posição
para 12ª em índicador do ranking
Doing Business, do Banco Mundial
• LUCIANO PÁDUA
• GUILHERME PIMENTA
BRASÍLIA
Crédito: José Cruz/Agência Brasil
Técnicos do Ministério da Economia
elaboram uma Medida Provisória
para simplificar e desburocratizar o
registro público de empresas no
Brasil. A ideia é melhorar a posição
do país no Relatório do Doing
Business do Banco Mundial,
parâmetro internacional para
investidores.
De acordo com a proposta obtida
pelo JOTA, que ainda está em estágio
inicial, os técnicos da pasta sugerem a
revisão de 17 dispositivos
empresariais em quatro leis, entre
elas o Código Civil.
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Essas mudanças, nos cálculos do
Ministério da Economia, reduziriam
de 17 para três dias o
processamento da abertura de
uma empresa, além de reduzir
de 11 para três dias os
procedimentos necessários.
Segundo o documento, haveria
alterações, por exemplo, em
dispositivos que tratam de
simplificação na coleta de dados e
documentos necessários para abrir
uma empresa, simplificação do
licenciamento de atividades
consideradas de médio risco,
modernização de juntas comerciais,
eliminação de documentos após a
digitalização e dispensa de
reconhecimento de firma para
procurações.
Atualmente, o Brasil ocupa a
138ª posição no indicador de
abertura de empresas, e a 124ª
no indicador global que avalia
190 economias. Com as
mudanças, de acordo com os
técnicos, o score do indicador de
Abertura de Empresas avançaria
de 81,3 para 95,9 pontos, e o
Brasil, por sua vez, saltaria da
138ª posição para a 12ª posição
no indicador.
Dado o momento atual, os técnicos do
Ministério da Economia afirmam que
a proposta se reveste de “relevância e
urgência”. “Essas medidas de
simplificação e desburocratização, de
eficácia imediata, incentivarão a
geração de emprego e renda e, por
consequência, impactarão no
crescimento econômico do país”,
assinalam.
A proposta foi enviada na quinta-feira
(24/9) para avaliação da Secretaria
Especial de Desburocratização,
Gestão e Governo Digital e,
posteriormente, será encaminhada
para a análise jurídica da
Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional (PGFN).
Mudanças
Os técnicos do Ministério citam a
necessidade de revogação do artigo
977 do Código Civil, que
impede cônjuges casados no regime
da comunhão universal de bens ou da
separação obrigatória de contratar
sociedade, entre si ou com terceiros.
“Ocorre que essa previsão é um
verdadeiro retrocesso para o direito
de empresas, uma vez que antes da
entrada em vigor do Código Civil de
2002, tanto a doutrina quanto a
jurisprudência entendiam que não
havia impedimento para a sociedade
entre cônjuges”, argumentam.
Outra proposta em análise para
mudança no Código Civil é deixar
expressa a possibilidade de emissão
de quotas preferenciais por
sociedades limitadas, tema que gera
inúmeros questionamentos.
Nas palavras dos servidores, não se
trata de assunto tratado de forma
pacífica pela doutrina e servidores das
Juntas Comerciais, de forma que
várias sociedades encontram
dificuldades para o registro de atos
empresariais com a distribuição de
quotas preferenciais.
“Consignar de forma expressa no
Código Civil contribuirá para a
pacificação de entendimentos, bem
como para a melhoria do ambiente de
57
negócios, uma vez que as sociedades
limitadas, que representam a maior
parte das sociedades no Brasil,
poderão, dentre outras, ter maior
acesso a recursos financeiros e
investimentos”, aponta o documento.
Juntas comerciais
Na tentativa de modernizar a
administração das juntas comerciais,
o Ministério da Economia propõe
a extinção da figura dos vogais
nos órgãos, responsáveis por
deliberar sobre questões
administrativas das juntas.
Segundo os técnicos, a existência do
“vocalato” nas juntas “é a mais clara
demonstração do quão arcaica e
ultrapassada ainda é a estrutura
administrativa desses órgãos, que
cumprem uma função tão importante
para o ambiente de negócios de um
País: o registro empresarial”.
Outra proposta apresentada pelo
Ministério é a criação de um
procedimento simplificado para
abertura de empresas sem
estabelecimento físico, considerando
que elas não precisam de licenças
nem alvarás para funcionar.
De forma online, seria possível a
abertura simplificada e a realização
do registro em segundos de forma
gratuita para os
empreendedores. Portanto, seria
necessária uma alteração no artigo 11
da Lei 11.598/07.
O JOTA organizou em tópicos todas
as alterações pretendidas pelo ME:
Veja as alterações pretendidas
pelo Ministério da Economia
Lei 11.598/07, que trata do
registro e legalização de
empresários e pessoas jurídicas
no Brasil
– Desnecessidade de realização de
convênios com estados e municípios
para aderirem à Rede Nacional para a
Simplificação do Registro e da
Legalização de Empresas e Negócios
(REDESIM);
– Da desvinculação da pesquisa
prévia de viabilidade locacional do
processo de registro de empresas, de
modo que não seja mais obrigatória a
resposta da Prefeitura para o
empreendedor realizar o registro da
empresa;
– Simplificação pelo Subcomitês do
Comitê para Gestão da Rede Nacional
para Simplificação do Registro e da
Legalização de Empresas e Negócios
do licenciamento e inspeção de
produtos artesanais, na tentativa
facilitar a comercialização de
produtos artesanais para além das
fronteiras estaduais;
– Possibilidade da utilização do
número do CNPJ como nome
empresarial, eliminando etapa da
análise prévia de nome empresarial
do processo de registro e legalização;
– Coleta única de dados (Proibição de
coletas de dados em duplicidade),
impedindo que o empresário tenha
que notificar seus dados à Junta
Comercia, prefeituras e Receita
Federal. Pela proposta, informaria
somente à junta, que faria a
interseção com os demais órgãos;
58
– Abertura simplificada para
empresas sem estabelecimento, que
não carecem de licenças nem alvarás
para funcionar;
– Simplificação do licenciamento de
atividades consideradas de médio
risco;
Alterações na Lei 8.934/94, que
trata das estruturas das juntas
comerciais
– Exclusão da proibição de
arquivamento de nomes empresariais
semelhantes e revogação de
apresentação da Ficha do Cadastro
Nacional, para que nomes
empresariais sejam analisados do
ponto de vista da identidade e para
que não seja necessária a
apresentação de ficha cadastral (Ficha
do Cadastro Nacional – FCN) para os
pedidos de arquivamento;
– Eliminação de documentos após a
digitalização, ao permitir que, nos
termos da Lei de Liberdade
Econômica, o documento físico possa
ser descartado após o processo de
digitalização. Hoje, essa lei impede
que documentos sejam descartados;
– Revogação da previsão de
inativação por ausência de registro
após decorridos dez anos, já que a
legislação atual determina que “a
firma individual ou a sociedade que
não proceder a qualquer
arquivamento no período de dez anos
consecutivos deverá comunicar à
junta comercial que deseja manter-se
em funcionamento”, sob pena da
“empresa mercantil será considerada
inativa, promovendo a junta
comercial o cancelamento do registro,
com a perda automática da proteção
ao nome empresarial”. Com a
proposta, o Ministério quer revogar
esse dispositivo;
– Dispensa de reconhecimento de
firma para procurações. Essa
necessidade, de acordo com o
Ministério, não coadunaria com a
atual legislação, em especial, com as
alterações introduzidas pelo Código
Civil, após a revogação do Código
Civil de 1916;
– Inclusão do empresário individual e
da EIRELI no texto do art. 64,
dispositivo o qual determina que a
certidão dos atos de constituição e de
alteração de sociedades mercantis
será o documento hábil para a
transferência, por transcrição no
registro público competente, dos bens
com que o subscritor tiver
contribuído para a formação ou
aumento do capital social;
Código Civil e Lei das S.A.
– Revogação do art. 977 do CC, que
impede cônjuges casados no regime
da comunhão universal de bens ou da
separação obrigatória de contratar
sociedade, entre si ou com terceiros;
– Permissão da emissão de quotas
preferenciais por sociedades
limitadas;
– Possibilitar que as sociedades
realizem as publicações ordenadas
pela lei, de forma discricionária, no
Diário Oficial da União ou dos
Estados e Distrito Federal. Hoje,
segundo o Ministério, as leis abrem
margem para dúvidas quanto à
escolha de publicação;
– Alteração na composição da
denominação social, que hoje é
composta com a indicação do objeto.
De acordo com o Ministério da
59
Economia, nos dias de hoje, a relação
do objeto da empresa a seu nome não
tem o poder de dar conhecimento do
objeto que de fato é exercido por
determinada sociedade, “uma vez que
a grande maioria das empresas
desempenham mais de uma
atividade”;
LUCIANO PÁDUA – Editor JOTA
PRO em São Paulo. Responsável pela
edição dos alertas e de relatórios do
JOTA PRO, além de fazer
atendimento de demandas dos
assinantes. Foi editor-assistente de
editorias especiais do JOTA. Cobriu
polícia, política e economia nacional
nas revistas VEJA, Exame, Jornal do
Brasil e O Antagonista. Email:
GUILHERME PIMENTA –
Repórter do JOTA em Brasília,
acompanha temas ligados ao Banco
Central, CVM, Cade, TCU e Ministério
da Economia. Antes, foi repórter em
São Paulo, onde cobriu Judiciário e
regulação do mercado financeiro. E-
mail: [email protected]
https://www.jota.info/tributos-e-
empresas/mercado/economia-mp-desburocratizar-registro-
publico-empresas-05102020
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Segunda-feira, 05 de outubro de 2020
Lutas por reconhecimento, racismo e ações afirmativas privadas
O caso do processo seletivo exclusivo
para admissão de trainees negros pelo
Magazine Luiza
• ADERRUAN TAVARES
Crédito: Pexels
A empresa Magazine Luiza tomou em
surpresa o Brasil, ao anunciar que
fará processo seletivo exclusivo para
admissão de trainees negros.
Estávamos bem (ou mal)
acostumados com as cotas para
negros em universidades e no serviço
público. Mas processo seletivo
exclusivamente para negros na área
privada não é nada usual, ainda mais
partindo de uma grande empresa do
país.
Contudo, como não haveria de ser
diferente, mencionada ação tem sido
taxada de (vejam o paradoxo) racista:
o tal “racismo reverso”. Sim, as ações
afirmativas incomodam. Para os
proselitistas do racismo, passivos ou
ativos, essas ações tiram as suas
“vagas” e seus “espaços”
60
Embora o atrevimento social seja
evidente, nada mais verdadeiro. Esses
“espaços reservados” eram intocáveis,
ninguém que não fosse igual ou
aceitável poderia entrar neles ou fazer
parte deles. “Retirar” essas vagas e
dá-las a determinado grupo é uma
heresia escabrosa; não pode ser aceito
pelo “bem da nação” e dos “cidadãos
de bem”.
Mais revoltante ainda quando
este processo seletivo se
desenvolve no setor privado,
esse setor liberalmente aberto a
todos e onde o capital impera
com poucas restrições.
O racismo é muito mais do que os
olhos dos mais bem intencionados
podem vem. Em uma sociedade
sedimentada pela escravidão e pela
exploração dos corpos negros, o
racismo está em tudo e só um esforço
monumental de ordem intelectual é
possível percebê-lo devidamente.
Silvio Almeida nos diz que ele é
estrutural assim como institucional[1].
De qualquer forma, o racismo, no
Brasil, é realizado diariamente e de
forma imperceptível. Pelas piadas,
pelos olhares. Pelas mensagens de
WhatsApp, pelas não curtidas. É o
joelho no pescoço e a bala nas costas.
Edifica e estrutura. Cria muros e
grades. Expulsa e humilha.
No país em que, como disse Millôr
Fernandes, “o menino nasceu preto
apesar de todo o esforço dos médios”,
a construção social do outro por trás
do racismo e sua odiosa práxis
natural vem antes mesmo da raça. A
categorização em raça é consequente,
não antecedente. A cor da pele, ou
qualquer outra forma de rotulação,
para definir as qualidades subjetivas e
objetivas do indivíduo não passa de
vã alegoria do pensamento humano.
É mais uma questão de estratificação
social do que uma questão biológica.
Tudo não passa de uma mera
convenção social surgida para
estabelecer a opressão e justificar o
exercício de poder. O racismo prega a
diversidade desigual e eleva alguma
raça à superioridade,
consequentemente, alguma outra raça
deve ser inferiorizada, se não o
sistema racista não fecha.
O racismo estabelece uma divisão
cidadã. Como pondera Achille
Mbembe, o negro, em seu próprio
país é um cidadão de segunda
categoria, pois possui algo como uma
cidadania de empréstimo
(citoyenneté d´emprunt). Esse tipo
de “cidadania” é um dos resultados do
poder necropolítico.
Para a necropolítica, a morte não tem
significado e nem tragicidade,
porquanto é natural; ela está
permitida a agir por diversos meios,
senão por todos eles (lícitos ou
ilícitos); este poder não possui
quaisquer limites pré-definidos. Em
sociedades (de)formadas pela
escravidão, “o racismo é o motor
princípio da necropolítica”[2].
Refutar o racismo, dizer que ele não
existe ou coisas do tipo “não sou
racista, veja, tenho um amigo
negro”, é uma das primeiras atitudes
racistas. Como alerta Ibram Kendi,
não há neutralidade na luta contra o
racismo; ser contra o racismo é ser
antirracista. Ser apenas “não racista”
permite com que se perpetuem as
condições e estruturas racistas: “a
61
reivindicação do ‘não racista’ neutro
é uma máscara para o racismo”;
assim, o antirracismo é a
identificação e a descrição o racismo,
com o propósito de ter condições
propedêuticas, epistemológicas e
metafísicas de enfrentá-lo[3].
Assim, as ações afirmativas são
tentativas para que as coisas voltem
para os lugares aos quais elas nunca
estiveram. São as lutas por
reconhecimento perdidas na poeira
do tempo e nas telas dos
nossos smartphones. Ademais, não há
como dissociar justiça social das lutas
por reconhecimento.
As lutas por reconhecimento são as
mais puras reinvindicações por
justiça. As lutas por reconhecimento
são sintomáticas, causam convulsões
sociais, estranhamentos estruturais e
inquietações individuais, justamente
porque a sociedade e suas instituições
políticas não lhes conferem a justiça
material devida.
Construir uma sociedade onde há
espaço para todos não é só necessário
como urgente. Para isso, distorções
históricas têm que ser superadas. A
iniciativa privada do Magazine Luiza,
assim como de outras empresas,
contribui para que alguns contextos
individuais sejam minimizados.
Outros contextos maiores de justiça,
de maior amplitude social, ainda
estão em jogo e não serão facilmente
superados. As ações afirmativas são a
pura expressão das lutas por
reconhecimento da minoria afetada.
Elas se aderem a um espaço
amplificado da justiça distributiva,
em busca da faceta material da justiça
social. A ideia central de uma ordem
justa está na ausência de todas as
formas de arbitrariedade e
dominação[4], entre as quais está o
racismo, assim como o machismo, a
intolerância religiosa, a homofobia e
outras nefastas políticas excludentes.
Termino com a passagem de Millôr
Fernandes: “o Brasil tem um enorme
passado pela frente”. Mantenhamo-
nos firmes.
Afinal, quem é Kassio Nunes? O
que esperar dele no STF? E o que
tiramos do processo de escolha
de Bolsonaro? Ouça no Sem
Precedentes, podcast sobre
Constituição e Supremo:
[1] Almeida, Silvio. Racismo
estrutural. Pólen Produção Editorial
LTDA, 2019.
[2] Mbembe, Achille. Politiques de
l’inimitié. La Découverte, 2018, p.
56.
[3] KENDI, Ibram X. How to be an
antiracist. One world, 2019, pp. 8-9.
[4] FORST, Rainer. The right to
justification: Elements of a
constructivist theory of justice.
Columbia University Press, 2011, p.
189.
ADERRUAN TAVARES –
Mestrando em Direito Constitucional
na UnB. Especialista em Direito
Constitucional pela Escola de Direito
de Brasília/IDP. Assessor de
Conselheiro no Conselho Nacional de
Justiça.
62
Os artigos publicados pelo JOTA não
refletem necessariamente a opinião
do site. Os textos buscam estimular o
debate sobre temas importantes para
o País, sempre prestigiando a
pluralidade de ideias.
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/lutas-por-
reconhecimento-racismo-e-acoes-afirmativas-privadas-
05102020
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